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Cupuaçu: Mudas PLANTAR coleç o ã

PLANTAR coleç o ã - core.ac.uk · 3 Autores Aparecida das Graças Claret de Souza Engenheira agrônoma, D.Sc. em Fitotecnia, pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus,

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Cupuaçu: Mudas

PLANTARcoleç oã

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa Amazônia OcidentalMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Embrapa Informação TecnológicaBrasília, DF

2008

A CULTURA DOCUPUAÇU: MUDAS

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Coleção Plantar, 62

Produção editorial: Embrapa Informação TecnológicaCoordenação editorial: Fernando do Amaral Pereira

Mayara Rosa CarneiroLucilene Maria de Andrade

Supervisão editorial: Juliana Meireles FortalezaCopidesque e revisão de texto: Francisco C. MartinsNormalização bibliográfica: Celina Tomaz de CarvalhoProjeto gráfico da coleção: Textonovo Editora e Serviços Editoriais Ltda.Editoração eletrônica: Júlio César da Silva DelfinoArte-final da capa: Júlio César da Silva DelfinoIlustração da capa: Álvaro Evandro X. Nunes

1a edição1a impressão (2008): 2.000 exemplares

Todos os direitos reservadosA reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou emparte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no. 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

A cultura do cupuaçu : mudas – Brasília, DF : Embrapa Informação Tecnológica,2008.52 p. : il. – (Coleção Plantar, 62).

Na página de autores: Aparecida das Graças Claret de Souza et al.ISBN 978-85-7383-445-1

1. Cupuaçu. 2. Propagação vegetativa. 3. Viveiro. I. Embrapa AmazôniaOcidental. II. Coleção.

CDD 634.6

© Embrapa 2008

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Autores

Aparecida das Graças Claret de SouzaEngenheira agrônoma, D.Sc. em Fitotecnia,pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus, [email protected]

Maria Geralda de SouzaEngenheira florestal, D.Sc. em Fitopatologia,pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus, [email protected]

Rodrigo Fascin BerniEngenheiro agrônomo, M.Sc. em Fitotecnia,pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus, [email protected]

Ana Maria Santa Rosa PamplonaEngenheira agrônoma, M.Sc. em Entomologia,pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus, [email protected]

George Duarte RibeiroEngenheiro agrônomo, M.Sc. em Fitotecnia,pesquisador da Embrapa Rondônia, Porto Velho, [email protected]

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Apresentação

Em formato de bolso, ilustrados e escritos emlinguagem objetiva, didática e simples, os títulos daColeção Plantar têm por público-alvo produtores rurais,estudantes, sitiantes, chacareiros, donas de casa edemais interessados em resultados de pesquisa obtidos,testados e validados pela Embrapa.

Cada título desta coleção enfoca aspectos básicosrelacionados ao cultivo de, por exemplo, hortaliça,fruteira, planta medicinal, planta oleaginosa, condimentoe especiaria.

Editada pela Embrapa Informação Tecnológica,em parceria com as demais Unidades de Pesquisada Empresa, esta coleção integra a linha editorialTransferência de Tecnologia, cujo principal objetivo épreencher lacunas de informação técnico-científicaagropecuária direcionada ao pequeno produtor rural e,com isso, contribuir para o aumento da produção dealimentos de melhor qualidade, bem como para a geraçãode mais renda e mais emprego para os brasileiros.

Fernando do Amaral PereiraGerente-Geral

Embrapa Informação Tecnológica

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Sumário

Introdução................................................. 9

Propagação ............................................. 13

Viveiro ..................................................... 37

Transporte das Mudas ............................ 47

Plantas-matrizes ...................................... 48

Coeficientes Técnicos ............................ 49

Referências.............................................. 51

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Introdução

O cupuaçu – fruto do cupuaçuzeiro[Theobroma grandiflorum (Willd. exSpreng.) Schum.] – designado fruta nacio-nal pela Lei no 11.675, de 19 de maio de 2008,é uma das frutas nativas mais populares emais consumidas da Amazônia, sendo seucultivo de suma importância para a agricul-tura familiar.

