97

A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/biblioteca/publicacoes/rac/edicoes... · do meio rural ... FICHA CATALOGRÁFICA Agropecuária

Embed Size (px)

Citation preview

2 Agropec. Catarin., v.22, n.2, jul. 20083Agropec. Catarin., v.22, n.2, jul. 2008

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

Sumário Informativo Técnico

* Editorial ................................................................ 3* Lançamentos Editoriais ........................................ 4

* Agrônomo cria régua para determinar aptidão agrícola das terras ................................................ 5* Cultivo protegido dá mais qualidade ao tomate orgânico ................................................................ 6* Aproveitamento da chuva na irrigação fornece água na medida certa............................................ 7* Plantas medicinais: literatura revela as raízes da ciência ............................................................. 8* Epagri e Mapa incentivam a adubação verde ......... 9* CO2: emissões superam previsão mais pessimista da ONU ............................................. 10* Erva nativa pode controlar a tiririca ...................... 10* Estudo revela complexidade do trabalho na agricultura orgânica .............................................. 11* Epagri discute comercialização e certificação de alimentos orgânicos .................... 12

* A cana-de-açúcar e as pequenas destilarias ....... 13

* As indicações geográficas como instrumento do desenvolvimento territorial ............................... 16

* Pelo crescimento sustentável e competitivo do meio rural ....................................................... 20

* Aproveite melhor os alimentos, economize e ganhe saúde .................................................... 24* Preserve a vida. Preserve a água ........................ 25

Opinião

Registro

Entrevista

Vida rural

* A caminho da sustentabilidade na pecuária ......... 26* Agricultores formam grupo para produzir e comercializar orgânicos ...................................... 32

* Aromas da flora catarinense ................................ 35

Plantas bioativas

Reportagem

Conjuntura

* Cercosporiose do milho: desafio para os produtores de Santa Catarina .............................. 41* Levantamento de horas de frio nas diferentes regiões de Santa Catarina ................................... 44* Melaleuca alternifolia Cheel: avaliação preliminar no Litoral Norte de Santa Catarina ...... 48

* Avaliação do ganho de peso de cordeiros em três sistemas de produção ............................ 52* Efeitos da adubação sobre a incidência de tripes e míldio e na produtividade da cultura da cebola ..... 57* Pirâmide etária e distribuição vertical da pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel), em vinhedos do Meio-Oeste Catarinense......................................................... 61* Crescimento inicial de espécies vegetais na presença dos herbicidas imazapyr + imazapic em água .............................................................. 69* Demanda hídrica e necessidade de irrigação da videira para Urussanga, SC ............................ 76* Reação de cultivares de cebola à antracnose .......................................................... 82

* Avaliação da propriedade reguladora de crescimento vegetal de compostos indólicos derivados do safrol em Piper hispidinervium in vitro 87* Influência do preparado homeopático de calcário de conchas sobre tripes e produtividade de cebola ....................................... 91

* Normas para publicação na RAC ........................ 94

Artigo Científico

Nota Científica

Normas para publicação

3 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5Tiragem: 3.500 exemplaresImpressão: Floriprint Ind. Gráficae Etiquetas Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.Conceito B em Ciências Agrárias e Ciências dosAlimentos – QUALIS

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publi-cação da Empresa de Pesquisa Agropecuária eExtensão Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –,Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, CaixaPostal 502, 88034-901 Florianópolis, Santa Catarina,Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597,internet: www.epagri.sc.gov.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Luiz Ademir Hessmann, Diretores: Carlos LeomarKreuz, Ditmar Alfonso Zimath, Edson Silva, ElisabeteSilva de Oliveira.

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Roger Delmar FleschEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Mariza T. Martins

PADRONIZAÇÃO: Maria Teresinha Andrade da Silva

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Laertes Rebelo e JoãoBatista Leonel Ghizoni

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

CAPA: Foto de Nilson Otávio Teixeira. Pastoreio Voisinna propriedade de Salésio Cabreira, em Içara, SC.

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, NeusaMaria dos Santos

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveirae Zulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P.502, 88034-901 Florianópolis, SC, fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682, fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE MARÇO DE 2009

Oano de 2009 inicia-secom mudanças no cená-rio mundial, nacional e

estadual. A crise financeira estáforçando os países, principalmenteos do Hemisfério Norte, a enfren-tar uma recessão que se refletenegativamente no resto do mun-do. O Brasil, país continental comimensas reservas naturais e comuma população trabalhadora,está, até o momento, aguentandoos fortes ventos da crise, e comcriatividade, inovação e coragemparece que vai conseguir superaros obstáculos.

A revista AgropecuáriaCatarinense tradicionalmente játraz em seu conteúdo novidadestecnológicas visando a mudanças,evoluções na área agropecuária e,logicamente, também está imbuí-da desse espírito de inovação queajuda a enfrentar todo tipo de cri-se. Neste número, a novidade é aseção Vida Rural, que traz infor-mações e dicas sobre assuntos di-versos e de cunho prático. Na ver-dade, é um assunto que já estevepresente na RAC em anos anteri-

ores e, devido aos pedidos de inú-meros leitores, esta editoria deci-diu reativar e ampliar a seção, tra-zendo um novo formato e com mui-tas e variadas informações.

Outro destaque desta ediçãoda RAC é a entrevista com o se-cretário da Agricultura, AntonioCeron, que revela os principaisprogramas que a Secretaria de-senvolve no Estado em parceriacom a Epagri e a Cidasc, desta-cando o Microbacias, o incentivoà produção leiteira e o trabalhopioneiro de rastreabilidade de bo-vinos. Falando em bovinos de lei-te, vale a pena o leitor ater-se àreportagem sobre o PastoreioVoisin, sistema de manejo que seestá difundindo rapidamente noEstado como uma opção viável derenda ao produtor e com ótimosbenefícios ao meio ambiente e àsaúde humana.

Seguindo com as novidades, oinformativo sobre a melaleuca res-salta a importância de mais umaespécie vegetal australiana quevem ao Brasil e que está sendo tes-tada pela pesquisa, com vistas àobtenção de produtos úteis à soci-edade (neste caso, o óleo essen-cial), a exemplo dos já tradicionais

eucalipto e palmeira-real. E emtempos de crise, agora a climáti-ca, o artigo sobre a demandahídrica e a necessidade de irriga-ção da videira mostra a importân-cia do manejo e da medição daágua para uma de nossas princi-pais culturas frutícolas. Como atendência tecnológica mundial épara a redução do uso de produ-tos dependentes do petróleo e autilização de fontes alternativas,a RAC traz um trabalho sobre ouso de preparado homeopáticopara melhorar a qualidade e pro-dutividade da cebola.

Finalizando, a revista não po-deria deixar de mencionar que aEpagri está com novo comando.Trata-se do médico veterinárioLuiz Ademir Hessmann, que as-sume a administração neste mo-mento de mudanças globais coma missão de conduzir a Empresaperante importantes desafios, re-forçando o seu caráter de institui-ção que busca as inovações e pro-cura repassá-las à sociedade, emespecial ao homem do campo, ofoco maior da Epagri.

Boa leitura e bom proveito!

4 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Pragas das fruteiras de clima temperado no Brasil: guia para omanejo integrado de pragas. 2008, 170p., R$ 20,00.

A obra tem a proposta de ser uma fonte única de consulta, útil pararesolver as dúvidas de produtores, técnicos, estudantes e pesquisadoresno controle de pragas que atacam culturas como maçã, pêssego, ameixa,pera, caqui e quivi.A publicação apresenta as características de cada praga, hábitos de vida,hospedeiros e época de ocorrência, além da descrição dos danos que elascausam. O livro aborda ainda as medidas de controle a serem adotadasdentro do manejo integrado de pragas (MIP), que prevê a adequação dastécnicas de controle à preservação do ambiente natural e àsustentabilidade da agricultura, com o objetivo de minimizar os riscos aoprodutor, ao consumidor e à natureza.Contato: [email protected].

Perspectivas para o sistema agroalimentar e o espaço rural deSanta Catarina em 2015: percepção de representantes de

agroindústrias, cooperativas e organizações sociais. 2008, 133p.,DOC 231, R$ 12,00.

Construir uma visão de futuro do sistema agroalimentar e do espaçorural de Santa Catarina que contribua para a definição de políticas

públicas e estratégicas para o desenvolvimento do setor. Esse é um dosobjetivos do estudo, que apresenta os resultados de entrevistas

realizadas com representantes de 116 empresas e de entidades sociais,agrícolas e pesqueiras do Estado.

Contato: [email protected].

Síntese anual da agricultura de Santa Catarina 2007-2008. Centrode Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa). 2008,322p.

A 29a edição da Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina é umapublicação da Epagri/Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola _Cepa. Considerada uma referência para consultas sobre o setor, apublicação traz informações que contribuem para a análise, oentendimento e a busca de novos caminhos para a agropecuáriacatarinense.Entre outros assuntos, a obra apresenta uma análise do agronegócio noEstado e informações conjunturais sobre produção e mercado de vegetaise animais, aquicultura e pesca, produção florestal e crédito rural para2007/2008. A publicação também traz dados relativos a território, clima,população, mão-de-obra, estrutura de produção e comercialização, alémde informações sobre preços agrícolas.Contato: [email protected].

5Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009 5Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Com base nas condições dos solos deSanta Catarina, o engenheiro agrô-nomo da Epagri Murillo Pundek (in

memoriam) adaptou uma régua para as con-dições do Estado, que pode ser facilmenteusada pelos técnicos para determinar a apti-dão agrícola das terras. A partir de algunsfatores, o instrumento permite conhecer aclasse de aptidão agrícola do solo e fazer arecomendação de uso e manejo das áreas.

A régua é composta por duas peças: mos-trador (faces A e B) e lâmina deslizante (fa-ces C e D). A face A do mostrador apresentasete colunas e uma abertura (janela). Naprimeira coluna estão discriminados os seisfatores determinantes (declividade, profun-didade, suscetibilidade à erosão, pedre-gosidade, fertilidade e drenagem). Nas colu-nas seguintes aparecem os graus de limita-ção de cada fator relacionado na primeiracoluna. Na lâmina deslizante, a face C (quefica sob a face A) mostra os índices para adeterminação das classes de aptidão agríco-la das terras. Esses índices aparecem najanela da face A à medida que se desloca alâmina deslizante.

A face B do mostrador tem uma aberturaque apresenta a classe de aptidão agrícola,os fatores determinantes possíveis e as re-comendações de uso e manejo. A face D (quedesliza sob a face B) apresenta uma tabelacom seis linhas de cores diferentes, que têmos seguintes significados:

• Verde: condição boa para qualquer uso.• Amarela: condição regular para cultu-

ras anuais e boa para os demais usos.• Vermelha: condição boa com restri-

ção para culturas anuais, regular parapomar e boa para os demais usos.

• Azul: condição inapta para culturasanuais, com restrição para pomar, regularpara pastagem e floresta e boa para preser-vação permanente.

• Marrom: condição inapta para culturasanuais e pomar, com restrição para pasta-gem e floresta e boa para preservação per-manente.

• Roxa: condição boa para preservação per-manente e inapta para os demais usos.

Agrônomo cria régua para determinarAgrônomo cria régua para determinarAgrônomo cria régua para determinarAgrônomo cria régua para determinarAgrônomo cria régua para determinaraptidão agrícola das terrasaptidão agrícola das terrasaptidão agrícola das terrasaptidão agrícola das terrasaptidão agrícola das terras

O manuseio da régua é feito deslocando-se a lâmina deslizantedentro do mostrador, da direita para a esquerda, para que na jane-la da face A apareçam os índices variáveis conforme os graus dosfatores determinantes. Em seguida, vira-se a régua para verificaras classes de aptidão agrícola que aparecem na janela da face B domostrador.

No manuseio da régua, a lâmina deslizante sempre deve serdeslocada da direita para a esquerda e nunca deve retornar para adireita até que tenham sido analisados todos os fatores. Isso por-que a determinação de uma classe de aptidão agrícola é feita pelofator mais limitante.

Face A

Face B

Face C

Face D

6 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Aequipe da Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí de-senvolveu um sistema para

produção de tomate orgânico queestá rendendo bons frutos. Trata-sedo cultivo em abrigos com o uso detelas anti-insetos. Nesse sistema, alavoura é protegida com uma estru-tura coberta por plástico e revestidapor telas nas laterais. O objetivo éevitar ou reduzir bastante o ataquede doenças e insetos às plantas.

Cultivo protegido dá mais qualidadeCultivo protegido dá mais qualidadeCultivo protegido dá mais qualidadeCultivo protegido dá mais qualidadeCultivo protegido dá mais qualidadeao tomate orgânicoao tomate orgânicoao tomate orgânicoao tomate orgânicoao tomate orgânico

"Algumas pragas do tomateirosão dificilmente controladas por pro-dutos alternativos usados na agri-cultura orgânica. A broca-pequena-do-tomate é a principal delas. Bus-cando melhor qualidade e rendi-mento nas lavouras orgânicas, de-senvolvemos um método físico parafazer esse controle", conta o en-genheiro agrônomo EuclidesSchallenberger, coordenador do pro-jeto de hortaliças da Estação Expe-rimental de Itajaí.

A cobertura evita as chuvas emexcesso sobre a planta, desfa-vorecendo o surgimento de doenças.Já a tela lateral protege o tomatei-ro de insetos sem prejudicar a ven-tilação. O controle sobre o ambien-te de cultivo também dá mais con-forto para o tomaticultor, que podetrabalhar em um espaço agradávele com o solo seco, mesmo em diade chuva. O sistema é barato e uti-liza materiais que o agricultor temna propriedade ou encontra facil-mente em qualquer região."Pesquisamos três tipos de tela edescobrimos que a mais adequadaé a tipo citros com malha de 1mm",conta Euclides.

Para melhor arejamento e apro-veitamento do sol, as linhas de plan-tio dentro do abrigo devem ser fei-tas no sentido norte-sul. Além dis-so, o tutoramento das plantas deveser vertical e recomenda-se podaras folhas entre as filas. Para evitaro ataque de fungos, os técnicosusam apenas calda bordalesa emconcentração de 0,3%.

Uma prova da eficácia do siste-ma foi a alta qualidade da produçãoobservada em novembro de 2008,após 4 meses de chuvas excessivasno litoral catarinense. Enquanto

isso, muitos produtores do sistemaconvencional contabilizavam os pre-juízos. "A chuva prejudicou muito aagricultura, que perdeu produtivi-dade e qualidade, e o tomate é umadas culturas mais sensíveis a isso.O excesso de água favorece osurgimento de doenças e, muitasvezes, obriga o produtor do sistemaconvencional a usar maisagrotóxicos", explica o agrônomo.

Sistema protege a planta deinsetos e do excesso de chuva,tornando-a resistente a doenças

As linhas de plantio são feitas nosentido norte-sul e o tutoramentodas plantas é vertical

7Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Aproveitamento da chuva na irrigaçãoAproveitamento da chuva na irrigaçãoAproveitamento da chuva na irrigaçãoAproveitamento da chuva na irrigaçãoAproveitamento da chuva na irrigaçãofornece água na medida certafornece água na medida certafornece água na medida certafornece água na medida certafornece água na medida certa

Atecnologia para produção detomate em cultivo protegi-do desenvolvida na Epagri/

Estação Experimental de Itajaí in-clui a irrigação por gotejo com co-leta de água da chuva. O sistemapermite irrigar a planta na quanti-dade exata, livrar a lavoura do ex-cesso de precipitação ou garantirágua de forma mais uniforme emépocas de seca. "A irrigação por go-tejo é a mais econômica do mundoporque fornece água de acordo coma demanda da planta", destaca oengenheiro agrônomo José ÂngeloRebelo.

Nas laterais da estrutura quecobre a plantação, uma calha cole-ta a água e a conduz até os reserva-tórios. Uma bomba leva a água co-letada para o depósito e outra traza água para a irrigação. Cada filada plantação tem uma fita degotejamento (mangueira), que écoberta pela terra de amontoa. Essalocalização da mangueira estimulao enraizamento da planta.

O sistema é facilmente adaptá-vel para qualquer tipo de abrigo eregião. As calhas podem ser feitasde madeira revestida por plástico oude cano de PVC cortado ao meio.Já o armazenamento é feito em cai-xas d'água convencionais.

A qualidade da água coletada émaior que a dos sistemas abasteci-dos por rios e açudes, o que elimi-na o risco de levar doenças para alavoura ou de contaminá-la poragrotóxicos e outros produtos quí-

A estrutura é facilmente adaptável para qualquer tipo de abrigo e região

Novas cultivares diminuem custo

Com o objetivo de estimular a produção orgânica de tomate, a equipe de Itajaí está selecionandocultivares da hortaliça e se prepara para lançar um tomate tipo Santa Cruz e outro tipo cereja. Oobjetivo é permitir que o agricultor faça a própria semente a partir do tomate colhido, economizando nomomento do plantio.

As sementes híbridas compradas nas lojas custam, em média, R$ 10 mil/ha e dão origem a tomatescujas sementes não podem ser plantadas. "Com o tomate que será lançado, o produtor vai usar a própriamatéria que produz para plantar a safra seguinte. Ou seja, ele terá R$ 10 mil no bolso para cadahectare", conclui José Ângelo Rebelo.

micos. Como a região de Itajaí, SC,não tem indústrias que possam pro-vocar chuva ácida, a água é livre depoluentes.

A região também é autossufici-ente em chuvas. "Um tomateiroconsome 1L de água/dia, em mé-dia, durante seu ciclo. Em 1ha sãoplantados 20 mil pés, que conso-mem 20 mil litros/dia. Aqui na re-gião chove 1.700mm por ano, o queequivale a 1.700L/m2. É água maisdo que suficiente para irrigar a pro-dução", conclui Rebelo.

Mais informações podem ser obtidas naEstação Experimental de Itajaí, com osengenheiros agrônomos EuclidesSchallenberger e José Ângelo Rebelo pelofone: (47) 3441-5223 ou pelos e-mails:[email protected] [email protected].

A produção orgânica de tomatecom cultivo em abrigo e coleta deágua da chuva vem sendo divulgadapela Epagri entre os agricultores eé praticada pela maior parte dosprodutores orgânicos de hortaliçasda região.

8 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Plantas medicinais:Plantas medicinais:Plantas medicinais:Plantas medicinais:Plantas medicinais:literatura revela as raízes da ciêncialiteratura revela as raízes da ciêncialiteratura revela as raízes da ciêncialiteratura revela as raízes da ciêncialiteratura revela as raízes da ciência

Cerca de 85% da populaçãomundial (4 bilhões de pes-soas) utilizam plantas me-

dicinais, principalmente as nativasde seus próprios países. Na Fran-ça, cerca de 62% da população uti-liza produtos naturais para o tra-tamento da saúde. Ainda que te-nha aumentado muito o númerode trabalhos de pesquisa com plan-tas medicinais, apenas 15% a 17%de todas as espécies foram estuda-das cientificamente.

Vista como fonte de inspiração,a literatura é um meio de resga-tar peculiaridades de nossa memó-ria, aspectos da história que mui-tas vezes ficam perdidos no tem-po, além de ajudar na obtenção deinformações sobre as ervas medi-cinais. Um exemplo é o romancede Joaquim Manuel de Macedo“Memórias da Rua do Ouvidor”,que mostra como as propriedadesterapêuticas das plantas medici-nais começaram a fazer parte danossa cultura popular. Já no pri-meiro capítulo, o autor descrevecomo o "homem branco" descobriuo poder das plantas.

A história se passa no séculoXVI, quando o governador AntônioSalema mandou exterminar osTamoios, indígenas que atacavame destruíam os estabelecimentosrurais na capitania de São Vicente.Entre os que escaparam do mas-sacre, restaram dois: um índio qua-se sexagenário e uma índia, suaneta de 3 anos de idade. Ambosforam salvos por Aleixo Manoel ebatizados com os nomes de Tomée Inês.

Aleixo havia se alistado comovoluntário na coluna expedicioná-ria fluminense e trabalhava comobarbeiro-cirurgião. Seu gesto no-bre foi prontamente recompensa-do pelo velho indígena. Segundo otexto, Tomé "internava-se na flo-

resta e nela recolhia ervas, folhas,cortiças e raízes de árvores, cujasvirtudes medicinais por experiência,embora rude, conhecia e as levavaao cirurgião, a quem indicava asmoléstias em cujo tratamento elasaproveitavam".

Com esses recursos terapêuticos,Aleixo Manoel ganhou fama, teveclínica extensa e lucrativa. Suas ad-miráveis vitórias médicas lhe ren-deram uma vida confortável. Trans-formou sua cabana numa casa dig-na de cavalheiros. Adicionou-lheuma cerca, fechando pela frentepequeno jardim e canteiros ondeplantava legumes, ervas e parte damatéria-prima usada em seu traba-lho. Depois de repassar a sabedoriaa Aleixo, Tomé morre. Inês crescee seus encantos chamam a atençãodos fidalgos que frequentavam abarbearia de Aleixo Manoel. Alémdas virtudes literárias, a obra res-gata um pedaço da história dessas"ervas mágicas", uma tradição quehoje faz parte da nossa cultura.

Este e outros gêneros literários

muitas vezes revelam aspectos pi-torescos sobre as plantas medici-nais e interessam a quem estudaEtnobotânica, uma área de impor-tância inestimável que se tornouo alicerce do conhecimento que sepossui hoje sobre o assunto. Em-bora não seja um livro técnico, aobra de Macedo tem este mérito:ao mesmo tempo em que reco-nhece a importância medicinal deespécies promissoras que a ciên-cia nem sequer sonhava, mostraos costumes, as tradições, os ri-tuais e o histórico de sucesso dafitoterapia ao longo da civilização,desde tempos imemoriais.

Assim como este romance,existem inúmeras outras crôni-cas, de origem catarinense, quemerecem ser resgatadas. Muitasdelas são encontradas nos locaismais remotos do Estado e perpe-tuadas por anciãos e sábios das co-munidades. Um exemplo é o opús-culo "Apontamentos da Irmã EvaMichalak", que acaba de ser re-editado pela Epagri.

Jungia floribunda (arnica-da-serra), uma das plantas medicinais maisencontradas em pomadas, cremes e diversos fitoterápicos atualmente

9Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Epagri e Mapa incentivam a adubação verdeEpagri e Mapa incentivam a adubação verdeEpagri e Mapa incentivam a adubação verdeEpagri e Mapa incentivam a adubação verdeEpagri e Mapa incentivam a adubação verde

OMinistério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento_ Mapa _ lançou recente-

mente em Santa Catarina o Progra-ma Bancos Comunitários de Se-mentes de Adubos Verdes, que ob-jetiva difundir entre os agricultoresfamiliares a prática da adubaçãoverde em suas lavouras. O Mapafornece as sementes diretamenteaos agricultores orgânicos, em tran-sição ou interessados na produçãoorgânica que estejam ligados a umaassociação ou cooperativa. Os agri-cultores comprometem-se a multi-plicar os materiais recebidos local-mente e devolver a mesma quanti-dade que receberam para a asso-ciação/cooperativa, que, na próximasafra, repassará a outros produto-res. Estes igualmente deverão res-tituir a quantia recebida após a co-lheita e irão separar parte das se-

mentes para seu próprio consumo.A idéia é formar os chamados ban-cos de sementes nos diversos mu-nicípios do Estado, pois não háobrigatoriedade de devolução dassementes ao Ministério. O progra-ma iniciou no final de 2007 com orepasse de sementes de adubos ver-des de verão para os Estados doSudeste, Centro-Oeste, Nordeste eNorte, que agora estão no plantioda segunda safra e estruturando osbancos comunitários.

Em Santa Catarina, a Superin-tendência Federal do Ministério,através da Comissão Estadual daProdução Orgânica _ CPOrg _,contatou a Epagri para auxiliar nadivulgação do Programa, bem comono treinamento básico de técnicose agricultores para utilizar adequa-damente as sementes de adubo ver-de. Foram realizadas até o momen-

to duas reuniões-treinamento aosmultiplicadores do programa,objetivando divulgar a prática daadubação verde de verão. As reu-niões foram realizadas nos municí-pios de Campos Novos e Floria-nópolis nos meses de outubro e no-vembro de 2008, envolvendo cercade 25 agricultores e 30 técnicos.Inicialmente foram distribuídos cer-ca de 800kg de sementes demucuna-preta, guandu-anão eCrotalaria juncea para 80 agricul-tores.

Para este ano, segundo oarticulador do Programa em SantaCatarina, o engenheiro agrônomoEduardo Antônio Ribas Amaral, doMinistério/CPOrg, a idéia é tam-bém trabalhar com adubos verdesde inverno, tais como tremoço,ervilhaca, aveia-preta, etc. Nos trei-namentos são distribuídos aos téc-nicos um boletim com informaçõessobre o Programa e dados técnicossobre os adubos verdes. Da mesmaforma, os agricultores recebem umacartilha explicativa. As duas publi-cações são do Mapa em convêniocom a Fundação de Apoio à Pesqui-sa Agrícola _ Fundag/SP. Além daEpagri também participam do Pro-grama em Santa Catarina a Cidasc,associações de agricultores agro-ecológicos e ONGs. O instrutor téc-nico das reuniões-treinamentos é oengenheiro agrônomo e pesquisa-dor da Epagri Leandro do PradoWildner, especialista em adubaçãoverde, que ressalta que este Progra-ma vem em boa hora, tendo em vis-ta que várias espécies de sementesde adubos verdes estão escassas ecaras. "Além disso, a adubação ver-de é uma prática importante quemelhora a fertilidade do solo e aju-da a reduzir os custos de produçãoaos pequenos agricultores", acres-centa o pesquisador.

Mais informações sobre o Programa deBancos Comunitários de Sementes deAdubos Verdes podem ser obtidas com oengenheiro Eduardo Amaral, pelo fone:(48) 3261-9967 e e-mail: [email protected].

Planta de Crotalaria juncea,recomendada para o verão

Sementes de Crotalaria juncea

Mucuna-preta tem boa produçãode massa e controla plantasespontâneas

Ervilhaca é usada como aduboverde de inverno

10 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Asolução para combater deforma natural a tiririca,uma das principais ervas-

daninhas do mundo, pode estar emuma planta comum no sul do Bra-

Erva nativa pode controlar a tiriricaErva nativa pode controlar a tiriricaErva nativa pode controlar a tiriricaErva nativa pode controlar a tiriricaErva nativa pode controlar a tiriricasil: o chinchilho (Tagetes minuta),também conhecido como erva-fedo-renta ou alfinete-do-mato. As pro-priedades do chinchilho estão sen-do estudadas pelo pesquisadorGustavo Schiedeck e outros colabo-radores da Embrapa Clima Tempe-rado, em Pelotas, RS, dentro do pro-jeto de Plantas Bioativas, que temo objetivo de encontrar espécies daregião que possam ser usadas comoinsumos na agroecologia.

A pesquisa foi motivada pela ex-periência dos próprios agricultores."Eles já usavam o chinchilho paraespantar pulga. A partir disso, re-solvemos verificar se a planta tinhaoutras propriedades", contaSchiedeck. O pesquisador estudoupublicações sobre o assunto e en-controu uma série de referênciassobre as propriedades biocidas daplanta: fungicida, inseticida,bactericida e herbicida.

Entre os estudos, destacam-se

referências de controle da tiririca,uma planta invasora que se multi-plica por sementes e a partir depedaços de raízes e folhas. Combase nisso, a proposta da pesquisaé desenvolver um produto capaz deser elaborado pelos agricultorespara controlar a erva-daninha.Para aproveitar o princípio ativodo chinchilho, foi desenvolvidauma tintura, que está em fase detestes. "É uma técnica que se ba-seia no fato de que, ao ficar deter-minado tempo em contato comuma solução extratora (o álcool),a planta transfere alguns dos prin-cípios ativos para a solução", afir-ma Schiedeck.

O estudo está em fase inicial,que consiste em identificar as ca-racterísticas da planta e avaliar ex-perimentalmente seus princípios.O objetivo é oferecer o maior le-que possível de utilizações dochinchilho para o agricultor.

Estudos indicam que o chinchilhotem ação fungicida, inseticida,bactericida e herbicida

Nem mesmo os cenários maispreocupantes anunciadospelos relatórios do Painel

Intergovernamental de MudançasClimáticas _ IPCC _ previram osatuais níveis de emissões de CO2 naatmosfera. Dados coletados peloPrograma da ONU para o MeioAmbiente _ Pnuma _ alertam queas emissões estão acima das piorestaxas imaginadas.

Em 2007, o IPCC lançou relató-rios que deixaram claro que as mu-danças climáticas são uma realida-de e que o mundo terá que agir parafrear essa tendência. Para avaliaro risco ambiental, mais de mil es-pecialistas do IPCC desenharam di-ferentes cenários. O pior deles in-dicava que haveria uma alta nasemissões de CO2 na atmosfera de2,7% ao ano na atual década. Masos cientistas estão registrando, des-

COCOCOCOCO22222: emissões superam previsão mais: emissões superam previsão mais: emissões superam previsão mais: emissões superam previsão mais: emissões superam previsão maispessimista da ONUpessimista da ONUpessimista da ONUpessimista da ONUpessimista da ONU

O aumento da temperatura da terra provoca o derre-timento das calotas polares

de 2000, um cresci-mento de 3,5% porano. Nos anos 90, oaumento das emis-sões era de 1% aoano.

Outro cenárioalarmante é o daelevação dos ocea-nos. Com o aumen-to da temperaturada Terra, as calotaspolares derreteri-am. No pior dos ce-nários, os oceanosteriam os níveis ele-vados em, no máxi-mo, 0,9m em umadécada. Os novosnúmeros, no entan-to, apontam que essa elevação va-riou no mundo entre 0,8m e 1,5m.Até 2030, se o ritmo for mantido,

300 milhões de pessoas poderão serobrigadas a abandonar suas cidades.Fonte: Estadão Online.

Fot

o de

Mor

guef

ile

11Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

A enfermeira do trabalho es- pecializada em ergonomia Sandra Bezerra Gemma

está entre os primeiros pesquisado-res a olhar a agricultura orgânicapelo viés de quem a pratica. A tesede doutorado "Complexidade e agri-cultura: organização e análiseergonômica do trabalho na agricul-tura orgânica", apresentada na Fa-culdade de Engenharia Agrícola daUniversidade Estadual de Campi-nas _ Feagri/Unicamp _, aborda acomplexidade do trabalho nesse seg-mento.

Num levantamento em dez pro-priedades de municípios da regiãode Campinas, SP, a pesquisadoraregistrou a média de 39 itens deprodução, sendo que algumas uni-dades superam 80 itens. "Trata-sede um macrossistema a sergerenciado, pois boa parte das uni-dades tem associada a produçãoanimal e processa produtos comogeléias, compotas, polpas de frutas,queijos, manteiga, iogurte. Cerca de40% ainda mantêm serviços comoturismo rural, recepção a estudan-tes, cursos e eventos ligados à agri-cultura orgânica", revela.

Ela também ouviu as queixas dosprodutores, principalmente em re-lação a tarefas manuais, movimen-tos repetitivos, posições incômodase exposição a intempéries. "São pro-blemas comuns no trabalho agríco-la, mas que podem se agravar ouse tornar mais frequentes na agri-cultura orgânica". Um exemplo sãoas plantas espontâneas da horta,que são arrancadas manualmentenesse sistema.

O objeto central do estudo foi ogestor da propriedade. "Ele deve terum olhar clínico sobre o agroe-cossistema e suas interações. É umconhecimento chamado de sabertácito, desenvolvido no cotidiano dotrabalho. Se na agricultura conven-cional existe um receituário pron-to, na orgânica cada unidade deveser vista e cuidada como um servivo", afirma a pesquisadora.

Estudo revela compleEstudo revela compleEstudo revela compleEstudo revela compleEstudo revela complexidade do trabalhoxidade do trabalhoxidade do trabalhoxidade do trabalhoxidade do trabalhona agricultura orgânicana agricultura orgânicana agricultura orgânicana agricultura orgânicana agricultura orgânica

Tarefasmúltiplas

O gestor é res-ponsável por umasérie de decisõesna propriedade,incluindo o plane-jamento e a coor-denação de tare-fas de produção,administrativas, agestão das finan-ças e do patri-mônio familiar.Outra responsabi-lidade é a venda daprodução. Segun-do o estudo, amaior parte dosgestores mantémvários clientes: oconsumidor da fei-ra, as redes desupermercados, os lojistas, os quecompram pela internet, entre ou-tros. O atendimento às normas dascertificadoras orgânicas é outra pre-ocupação. "O produtor também develidar com a legislação ambiental,pois uma tarefa importante é a dereflorestamento e recuperação damata ciliar", acrescenta Sandra.

O estudo está fundamentado naTeoria da Complexidade, de EdgarMorin, segundo a qual a organiza-ção é construída constantementepor meio da ordem, da desordem eda interação. A cada dia surgemnovos desafios, que exigem capaci-dade de improvisação. "É exatamen-te o que vimos: o agricultor lidandocom uma diversidade enorme de cul-tivos, em ambiente de poucatecnologia e conhecimento", dizSandra.

A grande demanda por pesquisasna área é um desafio apontado noestudo. De acordo com Sandra, osprodutores pedem o desenvolvimen-to de variedades de plantas adapta-das para o manejo orgânico, técni-cas de controle de pragas e doenças

Segundo Sandra, o estudo revela uma grandedemanda por pesquisas na área

em plantas e animais, estudos quefavoreçam a logística de comer-cialização e um herbicida orgânicopara que não precisem arrancarervas daninhas com as mãos.

Outro resultado que chama aatenção é a saúde física e mentaldos produtores, apesar do volumede trabalho. "Afora algumas quei-xas de dores, não encontrei nin-guém incapacitado ou com proble-mas crônicos. Poderíamos tentardescobrir por que, havendo tantorisco, essas pessoas adoecem tãopouco", declara a pesquisadora.

A multiplicidade de tarefas e apossibilidade de gerenciar o tempo,pausando o trabalho quando há dorou cansaço, contribuem para evitara sobrecarga. No entanto, a impres-são da pesquisadora é de que a for-ça maior vem do significado que osprodutores atribuem ao trabalho."Eles têm orgulho do que fazem.Sentem-se comprometidos com omeio ambiente e a saúde das pesso-as", finaliza.Fonte: Jornal da Unicamp. Edição março/abril de 2008.

Fot

o de

An

ton

inh

o P

erri

12 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Ovolume de alimentos orgâ-nicos comercializados nomundo em 2007 atingiu 40

bilhões de dólares, com um cresci-mento médio anual de 25%. Essa in-formação foi revelada no I Seminá-rio de Comercialização e Certifi-cação de Orgânicos, realizado naEpagri/Centro de Treinamento deAgronômica _ Cetrag _, no Alto Valedo Itajaí, em 18 de fevereiro, commais de 120 participantes entreagricultores, técnicos e represen-tantes de prefeituras, ONGs, em-presas privadas e certificadoras. "Aampliação do cultivo de alimentosorgânicos depende hoje em dia maisde incentivos de comercialização ede organização dos produtores doque propriamente das técnicas deprodução, apesar de estas seremfundamentais no processo", afirmoua engenheira agrônoma da Epagri/Gerência Regional de Rio do Sul,Rosa Agovino, coordenadora doevento.

"Existe uma grande demandanacional e mundial por orgânicos,mas por falta de produção perdem-se importantes mercados", comen-taram os palestrantes Bruno Cunha

Epagri discute comercialização e certificação deEpagri discute comercialização e certificação deEpagri discute comercialização e certificação deEpagri discute comercialização e certificação deEpagri discute comercialização e certificação dealimentos orgânicosalimentos orgânicosalimentos orgânicosalimentos orgânicosalimentos orgânicos

e Paulo Macanham, da empresa deimportação e exportação Comvex,que está em contato com produto-res orgânicos de Santa Catarina vi-sando à exportação. Revelaram,também, que países vizinhos aoBrasil, como Argentina e Peru, in-vestem sério no setor e possuemprogramas nacionais de apoio a pro-dutores orgânicos. O Peru atual-mente possui incentivos governa-mentais e políticas públicas para aju-dar agricultores da região andina,árida e pedregosa, para produção dealimentos orgânicos e naturais comdemandas especiais, como orégano,quinoa, cáctus, entre outros pro-dutos.

Por outro lado, os representan-tes das certificadoras Ecocert,Fernanda Scarpov e DouglasHarada, da Mokiti Okada, discorre-ram sobre o processo de certificação,destacando a nova legislação nacio-nal dos orgânicos, a Lei 10.831. "NoBrasil já existem 20 mil produtoresorgânicos certificados, confirmouFernanda, e alertou que cada vezmais o mercado exige rastrea-bilidade, qualidade e confiabilidadenos produtos e serviços. A certifi-

cação é, portanto,uma necessidadepara aqueles quepretendem comer-cializar e ampliar aprodução para o mer-cado local, regional,nacional e até o ex-terior. Um aspectoimportante é que ascertificadoras estãoabrindo a modalida-de de certificaçãogrupal, adequadapara associações ecooperativas, inclu-sive respaldada pelanova lei, diminuindoos custos do pro-cesso.

Os gerentes dos

Orgânicos crescem 25% anualmente e comerci-alização atingiu 40 bilhões de dólares em 2007

supermercados Nardelli e Impera-triz, que têm forte atuação no AltoVale do Itajaí, colocaram-se à dis-posição dos agricultores e informa-ram que só não vendem mais osorgânicos porque não encontramainda produção suficiente. Por suavez, os agricultores presentes pedi-ram aos supermercados que procu-rem melhorar o atendimento aosfornecedores orgânicos, pois o pro-duto que cultivam requer mais tra-balho, mais cuidados, o que resultanum alimento muito saudável, e queajuda na preservação ambiental.Ficou claro para todos que empre-sas e produtores devem se unir parafornecer à população um produto dealta qualidade biológica e sanidade,com ética e preço justo.

O empresário Ivo Gramkow, daViaPaxBio, agroindústria com sedeem Joinville, revelou que investiumuito dinheiro em sua empresa, eque ainda vai demorar para cobriros recursos investidos. Apesar dis-so, ele disse que o sacrifício é válido,pois mais importante é a satisfaçãopessoal em produzir um alimento dealto valor social e com profundo im-pacto na saúde humana. Ivo colocoua empresa à disposição dos agricul-tores e afirmou que o que eles pro-duzirem a ViaPaxBio tem interesseem adquirir.

"A Epagri estimula a organiza-ção dos agricultores, pois em grupoconseguem comercializar com maiseficiência seu produto", enfatizouRosa, lembrando que é preciso fa-zer mais; por exemplo, os agricul-tores necessitam de assistência téc-nica específica e os técnicos, maiscapacitação na área. Rosa anunciou,ainda, que outro seminário deveacontecer em breve para aprofundaros debates sobre o setor, em espe-cial legislação e comercialização.

Mais informações sobre o evento e os as-suntos discutidos podem ser obtidas com aengenheira agrônoma Rosa Agovino, pelofone: (047) 3521-2942, e-mail: [email protected].

13Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009 13Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

A cana-A cana-A cana-A cana-A cana-dedededede-açúcar e as pequenas-açúcar e as pequenas-açúcar e as pequenas-açúcar e as pequenas-açúcar e as pequenasdestilariasdestilariasdestilariasdestilariasdestilariasJack Eliseu Crispim1

O artigo da seção Opinião pu- blicado na última edição daRAC, em novembro de 2008,

traçou um panorama das perspecti-vas para geração de energias alter-nativas no Brasil e em SantaCatarina. Uma dessas alternativas,que é abordada nesta edição, é aprodução de álcool a partir da cana-de-açúcar nas pequenas proprieda-des rurais.

Histórico e contexto docultivo

A cana é originária do Sudesteda Ásia, onde é cultivada desde épo-cas remotas. A exploraçãocanavieira assentou-se, no início,sobre a espécie Saccharumofficinarum. O surgimento de vá-rias doenças e de tecnologias maisavançadas exigiu a criação de no-vas variedades, as quais foram ob-tidas pelo cruzamento da S.officinarum com as outras quatroespécies do gênero Saccharum e,posteriormente, por meio derecruzamentos com as ascendentes.Os trabalhos de melhoramento per-sistem até os dias atuais e confe-rem a todas as variedades em culti-vo uma mistura das cinco espéciesoriginais e a existência de cultivaresou variedades híbridas.

O Brasil é líder mundial na pro-dução de cana, sendo seguido pelaÍndia e pela Austrália. Estima-se

que existam, no País, 5,9 milhõesde hectares plantados com cana-de-açúcar, sendo que 1t fornece ener-gia equivalente a 1,2 barril de pe-tróleo. Dos Estados brasileiros, SãoPaulo é o maior produtor, com cer-ca de 4,45 milhões de hectares, re-presentando 66% da área cultivadano País com cana, seguido deParaná, Alagoas, Minas Gerais,Pernambuco e Santa Catarina. Asestimativas também indicam que55% da cana é utilizada na produ-ção de álcool e 45% na produção deaçúcar, mas esse indicativo pode

variar em função dos preços, prin-cipalmente, de exportação. Há noBrasil aproximadamente 307 cen-trais de produção com uma geraçãode 1 milhão de empregos, sendo80% da cana cortada à mão. A esti-mativa de produção de cana no Paísé por volta de 436,8 milhões de to-neladas para a safra 2007/08, comaumento previsto para a safra 2008/09.

A produção é realizada em gran-des e pequenas propriedades rurais,servindo também de apoio na nu-trição animal nos períodos de escas-sez de alimentos, principalmentenos meses de inverno. Mais recen-temente, grande parte da produçãotem sido destinada à fabricação demelado, açúcar mascavo, rapadurae cachaça, sendo esta última respon-sável por grande demanda do pro-duto nas agroindústrias do setor ins-taladas em vários Estados.

A escolha das cultivares pelosprodutores de cana é muito impor-tante, visto que cada uma apresen-ta características particulares quan-to à adaptação às condições de cli-ma e de solo e quanto à resistênciaa pragas e doenças, sendo um fa-tor de elevada importância a

1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail: [email protected].

O Brasil é líder mundial na produção de cana-de-açúcar, com 5,9 milhõesde hectares plantados

14 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

quantidade de sacarose presente.Uma boa cultivar proporciona me-lhor rendimento agrícola sem qual-quer custo adicional ao produtor,que pagará o mesmo preço por umamuda de boa qualidade.

Parâmetros climáticos regionaiscomo a temperatura, a chuva, osventos, a luminosidade e a ocorrên-cia de geadas devem ser considera-dos no cultivo da cana, visando ob-ter os melhores rendimentos dacultura. Além disso, os desafios quenos impõe este século, com novasregulamentações internacionais nocampo do comércio, do meio ambi-ente, dos investimentos e das finan-ças, aos quais devemos acrescentaros problemas do mercado e a per-sistência dos baixos preços dos pro-dutos, obrigam os produtores a re-verem suas estratégias produtivase comerciais para a diversificação emaior valorização da produção.

Dentro desse contexto, foi de-senvolvido, a partir de um protóti-po na Epagri/Estação Experimentalde Urussanga, um pequenodestilador para produção de álcool,com o intuito de se produzir a pró-pria energia nas propriedades ru-rais ou empresas interessadas emindependência energética. O desen-volvimento deste equipamento ob-teve importante contribuição daempresa Souza Cruz e do produtore empresário rural Danilo Nápoli.Esse destilador contínuo para pe-quenas produções de etanolhidratado (C2H5OH) ou cachaça éconstituído de quatro colunas deno-minadas A, B, C e D, conforme afigura ao lado.

A coluna A (à esquerda na repre-sentação) é a formadora do vapor.O vinho entra nela por uma tubu-lação apropriada, seguindo em for-ma de vapor para a colunaretificadora B. Em seguida, passapara a coluna retificadora C e, fi-nalmente, os vapores, já desprovi-dos da maior parte da água, sãoconduzidos para a coluna decondensação D.

Durante esse percurso, o vaporinicialmente formado na coluna Aperde água e, à medida que sobe nascolunas de retificação (B e C), ficamais rico em álcool, até sair na co-luna final de condensação (D). Esse

projeto foi desenvolvido para ocu-par menor espaço possível e ser ins-talado dentro de galpões, não exi-gindo estruturas externas que sãodispendiosas.

