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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................∗ Normas para publicação ................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

45

87

Sumário

∗ É tempo de consumir caqui ..........................................∗ Milho e soja produzem mais com “El Niño” ..................∗ Canola: planta que traz muitos benefícios à saúdehumana, e cresce em importância no Brasil e no mundo∗ Vinho tinto encorpado é o melhor para o coração ........∗ Eucalipto com mais hemicelulose e lignina ..................∗ Nutrientes de hortaliças que são jogados fora .............∗ Alimentos à base de amaranto: mais saudáveis e comboa aceitação ...................................................................∗ Utilização de feromônio na agricultura .........................∗ Uma embalagem plantada junto com as mudas e quelibera nutrientes ...............................................................∗ Plano B – uma esperança para o planeta ......................∗ Mini-usina de leite pode ser um bom investimento ......∗ Oleaginosas potenciais para a produção de biodiesel noSul do Brasil .....................................................................

∗ Precisão nos ensaios de competição de cultivares de feijãoe milho ..............................................................................∗ Estimativa da área foliar do alho usando dimensões ebiomassa seca do limbo foliar ...........................................∗ Obtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativo pelomanejo da poda ................................................................∗ Alternativas de manejo para o controle do declínio davideira ................................................................................∗ Estabelecimento de índices de maturação para o ponto decolheita de frutos de caqui ‘Fuyu’ .....................................

∗ Morfogênese de vimeiro tratado com preparadoshomeopáticos e fitoterápicos ...........................................∗ Produtividade e resistência à podridão-negra de cultivaresde repolho em cultivo orgânico, no verão do Litoral SulCatarinense .......................................................................∗ Desempenho de genótipos de milho-pipoca no PlanaltoNorte Catarinense ..............................................................∗ Ocorrência e flutuação populacional de cigarrinhas-das-pastagens em diferentes espécies de gramíneas .............

∗ A cultura campeira cavalga para o esquecimento ........

∗ Agricultores e empresas catarinenses investem nasflorestas ...........................................................................∗ Técnicos e agricultores catarinenses desenvolvemtomate orgânico ...............................................................

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Artigo Científico

Nota Científica

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7889

910

101111

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14

20

28

3741

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49

53

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∗ Produção de culturas e fertilidade do solo em função desistemas de adubação em um Latossolo Vermelho ........∗ Emprego da calda bordalesa no controle de doenças ..

Informativo Técnico

* De agricultor a “agricultor silvicultor”: um novoparadigma para a conservação e uso de recursos florestaisno Sul do Brasil ................................................................

16

∗ Onagra – a prímula da noite .......................................... 31

Plantas bioativas

∗ SCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deameixeira com resistência à escaldadura das folhas .......

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

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A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

FICHA CATALOGRÁFICAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC. CDD 630.5

Impressão: Cromo Editora e Indústria Gráfica Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.Conceito B em Ciências Agrárias – QUALIS

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet:www.epagri.sc.gov.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Murilo Xavier Flores, Diretores: Ademar Paulo Simon,José Antônio da Silva, Valdemar Hercilio de Freitas,Valmor Luiz Dall´Agnol

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Janice da SilvaAlves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes eLaertes Rebelo

REVISÃO DE INGLÊS: Airton Spies e Roger DelmarFlesch

CAPA: Foto de Aires Carmem Mariga

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Neusa Maria dos Santos,Mariza Martins, Zilma Maria Vasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected],88034-901 Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE MARÇO DE 2007

Quem planta qualidade colhe bons resultadosQuem planta qualidade colhe bons resultadosQuem planta qualidade colhe bons resultadosQuem planta qualidade colhe bons resultadosQuem planta qualidade colhe bons resultadosssim que assumi a Pre-sidência da Epagri, sabiaque teria pela frente uma

série de desafios. Sabia queseria preciso reunir forças parafortalecer a capacidade queesta Empresa tem de apoiar aviabilização econômica dasdiferentes regiões do Estado,desconcentrar a produção deriqueza e eliminar os bolsõesde pobreza, onde a renda éextremamente baixa para ospadrões catarinenses.

Além de coordenar açõesimportantes para o desen-volvimento rural catarinense,seria necessário promovermudanças significativas. E arevista Agropecuária Cata-rinense (RAC), sem dúvida, temum papel muito importanteneste sentido. Voltada a um

dos segmentos mais impor-tantes de Santa Catarina, aRAC é um veículo que atingeum público especializado,composto por formadores deopinião, empreendedores,profissionais do setor, pro-fessores e estudantes emagropecuária, bem como agri-cultores familiares e pesca-dores artesanais.

Dentre diversos temas quemerecem destaque, a RAC temcolocado em pauta reportagensque tratam de assuntos fun-damentais, como o lançamentode novas cultivares, recomen-dações para manejo de plantase coberturas do solo, manejoanimal, agregação de valor aosprodutos, turismo rural, alter-nativas para a preservação dosrecursos naturais, além de

estimular práticas mais ade-quadas e coerentes com amissão institucional da Epagri.

Mais que uma vitrine paraprofissionais do meio rural, aRAC é hoje uma referênciaindispensável para todos queatuam na agropecuária. Ocompromisso que temos,portanto, é dar o máximo devisibilidade a esses temas,aprofundar a discussão ebuscar a formação de parceriascom outras instituições paraque a nossa revista seja, alémde uma fonte de inspiração einformação para aqueles queatuam no meio, uma leituraatraente e interessante paraum público cada vez maisamplo.

Murilo Xavier Flores

A

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5Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Manual deuso do vídeona extensãorural. 2006.17p. BD 68,R$ 7,00.A partir da

década de 90s u r g i r a mnovas tecno-logias de co-

municação (CDs, DVDs, laptops,projetores multimídias, tele-conferência, etc.) que se trans-formaram em importantesferramentas nos processos deensino-aprendizagem. Todavia, énecessária a capacitação dosinstrutores para usá-las ade-quadamente. A proposta destemanual, embasada na expe-riência da Epagri e embibliografia consultada, éoferecer informações queauxiliem os instrutores autilizarem adequadamente ovídeo, aproveitando melhor a suapotencialidade.

Contato: [email protected].

Conservação ex situ de recursosgenéticos vegetais: recomendações para aEpagri. 2006. 33p. BT 133, R$ 8,00.

A pressão antrópica sobre os diversosecossistemas terrestres tem degradadoconstantemente as espécies vegetais. Aconservação ex situ permite assegurar amanutenção do patrimônio genético, porémrequer planejamento adequado para garantir arepresentatividade genética, o uso e a longevidadedos acessos. Neste boletim são apresentadas ediscutidas recomendações para gestão,manutenção e introdução de acessos nas coleçõesde germoplasma e, ao final, são abordadosaspectos relacionados às coleções existentes naEpagri.

Contato: [email protected].

Nutriçãoe indicaçãode aduba-ção para acultura doalho. 2006.60p. BT 132,R$ 10,00.

O objetivoda presentepublicação éabordar com profundidade o fatormanejo de nutrientes e apre-sentar informações e sugestõesde nutrição e adubação da culturado alho. Os dados são baseadosem literatura, nas práticasculturais da região produtora dealho catarinense, na experiênciade extensionistas, em pesquisase no conhecimento adquirido nalonga vivência do autor com acultura. Com esta base, oalhicultor ou o técnico terá maissubsídios para tomar decisões emelhorar as técnicas de cultivo.

Contato: [email protected].

Piscicultura sustentável integrada comsuínos. 2006. 70p. BT 131, R$ 10,00.

Assim como existem as verduras, frutas efrangos agroecológicos, o peixe alimentado comdejetos animais na cadeia alimentar do plânctonpode também ser considerado peixe “verde” ououtra denominação semelhante. A publicação éresultado dos trabalhos de pesquisa, e constitui-se numa ótima fonte de consulta para técnicosda área, estudantes e interessados na produçãode peixes integrada com a suinocultura, nummodelo que procura minorar os efeitosambientais dos dejetos suínos e produzirpescados a baixo custo com a utilização destamatéria orgânica como fonte de alimentação.

Contato: [email protected].

Sistema de produção para a culturada cana-de-açúcar em Santa Catarina.2006. 86p. SP 43, R$ 12,00.

Este trabalho reúne informaçõesimportantes para os produtores que desejamproduzir cana-de-açúcar na Região Sul, ouseja, fora das áreas de cultivo tradicional, epara quem tem sua base econômica naprodução de aguardente, açúcar, melado oucana-de-açúcar. Aborda tópicos e detalhes aosquais o produtor deve atentar para obterresultados satisfatórios, como agregação devalor, manejo e tratos culturais, formas deutilização de alguns resíduos decorrentes daindustrialização em pequena escala e uso desubprodutos, entre outros.

Contato: [email protected].

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6 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

OÉ tempo de consumir caquiÉ tempo de consumir caquiÉ tempo de consumir caquiÉ tempo de consumir caquiÉ tempo de consumir caqui

caquizeiro é uma plantaoriunda do continente asiá-tico (China) que começa a

produzir frutos por volta dos quatroanos de idade. Esta fruta entrou noBrasil via São Paulo, mas suaexpansão só ocorreu por volta de1920, com a vinda de imigrantesjaponeses que trouxeram novascultivares e o domínio da produção.O Brasil produz cerca de 160 miltoneladas de caqui por ano, dosquais 90 mil são produzidas em SãoPaulo.

Cada 100g de caqui tem cerca de70 calorias. É uma fruta rica embetacaroteno, que é o precursor davitamina A, sendo por isso um

importante antioxidante, bom paraa visão, pele, cabelos e unhas. Afruta ainda é fonte de vitaminas:B1, que ajuda nas funções do sistemanervoso e do aparelho digestivo;B2, essencial para o crescimento;B3, necessária para o metabolismodos carboidratos e para o controleda glicemia. É também uma boafonte de ferro, cálcio e fibra e umbom auxiliar na ação laxativa.

Uma sugestão de geléia de caqui:Limpa-se bem 1kg de caqui bem

maduro, tira-se a casca e assementes, corta-se em pedaçospequenos e bate-se no liquidificador.Na massa resultante adicionam-se300g de açúcar e uma colher decaldo de limão e deixa-se cozinhar.Deve-se mexer bem até engrossar eficar com consistência de geléia. Semantida em potes de vidro e nageladeira, conserva-se por bastantetempo.

Fonte: Frutas e derivados, Ano1, edição 1, 2006.

Milho e soja produzem mais com “El Niño”Milho e soja produzem mais com “El Niño”Milho e soja produzem mais com “El Niño”Milho e soja produzem mais com “El Niño”Milho e soja produzem mais com “El Niño”

studo desenvolvido por pro-fessores da UniversidadeFederal de Santa Maria –

UFSM –, que simulou o conteúdode água disponível no solo e orendimento de três das principaisculturas de lavoura e associou-osao fenômeno El Nino Oscilação Sul– Enos –, permitiu concluir que osanos de “El Niño” foram os maisfavoráveis ao rendimento de grãosde soja e de milho e que os anos de

“La Niña” foram os mais favoráveisà cultura do trigo.

Geralmente, os fenômenos “ElNiño” e “La Niña”, na Região Sul doBrasil, começam no segundosemestre de um ano e terminam nofinal do primeiro semestre do anoseguinte, e o principal impacto ésobre a freqüência, a intensidade ea quantidade de chuva, o que causavariação interanual da produçãoagrícola, pois a chuva é a principalfonte de água para osagroecossistemas da região.

Segundo o estudo, a menordisponibilidade hídrica no solo emSanta Maria, RS, está associada aanos neutros, enquanto que a maiordisponibilidade está associada aeventos “El Niño”. Por outro lado, obaixo conteúdo de água no solo emanos de “La Niña” não é um fatorlimitante para a cultura do trigo. Oestudo também concluiu que os anosclassificados como neutros, emrelação a “El Niño” e “La Niña”, sãoos de maior risco de perda de

E

rendimento de grãos nas culturasde milho e soja, devido à menordisponibilidade hídrica no solo.

As previsões de ocorrência dofenômeno Enos são importantes edevem ser utilizadas para oplanejamento de estratégias naimplantação das lavouras, para tirarproveito da nova situação.

A íntegra do trabalho pode serlida em: Pesq. Agropec. Bras., v.41,n.7, p.1.067-1.075, 2006.

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7Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

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Canola: planta que traz muitos benefícios à saúdeCanola: planta que traz muitos benefícios à saúdeCanola: planta que traz muitos benefícios à saúdeCanola: planta que traz muitos benefícios à saúdeCanola: planta que traz muitos benefícios à saúdehumana, e cresce em importância no Brasil e no mundohumana, e cresce em importância no Brasil e no mundohumana, e cresce em importância no Brasil e no mundohumana, e cresce em importância no Brasil e no mundohumana, e cresce em importância no Brasil e no mundo

canola (Brassica napus L. eBrassica rapa L.) é planta dafamília das crucíferas

(mesma do repolho e das couves),pertencente ao gênero Brassica.Embora ainda pouco semeada noBrasil (em 2006, apenas 33 milhectares), mundialmente, é aterceira planta oleaginosa maisproduzida e seu maior consumoocorre nos países mais desen-volvidos. Os grãos de canolaproduzidos no Brasil possuem de24% a 27% de proteínae em média 38% deóleo. Dos grãos decanola, além de óleousado para consumohumano ou paraprodução de biodiesel,se extrai o farelo, quepossui de 34% a 38%de proteínas, sendoexcelente suplementoprotéico na formu-lação de rações parabovinos, suínos, ovi-nos e aves.

O nome canola éderivado de CanadianOil Low Acid. Canolaé um termo genéricointernacional, e nãouma marca registradaindustrial – comoantes de 1986 –, cujadescrição oficial é “...um óleo quedeve conter menos de 2% de ácidoerúcico e cada grama de componentesólido da semente seco ao ar deveapresentar o máximo de 30micromoles de glucosinolatos”(Canola Council of Canada, 1999).

A primeira cultivar de canola,chamada Tower, lançada em 1974,foi desenvolvida por pesquisadorescanadenses através do cruzamentode duas plantas encontradas nanatureza, uma que se destacavapelo baixo teor de ácido erúcico eoutra que apresentava baixo teorde glucosinolatos. Cultivaressemelhantes, desenvolvidas naEuropa, foram denominadas deduplo zero, por também apresen-

tarem baixos teores de ácido erúcicoe glucosinolatos. Em 1984, foramregistradas as primeiras cultivaresde canola tolerantes ao herbicidatriazina e, em 1995, as cultivarestolerantes a imidazolinonas, ambasprovenientes de mutação, nãosendo, portanto, transgênicas. Em1995, foram registradas cultivarestransgênicas resistentes aoglifosato e ao glufosinato de amônio,e, em 1999, resistentes aobromoxinil.

Na América do Sul ainda não seempregam cultivares ou híbridosde canola transgênicos ou geradospor mutação, utilizando-se apenasvariedades geradas através demelhoramento genético conven-cional. A maioria das sementes decanola empregadas no Brasil éimportada, e para que as sementestenham sua entrada liberada nosportos são exigidos laudos deanálise, para cada lote de 1.000kg,para comprovar que estão livres deOrganismos Geneticamente Mo-dificados – OGMs.

Mundialmente se observacrescente interesse no consumo deóleo de canola por estar sendo muitoindicado por médicos e nutri-

cionistas como alimento funcionalpara pessoas interessadas em dietassaudáveis, em razão da sua ex-celente composição de ácidos graxos.Segundo informações de Guy H.Johnson, Ph.D., em nome daAssociação de Canola dos EstadosUnidos, “o óleo de canola tem umalto percentual de gordurasinsaturadas saudáveis (93%), nãocontém colesterol nem gorduratranssaturada, e o menor per-centual de gordura saturada (7%)

de qualquer óleocomestível comum.Esta composiçãoajuda a reduzir o riscode cardiopatias vas-culares, com a re-dução do colesteroltotal do sangue e dalipoproteína de den-sidade baixa (“maucolesterol”). Existevasta evidênciacientífica demons-trando os benefíciosassociados ao con-sumo das gordurasinsaturadas pre-sentes em óleo decanola.

No Brasil secultiva apenas canolade primavera, daespécie Brassica

napus L. var. oleifera, que foidesenvolvida por melhoramentogenético convencional de colza. Acanola destaca-se entre as melhoresalternativas para diversificação deculturas no inverno e tem dadocontribuição importante na geraçãode emprego e renda pela produçãode grãos e seu processamento, noSul do Brasil. O cultivo de canolareduz a ocorrência de doenças econtribui para que o trigo semeadono inverno subseqüente produzamais, tenha melhor qualidade emenor custo de produção.

Mais informações com GilbertoOmar Tomm, pesquisador daEmbrapa Trigo, e-mail: [email protected].

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Q

Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Vinho tinto encorpado é oVinho tinto encorpado é oVinho tinto encorpado é oVinho tinto encorpado é oVinho tinto encorpado é omelhor para o coraçãomelhor para o coraçãomelhor para o coraçãomelhor para o coraçãomelhor para o coração

uem aprecia vinho tinto temagora um argumento sau-dável para cultivar o velho

hábito. É que, segundo pes-quisadores britânicos, vinhos tin-tos encorpados, com mais taninose feitos por métodos tradicio-nais que extraem mais substân-cias benéficas à saúde do que astécnicas modernas, são os maiseficientes na prevenção deproblemas no coração. Não é à toaque as regiões do mundo quefazem e consomem – com mo-deração – esse tipo de bebidaapresentam os maiores índices delongevidade em seus países. Esseé o caso do Madiran, no sudoesteda França, e da ilha da Sardenha,na Itália.

Esta é a tese do médico RogerCorder (Universidade de Londres)

e de AlanCrozier (Uni-versidade deGlasgow). Deacordo comtrabalho da dupla britânica, entreas moléculas presentes nesse tipode bebida, os compostos tec-nicamente denominados procia-nidinas poliméricas (ou taninoscondensados) são os que apre-sentam maior nível de atividadebenéfica sobre as células dos vasossangüíneos.

Os vinhos provenientes dasregiões de Gers (Madiran) e Nuoro(Sardenha), que tinham em suacomposição de duas a quatro vezesmais procianididas que tintos deoutras partes do mundo, semostraram os mais ativos naregião do endotélio (parte interna

dos vasos sangüíneos). Cruzandoesse dado de laboratório cominformações epidemiológicas docenso francês de 1999, os cientistasperceberam que os locais comprodução de vinhos ricos emtaninos são os que possuem maispessoas com idade superior a 75anos. A variedade de uva que temmais taninos é justamente aTannat, que serve de base para ostintos do Madiran. Outras uvas comgrande quantidade de taninos sãoa Cabernet Sauvignon, Sangiovesee Syrah.

Fonte: Nature, vol. 444, no

7.119, 30/11/2006.

Eucalipto com mais hemicelulose e ligninaEucalipto com mais hemicelulose e ligninaEucalipto com mais hemicelulose e ligninaEucalipto com mais hemicelulose e ligninaEucalipto com mais hemicelulose e ligninao utilizar recursos biotec-nológicos para alterar al-gumas características

bioquímicas da madeira do eu-calipto, pesquisadores da Univer-sidade de São Paulo – USP –, emPiracicaba, estão desenvolvendoárvores que no futuro vão gerarcelulose e, depois, papel com maisqualidade. Eles já obtiveram, emlaboratório, plantas com genes daespécie Eucalyptus grandis e deoutras plantas que produzemenzimas responsáveis pela

biossíntese das hemiceluloses, umcomposto do grupo químico dosaçúcares presente entre as fibrasde celulose.

“Quanto mais hemicelulose namadeira, melhor será a qualidadeda celulose que se tornará maisresistente no processo de fabricaçãodas bobinas de papel, sem rasgos ecom maior brancura. No consumofinal, um papel com essascaracterísticas garantirá melhorqualidade de impressão e emmaterial com mais resistência eadaptabilidade para o setor deembalagens”, explica CarlosAlberto Labate, professor da EscolaSuperior de Agricultura Luiz deQueiroz – Esalq –, da USP.

Um grupo de 27 pesquisadoresconseguiu superexpressar genesresponsáveis pela biossíntese dashemiceluloses no código genético(DNA) do eucalipto, transformando-o em planta transgênica. Algunsdos genes introduzidos vieram de

plantas como soja, batata, ervilhae arabidopsis. Dentre aspossibilidades analisadas para usoe expressão dos vários genes estavao aumento de lignina solúvel, umtipo de polímero vegetal quefunciona como um cimento entreas hemiceluloses e as fibras decelulose. Mais lignina solúvelimplica menor gasto de compostosquímicos no processo de bran-queamento do papel na indústria,que pode levar ao aumento dorendimento na fabricação do papelbranco. O próximo passo é testaras plantas no campo e esperar dequatro a cinco anos para que oeucalipto se transforme em árvoree demonstre a viabilidade doexperimento. Para isso ospesquisadores terão que requerera aprovação do plantio no campopela Comissão Técnica Nacional deBiossegurança – CTNBio.

Fonte: Revista Pesquisa Fapesp,edição 130, dez. 2006.

A

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9Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

ÉNutrientes de hortaliças que são jogados foraNutrientes de hortaliças que são jogados foraNutrientes de hortaliças que são jogados foraNutrientes de hortaliças que são jogados foraNutrientes de hortaliças que são jogados fora

Quantidade de nutrientes em 100g de algumas hortaliças

HortaliçaVitami- Carote-

Cálcio Potássio Fósforo Ferrona C nóides

mg

Cenoura Polpa 6,2 118,9 5,0 0,29 6,4 -

Casca 2,1 24,3 0,8 0,40 - -

Rama 16,6 12,4 68,7 1,15 - 25,5

Couve-flor Folha 122,7 12,6 26,1 0,34 44,8 -

Espinafre Talo 7,2 0,2 2,6 1,04 39,8 0,9

Salsão Folha 14,2 13,3 65,9 2,30 41,1 1,2

Talo 3,17 2,8 0,4 0,56 7,4 3,1

Salsinha Folha - - 30,8 1,30 124,5 -

Talo 32,7 0,002 31,0 1,46 112,2 -

Nota: Os números em negrito indicam quando a rama ou o talo possuem maiorvalor nutricional que a polpa.Adaptado do Jornal da Unesp, no 213, julho/2006.

Alimentos à base de amaranto: mais saudáveisAlimentos à base de amaranto: mais saudáveisAlimentos à base de amaranto: mais saudáveisAlimentos à base de amaranto: mais saudáveisAlimentos à base de amaranto: mais saudáveise com boa aceitaçãoe com boa aceitaçãoe com boa aceitaçãoe com boa aceitaçãoe com boa aceitação

comum jogar no lixo folhase talos de hortaliças, quemuitas vezes contêm

quantidades maiores de vitaminaC, cálcio, fósforo, potássio e ferrodo que nas partes consumidasdesses produtos.

A folha da couve-flor foi umproduto que surpreendeu ospesquisadores da Unesp-Botucatu,SP, que avaliaram o valornutricional, em 100g, de cincoespécies de hortaliças. Emborageralmente não aproveitada nopreparo de pratos, foi constatadoque 100g da folha contêm 122,7mgde vitamina C, valor quase trêsvezes superior à dose diáriarecomendada, que é de 45mg.

Na salsinha foram encontradas124 e 112mg de fósforo na folha eno talo, respectivamente, volumebem superior ao verificado nasdemais hortaliças. Esse elemento,nas células humanas, armazena etransporta energia em forma decalorias e potencializa os efeitos dealgumas vitaminas.

As quantidades de cálcio nasfolhas do salsão (66mg) e nas ramasda cenoura (69mg) são muitas vezessuperiores às partes normalmenteconsumidas destas hortaliças. Ocálcio faz parte da constituição dos

ossos, dentes e músculos.Os carotenóides, encontrados

em grandes quantidades na polpada cenoura (119mg), auxiliam ocrescimento ósseo e estão rela-cionados à vitamina A. Nas ramasda cenoura, foram encontradas25mg de ferro, suplementaçãodiária necessária para homens e

mulheres. A deficiência de ferrocostuma causar anemia.

O potássio, nutriente muitoimportante na formação dos dentese ossos nas crianças, foi encontradonas folhas do salsão (2,3mg) etambém em quantidades expres-sivas na rama da cenoura (1,1mg)e no talo do espinafre (1mg).

estes realizados na Facul-dade de Saúde Pública – FSP– da USP comprovaram a

aceitabilidade de alimentos ma-tinais e barras energéticas à basede amaranto.

A nutricionista Karina DantasCoelho, que desenvolveu os ali-mentos em sua pesquisa de mestra-do, garante que eles estão prontospara o consumo. “O amaranto é umpseudocereal de origem andina,pouco conhecido e consumido noBrasil, que tem mais proteína, e demelhor qualidade que os cereaistradicionais”, conta a nutricionista.“Ele tem mais cálcio, em quanti-

dades parecidas com as do leite;mais fibras, importantes compo-nentes de nossa dieta, e pode serconsumido por pessoas com intole-rância ao glúten. Também foicomprovada em animais suacapacidade de reduzir o colesterolno sangue”.

Karina desenvolveu o alimentomatinal e a barra energética com oamaranto como matéria-prima,visando à máxima aceitação, àmínima perda de nutrientes e umaforma de inserir o amaranto nadieta da população.

“Os dois alimentos foram bemaceitos. Também observamos maior

presença de proteínas e fibras”,conta Karina. “Nas barras de cereaisnormais, a quantidade de fibras émínima, e algumas apresentam atémais gordura, e do tipo trans, amais prejudicial”.

“Ainda é necessário confirmar aredução do colesterol promovidapelo amaranto no sangue emhumanos, mas ele já possuivantagens que justificam suainclusão na alimentação”, constataKarina.

Mais informações com apesquisadora, fone: (11) 3061-7765,e-mail: [email protected].

Fonte: USP on-line, 17/10/06.

T

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10 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

U

Utilização de feromônio na agriculturaUtilização de feromônio na agriculturaUtilização de feromônio na agriculturaUtilização de feromônio na agriculturaUtilização de feromônio na agricultura

Feromônio de confusão sexualaplicado na forma de pasta

controle de pragas exclusi-vamente com agrotóxicosafeta o estabelecimento e o

desenvolvimento de inimigosnaturais, reduz a diversidadebiológica, desencadeia o apa-recimento de novas pragas e aressurgência de pragas secun-dárias. Muitos produtores realizamum número excessivo de pulve-rizações em caráter preventivo, semconsiderar a ocorrência da praga oucondições ambientais favoráveis aoseu aparecimento. Além deaumentar os custos de produção,essa prática traz sérios riscos deresíduos no produto colhido e deintoxicação das pessoas envolvidasna aplicação.

Para evitar estes problemas,outros métodos de controle vêmsendo adotados e entre eles está ouso de feromônios sexuais, que sãosubstâncias químicas utilizadaspelos insetos durante o acasa-lamento. Na agricultura, estas

substâncias podem ser utilizadasno monitoramento ou no controlede pragas. No monitoramento sãoutilizados em armadilhas, na formade cápsulas difusoras de feromôniosexual sintético, específico para cadainseto-praga. O feromônio tambémpode ser utilizado no controle depragas, sendo indispensável nomanejo integrado e no controle deinsetos com resistência ainseticidas.

No Brasil, os métodos maisadotados são a confusão sexual demachos (“mating disruption”) e oatrai e mata (“attract and kill”).Nestes casos, o feromônio pode seraplicado via liberadores, em formade pasta ou em formulações própriaspara pulverização (micro-encapsulado). O feromônio sexualvem sendo adotado com sucesso namacieira, pereira, pessegueiro,citros, tomateiro, entre outras.Devido à exigência dos con-sumidores por produtos sem

resíduos e mais saudáveis, já hádiminuição do número de aplicaçõese de inseticidas nos pomares e háperspectivas de que o uso deferomônios seja cada vez mais aceitoe adotado pelos produtores.

Mais informações com aengenheira agrônoma JanaínaPereira dos Santos, na Epagri/Estação Experimental de Caçador,fone: (49) 3561-2035, e-mail:[email protected].

Uma embalagem plantada junto com as mudas eUma embalagem plantada junto com as mudas eUma embalagem plantada junto com as mudas eUma embalagem plantada junto com as mudas eUma embalagem plantada junto com as mudas eque libera nutrientesque libera nutrientesque libera nutrientesque libera nutrientesque libera nutrientes

O

m novo material que per-mite o desenvolvimento deembalagens biodegradáveis

para uso na agricultura foi paten-teado recentemente por pesqui-sadores do Instituto de Química –IQ – da Unicamp. O novo produtomistura ao polímero polihidro-xibutirato-valerato (PHBV), pro-duzido a partir da fermentação debactérias, um componente produ-zido a partir do resíduo da indústriade papel denominado lignosul-fonato. A expectativa é disponibilizaruma embalagem para o transportede mudas de pequeno porte, quepode ser enterrada no solo juntocom a planta. Além do preçocompetitivo, o novo produto contri-bui para a preservação do meioambiente, por apresentar matéria-prima renovável.

O PHBV é um polímerobiodegradável originalmentebrasileiro, que já está no mercadohá cerca de dois anos e o resíduo daindústria de papel (lignosulfonato)tem amplo campo de aplicação naagricultura. A mistura desses doismateriais potencializou o efeitobiodegradante do PHBV em relaçãoao tempo. Em laboratório, oscientistas simularam condições dedegradação e os dados foramcomparados aos atribuídos àbiodegradação natural do PHBV. Opolímero perdeu 8% de massa e aformulação com o lignosulfonatoperdeu em torno de 30% no mesmoperíodo.

A eficácia do novo produto podeser aferida também pela capaci-dade de liberação controlada demicronutrientes para a planta. Ana

Paula, doutoranda em Engenha-ria Química e uma das autorasdo trabalho, explica que olignosulfonato possui poderquelante, ou seja, é capaz de“seqüestrar” vários íons metá-licos como ferro, zinco, cobre,manganês, magnésio e outros,formando complexos metálicossolúveis. Com isso, consegueconduzir para a planta metais naforma de micronutrientes e de umaforma paulatina, liberando-os aosolo durante a biogradação daembalagem. O método evitariadesperdício com a diminuição daquantidade de micronutrientesnecessária e reduziria o risco decontaminação de águas superficiaise subterrâneas.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição 340, 2006.

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11Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

DPlano B – uma esperança para o planetaPlano B – uma esperança para o planetaPlano B – uma esperança para o planetaPlano B – uma esperança para o planetaPlano B – uma esperança para o planeta

e acordo com Lester R.Brown, um dos maioresespecialistas em questões

ambientais da atualidade, hásoluções para todos os problemasque afetam o mundo moderno. Emseu texto, “Plano B2.0 – Resgatandoum planeta sob stress e umacivilização com problemas”,publicado em 2006, o guru domovimento ambientalista mundialressalta que muitos países já estãoadotando tecnologias que conduzemsuas economias para um caminhosustentável.

Na visão do autor, apesar dadesafiadora situação ambientalporque passa o planeta, ainda sepode ter um pouco de otimismo.Isto porque todas as tendênciasdestrutivas ambientais são frutosde nossa própria ação. Além disso,segundo Brown, podemos lidar comtodos os problemas usando astecnologias existentes. Quase tudoo que é necessário para colocar aeconomia mundial num caminhoambientalmente sustentável temsido feito em um ou mais países e asnovas tecnologias já estão nomercado.

Sobre energia, um avançadodesign de turbina de vento pode

produzir energia tanto quanto umpoço de petróleo. Engenheiros japo-neses projetaram um refrigeradorselado a vácuo que usa somente umoitavo da eletricidade daqueles deuma década atrás e automóveishíbridos (elétrico e gasolina)alcançam cerca de 23km/L.

Numerosos países mostramdiferentes componentes do PlanoB. A Dinamarca extrai 20% de suaeletricidade do vento e planejaalcançar 50% em 2030. O Brasil,com a eficiência do etanol da cana-de-açúcar, supriu 40% de seus au-tomóveis em 2005 e pode substituira gasolina em questão de anos.

Sobre alimentos, a Índia mais doque quadruplicou a sua produção deleite desde 1970, tornando-se lídermundial na produção de leite. Osavanços nas fazendas de peixes naChina, centrados no uso de umecologicamente sofisticadopolicultivo de carpa, têm feitodaquele país o primeiro onde aprodução de peixe das fazendas (29milhões de toneladas) excede a dapesca oceânica.

A Coréia do Sul, um país que umdia quase não tinha árvores,reflorestou suas montanhas e hojetem 65% de sua área coberta por

florestas que ajudam a controlar asenchentes e a erosão do solo,retornando a um alto grau deestabilidade ambiental. Os EstadosUnidos reduziram a erosão do soloem aproximadamente 40% nosúltimos 20 anos e a produçãoaumentou em um quinto.

No setor urbano, Amsterdamdesenvolveu um sistema diver-sificado de transporte urbano e hoje35% de todos os trajetos na cidadesão feitos de bicicleta – um sistemade transporte que reduz em muito apoluição do ar e os congestio-namentos, ao mesmo tempo emque estimula o exercício diário entreos moradores da cidade.

Segundo Brown, o desafio agoraé construir uma nova economia efazê-la rápido, antes que se perca oponto do não-retorno. Todos temosque ajudar, pois só assim a qualidadede vida será alcançada, o ar serámais puro, as cidades serão menoscongestionadas, menos barulhentase menos poluídas. A perspectiva deviver num mundo onde a populaçãotenha estabilizado, as florestasestejam se expandindo e a emissãode carbono caindo, é muito excitantee deve motivar as pessoas a pen-sarem e agirem neste caminho.

Mini-usina de leite pode ser um bom investimentoMini-usina de leite pode ser um bom investimentoMini-usina de leite pode ser um bom investimentoMini-usina de leite pode ser um bom investimentoMini-usina de leite pode ser um bom investimentopequeno produtor de leiteque pensa em investir emuma mini-usina deve avaliar

a viabilidade do negócio. É precisoverificar se há matéria-primadisponível, mercado, localização,licença, selos de inspeção(municipal, estadual ou federal),para que o investimento dê o retornodesejado. “Para manter uma mini-usina é preciso produzir pelo menos2 mil litros de leite por dia”, dizAntônio Carlos Hentz, presidenteda Associação dos Laticínios dePequeno Porte de São Paulo – Alapp.Segundo ele, esta produção énecessária para compensar gastoscom equipamentos, embalagens,mão-de-obra e energia. O pecuaristaque não tiver produção suficientepode vender o leite para outras

mini-usinas.Os equipamentos (tanques,

bombas sanitárias, pasteurizador eembaladora) custam cerca de R$ 40mil. Recomenda-se consultar umengenheiro para dimensionar aestrutura e equipamentos nasdimensões e capacidades adequadas.

Segundo o presidente da Alapp,se o produtor fizer as entregas nospontos de venda, ele consegueeconomizar R$ 0,15/L. CarlosEduardo Ferrás Luz, de Itápolis,SP, que tem uma mini-usina há 13anos, é um exemplo. Ele produzcerca de 1.200 saquinhos de leitepor dia (70% da matéria-prima vemde outros fornecedores) e vende aprodução em Itápolis e Tabatinga,município vizinho.

Como tem de comprar matéria-

prima de outros produtores, Luzfaz a análise de todo o leite queadquire, incluindo o que ele mesmoproduz, em um laboratório próprio.A análise verifica, entre outras coi-sas, o teor de água do leite. Por isso,é essencial monitorar o leite desdea ordenha, com cuidados básicos dehigiene. Para Luz, a qualidade é tãoimportante que ele faz análises deamostras antes e depois dapasteurização e após ser embalado.

Por lei, todos os equipamentosdevem ser de aço inox. A qualidadedo leite é relacionada diretamenteà higienização diária da mini-usina.O processo demora cerca de 2 horase inclui a lavagem com água morna,solução alcalina e solução ácida.

Mais informações: Alapp, fone:(17) 3345-1325, www.alapp.org.br.

O

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12 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Oleaginosas potenciais para aOleaginosas potenciais para aOleaginosas potenciais para aOleaginosas potenciais para aOleaginosas potenciais para aprodução de biodiesel no Sul doprodução de biodiesel no Sul doprodução de biodiesel no Sul doprodução de biodiesel no Sul doprodução de biodiesel no Sul doBrasilBrasilBrasilBrasilBrasil

m função da expectativa deesgotamento dos combustí-veis fósseis, a preocupação

atual é a produção de energia apartir de fontes renováveis. Nestecontexto, a agroenergia surge comomais uma alternativa agrícola, e aprodução de biodiesel assumegrande importância. A Região Sulapresenta condições edafoclimáticasque possibilitam altos rendimentosno cultivo de oleaginosas, quepodem atender grande parte dademanda gerada pelo ProgramaNacional de Produção e Uso deBiodiesel do Governo Federal.

A Embrapa Clima Temperado,Pelotas, RS, em parceria com outrasinstituições do Rio Grande do Sul,Paraná (Iapar e Embrapa Soja) eSanta Catarina (Epagri e Udesc),está desenvolvendo pesquisas coma cultura da mamona, girassol,pinhão-manso e tungue. Infor-mações de outras oleaginosas, comocanola, girassol e soja, são tambémapresentadas neste trabalho.

Canola (Brassica napus):apresenta grãos com 40% a 46% de

chuvas no final do ciclo prejudica aqualidade dos grãos. O déficit hídricopode reduzir o rendimento, seocorrer a partir da fase de floração.O potencial produtivo é de4.000kg/ha. O conteúdo médio deóleo do grão é de 43%.

Mamona (Ricinus communis):é uma espécie com grande potencialde rendimento de grãos no sul doBrasil. Em nível experimental, temapresentado produtividades médiasde até 3.000kg/ha e rendimentomédio de óleo de 49%. Além dobiodiesel, diversos subprodutosgerados são utilizados na ricino-química, indústria farmacêutica eoutros setores. O subproduto torta,com alto teor de matéria orgânica(cerca de 92%), nitrogênio (4% a6%), macro e micro nutrientes, ébastante eficiente para recuperaçãode solos com baixa fertilidade epossui efeito nematicida.

Canola

E

Girassol

Mamona

A mamona apresenta tolerânciaà seca, necessita de precipitaçõespluviais de cerca de 500mm duranteo seu ciclo. Dias longos favorecem aformação de flores femininas eaumento da produtividade,mostrando grande potencial no suldo País, comparado a outras regiões,devido ao fotoperíodo de até 17 horasde luz no verão.

Após a germinação, atemperatura deve permaneceracima de 12oC. A temperatura ideal

óleo e o farelo contém 34% a 38%de proteína. No RS, a áreacultivada em 2005 foi deaproximadamente 20.000ha. Comas cultivares disponíveis hoje épossível atingir até 4.500kg degrãos/ha, em lavouras comerciais.Embora seja espécie de inverno,tolera temperaturas elevadas. Atemperatura ideal para seudesenvolvimento está entre 20 e22oC. Apresenta necessidadesclimáticas semelhantes às do trigo,cevada e aveia.

Girassol (Helianthus annuus):é mais tolerante à seca do que omilho e o sorgo e necessita de 500 a700mm de água bem distribuídos aolongo do ciclo. As temperaturasdevem ser superiores a 8oC na fasede emergência e entre 20 e 25oCdurante o ciclo, para plenodesenvolvimento. O excesso de

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13Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

para o desenvolvimento da culturaé de 20 a 30oC. A mamona é umaalternativa potencial para aagricultura familiar, pelarusticidade e produtividade queapresenta.

Soja (Glycine max): pertence àfamília Fabaceae e é a oleaginosamais estudada, com cadeia produtivaem todo o País e responsável por90% da produção nacional de óleovegetal, o que a torna a culturabase para a produção de biodiesel,na atualidade. Por ser uma culturacujo produto principal é a proteína(cerca de 40% no grão) e não o óleo(entre 18% e 22%), poderá sersubstituída a médio ou longo prazopor culturas que produzam maiorrendimento de óleo por unidade deárea. A média de produtividade noRio Grande do Sul é de 2.200kg/ha,podendo atingir 4.000kg/ha.

