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PRODUÇÃO DE FITOMASSA EM SISTEMAS DE PRODUÇ ÃO DE GRÃOS 1 Leandro do Pr ado Wildner 2 1. INTRODUÇÃO O uso da fitomassa de determinadas espécies vegetais já era um recurso utilizado pelo homem para recuperação da capacidade produtiva das terras antes mesmo da Era Cristã. Apesar dos benefícios comprovadamente reconhecidas, especialmente voltados à reciclagem de nutrientes, o cultivo destas espécies foi relegado a segundo plano com o advento da Revol ução Verde nos anos sessenta. No entanto, em r azão do s graves efei tos negati vos provocados pel a própria Revolução Verde, o cultivo de espécies vegetais para produção de fitomassa foi resgatado a partir dos anos setenta, início dos oitenta, para controlar a erosão (cobertura viva e morta) e recuperar as propriedades físicas degradadas pela excessiva mobilização da camada super ficial do solo (decomposição da palhada e dinâmica da matéria orgânica). Os adubos verdes conhecidos até então, passaram a ser denominados també m como plantas de cober tura do solo. A partir dos anos noventa, com a ampliação dos estudos sobre as potencialidades dos adubos verdes, o seu uso passou a ser reconhecido como de vital importância não só para “a vida do solo mas para as vidas que dependem do solo”. Apesar da existência de outras opções, a fitomassa é o tipo de adubo orgânico que maiores impactos pode promover tanto sobre a produção agropecuária quanto sobre o meio ambiente como um todo, sobretudo no que diz respeito à intensidade, amplitude, diversidade e a integração ou complementariedade de seus efei tos. Por isso, atualmente, não é admissível o planejamento de qualquer atividade agropecuária sem contar com a presença do cultivo de um adubo verde/planta de cobertura do solo, em especial nos sistemas de produção de grãos. 1 Palestra apresentada no II Encontro BIOMASSA: adubos orgânicos e manejo da biomassa em sistemas orgânicos de produção. FCA/UNESP – Botucatu, SP, 30 e 31 de agosto de 2002. 2 Eng. Agr., MSc. Agronomia-biodinâmica e produtividade do solo. Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar – Cepaf/Epagri, Chapecó, SC. Caixa Postal 791. 89801-970, Chapecó, SC.tel. (49) 328-4277, fax: (49) 328-6017. e-mail: [email protected]

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PRODUÇÃO DE FITOMASSA EM SISTEMAS DE PRODUÇ ÃO DE GRÃOS

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Leandro do Pr ado Wildner2

1. INTRODUÇÃO O uso da fitomassa de determinadas espécies vegetais já era um recurso utilizado pelo homem para recuperação da capacidade produtiva das terras antes mesmo da Era Cristã. Apesar dos benefícios comprovadamente reconhecidas, especialmente voltados à reciclagem de nutrientes, o cultivo destas espécies foi relegado a segundo plano com o advento da Revol ução Verde nos anos sessenta. No entanto, em r azão dos graves efei tos negativos provocados pela própria Revolução Verde, o cultivo de espécies vegetais para produção de fitomassa foi resgatado a partir dos anos setenta, início dos oitenta, para controlar a erosão (cobertura viva e morta) e recuperar as propriedades físicas degradadas pela excessiva mobilização da camada super ficial do solo (decomposição da palhada e dinâmica da matéria orgânica). Os adubos verdes conhecidos até então, passaram a ser denominados também como plantas de cober tura do solo. A partir dos anos noventa, com a ampliação dos estudos sobre as potencialidades dos adubos verdes, o seu uso passou a ser reconhecido como de vital importância não só para “a vida do solo mas para as vidas que dependem do solo”. Apesar da existência de outras opções, a fitomassa é o tipo de adubo orgânico que maiores impactos pode promover tanto sobre a produção agropecuária quanto sobre o meio ambiente como um todo, sobretudo no que diz respeito à intensidade, amplitude, diversidade e a integração ou complementariedade de seus efei tos. Por isso, atualmente, não é admissível o planejamento de qualquer atividade agropecuária sem contar com a presença do cultivo de um adubo verde/planta de cobertura do solo, em especial nos sistemas de produção de grãos.

1 Palestra apresentada no II Encontro BIOMASSA: adubos orgânicos e manejo da biomassa em sistemas orgânicos de produção. FCA/UNESP – Botucatu, SP, 30 e 31 de agosto de 2002. 2 Eng. Agr., MSc. Agronomia-biodinâmica e produtividade do solo. Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar – Cepaf/Epagri, Chapecó, SC. Caixa Postal 791. 89801-970, Chapecó, SC.tel. (49) 328-4277, fax: (49) 328-6017. e-mail: [email protected]

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2. EVOLUÇÃO DO CONCE ITO DE ADUBAÇÃO VERDE A melhoria dos solos para fins agrícolas pela adubação verde já era praticada antes da Era Cristã, pelos romanos, gregos e chineses. Os gregos cultivavam favas e os romanos tremoços, que eram semeados para as culturas subseqüentes a partir de sua incorporação ao solo (Granato, 1925 – citado por Tanaka, 1981). Segundo Kiehl (1959), Catão, Columela, Plínio, Varrão, Vergílio e Teofrastus, fizeram referências ao emprego das leguminosas para adubação verde, mencionando que a preferência pelas leguminosas originou-se vários séculos antes do nascimento de Cristo. Porém, somente após Lavoisier ter descoberto a existência do nitrogênio no ar e Pasteur ter desvendado o mundo dos infinitamente pequenos (fungos, bacterias e vírus) é que Helbiegel & Wilfarth comprovaram, nas nodozidades das raízes das leguminosas, a presença de bactérias capazes de fixar o nitrogênio. Coube ainda a Beijerihnk isolar e cultivar esses microorganismos, demonstrando cientificamente, há mais de 80 anos passados aproximadamente, o que era conhecido empiricamente há mais de dois milênios. A primeira manifestação técnica registrada, oficialmente, no Brasil sobre a prática da adubação verde data do início do século XX, através do trabalho “Adubos verdes: sua produção e modo de emprego”(DUTRA, 1919). Na introdução Dutra destaca que o efeito melhorador “dessas culturas de enterrio” já era um fato universalmente admitido. Durante todo este período, a adubação verde tinha uma visão química, mediante a recuperação da fertilidade e, conseqüente da produtividade do solo. KIEHL (1959), lançou o conceito mais conhecido sobre o assunto até o início dos anos 80: “Denomina-se adubo verde a planta cultivada ou não, com finalidade precípua de elevar a produtividade do solo com sua massa vegetal , quer produzida no local ou importada”. Conceituou ainda a adubação verde como “a prática de se incorporar ao solo massa vegetal não decomposta, de plantas cultivadas no local ou importadas, mas com a finalidade de preservar e/ou restaurar a produtividade das terr as agricultáveis! MIYASAKA (1984) considerou a adubação verde como “a prática de incorporação ao solo de espécies vegetais, tanto de gramíneas como outras, naturais ou cultivadas, nas terras em alqueive”- registrando ainda que o uso de leguminosas constituía a prática mais racional e difundida para essa finalidade. A partir dos anos setenta, com a degradação do solo provocada pelo excessivo revolvimento do solo nas operações de preparo e a ocorrência de elevadas taxas de perdas de solo e água, o cultivo de algumas espécies vegetais foi resgatado para produzir ou formar cobertura morta e, assim, controlar a erosão e recuperar as propriedades físicas do solo (em especial a estrutura). Assim sendo, o cultivo destas espécies vegetais passou a ter uma visão física, de proteção e recuperação da estr utura do solo. Com o uso generalizado dos adubos verdes a partir dos anos 80 também para outras finalidades e com outros objetivos, o conceito de adubação verde foi aperfeiçoado. COSTA et al. (1992) conceituaram adubação verde como “a utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas, incorporando-as ao solo ou deixando-as na superfície, visando à proteção superficial bem como a manutenção e melhoria das características químicas,

