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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS COORDENADORIA DE ECOSSISTEMAS RELATÓRIO TÉCNICO PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (Município de Monte Alegre) BELÉM/PA 2013

RELATÓRIO TÉCNICO PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE … · Gerente de Geoprocessamento e Cartografia de Áreas Protegidas Elineuza Faria da Silva Trindade Engenheira Agrônoma

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS

COORDENADORIA DE ECOSSISTEMAS

RELATÓRIO TÉCNICO PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

(Município de Monte Alegre)

BELÉM/PA 2013

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE INFRAESTRUTURA E

LOGÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE

DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS COORDENADORIA DE ECOSSISTEMAS

GERÊNCIA DE PROTEÇÃO DO MEIO FÍSICO

RELATÓRIO TÉCNICO PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

(Município de Monte Alegre)

BELÉM/PA 2013

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Simão Robison Oliveira Jatene Governador do Estado do Pará

Helenilson Cunha Pontes

Vice-governador do Estado do Pará

Vilmos da Silva Grunvald Secretário Especial de Estado de Infraestrutura e

Logística para o Desenvolvimento Sustentável

José Alberto da Silva Colares Secretário de Estado de Meio Ambiente

Crisomar Lobato

Diretor de Áreas Protegidas

Jocilete de Almeida Ribeiro Coordenadora de Ecossistemas

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EQUIPE TÉCNICA

Benjamin Carlos Ferreira Gerente de Proteção do Meio Físico

Ernildo César da Silva Serafim

Gerente de Proteção do Meio Socioeconômico e Cultural

Marcelo Gadelha Machado Gerente de Geoprocessamento e Cartografia de Áreas Protegidas

Elineuza Faria da Silva Trindade

Engenheira Agrônoma

Evandra Priscilla Souza da Silva Vilacoert Engenheira Civil

Raimundo Jorge Raiol

Técnico Agrícola

Sulamita Vasquez Batista Técnica em Geoprocessamento

João Marcelo Vieira Lima

Revisão Ortográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Verde DIAP

Pará. Secretaria de Estado de Meio Ambiente.

Relatório Técnico para a Criação de Unidade de Conservação: Município de Monte Alegre. - Belém: SEMA, 2013.

39 p.: il., 23 cm.

1. Monte Alegre (Pará) – Preservação ambiental. 2. Monte Alegre (Pará) - Aspectos ambientais. 3. Serra do Itauajuri (Pará) – Unidade de conservação ambiental. I. Título.

CDD. 22. ed. 363.7098115

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de localização da Serra do Itauajuri, Município de Monte Alegre/PA. ......................10 Figura 2 - a) Foto da borda do domo; b) Imagem SRTM do Domo de Monte Alegre e perfil topográfico da seção AA’; c) Serra do Itauajuri situada na borda nordeste com 400m de altitude e d) Vista da planície central do domo. ..................................................................................................................11 Figura 3 – Paredões de rochas presentes na Serra do Itauajuri (A e B). ............................................13 Figura 4 – Cachoeira do Escorrega, Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. .........................................15 Figura 5 – Rochas de coloração avermelhada encontradas próximo à Cachoeira do Escorrega, com provável riqueza do elemento químico ferro (A e B)...........................................................................15 Figura 6 – Vegetação sobre as rochas e entre suas fendas compondo a paisagem em torno de uma queda d’água na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. ......................................................................16 Figura 7 - Parte da trilha percorrida no Trecho II, em direção à área de .............................................17 Figura 8 – Trecho seco do Igarapé Pajé (A). Piscina natural no curso do Igarapé Pajé (B). ...............18 Figura 9 – Gruta da Cutia, Cachoeira do Buraco (A). Piscina natural, Cachoeira do Buraco (B). ........18 Figura 10 - (A) Nascente próximo a trilha do trecho II. (B) Canos de PVC, para canalização de água. .........................................................................................................................................................19 Figura 11 - (A) Rocha conhecida na região como “pedra de amolar”. (B) Pedaço menor utilizado para amolar Ferramentas. .........................................................................................................................19 Figura 12 – Mapa de localização de pontos com cachoeiras, piscinas naturais e cursos d’água da Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. .................................................................................................20 Figura 13 – Formas campestres e florestais: (A) campo natural tendo ao fundo mata de galeria. E forma densa de cerradão (B), encontrados na Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA. ...........................21 Figura 14 – Campo rupestre caracterizado por afloramentos rochosos em topografia acidentada com solos rasos e pobres em nutrientes orgânicos (A) e (B), Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA. ............22 Figura 15 – Campo tipo parque com predominância de gramíneas e espécies arbustivas esparsas (A) e (B), Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA. .........................................................................................22 Figura 16 – Ecossistema de campo cerrado encontrado na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA (A) e (B). ...................................................................................................................................................23 Figura 17 – Solo da área de campos naturais na Serra do Itauajuri (A e B). ......................................23 Figura 18– Visão do ponto mais alto da Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA (A e B). ........................24 Figura 19 – (A) Panorâmica de mata de encosta na Serra do Itauajuri. (B) Solos pedregosos e de baixa fertilidade onde repousam essa cobertura vegetal, Monte Alegre/PA. ......................................24

