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Vol. 20, n 2, jul. 2007 - R$ 10,00 o O ISSN 0103-0779 catarinense Epagri Epagri Vol. 20, n 2, jul. 2007 - R$ 10,00 o Lançadas as primeiras cultivares brasileiras Goiabeira serrana Goiabeira serrana Lançadas as primeiras cultivares brasileiras SCS 115 CL: nova cultivar de arroz irrigado Sistema Clearfield de produção de arroz irrigado AgroEcoplano para Santa Catarina Microdestilaria de álcool: gera renda e proteção ambiental ¨ ¨ ¨ ¨ SCS 115 CL: nova cultivar de arroz irrigado Sistema Clearfield de produção de arroz irrigado AgroEcoplano para Santa Catarina Microdestilaria de álcool: gera renda e proteção ambiental ¨ ¨ ¨ ¨

Epagri catarinense - intranetdoc.epagri.sc.gov.brintranetdoc.epagri.sc.gov.br/biblioteca/publicacoes/rac/edicoes... · 4 A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura

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Vol. 20, n 2, jul. 2007 - R$ 10,00o

O

ISSN 0103-0779

catarinense

EpagriEpagri

Vol. 20, n 2, jul. 2007 - R$ 10,00o

Lançadas as primeiras cultivares brasileiras

Goiabeira serranaGoiabeira serranaLançadas as primeiras cultivares brasileiras

SCS 115 CL: nova cultivar de arroz irrigado

Sistema Clearfield de produção de arroz irrigado

AgroEcoplano para Santa Catarina

Microdestilaria de álcool: gera renda e proteção ambiental

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SCS 115 CL: nova cultivar de arroz irrigado

Sistema Clearfield de produção de arroz irrigado

AgroEcoplano para Santa Catarina

Microdestilaria de álcool: gera renda e proteção ambiental

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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................∗ Normas para publicação ................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

45

94

Sumário

∗ Relâmpagos e o nitrogênio na agricultura ....................∗ Estudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yacon∗ Chuvas ácidas em Urussanga, Santa Catarina ..............∗ Percepção sobre alimentos orgânicos e geneticamentemodificados .....................................................................∗ Vitamina A: saiba por que ela é indispensável ..............∗ Ensacamento de tomate para o controle de insetos-pragae doenças .........................................................................∗ Extrato de pimenta-do-reino é tóxico ao caruncho-do-feijão ................................................................................∗ Universitários fluminenses desenvolvem produtosalternativos à madeira de lei ............................................∗ Novos formicidas no mercado ......................................∗ Barraginhas: água na medida certa para qualquer região∗ Pastagens com baixa produtividade: só adubo resolve oproblema? ........................................................................∗ Castração de suínos: desvantagem ou oportunidade?.∗ Quintais orgânicos da Embrapa chegarão a 500 no Sulem 2007 ...........................................................................

∗ Flutuação populacional de Parastenopa oglobini(Blanchard) em erva-mate .................................................∗ Sistemas de preparo do solo, doses e fontes de adubonitrogenado na produtividade de milho ...........................∗ Qualidade de água em policultivos de peixes integradosà suinocultura ...................................................................

∗ Fitogeografia da goiabeira serrana no Planalto SerranoCatarinense .......................................................................∗ Ocorrência e descrição da forma perfeita de Fusicoccumaesculi na cultura da macieira no Brasil ..........................

∗ Recuperação de matas ciliares .....................................

∗ Goiaba serrana: a boa nova que vem da serra ..............∗ Microdestilaria de álcool gera renda ao produtor rurale proteção ambiental .......................................................

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Artigo Científico

Nota Científica

667

78

9

9

101011

1212

13

14

24

28

36

62

67

72

86

90

∗ Estimativas dos impactos das mudanças climáticas noszoneamentos da cultura da banana e da maçã no Estadode Santa Catarina .............................................................

Mudanças climáticas

∗ Proposta de um AgroEcoplano para o Estado de SantaCatarina ............................................................................∗ Divergências e implicações da legislação apícola para aprodução orgânica de mel ...............................................

15

19

∗ Trombeteira – dos rituais à industrialização................. 32

Plantas bioativas

∗ As primeiras cultivares brasileiras de goiabeira serrana:SCS 411 Alcântara e SCS 412 Helena ...............................∗ SCS 115 CL: primeira cultivar de arroz irrigado para usono sistema Clearfield de produção de arroz para SantaCatarina ............................................................................

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

77

81

43

47

51

54

58

∗ A hibridação no melhoramento genético do arroz irrigadoem Santa Catarina ............................................................∗ Moscas de asas maculadas capturadas em frascos caça-mosca na Região do Vale do Rio do Peixe .......................∗ Ocorrência de doenças em milho (Zea mays L.) no OesteCatarinense, safra 2005/06 ..............................................∗ Nova tecnologia para o controle do arroz-vermelho: osistema Clearfield de produção de arroz irrigado, sistemapré-germinado .................................................................∗ Espacialização das probabilidades do total anual de horasde frio em Santa Catarina .................................................

Informativo Técnico

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4

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

FICHA CATALOGRÁFICAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC. CDD 630.5

Impressão: Cromo Editora e Indústria Gráfica Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.Conceito B em Ciências Agrárias – QUALIS

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet:www.epagri.sc.gov.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Murilo Xavier Flores, Diretores: Athos de AlmeidaLopes, Ditmar Alfonso Zimath, Edson Silva, RenatoBroetto, Valdemar Hercilio de Freitas

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Janice da SilvaAlves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes eLaertes Rebelo

REVISÃO DE INGLÊS: Airton Spies e Roger DelmarFlesch

CAPA: Foto de Nilson Otavio Teixeira

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Neusa Maria dos Santos,Mariza Martins, Zilma Maria Vasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected],88034-901 Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE JULHO DE 2007

desenvolvimento decultivares é uma dasatividades mais im-

portantes da pesquisa agro-pecuária, pois tem por objetivoaumentar a eficiência dossistemas de produção e trazerretornos econômicos e sociaisaos produtores. A Epagri, comsuas parcerias, tem traba-lhado incessantemente comeste objetivo que, às vezes,pode levar décadas até seratingido. É o que ocorreu coma Acca sellowiana, a nossagoiabeira-serrana, que teveduas cultivares lançadas – aAlcântara e a Helena – asprimeiras cultivares melho-radas desta espécie nativa doSul do Brasil. Embora sejaamplamente conhecida ecomercializada no exterior, a

Acca sp. ainda não é cultivadacomercialmente no Brasil.Com o lançamento das duascultivares, o cultivo comercialda goiabeira-serrana será embreve uma alternativa paradiversificar as atividades napropriedade e aumentar arenda dos produtores, além deoferecer frutos de excelentesabor aos consumidoresbrasileiros.

Outra espécie que vemsendo melhorada e que já deua Santa Catarina o reco-nhecimento de uma dasmaiores produtividades domundo é o arroz. Uma novacultivar é oferecida aosprodutores catarinenses: aSCS 115 CL, a primeiracultivar de arroz irrigado nosistema Clearfield deprodução. Sua característicaé a resistência ao herbicidaOnly que permite o controlequímico do arroz vermelho,

uma das principais plantasdaninhas a reduzir a produ-tividade do arroz. A novacultivar e o sistema Clearfieldde produção são descritosnesta edição e merecematenção dos orizicultores.

As recentes divulgaçõescatastróficas para o nossoplaneta num futuro não muitodistante devem levar apopulação e os governantes atomar atitudes sérias eresponsáveis, e propor açõesobjetivas e exeqüíveis. Para osetor agropecuário, a propostade um agroecoplano paraSanta Catarina é apresentadanesta edição, que tem comoobjetivo assegurar aos seushabitantes um ambientenatural sustentável com boaqualidade de vida. É precisoque toda a sociedade ruralparticipe e seja cúmplice nosalvamento dos nossosrecursos naturais.

O

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5Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

Curso profissionalizante de for-mação em saneamento ambiental rural:Informações técnicas. 2006. 55p. BD 65,R$ 15,00

O conteúdo descrito neste documento éuma forma de lembrete que pretendesintetizar os principais temas trabalhadoscom os participantes do Cursoprofissionalizante de formação emsaneamento ambiental rural. O seu objetivoé servir de suporte para o diálogo com asfamílias, escolas, comunidades e grupos nosentido de contribuir com o processo decompreensão do saneamento ambientalrural.

Contato: [email protected].

Curso profissionalizantede panificação I: Informaçõestécnicas. 2006. 50p. BD 66. R$15,00

Este trabalho contém de formasimplificada a fundamentaçãoteórica, conceitos básicos ereceitas elaboradas e discutidasdurante o Curso de panificação I.Reúne informações básicas, taiscomo princípios de higiene,práticas de higienização,principais processos de fabricaçãoe outros assuntos técnicosdesenvolvidos durante o curso.

Contato: [email protected].

Avaliação de cultivarespara o Estado de SantaCatarina 2007/2008. 2007. 156p.BT 137, R$ 10,00

O aumento da produtividadedos principais cultivos estádiretamente relacionado ao usode cultivares geneticamentesuperiores. A avaliação decultivares dos principais cultivosdesenvolvidos em Santa Catarinaé realizada pela Epagri nasprincipais regiões edafoclimáticasdo Estado, onde identificam-seaquelas com melhor sanidade,adaptação regional e potencialprodutivo, cujos resultados sãoapresentados neste Boletim.

Contato: [email protected].

Sistema de produção Clearfieldde arroz: manejo da lavoura emsistema pré-germinado. 2007. 14p.BD 72, R$ 8,00

Esta publicação aborda, de formasimplificada, as vantagens do uso dosistema Clearfield de arroz que consisteno controle do arroz-vermelho e deoutras plantas daninhas que ocorremem lavouras de arroz irrigado, pelo usode cultivares de arroz resistentes aoherbicida Only. Contém orientaçõessobre a aplicação de herbicida erecomendações para o plantio, o manejoda água e como evitar a resistência doarroz-vermelho ao herbicida Only.

Contato: [email protected].

Cultivares de arroz irrigado daEpagri – Descrição e caracterização.2007. 76p. BT 138, R$ 12,00.

Este Boletim apresenta de formasintética e organizada as característicasmorfológicas e agronômicas das cultivaresdesenvolvidas pela Epagri no período de1975 a 2005. O trabalho mostra a relevânciado melhoramento genético desenvolvidopelos pesquisadores da Epagri, quepermitiu que Santa Catarina despontassecom uma das maiores produtividades dearroz no mundo. Trata-se de uma obratécnica que será muito útil paraprodutores de sementes, técnicos,estudantes e agricultores.

Contato: [email protected].

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6 Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

A

RRRRRelâmpagos e o nitrogênioelâmpagos e o nitrogênioelâmpagos e o nitrogênioelâmpagos e o nitrogênioelâmpagos e o nitrogêniona agriculturana agriculturana agriculturana agriculturana agricultura

atmosfera da Terra consistebasicamente em nitrogênioe oxigênio, somados a

pequenas quantidades de argônio,dióxido de carbono e gases raros.Quando um relâmpago ocorre,devido a sua grande intensidade,ele é capaz de literalmente quebraras moléculas de nitrogênio eoxigênio dentro do seu canal. Osátomos resultantes podem serincorporados a outras moléculas ouagruparem-se formando novasmoléculas, alterando, com isto, aquímica da atmosfera na região emtorno do canal.

A quebra das moléculas do gásnitrogênio pelo relâmpago possibi-lita que átomos deste elementopossam ser fixados a outroselementos. A fixação de átomos deoxigênio forma compostos, tais comoo óxido nítrico (NO) e o dióxido denitrogênio (NO 2), denominados

genericamente de óxidos denitrogênio (NOx). Estes compostossão então levados ao solo pelaschuvas, fertilizando-o. Cada relâm-pago produz algo em torno de 1kgde NOx. Cerca de 10 milhões detoneladas de NOx, em grande parteconvertidos em ácidos nítricos, sãolevados ao solo anualmente destaforma. No solo, eles são absorvidospelas raízes das plantas, onde sãoassimilados para formarem grãos efrutas que irão servir de alimentopara o homem e os animais.Compostos de nitrogênio são criadosno solo, a partir do metabolismo deorganismos, e por processos indus-triais, os chamados fertilizantes in-

dustriais.Estimativas da quantidade global

de compostos de nitrogênio no soloproduzidos por relâmpagos emcomparação com os outros proces-sos mencionados anteriormente sãobastante controvertidas, variandode 1% a 20% do total. Portanto,apesar de não ser a principal fonte,a produção de compostos de nitro-gênio por relâmpagos é significativaem termos globais, com conseqüên-cias positivas para a agricultura.

Mais informações com ometeorologista Rosandro B.Minuzzi, Epagri/Ciram, fone: (48)3239-8062, e-mail: [email protected].

No Brasil, ocorrem de 50 a 70 milhões de raios todosos anos

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Estudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yaconEstudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yaconEstudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yaconEstudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yaconEstudo na Unicamp desenvolve farinha à base de yaconraiz de yacon, tubérculo ori-ginário da Cordilheira dosAndes, foi transformada em

farinha e utilizada para comporformulações de bolos, biscoitos e‘‘snacks’’ de arroz pelo engenheirode alimentos André Marangoni, naFaculdade de Engenharia deAlimentos (FEA) da Unicamp.Embora o yacon seja usado hámilhares de anos pelos povos incas,suas propriedades funcionais maisimportantes foram conhecidassomente na década de 80, pelosjaponeses. A planta ganhou projeçãoe, atualmente, seu consumo ébastante difundido.

A proposta do engenheiro visouo desenvolvimento e a aplicação dafarinha de yacon em produtos àbase de cereais. É interessante queos produtos de panificação, como

bolo inglês e biscoitos, que são defácil consumo, atuem comoalimentos funcionais.

O produto final teve análises daspropriedades físicas e sensoriais,mostrando-se viável do ponto devista experimental. A farinha deyacon foi utilizada em diversasconcentrações em substituição àfarinha de trigo, no caso dos bolos ebiscoitos. Misturada à farinha dearroz, foi usada no preparo do“snack”.

Diferentemente da batata e damandioca, cujas reservas energé-ticas são compostas de amido, oyacon é rico em açúcares do tipofruto-oligossacarídeos. Pelos estu-dos já realizados, sabe-se que têmpotencial funcional altíssimo. Elessão tidos como pré-bióticos, poisestimulam seletivamente o cres-

cimento de bifidobactérias na regiãodo cólon. Também atuam como fibraalimentar, que melhora as funçõesintestinais, indicando atividadepreventiva de câncer nesta região,dentre outros efeitos benéficos.

Fonte: Jornal da Unicamp,Edição 357, maio de 2007.

A

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7Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

AChuvas ácidas em Urussanga, Santa CatarinaChuvas ácidas em Urussanga, Santa CatarinaChuvas ácidas em Urussanga, Santa CatarinaChuvas ácidas em Urussanga, Santa CatarinaChuvas ácidas em Urussanga, Santa Catarina

s chuvas ácidas foram detec-tadas pela primeira vez em1860, na Inglaterra e

Escócia, mas somente a partir de1960 pesquisadores começaram aestudar com detalhes suas causase medidas para sua redução.

A incidência de doenças doaparelho respiratório no Sul deSanta Catarina tem chamado aatenção para a ocorrência dofenômeno nesta região do Estado.Estima-se que 70% das internaçõesocorridas nos hospitais e 2% dosóbitos são decorrentes de doençasatribuíveis à poluição do carvão.

A acidez das chuvas é causadaprincipalmente pela combustão de

carvão mineral, petróleo e seusderivados. Os principais poluentessão o dióxido de enxofre e o dióxidode nitrogênio, duas substânciastóxicas e prejudiciais ao meioambiente. Além de aumentarem aconcentração de CO2 na atmosfera,as fumaças provenientes da queimade lenha podem transportar outrospoluentes, como o pentaclorofenol,um produto altamente tóxico usadona preservação de madeiras.

Além de danos ambientais, esteselementos estão associados adoenças. Problemas respiratórios,abortos, corrosão de metais eredução da vida útil das obras deconcreto estão entre as principais

ocorrências em cidades comoUrussanga, SC, onde no período dejunho de 1990 a setembro de 1993foram constatadas chuvas ácidas(pH <5,65). A região é conhecidapelo grande número de indústriascerâmicas, de mineração de carvãoe termoelétricas. Neste períodoverificou-se que 30,4% das chuvaseram ácidas, sendo que nos mesesde fevereiro, março, novembro edezembro, em ordem decrescente,ocorreram os maiores percentuais.

Observou-se que o percentual dechuva ácida aumentou de 30,70%de jun./90 a set./93 para 46,83% noperíodo de out./01 a jun./05, umaelevação média de 16,43% emuma década, o que deve causarpreocupação e maior monitora-mento de acidez de chuva na Regiãodo Litoral Sul de Santa Catarina.Foi verificada uma forte correlaçãoentre a precipitação média e o per-centual de chuvas ácidas e destascom a concentração iônica, medidaatravés da condutividade elétrica.

Mais informações com os enge-nheiros agrônomos Darci AntônioAlthoff, Augusto Carlos Pola eMárcio Sonego, Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga, C.P.49, 88840-000 Urussanga, SC, fone:(48)3465-1933, e-mail: [email protected].