A situação catarinense

De acordo com os dados consoli-dados do Levantamento Agrope-cuário Catarinense (LAC), o Estadotem 117 municípios com produção

de aguardente de cana. Nas regiõesonde se localiza esse tipo deagroindústria, há um envolvimentoe certa tradição com a cultura dacana. Ainda existem, em SantaCatarina, aproximadamente 1,2 milpequenos produtores com alambi-ques para produção de cachaça. Atéo ano de 1986, existiam no litoraldo Estado duas usinas de açúcarcom um total de 8 mil hectares delavoura de cana e uma estrutura depesquisa mantida pelo extinto IAA-

Reprodução esquemática do projeto de pequenos destiladores comcapacidade de produção de 600 litros de álcool por dia ou de 1,2 millitros de cachaça

Unidade instalada em Casca, RS

A B C

D

15Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Planalsucar. Isso demonstra que oassunto não está baseado na intro-dução de uma cultura desconheci-da regionalmente.

No Estado de Santa Catarina,predominam as pequenas proprie-dades da agricultura familiar; por-tanto, não existe monocultura, esim uma agricultura diversificada.A implantação de microdestilariasde álcool (1 mil a 1,5 mil litros/dia)numa comunidade sob organizaçãocooperativista desconcentra o capi-tal e promove o desenvolvimentointegrado de forma economicamen-te mais equânime se comparado àstradicionais destilarias em ativida-de. Ela tende a criar mais opçõeseconômicas e que não destruirão aharmonia da diversidade. Pelo con-trário, fornece coprodutos novosque podem ser racionalmente apro-veitados no local, como a própriacana sob forma de forragem, as pon-tas da cana, o bagaço, as cinzas decaldeira, o vinhoto para fertir-rigação e para alimentação na cria-ção de peixes, entre outros, quegarantem a produção de carne, lei-te e grãos.

A intercalação ou consorciaçãode culturas de porte baixo e cicloscurtos na fase de plantio, tanto nacana de ano (setembro/outubro)quanto na de ano e meio (janeiro/fevereiro/março), é recomendáveldo ponto de vista técnico e econô-mico porque reduz o custo de pro-dução da cultura secundária. Alémdisso, no período de safra da cana-de-açúcar (15 de maio a 15 de outu-

bro), normalmente existe mão-de-obra disponível para a colheita, con-tribuindo para a geração de renda.

A título de exemplo, em uma uni-dade com 40ha de lavoura distribuí-dos entre dez associados, cada asso-ciado terá 4ha de cana-de-açúcarplantados (ver Tabela 1). Nas uni-dades menores que as sugeridas, aescala comprometerá os resultadoseconômicos. Por outro lado, proje-tos muito grandes fogem ao escopoda organização da propriedade fami-

Pesquisador Jack Crispim (ao centro) e o senhorDanilo Nápoli (à direita) acompanhando afabricação do destilador em Timbé do Sul, SC

dos, a ele pode ser atribuído o va-lor de venda idêntico ao da bombado posto de abastecimento, comoparâmetro. A opção de preço de ven-da a R$ 3,30 tem o objetivo de com-parar o processo de produção a pre-ços semelhantes ao da aguardenteou do álcool orgânico. Outra com-paração pode ser o preço do litro doálcool nos supermercados, que estáem torno de R$ 2,50 a R$ 3,00.

Empresas como a Cooperbio, dePalmeira das Missões, RS, e outrasda região estão desenvolvendograndes projetos e investindo naidéia da produção de bioenergia pormeio da organização dos pequenosprodutores. Essa idéia também estáganhando força na Região Oeste deSanta Catarina, em São Miguel doOeste, com o Movimento de Peque-nos Agricultores (MPA).

Literatura consultada

1. CRISPIM, J.E. et al. Produção de ener-gia a partir da biomassa. Urussanga,SC: E-Book, 2001.

2. SOUZA, A.M. de et al. Projeto: Produ-ção de álcool etílico hidratado carbu-rante em microdestilarias. Floria-nópolis: Epagri, 2007.

liar, além de fo-mentar áreas demonocultura.

Nessa escala deprodução, a análi-se de sensibilidadea preços evidenciaa inviabilidade donegócio caso a op-ção seja por entre-ga do produto finalao preço da Agên-cia Nacional doPetróleo, Gás Na-tural e Biocom-bustíveis (ANP) deR$ 0,84 (ver Tabe-la 2). Como o pro-duto é consumidoentre os associa-

(1)Preço médio na bomba do posto de combustível em Santa Catarina.(2)Preço de cotação atual do álcool orgânico (sem uso de agroquímicos).

Quantidade Preço Lucro Retorno

ao ano L ............. R$ .................. % Anos 38.400 0,84 3.930,00 0,10 - 38.400 1,10 6.049,00 4,70 21,2 38.400 1,65(1) 28.219,00 21,90 4,5 38.400 3,30(2) 91.579,00 71,10 1,41

Tabela 2. Preços de venda e retorno do capital

produzida de venda líquidoanual

do capitalRentabilidade

Tabela 1. Capacidade e dimensionamento de acordo com a área plantada

Área Tonelada/ha Total de cana Álcool/ Capacidadeplantada de cana produzida ano diária ha .................... t ....................... ................ L ..............

30 65 1.950 117.975 1.000

40 65 2.600 157.300 1.310

50 65 3.250 196.625 1.640

16 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Aagricultura e o mundo ruralencontram-se, neste começode milênio, no epicentro de

um conjunto de transformações degrande envergadura do qual resul-tam rupturas de natureza social,econômica, cultural, política edemográfica. Fenômenos até mui-to recentemente admitidos comosendo próprios dos países capitalis-tas centrais e de escassa importân-cia nos países latino-americanos sãohoje verificados de forma patente,os quais denunciam o impacto dopadrão de desenvolvimento adota-do no planeta desde o final da Se-gunda Grande Guerra.

Chama-se a atenção para trans-formações demográficas importan-tes, reiteradas em estudos realiza-dos na Europa (Blanc & Mackinnon,1990; Haugen, 1992; CamareroRioja, 1997) e no Brasil (Schneider,1994; Camarano & Abramovay,1997; Sacco dos Anjos & Caldas,2003), os quais apontam para o pro-cesso de desagrarização, mascu-linização e envelhecimento da po-pulação rural, que só agora come-çam a ser analisados do ponto devista de seu alcance e extensão.

Por outra parte, parece claro quenos encontramos diante de um ce-nário do qual emerge a imperiosanecessidade de buscar novas fontes

As indicações geográficas como instrumentoAs indicações geográficas como instrumentoAs indicações geográficas como instrumentoAs indicações geográficas como instrumentoAs indicações geográficas como instrumentodo desenvolvimento territorialdo desenvolvimento territorialdo desenvolvimento territorialdo desenvolvimento territorialdo desenvolvimento territorial

Flávio Sacco dos Anjos1, Nádia Velleda Caldas2 e José Marcos Fröehlich3

1Eng. agr., Ph.D., UFP/Dep. de Ciências Sociais Agrárias, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS, fone: (53) 3275-7256, e-mail:[email protected]óloga, M.Sc., UFP/Dep. de Ciências Sociais Agrárias, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFSM/Centro de Ciências Sociais Rurais, Campus Universitário, prédio 42, 97105-900 Santa Maria, RS,fone: (55) 3220-8165, e-mail: [email protected].

Produtos tradicionais de agricultores familiares de Pelotas (doces empasta, passa de pêssego, "schmiers" e outros artigos) são comercializadosem feiras da região. O produto se associa ao território em que foi obtido

17Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

de legitimidade social para a agri-cultura praticada tanto no âmbitodos países desenvolvidos quanto nasnações em desenvolvimento. A sen-sação experimentada pela produçãode excedentes de elevado custo so-cial, econômico e ambiental refor-ça essa tendência, aliada ao fato deque do mundo rural é esperado ocumprimento de outros papéis oufunções "para além da agricultura"ou "para além da produção" (Carnei-ro & Maluf, 2003).

No contexto da União Europeia_ UE _, muito se tem avançado nosentido de alterar, com certa pro-fundidade, os instrumentos conven-cionais de financiamento da agricul-tura, particularmente no âmbito daPolítica Agrícola Comum (PAC).Nesse contexto, estudos como o deHervieu (1997) reforçam o entendi-mento de que nos encontramos emuma era na qual há que se estabe-lecer um novo contrato social en-tre agricultores e sociedade,centrado tanto na produção debens materiais de qualidade (ali-mentos, matérias-primas, paisa-gem, biodiversidade) quanto debens imateriais (preservação dosvalores culturais, turismo, sabe-res, etc.).

O debate em torno a essas no-vas funções, consagrado na noçãocorrespondente à multifuncio-nalidade, recentemente incorpora-da ao jargão político e acadêmico la-tino-americano, tem sido intenso,não somente no plano internacio-nal, em meio aos desdobramentosdas sucessivas rodadas de negocia-ções da Organização Mundial doComércio _ OMC _, mas no planodos próprios países, com relação aopapel jogado pelas organizações e es-truturas de representação dos agri-cultores. Em alguns casos esse de-bate oculta uma crise de identidadedessas organizações, particular-mente as que permanecem refénsdo que alguns autores definemcomo "fundamentalismo agrário"(Hervieu, 1997, p.125), entendidocomo reação conservadora ante ocompromisso de assumir uma pos-tura compatível com os novos tem-pos. Parece claro, portanto, que osatuais marcos de referência do mun-do rural e da agricultura foram se-veramente modificados.

Mas a pergunta que se impõe,nas atuais circunstâncias, pode serformulada nos seguintes termos:como é possível afrontar o momen-to histórico em que nos encontra-mos mergulhados, na perspectiva deoferecer alternativas econômicasaos agricultores e às regiõesdesfavorecidas por suas caracterís-ticas estruturais? Em que medidaas organizações agrárias e agentesde desenvolvimento públicos e pri-vados se encontram preparados paradar cabo desses novos desafios?

O Programa Leader naUnião Européia

Diante desses imperativos, há,por certo, um longo caminho a serpercorrido, o qual, inexora-velmente, passa por restabelecer osvínculos da produção com o próprioterritório ("reterritorialização").Trata-se de uma tendência que seespraia por diversos pontos do pla-neta, muito embora o ritmo desseprocesso ocorra de forma bastantediferenciada entre os países e den-tro deles, segundo o grau de com-prometimento dos atores sociaisenvolvidos.

Outra constatação que nos pare-ce inegável destacar recai no fatode que a busca de novos itineráriostem impactado no sentido de reto-mar as preocupações em torno aoprocesso de desenvolvimento emáreas não densamente urbanizadas.No plano dessa reflexão, novas evelhas noções são apresentadas como duplo propósito de analisar as di-ferenças no grau de desenvolvimen-to entre regiões e continentes eidentificar caminhos possíveis parasuplantar as crescentes dificuldades,especialmente as que foram trazidasno curso da globalização da econo-mia.

Já em seu relatório de 1997 oBanco Mundial alertava para a im-portância de estudos que denun-ciam o peso de fatores não essenci-almente econômicos para o desen-volvimento das comunidades locais;daí a importância do que se veio achamar de "capital social" dos terri-tórios. Exemplo concreto dessa es-tratégia nos é apresentado nos qua-se 20 anos de experiência européia,onde certas regiões se converteramem substrato de programas que setornaram um marco para outras la-titudes do planeta. Esse é o caso do

Visita a agroindústria na Colônia Francesa de Pelotas, destacando apessegada, produto tradicional da região e que pode ter marca territorial

18 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Programa Leader, uma iniciativa daUnião Europeia destinada a promo-ver a diversificação de atividades naszonas rurais mediante umametodologia ("bottom-up") baseadana constituição de "grupos de desen-volvimento rural".

Tais programas, como aludeMoyano (2006, p.104), surgiram nocomeço dos anos 90 e permanecemativos em suas distintas fases deexecução (Leader I, II e Plus), exis-tindo já importantes documentos deavaliação de seus resultados. Emsetembro de 2005 houve ainstitucionalização dessas iniciati-vas, integradas, desde então, comoeixo específico no novo RegramentoEuropeu de Desenvolvimento Ru-ral, havendo surgido importantestrabalhos (Halfacree et al., 2002;Moyano, 2005) que examinam a apli-cação da Iniciativa Leader na UniãoEuropeia.

Parte-se, aqui, da premissa deque a indicação territorial ou geo-gráfica de produtos e processos(agrários e/ou agroindustriais) apre-senta-se, na atual conjuntura, comoum instrumento capaz de produzirresultados bastante satisfatórios nabusca por fomentar o capital socialdos territórios e consolidar novasfontes de legitimidade para agricul-tores na atual conjuntura. Essa es-tratégia passa pela geração de arti-gos de qualidade, cujos processos deprodução estejam plenamente iden-tificados com os princípios dasustentabilidade em todas as suasdimensões (econômica, social, éti-ca, cultural e ambiental).

As modalidades deindicação geográfica

A realidade demonstra que asindicações geográficas devemser vistas como uma estratégiarepresentativa do esforço por"reterritorializar" o processo de pro-dução ou, em outras palavras, derestabelecer a relação dos produtoscom o próprio território em que fo-ram gerados. O que parece claro éque os artigos são identificados nãosomente pela marca que carregam,mas também pela indicação de sua

A uva Goethe, em Santa Catarina, está em vias de receber ocertificado de indicação de procedência, o primeiro do Estado

19Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

origem geográfica ou territorial. Talassociação confere reputação e umaidentidade singular que distinguemesses artigos de outros produtos si-milares existentes nos mercados.Existem, basicamente, duas moda-lidades de indicação geográfica,quais sejam, a indicação de proce-dência e a denominação de origem.

Mas enquanto a denominação deorigem aparece associada a umaárea geográfica delimitada, a qualproduz determinado artigo, influen-ciado por suas características geo-gráficas (solo, vegetação), meteoro-lógicas e humanas (cultivo, trata-mento, manufatura), a indicação deprocedência demarca situações emque determinada área geográfica setorna conhecida por gerar certo ar-tigo, inexistindo características na-turais ou humanas envolvidas emsua elaboração.

No Brasil, até o presente mo-mento, inexistem denominações deorigem reconhecidas, nos termos deque trata a legislação internacional.O país conta tão-somente com ex-periências enquadradas como indi-cações de procedência.

Exemplos clássicos de produtosque conquistaram a condição dedenominação de origem podem servistos no caso do Vinho do Porto,dos vinhos tintos da região deBordeaux, dos espumantes da re-gião de Champagne e do queijoRochefort na França, além dos vi-nhos espanhóis da região de LaRioja ou do Montilla-Moriles na Pro-víncia de Córdoba. Além dos aspec-tos eminentemente merca-dológicos da questão, a idéia daindicação geográfica se apresentacomo recurso voltado a aglutinar osatores sociais dos territórios, pro-venientes de distintas esferas deatuação, em torno de objetivos co-muns, bem como no sentido do res-gate da própria identidade regional.No limite, pode ser vista como ala-vanca capaz de fomentar o capitalsocial dos territórios e converter-senuma via dirigida à superação dasdesigualdades regionais.

Diferentemente do que aconte-ce na Espanha e em outros paíseseuropeus, tal processo tem sidoimplantado no Brasil de forma bas-

tante lenta e limitada a algumasregiões e Estados da Federação.Esse é o caso dos vinhos do Vale dosVinhedos na Serra Gaúcha, da Car-ne do Pampa, no extremo sul dessemesmo Estado, ou do Café dos Cer-rados, em Minas Gerais.

Admite-se que a experiência acu-mulada em países da UniãoEuropeia pode ser decisiva paraapoiar iniciativas similares em dis-tintas regiões do Brasil. A Iniciati-va Leader, como alude Sumpsi(2007, p.64), iniciou-se em 1991 eabsorveu apenas 1% dos gastos daUE, aglutinando em torno de si 225territórios. Na atual conjuntura sãomil territórios envolvidos, numamplo leque de intervenções, mui-tas das quais identificadas com otema do apoio à diversificação pro-dutiva e valorização cultural de pro-dutos, entre os quais figura em des-taque a questão das denominaçõesde origem e das indicações de pro-cedência. Cabe à pesquisa, e espe-cialmente à extensão rural, atuarcomo facilitadores dessas iniciati-vas, cumprindo o desiderato de con-verterem-se em agentes do desen-volvimento territorial no sentidopleno da palavra. Os Estados meri-dionais brasileiros possuem umimportante potencial a ser explora-do nesse âmbito. Essa atuação háque estar pautada não apenas naprospecção dessas iniciativas, mas,sobretudo, na orientação prestadaàs famílias no plano técnico, econô-mico e organizacional, consideran-do o grande número de empreen-dimentos existentes nas comuni-dades rurais que perseguem no-vos itinerários no processo de de-senvolvimento.

Literatura citada

1. BLANC, M.; MACKINNON, N. Genderrelations and the family farm inwestern Europe. Journal of RuralStudies, v.6, n.4, p.401-405, 1990.

2. CAMARANO, A.; ABRAMOVAY, R.Êxodo rural, envelhecimento emasculinização no Brasil: panoramados últimos cinqüenta anos. In: EN-CONTRO ANUAL DA ANPOCS, 21.,1997, Caxambu, MG. Anais...Caxambu: ANPOCS, 1997. 20p.

3. CAMARERO RIOJA, L. Pautasdemográficas y espaciales de lastransformaciones del médio rural:ruralidad y agricultura. In: GOMESBENTO, C.; GONZALEZ RODRÍ-GUEZ, J.J. (Eds.). Agricultura ysociedad en la agricultura en laEspaña contemporánea. Madrid: Mapa,1997. p.225-246.

4. CARNEIRO, M.J.; MALUF, R. (Org.).Para além da produção: multifuncio-nalidade e agricultura familiar. Rio deJaneiro: Mauad, 2003. 230p.

5. HALFACREE, K.; KOVAC, I.;WOODWARD, R. Leadership and Lo-cal Power in European RuralDevelopment. Aldereshot: Ashgate,2002.

6. HAUGEN, M. Women's role inNorwegian agriculture. Swansea:Institute of British Geographers, 1992.(Paper presented at Institute of BritishGeographers Annual Conference,University of Swensea).

7. HERVIEU, B. Campos del Futuro.Madrid: Mapa, 1996. 186p.

8. MOYANO, E. Nuevas orientaciones delas políticas de desarrollo rural en laUnión Europea. A propósito del NuevoReglamento FEADER. Revista de Fo-mento Social, Córdoba, v.60, n.238,p.219-242, 2005.

9. MOYANO, E. Capital social y desarrolloen zonas rurales. In: MANZANAL, M.;NEIMAN, G.; LATTUADA, M. (Eds.).Desarrollo rural: organizaciones,instituciones y territorios. BuenosAires: Ciccus, 2006. p.103-128.

10. SACCO DOS ANJOS, F.; CALDAS,N.V. O futuro ameaçado: o mundo ru-ral face aos desafios da masculinização,envelhecimento e desagrarização. Re-vista Ensaios, Porto Alegre, v.26, n.1,p.661-694, 2005.

11. SCHNEIDER, I. Êxodo, envelhecimen-to populacional e estratégias de suces-são na exploração agrícola. Indicado-res Econômicos, Porto Alegre, v.2, n.4,p.259-268, 1994.

12. SUMPSI, J.M. Desarrollo rural conenfoque territorial: diferencias ysemejanzas de las experiencias de laUnión Europea y América Latina. In:ORTEGA, A.C.; ALMEIDA FILHO, N.(Orgs.). Desenvolvimento territorial,segurança alimentar e economia soli-dária. Campinas: Alínea, 2007. p.63-91.

20 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

RAC: Quais os planos da Se-cretaria da Agricultura paraeste ano que está começando?

AC: Para 2009, nós esperamos omaior investimento dos últimos 10anos em pesquisas, com a reorga-nização dos centros de pesquisas,investimento em pessoal ecapacitação humana e um vultosoinvestimento, em parceria com oGoverno Federal, com recursos doPAC, para que nós não percamosa oportunidade de avançar em ter-mos de pesquisas e tecnologias. Naquestão da extensão rural, nós va-mos continuar trabalhando, masnosso foco será o ProjetoMicrobacias, que com muita com-petência a Epagri vem realizando.Este é um desafio da Secretariada Agricultura e da Epagri: fazerdo Microbacias uma ferramentapara incluir o pequeno produtorna cadeia produtiva do Estado.

RAC: Quais serão as princi-pais linhas de trabalho do pro-jeto Microbacias nos próximosanos?

AC: O Microbacias envolve apro-ximadamente 150 mil famílias. Éo maior programa já executadoem Santa Catarina ao longo dotempo. Na conclusão doMicrobacias 2 e no Microbacias 3,que deverá ser assinado no primei-ro semestre deste ano, o foco seráa inclusão dos pequenos produto-res na cadeia produtiva, dando-lhesoportunidades de assegurar umarenda.

Para que o produtor

rural catarinense possa

competir com força no

mercado globalizado, a

área de pesquisa deve

receber os maiores

investimentos dos

últimos 10 anos. É o que

garante o secretário de

Estado da Agricultura e

Desenvolvimento Rural,

Antonio Ceron, para o

ano de 2009. Outra

grande preocupação é com um desenvolvimento sustentável

que preserve as características do meio rural catarinense. A

continuidade do Projeto Microbacias, com foco na inclusão

do pequeno produtor, será o principal instrumento para

garantir esse avanço. A aprovação do Código Ambiental de

Santa Catarina com vistas a sustentar a pequena

propriedade é outro assunto que vai ocupar a pauta da

Secretaria neste ano. Outros projetos tratam de temas como

a rastreabilidade de bovinos e bubalinos, o incentivo à

produção de leite à base de pasto e ao cultivo de alimentos

orgânicos. Em entrevista exclusiva à RAC, o secretário

Antonio Ceron fala do futuro da agricultura catarinense e

dos planos e desafios que a pesquisa e a extensão

rural têm pela frente.

Antonio Ceron, secretário daAgricultura

PPPPPelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável ecompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio rural

PPPPPelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável eelo crescimento sustentável ecompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio ruralcompetitivo do meio rural

21Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

RAC: Por conta das chuvas nofinal do ano passado, centenasde produtores rurais do Esta-do sofreram perdas em suaspropriedades. Qual o papel daSecretaria nessa reconstrução?

AC: Em conjunto com a Cidasc e aEpagri, a Secretaria da Agriculturafez todo o trabalho de apoio e levan-tamento das soluções, disponi-bilização de máquinas e rene-gociação de prazos para as dívidas.Além disso, forneceu sementes parao replantio das lavouras na regiãoatingida.

RAC: No ano passado, a Secre-taria iniciou uma campanha deincentivo à produção de alimen-tos orgânicos com repercussãoem vários municípios de SantaCatarina. Quais os principaisresultados desse trabalho e osplanos para os próximos anos?

AC: Através da Epagri, existe umtrabalho muito forte em diversascidades de Santa Catarina para aprodução de orgânicos. Nós temosconsciência do aumento no consu-mo e na demanda desses produtose as ações do governo estão volta-das para que a produção e o consu-mo continuem a crescer. Tanto que,já no primeiro semestre deste ano,iniciaremos a distribuição de se-mentes orgânicas para os produto-res rurais.

RAC: Um dos projetos da Secre-taria da Agricultura está volta-do para o desenvolvimento dacadeia produtiva do leite, quetem peso importante na econo-mia agrícola do Estado. Comoserá esse trabalho?

AC: As estatísticas apontam que aatividade leiteira é a que envolvemais famílias de produtores rurais,bem como é a mais adequada paraque os pequenos produtores obte-nham uma renda mensal. Estima-se que essa atividade esteja presen-

Este é um desafio da Secretaria daAgricultura e da Epagri: fazer do

Microbacias uma ferramenta paraincluir o pequeno produtor na cadeia

produtiva do Estado.

22 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

te em mais de 150 mil propriedadescatarinenses. O Projeto de Produ-ção de Carne e Leite à Base de Pas-to será um apoio da Secretaria paramelhorar a qualidade do leite pormeio da melhoria genética dos ani-mais e da melhoria da pastagem.

RAC: A implantação do Projetode Identificação de Bovinos eBubalinos (PIB) em 2008 foi umgrande avanço do setor. De queforma a rastreabilidade vai con-tribuir para o desenvolvimentoda pecuária catarinense?

AC: Santa Catarina foi o Estado

pioneiro na implantação do PIB. Issorepresenta uma conquista e nos trazum desafio: transformá-la em ren-da para a cadeia produtiva de car-nes.

RAC: O trabalho de distribuiçãode sementes tem trazido resul-tados importantes para a agri-cultura do Estado. Quais asmetas para os próximos anos?

AC: No ano de 2008 o ProgramaTerra Boa, que trata da distribui-ção de calcário e sementes no Esta-do, atendeu 68 mil famílias, o quedemonstra a importância desse pro-

jeto. Para 2009, nós já temos a au-torização do governador LuizHenrique da Silveira paradisponibilizar aos agricultores 220mil sacas de sementes de milho e220 mil toneladas de calcário. Éuma maneira de o pequeno produ-tor ter acesso a esses produtos semter que antecipar recursos, pois ogoverno oferece subsídios de 50%.Esse programa irá continuar e, em2009, queremos também introduzirsementes de pastagem _

forrageiras, gramíneas, entre ou-tras _ para que essa parceria conti-nue beneficiando o produtor ruralda melhor forma possível.

A atividade leiteira é a que envolve mais famílias de produtoresrurais, bem como é a mais adequada para que os pequenos produtores

obtenham uma renda mensal. Estima-se que ela esteja presente emmais de 150 mil propriedades catarinenses.

“”

23Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

RAC: Na agricultura cata-rinense, predomina o modelo deagricultura familiar e de peque-nas propriedades. Como a Se-cretaria da Agricultura traba-lha para fomentar o desenvol-vimento sustentável em um sis-tema tão complexo?

AC: O Microbacias é um programaque a Secretaria da Agricultura e oGoverno do Estado desenvolvempara preservar o modelo de SantaCatarina, um Estado onde 80% das220 mil propriedades são pequenas,ou seja, têm menos de 50 hectares.Através de políticas públicas da Se-cretaria da Agricultura e do Gover-no do Estado, nós conseguimosmanter esse modelo. Temos ainda22% da população no meio rural. Em2009, todas as ações são destinadaspara a aprovação, na AssembléiaLegislativa, do projeto de lei quecria em Santa Catarina o CódigoAmbiental. Hoje, pela falta de umalegislação estadual e pela defasagemda lei federal de 1965, nós somosnormatizados por portarias, resolu-ções ou decretos. Isso não torna oprocesso democrático, já que umpaís do tamanho do Brasil é vistode forma unitária quando cada re-gião tem suas diferenças e peculia-ridades. Nós tivemos 1 ano paradebates e formatação do projeto e,nesse período, a AssembléiaLegislativa fez uma ampla discus-

são em Santa Catarina. Nós imagi-namos que, já no primeiro semes-tre de 2009, consigamos aprovaressa lei, que é uma sustentação aomodelo da pequena propriedadecatarinense.

RAC: Quais os planos e os prin-cipais desafios da pesquisa e daextensão rural diante do atualcenário agrícola catarinense?

AC: Há algumas décadas, o produ-tor, que não precisa ser necessaria-mente rural, preocupava-se com ovizinho de cerca ou com os concor-rentes de outros municípios. Hoje,a preocupação é também com osconcorrentes que estão do outrolado do oceano. Há uma competi-ção globalizada e, para competir nomercado, a alternativa é investir emtecnologia. E para alcançar atecnologia devemos investir em pes-

quisa. Ao longo do tempo, SantaCatarina tem realizado, por meio daEpagri, um trabalho extraordinário.E as coisas boas que acontecem naagricultura de Santa Catarina tive-ram participação de pessoal qualifi-cado e de um intenso processo depesquisas.

As coisas boas queacontecem naagricultura de

Santa Catarinativeram

participação depessoal qualificado

e de um intensoprocesso depesquisas.”

Para 2009, já temos autorização dogovernador para disponibilizar aos

agricultores 220 mil sacas de sementes demilho e 220 mil toneladas de calcário.

Queremos também introduzir sementes depastagem para que essa parceria continue

beneficiando o produtor rural.

“”

Há umacompetição

globalizada e, paracompetir no mercado,

a alternativa éinvestir em

tecnologia. E paraalcançar a tecnologia

devemos investir empesquisa.

24 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

• Não jogue fora folhas de ce-noura, beterraba, batata-doce,nabo, couve-flor, abóbora, mos-tarda e rabanete. Elas podemincrementar tortas, sopas, suflês,refogados, bolinhos e outros pra-tos. O mesmo vale para talos decouve-flor, agrião, brócolis e be-terraba.

• Cascas de batata-inglesa, ba-nana, tangerina, laranja, mamão,pepino, maçã, abacaxi, beringela,beterraba, melão, maracujá,manga e abóbora podem virarbolos, tortas, doces, sucos e vita-minas. É só usar a imaginação.

• Aproveite as sobras de arrozpara fazer bolinho, arroz de for-no ou risoto.

• O restinho de macarrão ficauma delícia em saladas ou mistu-rado em omeletes.

Aproveite melhor os alimentos, economizeAproveite melhor os alimentos, economizeAproveite melhor os alimentos, economizeAproveite melhor os alimentos, economizeAproveite melhor os alimentos, economizee ganhe saúdee ganhe saúdee ganhe saúdee ganhe saúdee ganhe saúde

• A sobra de feijão pode serusada para fazer tutu, sopa, fei-jão tropeiro, virado ou bolinho.

• Sementes de abóbora e me-lão são nutritivas e viram um sa-boroso tira-gosto. Lave-as bem,salgue, deixe secar por 24 horase leve ao forno para tostar.

• Restos de carne assada po-dem virar saborosos croquetes,omeletes, recheios de panqueca,torta ou lasanha, bolo salgado ouaté sopa.

• Guarde restos de pão para fa-zer pudins, torradas, farinha derosca e rabanada.

• Não deixe as frutas madurasestragar. Aproveite-as para fazerdoces, compotas, tortas, sorvetes,bolos, sucos, vitaminas e geleias.Use sua criatividade.

Aprenda a incrementar as refeições deforma barata e nutritiva

Cascas, talos e sementes de frutas, legumes e verduras quegeralmente vão parar no lixo podem fazer bem para a

saúde e para o bolso se forem aproveitados na cozinha.Muitos alimentos, às vezes descartados ou desperdiçados,são ricos em vitaminas, sais minerais e fibras e podem se

tornar um prato saboroso de que toda a família vai gostar.Com um pouco de imaginação, aquele restinho de comida

que sobrou do almoço também pode virar uma refeiçãoespecial no dia seguinte.

25Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Bolo de casca debanana

Ingredientes

2 xícaras (chá) de casca debanana madura3 xícaras (chá) de farinha detrigo2 ½ xícaras (chá) de açúcar5 colheres (sopa) rasas demargarina2 colheres (sopa) de fermentoem póCanela em pó para polvilhar4 claras em neve4 gemas

Modo de preparar

Bater no liquidificador ascascas de banana com ½ xícara(chá) de água. Reservar. Nabatedeira, colocar a margarina,a gema e o açúcar, batendo atéa massa ficar homogênea. Emseguida, acrescentar as cascasde banana batidas, a farinha eo fermento. Por último, colocaras claras em neve. Colocar amassa em uma forma untadae polvilhar com canela antes deir ao forno. Assar durante 30ou 35 minutos.Fonte: www.mesabrasil.sesc.com.br

Preserve a vida. Preserve a águaVivemos no Planeta Água, mas esse recurso tão importante para a

vida está ameaçado. Os esgotos, o lixo, os resíduos industriais e deagrotóxicos, além do desperdício, são os principais vilões da história.

A casca da banana émuito mais rica em fibras

que o próprio fruto. Asfibras ajudam a reduziros níveis de colesterol e

glicemia do sangue,auxiliam no

funcionamento intestinale previnem o câncer.

• Capte a água das chuvas eaproveite-a para irrigar a horta,a lavoura e para limpar a casa.

• Reduza o uso de fertili-zantes e agrotóxicos quecontaminam a natureza.

• Não jogue lixo e emba-lagens de agrotóxicos em lagos,córregos, rios e no mar.

• Proteja as nascentes epreserve a mata nas margens dosrios.

Faça sua parte: veja como você pode ajudar asalvar o planeta

• Evite lançar dejetos deanimais sem tratamentodiretamente na natureza.

• Em casa, feche o chuveiroenquanto ensaboa o corpo nobanho e feche a torneiraenquanto escova os dentes. Nacozinha, ensaboe a louça com atorneira fechada.

• Não deixe a torneirapingando e fique de olho nosvazamentos.

A água na Terra

26 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

1Bacharel em Jornalismo, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

Cinthia Andruchak Freitas1

Mantendo em equilíbrio o gado, opasto e o solo, o Pastoreio Voisin se

destaca como uma alternativaeconômica e ecológica para os

produtores rurais

A caminho daA caminho daA caminho daA caminho daA caminho dasustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadena pecuáriana pecuáriana pecuáriana pecuáriana pecuária

A caminho daA caminho daA caminho daA caminho daA caminho dasustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadesustentabilidadena pecuáriana pecuáriana pecuáriana pecuáriana pecuária

Dividir a área de pastagem empiquetes para multiplicarlucros, produtividade, ferti-

lidade do solo, bem-estar animal e,ainda, diminuir os custos de produ-ção e a mão-de-obra do trabalhadorrural. Essa é a fórmula do PastoreioVoisin, um sistema intensivo demanejo do gado, da pastagem e dosolo que procura manter esses trêselementos em equilíbrio. O modeloproposto pelo francês André Voisinem 1957 tem ganhado espaço comrapidez nas propriedades rurais deSanta Catarina graças aos bons re-sultados econômicos e ambientais.

O sistema, que prevê que o pro-dutor faça um rodízio do rebanho

27Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

por piquetes criteriosamente plane-jados, é regido por quatro leis quepodem ser adaptadas ao clima, àsespécies vegetais e ao solo de cadaregião. A primeira lei diz que, apósser cortada pelo dente do animal, aplanta forrageira só deve serpastejada novamente depois de umperíodo de repouso suficiente paraque ela se recupere. "Dessa forma,é possível fazer o pastoreio no pon-to ótimo de repouso de cada planta.Essa prática aumenta a produtivi-dade da forragem porque dá condi-ções para ela crescer", destaca oprofessor Abdon Schmitt, coordena-dor do Grupo de Pastoreio Voisin daUniversidade Federal de SantaCatarina _ UFSC. Os animais, porsua vez, consomem uma quanti-dade maior de pasto com melhorqualidade.

De acordo com a segunda lei, otempo de permanência do gado emcada piquete deve ser curto o sufi-ciente para evitar que o animalcoma duas vezes da mesma planta."No pastoreio extensivo, o gado temcondições de selecionar o que quercomer, e ele prefere as forrageirasque estão rebrotando. O sistemaVoisin diminui o impacto desse com-portamento seletivo dos animais nasplantas que estão se recuperando",detalha o professor.

A terceira lei afirma que é preci-so ajudar os animais que tenhamexigências nutricionais maiorespara que eles possam colher amaior quantidade de pasto da me-lhor qualidade possível. Nesse caso,as vacas que estão em gestação ouproduzindo leite, por exemplo, têmprioridade. A quarta e última lei dizque o animal não deve ficar maisdo que 3 dias no mesmo piquete eque os rendimentos serão máximosse ele permanecer 1 dia em cadaárea. "Hoje, já se trabalha com meiodia de tempo de permanência porpiquete", acrescenta Abdon.

Opção ecológica

Há 2 anos, o casal Salésio eCilésia Cabreira, da comunidade deCoqueiros, em Içara, no sul do Es-tado, decidiu aplicar o sistema Voisinna propriedade. Os produtores, quehá 30 anos tiravam a maior partedo sustento da família das lavourasde fumo, começaram a participar decursos, seminários e dias de campoe foi dessa forma que conheceramum modelo para criação de gado di-ferente do que vinham adotando.Com ajuda e assistência técnica dosprofissionais da Epagri, as áreas depastagem foram divididas em 18 pi-quetes de mil metros quadrados.

O investimento inicial, segundoSalésio, não foi pesado e já foi recu-perado com a melhora na produção.Antes, o leite "dava para o gasto":eram quatro vacas que produziamcerca de 30L/dia. Hoje, o produto járesponde pela maior parte da ren-da da família. Do rebanho de 28 ani-mais, oito vacas estão em produçãoe rendem 120L/dia, que são vendi-dos para um pequeno laticínio daregião.

Embora o rebanho tenha aumen-tado, o trabalho diminuiu. Antes,era preciso cortar o pasto, picar, le-var para os animais, limpar o cochoe tirar o esterco do estábulo. Ago-ra, o gado sai do piquete apenasquando vai para a sala de ordenha."O trabalho é só tocar as vaquinhase buscar elas no piquete", contaSalésio.

A produção de forragem tambémaumentou e se estabilizou. Agora,Salésio e Cilésia têm na proprieda-de praticamente todo o alimentoque os animais necessitam e nãofalta mais pasto no inverno. "A des-pesa com alimentação do gado di-minuiu cerca de 80%", conta comorgulho o produtor, que agora usaração apenas para complementar aalimentação das vacas que estãodando leite.

A melhora da produtividade dopasto permitiu aumentar a lotaçãodas áreas. Na forma extensiva, ocasal mantinha 2 cabeças/ha e,agora, são 4 cabeças/ha. "Quando oprojeto todo estiver implantado,serão no mínimo 6 cabeças/ha e, noprazo de 3 a 5 anos, com o avançodo sistema, eles poderão alcançaraté 8 cabeças/ha", prevê o médicoveterinário Marcelo Pedroso, coor-denador do projeto de pecuária daEpagri/Gerência Regional deCriciúma.

Para implantar totalmente o sis-tema, o casal vai fazer mais 14 pi-quetes. "Com o domínio do proces-so, eles chegarão a um total de 64piquetes, subdividindo os 32 atual-mente projetados, e poderão mane-jar o gado em dois piquetes por dia",explica Marcelo. O casal tambémplaneja ampliar o rebanho e, no fu-turo, produzir leite orgânico. Naparte de sanidade animal, eles já ca-minham para isso, pois começarama usar homeopatia para tratar ogado. Os resultados são visíveis. "Ahomeopatia mantém o equilíbrio doanimal e o torna mais resistente adoenças. Estamos percebendo me-nos problemas como carrapato,berne, verminose e mastite, e ocomportamento do gado melhorou",conta o veterinário.

Outra mudança radical na propri-edade aconteceu pelas mãos de

28 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Cilésia, que começou a produzir horta-liças orgânicas há 1 ano e meio. "Tiveproblema na garganta por causa dosagrotóxicos e cheguei a ter depressão",lembra. A plantação de fumo, que vemreduzindo de tamanho a cada ano, estácom os dias contados: em breve, asáreas serão transformadas em horta epiquete.

Assim como Salésio e Cilésia, desde2004 mais de 200 produtores de 11 mu-nicípios da região de Criciúma já implan-taram o Pastoreio Voisin. Desses, 180produzem leite e o restante cria gadode corte e ovinos. São mais de 30 técni-cos atuando na região, num projetocoordenado pela Epagri em parceria como Projeto Microbacias 2, o Grupo dePastoreio Voisin da UFSC, prefeituras,cooperativas e laticínios. Para 2009, jáhá uma demanda de mais de 50 proprie-dades para implantar o sistema.

O uso da homeopatia torna os animais mais resistentes a doençascomo mastite, verminose e carrapato

O gado só sai do pasto quando vai para a sala de ordenha, reduzindoa mão-de-obra do produtor

O trabalho é feito com melhoramen-to do campo naturalizado, ou seja, man-tendo a pastagem natural da região naaplicação do modelo Voisin. "Não lavra-mos nem gradeamos o solo para man-ter a estrutura física dele e garantir apresença dos microrganismos que sãoimportantíssimos para a fertilidade. Noinverno, fazemos sobressemeadura deespécies como aveia, azevém e trevossobre a pastagem natural", conta Mar-celo. Nas áreas onde não há forragem,os técnicos iniciam com o plantio de es-pécies perenes como missioneira gigan-te, tífton, aruana, capim mulato, amen-doim forrageiro, maku, entre outros.

Saúde ao ar livre

Quando sai do semiconfinamento etem pasto e água à vontade, o gado ficamais dócil e resistente a doenças, tor-nando desnecessário o uso de medica-mentos químicos. "Consequentemente,o leite é de melhor qualidade", afirmaInácio Trevisan, coordenador do proje-to de pecuária da Epagri/Gerência Re-gional de Tubarão. O agrônomo desta-ca que com o sistema Voisin, aliado aouso de dietas balanceadas, os animaisproduzem mais leite com menor custo.Além disso, é possível banir o uso deagroquímicos no sistema de produção.

Na região de Tubarão, os técnicosrecomendam a correção do solo parapermitir a introdução das forrageiras deinverno em sobressemeadura. "Para oestabelecimento dessas espécies comsucesso, é preciso ter cálcio e fósforona terra. A partir dessa correção, o pró-prio sistema mantém e melhora a fer-tilidade do solo", destaca Inácio. Issoacontece porque as fezes e a urina dosanimais não ficam mais no estábulo ese concentram dentro do piquete, adu-bando a terra. "A urina tem potássio eo esterco concentra cálcio, magnésio,cobre, zinco, ferro e manganês. Alémdisso, de 90% a 95% do nitrogênio ab-sorvido pelas pastagens retorna ao solopelas excretas", detalha.

Um importante indicador desustentabilidade ambiental do sistemaé a presença de minhocas e besourosrola-bosta. "Se eles estão presentes, sig-nifica que a natureza iniciou o processode recuperação do solo, porque eles nãotoleram o uso de agroquímicos", explicao agrônomo. Esses animais decompõemos dejetos e promovem o arejamento e

O sistema seadapta tantopara grandesquanto para

pequenaspropriedades.Com uma áreaa partir de 1ha,

já é possívelaplicar omodelo.

29Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

a infiltração da água no solo, favorecendo o crescimen-to das raízes das pastagens.

Na região de Tubarão, o sistema Voisin é emprega-do no projeto de produção de leite e carne comsustentabilidade. "Hoje, só sobrevive na produção deleite quem tem alimento de qualidade e em quantida-de para o gado. Por isso, nosso trabalho inicia com asensibilização do produtor sobre a necessidade de man-ter os animais bem alimentados", afirma Inácio. Umaequipe de mais de 40 técnicos atua nos 19 municípiosda gerência regional. Das 4,4 mil propriedades que pro-duzem leite, pelo menos 20% trabalham com o siste-ma Voisin ou estão em processo de transformação. "Éa maior bacia leiteira do sul do Estado, com produçãode 400 mil litros/dia", destaca o agrônomo.

Um desses municípios é Braço do Norte. Lá, aEpagri acompanha 15 produtores com o sistema Voisin,mas há também alguns que recebem assistência detécnicos de laticínios. Nas propriedades da região, sãoconstruídos de 60 a 80 piquetes de pelo menos 500m2 eo gado fica meio dia em cada um. "Toda vez que asvacas saem da ordenha, voltam para um piquete novo,com pastagem de qualidade, odor agradável e sem uri-na e esterco", afirma o veterinário Lúcio Teixeira deSouza, extensionista da Epagri/Escritório Municipal deBraço do Norte.

Para Lúcio, o sistema é a única alternativa viávelpara a produção de leite em propriedades familiares."Um dos maiores resultados é a felicidade do produtor,que tem mais tempo para ele e para a família. Agora,ele pode sentar e conversar com os filhos, algo muitoimportante em uma época em que tantas pessoas estãosaindo do campo", destaca.

Trabalho em família

As famílias rurais são o grande foco do trabalho daEpagri com o Pastoreio Voisin. O sistema tem a vanta-gem de se adaptar tanto para grandes quanto para pe-quenas propriedades. Com uma área a partir de 1ha,já é possível aplicar o modelo, que pode ser construídoaos poucos, à medida em que o produtor tem tempo edinheiro.

Na implantação, são usadas cercas elétricas, maisbaratas e duráveis que as convencionais, umeletrificador e o sistema hidráulico. "Enquanto estiverno pasto, o gado precisa de água potável. Por isso, to-dos os piquetes devem ter bebedouros e pelo menos30% devem ter sombra, para garantir o conforto doanimal", explica Alex Bressan dos Santos, engenheiroagrônomo e facilitador do Projeto Microbacias 2 deBraço do Norte. O custo de instalação fica em torno deR$ 600,00 a R$ 700,00 por hectare e o desembolso serecupera em 2 ou 3 anos.

A conversão do sistema extensivo para o Voisin ésimples e depende, principalmente, da conscientizaçãodo produtor. Depois dessa fase, o técnico faz umlevantamento das condições da propriedade e ela-bora o projeto, já com os piquetes dimensionados. Opasso seguinte é a assistência ao produtor para

A presença de besouros rola-bosta no solo indicaque a natureza está se recuperando

Consequentemente, a produtividade do pastoaumenta...

