Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Secretaria Federal de Controle Interno
Unidade Examinada: PREFEITURA MUNICIPAL
Introdução
1. Introdução
O presente relatório comporta o resultado das ações de fiscalização conjunta da CGU-R/MA
e Ministério Público do Estado/MA no âmbito do serviço de transporte escolar ofertado pelo
município de Sítio Novo/MA, inicialmente compreendido entre janeiro de 2014 e outubro de
2015.
Pela Resolução CD/FNDE nº 02/2012 foi instituída como obrigatória, a partir de 2012, a
utilização do Sistema de Gestão de Prestação de Contas (SigPC), “... desenvolvido pelo
FNDE, para o processamento on line de todas as fases relacionadas ao rito de prestação de
contas de recursos repassados a título de Transferências Voluntárias e Obrigatórias/Legais..."
Após levantamentos qualitativos dos gastos do período (2014 e 2015) e fazendo correlação de
informações com dados extraídos do SigPC, os exames foram estendidos para os exercícios
de 2011, 2012 e 2013, dado o ambiente de criticidade surgido após levantamento prévio de
informações.
As análises foram feitas tendo os seguintes parâmetros:
a) Os dados de execução financeira do PNATE Fundamental, com detalhamento de
pagamentos, período e beneficiários foram extraídos do SigPC;
b) Os procedimentos licitatórios verificados tiveram por origem extrações feitas diretamente
do portal do TCE/MA e Prefeitura Municipal;
Relatório de Demandas
Externas
Número do relatório: 201505602
c) Os processos licitatórios analisados tinham por fonte de custeio tanto recursos do PNATE
Fundamental quanto do FUNDEB.
d) Os processos licitatórios analisados foram aqueles dos exercícios de 2011 a 2015.
e) Os gastos no âmbito do serviço de transporte escolar podem ocorrer frente a diversos tipos
de insumos, como terceirização, combustível, peças, materiais, serviços de manutenção, etc.
Este relatório teve o escopo voltado para o item de gasto de maior representatividade
financeira, regra geral. Assim, os exames foram feitos em face da contratação de terceiros
prestadores dos serviços de transporte de alunos, principalmente.
De acordo com dados do SigPC, no período de exame referido acima – 2011 a 2015, as pessoas
abaixo teriam sido os responsáveis pelos atos de gestão do PNATE – Fundamental. Quadro 01 – Responsáveis no período
Cargo Período Nome abreviado
Prefeito 13/05/2009 a 24/01/13 C. J. M. S.
Prefeito 01/01/2013 a 2016 J. C. dos R. Fonte: FNDE/SigPC.
No período teriam sido realizadas os seguintes gastos no âmbito da execução do serviço de
transporte de alunos.
Tabela 01 – Perfil do gasto no período
Ano PNATE -
Pagamento Objeto de gasto Licitação
2011 286.832,48 Terceirização. P.Física Concorrência 05/11
2012 283.562,14 Terceirização. P. Física Concorrência 01/12
2013 265.750,00 Rio Mulato. Terceirização. PP 13/13
62.009,00 Auto Motor Diesel. Peças/Serviços PP 27/13
2014
211.880,00 Rio Mulato. Terceirização. PP 05/14, 16/14
39.330,20 Auto Motor Diesel. Serviços/Peças PP 23/14 e 24/14
77.921,95 J.I. Posto de Combustíveis. Combustível PP 01/2014
2015 55.029,85 Rio Mulato. Terceirização PP 14/15
39.912,50 Auto Motor Diesel. Peças/Serviços PP 23/14 e PP 24/14
65.794,21 J.I.Posto de Combustíveis. Combustível PP 12/15
244.763,88 JD AutoPeças Serv.Locações. Peças/Terceirização PP 23/15 e 24/15
1.632.786,21 Fonte: FNDE/SigPC.
Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao
Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e
registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de
questionários.
O resultado dos exames se inicia pelos procedimentos licitatórios até a execução físico-
financeira.
Os executores dos recursos federais foram previamente informados sobre os fatos relatados,
mas não se manifestaram sobre as constatações. Cabe ao Ministério supervisor e demais
órgãos interessados, nos casos pertinentes, adotar as providências corretivas visando à
consecução das políticas públicas, bem como à apuração das responsabilidades.
1.1. Informações sobre a Ação de Controle
Ordem de Serviço: 201505602
Número do Processo: 00209.000803/2015-12
Município/UF: Sítio Novo/MA
Órgão: MINISTERIO DA EDUCACAO
Instrumento de Transferência: Não se Aplica
Unidade Examinada: PREFEITURA MUNICIPAL
Montante de Recursos Financeiros: R$ 1.632.786,21
2. Resultados dos Exames
Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito responsável pela
tomada de providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela existência
de monitoramento a ser realizada por esta Controladoria.
2.1 Parte 1
Não houve situações a serem apresentadas nesta parte, cuja competência para a adoção de
medidas preventivas e corretivas seja dos gestores federais.
2.2 Parte 2
Nesta parte, a competência primária para adoção de medidas corretivas dos fatos
apresentados a seguir pertence ao executor do recurso federal descentralizado. Esclarece-
se que as situações relatadas são decorrentes de levantamentos necessários à adequada
contextualização das constatações relatadas na primeira parte.
Dessa forma, compõem o relatório para conhecimento dos Ministérios repassadores de
recursos federais, embora não exijam providências corretivas isoladas por parte das pastas
ministeriais. Destinam-se, ainda, para ciência dos Órgãos de Defesa do Estado com vistas à
tomada de providências no âmbito das respectivas competências. Esta Controladoria não
realizará o monitoramento isolado das providências saneadoras relacionadas a estas
constatações.
2.2.1. Transporte escolar. Vícios na licitação. Simulação e direcionamento. Exercícios
de 2011 e 2012.
Fato
A Prefeitura Municipal de Sítio Novo/MA, para a oferta do serviço público de transporte de
escolares, vem ordinariamente promovendo contratos em ambiente de irregularidades
insanáveis nas licitações e contratos, em violação aos princípios da legalidade, isonomia,
ampla competitividade e julgamento objetivo.
Para os exercícios de 2011 e 2012, cuidou em deflagrar as Concorrências nº 05/2011 e nº
01/2012, cujo denominador comum, para além das irregularidades apontadas adiante, foi a
contratação de pessoas físicas, em ambiente de ausência de competitividade e direcionamento
nas contratações.
1. Concorrência 05/2011.
Com edital datado de 05 de janeiro de 2011, consignou que no dia 09 de fevereiro de 2011
seria realizada a sessão de recebimento e abertura dos envelopes de documentação e proposta
dos licitantes.
Da análise dos termos do procedimento, apontam-se:
a) Participação viciada de licitantes.
O edital do certame estipulou, dentre várias condições de participação, o seguinte:
Fig. 01 – Recorte de trecho do edital da Concorrência nº 05/2011
Apesar da condição impeditiva destacada acima – subitem 6.5.2, principalmente – em 09 de
fevereiro de 2011 teria sido realizada sessão em que, ao final, declaram-se vencedoras
propostas de 35 pessoas físicas participantes. Ou seja, teriam participado do certame apenas
pessoas naturais, inicialmente proibidas no subitem 6.5.2 do edital.
Acrescente-se que não há nenhuma evidência de que as pessoas que supostamente
participaram da sessão teriam, de fato, obtido o edital do certame – não havia, por exemplo,
comprovação de retirada do termo, que estava condicionada ao pagamento de R$ 50,00.
Também não se verificou, pelas propostas apresentadas, verdadeira disputa entre os
participantes. É que a licitação teria sido do tipo menor preço, por item. Para cada um dos 35
itens que especificava rota, distância e tipo de veículo, coincidentemente foi ofertada apenas
uma proposta, o que autoriza considerar que, efetivamente, não houve disputa entre os
supostos participantes. Tal fato sinaliza para a existência de possível direcionamento na
contratação com o uso de simulado procedimento licitatório.
b) Objeto inapto para o certame.
A licitação tem na escolha e definição do objeto sua fase mais importante na etapa de
planejamento. Com base na escolha feita é que se definirá, por exemplo, a modalidade
licitatória a ser adotada, o regime de execução e a estimativa de preço, que servirá de
parâmetro para a contratação. No caso de serviços que exijam qualificação específica (de
motoristas) e “equipamentos” certificados (veículos), por força de disposições do Código de
Trânsito Brasileiro (arts. 136 a 138), não tem o gestor a liberdade de definir um objeto que
não esteja aderente às normas de ordem pública que circundam o serviço de transporte de
escolares, sob pena de atuação contrária e violadora aos princípios da legalidade e julgamento
objetivo.
Na Concorrência nº 05/2011 não se verificou que a definição do objeto tenha atendido aos
critérios de adequação e precisão (art. 55, I da Lei 8.666/1993), pois em nenhuma passagem
do edital e seus anexos se verifica referência às normas de segurança e qualidade exigidos
pelo Código de Trânsito Brasileiro, de observância obrigatória no certame.
Conforme TCU:
“A definição precisa e suficiente do objeto licitado constitui regra indispensável da
competição, até mesmo como pressuposto do postulado de igualdade entre os licitantes, do
qual é subsidiário o princípio da publicidade, que envolve o conhecimento, pelos
concorrentes potenciais, das condições básicas da licitação. Na hipótese particular da
licitação para compra, a quantidade demandada e essencial a definição do objeto do pregão.
TCU. Súmula 177”.
Não é lícita a contratação pública que recaia sobre objeto cujas exigências legais de atualidade,
segurança e qualidade não sejam observadas. Ao deixar de observar as normas do CTB sobre
a prestação de serviços de transporte de alunos, o gestor violou o Primado da Legalidade, com
o agravante de dispensar tratamento favorecido aos contratados, pois acabou por adequar as
exigências administrativas àquilo que poderia ser oferecido pelos futuros contratados.
c) Orçamentação do objeto baseado em critério não objetivo.
Além disso, não há qualquer informação acerca do método utilizado pelo gestor no
levantamento de preços que serviram de base ao certame. Não se sabe, por exemplo, se fez
uso de efetiva pesquisa de mercado para delimitar o valor a ser contratado.
Não é possível estipular orçamento da referida contratação sem estipulação das variáveis de
custos envolvidos, de maneira analítica. Assim, custos com combustível, lubrificantes, peças
e acessórios, rodagem, pessoal (motorista e monitor, por exemplo), depreciação, IPVA,
DPVAT e seguro de responsabilidade civil, deveriam ser apresentados e apurados pela
Administração, mediante pesquisa própria e junto a terceiros.
Segundo o TCU:
“Não é possível licitar obras e serviços sem que o respectivo orçamento detalhado, elaborado
pela Administração, esteja expressando, com razoável precisão quanto aos valores de
mercado, a composição de todos os seus custos unitários, nos termos do art. 7º, § 2º, inciso
II, da Lei nº 8.666/1993, tendo-se presente que essa peça é fundamental para a contratação
pelo preço justo e vantajoso, na forma exigida pelo art. 3º da citada lei. Acórdão 2014/2007
Plenário (Sumário). ”
“Os orçamentos em uma licitação devem ser elaborados da forma mais cuidadosa possível,
de forma que reflitam adequadamente os preços de mercado, para que a Administração tenha
segurança de estar adquirindo produtos/serviços a preços justos. Acórdão 85/2007 Plenário
(Voto do Ministro Relator). ”
A irregular definição do objeto a ser licitado, bem como a ausência de critérios de justificativa
de preços e quantitativos não se adere à busca da proposta mais vantajosa para a
Administração, muito menos à garantia da impessoalidade, uma vez que inviabilizam a
ocorrência de efetivo ambiente de disputa. A ausência do cumprimento de tais preceitos, no
caso concreto, evidencia o uso do processo licitatório para direcionar a futura contratação.
2. Concorrência 01/2012.
Com edital expedido em 25 de janeiro de 2012, a Concorrência nº 01/2012 teve a sessão de
abertura e julgamento marcada para o dia 28 de fevereiro de 2012.
Também nesta Concorrência se evidenciam os mesmos vícios apontados na Concorrência nº
05/2011, analisada anteriormente, razão pela qual se tomam de empréstimos as narrativas
relacionadas à: i) participação viciada de licitantes, todas pessoas físicas e previamente
direcionadas a ofertar um único item; ii) objeto inapto para o certame, pela absoluta
inadequação entre o esperado normativamente e aquilo que fora licitado; e iii) orçamentação
do objeto baseado em critério não objetivo.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.2. Transporte escolar. Execução físico-financeira inadequada. Exercícios de 2011 e
2012. Aplicação irregular de R$ 558.376,28.
Fato
De acordo com a Lei 4.320/1964, art. 62, o pagamento da despesa só será efetuado quando
ordenado após sua regular liquidação.
Liquidação é ato de análise e confirmação de dados e fatos que tem disciplina legal nas
disposições dos §§1º e 2º do art. 63 da Lei 4.320/1964 e, às vezes, por regramento específico
criado pelo órgão supervisor da execução de Programas de governo, como por exemplo o
FNDE, no âmbito da educação.
A liquidação é condição necessária para o pagamento e pressuposto de sua regularidade. Sua
validade, porém, está condicionada à análise de documentos apresentados e, com base neles,
ao grau de pertinência e adequação da execução física com as disposições contratuais e legais
existentes.
No caso de gastos relacionados ao transporte de escolares, para além da confirmação de
quantitativos executados, é da essência da legalidade do gasto que os serviços sejam ofertados
atendendo às exigências do Código de Trânsito Brasileiro (arts. 136 a 138), principalmente e,
também, às normas contidas nas Resoluções do FNDE sobre o tema.
Nesse sentido, destacam-se abaixo as Resoluções CD/FNDE 12/2011 e 05/2015 que
explicitam critério de elegibilidade de gastos no âmbito do Programa.
Resolução CD/FNDE 12, de 17 de março de 2011 (vigente à época)
“IV – DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS
(...)
Art. 15 Os recursos repassados à conta do PNATE destinar-se-ão:
(...)
II – a pagamento de serviços contratados junto a terceiros, obedecidas, por parte do
prestador de serviço, as exigências previstas nos artigos 136 e 138, da Lei nº 9.503, de 1997,
e observados os seguintes aspectos:
a) o veículo ou embarcação a ser contratado deverá obedecer às disposições do Código de
Trânsito Brasileiro ou às Normas da Autoridade Marítima, assim como às eventuais
legislações complementares no âmbito estadual, distrital e municipal;
b) o condutor do veículo destinado ao transporte de escolares deverá atender aos requisitos
estabelecidos no Código de Trânsito Brasileiro e quando de embarcação, possuir o nível de
habilitação estabelecido pela autoridade competente;
c) a despesa apresentada deverá observar o tipo de veículo e o custo, em moeda corrente no
país, por quilômetro ou aluno transportado; ” (Sem destaques no original)
Resolução CD/FNDE 5, de 28 de maio de 2015
“IV – DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS
(...)
Art. 14 Os recursos repassados à conta do PNATE destinar-se-ão a:
(...)
III – pagamento de serviços contratados junto a terceiros, obedecidas, por parte do prestador
de serviço, as exigências previstas nos artigos 136 e 138, da Lei nº 9.503, de 1997, desde que
utilizados para cobrir despesas realizadas na contratação de veículos adequados para o
transporte de escolares, que estejam em conformidade com as disposições do Código de
Trânsito Brasileiro ou às Normas da Autoridade Marítima, assim como às eventuais
legislações complementares no âmbito estadual, distrital e municipal.” (Sem destaques no
original)
A execução físico-financeira do Pnate em 2011 e 2012 pode ser resumidamente apresentada
nas tabelas seguintes.
Tab. 01 – Perfil de Gasto. PNATE 2011.