A planta do cupuaçuzeiro possui siste-ma radicular pivotante, folhas inteiras, decoloração rósea, cobertas de pêlos quandojovens, e verdes quando maduras. As flo-res – as maiores do gênero – apresentampétalas de coloração branca ou vermelha,com tonalidade variável, de clara a escura.

O fruto é uma baga de formato variá-vel, medindo de 10 cm a 40 cm de compri-mento por 9 cm a 15 cm de diâmetro,

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chegando a pesar 200 g a 4 kg, com médiade 1,2 kg.

A casca do fruto é recoberta por pê-los, apresenta coloração castanho-escura esua espessura mede de 0,6 cm a 1 cm. Em-bora apresente consistência dura, é facilmentequebrável (Fig. 1).

Fig. 1. Folhas (A), flores (B), frutos (C) e sementes (D)do cupuaçuzeiro.

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Além de ser aproveitada como adubo,a casca do fruto é usada em artesanato fino,na confecção de bijuterias.

O fruto do cupuaçuzeiro apresenta37 % de polpa, 15 % de sementes, 3 % deplacenta e 45 % de casca. Nos frutos semsementes, o percentual de polpa é de 60 %a 68 %.

A polpa é ácida e apresenta coloraçãoamarelo, creme a branca (Tabela 1). O sa-bor e o aroma dessa fruta permanecem nosprodutos processados, reconhecidos e apro-vados mundialmente, nas formas de néctar,refrescos, sorvetes, laticínios, bombons,geléias, doces, pavês, musses, etc.

Em média, o fruto contém 32 sementes,as quais medem 2,5 cm de comprimento, por2,0 cm de largura, por 1,5 cm de espessura.Cada semente chega a pesar de 4 g a 7 g.

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Tabela 1. Análise bromatológica da polpa do cupuaçu.

Variáveis Valores médios

Umidade (%)(1) 82,20Acidez (%)(1) 2,40oBrix(1) 13,30oBrix/acidez(1) 5,70pH(1) 3,10Pectina (%)(2) 0,39Voláteis (%)(2) 89,00Vitamina C (mg %)(2) 23,12Aminoácidos (mg % de N) (2) 21,90Extrato etéreo (%)(2) 0,53

Fonte: (1) Souza e Silva (1999). (2)Nazaré (1997).

As sementes do cupuaçu são ricas emgordura e em proteínas e podem ser usadasna elaboração de cupulate (produto seme-lhante ao chocolate de cacau) e de outrosprodutos da indústria alimentícia.

A gordura encontrada nas sementes decupuaçu apresenta alto poder de absorção,sendo usada na indústria de cosméticos (cre-mes hidratantes) e na indústria têxtil, na fa-bricação de amaciantes.

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O cupuaçuzeiro se desenvolve bem emcondições de temperatura média anual de21,6 oC a 27,5 oC, com umidade relativa doar variando de 77 % a 88 % e regime pluvi-al mais adequado, entre 1.900 mm e3.100 mm, considerando-se que a distribui-ção é mais importante que o total anual dechuvas.

A floração dessa espécie ocorre na épo-ca mais seca do ano, normalmente de julhoa setembro.

Propagação

Propagação é um conjunto de práticasdestinadas a perpetuar as espécies de formacontrolada, com o objetivo de aumentar onúmero de plantas, assegurando a manuten-ção das características agronômicas essen-ciais das cultivares.

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Os métodos de propagação dividem-se em dois grupos:

• Propagação sexuada (por sementes).

• Propagação vegetativa ou assexuada(por enxertia).

O cupuaçuzeiro pode ser propagadotanto por sementes como por enxertia.Ambos os processos requerem a forma-ção de mudas por sementes. Essas mudasdevem ser formadas 8 meses antes do plan-tio.

Nota: as plantas-matrizes fornecedoras de se-mentes devem ser vigorosas, sadias e produtivas.

Para se implantar um pomar de cupua-çuzeiro, a escolha de mudas de qualidade émuito importante. No Brasil, já existe legis-lação específica que garante a identidade e aqualidade de material de multiplicação e de

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reprodução vegetal. Esse tipo de material jáé comercializado e usado em todo o País.