Culturas oleaginosas potenciais para a produção de biodiesel na RegiãoSul do Brasil

Nome Rendimento TeorCultura decientífico Médio Potencial óleo

...........kg/ha........... %

Canola Brassica napus 1.500 4.000 43

Girassol Helianthus annuus 1.500 4.000 43

Mamona Ricinus communis 1.800 4.000 49

Soja Glycine max 2.200 4.000 20

Pinhão-manso Jatropha curcas - 6.500 37

Tungue Aleurites fordii 8.000 12.000 43

Soja

utilizada como ração animal devidoà toxidez.

O pinhão-manso pode atingirprodutividade de 6.500kg/ha e o teorde óleo na semente fica entre 35% a38%. Não há informações sobre ocomportamento desta espécie emplantio comercial na Região Sul.

Pinhão-manso

Tungue

Pinhão-manso (Jatrophacurcas L.): pertence à famíliaEuphorbiaceae. É um arbustogrande, de crescimento rápido, comaltura entre 2 e 3m, e que apresentatolerância à seca. É uma espécierústica, altamente adaptável, comgrande habilidade para crescer emsolos secos e de baixa fertilidade.Tem baixa tolerância ao frio, apesarde ser encontrada em alguns locaisdo Rio Grande do Sul (DepressãoCentral e Nordeste). A torta é muitovaliosa como adubo orgânico efertilizante, mas não deve ser

Tungue (Aleurites fordii): é umaespécie perene e autofértil. O teorde óleo na amêndoa é de 40% a 45%.Novas variedades produzidascomercialmente no Paraguaiapresentam alto potencial derendimento (até 12.000kg/ha). NoRio Grande do Sul, apesar de poucoconhecido, o tungue é cultivado naSerra Gaúcha, em 27 municípios,há mais de 30 anos. Esta espécie sedesenvolve melhor em regiões com

verões longos e úmidos (pelo menos1.120mm de chuva ao longo do ano)e em locais que atinjam cerca de350 a 400 horas de frio, comtemperatura média abaixo de 7,2oC.É suscetível a geadas, quando emcrescimento ativo. Temperaturasmédias variando entre 18,7 e 26,2oCsão toleradas por esta espécie,porém produz melhor quando astemperaturas diurnas e noturnassão uniformemente amenas.

Mais informações com ospesquisadores Sérgio Delmar dosAnjos e Silva, João GuilhermeCasagrande Júnior, RogérioFerreira Aires, da Embrapa ClimaTemperado, Pelotas, RS, e-mail:[email protected].

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N

A cultura campeira cavalgaA cultura campeira cavalgaA cultura campeira cavalgaA cultura campeira cavalgaA cultura campeira cavalgapara o esquecimentopara o esquecimentopara o esquecimentopara o esquecimentopara o esquecimento

Ulisses de Arruda Córdova1

as últimas décadas, estima-se que mais de 400 mil hec-tares de campos naturais

foram substituídos por mono-culturas no Planalto Sul de SantaCatarina. Esse fato teve reflexosdiretos na economia. O impactoambiental ainda não foi devi-damente avaliado, embora nos anosmais recentes algumas áreas daCoxilha Rica, o agroecossistemamais preservado de Santa Catarina– e quiçá do Brasil meridional –,venham sofrendo o impacto dessasubstituição das pastagens naturaispor outras atividades. É importantelembrar que nessa famosa regiãopastoril se formam rios e outrosmananciais de águas límpidas quecontribuem para o abastecimentodo Aqüífero Guarani, o imenso marde água doce que se encontra nosubsolo do Mercosul.

A permanente substituição doscampos naturais tem influênciadireta no aspecto social, pois estáprovocando uma migração muitogrande de serranos para a cidadepólo (Lages) e centros indus-trializados ou com o setor de serviçosmais desenvolvido, como Blumenau,Joinville, Caxias do Sul, GrandeFlorianópolis, entre outras cidades.

Essa migração provoca transfor-mações em toda a sociedade. Umadelas é o desaparecimento dacultura do homem serrano ligadoao setor rural. Cultura essa que foiformada no lombo de cavalos e pelocasco afiado de mulas. Foramséculos de tropeirismo, de lida diáriacom o gado, que formou um tiposocial peculiar habitante dos campos

de altitude de Santa Catarina e doRio Grande do Sul: o serrano.Fenótipo falquejado na vida detropeiro e pioneiro desbravador queo mantinha sempre alerta, com osilêncio sendo quebrado apenas pelocanto melódico ou de alerta dospássaros e pelo bate-casco dastropas. O isolamento geográfico, asolidão das rondas noturnas e dasgrandes cavalgadas tornou-o depoucas palavras. Conforme oescritor Dante Martorano “dissotudo (...) ocupando o Planalto,resultou o serrano. Tipo físicodefinido. Atividades econômicassemelhantes, em toda a serracatarinense. Uma linguagemprópria nas suas corruptelas (...).Até em seus costumes e sua cultura,um mundo próprio, o do PlanaltoCatarinense”.

O historiador lageano LicurgoCosta registrou opinião semelhante:“a vida rural dos pioneiros, difícil,dura, isolada, teria fatalmente deinfluir no seu temperamento social.A ‘cara amarrada’ presumivelmenterepresenta apenas uma posturapermanente de legítima defesasubjetiva. Conservaram o espíritosempre em estado de beligerância”.

O professor Oswaldo dos Santosencontra a seguinte explicação parao perfil do homem serrano: “Oscampos de Lages formam uma áreaculturalmente definida e essa áreaabriga uma população que direta ouindiretamente se identifica com aeconomia pastoril e que difere, emmaneiras de ser e agir, da populaçãolitorânea (...), dando à populaçãoserrana uma identidade à gaúcha”.

A contribuição do tropeiro ou dohomem serrano vai muito além dasquestões culturais e econômicas,como frisou a historiadora Zélia deQuadros Lemos: “O tropeirismoserviu de marco de posse do domínioportuguês (...), a qual estava sempredependendo de novos tratados[nunca cumpridos] entre Portugale Espanha; além disso, unindo o RioGrande ao restante do Brasil,contribui para a expansão doterritório pátrio”.

Mas infelizmente usos ecostumes serranos vão cavalgando– quase a galope – para odesaparecimento. E muitos aspectosdo folclore (música, dança, festas,pilchas, montarias, etc.) não foramregistrados ou estudados com aatenção que merecem. À medidaque as pessoas vão deixando o camporumo aos centros maiores, perdemo contato com as suas raízes epassam a adquirir novos hábitos,influenciadas pelos canais decomunicação e as novas relações nomeio urbano.

Será que os jovens que hojevivem nas cidades, mas cuja origemdos pais são o meio rural, sabem oque é um pixurum, conhecem aratoeira, uma cangalha, uma botalageana, uma surpresa, umcamargo, uma guaica serrana, umtirador da serra, um lombilho etantas outras marcas de nossacultura? Provavelmente, a maiorianão.

Todo processo cultural édinâmico, jamais estático. Mas oque preocupa não é a evolução, massim a ruptura e o esquecimento dasorigens, da querência. E essapreservação é fundamental, pois éo que identifica um povo, umaregião. E pode se tornar, inclusive,um produto turístico importante.Para isso, governos, universidades,iniciativa privada e entidades não-governamentais precisam investirmais em estudos e pesquisas sobreo modo de vida das etnias regionais.É também necessária a implan-tação de políticas públicas dire-cionadas e que oportunizem a essaspessoas a permanência no meiorural. Mesmo por que a cultura éuma das vertentes do desen-

2Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (49) 3224-4400, e-mail:[email protected].

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volvimento e preservá-la nãosignifica parar no tempo e simevolução consciente de queprogresso não é antagônico aosvalores históricos dos povos.

Também no aspecto agronômicohá perdas irreparáveis com essa“erosão humana dos campos”. Ini-cialmente, pela redução de pessoasproduzindo alimentos no meio rural,afetando as dimensões econômicase espacial do desenvolvimento. Masigualmente por outro fator aindanão dimensionado: a erosão gênicade recursos vegetais típicosutilizados por essa população.Quantos genótipos de frutas, grãos,hortaliças, forragens e outrosvegetais estão sendo extintos com amigração campeira? Com todacerteza, dezenas, talvez centenas.E existem poucas iniciativas parapreservação desses materiais, quepodem ser extremamente impor-tantes em trabalhos de melho-ramento genético. Há algumasdécadas, existiam produtores demaçã, alfafa, batata, milho, feijãoque não utilizavam adubo solúvel,calcário e muito menos pesticidas.Alguns ainda continuam traba-lhando, principalmente com grãos.Claro que faziam ou fazem uso devariedades antigas e adaptadas àausência desses insumos. E ondeestão essas variedades? Muitas jáforam extintas, outras se en-contram de posse de alguns dessesprodutores que ainda resistem nomeio rural ou, no caso de frutíferas,em taperas abandonadas. E, deforma quase inacreditável, muitascontinuam produzindo. São videirascentenárias espalhadas em beirade matas, macieiras, pessegueiros,pereiras, figueiras, ameixeiras eoutras que desafiam o tempo e odescaso do próprio homem eteimam em se perpetuar, mesmono abandono e em condições tão

adversas.Outra questão importante, mas

que ainda tem tempo de serresgatada em parte, é a culináriatípica serrana, que usava comoingredientes produtos vegetaisdessas variedades adaptadas. Eramas famosas figadas, marmeladas,geléias de pêssego, doce de batata,doces de maçã, doces de gila, pêraque, guardadas em caixas, duravamaté a próxima safra desses produtos,sem conservante ou qualquer outroaditivo químico.

E a medicina campeira, estásendo definitivamente perdida? Oprocesso migratório campo–cidadeindica que sim. Aquilo que nossosantepassados levaram anos paradescobrir e usavam no dia-a-dia nãoestá sendo registrado e caminhatambém para o esquecimento, pois,quando as pessoas migram para oscentros urbanos, passam a usarfármacos, prontamente dispo-níveis, mesmo porque não dispõemmais da matéria-prima paraelaborar os remédios caseiros.

A sociedade serrana tem origempastoril e, ao longo de séculos, devidoao tropeirisno, teve um intercâmbiocultural intenso com os povos maisao Sul (Rio Grande do Sul, Uruguaie Argentina) e também ao nortepara onde levavam suas tropas paracomercializar. Isso resultou nessetipo social único, com diversasinfluências nos usos e costumes.Exemplo é o linguajar que in-corporou palavras do espanhol,dialetos africanos, dos povos nativosda Região Serrana e de outroslocais, como os guaranis, arau-canos, minuanos, quíchuas, etc. Eclaro dos paulistas, que é adescendência principal. Porém esselinguajar também está compro-metido pela migração e litoralizaçãoem curso.

Vale repetir as palavras de Hugo

Wenceslau do filme Missiones(1989): “a última coisa que um povosubmetido entrega ao opressor ésua língua. Antes da língua vão-seas tradições, os costumes, o conceitode homem e de vida, as crenças, assupertições e os ritos”.

Ignacy Sachs, economistapolonês naturalizado francês e umestudioso do brasileirismo, afirmaque o desenvolvimento sustentávelpossui cinco dimensões: econômica,ecológica, social, cultural e espacial.A migração da população serranaafeta diretamente todas. Issosignifica que, se o modelo atual nãofor alterado, poderemos ter algumcrescimento, mas jamais desen-volvimento sustentado. E nossosdescendentes terão o futurocomprometido em seus rincõesnatais. Tornar-se-ão herdeiros deuma geografia degradada, ondetalvez não existam mais campos enem a cultura de seus antepassados,formada numa época de ocupaçãode vastas pastagens, tropeadas,demarcação de fronteiras, caça arebanhos alçados, lidas com o gado,entre outros fatos históricosmarcantes. Esses legados estãodesaparecendo sob o domínio dopoder econômico. E também pelaincompreensão de governantes quenão souberam entender asverdadeiras aspirações do povoserrano e não o apoiaram na suavocação histórica, que é o trabalhocom pecuária, há séculos enrai-zada no subconsciente do modo devida e eternamente ansioso por“madrugadas e gado em pasto-reio”.

Espero que acordemos a tempode salvar um pouco do que resta doscampos naturais e a cultura de seushabitantes, patrimônios material eimaterial que tanto nos carac-terizam como “Serranos, SimSenhor”.

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A

De agricultor a “agricultor silvicultorDe agricultor a “agricultor silvicultorDe agricultor a “agricultor silvicultorDe agricultor a “agricultor silvicultorDe agricultor a “agricultor silvicultor”: um novo”: um novo”: um novo”: um novo”: um novoparadigma para a conservação e uso de recursosparadigma para a conservação e uso de recursosparadigma para a conservação e uso de recursosparadigma para a conservação e uso de recursosparadigma para a conservação e uso de recursos

florestais no Sul do Brasilflorestais no Sul do Brasilflorestais no Sul do Brasilflorestais no Sul do Brasilflorestais no Sul do Brasil

Alfredo C. Fantini1 e Alexandre Siminski2

exploração das florestasmarcou a ocupação do terri-tório e alavancou o desen-

volvimento inicial dos Estados daRegião Sul do Brasil, através de umprocesso baseado no aprovei-tamento imediato das suas riquezas.Mas o que parece absolutamenteirracional hoje, tinha uma certalógica no período do desbravamentoe ocupação do território: a florestaera um obstáculo à implantação dasroças e das pastagens, vocaçãonatural da terra na concepção docolonizador europeu.

A retirada de toda a madeiracomercial de uma floresta em trocada área limpa, por exemplo, erauma prática comum nos anos 1950e 1960. Assim, exceções à parte,aqueles desmatadores não eramexatamente o que se convencionouchamar atualmente de criminososambientais. A prática, socialmenteaceita na época, revela a percepçãode que áreas com lavouras oupastagens significavam progresso,e que o manejo de espéciesmadeireiras, então, não erapropriamente uma atividade paraagricultores, mas para empresáriosespecializados. Revela, também, apercepção, somente há uma ou duasdécadas mitigada, de que asflorestas eram inesgotáveis.

Outra percepção, esta aindamuito presente, é a da floresta comoprodutora de madeiras. Não ésurpresa, então, que mesmo asflorestas que não deram lugar aoutros usos da terra fossemconsideradas de pouco valor assimque as suas principais madeirascomerciais tivessem sido explo-radas. Em uma sociedade que nãoreconhece, e portanto nãoremunera, os serviços ambientaisproporcionados pelos agricultoresatravés das suas florestas, deveriaser perfeitamente aceitável que elesnão nutrissem grande preferênciapor esse uso da terra.

Mais recentemente, a legislaçãoambiental e a florestal, esta emparticular, impuseram ainda outrasrestrições ao manejo das florestas,engrossando a lista de razões paraque os agricultores não tenhaminteresse em manter os rema-nescentes florestais de suaspropriedades. Esse quadro mostraque os agricultores, que poderiamser os principais aliados naconservação da natureza, nomínimo não demonstram interesseem participar do processo comoocorre hoje, e são mesmo tidos comoinimigos por grande parte dosconservacionistas. A estratégia douso da força da lei para conservar os

recursos naturais tem se reveladoum fracasso, pelo menos em relaçãoà satisfação coletiva com os seusresultados. A insistência nessaestratégia, entretanto, possivel-mente se deve ao fato de que esseainda é o caminho mais fácil secomparado à complexa tarefa depromover conservação através douso racional dos recursos florestais.

Mas a decisão de transformar asinstituições públicas ambientais emagências promotoras do desen-volvimento rural através do uso desistemas de manejo dos ecossis-temas florestais ainda é extre-mamente oportuna. Um grandeobjetivo dessa mudança seriatransformar o nosso agricultor em“agricultor silvicultor”. Asuniversidades, instituições depesquisa, ONGs e empresasprivadas têm conhecimento epessoal qualificado suficiente paradar suporte a essa estratégia – faltasomente a decisão política de tomara iniciativa.

Agricultor e floresta:boas parcerias sãosempre possíveis

Formações florestais são sempreecossistemas com alto potencialpara combinar conservação e uso

1Eng. agr., Ph.D., UFSC/Departamento de Fitotecnia, C.P. 476, 88034-900 Florianópolis, SC, fone: (48) 3721-5330,e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., doutorando, UFSC/Departamento de Fitotecnia, fone: (48) 3721-5337, e-mail:[email protected].

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de recursos. Não há florestas boasou ruins, somente usos bons e ruinsdesses ecossistemas. Ou seja,qualidade não é uma característicaintrínseca de um ecossistema; ouso que dele se faz é que pode ser deboa ou má qualidade. Em ambos oscasos, os humanos são os únicosresponsáveis pelas escolhas quefazem, e não podem esconder asfalhas na sua relação com o meiofísico sob supostos atributos dessemeio.

Eucalyptus em projetos de reflo-restamento para fins comerciais nãoé surpreendente se consideradas ascaracterísticas dessas espécies,especialmente os fantásticosincrementos em volume de madeiraalcançados, em parte devidos aosucesso de programas demelhoramento genético quesofreram. O que é surpreendente éque muitas espécies nativas comgrande potencial para substituí-laspara muitos usos, com significativasvantagens do ponto de vistaambiental, não têm recebido amesma atenção.

A combinação de usos específicosde espécies nativas cultivadas emlocais com característicasespecíficas pode tornar o uso dessasespécies em escolha melhor que asexóticas. Por exemplo, a produçãode lenha a partir do cultivo dabracatinga tem tido grande sucessoem um dos sistemas de produção delenha mais antigos do Sul do País.Além disso, os importadores deprodutos brasileiros estão cada vezmais atentos aos impactosecológicos da presença de produtosflorestais obtidos a partir dereflorestamentos com espéciesexóticas, e começam a exigircompensações ambientais paraesses produtos.

Dentro dessa categoria demanejo estão incluídas as espéciesque possuem grande capacidade decrescimento e produção de bio-massa mas que, acima de tudo,possuem características ecológicasque permitam utilizar as estratégiasde plantios na condução de seuspovoamentos. Os povoamentos,evidentemente, não precisamnecessariamente ser puros; amistura de espécies é possível emuitas vezes mesmo necessária.Além disso, a opção por sistemasagroflorestais e agrossilvipastorispode trazer significativas vanta-gens ecológicas e econômicas.

Há que se considerar que todosos avanços conseguidos no campoda tecnologia devem seracompanhados de avanços naregulamentação do seu uso. Imporrestrições ao reflorestamento comespécies nativas, incluindo o seumanejo e uso dos produtos, comoacontece com a bracatinga, porexemplo, é mais um desincentivo areforçar a preferência de

Não há florestasboas ou ruins,

somente usos bonse ruins dessesecossistemas

Assim, para cada ecossistema,qualquer que seja a sua condição,há um ou mais sistemas adequadosde uso. A diversidade de ecos-sistemas é uma condiçãoextremamente desejável paraambos os propósitos de conservaçãoe uso de recursos naturais bio-lógicos, e constitui a base dabiodiversidade. Qualquer política ouplano de conservação e uso dessesrecursos deve abranger umadiversidade de ecossistemas, ouseja, a paisagem é um nívelhierárquico a ser obrigatoriamenteconsiderado na escolha dasestratégias de uso dos recursos domeio.

O manejo da paisagem incluitodos os tipos de vegetação, e, deespecial interesse neste documento,todos os tipos de formaçõesflorestais. Nesse sentido, o manejodas florestas remanescentes eplantações podem ser combinados,e mesmo combinados com outrosusos da terra, para maximizar adiversidade de ecossistemas e opotencial produtivo das espéciesflorestais nas propriedadesagrícolas e empresas florestais.Para a produção de madeira, umdos possíveis agrupamentos dessessistemas seria:

Manejo de florestas plan-tadas: a rápida disseminação douso de espécies dos gêneros Pinus e

A opção porsistemas

agroflorestais eagrossilvipastoris

pode trazersignificativas

vantagensecológicas eeconômicas

agricultores e demais produtorespelas espécies exóticas.

Manejo de espécies decrescimento lento em florestasmaduras: atualmente, abrem-senovas oportunidades e nichos demercado para tecnologia de uso demadeiras nobres, especialmente noemprego de artefatos de pequenasdimensões como a fabricação detacos de assoalho, molduras,esquadrias, revestimentos, capasdecorativas, partes e peças demóveis. Esses produtos apresentamexcelente potencial paraaprimoramento da qualidade, e pordecorrência, para agregação devalor aos recursos florestais. Apossibilidade de uso de pequenaspeças de madeira também aumentao aproveitamento de cada árvoreproduzida, fator importanteconsiderando-se que o número delasnos remanescentes florestais épequeno.

Dentro dessa categoria, asespécies são manejadas em seuambiente natural, onde ocorre aexploração controlada das po-pulações. Assim, para atender àexploração contínua, faz-se ne-cessário conhecer aspectosrelacionados à auto-ecologia dasespécies a serem manejadas,especialmente demografia, pro-dução de biomassa, regeneração,estrutura genética e biologiareprodutiva.

Manejo de espécies decrescimento rápido em florestassecundárias : as florestas se-cundárias ou formações florestaissecundárias são florestas rege-neradas naturalmente após alguns

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anos de uso da terra com culturasanuais ou pastagens, ou seja, apósa supressão total da vegetação. Arecomposição da vegetação,chamada de sucessão ecológica, éum processo gradual de substituiçãode espécies – daquelas capazes deutilizar recursos limitados econdições adversas do meio, física ebiologicamente degradado, porespécies que requerem melhorescondições biofísicas do ecossistema.O processo de sucessão é, portanto,um lento aumento da complexidadedo ecossistema, através do aumentodo número de espécies e,principalmente, do número deinterações entre espécies e dessascom o meio físico.

Grande parte das florestasremanescentes na Região Sul são,na verdade, formações florestaissecundárias. Assim, por sua próprianatureza, são formadas prin-cipalmente por espécies decrescimento rápido. Por isso mesmo,essas formações são tidas como depouco valor para o propósito deprodução de madeira; percepçãomuito natural considerando-se quea região era, até há pouco tempo,abundante em espécies produtorasde madeiras nobres. O valor demercado da madeira dessas espéciesnunca se realizou porque, por muitotempo, houve suficiente suprimentode “madeiras-de-lei” alimentadopelo rápido processo de desma-tamento em toda a região e tambémporque, após o esgotamento dessas,a oferta de madeiras com baixopreço vindas da Amazônia e aintrodução de exóticas cobriu ademanda regional.

O caso do jacatirão-açu (Miconiacinammomifolia) é um exemploemblemático. A espécie formaassociações quase puras quecaracterizam um estádio arbóreopioneiro, com grande densidade deindivíduos. Além disso, a quantidadedessas associações presentes nolitoral de Santa Catarina e doParaná é muito grande. Por contada combinação desses fatores, ojacatirão-açu apresenta um volumede madeira fabuloso, inexpli-cavelmente estocado na pro-priedade de agricultores emdificuldades financeiras.

A exploração dessa e de muitasoutras espécies de crescimentorápido das formações florestais daMata Atlântica traria como benefíciodireto uma nova e imediata fontede renda para os agricultores daregião. Mas, e talvez prin-cipalmente, promoveria a conser-vação dos remanescentes florestaispelos agricultores, que passariam avê-los como um valioso recurso.

A urgência de umapolítica florestal para aRegião Sul

O manejo de formaçõessecundárias para a produção demadeira e outros produtos florestaisé considerado, não raro, umaameaça à conservação ambientalna Região Sul. Entretanto, tornaros remanescentes florestaisprodutivos e economicamenteviáveis pode revelar-se uma valiosaalternativa para os pequenosagricultores da região da MataAtlântica, há décadas confrontadoscom sucessivas crises da agriculturamoderna.

do que não é permitido fazer, umaestratégia que aprofunda o fossoexistente entre agricultores econservacionistas.

As ciências ambientais dizemque as florestas produzem serviçosambientais indispensáveis e, porisso, devem ser conservadas. Poucosdiscordam dessa tese. O quenormalmente não é dito,entretanto, é que a conservaçãotem um custo. Mesmo deixar asflorestas intocadas tem o custo daoportunidade de outros usos daterra, muito alto para o nossoagricultor. Assim, pode serecologicamente desejável restringirdrasticamente o uso dos ecos-sistemas florestais para queproduzam o máximo de serviçosambientais, mas é socialmenteinjusto fazer isso às expensas dosagricultores. Se a todos interessamos serviços ambientais, umapossibilidade de promover justiçaseria cobrar de todos essa conta epagar aos agricultores pelaprodução desses serviços. Outrospaíses do terceiro mundo, como aCosta Rica, já adotaram essa prática.Uma política alternativa a essaabordagem, mas não excludente, éo uso planejado e incentivado dasflorestas, baseado nos resultadosde pesquisa já disponíveis e nosrecursos da “aprendizagem social”,um processo em que se integramconstrução de conhecimento edesenvolvimento local, no qualparticipam pesquisadores, comu-nidades e agências governamentais.

Florestas manejadas em váriasintensidades é sinônimo dediversidade de ambientes e,portanto, sinônimo de biodi-versidade. Assim, “agricultoressilvicultores” podem tornar-seagentes promotores de biodi-versidade. É dever do poder público,através das suas agênciasambientais, e de quantos maishouver interessados na questão,planejar e implementar asestratégias necessárias pararesgatar o papel das florestas noprocesso de desenvolvimento dascomunidades rurais e o papel dosagricultores na conservação dasflorestas, estabelecendo um cicloem que todos ganham.

Infelizmente, até hoje o grandepotencial florestal da região foiapreciado e realizado somente poriniciativa de alguns setoresindustriais. Está ainda longe nohorizonte uma iniciativa concretado poder público de elaborar eimplementar uma verdadeirapolítica florestal para a região. Oque se tem visto, repetidamente,são políticas que se manifestam naforma de novas legislações, queinvariavelmente aumentam o rol

Tornar osremanescentes

florestais produtivose economicamente

viáveis pode revelar-seuma valiosa

alternativa para ospequenos agricultores

da região daMata Atlântica

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Agricultores e empresasAgricultores e empresasAgricultores e empresasAgricultores e empresasAgricultores e empresascatarinenses investem nas florestascatarinenses investem nas florestascatarinenses investem nas florestascatarinenses investem nas florestascatarinenses investem nas florestas

Paulo Sergio Tagliari1

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

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Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007 21

nvestir no plantio de flo-restas, sejam elas nati-vas ou exóticas, pode ser,

no momento, uma das atitudesmais sensatas e estratégicasque o homem pode realizar.Além da geração de renda eda manutenção de milharesde empregos diretos eindiretos no campo, este tipode atividade pode reduzir umproblema que tem chamado aatenção de cientistas eespecialistas do mundointeiro: o aquecimento global.Plantar florestas, no mínimo,é capturar toneladas de gáscarbônico que estão poluindoo planeta e ajudar a frear asmudanças climáticas adversasque já estão se fazendopresentes e assustando ahumanidade.

I

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O Estado de Santa Catarinaapresenta um relevo bastanteacidentado em boa parte de seuterritório, o que torna dificultosas,e até quase impraticáveis, ativi-dades agrícolas e pecuárias nesteslocais íngremes. Por isso, a aptidãopara a exploração florestal doEstado, que soma mais de 50% daárea, é uma alternativa bastanteviável para milhares de famílias deagricultores, que poderão ter notripé agrossilvipastoril uma saídaviável para sua manutenção eperpetuação, evitando o crescenteêxodo rural, com proteçãoambiental e renda.

Até 150 anos atrás, o territóriocatarinense era coberto quase quetotalmente por florestas, mas coma colonização e a exploração demadeira para exportação, a áreaflorestal reduziu drasticamente ehoje representa parcela pequenado que era. Com a introdução dosincentivos fiscais nas décadas de 60e 70, ocorreu a implantação deflorestas comerciais e uma pequenaparte das florestas nativas foireposta com espécies exóticas,freando a contínua extração demadeiras nativas. Mas com otérmino destes incentivos, esteprocesso de reposição diminuiu,

chegando ao déficit atual de 200 milhectares. De acordo com dados doProjeto de Desenvolvimento deRecursos Florestais de SantaCatarina executado pela Epagri, odesafio é implementar tecnologiase projetos para atender a atualdemanda, eliminando-se o atualdéficit, bem como acrescentar 520mil hectares aos 580 mil hectaresde reflorestamento já existentes,para atender à expansão dademanda, que até o ano 2015 exigiráuma área produtiva de 1 milhão e100 mil hectares de florestas.

Esta crescente demanda deprodutos florestais faz de SantaCatarina um importador demadeira, principalmente paraabastecer, entre outros, a indústriamoveleira. Além da evasão derecursos, deixa-se de criar milharesde empregos que comprometem asobrevivência de inúmeraspropriedades familiares. Algumasexperiências que estão emdesenvolvimento no Estado sãorelatadas a seguir, apontando saídasviáveis para diminuir o déficitflorestal, proteger o meio ambiente,gerar renda e fixar o homem nocampo, estimulando empresas dosetor.

Produtores do LitoralSul optam pelo eucalipto

O cultivo de eucalipto vematraindo pequenos e médiosprodutores na Região do LitoralCatarinense, que estão começandoa ocupar áreas declivosas imprópriaspara a agricultura e pecuária. NoSul do Estado, no município deLaguna, na Comunidade Siqueira,ao redor da Lagoa do Imaruí, areportagem, com a companhia docoordenador estadual do Projeto deRecursos Florestais da Epagri,engenheiro agrônomo JandirAlberto de Amorim e do engenheiroagrônomo José Antonio CardosoFarias, da Gerência Técnica daEmpresa, visitou a propriedade doprodutor Diomar Silvério Ribeiro,que possui um total de 150ha, entreáreas de pastagem, mata nativa etopos de morro pedregosos, emparceria com o irmão. Nesta áreade topo, João Manoel Ribeiro Neto,filho do senhor Diomar, iniciouplantio de eucalipto da espécieEucaliptus grandis, inicialmente

em 3ha, no espaçamento de 2,5m x2,5m, o que possibilita uma densi-dade de 1.600 plantas por hectaremas que, após os desbastes previstos,produzirá em torno de mil árvores.

Na ocasião, funcionáriosestavam abrindo pequenas covas eadubando com fertilizante NPK, àbase de 200g/buraco, e logofechando. Jandir de Amorim explicaque a muda de eucalipto vai serplantada posteriormente na covaem dia de umidade ou chuva. “E sóvai ser necessário uma próximaaplicação de adubo, daqui a trêsmeses com uréia”, relata o técnico.Amorim esclarece também que ocultivo de eucalipto é de baixo custo,é uma planta rústica, os únicoscuidados são com as formigas nosprimeiros anos, e roçadas paraevitar a concorrência com as plantasdaninhas. Nos anos seguintes, aorientação técnica é a realizaçãodas desramas e desbastes. Adesrama é a retirada dos galhospara evitar os nós que depreciam astoras. Quando são feitas asdesramas, o valor comercial damadeira é, em média, três vezesmaior. Já o desbaste é a retiradadas árvores de qualidade inferior,tortas e bifurcadas, a fim de deixarpara o corte final aquelas demelhores desenvolvimento econformação.

O produtor João Manoel estáentusiasmado com o novo empre-endimento. “Nossa família temtradição na criação de gado, masestamos constatando que o plantiode eucalipto está trazendo melhorretorno que outras alternativas.Esta terra era improdutiva e agoraestá se revitalizando e tornando-semais rentável. E pretendemosampliar a área de eucalipto, etambém com árvores nativas, reser-vando uma área só de preservaçãoambiental”, fala convicto. O quedespertou o interesse do jovemempresário foi um dos cursosprofissionalizantes que a Epagripromove anualmente sobrereflorestamento em alguns dos seuscentros estaduais de treinamento.

Não muito longe dali, naComunidade de Rio Prainha, oempresário Daniel Boabaid acabade instalar uma pequena serrariaque está beneficiando cerca de 100hade eucalipto já plantados nascercanias. O empreendimento conta

Produtor João Manoel plantaeucalipto em área pedregosa e comdeclive

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com 13 empregados fixos e o produtoprincipal são “pallets” ou paletes,destinados a uma empresa deexportação de cerâmica emTubarão, SC. Um dos encarregadosdo funcionamento da serraria é osenhor Jair Zanela que explica quemensalmente saem dali duas cargasde 280 paletes ao custo de R$ 10,00por palete, ou seja, uma renda brutamensal de R$ 5.600,00. Isto semfalar nos resíduos da serraria quesão cavaquinhos, serragem e lenha,que também agregam mais algunsreais. Para se ter uma idéia, o me-tro cúbico de lenha está cotado a R$13,00, o saco do cavaquinho (emtorno de 0,2m3) vale R$ 4,00 e aserragem R$ 7,00 o metro cúbico.

No município de Imaruí, vizinhode Laguna, um grupo de técnicos,entre os quais Jandir Amorim eJosé Farias, resolveu tambéminvestir no eucalipto. Na comu-nidade Fazenda Rio das Garças, ogrupo plantou 10ha de E. grandisque hoje está com quatro anos,num espaçamento de 3m x 2m.Recentemente foi realizado umprimeiro desbaste que retirouárvores desalinhadas e mal-formadas, resultando em madeirapara escoras, lenha e alinhamento(varas e tesouras). Farias conta que

este emprendimento conjunto éuma forma de poupança, “assimcada um investe um pouco dedinheiro que está sobrando e maistarde conseguimos multiplicar ocapital, sem grandes riscos”. Jandiresclarece que o plantio é em áreadeclivosa, mas utiliza-se toda atecnologia e manejo recomendados.Por exemplo, aos seis e aos noveanos serão feitos os próximosdesbastes, e quando o eucaliptalatingir 12 a 15 anos, será feito ocorte final, resultando em 400árvores por hectare, com umdiâmetro de 35cm, madeiras de altaqualidade. “Calculamos hoje que arenda bruta de cada hectare poderáatingir R$ 60.000,00 ao final dos 15anos”, revela o técnico. Segundoele, “isto representa R$ 4.000,00/haao ano, valor difícil de ser atingidopor outra alternativa agropecuáriaatualmente”. O grupo também estáinvestindo em outras áreas e até omomento possui 52ha plantados.Em todos os locais, além daprodução de madeira, pretendeintroduzir colmeias para exploraçãode mel, realizar consórcio compecuária, produção de plantasbioativas e possivelmente consórciode eucalipto com palmito. Etambém não está descartada aexportação, pois a Europa está comforte demanda por madeira dequalidade.

Além dos empreendimentosindividuais, organizações privadasligadas à atividades agropecuáriasestão estimulando o plantio deflorestas. Um dos projetos de grandeestímulo ambiental e socioeco-nômico é o desenvolvido pelaAssociação dos Fumicultores doBrasil – Afubra –, que em SantaCatarina tem sede no município deTubarão, cidade da região litorâneasul. A Afubra possui 200 milagricultores associados nos trêsEstados do sul do Brasil eatualmente desenvolve o ProjetoFloresta Plantada, em convênio como Banco do Brasil e Pronaf,objetivando estimular o plantio deflorestas, principalmente eucaliptopara repor a madeira das estufas defumo, e, ao mesmo tempo, preservara mata nativa. O engenheiroagrônomo Marcio Ronchi,responsável técnico da entidade emSanta Catarina informa que aAfubra fechou também acordo

recente com o Ibama para incentivarentre os fumicultores o plantio demil plantas de eucalipto por ano,durante cinco anos.

Outro projeto importante naárea ambiental é o Bolsa Sementes,em parceria com a UniversidadeFederal de Santa Maria – UFSM–, RS e 200 escolas pólos das redesescolares dos três Estados, umainiciativa que visa à preservação erecuperação das matas nativas, bemcomo estimular nas crianças ejovens a consciência ambiental.Marcio explica resumidamente oprocesso, “as escolas coletamsementes de árvores, fazem umapré-limpeza e encaminham para aAfubra, que remete os materiaispara a UFSM. Esta, por sua vez,testa a pureza das sementes,germinação e vigor, e depois colocaem câmaras frias que ficam àdisposição dos interessados,geralmente prefeituras, produtoresde mudas, comunidades rurais,técnicos e entidades”.

Prefeituras e ProjetoMicrobacias incentivamo plantio

Subindo a serra e chegando aoplanalto, outra parceria que estádando resultado é o Projeto Fo-mento Florestal, envolvendo aKlabin (fomento florestal e pro-dução de celulose), a Epagri eprodutores de 12 municípios daregião. Na verdade, o projeto iniciouem 1984 com a Klabin que forneciamudas de pínus a reflorestadores e,em troca, o pessoal se comprometiaa entregar certa quantidade para aempresa. Hoje o trabalho ampliou-se, com a participação da Epagrique, além da Klabin, tambémorienta tecnicamente os produtores,inclusive com cursos anuais ondeas novidades tecnológicas sãorepassadas. Segundo o engenheiroflorestal Rui Carlos Polak, da áreade pesquisa do DepartamentoFlorestal da Klabin, até 2005 havia3.100 produtores no projeto e, em2006, agregaram-se mais 430. Polakinforma também que cada produtorenvolvido no projeto recebe até 7mil mudas, sendo que 5% podemser de árvores nativas.

No Oeste Catarinense, a empre-sa Celulose Irani, com apoio da

Jandir e Farias com o resultado doprimeiro desbaste do eucaliptal

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Epagri, lançou um programa defomento para pequenos agri-cultores (fornece mudas em trocada preferência de compra) e firmoutambém convênio com prefeituras.Assim a Irani dá capacitação emsilvicultura a técnicos municipaisque repassam novas técnicas aosagricultores. O primeiro treina-mento ocorreu em agosto de 2006para 50 técnicos. E já são oitoprefeituras do Oeste a se vin-cularem ao programa. Ao final de2006 foram entregues 1,2 milhãode mudas nos municípios convenia-dos. Para 2007 a expectativa édistribuir mais 2 milhões, além deexpandir o programa para 15municípios.

As prefeituras aderiram aoreflorestamento. Além do Oeste ePlanalto, na Grande Florianópolisalguns prefeitos, além de seremprodutores eles próprios, incen-tivam seus munícipes a investir noplantio de exóticas e/ou nativas.Elmar Thiesen, prefeito de ÁguasMornas, município situado na re-serva florestal estadual do Parqueda Serra do Tabuleiro, entende queo agricultor deve aproveitar aque-las áreas de morro, que normal-mente são ocupadas por uma ouduas cabeças de gado por hectare,com baixa produtividade, e reflo-restar, seja com eucalipto oupalmeira-real, ou mesmo umanativa. “Hoje, com minha expe-riência de reflorestador, asseguroque o produtor rural tem uma rendamelhor, além da proteção am-biental”, afirma. Com isso concordao vice-prefeito de Santo Amaro daImperatriz, o senhor Edésio Justen,que também é reflorestador, e umgrande entusiasta do setor. Elepossui 130ha de reflorestamentonos municípios de Águas Mornas eSão Pedro de Alcântara, totalizando23 mil mudas plantadas de pínus,350 mil de eucalipto e, ainda, 300mil mudas de palmeira-real. “Opovo, em geral, pensa que oeucalipto e o pínus acabam com aágua, mas não é verdade, commanejo correto eles protegem,conservam a água”, comentaEdésio. José Farias, da Epagri,especialista em florestas, adicionamais uma informação, “sendo oeucalipto uma espécie de rápidocrescimento, no início ele absorvemais água, mas, com o passar do

tempo, há maior cobertura do solopela folhagem e pela deposiçãofoliar, que protege mais a terra,segura mais a água e reduz aevaporação”. Outra informaçãoimportante, e de interesse diretodas prefeituras, é que o Governo doParaná, através do ICMS Ecológico,repassa um valor a mais para osmunicípios que implantarem áreasde preservação ambiental.

Juntar floresta com pecuáriaparece uma saída viável para osagricultores familiares. O ProjetoMicrobacias 2, conduzido pelaEpagri, realizou uma série detreinamentos em pastoreio Voisine também reflorestamento naRegião da Grande Florianópolis. Umdos bons resultados é a unidadedemonstrativa de Pastoreio Voisine Mata Ciliar, que tem a assistênciatécnica do engenheiro agrônomoCícero Luis Brasil, da Epagri deÁguas Mornas. A unidade fica napropriedade do casal Roberto eJanete Hinckel e já é modelo naregião. “No início fiquei com medode mudar o manejo tradicional deminhas vacas leiteiras para osistema Voisin”, conta o produtor.“Mas tenho a certeza de que procedicorreto, pois agora tenho 11 vacasonde pastavam seis, gastava 6kg de

ração/vaca/dia, e hoje não passa de1,5kg. Assim, minha produção puloude 200L de leite para 300L”, dizsatisfeito. Cícero explica que oestabelecimento fica às margens doRio Cubatão, e o fluxo das águasvinha comendo a beirada da área depastagem. Com a implantação demata ciliar, onde aparecem plantasnativas e frutíferas, ocorreu umaestabilização no local, que deu maissegurança ao produtor. Com isso, amata, além de função protetora dasmargens, fornece sombreamento econforto térmico aos animais, eainda abriga predadores doscarrapatos e vermes que atacam ogado. Isto sem falar que das árvoresfrutíferas a família Hinckel já estápreparando geléias e doces.

