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RENATA LOPES ARAUJO AVALIAÇÃO DO USO DE L-TIROXINA PARA O CONTROLE DO SOBREPESO DURANTE A RESTRIÇÃO ALIMENTAR EM RATOS TESE SUBMETIDA AO INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO DA UNIVERSIDADE FERDERAL DO RIO DE JANEIRO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (FISIOLOGIA) Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro 2005

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RENATA LOPES ARAUJO

AVALIAÇÃO DO USO DE L-TIROXINA PARA O CONTROLE DO SOBREPESO

DURANTE A RESTRIÇÃO ALIMENTAR EM RATOS

TESE SUBMETIDA AO INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO DA UNIVERSIDADE FERDERAL DO RIO DE JANEIRO PARA OBTENÇÃO

DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (FISIOLOGIA)

Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro 2005

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Este trabalho foi realizado no Laboratório de Fisiologia Endócrina do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob a orientação da professora Denise Pires de Carvalho, com apoio financeiro concedido pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX-MCT).

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FICHA CATALOGRÁFICA

Araujo, Renata Lopes Avaliação do uso de L-tiroxina para o controle do sobrepeso durante a restrição alimentar em ratos. Rio de Janeiro, UFRJ, 2005. xi: 65

Orientadora: Denise Pires de Carvalho

Tese de Mestrado para obtenção do Grau de Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia) Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho

1- Restrição alimentar 2- Hormônios tireoideanos 3- Leptina 4- Desiodase tipo 1

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Dedico este trabalho aos grandes contribuidores da minha história de vida: “Serjão e Silvinha” (meus pais).

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Denise Pires de Carvalho, que procurou despertar

meus “poderes interiores”, não entregando de maneira fácil, as respostas que

procurava. Soube me estimular com sua maravilhosa capacidade de ensinar.

Obrigada pelas palavras sábias e amigas.

À professora Doris Rosenthal, por ser o maior exemplo de amor e

dedicação à ciência, inspirando-me a prosseguir na vida científica.

Às professoras Tânia Ortiga e Vânia Costa, que me apresentaram à

fisiologia endócrina durante a graduação e me estimularam a entrar no

laboratório.

À professora Tamar Frankenfeld, que me incentivou a lecionar

presenteando-me com suas turmas de graduação.

À professora Patrícia Rocco, que colaborou com esta tese, revisando-a

com muita competência.

Às amigas Natália Lourival e Raquel Campos, que se empenharam com

muita competência para a concretização deste trabalho.

Às grandes companheiras de trabalho Michelle Marassi e Renata

Grozovsky, que me ajudaram demais na fase final. Foram muitas

“madrugadas” de radioimunoensaios, desiodases e extrações de RNA.

Aos demais amigos de laboratório que de maneira individual

contribuíram para a realização deste estudo: Alba Cenélia, Andrea Freitas,

Camilla Brito, Débora Galvão, Elaine Cristina, Flávia Nóbrega, Glória

Ginabreda, Lívia de Lima, Luciene Cardoso, Márcia Figueiredo, Nathércia

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Percegoni, Rodrigo Fortunato, Sabrina Coelho, Thiago Pantaleão, Valmara

Pereira.

Aos meus amigos e técnicos do laboratório, Advaldo Nunes, Norma de

Araújo e Wagner Nunes, por todo o apoio técnico de excelente qualidade e

pelo constante carinho em nosso convívio. Waguity, seus toques artísticos são

sempre especiais, muito obrigada.

Aos meus queridíssimos pais e irmãos que me acompanharam nesta

etapa de vida, sempre com muito amor. Mãe, obrigada pela constante

preocupação com a minha alimentação! Fê, sua ajuda foi espetacular. Valeu

maninha!

Aos meus familiares, familiares de coração (do meu namorado) e

amigos que souberam compreender minha ausência em muitos momentos dos

finais de semana e até dos eventos sociais.

Ao amor da minha vida não teria palavras para agradecer todo o

companheirismo. Quantas foram às vezes que fomos alimentar os ratinhos nos

finais de semana? E todas as economias feitas para me acompanhar nos

congressos? Sem falar de quanto teve que me ouvir falar por horas e horas da

tese! Obrigada por estar sempre ao meu lado e apoiar o meu trabalho. Lipe, te

amo.

E, principalmente, a DEUS, que me permitiu realizar com satisfação este

trabalho.

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LISTA DE ABREVIATURAS ACTH – adrenocorticotropic hormone (hormônio adrenocorticotrófico)

AgRP – agouti-related peptide (peptídeo relacionado à proteína agouti)

AMPc – adenosina monofosfato cíclico

ATP – adenosina trifosfato

BAT – brown adipose tissue (tecido adiposo marrom)

CAR – constitutive androstane receptor (receptor constitutivo de androstano)

CRH – corticotropin-releasing hormone (hormônio liberador de corticotrofina)

D1 – desiodase tipo 1

D2 – desiodase tipo 2

D3 – desiodase tipo 3

GH – growth hormone (hormônio do crescimento)

IMC – índice de massa corporal

Ob-R – ob receptor (receptor de leptina)

Ob-Rb - ob receptor isoform b (isoforma longa do receptor de leptina)

MCH – melanin-concentrating hormone (hormônio concentrador de melanina)

MCR – melanocortin receptor (receptor de melanocortina)

α-MSH – α- melanocyte-stimulating hormone (hormônio estimulador de α-

melanócitos ou melanocortina)

NPY – neuropeptídeo Y

POMC - proopimelanocortina

RNAm – ribonucleic acid mesanger (ácido ribonucléico mensageiro)

rT3 – 3, 3,’ 5’triiodotironina

STAT – signal transducers and activators of transcription (sinal ativador de

transcrição e tradução)

SNC – sistema nervoso central

SULTs - sulfotransferases

TMB – taxa metabólica basal

TRH – thyrotropin releasing hormone (hormônio liberador de tireotrofina)

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TSH – thyroid stimulating hormone (hormônio estimulador da tireóide ou

tireotrofina)

TSH-R – receptor de TSH

T3 – 3, 5, 3’ triiodotironina

T4 – 3, 5, 3’, 5 tetraiodotironina ou tiroxina

TR – thyroid hormone receptor (receptor de hormônio tireoideano)

UGTs – uridinas difosfato-glicuronosiltransferases

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RESUMO

A obesidade é considerada uma epidemia mundial. O risco aumentado

de morbidade e mortalidade associado à obesidade tem sido alvo de muitos

estudos. A restrição alimentar determina perda de peso corporal e reverte o

quadro de obesidade. Todavia, durante o processo de emagrecimento,

mecanismos homeostáticos operam para resistir à perda de peso. A redução na

taxa metabólica basal, determinada, em parte, pela redução dos hormônios

tireoideanos, contribui para essa resistência. O objetivo desse estudo foi avaliar

o uso de L-tiroxina (T4, 1,0 e 5,0 µg/100 g p.c.) para o controle do sobrepeso

durante a restrição alimentar (60% da ad libitum) em ratos. Para tal avaliou-se

peso corporal, gordura retroperitoneal, concentração sérica de T3, T4 e leptina e

atividade enzimática da desiodade tipo 1 (D1). Ratos Wistar que desenvolvem,

espontaneamente, obesidade com a idade foram separados em dois grupos, por

idade, sendo classificados como controle (3 meses) e sobrepeso (6 meses). A

restrição alimentar foi eficaz em conduzir à perda de peso e de gordura

corporais, porém o T4 não foi capaz de potencializar o efeito da restrição

durante a perda de peso corporal. Apenas a dose de 5,0 µg de T4 determinou

significativa redução de gordura retroperitoneal. Durante a restrição, houve

significativa redução da atividade da D1 e o T4 exógeno reverteu a atividade

desta enzima. Esses resultados sugerem que a resistência à perda de peso,

mesmo após a administração de T4, pode ser determinada pela mudança na

metabolização periférica dos hormônios tireoideanos.

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ABSTRACT

Obesity is considered a world-wide epidemia. The increased risk of

morbidity and mortality associated with obesity has been described by several

studies. Food restriction determines loss of weight and overcomes the obesity

disorders. However, during caloric restriction weight loss resistance occurs

probably due to homeostatic mechanisms that operate to resist further loss of

weight. The reduction in basal metabolic rate, in part determined by a decrease

in thyroid hormones levels, contributes to this resistance. Wistar rats, which

progressively develop obesity with ageing, were used and separated into two

groups: control (3 months) and overweight (6 months). The aim of this study

was analyze the effects of T4 administration (1.0 and 5.0 µg/100 g b.w.) in

overweight rats submitted to food restriction (60% of food intake). So, we

evaluated body weight, retroperitoneal fat, serum levels of T3, T4 and leptin

and the activity of hepatic type 1 deiodinase (D1). Food restriction leads to

significantly reduced body weight and retroperitoneal fat, however T4

administration did not potentiate the effects of food restriction. Only 5.0 µg of

T4 determined significant reduction in retroperitoneal fat. During food

restriction, there was a significant reduction in hepatic D1 activity and T4

normalized the activity of this enzyme. Our results suggest that serum T4

normalization during food restriction is not sufficient to promote further weight

loss, probably due to changes in the peripheral metabolism of thyroid

hormones.

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SUMÁRIO Lista de abreviaturas vii Resumo ix Abstract x Sumário xi INTRODUÇÃO 1 I. Obesidade: epidemiologia, diagnóstico, métodos e fundamentos 1 Índice de massa corporal 2 II. Balanço energético 4 Termogênese obrigatória 6 Termogênese facultativa 6 III. Fatores envolvidos na gênese da obesidade 7 Fatores ambientais 7 Fatores genéticos 8 IV. Repercussões endócrinas da obesidade 9 IV.1 Hormônios tireoideanos 10 Desiodase tipo 1 13 Desiodase tipo 2 16 Desiodase tipo 3 17 IV.2 Leptina 18 Os genes ob e db 19 Regulação da síntese 21 O papel da leptina na homeostase energética 22 OBJETIVOS 27 METODOLOGIA 28 I. Tratamento dos animais 28 I.1 Restrição alimentar 28 I.2 Controle do peso corporal 29 I.3 Administração de T4 29 I.4 Coleta de sangue 30 II. Sacrifício dos animais 31 III. Análises 32 III.1 Radioimunoensaios 32 T3 e T4 32 Leptina 32 III.2 Atividade da enzima iodotironina desiodase tipo 1 (D1) 33 Processamento dos tecidos 33

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Purificação do rT3 – 125I 33 Ensaio da atividade de D1 34 IV. Análise estatística 35 RESULTADOS 36 I. Peso corporal e de gordura retroperitoneal 36 II. Concentrações séricas hormonais 42 III. Atividade da enzima D1 no fígado 48 DISCUSSÃO 50 REFERÊNCIAS 60

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INTRODUÇÃO

A obesidade é provavelmente uma das enfermidades metabólicas mais

antigas que se conhece. Pinturas e estátuas em pedra com mais de 20 mil anos já

representavam figuras de mulheres obesas. As mesmas evidências foram vistas

em múmias egípcias, pinturas e porcelanas chinesas da era pré-cristianismo, em

esculturas gregas e romanas e, mais recentemente, em vasos dos maias, astecas

e incas na América pré-colombiana (Repetto, 1998).

Ainda no século XXI, os mecanismos moleculares envolvidos na gênese

do excesso de peso são obscuros e desencadeiam grande interesse na busca de

soluções para um problema de abrangência mundial.

I - OBESIDADE: EPIDEMIOLOGIA, DIAGÓSTICO, MÉTODOS

E FUNDAMENTOS

A prevalência da obesidade aumentou consideravelmente nos últimos

anos nos países industrializados. Dados da National Health and Nutrition

Examination Survey indicam que, aproximadamente, 20% das crianças

americanas e 1/3 (58 milhões) dos americanos adultos são obesos. Na

Inglaterra, a proporção de obesos duplicou entre 1980 e 1990. No Brasil, o

percentual de indivíduos obesos aumentou de 4,7% para 6,9% em homens e de

12% para 12,5% em mulheres (Villares, 1998).

A obesidade inexoravelmente aumenta o risco de mortalidade, pois se

associa à alta prevalência de doenças cardiovasculares (coronariopatias,

hipertensão arterial, trombose venosa), alterações metabólicas (diabetes,

dislipidemias), afecções pulmonares, renais, biliares e, a certos tipos de

neoplasias. Essas evidências tornam a obesidade um enorme problema de

Saúde Pública, cujos custos apresentam progressão assustadora (Villares, 1998).

No Brasil, as poucas análises existentes não nos permitem realizar um

cálculo de custos fidedignos. No entanto, podemos afirmar que o custo é alto e

tende a aumentar, à semelhança do resto do mundo (Monteiro CA, 1998).

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Define-se obesidade como excesso de gordura corporal relacionado à

massa magra. A obesidade coincide com o aumento do peso, embora esta

condição possa eventualmente não estar presente. De modo inverso, nem todo

aumento de peso está relacionado à obesidade (Monteiro CA, 1998).

Em 1983, o National Center for Health Statistical (NCHS) distinguiu excesso

de peso de obesidade, esclarecendo que o primeiro refere-se a um excesso de

peso para a altura, enquanto obesidade é um excesso de massa gordurosa

relacionada à massa magra. Excesso de peso, assim, não significa excesso de

gordura, ainda que muitas vezes se tenha utilizado esse termo neste sentido

(Monteiro JC, 1998).

Diagnosticar e avaliar a obesidade significa conhecer a composição

corporal. Os métodos mais utilizados são as aferições do peso corporal e,

especialmente, o Índice de Massa Corporal (IMC). Também é importante

caracterizar a distribuição da gordura, já que em igual grau de obesidade o risco

metabólico é maior se a gordura localiza-se na região central e/ou superior do

corpo. Para avaliar a distribuição da gordura, são úteis as medidas: relação

cintura/quadril e perímetro do quadril (Monteiro JC, 1998), além de técnicas

mais recentes como a tomografia computadorizada de abdômen.

Índice de Massa Corporal (IMC):

Caracteriza-se pelo uso prático, simples, reprodutível, com valor

diagnóstico e prognóstico. Atualmente, é um dos meios diagnósticos mais

utilizados, todavia, o IMC pode se encontrar elevado na ausência de obesidade,

em atletas com importante desenvolvimento muscular, ou em pacientes com

edema, etc.

