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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

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Sumário

∗ 30 anos de pesquisa agropecuária institucional em SantaCatarina ............................................................................* Tamanho da semente pode influir na produtividade dasoja ..................................................................................∗ Os 20 superalimentos ...................................................∗ Soja orgânica resiste à estiagem no Sul do Brasil ........∗ Quando o ferro “rouba” a vitamina de alimentos .........∗ Leite cru e água: receita barata para combater o oídio .∗ Ciclones, tornados e tromba d’água .............................∗ Maracujá resistente: enxerto garante plantas menospropensas a doenças .......................................................∗ Cultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negra ..∗ “El Niño” aumenta a produtividade do milho ...............

∗ Registro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noPlanalto Norte Catarinense – safra 2004/05 ....................∗ Danos e insetos em frutos de caquizeiro em pomares daSerra Gaúcha ....................................................................∗ “Greening”: um novo desafio para a citricultura brasileira

∗ Validação de dois sistemas de previsão para o controle darequeima do tomateiro na região de Caçador, SC .............∗ Estimativa da taxa de cruzamento em Bromus auleticus∗ Intensidade da mancha-reticulada (Leandria momordicae)em pepineiros (Cucumis sativus) cultivados em estufa e acéu aberto .........................................................................∗ Viabilidade da produção de leite a pasto para vacas de altopotencial leiteiro ...............................................................∗ Análise da diversidade genética de genótipos e acessosde arroz irrigado do Banco de Germoplasma da Epagri porAFLP ..................................................................................

∗ Épocas de manejo de plantas de cobertura do solo deinverno e incidência de plantas daninhas na cultura domilho .................................................................................∗ Ocorrência de Agathomerus sellatus em tomateiro noPlanalto Norte Catarinense ...............................................∗ Produção de material vegetativo de ameixeira (Prunussalicina) livre da escaldadura-das-folhas (Xylellafastidiosa) ........................................................................

* A estrutura fundiária da Região Serrana Catarinense:latifúndios ou minifúndios? ............................................

∗ Turismo rural: abrindo as porteiras ...............................∗ Suco de uva é alternativa para agricultura familiar noVale do Rio do Peixe, SC ..................................................∗ Uma parceria afinada .....................................................

∗ Seqüestro de carbono – oportunidades e negócios paraSanta Catarina ..................................................................

∗ Tupinambor – fitoadaptógeno da vitalidade e dalongevidade .....................................................................

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Plantas bioativas

Artigo Científico

Nota Científica

6

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10111112

121313

14

20

24

3135

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81

91

95

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∗ SCS 114 Andosan – primeira variedade mutantede arroz irrigado do Brasil ................................................. 87

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

∗ Tecnologia de cultivo do cogumelo medicinal Agaricusblazei (Agaricus brasiliensis) ........................................∗ Efeito da limpeza de vírus sobre a produtividade de alhoem Caçador, SC ................................................................

Informativo Técnico

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A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

FICHA CATALOGRÁFICAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC. CDD 630.5

Impressão: Reuter Gráficos Editores Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet:www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Athos de Almeida Lopes, Diretores: Ademar PauloSimon, Anselmo Benvindo Cadorin, José Antônio daSilva, Valdemar Hercilio de Freitas, Valmor LuizDall´Agnol

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO: Janice da Silva Alves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes

REVISÃO DE INGLÊS: Airton Spies e Roger DelmarFlesch

CAPA: Foto de Nilson Otávio Teixeira

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Neusa Maria dos Santos,Mariza Martins, Selma Rosângela Vieira, Zilma MariaVasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected],88034-901 Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: Laertes Rebelo: GMC/Epagri – fone:(48) 3239-5620, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE NOVEMBRO DE 2005

D ois assuntos de gran-de importância ao se-tor agropecuário são

abordados nesta edição darevista: turismo rural e seqües-tro de carbono.

O turismo rural se apresentacomo excelente alternativa paraos cidadãos urbanos que têmnecessidade de buscar algoaprazível nos fins de semana ounas férias. É a oportunidadeque se oferece para umaconvivência com a natureza,com o modo de vida, as tradiçõese os costumes da populaçãorural. Segundo a Abratur, noBrasil está havendo umcrescimento anual de 15% noturismo rural, um fatoauspicioso, pois é superior àmédia do turismo em geral etorna-se uma importante fontede renda no campo. Para SantaCatarina, onde a agriculturafamiliar se faz presente em maisde 90% das propriedades rurais,

o turismo rural é uma excelentealternativa para manter aviabilidade das mesmas.Entretanto, para que esteprospere, é necessárioproporcionar aos visitantesuma boa estrutura, rusticidadee conforto. Também deve-seoferecer diversas opções delazer, como a culinária e ocomércio de produtos locais, enunca esquecer a hospitalidade,que caracteriza a gente do meiorural. A falta de infra-estruturaem estradas e comunicação é oprincipal entrave ao aumentodo turismo rural. Ascomunidades com potencialturístico devem se unir e seorganizar para ofertar umpacote atraente ao turista e pa-ra solicitar apoio dos órgãospúblicos aos investimentosestruturais que a regiãonecessita.

Furacões, inundações eondas de calor mais fortes ecom maior freqüência têm sidoobservados no planeta Terranos últimos anos. Cientistas são

cautelosos, mas admitem que oaumento da temperaturaglobal, devido ao efeito estufa,possa estar por trás disso. Oaumento da poluição e daemissão de CO2 e gás metanona atmosfera e a destruição denossas florestas são osprincipais fatores que agravamo efeito estufa. Ainda podemosreverter a situação? Lembremo-nos de que o problema dacamada de ozônio foi controladoquando se trocou o gás CFC poroutros. O mesmo pode ser feitopara controlar a emissão dosgases do efeito estufa e osdesmatamentos, enquanto sepromove o florestamento. Autilização de créditos decarbono em Santa Catarina temum grande potencial nos setoresagropecuário e energético e emáreas da saúde pública. É misterque Santa Catarina faça hoje asua parte para não ser cobradadaqui a 30-40 anos, por seusfilhos e netos, por não ter sepreocupado com as geraçõesfuturas e com o planeta.

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5Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Diagnóstico do cultivo de moluscos emSanta Catarina, 2005. 67p. (DOC 220)

As informações apresentadas neste documentoreferem-se aos aspectos da evolução da produçãode mexilhões e ostras, às perspectivas para aintrodução de novas espécies, ao atual quadro daocupação do espaço aquático costeiro e àdistribuição quantitativa dos maricultores queatualmente têm na malacocultura uma sólidafonte de renda e de trabalho ao longo da costalitorânea catarinense.

Contato: [email protected].

Manual de coeficientes de mão-de-obra emecanização em atividades agropecuárias ede aqüicultura de Santa Catarina, 2005. 272p.(DOC 221)

Este trabalho disponibiliza os coeficientestécnicos de mão-de-obra e mecanização, validadospor empresários rurais para 33 sistemas deprodução. Trata-se de uma boa fonte de consultapara técnicos e interessados na área desenvolveremseus trabalhos de planejamento ou atividades quenecessitem coeficientes técnicos para suarealização.

Contato: [email protected].

Competitividade das cooperativas demitilicultores de Santa Catarina, 2005.33p. (DOC 223)

Nesta publicação são discutidas asdificuldades enfrentadas e o potencialsocioeconômico e competitivo das coopera-tivas de mitilicultores, comparativamente aocomércio e à indústria de pescados, e aformação de parcerias como forma de supriras deficiências de infra-estrutura física elogística necessária.

Contato: [email protected].

Sistema de produção de arroz irrigadoem Santa Catarina (pré-germinado), 2005.87p. (SP 32)

O presente “Sistema de produção”, específicopara o sistema “pré-germinado”, tem o propósitode levar aos produtores e técnicos as informaçõesbásicas que permitem elevar a produtividade ea rentabilidade da lavoura orizícola e melhorara qualidade dos grãos produzidos, com o mínimode impacto ao ambiente e sem aumento no custode produção.

Contato: [email protected].

III Encontro Nacional deProdutores de Palmito dePalmeira-real, 2005. 107p.(Anais)

Os Anais do evento disponi-bilizam os resultados da pesquisacom a palmeira-real apresentadosdurante o Encontro. Entre outros,os temas abordados foram: aprodução de mudas, mercado,pragas da cultura, fisiologia,anatomia, morfologia, tecnologiade cultivo, processamentoindustrial e usos alternativos.

Contato: [email protected].

V Reunião Técnica Catari-nense de Milho e Feijão, 2005.336p. (Resumos expandidos)

A publicação contém osresumos expandidos dos traba-lhos apresentados no evento.Entre outros assuntos estão omelhoramento genético, fitotec-nia, fitossanidade, fisiologia,fertilidade e manejo do solo,zoneamento agrícola, silagem emanejo das plantas daninhas paraambas as culturas.

Contato: [email protected], com Elisete Stenger.

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6 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

E

30 anos de pesquisa agropecuária institucional em30 anos de pesquisa agropecuária institucional em30 anos de pesquisa agropecuária institucional em30 anos de pesquisa agropecuária institucional em30 anos de pesquisa agropecuária institucional emSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta Catarina

m outubro de 2005 foramcomemorados 30 anos depesquisa agropecuária

genuinamente catarinense. Foram30 anos de sucessos e realizações.

Tudo começou com a criação daEmpresa Catarinense de PesquisaAgropecuária S.A. – Empasc –, em29 de outubro de 1975, quando seconsolidou definitivamente aparticipação institucionalizada doEstado de Santa Catarina naatividade da pesquisa agropecuária,inserida num contexto nacional,mas voltada inteiramente àssoluções dos problemas catari-nenses.

Todavia, deve-se lembrar evalorizar os primórdios da pesquisaagropecuária catarinense, iniciadacom a instalação da primeiraunidade de pesquisa em SantaCatarina, em 1895, pelo entãogovernador Hercílio Pedro da Luz,com o nome de Estação Agronômicae de Veterinária, em Rio dos Cedros,que pertencia ao município deBlumenau na época. Esta unidadefoi desativada em 1920, após sertransferida para Florianópolis, nobairro que hoje se chamaAgronômica. Após esta data,diversas iniciativas do GovernoFederal e de Santa Catarina ocor-reram no Estado, como a criaçãode estações experimentais, do ser-viço de pesquisa e experimen-tação agropecuária e, posterior-mente, da Rede ExperimentalCatarinense.

No decorrer dos últimos 30 anoso Governo do Estado teve partici-pação essencial na consolidação dasações da pesquisa agropecuáriacatarinense. Um exemplo marcantefoi a promulgação da Constituiçãodo Estado de Santa Catarina, em1988, prevendo em seu artigo 193que “o Estado destinará à pesquisacientífica e tecnológica pelo menosdois por cento de suas receitas

correntes, destinando-se metade àpesquisa agropecuária”. Emdecorrência, foi criado o FundoRotativo de Fomento à PesquisaCientífica e Tecnológica do Estado –Funcitec –, em 5 de junho de 1990,que mais tarde subdividiu-se, fazendosurgir o Fundo Rotativo de Estímuloà Pesquisa Agropecuária – Fepa.Essas instituições deram lugar àFundação de Apoio à PesquisaCientífica e Tecnológica do Estadode Santa Catarina – Fapesc.

Em 20 de novembro de 1991,como parte de um projeto de reformaadministrativa do Estado, foi criadaa Empresa de Pesquisa Agrope-cuária e Difusão de Tecnologia deSanta Catarina S.A. – Epagri –, queteve sua denominação alterada paraEmpresa de Pesquisa Agropecuáriae Extensão Rural de Santa CatarinaS.A. – Epagri –, em 3/8/95. A criaçãoda Epagri foi fruto da incorporaçãoda Acarpesc, Acaresc, Empasc eIasc.

A estrutura gerencial da Epagrié composta por uma AdministraçãoEstadual, localizada em Floria-nópolis, onde estão a Diretoria eseis gerências estaduais. Emlocalizações estratégicas no Estado,estão as gerências regionais, oscentros de treinamento, as estaçõesexperimentais e centros de pesquisa,laboratórios e escritórios muni-cipais, que apóiam a execução de 34projetos, agregados em seisprogramas.

Ao longo das décadas de suaexistência, a Empasc/Epagripromoveu significativas inovaçõestecnológicas que tiveram origem naintensificação dos trabalhos nossetores da pesquisa vegetal eanimal, gerou e transferiutecnologias para o setor produtivoagropecuário do Estado que muda-ram a maneira de agir e pensar doprodutor e incorporaram umapreocupação com o equilíbrio dos

fatores social, econômico eambiental.

Com o objetivo de divulgar edifundir as tecnologias geradas nosseus trabalhos de pesquisa, foilançada a revista AgropecuáriaCatarinense, em 1988, dirigida aosprodutores, técnicos, agentes deassistência técnica, professores,estudantes e interessados naagropecuária.

Como visão de futuro, a pesquisaagropecuária se alicerça naidentificação de demandas etendências para uma agriculturasustentável. Neste enfoque, aagroecologia surge como alternativaviável para as pequenas propriedadesde Santa Catarina, caracterizadapela harmonia das atividadesprodutivas com o meio ambiente,diversidade das espécies, proteçãopermanente do solo e reciclagemdos nutrientes.

A Epagri promove o lançamentode cultivares que permitem elevar aqualidade e a produtividade, comono caso do arroz irrigado e da maçã.Também recomenda cultivares defeijão, soja, trigo, milho, mandioca,citros, maçã, pêra, ameixa, uva,forrageiras, alho, alface, batata ecebola, entre outras. Elabora edivulga o Zoneamento Agrocli-mático, para culturas de interesseeconômico do Estado, e o Zonea-mento Agroecológico e Socioeco-nômico, como um instrumentoorientador de programas dedesenvolvimento agrícola municipale regional.

Na área da biotecnologia, foiiniciada a produção de meristemasdestinados à obtenção de mudas debananeira in vitro, que possibilitouum incremento na qualidade e naprodução estadual de mudas.

A redução da idade de abate dosbovinos em campo nativo, pelo usode medicações estratégicas de anti-helmínticos, é um dos grandes

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Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005 7

resultados de estudos e pesquisasna área da bovinocultura de corte.

Na aqüicultura foram desenvol-vidas tecnologias de cultivo deespécies nativas, como mexilhão,vieiras e camarões, e exóticas, comoas carpas comum e chinesa, a ostrajaponesa e a truta. Estes trabalhosderam suporte a uma atividade quecoloca o Estado de Santa Catarinacomo o maior produtor nacional.

Os esforços da pesquisa na áreada vitivinicultura, aliados ao pio-neirismo de alguns empreendedores,estão abrindo oportunidades paraque o vinho catarinense ultrapasseas fronteiras do Estado.

Em projetos mais recentes comoplantas medicinais, aromáticas,ornamentais e flores, estão sendointensificados trabalhos em ativida-des de alta densidade econômica,diversificada e rentável, na medidacerta para o sistema de minifúndiopredominante em Santa Catarina.

Muito mais poderia ser acres-centado ao rol de realizações daEmpresa nestes últimos 30 anos depesquisa agropecuária institucional,que é fruto do trabalho de seu corpotécnico, formado por equipes

altamente qualificadas ecomprometidas com a realidade daagricultura familiar catarinense.Para divulgar os feitos dos últimos30 anos, a Epagri confeccionou edistribuiu o caderno “Empasc 1975 –Epagri 2005: 30 anos de pesquisaagropecuária institucional”, onderelaciona os principais alcancesobtidos no período.

Como reconhecimento dos resul-

tados obtidos pela pesquisaagropecuária catarinense, aAssembléia Legislativa de SantaCatarina prestou uma homenagemà Epagri, no dia 26 de outubro de2005, pela passagem do 30ºaniversário da Empasc/Epagri. Naocasião, a Epagri também prestouuma homenagem a seus funcionáriosmais antigos e colaboradores pelopioneirismo da ação no Estado.

TTTTTamanho da semente pode influir naamanho da semente pode influir naamanho da semente pode influir naamanho da semente pode influir naamanho da semente pode influir naprodutividade da sojaprodutividade da sojaprodutividade da sojaprodutividade da sojaprodutividade da soja

diferença no tamanho dassementes de uma mesmacultivar pode influenciar na

produtividade da soja quando ocorre

estiagem na fase de enchimento degrãos da cultura. Essa constataçãofoi obtida a partir de pesquisasconduzidas pela Embrapa Soja

durante a safra 2004/05.

“Existe um efeitobenéfico do tamanhoda semente naprodutividade dasoja. Em condiçõesde estiagem na fasede enchimento degrãos, quanto maiorfor a sementeutilizada na semea-dura melhor será suap r o d u t i v i d a d e ” ,explica FranciscoKrzyzanowski, autorda pesquisa. Para opesquisador, esseefeito ocorre porqueas sementes maiores

produzem plantas maiores em áreafoliar e com sistema radicular maisprofundo, o que faz com que elassofram um pouco menos com a faltade água. Os estudos serãocontinuados em condições con-troladas de disponibilidade hídrica,visando obter informações maisdetalhadas do comportamento daplanta. “É uma informaçãointeressante porque atualmenteas sementes grandes são prete-ridas comercialmente porqueapresenta um número menor deunidades por saco. Se confirmadoesse potencial de uso nos próximosestudos, no futuro, as sementesmaiores poderão ser mais umaopção tecnológica para agricultoresonde ocorre veranico na fase deenchimento de grão”, explica.

Fonte: Embrapa Soja, fone: (43)3371-6000, www.cnpso.embrapa.br.

A

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8 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

EOs 20 superalimentosOs 20 superalimentosOs 20 superalimentosOs 20 superalimentosOs 20 superalimentos

xistem certos alimentos que,em termos de nutrição, bri-lham um pouco mais do que

outros. São alimentos que estãorepletos de vitaminas, minerais eantioxidantes que beneficiam asaúde. Por isso, estas pérolas danutrição são chamadas de “supera-limentos”. Os 20 superalimentosdescritos a seguir fazem parte deuma lista dos melhores alimentospara uma vida saudável, publicadarecentemente pelo World CancerResearch Fund (WCRF-UK), umaentidade com base na Inglaterradedicada unicamente à prevençãodo câncer pelo uso de dietassaudáveis associadas a estilos devida.

O alimento é uma necessidadebásica – é o combustível que nosmantém vivos. Mas ele também ofe-rece outros benefícios. Certos tiposde peixes oleosos, hortaliças, frutase outros alimentos vegetais têmpropriedades especiais que os fazemúnicos nos benefícios que podemoferecer à saúde humana. Os nu-trientes contidos nestes alimentospodem auxiliar em muitas dasfunções naturais do corpo humano,tais como digestão, fortalecimentodo sistema imunológico e dos ossose ajuda na proteção contra o câncer.

Antioxidante é o termo usadopara descrever o grupo de vitaminas,minerais e certos fitoquímicos en-contrados nos alimentos que ajudama proteger o organismo dos efeitosdanosos dos radicais livres deoxigênio. Estes são moléculas ins-táveis que são criadas naturalmentepelo organismo e que podem tambémser produzidas por toxinas (comofumo), poluição, radiação solar emateriais radioativos. Estas toxinaspodem ser “carcinogênicas” – podemalterar ou danificar células do corpoe originar o desenvolvimento docâncer. Os antioxidantes são hábeisem remover os radicais livres ouprevenir a sua formação, podendo,portanto, ajudar na prevenção aodano celular.

As reações naturais dos dife-rentes nutrientes, obtidas pelo con-sumo de uma dieta saudável, sãomuito benéficas à saúde do indivíduo.A ingestão de uma dieta balanceadaque inclui uma variedade de vegetaispermite a obtenção de todos os nu-trientes necessários para uma ótimasaúde. É sabido que certos alimentoscontêm mais do que quantidadesmédias de nutrientes melhoradoresda saúde. Vinte dos melhoressuperalimentos foram identificadospara a melhor saúde do indivíduo.

Acredita-se que cada um dosalimentos citados ajude a fortalecero sistema imunológico do corpo,mantendo-o forte e resistente asérias enfermidades como câncer edoenças do coração. A inclusãodestes superalimentos na dietasignifica melhor chance de atingir emanter um peso saudável do corpo.Isto é um importante aspecto daprevenção do câncer, uma vez que aobesidade ou o sobrepeso podeaumentar o risco.

Pimentas vermelhas

São uma excelente fonte de vi-tamina C. Ametade deuma pimen-ta vermelhaproporcionaa metade danecessidadediária. Sãotambém fon-te de flavonóides e betacarotenos,que se opõem aos danos dos radicaislivres.

Quivi

Os frutos são uma grande fontede vitaminaC, melhorque a laran-ja, e tambémcontêm vita-mina K, po-tássio e mag-

nésio. Sua cor verde é devida aclorofila fotoquímica.

Castanhas-do-pará

Elas são ricas em selênio, quetem efeitos antioxidantes. O

consumo dea l g u m a sdelas é su-ficiente paraas necessi-dades diá-rias de se-lênio. O se-lênio tam-

bém ajuda a manter forte o sistemaimunológico. A ingestão de altasdoses de suplemento de selênio podeser tóxica. As castanhas tambémsão boa fonte de vitamina E.

Tomates

Os tomates são uma fonte dosantioxidantes vitaminas C e E,flavonóides etambém depotássio, queajuda a re-gular a pres-são sangüí-nea. A corvermelha édevida aoantioxidante licopeno. Pesquisasligam o pleno consumo de tomatescom reduzido risco de doenças docoração e câncer.

Brócolis

Contêm o sulforáfano, um fito-químico que ativa enzimas que po-

dem des-truir quími-cos causa-dores dec â n c e r .T a m b é mc o n t ê mácido fólico,

vitamina C, cálcio, potássio,vitaminas B e outros antioxidantes.

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9Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Cebolas

São ricas num fitoquímico cha-mado quer-cetina (emespecial asroxas), que éum potenteantioxidan-te. Elas tam-bém ajudam a melhorar a circulaçãoe regular a pressão sangüínea.

Batata-doce

A batata-doce contém mais caro-tenóides an-tioxidantesalfa e beta-c a r o t e n o sdo que abatata co-

mum. Contém também vitamina E,fósforo, potássio e folato.

Cenoura

É uma das melhores fontes doantioxidantebetacaroteno.O organismopode tambémc o n v e r t e rbetacarotenoem vitaminaA, que é necessária para uma pelesaudável, para fortalecer o sistemaimunológico e para a visão noturna.

Mangas

As mangas estão repletas de an-tioxidantesgraças aoseu alto con-teúdo de vi-tamina C.Elas tam-bém contêm

alguma vitamina E e carotenóides.

Morangos

Possuem uma poderosa forçaantioxidante graças ao conteúdo devitamina C eflavonóides.Têm aindaum fitoquí-mico cha-mado ácidoelágico, que tem mostrado eficiênciana inibição do crescimento de célulascancerosas.

Agrião

É um remédio natural que estárepleto devitamina B ede mineraiscomo cálcio eferro e umaboa fonte devitaminas Ce E, flavonóides, betacaroteno eglucosinolatos que, acredita-se, têmefeitos anticâncer.

Sementes de girassol

As sementes de girassol são mui-to ricas em vita-mina B e no antio-xidante vitaminaE. A mistura comsementes de abó-bora permite aobtenção das gor-duras benéficas

ômega-6 e ômega-3. Contêmtambém ferro, zinco e cálcio.

Salmão

O salmão pode ser uma boa fontede gorduras ômega-3, que têmefeitos benéficossobre o coração eajudam a prevenircâncer pelo forta-lecimento do sis-tema imunoló-gico. O salmãotambém é uma ex-celente fonte de selênio e proteína.É importante consumir uma ou duasporções por semana.

Couve-de-bruxelas

O gosto e o odor característicosão causa-dos pelo fito-químico si-nigrina. Éuma exce-lente fontede vitamina C e oferece boa quan-tidade de ácido fólico.

Azeite de oliva virgem eextra-virgem

Contém antioxidantesfenólicos, vitamina E egorduras monoinsaturadas –que não aumentam o coles-terol do sangue. É rico em

calorias e por isso não se deveconsumir mais do que uma colherde sopa por dia.

Repolho

Oferece boa quantidade de vita-mina C eácido fólico.Alguns estu-dos ligam oseu consu-mo com umreduzido risco de câncer, em especialdo trato digestivo.

Pão integral

Uma boa fonte de fibra reguladorados intestinos, fitoquímicos, vita-

mina B e mi-nerais vitais.A l i m e n t o si n t e g r a i snão refina-dos como

arroz, pão integral e cereais ajudamtambém a reduzir o risco de câncerno intestino.

Alho

Possui fitoquímicos que sãoestimulantesativos queatuam comoantioxidantese ajudam aprevenir odano celular e o câncer. Contémvitamina C, fósforo e potássio.

Laranjas

Além davitamina C,elas são boafonte de fibrase ácido fólico.

Espinafre

Tem grande conteúdo de ácidofólico (bom paraum sangue sau-dável, nervos,circulação egravidez), vita-mina C e é boafonte de carotenóides.

Fonte: www.wcrf-uk.org (traduzidopor Roger Delmar Flesch, jul. 2005).

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A

10 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Soja orgânica resiste à estiagem no Sul do BrasilSoja orgânica resiste à estiagem no Sul do BrasilSoja orgânica resiste à estiagem no Sul do BrasilSoja orgânica resiste à estiagem no Sul do BrasilSoja orgânica resiste à estiagem no Sul do Brasilsafra de soja de 2004/05 noSul do Brasil teve grandesprejuízos, em função da

ocorrência de uma das pioresestiagens dos últimos 50 anos. EmSanta Catarina, na Região Oeste doEstado, a seca reduziu dras-ticamente a produtividade daslavouras de cereais e também daspastagens. Na região de CamposNovos, no Meio Oeste Catarinense,a falta de chuvas também causouestragos, porém os agricultores queutilizaram técnicas agrícolas maissustentáveis, tipo plantio direto eadubação verde, entre outras,conseguiram salvar parte daprodução.

Foi o que ocorreu com os irmãosDionísio e Walter Filipini, quecultivam soja orgânica no municí-pio de Zortéa, vizinho de CamposNovos. “Apesar da seca,conseguimos colher uma média de33 sacos por hectare, e utilizei duas

cultivares específicas paraalimentação humana, a BR 36 e RS10”, revelou Dionísio Filipini. Elecontou também que, antes da soja,fez semeadura a lanço da cultivar decenteio IPR 89. Esta cobertura nãofoi rolada e houve a colheitamecanizada da semente para vendaa moinhos catarinenses. Nessa áreafoi semeado nabo forrageiro, noinverno de 2005, e na primavera foisemeado milho orgânico em rotaçãocom a soja.

Dos 400ha disponíveis para ocultivo de soja, os Filipini já possuem205ha de soja orgânica, sendo 25haem conversão e mais 43ha de milhoorgânico. O resto da área é cultivadoainda em sistema convencional, maso produtor recebe 10% nacomercialização desta sojatradicional, que é certificada comonão-transgênica. A soja orgânica dosirmãos Filipini é certificada peloInstituto Biodinâmico, de São Paulo,e foi vendida este ano com sobrepreçode 45% sobre o convencional.Segundo o pesquisador CírioParizotto, da Epagri/EstaçãoExperimental de Campos Novos, querealiza experimentos com culturasorgânicas há alguns anos, o custo de

produção da lavoura orgânicaassemelha-se ao da convencional.Por outro lado, o produtor já fechoucontrato para a próxima safra paracomercializar a soja orgânica com45% de sobrepreço.

O extensionista municipal daEpagri em Zortéa, Júlio Dambrós,que acompanha a produção dosFilipini e de dois produtores vizinhos,informa que as lavouras orgânicasnão usam adubos químicos de sínteseindustrial, nem agrotóxicos. Alémdisso, os agricultores procurampreservar e ampliar os restos demata ainda existentes, princi-palmente as matas ciliares. Nestaúltima safra, os irmãos Filipiniutilizaram os seguintes insumospara controlar doenças: calcário,cama de aves, fosfato natural,inoculante, semente, inseticidabiológico Dipel e silicato de sódio +enxofre.

Mais informações com Filipinipelos fones (49) 9985-3076 e (49)3555-2353 ou os técnicos CírioParizotto pelo fone (49) 3541-0748e e-mail: [email protected] eJúlio Dambrós pelo fone (49) 3557-0404 e e-mail: [email protected].

Dionísio Filipini (direita) e CírioParizotto mostram o mato forrageironascendo antes da colheita da soja

Irmãos Filipini na colheita de soja orgânica (Dionísio, à esquerda, Walter aocentro, e funcionário)

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Leite cru e água: receita barata para combater o oídioLeite cru e água: receita barata para combater o oídioLeite cru e água: receita barata para combater o oídioLeite cru e água: receita barata para combater o oídioLeite cru e água: receita barata para combater o oídioma solução de 5% de leitecru de vaca e 95% de água jápode ser utilizada para

controlar o oídio – doença que atacadiversas culturas, causando a mortedas plantas e prejuízos aos

agricultores. Esse método foidesenvolvido na Embrapa MeioAmbiente e testado em pepino eabobrinha, com controle depraticamente 100% da doença. Ooídio é causado por um fungo

Seqüência de fotos mostram o ataque do oídio em folhas de abóbora

chamado Sphaerotheca fugilinea,que se parece com um pó branco nasfolhas de variadas culturas. Osfungicidas químicos indicados parao combate ao oídio são caros, cercade R$ 135,00 o litro, enquanto o leitecru custa R$ 0,35 o litro. Além disso,a solução é totalmente inócua aomeio ambiente, não causandonenhum impacto ambiental, o quenão se pode dizer dos fungicidasutilizados para o controle dadoença.

A alternativa foi eficaz apóstestar várias dosagens. Para umasolução de 100L, por exemplo, sãonecessários 95L de água e 5L deleite. O novo método já está sendotestado, pelos chacareiros queplantam hortaliças e legumes nochamado cinturão verde da GrandeSão Paulo.

O produto vem sendo testado emoutras variedades de plantascultivadas, já que o oídio ocorretambém em culturas importantescomo feijão, soja e trigo.

Mais informações: Embrapa MeioAmbiente, fone: (19) 867-8700,www.cnpma.embrapa.br.

U

Quando o ferro “Quando o ferro “Quando o ferro “Quando o ferro “Quando o ferro “roubaroubaroubaroubarouba” a vitamina de alimentos” a vitamina de alimentos” a vitamina de alimentos” a vitamina de alimentos” a vitamina de alimentoscomum o consumidor en-contrar, nas prateleiras desupermercados, uma grande

quantidade de alimentos enri-quecidos com vitaminas e mineraisna tentativa de melhorar o valornutricional. Uma pesquisa realizadana Faculdade de Engenharia deAlimentos – FEA –, da Unicamp,Campinas, SP, no entanto, apurouque as vitaminas A e E são“perdidas” em alimentos como leitedesnatado e farinha de arroz quandoenriquecidos com ferro simul-taneamente. O motivo? A interaçãoentre vitaminas e mineral e otempo de armazenagem dessesprodutos anulam o efeito dasvitaminas.

Segundo a pesquisadoraLucilene Soares Miranda, osminerais são estáveis, enquanto as

vitaminas, instáveis. Por isso, aprática de enriquecimento bastantedifundida hoje em dia não pode seruma regra geral, pois determinadosnutrientes podem sofrer interaçãonegativa durante a vida deprateleira. A pesquisa de doutorado“Estabilidade das vitaminas A e Eem alimentos enriquecidos comdiferentes fontes de ferro”,orientada pela professora HelenaTeixeira Godoy, avaliou ainfluência da adição de diferentesfontes de ferro (lactato de ferro,sulfato ferroso, Fe-EDTA, ami-noácido quelato de ferro e ferroreduzido) nos produtos com vita-minas.

Lucilene investigou os alimentosem várias formulações e, duranteum período, observou o processo deinteração entre as substâncias. ‘‘As

vitaminas A e E são antioxidantes eo ferro é pró-oxidante. No tempo dearmazenagem ocorre a interaçãoentre eles, e as vitaminas são“atacadas” pelo mineral”, esclareceLucilene. A experiência avaliou asperdas em seis diferentes combina-ções em farinha de arroz e quatrocombinações em leite desnatado,chegando nas mais adequadas paracada tipo de alimento. Na farinhade arroz, por exemplo, as adiçõesdas fontes de ferro ideais seriam Fe-EDTA ou ferro reduzido. No caso doleite desnatado, o aminoácidoquelato de ferro e o Fe-EDTA foramos que apresentaram menoresporcentagens de perda no processode interação.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição 296. Reportagem de Raqueldo Carmo Santos.

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Maracujá resistente: enxMaracujá resistente: enxMaracujá resistente: enxMaracujá resistente: enxMaracujá resistente: enxerto garante plantas menoserto garante plantas menoserto garante plantas menoserto garante plantas menoserto garante plantas menospropensas a doençaspropensas a doençaspropensas a doençaspropensas a doençaspropensas a doenças

esquisas feitas no campusda Universidade EstadualPaulista “Júlio de Mesquita

Filho” – Unesp – de Jaboticabal, SP,poderão ajudar os plantadores demaracujá a melhorar a produtividadede suas culturas. A novidade é umatécnica que produz mudas maisresistentes a doenças, por meio doenxerto nos caules das plantas, 10cmacima da raiz, de partes de maracu-jazeiros que sobreviveram às princi-pais doenças que atacam essevegetal.

O processo, conhecido comominienxertia, foi analisado na tesede doutorado de Geraldo Nogueira,defendida na Faculdade de CiênciasAgrárias e Veterinárias – FCAV – daUnesp. “A enxertia obteve 100% de

sucesso e o plantio da muda enxer-tada foi possível 45 dias após oprocedimento”, comenta Nogueira,pesquisador da Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária –Embrapa –, em Roraima.

A técnica busca aumentar a so-brevida dos maracujazeiros do País,atingidos por um número crescentede moléstias. Para o coordenador dapesquisa, Carlos Ruggiero, docentedo Departamento de ProduçãoVegetal da FCAV, a minienxertiapode ser uma esperança para osprodutores em busca de maiorprodutividade. “Como temos maisde 500 espécies no País, a maioriadelas brasileiras, dispomos de umagrande variedade genética paraobter soluções contra as doenças”,

destaca. A Unesp conta com mais de50 espécies catalogadas que podemser utilizadas pelos agricultores.

A previsão dos especialistas éque a mudança do sistema deprodução de mudas pelos agri-cultores possa elevar a produtividadeem até cinco vezes. Hoje, em média,ela é de 10t/ha. Com a enxertia,pode-se atingir 50t, dependendo daregião e das condições climáticas.“Para isto é preciso, além de tempoe investimento, a conscientizaçãodos produtores para a mudança noplantio, passando do sistema desementes para o de clonagem demudas mais resistentes”, afirmaRuggiero.

Fonte: Jornal da Unesp, edição201.

Ciclones, tornados e tromba d’águaCiclones, tornados e tromba d’águaCiclones, tornados e tromba d’águaCiclones, tornados e tromba d’águaCiclones, tornados e tromba d’águaiclones são sistemas de bai-xa pressão atmosférica cu-jos ventos giram ao redor de

seu centro (soprando para dentro),em torno do qual há circulaçãofechada. No Hemisfério Norte, osventos giram no sentido anti-horário, e no Hemisfério Sul, nosentido dos ponteiros do relógio.

Estes sistemas apresentam umaextensão de centenas dequilômetros e deslocam-se sobreregiões marítimas ou continentais.

O ciclone extratropical éassim denominado por ter sua áreade atuação fora dos trópicos, emlatitudes acima de 23oS. Este tipode ciclone é comum nas áreas doLitoral Sul do Brasil, principal-mente nos meses de abril asetembro, onde ocasionam ventosfortes nos municípios litorâneos eaté naufrágio de embarcações.

Bem mais intensos são os ciclonestropicais, com ventos mais fortes emaior poder de destruição, queapresentam uma estrutura dinâmicadistinta, no processo de formação,de um ciclone extratropical.Desenvolvem-se sobre as águastropicais por causa das altastemperaturas e elevada umidade doar. Na América do Norte e região doCaribe, são denominados de furacão,e no sudeste asiático, de tufão.

O tornado é uma violentacoluna de ar giratória, em formatode nuvem-funil, que se estende

desde a nuvem de tempestade atétocar a superfície do solo. Comdiâmetro e tempo de duraçãomenores que um furacão, o tornadopode atingir, por exemplo, apenasum bairro em apenas algunssegundos ou minutos. Mas seu poderde destruição é ainda maior, com ogiro dos ventos chegando àvelocidade de 500km/h. O que atingiuo município de Criciúma, em SantaCatarina, em 2005, pode ser visto naFigura 1. Os tornados são visíveispor causa da poeira e sujeiralevantadas do solo. Caso sejamformados sobre o mar, por vapord´água condensada, são deno-minados de tromba d’água (Fi-gura 2).

Mais informações com MariaLaura Guimarães Rodrigues,meteorologista da Epagri/Ciram,e-mail: [email protected].

Figura 2. Tromba d´água

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Figura 1. Tornado

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13Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

ACultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negraCultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negraCultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negraCultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negraCultivares de bananeira resistentes à sigatoka-negra

partir de 1987, a equipe daEpagri/Estação Experimen-tal de Itajaí, SC, iniciou

trabalhos para melhorar o controlequímico e cultural da sigatoka-amarela e avaliação de cultivaresresistentes à sigatoka-negra. O usode cultivares resistentes é semprerecomendável quando as pulve-rizações não são possíveis ou viáveis.Atualmente são estudados 21genótipos considerados resistentesà sigatoka-negra. Dentre estesmateriais, a Epagri já recomendapara o cultivo orgânico o híbridoFHIA-01 (Figura 1) e a cultivar ThapMaeo (Figura 2).

O híbrido FHIA-01, tambémconhecido por prata açu, além daresistência à sigatoka-negra,apresenta média resistência àsigatoka-amarela, resistência àbroca-da-bananeira, ao mal-do-

panamá e ao nematóide cavernícola.Em Santa Catarina, os cachos deFHIA-01 variam entre 20 e 40kg.Por ter como parental feminino abanana Enxerto, o híbrido FHIA-01tem 75% de sua carga genéticaoriunda do subgrupo Prata, de quemherdou a resistência ao frio. O frutotem algumas características dosubgrupo Prata, mas é maior e nãoapresenta típico “gargalo” naextremidade. No sabor da polpa émais perceptível a presença de amidodo que nas cultivares do subgrupoPrata. Este híbrido apresentaexcelente qualidade para proces-samento de “chips” de banana verdeou de passas. Também é usado comsucesso na culinária para aconfecção de tortas e bananas fritas.A comercialização como fruta frescaainda é incipiente. A cultivar ThapMaeo, também conhecida por maçã-da-índia, é resistente à sigatoka-negra, à sigatoka-amarela, ao mal-do-panamá, à broca-da-bananeira eao nematóide cavernícola. Ela éresistente ao frio e à maioria daspragas e doenças dos frutos, razãopela qual sua casca normalmenteestá limpa. O cacho pesa entre 14 e18kg na primeira safra e entre 20 e30kg nas safras seguintes. Seusfrutos são pequenos, de coloraçãoamarelo-clara e têm algumascaracterísticas do subgrupo Prata e

outras da banana-maçã (tendênciapara o empedramento e maturaçãotardia da polpa em relação aoamarelecimento da casca). No Suldo Brasil, a ‘Thap Maeo’ tem polpaácida e alto teor de tanino, por issoseus frutos não devem serconsumidos logo após oamarelecimento da casca, mas emestágios mais avançados dematuração (aparecimento dasprimeiras pintas de cor café), quandoseu sabor torna-se mais agradável.O plantio não é recomendável emlocais expostos aos ventos fortes,devido ao porte alto e à tendência dequebra do pseudocaule.

Mais informações com LuizAlberto Lichtemberg, e-mail:[email protected], Maria IzabelFurst Gonçalves, e-mail: [email protected], e Jorge Luiz Mal-burg, e-mail: malburg@epagri. rct-sc.br, ou pelo fone: (47) 3341-5244.

“El Niño” aumenta a produtividade do milho“El Niño” aumenta a produtividade do milho“El Niño” aumenta a produtividade do milho“El Niño” aumenta a produtividade do milho“El Niño” aumenta a produtividade do milhostudo desenvolvido por pro-fessores da UniversidadeFederal do Rio Grande do

Sul – UFRGS – demonstra que ofenômeno “El Niño” determinaganhos na produtividade da culturado milho no Rio Grande do Sul, aopasso que o fenômeno “La Niña”determina queda na produtividade.

Uma explicação para esseaumento na produtividade do milhoé o curto período de aumento daprecipitação pluviométrica porocasião da ocorrência do fenômeno“El Niño”. Segundo o estudo, há45% de chance de obtenção de alta

produtividade de milho e 25% dechance de baixa produtividade. Poroutro lado, há 45% de probabilidadede baixa produtividade em anos de“La Niña” e somente 15% de chancede haver produtividade alta, devidoà estiagem na primavera – início deverão, período crítico ao desen-volvimento da cultura naqueleEstado.

Para realizar tal estudo, osprofessores da UFRGS basearam-sena série histórica de dados daprodutividade média do milho noRio Grande do Sul, a partir de 1919/20 a 2003/04, em dados de

precipitação pluvial média mensaldo mesmo período em oito estaçõesmeteorológicas no Estado einformações dos eventos “El Niño” e“La Niña” no mesmo período.

Segundo o estudo, as informa-ções obtidas são úteis para de-cisões quanto a alternativas demanejo da cultura do milho a usar,com a finalidade de diminuirprejuízos ou favorecer ganhos,frente à previsão de “El Niño” ou“La Niña”.

A íntegra do trabalho pode serlida em: Pesq. Agropec. Bras., v.40,n.5, p.423-432, 2005.

E

Figura 1. Cultivar FHIA-01

Figura 2. Cultivar Thap Maeo

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A estrutura fundiária da RA estrutura fundiária da RA estrutura fundiária da RA estrutura fundiária da RA estrutura fundiária da RegiãoegiãoegiãoegiãoegiãoSerrana Catarinense:Serrana Catarinense:Serrana Catarinense:Serrana Catarinense:Serrana Catarinense:

latifúndios ou minifúndios?latifúndios ou minifúndios?latifúndios ou minifúndios?latifúndios ou minifúndios?latifúndios ou minifúndios?Osvaldo Vieira dos Santos1

Região Planalto Sul Catari-nense, conhecida como Re-gião Serrana, possui uma

superfície de 16.135,9km2, quecorresponde a 16,91% da área doEstado, uma população de 285 milhabitantes, que corresponde a 5,35%da população estadual, e perfaz umadensidade demográfica de 17,68habitantes/km2 (Sinopse... 2000). Elaabrange os 18 municípios quecompõem a região da Associaçãodos Municípios da Região Serrana –Amures –, cuja cidade pólo é Lages.Geograficamente está favoravel-mente posicionada entre os grandescentros metropolitanos da RegiãoSul do Brasil, como Porto Alegre,Curitiba e Florianópolis.

A economia regional sempre foidependente da exploração damadeira e tem a pecuária, o turismoe o comércio como atividadescomplementares à agricultura. Aregião conta com uma paisagemnativa onde predominam os camposnaturais, os remanescentes da matade araucária e abundância de águaslimpas, que propiciam condiçõesfavoráveis para o desenvolvimentodo turismo rural e do ecoturismo ea criação de trutas.

A preservação da paisagemcaracterística, todavia, tem umcusto, pois a região tem sido taxadacomo de baixa produtividade, comextensas áreas de latifúndio, cujo

modelo reproduz a pobreza e ampliaa concentração de renda. Além disso,atribui-se ao povo desta região umconjunto de fatores étnicos, sociaise culturais como “problemacultural”, sem entretanto ir mais afundo às raízes históricas daapropriação da renda gerada noextrativismo e da degradaçãoambiental. Aponta-se ainda amigração de recursos da região daserra para fomentar o desenvol-vimento de regiões litorâneas,atribuindo-se a culpa do atrasoeconômico aos governantes devidoà baixa representatividade políticada região.

