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Governo do Estado de Santa Catarina Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. 1 EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. AVALIAÇÃO DO EFEITO DE CINZA LEVE DE BIOMASSA ORIUNDA DE PRECIPITADOR ELETROSTÁTICO COMO FERTILIZANTE PARA PASTAGENS NATIVAS EM ÁREAS DE CAÍVA RELATÓRIO FINAL EQUIPE RESPONSÁVEL Engª - agrônoma, M.Sc. Ana Lúcia Hanisch Engº-agrônomo, M.Sc. José Alfredo da Fonseca Canoinhas, Novembro de 2012

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EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

AVALIAÇÃO DO EFEITO DE CINZA LEVE DE BIOMASSA ORIUNDA DE

PRECIPITADOR ELETROSTÁTICO COMO FERTILIZANTE PARA PASTAGENS

NATIVAS EM ÁREAS DE CAÍVA

RELATÓRIO FINAL

EQUIPE RESPONSÁVEL

Engª - agrônoma, M.Sc. Ana Lúcia Hanisch

Engº-agrônomo, M.Sc. José Alfredo da Fonseca

Canoinhas, Novembro de 2012

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APRESENTAÇÃO

Este relatório apresenta os resultados de um trabalho de pesquisa desenvolvido

durante o período de 2007 a 2010 para avaliação do uso do produto cinza leve de

biomassa sobre a produção de uma pastagem nativa em área de caíva e os efeitos do

produto no solo, ao longo dos anos.

Caíva é uma denominação corrente na região do Planalto Norte e refere-se às

áreas de remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, cujo estrato herbáceo é pastejado

por rebanhos animais. Estima-se que ocupem, aproximadamente, 70.000ha na região.

Considerando-se como tendência mundial a busca de sistemas de produção

animal baseados no uso de pastagens e a necessidade de consolidação de estratégias de

preservação ambiental, o uso de áreas de caíva, através de um manejo adequado que

lhes permita aumentar o resultado em produção animal, vem ao encontro dessa

tendência. Associado a essa questão, o uso de insumos gerados regionalmente e

facilmente disponíveis, como a cinza leve de biomassa, tende a contribuir para a redução

do custo de produção e pode ser uma alternativa para aumento de produção das

pastagens nativas em áreas de caíva, contribuindo para a manutenção desses

remanescentes, associando conservação ambiental e geração de renda.

Canoinhas, 19 de novembro de 2012.

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3

SUMÁRIO

Pág.

1 INTRODUÇÃO 6

2 MATERIAIS E MÉTODOS 7

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 14

3.1 Cobertura do solo e composição botânica da pastagem 14

3.2 Produção de massa seca da pastagem 17

3.3 Levantamento florístico do estrato arbóreo 18

3.4 Atributos do solo afetados pela aplicação de cinza de biomassa 20

4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 24

5 LITERATURA CITADA 24

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LISTA DE FIGURAS

Figura Pág.

1 Precipitação mensal e temperaturas mínimas e máximas 8

2 Demarcação da área dentro da caíva e aspecto da parcela com aplicação

a lanço dos tratamentos

11

3 Separação da composição botânica da pastagem 12

4 Área experimental sendo pastejada por rebanho leiteiro 13

5 Levantamento florístico do estrato arbóreo 13

6 Cobertura do solo por diferentes espécies forrageiras 15

7 Composição botânica da pastagem nativa 16

8 Aspecto do crescimento diferenciado da pastagem 16

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LISTA DE TABELAS

Pág.

1 Atributos químicos e físicos da cinza leve de biomassa 9

2 Quantidades de nutrientes fornecidas ao solo pela aplicação dos tratamentos 10

3 Equivalência em kilos de produtos comerciais em comparação aos tratamentos

aplicados

10

4 Produção de massa seca da pastagem 17

5 Composição florística das espécies arbóreas da caíva 18

6 ph e e macronutrientes no solo em duas épocas de amostragem 22

7 Micronutrientes e metais pesados no solo 23

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1. INTRODUÇÃO

Nas regiões do Planalto Norte Catarinense e Centro Sul Paranaense é comum a

presença de caívas, que são áreas formadas por vegetação remanescente de Floresta

Ombrófila Mista (FOM), com diferentes densidades florestais, cujo estrato herbáceo é

composto por pastagens nativas e/ou naturalizadas, extensivamente pastejadas

(Hanisch et al., 2011). São utilizadas para criação de animais, extração de erva-mate e

reserva de madeira. De acordo com dados do IBGE (2007), pode-se inferir que a área

total ocupada por caívas nos Planalto Norte Catarinense seja de, aproximadamente, 70

mil hectares.

As caívas possuem elevada importância ambiental, considerando-se a intensa

degradação florestal ocorrida na região nos últimos 50 anos. No entanto, se não fosse

por seu propósito econômico de área de pastejo e de extrativismo, grande parte das

atuais áreas de caíva não existiriam. Ou seja, mesmo com a utilização por décadas com

pastejo intensivo, essas áreas ainda representam importantes funções como

remanescentes de FOM. Parte dessas áreas está fora da reserva legal e da área de

preservação permanente das propriedades rurais, podendo ser usadas para fins

econômicos.