É calculado dividindo-se o peso, expresso em quilogramas, pela altura,

expressa em metros, elevada ao quadrado:

IMC = Peso (Kg)

Altura2 (m)

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Costuma-se classificar a obesidade em classes, determinadas pelo valor

do IMC. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o sobrepeso e a

obesidade são classificados conforme os valores demonstrados na tabela 1.

Classificação IMC (kg/m2) Baixo peso < 18,5

Peso normal 18,5 – 24,9

Excesso de peso ≥ 25,0

- sobrepeso 25,0 – 29,9

- obeso classe I 30,0 – 34,9

- obeso classe II 35,0 – 39,9

- obeso classe III ≥ 40,0

Tabela 1 – Classificação do IMC pela OMS/98 (Adaptado de Monteiro JC, 1998).

O IMC tem sido utilizado para avaliar o risco de morbi-mortalidade

derivado da obesidade. Esse risco pode ser ainda maior se o excesso de peso

coexiste com algumas das seguintes situações ou fatores de risco:

Relação cintura/quadril ou perímetro da cintura elevados;

Diabetes mellitus ou resistência à insulina;

Hipertensão arterial;

Hiperlipidemia ou dislipidemia;

Hipertrofia ventricular esquerda;

Apnéia do sono ou elevação do PCO2;

Hisurtismo ou elevada relação entre o hormônio luteinizante e folículo

estimulante;

Tabagismo.

A obesidade em humanos e roedores é usualmente associada com a

distribuição de gordura corporal. O predomínio de tecido adiposo na região

abdominal é um fator de risco à saúde que se correlaciona diretamente com o

surgimento de anormalidades metabólicas (Monteiro JC, 1998).

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Em humanos, utilizam-se os valores numéricos das medidas da relação

cintura/quadril (valores superiores a 1,0 para os homens e 0,85 para as

mulheres) ou apenas o perímetro da cintura (valores superiores a 102 cm para

os homens e 88 cm para as mulheres) como indicadores de risco. O aumento da

reserva lipídica estocado sob a forma de triglicerídeos na região intra-

abdominal (retroperitoneal) é comumente associado a um conjunto de doenças

metabólicas, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias e doenças

cardiovasculares. Esta síndrome tem sido denominada “síndrome X”,

“síndrome metabólica” ou “síndrome de resistência à insulina” (Reaven, 1994).

Os componentes dessa síndrome são caracterizados por hiperinsulinemia e

diferentes intensidades teciduais de resistência à insulina, que explicam a

relação entre várias anormalidades e a obesidade (Reaven, 1994).

Similarmente ao observado em humanos, constatou-se que nos ratos da

linhagem Wistar, o acúmulo excessivo de tecido adiposo também está associado

à presença de alterações metabólicas como à resistência à insulina e à leptina

(Carvalheira e cols., 2001).

Nos ratos machos, a gordura corporal pode ser estocada em quatro regiões

(epididimal, mesentérico, subcutâneo e retroperitoneal) que apresentam

composição e celularidade diferentes. O aumento da reserva adiposa é

modulado por essa diferença regional. Recentemente, foi demonstrado que a

prole lactente de ratas tratadas com leptina, durante os três últimos dias de

lactação, apresenta o dobro de tecido retroperitoneal comparado aos outros

tecidos adiposos (Lins e cols., 2005).

II- BALANÇO ENERGÉTICO

A sobrevivência dos inúmeros organismos é dependente da capacidade

de procurar, usar e conservar energia eficientemente. Humanos e outros

mamíferos possuem complexos mecanismos desenvolvidos para manter

constante o suporte energético necessário ao funcionamento celular.

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A cada refeição, consumimos calorias (energia) a mais do que seriam

requeridas para o uso imediato de nossas necessidades metabólicas. O excesso

ingerido é estocado, principalmente como gordura, para uso posterior, em

situações de restrição ou privação de alimentos. A capacidade quase que

ilimitada dos estoques de gordura e as eficientes respostas neuroendócrinas e

metabólicas nos resguardam da depleção total dos estoques energéticos durante

o jejum. Desse modo, é concebível que a atual epidemia da obesidade seja o

resultado conjunto de uma ingestão alimentar exagerada associada à alta

eficiência energética (Ahima, 2000).

Os mecanismos fisiopatológicos que levam ao aumento de peso e

estoque excessivo de massa gordurosa são parcialmente identificados. Sabe-se

que a obesidade resulta do desequilíbrio crônico entre a ingestão alimentar e o

gasto energético, conduzindo a um balanço energético positivo.

A balança energética é mantida segundo os princípios da termodinâmica.

A reserva energética proveniente da ingestão alimentar (aporte energético) deve

ser igual ao gasto energético.

BALANÇO EQUILIBRADO → APORTE ENERGÉTICO = GASTO ENERGÉTICO

A energia dispendida diariamente relaciona-se com as termogêneses

obrigatória (taxa metabólica basal) e facultativa (efeito térmico do alimento,

exposição ao frio, atividade física) (Ravussin & Walder, 1998).

Em todos os animais, pode haver liberação de calor quando há

transformação da energia em seus vários estados. A energia química, por

exemplo, contida nos substratos energéticos (alimentos) é liberada lentamente

durante a oxidação de açúcares e gorduras, sendo armazenada

temporariamente na forma de ATP. A partir de então, através de hidrólise do

ATP ocorre um novo processo de transformação energética resultando em

trabalho biológico (transporte de íons, síntese de proteínas, contração muscular,

etc), neste caso uma parte de energia é liberada na forma de calor. Essa aparente

ineficiência termodinâmica, no entanto, desempenha importante papel no

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controle da temperatura corporal dos organismos (homeotermia), otimizando o

funcionamento das células, dos tecidos e sistemas (Bianco, 2000).

Termogênese obrigatória (Taxa Metabólica Basal -TMB):

A taxa metabólica basal (TMB) é definida como o somatório de todo o

calor produzido no organismo em repouso, sendo, portanto, a energia gasta por

um indivíduo em repouso no leito, pela manhã, em estado de jejum sob

condições ambientais confortáveis. A TMB corresponde à manutenção dos

sistemas integrados e da temperatura homeotérmica em repouso, contribuindo

com aproximadamente 60% do gasto energético diário em um indivíduo de 70

Kg (Ravussin & Walder, 1998).

Termogênese facultativa:

Define-se termogênese facultativa como todo o calor produzido além da

TMB, como resultado do aumento do turnover de ATP.

Pode ser dividida em termogênese derivada de tremor e não derivada de

tremor. A termogênese facultativa tem intensidade variável, pois é dependente

da magnitude do estímulo desencadeador. Pode ser induzida por processos

involuntários, tais como: o tremor muscular (tiritação) associado à exposição ao

frio e à digestão após uma dieta hipercalórica ou ainda ser derivada de

processos voluntários, tais como: a contração muscular durante atividades

diárias mínimas ou à prática de esportes (Bianco, 2000).

O efeito térmico do alimento como forma de termogênese contribui para

aproximadamente 5%-15% dos gastos energéticos diários. Muitos fatores

influenciam o efeito térmico do alimento: o tamanho da refeição e sua

composição, a palatabilidade do alimento, a hora da refeição, bem como a

constituição genética do indivíduo, idade, forma física e sensibilidade à

insulina. Estas influências, e ainda os aspectos técnicos, como a posição do

indivíduo e a duração da refeição, tornaram o efeito térmico do alimento o

componente mais difícil de ser medido e o menos reprodutível (Ravussin &

Walder, 1998).

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A atividade física é o componente mais variável do gasto diário de

energia, contribuindo de forma importante para a redução de peso corporal em

pessoas muito ativas. No entanto, adultos sedentários exibem uma faixa de

atividade física que representa somente 20%-30% do gasto energético total. A

atividade física reduzida como causa da obesidade é hipótese óbvia e atraente.

A energia gasta durante uma atividade física é bem variável e o aumento

secular da obesidade é paralelo ao estilo de vida sedentário (Ravussin &

Walder, 1998).

III- FATORES ENVOLVIDOS NA GÊNESE DA OBESIDADE

Embora os excessos alimentares e o sedentarismo (fatores ambientais)

estejam envolvidos no aumento global da prevalência da obesidade, há muitas

evidências de que a genética contribua substancialmente para a regulação do

peso corporal. Acredita-se que a dieta ocidental e o estilo de vida sedentário

favoreçam o desenvolvimento da obesidade nos indivíduos geneticamente

predispostos (Isomaa e cols., 2001). A obesidade não é uma doença singular, e

sim um grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que, em última

análise, refletem no fenótipo obeso (Jebb, 1999).

A rede de vias neuroquímicas hipotalâmicas que controla a ingestão

alimentar e o gasto energético está por trás da base genética da obesidade (Jebb,

1999), que ainda não esta bem esclarecida.

Fatores ambientais:

O início da manutenção de um balanço energético positivo relativo às

necessidades do organismo pode ser conseqüência tanto do aumento na

ingestão calórica, como da redução no gasto calórico total, ou dos dois fatores

combinados (Pereira e cols., 1999).

O processo de modernização e a transição econômica que se tem

observado na maioria dos países têm promovido alterações na industrialização

da produção alimentícia e contribuindo para o consumo de dietas ricas em

lipídeos e conseqüentemente, hipercalóricas (Pereira e cols., 1999).

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Em animais, a alimentação hiperlipídica é um componente importante na

etiologia da obesidade, já que as dietas ricas em lipídeos comprovadamente

levaram ao excesso de gordura corporal em macacos, cães, suínos, esquilos,

hamsters e ratos (Willet, 1998).

Além das mudanças na composição da dieta, atualmente, há maior

disponibilidade de alimentos prontos para o consumo, enquanto a demanda

energética da vida moderna tem diminuído drasticamente através do uso de

transportes motorizados e equipamentos mecanizados (Pereira e cols., 1999).

Desse modo, o sedentarismo e os hábitos nutricionais parecem

representar o principal fator de risco no desenvolvimento da obesidade

mundial (Pereira e cols., 1999).

Fatores genéticos:

As formas monogênicas de obesidade humana são exceção. Os artigos de

atualização anual do mapa genético da obesidade de Pérusse e cols., 1996 e

Chagnon, Pérusse e Bouchard, 1998, descreveram que este fenótipo faz parte de

24 doenças com transmissão mendeliana. Nove entre essas são autossômicas

dominantes, 10 autossômicas recessivas e 5 ligadas ao cromossomo X. Essas

doenças são geralmente graves, iniciando-se na infância, associadas a má

formações, doenças endócrinas e neuropsiquiátricas (Villares, 1998).

As crianças de pais obesos apresentam risco de se tornarem obesas

quando comparadas às crianças cujos pais apresentam peso normal. Se os dois

pais são obesos, a criança tem 80% de risco de se tornar obesa. Se o pai ou a mãe

é obeso o risco é de 40%. Em uma família em que os pais não são obesos o risco

é de 10% (Villares, 1998).

A base genética da obesidade é complexa. Na maior parte dos casos, a

obesidade humana não segue a herança mendeliana. Provavelmente, ocorre a

interação de vários genes de susceptibilidade (herança poligênica); cada gene,

individualmente, apresenta pouco efeito na variância do peso corporal, mas a

contribuição cumulativa de vários genes de susceptibilidade torna-se

significativa quando ocorre a interação com os fatores ambientais, em particular

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9

em relação à ingestão alimentar e ao exercício físico, destarte predispondo à

expressão do fenótipo obesidade (Villares, 1998).

O estudo da obesidade em humanos, provavelmente, responderia muitas

dúvidas correntes neste tópico. No entanto, as pesquisas com humanos têm

óbvias limitações éticas e financeiras. Além disto, animais de laboratório podem

ser mantidos em condições rigidamente controladas consumindo dieta

manipulada e mantidos livres de patógenos e germes. O fato de animais de

laboratório também se tornarem obesos espontaneamente, se alimentando de

ração comercial abriu novas áreas para pesquisa na área da obesidade (Pereira e

cols., 1999).

Estudos sobre as causas e tratamentos da obesidade têm sido

desenvolvidos em animais que apresentam esta característica através de lesão

neural, alterações endócrinas, alimentares e genéticas (Pereira e cols., 1999).

A pesquisa genética, na obesidade, está apenas começando; mais de 21

genes ou regiões candidatas são suspeitos de contribuir com o fenótipo. Nos

roedores existem numerosos modelos de obesidade mono e poligênica.

Alguns genes (agouti, ob, db, fat, tubby) que desenvolvem a obesidade

monogênica foram clonados em camundongos e em modelos poligênicos,

recentemente, foram identificadas várias regiões genéticas que possibilitaram

gerar camundongos caracterizados por um grande painel de fenótipos ligados à

obesidade (Villares, 1998). Essas formas de obesidade multifatorial demonstram

o impacto do meio ambiente alimentar e suas interações com o genótipo. Deste

modo, elas ilustram modelos interessantes para as obesidades humanas

(Villares, 1998).

IV- REPERCUSSÕES ENDÓCRINAS DA OBESIDADE

O sobrepeso (IMC ≥ 25 Kg/m2) e a obesidade (IMC > 30 Kg/m2)

caracterizam-se pela presença de várias anormalidades no sistema endócrino.

Essas modificações podem ser importantes para a patogênese do excesso

ponderal ou ser apenas secundárias à crescente elevação do conteúdo e

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distribuição da massa adiposa. Portanto, no último caso, as alterações

endócrinas secundárias seriam, potencialmente, reversíveis após a redução de

peso (Medeiros, 1998). No entanto, a redução de peso em indivíduos obesos não

é tão fácil.

Um significativo e desencorajante fator para os que tentam perder peso é

a existência de mecanismos homeostáticos que operam na resistência à perda de

peso corporal (Spiegelman & Flier, 2001). A maior barreira homeostática é a

redução da TMB durante períodos de reduzida ingestão calórica. Os hormônios

tireoideanos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) são os principais reguladores da

taxa metabólica basal. As concentrações séricas desses hormônios apresentam

correlação direta com o gasto energético, diminuindo significativamente

durante o jejum (LiVolsi, 1989). Todavia, os mecanismos que regulam a função

tireoideana e os níveis séricos de hormônios tireoideanos durante a perda de

peso ainda não são bem compreendidos.