Construção com menos de 8 anos e folhas delaranjeiras com depósitos de partículasprovenientes do ar e das chuvas. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2006

Foto de Dario Alfonso Morel

PPPPPercepção sobre alimentos orgânicos eercepção sobre alimentos orgânicos eercepção sobre alimentos orgânicos eercepção sobre alimentos orgânicos eercepção sobre alimentos orgânicos egeneticamente modificadosgeneticamente modificadosgeneticamente modificadosgeneticamente modificadosgeneticamente modificados

m trabalho científico publi-cado recentemente pelaAgBioForum (v.9, n.3, p.180-

194, 2006) apresenta a percepção deestudantes de duas universidadesdo Meio-Oeste americano, comafirmativas sobre produtos e proces-sos orgânicos e geneticamentemodificados (GM). Entre os temasdo questionário respondido pelosestudantes, as questões abordavamsaúde, ambiente, ética e riscos coma produção orgânica e o uso deprodutos transgênicos. De maneirageral, os alimentos orgânicos sãotidos como mais saudáveis e segurose as práticas orgânicas mais

ambientalmente corretas devido aouso reduzido de agrotóxicos. Osestudantes expressaram certapreocupação sobre os desconhecidosefeitos das modificações genéticassobre o ambiente e a sociedade comoum todo, porém, uma grandeporcentagem deles acreditava haverbenefícios ambientais no uso dabiotecnologia na produção agrícola.

Sobre o ponto de vista ético doconsumidor, alguns estudantestiveram objeções ao alimento orgâ-nico. Por outro lado, demonstrarampreocupação com as possíveisconseqüências desconhecidas dosalimentos GM. De acordo com o

trabalho, eles são mais favoráveisao uso da biotecnologia nomelhoramento de plantas do queem animais.

Segundo o estudo, a produçãoorgânica poderia capitalizar as per-cepções favoráveis, principalmentena área da saúde. Poderia “vender”os benefícios dos alimentos orgâni-cos para programas de lanche es-colar, casas de idosos e profissionaisda saúde. Aqueles favoráveis àbiotecnologia também poderiamcapitalizar favoravelmente ao infor-mar que na produção de alimentosGM se usa muito menos agrotóxicoque na produção convencional.

U

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8 Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

Vitamina AVitamina AVitamina AVitamina AVitamina A: saiba por que: saiba por que: saiba por que: saiba por que: saiba por queela é indispensávelela é indispensávelela é indispensávelela é indispensávelela é indispensável

uita gente tem o hábito degastar quantias exorbitantesem produtos cosméticos em

busca de uma pele saudável ou paramanter seus cabelos suaves ebrilhantes. Embora estes produtosajudem, seu efeito não se comparaao que pode produzir umaalimentação equilibrada com asquantidades apropriadas devitamina A.

A vitamina A (retinol) éimportante para a pele e cabelos,

Tabela 2. Recomendações dietéticas de vitamina A (retinol)

Estágio de vida Idade Recomendação(ano) (µg)

Crianças 1 a 3 4004 a 6 500

7 a 10 700

Homens > 11 1.000

Mulheres > 11 1.000

Gestantes 800

Lactantes Primeiros 6 meses 1.300

6 meses seguintes 1.200

Fonte: Institute of Medicine, Washington, DC.

Tabela 1. Quantidade de vitamina A expressaem µg/100g

Vísceras de animais 5.800

Cenouras 2.000

Espinafres (cozidos) 1.000

Salsa 1.160

Manteiga 970

Frutos 670

Óleo de soja 583

Queijos 240

Ovos 220

Tomates, alfaces, etc. 130

Fonte: Institute of Medicine, Washington, DC.

M ajuda na formação dos ossos e éfundamental para a visão. Acarência, por sua vez, pode causarsintomas de anorexia e gravesdeficiências visuais. O excessotambém provoca manifestaçõescomo pele seca e áspera, fissurasnos lábios, problemas ósseos earticulares, dores de cabeça,tonturas e náuseas, além de quedade cabelos, câimbras, lesões

hepáticas e interrupção no cres-cimento.

Dentre as principais fontes devitamina A, destacam-se a cenoura,o espinafre, a salsa, as frutas, amanteiga e as vísceras (Tabela 1).De um modo geral, a quantidade devitamina A recomendada por dia éde 800 a 1.000µg (microgramas),mas pode variar de acordo com osexo e a idade, conforme a Tabela 2.

Inquéritos nutricionais, rea-lizados em diversas regiões doBrasil nos últimos 20 anos,demonstram que a deficiência devitamina A (DVA) tornou-se umsério problema de saúde pública.Isso fez com que o Ministério daSaúde instituísse programas decombate à deficiência nas áreas derisco. Além de reduzir problemasnutricionais, essas iniciativas têmcontribuído para a melhoria dodesempenho escolar das crianças,prejudicado pela deficiência visualocasionada pela carência devitamina A.

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9Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

N

C

Ensacamento de tomate para o controleEnsacamento de tomate para o controleEnsacamento de tomate para o controleEnsacamento de tomate para o controleEnsacamento de tomate para o controlede insetosde insetosde insetosde insetosde insetos-praga e doenças-praga e doenças-praga e doenças-praga e doenças-praga e doenças

a cultura do tomateiro, ge-ralmente o controle de inse-tos-praga e doenças é feito

com a aplicação de defensivosquímicos em cobertura. Para evitarriscos de resíduos nos frutos eproblemas de intoxicação, outrosmétodos de controle estão sendoadotados. O ensacamento surgecomo alternativa. Sem afetar aqualidade e a aparência dos frutos,com ele é possível obter um produtocom preço diferenciado queremunera melhor o produtor. As

embalagens protegem os frutos doataque de insetos, pássaros,desenvolvimento de doenças eadversidades climáticas, comochuvas leves de granizo e vento. Notomate as inflorescências sãoensacadas quando apresentam emtorno de seis flores. As embalagenspodem ser de papel glassine opaco eimpermeável, de polipropilenoperfurado e de TNT (tecido-não-tecido), encontradas em lojascomerciais ou em fábricas. Asembalagens de papel glassine sãoproduzidas com pasta químicaespecial e passam por acabamentotambém especial, que torna o papeltransparente e impermeável a óleose gorduras. As embalagens depolipropileno perfurado são comobolsas e contêm inseticida impreg-nado em baixas concentrações. Jáas de TNT são de polipropilenoaditivado, tratado contra aautodegradação causada pelos raiosUV.

A Epagri/Estação Experimentalde Caçador está desenvolvendopesquisa com diferentes embalagens

para o ensacamento de tomate.Alguns resultados preliminaresindicaram que as embalagens depolipropileno perfurado e de TNTprotegeram bem os frutos contradoenças e o ataque de insetos,proporcionando boa aparência equalidade.

Mais informações com eengenheira agrônoma JanaínaPereira dos Santos, Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador, C.P. 591,89500-000 Caçador, SC, fone: (49)3561-2035, e-mail: [email protected].

Penca de tomate ensacada comembalagem de polipropilenomicroperfurado

Penca de tomate ensacada comembalagem de TNT

Extrato de pimenta-Extrato de pimenta-Extrato de pimenta-Extrato de pimenta-Extrato de pimenta-dododododo-reino-reino-reino-reino-reinoé tóxico ao carunchoé tóxico ao carunchoé tóxico ao carunchoé tóxico ao carunchoé tóxico ao caruncho-----dododododo-feijão-feijão-feijão-feijão-feijão

om o propósito de avaliar oefeito de extratos de pimen-ta-do-reino (Piper nigrum L.)

no controle do caruncho-do-feijão(Acanthoscelides obtectus) , umapesquisa realizada na Udesc/CAV,Lages, SC, concluiu que os extratosmetanólico e acetônico sobre grãosde feijão possuem efeito tóxico sobreadultos do caruncho-do-feijão,reduzem a progênie das populaçõesdos carunchos e repelem adultosdesta espécie. O caruncho-do-feijãoé a principal espécie que ocorre noarmazenamento e a sua infestaçãonos estoques de feijão armazenadopode causar perdas de até 20%. Aoabrir galerias nos grãos, oscarunchos afetam a sua viabilidade,peso e valor nutritivo, e os seusdejetos afetam a qualidade co-

mercial. O uso intenso de agrotó-xicos tem causado intoxicações emhumanos e animais domésticos eaumentado o custo de produção. Osfrutos da pimenta-do-reino sãoconhecidos por conterem alcalóidesfisiologicamente ativos contravárias espécies de insetos. Osextratos foram obtidos com ossolventes acetona e metanol eforam aplicados isoladamente nasconcentrações de 25, 10, 5 e 2,5g/L,mais os tratamentos testes (sol-vente puro e sem solvente). Aoobservar o efeito tóxico dos extratos,foi verificado que aos 21 dias após otratamento a mortalidade acu-mulada foi superior a 70% paratodas as concentrações. Entretanto,o extrato acetônico reduziu a popu-lação em 90% nas concentrações de

10 e 20g/L. Sobrea progê-nie (F1)d e s t e sinsetos ,h o u v ereduçãosignifica-tiva no número de emergidos paraambos os extratos, atingindo 98%na concentração de 25g/L. O efeitode repelência também foi observadoentre os tratamentos. Após 72 horasda liberação do caruncho-do-feijãoem grãos contendo todos os trata-mentos, foi verificada a preferênciapelos grãos sem tratamento ou comdosagens menores de extrato. Cincodias após o início do experimento,69% dos adultos preferiram alojar-se nas placas com grãos semtratamento algum.

Fonte: Revista Brasileira deArmazenagem, v.31, n.1. p.17-22,2006.

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10 Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

NNovos formicidas no mercadoNovos formicidas no mercadoNovos formicidas no mercadoNovos formicidas no mercadoNovos formicidas no mercado

este ano, seis novos formi-cidas serão lançados no mer-cado nacional e deverão ser

mais eficazes e menos tóxicos aoser humano que os produtostradicionais. Estes formicidas foramelaborados com substâncias sinté-ticas e naturais atrativas às for-migas, no Centro de Estudos deInsetos Sociais – Ceis – do Institutode Biociências da Unesp, Campusde Rio Claro. Eles funcionam comoiscas para as oito espécies maisincidentes em infestações no mun-do e foram elaborados a partirdas preferências alimentares ecomportamentais de cada espé-cie.

“O grande diferencial dessespesticidas é o processo de atraçãodas formigas para as iscas”, afirmaOdair Bueno, biólogo e coordenadordo projeto. “Para isso, foi funda-mental o conhecimento biológicoda alimentação, reprodução efisiologia dos insetos, adquirido nosúltimos 20 anos de estudos na

Unesp”, acrescenta Osmar Malas-pina, supervisor do Ceis, quetambém participou das pesquisas.

Os produtos foram preparadoscom concentrações dos venenos atédez vezes menores que os similaresexistentes. Com isso, os novosformicidas também possuem umaação mais lenta – o efeito leva de 5a 8 dias. Essa característica, porém,os torna mais eficazes, pois evitaque os insetos morram antes delevar as substâncias ao formi-gueiro.

Para atrair a minúscula formiga-fantasma (Tapinoma melanoce-phalum ), uma das mais dissemi-nadas nas cozinhas brasileiras,foram formuladas substâncias desabor açucarado com base no ácidobórico, que matam o inseto quandoatingem o seu estômago. Já para asformigas-lava-pés (Solenopsissaevissima ) foram utilizadassubstâncias químicas gordurosas ea sulfluramida – que, ao serabsorvida por uma glândula na

cabeça do animal, provoca a mortepela inibição da produção de energiadas células. Outras espéciesatacadas pelos novos formicidas são:formiga-louca (Paratrechina lon-gicornis ), formiga-argentina (Line-pithema humile ), formiga-faraó(Monomorium pharaonis), formiga-cabeçuda (Pheidole megacephala ),pixixica ou giquitaia (Wasmanniaauropunctata) e sará-sará (Cam-ponotus sp.).

Os novos formicidas estarão àdisposição em gel e pastas para usoem residências, hospitais eempresas especializadas e na formade granulados e em pó para aplicaçãoem jardins. Sua aplicação deve serpróxima às trilhas das formigas.Devido à baixa concentração dosvenenos, além de mais eficazes, osformicidas são menos tóxicos ao serhumano, pois reduzem o risco deintoxicações domésticas poringestão acidental.

Fonte: Jornal da Unesp, nº 221,abril/2007.

Universitários fluminensesUniversitários fluminensesUniversitários fluminensesUniversitários fluminensesUniversitários fluminensesdesenvolvem produtos alternativos àdesenvolvem produtos alternativos àdesenvolvem produtos alternativos àdesenvolvem produtos alternativos àdesenvolvem produtos alternativos àmadeira de leimadeira de leimadeira de leimadeira de leimadeira de lei

lunos da Universidade doEstado do Rio de Janeiro –UERJ – estão usando

matérias-primas agrícolas, como abanana e a pupunha, para fabricarprodutos alternativos aos feitoscom madeira de lei. O ponto departida para o projeto foi aconquista do “IF Design Awards”,da Alemanha, considerado o Oscardo design, pela Escola Superior deDesenho Industrial – Esdi – daUERJ, em 2005.

A base para o projeto atual foium trabalho com bambu, feito hácerca de dez anos por um ex-alunopara testar novos materiais. A ex-

periência serviu para que alunos daEsdi montassem a Fibra DesignSustentável, uma microempresaem processo de pré-incubação naIncubadora de Empresas de Designda universidade.

Os novos produtos forambatizados de bananaplac e com-pensado de pupunha. O objetivo ésubstituir madeiras nobres nafabricação de móveis e material derevestimento, como laminados defórmica, em painéis de automóveis.Estuda-se também o uso da ba-nanaplac ou de sua mistura com ocompensado de pupunha na fabrica-ção de peças curvas de madeira,

como “skates” e “snowboards”(pranchas para deslizar sobre aneve, praticando manobras radi-cais).

Todo o tronco da bananeira,chamado de pseudocaule, é usadona produção da bananaplac, poistoda vez que se retira o cacho deuma bananeira é preciso cortá-laporque ela não dá mais frutos. Osestudantes aproveitam, então, oque seria lixo e dali extraem a fibrado tronco com a qual é feita abananaplac, sendo que o processoé todo natural. A proposta daempresa é trabalhar com designsustentável, pegando o que seriaresíduo de uma indústria,colocando em um novo cicloprodutivo e gerando uma novafamília de produtos.

No caso da pupunha, o troncoda palmeira é cortado ao meio, ondefica o palmito, e a casca grossa queenvolve o palmito é usada parafabricar o compensado de pupunha,material que normalmente édesperdiçado, pois se extrai apenaso miolo.

Fonte: www.ambientebrasil.com.br, 23/2/07.

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Barraginhas: água naBarraginhas: água naBarraginhas: água naBarraginhas: água naBarraginhas: água namedida certa para qualquermedida certa para qualquermedida certa para qualquermedida certa para qualquermedida certa para qualquerregiãoregiãoregiãoregiãoregião

s estiagens dos últimos anosem SC trouxeram proble-mas para muitas regiões,

prejudicando tanto o meio ruralquanto áreas urbanas. Na maioriados lugares, as precipitações sãoconsideradas suficientes, masocorrem de modo irregular.

Segundo especialistas, tanto aseca como a água em excesso podemprovocar inúmeros problemas aosolo. O ideal seria que houvesseágua na medida certa, ou seja, preci-pitações regulares e equilibradasdurante o ano inteiro. Mas comonem sempre a natureza age de acor-do com aquilo que se deseja, é preci-so desenvolver novas tecnologias.

O sistema de captação de águapor barraginhas, desenvolvido pelaEmbrapa Milho e Sorgo, SeteLagoas, MG, é uma solução que jáfoi adotada em mais de 300municípios mineiros e também está

dando certo no Nordeste do País.Capaz de absorver grande parte

das enxurradas e amenizar en-chentes, a tecnologia desenvolvidadurante a década de 90 pode seradaptada às necessidades daspropriedades rurais e aproveitadaem vários municípios catarinenses.Além da facilidade de imple-mentação, a idéia tem a vantagemde funcionar tanto em lugares ondechove muito quanto em regiões ondea chuva é escassa.

As pequenas barragens sãosimples e seu custo é bastanteacessível. O projeto original tem oformato de meia-lua, com 15 a 20mde diâmetro e 2m de profundidade.Ao mesmo tempo em que retém aágua da chuva e reduz os prejuízosprovocados no solo pela água das

enxurradas, a técnica ajuda aalimentar o lençol freático. Comisso, a umidade fica distribuída demodo mais uniforme e a água, alémde mais volumosa, ganha emqualidade. Muitas vezes, formam-se lagos subterrâneos que secomunicam com outros lagosformados por outras barraginhas.Nas partes baixas do terreno,nascem vertentes e criam-se ascondições necessárias para odesenvolvimento de hortas,canaviais e outras culturas. Nasáreas onde a água permanecesubterrânea, a terra propicia ocultivo de árvores frutíferas.

A idéia nasceu no início dos anos90, quando o engenheiro agrônomoda Embrapa Milho e Sorgo LucianoCordoval desenvolveu a tecnologiaque reúne técnicas milenares decaptação de água e alguns métodosutilizados hoje no México e emIsrael. Desde então, o pesquisadorpassou a estimular os agricultoresdo interior de Minas Gerais autilizarem as barraginhas em suaspropriedades. Criada inicialmenteapenas para conter a erosão eacumular a água da chuva, a técnicatraria diversos outros benefícios,recuperando áreas degradadas,revitalizando mananciais eviabilizando a agricultura familiar.

Além de gerar renda eincrementar a economia, asbarraginhas têm um papel relevantedo ponto de vista socioambiental.Ao mesmo tempo em que resgatama motivação dos agricultores emudam a realidade em váriosmunicípios do interior do País, elaschamam a atenção para uma questãoimportante e urgente: o manejoadequado dos recursos hídricos.

Mais informações com LucianoCordoval, Embrapa Milho e Sorgo,Sete Lagoas, MG, fone: (31) 3779-1066.

