110

repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um
Page 2: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos

O Karaoke como Ferramenta no Ensino de PLE

Ana Faria de Barros

Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos

Relatório apresentado para obtenção do Grau de Mestre em Português Língua Segunda/Estrangeira

Professora orientadora: Doutora Isabel Margarida Duarte

Setembro 2013

2

Page 3: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Resumo

Aprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por

parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um longo trabalho.

Considerando que, para esse ensino/aprendizagem, são necessários conhecimentos

profundos de língua mas também o uso de inúmeras estratégias e métodos, este relatório

pretende exemplificar alguma dessa metodologia, nomeadamente a que diz respeito ao

uso da canção na vertente de karaoke nas aulas de português língua estrangeira (PLE).

Sabendo que é necessária a aquisição, em qualquer língua, de conhecimento de

gramática, da cultura e do contexto social, propomos essa aquisição, em parte, através

do uso da canção, fundamentando-nos teoricamente com o seu lado motivador e

transmissor de aspetos essenciais de uma língua.

Neste relátorio, pretendemos igualmente demonstrar a importância que a música

teve na prática docente do ano letivo 2011/2012 e como os aprendentes encararam este

método utilizado em diversas atividades, bem como dar a conhecer os argumentos que

pesaram na utilização da canção como estratégia de ensino. Falaremos também sobre o

projeto em que participei Languages and Integration through singing que visa dar a

conhecer melhor o karaoke como material didático e trabalhá-lo nas aulas de PLE.

Palavras chave: música, canção, karaoke, ensino da língua, português.

3

Page 4: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Abstract

Learning a foreign language is a very complex process, demanding sensitivity and hard

work by the teacher and the student. Teaching and learning a foreign language requires

numerous strategies and methods and this report aims to demonstrate some of the methodology,

particularly the use of karaoke in Portuguese classes for foreign students.

Knowing that learning a new language requires the acquisition of grammar, culture and

social context, we propose that acquisition, in part, trough the use of singing taking advantage

of the motivation aspects conveyed by the song itself.

In this report we also want to demonstrate the importance that music had on the

teaching practice in the academic year of 2011/2012, show how students saw the use of this

method in various activities and get to know the arguments that were important for choosing

this method of using singing as a teaching strategy.

We will also talk about a project I’ve participated in, called Languages and Integration

through singing, which aims to demonstrate how karaoke can be used as a teaching method, and

use it on Portuguese classes for foreign students.

Keywords: music, song, karaoke, language teaching, Portuguese.

4

Page 5: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Índice Geral

Resumo ........................................................................................................................... 3

Abstract .......................................................................................................................... 4

Agradecimentos ............................................................................................................. 7

Introdução ...................................................................................................................... 8

Primeira Parte

Capítulo I – Contexto de Investigação ............................................................... 11

1 Local ................................................................................................ 11

1.1 O Português como língua segunda/estrangeira ................................ 11

1.2 O núcleo de estágio .......................................................................... 13

Capítulo II – A canção e o karaoke na aula de PLE .......................................... 15

1. O uso de materiais autênticos na aula de LE: canção como material

didático (karaoke)..............................................................................15

2. Porquê a canção................................................................................ 17

3. A canção como lugar de estudo da variação e das variedades do

português .......................................................................................... 18

4. O karaoke nas aulas de PLE.............................................................. 24

Capítulo III - O projeto “Languages and Integration Through Singing” ……... 26

1. Objetivos do projeto ………………………………………………. 27

2. Atividades ………………………………………………………… 28

Segunda Parte

Capítulo IV – A prática letiva..............................................................................36

1. Primeira unidade didática ................................................................. 37

2. Segunda unidade didática ................................................................. 40

3. Terceira unidade didática ................................................................. 44

Capítulo V – Avaliação Crítica .......................................................................... 49

I. Expectativas iniciais ....................................................... 49

II. Balanço dos semestres ................................................... 59

III. Reflexão Global/Anual de todo o processo ................... 50

1. Autoavaliação ........................................................... 51

Capítulo VI – Auto e Heteroavaliação ............................................................... 57

5

Page 6: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

1. Reflexões pessoais após as unidades ............................................... 57

2. Comentários das colegas de estágio ................................................. 58

3. Comentários da orientadora ............................................................ 59

4. Reflexão global sobre as reflexões e os comentários ........................59

Capítulo VII – Propostas .....................................................................................62

Conclusão e Reflexão Final ............................................................................... 64

Bibliografia......................................................................................................... 66

Anexos ............................................................................................................... 70

Anexo 1................................................................................................... 71

Anexo 2 ...................................................................................................77

Anexo 3 .................................................................................................. 83

Anexos Audiovisuais

Das Bi – Bonga: Malembe Malembe E Reflexao, 1988, Discossete.

Dreamer – Supertramp: Crime of century, 1974

Primavera – Antonio Vivaldi: As Quatro Estações – concerto para violinos,

1725.

Vídeo do karaoke dos alunos do segundo semestre.

6

Page 7: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Agradecimentos

Quero aproveitar a oportunidade para agradecer a algumas pessoas que foram

fundamentais no decorrer deste percurso:

À minha orientadora, Doutora Isabel Margarida Duarte, pela paciência, apoio e

disponibilidade.

À Drª Ângela Carvalho por tudo o que me ensinou e pelas orientações e

incentivo.

À minha família e amigos pelo apoio incondicional e confiança.

Às professoras Ana Janeiro e Lygia Pereira por sempre me terem transmitido o

amor pela língua portuguesa.

Aos alunos que tornaram tudo possível.

7

Page 8: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

A música é maior aparição do que toda a sabedoria e filosofia.

Ludwing Beethoven1

Introdução

No mundo globalizado em que vivemos hoje, a comunicação entre povos é cada

vez mais facilitada pois é irrefutável que as distâncias são cada vez mais curtas graças

aos meios existentes para comunicar. Esta facilidade constitui um dos aspetos mais

importantes no que concerne a esta aproximação entre culturas. Aprender uma língua

estrangeira é uma questão de extrema importância mas ao mesmo tempo um processo

bastante complexo. A aquisição de uma nova língua, além da materna, permite a cada

ser um crescimento intelectual, pessoal, afetivo e emocional bem com cultural e, claro,

linguístico.

O presente relatório pretende abordar um dos maiores reflexos de cultura e

objetos de comunicação entre povos, a canção. No entanto, é pretendido levar o uso da

canção mais longe na aula de língua estrangeira e abordar uma das mais recentes

utilizações da música: o karaoke.

Desmistificar a crença na utilidade da música em todas as sua vertentes como

material didático é igualmente um dos objetivos deste trabalho pois, apesar de ser um

material bastante apelativo, muitos foram os estudos que marginalizaram um pouco a

canção, mesmo sendo esta uma irrefutável plataforma para o conhecimento de uma

língua e de uma cultura de um determinado país.

Serão igualmente abordados alguns conceitos e teorias que envolvem o

ensino/aprendizagem da língua e trabalho realizado em torno do objeto karaoke no

contexto educativo de grupos alvo de aprendentes.

São cada vez mais variadas e atrativas as estratégias de ensino, mas igualmente

mais as que se tornam monótonas. A leitura e repetição na sua forma mais primitiva, por

exemplo, apesar de serem fundamentais no processo de aquisição de uma língua, são

cada vez menos motivantes. Sendo os adolescentes e os adultos grandes consumidores

de música, adquirindo albúns das suas bandas/cantores favoritos, frequentando 1 http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/musica/30

8

Page 9: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

concertos, ouvindo rádio e vendo vídeos, é importante aproximá-los da canção e trazer

esse prazer para a sala de aula.

Através do karaoke, os alunos não só ouvem, como leem, cantam e visionam até

vídeos ou fotografias alusivas ao tema da canção ou ao cantor. Como obter uma variante

da canção mais completa do que o karaoke? É sobre as vantagens do seu uso didático na

aprendizagem de línguas estrangeiras que também iremos tratar.

Este relatório divide-se em duas partes que contêm vários capítulos. A primeira

tem um caráter mais expositivo e nela, inicialmente, falaremos sobre o contexto e o

local onde se realizou este trabalho, trataremos o uso do karaoke como material

autêntico na aula de LE, a canção e as variedades da língua, as vantagens da utilização

do karaoke e o projeto Languages and Integration through singing2, que se dedicou ao

seu tratamento. Na segunda parte, que possui um caráter de relatório, será exposto todo

o trabalho realizado por mim, como docente, com alunos do nível C, no ano letivo de

2011/2012 e respetiva avaliação crítica. Por fim, proponho alguns exemplos de canções

possíveis de serem abordadas no contexto de uma teoria que exponho neste trabalho.

A escolha deste tema não foi, de modo algum, descuidada. A ligação que possuo

com a música foi um ponto obrigatório para tratar a canção e tentar demonstrar que esta

pode ser um excelente material de aprendizagem e sobretudo um elo de ligação entre

cada aluno e a língua com que contacta deixando memórias e sentimentos que mais

nenhum material didático é capaz de deixar.

2 Cf http://www.languagesbysongs.eu/index.htm (Acedido em 09/09/2013)

9

Page 10: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Primeira Parte

10

Page 11: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo I – Contexto de Investigação

1. O local:

As instalações

O presente estudo teve lugar no ano letivo de 2011/2012 na Faculdade de Letras da

Universidade do Porto, (FLUP), no âmbito do Mestrado de Português Língua

Segunda/Estrangeira. Os respetivos elementos práticos foram executados nas aulas do

Curso Anual de Português para Estrangeiros.

É importante referir o mestrado em Português Língua Segunda/Estrangeira, criado

no ano letivo de 2008/2009, e os cursos anuais de PLE frequentados, na sua maioria,

pelos alunos do programa Erasmus. Nestes cursos anuais, os alunos deste mesmo

mestrado têm participação ativa, podendo lecionar nas turmas de PLE, supervisionados,

no seu ano de estágio pedagógico.

1.1 O Português como Língua Segunda/Estrangeira (PLE):

Atualmente em grande expansão, a aprendizagem da língua portuguesa para

estrangeiros torna-se um ponto essencial para campos como a economia mundial e para

a cultura: é por esse motivo que a FLUP apoia o ensino da língua bem como

proporciona aos seus estudantes um aprofundamento específico na forma de ensinar

português, nomeadamente a estrangeiros.

Como saída profissional para os alunos dos cursos de Estudos Portugueses e

Lusófonos e Ciências da Linguagem, por exemplo, a Faculdade oferece o mestrado em

PLE que também pode ser frequentado por estudantes estrangeiros que dominem o

português e queiram lecionar a língua no seu país de origem. Há também uma vasta

oferta para os estudantes estrangeiros que queiram aprender ou melhorar o seu

desempenho em português: curso anual, curso intensivo e curso de verão. A primeira

modalidade, o curso anual de português, que foi onde se inseriu o objeto de estudo desta

dissertação, tem a duração de um ano letivo (dois semestres) e tem como alvo todos

aqueles que queiram aprender português independentemente da sua situação académica,

profissional ou de nacionalidade. No que diz respeito à formação e composição das

turmas, é permitido aos alunos frequentarem o segundo semestre sem terem passado

11

Page 12: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

pelo primeiro, com uma duração total de 60 horas e a frequência é mista, ou seja, com

alunos diferentes, seja na sua origem e na sua idade. Caso os alunos sejam aprovados,

terão acesso a quatro créditos referentes à European Credit Tranfer and Accumulations

System, mais conhecidos por ECTS.

O Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (2001) é o documento

que cordena os níveis disponíveis para os estudantes, ou seja, subdivide os cursos numa

escala: a primeira, de iniciação, corresponde ao patamar A1.1 e A1.2; o nível elementar

situa-se entre o A2.1 e A2.2. Para um nível limiar temos B1.1 e B1.2 e para o de

autonomia o C1.1 e o C1.2. Por fim, para mestria os patamares C2.1 e C2.2. Para os

formandos terem acesso ao nível correspondente aos seus conhecimentos, deverão

fornecer informações precisas na sua candidatura e demostrar posteriormente os seus

conhecimentos sobre a língua num teste diagnóstico realizado já nas instalações da

Faculdade. Dependendo da demonstração da sua sabedoria nas atividades propostas na

aula, os alunos serão ou não encaminhados pelo docente para o nível a que

correspondem na realidade ou também por sua livre escolha.

A segunda modalidade, como referido anteriormente, é o curso intensivo de

português para estrangeiros que se compõe, igualmente, pela mesma carga letiva. No

entanto, este curso divide-se em três cursos distintos ao longo do ano letivo, cada um

com as referidas 60 horas. O primeiro realiza-se em setembro, o segundo em outubro e

último em março.

A terceira e última modalidade deste curso é o curso de verão que, como o nome

indica, é feito nesta época num total de 60 horas divididas por 17 dias.

O Mestrado em português língua estrangeira/segunda surgiu na sequência de dois

outros cursos de especialização para professores de PLE: o Diploma Universitário de

Formação de Professores de Português Língua Segunda/Língua Estrangeira; e,

posteriormente, o Curso de Especialização em ensino do Português Língua Estrangeira.

Atualmente, o mestrado, concluindo o curso, dá acesso ao diploma de grau de mestre e

também a profissionalização no ensino de PLE realizado nas turmas existentes na

Faculdade.

12

Page 13: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

1.1. O núcleo de estágio

No que diz respeito a este trabalho, é necessário salientar que foi desenvolvido, na

sua vertente prática, no nível C, ao longo de todo o ano letivo de 2011/2012, nas aulas

do curso anual de português para estrangeiros. Encarregues da docência deste curso

encontravam-se a Professora Rosa Bizarro no nível A, o Professor Luís Fardilha no

nível B e as Professoras Fátima Silva e Ângela Carvalho no nível C, ficando os

mestrandos divididos em quatro grupos de três elementos pelos professores dos

respetivos níveis. O núcleo no qual participei estava a cargo da Professora Ângela

Carvalho, sendo os relatórios orientados pela Professora Isabel Margarida Duarte.

1.1.1. As turmas lecionadas integrantes do curso anual de português para

estrangeiros

Devido à caraterística de separação de semestres, os estudantes que

frequentaram o curso não foram os mesmos nos dois semestres, por isso o trabalho

desenvolvido teve sempre em conta esse fator bem como as caraterísticas apresentadas

pelos discentes. Assim sendo, o trabalho prático foi exercido em duas turmas

completamente diferentes tanto ao nível dos conhecimentos, como da proveniência bem

como dos objetivos. A turma do primeiro semestre era constituída por um pequeno

grupo exclusivamente oriundo da Europa, com idades compreendidas entre os 23 e os

42 e era composto, na sua maioria, por alunos do sexo feminino. Alguns dos estudantes

trabalhavam e viviam em Portugal com a sua família, outros, por sua vez, eram

estudantes do programa Erasmus. A sua formação académica era maioritariamente

baseada em licenciaturas e todos já tinham estudado língua portuguesa pelo menos uma

vez. Era uma turma simpática mas algo apática onde o recolher do feedback do nosso

trabalho não foi fácil. Os alunos não eram muito participativos nem muito efusivos e as

atividades que íamos propondo ao longo do semestre, que inicialmente pareciam

interessantes, eram dificultadas pela passividade e falta de interesse da turma. No

entanto, no final do semestre, talvez pelo crescimento da empatia entre professores

estagiários e alunos, a situação alterou-se um pouco e o trabalho começou a resultar

melhor, conseguindo-se cativar os alunos para atividades diferentes e despertar o

interesse por alguns assuntos.

