RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA: UM OLHAR DE …pucgoias.edu.br/ucg/prope/pesquisa/anais/2015/PDF/I_Coloquio... · ... Trajetória do Candomblé e Umbanda na cidade de Goiás3 ... Na

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  • RELIGIO DE MATRIZ AFRICANA: UM OLHAR DE DENTRO DA SALA DE

    AULA

    Adelbiane Conceio Campos1

    INTRODUO

    Este trabalho trata de um relatrio da execuo do Projeto de

    Interveno no Colgio Estadual Lyceu de Gois, intitulado Religio de Matriz

    Africana: Um Olhar de Dentro da Sala de Aula, do qual foi elaborado para

    concluso de curso da Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos

    Culturais e Cidadania do Ncleo de Direitos Humanos da Universidade Federal

    de Gois e teve por objetivo reconhecer a Religio de Matriz Africana como

    elemento na formao do Patrimnio Cultural da cidade de Gois.

    A escolha do tema e execuo deste projeto foi realizado aps os

    dados obtidos durante o levantamento de campo para a escrita do trabalho

    monogrfico Caminhos de Aruanda: Trajetria do Candombl e Umbanda na

    cidade de Gois, realizada no ano de 2013. Com a realizao da pesquisa e a

    obteno dos resultados dos Levantamento dos terreiros de Umbanda e

    Candombl na cidade Gois no ano de 2013, pensou-se na necessidade de

    abordar este tema nas escolas.

    Na fase de levantamento (pesquisa de campo do trabalho

    monogrfico aqui citado), foi possvel identificar na cidade de Gois cinco

    terreiros de Umbanda. Com este resultado levantamos as seguintes

    indagaes:

    - se h presena expressiva de terreiros na cidade e se haver

    crianas adeptas desta religio presentes nas escolas?

    - como as crianas adeptas ou no adeptas se reconhecem na

    cultura afro-brasileira em especial a religio de Matriz Africana?

    1 Esp. Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania (UFG) e Pesquisadora Ambincia

    Consultoria E:MAIL: [email protected]

    mailto:[email protected]

  • - como as crianas ou adolescentes adeptos se comportam para

    serem aceitos na comunidade escolar?

    - como so abordados este assunto nas disciplinas escolares? E

    decorrente de tantas perguntas, percebemos a importncia de trabalhar a

    temtica da Religio de Matriz Africana na sala de aula, uma vez que uma

    manifestao que est inserida na cidade de Gois, desde o sculo XVIII, com

    a chegada dos antigos grupos africanos que vieram na condio de escravos

    durante o perodo aurfero (KARASCH, 2008; CAMPOS, 2013), formando

    parte do Patrimnio Cultural Goiano. De acordo com dados apontados pelas

    autoras acima citadas, preciso refletir acerca da permanncia das

    manifestaes religiosas de origem africana na cidade de Gois, estando

    inserida no Patrimnio Cultural Goiano. Desta forma, essas manifestaes hoje

    chamadas de Religio de Matriz Africana2 portadora da referncia da

    memria e formao histrica de Vila Boa de Gois (C/F88, art. 216).

