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2007 . Ano 4 . Edição 33 - 10/4/2007 O Brasil conta com cerca de 2,3 mil instituições museológ icas ativas, mas praticamente todas sofrem com a falta de público, de recursos e de prof issionais qualificados. Atualmente, 76 estão com as portas fechadas. As esperanças do setor estão depositadas no Sistema Brasileiro de Museus, um novo regime de gestão que começou a ser implantado em 2003 Por Sucena Shkrada Resk , de São Paulo Museus públicos e privados brasileiros enfrentam hoje uma batalha diária para garantir a sobrevivência no mercado cultural. Falta de recursos para melhorar a infra- estrutura, a programação e o acervo, além de carência de mão-de-obra qualificada, são as principais dificuldades apontadas pelas instituições.Das 2.285 unidades distribuídas no país, 76 estão com as portas fechadas,enquanto outras centenas convivem com o fantasma da crise.As estatísticas integram o Cadastro Nacional do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Ministério da Cultura (Iphan/Minc). Um dos anúncios mais recentes foi o fechamento em março,por tempo indeterminado, do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (Mian), no Rio de Janeiro, coordenado pela Fundação Lucien Finkelstein. À procura de parceiros,atualmente a instituição conta somente com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, na cobertura a um terço de suas despesas.O espaço cultural inaugurado em 1995 é considerado um dos mais importantes representantes mundiais do gênero de pintura intitulado de ingênuo e primitivo, com um acervo superior a 6 mil obras, algumas do século XV. Ao completar 60 anos, o Masp, dono do maior acervo de arte moderna da América Latina , vê seus visitantes minguarem e suas dívidas crescerem Pinacoteca do Estado de São Paulo: um dos mais tradicionais espaços de arte no Brasil enfrenta dificuldades para adquirir novas peças para o acervo "Não temos previsão de reabertura.Por enquanto,atenderemos visitas agendadas e monitoradas com no mínimo dez pessoas.

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2007

2007 . Ano 4 . Edio 33 - 10/4/2007

O Brasil conta com cerca de 2,3 mil instituies museolg icas ativas, mas praticamente todas sofrem com a falta de pblico, de recursos e de prof issionais qualificados. Atualmente, 76 esto com as portas fechadas. As esperanas do setor esto depositadas no Sistema Brasileiro de Museus, um novo regime de gesto que comeou a ser implantado em 2003

Por Sucena Shkrada Resk , de So Paulo

Museus pblicos e privados brasileiros enfrentam hoje uma batalha diria para garantir a sobrevivncia no mercado cultural. Falta de recursos para melhorar a infra- estrutura, a programao e o acervo, alm de carncia de mo-de-obra qualificada, so as principais dificuldades apontadas pelas instituies.Das 2.285 unidades distribudas no pas, 76 esto com as portas fechadas,enquanto outras centenas convivem com o fantasma da crise.As estatsticas integram o Cadastro Nacional do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, do Ministrio da Cultura (Iphan/Minc).

Um dos anncios mais recentes foi o fechamento em maro,por tempo indeterminado, do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (Mian), no Rio de Janeiro, coordenado pela Fundao Lucien Finkelstein. procura de parceiros,atualmente a instituio conta somente com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, na cobertura a um tero de suas despesas.O espao cultural inaugurado em 1995 considerado um dos mais importantes representantes mundiais do gnero de pintura intitulado de ingnuo e primitivo, com um acervo superior a 6 mil obras, algumas do sculo XV.

Ao completar 60 anos, o Masp, dono do maior acervo de arte moderna da Amrica Latina , v seus visitantes minguarem e suas dvidas crescerem

Pinacoteca do Estado de So Paulo: um dos mais tradicionais espaos de arte no Brasil enfrenta dificuldades para adquirir novas peas para o acervo

"No temos previso de reabertura.Por enquanto,atenderemos visitas agendadas e monitoradas com no mnimo dez pessoas.