Na propriedade da famíliaSchuch, na divisa do município deSanto Amaro com Águas Mornas,Cícero e os produtores implantaramuma unidade demonstrativa deníveis de adubação de nitrogênio deliberação lenta, para ver como oeucalipto, no caso a espécieEucaliptus urophyla, se comportacom diferentes tipos de adubos edosagem. O local é um morro comdeclividade acentuada, baixafertilidade, sem cobertura vegetal,representativo da região, e as

Família Hinckel (centro), técnicos da Epagri Farias e Cícero (à esquerda) eo vice-prefeito de Santo Amaro da Imperatriz Edésio Justen (à direita) aolado da mata ciliar

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25Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

primeiras impressões e dadosmostram que o eucalipto está seadaptando bem. Mesmo na parcelaonde não foi colocado adubo(testemunha), o E. urophyla está sedesenvolvendo, o que demonstratoda sua rusticidade e vigor, epromete ser uma alternativa viávelde reflorestamento na região.

O extensionista da Epagri deSão Pedro de Alcântara, o técnicoagrícola Gerson Luiz Gessnerinforma que a Associação deMicrobacias – ADM – do municí-pio está orientando os agricul-tores locais a tornarem as suasáreas de morro mais produtivas,trocando a pecuária rudimentar, debaixa produtividade, pelo re-florestamento. Eles têm o apoio doprefeito de São Pedro de Alcântara,o senhor Ernei José Stahelin, queestá montando um projeto deincentivo municipal florestal,envolvendo entidades privadas egovernamentais, inclusive o Pro-jeto Microbacias 2. O senhor MarinoSchappo, da Comunidade de SantaFilomena, é outra pessoa en-tusiasmada pela natureza ereflorestamento, e há 12 anos eleacreditou que o plantio de árvorestraria bons resultados econômicose ambientais. Nos 35ha de suapropriedade, possui 26ha de áreaplantada, sendo 150 mil mudas depalmito nativo dentro das áreas decapoeira e mata nativa e, nas áreasdegradadas, pínus e eucalipto. “Façoquestão de preservar as minhasmatas, e penso que explorar afloresta não significa acabar com amata nativa, pelo contrário: alémde preservar, podemos lucrar como reflorestamento”, fala convicto erevela que está começando umainovação, o plantio em consórcio depalmito no meio de eucalipto.

Outro produtor que também estáinovando é o senhor José AloísioPetry, da comunidade CampoDemonstração, pertencente àMicrobacia Santa Bárbara. Eleobservou que, deixando as sementesdo palmito nativo de molho na água,elas se preservam melhor e facilitana hora de plantar. O senhor Petry,com o acompanhamento técnico deGerson Gessner, está testando oplantio em consórcio de trêsespécies, o pínus, o palmito nativoe a palmeira-real, em espaçamentode 4m x 4m.

Incentivador da área florestaldentro da Epagri, o ex-presidenteda empresa, Athos de AlmeidaLopes, entende que o Estado temsua vocação natural nas florestas.“Obedecendo à legislação ambiental,é possível para as 134 mil famíliascatarinenses acompanhadas peloProjeto Microbacias reservaremuma área de suas propriedades e,além do milho, da fruticultura,gado, etc. tem lugar também paraas florestas”, defende Athos. “Secada família plantar 1ha/ano, e istoé uma ação perfeitamente factível esem maiores custos, em 12 anoscada família terá uma pequenafloresta que poderá suplantar emrenda muitos outros produtos”,afirma.

Pesquisa apóia odesenvolvimentoflorestal

Para dar suporte técnico-científico às ações de fomento,extensão e assistência técnica parao plantio de florestas em SantaCatarina, a Epagri desenvolveimportantes trabalhos de pesquisa.

Há vários anos, o pesquisadorMilton Ramos, da Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí, temconduzido estudos sobre a qualidadede espécies de eucalipto e hoje aEstação detém conhecimentos naárea para orientar madeireiros,serrarias, moveleiros, empresasconstrutoras de casas à base de

madeira, laminadoras, etc. “Játemos espécies que se adequam àprodução de móveis, como é o casodo Eucaliptus saligna”, salienta opesquisador e agrega, “há algunsanos atrás, se alguém propusesseutilizar eucaliptos na fabricação demóveis, ninguém ia dar atenção”.Atualmente Milton Ramos pesquisaparâmetros como cor, densidade eresistência das madeiras aoempenamento e rachadura.

Mas não param por aí asinvestigações florestais. Um dosaspectos de maior demanda e degrande atualidade diz respeito aoimpacto da floresta no meioambiente. Muita gente questionase as florestas exóticas tipo pínus eeucalipto causam prejuízos ao meioambiente. Para esclarecer umaspecto ambiental importante,como é o caso do consumo de águapor este tipo de florestas, a Epagriestá desenvolvendo uma pesquisaintitulada “Avaliação do efeito dasflorestas plantadas sobre o fluxo deágua nas nascentes”. Por exemplo,foram escolhidos vários locais noEstado, onde inicialmente não haviacobertura florestal, a maior parteera coberta por pastagem ou algumalavoura anual, em áreas declivosase semi-declivosas. Pesquisadoresmediram o fluxo de água nasnascentes, antes e depois do plantiodas florestas, no caso eucalipto epínus. As medições, conformeexplica Milton Ramos, são feitas50m abaixo das nascentes, e em

Árvore nativa, como o palmito juçara, é boa opção para consórcio com pínus

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26 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 200526 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

terras de sete municípios dasRegiões do Planalto (utiliza-se opínus) e Litoral (com eucalipto).Também é avaliada a qualidade daágua, levando-se em conta ascaracterísticas físicas e químicas. Oresultado preliminar verificado atéo momento, terceiro ano deimplantação do experimento,mostra um dado esclarecedor. Oque tem se verificado, conformerevela Milton, é que na maioria doslocais, o fluxo e o volume de águatêm aumentado, ou seja, a coberturada floresta, apesar do pínus eeucalipto absorverem determinadaquantidade de água para satisfazeras necessidades de seu crescimentoinicial, ajudam a reter o líquidomuito mais que se fossem pastagemou lavouras e, com isso, protegemas nascentes e reduzem o fluxolaminar, a erosão.

“Não é só nossa pesquisa queestá demonstrando isto”, afirma opesquisador. Temos o relato deum agricultor, o senhor Zelásio DelAgnolo, do município de MajorGercino, que plantava tomate numade suas áreas de produção, e nosrevelou que ano após ano, o fluxo deágua do local vinha diminuindo.Todo ano, explicou o agricultor,

demorava mais para encher o tanquede pulverização de agrotóxicos coma água. Como o produtor, após anosde pulverização com pesticidas,ficou intoxicado, resolveu plantarfloresta, no caso eucalipto, na áreade tomate. Qual não foi suasurpresa, quando constatou que asnascentes de água, antes quasedesaparecidas, retornaram.

Continuando, Milton Ramosinforma ainda que uma preocupaçãorecente da pesquisa é a seleção dematrizes de palmito nativo, o nossopopular juçara – Euterpe edulis –alvo constante de retirada ilegal denossa Mata Atlântica, apesar docrescente e rigoroso controleambiental. A seleção está focadaem plantas de porte mais baixo etolerância à luminosidade, para quepossa se desenvolver em pleno sol,“se não ele tem que se desenvolverna mata, competir com outrasárvores, produzindo pouco”, observao pesquisador. Este trabalho estásendo feito na Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga,conduzido pelo pesquisador AdemarBrancher. O palmito nativo temfunção importante na mata ciliar,ajudando a proteger os cursos d’águae, de quebra, fornecer suco. Aliás,já existem produtores que estãocomercializando com sucesso o sucodo nosso palmito nativo e, segundoestudos realizados pela Univer-sidade Federal de Santa Catarina, aqualidade não deixa nada a desejarao suco de açaí da Amazônia.

Outra tecnologia que estáchegando ao setor é a produção demudas clonais, que permitedirecionar e agilizar o melhora-mento das espécies, favorecendo aformação de plantas mais vigorosas,resistentes a doenças, ao frio, etc.Na Estação Experimental de Itajaí,o pesquisador Milton Ramosdesenvolve experimentos com E.grandis com clonagem, com afinalidade de produzir madeira maisresistente e com resistência àdoença da ferrugem que costumaatacar florestas da espécie no LitoralNorte do Estado. Ele trabalhatambém com o Eucaliptus dunni,para melhorar a resistência à geada.Por outro lado, Milton alerta queestá havendo problemas de comer-cialização com mudas clonais vindasde outros Estados, com qualidadedo material deixando a desejar. Ele

propõe que o Estado, através delaboratório da Epagri, monte umprocesso de controle de qualidade,que evitaria a compra de materiaisinadequados ou de baixa qualidade.

Passando do Litoral para oPlanalto Catarinense, uma daspesquisas de destaque conduzidaspela Epagri/Estação Experimentalde Lages e em parceria com a Es-tação Experimental de Itajaí e oCentro de Pesquisa para AgriculturaFamiliar – Cepaf –, diz respeito àbusca de variedades florestaisresistentes ao frio, às geadas.Descoberta recente dos técnicoscatarinenses está trazendo umanova alternativa aos produtores eempresários do setor. Trata-se daperformance da espécie Eucaliptusbenthamii, que está surpreendendoo setor florestal no Sul do Brasilpela sua grande resistência ao frioe às geadas, abrindo espaço para oseu plantio nas regiões mais frias,tais como a Serra e o PlanaltoCatarinense. Este fato é umanovidade, já que até há pouconinguém iria pensar em plantareucalipto em regiões frias do Brasil.Segundo o pesquisador ConstâncioBernardo dos Santos, da EstaçãoExperimental de Lages, o E.benthamii possui madeira bonita,de qualidade, cresce ligeiro. Mas oespecialista faz um alerta aosprodutores. Tendo em vista a grandeprocura por esta espécie,comerciantes mal intencionadosestão vendendo sementes de outrasespécies como se fossem o E.benthamii, “estão enganando aspessoas e já se constata esta práticana região, trazendo prejuízos certosao setor”, lamenta o engenheiroagrônomo Lorivaldo JoséKaufmann, colega de trabalho doConstâncio.

Mas nem só de experimentoscom florestas isoladas compõem oleque das pesquisas. Um trabalhopioneiro que iniciou em 1997 nomunicípio de São José do Cerrito,vizinho de Lages, em área daempresa Klabin, aborda o plantiode pínus com pastagem. Esta pes-quisa, que testa quatro espaça-mentos diferentes, mas todos comdensidade de mil árvores porhectare, revela que é possível aosprodutores criar gado e florestanuma mesma área, maximizando ouso dos recursos naturais. Os

Pesquisador Milton Ramos mostrapalmito nativo na área demelhoramento genético da E.E.Itajaí

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Agropec. Catarin., v.17, n.1, mar. 2004 2727Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

resultados até agora demonstram,segundo o pesquisador Constâncio,que o manejo com filas de quatroárvores consecutivas de pínus, maisárea de pastagem (9m), permitemelhor insolação e manutenção dopasto, evitando sombreamentoexcessivo. “Estes resultados aindanão são definitivos, precisamos demais um período para montar oscálculos estatísticos finais, mas tudoindica que estamos no caminhocorreto. Isto nos possibilitarádifundir mais uma alternativa viávelpara os produtores da região”,confirma o pesquisador.

Além das exóticas pínus eeucaliptos, a Epagri desenvolvepesquisas com espécies nativas,como o palmito, a bracatinga e ovime. Como o espaço é exíguo, nestareportagem não foi possívelapresentar todos esses trabalhos.Fica para uma próxima edição acontinuação do assunto. Constâncio mostra Eucaliptus benthamii na coleção da E.E. Lages

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28 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Paulo Sergio Tagliari1

Uma pesquisa científica pioneira desenvolvida por uma equipe de pesquisadorese extensionistas da Epagri, junto a agricultores da Região do Vale do Itajaí, em

Santa Catarina, conseguiu produzir tomate orgânico sob manejo em cultivoprotegido (estufa), praticamente sem uso de produtos químicos normalmente

utilizados na produção de tomate convencional.

pesquisa faz parte de umprojeto que reúne a Epagri/Estação Experimental de

Itajaí e áreas experimentais defamílias de tomaticultores tradi-cionais da região. Estes produtoresestão testando e avaliando em suaspropriedades sementes de algumascultivares de tomate que se adaptamao cultivo orgânico, acompanhadospelos pesquisadores e extensio-nistas, num processo participativoque integra o saber e as práticasnormalmente adotadas pelosagricultores com o conhecimento

científico e as orientações dostécnicos.

A equipe interdisciplinar depesquisa da Epagri é composta pelosengenheiros agrônomos JoséÂngelo Rebelo, Murito Ternes,Euclides Schallenberg e RenatoPegoraro, pertencentes ao ProjetoHortaliças e especialistas emdiferentes áreas (fitopatologia,fitotecnia, fertilidade do solo eentomologia), que trabalham juntoscom os extensionistas Hector SilvioHaverroth, de Massaranduba,Adriana Tomazi, de Jaraguá do Sul,

Nilton Provesi Machado, dePomerode, Rogério Silva, de LuísAlves, e Egídio Fuck, de Camboriú,mais 18 agricultores da região. Oobjetivo principal do grupo édesenvolver o tomateiro orgânicode forma ambientalmente sus-tentável, com ganhos sociais eeconômicos. Este experimento fazparte de uma rede de pesquisaparticipativa estadual, a qual pro-move a construção de conheci-mentos em diferentes sistemas deprodução e em diversas outrasregiões de Santa Catarina.

A

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

Técnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesdesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicoTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesTécnicos e agricultores catarinensesdesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânicodesenvolvem tomate orgânico

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29Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Custo de manutenção ébaixo

Segundo José Rebelo, coorde-nador do Projeto de Hortaliças daEpagri, os experimentos com otomateiro na Estação e naspropriedades dos agricultoresapresentaram ótima performancee bons resultados, mostrando que épossível colher-se tomate com omínimo de resíduos químicos, baixocusto de produção e com boaprodutividade e qualidade. Rebeloexplicou que o tomate foi produzidono sistema verticalizado, quepermite melhor aeração e manejoda cultura, em vez do sistemacruzado, que é o usado no cultivoconvencional. A orientação dasfileiras do tomateiro foi a norte-sul,para favorecer a maior insolação.Como insumos, além das sementesou mudas, utilizou-se compostoorgânico, calda bordalesa einseticida biológico Dipel. O únicogrande gasto do produtor é naconstrução da estufa ou cultivoprotegido, como é chamado osistema, que faz uso de materiaisde construção como postes, plásticose canos de irrigação. “Mas isto é uminvestimento inicial que já épossível amortizar no primeiro anoou segundo ano, com o ganho nacomercialização do tomateagroecológico”, esclarece Rebelo.

O pesquisador comenta que afertilização com composto orgânico

foi feita em duas parcelas,totalizando 30t/ha. O composto podeser feito na própria unidade deprodução, usando-se esterco animalencontrado no estabelecimento oude vizinhos. Para ser orgânico, osrestos de culturas e o esterco, queformam o composto, não podem terresíduos de pesticidas, pois aí nãose caracterizariam como orgâ-nico.

Em relação a doenças, tanto naspropriedades dos agricultores, comona unidade de pesquisa da Estação,a temida requeima do tomateiro foitotalmente controlada com autilização da calda bordalesa a 0,3%,produto que utiliza em seu preparoo sulfato de cobre e cal virgem. Asaplicações foram preventivas, ouseja, quando havia anúncio de umafrente fria e chuva, fazia-se aaplicação. Isto porque o fungo quecausa a requeima gosta de umidadee, com a estufa do cultivo protegido,evita-se este fator. José Rebeloesclarece que o cobre é um metal eé tóxico para o ser humano, masque as quantidades mínimasutilizadas no controle da doençanão penetram no fruto, ao contráriodos fungicidas ditos modernosatualmente utilizados na produçãoconvencional. Além disso, oscuidados na aplicação com dosescorretas e a posterior limpeza dosfrutos ao consumi-los, protegem asaúde do consumidor. Outro fatorque justifica a utilização da caldabordalesa é o custo baixíssimo paraos agricultores, a maioria pequenos

empresários familiares rurais.Rebelo alerta para a utilização dosbicos dos pulverizadores, que devemser preferentemente do tipocerâmico, bem limpos e desen-tupidos, para gotas pequenas, paratornar mais eficiente a aplicação dosulfato. E, falando em aplicação, opesquisador recomenda que oagricultor deve pulverizar total-mente o tomateiro, em cima e embaixo da folha, inclusive bem pertodo chão, para proteção total daplanta. Para ajudar, recomendautilizar espalhante adesivo. Existemprodutos eficientes, tanto comer-ciais, como fórmulas caseiras. Comestas medidas, fica mais difícil paraas doenças atacarem. Outra dica deJosé Rebelo é no preparo da calda.Ele orienta que o pH tem que sermédio, entre 7 e 8. Para isso,existem fitas indicadoras que,mergulhadas na calda, mudam decor e, com a ajuda de uma escalacolorida, o agricultor ou aplicadorsabe o nível de pH. Caso estejaacima dos parâmetros referidos,aplica-se mais sulfato para acidificarou mais cal para alcalinizar asolução. No preparo da calda, osulfato tem que ser despejadolentamente em cima da cal, e não oinverso.

Vantagens do sistemasegundo os agricultores

Para discutir os resultados dosexperimentos com o tomateiroorgânico, os pesquisadores, os

Participação dos agricultores é fundamental no desenvolvimento do tomateorgânico

O tutoramente vertical no tomateiropermite melhor aeração das plantase facilita o manejo

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30 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

extensionistas e cinco famílias detomaticultores da Região do Valedo Itajaí participaram de umatarde de campo na EstaçãoExperimental de Itajaí no mês deoutubro de 2006. Neste dia, foramapresentados e discutidos osresultados das pesquisas,ressaltando aspectos técnicose econômicos da cultura,alguns já mencionados acima.

O pesquisador RenatoPegoraro destacou que omanejo dos principais insetos-pragas do tomateiro já tem umnovo aliado. Trata-se de umavespinha, o Tricogramma, queparasita ovos de lepidópteros,as temíveis brocas e a traça-do-tomateiro. Cada vespa,segundo Renato, parasita emmédia 20 ovos de brocas e traça.Outra técnica recomendada éevitar cultivar no local plantasda mesma família do tomateou que sejam hospedeiras dasmesmas pragas. Por exemplo,berinjela, pimentão, batata, etc.Estas plantas devem sermonitoradas 30 dias antes doplantio das mudas detomateiro, para verificar apresença de brocas e efetuar oseu controle. Também serecomenda utilizar barreirasvegetais que impedem a vinda

Tomate orgânico do tipo cereja, tratadosomente com calda bordalesa, apresenta ótimaprodutividade, qualidade e sanidade

Pesquisador José Rebelo explica a importância do preparo correto da caldabordalesa

de insetos-pragas indesejados. Umdos agricultores presentes, o senhorNereu Pascher, de Massaranduba,informou que utilizou com sucessoo óleo de Nim para combater asbrocas, na base de 5ml/L de solução.

Renato complementou o assunto,propondo que se planeja o plantiodos tomateiros de maneira que aprodução, ou pelo menos parte dela,aconteça na saída do inverno, ondehá menor população de insetos-pragas.

Na questão econômica, Rebeloponderou que uma estratégia paraganhar na produção é deixar otomateiro menos tempo no campoou estufa, diminuindo o número decachos. No somatório, a produçãoserá maior e terá menos riscos,pois aproveitará época de escape depragas, principalmente as brocas.Assim, com o uso do cultivoprotegido, o agricultor poderáplantar no inverno, época queoutros normalmente não produzem.Algumas cultivares de tomateorgânico têm se destacado, porexemplo os do tipo cereja e SantaCruz.

Dentre os agricultores pre-sentes, a família Eichstädt(Newton, Marilda e o filho Dioni) eo senhor Nereu Pascher, deMassaranduba, o senhor ClaudinoRotta, de Jaraguá do Sul, decla-raram que estão satisfeitos com onovo tipo de cultivo do tomateiro.Em suas propriedades também

está prevista a realização dedias de campo, para continuar aavaliação deste tipo de trabalhoparticipativo com agricultores.

Para mais informações arespeito do tomateiro orgânico,contatos podem ser feitos juntoà Epagri/Estação Experimentalde Itajaí, fones: (47) 3341-5244;3341-5255, e-mails dospesquisadores: José Rebelo –jarebelo@epagri .sc .gov.br ;Euclides – [email protected]; Renato – [email protected]; Murito –[email protected]; epelos e-mails e fones dosescritórios locais dos exten-sionistas: Hector –emmassaranduba@epagr i .sc.gov.br, (47) 3379-1140;Adriana – [email protected], (47) 3370-7871;Rogério – [email protected], (47) 3377-1295;Egídio – [email protected], (47) 3365-3661;Nilton – [email protected], (47) 3387-2640.

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Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007 31

C

Antônio Amaury Silva Júnior1 eCecília Cipriano Osaida2

onhecida também como prí-mula, prímula-da-noite, zé-cora, canárias, estrela-da-

tarde, a onagra é classificadataxonomicamente como Oenotherabiennis L., da família Onagraceae,embora tenha outros sinônimoscientíficos: Oenothera muricata L.;Onagra muricata (L.) Moench. eOnagra biennis (L.) Scop.

O óleo das sementes da onagraconstitui-se em um excelenteremédio para acabar com ostranstornos que algumas mulheresexperimentam no período queantecede a menstruação – achamada tensão pré-menstrual(TPM). Já era utilizada ancestral-mente pelos índios americanos paraaumentar a força muscular e evitarinfecções e, atualmente é consi-

derado um dos melhores recursosda fitoterapia para combater atensão pré-menstrual, responsávelpelas súbitas mudanças de humore dores no corpo, que atinge cercade 35% das mulheres do planeta. Aeficiência da planta foi confirmadaem estudos realizados com 68mulheres voluntárias portadoras desintomas de dores e síndrome deestresse pré-menstrual. No fim detrês meses de tratamento com aplanta observou-se que 61% delastiveram desaparecimento total dossintomas e em 23% dos casos houvemelhora parcial. Além disso, oscomponentes da semente atuamfavoravelmente sobre a elasti-cidade da pele, prevenindo oenvelhecimento precoce e rugas.

O segredo do óleo da prímula es-

tá nos ácidos graxos poliinsatu-rados, presentes na sua compo-sição, que não são produzidosnaturalmente pelo organismo eprecisam ser obtidos na dieta. Deleso mais importante é o chamadoácido gamalinolênico (GLA),também conhecido como ômega-3.Além de fazer parte da estruturadas membranas celulares, o GLAorigina a prostaglandina E1, umasubstância que ajuda a equilibraros hormônios femininos, dimi-nuindo os impactos da TPM. Asprostaglandinas apresentam açõesantiinflamatórias, redutoras daviscosidade do sangue e dilatadorasvasculares.

Os precursores de prostaglan-dinas, principalmente o ácidogamalinolênico, influenciam na

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255,e-mail: [email protected] rural, Harmonia Natural, Rua Geral do Moura, Vila Nova, 88230-000 Canelinha, SC, fone: (48) 3264-5160, e-mail:[email protected].

Onagra – a prímula da noiteOnagra – a prímula da noiteOnagra – a prímula da noiteOnagra – a prímula da noiteOnagra – a prímula da noite

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32 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

regulação de hormônios sexuaisfemininos, mantém a elasticidadeda pele, controlam a oleosidade einfluenciam na liberação deneurotransmissores cerebrais.

Descrição da planta

Planta herbácea, hirsuta, deciclo anual ou bienal, de cauleramoso, podendo atingir 1,5m dealtura. No início do desenvol-vimento das plantas, as folhas sãoelípticas, pecioladas e dispõem-seradialmente na forma de umaroseta. No início da diferenciaçãofloral, as folhas são sésseis,lanceoladas, mais eretas emenores. As folhas medem 7 a13cm de comprimento por 1,2 a 3cmde largura. Flores hermafroditas,axilares dispostas ao longo do caule,formadas por quatro vistosaspétalas membranáceas, de coramarelo brilhante, medindo 2 a 4cmde diâmetro. Sob luz ultravioleta,a parte central das flores adquireuma coloração mais brilhante,invisível à luz normal. Em noitebem escura é possível ver as floresa uma grande distância graças asua fosforescência alvo-brilhante.As flores abrem-se ao crepúsculo epermanecem abertas até o diaseguinte, entre 9 e 10horas. Sãopolinizadas por lepidópteros eabelhas. Fruto tipo cápsula,

Planta de onagra em pleno desenvolvimento vegetativo

tomentoso, ereto, abrindo emquatro valvas, com cerca de 2cm decomprimento, contendo 100 a 300sementes. A raiz é pivotante.

Fitoquímica

As sementes contêm óleo fixo(obtido por expressão a frio), quecontém ácidos graxos essenciais –oléico (11%), linoléico (70%), gama-linolênico (10%), palmítico (5% a10%), esteárico (1% a 4%), além doscompostos fenólicos – catequina,epicatequina e ácido gálico. A parteaérea contém fitosterol, compostosflavônicos, onoterina, oenoteína A,taninos, nitrato de potássio,

mucilagens, beta-sitosterol ecitrostadieno. As raízes contêmácido gálico.

Propriedadesterapêuticas

O óleo das sementes apresentaação reguladora da circulaçãosangüínea e do tônus muscular,ativadora dos linfócitos T, antia-lérgica, inibidora da síntese deprolactina, apoptótica de célulastumorais, antioxidante, antitu-moral, anti-ulcerativa e anti-secretora gástrica, antiinfla-matória, emoliente, demulcente,antioxidante, antitrombótica eantiagregante plaquetária.

A onagra está sendo utilizada emvárias partes do mundo notratamento de redução de colesterolLDL, esclerose múltipla, deficiên-cia renal crônica, artrite reuma-tóide, doenças cardíacas, neuralgiasdiabéticas, enxaqueca, fibrosecística, fibroadenomas, hiperplasiaprostática benigna, síndrome deintestino irritável, eritemas,neuropatias, diarréia, melanoma,cólica, eczema, síndromes pré-menstruais, disfunções dérmicas,depressão, hiperatividade, hiper-tensão arterial, trombose, hemor-ragia cerebral, infarto de miocárdio,dismenorréia, ciclos irregulares,obesidade, esterilidade por insu-ficiência ovárica, menopausa, malde Parkinson, doença de Crohn,síndrome de Sjögren, esclerose emplacas, afecções por degeneracão

Pendões florais de onagra

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Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007 33

neuronal, irritabilidade, depressãopós-natal, nervosismo, coqueluche,neurastenia, esquizofrenia, danoshepáticos pelo álcool, alcoolismo,hepatite B, colites ulcerativas,lúpus sistêmico eritematoso,impetigo, acne, rugas, pele seca,psoríase e fragilidade de unha ecabelos.

O uso oral regular das sementesou do óleo reduz os níveis decolesterol e a pressão sangüínea. Oóleo é recomendado em váriospaíses, com base científica, paratratamento de eczema, dermatiteatópica.

As folhas são utilizadas notratamento de asma, tossecomprida e distúrbios gástricos. Asfolhas contusas podem ser aplicadassobre úlceras dérmicas.

O xarope das flores é indicadopara tratar tosse comprida.

O chá feito das raízes é indicadopara o tratamento de obesidade ecólicas intestinais. O cataplasmadas raízes é útil em hemorróidas econtusões.

Formas de uso etoxicologia

• Óleo: 4 a 5g/dia (280 a 530mgde ácido gamalinolênico), duranteum mês. Após, reduzir para 1g/dia.O óleo é obtido por expressão a friodas sementes.

• Infuso: 1 colher (chá) da parteaérea em 1 xícara de água. Tomar 1xícara ao dia.

• Tintura: 10 a 40 gotas ao dia.A planta e seus derivados são

contra-indicados para epilépticos.Pode causar, raramente, dermatitede contato em pessoas sensíveis.Evitar o uso durante a gestação ouem pacientes tratados com drogasneuroativas e anestésicos.

Outros usos

As raízes são comestíveis apósserem cozidas, apresentando saboradocicado, sutilmente picante e comboa suculência. As flores sãomucilaginosas e adocicadas,podendo ser utilizadas em saladas eguarnições de pratos. As cápsulasjovens (frutos) podem ser cozidaspara serem utilizadas em picles ou

pratos quentes. O extrato das raízesserve de aditivo para melhorar aqualidade de alguns vinhos.

As sementes podem ser consu-midas como alimento, in natura outostadas. O óleo das sementes écomestível, porém o seu uso emculinária é muito dispendioso. Assementes constituem-se excelentealimento para pássaros.

As flores apresentam aromaintenso e doce, e são utilizadas emcosmética e como fonte de coranteamarelo natural.

O pó dos pendões florais é utili-zado em máscaras faciais para impe-dir a ruborização anormal da pele.

Cultivando a planta

A onagra é uma espécie nativada América do Norte, sendoposteriormente introduzida naEuropa. Não há relatos de cultivoscomerciais no Brasil. Um cultivoexperimental vem ocorrendo emCanelinha, SC, com resultadosagronômicos promissores.

A planta desenvolve-se melhorem regiões de clima temperado asubtropical, livres de geadas. Éplanta heliófita, necessitando deplena exposição solar.

A planta prefere solos arenososaté siltosos, bem drenados, ricos

Detalhe das sementes de onagra

Cultivo experimental de onagra em Canelinha, SC

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34 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Planta adulta de onagra com sintomas de deficiência de cálcio (“tipburn”)

em matéria orgânica e com pHpróximo à neutralidade. Mostra-seexigente em cálcio, cuja deficiênciaresulta em “tipburn” (queima daspontas) e podridões no caule e raízes.Tolera o cultivo em solos de médiaa baixa fertilidade, porém nãosuporta solos compactados,encharcados e ácidos, os quaisfavorecem a incidência de podridõesnas raízes. A planta é tolerante àestiagem.

A propagação é feita viasementes, as quais são semeadasem bandejas de isopor comsubstrato organo-mineral. Assementes germinam mais rápido sepré-incubadas à baixa temperatura(12oC) e depois postas a germinarem temperaturas mais altas (24 a32oC). Um grama de sementescontém cerca de 350 sementes. Oíndice de germinação é de 90%, emmédia. A germinação ocorre emseis a dez dias e as mudas ficamprontas para o transplante aos 35dias.

A área de cultivo deve sersubmetida a análise de solo paracorreção da acidez para pH 6,0. Asplantas podem ser adubadas comcama de aviário (1/2kg/planta) efosfato natural (50g/planta). Onitrogênio em excesso afetanegativamente o teor de ácido gama-linolênico.

O plantio deve ser feito naprimavera até início do verão. Asmudas podem ser plantadas noespaçamento de 1 x 0,4m, emcamalhões, para facilitar adrenagem.

A cultura deve ser mantida livrede concorrência com outras plantasinvasoras, principalmente nosprimeiros meses de cultivo.Cobertura morta entre as linhas deplantio ajudam a controlar as ervasinfestantes.

A colheita das sementes iniciaquando as cápsulas fruticosasadquirem coloração castanha etextura coriácea. Neste ponto, assementes podem ser debulhadas dascápsulas, peneiradas e arma-zenadas. O rendimento médio desementes por planta é de 50 a 60gou 1.250 a 1.500kg/ha.Muda de onagra recém-plantada a campo

Fruto capsular e sementes de onagra

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Seção Técnico-científica

∗ Produção de culturas e fertilidade do solo em função de sistemas de adubação em um LatossoloVermelho..............................................................................................................

Milton da Veiga e Carla Maria Pandolfo∗ Emprego da calda bordalesa no controle de doenças .......................................................

João Américo Wordell FilhoJoão Favorito Debarba

∗ Precisão nos ensaios de competição de cultivares de feijão e milho ...................................Cristiano Nunes Nesi

Silmar HempLuís Carlos Vieira

∗ Estimativa da área foliar do alho usando dimensões e biomassa seca do limbo foliar .............Anderson Fernando Wamser

Siegfried MuellerLuiz Antonio Palladini

∗ Obtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativo pelo manejo da poda ...........................Mário Luís Fochesato

Paulo Vitor Dutra de SouzaSofia Agostini

∗ Alternativas de manejo para o controle do declínio da videira...........................................Marco Antonio Dalbó

Edegar PeruzzoEnio Schuck

∗ Estabelecimento de índices de maturação para o ponto de colheita de frutos de caqui ‘Fuyu’ ...Juliana Golin Krammes

Luiz Carlos ArgentaMarcelo José Vieira

Marcos Antônio Bacarin

Informativo Técnico

Artigo Científico

37

* Morfogênese de vimeiro tratado com preparados homeopáticos e fitoterápicos ......................Jamille Casa

Mari Inês Carissimi BoffTássio Dresch Rech

Pedro Boff* Produtividade e resistência à podridão-negra de cultivares de repolho em cultivo orgânico, no

verão do Litoral Sul Catarinense .................................................................................Luiz Augusto Martins Peruch

Daíse WernckeAntônio Carlos Ferreira da Silva

* Desempenho de genótipos de milho-pipoca no Planalto Norte Catarinense ............................Rogério Luiz Backes

Alvadi Antonio Balbinot JuniorEduardo Sawazaki

Gilson José Marcinichen GallottiGlauco Vieira Miranda

* Ocorrência e flutuação populacional de cigarrinhas-das-pastagens em diferentes espécies degramíneas .............................................................................................................

Étel Carmen BertolloJosé Maria Milanez

Luís Antônio Chiaradia

Nota Científica

41

44

49

53

58

71

75

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

* SCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares de ameixeira com resistência à escaldadura dasfolhas ...................................................................................................................

Jean-Pierre Henri J. DucroquetMarco Antonio Dalbó

67

62

78

82

Ocatarinense

EpagriEpagri

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ISSN 0103-0779

Comitê de Publicações/Publication CommitteeAnderson Fernando Wanser, M.Sc. – EpagriCristiano Nunes Nesi, M.Sc. – EpagriEduardo Rodrigues Hickel, Dr. – EpagriGeorge Livramento, eng. agr. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriJefferson Araújo Flaresso, M.Sc. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri (Secretário)Roger Delmar Flesch, Ph.D – Epagri (Presidente)Rogério Luiz Backes, Dr. – EpagriTássio Dresch Rech, Dr. – EpagriValdir Bonin, M.Sc. – Epagri

Conselho Editorial/Editorial Board

Ademir Calegari, M.Sc. – Iapar – Londrina, PRAnísio Pedro Camilo, Ph.D. – Embrapa – Florianópolis, SCBonifácio Hideyuki Nakasu, Ph.D. – Embrapa – Pelotas, RSCésar José Fanton, Dr. – Incaper – Vitória, ESEduardo Humeres Flores, Dr. – Universidade da Califórnia – Riverside, USAFernando Mendes Pereira, Dr. – Unesp – Jaboticabal, SPFlávio Zanetti, Dr. – UFPR – Curitiba, PRHamilton Justino Vieira, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCLuís Sangoi, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCManoel Guedes Correa Gondim Júnior, Dr. – UFRPE – Recife, PEMário Ângelo Vidor, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCMichael Thung, Ph.D. – Embrapa – CNPAF - Goiânia, GOMiguel Pedro Guerra, Dr. – UFSC – Florianópolis, SCMoacir Pasqual, Dr. – UFL – Lavras, MGNicolau Melo Serra Freire, Ph.D. – UFRRJ – Rio de Janeiro, RJPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri – Florianópolis, SCPaulo Roberto Ernani, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCRicardo Silveiro Balardin, Ph.D. – UFSM – Santa Maria, RSRoberto Hauagge, Ph.D. – Iapar – Londrina, PRRoger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SCSami Jorge Michereff, Dr. – UFRPE – Recife, PESérgio Leite G. Pinheiro, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SC

Indexada à Agrobase e à CAB International

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Alvimar Bavaresco, Clori Basso, Edegar Luiz Peruzzo,Edson Luiz de Souza, Enio Schuck, Ernildo Rowe, Euclides Schallenberger, Gilson José Marcinichen Gallotti, Honório Francisco Prando, JanaínaPereira dos Santos, Leandro do Prado Wildner, Lucimara Antoniolli, Luis Carlos Vieira, Márcia Mondardo, Márcio Sonego, Milton da Veiga, MoacirAntônio Schiocchet, Paulo Antonio de Souza Gonçalves, Renato César Dittrich, Renato Luis Vieira, Vera Lucia Iuchi, Walter Ferreira Becker.

Ocatarinense

EpagriEpagri

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37Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

N

PPPPProdução de culturas e fertilidade do solo em função derodução de culturas e fertilidade do solo em função derodução de culturas e fertilidade do solo em função derodução de culturas e fertilidade do solo em função derodução de culturas e fertilidade do solo em função desistemas de adubação em um Latossolo Vsistemas de adubação em um Latossolo Vsistemas de adubação em um Latossolo Vsistemas de adubação em um Latossolo Vsistemas de adubação em um Latossolo Vermelhoermelhoermelhoermelhoermelho

Milton da Veiga1 e Carla Maria Pandolfo2

a região de Campos Novos,SC, o uso de áreas de campossubtropicais e de matas de

araucária para cultivo de cereaisteve início na década de 60 e seintensificou nas décadas de 70 e 80(Cassiano, 2001). Para o cultivodessas áreas, inicialmente foiutilizado o sistema convencional depreparo do solo com implementosde discos (arados e grades),resultando em intensa mobilizaçãodo solo. Isto, associado à queima deresíduos culturais, promoveu aaceleração do processo erosivo edegradação das característicasfísicas, químicas e biológicas do solo,exigindo reaplicações freqüentes decalcário e de nutrientes para manteros níveis de rendimento dasculturas.

A partir da década de 80 o sistemaconvencional foi sendo paula-tinamente substituído por sistemasconservacionistas de preparo, commenor revolvimento do solo esupressão da queima dos resíduosculturais, até chegar ao sistemaplantio direto (SPD) no início dadécada de 90. Com a adoção do SPD,observou-se uma redução subs-tancial do processo erosivo e,conseqüentemente, das perdas desolo e de nutrientes, o que resultouem melhoria dos atributos defertilidade do solo, com aumento doteor de matéria orgânica e de fósforoe potássio disponíveis na camadasuperficial, bem como redução danecessidade de reaplicação decalcário (Ruedell, 2005). Mesmoassim, a maioria dos agricultores

continua aplicando a mesma dosede fertilizantes ou, até mesmo,aumentando a quantidade aplicada.Como resultado, um grande númerode lavouras apresenta teores de Pe, principalmente, de K, na faixa deinterpretação “muito alto”, quandoa resposta à aplicação destesnutrientes é pequena (SociedadeBrasileira de Ciência do Solo, 2004).

Este trabalho foi realizado com oobjetivo de avaliar a produção degrãos de milho, soja, feijão e trigo ea evolução de alguns atributos dafertilidade do solo (pH, saturaçãopor Al e P e K disponíveis) com o usoprolongado de diferentes sistemasde adubação, em uma lavoura combom nível inicial de fertilidade dosolo.

Caracterização da área edos sistemas de culturase de adubação

O estudo foi realizado em umaunidade de observação (UO)

conduzida no Campo Experimentalda Copercampos, no município deCampos Novos, SC, em umLatossolo Vermelho. No início doestudo, em 1999, o solo apresentavabom nível de fertilidade na camadade zero a 20cm (pH = 5,8; P = 10mg/dm3; K = 228mg/dm3; Al = 0,0cmolc/dm3; Ca = 4,7cmolc/dm3; Mg =2,9cmolc/dm3 e matéria orgânica =4,5%).