A história da Região Serrana datade 1776, quando o BandeiranteAntônio Correia Pinto de Macedofundou a Vila de Lages, com amplaextensão territorial. À medida queos povoados foram se formandosurgiram vários municípios,chegando-se a atual estrutura. Todoo território que é hoje a região daAmures já pertenceu ao municípiode Lages.

O preconceito que rotula estaregião como de predominância depropriedades rurais com grandesáreas se constitui em barreira àimplantação de programas de maiorrelevância social, a exemplo do quejá foi verificado em 1996, quando seestabeleceram os critérios paraenquadramento dos municípios

catarinenses no Pronaf Infra-estrutura, sob os quais excluiu-setoda a Região do Planalto SulCatarinense2. Freqüentemente serestringe a oportunidade daparticipação das comunidadesinterioranas em programas deEstado, e não raramente taisprogramas são elaborados com vistaa atender demandas anteriormenteidentificadas, fato que contribui parao aumento das desigualdades sociaise dos desequilíbrios regionais.

Não obstante, diante daconstatação de que em algunsmunicípios da Região Serranaocorrem os piores índices dedesenvolvimento social, econômicoe humano (IDS, IDH), a região foicontemplada em toda a sua área deabrangência com o ProjetoMicrobacias 2, que é um marcoreferencial nas políticas públicasvoltadas aos produtores menosfavorecidos e que se encontra emdesenvolvimento.

Ainda que as ações desenvolvidassejam relevantes, o processodiscriminatório ainda persiste,sobretudo quando se considera comoparâmetro de análise a estruturafundiária. Na Tabela 1 é apresentadaa estrutura fundiária da região,considerando-se os dados agregadospara a região da Amures, com basenos censos agropecuários do IBGErealizados em 1975 e 1995/96 epreliminarmente os dados doLevantamento Agropecuário deSanta Catarina – LAC –, realizadoem 2003/04.Verifica-se que ao redorde 67% dos estabelecimentosagropecuários (10.737) existentes naregião em 1995 possuíam área deaté 50ha3. De acordo com os dadosdo LAC, tais estabelecimentossomam 63,98% do total. Como estaregião é marcada pela elevadaocorrência de pedregosidade e derelevo acidentado, o potencial deuso do solo para fins agrícolas énaturalmente restrito. Adicional-mente, predomina a ocorrência desolos ácidos, de baixa fertilidade

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail: [email protected] partir de 2001 a região passou a ser considerada como área prioritária do Pronaf Infra-estrutura, conforme resolução do ConselhoEstadual do Pronaf, levando-se em conta o IDH.3No Estado de Santa Catarina, 83% dos estabelecimentos agropecuários possuem áreas inferiores a 50ha (Censo Agropecuário, 1997).

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natural e clima de altitude, cons-tituindo-se em barreiras naturaisao seu potencial de uso. Mesmoassim, houve um aumento (31,20%)do número de estabelecimentos comárea de até 50ha, passando de 8.184,em 1975, para 10.737, em 1995(Tabela 1). Desse modo, pode-seinferir que está em curso umprocesso de divisão das glebasmaiores em áreas menores.

Há que se ressaltar que toda aprodução de milho, feijão, hortaliçase grande parte da maçã produzidana região têm origem nos estabe-lecimentos menores, explorados emregime familiar de produção4, assimcomo a própria pecuária de corte,que se fundamenta na alimentaçãoem campo nativo como forma deexplorar racionalmente áreasimpróprias a culturas anuais.

Considerando-se o estrato de até100ha, o crescimento do número deestabelecimentos foi de 26,25%,passando de 10.178 em 1975 para12.850 em 1995, cuja variação foiinfluenciada pelas mudançasocorridas nos estratos inferiores(Tabela 1). O percentual deestabelecimentos agropecuárioscom área de até 100ha obtido peloLAC fica ligeiramente inferior àqueleidentificado pelo IBGE, o queequivale a 3,2 pontos percentuais.Nos demais estratos, há variação nonúmero de estabelecimentos,porém, menor que aquela ocorridanos estratos de até 100ha.

As diferenças, em termosabsolutos e relativos, do número deestabelecimentos com área de até50 e de até 100ha identificados peloLAC não significam que houveredução do número de estabele-cimentos, mas são decorrentes dametodologia de coleta de dadosutilizada, na qual parcela signifi-cativa dos estabelecimentos depequeno porte foram enquadradoscomo outros tipos de estabele-cimentos.

Ainda em relação ao estrato comárea de até 100ha, convencio-nalmente considerado módulo básicopara a região, verifica-se que esta

faixa inclui ao redor de 80% dosestabelecimentos agropecuários,cujo potencial de uso é estimado em60%, diante das condições de relevo,de pedregosidade, áreas de reservalegal, de preservação permanente,entre outras.

Nos estratos acima de 100ha(Tabela 1), considerando-se que éuma região típica de produçãopecuária, com sistemas de criaçãopredominantemente extensiva emcampos naturais, requerendo áreasmaiores, nota-se que mais de 96%desses estabelecimentos seenquadram em patamaresinferiores a 500ha. Certamente taisinformações contrastam com aestrutura fundiária catarinense, emque a pequena propriedade épredominante. Em Santa Catarina,os módulos da produção pecuáriasão distintos dos existentes no RioGrande do Sul ou em Mato Grossodo Sul. Nestes Estados a produçãopecuária é explorada em áreasconsideravelmente maiores.

Não somente a ocorrência donúmero de estabelecimentos emcada estrato de área é relevante,mas também merece consideraçãoa área efetivamente utilizada pelosrespectivos estratos, e isso pode servisualizado na Tabela 1. De acordocom os dados do IBGE, ao redor de70% dos estabelecimentosagropecuários do Planalto SulCatarinense detinham cerca de 12%das terras disponíveis, conferindoem 1995/96 uma área média de16,08ha/estabelecimento5. Estenúmero evidencia a ocorrência, deforma expressiva, da pequenapropriedade explorada em regimefamiliar de produção.

Verifica-se que os estabele-cimentos com estrato de área de até100ha detêm, em média, 22% daárea total identificada pelo CensoAgropecuário (1997). Logo, existena região uma concentraçãofundiária. Essa concentraçãofundiária certamente se constituino maior argumento contra aimplementação de programas denatureza social mais arrojados, o

que caracteriza um grave equívoco.Um exemplo desse equívoco é anão-consideração de indicadores jáconhecidos, como o Índice deDesenvolvimento Social/Humano(IDS, IDH), pois na região ocorremos mais baixos índices do Estado,sendo preteridos diante deargumentos da estrutura fundiária.

A concentração de terras podeainda ser visualizada na Tabela 1,onde no estrato de até 500ha háocorrência de aproximadamente 58%das áreas. Dessa forma, deduz-seque 42% das áreas totais da Regiãodo Planalto Sul Catarinense sãoformadas por estabelecimentos quedetêm mais de 500ha e que taisestabelecimentos somam ao redorde 4% do número total deestabelecimentos que ocorrem naregião. Certamente tais áreas estãoassociadas às grandes empresas dosetor madeireiro, principalmenterelacionadas a florestas cultivadas ea campos naturais com produção debovinos de corte de forma extensiva.

Conclui-se, portanto, que aconcentração de terras estápresente e é um problema denatureza estrutural, não devendose constituir em mecanismodiscriminatório, especialmentequando se projetam políticas dedesenvolvimento regional e do setoragropecuário. Da mesma forma, háde se reconhecer que a agriculturafamiliar está presente e querepresenta ao redor de 80% dosprodutores rurais, os quais detêmpequenas áreas de terras masmerecem um tratamento igualitárioentre as políticas de governo nonível federal, estadual ou municipal.Deve-se ainda buscar mecanismosmais ágeis, a fim de que se recupererapidamente o longo tempo perdidopor ter sido a região consideradaunicamente como de latifúndio.Além disso, deve-se incorporarmetodologias e estratégias quelevem em consideração funda-mentalmente a formação do povoserrano, diferentemente daquelasimplementadas nas demais regiõesdo Estado.

4De acordo com o Censo Agropecuário (1997) as áreas médias (em ha) das principais culturas exploradas na Região Serrana são: milho– 3,90; feijão – 3; batata-inglesa – 1,50; fumo – 2,17; tomate – 0,29; cebola – 1,57 e maçã – 3,36.5Os dados de estratificação de área no LAC ainda não foram disponibilizados.

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Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 200516

Literatura citada

1. CENSO AGROPECUÁRIO – 1975:Santa Catarina. Rio de Janeiro, IBGE,v.1; t.19, 1979. 702p.

2. CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996:

Santa Catarina. Rio de Janeiro, IBGE,n.21, 1997.

3. SANTA CATARINA. Secretaria deEstado da Agricultura e Desen-volvimento Rural. Levantamento

Agropecuário de Santa Catarina – 2002-2003. Florianópolis, 2005, 255p.

4. SINOPSE PRELIMINAR DO CENSODEMOGRÁFICO – 2000. Rio de Janeiro:IBGE, v.7, 2000.

Tabela 1. Número de estabelecimentos, área e freqüência, por estratos de área, na Região Serrana Catarinense,com base nos censos de 1975 e 1995/96 e no LAC

1975 1995 LAC

Estratos No de % ha % No de % ha % % deestab. estab. estab.

0,00 < 1,00 123 0,93 47 0,00 196 1,24 103 0,01 0,26

1,00 < 2,00 177 1,34 234 0,02 443 2,79 585 0,04 2,42

2,00 < 5,00 1.205 9,12 4.438 0,30 1.855 11,70 6.344 0,45 9,28

5,00 < 10,00 1.428 10,81 10.677 0,73 1.931 12,18 14.125 1,00 11,41

10,00 < 20,00 2.039 15,43 28.326 1,93 2.704 17,05 37.723 2,68 16,97

20,00 < 50,00 3.212 24,31 102.649 7,00 3.608 22,75 113.844 8,10 23,63

Até 50ha 8.184 61,93 146.371 9,98 10.737 67,72 172.724 12,28 63,98

50,00 < 100,00 1.994 15,09 139.069 9,49 2.113 13,33 145.500 10,35 13,80

Até 100ha 10.178 77,02 285.440 19,47 12.850 81,04 318.224 22,63 77,78

100,00 < 200,00 1.400 10,59 190.017 12,96 1.413 8,91 191.166 13,59 10,52

Até 200ha 11.578 87,61 475.457 32,43 14.263 89,95 509.390 36,22 88,31

200,00 < 500,00 1.088 8,23 327.970 22,37 1.026 6,47 313.008 22,26 7,72

Até 500ha 12.666 95,85 803.427 54,80 15.289 96,42 822.398 58,48 96,02

500,00 < 1.000,00 374 2,83 255.160 17,40 399 2,52 271.401 19,30 2,58

1000,00 < 2.000,00 118 0,89 157.780 10,76 129 0,81 167.209 11,89 1,05

2000,00 < 5.000,00 51 0,39 142.428 9,71 32 0,20 88.843 6,32 0,28

5000,00 < 10.000,00 3 0,02 17.694 1,21 6 0,04 39.638 2,82 0,07

> 10.000,00 3 0,02 89.682 6,12 1 0,01 16.847 1,20 0,00Total 13.215 100,00 1.466.171 100,00 15.856 100,00 1.406.336 100,00 100,00

Fonte: Censo Agropecuário (1979 e 1997); Santa Catarina (2005).

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20 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Seqüestro de carbono – oportunidades eSeqüestro de carbono – oportunidades eSeqüestro de carbono – oportunidades eSeqüestro de carbono – oportunidades eSeqüestro de carbono – oportunidades enegócios para Santa Catarinanegócios para Santa Catarinanegócios para Santa Catarinanegócios para Santa Catarinanegócios para Santa Catarina

Hugo José Braga1, Hugo A. Gosmann2

e Francisco Osni Corrêa3

conceito de seqüestro de car-bono foi consagrado pelaConferência de Kyoto, em

1997, com a finalidade de conter ereverter o acúmulo de dióxido decarbono (CO2) na atmosfera, visandoa diminuição do efeito estufa. Aconservação de estoques de carbononos solos, florestas e outros tiposde vegetação, a preservação deflorestas nativas, a implantação deflorestas e sistemas agroflorestaise a recuperação de áreas degradadassão algumas ações que contribuempara a redução da concentração doCO2 na atmosfera. Os resultados doefeito seqüestro de carbono podemser quantificados através daestimativa da biomassa da plantaacima e abaixo do solo, do cálculode carbono estocado nos produtosmadeireiros e pela quantidade deCO2 absorvido no processo defotossíntese. Para se proceder àavaliação dos teores de carbono dosdiferentes componentes da vege-tação (parte aérea, raízes, camadasdecompostas sobre o solo, entreoutros) e, por conseqüência,contribuir para estudos de balançoenergético e do ciclo de carbono naatmosfera, é necessário, inicial-mente, quantificar a biomassavegetal de cada componente davegetação.

História

As mudanças climáticas globais(MCG) representam um dosmaiores desafios da humanidade,

pois além de serem um problemaglobal, como o próprio nome diz,envolvem vários setores da socie-dade, necessitam de uma tomada deconsciência da importância daquestão e exigem mudanças emmuitos hábitos de consumo ecomportamento do homem.

As crescentes emissões de CO2 eoutros gases como o metano (CH4)e o óxido nitroso (NO2) na atmosferatêm causado sérios problemas, comoo efeito estufa. Devido à quantidadecom que é emitido, o CO2 é o gásque mais contribui para o aque-cimento global. Suas emissõesrepresentam aproximadamente55% do total das emissões mundiaisde gases do efeito estufa. O tempode sua permanência na atmosferaé, no mínimo, de cem anos. Istosignifica que as emissões de hojetêm efeitos de longa duração,podendo resultar em impactos noregime climático, ao longo dosséculos. Evidências científicasapontam que, caso a concentraçãode CO2 continue crescendo, atemperatura média da terra vaiaumentar entre 1,4 e 5,8oC até2100. Isso causará aumento no níveldos mares entre 15 e 95cm até omesmo ano, efeitos climáticosextremos (enchentes, tempestades,furacões e secas), alterações navariabilidade de eventos hidro-lógicos (aumento do nível do mar,mudanças no regime das chuvas,avanço do mar sobre os rios, escas-sez de água potável, decorrentes doderretimento das regiões polares) e

colocará em risco a vida na Terra(ameaça à biodiversidade, àagricultura, à saúde e ao bem-estarda população humana) (BNDES,2005).

As nações participantes daConvenção de Mudança Climática,que ocorreu em junho de 1992 nacidade do Rio de Janeiro, RJ,comprometeram-se a ratificar umaconvenção a fim de criarmecanismos que diminuíssem asemissões dos gases causadores doefeito estufa. Estes mecanismosdizem respeito à capacidade dasfontes de energia emitirem baixosníveis dos gases causadores doefeito estufa e também àsalternativas para absorção de CO2,através dos projetos de seqüestro decarbono.

Desta forma, os paísesdesenvolvidos e as indústriascriaram uma nova utilidade e umnovo mercado para o carbono, queconsistem no carbono capturado emantido pela vegetação. O interessee o investimento no seqüestro decarbono e a comercialização decréditos de carbono são a forma pelaqual estas indústrias e os paísesindustrializados podem equilibrarsuas emissões e mantê-las em níveisseguros. As normas e regras decomercialização e as quantidades decarbono retidas pela vegetaçãoainda não são totalmente conhe-cidas e estabelecidas, ressaltandoassim a importância dos projetosde pesquisa desenvolvidos nestaárea.

1Eng. agr., Dr., Epagri/Ciram, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8002, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Ciram, fone: (48) 3239-8120, e-mail: [email protected], M.Sc., Epagri/Sede, fone: (48) 3239-5547, e-mail: [email protected].

O

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21Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

O ciclo do carbono e asflorestas

O ciclo do carbono consiste natransferência do carbono nanatureza, pelas várias reservasnaturais existentes, sob a forma deCO2. Para equilibrar o processo derespiração, o carbono étransformado em CO2. Outrasformas de produção de dióxido decarbono são através das queimadase da decomposição de materialorgânico no solo. Os processosenvolvendo fotossíntese nas plantasfuncionam de forma contrária. Napresença da luz, elas retiram o CO2do ar, usam o carbono para crescere devolvem o oxigênio à atmosfera.Durante a noite, na respiração, esteprocesso inverte e a planta liberaCO2 no ambiente. Os reservatóriosde CO2 na terra e nos oceanos sãomaiores que o total de CO2 naatmosfera. Pequenas mudançasnestes reservatórios podem causargrandes efeitos na concentraçãoatmosférica. O carbono emitido àatmosfera não é destruído, masredistribuído entre diversosreservatórios de carbono, aocontrário de outros gasescausadores do efeito estufa, quenormalmente são destruídos porações químicas na atmosfera. Aescala de tempo de troca de reservasde carbono pode variar de menos deum ano a décadas, ou até mesmomilênios. Este fato indica que aperturbação atmosférica causadapela concentração do CO2, para que

possa voltar ao equilíbrio, não podeser definida ou descrita através deuma simples escala de tempoconstante. Para ter-se algunsparâmetros científicos, a estimativade vida para o CO2 atmosférico édefinida em aproximadamente cemanos. A redução do desmatamentopoderá contribuir consideravel-mente para a redução do ritmo deaumento dos gases causadores doefeito estufa, possibilitando outrosbenefícios, como a conservação dossolos e da biodiversidade. Estaredução do desmatamento deveestar associada a alternativaseconômicas para garantir aqualidade de vida das populaçõesdas regiões florestais.

Valores econômicosassociados ao seqüestrode carbono

No Protocolo de Kyoto os paísesdesenvolvidos comprometeram-seformalmente a reduzir suasemissões de gases, no período 2008-12, em 5,2% abaixo dos níveis de1990, para atenuar o efeito estufa.Tal ação significa a redução decentenas de milhões de toneladaspor ano, com um custo enorme paraestas economias. Espera-se queestes países, por sua vez, repassemos comprometimentos aos seusrespectivos setores industriais, pelacriação de impostos sobre emissõesde gases causadores do efeitoestufa. Estes setores deverãoencontrar alternativas para se

adaptarem aos novos custos deprodução ou aos limites de emissões.

O segundo ponto importanteestabelecido no Protocolo é acomercialização de créditos deseqüestro ou redução de gasescausadores do efeito estufa. Assim,os países ou empresas quereduzirem as emissões abaixo desuas metas poderão vender estecrédito para outro país ou empresasque não atingiram o grau deredução esperado.

Um terceiro ponto do acordo dizrespeito aos métodos aceitos pararealizar as reduções das emissões.Geralmente, os métodos preferidospor vários países são baseados emprocessos para melhoria da eficiên-cia na utilização e na transmissãode energia, processos industriais esistema de transporte. Outra alter-nativa é a substituição de combustí-veis muito poluentes (carvão mine-ral ou diesel) por outros combus-tíveis menos ricos em carbono. OProtocolo considera a absorção deCO2 pela vegetação como um méto-do para compensar as emissões,sendo um ponto interessante parapaíses com aptidão florestal, poistambém pode gerar outros recursosdo setor florestal, trazendoconseqüências de ordem econômica,ambiental e social.

As metas de redução de emissõesde CO2 deverão ser alcançadas,principalmente, por políticaspúblicas e regulamentações quelimitem as emissões diretamente,que criem incentivos para melhoreficiência dos setores energético,industrial e de transporte e quepromovam maior uso de fontesrenováveis de energia. Os países doAnexo I poderão abater uma por-ção de suas metas por meio dos seussumidouros, especificamente asflorestas.

Além das ações de caráternacional, os países poderão cumprirparte de suas metas de reduçãoatravés de três mecanismos deflexibilização estabelecidos peloProtocolo de Kyoto.

Comércio de emissões: estemecanismo permite que dois paísessujeitos a metas de redução deemissões (países do Anexo I) façamum acordo pelo qual o país A, quetenha diminuído suas emissões paraníveis abaixo da sua meta, possavender o excesso das suas reduções

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22 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

para o país B, que não tenhaalcançado tal condição.

Implementação conjunta :permitida entre os países do AnexoI, em que um país A implementaprojetos que levem à redução deemissões em um país B, no qual oscustos com a redução sejam maisbaixos.

Mecanismo de Desenvolvi-mento Limpo (MDL): os países doAnexo I poderão desenvolverprojetos que contribuam para asustentabilidade de países emdesenvolvimento (não-pertencentesao Anexo I), de modo a ajudar naredução de suas emissões. Essasiniciativas gerariam créditos deredução para os países do Anexo Ie, ao mesmo tempo, ajudariam ospaíses em desenvolvimento, poisestes se beneficiariam de recursosfinanceiros e tecnológicos adicionaispara financiamento de atividadessustentáveis e da redução deemissões globais. Ressalta-se que asreduções obtidas deverão seradicionais a quaisquer outras queaconteceriam sem a implementaçãodas atividades do projeto. Osprojetos também deverão oferecerbenefícios reais, mensuráveis e emlongo prazo para mitigação doaquecimento global. É interessanteobservar que há possibilidade deutilizar as reduções certificadas deemissões obtidas durante o período2000-08 para auxiliar no cumpri-mento da redução estabelecidadurante o período 2008-12.

O financiamento de atividadessustentáveis pelo MDL levaria amenos dependência de combustíveisfósseis nos países em desenvol-vimento e, portanto, a menos emis-sões em longo prazo. Os projetosMDL poderão ser implementadosnos setores energético, de trans-porte e florestal. No entanto,projetos que visam a redução dodesmatamento e queimadas ou aconservação de florestas estãoexcluídos deste mecanismo.

Nos países em desenvolvimento,os custos relacionados à imple-mentação de projetos que diminuamemissões de gases de efeito estufasão, em geral, menores do que nospaíses desenvolvidos. Isto torna oMDL atrativo para aquelespertencentes ao Anexo I. Alémdisso, o MDL busca incentivar odesenvolvimento sustentável, le-vando à criação de novos mercadosque valorizam a redução de emissõesde gases de efeito estufa e criandooportunidades para a transferênciade tecnologia e novos recursos parapaíses em desenvolvimento, comoo Brasil. Mesmo assim, asexpectativas são de que o MDL sejao menos utilizado dos mecanismosde flexibilização. Isso se deve ao fatode os Estados Unidos, maiorinvestidor em potencial dosmecanismos, terem anunciado quenão pretendem ratificar o Protocolode Kyoto antes de 2012, o queprovoca uma diminuição da deman-da por métodos alternativos para a

redução de emissões por países doAnexo I.

O Brasil poderá se beneficiar doMDL com projetos nos setoresenergético, de transporte e flo-restal. Exemplos de projetos nosetor energético são: implemen-tação de sistema de energia solar,eólica, co-geração através deprocessos químicos e de aprovei-tamento de biomassa. No setorflorestal, pode-se falar em projetosde “florestamento” e reflores-tamento, os quais permitem que ocarbono, pelo crescimento dasárvores, seja removido da atmos-fera. Assim, a floresta plantadaatuaria como um sumidouro decarbono ou promoveria, como temsido usado, o “seqüestro de car-bono”. Esse seqüestro é possívelporque a vegetação realiza afotossíntese, processo pelo qual asplantas retiram carbono daatmosfera, em forma de CO2, e oincorporam a sua biomassa(troncos, galhos e raízes). Como amaior parte das emissões de CO2 doBrasil provêm de desmatamentos equeimadas, a maior contribuição doBrasil para a redução de emissõesseria através da mitigação e docontrole do desmatamento e dasqueimadas.

Mercado de carbono

Desde a convenção de Kyoto,quando mais de 160 países discu-tiram as mudanças climáticas noplaneta, verifica-se que estapreocupação saiu dos cadernos deciência dos grandes jornais,alojando-se nas páginas de finançase negócios. As preocupações com omeio ambiente se tornarampreocupações econômicas.

A tributação foi a primeira idéiapara a formalização do controleeconômico sobre a poluição, masisto afetaria a relação do custo/benefício no setor de produção ouelevaria o custo final ao consumidor.Assim, para que fossem alcançadosos parâmetros globais de poluição,surgiu outro conceito, ou seja, ospaíses poderiam negociar direitos depoluição entre si. Um país com altosníveis de emissões de gases naatmosfera poderia pagar a outropaís que estivesse com os níveis depoluição abaixo do limite compro-metido. A partir de então, além da

Anexo I – Convenção – Quadro das Nações Unidassobre Mudança do Clima em Países Desenvolvidos

Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus1, Bélgica, Bulgária1, Canadá,Comunidade Européia, Croácia1,2, Dinamarca, Eslováquia1,2, Eslovênia2,Espanha, Estados Unidos da América, Estônia1, Federação Russa1,Finlândia, França, Grécia, Hungria1, Irlanda, Islândia, Itália, Japão,Letônia1, Liechtenstein2, Lituânia1, Luxemburgo, Mônaco2, Noruega,Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia1, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, República Tcheca1,2, Romênia1, Suécia,Suíça, Turquia, Ucrânia1.

1Países em processo de transição para uma economia de mercado.2Países que passaram a fazer parte do Anexo I mediante emenda queentrou em vigor no dia 13 de agosto de 1998, em conformidade com adecisão 4/CP.3 adotada na COP.

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idéia global das comercializaçõesdos limites de poluição, muitasempresas começaram a sondar talmercancia.

Nos Estados Unidos, já há legis-lação específica sobre a emissão depoluentes. O órgão ambientalamericano Environment ProtectionAgency – EPA – concede direitospara a emissão de volumes de polui-ção, títulos que simbolizam oslimites de poluição que determinadaempresa deve cumprir no ano. Acada ano tais limites sofrem redu-ções. Caso a empresa obtenhasucesso na redução anual, poluindomenos do que o limite estabelecido,ela terá um saldo que poderá sercomercializado no mercado comoutras empresas que não consegui-ram cumprir o limite ‘‘materiali-zado’’ pelos títulos adquiridos.

Com a valorização econômica, afiscalização e todos os demais custosoperacionais para a redução dapoluição acabam sendo arcados pelomercado de commoditties, semrepasse do impacto financeiro paraa relação custo/benefício ou para ocusto final, sendo esta a maneiramais econômica e eficaz para a fisca-lização e a diminuição da poluição.Dentro deste contexto econômico,o Brasil se encontra em uma posiçãoextremamente valorizada, porpossuir um amplo espaço ambiental.Desta forma, as empresas e os paí-ses altamente industrializados, obri-gados a frear o aquecimento do pla-neta pela redução da emissão degases, poderão participar de projetosde reflorestamento e adoção de tec-nologias limpas, entre outros, noPaís.

Perspectivas de negóciopara Santa Catarina

Em Santa Catarina, o crédito de

carbono, além de contribuir para amelhoria da qualidade ambiental,poderá ser um bom negócio para osetor agropecuário, setores energé-ticos e segmentos da área de saúdepública do Estado, em especial dosmunicípios, onde as oportunidadesestarão por conta de projetos nospadrões do Mecanismo de Desenvol-vimento Limpo (MDL).

No setor agropecuário as oportu-nidades são divididas de duas ma-neiras:

• Sumiço na biomassa do setoragropecuário, em especial o bagaçode cana, casca de arroz, serragemde madeira, dejetos de suínos e avespela queima do gás metano (CH4),ou sua captura para uso como fontealternativa de energia elétrica outérmica (biogás), reduzindo aemissão de gases à atmosfera eatenuando o efeito estufa.

• Seqüestro de carbono (CO2),através de projetos de reflores-tamento, recuperação de mata ciliar,recuperação de áreas degradadas ereserva legal, dentro dos princípiosdas tecnologias aprovadas peloProtocolo de Kyoto, modalidadeMDL, cuja função das florestas écaptar o dióxido de carbono (CO2)emitido à atmosfera, transfor-mando-o em energia para as plantascom a liberação do oxigênio respon-sável pela vida do planeta.

Na área de saúde pública, poderáser beneficiado o tratamento do lixodoméstico e lixo industrial ematerros sanitários com a queima oureutilização do gás metano (CH4) (21vezes mais poluidora do que odióxido de carbono lançado naatmosfera) como fonte de energiapara uso doméstico ou industrial.

No setor energético, o Protocolode Kyoto poderá trazer melhoriasna eficiência do setor energéticoindustrial do Estado de Santa Cata-

rina, pelo uso de energias renová-veis, pela queima de biomassas (gásmetano), para mitigar emissões dosgases de efeito estufa (GEE) e pelaredução das emissões do dióxido decarbono. Como exemplo, cita-se:

• Álcool combustível em subs-tituição ao combustível fóssil (gaso-lina).

• Bagaço de cana-de-açúcar (bio-massa), em substituição ao óleocombustível (fóssil) em caldeiras.

• Biodiesel em substituição aoóleo diesel e ao óleo combustível(fóssil).

• Energia eólica na geração deenergia elétrica por ser mais limpae de baixo custo.

• Na indústria, melhoria namatriz tecnológica de processosindustriais, visando meios deredução nas emissões dos gases deefeito estufa.

Referências bibliográficas

1. BNDES. Efeito estufa e a convenção

sobre mudança do clima. Disponível

em: <http.www.mct.gov.Br/clima/

quitono/bndes.htm> Acesso em 13 set.

2005.

2. CHANG, M.Y. Seqüestro florestal de

carbono no Brasil – dimensões políticas,

socieconômicas e ecológicas. In:

SIMPÓSIO LATINO AMERICANO

SOBRE FIXAÇÃO DE CARBONO, 2.,

2004, Curitiba, PR. Fixação de carbono:

atualidades, projetos e pesquisas.

Curitiba, PR: [s.n.], 2004. p.15-37.

3. SEMINÁRIO INTERNACIONAL PRO-

TOCOLO DE KIOTO – PROPOSTAS E

PERSPECTIVAS PARA PROFIS-

SIONAIS DA ÁREA TECNOLÓGICA,

1., 2005, Porto Alegre, RS.

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24 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Reportagem de Sebastião da Cunha Garcia1

TTTTTurismo rural:urismo rural:urismo rural:urismo rural:urismo rural:abrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteirasTTTTTurismo rural:urismo rural:urismo rural:urismo rural:urismo rural:abrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteirasabrindo as porteiras

1Jornalista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5535,e-mail: sebastiã[email protected].

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Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005 25

á 20 anos os produtoresrurais da Serra Catarinen-se descobriram que abrir

as porteiras das propriedades parareceber turistas era um bomnegócio. Produto turístico a serofertado não faltava: paisagemexuberante, gastronomia diversi-ficada e até neve. Começava aíuma nova e rentável atividadeeconômica no Estado: o turismorural. Duas décadas depoisespecialistas afirmam que aatividade está só engatinhando,apesar do inegável crescimento.Segundo a Associação Brasileirade Turismo Rural –Abraturr –,existem no Brasil de 10 mil a 12mil propriedades explorando oturismo rural – desde pequenas,onde os produtores apenas vendemseus produtos, até grandes, deantigos fazendeiros, quedescobriram na atividade umlucrativo negócio e que são hojedonos de hotéis-fazenda.

Na comunidade de Campinas,em Campo Alegre, no norte deSanta Catarina, a casa da famíliaPauli foi transformada empousada para receber turistas.Quem visita o local desfruta detranqüilidade e pode saborear asdelícias de produtos típicos dointerior. Em Lages, na RegiãoSerrana do Estado, a centenáriafazenda Pedras Brancas, dafamília Gamborgi, foitransformada em hotel, tambémpara receber turistas. Lá oshóspedes desfrutam de lazer, muitoconforto e levam para casa umabagagem e tanto de história davida no campo.

H

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26 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Os Pauli e os Gamborgirepresentam os extremos do turismorural em Santa Catarina. ParaValdete Daufemback Niehues,professora e pesquisadora emturismo rural do Instituto Superiore Centro Educacional Luterano BomJesus – Ielusc –, em Joinville, aatividade desenvolvida pela famíliaPauli representa a essência doturismo rural na agriculturafamiliar. Nesse sentido, a atividadede turismo rural se apresenta comocomplemento de renda à atividadeagropecuária, explorada poragricultores familiares. A atividadeturística depende, portanto, daprodução agrícola para tersustentabilidade econômica. Poroutro lado, o turismo ruralnecessariamente não precisa estarvinculado diretamente à atividadeprimária, ou seja, à agricultura.Nesse caso é o turismo que respondepela renda principal da família,porém permanece a ruralidade, oshábitos familiares ligados à terra, àhistória local, a arquitetura e osobjetos.

A professora ressalta que,diferentemente do turismo urbano,o turismo rural tem componentessociais e culturais que precisam serconsiderados. Neste setor há umatroca de experiências muito grandeentre receptor e turista. Economi-camente é preciso levar em contaque o turismo é uma atividadepromissora, mas que enfrentatambém riscos como todo negócio.

Em Santa Catarina, com ocompromisso de orientar o produtorrural, a Epagri dá assistência técnicae ministra cursos de capacitação aosprodutores rurais. O trabalho é feitoem parceria com os governosfederal, estadual e prefeituras. Nonorte do Estado, o trabalho ganhareforço com a parceria com aFaculdade de Turismo com ênfaseem Meio Ambiente, do Ielusc, queforma profissionais na área deturismo rural, o que fortalece otrabalho de capacitação em todo oEstado. Conforme Estudo doPotencial do Agroturismo em SCrealizado pelo Instituto Cepa (2002),foram cadastrados 1.174empreendimentos no espaço rural,sendo que 551 foram identificadoscomo unidades de pequenosagricultores familiares, trabalhandocom turismo rural.

Segundo a pesquisadora ValdeteNiehues, são três as modalidades deturismo rural. Uma definida comoturismo rural na agricultura fami-liar (ou agroturismo), outra a doturismo explorado por quem já nãodepende do cultivo da lavourapara sobreviver, mas mantém apropriedade ativa, e a terceira, tam-bém chamada turismo no espaçorural.

Turismo na agriculturafamiliar

Faz pouco mais de dois anos queo agricultor Silvino Pauli resolveuinvestir em turismo rural. Na áreade 60ha da propriedade, a casa demais de cem anos, herança dos pais,é só um dos atrativos para o turista.As trilhas, as cavalgadas, ascachoeiras e a criação de animaissão outros atrativos que tornam asférias ou o passeio de fim de semanainesquecíveis. Como a família Pauliainda mantém a agricultura e apecuária como principais atividades,o turista tem também aoportunidade de participar da lidado campo. “Agradecemos ahospitalidade e a chance de desfrutarde local tão lindo. Prometemosvoltar!”, escreveu o casal Franciscoe Gláucia, turistas de São Paulo, no

livro de impressões e sugestõescriado pela dona da pousada, MariaRosemar. Dona Maria conta que noinício estranhou um pouco a“invasão” de estranhos na sua casa.“Hoje é uma satisfação,” garanteela. Foi preciso mais que disposiçãoem abrir a casa. Para receberturistas a família Pauli teve queinvestir no local. A casa ondefunciona a pousada precisou seradaptada. Pelo menos três banheirosforam construídos. Foram investidosR$ 30 mil com recursos do ProgramaNacional de Agricultura Familiar –Pronaf –, cujo financiamento vai serpago em mais seis anos.

Turismo rural napluralidade do interior

A pousada da dona Vina, nacomunidade de Vargem do Cedro,em São Martinho, no Sul de SantaCatarina, já recebeu turistas até daAlemanha e da Itália. E do Brasil, aocupação é constante, segundo ela.Empresária do turismo rural LidvinaRech Feuser, conhecida como donaVina, não imaginava que a atividade,que começou com a venda de roscasem casa, fosse se tornar em cincoanos a principal ocupação da família.Ela e o marido Ademar Feuser,casados há 25 anos, trabalhavam

O casal Silvino e Maria Pauli transformou a casa em pousada para receberturistas

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com agricultura e pecuária de leite.Mas se renderam aos bons negóciosdo turismo. A pousada de nomealemão “Deutsches Haus”, quesignifica casa alemã, tem 11apartamentos. Mas na casa ondemora, uma construção de 1940, quefica ao lado da pousada e que foi aresidência dos avós do seu Ademar,dona Vina chega a hospedar outroscinco casais nos fins de semana,quando há maior visitação deturistas.

Outra propriedade de Vargem doCedro, a de Osni Paulo Rech, éponto de encontro de grupo dejovens, de idosos e de muitasfamílias nos fins de semana. Genteque procura lazer, tranqüilidade eboa comida. No começo, há seisanos, era só um pesque-pague. Masaos poucos seu Osni percebeu quepoderia explorar mais. Construiucampos de futebol, piscinas,quiosques, um restaurante eorganizou trilhas pela área de matada propriedade. O número depessoas que freqüenta o local puloude 100 para 600 por semana nosúltimos anos. Hoje seu Osni seconsidera mais empresário do queagricultor. Ele diz que ainda produzverduras e cria gado de corte, mastoda a produção é destinada aorestaurante. De novembro afevereiro, quando o movimento émaior, ele chega a contratar até 15pessoas, além das cinco da família,para dar conta das mais de 500refeições que serve por semana.

Uma característica do turismorural na região de São Martinho éo trabalho em comunidade. Osclientes do restaurante do seu Osnisão os mesmos da pousada da donaVina. E são os mesmos quecompram biscoitos na loja de docesda dona Salete, que você vaiconhecer nas próximas páginas. “Oturismo rural na agriculturafamiliar pode ser uma atividadepromissora se o trabalho for feitoem comunidade. Empreendimentosindividuais sem a preocupação dacoletividade são passíveis deimpactos sociais e culturais”, dissea pesquisadora Valdete Niehues.Em São Martinho, o trabalho na vilaVargem do Cedro é a prova destateoria.

Outra característica é ahospitalidade. O aconchego dafamília, segundo dona Vina, é o

ingrediente que faz os turistasvoltarem. Pesquisas já compro-varam que não é a natureza queatrai a maior parte dos turistas. Éa relação com os moradores dolugar. Terezinha Hartmann, daEpagri/Gerência Regional deJoinville, diz que em turismo ruralsó o espaço e a beleza natural nãoresolvem. É preciso o elementohumano. Foi isso que encontrou afamília do pastor José Carlos Dias,quando decidiu percorrer umaespécie de roteiro do turismo ruralpelo Estado. Saindo de Joinville,eles passaram pela Região Serranae levaram três dias para chegar em

São Martinho. “A beleza deste lugare a qualidade dos produtos coloniaiscompletam a nossa satisfação”, dizo pastor, que visitou São Martinhopela primeira vez e que garantiuvoltar. Foi no balcão de atendi-mento da fábrica de bolachas deSalete Heidmann Feuser que afamília do pastor encontrou parteda acolhida que vai garantir oretorno deles ao lugar. “O nossosegredo é o jeito simples de receberas pessoas”, diz sem dúvida a donada fábrica.

A habilidade na produção debolachas decoradas, conhecidascomo bolachas de Natal, é herança

A pousada “Deutsches Haus”, em São Martinho, recebe turistas até doexterior

A família de Osni Paulo Rech concilia agricultura e turismo rural

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da sogra. O marido Lindomar aincentivou a fazer cursos de culi-nária, e há oito anos os dois deixaramo serviço do campo e tomaram afrente do empreendimento. Hojeeles empregam 14 pessoas, recebemturistas de todo o Brasil e servematé café colonial. O serviço dobra naépoca de Natal, quando asencomendas aumentam. “Traba-lhamos todos os dias das 6 horas damanhã às 10 horas da noite, masestamos satisfeitos. Não fosse oturismo rural teríamos ido para acidade”, revela Salete.

Os Feuser são ao mesmo temporegra e exceção. Conforme apesquisadora Valdete Niehues,primeiro porque a grandedesvantagem do turismo rural é quegeralmente o agricultor abandona aagricultura para se dedicar à novaatividade, como fizeram os Feuser.Segundo porque o turismo rural nãoevita o êxodo rural, como muitagente imagina. “Muitos filhos nãoquerem o compromisso de trabalhardurante o fim de semana, como exigea atividade turística”, explicaValdete.

Contrariando as constatações dapesquisadora, em São Martinho, foio turismo rural que manteve osagricultores no campo. A região,antes conhecida pela fumicultura,venceu a crise com a alternativa deexplorar o turismo. Segundo LenirPirola, coordenadora Estadual doProjeto Turismo Rural da Epagri, aatividade deu destaque nacional aomunicípio, fez aumentar a renda, aqualidade de vida e manteve grandeparte dos moradores no meio rural.

Cadastradas pela Epagri, 12 famíliasde São Martinho sobrevivem hojedo turismo rural.

Turismo no espaço rural

No outro extremo da classificaçãodo turismo rural – um deles é o daagricultura familiar – está o turismodos hotéis-fazenda. Diferente noconceito, na estrutura, mas com osmesmos princípios: oferecer aoturista o desfrute da natureza, oconhecimento da cultura e o saborda gastronomia do campo.

No turismo de hotéis-fazenda nãohá comprometimento com a

atividade agrícola. Os proprietáriossão, em geral, antigos fazendeirosque acabaram aproveitando aestrutura das fazendas para investirem um novo empreendimento. Daínasceu o turismo rural.

A atividade é relativamente novaem Santa Catarina. Foi a partir de1986, na cidade de Lages, na SerraCatarinense, que começaram asprimeiras experiências. Numaposição geográfica privilegiada,localizada às margens do entron-camento das BRs 116 e 282, a cidadeconquistou turistas que iam aprocura de lazer na Serra Gaúcha.Com a percepção do potencialturístico, empresários da regiãocriaram, na época, a ComissãoMunicipal de Turismo, para exploraro turismo rural e alavancar aeconomia do município. A comissãoera formada por segmentosrepresentativos da cidade, comosindicato de hotéis, CDL e clube deserviços.

A primeira fazenda a abrir asporteiras para a nova atividade foi aFazenda Pedras Brancas, do entãopecuarista Julio César Ramos. Hoje,segundo a Associação Brasileira daIndustria de Hotéis – ABIH –, dos2.600 estabelecimentos dehospedagens no Estado, 30 sãodestinados ao turismo rural. Aatividade vive agora um novomomento: a exploração do turismo

O pastor José Carlos Dias fez o roteiro de turismo rural com a família

28 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Na fábrica de bolachas, Salete Heidmann Feuser emprega 14 pessoas

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de eventos. “Mercado existe”,garante Rogério Silveira, proprie-tário do Hotel-Fazenda Boqueirão ediretor do Setor de Turismo Ruralda ABIH-SC. E estrutura também.A capacidade hoteleira na região deLages chega a 500 leitos nos hotéis-fazenda. “Apesar de ter duas décadas,há muito ainda a ser feito nosegmento de turismo rural em SantaCatarina”, diz Silveira. “Estamoscomeçando a nos organizar paradivulgar a Serra Catarinense comoum todo. Precisamos nos unir”,conclui ele. O primeiro passo foidado. Em julho de 2005, durante oEncontro Catarinense de Turismo –Ecatur –, realizado em Florianó-polis, empresários da Região Serrana

Não há turismo sem história. No turismo rural,então, ela é a identidade. Proprietários do Hotel-Fazenda Pedras Brancas, José Eduardo Passos eJamile Gamborgi Ramos, estão desenvolvendo umprojeto para resgatar a história da fazenda e daregião onde ela está instalada há mais de cem anos.O hotel, que recebe até 7 mil turistas por ano, éconsiderado o pioneiro no turismo rural no Brasil.Então, o que não falta é história para contar. O quejustifica a preocupação dos novos proprietários.Eduardo e Jamile falaram à RAC sobre o novoprojeto.

RAC – Como surgiu a preocupação com o resgate dahistória?Eduardo – Antes se investiu muito no confortopara o turista. Construiu-se piscina, sauna.Pensamos muito em coisas práticas que funcionamno dia-a-dia do hotel-fazenda. Depois começamos aver que estávamos esquecendo da nossa raiz, do queera principal aqui dentro.Jamile – A nossa intenção agora é investir noturismo cultural. Vamos lançar um livro emdezembro que vai mostrar a história da fazendatambém no contexto local e nacional. O livro vaiexplicar porque ela passou de agropecuária para aprodução de leite. Da produção de leite para oturismo. Esta fazenda era um latifúndio e setransformou em turismo rural. Queremos estudare explorar cada fase.