Barraginha-carregada: barraginha que acaba de colherágua de uma chuva significativa, nesse caso na beira daestrada (cerrado, Sete Lagoas, MG)

Barraginhas-seqüenciadas: seqüência de barraginhas dispersas em umapropriedade aproveitada para pastagem, que junto com outras 18barraginhas não mostradas na foto, dão sustentabilidade a um açudeabaixo, à esquerda (cerrado, Sete Lagoas, MG)

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PPPPPastagens com baixa produtividade:astagens com baixa produtividade:astagens com baixa produtividade:astagens com baixa produtividade:astagens com baixa produtividade:só adubo resolve o problema?só adubo resolve o problema?só adubo resolve o problema?só adubo resolve o problema?só adubo resolve o problema?

V ários produtores buscam in-formações para a adubaçãodas pastagens com o intuito

de reformar ou aumentar a pro-dução forrageira; poucos, entretan-to, têm demonstrado uma preocu-pação sistêmica para resolução desuas ansiedades. Para aumentar aprodutividade das pastagens ou suarecuperação, a fertilização deve serutilizada. Porém, essa prática sozi-nha não resolverá todos os proble-mas da alimentação do rebanho.

É indispensável que os produ-tores entendam que vários fatoresdeterminam o aumento da produ-tividade das pastagens: a nutriçãoda planta, o combate a invasoras, orespeito ao ciclo da forrageira utili-

zada, estacionalidade da produção(verão e inverno), o momento cor-reto da utilização e o tempo deocupação estão entre os principais.

Primeiramente, o produtor devedefinir, juntamente com o técnico,qual será a produção de carne (kgde peso vivo/ha/animal) convenien-te para seu sistema de produção.Em seguida, é importante umlevantamento cuidadoso das áreasefetivas das pastagens e das divisõesexistentes para definição do manejodas pastagens, além de um plane-jamento para o controle das plantasnão-desejáveis. O manejo daspastagens está ligado ao planeja-mento e gestão da forragem neces-sária e tem como objetivo obter o

máximo de produtividade animalou por área. Além disso, deve buscara perenização da pastagem.

Um segundo passo poderá ser aredivisão em pastos menores e ocontrole da quantidade de animaispara não haver excesso de pastejo,prejudicando o desempenho animale a sobrevivência da espécieforrageira.

Após essas medidas, que podemser efetuadas concomitantementeou em vários anos, principalmentedevido à manutenção de fluxos decaixa positivos e sempre priorizandoo aumento da capacidade de lotaçãodas pastagens com o incremento deanimais no sistema, é que devemosconsiderar maior intensificação nareposição de nutrientes. Éimportante salientar que possíveisutilizações de fertilizantes nasprimeiras etapas devem serdirecionadas por técnicos experien-tes na região, sempre privilegiandoa economicidade do sistema.

Mais informações com oengenheiro agrônomo AmauryBurlamaqui Bendahan, EmbrapaRoraima, fone: (95) 3626-7125, ramal25 ou 46.

e de um lado a castraçãocirúrgica é necessária e efi-caz para prevenir o odor de

macho inteiro (cheiro desagra-dável exalado ao cozinhar carne desuínos machos não castrados), poroutro, o produtor tem significati-vas desvantagens ao utilizar atécnica. Os machos castradoscirurgicamente crescem maislentamente, consomem mais ração,apresentam carcaças com maisgordura e têm maior índice demortalidade ainda na maternidade.Em outras palavras, menor lucra-tividade.

Estudos realizados na Austráliae Europa, que avaliaram o desem-penho e a composição das carcaçasde suínos, revelam que os machosinteiros se alimentaram mais efi-

cientemente e produziram carcaçascom mais carne magra do que osmachos castrados cirurgicamente.A diferença na conversão alimentarresultou em um consumo de 17,4kga menos de ração por machos intei-ros para atingir 90kg de peso. “Parauma granja que produz mil suínosmachos, isso representa reduçãono consumo de ração em torno de17,5t e nos custos de produção”,afirma Ângelo Melo, gerente daUnidade de Negócios Suínos e Avesda Divisão de Saúde Animal daPfizer.

No Brasil, há apenas umamaneira de evitar o odor de machointeiro: castração cirúrgica dossuínos machos, que gera custo paraa produção. “O produtor deve estaratento ao custo-benefício e retorno

do investimento para se mantercompetitivo.

A indústria suína global já apon-ta uma mudança no modo de con-trole do odor de macho inteiro.Pesquisadores do Victorian Insti-tute of Animal Science, na Aus-trália, desenvolveram nova técnicapara bloquear a ação das substân-cias que provocam o odor de machointeiro. Os produtores austra-lianos e neozelandeses de suínosjá têm se beneficiado das van-tagens dessa nova ferramenta demanejo. “A Pfizer já se preparapara trazer essa nova alternativade manejo ao produtor”, afirmaMelo.

Fonte: Divisão de Saúde Animalda Pfizer: www.pfizersaudeanimal.com.br, fone: 0800-011-19 19.

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Castração de suínos:Castração de suínos:Castração de suínos:Castração de suínos:Castração de suínos:desvantagem ou oportunidade?desvantagem ou oportunidade?desvantagem ou oportunidade?desvantagem ou oportunidade?desvantagem ou oportunidade?

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Quintais orgânicos da EmbrapaQuintais orgânicos da EmbrapaQuintais orgânicos da EmbrapaQuintais orgânicos da EmbrapaQuintais orgânicos da Embrapachegarão a 500 no Sul em 2007chegarão a 500 no Sul em 2007chegarão a 500 no Sul em 2007chegarão a 500 no Sul em 2007chegarão a 500 no Sul em 2007

Embrapa Clima Temperado,vinculada ao Ministério daAgricultura, Pecuária e

Abastecimento – Mara –, completaráaté o final do ano de 2007 a históricamarca da implantação de 500quintais orgânicos, distribuídos nosterritórios do Rio Grande do Sul,Paraná e Santa Catarina, além dezonas de fronteira com o Uruguai.Trata-se de um trabalho pioneiroque privilegia, técnica e concei-tualmente, os princípios da pro-dução orgânica e que busca contri-buir para a segurança alimentarem áreas rurais e urbanas, voltadoprincipalmente para assentados dareforma agrária, quilombolas(descendentes de escravos),populações indígenas e escolaspúblicas do campo e cidade.

Os quintais orgânicos buscamrecuperar e estimular uma tradiçãoque se foi perdendo no tempo,representada pela presença empropriedades rurais de espéciesfruteiras que complementam aalimentação ao longo do ano. Cadaquintal possui cinco plantas de 12espécies de frutas escolhidas pelassuas características nutricionais e

medicinais e por se adaptarem aossolos e ao clima das propriedades doBrasil meridional. As 60 plantasque compõem cada quintal sãoconstituídas pelas seguintesespécies de fruteiras de climatemperado (algumas delas nativasdo Sul): amoreira-preta, araçazeiro-amarelo, mirtilo, caquizeiro,figueira, goiabeira, pessegueiro,pitangueira, romanzeira, laran-jeiras doces, bergamoteira elimoeiros, cujos principaiscomponentes nutricionais sãoapresentados na Tabela 1.

Os técnicos da Embrapa ClimaTemperado e instituições parceirasestão entusiasmados com a aceita-ção e evolução dos números doprojeto a cada ano. Em 2005, maisde 3.500 pessoas foram diretamentebeneficiadas, enquanto que, em2006, este número saltou para10.309. Atualmente, estima-se quemais de 15 mil pessoas já tenhamsido atingidas.

De acordo com os pesquisadoresda Embrapa Clima Temperado

Tabela 1. Composição de algumas frutas por 100g de parte comestível

Fruta Água Proteína Fibra Cálcio Fósforo Ferro Vitam. C Niacina Vitam. A

....................g................... ...................................mg..................................... UI

Caqui 78,2 0,8 1,9 6 26 0,3 11 0,3 2.500

Figo 82,2 1,2 1,6 50 30 0,5 4 0,4 100

Goiaba 80,8 0,9 5,3 22 26 0,7 218 1,0 260

Laranja 87,7 0,8 0,4 34 20 0,7 59 0,2 130

Limão 90,3 0,6 0,6 41 15 0,7 51 0,1 20

Pêssego 87,9 0,8 1,8 9 24 1,0 6 0,4 400

Araçá 89,9 1,5 5,2 48 33 6,3 194 - -

Pitanga 85,6 0,8 0,6 - - - - - 635

Amora - 1,0 3,0 41 - 1,0 15 - -

Lima - - - 23 - - 46 - -

Mirtilo - 1,0 2,0 12 - 1,0 17 - -

Fonte: Manica (1988), Donadio et al. (2002), Ursell (2001).

Fernando Rogério Costa Gomes eEnilton Fick Coutinho, umagarantia do êxito do programa é aexistência de parcerias estratégicas.Uma delas é a firmada entre aEmbrapa e a Companhia de GeraçãoTérmica de Energia Elétrica –CGTEE –, ligada à Eletrobrás, e aFundação de Apoio à Pesquisa eDesenvolvimento Agropecuário‘Edmundo Gastal’ – Fapeg –, queatinge R$ 645 mil, cujo valor, alémda produção das mudas, se destinaà implantação das unidades deprodução, aquisição e distribuiçãode insumos, entrega das mudas eassistência técnica. As mudas sãoproduzidas na Estação ExperimentalCascata, em Pelotas, e em Candiota,na Fronteira-Oeste do RS, ematividades que são geradoras deemprego, renda e desenvolvi-mento.

Mais informações com osengenheiros grônomos FernandoCosta Gomes e Enilton Coutinho,Embrapa Clima Temperado,Pelotas, RS, fone: (53) 3275-8212.

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Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 200714

Oprocesso de ocupação doBrasil caracterizou-se pelafalta de planejamento e

conseqüente destruição dos re-cursos naturais, particularmentedas florestas. Ao longo da históriado País, a cobertura florestalnativa, representada pelos dife-rentes biomas, foi cedendo espaçopara as culturas agrícolas, aspastagens e as cidades.

O processo de fragmentaçãoflorestal é intenso nas regiõeseconomicamente mais desenvol-vidas, ou seja, o Sudeste e o Sul, eavança rapidamente para o Centro-Oeste e Norte, ficando a vegetaçãoarbórea nativa representada,principalmente, por florestassecundárias, em variado estado dedegradação, salvo algumasreservas de florestas bem conser-vadas.

Neste panorama, as matasciliares não escaparam dadestruição; pelo contrário, foramalvo de todo o tipo de degradação.Basta considerar que muitascidades foram formadas às margensde rios, eliminando-se todo tipo devegetação ciliar; e muitas acabampagando um preço alto por isto,através de inundações constantes.

Este processo de degradação dasformações ciliares, além dedesrespeitar a legislação, que tornaobrigatória a preservação dasmesmas, resulta em vários pro-blemas ambientais. As matasciliares funcionam como filtros,retendo defensivos agrícolas,poluentes e sedimentos que seriamtransportados para os cursos d’água,afetando diretamente a quantidade

RRRRRecuperação de matas ciliaresecuperação de matas ciliaresecuperação de matas ciliaresecuperação de matas ciliaresecuperação de matas ciliaresJosé Antônio Cardoso Farias1

e a qualidade da água e conse-qüentemente a fauna aquática e apopulação humana. São impor-tantes também como corredoresecológicos, ligando fragmentosflorestais e, portanto, facilitando odeslocamento da fauna e o fluxogênico entre as populações deespécies animais e vegetais. Emregiões com topografia acidentada,exercem a proteção do solo contraos processos erosivos (Ambien-tebrasil, 25/5/07).

Apesar da reconhecida impor-tância ecológica – ainda maisevidente nesta virada de século ede milênio, em que a água vemsendo considerada o recursonatural mais importante para ahumanidade – as florestas cilia-res continuam sendo eliminadas,cedendo lugar para a especulaçãoimobiliária, para a agricultura ea pecuária e, na maioria doscasos, sendo transformadas ape-nas em áreas degradadas, semqualquer tipo deprodução.

A definição demodelos de recu-peração de matasciliares cada vezmais aprimorados ede outras áreas de-gradadas que possi-bilitam, em muitoscasos, a restauraçãor e l a t i v a m e n t erápida da coberturaflorestal e a proteçãodos recursos edá-ficos e hídricos nãopermite que novasáreas possam ser

degradadas, já que poderiam serrecuperadas. Pelo contrário, o idealé que todo tipo de atividadeantrópica seja bem planejada e,principalmente, que a vegetaçãociliar seja poupada de qualquerforma de degradação.

O Código Florestal (Lei nº 4.777/65) desde 1965 inclui as matasciliares na categoria de áreas depreservação permanente. Assim,toda a vegetação natural (arbóreaou não) presente ao longo dasmargens dos rios e ao redor denascentes e de reservatórios deveser preservada.

A recuperação destas áreasdepende de tomada de consciênciae de uma política abrangente edescentralizada, pois em nosso país,com a grande variedade deecossistemas e enorme extensãoterritorial, devem existir políticasdiferenciadas.

É fundamental a intensificaçãode ações na área da educaçãoambiental, visando conscientizartanto as crianças quanto os adultossobre os benefícios da conservaçãodas áreas ciliares.

Portanto, é de suma im-portância que as autoridadesfederais, estaduais e municipaisresponsáveis pela conservaçãoambiental adotem uma posturarígida no sentido de preservaremas florestas ciliares que aindarestam, e que os produtores ruraise a população em geral sejamconscientizados sobre a impor-tância da conservação destavegetação.

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5589, e-mail: [email protected].

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PPPPProposta de um AgroEcoplano para oroposta de um AgroEcoplano para oroposta de um AgroEcoplano para oroposta de um AgroEcoplano para oroposta de um AgroEcoplano para oEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa Catarina

Glauco Olinger1

Justificativa

As previsões do futuro,relacionadas à questão ambiental edivulgadas por credenciadoscientistas, são sombrias. Tem sidocrescente a velocidade com que sedegrada o ambiente e se consomemrecursos naturais não-renováveisque se esgotarão neste século e, nopresente, são indispensáveis ao bem-estar das populações. Ressalte-se aexaustão das jazidas de fósforo epotássio, como fontes de fertilizaçãodos solos, o fim do petróleo, comofonte de energia, a degradação dossolos agricultados e a redução daágua doce requerida pelasindústrias, para a irrigação daslavouras e até para o consumo daspessoas e dos animais.

É conhecida a influência dodesenvolvimento urbano/industriale da agricultura na transformaçãodo ambiente natural. Foram osagricultores, pequenos, médios egrandes, somados aos madeireiros,que derrubaram as florestasnaturais, sem um mínimo deorientação técnica que evitasse adegradação dos solos. O resultadoda erosão de grande parte da camadasuperficial dos solos cultivados temsido a perda de sua fertilidadenatural, o mais precioso capital doagricultor.

Foi a agricultura do passado,baseada na rotação de terras – enão de cultivos – que exigiu a

contínua derrubada da florestanatural, desde a vegetação ciliardas baixadas até o cume dos terrenosacidentados, acelerando os pro-cessos erosivos, destruindo abiodiversidade vegetal e animal,fazendo desaparecer nascentes ecursos d’água, com a conseqüentedeterioração ambiental.

Saliente-se o papel das serrariasno corte seletivo das essências demaior interesse econômico,geralmente árvores de grande porte,importantíssimas para o aumentoda capacidade de reserva de águadoce pelos solos em geral. Essaatividade empobreceu as florestasnaturais e, hoje, a maioria das ma-tas restantes é composta de capoei-rões com vegetação de pouco valoreconômico, além de baixa capa-cidade de retenção da água daschuvas.

A redução da área florestal e oempobrecimento da vegetação dasmatas restantes são a principalcausa do desaparecimento dasnascentes, dos pequenos cursosd’água e da diminuição daregularidade na vazão dos rios. Taiscircunstâncias respondem pelaatual falta de continuidade na ofertade água doce proveniente daschuvas. A progressiva escassez queameaça as populações futuras exigeque se tomem providências queagora estão sendo propostas. Épreciso considerar que a principalfonte de água doce, disponível a

longo prazo na Região Sul do País,é a que vem das chuvas.

Some-se a tais circunstâncias orelevo acidentado, que predominana maior parte do Estado, o regimepluviométrico caracterizado pelaabundância de chuvas (1.500 a2.000mm), relativamente bemdistribuídas, e a qualidade das terrase ter-se-á justificada a atual vocaçãoflorestal, em torno de 60% doterritório catarinense. Sendo assim,em face das técnicas atualmentedisponíveis e das possibilidadeseconômicas para a explotação dasterras, a maior parte da superfícieterrestre do Estado deverá estarcoberta com florestas de pre-servação permanente, vegetaçãociliar e florestas plantadas para cor-te (silvicultura). Sabe-se, também,que atualmente (2006) há cerca de183 mil unidades de produçãoagrossilvipastoril no Estado (LAC2005) com predominância de pro-priedades rurais de base familiar. Énecessário e economicamenteviável reflorestar na propriedaderural familiar, pois a silviculturacatarinense tem sua maiorexpressão em grandes áreascultivadas por empresários. A somade reflorestamento nas pro-priedades familiares não só terásignificativa expressão econômicapara os agricultores familiares comoserá decisiva na recuperação de umambiente natural aprazível em todoo Estado de Santa Catarina.

1Eng. agr., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597.

Há que se pensar o futuro, desde hoje.Mas “quem pensa o hoje e não age já perdeu o amanhã”.