Contratados (CPFs
descaracterizados)
Valor
contratado
(R$)
Pago (R$) Registro de veículo em
nome do contratado CNH
***.006.003-**(1) 11.809,79 11.809,79 NÃO AB
***.294.163-** 8.316,27 8.316,27 D20/KBM3085 NÃO
***.694.303-** 2.715,68 2.715,68 D20/HOL5690 AB
***.030.870-** (1) 9.230,88 12.314,46 NÃO NÃO
***.598.593-** (1) 7.594,23 10.359,89 D20/BZO8016 AB
***.975.893-** (1) 1.947,44 1.947,44 NÃO AB
***.761.343-** (1) 23.508,97 12.707,42 NÃO NÃO
***.304.233-** 11.595,50 9.561,29 NÃO NÃO
***.127.953-** (1) 2.458,64 5.663,74 D20/KCF6988 NÃO
***.589.393-** 1.191,10 1.191,10 D20/KBB8902 NÃO
***.126.603-** (1) 13.278,36 7.816,06 D20/GQF2718 B
***.812.842-** (1) 21.895,65 21.895,65 D20/HOO4578 NÃO
***.016.842-** 1.511,03 1.511,06 Bandeirante/HOQ4862 NÃO
***.167.962-** (1) 8.672,69 8.672,69 D20/NEL9444 NÃO
***.315.473-** (1) 9.134,64 9.134,64 D20/GNE1122 NÃO
***.228.282-** (1) 13.128,42 13.128,42 D20/KCP8827 NÃO
***.194.302-** (1) 6.894,93 9.444,01 NÃO NÃO
***.506.033-** (1) 6.058,87 3.707,33 D20/BIQ4811 NÃO
***.569.633-** 2.833,60 868,00 D20/HOO1702 NÃO
***.371.993-** (1) 9.424,59 11.872,52 NÃO AB
***.543.253-** 3.863,93 3.863,93 NÃO AD
***.650.803-** (1) 7.796,71 11.191,68 NÃO AC
***.634.611-** (1) 9.824,56 16.259,34 F350/MVT2371 AD
***.163.063-** (1) 10.157,14 10.157,14 D20/HZH1427 NÃO
***.527.121-** (1) 21.350,88 21.350,88 Strada/JID3453 AB
***.275.682-** 5.465,43 5.465,43 D20/KNF5082 A
***.709.753-** (1) 3.447,78 3.447,78 Saveiro/HPB1571 B
***.792.623-** 1.798,52 5.003,62 D20/CCQ5048 AD
***.733.253-** 3.654,52 3.654,52 CG/NHD7841 AB
***.014.623-** (1) 2.157,23 2.157,23 D20/AFA7358 AD
***.317.533-** (1) 1.164,80 1.811,47 D20/KDB3758 AB
***.225.413-** (1) 18.743,78 18.743,78 D20/MVM1315 AD
***.455.443-** (1) 2.287,28 2.287,28 D20/GUB2451 NÃO
***.829.023-** (1) 9.946,36 9.946,36 F350/NXH1142 AD
***.589.403-** (1) 4.395,97 6.854,61 NÃO NÃO
286.832,51
Fonte: SigPC/FNDE., consulta MacrosAtiva e Infoseg.
(1) Contratados que também figuraram em 2012, prestando os mesmos serviços.
Tab. 02 – Perfil de Gasto. PNATE 2012.
Contratados (CPFs
descaracterizados)
Valor
contratado
(R$) Pago (R$)
Registro de veículo em
nome do contratado CNH
***.006.003-** (1) 12.034,56 12.034,46 NÃO AB
***.030.870-** (1) 5.633,83 5.633,83 NÃO NÃO
***.598.593-** (1) 10.972,94 11.039,98 D20/BZO8016 AB
***.685.013-** 2.212,00 2.212,00 CG125/NMZ7434 NÃO
***.975.893-** (1) 22.668,48 22.668,48 NÃO AB
***.761.343-** (1) 16.068,47 16.068,47 NÃO NÃO
***.127.953-** (1) 1.495,19 14.905,19 Strada/NWS6248 NÃO
***.120.793-** 11.039,98 11.039,98 NÃO NÃO
***.126.603-** (1) 16.210,82 16.210,82 D20/GQF2718 B
***.812.842-** (1) 7.320,13 3.831,88 D20/HOO4578 NÃO
***.167.962-** (1) 5.025,86 5.025,86 D20/NEL9444 NÃO
***.315.473-** (1) 12.911,79 12.911,79 D20/GNE1122 NÃO
***.228.282-** (1) 7.914,83 7.914,83 D20/KCP8827 NÃO
***.194.302-** (1) 8.315,88 0,00 NÃO NÃO
***.506.033-** (1) 9.939,02 9.939,02 D20/BIQ4811 NÃO
***.371.993-** (1) 8.875,46 8.875,46 NÃO AB
***.650.803-** (1) 13.267,61 0,00 NÃO AC
***.433.343-** 2.302,30 2.302,30 D20/KCL7390 NÃO
***.634.611-** (1) 11.560,20 11.560,20 F350/MVT2371 D
***.163.063-** (1) 7.682,13 9.897,52 D20/HZH1427 NÃO
***.028.293-** 5.932,65 5.932,65 NÃO AB
***.527.121-** (1) 16.813,77 16,813,77 Strada/JID3453 B
***.546.683-** 3.074,71 3.074,71 D20/MNH0568 AB
***.144.452-** 9.040,62 9.040,62 NÃO NÃO
***.709.753-** (1) 6.432,14 6.432,14 Saveiro/HPB1571 B
***.014.623-** (1) 5.663,25 5.663,25 D20/AFA7358 AD
***.317.533-** (1) 6.761,19 6.761,19 D20/KDB3758 B
***.225.413-** (1) 12.767,09 8.974,50 D20/MVM1315 AD
***.455.443-** (1) 6.488,71 6.488,71 D20/GUB2451 NÃO
***.829.023-** (1) 17.960,90 17.960,90 F350/NXH1142 D
***.130.703-** 8.646,49 8.646,49 HONDA/HPD8611 AB
***.589.403-** (1) 8.496,54 8.496,54 NÃO NÃO
271.543,77
Fonte: SigPC/FNDE., consulta MacrosAtiva e Infoseg.
Observações relevantes sobre os dados das tabelas acima:
a) Em 2011, dezessete, de 35 contratados para prestar o serviço, não tinham carteira nacional
de habilitação (CNH). Em 2012, verificou-se o mesmo na relação dezesseis para 32
contratados;
b) Nenhum daqueles que possuíam CNH se apresentaram com qualificação profissional
específica para o transporte de escolares. A desconformidade se dá em face da categoria
inadequada e/ou despreparo técnico pela ausência de curso de formação específica, conforme
exigência do CTB;
c) Em 2011, dez pessoas contratadas para prestar o serviço de transporte não possuíam
histórico de registro de propriedade de veículos no período (vide a quarta coluna das tabelas).
Onze pessoas estariam na mesma situação, para o exercício de 2012;
d) Nenhum dos veículos vinculados aos contratados atendia aos critérios de adequação,
qualidade e segurança exigido pelo CTB para o transporte de escolares. Em decorrência disso,
não poderiam ser autorizados pelo órgão de trânsito responsável para uso em tal serviço;
e) Em 2011, dez registros de pagamentos apontam, em preliminares, montantes maiores que
aqueles contratados, conforme se verifica da segunda coluna das tabelas acima. A mesma
situação se verificou em dois registros, para o exercício de 2012;
f) Vinte e cinco contratados em 2011 também o foram para prestar o serviço de transporte de
alunos em 2012, nas mesmas condições de irregularidade em relação a veículos e condição
profissional para prestar o serviço;
Na forma do art. 39, VIII da Lei nº 8.078/1990, é considerada prática abusiva e vedada pelo
dispositivo mencionado
“colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas
expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); ”
É condição de legitimidade que a despesa realizada no âmbito do transporte escolar guarde
vinculação e compatibilidade com a marca, modelo e ano do veículo ou embarcação, e tenha
relação de atendimento às normas de ordem pública constantes no Código de Trânsito
Brasileiro, arts. 136 a 138.
Uma vez atendidas as referidas regras é que se poderia considerar que a execução da despesa
tenha ocorrido em atendimento ao interesse público, que no caso seria a prestação de serviço
de transporte de escolares com qualidade, adequação e segurança a seu usuário – alunos da
rede municipal de ensino.
O inciso II, alíneas “a” e “b” do art. 15 da Resolução FNDE 12/2011, por sua vez, considera
que o pagamento de serviços ajustados junto a terceiros deve ocorrer no contexto em que os
veículos “contratados” devam obedecer às disposições do Código de Trânsito Brasileiro
(CTB) para o transporte de escolares e seus condutores estejam além de habilitados, cumprido
demais requisitos estabelecidos pela autoridade de trânsito.
Logo, por vício na licitação e nos contratos decorrentes, pela ilicitude do objeto e ausência de
adequação e pertinência entre aquilo que era necessário e os gastos incorridos, não se pode ter
por válida, no contexto das regras de contratação e comprovação para a finalidade do
programa, as despesas apresentadas que, à época, totalizaram R$ 286.832,51 e R$ 271.543,77,
exercícios 2011 e 2012, respectivamente.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.3. Transporte escolar. Vícios na licitação.Simulação e direcionamento. Exercício de
2013. Pregão Presencial 13/2013.
Fato
Sob nova gestão municipal, em 2013 o perfil da prestação dos serviços sofreu alteração apenas
na formalização, uma vez que a ilegalidade na contratação em relação aos tipos de veículos e
qualificação de motoristas permaneceu. No caso, a alteração se deu apenas em relação ao
beneficiário dos gastos feitos com a contratação. Diferentemente dos exercícios de 2011 e
2012, o gestor municipal optou por contratar uma pessoa jurídica, Rio Mulato Construções e
Empreendimentos Ltda.
Importa destacar que em relação às contas da gestão municipal de 2013, o Tribunal de Contas
do Estado do Maranhão (TCE/MA) recebeu representação de vereadores que, em síntese,
indicavam a possível existência de irregularidades na execução do contrato com Rio Mulato
Construções e Empreendimentos Ltda. De acordo com Relatório de Informação Técnica (RIT)
6996/2015 do TCE/MA, as seguintes constatações foram apontadas.
Fig. 01 – Trechos do RIT TCE/MA nº 6996/2015
Fonte: TCE/MA. RIT 6996/2015.
Além das constatações apontadas pelo TCE/MA, apresentam-se as seguintes análises e
conclusões quanto à conformidade do procedimento licitatório e a aplicação dos recursos
recebidos.
Em 25 de fevereiro de 2013 o prefeito de Sítio Novo/MA autorizou a abertura de procedimento
licitatório – Pregão Presencial 13/2013, cujo objeto era a “Locação de veículos, destinados às
atividades das diversas secretarias deste Município, conforme especificado neste Edital e no
Termo de Referência. ” (Fls. 33)
Para o transporte escolar, o Anexo II do Edital estipulou a necessidade de 42 veículos nos
tipos e quantidades abaixo.
Quadro 01 – Descrição geral de tipos de veículos. PP 13/2013
Tipos de veículos Quant
Veículo utilitário 18 passageiros 33
Veículo utilitário 25 passageiros 09
Fonte: Anexo do Edital.
De acordo com o art. 96 da Lei n º 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro), os veículos se
classificam, quanto à espécie, em: a) de passageiros; b) de carga; e c) mistos. Na última
categoria se enquadrariam os veículos do tipo utilitários, definido como “veículo misto
caracterizado pela versatilidade do seu uso, inclusive fora de estrada”.
O art. 136 do mesmo diploma prescreve, no inciso I, que veículos para o transporte de
escolares devem ser aqueles necessariamente registrados como de passageiros. Trata-se de
norma de ordem pública, imperativo que deve ser observado pelos prestadores do serviço e
contratante. Ademais, do art. 136 a 138 do CTB se verificam séries de requisitos a serem
observados para que se possa ter por legal e legítima a execução dos serviços.
Apesar da existência das normas referidas acima, em nenhuma passagem do edital e seus
anexos há indicação expressa acerca de seu cumprimento. Além disso, analisando a proposta
de preços apresentada pela Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. verifica ser
impossível identificar, de fato, os veículos a que estariam vinculados o contrato a ser assinado,
bem como os condutores – há apenas descrição genérica “veículo tipo utilitário”, variando a
lotação.
O procedimento teria sido instruído com suposta pesquisa de preços junto a três pessoas
jurídicas. Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda., CNPJ 13.344.941/0001-94;
Ribeirão Empreendimentos e Construções Ltda., CNPJ 11.398.399/0001-27; e Serra Grande
Construções Ltda., CNPJ 12.554.582/0001-37 teriam sido as fornecedoras de preços que
balizariam o orçamento do certame.
Não obstante a juntada de referidas peças de pesquisa de preços, é de se considerar seu caráter
precário e, até mesmo, inservível, pelas razões seguintes:
A prestação de serviços de transporte de escolares, de acordo com a Comissão Nacional de
Classificação (Concla) é serviço especializado, cuja classificação CNAE é 4924-8/00. Diz-se
especializado por que a oferta de tal serviço requer a existência de insumos (veículos e
motoristas) que atendam a certos requisitos técnicos e de segurança, relacionados a
características dos veículos, como também pela formação dos condutores, conforme arts. 136
a 138 do CTB. Resumindo, somente veículos certificados pelo órgão de trânsito e condutores
treinados para o serviço podem fazer o transporte de escolares.
Após análise de dados cadastrais das referidas sociedades, evidenciou-se que nenhuma das
pessoas referidas poderia ter feito as cotações de preços, uma vez que não seria próprio do
ramo negocial delas a prestação de serviços de transporte de escolares. Acrescentem-se os
achados adiante para reforçar o caráter irregular da participação das sociedades no processo.
a) Serra Grande Construções Ltda., CNPJ 12.554.582/0001-37.
Estabelecida na cidade de Imperatriz/MA, teria sido aberta em 14 de setembro de 2010 com
capital social de R$ 200.000,00.
Em consulta às bases cadastrais da Secretaria da Receita Federal e Jucema não se evidencia a
presença da atividade de locação de veículos para o transporte de alunos, CNAE 4924-8/00.
Por outro lado, verifica-se que nos exercícios de 2013, 2014 e 2015 referida pessoa manteve
constantes atos negociais com a Prefeitura de Sítio Novo/MA, na forma sintetizada abaixo:
i) Em 16 de abril de 2013 foi publicado no Diário Oficial do Estado do Maranhão (DOE/MA)
extrato de contrato entre a sociedade e a Prefeitura de Sítio Novo/MA tendo por objeto
mediato o gerenciamento, manutenção e funcionamento da limpeza pública de Sítio
Novo/MA. Valor de R$ 787.147,00. Pregão Presencial 11/2013.
ii) Em publicação no DOE/MA de 17 de março de 2014, novamente contratada pela Prefeitura
de Sítio Novo/MA para executar serviços de limpeza urbana de ruas e avenidas do município.
Valor de R$ 792.350,30. Pregão Presencial 07/2014.
iii) No DOE/MA de 09 de março de 2015 há referência de contratação pela Prefeitura de Sítio
Novo/MA para construção de 111 módulos sanitários domiciliares em Sítio Novo/MA.
Referida sociedade empresária tem por sócias L. S.de A. G., CPF ***.062.423-**,
administradora, e M. O. G. P., CPF ***.706.511-**, cotista de 10% do capital social.
M. O. G. P teria por irmão O. G. P., CPF ***.209.453-**, contador da Serra Grande
Construções e da R.G. Construções e Empreendimentos Ltda., esta última com sede no
município do Governador Edison Lobão/MA, cujo telefone de contato na base cadastral de
contribuintes – 99 ****-3137 – é o mesmo encontrado nos dados da Ribeirão
Empreendimentos e Construções Ltda., outra sociedade contumaz em contratações no
município e também fornecedora de pesquisa de preços no procedimento sob exame.