IV.1- HORMÔNIOS TIREOIDEANOS:

Os hormônios T3 e T4 desempenham papel crítico na diferenciação, no

crescimento e no metabolismo celulares. Seus principais efeitos estão

vinculados à regulação do consumo de oxigênio e da taxa metabólica, por isso

são fundamentais para o funcionamento normal de quase todos os tecidos (Yen,

2001). De acordo com Bianco (2000), os hormônios tireoideanos são os

mediadores da homeotermia, pois um dos seus principais efeitos biológicos é a

aceleração do metabolismo energético e do turnover de ATP com resultante

consumo de energia e produção de calor. Mamíferos com hipotireoidismo,

incluindo o ser humano, podem apresentar hipotermia e intolerância ao frio,

perdendo parte da capacidade de adaptação ao meio ambiente (Bianco, 2000).

A redução da ingestão calórica (dietas hipocalóricas e/ou jejum) leva ao

decréscimo de T3 e T4 séricos com simultânea elevação do T3 reverso (rT3), um

derivado metabólico inativo. Esse fenômeno também é observado em pacientes

com obesidade mórbida após terem sido submetidos a gastroplastia redutora

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(Medeiros, 1998). Admite-se que não só a diminuta entrada de nutrientes, como

também a seletiva queda na ingestão de carboidratos sejam determinantes para

a diminuição das concentrações de T3 e T4 circulantes (Medeiros, 1998).

A síntese dos hormônios tireoideanos é realizada pela glândula tireóide

que se localiza abaixo da cartilagem cricóide e é composta por dois lobos unidos

por um istmo, estando aderida às regiões anterior e lateral da laringe e da

traquéia (Larsen e cols., 1998). O iodo é essencial para a biossíntese hormonal,

sendo necessário que esteja disponível em concentrações adequadas para que

quantidades normais de hormônios sejam sintetizadas pelas unidades morfo-

funcionais, os folículos (Larsen e cols., 1998).

A tireóide, assim como outras glândulas do sistema endócrino, está sob a

regulação do eixo hipotálamo-adenohipófise. A função de todo este complexo é

regulada por um modelo básico de retroalimentação negativa envolvendo o

hormônio liberador de tireotrofina (TRH) produzido pelo hipotálamo, o

hormônio tireotrófico (TSH) produzido pela hipófise e os hormônios

tireoideanos (T3 e T4) (Larsen e cols., 1998).

O principal regulador da função tireoideana é o TSH. Células da

adenohipófise denominadas tireotrofos são as responsáveis pela síntese e

secreção de TSH. O TSH é uma glicoproteína e possui duas cadeias peptídicas,

alfa e beta. Para que o TSH possa influenciar a função tireoideana, é necessário

que as células foliculares expressem o receptor para este hormônio. O receptor

do TSH pertence à superfamília dos receptores acoplados à proteína G: Gs e Gq

(Raspe & Dumont, 1992). Assim, quando o TSH liga-se ao seu receptor na

membrana das células foliculares, ocorre ativação da adenilato ciclase e, quando

em altas concentrações, também há ativação da fosfolipase C (Dumont &

Vassart, 2001). Como conseqüência, ocorre uma série de modificações no

metabolismo da célula folicular, que leva ao estímulo da produção hormonal e

também ao crescimento da glândula (Larsen e cols., 1998)

Existem três hormônios de grande importância no controle da síntese e

secreção do TSH: o T3, que têm ação inibitória, o TRH, que apresenta efeito

estimulatório, e a somatostatina, que tem ação inibitória.

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O TRH é sintetizado como um precursor, o pré-pró-TRH. Após o

processamento, há formação do tripeptídeo modificado, o TRH. Quando o TRH

liga-se ao seu receptor nos tireotrofos adenohipofisários ocorre estímulo da

síntese de ambas subunidades do TSH, assim como do seu processamento pós-

traducional (Larsen e cols., 1998). O jejum e as dietas hipocalóricas determinam

seletiva diminuição na produção de TRH no núcleo paraventricular que, por

sua vez, resulta na diminuição da síntese de TSH. Acredita-se que a aguda

redução de leptina, durante situações de privação energética, seja a responsável

pela diminuição da síntese de TRH no núcleo paraventricular (Krotkiewski,

2002).

Apesar do TRH agir em balanço com reguladores hipotalâmicos

inibitórios, como a somatostatina e a dopamina, os hormônios tireoideanos

exercem o controle mais importante do feedback negativo, isto é, são capazes de

inibir a secreção de TSH, agindo diretamente nos tireotrofos (Scanlon, 2001).

O principal produto secretado pela tireóide é o T4, no entanto, o T3 é o

principal hormônio metabolicamente ativo. Sendo assim, o T4 sofre alterações

metabólicas nos tecidos periféricos, gerando T3 na periferia. As enzimas

responsáveis por essas alterações são denominadas iodotironinas desiodases,

pois catalisam reações de retirada de um iodo por vez das iodotironinas. A

família dessas selenoproteínas compreende três subtipos que são as desiodases

tipos 1, 2 e 3 (D1, D2 e D3) (Bianco e cols., 2002).

A conversão do T4 a T3 é catalisada pelas enzimas D1 e D2 através da

desiodação do anel externo (5’-desiodação). As reações de inativação do T3 e do

T4 são catalisadas pelas enzimas D1 e D3 através da desiodação do anel interno

(5-desiodação), como demonstrado no esquema da figura 1 (Bianco e cols.,

2002). Portanto, a D1 é a única selenodesiodase que funciona como iodotironina

desiodase do anel externo e interno, enquanto a D2 apresenta atividade

exclusivamente de desiodação externa e a D3 exclusivamente interna (Bianco e

cols., 2002).

H

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CH2 - CH - COOH

NH2

3’5’ 5

3OHO

I

I

I

I

3,5,3`,5` - tetraiodotironina (tiroxina, T4)

CH2 - CH - COOH

NH2

5’OHO

I

I

I

CH2 - CH - COOH

NH2

5OHO

II

I

CH2 - CH - COOH

NH2

5’ 5OHO

II

3,3`,5` - triiodotironina (T3 reverso)3,5,3` - triiodotironina (T3)

3,3` - diiodotironina

Ativação (D1), D2 Inativação(D1), D3

D1, D2Inativação (D1), D3

Figura 1 – Esquema representativo das reações de ativação e inativação do T4 pelas desiodases tipos 1 (D1), 2 (D2) e 3 (D3) (Adaptado de Bianco e cols., 2002).

Desiodase tipo 1 (D1)

Foi a primeira isoenzima reconhecida através de ensaios bioquímicos de

conversão de T4 em T3 e também foi a primeira a ser clonada. Desse modo, há

mais conhecimentos bioquímicos sobre a D1 do que sobre as outras enzimas

(Bianco e cols., 2002).

A D1 é expressa em diversos tecidos. Em ratos, está presente no fígado,

rim, SNC, hipófise, tireóide, intestino e placenta. Em humanos, não há atividade

no SNC, mas seu RNAm está presente no fígado, rim, hipófise e tireóide

(Bianco e cols., 2002).

A maior parte do T3 plasmático é proveniente da atividade da D1. A

provável localização, da D1, na membrana plasmática facilita o acesso do T4

circulante à enzima, assim como a entrada, no plasma, do T3 produzido a partir

do T4 (Bianco e cols., 2002).

A síntese da D1 pode ser influenciada por substâncias, agentes ou

condições. Os mais potentes reguladores são os hormônios tireoideanos que

induzem o aumento da sua atividade, estimulando a transcrição gênica.

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Entretanto, a expressão da D1 também sofre influências nutricionais. Em

situações de privação de energia como ocorrem no jejum e na restrição

alimentar (dietas hipocalóricas) observa-se diminuição do T3 circulante relativo

ao T4 e aumento do rT3. Essas alterações podem ser interpretadas como

decorrentes de modificações na conversão extra-tireoideana de T4 em T3 pela

D1 (Bianco e cols., 2002).

Os mecanismos envolvidos na diminuição da conversão de T4 em T3

durante as situações de privação de energia, podem estar vinculados à menor

produção hepática da D1, pois sua síntese é dependente da ingestão mínima de

carboidratos (aproximadamente 400 Kcal/dia) (Medeiros, 1998). Há ainda a

possibilidade de a D1 catalisar, preferencialmente, a desiodação do anel interno,

diminuindo a formação do hormônio ativo (T3) e aumentando a formação do

inativo (rT3) (Maglich e cols., 2004).

A metabolização periférica dos hormônios tireoideanos envolve

inúmeras outras reações além das desiodações, conforme demonstrado pela

figura 2.

HO II

CO2H

NH2O

I

OO

II

OHHO

HO

HO2C

CO2H

NH2OI

I

HO II

CO2H

NH2OI

I

O II

CO2H

NH2OI

I

HO3SO I

ICO2H

NH2OI

HO3S

Glicuronase (UGT)

T4 D1Sulfotransferase (SULT)

Anel interno

Anel externo

T4G

T4S

T3

rT3S

Figura 2 – Esquema representativo do metabolismo periférico dos hormônios tireoideanos. T4–

tiroxina e T3– triiodotironina. T4G– tiroxina glicuronada, T4S– tiroxina sulfatada, D1– desiodase

tipo 1, rT3S- triiodotironina reversa sulfatada (Adaptado de Maglich e cols., 2004).

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O T4 pode ser o substrato das reações enzimáticas de conjugação fase II

que incluem a glicuronação pelas uridinas difosfato-glicuronosiltransferases

(UGTs) e a sulfatação pelas sulfotransferases (SULTs).

As UGTs representam uma família (UGT1A e UGT2B) de isoenzimas de

membrana localizadas no retículo endoplasmático de tecidos hepáticos e extra-

hepáticos. A glicuronação dos hormônios tireoideanos torna-os mais

hidrofílicos e, portanto, excretados mais rapidamente através da excreção biliar.

A glicuronação dos hormônios tireoideanos determina redução dos níveis de T3

e T4 circulantes (Findlay e cols., 2000).

A sulfatação é uma reação de desintoxicação que aumenta a solubilidade

em água de vários compostos (endógenos e exógenos) lipofílicos, facilitando a

excreção biliar e/ou urinária. Entretanto, o principal efeito da sulfatação sobre

os hormônios tireoideanos é facilitar sua degradação pela D1 (Kester e cols.,

1999).

Quando o T4 é sulfatado, a desiodação do anel externo (formação de T3)

pela D1 torna-se indetectável, enquanto a atividade de desiodação interna

(formação de rT3) aumenta mais de 130 vezes (Maglich e cols., 2004).

Pode-se concluir que o efeito da metabolização periférica hepática dos

hormônios tireoideanos é a produção de metabólitos hormonais menos ativos

ou mais rapidamente excretados (Mol &Visser, 1985). Todavia, a contribuição

do metabolismo conjugativo de sulfatação e glicuronação sobre a regulação dos

hormônios tireoideanos ainda é pouco conhecida. Postula-se o envolvimento do

receptor constitutivo de androstano (CAR, também nomeado NR1I3 ou NR1I4)

(Shiraki e cols., 2003).

O CAR é um receptor órfão nuclear expresso principalmente no fígado,

que desempenha importante papel protetor no organismo em resposta ao uso

de drogas e moléculas tóxicas (Shiraki e cols., 2003). Maglich e cols., em 2004,

afirmaram que este receptor também pode ter efeitos sobre o estresse

metabólico e nutricional. Eles demonstraram que durante a restrição alimentar

o receptor CAR altera o metabolismo dos hormônios tireoideanos. Esse receptor

parece estar envolvido na modulação da expressão dos genes Sult e Ugt das

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enzimas sulfotransferases e glicuronases, respectivamente (Maglich e cols.,

2004). Camundongos sem o receptor CAR (Car-/-) submetidos à restrição

calórica não apresentaram: a) aumento na expressão dos genes Sult e Ugt, b)

reduções significativas nas concentrações séricas de T3 e T4 e c) resistência à

perda de peso, contrariamente ao observado nos animais selvagens. Esses

dados sugerem que a privação de energia determinada pela redução (dieta) ou

ausência (jejum) de ingestão alimentar (calorias/energia) é um sinal

reconhecido pelo organismo como estresse. Assim, o receptor CAR protege o

organismo modulando o metabolismo dos hormônios tireoideanos (Maglich e

cols., 2004).

O CAR aumenta a expressão dos genes Sult e Ugt e, conseqüentemente

das respectivas enzimas sulfotransferase e glicuronase, determinando rápida

eliminação pelas excreções biliar e urinária e inativação pela atividade D1 das

formas ativas dos hormônios tireoideanos. A redução nas concentrações

circulantes de T3 e T4 (metabólitos ativos) leva a menor mobilização de energia

pelo organismo, dificultando a redução de peso corporal em situações desejadas

como o sobrepeso e a obesidade.

Todavia, os dados de Maglich e cols., em 2004, também demonstraram

que reduções de T3 e T4 circulantes são ainda desencadeadas por outros

mecanismos independentes de CAR, já que os camundongos knockout para CAR

apresentaram uma redução, embora não significativa, nas concentrações séricas

desses hormônios.

Desiodase tipo 2 (D2)

A principal contribuição da D2 sobre o metabolismo hormonal extra-

tireoideano é regular os níveis intracelulares do T3 em tecidos criticamente

dependentes deste. No SNC, no tecido adiposo marrom e na adenohipófise, a

atividade dessa enzima está aumentada durante o hipotireoidismo e a

deficiência de iodo. Este aumento da conversão local de T4 para T3 pode ser

visto como um mecanismo adaptativo em resposta à queda dos níveis

circulantes dos hormônios tireoideanos (Bianco e cols., 2002).

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Desiodase tipo 3 (D3)

A D3, assim como a D1, protege os tecidos dos excessos de hormônios

tireoideanos, removendo o átomo de iodo do anel interno da iodotironina

(Bianco e cols., 2002).

Depois de ser perifericamente gerado pelas iodotironinas desiodases, o

T3 pode exercer seus efeitos que são mediados por diferentes subtipos de

receptores nucleares (TR), os TRα e TRβ. Os TR são expressos, praticamente, em

todos os tecidos periféricos, como por exemplo, no osso, coração, tecido adiposo

e fígado. Além do papel exercido sobre o metabolismo energético, o T3 também

pode regular importantes funções tecido-específicas (Yen, 2001).