A Lei nº 10.711, de 5 de agosto de2003 – e seu regulamento técnico – o De-creto nº 5.153, de 23 de julho de 2004, cria-ram o Sistema Nacional de Sementes eMudas (SNSM), com esse objetivo.

Assim, as pessoas físicas e jurídicasque exerçam atividades de produção, bene-ficiamento, embalagem, armazenamento, aná-lise, comércio, importação e exportação desementes e mudas são obrigadas a se ins-creverem no Registro Nacional de Semen-tes e Mudas (Renasem).

Essa inscrição é de competência doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento (Mapa), o qual é representado nosestados pela Superintendência Federal deAgricultura, Pecuária e Abastecimento (SFA).

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Propagação por sementes

Coleta dos frutos – Na Região Norte,a maturação dos frutos dessa espécie ocor-re no período chuvoso. No Estado do Ama-zonas, a safra do cupuaçu ocorre de outubroa junho, com pico em março, podendo ocor-rer variações em função da distribuição daschuvas.

A maturação dos frutos é indicada porsua queda natural no solo, quando eles po-dem ser coletados (do chão) em vez de sefazer a colheita dos galhos, como acontececom muitas frutíferas.

Para a extração de sementes, só sãocoletados os frutos maduros, grandes e sa-dios. Frutos atacados por vassoura-de-bru-xa (com mancha escura na casca e polpaapodrecida), com broca-do-fruto (amêndo-as e polpa apodrecidas, casca com furos e

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larvas), e fermentados (“passados”) devemser descartados.

Após a coleta fazer o transporte dosfrutos até o local de despolpamento (Fig. 2).

Extração das sementes – A quebrado fruto e a remoção da casca são feitasmanualmente. Em seguida, procede-se aodespolpamento e à extração das sementes.

Como as sementes são firmemente ade-ridas à polpa, na hora do despolpamentomanual, deve-se usar uma tesoura de pontafina e remover o máximo de polpa. Já no

Fig. 2. Fruto maduro: coleta (A) e transporte (B).

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despolpamento mecânico, usa-se a despol-padeira (Fig. 3).

Tanto a despolpa manual quanto a me-cânica devem ser feitas com cuidado, paraevitar rachaduras ou injúrias (lesões) e remo-ver o máximo da polpa aderida ao tegumentodas sementes, as quais não podem fermentarnem secar demasiadamente, para que sua ca-pacidade germinativa não seja afetada.

Sementes extraídas adequadamente –sem perdas de umidade e semeadas em con-

Fig. 3. Extração de sementes de cupuaçu: despolpa mecânica(A); despolpa manual (B); e sementes recém-despolpadas (C).

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dições favoráveis – apresentam percentualde germinação acima de 95 %.

Seleção das sementes – Na hora deselecionar as sementes, devem-se escolheras maiores, rejeitando-se as pequenas, asdanificadas e as chochas. Um quilo de se-mentes recém-despolpadas contém de 140a 200 sementes.

Nota: recomenda-se preparar 20 % de sementesacima da necessidade prevista, para reposição deperdas tanto em viveiro como em replantio.

Conservação das sementes – As se-mentes de cupuaçu são recalcitrantes, ou seja,intolerantes a baixa umidade (mínimo de 40 %)e a temperatura abaixo de 15 °C. Por isso,não devem ser secas e nem guardadas emgeladeira ou conservadas em câmara fria.

Assim, diante da impossibilidade de seproceder à semeadura logo após o despol-

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pamento, recomenda-se conservar as semen-tes em serragem curtida, ligeiramente úmida(Fig. 4).

Nota: para se verificar a umidade da serra-gem, basta apertá-la na palma da mão, mantendoos dedos coesos. Se não verter água entre os dedos,a serragem está pronta para ser usada.

O tempo de conservação das semen-tes de cupuaçu – em serragem curtida e úmi-

Fig. 4. Sementes de cupuaçu em serragem curtida e úmida.

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da – não deve ultrapassar 8 dias, porque nosexto dia elas já começam a germinar. Porisso, é que seu manuseio requer cuidadosespeciais.