    Entretanto, Campos (2013, p. 23-25) nos faz uma alerta acerca das

    localizaes dos terreiros na cidade as manifestaes religiosas afro-

    brasileiras da cidade de Gois encontram-se s escondidas nas encostas da

    cidade, sendo de opo dos lderes religiosos de se manterem longe do

    preconceito local. Assim, este um elemento cultural a ser estudado, discutido

    e debatido nas escolas, onde as crianas que vivem silenciadas possam

    assumir sua formao religiosa sem manifestaes preconceituosas. E com

    todos estes questionamentos e cientes deste silncio que se apropria das

    manifestaes na infncia diante o fato delas terem de assumir sua

    religiosidade familiar, buscamos aes de Educao Patrimonial, voltadas para

    a valorizao e respeito da Religio de Matriz Africana na sala de aula com

    alunos do 8 ano da segunda fase do Ensino Fundamental. Espervamos

    entrevistar os professores da escola contemplada, entretanto no foi possvel

    devido quantidade de horas trabalhadas pelos profissionais. J com os

    alunos, obtemos informaes atravs de um questionrio objetivo para

    2 De acordo com autores como: Joo Jos Reis (2008 e 2010), Renato da Silveira

    (2014), Lus Nicolau Pars (2001), Roger Bastide (1957) e Reginaldo Prandi (1991), essas manifestaes religiosas a partir de incio do sculo XX, passou ser conceituada por Religio de Matriz Africana, uma vez que at este perodo era denominada por Calundu e a partir de ento, devido a perseguies e sincretismo impostas pelo cristianismo foram adaptando outras culturas religiosas de europeus e indgenas formando assim a Umbanda, Candombl, Tambor de Mina, Ritos Nag, Candombe e Catimb, espalhados por todo Brasil.

  • entendermos o seu grau de informao a respeito do conhecimento da Religio

    de Matriz Africana.

    OBJETIVO GERAL

    Implantar aes de Educao Patrimonial Imaterial voltada para a

    valorizao e respeito Religio de Matriz Africana na cidade de Gois,

    tomando como expresses os Grupos Religiosos de Matriz Africana.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Analisar documentos do sculo XVIII e XIX, que apresentam dados da

    manifestao de origem africana na cidade de Gois;

    Produzir material didtico denominada cartilha educativa, abordando o tema

    proposto;

    Entrevistar gestores da educao para entender como realizada a

    abordagem da Religio de Matriz Africana nas escolas;

    Entrevistar alunos da escola, para obter informao acerca da religio dos

    que professam a Umbanda e/ou o Candombl;

    Realizar atividades contextualizadas e oficinas de desenhos;

    Despertar o sentimento de pertena nos alunos adeptos da Religio de

    Matriz Africana;

    Promover o respeito para com as diferenas do outro em relao opo

    religiosa;

    Refletir a respeito da contribuio da Religio de Matriz Africana na

    construo da Histria, da memria e da identidade dos vilaboenses.

    METODOLOGIA

  • Os meses que antecederam execuo do projeto foram dedicados

    anlise dos documentos contidos no trabalho monogrfico Caminhos de

    Aruanda: Trajetria do Candombl e Umbanda na cidade de Gois3 (CAMPOS,

    2013), tais documentaes foram analisadas a partir de cartas rgias, cdigo

    de conduta sculo XVIII e XIX e noticirios de revistas que datam do sculo

    XX, mas que nos deram suporte para uma anlise proposta.

    A anlise dos documentos e do trabalho aqui citado se deu no

    sentido de entendermos como foram as primeiras manifestaes religiosas de

    origem africana na cidade de Gois e, assim, compreendermos a sua

    constituio como Patrimnio Imaterial da cidade.

    Aps estas anlises, foi pensado em uma entrevista com os

    professores e alunos, entretanto no foi possvel realizar este trabalho com os

    docentes devido o tempo de intervalo serem curtos e ainda encontrar um

    obstculo, a greve nas escolas estaduais da cidade e a indisponibilidade

    desses para responderem aos questionrios.

    Para a abordagem do tema Religio de Matriz Africana com a turma

    do 8 C do Colgio Estadual Lyceu de Goys, foi discutido os conceitos de

    memria (HALBWACHS 2006) e identidade (HALL, 2005) Artigos 215 e 216 da

    Constituio Brasileira. Utilizamos a metodologia sugerida por Horta et al

    (1999) Guia de Educao Patrimonial, pois a autora apresenta dicas e

    metodologia de como trabalhar com o instrumento de Educao Patrimonial.