RAC – Além do livro, de que forma o turista quevisitar a fazenda vai perceber o resgate da história?Eduardo – Nós vamos restaurar a casa principalda fazenda. Vamos transformá-la em um museu.Vamos recuperar a pintura original, os móveisantigos, os detalhes. Mesmo que não sejamnecessariamente da família e nem da casa, mas daépoca. Nós queremos que o hóspede sinta que estánuma fazenda tradicional realmente, num lugarcentenário.

Jamille – É, queremos que ele reviva situaçõesque aconteciam antigamente. Com o resgate dahistória, vamos saber o que acontecia aqui, o querealmente o meu avô e as pessoas mais antigasfaziam. A que horas eles faziam o fogo de chão,porque ele era feito. Vamos explorar o porquê dascoisas. Hoje sabemos que o fogo de chão era umamaneira de reunir a família, assim como a gente fazhoje quando fica em frente à televisão. Vamosresgatar para mostrar ao turista que isto fazia partedo dia-a-dia dos moradores deste lugar há cem anos.

RAC – O que mais prevê o projeto?Eduardo – Estamos pensando também em fazercom que o hóspede vire um agricultor. Vamos fazer,por exemplo, simulação de procedimentos deantigamente, como a vacinação do gado ou mesmoa ordenha.

RAC – Este trabalho de resgate tem a participaçãode outros empresários deste segmento?Eduardo – Nós estamos saindo na frente nestaproposta de resgate. Na verdade cada fazenda temum perfil, uma característica. Uma maisconfortável, outra mais tradicional. Como a nossafazenda tem uma história, uma alma, nós vamosresgatá-la.

Hotel-fazenda de Lages: o frio é só um dos atrativos

José Eduardo e Jamile estão resgatando ahistória da fazenda e do turismo rural daregião

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lançaram o projeto Rota dasFazendas. A idéia é, em conjunto,conquistar turistas de outrosEstados. Cinco hotéis-fazenda fazemparte da rota. Cada um com suaparticularidade. Todos explorandoo que de melhor e mais curioso aserra oferece, além do frio.Paisagens exuberantes, trilhas,cavalgadas, os hábitos do campo, acultura, a história, a música e agastronomia. Sem contar que, coma neve que cai todo ano, a região setransforma em um verdadeirocenário europeu.

Além da neve

O turismo rural dos hotéis-fazenda se concentra na RegiãoSerrana do Estado e não é tãosazonal quanto se imagina. A melhortemporada, por incrível que pa-reça, é no verão, garante Silveira.“Não é um turismo de massa.Nossos clientes são famílias queaproveitam as férias pra descansar.Nem todo mundo gosta de praia”,comemora ele. Uma pesquisaencomendada pela Santa CatarinaTurismo S.A. – Santur –, mostraque 76% deste tipo de turista viajaem família, 38% têm entre 35 e 50anos e a maioria absoluta (91%)chega aos hotéis-fazenda deautomóvel.

Na serra, não é só frio ou neve,quando dá sorte, que o turistaencontra. Nas fazendas, onde ficahospedado, o turista pode sim-

plesmente descansar à frente deuma lareira, bem como se aven-turar por trilhas, cachoeiras ecânions de tirar o fôlego de qualqueratleta. Mas a essência deste passeioé a experiência da vida no campo.Por isso a programação de lazer doshotéis-fazenda inclui pescaria,ordenha de animais e até plantio deárvores.

Políticas para o turismorural

Apesar de as discussões depolíticas públicas para a agriculturafamiliar terem começado no inícioda década de 90, foi só em 2003 queo Governo Federal criou o primeiroprojeto de turismo rural para aárea. Através do Ministério doDesenvolvimento Agrário, oGoverno formou redes em todo oPaís para discutir políticas para osetor e criou então cursos decapacitação e assistência técnica nocampo. Também em 2003 foi criadauma linha de crédito específica paraturismo rural. Um incentivo, mas,segundo os técnicos, ainda restrito.“O crédito tem sido política inte-ressante, mas ainda burocrática”,diz Terezinha Hartmann, da Epagri.Além da burocracia do crédito, origor da legislação e a falta de infra-estrutura interna e externa àspropriedades rurais, como estradase telefonia, são apontados pelostécnicos como entraves para omelhor desenvolvimento da ativi-

dade.Outra preocupação é quanto ao

conceito que se formou sobre aatividade. Para a pesquisadoraValdete Niehues, é um riscoimaginar que o turismo rural sejaa salvação da lavoura. “O setorpúblico deveria olhar com maiscautela para este mercado e fazerum estudo não só de potencial, mastambém de demanda”, lembra ela.Até porque, como a atividade érelativamente nova no País é difícilperceber quais impactos que elacausa. “Não podemos correr o risconovamente de fazer como nasdécadas de 50 e 60, na época damodernização do campo, em que aorientação ao agricultor foidirecionada a abandonar o saberhistoricamente construído emrelação à natureza e utilizarinsumos agrícolas que hoje vêmimpactando o ambiente. O agri-cultor, nesse sentido, tem que seadaptar às práticas induzidas pelosinteresses, às vezes, alheios à suavontade. Por isso, temos queorientar o agricultor nessa novaatividade, não induzi-lo”, conclui apesquisadora.

Questionada sobre o futuro doturismo rural no Brasil a pesqui-sadora foi enfática: “Para o turismosobreviver tem que haver turista.Para haver turista tem que au-mentar o potencial econômico dapopulação. O futuro do turismorural vai depender do futuro dapolítica econômica do País.”

30Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

30 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

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Agropec. Catarin., v.17, n.1, mar. 2004 3131Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Paulo Sergio Tagliari1

Suco de uva éSuco de uva éSuco de uva éSuco de uva éSuco de uva éalternativaalternativaalternativaalternativaalternativapara agriculturapara agriculturapara agriculturapara agriculturapara agriculturafamiliar no Vfamiliar no Vfamiliar no Vfamiliar no Vfamiliar no Valealealealealedo Rio do Pdo Rio do Pdo Rio do Pdo Rio do Pdo Rio do Peixeixeixeixeixe, SCe, SCe, SCe, SCe, SC

Aproveitando parreirais existentes em região de colonização italiana,vitivinicultores catarinenses dedicam-se ao beneficiamento da

uva para a produção de suco, vislumbrando um mercado crescenteno setor. O apelo da saúde e o delicioso paladar da uva sob forma

de suco integral, sem conservantes, tem alavancado a produção e atraídoconsumidores no Brasil e até no exterior.

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, fax: (48) 3239-5597, e-mail: [email protected].

m copo de vinho ao dia, vidalonga e alegria”. Este ditadoestá mais atual do que nunca,

só que podemos acrescentar, alémdo vinho, também o suco. E nadamais correto. Com as recentes desco-bertas de substâncias contidas nauva, tais como o resveratrol, um

composto fenólico (ver box) quecombate os chamados radicais livrese por isso ajuda a prolongar a vida,a procura por suco de uva e pelopróprio vinho tem chamado a aten-ção de produtores, pequenas, médiase grandes empresas.

Já existem no Sul do País pro-

“U dutores que estão se dedicando cadavez mais à produção de suco de uva.A produção de suco é vantajosa,especialmente para os pequenosagricultores e empresários rurais,pois não requer tanto tempo como ado vinho, o qual demanda, no míni-mo, quatro a cinco meses para chegar

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ao comércio. Além disso, em geralos custos do suco de uva tendem aser menores e o giro de dinheiro émais rápido.

Parreirais antigos, masproduzindo

Em fevereiro deste ano, areportagem da revista AgropecuáriaCatarinense visitou produtores naRegião do Vale do Rio do Peixe. Umpequeno produtor artesanal de sucoé o senhor Ernesto Faoro, do muni-cípio de Caçador, na comunidade deTaquara Verde. Ele tem umapropriedade de 52ha, a maior parteflorestada, onde, além de parreiralde uva (1ha), produz também figo emarmelo. Aliás, o seu Ernesto é omaior produtor de figo in natura ede figada na região. Da calda demarmelo é feita geléia e da polpa, amarmelada.

Há 20 anos o seu Ernesto fabricao suco e comercializa para super-mercados e mercadinhos do municí-pio e ainda para consumidoresavulsos. Mas nesta última safravendeu 50 caixas de suco (cada caixacontém 24 garrafas de meio litro)para Curitiba. O que possibilita aoseu Ernesto a rápida produção desuco é uma suqueira de pequenotamanho, fácil de manejar, que jáestá no comércio, e o melhor detudo, de baixo custo. Esta suqueirapermite também a produção deoutros tipos de sucos. Segundo oprodutor, com a ajuda de quatro

pessoas é possível produzir 600garrafas de suco por dia e 4 milgarrafas em uma semana. Elevende o engradado de 24 garrafaspor R$ 48,00, o que dá R$ 2,00 porgarrafa de meio litro. Nesta safrao seu Ernesto produziu 2.500L desuco.

Mas uma grande ajuda que oprodutor e outros da região têmrecebido é a orientação dospesquisadores da Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador, o quetem propiciado melhora naprodutividade de seu parreiral,que já tem 20 anos. O seu Ernestoparticipou de treinamento daEpagri que orientou sobre podascorretas, adubação e controle depragas e doenças. Baseado naanálise de solo, ele fez a correçãoda acidez, e aliado à podaadequada, conseguiu elevar orendimento do seu parreiral deuvas americanas para 20t/ha.Aliás, na região, com tecnologiaadequada, as videiras americanaschegam a produzir durante 30 a 40anos, segundo informa o especialistaem fruticultura de clima temperado,o pesquisador José Luiz Petri, daEpagri. Enquanto isso seu Ernesto,com 92 anos de idade e muitoentusiasmo e saúde, faz planos parao futuro. Ele pretende ampliar aprodução do parreiral e investirmais na produção de suco.

Não muito longe dali, na LinhaSão Francisco, a família de TranquiloScolaro está cuidando dos 3,6ha de

parreiral de uva Isabel, que produzem média 50t. A maior parte daprodução vai para a elaboração devinho, mas o produtor reserva umvolume para suco, do qual produzcerca de 2 mil garrafas. Scolaro dizque vende logo todo o suco queproduz. Ele também fabricaartesanalmente geléia de figo, pêrae pêssego. O seu parreiral é bemvelho, uma parte que era do pai e doavô, chega a ter cem anos de idade.Na sua propriedade, a ChácaraScolaro, houve treinamento daEpagri para os produtores de uva.Com isso, muitos estão conseguindorecuperar seus parreirais emelhorar seus rendimentos. “Aminha suqueira é pequena, dá muitotrabalho. Talvez eu invista numequipamento maior, pois é botar osuco na garrafa e vendo logo”,assinala o produtor.

Por outro lado, o casal Walter eJoana Pegoraro, da comunidade deLinha Cachoeira, resolveu investirno setor de beneficiamento do suco.Com empréstimo do Fundo deDesenvolvimento Rural – FDR –, daSecretaria de Estado da Agriculturae Desenvolvimento Rural, a jurosde 3% ao ano, os Pegoraro cons-truíram uma pequena agroindústriacom capacidade diária para preparar4 mil litros de suco. O casal tem 1hade uva Isabel, mas o grosso da produ-ção vem de outros agricultores. Aochegar na agroindústria, a uva é

Com 92 anos de idade, seu Ernesto faz planos para ampliar a produção desucos

Scolaro colhe a uva Isabel em parreiralcentenário

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33Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

pesada, lavada e é feito o desengaço.Após, é cozida por 1 hora, prensada,filtrada e engarrafada a 90oC . “Essesuco não tem conservante, nem éadicionado açúcar, é um produtonatural, com grande aceitação”,revela Walter e garante ainda que abebida engarrafada tem duração demais de um ano.

Agroindústrias investemno suco

Outra pequena agroindústria(mais média do que pequena) queestá apostando no suco de uva são asIndústrias de Suco Zago, de Vilson eEugênia Zago, na comunidade deRondinha, em Videira, SC. A famíliatem um parreiral de 3ha de uvaIsabel, mas compra de outrosprodutores para atender a crescentedemanda. O preço do quilo da uva éde R$ 0,40. A produção se concentranos dois meses de safra, usualmentejaneiro e fevereiro ou fevereiro emarço, e atinge 300 mil garrafas demeio litro, “mas a demanda já é de1 milhão de garrafas”, aponta VilsonZago, que comercializa os sucos coma marca Di Fiori para Estados doCentro-Oeste e Norte do País. Maso principal mercado é o Rio deJaneiro, que recebe cargas fechadasdo suco ao preço médio de atacadode R$ 1,35/garrafa.

Nos dois meses da safra, aagroindústria trabalha a todo vapor,ou seja, 14 horas/dia. Usa caldeira alenha na base de 1,5m3 de madeira/

Walter Pegoraro e sua unidade para beneficiamento de suco

dia. “A qualidade é o forte de nossaempresa”, enfatiza Vilson Zago,apontando para a garrafinha de sucointegral com concentração de 15 a16o Brix.

Falando em agroindústria, nãose poderia deixar de mencionar a fá-brica de sucos da Cooperativa Agro-pecuária Videirense – Coopervil –,na cidade de Videira, que além devinho e espumantes, está investindoforte na linha de sucos de uva, laranjae maçã, todos com o nome Sabore.Localizada na Região do Meio-OesteCatarinense, tradicional produtorade vinhos, a Coopervil é a únicagrande agroindústria catarinenseque investe forte no suco de uva. ACoopervil foi fundada em 1974, masjá em 1978 começou a produzir o

suco concentrado. Hoje a produçãoatinge mais de 3 milhões dequilogramas, sendo 90% em suco e10% em vinho.

“O mercado na área de sucosnaturais está crescendo em todo omundo, inclusive grandes empresasmultinacionais de refrigerantesestão comprando indústrias de sucopara investir neste importantemercado”, informa Luiz VicenteSuzin, presidente da Coopervil. JáVilmar Luiz Longhi, gerente devinhos e sucos, relata que o mercadoestá em franco crescimento porqueo consumidor está preferindo cadavez mais os sucos naturais, integrais,orgânicos. Ele esclarece que o sucoconcentrado é o principal mercadoda Coopervil. Ele apresentaconcentração de açúcar (Brix) de68%, adequado às normas, inclusiveinternacionais. E o suco integral,pronto para tomar, é de 14%. Ambosapresentam sabor, coloração equalidade superiores, segundo ogerente.

A Coopervil está tambéminvestindo nos seus sócios, osprodutores da região. Por isso, emparceria com a Epagri, vemtreinando os agricultores paraaprimorarem a produção e qualidadeda uva. O pesquisador da EpagriÊnio Schuck, especialista emviticultura da Estação Experimentalde Videira, explica que a Coopervilestá adotando uma estratégia paraescalonar a produção da uva,iniciando na região de Concórdia,depois Videira e, por fim, Caçador.A idéia é iniciar colheitas no cedo,até de uvas do tarde. A Isabel, diz

Engarrafamento de sucos na agroindústria dos Zago

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Ênio, representa ainda a cultivarmais utilizada, mas está sendointroduzida aos poucos a Concord,mais precoce, porém com grandeaceitação de mercado.

A grande clientela da Coopervilestá nos Estados de São Paulo eEspírito Santo, porém a qualidadedos sucos da cooperativa já estáatraindo mercados internacionais.Recentemente recebeu proposta deempresa japonesa para exportarpara a Ásia.

No município de Pinheiro Preto,ao lado de Videira, na Linha SantoIsidoro, está outra prova de que osuco de uva tem um mercado emexpansão. A família Bressanelli(Balduíno, o pai, e Jandir e Júlio, os

Presidente da Coopervil, Luiz Suzin: sucos com qualidade internacional

Sucos produzidos de maneiraartesanal, mas com qualidade,atraem turistas de todo o Brasil(Família Bressanelli)

filhos) há cinco anos está na lida dosuco. O parreiral tem como uvapara suco a tradicional Isabel (1,8ha),mas são produzidas também aBordeaux e a Francese para vinho.Os Bressanelli possuem uma loja de

vinhos e sucos na propriedade, queestá localizada ao lado de rodoviaestadual, e aproveitam as excursõesque trazem turistas de todo o Brasilpara degustar, além dos sucos evinhos, também geléias, doces eembutidos, a maioria produzida nolocal. A produção anual é de 20 millitros de suco de uva, elaborado comequipamento profissional, parapequena agroindústria, com caldeiraa lenha. A venda, feita na região, éde R$ 1,70/garrafa de meio litro,faturando, portanto, R$ 68 mil. Parase ter uma idéia, o preço de umagarrafa nova é de cerca de R$ 0,60,mas existe um comércio devasilhames reciclados ao preço deR$ 0,30 a garrafa. ‘‘Com os resul-tados econômicos que a nossaempresa está obtendo, pretendemosampliar a produção, inclusiveinvestir também em outros tipos desuco, como maçã e laranja”, apostaJandir Bressanelli.

Suco é sinônimo de mais saúdeSuco é sinônimo de mais saúdeSuco é sinônimo de mais saúdeSuco é sinônimo de mais saúdeSuco é sinônimo de mais saúde

Uma boa alimentação é fundamental para o equilíbrio do organismohumano e para evitar doenças. Hoje em dia a medicina sabe que existemsubstâncias presentes nos alimentos que funcionam como verdadeirosremédios. Os alimentos que possuem tais substâncias são chamadosfuncionais. Por exemplo, o tomate possui uma substância anticancerígena, olicopeno. O alho possui o ácido ferrúlico, que é antibiótico e ativa o sistemaimunológico. Por sua vez, a soja tem o lupeol, que ajuda na redução do colesterole ainda auxilia no tratamento da malária. Frutas como goiaba, laranja eacerola possuem altos teores de vitamina C, conhecida como poderosoantioxidante, e assim por diante.

O suco de uva puro possui açúcares, vitaminas, sais minerais, ácidosorgânicos, substâncias nitrogenadas, compostos fenólicos e pectinas. Segundoa revista Vida e Saúde de junho de 2005, o suco de uva puro, natural, “é um dosmais completos sucos que existem e é um valioso estimulante digestivo, poisacelera o metabolismo e promove a eliminação do ácido úrico, causador dafadiga. Além disso, ajuda a restabelecer o equilíbrio ácido alcalino do organis-mo...’’. Entre outras qualidades, o suco de uva, por sua riqueza em vitaminas esais minerais (potássio, magnésio, cálcio, manganês, cobre, fósforo, zinco, sódioe lítio), auxilia no combate a várias doenças como reumatismo, gota, artrite,prisão de ventre, anemia, eczema, colesterol, hepatite e depressão.

Entre os compostos fenólicos encontrados em boa concentração no suco deuva, principalmente de uvas tintas e roxas, destaca-se o resveratrol, sintetizadopela videira com o objetivo principal de proteger a planta contra a infecção porfungos, que é encontrado na casca da uva. O resveratrol, segundo descobertasrecentes, reduz o risco de doenças cardiovasculares, aumenta o bom colesterol(HDL), previne a oxidação do mau colesterol (LDL) e dilata os vasos sangüíneos.O resveratrol tem a capacidade de inibir as fases de iniciação, promoção eprogressão de tumores.

O suco de uva, quanto mais natural e puro, sem conservantes químicos,preferencialmente orgânico, para que se aproveite todas as suas qualidadesnutritivas e funcionais, além de proporcionar um delicioso e refrescante prazer,proporciona o efeito de um verdadeiro remédio para prolongar a vida daspessoas. E, por fim, vale a pena relembrar a sábia frase de Hipócrates: “Oalimento é a sua medicina e a sua medicina é o alimento”.

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Eonir Teresinha Malgaresi1

O Projeto Microbacias 2 está sendo um dos melhores parceiros das famíliascatarinenses que vivem no campo. Estimula a organização das comunidades,

oferece orientação e apoio para melhorar a vida social, o meio ambiente e a rendados agricultores familiares, trabalhadores rurais e populações indígenas.

Maria do Rosário mora emuma comunidade pobre, no interiordo município de Canoinhas. Aos 23anos de idade, ela leva uma vidabem diferente das moças da cidade etambém de muitas que moram nomeio rural, pelo menos em conforto.A casa onde vive com os pais e trêsirmãos é simples, de madeira e nãotem energia elétrica. Comoinstalação sanitária, a família usavauma velha privada. A água para obanho vinha de uma bacia.Acostumada a trabalhar pesado nalavoura de fumo, agora Maria doRosário já pode chegar do serviço etomar um banho de chuveiro. Está

certo que a água ainda é fria, masnem por isso deixa a jovem menoscontente. “Nossa vida mudoubastante, agora a gente se sentemais valorizada”, diz ela, mostrandoo novo banheiro, construído com oapoio do Projeto Microbacias 2.

A história de Maria do Rosário éa mesma de milhares de famíliasque vivem no campo. Estudosindicam que 41% da população ruralsobrevive com uma renda menorque um salário mínimo mensal porpessoa ocupada. “Estas famíliaspassam por um processo crescentede empobrecimento e apresentambaixa qualidade de vida, por isso são

prioridades do Microbacias 2”,destaca Luiz Ademir Hessmann,secretário executivo estadual doProjeto. O Microbacias 2 – Projetode Recuperação Ambiental e deApoio ao Pequeno Produtor Rural –é um dos principais programas emexecução no Estado de SantaCatarina. Contratado pelaSecretaria de Estado da Agriculturae Desenvolvimento Rural junto aoBanco Mundial, está beneficiando106 mil famílias – mais de 400 milcatarinenses –, organizadas em 936microbacias hidrográficas. Osrecursos para a execução do Projetoem seis anos somam U$ 107

1Jornalista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5649, e-mail: [email protected].

Uma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinadaUma parceria afinada

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milhões. “Para o governo, oMicrobacias 2 representa a chancede ser o melhor vizinho do pequenoprodutor rural. Aquele com que sepode contar para melhorar amoradia, para conseguir mais rendae preservar o meio ambiente”,explica o secretário da Agricultura,Moacir Sopelsa.

Iraci Dal Castel sabe bem ovalor da ajuda. Há 14 anos ela semudou do Rio Grande do Sul paraCoronel Freitas, na Região Oeste doEstado. Depois de um casamentodesfeito, Iraci teve que assumirsozinha as lavouras de fumo, feijão,milho, as dívidas e a criação dos três

filhos: Diego, Diana e Johni. A casaonde a família vive é a mesma dequando chegaram ao município.Muito antiga, necessitava de reparosurgentes. “Nunca sobrou dinheiropara investir, os problemas eramtantos que não dá nem para contar”,diz dona Iraci. Estes problemasficaram para trás. Com o apoio doMicrobacias 2, ela conseguiu fazer areforma da casa. “Pra mim era umsonho impossível pela situação emque vivíamos, mas agora sim, dágosto de ver a casa e de viver aqui nanossa terra”.

Assim como dona Iraci, outras 15mil famílias catarinenses estãotendo a possibilidade de reformar as

moradias, graças à ajuda doMicrobacias 2. A melhoria dahabitação é uma das linhas de apoiodo Projeto. Além da casa maisconfortável e bonita, os agricultorestambém investem em sistemasadequados de tratamento do esgotodoméstico e na melhoria daqualidade da água. “As estiagensque vêm ocorrendo ano após ano noEstado têm provocado sériosproblemas de abastecimento e oíndice de contaminação da água nomeio rural é alto, por isso, juntocom a reforma da casa, um dosprincipais pedidos de apoio dosagricultores é para melhorar aquantidade e a qualidade da água”,informa o engenheiro agrônomo daEpagri André Ricardo Poletto,gerente de Inversões Rurais doMicrobacias 2. Em todo o Estado, 30mil fontes de água estão sendoprotegidas. A implantação desistemas de captação, armaze-namento e distribuição de água vaibeneficiar 30 mil famílias rurais.

Armelindo CarlosPergher já pensa em ampliar orebanho leiteiro. A idéia sóaconteceu depois que ele foibeneficiado na área de melhoria darenda. A compra de uma orde-nhadeira proporcionou alívio paraos braços da esposa, dona Inês, quetirava manualmente 70 litros deleite por dia. “Havia três anos quequeríamos comprar uma orde-nhadeira, mas não sobrava dinheiro.Agora, tirar leite é moleza”, contadona Inês. Descanso para ela etranqüilidade para aumentar aprodução, já que a ordenha ficoumais fácil. Para os três filhos docasal, a modernização da atividadefoi um incentivo para permaneceremno campo.

O Microbacias 2 aposta namelhoria da renda como um dosprincipais incentivos para oagricultor se manter napropriedade. Uma das causas doêxodo rural, segundo Athos deAlmeida Lopes, presidente daEpagri, principal executora doMicrobacias 2, é a falta deoportunidades de trabalho e derenda no campo. “As famíliasmigram para as cidades porqueacham que lá vão ganhar maisdinheiro. Se quisermos segurar oagricultor e os jovens no campo,

Maria do Rosário, de Canoinhas, comemora as melhorias na sua casa

A reforma de moradias é uma das prioridades no meio rural

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precisamos oferecer alternativas derenda e condições para que a famíliaviva bem e com dignidade”,complementa Athos. Na área derenda, o Microbacias 2 estáapoiando a melhoria da produçãoem 40 mil propriedades e aimplantação de 2,3 mil agroin-dústrias rurais.

Catiane Krause ainda nãotem idade para se preocupar com arenda da propriedade, mas sabe bemo valor que é cuidar do meioambiente. Aos 12 anos de idade, elaé uma das alunas da Escola AdolfhoEwald, da comunidade RibeirãoPinheiro, município de Taió. Juntocom os colegas, todo dia Catiane vianos fundos da escola a imagem deum rio agonizante, sem umaplantinha sequer nas margens. Nosbancos da escola ela aprendeu querio precisa ter mata ciliar. Mas ondeestá a mata que protege o rio da suacomunidade? Não teve dúvidas.Junto com toda a turma da escola,Catiane participou de um mutirãopara replantio de mata ciliar complantas nativas da região.

Esta parceria com o meioambiente está acontecendo em todasas regiões do Estado. Os rios, riachos,lagos e nascentes de Santa Catarinaestão recebendo proteção de mataciliar em 2 mil quilômetros deextensão. Assim como a alunaCatiane, crianças e jovens de mil

Compra de ordenhadeira facilita o trabalho da família Pergher, de Ibicaré

Escolares se engajam na recuperação das matas ciliares

escolas rurais se envolvem emprogramas de educação ambiental.Ao todo, mais de 90 mil pessoas,entre agricultores, professores,escolares, lideranças e técnicos,participam de um grande mutirãode solidariedade com a natureza.Mas as ações do Microbacias 2 naárea ambiental vão muito além. ASecretaria de Estado doDesenvolvimento Sustentável, aFatma e a Polícia de ProteçãoAmbiental, instituições executorasdo Projeto, estão trabalhando naimplantação da estrutura de gestãoem três bacias hidrográficas,abrangendo uma área de 8,4 milquilômetros quadrados, implantação

de dois corredores ecológicos,envolvendo 4,2 mil quilômetrosquadrados, e consolidação daUnidade de Conservação do ParqueEstadual da Serra do Tabuleiro.

No campo, as melhoriasambientais se multiplicam nas áreasde plantações. Orientados pelostécnicos, os agricultores passam afazer o manejo correto do solo e daágua em 250 mil hectares. O uso depráticas como o plantio direto, cultivomínimo, adubação orgânica ecobertura vegetal – que aumentama fertilidade e combatem a erosãodo solo –, além do reflorestamento eagroecologia, vem sendo adotado por50 mil famílias. A implantação desistemas de coleta de dejetos animaisem 16.500 propriedades rurais estásolucionando um dos principaisproblemas ambientais no meio rural,que é a contaminação do solo, daágua e do ar especialmente pordejetos suínos. Os agricultores estãoinvestindo na melhoria das pocilgas,na construção de esterqueiras, naaquisição de equipamentos paracoleta e distribuição dos dejetos e,gradativamente, vêm adotandonovas tecnologias de produção, maiseconômicas e menos poluentes.

A construção do banheiro napropriedade de Maria do Rosário, areforma da casa de dona Iraci, acompra da ordenhadeira para afamília de Armelindo e o plantio damata ciliar por Catiane sóaconteceram depois de uma bemestruturada organização dascomunidades onde essas pessoasvivem. Esta é a filosofia doMicrobacias 2: fazer com que as

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comunidades se organizem para queelas próprias possam gerir osrecursos e solucionar os problemaslocais. A estruturação das micro-bacias segue uma metodologia quepassa por várias etapas, seguidas àrisca pelos moradores. Tudo começacom a formação dos grupos deanimação, voluntários da comuni-dade que passam de casa em casapara motivar as famílias a seengajarem no Projeto. A comu-nidade, já organizada, cria aAssociação de Desenvolvimento daMicrobacia – ADM –, legalmenteconstituída e que representa osinteresses de todas as famíliasenvolvidas.

Um dos compromissos da asso-ciação é elaborar e aprovar o Planode Desenvolvimento da Microbacia,que reflete os desejos da comu-nidade. No plano constam asmelhorias que as famílias queremimplantar a curto, médio e longoprazos. Cada agricultor envolvidopassa a ter também o plano indi-

vidual dap r o p r i e -dade. Àfrente des-te trabalhono campoestão osextens io -nistas daEpagri e ost é c n i c o sfacilitadores– enge-n h e i r o sagrônomosou técni-cos agrí-colas – contratados pelas associaçõesde desenvolvimento das micro-bacias. Com o Microbacias 2, 450novos técnicos passaram a trabalharnas comunidades rurais de SantaCatarina, reforçando o quadrotécnico nos municípios e compar-tilhando a responsabilidade deconstruir um futuro melhor para asfamílias no campo. O que mais chama

O Microbacias 2 estimula a organização das comunidadesrurais

a atenção no Microbacias 2 e faz deleum Projeto ousado e inovador é aautogestão comunitária. Pela pri-meira vez na história da agriculturacatarinense, as comunidades têm opoder de decidir o que é melhor parao seu lugar e de gerir a aplicação dosrecursos nas melhorias desejadas.Dessa vez, o papel e a caneta estãonas mãos dos agricultores.

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Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005 39

Antônio Amaury Silva Júnior1

tupinambor (Helianthustuberosus – Asteraceae) éuma espécie originária da

América do Norte, principalmentedos Grandes Lagos do Canadá, masdevido às migrações humanas pré-históricas foi introduzido desdeépocas pré-colombianas no Méxicoe Peru. O nome tupinambor deve-se às tribos indígenas tupinambásque migraram por todo o continenteamericano em busca daimortalidade. É conhecido tambémcomo tupinambá, girassol-de-batatae alcachofra-de-jerusalém.

É uma planta anual, subar-bustiva, ramosa, com caule de até3m, áspero. As folhas são alternas,pecioladas, triplinervadas, ásperase denteadas. As flores formamcapítulos com lígulas amarelas edisco floral de 4 a 8cm de diâmetro.

A planta forma rizomas tuberosos,amarelo-claros, irregulares, comtendência a fusiformes.

Propriedades da planta

Os rizomas são aperientes(estimulam o apetite), afrodisíacos,colagogos (facilitam a secreção dabílis), diuréticos, espermatogênicos,estomáquicos (facilitam as funçõesdo estômago) e tônicos e indicadospara reumatismo e diabetes. Elesrestauram a flora intestinal,normalizam a pressão sangüínea,reduzem a absorção de colesterol,triglicerídeos e açúcares econtribuem para a vitalidade e alongevidade do ser humano.

Ajudam também na recuperaçãode pacientes com distúrbios renaise previnem e ajudam na recupera-

ção de doenças infecciosas agudas ecrônicas. Apresentam ainda ati-vidade hepatoprotetora, antitóxica,antiestresse, imunomoduladora eantinarcótica.

O tupinambor é altamenterecomendável a pessoas comrestrições alimentares, sobretudopelo baixo valor calórico aliado aosreduzidos níveis de açúcares simplese de sódio. É muito indicado paradiabéticos.

O leite obtido a partir do sucofermentado dos rizomas apresentaação anti-helicobacter, prevenindoúlceras gástricas.

Resultados de pesquisa compintos demonstram que o tupinam-bor melhora a eficiência alimentare reduz a diarréia e o cheiro nasfezes, pela alteração da microfloraintestinal.

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255, e-mail: [email protected].

TTTTTupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno davitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadeTTTTTupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno daupinambor – fitoadaptógeno davitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidadevitalidade e da longevidade

O

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Composição química ebromatológica

Os rizomas contêm 74% a 80%de água e 154cal. A matéria seca(20% a 26%) contém 13% a 18% decarboidratos, sendo que 60% a 80%correspondem à inulina e 13% àcelulose e à hemicelulose; 6% a 8%de proteína, 1% de gordura, 4% defibra, 5% de cinzas, fósforo (330mg),potássio (3,32g), cálcio (140mg),magnésio (90mg) e ferro (7,3mg) em100g de produto fresco. Contémainda bioflavonóides (1.800mg),manganês (2,84mg), cobre (0,15mg),

iodo, enxofre, zinco (0,56mg),selênio (30μg), sódio (20mg) e si-lício. Apresenta pequenasquantidades de vitaminas A(0,01mg), B e C (24mg), basespurínicas, arginina, histidina,betaína e colina.

Os rizomas são fontes muitoricas de levulose, úteis comoadoçantes para diabéticos. Contêmainda levulina, pseudo-inulina,inulenina, heliantenina e sinan-trina. A inulina e a levulina sãometabolizadas em levulose.

O caule e as folhas são ricos emproteína e pectina.

Inulina – a molécula diet

A inulina (polímero da glicose) éum glicofrutano presente comocarboidrato de reserva emtubérculos de alguns membros dafamília Asteraceae, tais como adália, chicória, yacon, bardana,alcachofra e, notadamente, naespécie Helianthus tuberosus outupinambor. É muito solúvel emágua quente e precipita sobesfriamento. Não é assimilada peloorganismo, por isso é indicada paraobesos, diabéticos e coleste-rolêmicos. Apresenta eficáciacomprovada na estabilização dosníveis de colesterol, açúcar dosangue e ácido úrico. Capta radicaislivres por meio dos fenóis redutores.É um pré-biótico – regenera a florabacteriana por meio daBifidobacteria bifidum. Elimina anecessidade de insulina durante adigestão e estimula o bomfuncionamento do intestino.Provoca sensação de saciedade,diminui o apetite. Na nutriçãohumana, colabora para o aumentoda população de bifidobactéria nosintestinos, além de diminuir apopulação de enterococos eenterobactérias. É um dosprecursores da produção de ácidosgraxos de cadeia curta.

Outros usos

Os rizomas são nutritivos edeliciosos, com sabor de nozesdoces. Podem ser utilizados crus,ralados em saladas, cozidos,refogados, na forma de purê, fritos,assados com carne e em sopascremosas. Quando utilizados empanificação, melhoram sensivel-mente as qualidades organolép-ticas.

A hidrólise de extratos dotupinambor permite a obtenção dexaropes com média de 75% defrutose, percentual este bem maiselevado do que aqueles obtidos apartir da isomerização da glicose deamido de milho.

O tupinambor apresenta umasérie de vantagens em relação aoutras espécies comumenteutilizadas para a obtenção dexaropes de frutose, como a menorexigência agrícola do vegetal, a fácilmecanização do plantio e colheita,a alta produtividade, a ampla

Detalhe da flor de tupinambor

Rizomas tuberosos de tupinambor

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distribuição geográfica, a possibi-lidade de armazenamento dostubérculos e sua fermentação diretaou com pré-tratamentos simples epouco dispendiosos.

As sementes dão origem a umóleo comestível de boa qualidade.São usadas para incrementar aração animal. Cem quilos de rizomadão origem a 8 a 10L de etanol.

As folhas e o caule sãoforrageiros e úteis em silagem. Asflores são ornamentais.

Formas de uso

• Creme de tupinambor– Colher e lavar os rizomas com

água corrente potável.– Cozinhar os rizomas em água.– Esmagar todos os tubérculos

passando por uma peneira ouamassador de batata.

– Deixar escorrer o extratolíquido em uma caçarola. O caldo éposto a aquecer novamente comcreme, sal e noz-moscada. Homo-geneizar bem a mistura.

• Xarope de tupinamborOs rizomas do tupinambor são

prensados cuidadosamente logo apósa colheita e transformados emxarope.

O xarope de tupinambor é ricoem fibras e possui um saboradocicado. Pode ser usado comoadoçante natural e para passar empães, torradas e bolachas. Podetambém ser adicionado aos cereaismatinais e substitui o açúcar emreceitas doces, geléias, compotas,etc. Quando misturado à água,transforma-se em um delicioso suco.

A quantidade diária recomendadapara promover melhora no sistemaimunológico e digestivo, bem comoo controle da pressão arterial e docolesterol, é de 25ml de xarope pordia.

O uso do xarope de tupinamborpode causar uma ligeira flatulência,um sinal dos efeitos positivos doscomponentes pré-bióticos. Essesintoma tende a desaparecer empouco tempo.

• Pó de tupinamborOs rizomas podem ser fatiados e

desidratados em estufa com fluxo dear contínuo, com temperatura de 40a 50oC. Após a secagem, as fatias

Rizoma inteiro e em corte longitudial de tupinambor

desidratadas podem ser moídas earmazenadas em recipientes ousacos herméticos. O pó pode seradicionado a sucos, bebidas, doces,cremes, sorvetes, sopas, etc.

Cultivo básico

Entre as cultivares disponíveis,destacam-se a Giant, Columbia,White Mamoth e MFW, sendo que aGiant e a White Mamoth são asmais produtivas.

A forma de propagação maisusual é via rizomas, os quais podemser divididos em segmentosmeristemáticos de 2 a 3cm. Pode-sepropagar também através desementes. A produção de sementesé determinada por condições defotoperíodo curto.

A planta desenvolve-se melhorem solos arenosos a siltosos, bemdrenados e férteis. Solos pesadosretardam e afetam a tuberização, eos mal-drenados reduzem a produçãoe afetam a qualidade dos rizomas. Aplanta é tolerante à salinidade dosolo. Por ser planta heliófita,desenvolve-se melhor à plena luzsolar, embora possa tolerar meia-sombra. É tolerante à geada e àestiagem.

A acidez do solo deve ser corrigidapara pH 6,5 a 7,0. A adubação básicade plantio consiste na incorporação,em sulcos, de 10t/ha de esterco decurral + 800kg/ha de fosfato de rocha+ 500kg/ha de cinzas. A adubaçãoem cobertura pode ser feita com

composto orgânico (5t/ha) aos 60dias após o plantio.

O plantio dos rizomas ou de seussegmentos é feito em sulcos de 8 a15cm de profundidade. Utiliza-se oespaçamento de 1m entre filas e0,3m entre plantas. O plantio é feitona primavera. Em solos comproblemas de drenagem, o plantiodeve ser feito em leiras oucamalhões de 25 a 30cm de altura.

A lavoura deve ser mantida livrede plantas daninhas durante os 60primeiros dias de cultivo. Para tanto,deve ser feito uso de capina manualou escarificador.

A colheita inicia duas semanasapós o florescimento e pode sermanual ou mecânica. Em ambos oscasos deve haver cuidado para nãodanificar os rizomas. A parte áereapode ser utilizada para fazercompostagem. O ciclo da cultura éde 120 dias. O rendimento derizomas frescos pode chegar até100t/ha ou 11,5t/ha, base seca.

O processamento dos rizomasinicia com a remoção de terra eoutras impurezas com lava-jato ouescova apropriada. Os rizomaspodem ser acondicionados em sacosplásticos, sob refrigeração por váriassemanas, podendo ser congelados azero grau Celsius, sob alta umidade.Quando armazenados por 5 meses,os rizomas perdem mais de 20% deágua e fragmentam-se devido à finapelícula protetora. Mas se não foremusados, podem ser mantidos no solodurante todo o inverno, vindo arebrotar a partir da primavera.

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Seção Técnico-científica∗ Tecnologia de cultivo do cogumelo medicinal Agaricus blazei (Agaricus brasiliensis) .................

Augusto Ferreira da EiraJosé Soares do Nascimento

Nelson Barros ColautoPaulo Gustavo Celso

∗ Efeito da limpeza de vírus sobre a produtividade de alho em Caçador, SC ..............................Siegfried Mueller

Renato Luís VieiraJosé Biasi

∗ Registro da ocorrência de ferrugem asiática da soja no Planalto Norte Catarinense – safra 2004/05Gilson José Marcinichen Gallotti

Alvadi Antônio Balbinot Junior∗ Danos e insetos em frutos de caquizeiro em pomares da Serra Gaúcha .................................

Alvimar BavarescoMarcos Botton

Mauro Silveira GarciaAline Nondillo

∗ “Greening”: um novo desafio para a citricultura brasileira ................................................Gustavo de Faria Theodoro

Luis Antonio ChiaradiaJosé Maria Milanez

∗ Validação de dois sistemas de previsão para o controle da requeima do tomateiro na região deCaçador, SC .............................................................................................................

Walter Ferreira Becker∗ Estimativa da taxa de cruzamento em Bromus auleticus ...................................................

Gilberto Luiz Dalagnol* Intensidade da mancha-reticulada (Leandria momordicae) em pepineiros (Cucumis sativus) culti-vados em estufa e a céu aberto ....................................................................................

José Angelo RebeloMiguel Dalmo de Menezes Porto

Henri Stuker* Viabilidade da produção de leite a pasto para vacas de alto potencial leiteiro ......................

Ana Lúcia HanischMarcelo Abreu da Silva

* Análise da diversidade genética de genótipos e acessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasmada Epagri por AFLP ....................................................................................................

Fernando Adami TcacencoAnderson Ferreira

Luiz Anderson Teixeira de MattosAntônio Costa de Oliveira

Informativo Técnico

Artigo Científico

45

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

* Épocas de manejo de plantas de cobertura do solo de inverno e incidência de plantas daninhas nacultura do milho ........................................................................................................

Alvadi Antonio Balbinot JuniorMarcelo Bialeski

Rogério Luiz Backes* Ocorrência de Agathomerus sellatus em tomateiro no Planalto Norte Catarinense .....................

Alvimar BavarescoGeraldo Pilati

* Produção de material vegetativo de ameixeira (Prunus salicina) livre da escaldadura-das-folhas(Xylella fastidiosa) .......................................................................................................