Sacos de polietileno para produçãode mudas – Geralmente, na preparação demudas de cupuaçu, as embalagem usadassão sacos de polietileno de 33 cm de alturapor 21 cm de largura, por 0,15 mm de es-pessura. Esses sacos devem ser perfuradosna metade inferior, para facilitar a drenagemdo excesso de água.

Preparo do substrato – Substrato éo material usado no enchimento dos sacosde polietileno, na preparação de mudas.Normalmente, na cultura do cupuaçu, o subs-trato usado é constituído de terriço (cama-da superficial do solo de mata contendomatéria orgânica decomposta), areia, aduboorgânico e químico.

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É importante que a composição dosubstrato seja proporcional e equilibrada,para que este não fique nem muito arenoso(não retém umidade e nutrientes), nem mui-to argiloso (impedindo que a água de regapenetre com facilidade).

É recomendável analisar o substrato,para verificar se há necessidade de correçãopor meio de calagem e complementação denutrientes. Contudo, recomenda-se uma mis-tura de solo, areia e esterco bovino curtidosna proporção de 3:1:1.

Para substrato de Latossolo Amarelo –com baixa fertilidade e alta acidez trocável(AI3+ > 1,0) – sugere-se a adubação quími-ca apresentada na Tabela 2.

Semeadura – Para se proceder à se-meadura, deve-se encher cada saquinho comsubstrato e dispô-los um a um no viveiro.

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Por sua vez, a semeadura é feita direta-mente em cada saquinho, colocando-se umasemente a 2 cm de profundidade.

A germinação da semente de cupuaçué rápida e uniforme, com o ótimo de tempe-ratura entre 25 ºC e 30 ºC. A emergênciadas plântulas ocorre entre o 13o e o 15º dia

Tabela 2. Adubação de substrato para formação de mudas decupuaçuzeiro.

Adubação para cada metro cúbico (m3) de substrato

750 g de superfosfato triplo ou 1,6 kg de superfosfato simples2,0 kg de calcário dolomítico100 g de fritas contendo micronutrientes450 g de cloreto de potássio500 g de sulfato de amônia

Adubação de cobertura

Diluir 500 g de uréia em 25 L de águaAplicar 25 mL da solução/planta aos 60 d.a.p. (dias após oplantio) e 90 d.a.p.A partir dos 120 d.a.p. aplicar 50 mL da solução/planta a cada60 diasAntes da adubação de cobertura, irrigar as mudas

Fonte: Souza et al. (2007).

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após a semeadura, estendendo-se até o25o dia.

Os porta-enxertos estarão prontos paraenxertia cerca de 8 meses após a semeadura.

Propagação vegetativa

O cupuaçuzeiro propagado por semen-te apresenta precocidade, ou seja, inicia afrutificação 2 anos e meio após o plantio.Assim, a propagação vegetativa não é ado-tada, visando-se precocidade ou redução deporte da planta.

A muda enxertada de cupuaçuzeiro éimportante para multiplicação de cultivarescom boas características, como produti-vidade e resistência a doenças e pragas.Mudas enxertadas requerem atençãoespecial.

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Por isso, recomenda-se usar diferentescultivares copa, pois quando se usa umaúnica cultivar, haverá baixo ou nenhum vin-gamento de frutos, devido à ocorrência deauto-incompatibilidade nessa espécie.

O processo de propagação vegetativamais usado é a enxertia, que consiste em seobter uma planta a partir da combinação departes de duas plantas: uma planta fornece oenxerto (gema ou garfo) e a outra o porta-enxerto ou cavalo (muda de semente). Assim,o enxerto fornece a copa da planta e o porta-enxerto o sistema radicular.

No cupuaçuzeiro, os principais métodosde enxertia são borbulhia e garfagem, e o porta-enxerto adotado é a planta de cupuaçuzeiro.

Materiais usados em enxertia – Osmateriais usados em enxertia estão listadosa seguir:

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• Tesoura de poda.

• Canivete de enxertia.

• Lima para amolar lâminas de corte (te-soura e canivete).