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Figura 20 – Antropização nas áreas de encosta, para a expansão de pastagens, em propriedades localizadas na base da Serra do Itauajuri (A) e (B), Monte Alegre/PA. ...............................................25 Figura 21 – Palmáceas como açaí, uricuri, bacaba e inajá bem como outras espécie florestais são espécies presentes na flora da Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA, (A) e (B). ..................................25 Figura 22 – Espécie de camarão encontrado em uma das piscinas ...................................................26 Figura 23 – Seixos de arenito (A) e rocha com provável presença de ferro (B) encontrados na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. ...........................................................................................................27 Figura 24 – Rochas básicas (diabásio) encontradas na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. (A e B). .........................................................................................................................................................27 Figura 25 – Restos de cerâmica encontrados no alto da serra do Itauajuri,........................................28 Figura 26 – Aspecto da superfície do solo em alguns trechos da área de campo na Serra do Itauajuri (Coord. 01°51’04,37’’S e 54°04’50,13’’W). .........................................................................................29 Figura 27 – Área infestada com a espécie palheira após o corte e queima ........................................30 Figura 28 – Comunidades localizadas às margens de vicinais: (A) Comunidade Terra Preta e (B) Comunidade Estrada D. ....................................................................................................................31 Figura 29 - (A) Canteiros com cultivos de hortaliças. (B) Plantio de mandioca em área anteriormente cultivada com maracujá em comunidades do entorno da Serra do Itauajuri. ......................................33 Figura 30 - (A) Nascente protegida para captação de água. (B) Tanque de alevinos para exploração de piscicultura, Fazenda Canarinho Monte Alegre/PA. ......................................................................35 Figura 31 - Mapa de localização das áreas com ocupação humana na zona de influência na Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA..................................................................................................................36

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 METODOLOGIA ...................................................................................................... 8

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA .............................................................................. 9

4 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL DA SERRA DO ITAUAJURI ........................... 12 4.1 RECURSOS NATURAIS _________________________________________ 12 4.2 BIODIVERSIDADE _____________________________________________ 21 4.3 IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA _____________________________________ 26 4.4 ANTROPIZAÇÃO ______________________________________________ 29 4.5 OCUPAÇÃO HUMANA __________________________________________ 31

5 CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES ..................................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

O Município de Monte Alegre, às margens do Rio Amazonas, apresenta um

grande potencial turístico com destaque para o grande número de cachoeiras,

igarapés, savanas e riquezas herdadas dos povos antepassados, especialmente os

ambientes que abrigam sítios arqueológicos com impressões da arte rupestre. Por

essa razão, cerca de 50% do seu território já foi transformado em áreas protegidas,

sendo 5 (cinco) Unidades de Conservação (UCs) estaduais e uma gerenciada pelo

governo federal, além de uma Terra Indígena Rio Paru d’Este.

Outro admirável atrativo turístico do município são as serras, que podem ser

observadas em conjunto, de diferentes pontos da cidade. São os chamados

“mirantes naturais”, de onde se pode ter uma visão panorâmica da paisagem local.

Algumas dessas serras conjugam beleza cênica com riqueza biológica, importantes

como estratégias de preservação ambiental e desenvolvimento econômico e social

da região.

Nesse sentido, considerando os princípios do ecoturismo bem como a

importância de continuar protegendo os ecossistemas contidos no Município de

Monte Alegre, e ainda, buscando cumprir com as diretrizes ambientais contidas na

sua legislação, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente-SEMMA e a Secretaria

Municipal de Agricultura-SEMAGRI solicitaram apoio da Secretaria de Estado de

Meio Ambiente-SEMA/PA, por meio dos Ofícios nº 216/2013 e 030/2013

respectivamente, para realizar estudos no sentido de criar Unidade de Conservação

da Natureza municipal.

Dessa forma, realizou-se uma expedição de reconhecimento na área

denominada Serra do Itauajuri, uma das mais expressivas feições topográficas da

região. A visita técnica, realizada no período de 19 a 24 de agosto de 2013,

autorizada pela Portaria nº 2004/2013, publicada no Diário Oficial do estado nº

571434 de 22/08/2013, teve por objetivo verificar a viabilidade da criação de uma UC

na categoria Parque Natural Municipal (Proteção Integral) conforme os critérios

estabelecidos na Lei 9.985/2000 (BRASIL, 2011).

Os resultados aqui apresentados foram baseados nas observações de campo

levantadas pelos técnicos da SEMA/PA: Elineuza Faria (Engenheira Agrônoma) e

Raimundo Jorge Raiol (Técnico Agrícola), integrantes da Gerência de Proteção do

Meio Físico-GEMFI, Evandra Vilacoert (Engenheira Civil), da Gerência do Meio

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Socioeconômico e Cultural-GEMEC e Sulamita Vasques (Técnica em

Geoprocessamento) da Gerência de Geoprocessamento e Cartografia-GECAR com

o apoio do Secretário Municipal de Agricultura, Sr. Itajury Kishie sua equipe técnica,

além de técnicos da SEMMA.

2 METODOLOGIA

A metodologia constou inicialmente de uma reunião na Sede da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente de Monte Alegre, com a participação do Secretário, Pe.

Jorge Torres Pinheiro, do Secretário da SEMAGRI, Sr. Itajury Henrique Sena Kishi e

suas equipes técnicas, de representantes da sociedade civil local e de algumas

comunidades do entorno da Serra do Itauajuri, num total de 21 presentes.

Nessa ocasião, foi realizada uma explanação a respeito da importância da

criação de Unidades de Conservação e de como se dá esse processo, considerando

o que dita a Lei 9.985/2000. Discutiu-se, ainda, como se daria a ação conjunta

Estado-Município no decorrer das ações que seriam realizadas. Ao final, foi

realizado um planejamento da visita à área objeto de estudo, selecionando-se os

pontos de maior interesse para dar suporte à avaliação para a proposta de criação

da UC, considerando a representatividade e facilidade de acesso ao interior da área.

O deslocamento da equipe em campo foi realizado via terrestre em carro

oficial da SEMAGRI e/ou a pé nos locais previamente definidos, momento em que se

procederam as anotações de campo, registros fotográficos com câmera digital e

coleta de coordenadas geográficas através de aparelho de navegação por GPS para

delimitação preliminar da área em estudo. Ressalta-se que essa etapa teve como

ferramenta de apoio uma carta-imagem da área obtida por meio do Google Earth. É

importante acrescentar que houve total apoio da base de gestão do Parque Estadual

Monte Alegre e APA Paytuna na condução dos trabalhos, disponibilizando veículo

para a equipe conforme a necessidade.

Durante a visita, buscou-se levantar potencialidades e restrições relativas aos

recursos naturais existentes na área, bem como impactos positivos e negativos das

diversas formas de uso desses recursos, além de levantamentos da situação de

ocupação humana local com o objetivo de gerar informações gerais quanto à

viabilidade da criação da Unidade de Conservação na referida Serra.