Marco Antonio DalbóRobson Leandro Hoffman

Daiane MeloLiziane Kadine Antunes de Moraes

Nota Científica

∗ SCS 114 Andosan – primeira variedade mutante de arroz irrigado do Brasil .............................Takazi Ishiy

Moacir Antonio SchiocchetRichard Elias BachaDario Alfonso Morel

Akihiko AndoAugusto Tulmann Neto

Ronaldir Knoblauch

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ISSN 0103-0779

Comitê de Publicações/Publication CommitteeAlvadi Antonio Balbinot Júnior, M.Sc. – EpagriÂngelo Mendes Massignam, Ph.D. – EpagriCésar Itaqui Ramos, M.Sc. – EpagriCristiano Nunes Nesi, M.Sc. – EpagriEduardo Rodrigues Hickel, Dr. – EpagriFrederico Denardi, M.Sc. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriJefferson Araújo Flaresso, M.Sc. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri (Secretário)Roger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri (Presidente)Valdir Bonin, M.Sc. – Epagri

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Ademir Calegari, M.Sc. – Iapar – Londrina, PRAnísio Pedro Camilo, Ph.D. – Embrapa – Florianópolis, SCBonifácio Hideyuki Nakasu, Ph.D. – Embrapa – Pelotas, RSCésar José Fanton, Dr. – Incaper – Vitória, ESEduardo Humeres Flores, Dr. – Universidade da Califórnia – Riverside, USAFernando Mendes Pereira, Dr. – Unesp – Jaboticabal, SPFlávio Zanetti, Dr. – UFPR – Curitiba, PRHamilton Justino Vieira, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCLuiz Sangoi, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCManoel Guedes Correa Gondim Júnior, Dr. – UFRPE – Recife, PEMário Ângelo Vidor, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCMichael Thung, Ph.D. – Embrapa-CNPAF – Goiânia, GOMiguel Pedro Guerra, Dr. – UFSC – Florianópolis, SCMoacir Pasqual, Dr. – UFL – Lavras, MGNicolau Freire, Ph.D. – UFRRJ – Rio de Janeiro, RJPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri – Florianópolis, SCPaulo Roberto Ernani, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCRicardo Silveiro Balardin, Ph.D. – UFSM – Santa Maria, RSRoberto Hauagge, Ph.D. – Iapar – Curitiba, PRRoger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SCSami Jorge Michereff, Dr. – UFRPE – Recife, PESérgio Leite G. Pinheiro, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SC

Indexada à Agrobase e à CAB International

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Adalécio Kovaleski, Airton Spies, Alvadi Antônio BalbinotJunior, Antonio Oliveira Lessa, Antonio Carlos Ferreira da Silva, Edison Xavier de Almeida, Edemar Brose, Eliane Rute de Andrade, FernandoAdami Tcacenco, Gilberto Luiz Dalagnol, Gustavo de Faria Theodoro, José Maria Milanez, Leandro do Prado Wildner Luiz Antonio Chiaradia, MárcioSonego, Mario Angelo Vidor, Milton da Veiga, Osvino Leonardo Koller, Pedro Boff, Pedro Paulo Suski, Rogério Luiz Backes, Rubens Marschalek,Rubson Rocha,Sadi Nazareno de Souza, Walter Ferreira Becker, Wilson Reis Filho, Yoshinori Katsurayama

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O

TTTTTecnologia de cultivo do cogumelo medicinalecnologia de cultivo do cogumelo medicinalecnologia de cultivo do cogumelo medicinalecnologia de cultivo do cogumelo medicinalecnologia de cultivo do cogumelo medicinalAgaricus blazei Agaricus blazei Agaricus blazei Agaricus blazei Agaricus blazei (((((Agaricus brasiliensisAgaricus brasiliensisAgaricus brasiliensisAgaricus brasiliensisAgaricus brasiliensis)))))

Augusto Ferreira da Eira1, José Soares do Nascimento2,Nelson Barros Colauto3 e Paulo Gustavo Celso4

Agaricus blazei foi estudadoem projeto temático quantoà tecnologia de cultivo,

composição bioquímica e efeitosprotetores. A nomenclatura A. blazeirefere-se ao senso de Murrill queexaminou cogumelos da Flórida, nosEstados Unidos. Entretanto, hárelatos de sua origem no Brasil(Wasser et al., 2002) quandojaponeses, que teriam obtido algunsbenefícios à saúde, o remeteram aoJapão para estudos de suas proprie-dades medicinais. Nessa oportuni-dade, exsicatas do Brasil foramexaminadas e relatadas porHeinemann (1993).

Na década de 90 uma intensapropaganda deu a esse cogumelo afama de “cura tudo”, elevandosubstancialmente seu valor nomercado nacional e internacional.Atualmente, o mercado do A. blazeifatiado e desidratado vem sendointermediado por atacadistas quedominam o contato com osexportadores (principalmente parao Japão) e pagam ao produtor entreR$ 60,00 (Tipo C) e R$ 180,00 (TipoA) por quilo desidratado (1kg desidra-tado corresponde a, aproximada-mente, 10kg de cogumelo fresco).

Com o aumento da oferta noBrasil e no exterior (a China entrouno mercado), o preço internacionalvem caindo. O Brasil, segundo dadosda Secex, aumentou as exportaçõesoficiais de 17,5t, em 1997, paraaproximadamente 35t, entre 2002 e

2004, mas o preço de venda nessemercado caiu de US$ 148,00/kgdesidratado (1997) para aproxima-damente US$ 100,00, atualmente.Mesmo assim, a título de compa-ração, o preço do shiitake nomercado externo é muito inferiorao do A. blazei (US$ 6,25/kgdesidratado).

Perante este mercado e propa-ganda estudou-se, no âmbito de umprojeto temático multidisciplinar, aidentificação de linhagens cultivadasno Brasil e as tecnologias de cultivopara incrementar a produtividade ereduzir os custos de produção(formulação do substrato, camadade cobertura e variáveis climáticas).

Identificação do A. blazeie valor nutracêutico

A identificação taxonômica delinhagens do A. blazei (isoladas debasidiocarpos produzidos em SãoPaulo, Paraná, Minas Gerais, Riode Janeiro e Rio Grande do Sul) foiefetuada pelos micologistas Andréde Meijer e Maria Ângela L. de A.Amazonas seguindo o senso deHeinemann (1993). Posteriormente,concluiu-se que as linhagens brasi-leiras devem seguir a nomenclaturaAgaricus blazei (Murrill) ss.Heinemann ou a proposta de umanova espécie Agaricus brasiliensis(Wasser et al., 2002), pois diferemdas linhagens dos cogumelos daFlórida identificados por Murrill. A

caracterização genética por RAPDmostrou que as linhagens brasileirassão muito semelhantes: zero dedistância genética entre as linhagensABL97/11, ABL99/25 e ABL99/29;10% entre esse grupo e a linhagemABL99/28 e 20% entre a linhagemABL99/26 e as demais (Colauto etal., 2002) (Figura 1).

Define-se como nutracêutico ovalor de um alimento que encerra,além de seus constituintesnutritivos, alguns princípios ativoscoadjuvantes de terapias conven-cionais ou protetores contraradiações e drogas mutagênicas ecarcinogênicas. As substânciasindicadoras de propriedades nutra-cêuticas mais estudadas sãopolissacarídeos de ligação β (β-glucanas), isoladamente ou asso-ciados a proteínas para formarcomplexos glicoprotéicos de ligações(1→6) β-D-glucan-proteína (Mizunoet al., 1995). Entretanto, nos estudosdas propriedades medicinais do A.blazei, observou-se que a determi-nação indireta das β-glucanas pelahidrólise enzimática das ligações αnão era repetitiva (apesar deinfundida no mercado), apresen-tando um erro analítico que nãopermitia distinguir diferençassignificativas entre amostras decogumelos tão distantes quantoLentinula edodes e A. blazei (Eira,2003). Análises enzimáticas a partirda β-glucosidase reduziram algunsdesses erros (menor desvio-padrão

Aceito para publicação em 5/4/2005.1Dr., prof. titular de Microbiologia Agrícola, Unesp/Faculdade de Ciências Agronômicas e supervisor do Departamento de Pesquisa daFungibras, fone/fax: (14) 3815-2255, e-mail: [email protected]., prof. do Instituto de Biologia da UFPEL, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS.3Dr., prof. da Unipar/Diretoria de Gestão da Pós-Graduação, Praça Mascarenhas de Morais, s/no, 87502-210 Umuarama, PR.4M.Sc., técnico do Laboratório de Apoio Regional Vegetal, Rua Joaquim Nabuco, 447, Cidade Baixa, 90050-340 Porto Alegre, RS.

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da média, Tabela 1). Por estemétodo, amostras de A. blazei,apresentaram teores de β-glucanassuperiores a outras duas espéciesde cogumelos (Tabela 1), mas dez a20 vezes menores (0,5%) que osrelatados com a hidrólise das ligaçõesα (entre 5% e 10% em base seca).Observou-se também que o teor deβ-glucanas depende do período dereação e da qualidade e estado da

enzima, ou seja, qualquer erro demetodologia é crítico. Além dos errosanalíticos, as β-glucanas não consti-tuem um parâmetro diferencialadequado, pois estão presentes emtodos os cogumelos (fazem parte daparede celular).

Outros princípios ativos polares,apolares e de média polaridade, compropriedades quimioprotetoras jáforam relatados em extratos do A.

blazei (Delmanto et al., 2001;Terezan, 2002; Wasser et al., 2002).Esses princípios ativos estão emconcentrações muito baixas nocogumelo (Terezan, 2002) e seuconsumo deve ser encarado comonutracêutico e preventivo.

Além dos indicadores bioquí-micos, a qualidade sanitária doscogumelos desidratados deverátornar-se um critério de qualidadeobrigatório, pois pode ocorrer aproliferação de bactérias do grupocoli-aerogenes durante processosinadequados do processamento edesidratação (Rosa et al., 1999)(Figura 2).

Quanto ao valor nutricional,observa-se que o A. blazei é maisrico em proteínas que outroscogumelos (Tabela 1), face à suagenética e ao substrato de cultivomais rico (“composto” com relaçãoC/N de 17/1, após pasteurização econdicionamento), em comparaçãocom os substratos de relações C/Nlargas (p. ex., o bagaço de cana-de-açúcar e a madeira com C/N>150/1),

Figura 1. Diferenças agronômicas entre linhagens A. Brasiliensis (= A.blazei ss. Heinemann): (A) ABL1.02 (Fungibras) com bom número decogumelos relativamente pequenos (entre 20 e 30g de matéria seca/cogumelo); B: ABL2.01 (Fungibras), que produz cogumelos grandes (entre80 e 120g de matéria seca/cogumelo)

A B

Tabela 1. Análise bromatológica de A. blazei (basidiomas fechados e abertos esporulados) em relação a outroscogumelos (dados expressos na base seca)

Linhagem Basidioma Proteína Extrato Minerais Fibra βββββ-glucana(1) Desviobruta etéreo bruta padrão

.......................................%..................................... .............g/100g.............

ABL99/25 Aberto 39,18 3,33 7,59 7,83 0,676 0,052

Fechado 33,40 3,00 7,27 9,71 0,522 0,140

ABL99/26 Aberto 35,03 3,13 7,33 6,93 0,548 0,116

Fechado 35,88 2,75 7,51 8,46 0,473 0.089

ABL99/29 Aberto 28,94 1,95 6,04 11,81 -

Fechado 32,80 2,73 6,54 5,56 0,586 0,129

ABL99/30 Aberto 29,36 1,53 6,84 11,06 0,487 0,043

Fechado 33,71 2,89 7,09 6,14 0,398 0,073

ABL99/28 Fechado - - - - 4,00(2) 1,58

POS560 Aberto 23,28 2,56 7,05 10,86 0,413 0,030

LE96/17 Aberto 19,49 3,50 4,40 12,39 0,212 0,003

LE96/17 Aberto - - - - 5,39 (2) 1,29

(1)Condições experimentais: liquenase, 10U, 60min a 45oC; β-glucosidase, 0,8U, 30min a 45oC.(2)Método enzimático indireto para determinação de βββββ-glucanas, pela diferença entre o açúcar total e o açúcar livreobtido pela hidrólise dos polissacarídeos de ligações ααααα.Nota: ABL = A. blazei; POS = Pleurotus ostreatus.

LE = Lentinula edodes.- = amostras não analisadas.

Fonte: Bach, E.E., 1999, citado por Eira, 2003.

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usados no cultivo do Pleurotus spp.e L. edodes, respectivamente.

Tecnologia de cultivo doA. blazei

Para averiguar o efeito dascamadas de cobertura na produ-tividade, utilizou-se inicialmente amesma formulação de substrato (C/N::33/1) e os processos de compos-tagem, pasteurização e condicio-namento análogos aos utilizados nocultivo do “champignon” (VanGriensven, 1988, citado por Eira,2003). Verificou-se que as coberturasà base de turfas e xisto (Figura 3A)podem dobrar a produtividade do A.blazei (de 10% para 20% em baseúmida), em relação à cobertura coma mistura de terra (70%) e carvão(30%) (Figura 4). Observou-setambém produtividade menor nocultivo em condições de campocomparado ao cultivo em condiçõescontroladas (Figura 5).

Por outro lado, ao contrário doque se preconizava, as produtivi-dades obtidas em composto comrelações C/N iniciais muito largas(150/1) foram estatisticamentesuperiores às obtidas com formu-lações próximas às utilizadas nocultivo do A. bisporus (C/N entre33/1 e 40/1), conforme dados apresen-tados na Figura 3C. Estes resultadosabrem uma futura e econômica opçãode trabalho com Fases I e II maiscurtas (compostagem, pasteurizaçãoe condicionamento do composto) emaior competitividade do A. blazeinas Fases III a V (colonização,cobertura e frutificação).

Outro aspecto importanterelatado na Figura 3C (à direita)refere-se à densidade de compostopor superfície de cultivo, verificando-se maior produtividade com adensidade de 20kg de compostoúmido/m2 de superfície de cultivo,principalmente em ambientesrústicos ou com alta incidência depragas.

Deve-se observar ainda na Fi-gura 3C que a produtividade foisignificativamente reduzida com aincorporação de farelo de soja nocomposto já colonizado pelo A. blazei,ao contrário do que acontece com aalta tecnologia de cultivo do“champignon” (Van Griensven, 1988,citado por Eira, 2003). Como causaindireta, observou-se maior infes-

Figura 2. Sujidades na colheita comprometem a qualidade sanitária doscogumelos caso a lavagem e secagem não sejam adequadas

B

C

D

Figura 3. (A) Efeito de camadas de cobertura; (B) ambiente de cultivo elinhagens; (C) relações C/N, densidade de composto/m2 de superfície decultivo (DC20 = 20kg/m2; DC40 = 40kg/m2 e DC60 = 60kg/m2) e adubaçãodo composto colonizado com farelo de soja (FS zero e FS 1%), naprodutividade do Agaricus blazei em grama de cogumelo fresco/kg desubstrato úmido; (D) germinação de esporos da falsa trufa (%), submetidosa tratamento térmico. Colunas seguidas de mesma letra não diferemestatisticamente entre si (Kruskal-Wallis para p < 0,05)

0 20 40 60 80

100 120 140 160 180 200 220 g/ kg

ABL99/26 ABL99/29

Xisto Terra + carvão Turfa IAC Turfa SC

A

0 20 40 60

160

CAMPO ESTUFA

ABL97/11 ABL99/25 ABL99/28 ABL99/29 ABL99/30

0 20 40 60 80

100 120 140 160 180 200 220

C/N 150 C/N 40 DC20 DC40 DC60

FS zero FS 1%

a a

b a a a

b b

ab

b b

a

b ab

b b

c c

a a

b c

a a b b b

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d d d c c d

b b c

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10 20 30 40 50 60

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h

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/2h

60o C

/4h

0 20 40 60 80

100 120 140 160 180 200 220

g/kg

ABL99/26 ABL99/29

Xisto Terra + carvão Turfa IAC Turfa SC

80 100 120 140

g/kg

CAMPO ESTUFA

ABL97/11 ABL99/25 ABL99/28 ABL99/29 ABL99/30

0 20 40 60 80

100 120 140 160 180 200 220

g/kg

C/N 150 C/N 40 DC20 DC40 DC60

FS 1%

a a

b a a a

b b

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b b

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A

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tação de moscas das famílias Scia-ridae e Phoridae nos tratamentosadubados (pragas de difícil controleno cultivo do A. blazei, levando aperdas entre 10% e 50%, segundoEira, 2003).

A indução da frutificação pelocontrole das variáveis climáticastambém incrementa e concentra aprodutividade do A. blazei em fluxosbem definidos. Ocorre quando, a um

período de 15 a 20 dias de calor(temperatura ambiente variandoentre 20 e 30oC e o composto entre25 e 27oC), segue-se uma regaabundante com abaixamento datemperatura ambiente, entre 17 e19oC (composto a 19oC), durante trêsa cinco dias (período frio), seguidonovamente pela elevação datemperatura ambiente, entre 20 e30oC (composto a 26oC em média),

Figura 4. Frutificação da linhagem ABL99/29 em camada de cobertura àbase de 50% de terra de barranco, 25% de munha de carvão vegetal e 25% deturfa de Santa Catarina

Figura 5. Frutificação da linhagem ABL1.02 em condições de campo noquarto fluxo. A produtividade é menor pois depende do ambiente, mas oscogumelos são maiores e de melhor aspecto

durante 15 a 20 dias, e aeraçãoprofusa (teor de CO2 abaixo de400ppm), segundo Eira (2003) (Fi-gura 6).

Em contraposição, a produtivi-dade pode ser drasticamentereduzida por problemas sanitáriosde doenças e pragas, principalmentea falsa trufa (95% a 100%) e asmoscas Sciaridae e Phoridae (10% a50%). Uma variação da tecnologiaque pode abrandar os problemassanitários e do ambiente de cultivoé a adoção de menor densidade decomposto/m2 (Figura 3C), que deveráser de 20 a 30kg de composto úmido/m2 de superfície de cultivo, paraambientes rústicos e quandoocorrem ou ocorreram essesproblemas sanitários e de pragas.Por outro lado, em ambientestecnificados e com baixa incidênciade pragas e doenças, deve-se optarpor densidades entre 50 e 60kg decomposto/m2 (Eira, 2003).

Um dos problemas sanitáriosmais graves do cultivo do A. blazeifoi estudado por Nascimento & Eira(2003) no tocante à etiologia econtrole da falsa trufa (Diehliomycesmicrosporus), que pode reduzir aprodutividade em mais de 95%. Asprincipais descobertas foram queesse fungo não sobrevive àtemperatura de pasteurização docomposto e da camada de cobertura,que é de 62oC, por 4 horas e quetemperaturas ao redor de 50oCestimulam ou quebram a dor-mência dos esporos do fungocompetidor, que pode inibircompletamente o crescimento docogumelo no composto malpasteurizado (Figura 3D). Estatemperatura ao redor de 50oC ocorreem regiões do pasteurizador comsistema de ventilação mal calculado(abaixo de 200m3/t de composto epor hora), criando regiões nopasteurizador onde o ar não circula.O problema vem se alastrando emSão Paulo e Estados vizinhos, pelaaquisição de composto contaminadoproveniente de fornecedores debaixo nível tecnológico (Nascimento,2003).

As moscas das famílias Sciaridaee Phoridae (prejuízos entre 10% e50% na produtividade), ácaros enematóides (perdas ainda nãodeterminadas) são os principaisproblemas de pragas no cultivo doA. blazei.

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Agradecimentos

À Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo –Fapesc – pelas bolsas concedidas eauxílio ao projeto temático “Cogu-melos Comestíveis e Medicinais:Tecnologia de Cultivo, Caracte-rização Bioquímica e EfeitosProtetores dos cogumelos Agaricusblazei Murrill e Lentinula edodes(Berk) Pegler”.

Literatura citada

1. COLAUTO, N.B.; DIAS, E.S.;GIMENES, M.A.; EIRA, A.F. Geneticcharacterization of isolates of thebasidiomycete Agaricus blazei by rapd.

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2. DELMANTO, R.D.; ALVES DE LIMAP.L.; SUGUI, M.M.; EIRA, A.F.;SALVADORI, D.M.F.; SPEIT, G.;RIBEIRO, L. R. Antimutagenic effect ofAgaricus blazei Murrill mushroom onthe genotoxicity induced bycyclophosphamide. Mutation Research-environmental Mutagenesis AndRelated Subjects, Amsterdam, v.496,p.15-21, 2001.

3. EIRA, A.F. Cultivo do cogumelomedicinal Agaricus blazei (Murrill) ss.Heinemann ou Agaricus brasiliensis(Wasser et al.). Viçosa: Ed. AprendaFácil, 2003. 398p.

Figura 6. Efeito da alternância de temperatura na indução de fluxos defrutificação do Agaricus blazei (= A. brasiliensis): variações da tempe-ratura do ar e do composto (oC) e produtividade média (g/kg),monitoradas a cada 15 minutos em câmara de cultivo controlada, nostestes de densidade de composto de 20, 40 e 60kg/m2 de superfície decultivo, e suplementação do composto colonizado (farelo de soja). (A)vários fluxos de indução e (B) apenas um fluxo de indução em detalhe

4. HEINEMANN, P. Agarici Austro-americani. VIII. Agariceae des régionsintertropicales d’Amérique du Sud.Bull. Jard. Bot. Nat. Belg./Bull. Nat.Plantentuin Belg. v.62, p.355-384,1993.

5. MIZUNO, T.; SAITO, H.; NISHITOBA,T.; KAWAGISHI, H. Antitumor-activesubstances from mushrooms. FoodReviews International, v.11, n.1, p.23-61, 1995.

6. NASCIMENTO, J.S. Etiologia, controlee demanda de energia na prevenção dafalsa trufa em cultivos de Agaricusblazei. 2003. 111P. Tese (Doutorado emAgronomia/Energia na Agricultura) –Faculdade de Ciências Agronômicas,Universidade Estadual Paulista,Botucatu, SP.

7. NASCIMENTO, J.S.; EIRA, A.F.Occurrence of the False Trufle(Diehliomyces microsporus Gilkey) andDamage on the HimematsutakeMedicinal Mushroom (Agaricusbrasiliensis S. Wasser et al.). Intern. J.Medicinal Mushrooms, v.5, n.1, p.87-94, 2003.

8. ROSA, D.D.; PETTINELLI NETO, A.;CELSO, P.G.; EIRA, A.F. Exame econtrole bacteriológico em amostras docogumelo Agaricus blazei com vistas aoseu uso nutracêutico. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA,20., 1999, Salvador, BA. Resumos...,Salvador, BA: SBM/Finep/Fiocruz/CNPq, 1999. p.381.

9. TEREZAN, A.P. Metabolismo secun-dário dos fungos comestíveis emedicinais Agaricus blazei e Lentinusedodes: análises comparativas delinhagens e biodegradação de lignina.2002. 136f. Dissertação (Mestrado emQuímica, na área de concentraçãoQuímica Orgânica), UniversidadeFederal de São Carlos, São Carlos, SP.

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0

5

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Efeito da limpeza de vírus sobre a produtividadeEfeito da limpeza de vírus sobre a produtividadeEfeito da limpeza de vírus sobre a produtividadeEfeito da limpeza de vírus sobre a produtividadeEfeito da limpeza de vírus sobre a produtividadede alho em Caçadorde alho em Caçadorde alho em Caçadorde alho em Caçadorde alho em Caçador, SC, SC, SC, SC, SC

Siegfried Mueller1, Renato Luís Vieira2 eJosé Biasi3

qualidade fisiológica e sani-tária do alho-semente cons-titui um fator fundamental

para o sucesso da cultura do alho.A qualidade fitossanitária é um

dos fatores responsáveis pela baixaprodutividade brasileira de alho, queé de 6,4t/ha (IBGE, 2001).Conforme o Instituto Cepa/SC(1995), aumentos em produtividadee na qualidade do alho podem seralcançados, entre outras técnicas,pela utilização de sementes de boaqualidade sanitária e com altapureza genética. A escolha corretada cultivar e das demais tecnologiasempregadas na lavoura de alhopodem não ter o efeito desejadoquando o alho-semente estivercontaminado por agentes infeccio-sos, entre os quais os vírus.

Sabe-se que a presença de vírusnas plantas ocasiona uma série dedistúrbios nas funções da célula,afetando principalmente a síntese deproteínas e, conseqüentemente, afotossíntese, além do transporte deassimilados, ação de hormônios eredução da produção (Gibbs &Harrison, 1979). A infecção viral emalho é normalmente causada por umcomplexo viral. A maioria dos testessorológicos realizados no Brasilrevelam a presença dos PotyvirusOYDV-G (“Onion yellow dwarfvirus”) e LYSV (“Leek yellow stripevirus”) e do Carlavirus GCLV(“Garlic common latent virus”),sendo os pulgões os principais

vetores desses vírus (Fajardo et al.,2001).

A biotecnologia tornou-se umimportante instrumento para amelhoria da qualidade do alho-semente pois, por meio da culturade meristemas associada à termo-terapia, é possível obter propágulosde alta qualidade sanitária. Estudosrealizados em vários locais domundo evidenciaram que a elimi-nação de alguns vírus pela culturade meristema tem proporcionadoaumentos significativos no vigorvegetativo (Walkey & Antill, 1989;Resende et al., 1995), na produ-

tividade e na qualidade dos bulbos(Garcia et al., 1994; Resende et al.,1995) (Figura 1). Em adição, Walkeyet al. (1987) constataram que o usode alho-semente livre de víruspromove aumento na produtividadeque pode variar entre 20% e 80%em relação ao uso de uma mesmasemente infectada.

Objetivou-se com este trabalhodeterminar para as condições doPlanalto Catarinense o efeito naprodutividade total e comercial debulbos em seis cultivares de alholivre de vírus, provenientes dacultura de meristema.

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., M.Sc., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2011, fax: (49) 3561-2010, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Rua Fagundes Varela, 577/01, 82520-040 Curitiba, PR, fone: (41) 3264-7195 e (41) 9985-9333, e-mail: [email protected].

Figura 1. Bulbos de alho-semente livre de vírus provenientes da cultura demeristema

A

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Metodologia

As avaliações de cultivares dealho livre de vírus foram realizadasna Epagri/ Estação Experimental deCaçador nas safras 1998/99, 1999/00, 2000/01 e 2001/02, a partir dosexperimentos de “Introdução eavaliação de cultivares de alhotardio”. Nestes experimentos foramestudadas as cultivares Caçador 30,Chonan Takashi, Contestado eQuitéria 595, nas safras 1998/99 e1999/00. Nas safras 2000/01 e 2001/02 foram incluídas as cultivaresCaçador 40 e Jonas. Todas tiveramo alho-semente proveniente decultura de meristema e propagadopelo método tradicional. Oespaçamento de plantio foi de 25cmentre fileiras e de 10cm entreplantas, utilizando-se bulbilhos-semente de 3g. Os materiaisprovenientes de cultura demeristema foram obtidos a partir declones selecionados pelo métodomassal, realizado na Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador. A limpezade vírus pela cultura de meristemafoi realizada nos anos de 1988 a 1994pela Embrapa Fruteiras de ClimaTemperado, Pelotas, RS.

A correção e adubação do soloforam realizadas de acordo com asOrientações Técnicas paraProdução de Alho em Santa catarina(Epagri, 2002).

Resultados

A porcentagem de acréscimo, emtermos de peso de bulbos, dos clonesprovenientes de cultura demeristema (Figura 2), em relaçãoaos propagados pelo métodotradicional, foi sempre positiva,variando de 9,5% a 44,6% parabulbos comerciais e de 10,1% a

Figura 2. Lavoura de alho-sementelivre de vírus

Tabela 1. Produtividade comercial de bulbos de cultivares de alho com esem limpeza de vírus e porcentagem de acréscimo devido àquele fator nassafras 1998/99 e 1999/00

Produção comercial de bulbos

Safra 1998/99 Safra 1999/00Cultivar

Incre- Incre-SLV(1) CLV(2) mento SLV(1) CLV(2) mento

do CLV do CLV

.......kg/ha....... % ........kg/ha....... %

Caçador 30 6.700 8.100 20,9 9.900 13.000 31,3

Chonan Takashi 6.500 7.700 18,5 11.000 13.500 22,7

Contestado - - - 11.000 14.600 32,7

Quitéria 595 6.300 8.100 28,6 11.800 15.300 29,7

Média 6.500 7.967 22,6 10.925 14.100 29,1

(1)Sem limpeza de vírus.(2)Com limpeza de vírus.

Tabela 2. Produtividade comercial de bulbos de cultivares de alho com esem limpeza de vírus e porcentagem de acréscimo devido àquele fatornas safras 2000/01 e 2001/02

Produção comercial de bulbos

Safra 2000/01 Safra 2001/02Cultivar

Incre- Incre-SLV(1) CLV(2) mento SLV(1) CLV(2) mento

do CLV do CLV

.......kg/ha....... % ........kg/ha....... %

Caçador 30 11.367 14.243 25,3 6.808 7.457 9,5

Caçador 40 11.678 15.830 35,6 9.485 10.383 9,5

Chonan Takashi 11.190 12.678 13,3 8.007 8.887 11,0

Contestado 10.837 13.538 24,9 9.553 10.808 13,1

Jonas 12.310 13.733 11,6 8.672 12.542 44,6

Quitéria 595 11.420 13.772 20,6 9.018 12.395 37,4

Média 11.467 13.966 21,8 8.591 10.412 21,2

(1)Sem limpeza de vírus.(2)Com limpeza de vírus.

40,2% para produção total (Tabelas1, 2, 3 e 4). Estes resultados mos-tram que a limpeza de vírus refletiuno aumento da produtividade debulbos de alho, o que é concordantecom Walkey et al. (1987).

Na safra 2001/02 (Tabelas 2 e 4)houve discrepâncias consideráveisentre a produção comercial e total,respectivamente; os clones Jonas eQuitéria responderam com maiores

acréscimos na produtividade àlimpeza de vírus (35,1% a 44,6%),enquanto os clones Caçador 30,Caçador 40, Chonan Takashi eContestado tiveram menoresíndices (9,5% a 14,1%). Isto mostraque nem sempre os acréscimosdevido à limpeza de vírus sãouniformes entre os clones. Mori(1977) ressalta que a cultura demeristema não garante a exclusão

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Tabela 3. Produtividade total de bulbos de cultivares de alho com e semlimpeza de vírus e porcentagem de acréscimo da produtividade devido àlimpeza de vírus nas safras 1998/99 e 1999/00

Produção total de bulbos

Safra 1998/99 Safra 1999/00Cultivar

Incre- Incre-SLV(1) CLV(2) mento SLV(1) CLV(2) mento

do CLV do CLV

.......kg/ha....... % ........kg/ha....... %

Caçador 30 6.700 8.100 20,9 10.200 13.400 31,4

Chonan Takashi 6.500 7.700 18,5 11.000 13.900 26,4

Contestado - - - 11.100 15.300 37,8

Quitéria 595 6.300 8.100 28,6 12.300 15.300 24,4

Média 6.500 7.967 22,6 11.150 14.475 29,8

(1)Sem limpeza de vírus.(2)Com limpeza de vírus.

Tabela 4. Produtividade total de bulbos das cultivares de alho com e semlimpeza de vírus e porcentagem de acréscimo da produtividade devido àlimpeza de vírus nas safras 2000/01 e 2001/02

Produção total de bulbos

Safra 2000/01 Safra 2001/02Cultivar

Incre- Incre-SLV(1) CLV(2) mento SLV(1) CLV(2) mento

do CLV do CLV

.......kg/ha....... % ........kg/ha....... %

Caçador 30 11.713 14.857 26,8 7.922 8.735 10,3

Caçador 40 12.375 16.337 32,0 9.688 10.907 12,6

Chonan Takashi 11.905 13.130 10,3 8.257 9.092 10,1

Contestado 10.953 14.870 35,8 9.618 10.970 14,1

Jonas 13.010 14.785 13,6 9.192 12.888 40,2

Quitéria 595 11.823 13.810 16,8 9.228 12.465 35,1

Média 11.963 14.632 22,3 8.984 10.843 20,7

(1)Sem limpeza de vírus.(2)Com limpeza de vírus.

completa de vírus, pois alguns delespodem estar presentes neste tecido.Essa desuniformidade tambémpode estar relacionada a outrosfatores como a nutrição de plantas,genótipos não-responsivos, fatoresclimáticos e ação de outros orga-nismos nocivos a essa espécie.

Consideração final

A limpeza de vírus no alho-semente proporciona aumentosna produtividade das cultivares dealho Caçador 30, Caçador 40,Chonan T, Contestado, Jonas eQuitéria.

Literatura citada

1. EPAGRI. Orientações técnicas para aprodução de alho em Santa Catarina.Florianópolis, 2002. 54p. (Epagri.Sistemas de Produção, 42).

2. FAJARDO, T.V.M.; NISHIJIMA, M.;BUSO, J.A.; TORRES, A.C.; ÁVILA,A.C.; RESENDE, R.O. Garlic viralcomplex: Identification of Potyvirusesand Carlaviruses in Central Brazil.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.26,n.3, p.619-626, set. 2001.

3. GARCIA, D.C.; DETTMANN, L.A.;BARNI, V.; RIBEIRO, N. Resposta doalho à adubação com boro, zinco e cobre.Hortisul, Pelotas, v.3, n.1, p.20-25, 1994.

4. GIBBS, A; HARRISON, B. PlantVirology: the principles. New York:Buffer and Turner, 1979. 292p.

5. IBGE 2001. Banco de Dados Agregados.Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov .br /bda / tabe la / l i s tab l .asp?c=522&z=t&o=1 . Acesso em 20 de fev. de2004.

6. INSTITUTO CEPA-SC. Alho.Florianópolis, 1995. 114p. (InstitutoCepa-SC. Estudo de economia emercado de produtos agrícolas, 3).

7. MORI, K. Localization of viruses inapical meristems and production ofvirus-free plants by means of meristemand tissue culture. Acta Horticulturae,Hague, v.78, p.386-396, 1977.

8. RESENDE, F.V.; SOUZA, R.J.;PASQUAL, M. Comportamento emcondições de campo de clones de alhoobtidos por cultura de meristemas.Horticultura Brasileira, Brasília, v.13,n.1, p.44-46, 1995.

9. WALKEY, D.G.A.; WEBB, M.J.W.;BOLLAND, C.J. Production of virusfree garlic (Allium sativum L.) andshallot (A. scalonicum L.) by meristem– tip culture. European Journal ofHorticultural Science, Stuttgart, v.62,n.2, p.211-220, 1987.

10.WALKEY, D.G.A.; ANTILL, D.N.Agronomic evaluation of virus-free andvirus-infected garlic (Allium sativumL.). European Journal of HorticulturalScience, Stuttgart, v.64, n.13, p.53-60,1989.

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RRRRRegistro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noegistro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noegistro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noegistro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noegistro da ocorrência de ferrugem asiática da soja noPlanalto Norte Catarinense – safra 2004/05Planalto Norte Catarinense – safra 2004/05Planalto Norte Catarinense – safra 2004/05Planalto Norte Catarinense – safra 2004/05Planalto Norte Catarinense – safra 2004/05

Gilson José Marcinichen Gallotti1 eAlvadi Antônio Balbinot Junior2

planta de soja [Glycine max(L.) Merril] pode ser infec-tada por mais de uma

centena de patógenos, mas aferrugem asiática, causada pelofungo Phakopsora pachyrhizi H.Sydow & Sydow, sempre foiconsiderada por especialistas comouma das mais importantes (Yorinoriet al., 2003b). A ferrugem da sojafoi relatada pela primeira vez noBrasil no final da safra 2000/01(Yorinori et al., 2002). Na safraseguinte, 2001/02, a doença foiconstatada nos Estados do RioGrande do Sul, Paraná, São Paulo,Mato Grosso, Mato Grosso do Sul eGoiás (Andrade & Andrade, 2002).Atualmente já se encontradisseminada em grande parte doterritório nacional, causando sériosprejuízos devido às perdas emprodutividade e qualidade de grãos.

O objetivo deste trabalho foidetectar a data de início deocorrência da ferrugem asiática naRegião do Planalto Norte Catari-nense e a relação entre a incidênciae o estádio fenológico da soja.

Sintomatologia

Os primeiros sintomas daferrugem aparecem, normalmente,nas folhas do estrato inferior dodossel. São caracterizados porminúsculos pontos (no máximo1mm de diâmetro) mais escuros doque o tecido sadio da folha, comcoloração esverdeada a cinza-

esverdeada, que gradualmenteaumentam de tamanho, tornando-se cinza, castanho ou marrons. Umavez localizado o ponto suspeito deve-se confirmar com uma lupa de pelomenos 20 vezes de aumento, ou comum microscópio estereoscópico,observando a face abaxial da folha.A presença de urédias confirmaráa doença. Inicialmente, as urédiasse apresentam como uma minús-cula protuberância semelhante auma bolha, de coloração castanho-clara. Posteriormente, a protube-rância adquire coloração castanho-clara a castanho-escura, abre-seentão um minúsculo poro, que liberaos uredósporos (Figura 1) (Soja...2004; Yorinori et al., 2003b). Com aevolução da doença ocorre o

amarelecimento foliar e a coales-cência das lesões, que podem ocuparáreas extensas da folha. Por fim, asfolhas infectadas caem precoce-mente (Figura 2), há redução dafotossíntese e, conseqüentemente,da produtividade. Quanto mais cedoocorrer a desfolha, menor será otamanho e o número médio de grãospor vagem, refletindo-se negativa-mente sobre a produtividade dacultura.

Em casos severos, quando adoença atinge a soja na fase deformação das vagens ou no início dagranação, pode haver queda devagens. Uma vez detectada aferrugem na região, as vistorias naslavouras devem ser intensificadas(três a quatro vezes por semana),

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, fax: (47)3624-1079, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

A

Figura 1. Urédias na face abaxial da folha, sinal característico da ferrugemasiática, vistas com lente de aumento (20 vezes)

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54 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

principalmente em lavouras noinício da fase de floração, nosplantios mais tardios e nascultivares de ciclos médios e longos.

Perdas na produção

As perdas na produção sãobastante variáveis. Foramregistradas perdas em vários países(Yorinori, 2003), quais sejam: Índia(10% a 90%), Tailândia (10% a 40%),China (10% a 50%), Taiwan (23% a90%) e Japão (40%). No Brasil, nasafra 2001/02, as maiores perdas derendimento variaram de 30% a 75%.Em estudos conduzidos por Gallottiet al., (2004) na Região do PlanaltoNorte Catarinense, município dePapanduva, SC, safra 2003/04, aperda foi de 41% na produçãoquando a infecção ocorreu no inícioda fase de enchimento dos grãos eas condições ambientais foramfavoráveis ao desenvolvimento dadoença.

Condições favoráveis aodesenvolvimento dadoença

A ferrugem asiática da soja pode

ser uma doença muito severanas regiões mais chuvosas ealtas dos cerrados e na RegiãoSul onde há abundanteformação de orvalho no verão(Yorinori et al., 2003a).

Na Região do PlanaltoNorte Catarinense, duranteo verão, ocorrem tempera-turas amenas, orvalho delonga duração e chuvasfreqüentes. Por isso consi-dera-se a região favorávelpara o desenvolvimento dadoença. Segundo Silva (2002),Andrade & Andrade (2002) eYorinori et al (2003b), estadoença é favorecida portemperaturas entre 18 e 26oCe período de molhamentofoliar de no mínimo 6 horas,sendo o ideal acima de 10horas. Período quente (acimade 30oC) e de pouca umidadeé desfavorável ao desenvol-vimento da ferrugem asiá-tica.

Ocorrência naRegião do Planalto

Norte Catarinense nasafra 2004/05

Foram recebidas e analisadas(via observação das urédias commicroscópio estereoscópico) noLaboratório de Fitossanidade daEpagri/Estação Experimental deCanoinhas 146 amostras de sojacom suspeita de ferrugem asiática,no período de 2/1/2005 a 15/3/2005.As amostras foram provenientes deoito municípios: Canoinhas (66amostras), Papanduva (32amostras), Bela Vista do Toldo (18amostras), Major Vieira (12amostras), Mafra (10 amostras),Itaiópolis (4 amostras), Três Barras(3 amostras) e Irineópolis (1amostra). Destas, 51 estavaminfectadas por Phakopsorapachyrhizi (Tabela 1).

Em vistorias a campo durante operíodo vegetativo da soja nãoforam detectadas lavouras comferrugem asiática nesta fase dedesenvolvimento da cultura. Asprimeiras amostras com incidênciade ferrugem asiática foramdiagnosticadas no dia 18/1/2005, eapós esta data a incidência dadoença nas lavouras de sojaaumentou gradativamente.

Entre as amostras diagnosti-cadas com a ferrugem asiática(Tabela 1) no mês de janeiro/05,46,9% estavam no estádio R2 (plenafloração); no mês de fevereiro/05,49,6% estavam no estádio R3 (iníciode formação de vagens); e naprimeira quinzena do mês demarço/05, 66,6% estavam no estádioR4 (formação de vagens completa).Em função desta elevada incidênciajá nos estádios iniciais do períodoreprodutivo da soja, evidencia-se aimportância de um acompanha-mento freqüente nas lavouras desoja, a fim de detectar precoce-mente a incidência da ferrugemasiática, intensificando-se asvistorias já nos estádios iniciais defloração. Uma vez detectada aocorrência na região, as vistoriasdevem ser intensificadas, devido àfacilidade de disseminação do fungo(uredósporos) pelo vento, a longasdistâncias. A incidência da ferrugemasiática nas análises realizadasaumentou com o passar do tempo,sendo detectadas 13 amostras(18,3%) de um total de 71 recebidaspara análise no mês de janeiro/05;32 amostras (46,3%) de um total de69 recebidas no mês de feverei-ro/05 e 6 amostras (100%) nasanalisadas até a primeira quin-zena de março/05, quando adisseminação se generalizou naRegião do Planalto Norte Catari-nense.

Salienta-se que, devido a baixosíndices de precipitação pluvialocorridos na região, principalmentenos meses de fevereiro e até o dia13 de março/05, que foram de49,2mm e zero, respectivamente,as condições de umidade nãofavoreceram o desenvolvimento(severidade) da doença na maioriadas lavouras acompanhadassemanalmente, estando o fungopresente mas com baixo progressoda doença. Sendo assim, com oauxílio do monitoramento, em anoscom baixos índices de precipitaçãopluvial e pouco orvalho, hápossibilidade de se reduzir ou atéeliminar as aplicações de fungicidaspara o controle da ferrugemasiática.

Agradecimentos

Os autores agradecem à BayerCropScience pela parceria e

Figura 2. Sintomas de amarelecimentofoliar e queda prematura das folhas

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5555Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Tabela 1. Número e porcentagem de plantas com ferrugem asiática(Phakopsora pachyrhizi), em relação ao estádio fenológico da cultura dasoja, registrados pelo Laboratório de Fitossanidade da Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas, na Região do Planalto Norte Catarinense,nos meses de janeiro, fevereiro e primeira quinzena de março/2005

Estádio Mês

fenológico(1)

Janeiro Fevereiro Março

No(2) % No(2) % No(2) %

R1 - - 1 3,1 - -

R2 10 76,9 3 9,4 - -

R3 2 15,4 15 46,9 - -

R4 - - 7 21,9 4 66,6

R5.1 1 7,7 4 12,5 1 16,7

R5.2 - - 1 3,1 1 16,7

R5.5 - - 1 3,1 - -

Total 13 100 32 100 6 100

(1)Estádios fenológicos: R1 = ínício da floração; R2 = floração completa;R3 = início da formação de vagens (com 5mm); R4 = formação de vagenscompleta (com 2cm); R5.1 = grãos perceptíveis ao tato a 10% de granação;R5.2 = maioria das vagens com granação de 10% a 25%; R5.5 = maioriadas vagens entre 75% e 100% de granação.(2)Número de amostras com ferrugem asiática.Fonte: Richie et al. (1982), adaptado por Yorinori (1996), citado por Juliattiet al. (2003).

patrocínio das análises fitopa-tológicas (Projeto SOS Soja).

Literatura citada

1. ANDRADE, P.J.M.; ANDRADE, D.F. deA.A. Ferrugem asiática: uma ameaça asojicultura Brasileira. Dourados:Embrapa Agropecuária Oeste, 2002.

11p. (Embrapa Agropecuária Oeste.Circular Técnica, 11).

2. GALLOTTI, G.J.M.; TÔRRES, A.N.L.;BALBINOT JR., A.A.; BACKES, R.L.Severidade e controle da ferru-gem asiática na cultura da soja.Agropecuária Catarinense, Florianó-polis, v.17, n.3, p.54-57, nov. 2004.

3. SILVA, O.C. da. Ferrugem asiática anova e grande ameaça. Revista Batavo,v.9, n.116, p.38-42, 2002.

4. JULIATTI, F.C.; BORGES, E.N.;PASSOS, R.R.; CALDEIRA JÚNIOR,J.C.; JULIATTI, F.C.; BRANDÃO, A.C.Doenças da soja. Cultivar, n.47, 2003.(Encarte técnico).

5. SOJA: o avanço da ferrugem asiáticapreocupa. Correio Agrícola, São Paulo,n.2, p.2-7, 2004.

6. YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.;COSTAMILAN, L.M.; BERTAGNOLI,P.F. Ferrugem da soja: identificação econtrole. Londrina: Embrapa Soja,2003a. 25p. (Embrapa Soja.Documentos, 204).

7. YORINORI, J.T. Soja: Ferrugemasiática doença recente e preocupante.Correio Agrícola, n.1, p.16-21, 2003.

8. YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.;COSTAMILAN, L.M.; BERTAGNOLI,P.F. Ferrugem da soja (Phakopsorapachyrhizi): identificação e controle.Informações Agronômicas, n.104,p.5-8, 2003b.

9. YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.;COSTAMILAN, L.M.; BERTAGNOLI,P.F. Ferrugem da soja (Phakopsorapachyrhizi): no Brasil e no Paraguai,nas safras 2000/01 e 2001/02. In:CONGRESSO BRASILEIRO DESOJA, 2.; MERCOSOJA 2002, 2002, Fozdo Iguaçu, PR. Perspectivas doagronegócio da soja. Resumos...Londrina: Embrapa Soja, 2002. p.94.(Embrapa Soja. Documentos, 180).

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Danos e insetos em frutos de caquizeiro emDanos e insetos em frutos de caquizeiro emDanos e insetos em frutos de caquizeiro emDanos e insetos em frutos de caquizeiro emDanos e insetos em frutos de caquizeiro empomares da Serra Gaúchapomares da Serra Gaúchapomares da Serra Gaúchapomares da Serra Gaúchapomares da Serra Gaúcha 1 1 1 1 1

Alvimar Bavaresco2, Marcos Botton3,Mauro Silveira Garcia4 e Aline Nondillo5

Serra Gaúcha, região geogra-ficamente conhecida comoEncosta Superior do Nor-

deste do Estado do Rio Grande doSul, é a principal produtora de frutasde mesa do Estado. Nos últimosanos, o caquizeiro (Diospyros kakiL.) tem despertado o interesse dosfruticultores, sendo hoje a quintafrutífera na região (Emater-RS/Ascar, 2002).

Tradicionalmente, o caquizeiroé considerado uma cultura rústica,sendo comparativamente menossuscetível a insetos-praga erequerendo menos tratamentosfitossanitários em relação às demaisfrutíferas cultivadas na região.Entretanto, nos últimos anos, aincidência de pragas no caquizeirotem aumentado. A maioria dosprodutores desconhece os danos eas pragas e, dessa forma, não realizao controle, aumentando os prejuízose comprometendo a qualidade dosfrutos. Este trabalho teve porobjetivos verificar as pragasassociadas a injúrias em frutos decaquizeiro na Serra Gaúcha edeterminar a porcentagem depomares afetados e de frutosdanificados ou infestados por insetos.

Inspeções no campo

Para avaliar as injúrias provo-cadas por insetos e determinar a

infestação nos frutos de caquizeiro,foram realizadas duas inspeçõesvisuais em 20 pomares da cultivarFuyu em produção, durante a safra2001/02, sendo quatro no municípiode Farroupilha e 16 em BentoGonçalves, RS. As inspeções foramrealizadas durante a maturação/colheita dos frutos, no mês de abrilde 2002. Em cada pomar foraminspecionadas 20 plantas, tomadasaleatoriamente em dez linhas deplantio. Avaliaram-se cinco frutosem ponto de colheita por planta,sendo um no interior da copa e umem cada quadrante da periferia,totalizando cem frutos por pomar.Para as espécies, famílias ou ordensde insetos observadas noslevantamentos, foram calculadas aporcentagem de pomares comocorrência de injúrias ou presençado inseto nos frutos e a porcentagemde frutos danificados. Quando osfrutos apresentavam injúrias pormais de uma espécie, foi feita acontabilização de dano para cadapraga.

O reconhecimento das injúriascausadas pela lagarta-dos-frutosHypocala andremona (Stoll)(Lepidoptera: Noctuidae) e pelostripes (Thysanoptera) foi embasadona descrição de Hickel & Matos(2000) e pela lagarta-das-fruteirasArgyrotaenia sphaleropa (Meyrick)(Lepidoptera: Tortricidae) foi

embasado em Manfredi-Coimbra etal. (2001). A infestação porcochonilhas foi caracterizada pelapresença de insetos nos frutos. Ostripes foram identificados pelodoutor Steve Nakahara, doSystematic Entomology Laboratory,ARS/USDA, e as cochonilhas, peladoutora Vera R. S. Wolff, daFundação Estadual de PesquisaAgropecuária – Fepagro – do RioGrande do Sul.

Danos e insetos associadosaos frutos de caquizeiro

Danos da lagarta-dos-frutos H.andremona e da lagarta-das-fruteiras A. sphaleropa foramobservados em 85% dos pomaresavaliados (Figura 1 - A e B).Entretanto, a porcentagem de frutosdanificados por H. andremona foimaior, atingindo em média 15,9%dos frutos, com variação de 2% a40%. A injúria média de A.sphaleropa foi de 7,4% dos frutos,com variação de 2% a 26%.

Nos estágios iniciais dedesenvolvimento, as lagartas de H.andremona atacam os frutos emformação, raspando a casca na junçãodo fruto com o cálice. Inicialmente ainjúria não é muito perceptível,porém com o desenvolvimento dofruto forma-se uma cicatriz anelarna casca, próximo à região

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Parte da tese de doutorado do primeiro autor.2Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Embrapa Uva e Vinho, C.P. 130, 97045-070 Bento Gonçalves, RS, fone: (54) 3455-8137, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Prof. UFPel/FAEM/DFS, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS, fone: (53) 3275-7388, e-mail: [email protected]êmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Unisinos, São Leopoldo, RS, Embrapa Uva e Vinho, e-mail:[email protected].

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equatorial dos frutos (Figura 2A)(Hickel & Matos, 2000). Os sintomasdo ataque da lagarta-das-fruteirasse caracterizam por cicatrizes naepiderme dos frutos, abaixo daprojeção das sépalas, ou em pontosde contato entre folhas e frutos(Figura 2 - B e C) (Manfredi-Coimbraet al., 2001). Os danos mais severossão observados próximo à colheita,podendo acelerar o processo dematuração dos frutos, além de servircomo porta de entrada parapatógenos. Além disso, a cultivarFuyu apresenta sépalas não aderidasao fruto e, em muitos casos, umadepressão abaixo do cálice (Figura2F), facilitando a instalação daslagartas de A. sphaleropa.

Danos de tripes (Thysanoptera)foram observados em 40% dospomares, atingindo, em média, 9,4%dos frutos (Figura 1C). Nos pomaresem que a praga foi observada, aporcentagem de frutos danificadosvariou de 16% a 42%, com exceçãodo pomar 3, onde se constataramapenas 2% de injúrias (Figura 1C).

Os tripes abrigam-se sob o cálice dosfrutos, onde raspam a epiderme,causando o prateamento da película(Hickel & Matos, 2000) (Figura 2 - De E). Heliothrips haemorrhoidalis(Bouché) (Thysanoptera: Thripidae)foi a espécie predominante nasamostras coletadas em pomares decaquizeiro da Serra Gaúcha. Amesma é citada como praga docaquizeiro na Região Sudeste doBrasil (Gallo et al., 2002) e em outrospaíses produtores (Prestidge et al.,1989; Wysoki, 1999). Além desta,também foram encontrados espé-cimes de Selenothrips rubrocinctus(Giard), Taeniothrips sp. (Thysa-noptera: Thripidae) e Karnyothripssp. (Thysanoptera: Phlaeothripidae),entretanto, com importânciareduzida em relação a H.haemorrhoidalis. Nas regiõesprodutoras do Estado de SantaCatarina é relatada apenas aocorrência de S. rubrocinctus(Hickel & Matos, 2000).

As cochonilhas-farinhentas(Hemiptera: Pseudococcidae) foram

observadas em 45% dos pomares. Ainfestação em frutos de caquizeirofoi relativamente baixa, secomparada com os danos das outraspragas, estando presente apenas em2,7% dos frutos (Figura 1D). Nospomares onde houve ocorrênciadestas cochonilhas, de 2% a 12% dosfrutos estavam infestados. Osespécimes coletados não foramdeterminados. Os pseudococcídeosalojam-se sob as sépalas, próximoao pedúnculo do fruto (Figura 2 - Ge H), sendo que a depressão existen-te em frutos da cultivar Fuyu favo-rece a sua instalação. Lima & RaccaFilho (1996) relatam a ocorrência dePseudococcus adonidum (L.) eDysmicoccus brevipes (Cockerell)(Hemiptera: Pseudococcidae) nacultura do caquizeiro no Brasil. Nasregiões produtoras de caqui de Israele da Nova Zelândia ocorremPlanococcus citri (Risso) e Pseudo-coccus longispinus (Targioni-Tozzetti) (Hemiptera: Pseudo-coccidae), respectivamente, tra-zendo, além dos danos diretos,

Figura 1. Porcentagens médias de frutos danificados ou infestados (X) e de pomares com incidência de danosou infestação por insetos-praga em frutos (P), em 20 pomares de caquizeiro da cultivar Fuyu na Serra Gaúcha.Safra 2001/02

Nota: FA = Farroupilha, RS (pomares 1 a 4); BG = Bento Gonçalves, RS (pomares 5 a 20).

X = 7,4% P = 85%

X = 15,9% P = 85%

X = 9,4% P = 40%

X = 2% P = 20%

X = 2,7% P = 45%

H. andremona

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Figura 2. Sintomas do ataque da (A) lagarta-dos-frutos Hypocala andremona, da (B e C) lagarta-das-fruteirasArgyrotaenia sphaleropa e de (D e E) tripes em frutos de caquizeiro; (F) abertura próxima ao pedúnculo defrutos de caquizeiro da cultivar Fuyu; e infestação por (G e H) cochonilhas-farinhentas (Hemiptera:Pseudococcidae) e (I e J) diaspidídeos (Hemiptera: Diaspididae) em frutos de caquizeiro

A B C

D E F

G H

I J

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limitações quarentenárias eexigência de tratamento pós-colheitapara desinfestação de frutosdestinados à exportação (Rubin etal., 1986; Dentener et al., 1992).

As cochonilhas da famíliaDiaspididae foram observadas em20% dos pomares, infestando, emmédia, 2% dos frutos (Figura 1E). Aporcentagem de frutos infestadosvariou entre 2% e 16% nos pomarescom presença do inseto. As ninfasmóveis de primeiro ínstar disper-sam-se após a eclosão, instalando-se sobre as sépalas ou epiderme dosfrutos, onde permanecem imóveisaté completarem o ciclo biológico(Figura 2 - I e J). A espécie presentenos pomares de caqui da região daSerra Gaúcha foi Aspidiotus neriiBouché (Hemiptera: Diaspididae).Nas regiões produtoras de caqui daNova Zelândia e Estados Unidos asespécies de Diaspididae associadasa frutos de caquizeiro são A. nerii,Hemiberlesia lataniae (Signoret) eHemiberlesia rapax (Comstock)(Tomkins et al., 2000; Mizzel &Brinen, 2003). No Brasil, Hickel &Matos (2000) constataram aocorrência de Chrysomphalus ficus(Ashmead) (Hemiptera: Dispididae)infestando folhas e principalmentefrutos de caquizeiro no Estado deSanta Catarina. O dano provocadopelas cochonilhas decorre da sucçãode seiva nos frutos. Além disso, apresença dos insetos nos frutostambém os deprecia para acomercialização, podendo haverlimitações quarentenárias dos paísesimportadores (Dentener et al.,1992).

Considerações finais

Os resultados deste trabalhopermitiram constatar que danos dalagarta-dos-frutos (H. andremona)

e da lagarta-das-fruteiras (A.sphaleropa) foram os mais freqüentesem frutos de caquizeiro nos pomaresavaliados na safra 2001/02 na regiãoda Serra Gaúcha. Os danos das duasespécies foram observados em maiornúmero de pomares, comintensidade de injúrias próxima ousuperior às outras pragas verificadas.Além das lagartas, as cochonilhas eos tripes, dependendo do manejo dopomar, também podem causar danosexpressivos à produção, além do riscode restrições quarentenárias paraexportação. O método de avaliaçãoutilizado, examinando-se exter-namente os frutos nas plantas antesda colheita, não permitiu identificara presença de mosca-das-frutas noscaquis. Porém, segundo Hickel &Matos (2000), esta praga temimportância secundária na culturado caqui, ocorre em baixa intensi-dade durante o período de matu-ração e infesta apenas os frutosmaduros nas plantas. Segundo estesautores, se a colheita do caqui forfeita no momento adequado, os casosde infestação por mosca-das-frutassão raros.

Literatura citada

1. DENTENER, P.R.; PEETZ, S.M.;BIRTLES, D.B. Modified atmospheresfor the postharvest disinfestations ofNew Zealand persimmons. NewZealand Journal of Crop andHorticultural Science, v. 20, n. 2, p. 203-208, 1992.

2. EMATER-RS/ASCAR. Levantamentoda fruticultura comercial do Rio Grandedo Sul – 2001. Porto Alegre: Emater-RS/Ascar. 2002. 80 p. (Realidade Rural,28).

3. GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRANETO, S.; CARVALHO, R.P.L.;BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.;PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES,

S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI,L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C.Entomologia agrícola. Piracicaba: Fealq,2002. 920p.

4. HICKEL, E.R.; MATOS, C.S. Pragas docaquizeiro e seu controle no Estado deSanta Catarina. Florianópolis: Epagri,2000. 34p. (Epagri. Boletim Técnico,109).

5. LIMA, A.F.; RACCA FILHO, F. Manualde pragas e praguicidas: receituárioagronômico. Rio de Janeiro: Edur, 1996.818p.

6. MANFREDI-COIMBRA, S.; GARCIA,M.S.; BOTTON, M. Exigências térmicase estimativas do número de gerações deArgyrotaenia sphaleropa (Meyrick)(Lepidoptera: Tortricidae). NeotropicalEntomology, v. 30, n. 4, p. 553-557, 2001.

7. MIZZEL, R.F.; BRINEN, G. InsectManagement in Oriental Persimmon.Gainesville: UF/IFAS, 2003. 3p. (ENY-803).

8. PRESTIDGE, R.A.; HOLLAND, P.T.;CLARKE, A.D.; MALCOLM, C.P.Pesticides for use close to and duringharvest of persimmons. In: NEWZEALAND WEED AND PESTCONTROL CONFERENCE, 42., 1989,New Plymouth. Proceedings... Nelson:New Zealand Weed and Pest ControlSociety, 1989. p.195-199.

9. RUBIN, A.; ATZMON, R.; SHABTAY,S. Integrated pest control ofpersimmon. Phytoparasitica, v.14, n.2,p.166-167, 1986.

10. TOMKINS, A.R.; WILSON, D.J.;THOMSON, C.; ALLISON, P. Incidenceof armoured scale insects onpersimmons. In: NEW ZEALANDPLANT PROTECTION CONFE-RENCE, 53., 2000, Christchurch.Proceedings... Palmerston North: NewZealand Plant Protection SocietyIncorporated, 2000. p.211-215.

11. WYSOKI, W. Thysanoptera in Israel.Phytoparasitica, v.27, n.3, p.73-74,1999.

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“Greening”: um novo desafio para“Greening”: um novo desafio para“Greening”: um novo desafio para“Greening”: um novo desafio para“Greening”: um novo desafio paraa citricultura brasileiraa citricultura brasileiraa citricultura brasileiraa citricultura brasileiraa citricultura brasileira

Gustavo de Faria Theodoro1, Luis Antonio Chiaradia2 eJosé Maria Milanez3

citricultura brasileira se des-taca mundialmente pela ex-portação de suco concentrado

de laranja, gerando divisas queultrapassam US$ 1 bilhão por ano.O Brasil também exporta frutas innatura para diversos países (Neveset al., 2001). Em Santa Catarina, aprodução anual de citros é de cercade 150 mil toneladas, sendo umaalternativa econômica principal-mente para os pequenos produtoresrurais que empregam mão-de-obrafamiliar (Almeida, 2005).

Havia duas doenças de etiologiabacteriana que ocorriam em citrosno Brasil, o cancro cítrico, cujoagente causal é a Xanthomonasaxonopodis pv. citri, e a CVC (clorosevariegada dos citros), causada pelaXylella fastidiosa. Em meados de2004, confirmou-se a presença demais uma bactéria incitando doençaem plantas cítricas no Brasil, nasregiões centro e sul do Estado deSão Paulo, causando o ‘‘greening’’(Greening..., 2004). Mundialmente,esta doença também é conhecidacomo “likubin”, HLB (huang-longbing), mosqueado das folhas edegeneração do floema, entre outrosnomes (Graca, 1991).

Pela ameaça que esta novadoença representa para a citricul-tura nacional, em particular àcatarinense, são descritos algunsaspectos concernentes a sua etiolo-gia, sintomatologia e as medidas

para a sua prevenção e manejo.

Etiologia

O agente causal do “greening”está restrito aos tecidos do floemadas plantas e ainda não foi possívelisolar e obter colônias puras emmeios de cultura. Mediante análisede DNA foi confirmado que se tratade uma bactéria da classeProteobacteria, subclasse Alfa e comparede celular Gram negativa. Osisolados bacterianos obtidos naÁfrica foram identificados comoCandidatus Liberibacter africanuse os da Ásia como C. L. asiaticus,diferenciados por meio de sensibi-lidade térmica, sorologia e proprie-dades genômicas (Garnier & Bové,1997).

Os isolados bacterianos, coleta-dos nos pomares paulistas, deplantas apresentando sintomastípicos de “greening”, foram identi-ficados como C. L. asiaticus e umaoutra forma, com 93% desimilaridade com as formas asiáticae africana, foi nomeada como C. L.americanus (Greening..., 2004).

Sintomatologia

O “greening” está presente noContinente Asiático desde o século18, sendo relatado pela primeira vezna África do Sul, em 1937. SegundoGraca (1991), algumas vezes

somente setores da copa das plantasmanifestam sintomas da doença eas perdas são pequenas, mas emoutros casos toda a copa é afetada ea planta sucumbe. Em Araraquara,SP, Bassanezi et al. (2005) dividirama copa de laranjeiras ‘Valência’,enxertadas sobre limão ‘Cravo’, emsetores para avaliar a severidade do“greening” e constataram umaredução de 64% na produtividade deplantas com 27,5% a 60% de áreasafetadas por esta doença. Tambémhouve redução do diâmetro (20%),peso (45%), Brix (20%), índice dematuridade (47%), índice tecno-lógico (26%), da altura (18%) eporcentagem de suco (8%) de frutosde ramos com sintomas de“greening”, em comparação àquelesprovenientes de ramos sadios.

O sintoma inicial do “greening”é notado nas folhas dos ramos egalhos infectados, que apresentamcoloração amarelada em contrastecom o verde das folhas sadias. Asfolhas apresentam amarelecimentopálido, com áreas verdes, formandomanchas irregulares (Figura 1). Adeficiência de zinco e nitrogênio écomum em folhas de ramos doentese, com o avanço da doença, nota-seintensa desfolha e o surgimento desintomas em outros ramos, causan-do a morte de ponteiros. Os frutosdoentes apresentam assimetria,deformação e a presença de filetesalaranjados na região de inserção

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., Dr., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected].

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com o pedúnculo (Figura 2). A partebranca interna da casca das frutas(albedo), em alguns casos, tem umaespessura maior que a de um frutosadio e pode haver maturaçãointerna irregular. Em pomarespaulistas ocorre, esporadicamente,o surgimento de pequenas manchascirculares verde-claras nas cascasdas frutas (Greening..., 2004).

As plantas geralmente apresen-tam mais de uma doença simultanea-mente, havendo interação namanifestação dos sintomas. NasFilipinas, Índia e em Taiwan, plantascítricas com “greening” e tristeza(CTV) desenvolveram sintomas maisseveros nas folhas, causando a suamorte. Outros microrganismos,como Fusarium spp., Colletotrichumgloeosporioides e Diplodianatalienses, podem incrementar ossintomas de “greening” (Graca,1991). Recentemente, Ann et al.(2004) verificaram uma grandeinteração entre Phytophthoraparasitica, agente causal da gomosedos citros, e C. Liberibacter,proporcionando aumento naseveridade de cada doença em funçãoda seqüência em que os patógenosforam inoculados nas diferentesespécies empregadas no experi-mento.

Hospedeiros

O “greening” ocorre principal-

Fonte: Silvio A. Lopes (Fundecitrus – Araraquara, SP).

Figura 1. Amarelecimento de folhas em ramos com “greening”. Contrasteentre (A) setores da copa da planta com sintomas e sadios e (B) manchasde coloração amarela, irregulares, no limbo foliar

mente em laranjeiras-doces (Citrussinensis Osbeck), tangerineiras (C.reticulata Blanco), tangelos (C.sinensis x C. reticulata) e, em menorseveridade, em limoeiros (C. limonBurm.), pomeleiros (C. paradisiMacf.), laranjeiras-azedas (C.aurantium L.), limeiras ácidas (C.latifolia Tanaka) e laranjeirastrifoliatas (Poncirus trifoliata Raf.)(Graca,1991).

Disseminação

Duas espécies de insetos sãoreferidas como responsáveis peladisseminação do “greening”: Trioza

erytreae (Del Guercio) (Hemip-tera, Triozidae) e Diaphorinacitri Kuwayama (Hemiptera,Psyllidae), na África e Ásia,respectivamente (Mead, 2004). Estaúltima espécie, que é conhecida porpsilídeo-dos-citros, ocorre no Brasilhá mais de 60 anos, existindo fortesevidências de que seja o inseto vetorde C. Liberibacter no País. As ninfase adultos deste psilídeo sealimentam da seiva nas brotaçõesdas plantas cítricas, causando oenrolamento e engruvinhamento dasfolhas novas, morte de gemasapicais, além de favorecer odesenvolvimento da fumaginadevido à excreção do “honeydew”(Parra et al., 2003; Yamamoto et al.,2005).

Manejo da doença

O “greening” não foi constatadono Estado de Santa Catarina, masD. citri ocorre nos pomares decitros no Oeste Catarinense, repre-sentando um risco potencial para acitricultura. Para prevenir a intro-dução da doença, é recomendadoadquirir mudas de viveiros prote-gidos com tela antiafídeos, quereduz a possibilidade de estareminfectadas por C. Liberibacter. Alémdisso, recomenda-se evitar aaquisição de mudas provenientes delocais com a ocorrência de“greening” ou exigir um laudo téc-nico comprovando que estão sem abactéria.

No Estado de São Paulo, combase na Instrução Normativa no 10,

Fonte: Silvio A. Lopes (Fundecitrus – Araraquara, SP).

Figura 2. Sintomas de “greening” em frutos. (A) Filetes alaranjados naregião de inserção com o pedúnculo e (B) com desenvolvimento ematuração irregular da polpa

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de 18 de março de 2005, daSecretaria de Defesa Agropecuáriado Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento – Mapa–, está sendo recomendado eliminaras plantas com sintomas de“greening”, independentemente daidade, visando reduzir a fonte deinóculo. Estudos realizados, noBrasil e no exterior, mostraram quecortar os ramos com sintomas,mesmo sendo com uma podadrástica, não foi suficiente paraeliminar o patógeno das plantas(Yamamoto et al., 2005).

Na Ilha Reunião, localizada noOceano Índico a leste deMadagascar, onde 65% das plantasse tornaram improdutivas devido ao“greening”, foi alcançada uma boaeficiência de controle desta doençapor meio de plantios em regiõeslivres da doença, utilizando mudassadias e implementando umprograma de controle biológico doinseto-vetor (Grisoni & Riviére,1997). Esta estratégia resultou naerradicação do “greening” dospomares comerciais daquele local epermitiu o aumento da produção delaranjas e tangerinas.

No Brasil, os agentes naturais decontrole biológico de D. citri aindanão são totalmente conhecidos,embora as larvas de moscas dafamília Syrphidae, larvas e adultosde joaninhas (Coleoptera,Coccinellidae) e de bichos-lixeiros(Neuroptera) atuem como seuspredadores. Recentemente, noEstado de São Paulo, foi constatadaa ocorrência do ectoparasitaTamarixia radiata (Waterson)(Hymenoptera, Eulophidae), que éum dos principais inimigos naturaisdesta praga na sua região de origem(Possibilidade..., 2005).

A vespa T. radiata coloca os seusovos no dorso das ninfas, entre otórax e o abdômen, e as larvas, aoeclodirem, aderem-se aos insetossugando-os até a morte; estes setornam “mumificados” e de cormarrom-escura, mas viabilizam aemergência de novos espécimes doparasitóide. As vespas, ao inseriremseu aparelho ovopositor no corpodos psilídeos, provocam ferimentospor onde extravasa um líquido(hemolinfa) que também serve comoseu alimento. Desta maneira,indiretamente, as vespas acabamprovocando a morte de seu

hospedeiro. Assim, uma únicafêmea, pela alimentação eparasitismo, pode causar a morte demais de 500 espécimes da pragadurante a sua vida (Chen, 2004; Hoyet al., 2004; Mead, 2004).

O monitoramento populacionaldesta praga nos pomares pode serrealizado com armadilhas adesivasde cor amarela, bandejas pintadasde amarelo na parte interna,contendo água e algumas gotas dedetergente, ou inspecionandodiretamente as brotações das plantas(Yamamoto et al., 2005; Chen, 2004).

Não foram realizados estudos noBrasil que indiquem o nível decontrole do psilídeo-dos-citros,embora já existam agrotóxicosregistrados para o seu controle.Estão relacionados inseticidasformulados com o ingrediente ativotiametoxam, nas formulações de 10GR e 250 WG, nas doses de 75 e 3g/planta, aplicados no solo epincelados no tronco, respec-tivamente, e concentrados emul-sionáveis com 50% e 87,5% demalatiom, nas doses de 200 e 150ml/100L de água, respectivamente(Agrofit, 2005).

Literatura citada

1. AGROFIT. Sistema de AgrotóxicosFitossanitários. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br >. Acesso em:06 de jul. de 2005.

2. ALMEIDA, V. G. B. de. Perspectivas devenda de frutas cítricas gaúchas em SãoPaulo. In: CICLO DE PALESTRASSOBRE CITRICULTURA DO RS, 12.,2005, Faxinal do Soturno. Anais... PortoAlegre, 2005. p.93-98.

3. ANN, P.J.; KO, W. H.; SU, H. J.Interactions between Likubinbacterium and Phytophthora parasiticain citrus hosts. European Journal ofPlant Pathology, Dordrecht, v.110, p.1-6, jan. 2004.

4. BASSANEZI, R.B.; BUSATO, L.A.;STUCHI, E.S. Avaliação preliminar dedanos na produção e qualidade de frutosde laranjeira Valência causados pelohuanglongbing em São Paulo. SummaPhytopathologica, Botucatu, v.31, p. 62,2005. (Suplemento)

5. CHEN, C. Ecology of the insect vectorsof citrus systemic diseases and theircontrol in Taiwan. Disponível em:

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10. HOY, A. M.; RU, N.; JEYAPRAKASH,A. IPM and Biological Control in Florida:classical biological control of asian citruspsyllid in Florida. Disponível em: <http://biocontrol . i fas.uf l .edu/ctgysrch/citrus_psyllid.htm>. Acesso em 8 out.2004.

11. MEAD, F.W. Asiatic citrus psyllid,Diaphorina citri Kuwayama (Insecta:Homoptera: Psyllidae). Disponível em:<http://edis.ifas.edu/BODY_IN160>.Acesso em 11 out. 2004.

12. NEVES, E.M.; DAYOUB, M.;DRAGONE, D.S.; NEVES, M.F.Citricultura brasileira: efeitoseconômico-financeiro, 1996-2000.Revista Brasileira de Fruticultura,Jaboticabal, v.23, n.2, p.432-436, ago.2001.

13. PARRA, J.R.P.; OLIVEIRA, H.N.;PINTO, A. S. de. Guia ilustrado depragas e insetos benéficos dos citros.Piracicaba: A. S. Pinto. 2003. 140p.

14. POSSIBILIDADE de controle: inimigonatural do vetor do greening éencontrado no Brasil. Revista doFundecitrus, Araraquara, v.21, n.126,p.8-9, jan./fev. 2005.

15. YAMAMOTO, P.T.; LOPES, S.A.;JESUS JR., W.C. de; BASSANEZI,R.B.; SPÓSITO, M.B.; BELASQUE JR.,J. Nova e destrutiva, Cultivar:hortaliças e frutas, Pelotas, v.6, n.32,p.2-7, jun./jul. 2005 (Caderno Técnico).

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VVVVValidação de dois sistemas de previsão para o controlealidação de dois sistemas de previsão para o controlealidação de dois sistemas de previsão para o controlealidação de dois sistemas de previsão para o controlealidação de dois sistemas de previsão para o controleda requeima do tomateiro na região de Caçadorda requeima do tomateiro na região de Caçadorda requeima do tomateiro na região de Caçadorda requeima do tomateiro na região de Caçadorda requeima do tomateiro na região de Caçador, SC, SC, SC, SC, SC

Walter Ferreira Becker1

Introdução

O município de Caçador, comcaracterísticas geoeconômicas eclimáticas favoráveis para aprodução de tomate na entressafra,rapidamente expandiu a áreaplantada de 88ha em 1985 para cercade 783ha em 2003 (Instituto Cepa,2005). As condições climáticasdurante o período de cultivo, nestaregião, são caracterizadas pelatemperatura média no verão, entre19 e 20oC, e precipitações constantes.Estas condições são propícias ao

Resumo – O modelo MacHardy desenvolvido em New Hampshire, EUA, e o modelo Maschio & Sampaiodesenvolvido em Colombo, PR, foram comparados ao sistema de controle tradicional da requeima do tomateiro,na região de Caçador, SC. A indicação de pulverização pelo sistema de previsão permitiu uma redução na aplicaçãode fungicidas na ordem de 30% a 54,6% no sistema MacHardy e de 20% a 40% no sistema Maschio & Sampaio, emrelação ao sistema tradicional. A produtividade das cultivares Carmem e Santa Clara não diferiu entre os sistemasde previsão. A severidade da doença foi significativamente maior na primeira safra da cultivar Santa Clara, comcontrole tradicional, mas não diferiu dos sistemas de previsão na cultivar Carmem. Na segunda safra não houvediferença na severidade da doença entre os tratamentos. Verificou-se que os sistemas de previsão permitiram umretardamento entre duas a quatro semanas no início da primeira pulverização comparados ao sistema tradicional.Termos para indexação: Lycopersicon esculentum, previsão de doença, controle químico, Phytophthora infestans.

Validation of two forecast systems to control tomato late blight in Caçadorregion, SC, Brazil

Abstract – The MacHardy’s system developed in New Hampshire, USA, and the Maschio & Sampaio’s systemdeveloped in Colombo, PR, were compared to the traditional tomato late blight control system in Caçador, SC,Brazil. The forecast systems allowed a reduction in the use of fungicides from 30% to 54,6% with MacHardy’smodel and from 20% to 40% with Maschio & Sampaio’s model compared to the traditional one. The yield of bothcultivars Carmem and Santa Clara did not differ among the three systems. The severity of the disease in the firstharvest was significantly higher for cultivar Santa Clara with traditional control, but there was no difference inthe severity among forecasting models. In the second harvest there was no difference in the severity among thetreatments. The forecast models allowed to delay the first spray from two to four weeks, when compared to thetraditional system.Index terms: Lycopersicon esculentum, disease forecast, chemical control, Phytophthora infestans.

desenvolvimento de epifitias darequeima, causadas por Phyto-phthora infestans (Mont.) de Bary(Agrios, 1988; Stevenson, 1991).

Devido à rapidez da disseminaçãodeste patógeno e das severas perdasque ocasiona, o método de controlemais utilizado é o químico (Maschio& Sampaio, 1982; De Vincenzo etal., 1995; Costa et al., 1995). Poroutro lado, há necessidade de umatecnologia adequada à regiãotomaticultora que permita mini-mizar a quantidade de agrotóxicos,com significativo controle da doença

sem a perda da qualidade daprodução.

Informações meteorológicaspermitem elaborar modelos deprevisão do início ou do incrementoda intensidade de uma doença(Campbell & Madden, 1990). Umamodificação no sistema de previsãoBlitecast (Krause et al., 1975) foirealizada em New Hampshire,EUA, para aumentar a aceitabi-lidade por parte do agricultor(MacHardy, 1979). Maschio &Sampaio (1982) analisaram acorrelação entre o grau de infecção

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected].

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e fenômenos macroclimáticos, emColombo, PR, e passaram acontrolar a requeima com base nosistema de previsão. Na avaliaçãode Katsurayama & Bonetti (1996),o sistema Blitecast para batata emSão Joaquim, SC, pouco diferiu dosistema tradicional dos agricultores,demonstrando que em regiõesmuito favoráveis à requeima asrecomendações se igualam aosistema de calendário.

O objetivo deste trabalho foivalidar sistemas de previsão para arequeima do tomateiro, adequando-os à tomaticultura em Caçador, SC,Região do Vale do Rio do Peixe.

Material e métodos

Os experimentos foram condu-zidos na Epagri/Estação Expe-rimental de Caçador durante oscultivos de 1998/99 e 1999/00.Adotaram-se as normas técnicaselaboradas pela Epagri (1997) para ocultivo do tomateiro, exceto para ouso de fungicidas que forammodificadas em função dos sistemasde previsão. Os sistemas deMacHardy (1979) (MH) e Maschio &Sampaio (1982) (MS) foramcomparados ao sistema tradicional(ST) utilizado pelos produtores daregião de Caçador. Os dados detemperatura, umidade relativa doar e molhamento foliar foramobtidos com aparelho termo-higro-umectógrafo (marca G. Lufft, mod.8341.R3) colocado em abrigometeorológico, e o índice pluvio-métrico, por meio de pluviômetrosituado junto ao local do experi-mento.

O sistema de previsão MHconsistiu no monitoramento daprecipitação, da temperaturaambiente e do período em que aumidade relativa do ar esteve acimade 90%. A primeira pulverização foiefetuada após dez dias de condiçãofavorável à requeima (CR) e assubseqüentes foram determinadasem função da CR, da precipitaçãoacumulada por decêndio e daseveridade da requeima (valores deseveridade variando de zero aquatro) em sete dias consecutivos(Tabela 1). Modificou-se a precipita-ção acumulada em dez dias de 33para 30mm.

O sistema de previsão MSfundamentou-se na equaçãoY = -0,8671 + 0,0209 X1X2 em que,numa seqüência de dez dias, Yrepresentou o grau de infecção, X1

a soma do número de chuvas iguaisou superiores a 0,1mm e X2 onúmero de temperaturas noturnasiguais ou superiores a 10oC. Apulverização foi realizada quando oproduto X1X2 alcançou o valor 40,sendo zerado a cada aplicação dofungicida.

Nos dois ciclos experimentais, ascultivares Carmem e Santa Claraforam conduzidas no espaçamento0,75 x 1m com uma planta com duashastes por cova. As parcelastinham 2 x 5,6m com 16 plantas eárea útil de 8,4m2 com 12 plantasúteis. O delineamento experi-mental foi o de blocos casualizadoscom cinco repetições por trata-mento. Foram utilizados fungicidasde contato constituídos por umamistura de clorothalonil e óxido decobre até próximo à colheita, sendosubstituídos por captan até o finaldo ciclo. No ST foi utilizada apulverização em intervalos de cincoou sete dias, a partir do transplante,com os mesmos fungicidas e, emperíodos de chuvas, com metalaxyl/mancozeb. Na pulverização usou-seaparelho costal motorizado marcaMaruyama, com pistola de três bicosmodelo Yamaho HV-3, em altovolume.

As avaliações de produção foramfeitas após a classificação, contageme pesagem dos frutos. A severidadeda doença foi medida com auxílio daescala diagramática de James (1971)

e os dados foram avaliados pela áreaabaixo da curva de progresso dadoença (AACPD) (Campbell &Madden, 1990).

Resultados

Ciclo 1998/99: entre o transplante(9/11/98) e o final da colheita (12/3/99) transcorreram 18 semanas apóstransplante (SAT) ou 124 dias apóso transplante (DAT), com 70 dias decondição favorável à requeima (CR)(Tabela 2). Verificou-se que duranteeste ciclo de cultivo não houvetemperatura abaixo do ponto críticode 7,2oC, em que a doença nãoocorre, e a temperatura média decinco dias foi inferior a 25,5oC. Aprecipitação acumulada em dez diasfoi o fator limitante da CR. Oindicativo da primeira pulverizaçãosomente ocorreu na quinta SAT,quando completou a primeiraseqüência de dez dias com CR(Figura 1).

Do transplante até o final denovembro a precipitação ficou abaixoda média histórica mensal de143,3mm, caracterizada por umperíodo seco (Figura 1). Estacondição permitiu que os sistemasde previsão se diferenciassem dosistema tradicional quanto à datada primeira pulverização. Nosistema tradicional a primeirapulverização foi após o transplante(quarto DAT), como é prática entreos agricultores. No sistema MH, acondição de dez dias favoráveisconsecutivos à requeima indicou aprimeira pulverização aos 34 DAT.No sistema MS o valor 40 ocorreu

Tabela 1. Combinação do somatório da condição favorável à requeima(CR) e dos valores diários de severidade nos últimos sete dias comodeterminante das pulverizações subseqüentes

CR Total de valores de severidade

(no) Zero a 2 3 4 5 6 7+

Zero a 4 Não Não Alerta Pulve- Pulve- Pulve-pulverizar pulverizar rizar rizar rizar

7/7 dias 7/7 dias 5/5 dias5 a 7 Não Alerta Pulve- Pulve- Pulve- Pulve-

pulverizar rizar rizar rizar rizar7/7 dias 5/5 dias 5/5 dias 5/5 dias

Fonte: MacHardy (1979).

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aos 30 DAT, assemelhando-se aosistema MH quanto à época para aprimeira pulverização, enquanto nosistema tradicional foramexecutadas seis pulverizações(Tabela 2) neste mesmo período detempo.

O primeiro sintoma de requeimafoi verificado com 63 DAT no sistemaMS, com 107 DAT no sistema MH,ambos com a cultivar Carmem, enos demais aos 70 DAT, independen-temente da cultivar. A severidade dadoença foi baixa durante todo o ciclonos três sistemas, porém, no sistemaMH foi menor que no MS e maiorno tradicional para ambas ascultivares. A severidade final foi0,15% e 0,17% no MH, 0,29% e0,16% no MS e 0,40% e 0,35% noST para as cultivares Carmem eSanta Clara, respectivamente(Figura 2).

Além de retardar a primeirapulverização, a quantidade depulverizações foi reduzida em 54,5%no sistema MH (dez pulverizações)e em 40,9% no sistema MS (13pulverizações), comparados aosistema tradicional (22 pulveri-zações, das quais seis foram comfungicidas sistêmicos aplicadosentre 11/12 e 12/1) (Tabela 2). Naavaliação da severidade medida pelaAACPD não houve diferença entreos tratamentos na ‘Carmem’. Na‘Santa Clara’ os sistemas de previsãoapresentaram menor AACPD, nãodiferindo entre si, porém amboscom AACPD significativamentemenor que no sistema tradicional.A produtividade média não diferiuentre os sistemas de previsão e otradicional. Houve variaçãosignificativa na produtividade entreas cultivares (Tabela 3).

Ciclo 1999/00: a precipitaçãoacumulada de dez dias (PP10d) foi ofator determinante para a ocorrênciade condição favorável à requeima(CR) (Figura 3). No sistema MH aprimeira pulverização ocorreu naterceira SAT. O indicativo dapulverização subseqüente somenteocorreu na oitava SAT. A partirdesta até a colheita final houve umaseqüência de CR, de modo que osistema indicou aplicação defungicida em intervalos de cinco dias(Tabela 2). Foram totalizadas 14

Tabela 2. Número de dias com condições favoráveis à requeima (CR) efreqüência das pulverizações para os sistemas de MacHardy (MH), Maschio& Sampaio (MS) e o tradicional (ST) nos ciclos 1998/99 e 1999/00

Ciclo 1998/99

SAT(1) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

CR(2) 3 4 0 4 7 6 4 0 7 5 7 6 5 6 4 0 2 0

Trat. Número de pulverizações no ciclo de cultivo

MH(3) 0 0 0 0 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 0

MS(4) 0 0 0 0 2 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 2 0 0

ST(5) 1 2 2 1 2 0 1 1 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1

Ciclo 1999/00

SAT 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

CR 1 3 7 5 0 0 3 7 5 2 7 7 7 7 7 7 3

Trat. Número de pulverizações no ciclo de cultivo

MH 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 1 2 2 1 2 1 1

MS 0 0 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1

ST 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 2 1 1

(1)Semanas após o transplante das mudas.(2)Dias na semana com condição favorável.(3)Pulverização efetuada na respectiva semana conforme indicado pelosistema de previsão MacHardy.(4)Pulverização efetuada na respectiva semana conforme indicado pelosistema de previsão Maschio & Sampaio.(5)Pulverização efetuada na respectiva semana pelo sistema tradicional.

Figura 1. Dados de precipitação total diária em mm (PPmm) e acumuladaem dez dias (PP10d), condição diária favorável à requeima, segundo modelode MacHardy (CR, valor positivo = favorável; valor negativo =desfavorável), temperatura mínima em graus Celsius (Tmin) e média decinco dias (Tm5d). Ciclo 1998/99

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pulverizações neste sistema (Tabela4).

No sistema MS a primeirapulverização ocorreu na terceiraSAT, seguindo-se um longo períodocom baixa precipitação, de modoque a segunda pulverização foirealizada na quinta SAT (Tabela 2).Foram totalizadas 16 pulverizaçõesneste sistema. No sistema tradicio-

Figura 2. Porcentagem de área foliar infectada (AFI) nascultivares Carmem (C) e Santa Clara (SC) com os sistemas deprevisão MacHardy (MH), Maschio & Sampaio (MS) e otradicional (T), representadas, respectivamente, na legenda comoCMH, CMS, CT, SCMH, SCMS e SCT. Ciclo 1998/99

Tabela 3. Número de pulverizações, produtividade das cultivares Carmeme Santa Clara e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD)para os sistemas de MacHardy (MH), Maschio & Sampaio (MS) e otradicional (ST). Ciclo 1998/99

Pulve- Produção AACPDTratamento rização

‘Carmem’ ‘S. Clara’ ‘Carmem’ ‘S. Clara’

No .............t/ha............

MH 10 146,6 a(1) 129,2 a 0,024 a 0,026 a

MS 13 146,0 a 123,5 a 0,035 a 0,026 a

ST 22 147,0 a 138,3 a 0,041 a 0,043 b

Média 146,5 A(2) 130,3 B 0,033 A 0,031 A

CV(%) 8,6 21,8

(1)Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferementre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.(2)Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha não diferem entresi pelo teste F a 5% probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.

nal (ST) a primeira pulverização foirealizada na primeira SAT. Todasas demais pulverizações foramaplicadas com intervalos de sete dias,exceto na 12a, 13a e 15a SAT que, pormotivo de precipitação elevada, foinecessário repetir a aplicação,totalizando 20 pulverizações (Tabe-la 4).

A produção e a área abaixo da

curva do progresso da doença(AACPD) das testemunhas absolutasnão foram comparadas estatisti-camente, pois as médias destasvariáveis apresentavam variânciasmuito superiores aos demaistratamentos. Na Tabela 4 observa-se que a produção das testemunhasabsolutas (27,1t/ha e 21,8t/ha) foiabaixo dos demais sistemas e aAACPD (348.714,5 e 279.777,0) foisignificativamente maior. Entre ossistemas de previsão de MH, MS e osistema tradicional não houvediferença significativa tanto para aprodução quanto para a AACPD emambas as cultivares.

No progresso da doença (Figura4) observou-se que nas primeirasavaliações os sistemas pulverizadosapresentaram no máximo 0,08% deárea foliar infectada (AFI)(‘Carmem’, sistema MS), enquantona testemunha absoluta houve 3,9%de AFI na ‘Santa Clara’ e 9,46% deAFI na ‘Carmem’. Por ocasião daúltima colheita, ambas as cultivaresda testemunha absoluta apresen-tavam 100% de AFI, enquanto quenos sistemas MH, MS e ST a‘Carmem’ apresentava AFI de 0,08%,0,11% e 0,04% e a ‘Santa Clara’,0,02%, 0,03% e 0,05%, respectiva-mente (Figura 4).

