Relatórios Estagiários Seminário Clínica

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  • 8/9/2019 Relatrios Estagirios Seminrio Clnica

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    Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio (EPSJV)

    Laboratrio de Educao Profissional em Ateno Sade (Laborat)

    RELATRIO SEMINRIO CLNICA

    Regis Vinicius Silva da Gama FerreiraConvidada: Simone Delgado

    Meu resumo no esta em ordem cronolgica, mas na ordem que os fatostiveram relevncia para mim, mas espero que isso no confunda o leitor.Uma questo de grande relevncia seria pensar a criao de um dispositivoque seja intermedirio entre a internao e livre. Insisti-se muito nesse sentidotanto na necessidade de criao como o modelo que seria usado nessepossvel dispositivo. Citam a Casa de Passagem, mas no consideram essacomo o modelo pensado. Por sua vez podemos no crer nesse caminho e

    falamos sobre a capacitao de hospitais gerais para recepo de pacientesem crise e ficamos nesse impasse sobre a melhor proposio. Na esteiradessa questo pensou-se tambm a possibilidade de usar os CAPs decomplexidade 3, os que possuem leitos, mas no chegamos a um consensosobre isso e nem porque o governo no discutiu e no ventila essapossibilidade. Nessa conversa tambm apareceu o dispositivo criado em MinasGerais para lidar com casos de emergncia que demandam internao, mascom uma curta permanncia. Ficou s a necessidade de buscar maisinformaes de como mais precisamente funciona esse dispositivo.Simone Delgado falou sobre os hospitais gerais e o preconceito existentequanto aos usurios de lcool e drogas. Simone comenta sobre a dificuldadede se conseguir atendimento para um sujeito que possui outras questesmdicas para alm do uso abusivo de drogas. Ela fala da dificuldade de acessonessa situao imaginando que ser muito mais complicado quando tentarmosinternar uma pessoa s pelo problema com lcool e drogas. Relata quequando recorre ao hospital geral conversa se encaminha bem at o momentoque ela coloca o uso de drogas pelo paciente. Isso deixa clara a reivindicaoda capacitao de profissionais no hospital geral para lidar com isso e essacapacitao passa pela desconstruo de valores morais para que comecemosa tolerar para quem sabe mais tarde respeitarmos essas pessoas.Outra questo que surgiu foi sobre o uso ou no de drogas dentro do CAPs, se

    o paciente pode chegar chapado ao dispositivo e pensando tambm numarea de livre consumo que j existe em alguns pases na Europa, mas no noBrasil. Sobre a primeira questo fica posto a necessidade de por um limite emostrar que aquele um espao de tratamento, mas se reduo de danos uma forma de tratamento por que no o consumo em partes especficas dentrodo dispositivo? Existe uma demanda dos usurios do dispositivo que seincomodam com o uso de drogas e por isso pediram a no permisso para ouso. Mas chegar entorpecido permitido. Isso incomoda, agride, mas respeitaa noo do espao de tratamento, porm como no criar uma relao deacolhimento sempre nesta mesma situao, isto , gerar uma repetio dessecomportamento?

    Ceclia traz uma questo muito importante sobre a estruturao de nossosdispositivos e faz uma comparao sobre sua experincia numa visita a um

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    projeto em Montreal que preconiza o trabalho com insumos, metadona. Mas oimportante falar da especificidade de um servio que no conta com muitosespecialistas, entretanto com uma estrutura que consegue dar suporte aosimprevistos que acontecem ou que conseguem prever essa variabilidade desituaes que possam surgir. No caso do Brasil a falta de estrutura faz com

    que exista uma demanda por especialistas que possam o tempo inteiro darconta dos imprevistos, isto , criar forma de lidar com aquilo que se produz noencontro desses pacientes com dispositivos que possuem uma baixa infra-estrutura no que diz respeito a investimentos do governo no espao fsico e emcapacitao de profissionais que no necessariamente tenham formaosuperior. Falamos da dificuldade de instalao desse dispositivo e como ogoverno faz uma srie de exigncia que so difceis de cumprir, pois se nooferece um dispositivo que cumpre com os requisitos do governo no vaireceber investimento do governo federal, j que os CAPs pertencem instnciamunicipal.Na questo de qual instancia dessas deve tomar conta dos dispositivos a