É conveniente informar que referida sociedade, apesar de ter apresentado pesquisa de preços
no certame, não manifestou interesse em participar da disputa no procedimento.
b) Ribeirão Empreendimentos e Construções Ltda., CNPJ 11.398.399/0001-27.
Referida sociedade empresária tem por sócios E. P. dos R., CPF ***.994.573-**, sócio-
administrador, e E. G. de S., CPF ***.458.433-**, cotista de 5% do capital social de R$
100.000,00.
E. P. dos R., apesar da condição de sócio-majoritário da “empresa”, apresenta registro na base
cadastral RAIS vinculado ao CNPJ 00.090.700/0008-82, município de Ribamar Fiquene/MA,
na condição de Segurado Especial, CBO 6231-10, cujo detalhamento no site do Ministério do
Trabalho e Emprego é de:
“Trabalhador da pecuária (bovinos corte). Ajudante de boiadeiro, Ajudante de vaqueiro,
Arrebanhador, Auxiliar de vaqueiro, Batedor de pasto, Campeiro (bovinos de corte), Peão de
pecuária, Tocador de gado - na pecuária, Trabalhador rural, Vaqueiro, Vaqueiro (bovinos
corte), Vaqueiro - na agropecuária - exclusive conta própria e empregador, Vaqueiro
inseminador (bovinos corte).”
Referido sócio mantinha e mantém vínculo empregatício com empregador pessoa física,
contrato de trabalho indeterminado regido pela Lei nº 5.889/1973, 44 horas semanais, no
município de Ribamar Fiquene/MA.
E. G. de S. se evidencia também em condição social incompatível com a situação de sócia de
“empresa” do ramo de engenharia. Segundo dados do Cadastro Único para Programas Sociais
do Governo Federal, referida pessoa mantém registro ativo, na condição de pessoa de baixa
renda, declarada em R$ 0,00, junto à Prefeitura de Ribamar Fiquene/MA, inclusive tendo
recebido benefícios do Bolsa Família nos períodos de 2014 a 2016.
Breve levantamento acerca da efetiva capacidade de serviço, em preliminares, revela que a
sociedade empresária, apesar de constituída desde 11 de dezembro de 2009, não possui um
único registro de empregados na RAIS e CAGED. Quanto a veículos, seria detentora da posse
de um veículo pick up, apenas, que inclusive é objeto de busca e apreensão em petição
distribuída em 07 de outubro de 2013, conforme processo nº 10881-09.2013.8.10.0040,
tramitando no Juízo Cível da Comarca de Imperatriz/MA.
Em consulta às bases cadastrais da Secretaria da Receita Federal e JUCEMA não se evidencia
a presença da atividade locação de veículos para o transporte de alunos, CNAE 4924-8/00.
Também se verifica relação direta entre Ribeirão Empreendimentos e Construções Ltda. e
Serra Grande Construções Ltda. que sugere combinação de esforços, ajustes e burla na
participação do procedimento sob análise. Em pesquisa de extratos de contratos de Ribeirão
Empreendimentos e Construções Ltda. no DOE/MA, verificou-se que N. D. da C. J. se
apresenta como administrador da mesma - (DOE/MA, Terceiros, 06/09/2013, pág. 05).
Referida pessoa revelou-se como sócio administrador de N.S. Medicamentos Ltda.-ME, cujo
telefone na base de informações cadastrais da Receita Federal – 99 8122 5063 -é o mesmo de
Serra Grande Construções Ltda.
N.D. da C. J. também figura como mandatário de Campo Alegre Empreendimentos Ltda.,
contratada pela Prefeitura de Sítio Novo/MA no contexto da Tomada de Preços nº 10/2013,
para construção de quadra poliesportiva – PAC2.
Ainda que fora do escopo principal deste trabalho, pertine informar que Ribeirão
Empreendimentos também tem histórico de vários atos negociais com a Prefeitura de Sítio
Novo/MA, em que um se destaca pela evidente situação irregular, ainda que em breve análise,
conforme se verifica da imagem abaixo.
Fig. 02 – Extrato contrato Ribeirão para fornecimento de “petróleo”
Fonte: DOE/MA, Terceiros, 06/09/2013, pág. 05
Observa-se que Ribeirão Empreendimentos e Construções Ltda., foi contratada para fornecer
“petróleo” à Prefeitura, no valor de R$ 1.215.690,00. De acordo com a Portaria ANP –
Agência Nacional de Petróleo - nº 116/2000, art. 3º, a atividade de revenda varejista de
combustível só é permitida à pessoa jurídica constituída que possui registro na ANP e dispor
de posto revendedor com tancagem para armazenamento e equipamento medidor de
combustível automotivo.
Em consulta ao site da ANP - consulta posto web - utilizando-se do CNPJ de Ribeirão
Empreendimentos e Construções Ltda., não se encontrou qualquer referência a registro da
referida sociedade empresária, o que evidencia o caráter ilícito da provável negociação feita
e, consequentemente, os gastos porventura realizados. A gravidade do fato também é suscitada
pela eventual adequação ao tipo definido no art. 1º, I, da Lei nº 8.176/1991, assim como ao
art. 39, VIII do CDC.
É conveniente informar que referida sociedade, apesar de ter apresentado pesquisa de preços
no certame, não manifestou interesse em participar da disputa no procedimento.
Da publicidade ineficaz e consequente ausência de competitividade no Pregão Presencial.
O Edital do certame foi datado de 26 de fevereiro de 2013. O resumo do edital teria sido
publicado em 06 de março de 2013, Seção Terceiros, pág. 08, DOE/MA.
Apesar da natureza comum dos serviços a serem contratados, do volume de recursos
financeiros envolvidos e do grande parque empresarial da cidade adjacente de Imperatriz/MA,
os responsáveis pela condução do procedimento – pregoeiro e equipe - consideraram não dar
maior publicidade ao certame, muito menos cuidaram em convidar possíveis interessados,
como ordinariamente ocorre em ambiente efetivo de disputa.
Seria esperado, pela natureza comum do objeto licitado, que mais de uma pessoa jurídica
manifestasse interesse. A publicação oficial é condição necessária, mas não suficiente para
que o procedimento tenha publicidade, no sentido de que, efetivamente, muitos tenham
conhecimento dele e possam, querendo, participar da disputa. Ademais, o inciso I, art. 4º da
Lei 10.520/2002, ao disciplinar a divulgação do edital considerou a possibilidade da
convocação por meio da imprensa oficial, jornal de circulação local ou de grande circulação
e meios eletrônicos. A melhor exegese para a aplicação da norma veiculada no referido
preceito é aquela que se aproxima ao máximo do primado da ampla competitividade, só
alcançável pelo uso de demais instrumentos de veiculação e chamamento postos à disposição
da Administração, fato não verificado no caso.
Nesse sentido, em caso similar em que se abordou a eficácia do princípio da publicidade,
pode-se apresentar trecho de decisão do TCE/SP:
“a ausência de divulgação do edital em jornal de circulação no Município ou região, na
forma do artigo 21, inciso III, da Lei de Licitações, constituiu omissão grave, pois, em face
das peculiaridades inerentes ao mercado fornecedor de transporte escolar, a divulgação local
é de extrema importância na atração de maior universo de propostas para tal objeto.
(TCE/SP, TC nº 001288/010/04, Rel. Cons. Eduardo Bittencourt Carvalho, DOE de
21.12.2004.). ”
Como decorrência do ambiente restrito criado, apenas uma pessoa teria manifestado interesse
no certame – Rio Mulato.
Da evidência indireta de simulação de assinatura.
No dia 12 de março de 2013 é apresentada proposta pela Rio Mulato, em valor total de R$
2.419.500,00, assinada pelo representante A. E. do N.. Sobre a assinatura aposta no
documento, ainda que em juízo precário, não definitivo, é possível questionar sua
autenticidade gráfica, do confronto entre assinatura obtida em documento oficial e aquela
existente na proposta de preços. As imagens a seguir evidenciam a discrepância de padrões.
Fig. 03 – Assinatura em documento oficial Fig. 04 – Assinatura em proposta de preços
Da impossibilidade jurídica de participação e contratação de Rio Mulato.
A primeira alteração contratual apresentada de Rio Mulato trouxe atualizações nos ramos de
atuação da licitante. Com chancela da Junta Comercial de janeiro de 2013, a alteração ficou
caracterizada na forma apresentada a seguir, com destaque para os serviços relacionados ao
transporte.
Fig. 03 – Ramo negocial da licitante. Destaque para serviços relacionados a transportes. Contrato social.
Como já mencionado neste relatório, o CNAE relacionado ao transporte de escolares,
conforme classificação oficial, é o de nº 4924-8/00, codificação não encontrada na relação
acima.
Da existência de relacionamento pessoal entre sócio da contratada e alta escalão da Prefeitura
Municipal de Sítio Novo/MA.
Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. CNPJ 13.344.941/0001-94 é sociedade
empresária aberta em 01 de fevereiro de 2011, atualmente com capital social de R$
200.000,00. A sede do estabelecimento também seria o endereço residencial de seus sócios,
A. E. do N., CPF ***.713.893-**, e M. L. F. do N., CPF ***.999.921-**. A distribuição do
capital seria de 60% e 40%, respectivamente.
Apesar de aberta em 2011, somente a partir de 2013 apresenta registro de massa salarial. Na
ocasião, a sociedade começa a travar atos negociais com a Prefeitura de Sítio Novo/MA.
De 2009 a 2011, o sócio majoritário teria sido assistente administrativo, regime celetista, em
Posto de Combustíveis em Imperatriz/MA.
Nas eleições de 2012, aparece como doador de campanha de J. C. dos R., CPF ***.460.442-
**, atual prefeito de Sítio Novo/MA.
M. L. F. do N., outra sócia, também figura com doadora de campanha do atual prefeito nas
eleições de 2012. Também surge como pessoa com registro em Sítio Novo/MA no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal, portanto de baixa renda, fato incompatível
com sua condição de sócia da Rio Mulato.
Esta sócia seria irmã de B. H. F. N., CPF ***.243.013-**, que manteve vínculo de trabalho
com a Prefeitura de Sítio Novo/MA em 2013 e 2014, ocupando cargo não efetivo – Secretário
municipal. Filiado a partido político em Sítio Novo/MA, foi doador de campanha para o atual
prefeito nas eleições de 2008.
Evidencia-se comunhão de interesse de natureza político-partidária entre os sócios da Rio
Mulato e o gestor do município, pela doação de campanha ao atual gestor municipal, ocorrido
nas eleições de 2012, assim como pela manutenção de parente de sócios em cargo de secretário
municipal no período de 2013 a 2014.
Da impossibilidade formal de habilitação.
O subitem 4.2.3 do Edital exigiu, quanto à qualificação econômico-financeira dos
participantes, a apresentação de balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último
exercício social. A sessão de abertura e julgamento do Pregão teria ocorrido em 12 de março
de 2013. A licitante teria sido aberta em 1º de fevereiro de 2011. Logo, o balanço e
demonstrativo contábil a ser apresentado deveriam ser relativos ao exercício de 2012. Apesar
disso, a licitante apresentou apenas balanço de abertura, datado de 7 de julho de 2011, e não
apresentou demais demonstrativos contábeis, situação incompatível com a exigência editalícia
e impeditiva de habilitação. Apesar da grave omissão, o Pregoeiro considerou habilitada a
licitante, declarando-a vencedora em Ata de julgamento, no valor total de R$ 2.419.500,00,
sendo R$ 1.852.000,00 relativos ao Lote I, para os serviços de transporte escolar.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.4. Transporte escolar. Execução físico-financeira inadequada. Exercício 2013.
Aplicação irregular de R$ 303.331,50.
Fato
Segundo Demonstrativo de Receita e Despesa, extraído do SigPC/FNDE, em 2013 o
município teria recebido R$ 328.016,57. Deste total, R$ 327.759,00 fora liquidado e R$
303.331,50 pagos.
A distribuição do gasto ficou assim caracterizada:
Tabela 01 – Execução financeira. PNATE 2013
NF-
e
Data
emissão R$
Objeto de
gasto Beneficiário
Data
pagto
Pago
41 17/10/13 195.750,00
Terceirização
Rio Mulato
Const. Empr.
Ltda.
18/10 185.962,50
53 17/12/13 70.000,00 19/12 70.000,00
265.750,00
3953
13/11/13
14.219,00
Peças Auto Motor
Diesel Ltda. 13/11
14.219,00
3947 14.072,00 14.072,00
3952 9.960,00 9.960,00
3948 9.118,00 9.118,00
348 14.640,00 Terceirização
62.009,00
Fonte: SigPC/FNDE.
Não há ressalvas quanto à maneira em que os pagamentos foram realizados. Os extratos
indicam que os pagamentos foram feitos por transferência, identificável. A despeito dessa
aparente regularidade, pertine trazer à análise as considerações já feitas neste relatório acerca
da fase de liquidação da despesa pública, art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964.
Já se estabeleceu que é pressuposto de regularidade da execução da despesa pública a sua
regular liquidação e que tal regularidade está condicionada à análise de documentos
apresentados e, com base neles, ao grau de pertinência e adequação da execução física com as
disposições contratuais e legais porventura existentes.
No caso de gastos relacionados ao transporte de escolares, para além da confirmação de
quantitativos executados, é da essência da legalidade do gasto que os serviços sejam ofertados
atendendo às exigências do Código de Trânsito Brasileiro (arts. 136 a138), precipuamente, e
também às normas contidas nas Resoluções do FNDE sobre o tema.