Para a condução da UO,estabeleceu-se uma rotação deculturas de três anos, sendo quetodas as culturas foram cultivadasconcomitantemente em todos osanos em parcelas de 5 x 20m, comduas repetições separadas porcaminho para visitação, iniciando ociclo de rotação com as culturasescolhidas (Tabela 1). As culturasde inverno e de verão foramimplantadas por semeadura direta,e as determinações de produção degrãos das culturas comerciais foramefetuadas durante dois ciclos destarotação de culturas (6 anos).

Aceito para publicação em 17/7/06.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, fone/fax: (49) 3541-0748,e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, e-mail: [email protected].

Tabela 1. Seqüência de culturas utilizada nas parcelas principais, em cadaciclo de três anos de rotação de culturas (Campos Novos, SC, 2005)

ParcelasAnos

1a e 1b 2a e 2b 3a e 3b

1 e 4 Triticale(1)/feijão Aveia preta/soja Ervilhaca/miho

2 e 5 Ervilhaca/miho Triticale(1)/feijão Aveia preta/soja

3 e 6 Aveia preta/soja Ervilhaca/miho Triticale(1)/feijão

(1)Substituído por trigo no segundo ciclo.

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38 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Os tratamentos de adubação,aplicados em subparcelas de 5 x 5m,foram os seguintes: T = semadubação; 150F = 150kg/ha do adubofórmula X-25-25, em que X é aporcentagem de N de acordo com acultura; 300F = 300kg/ha de adubofórmula X-25-25, semelhante aosistema de adubação tradicio-nalmente utilizado pelos agricul-tores da região; REC = adubação deacordo com a recomendação paracada cultura, a partir da análise dosolo (Sociedade Brasileira de Ciênciado Solo, 1994), elaborada comsuperfosfato simples, cloreto depotássio e nitrato de amônio. Comoos teores de P e de K se situavam,respectivamente, nas faixas deinterpretação suficiente e alto pelaclassificação da época, foi utilizadaa dose de reposição destes nutrien-tes definida para cada cultura. Nostratamentos com adubação no pri-meiro ciclo e em todos os tratamen-tos no segundo ciclo, foram aplicadasem cobertura as doses de 90, 45 e45kg/ha de N na forma de nitrato deamônio, respectivamente, para omilho, feijão e trigo. Todos osnutrientes foram aplicados a lanço,sem incorporação.

Para avaliar as modificações nosatributos de fertilidade do solo, fo-ram coletadas amostras de solo aofinal do segundo ciclo de rotação deculturas (sexto ano), nas camadasde zero a 10, 10 a 20, 20 a 40 e 40 a60cm. Estas amostras foramanalisadas pelo Laboratório deAnálise de Solos (Epagri/Cepaf,Chapecó, SC).

Neste trabalho serão apre-sentados resultados de rendimentode grãos das culturas comerciais ede alguns atributos de fertilidadedo solo. Para facilitar a comparaçãoentre culturas, os rendimentosforam relativizados em relação àtestemunha para cada cultura eano, sendo apresentada a média deseis anos de determinação, excetopara o milho, que teve uma safraperdida, e para o trigo que foicultivado apenas no segundo ciclo(3 anos).

Resultados

Pode-se inferir que houveincremento no rendimento relativode grãos nos tratamentos comadubação em relação à testemunha,

mas não houve diferença entre ostratamentos de adubação utilizados(Tabela 2). O maior incremento daprodução relativa ocorreu na culturado trigo, seguida pela do feijão. Paraa cultura do milho, grande parte daresposta à adubação esteverelacionada à aplicação denitrogênio, cujo efeito foi positivoapenas nos anos sem deficiênciahídrica. O aumento no rendimentonão foi muito acentuado em funçãodos teores de P e de K no solo sesituarem em nível alto e muitoalto, respectivamente, situação emque a possibilidade de resposta àaplicação dos mesmos é menor(Sociedade Brasileira de Ciência doSolo, 2004).

O balanço de P foi praticamentenulo na adubação de acordo com arecomendação e com aplicação de150kg/ha do adubo formulado(Tabela 3). Por outro lado, aadubação com 300kg/ha do adubofórmula correspondeu ao dobro daquantidade exportada. Para o K ocomportamento foi similar, exce-to para a aplicação na doserecomendada, que apresentou umsuperávit de aproximadamente 50%em relação ao exportado, de-monstrando que a recomendaçãoda dose para reposição destenutriente não era adequada para osníveis de rendimento obtidos.Assim, se os teores de P e de K nosolo se situarem na faixa de

Tabela 3. Quantidades de fósforo (P2O5) e de potássio (K2O) aplicadasatravés de fertilizantes, exportadas pelos grãos e respectivo saldo, emquatro tratamentos de adubação em um Latossolo Vermelho (CamposNovos, SC, 2005)

Fósforo Potássio

Adubação Apli- Expor- Saldo Apli- Expor- Saldocado tado(1) cado tado(1)

...................................kg/ha..........................................

T 0 248 -248 0 257 -257

REC 285 282 3 415 289 126

150F 286 278 8 293 287 6

300F 525 275 250 525 283 242

(1)Estimado a partir da produção e dos teores médios encontrados nosgrãos (Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004).Nota: T = sem adubação; REC = adubação recomendada para a cultura;150F = 150kg/ha do adubo formulado; 300F = 300kg/ha do aduboformulado.

Tabela 2. Rendimento relativo médio de grãos das culturas comerciaisem quatro tratamentos de adubação em um Latossolo Vermelho (CamposNovos, SC, 2005)

AdubaçãoCultura Ano

T REC 150F 300F

Milho 5 100 109 104 108

Feijão 6 100 122 127 116

Soja 6 100 113 110 112

Trigo 3 100 179 172 155

Todas - 100 124 123 117

Nota: T = sem adubação; REC = adubação recomendada para a cultura;150F = 150kg/ha do adubo formulado; 300F = 300kg/ha do aduboformulado.

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39Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

disponibilidade alta ou muito alta, aaplicação destes nutrientes na doserecomendada a partir da análise dosolo, ou através de 150kg/ha doadubo fórmula, seria suficiente paramanter os níveis de fertilidade dosolo. A adubação tradicional utili-zada pelos agricultores (300F) resul-ta em desperdício de nutrientes erecursos financeiros, diminuindo arentabilidade do produtor. Obser-vou-se, também, que a proporçãodos nutrientes P e K exportada épróxima de 1:1, indicando que, paraa rotação de culturas utilizada e osrendimentos obtidos, a proporçãoencontrada na fórmula tradicional-mente utilizada pelos agricultoresda região é adequada quando ambosos nutrientes apresentarem faixade interpretação de disponibilidadesemelhante no solo.

No final do estudo foi observadoum acentuado gradiente, emprofundidade, de todos os atributosde fertilidade determinados (Figura1). Os resultados de pH em água esaturação da capacidade de troca decátions (CTC) por alumínio indicama ocorrência de acidificação maispronunciada nos tratamentos comutilização de adubo fórmula. Esteaspecto, em parte, pode ser explicadopela reação dos fertilizantes no solo(Ciotta et al., 2002), uma vez que asfontes utilizadas para elaboraçãodo adubo-fórmula e no tratamentoREC são diferentes. Ao final de seisanos o pH em água no tratamento300F foi inferior a 5,0 desde a camadasuperficial, enquanto que nosdemais isto foi constatado a partirda segunda camada (10 a 20cm).Considerando as recomendações daCQFS-NRS/SBCS (SociedadeBrasileira de Ciência do Solo, 2004),com profundidade de amostragemde zero a 10cm, haveria necessidadede aplicação de calcário em todos ostratamentos, já que o pH em águase situou abaixo de 5,5, compresença de alumínio trocável.

A saturação por alumínio nocomplexo de troca se situou abaixode 10% na camada de zero a 10cm,considerada adequada para odesenvolvimento das raízes dasculturas. No entanto, a partir dacamada de 10 a 20cm a saturaçãopor Al se situou acima de 20%,considerada alta e restritiva mesmose tratando do sistema plantiodireto, no qual a dinâmica da

Figura 1. Distribuição dos valores de alguns atributos de fertilidade noperfil do solo, ao final de seis 6 de aplicação de quatro tratamentos deadubação, em um Latossolo Vermelho (Campos Novos, SC, 2005)

0

2 0

4 0

6 0

4 ,4 4 ,6 4 ,8 5,0 5,2 5,4

pH em água

TREC150F300F

0

2 0

4 0

6 0

0 20 4 0 6 0

Saturação da CTC por Al (%)

0

2 0

4 0

6 0

0 5 10 15

P disponível (mg/dm3)

0

2 0

4 0

6 0

0 10 0 2 0 0 3 0 0

K disponível (mg/dm 3)

Pro

fund

idad

e (c

m)

matéria orgânica determina umaatividade menor deste elemento nasolução do solo (Salet, 1998).

Os teores de fósforo disponívelna camada de zero a 10cmestiveram relacionados com asquantidades aplicadas através dosfertilizantes, sendo maior comaplicação de 300kg/ha de adubofórmula, menor na testemunha eintermediário nos demais trata-mentos. Tomando-se o teor médioda gleba por ocasião do início doestudo (10mg/dm3 na camada dezero a 20cm), houve um ligeiroincremento no tratamento 300F,uma ligeira redução nostratamentos 150F e REC e umaredução acentuada na testemunha,o que está relacionado com o balançodeste nutriente. Como os fer-tilizantes foram aplicados super-ficialmente e a migração do fósforono perfil é muito baixa neste tipo desolo, as diferenças entre tra-tamentos foram muito pequenasabaixo da camada de zero a 10cm.

Com relação ao potássio dis-ponível, o gradiente de concentraçãoem profundidade foi ainda maior,indicando que a aplicação super-ficial dos fertilizantes no SPDpotencializa o efeito do não-revolvimento do solo, acentuando oacúmulo de nutrientes na camadasuperficial. Assim, mesmo não

havendo resposta à aplicação dosnutrientes incorporados na linhade semeadura em relação àaplicação a lanço quando os teoresno solo são médios ou altos(Pavinato & Ceretta, 2004), aaplicação na linha de semeaduradeveria ser a forma recomendadapara o SPD, tendo em vista aredução deste gradiente. Aconcentração de K na camadasuperficial foi similar entre ostratamentos com aplicação deste,mantendo-se em níveis similaresao nível do início do estudo.Observou-se uma redução subs-tancial em relação ao teor inicial nacamada de zero a 10cm, que eraoriginalmente de 276mg/cm3.

Considerações finais

Mesmo com teor alto de P e mui-to alto de K no solo, há incrementodo rendimento de grãos com a aplica-ção destes nutrientes, mas não hádiferença entre as doses aplicadas.

A aplicação de doses definidaspela recomendação a partir daanálise do solo, ou mesmo aaplicação de 150kg/ha da fórmulatradicionalmente utilizada pelosagricultores na região (X-25-25),repõe as quantidades de P e Kexportados através da colheita degrãos no sistema de rotação de

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culturas utilizado neste estudo,indicando que os agricultores estãoaplicando nutrientes em excesso(300kg/ha).

Há redução substancial nos teo-res de P e K no solo pelo cultivoprolongado sem aplicação destesnutrientes, mas a acidez do soloaumenta mais acentuadamente nostratamentos com adubação.

Agradecimentos

Os autores agradecem àCopercampos pela cessão da áreapara realização do estudo.

Literatura citada

1. CASSIANO, T.M.M. Análise da

sustentabilidade da agricultura emCampos Novos. 2001. 51 f. Monografia(Especialização em DesenvolvimentoSustentável), Universidade do Oestede Santa Catarina, SC.

2. CIOTTA, M.N.; BAYER, C.; ERNANI,P.R. et al. Acidificação de um Latossolosob plantio direto. Revista Brasileira deCiência do Solo, Viçosa, v.26, p.1.047-1.054, 2002.

3. PAVINATO, P.S.; CERETTA, C.A.Fósforo e potássio na sucessão trigo/milho: épocas e formas de aplicação.Ciência Rural, Santa Maria, v.34,p.1.779-1.784, 2004.

4. RUEDELL, J. Plantio direto na regiãode Cruz Alta. Cruz Alta, RS: Fundacep/Fecotrigo, 1995. 134p.

5. SALET, R.L. Toxidez de alumínio no

sistema plantio direto. 1998. 109f. Tese(Doutorado em Ciência do Solo) –Faculdade de Agronomia. UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, PortoAlegre, RS.

6. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osEstados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo RS:SBCS/Núcleo Regional Sul; Comissãode Fertilidade do Solo – RS/SC, 1994.224p.

7. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estados doRio Grande do Sul e de Santa Catarina.10.ed. Porto Alegre, RS: SBCS/NRS;Comissão de Química e Fertilidade doSolo – RS/SC, 2004, 400p.

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Emprego da calda bordalesa no controle de doençasEmprego da calda bordalesa no controle de doençasEmprego da calda bordalesa no controle de doençasEmprego da calda bordalesa no controle de doençasEmprego da calda bordalesa no controle de doençasJoão Américo Wordell Filho1 e João Favorito Debarba2

o século 17, viticultores daregião francesa da Girondausavam uma solução de

sulfato de cobre que era aplicadanas videiras plantadas à beira dasestradas, com o intuito de de-sencorajar o furto de suas uvas.Quando o míldio, doença causadapelo parasita Plasmopara viticola(Berk. & Curtis) Berl & de Toni,apareceu no local por volta de 1882,notou-se que as videiras nas quaisera aplicada a solução conservavamsuas folhas, enquanto que asdemais tinham sua folhagemtotalmente destruída pela doença.A confirmação da ação do cobrecontra o míldio foi feita pouco depoispor vários pesquisadores. Noentanto, foram Millardet e Gayonque realizaram os estudos con-clusivos da forma pela qual asolução de cobre, neutralizada pelacal, age sobre o parasita causadorda doença. Assim surgiu a famosae eficiente calda bordalesa[ C u S O 4 . 3 C u ( O H ) 2 . 3 . C a S 0 4](Cotrisoja, 2006).

Uso da calda bordalesa

A indicação da concentração dacalda bordalesa (Tabela 1) dependedas condições climáticas locais, daespécie, da fase da cultura e daforma de condução. Para evitarriscos de fitotoxicidade e queima defolhas e frutos, o agricultor devefazer um teste em poucas plantas,podendo aplicar em toda a áreadepois de observado o seu efeito. NoAlto Vale do Itajaí, a Epagri/

Estação Experimental de Itupo-ranga – EEIT – vem testando váriasconcentrações para a calda bor-dalesa para controle, principal-mente, do míldio da videira(Plasmopara viticola) e daantracnose (Elsinoe ampelina (deBary) Shear). Os resultadospreliminares têm demonstrado queconcentrações menores que 0,5%têm proporcionado bons níveis decontrole para o míldio (86%) e paraantracnose (87,5%), mesmo emanos favoráveis aos patógenos(Tabela 2). A severidade do míldioe da antracnose entre as teste-munhas (sem controle) para osdiferentes locais variaram entre10% e 20% e 7% e 15 %, respec-tivamente.

A calda bordalesa tem eficiênciacomprovada sobre numerosasdoenças fúngicas da videira,caquizeiro, citros e outras plantas.Possui também ação contrabactérias e determinados insetos.A sua aplicação deve ser feitapreventivamente, formando umafiníssima camada que recubra ovegetal para dar boa proteção contraa infecção de inúmeras doenças(Figura 1).

Muitas são as vantagens doemprego da calda bordalesa, taiscomo a redução dos custos no usode fungicidas sintéticos e baixoimpacto ambiental sobre o homeme os animais domésticos. Nasplantas, além da ação fungicida,fornece nutrientes importantes,

Aceito para publicação em 25/9/06.1Eng. agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409, e-mail:[email protected].

Tabela 1. Proporção da calda bordalesa por 100L

Sulfato Cal Sulfato CalProporção de cobre virgem Proporção de cobre virgem

(CuSO4) (CaO) (CuSO4) (CaO)

% ................g............. % ...............g..............

10:10 1.000 1.000 4:2 400 200

8:15 800 1.500 3:15 300 1.500

8:8 800 800 3:12 300 1.200

8:4 800 400 3:9 300 900

6:6 600 600 3:6 300 600

6:3 600 300 3:3 300 300

4:8 400 800 3:2 300 200

4:6 400 600 2:10 200 1.000

4:4 400 400 2:1 200 100

N

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como o cálcio, cobre e enxofre, epode ser acrescida de micro-nutrientes na forma de sulfatos(Guerra, 1985 e Rovesti, 1997). Éuma forma eficiente e econômicade preparar um produto fitos-sanitário na propriedade ruralrespeitando as exigências ecoló-gicas. As desvantagens do uso são apresença do metal pesado cobre(Cu), que se acumula no solo, comoocorre nos parreirais do Estado doRio Grande do Sul, causandodesequilíbrios na microbiologia eoutros seres. Além disso, o cobrefavorece o crescimento do Fusariumspp., um patógeno de solo. Quandoa calda é neutra ou ligeiramentealcalina, é normalmente baixa suafitotoxicidade para a maioria dasculturas, com exceção das rosáceas,algumas solanáceas, cucurbitácease crucíferas na fase inicial dedesenvolvimento e na floração efrutificação. A sua fitotoxicidade éacentuada quando a temperatura é

mamíferos, porém é tóxico parapeixes. É pouco tóxico para osartrópodes em geral, em particularpara as abelhas. A toxicidade variade acordo com a formulação.Normalmente é baixa, por exemplo,DL.50 oral para ratos: oxicloreto1.400mg/kg vivo, sulfato de cobre1.000mg/kg e hidróxido de cobre924mg/kg. O cobre não é degradadoe o uso prolongado de produtos àbase de cobre provoca seu acúmulonos sedimentos aquáticos e nacamada superficial do solo, que poderepercutir negativamente sobre osorganismos do solo (Rovesti, 1997)e também sobre as plantas.

Compatibilidade

De modo geral a calda bordalesaé incompatível com a maioria dosdefensivos, óleo mineral e produtosà base de enxofre. É compatívelcom micronutrientes, tais comosulfato de zinco, sulfato demagnésio, uréia, etc.

Preparo da caldabordalesa

• Material necessário: sulfatode cobre, cal virgem (o uso de calhidratada é mais prático eproporciona a mesma eficiência),água e vasilhames com capacidadede 50 e 150L.

• Modo de preparar (Figura 2):– Colocar, na véspera, para

dissolver a quantidade determinadado sulfato de cobre dentro de umsaquinho de pano, que será mantidoimerso, em suspensão na parte

Figura 1. Folha de videira após aaplicação de calda bordalesa a 0,5%

Tabela 2. Eficiência da calda bordalesa a 0,3% aplicada semanalmente emuva na cultivar Niagara, em três diferentes locais, visando o controle domíldio (Plasmopara viticola) e da antracnose (Elsinoe ampelina).Ituporanga, SC, 2006

Epagri/EEIT Proprie- Proprie-dade 1 dade 2

Doença(1) MédiaAno Ano Ano

2005 2006 2005 2006 2005 2006

.........................................%.............................................

Míldio — 80 95 80 95 80 86

Antracnose 95 80 95 80 95 80 87,5

(1)Eficiência avaliada 15 dias antes da colheita.

baixa (abaixo de 10oC) nas suas fasescríticas: desenvolvimento inicial,floração e frutificação. As drupáceas,particularmente o pessegueiro e aameixeira, são sensíveis ao cobre.Recomenda-se usar somente noinverno e primavera, antes doinchamento das gemas, e no outonopor ocasião da queda das folhas.Algumas cultivares de pereira emacieira também mostramsensibilidade aos produtos à basede cobre, e, nesse caso, recomenda-se cautela, pulverizando-se algumasplantas para teste antes de tratar opomar (Rovesti, 1997).

Toxicidade e seleticidade

Os produtos à base de cobrepodem ser tóxicos pelo seu efeitocáustico. O cobre é pouco tóxicopara a maioria dos pássaros e

Fonte: Reproduzido de Abeta (1974).

Figura 2. Preparo da calda bordalesa

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superior do recipiente contendo 50Lde água.

– A cal pode ser hidratada no diaem que for utilizada.

Nota: Para o uso em áreasmaiores, pode-se queimar toda acal necessária para atender toda asafra, já no início do ciclo vegetativo.Pode-se utilizar a cal hidratada, quepossui o mesmo efeito químico dacal virgem. Quando necessário,dissolver as pedras de sulfato decobre para uso imediato – pode-seaquecer a água ou moer as pedras.

– A cal virgem não “queima”bem em muita água. Colocar a calvirgem à parte em um recipientemenor, borrifar água aos poucos emexer com pá de madeira, atéformar uma pasta mole. Tomarcuidado com a temperatura damistura, que se eleva bastante.Após, acrescentar mais água, agitar,passar para o recipiente maior ecompletar com água até o volumede 50L. O resíduo que ficar no fundodo recipiente deve ser desprezado.

– Verter, ao mesmo tempo, oleite de cal e a solução de sulfato decobre para o recipiente maior,agitando fortemente com vara oupá de madeira.

– Filtrar a calda usando umapeneira de náilon de 180 mesh paraevitar o entupimento de bicos e odesgaste do equipamento.

– Colocar a calda no tanque dopulverizador.

– A aplicação de calda bordalesadeve ser feita com bicos-cones, comjatos que formem uma névoa,cobrindo uniformemente folhas,frutos e ramos (Figura 1).

– Em cultivos protegidos aaplicação da calda bordalesa deveser feita nas primeiras horas do diaou no final do dia, evitando-se aaplicação com temperaturas altas.

– Carência: varia de acordo coma cultura e as condições de aplicação(Rovesti, 1997).

• Modo de usar: o intervalo deaplicações varia de sete a 15 dias ouaté mais, dependendo das condiçõesclimáticas e ocorrência de doençase do desenvolvimento e crescimentoda planta.

• Cuidados:– Recomenda-se usar cal virgem

de boa qualidade, com mínimo deimpurezas e bem calcinada. Adquirirsomente o volume necessário paraa safra. A cal velha com aspecto

farinhento apresenta muitocarbonato de cálcio e terá poucareação (Associação…,1974 ePenteado, 1996).

– O vasilhame usado deve ser demadeira, cimento ou PVC. Materiaiscomo tambores de ferro, latão oualumínio reagem com sulfato decobre e formam amálgama com ocobre.

– Na ocasião da mistura dosulfato de cobre e cal, as duassoluções devem estar com a mesmatemperatura. Quanto mais baixamelhor. Portanto, deve-se esperaresfriar a solução de cal, até ficarcom a mesma temperatura dasolução de sulfato de cobre, parajuntar as soluções.

– Não diluir a calda com águaapós o seu preparo.

– De modo geral, a cal é um bomaderente. Entretanto, certasculturas podem necessitar de umespalhante-adesivo. Neste casodeve-se fazê-lo após preparada acalda. Como adesivo caseiro pode-se usar 2L de leite desnatado ou 4Lde soro de queijo sem sal e 100L decalda.

– A qualidade da calda preparadaé representada pela suasuspensibilidade. Para avaliação,toma-se um pouco da calda em umcopo e mede-se a velocidade desedimentação. Quanto mais lentaessa velocidade, melhor será aqualidade da calda preparada(Associação…, 1974).

– É aconselhável pulverizar logoapós o preparo. Nunca prepararcalda em quantidade que não seconsegue usar no dia.

– A pulverização com a caldabordalesa deve ser feita com o tempobom e seco. Pulverizações feitassobre folhas molhadas podemcausar toxidez às plantas. Evitaraplicar com temperaturas altas(acima de 30oC) ou abaixo de 10oC.

– No caso de empregar a caldasulfocálcica após a aplicação da caldabordalesa, deixar um intervalomínimo de 30 dias. Em caso oposto,isto é, aplicação de calda bordalesaapós a aplicação da caldasulfocálcica, observar intervalo de15 dias.

– A calda bordalesa pode sermisturada com os biofertilizantes(fertilizante orgânico constituído demicrorganismos vivos, macro emicronutrientes minerais e

orgânicos essenciais ao desenvol-vimento dos vegetais).

– Os pulverizadores paraaplicação da calda bordalesa devemter agitadores internos e os bicosdevem ser preferencialmente decerâmica, pois são mais duráveis.

– Agitar a calda do recipientecada vez que for reabastecer opulverizador.

– A calda bordalesa deve serneutra ou levemente alcalina.Quando a cal virgem é de máqualidade, a calda permaneceráácida, sendo preciso, então,acrescentar mais leite de cal paraneutralizar a acidez.

– O agricultor poderá verificarse a calda esta ácida pingando duasou três gotas sobre uma lâmina defaca bem limpa. A faca não pode serde aço inox. Após 3 minutos, sacudira lâmina; se ficarem manchasavermelhadas nos pontos ondeestavam as gotas da calda, estáácida.

– Como regra geral, não utilizarcalda bordalesa em períodos defloração.

– Verificar o desgaste dos “bicos’’do pulverizador fazendo a trocanecessária. A calda corroe o orifíciodos bicos, alterando a vazão e otamanho das gotas, por conse-guinte, a dose aplicada e a coberturadas plantas.

Literatura citada

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DEESTUDOS TÉCNICOS DE AGRI-CULTURA. Manual de fungicidas. SãoPaulo, 1974. 108P.

2. COTRISOJA. Videira. Disponível em:<http://www.cotrisoja.com.br/artigos/2004-11/art-2004-11-003.html.> Acessoem: 15 mai. 2006.

3. GUERRA, M. de S. Receituário caseiro:alternativas para o controle de pragase doenças de plantas cultivadas e deseus produtos. Brasília, DF: Embrater,1985. 166p.

4. PENTEADO, S.R. Calda Bordalesa:Como e porque usar. Campinas, SP:Cati, 1996. Fôlder.

5. ROVESTI, L. Prodotti Fitosanitari. In:BONANZINGA, M.; NASOLINI, T.(Eds.). Annuario dei mezzi tecnici perI´agricoltura biologica. Firenze:Agenzia Regionale per lo Sviluppo eI´Innovazione nel Settore Agricolo-Forestale via Pietrapiana, 1997.p.13-18.

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PPPPPrecisão nos ensaios de competição derecisão nos ensaios de competição derecisão nos ensaios de competição derecisão nos ensaios de competição derecisão nos ensaios de competição decultivares de feijão e milhocultivares de feijão e milhocultivares de feijão e milhocultivares de feijão e milhocultivares de feijão e milho

Cristiano Nunes Nesi1, Silmar Hemp2 eLuís Carlos Vieira3

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar a precisão experimental e a magnitude da diferença mínimasignificativa (DMS) pelo método de Tukey, como porcentagem da média, para os ensaios estaduais de competiçãode cultivares de feijão e de milho em Santa Catarina. Foram catalogados 138 ensaios com feijão e 325 ensaios commilho. Todos os ensaios foram conduzidos em blocos completos casualizados, com quatro repetições e 20 a 26cultivares para feijão e com duas a quatro repetições e cinco a 49 cultivares para milho. Os coeficientes de variaçãoforam abaixo de 20% (considerado aceitável pela legislação) em 84,1% e 95,4% dos experimentos com feijão e milho,respectivamente. Entretanto, as DMSs apresentaram grandes magnitudes na maioria dos ensaios, fato preocupantepois a maioria das cultivares de feijão e milho já atingiu alta produtividade com diferenças cada vez menores.Diante disso, há necessidade de práticas que reduzam a diferença mínima significativa entre as médias derendimento das cultivares.Termos para indexação: coeficiente de variação, precisão experimental, diferença mínima significativa.

Experimental precision in competition trials of common beans and maize

Abstract – The objective of this study was to evaluate the experimental precision and the magnitude of leastsignificant difference (LSD) from Tukey’s test as percentage of the experiment mean for the competition trialsof common beans and maize in Santa Catarina, Brazil. One hundred and thirty-eight trials with beans and 325trials with maize hybrids were catalogued. All trials were conducted in completely randomized blocks, with 4replications and 20 to 26 cultivars for common beans, and 2 to 4 replications and 5 to 49 maize cultivars. Thecoefficient of variation was lower than 20% (aceptable limit by the legislation) in 84,1% and 95,4% of theexperiments with common beans and maize, respectively. However, the LSDs presented great magnitudes in themajority of the trials, a worrisome fact because the majority of common beans and maize cultivars already reachedhigh level of productivity with low differences among them. Because of this, some practices are necessary toreduce the least significant difference among the average of cultivars.Index terms: coefficient of variation, experimental precision, least significant difference.

Introdução

O feijão e o milho são culturasanuais de reconhecida importânciaeconômica e social para o Brasil epara o Estado de Santa Catarina,pois são fonte de renda para elevadonúmero de agricultores. No anoagrícola de 2003/04 foram cultiva-

Aceito para publicação em 6/7/06.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, e-mail: [email protected].

dos, em Santa Catarina, em tornode 137.000ha de feijão e 816.000hade milho, o que corresponde a 54%da área plantada em relação aosprincipais produtos agrícolas doEstado (Síntese..., 2005). Diantedisso, a pesquisa assume o desafiode identificar genótipos que sejamprodutivos e apresentem as

características desejadas que oshabilitem para cultivo pelosagricultores.

Os ensaios estaduais decultivares de feijão e milho servemcomo referência para que osagricultores estejam informadossobre as cultivares com maiorpotencial de produtividade. Nessas

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avaliações, os pesquisadores es-peram que a variação manifestadaseja apenas de origem genética.Entretanto, na variação observadaentre as médias de rendimento dascultivares, além do componentegenético, sempre estará incluída avariação ambiental denominadaerro experimental (Ramalho et al.,2005). O erro experimental éatribuível às característicasestranhas e não controladasexistentes entre as unidadesexperimentais que receberam omesmo tratamento, tornando-asheterogêneas. Assim, a precisão doexperimento é tanto mais elevadaquanto menor for o erroexperimental, com estimativasmais precisas da média ou de outrosparâmetros (Steel & Torrie, 1960;Banzatto & Kronka, 1995; Lúcio etal., 1999; Ramalho et al., 2005;Machado et al., 2005).

O coeficiente de variaçãoexperimental em porcentagem,calculado pela razão entre a raizquadrada do quadrado médio doresíduo e a média do ensaio, é umestimador da variabilidade casual epode ser usado como critério paracomparar a precisão de expe-rimentos conduzidos em condiçõessemelhantes, ou seja, mesmasvariáveis, tratamentos, delinea-mentos, número de repetições,manejo e nível tecnológico (Storcket al., 2000a; Pimentel-Gomes &Garcia, 2002). Além disso, deacordo com as normas estabelecidaspela Lei de Proteção de Cultivares(Lei no 9.456/97) em ensaios dedeterminação do valor de cultivo euso (VCU) para feijão e milho, ocoeficiente de variação experi-mental do ensaio deve ser, nomáximo, 20% (Brasil, 2001).

A baixa precisão em ensaios decompetição de cultivares implica naineficiente discriminação entre asmédias de rendimento das culti-vares, o que pode levar a recomen-dações incorretas (Lopes et al.,1994; Lopes & Storck, 1995), pois,mesmo havendo variação entre ascultivares, ela não será detectadapela análise, na probabilidade deerro adotada, se a variância do errofor grande. Caso o erro experi-

mental seja grande, as hipóteses denulidade poderão ser rejeitadasapenas se as diferenças entre ascultivares forem, proporcio-nalmente, maiores. Além disso, arazão entre o quadrado médio doresíduo e o número de repetições,empregada nos testes decomparações múltiplas entremédias, deve ser pequena para quea diferença entre duas médias sejasignificativa na probabilidade deerro adotada. Deseja-se, portanto,que Δ 4 seja pequeno o suficientepara discriminar melhor asdiferenças entre as médias derendimento das cultivares ava-liadas.

O erro experimental é inevi-tável, mas, se forem conhecidassuas origens, poder-se-á controlá-lo e mantê-lo em níveis aceitáveis(Lúcio & Stork, 1998). Diversosautores como Cochran & Cox(1978), Banzatto & Kronka (1995),Pimentel-Gomes (2000) sugeremque, para minimizar o efeito do erroexperimental e discriminar melhoras diferenças entre os tratamentosavaliados, deve-se ter rigor natécnica experimental utilizada e ocontrole de qualidade dos ensaiosdeve ser realizado do planejamentoà análise dos dados.

Em diversos trabalhos osautores têm mostrado preocupaçãocom a precisão dos ensaios. Scapimet al. (1995) propuseram umaclassificação dos coeficientes devariação para diversas carac-terísticas da cultura do milho. Lúcio& Storck (1998) obtiveram umarelação entre a diferença mínimasignificativa obtida pelo teste deTukey e o coeficiente de variaçãonos ensaios de competição decultivares das principais culturasagrícolas do Rio Grande do Sul,destacando que a diferença mínimasignificativa é uma estatísticaadequada para a determinação daqualidade dos ensaios decompetições de cultivares. Nessamesma linha, Lúcio et al. (1999) eLúcio & Storck (1999), estudandoa precisão de experimentos decompetição de cultivares emdiversas culturas, destacaram quea diversidade de manejos prejudica

o controle de qualidade dos ensaios,devendo-se realizá-lo por cultura emanejo empregado. Em deter-minados experimentos, para obterredução do erro experimental davariável produtividade de grãos demilho, deve-se ter homogeneidadeno número de plantas entre asrepetições, independentemente dociclo e da estatura das plantas(Cargnelutti Filho et al., 2004;Cargnelutti Filho et al., 2006). Emensaios com feijão, Ribeiro et al.(2004) destacaram que a precisãoexperimental é alterada commudanças na densidade de plantasdentro e entre anos agrícolas,evidenciando maior precisão emensaios utilizando a densidaderecomendada para cada cultivar.

O objetivo desse trabalho foiavaliar a precisão experimental ea magnitude da diferença mínimasignificativa obtida pelo teste deTukey para comparação de médiasdos ensaios estaduais de competiçãode cultivares de feijão e de milhoem Santa Catarina.

Material e métodos

Os dados utilizados foramobtidos dos relatórios referentesaos ensaios de competições decultivares realizados no Estado deSanta Catarina e conduzidos pelaEpagri no período de 1991 a 2005para feijão e de 1989 a 2005 paramilho.

Foram catalogados 138 ensaioscom feijão, sendo 76 conduzidos nasafra e 60 na safrinha. Para milho,foram catalogados 325 ensaios,compostos por cultivares de ciclosuperprecoce (78), precoce (164) etardio (83). Os ensaios de ambas asculturas eram distribuídos pordiversas regiões do Estado sempreno delineamento experimental emblocos completos casualizados, comquatro repetições para feijão e duasa quatro repetições para milho.

Para cada ensaio foram ano-tados o número de cultivares ava-liadas (n), o número de repetições(J), o número de graus de liberdadedo resíduo (GLres), a média geraldo rendimento de grãos (X) emkg/ha e o quadrado médio do

4 : diferença mínima significativa entre duas médias, em que c é um valor tabelado de acordo com o teste utilizado, QMResé o quadrado médio do resíduo do experimento e J é o número de repetições.

QMRes/Jc.Ä �

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resíduo (QMres). Foram estimadas,para cada experimento, as esta-tísticas coeficiente de variaçãoexperimental (CV) e diferençamínima significativa entre cul-tivares pelo método de Tukey(DMS), expresso em porcentagemda média, como a seguir:

e

em que é a amplitudetotal estudentizada proposta porTukey para o uso no procedimentopara comparações múltiplas demédias, considerando a proba-bilidade de erro para ncultivares e GLres graus deliberdade do resíduo.

Resultados e discussão

O número de cultivaresavaliadas em cada experimentovariou entre 20 e 26 para feijão,com 58% dos ensaios utilizando 22cultivares, e de cinco a 49 paramilho, com 20, 28 e 32 cultivaresem 22%, 11,7% e 11,4%, respec-tivamente. Para ambas as culturas,há diferenças no número de grausde liberdade do resíduo devido àsdiferenças no número de cultivarese repetições e à perda de parcelasem algumas ocasiões (Tabela 1).

Considerando que nos ensaiospara determinação do VCU ocoeficiente de variação máximoadmitido é de 20% (Brasil, 2001), osensaios apresentaram boa precisão,pois apenas 15,9% e 4,6% dosensaios de feijão e de milho,respectivamente, seriam excluídospor este critério (Tabela 2). Emboranão tenham assumido valores deCV preocupantes, a baixa precisãonesses ensaios pode ser atribuídaa diversos fatores como seca, chuvaem excesso, manchas de solo eocorrência de pragas e doenças.

Pela classificação geral paracoeficientes de variação propostapor Pimentel-Gomes & Garcia(2002), nos experimentos comfeijão, 13% deles seriamclassificados como baixos(CV 10%), 71% como médios

Tabela 1. Número mínimo e máximo de cultivares e de graus de liberdadedo resíduo, para as culturas do feijão e do milho, nos ensaios decompetição de cultivares realizados em Santa Catarina no período de1991 a 2005 para feijão e de 1989 a 2005 para milho

Feijão Milho

Mínimo Máximo Mínimo Máximo

No de cultivares 20 26 5 49

GL do resíduo 21 75 12 144

Tabela 2. Distribuição do coeficiente de variação experimental (CV), pararendimento de grãos das culturas do feijão e do milho, nos ensaios decompetição de cultivares realizados em Santa Catarina no período de1991 a 2005 para feijão e de 1989 a 2005 para milho

CV Feijão Milho

.....................%......................

CV < 10% 13,04 36,61

10% < CV < 15% 40,58 48,00

15% < CV < 20% 30,44 10,77

CV > 20% 15,94 4,62

(10%<CV<20%) e apenas 15,9%classificados como altos(20%<CV<30%) ou muito altos(CV<30%). Para milho, 36,6% e58,8% dos ensaios têm coeficientesde variação classificados comobaixos e médios, respectivamente.Comparando-se com a classificaçãoproposta por Scapim et al. (1995), ocoeficiente de variação pararendimento de grãos de milho seriabaixo (CV<10%) e médio(10%<CV<22%) em mais de 95% dosensaios.

Apesar de a maioria dos coe-ficientes de variação se enquadrarem níveis aceitáveis, de acordo comas classes estabelecidas pordiversos autores (Scapim et al.,1995; Lúcio et al., 1999; Pimentel-Gomes & Garcia, 2002; Ribeiro etal., 2004), as diferenças mínimassignificativas apresentaramgrandes magnitudes em muitosexperimentos (Tabela 3). Este fatoé preocupante pois a maioria dasespécies cultivadas já atingiu umelevado nível de produtividade e as

Tabela 3. Distribuição da diferença mínima significativa em porcentagemda média (DMS) pelo teste de Tukey a 5%, para a cultura do feijão e domilho, nos ensaios de competição de cultivares realizados em SantaCatarina no período 1991 a 2005 para feijão e de 1989 a 2005 para milho

DMS Feijão Milho

.....................%......................

DMS < 10% - 0,61

10% < DMS < 20% 0,72 6,77

20% < DMS < 30% 21,74 42,77

30% < DMS < 40% 34,06 29,23

40% < DMS < 50% 23,19 13,85

DMS > 50% 20,29 6,77

a = 5%

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diferenças entre as cultivares sãocada vez menores. Assim, eraesperado que a diferença mínimasignificativa diminuísse com opassar dos anos em conseqüênciada melhoria das cultivares,melhoria de ambiente e de técnicaexperimental, o que não foiobservado.

Os rendimentos dos cultivoscomerciais de feijão e de milho noEstado de Santa Catarina na safra2003/04 foram de 1.118 e 4.000kg/ha, respectivamente (Síntese...,2005). Observa-se na Tabela 4 que,em todos os ensaios com feijão,somente seriam significativasdiferenças entre rendimento degrãos para cultivares quecorrespondessem, no mínimo, a20% da produtividade estadual emcultivos comerciais (224kg/ha). Em77,5% dos ensaios somente seriamsignificativas diferenças entre 50%e 100% da produtividade estadual.Além disso, em 15,9% dos ensaiosa diferença mínima significativaentre cultivares seria maior que aprodutividade estadual. Para milho(Tabela 4), somente em 6,1% dosensaios as diferenças significativasentre cultivares seriam menoresque 20% da produtividade estadualem cultivos comerciais (800kg/ha).Em 40,9% deles a diferença seriasignificativa se estivesse entre 20%e 50% da produtividade estadual, ouseja, de 800 a 2.000kg/ha. Ressalta-se que, em mais de 40% dosensaios, a diferença entrecultivares para ser significativadeve ser maior que 2.000kg/ha, oque corresponde a 50% da

produtividade estadual paracultivos comerciais na safra 2003/04.