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físicas e biológicas do solo, inclusive a profundidades significativas. Eventualmente, partes das plantas utilizadas como adubos verdes podem ter outras destinações como, por exemplo, produção de sementes, fibras, alimentação animal, etc. Portanto, o conceito passou a ter uma visão integral, holística, atendendo ao sol o (recuperação física, quími ca e biológica), aos animais (forragens) ao homem (alimentação, fibras, etc.) e ao meio ambiente como um todo (diminuição dos impactos ambientais da agricultura e o seqüestro de carbono). 3. MODALIDADES DE ADUBAÇÃO VERDE/COBERTURA DO SOLO

Em função do número disponível e das características botânicas e fenológicas das espécies dos adubos verdes conhecidos, é possível cultivá-los de maneiras diversas. Por isso, o agricultor pode escolher o adubo verde de acordo com o seu objetivo ou da cul tura que será cultivada após o seu manej o.

As modalidades de adubação ver de podem ser definidas como segue: I – De acordo com a época de semeadura a) Adubação verde de primavera/verão Esta modalidade compreende a semeadura de espécies de cobertura do solo no período de setembro/outubro a janeiro/fevereiro. As espécies mais empregadas são: mucunas, guandu, crotalárias, feijão de porco, milheto, etc.Por serem espécies que, individualmente, competiriam com as culturas, são usadas,, principalmente, em áreas com problemas que estão comprometendo a capacidade produtiva dos solos (degradação do solo). b) Adubação ver de de outono/ inverno Neste caso são semeadas as espécies que deverão cobrir as áreas que estariam, normalmente, em pousio correndo o risco de erosão ou crescimento livre de plantas espontâneas, entre o final de uma safra e o início de outra safra de verão. As espécies mais usadas são as aveias, nabo forrageiro, ervilhacas, tremoços, centeio, ervilha forrageira, azevém, etc. Nesta modalidade existe a possibilidade de uso dos adubos verdes para múltiplas finalidades: cobertura morta para o plantio direto, forragem para os animais, produção de semente s, etc. c) Adubação ver de de verão/outono Também denominadas de culturas intermediárias (em Cruz Alta, RS), por que são cultivadas após uma cultura de verão e antes da semeadura de uma cultura de inverno. Nesta modalidade podem ser usadas tanto espécies de ciclo estival (em semeaduras tardias) como de ciclo hibernal (em semeaduras antecipadas) . As espécies adaptadas e cultivadas como culturas intermediárias são a crotalária juncea e o nabo forrageiro. Outras espécies estão sendo observadas quanto a adaptação ao sistema.

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II – De acordo com o ciclo das espécies a) Adubação ver de com espécies anuais Nesta modalidade caracterizam-se as espécies com ciclo definido após uma estação de crescimento. Ex.- aveias, centeio, ervilhacas, crotalaria juncea, crotalaria spectabilis, feijão de porco, guandu anão, mucuna, etc. b) Adubação ver de com espécies perenes ou semi-perenes Nesta modalidade caracterizam-se as espécies com vários ciclos de crescimento, podendo persistir a campo durante dois, três, cinco ou mais estações de crescimento. Ex.- guandu forrageiro, indigofera, crotalaria mucronata, crotalaria sp., leucena, trevo branco, etc. III – De acordo com o sistema de cultivo a) Adubação ver de em rotação com cul turas anuais Modalidade na qual o adubo verde anual faz parte de um sistema de rotação ou sucessão de culturas, incluindo culturas comerciais de inverno e verão. Ex.- aveia preta/ soja/ ervilhaca/ milho. b) Adubação ver de em consorciação com cul turas anuais Modalidade na qual o adubo verde é semeado nas entre-linhas do cultivo principal. É uma interessante opção pois além de não impedir o cultivo da cultura principal, aproveita o espaço entre as plantas da cultura principal para produzir fitomassa que i rá proteger, melhorar e beneficiar o solo na mesma e nas próximas safras. c) Adubação ver de intercalar a culturas perenes Nesta modalidade o adubo verde é semeado nas entrelinhas de cultivos perenes; para tanto a espécie selecionada não deve ser muito agressiva para não competir com o cultivo principal.Exemplos deste sistema são os pomares de citros, pêssego, videira e áreas com erva-mate intercalados com ervilhacas, aveias, cornichão, ervilha forrageira, mucuna, crotalárias, indigofera, amendoim rasteiro ou forrageiro cultivados nas entre-linhas de pomares de citros e pêssego, debaixo de parreirais e nas entre-linhas de erva-mate. Nos primeiros anos de estabelecimento dos pomares ou do erval é possível estabelecer um sistema de rotação de culturas nas entre-linhas, incluindo culturas comerciais (produção de grãos) e adubos verdes. d) Adubação ver de em áreas de pousio tempor ário Este sistema é usado em áreas com solos bastante degradados física, química e biologicamente, e que necessitam ser recuperados ao longo dos anos. São usadas espécies de ressemeadura natural ou perenes, que promoverão a recuperação da matér ia orgânica e a capacidade produtiva dos solos. As espécies empregadas para este fim podem ser tanto de ver ão quanto de inverno, cultivadas durante um ou vários anos, e de grande capacidade de produção de fitomassa, tais como: guandu forrageiro, crotalária mucronata, crotalaria ochroleuca, milheto, sorgo forrageiro, aveias, centeio, etc., ou consór cio destas espéci es.

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e) Adubação ver de com uma única espécie Modalidade mais tradicional de adubação verde, na qual apenas uma espécie de adubo verde é cultivada. Ex. tremoço, aveia preta, ervilhaca comum, mucuna, feijão de porco, crotalárias, etc. f) Adubação ver de em consórcio de espécies Modalidade na qual são cultivadas, em geral, duas mas podendo ser três ou até quatro espécies de adubos verdes, simultaneamente, na mesma área.Ex.- aveia preta com ervilhaca; nabo forrageiro com aveia preta; aveia preta com tremoço; aveia preta, tremoço e ervilhaca; aveia preta, tremoço, ervilhaca e nabo forrageiro; etc. Nesta modalidade de adubação verde procura-se potencializar os efeitos positivos do cultivo de cada uma das espécies selecionadas para compor o consórcio. Procura-se aliar espécies que tenham diferentes sistemas radiculares, diferentes capacidades de reciclagem de nutrientes (em especial o nitrogênio), distintos comportamentos sobre a supressão de plantas espontâneas, etc. g) Adubação ver de em faixas Nesta modalidade as espécies ocupam uma faixa intercalada entre faixas de culturas comerciais. Nos anos seguintes ocorre uma rotação de cultivos de modo que o adubo verde possa ser cultivado em todas as faixas.Desta maneira ocorre, paulatinamente, a melhoria de todo o solo da propriedade. Em casos nos quais algumas faixas são ocupadas por leguminosas (banco de proteínas com guandu, leucena, etc) a parte aérea pode ser cortada e distribuída para os animais e/ou distribuída nas faixas de cultivo. h) Coquetel de adubos verdes Como o próprio nome induz a crer, nesta modalidade são semeadas vári as espécies vegetai s de comprovada eficiência em produção de f itomassa, ao mesmo tempo, procurando imitar um pousio natural. Para obtenção do má ximo de produção de f itomassa, recomenda-se inocular as sementes de leguminosas e adicionar fosfato natural ( proporção a 5%) à mescla de sementes. Co mo é necessário fazer um preparo prévio do solo e incorporação mecâni ca das sementes (gradagem), recomenda-se implantar um coquetel de adubos verdes em situações de recuper ação de solos degradados. Exper iências com esta modalidade de adubação ver de estão sendo desenvolvidas no Instituto Biodinâmico de Desenvol vimento Rural (IBD-Botucatu) e pela E.E. Ituporanga (Epagri, SC).