Em geral o estrato herbáceo é composto por pastagens nativas, adaptadas ao

ambiente sombreado. O uso das áreas de caíva é muito comum tanto em grandes

propriedades, como em propriedades de agricultura familiar. No entanto, são áreas mal

manejadas, que apresentam entre outras características o excesso de pastejo, que,

associado à falta de reposição de nutrientes ao solo, provoca baixa produtividade por

área. Essa baixa produtividade tem sido a causa da pressão de desmatamento das áreas

de caíva, com o objetivo de utilizá-las para outros fins agrícolas.

Uma alternativa racional para a sobrevivência das áreas de caíva é sua

viabilização econômica, através de um manejo da pastagem, desenvolvendo técnicas de

uso e manejo sustentável desses remanescentes. Nas áreas de caíva, devido à presença

de árvores e grande quantidade de raízes, todos os processos de melhoria da qualidade

do solo e da pastagem devem ser realizados de forma criteriosa. A introdução de

insumos deve evitar alterações de grande magnitude nas características químicas do

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solo, em curto prazo, uma vez que as espécies existentes neste sistema estão altamente

adaptadas às estas condições e precisam ser mantidas neste ambiente, em especial as

espécies arbóreas. O uso de insumos agroecológicos como pós de rocha e estercos pode

ser uma alternativa mais adaptada, devido à menor solubilidade (Ferreira et al., 2009).

Neste sentido, o uso de produtos regionais que apresentem qualidade e

composição química que atendam às demandas nutricionais das espécies de pastagens

nativas pode contribuir consideravelmente para a melhoria do manejo das caívas e para

a preservação desse ecossistema associado à geração de renda.

Considerando-se a concentração de nutrientes na cinza de biomassa florestal e a

disponibilidade de diversos nutrientes importantes como K, Ca, Mg e P, além de diversos

micronutrientes (Maeda et al., 2008), uma alternativa para seu uso poderia ser a

fertilização de pastagens nativas. Associado a isso, a disponibilidade de insumos

alternativos no âmbito regional, com baixos custos, é uma potencialidade que se

apresenta para a solução da questão técnica de produção ao mesmo tempo em que pode

alocar resíduos sem maiores interferências ambientais. No entanto, há o risco desses

produtos apresentarem em sua constituição elementos que, teoricamente, podem causar

danos ao ambiente e à saúde humana (Darolt et al, 1995), o que demanda

aprofundamento de pesquisas sobre seu uso em produtos com fins para a alimentação

animal.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do uso de cinza leve de biomassa,

aplicada em superfície, sem incorporação ao solo, sobre a produção de massa seca de

uma pastagem nativa em área de caíva, bem como avaliar o efeito desse produto sobre

as características químicas do solo e seu poder contaminante.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi realizado em uma propriedade rural no município de

Canoinhas, SC (26º27’S e 50º17’W, altitude de 800 m), em uma área experimental de

1.800 m2 demarcada dentro de uma área de caíva. Conforme a classificação de Köppen, o

clima da região se enquadra na variedade Cfb, temperado sem estação seca, com

temperatura média anual de 17,6°C e precipitação anual em torno de 1.500 mm. Na

Figura 1 estão apresentados os dados de temperatura e precipitação dos períodos de

avaliação. A precipitação anual foi de 1.586, 1.509 e 1.521 mm, respectivamente para os

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anos de 2008, 2009 e 2010, não sendo um fator limitante para o crescimento da

pastagem.

Figura 1. Precipitação mensal e temperaturas mínimas e máximas (media) durante as

estações de primavera-verão e outono de 2008/2009 e 2009/2010, em Canoinhas, SC.

Fonte: EPAGRI/CIRAM.

O solo da área experimental foi classificado como um Latossolo Vermelho

Distrófico típico (EMBRAPA, 2006) que apresentava na ocasião da implantação do

experimento, na camada de 0-20 cm, as seguintes características: 507g/kg de argila;

pHágua=4,0; P (Melich)=7,3mg/L; K=93,7mg/L; M.O=6,5%; Al=87,6cmolc/L;

Ca=0,5cmolc/L; Mg=0,3cmolc/L ; Na=7,3 mg/L; saturação de bases =2,7%; e os seguinte

teores de micronutrientes em mg/L: Zn =1,5; Cu = 1,3; B = 0,5; Mn = 103,3; e Fe = 3,0g/L.

Os teores de metais pesados em mg/kg foram: Hg= 0,1; Cd=1,2; Cr= 51; Ni= 17,3; Pb=

33,3; Ar= 12,7 e Se < 4.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com seis

tratamentos e três repetições, em parcelas de 100 m2 (10 x 10 m) e área útil de 81m2 (9

x 9m). Os tratamentos foram compostos por diferentes doses de cinza leve de biomassa,

cuja composição encontra-se descrita na Tabela 1.