Nesse sentido, destacam-se as Resoluções CD/FNDE 12/2011 e 05/2015 (arts. 15 e 14,
respectivamente) que explicitam critério de elegibilidade de gastos no âmbito do Programa,
traduzido pela necessidade de os serviços de transporte escolar serem prestados por veículos
vistoriados/autorizados e motoristas capacitados por órgão de trânsito, situação não verificada
também no exercício de 2013, conforme detalhamento a seguir:
Quadro 01 - Transporte Escolar em 2013
Veículos de terceiros para o transporte de escolares em Sítio Novo/MA
Dados prestação de contas enviada ao TCE/MA Dados levantados em diversas fontes oficiais
Placa Tipo Proprietário CNH
2013 Tipo ano
Município Placa
2013
Proprietário
domicílio
CJY7814 D-20 N. L. N. NÃO D20/91 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
MVS7054 F-350 I. L. da S. C F-350/02 Augustinópolis/TO Imperatriz/MA
MWA7089 F-350 R. M. R. B F-350/05 Palmas/TO F.Nova MA
GOV5967 D-20 G. de C. M. AB D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
GML6219 F-1000 D. M. da S. NÃO F1000/98 Santa Inês/MA Santa Inês/MA
HOQ5585 D-20 R. de M. F. D D20/93 Sítio Novo/MA Xinguara/PA
JTE1191 D-20 A. F. L. AB D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCB4930(1) D-20 A. de O. F. N. AB D20/94 Sítio Novo/MA Tocantinópolis/TO
KCA3040 D-20 L. M. F. F. NÃO D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JYA8581 D-20 J. J. da S. B. AB D20/93 F.Serra Negra/MA Redenção/PA
JEC2386 D-20 J. dos S. S. F. AB D20/94 Grajaú/MA Tocantinópolis
KCM4069 D-20 V. M. da S. AD D20/90 Tocantinópolis Tocantinópolis
JEB3459 D-20 A. F. de A. D D20/94 Barra do Corda/MA Barra do Corda
AER5368 D-20 E. da C. R. R. NÃO D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JTH7751 D-20 R. T. de O. B D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCN1284 D-20 E. da S. S. NÃO D20/95 Sítio Novo/MA Lajeado Novo
HUV2115 F-4000 A. V. B. C F4000/96 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
NHB7885 F-350 J. C. de M. F. A F350/06 Imperatriz/MA Grajaú/MA
NXD3289 F-350 L. G. B. G. C F350/11 Imperatriz/MA Imperatriz/MA
GPF3995 D-20 E. C. R. NÃO D20/93 Grajaú/MA Colinas/MA
JYO0641 D-20 J. R. S. da L. NÃO D20/91 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JLD2957 D-20 A. C. M. F. AD D20/93 Tocantinópolis Tocantinópolis/TO
HUR0824 D-20 J. A. N. D. D D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KDL8620 D-20 O. J. A. de S. AD D20/88 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JLP3848 D-20 J. de A. D. C. B D20/94 Porto Franco/MA Tocantinópolis/TO
NXI7461 F-350 J. B. C. AB F350/11 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KBT3317 D-20 J. da P. B. NÃO D20/94 Tocantinópolis/MA Sítio Novo/MA
KEB6373 D-20 V. P. de C. AB GOL/99 Ipora/GO Ipora/GO
HVQ9934 D-20 E. do C. V. AB GM6100/00 D.Iraupuan P./CE Crato/CE
GQI0203 D-20 V. V. do C. AB D20/93 Barrolândia/TO Barrolândia/TO
MVL5764 D-20 Z. de O. B. AB D20/97 Tocantinópolis Tocantinópólis/TO
NWS4486 F-4000 P. de T. C. V. C F4000/10 Sítio Novo/MA Imperatriz/MA
BLW3540 D-20 S. R. C. AB D20/94 F.Nogueiras/MA Redenção/PA
MWA3850 F-350 E. A. de O. AB F350/00 S.J.Paraíso/MA D.Eliseu/PA
BNJ5339 D-20 J. M. P. L. AB D20/89 Sítio Novo/MA Tocantinópolis
BXN8005 D-20 G. D. R. AD D20/96 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KBE5495 D-20 R. C. de S. NÃO D20/91 Grajaú Sítio Novo/MA
NWZ2277 F-350 A. C. S. D F350/11 Sítio Novo/MA Grajaú/MA
MVM4321 D-20 F. de A. C. da S. D D20/96 Tocantinópolis Tocantinópolis
HPW7655 L200 F. D. L. da S. D L200/05 Imperatriz/MA Sítio Novo/MA
Fonte: Demonstrativo 17 da IN 09/2005/TCE-MA. Arquivo 1 08 06. Processo 2685/2014; Consulta MacrosAtiva; Infoseg.
Das informações constantes no quadro acima, pode-se concluir:
a) Nenhum dos tipos de veículos tinham condições legais para uso no âmbito do Pnate. Os
veículos utilizados seriam para transporte de carga, e não passageiros. Naturalmente, não
estavam autorizados, pelo órgão de trânsito, ao uso para o transporte de alunos. As imagens
abaixo ilustram os tipos de veículos.
Fig. 01. Ilustração de tipos de veículos utilizados no transporte escolar
Fonte: Internet. Imagens livremente distribuídas.
b) Nove supostos prestadores de serviço de transporte sequer tinham habilitação para o
serviço;
c) Nenhum dos supostos prestadores tinha a obrigatória e necessária certificação, pelo órgão
de trânsito, para o transporte de alunos;
d) Os veículos utilizados não poderiam atender ao critério de atualidade e segurança exigidos
no âmbito do Pnate. Segundo Guia do Transporte Escolar do FNDE, pág. 07, um pré-requisito
de segurança para a oferta do serviço de transporte escolar é que os veículos tenham idade
máxima de sete anos de uso. Pela tabela acima se verifica que esse fator não foi observado
pelo gestor municipal;
e) Alguns veículos possuem/possuíam registro em outra unidade da federação (Tocantins,
Pará, Goiás, Ceará), apesar da suposta prestação de serviços no Maranhão durante todo o
exercício. Isoladamente, o fato em si não enseja graves considerações. Entretanto, a
circunstância de se verificar que também não se compatibiliza o domicílio do proprietário
com o do registro do veículo, em preliminares, indica irregularidade documental de veículos.
É importante informar que a transferência de domicílio ou propriedade de veículo é fato que
sofre a incidência de normas que visam proteger a segurança no uso e legitimar a propriedade
dos veículos, conforme trecho da Resolução Denatran n. 466/2013, art. 2º, detalhado abaixo:
“§2º A vistoria de identificação veicular tem como objetivo verificar
I - a autenticidade da identificação do veículo e da sua documentação;
II - a legitimidade da propriedade;
III - se os veículos dispõem dos equipamentos obrigatórios, e se estes estão funcionais;
IV - se as características originais dos veículos e seus agregados foram modificados e, caso
constatada alguma alteração, se esta foi autorizada, regularizada e se consta no prontuário
do veículo na repartição de trânsito”.
Pela inteligência dos art. 72, caput, e art. 78, VI da Lei 8.666/1993, a cessão total do objeto
ou a parcial, esta quando não prevista e/ou não autorizada pela Administração contratante, é
prática ilícita, violadora do princípio licitatório, atingindo a legalidade, a moralidade, a
impessoalidade e o tratamento isonômico, vetores administrativos inafastáveis nas
contratações por órgãos/entidades públicas.
Observa-se, em análise preliminar, que a execução do serviço de transporte de escolares se
deu ou por subcontratação total do objeto licitado ou por contratação direta e irregular, sem
atenção às exigências de licitação prévia: primeiro, pela possibilidade de Rio Mulato ter
firmado contratos com as pessoas acima; segundo, pela possível inexistência de qualquer
relação jurídica entre aqueles que efetivamente prestaram os serviços e a suposta vencedora
de um procedimento licitatório viciado. Tanto uma como outra situação transborda no campo
do ilícito e, aliado ao fato da simulação do procedimento licitatório, abordado neste Relatório,
deslegitima os gastos feitos.
O TCU, sobre cessão de contratos e regularidade da execução, assim se posicionou:
“19. De outro lado, a gravidade dessas duas irregularidades [veículos impróprios e
sublocação ilícita do objeto] justifica, a meu ver, a apenação dos gestores municipais com
multa, na linha do que decidiu este Tribunal no já mencionado Acórdão 771/2013 - Plenário,
ao se deparar com situação semelhante, em que a forma como os serviços de transporte foram
prestados foi considerada como infração grave à lei e como evidente risco à segurança de
crianças e adolescentes que fazem uso do serviço de transporte escolar municipal contratado
com recursos públicos do Pnate.” (Acórdão TCU 3618/2013-1ª)
Geraldo Ataliba, fazendo considerações gerais sobre a atributividade do direito, em sua obra
aduziu preciosas lições:
“Tudo que temos é-nos atribuído pelo direito, segundo normas jurídicas.
É legítimo o recebimento de um bem (dinheiro ou outra coisa), e a sua incorporação ao nosso
patrimônio se opera validamente, se em conformidade com o direito e na medida em que este
o autoriza ou determina. O que se receba contra o direito não é legítimo, e não se incorpora
ao nosso patrimônio. É indevido. (Hipótese de Incidência Tributária. 15ª ed. São Paulo,
Malheiros, p. 27). ”
Assim, impugna-se o total de R$ 303.331,50, pela impossibilidade jurídica de ser justificada
– liquidação regular, na forma do art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964 - dada a violação ao art. 15
Resolução CD/FNDE 12/2011 c/c arts. 136 a 138 do Código de Trânsito Brasileiro. Ademais,
em relação aos gastos havidos com Rio Mulato - R$ 255.962,50 – deve ser acrescida a parte
final do disposto no parágrafo único do art. 59 da Lei 8.666/1993, também como fundamento
para impugnação do gasto.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.5. Transporte escolar. Vícios na licitação.Simulação e direcionamento. Exercício de
2014.
Fato
Em 2014 Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. continua sendo beneficiária de
vários contratos com a Prefeitura de Sítio Novo/MA.
Tomando como referência informações prestadas pelo próprio município ao Tribunal de
Contas do Estado do Maranhão (TCE/MA), destacadas a seguir, evidencia-se a continuidade
de atos negociais com a municipalidade.
Fig. 01 – Contratação vigente em 2014. Rio Mulato e Prefeitura Sítio Novo/MA
Fonte: TCE/MA. Prestação de Contas Anual Prefeito 2014 (1509/2015). Arquivo 5 01. Tomada de Preço.
Fonte: TCE/MA. Prestação de Contas Anual Prefeito 2014 (1509/2015). Arquivo 5 01. Pregão.
Fonte: TCE/MA. Prestação de Contas Anual Prefeito 2014 (1509/2015). Arquivo 5 01. Pregão.
Fonte: TCE/MA. Prestação de Contas Anual Prefeito 2014 (1509/2015). Arquivo 5 02. Concorrência.
Fonte: TCE/MA. Fundeb 2014 (1516/2015). Arquivo 5 01. Pregão.
Um dado comum, por simples observação das informações apresentadas, deve ser destacado:
em todos os processos que Rio Mulato participou não teria havido verdadeira disputa entre
licitantes, pois se apresentou nos procedimentos como única interessada e, por decorrência
lógica, declarada vencedora.
Dois procedimentos licitatórios teriam sido ultimados para prover as ações do transporte
escolar: Pregão Presencial 05/2014 e 16/2014, para os quais se apresentam as seguintes
constatações:
1) Pregão Presencial 05/2014.
O objeto da licitação foi definido como “locação de veículos”. O termo de referência do
procedimento revelou se tratar de fretamento com condutores, ficando a cargo da
municipalidade o fornecimento de combustível (subitens 3.1 e 7.1). Já a minuta do contrato
trouxe na cláusula segunda a informação de que a contratada deveria assumir todas as
despesas, inclusive combustível.
Quanto às demais obrigações da contratada, destacam-se “... manutenção, lubrificação,
emplacamento, licenças especiais e outras necessárias para a consecução dos serviços.” Além
disso, era obrigatório “... manter o motorista devidamente habilitado para operar o veículo”,
para todos os veículos colocados à disposição da contratante.
Aqui se fez presente, também, os vícios apontados na Concorrência 05/2011, Concorrência
01/2012, e Pregão Presencial 13/2013 pelas seguintes razões:
a) Cotação de preços junto a prestadores fora do ramo do objeto a ser contratado.
O procedimento teria sido instruído com suposta pesquisa de preços junto a três pessoas
jurídicas, as mesmas apontadas no Pregão Presencia 13/2013: Rio Mulato Construções e
Empreendimentos Ltda., CNPJ 13.344.941/0001-94; Ribeirão Empreendimentos e
Construções Ltda., CNPJ 11.398.399/0001-27; e Serra Grande Construções Ltda., CNPJ
12.554.582/0001-37 teriam sido as fornecedoras de preços que balizariam o orçamento do
certame.
Após análise de dados cadastrais das referidas sociedades, evidenciou-se que nenhuma das
pessoas referidas poderia ter feito as cotações de preços, uma vez que não seria próprio do
ramo negocial a prestação de serviços de transporte de escolares.
Não obstante a juntada de referidas peças de pesquisa de preços, é de se considerar seu caráter
precário e, até mesmo, inservível, pelas razões já expostas neste Relatório, quando da análise
do Pregão Presencial 13/2013 em que ficou demonstrado combinação ilegal de esforços entre
as sociedades empresárias ao apresentarem cotação de preços de área de atuação estranha a
suas atividades empresariais.
b) Objeto da prestação juridicamente impossível de ser contratado.
No Pregão Presencial 05/2014 também não se verificou que a definição do objeto tenha
atendido aos critérios de adequação e precisão (art. 55, I da Lei 8.666/1993), pois em nenhuma
passagem do edital e seus anexos se verifica referência às normas de segurança e qualidade
exigidos pelo Código de Trânsito Brasileiro e de observância obrigatória no certame.
Conforme TCU:
“A definição precisa e suficiente do objeto licitado constitui regra indispensável da
competição, até mesmo como pressuposto do postulado de igualdade entre os licitantes, do
qual é subsidiário o princípio da publicidade, que envolve o conhecimento, pelos
concorrentes potenciais, das condições básicas da licitação. Na hipótese particular da
licitação para compra, a quantidade demandada e essencial a definição do objeto do pregão.
TCU. ” Súmula 177.
Não é lícita a contratação pública que recaia sobre objeto cujas exigências legais de atualidade,
segurança e qualidade não sejam observadas. Ao deixar de observar as normas do CTB sobre
a prestação de serviços de transporte de alunos, o gestor violou o Primado da Legalidade, com
o agravante de dispensar tratamento favorecido aos contratados.
Logo, a irregularidade na definição do objeto, na forma apontada, é vício insanável e
impeditiva da busca da melhor proposta pela Administração, maculando toda a regularidade
do procedimento e dos contratos que lhe sucederam.
c) Orçamentação do objeto baseado em critério não objetivo.
Procedeu-se com irregularidade também na definição do orçamento a servir de referência para
o certame. Igual aos outros procedimentos analisados, não há qualquer informação acerca do
método utilizado pelo gestor no levantamento de preços que serviram de base ao certame. As
cotações constantes nos autos do procedimento, de acordo com análise apresentada acima,
revelaram-se inaproveitáveis por se revelar como verdadeiro simulacro.
Não é possível estipular orçamento da referida contratação sem estipulação das variáveis de
custos envolvidos, de maneira analítica. Assim, custos com combustível, lubrificantes, peças
e acessórios, rodagem, pessoal (motorista e monitor, por exemplo), depreciação, IPVA,
DPVAT e seguro de responsabilidade civil, deveriam ser apresentados e apurados pela
Administração, mediante pesquisa própria e junto a terceiros.
Segundo o TCU:
“É imprescindível a fixação, no edital, dos critérios de aceitabilidade de preços unitários e
globais, em face do disposto no art. 40, inciso X, c/c o art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993.
”
“Não é possível licitar obras e serviços sem que o respectivo orçamento detalhado, elaborado
pela Administração, esteja expressando, com razoável precisão quanto aos valores de
mercado, a composição de todos os seus custos unitários, nos termos do art. 7º, § 2º, inciso
II, da Lei nº 8.666/1993, tendo-se presente que essa peça é fundamental para a contratação
pelo preço justo e vantajoso, na forma exigida pelo art. 3º da citada lei. ” Acórdão 2014/2007
Plenário (Sumário)
“Os orçamentos em uma licitação devem ser elaborados da forma mais cuidadosa possível,
de forma que reflitam adequadamente os preços de mercado, para que a Administração tenha
segurança de estar adquirindo produtos/serviços a preços justos. Acórdão 85/2007 Plenário.
” (Voto do Ministro Relator)
A irregular definição do objeto a ser licitado, bem como a ausência de critérios de justificativa
de preços e quantitativos não se adere à busca da proposta mais vantajosa para a
Administração, muito menos à garantia da impessoalidade, uma vez que inviabilizam a
ocorrência de efetivo ambiente de disputa. A ausência do cumprimento de tais preceitos, no
caso concreto, evidencia o uso do processo licitatório para direcionar a futura contratação.
d) Da publicidade ineficaz e consequente ausência de competitividade no Pregão Presencial.
O aviso da licitação teria sido publicado no DOE/MA, seção Terceiros, pág. 24, do dia 17 de
janeiro de 2014, com abertura da sessão marcada para o dia 30 de janeiro de 2014.
No dia 21 de janeiro de 2014 o aviso teria sido divulgado no Jornal Oficial dos Municípios,
periódico administrado pela Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem).
Referida publicação, pertine informar, não tem valor jurídico, uma vez que somente com o
advento da Lei Municipal nº 394/2015, de 30 de novembro de 2015 é que o Poder Executivo
local aderiu, na forma do art. 6º, XIII da Lei 8.666/1993, ao Jornal Oficial administrado pela
Famem.