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Tabela 1 – Espécies recomendadas para composição de um coquetel de adubos verdes. Família Nome Científico Nome Comum Kg/ha Gramínea Zea mays Milho (porte alto) 24 Leguminosa Stizolobium aterrimum Mucuna preta 16 Leguminosa Canavalia ensiformis Feijão de porco 16 Leguminosa Dolichos lab-lab Lab lab 12 Leguminosa Cajanus cajan Gandu 10 Composta Helianthus annus Girassol 8 Leguminosa Crotalaria juncea Crotalária 5 Poligonacea Ricinus communis Mamona 5 Leguminosa Vigna unguiculata Caupi 4 Graminea Panicum miliaceum Painço 4 Leguminosa Leucaena leucocephala Leucena 2 Leguminosa Tephrosia candida Tefrósia 1

Espécies Opcionais Leguminosa Canavalia brasiliensis Feijão bravo do Ceará 8 Leguminosa Crotalaria ochroleuca Crotalária africana 5 Leguminosa Calopogonium mucunoides Calopogônio 4 Gramínea Sorgum vulgar is Sorgo forrageiro 4 Leguminosa Crotalaria anagyroides Crotalária anagiroides 3 Gramínea Pennisetum typhoideum Milheto 2 Poligonacea Fogopyrum esculentun Trigo serraceno 2

Fonte: PIAMONT E PEÑA, R (s/d) – IBD/Botucatu,SP. 4. CARACTERÍSTICAS QUE DEVE SER OBSERVADAS PARA A ESCOLHA DE ADUBOS VERDES

Segundo AMADO & WILDNER (1991) as principais características que devem ser observadas para a escolha dos adubos ver des são:

1. Apresentar rápido crescimento inicial (agressividade inicial) e eficiente cobertura do solo; 2. Produção de elevadas quant idades de f itomassa (massa verde e massa seca) ; 3. Capacidade de reciclagem de nutrientes; 4. Facilidade de implantação e condução a campo; 5. Apresentar baixo nível de ataque de pragas e doenças, não comportando-se como planta hospedei ra; 6. Apresentar sistema radicular, profundo e bem desenvolvido; 7 Ser de fácil manejo (enterrio ou acamamento) para implantação dos cultivos de sucessão;

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8. Apresentar potencial para múltipla utilização na propriedade; 9. Apresentar tolerância ou resistência à seca e/ou à geada; 10. Apresentar tolerância à baixa fertilidade e capacidade de adaptação a solos degradados; 11. Possibilidade de produção de sementes em quantidade suficiente para aumentar a sua área de cultivo; 12. Não comportar-se como invasora, dificultando o cultivo de culturas de sucessão e/ou r otação. MALAVOLTA (1967) citado por MUZILLI et al. (1980) sugere ainda: 1. Pertencer à família leguminosa; 2. Possuir sementes de tamanho médio (1000 a 5000 sementes/kg) aptas a germinar em solo preparado convenci onalmente; 3. Espécies que produzam “plântulas” robustas, capazes de suportar a inclemência do tempo; 4. Possuir sementes permeáveis à água, o que faci lita a germinação; 5. Não ser trepadeira, principalmente se for de ciclo perene. Pode-se incluir também: 1. Tenha facilidade de adaptação aos sistemas de cultivo predominantes na região; 2. Tenha boa capaci dade de rebrote em casos de mane jo da par te aérea (cortes); 3. Boa capaci dade de ressemeadura natural.

Apesar de tantas características a serem observadas, isto não significa que cada espécie deva atender a todos estes “pré-requisitos”. Na verdade, dependendo da espécie de adubo verde (inverno ou verão; arbórea ou rasteira; ciclo curto ou longo), do sistema de cultivo e da condição do agricultor, pode-se desprezar alguns itens. AMADO & WILDNER (1991) salientam que dificilmente uma única espécie atenderá a todos os pré-requisitos” citados, ao mesmo tempo; por isso, ao nível de propriedade agrícola apenas algumas destas características serão de importância fundamental , sendo então utilizadas como critério de seleção. 5. PRINCIPAIS ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS COMO ADUBOS VERDES Inúmeras espécies vegetais são citadas na literatura como plantas com grande potencial para adubação verde ou cobertura do solo. Algumas delas já não são mais cultivadas e outras são de cultivo recente; umas historicamente conhecidas e outras que estão sendo resgatadas para cultivo. O correto é que existem muitas espécies em estudo mas poucas, efetivamente, sendo cultivadas em larga escala pelos agricultores. Com a expansão dos sistemas agroecológicos de produção de alimentos acredita-se que muitas espécies vegetais serão resgatadas e outras tantas incorporadas para cultivo em benefício do agroecossistema em que estiverem inseridas.

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As espécies vegetais mais comumente citadas como adubos verdes são as seguintes: I-Espécies de Inverno Avena sativa L. (aveia branca); Avena strigosa Schreb (aveia preta); Lathyrus sativus L. (chícharo comum); Lathyrus hisrsutus L. (chícharo hirsuto); Lolium multiflorum Lam. (azevém); Lupinus albus, L. (tremoço branco); Lupinus angustifolius L. (tremoço azul); Lupinus luteus L. (tremoço amarelo); Ornithopus sativus Brot. (serradela); Pisum sativum var. arvense (L.) (ervilha forrageira); Raphanus sativus L. var. oleiferus Metzg. (nabo forrageiro); Secale cereale L. (centeio); Spergula arvensis L. (espérgula, gorga); Trifolium incarnatum L. (trevo encarnado); Trifolium subterraneum L. (trevo subterrâneo); Vicia faba L. (fava); Vicia sativa L. (ervilhaca, vica comum); Vicia villosa, L. (ervilhaca, vica peluda). II-Espécies de Verão Cajanus cajan (L.) Milsp (guandu arboreo, guandu forrageiro); Cajanus cajan (L.) Milsp (guandú anão, guandu granífero); Canavalia ensiformis (L.) D.C. (feijão de porco); Canavalia brasiliensis (feijão bravo do Ceará); Canavalia gladiata (feijão de porco vermelho); Crotalaria anagyroides HB.K. (Crotalaria); Crotalaria breviflora (crotalaria); Crotalaria grantiana Harv. (crotalaria grantiana); Crotalaria juncea L. (crotalária); Crotalaria lanceolata E. Mey (crotalária); Crotalaria mucronata Desv. (crotalária); Crotalária ochroleuca (crotalária); Crotalaria retusa L. (crotalária); Crotalaria spectabilis Roth (crotalária); Crotalária sp. (crotalaria); Euchlaena mexicana (teosinto, dente-de-burro); Fagopyrum esculentum Moench (trigo mourisco); Indigofera hirsuta L. (anileira); Indigofera truxillensis H.B.K. (anileira); Leucaena leucocephala (leucena); Pennisetum americanum (milheto); Tephrosia candida (tefrósia); Sesbania aculeata Pers. (sesbania); Sesbania macrocarpa Muhl. (sesbania); Sesbania speciosa Taub. (sesbania); Stizolobium aterrimum Pip. Et. Trac. (mucuna preta); Stizolobium deeringianum Bort. (mucuna rajada); Stizolobium deeringianum Bert. (mucuna anã); Stizolobium niveum Kuntze (mucuna cinza); Sorghum bicolor (sorgo); Vigna unguiculata (caupi, feijão miúdo); Vigna umbelatta (feijão arroz).