• Fita adesiva (transparente) para amar-rio.

• Sacos de plástico (impermeável etransparente), para formar câmaraúmida.

• Etiquetas para identificação dos ma-teriais.

• Banquinho ou caixa (de 20 cm a25 cm de altura), com gaveta, paraguardar ferramentas.

• Caixa de isopor, para transportar emanter as hastes coletadas.

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• Parafina para proteger as extremida-des das hastes e evitar perdas de umi-dade.

• Material propagativo (garfos e bor-bulhas).

Enxertia por borbulhia – Borbulhiaé o processo que consiste na justaposiçãode uma única gema sobre um porta-enxertoenraizado. Um dos tipos de enxertia usadosna propagação do cupuaçuzeiro é a borbu-lhia em janela aberta.

Nesse tipo de enxertia, o porta-enxerto(cavalo) deve medir aproximadamente 1 cmde diâmetro no ponto de enxertia.

• Retirada e conservação de hastes –Com uma tesoura de poda, extraem-se hastes de brotações maduras e sa-dias. A extração das hastes deve ser

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feita na manhã do mesmo dia em quese procederá à enxertia. As gemas nãodevem estar brotadas ou ausentes(borbulha “cega”).

Diante da necessidade de se conservaras hastes, devem-se cortar as folhas na me-tade do limbo, untar as extremidades dashastes com parafina e envolvê-las em jornalou em tecido poroso umedecido.

Em seguida, as hastes devem ser acon-dicionadas em caixa de isopor (Fig. 5).

Fig. 5. Conservação de hastes de cupuaçuzeiro.

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Nota: de uma única haste é possível obter-sede 3 a 5 borbulhas.

• Preparo de porta-enxertos – O por-ta-enxerto deve estar “soltando a cas-ca” e ter aproximadamente 1 cm dediâmetro do caule a 20 cm do solo.

O local onde se fará a enxertia deve serpreviamente limpo. Em seguida, são feitasduas incisões transversais e duas longitudi-nais no porta-enxerto, para liberar a região aser ocupada pela borbulha.

• Como fazer enxertia – Para se proce-der à enxertia, deve-se retirar a bor-bulha da haste, com um canivete. Emseguida, fazem-se duas incisões trans-versais e duas longitudinais no ramo.

O tamanho da borbulha deve ser o maisaproximado possível da abertura lateral doporta-enxerto (cavalo), onde esta deve ser

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inserida, ajustando-se à casca do cavalo.Esse ajuste favorece o pegamento (Fig. 6).

Para que a soldadura do enxerto ocor-ra, é importante que ambas as partes este-jam bem ajustadas por amarilho. Para isso,usa-se fita adesiva transparente, a qual nãodeve ficar nem folgada nem muito apertada.

Nota: já existe, no mercado, uma fita adesivadegradável que dispensa remoção após o pegamen-to do enxerto.

A fita adesiva deve ser removida 20 a30 dias após a enxertia. Por sua vez, a que-bra da dominância apical do porta-enxertodeve ser feita 7 dias após a remoção da fita,efetuando-se a decapitação do porta-enxer-to 10 cm acima do ponto de enxertia, parafavorecer a brotação da gema.

Em seguida, deve-se proceder ao tuto-ramento do enxerto, para melhor condução

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do fuste. O porta-enxerto decapitado servecomo tutor (Fig. 7).

A poda de formação é feita decapitan-do-se o fuste do enxerto a 50 cm ou 60 cmde altura, para forçar o lançamento de ra-mos laterais e garantir melhor arquitetura dacopa.

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Fig. 7. Muda formada por enxertiapor borbulhia.

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Nota: também pode-se adotar a enxertia porborbulhia em “T” invertido. Nesse caso, faz-se umcorte transversal e outro perpendicular no porta-enxerto, de modo que os dois cortes formem um “T”invertido.

Enxertia por garfagem – Esse tipode enxertia consiste na junção de um peda-ço de ramo denominado “garfo” retirado daplanta-mãe e enxertado sobre um porta-en-xerto. O garfo apresenta mais de uma gema,tem diâmetro igual ou menor que o do por-ta-enxerto.