...e o leite produzido tem melhor qualidade

30 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

implantar o sistema.Daniel Dalgallo, extensionista da

Epagri/Escritório Municipal de Por-to União, sabe bem como é o traba-lho de conscientização das famílias."Apesar de representar boa parteou toda a renda líquida das proprie-dades, a atividade leiteira no Pla-nalto Norte Catarinense era vistacomo se tivesse importância econô-mica secundária. Não eram dispen-sadas boas áreas para as pastagense muitas vezes faltava alimento",conta. O manejo era marcado porrevolvimento do solo, plantio deespécies anuais no verão e silagemno inverno. "O criador estava acos-tumado a olhar o rebanho e não apastagem, então começamos a co-locar a ideia de que a principal ati-vidade econômica da propriedadeprecisa ter uma área adequada",destaca.

O planejamento realizado pelaEpagri nas propriedades do municí-

pio prevê o uso de par-te das áreas nobrespara o gado e excluias Áreas de Preserva-ção Permanente doprocesso produtivo dapecuária. São monta-dos entre 60 e 70 pi-q u e t e s ,dimensionados deacordo com a capaci-dade de suporte dapropriedade. Os pi-quetes disponibilizam60m2 por vaca e osanimais ficam emcada área durante 1dia ou meio dia. "Tra-balhamos com umaocupação de piquete acada 30 ou 35 dias noverão e 40 a 45 diasno inverno", conta oextensionista. Paraajudar na recupera-ção do pasto, os pro-dutores fazem adu-bação com pó debasalto e fosfato na-tural orgânico.

O trabalho com oPastoreio Voisin emPorto União começouem 2004. Dos 390

produtores comerciais de leite, 217já trabalham com o sistema ou es-tão iniciando o processo. "Aqui seproduz uma média de 14L/vaca/dia. Diariamente, os produtoresfornecem 30 mil litros de leite paraos laticínios da região", contaDaniel.

Produção orgânica

Por tornar a produção mais sus-tentável, o Pastoreio Voisin é umsistema alinhado com os princípiosda agroecologia. Em Rio Fortuna,na localidade de Rio Bravo Baixo,José Luiz Schueroff, de 26 anos,produz leite orgânico utilizando osistema na propriedade onde vivecom os pais. A família faz parte daAssociação de Agricultores Ecológi-cos das Encostas da Serra Geral _

Agreco _ desde 1996 e também pro-duz mel, hortaliças e outros produ-tos no sistema orgânico.

José Luiz se formou no Centrode Desenvolvimento do Jovem Ru-ral _ Cedejor _, em Lauro Müller,e, no projeto de conclusão do curso,implantou o Pastoreio Voisin napropriedade. Até agora, construiu 26piquetes de mil metros quadradose tem percebido muitas mudanças.Hoje, ele cria dez vacas com o sis-tema e tira 8L de leite/cabeça/dia,mas já planeja construir mais seispiquetes para melhorar o resultado.

Na pastagem de missioneira gi-gante, o jovem produtor fazsobressemeadura de aveia, azevéme trevo. No verão, em três dos pi-quetes ele planta milho para fazersilagem com a palha, que é apro-veitada no inverno. Os animais per-manecem 1 dia em cada piquete eganham apenas 1kg de ração pordia. E, para equilibrar a saúde dogado, José Luiz usa a homeopatia.

O custo de produção no sistemaextensivo, que incluía ração,silagem, adubação, inseticida e ou-tros insumos, caiu pela metade."Consigo tirar um salário mínimopor mês de lucro com o leite", co-memora José Luiz. Uma parte doleite orgânico da propriedade é ven-dida pela Agreco em embalagens de1L e outra em forma de doce. O res-tante vai para um laticínio conven-cional.

Outra mudança fácil de ser ob-servada é a fertilidade do solo. "Jáhá besouros rola-bosta e minhocasno piquete, o que não se via quandoo gado recebia medicamentos for-tes", aponta Emanuel Viquetti, en-genheiro agrônomo da Agreco. Masa principal transformação na vidada família foi a redução da mão-de-obra. "Antes eu ficava a semana in-teira cortando pasto e agora levo asvacas para buscarem o próprio ali-mento. A qualidade de vida não temcomparação", afirma José Luiz, queagora tem mais tempo para o lazere para produzir outros alimentospara a subsistência da família.

Parcerias

Em 1998 foi criado o Grupo dePastoreio Voisin (GPVoisin), umprojeto de extensão da UFSC como objetivo de implantar projetos-piloto em propriedades rurais

O sistema pode ser aplicado em terrenos comgrande declividade, como a propriedade de JoséLuiz, que produz leite orgânico em Rio Fortuna

31Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Em Santa Catarina, há experiências de Pastoreio Voisin com gado deleite, de corte, caprinos, ovinos e até búfalos. Em Garopaba, uma dasatividades do Projeto Ambiental Gaia Village é a criação de búfalos nosistema orgânico utilizando o método Voisin Silvipastoril. "O descansodas pastagens tem permitido um melhoramento da qualidade dasgramíneas, a ampliação da diversidade de espécies vegetais nas pasta-gens, assim como um considerável aumento da fertilidade dos solos",conta a bióloga Sandra Severo.

A criação bufalina se distribui por cerca de 200ha de camposnaturalizados, dos quais 50ha constituem a Unidade Piloto de Recupera-ção Ambiental por meio do sistema Voisin Silvipastoril. Nessa área, 20hasão de florestas em recomposição e o restante constitui os piquetes.

A unidade mantém um rebanho de 270 búfalos, divididos em cincolotes em rodízio por cerca de 40 piquetes com tamanho médio de 0,5ha.Anualmente, 90 novilhos são engordados e vendidos para abate nos frigo-ríficos da região. "Iniciado em 2000 sob orientação do professor AbdonSchmitt, esse manejo propiciou triplicar a lotação de animais, dobrar ataxa de prenhez de fêmeas adultas, melhorar a sanidade do rebanho ereduzir a mortalidade a quase zero em 2004", acrescenta Sandra.

Bons resultados na criação de búfalos

familiares e, ao mesmo tempo, ca-pacitar agricultores, acadêmicos etécnicos. O trabalho iniciou com pro-jetos em Biguaçu, Paulo Lopes eSanta Rosa de Lima. "O primeiroprodutor com o qual trabalhamosem Santa Rosa de Lima era vistocomo louco na comunidade porqueestava enchendo a propriedade decercas elétricas. Mas em 1 ano emeio ele aumentou o rebanho desete para 21 cabeças e a produtivida-de das vacas foi de 5 para 10L de lei-te por dia", lembra o professor AbdonSchmitt, coordenador do grupo.

Em seguida, o projeto Vida Ru-ral Sustentável, com recursos doServiço de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas _ Sebrae _ deu forçapara o desenvolvimento do sistema

Voisin na região.Em 2002, já havia30 projetos em San-ta Rosa de Lima, 4em São Bonifácio, 2em Anitápolis e 8em Alfredo Wagner,todos implantadospor acadêmicos eagricultores comapoio das prefeitu-ras e dos técnicos daEpagri.

No ano seguinte,foi discutida umaparceria entre oGPVoisin/UFSC e aEpagri para viabi-lizar a tecnologia

adotada nos projetos de Santa Rosade Lima ao maior número possívelde agricultores do sul do Estado. Em2004, o programa iniciou com acapacitação de 40 técnicos da Epagrie a implantação de 120 projetos empropriedades familiares. A cada 15dias, 14 alunos iam para a regiãode Tubarão trabalhar com os técni-cos da Epagri na implantação dosprojetos.

Em seguida, as equipes daEpagri de Criciúma e Araranguátambém entraram no programa e,em 2 anos, implantaram o sistemaem mais de 200 propriedades. A de-manda cresceu e, em 2005, por meiode um convênio entre a Epagri e oslaticínios da região, foram contra-tados seis ex-acadêmicos integran-

tes do GPVoisin/UFSC para se res-ponsabilizarem pela assistência téc-nica aos projetos implantados.

A Epagri também capacitou téc-nicos em vários municípios do Es-tado e, desses cursos, nasceu o Pro-grama de Produção de Leite sobPastoreio Voisin. Até hoje, o grupoda UFSC já implantou mais de 587projetos em 57 municípios, todosfeitos por acadêmicos e conduzidospela Epagri e pelos laticínios da re-gião. Cerca de 30 desses projetosparticiparam do processo decertificação orgânica da Ecocert doBrasil e muitos outros estão no ca-minho. "Essa parceria desencadeouum processo de mudança deparadigma nas possibilidades da pe-cuária leiteira catarinense. Hoje, osul do Estado é referência nacionalem produção de leite sob PastoreioVoisin, com centenas de pequenaspropriedades viabilizadas de acordocom os preceitos de André Voisin",destaca Abdon.

Com algumas variações, abovinocultura com piqueteamentode pastagens está difundida por vá-rias regiões de Santa Catarina, in-cluindo o oeste. "Na região deChapecó, trabalhamos com pique-teamento de pastagens perenes deverão há cerca de 5 anos e, agora,estamos iniciando o melhoramentodas pastagens nativas", conta Nel-son Pessoa, responsável pelo proje-to de pecuária da Epagri/GerênciaRegional de Chapecó.

O piqueteamento na propriedade de Salésiomelhorou a produção de pasto e reduziu a despesacom alimentação do gado

32 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Omunicípio de Palhoça é vi-zinho de Florianópolis, acapital catarinense. Como a

maioria das localidades litorâneasdo Estado, a população palhocensesofreu influência cultural açoriana.Com a crescente urbanização, noentanto, muitos dos costumes e tra-dições açorianas vão se perdendo, eas áreas rurais vão se transforman-do radicalmente, dando lugar à es-peculação imobi-liária. A baixa ren-tabilidade da atividade agropecuáriae a oferta de empregos "mais lim-

Paulo Sergio Tagliari1

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

Extensionistas da Epagri e técnicos de uma ONG catarinenseincentivam pequenos agricultores familiares a se organizar einvestir na produção orgânica/agroecológica

pos" e mais seguros no meio urba-no atraem os jovens e os chefes defamília. O rural acaba virando es-paço de moradia, perdendo em par-te sua dinâmica, sua cultura.

A área rural de Palhoça tradi-cionalmente possuía um númeromaior de famílias dedicadas às lidesdo campo. Porém hoje as que res-taram tentam se manter, procuran-do atividades que tragam um míni-mo de retorno financeiro. É o queestá acontecendo com 15 famíliasdas localidades de Três Barras e

Albardão, pertencentes à Microba-cia do Rio Cachoeira do Norte, quehoje são apoiadas por um projetocom foco na agricultura ecológica.O empreendimento é conduzido pelaEpagri/Microbacias 2 e pelo Centrode Estudos e Promoção da Agricul-tura de Grupo _ Cepagro _, uma or-ganização não governamental comsede em Florianópolis. A Caixa Eco-nômica Federal também está apoi-ando financeiramente esse projeto.Os trabalhos iniciaram em novem-bro de 2006 com o Cepagro, que

Agricultores formamAgricultores formamAgricultores formamAgricultores formamAgricultores formamgrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir ecomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicos

Agricultores formamAgricultores formamAgricultores formamAgricultores formamAgricultores formamgrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir egrupo para produzir ecomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicoscomercializar orgânicos

33Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

promoveu reuniões, oficinas emutirões para diversificar e tambémresgatar as atividades tradicionaisdos produtores, valorizando a sub-sistência e a segurança alimentar.

"Este projeto é importante paranós, pois está resgatando antigasatividades, como o plantio debatatinha e cebola, que havíamosesquecido, e trazendo novas, comoo cultivo de alho, moranguinho eabacaxi, que pretendemos iniciarem breve", explica James ManoelPrudêncio, um dos agricultores dacomunidade de Três Barras. Estasfamílias trabalhavam até há poucono modelo tradicional de subsistên-cia, com pouco uso de agroquímicos,comercializando os excedentes. Elespretendem manter a mandioca ederivados _ beiju, cuscuz, bijajica(um tipo de cuscuz) e farinha _ einvestir em outros produtos. Possu-em ainda quatro engenhos que res-taram de mais de 30 existentes naregião.

Maurício Prudêncio, irmão deJames, esclarece que o processo detransformação do grupo ainda estáno início. "Já participamos de vá-rias oficinas, treinamentos, troca deexperiências, até curso deagroecologia realizamos. Tambémfoi importante a visita a associaçõesorgânicas já formadas, como a Re-canto da Natureza, em Santo Amaroda Imperatriz e a AssociaçãoAgroecológica de Garopaba", assina-la o agricultor. "Nosso desafio étecnológico, porém o mais importan-te, na minha opinião, e acredito quena de muitos dos nossos agriculto-res, é a conscientização de que estecaminho é o mais certo a ser trilha-do, apesar de termos muitos proble-mas a enfrentar", pondera Maurício.

Feira ajuda na renda

Os extensionistas da EpagriJane Maurília de Souza Hubert eEdson Walmor Wuerges, assimcomo o facilitador do ProjetoMicrobacias 2, Fábio da CostaSilveira, vêm prestando assessoriaàs famílias nessa transição parauma perspectiva nova, baseada emconceitos de sustentabilidade e co-operação. "Além das novas técnicasde cultivo orgânico, nós da Epagri e

os colegas do Cepagro estamos in-centivando o grupo a se organizar ea vender em conjunto. Por isso foiimportante a participação na feiraorgânica da Praia da Pinheira a par-tir de novembro de 2007", conta Ed-son. Essa feira, que acontece aos sá-bados de manhã, tem sido estraté-gica para o grupo. Para se ter umaidéia, os ganhos médios das famíli-as não passavam de R$ 100,00 porsemana, vendendo localmente ou aintermediários. Agora, com estenovo ponto de venda, aliado aosnovos compradores, elas chegam adobrar ou até triplicar o ganho an-terior.

Na feira, além de hortigran-jeiros _ folhosas, raízes, tubérculos,ovos, mel, queijo, etc. _ os agricul-tores comercializam artesanato,que aperfeiçoaram através de trei-namento realizado pelo Cepagrocom apoio do Microbacias 2. Tam-bém por intermédio destas entida-des conseguiram adquirir tearesmanuais para o grupo. Crochê, ta-petes, toalhas e trilhos são algunsdos produtos apresentados.

Para o extensionista EdsonWuerges, "o grupo está evoluindoaos poucos, e nem queremos apres-sar ou forçar o processo, pois temque vir ao natural, conforme a ca-pacidade e o passo deles", pondera."À medida que o grupo for se for-talecendo, a perspectiva é de ad-quirir alguns equipamentos estra-tégicos, tais como um caminhãopara transporte de produtos, um

Farinha é a especialidade de JoãoNascimento e a esposa Rosa

Leopoldo Correa e a horta tipomandala com irrigação

Horta orgânica ajudou na saúde de João Correa, filho da dona Virgínia

34 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

trator pequeno, uma debulhadeirae uma cozinha comunitária para lim-peza e beneficiamento dos produtos,para melhorar a qualidade e apre-sentação dos alimentos", justifica oextensionista.

Aposta nos orgânicos

O senhor João Manoel Nasci-mento e a esposa Rosa são dos últi-mos agricultores de Palhoça e re-gião, e provavelmente do resto doLitoral Catarinense, que ainda man-têm funcionando um engenho defarinha. Do total de 4ha produzin-do, 1,5ha é próprio e o resto é ar-rendado. A produção anual totaliza80t de raiz, que são transformadasem 24t de farinha e mil quilos decuscuz.

"Além da farinha, ainda levo paraa feira agroecológica ovos, aipim everduras", conta dona Rosa, mos-trando com orgulho o quintal da suacasa cultivado com cebola, alface,cenoura e outras hortaliças. A fa-mília ainda possui um pequeno

aviário com galinhas caipiras e al-gumas cabeças de gado, que forne-cem o esterco para adubar a hortae a lavoura de mandioca. O senhorJoão também adquire de fora ester-co de aviário para completar a fer-tilização. Ele também fala de umanova técnica que aprendeu com ostécnicos. Trata-se da manipueira, ouseja, o líquido que sai da prensa damandioca e que, misturado na pro-porção de 1/2L da calda por 3L deágua, ou 1 para 6, tem se reveladoum bom inseticida biológico. É útilpara auxiliar no manejo de pulgõesdas hortaliças e tripes da cebola,segundo o produtor.

Que o diga a senhora VirgíniaCorrea, viúva e agricultora que tam-bém participa da feira e utiliza acalda em sua horta orgânica. Háanos, no entanto, as coisas nãoeram bem assim. Pelo contrário. Elautilizava muitos agrotóxicos, o queacabou afetando a saúde de seu fi-lho, João Correa. Agora ele estárecuperado e ajuda a mãe na ativi-dade que traz renda para a família.A senhora Virgínia cuida também de

uma plantação de mudas de palmi-to em seu pequeno sítio, ao lado dahorta. É que ela faz parte de umgrupo de produtores do municípioque, com apoio do Microbacias 2,está começando a investir no açaí.O próximo passo do grupo é a aqui-sição de uma despolpadora paraauxiliar no processo de produção.

As irmãs Inácia do Nascimentoe Maura Moura são tambémagricultoras que mantêm um enge-nho tradicional em atividade. Ago-ra, além dos produtos tradicionaiscomo mandioca, amendoim, milhoe aipim, elas estão produzindo hor-taliças e participando da feira. Ou-tros familiares (maridos e filhos)trabalham fora da propriedade,exercendo a pluriatividade paramelhorar a renda familiar.

Próximo à propriedade da senho-ra Virgínia, mora a família do se-nhor Leopoldo Correa e a esposa,dona Maria. Seu Leopoldo prefereentregar os produtos principalmen-te para restaurantes localizados aolongo da BR-101, que corta o muni-cípio de Palhoça, e na vizinhança. Ahorta é no estilo mandala, ou seja,em forma circular, e possui irriga-ção. Esse tipo de horta orgânicaele conheceu com o pessoal doCepagro, e o equipamento de irri-gação _ canos, aspersores, gote-jamento, etc. _ ele conseguiu porintermédio do Microbacias 2.

Finalizando, Edson Wuerges es-clarece que um dos próximos pas-sos é implantar unidades de pesqui-sa participativa com os agricultores,com o uso de novos materiais dapesquisa da Epagri, Embrapa, ou-tras instituições e dos próprios agri-cultores, testando cultivares etecnologias que mais se adaptam aosistema agroecológico. Estão sendoestudadas culturas como batata,batata-doce, batata-aipo, cebola,mangarito, aipim, tomate, cenoura,entre outras, além de frutas, comoabacaxi, banana, açaí, maracujá,morango, amora, lixia, fisáles, etc.Ele também acredita que o traba-lho de organização de agricultoresé fundamental para as famílias que,de outra maneira, estariam isola-das e desestimuladas para exercera atividade agrícola, como aconte-ce infelizmente com milhares deprodutores rurais catarinenses ebrasileiros.

James Prudêncio e o filho mostram resultado da horta orgânica

35Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Aflora do Estado de SantaCatarina reúne milhares deespécies vegetais com pro-

priedades bioativas e aromáticas.Ultimamente vem crescendo o in-teresse por espécies bioativas comcaracterísticas aromáticas, tendoem vista a obtenção de óleos essen-ciais. Estes têm sido utilizados mais

Antônio Amaury Silva Jr.1 e Cecília Cipriano Osaida2

Aromas da floraAromas da floraAromas da floraAromas da floraAromas da floracatarinensecatarinensecatarinensecatarinensecatarinenseAromas da floraAromas da floraAromas da floraAromas da floraAromas da floracatarinensecatarinensecatarinensecatarinensecatarinense

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244,e-mail: [email protected] rural, Harmonia Natural, Rua Geral do Moura, Vila Nova, 88230-000 Canelinha, SC, fone: (48) 3264-5160,e-mail: [email protected].

acentuadamente pelas indústrias decosméticos, perfumaria, higieni-cêuticos e fitoterápicos, e na áreade aromaterapia, mas com grandepotencial para as indústrias de ali-mentos (antipútridos, conservantese aromatizantes), odorização eassepsia de ambientes e insumosagroveterinários (inseticidas,

antimicrobianos e parasiticidas).Algumas essências são utilizadascomo inseticidas ou insetífugas, naagricultura ou na erradicação depragas caseiras e de grãos armaze-nados. O óleo essencial ou algunsde seus fitoconstituintes entram nacomposição de sabonetes, dentifrí-cios, xampus, produtos de limpeza,

36 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

licores, doces, geleias, refrigerantes,bombons, águas de colônia, velas,higienizadores bucais, remédios,entre outros.

Os óleos essenciais são substân-cias odoríferas de origem vegetal,constituídas principalmente porfitoquímicos denominados terpenos.O óleo das folhas da sombra-de-tou-ro (Poiretia grandiflora), que cres-ce espontaneamente nos camposserranos de Santa Catarina (Lages),é rico em carvonas _ uma acetonacom grande ação antifúngica. Nor-malmente são produtos líquidos,voláteis, inflamáveis, lipofílicos,mais leves que a água e de colora-ção amarelada. São solúveis emálcool, cera e óleos comestíveis(óleos fixos), mas pouco solúveisem água.

São produzidos por células e te-cidos especializados da planta(tricomas, pelos, glândulas, canaissecretores), principalmente nas flo-res (ilang-ilang, jasmim, rosa), fo-lhas (baleeira, melissa, lípia), casca(canela, casca-d'anta), madeira(sândalo, pau-rosa), raízes (vetiver,valeriana, capiá), rizomas (curcuma,gengibre), frutos (anis-estrelado, funcho, coen-tro) e sementes (noz-moscada, cardamomo).Dependendo da famíliabotânica, os óleos volá-teis podem ocorrer emestruturas secretorasespecializadas, tais comotricomas (Lamiaceae),células parenquimáticasdiferenciadas (Laura-ceae, Piperaceae ePoaceae), nos canaisoleíferos (Apiaceae) ouem bolsas lisígenas ouesquizomógenas (Pina-ceae e Rutaceae).

Esses óleos são for-mados pelo metabolismosecundário da plantapara atuar como fitopro-tetores, adaptó-genos,catalizadores e estimu-lantes hormonais. Atu-am principalmente comoatrativos de polinizado-res, protetores deestresse ambiental (frioe calor intensos, radia-ção solar), inibidores da

germinação e antagonistas bióticos(microrganismos, insetos, ácaros eplantas concorrentes). Alguns prin-cipais componentes bioativos do óleopodem ser mentol e mentona,inibidores do crescimento de váriostipos de larvas.

Embora apresentem múltiplasatividades farmacológicas, desta-cam-se principalmente as açõescarminativa, hiperêmica, anties-pasmódica, estimulante sobre secre-ções do aparelho digestivo, cardio-vascular, citofilática, descon-gestionante, anti-infecciosa, muco-lítica, antioxidante, imunoesti-mulante, antifúngica, antiviral,secretolítica, neurodepressora,neuroativa, anestésica local, anti-in-flamatória e antisséptica (Figura 1).

A concentração e a composiçãoquímica do óleo volátil de uma plan-ta são determinadas por fatores ge-néticos, ontogenésicos, sazonais,circadianos, ambientais (temperatu-ra, umidade relativa, fotoperíodo,radiação solar, ventos, solo, preci-pitação, umidade relativa) eagrotécnicas (adubação, irrigação,poda). A hortelã-pimenta (Mentha

Figura 1. Óleo essencial de folhas de Psidium guajaba(goiaba)

piperita L.), quando cultivada emperíodos de dias longos e noites cur-tas, apresenta maior rendimento deóleo, com maior teor dementofurano; ao contrário, noitesfrias favorecem a formação dementol. Períodos mais quentes dodia podem resultar em menor teorde óleos essenciais na planta. Emfrutos maduros de coentro(Coriandrum sativum), o teor delinalol é 50% maior do que nos ver-des. O óleo da casca da canela é ricoem aldeído cinâmico, enquanto oóleo das folhas e raízes é rico emeugenol e cânfora, respectivamen-te. Durante o verão, normalmenteocorrem maiores acúmulos de óleodevido à radiação solar, que favore-ce a fotossíntese e a produção demetabólitos secundários, entre eles,os óleos. Períodos prolongados dechuva reduzem drasticamente oteor de óleos.

Muitas espécies aromáticas deinteresse econômico apresentamsignificativo teor de óleo essencialdevido às condições edafoclimáticasadequadas. Exemplos disso são a al-fazema, o hissopo e a sálvia, que

crescem espontanea-mente em solos calcáriosda Europa. Quando cul-tivadas em regiões comexcesso de pluviosidadeou com solo muito úmi-do, a planta deixa de terseu aroma habitual, tor-nando-se quase inodora.A aclima-tação dessas es-pécies no Brasil deu-semelhor em regiões detemperaturas amenas,com baixa precipitação esolos mais leves e menosácidos.

Devido à variabilida-de genética e aos diferen-tes ambientes, podemocorrer dentro de ummesmo táxon raçasquímicas ou quimiotiposdiferenciados. A espécieTanacetum vulgare(atanásia) reúne só naHungria 26 quimiotiposdiferentes. Ocorrem pelomenos três quimiotipospara a erva-cidreira-bra-sileira (Lippia alba):carvona, linalol e citral.

37Agropec. Catarin., v.22, n.1 mar. 2009

O conteúdo de óleos essenciaisnas plantas é sempre muito peque-no e quase sempre relacionado aonúmero de glândulas ou dutos queexistem na planta. Em 100kg de fo-lhas de chinchilho (Tagetes minuta)_ uma espécie encontrada naspraias do sul de Palhoça, SC (Figu-ra 2) _ pode ser extraído até 1,6kgde óleo essencial (Tabela 1), en-quanto que, para se obter 1kg deóleo de rosa, são necessárias cercade 5 a 6t de pétalas.

Alguns óleos essenciais de espé-cies muito ameaçadas podem ser ob-tidos em outras espécies mais facil-mente cultiváveis. O pau-rosa,oriundo da Amazônia, tem sido aprincipal fonte de óleo rico em linalol(fixador de fragrâncias). Com a proi-bição do extrativismo, espéciescomo o manjericão, macassá ecoentro estão sendo pesquisadase até cultivadas para a obtençãodo linalol.

Algumas espécies nativas deSanta Catarina constituem-se gran-des fontes de fitoquímicos aromáti-cos já conhecidos pela ciência:tiofenos e tagetonas _ Tagetes mi-nuta (chinchilho); gama-humuleno_ Cordia verbenacea (baleeira) (Fi-

gura 3); felandreno e terpineol _

Porophyllum ruderale (arnica-da-praia); menteno _ Cunila galioides(poejo-da-serra); selineno _ Bac-charis dracunculifolia (alecrim-do-campo); metileugenol _ Piperdivaricatum (pimenteira-do-mato);floroglucinois _ Hypericum con-natum e H. brasiliensis; dodecenal_ Eryngium foetidum (coentro-sel-vagem); citral _ Lippia alba (erva-cidreira-brasileira) e Elyonuruslatiflorus (capim-limão-miúdo);jungianol _ Jungia floribunda(arnica-da-serra); carvona _ Poiretiagrandiflora (sombra-de-touro);pinocanfona _ Aloysia gratissima(erva-santa); miristicina _ Piperarboreum (pimenta-do-mato);anetol, estragol e linalol _ Ocimumselloi (alfavaca-do-campo); acorenoe acorenona _ Elyonurus latiflorus;aldeído cinâmico _ Aniba firmula(canela); aromadendreno _ Kylingaodorata (tiririca-do-banhado);espatulenol e germacrenos _

Casearia sylvestris var. sylvestris(guaçatonga); copaeno _ Hyptisbrevipes (hortelã-do-mato); nerolidol_ Eugenia uniflora (pitangas) eBaccharis dracunculifolia (alecrim-do-campo); cariofileno _ Psidium

Figura 2. Tagetes minuta:ecótipo restinga (chinchilho-da-praia)

Figura 3. Óleo essencial defolhas de Cordia verbenacea(baleeira)

Figura 4. Hedyosmumbrasiliensis: erva-cidreira-do-mato

guajaba (goiaba); ledeno _ Protiumkleinii (almécega); globulol,viridifloreno e ledol _ Baccharistrimera (carqueja-amarga);sabineno _ Aloysia sellowii (san-to-sepulcro).

Outras espécies aromáticas na-tivas de Santa Catarina são aDorstenia brasiliensis (capiá-da-ser-ra), Dorstenia carautae (capiá-do-mato), Hedyosmum brasiliensis(cidreira-do-mato) (Figura 4),Mikania laevigata (guaco-cheiroso),Schinus therebinthifolius (aroeira-da-praia), Butia spp. (butiás),Drymis brasiliensis (casca-d'anta),Heterothamus allienus (vassou-rinha-da-praia), Lantana camara(cambará), Jungia selloi (arnica-da-serra), Piper crassinervium, Pipermikanianum, Piper gaudichau-dianum, Piper molicomum, Piperpeltata, Piper diospyrifolium (pi-menteiras-do-mato), Piper umbel-lata (pariparoba), Peperomiarotundifolia (salva-vidas), Symphy-opappus casarettoi (vassoura-do-campo), Chenopodium burkartii(mirra-da-praia), Campomanesialittoralis (gabiroba-da-praia),Apium sellowianum (aipo-da-praia).

38 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Tabela 1. Teores de óleos essenciais (base fresca) em algumas espécies aromáticas nativas e exóticas, avaliados emSanta Catarina

(1)Local de coleta de amostras de planta para a destilação.(2)QT: quimiótipo.(3)E: ecótipo.

Rendimento de óleo Verão Outono Inverno Primavera

............................... % ..................................Achillea millefolium Itajaí Folha 0,20 - 0,12 0,11Aeolanthus suaveolens Canelinha Folha - - 0,13 0,16Aloysia gratissima Itajaí Folha 1,38 0,45 0,65 -Aloysia polystachya Itajaí Folha 0,58 - - -Alpinia officinarum Itajaí Folha - - 0,25 -Alpinia zerumbet Itajaí Rizoma 0,29 - - 0,10Artemisia camphorata Itajaí Folha - 0,60 - -Artemisia vulgaris Itajaí Folha 0,19 0,19 0,09 0,09Baccharis dracunculifolia Canelinha Folha - - 0,14 -Cananga odorata Itajaí Flor 0,44 0,54 - -Chamomilla recutita Itajaí Flor - 0,03 - 0,05Chenopodium ambrosioides Itajaí Folha 0,36 0,15 - 0,15Chenopodium burkartii Itajaí Folha 0,29 0,40 0,11 0,07Cinnamomum zeylanicum Itajaí Folha 0,25 - 0,86 0,08Cordia verbenacea Itajaí Folha 0,44 - 0,30 0,35Chrysanthemum parthenium Canelinha Flor - - - 0,33Chrysanthemum parthenium Canelinha Folha - - - 0,01Cunila microcephala QT(2) mentol Itajaí Ramo foliar 0,30 0,30 0,32 0,13Egletes viscosa Itajaí Folha 0,20 - 0,17 0,17Foeniculum vulgare var. dulce S. Joaquim Folha - 0,70 - -Foeniculum vulgare var. dulce S. Joaquim Flor - 1,40 - -Hedychium coronarium Canelinha Rizoma 0,07 - 0,07 0,09Hypericum perforatum Apiúna Folha 0,16 - 0,06 0,09Laurus nobilis Itajaí Folha 1,40 - 0,91 0,59Lavandula intermedia S. Joaquim Flor - 1,50 - -Melissa officinalis var. altissima Itajaí Folha 0,31 - 0,30 0,05Melissa officinalis var. altissima Joinville Folha 0,18 - - -Mentha arvensis var. piperascens Itajaí Folha 0,81 - 0,22 0,89Mentha spicata Itajaí Folha 0,86 - - 0,29Mentha sylvestris Itajaí Folha 0,34 - - 0,74Murraya paniculata Itajaí Folha e flor - - 0,02 -Nepeta cataria Itajaí Folha 0,57 - 0,29 0,35Nicolaia elatior Itajaí Rizoma - 0,01Ocimum citriodorum Itajaí Folha 0,44 - 0,85 -Ocimum basilicum var. basilicum Canelinha Folha - - - 2,20Pelargonium graveolens Itajaí Folha 0,16 - 0,14 0,10Perilla frutescens Itajaí Folha 0,57 - - -Pimenta racemosa Itajaí Folha - - 0,38 -Piper hispidinervium Itajaí Folha - 0,79 0,58 -Plectranthus amboinicus Canelinha Folha 0,25 0,11 0,06 -Plectranthus ornatus Itajaí Folha - 0,60 - -Pogostemon cablin Itajaí Folha 0,84 0,24 0,24 0,80Pogostemon heyneanus Itajaí Parte aérea 0,12 - - -Porophyllum ruderale E(3) ruderal Itajaí Folha 0,14 - 0,26 0,12Porophyllum ruderale E(3) restinga Palhoça Folha 1,67 1,20 1,05 -Piper umbellata Itajaí Folha 0,05 - 0,06 0,06Psidium guajaba Canelinha Folha - - 0,12 -Rosmarinus officinalis QT(2) pineno Itajaí Folha 1,20 - 1,04 -Rosmarinus officinalis QT(2) verbenona Canelinha Folha - - 0,65 -Ruta graveolens Canelinha Folha 1,22 - - -Salvia elegans Itajaí Folha 0,05 - - 0,11Tagetes minuta E(3) restinga Palhoça Folha 1,68 - 1,02 -Tagetes minuta E(3) ruderal Itajaí Folha 1,27 - 0,33 -Tanacetum vulgare Itajaí Folha 0,26 - 0,32 0,37Tetradenia riparia Itajaí Folha 0,39 - 0,14 0,36Thymus serpyllum Itajaí Ramo foliar 0,33 - 0,09 0,12Vetiveria zizanioides Itajaí Raiz 1,64 - - -Zingiber officinale Itajaí Rizoma - - 0,62 -

Espécie Local(1) Órgão

39Agropec. Catarin., v.22, n.2, jul. 2008

Seção Técnico-científicacatarinense

Germoplasma

* Cercosporiose do milho: desafio para os produtores de Santa Catarina ................................................... 41 João Américo Wordell Filho e Marciel João Stadnik

* Levantamento de horas de frio nas diferentes regiões de Santa Catarina ................................................ 44 Gilsânia Cruz, Claudia Camargo, Maurici Monteiro, Hugo Braga e Emanuela Pinto

* Melaleuca alternifolia Cheel: avaliação preliminar no Litoral Norte de Santa Catarina ........................... 48 Fábio Martinho Zambonim e Airton Rodrigues Salerno

* Avaliação do ganho de peso de cordeiros em três sistemas de produção ................................................ 52 Volney Silveira de Ávila, Guilherme Caldeira Coutinho e Edison Martins

* Efeitos da adubação sobre a incidência de tripes e míldio e na produtividade da cultura da cebola .... 57 Paulo Antônio de Souza Gonçalves, João Américo Wordell Filho e Claudinei Kurtz

* Pirâmide etária e distribuição vertical da pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel), em vinhedos do Meio-Oeste Catarinense ...................................................................................................... 61 Eduardo Rodrigues Hickel, Edegar Luiz Peruzzo e Enio Schuck

* Crescimento inicial de espécies vegetais na presença dos herbicidas imazapyr + imazapic em água 69 José Alberto Noldin, Fátima Teresinha Rampelotti, Mariane D. Rosenthal e Jesus Juarez O. Pinto

* Demanda hídrica e necessidade de irrigação da videira para Urussanga, SC.......................................... 76 Álvaro José Back e Emilio Della Bruna

* Reação de cultivares de cebola à antracnose ............................................................................................. 82 João Américo Wordell e Marciel João Stadnik

* Avaliação da propriedade reguladora de crescimento vegetal de compostos indólicos derivados do safrol em Piper hispidinervium in vitro ..................................................................................................... 87 Liana Hilda Golin Mengarda, Rosete Pescador, Flávia Aparecida Fernandes da Rosa e Ricardo Andrade Rebelo

* Influência do preparado homeopático de calcário de conchas sobre tripes e produtividade de cebola .......................................................................................................................................................... 91 Paulo Antônio de Souza Gonçalves, Pedro Boff, Mari Inês Carissimi Boff

* Normas para publicação na RAC.................................................................................................................... 94

Artigo Científico

Informativo Técnico

Nota Científica

Normas para publicação

40 Agropec. Catarin., v.21, n.2, jul. 2008

ISSN 0103-0779

Indexada à Agrobase e à CAB International

catarinense

Conselho Editorial/Editorial BoardAdemir Calegari, M.Sc. – Iapar – Londrina, PRAnísio Pedro Camilo, Ph.D. – Embrapa – Florianópolis, SCBonifácio Hideyuki Nakasu, Ph.D. – Embrapa – Pelotas, RSCésar José Fanton, Dr. – Incaper – Vitória, ESEduardo Humeres Flores, Dr. – Universidade da Califórnia – Riverside, USAFernando Mendes Pereira, Dr. – Unesp – Jaboticabal, SPFlávio Zanetti, Dr. – UFPR – Curitiba, PRHamilton Justino Vieira, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCLuís Sangoi, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCManoel Guedes Correa Gondim Júnior, Dr. – UFRPE – Recife, PEMário Ângelo Vidor, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCMichael Thung, Ph.D. – Embrapa – CNPAF – Goiânia, GOMiguel Pedro Guerra, Dr. – UFSC – Florianópolis, SCMoacir Pasqual, Dr. – UFL – Lavras, MGPaulo Roberto Ernani, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCRicardo Silveiro Balardin, Ph.D. – UFSM – Santa Maria, RSRoberto Hauagge, Ph.D. – Iapar – Londrina, PRRoger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SCSami Jorge Michereff, Dr. – UFRPE – Recife, PESérgio Leite G. Pinheiro, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SC

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Alvadi Antônio Balbinot Junior, Angelo Mendes Massignam,Cristiano Nunes Nesi, Eliane Rute de Andrade, Eloi Erhard Scherer, Francisco Carlos Deschamps, Flávio Renê Bréa Victória, Francisco Roberto C. doE. Santo, George Livramento, Gerson Conceição, Gilson José Marcinichen Gallotti, Hamilton Justino Vieira, Henri Stuker, Honório Francisco Prando,Jorge Luiz Ramella, José Itamar da Silva Boneti, Luís Antonio Chiaradia, Márcio Sônego, Marcos Botton, Milton da Veiga, Orli Rogério Córdova deSouza, Renato Arcângelo Pegoraro, Siegfried Mueller e Walter Ferreira Becker.

Alvadi Antonio Balbinot Júnior, Dr. – EpagriCristiano Nunes Nesi, M.Sc. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriJanaina Pereira dos Santos, M.Sc. – EpagriJefferson Araújo Flaresso, M.Sc. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Sergio Tagliari, M.Sc. – Epagri (Presidente)Valdir Bonin, M.Sc. – Epagri

Comitê de Publicações/Publication Committee

41Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Acultura do milho (Zea maysL.) apresenta grande impor-tância cultural, social e eco-

nômica, no Brasil e no mundo. Oconsumo mundial desse cereal pas-sou de 194 milhões de toneladas em1961 para cerca de 720 milhões detoneladas em 2006 (Brugnago,2007). A produtividade do milho noBrasil está abaixo da obtida em ou-tros países, tais como: EUA e Chi-na, tendo como causas algumas ad-versidades climáticas, principal-mente a restrição hídrica e a inci-dência de doenças, como ferrugens,helmintosporiose, antracnose ecercosporiose ou mancha-de-cercospora. A cercosporiose é umadoença causada pelo fungoCercospora zeae-maydis Tehon & E.Y. Daniels, que tem causado danosexpressivos em lavouras de milhono Estado de Santa Catarina, sen-do favorecida pelas condições climá-ticas e condução dos cultivos emmonocultura.

A cercosporiose foi descrita nacultura do milho em Illinois, EUA,em 1925 (Tehon & Daniels, 1925,citados por Coates & White, 1994).A doença tornou-se de maior impor-tância a partir dos anos 70 devido àredução no uso da aração egradagem, em função do aumentoda área conduzida no sistema deplantio direto (SPD), pois a sobrevi-

Cercosporiose do milho: desafio para os produtoresCercosporiose do milho: desafio para os produtoresCercosporiose do milho: desafio para os produtoresCercosporiose do milho: desafio para os produtoresCercosporiose do milho: desafio para os produtoresde Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarinade Santa Catarina

João Américo Wordell Filho1 e Marciel João Stadnik2

vência dos esporos do fungo causa-dor da cercosporiose é reduzidaquando os restos de cultura são en-terrados.

A cercosporiose é uma das prin-cipais doenças da cultura do milhoem vários países, causando perdasna produção de 25% a 65%, nos EUAe na África do Sul (Ward et al.,1999). No Brasil, as reduções queeste patógeno causa na produtivi-dade do milho são desconhecidas,mas estima-se que sejam semelhan-tes àquelas que ocorrem em outrospaíses. A doença foi observada ini-cialmente em áreas do sudoeste doEstado de Goiás, nos municípios deRio Verde, Jataí e Santa Helena, noano de 2000. Atualmente, está dis-persa em todas as áreas de cultivode milho no centro e sul do Brasil,ocorrendo com alta severidade emcultivares suscetíveis, podendo cau-sar perdas superiores a 80% (Caselaet al., 2007).

Com relação aos danos causadospela cercosporiose, Nutter & Jenco(1992) determinaram que a cada 1%de acréscimo na severidade foliar dacercosporiose o rendimento de grãosfoi reduzido em 47,6kg/ha, segundomodelo de ponto crítico: R = 8.767 -47,6 S e R2 = 0,90; onde R = rendi-mento de grãos, S = severidadefoliar e R2 = coeficiente de determi-nação. No Brasil, ainda não possuí-

mos dados referentes a danos poressa doença.

Sintomatologia eepidemiologia da doença

O fungo mitospórico C. zeae-maydis, patógeno que causa acercosporiose, gera conídios hialinosem conidióforos do tipo esporo-dóquio. Este fungo, ao se desenvol-ver em meio de cultura V-8 Ágar,forma colônias compactas de colo-ração cinza, com tufos de micélio econídios esbranquiçados, caracterís-ticas do crescimento micelial dosfungos deste gênero (Figura 1). Asdimensões, tanto dos conídios comodos conidióforos, variam considera-velmente dependendo das condiçõesambientais e substrato (Latterell &Rossi, 1983). Os conídios germinamem aproximadamente 3 horas, sobumidade relativa do ar próxima de100% e temperatura de 30oC (Paul& Munkvold, 2005).

O fungo inicialmente causa le-sões alongadas nas folhas do milho,que acompanham o sentido dasnervuras, mas também forma le-sões irregulares e sem formato de-finido. Essas manchas são, geral-mente, de coloração acinzentada epodem apresentar bordas amare-ladas em cultivares resistentes

Aceito para publicação em 6/6/08.1Eng. agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar _ Cepaf _, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFSC/Centro de Ciências Agrárias _ CCA _, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].

42 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

(Figura 2), diferenciando-se do fun-go Phaeosphaeria maydis (P. Henn.)Rane Payack e Renfro (sin.Sphaerulinia maydis = Leptos-phaeria zeae maydis) (Casela et al.,2007), que causa mancha branca,cujos sintomas são lesões arredon-dadas, com 0,5 a 1,5cm de diâme-tro e coloração verde-esmaecida,que também podem ser observadasna folha da Figura 2.

As lesões de cercosporiose de-senvolvem-se mais lentamente doque as produzidas por outrospatógenos causadores de doençasfoliares em milho, requerendo deduas a três semanas para atingir otamanho final. Lesões plenamentedesenvolvidas têm 1 a 6cm de com-primento, com 2 a 4cm de largura.

Em estádios mais avançados dadoença ocorre a coalescência daslesões, destruindo grande parte dotecido foliar. Infecções severas cau-sam a seca e a morte prematura dasfolhas (Chupp & Sherf, 1960), dimi-nuindo a área fotossintética e a pro-dução. O fungo C. zeae-maydis ata-ca somente as plantas de milho(Ward et al., 1999) e não há relatosde que a doença seja transmitidapela semente. Este patógeno possui

baixa capacidade competitiva comoutros microrganismos, sendo asobrevivência garantida pela colo-nização do hospedeiro vivo ou derestos de cultura presentes na su-perfície do solo (Latterell & Rossi,

1983). Sua disseminação ocorre,principalmente, por esporos, quesão transportados pelo vento ou pelachuva (Latterell & Rossi, 1983;Ringer & Grybauskas, 1995), sendoas folhas inferiores os sítios primá-rios de infecção.

