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Renato Celso Santos Rodrigues DETECÇÃO DE REFRÃO USANDO CORRELAÇÃO SOBRE A ENVOLTÓRIA DO SOM Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Pernambuco [email protected] www.cin.ufpe.br/~posgraduacao RECIFE 2016

Renato Celso Santos Rodrigues - attena.ufpe.br

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Renato Celso Santos Rodrigues

DETECÇÃO DE REFRÃO USANDO CORRELAÇÃO SOBRE A

ENVOLTÓRIA DO SOM

Dissertação de Mestrado

Universidade Federal de [email protected]

www.cin.ufpe.br/~posgraduacao

RECIFE

2016

Renato Celso Santos Rodrigues

DETECÇÃO DE REFRÃO USANDO CORRELAÇÃO SOBRE A

ENVOLTÓRIA DO SOM

Trabalho apresentado ao Programa de Pós-graduação em

Ciência da Computação do Centro de Informática da Univer-

sidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Ciência da Computação.

Orientador: Geber Lisboa Ramalho

Co-Orientador: Giordano Ribeiro Eulálio Cabral

RECIFE

2016

Catalogação na fonteBibliotecário Jefferson Luiz Alves Nazareno CRB 4-1758

R696d Rodrigues, Renato Celso Santos. Detecção de refrão usando correlação sobre a envoltória do som /

Renato Celso Santos Rodrigues – 2016. 95f.: fig., tab.

Orientador: Geber Lisboa Ramalho. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CIn.

Ciência da Computação, Recife, 2016. Inclui referências e apêndices.

1. Computação musical. 2. Recuperação de informação musical. 3. Detecção de refrão. I. Ramalho, Geber Lisboa. (Orientador). II. Titulo.

006.5 CDD (22. ed.) UFPE-MEI 2016-171

Renato Celso Santos Rodrigues

Detecção de Refrão usando Correlação sobre a Envoltória do Som

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ciência da

Computação da Universidade Federal de

Pernambuco, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Ciência da

Computação

Aprovado em: 14/09/2016.

___________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Geber Lisboa Ramalho

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profa. Dra. Veronica Teichrieb

Centro de Informática / UFPE

__________________________________________

Prof. Dr. Tiago Alessandro Espinola Ferreira

Departamento de Estatística e Informática / UFRPE

__________________________________________

Prof. Dr. Giordano Ribeiro Eulalio Cabral

Centro de Informática / UFPE (Co-rientador)

Ao meu Deus, por sua providência e amor.

Agradecimentos

Agradeço à professora Liliane Salgado que, ainda na graduação, me incentivou a tentar

o mestrado. Agradeço aos meus colegas de trabalho da Fast Soluções Tecnológicas, que

também me incentivaram, inclusive Rafael Barreira e Elvio Gomes, que vivenciaram comigo

uma parte desta jornada.

Agradeço ao Centro de Informática da UFPE, no qual acredito e sinto orgulho de ter

feito parte, por me proporcionar um ambiente de nível internacional. Agradeço à professora

Edna Natividade, por suas orientações e paciência desde o início da graduação até o fim do

mestrado.

Agradeço aos meus orientadores, Geber Ramalho e Giordano Cabral, por sempre terem

acreditado no meu trabalho, mesmo quando eu sumia por tempo indeterminado. Agradeço

ao grupo MusTIC por me mostrar que eu não era o único maluco no mundo querendo juntar

computação e música. Agradeço aos professores Verônica Teichrieb e Tiago Ferreira por terem

aceitado participar da banca de defesa, mesmo aos 45 minutos do segundo tempo.

Agradeço aos meus pais, José Celso e Rejane Maria, pela provisão e apoio incessante,

mesmo nos momentos em que eu não demonstrava tanto progresso. Agradeço aos meus

filhos Emanuele Ágatha, Clara Évelin e Davi Celso, por sempre torcerem pelo papai mesmo

sem saberem direito o que ele estava fazendo, e por terem me compreendido quando não

pude estar presente.

Agradeço à minha esposa Bianca Fabrízzia, pelo amor e pela parceria que desenvolve-

mos juntos, pela paciência, companheirismo e lealdade que sempre teve para comigo, e por

estar ao meu lado nos momentos mais difíceis, quando mais precisei de ajuda.

Agradeço ao meu Deus pela vida, saúde, energia, ânimo, forças, providência e amor

que sempre me deu desde o início desta etapa, sem os quais jamais haveria chegado à sua

conclusão.

“You don’t get harmony when everyone sings the same note”.

Doug Floyd

Resumo

Em aplicações de Preview de serviços de streaming de música, onde uma rápida impressão

de um álbum desconhecido é proporcionada pela navegação de suas músicas, a inclusão do

refrão no trecho de trinta segundos fornecido para cada música torna a aplicação muito mais

precisa e eficaz. O refrão pode também funcionar como uma “miniatura” representativa da

música, melhorando o desempenho e a precisão das consultas, se realizadas somente

procurando pelos refrãos em vez de se procurar por músicas inteiras. Diante da importância

de obter o trecho mais representativo de uma canção, o objetivo de um sistema de detecção

de refrão é identificar este segmento ou, mais precisamente, os seus instantes inicial e final.

Métodos do Estado da Arte buscam extrair features associadas a notas musicais e timbre

como vetores Chroma e MFCC, e a partir destas identificar as repetições entre os segmentos

da música, inclusive o refrão. Este tipo de abordagem torna o método pouco robusto no

processamento de músicas onde notas musicais e variedade de timbres não são tão presentes,

como em estilos musicais mais percussivos. Este trabalho propõe uma mudança de paradigma

para a detecção de refrão, baseada na exploração do domínio do tempo em lugar do

domínio da frequência, com o objetivo de obter um método mais competitivo no processa-

mento de músicas percussivas. O método proposto elimina a etapa de segmentação, substitui

as features harmônicas e timbrais pela envoltória do sinal e utiliza a função de correlação

entre as envoltórias das partes da música como métrica de similaridade, tornando o método

menos dependente de notas musicais e timbres. Os testes mediram o grau de degeneração

das taxas de acertos do método proposto e de uma versão modificada usando vetores de

Chroma sobre uma base harmônica e uma base percussiva. Os resultados indicam que a

abordagem proposta sofre uma degeneração duas vezes menor que a versão modificada,

comprovando a hipótese de que um método de detecção de refrão que explore o domínio

do tempo é mais competitivo, ao processar músicas percussivas, que um método limitado à

exploração do domínio da frequência. Palavras-chave: Detecção de Refrão. Recuperação

de Informação de Música. Computação Musical.

Abstract

In Preview applications of music streaming services, where a fast printing from an unknown

album is provided by the navigation of your songs, including the chorus in thirty seconds excerpt

provided for each song makes the application much more accurate and effective. The chorus

can also function as a “miniature” representative of music, enhancing the performance and

accuracy of search, if carried out only by looking choruses instead of searching for entire

songs. Given the importance of getting the most representative excerpt of a song, the goal of a

chorus detection system is to identify this segment, or more precisely, its beginning and its

end. State of the art methods seek to extract features associated with musical notes and timbre,

like Chroma and MFCC vectors and identify from these repetitions between segments of music,

including the chorus. This approach type makes method little robust in music where musical

notes and variety of timbres are not as present, as in percussive music for example. This paper

proposes a paradigm shift for the chorus detection, based on the exploitation of the time domain

instead of the frequency domain, in order to obtain a more competitive method in the processing

of percussive music. The proposed method eliminates the segmentation, replaces the harmonic

and timbral features with the envelope of the signal, and uses the correlation function between

the envelope of the music segments as a metric of similarity, to make it less dependent on

musical notes and timbre. The tests measured the degree of degeneration of hit rates of the

proposed method and of a modified version using Chroma vectors on a harmonic basis and a

percussive basis. The results indicate that the proposed approach have a degeneration two

times lower than the modified version, proving the hypothesis that a chorus detection method

that exploits the time domain is more competitive when processing percussive songs than a

method limited to the frequency domain exploitation. Keywords: Chorus Detection. Music

Information Retrieval. Music Computing.

Lista de Figuras

1.1 Receitas da indústria fonográfica por segmento de vendas de 2005 a 2015. . . 14

1.2 Receitas em música por segmento de vendas em 2015. . . . . . . . . . . . . . 15

1.3 Receitas de Streaming de 2011 a 2015 segundo o IFPI, incluindo percentual de

crescimento de cada ano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.4 Número de assinantes pagos de serviços de Streaming de 2012 a 2015. . . . . 16

2.1 Interface do Touch Preview do Spotify. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4.1 Fluxograma de um detector de refrão baseado em repetitividade. . . . . . . . . 28

4.2 Ilustração do processo de construção do Chroma vector. . . . . . . . . . . . . 30

4.3 SDM construída com vetores Chroma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.4 SDM construída com vetores MFCC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.5 Triângulo Time-lag usado por Goto, construído com vetores Chroma. . . . . . . 34

5.1 Representação gráfica do modelo ADSR de variação de intensidade do som. . 41

5.2 Forma de onda de uma nota tocada por um violão. . . . . . . . . . . . . . . . . 41

5.3 Forma de onda de uma melodia de 15 notas tocadas por um violão. . . . . . . 42

5.4 Modelo ADSR típico de sons de instrumentos cordofones. . . . . . . . . . . . . 42

5.5 Modelo ADSR típico de sons de instrumentos aerofones. . . . . . . . . . . . . 42

5.6 Modelo ADSR típico de sons de instrumentos membranofones. . . . . . . . . . 43

5.7 Gráficos de sons de três instrumentos diferentes no domínio do tempo: (1) tabla;

(2) trompa; (3) flauta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.8 Correlação: Sinal de entrada, sinal alvo, e sinal de correlação cruzada. . . . . . 46

5.9 Máquina de Correlação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

6.1 Fluxograma das etapas do método proposto para detecção de refrão. . . . . . 51

6.2 Fluxograma com os processos da etapa de Extração de Envoltória do método

proposto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

6.3 Gráfico de uma nota Lá tocada por um violão com cordas de nylon. . . . . . . . 54

6.4 Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 20ms. . . . . . 55

6.5 Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 50ms. . . . . . 55

6.6 Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 200ms. . . . . . 55

6.7 Fluxograma com processos da etapa de Construção da Matriz de Similaridade. 57

6.8 SSM construída com correlação sobre envoltória para a música Yesterday. . . . 57

6.9 Fluxograma com os processos da etapa de Extração de Repetições do método

proposto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

6.10 SSM da Figura 6.8, após processo de filtragem de nitidez. . . . . . . . . . . . . 59

6.11 SSM da Figura 6.10, após processo de remoção das diagonais de baixa similari-

dade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

6.12 SSM da Figura 6.11, após processo de limiarização dinâmica. . . . . . . . . . 61

6.13 SSM da Figura 6.12, após remoção de gaps nulos e não nulos. . . . . . . . . . 63

6.14 SSM da Figura 6.13, com diagonal selecionada pela Similaridade Média destacada. 65

7.1 Deslocamento (ms) x Tempo de resposta (s) na Extração de Envoltória. . . . . 70

7.2 Taxa média de acertos (%) de cada deslocamento da janela, na Extração de

Envoltória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

7.3 Deslocamento (s) x tempo de resposta (s/4min) na Construção da Matriz de

Similaridade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

7.4 Taxa média de acertos (%) de cada deslocamento e tamanho da janela, na

Construção da Matriz de Similaridade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

7.5 Percentual do tempo de resposta de cada etapa do método usando limiarização

com percentual de corte fixo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

7.6 Percentual do tempo de resposta de cada etapa do método usando limiarização

dinâmica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

7.7 Taxa média de acertos (%) por percentual de corte fixo (%), na Extração de

Repetições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

7.8 Taxa média de acertos (%) por percentual de área sob a curva (%), na Extração

de Repetições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

7.9 Taxa média de acertos (%) por heurística avaliada e tipo de limiarização. . . . . 77

7.10 Taxa média de acertos (%) por álbum da base TUT e por tipo de limiarização. . 77

7.11 Taxa de acertos (%) da abordagem com limiar dinâmico para as bases de dados

TUT e percussiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

7.12 Taxa de acertos (%) da abordagem com limiar dinâmico para as bases de dados

TUT e percussiva para o método modificado (com FFT). . . . . . . . . . . . . . 80

7.13 Degeneração na taxa de acertos (%) para o método proposto, com correlação

de envoltória (CE), e para o método modificado, que usa FFT (FFT). . . . . . . 81

Lista de Tabelas

3.1 Métodos de análise de estrutura musical por tipo de abordagem. . . . . . . . . 25

7.1 Tempo de resposta (s) por tipo de limiarização e tamanho da música (s). . . . . 73

7.2 Taxa de acertos (%) por heurística e tipo de limiarização, para a base TUT

completa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7.3 Taxa de acertos (%) por heurística para as bases de dados TUT e percussiva, e

degeneração (%) por ausência de elementos harmônicos e melódicos para o

método proposto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

7.4 Taxa de acertos (%) por heurística para as bases de dados TUT e percussiva, e

degeneração (%) por ausência de elementos harmônicos e melódicos para o

método modificado (com FFT). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

1 Taxa de acertos (%) por heurística e deslocamento da janela, na Extração de

Envoltória, para o álbum Revolver, dos Beatles (base TUT). . . . . . . . . . . . 90

2 Taxa de acertos (%) por heurística, deslocamento e tamanho da janela, na

Construção da Matriz de Similaridade, para o álbum Revolver, dos Beatles (base

TUT). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

3 Taxa de acertos (%) por heurística e percentual de corte fixo, na Extração de

Repetições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

4 Taxa de acertos (%) por heurística e percentual de área sob a curva, na Extração

de Repetições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

5 Taxa de acertos (%) por heurística e por álbum da base TUT, para abordagem

com percentual de corte fixo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

6 Taxa de acertos (%) por heurística e por álbum da base TUT, para abordagem

com limiar dinâmico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

Lista de Acrônimos

ADSR Attack, Decay, Sustain and Release

CDM Centre for Digital Music

FFT Fast Fourier Transform

GPU Graphics Processing Unit

IFPI International Federation of the Phonographic Industry

MFCC Mel-Frequency Cepstral Coefficients

MIR Music Information Retrieval

MIREX Music Information Retrieval Evaluation eXchange

MPEG Moving Picture Experts Group

RWC Real World Computing

SALAMI Structural Analysis of Large Amounts of Music Information

SDM Self-Distance Matrix

STFT Short-Time Fourier Transform

TUT Tampere University of Technology

UPF Universitat Pompeu Fabra

Sumário

1 Introdução 14

2 A Detecção de Refrão 19

3 O Estado da Arte 22

4 Métodos Harmônicos e Timbrais 27

4.1 A Segmentação do Sinal de Áudio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4.2 A Extração de Características Acústicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4.3 A Medição e Armazenamento da Similaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.4 A Rotina de Identificação das Repetições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.5 A Rotina de Seleção de Refrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.6 Os Resultados Obtidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

5 Correlação de Envoltória 39

5.1 A Envoltória do Sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5.2 A Função de Correlação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

6 O Método Proposto 50

6.1 A Extração da Envoltória do Sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

6.2 A Construção da Matriz de Similaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6.3 A Extração das Repetições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

6.4 A Seleção do Segmento Refrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

7 Experimentos e Resultados 66

7.1 As Bases de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

7.2 A Metodologia dos Experimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

7.3 Os Resultados Obtidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

7.4 A Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

8 Conclusão 83

Referências 85

Apêndice 89

141414

1Introdução

Segundo relatório da International Federation of the Phonographic Industry (2016),

divulgado em Abril de 2016, as receitas do mercado global de música gravada tiveram em

2015 um crescimento de 3,2% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 15,0 Bilhões, depois

de mais de uma década de declínio. Além disso, as receitas de música em formato digital

cresceram 10,2%, chegando a US$6,7 bilhões, e superaram as receitas de música em mídia

física, que caíram 4,5%, conforme ilustrado no gráfico da Figura 1.1.

Figura 1.1: Receitas da indústria fonográfica por segmento de vendas de 2005 a 2015.

Receitas de música em formato digital representaram em 2015 45% do total de receitas

do mercado global de música gravada, comparados aos 39% do formato físico, segundo mostra

o gráfico da Figura 1.2.

15

Figura 1.2: Receitas em música por segmento de vendas em 2015.

Este aumento, tanto nas receitas do mercado global como nas de música em formato

digital, foi impulsionado principalmente pelo aumento nas receitas de Streaming, que mais

do que compensou o declínio nas receitas de downloads e de mídia física. As receitas de

streaming cresceram 45,2%, respondendo agora por 43% do total de receitas digitais, quase

ultrapassando as receitas por downloads (45%). Downloads atualmente são 20% do total de

receitas global, mas caíram 10,5% em relação a 2014, enquanto as receitas de Streaming

são as que crescem mais rápido, 4 vezes nos últimos 5 anos conforme o gráfico da Figura

1.3, representando 19% do total de receitas do mercado global atualmente. Este crescimento

do streaming, segundo o IFPI, é impulsionado pela propagação dos smartphones, e pelo

crescimento da disponibilidade dos serviços de assinatura de alta qualidade.

O total de subscritores “Premium” de streaming cresceu 65,8% em 2015, somando 68

milhões de assinantes em todo o mundo. A Figura 1.4 traz um gráfico contendo o número de

assinantes pagos dos anos 2012 a 2015.

Como se pode observar, os serviços de Streaming têm provocado uma mudança de

16

comportamento no consumidor e uma consequente transformação na indústria fonográfica

para se adaptar e atender a esta nova demanda. São exemplos de serviços de Streaming:

Spotify, Pandora, TuneIn, Deezer, Amazon Music, Apple Music, Google Play Music, Rdio,

Tidal, Groove Music, Napster, SoundCloud.

O estímulo à liberdade de escolha do ouvinte é um grande diferencial dos serviços de

Streaming. Desde o início da indústria fonográfica, quando a tecnologia permitiu a gravação

de áudio, a liberdade de escolha do ouvinte era limitada ao que as gravadoras estavam

interessadas em oferecer, enquanto músicos iniciantes tinham grande dificuldade para divulgar

sua música.

Figura 1.3: Receitas de Streaming de 2011 a 2015 segundo o IFPI, incluindopercentual de crescimento de cada ano.

Figura 1.4: Número de assinantes pagos de serviços de Streaming de 2012 a 2015.

Mesmo com o avanço das tecnologias de gravação (mídias digitais e mais baratas) e de

compartilhamento (aplicações P2P), que facilitaram o acesso à música, a liberdade de escolha

ainda era limitada, pois a capacidade de busca em programas P2P era pequena, limitada

ao nome de artistas, faixas ou álbuns que o usuário precisava conhecer antecipadamente,

e músicas novas não tinham grande sucesso na divulgação, pois as pessoas não sabiam

17

como encontrá-las. Com o surgimento dos serviços de streaming, esta liberdade de escolha

aumentou significativamente, sobretudo no que se refere ao descobrimento de novas canções

e de novos artistas.

O serviço de Preview das aplicações de Streaming é um ambiente onde o usuário pode

obter uma rápida impressão de uma lista de reprodução ao navegar as músicas de um álbum

desconhecido, recebendo um trecho de cada música que deve representá-la como um todo.

