6
102 www.backstage.com.br REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen- tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar uma ampla experiência no aprendizado da música, in- cluindo oportunidades e desafios comuns a uma carreira na indústria fonográfica e afins. O aluno não vai lá só para estudar técnicas da profissão, mas também para aprender a se relacio- nar no meio, amadurecer. Há inúmeras opções de disciplinas em áreas como perfor- mance, composição, produção e engenharia de som; áudio e música para cinema; gestão de negócios musicais; síntese musi- cal; educação musical e até terapia musical. O aluno sai da universidade com um diploma de Bacharelado. Muitos músicos, produtores, compositores e arranjadores fa- mosos passaram pela Berklee, incluindo Quincy Jones, Donald Fagen (líder do grupo Steely Dan), Arif Mardin (Atlantic Recording Studios VP), o guitarrista John Scofield, o baterista Will Calhoun (Living Colour), Alan Silvestri (compositor de tri- lhas de cinema), o saxofonista Branford Marsalis entre outros. Eduardo Botelho, recentemente graduado pela Berklee em produção e engenharia musical, participou de vários projetos musicais como guitarrista e compositor na cena “under- ground” do Rio de Janeiro. Seu interesse por produção foi des- pertado quando gravou seu CD no estúdio OM, de Orlando Moraes. Antes de começar os estudos na faculdade, esteve em Rachel Peroba e Claudia Cavallo [email protected] BERKLEE turnê com uma banda de Latin Jazz pela Europa, tocando no Montreux Jazz Festival. Durante seu período de estudos na Berklee, trabalhou nas casas de shows da faculdade, mon- tando palcos e mixando som. Após sua formatura, em 2006, mudou-se para Los Angeles, onde atuou como editor de som para um estúdio de pós-produção, fazendo shows para MTV, VH1, HBO, entre outros. Pouco antes de voltar para o Rio, começou a trabalhar como professor, ensinando espanhol e música para crianças. uma experiência de vida A Berklee College of Music é o sonho dourado de muitos músicos em todos os continentes do planeta. Fundada em 1945, é a maior faculdade independente de música do mundo e a instituição que se tornou referência internacional em estudo da música contemporânea Eduardo Botelho

REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102 REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

  • Upload
    ngohanh

  • View
    222

  • Download
    3

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

102 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

BERKLEE

Seus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitaruma ampla experiência no aprendizado da música, in-

cluindo oportunidades e desafios comuns a uma carreira naindústria fonográfica e afins. O aluno não vai lá só para estudartécnicas da profissão, mas também para aprender a se relacio-nar no meio, amadurecer.

Há inúmeras opções de disciplinas em áreas como perfor-mance, composição, produção e engenharia de som; áudio emúsica para cinema; gestão de negócios musicais; síntese musi-cal; educação musical e até terapia musical. O aluno sai dauniversidade com um diploma de Bacharelado.

Muitos músicos, produtores, compositores e arranjadores fa-mosos passaram pela Berklee, incluindo Quincy Jones, DonaldFagen (líder do grupo Steely Dan), Arif Mardin (AtlanticRecording Studios VP), o guitarrista John Scofield, o bateristaWill Calhoun (Living Colour), Alan Silvestri (compositor de tri-lhas de cinema), o saxofonista Branford Marsalis entre outros.

Eduardo Botelho, recentemente graduado pela Berklee emprodução e engenharia musical, participou de vários projetosmusicais como guitarrista e compositor na cena “under-ground” do Rio de Janeiro. Seu interesse por produção foi des-pertado quando gravou seu CD no estúdio OM, de OrlandoMoraes. Antes de começar os estudos na faculdade, esteve em

Rachel Peroba e Claudia [email protected]

BERKLEE

turnê com uma banda de Latin Jazz pela Europa, tocando noMontreux Jazz Festival. Durante seu período de estudos naBerklee, trabalhou nas casas de shows da faculdade, mon-tando palcos e mixando som. Após sua formatura, em 2006,mudou-se para Los Angeles, onde atuou como editor de sompara um estúdio de pós-produção, fazendo shows para MTV,VH1, HBO, entre outros. Pouco antes de voltar para o Rio,começou a trabalhar como professor, ensinando espanhol emúsica para crianças.

uma experiência de vidaA Berklee College of Music é o sonho dourado demuitos músicos em todos os continentes doplaneta. Fundada em 1945, é a maior faculdadeindependente de música do mundo e a instituiçãoque se tornou referência internacional em estudoda música contemporânea

Eduardo Botelho

Page 2: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

104 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

Eduardo fala sobresua experiência pessoalna Berklee à revistaBackstage.