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Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 200716

As retroprojeções do êxodo ruralque vêm ocorrendo nas últimasdécadas levam à conclusão de quenos próximos 30 anos cerca de 100mil famílias rurais trocarão aresidência do campo pelos centrosurbanos, caso sejam mantidas aspolíticas agrárias que têm sidopostas em prática no País e noEstado. Sabe-se que países de-senvolvidos, a exemplo dos quecompõem o Mercado ComumEuropeu e dos Estados Unidos,subsidiam grande parte dos custosda produção, da preservaçãoambiental e outros itens, comoforma de reduzir o êxodo rural emanter as famílias rurais pro-dutoras no campo. Assim sendo, apreservação da unidade produtivafamiliar que predomina em SantaCatarina só é possível mediante aprática de atividades de altadensidade econômica. Caso con-trário, somente através de pesadossubsídios será possível reduzir oêxodo rural, já que evitá-lo éimpraticável frente às atuaisconcepções de desenvolvimento.

Acrescente-se ainda que, alémde uma agricultura baseada ematividades de alta densidadeeconômica, as práticas de cultivo ecriações deverão ser conduzidas deforma ecologicamente correta paraque seja assegurada sua necessáriadurabilidade. Além disso, a produçãoprimária, sempre que possível,deverá ser comercializada com valoragregado e selo de qualidade.

Este trabalho trata somente dasquestões relacionadas ao ambientenatural. O detalhamento sobre ainfluência do desenvolvimentourbano e de certas indústrias nadegradação do meio, principalmentea que se refere à poluição das águasdoces e salgadas e do próprio ar,deverá ser objeto de outro estudo,ao qual será somada a participaçãoda agropecuária na produção do CO2NO2 CH4 e outros agentes respon-sáveis pela elevação da temperatura(efeito estufa) no planeta Terra.

Importa salientar o papel daagricultura (incluída a silvicultura)na produção de energia sustentável.Neste caso, destaca-se o cultivo dacana-de-açúcar na propriedadefamiliar em consórcio ou rotaçãocom outras culturas. A canacumpriria dois papéis: o primeirocomo planta antierosiva, em forma

de faixas de retenção, e o segundocomo matéria-prima na produçãode álcool-motor, por meio depequenas destilarias. Semelhanteresultado poderia ser obtido para aprodução do biodiesel nas áreasimpróprias para o cultivo de cana-de-açúcar, sendo necessário definirquais serão as culturas econo-micamente viáveis entre as produ-toras de óleo.

Outra fonte energética im-portante será a proveniente dabiomassa vegetal obtida por meioda silvicultura, principal vocação doacidentado relevo do territóriocatarinense.

Essas duas fontes energéticas,somadas ao potencial hidráulico, aoeólico, ao solar e ao marítimo, serãosuficientes para suprir a demandaenergética do Estado no futuro, coma durabilidade requerida.

Objetivo geral doAgroEcoplano

Assegurar aos futuros habitantesde Santa Catarina um ambientenatural sustentável que lhespropicie boa qualidade de vida.Estima-se alcançar o objetivo doAgroEcoplano num prazo de até 30anos.

Objetivos específicos

• Garantir água doce de boaqualidade pela retenção e uso daágua das chuvas para:

– a irrigação agrícola;– o consumo nos centros urbanos

(esgotos, limpezas, etc.);– a geração de energia hidráulica

por meio de usinas de pequeno portee garantir água para as de médio egrande portes;

– atender ao consumo dasindústrias;

– favorecer a quantidade e aregularidade das chuvas;

– outros fins.Nota: A água da chuva tem

prioridade sobre a dos aqüíferos,considerando seus impactos am-bientais e o problema da susten-tabilidade. Segundo o Ciram, re-trospectivas dos últimos 50 anosindicam que a variação na quanti-dade das quedas pluviométricas nãotem significância estatística, aopasso que a freqüência dos períodos

de estio ou o aumento do volumedas chuvas em períodos mais curtostem ocorrido de forma a causardanos crescentes à produção agro-pecuária.

• Conservar o revestimentovegetal permanente, a fim de:

– manter áreas de preservaçãopermanente com florestas nativasdiversificadas, pastos naturais,mangues, restingas, dunas, lagos elagoas;

– manter a vegetação ciliarpermanente em todos os cursosd’água, lagoas e lagos;

– assegurar, com adequadacobertura vegetal, as nascentes deágua doce existentes e restaurar,sempre que possível, as quedesapareceram;

– assegurar a existência dabiodiversidade vegetal e animal;

– contribuir para o controle daserosões dos solos e a conseqüentepreservação de sua fertilidadenatural;

– reduzir os prejuízos causadospelas enchentes e inundações;

– reduzir o efeito estufa;– possibilitar a obtenção de renda

proveniente do seqüestro decarbono;

– aumentar a capacidade deretenção das águas das chuvas pelasflorestas de preservação perma-nente mediante a introdução deárvores de grande porte, comenraizamento profundo, nas matasatuais, que são pobres nessasespécies;

– possibilitar a obtenção de rendaproveniente das florestas depreservação permanente por meiode manejo sustentado;

– enriquecer as florestas depreservação permanente complantas ornamentais, medicinais,comestíveis, animais silvestres eespecialmente a apicultura, visandoà obtenção de renda proveniente dacomercialização de produtos e doturismo ecológico;

– evitar danos ao ambientenatural e a expulsão de famíliasrurais de seu habitat, causados pelaconstrução de represas ou barra-gens de grande porte.

• Incentivar o florestamento e oreflorestamento (floresta plantada)para:

– produzir matéria-prima paraas indústrias em geral (celulose,papel, moveleira, etc.);

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17Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

– produzir biomassa para aprodução de energia (vapor,gasogênio, calor, etc.);

– produzir madeiras paraconstruções em geral;

– produzir biomassa para camade aviários e fins semelhantes;

– proporcionar renda adicional àpropriedade agrícola de basefamiliar;

– utilizar a floresta plantadacomo coadjuvante da florestapermanente na conservação do soloe das águas, no seqüestro decarbono, na regularização do climae na redução dos efeitos dasenchentes, das inundações e doaquecimento global.

• Estimular a aqüicultura e apiscicultura para:

– ampliar a maricultura por todaa costa catarinense, sem prejuízodo turismo;

– extinguir a pesca predatória,que impede o desfrute natural dasespécies comestíveis e/ou in-dustrializáveis nas águas salgadase nas águas doces;

– estabelecer adequados períodosde interdição da pesca no entornoda Ilha de Santa Catarina e demaisilhas oceânicas da costa catarinense,visando assegurar a reprodução e orepovoamento permanente dasespécies que fazem nas ilhas seunicho ecológico;

– ampliar a aqüicultura nas águasinteriores, principalmente por meiode barragens, açudes e outros meiosaquáticos;

– repovoar os rios, lagoas e lagose estabelecer o controle racional dapesca mediante fixação de períodos,tamanho, idade e peso do pescado aser capturado;

– exercer controle do peso, ta-manho e idade do pescado capturadovisando o desfrute racional e a dura-bilidade da pesca extrativa marí-tima.

• Estabelecer políticas agrope-cuárias para:

– praticar a agricultura e apecuária por meio de sistemas deprodução ecologicamente corretos;

– dar especial apoio à biotecnia,tanto na área de pesquisa quantona vulgarização de seu uso nossistemas de produção por parte dosagropecuaristas;

– dar prioridade à expansão delavouras de alta densidade econô-mica, aquelas que propiciam mais

renda por unidade de áreatrabalhada, a exemplo da horticul-tura, da fruticultura, da floricultura,das plantas ornamentais emedicinais, da apicultura, daavicultura, da ovinocultura, dacaprinocultura, da suinocultura, dabovinocultura com ênfase no gadoleiteiro e produção com base nopasto, do consórcio de ruminantescom a silvicultura, além de outrascombinações e atividades de altaespecialização;

– incentivar o plantio de cana napropriedade familiar como plantaantierosiva e matéria-prima para aprodução de álcool energético;

– criar meios legais e oferecerorientação técnica eficaz quegarantam o uso de práticas derestauração e conservação dos solose das águas por todos os produtoresrurais, a exemplo do cultivomínimo, do plantio direto, das faixasde rentenção de patamares, entreoutros processos antierosivos.

Metas a seremalcançadas até 30 anosde execução dos projetosa serem elaborados eexecutados

• Preservação de 3.623.000haaproximadamente 38% do territórioestadual.

• Plantio e preservação (in-cluídos os novos plantios) de190.692ha de vegetação ciliar,correspondentes a 2% do territórioestadual.

• Manutenção de 476.730ha depastagens manejadas, incluindocampos naturais e naturalizados,abrangendo 5% do territórioestadual.

• Destinação de 3.146.000hapara a agricultura, aproxima-damente 33% do território estadual.

• Destinação de 1.620.000hapara a silvicultura, cerca de 17% doterritório estadual.

• Reserva de 238.365ha para oambiente artificial (estradas,indústrias, mancha urbana, pontese outras construções), correspon-dentes a 2,5% do território estadual.

• Preservação de 47.673haocupados por mangues, dunas,restingas, abrangendo cerca de 0,5%do território estadual.

• Preservação de 190.692ha

ocupados com águas superficiais,abrangendo cerca de 2% doterritório estadual.

• Construção de 200 pequenas emédias represas e 30 mil açudes(geração de energia, controle deenchentes, irrigação agrícola,piscicultura, aumento da lâminad’água de evaporação, consumoindustrial, abastecimento urbano,consumo de animais, além de outrosbenefícios).

• Instalação de 80 mil cisternaspara acumular água das chuvas egarantir água potável paraabastecimento familiar e deanimais confinados.

• Instalação de 250 pequenasunidades produtoras de álcoolproveniente da cana-de-açúcar e debiodiesel proveniente de plantasoleaginosas.

Metodologia a seradotada

Inicialmente é necessária aconstituição de um grupo detrabalho com prazo determinadopara apresentar uma avaliação doplano em proposição. O grupopoderá ser constituído porrepresentantes das Secretarias deEstado do Planejamento e daAgricultura, incluindo empresas eórgãos como a Celesc, Epagri,UFSC, Udesc, universidadesregionais, Fatma, Casan, Cidasc,Ocesc, Faesc, Fiesc, Fetaesc,Fecam e delegacias dos Ministériosdo Desenvolvimento Agrário(MDA), e do Meio Ambiente (MMA)e Ibama.

Se aprovada a proposta, oAgroEcoplano deverá ser detalhadoem projetos pelos órgãosdiretamente envolvidos na suaexecução. Exemplos: agricultura,pela SDA; represas e usinashidrelétricas, pela Celesc; assis-tência técnica e extensão rural,pelas cooperativas, agroindústrias,Epagri e Cidasc; viveiros de mudas,pelas prefeituras, com o apoio daSDA, etc.

As represas, bem como asdestilarias para produção de álcoole as unidades produtoras debiodiesel, seriam geridas pororganizações associativas locais, aexemplo das associações do projetoMicrobacias 2, cooperativas e ou-

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Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 200718

tras.Sendo o prazo estabelecido para

o AgroEcoplano de até 30 anos,conforme a progressão de suaexecução, caberá à Secretaria dePlanejamento do Governo do Estadoa responsabilidade de efetuar oscronogramas de ações para cadaperíodo de gestão do PoderExecutivo instalado.

O detalhamento em projetos,com as respectivas responsa-bilidades, seria realizado até o fimde 2008 e sua execução teria inícioa partir de 2009.

Resultados esperados

• Assegurar a existência de umambiente natural ecologicamentecorreto e duradouro, capaz de pro-piciar boa qualidade de vida e umEstado aprazível aos que nelehabitem.

• Garantir água doce e limpapara o consumo geral, por meio dasseguintes ações:

– restaurar nascentes desapare-cidas e manter as que aindaexistem;

– melhorar a vazão e a regu-laridade dos cursos d’água, incluídosos rios de grande porte;

– aumentar a capacidade de acu-mulação de água doce, provenientedas chuvas, no solo e subsolo e, por

via de conseqüência, das reservasde água doce, para a perenizaçãodos cursos d’água e para o consumoem geral;

– aumentar a capacidade degeração de energia limpa pro-veniente da força hidráulica derepresas de pequeno porte;

– obter energia hidráulica semnenhum dano ambiental e semnecessidade de deslocamento dosque habitam as margens dasrepresas, porquanto a altura dasbarragens não ultrapassará a médiadas cheias normais esperadas;

– melhorar o regime das chuvas.• Aumentar o potencial ener-

gético pelo uso da biomassa vegetal,especialmente por meio da silvi-cultura.

• Diminuir o problema ener-gético pela produção de álcool-motore biodiesel.

• Restaurar e conservar afertilidade dos solos agricultáveis.

• Praticar a agropecuária combase na propriedade familiar e emoutros modos de produção, por meiode sistemas ecologicamentecorretos e duráveis, com o objetivode assegurar que a produçãoagrícola seja acrescida de valoragregado, sempre que possível, ecom selo de qualidade que garantaprodutos limpos para o consumo in-terno e para exportação.

Considerações finais

• A humanidade está consu-mindo recursos naturais emquantidade superior à capacidadede sua renovação. Sem os recursosnaturais necessários à satisfaçãodas necessidades básicas do serhumano, cessará, ainda que a longoprazo, a possibilidade de vidahumana no planeta Terra.

Por isso, há que se pensar ofuturo distante desde hoje. Mas“quem pensa o hoje e não age jáperdeu o amanhã”.

• Na hipótese de o governadorLuiz Henrique da Silveira entenderque a proposta do AgroEcoplanomereça ser considerada, torna-senecessária a constituição de umgrupo de trabalho para avaliar asmetas apresentadas e efetuar o seudetalhamento dentro do prazo de 6meses, a partir das datas de suaaprovação. Ao final do ano de 2008,os projetos deverão estar definidospara início da execução no exercíciode 2009.

• Como as ações necessárias àpreservação do ambiente natural esuas repercussões envolvem gran-des áreas, recomenda-se enviar oAgroEcoplano catarinense aos Esta-dos da Região Sul para conheci-mento, apreciação e possívelintegração.

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19Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

Divergências e implicações da legislação apícolaDivergências e implicações da legislação apícolaDivergências e implicações da legislação apícolaDivergências e implicações da legislação apícolaDivergências e implicações da legislação apícolapara a produção orgânica de melpara a produção orgânica de melpara a produção orgânica de melpara a produção orgânica de melpara a produção orgânica de mel

Tânia Patrícia Schafaschek1, Marília Terezinha S. Padilha2,Ione Iolanda dos Santos 3, José Carlos Fiad Padilha4 e Fabio Eduardo Braga5

apicultura convencional temsido realizada sem levar emconsideração alguns aspec-

tos importantes dos ecossistemasem que está inserida. Os apiáriossão instalados em locais ondeacontecem aplicações sucessivas deagrotóxicos, como os pomares defrutas temperadas ou tropicais, oupróximos a lavouras de soja, arroz,cebola e fumo. As abelhas sãosuscetíveis a agentes conta-minantes, e os resíduos tóxicos sãoarmazenados nos tecidos, no melou na cera (Cuba, 1998).

Além disso, a sociedade tembuscado alimentos saudáveis e estádespertando para uma consciênciade recuperação e preservação dosrecursos naturais e do ambiente.Uma apicultura sem contaminaçõestóxicas nos seus produtos é possívelse forem respeitadas certascaracterísticas e manejos na criaçãode abelhas (Tomaselli, 1999; Epagri,2001).

Desde 1952, a apicultura éregulamentada através do Re-gulamento da Inspeção Industrial eSanitária de Produtos de OrigemAnimal – Riispoa – Decreto nº 30.691,de 29 de março de 1952. Esteregulamento restringe-se apenas aomel e à cera de abelha. No Título II,Capítulo V, faz distinção entreapiário – local destinado à produçãode mel e seus derivados – e

entreposto de mel e cera de abelhas– local destinado ao recebimento eindustrialização desses produtos.São regulamentadas as instalaçõesdos estabelecimentos e suascondições de funcionamento,carimbos e rotulagem.

Em 1980, a Portaria no 001/1980,da Secretaria de Inspeção deProdutos de Origem Animal, doMinistério da Agricultura, instituiuas normas higiênico-sanitárias etecnológicas para mel, cera deabelha e derivados, abrangendo ascondições de localização do apiárioe do entreposto de mel e cera deabelhas; as características daconstrução; dos equipamentos e dasseções; o abastecimento de água; arede de esgotos; as dependênciasauxiliares; as particularidades daprodução; a embalagem e rotu-lagem; o transporte da matéria-prima e dos produtos; a higiene dasdependências, equipamentos epessoal; o controle de qualidade, asanálises e os índices respectivos; oscritérios de inspeção e as disposiçõesgerais. Esta portaria foi modificadaem 1985 pela Portaria Sipa no 006/85 (Regis, 2003).

A Portaria nº 367, de 4 de se-tembro de 1997, contém o Regula-mento Técnico para a Fixação deIdentidade e Qualidade de Mel, combase em normas aprovadas peloMercosul. Suas alterações estão na

Instrução Normativa no 11, de 20 deoutubro de 2000, em vigência.Outros produtos apícolas sãoregulamentados pela InstruçãoNormativa nº 03, de 19 de janeirode 2001, com Fixação de Identidadee Qualidade de Apitoxina, Cera deAbelhas, Geléia Real, Geléia RealLiofilizada; Pólen Apícola, PólenApícola Desidratado; Própolis eExtrato de Própolis (Soriani, 2002).

A apicultura orgânica é praticadacom base em leis para a produçãoorgânica de alimentos, e com basena legislação européia (Roma, 2004).Este regulamento, em seu Anexo 1,Capítulo C, fala dos princípios enormas específicas para a práticada apicultura. No Brasil, aInstrução Normativa nº 007, de 17de maio de 1999, com base naPortaria MA no 505, de 16 de outubrode 1998, dispõe sobre as normaspara a produção de produtosorgânicos vegetais e animais.Recentemente a Lei Federal no

10.831, de 23 de dezembro de 2003,estabelece o sistema orgânico deprodução agropecuária. No entanto,não há nestas uma especificaçãopara o sistema de produção apícola.Em Santa Catarina, existe o BoletimTécnico da Epagri que traça normasà Apicultura Orgânica (Epagri,2001).