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Tabela 1 - Atributos químicos e físicos da cinza leve de biomassa

Parâmetros Unidade Valor pHágua 10,2 Umidade a 105° C % 23 Densidade kg m-3 700 Capacidade de retenção de água % 48 Condutividade elétrica µS/cm 4,2 Carbono orgânico (m/m) g/kg 40 Nitrogênio (TKN) g/kg 0,4 CaO total g/kg 41 MgO total g/kg 23 K2O total g/kg 29 P2O5 total g/kg 8,9 Enxofre total g/kg 3,3 Cobre total mg/kg 38 Zinco total mg/kg 253 Sódio total g/kg 1,1 Cádmio total mg/kg 2 Cromo total mg/kg 46 Chumbo total mg/kg 16 Arsênio total mg/kg 12 Mercúrio mg/kg 0,21 Selênio total mg/kg < 4 Fonte: UFRGS - Laboratório de Agronomia – Departamento de Solos

As doses de cinza leve de biomassa foram definidas em função da necessidade de

obtenção de uma curva de resposta, a partir da recomendação de potássio para

gramíneas de verão (CQFS-RS/SC, 2004). O teor inicial de K no solo foi classificado como

alto e sua recomendação foi de 60kg de K2O/ha, o que foi fornecido pela cinza de

biomassa no tratamento 4. Na ocasião da implantação da pastagem, foi aplicado em toda

a área experimental 6t/ha de cinza calcítica - um produto residual da indústria de

celulose com poder corretivo (Fonseca et al., 2012), com o objetivo de adequar o pH

inicial, que era extremamente baixo.

Dessa forma, os tratamentos definidos foram:

T1 – Referencial – solo da área em estado natural

T2 – 0t/ha de cinza de biomassa + 6t/ha de cinza calcítica (Testemunha)

T3 –2,5t/ha de cinza de biomassa + 6t/ha de cinza calcítica

T4 – 5t/ha de cinza de biomassa + 6t/ha de cinza calcítica

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T5 – 7,5t/ha de cinza de biomassa + 6t/ha de cinza calcítica

T6 – 10t/ha de cinza de biomassa + 6t/ha de cinza calcítica

Uma estimativa das quantidades de óxido de cálcio (CaO), óxido de magnésio

(MgO), K2O e P2O5, fornecidas pela aplicação das doses de cinza de biomassa ao solo,

encontram-se descritas na Tabela 2. A necessidade de formulações comerciais, em nível

de comparação, para fornecer os mesmos nutrientes ao solo, estão descritas na Tabela 3.

Tabela 2. Quantidade de produto seco, de óxido de cálcio (CaO), de óxido de

magnésio (MgO), de K2O e de P2O5 fornecidas ao solo pela aplicação dos tratamentos.

Cinza de biomassa (t/ha – base úmida)

Peso seco CaO MgO K2O P2O5

Quantidades aplicadas (kg)

2,5 1.925 106 44 58 19

5,0 3.850 212 89 116 38

7,5 5.775 318 133 173 58

10 7.700 424 177 231 77

Cinza calcítica

Quantidades aplicadas (kg)

6,0 4.560 2271 55 8 22

Recomendação1 (kg) 2925 168 60 80

1 De acordo com (CQFS-RS/SC, 2004).

Tabela 3. Equivalência em kilos de produtos comerciais para o fornecimento dos

mesmos nutrientes ao solo em comparação aos tratamentos aplicados.

Cinza de biomassa Calcário dolomítico

Cloreto de Potássio

Superfosfato simples

t/ha Kg 2,5 235 85 90 5,0 470 170 180 7,5 706 250 270 10 941 335 360

Cinza calcítica (t/ha) 6,0 5976 15 120

Os tratamentos foram aplicados em outubro de 2007, a lanço, sem incorporação

ao solo (Figura 2), diretamente sobre a pastagem nativa, que estava rebaixada pelo

pastejo contínuo dos animais, antes de ser isolada para implantação dos piquetes.

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Figura 2. Demarcação da área dentro da caíva e aspecto da parcela com aplicação a

lanço, em superfície.

Após a implantação do experimento, a área permaneceu fechada por quatro

meses, sendo avaliado o desenvolvimento da pastagem através de avaliações visuais. No

entanto, o fato da área ficar em repouso, fez com que houvesse um significativo

crescimento de espécies invasoras. Dessa forma, a área foi roçada em fevereiro de 2008.

Em abril de 2008, quando o pasto apresentava altura ideal para o primeiro corte de

avaliação, ocorreu um incidente, sendo que os animais da propriedade arrebentaram os

fios da cerca elétrica e consumiram toda a pastagem.