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3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O Município de Monte Alegre está localizado na porção noroeste do Estado

do Pará, na Mesorregião do Baixo Amazonas e Microrregião de Santarém, entre as

coordenadas de 02°00’15’’ de latitude Sul e 54°04’45’’ de longitude Oeste de

Greenwich, limitando-se ao norte com os municípios de Almeirim, a leste com

Almeirim e Prainha, ao sul com Prainha e Santarém e a oeste com o Município de

Alenquer (SEPOF, 2011), ocupando uma área aproximada de 20.400km2 (OLIVEIRA

JÚNIOR et al., 1999).

No extremo sul, com forte orientação para sudeste desse município, encontra-

se a Serra do Itauajuri. Essa dista, em linha reta, cerca de 14 km da sede municipal,

estando entre as seguintes coordenadas geográficas: Norte: 1º50’3,55”S e

54°04’8,17”W; Sul: 1º52’40,67”S e 54°03’25,71”W; Leste: 1º51’10,59”S e

54°09’50,6”W; Oeste: 1º51’53,59”S e 54°06’31,33”W, sendo considerada a maior

serra mais próxima do Rio Amazonas. Segundo Ibiapina (2012), ela é o ponto

culminante do Planalto das Guianas, alcançando uma altitude de cerca de 360m

(Figura 1).

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Figura 1 – Mapa de localização da Serra do Itauajuri, Município de Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Geologicamente, essa serra situa-se no flanco nordeste da estrutura

conhecida como Domo1 Monte Alegre, sendo esse, constituído por rochas

sedimentares da Formação Faro com idades estimadas entre 345 e 325 milhões de

anos (PASTANA, 1999b). Figueira (2011) constatou que a região central do domo é

bordeada por serras homoclinais dispostas sob a forma de meio-círculos, atingindo

1 Domo: forma de relevo elevado, em forma circular e ovalada com camadas mergulhando. Em geral é causada pela entrada de algum material geológico subsuperfície, implicando soerguimento das rochas posicionadas acima do material que entrou (PASTANA, 1999).

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cota mínima de 40m no centro e 440m na Serra do Itauajuri, conforme

esquematizado na Figura 2.

Figura 2 - a) Foto da borda do domo; b) Imagem SRTM do Domo de Monte Alegre e perfil topográfico da seção AA’; c) Serra do Itauajuri situada na borda nordeste com 400m de altitude e d) Vista da planície central do domo.

Fonte: FIGUEIRA, 2011.

A região está sob influência do clima tropical chuvoso, Am pela classificação

de Köppen, possuindo temperatura média mensal quase sempre superior a 18ºC,

estação seca de pouca duração, umidade relativa elevada, amplitude térmica inferior

a 5ºC e disponibilidade de água no solo. As precipitações pluviométricas com cerca

de 1.969 mm apresentam distribuição irregular durante o ano (SEPOF, 2011).

O acesso ao Município de Monte Alegre normalmente é feito via aérea até o

Município de Santarém (alternativa mais rápida) e, a partir daí, através de

embarcação motorizada. O trajeto entre a sede de Santarém e a sede de Monte

Alegre é percorrido em torno de 2 horas e 30 minutos em voadeira de linha regular.

Desse ponto até a Serra do Itauajuri leva de 40-50 minutos em carro com tração,

podendo percorrer-se dessa forma apenas pela base do relevo, pela PA-423 e suas

vicinais. Para o deslocamento em direção ao topo mais alto, o trajeto é realizado a

pé por aproximadamente três horas em linha reta. Há informações de que a subida,

até certo ponto, também pode ser feita por meio do uso de motocicletas,

dependendo do grau de inclinação da encosta, o qual deverá ser o menor possível.

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4 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL DA SERRA DO ITAUAJURI 4.1 RECURSOS NATURAIS

A Serra do Itauajuri apresenta um fantástico potencial para ecoturismo,

contendo no interior de seus 1.598,21 hectares belas cachoeiras, piscinas naturais

de água cristalina, fauna e flora diversificadas, além de ter sido formada em uma das

principais estruturas geomorfológicas da região: um Domo, que sob o aspecto

geomorfológico, destaca-se no contexto da região por apresentar rochas de origem

magmática condicionando a ação de fatores internos que formam o seu relevo

(fortemente ondulado).

Para efetuar o levantamento da situação ambiental, seguiu-se por dois

caminhos, percorrendo-se trilhas as quais se convencionou denominar de Trecho I e

Trecho II, como segue:

a) TRECHO I

Essa trilha iniciou no ponto 54°02'43,20"W e 01°51'3,65"S, porção leste da

serra, no local conhecido como Lagoa Azul. A entrada é pelo início do Ramal das

Pedras, vicinal da PA-423. O percurso em direção ao topo foi facilitado pela região

estar em período de estiagem, pois na estação das chuvas o trecho torna-se bem

mais perigoso devido à declividade acentuada do terreno predispondo as águas a

tingirem grande velocidade em curto tempo, causando enxurradas.

A passagem ruma pelo leito do Igarapé Janarí, seco no momento, mas que

nos períodos de cheia forma uma bela piscina natural, arquitetada com fragmentos

de rocha, chegando a atingir mais de dois metros de profundidade. Essa é a área

que mais atrai banhistas, por estar situada na parte mais baixa do relevo e mais

próxima à PA-423. Ressalta-se que esse ponto de lazer é parte do entorno da Serra

do Itauajuri.

Seguindo, a subida começa a ficar difícil na medida em que o grau de

inclinação da serra vai aumentando e pela presença de afloramentos rochosos, de

variados tamanhos e bastante escorregadios. Visualiza-se em muitas ocasiões a

formação de paredões de rocha, que algumas vezes devem ser escalados para

prosseguir em frente (Figura 3). Um verdadeiro desafio para os aventureiros.

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Figura 3 – Paredões de rochas presentes na Serra do Itauajuri (A e B).