Aproveite. Quem sa-be você tem chances detransformar seu sonhoem realidade?

Backstage: Como é oprocesso de seleção paraentrar na Berklee?

Eduardo: Para cadadepartamento da facul-dade, o processo é umpouco diferente. Quan-do alguém é aceito na fa-culdade, não há garantia de vaga no cur-so de produção e engenharia de som. Aprimeira etapa é o preenchimento da pa-pelada, que está disponível na Internet.São vários formulários nos quais devemconstar todo o histórico acadêmico e mu-sical do candidato, notas e avaliações doensino médio, projetos de destaque de-senvolvidos na área da música ou em ou-tra área; experiências anteriores comogravações, CDs lançados ou demo, turnêsetc. Também pedem para escrever umaredação e o assunto pode variar.

Qualquer pessoa que já terminou oensino médio pode dar entrada nesteprocesso de admissão, mesmo que suaformação anterior não esteja relacio-nada com a música. A principal filoso-fia da Berklee é a busca por talentos.A formação do candidato é conside-rada nesse processo, mas o que falamais alto para eles é o talento e paixãopelo trabalho.

Uma exigência fundamental é sabertocar algum instrumento, mesmo que vocêesteja se inscrevendo para um curso naárea de tecnologia, como o de produção eengenharia de som. Quanto à teoria, é im-portante ter uma boa noção, mas não é in-dispensável. Vi candidatos que tocavam

muito bem e, mesmo sem uma base em te-oria, eram aceitos. O critério de avaliação émesmo o potencial do candidato.

Acompanhar os calendários e prazos daBerklee também são fatores determinantesna admissão. A dica é mandar toda a pape-lada com, no mínimo, seis meses de ante-cedência do prazo final. Cada dia tem maisgente concorrendo a uma vaga.

Backstage: É preciso dominar o idio-ma inglês para ser aprovado?

Eduardo: Não. A fluência no idiomanão é um pré-requisito para ser aceitonem uma barreira insuperável para quemchega lá sem falar inglês. A fluência podeservir apenas como “desempate”, casovocê esteja disputando a última vaga dis-ponível. Estudei com um japonês quenão sabia falar nada.

O segredo é correr atrás. Uma vez estandolá, você tem que se virar, se esforçar para con-

seguir se comunicar bem,porque isso vai ser impor-tante. Mas no que diz res-peito à admissão de alunos,a Berklee sabe que o ensinodo idioma não é fácil ouacessível a todas as pessoasdo mundo.

Backstage: Como sefaz para viver lá? Háalojamento na faculda-de? É possível trabalharpara manter o sustento?

Eduardo: Para o alunoque chega com a mochi-la nas costas, a Berklee

tem uma infra-estrutura de moradia e ali-mentação que, apesar de não atender àdemanda, é uma alternativa. São aloja-mentos dentro do próprio prédio da facul-dade e ao redor do campus. O mais longefica 15 minutos a pé. Muitos alunos divi-dem apartamento também. O custo demoradia, ainda que seja no alojamento, ea alimentação ficam por conta do aluno.Mesmo em casos de bolsa de estudos,estas despesas não são cobertas.

Há possibilidade de trabalhar dentroda universidade, mas o número de pes-soas procurando por emprego é maior doque as vagas oferecidas. Portanto, é me-lhor não ir para lá contando com isso.Trabalho fora da universidade não é le-galmente permitido para estrangeiros.

Depois de formado, eles te oferecemum visto temporário de trabalho por umano, mas que só permite atuar em ativi-

Acompanhar os calendários e prazos daBerklee também são fatores determinantes naadmissão. A dica é mandar toda a papelada

com, no mínimo, seis meses de antecedênciado prazo final

Page 3: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

106 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

dades especificamente dentro da áreana qual você se formou – um emprego naindústria da música, no caso de alguémformado pela Berklee.

Backstage: Qual a duração do curso?Quanto tempo é preciso ficar lá?

Eduardo: O curso tem duração dequatro anos, em média. Cada período

dura 16 semanas – os de verão são maiscurtos. É possível completar a faculdadeem menos tempo, mas não recomendo.Vi um aluno fazendo isso e ele não conse-guia dar conta de todos os compromissosque assumia; não era legal trabalhar comele, e duvido que tenha aproveitado aomáximo os cursos.