    A Interveno aconteceu em quatro (4) aulas, das quais as trs

    primeiras aulas foram discutidas os conceitos aqui citados em uma linguagem

    simples, onde buscou-se dar nfase religio de matriz africana como

    patrimnio imaterial. Tais conceitos, foram relacionados aos resultados obtidos

    do trabalho de Campos (2013). Na ltima aula, realizamos trabalhos prticos

    como oficinas de desenhos e produo de textos, afim de despertar o

    sentimento de pertena aos alunos acerca da cultura afro-brasileira presente

    na cidade de Gois.

    RESULTADOS

    3 Trabalho de monografia de CAMPOS, Adelbiane Conceio (2013). Os documentos deste trabalho,

    foram pesquisados no MUBAM e Arquivo Frei Simo.

  • Para trabalhar a Religio de Matriz Africana na sala de aula,

    primeiramente pensamos a religio como elemento cultural brasileiro, uma vez

    que o ser humano encontra na religio uma forma de dar sentido vida e se

    organizar socialmente em seu espao de vivncia, como bem sugere

    Durkheim (2003, p. 5).

    Para a execuo do projeto elaboramos um questionrio, que nos

    levariam s possveis respostas das questes aqui levantadas sobre o

    problema abordado. O questionrio foi elaborado com a inteno de obter

    dados a respeito da abordagem da Religio de Matriz Africana na sala de aula,

    bem como o conhecimento dos alunos sobre o assunto que estava proposto

    para discutir. Pois, o questionrio como diagnstico no era o objeto da

    interveno, mas de posse de seus resultados qualitativos, o objeto seria o

    combate ao preconceito religioso, segregao e, sim, a conscientizao.

    No artigo 216 da Constituio Federal, h o conceito de que

    Patrimnio Cultural Brasileiro um conjunto de manifestao, formas de

    expresso, modos de criar, fazer e viver de uma dada sociedade, as

    edificaes, stios arqueolgicos e etc., pois so portadores da memria e

    identidade de diferentes grupos sociais brasileiros (CF/1988: 216). Ao discutir

    o conceito de cultura Horta et al define o seguinte,

    Todas as aes por meio das quais os povos expressam suas formas especficas de ser constituem a sua cultura, que vai ao longo do tempo adquirindo formas e expresses diferentes. A cultura um processo eminentemente dinmico, transmitido de gerao em gerao, que se aprende com ancestrais que se cria e recria no cotidiano do presente, na soluo dos pequenos e grandes problemas que cada sociedade ou indivduo enfrentam (HORTA; et al, 1999 p. 07).

    Aps estabelecermos um dilogo com a comunidade escolar do

    Colgio Lyceu de Gois e a elaboramos os materiais didticos como a

    preparao de slides e uma cartilha com textos ilustrativos. Desta forma, a

    interveno aconteceu no dia 23/05/2015 no perodo vespertino, sala do 8 ano

    C, durante a disciplina de Lngua Portuguesa da professora Messias Ferreira

    da Silva, que acompanhou a ao durante o perodo das quatro aulas.

  • Na primeira aula, apresentamos aos alunos como executoras do

    projeto de interveno Religio de Matriz Africana: Um Olhar de Dentro da Sala

    de Aula, bem como, os objetivos da interveno. Logo em seguida,

    apresentamos os questionrios e os materiais didticos.

    A partir da aplicao do questionrio, partimos para discusso dos

    conceitos de Memria, Identidade e Patrimnio Cultural, com o objetivo de

    fazer uma ligao entre esses conceitos e a histria da Religio de Matriz

    Africana no Brasil e, em especial na cidade de Gois. Neste momento da

    discusso, pedimos aos alunos que citassem algum costume familiar ou

    tradies culturais presentes na cidade dos quais eles tinham conhecimento.

    Neste momento, foram citadas festas tradicionais e alguns saberes

    como a manipulao de ervas para fazer ch e benzimento, a Folia do Divino

    Esprito Santo e a Procisso do Fogaru. Alguns alunos relataram a utilizao

    de chs feito pelas avs ou mes para curar certos tipos de enfermidades,

    alguns ainda relataram de ir a benzedores enquanto crianas, outros disseram

    que os pais j participaram ou realizaram folia do Divino Esprito Santo em

    suas casas.