Fonte: SEMA, 2013.

Os maiores atrativos, porém, estão nas inúmeras cachoeiras e piscinas

naturais, elementos marcantes nessa área. As quedas d’água estão associadas aos

desníveis abruptos encontrados pela drenagem.

As cachoeiras apresentam-se com escalas em vários degraus e quedas

d’água variando de 3 a 15 m de altura, todas terminando em piscinas naturais de no

mínimo 1,5 m de profundidade, podendo chegar a 3-4 metros (Prancha1). Uma

delas convida ao lazer por formar um mini tobo água natural de pequena inclinação,

direcionado a uma piscina natural de mais de 3 metros de profundidade, com água

de temperatura fria e boas condições para banho. É a chamada Cachoeira do

Escorrega (Figura 4). Do alto de sua borda mais alta (aproximadamente 5 m a partir

do nível da água) começam a aparecer o que provavelmente seriam concreções

ferruginosas, as quais promovem a coloração avermelhada da rocha nessa e em

outras áreas em direção à subida da serra (Figura 5). É importante destacar que

nem todas as piscinas são propícias para banho, sendo essas em número bem

reduzido.

A B

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Prancha 1 – Quedas d’água e piscinas naturais presentes na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. Fonte: SEMA, 2013.

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Figura 4 – Cachoeira do Escorrega, Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Figura 5 – Rochas de coloração avermelhada encontradas próximo à Cachoeira do Escorrega, com provável riqueza do elemento químico ferro (A e B).

Fonte: SEMA, 2013.

Pastana (1999a) cita que na região da Serra do Itauajuri existem ainda duas

cachoeiras bastante conhecidas com acesso relativamente fácil, que são as

cachoeiras do Açu das Pedras e do Igarapé Anai. O georreferenciamento realizado

pela equipe da SEMA localizou a primeira na região de entorno dessa serra, onde

está situada a Lagoa Azul. Quanto ao Igarapé Anai, os técnicos e guias que

acompanharam a expedição não souberam informar a respeito.

A paisagem em torno das cachoeiras é composta por árvores de porte médio,

com até 12 m de altura, em média. O solo nessas áreas parece ter o horizonte mais

superior com certo grau de matéria orgânica em vista da grande quantidade de

A B

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material vegetal na sua superfície. Sobre algumas rochas que estruturam essas

áreas, especialmente nas bordas das cachoeiras, raramente encontram-se

recobertas por musgos e entre as suas fendas são comuns crescimento de espécies

provavelmente arbóreas/arbustivas, que crescem lentamente devido a escassez de

nutrientes (Figura 6).

Figura 6 – Vegetação sobre as rochas e entre suas fendas compondo a paisagem entorno de uma queda d’água na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

b) TRECHO II

Esse percurso iniciou no ponto54°05'1,97"W e 01°50'4,65"S, a noroeste da

serra,na propriedade do produtor Valfredo Abreu da Silva, conhecido como “Seu

Louro”, localizado aproximadamente no km 5 da vicinal Ramal das Pedras. Por essa

trilha o acesso ao topo da serra é bastante dificultado em virtude do grau acentuado

de declividade, necessitando de grande esforço para vencer a força da gravidade.

Em muitos momentos é preciso agarrar-se nos galhos da vegetação para ganhar

impulso. O solo contribui para dificultar a subida, uma vez que é composto por

grande quantidade de rochas de tamanhos pequenos, as quais contribuem para o

desequilíbrio do corpo por rolarem facilmente ao serem pressionadas (Figura 7).

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Figura 7 - Parte da trilha percorrida no Trecho II, em direção à área de campos naturais, na Serra do Itauajuri.

Fonte: SEMA, 2013.

Seguindo caminho na área dos campos naturais, encontra-se o Igarapé Pajé,

com a maior parte do seu curso seco devido à escassez de chuva nesse período.

Apesar disso, uma bela piscina natural pode ser observada constituída por

fragmentos de rochas de coloração predominantemente acinzentada a avermelhada

com altura de aproximadamente 5 m na sua borda mais alta cuja profundidade, na

ocasião, atingia cerca de 2 m. A água nessa área é a típica da região da serra,

apresentando-se bastante fria, doce e cristalina (Figura 8).

O ambiente do Igarapé Pajé é muito frequentado, inclusive durante a seca,

quando os visitantes acampam, fazem piqueniques e tomam banho. Nesse caso,

chama-se a atenção para o fogo utilizado em churrascos, que podem causar grande

prejuízo à vegetação da área, até mesmo provocar incêndios pelo voo de faíscas.

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Figura 8 – Trecho seco do Igarapé Pajé (A). Piscina natural no curso do Igarapé Pajé (B).

Fonte: SEMA, 2013.

Mais adiante, a Cachoeira do Buraco é mais um dos atrativos da Serra do

Itauajuri. O curioso nessa área é a formação de uma cavidade natural conhecida por

Gruta da Cutia, haja vista o grande número de cutias que frequentam o local na

companhia de tatus e pacas (Figura 9). O odor no interior da gruta não é muito

agradável, mas o banho na piscina natural logo abaixo é relaxante. Há informações

de que existe outra cavidade natural por essas imediações, porém não foi possível

uma confirmação pelo pouco período da equipe em campo.

A legislação orienta a preservação e conservação de cavidades naturais, para

que sejam possíveis estudos e pesquisas de ordem técnico-científica e atividades de

cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo (art. 1º do

Decreto 6.640/2008) (BRASIL, 2008). Sem dúvida, a criação de uma UC neste local

seria uma grande medida para salvaguardar esse ambiente cavernícola,

considerado por muitos estudiosos um ecossistema de certa fragilidade.

Figura 9 – Gruta da Cutia, Cachoeira do Buraco (A). Piscina natural, Cachoeira do Buraco (B).

Fonte: SEMA, 2013.

A B

A B

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Próximo à trilha, mais à esquerda do ponto onde se localiza a Gruta da Cutia,

chegando à base da serra, identificou-se duas nascentes. De uma delas o guia, Sr.