O que determina os critériospara a produção orgânica de mel e

A

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Escritório Municipal de Tangará, Av. Irmãos Piccoli, 43, 89642-000 Tangará, SC, fone: (49) 3532-1045, e-mail:[email protected], Dra., UFSC/Departamento de Zootecnia, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., UFSC/Departamento de Zootecnia, e-mail: [email protected], Dr., UFSC/Departamento de Zootecnia, e-mail: [email protected]. agr., Especialista, Itaspurg do Brasil Inspeções Agrícolas, Rua Almirante Barroso, 516, Centro, 88040-900 Itajaí, SC, e- mail:[email protected].

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Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 200720

outros produtos apícolas sãoprincipalmente as diretrizes decertificadoras de produtos orgâ-nicos. As principais certificadorasque possuem diretrizes à produçãode mel orgânico no Brasil são oInstituto de Mercado Ecológico –IMO –, o Instituto Biodinâmico –IBD –, a Associação de Agricul-tura Orgânica Certificadora –Aaocer –, a Associação de Produto-res de Agricultura Natural – Apan –e, mais recentemente, a Ecocert.

As diretrizes para a certificaçãodo mel orgânico estabelecidas peloIMO e IBD estão baseadas noRegulamento da ComunidadeEconômica Européia CEE 2.092/91e nas normas básicas para produçãoe processamento de alimentosorgânicos, da Ifoam. A Apan temsuas normas de produção padro-nizadas e embasadas na InstruçãoNormativa nº 007, de 17 de maio de1999, com base na Portaria MAA nº505, de 16 de outubro de 1998, alémdas normas internacionais deprodução da Ifoam. A Aaocert temsuas normas de produção baseadas

na Instrução Normativa nº 007, doMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento – Mapa. O Boletimda Epagri (2001) é uma síntese denormas técnicas para a produção eprocessamento de mel orgânico emSanta Catarina.

Procurou-se comparar as nor-mas que regem a apiculturaorgânica, levando-se em conta asdiretrizes das Certificadoras, oRegulamento CEE 2.092/91, asNormas da Ifoam e a InstruçãoNormativa (IN) nº 007, de 17 demaio de 1999, assim como asnormas das certificadoras IMO,IBD, Aaocert e Apan.

Foram constatadas algumasdivergências nos aspectos relativosao período de conversão da produ-ção convencional em produçãoagroecológica; uso da inseminaçãoartificial na reprodução; utilizaçãode extratos de ervas na alimentaçãoe suplementação energética ouenergético-protéica às abelhas, asquais são apresentadas a seguir.Um resumo destas divergênciaspode ser visualizado na Tabela 1.

Período de conversão

Conforme o CEE 2.092/91, operíodo de conversão para obter ocertificado de produção orgânica éde pelo menos 1 ano. Já o Ifoam nãodefine este período e a IN nº 007/1999 recomenda que o período sejavariável de acordo com a utilizaçãoanterior da unidade de produção.No entanto, as normas do IBD(2004), da Apan (2004) e da Epagri(2001) determinam um prazo depelo menos 6 meses, o qual é inferiorao mínimo recomendado pelas suasleis base, com exceção da Apan(2004), que tem como base a IN nº007/1999, que não deixa deter-minado numericamente esteperíodo, mas determina que seconsidere a utilização anterior,sendo, portanto, impossível prevero tempo necessário para ecos-sistemas desconhecidos. O IMO(2000), conforme o CEE 2.092/91,determina que este prazo deva serde 1 ano e a Aaocert (2004) não citao período de conversão.

Tabela 1. Resumo das divergências das legislações para produção orgânica de mel

Normas e Período de Inseminação Suplementação alimentar Chás decertificadoras conversão artificial Energética/protéica ervas e sal

CEE 2092/91 Pelo menos 1 ano Não restringe o uso Somente em condições climáticas Não especificaextremas, com mel, xarope ou meladode açúcar orgânico

Ifoam Não define Proíbe Somente em condições climáticas Não defineextremas. Não determina o tipo dealimento

IN 007 Variável com o Permite sob Alimentação deve ser nutritiva, sadia -uso anterior da controle das e farta, incluindo-se a água sem aunidade de certificadoras presença de aditivos químicos e/ouprodução estimulantes

IBD Pelo menos 6 Proíbe Apenas energética, à base de mel, Permitemeses melado ou açúcar orgânico, em

condições climáticas extremasApan Pelo menos 6 Não restringe o uso Durante o inverno deve haver a Permite

meses disponibilidade de mel e pólen isentosde contaminantes

IMO 1 ano Não restringe o uso Apenas energética, à base de mel, Proíbemelado ou açúcar orgânico, emcondições climáticas extremas

Aaocert Não faz referência Proíbe Apenas energética, à base de mel, Permitemelado ou açúcar orgânico, emcondições climáticas extremas

Epagri Pelo menos 6 Permite Em períodos de escassez, com plano Não definemeses da agricultura orgânica, com mel, açúcar,

xarope ou outras fontes parasuplementação

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21Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

Este aspecto é muito importantee dependente dos tipos de conta-minantes presentes na área de açãodas abelhas. Não se trata de umaquestão numérica para saber se omais adequado seriam 6 meses ou 1ano e sim de analisar e com-preender os tipos de contaminantese como eles podem deixar resíduosnos produtos apícolas. Assim, seriamais coerente a determinação deum período de conversão pro-porcional ao tempo de meia-vidados contaminantes presentes noecossistema. Este aspecto éenfatizado na IN n º 007/1999, masnão de modo específico para o casoda apicultura.

Uso da inseminaçãoartificial

A prática da inseminaçãoartificial não é restringida pelo CEE2.092/91. Ela é permitida sob ocontrole das certificadoras pela INnº 007/1999 e proibida pelo Ifoam. OIBD (2000) e a Aaocert (2004)proíbem a prática da inseminaçãoartificial no manejo produtivo dasabelhas. A Apan (2004) e o IMO(2000) não restringem o uso daprática; o IMO (2000) inclusive citaque “são permitidos todos os métodoscomuns e aplicáveis para cria emultiplicação”. No entanto, aprática da inseminação artificial derainhas é explicitamente permitida,conforme as normas da Epagri(2001).

A inseminação artificial é ummétodo muito utilizado porpesquisadores em universidades oucentros de pesquisa. No entanto, sefor estendida para o uso indis-criminado nos apiários, poderá gerarproblemas de consangüinidade casoocorra a utilização de materialoriundo de apenas um zangão. Alémdisso, o apicultor não terá condiçõesde deter esta tecnologia napropriedade e, assim, dependerá dofornecimento externo. Isso vaicontra os princípios da susten-tabilidade que norteiam o sistemade produção orgânico.

Suplementação alimentar

Suplementaçãoenergético-protéica

Há algumas divergências entre

leis e normas quanto à suple-mentação alimentar das abelhas emperíodos de prolongada escassez depólen ou néctar. O CEE 2.092/91 e oIfoam, de maneira geral, reco-mendam que a alimentação su-plementar deva ser uma exceção,utilizada somente em condiçõesclimáticas extremas que venham aafetar a sobrevivência das colmeias.Esta pode ser feita com mel orgânicoda mesma unidade produtiva e, emcaso de cristalização, pode-seutilizar o xarope ou melado deaçúcar orgânico. Já nas normas doIfoam não se determina o tipo dealimento a ser utilizado. Como a INnº 007/1999 não tem um itemespecífico para a apicultura, demaneira geral recomenda-se que osanimais devem “contemplar umaalimentação nutritiva, sadia e farta.Incluindo-se a água, sem presençade aditivos químicos e/ouestimulantes” conforme o seu AnexoIV, no qual permite-se a utilizaçãode plantas medicinais e a suple-mentação com recursos alimentaresprovenientes da unidade de pro-dução orgânica, deixando sobcontrole da certificadora a per-missão para a utilização de saisminerais e suplementos aminoá-cidos e vitamínicos.

A partir destas normas pode-seperceber o quanto fica vaga a ques-tão do uso ou não de substânciasprotéicas na suplementação ali-mentar das colmeias. A CEE 2.092/91 só permite substâncias ener-géticas, o Ifoam não define nada e aIN 007/1999 deixa a critério dascertificadoras a permissão do usode suplementos aminoácidosvitamínicos. Encontramos diver-gências também entre as normasdas certificadoras. Neste aspecto, oIBD (2000), o IMO (2000) e a Aaocert(2004) permitem apenas aalimentação suplementar energé-tica, a base de mel orgânico, açúcarou melado de açúcar orgânico, emcasos em que as condições climáticasestejam colocando em risco asobrevivência das colmeias pelafalta de alimento, sendo permitidoseu uso apenas até 15 dias antes daafluência de néctar. Nas normas daApan (2004), há um item que dizque “durante o inverno deve-segarantir a sustentabilidade dascolmeias através da disponibilidadede mel e pólen, comprovadamente

isentos de contaminantes”. Destaforma, parece claro que o pólenpode ser utilizado na suplementaçãoalimentar, no intuito de suprir asdeficiências protéicas. A Epagri(2001) também não deixa muito claroesta questão quando cita que “emperíodos de escassez de pólenrecomenda-se que o apicultor, tenhaum plano de alimentação suple-mentar oriundo da agriculturaorgânica, incluindo as fontes de mel,açúcar (cristal ou mascavo), xarope,derivados de frutas ou outras fontespara suplementação,” sem espe-cificar o que ou quais seriam estasoutras fontes de suplementação, sesão outros alimentos energéticosou outros nutrientes como, porexemplo, aminoácidos e/ou vita-minas.

O fato de ser permitida apenas asuplementação energética podeocasionar o fornecimento de umadieta desequilibrada, somente ricaem energia e pobre em proteínas,na época anterior às floradas, o quepode acarretar problemas de ordemfisiológica (má formação dasglândulas hipofaringeanas dasoperárias, por exemplo) (HerbertJr. & Shimanuki, 1979; Dustmann& Ohe, 1988) causando perdas naprodutividade da colmeia. Oembasamento do CEE 2.092/91, quedetermina apenas substânciasenergéticas para a suplementação,pode ser feito com base nas con-dições climáticas que ocorrem naEuropa durante o inverno. Como ascolmeias muitas vezes ficam sob aneve, as abelhas, adaptadas a esteclima, entram em uma fase de tãobaixo metabolismo que somente ofornecimento de energia é suficientepara sua sobrevivência, ajudando amanutenção do calor. Neste caso, ofornecimento de material rico emproteína poderia vir a prejudicar asabelhas uma vez que, nestascondições, elas raramente con-seguem sair da colmeia para defecare, como sabemos, o comportamentohigiênico nas abelhas é muitoimportante. No caso do Brasil, ascondições climáticas no inverno sãomais amenas, o que permitiria umasuplementação rica não somenteem energia, mas também emproteína.

Quando se trata de suplemen-tação alimentar das colmeias, étambém muito importante a

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determinação de um períodomáximo anterior às floradas para aoferta do suplemento. A deter-minação das normas de até 15 diasantes do fluxo de néctar é coerente,tendo em vista que este tempo ésuficiente para que a colmeiaconsuma o suplemento, prevenindoassim a ocorrência de contaminaçãoe conseqüente adulteração dacomposição do mel armazenadopelas substâncias oferecidas.

Adição de chás de ervas esal na alimentação

Encontramos divergências entreas normas das certificadoras quantoao uso de chás e sal como adição àsuplementação alimentar. Asdiretrizes do IBD (2004), Apan (2004)e Aaocert (2004) permitem o uso dechás e sal na suplementaçãoalimentar; o IMO (2000) não permiteo uso destes produtos, enquanto naEpagri (2001) isto não fica definido.

Além de serem úteis paraatratividade das abelhas nascolmeias, os chás ou extratos deplantas medicinais na apiculturapodem ser utilizados para melho-rar a aceitação do alimento. Estesprodutos contêm ainda substânciasterapêuticas que não devem serfornecidas indiscriminadamente àscolmeias supostamente sadias, poisnão se conhecem os efeitos dos ingre-dientes ativos.

Algumas considerações a partirda análise da legislação e suasdivergências:

• O sistema orgânico de produçãoapícola ainda é pouco destacado evalorizado pelos legisladores,ficando a sua definição a critérioprincipalmente das normas pro-venientes das diversas certifica-doras.

• A suplementação alimentarna apicultura orgânica deveria sermelhor embasada com pesquisascientíficas que comprovem asnecessidades nutricionais dasabelhas, garantindo melhormanutenção das colmeias emperíodos de não disponibilidade depólen e néctar na natureza.Trabalhos de pesquisa enfocando ainfluência do manejo alimentar nodesenvolvimento das colmeias e nafisiologia das abelhas serão degrande valia para a normatização/

padronização da legislação bra-sileira e das certificadoras.

• A padronização do melbrasileiro deve ser feita nos seusprincípios básicos. O Brasil, por serum País com uma extensa e diver-sificada flora apícola, conseqüênciade sua grande extensão territorial,apresenta diferentes ecossistemascom o fornecimento de matéria-prima para a produção de mel comdistintos padrões, diferentes carac-terísticas de sabor, cor, composiçãoe consistência. Estas normasdeveriam prever a possibilidade dealgumas adaptações a ecossistemasespecíficos, o que deveria ser levadoem consideração na elaboração deleis que estabelecem padrões dequalidade e critérios de produçãode mel e outros produtos apícolas.

A gerência da qualidade naprodução apícola brasileira, baseadaem leis, decretos, regulamentaçõesque considerem as especificidadesde cada ecossistema apícola, podecontribuir para o fortalecimento dosetor e irá garantir a inserção epreferência por nossos produtos porparte dos consumidores tantonacionais quanto internacionais.

Literatura citada

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ORGÂNICA. Normas de produção

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Goiaba serranaGoiaba serranaGoiaba serranaGoiaba serranaGoiaba serranaA boa nova que vem da serraA boa nova que vem da serraA boa nova que vem da serraA boa nova que vem da serraA boa nova que vem da serra

Reportagem de Eonir Teresinha Malgaresi1

Fotos de Nilson Otávio Teixeira

1Jornalista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5649, fax (48) 3239-5647, e-mail:[email protected].

Nas regiões frias do Planalto Catarinense, apopular goiaba serrana deixa de ser frutaselvagem e passa a fazer parte do catálogo dascultivares atualmente recomendadas pelapesquisa catarinense. ‘Helena’ e ‘Alcântara’ sãoos primeiros frutos de um longo processo dedomesticação da goiabeira serrana no Brasil, noqual a Epagri engajou-se há mais de 20 anos.

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inqüenta e sete anos nãosignificam acomodação parao produtor Luiz Gonçalo

Martins. Muito pelo contrário. Adisposição de encarar novos desafiose experimentar as novidades fazparte da vida dele, sempreacompanhado pela mulher, donaIzaura. Ela também é daquelaspessoas que não se acomodam e queestão “de olho no que aparece”. “Sea gente ficar fazendo sempre asmesmas coisas, talvez não vá prafrente”, diz a agricultora enquantocolhe as primeiras goiabas serranascultivadas num pequeno pomar,instalado perto da casa, ao lado daplantação de maçã. O casal vivenuma propriedade de 11ha, nacomunidade Postinho, 5km da sedede São Joaquim. Quatro anos atrás,o filho do casal Martins, LuizNazareno, ganhou do pesquisadorJean-Pierre Ducroquet, da Epagri/Estação Experimental de SãoJoaquim, 70 mudas de goiabeiraserrana. Além dele, outros 29produtores também receberammudas para testar o desen-volvimento e a produtividade dasplantas em pomares caseiros. SeuLuiz surpreendeu-se com osresultados. “Já vi que esse negóciotem futuro”, diz ele, mostrando opomar carregado de frutos.

Na serra catarinense é hábito aspessoas consumirem frutossilvestres, colhidos nas matas daregião. Um dos mais populares é agoiaba serrana. Mesmo depois demadura, ela mantém a cor verde eé saboreada de um jeito bemdiferente da goiaba tropical, aquelade casca amarela, conhecida econsumida em grande escala. Paracomer a goiaba serrana, corta-se ofruto ao meio e a polpa é degustadacom o auxílio de uma colherinha.Só a polpa é consumida. É difícildescrever o sabor. Para alguns,lembra um pouco o quivi; paraoutros, o abacaxi. A segunda opçãotalvez seja a mais adequada, já quenos Estados Unidos ela édenominada goiaba abacaxi(“pineapple guajava”). Por aqui, ocerto é que quem experimenta,gosta. Isto ficou comprovado emuma pesquisa realizada em grandessupermercados de Florianópolis eBlumenau. Apesar da poucapopularidade do fruto – 90% dopúblico não conhecia – a aceitação

C

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foi muito boa. Depois de provar agoiaba serrana, 85% das pessoas aclassificaram como boa ou ótima.Mas, para chegar até o deliciosomomento da degustação, um longocaminho foi percorrido pelapesquisa científica.

Em 1971, o engenheiro agrô-nomo Jean-Pierre Ducroquet tomouuma decisão importante. Deixou ointerior da França para trabalharno município de Fraiburgo, numaépoca em que crescia o cultivo damaçã no Vale do Rio do Peixe. Em1976, o jovem agrônomo foicontratado para trabalhar naEmpresa Catarinense de PesquisaAgropecuária S.A. – Empasc –, atualEpagri. Como bom pesquisador,curioso e atento às produções locais,Jean-Pierre conheceu a goiabaserrana, começou a estudá-la epercebeu que algumas peças nãoestavam no lugar certo. “Essa frutajá vinha sendo explorada em paísescomo Nova Zelândia, Israel eEstados Unidos enquanto que nósestávamos no centro de origem delae perdendo uma grande oportu-nidade de desenvolver uma pes-quisa com um recurso naturalnosso”, observa.