Trata-se de uma doença de cli-ma úmido que, aparentemente, nãoocorre em áreas onde a umidaderelativa do ar for inferior a 90% pormais de 12 horas, ou que ocorra 11a 23 horas de molhamento foliardiário (Rupe et al., 1982), pois ocrescimento do tubo germinativo dofungo é reduzido pela presença deágua livre na superfície da folha. Omicroclima que se forma na lâminafoliar pode permanecer saturado deumidade por um longo tempo, ain-da que a umidade relativa do ar es-teja abaixo de 95%. Não há necessi-dade de períodos contí-nuos de altaumidade relativa para ocorrência deinfecção, uma vez que o patógenopode permanecer latente até o re-torno de condições ambientais favo-ráveis. Os sintomas iniciais surgemna antese e necessitam de um perí-odo de incubação _ penetração dofungo na folha até o aparecimentodos primeiros sintomas _ aproxima-do de 20 dias. Já o período delatência da cercos-poriose _ início

Figura 1. (A) Crescimento micelial e esporulação do fungo Cercosporazeae-maydis em meio V-8 Ágar e (B) diagrama de conídios produzidos emconidióforos do tipo esporodóquio

Figura 2. Sintomas de Cercospora zeae-maydis em folha de milho,caracterizados por lesões alongadas de coloração acinzentada, queacompanham as nervuras (Casela et al., 2007). Note a diferença emrelação a lesões menores e arredondadas causadas por Phaeosphaeriamaydis, presentes na mesma folha

A

B

20μm 10μm

43Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

dos sintomas até começo da forma-ção das estruturas reprodutivas _

varia de 14 dias, para híbridos maissuscetíveis, a 21 dias, para híbridosmoderadamente resistentes.

O aumento na ocorrência e daseveridade da doença no oeste deSanta Catarina pode estar associa-do a vários fatores, tais como: mu-danças no ambiente de cultivo, oca-sionadas pela alta umidade relativado ar em alguns períodos e pela ado-ção do SPD, devido à quantidadeinicial de inóculo. Nesse sistema deplantio, os restos da cultura sãomantidos sobre a superfície do solo,que servem de substrato para mul-tiplicação do patógeno.

Recomendações para ocontrole integrado dacercosporiose na culturado milho

• Evitar a permanência de res-tos da cultura de milho sobre a su-perfície do solo, principalmente emáreas em que a mancha-de-cercospora ocorre em alta severida-de, visando reduzir a concentraçãode inóculo.

• Realizar rotação de culturas, por1 a 2 anos nas regiões de ocorrênciada mancha por cercospora em altaseveridade, com culturas como asoja, o sorgo, o girassol, o algodão eoutras, por tratar-se de um patógenoexclusivo da cultura do milho(Latterell & Rossi, 1983).

• Semear cultivares diferentesem uma mesma área e, em cadaépoca de semeadura, se possível,substituir essas cultivares por ou-tras, visando garantir a presença degenótipos com diferentes níveis deresistência genética.

• Para minimizar os efeitos damancha-de-cercospora na produção,deve-se, também, realizar aduba-ções de acordo com as recomenda-ções, para evitar desequilíbriosnutricionais nas plantas de milhoque sejam favoráveis ao desenvol-vimento desse patógeno, principal-mente a relação nitrogênio/potássio(Embrapa, 2007b).

• Evitar a semeadura de híbri-dos ou de cultivares suscetíveis àdoença. Informações sobre a resis-

tência de híbridos e variedades po-dem ser encontradas na internet,na página da Embrapa (2007a).

• Para que essas medidas sejameficientes, recomenda-se a sua apli-cação macrorregional. Quando se-guidas por uma ou poucas proprie-dades, o controle tem menor efi-ciência, pois o inóculo pode ser tra-zido de lavouras vizinhas infectadaspelo vento (Embrapa, 2007b).

• É recomendada a aplicação defungicidas somente em híbridos ouvariedades altamente suscetíveis(Munkvold & Martinson, 1997). Deacordo com Pinto et al. (2004), osingredientes ativos propiconazole,difenoconazole, azoxystrobin etebuconazole são eficientes no con-trole da cercosporiose do milho,quando forem aplicados a partir doestádio V8 (8 folhas totalmente ex-pandidas) (Ritchie & Hanway, 1982).Os produtos comerciais, doses, for-mulações e intervalos de seguran-ça, podem ser encontrados noAgrofit (2007), disponível nainternet na página do Ministério daAgricultura.

Observou-se que a cercosporiosetem potencial destrutivo em áreasprodutoras de milho no Estado deSanta Catarina. Dependendo dascondições climáticas, poderá ser umfator capaz de reduzir a produtivi-dade desse cereal, embora ainda nãoexista estimativa das perdas quepoderá causar na produção. Por isso,adotar as estratégias disponíveispara manejar a doença e desenvol-ver pesquisas com este patógeno sãode suma importância.

Literatura citada

1. AGROFIT: sistema de agrotóxicosfitossanitários. Disponível em: <http:// e x t r a n e t . a g r i c u l t u r a . g o v. b r /agrofit_cons/principal_agrofit_cons>.Acesso em: 7 nov. 2007.

2. BRUGNAGO NETO, S. Milho: SínteseAnual da Agricultura de SantaCatarina - 2005-2006, Florianópolis,2006. Disponível em: <http://cepa.epagri.sc.gov.br/Publicacoes/sintese_2006/milho_2006.pdf.> Acessoem: 6 nov. 2007.

3. CASELA, C.R.; FERREIRA, A. da S.;FERNANDES, F.T. et al. Cultivo domilho: doenças. Disponível em: <http://sistemaproducao.cnptia.embrapa.br/

F o n t e s H T M L / M i l h o / C u l t i v odoMilho_2ed/doencas foliares.htm>.Acesso em: 26 out. 2007.

4. CHUPP, C.; SHERF, A.F. Vegetablediseases and their control. New York:The Ronald Press, 1960. 232p.

5. COATES, S.T.; WHITE, D.G. Sourceof resistance to gray leaf spot of corn.Plant Disease, Saint Paul, v.78, p.1153-1155, 1994.

6 EMBRAPA. Comportamento das cul-tivares de milho disponíveis no mer-cado brasileiro na safra 2007/08 emrelação às principais doenças. Dispo-nível em: <http://www.cnpms.e m b r a p a . b r / m i l h o / c u l t i v a r e s /index.php>. Acesso em: 6 nov. 2007a.

7. EMBRAPA. Recomendações para omanejo da cercosporiose na cultura domilho. Disponível em: <http://w w w. c n p m s . e m b r a p a . b r / m i l h o /fldrdoen.php.> Acesso em: 6 nov.2007b.

8. LATTERELL, F.M.; ROSSI, A. Grayleaf spot of corn: a disease on the move.Plant Disease, Saint Paul, v.67, p.842-847, 1983.

9. MUNKVOLD, G.; MARTINSON, C.Corn diseases. Ames: Iowa StateUniversity, 1997. 25 p.

10. NUTTER, F.W.; & JENCO, J.H.Development of a critical-point yieldloss model to estimate yield losses incorn caused by Cercospora zeae-maydis.Phytopathology, v.82, p.994, 1992.

11. PAUL, P.A.; MUNKVOLD, G.P.Influence of temperature and relativehumidity on sporulation of Cercosporazeae-maydis and expansion of gray leafspot lesion on maize leaves. PlantDisease, Saint Paul, v.89, p.624-630,2005.

12. PINTO, N.F.J. de A.; ANGELIS, B. de.;HABE, M.H. Avaliação da eficiência defungicidas no controle da cercosporiose(Cercospora zeae-maydis) na culturado milho. Revista Brasileira de Milhoe Sorgo, v.3, p.139-145, 2004.

13. RINGER, C.E.; GRYBAUSKAS, A.P.Infection cycle components and diseaseprogress of gray leaf spot on field corn.Plant Disease, Saint Paul, v.79, p.24-28, 1995.

14. RITCHIE, S.W.; HANWAY, J.J. Howa corn plant develops. Ames: IowaState University, 1982. 21p. (SpecialReport, 48).

15. RUPE, J.C.; SIEGEL, M.R.;HARTAMAN, J.R. Influence ofenvironment and plant maturity on grayleaf spot of corn caused by Cercosporazeae-maydis. Phytopathology, SaintPaul, v.72, p.1587-1591, 1982.

16. WARD, J.M.J.; STROMBERG, E.L.;NOWELL, D.C. et al. Gray leaf spot - Adisease of global importance in maizeproduction. Plant Disease, Saint Paul,v.83, p.884-895, 1999.

44 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Com o passar dos anos, mu-danças significativas do cli-ma de determinadas regiões

têm sido observadas e muitas des-tas mudanças estão diretamente re-lacionadas à variabilidade sazonal(entre as diferentes estações doano) da temperatura do ar. A tem-peratura do ar é uma das variáveismeteorológicas que exerce grandeimpacto nas diferentes fases do ci-clo vegetativo ou de repouso dasplantas. Muitas são as atividadesagrícolas que dependem das varia-ções da temperatura, tais como afruticultura e o plantio de grãos.

As fruteiras de clima tempera-do, por exemplo, caracterizam-sepela entrada em dormência no in-verno, com drástica redução desuas atividades metabólicas. A que-bra de dormência das gemasvegetativas e florais, nas fruteirasde clima temperado, ocorre a par-tir do acúmulo de horas de frio, queé específico para cada espécie e cul-tivar (Petri et al., 1996). Para queestas plantas iniciem um novo ci-clo vegetativo na primavera, é ne-cessária a sua exposição a um cer-to período de baixas temperaturas.Frente a estas características fisio-lógicas das fruteiras de clima tem-perado e considerando que reco-

Levantamento de horas de frio nas diferentesLevantamento de horas de frio nas diferentesLevantamento de horas de frio nas diferentesLevantamento de horas de frio nas diferentesLevantamento de horas de frio nas diferentesregiões de Santa Catarinaregiões de Santa Catarinaregiões de Santa Catarinaregiões de Santa Catarinaregiões de Santa Catarina

Gilsânia Cruz1, Claudia Camargo2, Maurici Monteiro3

Hugo Braga4 e Emanuela Pinto5

Aceito para publicação em 18/8/08.1Meteorologista, M.Sc., Epagri/Ciram, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8067, e-mail: [email protected], M.Sc., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8053, e-mail: [email protected]ógrafo, Dr., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8064, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8002, e-mail: [email protected]. de sistemas, Fundagro/Agroconsult/Epagri, fone: (48) 3239-8006, e-mail: [email protected].

mendações meteorológicas maisdetalhadas são de fundamental im-portância para um melhor planeja-mento de plantio e adaptação, ob-serva-se a necessidade de analisarregionalmente as variaçõesintrassazonais de frio acumulado.

Segundo pesquisas recentesdivulgadas nos relatórios do PainelIntergovernamental de MudançasClimáticas, a ocorrência de extre-mos de temperatura do ar tem au-mentado em frequência e intensi-dade (WMO, 2007). No Estado deSanta Catarina, estudos mostramque a temperatura mínima do artem aumentado com o passar dosanos (Camargo et al., 2006). No en-tanto, estes resultados revelam que,embora a temperatura do ar tendaa apresentar valores mais elevados,não se pode descartar a ocorrênciade frio intenso.

Em regiões de clima ameno tam-bém são frequentes a interrupçãodo inverno com temperaturas maiselevadas que resultam em efeitonegativo sobre o frio acumulado(Botelho et al., 2006). O aumentoda temperatura do ar e, conse-quentemente, uma frequência me-nor de eventos extremos de frio,poderá restringir espacialmentedeterminadas culturas, como exem-

plo os resultados encontrados porPandolfo et al. (2006), que mostraa redução de áreas de plantio demaçã com o aumento da tempera-tura do ar.

O objetivo deste estudo é anali-sar o total de horas de frio (HF) e afrequência diária de HF no invernocatarinense e se está havendo ounão um deslocamento deste friopara as estações intermediárias (ou-tono _ antecipação do frio e prima-vera _ frio tardio).

Metodologia

O número diário de horas de frio(HF) com temperatura do ar abaixode 7,2oC (HF < 7,2oC _ índiceagrometeorológico utilizado paramensurar a quantidade de frio), dediferentes localidades do Estado deSanta Catarina, foi estimado utili-zando um programa computacionaldenominado SISAGRO II, que con-sidera a temperatura registrada às21h no dia anterior, as temperatu-ras máxima e mínima do dia, a tem-peratura máxima ocorrida no diaanterior e a temperatura base de7,2oC (HF < 7,2oC). Os cálculos fo-ram executados utilizando o mode-lo Angelocci (Angelocci et al., 1979),o qual considera diferentes critéri-

45Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

os para determinar o número diá-rio de HF. O uso das horas de frioacumuladas abaixo de 7,2oC foi pro-posto por Weinberger como índicepara a quebra da dormência em ge-mas (Weinberger, 1950).

Os dados diários da temperatu-ra do ar, para o período de 1977 a2006 (30 anos), nos meses de outo-no (março-abril-maio), inverno (ju-nho-julho-agosto) e primavera (se-tembro-outubro-novembro), foramfornecidos pela Epagri/Ciram, a par-tir dos registros históricos das es-tações meteorológicas convencio-nais citadas na Tabela 1. Inicial-mente foi verificado a consistênciados dados e, posteriormente, reali-zadas análises estatísticas, tais comoanálises de tendência e distribuiçãode frequência, foram aplicadas emnível sazonal (para cada estação doano). Para a análise de significância,foi aplicado o teste não paramétricode Mann-Kendall, a um nível deconfiança de 95% (Sneyers, 1975).

Resultados

Ao analisar a variabilidade deHF ao longo dos últimos 30 anos(1977-2006) observaram-se significa-tivas diferenças entre as três esta-ções do ano (outono, inverno e prima-vera).

No outono, o total de HF tendea diminuir na maioria dos casos e omesmo acontece em relação àfrequência de dias de acúmulo deHF (Figuras 1 e 2). Como exemplo,tem-se a distribuição de HF emUrussanga (Figura 3), na qual épossível observar que em anos maisrecentes os totais de HF têm sidoinferiores em relação a décadas an-teriores. De modo contrário, emSão Joaquim (Figura 1), foi obser-vado um aumento no total efrequência de HF, o que indica quenos últimos anos, neste local, estáocorrendo uma antecipação na ocor-rência de temperaturas mais bai-xas, o que favorece a formação degeadas precoces. Todas as estaçõesapresentaram resultados significa-tivos para o período em análise,exceto em São José, no outono eprimavera.

No inverno, de junho a agosto,verificou-se um total maior de ho-

ras de frio em relação aos demaismeses (Figura 4); todavia, observa-se que com o passar dos anos o to-tal de HF e a frequência com queestas HF têm ocorrido tendem adiminuir na maioria dos casos ana-lisados (Figuras 1 e 2).

Com relação à estimativa de HFna primavera, observou-se que astendências negativas do total e

frequência de HF são mais expres-sivas que as tendências positivas(Figuras 1 e 2), pois apresentamuma variação muito maior ao lon-go do período. Em Chapecó, embo-ra o número diário de HF estejaaumentando, conforme pode serobservado na Figura 5, a frequênciade dias com que estas HF são regis-tradas está diminuindo (Figura 2);

Figura 1. Tendências sazonais (outono, inverno e primavera) do totaldiário de HF, em Caçador, Campos Novos, Chapecó, São José, SãoJoaquim e Urussanga

Figura 2. Tendências sazonais (outono, inverno e primavera) dafrequência diária de HF, em Caçador, Campos Novos, Chapecó, SãoJosé, São Joaquim e Urussanga

. ..

Estação meteorológica Latitude Longitude Altitude ..... m.....

Caçador 26o49'07''S 50o59'06'W 960Campos Novos 27o23'00''S 51o12'56'W 964Chapecó 27o05'26''S 52o38'02'W 679São José 27o36'07''S 48o37'11'W 2São Joaquim 28o16'31''S 49o56'03'W 1.376Urussanga 28o31'55''S 49o18'53'W 48

Tabela 1. Localização das estações meteorológicas utilizadas na estimativade HF, no período de 1977 a 2006

46 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

o que é consistente ao aumento datemperatura mínima segundoCamargo et al. (2006).

Os resultados encontrados nes-te estudo, tanto na primavera comono inverno, apresentaram uma se-melhança entre a maioria das loca-lidades analisadas, exceto na Esta-ção Meteorológica de Campos No-vos (Figuras 1 e 2). Nesta localida-de, tanto o total de HF quanto afrequência estão aumentando aolongo dos últimos 30 anos. Uma dasexplicações possíveis pode estar re-lacionada com a alteração na locali-zação da Estação Meteorológica deCampos Novos, que ocorreu no anode 1985.

As maiores tendências de au-mento do total de HF foram obser-vadas no outono e na primavera. Aocontrário, no inverno, ocorrem asmaiores diminuições de HF para operíodo de análise (Figura 1). De ummodo geral, os resultados deste es-tudo mostram que o aumento datemperatura do ar, encontrado emdiferentes estudos (Marengo, 2006;WMO, 2007; Camargo et al., 2006),contribui para uma diminuição nototal diário de HF, como tambémna diminuição da frequência de diascom registros de HF. O que é preci-so deixar destacado é que estudosque estão sendo desenvolvidos naEpagri/Ciram, através de análisesclimáticas regionais, indicam que,embora a temperatura média do aresteja aumentando com o passar dosanos e influenciando na diminuiçãodo total de HF, a intensidade de frioextremo (temperaturas muito bai-xas) também tem aumentado, po-rém com uma distribuição maiorentre um evento e outro. Um exem-plo pode ser observado na Figura6A, para os meses de inverno domunicípio de São Joaquim: verifi-ca-se a tendência de aumento datemperatura mínima do ar ao lon-go dos últimos 30 anos, conse-quentemente, o número de HF di-minui em intensidade e frequência(Figuras 6C e 6D), o que não des-carta um aumento na intensidadede frios extremos nas últimas déca-das (Figura 6B).

Figura 3. Tendência sazonal (outono) do total de HF em Urussanga.A linha em vermelho representa a tendência de diminuição ao longodos últimos 30 anos (1977-2006)

Figura 4. (A) Totais mensais de HF em Caçador, Campos Novose São Joaquim e (B) Chapecó, São José e Urussanga

Figura 5. Tendência sazonal (primavera) do total de HF em Chapecó

y = 1.4851x + 49.140= 44,5 horas (~2 dias)

47Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Referênciasbibliográficas

1. ANGELOCCI, L.R.; CAMARGO,M.B.P. de; PEDRO JUNIOR, M.J. etal. Estimativa de total de horas abaixode determinada temperatura base atra-vés das medidas diárias da temperatu-ra do ar. Bragantia, Campinas, SP,n.38, v.4, p.27-36, 1979.

2. BOTELHO, R.V., AYUB, R.A.;MÜLLER, M.M.L. Somatória de horasde frio e de unidades de frio em dife-rentes regiões do Estado do Paraná.Scientia Agraria, v.7, n.1-2, p.89-96,2006.

3. CAMARGO, C.G.C.; BRAGA, H.,ALVES, R. Mudanças climáticas atu-ais e seus impactos no Estado de San-ta Catarina. Agropecuária Cata-rinense, Florianópolis, v.19, n.3, p.31-35, nov. 2006.

Considerações finais

Com este estudo, foi possível con-cluir que o inverno catarinense ain-da é a estação do ano com acúmulomaior de horas de frio, porém estáhavendo uma diminuição do frio como passar dos anos. Enquanto que aprimavera se destacou por apresen-tar aumento da intensidade efrequência de HF em anos mais re-centes, ou seja, mostrando que o friotem se deslocado para esta estação(frio e geadas tardias).

Dentre as localidades observadas,São Joaquim foi a que mostrou a an-tecipação do frio na estação do outo-no nos últimos anos, o que favorecea ocorrência de geadas precoces,mostrando desta forma as peculiari-dades climáticas de cada região.

4. HERTER, F.G.; TONI-ETTO, J.; WREGE, M.Sistema de produção depêssego de mesa na Regiãoda Serra Gaúcha. BentoGonçalves, RS: (EmbrapaUva e Vinho. Sistema deProdução, 3). Disponívele m : < h t t p : / / s i s t e m a sd e p r o d u c a o . c n p t i a. e m b r a p a . b r / F o n t e sH T M L / P e s s e g o /PessegodeMesaRegiaoS e r r a G a u c h a / c l i m a .htm>.

5. MARENGO, J.A. Mudan-ças climáticas globais eseus efeitos sobre a biodi-versidade: caracterizaçãodo clima atual e definiçãodas alterações climáticaspara o território brasilei-ro ao longo do século XX.Brasília: MMA, 2006.

6. PANDOLFO, C.; HAM-MES, L.A., CAMARGO,C.G.C. et al. Estimativasdos impactos das mudan-ças climáticas nos zone-amentos da cultura da ba-nana e da maçã no Esta-do de Santa Catarina.Agropecuária Catari-nense, Florianópolis, v.20,n.2 p.36-40, 2007.

7. PETRI, J.L.; PALLADINI,L.A.; SCHUCK, E. et al.Dormência e indução dabrotação de fruteiras declima temperado. Floria-nópolis: Epagri, 1996110p. (Epagri. BoletimTécnico, 75).

8. SNEYERS, R. Sur l'analyse statistiquedes séries d'observations. Genève:Organisation MétéorologiqueMondial, 1975. 192p. (OMM NoteTechnique, 143).

9. WEIBERGER, J.H. Prolonged dor-mancy of peaches. Proceedingns of theAmerican Society for HorticulturalScience, Alexandria, v.56, p.129-133,1950.

10. WMO. Intergovernamental Panel onClimate Change _ IPCC. ClimateChange 2007: The Physical ScienceBasis. Summary for Policymakers.Contribution of Working Group I to theFourt Assessment Report of theIntergovernamental Panel on Climate.Geneva, 2007. This Summary forPolicymakers was formally approvedat the 10th Session of Working GroupI of the IPCC, Paris, February 2007).

Figura 6. Tendência sazonal (inverno) da temperatura mínima do ar, (A) média e(B) absoluta e (C) distribuição temporal do total de HF e (D) da frequência dedias com HF em São Joaquim

B

C

A

D

48 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Melaleuca alternifoliaMelaleuca alternifoliaMelaleuca alternifoliaMelaleuca alternifoliaMelaleuca alternifolia Cheel: avaliação preliminar Cheel: avaliação preliminar Cheel: avaliação preliminar Cheel: avaliação preliminar Cheel: avaliação preliminarno Litoral Norte de Santa Catarinano Litoral Norte de Santa Catarinano Litoral Norte de Santa Catarinano Litoral Norte de Santa Catarinano Litoral Norte de Santa Catarina

Fábio Martinho Zambonim1 e Airton Rodrigues Salerno2

Ogênero Melaleuca, perten-cente à família dasMirtáceas, reúne cerca de

150 espécies todas nativas da Aus-trália e de ilhas do Oceano Índico,regiões de clima quente, onde ve-getam sobre solos argilosos, pobrese geralmente mal drenados. A mai-oria das espécies não sobrevive emregiões sujeitas à ocorrência de ge-adas. Várias espécies de melaleucaapresentam potencial para produçãode óleos essenciais em escala co-mercial, com especial destaque paraMelaleuca alternifolia Cheel (Pi-nheiro, 2003). Esta espécie, mundi-almente conhecida como "tea-tree"(árvore do chá), é uma árvore depequeno porte, atingindo alturamédia de 5 a 7m, apresenta folhasestreitas e alongadas, de tamanhopequeno (10 x 35mm), e asinflorescências são de cor branca,sem pedicelo, grudadas ao caule emarranjo semelhante à flor do "lim-pa-garrafa" (Callistemon spp.).

Planta aromática emedicinal

Além do uso ornamental, a es-pécie é cultivada em escala comer-cial, principalmente na Austrália,como planta aromática detentora de

óleo essencial (OE) com ação com-provada contra uma ampla gama debactérias gram-positivas, gram-ne-gativas e de fungos. Além disso, oOE tem boa penetração nos tecidosda pele, não mancha e é compatívelcom sabões, o que amplia suas pos-sibilidades de utilização (Altman,1989, citado por Ramacciato, 2000).A qualidade comercial do OE destaespécie, constituído por uma mis-tura de aproximadamente 97 com-postos, é determinada pelas concen-trações de dois componentes:terpinenol e cineol. O primeiroapresenta a principal atividadeantimicrobiana entre os compostosdo OE, e o segundo é um conhecidoirritante da pele. Assim, o ComitêAustraliano de Padronização esta-belece que o terpinenol deva cons-tituir mais de 30% do OE enquantoo cineol não deve ultrapassar 15%desse extrato (Silva et al. 2002). Oproduto de qualidade superior con-tém entre 2% e 5% de cineol e en-tre 40% a 47% de terpinenol(Williams et al., 1990, citado porRamacciato, 2000). Esse autor men-ciona também que os aborígenesaustralianos já utilizavam folhasesmagadas de Melaleuca alternifoliacomo cataplasma de ação antibac-teriana, séculos antes do conheci-

mento científico da ação eficiente doterpinenol sobre os microrganismos.

Agrologia

As sementes de melaleuca ger-minam com facilidade, mas devidoao tamanho diminuto devem sercolocadas superficialmente nas se-menteiras, com uma suavecompactação. As plântulas com 3 a5cm de altura devem ser repicadaspara tubetes de plástico rígido com50cm³, ou para sacos plásticos comdimensões aproximadas de 8cm dediâmetro e 14cm de altura.

Em Viçosa, MG, Silva et al.(2002) fizeram a semeadura direta-mente em tubetes plásticos de50cm³, previamente preenchidoscom substrato composto orgânico,fazendo o raleio depois da germina-ção e deixando uma planta portubete. Essa prática é adotada tam-bém com o gênero Eucaliptus, emempresas de grande porte, pois re-sulta em menor gasto de mão-de-obra (Gomes et al., 2003). Quandoa muda atinge aproximadamente 15a 20cm de altura, o que ocorre cer-ca de 60 a 90 dias após a repicagem,estará pronta para ser transplanta-da definitivamente para o campo.

As informações disponíveis na

Aceito para publicação em: 3/12/08.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

49Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

literatura sobre densidade de plan-tas de melaleuca variam entre 10mil e 40 mil indivíduos/ha (Castroet al., 2005; Jansen, 1999; Murtagh,1998), sendo a distância entre linhasde 70 a 100cm, variando em funçãodos equipamentos para os tratosculturais (Jansen, 1999).

Como planta rústica, a mela-leuca não tem apresentado respos-tas claras às aplicações de calcárioe adubações químicas praticadas,provavelmente devido à profundida-de alcançada pelo seu sistema deraízes (Murtagh, 1998). No entan-to, é aconselhável adubar na base ea cada ano, pois a cultura é perene,podendo durar 10 anos ou mais sebem manejada (Castro et al., 2005).

Jansen (1999) indica o primeirocorte 15 a 18 meses após o estabe-lecimento e, a seguir, colheitas acada 12 a 15 meses, quando os cau-les apresentarem diâmetros poucoinferiores a 2cm. Os rendimentosde óleo essencial de melaleucaapresentados na literatura variamentre 1% a 2,1% da massa vegetalcolhida, que normalmente atinge 8a 10t/ha (Jansen, 1999). Na Zona daMata, norte do Estado de MinasGerais, Castro et al. (2005) obtive-ram rendimento de 81,82kg de óleo/ha/ano. Já em um estudo realizadopor Murtagh (1998) na Austrália, foiobservado um rendimento entre 170e 220kg de óleo/ha/ano para amelaleuca. A baixa produtividadeobtida no Brasil ocorreu devido àmenor densidade de plantas (10 milunidades/ha), enquanto na Austrá-lia é usual o plantio de 30 mil a 40mil plantas/ha (Jansen, 1999;Murtagh, 1998).

Os cultivos de melaleuca no Bra-sil, fora de ambiente pantanoso,produzem óleo essencial com asmesmas características quantita-tivas e qualitativas do produtoaustraliano (Silva et al., 2002). Es-

ses pesquisadores constataram tam-bém que as variações ambientais,como estresse hídrico, afetam osteores, mas não a composição doóleo essencial.

Avaliação no primeiroano de cultivo

Devido ao alto valor do óleo demelaleuca e o interesse de diversosagricultores no cultivo da espécieem Santa Catarina, está em avalia-ção na Epagri/Estação Experimen-tal de Itajaí o desenvolvimento e aprodutividade dessa cultura. Paraisso foi estabelecido um talhão, emoutubro de 2006, numa área de 10x 80m, constituído por cinco linhasde plantas. O espaçamento entre li-nhas é de 2m e, entre plantas naslinhas, a distância é de 0,5m, propi-ciando o cultivo de 10 mil indiví-duos/ha. Para as avaliações fitotéc-nicas, as três linhas centrais do ta-lhão foram demarcadas em seis seg-mentos de 15 plantas, constituindoas seis repetições do trabalho. Ascinco plantas existentes nos extre-mos das linhas centrais e as duaslinhas laterais do talhão constituí-ram as bordaduras do experimen-to. A área útil de cada parcela ourepetição foi de 2m x 7,5m (15m2).

A avaliação do teor de óleo essencialfoi feita em propriedade particular,numa única extração, juntando amassa vegetal das seis repetições.

As mudas de melaleuca foramformadas a partir de sementes, e oplantio foi em covas previamenteadubadas com 100g de superfosfatosimples. Como adubação comple-mentar, foi aplicado em cobertura1kg de cama de aviário por plantaem fevereiro e agosto de 20073.

A avaliação dos rendimentos demassa vegetal e teor de óleo foramfeitos no início de novembro de2007. Para tanto, foi medida a altu-ra total das plantas e efetuou-se umcorte a 20cm de altura do solo. Osresultados obtidos são apresentadosna Tabela 1.

Verifica-se na Tabela 1 que amelaleuca apresentou baixos índi-ces de mortalidade e crescimentorelativamente rápido no primeiroano de avaliação. Além disso, nãohouve a incidência de doenças oudanos por insetos. Os teores de óleoessencial poderiam ser mais altosse os caules mais grossos fossemeliminados antes da destilação. Oespaçamento entre as plantas tam-bém pode ser reduzido, determinan-do aumentos na produtividade damassa vegetal e do óleo essencial.

Item avaliado Dado obtido

1. Plantas vivas 89,3%2. Altura 179cm3. Massa verde produzida 5.123kg/ha4. Massa seca 1.920kg/ha5. Percentual de óleo essencial na massa verde 0,38%6. Produção de óleo essencial/planta 1,94g7. Produção de óleo essencial/ha no primeiro ano 19,4kg

Tabela 1. Avaliação preliminar de Melaleuca alternifolia em Itajaí, SC,com 13 meses de desenvolvimento. Itens 1 a 4: dados médios de seisrepetições1

1Não foi produzida análise estatística, pois o objetivo foi obter uma ideia individual daprodutividade média do material.Nota: o óleo essencial foi destilado numa única extração, de plantas inteiras, empropriedade de agricultor.

3Adubação baseada nas práticas e orientações do setor de florestas da Estação Experimental de Itajaí.

50 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

A Região Litorânea de SantaCatarina, por apresentar caracterís-ticas de solo e clima semelhantes àregião de origem da M. alternifolia,parece adequada à espécie (Figura1). Os resultados preliminares apre-sentados neste estudo e o bom de-senvolvimento da melaleuca veri-ficado em plantios particulares, jácom 2 a 3 anos em Joinville e emPalhoça (Figura 2), indicam, até omomento, boas perspectivas deadaptação e produtividade da espé-cie nas condições do litoral centro/norte do Estado.

Literatura citada

1. CASTRO, C. de; SILVA, M.L. da; PI-NHEIRO, A.L. at al. Análise econômi-ca do cultivo e extração do óleo essen-cial de Melaleuca alternifolia Cheel.Revista Árvore, Viçosa, v.29, n.2, p.241-249, mar./abr., 2005.

2. GOMES, J.M.; COUTO, L.; LEITE,H.G. et al. Crescimento de mudas deEucalyptus grandis em diferentes ta-manhos de tubetes e fertilização N-P-K. Revista Árvore, Viçosa, v.27, n.2,p.113-127, mar./abr., 2003.

3. JANSEN, P.C.M. Minor essential oilplants. In: OYEN, L.P.A.; NGUYEN, X.D.(Eds.). Plant resources of south-east Asia:essential-oils plants. Bogor, Indonésia:Prosea Foundation, 1999. p.179.

4. MURTAGH, G.J. Rural IndustriesResearch & Development Corporation.R & D Plan for the tea tree oil industry1998-2003. 1998. Disponível em: <http:/www.rirde.gov.au/pub/tto5yr.htm>.Acesso em 3/8/2005.

5. PINHEIRO, A.L. produção de óleos es-senciais. Viçosa, MG: CPT, 2003. 139p.

6. RAMACCIATO, J.C. Atividadeantimicrobiana de soluções à base dealho (Allium sativum), óleo demelaleuca (Melaleuca alternifolia) eclorexidina sobre microrganismos to-tais e estreptococos do grupo Mutans.Estudo in vivo. 2000. 88f. Dissertação(Mestrado em Odontologia) - Faculda-de de Odontologia de Piracicaba, Uni-versidade Estadual de Campinas,Piracicaba, SP, 2000.

7. SILVA, S.R.S.; DEMUNER, A.J.; BAR-BOSA, L.C. de A. et al. Efeito doestresse hídrico sobre característicasde crescimento e a produção de óleoessencial de Melaleuca alternifoliaCheel. Acta Scientiarum, Maringá,v.24, n.5, p.1363-1368, 2002.

Figura 1. Talhão de Melaleuca alternifolia em abril de 2008, com plantioem agosto de 2007, Palhoça, SC

Figura 2. Talhão de Melaleuca alternifolia na propriedade de João L.Vieira, Palhoça, SC

51Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

52 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Avaliação do ganho de peso de cordeiros emAvaliação do ganho de peso de cordeiros emAvaliação do ganho de peso de cordeiros emAvaliação do ganho de peso de cordeiros emAvaliação do ganho de peso de cordeiros emtrês sistemas de produçãotrês sistemas de produçãotrês sistemas de produçãotrês sistemas de produçãotrês sistemas de produção

Resumo _ Avaliou-se o ganho de peso de cordeiros em três sistemas de produção. Cada sistema correspondeu aum tratamento (T), sendo o T1 formado por dez animais que permaneceram com as mães em uma área de 0,7hade pastagem de azevém e sem suplementação alimentar. O T2 formado por oito cordeiros confinados e alimenta-dos com ração contendo 22% de proteína bruta e forragem de azevém à vontade. Os animais também tiveramacesso ao aleitamento de suas mães entre 12 e 14 horas e à noite. No T3, dez animais permaneceram todo otempo com as mães em pastagens de azevém e acesso privativo à ração peletizada com 22% de proteína ("creep-feeding")4. O T2 teve o maior ganho de peso vivo no intervalo entre 33 e 64 dias de idade quando comparado comT1 e T3 (P < 0,05). Nos intervalos de 17 a 32 e 65 a 80 dias de idade, T2 e T3 não diferiram entre si (P > 0,05),porém ambos diferiram do T1 (P < 0,05). As margens brutas foram de R$ 54,25, R$ 85,86 e R$ 66,99 para T1, T2e T3, respectivamente, evidenciando o T2 como o de maior rentabilidade.Termos para indexação: confinamento, alimantação animal, "creep feeding".

Weight performance of lambs under three production systems

Abstract _ This experiment was conducted to evaluate the effects of three production systems on the weightgain of Ille de France male lambs within 15 to 20 days of age for a period of 63 days. The animals were assignedto complete randomized design in three treatments (T). In T1, 10 animals were kept with their mothers in anarea of ryegrass paddock without supplementation. In T2, 8 animals were kept in confinement and feeding withconcentrate in pellets with 22% GP and whole ryegrass at will. Also they had access twice a day to their mothers’milk . In T3, 10 animals were kept together with their mothers in a ryegrass pasture with free access to creepfeeding with concentrate in pellets with 22% GP. The T2 got higher (P < 0,05) live weight gain than T1 and T3 inthe period between 33 and 64 days of age. There was no significant difference (P > 0,05) in the periods of 17-32days and 65-80 days of age between T2 and T3 treatments, but they differ from T1. The gross margins obtainedwere of R$ 54.25; R$ 85.86 and R$ 66.99 for treatments 1, 2 and 3 respectively.Index terms: confinement, animal feeding, creep feeding.

Volney Silveira de Ávila1, Guilherme Caldeira Coutinho2 e Edison Martins3

Aceito para publicação em 10/7/08.1Méd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (049) 3224-4400, e-mail:[email protected]éd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected]éd. vet., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: martinsev@terra com.br. (Aposentado).4"Creep feeding": suplementação de cordeiros em aleitamento com rações de qualidade em locais a que suas mães não têmacesso.

53Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

A criação de ovinos em SantaCatarina vem sendo explorada cadavez mais para fins econômicos, tor-nando-se mais tecnificada e racio-nalizada em termos de custos, po-rém falta regularidade de oferta equalidade do produto. No Estado,geralmente a época de parição co-incide com o período de escassez deforragem, e a deficiência alimentaré a principal causa na redução dodesenvolvimento do cordeirolactente. Nestas condições, asuplementação é uma prática demanejo prioritária e estratégica naprodução de cordeiros ("creepfeeding"). Entretanto, pelo grandepotencial que o Estado possui, ain-da são poucos os criadores que sepreocupam em disponibilizar nomercado cordeiros com bom acaba-mento de carcaça.

Entre os sistemas de produção,o confinamento, em especial, já estásendo adotado no Brasil por muitosprodutores. É importante que naexploração dessa atividade semprese leve em consideração a relaçãocusto/benefício para que o negócioseja viável para o produtor.

De acordo com o CensoAgropecuário (1997), 75% dos cria-dores de ovinos de Santa Catarinaocupam uma área com até 100ha, oque caracteriza em sua grandemaioria pequenas e médias propri-edades. Quando a área é um fatorlimitante para a criação de ovinos,principalmente quando se refere àsuperlotação, que ocasiona sériosproblemas sanitários comendoparasitoses, é importante quese busquem outras alternativas deprodução. O confinamento e a utili-zação de pastagens cultivadas podemser vistos como alternativas para aterminação de cordeiros (Ávila et al.,2003). Em estudo realizado por Ávila& Osório (1996), em Santa Catarina,utilizando 2.420 cordeiros de diver-sas raças, verificou-se maior ganhode peso vivo diário dos cordeiroscriados em pastagem cultivada(0,252kg) em relação aos de campo

nativo (0,179kg). Entretanto, os re-sultados de ganho de peso de cor-deiros obtidos nas diferentes regiõesdo Brasil são extremamente variá-veis, sendo muitas vezes impossí-vel estabelecer um sistema padrãode terminação que atenda a todosos locais onde exista uma criaçãode ovinos (Otto et al., 1997). A con-centração e a qualidade da proteínana dieta podem modificar o consu-mo pelos ruminantes, alterando tan-to o mecanismo físico, como o fisio-lógico. A redução no teor de proteí-na bruta da dieta para níveis abai-xo de 12% ou na disponibilidade denitrogênio poderá reduzir a diges-tão de fibras e, consequentemente,restringir o consumo (Roseler et al.,1993, citado por Zundt et al., 2002).A melhoria do nível nutricional podeproporcionar aumento de custo deprodução, o que pode tornar a ativi-dade pouco rentável. Dessa forma,o consumo, o ganho de peso, a con-versão alimentar e o rendimento decarcaça são importantes parâmetrosna avaliação do desempenho animal(Ferreira et al., 1998). SegundoManterola (1986), a criação intensi-va de cordeiros é justificada emduas situações: quando ocorre bai-xa disponibilidade forrageira, paraevitar competições entre mães e fi-lhos, e em condições ambientais quepropiciem elevadas infestaçõesendoparasitárias.

Loose et al. (1981) afirmam que,quanto mais cedo for atingido o pesode abate, menores serão as despe-sas e a possibilidade de morte doscordeiros. Pinheiro (1979), citadopor Ramos et al. (2004), concluiu queos ovinos são parasitados porhelmintos em todas as faixasetárias, e sua ação negativa nãoacontece apenas no atraso de desen-volvimento dos cordeiros, mas tam-bém na produção e qualidade dacarne e da lã.

Trabalho realizado por Owen(1976) indicou que a maior veloci-dade de crescimento do cordeiroocorre entre a primeira e a 20a se-mana de vida e, de acordo comSelaive (1979), 60 dias parece ser

uma idade favorável para o desma-me precoce porque o leite maternoperde importância a partir da oita-va semana de lactação, quando orúmen do cordeiro já está desenvol-vido. Entretanto, não se pode esta-belecer a idade ótima de desmameque possa ser aplicada a todas as si-tuações, pois isso depende, funda-mentalmente, das condições daspastagens nesse momento, o que vaivariar de um estabelecimento paraoutro e também de um ano para ou-tro.

Siqueira et al. (1993) observaramganhos de 0,153kg/dia em animaisdesmamados aos 60 dias e termina-dos em confinamento e de 0,082kg/dia em animais mantidos a pasto.Del Carratore (2000), trabalhandocom animais da raça Suffolk desma-mados aos 45 dias e terminados emconfinamento e com animais des-mamados aos 90 dias terminados apasto, observou que o pastejorotacionado proporcionou um de-sempenho ponderal melhor que olote confinado. Ávila et al. (2003),numa avaliação de custos de produ-ção de cordeiros mestiços Ham-pshire Down, terminados emconfinamento em dois níveis dife-rentes de energia na ração (76,1%e 84,7%) e com o mesmo nível deproteínas (19,7%) para os dois tra-tamentos, observaram ganhos mé-dios de 0,279 e 0,298kg/dia, respec-tivamente.

Este trabalho teve como objeti-vo comparar a eficiência técnica eeconômica do desempenho de cor-deiros terminados a pasto, emconfinamento, e a pasto com aces-so ao "creep feeding".

Material e métodos

O experimento foi realizado nosmeses de julho a setembro de 2005em uma propriedade rural no mu-nicípio de Bom Retiro, no PlanaltoSul Catarinense.

Foram utilizados 28 cordeiros,machos inteiros, da raça Ille deFrance, com idade média de 17 diasde vida. Durante o experimento os

54 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

animais foram desverminados eacompanhados com examesparasitológicos (opg5 e cultura delarvas), vacinados com vacinatríplice (enterotoxemias, carbúnculosintomático e gangrena gasosa).

Os cordeiros foram selecionadosao acaso, pesados, individualizadoscom uma tatuagem na orelha direi-ta e separados aleatoriamente emtrês lotes que constituíram os trêstratamentos (T).

O T1 foi formado por dez cordei-ros que permaneceram com asmães em uma área de 0,7ha de pas-tagem de azevém (sistema utiliza-do pelo criador). No T2 utilizaram-se oito cordeiros em sistema deconfinamento e alimentados comração peletizada contendo 22% deproteína bruta e azevém, fornecidaao cocho à vontade. Os cordeirosdeste tratamento também tiveramacesso ao aleitamento de suas mãesnos períodos compreendidos entre12 e 14 horas e durante a noite.Nestes períodos, além do aleitamen-to, os animais experimentais man-tiveram acesso exclusivo à alimen-tação concentrada pelo método"creep feeding". O T3 foi formadopor dez cordeiros que permanece-ram com suas mães em uma áreade 0,7ha de pastagem de azevémcom complemento alimentar con-tendo 22% de proteína bruta em sis-tema de "creep feeding" até a des-mama. Após o desmame, que ocor-reu aos 45 dias do início do experi-mento, os animais dos tratamentosT1 e T3 foram agrupados e manti-dos em pastagem de azevém e semsuplementação concentrada até ofinal do experimento que teve du-ração de 63 dias.

Os parâmetros avaliados foramos ganhos de peso vivo nas três fai-xas etárias: de 17 a 32 dias; 33 a 48dias; 49 a 64 dias e 65 a 80 dias, paraos três tratamentos. Além do ganhodiário, foi avaliado o consumo de

concentrado e determinado o custode produção nos três tratamentos.

O delineamento experimentalfoi completamente casualizado com10 repetições no T1, 8 repetições noT2 e 10 repetições no T3. Os dadosde ganho de peso foram submetidosà análise de variância e as médiasdos tratamentos comparadas entresi pelo teste t de Student (P < 0,05).