Face à turma do segundo semestre, reforça-se então, de novo, a ideia da grande

diferença para a do primeiro. Os estudantes já eram em maior número e as suas origens

13

Page 14: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

eram mais variadas, havendo estudantes da Europa, África, América Latina e Ásia. A

turma era igualmente mista, continuando a predominar o sexo feminino e as suas idades

variavam entre os 21 e os 66. Estávamos novamente na presença de estudantes a viver e

a trabalhar em Portugal bem como estudantes do programa Erasmus e também

estudantes maioritariamente licenciados. No entanto, desta vez, existiam estudantes que

pouco tinham estudado língua portuguesa, pois a sua experiência com a língua devia-se

ao facto de estarem há alguns anos no país, e na turma existiam estudantes que tinham

concluído o primeiro semestre na turma anterior. No que diz respeito à atuação e

comportamento da turma, podemos dizer que esta era bastante acessível, cheia de

energia, curiosa, participativa, interessada e os conhecimentos gerais da língua eram

elevados. O facto de as origens dos estudantes serem muito diferentes, permitiu sempre

criar uma grande interação e uma troca enorme de conhecimentos e experiências e,

consequentemente, transpô-los para a sala de aula, comparando-os sempre com a sua

experiência em Portugal e com o que iam observando dos próprios portugueses. Não era

uma turma fácil para trabalhar, tornando-se, para mim, um desafio ainda maior. Os

resultados das atividades foram sempre excedendo as nossas expectativas e foi uma

turma sempre cooperante do início ao fim do semestre.

14

Page 15: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo II – A canção e o karaoke na aula de PLE

1. Uso de materiais autênticos na aula de Língua Estrangeira: canção como

material didático (Karaoke).

Desde dos primórdios da humanidade que o uso da música foi importante em todas

as culturas. Na antiguidade clássica e na idade média, era utilizada no entretenimento

dos imperadores e das cortes, para dar início a batalhas ou para comemorar a chegada de

guerreiros ou tomadas de posse. Atualmente, a música mantem-se como forma de

entretenimento, na grande maioria das vezes, no entanto, outras propriedades foram

encontradas e a música assumiu um papel preponderante na medicina, nomeadamente

em terapias ou relaxamento, bem como no ensino e na aquisição de novas competências

quer seja com crianças ou com adultos. Todos os dias, temos contacto com a canção

seja através da rádio, da televisão, na internet, em casa, no duche, com amigos etc., por

isso é impossível negar que a música está na vida da sociedade e que é uma forte

potenciadora da memória, já que, através dela, conseguimos rapidamente regressar a

momentos da nossa vida em que uma canção proporcionou uma qualquer recordação

(López, 2005).

Cada vez mais o uso de materiais autênticos nas aulas de LE passa pelo uso da

música, nomeadamente da canção na vertente karaoke que se tem revelado um bom

auxílio no ensino/aprendizagem devido às suas propriedades ao nível fonético, temático,

lexical e gramatical.

Os materiais autênticos permitem ao professor uma abordagem mais abrangente

da temática escolhida mas sobretudo trabalhar as reais necessidades dos aprendentes

libertando-se de ideias e atividades pré concebidas que por vezes limitam os objetivos

de uma aula pois são reais, não são adaptações, sendo exemplos genuínos da língua que

se quer ensinar. As canções, os romances e jornais, que fazem parte do ambiente onde

se dá o processo ensino-aprendizagem, podem tornar-se excelentes materiais didáticos,

contribuindo para uma maior variedade de atividades, diminuindo a desmotivação dos

aprendentes, e proporcionando uma melhor resposta às necessidades dos alunos e às

suas expectativas. A relação professor aluno torna-se mais personalizada e, para os

professores mais inexperientes, esta prática dá a oportunidade de se desenvolverem

15

Page 16: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

profissionalmente dando asas à sua criatividade. Estes materiais autênticos são

complementares e auxiliam na “transferência de situações, experiências,

demonstrações, sons, imagens e factos para o campo da consciência, onde se

transformam em ideias claras e inteligíveis” (Cuicui, 2012, p. 13).

A canção, neste caso o karaoke, sendo autêntico, assegura a autenticidade do

input e torna-se um material muito atrativo e motivador pois é uma forma de cultura que

pode ser estudada por qualquer aprendente da língua em questão. Nela aparece muito

léxico que não existe nos manuais escolares e temas que não são abordados

regularmente. Garcia (2005) citando Santos Aseni (1996:368), refere que:

“Esta é uma das grandes vantagens da incorporação das canções na aula,

porque elas causam motivação e satisfação nos alunos e porque a música está

ligada às suas inquietudes e interesses, além de ser a manifestação artística e

cultural de mais amplo caráter social na atualidade.”.

A canção, como material didático autêntico, torna-se, portanto, um veículo para

aprender uma língua de modo insconsciente e que funciona como uma terapia psíquica

para o desenvolvimento cognitivo transmitindo informação e permitindo a comunicação

(Gold, citado por Santos (2008) ). Assim sendo, podemos trabalhar com os alunos com

o uso da canção e segundo López (2005):

- vocabulário

- memória

- criatividade

- compreensão da leitura

- expressão escrita

- compreensão verbal

- expressão oral

- pronúncia

- gramática

- conhecimento da cultura do país

- sentido musical

- coordenação motora.

- expressão artística etc.

16

Page 17: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

No entanto, é de salientar que não existem só vantagens na utilização de

materiais didáticos, pois a depedência que estes podem criar no professor pode ser

negativa: a falta de variedade no processo de ensino, a, por vezes, falta de adaptação às

reais necessidades dos aprendentes, a ausência de espontaneidade na relação professor-

aluno e a diminuição da criatividade podem ser alguns problemas que se apresentam ao

professor. (Richter)

2. Porquê a canção?

A canção é língua viva e cultura. Com ela podem ser trabalhadas sobretudo as

competências de receção, de audição e repetição. Trata-se igualmente o léxico, a

gramática, a história, a cultura e temas do dia a dia por vezes não contemplados nos

manuais. Os argumentos práticos em favor da sua utilização em aulas de Língua

Estrangeira são fortes: a canção é agradável de escutar, os alunos gostam de ouvir

música e preferem esta a qualquer outra atividade e os benefícios linguísticos são

visíveis: a canção permite a introdução e receção de outras línguas e de diferentes

níveis, bem como encontrar variações linguísticas. (Calvet, 1980) Outra das vantagens

pedagógicas da canção é que os alunos podem cantá-la e aí é possível introduzir o

karaoke que facilmente vai ajudar, através da letra ritmada, uma melhor compreensão e

treino da oralidade e dicção.

“Dis-moi qui tu chantes, je te dirai qui tu es” (Calvet, 1980, p. 20). Esta

adaptação de um ditado, citada por Calvet, remete-nos para a extensão das

possibilidades do uso da canção. Além de trabalhar a língua, as canções cantadas pelos

aprendentes também refletem as suas ideologias sociais e políticas, bem como as suas

emoções, pensamentos e formas de estar, tão importantes numa aula e que favorecem a

interculturalidade. De igual forma pensa Griffee (1992) ao dizer: “Songs speak to us

directly about our experiences, they reassure us in our moments of trouble”, ou seja, a

canção transporta-nos para além daquilo que ela representa inicialmente. É possível

vivenciarmos experiências passadas, sermos levados pela memória a momentos onde

fomos felizes ou não ou onde aprendemos algo.

Contemplar o canto nas aulas de PLE não precisa de ser necessariamente uma

atividade de educação musical. Cantando, os alunos exploram outro nível que a audição

17

Page 18: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

da canção, por si só, não lhes permite. Experienciam o ritmo dos versos, estão atentos à

sua prestação ao nível da dicção, e por norma acabam por transmitir ao corpo esse

mesmo ritmo. Ouvir uma canção acaba por ser um processo estático, sendo que cantar,

ou seja, fazer um karaoke, alia todas as áreas da língua (Ribeiro, 2002).

3. A canção como lugar de estudo da variação e das variedades do Português:

Segundo a última edição do livro “The Ethnologue: languages of the world”

(2005), o número de línguas faladas no mundo é de 6912. Neste preciso momento, a

língua portuguesa encontra-se-ia em 6º lugar, sendo falada por 218 milhões de pessoas

entre o Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique,

Timor e Angola que têm o português como língua oficial.

Para compreendermos melhor as variedades do português no mundo, é

necessário abordar, resumidamente, alguns pontos essenciais:

Línguas crioulas

São muitos os textos que falam sobre esta temática, no entanto é curioso

verificar a extensa lista de línguas crioulas que tiveram origem na língua portuguesa. Na

Ásia, os crioulos portugueses poderiam classificar-se em três grupos, apesar de a

maioria dessas línguas estar extinta: o primeiro seria o sino-português, o segundo o

malaio-português e por fim o indo-português (Pagotto, 2005). Este autor, citanto Tarallo

e Alckmin (1987), aponta que, em África, podemos encontrar os crioulos portugueses

do golfo da Guiné, o crioulo português das ilhas de Cabo Verde, o crioulo português da

Guiné Bissau e ainda o crioulo português do Senegal, sendo que os do golfo da Guiné e

de Cabo Verde competem com o português, língua oficial. Estes crioulos ainda se vão

mantendo, sendo o de Cabo Verde, por exemplo, a língua materna da população e,

assim, um fortíssimo concorrente com o uso do Português, o que se torna interessante

do ponto de vista sociolingístico já que ganharam uma escrita, gramática e literatura

próprias, expandindo-se.

18

Page 19: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

O português europeu

Portugal é um país monolíngue, sendo a sua língua limitada ao seu espaço

geográfico, com vários dialetos que se mantêm há praticamente cinco séculos (Tessyer,

1980). Cunha e Cintra (1985) apresentam três regiões dialetais: os dialetos galegos, os

dialetos setentrionais e os centro meridionais sendo que o segundo corresponde ao norte

e o último ao sul. Uma característica curiosa de se observar, é que, ao contrário do

Brasil, “o aspeto regional da variação parece ser mais saliente do que o aspeto social”

(Pagotto, 2005) pois independentemente da condição social de cada um, em Portugal, o

modo de falar ou comunicar provém, em grande parte, do local onde se habita, é ele que

exerce uma forte influência sobre a oralidade e por vezes sobre a escrita.

Português do Brasil

Estudos recentes apontam para um mapa dialetal, no Brasil, dividido em duas

grandes regiões, a do norte e a do sul. São várias as características ao nível fonético que

demonstram uma variação do português do Brasil, no entanto, as mais importantes são

as que ocorrem ao nível da morfologia e sintaxe que diferenciam os dialetos deste país

dos de Portugal e que estão próximas de alguns dialetos africanos, como se demonstrará

mais à frente (Pagotto, 2005).

A morfologia verbal, principalmente no que concerne à flexão de número e

pessoa, e a morfologia pronominal, com destaque para os pronomes pessoais, sofrem

várias mudanças, salientando-se o uso dos pronomes “tu” e “você” como forma de

tratamento. Também os fenómenos de ordem e a representação pronominal do sujeito e

do objeto são exemplos de variação e mudança.

A forte imigração que o Brasil sofreu contribuiu substancialmente para esta

grande variação de dialetos. Os dialetos populares contrastam com o dialeto dos grandes

centros urbanos, que se separam cada vez mais do português de Portugal e, apesar de

grande parte da população brasileira viver nas cidades, é esta variação dialetal que

forma a identidade do país e se torna meio de expressão entre os habitantes.

Quando falamos na canção na aula de PLE não podemos deixar de refletir sobre

essas variedades existentes na língua portuguesa. Se analisarmos alguns crioulos, que se

distanciam gramaticalmente da língua portuguesa, podemos afastar-nos do objetivo que

19

Page 20: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

é o ensino do português padrão, mas não podemos deixar de admitir que as canções

destes países podem ser uma fonte rica em cultura, também necessária na aula de PLE.

Um dos objetivos didáticos contemplados no uso da canção é estudar as

variedades linguísticas que uma língua pode apresentar: as canções têm origem em

vários pontos do país e igualmente em todos os países cujo idioma é a língua

portuguesa, embora com variedades linguísticas ricas e diversas (Sousa, 2011). Sendo

assim, uma aula pode tornar-se rica culturalmente quando utilizadas canções de outros

países de língua portugesa, ou mesmo dentro da nossa língua, usando os vários dialetos.

Poderiamos recorrer, por exemplo, à canção “Pronúncia do norte” da banda portuguesa

GNR. Vejamos um exemplo prático de uma canção angolana cuja utilização seria

possível numa aula de PLE3:

Das Bi

Mentira mete no saco, saco vazio não fica em péÁgua quente não queima casaE mil coisa não volta a troco (2x)

Água rasca ni mete em péLuz e água trabalharP’ra você é que não convémNem eu quero te encontrar (2x)

Que amizade mais ingrataCom cinismo e hipocrisiaVibrar com as minha malambaConsentindo a proibição (2x)

As bilha já são douradaNinguém vai-me roubar com eleNem cassumbula nem a TeresaNem a Revista Geral

Bonga – Malembe (1988)

Pensemos numa aula diferente onde abordássemos as diferenças entre o

português de Angola e o português europeu de forma a trabalhar as variedades do

português. A escolha recaiu sobre Angola porque o português do Brasil, além de mais

conhecido é, para muitos alunos, o português com que contactaram anteriormente. No

3 Ver anexo audiovisual

20

Page 21: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

meu estágio tive alunos que tinham participado em cursos de português com professores

brasileiros, o que os aproximou mais da cultura do país. Sendo assim, abordar o

português de Angola de forma contrastiva com o português europeu pode ser

interessante. Apresento uma canção bastante conhecida do cantor Bonga que

exemplifica alguns aspetos de língua a ter em conta. Além de serem visíveis expressões

do kimbundo4, interessantes no aspeto cultural, podemos abordar a gramática e as

variações que ocorrem na língua portuguesa. Seguem-se alguns exemplos plausíveis de

trabalhar com esta canção:

O género:

No português, o artigo tem, obrigatoriamente que concordar em género e número

com o nome. Em Angola, grande parte das vezes, esse facto não acontece.

Português de Angola – “Os revista” , “Estes menina”

Português Europeu – “As Revistas” , Estas meninas”

…………………………………

O número:

Tal como em género, o artigo tem igualmente que concordar em número

segundo as regras da gramática da língua portuguesa. No entanto, em Angola, esta regra

também não ocorre, e por norma tende a incidir apenas sobre os elementos mais à

esquerda do sintagma nominal tal como em algumas zonas do Brasil.

Português de Angola – “mil coisa”, “as minha malamba”, “as bilha”

Português Europeu – “mil coisas”, “as minhas malambas”, “as bilhas”

……………………………………..

O uso do Artigo:

Muitas vezes esquecidos pelos falantes do português de Angola, a ausência do

artigo é também um traço muito característico que não está contemplado na nossa

gramática.

Português de Angola - “...não queima casa”, “Filho de Luís não vem hoje…”

4 Kimbundo – língua angolana.

21

Page 22: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Português Europeu – “...não queima a casa”, “O filho do Luís não vem hoje…”

...................................................................

Pronomes pessoais:

Os pronomes pessoais o, a, os, as no português angolano são outra questão que

difere bastante da do português padrão. A sua utilização não segue uma regra, depende

da ordem que o falante lhe dá na frase ou do caso em que se encontra.

Português de Angola – “Encontramos-lhe na rua”

Português Europeu – “Encontramo-la na rua”

………………………………………………

Os Possessivos:

Da mesma forma que no português padrão a posse é exposta tanto por meio de

determinantes possessivos como pela preposição de, também o português angolano o

faz. No entanto, a ordem de colocação destes mesmos determinantes não é a mesma

usada no português padrão.