Os hormônios tireoideanos mostram-se necessários ao desenvolvimento

e funcionamento dos tecidos adiposos marrom (BAT) e branco. No entanto, os

mecanismos pelos quais são capazes de induzir a diferenciação tecidual ainda

não estão esclarecidos, mas parece envolver a regulação transcripcional de

importantes genes-alvo (Yen, 2001). No tecido adiposo branco, T3 induz a

atividade de enzimas lipogênicas como acetil CoA carboxilase, a enzima málica,

glicose-6-fosfato-desidrogenase, ácido graxo sintase e spot 14. Todavia, a

expressão desses genes pode ser modulada por outros fatores como dieta

hiperglicídica, insulina e AMPc. Adicionalmente, o T3 também regula a lipólise

de maneira coordenada com a lipogênese (Yen, 2001).

A gordura marrom também é alvo dos hormônios tireoideanos. Este

tecido apresenta grande número de receptores de T3 que se encontram 70%

ocupados à temperatura ambiente e quase 100% ocupados durante exposição

do animal ao frio. Na verdade, o BAT dispõe de um mecanismo próprio

gerador de T3, graças à atividade local da enzima D2. A atividade dessa enzima

e a concentração de T3 aumentam durante atividade simpática do tecido

adiposo marrom, que está fortemente relacionado à termogênese facultativa em

roedores (Bianco, 2000).

Humanos têm pouca gordura marrom. O principal sítio de termogênese

facultativa do organismo humano parece ser o músculo esquelético. A

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termogênese facultativa pode ser desencadeada pela exposição ao frio ou pela

dieta hipercalórica (Bianco, 2000).

Tendo em vista os efeitos fisiológicos dos hormônios da tireóide sobre o

metabolismo energético, observa-se atualmente, o uso indiscriminado de

fármacos contendo esses hormônios com a finalidade de emagrecer. A

administração de doses variáveis de L-T3 ou L-T4 a pacientes obesos em

restrição calórica leva à elevação de T3 sérico e aumento do ritmo metabólico,

mas, conseqüentemente, determina aumento do catabolismo com redução de

peso corporal devido, em parte, à perda de massa muscular (Medeiros, 1998;

Krotkiewski, 2002).

Freqüentemente, encontram-se sérias alterações da função tireoideana

em obesos, interpretadas como decorrentes da administração iatrogênica de T3

em doses abusivas (Medeiros, 1998).

A maioria dos casos de obesidade apresenta etiologia multifatorial, fator

que a torna uma desordem metabólica de complexo entendimento e de difícil

tratamento. O perfeito conhecimento das inúmeras vias intracelulares que

regulam o metabolismo energético e a ingestão alimentar é fundamental para

que novas drogas possam ser desenvolvidas.

IV.2- LEPTINA:

Indícios da existência de um sistema fisiológico responsável pela

regulação homeostática do peso corporal foram acumulados durante quatro

décadas.

A descoberta da Leptina em 1994 pelo grupo do doutor Friedman

representou importante marco para o entendimento molecular do controle da

ingestão alimentar (Ahima e cols., 2000). Hoje, após a clonagem dos genes da leptina e de seu receptor, busca-se

compreender os mecanismos interativos envolvidos na regulação

neuroendócrina da ingestão e do gasto energético (Maffei e cols., 1995).

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Os genes ob e db

A leptina é o produto do gene ob expresso, principalmente, mas não

exclusivamente, no tecido adiposo branco. A síntese de leptina por outros

tecidos, não-adiposos, é observada na placenta, na mucosa fúndica estomacal,

no músculo esquelético e no epitélio mamário (Masuzaki e cols., 1997).

O gene ob codifica um RNAm de 4.5 Kb que origina uma proteína com

167 aminoácidos. Na corrente sangüínea, a leptina circula como uma proteína

não glicosilada de 16 kDa com 146 aminoácidos. Há forte correlação positiva

entre os níveis de RNAm para leptina no tecido adiposo e suas concentrações

séricas (Considini e cols., 1996). Análises estruturais indicam semelhanças entre

a leptina e as citocinas e revelam a presença de uma ligação dissulfídica em sua

estrutura de cadeia interna que se mostra necessária para sua atividade

biológica (Ahima & Flier, 2000).

Mutações no gene ob levam à deficiência de leptina. Camundongos ob/ob

apresentam hiperfagia, hipotermia, obesidade mórbida, e ainda, inúmeras

anormalidades metabólicas e neuroendócrinas. Em humanos, o quadro de

deficiência de leptina é caracterizado por hiperfagia, obesidade mórbida e

hipogonadismo hipotalâmico. E, diferentemente, dos camundongos ob/ob que

apresentam hiperinsulinemia, hiperglicemia, hipercortisolismo e hipotermia,

essas disfunções ainda não foram observadas em humanos leptino-deficientes

(Montague e cols., 1997). Ainda são desconhecidas as razões que levam a essas

diferenças entre as espécies, mas elas sugerem que existam substanciais

divergências nas ações fisiológicas da leptina entre humanos e roedores

(Ahima, 2000)

Os efeitos da leptina são evidenciados através de sua interação com o seu

receptor (Ob-R) codificado pelo gene db. O receptor da leptina pertence à

família de receptores de citocinas classe 1. O gene db pode codificar 6 isoformas

de receptor (Ob-Ra, b, c, d, e, f) (Bjorbaek e cols., 1997). Todas as isoformas

possuem o mesmo domínio extracelular amino-terminal de ligação ao

hormônio. Porém, apenas a isoforma Ob-Re não apresenta domínio

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20

transmembrana, sendo que todas as isoformas apresentam diferentes domínios

intracelulares (Ahima & Flier, 2000).

A isoforma Ob-Rb, conhecida como isoforma longa é a única que contém

regiões intracelulares que requerem ativação da via de sinalização Janus-Kinase

(Jak) e do sinal ativador de transcrição e tradução (STAT). Essa via é conhecida

como via Jak-STAT. As isoformas curtas são capazes de ativar a via Jak, mas

incapazes de ativar o STAT, inviabilizando a ação da leptina sobre a ingestão

alimentar (Ahima & Flier, 2000).

A leptina se liga com alta afinidade ao homodímero Ob–R,

desencadeando a ativação da JAK2. Alterações nessa via de sinalização, como

atenuação da fosforilação do STAT-3 ou diminuição da expressão do receptor

inviabilizam a ação da leptina conforme demonstrado em ratos Wistar idosos

(Galaz e cols., 2002). Em outro estudo também utilizando ratos Wistar idosos,

um modelo clássico de resistência periférica à insulina e central à leptina,

encontrou-se inibição da atividade Jak por um membro da família de

supressores da sinalização de citocinas (SOCS-3) (Peralta e cols., 2002). No

hipotálamo, a leptina aumenta os níveis de RNAm do SOCS-3, sugerindo ser

este um mediador da resistência leptínica (Peralta e cols., 2002).

Ob-Rb está presente em regiões hipotalâmicas, co-localizado com o fator

de transcrição STAT3 e com os neuropeptídios importantes para a ação

leptínica, como o neuropeptídio Y (NPY) e a proopiomelanocortina (POMC)

(Hakansson e cols., 1998). Em contraste, as isoformas curtas (Ob-Ra, c, d, e, f)

são expressas no plexo coróide, no endotélio vascular, e em tecidos periféricos

como os rins, o fígado, os pulmões e as gônadas (Elmquist e cols., 1998). O

efeito da leptina sobre o metabolismo energético parece ser mediado apenas

pela isoforma longa, enquanto que as isoformas curtas parecem ser

responsáveis pelo transporte da leptina até o local de ação hormonal e por ações

periféricas (Ahima e cols., 2000).

Mutações no gene db causam, em camundongos, insensibilidade a

leptina, hiperfagia, obesidade mórbida, anormalidades metabólicas e

neuroendócrinas, incluindo hipercortisolismo e hipogonadismo hipotalâmico

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(Halaas e cols., 1995). Em humanos, as mutações no Ob-R são extremamente

raras e assim como as mutações no gene ob causam hiperfagia, surgimento

precoce da obesidade e hipogonadismo hipotalâmico. Além dessas alterações

ainda há comprometimento nas secreções de TSH e hormônio do crescimento

(GH). Diferente do camundongo db/db, a mutação db em humanos não está

associada com hiperglicemia, hipercortisolismo e hipotermia (Clement e cols.,

1998).

Regulação da síntese

A síntese da leptina é influenciada pelo status energético proveniente do

tecido adiposo. O tamanho do adipócito é um importante determinante da

síntese, pois quanto maior é o tamanho da célula, maior é o conteúdo de leptina

como observado em um mesmo indivíduo com diferentes tamanhos de

adipócitos (Hamilton e cols., 1995). A correlação entre os níveis sangüíneos de

leptina e o conteúdo corporal de tecido adiposo é direta.

Em ratos, observa-se o aumento da concentração sérica de leptina após

uma refeição e em humanos, após alguns dias de superingestão alimentar. No

entanto, em ambas espécies a concentração de leptina decai algumas horas após

o início do jejum (Saladin e cols., 1995). As alterações na expressão da leptina

em resposta ao jejum e à ingestão não correspondem proporcionalmente às

alterações de peso ou de gordura corporais, sugerindo que a leptina funcione

como indicador do estoques energéticos assim como mediador do balanço

energético (Ahima e cols., 2000).

O efeito dos nutrientes sobre a regulação da leptina parece ser mediado,

em parte, pela insulina. Em humanos, observa-se forte correlação entre o

aumento da expressão de leptina e o pico de secreção de insulina durante os

ciclos alimentares. Em cultura de células adiposas, a insulina estimula

diretamente a síntese de leptina (Kolaczynski e cols., 1996). Durante o jejum a

queda nos níveis de insulina é seguida do declínio nos níveis de leptina (Boden

e cols., 1996).

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A expressão da leptina é regulada por vários fatores mostrados na tabela

2, dentre eles destacam-se os hormônios tireoideanos. Em roedores, a

administração desses leva à diminuição dos níveis de leptina. Todavia, em

humanos ainda não há consenso sobre a relação entre a leptina e os hormônios

tireoideanos (Escobar-Morreale e cols., 1997).

Local Aumenta Diminui Tecido Hiperfagia Jejum Adiposo Obesidade Testosterona

Insulina Agonistas β-adrenérgicos Glicocorticóides Hormns. Tireoideanos (?) Infecção aguda Frio Citocinas

Placenta Insulina Fumo Glicocorticóides Baixo peso ao nascer Hipoxia Músculo Esquelético (rato) Glicose Lipídeos Estômago (rato) Ingestão Colecistocinina

Tabela 2 – Regulação tecido-específica da expressão da leptina (Adaptado de Ahima, 2000). O papel da leptina na homeostase energética

A classificação da leptina como fator anti-obesidade é baseada na sua

capacidade de inibir a ingestão alimentar, diminuir o peso corporal e a

adiposidade.

Baseando-se em dados anatômicos e funcionais, a leptina parece exercer

seus efeitos sobre o metabolismo energético atuando, principalmente no

cérebro. Lesões hipotalâmicas ventrobasais desencadeiam anormalidades no

balanço energético que se assemelham àquelas descritas nas mutações de

camundongos ob/ob e db/db. Injeções intravenosas de leptina ativam neurônios

hipotalâmicos localizados nos núcleos arqueado, ventromedial, dorsomedial e

nos circuitos neuronais do tronco cerebral que regulam o comportamento

alimentar e o balanço energético (Ahima e cols., 2000).

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Os neuropeptídeos hipotalâmicos envolvidos na ação da leptina podem

ser classificados em dois grupos como peptídeos orexígenos que são inibidos

pela leptina e apresentam aumento em seus RNAm em resposta à deficiência de

leptina e como peptídeos anorexígenos que são estimulados pela leptina e

tendem a diminuir em resposta a sua deficiência (Sawchenko, 1998).

Classificados como orexígenos incluem o neuropeptídeo Y (NPY), o peptídeo

relacionado à proteína agouti (AgRP), o hormônio concentrador de melanina

(MCH) e a orexina. Os anorexígenos incluem o hormônio estimulante de α-

melanócitos (α-MSH), o transcrito regulado por cocaína e anfetamina (CART) e

o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) (Ahima & Flier, 2000).

Os efeitos da leptina se dão através de sua interação com o receptor de

isoforma longa expresso no núcleo hipotalâmico arqueado. No núcleo arqueado

lateral são co-expressos os neuropeptídeos anorexígenos proopiomelanocortina

(POMC, precursor do α-MSH) e CART e no núcleo arqueado medial os

orexígenos NPY e AgRP. Os neurônios-alvo da leptina posicionam-se próximos

à eminência média. Através das junções comunicantes presentes nos capilares

da eminência, a leptina pode alcançar outros núcleos hipotalâmicos como o

ventrobasal, e ainda, ser transportada pelo líquido cerebroespinhal (Ahima,

2000). A figura 3 demonstra a interação neuroendócrina da leptina.

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Tecido Adiposo

Sistema Nervoso Simpático

Tecido Adiposo

Apetite

HipotálamoNúcleo Arqueado Núcleo LateralNeurônios Hipofisiotróficos

NPY AGRPPOMC (αMSH) CART

Sistema Porta

TRH

SSGHRH

Leptina

ObRb

JEJUM

OU

RESTRIÇÃO

ALIMENTAR

Hipófise

MCH(? Orexina)

T4/T3Cortisol Esteróides sexuais

Crescimento

( CRH)

GHLH/FSHTSHACTH

Tireóide GônodasAdrenal Tecidos alvo

Figura 3 – Esquema representativo da fisiologia neuroendócrina da leptina durante a privação de energia. ObRb–isoforma longa do receptor de leptina, NPY–neuropeptídeo Y, AGRP–peptídeo relacionado à proteína agouti, POMC–proopiomelanocortina, α-MSH–melanocortina, CART–transcrito regulado por cocaína e anfetamina, GHRH–hormônio liberador de hormônio do crescimento, CRH–hormônio liberador de corticotrofina, SS-somatostatina, TRH–hormônio liberador de tireotrofina, MCH–hormônio concentrador de melanina, ACTH–hormônio adenocorticotrófico, TSH–tireotrofina, T4–tiroxina, T3-triiodotironina, LH–hormônio luteinizante, FSH–hormônio folículo estimulante, GH-hormônio do crescimento (Adaptado de Ahima, 2000).

A POMC é um pró-hormônio que sob a ação de pró-hormônio

convertases, origina os peptídeos bioativos: corticotrofina (ACTH), as

melanocortinas – MSH (α, β, γ) e a β-endorfina (Pritchard e cols., 2002).