O museu aberto custa muito caro,desde a folha de pagamento at as contas de consumo. Nos ltimos anos, tivemos dificuldades para consolidar projetos com a iniciativa privada e com outras fontes de recursos pblicos.Estamos concentrando esforos nesse sentido para mudar esse quadro", afirma a diretora da instituio, a museloga Jacqueline Finkelstein.

Ao completar 60 anos, o maior acervo de arte moderna da Amrica Latina,o Museu de Arte de So Paulo - Assis Chateaubriand (Masp), tambm no escapa aos problemas financeiros e v seu pblico minguar ano a ano.Administrado pela sociedade civil sob a presidncia do arquiteto Jlio Neves, a instituio, nos ltimos anos, acumulou um caixa negativo que chega a 10 milhes de reais.

Sem uma soluo imediata,o atual curador coordenador do Masp, o crtico de arte Teixeira Coelho,defende que uma das sadas para revitalizar a instituio investir na formao de colees mais completas e atrativas ao pblico, por meio da troca de obras de determinados artistas com outras instituies, alm de buscar efetivamente patrocinadores.O patrocnio foi o nico meio de garantir recentemente a mostra de uma coleo internacional de obras do artista espanhol Francisco de Goya.A parceria pblico-privada parece ter se tornado imprescindvel.Pelo menos essa a opinio de Vera Lcia Bottrel Tostes, diretora do Museu Histrico Nacional, no Rio de Janeiro, uma unidade federal inaugurada em 1922, detentora de um dos maiores acervos nacionais, superior a 268 mil peas."Hoje,mais de dois teros dos recursos da instituio, 3,8 milhes de reais, provm de convnios,e cerca de 1,7 milho de reais vm do Iphan,valor que destinado manuteno bsica de infra-estrutura", diz.Para manter um pblico anual na faixa de 150 mil pessoas, a diretora conta que estratgico recorrer versatilidade.

"Promovemos exposies temporrias,espetculos de msica,teatro e programao para crianas, alm de outros eventos culturais", relata.

A maior dificuldade enfrentada pelo Museu, segundo a diretora, a renovao e a ampliao de seu quadro funcional, preenchido por 70 profissionais fixos e o mesmo nmero de temporrios.Em concurso aberto pelo Iphan no ano passado, a unidade recebeu s um arquivista e um historiador." Nosso acervo muito grande e precisamos de profissionais especializados.

Algumas tcnicas tm de ser passadas de gerao para gerao e no se aprendem s na universidade.Mantemos cursos de formao, mas no conseguimos captar essa mo-de-obra, que acaba indo para outras opes mais atrativas financeiramente no mercado", constata Tostes.O maior exemplo desse dficit operacional est na manuteno da coleo de moedas do museu, que a maior da Amrica Latina."S temos dois profissionais para cuidar do acervo e um deles est prestes a se aposentar."

Para Cristiana Tejo, diretora do Museu Municipal de Arte Moderna Alosio Magalhes (Mamam), no Recife (PE), o trmite lento da viabilizao dos recursos provenientes de rgos governamentais outro fator que obriga os gestores a buscar o auxlio da iniciativa privada."A verba institucional geralmente s cobre as despesas bsicas e a programao anual e no d para fazer obras de manuteno", relata.

Segundo a diretora,atualmente o museu precisa reformar urgentemente suas instalaes eltricas e ampliar sua acessibilidade para atender o pblico com segurana."O prdio de madeira e tem trs pisos, sem dispor de um elevador.Com isso, inviabiliza a visita de idosos e portadores de deficincia. J enviamos projetos ao governo federal e preparamos incurses com a iniciativa privada, alm de ampliar o dilogo com a sociedade civil para tentarmos obter os recursos."