Valfredo Abreu da Silva, o seu Louro, coleta a água para o abastecimento de sua

propriedade. Para tanto, aproveitando a declividade do terreno, fez-se uma ligação

direta da fonte com cano PVC de 25 mm, somando aproximadamente 285 metros de

comprimento. Essa canalização, leva água por gravidade até um reservatório

localizado ao lado da casa para ser utilizada com fins domésticos (Figura 10). Figura 10 -(A) Nascente próximo a trilha do trecho II. (B) Canos de PVC, para canalização de água.

Fonte: SEMA, 2013.

É também nessa área que encontramos um tipo de rocha, muito explorada

por pessoas da região, que a utilizam como amolador de ferramentas (facas,

terçados, entre outras). Trata-se do que é conhecido localmente por “pedra de

amolar”. São grandes fragmentos de rocha, retirados em pequenas partes,

suficientes para uso caseiro, e levados aos poucos devido seu peso ser bastante

significativo. A Figura 11 ilustra a presença dessas rochas.

Figura 11 - (A) Rocha conhecida na região como “pedra de amolar”. (B) Pedaço menor utilizado para amolar Ferramentas.

Fonte: SEMA, 2013.

A B

A B

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20

Na Figura 12, estão localizados os pontos com cachoeiras, piscinas naturais e

cursos d’água encontrados na Serra do Itauajuri durante a expedição de campo,

destacando a localização da Cachoeira do Escorrega (Trecho I) e da Cachoeira do

Buraco (Trecho II).

Figura 12 – Mapa de localização de pontos com cachoeiras, piscinas naturais e cursos d’água da Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

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4.2 BIODIVERSIDADE

Várias tipologias vegetais características do ambiente amazônico são

encontrados em Monte Alegre. Contudo, na região de estudo da Serra do Itauajuri

(no topo e flanco norte) predominam os campos naturais de terra firme (SILVA,

2008).

Os campos de Terra firme, também conhecidos como “Campos de Monte

Alegre”, são recobertos por uma vegetação denominada Campinarana (falsa

Campina), caracterizada por uma associação entre elementos florísticos da mata

das terras altas e espécies da flora dos campos ou campinas. Esses campos

reservam uma paisagem de grande beleza cênica, um dos fatores determinantes de

sua valoração e proteção legal (Lei 9.985/2000-SNUC, artigo 4º, inciso VI e artigo

11º.

A formação vegetal encontrada no topo da serra não possui uma fisionomia

única, apresentando desde formas campestres bem abertas como os campos limpos

ou campos naturais (sem vegetação lenhosa) até formas relativamente densas,

florestais como os cerradões e as matas de galeria (Figura 13).

Figura 13 – Formas campestres e florestais: (A) campo natural tendo ao fundo mata de galeria. E forma densa de cerradão (B), encontrados na Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Entre esses dois extremos fisionômicos, identificaram-se, no topo da Serra do

Itauajuri, algumas formas intermediárias como:

- Campos rupestres: caracterizam-se por apresentar afloramentos rochosos com

presença de ervas e arbustos, podendo ter arvoretas pouco desenvolvidas. Estão

presentes em forma de mosaico em áreas de topografia acidentada e grandes

A B

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blocos de rochas sobre solos geralmente rasos, ácidos e pobres em nutrientes

orgânicos (Figura 14);

Figura 14 – Campo rupestre caracterizado por afloramentos rochosos em topografia acidentada com solos rasos e pobres em nutrientes orgânicos (A) e (B), Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

- Campos tipo parque: caracterizam-se por apresentar uma fisionomia com

cobertura vegetal predominantemente formada por gramíneas, ciperáceas e

algumas espécies arbustivas esparsas (Figura 15). Esse ecossistema também se

desenvolve em topografia acidentada de solos rasos e ácidos;

- Campos cerrados: essa paisagem apresenta arbustos de até 3m de altura com

indivíduos de caules tortuosos, cascas espessas e fissuradas com destaque para a

presença constante do caimbé, caju-do-campo e barbatimão (Figura 16).

Figura 15 – Campo tipo parque com predominância de gramíneas e espécies arbustivas esparsas (A) e (B), Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

A B

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Figura 16 – Ecossistema de campo cerrado encontrado na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA (A) e (B).

Fonte: SEMA, 2013

Os solos dos cerrados do Município de Monte Alegre foram classificados em

Neossolos Litólicos por Oliveira Júnior et al. (1999), apresentando-se em relevo forte

ondulado. Para os referidos autores, em virtude desse tipo de relevo, da baixa

profundidade efetiva, alto impedimento físico e forte suscetibilidade à erosão, esses

solos tornam-se geralmente inviáveis a sua exploração agrícola. Contudo, essas

áreas são indicadas para preservação da flora e da fauna (Figura 17).

Figura 17 – Solo da área de campos naturais na Serra do Itauajuri (A e B).

Fonte: SEMA, 2013.

Do alto da serra, principalmente do ponto de maior elevação em relação ao

nível do mar (cerca de 428 m), é possível contemplar a cidade de Monte Alegre e

um trecho do Rio Amazonas e, durante à noite, as luzes das cidades de Alenquer e

Prainha. É uma visão fantástica, panorâmica, um grande atrativo para o turismo

contemplativo (Figura 18).

A B

B A

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Figura 18 – Visão do ponto mais alto da Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA (A e B).

Fonte: SEMA, 2013.