Os peptídeos derivados da POMC agem através da ligação com os

receptores de melanocortinas (MC1R a MC5R), os quais pertencem ao grupo

dos receptores ligados à proteína G, com 7 alças transmembranas, que

estimulam a adenilato-ciclase. Eles se encontram amplamente distribuídos em

tecidos periféricos e no SNC (Catania e cols., 2000).

Os receptores MC3R e MC4R, estão envolvidos na regulação do peso

corporal: o MC3R modula o gasto energético e o MC4R, a ingestão alimentar. O

MC3R é expresso principalmente no SNC, mas também na placenta, intestino,

timo e adipócitos (Van Der kraan e cols., 1998). O MC4R é densamente

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encontrado no hipotálamo e a ativação desse receptor pelo α-MSH reduz a

ingestão alimentar (Cone, 1999).

Camundongos homozigotos para mutação no MC4R apresentam

obesidade, com início na maturidade, associada a hiperfagia e aumento do

crescimento linear, sem alterações da função adrenal nem da capacidade

reprodutiva. Os heterozigotos apresentam peso corporal intermediário entre o

peso dos homozigotos e aquele dos camundongos selvagens, sendo o sexo

feminino mais afetado que o masculino (Huszar e cols., 1997). Este fenótipo é

semelhante ao observado na obesidade humana, razão que motivou a procura

de mutações do MC4R (O’ Rahilly, 2002).

O MC4R também parece exercer papel sobre a regulação do

comportamento alimentar. Branson e cols., em 2003, examinaram o gene MC4R

em 469 adultos com obesidade grave e identificaram mutações ou

polimorfismos em 5,1% deles. A prevalência do transtorno de compulsão

alimentar periódica foi de 26,4% na população estudada. Todos os indivíduos

portadores de mutações MC4R apresentaram transtorno de compulsão

alimentar periódica, enquanto apenas 14,2% dos indivíduos-controle obesos, e

nenhum dos indivíduos com peso normal, apresentaram o distúrbio alimentar

(Branson e cols., 2003).

Apesar da mutação MC4R representar a forma monogênica de obesidade

mais prevalente, as etiologias das formas mais comuns, poligênicas, ainda não

foram definidas. Os conhecimentos adquiridos a partir dessa mutação têm

levado ao desenvolvimento de drogas melanocortina-símiles, que podem ser

úteis para outras formas de obesidade. Camundongos knockout para o gene

POMC (chubby mice), tratados com um agonista sintético do α-MSH

denominado MCT II, perderam peso rapidamente em virtude da redução da

ingestão alimentar e do aumento da lipólise, o mesmo ocorrendo em

camundongos leptino-deficientes (ob/ob) (Stepherson,1999; Forbes e cols.,

2001). Em humanos com peso normal, a administração intranasal de

MSH/ACTH por 6 semanas, 2 vezes ao dia, foi capaz de reduzir o peso e a

gordura corporais (Fehm e cols., 2001).

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O efeito da leptina sobre o controle alimentar é provavelmente mediado

pela via da melanocortina. Durante o jejum a redução sérica de leptina

inviabiliza a ação do α-MSH, porém a administração de MCT II impede a

supressão da expressão do gene do pró-TRH quando administrado intra-

cerebroventricularmente (300 mg de 6 em 6 h durante 3 dias de jejum) e

também aumenta os níveis de T4 livre circulantes (Krotkiewski, 2002).

Sob certas condições, a regulação do eixo tireoideano através do

mecanismo de feedback pode ser desfeita. Durante a restrição alimentar há

redução das concentrações séricas de T3 e T4, diminuição ou concentrações

normais de TSH e redução na expressão de TRH. Este quadro parece ser

mediado pela redução sérica de leptina que suprime a regulação do eixo através

da reduzida expressão do RNAm do TRH no núcleo paraventricular. Esse efeito

da leptina parece ser mediado indiretamente pelos neurônios do núcleo

arqueado que expressam POMC e NPY e diretamente através dos receptores

Ob-R colocalizados com os neurônios paraventriculares que expressam TRH e

ainda, regulando a atividade da região promotora do gene do TRH (Ahima,

2000).

Ortiga e cols., em 2002, demonstraram que a leptina exerce efeito

estimulatório sobre o eixo tireoideano durante condições fisiológicas. Todavia,

ainda é desconhecida a influência da leptina sobre o eixo TRH-TSH-tireóide no

sobrepeso. Em pacientes obesos, sem restrições alimentares, sabe-se que a

concentração de leptina no fluido espinhal correlaciona-se positivamente com a

concentração sérica de T4. E que ao serem submetidos a dietas hipocalóricas

apresentam subseqüentemente diminuição da concentração de leptina no fluido

espinhal que se correlaciona à diminuição nas concentrações séricas dos

hormônios tireoideanos (Krotkiewski, 2002).

Uma vez que os efeitos da dieta sobre a estabilização na taxa de redução

de peso corporal são determinados, pelo menos em parte, pela diminuição

sérica dos hormônios tireoideanos, neste trabalho, administrou-se T4 com o

propósito de avaliar sua eficácia no tratamento do sobrepeso.

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OBJETIVOS

Neste estudo objetivamos avaliar os efeitos da restrição alimentar

associada ou não à reposição de diferentes doses de T4 em ratos de 3 (peso

normal) e 6 (sobrepeso) meses, observando os seguintes aspectos:

• redução do peso corporal;

• conteúdo de gordura retroperitoneal;

• concentrações séricas de T3, T4 e leptina;

• atividade da D1 no fígado;

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METODOLOGIA I -TRATAMENTO DOS ANIMAIS

Foram utilizados ratos da linhagem Wistar, machos com 3 e 6 meses de

idade, mantidos em gaiolas individualizadas sob condições de temperatura

(23ºC) e ciclo claro/escuro (12 h) controladas. Todos os animais tiveram água e

ração oferecidos ad libitum até o momento de se iniciar a restrição alimentar.

I.1 RESTRIÇÃO ALIMENTAR

Os animais foram separados por idade, em dois grupos e classificados

como controle aos 3 meses de idade e sobrepeso aos 6 meses, de acordo com o

peso corporal. Na literatura, o rato Wistar é classificado como obeso aos 12

meses de idade (peso = 419,9 ± 9,8 g) (Seraphim, e cols., 2001). Neste estudo, os

animais apresentam os seguintes pesos corporais: grupo controle (peso = 191,8

± 7,0 g) e grupo com sobrepeso (peso = 421,5 ± 7,4 g).

Com o intuito de estabelecer a ingestão diária de cada animal, a ração

ingerida foi controlada durante 1 semana. Para tanto, os animais foram

alocados em gaiolas individualizadas. Cada animal teve acesso a 100 gramas de

ração por 24 horas. No mesmo horário em que a ração foi oferecida, pesou-se o

que restou em cada gaiola, conhecido como Resto-Ingestão (RI). Ao final de 1

semana foi realizado o cálculo da ingestão diária média.

A ingestão entre os grupos foi diferente e o cálculo para a restrição

baseou-se nos valores médios encontrados. O grupo controle ingeriu 21,9 ± 1,2 g

e o grupo com sobrepeso ingeriu 17,0 ± 0,7 g. De acordo com dados da literatura

(Salih e cols., 1993; Gazdag e cols., 1999; Davidson e cols., 2002) foi estabelecido

o valor de 60% da ingestão média para ser oferecido aos animais em restrição

alimentar.

Aleatoriamente, a metade de cada grupo foi selecionada para receber a

restrição alimentar. Diariamente às 12:00 h foi colocada a quantidade de ração

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previamente determinada para cada animal em restrição. Os animais controle

receberam ração ad libitum.

Este procedimento foi realizado até o dia do sacrifício.

I.2 CONTROLE DO PESO CORPORAL

Durante todo o experimento o peso corporal dos animais foi aferido

utilizando-se balança digital (Precision) com variação de duas casas decimais.

A primeira fase experimental consistiu no controle da ração oferecida e

do peso corporal. Este foi realizado a cada 2 dias como medida de controle da

perda de peso. Após, aproximadamente, 15 dias, os animais em restrição

alimentar apresentaram diminuições na taxa de perda de peso e, neste

momento, foi iniciada a segunda fase experimental, na qual além da restrição

alimentar, foi administrado ou não o hormônio tireoideano tiroxina (T4).

I.3 ADMINISTRAÇÃO DE T4

Diante da estabilização da perda de peso corporal, foi administrado T4

por via subcutânea (s.c.), diariamente no mesmo horário da oferta de ração

(12:00 h) durante 15 dias. Novamente, o critério de seleção aleatória foi utilizado

para separar os animais que receberam o T4. As doses administradas foram de

1,0 e 5,0 µg/100 g de peso corporal (p.c.). A dose de 1,0 µg/100 g p.c.

corresponde à dose de reposição hormonal capaz de normalizar o nível sérico

de T4 em animais hipotireóideos (Grozovsky, 2002; Ferreira e cols., 2005). A

administração de 5,0 µg/100 g p.c. ocasiona aumento no nível sérico de T4

circulante (Oppenheimer e cols., 1991).

Os animais que não foram tratados com T4 receberam 100 µL de solução

salina.

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Figura 4 - Quadro representativo dos grupos experimentais.

I.4 COLETA DE SANGUE

Em dois momentos do experimento foram coletadas as amostras de

sangue.

1º coleta: aconteceu, aproximadamente, quando os animais estavam em

restrição alimentar por 2 semanas e sem o uso do T4. O procedimento foi

realizado com os animais previamente anestesiados usando uma mistura de

cetamina (5,0 mg/100 g de peso corporal) e xilasina (0,5 mg/100 g de peso

corporal), por via intraperitoneal. Foram retirados 3 mL de sangue da jugular

de cada animal.

2ª coleta: no dia do sacrifício, quando os animais já estavam em restrição

alimentar por, aproximadamente, 4 semanas e recebendo ou não T4 durante 15

dias. Os animais foram sacrificados por decapitação e o sangue coletado.

Para a obtenção do soro foi realizada a centrifugação (3000 rpm 15

minutos 4ºC) do sangue em tubos individualizados com a retirada do

sobrenadante (soro). As amostras de soro foram aliquotadas em 2 tubos e

armazenadas à - 80ºC até o momento das análises.

Animais de 3 meses (Grupo Controle):

Controle - (C)C + T4 1,0 µg - (CT1)C + T4 5,0 µg - (CT5)Restrição - (R)R + T4 1,0 µg - (RT1)R + T4 5,0 µg - (RT5)

Animais de 6 meses (Grupo Sobrepeso):

Sobrepeso - (S)S + T4 1,0 µg - (ST1)S + T4 5,0 µg - (ST5)Sobrepeso Restrição - (SR)SR + T4 1,0 µg - (SRT1)SR + T4 5,0 µg - (SRT5)

Animais de 3 meses (Grupo Controle):

Controle - (C)C + T4 1,0 µg - (CT1)C + T4 5,0 µg - (CT5)Restrição - (R)R + T4 1,0 µg - (RT1)R + T4 5,0 µg - (RT5)

Animais de 6 meses (Grupo Sobrepeso):

Sobrepeso - (S)S + T4 1,0 µg - (ST1)S + T4 5,0 µg - (ST5)Sobrepeso Restrição - (SR)SR + T4 1,0 µg - (SRT1)SR + T4 5,0 µg - (SRT5)

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II SACRIFÍCIO DOS ANIMAIS

A data do sacrifício foi determinada pelo controle do peso corporal.

Como os animais prosseguiam em restrição alimentar perdendo peso sem a

administração de T4 por aproximadamente 15 dias, foi mantido o mesmo

período para o tratamento com o T4 e marcada a data do sacrifício.

O sangue foi coletado para avaliação das concentrações séricas T3, T4 e

leptina determinadas por radioimunoensaios (RIE) específicos.

O fígado foi excisado e armazenado a –80oC para posterior dosagem da

atividade da enzima D1.

A gordura retroperitoneal total foi retirada, pesada e relacionada com o

peso corporal do animal no dia do sacrifício.

Figura 5 - Esquema representativo da metodologia experimental.

dadaControleControle

ingestãoingestão

1 semana

Sangue SacrifícioSacrifícioRestriçãoRestrição

Alimentar 60%Alimentar 60% T4 ou salina

FígadoDesiodase (D1)

SangueRIE (T3,T4 e leptina)

Gordura retroperitonealPesar e relacionarao peso corporal

15 dias 15 dias

dadaControleControle

ingestãoingestão

1 semana

Sangue SacrifícioSacrifícioRestriçãoRestrição

Alimentar 60%Alimentar 60% T4 ou salina

FígadoDesiodase (D1)

SangueRIE (T3,T4 e leptina)

Gordura retroperitonealPesar e relacionarao peso corporal

15 dias 15 dias

dadaControleControle

ingestãoingestãodada

ControleControle

ingestãoingestão

1 semana

Sangue SacrifícioSacrifícioRestriçãoRestrição

Alimentar 60%Alimentar 60% T4 ou salina

FígadoDesiodase (D1)

SangueRIE (T3,T4 e leptina)

Gordura retroperitonealPesar e relacionarao peso corporal

15 dias 15 dias

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III ANÁLISES III.1 RADIOIMUNOENSAIO (RIE)

T3 e T4 As concentrações séricas de T3 e T4 foram determinadas através de Kit

comercial para RIE de T3 (DLS – 3100 Active, TX, EUA) e T4 (DLS – 3200,

Active, TX EUA) totais, contendo anticorpos específicos aderidos à parede dos

tubos de polipropileno e com T3 e T4 ligados ao radiotraçador (125I) com

atividade específica de 5 µCi (185 KBq). As curvas padrão foram realizadas com

T3 e T4 em soro de rato livre de iodotironinas (soro zero) nas concentrações de

(25 a 1000 ng/dL) e (1 a 50 µg/dL), respectivamente. Todo o procedimento foi

realizado seguindo-se as recomendações do fornecedor.

Leptina

As dosagens de leptina sérica foram feitas por RIE específico,

empregando um kit fornecido pela Linco Research, Inc. (Rat Leptin RIA Kit – RL-

83K) que é constituído por reagentes prontos para o uso: tampão de amostra,

leptina murina purificada em concentrações de 0.5, 1, 2, 5, 10, 20 e 50 ng/mL

para a curva padrão, anticorpo anti-leptina murina (1º anticorpo), leptina

purificada por HPLC e marcada com 125I , atividade específica de 135 µCi/µg e

anticorpo anti-IgG (2º anticorpo). Para a realização do RIE utilizamos o

protocolo fornecido pelo fabricante.