Longo prazoMarcelo Mattos Arajo,diretor da Pinacoteca do Estado de So Paulo, que est no hall dos mais tradicionais e eficientes espaos de arte do Brasil,afirma que um dos aspectos importantes na gesto museolgica no perder a perspectiva de planejamento de mdio e longo prazo.Projetos imediatistas, segundo ele, podem ser fatais para a instituio.Mesmo assim, como os demais museus brasileiros,tem dificuldades de fazer novas aquisies para o acervo,dependendo praticamente de doaes. Tambm no consegue efetivar projetos de modernizao, como da pgina na Internet,que se encontra em manuteno.

"Para manter a instituio viva, nosso desafio buscar a articulao entre o poder pblico, a sociedade civil e a iniciativa privada, alm de acompanhar as novas linguagens contemporneas e promover a incluso social,por meio de entrada gratuita no museu aos sbados, entre outras aes", afirma Arajo. Com um pblico anual aproximado de 500 mil pessoas, a Pinacoteca do Estado possui atualmente um acervo com cerca de 6,5 mil itens de obras artsticas que vo desde a segunda metade do sculo XIX at a fase contempornea. O sucesso de pblico, entretanto, no pode ser utilizado como elemento absoluto de avaliao,na opinio do diretor."O que devem ser julgadas so a natureza e a qualidade dessa relao",diz.

Infra-estruturaO quadro da crise do setor museolgico ganha mais elementos quando ingressa no interior do Brasil.Na cidade de So Raimundo Nonato,no Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), a coordenadora da Fundao do Museu do Homem Americano (Fumdham),a antroploga Nide Guidon, afirma que tem como principal adversria a precariedade da infra-estrutura logstica local. Segundo a especialista,a situao pode comprometer o futuro da unidade,que a nica referncia sistematizada no Brasil sobre arte rupestre, com um acervo composto por mais de 1 milho de peas.

"O maior problema so os sucessivos adiamentos e investimentos financeiros 'perdidos'pela gesto pblica,desde 1998, para a construo do aeroporto internacional na regio", critica. Segundo Nide, as obras foram interrompidas, apesar de o empreendimento ser estratgico para a implementao de um plo turstico voltado para o desenvolvimento socioeconmico local.O governo do Piau anunciou que a inaugurao do aeroporto est programada para o ano que vem.

nica referncia sistematizada, no Brasil, sobre arte rupestre, o Museu do Homem Americano recebe anualmente 12 mil visitantes. Eram esperados 3 milhes

"Sem aeroporto e com as estradas esburacadas, que representam um perigo terrvel, principalmente na estao das chuvas, so recebidos somente 12 mil turistas por ano,em vez dos 3 milhes aguardados.Desse modo,fica difcil assegurar a manuteno do Museu e,sobretudo,manter a exposio em dia com as novas descobertas",diz. S no ano passado foram descobertos mais 200 stios arqueolgicos, segundo Nide.

A arqueloga afirma que essa situao dificulta a auto-sustentabilidade do projeto e prejudica os investimentos feitos at agora. A instituio chegou a receber recursos de diversos organismos,como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que possibilitou a contratao de uma firma sua responsvel pelo estudo destinado organizao e pela oferta de atrativos s visitas. O Iphan em 2005 tambm apoiou a modernizao de parte da exposio.

Espelho do pasO diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan/Minc, Jos do Nascimento Jnior, constata que a realidade dos museus brasileiros espelha a realidade do pas."So instituies vivas e, nesse sentido, refletem o contexto econmico,social e cultural onde esto inseridas.Assim,os problemas vo de infra-estrutura falta de qualificao de pessoal",diz.

Para Adolfo Nobre, presidente da Associao Brasileira de Museologia (ABM), na maioria dos casos falta compreenso por parte dos gestores quanto ao papel dos museus e suas finalidades."So instrumentos para o desenvolvimento social,de percepo crtica da realidade,suporte educativo, gerador de renda e de auto-estima", afirma.Outras dificuldades so decorrentes da ausncia de padres universais definidos, o que estimula a prtica de procedimentos informais, que vo desde a aquisio at o descarte de acervos,passando por atividades de restauro e permisso de reproduo no documentada devidamente.

nica referncia sistematizada, no Brasil, sobre arte rupestre, o Museu do Homem Americano recebe anualmente 12 mil visitantes. Eram esperados 3 milhes

Nobre considera que atualmente os pequenos museus municipais registram a maior dificuldade do sistema para adequarse a um padro mnimo de gesto museolgica, pois, em muitos casos, no tm oramento prprio nem profissionais qualificados. "Os maiores problemas de uma gesto so a falta de um horizonte definido e o desconhecimento do instrumento que se tem em mos para alcanar os objetivos pretendidos."