Resultados e discussão

O T2, onde os animais foramconfinados e alimentados com raçãopeletizada contendo 22% de proteí-na bruta e azevém fornecida aococho à vontade, apresentou me-lhor resposta ao ganho diário depeso vivo (P < 0,05), em todas asfases de desenvolvimento, em rela-ção ao T1, no qual os cordeiros fo-ram mantidos com suas mães empastagens de azevém (Tabela 1). Emralação ao T3, no qual os cordeirosforam mantidos com suas mães empastagens de azevém mais comple-mento alimentar, o T2 apresentouresultados superiores nos interva-los de idade entre 33 a 48 e 49 a 64dias de idade, momentos que coin-cidiram com a desmama e pós-des-

mama feita aos 45 dias de vida. Osanimais que mais sofreram com adesmama foram os do T1, chegan-do ao final do experimento com umataxa de ganho diário de peso de ape-nas 88,61g, indicando que para essesistema de produção a desmamadeve ocorrer mais tarde, sob penade afetar o desenvovimento dos ani-mais.

Os animais dos tratamentos T2e T3, ao final do experimento e comidade média de 80 dias, apresenta-vam-se acabados e prontos para oabate, com peso médio de 38,59 e32,80kg, respectivamente. Os pesosde abate obtidos nos T2 e T3 estãodentro dos parâmetros para pesoótimo de abate, o qual segundoCabrero, (1984), tem a gorduracomo tecido mais variável e seuexcesso contribui para um baixorendimento na comercialização dacarcaça. Portanto o peso de abatedeve coincidir com o ponto de ma-turidade, na qual a gordura atingeum nível desejável (Berg &Butterfield, 1979).

O baixo ganho de peso diárioobservado no T1, na faixa de idadecompreendida entre 65 e 80 dias devida (Tabela 1), pode ser atribuído,

5Opg = ovos/grama (número de ovos de helmintos por grama de fezes).

Tabela 1. Médias de ganho diário de peso vivo, em gramas, dos três trata-mentos, nos quatro intervalos de idades durante o período experimental

(1)Letras iguais, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre sipelo teste t de Student (P < 0,05).Notas: T1 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém.T2 - oito cordeiros confinados, alimentados com ração e azevém no cocho ("creepfeeding").T3 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém mais complementoalimentar em sistema de "creep feeding".

Intervalos de idade(1)

Tratamento (Dias)17 a 32 33 a 48 49 a 64 65 a 80................................. g ...................................

T1 263,10 aA 227,30 aA 235,40 aA 88,61 bAT2 360,00 abB 464,75 aB 376,63 abB 311,65 bBT3 351,30 aAB 410,60 aC 235,50 bA 227,39 bAB

55Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

em parte, à infecção parasitária porhelmintos gastrintestinais que seinstalou nos animais desse trata-mento.

De acordo com os dados da Ta-bela 2, os ganhos médios diáriospara T1, T2 e T3 foram 0,213, 0,386e 0,313kg, respectivamente. Os cor-deiros do T2, em sistema deconfinamento, ganharam mais pesono período (24,4kg), o que pode seratribuído à melhor suplementaçãoproteico-energética.

O ganho médio diário de 0,213kgde peso vivo obtido no T1 foi in-ferior aos obtidos por Ávila & Osório(1996) que, ao verificarem o efeitode dois sistemas de criação (camponativo e pastagem), encontraramganho de peso vivo médio diário de0,252kg para pastagem cultivada deaveia, azevém e trevo-branco.

No T2, onde foi utilizado o siste-ma de confinamento total dos cor-deiros (Tabela 2), observou-se umganho médio diário de 0,386kg depeso vivo, superior aos demais tra-tamentos, com consumo diário mé-dio de ração de 0,578kg por cordei-ro (Tabela 3). O ganho de peso nes-te tratamento foi superior ao encon-trado por Otto et al. (1994), que ob-tiveram desempenho de cordeiroscom acesso ao "creep feeding" de 190e 182g/dia, desmamados aos 45 eaos 60 dias, respectivamente. Ávilaet al. (2003), com dois níveis dife-rentes de energia na ração, conten-do 71,1% e 84,7% de nutrientesdigestíveis totais (NDT), mas como mesmo teor de proteína bruta(19,7%) para os dois tratamentos,observaram ganhos médios diáriosde 0,279 e 0,298kg, respectiva-mente.

No T3, o ganho médio diário depeso vivo de 0,313kg (Tabela 2), comconsumo de ração por cordeiro de0,217kg ao dia, foi inferior ao confi-nado, o que já era esperado, pois oscordeiros deste tratamento aindaestavam sendo amamentados comonos demais tratamentos e com pas-tagem disponível (Tabela 3).

Na avaliação dos custos de pro-dução na terminação de cordeiros(Tabela 4), deve-se considerar osgastos com concentrados e/ou compastagens, levando-se em conta queem muitos casos ocorre limitaçãocom a área de pastagem.

No T1, os gastos com alimenta-ção foram com pastagem cultivada(azevém) e sanidade, resultando emR$ 24,95 por cordeiro. Os cordeirosdeste tratamento chegaram ao finaldo experimento com peso vivo mé-dio de 26,4kg que, comercializado aR$ 3,00 o quilo vivo, resultou emR$ 79,20, com margem bruta de R$54,25 (Tabela 5).

No T2, os gastos com alimenta-ção foram com concentrado, feno esanidade, totalizando R$ 29,91 por

cordeiro. No final do experimento,os cordeiros estavam em média com38,59kg de peso vivo que,comercializado a R$ 3,00 o quilovivo, proporcionou receita de R$115,77, com margem bruta de R$85,86 (Tabela 5).

No T3, os gastos foram com pas-tagem (azevém) e ração concentra-da, mais sanidade, totalizando a des-pesa de R$ 31,41 por cordeiro. Oscordeiros atingiram neste tratamen-to o peso vivo médio individual de32,80kg que, comercializado a R$3,00 o quilo vivo, resultou a receitade R$ 98,40. A margem bruta finalfoi de R$ 66,99 (Tabela 5).

A ração foi formulada ao custode R$ 0,66/kg, com o nível de 22%de proteína bruta.

Parâmetro T1 T2 T3................... kg ..................

Consumo total de ração do lote - 291,7 98,0Consumo ração/cordeiro/período - 36,5 9,8Consumo ração cordeiro/dia - 0,578 0,217

Tabela 3. Consumo de ração em cada tratamento por lote, no período ediário

Notas: T1 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém.T2 - oito cordeiros confinados, alimentados com ração e azevém no cocho ("creepfeeding").T3 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém mais complementoalimentar ("creep feeding").

Parâmetro T1 T2 T3Cordeiros/tratamento (nº) 10 8 10Peso vivo inicial do lote (kg) 129,50 113,50 130,50Peso vivo final do lote (kg) 264,00 308,75 328,00Ganho de peso médio/cordeirono período (kg) 13,45 24,40 19,75Ganho de peso médio diário/cordeiro no período (kg) 0,213 0,386 0,313

Tabela 2. Número de cordeiros por tratamento, peso vivo inicial e finalpor lote, ganho de peso vivo médio e diário por cordeiro nos três trata-mentos durante o período de 63 dias, em Lages, SC, 2005

Notas: T1 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém.T2 - oito cordeiros confinados, alimentados com ração e azevém no cocho ("creepfeeding").T3 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém mais complementoalimentar.

56 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

É importante destacar que nes-tes custos não estão incluídas asdespesas com mão-de-obra, sendoconsiderada apenas a alimentaçãoe a sanidade. Para rebanhos pe-quenos é inviável economicamen-te a contratação de mão-de-obraespecífica.

Conclusões

• A produção de cordeiros preco-ces, tanto em sistemas de pastejoquanto em confinamento, é viáveleconomicamente.

• O sistema de criação influi so-bre as características produtivas ecomerciais dos cordeiros.

• Os cordeiros confinados comalimentação no cocho são mais ren-táveis na terminação do que os cor-deiros mantidos com suas mães.

Literatura citada

1. ÁVILA, V.S. de; OSÓRIO, J.C.S. Efei-to do sistema de criação, época de nas-cimento e ano na velocidade de cresci-mento de cordeiros. Revista da Socie-dade Brasileira de Zootecnia, Viçosa,v.25, n.5, p.1007-1015, set./out. 1996.

2. ÁVILA, V.S. de; COUTINHO, G.C; RA-MOS, C.I. Avaliação técnica e econô-mica da terminação de cordeiros emconfinamento. Agropecuária Catari-nense, Florianópolis, SC, v.16, n.2, p.56-58, 2003.

3. BERG, R.T.; BUTTERFIELD, R.M.Nuevos conceptos sobre desarrollo deganado vacuno. Zaragoza, España: Ed.Acríbia, 1979. 297p.

4. CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996:Santa Catarina. Rio de Janeiro: IBGE,n.21, 1997. 286p.

5. DEL CARRATORE, R.R. Avaliação dodesenvolvimento ponderal, da infec-ção helmíntica e da viabilidade eco-nômica de dois sistemas de termina-

ção de cordeiros Suffolk. 2000. 48p.Dissertação (Mestrado em Zootecnia)_ Faculdade de Engenharia. Universi-dade Estadual Paulista, Ilha Solteira,SP, 2000.

6. FERREIRA, M.A.; VALADARES FI-LHO, S.C.; COELHO DA SILVA, J.F.et al. Consumo, conversão alimentar,ganho de peso e características de car-caça de bovinos F1 Simental e Nelore.Revista Brasileira de Zootecnia, Viço-sa, v.28, n.2, p.352-360, 1998.

7. LOOSE, E.M.; JARDIM, P.O.C.;OSÓRIO, J.C.S. Peso ao nascer e de-sempenho ponderal de cordeiros Ideale cruzas Ideal x Texel. In: REUNIÃOANUAL DA SOCIEDADE BRASILEI-RA DE ZOOTECNIA, 18, 1981,Goiânia, GO. Anais... Goiânia: ZBZ,1981. p.394.

8. MANTEROLA, H. La nutrición del ovi-no. In: GARCIA, G. (Ed.) Producciónovina. Santiago: Universidad de Chile,1986. 344p.

9. OTTO, C.; BONA, A.F.O.; SÁ, J.L. etal. Efeito do desmame aos 45 e 60 diasde idade no desenvolvimento de cor-deiros. In: CONGRESSO BRASILEI-RO DE MEDICINA VETERINÁRIA,23, 1994, Olinda, PE. Anais... Olinda:CBMV, 1994. p.55

10. OTTO, C.; SÁ, J.L.; WOEHL, A.H. etal. Estudo econômico da terminação decordeiros a pasto e em confinamento.Revista do Setor de Ciências Agrárias,Curitiba, PR, v.16, n.1-2, p.223-27,1997.

11. OWEN, J. B. Sheep production.London: Bailliere Tindall, 1976. 436p.

12. RAMOS, C.I.; BELLATO, V.; SOUZA,A.P. et al. Epidemiologia dashelmintoses gastrintestinais de ovinosno Planalto Catarinense. Ciência Ru-ral, Santa Maria, v.34, n.6, p.1889-1895,nov./dez. 2004.

13. SELAIVE, A.B. Fatores a considerarno desmame de cordeiros. Bagé:Embrapa _ Uepae, Bagé 1979. 5p.(Embrapa Uepae Bagé. ComunicadoTécnico, 2).

14. SIQUEIRA, E.R.; AMARANTE, A.F.T.;FERNANDES, S. Estudo comparativoda recria de cordeiros emconfinamento e pastagem. Veterináriae Zootecnia, São Paulo, v.5, p.17-28,1993.

15. ZUNDT, M.; MACEDO, F. de;MARTINS, E.N. et al. Desempenho decordeiros alimentados com diferentesníveis proteicos. Revista Brasileira deZootecnia, Viçosa, v.31, n.3, p.1-12.,jun. 2002. Disponível em: <www.scielo.br/scielo> Acesso em: 10 mar. 2006.

Parâmetro TratamentoT1 T2 T3.................. kg ......................

Peso final 26,40 38,59 32,80.................. R$ ......................

Preço de venda 3,00 3,00 3,00Valor da venda 79,20 115,77 98,40Custo com alimentação e sanidade 24,95 29,91 31,41Margem bruta/cordeiro 54,25 85,86 66,99

Tabela 5. Margem bruta apurada nos três sistemas de produção de cor-deiros avaliados

Notas: T1 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém.T2 - oito cordeiros confinados, alimentados com ração e azevém no cocho ("creepfeeding").T3 - dez cordeiros mantidos com as mães em pastagem de azevém mais complementoalimentar ("creep feeding").

Tabela 4. Custos com alimentação e sanidade dos cordeiros nos diferen-tes tratamentos

Fator de custo T1 T2 T3................ R$ ................

Custo cordeiro com ração - 24,06 6,46Custo de 0,7ha de pastagem cultivada 226,00 - 226,00Custo com feno/cordeiro no período - 3,50 -Custo cordeiro com alimentação 22,60 27,56 29,06Custo cordeiro com sanidade 2,35 2,35 2,35Custo total/cordeiro 24,95 29,91 31,41

57Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

O tripes, ou piolho da cebola(Thrips tabaci Lind., Thysanoptera:Thripidae), e o míldio (Peronosporadestructor Berk. Casp. ex Berk.)são os principais problemas fitos-sanitários na cultura da cebola em

Efeitos da adubação sobre a incidência de tripes eEfeitos da adubação sobre a incidência de tripes eEfeitos da adubação sobre a incidência de tripes eEfeitos da adubação sobre a incidência de tripes eEfeitos da adubação sobre a incidência de tripes emíldio e na produtividade da cultura da cebolamíldio e na produtividade da cultura da cebolamíldio e na produtividade da cultura da cebolamíldio e na produtividade da cultura da cebolamíldio e na produtividade da cultura da cebola

Paulo Antônio de Souza Gonçalves1, João Américo Wordell Filho2 e Claudinei Kurtz3

Resumo _ O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da adubação com nitrogênio, fósforo e potássio sobre aincidência de tripes (Thrips tabaci) e míldio (Peronospora destructor) e sobre produtividade da cultura da cebola.Os tratamentos foram metade, uma, duas e quatro vezes a dose recomendada para N, P2O5, K2O e testemunhasem adubação. No experimento com nitrogênio foi incluído esterco de peru para suprir o nutriente em doserecomendada. A infestação do inseto e os danos causados pelo patógeno não foram influenciados pelos nutrientes,exceto o fósforo, que apresentou correlação linear e positiva com a incidência de tripes. A produtividade foiincrementada pela aplicação de fósforo.Termos para indexação: Thrips tabaci, Peronospora destructor, Allium cepa, nitrogênio, fósforo, potássio.

Effects of fertilization on thrips and downy mildew incidenceand on the yield of onion

Abstract _ The objective of this research was to evaluate the effect of fertilization with nitrogen, phosphorus andpotassium on thrips (Thrips tabaci) and downy mildew (Peronospora destructor), and on the yield of onion crop.The treatments were controls, half, one, two and four times the recommended amount of N, P2O5 e K2O. In theexperiment with nitrogen the turkey manure was included to supply the recommended amount of nutrients. Theonion thrips and downy mildew incidence were not influenced by the nutrients; only phosphorus had a positivelinear tendency with the development of the insect. The yield increased mainly as a result of the use of phosphorus.Index terms: Thrips tabaci, Peronospora destructor, Allium cepa, nitrogen, phosphorus, potassium.

Aceito para publicação em 23/4/08.Trabalho financiado com recursos da Fapesc.1Eng. agr., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409,e-mail: [email protected]. agr., D.Sc, Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar _ Cepaf _, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, e-mail: [email protected].

lavouras da Região Sul do Brasil(Gonçalves, 2006; Wordell Filho &Boff, 2006).

Os danos causados pelo tripesconsistem na raspagem e sucção daseiva da planta que, em elevadasinfestações, provocam lesõesesbranquiçadas, seca de ponteiro,

retorcimento das folhas e reduçãodo tamanho do bulbo (Gonçalves,2006). O manejo do solo com adu-bação verde e plantio direto tem sidorecomendado como uma das práti-cas que melhora a tolerância dasplantas de cebola aos danos causa-dos por tripes (Gonçalves, 2006).

58 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

McGuire (1999) observou que altosníveis foliares de nitrogênio propi-ciam altas infestações de tripes emcebola. A incidência de tripes nãodiferiu com adubação mineral comN, P e K, em doses que variavamentre a normal e três vezes a reco-mendada (Gonçalves & Silva, 2004).

O míldio tem importância eco-nômica, principalmente no sul doPaís, pois causa redução de áreafotossintética na lavoura e no can-teiro em períodos de temperaturasamenas, alta umidade relativa ebaixa luminosidade (Wordell Filho& Boff, 2006). Gonçalves & Silva(2004) não observaram efeito daadubação mineral sobre a infes-tação de míldio para doses de N, Pe K entre a normal e até três vezesa recomendada. Em contraste,Develash & Sugha (1997) constata-ram que a severidade da infestaçãode míldio em cebola para produçãode sementes foi correlacionada po-sitivamente com aumento da adu-bação com fósforo e nitrogênio, en-quanto o potássio retardou o desen-volvimento da doença. Wordell Fi-lho & Boff (2006) comentaram quefertilizantes minerais, especial-mente o nitrogênio, aliados aoadensamento das plantas e à bai-xa ventilação entre as fileiras de

plantio, favorecem as epidemias demíldio.

Em trabalho pioneiro de aduba-ção na Região do Alto Vale do Itajaí,SC, o nitrogênio na dose de 65kg/haapresentou resposta positiva no de-senvolvimento da cultura (Macha-do et al., 1984). A dose de nitrogê-nio relatada como ótima para a pro-dução de bulbos por May et al. (2007)varia de 105 a 125kg/ha, de acordocom a cultivar. Faria & Pereira(1992) determinaram em torno de115kg N/ha como dose de máximaeficiência econômica. Machado etal. (1984) observaram que a respos-ta da cebola ao fósforo é frequenteem literatura e recomendaram adose de 180kg/ha de P2O5 para so-los com teor médio deste nutrien-te. Estes autores não encontraramresposta para a adubação com po-tássio. Segundo May et al. (2007), oincremento na produtividade de ce-bola pela aplicação de potássio foipequeno quando comparado ao pro-porcionado pelo nitrogênio.

O objetivo deste trabalho foi ava-liar a influência de doses da aduba-ção com nitrogênio, fósforo e potás-sio sobre a incidência de ninfas detripes (T. tabaci), sobre a severida-de do míldio (P. destructor) e sobre aprodutividade da cultura da cebola.

Materiais e métodos

A pesquisa foi conduzida naEpagri/Estação Experimental deItuporanga, SC, situada a 475m dealtitude, 27o22' latitude sul e 49o35'longitude oeste, em um Cambissolohúmico distrófico. Os experimentosforam instalados em 3/9/2003 e 27/8/2004 (transplante), sendo colhidos em27/11/03 e 3/12/04, respectivamente.

A cultivar de cebola utilizada foia Epagri 362 "Crioula Alto Vale". Oespaçamento utilizado foi de 0,40mentre fileiras e 0,10m entre plantasna fileira. Em cada ano agrícola fo-ram conduzidos três experimentos,sendo cada um composto por dife-rentes níveis de N (uréia e estercode peru), P (superfosfato triplo) e K(cloreto de potássio). Em cada ex-perimento as doses avaliadas forama metade, uma, duas e quatro ve-zes a recomendada para a cultura(Sociedade..., 1995) e testemunhasem adubação. Quando um nutrien-te era avaliado individualmente, adose normal recomendada dos ou-tros dois foi mantida, e assim ocor-reu nos demais experimentos. Onitrogênio foi fornecido por uréia nasdoses de 37,5, 75, 150 e 300kg/ha, eum tratamento com 82,1kg/ha de Nsuprido por 7,1t/ha de esterco deperu colocado na base, incluído ape-nas neste experimento, como tes-temunha em relação aos tratamen-tos com N mineral. O nitrogêniomineral foi aplicado 50% na base e50% em cobertura, parcelado emduas vezes aos 30 e 60 dias após otransplante das mudas. Nos expe-rimentos com P e K os nutrientesforam colocados somente na base.As doses de fósforo (P2O5) foram 80,160, 320, 640kg/ha e as doses depotássio (K2O) foram de 65, 130, 260e 520kg/ha. O solo foi manejado emsistema de plantio direto sobre pa-lha de milheto e centeio, semeadosrespectivamente, em dezembro doano anterior e maio do mesmo ano,e na ocasião do plantio definitivo fo-ram acamados com rolo-faca. Osulcamento para o transplante ma-nual das mudas de cebola foi feitocom microtrator adaptado.

Plantas de cebola produzidas com níveis de adubação de acordo comrecomendação oficial

59Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Os resultados da análise de solono início do experimento foram: pHem água = 6,5; índice SMP = 6,2; P= 7mg/dm3; K = 44mg/dm3; matériaorgânica = 4%; Al = zero; Ca =7,1Cmolc/dm3; Mg = 3,1Cmolc/dm3;argila = 32%. O esterco de peru apre-sentou os seguintes teores: 79,8%de matéria seca; 29,4g/kg de N;20,8g/kg de P; 25,4g/kg de K; 31g/kgde Ca; 8,2g/kg de Mg; 7.230mg/kgde Fe; 574mg/kg de Mn; 468mg/kgde Zn; 112mg/kg de Cu e 58mg/kgde B, segundo o Laboratório de Fi-siologia e Nutrição Vegetal daEpagri/Estação Experimental deCaçador.

Os experimentos foram conduzi-dos em 2003 sem aplicação deagrotóxicos para se investigar o efei-to da adubação sobre a incidência detripes, severidade do míldio e pro-dutividade. Os mesmos experimen-tos foram realizados em 2004 comcontrole químico de tripes e doen-ças baseado nas recomendações daEpagri (2000) para avaliar o efeitoda adubação sobre a produtividadeda cultura.

Em cada experimento o delinea-mento utilizado foi em blocos ao aca-so com quatro repetições. As parce-las mediram 3,2 x 3m, sendo sepa-radas por 1m entre si.

Em 2003, a avaliação da incidên-cia de tripes foi realizada no campoem todas as folhas de cinco plantastomadas ao acaso nas parcelas, atra-vés da contagem semanal de apenasninfas do inseto, e não de adultos,devido ao seu hábito saltador, quepode dificultar a precisão dos dados.Para facilitar a visualização dasninfas de tripes foi usada lupa ma-nual com 75mm de diâmetro (ClassicMagnifier®). As avaliações foramefetuadas nas seguintes datas: 35dias após transplante (DAT), 42 DAT,50 DAT, 57 DAT, 64 DAT, 71 DAT,78 DAT.

A severidade do míldio foi medi-da em dez avaliações com interva-los semanais, 20 DAT, 27 DAT, 34DAT, 41 DAT, 49 DAT, 55 DAT, 62DAT, 69 DAT, 76 DAT e 83 DAT, doestádio de pós-transplante até a co-lheita. Foram avaliadas dez plantas

por parcela, aferindo-se a severida-de de míldio, com base na análisevisual da porcentagem de área foliarafetada pela doença (zero a 100%),conforme metodologia descrita porWordell Filho & Stadnik (2006). Pos-teriormente, foi estimada a áreaabaixo da curva de progresso dadoença (AACPD) através da fórmu-la AACPD = Σ [((Y1 + Y2)/2).Δt], emque Y1 e Y2 são duas avaliações con-secutivas de severidade e Δt o in-tervalo de tempo entre elas.

A avaliação da produtividade e dopeso médio de bulbos comerciais dosexperimentos seguiu as normas doMinistério da Agricultura (Epagri,2000), de acordo com o diâmetro dosbulbos: classe 1 = 3,5cm; classe 2 >3,5 até 5cm; classe 3 > 5 até 7cm;classe 4 > 7 até 9cm; classe 5 > 9cm,sendo consideradas como produtivi-dade comercial apenas as classes 3,4 e 5.

A análise de regressão foi apli-cada considerando-se como variávelindependente as doses dos nutrien-tes e dependentes a incidência detripes, a severidade do míldio e aprodutividade, para determinar omodelo de ajuste dos dados. O pro-grama estatístico utilizado foi o SASversão 6.12 e os modelos foram se-

lecionados pela análise de variânciaao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

A análise de regressão apontourelação linear positiva significativaapenas entre doses de fósforo e aincidência de ninfas de tripes, deacordo com a equação y = 0,02x +24,4 (R2 = 0,32, P < 0,01). Gonçal-ves & Silva (2004) não observaramefeito significativo de doses de ni-trogênio, fósforo e potássio sobretripes, o que diferiu deste trabalhono resultado positivo para o fósfo-ro. Os resultados diferem daquelesobtidos por Malik et al. (2003), queobservaram densidade elevada detripes em cebola adubada com 200e 250kg de N/ha. Estes autores su-geriram a adubação com 150-100-100kg/ha de NPK como a fórmulamais racional para manter a produ-tividade e manejar o inseto em ce-bola. A observação de McGuire(1999) de que altos níveis de nitro-gênio foram responsáveis pelo in-cremento populacional do inseto nãofoi confirmada neste estudo. Issopossivelmente está relacionado aomanejo do solo em plantio direto terimobilizado nitrogênio na palha,

Bulbos de cebola produzidos de acordo com recomendação de adubaçãooficial

60 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

não permitindo que as doses destenutriente alterassem significativa-mente o nível foliar de nitrato.

Para a produtividade, a análisede regressão também não apontourelação significativa entre doses denitrogênio e produtividade com ousem controle fitossanitário. Prova-velmente o nitrogênio disponi-bilizado pela matéria orgânica dosolo foi suficiente para manter aprodutividade da cultura no trata-mento testemunha. Os resultadoscontrastam com Faria & Pereira(1992), que observaram respostapositiva ao nitrogênio em áreairrigada, talvez devido ao baixo ní-vel de matéria orgânica (0,6%) nosolo. No presente trabalho, o nívelde matéria orgânica da área era de4%, o que pode ter favorecido re-sultados similares entre tratamen-tos. Amado & Teixeira (1991) ava-liaram diferentes coberturas de solopara posterior transplante de cebo-la e observaram que, em área depousio com ervas espontâneas semadubação, são disponibilizados pelosresíduos em torno de 66kg de N/hapara a cultura da cebola, o que per-mitiu produtividade similar a tra-tamentos que forneceram os maio-res níveis de N.

A análise de regressão apresen-tou resultados significativos positi-vos e lineares entre doses de fósfo-ro (x) e produtividade (y) sem con-trole fitossanitário (y = 0,007x + 9,0,R2 = 0,69, P < 0,01), e com controle(y = 0,01x + 22,6, R2 = 0,58, P <0,01). Para o peso médio de bulbos(em gramas) sem controlefitossanitário também foi verificadaa relação linear (y = 0,03x + 38,8,R2 = 0,69, P < 0,01). A relação foiquadrática para esta váriável comcontrole fitossanitário (y = -0,0002x2+ 0,17x + 127,3, R2 = 0,71, P < 0,01).O fornecimento de doses adequadasde fósforo foi importante para incre-mento da produtividade.

A adubação potássica incre-mentou a produtividade apenas naausência de controle fitossanitário(y = 0,005x + 8,9, R2 = 0,35, P < 0,01).Este incremento também foi obser-vado para peso médio de bulbos com

(y = 0,02x + 37,4, R2 = 0,35, P < 0,01).Segundo alguns autores, a culturada cebola não responde considera-velmente à aplicação de potássio.Machado et al. (1984) não observa-ram efeito do potássio sobre produ-tividade da cultura. Segundo Mayet al. (2007), o potássio tem menorefeito que o N na produtividade decebola.

Não foi verificado efeito signifi-cativo das doses de nitrogênio, fós-foro e potássio para a área abaixoda curva de progresso da doença(AACPD) para o fungo P. destructor.Resultados divergentes foram obti-dos por Develash & Sugha (1997),que verificaram redução da severi-dade de míldio da cebola pela adu-bação potássica, enquanto o forne-cimento de nitrogênio e de fósforoaumentaram a intensidade dadoença, efeito não confirmado nes-te estudo.

Conclusões

• A severidade de míldio não éinfluenciada significativamente pe-las doses de adubação.

• O incremento linear de dosesde fósforo favorece o desenvolvi-mento de tripes em cebola.

• O fornecimento de doses reco-mendadas de fósforo é importantepara incremento de produtividade.

Literatura citada

1. AMADO, T.J.C.; TEIXEIRA, L.A.J. Cul-turas de cobertura de solo: efeito nofornecimento de nitrogênio e no ren-dimento de bulbos de cebola.Agropecuária Catarinense, Flori-anópolis, v.4, n.3, p.10-12, 1991.

2. DEVELASH, R.K.; SUGHA, S.K.Factors affecting development ofdowny mildew (Peronosporadestructor) of onion (Allium cepa).Indian Journal of AgriculturalSciences, v.67, n.2, p.71-74, 1997.

3. EPAGRI. Sistema de produção para ce-bola. Florianópolis: Epagri, 2000. 91p.(Epagri. Sistema de Produção, 16).

4. FARIA, C.M.B.; PEREIRA, J.R. Fontese níveis de nitrogênio na produtivida-de de cebola no submédio São Francis-co. Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v.27, n.3, p.403-407, 1992.

5. GONÇALVES, P.A.S. Manejo ecológi-co das principais pragas da cebola. In:WORDELL FILHO, J.A.; ROWE, E.;GONÇALVES, P.A. de S. et al. Manejofitossanitário na cultura da cebola.Florianópolis: Epagri, 2006. p.168-189.

6. GONÇALVES, P.A.S.; SILVA, C.R.S.Adubação mineral e orgânica e a den-sidade populacional de Thrips tabaciLind. (Thysanoptera: Thripidae) emcebola. Ciência Rural, Santa Maria,v.34, n.4, p.1255-1257, 2004.

7. GONÇALVES, P.A.S.; SILVA, C.R.S.;BOFF, P. Incidência do míldio em cebo-la sob adubação mineral e orgânica.Horticultura Brasileira, Brasília, v.22,n.3, p.538-542, 2004.

8. MACHADO, M.O.; VIZZOTTO, V.J.;LANZER, E.A. et al. Adubação para acultura da cebola na região do AltoVale do Itajaí, Santa Catarina.Florianópolis. Empasc, 1984. 17p.(Empasc. Boletim Técnico, 26).

9. MALIK, M.F.; NAWAZ, M.; HAFEEZ,Z. Different regimes of nitrogen andinvasion of thrips on onion inBalochistan, Pakistan. Asian Journalof Plant Sciences, v.2, n.12, p.916-919,2003. Disponível em: <http://scialert.c o m / a s c i / a u t h o r . p h p ? a u t h o r =Zahid%20Hafeez>. Acesso em 13 mar.2007.

10. MAY, A.; CECÍLIO FILHO, A.B.; POR-TO, D.R.Q. et al. Produtividade de hí-bridos de cebola em função da popula-ção de plantas e da fertilizaçãonitrogenada e potássica. HorticulturaBrasileira, Brasília, v.25, n.1, p.53-59,2007.

11. McGUIRE, M.E. Efeitos do manejo dosolo sobre fisiologia vegetal e incidên-cia de pragas e doenças na cebola. 1999.62p. Dissertação (Mestrado emAgroecossistemas). Centro de Ciên-cias Agrárias, Universidade Federal deSanta Catarina, Florianópolis, 1999.

12. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊN-CIA DO SOLO. Recomendações deadubação e de calagem para os estadosdo Rio Grande do Sul e de SantaCatarina. 3.ed. Passo Fundo, RS:SBCS/Núcleo Regional Sul; Comissãode Fertilidade do Solo - RS/SC, 1995.223p.

13. WORDELL FILHO, J.A.; STADNIK,M.J. Efeito de produtos alternativos nocontrole do míldio e no rendimento decebola. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.19, n.3, p.91-93, 2006.

14. WORDELL FILHO, J.A.; BOFF, P.Doenças de origem parasitária. In:WORDELL FILHO, J.A.; ROWE, E.;GONÇALVES, P.A. de S. et al. Manejofitossanitário na cultura da cebola.Florianópolis: Epagri, 2006. p.19-162.

61Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Pirâmide etária e distribuição vertical daPirâmide etária e distribuição vertical daPirâmide etária e distribuição vertical daPirâmide etária e distribuição vertical daPirâmide etária e distribuição vertical dapérola-pérola-pérola-pérola-pérola-da-terra, da-terra, da-terra, da-terra, da-terra, Eurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensis (Hempel), (Hempel), (Hempel), (Hempel), (Hempel),

em vinhedos do Meioem vinhedos do Meioem vinhedos do Meioem vinhedos do Meioem vinhedos do Meio-----Oeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste Catarinense

Eduardo Rodrigues Hickel1, Edegar Luiz Peruzzo2 e Enio Schuck3

Resumo _ Registros de contagem da pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel) (Hemiptera:Margarodidae), em raízes de videira foram compilados para se obter informações pertinentes à predominância defaixas etárias em determinados períodos, bem como à distribuição vertical do inseto nos vinhedos. Nos meses queantecedem e durante a dormência da videira (abril a outubro) prevalecem os cistos em estágios iniciais de desen-volvimento, na proporção de 40% a 60% de cistos mínimos (< 3mm de comprimento), 20% a 30% de cistos peque-nos (3 a 4mm) e 10% a 20% de cistos médios (5 a 6mm). Indivíduos no estágio adulto tendem a prevalecer nascontagens efetuadas no mês de dezembro, no período reprodutivo da espécie. O inseto tende a se distribuir portoda a área dos vinhedos, com 65% a 80% da população concentrada na faixa de zero a 20cm de profundidade. Afixação do inseto prevalece em raízes com diâmetro de 2 a 5mm.Termos para indexação: Hemiptera, Margarodidae, ecologia populacional, Vitis.

Population pyramid and vertical distribution of ground-pearl,Eurhizococcus brasiliensis (Hempel), in vineyards in

Mid-Western Santa Catarina State, Brazil

Abstract _ Records of ground-pearl, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel) (Hemiptera: Margarodidae), counts ingrapevine roots were compiled to get information about age-structured population as well as vertical distributionof the insect in the vineyards. Cysts in the first stages of development predominated in the months prior to andduring grapevine dormancy (April to October), with proportions of 40% to 60% of tiny cysts (< 3mm long), 20% to30% of small cysts (3 to 4mm), and 10% to 20% of medium cysts (5 to 6mm). Adults tended to predominate in thecounts made in December, the reproductive period of the species. The insect tends to be widespread in thevineyard areas, with 65% to 80% of the population concentrated in the zero to 20cm depth. The coccid settlementwas greater in roots with diameter between 2 and 5mm.Index terms: Hemiptera, Margarodidae, population ecology, Vitis.

Aceito para publicação em 19/5/08.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5220, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3566-0054, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected].

62 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

A pérola-da-terra, Eurhizococcusbrasiliensis (Hempel, 1922)(Hemiptera: Margarodidae), é aprincipal praga da videira no Esta-do de Santa Catarina. Trata-se deuma cochonilha de solo, de corpoamarelo e globoso, denominado cis-to. O inseto infesta as raízes dasplantas, competindo pelo fluxo deseiva vegetal e, com isso, reduz ovigor vegetativo.

Nas regiões de ocorrênciaendêmica, como o Meio-OesteCatarinense, a pérola-da-terra émotivo de preocupação constantedos viticultores, pois é um compo-nente que predispõe à incidência dodeclínio da videira (Dal Bó, 2006).Um sintoma típico do ataque dapérola-da-terra é o "colapso do vi-gor" primaveril de plantas jovens,que acaba culminando com odeclínio e morte da videira. Ou seja,plantas que vegetaram normal-mente no período anterior àdormência não brotam ou não têmvigor no ciclo posterior à dormência(Botton et al., 2000). Isto provavel-mente se deve ao esgotamentonutricional da planta nova duranteo período de dormência, quando nãohá folhas e a população de insetospermanece se alimentando nasraízes. Hickel (1997) relata que nãohá diapausa como estratégia de so-brevivência ao frio hibernal; contu-do, não se dispõe de informação dopercentual da população dacochonilha em uma dada planta quepermanece ativa nas raízes duran-te o repouso vegetativo.

A pérola-da-terra desenvolveuma geração por ano, porém nãohá sincronismo reprodutivo perfei-to, de modo que indivíduos em di-ferentes estágios de desenvolvi-mento podem ser encontrados namesma planta durante todo o ano(Soria & Gallotti,1986). Em certosperíodos, porém, prevalecem deter-minadas formas e o conhecimentodestas prevalências é importantepara a definição das estratégias demanejo da praga.

Informações sobre a distribuiçãoespacial dos indivíduos nas áreasdos vinhedos também são importan-tes para a implementação de medi-

das de controle da praga. A distri-buição vertical no perfil de solo oupor classes de diâmetro de raízes éimportante para se determinar ovolume de cada inseticida a ser apli-cado nas plantas, ao passo que a dis-tribuição horizontal informa a mag-nitude da dispersão do inseto naárea, com reflexos na quantidade deparcelas que deverão receber pri-meiramente o controle (All &Dutcher, 1977; Samson & Harris,1998; Botton et al., 2005).

Ensaios de pesquisa visando aomanejo integrado da pérola-da-ter-ra nos parreirais são rotineiramen-te executados na região do Meio-Oeste Catarinense. Ao longo dosanos, um acervo de dados de conta-gem desses insetos nas raízes deplantas de videira foi acumulado, demodo que é possível extrair dessesdados informações pertinentes àpredominância de faixas etárias emdeterminados períodos, bem comoda distribuição espacial da pérola-da-terra nos vinhedos, sendo essesos objetivos deste estudo.

Material e métodos

O estudo foi realizado mediantea compilação de registros de conta-gens de pérola-da-terra em raízesde videira, procedentes de ensaiosde pesquisa realizados na Epagri/Estação Experimental de Videira, emVideira, SC (27o00'14" latitude sul,51o09'00" longitude oeste e 774,9mde altitude) e na Linha Caravágio emTangará, SC (Tabela 1).

O procedimento adotado para acontagem de pérola-da-terra consis-tiu na prospecção de um certo volu-me de solo, estratificado ou não emprofundidades, mantendo a plantana posição central ou lateral, paraque a mesma não fosse eliminadano processo amostral. Dependendodo ensaio, também houve a conta-gem por classes de diâmetro deraízes. As plantas selecionadas paraas contagens normalmente esta-vam distribuídas pelos vinhedos,obedecendo à configuração experi-mental de cada ensaio.

Os cistos coletados foram sepa-rados por tamanho, obedecendo aoseguinte critério: cisto mínimo

(CMin) _ indivíduos menores que3mm de comprimento; cisto peque-no (CP) _ entre 3 e 4mm de compri-mento; cisto médio (CM) _ entre 5e 6mm de comprimento e cisto gran-de (CG) _ indivíduos com mais de7mm de comprimento. Ainda foramcontados separadamente os cistosde cor branca (CB) e as fêmeasambulatórias livres (FF), não im-portando o tamanho, com exceçãoda série EEV04A, na qual esta se-paração por tamanho foi feita.

Para efeito deste estudo, essasclasses de tamanho foram adotadaspara a classificação em estágios dedesenvolvimento dos indivíduos(idades). Assim, os cistos mínimosforam considerados de segundo ins-tar, os cistos pequenos, de terceiroinstar, os cistos médios, de quartoinstar, os cistos grandes, de quintoinstar e os cistos brancos e as fê-meas ambulatórias, os indivíduos,em tese, adultos. Os indivíduos deprimeiro instar seriam as ninfasmóveis que saem dos ovos. Porém,estas, pelas reduzidas dimensões,não foram registradas nas conta-gens de pérola-da-terra.

Para o estudo de distribuiçãoespacial, além dos registros de con-tagem estratificados por profundi-dade ou por classe de diâmetro deraízes, foram utilizados tambémregistros de contagem de presença/ausência de cistos nas raízes, obti-dos num ensaio de teste de porta-enxertos. Neste caso, não foiprospectado um volume específicode solo, mas apenas o suficientepara aferir a presença do inseto naplanta selecionada, não importan-do a quantidade.

Os registros foram transpostospara planilhas eletrônicas para aobtenção de estatísticas demográ-ficas, bem como a confecção de grá-ficos e ilustrações.

Resultados e discussão

As pirâmides etárias, de acordocom a época da amostragem, sãoapresentadas na Figura 1. Apenasum lado da pirâmide é mostrado,pois no cultivo de videira, no sul doBrasil, somente ocorrem as fêmeas(Botton et al., 2000). Os estágiosimaturos iniciais (CMin e CP) pre-

63Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

dominaram em quase todas as con-tagens, independentemente de lo-cal e ano. Apenas nas contagens nomês de dezembro é que o númerode adultos (CB e FF) tende a preva-lecer (Figura 1, séries EEV01B,EEV02A e EEV04A). Isso tambémocorre na população de Margarodesvitis (Philippi), a espécie de pérola-da-terra que surge nos vinhedoschilenos (González et al., 1969) e naespécie Eumargarodes laindiJakubski em cana-de-açúcar naAustrália (Samson & Harris, 1998).

Embora Soria & Dal Conte(2000) sustentem que a pérola-da-terra passe por apenas dois insta-res ninfais, anteriores ao adulto, aseparação dos indivíduos em cincoclasses distintas de tamanho permi-te supor que o inseto tenha maisinstares em seu desenvolvimento.Isso é corroborado por observações

rotineiras em estereomicroscópio,que permitem evidenciar mais es-tágios, principalmente pela conta-gem das placas anais liberadas nasecdises (trocas de pele). Botton etal. (2000) fazem menção a pelo me-nos três instares ninfais antes deos indivíduos atingirem o estágioadulto. Por certo, o tamanho de umúnico indivíduo não é suficientepara definir seu estágio de desen-volvimento, mas quando o tamanhodos indivíduos é analisado no âmbi-to de uma população de insetos, épossível inferir a quantidade de es-tágios de desenvolvimento que osindivíduos atravessam (Gullan &Cranston, 2000). Assim, é provávelque a pérola-da-terra passe por cin-co instares ninfais para atingir oestágio adulto. A definição precisado número de instares das espéciesde pérola-da-terra em condições con-

troladas é difícil, pois ainda não hácomo isolar indivíduos e mantê-losnas raízes para proceder às medi-ções corporais (Gallotti, 1976;Goidanich, 1977; Hickel & Botton,2005).

A parcela da população referen-te a cistos mínimos, pequenos emédios, nos meses de dormência davideira e nos que a antecedem, re-presenta em torno de 90% do totalde indivíduos. Segundo Hickel(1997), esses seriam os cistos quemanteriam a atividade biológicadurante o período hibernal e, por-tanto, aqueles que levariam ao es-gotamento nutricional das plantas,principalmente as jovens.

Não há registros de contagensnos meses de janeiro a março porser o período em que se processa areprodução da espécie, com predo-mínio de cistos com ovos e ninfas

Data da Volume Posição Nº de Cultivar PortaContagem(2) prospectado da planta plantas copa enxerto

EEV01A Videira IV/10/1992 Vaso de 2L Central(3) 10 Indefinida Pé-francoEEV01B Videira I/12/1993 Vaso de 2L Central(3) 10 Indefinida Pé-francoEEV02A Videira I/12/2003 0,05m3 Central 6 Niágara 043-43 e

P 1103EEV02B Videira II/4/2004 0,05m3 Central 24 Niágara 043-43 e

P 1103EEV02C Videira IV/6/2005 0,05m3 Central 32 Poloske e 043-43 e

Villenave P 1103EEV02D Videira IV/6/2006 0,05m3 Central 36 Poloske e 043-43 e

Villenave P 1103EEV03A Videira IV/5/2005 0,42m3 Lateral 20 Cabernet P 1103

SauvignonEEV03B Videira III/6/2007 0,42m3 Lateral 60 Cabernet P 1103

SauvignonEEV04A Videira II/12/1998 0,06m3 Central(3) 10 043-43 Pé-francoEEV05A Videira III/6/1995 1,20m3 Central(3) 3 Cardinal P 1103EEV06A Videira III/12/1996 Presença/ Central 48 Cabernet

ausência Sauvignone Niágara Diversos

TGA01A Tangará III/5/2004 0,10m3 Lateral 20 Niágara P 1103TGA01B Tangará IV/5/2005 0,10m3 Lateral 15 Niágara P 1103

Tabela 1. Detalhamento metodológico dos registros de contagem de pérola-da-terra em raízes de videira,procedentes de ensaios de pesquisa realizados em Videira e Tangará, SC

(1)Códigos com a fração numeral igual são do mesmo vinhedo ou local.(2)Os algarismos romanos referem-se à semana de início da contagem no respectivo mês e ano.(3)Todo o sistema radicular estava no volume prospectado (planta eliminada).Nota: os volumes prospectados de 0,42 e 1,20m3 foram estratificados em camadas de 0,2m até a profundidade de 0,8m.