Em ensaios comparativos, comoé o caso da competição decultivares, as inferências maisimportantes referem-se adiferenças entre efeitos detratamentos. Se a ausência deerros sistemáticos é garantida pelacasualização e pelo controle atravésde técnicas experimentais, aestimativa de uma diferença deefeitos de dois tratamentos diferiráde seu correspondente valorpopulacional apenas por variaçãoaleatória. Como os coeficientes devariação dos experimentosestudados são aceitáveis, verifica-se a necessidade de investigarpráticas que reduzam a magnitudedas DMSs. Uma necessidade éestabelecer o número de repetiçõesadequado para os ensaios pois,segundo Conagin & Pimentel-Gomes (2004), aumentando onúmero de repetições, o aumentono poder discriminativo no teste demédias pode ser compensador. Alémdisso, deve haver estudo paradeterminar a densidade de plantasde milho adequada para cadagenótipo e ciclo (Storck et al., 2005)e fazer escolha do teste estatísticomais adequado e eficiente (Conagin& Zimmermamm, 1990). Diversosautores recomendam que opesquisador deve conduzir o ensaiode modo a conseguir o estandeadequado e utilizar a técnica deanálise de covariância com apopulação de plantas paraaumentar a precisão experimental

e, com isso, discriminar melhor asdiferenças de rendimento de grãosentre as cultivares (Fernandes etal.,1989; Storck et al., 2000b;Cargnelutti Filho & Storck, 2004;Ribeiro et al., 2004; CargneluttiFilho et al. 2006). Destaca-se,também, que o conhecimentoprévio de diversas características daárea experimental é fundamentalpara a escolha de técnicaseficientes de controle local.

Conclusão

Os ensaios estaduais decompetição de cultivares de feijãoe de milho realizados em SantaCatarina apresentam boa precisãoexperimental quando considerado ocoeficiente de variação, mas hánecessidade de se diminuir amagnitude da diferença mínimasignificativa entre as médias derendimento das cultivares.

Literatura citada

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2. BRASIL. Ministério da Agricultura edo Abastecimento. Requisitos mínimospara determinação do Valor de Cultivoe Uso, para a inscrição no registronacional de cultivares – RNC. Brasília,2001.

3. CARGNELUTTI FILHO, A.; STORCK,L. População de plantas na comparaçãode produtividade de grãos entrecultivares de milho. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, v.39,n.1, p.17-25, 2004.

4. CARGNELUTTI FILHO, A.; STORCK,L.; LÚCIO, A.D.C. Identificação devariáveis causadoras de erroexperimental na variável rendimentode grãos de milho. Ciência Rural, SantaMaria, v.34, n.3, p.707-713, 2004.

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7. CONAGIN, A.; ZIMMERMANN, F.J.P.Seleção de materiais nos trabalhos de

Tabela 4. Distribuição da diferença mínima significativa (Tukey a 5%)em porcentagem da média (DMS), em relação à produtividade obtidaem cultivos comerciais para a cultura do feijão (1.118kg/ha) e do milho(4.000kg/ha) em Santa Catarina na safra 2003/04

DMS Feijão Milho

.....................%......................

PE(1) < 20% 0 6,1

20% < PE < 50% 22,5 40,9

50% < PE < 75% 37,7 27,7

75% < PE < 100% 23,9 14,8

PE > 100% 15,9 10,5

(1)PE: Produtividade estadual em cultivos comerciais, de acordo comSíntese... (2005).

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17. PIMENTEL-GOMES, F.; GARCIA,C.H. Estatística aplicada aexperimentos agronômicos eflorestais: Exposição com exemplos eorientações para uso de aplicativos.Piracicaba: Esalq, 2002. 309p.

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22. STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H.Principles and procedures of statistics.New York: McGraw Hill Book, 1960.481p.

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24. STORCK, L.; LOPES, S.J.;MARQUES, D.G. et al. Análise decovariância para melhoria dacapacidade de discriminação emensaios de cultivares de milho.Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v.35, n.7, p.1.311-1.316,2000b.

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49Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Estimativa da área foliar do alho usando dimensões eEstimativa da área foliar do alho usando dimensões eEstimativa da área foliar do alho usando dimensões eEstimativa da área foliar do alho usando dimensões eEstimativa da área foliar do alho usando dimensões ebiomassa seca do limbo foliarbiomassa seca do limbo foliarbiomassa seca do limbo foliarbiomassa seca do limbo foliarbiomassa seca do limbo foliar

Anderson Fernando Wamser1, Siegfried Mueller2 eLuiz Antonio Palladini3

Resumo – O objetivo deste trabalho foi estimar a área foliar do alho através das dimensões e da biomassa secado limbo foliar. Foram determinados para as cultivares Contestado 12, Caçador 40, Chonan Takashi, Jonas,Quitéria, Roxo Caxiense e Fuego Inta o fator de forma (f) e o fator de biomassa (fb), através da análise de regressãolinear passando pela origem. As equações obtidas a partir das dimensões foliares permitiram estimativas commenores erros em relação às equações obtidas a partir da biomassa do limbo foliar, para todas as cultivares. Aárea foliar das cultivares de alho podem ser estimadas por um f único igual a 0,59. Foi determinado o fb de 150,86para o grupo de cultivares Caçador 40, Jonas e Quitéria; de 136,95 para o grupo de cultivares Contestado 12,Chonan Takashi e Roxo Caxiense; e de 123,97 para a cultivar Fuego Inta.Termos para indexação: Allium sativum L., fator de forma, fator de biomassa.

Garlic leaf area estimation using leaf blade dimensions and dry mass

Abstract – The aim of this study was to estimate the leaf area of the garlic, based on leaf dimensions and leafdry mass. The leaf shape factor (f) and the dry mass factor (fb) were determined for cultivars Contestado 12,Caçador 40, Chonan Takashi, Jonas, Quitéria, Roxo Caxiense and Fuego Inta through the analysis of linearregression crossing the origin, through the leaf blade dimensions and leaf blade dry mass, respectively. The leafblade dimension equations allowed lower estimate errors in relation to the leaf blade dry mass equations for allcultivars. The leaf area of all garlic cultivars can be estimated by a unique f equal to 0,59. It was determined anfb equal to 150,86 for the group of cultivars Caçador 40, Jonas and Quitéria; 136,95 for the group of cultivarsContestado 12, Chonan Takashi and Roxo Caxiense; and 123,97 for the cultivar Fuego Inta.Index terms: Allium sativum L., leaf shape factor, dry mass factor.

Introdução

A análise quantitativa docrescimento, do acúmulo dabiomassa nas plantas e do tamanhoda área foliar é o primeiro passopara a avaliação da produçãovegetal e permite descrever ocrescimento e o desenvolvimentodas plantas (Nascimento et al.,2002; Monteiro et al., 2005). Oconhecimento desses processos éessencial para a implementação de

estratégias de manejo para altorendimento das culturas (Monteiroet al., 2005).

A determinação da área foliarpermite calcular o índice de áreafoliar (IAF), que é a razão entre aárea foliar e a superfície do soloocupada pela planta. O IAF repre-senta a capacidade da planta paraexplorar o espaço disponível. Afotossíntese, processo responsávelpela produção de fotoassimiladosutilizados no crescimento e

desenvolvimento vegetal, e atranspiração, processo responsávelpelas trocas gasosas entre a plantae a atmosfera, estão relacionadasdiretamente ao IAF (TavaresJúnior et al., 2002; Monteiro et al.,2005). A determinação da área foliartambém é importante na quan-tificação de danos causados porinsetos-praga e doenças (TavaresJúnior et al., 2002).

Segundo Bianco et al. (2003),existem vários métodos destrutivos

Aceito para publicação em 7/7/06.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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50 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

em que f é o fator de forma da folha,C é o comprimento do limbo foliar(cm) e L é a largura máxima dolimbo foliar (cm).

Já a área foliar a partir dabiomassa seca do limbo foliar (AFBS)foi estimada pela seguinte equaçãolinear:

AFBs = fb.Bs,

em que fb é o fator de biomassa dafolha e Bs é a biomassa seca dolimbo foliar (g).

Os coeficientes de regressãolinear (b), dados pelos fatores deforma e de biomassa das equaçõesobtidas para cada cultivar, foramcomparados entre si pelo teste deparalelismo de t, conforme descritopor Guedes et al. (2001).

Resultados e discussão

O comprimento (C) dos limbosfoliares das cultivares de alhoestudadas variou de 34,1 a 80,8cm,com valores médios de 62,45cm,enquanto a largura (L) máxima doslimbos foliares variou de 1,1 a3,5cm, com valores médios de2,36cm. Para a área foliar medida,os valores variaram de 28,05 a152,43cm2, com média de 88,68cm2.A biomassa seca do limbo foliarvariou de 0,13 a 1,20g, com valoresmédios de 0,62g.

Os resultados da regressãolinear passando pela origem,relacionando as dimensões do limbofoliar com a área foliar medida, seencontram na Tabela 1. Asequações lineares apresentaramajustes satisfatórios em todas ascultivares, com coeficientes dedeterminação entre 0,91 e 0,96.

O coeficiente de regressão linear(b) e, conseqüentemente, o fator deforma (f) variou entre 0,55 a 0,68.Porém, pelo teste de paralelismode t, não houve diferenças sig-nificativas entre os coeficientestomados dois a dois (p > 0,05). Destaforma, foi possível determinar umaúnica regressão linear passandopela origem, relacionando asdimensões foliares das setecultivares de alho conjuntamentecom a área foliar medida (Figura 1).O coeficiente de determinação daregressão para as sete cultivarestomadas conjuntamente foi de 0,90,

e não-destrutivos, diretos ouindiretos, para se medir a área foliar.O método não-destrutivo possui avantagem de permitir o acom-panhamento do desenvolvimentodas folhas da mesma planta duranteo seu ciclo. Um dos métodos não-destrutivos mais utilizados é aestimativa da área foliar através deequações de regressão que rela-cionam a área foliar real e asdimensões lineares das folhas. Paraas plantas espontâneas Eichhorniacrassipes, vulgarmente conhecidapor aguapé (Marchi & Pitelli, 2003),Typha latifolia, vulgarmenteconhecida por taboa (Bianco et al.,2003) e Tridax procumbens,vulgarmente conhecida por erva-de-touro (Bianco et al., 2004), asequações lineares apresentarammelhores coeficientes de deter-minação (R2) em relação às equaçõesgeométricas e exponenciais. Biancoet al. (2003, 2004 e 2005) reco-mendaram a equação linearpassando pela origem, pois esta nãoaltera expressivamente a soma dequadrados do resíduo, em relação àequação linear, e é a de mais fácilutilização do ponto de vista prático.

Dentre os métodos destrutivos,um dos mais utilizados é aestimativa da área foliar através deequações de regressão querelacionam a área foliar real e abiomassa seca das folhas. Monteiroet al. (2005) observaram que a áreafoliar do algodoeiro pode serestimada através da biomassa secadas suas folhas com menor erro emrelação à estimativa através dasdimensões foliares.

O Estado de Santa Catarina sedestaca nacionalmente na produçãode alho, principalmente a região deCuritibanos. Existem váriascultivares de alho plantadas noEstado que, por sua vez,apresentam folhas com diferentestamanhos e formas. Estes tamanhosde folhas podem conferir diferentesajustes para as equações linearesque relacionam as dimensões e abiomassa seca das folhas com a áreafoliar real.

Os objetivos deste trabalhoforam estimar a área foliar de setecultivares de alho e determinar asdiferenças entre estas, compa-rando-se os coeficientes deregressão linear das equações deregressão.

Material e métodos

O trabalho foi realizado emlavoura de alho-semente, daEpagri/Estação Experimental deCaçador (Epagri/EECd), no ano de2005, localizada no município deCaçador, SC, região fisiográfica doAlto Vale do Rio do Peixe. O climada região é temperado constanteúmido, com verão ameno, do tipoCfb, conforme a classificação deKöppen (Pandolfo et al., 2002).

Foi amostrado o limbo foliar daúltima folha totalmente expandidade 40 plantas de cada uma dasseguintes cultivares de alho:Contestado 12, Caçador 40, ChonanTakashi, Jonas, Quitéria, RoxoCaxiense e Fuego Inta. Evitou-seamostrar as folhas que apre-sentavam danos causados porinsetos, doenças e/ou granizo. Naocasião da amostragem, as plantasse encontravam no estádio dadiferenciação dos bulbilhos.

Foram determinados o compri-mento do limbo foliar (C), ao longoda nervura principal, e a larguramáxima do limbo foliar (L),perpendicular à nervura principal.A área foliar real das folhasamostradas foi determinadautilizando-se integrador de áreafoliar (Leaf Area Meter, Li-3100, Li-Cor, Lincoln, Nebraska, USA). Oslimbos foliares foram secos emestufa a 65oC durante 72 horas esua biomassa seca foi determinadaem balança de precisão de 0,001g.

A estimativa da área foliar apartir das dimensões e da biomassaseca do limbo foliar foi obtidaatravés do estudo de regressão,utilizando a equação linearpassando pela origem, seguindo asrecomendações de Bianco et al.(2005):

Y = bX,

em que Y é a variável dependente(área foliar), b é o coeficiente deregressão linear e X é a variávelindependente (produto dasdimensões ou biomassa seca dolimbo foliar) (Riboldi & Fernandez,1995).

A área foliar a partir dasdimensões do limbo foliar (AFC.L) foiestimada pela equação linear:

AFC.L = f.C.L,

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51Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Tabela 1. Coeficientes de regressão linear (b) das equações linearespassando pela origem e coeficiente de determinação (R2) para a análise deregressão relacionando o produto das dimensões e a biomassa seca dolimbo foliar com a área foliar real de sete cultivares de alho

Dimensões (C.L) Biomassa secaCultivar

b (f) R2 b (fb) R2

Contestado 12 0,68 0,94(1) 135,12 0,86(1)

Caçador 40 0,59 0,95(1) 153,00 0,89(1)

Chonan Takashi 0,59 0,96(1) 137,54 0,80(1)

Jonas 0,58 0,95(1) 150,82 0,84(1)

Quitéria 0,58 0,92(1) 149,19 0,82(1)

Roxo Caxiense 0,57 0,94(1) 137,71 0,85(1)

Fuego Inta 0,55 0,91(1) 123,97 0,72(1)

(1)Teste F significativo a 5% de probabilidade.

Produto das dimensões foliares (cm2)

0 50 100 150 200 250 300

Áre

a fo

liar m

edid

a (c

m2 )

0

40

80

120

160

200

AFC.L = 0,59.C.L R2 = 0,90 N = 280

Figura 1. Relação linear entre a área foliar medida por integrador deárea foliar e o produto das dimensões do limbo foliar de sete cultivaresde alho tomadas conjuntamente

o que se traduz em um ajustesatisfatório para a equação. O fatorde forma (f) obtido foi de 0,59, o quesignifica dizer que a área foliar realcorresponde a 59% do produto docomprimento (C) pela largura (L)do limbo foliar. Este valor é inferiorao encontrado para milho (Franciset al., 1969), taboa (Bianco et al.,2003), aguapé (Marchi & Pitelli,2003), Brachiaria plantaginea,

As equações lineares tambémapresentaram ajustes satisfatóriosem todas as cultivares, porém comcoeficientes de determinaçãoinferiores aos das equaçõesrelacionando as dimensões linearesdo limbo foliar com a área foliar realmedida, diferentemente dosresultados encontrados porMonteiro et al. (2005) paraalgodoeiro. Desta forma, para acultura do alho, o uso dasdimensões foliares, além de ser ummétodo não-destrutivo, propor-ciona maior exatidão na estimativada área foliar.

Pelo teste de paralelismo de t,não houve diferenças significativasentre os coeficientes de regressão(b) das equações lineares ajustadaspara a área foliar medida em funçãoda biomassa seca dos limbos foliaresdas cultivares Contestado 12,Chonan Takashi e Roxo Caxiense,bem como não houve diferençasentre os coeficientes de regressãolinear (b) das cultivares Caçador 40,Jonas e Quitéria (Tabela 2).Entretanto, estes dois grupos decultivares diferiram entre si e emrelação a cultivar Fuego Inta. Destaforma, determinou-se uma equaçãode regressão passando pela origemrelacionando a biomassa do limbofoliar com a área foliar real medidapara os grupos de cultivares quenão apresentaram diferençassignificativas do b entre si pelo testede t (Figura 2). Os fatores debiomassa obtidos foram de 150,86para o grupo das cultivares Caçador40, Jonas e Quitéria; 136,95 para ogrupo das cultivares Contestado 12,Chonan Takashi e Roxo Caxiense; e123,97 para a cultivar Fuego Inta.Fatores de biomassa semelhantesforam observados em algodoeiro porMonteiro et al. (2005).

Conclusões

1. A área foliar do alho pode serestimada com maior exatidãoatravés das dimensões foliares doque pela biomassa seca do limbofoliar.

2. A área foliar das cultivares dealho Contestado 12, Caçador 40,Chonan Takashi, Jonas, Quitéria,Roxo Caxiense e Fuego Inta podeser estimada por um fator de formaúnico igual a 0,59.

vulgarmente conhecida por capim-marmelada (Bianco et al., 2005), ealgodoeiro (Monteiro et al., 2005),porém semelhante ao encontradopara erva-de-touro (Bianco et al.,2004).

Os resultados de regressãolinear passando pela origem,relacionando a biomassa seca dolimbo foliar com a área foliar realmedida, se encontram na Tabela 1.

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52 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Tabela 2. Comparação, pelo teste t, entre os coeficientes de regressãolinear (b) das equações ajustadas para a área foliar real medida em funçãoda biomassa seca de limbos foliares de sete cultivares de alho, tomadasduas a duas

CultivarContes- Caça- Chonan

JonasQui- Roxo Fuego

tado 12 dor 40 Takashi téria Caxiense Inta

Contestado 12 - * ns * * ns *

Caçador 40 - * ns ns * *

Chonan Takashi - * * ns *

Jonas - ns * *

Quitéria - * *

Roxo Caxiense - *

Fuego Inta -

* Significância estatística a 5% de probabilidade pelo teste t.ns = não-significativo.

Figura 2. Relação linear entre a área foliar medida por integradorde área foliar e a biomassa seca do limbo foliar de sete cultivares dealho

Biomassa seca (g)

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

Áre

a fo

liar m

edid

a (c

m2 )

0

40

80

120

160

200

Contestado 12, Chonan Takashi e Roxo CaxienseAFBs = 136,95.Bs R2 = 0,85 N = 120

Caçador 40, Jonas e QuitériaAFBs = 150,86.Bs R2 = 0,84 N = 120

Fuego IntaAFBs = 123,97.Bs R2 = 0,72 N = 40

3. O fator de biomassa é diferenteentre cultivares na estimativa daárea foliar através da biomassa secado limbo foliar.

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53Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Obtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativoObtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativoObtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativoObtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativoObtenção de duas safras de uva por ciclo vegetativopelo manejo da podapelo manejo da podapelo manejo da podapelo manejo da podapelo manejo da poda

Mário Luís Fochesato1, Paulo Vitor Dutra de Souza2 eSofia Agostini3

Resumo – Avaliaram-se épocas de poda seca e verde para antecipar a primeira safra e obter uma segunda safrade uva das cultivares Niagara Rosada e Branca (Vitis labrusca L.), cultivadas no sistema de espaldeira. Oexperimento foi realizado na Estação Experimental da UFRGS em Eldorado do Sul, RS, nas safras 2000/01 e 2003/04. Os tratamentos, na safra 2000/01, em ‘Niagara Rosada’ constaram de duas épocas de poda seca (12/7/00 e 10/8/00) e duas intensidades de poda verde (desponte do sarmento a partir da quarta ou oitava folha acima do últimocacho). Na safra 2003/04 foram avaliadas três épocas de poda verde em ‘Niagara Rosada’ e ‘Niagara Branca’.Observou-se que a antecipação da poda seca permitiu adiantar em até oito dias a colheita da cultivar NiagaraRosada. A poda verde propiciou a colheita de uma segunda safra no mesmo ciclo vegetativo nas cutivares NiagaraBranca e Niagara Rosada. A poda verde atrasou a colheita normal em ambas as cultivares, mas não alterou aprodução por planta. A ‘Niagara Branca’ apresentou maior potencial para produzir uma segunda safra, sendocolhidos 3,6kg/planta, enquanto que nas plantas de ‘Niagara Rosada’ colheu-se 1,3kg/planta.Termos para indexação: época de poda, Vitis labrusca, fenologia, produção.

Getting two harvests per season on grapevine by means of pruning management

Abstract – The aim of this study was to evaluate the effects of winter and summer pruning dates on harvestanticipating of ‘Niagara’ and ‘Rose Niagara’ (Vitis labrusca L.) grapevine cultivars, as a strategy to obtain a secondharvest in the same season. This experiment was carried out at UFRGS’ Agricultural Research Station, inEldorado do Sul, Rio Grande do Sul State, Brazil. The grapevines were conducted by cordon training. The firstexperiment was undertaken during the 2000/01 season and considered two dates of winter pruning and twointensities of summer pruning for ‘Rose Niagara’, while the second experiment was undertaken during the 2003/04 season and involved three dates of summer pruning and two grapevine cultivars (Niagara and Rose Niagara).The summer pruning performed at the fourth leaf situated above the last cluster provided a second harvest.Nevertheless, the summer pruning postponed the harvest in both grapevine cultivars, but did not affect plantproduction. The production of ‘Niagara’ grapevine were 3,6kg/plant and the ‘Rose Niagara’ were 1,3kg/plant.Index terms: prunning date, Vitis labrusca, fenology, plant production.

Introdução

Em regiões de clima tropical étradicional a obtenção de duas oumais safras de uvas por ano (Kuhn& Maia, 2001). Porém, em regiõesde clima subtropical, como o RioGrande do Sul e Santa Catarina, avideira permite uma única colheitaao ano. No caso da ‘Niagara’, estase concentra entre a segundaquinzena de janeiro e segunda

quinzena de fevereiro, ocorrendoredução de preço do produto nesteperíodo. Desse modo, as colheitasantecipadas ou as tardias permitemmaior ganho ao viticultor, podendoaté duplicar o preço no mercado.

Há práticas culturais quepermitem alterar a fenologia dasplantas, permitindo colheitasantecipadas, pela antecipação dapoda de inverno ou seca e com aaplicação de cianamida hidrogenada

(Manfroi et al., 1996; Souza et al.,2001), ou duas colheitas por ciclovegetativo mediante execução depoda de verão ou verde (Schiedeck,1996). Porém, isso somente épossível em regiões de invernoameno, onde não ocorram geadastardias ou precoces, sendo que adepressão central do Rio Grande doSul apresenta essas características.

O objetivo deste trabalho foitestar distintas épocas de poda seca

Aceito para publicação em 1o/12/06.1Eng. agr., M.Sc., Faculdade de Agronomia/UFRGS. C.P. 15.100, 91540-000 Porto Alegre, RS, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Faculdade de Agronomia/UFRGS, e-mail: [email protected]óloga em Viticultura e Enologia, M.Sc., PPGFitotecnia/UFRGS, Porto alegre, RS.

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resultados obtidos no experimento1, no ciclo 2003/04, foram testadosos seguintes tratamentos:

- épocas de poda verde: primeiraépoca em 14/11/03, segunda épocaem 28/11/03 e terceira época em 10/12/03, realizadas acima da quartafolha a partir do último cacho. Asplantas consideradas “sem poda ver-de” receberam desponte semelhan-te ao realizado no experimento 1;

- duas cultivares: Niagara Rosadae Niagara Branca.

Todas as plantas sofreram podaseca em 8/8/03, recebendocianamida hidrogenada 2%.

O delineamento experimentalutilizado foi blocos casualizados, emesquema fatorial, com quatrorepetições. No experimento 1 foramutilizadas duas plantas por parcelae no experimento 2 utilizou-se umaplanta por parcela. Os tratamentosfitossanitários seguiram asrecomendações técnicas para acultura da videira (Kuhn & Maia,2001).

No decorrer do experimento 1foi observada a duração do intervalode cada estádio fenológico, quandoas plantas apresentavam mais de50% de brotação, floração e colheita,conforme classificação de Baggiolini(1952).

Em ambos os experimentosforam avaliadas as épocas de colheitade cada safra, a produção por planta(kg), o peso médio dos cachos (g), ossólidos solúveis totais (SST) e aacidez total titulável (ATT).

O valor de SST foi determinadoem refratômetro de mesa, modelo2WAJ. A ATT (meq/L) foi deter-minada por titulação com NaOH0,1N e com um medidor de pHmetroDigimed, modelo DM-20, determi-nando a quantidade de solução gastaaté atingir o pH 8,1 (Cataluña, 1984).Para determinação do SST e ATTutilizaram-se cinco cachos de uvapor planta e repetição.

As médias dos tratamentosforam comparadas pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Experimento 1: o ciclofenológico total das plantas podadasem 12/7/00 foi de 181 dias, contra179 dias naquelas podadas em10/8/00 (Tabela 1). Apesar deapresentarem ciclos fenológicossemelhantes, houve variação con-siderável nos diferentes estádiosfenológicos analisados, onde asplantas podadas em 12/7/00apresentaram um período desde apoda até a brotação 14 dias maiorem relação às podadas em 10/8/00.Mesmo assim, como a diferençaentre os dois períodos de poda deinverno foi de 29 dias, isto significouuma antecipação de 15 dias nabrotação das plantas podadasprecocemente, o que ocorreu no dia25/8/00. As plantas podadas nasegunda época somente brotaramno dia 9/10/00. Também Manfroi etal. (1996) obtiveram antecipação da

e verde, visando a antecipação dacolheita em relação à regiãotradicional da encosta superior donordeste do Rio Grande do Sul,como também avaliar a possi-bilidade de obter uma segunda safrano mesmo ciclo nas cultivaresNiagara Rosada e Niagara Branca.

Material e métodos

Os experimentos foramconduzidos na Estação Experi-mental Agronômica da UFRGS,localizada no município de Eldoradodo Sul, RS. O solo do local éclassificado como Argissolo Ver-melho Distrófico de textura argilosae relevo ondulado, tendo comosubstrato o granito. O clima daregião é classificado como Cfa. Aprecipitação pluviométrica anualmédia é de 1.445,8mm e a umidaderelativa do ar anual média é 77%. Aradiação solar global média é de12,39MJ/m2/dia (Bergamaschi et al.,2004).

O vinhedo utilizado foi de plantasdas cultivares Niagara Rosada eNiagara Branca (Vitis labrusca L.),todas com 12 anos de idade,enxertadas sobre o porta-enxerto101-14 mgt com espaçamento de1,20 x 3m e conduzido em espaldeira,com três fios de arame. Na podaseca deixaram-se duas a três gemaspor esporão, mantidas aproxi-madamente 20 gemas por planta.

Desenvolveu-se o trabalho emdois ciclos vegetativos, nos quaisforam realizados os seguintesexperimentos:

Experimento 1: conduzido nociclo 2000/01, com a cultivar NiagaraRosada, onde foram testados osseguintes tratamentos:

- épocas de poda seca: primeiraépoca em 12/7/00 e segunda épocaem 10/8/00, em que todas as plantasreceberam cianamida hidrogenada2% imediatamente após a poda;

- intensidades de poda verde: foirealizada em 1o/11/00 e consistiu nocorte do sarmento do ano após aquarta folha acima do último cacho,visando a brotação da gema da baseda última folha. O outro tratamentoconstou do desponte do sarmentoimediatamente acima do terceirofio de arame, correspondendo aaproximadamente oito folhas acimado último cacho.

Experimento 2: a partir dos

Tabela 1. Intervalo, em dias, entre os estádios fenológicos da cultivarNiagara Rosada, submetida a duas épocas de poda de inverno e após umapoda verde. EEA/UFRGS. Eldorado do Sul, safra 2000/01

Intervalo

Estádios Podas de inverno Poda verde (1o/11/00)(1)

fenológicos Acima Acima12/7/00 10/8/00 da quarta do ter-

folha ceiro fio

.............................Dias..............................

Poda/brotação 44 30 15 20

Brotação/floração 47 41 30 0

Floração/colheita 90 108 74 0

Total do ciclo 181 179 119 -

(1)Data da poda verde realizada nas plantas podadas anteriormente (12/7/00 e 10/8/00).

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brotação em ‘Niagara Rosada’através da antecipação da poda.

O período da brotação até afloração também foi maior nasplantas podadas precocemente,com seis dias de diferença. Noúltimo período fenológico (flora-ção/colheita) houve uma inversão,em que as plantas podadas em12/7/00 apresentaram 90 dias,contra 108 dias de ciclo nas podadasem 10/8/00.

Este aumento no número de diasdesde a poda até a floração dasplantas podadas em 12/7/00 foiconseqüência das temperaturasamenas no período, quando astemperaturas médias, coletadas naprópria Estação ExperimentalAgronômica da UFRGS, foram de9,8oC em julho, 12,2oC em agosto e15,1oC em setembro. Schiedeck(1996) menciona que a podaantecipada determina aumento dociclo fenológico, e, segundo Freireet al. (1992), o ciclo normal dacultivar Niagara Rosada seria deaproximadamente 160 dias. Nopresente estudo, a ‘Niagara Rosada’apresentou ciclo fenológico maisprolongado, 20 dias superior aocitado.

A poda verde acima da quartafolha foi realizada concomi-tantemente nas plantas podadas naprimeira e na segunda época depoda de inverno. Apesar de as datasde poda de inverno se distanciaremem 29 dias, em ambas a poda verdeinduziu brotação idêntica cro-nologicamente, com 15 dias apóssua realização (Tabela 1). Nasplantas somente despontadas acimado terceiro fio de arame a brotaçãoocorreu 20 dias após a operação. Osperíodos da brotação até a floraçãoe da floração à colheita foram de 30dias e 74 dias, respectivamente,nas plantas submetidas à poda acimada quarta folha, totalizando um ciclofenológico de 119 dias. Nas plantasdespontadas acima do terceiro fiode arame não houve floração e,conseqüentemente, colheita.

O rápido desenvolvimento dasbrotações nas plantas submetidas àpoda verde deveu-se às tempe-raturas no período (20,2oC emnovembro e 22,5oC em dezembro),já que temperaturas entre 15 e35oC são consideradas ótimas parao cultivo da ‘Niagara’ (Santos, 1966).Foi um ciclo curto em relação à

média de dias que a ‘Niagara Rosada’leva para se desenvolver (Freire etal., 1992).

Como conseqüência dos estádiosfenológicos (Tabela 1), nas plan-tas podadas em 12/7/00 houveantecipação em oito dias de parteda colheita na primeira safra,quando comparadas às plantaspodadas em 10/8/00 (Tabela 2), oque possibilitou obter uvasprecoces, pois o pico de oferta noRio Grande do Sul ocorre entre asegunda quinzena de janeiro e aprimeira de fevereiro.

A época de poda de inverno nãoinfluiu significativamente sobre aprodução por planta, SST e ATT(Tabela 2). Somente o peso médiodos cachos apresentou diferençassignificativas, sendo maior nasplantas podadas em 10/8/00. Em-bora tenha havido diferençasignificativa entre as duas épocasde poda, os cachos obtidos foramconsiderados de primeira categoriapor pesarem mais de 100g (Manfroiet al., 1996).

Nas Tabelas 2 e 3, verifica-seque o conteúdo de SST e de ATT foibastante baixo, em todos ostratamentos. Para a cultivarNiagara Rosada, seria desejável omínimo de 15oBrix, podendo chegara teores de 18oBrix. Dessa formaacredita-se que na safra 2000/01 aprecipitação ocorrida durante operíodo de maturação (65,5mm emdezembro de 2000, 171,3mm emjaneiro, 121,5mm em fevereiro e143, 7mm em março de 2001) tenhasido o principal fator responsávelpelo baixo acúmulo de SST e deATT.

A poda verde realizada acima daquarta folha a partir do último cachopermitiu a obtenção de uma segundasafra colhida no período de 19/2/01a 15/3/01 (Tabela 3). Essa colheitatardia também permite valori-zação superior no mercado quan-do comparada com a primeirasafra.

À semelhança do ocorrido com acolheita tradicional, os frutoscolhidos na segunda safra não

Tabela 2. Período de colheita, produtividade e qualidade da primeiracolheita em plantas de ‘Niagara Rosada’ submetidas a duas épocas depoda de inverno. EEA/UFRGS. Eldorado do Sul, safra 2000/01(1)

Época Período de Produção Peso SST ATTde poda colheita média médio

kg/planta g/cacho oBrix meq/L

12/7/00 9 a 17/1/2001 6,4 a 160 b 11,75 a 59,50 a

10/8/00 17/1/2001 8,3 a 180 a 12,00 a 56,50 a

CV (%) 32,0 2,1 2,9 3,8

(1)Médias seguidas por letra diferente, na coluna, diferemsignificativamente pelo teste de Tukey a 5%.Nota: CV = coeficiente de variação.

Tabela 3. Período de colheita, produtividade e qualidade da segundacolheita em plantas de ‘Niagara Rosada’ submetidas à poda verde (acimada quarta folha) realizada em 1o/11/00 nas duas épocas de poda deinverno. EEA/UFRGS. Eldorado do Sul, safra 2000/01(1)

Período Produção Peso SST ATTÉpoca de colheita média médio

kg/planta g/cacho oBrix meq/L

12/7/00 19/2/01 a 15/3/01 0,51 a 90 a 10,30 a 63,50 a

10/8/00 19/2/01 a 15/3/01 0,56 a 90 a 10,30 a 61,30 a

CV (%) 29,0 16,0 8,5 14,6

(1)Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferemsignificativamente pelo teste de Tukey a 5%.Nota: CV = coeficiente de variação.

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apresentaram diferenças signifi-cativas para os aspectos quanti-tativos e qualitativos em relação àsduas épocas de poda de inverno(Tabela 3), apresentando valores dequalidade (SST e ATT) de frutosabaixo do considerado satisfatório,também como conseqüência doexcesso de chuvas no período, quecausou um efeito de diluição nosfrutos.

Experimento 2: na Tabela 4,observa-se que nas videirassubmetidas à poda verde acima daquarta folha a partir do último cachohouve atraso médio de dez dias noperíodo da primeira colheita,independentemente das três épocastestadas, comparativamente àque-las somente despontadas. Por suavez, nas plantas submetidas aodesponte na altura do terceiro fiode arame, apesar de ter ocorridobrotação, não houve uma segundaprodução (Tabela 4). Nas plantassubmetidas à poda verde logrou-seuma segunda colheita, ocorridaentre 10/3/04 e 10/4/04. Nesseintervalo houve variação na épocade colheita que foi diretamente

proporcional à época de poda verde.Apesar do atraso na primeiracolheita, a poda verde possibilitouobter uma segunda safra numperíodo onde há baixa oferta nomercado.

Este atraso médio de dez dias nacolheita daquelas plantas subme-tidas à poda acima da quarta folhapode ser explicado por uma reduçãona área fotossintética do ramo,associada a uma alteraçãotemporária da rota dos fotoas-similados, os quais em ramos nãopodados são translocados prefe-rencialmente aos frutos, enquantoque nos podados devem ter sidodesviados para promover asbrotações das gemas apicais(Giovannini, 1999).

No ciclo 2003/04, o peso médiodos cachos e a produção média porplanta na primeira colheita nãovariaram entre as cultivaresNiagara Branca e Niagara Rosada(Tabela 5). Porém, os frutos de‘Niagara Rosada’ apresentaram SSTmais alto (13,8oBrix) e ATT maisbaixa (52,45meq/L) em relação à‘Niagara Branca’ (12,9oBrix e 67,

5meq/L, respectivamente) (Tabela5). Ao se compararem os ciclos de2000/01 com os de 2003/04,verificou-se que, nesse último, a‘Niagara Rosada’ apresentou maiorquantidade e qualidade de pro-dução, indicando a influência dascondições climáticas em cada ciclovegetativo.

Na Tabela 6, observa-se que aprimeira época de poda verdepropiciou maior produção por plantae cachos de maior peso na segundasafra, independentemente dacultivar. A ‘Niagara Branca’apresentou maior produção emrelação à ‘Niagara Rosada’. Foinotável e importante a produção dasegunda safra nas plantassubmetidas à poda verde realizadaem 14/11/03, o que não se verificounas podas posteriores, indicando aimportância da época de poda parao sucesso da colheita. Nas plantaspodadas em 28/11 e 10/12/03 nãohouve variação no peso da produçãoentre as cultivares, sendo que asmesmas produziram menor pesopor cacho e menor produção porplanta em ambas as cultivares.

A diferenciação de gemas iniciano final da primavera, completando-se no verão (Giovannini, 1999).Portanto, era de se esperar umamaior colheita nas plantassubmetidas à poda verde maistardia. Porém, o regime hídricoinflui na fisiologia da videira, ondea deficiência de chuvas prejudicaa diferenciação (Schiedeck, 1996).Esse período de déficit hídrico nofinal da primavera e início do ve-rão é freqüente na Depressão Cen-tral do Rio Grande do Sul eresponsável pelo fraco desem-penho das plantas submetidas à podaverde tardia.

Como conseqüência da escassaprodução apresentada pelas plantasde ‘Niagara Rosada’ e ‘NiagaraBranca’ podadas em 28/11 e 10/12/03, somente procedeu-se à análisede SST e ATT nos frutos das plantaspodadas em 14/11/03. Verificou-sesemelhança no SST e ATT das duascultivares – a ‘Niagara Branca’apresentou 16,81oBrix e 102,19meq/L e a ‘Niagara Rosada’, 16,69oBrix e95,15meq/L. Foi notável o maiorteor de açúcar e de ácidos destesfrutos comparativamente às safrasanteriores, em virtude da sua maiorconcentração nos mesmos,

Tabela 4. Períodos de colheita em plantas de ‘Niagara Branca’ e ‘Rosada’submetidas ou não à poda verde. EEA/UFRGS. Eldorado do Sul, safra2003/04

ColheitaPoda verde

Primeira Segunda

Sem(1) 10 a 20/1/04 -

Com Primeira época (14/11/03) 20 a 30/1/04 10 a 15/3/04

Segunda época (28/11/03) 20 a 25/3/04

Terceira época (10/12/03) 1o a 10/4/04

(1)Sofreram apenas desponte de ramos na altura do terceiro fio de arame.

Tabela 5. Produção e qualidade da primeira colheita em plantas de‘Niagara Rosada’ e ‘Branca’ submetidas à poda verde. EEA/UFRGS.Eldorado do Sul, safra 2003/04(1)

Cultivar Produção média Peso médio SST ATT

kg/planta g/cacho oBrix meq/L

Niagara Rosada 10,84 a 210 a 13,80 a 52,45 b

Niagara Branca 12,13 a 220 a 12,92 b 67,5 a

CV (%) 30,2 11,9 5,7 12,9(1)Médias seguidas por letra diferente, na coluna, diferemsignificativamente pelo teste de Tukey a 5%.Nota: CV = coeficiente de variação.

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resultante da menor precipitaçãopluviométrica ocorrida nos mesesprecedentes.

Conclusões

A antecipação da poda secapermite antecipar a colheita nascultivares Niagara Branca e Rosada.

A poda verde permite a colheitade uma segunda safra no mesmociclo vegetativo, nas cultivaresNiagara Branca e Rosada, sendodeterminante a época de suarealização.

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Tabela 6. Peso médio do cacho e produção média por planta na segundacolheita nas cultivares Niagara Branca e Rosada submetidas a trêsépocas de poda verde. EEA/UFRGS. Eldorado do Sul, safra 2003/04(1)

Época de poda verde(2)

Cultivar Pri- Se- Ter- Pri- Se- Ter-meira gunda ceira meira gunda ceira

Produção média Peso médio

kg/planta g/cacho

Niagara Rosada 1,37 bA(2) 0,31 aB 0,26 aB 112 aA 96 aB 87 aB

Niagara Branca 3,64 aA 0,44 aB 0,13 aB 115 aA 90 aB 91 aB

CV (%) 37,5 18,3

(1)Médias seguidas pela mesma letra, minúsculas na coluna e maiúsculasna linha, não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%.(2)Primeira época: 14/11/03; segunda época: 28/11/03; terceira época: 10/12/03.Nota: CV = coeficiente de variação.