Mas o Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan/Minc comeou,em 2003,a dar os primeiros passos para acabar com essa "informalidade" da gesto dos museus. Nesse ano foi lanada a Poltica Nacional de Museus (PNM),que resultou na criao do Sistema Brasileiro de Museus.

O novo modelo administrativo ainda est em fase de implementao, em parceria com municpios,estados e sociedade civil. Segundo o rgo federal,o objetivo organizar e otimizar projetos nas unidades pblicas e privadas distribudas pelo pas.

CadastramentoUma das aes mais recentes foi a criao do Cadastro Nacional dos Museus, resultado de um levantamento realizado entre maro e outubro de 2006, quando foi celebrado o Ano Nacional dos Museus,atualizado no ms passado. O novo levantamento aponta a existncia de 2.403 instituies mapeadas, o que representa mais de 400% do total cadastrado no ltimo guia publicado no Brasil, em 2000.Nesse panorama esto includos tambm museus fechados (76) ou em processo de implementao (42) entre 2007 e 2008.A maioria do tipo presencial, sendo somente dezenove virtuais.

Segundo Nascimento Jnior,diretor do departamento,alguns dos resultados significativos do PNM so o fortalecimento de polticas pblicas por meio do cadastro e o aumento de editais de financiamentos,que j possibilitaram a modernizao de diversos museus.Entre eles o projeto de informatizao do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli e a implementao do Programa de Registro,Difuso e Salvaguarda das Manifestaes Culturais do Estado do Par,no Museu da Imagem e do Som do Par. So investidos aproximadamente 95 milhes de reais ao ano,entre Oramento federal e Lei Federal de Incentivo Cultura.

O problema est na concentrao dos investimentos nas regies Sul e Sudeste do pas,onde ficam 70% das unidades,de acordo com Nobre, da ABM."Isso se deve no s ao fato de que a maioria das instituies esto instaladas nessas regies, mas tambm falta de qualificao profissional para a elaborao de projetos de captao nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste".O muselogo estima que a questo ser gradualmente resolvida com polticas afirmativas e com o reforo no oferecimento de cursos e oficinas de elaborao de projetos nessas regies.

Levantamento realizado neste ano aponta a existncia de 2.285 museus em funcionamento

O Museu do Homem Americano, no Piau, conta com mais de 1 milho de peas em seu acervo, mas no recebe visitantes suficientes para se manter

CapacitaoO Programa Nacional de Formao e Capacitao do PNM existe desde 2003 e at agora registrou mais de 11 mil participantes em 22 estados e no Distrito Federal, mas ainda no foi suficiente para solucionar uma das maiores carncias do setor: a de mo-de-obra qualificada.

"Esperamos em 2007 atingir a marca de cem oficinas, capacitando aproximadamente 15 mil pessoas", diz Nascimento Jnior.Na grade h temas como Implantao, Gesto,Organizao e Segurana em Museus.As aes tambm se estendem a parcerias com universidades para a criao de cursos de graduao e ps-graduao em Museologia.

At 2003, apenas a UniRio e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) formavam muselogos no pas. Atualmente, a situao melhorou um pouco. Esto em funcionamento um curso de ps-graduao no nvel de mestrado e mais trs de graduao vinculados Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no Rio Grande do Sul, Fundao Educacional Barriga Verde (FEBAVE), em Santa Catarina, e Universidade Federal do Recncavo da Bahia (UFRB).So previstos mais quatro cursos, ainda em fase de implantao,nas Universidades Federais do Par (UFPA), de Braslia (UnB), de Minas Gerais (UFMG) e de Sergipe (UFS).