    proximidade e a micropolitica que podem dar conta e por isso devemosmanter em nvel municipal at porque seria inconcebvel a formao de umarede em nvel estadual, mas no Rio isso acontece e mais do que isso, algunsdispositivos do governo tem uma visada religiosa. Principalmente aqueles doperodo do governo Anthony Garotinho.Uma questo bem especfica e o processo envolvendo os mdicos que viamcom muita dificuldade o tratamento que no seja pela via medicamentosa, masisso esta numa mudana cada vez mais acelerada e mostra-se importante parano entrar num sistema de substituies de drogas ilegais ou legais poraquelas com prescrio mdicaO acolhimento da demanda de tratar de crianas e adolescentes que fazemuso de drogas e muito grande e a produo de estratgias de sumaimportncia. Por exemplo, o fato deles no procurarem o servio demanda umaequipe que v at eles, mas essa equipe por sua vez desautorizada muitasvezes por um governo ainda moralista mesmo estando dentro da lei. Essaclnica com crianas e adolescentes nos convoca a ficar atento as pequenaspossibilidades, j que, a droga muitas vezes no aparece no discurso.Sobre a clnica com lcool e outras droga podemos fazer uma pequenaseparao para falarmos de coisas especificas de cada uma delas. Vou citaralgumas especificidades de cada uma. No alcoolismo temos uma grandeadeso, uma idia de que a soluo a abstinncia, uma histria bem

    marcada sobre as motivaes e as marcaes sobre o uso e um discursofortemente moralista enquanto nas outras drogas temos uma forte no adesoao tratamento, a necessidade do trabalho baseado na reduo de danos, umahistria de vida perdida assim como um discurso esvaziado de desejo oumotivaes para vida.No que tange ao publico alvo dos CAPs fica clara a presena de alcoolistas deidade mais avanada e usurios de outras drogas cada vez mais novos e ficaposta a questo de quais atravessamentos so produzidos nesses encontros,quais so os efeitos positivos e negativos e o que fazer com isso.O abandono do CAPs pelos pacientes sempre visto como algo de ruim, algocomo uma derrota. Talvez na maioria das vezes seja isso mesmo, mas por que

    no enxergar isso como algo natural? Natural o fato de muitas vezes no dar

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    certo mesmo. O fato que nem sempre fazendo melhor vamos obter xito nosresultados.Muito importante e tema chave do nosso projeto e o sujeito marcado com oestigma de ser drogado, isto , reduzimos a forma de existir ao consumoexcessivo de droga. Isso leva a clnica pensar em deslocar o sujeito desse

    lugar o fazendo se tornar cidado a fim de que em seu discurso entre algunsvalores como cidadania, dignidade e assim possam aparecer outras questesque normalmente escapam pelo olhar fixo que nos e os prprios usurios temde si mesmos.

    A clnica com lcool e drogas possui vrios dispositivos e ferramentas que auxiliam no

    enfrentamento e no entendimento desse problema que atinge a sociedade. As que

    mais se destacam so: grupos de mtua-ajuda, programa de reduo de danos

    comunidades teraputicas.

    Uma das potentes ferramentas que dispomos para isso a poltica de reduo dedanos. Farei uma pequena linha no tempo para citar onde comeou esta prtica. O

    trabalho com reduo de danos comeou na Inglaterra na dcada de 20, um trabalho

    que visava abstinncia num processo que levava em considerao a sndrome de

    abstinncia para prescrio da droga. A grande questo que num certo momento

    ficou clara a impossibilidade de alguns pacientes de terem uma vida normal sem a

    droga e assim o governo autorizava o uso continuo.

    Essa prtica teve uma nova impulso com o surgimento da AIDS na dcada de 80, pela

    tentativa de combate a contaminao pelo uso de seringas contaminadas atravs da

    troca por novas resultou numa diminuio do consumo de drogas injetveis. Alm

    disso, houve a produo de outras formas de reduo, como a regulamentao (ou

    controle?) do uso de drogas em lugares especficos, prescrio mdica de metadona e

    herona, implantao de abrigos, centros de urgncia, narcossalas, maquinas que

    fornecem seringas e auxilio na busca de emprego.

    No Brasil o primeiro programa surge em Salvador em 1995, posteriormente em POA no

    ano de 1996 e hoje existe em 23 municpios.

    A reduo de danos muito mais do que a troca de insumos hoje em dia. Ela passou aser olhada pelos seus princpios que so respeitos aos usurios, sua demanda e seu

    tempo. A flexibilidade questo de ordem no contato com os usurios que se

    presentificam no estabelecimento, facilitar o acesso, estimular a ida ao servio,

    utilizao de propostas diversificadas e construdas caso a caso e rede social.

    A reduo de danos aproximou o contato com os usurios, o dar voz aos usurios

    excludos e problematizando fatores de risco: Publicidade, imperativos de consumo, o

    rompimento de laos, o moralismo, preconceito social e a criminalizao.

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    Um dos grandes detalhes da reduo de danos que com o contato com os redutores

    ou os AT e possvel retornar um olhar de desejo voltado aos usurios de drogas, a

    construo de uma ponte entre o sujeito e o lao social (significaes de lao) e o

    questionamento de consensos.