Ao longo das encostas verifica-se uma vegetação mais densa e fechada, o

que, à primeira vista, poderia evidenciar a existência de solos férteis. No entanto,

repousa sobre solos de baixa fertilidade natural. Por serem pedregosos e

quimicamente pobres, provavelmente devido a sua origem sedimentar, infere-se que

esses solos sejam também muito ácidos. Essas características, principalmente as de

natureza física, associadas à acentuada declividade dos terrenos sugerem fortes

restrições ao uso agrícola e até mesmo pecuário, ainda que exista certo potencial

nutricional (Figura 19). Talvez esse fator seja o principal responsável pela contenção

do avanço das encostas ao topo do relevo da Serra do Itauajuri, apesar da

insistência de alguns proprietários em avançar com suas áreas de pastagem (Figura

20). Figura 19 – (A) Panorâmica de mata de encosta na Serra do Itauajuri.(B) Solos pedregosos e de baixa fertilidade onde repousam essa cobertura vegetal,Monte alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

A B

B A

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Figura 20 – Antropização nas áreas de encosta, para a expansão de pastagens, em propriedades localizadas nabase da Serra do Itauajuri (A) e (B), Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Dentre as espécies que compõem a vegetação de mata, as mais comuns são:

urucuri, taperebá, sumaúma, inajá, palheira, boieira, buriti, bambu, açaí, bacaba,

mulateiro, taboca, angelim, cedro, faveira, muru-muru, curuá, marupá, pau vermelho

e embaúba, além de samambaias e bromélias (Figura 21).

Figura 21 – Palmáceas como açaí, uricuri, bacaba e inajá bem como outras espécies florestais são espécies presentes na flora da Serra do Itauajuri, Monte alegre/PA, (A) e (B).

Fonte: SEMA, 2013.

A fauna presente neste ambiente conta com a presença de macacos, cutias,

tatus, veados, catitus, pacas, cobras e as espécies de onça pintada, preta e parda

(ou vermelha), as três constando na lista presente no Livro Vermelho das Espécies

Ameaçadas, produzido pelo Instituto Chico Mendes, do Ministério do Meio Ambiente,

e ainda pela organização internacional IUCNna categoria de vulneráveis. Essas

espécies também enfrentam ameaças como a destruição de seus habitat com o

avanço do desmatamento, além da caça.

A B

B A

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Quanto aos apetrechos usados pelos caçadores, há informações de que além

de espingardas, também é muito comum o uso de “bufete” (arma de fabricação

artesanal), ambas proibidas por lei.

É importante informar que em algumas das piscinas identificadas pela equipe

em campo, especificamente no Trecho I, existem peixes aparentemente

ornamentais, além de camarões (Figura 22).

Figura 22– Espécie de camarão encontrado em uma das piscinas naturais no Trecho I, Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

4.3 IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA

Nas últimas décadas, sítios geológicos vêm sendo valorizados e fomentados

como importantes ferramentas na educação e divulgação de temas voltados ao meio

ambiente, podendo subsidiar ações do que se denomina hoje de geoturismo em

benefício da economia local, ajudando os turistas a compreender a evolução de sua

paisagem e a proteger os recursos naturais.

Localizada ao norte do Domo de Monte Alegre, a Serra do Itauajuri apresenta

soerguimento de rochas paleozóicas bem expostas (VIZEU; ALMEIDA, 2006), sendo

constituída por rochas sedimentares do período Carbonífero Inferior, de acordo com

dados de Pastana (1999a). Essa localização há muito tem atraído a atenção de

pesquisadores de todo o mundo, seja por suas características geomorfológicas ou

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por seu vasto e rico sítio arqueológico, mas que ainda necessita de estudos mais

acurados.

Em toda a sua extensão ocorre a presença provável de arenito, cuja variação

de cores pode estar em função da presença de material ferruginoso, comum na área

(Figura 23), variando de brancos a avermelhados, e de rochas básicas (diabásio)

(Figura 24), como as encontradas em outras áreas do Domo Monte Alegre por

Pastana (1999b). Também de acordo com Pastana (1999b), há a ocorrência de uma

jazida de calcário no extremo nordeste da Serra do Itauajuri, afirmação feita pelo

autor com base nos resultados de pesquisa que executou pela Companhia de

Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM – Superintendência Regional de Belém, em

1999. Figura 23 – Seixos de arenito (A) e rocha com provável presença de ferro (B) encontrados na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Figura 24 – Rochas básicas (diabásio) encontradas na Serra do Itauajuri, Monte Alegre/PA. (A e B).

Fonte: SEMA, 2013.

A B

B A

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Considerando a presença de concreções ferruginosas, a sua confirmação

seria relevante diante das informações que elas podem gerar sobre os materiais

geológicos que contribuíram quimicamente para a sua formação e influência na

paisagem local, cooperando com os estudos relativos ao meio ambiente, como

informado por Costa e Olszevski (2008).

No alto da serra, no ponto final do Trecho I, foram encontrados pequenos

pedaços de cerâmica, que segundo informações levantadas junto às comunidades

do entorno, seriam restos de materiais deixados por religiosos que tentaram erguer

um templo de adoração no local. Entretanto, há quem acredite que sejam materiais

líticos deixados por antepassados (Figura 25). Durante toda a expedição, não foram

encontradas evidências de que esse local tenha sido habitado por povos

antepassados (materiais de caráter lítico, pinturas rupestres, entre outros). No

entanto, será necessária uma avaliação mais específica por profissionais

qualificados, pois não se descarta a possibilidade de povos nômades (sedentários)

terem passado pelo local, uma vez que ali o solo é impróprio à agricultura.

Entretanto, há solos sem restrição para essa atividade na zona de entorno da serra

do Itauajuri com histórico de ocupação, como será discutido no item 4.3 (Ocupação

Humana). Figura 25 – Restos de cerâmica encontrados no alto da Serra do Itauajuri, ponto final do Trecho I.

Fonte: SEMA, 2013.

Outro aspecto que chama a atenção é a presença de alguns espaços com a

superfície do solo parecendo uma rua asfaltada, ladeada pela vegetação do cerrado

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(Figura 26). Essa paisagem só foi verificada na região de campo pelo trecho II. No

entanto, feição semelhante foi constatada por Figueira (2011) na margem do Igarapé

Açu, borda norte do domo, tendo sido classificada como arenito com estratificação

cruzada de pequeno e médio porte. A avaliação de um Geólogo é imprescindível

para a confirmação da origem dessa formação.

Figura 26 – Aspecto da superfície do solo em alguns trechos da área de campo (A) e (B) na Serra do Itauajuri (Coord. 01°51’04,37’’S e 54°04’50,13’’W).