Outra medida tomada no ano passado pelo Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan/Minc foi a aprovao de uma portaria para regulamentar a ligao entre as associaes de amigos de museus e as instituies federais.Segundo Nascimento Jnior, a medida tornar a relao mais transparente."As associaes tm contribudo de forma positiva para o processo de sustentabilidade e para a melhoria das instituies museolgicas,mas importante que esse intercmbio seja claro para a sociedade e as esferas pblicas", afirma.

Adolfo Nobre, da ABM, explica que o controle necessrio porque as associaes de amigos de museus, em muitos casos, funcionam como a principal fonte de recursos das unidades, pela facilidade que tm de arrecadar e gastar, sem necessidade de enfrentar os trmites burocrticos exigidos pelas leis que regulam o uso de verbas pblicas."J so conhecidos casos em que os museus se tornaram refns de suas associaes, e vice-versa. Fico receoso apenas quanto ao carter legal da portaria,j que a Constituio Federal estabelece a liberdade de associao e o Cdigo Civil prev as formas de organizao dessas entidades",analisa Nobre. O muselogo acredita que a destinao de mais recursos pblicos aos museus federais atenuar essa situao.

Criao do IbramNa pauta do Programa Nacional de Museus (PNM),o que ainda aguardado pelo setor, est a aprovao do Projeto de Lei que cria o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), uma nova autarquia para gerir os 28 museus atualmente ligados ao Iphan.Os ministrios do Planejamento e da Cultura esto na fase final de elaborao do texto."Esperamos que,com o lanamento ainda em 2007, haja um avano nos programas e projetos especficos que colaboram para o crescimento do setor", diz Nascimento Jnior,do Iphan/Minc.

Nobre, da ABM, explica que a criao de uma instituio dessa natureza uma reivindicao antiga da comunidade museolgica." Poder estabelecer uma nova fase para os museus no Brasil, longe do colecionismo dos ilustrados,das propagandas de estado e dos esteretipos de depsito de coisas velhas", considera.

O Estatuto dos Museus, que a normatizao do setor, mais uma lacuna a ser preenchida e est sob anlise na Cmara dos Deputados."O texto foi objeto de ampla discusso com o Comit Gestor do Sistema Brasileiro de Museus, resultando no Projeto de Lei n 7.568/06.Certamente quando for aprovado ser um marco regulatrio", analisa Nascimento Jnior.A estimativa que a votao ocorra ainda neste semestre.

EducaoApesar de todas as aes j desenvolvidas at agora pelo PNM, Nascimento Jnior afirma que a tarefa de melhoria e sustentabilidade dos museus brasileiros tem ainda uma longa trajetria pela frente." preciso adensar as aes da Poltica Nacional para que se tornem uma poltica de Estado.Para tanto,precisamos ampliar as possibilidades de financiamento e fomento em todas as esferas de governo e no apenas no governo federal",afirma.

O antroplogo conclui que as transformaes devem ocorrer tambm na rea de educao."A escola um espao de formao humanstica e precisa incorporar em seu currculo contedo que sensibilize os jovens e as crianas para as questes de memria e patrimnio. Essa revoluo poderia, a princpio, ser capitaneada pelas secretarias municipais e estaduais de Educao", diz.O fato de o universo museolgico nacional requerer ainda muito aprimoramento no impede que novos projetos estejam em andamento no pas.O que possvel registrar atualmente a ampliao da viso empresarial com mais nfase em iniciativas temticas de grande porte, alm de projetos com colees particulares, entre outras.

Nesse vis, um dos anncios mais recentes o incio das obras do Museu do Futebol,no Estdio Municipal Paulo Macho de Carvalho (Pacaembu), em So Paulo.O projeto, lanado no final de 2005, tem previso de inaugurao em 2008.