Português de Angola – “Recebi presente da amiga nossa”, “Amanhã é dia de aniversário meu”

Português Europeu – “Recebi um presente da nossa amiga”, “Amanhã é o dia do meu aniversário”

…………………………………………………

Muitas destas características, ou até mesmo regras, têm explicação na evolução

das línguas e no seu contexto cultural. Os descobrimentos expandiram a língua

portuguesa, mas algumas das diferenças decorrem das línguas maternas variadas faladas

pela grande maioria da população ao longo de várias décadas de colonização. Algumas

destas marcas mantiveram-se pelos mesmos motivos, outras por questões culturais.

Também seria possível analisarmos expressões idiomáticas ou ditados populares do

país, pegando, por exemplo, na expressão “água quente não queima casa”. Para os

alunos, esta pode ser uma forma de falar da cultura angolana, que ainda podemos

explorar na canção, como quem é o autor e a sua importância no país, mas também

contrastar com Portugal, já que algumas das obras do cantor abordam a colonização, a

22

Page 23: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

guerra colonial e o 25 de abril, tão importantes para ambos os países. É sobretudo

preciso, com esta canção, compreender as diferenças ao nível gramatical e lexical de um

português falado em outro país. Sendo este um exemplo, o mesmo podemos fazer com

as canções do português do Brasil, Moçambique, Cabo Verde, etc., igualmente ricas em

variações e cultura.

23

Page 24: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

4. O Karaoke nas aulas de PLE.

Até aos dias de hoje, o uso do karaoke tem-se mostrado eficaz no que diz

respeito à animação da sociedade, somente com um objetivo lúdico e de convivência

entre os praticantes. Atualmente, também os jogos interativos utilizam o karaoke como

meio de competição entre os participantes que necessitam de cantar bem e errar o

mínimo possível a letra. Mas como e porquê utilizar o karaoke em situação de ensino-

aprendizagem?

A presença da musicalidade e do ritmo da canção que acaba, muitas vezes, por

se transmitir ao próprio corpo são argumentos quase suficientes (Ribeiro, 2002).

Do ponto de vista didático, o karaoke pode fornecer imensas vantagens a quem o

utiliza na sala de aula. No que diz respeito ao ambiente, os alunos encontram-se

extremamente relaxados e motivados não só por ser uma atividade diferente, mas

porque a música tem um efeito calmante no cérebro, permitindo ao corpo e à mente

estarem num estado de paz. Por norma, as turmas apresentam um conjunto de

aprendentes maioritariamente jovens o que necessita de uma música mais apelativa.

Outra vantagem do karaoke é que os aprendentes melhoram a sua capacidade de

memorização, não só porque a música e os versos, que quase sempre rimam, o

permitem, mas porque a estes dois pontos se alia a parte visual, pois enquanto a canção

é ouvida há uma leitura também repetida dos versos. Este é um aspeto importante: a

aliança entre o visual e o auditivo pois permite aos alunos, através da letra, desenvolver

as suas competências de leitura e compreensão e, nos karaokes que apresentam imagens,

ou naqueles que pelo professor podem ser criados, ainda é possível observar vídeos ou

fotografias alusivas ao tema que pode ser, por exemplo, cultural. Através da utilização

de canções, os aprendentes podem igualmente adquirir estruturas linguísticas da língua

que estão a aprender e, automaticamente, enriquecem o seu vocabulário e, sobretudo o

contato com o texto é mais natural já que o contexto da linguagem que apresenta

também o é. Outra vantagem, muito evidente no karaoke, é o aperfeiçoamento da

pronúncia e das habilidades de escuta e compreensão, não só através da audição mas

também pelo facto de, aliado a ela, se ter o contacto com a letra. As palavras de um

texto didático são retidas na memória até ao dia da avaliação, no entanto, a letra de uma

canção pode fixar-se para o resto da vida (José, 1988, p. 39).

24

Page 25: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Para a execução desta tarefa e o para o bom uso do karaoke, é necessário que o

professor crie um clima agradável e confortável para que os alunos se possam sentir

motivados e cómodos (López, 2005, p. 807). Esta autora também refere, citanto

Saricoban e Metin (2000) e Varela (2003) que “En este contexto ideal de aprendizaje,

las canciones tienen un papel muy importante para profesores y alumnos, ya que

desarrollan todas las destrezas lingüísticas y ponen en funcionamiento los dos

hemisferios cerebrales.”(idem, p. 807)

Varela (2003), citada igualmente pela autora, aponta várias razões para a

utilização das canções que também se podem estender ao uso do karaoke onde se

salienta a criação do sentido rítmico e musical.

Atualmente o uso que os falantes fazem da língua é bastante diferente do

português padrão, usando-se por vezes o calão ou uma linguagem menos formal. É, por

isso, primordial prepararem-se as atividades pós audição que colmatem essa falha que a

canção pode ter, mesmo sendo rica em aspetos culturais, fonéticos ou temáticos.

25

Page 26: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo III – O projeto Languages and Integration through

singing

Durante o ano letivo em que lecionei na turma de nível C do curso anual de

português para estrangeiros, mantive contacto com um projeto que continua em

desenvolvimento, o Languages and Integration through singing5. O projeto foi criado

em 2008 e “é o resultado de três projetos Europeus Grundtvig de Parceria de

Aprendizagem: “Languages and Integration through Singing”, dedicado às línguas

italiana, romena e russa, "French and Spanish language competence through songs”

(FRESCO), relativo ao espanhol e ao francês e "Find A Delightful Opportunity to learn

Portuguese through Internet and songs” (FADO), dedicado ao português”.6 Este

projeto visa o auxílio a todos os professores e alunos que queiram aprender, numa fase

inicial, estas seis línguas, recorrendo às canções.

No sítio http://www.languagesbysongs.eu/index.htm encontram-se vários

planeamentos de aula, inclusivé um em que participei em conjunto com a professora

Ângela Carvalho7. A intenção, no caso português, é difundir a música portuguesa e usá-

la como método eficaz no ensino da língua. Numa primeira fase, encontram-se somente

planos de aula para os níveis A e B, no entanto, propus-me a criar um projeto

“fantasma” para o nível C, podendo vir este a ser agregado ao sítio do projeto ou não,

posteriormente. Neste projeto europeu, encontram-se várias formas de abordagem à

canção que vão desde o karaoke, à composição de letras e músicas, à desconstrução e

análise de canções bem como ao estudo de autores e à pesquisa dos seus trabalhos

musicais, exercícios orais e de interpretação. A riqueza deste projeto é imensa pois com

atividades como a música, o aluno, através da análise crítica das canções seja no aspeto

linguístico, seja na interpretação e reflexão, tem a noção de que pertence a uma

sociedade e que tem um papel fundamental nesta, permitindo também que estabeleça

relações de semelhança/diferença entre a sua línguia materna e a língua estrangeira

(Santos, 2008). As autoras afirmam também que a canção é uma forma de expressão

cultural ao nível ideológico, moral, religioso ou estético e que pode marcar

5 Cf http://www.languagesbysongs.eu/ (Acedido em 18/06/2013)6 Cf http://www.languagesbysongs.eu/page-01-por.htm (Acedido em 18/06/2013)7 Cf http://www.languagesbysongs.eu/page-01-por.htm (Acedido em 09/09/2013)

26

Page 27: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

historicamente uma cultura (como através da música de intervenção), sendo também

representante da história, folcrore e idioma de um país/povo permitindo trabalhar todas

as valências inclusivé através do karaoke. Além de todos os aspetos culturais, estéticos

ou línguisticos que a canção permite abordar, é necessário ter em conta o estado

emocional do aluno, sendo que as atividades com a canção fazem o aluno desenvolver a

sua sensibilidade criativa. Krashen (1982) e Riddiford (1999), citados por Santos (2008)

complementam-se neste assunto, afirmando o primeiro que o aluno, para aprender, deve

estar relaxado e motivado e o segundo que a música permite esse estado de espírito e

que ainda “minimiza o impacto dos efeitos psicológicos que bloqueiam a

aprendizagem” (Santos, 2008, p. 7).

1. Objetivos do projeto

O objetivo deste projeto é fazer crescer o plurilinguismo na comunicação entre

culturas europeias e suas gentes, bem como a sua integração em escolas, formações e

cursos de aprendizagem contínua. Estão juntos os projetos FADO (português) e o

FENICE que contempla o italiano, o russo, o espanhol, o romeno e o francês. É

proposta a difusão de um novo método de ensino da língua estrangeira/segunda, através

das canções, para todos os que desejam ensinar ou aprender uma língua

independentemente da sua origem ou idade, tendo respostas variadas para os que o

procuram. Este método combina o uso de canções com o recurso ao karaoke e a material

audiovisual disponíveis na internet e permite ajustar a sua aprendizagem às

necessidades dos aprendentes que surgem no convívio com alguns lugares na internet

como o youtube. Este materiais didáticos, inicialmente concebidos para os níveis A e B

do QECR, destinam-se a aprendentes cujas competências linguísticas se ajustem, no

mínimo, ao nível A1.

Seguindo a linha do um anterior projeto, coordenados pelo FENICE –

Languages and Integration through Singing e French and Spanish language

competence through songs, que contemplavam o italiano, o francês, o espanhol, o

romeno e o russo, o quadro metodológico fornece-nos dados sobre a introdução ao

método, conselhos sobre a forma de abordar a canção no ensino da língua e como

produzir exercícios que correspondam às necessidades dos aprendentes. Com o intuinto

de verificar a sua pertinência e a eficácia o projeto será implementado nos países

27

Page 28: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

parceiros e depois os resultados publicados no site nas línguas alvo podendo ser

utilizados em qualquer país da Europa mesmo para quem deseja uma aprendizagem

autónoma. Este projeto tem igualmente como intuito:

- Melhorar a parceria entre as instituições envolvidas na aprendizagem de adultos;

- Melhorar a formação dos professores;

- Divulgar os resultados através dos sítios web dos parceiros;

- Informar as instituições que tratam o ensino das línguas sobre a validade do

método;

- Incentivar os professores dos diferentes países a fazer troca de informações on-

line.

2. Atividades

No projeto FADO, dedicado ao português europeu e menos e à sua variante

brasileira, que tem a duração de dois anos (2011-2013) as principais atividades são:

- Encontro de grupos de trabalho para desenvolver, praticar as metodologias,

analisá-las e trocar ideias sobre o trabalho efetuado;

- Desenvolvimento de linhas orientadoras sobre a abordagem musical na

aprendizagem de uma língua estrangeira e respetiva tradução bem como

implementação na página web;

- Organização de exemplos de materiais didáticos e sua implementação;

- Elaboração em todas as suas formas da versão portuguesa do site com os

respetivos materiais didáticos;

- Experimentação dos materiais didáticos junto das universidades, escolas e

instituições e posterior análise dos resultados;

- Disseminação do projeto e seus resultados com o intuito que um grande

número de instituições adotem a abordagem musical na aprendizagem de línguas.

28

Page 29: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

a. Resultados8

Para cada língua, a página web contém cinco secções:

a) Informações gerais sobre o projeto;

b) Espaço docente contendo os procedimentos metodológicos para a utilização

das canções e respetivas instruções bem como a divulgação dos resultados

pós experimentação;

c) Há também um local de trabalho dirigido a professores e alunos com

exercícios e atividades para as quais professores de português que não estão

integrados na parceria podem contribuir com ideias;

d) Descrição e identificação dos parceiros e autores responsáveis pelos

materiais didáticos;

e) Espaço com links para páginas web sobre o ensino de uma língua através da

música.

b. Diretrizes

O multilinguismo da Europa necessita de grandes esforços no sentido de unir

e integrar linguisticamente todos os cidadãos europeus. Para tal, a Comunidade

Europeia (CE) publicou documentos de extrema importância e prêve apoio

financeiro que auxilia a promoção das línguas e a diversidade cultural e promove

o estudo das línguas estrangeiras na Europa.

O projeto LIS (Língua e Integração através da Canção) surgiu devido ao

crescente multilinguismo no contexto da comunicação e integração dos cidadãos

europeus e tem como intuito o desenvolvimento de uma inovadora abordagem

no ensino das línguas estrangeiras para facilitar a integração de imigrantes e

consciencialização da interculturalidade através das canções.

Ao longo dos tempos tem-se vindo a provar o papel preponderante das

canções sobre a aprendizagem, nomeadamente das línguas estrangeiras, pois não

existe aquisição linguística sem o fator motivação que está correlacionado com o

8 Cf http://www.languagesbysongs.eu/page-01-por.htm (Acedido em 09/09/2013)

29

Page 30: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

prazer e a curiosidade, resultando numa aprendizagem mais duradoura. Uma

característica conhecida da música é a capacidade que esta tem de alterar o ritmo

cardíaco, a ventilação, as emoções e as ações, facilitando a memorização, já que

todos temos uma canção favorita e sentimentos associados a ela. No que diz

respeito à aquisição de competências linguísticas, verificamos que os versos das

canções são excelentes textos para melhorar a aptidão de escuta e a compreensão

de uma língua estrangeira sendo, portanto, ótimos materiais didáticos autênticos

na aula de LE. A lista abaixo contém possíveis utilizações da canção no ensino

das línguas estrangeiras:

- Aprendizagem e memorização de fonemas, vocabulário e de estruturas

morfossintáticas através da escuta repetida do texto, sem perda de motivação;

- Exercícios eficazes para a prática de pronúncia, pelo uso dentro do

ritmo da música;

- O uso, por exemplo, do vídeo na vertente karaoke, estimula dois

sentidos em simultaneo, a visão e a audição;

- A aprendizagem através do emocional e pela dramatização do texto

correspondente à letra da canção, muitas vezes de autores conhecidos;

- A importância de versos que, apesar da insignificância do seu autor,

representam tipos de texto poético ou literário que, juntamente com a melodia,

são uma excelente forma de transmissão de emoções;

- Os aspetos culturais também são relevantes pois, em muitos casos, as

letras das canções são excelentes pontos de partida para o ensino de elementos

civilizacionais, geográficos, históricos e de tradições culturais de um

determinado país;

- A canção pode ser também usada como método independente de

aprendizagem pois, através desta e acompanhada por um vídeo, o aprendente

pode familiarizar-se com uma determinada língua. Por exemplo, durante muitos

anos, as pessoas estavam familiarizadas com Inglaterra e com o inglês devido à

música da banda britânica Beatles.

30

Page 31: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

c. Etapas e atividades - Etapa Global:

A abordagem do texto, a compreensão do seu sentido, a explicação do texto

(palavras chave, sinónimos, antónimos, expressões idiomáticas, palavras com efeito

evocativo, perguntas abertas etc.) são processos que estão inseridos nas atividades pré

primeira audição da canção, neste caso karaoke. Juntamente com estes exercícios, e para

preparar a audição da música, podemos recorrer ao processo de antecipação, em que o

título da música é redigido no quadro e os alunos poderão tentar adivinhar o tema da

canção, registando, por exemplo, as suas ideias numa folha de papel. Também é

possível recorrer à utilização de imagens, onde pode constar a do autor, dando a

possibilidade aos alunos de criar uma história em torno dessa imagem ou tentar

encontrar outra que revele a temática da música. De seguida, podemos usar um breve

texto que contextualize a canção, como a sua proveniência ou o seu autor, criando uma

atmosfera propícia à discussão do tema. Por fim, para ser elaborado enquanto se

procede à audição da canção, os alunos podem encontrar sinónimos ou antónimos na

própria letra, referentes a palavras previamente escritas pelo professor no quadro. Estas

são algumas propostas que o projeto apresenta no que concerne à utilização do karaoke.

c.1. Como fazer usar os nossos próprios materiais

As canções, como já referido anteriormente, têm uma capacidade de criar uma

atmosfera de relaxamento e fazer com que o aluno esteja motivado e atento. Essa é a

razão pela qual os professores as utilizam cada vez mais as canções como material

didático das suas aulas.