Após o pastejo acidental, a área foi roçada e em junho de 2008 foi sobressemeada

a lanço, 60 kg/ha de sementes de ervilhaca (Vicia sativa) a fim de permitir que área fosse

utilizada com pastagens durante o inverno, além de aumentar a diversidade de espécies

forrageiras, com a inclusão de leguminosas.

Em julho foi realizado uma avaliação visual de cobertura do solo pela pastagem

para verificar o desenvolvimento da leguminosa e em setembro foi realizado um corte

para avaliação da composição botânica da pastagem, com separação nos componentes:

gramíneas, ervilhaca, outras espécies e material morto (Figura 3).

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Figura 3. Separação da composição da pastagem nos componentes gramíneas, ervilhaca,

outras espécies e material morto.

As avaliações do pasto tiveram início em 06/10/2008, 12 meses após a aplicação

da cinza de biomassa. Foram realizados três cortes por período de crescimento em cada

ano de avaliação, nas datas de 06/10/08, 28/11/08 e 13/01/09 no primeiro ano e

05/11/09, 14/12/09 e 04/02/10 no segundo e um corte no período de inverno de 2010.

Para determinação da produção de massa seca do pasto foram realizados cortes, sempre

que a altura média da pastagem atingia 15cm de altura. A altura média foi estimada

através da utilização de régua graduada em 10 pontos representativos de cada parcela.

Foram realizados cinco cortes/parcela, com tesoura de tosquia a 3cm do solo, com

auxílio de quadros de 0,25m2 (0,50x0,50m). Após cada corte, o material coletado foi

pesado e, em seguida, foram retiradas subamostras, que foram secas em estufa de

ventilação forçada a 65°C por 72 horas. Após cada amostragem, as parcelas foram

pastejadas por rebanho bovino, em sistema rotacionado, sendo controlado o tempo de

descanso através da altura do pasto (Figura 4). Os animais permaneciam nos piquetes

até rebaixamento do pasto a 2-3cm.

Foram aplicados no pasto 50kg/ha de N na forma de uréia, em apenas uma

aplicação, no mês de outubro de cada ano de avaliação.

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Figura 4. Vacas em pastejo na área experimental dentro da caíva, após os cortes de

avaliação da pastagem.

Em novembro de 2008 foi realizado o levantamento florístico do estrato arbóreo

(Figura 5). Todos os indivíduos arbóreos e arbustivos presentes nas parcelas, com DAP

(diâmetro à altura do peito) igual ou superior a 5 cm foram medidos com uma suta

dendrométrica e identificados. Não foram consideradas árvores mortas no presente

levantamento.

Figura 5. Realização do levantamento florístico do estrato arbóreo

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A identificação botânica foi realizada, quando possível, em campo e em

laboratório com a comparação do material coletado com exsicatas do Herbário da

Universidade do Contestado – Campus Canoinhas e com apoio de literatura (Backes &

Irgang, 2004; Souza & Lorenzi, 2005). A ordenação das famílias e gêneros e a

nomenclatura das espécies foi verificada nos arquivos do Missouri... (2010).

No solo, foram realizadas duas coletas durante o período de avaliação: a primeira

em outubro de 2008 e a segunda em agosto de 2009, respectivamente 12 e 20 meses

após a aplicação da cinza. As coletas de amostras de solo foram realizadas na camada de

0-10 cm de profundidade, coletadas com auxílio de uma pá de corte. Em cada parcela

coletaram-se 10 sub-amostras de solo, as quais constituíram uma amostra composta por

parcela. As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Análises do Solo da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sendo determinados pHágua,, P, K,

Ca, Mg, S, Cu, Zn, Fe, Mn, Na, B (Tedesco et al., 1995), Cd, Cr, Ni, Pb (USEPA EPA 3050,

1999) e Hg (USEPA 7471, 1999).

Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e teste F, ao nível de

5% de probabilidade, com o auxílio do programa estatístico Sisvar. Quando constatados

efeitos significativos dos tratamentos, foi realizada análise de regressão polinomial,

sendo escolhidos os modelos que melhor se ajustaram ao fenômeno investigado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Cobertura do solo e composição botânica da pastagem

Nos primeiros seis meses após a aplicação da cinza de biomassa, não foi possível

detectar alterações visíveis na pastagem. Este resultado deve estar relacionado ao fato

do produto ter sido aplicado em superfície, sem incorporação. Como as áreas de caíva

são muito compactadas devido ao pastoreio contínuo durante dezenas de anos, insumos

aplicados em cobertura tendem a apresentar dificuldade para penetrarem no solo e

serem absorvidos pelas raízes das plantas. Esse fato pode ser atenuado pelo aumento da

biodiversidade, o que foi buscado com a sobressemeadura com uma espécie forrageira

leguminosa, a ervilhaca.