Fonte: SEMA, 2013.

Diante do exposto, as atividades de geoturismo, tais como: trilhas, excursões

e palestras podem somar àquelas recomendadas pelo SNUC relacionadas à

promoção da educação ambiental e do ecoturismo em UCs de Proteção Integral.

Dessa forma, contribuindo para a preservação e/ou conservação da natureza na

Serra do Itauajuri.

4.4 ANTROPIZAÇÃO

O nível de antropização encontrado na Serra do Itauajuri pode ser

considerado baixo, existindo apenas algumas áreas de pastagem, principalmente a

sudeste e noroeste da área de estudo.

Nas áreas desmatadas para implantação de pastagem ocorre um fato

preocupante para os criadores locais. Para preparar o terreno, os mesmos utilizam o

método tradicional de corte e queima da cobertura vegetal existente. No entanto,

junto com a espécie forrageira plantada (braquiária) ocorre a disseminação de

inúmeros indivíduos da espécie conhecida regionalmente como palheira, que infesta

A B

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a área como uma invasora de difícil controle (Figura 27). Essa espécie é um tipo de

palmeira muito usada pelos nativos para cobertura de construções rústicas. Seus

frutos são importantes fontes de alimento para a fauna local, além de serem

utilizados também na alimentação humana. Esses frutos, cujas amêndoas são a

parte comestível, têm sabor levemente adocicado (como a polpa do coco) e são

facilmente coletados devido à pequena altura dos cachos.

Figura 27 – Área infestada com a espécie palheira após o corte e queima para o plantio de pastagem na Serra do Itauajuri.

Fonte: SEMA, 2013.

Não há relatos de que ocorra extração de madeira para quaisquer finalidades.

Igualmente, não se têm informações de que haja extração de minérios, apesar de

haver mina de calcário no interior da Serra do Itauajuri. Apenas, como já

mencionado, ocorre a retirada, em pequenas proporções, de “pedras de amolar”.

Nas áreas de campos, pouco foi verificado sobre ocorrências de fogo,

principalmente nas maiores altitudes. Porém, em alguns pontos isolados (próximos

da base do relevo), foram encontrados vestígios de que aconteceram queimadas

recentes, sem causa confirmada. Entretanto, há depoimentos de que, em algumas

vezes, essas queimadas sejam resultados de tocos de cigarro deixados por

visitantes e até mesmo de falta de aceiros por ocasião de preparo de solo para

pastagem nas partes mais baixas do relevo.

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As atividades relacionadas à agricultura só existem na região de entorno da

Serra do Itauajuri, uma vez que os solos da área de estudo são praticamente

impróprios para a agricultura.

4.5 OCUPAÇÃO HUMANA

Não existem indícios de área indígena ou quilombola no entorno da Serra do

Itauajuri, apenas comunidades consolidadas e fazendas.

Durante o reconhecimento da área, constatou-se a existência de seis (06)

comunidades e dez (10) fazendas, contudo apenas as comunidades mais próximas

da serra e duas das fazendas foram analisadas.

As comunidades Terra Preta, Três Bocas, Andirobal, Estrada de Igarapé das

Pedras são formadas por lotes de 22 a 25 ha, provenientes de assentamentos do

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e pertencentes a

Gleba Major Barata. Constituíram-se às margens das vicinais e/ou ramais (Figura

28), apresentam infraestrutura carente em todos os aspectos (transporte,

comunicação, energia e serviços) e as principais atividades da população são a

agricultura familiar e a pecuária.

As fazendas são propriedades particulares onde a principal atividade é a

pecuária, possuem documentação de posse e Cadastro Ambiental Rural – CAR.

Nesse contexto, destacam-se as Fazendas Canarinho e Solíbia pela infraestrutura

existente.

Figura 28 – Panorâmica de Comunidades localizadas às margens de vicinais: (A) Comunidade Terra Preta e (B) Comunidade Estrada D.

Fonte: SEMA, 2013.

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Comunidade Terra Preta

Localizada ao sul da Serra, possui aproximadamente sessenta (60) famílias.

As residências estão dispostas ao longo do ramal de acesso sem água encanada,

em lotes de 25 ha com: energia elétrica, escola polo (E.M.E.F. Terra Preta II),

associação de moradores, cemitério infantil (desativado) e igreja (Sant’Ana).

Cada família possui em média 20 cabeças de gado para corte em pastagem

plantada e cultivam em uma área (aproximadamente de 1 tarefa): mandioca e

hortaliças (couve, repolho, pimentão, alface, berinjela, maxixe e quiabo).

A maior área de pastagem da Comunidade Terra Preta é da fazenda do Sr.

Beto.

Comunidade Três Bocas

Localizada a noroeste da Serra, possui aproximadamente trinta (30) famílias.

As residências estão dispostas ao longo do ramal de acesso sem água encanada,

em lotes de 25 ha com energia elétrica, associação de moradores, cemitério infantil

(desativado) e igreja (Cristo Rei).

Cada família possui em média 20 cabeças de gado para corte em pastagem

plantada e cultivam mandioca, banana e feijão.

As maiores áreas de pastagem da comunidade são as fazendas do Sr.

Raimundo Barbosa (4 lotes de pastagem), Sr. Sabá (3 lotes de pastagem), Sr

Haroldo e Sr. Juca Maranhão (1 lote de pastagem).

Nessa comunidade, existe uma área reflorestada pela empresa FIDENS, que

explorava brita na região e atualmente está desativada.

Comunidade Andirobal Localizada a oeste da Serra, possui aproximadamente trinta (30) famílias. As

residências estão dispostas ao longo do ramal de acesso sem água encanada, em

lotes de 25 ha com: energia elétrica, associação de moradores e igreja (Santa

Luzia). Cada família possui em média 20 cabeças de gado para corte em pastagem

plantada e cultivam mandioca, feijão, milho, algumas espécies frutíferas e hortaliças

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como couve, cebolinha, coentro e maxixe (figura 29). Essa comunidade é produtora

de galinha caipira (caipirão) e também de leite. O produtor de leite da comunidade é

o Sr. Naldo Canário com 100 cabeças de bovinos com essa finalidade de

exploração.