Suportado por plataformas de inteligência musical como a The Echo Nest Company (2005), o

Preview proporciona identificação, navegação, recuperação, e recomendação de música aos

usuários, a partir da análise de produtores e consumidores de música, tornando muito mais

acessível ao usuário não só as músicas que ele conhece e quer ouvir, mas aquelas que ele

ainda não conhece, e possivelmente vai gostar.

Desta maneira, por conta do Preview, o usuário é muito mais assistido em sua liberdade

de escolha, e as tarefas de busca e recuperação de música constituem parte essencial deste

serviço. Entretanto, é importante que o trecho da música fornecido ao ouvinte seja o mais

representativo da música, senão ela não terá sido bem apresentada, e o ouvinte poderá não

se interessar.

Segundo GOTO (2006), o coro (chorus) ou refrão (refrain) na música popular é a seção

mais representativa, elevada (ou intensa) e proeminente da estrutura musical de uma canção,

e ouvintes humanos podem facilmente entender quais são as secções de coro porque estas

são as partes mais repetidas e memoráveis de uma canção. Por isso, o refrão é o trecho

mais indicado para representar a música inteira, sempre que se deseja obter uma rápida

referência ou visualização desta música. A inclusão do refrão no trecho da música que o

Preview disponibiliza o torna mais eficaz na apresentação de cada música de um álbum.

Na tarefa de recuperação de música, por sua vez, o refrão funcionaria como uma

“miniatura” representativa da música, que poderia ser útil para melhorar o desempenho e

a precisão das consultas, uma vez que estas consultas poderiam ser realizadas somente

procurando pelos coros, em vez de se procurar por músicas inteiras.

Assim, a detecção automática de coro se torna essencial em aplicações de navegação

e recuperação de música. Diante da necessidade de obter o trecho mais representativo de

uma canção, o objetivo de um sistema de detecção de refrão é a identificação deste segmento

ou, mais precisamente, de seus extremos no eixo temporal ao longo da música, que são o

instante no qual ele começa e o instante no qual ele termina.

Na literatura existem soluções desenvolvidas para o problema da detecção de refrão,

todas baseadas em features extraídas a partir de elementos harmônicos ou timbrais da

música. Estas soluções funcionam, mas, pelo princípio de formação de suas features, ao

processarem músicas onde estes elementos harmônicos ou timbrais são menos presentes,

tendem a sofrer uma alta degeneração de sua taxa de acertos. Músicas percussivas, como

a Batucada, a Embolada, o Coco ou o Afoxé, por exemplo, caracterizam-se pela ausência

de acompanhamento harmônico, sendo a presença de notas musicais limitada ao canto,

18

normalmente solo, e a presença de timbres limitada aos instrumentos de percussão e à voz,

que praticamente não mudam ao longo de toda a música. Para estas músicas, subentende-se

que os métodos desenvolvidos, por serem dependentes da presença de notas musicais e

timbres, não devem apresentar um bom desempenho, o que configura uma baixa robustez.

Desta forma, pode-se concluir que ainda há espaço para a exploração de soluções

alternativas ou melhoramentos sobre as soluções já existentes, seja para obter redução na

taxa de erros ou no custo da solução, para descobrir formas mais simples de realizar a mesma

tarefa com custo e taxas de erro na mesma ordem de grandeza, ou para a obtenção de

soluções mais robustas, que apresentem boas taxas de acertos ao se variar o tipo de música.

O objetivo deste trabalho é propor uma mudança de paradigma para soluções em

detecção de refrão, apresentando uma abordagem alternativa às harmônicas e timbrais, mais

competitiva no contexto do processamento de músicas percussivas. A abordagem apresentada

é construída a partir da correlação entre as envoltórias dos trechos da música, features

obtidas explorando-se o domínio do tempo em lugar do domínio da frequência. Assim, a

hipótese a ser testada é: Um método de detecção de refrão que explore o domínio do tempo é

mais competitivo, ao processar músicas percussivas, que um método limitado ao domínio da

frequência.

Este trabalho está dividido em 8 capítulos. No próximo capítulo é apresentado o

problema específico da detecção de refrão e as dificuldades encontradas ao se desenvolver

uma solução para este problema. No capítulo 3 discute-se o Estado da Arte no contexto da

detecção de refrão, discutindo os conceitos de MIR, MIREX, Análise de Estrutural Musical e

os tipos de abordagens existentes nesta área de pesquisa. O capítulo 4 apresenta as últimas

soluções desenvolvidas para este problema, enquanto identifica padrões e analisa vantagens e

desvantagens destas técnicas. O capítulo 5 apresenta os conceitos de Envoltória e Correlação,

que constituem respectivamente a feature e a métrica de similaridade do método proposto. A

abordagem proposta é então apresentada no capítulo 6, destacando diferenças em relação às

técnicas apresentadas no capítulo 4. Posteriormente, o capítulo 7 apresenta o experimento

realizado, descrevendo as bases de dados escolhidas e relatando desde os testes e ajustes de

parâmetros de cada etapa da solução ao teste da hipótese, resultados obtidos e uma breve

discussão destes resultados. Finalmente, o capítulo 8 traz a conclusão do trabalho, destacando

suas contribuições e também algumas possibilidades futuras de evolução da pesquisa.

191919

2A Detecção de Refrão

Dentre as aplicações que mais necessitam de uma solução de detecção de refrão, a

mais representativa é certamente a aplicação de Preview, uma ferramenta capaz de conceder

a um possível comprador de uma lista de reprodução de mídia musical (como um CD de uma

banda específica, por exemplo) uma pré-visualização desta lista, onde normalmente um trecho

de cerca de trinta segundos de cada música é fornecido ao ouvinte, para que possa avaliar

cada música desta lista. Trata-se de um problema de miniaturização, onde este trecho de trinta

segundos deverá representar a música inteira. Por isso, é essencial que este trecho fornecido

seja o mais representativo possível, pois poderá exercer direta influência sobre o número de

unidades vendidas de um determinado álbum, porque se as canções deste álbum não forem

bem representadas na pré-visualização, os consumidores poderão não demonstrar interesse

pelo produto, quando certamente se agradariam das músicas se tivessem ouvido o seu trecho

mais representativo. A Figura 2.1 mostra a interface do Touch Preview, o serviço de Preview

do Spotify.

Diante do problema da pré-visualização de uma lista de reprodução de mídia musical a

detecção de refrão tem grande importância, pois o refrão normalmente é este segmento mais

representativo, proeminente e memorizável de uma canção, melhor parte para representar a

música como um todo.

Vale salientar, entretanto, que o problema da detecção de refrão possui alto grau de

dificuldade. Um refrão pode ser definido de maneira mais simples como o trecho da música

que mais se repete, e esta é a principal característica que o torna o trecho mais facilmente

assimilado por um ouvinte nesta música. Mas, na prática, entretanto, definir o refrão é bem

mais complicado, sobretudo para um computador.

Muito embora intuitivamente um ouvinte possa facilmente identificar um refrão em

uma música, nem mesmo ele consegue muitas vezes definir precisamente onde o mesmo

começa e onde termina. Uma função de detecção de refrão normalmente retorna dois

instantes no tempo da música, o início e o fim do refrão, e a definição exata dos extremos

do refrão exerce influência direta sobre o percentual de acertos de seu algoritmo, porque as

métricas de sucesso normalmente utilizadas nos trabalhos em detecção de refrão consideram,

20

no cálculo do percentual de acertos, a interseção entre o trecho de refrão detectado pela

solução e o trecho de refrão anotado no processo de criação da base de dados utilizada nos

testes. Ou seja, para um computador qualquer imprecisão na marcação dos extremos do

refrão pode causar uma diminuição da taxa de acertos, o que exige um cuidado especial no

processo de desenvolvimento das bases de dados disponibilizadas para testes de soluções

em segmentação estrutural de música, incluindo a detecção de refrão. Os trabalhos de criação

da base SALAMI, de SMITH et al. (2011) e o da base RWC, de GOTO et al. (2002, 2004),

são exemplos de processos de desenvolvimento de bases de dados construídas com esta

finalidade.

Figura 2.1: Interface do Touch Preview do Spotify.

Outra dificuldade está ligada ao fato de que soluções de detecção de refrão são

normalmente baseadas na extração de similaridade, seja para detectar repetitividade, novidade,

ou homogeneidade, mas uma ocorrência do refrão pode apresentar diferenças em relação

às demais. Dependendo das características acústicas usadas no processo de medição da

similaridade, aspectos como a presença ou ausência de um ou mais instrumentos específicos,

ou a inclusão de arranjos musicais em alguns refrãos, mas não em todos, podem reduzir o

grau de similaridade entre um par de ocorrências do refrão na música, confundindo a solução

de detecção de refrão ao serem geradas lacunas (ou lags) de baixa similaridade em trechos

de alta similaridade.

Outro aspecto que pode interferir na medida da similaridade são as alterações na

intensidade (ou proeminência) dos refrãos, como é muito comum em músicas diversas, onde

os refrãos são executados com diferentes intensidades ao longo da canção, conferindo mais

emoção à música. Considerando 3 ocorrências de refrão, aquela que for executada com menor

intensidade apresentará menor similaridade em relação às demais entre si, dependendo da

21

forma usada para medir similaridade, podendo este fato exercer algum tipo de influência no

processamento da solução de detecção de refrão.

Outra questão que pode dificultar é que a definição mais precisa de refrão na verdade

incluiria aspectos mais semânticos relacionados à letra da música, bem como a relação

destes com o significado semântico de todas as outras partes da música, e o tratamento destes

aspectos talvez fuja um pouco do escopo da computação musical no momento. Nas marcações

das bases de dados desenvolvidas para testes, feitas por humanos, muito provavelmente estes

aspectos foram considerados ao serem atribuídos os rótulos (como introdução, verso e refrão)

aos segmentos das músicas. Entretanto, para simplificar, as aplicações desenvolvidas tanto

neste trabalho como nos últimos desenvolvidos no Estado da Arte estão mais limitadas ao

tratamento de aspectos do escopo da computação musical, como a presença de notas musicais,

variação de intensidade ou a detecção de repetitividade, novidade e homogeneidade.

O comportamento mínimo esperado de uma solução para o problema da detecção

de refrão pode ser definido. Primeiramente, espera-se uma taxa de erros pequena, segundo

alguma métrica particular para esta taxa. Espera-se também que a solução apresente baixo

custo, traduzido por baixo tempo de resposta. Normalmente o tempo de resposta é uma função

somente do tamanho da entrada, mas nem sempre isso acontece.

Outro comportamento esperado para uma solução de detecção de refrão é a robustez,

que significa ter um desempenho que varie pouco em função das características peculiares ao

estilo musical das canções, como o ritmo, por exemplo. Em outras palavras, a solução deve

apresentar uma taxa de acertos e um tempo de resposta que variem minimamente em função

das diferenças de estilo musical, independente de se estar processando canções de forró, pop,

rock, gospel, dance, ou qualquer outro estilo musical. Desta forma, ser capaz de identificar o

refrão em músicas pertinentes a uma ampla variedade de estilos ou ritmos é claramente uma

vantagem para a solução de detecção de refrão.

No capítulo a seguir será descrito o Estado da Arte no contexto das soluções desenvol-

vidas para o problema da detecção de refrão em arquivos de áudio, com base em pesquisa

bibliográfica realizada.

222222

3O Estado da Arte

Recuperação de Informação Musical, ou Music Information Retrieval (MIR), é um

Campo de pesquisa multidisciplinar que se baseia nas tradições, metodologias e técnicas

de uma ampla gama de disciplinas. Uma lista incompleta destas disciplinas inclui acústica,

psicoacústica, processamento de sinal, informática, musicologia, biblioteconomia, informática

e aprendizagem de máquina. O objetivo principal da pesquisa MIR, independentemente do

paradigma disciplinar em que é realizado, é fornecer um nível de acesso ao vasto acervo

do mundo da música igual ou superior ao que está sendo oferecido pelos motores de busca

baseados em texto (DOWNIE, 2008). MIR é uma área de pesquisa que tem crescido a partir

da necessidade de gerir florescentes coleções de música em formato digital (FUTRELLE;

DOWNIE, 2003).

O grande desafio da pesquisa em MIR é o desenvolvimento de sistemas de recu-

peração que lidam com a música através dos fenômenos acústicos, rítmicos, harmônicos,

estruturais e culturais que a compõem. Os pesquisadores em MIR buscam construir sistemas

de recuperação em que a música em si é o principal mecanismo de interação do usuário

com o sistema, quer esteja no formato auditivo (e.g. MP3, WAV), simbólico (e.g. MIDI, par-

titura) ou ambos. Em outras palavras, as pesquisas em MIR querem desenvolver sistemas

que possibilitem aos usuários pesquisar conteúdo de música a partir de consultas que são

formuladas musicalmente, como a consulta por canto (query-by-singing), a consulta por um

exemplo (query-by-example, onde uma música em MP3 é fornecida em busca de músicas

similares), ou a consulta por notação (e.g. consultar por notas escritas em uma pauta musical).

O Music Information Retrieval Evaluation eXchange (MIREX) é um framework baseado

na comunidade MIR para a avaliação formal de algoritmos e sistemas de MIR (DOWNIE,

2008). É um conjunto de avaliações formais definidas pela comunidade MIR através das

quais os sistemas, algoritmos e técnicas do Estado da Arte são avaliados sob condições

controladas. Desde que começou em 2005, MIREX tem promovido anualmente grandes

avanços não apenas em áreas específicas de MIR, mas também na compreensão geral de

como os sistemas e algoritmos de MIR devem ser avaliados (DOWNIE et al., 2010).

Cada evento anual do MIREX tem um conjunto de Tarefas de Avaliação, ou catego-

23

rias nas quais trabalhos em MIR podem ser submetidos para serem avaliados conforme as

condições estabelecidas pela comunidade MIR. Uma destas tarefas é a Análise de Estrutura

Musical, ou Structural Segmentation (MIREX, 2016), relevante na área de MIR e no campo da

Computação Musical. Seu principal objetivo é segmentar automaticamente uma música em

suas diferentes seções (segmentação), e agrupá-los com base em sua similaridade acústica

(rotulagem), para que se obtenham as seções A, B, C, ou verso, ponte, refrão (MARL, 2016).

A estrutura musical surge de determinadas relações entre os elementos da música

(notas, acordes, e assim por diante) que compõem a música. Os princípios utilizados para criar

tais relacionamentos incluem ordem temporal, contraste, variação, homogeneidade e repetição

(PAULUS; MÜLLER; KLAPURI, 2010). A ordem temporal de eventos, conforme enfatizado

por CASEY; SLANEY (2006), é de importância crucial para a construção de entidades musi-

calmente e perceptivelmente significativas, como progressões melódicas ou harmônicas. O

princípio do contraste é introduzido por ter duas partes musicais sucessivas com características

diferentes como, por exemplo, uma passagem tranquila pode ser contrastada com uma alta,

uma seção lenta com uma rápida, ou uma parte orquestral com um solo. Outro princípio é o da

variação, onde as partes da música são apanhadas novamente em uma forma modificada ou

transformada (LERDAHL; JACKENDOFF, 1999). Um segmento é muitas vezes caracterizado

por alguns tipos de homogeneidade inerente, por exemplo, a instrumentação, o ritmo, ou o

material harmônico sendo semelhante dentro do segmento, o que exemplifica o princípio da

homogeneidade.

Finalmente, o princípio da repetição é central para a música, como HORNER; SWISS

(1999) afirma: “Tem sido frequentemente observado que a repetição desempenha um papel

particularmente importante na música - em praticamente qualquer tipo de música que se pode

pensar, na realidade. [. . . ] Na música popular, os processos de repetição são especialmente

fortes“. Padrões recorrentes, que podem ser de natureza rítmica, harmônica, ou melódica,

provocam no ouvinte a sensação de familiaridade e compreensão da música.

Tendo em vista os vários princípios que influenciam decisivamente a estrutura musical,

diferentes abordagens para a análise da estrutura musical têm sido desenvolvidas. Segundo

estudo realizado por PAULUS; MÜLLER; KLAPURI (2010) é possível distinguir três diferentes

classes de métodos de análise estrutural de música baseada em processamento de áudio: (1)

baseados em repetitividade, que buscam identificar padrões recorrentes; (2) baseados em

novidade que buscam detectar transições entre partes contrastantes; (3) baseados em homo-

geneidade, que buscam passagens que são consistentes em relação a alguma propriedade

musical.

A partir de um ponto de vista técnico, a abordagem baseada em homogeneidade

é muitas vezes referida como “abordagem de estado” enquanto os métodos baseados em

repetitividade são também chamados de “abordagens de sequência”. As abordagens baseadas

em novidade e as baseadas em homogeneidade são dois lados da mesma moeda: detecção de

novidade é baseada na observação de algum evento surpresa ou alteração após a ocorrência

24

de um segmento mais homogêneo.

O princípio do contraste ou mudança introduz diversidade na música, atraindo a atenção

de um ouvinte. O objetivo de procedimentos baseados em novidade é automaticamente

localizar os pontos onde ocorrem essas mudanças. São exemplos de métodos baseados em

novidade os trabalhos de FOOTE (2000), JENSEN (2006) e TURNBULL et al. (2007).

Uma continuação direta do processo baseado em novidade é a analisar o conteúdo

dos segmentos criados e classificá-los, construindo grupos mais homogêneos. Os trabalhos de

LOGAN; CHU (2000), COOPER; FOOTE (2003), PEETERS (2004), AUCOUTURIER; PACHET;

SANDLER (2005), JEHAN (2005), XU; MADDAGE; KANKANHALLI (2006), LEVY; SANDLER

(2008) e BARRINGTON; CHAN; LANCKRIET (2010) são exemplos de métodos baseados em

homogeneidade.

A repetição de entidades musicais é um elemento importante na imposição da estrutura

sobre uma sequência de sons musicais, e a ordem temporal em que os eventos da música

ocorrem é crucial para se conceber musicalmente entidades importantes como as melodias

ou as progressões de acordes. Por conseguinte, a tarefa de extrair a repetitividade de um

sinal de áudio de uma música resume-se em primeiro processar o áudio extraindo dele uma

sequência adequada de características acústicas e, em seguida, encontrar as subsequências

repetidas nesta sequência. São exemplos de métodos baseados em repetitividade as soluções

desenvolvidas por DANNENBERG; HU (2002), WELLHAUSEN; HÖYNCK (2003)LU; WANG;

ZHANG (2004), BARTSCH; WAKEFIELD (2005), SHIU; JEONG; KUO (2005), GOTO (2006),

MAROLT (2006), ONG (2006), PAULUS; KLAPURI (2006), ERONEN; TAMPERE (2007)MÜL-

LER; KURTH (2006), PEETERS (2007), RHODES; CASEY et al. (2007), RHODES; CASEY

et al. (2007) e MAUCH; NOLAND; DIXON (2009).

Existem ainda métodos híbridos, que reúnem características de mais de um tipo de

abordagem de Análise de Estrutura Musical, como o método de PAULUS; KLAPURI (2009).

Estes métodos, além de classificados quanto ao tipo de abordagem (novidade, homo-

geneidade e repetitividade), são diferentes entre si também quanto à tarefa realizada, onde uns

buscam a estrutura completa da música, outros buscam miniaturização, outros buscam detectar

o refrão, outros buscam achar repetições. Também são diferentes quanto à característica

acústica usada, onde uns usam Chroma, outros MFCC, outros MPEG-7 timbre descriptor, ou

combinações de features.