Código(1) Local

64 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV02BMeados de abril de 2004

Série EEV02AInício de dezembro de 2003

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV02CFinal de junho de 2005

CMim

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV02DFinal de junho de 2006

Indivíduos(%)

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série TGA01AMeados de maio de 2004

Cla

sse

de ta

man

ho

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série TGA01BFinal de maio de 2005

Cla

sse

de ta

man

ho

Indivíduos(%)

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV03AFinal de maio de 2005

CMim

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV03BMeados de junho de 2007

Indivíduos(%)

CMim

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV04AMeados de dezembro de 1998

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV01AFinal de outubro de 1992

Cla

sse

de ta

man

ho

CMin

CP

CM

CG

CB

FF

0 20 40 60 80

Série EEV01BInício de dezembro de 1993

Cla

sse

de ta

man

ho

Figura 1. Pirâmides etárias da população de pérola-da-terra referentes às séries de contagem de indivíduosnos vinhedos. A linha fina ao final das barras corresponde ao erro padrão

65Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

de primeiro e segundo instares(Botton et al., 2000). Os cistos comovos rompem-se com facilidadequando o solo é revolvido e as ninfassão pequenas e numerosas, o queaumenta consideravelmente o tem-po de prospecção dos indivíduos.Também não há contagens em agos-to, setembro e novembro, porquenão houve avaliação de experimen-tos nesses meses.

As estatísticas demográficas re-ferentes aos registros de contagemde pérola-da-terra estão listadas naTabela 2. A série EEV05A, por sercomposta por apenas três plantas,não foi utilizada para a obtenção dasestatísticas demográficas. De ma-neira geral, há muita variabilidadeno número de indivíduos contadosnas plantas para uma mesma sérieamostral, o que resulta em valoresde erro padrão muito próximos ousuperiores à média. Essa variabili-dade pode ser percebida tambémpela discrepância entre os valoresmáximos e mínimos das contagens(intervalo). Isso parece ser uma ca-racterística comum em áreas infes-tadas pela pérola-da-terra eperturbadora dos resultados de pes-quisa do controle do inseto(Gonzales et al., 1969; Hickel et al.,2004).

A comparação entre a média e amediana permite verificar a ten-dência de predomínio da população.Os casos em que a mediana é supe-rior à média resultam da ocorrên-cia de poucas contagens mínimas ex-tremas, de modo que a tendência éde populações maiores nas plantas.O inverso ocorre quando a média ésuperior à mediana, prevalecendopopulações menores nas plantas.

Tal como verificado nas popula-ções de M. vitis (Gonzales et al.,1969), intensa mortalidade pareceocorrer entre as mudanças de está-gio de desenvolvimento do E.brasiliensis, pois as populações dosestágios iniciais não tendem a serepetir nos estágios finais, princi-palmente quando se analisa o nú-mero máximo de indivíduos. Espe-ravam-se populações maiores de cis-tos grandes nas contagens efetuadasno mês de dezembro, porém osmáximos atingiram apenas 16, 20

e 69 indivíduos, nas séries EEV01B,EEV04A e EEV02A, respectivamen-te. Por certo, uma parcela de cistosgrandes é contada entre os cistosbrancos, porém outros tamanhos decistos também compõem a classe decistos brancos (Tabela 3). Isso sedeve à neotenia, um fenômeno bio-lógico comum em cochonilhas, emque as fêmeas imaturas têm capa-cidade reprodutiva. Assim, a perdade indivíduos que não atingem ocompleto desenvolvimento é com-pensada pela capacidade de repro-dução dos imaturos (Gullan &Kosztarab, 1997).

Fêmeas ambulatórias livres (FF)também ocorrem nas diferentesclasses de tamanho (Tabela 3), po-rém a população dessas fêmeas épequena, não ultrapassando, emmédia, a 6% do total de indivíduosna série EEV04A (na qual mais des-sas fêmeas foram contadas). Nessasérie, o máximo de fêmeas livrescontadas correspondeu a 16,13% dosindivíduos. Hickel & Schmitt (1997)obtiveram, em laboratório, cerca de25% de fêmeas ambulatórias de umadada população de cistos, uma por-centagem maior, provavelmentedevida à manipulação dos indiví-duos em laboratório. Em M. vitis,Gonzales et al. (1969) obtiveram 8%a 9% de fêmeas ambulatórias livrese para E. laingi, cerca de 10% defêmeas livres se verificam no pe-ríodo de reprodução da espécie(Samson & Harris, 1998).

A menor população encontradafoi de seis cistos numa planta dasérie amostral EEV03A, situadanum vinhedo de CabernetSauvignon enxertada sobre Paulsen1103. A maior população foi de 779cistos, numa planta da sérieEEV04A, um porta-enxerto 043-43que vegetava num volume de sololimitado a 0,06m3 por lona plástica.Sem limite para o crescimento dasraízes, as populações de pérola-da-terra por planta podem ser bemsuperiores. Numa planta da sérieEEV02C, cultivar Poloske enxerta-da sobre o porta-enxerto 043-43,obtiveram-se 709 cistos num volu-me de solo de apenas 0,05m3 (0,5mx 0,5m x 0,2m). Panizzi & Noal(1971) relatam a contagem de 464

insetos numa planta de figueira,numa prospecção que também nãoultrapassou 20cm de profundidade.

A concentração subsuperficial dapopulação de pérola-da-terra já foiverificada anteriormente, sendo afaixa de 5 a 30cm de profundidadereportada como preferencial para aocorrência dos indivíduos (Panizzi& Noal, 1971; Botton et al., 2000).Os registros de contagem de péro-la-da-terra analisados neste estudoestão de acordo com estes relatos,pois cerca de 65% a 80% da popula-ção de cistos foi encontrada na ca-mada de zero a 20cm de profundi-dade (Tabela 4). Conforme alertamPanizzi & Noal (1971), a menor po-pulação nas camadas profundas dosolo se deve também à escassez ouausência de raízes nessas camadase não apenas à preferência do inse-to pelas porções superficiais. E.laingi também predomina superfi-cialmente (na camada de zero a20cm), ao passo que M. vitis ePromargarodes spp. tendem a ocor-rer mais profundamente, com pre-dominância entre 20 e 40cm de pro-fundidade (Gonzales et al., 1969;Samson & Harris, 1998).

O maior percentual de cistos(68,86%) foi obtido de raízes comdiâmetro entre 2 e 5mm (Tabela 5),o que contrasta com as informaçõesreportadas por Mariconi & Zamith(1973), de que a pérola-da-terra sefixa preferencialmente em raízescom diâmetro de um lápis (7 a8mm). Essa informação genéricatalvez tenha por base a prospecçãodo inseto em outros hospedeiros deraízes mais grossas, como hortali-ças e frutíferas em geral.

Nos vinhedos codificados EEV02e TGA01, bem como naquele emque se procedeu à amostragem depresença/ausência (EEV06) (Figura2), o inseto estava distribuído portoda a área. Isso provavelmente sedeve ao tempo de cultivo dos vinhe-dos, que na EEV ultrapassavammais de 10 anos de idade. Esse tem-po teria sido suficiente para a péro-la-da-terra se dispersar por toda aárea (Soria & Gallotti, 1986; Samson& Harris, 1998).

A ampla distribuição do insetonas áreas dos parreirais é uma das

66 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Tabela 2. Estatísticas demográficas referentes aos registros de contagem da pérola-da-terra de acordo com asclasses de tamanho dos indivíduos

(1)CG = > 7mm de comprimento; CM = 5 a 6mm; CP = 3 a 4mm e CMin = < 3mm. CB = cistos brancos e FF = fêmeas ambulatórias.(2)Não foi possível obter outras estatísticas pois os valores foram registrados pela soma de dez plantas analisadas.(3)Valor mínimo e valor máximo de indivíduos contados na respectiva classe de tamanho.

Classe de tamanho(1)

CG CM CP Cmin CB FFEEV01A(2) Indivíduos 12 35 85 175 4 5 316

Média 1,20 3,50 8,50 17,50 0,40 0,50 31,60EEV01B(2) Número 16 29 91 60 56 5 257

Média 1,60 2,90 9,10 6,00 5,60 0,50 25,70EEV04A Indivíduos 73 172 286 385 771 86 1.773

Intervalo(3) 0 a 20 2 a 76 9 a 130 6 a 183 3 a 340 1 a 38 23 a 779Mediana 6,00 39,00 70,50 94,50 171,50 19,50 401,00Média 7,30 17,20 28,60 38,50 77,10 8,60 177,30Erro padrão 5,93 21,61 36,33 52,63 100,78 11,90 217,90

EEV02A Indivíduos 171 238 154 146 281 19 1.009Intervalo 2 a 69 14 a 120 1 a 105 4 a 69 26 a 74 0 a 7 57 a 418Mediana 36,00 62,00 53,00 36,50 46,50 3,50 237,50Média 28,50 39,67 25,67 24,33 46,83 3,17 168,17Erro padrão 29,60 46,15 39,89 15,77 15,77 2,86 140,26

EEV02B Indivíduos 189 279 361 735 158 0 1.722Intervalo 0 a 28 1 a 35 3 a 43 2 a 92 0 a 19 0 11 a 167Mediana 13,50 13,00 21,00 36,50 5,00 0,00 89,00Média 7,88 11,63 15,04 30,63 6,58 0,00 71,75Erro padrão 7,98 8,12 10,76 22,49 5,87 0,00 45,13

EEV02C Indivíduos 54 184 1.095 2.773 0 0 4.106Intervalo 0 a 11 1 a 22 6 a 181 8 a 511 0 0 19 a 709Mediana 1,50 8,50 94,50 259,50 0,00 0,00 364,00Média 1,69 5,75 34,22 86,66 0,00 0,00 128,32Erro padrão 2,74 5,54 40,47 110,92 0,00 0,00 153,84

EEV02D Indivíduos 53 256 1.275 3.498 0 0 5.082Intervalo 0 a 12 0 a 34 5 a 193 3 a 466 0 0 10 a 569Mediana 0,00 4,50 50,50 234,50 0,00 0,00 289,50Média 1,47 7,11 35,42 97,17 0,00 0,00 141,17Erro padrão 2,29 6,64 43,94 111,05 0,00 0,00 151,36

EEV03A Indivíduos 34 218 308 333 17 0 910Intervalo 0 a 9 0 a 39 0 a 46 2 a 75 0 a 3 0 6 a 130Mediana 5,00 19,50 22,00 21,00 0,50 0,00 68,00Média 1,70 10,90 15,40 16,65 0,85 0,00 45,50Erro padrão 2,34 11,98 14,84 17,70 1,09 0,00 37,71

EEV03B Indivíduos 146 554 3.072 4.368 0 0 8.140Intervalo 0 a 7 1 a 22 13 a 126 16 a 172 0 0 33 a 299Mediana 1,00 7,00 64,00 94,00 0,00 0,00 166,00Média 2,43 9,23 51,20 72,80 0,00 0,00 135,66Erro padrão 1,84 5,41 23,72 33,92 0,00 0,00 56,07

TGA01A Indivíduos 197 607 724 566 0 0 2.094Intervalo 0 a 36 1 a 101 5 a 130 5 a 84 0 0 14 a 319Mediana 6,00 18,50 23,00 23,50 0,00 0,00 71,00Média 9,85 30,35 36,20 28,30 0,00 0,00 104,70Erro padrão 9,66 28,74 35,73 20,59 0,00 0,00 87,90

TGA01B Indivíduos 160 432 807 1.093 3 0 2.495Intervalo 0 a 23 6 a 91 13 a 188 18 a 180 0 a 2 0 51 a 478Mediana 13,00 23,00 38,00 52,00 0,00 0,00 126,00Média 10,67 28,80 53,80 72,87 0,20 0,00 166,34Erro padrão 9,17 27,14 45,61 55,32 0,56 0,00 121,88

Código Medida Total

67Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

causas prováveis para os relatos deinsucesso ou dificuldade de implan-tação de novos vinhedos em áreasde replantio (Botton et al., 2000;2005). Isso também pode ser um fa-tor de ineficácia do controle quími-co. Uma vez que o custo financeirode controle da pérola-da-terra comos inseticidas sistêmicos neonico-tinoides é elevado, situando-se nafaixa de R$ 1.000,00 a R$ 1.800,00/ha (a preços de abril de 2008), o con-trole químico é feito de forma loca-lizada, procurando-se concentrar aaplicação nos focos de plantas comsintomas (Botton et al., 2000). Es-tando a praga distribuída por toda aárea, as porções do vinhedo que nãorecebem controle químico perma-necem infestadas, originando indi-víduos que se dispersam para asáreas onde o controle foi efetuado.Assim sendo, alternativas de con-trole da pérola-da-terra, menos one-rosas e que possam ser aplicadaspor toda a área dos vinhedos, aindasão necessárias.

Conclusão

Indivíduos de idades diferentesocorrem nas populações de pérola-da-terra durante o ano, com predo-mínio de indivíduos nos estágiosiniciais de desenvolvimento nosmeses de dormência da videira (abrila outubro) e nos que a antecedem.

Os indivíduos se concentram nacamada de solo de zero a 20cm deprofundidade, em raízes com diâme-tro entre 2 e 5mm.

Tabela 3. Estatísticas demográficas de cistos brancos e fêmeas ambulatórias da série EEV04A de acordo com asclasses de tamanho

(1)Valor mínimo e valor máximo de indivíduos contados na respectiva classe de tamanho.

Cisto branco Fêmea ambulatória

Grande Médio Pequeno Grande Média PequenaIndivíduos 329 322 120 16 32 38Porcentagem 42,67 41,76 15,56 18,60 37,21 44,19Intervalo(1) 0 a 150 2 a 152 0 a 78 0 a 3 0 a 16 0 a 19Mediana 19,50 14,00 3,50 2,00 2,00 1,00Média 32,90 32,20 12,00 1,60 3,20 3,80Erro padrão 35,26 35,26 23,69 1,26 4,59 6,23

Medida

Tabela 4. Estatísticas demográficas referentes aos registros de contagemda pérola-da-terra de acordo com as classes de profundidade do solo

(1)Em cinza, sem raízes na camada.(2)Valor mínimo e valor máximo de indivíduos contados na respectiva classe deprofundidade.(3)Série de apenas três plantas analisadas não gera mediana.

Profundidade0 a 20 20 a 40 40 a 60 60 a 80(1)

............................. cm ...........................EEV03A Indivíduos 748 147 15 0

Porcentagem 82,20 16,15 1,65 0,00Intervalo(2) 5 a 123 0 a 33 0 a 8 0Mediana 19,50 1,50 0,00 0,00Média 37,40 7,35 0,75 0,00Erro padrão 37,41 10,55 1,89 0,00

EEV03B Indivíduos 6.462 1.572 115Porcentagem 79,30 19,29 1,41Intervalo 17 a 245 0 a 82 0 a 26Mediana 95,00 23,50 0,00Média 107,70 26,20 1,92Erro padrão 49,64 18,18 4,70

EEV05A(3) Indivíduos 1.398 587 139 8Porcentagem 65,57 27,53 6,52 0,38Intervalo 382 a 575 82 a 418 10 a 78 0 a 8Média 466,00 195,67 46,33 2,67Erro padrão 98,90 192,56 34,24 4,62

Código Medida

Diâmetro de raiz

> 5 2 a 5 < 2............................ mm ................................

Indivíduos 264 1.442 388Porcentagem 12,61 68,86 18,53Intervalo(1) 0 a 73 5 a 192 1 a 87Mediana 9,50 54,00 9,50Média 13,20 72,10 19,40Erro padrão 16,03 55,74 25,54

Tabela 5. Estatísticas demográficas de contagem da pérola-da-terra da sérieTGA01A de acordo com as classes de diâmetro de raiz

(1)Valor mínimo e valor máximo de indivíduos contados na respectiva classe dediâmetro de raiz.

Medida

68 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Literatura citada

1. ALL, J.N.; J.D. DUTCHER. Subsurfaceand surface insecticide applications tocontrol subterranean larvae of thegrape root borer. Journal of EconomicEntomology, v.70, n.5, p.649-652, 1977.

2. BOTTON, M.; HICKEL, E.R.; SORIA,S.J; et al. Pérola-da-terra Eurhizo-coccus brasiliensis (Hemiptera:Margarodidae) na cultura da videira:medidas para evitar a dispersão e ma-nejo em áreas infestadas. In: REU-NIÃO SUL-BRASILEIRA SOBREPRAGAS DE SOLO, 9., 2005, Balneá-rio Camboriú, SC. Anais e ata... Itajaí:Epagri, 2005. p.43-48.

3. BOTTON, M.; HICKEL, E.R.; SORIA,S.J; et al. Bioecologia e controle dapérola-da-terra Eurhizococcus brasi-liensis (Hempel, 1922) (Hemiptera:Margarodidae) na cultura da videira.Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vi-nho, 2000. 23p. (Embrapa Uva e Vi-nho. Circular Técnica, 27).

4. DAL BÓ, M.A. Alternativas de manejopara o controle do declínio da videira.

Cabernet Niágara

- Planta não examinada - Planta examinada sem pérola-da-terra - Planta com pérola-da-terra sem sintomas nas folhas

- Planta com pérola-da-terra e sintomas nas folhas

In: ENCONTRO NACIONAL SOBREFRUTICULTURA DE CLIMA TEMPE-RADO, 9, 2006, Fraiburgo, SC. Anais...Caçador: Epagri, 2006. v.1, p.183-189.

5. GALLOTTI, B.J. Contribuição para oestudo da biologia e para o controlequímico do Eurhizococcus brasiliensis(Hempel, 1922). 1976. 63f. Dissertação(Mestrado) - Universidade Federal doParaná, 1976.

6. GOIDANICH, A. Sviluppo postem-brionale dei due sessi del Neomar-garodes europaeus Goidanich 1969(Hemiptera: Coccoidea). Bollettinodell'Istituto di Entomologia dellaUniverstà di Bologna, v.31, p.269-323,1977.

7. GONZÁLES, R.H.; KIDO, H.; MARÍN,A.; et al. Biología y ensayos prelimina-res de control del margarodes de la vid,Margarodes vitis (Philippi). Agricultu-ra Técnica, v.29, n.3, p.93-122, 1969.

8. GULLAN, P.J.; CRANSTON, P.S. Theinsects: An outline of Entomology.Oxford: Blackwell Science, 2000. 470p.

9. GULLAN, P.J.; KOSZTARAB, M.

Adaptations in scale insects. AnnualReview of Entomology, v.42, p.23-50,1997.

10. HICKEL, E.R. Alteração do ciclo devida da pérola-da-terra (Eurhizococcusbrasiliensis) em laboratório. In: REU-NIÃO SUL-BRASILEIRA DE INSE-TOS DO SOLO, 4., 1993, Passo Fundo,RS. Anais e ata... Passo Fundo:Embrapa - CNPT/SEB, 1997. p.167-168.

11. HICKEL, E.R.; BOTTON, M. Pesquisacom a pérola-da-terra Eurhizococcusbrasiliensis - desafios e frustrações. In:REUNIÃO SUL-BRASILEIRA SOBREPRAGAS DE SOLO, 9., 2005, Balneá-rio Camboriú, SC. Anais e ata... Itajaí:Epagri, 2005. p.35-42.

12. HICKEL, E.R.; SCHMITT, A.T.Prospecção do controle de pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis(Hempel), com nematódeos entomo-patogênicos, Steinernema carpocapsaeAll, In: REUNIÃO SUL BRASILEIRASOBRE PRAGAS DE SOLO, 6., SantaMaria, 1997. Anais e ata... Santa Ma-ria: UFSM, 1997. p.103-105.

13. HICKEL, E.R.; SCHUCK, E.; ROSA,Ê. L. et al. Uso da abamectina em pul-verização foliar para o controle da pé-rola-da-terra (Eurhizococcus brasi-liensis) em videira. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE FRUTICULTURA,18., 2004 Florianópolis, SC. Anais...Florianópolis: SBF, 2004. CD-ROM.

14. MARICONI, F.A.M.; ZAMITH, A.P.L.Contribuição para o conhecimento dosMargarodinae (Homoptera: Marga-rodidae) que ocorrem no Brasil. Anaisda Sociedade Entomológica do Bra-sil, v.2, n.1, p.86-101, 1973.

15. PANIZZI, A.R.; NOAL, A.C. Eurhi-zococcus brasiliensis (Hempel, 1922)disseminação no município de PassoFundo. Passo Fundo: Universidade dePasso Fundo; Ipeplan, 1971. 34p.

16. SAMSON, P.R.; HARRIS, W.J.Seasonal phenology and distribution insoil in sugarcane fields of the pinkground pearl, Eumargarodes laingiJakubstki, with notes on Promar-garodes spp. (Hemiptera: Marga-rodidae). Australian Journal ofEntomology, v.37, p.130-136, 1998.

17. SORIA, S.J.; DAL CONTE, A.F.Bioecologia e controle das pragas davideira no Brasil. Entomologia yVectores, v.7, n.1, p.73-102, 2000.

18. SORIA, S.J.; GALLOTTI, B.J. Omargarodes da videira Eurhizococcusbrasiliensis (Homoptera: Margaro-didae): biologia, ecologia e controle noSul do Brasil. Bento Gonçalves:Embrapa-CNPUV, 1986. 22p. (Em-brapa - CNPUV. Circular Técnica, 13).

Figura 2. Croqui de área experimental codificada EEV06A, com amarcação de plantas com a presença ou não de pérola-da-terra nasraízes e eventualmente sintomas nas folhas

69Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Crescimento inicial de espécies vegetais na presençaCrescimento inicial de espécies vegetais na presençaCrescimento inicial de espécies vegetais na presençaCrescimento inicial de espécies vegetais na presençaCrescimento inicial de espécies vegetais na presençados herbicidas imazapyr + imazapic em águados herbicidas imazapyr + imazapic em águados herbicidas imazapyr + imazapic em águados herbicidas imazapyr + imazapic em águados herbicidas imazapyr + imazapic em água

José Alberto Noldin1, Fátima Teresinha Rampelotti2, Mariane D. Rosenthal3 e Jesus Juarez O. Pinto4

Resumo _ O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento inicial de espécies vegetais visando selecionaraquelas mais adequadas para uso como indicadoras da presença dos herbicidas imazapyr + imazapic, em água. Asespécies avaliadas foram rabanete, tomate, pepino, sorgo, feijão e as cultivares de arroz Cypress CL, IRGA 422 CLe IRGA 417. As concentrações de herbicidas foram zero, 1, 10, 100 e 1.000μg/L da formulação WG do herbicidacodificado como BAS 714 (imazapyr + imazapic), utilizando o sistema de produção de mudas “floating”. As avalia-ções foram realizadas aos sete e 14 dias após a semeadura (DAS), sendo determinados a fitomassa seca total e ocomprimento do sistema aéreo e da raiz principal das plântulas. Todas as espécies testadas têm o desenvolvimen-to inicial de plântulas afetado pelo herbicida BAS 714. As melhores bioindicadoras da presença do herbicida emsolução são as cultivares de arroz IRGA 417 e IRGA 422 CL, rabanete, tomate, pepino e sorgo, por apresentaremsuscetibilidade a partir das concentrações mínimas avaliadas. As variáveis avaliadas (produção de fitomassa seca,comprimento do sistema aéreo e comprimento da raiz principal) são adequadas para a avaliação da presença doherbicida BAS 714 em água. Aos 14 DAS, as plantas expressam de forma mais evidente os sintomas do herbicida.Termos para indexação: plantas bioindicadoras, imidazolinonas, arroz Clearfield.

Initial growth of different plant species with herbicidesimazapyr + imazapic in water solution

Abstract _ The objective of this research was to evaluate the initial growth of different plant species in order toselect those that can be used as bioindicators of herbicides imazapyr + imazapic in water. The species evaluatedwere: radish, tomato, cucumber, sorghum, common beans, and rice (Cypress CL, IRGA 422 CL and IRGA 417).The experiment was accomplished using the floating system for seedling production. The following herbicideconcentrations were tested: control, 1, 10, 100, and 1,000μg/L of BAS 714 GD (imazapyr + imazapic). The parametersevaluated included dry weight biomass, root length and plant height at seven and 14 days. All the species and ricecultivars tested showed injured symptoms due to the herbicide residue in water. The best species to detectimazapyr + imazapic residue in water were rice, cvs. IRGA 417 and IRGA 422 CL, radish, cucumber, tomato andsorghum. These species are sensitive to the herbicides even at the minimum tested concentrantions specially at14 DAS.Index terms: bioindicators, imidazolinone, Clearfield rice.

Aceito para publicação 9/9/08.1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5217, e-mail:[email protected]óloga, M.Sc., Esalq/USP/Departamento de Entomologia, C.P. 09, 13418-900 Piracicaba, SP, fone: (19) 3429-4199, e-mail:[email protected]. agr., Dra., UFPel/Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/Departamento de Fitossanidade, C.P. 354, 96010-900 Pelotas,RS, fone: (53) 3275-7383, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., UFPel/Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/Departamento de Fitossanidade, e-mail:[email protected].

70 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

O arroz-vermelho (Oryza sativaL.) caracteriza-se como uma dasprincipais plantas daninhas das la-vouras de arroz irrigado, especial-mente no Rio Grande do Sul e emSanta Catarina. O controle seletivodessa planta tem-se apresentadocomo alternativa para minimizar osprejuízos ocasionados à cultura; issoé possível através do sistemaClearfield (CL) (Fleck et al., 2004),o qual consiste na utilização de umacultivar portadora do gene de resis-tência associada ao uso do herbicidaOnly® (imazethapyr + imazapic)(Croughan, 1994). Até o ano de2008, o herbicida Only®

(imazethapyr + imazapic) era o úni-co registrado no Brasil para uso nosistema CL (Brasil, 2008). No en-tanto, novas cultivares com maiorgrau de resistência aos mesmosherbicidas (imidazolinonas) vêmsendo desenvolvidas e, para tanto,novos herbicidas também têm sidoavaliados.

Os herbicidas imazapyr eimazapic pertencem ao grupo quí-mico das imidazolinonas e apresen-tam ação em pré e em pós-emer-gência sobre mono e dicotiledôneasanuais (Rodrigues & Almeida, 2005;Senseman, 2007). O mecanismo deação desses herbicidas consiste nainibição da enzima acetolactatosintase (ALS), interferindo na rotade síntese dos aminoácidos de ca-deia ramificada (Stidham, 1991;Senseman, 2007).

O efeito residual dos herbicidasdo grupo das imidazolinonas, depen-dendo das condições ambientais,pode ser superior a 1 ano. O princi-pal mecanismo de degradação des-ses herbicidas é pela ação de micror-ganismos (Goetz et al., 1990; Ávila,2005). Além disso, pode ocorrer de-gradação por fotólise. A ausência dedegradação, ou a diminuição desseprocesso, faz com que o produto per-maneça por mais tempo no ambien-te, podendo causar injúrias às cultu-ras em rotação ou sucessão (Monks& Banks, 1991) ou culturas vizinhassob irrigação, quando esses resíduospermanecem em ambientes aquáti-cos (Felix & Doohan, 2005).

Com a intensificação do uso da

tecnologia CL no manejo do arroz-vermelho, torna-se primordial acondução de estudos maisaprofundados sobre o comporta-mento ambiental desses herbicidas.Esses estudos podem estar basea-dos em métodos analíticos, como acromatografia, ou em bioensaioscom espécies bioindicadoras sensí-veis e capazes de detectar tanto apresença de resíduos do ingredien-te ativo como de seus metabólitos(Zhou & Wang, 2005). Lavy &Santelmann (1986) sugerem o usode bioensaios com plantas emsubstrato líquido como indicadoresda presença de herbicidas em água.

O uso de plantas comobioindicadoras da presença deherbicidas é citado por Gómez deBarreda et al. (1993), que testaramtomate como indicador da presençade quinclorac e bensulfuron emágua. Trabalhos recentes mostramque as plantas podem indicar a pre-sença de herbicida em água (Noldinet al., 2003; Zhou & Wang, 2005),no solo (Gazziero et al., 1997) e emexsudatos de raízes de eucalipto(Silva et al., 2004).

O objetivo deste trabalho foi ava-liar o crescimento inicial de espéciesvegetais visando selecionar aquelasmais adequadas para uso comoindicadoras da presença dos herbi-cidas imazapyr + imazapic em água.

Material e métodos

O bioensaio foi conduzido emcasa de vegetação, pertencente àUFPel/Faculdade de AgronomiaEliseu Maciel, no período de ja-neiro a fevereiro de 2005. As es-pécies testadas foram: rabanete(Rhaphanus sativus), cultivarSparkler, tomate (Lycopersicumesculentum), cultivar SM 16, pepi-no (Cucumis sativus), cultivar Es-meralda tipo Caipira, sorgo(Sorghum bicolor), cultivar BR 304,feijão (Phaseolus vulgaris), cultivarExpedito, e três cultivares de arroz(Oryza sativa), duas pertencentesao sistema Clearfield (Cypress CLe IRGA 422 CL) e uma cultivar con-vencional (IRGA 417).

A semeadura foi realizada embandejas alveoladas de poliestirenoexpandido, utilizando-se três se-

mentes por alvéolo com substratocomercial Plantmax (HortaliçasHT). Após a semeadura, as bande-jas foram acondicionadas em caixasplásticas com a solução herbicida,utilizando o sistema de produção demudas “floating” para condução dobioensaio. Aos 7 DAS, procedeu-seao desbaste, mantendo-se apenasuma plântula por alvéolo. As con-centrações herbicidas avaliadas fo-ram: zero, 1, 10, 100 e 1.000μg/L,da formulação WG da combinaçãodos herbicidas imazapyr (525g/L) eimazapic (175g/L), codificada comoBAS 714 WG.

As avaliações de crescimento dasplântulas foram realizadas por meioda coleta de cinco plântulas, aos 7 e14 DAS, sendo adotados como va-riáveis o comprimento da parte aé-rea e da raiz e a fitomassa seca to-tal de plântulas. A fitomassa seca foideterminada em estufa à tempera-tura de 70oC até massa constante.

O delineamento experimentaladotado foi o inteiramente casua-lizado, composto por três repetiçõespara cada concentração. Cada repe-tição foi composta por pelo menosdez plântulas. A análise de variânciafoi realizada usando o software es-tatístico Wintast (versão 2.0) (Ma-chado, 2003). Utilizou-se o modelode Harris com a equação Y = 1/(a+bxc), onde: Y = resposta doparâmetro avaliado (por exemplofitomassa seca ou crescimento deplântulas), a, b e c = coeficientes dedeterminação calculados pelo pro-grama e, x = concentração doherbicida. Esse modelo foi adotadopara se estimar as regressões nãolineares dos parâmetros observados,utilizando-se o software CurveExpert v. 1.3 (Hyams, 2008).

Resultados e discussão

As plântulas de arroz da cultivarCypress CL apresentaram baixasensibilidade aos herbicidas ima-zapyr + imazapic até a concentra-ção de 10μg/L. Nas avaliações rea-lizadas aos 7 e 14 DAS ocorreu re-dução acentuada na fitomassa secaa partir da concentração de 10μg/L(Figura 1A). Para o comprimentodo sistema aéreo, observaram-se

71Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

(1)DAS = dias após a semeadura.Figura 1. Fitomassa seca de plântulas de (A) arroz das cultivares Cypress CL ( e ), (B) IRGA 422 CL (X) e (C)IRGA 417 ( ) e (D) rabanete ( e ) aos 7 e 14 DAS, sob o efeito de diferentes concentrações dos herbicidas(imazapyr + imazapic). Pelotas, 2007

*

A

B

C

Fit

omas

sa s

eca

(g)

D

Concentração do herbicida (μμμμμg/////L)

7 DAS(1) 14 DAS

72 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

reduções a partir das concentraçõesde 10μg/L e 100μg/L, respectivamen-te, aos 7 e 14 DAS (Tabela 1). A bai-xa sensibilidade ao herbicida destacultivar certamente está relaciona-da às características da mesma, quefoi desenvolvida especificamentecomo tolerante ao herbicida BAS714 (Croughan, 1994).

A cultivar IRGA 422 CL, toleran-te ao herbicida Only® (imazethapyr+ imazapic), também pertencenteao grupo químico das imidazo-linonas, mostrou redução nafitomassa seca a partir da concen-tração de 1μg/L aos 7 DAS. No en-tanto, aos 14 DAS, a fitomassa secafoi reduzida significativamente já naconcentração mínima avaliada de1μg/L (Figura 1B). O comprimentodo sistema aéreo da cultivar IRGA422 CL foi afetado negativamente apartir da concentração de 1μg/L aos

7 DAS sendo que aos 14 DAS, a con-centração mínima avaliada tambémafetou significativamente o compri-mento do sistema aéreo (Tabela 1).A cultivar IRGA 417, de conhecidasuscetibilidade ao herbicida, nestecaso não foi menos sensível que acultivar IRGA 422 CL. A IRGA 417também mostrou, em ambas as ava-liações, menor acúmulo defitomassa seca, e menor compri-mento do sistema aéreo e raiz prin-cipal, em relação à testemunha semherbicida, já na concentração de1μg/L (Figura 1C e Tabela 1).

Para o rabanete, as reduções noacúmulo de fitomassa seca (Figura1D) e no comprimento do sistemaaéreo e raiz principal (Tabela 2) fo-ram evidentes na concentração de1μg/L na solução em ambas as ava-liações. Também foi observado, aos14 DAS, que o comprimento da raiz

principal das plantas de rabanete foiseveramente afetado no tratamen-to com apenas 1μg/L de herbicidaem solução (Tabela 2).

Nos primeiros 7 DAS, através dafitomassa seca e comprimento dosistema aéreo, não foi detectada ainterferência do herbicida imazapyr+ imazapic no crescimento e desen-volvimento das plantas de tomate.Aos 14 DAS, a fitomassa seca foireduzida na concentração de 1μg/Ldo herbicida BAS 714 (Figura 2A).O comprimento da raiz das plântulasde tomate foi reduzido na concen-tração de 1 e 10μg/L, respectivamen-te, aos 7 e 14 DAS (Tabela 2). Gómezde Barreda et al. (1993) utilizaramplantas de tomate como bioin-dicadoras da presença de resíduosde bensulfuron e quinclorac emágua, observando efeito negativo apartir de concentrações de 1 e

Tabela 1. Comprimento da parte aérea e raiz das cultivares de arroz Cypress CL, IRGA 422 CL e IRGA 417, aos7 e 14 DAS, sob diferentes concentrações em solução dos herbicidas imazapyr + imazapic. Pelotas, 2007

(1)DAS = dias após a semeadura.(2)Equação de regressão não linear segundo modelo de Harris (Hyams, 2008).

Concentração Comprimento da parte aérea Comprimento da raiz

7 DAS(1) 14 DAS 7 DAS 14 DAS

mg/L ..................................................... cm .....................................................

0 7,12 18,06 10,17 17,131 7,82 17,37 10,45 16,1510 6,21 17,24 8,08 13,96100 4,61 6,16 4,41 5,161.000 0,00 0,00 0,00 0,00Regressão(2) y = -0,757x2+2,80x+5,082 y = 1/(0,056+7,031x1,5914) y = 1/(0,097+0,0023x0,926) y = 1,245x2-10,39x+21,17R2 0,99 0,99 0,98 0,96

0 6,85 21,15 12,25 20,911 7,44 11,07 9,80 11,2310 2,96 3,69 5,11 4,14100 0,00 0,54 0,00 0,801.000 0,00 0,00 0,00 0,00Regressão y = 1/(0,140+0,0001x3,2532) y = 1/(0,047+0,0427x0,7373) y = 1/(0,083+0,0147x0,9467) y = 1/(0,0478+0,041x0,6928)R2 0,99 0,99 0,99 0,99

0 7,65 21,10 12,67 19,011 3,32 3,82 3,82 4,2110 1,05 2,37 2,04 2,10100 0,00 0,66 0,00 0,741.000 0,00 0,00 0,00 0,00Regressão y = 1/(0,131+0,1685x0,7350) y = 1/(0,047+0,2047x0,3649) y = 1/(0,079+0,1745x0,5039) y = 1/(0,053+0,1813x0,4159)R2 0,99 0,99 0,99 0,99

Cu

ltiv

ar

IRG

A 4

22 C

LIR

GA

417

Cy

pre

ss C

L

73Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

7 DAS(1) 14 DAS

A

B

C

D

Fit

omas

sa s

eca

(g)

Concentração do herbicida (μμμμμg/////L)

(1)DAS = dias após a semeadura.Figura 2. Fitomassa seca de plântulas de (A) tomate ( e ), (B) pepino ( ), (C) sorgo ( e ) e (D) feijão ( e ) aos7 e 14 DAS, sob o efeito de diferentes concentrações dos herbicidas (imazapyr + imazapic). Pelotas, 2007

- •

74 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

100μg/L, respectivamente. Resulta-dos demonstrando que o tomateiropode ser uma planta indicadora dapresença de herbicidas em água fo-ram reportados por Noldin et al.(2003). Esses autores testaram o to-mateiro como planta indicadora da

presença de quinclorac em soluçãoe observaram reduções de fitomassaseca e altura de plantas na concen-tração de 1μg/L.

O pepino foi uma das espéciesque se mostrou altamente sensívelao herbicida. O aumento da concen-

tração do herbicida reduziu afitomassa seca, o comprimento dosistema aéreo e o comprimento daraiz nas duas épocas de avaliação(Figura 2B e Tabela 2). Na avalia-ção realizada aos 14 DAS foi cons-tatada elevada redução na fitomassa

Tabela 2. Comprimento da parte aérea e raiz do rabanete, tomate, pepino, sorgo e feijão aos 7 e 14 DAS, sobdiferentes concentrações dos herbicidas (imazapyr + imazapic). Pelotas, 2007

Ra

ba

net

eT

om

ate

Pep

ino

So

rgo

(1)DAS = dias após a semeadura.(2)Equação de regressão não linear segundo modelo de Harris (Hyams, 2008).

Sp

p

Concentração Comprimento da parte aérea Comprimento da raiz

7 DAS(1) 14 DAS 7 DAS 14 DAS

mg/L .................................................... cm ......................................................

0 5,23 5,73 14,42 7,891 3,23 3,08 2,33 3,2310 2,81 2,59 1,69 2,56100 2,66 2,13 1,50 1,651000 2,13 0,00 0,89 0,00Regressão(2) y = 1/(0,191+0,119x0,1159) y = 1/(0,176+0,118x0,3149) y = 1/(0,069+0,361x0,1380) y = 1/(0,127+0,160x0,3044)R2 0,99 0,92 0,99 0,98

0 4,8 7,33 7,40 7,001 5,01 4,83 2,03 9,2010 4,62 4,01 1,39 1,91100 3,91 4,03 0,93 1,171000 4,49 3,67 1,13 1,55Regressão y = 1/(0,205+0,0088x0,1811) y = 1/(0,136+0,079x0,0831) y = 1/(0,135+0,387x0,1372) y = 1/(0,1234+0,0001x3,549)R2 0,33 0,98 0,99 0,88

0 7,75 12,47 12,69 25,991 6,49 7,16 4,18 4,3710 5,07 5,00 2,24 2,23100 4,27 4,51 1,07 1,441000 3,59 4,07 0,59 0,89Regressão y = 1/(0,128+0,034x0,2282) y = 1/(0,801+0,0694x0,1449) y = 1/(0,079+0,161x0,3541) y = 1/(0,038+ 0,195x0,2756)R2 0,98 0,98 0,99 0,99

0 7,59 18,26 21,61 25,951 5,80 5,89 10,59 11,4110 4,19 4,04 6,31 6,67100 2,57 3,13 3,78 5,001000 0,00 0,00 0,00 0,00Regressão y = 1/(0,134+0,032x0,5232) y = 1/(0,0547+0,108x0,2824) y = 1/(0,046+0,046x0,398) y = 1/(0,0385+ 0,0479x0,353)R2 0,97 0,99 0,99 0,99

0 11,79 14,99 15,41 25,291 12,45 15,27 16,49 20,1710 10,17 13,59 3,91 6,95100 6,53 13,84 2,27 5,831000 3,45 10,03 0,98 3,06Regressão y = 1/(0,081+0,0043x0,58) y = 1/(0,067+0,0004x0,5925) y = 1/(0,063+8,5613x3,3523) y = 1/(0,038+0,0166x0,5639)R2 0,98 0,92 0,97 0,94

Fei

jão

75Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

seca, comprimento do sistema aé-reo e comprimento da raiz tambémnas plântulas submetidas à concen-tração de 1μg/L da soluçãoherbicida. Os resultados deste tra-balho concordam com Gazziero etal. (1997), que estudaram o efeitode resíduo de imazethapyr, aplica-do em pós-emergência no solo, eidentificaram a sua presença no soloatravés da redução na altura daplanta e na fitomassa seca deplântulas de pepino. Silva et al.(2004) testaram as espécies pepinoe sorgo como indicadoras da presen-ça de imazapyr em exsudatos deraízes de eucalipto (Eucalyptusgrandis) e observaram que plantasde pepino são sensíveis à presençade resíduos de imazapyr no solo.Como o herbicida imazapyr é tam-bém um dos ingredientes ativos quecompõem o herbicida avaliado nes-te estudo, pode-se observar esseefeito sobre plântulas de pepino, asquais absorvem o produto direta-mente da solução.

A sensibilidade das plântulas desorgo ao herbicida BAS 714 foi ob-servada já aos 7 DAS. Na primei-ra avaliação houve redução nafitomassa seca, porém manifestadasomente a partir da concentraçãode 100μg/L. No entanto, aos 14DAS, essa redução ocorreu de for-ma acentuada já na concentração de1μg/L (Figura 2C). Adicionalmente,constatou-se que os parâmetroscomprimento do sistema aéreo e daraiz também foram afetados peloherbicida. Assim, as plantas desorgo mostraram-se boas bioin-dicadoras da presença do herbicidaBAS 714 em água, tanto na avalia-ção realizada aos 7 como aos 14 DAS(Figura 2C 2 Tabela 2).

O feijão mostrou-se sensível aoherbicida BAS 714. A fitomassa secafoi reduzida a partir da concentra-ção de 1μg/L, tanto aos 7 como aos14 DAS (Figura 2D). O comprimen-to do sistema aéreo e da raiz tam-bém foi reduzido com o aumento naconcentração herbicida de formasignificativa a partir da concentra-ção de 1μg/L (Tabela 2). No entan-to, proporcionalmente, o compri-mento da raiz principal foi mais afe-

tado que o comprimento do siste-ma aéreo.

Conclusões

• Todas as espécies testadas têmo desenvolvimento inicial deplântulas afetado pelo herbicidaBAS 714 (imazapyr + imazapic).

• As melhores bioindicadoras dapresença do herbicida BAS 714 emsolução são as cultivares de arrozIRGA 417 e IRGA 422 CL, rabanete,tomate, pepino e sorgo, especial-mente por apresentarem susce-tibilidade a partir das concentraçõesmínimas avaliadas.

• As variáveis avaliadas produ-ção de fitomassa seca, comprimen-to do sistema aéreo e comprimentoda raiz principal são adequadas paraa avaliação da presença do herbicidaBAS 714 em água.

• A avaliação realizada aos 14DAS é a mais indicada, pois as plan-tas expressam melhor os sintomasdo herbicida.

Literatura citada

1. ÁVILA, L.A. de. Imazethapyr: Red ricecontrol and resistance, and envi-ronmental fate. 2005. 81p. Tese (Dou-torado em Agronomia) - Texas A&MUniversity, College Station, Texas,USA, 2005.

2. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento. Sistemas deAgrotóxicos Fitossanitários (Agrofit).Disponível em: <www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 4 set. de 2008.

3. CROUGHAN, T.P. Application of tissueculture techniques to the developmentof herbicide resistant rice. LouisianaAgriculture, Baton Rouge, v.37, p.25-26, 1994.

4. FELIX, J.; DOOHAN, D.L. Responseof five vegetable crops to isoxaflutolesoil residues. Weed Technology,Lawrence, v.19, n.2, p.391-396, 2005.

5. FLECK, N.G.; NOLDIN, J.A.;MENEZES, V.G. et al. Manejo e con-trole de plantas daninhas em arroz ir-rigado. In: VARGAS, L.; ROMAN, E.S.(Eds.). Manual de manejo e controlede plantas daninhas. Bento Gonçal-ves: Embrapa Uva e Vinho, 2004. p.251-321.