Ainda, o art. 4º da Lei Municipal considerou que a publicação no referido Jornal não excluiria
a necessidade de outras publicações em face de exigência de legislação federal ou estadual.
Apesar da natureza comum dos serviços a serem contratados, do volume de recursos
financeiros envolvidos e do grande parque empresarial da cidade adjacente de Imperatriz/MA,
os responsáveis pela condução do procedimento – pregoeiro e equipe - consideraram não dar
maior publicidade ao certame, muito menos cuidaram em convidar possíveis interessados,
como ordinariamente ocorre em ambiente efetivo de disputa.
Seria esperado, pela natureza comum do objeto licitado, que mais de uma pessoa jurídica
manifestasse interesse pelo certame. A publicação oficial é condição necessária, mas não
suficiente para que o procedimento tenha publicidade, no sentido de que, efetivamente, muitos
tenham conhecimento dele e possam, querendo, participar da disputa. Ademais, o inciso I, art.
4º da Lei 10.520/2002, ao disciplinar a divulgação do edital considerou a possibilidade da
convocação por meio da imprensa oficial, jornal de circulação local ou de grande circulação
e meios eletrônicos. A melhor exegese para a aplicação da norma veiculada no referido
preceito é aquela que se aproxima ao máximo do primado da ampla competitividade, só
alcançável pelo uso de demais instrumentos de veiculação e chamamento postos à disposição
da Administração, fato não verificado no caso.
Nesse sentido, em caso similar em que se abordou a eficácia do princípio da publicidade,
pode-se apresentar trecho de decisão do TCE/SP:
“A ausência de divulgação do edital em jornal de circulação no Município ou região, na
forma do artigo 21, inciso III, da Lei de Licitações, constituiu omissão grave, pois, em face
das peculiaridades inerentes ao mercado fornecedor de transporte escolar, a divulgação local
é de extrema importância na atração de maior universo de propostas para tal objeto. ”
(TCE/SP, TC nº 001288/010/04, Rel. Cons. Eduardo Bittencourt Carvalho, DOE de
21.12.2004.)
Como decorrência do ambiente restrito criado, apenas uma pessoa teria manifestado interesse
no certame – Rio Mulato.
e) Da impossibilidade jurídica de participação e contratação de Rio Mulato.
A primeira e segunda alterações contratuais apresentadas de Rio Mulato trouxeram
atualizações nos ramos de atuação da licitante. Da mesma forma que no Pregão Presencial
13/2013, também aqui não se verificou adequação entre a prestação de serviços a ser
executada – CNAE 4924-8/00 e aquilo que a sociedade empresária poderia fazer, em face dos
ramos negociais discriminados em seu contrato social.
f) Da existência de relacionamento pessoal entre sócio da contratada e alta escalão da
Prefeitura Municipal de Sítio Novo/MA.
Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. CNPJ 13.344.941/0001-94 é sociedade
empresária aberta em 01 de fevereiro de 2011, com capital social de R$ 200.000,00. A sede
do estabelecimento também seria o endereço residencial de seus sócios, A. E. do N., CPF
***.713.893-**, e M. L. F. do N., CPF ***.999.921-**. A distribuição do capital seria de
60% e 40%, respectivamente.
Apesar de aberta em 2011, somente a partir de 2013 apresenta registro de massa salarial. Na
ocasião, a sociedade começa a travar atos negociais com a Prefeitura de Sítio Novo/MA.
De 2009 a 2011, o sócio majoritário teria sido assistente administrativo, regime celetista, em
Posto de Combustíveis em Imperatriz/MA.
Nas eleições de 2012, aparece como doador de campanha de J. C. dos R., CPF ***.460.442-
**, atual prefeito de Sítio Novo/MA.
M. L. F. do N., outra sócia, também figura com doadora de campanha do atual prefeito nas
eleições de 2012. Também surge como pessoa com registro em Sítio Novo/MA no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal, portanto de baixa renda, fato incompatível
com sua condição de sócia da Rio Mulato.
Esta sócia seria irmã de B. H. F. N., CPF ***.243.013-**, que manteve vínculo de trabalho
com a Prefeitura de Sítio Novo/MA em 2013 e 2014, ocupando cargo não efetivo – Secretário
municipal. Filiada a partido político em Sítio Novo/MA, foi doadora de campanha para o atual
prefeito nas eleições de 2008.
Evidencia-se comunhão de interesse de natureza político-partidária entre os sócios da Rio
Mulato e o gestor do município, pela doação de campanha ao atual gestor municipal, ocorrido
nas eleições de 2012, assim como pela manutenção de parente de sócios em cargo de secretário
municipal no período de 2013 a 2014.
2. Pregão Presencial 16/2014.
O procedimento se inicia com planilhas orçamentárias que supostamente materializariam uma
pesquisa de preços. Novamente se apresentam Ribeirão Empreendimentos e Construções
Ltda., Serra Grande Construções Ltda. e Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda.
A pesquisa que seria de Rio Mulato, apresenta-se datada de 20 de dezembro de 2014, momento
incompatível com o período de realização do certame. O procedimento foi autorizado pelo
gestor em 06 de janeiro de 2014.
O certame tinha por objeto “... a contratação de empresa especializada para executar serviços
de locação de veículos para o Transporte Escolar...”
Foram estabelecidas quarenta e cinco rotas, traduzidas em itens da licitação. A estimativa de
preço apurada ficou em R$ 2.162.492,64, para execução no período de nove meses.
O resumo do edital foi publicado no DOU. 33, Seção 3, pág. 243, do dia 17 de fevereiro de
2014, com previsão de abertura para o dia 27 de fevereiro de 2014. Também o foi no
DOE/MA., Terceiros, do dia 17 de fevereiro de 2014, pág. 6. Finalmente, há publicação no
jornal da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem) do dia 14 de fevereiro
de 2014.
Apenas Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. novamente, teria retirado o edital.
A seguir, os principais achados de fiscalização:
a) Cotação de preços junto a prestadores fora do ramo do objeto a ser contratado.
O procedimento teria sido instruído com suposta pesquisa de preços junto a três pessoas
jurídicas, as mesmas apontadas no Pregão Presencia 13/2013.
Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda., CNPJ 13.344.941/0001-94; Ribeirão
Empreendimentos e Construções Ltda., CNPJ 11.398.399/0001-27; e Serra Grande
Construções Ltda., CNPJ 12.554.582/0001-37 teriam sido as fornecedoras de preços que
balizariam o orçamento do certame.
Após análise de dados cadastrais das referidas sociedades, evidenciou-se que nenhuma das
pessoas referidas poderia ter feito as cotações de preços, uma vez que não seria próprio do
ramo negocial a prestação de serviços de transporte de escolares.
Não obstante a juntada de referidas peças de pesquisa de preços, é de se considerar seu caráter
precário e, até mesmo, inservível, pelas razões já expostas neste Relatório, quando da análise
do Pregão Presencial 13/2013 em que ficou demonstrado combinação ilegal de esforços entre
as sociedades empresárias ao apresentarem cotação de preços de área de atuação estranha a
suas atividades empresariais.
b) Objeto da prestação juridicamente impossível de ser contratado.
No Pregão Presencial 05/2014 também não se verificou que a definição do objeto tenha
atendido aos critérios de adequação e precisão (art. 55, I da Lei 8.666/1993), pois em nenhuma
passagem do edital e seus anexos se verifica referência às normas de segurança e qualidade
exigidos pelo Código de Trânsito Brasileiro e de observância obrigatória no certame.
Conforme TCU:
“A definição precisa e suficiente do objeto licitado constitui regra indispensável da
competição, até mesmo como pressuposto do postulado de igualdade entre os licitantes, do
qual é subsidiário o princípio da publicidade, que envolve o conhecimento, pelos
concorrentes potenciais, das condições básicas da licitação. Na hipótese particular da
licitação para compra, a quantidade demandada e essencial a definição do objeto do pregão.
TCU. ” Súmula 177.
Não é lícita a contratação pública que recaia sobre objeto cujas exigências legais de atualidade,
segurança e qualidade não sejam observadas. Ao deixar de observar as normas do CTB sobre
a prestação de serviços de transporte de alunos, o gestor violou o Primado da Legalidade, com
o agravante de dispensar tratamento favorecido aos contratados.
Logo, a irregularidade na definição do objeto, na forma apontada, é vício insanável e
impeditiva da busca da melhor proposta pela Administração, maculando toda a regularidade
do procedimento e dos contratos que lhe sucederam.
c) Orçamentação do objeto baseado em critério não objetivo.
Procedeu-se com irregularidade também na definição do orçamento a servir de referência para
o certame. Igual aos outros procedimentos analisados, não há qualquer informação acerca do
método utilizado pelo gestor no levantamento de preços que serviram de base ao certame. As
cotações constantes nos autos do procedimento, de acordo com análise apresentada acima,
revelaram-se inaproveitáveis por sua natureza de simulacro.
Não é possível estipular orçamento da referida contratação sem estipulação das variáveis de
custos envolvidos, de maneira analítica. Assim, custos com combustível, lubrificantes, peças
e acessórios, rodagem, pessoal (motorista e monitor, por exemplo), depreciação, IPVA,
DPVAT e seguro de responsabilidade civil, deveriam ser apresentados e apurados pela
Administração, mediante pesquisa própria e junto a terceiros.
Segundo o TCU:
“É imprescindível a fixação, no edital, dos critérios de aceitabilidade de preços unitários e
globais, em face do disposto no art. 40, inciso X, c/c o art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993.
Não é possível licitar obras e serviços sem que o respectivo orçamento detalhado, elaborado
pela Administração, esteja expressando, com razoável precisão quanto aos valores de
mercado, a composição de todos os seus custos unitários, nos termos do art. 7º, § 2º, inciso
II, da Lei nº 8.666/1993, tendo-se presente que essa peça é fundamental para a contratação
pelo preço justo e vantajoso, na forma exigida pelo art. 3º da citada lei. Acórdão 2014/2007
Plenário (Sumário)
Os orçamentos em uma licitação devem ser elaborados da forma mais cuidadosa possível, de
forma que reflitam adequadamente os preços de mercado, para que a Administração tenha
segurança de estar adquirindo produtos/serviços a preços justos. Acórdão 85/2007 Plenário.
” (Voto do Ministro Relator)
A irregular definição do objeto a ser licitado, bem como a ausência de critérios de justificativa
de preços e quantitativos não se adere à busca da proposta mais vantajosa para a
Administração, muito menos à garantia da impessoalidade, uma vez que inviabilizam a
ocorrência de efetivo ambiente de disputa. A ausência do cumprimento de tais preceitos, no
caso concreto, evidencia o uso do processo licitatório para direcionar a futura contratação.
d) Da publicidade ineficaz e consequente ausência de competitividade no Pregão Presencial.
O aviso da licitação teria sido publicado no DOE, seção Terceiros, pág. 24, do dia 17 de janeiro
de 2014, com abertura da sessão marcada para o dia 30 de janeiro de 2014.
No dia 21 de janeiro de 2014 o aviso teria sido divulgado no Jornal Oficial dos Municípios,
periódico administrado pela Federal dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem).
Referida publicação, pertine informar, não tem valor jurídico, uma vez que somente com o
advento da Lei Municipal 394/2015, de 30 de novembro de 2015 é que o Poder Executivo
local aderiu, na forma do art. 6º, XIII da Lei 8.666/1993, ao Jornal Oficial administrado pela
Famem.
Ainda, o art. 4º da Lei Municipal considerou que a publicação no referido Jornal não excluiria
a necessidade de outras publicações em face de exigência de legislação federal ou estadual.
Apesar da natureza comum dos serviços a serem contratados, do volume de recursos
financeiros envolvidos e do grande parque empresarial da cidade adjacente de Imperatriz/MA,
os responsáveis pela condução do procedimento – pregoeiro e equipe - consideraram não dar
maior publicidade ao certame, muito menos cuidaram em convidar possíveis interessados,
como ordinariamente ocorre em ambiente efetivo de disputa.
Seria esperado, pela natureza comum do objeto licitado, que mais de uma pessoa jurídica
manifestasse interesse pelo certame. A publicação oficial é condição necessária, mas não
suficiente para que o procedimento tenha publicidade, no sentido de que, efetivamente, muitos
tenham conhecimento dele e possam, querendo, participar da disputa. Ademais, o inciso I, art.
4º da Lei 10.520/2002, ao disciplinar a divulgação do edital considerou a possibilidade da
convocação por meio da imprensa oficial, jornal de circulação local ou de grande circulação
e meios eletrônicos. A melhor exegese para a aplicação da norma veiculada no referido
preceito é aquela que se aproxima ao máximo do primado da ampla competitividade, só
alcançável pelo uso de demais instrumentos de veiculação e chamamento postos à disposição
da Administração, fato não verificado no caso.
Nesse sentido, em caso similar em que se abordou a eficácia do princípio da publicidade,
pode-se apresentar trecho de decisão do TCE/SP:
“A ausência de divulgação do edital em jornal de circulação no Município ou região, na
forma do artigo 21, inciso III, da Lei de Licitações, constituiu omissão grave, pois, em face
das peculiaridades inerentes ao mercado fornecedor de transporte escolar, a divulgação local
é de extrema importância na atração de maior universo de propostas para tal objeto. ”
(TCE/SP, TC nº 001288/010/04, Rel. Cons. Eduardo Bittencourt Carvalho, DOE de
21.12.2004.)
Como decorrência do ambiente restrito criado, apenas uma pessoa teria manifestado interesse
no certame – Rio Mulato.
e) Da impossibilidade jurídica de participação e contratação de Rio Mulato.
A primeira e segunda alterações contratuais apresentadas de Rio Mulato trouxeram
atualizações nos ramos de atuação da licitante. Da mesma forma que no Pregão Presencial
13/2013, também aqui se verificou adequação a prestação a ser executada – CNAE 4924-8/00
e aquilo que a sociedade empresária poderia fazer, em face dos ramos negociais discriminados
em seu contrato social.
f) Da existência de relacionamento pessoal entre sócio da contratada e alta escalão da
Prefeitura Municipal de Sítio Novo/MA.
Rio Mulato Construções e Empreendimentos Ltda. CNPJ 13.344.941/0001-94 é sociedade
empresária aberta em 01 de fevereiro de 2011, atualmente com capital social de R$
200.000,00. A sede do estabelecimento também seria o endereço residencial de seus sócios,
A. E. do N., CPF ***.713.893-**, e M. L. F. do N., CPF ***.999.921-**. A distribuição do
capital seria de 60% e 40%, respectivamente.
Apesar de aberta em 2011, somente a partir de 2013 apresenta registro de massa salarial. Na
ocasião, a sociedade começa a travar atos negociais com a Prefeitura de Sítio Novo/MA.
De 2009 a 2011, o sócio majoritário teria sido assistente administrativo, regime celetista, em
Posto de Combustíveis em Imperatriz/MA.
Nas eleições de 2012, aparece como doador de campanha de J. C. dos R., CPF ***.460.442-
**, atual prefeito de Sítio Novo/MA.
M. L. F. do N., outra sócia, também figura com doadora de campanha do atual prefeito nas
eleições de 2012. Também surge como pessoa com registro em Sítio Novo/MA no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal, portanto de baixa renda, fato incompatível
com sua condição de sócia da Rio Mulato.
Esta sócia seria irmã de B. H. F. N., CPF ***.243.013-**, que manteve vínculo de trabalho
com a Prefeitura de Sítio Novo/MA em 2013 e 2014, ocupando cargo não efetivo – Secretário
municipal. Filiada a partido político em Sítio Novo/MA, foi doadora de campanha para o atual
prefeito nas eleições de 2008.