A Tabela 3.1 traz uma lista contendo exemplos de vários métodos classificados pelo tipo

de abordagem, mostrando também a tarefa realizada pelo método e a feature usada. Apesar

de usarem features diferentes, observa-se na Tabela 3.1 que os métodos em geral usam

features que são baseadas em elementos da música harmônicos ou timbrais, construídas a

partir de transformadas (e.g. Fast Fourier Transform).

25

Tabela 3.1: Métodos de análise de estrutura musical por tipo de abordagem.

Approach Year Author Task Acoustic features

novelty 2000 Foote segmentation MFCC

2007 Jensen segmentation MFCC + chroma + rhythmogram

2007 Turnbull et al. segmentation Various

homogeneity 2000 Logan & Chu key phrase MFCC

2003 Cooper & Foote summarisation magnitude spectrum

2004 Peeters full structure dynamic features

2005Aucouturier et

al.full structure spectral envelope

2005 Jehan pattern learning MFCC + chroma + loudness

2006 Maddage full structure Chroma

2008 Levy & Sandler full structure MPEG-7 timbre descriptor

2010 Barrington et al. full structure MFCC / chroma

repetition 2002Dannenberg &

Hurepetitions Chroma

2003Wellhausen &

Höynckthumbnailing MPEG-7 timbre descriptor

2004 Lu et al. thumbnailing constant-Q spectrum

2005Bartsch &

Wakefieldthumbnailing Chroma

2005 Chai full structure Chroma

2005 Shiu et al. full structure Chroma

2006 Goto chorus detection MFCC + chroma

2006 Marolt thumbnailing Chroma

2006 Ong full structure Multiple

2006 Paulus & Klapuri repeated parts MFCC + chroma

2007 Eronen chorus detection MFCC + chroma

2007 Müller & Kurthmultiple

repetitionschroma statistics

2007 Peeters repeated partsMFCC + chroma + spec. contrast

repetition

2007Rhodes &

Casey

hierarchical

structuretimbral features

2009 Mauch et al. full structure Chroma

combined 2009 Paulus & Klapuri full description MFCC + chroma + rhythmogram

Dentre os trabalhos citados, os métodos de GOTO (2006) e ERONEN; TAMPERE

(2007), ambos baseados em repetitividade, foram desenvolvidos especificamente para a tarefa

26

de detecção de refrão, sendo por isso descritos mais detalhadamente no capítulo 4 como

exemplos típicos de métodos harmônicos e timbrais.

Uma abordagem comum na tarefa de encontrar repetições em uma sequência de

características acústicas é construir uma matriz de distância (SDM) e procurar listras diagonais

de altos valores paralelas à diagonal principal. Embora seja muitas vezes fácil para seres

humanos reconhecer estas listras, a extração automatizada de tais listras constitui um problema

difícil para um computador devido a significativas distorções que são causadas por variações

em parâmetros como dinâmica, timbre, execução de arranjos, modulação, articulação, ou

progressão rítmica. Entretanto, para as tarefas de detecção de refrão e de miniaturização de

áudio, selecionar um segmento que tem sido repetido na maioria das vezes em uma música

tem provado ser uma abordagem eficaz (PAULUS; MÜLLER; KLAPURI, 2010).

272727

4Métodos Harmônicos e Timbrais

Neste capítulo serão abordadas as características mais gerais, comuns aos métodos de

detecção de refrão baseados em harmonia ou timbre, através da descrição das duas soluções

mais recentes encontradas no Estado da Arte para o problema da detecção de refrão em sinais

de áudio, que são os trabalhos desenvolvidos por GOTO (2006), e ERONEN; TAMPERE (2007),

ambos baseados em características acústicas extraídas a partir de elementos harmônicos ou

de elementos timbrais da música. Dentre as duas abordagens, a proposta por Eronen, por

possuir um grau de semelhança maior em relação à abordagem proposta neste trabalho, será

descrita com mais ênfase do que a abordagem de Goto. Do ponto de vista da classificação dos

métodos de análise de estrutura musical, tanto a abordagem de Eronen quanto a abordagem

de Goto são baseadas em repetitividade.

Uma solução baseada em repetitividade tem seus passos de execução bem definidos:

(1) A Segmentação do Sinal, que divide o sinal em pequeninos fragmentos que possam ser

comparados entre si; (2) A Extração de Características (ou Features), onde uma ou mais

características acústicas são construídas a partir de cada fragmento do sinal, registrando-as

em uma estrutura de dados sequencial; (3) Cálculo da Similaridade, que mede a similaridade

(ou distância) entre cada par de fragmentos do sinal a partir de suas features, armazenando-a

em outra estrutura de dados sequencial; (4) A Identificação das Repetições, que procura

identificar, dentro desta última estrutura sequencial, as subsequências de valores de alta

similaridade, que representam as repetições ou correspondências entre dois trechos do sinal,

identificando estes dois trechos do sinal pelos seus extremos (início e final); (5) A Seleção do

Refrão, onde estes segmentos são rotulados (ou agrupados) conforme a probabilidade de ser

um refrão. A Figura 4.1 traz um fluxograma deste processo.

É importante distinguir os intervalos obtidos no passo de segmentação do sinal, que

são fragmentos menores compreendidos entre duas batidas do sinal, dos intervalos obtidos na

etapa de identificação de repetições, estes maiores, e que compreendem uma subsequência

daqueles fragmentos menores, que apresentou alta similaridade com outra subsequência

destes fragmentos menores, localizada em outra parte do sinal de áudio.

28

Figura 4.1: Fluxograma de um detector de refrão baseado em repetitividade.

Seguindo o modelo de passos ilustrado na Figura 4.1, este capítulo está organizado da

seguinte maneira: a seção 4.1 abordará a rotina de segmentação utilizada nestas abordagens;

a seção 4.2 traz a descrição do processo de extração de características acústicas de ambos os

trabalhos; a seção 4.3 descreve a rotina de construção da estrutura de dados que armazena os

valores de similaridade obtidos, enquanto a seção 4.4 mostra o processo de identificação das

repetições a partir desta estrutura; a seção 4.5 aborda como é feita a rotulagem dos segmentos

encontrados, que, no escopo destes trabalhos, resume-se a sugerir o segmento candidato com

maior probabilidade de ser um refrão. Finalizando o capítulo, na seção 4.6 são descritos os

resultados alcançados por estas abordagens.

4.1. A SEGMENTAÇÃO DO SINAL DE ÁUDIO 29

4.1 A Segmentação do Sinal de Áudio

A abordagem de Eronen adota como rotina de segmentação a fragmentação do sinal

sincronizada às batidas da música, onde a detecção destas batidas é a mesma desenvolvida no

trabalho de SEPPÄNEN; ERONEN; HIIPAKKA (2006). Esta rotina divide o sinal em pequenos

fragmentos, onde cada fragmento compreende aproximadamente o trecho do sinal situado

entre duas batidas consecutivas detectadas.

Esta técnica permite a obtenção da menor fragmentação possível do sinal de áudio

que garanta razoavelmente a preservação da similaridade entre as características acústicas

harmônicas, o que sugere um bom compromisso entre a preservação da similaridade e a

redução de custos de processamento nas etapas seguintes, pela diminuição do número de

fragmentos obtidos. Uma fragmentação ainda menor que a segmentação sincronizada às

batidas teria fragmentos maiores que o intervalo entre duas batidas, o que certamente levaria

à inclusão de mais de um acorde em um mesmo fragmento, podendo confundir a extração de

características acústicas na etapa seguinte da solução, pois é intimamente ligada à disposição

dos acordes da música, como será visto mais adiante, na próxima seção deste capítulo.

Entretanto, subentende-se que músicas mais aceleradas, por possuírem maior frequên-

cia de batidas da música, terão uma maior quantidade de fragmentos obtidos neste processo

de segmentação, que consequentemente implicará em um maior custo de processamento para

as etapas seguintes, porque mais batidas existirão para uma mesma quantidade de tempo da

música.

A abordagem de Goto utiliza uma janela de Hanning deslizante de 256ms, com desloca-

mento de 80ms conforme descrito em seu trabalho, não utilizando, portanto, uma segmentação

explícita, como a sincronizada às batidas.

4.2 A Extração de Características Acústicas

Após o processo de segmentação do sinal de áudio, é realizada, para cada segmento,

a extração de características acústicas (features) que serão utilizadas para medir a similaridade

entre cada par de segmentos. Tanto na abordagem de Goto quanto na de Eronen, nesta

etapa, para cada fragmento do sinal deverá ser associado uma feature, o Chroma Vector, vetor

que traz a informação das notas musicais presentes ao longo deste fragmento. Este vetor é

construído com doze posições que representam cada uma as doze notas musicais de uma

oitava, segundo a escala temperada padrão da música ocidental.

A escala temperada é um conjunto de valores tabelados das frequências fn das notas

musicais, construído a partir de uma progressão geométrica de razão q = 12√

2 e termo inicial

fi = 440Hz, onde:

fn = 440(2n−112 ), n inteiro (1)

4.2. A EXTRAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS 30

O valor fi = 440Hz é um valor de frequência padrão, atribuído à nota Lá2 (nota Lá

da 2ª oitava de um piano), a partir do qual todos os valores de frequência das demais notas

musicais podem ser definidos segundo a equação 1. A razão q = 12√

2 originou-se da ideia

de interpolar 12 meios geométricos, um para cada nota musical (C, C#, D, D#, E, F, F#, G, G#,

A, A#, B), entre a frequência de uma nota musical e a frequência desta mesma nota na oitava

imediatamente seguinte. Desta maneira, se a nota Lá2 tem uma frequência de 440 Hz, a nota

Lá3 tem uma frequência de 880 Hz, e as notas intermediárias possuem como frequências

fundamentais os 12 meios geométricos interpolados entre estas duas frequências, conforme a

equação 1. Estes valores tabelados são utilizados na construção do vetor de Chroma, como

explicado a seguir.

Figura 4.2: Ilustração do processo de construção do Chroma vector.

Primeiramente, ao longo de cada segmento uma janela deslizante é processada para

coleta de espectros de frequência por STFT (Short Time Fourier Transform), e a média destes

espectros obtidos ao longo de um mesmo segmento é considerada para o próximo passo. A

seguir cria-se o vetor propriamente dito, que se trata de um histograma que armazena em

cada uma das doze posições a soma das amplitudes relativas às frequências de cada uma

das notas musicais no espectro obtido, para todas as oitavas consideradas no processamento.

Somente foram consideradas no histograma as notas musicais de seis oitavas, da nota C3 à

nota B8, cobrindo a faixa de frequência de 130 Hz a 8 kHz, ou seja, das frequências obtidas

pela equação 1 para n =−21,−20, ...,59,60. A Figura 4.2, obtida do trabalho de Goto,

ilustra o processo de construção do Chroma vector.

Por exemplo, no processo de construção do vetor de Chroma, a posição do vetor

relativa à nota Lá (A) armazena a soma dos valores das magnitudes das frequências 220 Hz,

4.3. A MEDIÇÃO E ARMAZENAMENTO DA SIMILARIDADE 31

440 Hz, 880 Hz, 1760 Hz, 3520 Hz e 7040 Hz no espectro médio obtido por STFT para o

segmento processado.

Na literatura, diz-se que cada uma das posições do Chroma Vector está associada a

uma Pitch Class, que pode ser compreendida como sendo a classe formada por todas as notas

musicais com frequências obtidas por uma progressão geométrica de termo inicial fi = f0 e

razão q = 2 , onde:

fn = fi(2n−1), n inteiro. (2)

Isto significa, por exemplo, que todas as notas Dó presentes no piano pertencem a

uma Pitch Class, e estão associadas a uma posição no Chroma vector.

Na abordagem de Eronen, além do Chroma Vector, outra feature também é extraída de

cada fragmento do sinal: o vetor MFCC (Mel-Frequency Cepstral Coefficients) que, de modo

similar ao Chroma vector, traz a informação do timbre dos instrumentos presentes no intervalo

de tempo considerado.

4.3 A Medição e Armazenamento da Similaridade

Obtidas para cada pequeno fragmento do sinal as suas respectivas características

acústicas, pode-se medir a similaridade (ou distância) existente entre cada par de fragmentos

do sinal em relação a estas características. A forma de se medir a similaridade que foi utilizada

em ambas as abordagens de Goto e Eronen foi a Distância Euclidiana entre os vetores dos dois

fragmentos do sinal (Chroma ou MFCC), que apresenta, na realidade, o inverso da similaridade.

Em outras palavras, quanto menor for o valor obtido no cálculo da distância euclidiana, mais

similares são os dois respectivos fragmentos de sinal quanto à presença de notas musicais (ou

quanto ao timbre dos instrumentos presentes).

Um processamento fundamental e obrigatório a ambas as soluções apresentadas nesta

seção ocorre neste ponto: o tratamento de modulações. Como as abordagens desenvolvidas

por Goto e Eronen extraem como característica musical básica para processamento o Chroma,

característica essencialmente ligada às notas musicais, sempre que ocorrer uma modulação

na música, se não tiver uma lógica de tratamento da modulação, o sistema não identificará por

distância euclidiana a similaridade existente entre dois trechos da música que são similares,

mas executados em diferentes tonalidades. Para contornar este problema as abordagens

precisam considerar aqui o cálculo de distância euclidiana entre dois vetores de características

x e y, calculando a distância entre x e doze versões de y, uma sem deslocamentos e as outras

onze versões com deslocamento de uma a onze vezes para a direita ou para a esquerda. Desta

forma, se houve, por exemplo, uma modulação de dois tons em um dado instante localizado

entre o final de um e o início de outro, haverá uma baixa distância euclidiana entre o vetor

de característica x e o vetor y deslocado quatro vezes (ou oito vezes para o lado oposto).

4.3. A MEDIÇÃO E ARMAZENAMENTO DA SIMILARIDADE 32

Esta lógica de tratamento de modulação não é difícil de ser realizada e funciona bem, mas

acrescenta à solução um pouco mais de complexidade e custo.

Conforme os valores de similaridade vão sendo calculados, precisam ser armazenados

em uma estrutura de dados para que possam estar disponíveis ao processamento das etapas

posteriores da solução. Na abordagem de Eronen, a estrutura usada é a matriz de distância

(SDM ou Self-Distance Matrix na literatura), que é uma matriz que armazena em cada posição

a distância entre cada dois vetores de características obtidos anteriormente, onde a posição

ai j armazena a distância calculada entre o vetor do i-ésimo fragmento e o vetor do j-ésimo

fragmento do sinal. É notável que a diagonal principal desta matriz deverá conter valores

máximos de similaridade (ou valores nulos de distância), por se tratar da medida de similaridade

de um segmento com ele mesmo. Outro fato notável sobre a matriz de similaridade é que ela é

simétrica em relação à sua diagonal principal. A Figura 4.3 traz um exemplo de SDM construída

a partir da distância euclidiana entre vetores de Chroma, enquanto a Figura 4.4 mostra uma

matriz construída por distância euclidiana entre vetores MFCC.

Figura 4.3: SDM construída com vetores Chroma.

A abordagem de Goto, por sua vez, utiliza uma alternativa diferente, mas similar, à

matriz de distância: um triângulo de similaridade no qual, em cada linha horizontal de alta

similaridade, para um dado lag h indicado pela altura desta linha (valor no eixo vertical), registra

a similaridade entre dois segmentos da música, ambos medindo o mesmo comprimento desta

linha, distantes entre si o valor deste lag. Esta linha de alta similaridade e altura h, iniciando

no índice i do eixo horizontal e terminando no índice j deste eixo indica que há uma alta

4.3. A MEDIÇÃO E ARMAZENAMENTO DA SIMILARIDADE 33

similaridade entre dois segmentos da música, onde o primeiro inicia em i e termina em j, e o

segundo inicia em (i+ j) e termina em ( j+h).

Figura 4.4: SDM construída com vetores MFCC.

A Figura 4.5 mostra uma representação desta estrutura. Neste exemplo, o trecho C da

música que está sendo processada representa o seu refrão, que se repete 6 vezes ao longo da

música. As duas metades deste refrão são também similares entre si, o que gera os pequenos

traços horizontais menores, de cor acinzentada na ilustração, abaixo de cada linha horizontal

de cor preta que representa uma ocorrência de C. A linha horizontal mais comprida no gráfico

corresponde à repetição da ocorrência da sequência ABCC de 4 segmentos consecutivos na

música, onde A e B possivelmente são dois versos diferentes, seguidos de duas ocorrências

do refrão C, que implica na necessidade de uma rotina de tratamento que, comparando esta

linha maior com outras encontradas no gráfico, identifique que esta sequência não é uma parte

isolada da música, mas uma sequência de partes consecutivas que se repete.

Uma das vantagens de se utilizar a Matriz de distância (ou de similaridade) é que esta

estrutura permite a aplicação de filtros de processamento de imagem para refinamento de

seus valores. Após a construção da matriz na solução de Eronen, esta é processada por filtros

para a eliminação de valores espúrios na matriz de similaridade, como um filtro que realça as

diagonais de maior similaridade em relação aos valores de menor similaridade, ou ainda um

filtro para a remoção de quadrados na SDM construída a partir de Chromas, relacionados aos

acordes que persistem por mais de uma batida da música.

4.4. A ROTINA DE IDENTIFICAÇÃO DAS REPETIÇÕES 34

Figura 4.5: Triângulo Time-lag usado por Goto, construído com vetores Chroma.

O filtro que realça a nitidez das diagonais de alta similaridade utiliza um kernel de vinte

e cinco posições (5x5), o qual varre toda a matriz e verifica a localização do valor máximo

de similaridade no kernel. Se o valor máximo de similaridade estiver localizado na diagonal

principal do kernel, então este valor máximo é somado ao valor da posição central, e se o

máximo estiver localizado fora da matriz principal do kernel, então o valor mínimo do kernel é

somado ao valor da posição central do kernel. Espera-se que, ao final deste processamento,

as diagonais de repetições entre segmentos estejam mais evidentes em relação às demais

posições na matriz de similaridade. Filtros de processamento de imagem similares a estes são

utilizados na abordagem de Goto nesta etapa da execução.

Na abordagem de Eronen, neste ponto da execução realiza-se a soma das duas

matrizes de distância, a que foi preenchida por valores de distância entre vetores MFCC e a

preenchida por distâncias entre vetores de Chroma.

4.4 A Rotina de Identificação das Repetições

Uma vez construída a matriz de distâncias, vários cortes são realizados na matriz

através da anulação dos valores de algumas de suas posições, para que sejam retirados os

valores de similaridade que não interessam para as etapas seguintes da solução. O primeiro

corte consiste em preservar as diagonais de mais alta similaridade média, anulando-se todos

4.5. A ROTINA DE SELEÇÃO DE REFRÃO 35

os valores das demais diagonais da matriz de similaridade. A quantidade de diagonais a

serem preservadas foi escolhida segundo o método de dicotomização de Otsu para sinal

unidimensional (OTSU, 1979), processado sobre um sinal contendo as médias de distância de

cada diagonal da SDM.