Figura 29 - (A) Canteiros com cultivos de hortaliças. (B) Plantio de mandioca em área anteriormente cultivada com maracujá em comunidades do entorno da Serra do Itauajuri.

Fonte: SEMA, 2013.

Comunidade Estrada D Localizada a sudoeste da Serra, possui aproximadamente quarenta (40)

famílias. As residências estão dispostas ao longo do ramal de acesso sem água

encanada, em lotes de 22 ha com energia elétrica, escola (E.M.E.F. Major Barata),

associação de moradores e igreja (São José).

Cada família possui em média 15 cabeças de gado de corte em pastagem

plantadas e cultivam mandioca, milho e hortaliças (couve, pimenta, alface e maxixe).

Algumas famílias receberam financiamento (R$ 12.000,00) para implantação de

hortas.

Comunidade Igarapé das Pedras

Localizada ao norte da Serra, é a maior comunidade com aproximadamente

oitenta (80) famílias que vivem da agricultura familiar e da pecuária. Diferente das

outras comunidades, a principal atividade econômica é a pecuária e a única que não

possui energia elétrica. As residências estão dispostas ao longo do ramal de acesso,

A B

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sem água encanada, em lotes de 22 ha com escola (E.M.E.F. Igarapé das Pedras),

associação de moradores e igreja (N. Sra. da Conceição).

Cada família possui em média 15 cabeças de gado de corte em pastagem

plantadas e cultivam mandioca e hortaliças (couve, cebolinha, alface, repolho,

quiabo coentro e maxixe). Parte da produção abastece a Feira do Produtor Rural de

segunda a sexta-feira em Monte Alegre.

A maior fazenda da comunidade é do Sr. Carlos Ferreira.

Fazenda Canarinho A Fazenda Canarinho está localizada às margens da PA 423 e pertence à

comunidade de Genipá que dista cerca de 17 km de Monte Alegre.

Com área de 125 ha é produtiva e possui boa infraestrutura física: casa sede,

casa do caseiro, tanques de peixe, pasto e roça. As atividades desenvolvidas são a

pecuária (50 ha de pastagem) e a agricultura (10 tarefas de roçado) com as culturas

de milho, mandioca e frutíferas como banana, goiaba, coco e cupuaçu. O milho é a

única cultura na região, plantada nas encostas da serra.

No preparo de área para a implantação de pastagem foi utilizado o método

tradicional de corte e queimada, a espécie de forrageira plantada a braquiária. O

tempo de implantação foi de oito (08) anos. A finalidade de exploração é o bovino de

corte em sistema de manejo extensivo, contudo houve uma tentativa de criação de

rebanho bubalino que não prosperou.

A fazenda possui ainda oito (08) tanques interligados destinados a criação de

peixes como: pirarucu, tambaqui e tambatinga. O sistema de abastecimento d’água

dos tanques é bastante peculiar: captação (nascentes), reservação (caixa d’água e

cisterna) e distribuição por gravidade (Figura 30). O proprietário da fazenda, Sr.

Juquinha Canário, possui uma parceria com a Prefeitura de Monte Alegre na

produção alevinos para as comunidades. Vale ainda ressaltar que a fazenda possui

várias nascentes entre elas a do igarapé Genipá, que dá nome a comunidade.

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Figura 30 -(A) Nascente protegida para captação de água. (B) Tanque escavado para exploração de piscicultura, Fazenda Canarinho Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

Não há histórico de conflitos na área com ocupação humana, apenas a ação

isolada de caçadores que ateiam fogo no alto da Serra do Itauajuri. A população é

consciente da importância ambiental que a área representa para o equilíbrio e

manutenção do ecossistema. A figura 31 ilustra a situação de localização das

comunidades e fazendas na área de influência no entorno da serra.

A B

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Figura 31 - Mapa de localização das áreas com ocupação humana na zona de influência na Serra do Itauajuri Monte Alegre/PA.

Fonte: SEMA, 2013.

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5 CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES

1. Dadas as belezas cênicas, o seu quadro natural preservado e suas

potencialidades para o desenvolvimento do ecoturismo, modalidade de turismo

que vem crescendo em áreas protegidas, a Serra do Itauajuri tem forte

viabilidade para ser transformada em Unidade de Conservação da Natureza;

2. O levantamento fundiário preliminar apontou grau quase nulo de ocupação no

interior da área. Entretanto, no entorno foram encontradas no mínimo 10 (dez)

fazendas e 05 (cinco) comunidades, sendo que a Comunidade Igarapé das

Pedras configura-se como a maior da região de entorno e tem a pecuária como

principal atividade produtiva;

3. A categoria mais adequada para a situação presente dessa área é a de Parque

Natural Municipal, inserida no grupo de UC de Proteção Integral, segundo a Lei

do SNUC. Nesse caso, toda a área inserida nos limites dessa Unidade de

Conservação deverá ser de domínio público, devendo ocorrer a desapropriação,

conforme dispõe a legislação em vigor das áreas que encontram-se ocupadas

por pastagens;

4. Para dar prosseguimento ao processo de implementação do Parque Natural

Municipal serão necessários estudos mais detalhados, incluindo os meios

biológico, físico e socioeconômico, além do levantamento mais preciso da

situação fundiária. Recomenda-se que façam parte dessa fase dos estudos um

Historiador ou Antropólogo e um Geólogo;

5. Medidas de proteção ao patrimônio geológico adequadas poderão ser

asseguradas pela autoridade de gestão do Parque Natural Municipal em

colaboração com os serviços geológicos, pelas universidades e outras

instituições;

6. As diretrizes gerais dadas pelo Zoneamento e pelo Plano de Manejo irão definir

as áreas passíveis de se realizar atividades ligadas ao turismo.

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VISEU, R.; ALMEIDA, C. Relatório de aspectos abióticos da região do Parque Estadual Monte Alegre. 2006, Mimeo.