• Garfagem em fenda cheia – O enxer-tador corta a parte terminal do porta-enxerto e abre uma fenda de cerca de2 cm a 3 cm no caule (Fig. 8).

A decapitação do porta-enxerto deveser feita numa altura com diâmetro semelhan-te ao diâmetro basal da ponteira a ser enxer-tada. O garfo – com a base cortada em

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cunha – é inserido na fenda do porta-enxer-to e em seguida amarrado com fita adesivaou fixado com grampo de enxertia.

Depois, o porta-enxerto é colocado emcâmara úmida, uma espécie de tenda feitacom plástico transparente preso na base,com liga, para manter a umidade e evitar adesidratação do garfo.

A câmara úmida só deve ser removidaquando a primeira brotação estiver comple-tamente desenvolvida, o que normalmenteocorre entre 30 e 35 dias após a enxertia.

Depois que a câmara úmida for remo-vida, as mudas devem permanecer por mais10 dias, em condição de sombra densa.

• Garfagem em bisel – A enxertia tam-bém pode ser feita pelo método degarfagem em bisel, em que o garfo eo porta-enxerto apresentam o mesmo

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diâmetro e são cortados em forma debisel, de modo que haja perfeita uniãodas duas partes.

Após a união dessas duas partes, osprocedimentos são os mesmos adotados nométodo de garfagem por fenda cheia.

Quando a muda é obtida por garfagem,não há necessidade de tutoramento (Fig. 9),

Fig. 9. Muda enxertada porgarfagem.

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uma vez que a correção da copa pode serfeita apenas com podas de formação.

Uma boa muda enxertada deve apre-sentar soldadura perfeita do enxerto, tendoos pontos de união entre o “cavalo” e o gar-fo ou gema compatíveis com o diâmetro.

Viveiro

O viveiro é um canteiro onde se semei-am vegetais, para se obter plântulas ou mu-das a serem transplantadas posteriormente.Em outras palavras, o viveiro é o local ondeas mudas são formadas.

Localização

O viveiro deve ser implantado longe doplantio de cupuaçu, uma vez que, em plan-tas adultas, normalmente ocorre incidência

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de pragas e doenças, que podem ser trans-mitidas para as mudas.

Assim, a área destinada à formação demudas deve ser isolada e nunca situada den-tro do plantio.

O local do viveiro deve ser de fácil aces-so, próximo à fonte de água. Todo o viveirodeve ser mantido livre de ervas daninhas.A limpeza da área deve ser feita regularmen-te, inclusive na parte externa.

Para atingir bom crescimento, a mudado cupuaçuzeiro requer 50 % de sombra.Por isso, o viveiro deve apresentar boas con-dições de sombreamento, que pode ser na-tural ou artificial.

Sombreamento

Viveiro com sombreamento natu-ral – Caso se adote esse tipo de sombrea-

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mento, geralmente em condição de sub-bos-que – para produção de poucas mudas epara consumo próprio – deve-se procederrigorosamente à limpeza da área e à arruma-ção (organização) dos saquinhos, para faci-litar os tratos culturais e o trânsito no local.

A vantagem desse tipo de viveiro estáno baixo custo de instalação. Contudo, ain-da apresenta alguns inconvenientes como:

• Está sujeito a prejuízos causados pelaação de animais.

• Dificuldade de uniformização do som-breamento e redução para aclimata-ção das mudas.

• Desenvolvimento desuniforme, alémdos danos que podem ser causadosem caso de chuvas fortes.

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Viveiro com sombreamento artifi-cial – No sombreamento artificial, o viveirodeve ser construído com 2,40 m de altura ecom estrutura principal com mourões de 3 mde comprimento por 20 cm de diâmetro eespaçamento de 3 m entre si.

A cobertura deve ser feita com teladode sombrite 50 %, ou com ripas de madeiraou de bambu. Esse tipo de viveiro asseguramelhor uniformização do sombreamento emelhor desenvolvimento das mudas.

Nota: na produção de mudas enxertadas porgarfagem, deve-se adotar sombreamento de 80 %na área onde as mudas serão mantidas até o desen-volvimento do enxerto.