Backstage: Como é o curso, efetiva-mente? O que você aprendeu lá?

Eduardo: Os dois primeiros semestressão básicos. As disciplinas são pratica-mente as mesmas para todo mundo, in-dependentemente do curso escolhido.Harmonia, teoria musical, percepção,etc. Há aulas de Inglês também, aindaque você seja americano. No terceiro se-mestre a pessoa tem que declarar emqual área quer se especificar.

Após passar por um processo de sele-ção, comecei a fazer os cursos voltadospara produção e engenharia de som. Nosprimeiros semestres há muita teoria e

pouca prática. Apren-demos sobre acústica,circuito, como funcio-na cada tipo de mi-crofone, treinamos oouvido para diferen-tes freqüências, ruídobranco, ruído rosa,desenvolvemos a per-cepção auditiva para

podermos identificar o que acontecequando se aumenta ou diminui 10dB em50Hz, 2K e por aí vai.

Dá uma certa frustração ou impaci-ência neste início e algumas pessoas de-sistem. A gente chega lá com a maiorfome de produzir e gravar e só o que vê éteoria. Ao longo do curso, a gente vaivendo menos e me-nos teoria e começa-mos a ter muita prá-tica. Quando termi-namos a faculdade,entendemos porqueo começo é assim.Na verdade, muitostemas que são ensi-nados nos primeirosperíodos voltam aser abordados nos períodos seguintesmais profundamente. É como um espiral,eles vão mais fundo conforme o aluno vaiadquirindo conhecimento para compreen-der mais. Além disso, acho que é uma forma

de nos trazer maturidadee de testar a determina-ção que temos para en-frentar os desafios deuma carreira na indús-tria da música.

Também temos aulasobre administração e le-gislação para saber as di-ferentes maneiras comoum artista ou produtor épago, como funcionamos esquemas de contra-

to, o que se ganha quando um álbum estáem catálogo, etc. É a parte do business daindústria da música.

Nas aulas de mixagem, comecei a tercontato mais de perto com os parâmetrosda mesa de som, periféricos, o processode gravação e a mixagem propriamentedita. De início, usamos uma Sony MXP3000, uma mesa analógica meio simples.Mais adiante no curso, trabalhamos emSSL e em mesas digitais, como a YamahaDM2000. Há uma razão metodológicapara ser assim, pois os mesmos conceitosaparecem em cada mesa de jeitos diferen-tes. Eles nos ensinam a lidar tecnicamentecom o processo de gravação e mixagemtanto quanto nos ensinam o fator relacio-namento. Temos que aprender a lidar

com os erros, a nãonos desesperarmos,não gerar desconfor-to para o artista e nãofazer as pessoas per-derem tempo. Paraisso, as primeiras au-las são com uma fitade 8 canais, DA88,com faixas pré-gra-vadas. Não há músi-

cos no estúdio nestes primeiros momentos.Há aulas de análise de produção para

observarmos gravações famosas e poder-mos examinar de perto o que foi feito namúsica em termos de técnicas de produ-

Page 4: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

www.backstage.com.br 107

REPORTAGEM

www.berklee.edu

Para saber mais

ção e mixagem. Paralelamente a isso,também temos que produzir músicaspara classes diferentes, procurar músicosou uma banda, engenheiros, organizar osensaios e as gravações, etc. Tudo dentroda universidade.

Depois de sermos aceitos para o cursode produção e engenharia de som, temosque assinar um contrato dizendo quetudo que é gravado lá pertence à escola.A infra-estrutura que a universidadeoferece é meramente para fins educa-tivos e não para ganhar dinheiro. Atéporque, o propósito não é concorrer com

os estúdios do lado de fora, mas sim pre-parar gente para atuar além dos limitesda Berklee. Nas aulas de gravação emixagem, temos que nos unir aos pro-dutores para trabalhar nos projetos de-les. É quando nossos conhecimentostécnicos são testados, sempre lembran-do que o resultado e a qualidade damúsica são os mais importantes, repre-sentam a “musicalidade” do nosso usotécnico. Nessa etapa, produzimos umademo com três músicas e é um momen-to fundamental.

Backstage: Qual é a melhor parte

desta experiência?