Discussão

Nas condições deste trabalho,tanto o modelo de MH quanto o deMS foram bons indicadores domomento da pulverização, conformea ocorrência da condição favorávelà requeima, possibilitando umcontrole eficiente da doença, comum menor número de pulveriza-ções em relação ao sistematradicional. Esta redução foi maisevidente quanto menor a ocor-rência de condições favoráveis àrequeima, como observado no ciclo1998/99.

Apesar de Jones (1986) considerara umidade relativa do ar nãoadequada para a previsão domolhamento foliar, verificou-se quenos dois ciclos avaliados o uso destavariável, proposta por Wallin (1962)e adotada no modelo MH, nãocomprometeu a eficiência docontrole da requeima e permitiu o

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Figura 3. Dados de precipitação total diária em mm (PPmm) e acumuladaem dez dias (PP10d), condição diária favorável à requeima (CR, valorpositivo = favorável; valor negativo = desfavorável), temperatura mínimaem graus Celsius (Tmin) e média de cinco dias (Tm5d). Ciclo 1999/00

Tabela 4. Número de pulverizações, produtividade das cultivares Carmeme Santa Clara e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) paraos sistemas de MacHardy (MH), Maschio & Sampaio (MS) e o tradicional(ST). Ciclo 1999/00

Pulve- Produção AACPDTratamento rização

‘Carmem’ ‘S. Clara’ ‘Carmem’ ‘S. Clara’

No .............t/ha............

MH 14 96,6 a(1) 53,4 a 1,79 a 1,16 a

MS 16 82,9 a 37,5 a 1,83 a 1,67 a

ST 20 95,2 a 49,3 a 1,68 a 1,60 a

Média 91,5 A(2) 46,7 B 1,76 A 1,46 A

Testemunha Zero 27,1(3) 21,8(3) 348.714,5(3) 279.777,0(3)

CV(%) 21,0 74,6

(1)Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem entresi pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.(2)Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha não diferem entresi pelo teste F a 5% probabilidade.(3)Testemunha não foi comparada com os demais tratamentos, pois suamédia apresenta variância muito superior.Nota: CV = coeficiente de variação.

uso de aparelho mais simples, nestecaso, um termo-higrógrafo.

No ciclo 1999/00 houve condiçõesfavoráveis à requeima (CR) commaior freqüência e os sistemas deprevisão se aproximaram dotradicional (calendário) em númerode pulverizações. Quando houvercondições ambientais muitofavoráveis à requeima, é possívelque o sistema de previsão não venhaa diferir do tradicional, conformetambém observado por Fohner etal. (1984) e Katsurayama & Boneti(1996). As condições favoráveis àrequeima se manifestaram du-rante o período da colheita. Assim,o sistema de previsão poderáindicar com relativa segurançaque as pulverizações tradicional-mente aplicadas contra a requei-ma, logo após o transplante, poderãoser reduzidas ou mesmo elimina-das.

Embora o sistema de MS tenhasido eficiente na previsão darequeima, houve dificuldade emquantificar o número de chuvasocorridas. Diferentemente dascondições do litoral paranaense,onde as chuvas são passageiras, naregião de Caçador ocorrem períodoscom chuva relacionada à frente friae, quando de duração prolongada,este modelo poderá subestimar ograu de infecção.

O sistema de previsão MHreduziu o número de pulverizaçõesem 30% e 54% nos dois cultivostestados, respectivamente. Além domenor impacto ambiental que istorepresenta, acresce-se o fato de queapenas produtos de contato(clorothalonil, oxicloreto de cobre ecaptan) foram usados, propor-cionando maior economia porhectare, comparado ao sistematradicional que empregou produtossistêmicos.

A diferença na produção médiaentre as cultivares Carmem e SantaClara foi atribuída à característicagenética das cultivares, uma vezque não se observou interferênciade nenhum outro fator externo.Estudos adicionais com outrascultivares ou sistemas de conduçãodevem ser investigados paradeterminar qual o alcance práticodestes modelos de previsão de

doença na Região do Alto Vale doRio do Peixe.

Conclusão

O sistema de MacHardy propor-ciona o controle da requeima tantoquanto o sistema tradicional, comsignificativa redução no número de

pulverizações, sem perda dequalidade dos frutos produzidos.

O sistema de Maschio & Sam-paio permite controle eficiente dadoença e redução de pulverizações,porém há comprometimento daeficiência do modelo para a Regiãodo Alto Vale do Rio do Peixe quandoas chuvas são muito prolongadas.

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Figura 4. Porcentagem de área foliar infectada (AFI) nas cultivaresCarmem (C) e Santa Clara (SC) com os sistemas de previsão MH, MSe o tradicional (T), representadas, respectivamente, na legenda comoCMH, CMS, CT, SCMH, SCMS e SCT, por linhas. As colunas comvalores em porcentagem da área foliar infectada (AFI%) referem-se àstestemunhas ‘Carmem’ (Cte) e ‘Santa Clara’ (SCte), sem controlequímico. Ciclo 1999/00

Literatura citada

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Estimativa da taxa de cruzamento em Estimativa da taxa de cruzamento em Estimativa da taxa de cruzamento em Estimativa da taxa de cruzamento em Estimativa da taxa de cruzamento em Bromus auleticusBromus auleticusBromus auleticusBromus auleticusBromus auleticus11111

Gilberto Luiz Dalagnol2

Resumo – O conhecimento do modo de reprodução das espécies vegetais é fundamental na exploração e nomanejo de populações naturais, nos programas de melhoramento genético e regeneração de acessos em bancos degermoplasmas. Bromus auleticus Trinius é uma gramínea hibernal, perene, nativa da América do Sul, com altopotencial forrageiro e adaptativo a condições adversas de clima e solo. O objetivo do trabalho foi caracterizar osistema reprodutivo da espécie e estimar a taxa de cruzamento entre acessos existentes na Epagri/EstaçãoExperimental de Lages. Quatro progênies oriundas de cruzamentos naturais foram caracterizadas utilizando-sedez locos isoenzimáticos (PGI, SKDH, IDH, PRX1, PRX2, PRX3, MDH1, MDH3, 6PGDH, £-EST). Foram estimadasas taxas de cruzamento uniloco e multilocos, usando as freqüências alélicas das progênies com análise do programaMLT (Ritland, 1990). As estimativas uniloco variaram de 0,001 a 1,648, com média de 0,571, e a multilocos foi de1,096, o que caracteriza que o modo de reprodução predominante é a alogamia.Termos para indexação: alozimas, uniloco, multilocos, autogamia, alogamia.

Estimates of crossing frequency in Bromus auleticus

Abstract – It is important to know the plant reproduction mode for the exploration and management of thenatural plant population, as well as for breeding program and germoplasm regeneration of accessions. Bromusauleticus Trinius is a perennial winter grass, native of South America which shows high potential for forage andhas good adaptation to soil and climate adversities. The objective of this work was to characterize the reproductivesystem of the species and to estimate its crossing frequency among the accesses existing at Epagri/ ExperimentStation of Lages. Four progenies originated from natural crosses were characterized by ten allozymic loci (PGI,SKDH, IDH, PRX1, PRX2, PRX3, MDH1, MDH3, 6PGD and EST). Crossing frequency of unilocus and multilocuswere estimated using the allelic frequencies and the MLT program (Ritland, 1990). The unilocus estimation variedfrom 0,001 to 1,648 and had a mean frequency of 0,571. The multilocus had a frequency of 1,096. Based on theseresults, the reproduction mode is predominantly allogamic.Index terms: allozymes, unilocus, multilocus, autogamy, allogamy.

Introdução

O sistema de cruzamento de umaespécie vegetal é o parâmetroprincipal a ser considerado naanálise da organização genética daspopulações, pois os padrões pelosquais os gametas são transportadosde geração para geração exercemum controle primário sobre adistribuição das freqüênciasgenotípicas e afetam o potencial derecombinação, moderando ouacelerando a taxa de produção denovas combinações e a perda dealgumas existentes (Allard, 1971).

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Extraído da dissertação de mestrado do autor.2Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail: [email protected].

Nas populações alógamas, asplantas tendem a ser altamenteheterozigotas e, quase sem exceção,a endogamia forçada resulta emredução do vigor e outros efeitosadversos (Allard, 1971). Aintensidade na troca de alelos entreos indivíduos variará na medida dograu de alogamia e fatores adicio-nais, como a existência de agamos-permia, endogamia, cruzamentospreferenciais ou cruzamentos não-aleatórios, implicam desvios da pan-mixia, de forma a restringir ascombinações possíveis. A caracte-rização do sistema reprodutivo e

estimativas da taxa de cruzamentosão fundamentais para umaadequada avaliação deste compo-nente.

Plantas de espécies de fecun-dação cruzada normalmentecarregam diferentes alelos em di-versos locos e suas progênies ten-dem a ampla segregação, produzindoindivíduos heterozigotos e man-tendo a variabilidade genética.

Conhecer o sistema reprodutivoe, em especial, a taxa de cruzamento(t) é fundamental para o estudo dadinâmica das populações naturaisou artificiais, pois oferece subsídios

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para optar por um sistema de manejoque permita a exploração, commanutenção desta dinâmica. Assim,o sistema de cruzamento caracterizaa maneira pela qual os gametas sãotomados para produzir osdescendentes de uma população(O’Malley & Bawa, 1987).

O modelo de multilocos permitea obtenção de estimativas maisadequadas da taxa de cruzamento,considerando as combinaçõesgenotípicas envolvendo todos oslocos. O modelo multilocos deRitland & Jain (1981) fundamenta-se em que as progênies de umgenótipo materno representam umconjunto de genótipos derivados deóvulos, que se cruzam numaprobabilidade “t”, com um conjuntode pólens com freqüências alélicas“p” e se autofecundam numaprobabilidade (1-t).

A utilização do método implica ofornecimento dos genótiposmaternos e das progênies, pois,conforme Ritland & Jain (1981),pressupõe a inexistência demutação, seleção após fertilização,ligação entre locos analisados,cruzamentos preferenciais evariação nas freqüências alélicas doconjunto de pólens.

A comparação entre as médiasdas estimativas de locos simples (ts)e a estimativa multilocos (tm) for-nece subsídios para avaliar aocorrência de cruzamentos entreaparentados, possibilitando carac-terizar a ocorrência de endogamia(Ritland & Jain, 1981; Ritland & El-Kassaby, 1985). A variância daestimativa de “t” reduz com oaumento do número de indivíduospor progênie (mais que dezindivíduos, conforme Ritland & El-Kassaby, 1985).

A taxa de cruzamento é umadeterminação pontual, podendovariar de um ciclo para outro emfunção das condições climáticasocorrentes, as quais facilitam oudificultam a polinização, principal-mente com a não-coincidência doperíodo de disponibilidade de pólene óvulo viáveis.

Bromus auleticus é umagramínea perene, nativa da Amé-

rica do Sul, de crescimento hi-bernal e alta resistência ao frio.Adapta-se a diversos tipos de solos,desde que sejam bem drenados.Apresenta enraizamento profundoe vigoroso, grande capacidade derebrote, tolerância a altastemperaturas e intensidade de luz(Millot, 2000).

Em nível experimental, foramobtidos 4.621kg/ha de matéria secaem dez cortes (março a dezembro,com intervalo de 30 dias), similaresaos obtidos por Bemhaja (2000), de4.800kg/ha, e por Rivas (2000),entre 5.000 e 9.000kg/ha, emboratestando cultivares diferentes, evalores médios de 22% para proteínabruta, 71,7% para digestibilidade invitro da matéria orgânica e 66,7%para nutrientes digestíveis totais,resultados estes comparáveis aoutras espécies perenes do PlanaltoSerrano Catarinense, conformeanálises feitas por Freitas et al.(1994).

O objetivo deste trabalho foiestimar a taxa de cruzamento entrequatro acessos de Bromus auleticusTrinius existentes na Epagri/Estação Experimental de Lages, SC.

Material e métodos

Trabalhou-se com quatro genó-tipos de Bromus auleticus, numpolicruzamento em blocos casua-lizados, com duas repetições de 18plantas. As sementes colhidas nesteciclo foram semeadas para obtençãodas progênies, das quais coletou-setecido vegetal para extração deenzimas e eletroforese utilizandoalozimas.

A análise laboratorial foi execu-tada no Laboratório de Fisiologia doDesenvolvimento e GenéticaVegetal do CCA/UFSC no ano de2000.

Utilizando os dados de fre-qüências alélicas das progênies,estimados através da eletroforese,e posteriormente o programa MLT(Ritland, 1990), estimaram-se astaxas de cruzamento uniloco emultilocos detectando a freqüênciacom que ocorre a troca de alelosdentro de cada loco e entre os locos,

considerados como um único gru-po.

O processo de obtenção dasestimativas traz implícito umequilíbrio de endogamia (Ritland &Jain, 1981; Ritland & El-Kassaby,1985), equivalente ao equilíbrio deWright, com “f” em função de “t”,num processo matricial: P = (1-t) S+ t T, sendo:

P = matriz de probabilidades degenótipos multilocos nas progê-nies;

S = matriz de probabilidades nasprogênies por autofecundação;

T = matriz de probabilidades nasprogênies por cruzamento.

A matriz de genótipos multilocosdas progênies estudadas foi obtidaconforme Ritland & Jain (1981).Inicialmente é estabelecida P e,posteriormente, esta matriz émaximizada através de uma funçãologarítmica de máxima verossi-milhança, em que P é função de “t”e “p”. Com a maximização da matrizT, o processo permite a obtenção dafreqüência de alelos em óvulos epólen.

A estimativa da taxa de cruza-mento tem sido obtida a partir darelação t = (1-f)/(1+f), dada por Wright(1921), sendo “f” a estimativa deendogamia existente no nível deindivíduo. Esta estimativa pode serobtida a partir do índice de fixação,estimado loco a loco, obtendo-se umamédia da taxa de cruzamentoaparente (Vencovsky, 1992), comoem Marcon (1988), Moraes (1992) ePaiva et al. (1994b). A estimativadas taxa de cruzamento uniloco emultilocos (Tabela 1) e as estimativasdas freqüências alélicas de pólen eóvulo (Tabela 2), obtidas segundoRitland & Jain (1981), e dasprogênies, pelo programa MLT(Ritland, 1990), possibilitaramavaliar a heterogeneidade destasatravés do teste χ2.

Resultados e discussão

As estimativas uniloco varia-ram de 0,001 a 1,648, sendo que ataxa média foi de 0,571. A estima-tiva multilocos obtida foi de 1,096(Tabela 1).

^^

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prejudicar a obtenção das esti-mativas, mas podem estar asso-ciados à ocorrência de outros fa-tores como os cruzamentos pre-ferenciais, não-aleatórios, biparen-tais.

Outro fator que deve serconsiderado quando se desejaestimar a taxa de cruzamento é aheterogeneidade entre as fre-qüências alélicas de pólen e óvulos.A aplicação do teste de contingência(χ2 = 358,82, GL = 19, P < 00,1)demonstrou que as freqüências depólen e óvulos são significati-vamente diferentes, podendo-seadmitir uma possível associação daheterogeneidade com os desviosconstatados (Tabela 2).

O índice FST (Wright, 1965)(Tabela 2) mostra a divergênciagenética média das progênies dentrode cada loco, inclusive com valoresacentuados (MDH1 e NADH1), cujovalor médio dos locos tomados emconjunto foi de 0,118 (11,8%),significando que foi mantida avariabilidade genética.

Com alta taxa de cruzamento ealta heterozigosidade, as geraçõesposteriores poderão apresentarnovas combinações, mantendo ouaumentando a variabilidadegenética, elevando o potencialadaptativo a ambientes diversos, ecom tendência a manter a dinâmicapopulacional com baixos níveis deendogamia.

Conclusões

A alta taxa de cruzamento esti-mada caracteriza Bromus auleticusTrinius como uma espécie dereprodução predominantementealógama.

Para Bromus auleticus é reco-mendável a formação de variedadessintéticas, a fim de se manteremaltos índices de diversidade gené-tica.

Especial atenção deve ser dadaaos trabalhos de melhoramentogenético e regeneração de acessosde Bromus sp. para evitar aocorrência de fluxo gênico entre aspopulações, que compromete afidelidade genotípica.

Tabela 1. Taxas de cruzamento para locos individuais e multilocosestimadas para quatro progênies de Bromus auleticus Trinius e aderênciaao modelo uniloco e multilocos. UFSC – Florianópolis, SC, 2000

Loco Taxa uniloco Nº alelos GL c2 P > F

PGI 1,648 2 1 8,856 >0,01<0,05(*)

SKDH 0,955 3 9 10,189 >0,05 (ns)

IDH 0,426 2 1 0,452 >0,05 (ns)

PRX1 0,033 2 1 0,297 >0,05 (ns)

PRX2 0,759 2 1 21,811 <0,01(**)

PRX5 0,001 2 1 0,000 >0,05 (ns)

MDH1 0,890 2 1 0,847 >0,05 (ns)

MDH3 0,001 2 1 (-)(1) (/)(3)

6PGD 0,025 2 1 (-) (/)

EST 0,975 3 9 (x)(2) (x)

Média 0,571 22 3 6,064 >0,05 (ns)

Média (+)(4) 0,452 20 3 6,064 >0,05 (ns)

Est. multilocos 1,096 22 15 42,454 <0,01(**)

Notas: Para o cálculo da média foram descartados os valores de χ2 comGL = 0.(1)(-) GL = 0.(2)(x) GL elevado – modelo recomenda descartar, visando diminuir erro deestimativa.(3)(/) referente a valor de χ2 = 0.(4)(+) estimativa desconsiderando valores maiores que 1.(*) e (**) significância estatística a 5% e 1% de probabilidade, respectivamente.ns = diferença não significativa.

Comparando-se as taxas unilocoe multilocos é possível caracterizarcruzamentos entre aparentadose/ou autofecundação, de acordo comRitland & El-Kassaby (1985); San-tos (1994) e Gandara (1996).Entretanto, esta comparação podeter sido prejudicada pelos valoresdos erros associados às estima-tivas uniloco, cuja taxa variou de0,001 (loco MDH3) a 1,648 (locoPGI), sendo que este últimocaracteriza a inadequação do modelomultilocos para as devidasestimativas. Os valores obtidos parataxas de cruzamento sugerem aocorrência de cruzamentos entreindivíduos aparentados, carac-terizando cruzamentos não-aleatórios ou preferenciais, podendotambém ser associados à assincroniafenológica ocorrente entre asplantas.

Oliveira et al. (2000), estudandoum grupo de dez plantas isoladas de48 acessos de Bromus auleticus, nãoconstataram produção de sementes,indicando que a espécie é alógama eprovavelmente autoincompatível,uma vez que as flores sãohermafroditas e não há separaçãotemporal entre o amadurecimentodo grão de pólen e do estigma.Progênies com um número elevadode heterozigotos na populaçãonatural Kiyú, no Uruguai, levaramRivas (1996) a concluir que estaespécie é alógama ou de pareamentomisto.

O teste de aderência ao modelomultilocos revelou significânciaestatística, demonstrando suainadequação para a referidaestimativa. No entanto, Ritland &El-Kassaby (1985) citaram queestes desvios não chegam a

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Agradecimentos

À Epagri e à UFSC pelo suportefinanceiro.

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Tabela 2. Freqüências alélicas de pólen e óvulo e variância para dez locosalozímicos de Bromus auleticus Trinius. UFSC – Florianópolis, SC,2000

Freqüência Índice FSTLoco AleloPólen Óvulo Média médio/loco

PGI1 1 0,360 0,500 0,430 0,040

PGI1 2 0,640 0,500 0,570 0,040

SKDH 1 0,800 0,600 0,700 0,095

SKDH 2 0,200 0,300 0,250 0,026

SKDH 3 0,001 0,100 0,050 0,102

IDH1 1 0,953 0,800 0,876 0,108

IDH1 2 0,047 0,200 0,123 0,108

PRX1 1 0,730 0,500 0,615 0,112

PRX1 2 0,270 0,500 0,385 0,112

PRX2 1 0,750 0,500 0,625 0,133

PRX2 2 0,250 0,500 0,375 0,133

PRX3 1 0,987 0,900 0,943 0,071

PRX3 2 0,013 0,100 0,565 0,071

PRX4 1 0,999 1,000 0,999 0,001

PRX4 2 0,001 0 0,0005 0,000

PRX5 1 0,976 1,000 0,988 0,024

PRX5 2 0,024 0 0,012 0,024

NADH1 1 0,999 0,800 0,899 0,219

NADH1 2 0,001 0,200 0,100 0,219

MDH1 1 0,347 0,800 0,573 0,419

MDH1 2 0,653 0,200 0,426 0,419

Índice FST médio 0,118

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Intensidade da mancha-reticuladaIntensidade da mancha-reticuladaIntensidade da mancha-reticuladaIntensidade da mancha-reticuladaIntensidade da mancha-reticulada(((((Leandria momordicaeLeandria momordicaeLeandria momordicaeLeandria momordicaeLeandria momordicae) em pepineiros () em pepineiros () em pepineiros () em pepineiros () em pepineiros (Cucumis sativusCucumis sativusCucumis sativusCucumis sativusCucumis sativus)))))

cultivados em estufa e a céu abertocultivados em estufa e a céu abertocultivados em estufa e a céu abertocultivados em estufa e a céu abertocultivados em estufa e a céu aberto11111

José Angelo Rebelo2,Miguel Dalmo de Menezes Porto3 e Henri Stuker4

Resumo – A severidade da mancha-reticulada em pepineiros agravou-se, no litoral catarinense, pela ampliaçãoda estação de cultivo, com o uso de cultivares sem sementes e pela baixa eficiência dos fungicidas empregados nocontrole do patógeno causador da mancha-reticulada (Leandria momordiae). As epidemias são mais severas nosperíodos de chuvas e estão associadas às temperaturas típicas do outono-inverno da região. O objetivo destetrabalho foi determinar a intensidade da mancha-reticulada associada à temperatura, à umidade relativa e aonúmero de dias com chuvas em pepineiros sem sementes tutorados, plantados a céu aberto e em estufa, no outonode 2000 e de 2001 e no outono-inverno de 2002. Houve correlação positiva entre a severidade da doença e o aumentodo número de dias de chuvas, associados com a faixa de temperatura entre 15 e 21,5oC. Estufas podem serempregadas para redução da incidência e severidade da mancha-reticulada de pepineiros.Termos para indexação: mancha-zonada, “net spot”, cucurbitáceas, epidemiologia.

Net spot (Leandria momordicae) intensity in cucumber plants grown undergreenhouse and field conditions

Abstract – Net spot severity in cucumber plants has increased in the Santa Catarina State coastal areas dueto the expansion of the growing season, the use of seedless cultivars and low efficiency of fungicides used to controlthe pathogen (Leandria momordicae). Trained seedless cucumber plants grown under greenhouse and fieldconditions were evaluated to determine the incidence and severity of net spot associated to temperature, relativeair humidity and amount of rainy days. The study was carried out during the Fall of 2000 and 2001 and in the Fall-Winter of 2002. A significant correlation was verified between disease severity and number of rainy days, associatedto temperatures ranging from 15 to 21,5oC. Net spot can be successfully controlled by the “umbrella effect” offeredby the greenhouse environment.Index terms: cucurbitaceae, epidemiology, Cucumis sativus.

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Extraído da tese de doutorado do primeiro autor.2Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5223, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFRGS, C.P. 15.100, 91501-970 Porto Alegre, RS, fone: (51) 3316-6046, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

Introdução

A mancha-reticulada ou zonada,causada pelo fungo Leandriamomordicae, é a principal doençado pepineiro (Cruz Filho & Pinto,1982). É de difícil controle pela baixaeficiência dos fungicidas, pela faltade variedades resistentes, pelo poucoconhecimento sobre o fungo e pelodesconhecimento de fontes de

resistência (Moretto et al., 1993;Zitter et al., 1996).

A partir de 1995, com o adventodas cultivares de pepineiros semsementes, que dispensam polini-zação, a estação de cultivo destaespécie no litoral de Santa Catarina,que era de setembro a março,estendeu-se para todo o ano.

A ampliação da estação de cultivoe as condições ambientais do novo

período de produção parecempropiciar condições favoráveis paraa interação pepineiro-Leandriamomordicae, em face da maiorseveridade da mancha-reticulada(Figura 1).

Segundo vários autores (Blaz-quez,1983; Osner, 1918; Silva, 1983),as epidemias causadas por Leandriamomordicae ocorrem em épocas dechuva e nas condições de tempera-

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tura e de umidade relativa própriasdo outono-inverno e início deprimavera. Assim sendo, tem-se porhipótese que a intensidade da doençapode ser reduzida pelo “efeitoguarda-chuva” de estufas depolietileno nos cultivos depepineiros.

O objetivo deste trabalho foideterminar a incidência e aseveridade da mancha-reticulada empepineiros sem sementes cultivadosem estufas e a céu aberto e a suacorrelação com as condições detemperatura, de umidade relativado ar e de chuva nestes doisambientes.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido naEpagri/Estação Experimental deItajaí, em Itajaí, SC, em latitude Sulde 27o 34’, longitude Oeste de 48o 30’e altitude de 5m, nos anos de 2000 a2002. O solo era de textura média eo clima, subtropical, com chuvasbem distribuídas e verão quente. Osperíodos de cultivos foram de abrila julho de 2000, de agosto anovembro de 2000, de novembro de2000 a janeiro de 2001, de março amaio de 2001, de novembro de 2001a janeiro de 2002, de março a maiode 2002, e de maio a julho de 2002.O cultivo foi feito a céu aberto(tratamento céu aberto) e em estufa(tratamento estufa). A estufa foi

instalada no sentido norte-sul, com3m de pé-direito, 4,5m de cumeeira,20m de largura e 35m decomprimento. O teto semicircularfoi revestido com polietileno agrícolade baixa densidade, com 0,1mm deespessura. Durante a execução dotrabalho, as cortinas da estufapermaneceram abertas e atransparência do teto foi mantidapor lavação semestral do mesmo.Em cada tratamento, a áreacultivada foi de 100m² com 340plantas, área útil de 26,4m², quatrorepetições de 20 plantas em fila dupla(10 + 10), em blocos casualizados.As fileiras de plantas foram dispostasno sentido norte-sul e as plantas dotratamento céu aberto, a oeste dotratamento estufa, estando distantecada tratamento 10m um do outro.As plantas foram conduzidas pelosistema indicado por Papadopoulos(1994). As mudas de pepineiros semsementes, cultivar Marinda, foramproduzidas em bandejas de 128células, plantadas no espaçamentode 1 x 0,3m e conduzidasverticalmente. Manteve-se, em cadaplanta, uma haste principalportando duas secundárias na suaparte terminal. Todas as demaishastes foram despontadas logo apósa primeira folha. A adubação debase foi feita com 50g de adubo defórmula comercial 4-14-7, além de500g (peso seco) de cama de aviáriode dois lotes de frangos, por planta,em sulco. Em cobertura, viafertirrigação em gotejo, aplicaram-se nitrato de cálcio e nitrato depotássio, alternadamente, uma vezpor semana, a partir do 30º dia doplantio, na dose de 2,5g/planta. Osfrutos foram colhidos diariamente.O turno de rega e a quantidade deágua, em cada tratamento, foramdeterminados com o apoio de trêstensiômetros instalados junto àsplantas, a 15cm de profundidade. Osciclos de cultivo foram encerradosno final da floração. O número deleituras das variáveis epidemio-lógicas dependeu da época daincidência da doença e da duraçãode cada cultivo em cada tratamento.Nenhum fungicida foi empregadonas plantas estudadas.

As variáveis meteorológicas,descritas a seguir, foram registradasa cada 15 minutos por uma estaçãometeorológica automática, marcaCampbel, instalada no interior dos

cultivos a céu aberto e em abrigo:temperatura e umidade relativa doar – média dos registros diuturnosda semana que antecedeu a leituradas variáveis epidemiológicas;precipitação pluvial – foramconsideradas precipitações iguais ousuperiores a 0,1mm.

As variáveis epidemiológicasforam assim determinadas: aincidência da doença foi tomada pelacontagem semanal de plantasdoentes em cada tratamento; oprogresso foi avaliado pela evoluçãoda severidade da doença e esta pelaporcentagem de lesão na folha,utilizando-se uma escala diagramá-tica com diferentes percentuais deárea foliar lesionada (Silva, 1983).Os dados das variáveis epidemioló-gicas consideradas foram as médiassemanais das quatro repetições.

Foram realizadas análises decorrelação linear de Pearson entreas variáveis meteorológicas e aintensidade da doença. A signifi-cância das correlações apresentadasfoi obtida pelo teste de t a 5% deprobabilidade.

Resultados e discussão

Variáveis meteorológicas

Os valores noturnos e diurnos daumidade relativa e da temperaturado ar tenderam a ser inversos entreos tratamentos. No tratamentoestufa, a temperatura noturna do arfoi mais baixa e a diurna mais altaque no tratamento céu aberto.Embora as diferenças entre asmédias diuturnas não tenham sidosignificativas, o percentual deumidade relativa do ar notratamento estufa foi maior à noitee menor durante o dia que notratamento céu aberto.

Variáveis epidemiológicas

Nas plantas do tratamento céuaberto, a doença ocorreu nos cultivosde março a maio de 2001, março amaio de 2002 e maio a julho de 2002(primeira, segunda e terceiraincidências, respectivamente). Nasplantas do tratamento estufa, aocorrência da doença se deu apenasnos cultivos de março a maio de2001 e março a maio de 2002(primeira e segunda incidências,respectivamente).

Figura 1. Aspectos de severidade damancha-reticulada (Leandriamomordicae) em pepineiros

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No tratamento estufa, a doençaocorreu em todas as plantas naprimeira incidência e apenas em25% delas na segunda incidência, deforma progressiva e sempreposterior à registrada nas plantasdo tratamento céu aberto. Neste, aocorrência da doença foi simultâneae em todas as plantas, em qualquerdas três incidências (Figura 2).

Na primeira incidência, aseveridade da doença nas plantas dotratamento estufa e céu aberto foide 18% e 87%, na segunda incidênciafoi de 3% e 87%, respectivamente, ena terceira incidência, quando adoença só ocorreu nas plantas dotratamento céu aberto, a severidadefoi de 62% (Figura 3). Estesresultados não estão de acordo comVeiga et al. (1994) e Rego et al.(1995), que afirmam que a manchareticulada é mais severa empepineiros na estufa. A diferençaentre os resultados pode estar nomanejo da estufa, que não foidescrito pelos citados autores.

Efeito da precipitação pluvial

Cruz Filho & Pinto (1982)relataram que os períodos chuvosossão favoráveis à mancha-reticulada,ocasiões em que os pepineirosinfectados podem ser destruídos emduas semanas. Esta relação dadoença com as chuvas pode sermelhor compreendida nestetrabalho. Não houve correlaçãoentre o volume da precipitação plu-vial e a severidade da doença (dadosnão apresentados), mas foi positivaa correlação entre o número de diascom chuva e o aumento da severidadeda doença nas plantas do trata-mento céu aberto (Tabela 1).

No tratamento céu aberto, amenor severidade e a menorcorrelação foram registradas naterceira incidência, quando onúmero de dias chuvosos foi menor,além da desuniformidade dadistribuição das precipitações e domenor volume de precipitaçãopluvial no período (Figura 4).

Efeito da temperatura

Em ambos os tratamentos foipossível identificar uma correlaçãonegativa da temperatura com aincidência (dados não apresentados)e a severidade da doença com a

Tabela 1. Coeficientes de correlação da severidade da mancha-reticuladaem pepineiros em três incidências da doença em cultivos a céu aberto(tratamento céu aberto) e em duas incidências da doença em cultivo sobabrigo sem cortinas (tratamento estufa), com temperatura e número dedias com chuva. Itajaí, SC, 2002

Severidade Severidade xTrata- Incidência x Dias com chuvamento da doença Temperatura(1) sobre o cultivo(1)

(0C) (nº)

Céu aberto Primeira -0,9423 0,8837

Segunda -0,9464 0,8842

Terceira -0,9000 0,5601

Estufa Primeira -0,9509 -

Segunda -0,7002 -

(1)Todos os valores foram significativos pelo teste de t a 5% de probabilidade.

Figura 2. Evolução semanal da ocorrência da mancha-reticulada (Leandriamomordicae) em pepineiros. ‘Marinda’ cultivados a céu aberto (tratamentocéu aberto) e em abrigo de polietileno (tratamento estufa). Itajaí, SC, 2002

Figura 3. Evolução semanal da severidade (% área foliar infectada) damancha-reticulada (Leandria momordicae) em pepineiros ‘Marinda’cultivados a céu aberto (tratamento céu aberto) e em abrigo de polietileno(tratamento estufa). Itajaí, SC, 2002

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Figura 4. Caracterização dos períodos de cultivo de pepineiros em quehouve incidência da mancha reticulada (Leandria momordicae ), quantoao número de dias do ciclo, número de dias com chuva no ciclo eporcentagem do ciclo com chuva no local do estudo. Itajaí, SC, 2002

temperatura (Tabela 1). A severidadeda mancha-reticulada aumentouquando a temperatura declinou de21,50C (50% de severidade) para170C (100% de severidade). Porconseguinte, o maior percentualmédio de severidade ocorreu nestafaixa de temperatura (17 a 21,50C).Tal faixa de temperatura favo-rável ao patógeno confere com asobservações de Osner (1918), querelatou ser ótima, em meio arti-ficial, a faixa de 18 a 25oC para L.momordicae crescer e esporular.

Efeito da umidade relativa doar

Não houve correlação entre aseveridade e o percentual de umida-de relativa do ar. Sob mesma condi-ção de umidade relativa do ar, a

severidade foi mais branda nasplantas do tratamento estufa quenas plantas do tratamento céuaberto.

Conclusão

• A freqüência de chuva,associada a temperaturas entre 17 e21,50C, é preponderante no incre-mento da intensidade (incidênciamais severidade) da mancha-reticulada em pepineiros.

• Estufas, em face de seu “efeitoguarda-chuva”, podem ser empre-gadas para redução da intensidadeda mancha reticulada de pepineiros.

Literatura citada

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v.67, n.5, p.534-536, 1983.

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As normas para publicação na revista Agropecuária Catarinensepodem ser acessadas pela internet no endereço www.epagri.rct-sc.br.

Procure por Revista Agropecuária e, a seguir,por Normas para publicação na revista.

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Viabilidade da produção de leite a pasto para vacas deViabilidade da produção de leite a pasto para vacas deViabilidade da produção de leite a pasto para vacas deViabilidade da produção de leite a pasto para vacas deViabilidade da produção de leite a pasto para vacas dealto potencial leiteiroalto potencial leiteiroalto potencial leiteiroalto potencial leiteiroalto potencial leiteiro1

Ana Lúcia Hanisch2 e Marcelo Abreu da Silva3

Aceito para publicação em 25/2/2005.1Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor.2Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P.216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected] adjunto, Dr., UFRGS, Av. Bento Gonçalves, 7.712, 91540-000 Porto Alegre, RS, fone: (51) 3316-6045, e-mail:[email protected].

Resumo – O presente trabalho foi realizado na Granja VB, no município de Eldorado do Sul, RS, no verão de2001, com o objetivo de determinar o consumo e a produção de animais de alto potencial em pastagens dequalidade e a relação custo/benefício do sistema de produção. Foram utilizadas 12 vacas da raça holandesa,multíparas, selecionadas pelo potencial produtivo (31,26 ± 3,3kg de leite/dia), peso vivo (PV) (576 ± 54,20kg) e diasde lactação (128 ± 46,5) e distribuídas aleatoriamente entre os dois tratamentos: T1 – animais mantidos sobpastagem consorciada de milheto (Pennisetum americanum (L.) Leeke) e feijão miúdo (Vigna unguiculata L.) semsuplementação; e T2 – Testemunha: mesmo tipo de pastagem com suplementação diária. A disponibilidade deforragem possibilitou um consumo médio de forragem de 3,13% do PV para o T1 e 4,25% para o T2. A produçãomédia foi de 19,56 e 23,40kg de leite/vaca/dia, respectivamente, para o T1 e o T2, diferindo significativamente.Em relação ao ganho de peso houve variação positiva em ambos os tratamentos. Na análise econômica houvediferenças significativas no custo por litro de leite (R$ 0,19 e R$ 0,306), na margem líquida por litro deleite (R$ 0,31 e R$ 0,194) e na margem líquida por vaca (R$ 6,05 e R$ 4,54) para T1 e T2, respectivamente.Termos para indexação: custos, forragem, pastejo, qualidade da pastagem.

Viability of milk production in pastures for high potential milk cows

Abstract – This study was carried out at Granja VB, Eldorado do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil (30o05’ S, 51o40’W) during Summer of 2001, with the objective to determine the consumption and the production of animals of highpotential on high quality pastures and the relation between cost and benefit of the production system. Twelvemultipara Holstein cows were used. They were selected by their production potential (31,26 ± 3,3kg of milk perday), live weight (LW) (576 ± 54,20kg), and lactation period (128 ± 46,5), and randomly distributed between the twotreatment groups: T1 – animals were kept in a mixed pasture of pearl millet (Pennisetum americanum (L.) Leeke)and cowpea (Vigna unguiculata L.) without supplementation; and T2 – same pasture as T1 with supplementationon daily basis. The availability of forage allowed an average intake of dry matter of forage of 3,13% of LW for T1and 4,25% of LW for T2. There was a significant difference in the milk production between treatments. The averageproduction of the four evaluation periods were 19,56kg milk/cow/day for T1 and 23,40kg milk/cow/day for T2. Therewas a positive variation in weight gain in both treatments. The economic analysis pointed out differences in costper liter of milk (R$ 0,19 and R$ 0,306), in profit per liter of milk (R$ 0,31 e R$ 0,194), and in profit per cow per day(R$ 6,05 and R$ 4,54) for T1 and T2, respectively.Index terms: cost, forage, grazing, pasture quality.

Introdução

O setor de lácteos no Brasil ca-racterizou-se, nas últimas duasdécadas, por crescentes exigências

quanto à qualidade do leite pro-duzido e à redução dos custos deprodução. Estas tendências torna-ram-se presentes de forma impor-tante, inclusive, na negociação de

preços pagos ao produtor, cujaspressões comerciais representamuma ameaça constante à manu-tenção da atividade. Dessa forma,os custos de produção inerentes ao

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modelo adotado podem tornar-se oprincipal fator de definição dasustentabilidade da atividadeleiteira.

Neste contexto, permanecer naatividade leiteira significa para osprodutores manter produtividadesadequadas, mas, acima de tudo,melhorar a eficiência alimentar dosrebanhos. Para isso, é necessárioter em mente que a produtividadeanimal está diretamente relaciona-da ao consumo, e assim podem-sebuscar oportunidades de incrementodo consumo dos animais pela ofertade pastagens de alta qualidade(Peyraud et al., 2001).

Assim, o papel das pastagenstorna-se fundamental para aproposição de sistemas produtivosmais eficientes, tanto em termostécnicos como econômicos, quepermitam, simultaneamente, oatendimento de exigências dequalidade, o aumento ou a manu-tenção da produção ou, ainda, aoferta de produtos diferenciados,destinados a certos nichos demercado.

Apesar de sua importância,ocorrem ainda alguns questiona-mentos sobre as possíveis limi-tações de sistemas de produção deleite a pasto. Um dos principaisargumentos diz respeito ao fato deque, quando pastagens são a únicafonte de alimento do animal, suaconcentração em nutrientes podeser insuficiente para satisfazer osrequerimentos de energia eproteína para vacas altamenteprodutivas ou, ainda, à existênciada limitação física de consumoquando os animais recebem pastofresco à vontade (Comeron, 1997).

Diversos trabalhos (Walles et al.,1998; Kolver & Muller, 1998) têmdemonstrado resultados positivosda produção de leite somente compastagens para animais de altopotencial. A existência ou nãodessas limitações está fortementerelacionada à qualidade da pastagem(Buxton & Mertens, 1995) que, porsua vez, é afetada por inúmerosfatores: espécie forrageira, estágiode crescimento, fertilização emanejo adotados e variáveisclimáticas.

Desta forma, estimar correta-mente o consumo de matéria secaé importante para evitar sub ou

superconsumo e promover o usoeficiente dos nutrientes, para quenão aconteçam problemas relacio-nados à saúde e à produção dosanimais (National..., 2001), além deevitar desperdícios que possam vira prejudicar o desempenho econô-mico da atividade.

Neste sentido, este trabalhoobjetiva determinar o consumo denutrientes de pastagens dequalidade, a produção de animais dealto potencial e a necessidade desuplementação, seja energética ouprotéica, em determinados perío-dos, com base na relação custo/benefício do sistema de produção.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido duranteos meses de janeiro e fevereiro de2001 em uma propriedade leiteira– Granja VB – no município deEldorado do Sul, RS, localizada a30o05’ de latitude S e 51o40’ delongitude O, em uma região declima subtropical úmido tipo Cfa,segundo a classificação de Köeppen.A área experimental constituía-seem 50ha de pastagem consorciada,composta por 85% de milheto(Penisetum americanum (L.) Leeke)e 15% de feijão miúdo (Vignaunguiculata L.), semeados naprimeira quinzena de novembro de2000.

Foram utilizadas 12 vacas da raçaholandesa, multíparas, com altahomogeneidade genética, compotencial produtivo de 31,26 ± 3,3kgde leite/dia, peso vivo de 576 ±54,20kg e 128 ± 46,5 dias de lactação.

Após a estratificação, em funçãodesses fatores, as vacas foramdivididas ao acaso em dois grupos edestinadas de forma aleatória aosdois sistemas avaliados: T1 –receberam somente pastagemconsorciada de milheto e feijãomiúdo; T2 – mesma pastagem doT1, mais suplementação volumosae concentrada (Tabela 1). Neste, asseis vacas selecionadas forammarcadas e reunidas novamente aorebanho total da propriedade.

As vacas destinadas ao T1 foramadaptadas à condição de não seremsuplementadas ao longo de umasemana antes do início doexperimento. Os animais de ambosos grupos tiveram acesso à água eà sombra e receberam sal mineraldiariamente. As vacas foramordenhadas duas vezes ao dia, às5h30min e às 17h30min.

A produção individual de leite foimedida através de controle leiteirorealizado a cada 14 dias, durante aordenha da manhã e a da tarde, coma utilização de um medidor poramostragem. Os animais forampesados no início, 15 dias após e nofinal do experimento.

As pastagens foram divididas empiquetes através da utilização decercas eletrificadas temporárias,que proporcionavam áreas em tornode 100m²/vaca a serem utilizadasentre um e dois dias. Procurou-semanter uma disponibilidade deforragem entre 2.000 e 1.000kg deMS/ha, respectivamente, na entradae na saída de cada piquete,determinada a cada 14 dias, atravésdo Método de Dupla Amostragem,

Tabela 1. Ingredientes na composição da suplementação do T2

Ingrediente Quantidade/vaca/dia Teor de MS

kg %

Resíduo de cervejaria(1) 24 24,3

Planta inteira de milho picada 15 30,67

Casca de soja 3 88,24

Ração Super Tarro Extra(2) 3 92

(1)O uso de resíduo de cervejaria e de planta inteira de milho não foiadministrado simultaneamente.(2)Composição (% MS): 24% de proteína bruta, 1% de nitrogênio não-protéico, 2% de extrato etéreo, 13% de matéria fibrosa, 10% de matériamineral, 5% de cálcio e 0,6% de fósforo.

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79Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

por estimativa visual e cortes. Ovalor nutritivo da forragem foiestimado a partir de cinco amostrascortadas, pesadas e separadas noscomponentes material morto,outras espécies, feijão miúdo ecaule, bainha e lâminas foliares domilheto. Após secagem em estufa decirculação de ar forçado a 65oC, por72 horas, até peso constante, asamostras foram novamente pesadaspara determinação do teor dematéria seca (MS). As amostras delâmina foliar, bainha e colmo demilheto e planta inteira de feijãomiúdo foram, então, moídas esubmetidas à avaliação bromato-lógica em termos de proteína bruta(PB), fibra detergente ácido (FDA),fibra detergente neutro (FDN) edigestibilidade in vitro da matériaseca (DIVMS) e da matéria orgânica(DIVMO).