Após o corte das diagonais de menor similaridade média é realizado um processo de

binarização (ou dicotomização) dos valores ainda não nulos da matriz, que é o estabelecimento

de um limiar e a categorização de todas as posições em duas classes: acima do limiar e

abaixo do limiar. Com o limiar calculado, toda posição cujo valor estiver acima do limiar (baixa

similaridade) é anulada, enquanto toda posição abaixo do limiar (alta similaridade) tem seu

valor substituído por um. A escolha deste limiar no trabalho de Goto é também realizada

conforme descrito no trabalho de Otsu, enquanto no trabalho de Eronen, a escolha foi do

valor de 20% fixo, sobre as diagonais com valores suavizados. Com o valor percentual do

limiar calculado, as diagonais não nulas são concatenadas em uma sequência, que é então

ordenada, e o valor contido na i-ésima posição, correspondente ao percentual do limiar de

corte calculado, é adotado como o valor de similaridade do limiar de corte.

Como resultado destes dois cortes espera-se que somente os trechos de mais alta

similaridade dentre as diagonais de mais alta similaridade da matriz estejam com valor não

nulo, enquanto as demais posições da matriz estejam com valor zero.

Após este processo de anulação de valores, um processamento sobre as diagonais

que ainda tem valores não nulos é realizado para remoção de pequenos intervalos nulos entre

dois trechos não nulos (gaps), provenientes possivelmente de curtas diferenças de similaridade

entre os segmentos de alta similaridade entre si, tais como pequenos arranjos diferentes

realizados por um músico ou algumas notas musicais tocadas por um instrumento distinto,

presentes em um dos segmentos da repetição e ausentes no outro. O processamento consiste

em somente verificar se entre dois trechos das diagonais existe um intervalo nulo relativamente

pequeno, e caso seja encontrado, seus valores são alterados para um, unindo os dois trechos

não nulos em um só.

A abordagem de Goto apresenta para a extração das linhas de repetições uma abor-

dagem análoga, adaptada para o triângulo de correspondências. Entretanto, sua abordagem

não foi abordada em detalhes por ser mais distante da abordagem da rotina de Extração de

Repetições do método proposto neste trabalho.

4.5 A Rotina de Seleção de Refrão

Aplicações de segmentação estrutural de música não necessitam retornar um segmento

apenas, pois retornam todos os segmentos encontrados, agrupados ou rotulados conforme

aparecem ao longo do tempo na música. No contexto das soluções de detecção de refrão,

entretanto, após o processo de rotulagem ou mesmo substituindo-o, a etapa de selecionar um

e apenas um dentre os segmentos listados é necessária, pois é esperado como retorno da

4.5. A ROTINA DE SELEÇÃO DE REFRÃO 36

solução apenas um trecho da música que possa ser apresentado como o refrão.

Desta forma, nas abordagens apresentadas nesta seção, logo após terem sido encon-

tradas todas as repetições (pares de segmentos da música que apresentaram alta similaridade

entre si), para cada repetição, os seus dois segmentos, o do eixo horizontal e o do eixo vertical

da matriz, são adicionados em uma lista de segmentos através do registro de seus extremos

(instante inicial e instante final do segmento). Esta lista então deverá ser varrida posteriormente

por um classificador que atribuirá a cada segmento um score que representa a probabilidade

deste segmento de ser um refrão, segundo o critério adotado pelo classificador. Após classifi-

cados todos os segmentos, aquele que apresentar maior valor para o score de classificação

será o segmento retornado pelo detector de refrão, segundo o critério do classificador que foi

utilizado.

Como as aplicações de detecção de refrão devem retornar apenas um segmento como

resposta, a etapa de seleção de um dentre os segmentos listados possui grande impacto na

taxa de erros da aplicação. Este grande impacto se deve ao fato de que não há serventia

alguma o refrão ser precisamente definido por um dentre os segmentos listados nas etapas

anteriores, se este segmento não for o escolhido na etapa de seleção. Não se pode esquecer

que as repetições também trazem outras partes da música que se repetem e não são refrãos,

e um bom classificador deve adotar critérios de seleção que possam distinguir o refrão das

demais partes da música.

Nas abordagens do Estado da Arte citadas neste trabalho, este processo de seleção é

realizado através de diversas heurísticas que escolhem um e exatamente um dos segmentos

listados como saída única da solução de detecção de refrão, usando critérios de seleção

baseados em observações dos próprios autores a respeito de aspectos comuns a refrãos de

diversas músicas populares.

Eronen testou quatro heurísticas para classificação dos segmentos candidatos a refrão,

baseadas em observações realizadas sobre a base de dados utilizada em seu trabalho: (1) a

localização do segmento de alta similaridade, assumindo que a localidade mais provável de um

refrão no tempo da música é próxima a um quarto ou três quartos do tempo da música; (2) a

similaridade média do segmento, onde é assumido que uma repetição com similaridade média

mais alta mais provavelmente contém um par de refrãos; (3) a amplitude média do segmento,

onde um segmento com mais alta amplitude média tem maior probabilidade de conter um refrão,

por serem os refrãos tocados normalmente com mais intensidade que as demais partes da

música; (4) a existência de uma estrutura peculiar de compartilhamento de segmentos repetidos

com outras duas diagonais na matriz, onde uma diagonal a que compartilha razoavelmente

um trecho do sinal de áudio no eixo horizontal da matriz de similaridade com uma diagonal b

e, da mesma forma, também compartilha o outro trecho repetido, no eixo vertical, com uma

diagonal c, provavelmente contem um par de refrãos, ou em outras palavras, uma repetição

que tem cada um de seus segmentos presentes em outras repetições, ainda que parcialmente,

provavelmente tem um par de refrãos.

4.6. OS RESULTADOS OBTIDOS 37

A abordagem de Goto, por sua vez, testou três heurísticas para classificação de cada

segmento candidato forte a refrão: (1) o range de tamanho do refrão, onde se estabelecem

limites de tamanho para um refrão, e uma diagonal com segmentos fora do range de 7,7 segun-

dos a 40 segundos é descartada; (2) a inclusão de um segmento menor, aceito pela heurística

anterior, no final de outro maior e que esteja fora do range, onde a este segmento menor é

atribuída maior probabilidade de ser um refrão, por se considerar que o segmento maior é uma

repetição que inclui um verso ou ponte que se repete seguido de um refrão que se repete,

muito comum em músicas pop; (3) a existência de um segmento maior, aceito pela primeira

heurística, e que contém dois outros segmentos menores, inclusos em suas metades, onde a

este segmento que contém dois outros é atribuída maior probabilidade de conter um refrão,

por se observar que comumente um refrão contém duas seções que se repetem.

4.6 Os Resultados Obtidos

Nos procedimentos experimentais realizados, cada autor utilizou uma base de dados

diferente. Goto utilizou a “RWC Music Database: Popular Music”, uma parte da base de dados

RWC, construída com a participação do próprio Goto (GOTO et al., 2004), constituída por

100 músicas populares, sendo 20 músicas americanas populares nos anos 80, e 80 músicas

japonesas populares nos anos 90. Eronen, por sua vez, utilizou uma base composta por 206

canções de música popular e rock, cujas anotações foram feitas manualmente por ele mesmo,

usando uma ferramenta dedicada que disponibilizava uma SDM sincronizada a batidas para

facilitar o processo de anotação, conforme relatado em seu trabalho. Segundo Eronen, a

maior parte destas canções possuía uma estrutura verso-refrão bem clara, embora existissem

algumas instâncias com uma estrutura menos óbvia.

A métrica de sucesso utilizada nos experimentos de ambos os trabalhos de Goto e Ero-

nen é a F-Measure, definida como a média harmônica entre a taxa de Recall (R) e a Precisão

(P). Seja a o refrão anotado manualmente e b o refrão retornado pela solução. Primeiro se

mede a interseção entre estes dois intervalos Intersect(a,b), e depois é calculado o valor

de R, razão entre Intersect(a,b) e o tamanho de a (Equação 3), e o valor de P, razão entre

Intersect(a,b) e o tamanho de b (Equação 4). Depois se calcula a média harmônica de Re P, razão entre o produto de R e P e a soma de R e P (Equação 5), que é a taxa de acerto

para o retorno da solução que está sendo avaliado.

R =Intersect(a,b)

length(a) (3)

P =Intersect(a,b)

length(b) (4)

Fmeasure =2RPR+P (5)

4.6. OS RESULTADOS OBTIDOS 38

Desta forma, a F-Measure retorna um valor entre zero e um que representa a cor-

respondência no tempo entre a e b, onde zero significa correspondência nula (interseção

inexistente) e um indica correspondência máxima, caso onde a possui exatamente os mesmos

extremos (início e fim) que b. Em função da forma como a taxa de acertos é calculada pela

F-Measure, o processo de desenvolvimento das anotações das bases de dados torna-se ainda

mais delicado, requerendo uma atenção maior e critérios bem definidos na marcação dos

extremos do refrão anotado, pois mesmo um erro na marcação de poucos décimos de segundo,

para mais ou para menos, altera o resultado do cálculo da F-Measure e, consequentemente, a

taxa de acertos final.

Goto em seu trabalho definiu como correta uma detecção de refrão com F-Measure

acima de 75%. Por este critério, sua abordagem acertou 80 das 100 músicas da base de

dados que utilizou, ou seja, 80 das 100 músicas alcançaram uma taxa de acertos acima de

75%. Eronen, conforme relatado em seu trabalho, para a base de dados que utilizou, alcançou

uma taxa de acertos medida por F-Measure média de 86%.

Já com relação ao custo da solução, as duas soluções operam em uma ordem de

grandeza de aproximadamente 10 segundos para uma música de aproximadamente 3 a 4

minutos de duração, para um computador de configuração mediana, acessível no mercado a

um usuário comum.

393939

5Correlação de Envoltória

Métodos de detecção de refrão com features baseadas em elementos harmônicos ou

timbrais da música, pelo princípio de construção destas features, tendem a sofrer uma alta

degeneração de sua taxa de acertos ao processarem músicas com menor presença de notas

musicais e de variedade de timbres. No propósito de se reduzir esta degeneração na taxa de

acertos, uma abordagem alternativa que inclui o processamento de uma feature diferente pode

ser proposta, a qual pode ser adicionada aos sistemas de detecção já existentes, melhorando

sua robustez. Mas é necessário que esta solução seja razoavelmente simples para que, neste

contexto, não venha a adicionar grande complexidade ou custo de processamento às soluções

já existentes.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é propor uma abordagem alternativa de se

extrair features e similaridade para métodos de detecção de refrão ou ainda para métodos

de segmentação de música baseados em repetitividade, novidade ou homogeneidade, que

apresente maior robustez que os métodos harmônicos e timbrais no contexto do processamento

de músicas percussivas, as quais tipicamente têm menor presença de notas musicais e de

variedade de timbres. No intuito de se atingir este objetivo, o método proposto extrai uma

feature alternativa para cada fragmento do sinal, a Envoltória do Sinal (Curva de Intensidade),

e adota a Função de Correlação como forma de extrair informação de similaridade de cada par

de fragmentos a partir desta feature.

A Envoltória do sinal foi escolhida como feature para conceder à solução mais robustez,

pois por não depender da presença de notas musicais o uso desta feature pode minimizar

a degeneração da taxa de acertos do método em músicas percussivas. A Correlação, por

sua vez, foi escolhida como métrica de similaridade entre curvas de intensidade do sinal por

ser uma função muito utilizada para medir o grau de semelhança entre dois sinais e que,

limitando-se o tamanho destes sinais, não acrescenta muito custo à solução.

A seção 5.1 traz uma discussão sobre a envoltória de sinais de áudio e como esta

é capaz de preservar a similaridade entre as partes da música que se repetem ao longo do

tempo no sinal, enquanto a seção 5.2 apresenta a função de correlação, sua utilidade como

métrica de similaridade entre sinais, e discute o seu custo computacional.

5.1. A ENVOLTÓRIA DO SINAL 40

5.1 A Envoltória do Sinal

Nesta seção será apresentada a feature usada no trabalho proposto, e será discutida

como esta feature preserva a similaridade entre fragmentos de sinais no sinal de envoltória,

mesmo que não estejam mais presentes as frequências acima de 20Hz, que serviram de base

para a construção dos vetores Chroma e MFCC das abordagens descritas no capítulo 4.

A envoltória do sinal pode ser definida como sendo a variação da intensidade do sinal

ao longo do tempo, descrevendo também a sua variação de energia. O sinal de áudio tem

sua envoltória modulada por ondas na faixa de frequência audível pelo ouvido humano, com

frequências entre 20 Hz e 20 KHz, de ondas resultantes da soma das frequências dos sons

que estão sendo executados em cada intervalo da música.

A envoltória tem participação direta na definição do timbre. O timbre é uma caracte-

rística subjetiva do som que nos permite diferenciar sons de altura e intensidade iguais, mas

executados por diferentes instrumentos. O timbre de um instrumento, ou a “cor” de seu som,

pode ser definido pelo produto de duas componentes: (1) uma forma de onda composta por

uma combinação linear de uma onda que oscila numa frequência fundamental com outras

ondas oscilando nas frequências harmônicas desta frequência fundamental (múltiplas), e com

amplitudes relativas bem definidas no instante zero da onda; (2) Um sinal de contorno de

amplitude associado a frequências menores que 20Hz (fora da faixa audível), que define a

variação da amplitude da primeira componente no seu tempo de duração.

A primeira componente do timbre é composta pelas frequências de modulação da

envoltória. As frequências fundamentais estão associadas às notas musicais presentes na

música, segundo valores de frequências tabelados pelo sistema de temperamento musical, de

onde se extrai o Chroma Vector, enquanto as frequências harmônicas estão mais relacionadas

à construção de vetores MFCC.

A segunda componente, objeto de estudo desta seção, é a envoltória do som, tão

importante quanto a primeira na definição do timbre do instrumento, de modo que duas notas

musicais criadas em um sintetizador com a mesma forma de onda, mas com envelopes

diferentes, soarão distintas uma da outra, produzindo diferentes percepções auditivas.

Para uma melhor compreensão de como a envoltória participa na definição do timbre,

é interessante observar a curva de intensidade do som a partir de um modelo teórico, como,

por exemplo, o modelo ADSR (Attack, Decay, Sustain e Release), muito usado no estudo dos

envelopes sonoros, que divide a variação da intensidade de um som em quatro fases distintas -

Ataque, Decaimento, Sustentação e Relaxamento – conforme mostrado na Figura 5.1. A Figura

5.2 descreve graficamente este padrão, para uma nota musical tocada por um violão, enquanto

a Figura 5.3 mostra uma forma de onda gerada por uma melodia de 15 notas consecutivas

tocadas pelo mesmo violão.

5.1. A ENVOLTÓRIA DO SINAL 41

Figura 5.1: Representação gráfica do modelo ADSR de variação de intensidade dosom.

Figura 5.2: Forma de onda de uma nota tocada por um violão.

A Combinação das intensidades e dos tempos de duração de cada fase do modelo

ADSR está diretamente ligada à cor do som do instrumento, e pode variar de acordo com

o tipo do instrumento executado e com a forma como o instrumentista está tocando a nota

musical. As Figuras 5.4, 5.5 e 5.6 trazem uma representação do modelo ADSR de envoltória

típico de sons de instrumentos cordofones (cordas), aerofones (sopro) e membranofones

(percussão), respectivamente. A Figura 5.7 traz três gráficos de notas musicais tocadas por

três instrumentos diferentes: (1) uma tabla (tambor indiano); (2) uma trompa e (3) uma flauta.

5.1. A ENVOLTÓRIA DO SINAL 42

Figura 5.3: Forma de onda de uma melodia de 15 notas tocadas por um violão.

Figura 5.4: Modelo ADSR típico de sons de instrumentos cordofones.

Figura 5.5: Modelo ADSR típico de sons de instrumentos aerofones.

5.1. A ENVOLTÓRIA DO SINAL 43

Figura 5.6: Modelo ADSR típico de sons de instrumentos membranofones.

O ataque de uma nota é a fase de elevação inicial da intensidade do som, que vai do

limiar de silêncio até o pico de sua intensidade. Quando o instrumentista bate em um tambor,

inicia uma arcada em um violino ou sopra um clarinete ele inicia o ataque. O instante exato

onde o ataque tem início é chamado de Onset.

O tempo de duração que o som leva para ir do silêncio até a sua intensidade máxima

varia. Instrumentos de sopro, por exemplo, podem produzir ataques muito suaves, com notas

ligadas umas às outras (legato) ou notas de início muito brusco e separadas umas das outras

(staccato). Instrumentos de corda com arco, como o violino, podem ter ataques muito suaves,

levando uma mesma nota a crescer do silêncio até uma intensidade elevada ao longo de vários

segundos, se o instrumentista assim o desejar. A Figura 5.7 mostra diferenças no ataque

de três instrumentos distintos, e também diferenças entre as próprias notas de um mesmo

instrumento, provocadas pela forma como o instrumentista tocou o instrumento em cada nota.

Figura 5.7: Gráficos de sons de três instrumentos diferentes no domínio do tempo: (1)tabla; (2) trompa; (3) flauta.

Terminado o ataque, a intensidade do som sofre um decaimento antes de atingir um

nível de estabilidade. Em um instrumento de sopro, por exemplo, ao cessar o esforço inicial

5.1. A ENVOLTÓRIA DO SINAL 44

necessário para colocar a palheta em vibração, é necessário um esforço relativamente menor

para manter esta nota em um nível de intensidade estável, o que explica o leve decaimento

até a intensidade desejada. O decaimento costuma ser muito rápido, durando algumas vezes

pouco menos que um décimo de segundo. Nos exemplos da Figura 5.7, o decaimento é

claramente perceptível nas notas da tabla. Decaimentos normalmente são mais perceptíveis

em instrumentos de percussão, como a conga e o atabaque, ou em instrumentos de cordas,

como o piano e o violão.

A sustentação é a fase do som onde a sua intensidade atingiu um nível de razoável

estabilidade, permanecendo assim por um tempo. Na maioria dos instrumentos, este tempo

pode ser controlado pelo instrumentista, como é o caso das notas da trompa e da flauta nos

gráficos 1 e 2 da Figura 5.7. Alguns instrumentos, entretanto, não permitem controlar a duração

deste tempo, (e.g. instrumentos de percussão), havendo ainda os instrumentos onde a fase de

sustentação é praticamente inexistente, de forma que o decaimento da intensidade do som é

imediatamente seguido pelo seu relaxamento.

Finalizando a envoltória do som no modelo ADSR, segue-se a fase de relaxamento,

quando a intensidade sonora diminui até ser anulada. Pode ser brusco, como em um ins-

trumento de sopro quando o instrumentista corta repentinamente o fluxo de ar, ou como em

um tambor, quando a pele é silenciada com a mão. Também pode ser muito lento, como em

um gongo ou um piano com o pedal de sustentação acionado. Nestes casos a nota pode

permanecer soando por vários segundos antes de atingir o silêncio. O instante exato onde o

som se extingue é chamado de Offset do som.

No terceiro gráfico da Figura 5.7, a nota da flauta tem um final suave devido à reverbe-

ração da sala onde a música foi executada, que levou o som a permanecer ainda por um tempo

mesmo após o término do sopro, o que mostra que as condições do ambiente de gravação do

som também podem exercer algum tipo de influência na envoltória do sinal digital de áudio que

foi gravado.