Evidencia-se comunhão de interesse de natureza político-partidária entre os sócios da Rio
Mulato e o gestor do município, pela doação de campanha ao atual gestor municipal, ocorrido
nas eleições de 2012, assim como pela manutenção de parente de sócios em cargo de secretário
municipal no período de 2013 a 2014.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.6. Transporte escolar. Execução físico-financeira inadequada. Vícios materiais na
prestação e no uso de insumos. Absoluta impropriedade da prestação. Gastos não
legitimados. Aplicação irregular de R$ 316.638,15.
Fato
Segundo Demonstrativo de Receita e Despesa, extraído do SigPC/FNDE, em 2014 o
município teria recebido R$ 329.139,83. Deste total, R$ 329.132,15 fora liquidado e R$
316.638,15 pagos.
A distribuição do gasto ficou assim caracterizada, desconsiderados os pagamentos com
impostos:
Tabela 01 – Execução financeira. PNATE 2014
NF-
e
Data
emissão R$
Objeto de
gasto Beneficiário
Data
pagto
Pago
97 11/07/14 83.000,00
Terceirização
Rio Mulato
Const. e Emp.
Ltda.
14/07 83.000,00
117 19/09/14 50.000,00 19/09 50.000,00
125 09/10/14 9.000,00 22/10 8.550,00
133 30/10/14 9.000,00 -- --
137 19/11/14 42.880,00 02/12 40.736,00
146 09/12/14 9.000,00 10/12 8.550,00
156 19/12/14 9.000,00 23/12 8.550,00
199.386,00
671 14/04/14 9.197,48
Combustíveis
e
lubrificantes
J.I. Posto de
Combustíveis
Ltda.
15/04 9.197,48
687 21/05/14 8.912,96 21/05 8.912,96
703 18/06/14 8.495,50 25/06 8.495,50
722 11/07/14 9.497,94 14/07 9.497,94
739 15/08/14 7.798,84 19/08 7.798,84
758 22/09/14 9.572,40 23/09 9.572,40
767 10/10/14 5.589,21 10/10 5.589,21
784 14/11/14 8.048,79 14/11 8.048,79
800 16/12/14 8.899,67 17/12 8.899,67
806 30/12/14 1.909,16 30/12 1.909,16
77.921,95
5309 23/05/14 8.224,00
Peças em
geral
Auto
MotorDiesel
Ltda.
27/05 8.224,00
5316 23/05/14 9.051,98 27/05 9.051,98
5317 23/05/14 8.677,72 27/05 8.677,72
5318 23/05/14 8.956,50 27/05 8.956,50
520 10/07/14 4.420,00 16/07 4.420,00
39.330,20
Fonte: SigPC/FNDE.
Não há ressalvas quanto à maneira em que os pagamentos foram feitos. Os extratos indicam
que foram realizados por transferência identificável. A despeito dessa aparente regularidade,
pertine trazer à análise as considerações já feitas neste relatório acerca da fase de liquidação
da despesa pública, art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964.
Já se estabeleceu que é pressuposto de regularidade da execução da despesa pública a sua
regular liquidação e que tal regularidade está condicionada à análise de documentos
apresentados e, com base neles, ao grau de pertinência e adequação da execução física com as
disposições contratuais e legais porventura existentes.
No caso de gastos relacionados ao transporte de escolares, para além da confirmação de
quantitativos executados, é da essência da legalidade do gasto que os serviços sejam ofertados
atendendo às exigências do Código de Trânsito Brasileiro (arts. 136 a 138), precipuamente, e
também às normas contidas nas Resoluções do FNDE sobre o tema.
Nesse sentido, destacam-se as Resoluções CD/FNDE 12/2011 e 05/2015 (arts. 15 e 14,
respectivamente) que explicitam critério de elegibilidade de gastos no âmbito do Programa,
traduzido pela necessidade de os serviços de transporte escolar serem prestados por veículos
vistoriados/autorizados e motoristas capacitados por órgão de trânsito, situação não verificada
também no exercício de 2014, conforme detalhamento a seguir:
Quadro 01 - Transporte Escolar em 2014
Veículos de terceiros para o transporte de escolares em Sítio Novo/MA
Dados prestação de contas enviada ao TCE/MA Dados levantados em diversas fontes oficiais
Placa Tipo Proprietário CNH
2014 Tipo ano Município Placa
2014
Proprietário
domicílio
CJY7814 D-20 N. L. N. NÃO D20/91 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
ATY0123 D-20 J. R. R.S. NÃO D20/96 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
NNE1516 F350 F. da C. S. S. NÃO F350/10 Sítio Novo/MA Sítio Novo
JWM1316 D-20 E. S. da C. AD D20/86 S.Izabel/PA Mara Rosa/GO
KGV1983 D-20 M. S. da S. B D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
HOQ5585 D-20 R. de M. F. D D20/93 Sítio Novo/MA Xinguara/PA
JTE1191 D-20 A. F. L. AB D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCB4930(1) D-20 A. de O. F. N. AB D20/94 Sítio Novo/MA Tocantinópolis/TO
KCA3040 D-20 L. M. F. F. NÃO D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JYA8581 D-20 J. J. da S. B. AB D20/93 F.Serra Negra/MA Redenção/PA
NHT2914 F350 R. N. M. de S. NÃO F350/09 Porto Franco/MA Grajaú
JCM4069 D-20 V. M. da S. AD INEXISTENTE
JEB3459 D-20 A. F. de A. D D20/94 Barra do Corda/MA Barra do Corda
AER5368 D-20 E. da C. R. R. NÃO D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JTH7751 D-20 R. T. de O. B D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCN1284 D-20 E. da S. S. NÃO D20/95 Sítio Novo/MA Lajeado Novo
HUV2115 F-4000 A. V. B. C F4000/96 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
NHB7885 F-350 J. C. de M. F. A F350/06 Imperatriz/MA Grajaú/MA
NXD3289 F-350 L. G. B. G. C F350/11 Imperatriz/MA Imperatriz/MA
GPF3995 D-20 E. C. R. NÃO D20/93 Grajaú/MA Colinas/MA
JYO0641 D-20 J. R. S. da L. NÃO D20/91 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JLD2957 D-20 A. C. M. F. AD D20/93 Tocantinópolis Tocantinópolis/TO
HUR0824 D-20 J. A. N. D. D D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCY5686 D-20 M. C. M. A. NÃO C20/96 Grajaú/MA Grajaú/MA
NXI7461 F-350 J. B. C. AB F350/11 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
MVL5764 D-20 Z. de O. B. AB D20/97 Tocantinópolis Tocantinópólis/TO
NWS4486 F-4000 P. de T. C. V. C F4000/10 Sítio Novo/MA Imperatriz/MA
BLW3540 D-20 S. R. C. AB D20/94 F.Nogueiras/MA Redenção/PA
MWA3850 F-350 E. A. de O. AB F350/00 S.J.Paraíso/MA D.Eliseu/PA
KBE5495 D-20 R. C. de S. NÃO D20/91 Grajaú/MA Sítio Novo/MA
NWZ2277 F-350 A. C. S. D F350/11 Sítio Novo/MA Grajaú/MA
MVM4321 D-20 F. de A. C. da S. D D20/96 Tocantinópolis Tocantinópolis
NBK6550 D-20 A. L. de S. NÃO D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
HPW7655 L200 F. D. L. da S. D L200/05 Imperatriz/MA Sítio Novo/MA
Fonte: Demonstrativo 17 da IN 09/2005/TCE-MA. Arquivo 1 08 06. Processo 1509/2015; Consulta MacrosAtiva; Infoseg.
Das informações constantes no quadro acima, pode-se concluir:
a) Nenhum dos tipos de veículos tinha condições legais para uso no âmbito do Pnate. Os
veículos utilizados seriam para transporte de carga, e não passageiros. Naturalmente, não
estavam autorizados, pelo órgão de trânsito, a uso para o transporte de alunos. As imagens
abaixo ilustram os tipos de veículos.
Fig. 01. Ilustração de tipos de veículos utilizados no transporte escolar
Fonte: Internet. Imagens livremente distribuídas.
b) Doze supostos prestadores de serviço de transporte – considerados os proprietários - sequer
tinham habilitação para tanto;
c) Nenhum dos supostos prestadores tinha a obrigatória e necessária certificação, pelo órgão
de trânsito, para o transporte de alunos;
d) Os veículos utilizados não poderiam atender ao critério de atualidade e segurança exigidos
no âmbito do Pnate. Segundo Guia do Transporte Escolar do FNDE, pág. 07, um pré-requisito
de segurança para a oferta do serviço de transporte escolar é que os veículos tenham idade
máxima de sete anos de uso. Pela tabela acima se verifica que poucos deles tinham idade
inferior à recomendada;
e) Alguns veículos possuem/possuíam registro em localidade diversa da prestação do serviço,
inclusive em outra federação, apesar da suposta prestação de serviços na cidade de Sítio
Novo/MA durante todo o exercício. Isoladamente, o fato em si não enseja considerações.
Entretanto, a circunstância de se verificar que também não se compatibiliza o domicílio do
proprietário com o do registro do veículo, em preliminares, indica irregularidade documental
de veículos.
É importante informar que a transferência de domicílio ou propriedade de veículo é fato que
sofre a incidência de normas que visam proteger a segurança no uso e legitimar a propriedade
dos veículos, conforme trecho da Resolução Denatran n. 466/2013, art. 2º, detalhado abaixo:
“§2º A vistoria de identificação veicular tem como objetivo verificar
I - a autenticidade da identificação do veículo e da sua documentação;
II - a legitimidade da propriedade;
III - se os veículos dispõem dos equipamentos obrigatórios, e se estes estão funcionais;
IV - se as características originais dos veículos e seus agregados foram modificados e, caso
constatada alguma alteração, se esta foi autorizada, regularizada e se consta no prontuário
do veículo na repartição de trânsito”.
Pela inteligência dos art. 72, caput, e art. 78, VI da Lei 8.666/1993, a cessão total do objeto
ou a parcial, esta quando não prevista e/ou não autorizada pela Administração contratante, é
prática ilícita, violadora do princípio licitatório, atingindo a legalidade, a moralidade, a
impessoalidade e o tratamento isonômico, vetores administrativos inafastáveis nas
contratações por órgãos/entidades públicas.
Observa-se, em análise preliminar, que a execução do serviço de transporte de escolares se
deu ou por subcontratação total do objeto licitado ou por contratação direta e irregular, sem
atenção às exigências de licitação prévia: primeiro, pela possibilidade de Rio Mulato ter
firmado contratos com as pessoas acima; segundo, pela possível inexistência de qualquer
relação jurídica entre aqueles que efetivamente prestaram os serviços e a suposta vencedora
de um procedimento licitatório viciado. Tanto uma como outra situação transborda no campo
do ilícito e, aliado ao fato da simulação do procedimento licitatório, abordado neste Relatório,
deslegitima os gastos feitos.
O TCU, sobre cessão de contratos e regularidade da execução, assim se posicionou:
“19. De outro lado, a gravidade dessas duas irregularidades [veículos impróprios e
sublocação ilícita do objeto] justifica, a meu ver, a apenação dos gestores municipais com
multa, na linha do que decidiu este Tribunal no já mencionado Acórdão 771/2013 - Plenário,
ao se deparar com situação semelhante, em que a forma como os serviços de transporte foram
prestados foi considerada como infração grave à lei e como evidente risco à segurança de
crianças e adolescentes que fazem uso do serviço de transporte escolar municipal contratado
com recursos públicos do Pnate. ” (Acórdão TCU 3618/2013-1ª)
Geraldo Ataliba, fazendo considerações gerais sobre a atributividade do direito, em sua obra
aduziu preciosas lições:
“Tudo que temos é-nos atribuído pelo direito, segundo normas jurídicas.
É legítimo o recebimento de um bem (dinheiro ou outra coisa), e a sua incorporação ao nosso
patrimônio se opera validamente, se em conformidade com o direito e na medida em que este
o autoriza ou determina. O que se receba contra o direito não é legítimo, e não se incorpora
ao nosso patrimônio. É indevido. ” (Hipótese de Incidência Tributária. 15ª ed. São Paulo,
Malheiros, p. 27).
Assim inicialmente se impugna o total de R$ 199.386,00, pela impossibilidade jurídica de ser
justificada – liquidação regular, na forma do art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964 - dada a violação
ao art. 15 Resolução CD/FNDE 12/2011 c/c arts. 136 a 138 do Código de Trânsito Brasileiro.
Ademais, em relação aos gastos havidos com Rio Mulato, nos valores apontados acima, deve
ser acrescida a parte final do disposto no parágrafo único do art. 59 da Lei 8.666/1993, também
como fundamento para impugnação do gasto.
Quanto aos gastos com combustíveis e peças, importa destacar que a gestão não apresentou
controles internos suficientes a vincular os gastos havidos com os veículos que efetivamente
prestaram serviços de transporte de alunos no período. Neste caso, é imperioso informar que
cabe ao gestor demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos públicos (art. 93, Decreto-
lei 200/1967), encargo que deve ser feito em atenção às regras de direito financeiro que regem
a matéria, como a liquidação regular (arts. 62 e 63 da Lei 4.320/1964), que exige a prova da
existência de nexo de causalidade entre o desembolso feito e as ações do Programa. Logo,
faz-se também a impugnação dos gastos supostamente realizados com combustíveis e peças
no valor de R$ 117.252,15. ##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.7. Transporte escolar. Vícios na licitação.Simulação e direcionamento. Exercício de
2015.
Fato
Em 2015, de acordo com dados constantes no Sistema de Gestão on line de Prestação de
Contas do FNDE, teria havido a contratação das seguintes pessoas jurídicas:
Quadro 01 – Licitações e contratos Pnate 2015
Licitação Contratado Objeto R$
Contratado
PP 14/2015 Rio Mulato Serviços de transporte 28.286,16
PP 23/2014 Auto Motordiesel Ltda. Peças e pneus 655.848,00
PP 24/2014 Auto Motordiesel Ltda. Serviços de manutenção 169.190,00
PP 12/2015 J.I. Posto de Combust. Comb. e lubrificantes 89.860,00
PP 23/2015 JD Autopeças Serv. Peças e pneus 753.120,00
PP 24/2015 JD Autopeças Serv. Serviços de manutenção 224.379,00 Fonte: www.fnde.gov.br/sigap:PNATE2015
A seguir, análise dos principais procedimentos licitatórios deflagrados pela gestão,
relacionados a gastos no exercício de 2015.
1) Pregão Presencial 14/2015 – Serviço de locação de veículos.
O objeto do procedimento recaiu sobre a prestação de serviços de locação de veículos para o
transporte escolar. No dia 12 de dezembro de 2014 o gestor municipal autoriza a realização
do procedimento.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Absoluta impropriedade do objeto para o serviço de transporte de alunos.
O objeto do contrato dar-se-ia sob a forma de fretamento de veículos, com condutores e
manutenção de responsabilidade da contratada.
Não há no procedimento (edital e anexos), qualquer referência aos requisitos técnicos ou
condições de elegibilidade em relação a veículos e condutores, na forma da Resolução
CD/FNDE 12/2011 e arts. 136 a 138 do CTN.
Os veículos a serem disponibilizados, conforme exigência dos gestores, seriam do tipo
“utilitário”, cuja espécie é tida como mista pelo CTB, art. 96, e destinado ao transporte
simultâneo de carga e passageiro, em direta violação às regras específicas para o transporte de
alunos estabelecida no art. 136, I – veículos de passageiros-, do CTB.
b) Pesquisa de preços simulada.