Os resultados da avaliação do percentual de cobertura da área pelas espécies

forrageiras, após a introdução da ervilhaca, podem ser visto na Figura 6. A ervilhaca

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apresentou um percentual de cobertura da área de 23% no Tratamento 6 (10t cinza de

biomassa) enquanto apresentou 10% na testemunha, embora não tenha sido observada

diferença significativa, ao nível de 5%, entre os tratamentos. Esse resultado pode ter

sido um indicativo da ação da cinza de biomassa no aumento da fertilidade do solo, uma

vez que a ervilhaca apresenta sensibilidade a solos de baixa fertilidade e responde bem à

adubação fosfatada e à calagem. A primeira avaliação ocorreu 40 dias após a

sobressemeadura e a presença da ervilhaca, mesmo que em percentuais baixos foi

bastante promissora.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

0

6 CC6

CC+2,

5 CB

6 CC+ 5

CB6

CC +

7,5

CB6

CC +

10

CB

Grama Ervilhaca Outras spp

Figura 6: Cobertura do solo por diferentes espécies forrageiras em área de caíva após

sobressemadura com ervilhaca e aplicação de cinza leve de biomassa. Julho/2008.

A ervilhaca é uma planta anual de clima temperado e subtropical e seu ciclo

produtivo se estende de julho a novembro em nossa região, atingindo normalmente o

máximo crescimento em massa verde nos meses de outubro e novembro. Dessa forma,

nos resultados do corte para avaliação da composição botânica da pastagem, foi

verificado desenvolvimento adequado dessa espécie para todos os tratamentos com o

uso de cinza de biomassa e embora os mesmos não tenham diferido significativamente

entre si todos diferiram da testemunha (Figura 7).

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16

0% 20% 40% 60% 80% 100%

06

CC6

CC

+2,5

CB6

CC

+ 5

CB6 CC

+7,

5 CB6 CC

+ 1

0 CB

Grama Ervilhaca Outras

Figura 7: Composição botânica da pastagem nativa em área de caíva, após

sobressemadura com ervilhaca e aplicação de cinza leve de biomassa. Setembro/2008

Na composição botânica das gramíneas que compõem a pastagem nativa das

áreas de caíva predominam espécies dos gêneros Paspalum e Axonopus (principalmente

a grama sempre-verde). Não foi verificado alteração na composição botânica da

pastagem na avaliação realizada um ano após a aplicação da cinza de biomassa. No

entanto, foi possível perceber que determinadas espécies de gramíneas se desenvolviam

melhor dentro dos piquetes onde foram aplicadas as diferentes doses do produto

(Figura 8)

Figura 8 – Aspecto do crescimento diferenciado das espécies de gramíneas nativas em

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caíva, após a aplicação de cinza de biomassa.

3.2. Produção de massa seca da pastagem

Os dados de produção de massa seca do pasto, resultantes dos sete cortes

realizados durante o período de avaliação estão apresentados, por corte e total na

Tabela 4.

Tabela 4. Produção de massa seca de pastagem nativa em área de caíva após aplicação

de cinza de biomassa.

Data do corte Tratamentos

Referencia 6t CC 2,5t CB 5t CB 7,5t CB 10t CB

kg/ha

06/10/08 827 c 1318 bc 1963 ab 2161 a 1840 ab 2140 a

28/11/08 747 a 469 b 682 ab 662 ab 609 ab 571 ab

13/01/09 716 b 1000 a 922 a 1087 a 749 ab 693 b

Total ano 1 2290 c 2787 b 3567 a 3910 a 3198 ab 3404 ab

05/11/09 383 a 510 a 497 a 336 a 430 a 517 a

14/12/09 578 b 540 b 824 a 715 ab 551 b 478 b

04/02/10 583 ab 523 ab 447 b 383 b 627 a 727 a

10/06/10 54 b 33 b 198 a 250 a 170 a 160 a

Total ano 2 1598 1606 1966 1684 1778 1882

TOTAL 3887 b 4393 ab 5532 a 5594 a 4974 a 5285 a

Médias seguidas de letras diferentes nas linhas diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Nos cortes do primeiro ano de avaliação, o uso de cinza de biomassa foi efetivo em

aumentar a produção da pastagem, embora não tenham sido observadas diferenças

significativas entre as doses. No primeiro corte, em que havia grande quantidade de

ervilhaca na composição da pastagem, foi verificado influencia significativa do uso da

cinza de biomassa sobre a leguminosa, uma vez que essa espécie apresentou excelente

resposta, com produção de massa seca acima de 2.000 kg/ha nas doses de 5 e 10t/ha do

produto.

No segundo período de crescimento do pasto, a partir de novembro de 2009, ainda

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foram observados efeito da cinza de biomassa em algumas datas de corte, mas, em geral,

a produção de massa seca do pasto foi muito baixa. Isso indica que, nas condições

naturais de uma caíva, a aplicação de insumos deve ser realizada mais frequentemente,

uma vez que no período de mais de 2 anos entre a aplicação dos tratamentos e a

segunda avaliação a cinza de biomassa não foi mais efetiva sobre a produção de massa

seca do pasto.