    Foto 01: discusses dos conceitos na primeira aula. Colgio Estadual Lyceu de

    Gois.

    Sinara Carvalho S, 2015.

    Desta forma, aproveitamos a discusso para ressaltar que nossas

    prticas cotidianas so resultadas da nossa memria, pois que atravs desta,

    que matemos nossas tradies familiares. A partir dos depoimentos discutidos

    pelos alunos, buscamos ressaltar que a Religio de Matriz Africana faz parte da

  • memria de alguns grupos religiosos presentes na cidade, bem como a sua

    presena na cidade desde o sculo VXIII devido presena de escravos

    africanos na cidade (CAMPOS 2013 p. 23) Aps estas discusses

    perguntamos aos alunos, o que seria Patrimnio Cultural na viso deles? Logo

    de imediato, foram citadas as edificaes antigas e ruas de pedras, entretanto,

    no sabiam conceituar o que vinha ser o conceito de Patrimnio Cultural, no

    caso, Imaterial. Percebemos que at mesmo a professora regente tinha

    dvidas sobre o assunto. Nesse instante, passamos para a conceituao de

    Patrimnio Cultural da cidade de Gois e suas relevncias, bem como a

    definio de que Patrimnio Cultural pode ser no somente tangvel, mas

    tambm, aquilo que no nos permite ver, sentir e expressar. Para se tratar da

    discusso em torno do Patrimnio Cultural intangvel, partimos para a

    discusso do histrico da Religio de Matriz Africana na cidade de Gois. Na

    segunda aula, trouxemos uma abordagem referente ao histrico das primeiras

    manifestaes de origem africana no Brasil e na cidade de Gois, pontuando a

    importante contribuio dos escravos africanos para a formao cultural

    brasileira e em especial a cidade de Gois. Neste instante, uma aluna ressaltou

    que j ouviu dizer que o Candombl e Umbanda eram macumba e que no

    sabia que se tratava de uma religio, a partir desta frase da aluna, trouxemos

    a discusso acerca destas manifestaes religiosas como parte da formao

    cultural da cidade, pois portadora da memria e identidade de diferentes

    grupos vilaboenses. Durante a discusso, destacamos a importncia de se

    respeitar as escolhas religiosas, as diferenas tnicas e opo sexual. Neste

    momento a discusso, partiu para diversas aes preconceituosas que os

    grupos religiosos da Religio de Matriz Africana, vem enfrentando, bem como o

    preconceito racial, neste instante, perguntamos se alguma pessoa j sofreu

    algum tipo de preconceito na escola ou na rua. Neste momento, foram

    compartilhados diversos depoimentos dos quais relataram ter sofrido por causa

    da sua cor de pele e cabelo. Um aluno relatou: no ano passado mim

    chamaram de batom de asfalto na hora eu fiquei muito triste, mas agora no

    estou nem a. Essa fala permitiu-nos destacar que no h motivos para nos

    sentirmos envergonhados pelo tom de pele, pois que os escravos africanos

    deram sua grande contribuio tanto na economia quanto na construo

    cultural brasileira. Durante esta aula, apresentamos um mapa constando os

  • pontos de localizao dos terreiros de Umbanda na cidade de Gois4. Durante

    os apontamentos, a discusso se pautou a partir da oralidade dos zeladores

    dos terreiros, em seus depoimentos quanto aos motivos da localizao dos

    terreiros encontrarem nas encostas da cidade. Na terceira aula, aps as

    discusses estabelecidas na sala de aula que foram apresentadas, foi proposto

    aos alunos uma atividade prtica de anlise documental. Os documentos

    analisados pelos alunos foram uma carta rgia5, e um noticirio da revista

    Oeste. A carta rgia foi transcrita e consta na atividade da cartilha educativa

    que foi realizada com os alunos, j o noticirio da Revista Oeste foi anexado

    como imagem e tambm consta no material produzido. Propomos a seguinte

    atividade para os alunos: Aps anlise dos documentos a seguir, escolha um

    pequeno trecho que lhe deixou inquieto e escreva um pequeno texto explicativo

    acerca da sua concepo de Religio de Matriz Africana antes e depois de

    nossa aula. Esta atividade resultou em uma produo de texto dos alunos do 8

    ano C, que poder ser apreciada no fim deste relatrio.