O consumo voluntário deforragem foi determinado pelométodo agronômico, usando-se adiferença entre a forragemdisponível na entrada e na saída dosanimais de cada piquete, a qual foiaplicado um fator de correção de0,85, determinado em função deestimativa de perdas por pisoteio epor rejeição, devido ao acúmulo dedejeções nos períodos finais depastejo de cada piquete.

Para estimar os custos deprodução por litro de leite foramutilizados os preços médios noEstado do RS dos insumos e serviçosenvolvidos, seja para a implantaçãoda pastagem, seja para a suple-mentação e demais práticas demanejo. O custo da pastagem foideterminado por hectare e divididopelo período de utilização da mesmae pelo número de animais, a fim dedeterminar-se o custo médio dapastagem por vaca por dia.

Foram considerados nos cálculosapenas custos de desembolso, devidoà sua maior relevância do ponto devista do produtor leiteiro da regiãoem que o trabalho foi realizado.

Os dados coletados foramanalisados utilizando-se o pacoteestatístico Multiv. Para acomparação dos tratamentos,procedeu-se à análise de variânciaunivariada, utilizando-se testes de

aleatorização para estimar o nívelde significância das diferenças.

Resultados e discussão

Oferta de matéria seca (MS),consumo e produção

A disponibilidade média deforragem obtida foi de 2.469,6 e1.554,8kg de MS/ha, respectiva-mente, na entrada e na saída dosanimais dos piquetes, proporcio-nando ofertas de matéria seca nãolimitantes para os quatro períodosde avaliação (Tabela 2).

Com as ofertas proporcionadas,as vacas consumindo pastagemcomo única fonte de alimentaçãoobtiveram um consumo médio de3,13% do peso vivo, (PV),equivalente a 18kg de MS de pasto/dia, e alcançaram uma produçãomédia de 19,56kg de leite/dia,significativamente menor (p < 0,01)que a produção de 23,4kg/diaobservada para as vacas do T2, queconsumiram em média 4,25% de seuPV. Apesar dos diferentes níveis deconsumo, em ambos os tratamentosforam observadas variaçõespositivas de peso, contrapondo-se aalguns trabalhos semelhantes,como o de Kolver & Muller (1998),que registraram perda de pesodevido à mobilização de reservascorporais para a produção de leitecom animais de alto potencial apasto.

Resultados de consumo de MSsemelhantes aos obtidos pelas vacasdo T1 foram observados por Kolver& Muller (1998), que obtiveram uma

variação de consumo de 2,85% a3,76% do PV para vacas holandesasde alto potencial, com produções de29,1kg de leite/dia, somente empastagem consorciada de azevémperene, trevo-branco e outrasgramíneas perenes.

Da mesma forma, vários autores(Arriaga-Jordan & Holmes, 1986;Hoden et al., 1991) têm relatadoaltos consumos de MS por vacasconsumindo exclusivamente pas-tagem. Entretanto, alcançar pro-dutividades de leite adequadas emcondições de pastejo depende deuma série de fatores intimamenterelacionados, dos quais o potencialde produção do animal, a qualidadee a disponibilidade da pastagem sãoos principais. Desse modo, osresultados deste trabalho devem tersido influenciados pela qualidade dapastagem disponível (Tabela 3) epela disponibilidade de pastagem naentrada dos animais.

Análise econômica

Os custos de produção por litrode leite4 (R$ 0,19 e R$ 0,306), amargem líquida por litro de leite (R$0,31 e R$ 0,194) e a margem líquidapor vaca por dia (R$ 6,05 e R$ 4,54),respectivamente para T1 e T2,diferiram entre os tratamentos. Emtodos se observaram vantagenssignificativas para os animais queforam conduzidos somente a pastoem relação aos que receberamsuplementação.

Em nível de comparaçãoanalisou-se a variação de renda apartir de uma possível variação no

4Custos e valores atualizados para julho de 2005 – valor do litro de leite = R$ 0,50.

Tabela 2. Disponibilidade e oferta de matéria seca (MS) da pastagem naentrada e na saída dos animais nos piquetes

Períodos de avaliação

3/01/01 17/1/01 31/1/01 01/2/01 Média

..............................kg MS/ha...............................

Entrada 1.928,2 1.922,65 2.693,4 3.334,5 2.469,6

Saída 1.025 1.350,2 1.602 2.242,5 1.554,8

.....................kg MS/100kgPV...........................

Oferta 15 21,5 21 31,8 22,32

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80 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

preço pago ao litro de leite, utili-zando-se as seguintes referências:R$ 0,50/L – preço médio na região;e R$ 0,60/L – maior preço praticado.Na simulação de margem líquidapor vaca (Figura 1) o T1 apresentoucompensações em relação ao T2,mesmo com a menor produtividadede leite alcançada por vaca.

Resultados como esse ressaltama importância de se buscar, nãonecessariamente a máxima produ-ção por animal ou por área, mas amáxima rentabilidade da proprie-dade, de forma que os fatoresenvolvidos não afetem negativa-mente nem o estado sanitário doanimal, nem a produtividade e lon-gevidade da pastagem e, tampouco,a sustentabilidade e a eficiência domodelo de produção adotado.

Dessa forma, o uso de pastagensde qualidade, bem manejadas, podetornar-se uma opção técnico-

Tabela 3. Composição nutricional da dieta dos tratamentos T1 e T2 paraos componentes fibra detergente neutro (FDN), proteína bruta (PB) edigestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO)

FDN PB DIVMS

.................................%......................................

T1 71,07 15,70 70,19

T2 68,17 17,03 63

econômica atraente para produtoresde leite, uma vez que permite aobtenção de produções adequadaspor vaca, durante sua respectivaestação de crescimento, apresentaum custo menor por litro de leiteproduzido e uma renda líquida porvaca significativamente maior doque a de vacas suplementadas.

Conclusões

É possível obter produtividadesde leite economicamente viáveis comanimais de alto potencial produtivo,pelo manejo adequado de pastagensconsorciadas de milheto e feijãomiúdo.

Os animais tratados somente apasto mostram ser mais vantajosospara o produtor nos parâmetroseconômicos custo médio por litro deleite produzido, margem líquida porlitro e por vaca.

Literatura citada

1. ARRIAGA JORDAN, C.M.; HOLMES,W. The effect of concentratesupplementation on high yielding dairycows under two systems of grazing.Journal of Agricultural Science,Cambridge, v.107, p.453-461, 1986.

2. BUXTON, D.R.; MERTENS, D.R.Quality-related characteristics offorages. In: BARNES, R.F.; MILLER,D.A.; NELSON, C.J. (Ed.). Forages: thescience of grassland agriculture. 5.ed.Ames: Iowa State University Press, 1995.v.2. p.83-96.

3. COMERON, E.A. Efectos de la calidadde los forrajes y la suplementacion en eldesempeño de ruminates en pastoreo(com especial referencia a vacaslecheras). In: SIMPÓSIO SOBREAVALIAÇÃO DE PASTAGENS COMANIMAIS, 1., 1997, Maringá, PR.Anais... Maringá, PR: CCA/VEM, 1997.p.53-74.

4. DERESZ, F.; CÓSER, A.C.; MARTINS,C.E.; BOTREL, M.A. Utilização docapim-elefante (Pennisetum purpu-reum, Shum) para a produção de leite.Juiz de Fora: MG: Embrapa – CNPGL,1991.

5. HODEN, A; PEYRAUD, J.L.; MULLER,A; DELABY, L.; FAVERDIN, P.Simplified rotational grazingmanagement of dairy cows: effects ofrate of stocking and concentrate. Jornalof Agricultural Science, Cambridge,v.116, p.417-428, 1991.

6. KOLVER,E. S.; MULLER, L.D.Performance and nutrient intake ofhigh producing Holstein cowsconsuming pasture or a total mixedration. Jornal of Dairy Science,Champaign, v.81, p.1.403-1.411, 1998.

7. NATIONAL RESEARCH COUNCIL.Nutients requeriments of dairy cattle.5.ed. Washington: National AcademyPress, 2001. Disponível em: <http://www.book.nap.edu/books/0309069971/html/index.html> Acesso em 15 jan.2002.

8. PEYRAUD, J. L.; DELAGARDE, R.;DELABY, L. Relationships between milkproduction, grass dry matter intake andgrass digestion. Rencontres Autour desRecherches sur les Ruminants, Paris,v.2, p.44-67, 2001.

9. WALES, W.J.; DOYLE, P.T.; DELLOW,D.W. Dry matter intake and nutrientselection by lactating cows grazingirrigated pastures at different pastureallowances in summer and autumn.Australian Journal of ExperimentalAgricultural, Melbourne, v.38, p.451-460, 1998.

Figura 1. Avaliação da variação da margem líquida por vaca entre osdois tratamentos, considerando a produtividade de 19,5L/vaca no T1(somente a pasto) e 23,4L/vaca no T2 (pastagem + suplementação)

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

R$/

vaca

/dia

0,5 0,6

R$/L de leite

Margem líquida por vaca/dia

Pastagem Pasto+suplementação

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81Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Análise da diversidade genética de genótipos eAnálise da diversidade genética de genótipos eAnálise da diversidade genética de genótipos eAnálise da diversidade genética de genótipos eAnálise da diversidade genética de genótipos eacessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasmaacessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasmaacessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasmaacessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasmaacessos de arroz irrigado do Banco de Germoplasma

da Epagri por AFLPda Epagri por AFLPda Epagri por AFLPda Epagri por AFLPda Epagri por AFLP

Fernando Adami Tcacenco1, Anderson Ferreira2,Luiz Anderson Teixeira de Mattos3 e Antônio Costa de Oliveira4

Introdução

No Brasil, o arroz aparece comouma das principais culturas, comcerca de 4 milhões de hectares, sendoque 25% das lavouras estão situadasna Região Sul, que se destaca tanto

Resumo – Estudos com marcadores moleculares vêm sendo utilizados no melhoramento genético do arroz,destacando-se a técnica AFLP pela precisão e reprodutibilidade dos dados gerados. No presente trabalho, utilizou-se esta técnica para caracterizar 19 cultivares pertencentes ao Banco de Germoplasma de Arroz Irrigado daEpagri, além de três genótipos F5 cuja base genética é constituída pelas cultivares Epagri 108 e Epagri 109 comintrogressão de genes do genótipo multiespigueta. Procurou-se ainda estabelecer a relação entre os agrupamentosformados e a genealogia dos componentes de cada grupo. Foram observados 169 locos polimórficos, gerando doisgrupos homogêneos com 17 dos 22 acessos avaliados. Oito das dez cultivares lançadas pela Epagri, bem como ostrês genótipos multiespigueta, posicionaram-se no mesmo grupo, apresentando similaridade maior do que 50%.Seis dessas cultivares são oriundas de cruzamentos realizados no Ciat, e as outras duas são oriundas de cruzamentosrealizados na Embrapa/CNPAF, o que pode explicar em parte a similaridade genética entre elas.Termos para indexação: Oryza sativa, marcadores moleculares, similaridade genética.

Analysis of the genetic diversity of genotypes and cultivars of ricefrom Epagri through AFLP

Abstract – Studies with molecular markers have been used in rice breeding programs, particularly AFLP, dueto its high accuracy and reproducibility of generated data. In the present work, 19 rice cultivars from the GermplasmBank from Epagri and three genotypes F5 with a genetic basis from the cultivars Epagri 108 e Epagri 109 withintrogression of genes from the multi-spikelet genotype were characterized using AFLP. A total of 169 polymorphicmarkers were detected, generating two homogeneous groups with 17 out of 22 evaluated accesses. Eight out ofthe ten cultivars released by Epagri, as well as the three F5 genotypes, clustered in the same group, with similaritygreater than 50%. Six of the cultivars are derived from crosses from Ciat, and the other two from crosses fromEmbrapa/CNPAF, which can explain in part the genetic similarity between them.Index Terms: Oryza sativa, molecular markers, genetic similarity.

pelo volume de produção quantopela alta produtividade em lavourasirrigadas. O aumento crescente naprodutividade de arroz é devido aresultados de pesquisas realizadasem várias áreas, incluindofitossanidade, tratos culturais,

adubação e melhoramento genético.Dessas, o melhoramento genéticotem se destacado, gerandoincrementos na produtividade, naqualidade nutritiva e outrascaracterísticas agronômicas. Algunsdesses avanços estão diretamente

Aceito para publicação em 16/8/2005.1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5241, fax: (47) 3341-5255,e-mail: [email protected]ólogo, Especialista, Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected]. agr., Dr., UFPEL/Centro de Genômica e Fitomelhoramento/DFT/Faem, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFPEL/Centro de Genômica e Fitomelhoramento/DFT/Faem, e-mail: [email protected].

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82 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

relacionados com estudos dediversidade genética usandomarcadores moleculares, que podemfacilitar a identificação de linhagenscom características de interessepara os programas de melhoramentogenético. Dentre os marcadoresmais conhecidos destacam-se RFLP(Polimorfismo do comprimento defragmentos de restrição), RAPD(DNA polimórfico amplificado aoacaso), microssatélites e AFLP(Polimorfismo do comprimento defragmentos amplificados). Esteúltimo é uma tecnologia baseadaem PCR (Reação da polimerase emcadeia) e envolve a amplificação defragmentos de restrição prove-nientes de uma digestão do DNAgenômico com enzimas de restrição,após a sua ligação a adaptadores(Vos et al., 1995).

AFLP vem sendo usado emestudos com arroz cultivado (Blighet al., 1999; Flowers et al., 2000;Larson et al., 2000; Koyama et al.,2001; Malone et al., 2003; Mao etal., 2004; Tcacenco et al., 2004) etambém com plantas daninhas dessacultura, como, por exemplo, arroz-vermelho (Federici et al., 2001) ecapim-arroz (Tsuji et al., 2003).Nesses estudos, a técnica AFLP temse mostrado eficiente na avaliaçãoda variabilidade genética deindivíduos, populações e espécies.

O presente trabalho teve comoobjetivo utilizar marcadores AFLPpara caracterizar genótipos de arrozirrigado do programa de melhora-mento e do Banco de Germoplasmada Epagri, bem como para estabe-lecer relações entre os agrupa-mentos formados e a genealogia dosmateriais avaliados. O trabalho foidirigido para o conhecimento da basegenética dos materiais estudados,particularmente das cultivareslançadas pela Epagri, como umsubsídio ao programa de melhora-mento genético.

Material e métodos

Material vegetal e extraçãode DNA. Foram analisadas 19cultivares pertencentes ao Bancode Germoplasma de Arroz Irrigadoda Epagri, além de três genótipos F5cuja base genética é constituída pelascultivares Epagri 108 e Epagri 109com introgressão de genes dogenótipo multiespigueta (Yokoyama

et al., 1999), totalizando 22 acessos(Tabela 1). Foram coletadas folhasjovens de várias plantas adultascultivadas a campo ou emlaboratório. A extração de DNAseguiu o protocolo descrito porFerreira et al. (2004), sendo o DNAestocado a 20oC negativos até arealização das análises de AFLP.

Reações de AFLP. As reaçõesde AFLP foram realizadas com o kitcomercial Analysis System I(Invitrogen-Life Technologies)seguindo o manual de instruções dofabricante e o protocolo descrito porVos et al. (1995). Para tanto, 100ngde DNA total foram digeridos comduas enzimas de restrição: EcoRI eMseI, ambas na concentração de 5unidades/μl. A solução de digestãofoi incubada por três horas a 37oC eposteriormente por 15 minutos a70oC. Após as reações de ligação dosadaptadores e pré-amplificação,quatro pares de iniciadores (M-CAT/E-AGC, M-CTT/E-ACA, M-CAG/E-AAC e M-CAT/E-ACT) foram usadospara amplificação seletiva. Asreações foram realizadas emtermociclador PTC-100 (MJResearch).

A eletroforese realizou-se em gelde poliacrilamida 6% utilizando umacuba de seqüenciamento manual(Hoefer SQ3 Sequencer), ondeinicialmente foi realizada uma pré-corrida com tampão TBE a 1.700volts, 60 watts e 40 miliamperes por20 minutos. Em seguida, os produtosda amplificação foram misturadoscom 6μl de tampão de carregamento(98% formamida, 10mM EDTA,0,025% bromofenol blue, 0,025%xileno cianol) e desnaturados a 94oCdurante 6 minutos. Após adesnaturação, 8μl de cada amostraforam carregados no gel para aeletroforese, que obedeceu àsmesmas condições de pré-corrida,exceto pelo tempo de duração quefoi elevado para 2 horas. A revelaçãodos géis foi realizada com nitrato deprata (Briard et al., 2000).

Para cada par de iniciadoresforam avaliadas as bandas polimór-ficas e monomórficas; somentebandas fortes e consistentes foramconsideradas. As bandas polimór-ficas foram classificadas comopresentes ou ausentes e utilizadaspara a geração de uma matriz desimilaridade pelo coeficiente deJaccard, através do programa

NTSYS-pc versão 2.1 (Rohlf, 2000).Essa matriz foi submetida à análisede conglomerados pelo método damédia aritmética não ponderada(UPGMA). Para a comparação entreos agrupamentos formados e aconstituição genética dos acessos, agenealogia, os cruzamentos e ainstituição responsável pelosmesmos foram anotados. Estacomparação foi feita com o intuitode se revelar uma possívelcorrelação entre agrupamentos combase em marcadores AFLP e aorigem dos materiais analisados.

Resultados e discussão

Os quatro pares de iniciadoresgeraram 169 locos polimórficos (M-CAT/E-AGC, 29 locos; M-CTT/E-ACA, 46 locos; M-CAG/E-AAC, 46locos; e M-CAT/E-ACT, 48 locos); onúmero de locos por par (42,25) estádentro do padrão para o kit utilizado,segundo o qual devem ser obtidas dedez até cem bandas. A análise deconglomerados gerou dois gruposhomogêneos com similaridadegenética mínima de 50%, englobando17 dos 22 acessos estudados, sendoque os cinco acessos restantes seposicionaram isoladamente (Figura1). A genealogia e os cruzamentosque deram origem ao materialestudado, bem como os locais ondeos cruzamentos foram realizados,encontram-se na Tabela 1.

O grupo homogêneo 1 com-preende as cultivares lançadas pelaEpagri, exceto Empasc 101 e SCS112, e inclui também a cultivar CICA8. Dentro desse grupo, destacou-seo subgrupo 1A, formado pelascultivares Epagri 108, Epagri 109 eos três genótipos F5 envolvendoessas cultivares e o genótipomultiespigueta, com similaridade de72%. Observando-se a genealogiados componentes deste agrupa-mento, verifica-se que as cultivaresEpagri 108 e Epagri 109 são seleçõesdentro de um mesmo cruzamento,justificando assim seu posicio-namento próximo. Já os genótiposmultiespigueta avaliados no estudosão oriundos do cruzamento eretrocruzamento do genótipomultiespigueta original com ascultivares Epagri 108 e Epagri 109,sendo que as duas últimas foramutilizadas como parental recor-rente.

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Tabela 1. Genealogia e agrupamentos formados por análise de AFLP de acessos do Banco de Germoplasma deArroz Irrigado da Epagri/Estação Experimental de Itajaí. Itajaí, SC, 2005

Genótipo Genealogia/linha Cruzamento Local

Grupo Homogêneo 1 (Similaridade: 55%)(1)

Subgrupo 1A (Similaridade: 72%)Epagri 108 CT-8008-16-31-3P-M 17719 / 5738 // IR 21015-72-3-3-3-1(SC 140) (= CT 7347 / IR 21015-72-3-3-3-1) Ciat, ColômbiaEpagri 109 CT-8008-16-10-41-M 17719 / 5738 // IR 21015-72-3-3-3-1(SC 141) (= CT 7347 / IR 21015-72-3-3-3-1) Ciat, ColômbiaMultiespigueta 1 Plantas F5 de população F4 Epagri 108 / multiespigueta // Epagri 108 Epagri, SCMultiespigueta 2 Plantas F5 de população F4 Epagri 108 // Epagri 108 / multiespigueta Epagri, SCMultiespigueta 3 Plantas F5 de população F4 Epagri 108 / multiespigueta // Epagri 109 Epagri, SC

Subgrupo 1B (Similaridade: 67%)Epagri 106 CT-7363-13-5-7-M P 3085-F4-54 // IR-5853-118-5 / IR 19743-25-2-2-3-1

(= P 3085-F4-54 / CT 6771) Ciat, ColômbiaEpagri 107 P 2017-F4-66-1B-1B CICA 4 // BG-90-2 / CICA 7

(= CNA 5259) Ciat, ColômbiaSubgrupo 1C (Similaridade: 69%)

SCSBRS Tio Taka CNA-IRAT 4M/2/1-75-B-B-2-2-B Nove parentais masculinos (BG 90-2, CNA 7, Embrapa/CNPAF,(= CNA 8644) CNA 3815, CNA 3848, CNA 3887, GO, e Irat,

Colômbia 1, Eloni, Nanicão, UPR 103-80-1-2) / IR36 França(macho-estéril)

CICA 8 P 918-25-1-4-2-3-1B-1131-1 CICA 4 // IR 665-23-3 / Tetep Ciat, ColômbiaDemais componentes do grupo 1

Empasc 102 P 738-137-4-1 IR 930-53 / IR 579-160 Ciat, ColômbiaEmpasc 103 P 791-B4-14 IR 930-2 / IR 665-31-5-8 Ciat, ColômbiaSCSBRS 111 CNAx 3157-45-34-2 P 2867 F4-31-5 / P 4382 F3-75 Embrapa/CNPAF, GO

Grupo Homogêneo 2 (Similaridade: 59%)Subgrupo 2A (Similaridade: 72%)

Batatais – Informações não-disponíveis IAC, SPDawn B 505 A1-28-7-1-2 Century Patna 231 / HO 12-1-1 Texas, USA

Demais componentes do grupo 2Mochigome – Variedade asiática, glutinosa –Preto – Informações não-disponíveis ItáliaLabelle B 6311A-5584-5-8 Belle Patna / Dawn Texas, USA

Grupo 3 (demais cultivares)Empasc 101 P 780-55-1-1 IR 930-80 / IR 532-E-208 Ciat, ColômbiaSCS 112 EEI 10 (= SC 151) Empasc 101 / CICA 8 Epagri, SCIRGA 408 IR 930-31-10 IR 8/ IR 12-178-2-3 Irga, RSCICA 9 P 901-22-11-26-2-2-1B IR 665-23-3-1 / IR 841-63-5-104-1B / C46-15 Ciat, ColômbiaPratão Precoce – Mutação da cultivar Dourado Precoce IAC, SP

(1)Similaridade medida pelo coeficiente de Jaccard.

No grupo 1, encontram-setambém os subgrupos 1B (Epagri106 e Epagri 107) e 1C (SCSBRS TioTaka e CICA 8), com similaridadeinterna de 67% e 69%, respecti-vamente. As duas cultivares doprimeiro subgrupo são oriundas decruzamentos realizados no CentroInternacional de AgriculturaTropical – Ciat –, na Colômbia. Ocruzamento que deu origem àcultivar Epagri 107 envolveu ascultivares CICA 4 e CICA 7, sendoque a primeira (CICA 4) também fezparte do cruzamento que originou

a cultivar CICA 8, pertencente aosubgrupo 1C, possivelmenteexplicando a junção de Epagri 107 eCICA 8 no grupo 1. No entanto, acultivar SCSBRS Tio Taka, quepertence ao mesmo subgrupo deCICA 8, é oriunda de cruzamentorealizado em conjunto entre aEmbrapa/CNPAF e o Institute deRecherches AgronomiquesTropicales – Irat –, na França e,segundo os dados de genealogiadisponíveis (Tabela 1), nãoapresenta ancestrais em comumcom a cultivar CICA 8. Outras três

cultivares da Epagri (Empasc 102,Empasc 103 e SCSBRS 111) fazemparte do grupo homogêneo 1; excetopor SCSBRS 111, que é oriunda deum cruzamento da Embrapa/CNPAF, as outras cultivares sãooriundas de cruzamentos realizadosno Ciat.

O grupo homogêneo 2, tambémcom mais de 50% de similaridadeinterna, compreende algumascultivares exóticas, tais como Dawn,Mochigome, Preto e Labelle, alémda cultivar paulista Batatais. Vistoque inexistem informações de

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genealogia para as três últimas,torna-se difícil fazer inferências arespeito da correlação entregenealogia e similaridade genéticados componentes desse grupo.

O terceiro grupo é formado porcultivares que apresentam poucasimilaridade, tanto entre si quantocom as cultivares de outros grupos.Este grupo apresenta duas cultivareslançadas pela Epagri (Empasc 101 eSCS 112), além de CICA 9, IRGA408, lançada pelo Instituto RioGrandense do Arroz – Irga –, e PratãoPrecoce, uma mutação da cultivarDourado Precoce (Luiz E. Azzini,IAC, comunicação pessoal), lançadapelo Instituto Agronômico deCampinas – IAC.

Constata-se, com base nos dadoslevantados no presente trabalho,que oito das dez cultivares lançadaspela Epagri posicionaram-se nomesmo grupo, apresentandosimilaridade maior do que 55%. Seisdessas cultivares são oriundas decruzamentos realizados no Ciat, eas outras duas são oriundas decruzamentos realizados naEmbrapa/CNPAF, o que podeexplicar em parte a similaridadegenética entre elas. Em adição, ostrês genótipos F5, cuja base genética

é constituída pelas cultivares Epagri108 e Epagri 109 com introgressãode genes do genótipo multiespigueta,também formaram um conglo-merado com essas oito cultivares,indicando que, mesmo que o genó-tipo multiespigueta seja consideradodivergente, a seleção ao longo dasgerações parece ter favorecido a basegenética de Epagri 108 e 109 nessescruzamentos.

Em outros trabalhos com arrozirrigado, a estreita base genética jáhavia sido evidenciada. Em umaampla avaliação do arroz no Brasil,Rangel et al. (1996) verificaram queapenas dez ancestrais contribuíramcom 68% do conjunto gênico dasvariedades brasileiras de arrozirrigado. Utilizando marcadoresRAPD, Vieira et al. (2004)verificaram que as quatro cultivaresde arroz da Epagri estudadas (Epagri108, Epagri 109, SCS 112 e SCSBRSTio Taka) mostraram-se idênticas,diferenciando-se de algumaslinhagens do programa demelhoramento genético. Emtrabalhos realizados no Rio Grandedo Sul, foi demonstrada, através demarcadores moleculares eisoenzimáticos, a proximidadegenética entre os materiais

estudados (Guidolin et al., 1994;Malone et al., 2003). Trabalhosrealizados na Embrapa Arroz eFeijão (Brondani et al., 2004; Ribeiroet al., 2004) também já haviamverificado a estreita base genéticadas cultivares de arroz irrigado doBrasil. Os índices de diversidadegênica encontrados (0,53 e 0,56,respectivamente) foram consi-derados insatisfatórios, sendo quealguns conglomerados apresen-taram distância zero entre ascultivares, levando os autores ainiciarem programas de análise demarcadores moleculares paraampliação da base genética,priorizando linhagens com alelosdiferenciados para explorar avariabilidade genética e culminarcom o lançamento de cultivares maisadequadas. Ainda segundo Rangelet al. (1996), reconhece-se anecessidade de aumentar a basegenética das cultivares de arrozirrigado do Brasil, particularmenteatravés da utilização de genitoresgeneticamente divergentes prove-nientes de outros programas demelhoramento ou da incorpo-ração de variedades tradicionaise de espécies selvagens dearroz, principalmente O. glamaepa-tula.

Em linha com essas observações,os dados de similaridade genéticaentre as cultivares e linhagens aquirelatados podem ser apropriadospelo programa de melhoramentogenético de arroz da Epagri eutilizados no direcionamento defuturos cruzamentos.

Conclusões

A maioria das cultivares de arrozlançadas pela Epagri agrupa-se emum conglomerado com similaridadegenética de 55%. Esse agrupamentopode estar ligado à origem dosmateriais utilizados nos cruza-mentos progenitores das cultivares,que na maior parte são provenientesdo Ciat ou da Embrapa, refletindo,portanto, a base genética utilizadanaquelas instituições.

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SCS 114 Andosan – primeira variedade mutanteSCS 114 Andosan – primeira variedade mutanteSCS 114 Andosan – primeira variedade mutanteSCS 114 Andosan – primeira variedade mutanteSCS 114 Andosan – primeira variedade mutantede arroz irrigado do Brasilde arroz irrigado do Brasilde arroz irrigado do Brasilde arroz irrigado do Brasilde arroz irrigado do Brasil

Takazi Ishiy1, Moacir Antonio Schiocchet2, Richard Elias Bacha3, Dario Alfonso Morel4,Akihiko Ando5, Augusto Tulmann Neto6 e

Ronaldir Knoblauch7

Resumo – Na Epagri, o melhoramento de arroz irrigado visa o desenvolvimento de cultivares produtivas, altorendimento industrial e adequadas propriedades culinárias. Dois métodos mais utilizados são a hibridaçãocontrolada entre duas ou mais cultivares e a mutação induzida, que permite criar variabilidade a partir de umaúnica cultivar. A cultivar SCS 114 Andosan foi desenvolvida através da irradiação com raios gama sobre as sementesda cultivar IR 841. Esta cultivar foi uma das primeiras do tipo moderno cultivadas em Santa Catarina, cujacaracterística principal era o seu alto potencial produtivo. Entretanto, após alguns anos, tornou-se suscetível àbrusone, além de apresentar baixa qualidade de grãos. A mutante obtida SCS 114 Andosan mostra-se tão produtivacomo a variedade original, além de apresentar maior resistência à brusone e qualidade de grãos bem superioresà variedade IR 841.Temos para indexação: Oryza sativa, mutação induzida, melhoramento genético, raios gama.

SCS 114 Andosan – first brazilian lowland rice mutant cultivar

Abstract – High grain yield and good quality are the main objectives of rice breeding program of Epagri. Twobreeding methods are used, namely crosses between two or more cultivars, and induced mutations. The latterallows the generation of genetic variability from a single cultivar. Rice cultivar SCS 114 Andosan was obtainedthrough gamma rays irradiation of seeds from the parent cultivar IR 841. IR 841 was one of the first dwarf typeand highly productive cultivars used in Santa Catarina, due to its high grain yielding potencial; however, its grainquality is poor. As the rice grown area expanded, IR 841 became susceptible to blast. The selected mutant SCS 114Andosan is as productive as the original cultivar and has also shown higher resistance to blast and superior grainquality.Index terms: Oryza sativa, plant breeding, induced mutation, gamma rays.

Introdução

O melhoramento genético dearroz irrigado visa o desenvol-vimento de cultivares de elevadopotencial produtivo, alto rendimentoindustrial e ótima qualidadeculinária. Este trabalho deve serconstante porque a durabilidade deuma cultivar é bastante curta, em

função principalmente da perda deresistência à brusone, a doençafúngica mais prejudicial à culturado arroz. Como o emprego decultivares resistentes à doença aindaé o melhor método para o seucontrole, o desenvolvimento denovas cultivares com base genéticadiferente constitui atualmente amelhor alternativa. Para isso,

utilizam-se, principalmente, doismétodos de melhoramento: ahibridação controlada entre duas oumais cultivares e a indução demutação com raios gama.

Este último método permite criarvariabilidade genética a partir deuma única cultivar. SegundoMaluszynski et al. (1986), quasetodas as características de uma

Aceito para publicação em 16/8/2005.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88351-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244.2Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1933, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Centro de Energia Nuclear na Agricultura, C.P. 96, 13400-970 Piracicaba, SP.6Eng. agr., Dr., Centro de Energia Nuclear na Agricultura, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

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cultivar podem ser modificadasatravés de mutação induzida (Figura1). Este mesmo fenômeno foiobservado por Ishiy (1990), em SantaCatarina, onde desde 1985 vêmsendo executados trabalhos comindução de mutação em arrozirrigado na Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí (Ishiy &Ando, 1988).

As sementes eram irradiadas noCentro de Energia Nuclear naAgricultura – Cena – da Universidadede São Paulo – USP –, em Piracicaba,SP, tendo sido utilizados raios gamacomo agente mutagênico. Ascultivares submetidas a mutaçãoforam as primeiras cultivares dotipo moderno introduzidas naslavouras de Santa Catarina,geralmente com alto potencialprodutivo mas com baixa qualidadede grãos. O trabalho de indução demutação visava melhorar algumascaracterísticas agronômicas dessascultivares, especialmente grãos.

O objetivo do presente trabalho éapresentar a origem e ascaracterísticas da primeira cultivarde arroz irrigado, SCS 114 Andosan,obtida através da indução demutação com raios gama.

Origem da variedade SCS114 Andosan

A cultivar de arroz irrigado IR841, selecionada para indução demutação, foi uma das primeiras dotipo moderno extensivamentecultivada em Santa Catarina. Suaprincipal característica era o elevadopotencial produtivo e foi aresponsável pela aceitação pelasindústrias do tipo de grãos longo efino. Com o lançamento de outrascultivares do tipo moderno commelhores características, a cultivarIR 841 foi sendo substituída devido àperda de resistência à brusone e asua baixa qualidade de grãos.

Metodologia de avaliação

A pesquisa foi conduzida noEstado de Santa Catarina, Brasil, naEpagri/Estação Experimental deItajaí – EEI –, situada a 26o54’ S e48o49’ W, com clima do tipo Cfa –subtropical úmido – e altitudemédia de 5m. Da primeira geração(M1) até a sétima geração (M7), ostrabalhos foram executados na EEI.

Figura 1. Plantas da variedade original (E) e mutantes (D)

A partir da oitava geração, osgenótipos foram também avaliadosem mais cinco regiões orizícolas doEstado, que apresentam solo eclima diferentes, com distânciasvariando entre 80 e 350km de Itajaí.

Até a geração M6, a condução dosexperimentos foi realizada atravésdo transplante individual de mudas.A partir da geração M7, osexperimentos foram conduzidospelo sistema de semeadura comsementes pré-germinadas (Epagri,2002), de maneira semelhante aoutilizado pelos orizicultorescatarinenses.

Em 1993, aproximadamente300g de semente genética da

cultivar IR 841 foram irradiados nadose de 15krad no Cena/USP. Emseguida as sementes foram trazidaspara a Epagri/EEI, e na safra 1993/94 iniciaram-se os trabalhos depesquisa, conforme o fluxogramaapresentado na Figura 2, partindo-se com a etapa de seleção de plantasmutantes e, posteriormente, comavaliações de característicasagronômicas.

Na geração M1, formada porcerca de 8 mil plantas, colheram-sena maturação três panículas decada planta e de cada panícula, cincogrãos sob orientação de Ando et al.(1987). Os grãos foram misturadose deles foi tirada uma amostra para

Irradiação – Cena/USP

Geração M1 - Multiplicação

Geração M2 – Seleção de progênies

Geração M3 a M5 – Seleção de famílias e progênies

Geração M6 – Avaliação preliminar

Geração M7 – Avaliação avançada

Geração M8 a M11 – Competições regionais

Geração M11 – Campo de observação e teste industrial Produção de semente básica Lançamento

Figura 2. Fluxograma para o desenvolvimento da ‘SCS 114 Andosan’através da irradiação com raios gama. Epagri/EEI, 2005

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formar a população M2, compostapor aproximadamente 10 milplantas. Nesta população foramselecionadas várias plantasmutantes. As gerações M3 a M5foram conduzidas em parcelasformadas por aproximadamente 220plantas/mutante, as quais foramsubmetidas a avaliações e seleçõesanuais de famílias e progênies, atése obterem linhas homogêneas.Durante a condução destasgerações, as populações foramsubmetidas às condições favoráveisà ocorrência de brusone (Figura 3),a fim de possibilitar a seleção demutantes resistentes ao fungo. Emexperimentos paralelos, avaliou-setambém a tolerância das plantas àtoxidez por ferro (Figura 4). Aslinhagens homogêneas M6selecionadas foram avaliadas noexperimento denominado “Avalia-ção preliminar”, onde se avalioupela primeira vez o potencialprodutivo do mutante, além deoutras características como resis-tência ao acamamento e qualidadede grãos. As linhagens M7 sele-cionadas entraram em competiçãono experimento seguinte chamadode “Avaliação avançada”, no qual seavaliou, com maior rigor, a resis-tência das plantas ao acama-mento.

No ano agrícola 1999/00 tinha-se, como fruto de avaliações,uma linhagem mutante comcaracterísticas promissoras aolançamento. Essa linhagem foiinicialmente registrada como “SC191”, a qual foi submetida àsavaliações em seis regiões orizícolasdo Estado, durante três anos, emparcelas de 60m2, tendo comotestemunhas três cultivares deciclos precoce, médio e tardio. Nestaetapa avaliaram-se o desempenho

produtivo, rendimento industrial,qualidade culinária e resistência àbrusone. Por apresentar-se emdestaque, a linhagem “SC 191” foidesignada a ser lançada comocultivar apropriada ao sistema pré-germinado para o Estado de SantaCatarina, com o nome de SCS 114Andosan. Esta denominação foidada em homenagem ao cientistaAkihiko Ando, do Cena/USP, queiniciou no Brasil as pesquisas comindução de mutação.

Principais características

A cultivar de arroz irrigado SCS114 Andosan apresenta alto potencialprodutivo, porte baixo, resistência

Tabela 1. Características agronômicas da cultivar de arroz irrigado SCS114 Andosan

• Produtividade média (t/ha)(1) 10

• Estatura (cm) 100

• Vigor inicial Bom

• Perfilhamento Bom

• Ciclo biológico Longo

• Emergência à maturação (dias) 140

• Reação à toxidez por ferro

- Indireta (alaranjamento) Médio/resistente

• Reação à brusone(2) Médio/resistente

• Degrane Intermediário

• Folha-bandeira Ereta

• Exerção da panícula Boa

• Pilosidade da folha Presente

• Maturação Uniforme

• Acamamento(1) Resistente

(1)Em condições experimentais.(2)Em condições experimentais de alta pressão de inóculo.

Figura 3. Avaliação de mutantes resistentes àbrusone

ao acamamento, alta capacidade deperfilhamento, ampla estabilidadede produção, resistência média àbrusone, alto rendimento industriale boas qualidades culinárias (Tabela1). Apresenta também um ciclobiológico longo e bom desempenhode rebrote em regiões com potencialclimático para o aproveitamento dasoca.

As principais características dogrão da nova cultivar SCS 114Andosan são apresentadas na Tabela2.

Os grãos são de excelentequalidade industrial, tanto para oarroz branco como para oparboilizado. O desempenhoindustrial da cultivar SCS 114

Figura 4. Avaliação de mutantes resistentes à toxidez porferro

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Tabela 2. Características do grão da cultivar de arroz irrigado SCS 114Andosan

• Classe Longo-fino

• Arista Ausente

• Microarista Ausente

• Peso de 1.000 grãos com casca (g) 30,2

• Pilosidade Presente

• Cor das glumas Palha

• Comprimento do grão polido (mm) 7,59

• Largura do grão polido (mm) 2,07

• Espessura do grão polido (mm) 1,70

• Relação comprimento/largura 3,67

• Teor de amilose (%)(1) 28 (alto)

• Temperatura de gelatinização Intermediária

• Centro branco (zero a 5)(2) 1

(1)Análise realizada pelo Instituto Riograndense do Arroz – Irga – e peloCentro Internacional de Agricultura Tropical – Ciat.(2)Centro branco: zero = completamente vítreo; 5 = totalmente gessado.

Andosan foi testado pelo Sindicatodas Indústrias do Arroz – Sindarroz–, através de uma indústriaassociada, e também na Epagri/EEI.Os resultados das avaliaçõesmostraram que esta cultivar éadequada aos processos deparboilização e beneficiamentodireto (Tabela 3). A avaliaçãosensorial indicou boa aceitação pelosconsumidores, tanto de arroz brancocomo parboilizado.

Recomendação

A cultivar SCS 114 Andosan érecomendada para cultivo em todasas regiões produtoras de arrozirrigado de Santa Catarina, podendo

Tabela 3. Características industriais e culinárias da cultivar de arrozirrigado SCS 114 Andosan

• Aroma Normal

• Processo de parboilização Adequado

• Aparência do grão polido Vítrea

• Aparência do grão parboilizado Vítrea

• Rendimento de engenho – arroz branco %

- Renda 70,07

- Grãos inteiros 63,47

- Grãos quebrados 6,60

ter seu cultivo ampliado para outrasregiões mediante testes prévios deadaptabilidade.

Agradecimentos

Uma homenagem especial aospesquisadores Dr. Akihiko Ando eAugusto Tulmann Neto, do Cena/USP, pelas orientações técnicas eexecução das irradiações das se-mentes.

Ao Sindicato das Indústrias deArroz de Santa Catarina – Sindarroz– e à Associação Catarinense dosProdutores de Sementes de Arroz –Acapsa –, pelo apoio financeiro elogístico.

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Figura 5. Variedade Andosan

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91Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 2005

Épocas de manejo de plantas de coberturaÉpocas de manejo de plantas de coberturaÉpocas de manejo de plantas de coberturaÉpocas de manejo de plantas de coberturaÉpocas de manejo de plantas de coberturado solo de inverno e incidência dedo solo de inverno e incidência dedo solo de inverno e incidência dedo solo de inverno e incidência dedo solo de inverno e incidência de

plantas daninhas na cultura do milhoplantas daninhas na cultura do milhoplantas daninhas na cultura do milhoplantas daninhas na cultura do milhoplantas daninhas na cultura do milho

Alvadi Antonio Balbinot Junior1, Marcelo Bialeski2 eRogério Luiz Backes3

Resumo – O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito de diferentes culturas de cobertura do solo e de épocasde manejo das mesmas sobre a incidência de plantas daninhas e sobre a produtividade da cultura de milho. Foiconduzido um experimento em Canoinhas, SC, com seis alternativas de cobertura de inverno (nabo forrageiro,aveia-preta, centeio, azevém, aveia-preta + ervilhaca e consórcio entre as cinco espécies utilizadas no experimento),as quais foram roçadas em três épocas antes da semeadura do milho (1 dia, 10 e 25 dias). O manejo das coberturaspróximo à semeadura do milho proporcionou elevada supressão de emergência e menor acúmulo de fitomassaseca da parte aérea pelas plantas daninhas. O azevém e o consórcio onde o azevém estava presente apresentarammaior capacidade de supressão de plantas daninhas.Termos para indexação: plantio direto, competição, alelopatia, manejo de plantas daninhas.

Time of winter cover crops management and weed infestation in corn

Abstract – The aim of this study was to evaluate the effect of soil cover crops and the time of its managementbefore the corn seeding on the weed infestation and corn yield. An experiment was carried out in Canoinhas, SC,Brazil, with six alternatives of winter cover crops (oilseed radish; black oat; rye; ryegrass; intercropping betweenblack oat and common vetch; and intercropping among the five species used). These cover crops were slasheddown in three different times before the corn seeding (1, 10 and 25 days). High suppression of weeds in corn cropwas observed when the cover crops were slashed down next to the corn seeding date. Ryegrass and intercroppingamong the five species of winter cover crops had high capacity to reduce weed mass accumulation.Index terms: no tillage system, competition, allelopathy, weed management.

uso de cobertura do soloé uma prática que apresen-ta elevado efeito sobre o

manejo de plantas daninhas,principalmente em sistema deplantio direto. Na fase decrescimento vegetativo, as culturasde cobertura reduzem a infestaçãode plantas daninhas devido àocupação do nicho (Radosevich etal., 1997). Após manejada, acobertura morta sobre a superfíciedo solo dificulta a emergência devárias espécies daninhas (Severino& Christoffoleti, 2001). Já a palha

em decomposição, através daliberação de substâncias orgânicas,exerce efeito alelopático que podereduzir a emergência e/oucrescimento de plantas daninhas(Trezzi & Vidal, 2004).

Em experimento conduzido commilho no RS, Roman (2002)averiguou que coberturas mortas deaveia-preta e azevém apresentaramelevado potencial de supressão emvárias espécies daninhas, enquantoas palhas de ervilhaca e de centeioapresentaram baixa supressão. JáBalbinot Jr. et al. (2003), em SC,

constataram que elevadasquantidades de palha de ervilhacasuprimiram a emergência deplantas daninhas.