Com relação à produção total do período de quase dois anos de observação,

embora o uso da cinza de biomassa tenha promovido crescimento da pastagem superior

aos do tratamento referencial e a testemunha, os resultados não foram promissores,

indicando que o efeito da cinza, nas doses avaliadas, ocorre apenas em curto prazo.

Hanisch et al (2009), avaliando 3 caívas em condições semelhantes ao do presente

trabalho obtiveram dados de produção total de massa seca de pastagem nativa em

caívas de 5.244 e 4.500kg/ha, apenas no período de crescimento do pasto, de outubro a

abril, respectivamente com a aplicação em superfície de 2t/ha de pó de basalto e de

800kg/ha de fosfato natural.

3.3. Levantamento florístico do estrato arbóreo

Na área experimental de 1.800 m2 foram levantados 81 indivíduos arbóreos,

pertencentes a 10 famílias botânicas (Tabela 5).

Tabela 5. Composição florística das espécies arbóreas da área experimental em caíva.

FAMÍLIA Nome Científico Nome comum Indiv. DAP1

Anacardiaceae Schinus terebinthifolia aroeira 2 5,5-9,3

Aquifoliacea Ilex dumosa congonha 4 10-30

Ilex paraguariensis erva-mate 27 5-14,5

Araucariacea Araucaria angustifolia pinheiro-do- paraná 3 36-47

Canellaceae Cinnamodendron dinisii pimenteira 3 19-26

Euphorbiaceae Sebastiania commersoniana Branquilho 2 13-15

Lauraceae Ocotea porosa imbuia 1 27

Ocotea puberula canela-guaicá 2 2-28

Mimosaceae Mimosa scabrella Benth. bracatinga 21 8-23,5

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Myrtaceae Eugenia hyemalis guamirim 4 14-24

Eugenia uniflora pitanga 6 5-10

Polygonaceae Ruprechtia laxiflora marmeleiro 5 9-28

Rutaceae Zanthoxylum kleinii juveve 1 23

TOTAL 81

1 Diâmetro a altura do peito – intervalo de observação

O resultado observado equivale aproximadamente a uma população de 450

árvores/ha. Sob o ponto de vista ambiental e segundo a legislação vigente essa

população arbórea caracteriza uma área de mata em regeneração. Mas, sob o ponto de

vista de integração de sistemas produtivos, temos uma área com excelente potencial

para uso em sistema silvipastoril, uma vez que a densidade e freqüência das árvores

permite que incida uma quantidade adequada de luz para o estrato herbáceo. Dessa

forma, a melhoria desse sistema, passa principalmente pela melhoria da qualidade do

solo, o que pode ser alcançado através do uso da cinza de biomassa.

As espécies Ilex paraguariensis (erva-mate) e Mimosa scabrella (bracatinga)

foram as mais numerosas em número de indivíduos, confirmando a hipótese do uso

misto destas áreas para pastejo, erva-mate e lenha. Associado ao uso múltiplo, a

presença de espécies como Araucaria angustifolia (pinheiro), Eugenia hyemalis

(guamirim); Eugenia uniflora (pitanga) Ocotea porosa (imbuia); Ocotea puberula (canela-

guaicá), Ruprechtia laxiflora (marmeleiro); Ilex dumosa (congonha) confirmam a

caracterização dessas áreas como de remanescente de Floresta Ombrófila Mista e de sua

importância para a flora local.

Apesar da ação antrópica por períodos relativamente longos, ainda há

manutenção das principais famílias botânicas características de FOM nas caívas. Essa

informação contribui para que essas áreas sejam consideradas como importantes

formações florestais secundárias, cujos recursos devem contribuir para o

desenvolvimento rural e a conservação ambiental na região do Planalto Norte

Catarinense. Seu papel na conservação ambiental da região pode ocorrer, por exemplo,

através de seu uso em programas de corredores ecológicos, aliando produção animal e

manutenção de serviços ambientais.

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3.4. Atributos do solo afetadas pela aplicação de cinza leve de biomassa

Não foi verificado efeito da cinza de biomassa sobre o pHágua.em nenhuma das

duas datas de amostragem. Embora tenha sido aplicado em todos os tratamentos com

cinza de biomassa, uma dosagem padrão de 6t/ha de cinza calcítica, não houve alteração

significativa neste atributo. Silva et al (2009) avaliando efeito de cinza de biomassa, com

doses que variaram de 3 a 24t/ha, também não verificaram alteração no pH tanto em

Cambissolo quanto em Nitossolo, sendo que ambos os tipos de solo apresentavam pH

inicial abaixo de 4,5. Segundo esses autores a cinza não foi efetiva na neutralização da

acidez do solo por apresentar baixo poder de neutralização do material, associado à

elevada acidez do solo, que exige a adição de quantidades expressivas de corretivos da

acidez. Maeda et al. (2008), por outro lado, verificaram elevação no valor do pH em CaCl2

com o uso de cinza de biomassa, 148 dias após a aplicação de doses que variaram de 0 a

80t/ha, sendo esse efeito mais pronunciado na camada superficial (0-10cm), onde o

produto foi incorporado. Considerando-se que a cinza neste trabalho foi aplicada em

superfície, sem incorporação e com doses entre 0 e 10t/ha era esperado pequeno reflexo

sobre o pH.