    Foto 2:

    Alunos do

    Colgio

    Estadual

    Lyceu de

    Gois,

    realizando

    a

    atividade

    de

    produo de texto.

    Adelbiane Conceio Campos, 2015.

    Na ltima aula, passamos para uma discusso a respeito dos artigos

    V, 215 e 216 da Constituio Federal Brasileira, e assim os alunos foram

    4 CAMPOS, Adelbiane Conceio Dilogo e Memria: Experincia Compartilhada REVISTA

    BRASILEIRA DE HISTRIA, v.8, n. 16, ANPUH-Brasil Associao Nacional de Histria, Copyright 2010. 5 Documento n 2811, rolo 63, p. 453, cx. 49, Projeto Resgate de Documentao Histrica Baro

    do Rio Branco. Transcrio da arquivista Milena Bastos Tavares. Cidade de Gois: MDB, 2010.

  • tomando conhecimento a respeito da poltica de preservao do Patrimnio

    Cultural e da liberdade de culto individual. Surgiram discusses a respeito dos

    incmodos de barulhos dos batuques at altas horas e evanglicos ficarem

    gritando com tanta altura at tarde nas igrejas. Houve uma pergunta de uma

    aluna, da qual se fez interessante: por que as pessoas no reclamam do

    barulho das Igrejas de evanglicas, j os barulhos dos tambores algumas

    pessoas reclamam, se o barulho e o incmodo mesmo?. Neste instante,

    todos ficaram em silncio e aos poucos as respostas foram surgindo de forma

    que eles mesmos foram buscando respostas do tipo: se todos tem direitos

    iguais de culto, no se devem reclamar do barulho da outra se ambas fazem

    barulho! E, assim, seguimos com a discusso em torno da importncia de se

    preservar, valorizar e reconhecer os elementos culturais presentes na cidade

    como portadores da memria e identidade da cidade de Gois. Aps a

    discusso a respeito da legislao aqui j citada, oferecemos aos alunos uma

    seo de vdeo que reporte as manifestaes religiosas de Matriz Africana no

    Brasil. Aps a exibio do filme Brincando com os Deuses, propomos uma

    atividade aos alunos, que produziram um desenho retratando os elementos da

    cultura afro-brasileira presentes na cidade de Gois.

    Figura 1 - Fotos 3 e 4: Momentos da realizao da atividade de desenhos.

    Sinara Carvalho S, 2015.

  • CONCLUSO

    Ao executar o projeto de interveno no Colgio Estadual Lyceu de

    Gois, foi possvel perceber a necessidade de dar continuidade ao de

    Educao Patrimonial, voltada para a o conhecimento da Religio de Matriz

    Africana e valorizao pela memria cultural dos grupos africanos que vieram

    escravizar em Vila Boa de Gois no sculo XVIII. Durante a ao, nos

    deparamos com depoimentos de alunos negros ter sofrido agresses verbais e

    preconceituosas, pela cor da pele ou estilo de cabelo. A partir destes

    depoimentos, percebemos que este projeto seria uma semente que estava em

    plantao, mas que para ser regada, preciso que os professores deem

    continuidade s discusses em torno da valorizao e respeito pela memria

    cultural do outro, bem como as diferenas religiosas tnicas que compem a

    diversidade escolar.