Disposição das mudas no viveiro

No viveiro, a arrumação deve ser feitaem faixas, alinhando-se cinco saquinhos com

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espaçamento de 25 cm entre linhas e 50 cmentre faixas, para possibilitar as práticas cul-turais nas mudas (Fig. 10).

Essa distância é fundamental, pois seas mudas ficarem muito próximas, podeocorrer estiolamento (desenvolvimento anor-mal) das mudas.

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Fig. 10. Arrumação das mudas de cupuaçuzeiro no viveiro.

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Tratos culturais

Os cuidados dispensados ao viveirodevem ser freqüentes e executados com ri-gor, para garantir crescimento rápido e sau-dável, além da qualidade das mudas.

Rega das mudas – Para que a umidadeseja mantida, deve-se proceder à irrigaçãosempre que necessário, mas sem causarencharcamento dentro dos saquinhos. Antesde regar, é recomendável observar o teor deumidade do substrato.

Eliminação de plantas invasoras –A retirada (capina) de plantas invasoras deveser feita manualmente. Assim, as invasorasque nascem dentro dos saquinhos (juntocom as mudas) são arrancadas uma a uma,para evitar a competição em luz, água e nu-t r i en tes .

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Por sua vez, plantas que crescem forados saquinhos (dentro e em torno do vivei-ro) também são eliminadas, por serem hos-pedeiras de pragas e doenças.

Manejo fitossanitário do viveiro –Esse manejo deve ser feito em rondas perió-dicas, ocasião em que se detecta a ocorrên-cia de pragas e doenças.

Doenças – A principal doença que ata-ca as mudas dessa cultura é a vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Crinipellisperniciosa (Stahel Singer). Esse fungo afetaos tecidos meristemáticos em crescimento,nas mudas.

As mudas afetadas por essa doençaapresentam os seguintes sintomas (sinais):

• Engrossamento do caule.

• Superbrotações (Fig. 11).

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Depois, secam e morrem. Diante dessequadro, as mudas afetadas devem ser remo-vidas do viveiro e depois queimadas.

Fig. 11. Muda de cupuaçu com sintoma davassoura-de-bruxa.

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Pragas – A praga que ataca as mudasde cupuaçuzeiro é a broca-do-broto (Cole-optera: Curculionidae), também conhecidacomo broca-da-ponteira. Essa praga é mui-to severa, com índice de ataque variando de15 % a 20 %, podendo chegar a 60 %.

Esse pequeno besouro (coleoptero),cuja larva ataca os brotos, onde se desen-volvem e empupam, prejudica o desenvolvi-mento das mudas dessa cultura. Suaocorrência é facilmente identificada por sin-tomas como secamento do ápice da muda esurgimento de brotações laterais (Fig. 12).

Como medida de controle deve-se fa-zer o controle manual catando-se as larvasnas ponteiras secas, para evitar a multiplica-ção de adultos. Além disso, devem-se tam-bém eliminar as mudas velhas, próximas aoviveiro, que são hospedeiras dessa praga.

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Aclimatação – A aclimatação consis-te na retirada gradual da cobertura e deveser implantada gradualmente 60 dias antesdo plantio definitivo, para que 20 dias antesdo plantio, as mudas já estejam a pleno sol.

Essa medida permite maior insolaçãoàs mudas, reduz o estresse no plantio e as-segura maior sobrevivência da cultura nocampo.

O controle de sombreamento deve ter50 % de sombra até o início da aclimata-

Fig. 12. Broca-do-broto ou broca-da-ponteira: inseto adulto(A); larva (B); e ponteira danificada (C).

Fot

os:

Apa

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Sou

za

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ção. No caso de viveiro com sombrite, umaopção seria o transporte das mudas para oviveiro de aclimatação, o qual pode ser co-berto com folhas de palmeira.

Transporte das Mudas

A muda de cupuaçuzeiro (propagadapor semente) estará em condições de sertransplantada 8 meses após a semeadura,quando deve medir entre 60 cm e 80 cm dealtura, e diâmetro do coleto em torno de1,5 cm, com aproximadamente 21 folhasmaduras.