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Na tabela 2 estão discriminadas as espécies de adubos verdes mais utilizadas nos difer entes sistemas de produção nos cer rados e nas regi ões centro-sul e sul do Brasil. Tabela 2. Quantidades de semente (kg/ha), produção de massa verde (M.V.),

matéria seca (M.S.) e montante de nitrogênio, fósforo e potássio (% da M.S.) de algumas espécies de adubos verdes.

Adubos Verdes

Sementes (Kg/ha)

M.V. (t/ha)

M.S. (t/ha)

Nitrogênio (%)

Fósforo (%)

Potássio (%)

Aveia preta 40-60 15-40 4.0-11.0 0.70-1.68 0.14-0.42 1.08-3.08

Centeio 50-70 30-35 4.0-8.0 0.58-0.66 0.16-0.29 0.75-1.45

Ervilhaca peluda

50-60 20-37 3.0-6.0 2.51-4.36 0.25-0.41 2.41-4.26

Ervilhaca comum

60-80 20-30 3.0-6.0 2.74-3.47 0.27-0.38 2.33-2.56

Ervilhaca forrageira

60-80 15-40 2.5-7.0 1.77-3.36 0.14-0.41 0.67-3.31

Nabo forrageiro

15-20 20-65 3.0-9.0 0.92-1.37 0.18-0.33 2.02-2.65

Tremoço branco

120-140 30-40 3.5-5.0 1.22-1.97 0.25-0.29 1.00-1.77

Tremoço azul 80-100 25-40 3.0-6.0 0.85-2.15 0.12-0.29 1.36-1.49

Aveia + ervilhaca

25 + 45 15-50 2.0-11.0 0.93-1.39 0.13-0.19 1.23-1.47

Milheto 20-30 avião)

11-90 4.0-21.0 0.34-1.46 0.13-0.29 1.05-3.12

Caupi 40-50 20-33 2.5-5.7 1.67-2.22 0.25-0.50 1.82-2.77

Girassol 30-50 20-46 4.0-8.0 1.08 0.15-0.28 2.24-2.96

Crotalaria juncea

25-40 15-62 2.5-12.5 1.42-1.65 0.16-0.25 0.96-1.38

Mucuna cinza 50-60 10-25 3.0-6.0 1.56-2.43 0.46-0.57 1.00-1.55

Guandu anão 40-50 10-28 2.0-8.5 1.02-2.04 0.21-0.28 0.92-1.47

Milheto x caupi

10 + 25 19-40 3.5-10.0 0.61-0.82 0.13-0.17 1.08-1.12

Sorgo 6-10 10-60 3.5-18.0 0.20-1.35 0.10-0.35 0.90-2.70

Fonte: CALEGARI ( 2000)

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6. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PARA A IMPLANTAÇÃO DOS ADUBOS VERDES Para que os adubos verdes possam expressar o máximo de seu potencial de produção de f itomassa, é necessário que lhes sejam dadas condi ções mínimas para tanto. Assim sendo, é necessár io que sejam conhecidas as exigências para seu cultivo, no que se refere à temperatura, solos e disponibilidade de água (BULISANI & ROSTON, 1993). Estes 3 parâmetros possibilitarão o conhecimento do comportamento agroecológico dos adubos verdes, e a definição das melhores épocas de semeadura e as melhores regiões de cultivo em função dos solos que apresentam. Quanto à temperatura, pode-se dividir os adubos verdes em dois grupos básicos. Adubos verdes de regiões subtropicais/temperadas e de regiões tropicais, mais comumente conhecidos como adubos verdes de inverno e de verão. Para as espécies de inverno observa-se o período do ano no qual começa o declínio das temperaturas altas de verão, em especial a ocorrência de temperaturas mais amenas durante a noite. A semeadura no entanto, não deve avançar muito ao longo do ano para não prejudicar o crescimento vegetativo em virtude da fase reprodutiva, que ocorre com a elevação das temperaturas a partir da primavera. Para as espécies tropicais é necessário observar a ocorrência de baixas temperaturas no início de crescimento que poderão causar danos irreversíveis ou retardar o crescimento, ou no final do ciclo impossibilitando a reprodução (abortamento de flores, queima de frutos) ou a expressão máxima de produção de fitomassa. A época de semeadura dos adubos verdes de verão é determinante da altura final e produção de fitomassa das espécies de hábito ereto ou da expansão lateral das espécies de hábito volúvel/trepador. Deste modo, semeaduras tardias de guandú e crotalárias, a partir do início do período chuvoso (set/out) resultam em sensível redução da altura de plantas (de 3,0 para 1,0 a 1,5 m), diminuição de fitomassa (WUTKE, 1993 e WILDNER & MASSIGNAM, 1994), diminuição da cobertura do solo (WILDNER & MASSIGNAM, 1994), aumento da incidência de pragas (WILDNER & MASSIGNAM, 1994), facilitando a colheita de grãos,em condições de inverno quente e seco (WUTKE, 1993) ou dificultando-a, em condições de inverno frio e úmido (WILDNER & MASSIGNAM, 1994). Quanto ao solo, pode-se dizer que os adubos verdes mais utilizados tem uma ampla adaptação; as leguminosas, em geral, são exigentes a um mínimo de fertilidade, traduzido principalmente por disponibilidade adequada de Ca, Mg, P e K. (BULISANI & ROSTON, 1993). Algumas leguminosas são mais tolerantes a condições de solos degradados; entre elas cita-se o guandú (o zebu das leguminosas) e várias crotalárias. As leguminosas de verão, por outro lado, parecem ser menos exigentes em fertilidade do que as leguminosas de inverno. Outros adubos verdes como gramíneas, crucíferas e cariofiláceas são também menos exigentes do que as leguminosas. A disponibilidade de água, representada pela sua quantidade e a distribuição, influenciam decisivamente no desenvolvimento dos adubos verdes e na determinação de sua época de semeadura. É importante, pois, identificar os períodos de déficit acentuado de água para que seja possível antecipar ou retardar a semeadura dos adubos verdes. Segundo BULISANI & ROSTON (1993), a fase mais crítica na implantação das leguminosas é da germinação e

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emergência de plântulas, ocasião em que a falta de água pode restringir ou obter a população de plantas mais adequada. Nas fases seguintes do ciclo vegetativo, pela natureza do sistema radicular, pela menor demanda de água e pelo próprio estágio de crescimento, os prejuízos por def iciência hídrica são pouco apar entes. 7. MANEJO DA ADUBAÇÃO VERDE “A quantidade de fitomassa a ser produzida em determinada área de exploração agrícola depende, basicamente, do interesse e objetivo do agricultor. O tempo de permanência da cobertura vegetal é definido tomando-se por base o sistema de produção adotado na propriedade, podendo ser maior ou menor do que aquele até então preconizado por essa prática agrícola. O que não deve-se prescindir é da cobertura do solo sob cultivo, em qualquer época do ano, com vistas à manutenção de sua integridade física, química e biológica (WUTKE, 1993). Assim sendo, o agricultor pode optar por três sistemas básicos de manejo: 7.1 – Incorporação total da fitomassa, caracterizando a tradicional adubação verde: É o manejo mais tradicional, apesar de ser atualmente o menos usado pêlos agricultores. A incorporação da fitomassa é realizada a qualquer tempo, dependendo dos objetivos do agricultor. No entanto a época recomendada é na floração plena do adubo verde.É nesta fase que, para as plantas de crescimento determinado, ocorre o máximo acúmulo de fitomassa e nutrientes. Quando realizado antecipadamente, a velocidade de decomposição da fitomassa é maior e os níveis de nutrientes menores. Quando o manejo for retardado, as plantas tornam-se mais “lenhosas”(relação C/N maior), e a decomposição mais lenta. A opção por esta ou aquela época de manejo está em função, principalmente, da época de semeadura da cultura de sucessão. Este tipo de manejo é realizado com o uso de ar ados e grades de tração animal ou mecânica. 7.2 – Incorporação parcial da fitomassa, caracterizando o chamado cultivo mínimo Para obter a incorporação parcial da fitomassa utiliza-se o mínimo de operações de preparo do solo necessárias para dar condições à germinação das sementes e estabelecimento das plantas (CURI et al., 1993). MONEGAT (1981) difundiu, para as condições dos pequenos agricultores da região Sul do Brasil, a idéia do cultivo mínimo de tração animal, utilizando plantas de cobertura do solo, no inverno (cultivo mínimo com vica – Vicia sativa). Neste caso a única operação de preparo do solo é a abertura de um sulco, no espaçamento para a semeadura da cultura posterior; o adubo verde é parcialmente incorporado por ocasião do sulcamento (20 a 40%), permanecendo o r estante da cobertur a do solo no espaço entre-sulcos. O cultivo mínimo caracteriza-se como uma fase intermediária de evolução para o plantio direto ou, em alguns casos, o próprio plantio direto da pequena propriedade. O cultivo mínimo com tração animal pode ser realizado de quatro maneiras distintas em função da espécie e da fase do ciclo vegetativo no qual se encontra o adubo verde (MONEGAT, 1991):