A contagem da radioatividade dos RIEs foi realizada em um cintilador

de fase sólida (1470 Wallac WizardTM automatic gamma counter). Os resultados

foram expressos em ng/mL para a leptina, em ng/dL para o T3 e em µg/dL

para o T4.

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III.2 ATIVIDADE DA ENZIMA IODOTIRONINA DESIODASE TIPO 1 (D1)

Para se estudar a atividade da enzima D1 foram utilizadas as técnicas

desenvolvidas por Berry e colaboradores (1991) que foram padronizadas no

decorrer desta tese em nosso laboratório. Foram seguidas as etapas descritas

abaixo:

Processamento dos tecidos

As amostras de fígado foram pesadas em balança digital (Precision

advanced) (25 mg do tecido/mL de tampão) e homogeneizadas em tampão

sucrose-DTT (0,25 M sucrose e 10 mM DTT). Os tecidos foram homogeneizados

no Ultra-turrax T25 (Ika-Labortechnik). Os homogenatos foram armazenados em

tubos e congelados a - 80°C até o dia do ensaio. Alíquotas de 20 µL foram

guardadas separadamente, a - 20°C para dosagem de proteínas.

Purificação do rT3-125I

Antes da dosagem da atividade da D1 foi necessário purificar o traçador

radioativo em virtude do decaimento radioativo e da desiodação das

iodotironinas marcadas, mesmo na ausência da enzima. Esta etapa garantiu que

todo o iodo radioativo presente após a reação de desiodação advinha da ação

enzimática. Para isso, foi utilizada uma coluna de Sephadex L20 (Amersham

Biosciences) (4 mL de H2O/g de gel seco) para obter somente o rT3 radioativo

presente na solução (Perkinelmer Life and Analytical Sciences). Uma alíquota de 70

µL da iodotironina marcada foi diluída em 12 mL de H2O destilada e aplicada à

coluna. Desprezou-se o eluato, pois o rT3 radioativo, o composto de interesse,

fica retido na trama da coluna. Após esta etapa, a coluna foi lavada com 6 mL

de H2O destilada, e posteriormente, foram adicionados 500 µL de etanol 70%

por nove vezes. O eluato de etanol 70% contendo a iodotironina foi colhido em

nove tubos de vidro, de onde 5 µL foram retirados para contagem da

radioatividade no contador automático (1470 Wallac WizardTM automatic gamma

counter), com o intuito de determinar a quantidade de rT3 radioativo presente

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34

em cada tubo. Os três tubos com mais de 5.000 cpm/5 µL foram guardados na

geladeira ao abrigo da luz para o ensaio.

Ensaio de atividade da D1

Para dosar a atividade da D1 foram adicionadas as substâncias descritas abaixo

de acordo com a ordem enumerada:

1) tampão PE (100 Mm fosfato de sódio, 1 mM EDTA, pH 6,9) calculado para

obter um volume total de reação de 300 µL;

2) 30 µL de dithiotreitol (DTT) 10 mM (que é um cofator da enzima);

3) 30 µL de rT3 frio 1 µM;

4) o homogenato tecidual (volume calculado para obter 30 µg de proteína por

fígado).

Os homogenatos foram tratados com 2,5 N NaOH durante 30 minutos

antes de dosarmos as concentrações de proteína, que foram realizadas pelo

método de Bradford (1976), usando-se albumina bovina sérica (BSA – Sigma,

MO, EUA).

A adição de 50 µL do rT3-125I em todos os tubos dá início à reação.

Durante uma hora os tubos foram incubados a 37°C. Decorrido o tempo de

incubação, a reação foi interrompida colocando os tubos no gelo. Em seguida,

com os tubos no gelo foram adicionados 200 µL de soro fetal bovino (Cultilab,

BR) e 100 µL de ácido tri-cloro acético (TCA) 50% para a precipitação das

proteínas. Os tubos foram agitados vigorosamente no vortex durante 2 minutos

e centrifugados (10.000 rpm por 3 minutos). 360 µL do sobrenadante foram

transferidos para tubos de contagem para medir a radioatividade no aparelho

Wizard. A atividade da enzima foi expressa em pmoles de rT3. min-1. mg-1.

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35

IV ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os experimentos foram realizados pelo menos 3 vezes, sendo todos os

dados expressos como média ± erro padrão da média. Em cada grupo

experimental havia, no mínimo, 1 animal correspondente a cada tratamento

realizado. A análise estatística empregada na comparação dos resultados

apresentados foi realizada com a utilização do programa de análises estatísticas

Graphpad Prism (versão 4, Graphpad Software, Inc., San Diego, USA).

O peso corporal, a gordura retroperitoneal, as concentrações séricas de

T3, T4 e leptina e a atividade da desiodase foram analisados por variância

univariada paramétrica, seguida de teste de comparação múltipla de Newman-

Keuls. As diferenças foram consideradas significativas quando P< 0,05.

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36

RESULTADOS I - PESO CORPORAL E DE GORDURA RETROPERITONEAL

Nossos dados demonstram que aos 6 meses de idade, os ratos Wistar, são

significativamente mais pesados (421,5 ± 7,4 g) que aos 3 meses (191,8 ± 7,0 g).

Essa diferença de peso corporal foi mantida significativa, do início ao fim do

experimento, fato este que poderia ser determinado apenas pela diferença de

idade existente entre os animais (Figura 6 - A). Porém, no dia do sacrifício

detectou-se significativamente mais gordura retroperitoneal nos animais de 6

meses (sobrepeso) do que nos animais de 3 meses (controle) (Figura 6 - B).

C S0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Gor

dura

ret

rope

rito

neal

(g

/100

g de

pes

o co

rpor

al)

*

B)

C S C S100

200

300

400

500

600

Peso

cor

pora

l (g)

* *

A)

Início Fim

C S0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Gor

dura

ret

rope

rito

neal

(g

/100

g de

pes

o co

rpor

al)

**

B)

C S C S100

200

300

400

500

600

Peso

cor

pora

l (g)

** **

A)

Início Fim

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37

De acordo com os dados da figura 7 demonstramos que a restrição

alimentar utilizada neste estudo foi eficaz em reduzir significativamente o peso

corporal de ambos os grupos experimentais.

Figura 7 - Peso corporal após 30 dias de restrição alimentar. Comparação entre

o grupo de 3 meses controle (C) e em restrição (R) e o grupo de 6 meses

sobrepeso (S) e sobrepeso em restrição (SR). Os resultados estão expressos como

média ± erro padrão. Os asteriscos indicam resultados estatisticamente

significativos. Nível de significância P<0,05.

C R S SR100

200

300

400

500

600

Peso

cor

pora

l (g)

*

*

C R S SR100

200

300

400

500

600

Peso

cor

pora

l (g)

**

**

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38

Conforme anteriormente apresentado, os animais de ambos os grupos

(controle/sobrepeso), perderam peso após a restrição alimentar. Todavia, ao

final da segunda semana de restrição começaram a reduzir a taxa de perda de

peso. Neste momento, iniciou-se a administração de T4 (Figura 8). Através da

curva de acompanhamento de peso corporal relativo ao peso inicial do grupo

controle (Figura 8 - A), evidenciou-se que aos 3 meses de idade, os ratos estão

em plena fase de crescimento. Desse modo, ao serem submetidos à restrição

alimentar, apresentaram comprometimento no desenvolvimento corporal,

perdendo peso corporal e deixando de crescer. Já no grupo com sobrepeso

(Figura 8 - B), observou-se que aos 6 meses de idade, os ratos da linhagem

Wistar, não estão em fase de crescimento, apresentando apenas ganho de peso

relativo ao acúmulo de tecido adiposo. Evidenciou-se tanto no grupo controle

(Figura 8 - C) como no sobrepeso (Figura 8 - D) significativa perda de peso

corporal após 30 dias de restrição alimentar. Observou-se ainda, que a

administração de T4, nas duas doses (1,0 e 5,0 µg/100 g de p.c.), por 15 dias foi

ineficaz para potencializar o emagrecimento nos dois grupos, pois os animais

em restrição alimentar que receberam T4 exógeno não apresentaram redução de

peso significativamente maior que os animais não tratados.

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39

Controle (C) / Sobrepeso (S)T4 (1 µg/100 g p.c.) – CT1 / ST1

Restrição (R) / Sobrepeso em restrição (SR)T4 (1 µg/100 g p.c.) – RT1 / SRT1

T4 (5 µg/100 g p.c.) – CT5 / ST5

T4 (5 µg/100 g p.c.) – RT5 / SRT5

Controle (C) / Sobrepeso (S)T4 (1 µg/100 g p.c.) – CT1 / ST1

Restrição (R) / Sobrepeso em restrição (SR)T4 (1 µg/100 g p.c.) – RT1 / SRT1

T4 (5 µg/100 g p.c.) – CT5 / ST5

T4 (5 µg/100 g p.c.) – RT5 / SRT5

0 10 20 300.5

1.0

1.5

2.0

dias

Peso

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l (r

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1.0

1.5

2.0

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0 10 20 300.5

1.0

1.5

2.0

dias

T4

GRUPO CONTROLE GRUPO SOBREPESO

Peso

cor

pora

l (r

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ivo

ao in

icia

l)

0 10 20 300.5

1.0

1.5

2.0

dias

Peso

cor

pora

l (r

elat

ivo

ao in

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l)Pe

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ral

(rel

ativ

o ao

inic

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1.5

2.0

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a

b

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0.5

1.0

1.5

2.0

a a a

b b b

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B)

0 10 20 300.5

1.0

1.5

2.0

dias

T4

GRUPO CONTROLE GRUPO SOBREPESO

Peso

cor

pora

l (r

elat

ivo

ao in

icia

l)Pe

so c

orpo

ral

(rel

ativ

o ao

inic

ial)

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40

A ocorrência de distúrbios metabólicos na obesidade não depende

apenas do excesso de peso corporal, mas sim da distribuição do excesso de

gordura corporal. Desse modo avaliou-se a relação entre a redução de peso e a

de gordura retroperitoneal, bem como se observou o efeito do tratamento ou

não com T4 sobre este tecido adiposo branco (Figura 9). A restrição alimentar

causou significativa redução de gordura retroperitoneal nos dois grupos

estudados (Figura 9 - A). A administração de T4 (Figura 9 – B e C), na dose de

1,0 µg/100 g p.c., não alterou o conteúdo de gordura retroperitoneal nos

animais alimentados ad libitum (CT1 e ST1), nem nos animais em restrição (RT1

e SRT1) que tiveram redução semelhante aos animais em restrição sem T4 (R e

SR), demonstrando que a dieta foi o único fator determinante para a redução de

gordura retroperitoneal. Todavia, a administração de T4 na dose de 5,0 µg/100

g p.c., determinou significativa redução de gordura retroperitoneal, nos animais

alimentados ad libitum (CT5 e ST5) e nos animais em restrição (RT5 e SRT5), que

perderam ainda mais gordura que os outros animais em restrição, sugerindo

que a dose de 5,0 µg de T4 exerceu efeito lipolítico sobre a gordura

retroperitoneal.

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41

C0.0

0.5

1.0

1.5

2.0G

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ra re

trop

erito

neal

(g/1

00g

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corp

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corp

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S

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R

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Gor

dura

ret

rope

rito

neal

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100

g de

pes

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al)

B) C)

C0.0

0.5

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2.0

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2.0a

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a

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a

RT5

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0.5

1.0

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0.5

1.0

1.5

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b

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ret

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rito

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pes

o co

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Gor

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rito

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(g /

100

g de

pes

o co

rpor

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B) C)

C0.0

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1.0

1.5

2.0

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CT1

a

CT5

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0.5

1.0

1.5

2.0a

ST1

a

ST5

b

R

a

RT1

a

RT5

b

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0.5

1.0

1.5

2.0

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

SR

a

SRT1

a

SRT5

b

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42

II – CONCENTRAÇÕES SÉRICAS HORMONAIS

A restrição alimentar, nos dois grupos (controle/sobrepeso) estudados,

determinou significativa redução na concentração plasmática de T4 (Figura 10 –

A). A concentração sérica, reduzida, de T4 determinada pela restrição, nos

animais do grupo controle em restrição (R), não diferiu da concentração sérica,

fisiológica, de T4 dos animais com sobrepeso (S).

A administração de T4 na dose de 1,0 µg/100 g p.c., no grupo controle

(Figura 10 - B), restaurou a concentração sérica de T4 dos animais submetidos à

restrição alimentar (RT1), e nos animais alimentados ad libitum (CT1), causou

aumento significativo do T4 sérico, em relação aos controles não tratados (C). A

administração de 5,0 µg/100 g p.c. determinou aumento significativo do T4

sérico nos animais alimentados ad libitum (CT5), conforme esperado, e também

nos animais em restrição alimentar (RT5), confirmando que a dose de 5,0

µg/100 g p.c pode ser considerada suprafisiológica, mesmo para os animais em

restrição.

No grupo com sobrepeso (Figura 10 - C), observou-se que a

administração de T4, nas duas doses (1,0 e 5,0 µg/100 g p.c.), causou aumento

significativo do T4 sérico em todos os animais, submetidos ou não à restrição

alimentar. Evidenciou-se que a administração da menor dose de T4, causou

aumento significativo de T4 sérico nos animais SRT1, em relação aos animais

ST1 e a maior dose, causou aumento semelhante entre ST5 e SRT5.

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43

B)

0

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10

15

T4 s

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L)

C

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o (µ

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C

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C

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C

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R

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R

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CT1

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C)

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o (µ

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SR

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0

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C)

T4 s

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L)

S

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S

a

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b

SR

b

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c

ST1

c

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SRT1

d

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e

ST5

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e

SRT5

e

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L)

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C

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R

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A)

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44

Ao avaliar o T3 sérico, observou-se que a restrição alimentar, no grupo

controle, determinou significativa redução na concentração plasmática de T3,

enquanto que no grupo com sobrepeso não houve alteração de T3 sérico após a

restrição (Figura 11 – A). Ao analisar o T3 sérico depois dos 15 dias da

administração de T4, observou-se, no grupo controle (Figura 11 – B), que os

animais alimentados ad libitum apresentaram aumento significativo do T3

sérico, de forma dose-dependente, isto é, a maior dose de T4 (5,0 µg/100 g p.c.)

determinou maior aumento de T3 sérico do que a menor dose (1,0 µg/100 g

p.c.). Os animais submetidos à restrição alimentar, apresentaram aumento

significativo do T3 sérico, porém sem aumento dose-dependente, pois os

animais RT1 e RT5 apresentaram concentrações séricas de T3 semelhantes. Já no

grupo com sobrepeso (Figura 11 – C), apenas a dose de 5,0 µg de T4, nos

animais alimentados ad libitum, acarretou aumento significativo do T3 sérico.