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Alternativas de manejo para o controleAlternativas de manejo para o controleAlternativas de manejo para o controleAlternativas de manejo para o controleAlternativas de manejo para o controledo declínio da videirado declínio da videirado declínio da videirado declínio da videirado declínio da videira

Marco Antonio Dalbó1, Edegar Peruzzo2 eEnio Schuck3

Resumo – O declínio da videira, que ocorre no Sul do Brasil, refere-se a um conjunto de sintomas que levamao enfraquecimento e morte das plantas. As causas parecem ser múltiplas, incluindo-se a pérola-da-terra(Eurhizococcus brasiliensis Hempel), fungos de solo e outras causas de estresse para as plantas. Neste trabalho,avaliou-se o efeito de três alternativas para o seu controle: preparo do solo pré-plantio em trincheiras, controlequímico da pérola-da-terra e três diferentes porta-enxertos: SO4, Paulsen 1103 e 043-43. O experimento foirepetido em dois locais com histórico de problemas de mortalidade de plantas, avaliando-se o número de plantasdoentes no quarto e quinto ciclos vegetativos das plantas. Todos os três fatores tiveram efeito significativo naexpressão dos sintomas, indicando a necessidade de aplicação conjunta das alternativas. Observaram-se sintomasde ataque de fungos de solo nas raízes, indicando excesso de umidade no solo, sendo que o efeito benéfico do preparodo solo em trincheiras pode estar relacionado ao efeito de drenagem.Termos para indexação: viticultura, uva, manejo do solo, Eurhizococcus brasiliensis.

Management alternatives to control grape decline in South of Brazil

Abstract – Grape decline in Southern Brazil refers to a group of symptoms leading to plant weakening anddeath. Apparently there are several causes, including ground-pearl (Eurhizococcus brasiliensis), soil fungi andother causes of plant stress. The effect of three possible alternatives of control was evaluated: pre-planting soilpreparation in trenches along plant lines; chemical control of ground-pearl; and three different rootstocks (SO4,Paulsen 1103 e 043-43). The experiment was replicated in two sites where vineyards had historical problems withplants death. The experiments were evaluated in the fourth and fifth vegetative cycles counting the number ofplants with decline symptoms or dead. All three factors had a significant effect in the expression of symptoms,indicating the need of all three tested alternatives. It was observed symptoms of soil fungi attack in roots,indicating excess of soil moisture. The effect of soil trench planting system may be related to a drainage effect.Index terms: viticulture, grape, soil management, margarodes, Eurhizococcus brasiliensis.

Introdução

O declínio e a morte de plantas éum dos problemas mais sérios daviticultura do Sul do Brasil. Emboranão seja um problema amplamentegeneralizado, tem sido responsávelpela eliminação de muitos vinhedosou redução da sua vida útil. No Valedo Rio do Peixe, SC, por exemplo,foi um dos fatores que levou a uma

expressiva redução da área plantadanas décadas de 80 e 90 (Schuck etal., 2001).

O declínio da videira écaracterizado por um conjunto desintomas que levam ao enfra-quecimento e morte das plantasafetadas (Figura 1). No Estado deSão Paulo foram descritos casos dedeclínio causados por Eutypa lata(Paradela Filho et al., 1993), porém

este fungo não tem sido relacionadoaos casos de declínio das regiõesvitícolas do Sul do Brasil. Muitascausas podem estar relacionadasao problema, como viroses, doençasfúngicas mal controladas, geadas,granizo e outras (Gallotti, 1989).Entretanto, o declínio no Sul doBrasil tem sido atribuído a algunsfatores principais, como aocorrência de uma cochonilha de

Aceito para publicação em 15/8/06.1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89500-000, Videira, SC, fone: (49) 3566-0054,e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected].

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adicionada uma camada deaproximadamente 10cm deespessura de material orgânico(palha, cinza de caldeira e estercode suínos), que foi misturada depoiscom o solo dentro da trincheira.Adicionou-se calcário dolomítico aosolo por ocasião do fechamento datrincheira, sendo a dose calculadapara corrigir para pH 6,0 o volumede solo subsuperficial movimentadodentro da trincheira.

• Controle químico da pérola-da-terra com inseticidas. Nos trêsprimeiros anos dos vinhedos foramaplicados conjuntamente osinseticidas Thiametoxan (Actara25WP), na dose de 1,5g do produtocomercial por planta, e Methidation(Supracid), na dose de 5ml doproduto comercial por planta. Nosúltimos dois anos, foi aplicado oinseticida Imidacloprid (Confidor),na dose de 1g do produto comercialpor planta. As doses por planta foramdiluídas em 5L de água e a soluçãoaplicada no solo, numa faixa de 70 a80cm ao redor das plantas. Foramfeitas duas aplicações por ano, umano mês de dezembro e a outra emmarço. Ao final dos experimentos,a eficiência das aplicações deinseticidas no controle da pérola-da-terra foi avaliada, amostrando-se cinco plantas tratadas e cinconão tratadas através de um volumede solo correspondente a uma áreade 50 x 50cm ao redor do tronco por20cm de profundidade.

• Porta-enxertos. Foramutilizados três porta-enxertos: SO4(V. berlandieri x V. riparia), Paulsen1103 (V. berlandieri x V. rupestris) e043-43 (V. vinifera x V. rotundifolia).

O experimento 1 foi instalado naEpagri/Estação Experimental deVideira (Epagri/EEV) com dez plan-tas por parcela, totalizando 600plantas. O experimento 2 foi insta-lado no município de Iomerê, SC,na propriedade da empresa VinhosIomerê Ltda., com oito plantas porparcela, totalizando 480 plantas, emespaçamento 3 x 1,5m. Em ambosos experimentos, a cultivar copa foia Cabernet Sauvignon. Os doisexperimentos tiveram o mesmodelineamento, que consistiu em umfatorial 2x2x3 (com e sem trin-cheiras, com e sem inseticidas etrês porta-enxertos), com cincorepetições. Cada repetição consistiuem um bloco dividido em duas faixas,

A

B

Figura 1. Sintomas foliares de plantas de videira em declínio.(A) Aspecto geral da planta; (B) detalhe de sintomas nas folhas

raízes, a pérola-da-terra ou mar-garodes (Eurhizococcus brasili-ensis). Inseticidas sistêmicosaplicados no solo têm sido eficientesno controle da praga (Botton et al.,2000), porém, questões de custo erisco ambiental são limitantes parao uso desta prática.

Outro fator importante é afusariose, causada pelo fungoFusarium oxysporum var. herbe-montis. Essa doença tem sidocontrolada pelo uso de porta-enxertos resistentes, como Paulsen1103 (Vitis berlandieri x V. riparia)e 043-43 (V. vinifera x V.rotundifolia) (Gallotti, 1991;Andrade et al., 1994). Fungos dosgêneros Cylindrocarpom ePhaeoacrimonium, responsa-bilizados pelo declínio da videiraem outros países, também foramidentificados no Sul do Brasil,associados a problemas demortalidade de plantas (Garrido etal., 2004).

Verificou-se também que osproblemas de declínio são maisintensos em solos mais argilosos,do tipo nitossolo, e em áreas dereplantio ou previamente ocupadascom pomares. Sistemas de preparode solo mais intensivos em pré-plantio têm sido empregados paracontornar o problema, como, porexemplo, o sistema de trincheirasabertas na linha de plantio comauxílio de retroescavadeiras.

O presente trabalho teve comoobjetivo avaliar o efeito de trêsalternativas para redução da

incidência de declínio da videira emáreas de ocorrência endêmica dadoença: porta-enxertos, controlequímico da pérola-da-terra esistemas de preparo de solo pré-plantio.

Material e métodos

Foram instalados dois experi-mentos, com o mesmo delinea-mento, em dois locais distintos. Asáreas foram selecionadas por teremapresentado anteriormente pro-blemas graves de mortalidade deplantas que levaram à eliminaçãodos vinhedos existentes.

Nos dois locais, os solos foramclassificados como nitossolos,segundo o Sistema Brasileiro deClassificação de Solos (Embrapa,1999). O teor de argila variou entre69% e 75% na camada superficial(zero a 20cm) e entre 70% e 79% nacamada de 20 a 40cm, nas diferentesamostragens realizadas. A correçãodo solo foi realizada anteriormente,sendo que o pH da camadasuperficial estava próximo a 6,0. Asadubações de correção e demanutenção foram feitas de acordocom as práticas normais para acultura.

Os tratamentos consistiram nacombinação dos seguintes fatores:

• Preparo do solo em pré-plantioem trincheiras. As trincheirasforam abertas com retroes-cavadeira, na linha de plantio, comlargura de 90cm e profundidadeentre 80 e 90cm. A seguir, foi

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Tabela 1. Efeito do preparo de solo pré-plantio em trincheiras, controleda pérola-da-terra com inseticidas e diferentes porta-enxertos sobre aporcentagem de plantas mortas ou com sintomas de declínio da videiraem dois experimentos, com delineamento fatorial 2x2x3 (médias porfatores principais)(1)

Plantas mortas ou com sintomasTratamento

Exp. 1 Exp. 2Trin- Inseti- Porta- (Videira) (Iomerê)cheira cida enxerto

Quarto Quinto Quartoano ano ano

.........................%.........................

Com 18,3 B 42,0 B 8,8 B

Sem 30,0 A 62,7 A 20,8 A

Com 20,0 43,0 9,2 B

Sem 28,3 61,7 20,4 A

SO4 42,5 a 75,5 a 17,6 a

Paulsen 1103 23,5 b 62,5 b 20,5 a

043-43 6,5 c 19,0 c 6,3 b

CV (%) 23,9 24,0 22,0

(1)Médias seguidas da mesma letra maiúscula nas colunas não diferementre si pelo teste F da análise de variância (P < 0,05). Médias seguidasda mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si pelo testede Tukey a 5% de probabilidade.

uma com preparo de solo emtrincheiras e a outra não.

Os porta-enxertos foramplantados a campo em agosto de1999 e enxertados no ano seguinte.No início do quarto ciclo vegetativo(2002/03) foi feita a avaliação dapresença de sintomas de declínionos dois experimentos. Para isso,contou-se o número de plantasmortas e as que apresentavamsintomas característicos, incluindo-se obrigatoriamente brotaçõesfracas e folhas com clorose inter-nerval acompanhadas de necrosede parte do tecido foliar. Nessaetapa, foram arrancadas as plantascom sintomas mais intensos paraexame visual do sistema radiculare tentativa de isolamento depatógenos. No quinto ano (2003/04), avaliou-se apenas o expe-rimento 1 (Epagri/EEV), uma vezque o experimento 2 (Iomerê) teveque ser encerrado mais cedo pordecisão do produtor.

Os dados de número de plantasdoentes foram transformados em(x + 0,5)1/2 e avaliados estatisti-

apresentaram sintomas da doença.O porta-enxerto SO4 é altamentesuscetível a Fusarium, ao contráriodo Paulsen 1103 e do 043-43, queapresentam resistência ao fungo(Gallotti, 1991; Andrade et al., 1994).Um nível mais elevado de infestaçãoou condições mais favoráveis aopatógeno podem resultar em maiorincidência da doença no porta-enxerto suscetível.

O porta-enxerto 043-43 propor-cionou os melhores resultados nosdois experimentos, confirmandoobservações anteriores de queporta-enxertos híbridos de Vitisrotundifolia têm comportamentosuperior em áreas de incidênciaendêmica do declínio (Schuck et al.,2001). Entretanto, esse porta-enxerto somente proporcionouresultados satisfatórios quandoacompanhado das outras práticasde manejo (inseticidas e preparo dosolo).

O sistema de preparo do solo emtrincheiras, realizado antes doplantio, também teve um efeitosignificativo na redução do númerode plantas com declínio. Issoconfirma as observações de campode que as condições de solo estãorelacionadas com a incidência doproblema. Como o preparo do soloem trincheiras melhora ascondições de solo em profundidadetanto física quanto quimicamente,não se pode discriminar a causapara o efeito benéfico observado.Entretanto, observou-se que osistema radicular das plantascom declínio apresentava-sefreqüentemente com sintomas deenegrecimento provavelmentecausados por fungos de solo,indicando problemas de excesso deumidade de solo. Assim, suspeita-se que o sistema de trincheiras, damaneira como foi realizado nos doisexperimentos, permitiu melhordrenagem do solo, o que deve terreduzido o problema de ene-grecimento de raízes. Neste caso,as trincheiras poderiam sersubstituídas pela drenagemsistemática do terreno antes doplantio, o que resultaria em umcusto menor de implantação, porémestudos complementares ainda sãonecessários para testar estahipótese.

O controle químico da pérola-da-terra por meio de inseticidas teve

camente quanto à variância e àcomparação de médias, pelo testede Tukey a 5%.

Resultados e discussão

No quarto ano, quando os doisexperimentos foram avaliados,todos os fatores analisadosinfluenciaram significativamente osresultados, com exceção da aplicaçãode inseticidas para controle dapérola-da-terra, que no experimento1 não teve efeito estatísticosignificativo (Tabela 1). Não houveefeito significativo para asinterações entre tratamentos,indicando que houve apenas umefeito aditivo de cada fator naexpressão dos sintomas de declínio.

Os resultados dos dois expe-rimentos foram semelhantes, comexceção do porta-enxerto SO4, queapresentou taxa de mortalidademais alta no experimento 1. Essadiferença pode ser resultado demaior incidência de fusariose nesteexperimento, visto que algumasplantas com este porta-enxerto

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efeito significativo no controle dodeclínio no experimento 2. Noexperimento 1, não atingiu o nívelde significância estabelecido de 5%de probabilidade, o queprovavelmente se deva a maiorvariabilidade neste experimento. Aeficiência das aplicações deinseticidas no controle da pérola-da-terra foi avaliada ao final dosexperimentos. O número médio deinsetos no volume de soloamostrado foi de dois nas plantastratadas, contra 36,2 nas nãotratadas. A diferença foi altamentesignificativa, porém dentro doesperado para os tipos de inseticidautilizados. Desta maneira, assume-se que a aplicação de inseticidastenha proporcionado controleeficiente da praga durante aexecução dos experimentos.

No quinto ano, o experimento 2foi interrompido por decisão doprodutor, que adotou como medidasgerais para toda a área a aplicaçãode inseticidas, a instalação manualde drenos nas áreas de maiorincidência de declínio e o replantiodas plantas com sintomas com oporta-enxerto 043-43. Nesse ano,não foi possível observar sintomasclaros de declínio na área doexperimento, indicando que, com ouso conjunto das alternativastestadas, pode-se viabilizar o cultivoda videira em áreas de incidênciaendêmica do declínio, como o localonde o experimento foi instalado.

O experimento 1 permaneceupor mais um ano. No quinto ano, onúmero de plantas mortas ou comsintomas de declínio aumentou,porém com tendência similar aosresultados do ano anterior, no qualhouve efeito significativo do sistemade preparo de solo e do porta-enxertoe não da aplicação de inseticida(Tabela 1). Não houve interaçãosignificativa entre os fatores,indicando que houve um efeitoaditivo de cada fator na expressãodos sintomas de declínio.

O porta-enxerto 043-43 teve umcomportamento nitidamentesuperior aos demais na ausênciadas outras práticas de manejo(inseticidas + preparo de solo),porém as diferenças reduziram-sequando estas práticas foram usadasem conjunto. Este porta-enxertomostrou-se mais resistente àscondições adversas encontradas no

local, as quais podem ser minoradaspelas práticas de manejo avaliadas.A metodologia utilizada não permiteidentificar os fatores responsáveispelo declínio das plantas, mas pode-se levantar a hipótese que, além dapérola-da-terra, fungos de soloestejam associados ao problema. Amelhoria das condições de solo,principalmente de drenagem,desfavorecem o ataque de patógenosde solo, o que pode explicar o efeitobenéfico do preparo de solo com astrincheiras. Os trabalhos feitos naárea de resistência de porta-enxertos nas condições do Sul doBrasil referem-se basicamente aFusarium oxysporum (Gallotti,1991; Andrade et al., 1994). Como oporta-enxerto Paulsen 1103, quenão teve bom comportamentonesses experimentos, é consideradoresistente à fusariose, supõe-se queesta doença não tenha tidoparticipação decisiva nos resultadose que outros fungos de solo estejamenvolvidos no problema. Fungos dogênero Cylindrocarpon, causadoresdo “pé-preto” (Garrido et al., 2004),cujos sintomas têm sido comumenteobservados, ou mesmo outrasespécies de fungos, podem estardesempenhando um papel impor-tante. A interação pérola-da-terra xpatógenos de solo é outro fator quepode estar envolvido e que mereceser investigado.

De modo geral, pode-se inferirque os problemas de declínio davideira decorrem de mais de umfator e que, para solucionar essesproblemas, há necessidade de secontrolarem todos os fatoresenvolvidos. Entretanto, é possívelque os fatores causadores do declínioatuem com intensidades diferentes,dependendo do local, ou mesmoestejam ausentes em determinadoslocais. Quanto ao preparo do solopré-plantio, mais estudos sãonecessários para definir se é amelhoria do conjunto das condiçõesfísicas e químicas das camadas maisprofundas do solo que promovemmaior sobrevida às plantas ou se éum efeito de drenagem oresponsável pela redução daincidência de declínio nas plantas.

Conclusão

• A combinação de controlequímico da pérola-da-terra, preparo

de solo e porta-enxerto tem efeitosignificativo na redução daincidência de declínio e morte deplantas de videira.

Literatura citada

1. ANDRADE, E.R.; DALBÓ, M.A.;

SCHUCK, E. Avaliação da resistência

de germoplasma de videira ao Fusarium

oxysporum f.sp. herbemontis. Revista

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da-terra Eurhizococcus brasiliensis

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oxysporum f.sp. herbemontis. Fitopa-

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destructans, causador do pé-preto da

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Estabelecimento de índices de maturação para o pontoEstabelecimento de índices de maturação para o pontoEstabelecimento de índices de maturação para o pontoEstabelecimento de índices de maturação para o pontoEstabelecimento de índices de maturação para o pontode colheita de frutos de caqui ‘Fde colheita de frutos de caqui ‘Fde colheita de frutos de caqui ‘Fde colheita de frutos de caqui ‘Fde colheita de frutos de caqui ‘Fuyu’uyu’uyu’uyu’uyu’

Juliana Golin Krammes1, Luiz Carlos Argenta2,Marcelo José Vieira3 e Marcos Antônio Bacarin4

Resumo – Este estudo objetivou estabelecer índices de maturação para o ponto ideal de colheita de caqui ‘Fuyu’cultivado em Fraiburgo, SC. Frutos de caquis ‘Fuyu’ foram colhidos e classificados em seis estádios de maturaçãoem 2002 e 2003. Um dia após a colheita, os frutos foram analisados quanto à coloração da casca, firmeza da polpa,teor de sólidos solúveis, acidez titulável, respiração e produção de etileno. Mudanças gradativas da coloração dacasca dos frutos de verde para vermelho, redução da firmeza da polpa e aumento no teor de sólidos solúveisocorreram com o avanço da maturação. A acidez titulável não variou significativamente com o estádio dematuração. As taxas respiratória e de produção de etileno aumentaram significativamente apenas em frutoscolhidos no estádio supermaduro. Os índices de maturação para colheita de caquis ‘Fuyu’ destinados aoarmazenamento e/ou ao transporte a longa distância corresponderam aos teores de sólidos solúveis entre 14,6%e 15,3%, firmeza da polpa entre 63 e 66N (~14 e 15lb), índice hue entre 73 e 66 e índice visual de cor 4.Termos para indexação: Diospyros kaki, qualidade, estádios de maturação.

Establishing maturity indices for harvest timmingof persimmon fruit cv. Fuyu

Abstract – This study was carried out to establish maturity indices for harvest timing of persimmon fruit ‘Fuyu’grown in Fraiburgo, SC. ‘Fuyu’ persimmon fruits were harvested and classified at six stages of ripening in 2002and 2003. Fruit skin color, flesh firmness, soluble solids content, titratable acidity, respiration and ethyleneproduction were determined one day after harvest. Gradual changes on fruit skin color from green to red,reduction in flesh firmness, and increase in soluble solids content occurred as the maturation advanced. Thetitratable acidity did not change significantly with ripening. The rates of ethylene production and the rates ofrespiration increased significantly only in fruits harvested on overripe stage. Thus, the maturity indices for ‘Fuyu’persimmon fruits harvested to storage and/or to transport were determined as 14,6 - 15,3% of soluble solidscontent, about 63 and 66N (~14 e 15lb) of flesh firmness, hue index between 73 and 66 and visual color index 4.Index terms: Diospyros kaki, quality, maturity stadium.

Introdução

O caqui é originalmente adstrin-gente (Yamada, 1994) e, em algunspaíses, inclusive no Brasil, écomumente consumido após o seuamolecimento, ou seja, em estádiosupermaduro, quando a adstrin-gência desaparece naturalmente.No Japão, Europa e América doNorte o caqui é preferencialmenteconsumido quando ainda firme ecrocante (Yamada, 1994; Crisosto

et al., 1999). Existem várias culti-vares de caqui chamadas “não-adstringentes” que perdem natural-mente a adstringência antes dacolheita (quando ainda firmes) ouque apresentam acúmulo mínimode substâncias adstringentesdurante seu desenvolvimento, comoé o caso da cultivar Fuyu (Yamada,1994).

Durante a maturação de caquisocorrem mudanças consistentes naaparência, sabor e textura (Forbus

Jr. et al., 1991; Mowat et al., 1997).Medidas dessas alterações físicas equímicas são usadas como índicesde maturação e indicadores doponto ideal de colheita para muitasespécies de frutos perecíveis,inclusive para o caqui (Kitagawa &Glucina, 1984; Forbus Jr. et al.,1991; Crisosto et al., 1999). Osíndices de maturação na colheitaservem como indicadores dequalidade, podendo viabilizar acomercialização a distância sem a

Aceito para publicação em 16/10/06.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, bolsista Capes, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3563-0211,e-mail: [email protected] Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected] Eng. agr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, bolsista CNPq, e-mail: [email protected] Eng. agr., Dr., UFPel, Instituto de Biologia, C.P. 345, 96010-900 Pelotas, RS, fone: (53) 3275-7336, e-mail: [email protected].

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exibição prévia dos frutos. Oestabelecimento e o uso de índicesde maturação permitem que frutossejam colhidos em estádio dematuração mais apropriado deacordo com seu destino após acolheita. Em geral, fruto colhidotardiamente apresenta máximaqualidade sensorial e de aparênciana colheita, mas pode apresentarbaixo potencial de conservação daqualidade após a colheita. Amaturação e a qualidade de caquina colheita variam entre cultivares,com as condições climáticas e ossistemas de manejo do pomar(Kitagawa & Glucina, 1984; Mowatet al., 1997). Por isso, o monito-ramento da maturação e a determi-nação do ponto de colheita de frutosdevem ser realizados pela combina-ção de vários índices de maturação.

O objetivo desse estudo foicaracterizar a maturação pelaavaliação de mudanças fisiológicase da qualidade dos frutos na planta,visando estabelecer índices dematuração para o ponto de colheitade caqui ‘Fuyu’, produzido sob ascondições de Fraibur-go, SC.

Material emétodos

Frutos

Caquis ‘Fuyu’ fo-ram colhidos em po-mar comercial naregião de Fraiburgo,SC, em 2002 e 2003. Osfrutos foram visual-mente classificadosem seis estádios dedesenvolvimento deacordo com a colora-ção da casca (Figura 1)e assim nomeados:

• Estádio 1 (E1):fruto imaturo, comsuperfície predomi-nantemente verde;

• Estádio 2 (E2):fruto maduro-incipien-te, verde-amarelo(frutos com superfíciepredominantementeverde e com menos de50% da superfícieamarela);

• Estádio 3 (E3):fruto meio maduro,

amarelo-verde (frutos com super-fície predominantemente amarelae com menos de 50% da superfícieverde);

• Estádio 4 (E4): fruto meiomaduro, amarelo-laranja (frutoscom superfície predominantementeamarela e com menos de 50% dasuperfície laranja);

• Estádio 5 (E5): fruto maduro,laranja-amarelo (frutos comsuperfície predominantementelaranja e com menos de 50% dasuperfície amarela);

• Estádio 6 (E6): fruto supermaduro, laranja-vermelho.

Em 2002, a colheita foi realizadadia 1º de maio para os estádios 2 a4 e nos dias 8 e 17 de maio para osfrutos nos estádios 5 e 6, respec-tivamente. Em 2003, os frutosforam colhidos no dia 25 de abrilnos estádios de 1 a 4 e no dia 3 demaio no estádio 5.

As temperaturas médias duran-te a maturação e colheita dos frutosforam obtidas em estação meteoro-lógica localizada a 5km do pomaronde os frutos foram colhidos.

Análises da maturação equalidade

Os frutos foram analisadosquanto à coloração da casca, firmezada polpa, teor de sólidos solúveis(SS), acidez titulável (AT), taxasrespiratórias e de produção deetileno um dia após a colheita. Acoloração da superfície dos frutosfoi avaliada em três posições dacasca de cada fruto, duas medidasem dois lados opostos da regiãoequatorial e uma medida nasuperfície distal em relação aocálice. A coloração foi estimadavisualmente, dando-se notas de 2 a8, conforme tabela de coresdesenvolvida para o caqui ‘Fuyu’(Yamazaki & Suzuki, 1980). Asmenores notas referem-se a coresverde-amarelas e as maiores notasreferem-se a cores laranja-vermelhas. Adicionalmente, acoloração dos frutos foi determi-nada por colorímetro (CR300,Minolta) e expressa em índice hue.Os teores de SS e a AT foramdeterminados no suco preparado

Figura 1. Estádios de maturação de frutos de caquis ‘Fuyu’ classificados visualmentepela coloração da superfície. (E1): imaturo, superfície predominantemente verde; (E2):maduro-incipiente, superfície verde-amarela (> 50% verde); (E3): meio maduro, superfícieamarelo-verde (> 50% amarelo); (E4): meio maduro, superfície amarelo-laranja(> 50% amarelo); (E5): maduro, superfície laranja-amarela (> 50% laranja); (E6):supermaduro, superfície laranja-vermelha

E1 E2 E3

E4 E5 E6

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com espremedor tipo Champion(Plastaket Mgf.). Os teores de SSforam determinados usando-serefratômetro digital (Atago) e a ATfoi determinada pela titulação dosuco com NaOH 0,1 N até pH 8,2,usando-se um titulador automático(Radiometer). A firmeza da polpa foimedida em três pontos na regiãoequatorial de cada fruto usando-seum penetrômetro com ponteira de8mm (Güss).

As taxas respiratórias e deprodução de etileno foram deter-minadas em amostras de cincofrutos mantidas a 23oC em jarras(4L) de vidro e tampas de plástico,supridas com ar comprimido livrede etileno, com fluxo de 100ml/min.As concentrações de CO2 e etilenono ar efluente foram analisadas pormeio de um cromatógrafo a gás(Shimadzu, 14B), conforme descritopor Krammes et al., 2005.

Análises estatísticas

O delineamento experimentalusado foi o de blocos casualizadoscom três repetições, sendo aunidade experimental constituídade 20 frutos. Os tratamentos foramos cinco estádios de maturação (E2a E6 em 2002 e E1 a E5 em 2003).As análises da cor da casca e dafirmeza da polpa foram feitas paracada fruto (20 determinações porrepetição), enquanto as análises deSS e AT foram feitas utilizando sucode quatro subamostras de cincofrutos (quatro determinações porrepetição). As taxas de produção deetileno e respiratória foram me-didas utilizando quatro subamos-tras de cinco frutos (quatro deter-minações por repetição). Os dadosforam submetidos à análise devariância e a diferença mínimasignificativa (DMS) entre trata-mentos foi determinada pelo testede Fisher (α = 0,05) usando versão6.12 do SAS (SAS Institute).

Resultados e discussão

A maturação de caqui ‘Fuyu’ naplanta foi visualmente evidenciadapela mudança da coloração da cascade verde (fruto imaturo) a amarelo-laranja (fruto maduro) e finalmentea laranja-vermelha (fruto super-maduro) (Figuras 1 e 2A). Essasmudanças da coloração da super-

fície de caquis resultam da degra-dação da clorofila (pigmento verde)e do aumento da síntese de carote-nóides (β-caroteno, zeaxantina elicopeno, pigmentos amarelos evermelhos) (Forbus et al. 1991).

Com o avanço da maturaçãohouve aumento do índice de cor(estimado pela tabela de cores deYamazaki & Suzuki, 1980) e reduçãodo índice hue (Figura 2B),mostrando que essas medidaspodem ser usadas como indicadoresdo estádio de maturação de caqui‘Fuyu’. A mudança da cor na cascados frutos é um dos indicadores dematuração mais usados para es-timar o ponto de colheita comercialde frutos de várias espécies,incluindo caqui (Forbus et al.,1991),pêssego (Kader & Mitchell, 1989) etomate (Wills et al., 1998).

O ponto de colheita de caqui‘Fuyu’ ocorre quando a coloraçãona região equatorial da casca dofruto atinge índice 6, segundo tabelade Yamazaki & Suzuki (1980), parafrutos produzidos no Japão, e índice5 para frutos produzidos na Nova

Zelândia (Kitagawa & Glucina,1984). No Sul do Brasil, a colheitacomercial de caqui ‘Fuyu’ normal-mente ocorre quando os frutosestão entre meio maduros (E3) emaduros (E5) (Figura 1) (co-municação pessoal com produ-tores), correspondendo aos índicesde cor de aproximadamente 3,5 e 5da tabela de Yamazaki & Suzuki(1980) (Figura 2A) e índices hue 76e 60, respectivamente (Figura 2B).Isso significa que, no ponto decolheita comercial, caqui ‘Fuyu’produzido no Sul do Brasil podeapresentar índice de cor inferioràquele de frutos produzidos noJapão.

Condições climáticas e disponi-bilidade de nutrientes minerais sãoalguns dos fatores que podem afetara coloração de caqui na colheita. Odesenvolvimento de coloraçãoamarelo-laranja ou vermelhadurante a maturação de caqui émaior em frutos cultivados a 20 a25oC que naqueles cultivados a 15ou 30oC (Chujo, 1982; Sugiura et al.,1991). Esse efeito da temperatura é

Figura 2. (A) Índice de cor da superfície estimado por tabela de cores(escala 2 a 8), (B) ou colorímetro (índice hue), (C) teor de sólidos solúveis(SS) e (D) firmeza da polpa de frutos de caqui ‘Fuyu’ colhidos emdiferentes estádios de maturação em 2002 e 2003

Nota: As barras verticais internas representam as diferenças mínimas significativas(α = 0,05) entre anos, para cada estádio de maturação. Valores de DMS (α = 0,05)nas legendas representam as diferenças mínimas significativas entre estádio dematuração para cada ano.

Estádios de maturação

Índi

ce d

e co

r hue

50

60

70

80

90

2002, DMS= 3,3 2003, DMS= 2,52

Índi

ce d

e co

r (2

a 8)

2

3

4

5

6

7 2002, DMS= 0,44 2003, DMS= 0,27

1 2 3 4 5 6

SS (%

)

13

14

15

16

17 2002, DMS= 0,71 2003, DMS= 0,51

1 2 3 4 5 6

Firm

eza

da p

olpa

(N)

24

28

50

60

70

80

2002, DMS= 4,48 2003, DMS= 3,28

(A)

(D) (C)

(B)

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mais evidente durante a segundafase de crescimento rápido dosfrutos (últimos 30 dias antes dacolheita) (Sugiura et al., 1991). Astemperaturas médias foram 18,3oCem 2002 e 14,9oC em 2003, duranteos 30 dias pré-colheita. No presenteestudo não foi observado retar-damento do desenvolvimento da cornos frutos colhidos em 2003 relativoa 2002 (Figura 2), apesar da menortemperatura durante o desenvolvi-mento dos frutos em 2003. Ressalta-se que outros fatores comoalta concentração de fósforona planta e alta densidadede radiação também favore-cem o desenvolvimento decoloração laranja-vermelhaem caqui (Chujo, 1971;Kitagawa & Glucina, 1984).

As mudanças de cor dasuperfície dos frutos foramacompanhadas pelo aumen-to no teor de sólidos solúveis(SS) até o estádio E5 (Figura2C) e pela diminuição dafirmeza da polpa (Figura2D). Os açúcares são osprincipais SS presentes nosuco dos frutos (Wills et al.,1998). Em 2002, o teor de SSaumentou de 14,4% em frutomaduro-incipiente (E2) para16,6% em fruto maduro (E6),enquanto em 2003 o teor deSS aumentou de 12,5% emfruto imaturo (E1) para 16,1%em fruto maduro (E5)(Figura 2C). A leve reduçãodo teor de SS observada du-rante o desenvolvimento defrutos maduros a superma-duros pode estar relacionadaao consumo de açúcaressolúveis pelo aumento darespiração (Figura 3). Osteores de SS dos frutoscolhidos nos estádios 2 a 4foram maiores em 2002 doque em 2003, indicando queo teor de SS pode variarentre frutos com mesmoíndice de coloração dasuperfície. O menor acúmulode açúcares solúveis em 2003pode estar relacionado atemperaturas mais baixasdurante o crescimento dosfrutos (dados não apresen-tados), conforme sugeremChujo (1982) e Sugiura et al.(1991). No Japão, a qualidade

de caqui ‘Fuyu’ é considerada ótimaquando o teor de SS for próximo a18%, embora os frutos normalmenteapresentem apenas 15,5% de SS nacolheita (Kitagawa & Glucina, 1984).

Em 2003, houve redução dafirmeza da polpa de 78,2N (17.6lb)em frutos imaturos (E1) para 61,7N(13.9lb) em frutos maduros (E5),enquanto em 2002 essa redução foide 68,8N (15.5lb) em fruto maduro-incipiente (E2) para 27,1N (6.1lb)em frutos supermaduros (E6)

(Figura 2D). A firmeza da polpa dosfrutos colhidos nos estádios 2 e 3foi maior em 2003 do que em 2002(Figura 2D), indicando variaçõesentre frutos com mesmo índice decoloração da casca. Por outro lado,em 2002 houve variação dos índicesde cor sem variação da firmeza dapolpa entre os estádios 3 e 5. Assim,o ponto de colheita de frutos nãodeve ser estimado por apenas umíndice de maturação.

Não houve variação expressivada acidez titulável (AT) como avanço da maturação(Figura 3A) indicado pelasalterações da cor, SS efirmeza de frutos colhidosem 2003 (Figura 2). Em2002, a AT não diferiusignificativamente entrefrutos dos estádios E3, E4 eE5, embora esses frutosapresentassem menor ATque o fruto maduro-incipiente (E2). Em 2003,apenas o fruto imaturo (E1)apresentou maior acidez queos frutos dos demais estádiosde desenvolvimento. Essesresultados indicam que a ATé um parâmetro menosaplicável para indicar oestádio de maturação e oponto de colheita de caqui‘Fuyu’ em relação a outrosindicadores como cor e SS.Observou-se que a concen-tração de ácidos no suco decaqui foi de aproximada-mente 0,035% (Figura 3A),sendo muito menor que aacidez determinada no sucode maçãs, que varia de 0,4%a 0,6% (Argenta, 1993), efrutos de caroço, com AT de0,5% a 0,9% (Kader &Mitchel, 1989) no ponto idealde colheita. Ao contrário, oteor de SS em caqui (Figura2C) é maior que o deter-minado em outras espéciesde frutos (Kader & Mitchel1989; Argenta, 1993). Semdúvida, a notável qualidadesensorial de caqui ‘Fuyu’maduro se deve, em parte,à alta relação SS/acidez nosuco do fruto.

A passagem do estádiode frutos imaturos (E1) efrutos maduro-incipientes afrutos maduros (E5) na

Nota: As barras verticais internas representam asdiferenças mínimas significativas (α = 0,05) entre anos,para cada estádio de maturação. Valores de DMS (α =0,05) nas legendas representam as diferenças mínimassignificativas entre estádio de maturação para cadaano.

Figura 3. (A) Acidez titulável (AT), (B) taxas deprodução de etileno e (C) respiratória em frutosde caqui ‘Fuyu’ colhidos em diferentes estádiosde maturação em 2002 e 2003

Estádios de maturação

0.02

0.03

0.04

0.05

AT

(%)

2002, DMS= 0,004 2003, DMS= 0,002

1 2 3 4 5 6

0.2

0.4

0.6

0.8

CO (n

mol

/kg/

h)

2002, DMS= 0,101 2003, DMS= 0,194

10

20

30

40

50

60

Etile

no (n

mol

/kg/

h) 2002, DMS= 8,14

2003, DMS= 12,44

(A)

(C)

(B)

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planta (Figuras 1 e 2) não foiassociada à variação significativadas taxas de produção de etileno(Figura 3B) e respiratória (Figura3C). Apenas o fruto supermaduro(E6) apresentou taxas respiratóriae de produção de etileno signifi-cativamente superiores às dosfrutos maduro, meio maduro oumaduro-incipiente. Assim, medidasde taxa respiratória e de produçãode etileno logo após a colheitaparecem não ser adequadas paraestimar o início da maturaçãocomercial e o ponto de colheita decaquis ‘Fuyu’ destinados aoarmazenamento ou ao mercado.

A taxa de produção de etilenonão é o único fator determinante doinício da maturação dos frutos,embora o etileno seja o fitormônioque regula a maturação de frutosclimatéricos (Reid et al., 1973). Oinício da maturação pode estar maisassociado ao aumento da sensibili-dade dos frutos ao etileno endógenodo que ao aumento acentuado desua produção (MacGlasson, 1985).

A alta qualidade de caqui ‘Fuyu’está associada ao alto teor de SS,coloração laranja-vermelha efirmeza e crocância moderada(Sargent et al., 1993; Crisosto et al.,1999). Nesse sentido, o ponto deconsumo corresponde a frutossupermaduros (E6) (Figura 2).Entretanto, caqui ‘Fuyu’ colhidoem estádio de maturação avançada(E5 e E6) tem menor vida pós-colheita que frutos colhidosprecocemente, nos estádios E3 e E4(Krammes et al., 2005). Além disso,frutos colhidos com firmeza dapolpa muito baixa são maisvulneráveis a danos mecânicosdurante a colheita, classificação,empacotamento e transporte.Danos mecânicos provocamexpressivo aumento da produção deetileno, acelerando a maturação defrutos. A incidência de frutos comdanos mecânicos e alta produção deetileno pode acelerar a maturaçãode toda a carga de frutos noambiente de armazenamento. Poroutro lado, caquis são maissuscetíveis ao dano por frio durantea armazenagem quando colhidosprecocemente (MacRae, 1987;Krammes, 2004). Assim, os frutosde caqui ‘Fuyu’ produzidos naregião de Fraiburgo e destinados alongos períodos pós-colheita

(armazenamento, transporte edistribuição a mercados distantes)devem ser colhidos no estádio E4(Figura 1).

Conclusões

Os índices de maturação para oponto ideal de colheita de caqui‘Fuyu’ cultivado em Fraiburgo, SC,e destinado ao armazenamento e/ou transporte a longa distância são:teores de sólidos solúveis entre14,6% e 15,3%, firmeza da polpaentre 63 e 66N (~14 e 15lb), índicehue entre 73 e 66 e índice visual decor 4.

As taxas de produção de etilenoe respiratória aumentam apenasem fruto supermaduro.