Eduardo: Além de tudo o que apren-demos no curso, tem a maturidade profis-sional e a oportunidade de estarmos mer-

gulhados em um ambiente que respiramúsica 24 horas por dia, talento por todosos lados, pessoas vindas de todos os cantosdo mundo com backgrounds, culturas e in-fluências diferentes. É uma diversidademusical incomparável. Além disso, tem onetwork, a chance de estarmos em conta-to direto com milhares de pessoas que vãotocar, compor, produzir – gente de dentroe de fora da Berklee, profissionais que es-tão e vão estar na indústria fonográfica.

Backstage: É um investimento que

se justifica para quem pretende traba-

lhar no Brasil? Qual era sua expectati-

va quando decidiu ir para Berklee? Ela

foi correspondida?

Eduardo: Acredito que sim. É uma óti-ma preparação para o mercado, mas não éindispensável. Se alguém tem muita pai-xão pelo que faz, a pessoa aprende por simesma como ser um profissional de suces-so. Temos exemplos de muitos grandesprodutores e engenheiros que nunca tive-ram a oportunidade de estudar em facul-dades, mas mergulharam de cabeça noassunto e viraram grandes lendas. O que énecessário é amor, determinação e forçade vontade. É claro que aprendi muitascoisas na minha experiência na Berklee,mas não é essencial para alguém ser umprofissional completo na indústria da mú-sica. Minha expectativa era adquirir co-nhecimento do mercado e ter uma fluên-cia forte sobre meu instrumento e tam-bém saber como fazer boas produções.Acho que minhas expectativas mudaramcom o tempo, porque eu cresci muito, tan-to profissionalmente como psicologica-mente. Minhas barreiras em relação aoque é possível mudaram. Trabalhei compós-produção para televisão e agora traba-lho como professor.

Nas aulas de gravaçãoe mixagem, temos que

nos unir aosprodutores para

trabalhar nos projetosdeles. É quando nossos

conhecimentostécnicos são testados

Page 5: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

108 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

Daniel M. Thompson é vice-presidente do curso de produção e engenhariade som na Berklee College of Music. Ele ensina produção avançada,técnicas de mixagem e tecnologia há dez anos. É produtor independente eengenheiro de gravação

Dan ThompsonBerklee por

m seu currículo há trabalhos para televisão e cinema como“ER”, “The Sopranos”, “Swim Fan”, “The Sweetest Thing”,“Melrose Place”, “Touched By An Angel”, “Soul Food” e

“CSI Miami”, entre outros. É autor do livro “Understanding Audio”(publicado pela Berklee Press, 2005), membro da NationalAcademy of Recording Arts and Sciences (NARAS), the AudioEngineering Society (AES) e da American Society of Composers,Authors and Publishers (ASCAP).

Na entrevista a seguir, ele fala sobre os critérios de seleção e ava-liação da faculdade americana que atrai pessoas do mundo todo.

Backstage: Em que se baseia o conceito e metodologia de ensino?Dan: O objetivo é passar conhecimento técnico ao aluno e,

também, habilidades fundamentais como comunicação e acapacidade de resolver problemas imediatamente, pensandode forma crítica, disciplinada e intelectual. São noções impor-tantes para que o aluno possa se tornar um profissional útil eeficiente, independentemente do equipamento que está emevidência no momento.

Os cursos são estruturados de forma que o aluno comece comum “background” forte em teoria e, ao mesmo tempo, vá aplican-do na prática, gradativamente, o que vai aprendendo. Para do-minar realmente a prática é preciso colocar a mão na massa e,por isso, formamos turmas com poucos estudantes, normalmen-te de 8 a 12 por aula, com exceção de aulas como business eacústica, que podem receber mais alunos, sem problema. Todasas aulas têm um trabalho baseado em projeto, para que se possadiscutir todo o processo.

No primeiro semestre, o aluno começa com análise de produ-ção e percepção de som, tecnologia de áudio 1, entre outras dis-ciplinas que têm o objetivo de educar o ouvido a ouvir analitica-mente, habilidade essencial para toda sua carreira.

Logo depois, entramos em técnicas de mixagem e gravaçãoem multicanais, quando passamos a focar mais na música em si,ensinando a usar a tecnologia como um meio para se chegar aum determinado resultado. Nós realmente tentamos evitar ensi-nar apenas o que um botão faz. O importante é que o aluno

aprenda a ter clareza do motivo pelo qual usaria tal efeito ouusaria tal parâmetro no contexto de uma música. Por isso, asaulas são orientadas e baseadas em projetos. O aluno precisaadquirir a capacidade de “navegar” pelo equipamento para es-sencialmente fazer música.