Diante deste conceito do modelo ADSR, e partindo da compreensão de que melodia,

harmonia e ritmo de uma música significam, respectivamente, a sequência, simultaneidade

e disposição dos sons de uma música ao longo do tempo, infere-se que a envoltória do som

é, na realidade, a soma de vários destes padrões ADSR de variação de intensidade (ataque,

decaimento, sustentação e relaxamento) em sequência, simultaneidade, e disposição ao longo

do tempo, um para cada som específico executado por um instrumento ao longo da música.

Vale salientar que a voz é também um instrumento, e que uma configuração específica destas

variações de intensidade de cada som produzido pela fala humana é específica a um fonema,

como as vogais ou as consoantes, da língua que está sendo falada (ou cantada, no caso de

uma música), independente da frequência de modulação deste som.

Assim, sendo um trecho da música composto por sons simultâneos ou sequenciais

dispostos ao longo do tempo, pode-se concluir que para cada parte que se repete ao longo

da música ocorrerá não apenas a repetição das frequências fundamentais e harmônicas das

5.2. A FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO 45

notas musicais presentes, mas ocorrerá também a repetição destes padrões ADSR de variação

de intensidade somados em um só sinal, visto que são também partes intrínsecas do som

destas notas musicais. Desta forma, uma abordagem que explora somente a envoltória do

sinal de áudio é também capaz de extrair informação de repetitividade do sinal, uma vez que os

padrões ADSR dos sons, presentes na envoltória do sinal, também guardam esta informação

de repetitividade.

Importante observar que, como a envoltória do som independe das frequências das

notas musicais tocadas, uma solução que use a envoltória do sinal como feature teoricamente

também pode ser utilizada para a identificação de trechos que se repetem em uma gravação

de poesia, prosa, locução de rádio, narração, sons puramente percussivos, ou qualquer outro

tipo de gravação de áudio, seja de fala, cantada, instrumental, ou ambos.

5.2 A Função de Correlação

Uma vez que a feature proposta apresentada na seção anterior é um sinal em vez de

um vetor, a distância euclidiana não pode mais ser usada como métrica de similaridade entre

dois pares de fragmentos do sinal. Desta forma, a Função de Correlação é proposta para se

medir a similaridade a partir da feature, sendo apresentada nesta seção.

A correlação é uma operação matemática utilizada em diversas áreas de conhecimento

que mostra o grau de similaridade entre duas variáveis, sendo assim também muito utilizada

para detectar um sinal conhecido dentro de outro sinal desconhecido. No processamento

digital de sinais, o calculo da correlação recebe dois sinais de entrada discretos no tempo e

gera um sinal de saída a partir deles, chamado de correlação cruzada, que nos mostra o grau

de similaridade entre estes dois sinais de entrada, levando em conta deslocamentos aplicados

a um destes sinais. Se um sinal é correlacionado com ele mesmo, o sinal resultante é chamado

de auto-correlação.

A Figura 5.8 apresenta um exemplo do funcionamento da correlação, com dois sinais

de entrada, o sinal desconhecido e o sinal alvo (conhecido), e como saída temos um terceiro

sinal, que é o sinal de correlação cruzada entre estes dois sinais de entrada.

A amplitude de cada amostra do sinal de correlação cruzada é uma medida de quanto

o sinal alvo está relacionado com o sinal desconhecido para aquele deslocamento aplicado ao

sinal alvo. Cada pico que surgir no sinal da correlação cruzada indica que o sinal alvo tem sua

forma de onda presente no sinal desconhecido para o deslocamento indicado pela abcissa

deste pico. No exemplo ilustrado na Figura 5.8, os dois picos no sinal de saída representam

as duas ocorrências do sinal alvo no sinal desconhecido. O valor da correlação cruzada é

maximizado quando o sinal alvo está alinhado com o intervalo do sinal desconhecido que

lembra as suas características.

5.2. A FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO 46

Figura 5.8: Correlação: Sinal de entrada, sinal alvo, e sinal de correlação cruzada.

Figura 5.9: Máquina de Correlação.

O processo de construção do sinal de correlação cruzada pode ser ilustrado por uma

máquina de correlação, conforme mostra a Figura 5.9. Nesta ilustração o sinal de entrada

x[n] é o sinal recebido, t[n] é o sinal alvo (target) e y[n] o sinal de correlação cruzada, todos

5.2. A FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO 47

discretos. Na i-ésima iteração da construção do sinal, a i-ésima amostra y[i]do sinal de

correlação cruzada é calculada movendo a máquina de correlação da esquerda para a direita,

emparelhando-se um intervalo do sinal de entrada com um intervalo do sinal alvo. Cada par de

amostras emparelhadas tem seus valores multiplicados, e a soma de todos estes produtos é o

valor armazenado na amostra y[i].A amplitude de cada amostra de y[n] é a medida de quanto o sinal recebido se

assemelha ao sinal alvo para aquela localidade (ou deslocamento). Isto significa que um pico

vai ocorrer no sinal de correlação cruzada para cada sinal alvo que for apresentado no sinal

recebido. Em outras palavras, o valor da correlação cruzada é maximizado quando o sinal alvo

é alinhado com um trecho do sinal recebido.

Se o sinal alvo e o sinal desconhecido tiverem amostras negativas, o pico referente

ao alinhamento destes dois padrões será também positivo. Se a máquina de correlação

está posicionada de modo que o sinal alvo está perfeitamente alinhado com um trecho do

sinal recebido, as amostras do sinal alvo são multiplicadas com suas respectivas amostras

alinhadas no sinal recebido. Negligenciando o ruído, uma amostra positiva será multiplicada

por ela mesma resultando em valor positivo, e uma amostra negativa será multiplicada por ela

mesma, resultando também em uma amostra positiva em y[n]. Ainda que o sinal alvo seja

completamente negativo, o pico no sinal de correlação cruzada relativo a um alinhamento será

positivo.

Se há ruído no sinal recebido, também haverá ruído no sinal de correlação cruzada.

Mesmo assim, a correlação cruzada ainda pode ser usada para se encontrar um sinal alvo

somado a um ruído. Os picos gerados no sinal de correlação cruzada referentes a um sinal

alvo em um ruído (sobretudo ruído branco) são geralmente maiores do que os picos produzidos

por qualquer outro sistema linear. Além disso, os picos gerados na correlação cruzada, exceto

para os ruídos randômicos, são simétricos ao se deslocar para a esquerda ou para a direita.

A Equação 6 (ou a equação 7) apresenta a função de correlação para sinais analógicos,

enquanto a Equação 8 (ou a equação 9) apresenta a função de correlação para sinais discretos.

CA(τ) =∫ t ′+T

t ′ x(t + τ)y(t)dt , t ’ constante (6)

CA(τ) =∫ t ′+T

t ′ x(t)y(t− τ)dt , t ’ constante (7)

CD(τ) = ∑t ′+Tt=t ′ x[t + τ]y[t], t ’ constante (8)

CD(τ) = ∑t ′+Tt=t ′ x[t]y[t− τ], t ’ constante (9)

Como no contexto deste trabalho os sinais de entradas e o de saída são digitais e,

portanto, discretos, a equação 8 (ou a equação 9) é a que deve ser considerada nesta análise.

Desta forma, considerando a equação 8, cada amostra CD[τ = i] do sinal de correlação é um

somatório de parcelas do tipo x[t + τ]y[t], para cada valor de lag τ específico, onde t varia

5.2. A FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO 48

de zero até o limite T da janela de observação (parâmetro fornecido na chamada da função

de correlação) e τ varia de zero até o tamanho do sinal x. O limite máximo para a janela de

observação é o tamanho do sinal y.

O valor deste somatório de parcelas x[t + τ]y[t] para um τ específico será maior

quanto menos parcelas negativas existirem, e também quanto maior for o valor absoluto destas

parcelas x[t + τ]y[t], supondo que são positivas. Sempre que um padrão em x alinha-se

com um padrão em y para um dado lag τ o somatório da Equação 8 obtém mais parcelas de

alto valor, pois valores positivos de x serão multiplicados com valores positivos em y e valores

negativos em x serão multiplicados com valores negativos, gerando parcelas positivas em

ambos os casos. Além disso, o valor das parcelas positivas x[t + τ]y[t] é maximizado em

trechos de maior magnitude de x alinhados com trechos de maior magnitude em y, pois o valor

absoluto destas parcelas é maximizado.

Desta forma, um máximo local em τ = a implica em forte casamento de padrões (ou

similaridade) entre x e y para um lag de valor a e, implicitamente, grooo valor deste pico traz

também a informação de quão grande é a amplitude destes sinais x e y para este lag a, se

comparado a outros possíveis alinhamentos de padrões entre x e y, se existirem, com τa.

Assim, além da similaridade, a intensidade do sinal também é considerada no valor de cada

amostra do sinal de correlação cruzada resultante.

Assim, como se pode observar a partir da equação 8, o processo de construção do sinal

de correlação cruzada é simples de entender e de implementar, resumindo-se a um somatório

do produto entre os pares de amostras dos dois sinais de entrada, para cada amostra do sinal

de saída, dispensando o uso de operações mais complicadas, como as transformadas.

Importante ressaltar que a função de correlação poderia ser usada para medir a

similaridade entre fragmentos do próprio sinal de áudio, mas esta escolha é inviável por conta

do custo computacional associado. Considerando n o tamanho dos sinais x e y, tem-se τ

variando de zero a n e t variando de zero a τ . Assim, para cada valor de τ durante a construção

do sinal de correlação, (n− τ) produtos do tipo x[t + τ]y[t] precisam ser computados, e

tem-se desta forma um total de

[n+(n−1)+(n+2)+ ...+2+1] = n(n+1)/2 (10)

produtos computados, o que significa que a função de correlação tem complexidade da

ordem de O(n2), ou seja, um crescimento exponencial em função do tamanho das entradas xe y. Por isso, mesmo a função de correlação sendo uma referência na métrica de similaridade

entre sinais, para que seja realmente vantajoso utilizá-la para detectar similaridade entre sinais,

as entradas não podem ser muito grandes, caso contrário o custo computacional do cálculo da

função será muito elevado.

Se x e y na equação 8 forem sinais digitais de áudio comuns, para que seja coberta a

maior frequência audível pelo ouvido humano (20kHz) devem possuir uma taxa de amostragem

de 44100Hz (chegando a ter o dobro deste valor quando é estéreo). Um sinal deste tipo com

5.2. A FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO 49

quatro minutos de música (uma música de tamanho médio) possuem cerca de 10 milhões

amostras, o que constitui um valor muito alto de amostras para que venha a ser processado

por uma função de correlação, tornando inviável o uso desta função para a estimativa de

similaridade entre sinais de áudio.

Entretanto, para o caso em que o sinal de áudio é processado de tal forma que

tenha seu tamanho reduzido em algumas ordens de grandeza preservando a informação de

similaridade entre suas partes, o uso da função de correlação torna-se viável para a detecção

de padrões repetidos, como no caso de uma solução para o problema da detecção de refrão

em sinais de áudio baseada em repetitividade. Esta redução é alcançada pela Extração da

Envoltória do Sinal, conforme será visto na seção 6.1.

505050

6O Método Proposto

As soluções para o problema da detecção de refrão disponíveis no Estado geralmente

utilizam características acústicas relacionadas às notas musicais presentes no sinal ou aos

timbres dos instrumentos que as executam, explorando desta forma o domínio da frequência,

através de transformadas de Fourier.

A solução apresentada neste capítulo se propõe a utilizar a envoltória (curva de

intensidade) e a correlação, que podem ser tratadas explorando-se somente o domínio do

tempo, com o objetivo de se obter mais robustez em relação à detecção de refrão em músicas

mais percussivas e menos harmônicas ou timbrais.

Desta forma, a principal mudança no método proposto em relação às abordagens

de Goto e Eronen é a substituição da extração das características acústicas Chroma Vector

e vetor MFCC pela extração da envoltória dos fragmentos do sinal. Esta mudança torna o

método independente das frequências das notas musicais do sinal, dispensando também

a necessidade de um tratamento de modulações. Para a métrica de similaridade entre os

fragmentos do sinal substituiu-se a distância euclidiana, que obtinha seus valores a partir dos

vetores de Chroma e MFCC, pelo máximo da função de correlação, que é obtido a partir de

sinais, que neste caso são as envoltórias dos fragmentos do sinal de áudio.

Outra mudança proposta é a substituição da etapa de segmentação pela janela desli-

zante, que simplifica o método, remove o custo empregado na detecção de batidas, torna o

seu tempo de resposta independente da frequência destas batidas, e possibilita uma maior

precisão no corte dos extremos do refrão, que não estarão mais limitados às batidas do sinal.

A Figura 6.1 traz o fluxograma contendo as etapas do método proposto neste trabalho

para solução do problema de detecção de refrão: (1) Extração da envoltória do sinal de áudio,

onde o sinal de envoltória é construído; (2) Construção da Matriz de Similaridade, onde é

registrado o grau de similaridade dos fragmentos da música entre si dois a dois; (3) Extração

das Repetições, onde são listados em pares os segmentos da música que apresentaram

alta similaridade entre si; (4) Seleção do Segmento Refrão, onde um e apenas um dos

segmentos listados será escolhido como o retorno da solução, segundo critérios específicos

preestabelecidos. Cada seção deste capítulo apresenta um destes quatro passos aqui listados,

6.1. A EXTRAÇÃO DA ENVOLTÓRIA DO SINAL 51

na exata ordem de execução, destacando as diferenças e as semelhanças em relação às

abordagens mais recentes encontradas na literatura para detecção de refrão, que foram

descritas no capítulo 4.

Figura 6.1: Fluxograma das etapas do método proposto para detecção de refrão.

6.1 A Extração da Envoltória do Sinal

Existem várias formas de se encontrar a envoltória do sinal como, por exemplo: filtros

passa-baixa, como descrito por BELLO et al. (2005), que traz a mesma ideia da demodulação

clássica de sinais modulados em amplitude, com o devido ajuste na frequência de corte para

eliminar as frequências do pitch das notas minimizando a perda da informação da envoltória;

valor quadrático médio da energia do sinal (Root Mean Square), conforme abordado por HAJDA

(1996), que usa uma janela deslizante para rastrear a variação da potência média do sinal como

uma estimativa da envoltória; predição linear do domínio da frequência (FDLP), como descrito

no trabalho de ATHINEOS; ELLIS (2003), desenvolvido para aplicações em processamento de

fala; aplicar o cepstrum sobre um sinal no domínio do tempo, pré-processado para aparentar a

magnitude de um espectro, conforme CAETANO; BURRED; RODET (2010). Cada uma das

formas de estimar a envoltória do sinal possui suas vantagens e desvantagens, normalmente

sendo umas mais simples, imprecisas e de menor custo, enquanto outras são mais complexas

6.1. A EXTRAÇÃO DA ENVOLTÓRIA DO SINAL 52

e custosas, porém mais precisas.

Numa solução de detecção de refrão, para a finalidade de encontrar repetitividade

em relação à presença de notas musicais, é teoricamente suficiente uma precisão capaz de

encontrar a localidade exata dos sons no tempo e a duração e intensidade das quatro fases do

modelo ADSR de cada som encontrado, não sendo necessário identificar quaisquer detalhes

ou minúcias menores que estas. Isto porque, com a localidade de cada nota identificada, as

melodias de duas partes da música poderão ser comparadas entre si, através do alinhamento

do início exato e da duração exata de cada nota musical encontrada em ambas as partes.

Da mesma maneira, com os modelos ADSR das notas musicais identificados na envoltória, é

possível avaliar se dois sons alinhados foram produzidos por um mesmo instrumento, através

da componente de mais baixa frequência do timbre.

Diante disso, a forma escolhida neste trabalho para se estimar a envoltória do sinal

de áudio foi detectar o máximo de uma janela deslizante ao longo deste sinal no domínio do

tempo. Antes do processo de extração dos máximos da janela deslizante, o sinal de áudio é

pré-processado obtendo-se outro sinal que contem os valores absolutos do sinal original, sendo

facilmente construído através da inversão de cada valor negativo que for encontrado ao longo

do sinal. Depois, a sequência destes valores máximos obtidos pela janela deslizante no sinal

de valores absolutos é armazenada em outro sinal que, com o devido ajuste de parâmetros,

deve reproduzir a variação da intensidade do sinal ao longo do tempo, com uma precisão que

permita identificar a localidade exata das notas musicais presentes no sinal e a duração das

fases do modelo ADSR da envoltória de cada nota encontrada, atuando de maneira similar

a um filtro passa-baixa. Esta solução é simples, funcional, e tem baixo custo computacional.

A Figura 6.2 mostra um fluxograma contendo os processamentos da etapa de Extração de

Envoltória do método proposto.

A Extração de envoltória por janela deslizante possui dois parâmetros importantes:

o tamanho da janela e o valor do deslocamento, ambos medidos em unidades de tempo.

O tamanho da janela exerce influência sobre o custo computacional da própria etapa de

construção do sinal de envoltória, enquanto o valor do deslocamento adotado, por sua vez,

pode regular o tamanho do sinal de envoltória construído, exercendo direta influência sobre o

custo computacional das etapas posteriores da solução, que serão realizadas a partir deste

sinal.

O sinal de envoltória resultante construído desta maneira é menor que o sinal original,

conforme será visto mais adiante, com uma redução do número de amostras de algumas ordens

de grandeza, que pode ser parametrizada pela escolha do tamanho da janela e principalmente

do valor do deslocamento da janela. Esta redução pode ser medida pela razão entre o tamanho

do sinal original de áudio pelo tamanho do deslocamento da janela escolhido.

A redução no tamanho do sinal de envoltória em relação ao tamanho do sinal de áudio

original é muito importante por possibilitar o uso da correlação como métrica de similaridade

entre as partes do sinal, além de proporcionar uma grande redução no custo da solução

6.1. A EXTRAÇÃO DA ENVOLTÓRIA DO SINAL 53

em todas as etapas restantes do algoritmo. Conforme visto na seção anterior, a função de

correlação é inviável para o sinal de áudio, exceto se este for pré-processado de forma a ser

reduzido sem perder a informação de similaridade. Diante do fato de que o sinal de envoltória

preserva esta informação de similaridade a ser extraída por correlação, a redução no seu

número de amostras torna viável o uso desta função como métrica de similaridade entre os

trechos do sinal.

Figura 6.2: Fluxograma com os processos da etapa de Extração de Envoltória dométodo proposto.

Quanto ao controle da intensidade desta redução, quanto maior for o valor adotado

para o deslocamento da janela deslizante, menor será o sinal de envoltória obtido, e quanto

menor for o sinal de envoltória obtido, menor será o custo do processamento realizado sobre

ele nas etapas seguintes do método. Entretanto, pode-se inferir intuitivamente que o tamanho

do deslocamento da janela precisa ser menor que o tamanho da janela, caso contrário, haverá

pequenas lacunas na música que estarão sendo ignoradas no processo de busca de partes

similares entre si, resultando em perda de informação. Desta forma, o valor deslocamento da

janela tem como limite superior o tamanho da janela deslizante.