Os recursos didáticos para este projeto incluem a componente áudio das canções

já que elas fornecem aspetos complementares que auxiliam os alunos a adquirirem

competências linguísticas e a desenvolverem-nas, quer seja por meio de vídeos, quer

seja por meio de karaokes.

Os autores do projeto sugerem 10 exemplos de etapas como estratégia para

ajudar os professores de LE a criarem os seus materiais didáticos:

Passo nº1 – Elaborar uma lista de músicas (Karaoke) para a língua ensinada

31

Page 32: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Passo nº2 – Escolher as canções (karaoke) que melhor sirvam as necessidades da

turma.

Passo nº3 – Analisar das canções escolhidas.

Passo nº4 – Estabelecer uma meta para a aula.

Passo nº5 – Realizar os seus próprios materiais. (Començando pelos objetivos, é

necessário criar material que vá ao encontro às aspirações dos alunos).

Passo nº6 – Introduzir a canção (karaoke) na aula, iniciando atividades de

preparação, apelando à interação e discussão, orientanto sempre a questão para o

objetivo.

Passo nº7 – Interpretar a canção.

Passo nº8 – Implementar o ensino-aprendizagem.

Passo nº9 – Melhorar os conhecimentos.

Passo nº10 – Garantir uma aquisição de conhecimentos com aspetos lúdicos.

d. – Parcerias

Este projeto é o resultado da união de três projetos europeus Grundtving Learning

Partnership projetados e coordenados pela Federazione Nationale Insegnanti Centro di

iniziativa per l’Europa: “Languages and Integration through Singing”, dedicado à língua

italiana, romena e russa, “French and Spanish language competence through songs”

(FRESCO), relativo às línguas francesa e espanhola e “Find A Delightful Opportunity

to learn Portuguese through Internet and songs” (FADO), dedicado ao português.

A Federazione Nationale Insegnanti Centro di iniziativa per l’Europa – FENICE,

Nápoles, Itália – é uma associação sem fins lucrativos que dá auxílio a atividades que

favoreçam a integração escolar. Tem como objetivo, igualmente, reforçar a dimensão

europeia da educação e dar apoio à formação escolar. Trata também de investigação e

de experiências inovadoras no âmbito da metodologia e da didática.

32

Page 33: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Para a elaboração dos três projetos, a FENICE tem o auxílio de qualidade da

parceria associada do “ITIS Galileo Ferraris” – Nápoles, Itália – instituto técnico

industrial público dotado no domínio das TIC’s, do áudio e do vídeo com um

laboratório especializado.

Este é um projeto ainda pouco conhecido entre os professores de LE mas que se

tornou uma execlente alternativa aos materiais didáticos comuns. Além de todas estas

carecterísticas e auxílio aos professores, este projeto apresenta ainda um lado prático:

fornece a qualquer professor ou aprendente de uma LE um vasto leque de opções

musicais para uma aprendizagem diferente. No site encontram-se algumas propostas de

aulas que podem ser utilizadas pelos professores, no nosso caso de português, em todo

mundo, com o recurso à canção e variados exercícios onde ela é trabalhada por meio de

karaokes, de forma estimulante e divertida. A proposta de aula sobre a “Carta” da banda

Toranja foi elaborada pela professora Ângela Carvalho e por mim e encontra-se

disponível no sítio do projeto.

No que diz respeito à minha participação nestas atividades, é de salientar, em

primeiro lugar, que foi uma honra fazer parte de algo que, acima de tudo, acredito ser

produtivo e um método inovador no que concerne ao ensino/aprendizagem de uma

língua estrangeira. A experiência foi muito agradável e só trouxe aspetos positivos pois

aprendi mais sobre como abordar o karaoke, como preparar uma aula com este material

didático e a relevância que o karaoke pode ter para os alunos, neste caso, de níveis

diferentes do que lecionei no estágio. Através da unidade didática que praparei para o

projeto, pude compreender que a motivação é um ponto essencial numa aula de LE e,

sobretudo, que existem vantagens em ser preparada pelo professor pois todas as

competências são trabalhadas e abordadas. Perceber e distinguir o que é importante ou

não para o aprendente nem sempre é fácil quando este tenta ser autónomo. Apesar de o

aluno ter a capacidade de saber o que o motiva e do que gosta, muitas são as

competências que, orientadas por um professor, mais facilmente são exercitadas. A

correção da pronúncia e o ensino/prática da gramática que podem ser erradamente

adquiridas, são exemplos de atividades em que o professor deve estar presente.

Apesar da componente lúdica que o karaoke possa incluir, as unidades que o projeto

apresenta são completas e divertidas, comprovando que é possível chegar ao aluno e às

suas expectativas de uma forma menos monótona, modernizando também as atividades

33

Page 34: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

a lecionar, criando um ambiente motivador e dando confiança ao aprendente para

participar e ser ativo na sala de aula

Este projeto é extremamente válido tanto para professores que queiram ensinar uma

LE através deste método como para os aprendentes que queriram adquirir uma nova

língua podendo trabalhar diretamente no site, tendo acesso às correções igualmente

elaboradas pelos professores. Assim se dinamiza o ensino/aprendizagem e se facilita

cada vez mais o acesso a uma LE, fazendo crescer a comunicação entre aprendentes e

professores que podem também trocar ideias neste projeto.

34

Page 35: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Segunda Parte

35

Page 36: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo IV – A Prática Letiva

A auto-satisfação é inimiga do estudo. Se queremos realmente aprender alguma coisa, devemos

começar por libertar-nos disso. Em relação a nós próprios devemos ser 'insaciáveis na

aprendizagem' e em relação aos outros, 'insaciáveis no ensino'.

Mao Tsé-Tung9

Esta dissertação apresenta-se com um caráter de relatório, tendo em conta que se

justifica com o trabalho elaborado ao longo do estágio numa turma de português língua

segunda/estrangeira, do nível C, no ano letivo de 2011/2012, em que foi trabalhada a

canção em várias vertentes. Sendo assim, serão apresentadas as três regências efetuadas

por mim, onde a canção é trabalhada e testada, enquanto instrumento didático ao serviço

do ensino / aprendizagem do português. Inicialmente a canção é trabalhada com um

intuito de aquisição de competências e formação histórica e cultural. Seguidamente,

apresento uma nova forma de analisar a canção, exemplificando-o com alguns trabalhos

que futuramente poderiam servir durante o processo da aula, neste caso, de PLE e por

mim elaborados. Por fim, proponho o trabalho com a canção através do karaoke,

apoiando-me no projeto a que anteriormente me referi.

O uso da canção na sala de aula não é, de modo algum, um recurso novo mas

continua a ser de extrema importância no que diz respeito ao método

ensino/aprendizagem. Sendo assim, e tendo-me proposto trabalhar sobre o karaoke na

aula de português língua estrangeira (PLE), escolhi como tema da primeira unidade

didática, e como uma introdução ao tema com as canções, a cultura popular das Janeiras

e Cantares dos Reis, em primeiramente por ser uma manifestação popular tipicamente

portuguesa e, em segundo, devido à data da regência ser propícia à abordagem do tema:

era a época em que se cantam as Janeiras e os Reis.

O público alvo deste trabalho era uma turma de nível C, bastante heterogénea na

no que diz respeito à origem cultural, à idade, ocupação profissional e sobretudo ao

nível das competências linguísticas referentes à língua portuguesa o que, por vezes,

dificultava a transmissão e consequente assimilação de conhecimentos da forma

9 http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/mao-tsetung (Acedido em 09/09/2013)

36

Page 37: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

desejada e prevista pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas

(QECR). Por concordar com Pfutzenreuteur (1999, p. 5) quando este diz que a música

contribui para o desenvolvimento cognitivo e emocional da pessoa humana,

rapidamente se clarificaram os meus objetivos no que toca à aplicação desta unidade

didática: fomentar o gosto pela cultura tradicional portuguesa através de experiências

auditivas e escritas, ao mesmo tempo que eram ampliadas e ganhas competências que

permitem ao aluno cumprir as exigências linguísticas e comunicativas do nível em que

se encontrava.

1. Primeira Unidade Didática:10

Esta unidade didática dividiu-se em duas unidades letivas cujo tema era comum.

No entanto, os conteúdos eram variados contemplando, então, um amplo número de

competências a serem desenvolvidas e adquiridas.

A primeira unidade letiva foi iniciada com um diálogo com os alunos sobre o

que tinham feito nas suas férias de Natal e sobre a época do ano em que se encontravam

com o objetivo de busca e transmissão de informação de ambas as partes (aluno e

professor) e da inserção da temática, juntamente com a apresentação de diapositivos

sobre a história e a prática das Janeiras e do cantar dos Reis. Em seguida, e servindo de

mote à atividade seguinte, foi distribuída uma ficha informativa com uma nota

biográfica sobre o cantor/compositor José Afonso, ícone histórico da música popular

portuguesa e que é imperativo o aluno de PLE conhecer ou saber identificar. Com essa

nota, seria mais fácil compreender a letra da canção que vem de seguida e o contexto

social em que foi escrita, sempre recorrendo a conteúdos adquiridos nas aulas

anteriores. Sendo assim, após a nota, foi apresentada a canção “Natal dos Simples” de

Zeca Afonso para, além de completar a proposta anterior, fazer alusão ao tema da

unidade, as Janeiras, pois esta é uma canção usual da época. O objetivo era mostrar aos

alunos um exemplo comum da tradição portuguesa e em seguida analisá-lo em todos os

aspetos para a completa compreensão e o despertar da curiosidade em conhecer mais

sobre o tema. A canção torna-se, então, importante porque é o expoente maior da

manifestação cultural abordada. Para isso, os alunos ouviram a canção sem acesso à

10 Ver anexo 1

37

Page 38: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

letra e de seguida receberam versos trocados que tiveram que organizar para obterem a

quadra desejada. A reconstrução da letra da música desenvolve a capacidade de

apreensão global do texto e dos seus significados, bem como a compreensão da

pronúncia e da dicção. As atividades seguintes, exercícios de significado e de busca e

recolha de palavras para a elaboração de um campo lexical sobre as Janeiras/cantar dos

Reis, foram realizadas com o intuito de aquisição e alargamento do vocabulário relativo

a esta manifestação cultural: para esta proposta, também fiz uma breve exposição sobre

a definição de campo lexical, alargando competências dos alunos ao nível gramatical.

Por fim, o trabalho de casa foi a continuação do exercício anterior que deu

oportunidade aos alunos de usarem mais meios de pesquisa como a abordagem na rua, a

interação com pessoas nativas, busca nas bibliotecas etc., o que permitiu a aquisição de

mais competências ao nível fonético e ao nível dos atos de fala. O trabalho de casa foi

corrigido na aula seguinte e ajudou na continuação da abordagem do tema bem como

permitiu a execução de uma atividade em grupo.

Relativamente à segunda unidade letiva, além da continuação da abordagem do

tema das Janeiras e cantar dos Reis, e aproveitando a temática e a época em que se

insere, o Natal, foram tratados os contos e as lendas. A aula iniciou-se com a correção

do trabalho de casa, onde os alunos, além de apresentarem a recolha lexical que fizeram

sobre as Janeiras, expuseram individualmente aos colegas quais as manifestações

populares, associadas à temática tratada, que ocorrem no seu país de origem. Esta

atividade permitiu desenvolver as competências discursivas e de tomada de palavra

contempladas no QECR (p. 177). De seguida, foi pedido à turma, em trabalho de pares,

que elaborassem, baseando-se no conhecimento adquirido anteriormente com as

atividades propostas, uma quadra sobre as janeiras que, adaptada à música ouvida na

aula anterior, resultou numa canção que, com gosto, foram cantar a uma outra turma de

PLE, do nível A, oferecendo juntamente uma fatia de bolo rei. Esta atividade resultou

muito bem, os alunos foram capazes de construir uma letra baseada nos conhecimentos

adquiridos sobre as janeiras e as suas tradições e cantá-la, lendo essa mesma letra, as

outros alunos sem noção e conhecimentos desta tradição portuguesa. Foram ainda

capazes de explicar aos colegas alguns pontos importantes sobre esta manifestação

cultural, o que fez com que a plateia tenha mostrado interesse e a motivação dos

cantores aumentasse. Todos cantaram, sem exceção, mas sobretudo sem vergonha e

38

Page 39: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

com muita alegria, mostrando a todos os presentes que a canção é um bom veículo de

transmissão de cultura.

A proposta seguinte baseou-se na leitura e análise de um conto: “A menina dos

fósforos” de Hans Christian Andersen. Depois de uma busca intensiva de contos de

Natal, optei por escolher este devido ao seu tamanho e à sua complexidade. Todos os

contos portugueses sobre a época natalícia que encontrei eram extensos, ou demasiado

infantis, inapropriados para o nível C. Tendo em conta a quase universalidade do

conhecimento deste conto e a sua pertinência, optei por tratá-lo, então, com os alunos,

aproveitando para relacionar com outros textos similares existentes nos seus países de

origem. Esta atividade serviu para uma pequena revisão do texto narrativo – conto - já

tratada em aulas anteriores e para a sua total assimilação, sendo igualmente um ponto de

partida para a comparação com a lenda que se iria abordar na proposta seguinte. Neste

ponto, achei pertinente introduzir exercícios de gramática não só porque o texto é

flexível mas porque, devido à observação ao longo das assistências, reparei que os

alunos traziam lacunas, entre muitas, no que diz respeito ao uso de verbos regidos de

preposições. Sendo assim, propus a recolha de verbos regidos de preposições do conto

que tinham lido e, na sequência desse exercício, outro similar elaborado por mim

também com verbos regidos de preposições. No final da correção da proposta de

trabalho, os alunos fizeram uma breve reflexão sobre as caraterísticas do conto,

baseando-se nas aulas anteriores e na leitura que fizeram de “A menina dos fósforos”,

verificando-se se teriam ou não capacidade de retenção de informação e se seriam

capazes de, intuitivamente, comparar as careterísticas do conto com as da lenda. Após

essa reflexão, fizerem outra atividade de escrita em grupo: construir a lenda sobre o

bolo-rei, aproveitando a temática e trabalhando de novo as competências ao nível da

escrita. No final, foi entregue uma ficha informativa com a lenda da origem do bolo-rei.

A aula terminou, então, com o cantar das janeiras à outra turma e com a partilha de um

bolo-rei tipicamente português como forma de encerrar a unidade.

Esta primeira unidade didática serviu inicialmente para compreender o impacto

que a música tem sobre o aprendente e quais as suas reações àquilo que se aprensenta,

bem como as suas motivações. Foi por mim observado que, numa fase inicial, o tipo de

canção na sua essência, ou seja, música e letra, foi recebida com estranheza, na sua

maioria, por nunca ter sido ouvida em momento algum e por, nos países de origem dos

aprendentes, esta manifestação cultural não existir. Num segundo momento, a reação foi

39

Page 40: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

de total descontração e alegria, sendo as barreiras quebradas e a canção absorvida pelos

ouvintes. Rapidamente se viram sorrisos, nenhuma vergonha e após a segunda audição,

alguns alunos cantarolavam e mostravam curiosidade sobre esta manifestação. Com

efeito, “o aluno que consegue expressar-se sem medo de errar tem mais chances de

uma aprendizagem concreta do que aquele que não se manifesta por insegurança e,

consequentemente perde oportunidades de praticar a língua. (Santos, 2008 citando

Krashen (1982)).