Em 1980, o pesquisador plantouuma muda no quintal de sua casa.Começava aí o mais importanteprojeto de sua carreira profissional.“Foi só em 1986 que passamos adesenvolver a pesquisa na EstaçãoExperimental da Empasc, emVideira, e, como estávamos partindode uma planta selvagem, elabo-ramos um projeto de domesticaçãoda goiaba serrana”, relata. Oprimeiro passo para o desen-volvimento da pesquisa foi o plantiode uma coleção de espéciesnativas na Estação de Pes-quisa. Jean-Pierre lembraque a população local ajudoumuito na implantação doprojeto. “Naquela época nósfizemos um concurso que foidivulgado pelo rádio e pela

Izaura Martins animada com a produção de goiabaserrana: “Esse negócio tem futuro”

televisão chaman-do as pessoas atrazerem amos-tras com dez frutosde uma mesmaplanta de goiabaserrana e as me-lhores amostraseram premiadas”,conta. Com esseconcurso, o pes-quisador teveacesso a 150 tiposdiferentes degoiaba, vindos dosvários municípiosdo Planalto Ser-rano. Ele descreveque alguns eramde frutos mais redondos, outrosmais compridos; de casca lisa, cascarugosa; frutos que amadurecemmais cedo, mais tarde; de plantasmais vigorosas, menos vigorosas,enfim, era um “prato cheio” para apesquisa desenvolver um trabalhode melhoramento e seleção devariedades.

A grande diversidade de tiposapresentados tem uma explicação:é que o Planalto Catarinense é ocentro de origem da goiaba serrana.Ela é encontrada desde SãoFrancisco de Paula, no Rio Grandedo Sul, até Palmas, no Paraná, ouseja, nas regiões mais frias, onde atemperatura média anual fica abaixode 16oC. Mas, além desta região, agoiaba serrana também aparece nosul do Rio Grande do Sul e em partedo Uruguai como centro secundáriode origem. Foi de lá que saiu agoiabeira serrana que se espalhoupelo mundo, dando origem, entreoutras, às variedades da Nova

Zelândia.Em Videira, o pesquisador tinha

em mãos tudo o que precisava: umvasto material para ser estudado emelhorado. Mas, como o clima delá, mais quente, não ajudava, Jean-Pierre deparou-se com váriosproblemas, atrasando assim osresultados da pesquisa. Por causada antracnose – doença causada porum fungo – as plantas morriam ouentão tinham todos os frutosafetados por manchas pretas. “Haviaanos em que a doença não poupavanenhum fruto e todos acabavam nochão”, lamenta. Já que o local nãoera bom para os estudos, o jeito foio pesquisador mudar-se, em 2001,para São Joaquim, encontrando alium verdadeiro laboratório a céuaberto. Alguns experimentos,conduzidos desde 1992, com-provavam o potencial da frutanaquela região. Hoje, a EstaçãoExperimental de São Joaquimreúne uma coleção com 220variedades de goiabeira serrana, amaioria delas coletada nas matasnativas da região.

A determinação e o empenhodo pesquisador foram fundamentaispara o avanço da pesquisa, masJean-Pierre atribui o sucesso dotrabalho também às parceriasfirmadas com a UniversidadeFederal de Santa Catarina – UFSC– e a Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária – Embrapa.Vários projetos foram financiadospelo CNPq e pelo Prodetab, um

programa da Embrapa que canalizourecursos do Banco Mundial paraalavancar a pesquisa com a goiabaserrana. Empolgado com os

Há mais de 20 anos, o pesquisadorJean-Pierre realiza estudos coma goiaba serrana e já organizouuma coleção com 220 cultivares

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resultados já obtidos, o engenheiroagrônomo Rubens Onofre Nodari,professor do Centro de CiênciasAgrárias, da UFSC, diz que a par-ceria com a Epagri foi fundamentalpara a realização de vários estudosna universidade. “Já foramconcluídas cinco dissertações demestrado e uma de doutoradoenfocando o melhoramento ge-nético, biologia floral e molecular emicropropagação da goiaba serranae temos ainda mais uma tese dedoutorado em andamento”, con-tabiliza. Nodari destaca aimportância dos estudos contem-plarem espécies nativas, já que oBrasil possui a maior biodiversidadedo mundo e, no entanto, “a economiaé baseada, principalmente, emespécies exóticas”. Segundo Nodari,a goiaba serrana é um produto nossoe já provou seu potencial em outrospaíses para onde é exportada. “Nossodesafio agora é fazer com que aespécie seja cultivada de maneiracompetitiva”, reforça.

O mais importante passo jáfoi dado. Depois de um longo tra-balho de observação das plantas nanatureza e de vários cruzamentos,os pesquisadores selecionaramduas cultivares que apresentamcaracterísticas favoráveis ao cultivoe frutos de melhor qualidade. Asnovas goiabas, lançadas em abrildeste ano, receberam os nomes de‘Alcântara’ e ‘Helena’. Elas são asduas primeiras cultivares destaespécie desenvolvidas no Brasil eque agora podem ser cultivadas parafins comerciais. Cada uma possuicaracterísticas próprias e secomplementam. Jean-Pierre diz quepode haver uma lacuna de cerca deduas semanas entre o final dacolheita da ‘Alcântara’ e o início dacolheita da ‘Helena’.

Outro detalhe importante,segundo o pesquisador, é que asduas cultivares são autoférteis epossuem, assim, maior constânciana produção, o que contribui paraviabilizar o cultivo comercial dagoiabeira serrana no Sul do Brasil,em áreas com altitude superior a1.200m. “Nestas áreas as tem-peraturas médias mais baixasinibem o desenvolvimento dedoenças, como a antracnose”,reforça. Os Estados mais propíciospara o cultivo da goiabeira serranasão Santa Catarina, Rio Grande do

Região de origem da goiaba serranaCentro principal: Rio Grande do Sul ao ParanáCentro secundário: sul do Rio Grande do Sul e parte do Uruguai

Nos Estados Unidos, ela éconhecida como goiaba abacaxipor causa do sabor que lembra afruta

Sul e Paraná. No Brasil o cultivocomercial ainda é incipiente e istose deve, principalmente, à ausênciade cultivares melhoradas. Foraalgumas iniciativas pioneiras daCooperativa Sanjo, de São Joaquim,os frutos disponíveis no mercadosão importados da Colômbia e emsupermercados de São Paulo custamem média R$ 2,5 a unidade. AColômbia, assim como a NovaZelândia, abastece também osmercados da Europa.

Na visão dos pesquisadores, aprodução da goiaba serrana é umaboa alternativa para diversificar as

atividades na propriedade, reduziros riscos e melhorar a renda dospequenos produtores, mesmo queseja comercializada a preço bemmais baixo que o da fruta importada.Para Jean-Pierre, falta ainda tornara goiaba serrana conhecida nomercado brasileiro. “Conseguindoisso, nós temos um potencial decomercialização de até 50 miltoneladas de frutos ao ano e, comoa produção vai se restringir àsregiões mais frias, os produtorescatarinenses têm pela frente umaexcelente oportunidade denegócios.”

Mapa da fruta

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A

Paulo Sergio Tagliari1

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

Microdestilaria de álcool gera renda aoMicrodestilaria de álcool gera renda aoMicrodestilaria de álcool gera renda aoMicrodestilaria de álcool gera renda aoMicrodestilaria de álcool gera renda aoprodutor rural e proteção ambientalprodutor rural e proteção ambientalprodutor rural e proteção ambientalprodutor rural e proteção ambientalprodutor rural e proteção ambiental

Um projeto pioneiro de microdestilaria de álcool e aguardente desenvolvido porpesquisador catarinense ajuda a incentivar a produção de etanol. Além de geraruma nova fonte de renda para a agricultura familiar, o projeto deve auxiliar a

redução do aquecimento global.

grande maioria dos cientis-tas especialistas em meioambiente e clima concorda

que o aquecimento global já é umarealidade e que os gases do efeitoestufa são os principais responsáveispelo aquecimento do nosso planeta,causando os já conhecidos fe-nômenos como furacões, degelos,mudanças climáticas, etc. Oscombustíveis fósseis, como carvãoe petróleo, ao serem queimados,bem como os incêndios florestais,por exemplo, liberam diferentesgases, entre os quais o CO2, oprincipal vilão do efeito estufa.

Para minorar os efeitos e tentarreverter este fenômeno climático,países de todo o mundo buscamnovos tipos de processos e técnicascapazes de obter energias menospoluentes, tais como a energiaeólica, a solar, a de biomassa, etc.Entre os combustíveis, a produçãode álcool etílico oriundo da cana-de-açúcar tem no Brasil o principalprodutor mundial, e boa parte daprodução de veículos que atual-mente sai das fábricas brasileiras jápermite a utilização de álcool, oqual reduz bastante as emissões deCO2, em relação à gasolina e óleo

diesel, e contribui para reduzir osdanos ao meio ambiente.

O grande mérito para isso temorigem na agricultura nacional eos produtores brasileiros estãodando exemplo de esforço ecriatividade. Mas além da questãoda substituição do combustível fóssil(gasolina, diesel, queresone daaviação) por um renovável, aprodução de álcool pode ser umaalternativa energética para aagricultura familiar. A Epagri,através da Estação Experimentalde Urussanga, no Litoral SulCatarinense, vem desenvolvendo há

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29Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

alguns anos pesquisas com aprodução de cana-de-açúcar com oobjetivo de oferecer alternativas derenda a agricultores e empresáriosrurais, seja na produção deaguardente comercial, seja nautilização do álcool como combus-tível para veículos e até para movermotores e aquecimento de máqui-nas e equipamentos agroindus-triais. Este é o objeto da reportagema seguir.

Parceria pesquisa xempresário rural

A cana-de-açúcar é consideradauma das plantas mais eficientes domundo para capturar energia solare, pela fotossíntese, transformaresta energia em açúcares vegetais,como a glicose e a sacarose. Ao seresmagada, a cana fornece de 60% a75% de caldo, a popular garapa, ricaem sais minerais e açúcares. Estagarapa ou suco fermentado vai daro vinho, que por processo dedestilação resultará na nossa famosaaguardente de cana, a cachaça, ou oetanol, o álcool.

Há cerca de 10 anos, a Epagrivem estimulando a produção eposterior beneficiamento da cana-de-açúcar pelos agricultorescatarinenses como alternativa deagregação de valor. O Centro deTreinamento da Epagri em SãoMiguel do Oeste desenvolve o CursoProfissionalizante de Produção eProcessamento de Cana com ênfasena produção de melado, açúcarmascavo, rapadura e schmier(pastas de frutas). A EstaçãoExperimental de Urussanga, porsua vez, especializou-se naagroindustrialização caseira deaguardente, inclusive orgânica, e,nos últimos anos, dedicou-setambém a cursos de produção decachaça e álcool combustível paraprodutores rurais.

O engenheiro agrônomo epesquisador doutor Jack EliseuCrispim é o responsável pelo cursode aguardente e álcool combustívele o pioneiro na fabricação de ummodelo de microdestilaria caseirade cana, que serve tanto para afabricação de cachaça como deetanol. Na verdade, esclarece Cris-pim, ele juntou dois equipamentosjá prontos: o destilador convencional

de Minas Gerais e o alambique comsistema de destilação contínua deSanta Catarina com algumasmodificações e melhorias. A estesdois, anexou o sistema de refri-geração (serpentina) e criou umnovo equipamento. Em tempos decrise energética, esta máquina podeser adequada a pequenas e médiasproduções, seja para grupos deagricultores familiares, seja parapequenas e médias empresas. E é oque já está acontecendo: pedidos deinformação de todo o Brasil estãochegando à mesa do pesquisador,que não está dando conta dademanda.

Na Estação Experimental deUrussanga, o pesquisador construiuum pequeno modelo de micro-destilaria que, além de ser umequipamento demonstrativo noscursos e pesquisas, também produzálcool combustível para uso nosveículos da Estação. Uma camionetejá vem utilizando o produto, quechega atingir 92 oGL (a AgênciaNacional do Petróleo – ANP – exigepelo menos 85oGL). Crispimesclarece que 1ha de cana poderender, em média, nas condições declima e solo de Santa Catarina, seobservadas as orientações técnicasdevidas, cerca de 100t de colmo, ou5 a 6 mil litros de etanol. “Estehectare produz combustível eco-lógico que permite a um agricultorabastecer seu fusca, caminhão,motor estacionário, até tratorconvertido, e ainda sobra para trocarpor outros produtos com seuvizinho”, orienta o pesquisador. O

microdestilador é versátil, pois oprodutor pode tanto produziraguardente como etanol.

Desde a primeira máquinaidealizada anos atrás, o modeloevoluiu, tornou-se mais eficiente,mais produtivo e com boa qualidadede construção. Para chegar a isto,Jack Crispim conseguiu um aliadoimportante. Em suas excursões paravisitar produtores de aguardente eáreas com plantação de cana-de-açúcar, ele encontrou o senhorDanilo Napoli, empresário de Timbédo Sul, município no sul cata-rinense, na fronteira com o RioGrande do Sul. O senhor Danilo,hoje com a idade de 80 anos, édaqueles empreendedores criativose experientes que passaram pormuitos desafios na vida. Já tevedestilaria de cana e tinha freguesiafirme no Rio Grande do Sul e SantaCatarina; mas, com a concorrênciado produto paulista, resolveuinvestir na construção de alam-biques convencionais. Chegou inclu-sive a produzir um equipamentoinédito à base de gás.

Foi o senhor Danilo, através desua pequena metalúrgica, quemsugeriu modificações e aperfei-çoamentos importantes no projetoda microdestilaria idealizadooriginalmente pelo pesquisador daEpagri. “Até de madrugada, osenhor Danilo me ligava quandotinha uma idéia nova, e eu tambémfazia o mesmo outras vezes’’,comenta Crispim, revelando que,ao longo do tempo, os contatostécnicos sedimentaram uma

Crispim abastece camionete da Estação Experimental de Urussanga comálcool produzido no canavial da própria unidade

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verdadeira amizade entre os dois.Atualmente a pequena metalúrgicaquase não dá conta dos pedidos,desde microdestilarias de pequenoporte, até pequenas máquinas paraestudos em escolas, ou mesmo atépara uso doméstico.

Produção ecológica

A microdestilaria de álcool,conceitualmente, é classificadacomo uma unidade autônoma comcapacidade para produzir de mil até5 mil litros/dia. Eficientementeadministrada, sob a ótica econô-mica, a microdestilaria é umempreendimento bastante atrativo,pois permite o aproveitamento detodos os subprodutos gerados, taiscomo pontas de cana (pode serfornecida ao gado ou comocobertura de solo), palhada (quetambém é ótima para cobertura dosolo contra a erosão e competiçãode ervas invasoras). Tem ainda obagaço da cana, a vinhaça ouvinhoto. O bagaço, resultante daprensagem da cana, pode seraproveitado novamente no pro-cesso, utilizando-se enzimas efermentos específicos, que realizamoutra fermentação, ou pode serutilizado na queima, no aque-cimento do processo de destilaçãodo álcool, ou ainda como coberturamorta na lavoura. O vinhoto, que éo resíduo indesejável da destilação,pode ser aproveitado como adubo,em compostagem, etc., evitando-sejogá-lo em fontes de água, como sefazia até pouco tempo, poluindo riose córregos. O vinhoto tem macro e

micronutrientes, como nitrogênio,fósforo, potássio, ferro, boro, etc.,podendo ser usado na alimentaçãodo gado e de outros animais. Porfim, sobram na queima do bagaçona caldeira as cinzas que possuemelementos químicos como fósforo,cálcio, potássio, magnésio, silício emanganês e que servem como fertili-zantes, se devolvidos à lavoura.

Do ponto de vista social, amicrodestilaria é inequivocamenteum gerador de trabalho e rendagarantindo a fixação do produtorrural no campo. Do ponto de vistaambiental, reaproveita os recursosnaturais, através da reciclagem econtrole de emissões de poluentes.Neste sentido, o álcool combustívelgera bem menos gás carbônico naatmosfera do que gasolina, óleodiesel ou querosene de aviação, quesão combustíveis fósseis não-renováveis. Por exemplo, umautomóvel a gasolina, em média,emite 200g de CO 2/km rodado,enquanto o carro a álcool, cerca de4g. Isto sem falar que a cana-de-açúcar, no seu desenvolvimento nalavoura, absorve gás carbônico. E,para ser mais perfeito, o processo érecomendável do ponto de vistaambiental, pois já se produz canaorgânica, ecológica, ou seja, semuso de fertilizantes químicos eagrotóxicos, que utilizam derivadosdo petróleo na sua fabricação. Aliás,a cana é um vegetal rústico, queresponde bem ao uso de adubosorgânicos, e é uma planta resistentea pragas e doenças.

Jack Crispim relata que, paraleloao processo de desenvolvimento do

microdestilador, importante temsido o desenvolvimento de varie-dades de cana-de-açúcar, produtivase adaptadas ao solo e clima catari-nenses. Neste aspecto, a Epagri fazparte de uma rede nacional demelhoramento de cana (Ridesa),coordenada pela UniversidadeFederal do Paraná, e vem testandodiversas cultivares de cana ao longodos anos. A Estação Experimentalde Urussanga testou nos últimos 3anos 15 cultivares. A produtividademédia, nas condições de manejo dapesquisa, atingiu de 130 a 190t/ha.“Isto mostra o bom potencial que alavoura pode atingir no Estado”,acrescenta Crispim.