Além das espécies de cobertura,a época de manejo delas antes dasemeadura da próxima culturapossui papel fundamental nasrelações de competição entreplantas cultivadas e daninhas. Asperdas de rendimento de grãos,decorrentes da competição complantas daninhas, variam emfunção da época de estabelecimentoda cultura em relação às plantas

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/ Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, fax: (47) 3624-1079, e-mail: [email protected] Técnico agrícola, Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/ Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

O

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daninhas (Knezevic et al., 1994;Fleck et al., 2002). Quando o manejodas coberturas do solo é realizadopróximo à semeadura da culturasubseqüente, esta consegue seestabelecer antes das plantasdaninhas, levando vantagem nacompetição por água, luz enutrientes.

O objetivo deste trabalho foiavaliar o efeito de culturas decobertura de inverno e de épocas demanejo das mesmas antes dasemeadura do milho sobre aincidência de plantas daninhas e aprodutividade da cultura de milho.

O experimento foi conduzido nomunicípio de Canoinhas, SC, nasafra 2003/04. As culturas decobertura utilizadas foram naboforrageiro, aveia-preta, centeio,azevém, aveia-preta + ervilhacacomum (consórcio 1) e consórcioentre as cinco espécies avaliadas(consórcio 2). A semeadura dasculturas de cobertura foi realizadano dia 11/6/2003 e o manejo dafitomassa foi realizado comroçadeira costal, em três épocas: 1dia, 10 e 25 dias antes da semeadurado milho. O delineamentoexperimental utilizado foi o deblocos casualizados, em esquemafatorial 6 x 3, com três repetições eparcelas subdivididas, onde asculturas de cobertura constituíramas parcelas e as épocas de manejo,as subparcelas. Cada unidadeexperimental apresentou área totalde 28m2 (7m x 4m) e área útil de

8m2 (5m x1,6m). Semeou-se a culti-var de milho SCS 153-Esperançano dia 23/10/2003, em espaçamentode 0,8m e densidade de 50 milplantas/ha. As quantidades defertilizantes aplicadas na base e emcobertura seguiram as recomen-dações da Sociedade... (2004). Paraa adubação de cobertura, conside-raram-se as alternativas de cobertu-ra do solo utilizadas e a produçãode fitomassa de cada uma. As princi-pais espécies daninhas presentes noexperimento foram papuã (Bra-chiaria plantaginea), milhã(Digitaria horizontalis), poaia-branca (Richardia brasiliensis),picão-preto (Bidens spp.) e leiteira(Euphorbia heterophylla).

Durante a condução do expe-rimento foram feitas as seguintesdeterminações: produção defitomassa seca da parte aérea pelasculturas de cobertura do solo,determinada 25 dias antes dasemeadura do milho; densidade deplantas daninhas, determinada aos15 e 47 dias após a semeadura(DAS) do milho; fitomassa seca daparte aérea das plantas daninhas; eprodutividade de grãos de milho. Osdados coletados foram submetidosà análise de variância e as médiasforam comparadas pelo teste deTukey a 5% de probabilidade deerro.

Na Tabela 1, observa-se que oconsórcio 1 (aveia-preta + ervi-lhaca), o consórcio 2 (das cincoespécies), centeio e aveia preta

produziram as maiores quantidadesde fitomassa seca da parte aérea. Onabo forrageiro e o azevém, por suavez, produziram as menoresquantidades de palha. Heinrichs &Fancelli (1999) também verificaramque o consórcio entre aveia-preta eervilhaca se constitui numa boaestratégia para aumentar aprodução de fitomassa.

As espécies de cobertura de solonão tiveram efeito sobre a densidadede plantas daninhas determinadaaos 15 e 47 dias após a semeadura(DAS) do milho. No entanto, estavariável foi afetada pela época demanejo das culturas de coberturade solo (Figura 1; Tabela 2). Adensidade de plantas daninhasobservada aos 15 DAS variou deacordo com o tempo decorrido entreo manejo da fitomassa e asemeadura do milho; ou seja,quanto maior o tempo decorrido,maior a densidade de plantasdaninhas. Já aos 47 DAS, a maiorincidência de plantas daninhasocorreu nas parcelas em que asemeadura do milho foi realizadaapós 25 dias do manejo.

Aos 47 DAS, verificou-se que ascoberturas que tiveram maior efeitosupressor sobre o acúmulo defitomassa pelas plantas daninhasforam o azevém e o consórcio 2(associação das cinco espéciesutilizadas no experimento) (Tabela3). É provável que isso tenhaocorrido devido à lenta decompo-sição da palha de azevém, em razãoda sua elevada relação C/N. Emadição, o consórcio 2 suprimiu emelevado nível o crescimento dasplantas daninhas devido à presençade azevém na composição da palhae por produzir elevada quantidadede fitomassa (Tabela 1). Ascoberturas de nabo forrageiro,centeio e consórcio 1 (aveia-preta +ervilhaca) permitiram que hou-vesse elevada produção de fitomassapelas plantas daninhas.

A época de manejo das culturasde cobertura de inverno tambémafetou o acúmulo de fitomassa pelasplantas daninhas determinada aos47 DAS (Tabela 4). O manejo um diaantes da semeadura do milhoproporcionou o menor acúmulo defitomassa pelas plantas daninhas.Por outro lado, houve elevadoacúmulo de fitomassa pelas plantasdaninhas quando as culturas de

Tabela 1. Produção de fitomassa seca da parte aérea pelas culturas decobertura do solo. Canoinhas, SC, 2004(1)

Cultura de cobertura do solo Produção de fitomassa seca

kg/ha

Nabo forrageiro 6.406 b

Aveia-preta 8.333 a

Centeio 9.000 a

Azevém 5.200 b

Consórcio 1 9.693 a

Consórcio 2 9.300 a

CV (%) 23,5

(1)Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade de erro.Nota: CV = coeficiente de variação.

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Tabela 2. Densidade de plantas daninhas aos 15 e 47 dias após asemeadura (DAS) do milho, em diferentes épocas de manejo das culturasde cobertura do solo antes da semeadura do milho. Canoinhas, SC, 2004(1)

Época de manejo das Densidade de plantas daninhascoberturas antes dasemeadura do milho 15 DAS 47 DAS

Dia ................Plantas/m2................

1 10,9 c 39,5 b

10 31,3 b 39,3 b

25 51,1 a 67,5 a

CV (%) 29,91 21,48

(1)Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si peloteste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.Nota: CV = coeficiente de variação.

Tabela 3. Fitomassa seca da parte aérea de plantas daninhas aos 47 diasapós a semeadura do milho, na presença de diferentes culturas decoberturas do solo antecedendo o milho. Canoinhas, SC, 2004(1)

Cultura de cobertura do solo Fitomassa seca

g/m2

Nabo forrageiro 178,0 a

Aveia-preta 113,6 bc

Centeio 123,3 ab

Azevém 41,5 d

Consórcio 1 123,8 ab

Consórcio 2 60,4 cd

CV (%) 41,4

(1)Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade de erro.Nota: CV = coeficiente de variação.

Figura 1. Infestação de plantas daninhas na cultura do milho aos 14 diasapós a semeadura. (A) cobertura do solo com palha de aveia-preta roçadaum dia antes da semeadura do milho e (B) cobertura do solo com palha deaveia-preta roçada 25 dias antes da semeadura do milho. Canoinhas, SC,2004

cobertura foram manejadas 25 diasantes da semeadura do milho. Issoocorreu porque o tempo entre omanejo das culturas de cobertura ea emergência do milho favorece aemergência das plantas daninhas.Em geral, quanto mais cedo asplantas se estabelecem, maior é asua habilidade em competir pelosrecursos do ambiente (água, luz enutrientes) (Knezevic et al., 1994;Fleck et al., 2002). Neste sentido,as plantas daninhas que seestabelecem antecipadamentedesenvolvem-se mais e, por isso,possuem elevado potencial de danoàs culturas.

Para produtividade de grãoshouve efeito significativo dainteração entre culturas decobertura do solo e épocas demanejo das mesmas (Tabela 5). Nãohouve diferença em produtividadede grãos entre as diferentesespécies de cobertura de solo quan-do as mesmas foram manejadas umdia e dez dias antes da semeadurado milho. Mas, quando o manejo foirealizado 25 dias antes da semea-dura do milho, o consórcio 2 e oazevém proporcionaram as maioresprodutividades de grãos. Houvecorrelação negativa entre produtivi-dade de grãos e fitomassa seca deplantas daninhas determinada aos47 DAS.

Para as coberturas de azevém econsórcio 2, não houve diferençaem produtividade de grãos de milhonas diferentes épocas de manejo dascoberturas (Tabela 5). Em relaçãoàs demais coberturas, verifica-seque o manejo antecipado (25 DAS)proporcionou as menores produtivi-dades de grãos. Isso ocorreu porquenessa situação a competição complantas daninhas foi muito eleva-da.

Nesse contexto, verifica-se quehá grande potencial para uso deculturas de cobertura de inverno,como azevém e consórcios entrediferentes espécies, para elevar asupressão de plantas daninhas emsistema de plantio direto, reduzir oimpacto da competição interes-pecífica e, em conseqüência, adependência de herbicidas. Aliado aisso, constata-se que menor inter-valo de tempo entre o manejo dascoberturas de inverno e asemeadura do milho se reflete emvantagem competitiva ao milho.

B

A

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Tabela 4. Fitomassa seca da parte aérea de plantas daninhas aos 47 diasapós a semeadura (DAS) do milho, em diferentes épocas de manejo dasculturas de cobertura do solo antes da semeadura do milho. Canoinhas,SC, 2004(1)

Época de manejo das coberturas antes Fitomassa secada semeadura do milho

Dia g/m2

1 43,7 c

10 108,1 b

25 dias 168,5 a

CV (%) 41,4

(1)Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade de erro.Nota: CV = coeficiente de variação.

Tabela 5. Produtividade de grãos de milho cultivados em competiçãocom plantas daninhas, após diferentes culturas de coberturas do solo eépocas de manejo das mesmas antes da semeadura do milho. Canoinhas,SC, 2004(1)

Cultura de Dia de manejo antes da semeadura do milhocobertura dosolo 1 10 25

...............................kg/ha...............................

Nabo forrageiro 3.215 a A 2.497 a A 1.246 c B

Aveia-preta 4.234 a A 3.867 a A 1.876 bc B

Centeio 3.953 a A 3.497 a A 2.065 bc B

Azevém 3.583 a A 3.389 a A 3.691ab A

Consórcio 1 3.920 a A 2.942 a A 1.585 c B

Consórcio 2 4.437 a A 4.014 a A 3.967 a A

CV (%) 17,64

(1)Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculasnas linhas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidadede erro.Nota: CV = coeficiente de variação.

Agradecimento

Ao agricultor José Falgater porter auxiliado na execução doexperimento.

Literatura citada

1. BALBINOT JR., A.A.; FONSECA, J.A.;TÔRRES, A.N.L. et al. Efeito da palha deervilhaca sobre a incidência de plantas

espontâneas e a produtividade do milho.Agropecuária Catarinense, Florianó-polis, v.16, n.3, p.50-54, 2003.

2. FLECK, N.G.; RIZZARDI, M.A.; VIDAL,R.A. et al. Período crítico para controlede Brachiaria plantaginea em funçãode épocas de semeadura da soja após adessecação da cobertura vegetal. PlantaDaninha, Viçosa, v.20, n.1, p.53-62,2002.

3. HEINRICHS, R.; FANCELLI, A.L.Influência do cultivo consorciado deaveia preta (Avena strigosa Schieb.) eervilhaca comum (Vicia sativa L.) naprodução de fitomassa e no aporte denitrogênio. Scientia Agrícola,Piracicaba, v.56, n.1, p.27-32, 1999.

4. KNEZEVIC, S.Z.; WEISE, S.F.;SWANTON, C.J. Interference of redrootpigweed (Amaranthus retroflexus) incorn (Zea mays). Weed Science ,Lawrence, v.42, n.4, p.568-573, 1994.

5. RADOSEVICH, S.; HOLT, J.; GHERSA,C. Weed ecology. 2.ed. New York: JohnWiley & Sons, 1997. 588p.

6. ROMAN, E.S. Plantas daninhas: manejointegrado na cultura do milho e de feijão.Revista Plantio Direto, Passo Fundo,v.7, n.72, p.12-13, nov./dez. 2002.

7. SEVERINO, F.J.; CHRISTOFFOLETI,P.J. Efeitos de quantidades de fitomassade adubos verdes na supressão deplantas daninhas. Planta Daninha,Viçosa, v.19, n.2, p.223-228, 2001.

8. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estados doRio Grande do Sul e de Santa Catarina.10. ed. Porto Alegre: SBCS/NúcleoRegional Sul; Comissão de Química eFertilidade do Solo – RS/SC, 2004. 394p.

9. TREZZI, M.M.; VIDAL, R.A. Potencialde utilização de cobertura vegetal desorgo e milheto na supressão de plantasdaninhas em condição de campo: II –Efeitos da cobertura morta. PlantaDaninha, Viçosa, v.22, n.1, p.1-10, 2004.

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A

Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Agathomerus sellatusAgathomerus sellatusAgathomerus sellatusAgathomerus sellatusAgathomerus sellatus em tomateiro no em tomateiro no em tomateiro no em tomateiro no em tomateiro noPlanalto Norte CatarinensePlanalto Norte CatarinensePlanalto Norte CatarinensePlanalto Norte CatarinensePlanalto Norte Catarinense

Alvimar Bavaresco1 e Geraldo Pilati2

Resumo – Na safra de 2004/05 foram observados danos de Agathomerus sellatus (Germar) (Coleoptera:Chrysomelidae) na cultura do tomateiro na Região do Planalto Norte Catarinense. Neste trabalho é apresentadaa descrição e os danos do inseto, com algumas indicações para o seu manejo. As larvas de A. sellatus broqueiamas hastes do tomateiro e de outras solanáceas, enquanto os adultos alimentam-se das partes verdes das plantas.A postura é endofítica e resulta em um dano característico, formado por pequenos orifícios em espiral ao redor dahaste. No local da postura a haste pode quebrar com o vento, na manipulação ou devido ao peso da planta. Rotaçãode culturas, controle dos insetos adultos e a eliminação das plantas atacadas podem contribuir para reduzir o nívelpopulacional da praga.Termos para indexação: Insecta, tomate, inseto-praga, broca.

Occurrence of Agathomerus sellatus in tomato plants in the North Plato of SantaCatarina State

Abstract – In the 2004/05 season, damages of Agathomerus sellatus (Coleoptera: Chrysomelidae) were observedin tomato plants in Northern Highlands of Santa Catarina State, Brazil. The insect biology, its damage and somemanagement practices to control this pest are presented. The larvae of A. sellatus bores tomato stems and canattack other Solanaceae species, while adults feed on green parts of plants. The typical damage is a formation ofsmall orifices in spiral around the stems by endophytic egg laying habits. At the point where the eggs are layedthe stems can break with the wind, manipulation or with plant weight. Crop rotation, control of adult insects andelimination of infested plants can contribute to reduce the population of the insect.Index terms: Insecta, tomato, insect-pest, borer.

cultura do tomateiro desta-ca-se entre as hortaliçasproduzidas em Santa

Catarina e ocupou em 2003 umaárea de 2.507ha (Síntese..., 2004).Neste ano, o Estado figurou como ooitavo produtor nacional, respon-dendo por 3,55% da produção. Osplantios concentram-se nas micror-regiões de Joaçaba, Florianópolis,Tabuleiro, Campos de Lages eTubarão, que foram responsáveispor 84,8% da produção estadual detomate (Síntese..., 2004). Amicrorregião de Canoinhas, no

Planalto Norte Catarinense, apesarde não figurar entre as principaisprodutoras do Estado, se sobressaipela produtividade média daslavouras, alcançando 78.947kg/ha,53% superior à média estadual, emrazão da prática do cultivo protegido(Síntese..., 2004).

No período de outubro adezembro de 2004 foi observada aocorrência de Agathomerus sellatus(Germar) (Coleoptera: Chryso-melidae) broqueando as hastes dotomateiro em hortas domésticas nomunicípio de Canoinhas, SC.

Posteriormente, em uma áreaexperimental de tomateiro orgânicona Epagri/Estação Experimental deCanoinhas, foi observado dano desteinseto em 1,7% das plantas. Asmudas utilizadas neste experimentoforam transplantadas em 16 denovembro de 2004, sendo observadaa ocorrência de adultos de A. sellatusna área até final de dezembro.

Os adultos de A. sellatus medemde 11 a 15mm de comprimento etêm coloração variando de castanho-amarelado-clara a castanho-escura(Figura 1). As antenas, os élitros

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected]. agr., Epagri/Gerência Regional de Canoinhas, e-mail: [email protected].

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(exceto regiões marginais), as tíbiase os tarsos são de cor preta. A cabeçaé hipognata, não coberta pelo pro-noto, com um par de manchas ne-gras no vértice e uma entre os olhos.As antenas têm 11 segmentos quese alargam gradativamente emdireção ao ápice, formado uma clava.O pronoto é trapezoidal, os élitrossão recobertos por pilosidade decum-bente dourada e com o pigídio parcial-mente exposto (Rocha et al., 2003).

A biologia de A. sellatus é poucoconhecida, mas sabe-se que as larvassão broqueadoras e os adultos,desfolhadores de espécies da famíliadas solanáceas. As larvas broqueiamhastes de tomateiro e os adultosatacam as partes verdes das plantasde batatinha e de tomateiro. Outrasespécies do gênero Agathomerus têmhábitos semelhantes. A. flavoma-culatus é citado atacando ramos efolhas de berinjela, jiló, pimenta epimentão (Silva et al., 1968; Rochaet al., 2003). Este inseto foi um dosmais freqüentes entre 49 espéciesde Coleoptera associadas à culturado jiló em Minas Gerais (Picanço etal., 1999). As maiores populaçõesocorreram entre os meses de julhoe outubro, quando as plantas apre-sentavam o caule bem desenvolvido,permitindo o desenvolvimento daslarvas. Segundo estes autores, A.sellatus também foi observado nojiló, porém com menor freqüência.

A. sellatus realiza posturaendofítica nas hastes do tomateiroque resulta em um danocaracterístico formado por uma série

de pequenos orifícios em espiral aoredor do caule (Figura 2). A porçãoda haste acima do dano podemurchar (Figura 3) ou quebrarfacilmente pela ação do vento, namanipulação da planta ou devido aopeso da parte aérea. Mesmo que nãoocorra a quebra da haste, obroqueamento pode causar a morteda planta e reduzir o estande dalavoura. Abrindo a haste na regiãopróxima da postura é possívelobservar os ovos da praga, que sãode formato cilíndrico e coloração

Figura 1. Adultos de Agathomerus sellatus

Figura 2. Dano originário da postura de Agathomerus sellatus na haste dotomateiro

bege-amarelada (Figura 4), ou,então, as larvas do inseto.

Danos deste inseto não têm sidoobservados em áreas de produçãoconvencional de tomate, talvez pelofato de os inseticidas aplicados parao controle das demais pragas dacultura, como a broca-pequena e atraça-do-tomateiro, tambémexercerem ação tóxica sobre A.sellatus. Por isso, caso o produtoradote sistemas de controle daspragas-chave utilizando inseticidasde ação específica sobredeterminados grupos de insetos, érecomendado que fique atento àocorrência de A. sellatus na lavoura,para que possa adotar medidasespecíficas de controle.

Em sistemas de produçãoorgânica, é possível que o insetoencontre condições favoráveis parao seu desenvolvimento. Neste caso,a catação manual dos adultos e adestruição das plantas atacadas,para eliminar os ovos e as larvas,são recomendáveis para reduzir ainfestação e os danos da praga. Arotação de culturas, evitando oplantio sucessivo de solanáceas nasmesmas áreas (tomate, batata,pimentão, berinjela), e a diversifi-cação do sistema de produçãotambém podem contribuir paramanter a população do inseto emníveis não-prejudiciais.

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Figura 3. Sintoma de murcha apical de planta detomateiro devido ao ataque de Agathomerus sellatus

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Dr.Carlos Campaner, do Museu deZoologia da Universidade de SãoPaulo – USP –, pela identificação daespécie.

Literatura citada

1. PICANÇO, M.; LEITE, G.L.D.;BASTOS, C.S.; SUINAGA, F.A.; CASLI,V.W.D. Coleópteros associados aojiloeiro (Solanum gilo Raddi). Revista

Figura 4. Postura de Agathomerus sellatus no interiorda haste do tomateiro

Brasileira de Entomologia, São Paulo,v. 43, n. 1/2, p. 131-137, 1999.

2. ROCHA, A.D.; SANTOS, F.D. dos;ALENCAR, A. Morfologia de adulto deAgathomerus sellatus (Germar, 1823)(Coleoptera, Megalopodidae,Megalopodinae). In: CONGRESSO DEINICIAÇÃO CIENTÍFICA EMCIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS- CICAM, 1., 2003, São Paulo. Arquivosdo Instituto Biológico, v.70, supl. 2,p.68. 2003. Disponível em: <http://www.biologico.sp.gov.br/arquivos/v70_suplemento23/cicam.pdf.>. Acesso

em 7 jan. 2005.

3. SILVA, A.G. D’A. e; GONÇALVES,A.J.L.; GOMES, J.; SILVA, M. do;SIMONI, L. de. Quarto catálogo dosinsetos que vivem nas plantas do Brasil:seus parasitos e predadores. Rio deJaneiro: Ministério da Agricultura,1968. 622p. v.2. t.1.

4. SÍNTESE ANUAL DA AGRICULTURADE SANTA CATARINA – 2003-2004.Florianópolis: Instituto Cepa/SC, 2004.377p.

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PPPPProdução de material vegetativo derodução de material vegetativo derodução de material vegetativo derodução de material vegetativo derodução de material vegetativo deameixameixameixameixameixeira (eira (eira (eira (eira (PPPPPrunus salicinarunus salicinarunus salicinarunus salicinarunus salicina) livre da) livre da) livre da) livre da) livre da

escaldadura-escaldadura-escaldadura-escaldadura-escaldadura-dasdasdasdasdas-folhas (-folhas (-folhas (-folhas (-folhas (Xylella fastidiosaXylella fastidiosaXylella fastidiosaXylella fastidiosaXylella fastidiosa)))))

Marco Antonio Dalbó1, Robson Leandro Hoffman2, Daiane Melo3 eLiziane Kadine Antunes de Moraes4

Introdução

A escaldadura-das-folhas, causa-da pela bactéria Xylella fastidiosa(Wells et al., 1987), é a principal

Resumo – A escaldadura-das-folhas, causada pela bactéria Xylella fastidiosa, é a principal doença da ameixeira(Prunus salicina) no Brasil. A utilização de material contaminado tem causado a diminuição da vida útil dospomares e a disseminação da bactéria nas regiões produtoras. A Epagri/Estação Experimental de Videira iniciouum programa de obtenção e produção de material vegetativo livre de Xylella fastidiosa que consiste em umsistema de limpeza pela adição de antibióticos via raiz, em mudas cultivadas em vasos contendo areia e soluçãonutritiva, seguida de minienxertia dos ápices vegetativos em plântulas de pessegueiro. Foram testados métodosde extração de DNA e iniciadores específicos de Xylella fastidiosa para a detecção da presença desta bactéria emmaterial vegetal via PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). As plantas livres da bactéria foram mantidas emcondições de telado para evitar a recontaminação por insetos vetores e monitoradas continuamente para verificara sanidade. Após quatro anos de implantação do sistema, as matrizes ainda se mantêm isentas da bactéria.Termos para indexação: escaldadura, ameixa, DNA, PCR, propagação de plantas.

Production of plum (Prunus salicina) vegetative material free of leaf scald(Xylella fastidiosa)

Abstract – Leaf scald, caused by Xylella fastidiosa, is the main plum (Prunus salicina) disease in Brazil. The useof contaminated material has caused a shortening in orchard lifespan and dissemination of the bacteria in allproducing regions. A program of obtainance and production of plum vegetative material free of Xylella fastidiosawas established at Epagri/Videira Experiment Station. A cleaning system was developed by applying antibiotics tothe roots, in plants cultivated in sand culture with nutrient solution, followed by minigrafting of vegetative apexin peach seedlings. Methods of DNA extraction and Xylella fastidiosa specific primers were tested in order todetermine the most reliable PCR-based detection method. Xylella-free plants have been mantained in greenhouseto avoid recontamination by insect vectors and are continuously monitored to verify their sanitary status. Fouryears after the beginning of this program, tests indicate that the plants are still free of Xylella fastidiosa.Index terms: leaf scald, DNA, PCR, plant propagation.

doença da ameixeira no Brasil eprovoca declínio e morte de plantas.Esta bactéria se aloja nos vasos doxilema da ameixeira, onde provocaum bloqueio crônico dos mesmos,

dificultando a translocação da seiva(Figura 1). Não existe tratamentoeficiente e a doença está disseminadanas regiões tradicionalmenteprodutoras. Também não se dispõem

Aceito para publicação em 6/6/2005.1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3566-0054, e-mail: [email protected]. hort., Unoesc – Campus Videira, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3551-1422.3Graduando em Ciências Biológicas, Unoesc – Campus Videira.4Eng. agr., M.Sc., UFSC/Centro de Ciências Agrárias, Rod. Admar Gonzaga, 1.346, Itacorubi, 88034-001 Florianópolis, SC, fone: (48)3331-5300.

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atualmente de cultivares resistentescom boas características para cultivocomercial.

Os vetores responsáveis pelatransmissão da X. fastidiosa empomares de ameixeira são cigar-rinhas da família Cicadellidae, quese alimentam da seiva das plantas(Ducroquet et al., 2001). Outro meiode disseminação da bactéria é autilização de material propagativocontaminado que resulta naimplantação de pomares com mudascontaminadas. Esta situação ébastante comum e tem contribuídopara a disseminação da doençaespecialmente em áreas anterior-mente isentas.

O plantio de mudas isentas deXylella fastidiosa, além de reduzir adisseminação da doença, podeacrescentar alguns anos de vida útilao pomar em áreas onde a bactériaé endêmica. O efeito benéfico do usode material livre desta doença édifícil de precisar e depende davariedade e das condições locais.Entretanto, é o principal fator demanejo atualmente disponível paraviabilizar economicamente o cultivoda ameixeira.

O uso de mudas livres de Xylellaainda é limitado, em parte pelodesconhecimento dos produtores,mas principalmente pela poucadisponibilidade de mudas de quali-dade. Em razão disso, foi estabelecidona Epagri/Estação Experimental deVideira – EEV – um programa deprodução de matrizes das principais

cultivares de ameixeira livres deXylella fastidiosa. Para isso, foramfeitas algumas adaptações dasmetodologias existentes, princi-palmente as desenvolvidas paracitros, as quais serão descritas nesteartigo.

Este trabalho foi desenvolvidopela necessidade de criar um sistemarápido e seguro de limpeza dematerial vegetativo de um númerogrande de variedades, principal-mente os decorrentes do programade melhoramento genético con-duzido na Epagri/EEV. Com oobjetivo de facilitar a diagnose eaumentar a sua eficiência, foramtestados e avaliados métodosalternativos via PCR.

Basicamente, um programa deobtenção, manutenção e distribuiçãode material de ameixeira livre deXylella consiste nas seguintes etapas:

• Obtenção (limpeza) do materialvegetativo.

• Manutenção de plantasmatrizes oriundas do processo delimpeza em telado para evitarrecontaminação.

• Estabelecimento de um sistemade diagnóstico laboratorial da pre-sença da bactéria para monitora-mento contínuo do material.

Obtenção de materialpropagativo livre deXylella

A eliminação de uma bactérialimitada ao xilema, como a X.

fastidiosa, é teoricamente mais fácildo que de outros patógenosendofíticos, como os vírus, porexemplo, que vivem dentro dascélulas do hospedeiro. Entretanto,a termoterapia, seguida demicroenxertia de ápices, comumenteusada para vírus, tem sido tambémusada para limpeza de Xylella. Otratamento térmico de estacas a50oC também possibilitou a obtençãode material livre desta doença emameixeira (Moraes et al., 2001).

Para uso na Epagri/EEV, montou-se um sistema de limpeza utilizandoantibióticos via raiz para atingir oxilema da planta, onde a bactéria sealoja. Em seguida os ápices,supostamente livres, foramenxertados sobre plântulas depessegueiro. A enxertia tem sidofeita com segmentos apicais de 1cmde comprimento, o que foiconsiderado como minienxertia.

A etapa inicial do processo é aobtenção de mudas das variedadesde ameixeira a serem limpas, feitaspor enxertia de mesa com materialdormente sobre porta-enxerto depessegueiro. Essas mudas foramplantadas em vasos contendo areialavada. Os vasos foram regadosduas vezes por semana com 1L desolução nutritiva (2g/L), contendoos antibióticos tetraciclina eestreptomicina, a 0,5g/L do produtocomercial Agrimicina. Quando asbrotações atingiram cerca de 10cmde comprimento, foi feita a retiradados ápices (supostamente livres dabactéria) para a realização dasminienxertias sobre “seedlings” depessegueiros (Figuras 2 e 3).

A ação dos antibióticos foidemonstrada num teste em que secomparou a sua adição ou não nasolução nutritiva em mudas dematerial sabidamente contaminado.Com a adição de antibióticos houvemaior crescimento inicial dosenxertos (Figura 4), indicando que aabsorção via raiz teve ação sobre abactéria. Foi observado que aenxertia de segmentos de ápicesmaiores (cerca de 2cm) tambémresultou em plantas isentas deXylella. Entretanto, o uso desegmentos de caule maiores, quefacilitaria a enxertia, precisa aindaser melhor avaliado. Emborateoricamente a obtenção de materiallivre da bactéria possa ser feita demodo mais simples, o sistema de

Figura 1. (A) aspecto de planta deameixeira ‘Santa Rosa’ comsintomas de escaldadura-das-folhas,causada por Xylella fastidiosa; (B)presença de Xylella fastidiosa emvasos do xilema

A

B

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minienxertia aqui descrito passou aser empregado rotineiramente porter se mostrado eficaz em todos oscasos analisados.

Para algumas cultivarestradicionais, foi feita a introduçãode material livre originário daEmbrapa Clima Temperado, Pelotas,RS.

Manutenção de plantasmatrizes em telado

As plantas foram mantidas emestufa com cobertura plástica e comtela antiafídeo nas laterais, visando

A

B

C

Figura 2. Detalhes da realização de minienxertia em ameixeira. (A)plantas cultivadas em vasos com areia; (B) ápice vegetativo utilizadocomo enxerto; (C) aspectos da minienxertia recém-feita, com revestimentode Parafilm® para proteger contra o dessecamento

impedir a entrada de insetos vetores(cigarrinhas) que pudessemrecontaminar o material, e em vasosde 15 a 20L, com o objetivo deproporcionar um bom crescimentodas plantas e, conseqüentemente,uma boa produção de materialpropagativo (Figura 3).

Diagnose de Xylellafastidiosa

Para a certificação de ummaterial livre de X. fastidiosa énecessário dispor de um método deanálise preciso, sensível e com

baixíssima margem de erro. O tipode erro mais preocupante é ochamado falso negativo, em que seconclui que o material está livre dabactéria quando na realidade nãoestá. Outras característicasdesejáveis da metodologia de análisesão o baixo custo, de modo a permitiro monitoramento contínuo domaterial, e a reprodutibilidade dosresultados, permitindo a análise dediferentes partes da planta, emdiferentes épocas e por diferentespessoas.

A detecção de X. fastidiosa égeralmente feita por métodossorológicos (Elisa) ou por PCR(Reação em Cadeia da Polimerase).Este último é considerado o maissensível e, por essa razão, foramconcentrados neste método osesforços para definir umametodologia de certificação domaterial.

Na reação de PCR, um segmentode DNA é amplificado múltiplasvezes através da enzima DNApolimerase, de modo que se tornavisível por fluorescência apóseletroforese em gel de agarose. Areação é dependente da presença dedois segmentos de DNA de fitasimples (iniciadores ou “primers”),que são o ponto de partida para aenzima realizar a síntese da fita deDNA complementar ao DNA molde(da bactéria, neste caso). Aespecificidade da reação é dada pelosiniciadores que representamseqüências únicas do genoma dabactéria. Desta forma, a reação sóvai ocorrer se o DNA da bactériaestiver presente na amostra.

Iniciadores específicos para aXylella já foram desenvolvidos(Minsavage et al., 1994; Pooler &Hartung, 1995). Entretanto, osmelhores resultados para faci-lidade de amplificação foram ob-tidos com os iniciadores desen-volvidos por Rodrigues et al. (2003)(Xfas67-85; Xfas1439-1457). Tam-bém foram satisfatórios osiniciadores RST31 e RST33(Minsavage et al., 1994).

O ponto mais crítico para adetecção de Xylella via PCR pareceser a qualidade do DNA extraído.Substâncias contaminantes, taiscomo polifenóis e polissacarídeos,podem inibir a ração de PCR eproduzir resultados do tipo falso-negativo. O material de ameixeira é

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rico nestes compostos, que sãodifíceis de ser eliminados no processode extração do DNA.

Os métodos de extração de DNAde plantas descritos na literaturasão em geral variações do métodode Doyle & Doyle (1990), que utilizao detergente CTAB como extrator.No laboratório da Epagri/EEV foramtestadas algumas variações dométodo de extração, que incluemetapas adicionais para a retirada decontaminantes. Entretanto, não foipossível chegar a um protocolo deextração de DNA que evitassetotalmente os resultados falso-negativos.

Os melhores resultados foramobtidos com o uso de kits comerciaisde extração baseados na adsorçãode DNA em minicolunas com sílica(Plant DNeasy minikit, Quiagen).Embora a nossa experiência tenhase limitado a algumas dezenas deamostras, todas as plantassupostamente contaminadas acampo que foram analisadas deramresultados positivos. Do mesmomodo, os materiais recebidos comolivres da bactéria foram analisadose deram resultados negativos. Estametodologia passou a ser entãoutilizada como padrão, tanto paramonitoramento das matrizes comopara diagnose de Xylella emamostras enviadas por produtoresde ameixeira que desejavamverificar o estado sanitário domaterial vegetativo. O uso dos kitsresulta em um acréscimosignificativo no custo de análise,porém implica em maiorconfiabilidade dos resultados.

Um exemplo de resultado deanálise feita conforme a metodologiarelatada anteriormente pode servisto na Figura 5, onde é mostradoum gel de agarose após a realizaçãode eletroforese para separação deDNA em função do tamanho dosegmento amplificado. Quando oDNA da bactéria está presente naamostra, a reação de PCR (“primers”:Xfas67-85 e Xfas1439-1457) resultana amplificação de um segmento deDNA com cerca de 1.400 pares debases, cuja seqüência é específica deX. fastidiosa. Na ausência dabactéria, a banda de DNAcorrespondente não aparece.Também, nesse caso, aparece aamplificação de um segmento deDNA específico de ameixeira (um

A B

Figura 3. (A) aspecto geralde plântulas de pessegueiroapós a minienxertia; (B)transplantio das mudasenxertadas para vasos de50L para a formação deplantas matrizes

A B

Figura 4. Efeito daadição deantibióticos nasolução nutritivasobre o crescimentoinicial de mudas deameixeira ‘Simka’,feitas a partir dematerialcontaminado.(A) com; (B) semantibióticos

marcador do tipo microssatélite) queserve para verificar se a reação dePCR ocorreu normalmente tambémem amostras isentas da bactéria. Ainclusão de iniciadores específicospara ameixeira ajuda a identificarcasos de falso-negativos por falhasna reação de PCR.

Situação atual

Atualmente estão sendomantidas plantas matrizes de 15cultivares comerciais e 13 seleçõesavançadas do programa de

melhoramento genético de amei-xeira da Epagri. As plantas maisvelhas já têm quatro anos e não foidetectada recontaminação porXylella fastidiosa.

A metodologia estabelecida tantopara limpeza quanto para detecçãoda bactéria é confiável, em funçãodos resultados no presente estudo.Em atendimento aos produtores,poderá ser fornecido materialvegetativo (borbulhas) de ameixeiraisento de X. fastidiosa e realizaçãode testes de detecção da presença deX. fastidiosa.

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Figura 5. Resultado de eletroforese em gel de agarose referente a teste dedetecção de Xylella fastidiosa via PCR em pecíolos de ameixeira. As amostras1, 2, 3 e 4, que apresentam uma banda correspondente a um segmento deDNA de cerca de 1.400 pares de bases (pb), estão contaminadas pela bactéria.As demais representam resultado negativo para o teste. A banda de cerca de180pb refere-se a uma seqüência específica de ameixeira e foi incluída comocontrole

Literatura citada

1. MORAES, E.A.; BARBOSA, W.;BERETTA, M.J.A.G.; VEIGA, R.F.A.Eliminação de Xylella fastidiosa emtrês cultivares de ameixeira portermoterapia. In: REUNIÃO ANUALDO INSTITUTO BIOLÓGICO, 14., 2001,

São Paulo, SP. Resumos... São Paulo:Instituto Biológico, 2001. R. 13.Publicado no Arquivo do Instituto deBiologia, v. 68 (Supl.), 2001.

2. DOYLE, J.J.T.; DOYLE, J.L. Isolationof plant DNA from fresh tissue. Focus,v.12, p.13-18, 1990.

3. DUCROQUET, J.P.H.J.; ANDRADE,E.R. de; HICKEL, E.R. A escaldaduradas folhas da ameixeira em SantaCatarina. Florianópolis: Epagri, 2001.55p. (Epagri. Boletim Técnico, 118).

4. MINSAVAGE, G.V.; THOMPSON, C.M.;HOPKINS, D.L.; LEITE, R.M.V.B.C.;STALL, R.E. Development of apolymerase Chain Reaction Protocolfor Detection of Xylella fastidiosa inplant tissue. Phytopathology, v.84,p.456-461, 1994.

5. POOLER, M.R; HARTUNG, J.S. SpecificPCR detection and identification ofXylella fastidiosa strains causing CitrusVariegated Chlorosis. CurrentMicrobiology, v.31, p.317-381, 1995.

6. RODRIGUES, J.L.M.; SILVA-STENICO, M.E.; GOMES, J.E.; LOPES,J.R.S.; TSAI, S.M. Detection andDiversity Assessment of Xylellafastidiosa in Field-Collected Plant andInsect Samples by Using 16S rRNA andgyrB Sequences. Applied andEnvironmental Microbiology, v.69, n.7p.4.249-4.255, 2003.

7. WELLS, J.M.; RAJU, B.C.; HUANG,H.Y.; WEISBURG, W.G.; MANDELCO,P.L.; BRENNER, D.J. Xylella fastidiosagen. nov.; gram negative, xylem limitedfastidious plant bacteria related toXanthomonas spp. InternationalJournal of Systematic Bacteriology,v.37, p.130-143, 1987.

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Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense – RAC

A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicaçãomatérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seções ArtigoCientífico, Germoplasma eLançamento de Cultivares e NotaCientífica devem ser originais evir acompanhadas de uma cartaafirmando que a matéria éexclusiva à RAC.

2. O Artigo Científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deve estarorganizado em Título, Nomecompleto dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms,Introdução, Material e métodos,Resultados e discussão, Con-clusão, Agradecimentos (opcio-nal), Literatura citada, tabelas efiguras. Os termos para indexaçãonão devem conter palavras jáexistentes no título e devem terno mínimo três e no máximocinco palavras. Nomes científicosno título não devem conter onome do identificador da espécie.Há um limite de 12 páginas paraArtigo Científico, incluindotabelas e figuras.

3. A Nota Científica refere-se atrabalho ainda em andamento,pesquisa científica recente comresultados importantes e deinteresse para uma rápidadivulgação e constatação ou

descrição de uma nova doença ouinseto-praga. Deve ter no máximooito páginas (incluídas as tabelase figuras). Deve estar organizadaem Título, Nome completo dosautores (sem abreviação),Resumo (máximo de 12 linhas,incluindo Termos para inde-xação), Título em inglês,Abstract e Index terms, textocorrido, Agradecimentos (op-cional), Literatura citada,tabelas e figuras. Não deveultrapassar dez referênciasbibliográficas.

4. A seção Germoplasma e Lança-mento de Cultivares deve conterTítulo, Nome completo dosautores, Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, Intro-dução, Origem (incluindopedigree), Descrição (planta,brotação, floração, fruto, folha,sistema radicular, tabela comdados comparativos), Perspec-tivas e problemas da nova culti-var ou germoplasma, Disponi-bilidade de material e Literaturacitada. Há um limite de 12páginas, incluindo tabelas efiguras.

5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s) co--autor(es), título de graduação epós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da institutição em quetrabalha, telefone para contato eendereço eletrônico.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenomee ano, com apenas a primeiraletra maiúscula. Quando houverdois autores, separar por “&”; sehouver mais de dois, citar oprimeiro seguido por “et al.” (semitálico).

7. Tabelas e figuras não devemestar inseridas no texto e devemvir numeradas, ao final damatéria, em ordem de apre-sentação, com as devidaslegendas. As tabelas e as figuras(fotos e gráficos) devem ter títuloclaro e objetivo e ser auto-explicativas. O título da tabeladeve estar acima da mesma,enquanto que o título da figura,abaixo. As tabelas devem serabertas à esquerda e à direita,sem linhas verticais e horizon-tais, com exceção daquelas paraseparação do cabeçalho e dofechamento, evitando-se o usode linhas duplas. As abreviaturasdevem ser explicadas aoaparecerem pela primeira vez.As chamadas devem ser feitasem algarismos arábicos sobres-critos, entre parênteses e emordem crescente (ver modelo).

8. As fotografias devem estar empapel fotográfico ou em diaposi-tivo, acompanhadas das respec-tivas legendas. Serão aceitasfotos digitalizadas, desde que emalta resolução (300dpi).

9. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Registro,Conjuntura e Informativo

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68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de caldade raleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

C.V. (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**)0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

133ab

4,8

95 d110 bc121a109 bc100 cd107 bc115ab

106 bc

109 bc

6,4

80 d100ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104a

94abc

95abc

6,1

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

................................g............................. kg/ha

Técnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

9.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião pessoal do autor sobre ofato em foco e não deve ter maisque três páginas.

9.2 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo Técnico – refere-se à descrição de uma técnica,uma tecnologia, doenças,insetos-praga e outrasrecomendações técnicas decunho prático. Não deve termais do que oito páginas,incluídas as figuras e tabelas,nem ultrapassar 15 referênciasbibliográficas.

10. Os trabalhos devem serencaminhados em quatro vias,impressos em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço duplo,sendo três vias sem o(s) nome(s)do(s) autor(es) para seremutilizadas pelos consultores euma via completa para arquivo.As cópias em papel devempossuir margem superior,inferior e laterais de 2,5cm,estar paginadas e com aslinhas numeradas. Apenas aversão final deve vir acom-panhada de disquete ou CD,usando o programa “Word forWindows”.

11. Literatura citadaAs referências bibliográficasdevem estar restritas àLiteratura citada no texto, deacordo com a ABNT e em ordemalfabética. Não são aceitascitações de dados não publicadose publicações no prelo.

Eventos

DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In: CON-GRESSO IBERO-LATINOAME-

RICANO DE APICULTURA, 5.,1996, Mercedes. Anais... Mercedes,1996. p.20.

Periódicos no todo

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanhoda amostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico

SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em:10 set. 1998.

Livro no todo

SANTANA, S.P. Frutas Brasil:Mercado e transporte. São Paulo:Empresa das Artes, 1991, v.1,166p.

Capítulo de livro

SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The American Phyto-pathological Society, 1981. Part 1,p.41-44.

Teses e dissertações

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo(Passiflora edulis Sims f. flavicarpaDeg.), 1998. 134f. Dissertação(Mestrado em Produção Vegetal),Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias, Universidade EstadualPaulista, Jaboticabal, SP.