As expectativas relativamente a esta unidade foram totalmente ultrapassadas e a

canção, neste caso sobre as Janeiras, teve um impacto inesperado sobre os alunos,

confirmando assim a importância que ela tem no ensino/aprendizagem da língua

estrangeira. Na aula seguinte, alguns alunos comentaram que se juntaram e cantaram as

Janeiras em alguns locais públicos do Porto, tendo sido bem recebidos e aplaudidos

pelas pessoas que os ouviram. Outros afirmaram ter ido propositadamente a alguns

locais ouvir o cantar das Janeiras, reconhecendo e cantando a canção que tinham ouvido

na aula. Para mim, pessoalmente, o meu trabalho como professora no âmbito daquela

matéria tinha sido cumprido. Os alunos reconheceram, absorveram e experienciaram a

cultura portuguesa através da canção, desenvolvendo múltiplos aspetos ao nível da

língua nomeadamente fonéticos, fonológicos e culturais.

2. Segunda Unidade Didática:11

A segunda unidade didática teve lugar no segundo semestre do ano letivo

2011/2012, ou seja, com uma outra turma que se mostrou muito distinta da primeira.

Objetivos cumpridos na primeira unidade didática, foi imperativo para mim retomar a

cultura portuguesa através da canção, escolhendo como tema a música de intervenção.

O público-alvo deste trabalho era uma turma um pouco maior que a anterior, de

nível C, igualmente heterogénea no que diz respeito às origens, idade e ocupação

profissional dos estudantes. Nesta turma, ao contrário da primeira, existem alunos

oriundos de países de fora da Europa, tornando a distância e diferença de culturas ainda

maior e mais interessante do ponto de vista cultural, social e mesmo linguístico. Apesar

de estas diferenças parecerem inicialmente um problema referente à transmissão de

11 Ver anexo 2

40

Page 41: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

conhecimentos, prevista no QECR12, o desafio tornou-se mais atraente do ponto de vista

linguístico, e a tentativa de resolução dessas falhas previsíveis de comunicação lança

professor e aluno numa constante pesquisa e estudo: “A música motiva as pessoas a

aprender e proporciona um elo entre a linguagem da escola e a do mundo” (SANTOS

2008 p.8) e, por este facto ter sido claramente provado na regência anterior, os objetivos

para esta unidade didática mantiveram-se: fomentar o gosto pela cultura tradicional

portuguesa, recorrendo à música de intervenção e a manifestos sociais interligando-os,

com a finalidade de dar a conhecer um período da história portuguesa e da cultura,

trazendo-os para a atualidade. Com o trabalho que a seguir se vai expor, pretendeu-se

ampliar e desenvolver as competências orais, escritas e de trabalho em grupo.

Esta unidade didática dividiu-se em duas unidades letivas, ambas tratando a mesma

temática. A primeira unidade letiva foi iniciada com um pequeno diálogo com a turma

sobre a música portuguesa, com os objetivos de perceber o que os alunos conheciam de

grupos, cantores ou épocas em que a música foi importante (permitindo a produção oral

e a interação) e também de introdução à unidade e à segunda atividade. Esta resumiu-se

a uma apresentação em powerpoint sobre a biografia da banda portuguesa Deolinda que

facilitou a compreensão da atividade seguinte. Após a apresentação, os alunos foram

convidados a ouvir uma canção da banda Deolinda, já apresentada, intitulada

“Movimento perpétuo associativo”. A primeira audição foi feita sem nenhum suporte

escrito; na segunda audição, tiveram acesso à letra da canção com erros que teriam de

corrigir. Este exercício permitiu compreender se a pronúncia era claramente entendida e

se distinguiam a grafia e a fonética de algumas palavras, bem como introduzir os alunos

num contexto de “nova” música de intervenção. No final da atividade e respetiva

correção, foi entregue a letra da canção com algumas informações relativas à banda. De

seguida, depois de ouvida e assimilada a canção, e permitindo a produção oral, a turma

foi convidada a analisá-la apelando à sua sensibilidade auditiva e ao seu conhecimento

da cultura portuguesa. Esta proposta torna-se pertinente pois a canção possibilita retirar

informações relevantes sobre o que diz a letra só através do timbre de voz da cantora,

bem como da própria melodia, como poderemos verificar mais à frente. É uma análise

diferente mas que ajuda os alunos a compreenderem e a assimilarem aspetos linguísticos

que não sejam somente através da leitura, da escrita ou da compreensão da pronúncia.

Também foram discutidos e desmontados estereótipos que a canção refere, o que

12 Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, ed. Asa 2001, pág. 49 e 53

41

Page 42: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

permitiu aos alunos ganharem novos mecanismos de análise da cultura portuguesa e

também discutir sobre a sua própria cultura, o que é, sem dúvida, importante numa aula

de língua deste nível. Após este diálogo e análise, os alunos fizeram uma ficha de

gramática que retomou o assunto já iniciado aquando da audição da canção. O tema

gramatical escolhido foram as palavras homógrafas, homófonas, homónimas e

parónimas que visa alargar e solidificar as competências ao nível lexical. No final da

correção da ficha, foi apresentado novamente um powerpoint, desta vez sobre a música

de intervenção, suas características e contextualização histórica. Esta atividade serviu de

complemento e ligação entre as anteriores e as seguintes, possibilitando aos alunos

alargar conhecimentos sobre a cultura portuguesa, trabalhando a compreensão escrita e

oral, e apreender melhor as tarefas que lhes foram pedidas mais à frente.

Terminada a tarefa, foram distribuídos, lidos e analisados dois manifestos: um

antigo (Manifesto Anti-Dantas13) e um recente (Manifesto da Geração à Rasca14),

explicando assim que não é só na música que existe um movimento de intervenção,

ligando esta à escrita, enquanto se trabalham aspetos fonéticos e de vocabulário, bem

como se trata a análise de texto e a compreensão escrita. Depois, quase a terminar, foi

pedido à turma que formasse grupos para escolher um tema pertinente que teriam de

abordar em forma de manifesto, tarefa a realizar na aula seguinte (unidade letiva IV).

Foi fomentada a discussão em grupo e a interação, bem como a exteriorização, em

grupo, dos conhecimentos adquiridos durante a aula. Por fim, como trabalho de casa, os

alunos tiveram de escolher, para o seu grupo, uma música de intervenção de uma lista

que foi distribuída. A lista tinha três músicas por grupo, mas estava acessível a todos os

outros permitindo, assim, que pudessem pesquisar e recolher mais informações.

Relativamente à segunda unidade letiva desta unidade didática, o tema manteve-se e

a unidade foi ainda mais centrada no aluno. Comecei por uma breve síntese da aula

anterior e, após este resumo, os alunos trabalharam em grupo, elaborando um manifesto

baseado nos que tinham sido estudados na aula anterior. Escolheram igualmente a

música que queriam da lista que lhes foi entregue, como banda sonora da sua

apresentação, tendo também que analisar a sua letra e negociando sempre em grupo as

suas opções. Com esta tarefa, foi-lhes proporcionado trabalhar as competências escritas

e a interação oral. Por fim, apresentaram aos seus colegas o manifesto que executaram 13 Negreiros, José A. (1916) http://www.prof2000.pt/users/tomas/manifesto_anti.htm (consultado em 17/09/2013)14 Cf http://geracaoenrascada.files.wordpress.com/2011/02/manifesto.pdf (consultado em 17/09/2013)

42

Page 43: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

em conjunto e explicaram o motivo da escolha da canção. Através desta atividade,

desenvolveram-se as competências discursivas e de tomada de palavra contempladas no

QECR15. A aula terminou com a marcação do trabalho de casa que passou pela

elaboração de um texto argumentativo sobre a música de intervenção, que entregaram

para correção.

Esta unidade didática permitiu-me testar uma ideia que me ocorreu algumas vezes.

Seria possível um aprendente de uma língua, mesmo num nível inicial, explicar do que

falaria uma canção sem perceber a sua letra? Seria possível a canção, apenas na sua

vertente musical, fazer compreender a um não falante da língua qual o tema que ela

aborda? Serão estas questões pertinentes para o estudo da canção como meio de

ensino/aprendizagem?

Apesar de esta unidade ter sido tratada no nível C, e de os alunos já praticarem o

português de uma forma autónoma, foi-lhes pedido que ouvissem com atenção a canção

“Movimento perpétuo associativo” da banda portuguesa Deolinda e explicassem o que

se depreendia somente da melodia e da voz da cantora. As respostas foram

interessantes: os alunos responderam que havia uma diferença no tom de voz da cantora

quando esta fazia alternância nos versos: primeiramente um tom forte, decisivo e

imperativo e logo em seguida um tom doce, mole e cansado. Relativamente à música, o

mesmo se verificou: primeiro surgiam os instrumentos mais altos, num compasso forte e

certo e depois mais baixo, melodioso e alegre. Os alunos foram capazes de entender que

havia uma espécie de chamamento inicial e de um afastamento posterior. A canção

reflete isso mesmo na letra. Primeiro, toda a gente é chamada a participar num vivo

“Agora sim!” e existe uma certa convicção nesse chamamento. De seguida, ouve-se um

“Agora não...” de quem já não está convicta, refletindo um pouco o comportamento

nacional do “deixa estar, fica para depois”. Apesar de ser uma análise muito básica,

permitiu-me compreender que a canção, no ensino das línguas, é muito mais que uma

letra. As emoções podem ser compreendidas na melodia e são igualmente importantes

no estudo de uma cultura, mas sobretudo que se consegue comunicar sem ser somente

através da letra. Mais à frente, proponho mais algumas músicas que podem servir de

exemplo para este tipo de análise16.

15 Idem, pag 17716 Esta canção é igualmente proposta no projeto FADO em http://www.languagesbysongs.eu/page-01-por.htm (consultado em 16/09/2013)

43

Page 44: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Após esta unidade didática, os alunos mostraram bastante interesse por aquilo que

adquiriram. Alguns participaram até em algumas manifestações que ocorreram naquela

época numa escola do Porto, “Fontinha”, já desativada, que albergava algumas pessoas

de uma comunidade que tinham como objetivo fazer atividade culturais e educativas

como ateliês de desenho e leitura, yoga, cinema e cicloficina com as crianças dessa

mesma comunidade e que, por ordem da câmara municipal, iriam ser despejadas por

ocupação ilegal. A população tentou, junto da câmara municipal, tornar esta ocupação

legal, com um contrato de comodato que, segundo alegraram, nunca chegou. Outros

alunos participaram nas comemorações do 25 de Abril e viram alguns programas

televisivos que tratavam as músicas da época, já ouvidas durante estas duas aulas. Mais

uma vez, senti que o trabalho desenvolvido com as canções tinha sido útil e que parte da

cultura da época foi experienciada pelos alunos fora da sala de aula.

3. Terceira unidade didática:17

No seguimento das regências anteriores, e porque foi essa a proposta de trabalho ao

longo do ano, a canção e a sua importância nas aulas de português língua estrangeira

(PLE) foram novamente abordadas.

Debruçando-nos sobre os resultados da escolha e trabalho com as canções nas

regências anteriores, conseguiremos perceber que os objetivos foram cumpridos. Na

primeira regência, os alunos levaram o tema da unidade didática para o seu dia a dia e,

na segunda regência, os alunos afirmaram que era pertinente e importante abordar o

tema das canções de intervenção, não só para conhecimento da cultura musical do país,

como para conhecimento da história de Portugal. Após uma análise das regências feita

por mim, e em conversa com as colegas de estágio, constatou-se que o uso da canção

torna a aula mais atrativa bem como permite o trabalho de competências da língua.

Sendo assim, esta terceira regência volta a focar a canção como meio de aprendizagem

não só da cultura musical portuguesa mas também de aspetos da língua, neste caso a

carta, indispensáveis e úteis para o aprendente da língua portuguesa. Nesta regência,

houve uma proposta de levar o trabalho com a canção ainda mais longe, introduzindo

um karaoke da canção que se iria abordar. As expectativas eram muitas, mas o intuito

17 Ver anexo 3

44

Page 45: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

era criar um momento de descontração na sala de aula, bem como permitir mais um

momento de expressão oral. Também foi uma forma de perceber se a canção tinha sido

bem trabalhada e compreendida, tal como de permitir aos alunos que se

consciencializassem das variações rítmicas que uma mesma frase pode ter e o quão

importante é autoavaliarem a sua dicção e corrigi-la, de forma a fazerem-se entender em

boas condições, nas mais variadas situações. Em suma, pretendia-se desenvolver as

competências orais, escritas, de interação e de trabalho em grupo bem como as de

autoavaliação em toda esta unidade didática.

Apesar da existência de um grupo considerável de hispanofalantes, as

nacionalidades dos alunos eram variadas e iam desde países europeus, a países da

América Latina ou mesmo Ásia, o que proporciona uma interação de culturas bastante

interessante seja do ponto de vista linguístico, social, cultural ou pessoal.

Esta unidade didática divide-se em duas unidades letivas, ambas tratando a mesma

temática: a carta. A primeira unidade letiva foi iniciada com a apresentação oral, feita

pelos alunos, de alguns trava-línguas utilizados em aulas anteriores. Em seguida, foi

feito um pequeno diálogo com os alunos sobre a carta, com o intuito de saber que tipo

de cartas conheciam e quais as que mais utilizavam no seu quotidiano, permitindo a

interação e a produção oral, bem como introduzir o tema da unidade. No final do

diálogo, os alunos foram questionados sobre os seus conhecimentos sobre a banda

portuguesa Toranja e foi dada uma pequena nota biográfica, oralmente, por mim. Após

estas notas, os alunos ouviram, uma primeira vez, a canção “Carta” dos Toranja, sem

acesso à letra e, na segunda audição, receberam uma letra com lacunas que teriam de

preencher. No final, a canção foi ouvida uma terceira vez, para correção. Este exercício

permitiu compreender a pronúncia e se os alunos conseguiam acompanhar a letra e

perceber a dicção, já que esta letra era bastante extensa e cantada de forma acelerada.