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1.Cultivo mínimo antes da floração do adubo ver de – este tipo de cultivo mínimo é realizado em áreas cultivadas com adubos verdes de porte baixo ou rasteiro, com desenvolvimento inicial lento, pouca produção de fitomassa e ciclo longo. A abertura do sulco é realizado quando as plantas promovem 100% de cobertura do solo. Os sulcos devem ser largos para fazer a semeadura, de preferência, em linhas pareadas. Este sistema permite a semeadura antecipada do milho e a ressemeadura natural do adubo verde.. Após o final do ciclo do adubo verde, entre as linhas pareadas da cultura principal, é possível fazer uma nova semeadura (tardia) em plantio direto, caracterizando assim um consórcio ou sucessão de cul turas. 2.Cultivo mínimo na fase de floração plena do adubo verde: como já caracterizado, o manejo é realizado na época mais indicada para tal. Em muitas ocasiões, quando a produção de fitomassa é muito grande, ocorrem dificuldades para realizar o sulcamento; é comum ocorrer embuchamento da pá do arado ou a massa vegetal do adubo verde cai r para dentro do sul co recém aber to. Para evitar estes problemas, por ocasião da cobertura total do solo (100% de cobertura), deve ser realizado um primeiro sulcamento, também chamado pré-sulcamento, com arado de pá média ou grande. O pré-sulcamento retarda, um pouco, o crescimento do adubo verde e não permite a produção excessiva de fitomassa. Por ocasião da floração é realizado, então, o sulcamento definitivo.; Este tipo de cultivo mínimo é realizado em áreas com vica comum, vica peluda, chícharo, gorga, etc. Após o final do ciclo do adubo verde também é possível implantar uma nova cultura, em plantio direto, como consórcio ou sucessão de culturas, nas entrelinhas da cul tura principal. 3. Cultivo mínimo após a colheita de cereais de inverno: neste sistema, imediatamente após a colheita do cereal de inverno (trigo, triticale, aveia preta, centeio), é realizado um sulcamento da área e a respectiva semeadura da cultura principal. 4.Cultivo mínimo após o acamamento do adubo verde: este é o exemplo típico do cultivo mínimo com adubos verdes de verão (com mucuna), mas pode ser realizado com espécies de inverno. Para o acamamento das plantas são utilizados equipamentos típicos como o rolo-facas e/ou o rolo-disco ou ainda a grade ou roçadeira (manual ou mecânica). Uma ou duas semanas após o acamamento, quando a palha está seca, é realizado o sulcamento. Para o sulcamento em restevas de espéacies de porte ereto (aveia, centeio, nabo forrageiro, crotalárias, etc.) é usado o arado fuçador tradicional. Em restevas de espécies de hábito volúvel (vica comum, vica peluda, mucunas, etc.) deve ser utilizado um arado fuçador com um disco de corte adaptado na frente da pá , para facilitar o corte da resteva e aber tura do sulco. 7.3 – Manejo da fitomassa sem incorporação ao solo, caracterizando o plantio direto A seqüência de operações que inicia com o manejo da fitomassa, sem incorporação ao solo e termina com a semeadura da cultura principal, sem a realização de preparo do solo é conhecido como plantio direto.Para a semeadura em plantio direto são usadas máquinas especiais que abrem pequenos sulcos (ou covas) de profundidade e largura suficientes para garantir uma boa cobertura e

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contato da semente co m o solo (não mais de 25 a 30% do sol o é revolvido) (CURI et al., 1993). Para o manejo da fitomassa são utilizados equipamentos mecânicos tais como o rolo-facas, rolo-disco, roçadeiras e picadores. Em determinados casos até mesmo um tronco de árvore pode ser usado com muito bom aproveitamento.O uso destes equipamentos deve ser realizado com muito critério, principalmente no que se refere à época do manejo. Para evitar problemas diversos (rebrota, por exemplo) o acamamento deve ser realizado na plena floração ou na fase de grão leitoso, conforme a espécie de AV a ser manejada. Nas Tabelas 03 e 04 estão discriminadas, detalhadamente, as características gerais, os usos e os manejos recomendados para os principais adubos verdes de inverno e verão cultivados ou com potencial de cultivo em Santa Catari na.

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Tabela 03 – Características gerais, usos e manejos recomendados para utilização dos principais adubos verdes

de inverno cultivados em Santa Catarina

Nome Comum

Principais

Características Usos Manejos

recomendados

Época de manejo

Culturas de mercado sucessão/intercalares

1. Aveia preta ( Avena strigosa)

Rusticidade, rapidez cobertura do solo; sistema radicular vigoroso; controle de plantas espontâneas;

resistência enfermidades, boa capacidade de rebrote. Efeito

aleopático no papuã.

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; produção de

grãos; pastejo direto, feno, silagem e formulação de rações; reestruturação do solo e rotação

de culturas.

( 2,3,5 e 6) Grão leitoso Soja, feijão,culturas perenes, cebola

2. Centeio (Secale cereale)

Rusticidade, rapidez cobertura do

solo, precocidade, controle de plantas espontâneas, resistência à

baixas temperaturas (-8°C). Aleopático para o trigo

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; reestruturação

do solo; produção de grãos; alimentação humana e animal.;

controle de plantas espontâneas.

(2,3,5 e 6) Floração plena/ grão leitoso

Feijão, soja

3. Azevém (Lollium multiflorum)

Rusticidade, grande agressividade;

boa capacidade perfilhamento; controle de plantas residentes, boa

capacidade de rebrote

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; alimentação

animal (pastejo direto). Crescimento inicial lento;controle

de plantas espontaneas.

(2, 5 e 7) Floração plena Feijão, soja

4. Xinxo (Lathyrus sativus)

Fixação de nitrogênio; resistência `a seca. Planta auto-compatível; cultura intercalar em frutíferas

(videira).

Cobertura do solo (viva/morta); produção de grãos; pastejo direto

ou de cortes/ cocho; adubação verde; fenação; alimentação

humana.

(1,2,3 e 5) Floração plena Milho, soja, sorgo e culturas perenes, cebola

5. Vica Comum (Vicia sativa)

Fixação de nitrogênio; ressemeadura natural; boa

capacidade de rebrote.