A janela deslizante, por sua vez, teoricamente, possui um limite inferior correspondente

ao período da frequência de corte desejada, que é 20Hz, considerada para fins práticos a

menor frequência de modulação da envoltória em sinais de áudio. O período desta frequência

é T = 1F = 1

20Hz = 50ms, e uma janela deslizante cujo tamanho está abaixo deste limite

aumenta a frequência de corte na obtenção da envoltória, permitindo que frequências de notas

musicais mais graves insiram ruídos na envoltória obtida, além de impor um limite superior

menor ao deslocamento da janela, obtendo uma redução menor do sinal de envoltória cons-

6.1. A EXTRAÇÃO DA ENVOLTÓRIA DO SINAL 54

truído, aumentando o custo de processamento nas etapas seguintes da solução. Entretanto,

na prática, raramente uma música tem notas musicais tão graves, e o custo de processamento

acrescentado à solução pode não ser tão grande dependendo do valor da janela e do desloca-

mento, tendo sido admitido nos testes valores abaixo deste limite no intuito de verificar nos

resultados as suas relações de custo-benefício para a solução.

Se a janela for muito grande, por outro lado, perde-se precisão, podendo ser incluídas

num mesmo frame muitas variações de intensidade que caracterizariam mais precisamente as

diferentes fases do padrão ADSR, ou até mesmo pode-se incluir mais de uma nota musical

nesta janela, para o caso de uma melodia de um instrumentista muito ágil, com notas de

duração muito curta, o que causaria muita perda de informação de similaridade. Além disso,

quanto maior o tamanho da janela, maior o custo do processo de construção do sinal de

envoltória realizado nesta etapa da solução, porque uma janela maior vai requerer um número

maior de comparações de valores escalares na função de detecção do valor máximo da janela.

Desta forma, é necessário escolher valores para a janela e para o deslocamento da

janela que tenham um bom compromisso entre redução do sinal e redução da perda de

informação da envoltória. Mais de um valor para estes parâmetros foi testado, cujos resultados

serão discutidos no capítulo 5.

A Figura 6.3 traz a representação gráfica um sinal de áudio no domínio do tempo da

nota musical Lá tocada por um violão com cordas de nylon. As figuras 6.4, 6.5 e 6.6 trazem as

envoltórias desta nota musical para uma janela e deslocamento de, respectivamente, 20ms,

50ms e 200ms.

Figura 6.3: Gráfico de uma nota Lá tocada por um violão com cordas de nylon.

Observando o eixo horizontal dos gráficos das Figuras 6.3 a 6.6 nota-se a redução no

tamanho do sinal de duas a três ordens de grandeza, dependendo do tamanho do desloca-

mento adotado, o que permite uma significativa redução de custos nas etapas seguintes deste

método. É fácil de notar também que quanto mais se aumenta o valor do deslocamento mais

reduzido é o sinal gerado e maior é a perda na precisão da informação da envoltória.

6.1. A EXTRAÇÃO DA ENVOLTÓRIA DO SINAL 55

Figura 6.4: Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 20ms.

Figura 6.5: Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 50ms.

Figura 6.6: Gráfico da envoltória do sinal da Figura 6.3 para uma janela de 200ms.

6.2. A CONSTRUÇÃO DA MATRIZ DE SIMILARIDADE 56

Conforme visto no capítulo 4, na abordagem de Eronen se utiliza a segmentação

sincronizada a batidas no intuito de reduzir um custo futuro. Embora não haja uma segmentação

explícita no processo descrito nesta seção, o propósito da redução de custos de processamento

posteriores também é alcançado utilizando-se esta técnica, por causa desta redução no

tamanho do sinal.

A seção seguinte descreve o cálculo de similaridade entre segmentos da música, bem

como a construção da matriz de similaridade.

6.2 A Construção da Matriz de Similaridade

Nesta etapa da solução será descrita a etapa da solução proposta neste trabalho que

calcula os valores de similaridade entre os fragmentos do sinal, constrói uma estrutura de

dados que armazenará estes valores. A estrutura usada é a Matriz de Similaridade (SSM ou

Self Similarity Matrix na literatura), análoga à matriz de distância utilizada na abordagem de

Eronen, mas com a diferença de que cada posição ai j terá a similaridade entre o i-ésimo e o

j-ésimo fragmento do sinal em vez da distância entre eles.

Da mesma maneira que a matriz de distância, a matriz de similaridade possui simetria

em relação à sua diagonal principal, e a sua diagonal principal terá valores máximos de

similaridade, pois são medidas de similaridade de cada segmento com ele mesmo.

Para reduzir o custo do método nesta etapa é preenchido apenas do triângulo inferior

da matriz de similaridade. Uma vez que ela é simétrica, apenas um dos triângulos é necessário

e suficiente para os processamentos posteriores, que somente utilizarão esta metade da

matriz.

Quanto aos fragmentos do sinal cujos pares dois a dois correspondem a cada posição

da matriz de similaridade, em vez do processo de segmentação utilizado no método de Eronen,

estes são obtidos por duas janelas deslizantes, que devem se deslocar sobre o sinal de

envoltória obtido no processamento da seção anterior. Esta escolha teoricamente permite um

pouco mais de precisão, uma vez que os extremos dos intervalos não mais estarão limitados

às batidas do sinal.

Desta forma, em cada posição da matriz de similaridade é armazenado, como métrica

de similaridade, o máximo do sinal de correlação obtido tendo como entrada estas duas janelas

deslizantes, que se deslocam ao longo do sinal de envoltória.

Os fragmentos i-ésimo e j-ésimo do sinal são fornecidos como entrada da função de

correlação, que produzirá um terceiro sinal contendo a correlação entre os dois fragmentos do

sinal para cada deslocamento aplicado sobre o segundo sinal, conforme o cálculo descrito na

seção 5.2. Entretanto, é necessário um valor escalar que possa representar a similaridade

entre estes dois fragmentos do sinal. Desta forma, varre-se este sinal de correlação cruzada

resultante em busca do seu valor máximo, sendo então este valor armazenado na posição ai j

da matriz de similaridade. Este pico encontrado indica que, para um dado deslocamento no

6.2. A CONSTRUÇÃO DA MATRIZ DE SIMILARIDADE 57

tempo entre os fragmentos de sinal, a envoltória do primeiro fragmento do sinal alinhou-se com

a envoltória do segundo, por terem alta similaridade.

Figura 6.7: Fluxograma com processos da etapa de Construção da Matriz deSimilaridade.

Figura 6.8: SSM construída com correlação sobre envoltória para a música Yesterday.

A Figura 6.7 traz um Fluxograma que representa os processos realizados nesta etapa

da solução, enquanto a Figura 6.8 traz um exemplo de matriz de similaridade construída desta

maneira, pela execução desta etapa sobre um sinal de áudio wav contendo a música Yesterday

6.3. A EXTRAÇÃO DAS REPETIÇÕES 58

do álbum Help! dos Beatles. Nesta matriz, os valores são exibidos em escala da cor azul à

vermelha do menor para maior, sendo o valor nulo ou negativo exibido na cor preta.

6.3 A Extração das Repetições

Em posse da matriz de similaridade, segue-se a lógica de identificação das repetições

nesta matriz e a listagem dos segmentos da música que se repetem. As técnicas utilizadas

aqui são praticamente as mesmas utilizadas na abordagem de Eronen. A Figura 6.9 mostra

um fluxograma contendo os processos desta etapa da solução.

Figura 6.9: Fluxograma com os processos da etapa de Extração de Repetições dométodo proposto.

O primeiro processamento realizado sobre a matriz é a Filtragem de Nitidez, que utiliza

um kernel quadrado de 25 posições. Para cada posição (i, j) ao longo de todo o triângulo

superior da matriz, o algoritmo posiciona o kernel tendo (i, j) no seu ponto central, e mede o

ponto máximo e o ponto mínimo do kernel posicionado. Se o ponto máximo estiver localizado

na sua diagonal principal, o ponto (i, j) da matriz tem seu valor acrescido deste valor máximo.

6.3. A EXTRAÇÃO DAS REPETIÇÕES 59

Se o ponto máximo não estiver na diagonal principal, então o ponto (i, j) tem seu valor

acrescido do valor mínimo do kernel. Ao fim deste processo, espera-se que as diagonais de

mais alta similaridade estejam mais nítidas em relação aos demais valores da matriz. A Figura

6.10 mostra a matriz resultante deste processo de filtragem de nitidez sobre a matriz da Figura

6.8.

Figura 6.10: SSM da Figura 6.8, após processo de filtragem de nitidez.

O próximo processamento é a eliminação dos valores irrelevantes, que são os de

baixa similaridade. Este processo se dá em dois passos: (1) Remoção das diagonais de

baixa similaridade; (2) Limiarização das diagonais não nulas restantes (chamado também de

dicotomização ou binarização).

No primeiro passo, calcula-se a similaridade média de cada diagonal do triângulo

superior da matriz, e estes valores são armazenados em um array. Em seguida, as 10

diagonais de maior média são selecionadas, e as demais são cortadas da matriz pela anulação

de todos os seus valores. A Figura 6.11 mostra a matriz da Figura 6.10 após este processo de

remoção das diagonais de menor similaridade.

No segundo passo da eliminação dos valores irrelevantes é estabelecido um limiar

de similaridade, de modo que todo valor abaixo deste limiar é considerado irrelevante sendo

assim anulado. Para este processo de limiarização duas abordagens foram testadas: (1)

Percentual de corte fixo sobre a quantidade de valores não nulos, que determina qual o

percentual de valores não nulos que devem permanecer; (2) Percentual de corte variável,

6.3. A EXTRAÇÃO DAS REPETIÇÕES 60

calculado dinamicamente, em função de características inerentes à distribuição destes valores

não nulos restantes.

Figura 6.11: SSM da Figura 6.10, após processo de remoção das diagonais de baixasimilaridade.

O limiar pelo percentual de corte fixo é a mesma forma utilizada por Eronen, que

estabeleceu 20%, obtido empiricamente em seu trabalho, como o percentual fixo de valores

que devem permanecer após a anulação. O valor de similaridade exato deste limiar é obtido em

3 passos: (1) Concatenação das 10 diagonais não nulas em uma só sequência de valores; (2)

Ordenação (sort) decrescente desta sequência; (3) Seleção do valor de similaridade da posição

que divida a sequência ordenada em duas partes, onde a primeira deve conter exatamente 20%

do comprimento da sequência. Este valor de similaridade selecionado é o limiar, e todo valor

abaixo dele na matriz deverá ser anulado. Para o método proposto, mais valores percentuais

além de 20% foram testados, cujos resultados serão discutidos mais adiante.

O percentual obtido dinamicamente segue os mesmos passos que o fixo, com a

diferença de que no terceiro passo o percentual não estabelece a quantidade de valores que

deve permanecer, mas estabelece o percentual da área sob a curva gerada pela sequência

construída nos passos (1) e (2) para os valores que devem permanecer, em relação à área sob

a curva total. Para obter este valor calcula-se a área sob a curva total, e depois é subtraído

um a um, do maior para o menor, o valor de cada amostra da sequência ordenada, até que

a área subtraída corresponda ao percentual estabelecido, como 20%, por exemplo. O valor

de similaridade subtraído na última amostra corresponde ao limiar de corte. Assim como no

6.3. A EXTRAÇÃO DAS REPETIÇÕES 61

limiar de percentual fixo, para o método também foram testados diversos valores, conforme

será discutido no próximo capítulo.

Ao fim deste processo espera-se que somente os trechos de mais alta similaridade nas

diagonais de maior similaridade média estejam não nulos na matriz. A matriz da Figura 6.12 é

resultante deste processo de corte aplicado sobre a matriz da Figura 30, com o percentual de

corte da matriz obtido dinamicamente, permanecendo os maiores valores que correspondem,

neste exemplo, a 30% da área sob a curva obtida nos passos (1) e (2).

Figura 6.12: SSM da Figura 6.11, após processo de limiarização dinâmica.

O último processamento sobre a matriz de similaridade é a remoção de gaps nulos

entre diagonais não nulas, provenientes de curtas diferenças existentes entre os refrãos. São

removidos os gaps inseridos em um intervalo não nulo de pelo menos 12 segundos, e que

não ultrapassem o limite máximo de 4 segundos. Estes valores foram obtidos a partir dos

valores sugeridos no trabalho de Eronen, originalmente medidos em batidas da música, sendo

ajustados empiricamente em testes.

Todas as técnicas usadas nesta etapa são similares às desenvolvidas por Eronen em

sua abordagem. Apenas a remoção de quadrados não foi utilizada, porque foi desnecessária a

sua utilização. Isto porque a presença de quadrados se deve ao fato de que acordes (notas

musicais tocadas simultaneamente) acabavam gerando pequenas sequências de vetores de

Chroma praticamente idênticos, o que provocava a formação destes quadrados na matriz

de similaridade. Uma vez que a similaridade medida através de correlação de envoltórias

6.4. A SELEÇÃO DO SEGMENTO REFRÃO 62

desconsidera a presença das notas musicais que estão sendo tocadas, não existe esta

sensibilidade aos acordes, e não há formação de quadrados.

No final do processo descrito nesta seção espera-se ter as repetições bem definidas

na matriz de similaridade, cada uma contendo a correspondência entre dois trechos da música

similares entre si. É necessário então extrair os pares segmentos de cada repetição encontrada

e armazená-los em uma lista, registrando seus extremos (instante inicial e instante final). Para

isso, varre-se cada diagonal da matriz de similaridade que, ao final de todo o processo realizado

nesta seção sobre a matriz, ainda contenha algum valor não nulo. Para cada diagonal verificada,

para cada trecho não nulo nesta diagonal onde ai j é sua posição inicial e bkl é a sua posição

final, serão registrados os intervalos [i,k] e [ j, l] como dois segmentos candidatos a refrão.

Observa-se que os valores i, j, k e l estão medidos em amostras do sinal de envoltória, mas

seus valores devem ser convertidos em segundos, unidade padrão das marcações das bases

de dados públicas na área de MIR, para que seja possível realizar comparações com estas

marcações durante os testes.

6.4 A Seleção do Segmento Refrão

Neste passo, cada par de segmentos das repetições encontradas na matriz de similari-

dade na etapa anterior estão listados pelo armazenamento de seus extremos (instante inicial e

instante final). Dentre estas repetições, que podem incluir tanto um refrão como outra parte da

música que também é repetida, somente uma deve ser retornada pelo método como refrão

obtido. Tal como nas soluções de Goto e Eronen, este processo de seleção é realizado por

heurísticas.

A primeira heurística adotada nesta solução é a do range de tamanho de refrãos. O

range adotado com base em observações exaustivas sobre músicas de diversos estilos musi-

cais é o intervalo de 5% a 25% da música, onde segmentos fora deste range são descartados.

O descarte de segmentos com tamanho fora do range é realizado porque segmentos maiores

que 25% do comprimento do sinal provavelmente possuem muitos trechos que não fazem

parte do refrão, e segmentos menores que 5% do tamanho da música provavelmente não

têm comprimento suficiente para conter um refrão. Esta heurística é a mesma adotada por

Goto, conforme descrito na seção 3.5, que adotou um range de 7,7s a 40s, fixos independente

do tamanho da música. Para o método proposto, preferiu-se a adoção de um range variável

conforme o tamanho da música, partindo-se do pressuposto de que músicas maiores tendem

a ter refrãos maiores.

O descarte dos segmentos menores que 5% do tamanho da música é realizado

removendo-se as diagonais muito curtas da matriz. A matriz da Figura 6.13 é resultante

deste processo de descarte por range de refrãos sobre a matriz da Figura 6.12, juntamente

com o processo de remoção de gaps nulos descrito na etapa anterior do método. Dentre as

heurísticas utilizadas na solução proposta neste trabalho, esta heurística é a única que exclui

6.4. A SELEÇÃO DO SEGMENTO REFRÃO 63

segmentos dentre os candidatos a refrão.

Figura 6.13: SSM da Figura 6.12, após remoção de gaps nulos e não nulos.

As demais heurísticas, descritas a seguir, foram implementadas na forma de classifica-

dores que retornam um score normalizado (entre zero e um) para cada segmento classificado,

que pode ser interpretado como a probabilidade deste segmento de ser um refrão segundo os

critérios de avaliação desta heurística.

A segunda heurística adotada foi construída como um classificador que atribui como

score o somatório (normalizado) do grau de correspondência do segmento com os outros

segmentos listados, onde o segmento que tiver maior soma do grau de correspondência

com todos os demais segmentos é um forte candidato a refrão. A correspondência entre

dois segmentos é calculada usando F-measure, cujo cálculo foi descrito na seção 4.6. Este

cálculo retorna um valor entre zero e um, para dois intervalos a e b, o qual mede o grau de

correspondência entre ambos, onde grau zero indica correspondência nula, quando não há

interseção entre os intervalos em questão, enquanto grau um indica correspondência máxima,

quando os intervalos são exatamente iguais, possuindo os mesmos pontos extremos (instante

inicial e instante final).

Uma matriz de correspondência é criada, equivalente à matriz de similaridade, e cada

posição armazenará a correspondência de cada par de segmentos entre si, com cada segmento

correspondendo a uma linha e uma coluna segundo a sequência a qual foram extraídos da

matriz de similaridade na etapa anterior da solução. Assim, a medida desta heurística, para

cada segmento, é a soma dos valores contidos na linha com os valores contidos na coluna

6.4. A SELEÇÃO DO SEGMENTO REFRÃO 64

deste segmento nesta matriz de correspondência. Este valor, no fim, é normalizado, para que

seja retornado um valor entre zero a um, o score do classificador desta heurística para cada

segmento classificado. Esta heurística considera o número de repetições de um trecho do sinal

ao longo da música, porque um segmento que foi listado por um número maior de repetições

tem maior chance de ser um refrão, pela própria definição de refrão como parte que mais se

repete.

A terceira heurística é a Similaridade Média, construída como um classificador que

atribui maior score a um segmento de uma repetição cuja diagonal na matriz possui similaridade

média mais alta. Desta forma, as similaridades médias de cada diagonal são calculadas e

depois os valores são também normalizados.

Nesta heurística, implicitamente é considerada também a heurística da amplitude média

usada por Eronen, pois a correlação apresenta maiores valores para sinais alinhados que

tenham maiores amplitudes. Ou seja, para duas repetições distintas, aquela cujos segmentos

apresentam maior intensidade (maiores valores de envoltória), terá os seus segmentos classi-

ficados com um score maior em relação a outras, segundo o critério de classificação desta

heurística.

A quarta heurística considerada é a do último segmento. Observando diversas músicas

de diversos estilos musicais, observa-se que é muito comum a música terminar com o refrão,

ou com uma sequência de dois ou três refrãos consecutivos, ou ter um refrão como penúltimo

segmento da música anterior a um segmento que não se repete, e que por isso não estaria

entre os segmentos listados pelas repetições. Desta forma, o classificador desenvolvido

para esta heurística atribuirá um score maior ao segmento localizado mais próximo à região

final da música. Mais especificamente, a probabilidade do segmento de conter um refrão é

inversamente proporcional à distância entre seu ponto médio e o final da música.

A quinta heurística considerada é a da localização da diagonal da repetição na matriz

de similaridade, onde o classificador atribui score mais alto aos segmentos da repetição que

seja uma combinação do trecho mais próximo a um quarto combinado com o trecho mais

próximo a três quartos do sinal de música. A probabilidade aqui é calculada de maneira similar

à quarta heurística, mas a distância considerada aqui é a do ponto médio do segmento até

o ponto equivalente a 1/4 e 3/4 da música no eixo do tempo. Esta hipótese foi levantada

por Eronen, tendo sido adotada neste trabalho para que pudesse ser testada também com a

métrica de similaridade proposta neste trabalho.