Na avaliação realizada aos 12 meses após a aplicação da cinza de biomassa foi

observado efeito da aplicação dos tratamentos sobre os teores de K, Ca e sobre a

saturação de bases (Tabela 6). Os teores de K e Ca aumentaram em relação ao

tratamento referencial, mas não foi verificada diferença entre as doses de cinza de

biomassa. Não houve efeito da cinza sobre os teores de Mg.

Os solos de caívas representam solos intensamente utilizados, onde a única forma

de reposição de nutrientes tem se dado ao longo de dezenas de anos, através dos

excrementos dos animais e da decomposição da vegetação (Hanisch et al., 2009). A

aplicação de insumos em sistemas como as áreas de caíva, deve evitar alterações de

grande magnitude na composição química do solo, em curto prazo, a fim de evitar

impactos negativos no estrato arbóreo, sendo comum que o processo de melhoria da

qualidade do solo seja lento.

Neste sentido, era esperado que no segundo período de avaliação ocorressem

alterações significativas nos atributos do solo. No entanto, nas dosagens utilizadas, não

foram observados efeitos significativos sobre o pH, P, Ca, Mg e saturação de bases para

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nenhum dos tratamentos na avaliação aos 20 meses após a aplicação da cinza de

biomassa (Tabela 6). Devido a complexidade do tipo de solo dessas áreas, com altos

teores de matéria orgânica associado à altíssimos teores de alumínio e baixa saturação

de bases, muitos componentes atuam com poder tampão às alterações nos atributos do

solo, o que por sua vez, em um ambiente natural, acarretam em altos coeficientes de

variação nos resultados observados, dificultando análises mais precisas no curto e

médio prazo.

Houve efeito apenas sobre os teores de K, que aumentaram em relação ao

tratamento referencial e redução dos teores de Al, cujo efeito significativo foi verificado

com a aplicação de 5t/ha de cinza calcítica. A elevação nos teores de K era esperada uma

vez que esse nutriente é o mais abundante na cinza de biomassa e nas maiores doses

aportou ao solo valores superiores a 170kg/ha de K2O (Tabela 2) e está de acordo com

diversos autores (Dallago, 2000; Maeda et al., 2008; Silva et al., 2009).

Os teores de Zn, Cu, Bo e Fe não foram afetados pelas doses de cinza de biomassa

na primeira avaliação (Tabela 7). Foi observado apenas redução do teor de Fe, que

seguiu comportamento semelhante aos teores de Ca. Os teores de Mn apresentaram

valores maiores que os do tratamento referencial. Na segunda época de avaliação, os

teores de micronutrientes não foram alterados pela aplicação da cinza de biomassa.

Houve aumento dos teores de Bo e Mn apenas em relação ao tratamento referencial.

Os teores observados para os metais pesados (Hg, Pb, Ni, Cr, Mo, Co) no solo se

mantiveram em níveis muito próximos àqueles do tratamento referencial e muito

próximos entre si na primeira amostragem, aos 12 meses após a aplicação (Tabela 7).

Neste período de avaliação só foi observado efeito das doses de cinza de biomassa para

Mo, cujo teor no solo reduziu com o aumento das doses. Aos 20 meses após a aplicação,

foi observado redução nos teores de Ni, Cr, Pb e Co no solo com o uso da cinza de

biomassa.

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Tabela 6. pH e teores de nutrientes no solo em caíva, em duas épocas de amostragem (12 e 20 meses após a aplicação) em decorrência

da aplicação de doses de cinza de biomassa.

Cinza biomassa pH água P K M.O. Al Ca Mg SatB S Na

t/ha - ----------mg/dm3 ---------- % ------------cmolc/dm3 ---------- % --------mg/dm3-------