De seguida, a turma foi convidada a analisar a canção, o que fez com que as

competências de produção oral e de interação fossem de novo desenvolvidas, e foram

também abordados aspetos relativos à carta, tema da unidade. Para que a canção não

suscitasse mais dúvidas e a sua compreensão ficasse solidificada, foi entregue aos

alunos uma ficha de análise e compreensão da mesma, com o objetivo de desenvolver

competências escritas bem como dar aos alunos oportunidade de exporem a sua opinião

pessoal relativamente à análise da canção. Depois da correção desta ficha formativa, a

turma iniciou outra ficha, desta vez sobre funcionamento da língua. O tema escolhido

45

Page 46: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

foram as preposições que, apesar de já abordadas na primeira regência, se tornou

pertinente tratar com esta turma, e também devido ao facto de a própria canção ser rica

neste aspeto. Com esta atividade, os conhecimentos dos alunos, ao nível

morfossintático, ficaram fortalecidos. Após a correção deste exercício, e com intuito de

dar início à atividade seguinte, foram brevemente expostas as características da carta

informal para que, então, os alunos pudessem fazer, em grupo, um jogo que consistia

em responder à carta dos Toranja. A carta começou a ser redigida numa ponta da sala e

seguiu aluno a aluno. No entanto, nenhum estudante teve acesso ao que o anterior

escreveu, dobrando-se a folha sobre o que tinha sido redigido anteriormente. Este

pormenor fez com que o aluno estivesse atento ao facto de que o seu posicionamento na

sala era relevante para o momento da carta (início, corpo e despedida). Mais uma vez, as

competências escritas foram trabalhadas e, no final, foi pedido a um dos alunos que

lesse, em voz alta, o resultado da resposta que foi muito cómico. Cessada a atividade,

foi apresentado um powerpoint sobre a estrutura da carta formal e informal, primeiro

para os alunos verificarem se tinham procedido bem à execução da carta e em segundo

lugar para poderem fazer as atividades seguintes sem dúvidas, sendo assim, também,

um elo de ligação. Apresentado o powerpoint, foram distribuídos postais alusivos à

cidade do Porto com o objetivo da redação dos mesmos (carta informal) para um amigo

ou familiar, a contar factos sobre a estadia dos alunos no Porto. No final, o trabalho de

casa consistia na pesquisa sobre o que são campos lexicais e na recolha dos mesmos na

letra da canção abordada na aula. Além disso, os alunos iriam procurar na internet duas

versões da canção “Carta” dos Toranja feitas por humoristas portugueses: Vasco

Palmeirim e Gato Fedorento, ou seja, de novo foi utilizada a canção. Este trabalho de

casa permitiu aos alunos rever o funcionamento da língua a partir do tema da aula e

também outras versões que a canção pode ter, com objetivos diferentes.

Relativamente à segunda unidade letiva desta unidade didática, o tema manteve-se e

as propostas de trabalho foram ao seu encontro. Começámos pela conclusão da

apresentação dos restantes trava-línguas trabalhados pelos alunos, atividade que tinha

tido início na aula anterior. Após esta apresentação oral, os alunos fizeram também uma

síntese da unidade letiva precedente. Em seguida, foram distribuídos dois modelos de

cartas formais, uma de reclamação e outra de motivação, que os alunos teriam que,

primeiramente, ler em silêncio e, depois, em voz alta. O intuito desta atividade era

estabelecer contacto com tipos de carta menos comuns mas que seria importante

46

Page 47: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

trabalhar, pois em muitos momentos da sua vida os alunos irão precisar de redigir

algumas dessas cartas. Após a análise destas, os postais da aula anterior foram

retomados para compreender se o local do remetente tinha sido bem preenchido e, se

necessário, corrigi-lo. Depois, cada aluno tirou um papel à sorte que indicava que tipo

de carta teria de redigir. Nas opções, estavam a carta de reclamação, motivação,

recomendação e apresentação e após terem terminado, alguns alunos leram em voz alta

a sua carta e os colegas tiveram de dar a sua opinião e corrigir a estrutura, caso estivesse

errada. Com esta atividade, desenvolveram-se as competências discursivas e de tomada

de palavra contempladas no QECR18. A aula terminou com um karaoke da canção

abordada na unidade letiva anterior mas com um pequeno ensaio antes.

Apesar de a canção escolhida para esta unidade não facilitar tanto e tão diretamente

a aproximação do aluno ao tema, como aconteceu nas anteriores, a escolha foi baseada

no número de assuntos que posteriormente permitiria trabalhar. “Música é uma arte que

interessa a todas as pessoas promovendo, consequentemente um maior entrosamento

entre professor e alunos criando um clima favorável a uma efetiva

aprendizagem.”(Santos, 2008, p. 9): atendendo a este facto, esperava-se somente que a

canção, nesta regência, fosse um ponto de partida eficaz para a aquisição de

conhecimentos em todos os níveis, realmente pertinentes para a vida de um aluno de

língua estrangeira.

Esta unidade didática foi bastante interessante no que diz respeito ao uso da canção.

Nenhum aluno da sala tinha feito anteriormente a atividade de karaoke, o que, para

mim, foi uma surpresa e uma alegria pois iria mostrar-lhes algo novo que se poderia

fazer com a canção numa aula de PLE, bem como na vida, como entretenimento e

distração. A recetividade foi enorme. Primeiro, houve alguma vergonha que

rapidamente desapareceu quando as colegas estagiárias e eu, bem como a professora

regente, participámos na atividade, cantando com eles. Foi utilizada a canção da aula,

“A carta” da banda Toranja e este karaoke foi filmado19 para posteriormente todos

verem a sua prestação. Inicialmente, houve muita dificuldade devido à própria métrica e

à rapidez com que era executada na canção, levando os alunos ao riso e a algum

desespero que nunca se traduziu em desistências. No final, após ter sido cantado duas ou

três vezes, o karaoke saiu quase perfeito merecendo umas palmas e entusisamo. Os 18 Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, Conselho da Europa, ed. Asa 2001, pág. 49 e 5319 Ver anexo audiovisual

47

Page 48: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

alunos compreenderam que a atenção e a audição repetidas melhoravam a sua prestação,

nomeadamente na dicção. Comentaram também que estavam motivados e relaxados e

que aquela seria para sempre a música da turma, criando laços emocionais com o

momento, com a aula e com aquela turma com um objetivo comum: aprender

português.

Nas aulas seguintes, mais uma vez senti-me realizada ao saber que alguns alunos se

tinham juntado para fazer karaoke em alguns bares da cidade, cantando inclusivé a

música da aula.

Todos os trabalhos elaborados com a canção deram fruto e permitiram aos alunos

uma relação mais estreita com a cultura e a língua portuguesa, principalmente fora da

sala de aula, no seu quotidiano.

48

Page 49: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.

Aristóteles20

Capítulo V - Avaliação Crítica21

I. Expectativas Iniciais:

No início do ano letivo em que realizei o meu estágio pedagógico, as

expectativas eram em grande número e elevadas. Passavam essencialmente por um

desejo de aumentar conhecimentos e por querer uma preparação eficaz para o futuro

como professora. Existia igualmente uma ambição pelo autoconhecimento e pela

partilha de experiências, bem como o desejo de melhorar todos os pontos negativos que

pudessem vir a interferir no desempenho das funções como professora. Havia um

desconhecimento enorme do que era proposto, uma total inexperiência que contribuiu

claramente para uma contenção nas próprias expectativas. Para mim, trabalhar a canção

na sala de aula era essencial, não só por estar ligada à música mas por achar que este é

um recurso importante e que traz enormes beneficios à aprendizagem e ao estado tanto

emocional como de motivação de uma turma.

II. Balanço dos Semestres:

O primeiro foi um semestre de emoções e de procura de integração numa

atividade até então desconhecida. A execução da primeira planificação, em novembro,

foi bastante árdua porque não tinha pontos de referência nem a precisão e o

discernimento necessários para conseguir algo coeso. A falta de experiência manifestou-

se claramente na realização do plano, bem como na prática letiva, o que fez com que

houvesse uma longa reflexão e um trabalho minucioso com o intuito de corrigir

pormenores que falharam. No entanto, foi um semestre de lançamento, um semestre

calmo e de observação que permitiu sempre absorver experiências essenciais para a

melhoria do desempenho posterior. A turma onde lecionei por essa altura era uma

turma, como referido, pouco acessível, pouco comunicativa e com a qual se tornava, por

vezes, complicado criar empatia mas que melhorou rapidamente no final. Foi

igualmente o semestre durante o qual revelei quais os pontos fortes e fracos na execução 20 http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/aristoteles/5021 Portfolio Europeo para futuros profesores de idiomas (2007)

49

Page 50: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

das tarefas e que permitiu perceber se as expectativas teriam sido altas, e também se era

possível esperar mais ou menos do futuro.

O segundo semestre foi um semestre mais calmo mas ao mesmo tempo mais

exigente. Com referi anteriormente, a turma era muito diferente, os seus conhecimentos

e a busca destes eram muito maiores o que me deixou mais receosa e apreensiva. A par

das aulas, comecei a trabalhar fora da Faculdade o que me deixou mais cansada e com

menos tempo, prejudicando algumas vezes a preparação das unidades. No entanto, o

meu espírito estava menos inquieto, após a primeira vez que lecionei, fazendo com que

houvesse menos nervos, mais calma na forma de comunicar, mais atenção às dúvidas

dos alunos e com mais certezas sobre o uso da canção e do karaoke como método, já

que as unidades anteriores tinham correspondido às minhas expectativas e às dos

alunos.

III. Reflexão Global/Anual sobre todo o processo

Apesar da grande falta de experiência, no geral, o ano de estágio foi

extremamente positivo. As expectativas foram em muito superadas e alguma

experiência foi adquirida com esperança no futuro. O tempo de estágio foi curto, as três

unidades didáticas a executar foram insuficientes para adquirir mais experiência e

treinar todas as competências docentes, no entanto, apesar do baixo número, foram bem

aproveitadas. A troca e a partilha de ideias com as colegas de estágio, já com

experiência, ajudaram todo o processo e a assistência a algumas unidades de outros

níveis, tanto da orientadora como das colegas, também forneceram boas ferramentas

para o futuro. A interação com os alunos, por seu lado, e embora dificultada na primeira

turma, foi igualmente positiva, pois permitiu recolher dados importantes, perceber

alguns pontos necessários a abordar, mas sobretudo que todos os alunos têm ritmos

diferentes face à aquisição da língua. O ensino da língua como língua estrangeira é

diferente do ensino da língua materna e para tal é necessário aprender outros

mecanismos. No geral, alguns receios e pontos fracos foram superados e melhorados,

mas somente o tempo e a experiência porão fim aos poucos que foram ficando. Creio

que, globalmente, houve uma evolução quer como docente e estudante, quer como

pessoa e, só por esse facto, todo o processo valeu, obviamente, a pena e, havendo

50

Page 51: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

oportunidade, deve ser sempre continuado com o objetivo de alcançar e fazer sempre

mais e melhor.

1. Autoavaliação:

1º Semeste:

Servi-me, para esta autoavaliação, do documento Portfolio Europeo para futuros

profesores de idiomas22 (2007, p. 6), disponibilizado pela docente do Estágio. Como

previsto, teríamos de selecionar alguns descritores como critérios para preencher o

nosso próprio documento pessoal. A escolha dos descritores para a autoavaliação do

primeiro semestre foi baseada somente nas expectativas e nos receios que sentia antes

de iniciar o processo, pois não tinha um ponto de referência nem experiência como

professora, não podendo saber se existiriam ou não pontos negativos a serem corrigidos.

Para esta autoavaliação, tinha vários descritores, agrupados, à minha disposição, dos

quais tinha que fazer uma escolha para elaborar esta minha avaliação. O primeiro grupo

aborda o contexto, tendo como descritores o currículo, objetivos e necessidades, o papel

do professor de línguas e os recursos e impedimentos institucionais. Relativamente ao

segundo grupo, a metodologia, encontram-se os descritores oralidade/interação oral,

escrever/interação escrita, ouvir, ler, gramática, vocabulário e cultura. O terceiro, sendo

mais pequeno, fala somente, no geral, dos recursos. No quarto agrupamento de

descritores, no que diz respeito à preparação das aulas, encontram-se os descritores

identificação dos objetivos de aprendizagem, conteúdos das aulas e organização destas.

O quinto grupo refere-se à lecionação da aula, tendo como descritores o uso do

programa, os conteúdos, a interação com os alunos, dinâmica e gestão da aula e o uso da

língua na aula. No sexto conjunto de descritores, a aprendizagem autónoma, abordam-se

a autonomia, as obrigações, os projetos, o portefólio, meios virtuais de aprendizagem e

atividades extra curriculares Relativamente ao sétimo e último agrupamento de

descritores, os da evolução da aprendizagem, encontramos a construção de ferramentas

de avaliação, avalição, competências no uso da língua, cultura e análise dos erros.

Começando pela primeira categoria, o contexto, o descritor do papel do

professor de línguas é um dos mais importantes e seguramente aquele de que eu tinha

22 Portfólio Europeo para futuros professores de idiomas (2007 p.6) http://epostl2.ecml.at/LinkClick.aspx?fileticket=Odz4pL2JvAk%3D&tabid=505&languge=de-DE (consultado em 22/09/2013)

51

Page 52: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

menos consciência no início do processo. O facto de ser inexperiente e de nunca ter

contactado com alunos nem de língua materna, nem de língua estrangeira, fez-me pôr

em, causa muitas, vezes qual o meu papel na sala de aula. Após o primeiro contacto e a

prática letiva, além de me consciencializar sobre a minha função, creio que consegui,

ainda que com algumas lacunas, cumprir o papel de professor de línguas, transmitindo a

cultura do país alvo, fazendo a ponte entre os países de origem dos alunos e Portugal e

ser a figura onde, além de dúvidas relacionadas com a aprendizagem da língua, se

poderia encontrar alguma compreensão e ajuda.

O segundo descritor escolhido diz respeito aos recursos didáticos, um ponto

onde as expectativas eram altas por me considerar algo inovadora. No entanto, a tarefa

revelou-se complicada. Precisamente pela falta de noção dos conhecimentos da turma e

por não ter tanta sensibilidade para alguns pormenores, acabei por perder-me e

confundir-me com ideias, por vezes impraticáveis, e com uma busca incansável por

material didático autêntico. Estar atenta às necessidades da turma e pôr de lado os

gostos pessoais foi algo problemático no primeiro semestre. Apesar de tudo, a escolha

do material e o recurso ao projetor e ao leitor de música foram bem aceites pelos alunos

e, de certo modo, os motivaram para atividades fora da sala de aula.

O terceiro descritor, a organização, referente à categoria da planificação, teve, da

minha parte, uma atenção especial. Foi para mim, no primeiro semestre, muito difícil

conseguir fazer uma planificação. A falta de experiência e de pontos de referência

impediu que fosse clara e objetiva na execução do planeamento das unidades bem como

das grelhas que nos foram solicitadas, onde era necessário colocar todas as atividades a

realizar na sala de aula, a sua duração e o material a utilizar para a sua execução. A

primeira planificação, no papel, estava pouco clara e coerente o que dificultou a prática,

no entanto, foi um bom motor de reflexão sobre os pontos a melhorar e sobre o papel

que a própria planificação tem para o bom desempenho do professor.

A escolha do quarto descritor recai sobre a atuação em aula: a interação com os

alunos era uma das grandes preocupações. A ansiedade e o nervosismo, o excesso de

gesticulação, o medo de não compreender o aluno, eram sempre fatores que, desde

cedo, pensei que pudessem interferir na minha prática letiva. Terminado o primeiro

semestre, apercebi-me que a interação não era perfeita e que era necessária calma nos

52

Page 53: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

gestos, no ritmo da fala e nas explicações dadas aos alunos. Apesar desses pontos a

corrigir, creio que houve bastante empatia e adesão da turma aos meus projetos.

O quinto e último descritor escolhido para o desempenho deste primeiro

semestre foi, na avaliação da aprendizagem, a oralidade. Algum do receio antes de

iniciar todo o processo de lecionação em estágio também dizia respeito, de uma forma

geral, à avaliação. A oralidade era o processo mais comum, os alunos comunicavam

mais oralmente do que de qualquer outra forma, ou seja, esta está em constante

avaliação por parte do professor. Era necessário corrigir automaticamente o erro do

aluno assim que este era detetado. Por vezes foi-me difícil perceber o erro por não

compreender o que o aluno dizia, ocorrendo a híper correção, outras chegava a

interromper o aluno inúmeras vezes durante o diálogo ou a leitura o que não facilitava a

sua concentração. No entanto, notei uma melhoria durante o segundo semestre devido à

reflexão que fiz sobre esta perceção bem como sobre os comentários das colegas e

orientadora.