Microdestilaria: funçãosocial, econômica eambiental

As cultivares recomendadas pelaEpagri devem ser utilizadas comespaçamentos e densidades ade-quados, bem como adubaçãorecomendada pela análise do solo.“Agricultores e empresários quepassam pelo curso de produção deaguardente e/ou álcool combustívelda Epagri recebem colmos de canade uma cultivar adequada e de altaprodutividade, para iniciarem sualavoura,” ressalta Crispim. Opesquisador raciocina que para cadatonelada de colmo produzida éperfeitamente possível obter 600Lde caldo ou mosto de cana a 20oBrix(unidade que exprime o índice deaçúcar) que por sua vez podemresultar em 120L de aguardente a50 oGL ou 60L de álcool a 90oGL.Crispim calcula que em 1haproduzindo 100t de colmo pode-seobter um volume de 6 mil litros deálcool que, vendido ao preço de R$1,50 (abaixo do preço médio de R$1,80 dos postos de combustíveis),resulta num valor de R$ 9 mil, cifradifícil de ser obtida por outrasculturas comerciais. Se o valor daaguardente for atraente, o produtorpode produzir a cachaça e vendercom um valor agregado maior.

É claro que não está computadoaí o custo de implantação damicrodestilaria. Porém, através deprogramas de crédito governa-mentais, direcionados à pequenaagricultura familiar, tipo Pronaf,Petrobrás, é possível obter recursos

Modelo pioneiro de microdestilador usado para cursos e demonstrações naEstação Experimental de Urussanga

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praticamente a fundo perdido,reduzindo bastante os custos deconstrução do equipamento. Parase ter uma idéia, segundo opesquisador Jack Crispim, o custode uma microdestilaria modeloUrussanga vai de R$ 80 mil a 130mil, conforme o volume diário deálcool produzido. Neste custo estãoincluídos a construção civil, desti-ladores, caldeira vertical auto-mática, moendas, tanques depropileno para produto acabado,equipamentos diversos, maiscusteio. Seguindo o raciocínio, ocusto de implantação, desenvol-vimento, colheita e transporte deuma lavoura de cana-de-açúcaratinge R$ 4.942,00 (cálculo daEpagri) se forem computados todosos custos, inclusive juros e custo deoportunidade. Entretanto, se oprodutor fizer uso de recursosnaturais disponíveis na propriedadeou na vizinhança, como adubosorgânicos, capinas manuais, etc.,ou seja, aqueles valores que elerealmente desembolsa, o custo dalavoura pode baixar considera-velmente. Além disso, de cadatonelada de cana sobram de 300 a500kg de bagaço. O bagaço, como sedisse anteriormente, pode fornecerenergia nas caldeiras de produçãode álcool, sobrando ainda 20%. Epara cada litro de álcool produzidosobram 12L de vinhoto, que podeser aplicado no canavial como aduborico em N, P, K e micronutrientes.É possível aplicar até 100m3/ha dovinhoto.

Outro detalhe é que a extraçãodo caldo feita por moendas pequenasretira ao redor de 60% do suco

Crispim mostra uma das cultivares de cana de alta produtividade testadasna Estação Experimental de russanga

contido na cana. Melhorando essemaquinário é possível chegar àmesma extração das grandesdestilarias, ou seja, 90%. Valelembrar também que o produtortem a facilidade de deixar a cana nalavoura e cortar quando lhe aprou-ver, pois o produto não estraga,quando ainda no campo. Portanto,a produção de cana-de-açúcarvisando à obtenção de energiaapresenta-se com uma perspectivainteressante, seja do ponto de vistacomercial, social ou ambiental.Agricultores ou empresários rurais,associações ou cooperativas ruraissão o público-alvo desta tecnologia.

Com isto em mente, a Federaçãodos Trabalhadores Rurais de SantaCatarina – Fetaesc – propôsrecentemente uma parceria com aEpagri para desenvolver um projetode implantação de 50 microdes-tilarias em diversos municípios cata-rinenses, através de associações,comunidades ou cooperativas deagricultores familiares. Segundo opresidente da Fetaesc, senhorHilário Gottse-ling, com a im-plantação plena doprojeto ao longodos próximos 5anos, Santa Cata-rina deixará deimportar 8,45 mi-lhões de litros deetanol de outrosEstados, o queresultará numaeconomia anualde R$ 7,01 mi-lhões aos cofres doEstado, sem con-

siderar o ICM.Participaram na elaboração do

projeto os técnicos da EpagriAdriano Martinho de Souza (EstaçãoExperimental de Canoinhas), EdsonSilva (Gerência Técnica, emFlorianópolis), Herberto Hentschel(Centro de Treinamento deFlorianópolis) e Jack EliseuCrispim. Para Edson Silva,coordenador do Grupo de Bioenergiae diretor da Epagri, o projeto não seresume somente à construção dasmicrodestilarias, pois “estãoprevistos cursos durante 5 anos,sobre produtos derivados de canacom duração de três dias cada, cominformações sobre produção deálcool, cachaça, melado, rapadura eaçúcar mascavo. Além disso, serãodistribuídos cem colmos de canadas principais cultivares para 50produtores indicados pela Fetaesc,e também mil boletins informativossobre a cana-de-açúcar a diversosagricultores com as informaçõesbásicas sobre o cultivo da cana.Segundo o técnico, “também serãoelaboradas plantas e informaçõessobre unidades familiares deprodução de cachaça, álcool, melado,rapadura e açúcar mascavo aosprodutores indicados pela Fetaesc”.

As pessoas interessadas em maisinformações sobre o assunto podemcontatar o engenheiro agrônomo.Jack Eliseu Crispim, na Epagri/Estação Experimental deUrussanga, pelo fone (48) 3465-1933,e-mail: [email protected];o engenheiro agrônomo EdsonSilva, no fone: (48) 3239-5668, e-mail: [email protected], ou oengenheiro agrônomo HerbertoHentschel, pelo fone (48) 3239-8070, e-mail: [email protected].

Danilo Napoli, Jack Eliseu Crispim e funcionário nametalúrgica com novo microdestilador (ao fundo)pronto para a venda

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O

Juliana Koenig Duarte Lunardi1, Antônio Amaury Silva Júnior2, Jairo Arno de Matos3,André Arigony Souto4, Marta Kerber Schütz 5 e Celso Lopes de Albuquerque Junior6

estudo das plantas bioativascresce anualmente no Bra-sil e no mundo. Junto com

estes estudos, aumenta o interessee o conhecimento sobre os prin-cípios ativos destas plantas. Assim,são descobertas as medicinais,plantas úteis para a manutenção dasaúde e da qualidade de vida, mastambém as tóxicas. Estas últimascostumam ser belas, com suasflores coloridas e atrativas, tra-

zendo um grande risco às pessoasque as desconhecem.

Existe uma enorme variedadede princípios ativos, dentre eles,encontram-se os alcalóides, quepossuem uma grande atividadebiológica e uma enorme utilidade.

A trombeteira Brugmansiasuaveolens (Humb. & Bonpl.)Bercht. & J. Presl., Brugmansiacandida (G.D. Carr.) ou Daturasuaveolens (Humb. et Bompl.) é

uma solanácea perene nativa doSudeste e Sul do Brasil. Conhecidapopularmente como babado,aguado, cartucheira, saia-branca,cartucho, sete-saias, copo-de-leite,trombeta-de-anjo, estrela-de-anjo,trombeteira, zabumba-branca, temsido usada popularmente hácentenas de anos como calmante,antiasmática e narcótica. Emalgumas comunidades indígenas daAmérica do Sul, tem sido utilizada

1Eng. agr., Epagri/Centro de Treinamento de Tubarão, Rod. SC 438, km 13, São Martinho, 88701-970 Tubarão, SC, fone: (48) 3621-1300, fax: (48) 3621-1300, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255,e-mail: [email protected]édico, Farmacoterápica do Valle, Rod. SC 438, km 3, São Martinho, 88701-970 Tubarão, SC, fone: (48) 3628-0337, e-mail:[email protected]ímico, Dr., PUCRS/Faculdade de Química, Av. Ipiranga, 6.681, 90619-000 Porto Alegre, RS, e-mail: [email protected], PUCRS/Faculdade de Química, e-mail: [email protected]. hort., M.Sc., Unisul de Tubarão, SC, e-mail: [email protected].

TTTTTrombeteira – dos rituais à industrializaçãorombeteira – dos rituais à industrializaçãorombeteira – dos rituais à industrializaçãorombeteira – dos rituais à industrializaçãorombeteira – dos rituais à industrialização

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como alucinógena em rituaisxamânicos. Deve ser ressaltado queos alcalóides contidos natrombeteira são tóxicos quandoingeridos sem doseamento, razãopela qual suas folhas e flores secasdevem ser utilizadas exclusiva-mente como um insumo farma-cêutico.

É um arbusto semilenhoso,perene, de 2 a 3m de altura,bastante ramificado a partir do cauleprincipal, com folhas grandes (22 a26cm de comprimento e 13 a 15cmde largura), inteiras, ovado-elípticas, glabras ou poucotomentosas, alongadas e finas.Flores grandes (20 a 30cm decomprimento), aromáticas, campa-nulada, pendentes, brancas, róseasou amarelas, em forma de funilcom cinco dentes no cálice dilatado(Figura 1). Floresce o ano inteiro.Fruto fusiforme medindo 10 a 15cmde comprimento.

Agrotecnologia

• Ambiente de cultivo: espécieque cresce espontaneamente àbeira de rios e em várzeas úmidas.Desenvolve-se melhor em regiõesde clima temperado até subtro-pical úmido. Geadas podem serprejudiciais, mas a planta rebrotaapós o período mais crítico. É

plenamente heliófita. Desenvolve-se melhor em solos ricos emmatéria orgânica, drenados,aerados, preferencialmente areno-sos ou siltosos e próximos àneutralidade. Solos encharcadosou muito compactados afetam odesenvolvimento da planta. Aexemplo de outras solanáceas, atrombeteira deve ser cultivada emsolo arado e gradeado, com aaplicação prévia de calcário,conforme resultado de análise dosolo. O pH do solo deve estar entre5,5 e 6,0. Evitar solos mal dre-nados, compactados e com histó-

rico de cultivo de outras solaná-ceas.

• Base de cultivo: tem sidorealizado em áreas de transiçãoorgânica, buscando-se utilizartécnicas e produtos aceitos dentrodo conceito de agricultura orgânica,pois se trata de um insumo farma-cêutico e, para tanto, seguem-se asnormas contidas no manual deBoas Práticas Agrícolas, reco-mendadas pelo Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento– Mapa.

• Propagação: por sementes(grande variabilidade genética edesenvolvimento lento) e porestacas (desenvolvimento uniformee elevação na concentração deescopolamina) devendo ter a estacaentre 25 e 30cm de comprimento(Figura 2). A germinação é maisuniforme e rápida quando assementes são embebidas em águamorna por 24 horas. Temperaturasde 16 a 22oC são consideradas ótimaspara a germinação. A germinaçãodas sementes ocorre num prazo de16 a 30 dias.

• Consórcio: hortaliças, plantasbioativas e frutíferas de pequenoporte.

• Espaçamento: 1,0 x 1,0m ou1,5 x 1,0m (10 mil plantas/ha ou 8mil plantas/ha).

• Adubação: fosfato natural (50 a100g/planta), esterco de gado ousuíno (500g/planta), biofertilizantesupermagro.

• Preparo do solo: através deplantio direto e cultivo mínimo.

• Plantio: pode ser feito o anotodo.

Figura 1. Lavoura de trombeteira em florescimento, aos 6 meses deidade, na propriedade da família Alberton, Grão-Pará, SC

Figura 2. Estacas de trombeteira para propagação

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• Irrigação: durante o períodopós-plantio e durante estiagens éimprescindível a irrigação. A plantasuporta períodos breves de seca,mas sempre ocorre atraso no ciclo eredução na produção.

• Controle de invasoras: capinapermanente, roçada, coberturamorta.

• Doença: o vira-cabeça. A podada planta reduz ou elimina oproblema de viroses e as brotaçõesseguintes ficam livres da doença.

• Pragas: plantas jovens sãoatacadas pela Diabrotica speciosa

(vaquinha, patriota) que tem sidocontrolada com aplicação preventivade óleo de nim e extrato depimenta.

• Colheita: colhe-se apenas 50%da parte aérea (folhas e flores). Orebrote ocorre rápido permitindotrês a quatro colheitas no ano.

• Produtividade: 5 a 8t/ano.• Secagem: recomenda-se secar

folhas e flores separadamente, poiso tempo de secagem das flores émaior (Figura 3). A temperaturaideal de secagem com ventilaçãocontínua é de 60 oC, evitando-se

assim a mela e a perda de qualidadedo produto final. O tempo desecagem varia de 24 a 48 horas,dependendo do volume de arcirculante na estufa.

• O preço pago atualmente peloquilo de folhas e flores secas é R$6,50 estando de acordo com ospadrões de qualidade estabelecidosem contrato (Figura 4).

• Industrialização: o produto,depois de desidratado, é encami-nhado à indústria e transformadoem xaropes ou procede-se oisolamento de escopalamina pura(Figura 5).

Fitoquímica

O gênero Datura encerra 20espécies de trombeteira, todascontendo alcalóides, mas diferindoentre si, no aspecto fitoquímico,pela concentração de seusprincípios ativos. Algumas contêmmais hiosciamina, outras maisescopalamina, mas todas apresen-tam pelo menos traços de atropina.Além da Datura suaveolens ,destacam-se pela importânciaeconômica a Datura stramomiume a Datura fastuosa.

A espécie Datura fastuosacontém alcalóides (escopalamina,norescopalamina, daturina, atro-pina, atropamina, meteloidina,hioscina), ácidos clorogênico, ascór-bico, caféico, aconítico, fumárico,ferúlico, glicóico, lignocérico, lático,sucínico, málico, esteárico, oléicoe linoléico, datugenina, butanol,esculetina, flurodaturetina, capsi-dol, sitosterol, nitrato de potássioe taninos. O teor de escopalaminaque ocorre nas folhas e flores deexemplares nativos de Daturafastuosa é de 0,107% a 0,111%(Revista Flora Medicinal), respec-tivamente. Através do cultivosistemático e orgânico desenvolvidona Região Sul de Santa Catarina,logrou-se obter teores de escopa-lamina da ordem de 0,2663% e0,2063%, nas folhas e flores,respectivamente.

A escopalamina é um alcalóidetropânico que funciona como agenteanticolinérgico. Sua síntese ébastante complicada, por estemotivo continua a ser extraída de

Figura 3. Preparo de flores de trombeteira para secagem

Figura 4. Detalhe das folhas secas e enfardadas de trombeteira

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plantas que pertencem à famíliaSolanaceae.

A Faculdade de Química daPUCRS, em parceria com aFarmacoterápica do Valle IndústriaQuímica e Farmacêutica Ltda., vemdesenvolvendo pesquisas desde oano de 2006 na tentativa de isolar aescopalamina da planta Daturafastuosa e mais recentemente daDatura stramonium, ambas perten-centes à família Solanaceae.

Propriedadescomprovadascientificamente

A partir da utilização empíricadas plantas, têm sido obtidas novasdrogas, formando um vastíssimoarsenal fitoterápico de grandeimportância à humanidade, masainda muito pouco conhecido.

Os fitoterápicos obtidos datrombeteira têm ação antiasmá-tica, antiespasmódica, anticonvul-sionante, dilatadora, anti-hista-mínica, cardiotônica, emética,anestésica e narcótica. Indicadapara o tratamento de mal deParkinson, síndrome de TPM,overdose de colinérgicos e al-gumas cardiopatias. O óleo éindicado como analgésico eantiinflamatório, e em uso tópicoem traumatismos.

Posologia

• Banho de vapor das folhas bemcomo o cigarro das folhas e floressecas são usados para tratamentode tosses rebeldes e bronquites.

• Suco: aplicar em queimaduras,escoriações, inflamações ehemorróidas.

• Emplastro das folhas: aplicarem áreas artríticas e reumáticas.Esmagar as folhas e aplicar sobre aarticulação afetada.

• Pomada: utiliza-se o extratoetanólico das folhas emulsionadocom manteiga. Utilizada notratamento de reumatismoarticular.

• Cápsulas: uso oral em gotas ecomprimidos na dosagem individualpara adultos de 10mg/L do alcalóideescopalamina. Administram-se trêsdosagens em 24 horas.

Toxicologia

As plantas não devem ser usadascomo chá, nem ingeridas de outraforma in natura .

• Reações adversas: secura daboca, transtornos da acomodaçãovisual, taquicardia, vertigem epotencialmente retenção urinária.Em geral estes efeitos são leves,desaparecendo espontaneamente.

• Superdose – sintomas: em casode superdose, podem ser observadosefeitos anticolinérgicos.

• Toxicidade: a toxicidade doproduto está limitada à posologia.Em caso de gravidez e lactação ouso deve ser interrompido.

Em caso de intoxicação aciden-tal oral, podem ocorrer náuseas evômito, seguidos de pele quente,seca e avermelhada; rubor de face,mucosas secas, principalmenteocular e bucal. Taquicardia, confu-são mental, mudanças repentinasde comportamento, alucinaçõescom visão de formas e cores va-riadas, vertigem, delírio acompa-nhado de convulsões, aumento depulsação, dilatação da pupila,diminuição das secreções. Dimi-nuição do poder de reflexo ouexercício motor da medula,paralisando a ação dos músculosestriados e excitando os músculoslisos.