    O trabalho do redutor de extrema importncia, pois esse se insere na comunidade,

    orienta e acolhe as demandas surgidas no contato com esses pacientes. Alm de barrar

    a relao dual entre o usurio e a droga. Outra funo importante seria a recuperao

    da histria desse sujeito, reconhecendo suas queixas, necessidades e demandas. A

    reduo de danos pode dar a falsa idia de que a proximidade aliada a pouca exigncia

    levariam o sujeito a no construo de vinculo o que se mostrou equivocado, j que, o

    respeito ao espao permiti ao usurio no se sentir invadido. Importante tambm a

    tentativa de se implicar ou mudar o tipo de implicao do sujeito em seu discurso, em

    seus atos e seu lao social e assim levando ao tratamento.

    No que diz respeito aos profissionais PSI diante desse novo paradigma existe a

    necessidade de marcar uma diferena de ao com mais importncia ao que vivel

    do que ao ideal de sade. A reduo de danos nos permite um maior contato com

    diferentes instituies e assim fazendo um debate sobre drogas de um ponto de vista

    tico e respeitando a subjetividade.

    Os instituies que lidam com dependncia qumica, em sua maioria, sempre operam

    com resposta do ponto de vista judicial ou de sade. No primeiro basta punir enquanto

    o segundo oferece uma infinidade de modelos de interveno. De toda forma estes noso to eficientes e ento cabe perguntar se o problema so os usurios ou ns que

    temos uma vontade enorme de curar os sujeitos? Dessa forma acabamos por

    potencializar a produo de fracassos e excluso de sujeitos que no se enquadram no

    processo, especialmente aqueles que tentam a abstinncia.

    O campo das drogas se mostra muito complexo por envolver variveis como: a forma e

    relao do usurio com a droga, as disciplinas que se ocupam dessa temtica, excluso

    social, entre outros.

    A excluso social se configura como um problema de, j que, dessa forma fica

    impossibilitado o acesso dessas pessoas de fazerem usufruto dos servios que so

    postos a disposio dos usurios. Ento a reinsero fundamental para funcionar o

    processo, o tratamento. Como fazer essa reinsero uma questo que trabalha com

    os agentes comunitrios que assim como os redutores fazem essa aproximao.

    As instancias que tratam da questo lcool e drogas j parte de consensos sociais e

    assim impede o acolhimento do sujeito na sua demanda singular. Essas mesmas

    instanciam promovem saber sobre esse sujeito, mas impossvel pensar esse tema sem

    fazermos uso da transversalidade e assim compartilharmos pressupostos sem fazermos

    reducionismos. Porm esse saber deve ser construdo a partir da pluralidade e por isso

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    sendo fraturado para uma construo que v ao caminho inverso ao normativo. Ento

    de suma importncia discutir limitao das prticas PSI

    Atravs dessa transdisciplinaridade foi possvel promover o deslocamento do sujeito

    que passa de usurio de drogas para usurio de drogas e cidado e assim consegue se

    falar de questes como responsabilidade, liberdade de escolha, descriminalizao,

    diversidade na modalidade de atendimento, etc.

    Essa transdisciplinaridade fica posta com a clnica ampliada que vem para dar conta

    das limitaes da clnica. Mas o que seria clnica ampliada?Clnica Ampliada busca seconstituir numa ferramenta de articulao e incluso dos diferentes enfoques e

    disciplinas. A Clnica Ampliada reconhece que, em um dado momento e situao

    singular, pode existir uma predominncia, uma escolha, ou a emergncia de um

    enfoque ou de um tema, sem que isso signifique a negao de outros enfoques e

    possibilidades de ao.

    Outro aspecto diz respeito urgente necessidade de compartilhamento com os

    usurios dos diagnsticos e condutas em sade, tanto individual quanto coletivamente.

    Quanto mais longo for o seguimento do tratamento e maior a necessidade de

    participao e adeso do sujeito no seu projeto teraputico, maior ser o desafio de

    lidar com o usurio enquanto sujeito, buscando sua participao e autonomia em seu

    projeto teraputico.

    No plano hospitalar, a fragilidade causada pela doena, pelo afastamento do ambiente

    familiar, requer uma ateno ainda maior da equipe ao usurio. O funcionamento das

    Equipes de Referncia possibilita essa ateno com uma responsabilizao direta dos

    profissionais na ateno e construo conjunta de um Projeto Teraputico Singular.

    Pressupostos:1. Compreenso ampliada do processo sade-doena 2. Construo compartilhada dos

    diagnsticos e teraputicas 3. Ampliao do objeto de trabalho 4. A transformao

    dos meios ou instrumentos de trabalho 5. Suporte para os profissionais de sade

    Existe uma predominncia aos cuidados psicossociais, que visam sustentabilidade da

    existncia e o reconhecimento em uma reinsero social como um resgate de direitos,

    em detrimento da clnica. Se isso bom ou no difcil dizer.

    Em sade mental invertido a questo da complexidade. O mais complexo no o que

    esta dentro das instituies e sim aquilo que esta fora. Isso mostra que a construo de

    um lao como de fundamental importncia para o tratamento

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