Cobertura do solo (viva/morta);

pastejo direto; fenação; silagem e produção de grãos; adubação

verde.

(1,2,3 e 5) Floração plena Milho, culturas perenes, sorgo, cebola.

6. Vica peluda (Vicia villosa)

Fixação de nitrogênio; ressemeadura natural; boa

capacidade de rebrote.

Cobertura do solo (viva/morta); pastejo direto; fenação; silagem e

produção de grãos; adubação verde.

(2,3 e 5) Floração plena Milho, sorgo, feijão, cebola

(Continua)

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Tabela 03 ( continuação)

Nome Comum Principais características Usos Manejos

RecomendadosÉpoca de manejo

Culturas de mercado

sucessão/intercalares

7. Ervilha forrageira (Pisum arvense)

Rapidez cobertura do solo; precocidade; fixação de nitrogênio.

Cobertura do solo (viva); produção de grãos; alimentação animal

grãos) (2) Floração plena Milho, culturas perenes, cebola

8.Tremoço (Lupinus sp)

Fixação nitrogênio; rapidez cobertura do solo; rusticidade; sistemaradicular vigoroso, controle de inços. Fixa por simbiose até 150 kg de N. Solubiliza

o fósforo

Cobertura do solo (viva); adubação verde; reciclagem

nutrientes. (2,3 e 4) Floração plena Milho, sorgo

9. Serradeila (Ornithopus sativus)

Rusticidade: resistência ao frio e a geada; fixação de nitrogênio; boa

capacidade de rebrote

Cobertura do solo (viva/morta); a alimentação animal (pastejo e

corte (concho) (1,2,3 e 5) Floração plena Milho, sorgo

10. Nabo forrageiro (Raphanus sativus)

Rusticidade: precocidade rapidez cobertura do solo; controle de inços:

ressemeadura natural

Cobertura do solo (viva); adubação verde; reciclagem de

nutrientes; reestruturação do solo; alimentação animal; espécie apícola; rotação de culturas

(2,3,4 e 6) Início floração Feijão, milho, sorgo, cebola

11. Gorga (Spergula arvensis)

Rusticidade; ressemeadura natural; rapidez cobertura do solo;

precocidade; controle de inços; grande produção de sementes; boa

capacidade de rebrote

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; rotação de culturas; alimentação animal (pastejo direto, corte/cocho)

(1,2 e 5) Início floração Feijão, milho, culturas perenes, fumo

12. Triticale (Triticum túrgidocereale)

Origem do cruzamento de trigo x centeio; resistência doenças e pragas

(bióticos) e acidez ( abiótico); altamente produtivo; alimentação

animal e humana; rusticidade, rapidez cobertura do solo,

precocidade, manejo de plantas espontâneas

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; reestruturação

do solo, produção de grãos (2,3,5 e 6) Floração plena/

grão leitoso Feijão, sorgo

A - Manejos recomendados: (1) Cultivo mínimo (pequena propriedade) (2) Incorporação de massa verde (convencional) (3) Acamamento (rolo-faca) (4) Roçada ou corte (5) Plantio direto (6) Preparo conservacionista (preparo que revolva o solo com intensidade menor que o convencional)

FONTE: Adaptado de AMADO & WILDNER (1994)

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Tabela 04 - Características gerais, usos e manejos recomendados para utilização dos principais adubos verdes de verão cultivados em Santa Catarina

Nome Comum Principais

Características

Usos Manejos

recomendados(A)

Época de manejo

Culturas de sucessão/intercalar

es 1. mucuna cinza, preta e rajada (Stizolobium niveun S.atterrimum e S.deeringianum)

Rusticidade; ciclo longo, suscetível à geada; fixação nitrogênio; rapidez na cobertura do solo; controle de plantas espontâneas, controle de nematóide

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde, alimentação

animal. (1,2 e 5) Formação de

vagens Milho, cebola, fumo, trigo e

triticale

2. Mucuna anã (Stizolobium deeringianum)

Fixação de nitrogênio; rusticidade,

precocidade; rapidez de cobertura do solo.

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde (2) Floração plena Milho, culturas perenes,

cebola, fumo, trigo e triticale

3. Feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)

Rusticidade; resistência à seca;

controle de plantas espontâneas; fixação de nitrogênio, precocidade;

rapidez de cobertura do solo.

Cobertura do solo (viva/morta); adubação verde; alimentação humana/animal . Controle à

tiririca, consórcio com o milho

(2,3 e 4) Floração plena Milho, culturas perenes, cebola, fumo, trigo e triticale

4. Crotalária (Crotalária Spectabilis)

Fixação de nitrogênio, rusticidade;

ciclo médio, repelente de nematoide. Cobertura do solo; adubação

verde; tóxica para o gado. (2,3,4 e 5 ) Floração plena Milho, cebola, fumo

5. Crotalária (Crotalária Juncea)

Fixação de nitrogênio, rapidez

cobertura do solo, boa capacidade de rebrote; repeente de nematóide

Cobertura do solo; adubação verde, alimentação animal;

planta têxtil. (2,4 e 5) Floração plena Milho, feijão

6. Guandu anão (Cajanus cajan)

Resistência à seca; sistema radicular

vigoroso, rusticidade; fixação de nitrogênio. Zebu das leguminosas. Controle de plantas espontâneas.

Cobertura do solo; adubação verde, reestruturação do solo; alimentação animal/humana,

produção de sementes.

(2,4 e 5) Floração plena Milho,

culturas perenes, trigo e triticale

7. Lab-lab (Dolichos lab-lab)

Fixação de nitrogênio, rapidez de

cobertura do solo; excelente qualidade forrageira.

Cobertura do solo; adubação verde; alimentação animal (2,4 e 5) Floração plena Milho, cebola,trigo

fumo e triticale

8. Crotalária (Crotalária Muconata)

Fixação de nitrogênio; controle de plantas espontâneas

Cobertura do solo; adubação verde (2,4 e 5) Pré-

florescimento milho

(continua)

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Tabela 04-(Continuação)

Nome Comum

Principais Características

Usos

Manejos recomendado

s(A) Época de manejo

Culturas de sucessão/intercalar

es

9. Guandu arbóreo (Cajanus sp)

Resistência à seca; rusticidade; sistema radicular vigoroso; tolerante

a geadas médias; fixação de nitrogêio

Cobertura do solo; adubação

verde; reciclagem de nutrientes; alimentação animal/humana;

reestruturação do solo; cultivo multiestrato

(2,4 e 5) Floração plena Milho, feijão, trigo e triticale

10. Leucena (Leucaena leucocephala)

Sistema radicular vigoroso; fixação de nitrogênio; tolerante a geadas médias; resistência à seca

Cobertura do solo, adubação

verde; reciclagem de nutriente; quebra- vento, lenha, cultivo

multiestrato, alimento animal(pastejo direto,

corte/cocho)

(2,4 e 5) (B) Milho, feijão, trigo e triticale

11. Trigo mourisco ( Fagopyrum esculentum)

Rusticidade, capacidade de solubilizar o fósforo, precocidade; resistência à seca; ciclo precoce.