• Antídoto/tratamento: esva-ziamento gástrico, desde que sejafeito em tempo útil. A lavagemgástrica deve ser enérgica e precoce.A hipertemia deve ser tratada commedidas físicas (bolsas de gelo,compressas úmidas, etc.), pois emgeral são ineficazes os analgésicos.Diazepínicos podem ser utilizadospara controle da agitação psicomo-tora muito intensa. Correção dosdistúrbios hidroeletrolíticos emetabólicos e assistência respi-ratória são procedimentos impor-tantes. Administrar fisostigmiapara pacientes graves, pois osefeitos colaterais são significativos.

Pesquisa integrada

A Epagri, através da equiperegional de Tubarão, está acom-panhando o desempenho da culturajunto aos produtores de trombeteiravisando avaliar parâmetros agro-nômicos e custos de produção, emparceria com a empresa Farmaco-terápica do Valle, que demandaatualmente 20t anuais e comampliação gradativa a cada ano.Atuando no ramo de fitoterápicoshá 16 anos, a Farmacoterápica doValle tem reconhecido a importânciada biodiversidade, incentivando evalidando as pesquisas na área deplantas bioativas.

Figura 5. Análise de amostras de folhas e flores de trombeteira cultivadano Sul de Santa Catarina, através de cromatógrafo líquido de altaperformance

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Estimativas dos impactos das mudanças climáticas nosEstimativas dos impactos das mudanças climáticas nosEstimativas dos impactos das mudanças climáticas nosEstimativas dos impactos das mudanças climáticas nosEstimativas dos impactos das mudanças climáticas noszoneamentos da cultura da banana e da maçãzoneamentos da cultura da banana e da maçãzoneamentos da cultura da banana e da maçãzoneamentos da cultura da banana e da maçãzoneamentos da cultura da banana e da maçã

no Estado de Santa Catarinano Estado de Santa Catarinano Estado de Santa Catarinano Estado de Santa Catarinano Estado de Santa Catarina

Cristina Pandolfo1, Luiz Albano Hammes2, Cláudia Camargo3, Angelo Mendes Massignam 4,Emanuela Salum Pereira Pinto 5 e Marilene de Lima 6

questão das mudanças cli-máticas tem sido discutidaem todos os setores da ati-

vidade humana desde que relatóriosde pesquisa têm evidenciado asalterações principalmente nospadrões de ocorrência de tempe-ratura e precipitação.

No Estado de Santa Catarinanão poderia ser diferente. Umaspecto importante é estimar ainfluência das mudanças climáticasna agricultura, atividade direta eindiretamente responsável pelasubsistência de um grande númerode famílias catarinenses que vivemno campo. Assim, aumentar o graude informações com relação a estasalterações é o grande desafio, poissuas conseqüências têm abran-gência global.

Estudos em desenvolvimentopor pesquisadores da Epagri/Ciram,utilizando séries históricas de dadosmeteorológicos, mostraram que,como em nível global, mudançasclimáticas também estão sendoverificadas no Estado de SantaCatarina (Camargo et al., 2006). De

acordo com os autores, tem sidoobservado um aquecimento datemperatura média do ar ao longodos anos. Os resultados mostramum diferencial entre as varia-bilidades das temperaturasextremas, máxima e mínima. Hátendência de aumento da tempe-ratura mínima em quase todas aslocalidades observadas (em SãoJoaquim, por exemplo, foi obser-vado um aumento de 3 oC datemperatura mínima do ar, ao longodo período de 1955 a 2006);enquanto as séries de temperaturamáxima, na maioria dos casos,apresentam uma tendêncianegativa ao longo dos anos. Estadiferença entre as temperaturasextremas é refletida nos valores daamplitude térmica (diferença entrea temperatura máxima e mínima),tendendo a uma diminuição aolongo dos anos, cujos resultados sãocoerentes com estudos realizadosem outros Estados (Easterling etal., 1997; Rusticucci & Barrucand,2001; Camargo & Marengo, 2004).Outras mudanças climáticas bas-

tante discutidas nos dias de hoje sãoas alterações nos regimes de pre-cipitação, altamente relacionadas aperdas agrícolas e a problemas deabastecimento de água. Na maioriadas regiões do Estado de SantaCatarina os totais anuais deprecipitação apresentaram umatendência de aumento ao longo dosanos e um aumento da varia-bilidade. Porém, destaca-se que,embora os totais de precipitaçãoestejam aumentando, o número dedias consecutivos sem chuvatambém tem aumentado nosúltimos anos. Ou seja, a ocorrênciade eventos extremos de chuva,como a probabilidade de ocorrênciade precipitação acima de 100mm,tem aumentado, porém comperíodos mais distanciados entreum evento e outro (Camargo et al.,2006).

A perdurar o aquecimentoglobal, como tudo está a indicar,conseqüências de grande inten-sidade e imprevisíveis serão umaconstante para os próximos anos nomundo todo e inclusive no Estado

1Eng. agr ., M.Sc., Fundagro/Agroconsult/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone (48) 3239-8005, e-mail:[email protected]. agr., Fundagro/Agroconsult/Epagri, e-mail: [email protected], M.Sc., Epagri/Ciram, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8053, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, fone: (49) 3541-0748, e-mail: [email protected] de Sistemas, Fundagro/Agroconsult/Epagri, fone: (48) 3239-8006, e-mail: [email protected], M.Sc. Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8066, e-mail: [email protected].

A

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37Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

catarinense. Mudanças nas épocasde plantio e de cultivos em regiõesantes inimagináveis também serãopresenciadas. Alguns exemplos dealterações que se pode esperar paraos próximos anos, decorrentes doaquecimento global em SantaCatarina, são os seguintes(Camargo et al., 2006):

• Maior variabilidade térmica ehídrica, tanto diárias quanto men-sais e sazonais. Como conseqüên-cia, haverá um aumento de im-pactos e riscos aos setores agro-pecuário e agrícola, devido amaiores incertezas no compor-tamento térmico e hídrico, comaumento na intensidade e fre-qüência de eventos extremos, taiscomo ondas de calor mais intensasno inverno (alternadas por eventosextremos de frio) e períodos deestiagem mais prolongados.

• Aumento na evaporação e naevapotranspiração, requerendo umredimensionamento dos sistemasde reservatórios de água paraabastecimento humano, agrícola epecuário.

O uso de cenários agrícolas,simulando-se as mudanças climá-ticas, permite estimar os impactosdestas mudanças na agricultura epropor estratégias de atuação porparte dos envolvidos no setor agrí-cola, desde o governo até o setorprivado, para desenvolver pesquisaem melhoramento genético, ma-nejo agrícola e escolha de espéciespromissoras adaptadas aos novospanoramas climáticos.

As culturas da banana e maçãsão significativas para o Estado deSanta Catarina e uma projeção dealteração das fronteiras agrícolas alongo prazo torna-se ferramentaimportante de planejamento etomada de decisão. A bananeira é aprincipal frutífera em área cultivadano Estado catarinense e se alternacom a macieira em importânciaeconômica. O valor da produção dabanana é estimado em R$ 107milhões anuais. A cultura temgrande importância social, pois,segundo o último censo agrícola doIBGE, em Santa Catarina são 25.778os produtores rurais que explorama cultura – em cerca de 5 milestabelecimentos agrícolas, abanana é a principal fonte de renda.Aproximadamente 97,7% dosprodutores catarinenses de banana

cultivam 10ha, ou menos (Síntese...,2006).

Santa Catarina, com um volumeproduzido de 505 mil toneladas demaçã, destaca-se no “ranking”nacional como o primeiro produtor,respondendo por cerca de 59,7% daprodução nacional, seguido peloEstado do Rio Grande do Sul, com35,1% (Síntese..., 2006).

Trabalhos científicos mostramque existem problemas relacionadoscom os fatores climáticos. Entreeles pode-se citar um que Lima etal. (2003) observaram. Observandoa relação entre as unidades de frioe o rendimento das safras de maçãno período de 1972 a 2002 em Frai-burgo, SC, os autores concluíramque há uma redução na produti-vidade da cultura da maçã aosubmetê-la a quantidades menoresde unidades de frio acumuladas atéo final de setembro (utilizando ométodo de Carolina do Nortemodificado). Além disto, quando ofrio é insuficiente para satisfazer asnecessidades fisiológicas dadormência, ocorrem inúmeras ano-malias que reduzem a produtividadee a qualidade dos frutos (Petri et al.,1996).

Cenário de mudançasclimáticas

Para a elaboração dos cenáriosforam utilizados dados de tempe-ratura média, temperatura máxima,temperatura mínima do ar,ocorrência de geada e precipitaçãopluviométrica diária, provenientes

de estações meteorológicas perten-centes à Epagri, com períodossuperiores a 10 anos.

Assumiu-se que nos próximos50 anos as temperaturas média,máxima e mínima do ar do Estadode Santa Catarina vão sofrer umaumento linear de 2oC, porém foiconsiderado que o total de preci-pitação pluviométrica não sofrerámodificação.

Para a elaboração do zonea-mento agrícola para a banana,levou-se em consideração critérioscomo: ocorrência de deficiênciahídrica anual, probabilidade deocorrência de geadas e probabilidadede ocorrência de temperaturasmínimas do ar conforme descritoem Epagri (2007a). Para a elabo-ração do zoneamento agrícola damaçã para três diferentes gruposde cultivares, levou-se em consi-deração critérios como: tempera-turas médias dos meses de outubroa abril, horas de frio (HF), ocorrênciade geada. As cultivares de maçãforam divididas em três grupos deacordo com a exigência em HF(Epagri, 2007b). A metodologia e oscritérios utilizados para definiçãodos zoneamentos neste trabalhodiferem em parte daquela realizadaanteriormente e publicada naAvaliação de Cultivares da Epagri eno Diário Oficial (Brasil, 2006;2007).

A recomendação do zoneamentoagrícola para a cultura da banana,considerando-se as condições atuaisde clima, pode ser observada naFigura 1.

Figura 1. Zoneamento agrícola para a cultura na banana em SantaCatarina

Zoneamento agrícola para acultura da banana

RecomendadoCNR

Nota: Plantio recomendado para cotasaltimétricas inferiores a 200m.

Cota altimétrica de 200m

Fonte: Agroconsult Ltda.

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No zoneamento com o cenáriode aumento de temperatura do ar(Figura 2) observou-se uma expan-são da área apta ao plantio emtorno de 307%, ou seja, umacréscimo de 2.627.700ha. Adelimitação das áreas, que antes nozoneamento coincidia com cotas de200m passa agora a coincidir comcotas altimétricas de 600m.Observou-se neste cenário que onúmero de municípios aptos aoplantio da banana aumentou de 78para 150.

As recomendações do zonea-mento agrícola para a cultura damaçã, para os três grupos de exi-gência em frio nas condições atuaisde clima, podem ser observadas naFigura 3.

No zoneamento com o cenáriode aumento de temperatura do ar(Figura 4) observou-se uma reduçãoda área apta ao plantio em relaçãoaos zoneamentos atuais para acultura da maçã em todos os gruposde cultivares de maçã, porém quantomaior a exigência em frio maior foia redução da área apta para plantio.Segundo a Figura 4, observa-se quenão haveria no Estado regiões aptasao cultivo de maçã com média e altaexigência em frio. Pode-se verificartambém que as áreas aptas aoplantio da maçã de alta exigênciaem frio (Figura 3) seriam indicadaspara o plantio de maçã com baixaexigência (Figura 4), considerando-se o aumento de temperatura.

O surgimento de uma doença eseu desenvolvimento é conseqüên-

cia da ação da suscetibilidade daplanta, da existência de um pató-geno e dos fatores ambientais, sendoestes últimos determinantes para aseveridade do ataque de umamoléstia.

Modificações na importânciarelativa das pragas e doenças dasprincipais culturas podem ocorrerem um futuro próximo. Os impactoseconômicos, sociais e ambientaisdecorrentes podem ser positivos,negativos ou neutros, pois as mu-danças climáticas podem diminuir,aumentar ou não ter efeito sobre osdiferentes problemas fitossanitários(Hamada et al., 2005).

A sarna é a principal doença damacieira nas regiões com climatemperado e úmido. Em regiõesonde a primavera e o verão apresen-tam alta umidade e temperaturaamena, como ocorre no PlanaltoCatarinense, esta doença podecausar perdas de até 100%, casonão sejam tomadas medidasadequadas de controle (Epagri,2002). Entre os fatores que deter-minam a severidade da sarna, estãoas condições climáticas (período demolhamento foliar necessário paraa infecção e temperaturas). Váriosciclos da doença podem ocorrerdurante a fase vegetativa damacieira, os quais dependem donúmero de períodos de infecção(influenciados por fatores climáticos)e da disponibilidade de tecidosuscetível do hospedeiro.

A cultura da banana éextremamente ligada a problemas

fitossanitários que afetam aquantidade e qualidade da produção,sendo a sigatoka negra (causadapelo fungo Mycosphaerella fijiensis)a principal doença da cultura, dadoque pode acarretar perdas de até100% da produção. O fungonecessita de condições ambientaisadequadas para o seu desenvol-vimento e um dos fatores que maisinterferem nesse desenvolvimentoé a temperatura que, dependendodo seu valor, afeta diretamente ociclo do patógeno (Valadares Jr. etal., 2007).

As doenças fúngicas normal-mente são favorecidas pela dispo-nibilidade de água no ambiente.Por esta razão, práticas que reduzama umidade do bananal contribuempara a redução da ocorrência destasdoenças. Desta forma, o espaça-mento de plantio adequado, odesbaste de filhotes, a drenagem dosolo, o controle de plantas daninhas,a desfolha e a eliminação depseudocaules de plantas colhidas,ao contribuírem para um arejamen-to do bananal, reduzem a umidadedo ambiente (Lichtemberg & Hinz,2003).

Com relação à qualidade do fruto,em locais onde a temperatura éamena, há produção de maçãs compolpa mais firme, melhor qualidadee maior poder de conservação(Ushirozawa, 1978). O aumento dastemperaturas em função dasmudanças climáticas restringirá asáreas preferenciais de plantio damaçã em Santa Catarina, podendohaver redução do rendimento, perdade firmeza do fruto, menor quali-dade e redução do poder deconservação.

As culturas de clima tropical,como a banana, terão suas áreasaptas ao plantio expandidas con-siderando-se que há uma tendênciade aumento da precipitação totalanual no Estado e que a oferta deágua será suficiente.

Independentemente da espécie,ao se considerar a possibilidade deaumento das temperaturas, prevê-se aumento na incidência dedoenças e pragas (aumentando onúmero de gerações por ciclo dacultura e severidade de ocorrência).

A análise dos efeitos dasmudanças globais sobre ocorrênciae intensidade de pragas e doençasde plantas é importante para a

Figura 2. Zoneamento agrícola para a banana com o impacto dasmudanças climáticas

Cenário do zoneamento agrícola paraa cultura da banana

RecomendadoCNR

Nota: Plantio recomendado para cotasaltimétricas inferiores a 600m.

Cota altimétrica de 600m

Fonte: Agroconsult Ltda.

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39Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

Figura 3. Zoneamento agrícola para a cultura da maçã com (A) altaexigência em frio, com (B) média exigência em frio e com (C) baixaexigência em frio

adoção de medidas mitigadoras, comenfoque na redução de perdas dasculturas.

Como forma de minimizar ospossíveis problemas causados peloaquecimento global, são impor-tantes práticas culturais que nãofavoreçam o ataque de doenças,controlando a circulação de ar entreas plantas para reduzir temperaturae período de molhamento. Sãotambém importantes o controle quí-mico e o controle genético, utili-zando variedades mais resistentesàs doenças. No caso da maçã, seránecessário também o uso de pro-dutos químicos e adoção de práticasculturais que auxiliem na quebrade dormência.

As mudanças climáticas podem,em longo prazo, causar grandesimpactos culturais e afetar a cadeiaprodutiva de diversas culturas emdiferentes regiões no Estado.

O setor agrícola requer que todasas partes envolvidas formulem ecoloquem em prática programaspara mitigar a mudança climática epromover a adaptação deste setoràs novas perspectivas que vão seapresentando, levando-se em contaas prioridades de desenvolvimentodo setor e as característicasregionais.

Literatura citada

1. BRASIL. Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento. Portaria nº57 de 11 de abr. de 2006. Diário Oficial(da República Federativa do Brasil),Brasília, 13 abr . 2006. Seção 1, p.26.Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislação.do?operação=visualizar&id=16787>Acesso em: 20abr. 2007.

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3. CAMARGO, C.G.C., BRAGA, H.;ALVES, R. Mudanças climáticas atuaise seus impactos no Estado de SantaCatarina. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.19, n.3, p.31-35, nov.2006.

A

B

C

RecomendadoCNR

Fonte: Agroconsult Ltda.

RecomendadoCNR

RecomendadoCNR

Fonte: Agroconsult Ltda.

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40 Agropec. Catarin., v.20, n.2, jul. 2007

4. CAMARGO, C.G.C.; MARENGO, J.Variabilidades e tendências climáticasdos extremos de temperatura na Regiãosul do Brasil . 210p. Dissertação(Mestrado em Meteorologia) - InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais, SãoJosé dos Campos, 2004.

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15. SÍNTESE ANUAL DA AGRICUL-TURA DE SANTA CATARINA (2005-

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17. VALADARES JR., R.; JESUS JR.,W.C.; CECÍLIO, R. A. Influência dasmudanças climáticas na distribuiçãoespacial da Mycosphaerella fijiensis.In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DESENSORIAMENTO REMOTO, 13.,2007, Florianópolis, SC. Anais...Florianópolis, SC: Inpe, 2007. p.443-447.

Figura 4. Cenário de zoneamento agrícola para a cultura da maçã com(A) alta e média exigência em frio e (B) com baixa exigência de frio, como aumento de 2ºC nas temperaturas médias

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RecomendadoCNR

Fonte: Agroconsult Ltda.

RecomendadoCNR

Fonte: Agroconsult Ltda.