Orado em 25 milhes de reais, rene o poder pblico municipal com a Fundao Roberto Marinho, a Confederao Brasileira de Futebol (CBF) e parceiros da iniciativa privada.Mas, como qualquer outro empreendimento, vai requerer aps sua inaugurao uma gesto modernizada para enfrentar os obstculos impostos hoje pelo mercado cultural.

O sucesso da lnguaUma das experincias museolgicas mais bem-sucedidas na atualidade o Museu da Lngua Portuguesa, sob coordenao da Secretaria de Estado da Cultura, localizado no prdio restaurado da histrica Estao Ferroviria da Luz, em So Paulo. A unidade completou um ano de funcionamento em maro e j superou a marca de 570 mil visitantes.

O projeto resultado de um investimento expressivo de 37 milhes de reais, realizado pela administrao pblica estadual com a Fundao Roberto Marinho e patrocnio do setor empresarial por meio da Lei Federal de Incentivo Cultura.

O diretor executivo do Museu da Lngua Portuguesa, Antnio Carlos de Moraes Sartini, credita o significativo volume de pblico ao planejamento da instituio, mas afirma que, sem a realizao de diagnsticos peridicos da gesto, a instituio pode perder o foco de sua proposta principal."O museu foi criado para mostrar que a lngua portuguesa um patrimnio do cidado, quebrando conceitos elitistas e hermticos."

A implementao exige muito esforo, segundo ele, j que difcil quebrar o paradigma de ter um acervo que no material.

Para isso, j esto programadas algumas aes estratgicas neste ano. Segundo Sartini, uma delas o fechamento de uma parceria com a prefeitura de So Paulo para levar gratuitamente ao museu cerca de 30 mil famlias que so atendidas por programas sociais. Atualmente, a maior parte do pblico da unidade so mulheres na faixa dos 30 a 50 anos, com nvel secundrio ou universitrio concludo.

Na rea tecnolgica, o museu pretende repaginar seu portal na Internet."Constatamos que est esttico e partimos para sua reformulao com a proposta de torn-lo um ponto de encontro das comunidades de lngua portuguesa em vrios pases do mundo", diz. E outra novidade est sendo implementada nas mostras temporrias de grandes autores. "O pblico escolar comear a receber cartilhas com base na mostra de obras de Clarice Lispector, porque avaliamos que o museu deve ter um papel mais ativo alm de suas portas, contribuindo tambm na sala de aula", afirma o diretor.

Desde outubro do ano passado, a administrao da unidade est sob a direo da Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (Oscip) Instituto Brasil Leitor (IBL)."Oitenta por cento dos recursos so provenientes do governo do estado e 20% da prpria IBL. Mas, no futuro, a inteno que essa fatia no-governamental aumente principalmente nas exposies temporrias e nas atividades regulares. importante, entretanto, que o Estado continue a assumir suas responsabilidades na manuteno da infra-estrutura", diz Sartini. O valor anual dos repasses do governo chega a 2,8 milhes de reais.

O diretor-geral do IBL,William Nacked, afirma que a participao de rgos no-governamentais na gesto de patrimnios pblicos facilita a captao de parceiros e a auto-sustentabilidade da instituio."O Estado tem pouco tempo, dinheiro e liberdade gerencial, alm de responder por outras atribuies. Os museus, por uma ordem de prioridades, acabam ficando para trs. E a que a sociedade civil pode colaborar. E a transparncia nessa relao existe porque somos cobrados e s permaneceremos enquanto tivermos eficincia", diz.

Slvia Antibas, diretora do Departamento de Museus e Arquivos da Secretaria de Estado da Cultura de So Paulo, afirma que a presena mais expressiva da sociedade uma tendncia que cresce nos principais museus pblicos paulistas. Hoje tambm esto sob gesto compartilhada a Pinacoteca do Estado, o Museu da Casa Brasileira, o Museu da Imigrao e o Museu da Imagem e do Som (MIS)."Neste ano, o Museu de Arte Sacra e o de Brodsqui (com obras de Cndido Portinari) iniciaro a experincia", diz a diretora.