Cobertura do solo; adubação

verde; alimentação animal/humana

(2,3,5 e 6) Floração plena Cebola, soja , feijão

(A) Manejos recomendados: (1) Cultivo mínimo (pequena propriedade) (2) Incorporação de massa verde (convencional) (3) Acamamento (rolo-faca) (4) Roçada ou corte (5) Plantio direto (6) Preparo concervacionista ( preparo que revolva o solo com intensidade menor que o convencional)

(B) Época de manejo: Leucena – corte de massa verde antes da implantação da cultura intercalar. Se houver necessidade de outros cortes, proceder sempre que a leucena possa competir com a cultura comercial ou quando atingir de 1,0 a 1,5m de altura. FONTE: Adaptado de AMADO & WILDNER (1994)

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8. ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS NO MANEJO MECÂNICO DA FITOMASSA Agricultores e técnicos da assistência técnica e extensão rural enfrentam no seu dia a dia as mais diversas dificuldades para levar a cabo muitas das práticas ou tecnologias recomendadas pela pesquisa agropecuária. As dificuldades encontradas variam de propriedade para propriedade de acordo com as características típicas de cada uma ou da cultura que está sendo manejada ou ainda do sistema de produção da qual a cultura faz parte. PECHE FILHO et. al (1999) registram que, baseados em experiências de operacionali zação do manejo de fitomassa, são seis os aspectos importantes que podem interferir na execução prática do processo operacional para o manejo da fi tomassa. 1. Condição atual do Solo Neste aspecto devem ser observadas principalmente, as condições de degradação do solo. Sinais visíveis de erosão do solo (sulcos superficiais, aparecimento superficial da camada compactada) , a condição de desestruturação (pulverização) da camada superficial do solo, a presença de camada compactada e, finalmente, a ocorrência de baixos teores de matéria-orgânica, indicam a necessidade da recuperação da matéria-orgânica, com aporte de grande quantidade de fitomassa e com relação c/n elevada. Num primeiro momento a fitomassa deve ser incorporada e, imediatamente após, mantida sobre a superfície do solo. Na verdade seria interessante montar um esquema geral de recuperação do solo incluindo calagem, adubação, rompimento mecânico da camada compactada e recuperação da matéria-orgânica (em sub-superfície e superfície). Numa situação de solo bem manejado devem ser levados em consideração dois aspectos: 1-a cobertura superfície; e, 2-a reciclagem de nutrientes. Caso a cobertura esteja em níveis baixos, é recomendável o uso de fitomassa com relação C/N elevada para formação da cobertura morta com maior tempo de persistência sobre o solo. Caso a cobertura esteja em níveis satisfatórias ou, até, em níveis acima do desejado, é interessante incluir no esquema uma espécie com fitomassa de relação C/N baixa para intensificar a decomposição dos resíduos e promover a reciclagem de nutrientes, em especial do nitrogênio. 2. Quantidade de fitomassa produzida A produção de elevadas quantidades de fitomassa é desejável, no entanto, em muitos casos, o excesso de palha sobre a superfície pode provocar inconvenientes, em especial na hora da semeadura da cultura subseqüente, prejudicando, a performance do maquinário e, conseqüentemente, a distribuição das sementes e a germinação. Nesta situação é recomendável uma trituração mais intensa transformando a palhada em pequenos fragmentos susceptíveis à decomposição mais rápida. Como a quantidade de palha é relativamente grande, apesar do aumento da velocidade de decomposição, a cobertura do solo permanece garantida. Quando a quantidade de fitomassa é satisfatória ou mesmo aquém do desejado é interessante que na operação de manejo os resíduos não sejam

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triturados ou os pedaços triturados resultantes sejam grandes (largos ou compridos), para permitir uma velocidade menor de decomposição e maior tempo de permanência cobrindo o solo. 3. Finalidade do adubo verde Quando o adubo verde for cultivado com o propósito de cobertura do solo, a sua fitomassa deverá ser manejada de tal modo que as plantas sejam apenas quebradas e deitadas sobre a superfície do solo ou, no máximo, trituradas em fragmentos grandes. Este procedimento garantirá uma decomposição lenta do material e a permanência da cobertura do solo por maior tempo. Nesta situação é interessante também que a espécie usada tenha uma relação C/N elevada (ex. aveia preta, centeio, milheto, guandu, crotalária, etc..). Por outro lado, quando o objetivo é a reciclagem de nutrientes é interessante que os resíduos remanescentes sejam pequenos, para aumentar a velocidade de decomposição e obter os resultados esperados no menor prazo possível. Neste caso é interessante que a espécie usada tenha uma relação C/N baixa (leguminosas em geral, nabo forrageiro, trigo mourisco, etc.). 4. Época do ano para o manejo A época do ano está relacionada à ocorrência de chuvas erosivas e à temperatura ambiente. Caso o manejo da fitomassa seja realizada em período imediatamente anterior à ocorrência de chuvas erosivas é recomendável que o manejo selecionado preserve, ao máximo, as plantas sobre a superfície ou que os resíduos resultantes sejam grandes. Em geral esta situação ocorre, coincidentemente, à elevação das temperaturas (fim do inverno/início da primavera). Exemplo deste tipo de situação é com a palhada dos adubos verdes de inverno (aveia preta, centeio, nabo forrageiro, ervilhaca...). Quando o manejo da fitomassa ocorrer em período anterior ao início de queda das temperaturas (fim outono/início do inverno), é possível optar por um manejo que triture bem toda a palhada – as temperaturas baixas diminuirão a velocidade de decomposição e a semeadura das culturas de inverno (mesmo sendo apenas também para cobertura, mas principalmente se for “a lanço”) será facilitada. Exemplo deste tipo de situação é com a palhada de milheto, crotalária juncea ou milho. 5. Características da espécie a ser manejada Considerando-se os equipamentos disponíveis no mercado, em especial os de tração mecânica, é possível dizer que qualquer tipo de adubo verde pode ser manejado com qualquer tipo de equipamento. No entanto, a performance ou a eficiência da operação, certamente, não será a mesma. O resultado final do manejo pode ser altamente influenciado pelas características de cada espécie a ser manejada. Cabe então buscar informações seguras a respeito do melhor arranjo planta x equipamento para obter o resultado esperado. PECHE FILHO (1993) estudando a performance de diversos equipamentos para manejo de crotalária observou que o rolo-facas concentrou o tamanho dos fragmentos em torno da média e proporcionou uniformidade de decomposição de fitomasa picada enquanto que o picador rotativo concentrou e uniformizou a fitomassa picada de excelente maneira em fragmentos pequenos.

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Levando em consideração as informações disponíveis e as experiências de inúmeros agricultores e pode-se propor as seguintes recomendações ger ais: a)Uso do rolo-facas para acamamento superficial de adubos verdes de hábito ereto, cespitosos ou herbáceo, tais como aveia preta, centeio, nabo forrageiro, tremoço, fei jão de porco, etc. b)Rolo-disco – especialmente para espécies de hábito trepador como as mucunas. c)Picador – para manejo de espécies de hábito ereto, herbáceo, semi-arbustivo como o tremoço, nabo forrageiro, feijão de porco, crotalárias, guandu anão. 6. Estádio de desenvolvimento A recomendação generalizada para o manejo da fitomassa dos adubos verdes é a plena floração. Esta indicação está relacionada ao estádio de desenvolvimento em que ocorre o máximo acúmulo de nutrientes no tecido vegetal. É portanto, uma recomendação relativa à reciclagem de nutrientes e, portanto, o material deve ser triturado ao máximo para facilitar sua rápida decomposição. Caso o objetivo seja a cobertura do solo, a época de manejo pode variar, considerando as diferentes espécies e suas respectivas características. Desta forma, para o manejo da aveia-preta, por exemplo, recomenda-se a fase de grão leitoso. Manejo em fases anteriores possibilita o rebrote da aveia. Em fase posterior, pode possibilitar a ocorrência de tigüera. Já para o nabo forrageiro, em função da desuniformidade e grande per íodo de florescimento e das características de suas sementes, é recomendado o manejo no início da floração. O aspecto mais importante é o estádio de máxima produção de fitomassa e com relação C/N suficientemente alta para promover uma lenta decomposição da palha. No entanto, às vezes, é necessário levar em consideração outros fatores que, naquele momento, passam a ser mais importantes para o sucesso da prática. Exemplo disso é o manejo da aveia preta e do nabo forr ageiro , da gorga.