A Figura 6.14 mostra a matriz de similaridade da Figura 6.13 com a diagonal cujo

segmento foi selecionado pela heurística Similaridade Média destacada com as cores vermelha

e azul alternadas. O método proposto, com a configuração contendo janela e deslocamento

de 32ms na Extração de Envoltória, janela de 2s e deslocamento de 1s na Construção da

Matriz de Similaridade, e uma Extração de Repetições com limiar dinâmico e percentual de

30% da área sob a curva, com a heurística da Similaridade Média, atingiu uma taxa de acerto

de 97,37% para a canção Yesterday ao selecionar este segmento da música.

6.4. A SELEÇÃO DO SEGMENTO REFRÃO 65

Figura 6.14: SSM da Figura 6.13, com diagonal selecionada pela Similaridade Médiadestacada.

Nos testes realizados, combinações destas heurísticas foram também testadas. O

próximo capítulo descreve o procedimento de testes, bem como os resultados alcançados e

uma discussão sobre estes resultados.

666666

7Experimentos e Resultados

Neste capítulo será detalhado o procedimento experimental adotado, tanto para a

avaliação da taxa de acertos e do custo computacional do método desenvolvido neste trabalho,

como para medição da degeneração das taxas de acertos em base percussiva em relação

a uma abordagem que explora o domínio da frequência. A hipótese testada é a de que

uma solução em detecção de refrão que explore o domínio do tempo é mais competitiva em

relação a métodos limitados ao domínio da frequência quando é testada em bases percussivas,

apresentando menor degeneração da taxa de acertos.

A seção 7.1 descreve as bases de músicas que foram utilizadas nos testes. A seção

7.2 mostra os procedimentos de testes realizados, bem como os resultados alcançados pelas

diversas heurísticas que foram descritas no capítulo anterior. Na seção 7.3 são discutidos os

resultados obtidos.

7.1 As Bases de Dados

Foram utilizadas duas bases de dados nos testes. A primeira é a base editada pela

Universidade de Tecnologia de Tampere (TUT) e referenciada por Jouni Paulus em sua web-

page sobre Análise de Estrutura Musical (Tampere University of Technology, 2016). Esta base,

dentre outras bases relevantes, é referenciada também no site do MIREX, na seção Structural

Segmentation (The International Music Information Retrieval Systems Evaluation Laboratory,

2016). Constituída pela discografia dos Beatles, compreende 175 músicas distribuídas nos

12 álbuns lançados pela banda ao longo de oito anos de carreira, sendo citada pelo próprio

MIREX como uma “base relevante” para as pesquisas em Segmentação Estrutural de Música,

que incluem também a Detecção de Refrão. É uma base pública, estando assim disponível

para pesquisas posteriores.

Entre 1989 e 2000, o musicólogo Allan Pollack analisou todas as músicas na discografia

dos Beatles. Suas análises foram abrangentes, e incluíram a discussão de cada estilo musical,

forma, melodia, harmonia e arranjo, e toda a sua pesquisa foi lançada gratuitamente na Internet,

estando disponível desde então (POLLACK, 2016). Posteriormente, um conjunto de anotações

7.1. AS BASES DE DADOS 67

para este corpus foi criado na Universitat Pompeu Fabra (UPF), adicionando às análises de

Pollack informações de tempo. Estas anotações foram então editadas por pesquisadores

da Universidade de Tecnologia de Tampere (TUT), recebendo algumas melhorias. As duas

versões incluem anotações de 175 músicas dos Beatles, tendo sido liberadas livremente na

Internet sob uma licença Creative Commons, embora seja necessário adquirir os álbuns dos

Beatles por conta própria caso se pretenda usar o corpus em algum trabalho. As anotações

TUT estão disponíveis na webpage de Jouni Paulus (Tampere University of Technology, 2016),

e as anotações originais, da UPF, também estão disponíveis na internet (Universitat Pompeu

Fabra, 2016).

Um conjunto paralelo de anotações sobre a discografia dos Beatles, também disponível

gratuitamente on-line, foi criado no Centro de Música Digital (CDM) da Queen Mary University

of London. Estas anotações também são baseadas nas pesquisas de Pollack, mas foram

criadas independentemente das anotações da UPF e da TUT, e incluem todas as 180 canções

dos álbuns de estúdio dos Beatles. Isso inclui cinco canções que foram omitidas nas versões

UPF e TUT, presumivelmente porque a estrutura formal destas músicas foi considerada muito

idiossincrática ou ambígua, como, por exemplo, ”Happiness is a warm gun“, com uma estrutura

tipo ABCD, e ”Revolution 9” (Queen Mary University of London, 2016).

No contexto da detecção de refrão abordada neste trabalho, algumas dificuldades

inerentes à discografia dos Beatles precisaram ser resolvidas para que a base de dados

pudesse ser devidamente utilizada na avaliação do método proposto. Observando-se as

anotações da base TUT, verificou-se que a maior parte das músicas dos Beatles não possui

um refrão propriamente dito. Isto se deve ao fato de que a definição mais precisa de refrão

inclui aspectos semânticos relacionados à letra da música, não sendo puramente definido

como uma parte que se repete, inclusive por aqueles que participaram do desenvolvimento das

anotações da base. Assim, muitas músicas não têm uma parte rotulada com refrão, embora

tenham partes que se repetem, outras têm refrão, mas este não é a parte que mais se repete,

e existem ainda aquelas que, com refrão ou sem refrão, não possuem repetições, tornando

inviável a detecção de refrão de uma solução baseada em repetitividade.

Ao ser realizada uma filtragem das músicas que têm refrão e que tem repetições,

verificou-se que apenas 31 músicas, num conjunto de 175 anotações, possuíam partes

rotuladas como refrão que eram as mais repetidas na música. Desta forma, para as músicas

que não têm partes rotuladas como refrão, o retorno de partes que se repetem foi considerado

um acerto, e estas músicas foram inclusas na base utilizadas nos testes. As músicas que

não possuem partes repetidas, por sua vez, não foram consideradas na análise. Desta forma,

foram utilizadas nos testes, ao todo, 152 músicas da base. Nas bases de dados utilizadas por

Goto e Eronen em seus testes, ficou claro em seus trabalhos que as músicas possuíam uma

clara estrutura verso-refrão, e que suas bases estavam apropriadas para os testes de uma

solução para detecção de refrão baseada em repetitividade.

A segunda base de dados é constituída por músicas p33ercussivas do ritmo Coco,

7.2. A METODOLOGIA DOS EXPERIMENTOS 68

típico da Região Nordeste do Brasil. Foram reunidas nesta base músicas das obras de Selma

do Coco, Coco Raízes de Arcoverde e Caju e Castanha, referências do ritmo na região. A

base conta ao todo com 20 músicas, cujos refrãos foram anotados manualmente. As músicas

desta base contém uma estrutura que têm partes que se repetem e podem ser consideradas

como sendo o refrão da música para a finalidade dos testes, tendo sido ignorados os aspectos

semânticos das partes da música. Esta base também encontra-se disponível para pesquisas

posteriores(RODRIGUES, 2016).

7.2 A Metodologia dos Experimentos

Para cada música da base foi calculada a F-Measure entre o refrão anotado e o refrão

retornado pelo método, conforme o cálculo descrito na seção 4.6, para cada heurística ou

combinação de heurísticas. Ao fim do processamento, foi calculada a F-Measure média de

cada heurística ou combinação de heurísticas. No caso da combinação de heurísticas, o score

retornado pelo classificador é a soma dos scores retornados pelas heurísticas combinadas,

todas com peso 1, sendo o score final normalizado em relação aos demais segmentos

classificados, para que também seja um valor entre 0 e 1.

Para uma melhor compreensão da qualidade dos classificadores de cada heurística,

as taxas de acerto obtidas por cada heurística foram comparadas com os resultados obtidos

pelo caso ótimo e com os obtidos pelo caso randômico. O caso ótimo foi implementado

como uma rotina que recebe informação a posteriori das marcações da base de dados para

simular uma heurística que sempre acerta o segmento ótimo, aquele que maximiza o valor

da F-Measure para uma música. Já o caso randômico foi implementado como uma função

de escolha aleatória, representando assim o pior caso, que é a escolha sem critérios de um

segmento qualquer dentre os extraídos da matriz de similaridade na etapa de Extração das

Repetições, descrita na seção 6.3.

Os primeiros testes contemplaram a avaliação do tempo de resposta e da taxa de

acertos para várias configurações da solução, onde foram testadas diversas combinações

de valores dos parâmetros que regulam cada etapa do método, tendo sido identificadas as

combinações que mais se destacaram na base de dados TUT. Os parâmetros da primeira,

segunda e terceira etapas do método (seções 6.1, 6.2 e 6.3) foram variados em testes

individuais, sendo observada a variação do percentual de acertos e do tempo de resposta

em função desta variação de parâmetros. Em cada teste, os parâmetros de uma etapa eram

variados enquanto os valores dos parâmetros nas demais etapas permaneciam com valor fixo.

Após os testes de ajustes de parâmetros, a configuração da solução que obteve melhor

relação entre a taxa de acertos e o tempo de resposta foi escolhida para o teste da hipótese,

que consistiu em avaliar o método proposto na base pública TUT e, posteriormente, na base

percussiva, medindo-se a degeneração da taxa de acertos em função da mudança do tipo de

música processado.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 69

Com a finalidade de realizar uma comparação com os métodos que exploram o domínio

da frequência testes paralelos foram realizados, onde o método proposto foi modificado

substituindo-se a sua feature (Envoltória) por Chroma Vector, construído como nos trabalhos

de Goto e Eronen, a partir do espectro obtido por FFT (seção 4.2). A métrica de similaridade do

método proposto (Correlação), usada na construção da Matriz de Similaridade, foi substituída

por Distância Euclidiana, conforme usada nos métodos de Goto e Eronen para construir a

Matriz ou Triângulo de Distâncias (seção 4.3). Assim como nos testes do método proposto, esta

versão modificada usando FFT também passou por testes de combinações dos parâmetros das

3 primeiras etapas em busca da melhor configuração, e por testes de medição da degeneração

da taxa de acertos em função da mudança do processamento da base TUT para a base

percussiva.

7.3 Os Resultados Obtidos

Esta seção mostra os resultados dos experimentos realizados. Nas tabelas mostradas

nesta seção, as heurísticas avaliadas são identificadas por letras, onde R é a Randômica, O é o

Caso Ótimo, H1 é Grau de Correspondência, H2 é Similaridade Média, H3 é Último Segmento

e H4 é Localização da Repetição, conforme definidas na seção 6.4. As combinações de

heurísticas são representadas pela letra H seguida dos números referentes a cada heurística,

onde H123, por exemplo, significa a combinação das heurísticas: Grau de Correspondência,

Similaridade Média e Último Segmento.

Para os testes de tempo de resposta realizados, vale ressaltar que os resultados

obtidos são os mesmos que seriam obtidos em qualquer outra base de dados, pois o tempo de

resposta no método é função apenas do tamanho do sinal de áudio e de alguns dos parâmetros

escolhidos nas etapas de Extração de Envoltória, Construção da Matriz de Similaridade e

Extração de Repetições, conforme será visto mais adiante.

Nos testes da primeira etapa da abordagem deste trabalho, a Extração de Envoltória,

descrita na seção 6.1, o tamanho da janela deslizante e deslocamento da janela foram sempre

mantidos com valores iguais, pois um deslocamento menor que a janela poderia levar à

repetição de um mesmo valor máximo em duas ou mais amostras consecutivas no sinal de

envoltória construído, e um deslocamento maior que a janela levaria ao descarte de pequenos

fragmentos do sinal na extração da envoltória.

Na avaliação do tempo de resposta, os valores do deslocamento foram variados de

1ms a 100ms na execução de uma música de 4 minutos, onde foi verificado que o tempo

de resposta cai exponencialmente com o aumento do deslocamento, convergindo para 6s e

atingindo uma estabilidade razoável a partir de 30ms aproximadamente. Os resultados para

o tempo de resposta são apresentados no gráfico da Figura 7.1, onde o eixo horizontal tem

o valor do deslocamento da janela (e do tamanho da janela também) e o eixo vertical traz o

tempo de resposta do método.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 70

Figura 7.1: Deslocamento (ms) x Tempo de resposta (s) na Extração de Envoltória.

Quanto aos acertos, os parâmetros foram variados de 5ms em 5ms dentro do range

de 10ms a 100ms, sendo avaliada a variação da taxa de acertos em função da variação do

tamanho Deslocamento (ms) x Tempo de resposta (s) na Extração de Envoltória.da janela e

do deslocamento. Os tamanhos de janela abaixo de 10ms foram descartados por causa do

alto tempo de resposta. Estes testes foram realizados utilizando o álbum Revolver (1966) dos

Beatles, escolhido aleatoriamente.

Os resultados mostram que, de um modo geral, as alterações foram relativamente

baixas nas taxas de acertos de um valor para outro de deslocamento e tamanho da janela para

cada heurística individualmente, conforme mostra a Tabela 1 do Apêndice. As taxas de acertos

das heurísticas ficaram entre 60% e 80%, com exceção da h3, que teve taxas de acertos mais

baixas que as demais, enquanto o caso ótimo ficou sempre próximo de 91%.

O gráfico da Figura 7.2 traz a média das taxas de acertos de cada valor de desloca-

mento da janela adotado, considerando todas as heurísticas exceto a randômica, no passo de

Extração de Envoltória. O deslocamento de 65ms mostrou-se levemente melhor em relação

aos demais, para o álbum Revolver dos Beatles.

Figura 7.2: Taxa média de acertos (%) de cada deslocamento da janela, na Extraçãode Envoltória.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 71

Nos testes com variação de parâmetros da etapa de Construção da Matriz de Similari-

dade, o deslocamento da janela deslizante, que exerce forte influência no custo das etapas

restantes do método, foi variado entre 0,1s e 1,3s, para análise do tempo de resposta da

solução em função de sua variação, enquanto o tamanho da janela neste teste foi sempre o

dobro do tamanho do deslocamento.

Assim como nos testes de tempo de resposta da etapa anterior da solução, verifica-se

que o custo da solução cai exponencialmente com o aumento do valor do deslocamento da

janela, conforme apresentado na Figura 7.3.

Comparando com o tempo de resposta médio dos métodos descritos no capítulo 4, que

é de aproximadamente 10 segundos para uma música de 3 a 4 minutos, apenas os valores de

deslocamento de janela acima de 0,7s são viáveis.

Figura 7.3: Deslocamento (s) x tempo de resposta (s/4min) na Construção da Matriz deSimilaridade.

Para a análise da variação da taxa de acertos, o deslocamento da janela foi testado

para os valores 0,25s, 0,5s, 0,75s, 1s e 1,25s, enquanto o tamanho da janela assumiu os

valores de uma, duas e quatro vezes o tamanho do deslocamento em cada teste. Estes

testes também foram realizados utilizando o álbum Revolver dos Beatles, e seus resultados

encontram-se na Tabela 2 do Apêndice.

Observando o gráfico da Figura 7.4 que traz a taxa média de acertos por tamanho de

janela e valor de deslocamento, verifica-se que usar um deslocamento de 0,25s não alcança

uma taxa média de acertos boa em relação aos demais valores de deslocamento.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 72

Figura 7.4: Taxa média de acertos (%) de cada deslocamento e tamanho da janela, naConstrução da Matriz de Similaridade.

Além disso, observando a Figura 7.3, verifica-se que um deslocamento de 0,25s leva a

solução a ter um tempo de resposta de quase 100s para uma música de 4 minutos, cerca de

10 vezes maior que o tempo de resposta médio declarado pelos trabalhos descritos no capítulo

4, sendo assim inviável.

O deslocamento de 0,5s atinge taxas acima de 70% para um deslocamento de 1s ou

de 2s, mas seu custo ainda é alto, pois é aproximadamente o dobro do custo declarado no

Estado da Arte, conforme visto na Figura 7.3. O deslocamento de 1,25s obteve as taxas de

acertos mais baixas, que não justificariam o seu baixo custo. Os deslocamentos de 0,75s

e 1s têm aproximadamente as mesmas taxas de acertos, sendo assim preferível adotar um

deslocamento de 1s, pois a resposta do método é quase duas vezes menor. Apesar do

deslocamento de 1s com a janela de 4s ter obtido resultados melhores para o álbum usado

nestes testes, foi verificado que, para a base completa, a configuração com 1s de deslocamento

e janela deslizante de 2s obteve melhores taxas de acertos.

Na etapa de Extração das Repetições, dois experimentos foram realizados, um com a

limiarização com percentual fixo, variando o percentual nos testes, e outro com a limiarização

com percentual dinâmico, variando o percentual da área sob a curva.

Verificou-se em testes que a variação dos valores do percentual do limiar, tanto o da

limiarização com percentual de corte fixo como o da área sob a curva na limiarização dinâmica,

exerce influência desprezível sobre o tempo de resposta do método.

Entretanto, os tempos de resposta do método usando limiarização com percentual fixo

em relação ao outro tipo de limiarização foi levemente superior nos casos de teste. A Tabela

7.1 mostra os resultados de tempo de resposta das duas abordagens para músicas de 25, 50,

120, 180, 240 e 500 segundos de comprimento aproximadamente, e o tempo de resposta que

cada abordagem obteve.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 73

Tabela 7.1: Tempo de resposta (s) por tipo de limiarização e tamanho da música (s).

25s 50s 120s 180s 240s 500s

Limiarização com percentual fixo 0,23s 0,49s 2,07s 4,18s 6,23s 24,97s

Limiarização dinâmica 0,20s 0,47s 2,04s 3,96s 6,07s 24,76s

A abordagem com percentual fixo apresentou um tempo de resposta levemente maior,

tendo sido observado em testes também que a etapa seguinte, a de Seleção do Segmento

Refrão, tem um leve custo adicional quando se usa este tipo de limiarização. Este custo

adicional faz com que a etapa de Seleção de Refrão, que praticamente não acrescentava

tempo de resposta ao método, passe a ter alguma contribuição significativa. A distribuição do

tempo de resposta nas etapas do método pode ser observada nos gráficos das Figuras 7.5 e

7.6, para as abordagens com limiar de percentual fixo e limiar dinâmico, respectivamente.

Figura 7.5: Percentual do tempo de resposta de cada etapa do método usandolimiarização com percentual de corte fixo.

Para os testes de taxa de acertos da etapa de Extração das Repetições, para cada

forma de limiarização foi realizado um experimento separado, onde na abordagem com

percentual de corte fixo foi variado o valor do percentual de corte de 20% a 50%, cujos

resultados estão na Tabela 3 do Apêndice, e na outra abordagem foi variado o percentual

de área sob a curva também de 20% a 50%, cujos resultados encontram-se na Tabela 4 do

Apêndice.