6. GAZZIERO, D.I.P.; KARAN, D.; VOLL,

E. et al. Persistência dos herbicidasimazaquin e imazethapyr no solo e osefeitos sobre plantas de milho e pepi-no. Planta Daninha, Viçosa, v.15, n.2,p.162-169, 1997.

7. GÓMEZ DE BARREDA, D.;LORENZO, E.; CARBONELL, E.A. etal. Use of tomato (Lycopersiconesculentum) seedlings to detectbensulfuron and quinclorac residuesin water. Weed Technology, Lawrence,v.7, p.376-381, 1993.

8. GOETZ, A.J.; LAVY, T.L.; GBUR, E.E.Degradation and field persistence ofimazethapyr. Weed Science., Lawrence,v.38, n.6, p.421-428, 1990.

9. HYAMS, D. Curve expert 1.3. Disponí-vel em: <http://www.ebicom.net/~dhyams/cvxpt.htm> Acesso em: 16abr. 2008.

10. LAVY, T.L.; SANTELMANN, P.W.Herbicide bioassay as a research tool.In: CAMPER, N.D. Research Methodsin Weed Science. 3.ed., Champaing, IL,USA: SWSS, 1986. p.201-217.

11. MACHADO, A. Winstat 2.0. Pelotas,RS: UFPel/Departamento de Física eMatemática, 2003.

12. MONKS, C.D.; BANKS, P.A. Rotationalcrop response to chlorimuron,clomazone, and imazaquin applied theprevious year. Weed Science, Lawrence,v.39, n.4, p.629-633, 1991.

13. NOLDIN, J.A.; RAMPELOTTI, F.T.;EBERHARDT, D.S. et al. Plantasindicadoras do resíduo do herbicidaFacet em água. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO,3 e REUNIÃO DA CULTURA DO AR-ROZ IRRIGADO, 25., 2003. Anais...,Balneário Camboriú: Epagri, 2003.p.403-405.

14. RODRIGUES, B.N.; ALMEIDA, F.S. deGuia de Herbicidas. 5.ed., Londrina:Edição dos Autores, 2005. 592p.

15. SENSEMAN, S.A. Herbicide Hand-book, 9.ed. Lawrence, Weed ScienceSociety of America, 2007. p.82-86.

16. SILVA, C.M.M.; FERREIRA, L.R.;FERREIRA, F.A. et al. Root exudationof imazapyr by eucalypt cultivated insoil. Planta Daninha, Viçosa, v. 22, n.1,p.109-116, 2004.

17. STIDHAM, M.A. Herbicides that inhibitacetohydroxyacid synthase. WeedScience, Lawrence, v.39, n.3, p.428-434,1991.

18. ZHOU, X.; WANG, C. Biological andbiochemical detection techniques forglufosinate. Weed Science, Lawrence,v.54, n.3, p.413-418, 2005.

76 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

O cultivo da videira na região deUrussanga data do início da colo-nização italiana, há mais de 120anos. Inicialmente, foram cultiva-das videiras de castas europeias

Demanda hídrica e necessidade de irrigaçãoDemanda hídrica e necessidade de irrigaçãoDemanda hídrica e necessidade de irrigaçãoDemanda hídrica e necessidade de irrigaçãoDemanda hídrica e necessidade de irrigaçãoda videira para Urussanga, SCda videira para Urussanga, SCda videira para Urussanga, SCda videira para Urussanga, SCda videira para Urussanga, SC

Álvaro José Back1 e Emilio Della Bruna2

Resumo _ O trabalho objetivou avaliar a necessidade de irrigação na cultura da videira nas condições climáticasdo sul catarinense por meio do balanço hídrico seriado. Utilizaram-se as séries históricas da estação meteorológicade Urussanga (28o31' latitude sul, 49o19' longitude oeste, altitude de 49m) do período de 1981 a 2004. Aevapotranspiração de referência foi determinada pelo método de Penman-Monteith e, pelas simulações do balan-ço hídrico, determinaram-se as demandas hídricas e as necessidades de irrigação em períodos decendiais. Tam-bém foi simulado o balanço hídrico sem a irrigação, determinando-se o rendimento relativo. Com base nos resul-tados obtidos, conclui-se que o consumo de água da cultura da videira é da ordem de 335mm e que, mesmo sem airrigação, a produção da videira mantém média acima de 90% da produção máxima.Termos para indexação: déficit hídrico, agrometeorologia, balanço hídrico.

Water demand and need of irrigation for the grapevine in Urussanga, SC

Abstract _ The article aimed to evaluate the irrigation requirements for grapevine crops under the climaticconditions of the southern coast of the State of Santa Catarina, Brazil, through the serial water balance. Datafrom the meteorological station of Urussanga (latitude 28o31' S, longitude 49o19' W, altitude 49m) for the 1981-2004 period were used. Crop evapotranspiration reference was determined by Penman-Monteith's method.Simulations of water balance identified water demands and irrigation needs in 10-day periods. Water balancewithout irrigation was simulated to determine the relative grapevine crop production. The results showed thatwater consumption for grapevine crop was 335mm and, even without irrigation, the average grapevine cropproduction was above 90% of the potential production.Index terms: water deficits, agrometeorology, water balance.

Aceito para publicação em: 28/4/08.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Rodovia SC-446, km 19, C.P. 49, 88840-000 Urussanga,SC, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

que, devido à alta sensibilidade adoenças fúngicas, não se adaptaramàs condições locais. As variedadesde origem americana e híbridaintroduzidas no início do século pas-sado, assumiram um importantepapel na economia local, destacan-

do a região no cenário vitivinícolanacional e internacional. Atualmen-te, o cultivo de videira no sulcatarinense é direcionado à produ-ção de vinhos regionais e ao consu-mo da fruta in natura, abastecen-do todo o litoral catarinense nos

77Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

meses de dezembro e janeiro.A cultura da videira tem sua pro-

dução e qualidade afetadas tantopelo excesso como pelo déficithídrico. A água é um elemento fun-damental para o crescimentovegetativo e reprodutivo da videi-ra, para o seu funcionamento fisio-lógico e bioquímico, sendo um fatordeterminante no rendimento e qua-lidade das uvas e nas característi-cas dos vinhos (Carbonneau, 1998;Deloire et al., 2003; Ojeda et al.,2002 e 2005; Ávila Netto et al.,2000). O excesso hídrico combinadocom temperaturas elevadas torna acultura da videira muito suscetívela doenças fúngicas e pragas(Winkler et al., 1974). Teixeira &Azevedo (1996) comentam que, parauma boa produtividade da culturada videira, é recomendável que o de-senvolvimento vegetativo da plan-ta ocorra sob condições de déficithídrico e que as necessidadeshídricas de cada fase fenológica se-jam satisfeitas através da irrigação.

Em várias regiões do mundo uti-liza-se a irrigação da videira, prin-cipalmente para variedades demesa. Em climas árido e semiáridoa irrigação torna-se a principal fon-te de água para a cultura, enquan-to em outros locais ela pode ser usa-da de forma complementar à preci-pitação pluvial. Nessas condições, airrigação por si só não garante aprodução, pois os períodos com ex-cesso de precipitação também afe-tam a produção e a qualidade doproduto.

No sul catarinense praticamen-te toda a produção de videira é rea-lizada sem a irrigação, sendo a de-manda de água suprida somentepelas chuvas. Com as ocorrênciasde períodos de estiagens, levanta-se a hipótese de adotar sistemas deirrigação nos cultivos comerciais devideira. No entanto, não existeminformações sobre o consumo deágua e sobre a necessidade e viabi-lidade da irrigação para as condiçõeslocais.

Nas regiões de clima subtropical,a decisão de implantar o sistema deirrigação para a videira deve ser

definida por um estudo de viabili-dade econômica. A queda no rendi-mento causado pelo déficit hídricodepende da época de ocorrência eda intensidade desse déficit. O es-tudo do balanço hídrico de uma lon-ga série de dados é uma maneirade avaliar a necessidade da irriga-ção e auxiliar na decisão de adotaro sistema de irrigação.

O estudo do balanço hídrico re-quer dados da precipitação e daevapotranspiração da cultura (ETc),sendo esta dificilmente medida.Para se determinar a evapo-transpiração da cultura, é comumdeterminar, primeiramente, aevapotranspiração de referência(ETo) da região, multiplicando-aposteriormente por um coeficientede cultura (Kc) (ETc = ETo x Kc). Aevapotranspiração de referência(ETo) é calculada a partir dos dadosmeteorológicos e, como valores deKc, são utilizados os valores publi-cados na literatura especializada.Para a cultura da videira,Doorembos & Kassan (1994) e Allenet al. (1998) indicam valores de Kcigual a 0,30 para a fase inicial, 0,85para a fase intermediária, e 0,45para a fase final. Ávila Netto (1997)encontrou, para a cultivar Itália, sobirrigação por gotejamento, na Re-gião do Submédio São Francisco,valores de Kc variando de 0,62 parao período logo após a poda até o má-ximo de 0,74 no período de desen-volvimento das bagas. Teixeira etal. (1999) encontraram valores deKc variando de 0,62 após a poda até1,15 nos subperíodos de desenvol-vimento e maturação das bagas (80a 100 dias após a poda), e valores deKc de 0,65 próximo à colheita. Con-ceição & Maia (2001) encontraramvalores de Kc entre 0,2 e 1,1 paraNiágara Rosada (Vitis labrusca L.)irrigada por microaspersão na re-gião de Jales (SP). No início do de-senvolvimento vegetativo (após apoda), a área foliar é pequena e ovalor de Kc é função principalmen-te da evaporação de água no solo.Segundo Conceição (2003), em ge-ral, adotam-se nesta fase valores deKc entre 0,4 e 0,6. Do florescimento

até a colheita pode-se adotar um sóvalor de Kc para facilitar o manejoda irrigação, já que é comum den-tro de um mesmo parreiral existi-rem plantas em diferentes fases dedesenvolvimento. Nesta fase, pode-se considerar um Kc médio entre0,7 e 0,8 (Conceição & Maia, 2001).

Este trabalho teve como objeti-vo estimar o consumo de água e anecessidade de irrigação da culturada videira nas condições climáticasda região de Urussanga, SC.

Material e métodos

A região de Urussanga possuiclima, segundo a classificação deKöppen, do tipo mesotérmico, úmi-do com chuvas distribuídas ao lon-go do ano e verão quente (Cfa). Aprecipitação média anual é de apro-ximadamente 1.600mm, e a tempe-ratura média anual é de 19,4oC, va-riando de 14,6oC em julho a 24,1oCem fevereiro (Pandolfo et al., 2002).

Para a estimativa do consumo deágua foi realizado o balanço hídricodiário seriado proposto porThornthwaite e Mather, descritoem Pereira et al. (1997). Foram uti-lizados dados diários de temperatu-ra máxima e mínima do ar, umida-de relativa, velocidade do vento,insolação e precipitação na EstaçãoMeteorológica de Urussanga (28o31'latitude sul, 49O19' longitude oeste,altitude de 49m) do período de 1981a 2004.

A evapotranspiração de referên-cia (ETo) foi estimada pelo métodode Penman-Monteith conforme des-crito em Allen et al. (1998). Na au-sência de valores de Kc medidos naregião, foram considerados valoresmédios da Tabela 1, baseados nasobservações de Doorembos &Kassan (1994) e de Conceição & Maia(2001). A duração das fasesfenológicas foi baseada nos dadoscoletados nos experimentos de com-petição de cultivares e de avaliaçãode porta-enxertos conduzidos naEpagri/Estação Experimental deUrussanga.

Para abranger os diferentes ti-pos de solo com relação aos valores

78 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

de capacidade de campo, ponto demurcha permanente e profundida-de efetiva, foram considerados trêsvalores de capacidade de água dis-ponível (CAD), de 50, 75 e 100mm,respectivamente. Na simulação dobalanço hídrico com irrigação con-siderou-se o valor de água facilmen-te disponível (ADE) dado por:

ADE = CAD.p [1]

Em que p é fração de esgota-mento do solo, que varia com o tipode cultivo e a evapotranspiraçãomáxima do dia (Doorembos &Kassan, 1994). Sempre que eraatingido o valor de ADE, o modelosimulava a irrigação de uma lâmi-na para completar a CAD.

Para avaliar o efeito da estiagemsobre o rendimento da cultura davideira foram simulados os balan-ços hídricos sem a irrigação, ava-liando-se o déficit de evapo-transpiração relativa, dado pela re-lação entre a evapotranspiraçãoreal e a evapotranspiração máximada cultura. Para cada ano foi simu-lado o rendimento da cultura usan-do a relação expressa porDoorembos & Kassan (1994) como:

Em que: Ya = rendimento obti-do; Ym = rendimento máximo; ETr= evapotranspiração real; ETm =evapotranspiração máxima; Ky =coeficiente que relaciona a produ-ção com o déficit hídrico, adotadocomo 0,85 para a videira(Doorembos & Kassan, 1994).

Resultados e discussão

Na Tabela 2 encontram-se osvalores médios dos componentes dobalanço hídrico da videira em cadadecêndio. Como a precipitação é ofator que apresenta grande varia-ção, também foram incluídos os li-mites do intervalo de confiança paraa precipitação média (95%), calcu-lada assumindo que a chuvadecendial segue distribuição nor-mal. Observou-se que na maioriados decêndios os valores médios deETm são inferiores ao valor da pre-cipitação esperada em 95% do anos,com exceção dos decêndios 32 e 34.A necessidade de irrigação concen-tra-se no mês de novembro e deagosto até outubro, em que, na

maioria dos anos, ocorreu excessohídrico. No decêndio 32, quecorresponde ao período entre 11 e20 de novembro, observou-se a pre-cipitação média (35,8mm) quandoocorreu a maior demanda (35,5mm),indicando maior risco de déficithídrico nesse período, e, consequen-temente, quando se registram osmaiores valores de demanda de ir-rigação.

O consumo total de água estima-do para a cultura da videira foi de335,4mm. Este valor é próximo aocitado por Ávila Netto (1997), quemediu o consumo de água da culti-var Itália, sob irrigação porgotejamento, na Região doSubmédio São Francisco, obtendovalores da ordem de 333mm. O con-sumo hídrico de um parreiral é umafunção complexa dos balançoshídricos e de energia da superfíciecultivada (Heilman et al., 1994). Deacordo com Winckler et al. (1974),para parreirais na Califórnia, o con-sumo hídrico da videira durante oseu ciclo varia de 405 a 1.370mm,enquanto Doorembos & Kassan(1994) afirmam que, de maneirageral, as necessidades hídricas va-riam de 500 a 1.200mm, dependen-do do clima, do solo, da variedade edo manejo cultural.

A média da necessidade de irri-gação total durante o ciclo varioude 82,8mm para solos com CAD de50mm, 57,6mm para solo com CADde 75mm, e 43,5mm para solo comCAD de 100mm. No solo com CADde 75 e de 100mm a irrigação so-mente se fez necessária a partir dodecêndio 30, isto é, somente nosmeses de novembro e dezembro. Osvalores de irrigação encontradosrepresentam menos de 25% da de-manda hídrica, o que evidencia bemo caráter suplementar da irrigação.

A precipitação total durante ociclo foi de 711mm, o que represen-ta o dobro da demanda hídrica, evi-denciando que na maioria dos anoshá excessos hídricos. Essa observa-ção ressalta a necessidade de se ins-talar o pomar em solos com boa con-dição de drenagem e da preocupa-ção com o controle da erosão e oescoamento superficial.

(

Tabela 1. Valores decendiais de coeficiente de cultura (Kc) adotados para avideira nas condições de Urussanga, SC e fase fenológica

Mês Decêndio Kc Fase fenológica

Julho 19 0,3020 0,3021 0,30

Agosto 22 0,50 Poda23 0,5024 0,50

Setembro 25 0,50 Brotação26 0,5527 0,60 Plena flor

Outubro 28 0,6529 0,70 Grão chumbinho30 0,80

Novembro 31 0,90 Grão ervilha32 0,9033 0,85

Dezembro 34 0,8035 0,7036 0,60 Colheita

( )ETm) Ya = Ky ETr [2] Ym

1 - 1 -

79Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Na Figura 1 estão representadosos valores do número de irrigaçõespara cada ano nos diferentes valo-res de CAD. Observa-se que, paraos solos com CAD de 50mm, o nú-mero máximo de irrigações em 1ano foi de 7 com média de 3 irriga-ções por ano. Para os solos com CADde 75 e de 100mm, os valores mé-dios foram 1,5 e 0,9 irrigação porano, respectivamente. Em algunsanos não houve necessidade de ir-rigação, mesmo em solos com CADde 50mm. Esses dados são impor-tantes por confirmar que a irriga-ção é de caráter suplementar e deve-se dar menor importância à unifor-midade de aplicação da água do quenas regiões de clima seco. A implan-tação de pomares em solos profun-dos que favoreçam o enraizamentoé uma prática que diminui a neces-sidade de irrigação. SegundoDoorembos & Kassan (1994), a vi-deira é um cultivo permanente, po-

dendo-se ajustar, até certo ponto, aum fornecimento limitado de água,mediante o sistema radicular pro-fundo. A distribuição das raízes davideira depende do sistema de irri-gação e do tipo de solo, e pode atin-gir profundidades maiores que 1,2m(Soares & Nascimento, 1998; Bassoiet al., 2003). Segundo Soares &Bassoi (1995), 90% das raízes da vi-deira estão concentradas na cama-da de solo de zero a 30cm de pro-fundidade em Vertissolo sob siste-ma de irrigação localizada.

Na Tabela 3 estão os valoresanuais do balanço hídrico da videi-ra sem a irrigação. Observa-se que,para o solo com CAD de 50mm, odéficit hídrico variou de 3,4mm a72,7mm, com média de 31,5mm.Com os valores de déficit hídricoforam calculados os rendimentosrelativos para cada ano, usando aequação 2 e obtendo-se os valoresrepresentados na Figura 2. Obser-

vou-se que somente em 3 anos orendimento estimado foi abaixo de80% do rendimento máximo e, namaioria dos anos, o rendimento fi-cou acima de 90%. Mesmo sem airrigação o rendimento médio foi91,1%, 94,5% e 96,0% para soloscom CAD de 50, 75 e 100mm, res-pectivamente. Na estimativa do ren-dimento não estão incluídas as pos-síveis perdas por excesso hídrico.

Conclusões

• O consumo anual médio esti-mado de água da cultura da videiraé da ordem de 335mm.

• Os meses com maior necessi-dade de irrigação da videira são no-vembro e dezembro.

• Mesmo sem a irrigação, a pro-dução da videira mantém médiaacima de 90% da produção máxima.

• Os excessos hídricos são maisfrequentes que os déficits.

Tabela 2. Dados de precipitação média seguidos de intervalo com 95% de confiança (IC), evapotranspiração dereferência e máxima e necessidade de irrigação (mm) para diferentes valores de capacidade de água disponível(CAD), por decêndio, para a cultura da videira nas condições climáticas de Urussanga, SC

(1)ETo _ evapotranspiração de referência.(2)ETm _ evapotranspiração máxima.(3)Li _ limite inferior do intervalo com 95% de confiança para a média de 24 observações.(4)Ls _ limite superior do intervalo com 95% de confiança para a média de 24 observações.

Precipitação Evapotranspiração IrrigaçãoMédia IC (95%) ETo(1) ETm(2) CAD 50 CAD 75 CAD 100

Li(3) Ls(4)

........................................................... mm ......................................................................22 32,6 19,0 46,1 17,8 8,9 0,0 0,0 0,023 35,3 13,8 56,8 20,7 10,3 0,0 0,0 0,024 27,0 16,3 37,7 24,3 12,1 0,0 0,0 0,025 24,9 14,1 35,7 25,2 12,6 1,4 0,0 0,026 52,5 34,2 70,8 24,9 13,6 2,8 0,0 0,027 60,1 40,7 79,6 25,9 15,5 1,3 0,0 0,028 61,0 43,1 78,9 29,2 18,6 0,0 0,0 0,029 45,9 32,3 59,5 32,3 22,3 2,5 0,0 0,030 48,9 32,9 65,0 40,5 32,1 13,0 8,0 0,031 50,6 35,0 66,1 36,5 32,5 16,2 9,3 8,732 35,8 24,5 47,1 40,1 35,5 13,3 16,7 13,733 53,3 39,7 66,9 40,9 34,2 11,2 6,6 10,234 44,9 30,6 59,1 41,4 32,8 11,3 11,6 4,235 55,7 39,8 71,6 41,4 28,4 6,1 3,7 4,536 82,6 49,4 115,8 44,4 26,0 3,7 1,8 2,2Total 711,1 485,5 335,4 82,8 57,6 43,5

Decêndio

80 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Figura 1. Número médio estimado de irrigações anuais para a cultura da videira em solos com diferentesvalores de capacidade de água disponível (CAD) nas condições climáticas de Urussanga, SC

Figura 2. Rendimento relativo estimado da videira em função do déficit hídrico para a região deUrussanga, SC

81Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Literatura citada

1. ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; PAES,D. et al. Crop evapotranspiration:guidelines for computing crop waterrequirements. Roma: FAO, 1998. 328p.(Irrigation and Drainage Paper, 56).

2. AVILA NETTO, J. Necessidadeshídricas da videira na região doSubmédio São Francisco. 1997. 86p.Dissertação (Mestrado) _ Universi-dade Federal de Paraíba, CampinaGrande, 1997.

3. AVILA NETTO, J.; AZEVEDO, P.V. de;SILVA, B.B. et al. Exigências hídricasda videira na região do Submédio SãoFrancisco. Pesquisa Agropecuária Bra-sileira. v.35, n.8, p.1559-1566, 2000.

4. BASSOI, L.H.; HOPMANS, J.W.; JOR-GE, L.A. de et al. Grapevine root

distribution in drip in microsprinklerirrigation. Scientia agrícola, v.60, n.2,p.377-387, 2003.

5. CARBONNEAU, A. Irrigation,vignoble et produit de la vigne. In:TIERCELIN, J.R. (Coord.) Traitéd’irrigation. Chapitre IV. Aspectsqualitatifs. Paris: Lavoiser Tec. & Doc.,1998. 257-298.

6. CONCEIÇÃO, M.A.; MAIA, J.D.G. Co-eficiente da cultura (Kc) para videiraNiágara Rosada em Jales, SP. In: CON-GRESSO BRASILEIRO DE AGRO-METEOROLOGIA, 12., 2001, Fortale-za. Anais ..., Fortaleza: SBA: Funceme,2001. v.2, p.411-412.

7. CONCEIÇÃO, M.A. Irrigação da videi-ra em regiões tropicais do Brasil. Ben-to Gonçalves. Embrapa. Uva e Vinho,2003. 11p. (Embrapa Uva e Vinho. Cir-cular Técnico, 43).

8. DELOIRE, A.; CARBONNEAU, A.;DERERSPIEL B. et al. La vigne etI’eau. Le Progrès Agricole et Viticole,v.120, n.4, p.79-90, 2003.

9. DOOREMBOS, J.; KASSAN, A.H. Efei-to de água no rendimento das cultu-ras. Campina Grande: UFPB, 1994.406p. (Estudos FAO. Irrigação e Dre-nagem, 33).

10. HEILMAN, J.l.; McINNES, K.J.;SAVAGE, M.J. et al. Soil and canopyenergy balances in a west Texasvineyard. Agricultural and ForestMeteorology, Amsterdam, v.71, p.99-114, 1994.

11. OJEDA, H.; ANDARY, C.; KRAEVA,E. et al. Influence of pre andpostveraison water deficit on syntesisand concentration of skin phenoliccompounds during berry growth ofVitis vinifera L., Shiraz. AmericanJournal of Enology and Viticulture,v.23, n.4, p.261-267, 2002.

12. OJEDA, H. CARILLO, N.; DEIS, L. etal. Viticulture de précision et étathydrique. II: Comportament quanti-tatif et qualitatif de zones intra-parcellaires définies à partir delacartographie dês potentiels hydriques.XIV émes Journées GESCO. Geise-nheim, Allemagne, 2005. p.23-27.

13. PANDOLFO, C.; BRAGA, H.J.; SILVAJÚNIOR, V.P. et al. Atlas climatológicodigital do Estado de Santa Catarina.Florianópolis: Epagri, 2002. CD-ROM.

14. PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.;SEDIYAMA, G.C. Evapotranspiração.Piracicaba: Esalq, 1997. 183p.

15. SOARES, J.M.; BASSOI, L.H. Distri-buição do sistema radicular de videirasem vertissolo sob irrigação localizada.In: CONGRESSO BRASILEIRO DECIÊNCIAS DO SOLO, 25., 1995, Viço-sa. Anais..., Viçosa: Sociedade Brasi-leira de Ciências do Solo/UFV, 1995.p.1865-1867.

16. SOARES, J.M.; NASCIMENTO, T. Dis-tribuição do sistema radicular de videi-ras em vertissolo sob irrigação locali-zada. Revista Brasileira Agrícola eAmbiental, Campina Grande, v.2, n.2,p.142-147, 1998.

17. TEIXEIRA, A.H. de C.; AZEVEDO, P.V.de; SILVA. B.B. et al. Consumo hídricoe coeficiente de cultura da videira naregião de Petrolina, PE. Revista Brasi-leira de Engenharia Agrícola eAmbiental, v.3, n.3, p.413-416, 1999.

18. TEIXEIRA, A.H. de C.; AZEVEDO, P.V.de. Zoneamento agroclimático para avideira européia no Estado dePernambuco. Brasil. Revista Brasilei-ra de Agrometeorologia, Santa Maria,v.4, n.1. p.137-141, 1996.

19. WINKLER, A.J.; COOK, J.A.;KLIEWER, W.M. et al. Generalviticulture. 2.ed. Berkeley: Universityof California Press, 1974. 710p.

Ano Chuva Evapotranspiração Déficit hídricoETo(1) ETm(2) CAD 50 CAD 75 CAD 100

...................................... mm .............................................1981 585,6 497,7 317,2 32,0 24,8 17,51982 724,1 490,3 328,1 6,6 2,9 2,41983 1.091,9 499,9 336,6 14,0 3,3 1,11984 740,1 458,7 298,8 21,6 6,2 2,71985 584,5 516,3 293,9 72,7 58,5 46,21986 813,1 483,0 309,4 27,0 17,3 9,61987 857,2 460,4 312,8 16,4 7,9 3,01988 529,1 512,8 292,6 72,5 48,4 44,61989 575,0 496,7 282,4 70,5 52,5 43,11990 847,1 493,7 336,7 8,5 2,4 2,41991 714,9 496,2 331,5 11,0 2,2 4,11992 469,7 528,1 311,1 60,4 37,1 27,61993 744,8 496,3 307,9 40,5 28,2 17,11994 427,6 469,5 286,8 36,1 12,4 10,21995 877,3 495,0 314,7 32,8 17,4 4,61996 775,4 498,0 311,5 37,8 32,0 18,71997 865,2 442,3 282,3 22,1 12,9 9,31998 638,0 474,9 291,7 44,1 18,2 20,31999 379,0 493,4 306,4 38,8 30,8 24,02000 768,9 463,9 317,7 4,6 9,9 9,12001 768,6 478,9 304,4 31,3 28,5 27,22002 909,4 446,2 305,7 3,4 3,8 3,82003 622,4 479,9 304,5 33,1 21,8 10,02004 754,3 480,0 316,3 17,5 11,2 4,0Média 711,0 485,5 308,4 31,5 20,4 15,1

Tabela 3. Dados médios de precipitação, evapotranspiração de referência emáxima e déficit hídrico anual (mm) para a cultura da videira cultivadasem irrigação em solos com diferentes valores de capacidade de água dis-ponível (CAD) nas condições climáticas de Urussanga, SC

(1)ETo _ evapotranspiração de referência.(2)ETm _ evapotranspiração máxima.

82 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Introdução

A antracnose foliar ou mal-das-sete-voltas da cebola (Allium cepaL.), doença causada por Colleto-trichum gloeosporioides (Penz.)Penz. & Sacc (sensu Arx, 1957),

RRRRReação de cultivares deeação de cultivares deeação de cultivares deeação de cultivares deeação de cultivares decebola à antracnosecebola à antracnosecebola à antracnosecebola à antracnosecebola à antracnose

João Américo Wordell1 e Marciel João Stadnik2

Resumo _ A antracnose foliar ou mal-das-sete-voltas, doença causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides,tem elevada incidência na cultura da cebola (Allium cepa) no sul do Brasil. Com a finalidade de esclarecer essequadro sintomatológico e selecionar cultivares resistentes, foi avaliada a reação à antracnose e a taxa de progres-so da doença em 21 cultivares de cebola, sob condições de casa de vegetação, no ciclo 2004/05, em Ituporanga, SC.As plantas foram inoculadas por aspersão de uma suspensão de 1,2 x 106 conídios/ml. As plantas inoculadas nãomorreram, mas apresentaram diferentes níveis de severidade da doença. Nenhuma cultivar testada revelouresistência completa, mas as cultivares Alfa Tropical, Alfa Tropical II, Belém IPA 9, Crioula Hortec, Crioula Roxa,Epagri 304, IPA 6, Régia, Rosada Empasc 358, Roxa IPA 3 e Super Precoce apresentaram as menores taxas deprogresso, sugerindo a existência de várias fontes de resistência parcial.Termos para indexação: Allium cepa, resistência parcial, Colletotrichum gloeosporioides.

Reaction of onion cultivars to anthracnose

Abstract _ The leaf anthracnose caused by Colletotrichum gloeosporioides occurs in high incidence in onion(Allium cepa) crops of southern Brazil. In order to better understand the symptomatological patterns and toscreen resistant cultivars, the reaction to anthracnose and the disease progress rate were evaluated on 21 onioncultivars under greenhouse conditions during the cycle 2004/05, in Ituporanga, SC. Plants were inoculated byspraying a suspension of 1.2 x 106 conidia/ml. Inoculated plants never died, but did show different levels of diseaseseverity. No variety was completely resistant to the tested isolate. However, about half of the cultivars, i.e., thecultivars Alfa Tropical, Alfa Tropical II, Belém IPA 9, Crioula Hortec, Crioula Roxa, Epagri 304, IPA 6, Régia,Rosada Empasc 358, Roxa IPA 3 and Super Precoce, exhibited lower disease progress rates, suggesting the existenceof several sources of partial resistance.Index terms: Allium cepa, partial resistance, Colletotrichum gloeosporioides.

Aceito para publicação em 30/4/08.1Eng. agr., D.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar _ Cepaf _, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFSC/CCA, C.P. 476, 88040-090 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].

incide na maioria das regiões pro-dutoras de cebola do Brasil, embo-ra tenha ocorrência esporádica elocalizada (Boff, 1993). Trata-se deuma doença de clima subtropical etropical, favorecida pela ocorrênciade precipitações pluviométricas fre-

quentes , podendo causar perdas deaté 100% na produção de bulbos emcultivares suscetíveis (Gupta et al.,1994).

Para manejo da doença, preco-nizam-se medidas de controle quí-mico e cultural. Medidas de contro-

83Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

le cultural, tais como o uso de ma-terial propagativo sadio, eliminaçãode restos culturais, rotação de cul-turas e baixas densidades de se-meadura podem reduzir a intensi-dade da antracnose (Moreira, 2000).Estas medidas, combinadas ao usode variedades resistentes, podemaumentar a eficiência de controleda doença e a produção, além de re-duzir a poluição ambiental (Galvánet al., 1997).

No Brasil, o primeiro relato daresistência à antracnose em cebolaocorreu em 1973 (Costa et al.,1974). Mais recentemente, as culti-vares IPA-11, IPA-9 e IPA-3 apresen-taram resistência para 15 isoladosdo patógeno (Assunção et al., 1999).Porém, ainda, há poucos estudossobre a resistência de cebola a C.gloeosporioides, especialmente emSanta Catarina.

A maioria dos cebolicultores doAlto Vale do Itajaí, SC, a principalregião produtora do Estado, é cons-tituída por pequenos produtores,que cultivam a cebola em um siste-ma de monocultivo, sem rotação deculturas e com a utilização frequen-te, muitas vezes excessiva, defungicidas para o controle daantracnose. Essa prática, além deonerar os custos de produção, podeinduzir resistência do fungo aos in-gredientes ativos, além de causarintoxicação humana e contaminaçãoambiental. No contexto do controleintegrado desta doença, é importan-te plantar variedades resistentes.Por outro lado, o sucesso de progra-mas de melhoramento para obtermateriais resistentes depende daidentificação segura de padrões deresistência, assim como de procedi-mentos confiáveis de seleção demateriais genéticos. O presente tra-balho teve por objetivo avaliar aresistência de cultivares de cebolaà antracnose.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada no La-boratório de Fitopatologia e em casade vegetação da Epagri/Estação Ex-perimental de Ituporanga, nos anos

Tabela 1. Escala de notas utilizadas para avaliar a reação de cultivares decebola à antracnose-foliar causada por Colletotrichum gloeosporioides.Ituporanga, 2005/2006

Nota Sintomatologia Classificação da reação

0 Ausência de sintomas Resistente (R)1 Lesões levemente deprimidas Moderadamente resistente

de coloração parda. (MR)2 Lesões dispostas em anéis Moderadamente suscetível

concêntricos, sem (MS)aparecimento de acérvulos.

3 Lesões dispostas em anéis Suscetível (S)concêntricos, sobre os quaisdesenvolvem-se acérvuloscobertos por massas deconídios de coloração rosada.

4 Plantas apresentando Altamente suscetível (AS)retorcimento e alongamentodo pseudocaule. Grandenúmero de anéis concêntricos,sobre os quais se desenvolvemacérvulos cobertos por massade conídios de coloração rosada.

de 2004 e 2005, entre os meses dejulho a novembro. A severidade ereação a C. gloeosporioides (Tabela1) foi ava-liada em 21 cultivares decebola do programa de melhora-mento da Epagri e de cultivares co-merciais, (Tabela 2).

As plantas foram cultivadas emvasos contendo aproximadamente7kg de solo, com composição média(32% de argila; pH 5,6; 52mg/dm3

de fósforo; 202mg/dm3 de potássio;4,5% de matéria orgânica; 9,2Cmolc/dm3 de cálcio e 6,4Cmolc/dm3 demagnésio). Foram realizadas pulve-rizações foliares semanais com umfertilizante quelatizado (NutrifosN 10 - P 50 - K 10, empresa Valagro),na dose de 2g/L de água. A irriga-ção foi realizada com um regador,de acordo com as exigênciashídricas da cultura. As plantas per-maneceram em casa de vegetação,dispostas em blocos completamen-te casualizados, com quatro repeti-ções por tratamento. Cada repeti-ção consistiu de um vaso contendoduas plantas.

Utilizou-se como inóculo o iso-lado monospórico Cg103, obtido em

folhas doentes de cebola coletadasno município de Ituporanga, SC. Ofungo foi cultivado em placas dePetri de 9cm de diâmetro, conten-do o meio BDA (140g de batata, 10gde sacarose e 15g de ágar/L de águadestilada) e incubado a 22oC, com12h de fotoperíodo (lâmpadas fluo-rescentes de 20W emitindo 260 a280uEm-2.s-1) em BOD por 10 dias. Nasequência, a superfície do meio decultura foi raspada das placas compincel e água, e o sobrenadante foifiltrado com duas camadas de gaze,para eliminar os fragmentos demicélio. Após a calibragem da con-centração para 1,2 x 106 conídios/mL, foi adicionado 0,01% dosurfactante Tween 80®. As plantasforam inoculadas no estádio H (to-das as folhas emitidas), seguindo aescala de Gandin et al. (2002). Apulverização foi realizada com umatomizador (modelo SGA 570DeVilbiss Co. Somerset, PA)acoplado a uma bomba de ar (pres-são de 55kPa), aplicando aproxima-damente 20mL de suspensão deconídios por planta. As plantasinoculadas foram mantidas em câ-

84 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Cultivar Procedência Safra 2004 Safra 2005de cebola da cultivar Reação(1) GrupoC Reação(1) Grupo(3)

Alfa Tropical Hortec MS 3 S 3Alfa Tropical II Hortec MS 3 S 3Belém IPA 9 IPA(3) MS 3 S 3Conquista Embrapa MS 2 S 2Crioula Hortec Hortec MS 3 S 3Crioula Roxa Epagri MS 3 MS 3Diamante Hortec MS 3 S 2Epagri 304 Epagri MS 3 MS 3Granex 429 SVS S 1 AS 1IPA 6 IPA(3) MS 3 S 3Mercedes SVS S 1 S 1Optima F1 Topseed S 1 S 1Régia SVS S 3 S 3Rosada Empasc 58 Epagri MS 3 MS 3Roxa IPA 3 IPA(3) MS 3 MS 3São Paulo Embrapa S 2 MS 2Super Precoce Epagri MS 3 S 3XP 3000 SVS S 1 AS 1XP 3001 SVS S 1 AS 2XP 8010 SVS MS 3 S 2Yellow Granex - MS 2 AS 2

Tabela 2. Taxa de progresso da antracnose e reação de resistência de 21 cultivares de cebola inoculadas com oisolado monospórico Cg 103 de Colletotrichum gloeosporioides, sob condições de casa de vegetação. Ituporanga,SC, em 2004 e 2005

(1)Baseado na escala de notas da Tabela 1: AR = Altamente resistente; MR = Moderadamente resistente; MS = Moderadamentesuscetível; S = Suscetível; AS = Altamente suscetível; avaliação aos 14 dias após inoculação.(2)Taxas de progresso da doença: grupos em 2004: grupo 1 = 5,74 (taxa média) ± 0,45 (desvio padrão); grupo 2 = 3,99 (taxa média) ±0,66 (desvio padrão); grupo 3 = 0,70 (taxa média) ± 0,49 (desvio padrão); grupos em 2005: grupo 1 = 2,97 (taxa média) ± 0,36(desvio padrão); grupo 2 = 1,88 (taxa média) ± 0,30 (desvio padrão); 3 = 0,92 (taxa média) ± 0,34 (desvio padrão) [calculados combase na porcentagem de área foliar necrosada (zero a 100%) versus o tempo)].(3)Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária _ IPA.

mara úmida (98% UR, fotoperíodode 12h, 25 ± 5oC) e após 48h, foramtransferidas para casa de vegetação(25 ± 2oC), onde permaneceram atéa avaliação dos resultados. A irriga-ção foi realizada a cada 3 dias, utili-zando-se aspersores. Na avaliaçãode severidade da doença foi consi-derada a porcentagem visual de te-cido necrosado (zero a 100%). A ava-liação iniciou 14 dias após ainoculação e prosseguiu regular-mente, em intervalos semanais,totalizando cinco avaliações, até oestádio I (repouso vegetativo)(Gandin et al., 2002). As avaliaçõesde reação foram realizadas aos 14dias após a inoculação, com base naescala de notas apresentada naTabela 1.

O progresso monocíclico da do-ença (-r-) foi calculado pela estima-tiva do coeficiente angular (b) daequação de regressão linear, entrea severidade foliar (y) em função dotempo (t). O procedimento"FASTCLUS" foi usado para agru-par os tratamentos, em três grupossimilares, com base na taxa médiade progresso da doença.

Resultados e discussão

As cultivares de cebola diferiramtanto quanto à reação de resistên-cia como à taxa de progresso da do-ença causada por C. gloeosporioides(Tabela 2). Diferenças nas reaçõesde genótipos de cebola para isola-

dos de C. gloeosporioides têm sidofrequentemente relatadas em ou-tros trabalhos (Silva & Costa, 1979;Abreu, 1990, Galván et al., 1997;Assunção et al., 1999; Pedrosa et al.,2004). Pedrosa et al. (2004), que es-tudaram os componentes de resis-tência para antracnose em condi-ções de casa de vegetação em oitocultivares de cebola, detectaram di-ferenças significativas entre os ma-teriais estudados, quanto à taxa deprogresso monocíclico da doença.Este resultado está em conformida-de com os dados obtidos nesse ex-perimento. Neste trabalho, a resis-tência manifestada nas cultivares decebola foi do tipo parcial, pois ne-nhum material apresentou altosníveis de resistência. Todas as cul-

85Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

tivares apresentaram diferentesníveis de suscetibilidade àantracnose. Nos 2 anos de avalia-ção, em casa de vegetação, as culti-vares Roxa IPA 3, Crioula Roxa,Epagri 304 e Rosada Empasc 358foram consideradas moderadamen-te suscetíveis, enquanto osgenótipos XP 3000, XP 3001,Granex 429, Régia, Mercedes eOptima F1 foram suscetíveis.

Poucas fontes consistentes deresistência da doença em A. cepaestão atualmente disponíveis e ain-da há desconhecimento da herançagenética e do provável complexo deraças existentes. Galván et al.(1997) encontraram um alto nívelde resistência a um isolado de C.gloeosporioides proveniente de San-ta Catarina somente em acessos deespécies selvagens do gênero Alliumspp., que foram suscetíveis a isola-dos da Nigéria e da Indonésia. A re-sistência apresentada por Alliumroylei (Stearn.) ao isolado brasilei-ro é herdada de maneira dominan-te e, provavelmente, controlada pormais que um gene, havendo a pos-sibilidade de usar esta espécie emprogramas de melhoramento dacebola.

Silva & Costa (1979) e Abreu(1990), avaliando o índice de sobre-vivência de plântulas, observaramreação de resistência em três culti-vares de Allium porrum (L.) e nascultivares de cebola Barreiro, RoxaChata e Branca Chata, mas não re-lataram o grau de severidade e nemse as plantas sobreviventes mani-festaram sintomas. No presentetrabalho não houve morte de plan-tas, mesmo quando severamenteinfectadas por C. gloeosporioides.Nos estudos de Silva & Costa (1979),onde foi avaliada a reação de culti-vares e híbridos de cebola àantracnose, plântulas foram inocu-ladas mais cedo ou mesmo imedia-tamente após a emergência, oca-sionando morte em materiais sus-cetíveis. É possível que outrosgenes de resistência se expressemde maneira diferenciada nos diferen-tes estádios fenológicos da planta.Por este motivo, extrapolações de

resultados desses trabalhos ficamprejudicadas. Na verdade, níveis va-riáveis na taxa de sobrevivência decultivares de cebola a C.gloeosporioides têm sido observadose relacionados com herançapoligênica e aditiva (Silva & Costa,1979; Melo & Costa, 1983).

O fungo C. gloeosporioides podecausar tombamento quando veicu-

lado pela semente (Melo & Costa,1983; Boff, 1993). A infecção das plan-tas, nos primeiros meses, pode in-duzir o retorcimento foliar, deixan-do o "pescoço" mais endurecido e decor verde-clara, sintoma conhecidopor "mal-das-sete-voltas" (Figura 1).Caso a infecção ocorra mais tarde,como ocorreu neste trabalho, podehaver redução da parte aérea e

Figura 1. Sintomas de retorcimento foliar, causado pelo fungoColletotrichum gloeosporioides, na cultivar de cebola Granex 429

86 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

emissão de novas raízes, que rom-pem as escamas dos bulbos próxi-mo à coroa, tornando-os frágeis paraarmazenamento (Boff, 1993). Nascondições de Santa Catarina, aantracnose foliar ocorre tardiamen-te, não havendo danos em fase decanteiro, devido, principalmente, àscondições ambientais desfavoráveispara ocorrência da doença nesseestádio (temperaturas médias abai-xo de 20oC). Por este motivo, é im-portante selecionar genótipos decebola com resistência na fase adul-ta à antracnose.

A análise de agrupamento, quereúne as unidades amostrais emgrupos homogêneos (Liberato et al.,1995), permitiu separar, com basenos valores de taxa de progresso dadoença, três grupos distintos de cul-tivares de cebola quanto à resistên-cia à antracnose. As cultivares clas-sificadas nos grupos 1, 2 e 3 foramconsideradas suscetíveis, moderada-mente suscetíveis e moderadamen-te resistentes à antracnose foliar,respectivamente. Com exceção deDiamante, XP 3001 e XP 8010, osdemais genótipos mantiveram-senos mesmos grupos nos 2 anos deavaliação.