A pesquisa de preços teria sido realizada junto à Construtora Mearim, CNPJ 09.518.316/0001-
44, estabelecida em Formosa da Serra Negra/MA; Olho D’água Emp. Ltda., CNPJ
18.179.593/0001-60, estabelecida em Governador Edison Lobão/MA; e Rio Mulato Const. e
Emp., CNPJ 13.344.941/0001-94, estabelecida em Imperatriz/MA.
Ocorre que nenhuma das pessoas jurídicas mencionadas, após análise do ramo negocial
principal e secundário de atuação, amoldar-se-ia ao ramo do serviço especializado de
transporte de alunos.
c) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – Rio Mulato.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
d) Vício insanável na habilitação da contratada.
Verificou-se ausência de certidão de regularidade junto ao INSS; e apresentação de certidões
vencidas do FGTS e de regularidade para com a fazenda estadual.
A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 11 de fevereiro de 2015,
às 9h20 em que declarada vencedora Rio Mulato Construções e Empreendimentos., única
participante do procedimento.
2) Pregão Presencial 23/2014 – Fornecimento de peças e pneus.
O objeto do procedimento recaiu no fornecimento de peças e pneus e atenderia ações da
Educação e Saúde. No caso da Educação, foram relacionados 07 veículos, entre ônibus e
micro-ônibus, para os quais os fornecimentos deveriam atender – figura abaixo. No dia 08 de
março de 2014 o gestor municipal autoriza a realização do procedimento.
Fig. 01 – Relação de veículos do município
Quanto à conformidade dos veículos apontados acima, em preliminares se evidencia que o de
placa LAU 2113 não pertence à municipalidade, mas sim à Guarany Transporte e Turismo
Ltda., sediada em Goiânia/GO.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Pesquisa de preços simulada, dado que realizada com empresas do mesmo grupo
empresarial e em datas incompatíveis.
As pesquisas de preços estavam datadas de 17, 21 e 28 de fevereiro de 2014, de autorias
respectivas de Auto Motordiesel Ltda., CNPJ 00.975.911/0001-34; JD Autopeças Serviços e
Locações EIRELI, CNPJ 19.969.621/0001-06; e Cortes Peças e Acessórios Automotivos
Ltda., CNPJ 00.602.691/0001-01.
JD Autopeças teria sido aberta apenas em 28 de março de 2014, data incompatível com
suposta pesquisa de preços nela realizada no dia 21 de fevereiro do mesmo ano. Também se
verifica que Auto Motordiesel Ltda. e JD Autopeças Serviços pertencem ao mesmo grupo
empresarial – Grupo Lira, situação adiante detalhada neste relatório.
b) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – Auto Motordiesel Ltda.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
c) Vício insanável na habilitação da contratada.
O edital exigiu, em seu item 7.0, “b” (Qualificação Técnica), Certificado de Qualificação ISO
9001 e ISO 14001 da empresa fabricante dos produtos.
Apesar da exigência, não se verificou atendimento por parte da vencedora, muito menos
qualquer ressalva ou justificativa do pregoeiro quanto à desconsideração do solicitado.
Omissão da mesma gravidade se verifica quanto à exigência contida no subitem 7.1.3, “d”.
No caso, O Balanço Patrimonial da empresa não estava acompanhado por fotocópia dos
Termos de Abertura e de Encerramento do Livro Diário autenticado na JUCEMA.
d) A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 03 de abril de 2014, às
9h20 em que declarada vencedora Auto Motordiesel Ltda., única participante do
procedimento.
3) Pregão Presencial 24/2014 – Serviços de manutenção em veículos.
O objeto do procedimento recaiu na prestação de serviços de “...colocação de peças e pneus...”
em veículos vinculados a ações da Educação e Saúde. No dia 06 de março de 2014 o gestor
municipal autoriza a realização do procedimento.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Pesquisa de preços simulada, dado que realizada com empresas do mesmo grupo
empresarial e em datas incompatíveis.
As pesquisas de preços estavam datados de 17, 21 e 28 de fevereiro de 2014, de autorias
respectivas de Auto Motordiesel Ltda., CNPJ 00.975.911/0001-34; JD Autopeças Serviços e
Locações EIRELI, CNPJ 19.969.621/0001-06; e Cortes Peças e Acessórios Automotivos
Ltda.,CNPJ 00.602.691/0001-01.
JD Autopeças teria sido aberta apenas em 28 de março de 2014, data incompatível com
pesquisa de preços nela realizada no dia 21 de fevereiro do mesmo ano. Também se verifica
que Auto Motordiesel Ltda. e JD Autopeças Serviços pertencem ao mesmo grupo empresarial
– Grupo Lira, conforme apontado neste relatório, adiante.
b) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – Auto Motordiesel Ltda.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
c) Vício insanável na habilitação da contratada.
O edital exigiu, em seu item 7.0, “b” (Qualificação Técnica), Certificado de Qualificação ISO
9001 e ISO 14001 da empresa fabricante dos produtos.
Apesar da exigência, não se verificou atendimento por parte da vencedora, muito menos
qualquer ressalva ou justificativa do pregoeiro quanto à desconsideração do solicitado.
Omissão da mesma gravidade se verifica quanto à exigência contida no subitem 7.1.3, “d”.
No caso, O Balanço Patrimonial da empresa não estava acompanhado por fotocópia dos
Termos de Abertura e de Encerramento do Livro Diário autenticado na JUCEMA.
A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 03 de abril de 2014, às
14h50 em que declarada vencedora Auto Motordiesel Ltda., única participante do
procedimento.
4) Pregão Presencial 12/2015 – Combustíveis e lubrificantes.
O objeto do procedimento recaiu no fornecimento de combustíveis e lubrificantes para
veículos vinculados a ações de diversas secretarias do município, inclusive Educação. No dia
09 de dezembro de 2014 o gestor municipal autoriza a realização do procedimento.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Pesquisa de preços simulada.
Três pesquisas de preços foram acostadas ao procedimento: i) J.O.Posto de Combustíveis
Ltda., CNPJ 10.826.902/0001-35, de 1º de dezembro de 2014; ii) Posto de Combustíveis
Adventure Ltda., CNPJ 09.474.517/0001-97, de 02 de dezembro de 2014; iii) J.I. Posto de
Combustíveis Ltda., de 3 de dezembro de 2014.
J.I. Posto de Combustíveis Ltda., tem por sócios I. F. da S. C., CPF ***.922.573-** e J. S. C.,
CPF ***.683.003-**. Os mesmos também figuram societariamente como administrador e
responsável do Posto de Combustíveis Adventure Ltda., referenciado no parágrafo anterior. J.
S. C., por sua vez, também surge como sócio administrador de J.O. Posto de Combustíveis
Ltda.
b) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – J.I. Posto de Combustíveis Ltda.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
c) Vícios insanáveis na habilitação da contratada.
O edital exigiu, em seu item 7.0, “b” (Qualificação Técnica), Certificado de Qualificação ISO
9001 e ISO 14001 da empresa fabricante dos produtos. Apesar da exigência, não se verificou
atendimento por parte da vencedora, muito menos qualquer ressalva ou justificativa do
pregoeiro quanto à desconsideração do solicitado.
Omissão de mesma gravidade se verifica quanto à exigência contida no subitem 7.1.3, “d”.
No caso, O Balanço Patrimonial da empresa não estava acompanhado por fotocópia dos
Termos de Abertura e de Encerramento do Livro Diário autenticado na JUCEMA e não
apresentava chancela da mencionada Junta. O mesmo documento não se fez acompanhar,
também, da Declaração de Habilitação Profissional (DHP) do contador.
Ademais, verificou-se ausência de certidão de regularidade junto ao INSS; de comprovação
de contrato do fabricante do óleo cotado junto à ANP; certificado de segurança para
funcionamento emitido pelo corpo de bombeiros; e do alvará ou certificado de funcionamento
expedido pela Secretaria Executiva de Meio Ambiente do município sede da licitante.
A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 09 de fevereiro de 2015,
às 09h40 em que declarada vencedora J.I. Posto de Combustíveis Ltda., única participante do
procedimento.
5) Pregão Presencial 23/2015.
O objeto do procedimento recaiu no fornecimento de peças e pneus para veículos vinculados
a ações de diversas secretarias do município, inclusive Educação. No dia 02 de fevereiro de
2015 o gestor municipal autoriza a realização do procedimento.
Fig. 02 – Relação de veículos do município
Quanto à conformidade dos veículos apontados acima, em preliminares se evidencia que o de
placa LAU 2113 não pertence à municipalidade, mas sim à Guarany Transporte e Turismo
Ltda., sediada em Goiânia/GO. Este fato também se apresentou no Pregão Presencial 23/2014.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Pesquisa de preços simulada, dado que realizada com empresas do mesmo grupo
empresarial.
As pesquisas de preços estavam datadas de 10, 09 e 12 de janeiro de 2015, autorias respectivas
de JD Autopeças Serviços e Locações EIRELI, CNPJ 19.969.621/0001-06; Cortes Peças e
Acessórios Automotivos Ltda., CNPJ 00.602.691/0001-01; Auto Motordiesel Ltda., CNPJ
00.975.911/0001-34.
Verifica que Auto Motordiesel Ltda. e JD Autopeças Serviços pertencem ao mesmo grupo
empresarial – Grupo Lira, conforme apontado adiante.
Observa-se que este fato também ocorreu nos Pregões 23 e 24, ambos de 2014.
b) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – Auto Motordiesel Ltda.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
c) Vício insanável na habilitação da contratada.
O edital exigiu, em seu item 7.0, “b” (Qualificação Técnica), Certificado de Qualificação ISO
9001 e ISO 14001 da empresa fabricante dos produtos.
Apesar da exigência, não se verificou atendimento por parte da vencedora, muito menos
qualquer ressalva ou justificativa do pregoeiro quanto à desconsideração do solicitado.
Omissão da mesma gravidade se verifica quanto à exigência contida no subitem 7.1.3, “d”.
No caso, O Balanço Patrimonial da empresa não estava acompanhado por fotocópia dos
Termos de Abertura e de Encerramento do Livro Diário autenticado na JUCEMA.
Ademais, verificou-se ausência de certidão de regularidade junto ao INSS; e certidão de
regularidade para com a fazenda estadual referente à dívida ativa.
A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 19 de março de 2015, às
11h30 em que declarada vencedora JD Autopeças Serviços e Locações EIRELI, única
participante do procedimento.
6) Pregão Presencial 24/2015.
O objeto do procedimento recaiu na prestação de serviços de “...colocação de peças e pneus...”
em veículos vinculados a ações da Educação e Saúde. No dia 02 de fevereiro de 2015 o gestor
municipal autoriza a realização do procedimento.
Quanto à regularidade do procedimento, constatou-se:
a) Pesquisa de preços simulada, dado que realizada com empresas do mesmo grupo
empresarial.
As pesquisas de preços estavam datadas de 10, 09 e 12 de janeiro de 2015, autorias respectivas
de JD Autopeças Serviços e Locações EIRELI, CNPJ 19.969.621/0001-06; Cortes Peças e
Acessórios Automotivos Ltda., CNPJ 00.602.691/0001-01; Auto Motordiesel Ltda., CNPJ
00.975.911/0001-34.
Verifica que Auto Motordiesel Ltda. e JD Autopeças Serviços pertencem ao mesmo grupo
empresarial – Grupo Lira, conforme apontado neste relatório.
Observa-se que este fato também ocorreu nos Pregões 23 e 24, ambos de 2014 e 23/2015.
b) Falta de transparência na contratação e publicidade ineficaz.
O procedimento não foi realizado com vistas à obtenção de competitividade, dada a ausência
de publicação do aviso do certame na Internet e em jornal de grande circulação, na forma do
Anexo I, art. 11, I, Decreto n. 3.555/00. Como consequência, apenas uma pessoa apresentou-
se na sessão de disputa, considerada vencedora – Auto Motordiesel Ltda.
Também não se verificou a publicação resumida do resultado do procedimento e do extrato
do contrato, na forma respectiva do Decreto acima referido, Anexo I, art. 21, XII e Lei n.
8.666/93, art. 61, parágrafo único.
c) Vício insanável na habilitação da contratada.
O edital exigiu, em seu item 7.0, “b” (Qualificação Técnica), Certificado de Qualificação ISO
9001 e ISO 14001 da empresa fabricante dos produtos.
Apesar da exigência, não se verificou atendimento por parte da vencedora, muito menos
qualquer ressalva ou justificativa do pregoeiro quanto à desconsideração do solicitado.
Omissão da mesma gravidade se verifica quanto à exigência contida no subitem 7.1.3, “d”.
No caso, O Balanço Patrimonial da empresa não estava acompanhado por fotocópia dos
Termos de Abertura e de Encerramento do Livro Diário autenticado na JUCEMA.
Ademais, verificou-se ausência de certidão de regularidade junto ao INSS.
A sessão de abertura e julgamento do procedimento ocorreu no dia 19 de março de 2015, às
15h30 em que declarada vencedora JD Autopeças Serviços e Locações EIRELI, única
participante do procedimento.
Sobre JD Autopeças é pertinente informar JD Autopeças Serviços e Locações EIRELI, CNPJ
19.969.621/0001-06, estabelecida em Imperatriz/MA com o nome comercial VEDIESEL. A
imagem abaixo apresenta o local do estabelecimento.
Fig. 03. Imagem da fachada JD Autopeças (Vediesel) e Auto Motor Diesel (Motordiesel). Imperatriz/MA.
Com início de atividade em 28 de março de 2014 teria por atividade principal o comércio a
varejo de peças e acessórios novos para veículos automotores. Dados do CNPJ indicam que
seus propósitos negociais atingiriam a execução de alguns serviços, mas nenhum vinculado
ao transporte de alunos, em qualquer modalidade.
A despeito de poder exercer atividades relacionadas a serviço, verifica-se que não solicitou
autorização ao fisco municipal para tanto, uma vez que em seu cadastro junto à Secretaria de
Fazenda e Gestão Orçamentária de Imperatriz/MA apresentou atividade secundária “sem
prestação de serviço”. A imagem abaixo destaca recortes de certidão cadastral junto ao fisco
referido.
Fig.04 – Espelho de consulta cadastral junto ao fisco municipal – JD Auto Peças
Formalmente a empresa individual se apresenta como de propriedade de J. D. S. P., CPF
***.415.741-**, com capital social de abertura declarado de R$ 400.000,00.
A aparente regularidade da formação da unidade econômica, após breves pesquisas, revela-se
frágil e aponta, em preliminares, ilicitude, pois:
a) Há evidências que sinalizam que o referido titular seria apenas interposta pessoa para os
verdadeiros donos do empreendimento: em consulta à base RAIS verificou-se que o titular,
em todo o seu período laboral declarado teria exercido o ofício de motorista de caminhão,
motorista de carro de passeio e cobrador. O gráfico a seguir destaca os vínculos.
Fig. 05. Histórico laboral do empresário.
b) De acordo com informações obtidas na Associação Comercial e Industrial de
Imperatriz/MA Vediesel, nome comercial de JD AutoPeças, na verdade pertenceria ao Grupo
Lira, de propriedade dos irmãos R. e J. L.. Detalhes a seguir.
Fig. 06 - Proprietários de fato da JD Auto Peças.
c) Ademais, em sua página pública e pessoal no Facebook, J. D. S. P., no trecho em que
referencia local de trabalho, informa trabalhar no Grupo Lira, em que J. B. L., filho de Z. S.
L./E. L. N., seria proprietário. Dados preliminares indicam que J. D. seria primo de J. B. L.
Fig. 07-Detalhe de auto declaração do proprietário da J.D.Autopeças. No destaque, local em que trabalharia.
d) Observa-se que uma das empresas do Grupo Lira – MotorDiesel – mantém longo histórico
de contratações com a prefeitura de Sítio Novo/MA, já apresentado neste relatório. Pertine
destacar, ainda, que o contador de MotorDiesel é o mesmo de JD Autopeças.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.8. Transporte escolar. Execução físico-financeira inadequada. Vícios materiais na
prestação e no uso de insumos. Absoluta impropriedade da prestação. Gastos não
legitimados. Aplicação irregular de R$ 405.500,44.