Em todos os outros animais, independentemente, do tratamento alimentar, não

houve alteração do T3 sérico após a administração do T4.

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45

0

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sér

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C

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A)

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C

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S

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c

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o (n

g/d

L)

B)

S ST1 ST50

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100

150

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0

50

100

150

200

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SRT1

a

SRT5

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L)

C)

C CT1 CT50

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150

200

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b

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a

RT1

a

d

c

T3 s

éric

o (n

g/d

L)

B)

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46

A concentração sérica de leptina mostrou-se, significativamente

aumentada, no grupo com sobrepeso, em relação ao grupo controle. A restrição

alimentar, por sua vez, determinou significativa redução de leptina sérica nos

dois grupos (Figura 12 - A).

A diminuição de leptina sérica determinada pela restrição alimentar

induz alterações neuro-fisiológicas, como por exemplo, a modulação do eixo

hipotálamo-hipófise-tireóide. Todavia, ainda são controversos os efeitos

regulatórios entre leptina e hormônios tireoideanos. Por isso, neste trabalho que

reúne a restrição alimentar e a administração de T4, analisou-se a interação

desses dois componentes com a leptina sérica. No grupo controle (Figura 12 -

B), observou-se que a menor dose de T4, nos animais CT1, aumentou

significativamente a concentração de leptina, enquanto a maior dose de T4, nos

animais CT5, não alterou a concentração de leptina. Quando foram reunidos os

efeitos da restrição alimentar e da administração de T4, detectou-se tendência a

diminuir a leptina sérica nos animais RT1 e RT5, que apresentaram

concentrações séricas de leptina abaixo do limite de detecção do teste, em

relação aos animais R. No grupo sobrepeso (Figura 12 - C) observou-se, nos

animais alimentados ad libitum e tratados com a menor dose de T4 (ST1),

tendência a reduzir a leptina sérica e nos animais tratados com a maior dose de

T4 (ST5), significativa redução de leptina sérica. Similarmente ao grupo

controle, no grupo com sobrepeso, também foi observado que a restrição

alimentar associada à administração de T4 determinaram uma tendência a

diminuir a leptina sérica nos animais SRT1 e SRT5, em relação aos animais SR.

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47

C R S SR012345678

Lept

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(ng

/ mL)

A)

a

b

c

b

C R S SR012345678

012345678

Lept

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(ng

/ mL)

A)

a

b

c

b

C CT1 CT5012345678

Lept

ina

(ng

/mL)

S ST1 ST5012345678

Lept

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(ng

/mL)

B) C)

R RT1 RT50.00.51.01.52.02.53.03.54.0

Lept

ina

(ng

/mL)

SR SRT1 SRT50.00.51.01.52.02.53.03.54.0

Lept

ina

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/mL)

a

b

a

a

a

b

C CT1 CT5012345678

Lept

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(ng

/mL)

S ST1 ST5012345678

Lept

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(ng

/mL)

B) C)

R RT1 RT50.00.51.01.52.02.53.03.54.0

Lept

ina

(ng

/mL)

SR SRT1 SRT50.00.51.01.52.02.53.03.54.0

Lept

ina

(ng

/mL)

a

b

a

a

a

b

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48

III - ATIVIDADE DA ENZIMA D1 NO FÍGADO Nos dois grupos (controle/sobrepeso) estudados, a restrição alimentar

determinou significativa redução na atividade da D1 (Figura 13). A

administração das duas doses (1,0 e 5,0 µg/100 g p.c.) de T4, estimulou a

atividade da D1, nos animais alimentados ad libitum (Figura 14 - A e B – gráficos

superiores). Analisando a atividade da D1, após a interação dos efeitos da dieta

(inibitório) e do T4 (estimulatório), evidenciou-se, nos dois grupos

(controle/sobrepeso), que o efeito da restrição alimentar é suprimido pelo T4

exógeno, isto é, houve significativo aumento na atividade dessa enzima, nos

animais RT1 e RT5; SRT1 e SRT5, em relação aos animais R e SR,

respectivamente (Figura 14 - A e B – gráficos inferiores).

Figura 13 - Efeito da restrição alimentar sobre a atividade da enzima D1

hepática, no grupo de 3 meses controle (C) e em restrição (R) e no grupo de 6

meses com sobrepeso (S) e sobrepeso em restrição (SR).

250

0

50

100

150

200

C

a

SR

b

R

b

S

a

Ativ

idad

e D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

250

0

50

100

150

200

250

0

50

100

150

200

C

a

SR

b

R

b

S

a

Ativ

idad

e D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

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49

Figura 14 - Efeito da administração de T4 e da restrição alimentar sobre a

atividade da D1 hepática. A) Grupo controle (controle (C), controle com T4 na

dose de 1,0 µg/100 g de p.c. (CT1), controle com T4 na dose de 5,0 µg/100 g de

p.c. (CT5), restrição (R), restrição com T4 na dose de 1,0 µg/100 g de p.c. (RT1),

restrição com T4 na dose de 5,0 µg/100 g de p.c. (RT5)). B) Grupo com

sobrepeso (sobrepeso (S), sobrepeso com T4 na dose de 1,0 µg/100 g de p.c.

(ST1), sobrepeso com T4 na dose de 5,0 µg/100 g de p.c. (ST5), sobrepeso em

restrição (SR), sobrepeso em restrição com T4 na dose de 1,0 µg/100 g de p.c.

(SRT1), sobrepeso em restrição com T4 na dose de 5,0 µg/100 g de p.c. (SRT5)).

Os resultados foram expressos como média ± erro padrão. As diferentes letras

indicam resultados estatisticamente significativos. Nível de significância P<0,05.

A)

0

50

100

150

200

250

C

a

CT 1

a

CT 5

b

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

0

50

100

150

200

250

R

b

a

RT1

c

RT5C

a

B)

0

50

100

150

200

250

ST 1

b

ST 5

b

S

a

100

150

200

250

0

50

S

a

SR

b

c

SRT1

c

SRT5

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

A)

0

50

100

150

200

250

C

a

CT 1

a

CT 5

b

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

0

50

100

150

200

250

R

b

a

RT1

c

RT5C

a

A)

0

50

100

150

200

250

0

50

100

150

200

250

C

a

CT 1

a

CT 5

b

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

0

50

100

150

200

250

0

50

100

150

200

250

R

b

a

RT1

c

RT5C

a

B)

0

50

100

150

200

250

ST 1

b

ST 5

b

S

a

100

150

200

250

0

50

S

a

SR

b

c

SRT1

c

SRT5

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

B)

0

50

100

150

200

250

0

50

100

150

200

250

ST 1

b

ST 5

b

S

a

100

150

200

250

0

50

100

150

200

250

0

50

S

a

SR

b

c

SRT1

c

SRT5

Ativ

idad

e e

nzim

átic

a D

1 (r

T3.m

in -1

.mg

-1)

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50

DISCUSSÃO É sabido que a redução da quantidade de massa corporal, em especial de

gordura, melhora a qualidade de vida e diminui a morbi-mortalidade de

indivíduos com sobrepeso (Salih e cols., 1993; Gazdag e cols., 1999; Davidson e

cols., 2002). Para conseguir essa diminuição da massa gordurosa é necessário

um balanço energético negativo, condição na qual o gasto supera o consumo de

energia, pois os estoques energéticos do organismo são consumidos para

sustentar os processos metabólicos, levando à perda de peso.

Muitos tratamentos para a obesidade utilizam a restrição da ingestão

energética, uma das formas de alcançar o déficit energético, com o propósito de

reduzir o peso corporal (Salih e cols., 1993; Gazdag e cols., 1999; Davidson e

cols., 2002).

Todavia, indivíduos submetidos a dietas hipocalóricas sofrem mudanças

metabólicas adaptativas em resposta à limitação do consumo energético para

permitir o prolongamento da vida. À medida que o consumo alimentar é

restrito, o gasto energético diminui, levando à redução da perda de peso

corporal com o tempo (Francischi e cols., 2000).

A redução na TMB é um dos mais constantes resultados observados

durante experimentos com déficit energético. Mecanismos fisiológicos como a

diminuição da atividade do sistema nervoso simpático, mudanças no

metabolismo periférico dos hormônios tireoideanos e na secreção de insulina

operam na diminuição da atividade metabólica (Francischi e cols., 2000).

Na última década, em virtude do aumento de casos de sobrepeso e

obesidade, um dos campos de maior interesse da pesquisa consiste em

encontrar um tratamento que previna ou mesmo que diminua os efeitos

fisiológicos que dificultam o emagrecimento de sujeitos com excesso de peso

corporal. Desse modo, os análogos dos hormônios tireoideanos têm sido

exaustivamente utilizados, para impedir a redução da TMB determinada pelas

dietas restritivas de emagrecimento. Todavia, ainda não existe um consenso

acerca da eficácia desses hormônios em induzirem a perda de peso corporal.

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51

Nosso interesse, primeiramente, foi verificar as reduções de peso

corporal e de gordura retroperitoneal em ratos com sobrepeso submetidos à

restrição alimentar. Para tanto, desenvolvemos um modelo experimental que

nos possibilitou evidenciar os efeitos da restrição a 60% da ingestão ad libitum,

durante 30 dias, em animais com sobrepeso, comparando-os a animais de peso

normal (controle). Comprovamos que a restrição alimentar foi eficaz em

determinar as reduções de peso corporal e de gordura retroperitoneal nos dois

grupos experimentais estudados. De acordo com a literatura (Gazdag e cols.,

1999; Seraphim e cols., 2001; Davidson e cols., 2002; Peralta e cols., 2002), a

redução na ingestão calórica, de forma moderada (20-40%), é suficiente para

reduzir o peso e o conteúdo de gordura corporais, determinando, por

conseqüência melhora metabólica.

Assim, partimos para o propósito do estudo, associando à restrição

alimentar a administração do T4, a fim de verificarmos o efeito desse

tratamento conjunto sobre as reduções de peso e gordura retroperitoneal.

Escolhemos duas doses de T4 para serem avaliadas; uma de 1,0 µg/100 g de p.c.

que é utilizada para restaurar o eutireoidismo em animais hipotireóideos, e por

isso considerada uma dose fisiológica (Grozovsky, 2002; Ferreira e cols., 2005) e

outra cinco vezes maior (5,0 µg/100 g de p.c.), sendo considerada uma dosagem

suprafisiológica. Os hormônios tireoideanos alteram o balanço energético

através de muitos mecanismos (Silva, 1995). Esses hormônios estimulam a taxa

metabólica basal, acelerando vias metabólicas de síntese e degradação que, por

sua vez, aumentam o requerimento energético (Al-Adsani e cols., 1997). Em

estudos com animais (Oppenheimer e cols., 1991) e humanos (Al-Adsani e cols.,

1997) nos quais há administração de doses suprafisiológicas de hormônio

tireoideano, observa-se aumento da ingestão alimentar que, todavia é

insuficiente para satisfazer a aumentada demanda energética, determinando

redução de peso corporal relacionada à perda de massas magra (músculo) e

gorda (tecido adiposo).

Ao avaliarmos o efeito do tratamento conjunto (dieta/T4) sobre a

redução de peso corporal verificamos que nos dois grupos (controle/sobrepeso)

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52

a redução de peso foi exclusivamente causada pela restrição alimentar.

Nenhuma das doses de T4 utilizadas foram capazes de aumentar a redução de

peso determinada pela restrição alimentar. A maioria dos estudos que associam

o efeito de emagrecimento aos hormônios tireoideanos utilizam doses

suprafisiológicas que, por sua vez, desencadeiam efeitos colaterais não

desejáveis (Oppenheimer e cols., 1991; Krotkiewski, 2002). Nossos resultados,

em ratos, sugerem que para haver aumento na redução de peso corporal

durante a restrição alimentar, induzida pelos hormônios tireoideanos, estes

devem ser utilizados em altíssimas doses, pois mesmo a dose suprafisiológica

de 5,0 µg não foi eficaz.

Mas, por outro lado, ao avaliarmos o efeito do T4 sobre a redução de

gordura retroperitoneal evidenciamos que a dose de 5,0 µg teve efeito lipolítico

sobre o tecido adiposo retroperitoneal em todos os animais tratados com essa

dose, independentemente da restrição alimentar, já que os animais alimentados

ad libitum tiveram redução de gordura retroperitoneal. A dose de 1,0 µg de T4

não causou qualquer alteração no tecido retroperitoneal dos animais tratados.

A princípio, o fato dos animais tratados com 5,0 µg de T4, apresentarem

redução de gordura retroperitoneal sem redução de peso corporal, ainda é

inexplicável. Entretanto, como a gordura retroperitoneal corresponde, em

média, a 2% do peso corporal total, a perda exclusiva desse tecido pode não

resultar em perda significativa do peso corporal. Além disso, sabemos que os

efeitos do T4 devem ser analisados de forma global, relacionando o peso

corporal e a composição corporal, já que os hormônios tireoideanos podem

exercer seus efeitos em praticamente todos os tecidos corporais (Yen, 2001). No

próprio tecido adiposo branco, os hormônios tireoideanos podem ter efeitos

lipolíticos e lipogênicos (Yen, 2001), assim uma hipótese levantada neste

trabalho seria a ocorrência de modulações tecido-específicas exercidas pelos

hormônios tireoideanos que determinariam em alguns órgãos ou

compartimentos o estímulo das vias de síntese e em outros as vias de

degradação.Logo, é possível haver redução de tecido adiposo retroperitoneal

sem, no entanto, haver redução de peso corporal.

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53

Com o intuito de obtermos maiores informações acerca da relação

existente entre os efeitos da administração de T4 e o tecido adiposo, analisamos

a concentração sérica de leptina que é um hormônio notadamente

correlacionado à adiposidade corporal, sob condições normais de ingestão

alimentar (Considine, 2001; Lins e cols., 2005). Como esperado, nossos

resultados confirmaram do que os animais do grupo com sobrepeso apresentam

significativamente mais leptina sérica que os animais do grupo controle. Esse

aumento é resultante da liberação aumentada de leptina proveniente dos

adipócitos aumentados em número e tamanho (Reidy e cols., 2000; Considine,

2001).