    Diante disto, ainda h muito que ser feito para que sociedade

    vilaboense passam reconhecer que os escravos africanos tiveram contribuio

    essencial para a construo cultural da cidade, uma vez que a sociedade criou-

    se uma imagem de que o Patrimnio cultural da cidade est baseado somente

    na procisso do fogaru, festas religiosas catlicas e edificaes em estilo

    europeu, esquecendo que parte dessas construes possivelmente foram

    construdas pelas mos de escravos africanos ou descendentes. Enquanto

    festas e cultos ocorridos dentro dos terreiros em sua maior parte precisam ser

    s escondidas, mesmo com uma quantidade significativa de terreiros na

    cidade. Notou-se que o contedo pautado no tema da manifestao cultural de

    origem africana, quase no se discutido na escola, ora por falta de materiais

    pedaggicos, ora por falta de conhecimento dos prprios professores sobre o

    assunto. Um aspecto importante de observar se contemplamos a indagao

    e questionamentos iniciais: se h a presena expressiva de terreiros na cidade,

    haver crianas adeptas desta religio presentes nas escolas? E, ainda, como

    as crianas adeptas ou no adeptas se reconhecem na cultura afro-brasileira

    em especial a religio de Matriz Africana? como as crianas ou adolescentes

    adeptos se comportam para serem aceitos na comunidade escolar? como so

    abordados este assunto nas disciplinas escolares?. s estas questes

  • podemos salientar que foi observado: no conseguimos observar ao certo se

    h a presena de alunos adeptos da religio de matriz africana no Colgio

    Lyceu, pois que para isto seria preciso realizar uma pesquisa da qual

    envolveria toda a comunidade escolar e este projeto veio atender apenas uma

    sala de aula; os alunos do colgio aqui j citado, em especial os do 8 ano C

    observamos atravs da atividade de desenho, que muitos se identificaram na

    capoeira que faz parte da cultura afro brasileira presente na cidade de Gois

    desde muito tempo; quanto ao comportamento das crianas para serem aceitos

    na comunidade escolar, muitas crianas apresentou indcio de que preferem se

    reconhecer como catlicas do que candomblecistas para evitar

    constrangimento e apelidos pejorativos do tipo fulano macumbeiro; sobre a

    forma de como o assunto em torno da Religio de Matriz Africana abordado

    na escola, de acordo com a resposta do questionrio dos alunos, os

    professores no tratam este assunto nas disciplinas e menos ainda da cultura

    afro brasileira no geral.

    Esta Interveno poderia ter-nos propiciado outros resultados, pois

    terminamos a ao prevendo a necessidade de realizar outra etapa que atenda

    maior quantidade de alunos e professores, para a promoo do respeito e

    reconhecimento da Religio de Matriz Africana como parte dos elementos do

    Patrimnio Cultural da cidade ainda h muito que se fazer, pois somente

    acreditamos que a escola o caminho para desmistificar preconceitos em torno

    das manifestaes religiosas de Matriz Africana.

    REFERNCIA

    CAMPOS, Adelbiane Conceio. Caminhos de Aruanda: trajetria do Candombl e Umbanda na cidade de Gois. Gois GO, trabalho monogrfico/UEG, 2013.

    CAMPOS, Adelbiane Conceio. Dilogo e Memria: experincia compartilhada. REVISTA BRASILEIRA DE HISTRIA, v.8, n. 16, ANPUH-Brasil Associao Nacional de Histria, Copyright 2010.

    CONSTITUIO FEDERAL, 1988. Artigos 5, 215 e 216. Disponvel em: http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de1988 Acesso em: 18/05/2015 as 22:30 horas.

    http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10648364/artigo-215-da-constituicao-federal-de-1988

  • DURKHEIM, Emile. Formas Elementares da Vida Religiosa. 2 ed. Martins Fontes, 2000.

    FERNANDES, Glucio da Gama; SILVA, Arlete O. C. Anchieta. Liberdade religiosa nos cultos afro-brasileiros: um estudo na cidade de Manaus Amazonas. Artigo Cientfico. Frum Permanente de Afrodescendentes do Amazonas. (FOPAM 2011).

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    HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Ps Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

    HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia de Educao Patrimonial. Braslia: Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, Museu Imperial, 1999.

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