Fato
Segundo Demonstrativo de Receita e Despesa, extraído do SigPC/FNDE, em 2015 o
município teria disponível R$ 417.433,30. Deste total, R$ 408.396,755 fora liquidado e R$
405.500,44 gastos.
A distribuição do gasto ficou assim caracterizada, desconsiderados os pagamentos com
impostos: Tab. 01 – Execução financeira. PNATE 2015
NF-
e
Data
emissão R$
Objeto de
gasto Beneficiário
Data
pagto
Pago
265 11/11/15 29.640,00
Terceirização
Rio Mulato
Const. e Emp.
Ltda.
11/11 28.158,00
190 29/04/15 28.286,16 30/04 26.871,85
55.029,85
503 06/07/15 6.190,92
Terceirização JD Auto Peças
08/07 6.190,92
504 06/07/15 2.844,00 08/07 2.844,00
505 06/07/15 4.779,00 08/07 4.779,00
583 19/10/15 4.590,00 19/10 4.590,00
584 19/10/15 4.878,00 19/10 4.878,00
585 19/10/15 3.924,00 19/10 3.924,00
586 19/10/15 3.780,00 19/10 3.780,00
587 19/10/15 4.320,00 19/10 4.320,00
588 19/10/15 5.220,00 19/10 5.220,00
40.525,92
652 23/12/14 2.570,00 Terceirização
Auto
Motordiesel
Ltda.
10/02 2.570,00
1152 03/07/15 21.480,00
Peças JD Auto Peças
08/07 21.480,00
1157 06/07/15 6.318,86 08/07 6.318,86
1158 06/07/15 6.539,46 08/07 6.539,46
1159 06/07/15 8.029,86 08/07 8.029,86
1164 06/07/15 6.085,96 08/07 6.085,96
1165 06/07/15 7.120,97 08/07 7.120,97
1534 15/10/15 25.670,00 19/10 25.670,00
1535 16/10/15 16.186,68 19/10 16.186,68
1536 16/10/15 22.020,57 19/10 22.020,57
1537 16/10/15 18.016,97 21/10 18.016,97
1544 19/10/15 21.000,42 19/10 21.000,42
1545 19/10/15 24.002,55 19/10 24.002,55
1546 19/10/15 17.706,47 19/10 17.706,47
1562 21/10/15 4.059,19 21/10 4.059,19
204.237,96
846 13/03/15 7.998,34
Combustível
e lubrificante
J.I.Posto de
Combustíveis
Ltda.
16/04 7.998,34
862 14/04/15 8.847,74 17/04 8.847,74
875 19/05/15 8.659,31 20/05 8.659,31
891 17/06/15 8.122,99 17/06 8.122,99
908 16/07/15 7.912,82 21/07 7.912,82
935 16/09/15 3.348,34 25/09 3.348,34
956 15/10/15 7.899,77 15/10 7.899,77
957 15/10/15 4.707,97 15/10 4.707,97
977 11/11/15 8.296,93 11/11 8.296,93
65.794,21
6990 23/12/14 8.507,87
Peças
Auto
Motordiesel
Ltda.
10/02 8.507,87
6992 23/12/14 9.624,30 10/02 9.624,30
6993 23/12/14 8.881,22 10/02 8.881,22
7002 23/12/14 10.329,11 10/02 10.329,11
37.342,50
Fonte: SigPC/FNDE.
Não há ressalvas quanto à maneira em que os pagamentos foram feitos. Os extratos indicam
que foram realizados por transferência identificável. A despeito dessa aparente regularidade,
pertine trazer à análise as considerações já feitas neste relatório acerca da fase de liquidação
da despesa pública, art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964.
Já se estabeleceu que é pressuposto de regularidade da execução da despesa pública a sua
regular liquidação e que tal regularidade está condicionada à análise de documentos
apresentados e, com base neles, ao grau de pertinência e adequação da execução física com as
disposições contratuais e legais porventura existentes.
No caso de gastos relacionados ao transporte de escolares, para além da confirmação de
quantitativos executados, é da essência da legalidade do gasto que os serviços sejam ofertados
atendendo às exigências do Código de Trânsito Brasileiro (arts. 136 a 138), precipuamente, e
também às normas contidas nas Resoluções do FNDE sobre o tema.
Nesse sentido, destacam-se as Resoluções CD/FNDE 12/2011 e 05/2015 (arts. 15 e 14,
respectivamente) que explicitam critério de elegibilidade de gastos no âmbito do Programa,
traduzido pela necessidade de os serviços de transporte escolar serem prestados por veículos
vistoriados/autorizados e motoristas capacitados por órgão de trânsito, situação não verificada
também no exercício de 2015, conforme detalhamentos a seguir: Quadro 01 - Transporte Escolar em 2015
Veículos de terceiros para o transporte de escolares em Sítio Novo/MA
Dados prestação de contas enviada ao TCE/MA Dados levantados em diversas fontes oficiais
Placa Tipo Proprietário CNH
2015 Tipo ano Município Placa
2015
Proprietário
domicílio
HOL5690 D-20 I. da S. R. AB D20/92 Sítio Novo/MA Curionópolis/PA
NNE1516 F350 F. da C. S. S. NÃO F350/10 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KGV1983 D-20 M. S. da S. B D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
NLT8345 F350 G. de C. M. AB F350/09 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JWM1316 D-20 E. S. da C. AD D20/86 S.Izabel/PA Mara Rosa/GO
NAI2118 D-20 J. E. B. B D20/87 Tocantinópolis/MA Araguatins/TO
JTE1191 D-20 A. F. L. AB D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCB4930 D-20 A. de O. F. N. AB D20/94 Sítio Novo/MA Tocantinópolis/TO
MNH0568 D-20 A. B. B. F. AB D20/90 Sítio Novo/MA Redenção/PA
KCM4069 D-20 V. M. da S. AD D20/90 Tocantinópolis/TO Tocantinópolis/TO
JEB3459 D-20 A. F. de A. D D20/94 Barra do Corda/MA Barra do Corda/MA
AER5368 D-20 E. da C. R. R. NÃO D20/94 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JTH7751 D-20 R. T. de O. AB D20/93 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
KCN1284 D-20 E. da S. S. NÃO D20/95 Sítio Novo/MA Lajeado Novo/MA
HUV2115 F-4000 A. V. B. C F4000/96 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
NHB7885 F-350 J. C. de M. F. AD F350/06 Imperatriz/MA Grajaú/MA
NXD3289 F-350 L. G. B. G. C F350/11 Imperatriz/MA Imperatriz/MA
JYO0641 D-20 J. R. S. da L. NÃO D20/91 Sítio Novo/MA Sítio Novo/MA
JLD2957 D-20 A. C. M. F. AD D20/93 Tocantinópolis/MA Tocantinópolis/TO
KCP9969 D-20 C. L. de M. AD D20/93 São João do Paraíso/MA Tocantinópolis/TO
KCY5686 D-20 M. C. M. A. NÃO C20/96 Grajaú/MA Grajaú/MA
KBT3317 D-20 J. da P. B. NÃO D20/94 Tocantinópolis/TO Sítio Novo/MA
MWA3850 F-350 E. A. de O. AB F350/00 S.J.Paraíso/MA D.Eliseu/PA
BNJ5339 D-20 J. M. P. L. AB D20/89 Sítio Novo/MA Tocantinópolis/TO
MYV0302 D-20 G. D. R. AD D20/88 Sítio Novo/MA Tocantinópolis/TO
HOQ5585 D-20 R. de M. F. AD D20/93 Sítio Novo/MA Xinguara/PA
BNJ4878 D-20 J. O. C. N. B D20/94 Tocantinópolis/MA Tocantinópolis/TO
NAI2118 D-20 S. R. de Ar. J. B D20/87 Tocantinópolis/MA Araguatins/TO
Fonte: Demonstrativo 17 da IN 09/2005/TCE-MA. Arquivo 1 08 06. Processo 2574/2016; Consulta MacrosAtiva; Infoseg.
Fig. 01
Tipos e condições de veículos utilizados no transporte de alunos.
Vistoria em 25 e 26/11/15
F4000/HUV2115
D20/1992-HOL5690
F4000/HUV2115
D20/KCB6373
F250/MVP7384
F350/NHB7885
D20/MYV0302
D20/JTE1191
D20/JEB-3459
Das informações constantes no quadro acima, pode-se concluir
a) Nenhum dos tipos de veículos tinha condições legais para uso no âmbito do Pnate. Os
veículos utilizados seriam para transporte de carga, e não passageiros. Naturalmente, não
estavam autorizados, pelo órgão de trânsito, a uso para o transporte de alunos. As imagens
acima apresentam os tipos encontrados no município.
b) Seis supostos prestadores de serviço de transporte – considerados os proprietários - sequer
tinham habilitação para tanto;
c) Nenhum dos supostos prestadores tinha a obrigatória e necessária certificação, pelo órgão
de trânsito, para o transporte de alunos;
d) Os veículos utilizados não poderiam atender ao critério de atualidade e segurança exigidos
no âmbito do Pnate. Segundo Guia do Transporte Escolar do FNDE, pág. 07, um pré-requisito
de segurança para a oferta do serviço de transporte escolar é que os veículos tenham idade
máxima de sete anos de uso. Pela tabela acima se verifica que poucos deles tinham idade
inferior à recomendada;
e) Alguns veículos possuem/possuíam registro em localidade diversa da prestação do serviço,
inclusive em outra federação, apesar da suposta prestação de serviços na cidade de Sítio
Novo/MA durante todo o exercício. Isoladamente, o fato em si não enseja considerações.
Entretanto, a circunstância de se verificar que também não se compatibiliza o domicílio do
proprietário com o do registro do veículo, em preliminares, indica irregularidade documental
de veículos.
É importante informar que a transferência de domicílio ou propriedade de veículo é fato que
sofre a incidência de normas que visam proteger a segurança no uso e legitimar a propriedade
dos veículos, conforme trecho da Resolução Denatran n. 466/2013, art. 2º, detalhado abaixo:
“§2º A vistoria de identificação veicular tem como objetivo verificar
I - a autenticidade da identificação do veículo e da sua documentação;
II - a legitimidade da propriedade;
III - se os veículos dispõem dos equipamentos obrigatórios, e se estes estão funcionais;
IV - se as características originais dos veículos e seus agregados foram modificados e, caso
constatada alguma alteração, se esta foi autorizada, regularizada e se consta no prontuário
do veículo na repartição de trânsito”.
Pela inteligência dos art. 72, caput, e art. 78, VI da Lei 8.666/1993, a cessão total do objeto
ou a parcial, esta quando não prevista e/ou não autorizada pela Administração contratante, é
prática ilícita, violadora do princípio licitatório, atingindo a legalidade, a moralidade, a
impessoalidade e o tratamento isonômico, vetores administrativos inafastáveis nas
contratações por órgãos/entidades públicas.
Observa-se, em análise preliminar, que a execução do serviço de transporte de escolares se
deu ou por subcontratação total do objeto licitado ou por contratação direta e irregular, sem
atenção às exigências de licitação prévia: primeiro, pela possibilidade de Rio Mulato e JD
Auto Peças terem firmado contratos com as pessoas acima; segundo, pela possível inexistência
de qualquer relação jurídica entre aqueles que efetivamente prestaram os serviços e a suposta
vencedora de um procedimento licitatório viciado. Tanto uma como outra situação transborda
no campo do ilícito e, aliado ao fato da simulação do procedimento licitatório, abordado neste
Relatório, deslegitima os gastos feitos.
O TCU, sobre cessão de contratos e regularidade da execução, assim se posicionou:
“19. De outro lado, a gravidade dessas duas irregularidades [veículos impróprios e
sublocação ilícita do objeto] justifica, a meu ver, a apenação dos gestores municipais com
multa, na linha do que decidiu este Tribunal no já mencionado Acórdão 771/2013 - Plenário,
ao se deparar com situação semelhante, em que a forma como os serviços de transporte foram
prestados foi considerada como infração grave à lei e como evidente risco à segurança de
crianças e adolescentes que fazem uso do serviço de transporte escolar municipal contratado
com recursos públicos do Pnate. ” (Acórdão TCU 3618/2013-1ª)
Geraldo Ataliba, fazendo considerações gerais sobre a atributividade do direito, em sua obra
aduziu preciosas lições:
“Tudo que temos é-nos atribuído pelo direito, segundo normas jurídicas.
É legítimo o recebimento de um bem (dinheiro ou outra coisa), e a sua incorporação ao nosso
patrimônio se opera validamente, se em conformidade com o direito e na medida em que este
o autoriza ou determina. O que se receba contra o direito não é legítimo, e não se incorpora
ao nosso patrimônio. É indevido. ” (Hipótese de Incidência Tributária. 15ª ed. São Paulo,
Malheiros, p. 27).
Assim, impugna-se o total de R$ 98.125,77 (gastos com terceirização), pela impossibilidade
jurídica de ser justificada – liquidação regular, na forma do art. 62 e 63 da Lei 4.320/1964 -
dada a violação ao art. 15 da Resolução CD/FNDE nº 12/2011 c/c arts. 136 a 138 do Código
de Trânsito Brasileiro. Ademais, em relação aos gastos havidos com Rio Mulato e JD
Autopeças deve ser acrescida a parte final do disposto no parágrafo único do art. 59 da Lei
8.666/1993, também como fundamento para impugnação do gasto.
Quanto aos gastos com combustíveis e peças, importa destacar que a gestão não apresentou
controles internos suficientes a vincular os gastos havidos com os veículos que efetivamente
prestaram serviços de transporte de alunos no período. Neste caso, é imperioso informar que
cabe ao gestor demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos públicos (art. 93, Decreto-
lei 200/1967), encargo que deve ser feito em atenção às regras de direito financeiro que regem
a matéria, como a liquidação regular (arts. 62 e 63 da Lei 4.320/1964), que exige a prova da
existência de nexo de causalidade entre o desembolso feito e as ações do Programa. Logo,
faz-se também a impugnação dos gastos supostamente realizados com combustíveis e peças
no valor de R$ 307.374,67.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
3. Consolidação de Resultados
Com base nos exames realizados, conclui-se que a aplicação dos recursos federais não está
adequada e exige providências de regularização por parte de todas as instâncias de controle
interessadas na regular aplicação de recursos públicos.
Foi identificado aplicação irregular de recursos no valor de R$ 1.583.846,37, detalhados neste
Relatório.
A partir das inconsistências registradas no presente Relatório, conclui-se que os gestores
municipais do Pnate fizeram a aplicação dos recursos recebidos sem observar as regras de
finalidade e comprovação da boa e regular aplicação de recursos públicos recebidos, na forma
do art. 93 do Decreto-lei nº 200/1967. Especificamente, foi observado:
a) Procedimentos licitatórios eivados de irregularidades e simulação, com restrição à
competitividade; favorecimento a empresas contratadas em evidente manifestação de ajustes
e combinações entre favorecidos e a Administração municipal;
b) ausência de controles internos confiáveis, capazes de vincular os gastos havidos com
insumos (materiais/serviços) utilizados no Programa;
c) Prestação de serviço de transporte escolar por pessoas intermediárias, sem qualificação e
com veículos absolutamente impróprios para o serviço, com prejuízo à população
beneficiária, por violação a seu direito de receber da Administração um serviço atual, com
qualidade, segurança e garantia;
d) Aplicação de recursos públicos em absoluta desconformidade com os parâmetros
normativos de regência, quer na fase de licitação, quer na fase de execução, tornando ilegal
e ilegítimo os gastos feitos.