Ao avaliarmos os efeitos das diferentes doses de T4 (1,0 e 5,0 µg)

administradas nos animais alimentados ad libitum, observamos alterações nas

concentrações séricas de leptina promovidas pelo T4 exógeno. No grupo

controle a dose de 1,0 µg (CT1) determinou aumento significativo de leptina

enquanto a maior dose de 5,0 µg (CT5) manteve a concentração de leptina igual

a do animal controle que não recebeu T4. Esses resultados poderiam nos sugerir

que não há correlação entre a concentração sérica de leptina e a gordura

retroperitoneal, pois apesar de não ter ocorrido alteração no conteúdo deste

tecido adiposo, nos animais CT1, houve aumento significativo de leptina, e nos

animais CT5 houve significativa redução de gordura retroperitoneal sem

redução de leptina sérica. No entanto, no grupo com sobrepeso observamos que

a dose de 1,0 µg de T4 determinou uma queda, porém não significativa, de

leptina e a maior dose de T4 (5,0 µg) reduziu significativamente a concentração

sérica de leptina, de acordo com a significativa redução de gordura

retroperitoneal. Os resultados encontrados, no grupo com sobrepeso,

confirmam que a administração de hormônios tireoideanos em roedores (Reidy

e cols., 2000) diminuiu os níveis séricos de leptina, sendo inclusive coerente ao

apresentarem uma redução dose-dependente. Como alguns resultados

encontrados na revisão de literatura sobre a relação leptina/hormônio

tireoideano (Ahima & Flier, 2000) ainda são controversos podemos sustentar a

hipótese de que, no grupo controle, a administração de T4 determinou aumento

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54

sérico de leptina por ser capaz de modular de forma tecido-específica as vias

metabólicas relacionadas aos lipídeos. Em um estudo (Oppenheimer e cols.,

1991), realizado com ratos tratados com diferentes doses de T3, houve relação

funcional do hormônio tireoideano em induzir lipogênese e lipólise

concomitantemente. Após a administração de T3 houve aumento do turnover

lipídico. Os autores sugerem que para manter a demanda energética aumentada

induzida pelo T3, há aumento da síntese de ácidos graxos que por sua vez

também estão sendo liberados a partir da degradação dos estoques de

triglicerídeos que estão sendo requisitados para suprir o aumento no consumo

de oxigênio determinado pelo quadro instalado de hipermetabolismo.

Outro importante regulador da concentração sérica de leptina é a

ingestão alimentar. Sob condições de privação energética como acontece na

restrição alimentar há significativa redução de leptina, sendo que nossos dados

corroboram os achados da literatura (Ahima & Flier, 2000; Reidy e cols., 2000;

Considine, 2001). Apesar da adiposidade ser o principal sinalizador da

concentração sérica de leptina, esta pode ser alterada, durante a restrição

alimentar, mesmo que não haja significativa mudança no conteúdo de tecido

adiposo (Considine, 2001). Em nossos resultados observamos esse

acontecimento nos animais do grupo controle que apresentavam

significativamente menos gordura retroperitoneal que os animais com

sobrepeso e ao serem submetidos à restrição alimentar apresentaram redução

na leptina sérica semelhante ao grupo com sobrepeso, demonstrando que,

proporcionalmente a redução de tecido adiposo não foi o único fator

determinante para a redução significativa de leptina no grupo controle.

Alguns estudos demonstram que após 24 horas de jejum há redução

sérica de leptina com restauração dos níveis 4 a 5 horas depois da

realimentação, indicando que a glicemia ou a insulinemia exercem importante

efeito estimulatório sobre a produção de leptina (Reidy e cols., 2000; Considine,

2001).

A restrição alimentar leva à redução de leptina sérica que, por sua vez,

altera o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, reduzindo a síntese hipotalâmica de

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55

TRH (Krotkiewski, 2002). Este parece ser um dos mecanismos envolvidos na

supressão do eixo tireoideano, determinando diminuição sérica de T3 e T4,

durante as restrições alimentares (Ahima & Flier, 2000). Resolvemos então

avaliar o efeito da restrição alimentar à 60% associada à administração de T4

sobre a concentração sérica de leptina.

Ao avaliarmos as diferentes doses de T4 administradas nos animais

controle e com sobrepeso, submetidos à restrição alimentar, observamos que

nesses dois grupos houve diferença na concentração sérica de leptina após a

administração de T4. A restrição, conforme já mencionado, determinou

significativa redução de leptina, mas a restrição com a administração de T4, nas

duas doses, reduziu a leptina a níveis indetectáveis pelo teste utilizado,

sugerindo que o T4 potencializa o efeito da restrição alimentar em diminuir a

leptina sérica, ou seja, a resposta da leptina sérica ao T4 depende do estado

nutricional do animal. Talvez a ação diferencial do T4 seja devido à mudanças

na proporção de tecido adiposo ou à insulinemia que pode estar menor nos

animais em restrição alimentar.

Os hormônios tireoideanos T3 e T4 são os principais reguladores da taxa

metabólica basal. As concentrações séricas desses hormônios apresentam

correlação direta com o gasto energético, diminuindo significativamente

durante situações de privação energética, como a restrição alimentar (LiVolsi,

1989). Os resultados obtidos em nossos experimentos corroboram os dados da

literatura (Ahima & Flier, 2000; Reidy e cols., 2000; Krotkiewski, 2002).

Observamos que o nível sérico de T4, no grupo com sobrepeso, é

significativamente menor que o nível sérico do grupo controle, estando ambos

sob condições normais de alimentação. Ao serem submetidos à restrição

alimentar, os dois grupos, reduziram significativamente o T4 sérico.

Em relação à concentração sérica de T3, observamos que durante a

restrição alimentar, somente no grupo controle, houve significativa redução

desse hormônio, sem nenhuma alteração no grupo com sobrepeso.

A menor concentração sérica de T4, observada no grupo com sobrepeso

em relação ao grupo controle e a não alteração da concentração sérica de T3,

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56

observada no grupo com sobrepeso ao ser submetido à restrição alimentar

podem ser fisiologicamente justificadas por dois fatores existentes no grupo

com sobrepeso que contribuem para o perfil hormonal: o excesso de

adiposidade e a idade mais avançada desses animais que chegam ao final do

experimento com 7 meses de idade, em relação ao grupo controle (4 meses ao

final do experimento). De acordo com a literatura (Krotkiewski, 2002), o perfil

hormonal de sujeitos obesos é consistente com alteração da função tireoideana e

o envelhecimento (Moreira e cols., 2005) determina diminuição na concentração

sérica dos hormônios tireoideanos. Na literatura (Seraphim e cols., 2001; Peralta

e cols., 2002) o rato Wistar é utilizado como modelo de obesidade e

envelhecimento a partir dos 12 meses; apesar dos animais do grupo com

sobrepeso ainda não serem considerados obesos nem velhos, nossos dados

sugerem que aos 7 meses de idade já apresentam evidências desses estereótipos.

Fortalecendo ainda essa hipótese, temos outro dado do nosso modelo

experimental, o valor da ingestão alimentar dos animais com sobrepeso, que

pode ser utilizado. Apesar do sobrepeso ser caracterizado pelo acúmulo

excessivo de gordura corporal, proveniente, em parte, da hiperfagia, os animais

com sobrepeso não apresentaram ingestão alimentar maior que o grupo

controle. Durante o período experimental de controle da ingestão, detectamos

que o consumo de ração dos animais com sobrepeso foi significativamente

menor que dos animais controle. O estudo de Forciea e cols. (1981), demonstra

que a ingestão alimentar de roedores, declina consideravelmente, com o

avançar da idade.

Ao avaliarmos a concentração sérica de T4, 15 dias após a administração

das duas doses (1,0 e 5,0 µg/100 g p.c.), encontramos, conforme esperado,

aumento significativo do nível sérico de T4 de forma dose-dependente, isto é, a

maior dose (5,0 µg) causou maior aumento do T4 que a menor dose (1,0 µg).

Isso aconteceu nos dois grupos estudados (controle/sobrepeso) sob as

condições de restrição alimentar ou não.

Interessantemente, observamos que a restrição alimentar no grupo

controle (R) determinou redução no T4 sérico semelhante à redução fisiológica

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57

observada no grupo com sobrepeso ad libitum (S). Ao administrarmos a dose de

1,0 µg/100 g p.c. correspondente à dose de reposição hormonal capaz de

normalizar os níveis séricos de T4 em animais hipotireóideos (Grozovsky, 2002;

Ferreira e cols., 2005), evidenciamos que houve restauração do perfil hormonal

à níveis séricos de T4 iguais a do grupo controle. Esse resultado nos sugere que

a restrição alimentar assim como o sobrepeso/ “envelhecimento” mimetizam

uma situação de hipotireoidismo na qual reposição hormonal com a dose de 1,0

µg/100 g reverte este quadro.

Após termos nos certificado que a administração de T4 por 15 dias

realmente foi eficaz, determinando aumento significativo do T4 sérico,

avaliamos a concentração sérica de T3, esperando encontrar correlação direta

entre as concentrações séricas de T4 e T3, tendo em vista que o T4 é convertido

à T3. Nos animais alimentados ad libitum observamos, no grupo controle,

aumento sérico de T3, conforme esperado, e no grupo com sobrepeso apenas

nos animais que receberam a maior dose de T4 (5,0 µg/100 g p.c.).

Demonstrando que pode haver uma diminuição na metabolização periférica do

T4 neste grupo que apenas foi sensibilizado com a maior dose. Nos animais

submetidos à restrição alimentar, tanto no grupo controle como no grupo com

sobrepeso, não encontramos a correlação esperada entre o aumento sérico de

T4, determinado pela administração, e o aumento sérico de T3. No grupo

controle, as duas doses de T4 administradas apenas restauraram a concentração

sérica de T3, diminuída pela restrição alimentar, aos níveis séricos do controle

ad libitum. No grupo com sobrepeso, não observamos nenhuma alteração

determinada pelo T4 exógeno, pois todos os animais em restrição com ou sem

T4, apresentaram a mesma concentração sérica de T3. É sabido que o T3 é o

hormônio metabolicamente ativo, exercendo seus efeitos após interagir com seu

receptor nuclear. Tendo em vista que a restrição alimentar determina redução

na concentração sérica dos hormônios tireoideanos, resolvemos administrar o

T4 para ser convertido perifericamente à T3. Nossos dados demonstraram que

essa metabolização periférica, durante a restrição, pode estar alterada.

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58

A atividade da D1, enzima responsável pela conversão periférica de T4 à

T3, é modulada negativamente pela dieta (Bianco e cols., 2002). Durante a

restrição alimentar há diminuição de sua atividade, conforme observado em

nosso trabalho.

O T4, por sua vez é um dos maiores reguladores da atividade da D1,

exercendo sobre ela efeito estimulatório (Bianco e cols., 2002). Neste trabalho,

utilizamos um modelo experimental no qual reunimos a restrição alimentar e a

administração de T4. Por isso, resolvemos analisar os seus efeitos interativos

desses moduladores de ações antagônicas, sobre a atividade da D1.

Sabe-se que a enzima D1 pode catalisar tanto a reação de ativação como a

de inativação do T4, formando T3 e rT3, respectivamente. Durante a restrição

alimentar a D1 aumenta preferencialmente a desiodação do anel interno,

formando o metabólito inativo rT3 (Bianco e cols., 2002). Recentemente, foi

esclarecido que esse fato se dá, pelo menos em parte, pela indução da reação de

sulfatação do T4 cuja enzima responsável é induzida pelo receptor CAR

(Maglich e cols., 2004). Esse receptor é principalmente expresso no fígado e seu

principal papel está relacionado à defesa de xenobióticos, que é a resposta

metabólica do organismo contra moléculas e drogas tóxicas.

A partir dos resultados obtidos e descritos nesta tese, podemos sugerir

que a redução sérica dos hormônios tireoideanos observada durante a privação

energética em ratos, possa ser mediada por pelo menos dois distintos

mecanismos: central (leptina/TRH) conforme mencionado anteriormente

(Krotkiewski, 2002) e principalmente periférico (alteração da atividade da D1).

Porém, o que nos permite afirmar que as reduções encontradas nas

concentrações séricas dos hormônios tireoideanos sejam principalmente

relacionadas ao metabolismo periférico? Ao analisarmos o efeito da

administração das duas doses de T4 sobre o emagrecimento não encontramos

resultados satisfatórios, pois evidenciamos que este foi determinado apenas

pela restrição alimentar. Avaliando o efeito da administração de T4 sobre a

atividade da D1 confirmamos que os hormônios tireoideanos são potentes

estimuladores de sua atividade (Bianco e cols., 2002), pois foram capazes de

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aumentar significativamente a atividade da D1 nos animais alimentados ad

libitum. Ineditamente demonstramos que, nos animais que fizeram restrição

alimentar, o T4 exógeno foi capaz de anular o efeito inibitório da restrição

alimentar sobre a atividade da D1 em todos os animais. Assim, concluímos que

ao administrarmos o T4, durante a restrição, poderíamos ter revertido o quadro

de redução de perda de peso corporal causado em parte, pela queda nas

concentrações séricas dos hormônios tireoideanos se o problema fosse

dependente de um mecanismo central, isto é, determinado pela diminuição de

TRH em conseqüência da redução de leptina. Porém, conforme mencionado,

anteriormente, a diminuição de TRH leva à redução de TSH e assim de T3 e T4;

ao administrarmos o T4 este seria convertido em T3 pela D1 e o animal

continuaria perdendo peso. Mas, como há mudança na atividade da D1

(mecanismo periférico) determinada provavelmente pela sulfatação do T4

durante a restrição alimentar, o T4 administrado que até é capaz de aumentar a

atividade da D1 hepática, é desiodado no anel interno, formando rT3 um

metabólito inativo e, portanto sem efeito celular. Vale ressaltar que o próprio T3

pode ser sulfatado e assim inativado, provavelmente explicando porque a

administração de altas doses de T3 também não causa perda significativa de

peso em ratos (Yamada e cols., 2004).

Através desse estudo podemos afirmar que o uso do T4 como estratégia

de emagrecimento utilizada durante as dietas restritivas deve ser eliminado,

pelo menos, em modelos de roedores.

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