15
Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia 14º SNHCT Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9 Representações de Ciência e Tecnologia no pensamento anarquista brasileiro: Análise da Revista Renascença (1923) Nabylla Fiori de Lima* Gilson Leandro Queluz** INTRODUÇÃO A imprensa operária no início do século XX foi de grande importância para o avanço na organização dos trabalhadores. Jornais de diferenciados vieses compartilhavam as últimas notícias do movimento operário e também contavam com textos de formação política e literários. A crença de que, a partir do jornal, seria possível levar os trabalhadores à busca de mudanças na sociedade, apresenta-nos um grande rol de periódicos e jornais anarquistas, comunistas, anticlericalistas etc. A imprensa operária tinha como função a articulação de “interesses históricos de classe, como fator de agitação e propaganda, na tentativa de aglutinar elementos de uma consciência operária comum” (HARDMAN, 2002). Considerando a relevância da imprensa no movimento anarquista do início do século XX, optamos por analisar a revista Renascença. Esta revista, que teve apenas cinco edições, foi direcionada principalmente ao público feminino, e progressista, e embora houvesse muitos artigos relacionados às mulheres, afirmava-se enquanto uma Revista de Artes & Pensamento, incluindo vários textos literários. Maria Lacerda de Moura, além da revista e publicações em outros jornais operários (A Plebe, por exemplo), inclusive internacionais (como a revista espanhola Estudios), também publicou alguns livros 1 . Grande parte deles são voltados à emancipação das mulheres, sendo este um tema bastante recorrente na obra desta anarquista, que considera, neste contexto, o problema sexual como um problema central. Nos seus esforços de contribuir para a formação intelectual e moral feminina, a pensadora anarquista lança a revista Renascença em 1923 como mais um instrumento para a libertação das mulheres. 1 A mulher é uma degenerada? (1924), Religião do amor e da beleza (1926), Civilização, tronco de escravos (1931), Amai-vos e não vos multipliqueis (1932), Serviço militar obrigatório para a mulher? Recuso-me… (1933), Han Ryner e o amor no plural (1933), Fascismo filho dileto da Igreja e do Capital (1933) são dos mais conhecidos. Ver mais em (LEITE, 1984).

Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Citation preview

Page 1: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Representações de Ciência e Tecnologia no pensamento anarquista

brasileiro: Análise da Revista Renascença (1923)

Nabylla Fiori de Lima*

Gilson Leandro Queluz**

INTRODUÇÃO

A imprensa operária no início do século XX foi de grande importância para o

avanço na organização dos trabalhadores. Jornais de diferenciados vieses

compartilhavam as últimas notícias do movimento operário e também contavam com

textos de formação política e literários. A crença de que, a partir do jornal, seria possível

levar os trabalhadores à busca de mudanças na sociedade, apresenta-nos um grande rol

de periódicos e jornais anarquistas, comunistas, anticlericalistas etc. A imprensa

operária tinha como função a articulação de “interesses históricos de classe, como fator

de agitação e propaganda, na tentativa de aglutinar elementos de uma consciência

operária comum” (HARDMAN, 2002).

Considerando a relevância da imprensa no movimento anarquista do início do

século XX, optamos por analisar a revista Renascença. Esta revista, que teve apenas

cinco edições, foi direcionada principalmente ao público feminino, e progressista, e

embora houvesse muitos artigos relacionados às mulheres, afirmava-se enquanto uma

Revista de Artes & Pensamento, incluindo vários textos literários.

Maria Lacerda de Moura, além da revista e publicações em outros jornais

operários (A Plebe, por exemplo), inclusive internacionais (como a revista espanhola

Estudios), também publicou alguns livros1. Grande parte deles são voltados à

emancipação das mulheres, sendo este um tema bastante recorrente na obra desta

anarquista, que considera, neste contexto, o problema sexual como um problema

central.

Nos seus esforços de contribuir para a formação intelectual e moral feminina, a

pensadora anarquista lança a revista Renascença em 1923 como mais um instrumento

para a libertação das mulheres.

1 A mulher é uma degenerada? (1924), Religião do amor e da beleza (1926), Civilização, tronco de

escravos (1931), Amai-vos e não vos multipliqueis (1932), Serviço militar obrigatório para a mulher?

Recuso-me… (1933), Han Ryner e o amor no plural (1933), Fascismo – filho dileto da Igreja e do

Capital (1933) são dos mais conhecidos. Ver mais em (LEITE, 1984).

Page 2: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A revista Renascença, contém temas relacionados ao feminismo e à arte, passando

por artigos sobre maternidade consciente, movimento operário, educação, religião,

cultura operária etc., escritos por diversos autores não apenas de viés anarquista. A

nossa dificuldade em apresentar devidamente cada autor se dá pelo fato de que grande

parte deles utiliza pseudônimos ou não tem uma produção contínua na imprensa.

Analisando os temas propostos por Maria Lacerda de Moura como organizadora da

revista, buscaremos entender qual o direcionamento intelectual proposto para que se

chegasse à emancipação feminina e humana, e quais destes temas que ela considerava

de grande importância para a consciência e instrução feminina.

Analisaremos também a proposta estética da revista e sua produção/organização,

buscando encontrar a relação entre a escolha estética e sua proposta de conteúdo.

Em 1919, juntamente com Bertha Lutz, Maria Lacerda de Moura fundou a Liga

pela Emancipação Feminina. Essa liga tinha como objetivo promover a instrução

feminina para que, através dela, as mulheres atingissem sua emancipação. Sua luta, no

entanto, afastou-se dos movimentos feministas da época, vistos por essa militante como

movimentos burgueses, crítica também feita em relação à Liga, o que levou esta

anarquista ao afastamento gradual dos demais movimentos feministas da época que

eram compostos, em sua maioria, por pessoas de classe média tendo como referência os

movimentos feministas europeus e estadunidenses. Sua crítica passava, principalmente,

pelo fato destes movimentos não reivindicarem a superação do sistema capitalista e/ou

buscarem a emancipação da mulher com sua participação na política através da

ocupação de cargos públicos.