Relativamente ao uso da canção, devido aos resultados obtidos, achei que foi

uma boa escolha de tema para a reflexão deste relatório, embora reconheça que o tipo de

música não era dos mais apelativos. No entanto, estava a lidar com aprendentes adultos

que eram capazes de compreender os objetivos mas sobretudo de entender que o

divertimento de uma aula não é tudo e que a cultura do país é importante para a sua

aprendizagem e isso deixou-me mais tranquila e expectante quanto aos resultados. O

facto de terem conseguido elaborar uma canção de Janeiras e de a irem cantar,

motivados, à outra turma, validou todo o trabalho e destacou que a música popular

portuguesa e o fado não são as únicas canções que se devem utilizar sempre quando se

quer transmitir um lado cultural do país.

2º Semestre:

O segundo semestre foi bastante diferente do primeiro, não só devido à turma,

como já referido, ser mais acessível, ser maior em número de estudantes e em

nacionalidades e ter uma maior diferença de idades, mas porque o primeiro impacto já

tinha decorrido e não havia propriamente novidade. Apesar disso, a turma, mesmo mais

acessível, era algo exigente o que se tornou um desafio e criou algumas expectativas e

53

Page 54: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

alguns receios. Para o segundo semestre, os descritores foram escolhidos com base não

somente nos pontos em que havia necessidade de melhorar e que em que percebi que

havia claramente falhas, mas também no que acho ser essencial na atuação do professor.

O primeiro descritor, inserido no contexto, é o das necessidades e objetivos:

neste segundo semestre, já consegui distinguir melhor o que achava necessário do que

realmente era necessário. Os alunos eram autónomos e comunicativos e facilmente

especificaram as suas necessidades direta e indiretamente. Creio que cumpri este ponto,

não só por ver os resultados em sala de aula, mas também pela avaliação feita pelos

alunos no final de cada unidade, pois tinham que preencher, anonimamente, uma folha

onde davam a sua opinião sobre o desempenho do professor estagiário e as atividades

que este tinha desenvolvido em cada aula. .

O segundo descritor que selecionei, o método, quase tem motivos bélicos ao

longo de todo o processo: a gramática. Os alunos queriam claramente que esta lhes

fosse dada numa enorme dosagem. Em mim gerou-se uma luta interna, pois como

professora achava que, no nível em que eles se inseriam, os temas de gramática que

tanto pediam para abordar não estavam adequados e que deveriam fazer parte de sua

formação anterior. O que queria abordar naquele nível tinha uma maior exigência e

passava por assuntos culturais e literários aos quais eles não estavam recetivos. O tema

da gramática despoletou em mim uma constante reflexão sobre o que se deveria ou não

ensinar numa aula de língua estrangeira e se o método de ensino/aprendizagem adotado

seria o mais correto. Também me fez refletir sobre as necessidades dos alunos e

sobretudo sobre a avaliação.

O descritor seguinte diz respeito ao conteúdo das aulas. O que no primeiro

semestre foi muito dificultado pela falta de experiência e sensibilidade, no segundo já se

tornou mais simples, sem perder, no entanto, a sua extrema importância. Tenho noção

de que algum conteúdo pode não ter sido tão adequado, na segunda unidade didática, às

necessidades dos alunos, e isso é uma situação que é necessário rever e melhorar mas,

no geral, pela avaliação dos alunos no final das unidades, através da folha entregue pela

orientadora, e pelos resultados que observei, creio que foi bem adaptado e que consegui

responder às necessidades. Tenho igualmente consciência de que poderia ter trabalhado

mais a gramática, mas a opção tomada na altura pareceu-me a mais sensata.

54

Page 55: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Relativamente ao quarto descritor, a escolha recai sobre o uso do plano da aula,

inserido na atuação em aula: é irrefutável que planificar a aula é extremamente

necessário, em qualquer momento da carreira de um professor. O plano ajuda-nos a ter

noção de como vamos agir na prática, de como nos vamos organizar, do tempo que

vamos despender para executar cada tarefa. A maior dificuldade com o uso do plano

prende-se com o fator imprevistos. Para os possuidores de pouca experiência, o plano

pode ter duas faces: a ajuda e a perturbação. É uma boa ajuda porque com o plano temos

tudo clarificado e organizado, podendo executar as atividades na ordem certa, aceder

rapidamente à lista de material de que necessitamos etc. Por outro lado, o plano pode

tornar-se confuso quando, por algum motivo, a ordem das atividades necessita de ser

trocada ou o tempo de uma atividade foi reduzido ou excedido por algum imprevisto.

Este semestre experimentei a mais comum, a ajuda mas também a perturbação. Alguns

imprevistos como pedidos de explicação ou prolongamento de discussões, diminuiram,

algumas vezes, o tempo da aula, fazendo mesmo com que algumas atividades ficassem

por fazer e a minha atuação na sala de aula se alterasse radicalmente, passando da calma

para o stress. Improvisando um pouco, consegui fazer com que a turma se prejudicasse

o menos possível devido a essa falta de tempo, mas sem dúvida que é necessário

dominar bem o plano e, sobretudo, aquilo que se está a lecionar, para que os problemas

levantados pelos imprevistos sejam de fácil resolução.

O último descritor escolhido para a autoavaliação deste segundo semestre foi a

avaliação, um dos pontos mais importantes e para o qual o professor está habilitado.

Para a maioria dos professores que começam, por norma este procedimento é sempre

assustador porque nos faz pôr sempre em causa as nossas competências e sobretudo se

seremos capazes de avaliar corretamente os alunos. Apesar de a avaliação final ser

realizada pela orientadora, responsável pelas turmas onde se deu o estágio, fomos

sempre conscientes da avaliação nas nossas atividades e ajudámos na apreciação de

algumas executadas nas aulas da orientadora. Escolher e decidir de que forma avaliar foi

muito mais delicado do que qualquer outra opção. A própria correção das atividades

teve que ser sempre revista pela orientadora e foi realizada com muitos receios, o que

também prejudicou a entrega dos trabalhos dos alunos a tempo e a minha própria noção

do que estava correto ou não. Ter a responsabilidade e a solidão de assumir a avaliação

de alguém foi um dos pontos mais difíceis no estágio e que necessita urgentemente de

novos mecanismos para suprimir certos receios agregados a esta tarefa.

55

Page 56: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Por fim, os dois descritores selecionados do primeiro semestre foram a

organização e a interação com os alunos pois, indiscutivelmente, eram os fatores a que

mais tinha prestado atenção durante todo o processo de estágio, já que deles dependia

muito o sucesso da realização das unidades, e foram talvez onde houve mais evolução

como professora. A organização do primeiro para o segundo semestre, quer de

planificação quer de aulas sofreu uma grande alteração. Tudo foi planeado com mais

calma, ponderação e ficou sobretudo muito mais organizado e claro. Foi conseguido,

visivelmente, um distanciamento dos pormenores menos relevantes e uma focalização

no que realmente era necessário. O mesmo se passou relativamente à interação com os

alunos: o nervosismo foi diminuindo, a empatia crescendo, as constantes correções e

interrupções eram feitas em momentos oportunos e a atitude, em momentos de mais

stress, era menos rígida. No geral, notou-se uma evolução nestes dois aspetos mas

também uma grande vontade de melhorar quer estes, quer todos os anteriormente

referidos.

Neste semestre, a escolha das canções foi bastante mais cuidadosa, não só pelo

tipo de turma mas também pelo desejo de fazer algo diferente do que já tinha sido

apresentado. Na segunda regência, como já referido, optei pela música de intervenção.

Incialmente a escolha foi difícil. Decidir entre a música de intervenção atual e a mais

antiga e qual a mais relevante levantou várias questões. No entanto, com a música dos

Deolinda foi-me possível ver a questão da comunicação através da melodia e perceber

qual a sua importância através da discussão entre a turma. Apresentar noutro trabalho da

mesma aula uma lista de várias músicas de intervenção do tempo da ditadura, permitiu

aos alunos explicar aos colegas o que a sua canção, escolhida em grupo, tinha a dizer

sobre a história do país e sobre a cultura e ainda explicar a importância da canção de

intervenção. Para mim foi um trabalho bem sucedido, pois senti que os alunos

construiram, no seu conhecimento, mais um pouco da história de Portugal bem como

perceberam a importância da música de intervenção quando é proibido manifestar

opinião e quando todos os meios de comunicação são barrados aos cidadãos de um país.

56

Page 57: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo VI - Auto e Heteroavaliação

1. Reflexões pessoais após as unidades

Primeira Unidade Didática: No final da primeira unidade, a sensação que tive

foi de alívio e de que não tinha sido uma experiência aterrorizadora como tinha

imaginado. Durante a preparação da unidade achei que, por nunca ter lecionado na vida,

iria correr muito mal. Não foi essa a verdade, mas na realidade também tive a noção de

que tinha falhado em muitos pontos. Estava visivelmente nervosa, o que fez com que

gesticulasse imenso, falasse muito depressa e por cima dos alunos, completando muitas

vezes o seu raciocínio. Perdi-me algumas vezes com perguntas e dúvidas dos alunos que

não estavam contextualizadas ou não tinham sido por mim previstas. Os nervos eram

tantos que chegava muitas vezes, mentalmente, a pôr em causa as minhas respostas, a

hipercorrigir-me e a questionar-me sobre os aspetos mais banais de gramática. Percebi

que algumas atividades não tinham sido tão bem conseguidas como expectava e que

alguns exercícios tinham gralhas por falta de atenção. No entanto, consegui orientar

bem o tempo fazendo todas as atividades. O espaço da sala e do quadro foram bem

geridos e os recursos tecnológicos também. A planificação das atividades podia ter sido

melhor conseguida mas, e após o final do estágio, consigo perceber que a falta de

experiência e o impacto inicial foram os causadores de grande parte dos erros da

primeira prática letiva.

Segunda Unidade Didática: após a primeira experiência, o estado de espírito

era diferente, no entanto a turma era mais exigente, mais comunicativa, mais curiosa, o

que levantava alguns receios. O nervosismo mantinha-se, embora em mais controlado.

Cometi algumas falhas nomeadamente o incumprimento do plano no tempo previsto, fiz

algumas perguntas fechadas, que automaticamente não davam margem para o diálogo,

não prestei atenção a alguns alunos que pediram licença para falar, colocando o dedo no

ar. Para tentar cumprir o plano, dei por terminado um diálogo com os alunos quando

ainda havia muito a dizer e algumas perguntas a fazer e cometi um erro do ponto de

vista cultural, enganando-me numa data referente à história de Portugal, o que fez com

que a orientadora interferisse. Tive a noção de que quando o tempo estava a reduzir-se,

comecei a ficar nervosa e mais rígida nas expressões e na fala. Relativamente aos

aspetos positivos, a minha postura inflexível quase desapareceu, as interrupções e

correções foram feitas, na sua maioria, oportunamente, não existiram gralhas nas fichas

57

Page 58: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

distribuídas e a unidade foi preparada e lecionada com mais calma e ponderação. No

geral, as atividades foram acessíveis e houve boa adesão por parte da turma, bem como

interação com os colegas e professora.

Terceira Unidade Didática: Esta última unidade foi dada a meio do segundo

semestre, quando a relação com a turma era melhor e mais profunda e já não existia

espaço para determinadas falhas. Estive atenta aos pormenores que insistentemente me

acompanhavam e me desviavam da boa execução da aula e, de uma forma geral, creio

que, sabendo que as quatro unidades letivas anteriores já lecionadas não chegariam para

atingir a perfeição, correu bem. Evitei as perguntas fechadas, a rigidez na postura e nas

respostas, os gestos e o excesso de energia e sobretudo tentei que os imprevistos não

afetassem tanto o decorrer da aula. Não fui clara na explicação de algumas atividades o

que gerou alguma confusão e dúvidas mas que rapidamente foram resolvidas.

2. Comentários de colegas do estágio

Devido ao número reduzido de alunos neste estágio e às incompatibilidades que

se criaram, foi somente possível recolher opinião da colega Ana Martins.

Relativamente ao primeiro semestre, tendo sido dada somente uma unidade, a

colega afirma que gostou, de uma forma geral, das aulas a que assistiu, que foram

divertidas, motivadoras e bem conduzidas, mas que a minha postura perante algumas

dúvidas dos alunos era muito rígida, dando-lhe a ideia, pela minha expressão facial, de

que teria ficado zangada com as questões dos alunos, embora pudesse ter sido somente

impressão. Comentou igualmente que me tinha achado nervosa e que isso era nítido nos

meus gestos. Quanto ao segundo semestre, e no que diz respeito à terceira unidade

didática, a colega Ana Martins referiu que a diferença da primeira unidade para a última

era notória, achando-me mais solta, menos rígida, nervosa e atrapalhada. Referiu

igualmente que as atividades da aula tinham sido bem conseguidas e que tinha visto que

os alunos tinham gostado bastante.

58

Page 59: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

3. Comentários da Orientadora:

Sendo estes os comentários mais importantes e os mais construtivos, destaco

aqueles que mais suscitaram reflexão que, relativamente à unidade didática do primeiro

semestre, foram a rigidez na minha postura face às questões imprevistas dos alunos ou

às questões que eu adjetivava de demasiado simples, tendo a orientadora usado, em tom

de brincadeira, “tirana”. Chamou à atenção as confusões nas correções dos exercícios

porque os conhecimentos científicos não podiam falhar. No que diz respeito ao segundo

semestre, destaco igualmente a última unidade didática, pois pode fazer-se uma

verdadeira comparação. Sobre esta unidade, a orientadora referiu que deveria esforçar-

me por ter umas reações ainda mais ponderadas e que já se sentia capaz de me entregar

uma turma, embora por vezes tivesse que se informar se tudo estava a correr bem.

Os comentários de ambas foram escolhidos pela importância que tiveram na

minha reflexão pessoal sobre todo o processo.

4. Reflexão Global sobre as reflexões e os comentários

Foram algumas as vezes em que foi difícil compreender que o trabalho de um

professor é contínuo e sobretudo que não tem hora ou dia, depende muito das

necessidades daqueles para quem é dirigido, os alunos. Ter acesso aos vídeos das aulas

por mim lecionadas, ter assistência da orientadora e das colegas é em tudo positivo. Os

vídeos foram uma novidade para mim. Não tinha conhecimento que em outras turmas se

fizesse o mesmo e achei uma excelente ideia pois, após os visionar, tive uma noção

mais alargada sobre o trabalho que tinha desempenhado na aula, ficando, por vezes,

espantada com alguns pormenores como a minha postura. Os vídeos foram uma grande

ajuda para modificar aspetos que estavam menos bem e sobretudo para refletir sobre

todas as atividades lecionadas. Por vezes é difícil termos sensibilidade para nos

observarmos enquanto estamos atentos às necessidades dos outros e, indiscutivelmente,

a presença de terceiros que nos possam orientar é uma mais valia tanto para nós como,

consequentemente, para os alunos. Todas as críticas foram exclusivamente construtivas

e serviram para uma reflexão profunda sobre a postura em aula bem como sobre a

execução desta. A inexistência destes comentários faria com que os erros não detetados

por mim e que prejudicavam o decorrer das aulas se tornassem um hábito que,

59

Page 60: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

provavelmente, nunca mais seria corrigido e tornar-me-ia uma professora menos

sensível, competente, astuta e trabalhadora. Pormenores como a minha expressão facial,

detetados por terceiros, que para mim seria algo banal ao qual nunca daria importância,

fizeram toda a diferença na criação de empatia com os alunos. O facto de, por vezes,

interromper os alunos, criar questões fechadas ou não prestar atenção às suas expressões

faciais poderia comprometer toda a vida profissional, prejudicando-me, só por não ter

conseguido perceber que não estava a agir em conformidade com o que seria adequado.