Backstage: Podemos dizer, então, que o foco é mais musicalque técnico ou tecnológico?

Dan: Exatamente. Por exemplo, temos equipamento denível profissional, é claro. Temos três consoles SSL – SolidState Logic, mas não são os últimos lançamentos. O alunoprecisa entender que não tem, necessariamente, que estarusando o equipamento mais moderno do mercado para en-tender como o sinal flui pelo equipamento dentro do estúdio.A proposta é proporcionar um sólido fundamento teóricopara que o aluno tenha condições de entrar em qualquerestúdio e, mesmo se deparando com um console diferente,identificar o “channel path”, “monitor path”, “mastersection”, “center section”. Não é o equipamento que garanteo resultado. Ele é apenas um meio.

Backstage: A cada ano tem mais pessoas tentando entrarno curso de produção e engenharia de som na Berklee e pareceque o processo de seleção está ficando mais rígido por causadisso. Quais são os principais critérios durante a entrevistacom os candidatos?

Dan: É verdade. A seleção tem sido bem difícil. Ultima-mente, temos rejeitado dois terços dos inscritos. São pessoasperfeitamente qualificadas, mas há um limite de vagas. Ocritério, portanto, baseia-se nas notas dos alunos nos primei-ros períodos, em como estão se saindo em termos acadêmicos,suas habilidade para estudar e se sobressaírem num ambienteacadêmico. Pedimos para que façam dissertações para avali-armos como escrevem, como se comunicam e expressam suasidéias, seus “insights”, o que assimilaram sobre uso datecnologia no processo de fazer música. A partir daí, há umaentrevista de 20 minutos e uma pessoa do comitê faz uma

E

Page 6: REPORTAGEM BERKLEE - backstage.com.br · 102  REPORTAGEM BERKLEE S eus 3.800 alunos, vindos de cerca de 70 países diferen-tes, interagem num ambiente projetado para possibilitar

www.backstage.com.br 109

REPORTAGEM

pré-seleção entre os candidatos. Eu di-ria que, nesse momento, a paixão que oaluno tem pelo que faz e sua determi-nação em seguir em frente são os crité-rios que acabam contando mais. Osalunos pré-selecionados são avaliadospelo comitê inteiro, que, então, entraem consenso e decide quem será apro-vado para a próxima turma. É um pro-cesso difícil. Sempre aconselhamos aquem não passou da primeira vez quetente novamente.

Backstage: Há alguma consideraçãoem termos de diversidade étnica no pro-cesso de seleção?

Dan: Sim. Por exemplo, poucas mu-lheres se inscrevem para produção e en-genharia de som, portanto, temos aí umproblema em termos de percentual femi-nino no curso. No entanto, não podemos

aprovar uma mulher só porque é mulhere o percentual de alunas é baixo. Apro-var alguém que não vai fazer um bomcurso não é produtivo para ninguém. Por-tanto, há um padrão mínimo a ser corres-pondido durante o processo de seleção,independentemente de cor, raça ousexo, embora tenhamos muito interesseem manter ao máximo a diversidade deestudantes.

Backstage: Quais são os programasde bolsa de estudos para alunos de pro-dução e engenharia de som?

Dan: Temos bolsas de estudo anuais,algumas mais financeiramente interes-santes que outras. Damos prêmios paraestudantes de produção e engenhariade som, e esses prêmios vão de 250 até1.000 dólares, para ajudar a pagar o cus-to da universidade. No âmbito mais ge-

ral, as bolsas são dadas para departa-mentos de performance e composição.Temos feito reuniões internas para am-pliar bolsas especificamente para estu-dantes da área de tecnologia. Os outrosdepartamentos também estão sofrendouma reavaliação.

Backstage: A Berklee tem progra-mas de extensão? Que departamentodeve ser contatado para proposta depalestras e workshops da universidadeem outros países?

Dan: Temos o Berklee InternationalNetwork, que são escolas espalhadaspelo mundo, e o departamento de Pro-gramas Internacionais (InternationalPrograms), que cuida de projetos forados Estados Unidos. Os contatos devemser feitos com o departamento de Progra-mas Internacionais.