Literatura citada

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SCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deSCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deSCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deSCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deSCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – Novas cultivares deameixameixameixameixameixeira com resistência à escaldadura das folhaseira com resistência à escaldadura das folhaseira com resistência à escaldadura das folhaseira com resistência à escaldadura das folhaseira com resistência à escaldadura das folhas

Jean-Pierre Henri J. Ducroquet1 eMarco Antonio Dalbó2

Resumo – O cultivo da ameixeira no Brasil está seriamente limitado pela escaldadura das folhas, doençacausada pela bactéria Xylella fastidiosa. A maioria das cultivares é altamente suscetível, o que resulta numa vidaútil muito curta dos pomares em áreas contaminadas. O uso de cultivares resistentes é a solução ideal para seconviver com esse problema, porém, para as condições brasileiras, existem poucas opções de cultivares comqualidade de fruto aceitável e com um nível ao menos mediano de resistência à doença. As cultivares SCS 409Camila e SCS 410 Piuna vêm suprir essa deficiência, pois possuem, além de uma resistência elevada à escaldadura,frutos de boa qualidade para fins comerciais. Além disso, a cultivar SCS 409 Camila permitirá também estendero período de produção de ameixa por ser de maturação tardia, pois é colhida 15 a 20 dias após a cultivar Letícia,que é normalmente a última a ser colhida no Brasil. Já a cultivar SCS 410 Piuna possui frutos de coloração escura,o que permitirá o aumento da oferta deste tipo de ameixa no mercado nacional. Ambas as cultivares são de floraçãotardia, porém com exigência média de frio hibernal, dispensando tratamentos para quebra de dormência namaioria dos anos em áreas de média a alta altitude (acima de 700m).Termos para indexação: ameixa, cultivar, Prunus salicina, Xylella fastidiosa, melhoramento genético.

SCS 409 Camila e SCS 410 Piuna – New plum cultivarswith resistance to leaf scald

Abstract – Plum production in Brazil is seriously limited by leaf scald, a disease caused by the bacteria Xylellafastidiosa. Most cultivars are highly susceptible, resulting in a very short orchard lifespan in infected areas.Resistant cultivars would be the ideal solution but for Brazilian conditions there are few cultivars with acceptablefruit quality and a medium level of leaf scald resistance. The new cultivars SCS 409 Camila e SCS 410 Piuna canovercome this deficiency because they combine a high level of resistance to leaf scald and good fruit quality forcommercial purposes. SCS 409 Camila is a late cultivar and will also extend the plum harvest period to 15-20 daysafter Leticia, which is normally the latest plum cultivar in Brazil. ‘SCS 410 Piuna’ is a dark skin fruit and will fulfillthe lack of this kind of plums in the Brazilian market. Both cultivars are late flowering but with medium chillinghours requirement, with no need for dormancy breaking treatments in most years in medium altitude areas(above 700m).Index terms: Prunus salicina, Xylella fastidiosa, plum breeding, cultivar.

Introdução

A ameixeira (Prunus salicina eseus híbridos) está entre as espéciesde fruteiras temperadas mais bemadaptadas às condições do Sul doBrasil. Entre o material genéticocultivado, existem cultivares de altaqualidade de fruto, de floraçãotardia, ou com baixa incidência dedoenças foliares ou podridões.

Entretanto, o cultivo da ameixeiratem tido uma expansão limitada noBrasil. Dentre os principais fatoreslimitantes, destaca-se a escaldaduradas folhas, causada pela bactériaXylella fastidiosa. Esta doença étransmitida por insetos vetores(cigarrinhas) e está amplamentedisseminada nas principais regiõesprodutoras (Ducroquet et al., 2001).Em vista da dificuldade de controle

da doença, a escolha da cultivartorna-se também um fatorimportante para se conviver com oproblema.

O plantio de cultivares resisten-tes é teoricamente o método maisadequado de controle da doença,visto que não existe controlequímico eficiente e as medidas deisolamento a campo apresentamrisco de serem vencidas. Embora

1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 89600-000 São Joaquim, SC, fone: (49) 3323-0324, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3566-0054, e-mail:[email protected].

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existam cultivares com altaresistência, estas não apresentamqualidade satisfatória para aprodução comercial. Por outro lado,as cultivares de melhor qualidadede fruto, como Irati, Polirosa eSanta Rosa, estão entre as de maiorsensibilidade à bactéria.

A ausência de cultivares inteira-mente satisfatórias, principalmentecom relação à resistência àescaldadura das folhas, motivou ainstalação de vários programas demelhoramento genético da amei-xeira no Brasil. Na Epagri, ostrabalhos de melhoramentoiniciaram-se em 1992. Os objetivosprincipais são a resistência àescaldadura e qualidade de fruto.Os trabalhos são conduzidos emtrês locais (Videira, São Joaquim eUrussanga) visando a adaptação adiferentes condições climáticas doEstado de Santa Catarina.

A Epagri/Estação Experimentalde Videira – EEV – vem avaliandocultivares de ameixeira desde o finaldos anos 60. Neste processo, destaca-se a introdução, em 1984, de umadúzia de seleções locais da região doDelta do Paraná (Argentina), cedidaspelo Instituto Agronômico doParaná – Iapar. Estes clones haviamsido selecionados por Bakarcic &Santis (1969) em função de um certonível de tolerância à escaldaduradas folhas. As árvores foram plan-tadas na EEV numa área totalmentecontaminada. Entre elas destaca-ram-se Chatard e Piamontesa porserem as únicas sobreviventes entre40 cultivares de várias origensintroduzidas na mesma época, apósoito anos de avaliação. Posterior-mente, outras introduções, comoEstrela Púrpura (também daArgentina), Sanguínea e Carazinho,também mostraram alta resistênciaà doença. Nenhuma dessas culti-vares apresentou características dequalidade de fruto satisfatóriaspara o cultivo comercial, porémforam utilizadas como fontes deresistência para os trabalhos demelhoramento genético.

‘SCS 409 Camila’

Origem

A cultivar SCS 409 Camila foiobtida a partir do cruzamento‘Chatard’ x ‘Angeleno’. O cruzamen-

to foi realizado no ano de 1993 eresultou em uma população de 58“seedlings”, plantados a campo em1994. Em 1999, a planta original foiselecionada e multiplicada porenxertia, passando a ser avaliadana Epagri/Estações Experimentaisde Videira (EEV) e São Joaquim(EESJ), com o código 93-1-8-11.Posteriormente, foi incluída emcoleções de materiais de ameixeira,em seis propriedades rurais dediferentes regiões do Estado, sob adenominação SC 1.

Características

A ‘SCS 409 Camila’ destaca-sepor ser de floração e maturaçãotardias. Em Videira (800m dealtitude), a floração ocorrenormalmente de meados a final domês de setembro, de modo quedificilmente é afetada por geadastardias. Nas condições de SãoJoaquim (1.400m de altitude), afloração ocorre mais cedo do queem Videira (primeira quinzena desetembro), porém bem mais tardeque a cultivar Letícia, que é a maisplantada na região.

Uma característica interessantedesta cultivar é a época tardia decolheita, que ocorre de meados afinal de fevereiro. A colheita ocor-

re cerca de 15 a 20 dias após a‘Letícia’, que normalmente é aúltima a ser colhida. Dessa maneira,a cultivar Camila permitiráexpandir consideravelmente operíodo de produção de ameixa noSul do Brasil. Cultivares de co-lheita tardia são mais interes-santes para as regiões mais frias,em que o ciclo vegetativo é maisprolongado. Entretanto, tem seobservado que, tanto em Videiracomo em São Joaquim, as épocas decolheita são bastante próximas. Issose deve ao fato de que, em altitudesum pouco mais baixas, como emVideira, o ciclo é um pouco maiscurto, porém inicia mais tarde(floração mais tardia), resultandoem uma época de maturaçãosemelhante.

Os frutos são de coloração roxo-escura, quando maduros, detamanho médio a grande (Figura1). O sabor é excelente, de acordocom os testes de degustaçãorealizados. Os frutos são mais docescomparativamente à maioria dascultivares tradicionais de ameixeira,o que é uma característica vantajosapara o mercado brasileiro.

O plantio da ‘Camila’ deve serfeito conjuntamente com outrascultivares polinizadoras. Emaltitudes médias (700 a 1.100m), a

Figura 1. Frutos da cultivar SCS 409 Camila

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cultivar SCS 410 Piuna tem mostadouma boa coincidência de floração.Nas condições de São Joaquim(1.400m), a floração da ‘Camila’tende a ser mais tardia que a ‘SCS410 Piuna’ e, portanto, não ocorrecoincidência de floração com estaúltima nem com a ‘Letícia’.

O potencial produtivo destacultivar é bastante elevado. Nascondições do Vale do Rio do Peixe,houve necessidade de raleio emtodos os anos de observação, mesmoem 2006, quando ocorreramproblemas de altas temperaturasno inverno e geadas tardias. Já nascondições de São Joaquim, nãohouve produção no ciclo 2006/07,apesar de a floração ter ocorrido

após a última geada. Aparen-temente, as condições preferenciaisde adaptação desta cultivar estãonas áreas de altitude entre 700 e1.100m da Região Sul do Brasil,podendo-se ampliar esta faixa àmedida que sejam obtidos novosdados de experimentação.

Na Tabela 1 estão sumarizadosalguns dados fenológicos e deprodução da ‘SCS 409 Camila’. Éimportante salientar que foramobtidos em condições de plantio commaterial contaminado com Xylellafastidiosa. Os dados de plantios commaterial livre ainda são recentes,mas o desempenho das plantas devemelhorar sensivelmente nestascondições. Foi observado, por

exemplo, que o tamanho médio dosfrutos aumentou bastante, ficandoem torno de 150g num pomar bemconduzido no município deBrunópolis, SC.

‘SCS 410 Piuna’

Origem

A cultivar SCS 410 Piuna foiobtida a partir do mesmocruzamento ‘Chatard’ x ‘Angeleno’.O cruzamento foi realizado no anode 1993 e resultou em umapopulação de 58 “seedlings”,plantados a campo em 1994. Em1999, a planta original foiselecionada e multiplicada porenxertia, passando a ser avaliadana Epagri/EEV e na Epagri/EESJ,com o código 93-1-8-39. Pos-teriormente, foi incluída emcoleções de materiais de ameixeira,em seis propriedades rurais doEstado, sob a denominação SC 2. Onome de origem tupi significa pelepreta, uma característica marcantedesta cultivar.

Características

Nas condições climáticas de SãoJoaquim, a ‘SCS 410 Piuna’ florescepraticamente junto à ‘Letícia’, ouseja, a data de sua plena floraçãovaria de 20 de agosto a 10 desetembro, dependendo do ano(Tabela 2). Sendo assim, deve-seobservar com atenção a escolha dolocal de plantio, a fim de reduzir osriscos de perda por geadas tardias.Suas possíveis aptidões comopolinizadora da ‘Letícia’, que estáem plena expansão na RegiãoSerrana, foram confirmadasexperimentalmente. A cultivarPiuna vem assim preencher umalacuna, já que a cultivar SA-86-13,recomendada para esta finalidadena maioria das regiões produtorasde ameixa ‘Letícia’, floresce depoisdesta cultivar nas partes mais altasda Região Serrana de São Joaquim(>1.200m) e apresenta demasiadasensibilidade ao cancro bacterianocausado por XanthomonasCampestris pv. Pruni.

No Vale do Rio do Peixe, emcondições de altitudes médias (700a 1.000m), a floração tende a ser umpouco mais tardia que a da ‘Letícia’

Tabela 1. Características fenológicas, produção e peso médio de frutos dacultivar de ameixeira SCS 409 Camila

Floração Colheita PesoCiclo ProduçãoInício Fim Início Fim médio

g kg/planta

Videira

2003/04 25/9/03 15/10/03 22/2/04 27/2/04 71,5 -

2004/05 10/9/04 24/9/04 10/2/05 15/2/05 72,7 -

2005/06 19/9/04 02/10/04 14/2/06 19/2/06 69,0 -

São Joaquim

2004/05 02/9/04 14/9/04 31/1/05 07/2/05 68,7 32,5

2005/06 09/9/05 02/10/05 16/2/06 25/2/06 99,0 23,7

Tabela 2. Características fenológicas, produção e peso médio de frutos dascultivares de ameixeira SCS 410 Piuna e Letícia

Floração ColheitaPeso Pro-Ciclo Cultivar

Início Fim Início Fimmédio dução

g kg/planta

Videira

2003/04 Piuna 22/9/03 12/10/03 18/1/04 22/1/04 72,0 -

2004/05 Piuna 30/8/04 19/9/04 5/1/05 10/1/05 84,3 -

2005/06 Piuna 15/9/05 30/9/05 3/1/06 9/1/06 84,0 -

São Joaquim

2004/05 Piuna 4/8/04 6/9/04 20/12/04 27/12/04 73,0 29,7

Letícia 10/8/04 8/9/04 3/1/05 21/1/05 87,7 39,8

2005/06 Piuna 2/9/05 15/9/05 9/1/06 16/1/06 87,0 46,5

Letícia 29/8/05 16/9/05 30/1/06 16/2/06 112,0 33,2

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na maioria dos anos. Nestascondições, ocorre uma boacoincidência de floração com a ‘SCS409 Camila’, para a qual se mostrouuma boa polinizadora.

A ‘Piuna’ apresenta-se muitovigorosa, com ramos laterais bemabertos, o que facilita a condução,desde que plantada com espaça-mento maior do que o usado para a‘Letícia’. A entrada em francaprodução se deu no terceiro anoapós o plantio nas condições de SãoJoaquim, SC, porém no Vale do Riodo Peixe notou-se um tempo maiorpara a entrada em produção,provavelmente devido ao fato deque as plantas apresentavamexcesso de vigor. A princípio, oplantio da ‘Piuna’ deve ser feitoconjuntamente com outrascultivares polinizadoras, como ascitadas anteriormente.

Os frutos são de película pretaquando maduros, de tamanho médioa grande, firmes e bastante atrativos(Figura 2). A polpa é branco-cremee bastante doce (15 a 16o Brix)comparativamente à maioria dascultivares tradicionais de ameixeira,inclusive ‘Letícia’, o que é umacaracterística vantajosa para omercado brasileiro. A colheita se dáentre 20/12 e 20/01, dependendo do

ano, ou seja, cerca de 20 dias antesda ‘Letícia’ (Tabela 2). No casoespecífico da Região Serrana de SãoJoaquim, a ‘Piuna’ encaixa-se bemem termos de escalonamento dacolheita em relação à ‘Letícia’. Acolheita ocorre também entre o finaldo raleio e o início da colheita damaçã. Apesar da grande oferta deameixas nacionais neste período,ela se diferencia das mesmas pelaaparência e deverá encontrar umnicho de mercado por assemelhar-se às ameixas importadas, quechegam ao mercado brasileiro maistarde.

Apesar de a exigência em frioser um pouco inferior às exigên-cias da ‘Letícia’, ela não temapresentado produtividade con-sistente até o momento em alti-tudes menores como as do Meio-Oeste, onde há alternância de sa-fras boas com más. Entretanto, naEpagri/EESJ (altitude de 1.400m),vem apresentando boa pro-dutividade desde que entrou emprodução há três anos, sendo umadas poucas cultivares, entre as 70seleções em avaliação, queproduziram frutos na safra 2006/07, que foi muito problemáticadevido à ocorrência de geadastardias.

Figura 2. Frutos da cultivar SCS 409 Piuna

Resistência a doenças

As duas cultivares têm semostrado bastante tolerantes àescaldadura das folhas (Xylellafastidiosa). Na EEV, há plantas deseis anos de idade, a partir de mudasfeitas com material já contaminado,que não apresentaram nenhumsintoma da doença. Não se trata,porém, de um nível de resistênciaextremamente elevado. As plantas-mãe (“seedlings”) se mantiveramvivas por 13 anos, antes de seremeliminadas, porém nos últimos anosos sintomas foliares de escaldaduradas folhas eram nítidos. Com-parativamente a outras cultivaresem cultivo atualmente, sãoprovavelmente mais resistentes quetodas as cultivares consideradas dealta qualidade de fruto. Dessamaneira, podem ser indicadasmesmo para áreas já contaminadaspela doença, desde que com algunscuidados, como o plantio de mudaslivres de Xylella fastidiosa e manejoadequado para garantir vigoradequado das plantas.

Nas condições climáticas daRegião Serrana, mesmo as culti-vares sensíveis à escaldadura dasfolhas não têm apresentadosintomas. Um dos maioresproblemas tem sido o cancrobacteriano, ao qual as duascultivares têm apresentado bomnível de resistência a campo. Asfolhas têm apresentado sintomas,sem que isso tenha resultado emqueda antecipada das mesmas. Nãoforam encontrados sintomas destadoença em frutos ou ramos.

As observações feitas até agoraindicam também uma baixaincidência de outros patógenos,como doenças fúngicas foliares. Nocaso da ‘SCS 409 Camila’, o controlede insetos, em especial a mosca-da-fruta, requer um cuidado especial,devido ao ciclo longo e maturaçãona época mais quente do ano.

Literatura citada1. BAKARCIC, M.; SANTIS, M.A.

Comportamiento de la escaldadura dela hoja de variedades locales de ciruelo.Delta del Paraná, v.9, n.12, p.35-42,1969.

2. DUCROQUET, J.P.; ANDRADE, E.R.;HICKEL, E.R. A escaldadura das folhasda ameixeira em Santa Catarina.Florianópolis, 2001, 55p. (Epagri.Boletim Técnico, 118).

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Morfogênese de vimeiro tratado com preparadosMorfogênese de vimeiro tratado com preparadosMorfogênese de vimeiro tratado com preparadosMorfogênese de vimeiro tratado com preparadosMorfogênese de vimeiro tratado com preparadoshomeopáticos e fitoterápicoshomeopáticos e fitoterápicoshomeopáticos e fitoterápicoshomeopáticos e fitoterápicoshomeopáticos e fitoterápicos

Jamille Casa1, Mari Inês Carissimi Boff2,Tássio Dresch Rech3 e Pedro Boff4

Resumo – A localização do cultivo do vime em áreas úmidas, próximas aos cursos de água, requer um manejofitossanitário de mínimo impacto, como aquele preconizado através da homeopatia e fitoterapia. O presentetrabalho, conduzido na Epagri/Estação Experimental de Lages, teve o objetivo de avaliar o efeito de preparadoshomeopáticos e fitoterápicos sobre a morfogênese e o acúmulo de biomassa em Salix viminalis, espécie devimeiro recentemente introduzida para cultivo comercial na Região Serrana Catarinense. Os preparadosfitoterápicos ou homeopáticos aplicados a diferentes diluições centesimais hahnemannianas (CH) não afetaram,de modo geral, a morfogênese e o acúmulo de biomassa de Salix viminalis, embora o efeito “hormesis” possaestar presente entre as potências 6CH e 30CH.Termos para indexação: Salix, morfogênese, homeopatia.

Willow morphogenesis treated with homeopathic andphytoterapic preparations

Abstract – Control measures of pest and diseases in willow crops need to be environmental friendly becausethey are located nearby rivers. In this way homeopathic and phytotherapic preparations are such suitable cropprotection measures. Two experiments were carried out at EpagriI/Experiment Station of Lages in order toassess the effect of homeopathic and phytotherapic preparations on morphogenesis and biomass accumulationof Salix viminalis, a specie of willow recently introduced in that region. The homeopathic and phytotherapicpreparations did not affect the morphogenesis and nor the biomass accumulation of Salix viminalis willow crop.Hormesis phenomena can occur between 6th and 30th centesimal hahnemann dilution.Index terms: Salix, morphogenesis, homeopathy.

Planalto Serrano Catari-nense abriga mais de 1.200famílias de pequenos agri-

cultores que têm como principalfonte de renda o cultivo do vimecomum Salix x rubens (Epagri,1998). O vimeiro Salix spp. requersolos úmidos, os quais se localizamem áreas de baixada próximas de

cursos d’água. A introdução denovas espécies vegetais sensíveis apragas e doenças tem obrigado ouso de pulverizações aéreas compesticidas, prática não demandadaaté então, além de iscas formicidasresiduais (Casa, 2005).

Agrotóxicos residuais movimen-tam-se no ambiente através dos

cursos d’água e dos níveis tróficos,contaminando toda a cadeiaalimentar. Portanto, os sistemas decultivo devem ser redesenhados demodo que haja o restabelecimentodo equilíbrio dinâmico solo-planta-ecossistema, e quando interven-ções fitossanitárias se fizeremnecessárias, estas devem apoiar a

Aceito para publicação em 6/6/06.1Eng. agr., M.Sc., Udesc/CAV, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Udesc/CAV, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected].

O

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cura vegetal sem que haja efeitoscolaterais no ambiente (Boff et al.,2003).

A homeopatia tem sido recen-temente referida como ciênciapromissora na cura vegetal não-residual (Casali, 2004). Bonato(2004) relata que preparadoshomeopáticos e fitoterápicos, alémdo efeito de cura, otimizam oacúmulo de biomassa e equilibramo desenvolvimento morfogenéticodas plantas. As preparaçõeshomeopáticas adquirem caracte-rísticas próprias através do processocombinado de diluição e sucussãosucessivas conhecido como poten-cialização. Segundo Andrade &Casali (2004), o nível de dinamizaçãoa ser usada em vegetais depende deexperimentações, verificando-se opotencial terapêutico, fitossanitárioe morfológico dos preparados paracada cultura.

Dois ensaios foram conduzidosna Epagri/Estação Experimental deLages, com o objetivo de avaliar oefeito de preparados homeopáticose fitoterápicos sobre a morfogênesee o acúmulo da biomassa de Salixviminalis.

O primeiro ensaio foi conduzidono período de maio a junho de 2004em sala com temperatura de 20 a30oC, umidade relativa de 60% a96% e fotoperíodo de 12 horas. Oexperimento foi instalado com varasoriundas de plantas em dormência,após terem sido envolvidas empapel-jornal umedecido e acon-dicionadas em sacos plásticos parapermanecerem colocadas emcâmara fria com temperatura de 4 a8oC durante 22 dias, visando aquebra uniforme da dormência. Asvaras foram retiradas e padro-nizadas em relação ao diâmetro ecortadas em segmentos/estacas de25cm. Feixes com 12 estacas foramtratados em imersão até um terçode seu comprimento, por 12 horas,em preparados homeopáticos com100% do volume dinamizado e nosfitoterápicos na condição de tintura-mãe. Os tratamentos fitoterápicosconstaram dos extratos de arruda,urtigão, cavalinha, alga Ulva

fasciata e extrato de ramos de vime.Os compostos homeopáticos foramos nosódios de formiga, do fungo deformigueiro (Leucocoprinusgongilophorus), das folhas de vime,das folhas de mamona (Ricinuscomunis), da homeopatia Staphy-sagria e da própria água, naspotências de 6CH, 12CH e 30CH(diluição centesimal hahne-manniana). Na obtenção daspreparações homeopáticas se-guiram-se as normas previstas pelaFarmacopéia Homeopática Bra-sileira (1997). Para tanto, foramdiluídas na proporção de 1ml datintura-mãe em 99ml de álcool naconcentração de 70%, sendo asolução colocada no dinamizadormecânico com movimento ritmadode agitação vertical por cem vezes,obtendo-se assim a potência 1CH. Apotência 2CH foi obtida colocando-se 1ml do preparado 1CH em 99mlde álcool a 70%, procedendo-se apósàs respectivas sucussões mecânicase assim sucessivamente para assubseqüentes potências até atingira sexta (6CH), décima-segunda(12CH) ou trigésima (30CH) dilui-ção centesimal hahnemanniana.Como testemunha foi utilizada águanão dinamizada. O extrato de ramosde vime utilizado como tratamentofoi preparado pela imersão deramos de Salix x rubens, por 30dias, na proporção de 1 por 1 (volu-me d’água: volume de ramosimersos).

Após o tempo de imersão de cadatratamento, as estacas foramretiradas e plantadas de três emtrês por vaso com 500ml de subs-trato, adequado ao enraizamento,constituído de 50% de estercobovino compostado e 50% decarvão vegetal. O substrato foipreparado três meses antes doplantio para a devida estabilização.O delineamento foi completamentecasualizado com quatro repetições,sendo as três plantas do vaso aunidade experimental. As plantasforam regadas diariamente com10ml do respectivo preparadodurante dez dias e após foramregadas com 10ml de água até a

colheita, que ocorreu aos 30 diasapós o plantio.

O segundo ensaio foi conduzidoem casa de vegetação, no períodode maio a julho de 2004, utilizando-se nosódios de formiga cortadeira,folhas de vime danificadas, fungo deformigueiro, folhas de mamona e ahomeopatia Staphysagria emdiluição dinamizadas nas potências6, 12 e 30CH. Água de poço tambémfoi dinamizada a 6, 12 e 30CH. Aobtenção e preparo de estacas e dosubstrato foram de igual proce-dimento do experimento 1. Estacasda espécie Salix viminalis ficaramimersas por 12 horas no respectivopreparado-tratamento cujo volumeutilizado era integralmentedinamizado. Após, foram plantadasem vasos de 5L de substrato,enterrando-se um terço da estaca,cada qual com três estacas tratadas.Aos 70 dias da instalação doexperimento, colheu-se a parteaérea das estacas e determinou-sea matéria seca das plantas de cadaparcela.

O efeito dos preparados homeo-páticos e fitoterápicos sobre amorfogênese das estacas de vime(experimento 1) é mostrado naTabela 1. Quanto ao número deradicelas, a maior parte dos trata-mentos não diferiu da testemunha.Entretanto, os preparados com L.gongilophorus 30CH, folhas de R.comunis 12CH e 30CH, bem comoágua a 30CH interferiram nega-tivamente, diminuindo o númerode radicelas por planta. Por outrolado, os tratamentos de nosódio defungo 6CH, nosódio de vime 12CH,Staphysagria 12CH, cavalinha eágua apresentaram peso verde porplanta maior que o nosódio de fungo30CH, não diferindo dos demais. Demodo geral, observou-se que ospreparados homeopáticos propor-cionaram efeito variado no númerode brotações aos 20 e 30 dias após oplantio, porém não diferindo datestemunha, água não dinami-zada.

Duarte et al. (2004), no estudodo efeito de preparados homeo-páticos em várias dinamizações

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Tabela 1. Efeitos de preparados fitoterápicos e homeopáticos com diferentes dinamizaçõesna morfogênese de Salix viminalis (acesso EEL_01) mantidos em temperatura de 20 a 30oC,umidade relativa de 60% a 96% e fotoperíodo de 12 horas. Lages, 2003/04(1)

Gemas Peso Brota- Brota-Preparado Radicelas ções aos ções aosbrotadas verde 20 DAP 30 DAP

% no/planta g/planta .......no/planta......

Formiga Acromyrmex 6CH 19, 55 ns 12,67 ab 2,04 ab 9,50 ab 13,75 b

Formiga Acromyrmex 12CH 26,18 13,67 ab 2,00 ab 7,50 b 14,00 b

Formiga Acromyrmex 30CH 16,91 12,33 ab 1,88 ab 8,25 ab 12,00 b

Fungo L. gongilophorus 6CH 24,74 13,50 ab 2,21 a 11,50 a 18,25 a

Fungo L. gongilophorus 12CH 22,06 14,42 a 1,96 ab 8,00 ab 15,75 ab

Fungo L. gongilophorus 30CH 17,23 11,83 b 1,67 b 8,25 ab 13,25 b

Folhas S. x rubens 6CH 12,53 14,08 a 2,00 ab 8,75 ab 14,00 b

Folhas S. x rubens 12CH 12,54 13,33 ab 2,21 a 7,75 b 13,25 b

Folhas S. x rubens 30CH 19,92 15,58 a 1,96 ab 7,50 b 15,50 ab

Folhas Ricinus comunis 6CH 20,33 14,33 a 2,08 ab 10,25 ab 12,75 b

Folhas Ricinus comunis 12CH 19,96 11,83 b 1,88 ab 8,75 ab 21,75 a

Folhas Ricinus comunis 30CH 18,24 10,42 b 2,08 ab 9,50 ab 14,75 ab

Staphysagria 6CH 25,59 13,00 ab 2,00 ab 9,00 ab 14,25 b

Staphysagria 12CH 22,55 12,83 ab 2,25 a 9,00 ab 12,75 b

Staphysagria 30CH 25,21 14,08 a 2,00 ab 9,00 ab 14,00 b

Água 6CH 24,64 12,33 ab 1,88 ab 7,25 b 13,25 b

Água 12CH 22,47 12,58 ab 2,08 ab 8,25 ab 12,75 b

Água 30CH 23,42 10,17 b 2,13 ab 9,00 ab 13,00 b

Extrato folhas de arruda 18,40 12,50 ab 2,13 ab 7,75 b 11,50 b

Extrato raiz de urtigão, Urera 21,59 14,50 a 2,17 ab 8,75 ab 13,25 b

Extrato folhas de cavalinha 23,01 13,58 ab 2,29 a 7,25 b 15,00 ab

Infusão ramas Salix x rubens 23,54 12,67 ab 2,00 ab 8,50 ab 13,75 b

Extrato Ulva fasciata 25,73 12,42 ab 1,88 ab 8,75 ab 10,00 b

Água (testemunha) 27,63 14,42 a 2,25 a 8,75 ab 16,50 ab

CV % 19 16 28 34

(1)Valores seguidos pela mesma letra na mesma coluna não diferem entre si pelo teste LSDa 5%; ns = não-significativo pelo teste F a 5% de probabilidade.Notas: DAP = dias após o plantio; CV= coeficiente de variação.

sobre a planta de mentrasto(Ageratum conyzoides L.), nãoobservaram alterações morfoa-gronômicas nas variáveis decrescimento analisadas. Por outrolado, Armond et al. (1997)concluíram que as homeopatiasexercem influência patogenésica

e estimulante na altura dasplantas de Bidens pilosa emfunção da fase de crescimento, oque corrobora com os resultadosobtidos em nosso experimento comvime.

O segundo ensaio permitiuverificar que o aumento do nível de

d i n a m i z a ç ã o /diluição dos prepa-rados homeo-páticos não teveefeito linear noacúmulo de bio-massa, exceto commamona (Figura1). Menor acúmulode matéria secaocorreu na po-tência 12CH, emcomparação comas potências 6CHe 30CH, comexceção da águadinamizada e damamona. Paratodos os trata-mentos, excetoágua e mamona, ovalor mínimo noacúmulo de bio-massa ocorreu napotência 12CH(Figura 1). Estef e n ô m e n o ,inversão no acú-mulo de biomas-sa, tem sido ob-servado tambémem outras pes-quisas em ho-meopatia vegetale é conhecido comoefeito “hormesis”,no qual se observaa reversão da açãotóxica das subs-tâncias em dosesmínimas (Bonato,2004).

Conclui-se quepreparados ho-meopáticos po-t e n c i a l m e n t eestudados para omanejo fitossa-nitário do vimei-

ro não afetam a morfogênese e oacúmulo de biomassa de Salixviminalis. O aumento da potên-cia não mostra efeito linear paraa maioria dos preparados ho-meopáticos, o que evidencia apresença do fenômeno “horme-sis”.

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Literatura citada

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3. BOFF, P.; MEDEIROS, L.A.; RUPP,L.C. et al. Saúde dos agroecossistemas:novos conceitos para a reconstruçãoecológica da agricultura. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE

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6. CASALI, V.W.D. Utilização dahomeopatia em vegetais. In:SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE

Figura 1. Acúmulo de biomassa em Salix viminalis (acesso EEL_01), expresso em peso seco da parte aérea,pelo tratamento de estacas com preparados homeopáticos em casa de vegetação. Lages, 2003/04

0

2

4

6

8

10

12

6CH 12CH 30CH Ordem da dinamização centesimal

Peso

sec

o (g

/pla

nta)

Formiga cortadeira Fungo Leucocoprinus Vime danificado por pragas Folhas de mamona Staphysagria Água

HOMEOPATIA NA AGROPECUÁRIAORGÂNICA, 5., 2003, Toledo. Anais...Viçosa, MG: UFV, 2004. p.89-117.

7. DUARTE, E.S.M.; MOREIRA, A.M.;SILVA, C.V. Alguns efeitos depreparações homeopáticas na plantade picão (Bidens pilosa). In:SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBREHOMEOPATIA NA AGROPECUÁRIAORGÂNICA, 5., 2003, Toledo, PR.Anais... Viçosa, MG: UniversidadeFederal de Viçosa, 2004. p.143-153.

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9. FARMACOPÉIA. Homeopática Brasi-leira. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 1997.118p. (ParteII).

As normas para publicação na revista Agropecuária Catarinensepodem ser acessadas pela internet no endereço www.epagri.rct-sc.br.

Procure por Revista Agropecuária e, a seguir,por Normas para publicação na revista.

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O

PPPPProdutividade e resistência à podridãorodutividade e resistência à podridãorodutividade e resistência à podridãorodutividade e resistência à podridãorodutividade e resistência à podridão-negra de-negra de-negra de-negra de-negra decultivares de repolho em cultivo orgânico, no verão docultivares de repolho em cultivo orgânico, no verão docultivares de repolho em cultivo orgânico, no verão docultivares de repolho em cultivo orgânico, no verão docultivares de repolho em cultivo orgânico, no verão do

Litoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul Catarinense

Luiz Augusto Martins Peruch1, Daíse Werncke2 eAntônio Carlos Ferreira da Silva3

Resumo – Neste trabalho avaliaram-se a produtividade e a resistência à podridão-negra da cultivar Coração deBoi e dos híbridos de repolho Emblem, Fuyutoyo e Nozomi, sob cultivo orgânico, no verão do Litoral SulCatarinense. As variáveis avaliadas foram: rendimento (t/ha), peso médio de cabeça (kg), área abaixo da curva deprogresso da doença (AACPD) e as severidades inicial e final da podridão-negra. Os tratamentos foram comparadosentre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade de erro. Os híbridos Emblem e Fuyutoyo foramsignificativamente superiores em relação à produtividade e à resistência à doença quando comparados comNozomi e Coração de Boi.Termos para indexação: brássicas, Xanthomonas campestris pv. campestris, doenças, verão.

Yield and resistance to black rot of cabbage cultivars during the summer in thesouth of Santa Catarina

Abstract – Yield and resistance to black rot of the cabbages cultivars Coração de boi, Emblem, Fuyutoyo andNozomi under summer cultivation were evaluated in the south coast of Santa Catarina State. The variablesquantified were: head medium weight (kg), yield (t/ha), area under disease progress curve (AUCPD), initial andfinal severities of black rot. The treatments were compared using Duncan´s test at 5% probability level. Fuyutoyoand Emblem hybrids were significantly superior considering yield and resistance to black rot compared to Coraçãode Boi and Nozomi.Index terms: brassicca, Xanthomonas campestris pv. campestris, diseases, summer.

repolho é uma cultura degrande expressão socioeco-nômica na olericultura de

Santa Catarina. Entre as hortaliças,o repolho, com um volume deprodução de 212.952t, fica atrássomente da cebola, ocupando umaárea de 5.604ha e cultivado por3.360 produtores (Schallenberger,2000).

A época de plantio tem influên-cia significante no desempenho das

cultivares e/ou híbridos de repolho.O plantio na época inadequada podelevar ao fracasso da lavoura, emfunção da produção de cabeçaspequenas e sem valor comercial. Aincidência da podridão-negra,causada pela bactéria Xantho-monas campestris pv. campestris(Pammel) Downson, tambémrepresenta um problema para ocultivo do repolho no verão, pois adoença é favorecida por altas

temperaturas e precipitaçõeselevadas (Mariano et al., 2001). Emrazão destes fatores, e devido aogrande número de materiaislançados anualmente pelasempresas de sementes, é essencialverificar o comportamento destesnas diversas épocas de plantio emdiferentes regiões de cultivo,visando a indicação dos maispromissores. Convém salientartambém que a produção de repolho

1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected] de Agronomia, Udesc/CAV, 88520-000 Lages, SC, fone/fax: (49) 3221-2200, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

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no verão pode abastecer o mercadoconsumidor no litoral em época depreços melhores (Boeing, 2005).

O presente trabalho teve comoobjetivo avaliar o desempenho dacultivar Coração de Boi e dos híbri-dos de repolho Emblem, Fuyutoyoe Nozomi em relação à produtivi-dade e à severidade da podridão-negra no verão do Litoral SulCatarinense.

O experimento foi conduzido naEpagri/Estação Experimental deUrussanga em solo PodzólicoVermelho-Amarelo cascalhentoepieutrófico ócrico (argissolo deorigem granítica) durante os mesesde dezembro de 2004 a março de2005. O espaçamento utilizado foide 0,80m entre linhas por 0,50mentre plantas. O preparo do solo foiefetuado através de uma lavraçãoe duas gradagens por ocasião dotransplante das mudas. Asemeadura foi realizada embandejas de isopor em 19/11/04 e otransplante das mudas, em 22/12/04. As colheitas ocorreram aos 62,82 e 96 dias após o transplante(DAT). A adubação foi realizada emcobertura, na linha de plantio, com8t/ha de cama de aviário aos 20 diasapós do transplante (DAT). Asdemais adubações de coberturaforam efetuadas aos 36 e 56 DAT,aplicando-se 4t/ha de cama deaviário por vez. As capinas foramrealizadas nas linhas de plantio porocasião das duas últimas aduba-ções, deixando-se as entrelinhascom cobertura de plantas espon-tâneas. Os tratamentos fitos-sanitários, aplicados quandonecessário, constaram de trêspulverizações com óleo de nim(Azadirachta indica) a 0,5%, noinício do desenvolvimento dasplantas visando o manejo davaquinha (Diabrotica speciosa), eduas com Dipel (1L/ha), produto àbase de Bacillus thuringiensis, nofinal de janeiro e início de fevereiropara o manejo da traça dasbrássicas (Plutella xylostella) ecuruquerê-da-couve (Ascia monusteorseis). Foram avaliadas aseveridade da podridão-negra e aprodutividade das cultivares emuma área naturalmente infestadacom o patógeno. A severidade dadoença foi quantificada em todas asfolhas com auxílio de uma escaladiagramática com notas variando

de zero a 32% para podridão-negra(Azevedo et al., 2000). O desem-penho da cultivar e dos híbridos, porsua vez, foi medido pela produ-tividade (t/ha) e pelo peso médio dascabeças. Cada parcela foi compostade quatro linhas totalizando 11,2m2

(3,5 x 3,2m), sendo avaliadas asanidade e a produtividade de dezplantas nas duas linhas centrais. Odelineamento experimental uti-lizado foi o inteiramente casua-lizado com quatro repetições. Ascultivares foram comparadas entresi pelo teste de Duncan a 5% deprobabilidade.

Analisando-se o peso médio e orendimento de cabeças constata-ram-se diferenças significativasentre as cultivares (Tabela 1).‘Fuyutoyo’ e ‘Emblem’ foramsuperiores a ‘Nozomi’ e ‘Coração deBoi’ quanto à produtividade devido,em parte, ao maior peso médio decabeças; apesar de apresentaremcabeças menores, o que é carac-terístico da ‘Coração de Boi’ e‘Nozomi’, estes materiais forammais precoces em 14 e 28 dias que‘Emblem’ e ‘Fuyutoyo’, respectiva-mente. Cabe ressaltar quetemperaturas acima de 25oCretardam o crescimento e aformação de cabeças (Tumuhaire &

Gums, 1983), fato que foi verificadodurante o transcorrer doexperimento, pois vários diasapresentaram temperaturas mé-dias acima desse limite (Figura 1).Sendo assim, é possível que atemperatura tenha influenciado odesempenho de todos os híbridostestados e, especialmente, dacultivar Coração de Boi. Por outrolado, o melhor desempenho da‘Fuyutoyo’ deve-se ao fato de queeste híbrido apresenta largaadaptação termoclimática, possi-bilitando o seu plantio durante todoo ano (Filgueira, 2000).

Na análise da severidade inicialda doença não ocorreram diferençassignificativas na comparação entreas cultivares. Contudo, a análise daseveridade final demonstrou que‘Fuyutoyo’ e ‘Emblem’ apresenta-ram severidades inferiores dedoença em comparação com‘Nozomi’ e ‘Coração de Boi’ (Tabela1 e Figura 2). Resultados semelhan-tes foram verificados em relação àárea abaixo da curva de progressoda doença (AACPD), parâmetro queestima a evolução da doença aolongo do tempo, pois ‘Fuyutoyo’ e‘Emblem’ apresenta-ram valoresinferiores em relação a ‘Nozomi’ e‘Coração de Boi’ (Tabela 1). Tal

Tabela 1. Severidade inicial e final da podridão-negra e rendimento decabeças de cultivares de repolho no verão de 2005. Epagri/EEUR, 2006

Rendimento(1) DoençaCultivar/híbrido Peso Produti- Sev. Sev.

médio vidade inicial(2) final(3) AACPD(4)

kg t/ha ....................%.......................