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9. O PAPEL DO(S) ADUBO(S) VERDE(S) NUM ESQUEMA DE ROTAÇÃO DE CULTURAS A rotação de culturas é a sucessão ou alternância ordenada de diferentes culturas ou espécies vegetais, na mesma área ou gleba, na qual deve ser respeitado um período mínimo sem o cultivo da mesma cultura, na mesma área. (DERPSCH s/d; CALEGARI, 2000) . A rotação de culturas possibilita a diversificação das atividades na propriedade tanto no que diz respeito à produção de grãos quanto a possibilidade de integrar a esta a produção pecuária (leite ou carne). Para a composição de um esquema de rotação de culturas deve-se considerar alguns fatores relevantes e condicionadores do sucesso desta prática relacionados às exigências e condições do mercado agrícola, às características regionais (clima, solo, estruturas de apoio à produção e comercialização); às características da propriedade (sistemas de produção, infraestrutura e qualificação do produtor); e, ao manejo e condição atual do solo de cada área da propriedade (FANCELLI e TORRADO, 1985. CALEGARI, 2000). No entanto, o bom senso e o monitoramento das condições ambientais (clima e solo), ao longo dos anos, são muito mais importantes para o êxito de um sistema de rotação de culturas do que a simples obediência ao esquema de culturas pré-estabelecido (CALEGARI, 2000) . SANTOS & REIS (2001) sugerem que num esquema de rotação de culturas sejam incluídas opções tai s como: 1. Cultivos alternados de espéci es com habil idade diferenciada no aprovei tamento de nutrientes do solo; 2. Cultivos alternados de espécies com habilidade diferenciada de exploração do solo pelo sistema radicular (em volume e/ou profundidade do solo); 3. Cultivos alternados de espécies com susceptibili dade, tolerância ou resistência a pragas e doenças; 4. Cultivos alternados de espécies que apresentem efeitos alelopáticos (positivos ou negativos) sobre a cultura subseqüente ou sobre a comunidade de plantas estabelecidas na área; 5. Cultivos alternados de espécies que extraem nutrientes com espécies que promovem a reciclagem e a melhoria da fertilidade do solo; 6. Cultivos alternados de espécies que utilizem a mão-de-obra, os equipamentos e as instalações disponíveis durante o ano todo. Pode-se agregar ainda o cultivo alternado de espécies com diferentes capacidades de produção de f itomassa (quantidade e qualidade). Quando o objetivo é a melhoria ou a manutenção das propriedades químicas, físicas e/ou biológicas do solo, é necessário que, por ocasião do planejamento da rotação, sejam incluídas as plantas de cobertura do solo/adubação verde. Dependendo das condições climáticas da região e das características do(s) sistema(s) de produção, os adubos verdes podem ser cultivados nas diversas modalidades já discutidas anteriormente. De acordo com a seqüênci a de culturas, deve-se dar prioridade aos adubos verdes que:

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- produzam elevadas quantidades de biomassa, compensando o déficit de cobertura da cultura anterior ou da imediatamente posteri or, para proteção do solo contra a erosão; - tenham efeitos alelopáticos capazes de inibir as principais plantas espontâneas que possam causar prejuízos à cultur a subseqüente; - não sejam hospedei ros de pragas ou doenças par a a cultura posterior; - tenham capacidade de incorporação do nitrogênio, ao sistema através da fixação simbiótica, em especial se a cultura posterior for altamente exigente em nitrogênio; - tenham capacidade de cont role/inibição do crescimento de nematóides; - tenham capacidade de promover melhorias na estrutura do solo (agregação) através do sistema radicular (fasciculado); - sejam capazes de evitar a formação de camadas compactadas e facilitar a infiltração de água no sol o através do sistema radicular (pivotante); - constituam-se em verdadeira fonte de alimento capaz de promover o aumento e/ou sustentar a biodiversidade do solo. Considerando o exposto anteriormente, CALEGARI et. al. (1998), sugerem os seguintes esquemas de rotação para par te dos cerrados e região sul do Brasil :

• Para as regiões de Mato Grosso do Sul, sudoeste de Goiás e sul de Mato Grosso;

A - Nabo forrageiro/milho – aveia preta/soja – trigo/soja; Para áreas onde ocorrem nematóides de cisto: B - Aveia ou milheto/algodão – aveia ou milheto/soja (tolerante ao nematóide) – milheto/soja; C - Aveia ou milheto/algodão – aveia ou milheto/soja (tolerante ao nematóide) – nabo forrageiro/milho. • Para o Paraná: A -Tremoço/milho – aveia/soja – trigo/soja B - Ervilhaca/milho – aveia/soja – trigo/milheto/soja C - Aveia/soja – aveia + ervilha forrageira/milho – nabo forrageiro + aveia/soja D - Aveia/feijão – nabo + aveia/milho – aveia + ervilha forrageira/soja • Para Santa Catarina e Rio Grande do Sul A -Trigo/soja – ervilhaca/milho – aveia + nabo/milho B -Cevada/soja – ervilhaca/milho C -Triticale/soja – ervilhaca/milho D -Trigo/soja – aveia + ervilhaca pastejadas/milho E -Trigo/soja – ervilhaca/milho ou sorgo – nabo + aveia/feijão F -Trigo/soja – colza/soja ou cevada/soja – ervilhaca ou nabo/milho G -Trigo/soja – trigo/soja – aveia branca/soja – ervilhaca/milho ou sorgo.

De acordo com as características regionais e os sistemas de produção, predominantes ou não, existem diversas alternativas para cultivo dos adubos verdes em sucessão ou até mesmo, em conservação às culturas comerciais. CALEGARI (2000) sugere os seguintes opções: A – Semeadura de Crotalaria juncea, sorgo forrageiro, milheto, guandu, guandu anão ou consórcio de Crotalaria juncea com sorgo ou milheto ou ainda consórcio

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de sorgo e milheto, logo após a colheita de milho safrinha ou após a colheita de cultivos de inverno (final de julho) ou ainda após a colheita do milho safra (meados de fevereiro). De 60 a 70 dias após a semeadura é possível fazer o manejo da fitomassa para imediata semeadura de soja, milho, feijão, arroz, trigo ou cana-de-açúcar (PR, SC, RS, cer rados de SP e MT); B –Consórcio de guandu e C. juncea com milho. Quando o milho tiver mais ou menos 30cm de altura, semear os adubos verdes nas entrelinhas com a mesma máquina de semeadura do milho ou também com a máquina de incorporar uréia para o milho; C – Consórcio de feijão-de-porco ou mucuna com milho, sendo os adubos verdes implantados dos 80 aos 100 dias da semeadura do milho. Após a colheita do milho, toda a massa vegetal remanescente deve ser manejada, podendo i nclusive ser utilizada para pastejo; D – Semeadura de mucuna após a colheita de cultivos precoces de arroz, milho, amendoim e soja, em especial para os cerrados, aproveitando as últimas chuvas do verão. O manejo da fi tomassa deve ser feita no início da próxima safra; E – Semeadura de guandu, Crotalaria paulina, guandu x sorgo, guandu x milheto ou mucuna em novembro e deixando toda a fitomassa produzida para manejo somente em outubro do ano segui nte; F – Semeadura de milho, milho pipoca, guandu anão, C. juncea, milheto. C. juncea x milheto, milheto x guandu, guandu x sorgo, em fevereiro, após as colheitas de verão (soja e milho). Na região centro-sul, após o manejo da fitomassa destas opções acima é possível cultivar aveia branca para produção de grãos, cevada, er vilha e trigo.

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