Embora todos os materiais tes-tados tenham sido suscetíveis àantracnose, houve diferenciação nataxa de desenvolvimento da doen-ça. Entre os genótipos, as cultiva-res Alfa Tropical, Alfa Tropical II,Belém IPA 9, Crioula Hortec, Cri-oula Roxa, Epagri 304, IPA 6, Ré-gia, Rosada Empasc 358, Roxa IPA3 e Super Precoce apresentaram asmenores taxas de progresso dedoença, sugerindo a existência devárias fontes de resistência parcial.No entanto, as condições prevale-centes de casa de vegetação, bemcomo a mistura de cultivares, po-deriam superestimar o nível de re-sistência das populações estudadas.De acordo com Pedrosa et al. (2004),não é seguro concluir que os com-ponentes de resistência obtidos emestufa terão as mesmas tendênciasno campo. Por isto, outros estudosepidemiológicos precisam ser rea-

lizados no campo, para verificar aeficiência das variedades quanto àresistência parcial à antracnosefoliar, bem como para elucidar oscomponentes de resistência existen-tes. Além disso, deve-se verificar aequivalência dos valores obtidos emtestes monocíclicos, conduzidos sobcondições controladas, que equiva-leriam àqueles estimados nos en-saios policíclicos realizados no cam-po, embora, na avaliação dessescomponentes, seja válido destacara agressividade do isolado Cg 103.Portanto, em estudos semelhantes,é importante avaliar os componen-tes da resistência frente a isoladosde diferentes regiões, ou mesmocom mistura de isolados de C.gloeosporioides, visando validar osresultados obtidos no presente tra-balho.

Conclusões

• Nenhuma das cultivares de ce-bola testadas apresentou resistên-cia completa a C. gloeosporioides.

• A análise de agrupamento, combase nas taxas de progresso da do-ença, permitiu diferenciar as culti-vares de cebola quanto aos níveisde resistência parcial. Dentre os ma-teriais estudados, as cultivares AlfaTropical, Alfa Tropical II, Belém IPA9, Crioula Hortec, Crioula Roxa,Epagri 304, IPA 6, Régia, RosadaEmpasc 358, Roxa IPA 3 e SuperPrecoce foram aquelas que apresen-taram as menores taxas de progres-so de antracnose.

Literatura citada

1. Abreu, C.L.M. Reação de cultivares decebola do ciclo de dias longos ao "mal-das-sete-voltas". Summa Phytopa-thologica, Jaboticabal, v.16, n.3/4,p.239-242, 1990.

2. ASSUNÇÃO, I.P.; COELHO, R.S.B.;LIMA, G.S. de A. et al. Reação de culti-vares de cebola a isolados deColletrotrichum gloeosporioides cole-tados na região do submédio São Fran-cisco. Summa Phytopathologica,Jaboticabal, v.35, n.3, p.205-209, 1999.

3. BOFF, P. Antracnose foliar da cebola:

diagnóstico e controle. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.6, n.2 ,p.34-37, 1993.

4. COSTA, C.P.; FERNANDES, F.T.;FONSECA, J.N.L. Resistência em ce-bola (Allium cepa L.) ao mal de setevoltas (Colletotrichum gloesporioidesPenz). Revista Olericultura, Brasília,v.14, p.24-25, 1974.

5. GALVÁN, G.A., WIETSMA, W.A.;PUTRASEMEDJA, S. et al. Screeningfor resistance to anthracnose(Colletotrichum gloeosporioides Penz.)in Allium cepa and its wild relatives.Euphytica, Dordrecht, v.95, n.2, p.173-178, 1997.

6. GANDIN, C.L.; THOMAZELLI, L.F.;GUIMARÃES, D.R. Estádios de desen-volvimento da cebola. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.15, n.1,p.53-56, 2002.

7. GUPTA, R.P.; SRIVASTAVA, K.J.;PANDEY, U.B. Diseases and insectpests of onion in India. ActaHorticulturae, Wageningen, v.358,p.265-269, 1994.

8. LIBERATO, J.R., CRUZ, C.D., VALE,F.X.R. et al. Técnicas estatísticas deanálise multivariada aplicada àfitopatologia. I. Análise de componen-tes principais, análise canônica e"cluster análise". In: LUZ, W.C. Revi-são Anual de Patologia de Plantas.Passo Fundo: Ed. Pe. Berthier, 1995.v.3 p.227-281.

9. MELO, I.S., COSTA, C.P. Seleçãomassal em cebola (Allium cepa L.), po-pulação "Pira Ouro", para resistência aColletotrichum gloeoporioides Penz.Sensu Arx, 1957. Summa Phyto-pathologica, Jaboticabal ,v.9, n.3/4,p.214-219, 1983.

10. MOREIRA, A.J.A. Epidemiologia daantracnose foliar da cebola causada porColletotrichum gloesporioides. 2000,73f. Dissertação (Mestrado emFitopatologia). Viçosa, UniversidadeFederal de Viçosa, Viçosa, 2000.

11. PEDROSA, R.A.; MAFFIA, L.A.;MIZUBUTI, E.S.G. et al. Componen-tes de resistência em cebola aColletotrichum gloeosporioides.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 29,n.6, p.606-613, 2004.

12. SILVA, N.; COSTA, C.P. Reação de cul-tivares e híbridos de cebola aColletotrichum gloeosporioides, Penz.[sensu Arx, 1957]. Summa Phyto-pathologica, Jaboticabal, v.5, n.3/4,p.165-167, 1979.

87Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Nota Científica

O safrol é um éter fenólico defórmula molecular C10H10O2, utili-zado pelas indústrias química e far-macêutica por ser precursor dediversas moléculas. Entre elas, en-contram-se o butóxido de piperonilae a heliotropina, utilizados em gran-de escala na fabricação de insetici-das leves biode-gradáveis efixadores de aromas (Valle et al.,2006). A versatilidade sintética e o

Avaliação da propriedade reguladora de crescimentoAvaliação da propriedade reguladora de crescimentoAvaliação da propriedade reguladora de crescimentoAvaliação da propriedade reguladora de crescimentoAvaliação da propriedade reguladora de crescimentovegetal de compostos indólicos derivados do safrolvegetal de compostos indólicos derivados do safrolvegetal de compostos indólicos derivados do safrolvegetal de compostos indólicos derivados do safrolvegetal de compostos indólicos derivados do safrol

em em em em em PPPPPiper hispidinervium in vitroiper hispidinervium in vitroiper hispidinervium in vitroiper hispidinervium in vitroiper hispidinervium in vitroLiana Hilda Golin Mengarda1, Rosete Pescador2,

Flávia Aparecida Fernandes da Rosa3 e Ricardo Andrade Rebelo4

Resumo _ As propriedades auxínicas de novos compostos indólicos sintetizados a partir do safrol 2-AMIM e3-AMIM foram avaliadas por meio de ensaios in vitro, nos quais explantes foliares de pimenta longa, submetidosa diferentes tratamentos, foram analisados quanto à presença e número de raízes e brotos, formação de calos,intumescimento e oxidação. Tanto os tratamentos suplementados com 3-AIA, quanto com 2-AMIM e 3-AMIM,apresentaram-se pouco efetivos na formação de raízes e não foi observada formação de brotos. A maioria dosexplantes sofreu oxidação.Termos para indexação: auxina, pimenta longa, bioensaio.

Assessment of plant growth regulation properties of indole compositesderived from safrole in Piper hispidinervium in vitro

Abstract _ The auxin properties of new indole composites synthesized from safrole 2-AMIM and 3-AMIM wereevaluated by means of assays in vitro, in which leaf explants of P. hispidinervium, submitted to different treatments,were analyzed as to the presence and number of roots and shoots, callus formation, intumescence and oxidation.The treatments supplemented with 3-AIA, as well as those with 2-AMIM and 3-AMIM, were less effective in theroot formation, and shoot formation was not observed. The majority of the explants underwent oxidation.Index terms: auxin, long pepper, bioassay.

Aceito para publicação em 22/7/08.1Bióloga, Universidade Federal do Espírito Santo _ Ufes _, R. Maranhão, 50, ap. 401, 29101-340 Vila Velha, ES, fone: (27)3299-3310, e-mail: [email protected]. agr., Dra., Furb/CCEN/Departamento de Ciências Naturais, C.P. 1507, 89012-090 Blumenau, SC, fone: (47) 3321-0272,e-mail: [email protected]ímica, Dra., Furb/CCEN/Departamento de Química, fone: (47) 3321-0276, e-mail: [email protected]êutico, Dr., Furb/CCEN/Departamento de Química, fone: (47) 3321-0276, e-mail: [email protected].

uso corrente por diferentes segmen-tos da indústria colocam o safrol emposição de destaque nos campos daciência e tecnologia, entre outras.Essa molécula é capaz de formarcompostos indólicos que são precur-sores na síntese de auxinas sintéti-cas, como, por exemplo, os ácidos2-naftilacético, 2,4-diclorofeno-xiacético, 3-indolbutírico e deriva-dos halogenados (Terry, 1998).

Por sua vez, as auxinas são subs-tâncias quimicamente relacionadascom o ácido 3-indolacético (3-AIA),sintetizadas pelas plantas. Esse gru-po de hormônios vegetais desempe-nha papel importante em várioseventos fisiológicos das plantas,como divisão e alongamento celu-lar, dominância apical, desenvolvi-mento lateral de raízes e na forma-ção do embrião (Friml, 2003).

88 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Ao escolher o 3,4-metilenodioxi-benzaldeído (piperonal) como pre-cursor de novas estruturas análo-gas ao 3-AIA, tem-se a possibilida-de de obtenção de um produto co-mercial de custo relativamente bai-xo, que pode ser facilmente prepa-rado a partir da molécula de safrol(Rosa, 2002). Segundo os mesmosautores, pesquisas com o ácido5,6-metilenodioxindol-3-il-acético(3-AMIA) forneceram resultados pro-missores quanto ao seu empregocomo regulador de crescimento ve-getal. Esses autores observaramque o uso do ácido 5,6-metileno-dioxindol-2-il-metanoico (2-AMIM),ácido 5,6-metilenodioxindol-3-il-metanoico (3-AMIM) em bioensaiosrealizados com sementes de Lactucasativa, Cucumis sativus e Raphanussativus, promoveu o crescimentoradicular de plântulas, semelhanteao seu análogo natural 3-AIA.

O objetivo do trabalho foi ava-liar a atividade reguladora de cres-cimento vegetal in vitro dos com-postos indólicos ácido 5,6-metile-nodioxindol-2-il-metanoico (2-AMIM), ácido 5,6-metilenodio-xindol-3-il-metanoico (3-AMIM), de-rivados do safrol, utilizando comoexplantes segmentos foliares dePiper hispidinervium.

As sementes de Piper hispidi-nervium foram hidratadas por 24horas, sendo posteriormente sub-metidas a assepsia em álcool (70%)e cloro ativo 3%. As sementes fo-

ram, então, colocadas em placas dePetry contendo meio de cultura comsais de MS (Murashige & Skoog,1962). Na sequência, as plântulasforam transferidas para frascos decultura contendo a mesma soluçãonutritiva, onde ficaram por 30 e 100dias da germinação, as quais foramfonte de explantes, sendo assim de-nominadas de plântulas de primei-ro estágio (E1 = 30 dias da germi-nação) e de segundo estágio (E2 =100 dias da germinação).

As plântulas nestes dois está-gios de desenvolvimento fornece-ram explantes foliares, os quais fo-ram inoculados em tubos de ensaiocontendo 10ml de meio de cultura(sais de MS, 30g/L de sacarose,7g/L de ágar, pH 5,8 e esterilizaçãoem autoclave), com combinações decinetina (KIN) associadas a concen-trações de 3-AIA, 2-AMIM, 3-AMIM,totalizando 11 tratamentos, comdez repetições para cada estágio(Tabela 1).

Os resultados mostraram que ostratamentos utilizados não foramefetivos na formação de raízes e bro-tos, conforme verificado na Tabela2, mas, por outro lado, levaram àindução da calogênese, ao intumes-cimento e à oxidação dos explantes,verificados aos 30 dias de cultivo.

Assim, apenas 10% (Tabela 2) dosexplantes provenientes de E1 e E2submetidos ao tratamento 3 (2,0mg/L3-AMIM + 0,2mg/L KIN) e tratamen-to 7 (T7) (2,0mg/L 3-AIA + 0,02mg/

L KIN), respectivamente, foramcapazes de desenvolver raízes e emnenhum deles se verificou a forma-ção de brotos, independentementedo tratamento utilizado.

Uma das principais respostasesperadas com o uso da auxina3-AIA (tratamento testemunha) se-ria a formação de raízes. Quandoesse hormônio é utilizado in vitro,é importante na modulação dos pro-cessos morfogênicos, levando à for-mação de raízes quando combinadocom baixas concentrações decitocininas (Del Pozo et al., 2005).Porém, no presente estudo, osexplantes foliares de Piper hipidi-nervium submetidos ao 3-AIA, bemcomo aos seus análogos 2-AMIM e3-AMIM, apresentaram-se poucoefetivos para este tipo de resposta.

Esperava-se, ainda na presentepesquisa, que o balanço hormonalcom maior concentração de auxinasem relação à citocinina, como aque-les dos tratamentos T3, T6 e T9,fosse capaz de formar raízes nosexplantes; porém, como resposta,observou-se calogênese, intumes-cimento do explante, e explantesoxidados. Também não foiverificada a formação de parte aé-rea (brotações) naqueles tratamen-tos suplementados unicamente comcitocinina (T2), ou combinada comauxina em balanços favoráveis àscitocininas (T5, T8 e T11).

Observou-se, assim, no presen-te estudo, que as concentrações das

Tabela 1. Tratamentos experimentais representados pelos meios de cultura com as diferentes concentrações ecombinações dos reguladores de crescimentos KIN, 3-AIA, 2-AMIM, 3-AMIM

Tratamento Cinetina(KIN)

Ácido Ácido Ácido3-indolacético 5,6-metilinodioxindol- 5,6-metilenodioxindol- (3-AIA) 2-il-metanoico 3-il-metanoico

(2-AMIM) (3-AMIM)

.............................................................. mg/L .............................................................1 - - - -2 0,2 - - -3 0,2 - - 2,04 0,02 - - 2,05 1,0 - - 0,026 0,2 2,0 - -7 0,02 2,0 - -8 1,0 0,02 - -9 0,2 - 2,0 -10 0,02 - 2,0 -11 1,0 - 0,02 -

89Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

auxinas 3-AIA e 3-AMIM combina-das com menores teoresequimolares de citocinina levaramà maior formação de calos nosexplantes, cujo maior percentual(80%) é proveniente do estágio E1,submetido ao T4 (2,0mg/L 3-AMIN+ 0,02mg/L KIN), conforme mostra-do na Figura 1 e na Tabela 2. Essescalos surgiram, principalmente, nasbordas e face abaxial dos segmen-tos foliares. Nos explantes oriundosde E2 foi observado que 30% delesapresentavam calos, também quan-do submetidos ao T4. De modo ge-ral, a indução de calos pode repre-sentar um resultado satisfatório nacultura de tecidos, havendo a possi-bilidade de essas células não dife-renciadas formarem órgãos, atravésda organogênese indireta, como,por exemplo, a formação de brotosadventícios.

Os explantes oriundos de E1 sub-metidos ao T11 e T10 apresenta-ram-se intumescidos (Figura 1 eTabela 2), sendo os percentuais

equivalentes a 70% e 40%, respec-tivamente. Todos os tratamentosque apresentavam na sua composi-ção 3-AMIM (T3, T4 e T5), bem comoo tratamento controle (T1) e o tra-tamento 2, suplementado apenascom KIN, não foram capazes de tor-nar os explantes de E1 intumesci-dos. Nos explantes provenientes deE2, foi observado intumescimentoem 40% deles quando submetidosao T6. O intumescimento pode serdecorrente do alongamento das cé-lulas, tendo em vista estas estarempreparando-se para a divisão/mul-tiplicação, o que pode indicar umaspecto da atividade auxínica.

Foram ainda verificados altosíndices de oxidação do material ve-getal, sendo que os tratamentos quemenos permitiram oxidação nasplantas E1 foram T4 e T6, compercentuais de zero e 20%, respec-tivamente. Para as plantas de se-gundo estágio, estes mesmos trata-mentos apresentaram também me-nores valores de oxidação: 20% e

40%. Teores mais elevados de 3-AIAe 2-AMIM, ou de KIN combinadocom o 3-AIA, levaram à maior oxi-dação do material vegetal (Figura 1).O tratamento que apresentou mai-ores índices de explantes oxidadosem E1 foi T7 (2mg/L 3-AIA +0,02mg/L KIN), e dos provenientesde E2 foi o T10 (2mg/L 2-AMIN +0,02mg/L KIN), dos quais todos seapresentaram oxidados.

Os bioensaios com explantes deP. hispidinervium mostraram queos novos compostos indólicos2-AMIM e 3-AMIM não apresenta-ram propriedades auxínicas, tendocomo principal variável para estaavaliação a não-formação de raízes.Porém, os tratamentos com o usoda auxina 3-AIA também não forameficientes na formação de raízes nosexplantes. Essas respostas podemser atribuídas não apenas à proprie-dade reguladora de crescimento docomposto adicionado ao meio decultura, mas também a fatoresendógenos do vegetal, como as

Tratamento Brotos Raízes Calos Intumescimento Oxidação

....................................................... % .......................................................

1 - - 10 (E1) - 60 (E1)- (E2) 60 (E2)

2 - - - (E1) - 60 (E1)20 (E2) 50 (E2)

3 - 10 (E1) 30 (E1) - (E1) 40 (E1)10 (E2) 10 (E2) 50 (E2)

4 - - 80 (E1) - (E1) - - (E1)30 (E2) 20 (E2) 20 (E2)

5 - - 20 (E1) - (E1) 30 (E1)10 (E2) 20 (E2) 60 (E2)

6 - - 50 (E1) 20 (E1) 20 (E2)10 (E2) 40 (E2) 40 (E2)

7 - 10 (E2) - - 100 (E1)90 (E2)

8 - - 20 (E1) 10 (E1) 50 (E1)- (E2) 10 (E2) 90 (E2)

9 - - - 10 (E2) 60 (E1)20 (E1) 80 (E2)

10 - - 10 (E1) 40 (E1) 40 (E1)- (E2) 30 (E2) 100 (E2)

11 - - 10 (E1) 70 (E1) 10 (E1)10 (E2) 20 (E2) 60 (E2)

Tabela 2. Percentual de explantes e suas respectivas respostas aos tratamentos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11) quese refere ao balanço das substâncias KIN, 3-AIA, 2-AMIM, 3-AMIM

Nota: E1 e E2 _ Explantes provenientes de plântulas com 30 e 100 dias de cultivo.

90 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

propriedades dos tecidos e o está-gio de desenvolvimento do tecido doexplante, além da composição bio-química das células vegetais. As res-postas ainda podem ter sido influen-ciadas pelo fato de ser o piperonaluma substância sintetizada pelas cé-lulas da P. hispidinervium.

Ainda se remete à oxidação comoum dos principais agravantes paraque os resultados obtidos na pre-sente pesquisa tenham sidoinsatisfatórios quanto à eficiênciado 2-AMIM e 3-AMIM como regula-dores de crescimento com proprie-dade auxínica.

Conclui-se que os tratamentostestados, aqueles mostrados na Ta-bela 1, não apresentaram atividadeauxínica nos bioensaios realizadosin vitro utilizando-se material ve-getal de Piper hispidinervium.

Literatura citada

1. DEL POZO, J.C.; LOPES-MATAS, A.;RAMIREZ-PARRA, E. et al. Hormonalcontrol of the plant cell cycle.Physiologia Plantarum, v.123, p.173-183, 2005.

2. FRIML, J. Auxin transport - shapingthe plant. Curr. Opin. Plant. Bio., v.6,p.7-12, 2003.

3. MURASHIGE, T.; SKOOG, F.A.Revised medium for rapid growth andbioassays with tobacco tissue cultures.Physiologia Plantarum, Copenhagen,v.15, n.6, p.473-479, 1962.

4. ROSA, F.A.F. Síntese e avaliação daatividade reguladora de crescimentovegetal de novos compostos indólicosderivados do safrol e relacionados aoácido indol 3-acético. 2002. 209p. Tese

(Doutorado em Química) - Universi-dade Federal de Santa Catarina,Florianópolis, SC, 2002.

5. TERRY, R. Metabolic pathways ofagrochemicals - Part 1. Herbicides andplant growth regulators. Cambridge,UK: Royal Society Chemistry, 1998.775p.

6. VALLE, R. de C.S.C. Estratégias decultivo de células de pimenta longa(Piper hispidinervium) e determinaçãode parâmetros cinéticos. 2003. 166f.Tese (Doutorado em Engenharia Quí-mica) - Universidade Federal de SantaCatarina, Florianópolis, SC, 2003.

7. VALLE, R. de C.S.C.; OCHNER, G.;DEBIASI, C. et al. Performace of Piperhispidinervium cell in submergedsytem. Brazilian Archives of Biologyand Technology, Curitiba, v.49, p.43-51, 2006.

Figura 1. Explantes foliares de Piper hispidinervium, (A) Raiz em explante oxidado,submetido ao T3 (2mg/L 3-AMIM + 0,2MG/L KIN). (B) Explante apresentandoformação de calo na borda abaxial do segmento foliar, proveniente de T4 (2mg/L3-AMIM + 0,02mg/L KIN). (C) Explante intumescido, proveniente de T11 (0,02mg/L2-AMIM + 1mg/L KIN). (D) Explantes E2 em processo de oxidação provenientes de T8(0,02mg/L 3-AIA + 1,0mg/L KIN

0,5c

m

A B

C D

0,5c

m

0,5c

m0,

5cm

91Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Nota Científica

Influência do preparado homeopático de calcário deInfluência do preparado homeopático de calcário deInfluência do preparado homeopático de calcário deInfluência do preparado homeopático de calcário deInfluência do preparado homeopático de calcário deconchas sobre tripes e produtividade de cebolaconchas sobre tripes e produtividade de cebolaconchas sobre tripes e produtividade de cebolaconchas sobre tripes e produtividade de cebolaconchas sobre tripes e produtividade de cebola

Paulo Antônio de Souza Gonçalves1, Pedro Boff2, Mari Inês Carissimi Boff3

Resumo _ O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito de preparado homeopático de calcário de conchas sobrea incidência de Thrips tabaci Lind. (Thysanoptera: Thripidae) e a produtividade de bulbos de cebola em sistemaorgânico de produção. O experimento foi realizado na Estação Experimental da Epagri de Ituporanga, de agosto adezembro de 2007. A cultivar utilizada foi a Epagri 362 (Crioula Alto Vale). O delineamento experimental utilizadofoi em blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos avaliados foram preparados homeopáticos de calcáriode conchas pulverizados na concentração de 0,1%, nas diluições 6, 12 e 30CH (CH = diluição centesimalhahnemanniana) e testemunha. A incidência de tripes foi similar entre os tratamentos. As diluições de 6CH e12CH aumentaram a porcentagem de bulbos comerciais e a produtividade da cultura, mas não interferiram nopeso de bulbos comerciais.Termos para indexação: Thrips tabaci, Allium cepa, homeopatia, agricultura orgânica, agroecologia.

Influences of homeopathic preparations of shell lime on thrips incidenceand yield of onion in an organic system

Abstract _ The objective of this research was to evaluate the effect of shell lime homeopathic preparation onThrips tabaci incidence, yield and bulb mass of onion in an organic system. The experiment was carried out atEpagri/Ituporanga Experiment Station, Santa Catarina State, Brazil, from August to December 2007. The culti-var used was Epagri 362 (Crioula Alto Vale). The experimental design used randomized completed blocks withfour replications. The treatments were: shell lime homeopathic preparations at 6CH, 12CH, 30CH dilutions (CH= centesimal Hahnemann dilution) and untreated parcel. Each treatment was sprayed on onion plants at theproportion of 0,1%. The thrips incidence was similar in the different treatments. The dilutions 6CH and 12CHincremented the percentage of commercial bulbs and yield, but were not effective in the commercial bulb mass.Index terms: Thrips tabaci, Allium cepa, homeopathy, organic agriculture, agroecology.

Aceito para publicação em 22/7/08.1Eng. agr., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409,e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, fone: (49) 2101-9170, e-mail:[email protected].

Santa Catarina tem a maior áreaplantada (21.045ha) e volume deprodução de cebola no país (436.502t)(Boeing, 2007). O tripes, Thripstabaci Lind. (Thysanoptera:Thripidae), é considerado a princi-pal praga da cultura. Os danos des-te inseto são devidos à perda de áreafotossintética, decorrente da raspa-

gem das folhas e sucção de seiva dasplantas. Em alta infestação provo-ca lesões esbranquiçadas nas folhas,o que reduz o peso dos bulbos. Al-tas densidades populacionais detripes provocam apodrecimento debulbos armazenados, pois as plan-tas não tombam na época damaturação, facilitando a entrada de

água na bainha (Gonçalves, 2006).Por outro lado, foi observado queno sistema de produção orgânico,adotando práticas de manejo ecoló-gico do solo, tais como plantio dire-to e uso de adubação orgânica, nãohouve resposta significativa em pro-dutividade pela incidência do inse-to (Gonçalves, 2007).

92 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

No Brasil, a homeopatia temsido usada na medicina humanadesde 1840 e passou a ser aplicadano manejo de cultivos vegetais,principalmente, em sistemas ecoló-gicos de produção (Bonato, 2006;Andrade, 2007). Resultados signifi-cativos são relatados na literaturano manejo de insetos. Em experi-mento com o coleóptero desfo-lhador, Cerotoma tingomarianusBechyné (Coleoptera: Chryso-melidae) em feijoeiro, houve redu-ção dos danos e da população do in-seto, com efeitos benéficos em pro-dutividade, pelo uso de diluições ho-meopáticas do próprio inseto(nosódios) na 57D e 9D, ordens dediluição decimal hahnemanniana(Fazolin & Estrela, 1998). O uso denosódios da lagarta-do-cartucho,Spodoptera frugiperda J. E. Smith(Lepidoptera: Noctuidae) e o prepa-rado homeopático de teosinto,Euchlaena mexicana Schrad, redu-ziram a população do inseto emmilho (Almeida et al., 2008). Giesel(2007) verificou que compostos ho-meopáticos 30CH (ordem de dilui-ção centesimal hahnemanniana),preparados a partir de formigas-cortadeiras dos gêneros Atta eAcromyrmex (Hymenoptera:Formicidae) e do fungo simbionte,que utilizam na sua alimentação,provocaram redução das atividadesnos arredores do formigueiro e deforrageamento destas formigas.

O objetivo deste trabalho foi ve-rificar o efeito do uso de prepara-dos homeopáticos de calcário de con-chas na incidência de tripes, produ-tividades total e comercial e pesosmédios de bulbos geral e comercialno cultivo de cebola conduzido sobsistema orgânico de produção.

O experimento foi realizado naEpagri/Estação Experimental deItuporanga. O transplante das mu-das ocorreu em 23/8/2007 e a colhei-ta foi realizada em 12/12/2007. Acultivar de cebola utilizada foi aEpagri 362 (Crioula Alto Vale),transplantanda no espaçamento de40cm entre filas e 10cm entre plan-tas. A área foi manejada em siste-ma de plantio direto sobre palha deaveia (Avena sativa L.) e naboforrageiro (Raphanus sativus L. var.oleiferus Metzg.), que foram se-meados no mês de maio e adubadoscom esterco envelhecido de peru

por 2 anos na quantidade de 2t/hade peso seco. A aveia e o naboforrageiro foram acamados comrolo-faca no dia do transplante dasmudas de cebola. A área havia sidoanteriormente cultivada com cebo-la em sistema orgânico. Os resulta-dos da análise de solo, realizada noLaboratório de Análise de Solo daEpagri/Estação Experimental deItuporanga, foram: pH em água =5,9, índice SMP = 5,9, P = 76mg/dm3, K = 194mg/dm3, matéria orgâ-nica = 3,9%, Al = zero, Ca =4,8Cmolc/dm3, Mg = 2,2Cmolc/dm3,argila = 34%.

A adubação complementar foirealizada com 1t/ha de fosfato na-tural depositado manualmente so-bre as linhas de plantio, em sulcospreviamente abertos com mi-crotrator adaptado. O espaçamentoentre linhas foi de 40cm e entreplantas de 10cm. As parcelas seconstituíram de duas linhas de10cm, com bordadura de cinco plan-tas nas extremidades de cada linha.O delineamento experimental ado-tado foi blocos casualizados, comquatro repetições. Os tratamentosavaliados foram os preparados ho-meopáticos de calcário de conchas,nas diluições de 6, 12 e 30CH, e atestemunha sem aplicação. Ocalcário de conchas utilizado é ori-ginário de Criciúma, SC, e apresen-tou os seguintes teores de CaO =53,5%; poder de neutralização, PN= 96,0% e poder relativo deneutralização total, PRNT = 76,8%.Os preparados homeopáticos forammanipulados no Laboratório deHomeopatia e Saúde Vegetal daEpagri/Estação Experimental deLages, seguindo as normas de pre-paro da Farmacopéia HomeopáticaBrasileira (1997).

Para aplicar os preparados ho-meopáticos, utilizou-se um pulveri-zador manual de alta pressão, mar-ca Guarany®, adaptado em garrafasplásticas de 5L utilizando 600L decalda/ha. A incidência de tripes foiavaliada aos 55, 61, 68, 75, 89 e 96dias após transplante, 24 horas apósas pulverizações dos tratamentos.A avaliação da incidência do insetofoi realizada no campo, pela conta-gem do número de ninfas em todasas folhas de cinco plantas por par-cela, com auxílio de lupa ma-

nual com três aumentos.A análise dos dados foi realizada

através de análise de variância, comtransformação dos dados de núme-ro de ninfas de tripes para log(x+10), e os demais não foram trans-formados. As médias foram compa-radas pelo teste de Duncan ao nívelde 5% de probabilidade.

A produtividade total foi avalia-da pela coleta de cem bulbos porparcela. Para determinar a produ-tividade comercial foram considera-dos os bulbos com diâmetro superi-or a 5cm, dada a preferência no mer-cado (Epagri, 2000).

Pela análise dos resultados foiobservado que o número de ninfasde tripes não foi alterado pela apli-cação dos preparados (Tabela 1).Gonçalves (2007), utilizando prepa-rado homeopático, também não ob-servou efeito significativo da apli-cação de calcário de conchas (3CH)na densidade populacional de tripesem cebola. Entretanto, neste estu-do, a porcentagem de bulbos comer-ciais e o peso médio de bulbos fo-ram superiores à testemunha paratodas as diluições analisadas (Tabe-la 2). A produtividade comercial decebola não diferiu entre as diluiçõestestadas, mas as diluições 6CH e12CH proporcionaram rendimentossuperiores à testemunha. O pesomédio de bulbos comerciais não di-feriu entre tratamentos. Portanto,os preparados de calcário de conchasnas diluições 6CH e 12CH aumen-taram a produtividade da cultura dacebola, mas não influenciaram nopeso médio de bulbos comerciais.Gonçalves (2007) observou que adiluição 3CH não alterou a produti-vidade e o peso de bulbos comer-ciais de cebola. Isto sugere a neces-sidade de diluições mais altas paraincrementar a produtividade. Por-tanto, estas diluições tornam-sepotenciais no manejo da cebola paraaumentar a produtividade comer-cial e o peso médio de bulbos. O me-canismo envolvido na alteração daprodutividade pode estar relaciona-do com a presença de cálcio no pre-parado homeopático. SegundoBonato (2006), 4CH de Calcareacarbonica (medicamento homeopá-tico extraído de conchas) diminuiua dependência de calcário na lavou-ra e melhorou a absorção de cálciopelas plantas. Andrade (2007) co-

93Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

menta que o preparado Calcareacarbonica é indicado para plantasque demoram a emitir raízes, apre-sentam crescimento lento e mudassensíveis ao frio. A cultura da cebo-la normalmente é transplantada noinverno e necessita de um períodolongo para emitir raízes novas. Porisso, os preparados homeopáticosque possuem cálcio em sua compo-sição podem auxiliar no desenvolvi-mento das plantas.

A utilização de preparados home-opáticos de calcário de conchas nãoteve efeito sobre a incidência de T.tabaci, mas houve incremento daprodutividade comercial e do pesomédio de bulbos na cultura da cebo-la com 6CH e 12CH.

Literatura citada

1. ALMEIDA, A.A.; GALVÃO, J.C.C.;CASALI, V.W.D. et al. Tratamentos ho-meopáticos e densidade populacionalde Spodoptera frugiperda (J.E. SMITH,1797) (Lepidoptera: Noctuidae) em mi-

lho. Disponível em: <http://www.u fv.br /d f t /mi lho /24_cnms-15.htm>. Acesso em: 28 fev. 2008.

2. ANDRADE, F.M.C. Estratégias e mé-todos de implementação da homeopatiana propriedade rural. In: SEMINÁRIOSOBRE CIÊNCIAS BÁSICAS EMHOMEOPATIA, 8., 2007, Lages, SC.Anais..., Lages: Udesc-CAV. Epagri,2007. p.27-32.

3. BOEING, G. Cebola - Avaliações doIBGE sinalizam para novo recorde deprodução - 23/11/07. Informe conjun-tural. Disponível em: <http://cepa.epagri.sc.gov.br>. Acesso: em 27fev. 2008.

4. BONATO, C.M. (Org.). Homeopatiasimples: alternativa para a agriculturafamiliar. Marechal Cândido Rondon,PR: Gráfica Líder, 2006. 32p.

5. EPAGRI. Sistema de produção para ce-bola: Santa Catarina (3. revisão).Florianópolis: Epagri, 2000. 91p.(Epagri. Sistemas de produção, 16).

6. FARMACOPÉIA HOMEOPÁTICABRASILEIRA. 2.ed. São paulo:Atheneu, 1997. (Parte I e II). 349p.

7. FAZOLIN, M.; ESTRELA, J.L.V. Efei-

to da pulverização de produtos não con-vencionais no controle de Cerotomatingomarianus na cultura do feijoeiro.In: CONGRESSO BRASILEIRO DEENTOMOLOGIA, 17, 1998, Rio de Ja-neiro, RJ. Resumos..., Rio de Janeiro:SEB, 1998. p.162.

8. GIESEL, A. Preparados homeopáticos,iscas fitoterápicas, conhecimento po-pular e estudo do comportamento parao manejo das formigas cortadeiras noPlanalto Serrano Catarinense. 2007.94f. Dissertação (Mestrado em Produ-ção Vegetal) - Universidade do Estadode Santa Catarina, Centro de CiênciasAgroveterinárias, Lages, SC, 2007.

9. GONÇALVES, P.A. de S. Manejo eco-lógico das principais pragas da cebo-la. In: WORDELL FILHO, J.A.;ROWE, E.; GONÇALVES, P.A. de S.et al. Manejo fitossanitário na culturada cebola. Florianópolis: Epagri, 2006.226p. p.168-189.

10. GONÇALVES, P.A. de S. Preparadoshomeopáticos no controle de Thripstabaci Lind. (Thysanoptera: Thripidae)em sistema orgânico de cultivo de ce-bola. Revista de Ciências Agrove-terinárias, Lages, v.6, n.1, p.22-28, jan-jul. 2007.

Tabela 1. Número médio de ninfas de Thrips tabaci por planta de cebola tratada com preparados homeopáticos decalcário de conchas. Epagri, Ituporanga SC, 2007

Notas: ns = não houve diferença significativa entre tratamentos pelo teste F a 5% de probabilidade; CH = diluição centesimalhahnemanniana; CV = coeficiente de variação.

Tratamento Dias após transplante55 61 68 75 89 96

6CH de calcário de conchas 4,9ns 10,7ns 11,4ns 30,2ns 28,2ns 17,2ns

12CH de calcário de conchas 9,5 11,6 20,0 28,5 27,9 21,130CH de calcário de conchas 7,3 7,6 15,7 28,8 29,1 24,7Testemunha 3,6 5,4 19,8 25,4 37,4 25,3CV (%) 10,6 7,5 6,3 4,1 7,2 7,2

Tabela 2. Produtividades total e comercial, peso médio de bulbos de cebola geral e comercial de cebola tratada compreparados homeopáticos de calcário de conchas. Ituporanga, SC, 2007

Notas: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade; ns = não houvediferença significativa entre tratamentos pelo teste F a 5% de probabilidade.CH = diluição centesimal hahnemanniana; CV = coeficiente de variação.

Tratamento Produtividade Peso médio Produtividade Porcentagem Peso médio total de bulbos de bulbos comercial de bulbos de bulbos

de bulbos comerciais comerciaist/ha) g t/ha % g

6CH de calcáriode conchas 21,6ns 99,8 a 18,4 a 70,0 a 113,6ns

12CH de calcáriode conchas 21,4 97,3 a 18,2 a 72,3 a 111,630CH de calcáriode conchas 20,4 95,3 a 17,0 ab 63,0 a 114,7Testemunha 18,0 80,9 b 12,6 b 50,5 b 107,6CV (%) 12,0 8,1 16,5 13,0 6,0

94 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

Normas para publicação na RNormas para publicação na RNormas para publicação na RNormas para publicação na RNormas para publicação na RevistaevistaevistaevistaevistaAgropecuária Catarinense – RACAgropecuária Catarinense – RACAgropecuária Catarinense – RACAgropecuária Catarinense – RACAgropecuária Catarinense – RAC

A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicação maté-rias ligadas à agropecuária e à pes-ca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seções Ar-tigo Científico, Germoplasma eLançamento de Cultivares eNota Científica devem ser ori-ginais e vir acompanhadas deuma carta afirmando que amatéria é exclusiva à RAC.

2. O Artigo Científico deve ser con-clusivo, oriundo de uma pesqui-sa já encerrada. Deve estar or-ganizado em Título, Nome com-pleto dos autores (sem abrevi-ação), Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, Intro-dução, Material e métodos, Re-sultados e discussão, Conclu-são, Agradecimentos (opcional),Literatura citada, tabelas e fi-guras. Os termos para inde-xação não devem conter pala-vras já existentes no título e de-vem ter no mínimo três e nomáximo cinco palavras. Nomescientíficos no título não devemconter o nome do identificadorda espécie. Há um limite de 15páginas para Artigo Científico,incluindo tabelas e figuras.

3. A Nota Científica refere-se apesquisa científica inédita e re-cente com resultados importan-tes e de interesse para umarápida divulgação, porém comvolume de informações insufi-ciente para constituir um arti-go científico completo. Pode sertambém a descrição de nova do-ença ou inseto-praga. Deve ter

no máximo oito páginas (incluí-das as tabelas e figuras). Deveestar organizada em Título,Nome completo dos autores(sem abreviação), Resumo (má-ximo de 12 linhas, incluindoTermos para indexação), Títu-lo em inglês, Abstract e Indexterms, o texto corrido, Agrade-cimentos (opcional), Literaturacitada, tabelas e figuras. Nãodeve ultrapassar dez referên-cias bibliográficas.

4. A seção Germoplasma e Lança-mento de Cultivares deve con-ter Título, Nome completo dosautores, Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, Intro-dução, Origem (incluindopedigree), Descrição (planta,brotação, floração, fruto, folha,sistema radicular, tabela comdados comparativos), Perspec-tivas e problemas da nova cul-tivar ou germoplasma, Dispo-nibilidade de material e Litera-tura citada. Há um limite de 12páginas para cada matéria, in-cluindo tabelas e figuras.

5. Devem constar no rodapé da pri-meira página: formação profis-sional do autor e do(s) co-autor(es), título de graduação epós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome e en-dereço da instituição em quetrabalha, telefone para contatoe endereço eletrônico.Obs.: No caso de funcionáriosda Epagri, os dados relativos àformação profissional devemrespeitar o enquadramento nainstituição. Eventuais infor-

mações publicadas que não es-tejam de acordo com oenquadramento oficial não sig-nificam que elas sejam reco-nhecidas pela Empresa.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobreno-me e ano, com apenas a primei-ra letra maiúscula. Quandohouver dois autores, separarpor “&”; se houver mais dedois, citar o primeiro seguidopor “et al.” (sem itálico).

7. Tabelas e figuras geradas noWord não devem estar inseridasno texto e devem vir numera-das, ao final da matéria, emordem de apresentação, com asdevidas legendas. Gráficos ge-rados no Excel devem ser en-viados, com as respectivasplanilhas, em arquivos separa-dos do texto. As tabelas e as fi-guras (fotos e gráficos) devemter título claro e objetivo e serauto-explicativas. O título databela deve estar acima da mes-ma, enquanto que o título dafigura, abaixo. As tabelas de-vem ser abertas à esquerda e àdireita, sem linhas verticais ehorizontais, com exceção da-quelas para separação do cabe-çalho e do fechamento, evitan-do-se o uso de linhas duplas. Asabreviaturas devem serexplicadas ao aparecerem pelaprimeira vez. As chamadas de-vem ser feitas em algarismosarábicos sobrescritos, entre pa-rênteses e em ordem crescen-te (ver modelo).

8. As fotografias devem estar empapel fotográfico ou em diaposi-tivo, acompanhadas das respec-tivas legendas. Serão aceitas

95Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

9. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Conjunturae Informativo Técnico devemse orientar pelas normas doitem 10.

9.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam a opi-nião pessoal do autor sobre ofato em foco e não deve termais que três páginas.

9.2 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.3 Informativo Técnico – refere-se à descrição de uma técnica,uma tecnologia, doenças, inse-tos-praga, e outras recomenda-ções técnicas de cunho prático.Não deve ter mais do que oitopáginas, incluídas as figuras etabelas.

10. Os trabalhos devem ser enca-minhados em quatro vias, im-pressos em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço du-plo, sendo três vias sem o(s)nome(s) do(s) autor(es) paraserem utilizadas pelos consul-tores e uma via completa paraarquivo. As cópias em papeldevem possuir margem supe-rior, inferior e laterais de2,5cm, estar paginadas e comas linhas numeradas. Apenas aversão final deve vir acompa-nhada de disquete ou CD, usan-do o programa “Word forWindows”.

11. Literatura citada _ as referên-cias bibliográficas devem estarrestritas à Literatura citada notexto, de acordo com a ABNT eem ordem alfabética. Não sãoaceitas citações de dados nãopublicados e publicações no pre-lo. Quando houver mais de trêsautores, citam-se apenas os trêsprimeiros, seguidos de “et al.”.

EventosDaners, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In: CON-GRESSO IBERO-LATINOAME-RICANO DE APICULTURA, 5.,1996, Mercedes. Anais... Mercedes,1996. p.20.

Periódicos no todoANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRA-SIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275 p.

Artigo de periódicoSTUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebo-la. Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meio ele-trônicoSILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em:<www.idg.com.br/abre.htm>. Aces-so em: 10 set. 1998.

Livro no todoSOCIEDADE BRASILEIRA DE CI-ÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osestados do Rio Grande do Sul e

de Santa Catarina. 3.ed. PassoFundo, RS: SBCS/Núcleo RegionalSul; Comissãode Fertilidade doSolo – RS/SC, 1994. 224p., 1994.224p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CI-ÊNCIA DO SOLO. Manual de adu-bação e calagem para os Estados doRio Grande do Sul e de SantaCatarina. 10.ed. Porto Alegre, RS:SBCS/ Núcleo Regional Sul; Comis-são de Química e Fertilidade do Solo– RS/SC, 2004, 400p.

Capítulo de livroSCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The American Phyto-pathological Society, 1981. part 1,p.41-44.

Teses e dissertaçõesCAVICHIOLLI, J.C. Efeitos da ilu-minação artificial sobre o cultivo domaracujazeiro amarelo (Passifloraedulis Sims f. flavicarpa Deg.), 1998.134f. Dissertação (Mestrado emProdução Vegetal), Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias,Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP.

fotos digitalizadas, em formatoJPG ou TIF, em arquivo sepa-rado do texto, com resoluçãomínima de 200dpi.

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda deraleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

CV (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**) 0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.

Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131 abc134 ab122 cd128 abc138 a

125 bc

133 ab

4,8

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3

6,4

80 d100 ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104 a

94 abc

95 abc

6,1

95 d110 bc121 a109 bc100 cd107 bc115 ab

106 bc

109 bc

6,4

.............................. g ............................... kg/ha

1993 1994 1995 Média

96 Agropec. Catarin., v.21, n.3, nov. 2008

Para este procedimento,os dados das variáveis forampadronizados para retirar ainfluência das escalas demedida, utilizando a relaçãoy = (x - x)/s em que y é ovalor padronizado (médianula e variância um), x é ovalor observado, x e s são,respectivamente, a médiageral e o desvio padrão decada variável.

Errata Na RAC vol. 21, nº 3, de

novembro de 2008, algunssímbolos do quarto parágra-fo da página 60 não foramimpressos. O texto corretoestá reproduzido a seguir:

O mapa da página 80 da RAC vol. 21, nº 3, de novembro de 2008, foipublicado incompleto. A versão correta é a seguinte:

97Agropec. Catarin., v.21, n.3, nov. 2008