Todas as opiniões foram extremamente importantes, mesmo as que me fizeram

desesperar e achar que não ia conseguir. Sem dúvida que ainda me encontro em

processo de aprendizagem, como sempre me encontrarei, mas, no final de todo este

caminho, apreendi que há ainda muitos pontos que necessitam de alterações, revisões,

existem “arestas por limar” que só o tempo me permitirá conseguir. No geral, penso que

fui sendo capaz de me autoavaliar e autocriticar, o que é positivo, pois permite-me ter a

noção do que se encontra menos bem, mas sobretudo refletir sobre essas mesma críticas.

Penso que houve uma evolução durante todo o processo mas também trabalho e força de

vontade.

Sucumbir à ideia de que um estágio, mesmo não remunerado, é uma perda de

tempo ou que nos retira o pouco que temos é, em minha opinião, uma ingenuidade e

falta de coerência. Realizar este estágio trouxe, além de alguma experiência numa área

onde esta era nula, uma visão e perceção do trabalho de professor, amigo, aluno, ser

humano e ser social. Todos estes papéis se juntam quando estamos perante um processo

de ensino/aprendizagem em que, irrefutavelmente, não é só o professor que ensina ou o

aluno aprende, ambas as partes absorvem um pouco da outra. Relativamente ao plano

profissional, o estágio permitiu-me crescer como docente, corrigir erros, ganhar

ferramentas e experiência, criar métodos e melhorar os já adquiridos, ter uma noção

clara de sala de aula, de turma, de avaliação, de diferenças e igualdades, de ritmos de

aprendizagem. Humanamente, permitiu-me perceber que há muito mais do que a

aptidão intelectual do aluno, que há muito mais do que um país, uma língua ou uma

cultura. Permitiu-me aprender a ser tolerante com a diferença, a aceitá-la e a preservar a

igualdade. Do ano de estágio, o único aspeto negativo a salientar é mesmo a sua

duração, que sem dúvida deveria ser superior.

Para o futuro desejo que tudo o que foi adquirido durante todo este processo se

materialize em boas atividades e sobretudo que consiga sempre corresponder às

60

Page 61: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

expectativas bem como trabalhar sempre no sentido de melhorar e principalmente dar

aos alunos o melhor que tenho como professora.

61

Page 62: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Capítulo VII – Propostas

No seguimento do que se expôs, anteriormente, sobre a capacidade de

comunicação somente através da música, da melodia e da voz, por parte de um não

falante da língua, propomos algumas canções que podem ser alvo de uma análise com

alunos de um nível A1. Apesar de não se trabalharem as competências mais importantes

numa aula de língua, abordar uma canção de forma a conseguir a comunicação só

através da melodia não deixa de ser interessante pois permite-nos apreender as emoções

dos alunos, o seu nível de relaxamento e motivação, bem como iniciar as atividades de

audição da língua. Esta é uma hipotética forma de ver a canção na aula de LE, a que

podemos vir a dar bastante atenção.

Dreamer – Supertramp23

Após uma audição cuidada da melodia, podemos deduzir, através das nossa

sensibilidade e experiência, que estamos no campo dos sonhos e quase afirmar que a

música vai tratando a evolução desse mesmo sonho e das suas fases. O começo, algo

sossegado da canção, somente com uns acordes de guitarra, xilofone e vibrafone, pode

demonstra-nos a nossa fase de pré sono. De seguida, a junção das vozes e a

concentração maior de instrumentos como mais guitarras, piano e baixo, vão-nos dando

a noção do sono. O aumento do ritmo, nomeadamente o uso da bateria e o cruzamento

das vozes e segundas vozes, dão-nos uma percepção de que quem dorme entra na fase

do sonho onde existe atividade, ação. A música termina com um climax instrumental

que podemos ler como um climax no sonho, a fase mais agitada da mente, terminando

com um xilofone a solo que nos leva a lembrar a fase de calma depois de uma fase

intensa de sono.

Esta seria uma análise hipotética que, juntando depois a letra, poderia ir ao encontro

das expectativas criadas e tornar-se uma realidade. Poderia ser uma éspecie de jogo para

levar a canção mais longe e observá-la de um modo mais sensível e profundo. Aliás, a

partir deste exercício de escuta, poder-se-ia pedir aos alunos que verbalizassem,

oralmente, as sensações experienciadas, cirando uma atividade de produção oral, e até

de confronto de produções orais.

23 Ver anexo audiovisual

62

Page 63: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Quatro Estações – Vivaldi (Primavera)24

Outra música, ou músicas, bastante conhecidas que poderiam servir de exemplo, não

para uma aula de LE mas para credibilizar esta hipotética teoria, são as Quatro Estações

de compositor Vivaldi. Olhando, por exemplo, para a Primavera, conseguimos, na nossa

sensibilidade, apercebermo-nos, através dos instrumentos, da existência de elementos

alusivos a esta estação. A melodia é inicialmente alegre com notas altas e um ritmo

calmo que nos faz sentir, irrefutavelmente alegres e em paz, espírito que a primavera

por si só transmite a humanos e animais, ouvindo, claramente, através do trinar dos

violinos, pássaros a cantar. Como todas as primaveras, o tempo é incerto e as

tempestades são ainda frequentes. Acelarando o ritmo da música e ouvindo notas e

acordes baixos, apercebemo-nos de uma mudança na melodia que nos inquieta o

espírito como uma tempestade nesta estação. Por fim, como sempre acontece, o sol

volta a brilhar e os pássaros a cantar numa melodia alegre, calma e reconfortante,

trazendo tudo de bom que a primavera transmite.

Estes são dois exemplos possíveis de analisar. Através da melodia de uma canção o

nosso estado de espírito altera-se frequentemente. Um estudo recente demonstra que as

baladas são as canções preferidas da maioria das pessoas, pois quanto mais baixas forem

as notas musicais, ou seja, quanto mais triste nos parecer a melodia, mais vasto é o

ponto de climax no nosso cérebro, libertando-se a dopamina, responsável pelo prazer e

emoções, criando uma sensação de satisfação e relaxamento. Durante as atividades por

mim lecionadas, percebi que também os meus alunos tiveram mais prazer na audição da

balada “Carta” da banda Toranja, explicando somente que era mais “linda”.

Podemos, portanto, além de tentar uma comunicação através da melodia, ter em

conta estes fatores na escolha da canção e testar a viabilidade de trabalhar a partir de

uma balada e a motivação que esta possa causar ou não nos alunos aprendentes de uma

língua estrangeira.

24 Ver anexo audiovisual

63

Page 64: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Conclusão e Reflexão Final

Sendo a música uma sublime forma de comunicar e de mostrar a cultura de um

país ao mundo, é irrefutável a sua importância na aprendizagem de uma língua

estrangeira. Não podemos sucumbir à ideia de que a canção vem tornar uma aula mais

simplificada e mascarar os interesses dos aprendentes. As competências de

compreensão oral, a influência que a música tem sobre os comportamentos e as

emoções, o estudo implícito da pronúncia, a aquisição de estruturas linguísticas através

do uso repetido deste material, são argumentos suficientes para desmistificar a velha

abordagem que alguns professores ainda fazem da canção e do seu uso.

As expectativas iniciais em torno da relevância do uso da canção sob a forma de

karaoke foram totalmente correspondidas, bem como o uso da canção como transmissor

cultural e introdutório a temáticas importantes do dia a dia social de um determinado

país, neste caso Portugal. As atividades criadas em torno deste material didático

permitiram a duas turmas tão desiguais encarar o ensino da língua de uma forma

diferente e sobretudo transportar o que adquiriraram para o seu quotidiano.

O facto de a primeira turma ter cantado as Janeiras fora do contexto da aula e de

a segunda turma ter participado em manifestações e ter feito karaoke igualmente fora da

sala, demonstrou que o uso da canção pode atingir objetivos que talvez poucos materiais

consigam e sobretudo tornar-se parte dos interesses dos aprendentes.

As propostas de atividades apresentadas permitem-nos concluir que o objetivo

principal do processo ensino/aprendizagem com as canções é ajudar o aluno a

compreender o que é relevante na língua e não usá-la apenas como material meramente

lúdico. O vocabulário utilizado nas canções vai muito além da linguagem quotidiana e

das variações da língua, podendo ser também um ponto de interesse a abordar,

permitindo ao aluno reconhecer que a essência da língua não se reduz apenas a Portugal,

e que todo um conjunto de países falantes dessa mesma língua fazem parte da cultura e

da história da lusofonia.

Concluimos, desta forma, que a canção, e as suas vertentes como o karaoke, são

relevantes no desenvolvimento de competências linguísticas e pessoais e permitem ao

aluno tornar-se ainda mais um ser do mundo. No entanto, cabe-nos a nós, professores,

participar dessa expansão tanto linguística como emocional, para cumprir os

verdadeiros objetivos do ensino e, sobretudo, dar aos discentes ferramentas que lhes

64

Page 65: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

permitam adquirir e aproveitar tudo o que uma língua, a língua portuguesa, pode

oferecer.

65

Page 66: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Bibliografia

Conselho da Europa, Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas –

Aprendizagem, Ensino, Avaliação. (2001)

The Ethnologue: Languages of the World. SIL International. (2005) (disponível em

http://archive.ethnologue.com/15/web.asp - consultado em 22/09/2013).

Bizarro, R. (2008) Ensinar e Aprender Línguas e Culturas Estrangeiras hoje: Que

Perspetivas? Porto: Areal Editores.

Calvet, L. - J. (1980). La chanson dans la classe de français langue étrangère. Paris:

CLE International.

Cook, V. J. (2008) Second Language Learnig and Language Teaching. London: Hodder

Education.

Cuicui, C. (2012). A Seleção e a Produção de Materiais Didáticos no Processo do

Ensino do Português aos Alunos Chineses. Universidade Nova de Lisboa: (disponível

em http://run.unl.pt/bitstream/10362/7662/1/Tese%20%2b%20Cheng%20Cuicui.pdf –

consultado em julho 2013).

Cunha, C. & Cintra, L. (1985) Breve Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa:

Edições João Sá da Costa.

Faria, D. (sem data) A influência da música na formação dos jovens e no processo de

ensino-aprendizagem da língua inglesa. (disponível em

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/

artigo_dilmara_furlan_faria.pdf - consultado em agosto de 2013).

Figueiredo, T. (1970). Dicionário Falado – Variações Linguísticas. Lisboa: Editorial

Verbo.

Figueiroa, C. (2011) A Canção: Um objeto (Inter)Cultural de Aprendizagem na Aula de

PLE (Nível A1.2). Tese de Mestrado em Português Língua Segunda/Estrangeira.

66

Page 67: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Faculdade de Letras da Universidade do Porto: (disponível em

http://sigarra.up.pt/flup/pt/teses.tese?

P_aluno_id=104860&p_processo=17612&P_LANG=0 consultado em 22/09/2013).

Garcia, R. R. (2005) De los baules de la Piquer a las maracas de machín. La canción

como contenido en la clase de E/LE, in Red Eletrónica del español como lengua

extranjera: (disponível em

http://www.doredin.mec.es/documentos/00820103006911.pdf - consultado em

22/09/2013).

Griffee, D. T. (1992). Songs in Action. Hertfordshire: Prentice Hall International Ltd.

Grout, D. J e Palisca, C. V. (1988) História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva.

José, R. (1988) Como ensinar e aprender Inglês e outras línguas estrangeiras: uma

metodologia para o ensino das línguas estrangeiras. Universidade Regional de

Blumenau.

López, B. R. (2005). Las canciones en la clase de español como lengua extranjera.

(disponível em

http://cvc.cervantes.es/Ensenanza/biblioteca_ele/asele/pdf/16/16_0804.pdf - consultado

em julho de 2013)

McDonough, J. e Shaw C. (1993). Materials and Methods in ELT – A Teacher’s guide.

London: Blackweel Publishing Ltd.

Medina, S. L. (2003). Acquiring Vocabulary Through Story-songs. (disponível em

http://mextesol.net/journal/public/files/952524e436edb7feceb6b2686337e3d7.pdf#page

=11 – consultado em agosto de 2013)

Newby, D. Allan, R. Fenner, A-B. Jones, B. Komorowska, H. e Soghikyan, K. (2007) Portfolio Europeo para futuros profesores de idiomas: Una herramienta de reflexión para la formación de profesores. Conselho da Europa: (disponível em http://epostl2.ecml.at/LinkClick.aspx?fileticket=Odz4pL2JvAk%3D&tabid=505&languge=de-DE - consultado em 22/09/2013).

67

Page 68: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Pagotto, E. (2005) Variedades do Português no Mundo e no Brasil. Ciência e Cultura,

vol.57 no2. São Paulo: (disponível em http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?

pid=s0009-67252005000200017&script=sci_arttext - consultado em 09/09/2013)

Pereira, C. T. (2011) A Intervenção Didática da Canção no Desenvolvimento das

Destrezas de Compreensão Oral. Tese de Mestrado em Ensino de Português 3º ciclo do

Ensino Básico e Secundário e Língua Estrangeira no 3º ciclo do Ensino Básico e

Secundário. Faculdade de Letras da Universidade do Porto: (disponível em

http://sigarra.up.pt/flup/pt/teses.tese?

P_aluno_id=104684&p_processo=17639&P_LANG=0 - consultado em 22/09/2013)

Reis, F. L. (2010). Como elaborar uma Dissertação de Mestrado Segundo Bolonha.

Lisboa: Lidel – edições técnicas, lda.

Ribeiro, M. D. (2002) Using Music Lyrics in Language Teaching. Escola Superior de

Tecnologia e Gestão da Guarda: (disponível em

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6258.pdf - consultado em agosto de 2013)

Richter, M. (sem data) O material didático no ensino de línguas. UFSM. Brasil:

(disponível em http://coral.ufsm.br/lec/02_05/Marcos.pdf - consultado em 10/09/2013)

Roland, M. (1960) Histoire de la musique Vol.2. Paris: Folio Essais.

Sáez, P. (2005). En las fronteras del Mundo: Canciónes para una Educación

Intercultural. Madrid: Centro de Investigación para La Paz. (CIP-FUHEM).

Santos, J. e Pauluk I. (2008) Proposições Para o Ensino de Língua Estrangeira por

meio de Músicas. (disponível em

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/752-4.pdf - consultado em

junho de 2013)

Sousa, M. (2011) A Utilização da Canção Para Abordagem da Gramática na Sala de

Aula. Tese de Mestrado em Ensino de Português 3º ciclo do Ensino Básico e Secundário

68

Page 69: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

e Língua Estrangeira no 3º ciclo do Ensino Básico e Secundário. Faculdade de Letras da

Universidade do Porto.

Teyssier, P. (1980) História da Língua Portuguesa. Lisboa: Livraria Sá da Costa

Valdez, Sandra. (2001). Las canciones en la aprendizaje de lenguas (disponível em

http://fel.uqroo.mx/adminfile/files/memorias/Articulos_Mem_FONAEL_I/

Valdez_Sandra.pdf - consultado em agosto de 2013)

69

Page 70: repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewAprender uma língua estrangeira é um processo complexo que exije, tanto por parte do professor como do aprendente, sensibilidade e um

Anexos

70