A Figura 7.7 traz a taxa média de acertos para cada valor do limiar para a abordagem

de limiarização com percentual de corte fixo. Nota-se que, com exceção do percentual de 20%,

que apresentou valor mais baixo, os demais valores apresentaram uma taxa de acertos média

superior a 67%. A variação de percentuais de 25% a 50%, curiosamente, pouco alterou a taxa

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 74

de acertos média resultante. O valor 35% apresentou, para o álbum Revolver dos Beatles,

uma taxa de acertos levemente melhor que os demais valores testados.

Figura 7.6: Percentual do tempo de resposta de cada etapa do método usandolimiarização dinâmica.

Figura 7.7: Taxa média de acertos (%) por percentual de corte fixo (%), na Extração deRepetições.

A Figura 7.8 traz a taxa média de acertos em função do valor do limiar para abordagem

de limiarização dinâmica. Os valores de percentual de área sob a curva de 25%, 30% e 40%

apresentaram taxas de acertos um pouco maiores em relação aos demais, com taxas maiores

que 67%. O valor 30% apresentou, para o álbum Revolver dos Beatles, uma taxa de acertos

levemente melhor que os demais valores testados.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 75

Figura 7.8: Taxa média de acertos (%) por percentual de área sob a curva (%), naExtração de Repetições.

A partir da observação dos testes de variação de parâmetros acima, duas configurações

foram testadas em toda a base TUT, uma com limiar dinâmico e outra com percentual de

corte fixo, a saber: (1) Tamanho de janela e deslocamento de 32ms para a Extração da

Envoltória, Janela deslizante de 2s de comprimento e deslocamento de 1s para a Construção

da Matriz de Similaridade e limiarização com percentual de corte fixado em 45% na Extração

das Repetições; (2) Tamanho de janela e deslocamento de 32ms para a Extração da Envoltória,

janela deslizante de 2s de comprimento e deslocamento de 1s para a Construção da Matriz de

Similaridade e limiarização dinâmica com um percentual 30% de área abaixo da curva dos

valores não nulos da matriz, na Extração das Repetições.

Quanto aos testes de tempo de resposta, uma vez que o custo computacional deste

método é uma função apenas do tamanho da entrada, foi bastante escolher uma só música de

quatro minutos para testar o tempo de resposta da aplicação, para que seja comparável com o

resultado obtido no Estado da Arte, de aproximadamente dez segundos para músicas de três a

quatro minutos. O tempo de resposta obtido foi de 6,23 segundos para a primeira configuração,

com limiarização de percentual fixo, e de 6,07 segundos para a segunda configuração, com

limiarização dinâmica, para a música Yer Blues, do álbum The Beatles (1968), que possui

exatamente quatro minutos, uma música de tamanho médio, conforme a literatura.

Para cada uma das duas configurações, um teste de taxas de acertos foi separada-

mente realizado utilizando toda a base de dados TUT, cujas taxas médias de acertos por álbum

são apresentadas nas Tabelas 5 e 6 do Apêndice. Os álbuns da base TUT estão listados

nestas tabelas em ordem cronológica de lançamento, onde o 1º é o Please Please Me (1963)

e o 13º é o último, Let It Be (1970). O 10º álbum da banda, The Beatles (1968), lançado como

disco duplo em 1968, foi tratado nos testes como sendo dois álbuns diferentes, o 10º e o 11º.

A Tabela 7.2, por sua vez, mostra as taxas médias de acertos de cada heurística para

toda a base TUT, para os dois tipos de limiarização.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 76

Tabela 7.2: Taxa de acertos (%) por heurística e tipo de limiarização, para a base TUTcompleta.

fixo dinâmico

R 61,07 62,92

O 91,78 91,59

H1 69,44 69,98

H2 66,34 67,47

H3 45,00 48,60

H4 69,23 70,50

H12 70,30 70,69

H13 66,60 66,68

H14 72,28 70,22

H23 58,35 61,11

H24 68,88 71,37

H34 64,25 64,56

H123 67,23 66,95

H124 68,70 68,90

H134 67,04 66,96

H234 66,10 66,22

H1234 67,73 69,81

A Figura 7.9 traz em um gráfico os dados da Tabela 7.2. A configuração do método

com limiar dinâmico obteve taxas superiores à configuração com limiar fixo em 13 das 17

heurísticas, incluindo a randômica e o caso ótimo. O caso ótimo alcançou taxas de acerto

acima de 91% para os dois tipos de limiarização, o que significa que, normalmente, dentre os

segmentos listados na etapa de Extração de Repetições, ao menos um deles traz o refrão com

precisão acima de 91%.

Abaixo do caso ótimo, a heurística que mais se destacou foi a H14, combinação das

heurísticas H1 (Grau de Correspondência) e H4 (Localização da Repetição), alcançando

uma taxa de acertos superior a 70% para ambas as abordagens de limiarização. Sete das

heurísticas avaliadas ficaram bem próximas de 70%, e o restante permaneceu entre 60% e

70%, com exceção de h13, que alcançou aproximadamente 60%, e de h3, que ficou abaixo de

50%, que demonstrou ser uma heurística muito ruim, ficando abaixo do randômico.

A Figura 7.10 traz a taxa média de acertos em função da heurística avaliada e do

tipo de limiarização. A abordagem com limiarização dinâmica obteve taxas superiores em 8

heurísticas dos 13 álbuns da base TUT em relação ao método usando limiar com percentual

fixo.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 77

Figura 7.9: Taxa média de acertos (%) por heurística avaliada e tipo de limiarização.

Os álbuns 3º, 4º e 5º apresentaram as taxas mais altas, acima de 70%, enquanto em

álbuns como o 10º e o 11º, respectivamente o CD 1 e o CD 2 do álbum The Beatles, o método

apresentou taxas de acertos próximas a 60%, o que sugere que algumas músicas da base

têm uma estrutura verso-refrão mais confusa.

Figura 7.10: Taxa média de acertos (%) por álbum da base TUT e por tipo delimiarização.

Em função do desempenho do método com limiarização dinâmica ter sido superior ao

método com limiar fixo na maioria dos casos, tanto em relação à quantidade de álbuns da base

TUT quanto em relação à quantidade de heurísticas testadas, a configuração fechada para

testar a hipótese foi a segunda, com limiar dinâmico.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 78

Considerando então esta configuração, foi verificado nos testes que 7 heurísticas

testadas alcançaram taxas de acerto de aproximadamente 70% com um tempo de resposta de

aproximadamente 6 segundos, um forte indício de que o método é funcional a uma taxa de 70%

para a base TUT, uma base de dados que possui muitas músicas com uma estrutura verso-

refrão confusa, com um tempo de resposta da mesma ordem de grandeza que o declarado

nos trabalhos de Goto e Eronen.

Considerando a mesma configuração, seguiram-se os testes em base percussiva,

realizados com o propósito de se medir a degeneração das taxas de acertos em função da

ausência de elementos harmônicos e timbrais nas músicas. Os resultados destes testes na

base percussiva, juntamente com os resultados na base TUT e com a degeneração, medida

pelo percentual de queda na taxa média de acertos, são mostrados na Tabela 7.3. O gráfico

da Figura 7.11 traz também a comparação das taxas médias de acertos do método para cada

heurística, para as bases TUT e percussiva, construído a partir dos dados da Tabela 7.3,

podendo ser observado que em 12 das 17 heurísticas avaliadas a degeneração na taxa de

acertos foi inferior a 15%.

Tabela 7.3: Taxa de acertos (%) por heurística para as bases de dados TUT epercussiva, e degeneração (%) por ausência de elementos harmônicos e melódicos

para o método proposto.

TUT Percussiva Degeneração

R 62,92 53,56 14,88

O 91,59 88,5 3,37

H1 69,98 53,21 23,96

H2 67,47 57,7 14,48

H3 48,6 44,21 9,03

H4 70,5 47,68 32,37

H12 70,69 53,41 24,44

H13 66,68 60,5 9,27

H14 70,22 59,4 15,41

H23 61,11 52,49 14,11

H24 71,37 45,4 36,39

H34 64,56 55,93 13,37

H123 66,95 58,73 12,28

H124 68,9 60,79 11,77

H134 66,96 61,66 7,92

H234 66,22 57,74 12,81

H1234 69,81 62,25 10,83

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 79

Figura 7.11: Taxa de acertos (%) da abordagem com limiar dinâmico para as bases dedados TUT e percussiva.

Continuando o teste da hipótese, tomando a configuração do método com limiarização

dinâmica, a feature (envoltória) foi substituída por Chroma Vector, construído a partir do

espectro obtido por FFT, como nos trabalhos de Goto e Eronen (seção 4.2), e a similaridade

do método foi calculada a partir da Distância Euclidiana entre os vetores, no processo de

construção da Matriz de Similaridade. A partir desta etapa, o método seguiu da mesma

maneira que foi descrita no capítulo 6.

Esta versão do método, que explora o domínio da frequência em lugar do domínio do

tempo, foi então testada da mesma maneira que a versão original, primeiramente variando os

parâmetros de cada etapa do método em busca da melhor configuração, e posteriormente

executada na base TUT e na base percussiva medindo-se o percentual de degeneração da

taxa média de acertos. A configuração para a versão do método com FFT foi: tamanho de

janela e deslocamento de 32ms para a Extração da Envoltória, Janela deslizante de 2s de

comprimento e deslocamento de 1s para a Construção da Matriz de Similaridade e limiarização

dinâmica com um percentual 60% de área abaixo da curva dos valores não nulos da matriz, na

Extração das Repetições. Os valores de taxas de acertos obtidos para cada heurística testada

na versão do método com FFT estão descritos na Tabela 7.4 e na Figura 7.12.

Observa-se que os resultados para a versão do método com FFT foram menores que

os resultados obtidos para a versão original do metodo proposto. Além disso, a heurística h3,

tal como na abordagem original, apresentou as taxas de acertos mais baixas, e as demais

heurísticas que combinam a classificação de h3 com quaisquer outras apresentaram taxas de

acertos igualmente baixas, além da h124.

7.3. OS RESULTADOS OBTIDOS 80

Tabela 7.4: Taxa de acertos (%) por heurística para as bases de dados TUT epercussiva, e degeneração (%) por ausência de elementos harmônicos e melódicos

para o método modificado (com FFT).

TUT Percussiva Degeneração

R 39,95 21,21 46,91

O 82,93 72,09 13,07

H1 44,19 22,10 49,99

H2 48,44 23,96 50,54

H3 0,00 0,00 0,00

H4 56,41 34,33 39,14

H12 43,36 22,60 47,88

H13 6,95 4,98 28,35

H14 44,29 30,05 32,15

H23 0,00 0,00 0,00

H24 57,10 34,33 39,88

H34 0,00 0,00 0,00

H123 4,07 4,20 -3,19

H124 3,03 3,18 -4,95

H134 2,55 2,03 20,39

H234 0,00 0,00 0,00

H1234 3,86 1,76 54,40

Figura 7.12: Taxa de acertos (%) da abordagem com limiar dinâmico para as bases dedados TUT e percussiva para o método modificado (com FFT).

Em posse dos percentuais de degeneração em função da mudança do tipo de música

executada para ambos os métodos, com Correlação de Envoltórias (CE) e com Distância

7.4. A AVALIAÇÃO 81

Euclidiana entre Vetores de Chroma construídos com FFT (FFT), estes percentuais foram

comparados entre si para cada heurística conforme mostra Figura 7.13, sendo entretanto

desconsideradas nesta comparação as heurísticas h3, h13, h23, h34, h123, h124, h134, h234

e h1234, porquanto apresentaram taxas de acertos inferiores a 5% para a versão do método

com FFT.

Figura 7.13: Degeneração na taxa de acertos (%) para o método proposto, comcorrelação de envoltória (CE), e para o método modificado, que usa FFT (FFT).

Dentre as heurísticas consideradas, a degeneração média para o método com FFT

foi de 39,95%, aproximadamente duas vezes maior que a degeneração média para o método

proposto, que foi de 20,66%.

7.4 A Avaliação

O custo computacional do método proposto é função apenas do tamanho da entrada,

pois a razão entre o tamanho da música e o tempo de resposta é sempre mantida, o que

torna suficiente o teste de tempo de resposta em apenas uma música. No teste de custo da

solução o método proposto obteve um tempo de resposta de aproximadamente 6 segundos

para uma música de 4 minutos. Apesar do tempo de resposta ter sido aproximadamente

metade do tempo declarado nos trabalhos do Estado da Arte, pode-se inferir que o custo

computacional obtido é da mesma ordem de grandeza, porque espera-se que um computador

com configuração média na data da publicação deste trabalho seja naturalmente mais rápido

que os computadores comuns no ano da publicação dos métodos descritos no capítulo 4.

Algumas heurísticas ou combinação de heurísticas para o método proposto atingiram

uma taxa de acertos acima de 80% para alguns álbuns da base, outras alcançaram taxas de

7.4. A AVALIAÇÃO 82

acertos entre 70% e 80%, e outras entre 60% e 70%, e poucas tiveram ocasionalmente taxas

abaixo de 60%, para a base de dados pública TUT. O Caso Ótimo atingiu taxas de acertos

de aproximadamente 91% na maioria dos casos, enquanto o Randômico ficou normalmente

bem próximo de 62%. Embora estas taxas de acertos sejam menores que as taxas de acertos

declaradas nos trabalhos do Estado da Arte descritos no capítulo 4 nas bases que utilizaram,

é importante ressaltar que a base de dados TUT possui muitas músicas que não têm uma

estrutura verso-refrão bem definida, o que naturalmente pode causar esta redução em relação

aos percentuais de acertos declarados nas soluções do Estado da Arte, diferente da base de

dados utilizada por Eronen, por exemplo, que declarou em seu trabalho ser constituída por

músicas que tinham uma estrutura verso-refrão bem definida.

Da mesma maneira, apesar das taxas de acertos da versão do método proposto

usando FFT terem sido menores que as do método proposto usando Correlação de Envoltórias,

deve-se ressaltar que esta versão com FFT não é totalmente fiel a uma dentre as descritas

no capítulo 4, uma vez que o propósito deste trabalho não foi o de comparar as abordagens

harmônica e não harmônica entre si, mas o de observar a mudança de comportamento de

uma mesma abordagem em base harmônica e em base percussiva quando utiliza uma feature

obtida explorando-se o domínio do tempo e quando utiliza uma feature explorando-se o

domínio da frequência. Uma comparação mais precisa do desempenho deste método em

relação aos métodos do Estado da Arte exige o teste destas soluções na mesma base pública

(TUT) ou então o teste deste método nas mesmas bases utilizadas nos trabalhos do Estado da

Arte.

Ao processar a base de dados percussiva, o método proposto apresentou uma degene-

ração média de 20,66% em relação a oprocessamento da base TUT para as heurísticas consi-

deradas, enquanto o método com FFT apresentou uma degeneração média de 39,95% para

estas mesma heurísticas, indicando que o método com Correlação de Envoltória sofre uma

degeneração duas vezes menor que sua versão com FFT quando os elementos harmônicos

ou timbrais são menos presentes na música.

838383

8Conclusão

A hipótese testada nos experimentos foi a de que um método de detecção de refrão

que explore o domínio do tempo é mais competitivo, ao processar músicas percussivas, que

um método limitado ao domínio da frequência. Os resultados obtidos nos testes realizados

comprovaram esta hipótese, uma vez que, no procesamento da base de dados percussiva em

relação ao processamento da base de dados não percussiva, o método com Correlação de

Envoltória, feature obtida na exploração do domínio do tempo, sofre uma degeneração duas

vezes menor que sua versão com FFT, limitada a explorar o domínio da frequência.

Uma vantagem da solução proposta neste trabalho é uma maior independência da

presença de notas musicais, uma vez que soluções limitadas à exploração do domínio da

frequência, além de sujeitas a dificuldades como a modulação, que exigem uma lógica de

tratamento adicional, têm maior degeneração na taxa de acertos do que as soluções que

exploram o domínio do tempo ao processarem músicas que não têm notas musicais tão

presentes, como os estilos musicais mais percussivos.

A partir do que foi observado nos resultados deste trabalho, infere-se que a existência

de vários tipos de música gera a necessidade de diversos tipos de abordagens nos processa-

mentos em MIR, com a finalidade de se atingir a meta de se obter um nível de acesso à música

semelhante ao que já existe para buscas baseadas em texto, pois abordagens diferentes

possuem vantagens e desvantagens diferentes que poderão ser mais adequadas a cada tipo

particular de música. Desta maneira, para que se obtenha mais robustez, uma solução ideal

para detecção de refrão deve conter mais de um tipo de abordagem, incluindo ao menos uma

baseada na exploração do domínio da frequência, com características acústicas harmônicas e

timbrais, e ao menos uma baseada na exploração do domínio do tempo, diretamente ligada a

características acústicas rítmicas, por exemplo, tal como o método proposto neste trabalho,

garantindo uma melhor qualidade a funções de Preview em serviços de Streaming de música.

Trabalhos futuros envolvem o desenvolvimento de soluções usando correlação de

envoltórias para resolução de problemas de outras áreas de MIR, como Segmentação Estrutural

no MIREX, por exemplo, no intuito de tornar mais ampla a avaliação da envoltória do som

como uma característica acústica (feature), e da correlação de envoltórias como uma métrica

84

de similaridade em música.

Ainda no contexto da detecção de refrão, considerando uma possível melhoria no tempo

de resposta do método, trabalhos futuros podem incluir paralelismo na abordagem através da

utilização de uma GPU (Unidade de Processamento Gráfico) na etapa de processamento da

matriz de similaridade, que é a etapa mais lenta em todo o método, ocupando mais de 60% do

total do tempo de resposta.

Considerando a taxa de acertos do método proposto, uma possibilidade de trabalhos

futuros é a exploração mais profunda das heurísticas empregadas na etapa de seleção de

refrão, refinando as que já existem ou encontrando novas formas de se eleger uma repetição

candidata, pois ainda há espaço para a redução da diferença entre as taxas de acertos das

heurísticas e do caso ótimo.

Entretanto, uma vez consolidada uma técnica de Segmentação Estrutural de música

usando uma matriz construída com correlação de envoltória, esta técnica poderia efetivamente

substituir as etapas de Extração de Repetições e Seleção de Refrão do método proposto neste

trabalho, dispensando o uso de heurísticas o que, possivelmente, eliminaria grande parte da

defasagem existente entre as taxas de acertos do caso ótimo e das heurísticas. Isto porque,

uma vez segmentada a música e rotulada as suas partes, bastaria retornar como refrão um

dos segmentos do conjunto cujo rótulo foi atribuído ao maior número de segmentos.

858585

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Apêndice

90

Tabe

la1:

Taxa

deac

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,069

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92

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48,5

557

,06

70,0

2

H12

370

,76

56,5

876

,23

72,2

183

,03

52,3

870

,47

64,6

376

,10

59,8

954

,32

68,4

665

,26

H12

466

,88

67,8

974

,52

71,4

574

,74

64,3

170

,39

69,9

869

,41

66,3

460

,20

72,1

367

,48

H13

465

,93

61,0

277

,18

71,7

874

,70

54,5

869

,29

70,1

362

,16

69,5

365

,65

60,1

168

,39

H23

465

,59

65,5

680

,48

69,7

678

,07

58,8

168

,45

71,9

158

,26

58,2

549

,86

66,8

768

,96

H12

3465

,05

67,4

280

,65

73,3

281

,82

54,2

870

,18

67,1

975

,94

63,1

162

,02

72,9

373

,60