Nessa fase, a muda poderá ou nãoapresentar a primeira trifurcação na partesuperior do caule.

As mudas devem ser transportadas comcuidado, evitando-se a quebra do torrão, aqueima das folhas pelo vento e o excesso

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de manuseio. Recomenda-se usar caixas queacomodem várias mudas e evitem pressãosobre o torrão.

Em caso de se transportar as mudasmanualmente, deve-se segurá-las pela emba-lagem (saco de polietileno) e nunca pelo cau-le, para garantir sua integridade.

Plantas-matrizes

As plantas-matrizes são aquelas seleci-onadas como fornecedoras de sementes paraformação dos porta-enxertos e das mudasde pé-franco, bem como as plantas selecio-nadas para fornecimento de garfos e borbu-lhas para enxertia, isto é, as variedades queformam a copa.

A área com as plantas-matrizes não deveser próxima da área do viveiro, para evitar a

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contaminação das mudas com possíveis pra-gas e doenças. Também não deve ser muitodistante, para não dificultar o transporte dashastes para a enxertia.

As práticas culturais recomendadaspara essa cultura devem ser seguidas rigo-rosamente, para que as plantas-matrizes semantenham sadias e em excelente estadonutricional.

Nota: a quantidade das plantas-matrizes deveser calculada de acordo com a quantidade de mu-

das que se deseja produzir.

Coeficientes Técnicos

Na Tabela 3, encontram-se os coeficien-tes técnicos para instalação e manutençãode um viveiro com 10 mil mudas de cu-puaçu.

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Tabela 3. Coeficientes técnicos para produção de 10 mil mu-das de cupuaçu.

Discriminação de insumos Unidade Quantidade

Semente Kg 55Sacolas de polietileno mil 11Terriço de mata m3 45Superfosfato triplo kg 34Sulfato de amônio kg 23Cloreto de potássio kg 21Uréia kg 40Fritas com micronutrientes kg 4,5

MateriaisTela sombrite 50 % luz m2 180Estacas de madeira (3,5m) unid. 48Arame liso grosso kg 5Arame liso fino kg 1Tanque de água capacidade 1.000 L unid. 1Ferramentas e utensíliosCarro de mão unid. 2Pulverizador costal capacidade 20 L unid. 2Regador unid. 2Enxada unid. 2Pá unid. 2Mangueira m 20Tesoura de poda unid. 2Canivete de enxertia unid. 2

Mão-de-obraConstrução viveiro – sombrite d/h 12Construção viveiro – aclimatação d/h 8

Continua...

51

Referências

NAZARÉ, R. F. R. de. Processos agroindustriaispara o desenvolvimento de produtos de cupuaçu(Theobroma grandiflorum). In: SEMINÁRIOINTERNACIONAL SOBRE PIMENTA-DO-REINO E CUPUAÇU, 1. 1997, Belém, PA.Anais... Belém: Embrapa-Amazônia Oriental: Jica,1997. p. 185-192. (Embrapa Amazônia Oriental.Documentos, 89).

SOUZA, A. das G. C. de; BERNI, R. F.; SOUZA,M. G.; SOUSA, N. R.; SILVA, S. E. L.; TAVARES,A. M.; ANDRADE, J. S.; BRITO, M. A .;

Tabela 3. Continuação.

Discriminação de insumos Unidade Quantidade

Enchimento de saco d/h 22Transporte dos sacos para o viveiro d/h 11Semeadura d/h 4Irrigação d/h 16Adubação bimestral d/h 12Capina d/h 12Ronda fitossanitária d/h 16Enxertador d/h 50

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SOARES, M. S. C. Boas práticas agrícolas dacultura do cupuaçuzeiro. Manaus: EmbrapaAmazônia Ocidental, 2007. 56 p.

SOUZA, A. das G. C. de.; SILVA, S. E. L. da.Produção de mudas de cupuaçu (Theobromagrandiflorum (Wild. ex Spreng.) Schum.).Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 1999. 19 p.(Embrapa Amazônia Ocidental. Circular Técnica, 1).

53

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