Fuyutoyo 0,97 A 17,9 A 1,41 n.s. 0,53 A 16,0 A

Emblem 0,95 A 18,2 A 1,13 0,72 A 14,6 A

Nozomi 0,46 B 9,2 B 1,85 3,45 B 52,1 B

Coração de Boi 0,28 B 5,9 B 3,41 6,00 B 97,2 B

CV 32% 30% 61% 40% 45%

Probabilidade F< 0,01 0,01 n.s. 0,01 0,01

(1)Média de quatro repetições, sendo cada repetição composta por dezplantas.(2)Porcentagem de tecido foliar doente avaliado aos 21 dias após otransplante (DAT).(3)Porcentagem de tecido foliar doente avaliado após 49 DAT.(4)AACPD: área abaixo da curva de progresso da doença avaliada aos 21,26, 34, 42 e 49 DAT.Notas: CV= coeficiente de variação; ns= não-significativo.

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Desempenho de genótipos de milhoDesempenho de genótipos de milhoDesempenho de genótipos de milhoDesempenho de genótipos de milhoDesempenho de genótipos de milho-pipoca-pipoca-pipoca-pipoca-pipocano Planalto Norte Catarinenseno Planalto Norte Catarinenseno Planalto Norte Catarinenseno Planalto Norte Catarinenseno Planalto Norte Catarinense

Rogério Luiz Backes1, Alvadi Antonio Balbinot Junior2, Eduardo Sawazaki3,Gilson José Marcinichen Gallotti4 e Glauco Vieira Miranda5

Resumo – Com o objetivo de avaliar o desempenho de genótipos de milho-pipoca no Planalto Norte de SantaCatarina, foram realizados experimentos na Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, nas safras 2003/04 e2004/05. Foram avaliados 15 genótipos no primeiro experimento e dez no segundo experimento. Observou-sevariação entre os genótipos quanto às características de ciclo, porte, quebra de colmos, produtividade e capacidadede expansão. Os híbridos IAC 112 e IAC 125 apresentaram elevado potencial de produção de grãos e boa capacidadede expansão dos grãos.Termos para indexação: Zea mays, produtividade, capacidade de expansão.

Performance of por corn genotypes in the North Plateau of Santa Catarina State

Abstract – Two experiments were carried out at Epagri/Experiment Station of Canoinhas in 2003/04 and2004/05 seasons, in the North Plateau of Santa Catarina State, Brazil, with the aim to evaluate the performanceof pop corn genotypes. There were variations in cycle, plant height, stalk breakage, grain yield and poppingexpansion among the 15 genotypes of the first experiment and among the ten genotypes of the second. Thehybrids IAC 112 and IAC 125 had high grain yield potential and good popping expansion.Index terms: Zea mays, grain yield, popping expansion.

milho-pipoca (Zea mays L.)é cultivado e consumido hácentenas de anos nas

Américas, especialmente naAmérica Central e do Sul. O milho-pipoca se diferencia dos milhoscomuns pelos grãos pequenos eduros que, sob ação de calor,estouram originando a pipoca (Zinsly& Machado, 1987). O consumobrasileiro é estimado em mais de80.000t/ano, demanda parcialmenteatendida com importações. AArgentina se destaca como grande

produtor e exportador (Carpentieri-Pípolo et al., 2002; Broccoli & Burak,2004).

Existe variabilidade genética nogermoplasma de milho-pipoca,destacadamente para altura deplantas, características dos grãos(tamanho, formato, coloração ecapacidade de expansão – CE) eprodutividade (Zinsly & Machado,1987; Vendruscolo et al., 2001). ACE é a característica principal paradeterminação da qualidade dosgrãos do milho-pipoca para sua

comercialização. É definida pelarelação entre o volume de pipocaestourada e o volume ou o peso degrãos (ml/ml ou ml/g). Alta CEconfere à pipoca melhor textura emaciez e, conseqüentemente,melhor aceitação comercial.Segundo Zinsly & Machado (1987) eVendruscolo et al. (2001), para acomercialização de milho-pipoca, aCE deve ser acima de 15ml/ml.Entretanto, cada empresa quetrabalha com empacotamento demilho-pipoca tem seus próprios

Aceito para publicação em 11/12/06.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., Dr., IAC, Av. Barão de Itapura 1.481, 13001-970 Campinas, SP, fone: (19) 3241-5188, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., Dr., UFV/Depto. de Fitotecnia, Av. PH Rolfs, s/no, 36570-000 Viçosa, MG, fone: (31) 3899-1117, e-mail: [email protected].

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79Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

valores mínimos de CE paraaceitação do produto.

Há resposta diferencial dosgenótipos à variação ambiental,exigindo ampla avaliação dosgenótipos para sua indicação. Aprodutividade e a CE sofreminterferência dos efeitos deinteração entre o genótipo e oambiente (Zinsly & Machado, 1987;Vendruscolo et al., 2001; Broccoli& Burak, 2004). Assim, o objetivodeste trabalho foi avaliar odesempenho agronômico degenótipos de milho-pipoca noPlanalto Norte Catarinense.

Dois experimentos foramconduzidos pela Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas, nomunicípio de Papanduva, SC. Oprimeiro experimento (2003/04) foiimplantado em 28/11/03, nodelineamento de blocos casua-lizados com três repetições. Aunidade experimental foi cons-tituída de duas fileiras de 5m,espaçadas em 90cm. Foramavaliados 12 genótipos de basegenética ampla (Beija Flor C2, BRSÂngela, CO IAC M2, IAC Rubí, IAC64 SEF 2, UFVM 2, Iapoki, SintéticoNA-1, RS 20 (Agroeste), SintéticoEN-1, Sintético EN-2 e Viçosa C2) etrês híbridos (IAC 112, IAC 125 eIAC TC 01). A densidade foi de 62.222plantas/ha e a adubação foi de 250kg/ha da fórmula 10:20:20 no sulco desemeadura e 120kg/ha de uréia emcobertura. As característicasavaliadas foram: número de diasentre a semeadura e o flores-cimento masculino (NDF); alturamédia das plantas e da inserção daespiga principal, em metros (AP eAE, respectivamente); severidadede Phaeosphaeria maydis (Pha) ePuccinia sorghi (Ps), por notasvariando de um a nove eExserohilum turcicum (Et), pornotas variando de um a seis;percentual de plantas acamadas(Aca); percentual de colmosquebrados (Que); percentual deespigas com mais de 5% de grãosardidos (M5A); produtividade degrãos em quilograma por hectarecom 13% de umidade (PG) ecapacidade de expansão em mililitropor mililitro (CE).

O segundo experimento (2004/05) foi implantado no dia 30/11/04,em blocos casualizados com trêsrepetições. A unidade experimental

foi constituída de quatro linhas de5m espaçadas em 90cm, sendoconsideradas as duas linhascentrais como área útil. Foramavaliados seis genótipos de basegenética ampla (BRS Ângela, COIAC M2, UFVM 2, IAC Rubí,Sintético EN-1 e Sintético EN-2) equatro híbridos (IAC 112, IAC 125,IAC HT 03 e IAC HS 9614).Aplicaram-se 300kg/ha da fórmula10:20:20 no sulco de semeadura e120kg/ha de uréia em cobertura. Adensidade de plantas foi de 62.222plantas/ha. As característicasavaliadas foram: produtividade degrãos em quilogramas por hectarecom 13% de umidade (PG),capacidade de expansão emmililitro por grama (CE) e média degrãos não estourados (piruás) poramostra (MNP).

Os dados foram submetidos àanálise de variância e, quandodetectados efeitos significativos(5%), as médias foram agrupadaspelo teste de Scott-Knott.

No primeiro experimento foramdetectadas diferenças significativasentre os genótipos quanto aoflorescimento masculino (Tabela 1).O genótipo IAC 64 SEF2 foi o maistardio. Houve a formação de umgrupo de genótipos precoces:Sintéticos EN-1 e EN-2, IAC TC 01,Iapoki e RS 20.

Em relação à altura média deplantas, houve a formação de quatrogrupos de médias homogêneos(Tabela 1). Iapoki e RS 20 foram ascultivares de menor porte e BeijaFlor, BRS Ângela, IAC 112 e ViçosaC2 foram os genótipos de maiorporte. Conforme esperado, com basenos resultados obtidos por Mirandaet al. (2003), a altura de inserção deespigas está fortemente associadaà altura de planta. A altura deinserção de espigas variou de 0,77m(Iapoki) a 1,31m (BRS Ângela),também havendo a formação dequatro grupos de médiashomogêneos (Tabela 1).

A severidade das doenças foirelativamente baixa e a variaçãoentre genótipos foi pequena (Tabela1). Quanto à P. maydis, SintéticoEN-1 e Viçosa C2 se destacaram porapresentar menor severidade, nãohavendo diferenças significativasentre as médias dos demaisgenótipos. A severidade de ferrugemcomum (P. sorghi) foi baixa, não

sendo detectadas diferençassignificativas entre os genótipos.Apesar da baixa severidade médiade ocorrência de E. turcicum, osgenótipos foram discriminados emdois grupos, sendo Beija Flor C2,BRS Ângela, CO IAC M2, UFVM2 eSintético EN-1 os genótipos maissuscetíveis.

A amplitude de variação entreas médias de plantas acamadas foide 7,4% (IAC TC 01) a 20,8% (IAC64 SEF 2), mas não houve diferençaestatística entre os genótipos(Tabela 1). Miranda et al. (2003),avaliando genótipos de milho-pipoca em Coimbra, MG, obtiveramacamamento de apenas 3,7%. JáCoimbra et al. (2002) verificaramacamamento médio de 28,4%. Acultivar RS 20 apresentou mais de40% de acamamento, resultadomuito superior ao detectado nopresente trabalho, 16%. Osgenótipos RS 20 e CO IAC M2apresentaram os maiores níveis dequebra de colmos, 7,4% e 10,2%,respectivamente (Tabela 1). Emmédia, apenas 3% dos colmosquebraram; assim, destaca-se anecessidade de considerar ascaracterísticas particulares de cadagenótipo quanto a quebramento eacamamento na escolha dosgenótipos para cultivo em regiõesespecíficas. Miranda et al. (2003)detectaram porcentagem dequebramento de colmos de 4,4%,sendo que RS 20 foi o genótipo demaior porcentagem de quebra-mento, o que se repetiu no presentetrabalho. A precisão experimentalna avaliação de acamamento equebramento foi baixa, conformeindicado pelos coeficientes devariação (CV), 45,8% e 78,7%,respectivamente. No entanto, esteé um fato comum no estudo destascaracterísticas em milho-pipoca.Miranda et al. (2003) verificaramCV da ordem de 80,6% e 134% paraestes mesmos caracteres, enquantoCoimbra et al. (2002) verificaramCV de 66% para porcentagem deplantas acamadas.

Como o milho-pipoca é destinadoao consumo humano, a qualidadedos grãos assume importânciafundamental. Neste sentido,destaca-se que em Iapoki e noshíbridos IAC 112 e IAC TC 01 nãoforam encontradas espigas commais de 5% de grãos ardidos, sendo

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80 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

que para esta característica não foirealizado teste estatístico e avariação entre genótipos foi pequena(Tabela 1).

Alguns genótipos apresentaramalta produção de grãos, quandocomparados com os resultadosobtidos por Vendruscolo et al. (2001),Carpentieri-Pípolo et al. (2002) eMiranda et al. (2003). Os híbridosIAC 112 e IAC 125 e a populaçãoBeija Flor C2 apresentaramprodutividade acima de 5.000kg/ha.Entretanto não foi detectadadiferença significativa entre osgenótipos avaliados (Tabela 1).

Os genótipos Iapoki, SintéticoEN-2, IAC 125, IAC TC 01, SintéticoEN-1, RS 20, IAC 112 e CO IAC M2apresentaram CE entre 23,8 e 30,5,não havendo diferença significativa

entre os mesmos (Tabela 1). Poroutro lado, alguns dos genótiposavaliados devem sofrer restriçõesna comercialização devido à baixaCE. Destaca-se, por exemplo, ogenótipo Beija Flor C2, queapresentou alta produtividade, noentanto, sua baixa CE (16ml/ml)pode dificultar a comercialização. ACE média foi de 22,7ml/ml, valorsuperior ao relatado nos trabalhosde Miranda et al. (2003) e Coimbraet al. (2002).

Na safra 2004/05, a produtividadefoi inferior à da safra anterior, amédia caiu de 4.216 para 2.550kg/ha. A deficiência hídrica foi aprincipal causa para a menorprodutividade, além disto, houvealterações no grupo de genótiposavaliados. Os genótipos com maior

Tabela 1. Médias de algumas características agronômicas em genótipos de milho-pipoca. Papanduva, SC. Anoagrícola 2003/04(1)

CaracterísticaGenótipo

NDF AP AE Pha Ps Et Aca Que M5A PG CE

Dias .........m........ .......Severidade....... ..............%.............. kg/ha ml/ml

Beija Flor C2 72,30 b 2,62 a 1,26 a 2,00 a 3,83 a 2,67 a 12,48 1,72 b 2,50 5072,00 a 16,00 b

BRS Ângela 73,00 b 2,54 a 1,31 a 2,00 a 3,50 a 2,50 a 8,28 2,80 b 1,00 4275,80 a 18,80 b

CO IAC M2 67,70 d 2,37 b 1,21 a 2,00 a 3,67 a 2,50 a 12,48 7,42 a 2,10 4189,70 a 23,80 a

IAC 112 67,70 d 2,54 a 1,06 b 2,00 a 3,17 a 2,00 b 12,55 0,00 c 0,00 5187,90 a2/ 24,80 a

IAC 125 67,00 d 2,33 b 1,03 b 2,00 a 3,83 a 2,00 b 9,22 2,27 b 1,00 5177,00 a 29,30 a

IAC 64 SEF 2 75,00 a 2,44 b 1,24 a 2,00 a 3,67 a 2,00 b 20,84 0,61 b 3,80 4161,60 a 15,80 b

IAC Rubí 69,00 d 2,18 c 1,04 b 2,00 a 4,17 a 1,83 b 16,07 1,94 b 2,70 4265,40 a 22,00 b

IAC TC 01 66,00 e 2,27 c 0,93 c 2,00 a 4,00 a 1,83 b 7,41 3,26 b 0,00 3916,50 a 27,70 a

Iapoki 65,70 e 1,98 d 0,77 d 2,00 a 4,00 a 1,83 b 8,84 3,84 b 0,00 2828,80 a 30,50 a

RS 20 66,30 e 2,07 d 0,94 c 2,00 a 4,17 a 1,67 b 16,09 10,20 a 2,40 3709,00 a 25,80 a

Sintético EN-1 66,00 e 2,25 c 1,01 b 1,33 b 4,17 a 2,33 a 19,77 1,89 b 2,20 3540,80 a 27,00 a

Sintético EN-2 65,70 e 2,14 c 0,88 c 2,00 a 4,17 a 2,00 b 9,03 1,97 b 3,70 3705,60 a 29,30 a

Sintético NA-1 70,00 c 2,35 b 1,10 b 2,00 a 3,83 a 1,83 b 11,37 4,75 b 1,20 4165,20 a 16,50 b

UFVM 2 67,70 d 2,38 b 1,07 b 2,00 a 3,83 a 2,50 a 9,05 1,23 b 1,70 4746,70 a 21,20 b

Viçosa C2 72,30 b 2,52 a 1,20 a 1,67 b 3,67 a 1,67 b 13,21 0,67 b 1,00 4305,30 a 12,50 b

Média 68,8 2,33 1,07 1,93 3,84 2,07 12,45 2,97 1,69 4216,43 22,74

CV% 1,92 4,61 6,70 10,71 7,49 13,66 45,78 78,74 119,99 16,16 17,40

(1)Médias seguidas de mesma letra foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott a 5%.Notas: NDF = número de dias até o florescimento masculino; AP = altura média de plantas; AE = altura médiade inserção da espiga principal; Pha = severidade de Phaeosphaeria maydis; Ps = severidade de Puccinia sorghi;Et = severidade de Exserohilum turcicum; Aca = porcentagem de plantas acamadas; Que = porcentagem deplantas quebradas; M5A = percentual de espigas com mais de 5% de grãos ardidos; PG = produtividade de grãos;CE = capacidade de expansão; CV = coeficiente de variação.

produtividade, acima de 2.600kg/ha, foram os quatros híbridos (IAC112, IAC 125, IAC HT 03 e IAC HS9614) e o composto CO IAC M2(Tabela 2).

Não houve diferença significativaentre genótipos quanto à CE, cujamédia foi de 38,3ml/g (Tabela 2).Esta média difere da média obtidano experimento anterior, a qual foiexpressa pela relação volume/volume. Outra característicaimportante para determinação dovalor comercial é o número de grãosnão estourados, característica paraa qual não foi detectada diferençasignificativa entre genótipos.

Nas condições edafoclimáticasdo Planalto Norte Catarinensedestacaram-se os híbridos IAC 112e IAC 125, que apresentam

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81Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

produtividade satisfatória e alta CE,além de boa performance quanto àreação a doenças e baixo percentualde quebra de colmos. Os compostosCO IAC M2 e UFVM 2 sãopromissores, apresentando boasperspectivas para a geração de

Tabela 2. Médias de produtividade e de atributos qualitativos dos grãosde genótipos de milho-pipoca. Papanduva, SC. Ano agrícola 2004/05(1)

CaracterísticaGenótipo

PG CE MNP

kg/ha ml/g

IAC 112 3206,57 a2/ 39,50 a 9,33

CO IAC M2 2824,59 a 36,25 a 7,83

IAC 125 2777,57 a 42,92 a 11,00

IAC HT 03 2769,31 a 37,92 a 11,83

IAC HS 9614 2623,80 a 39,75 a 10,50

Sintético EN-1 2439,50 b 38,08 a 13,33

UFVM-2 2386,99 b 34,83 a 10,67

Sintético EN-2 2208,52 b 38,92 a 15,17

BRS Ângela 2147,09 b 35,33 a 8,50

IAC Rubí 2125,87 b 39,33 a 12,00

Média 2550,98 38,28 11,02

CV% 13,00 5,60 30,66

(1)Médias seguidas de mesma letra foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott a 5%.Notas: PG = produtividade de grãos; CE = capacidade de expansão; MNP= média de grãos não pipocados; CV = coeficiente de variação.

novas variedades de polinizaçãoaberta.

Literatura citada

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VIANA, J.M.S. et al. Estimation of

genetic parameters and prediction of

gains for DFT1-Ribeirão popcorn

population. Crop Breeding and Applied

Biotechnology, v.2, n.1, p.33-38, 2002.

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melhoramento e divergência genética

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5. VENDRUSCOLO, E.C.G.; SCAPIM,

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Adaptabilidade e estabilidade de

cultivares de milho-pipoca na região

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milho. Campinas,SP: Fundação Cargill,

1987, p.413-421.

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A

Ocorrência e flutuação populacionalOcorrência e flutuação populacionalOcorrência e flutuação populacionalOcorrência e flutuação populacionalOcorrência e flutuação populacionalde cigarrinhasde cigarrinhasde cigarrinhasde cigarrinhasde cigarrinhas-----dasdasdasdasdas-pastagens em diferentes-pastagens em diferentes-pastagens em diferentes-pastagens em diferentes-pastagens em diferentes

espécies de gramíneasespécies de gramíneasespécies de gramíneasespécies de gramíneasespécies de gramíneas

Étel Carmen Bertollo1; José Maria Milanez2 eLuís Antônio Chiaradia3

Resumo – Foram identificadas quatro espécies de cigarrinhas-das-pastagens: Zulia entreriana, Deois mourei,Deois schach e Deois flavopicta, estudada a flutuação populacional de cada uma e correlacionada com dadosclimáticos. Foram também verificados os níveis de infestação em diferentes espécies de gramíneas perenes deverão. A maior ocorrência de adultos e massas de espuma foi observada no período de outubro a abril, havendocorrelação positiva significativa entre a flutuação populacional de adultos e massas de espuma com a temperaturamédia mínima. Os maiores números de massa de espuma foram encontrados em Paspalum notatum e Hemarthriaaltissima cultivar Flórida.Termos para indexação: Zulia entreriana, Deois mourei, Deois schach, Deois flavopicta, elementos climáticos.

Ocurrence and population fluctuation of pasture spittlebug indifferent grass species

Abstract – Four species of pasture spittlebugs were identified: Zulia entreriana, Deois mourei, Deois schachand Deois flavopicta, and the population fluctuation of each one was studied and correlated with climatic elements.The levels of infestation in different perennial grass species of summer were also assessed. The greatestoccurrence of adults spittlebugs and spittle masses were found in the period of October to April and had a positivecorrelation between the population fluctuation of adult spittlebug masses with minimum average temperature.The greatest numbers of spittle masses were found in Paspalum notatum and Hemarthria altissima cultivarFlórida.Index terms: Zulia entreriana, Deois mourei, Deois schach, Deois flavopicta, climatic elements.

s cigarrinhas-das-pastagens(Hemiptera: Cercopidae)têm causado grandes pre-

juízos em pastagens introduzidasno Brasil, principalmente emBrachiaria decumbens e Brachiaria

humidicola, como referem Hewitt(1985), Consenza et al. (1989) eKoller & Honer (1994).

Este trabalho teve como objetivoidentificar as espécies de cigar-rinhas-das-pastagens ocorrentes

na Região Oeste Catarinense,estudar a flutuação populacional esua correlação com algunselementos climáticos, além deavaliar os níveis de infestação emdiferentes espécies de gramíneas

Aceito para publicação em 26/9/06.1Eng. agr., Mestranda da UPF, Rua José Bonifácio, 365, 99750-000 Erval Grande, RS, fone: (54) 3375-1226, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected].

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forrageiras perenes de verão.O estudo foi conduzido no perío-

do de outubro de 2003 a novembrode 2004, na área experimental daEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar – Cepaf –, emChapecó, SC. As amostragensforam realizadas semanalmente,em parcelas de 6m2, nas seguintesgramíneas forrageiras: quicuio(Pennisetum clandestinum),missioneira (Axonopus sp.),braquiária peluda (Brachiariadecumbens), estrela africanabranca (Cynodon plectostachyum),grama forquilha ‘2735’ (Paspalumnotatum), grama forquilha ‘1244’(Paspalum notatum), missioneiracomum (Axonopus sp.), estrelaafricana roxa (Cynodon lemfuensis),hemártria (Hemarthria altissima‘Flórida’), ‘Tifton 85’ (Cynodondactylon), acroceras (Acrocerasmacrum), hemártria (H. altissima‘EMPASC 302’), pangola (Digitariapentzii), “coast cross” (Cynodondactylon origem a), “coast ross”(Cynodon dactylon origem b) emissioneira gigante (Axonopuscatharinensis).

Os levantamentos populacionaisdas cigarrinhas foram realizadosconforme a metodologia utilizadapor Milanez (1980). Para amos-tragens das massas de espuma(ninfas) empregou-se uma armaçãoquadrada de ferro (0,1m2), que eraarremessada ao acaso, uma vez porparcela, e contava-se o número demassas de espuma, independen-temente da espécie de cigarrinha.Optou-se por contar o número demassas de espuma para não causarmortalidade de ninfas e interferirnas populações de ninfas e adultos.

Para amostrar os adultos foiutilizada uma rede entomológicapassando-a, ao acaso, duas vezespor parcela. Os adultos foramcontados e identificados porcomparação com espécimes dacoleção entomológica doLaboratório de Entomologia daEpagri/Cepaf, sendo que algunsexemplares foram enviados aoDepartamento de Zoologia daUniversidade Federal do Paraná.

Para comparação de infestação

entre diferentes gramíneas utilizou-se o delineamento estatístico blocosao acaso com 16 tratamentos(gramíneas forrageiras) e quatrorepetições. Para a análise devariância os dados obtidos foramtransformados em 1+x . Asmédias foram comparadas pelo testede Tukey a 5%. Também foramrealizadas correlações entre osdados de flutuação populacional deadultos e do número de espumas,produzidas pelas ninfas, e os dadosde precipitação pluviométrica (mm)e temperatura média mínima (oC).

As espécies de cercopídeosencontradas foram: Zulia entre-riana, Deois mourei, Deois schach eDeois flavopicta (Figura 1), sendoque a espécie predominante foi Z.entreriana (49,7%), seguida de D.mourei (36,7%.), D. schach (11,8%)e D. flavopicta (1,8%). Emlevantamentos realizados no Estadode São Paulo, Milanez (1980)verificou que as espécies Z.entreriana e D. flavopicta foram asmais abundantes. Koller & Valério(1988), em Campo Grande, MS,constataram que a espécie Z.entreriana foi predominante com85% dos adultos coletados, seguidadas espécies D. flavopicta com 14%e Mahanarva fimbriolata com 1%.Na Região Sul da Bahia, Menezes

(1982) mencionou Z. entrerianacomo a principal praga daspastagens, seguida de D. schach eAneolamia selecta. Bernardo et al.(2003) verificaram que na RegiãoMeio-Norte do Mato Grosso aespécie D. flavopicta foi a maisabundante. Salienta-se que aespécie D. mourei, segunda espéciemais coletada no experimento,nunca foi citada como ocorrentenos diferentes Estados referidos.

Houve diferença na ocorrênciade ninfas e adultos de cigarrinha-das-pastagens entre espécies degramíneas estudadas. Assim, asgramíneas do gênero Paspalum e aespécie H. altissima ‘Flórida’tiveram os maiores níveis deinfestação por ninfas, enquanto queas gramíneas do gênero Cynodonforam menos infestadas (Tabela 1).Os resultados estão de acordo comaqueles obtidos por Consenza et al.(1989) que constataram, emlaboratório, que C. plectostachyum(estrela africana) foi uma das menosinfestadas por ninfas de D.flavopicta. Salienta-se, ainda, quea gramínea H. altissima ‘Flórida’foi a mais infestada por adultos eninfas de Z. entreriana, mostrando-se bastante suscetível ao ataquedessa praga, enquanto que asgramíneas Axonopus sp. e C.

Figura 1. Espécies de cigarrinhas-das-pastagens encontradas noexperimento de gramíneas perenes de verão, em Chapecó, SC

Zulia entreriana Deois mourei

Deois schach Deois flavopicta

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No de massas de espuma No de cigarrinhas adultas

Figura 2. Flutuação populacional do número total de massas de espumae de adultos de cigarrinhas-das-pastagens, no período de outubro de 2003a novembro de 2004, em Chapecó, SC

dactylon foram as mais infestadaspor adultos de D. mourei.

Durante o período estudado,constatou-se que ocorreram picospopulacionais de ninfas nos mesesde outubro e janeiro, enquanto queos picos populacionais de adultosocorreram em novembro e janeiro(Figura 2). Os dados obtidos estãocoerentes com aqueles obtidos porMilanez (1980) para o Estado de SãoPaulo, onde os picos populacionaisde ninfas e de adultos restringiram-se ao período chuvoso de outubro aabril, embora as condiçõesclimáticas sejam distintas nos doisEstados.

As flutuações populacionais donúmero de espumas (ninfas) e donúmero de adultos estiveramcorrelacionadas positivamentecom os dados de temperatura mé-dia mínima (Figura 3 e Tabela 2).Assim, à medida que a temperaturaambiente se aproximou datemperatura mínima inferior

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Tabela 1. Número total médio de massas de espuma e adultos de cigarrinhas da espécie Z. entreriana, D. schach,D. flavopicta e D. mourei amostradas em diferentes espécies de gramíneas, no período de outubro de 2003 anovembro de 2004, em Chapecó, SC(1)

Gramínea Espuma Zulia Deois Deois Deoisentreriana mourei schach flavopicta

............................................no.............................................

Grama forquilha ‘2735’ (Paspalum notatum) 120,5 A 12,3 CD 8,0 B 4,3 BCD 0,2 A

Grama forquilha ‘1244’ (Paspalum notatum) 110,9 A 13,1 BCD 6,0 B 2,0 D 0,9 A

Hemártria (Hemarthria altissima ‘Flórida’) 104,5 A 51,4 A 7,4 B 1,2 D 1,0 A

Missioneira gigante (Axonopus catharinensis) 46,9 B 5,1 D 5,2 B 2,5 CD 1,0 A

Quicuio (Pennisetum clandestinum) 24,2 BC 25,5 BC 7,6 B 0,5 D 0 A

Estrela africana roxa (Cynodon lemfuensis) 21,8 BCD 22,6 BC 12,6 B 1,5 D 0,5 A

Braquiária peluda (Brachiaria decumbens) 18,0 BCD 14,0 BCD 6,1 B 0,6 D 0,2 A

Pangola (Digitaria pentzii) 16,4 BCD 23,5 BC 9,8 B 1,2 D 0,2 A

Missioneira (Axonopus sp.) 12,0 CD 4,5 D 9,5 B 0,6 D 0,2 A

Hemártria (H. altissima ‘EMPASC 302’) 9,7 CD 29,0 AB 14,3 B 2,1 CD 0,5 A

Tifton 85 (híbrido do gênero Cynodon) 6,5 CD 22,0 BC 5,2 B 1,7 D 0,9 A

“Coast cross” b (Cynodon dactylon) 5,5 CD 19,6 BC 43,2 A 10,2 AB 1,4 A

Missioneira comum (Axonopus sp.) 3,8 CD 11,0 CD 55,3 A 8,1 BC 1,1 A

Acroceras (Acroceras macrum) 3,8 CD 15,8 BCD 10,6 B 4,6 BCD 2,2 A

Estrela africana branca (C. plectostachyum) 3,6 D 18,2 BC 5,3 B 18,2 A 1,2 A

“Coast cross” a (Cynodon dactylon) 3,2 D 18,7 BC 5,0 B 4,6 BCD 0,6 A

(1)Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade.

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85Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Figura 3. Flutuação populacional de adultos de Z. entreriana, D. mourei, D. schach e D. flavopictarelacionados com registros de temperatura média mínima (oC) e precipitação pluviométrica média (mm), noperíodo de outubro de 2003 a novembro de 2004, em Chapecó, SC

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Jan.

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Mai

o/04

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Jul./

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Mês Mês

Mês Mês

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86 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Tabela 2. Dados de correlação (r) entre as variáveis temperatura médiamínima (oC) e precipitação pluviométrica (mm) e a flutuação populacionalde massas de espuma e das espécies Z. entreriana, D. mourei, D. schache D. flavopicta, em Chapecó, SC

Variáveis r

Espuma x ToC mínima 0,53 *

Espuma x Precipitação (mm) 0,22 ns

Z. entreriana x ToC mínima 0,62 *

Z. entreriana x Precipitação (mm) 0,003 ns

D. mourei x ToC mínima 0,63 *

D. mourei x Precipitação (mm) 0,01 ns

D. schach x ToC mínima 0,64 *

D. schach x Precipitação (mm) - 0,003 ns

D. flavopicta x ToC mínima 0,61 *

D. flavopicta x Precipitação (mm) - 0,15 ns

*Significativo a 5% de probabilidade de erro; ns = não-significativo.

(temperatura base), estimada porMilanez et al. (1983), para odesenvolvimento de Z. entreriana(10,2oC) e D. flavopicta (10,4oC), nãohouve incremento da população dasreferidas espécies nem das espéciesD. mourei e D. schach, indicandoque a temperatura é o elementoclimático limitante para odesenvolvimento das cigarrinhas-das-pastagens. De modo geral,verificou-se que o período de maiorprecipitação pluviométrica etemperatura coincide com oincremento do número de massasde espuma e de adultos ocorrentesno campo (Figura 3). Tal fato jáhavia sido observado por Milanez etal. (1983) e por Mello et al. (1984)nos Estados de São Paulo e MinasGerais, respectivamente, compopulações de Z. entreriana e D.flavopicta.

Literatura citada

1. BERNARDO, E. R. de A.; ROCHA,V. de F.; PUGA, O.; et al.Espécies de cigarrinhas-das-pastagens (Hemiptera: Cerco-pidae) no meio-norte do MatoGrosso. Ciência Rural, SantaMaria, v.33, n.2, p.369-371,

mar/abr. 2003.

2. CONSENZA, G.W.; ANDRADE,R.P. de; GOMES, D.T. et al.Resistência de gramíneas forra-geiras a cigarrinha-das-pasta-gens. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, Brasília, v.24, n.8,p.961-968, 1989.

3. HEWITT, B. Oviposital prefe-rences of the spittlebug Zuliaentreriana (Berg, 1879) and Deoisflavopicta (Stal, 1854) (Homop-tera: Cercopidae). Anais daSociedade Entomológica doBrasil, Porto Alegre, v.14, n.2,p.197-204, 1985.

4. KOLLER, W.W.; HONER, M. R.Desenvolvimento e sobrevi-vência de ninfas de cigarrinhas-das-pastagens (Homoptera:Cercopidae) sobre as plantas deBrachiaria decumbens comdiferentes característicasmorfológicas. Anais da SociedadeEntomológica do Brasil,Londrina, v.23, n.2, p.163-170,1994.

5. KOLLER, W.W.; VALÉRIO, J. R.Efeito da remoção da palhaacumulada ao nível do solo sobrea população de cigarrinhas(Homoptera: Cercopidae) empastagens de Brachiariadecumbens. Anais da SociedadeEntomológica do Brasil, PortoAlegre, v.17, n.1, p.209-215,1988.

6. MELLO, L.A.; REIS, P.R.;BOTELHO, W. Cigarrinhas-das-pastagens (Homoptera: Cerco-pidae) e sua distribuição no Estadode Minas Gerais. Anais daSociedade Entomológica doBrasil, Porto Alegre, v.13, n.2,p.249-260, 1984.

7. MENEZES, M. de. As cigarri-nhas-das-pastagens (Homoptera:Cercopidae) na região sul daBahia, Brasil. Identificação,distribuição geográfica e plantashospedeiras. Itabuna, BA:Ceplac, 1982. 48p. (Ceplac.Boletim Técnico, 104).

8. MILANEZ, J.M. Dinâmicapopulacional de Zulia (Notozulia)entreriana (Berg., 1879) e Deois(Acanthodeois) flavopicta (Stal.854) (Homoptera: Cercopidae) emdiferentes gramíneas. 1980, 79p.Dissertação (Mestrado emEntomologia) – Escola Superiorde Agricultura Luiz de Queiroz –Universidade de São Paulo,Piracicaba, SP.

9. MILANEZ, J.M.; MILDE, L.C.E.;PARRA, J.R.P. Estimativa daconstante térmica das cigar-rinhas das pastagens Zulia(Notozulia) entreriana (Berg.,1879) e Deois (Acanthodeois)flavopicta (Stal. 854). (Homop-tera: Cercopidae) em condiçõesde campo. Anais da SociedadeEntomológica do Brasil, PortoAlegre, v.12, n.2, p.151-163,1983.

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87Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense – RAC

A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicaçãomatérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seções ArtigoCientífico, Germoplasma eLançamento de Cultivares e NotaCientífica devem ser originais evir acompanhadas de uma cartaafirmando que a matéria éexclusiva à RAC.

2. O Artigo Científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deve estarorganizado em Título, Nomecompleto dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms,Introdução, Material e métodos,Resultados e discussão, Con-clusão, Agradecimentos (opcio-nal), Literatura citada, tabelas efiguras. Os termos para indexaçãonão devem conter palavras jáexistentes no título e devem terno mínimo três e no máximocinco palavras. Nomes científicosno título não devem conter onome do identificador da espécie.Há um limite de 12 páginas paraArtigo Científico, incluindotabelas e figuras.

3. A Nota Científica refere-se apesquisa científica inédita erecente com resultadosimportantes e de interesse parauma rápida divulgação porémcom volume de informações

insuficiente para constituir umartigo científico completo. Podeser também a descrição de novadoença ou inseto-praga. Deve terno máximo oito páginas (incluí-das as tabelas e figuras). Deveestar organizada em Título, No-me completo dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de12 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês, Abs-tract e Index terms, texto corrido,Agradecimentos (opcional), Lite-ratura citada, tabelas e figuras.Não deve ultrapassar dez refe-rências bibliográficas.

4. A seção Germoplasma e Lança-mento de Cultivares deve conterTítulo, Nome completo dosautores, Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, Intro-dução, Origem (incluindo pedi-gree), Descrição (planta, brota-ção, floração, fruto, folha, sistemaradicular, tabela com dadoscomparativos), Perspectivas eproblemas da nova cultivar ougermoplasma, Disponibilidade dematerial e Literatura citada. Háum limite de 12 páginas,incluindo tabelas e figuras.

5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s) co--autor(es), título de graduação epós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da institutição em quetrabalha, telefone para contato eendereço eletrônico.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenomee ano, com apenas a primeiraletra maiúscula. Quando houverdois autores, separar por “&”; sehouver mais de dois, citar oprimeiro seguido por “et al.” (semitálico).

7. Tabelas e figuras não devemestar inseridas no texto e devemvir numeradas, ao final damatéria, em ordem de apre-sentação, com as devidaslegendas. As tabelas e as figuras(fotos e gráficos) devem ter títuloclaro e objetivo e ser auto-explicativas. O título da tabeladeve estar acima da mesma,enquanto que o título da figura,abaixo. As tabelas devem serabertas à esquerda e à direita,sem linhas verticais e horizon-tais, com exceção daquelas paraseparação do cabeçalho e dofechamento, evitando-se o usode linhas duplas. As abreviaturasdevem ser explicadas aoaparecerem pela primeira vez.As chamadas devem ser feitasem algarismos arábicos sobres-critos, entre parênteses e emordem crescente (ver modelo).

8. As fotografias devem estar empapel fotográfico ou em diaposi-tivo, acompanhadas das respec-tivas legendas. Serão aceitasfotos digitalizadas, desde que emalta resolução (300dpi).

9. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Registro,Conjuntura e Informativo

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88 Agropec. Catarin., v.20, n.1, mar. 2007

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de caldade raleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

C.V. (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**)0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.

Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

133ab

4,8

95 d110 bc121a109 bc100 cd107 bc115ab

106 bc

109 bc

6,4

80 d100ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104a

94abc

95abc

6,1

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

................................g............................. kg/ha

Técnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

9.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião pessoal do autor sobre ofato em foco e não deve ter maisque três páginas.

9.2 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo Técnico – refere-se à descrição de uma técnica,uma tecnologia, doenças,insetos-praga e outrasrecomendações técnicas decunho prático. Não deve termais do que oito páginas,incluídas as figuras e tabelas,nem ultrapassar 15 referênciasbibliográficas.

10. Os trabalhos devem serencaminhados em quatro vias,impressos em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço duplo,sendo três vias sem o(s) nome(s)do(s) autor(es) para seremutilizadas pelos consultores euma via completa para arquivo.As cópias em papel devempossuir margem superior,inferior e laterais de 2,5cm,estar paginadas e com aslinhas numeradas. Apenas aversão final deve vir acom-panhada de disquete ou CD,usando o programa “Word forWindows”.

11. Literatura citadaAs referências bibliográficasdevem estar restritas àLiteratura citada no texto, deacordo com a ABNT e em ordemalfabética. Não são aceitascitações de dados não publicadose publicações no prelo. Quandohouver mais de três autores,citam-se apenas os trêsprimeiros, seguidos de et al.

Eventos

DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In: CON-

GRESSO IBERO-LATINOAME-RICANO DE APICULTURA, 5.,1996, Mercedes. Anais... Mercedes,1996. p.20.

Periódicos no todo

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanhoda amostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico

SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em:10 set. 1998.

Livro no todo

SANTANA, S.P. Frutas Brasil:Mercado e transporte. São Paulo:Empresa das Artes, 1991, v.1,166p.

Capítulo de livro

SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The American Phyto-pathological Society, 1981. Part 1,p.41-44.

Teses e dissertações

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo(Passiflora edulis Sims f. flavicarpaDeg.), 1998. 134f. Dissertação(Mestrado em Produção Vegetal),Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias, Universidade EstadualPaulista, Jaboticabal, SP.