12 meses após a aplicação

Ref 3,9 ns 2,3 ns 74,3 b 6,4 ns 7,7 b 0,7 b 0,5 ns 3,7 b 23,3 ns 13,3 c

0 4,2 3,4 108,7 a 6,2 5,6 a 2,7 a 0,7 13,0 a 23,7 34,0 a

2,5 4,2 2,7 126,3 a 5,8 5,9 ab 2,8 a 0,7 13,3 a 24,0 22,7 bc

5,0 4,2 3,3 102,7 a 6,2 5,6 a 2,8 a 0,8 13,3 a 24,0 28,3 ab

7,5 4,0 3,6 123,7 a 6,5 7,3 b 1,5 ab 0,5 6,0 b 30,0 21,0 bc

10 4,1 2,1 100,3 a 5,9 6,4 ab 1,5 ab 0,7 7,0 b 29,3 27,7 ab

C.V.% 1,84 18,07 23,5 4,61 10,7 24,52 26,98 23,79 11,87 14,14

20 meses após a aplicação

Ref 4,0 ns 2,4 ns 55,3 b 6,0 ns 8,5 b 1,3 ns 0,4 ns 8,0 ns 10,3 b 6,0 b

0 4,3 2,9 68,3 b 5,2 4,8 a 3,9 0,6 21,7 14,3 ab 18,7 a

2,5 4,2 2,0 77,3 b 4,9 6,7 ab 2,0 0,4 10,7 12,7 b 14,0 a

5,0 4,4 2,0 78,0 b 4,9 4,0 a 4,0 0,8 22,3 16,3 ab 14,0 a

7,5 4,1 1,8 168,0 a 5,2 6,5 ab 1,4 0,3 7,0 19,0 a 14,0 a

10 4,2 2,7 94,7 b 5,4 5,5 ab 2,9 0,6 14,3 19,7 a 14,7 a

C.V. 4,14 40,23 23,94 13,61 17,64 44,67 49,13 44,08 13,92 34,49

Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação; ns =

não significativo.

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Tabela 7. Teores de micronutrientes e de metais pesados no solo, em área de caíva, em duas épocas de amostragem (12 e 20 meses após a aplicação) em decorrência da aplicação de doses de cinza de biomassa C. Biom. Zn Cu B Mn Fe Hg Pb Ni Cr Mo Co

t/há ---------------------mg/dm3-------------------- g/dm3 ------------------------------------------mg/dm3----------------------------------

12 meses após a aplicação

Ref 1,3 ns 1,4 ns 0,7 ns 33,0 c 4,4 a 0,08 ns 19,7 ns 14,3 a 41,7 ab 0,4 b 2,7 ab

0 1,2 1,2 0,8 59,7 ab 2,6 b 0,09 20,0 13,7 ab 38,0 bc 1,3 a 1,2 cd

2,5 1,3 1,4 0,8 64,0 a 2,5 b 0,09 20,7 10,3 b 33,3 c 1,0 ab 0,4 d

5,0 1,5 1,3 0,6 67,0 a 2,8 b 0,10 19,7 13,0 ab 39,7 b 1,0 ab 1,7 bc

7,5 1,4 1,3 0,8 50,7 b 3,4 b 0,10 21,0 16,7 a 45,3 a 1,0 ab 3,0 a

10 1,1 1,2 0,8 38,0 bc 3,2 b 0,08 19,0 14,0 ab 41,0 ab 0,4 b 2,0 b

C.V. 19,18 8,66 19,43 17,24 12,16 10,16 5,00 9,91 4,32 27,55 25,50

20 meses após a aplicação

Ref 1,1 ns 1,3 ns 0,3 b 7,3 b 3,1 ns 0,11 ns 16,0 a 19,0 a 48,7 b < 0,4 5,7 ab

0 0,8 1,2 0,6 ab 16,7 a 3,0 0,11 13,3 ab 16,7 ab 51,3 b < 0,4 6,0 a

2,5 0,8 1,1 0,5 ab 21,7 a 2,8 0,09 11,0 ab 12,0 c 34,7 a < 0,4 4,0 ab

5,0 0,9 1,2 0,8 a 23,3 a 3,3 0,08 12,3 ab 12,7 c 34,0 a < 0,4 4,3 ab

7,5 0,9 1,3 0,7 ab 18,3 a 3,5 0,10 10,0 b 13,7 bc 35,7 a < 0,4 3,7 b

10 1,1 1,2 0,7 ab 24,7 a 3,1 0,10 10,7 b 13,0 c 34,3 a < 0,4 4,0 ab

C.V. 32,21 17,10 24,89 36,69 23,85 14,29 14,61 7,45 16,61 - 16,64

Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação; ns =

não significativo.

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4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A cinza de biomassa aumentou a produção da pastagem no primeiro ano de

avaliação, indicando efeito de curto prazo. Neste período, promoveu aumento

significativo no desenvolvimento da ervilhaca e na pastagem nativa, com produção de

massa seca/corte acima de 2.000 kg/ha nas doses de 5 e 10t/ha do produto.

A cinza de biomassa não influenciou no pH do solo e nos teores de P e Mg em

nenhum dos períodos de avaliação. Foi observado aumento nos teores de K e redução

nos teores de Al, cujo efeito significativo foi verificado com a aplicação de 5t/ha embora

não tenha diferido da testemunha com a aplicação apenas de cinza calcítica.

O uso de cinza de biomassa, nas dosagens acima de 5t/ha e com aplicação em

superfície apresenta resultados promissores para aumento da produção da pastagem

nativa em áreas de caíva a curto prazo. Seu uso nessa dosagem é pouco efetivo na

melhoria dos atributos do solo, mas indica potencial de uso para avaliação em outras

condições, provavelmente associada a doses maiores de corretivos de acidez.

5. LITERATURA CITADA

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pesados em um Latossolo Vermelho distrófico típico pelo uso de um resíduo da

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