Temas como educação, maternidade consciente, prostituição, casamento,

participação em partidos, religião e ao movimento operário são recorrentes em suas

obras que buscam criticar o sistema vigente e a organização societária, bem como a luta

feminina pelo voto feminino: Maria Lacerda de Moura acreditava que o voto feminino

não seria suficiente para emancipar a mulher:

E essas reivindicações não se podem limitar a ação caridosa ou a um simples

direito de voto que não vem, de modo algum, solucionar a questão da

felicidade humana e se restringirá a um número limitadíssimo de mulheres.

Aliás, quando os homens sérios retiram-se, num ostracismo voluntário, dessa

política de latrocínios oficializados, desse bacanal parasitário, desse despudor

em se tratando dos negócios públicos; quando se decreta, positivamente a

Page 3: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

falência, o descrédito do parlamentarismo em toda uma sociedade em plena

decomposição, – é agora que a mulher acorda e sai correndo atrás do voto,

coisa que deveria ser reivindicado a cem ou duzentos anos atrás... supõe,

ingenuamente, estar cuidando dos interesses femininos ou dos interesses

sociais. (MOURA, 2013)

E sobre o “feminismo de votos e feminismo de caridades”, ela ainda afirmava: “É

a razão por que não posso aceitar nem o feminismo de votos e muito menos o

feminismo de caridades. E enquanto isso a mulher se esquece de reivindicar o direito de

ser dona de seu próprio corpo, o direito da posse de si mesma.” (MOURA, 2013)

A emancipação feminina, portanto, para Maria Lacerda de Moura, não se daria

através da participação da mulher na política, seja votando ou participando da

construção de partidos.

Sendo uma anarquista individualista, Maria Lacerda de Moura acreditava na

emancipação individual, que levaria a mudanças no mundo posteriormente. O

autoconhecimento e o domínio do corpo seriam, portanto, elementos importantes para a

emancipação feminina, bem como o afastamento da religião. Desta forma, a busca pela

instrução através da educação fazia-se necessária para que homens e mulheres

conseguissem emancipar o gênero humano em relação ao capital.

Na revista Renascença, que se propunha ser uma revista feminina, esse tema

aparece através de artigos específicos sobre as mulheres, elaborados por diversos

autores, (“A principal emancipação feminina”, “Trabalho feminino”, “Attitude

feminina”, “A mulher e os seus direitos no futuro”, “Educação da mulher”, “Appelo à

mulher”, Iniciação à maternidade”, “O feminismo caminha”...), mas também implícito

em cada tema tratado pela revista, visto que perpassam questões que a editora da revista

tratava em suas obras e que pretendiam auxiliar na instrução e emancipação humana.

No artigo A principal emancipação feminina da curitibana Mariana Coelho, a

autora questiona o papel de dona de casa delegado às mulheres, afirmando que a falta de

instrução feminina é interessante aos homens porque é desta forma que eles conseguem

se firmar enquanto superiores e dominadores. Sua conclusão é a de que a verdadeira

emancipação feminina se dará através do trabalho, pois a mulher que tem uma profissão

não deverá se preocupar no seu futuro com um bom ou mau marido, pois seu trabalho

lhe garantirá a independência e a felicidade (Revista Renascença, 1923a).

Os artigos que são mais explicitamente direcionados às questões femininas

abordam, em sua maioria, de que forma essa emancipação se daria. A questão da

Page 4: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

educação, da divisão sexual do trabalho e do direito ao próprio corpo são os temas mais

recorrentes.

No que se refere ao direito da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo, na obra

de Maria Lacerda de Moura, este está diretamente relacionado à questão da sexualidade

e, por consequência, da maternidade consciente. Sobre a maternidade, Maria Lacerda de

Moura constrói vários textos relacionados à maternidade consciente, e é sobre ele que

vamos tratar agora.

Os temas referentes à sexualidade são para Maria Lacerda de Moura o seu debate

central. Como afirma diversas vezes em Amai e... não vos multipliqueis e em outros

textos, ela considerava que “o problema humano é, pois, um problema sexual”

(QUELUZ, 2013). Sendo assim, Maria Lacerda dava grande ênfase às questões da

maternidade consciente e voluntária, ao amor livre e ao direito da mulher de decidir

sobre o seu próprio corpo sem a intervenção da Igreja ou do Estado.

O discurso médico vigente na época em que Maria Lacerda de Moura escrevia,

era o discurso do determinismo biológico que buscava justificar através da biologia a

função materna da mulher como vocação natural, sendo, portanto, a maternidade uma

questão central no debate sobre a mulher, seu direito ao seu próprio corpo e seus

“papéis” na sociedade.

A pensadora, aqui analisada, segue a tradição anarquista que “nega ao estado o

poder de definir os padrões de normalidade ou intervir de maneira não consentida sobre

os corpos dos indivíduos” (QUELUZ, 2013). Apropriou-se, então, das teorias

eugênicas, ressignificando-as a fim de tematizar a respeito da maternidade consciente e

voluntária, sendo a maternidade livre “uma pré-condição para o mundo ácrata”

(QUELUZ, 2013). Acreditava-se que as novas gerações operárias seriam mais

preparadas fisicamente e intelectualmente para a revolução, através da procriação

consciente.

Desta forma, sendo este um tema de grande relevância ao debate anarquista

individualista visando a superação do estado capitalista, também na revista Renascença

ele aparecerá.

O artigo Iniciação à maternidade, cuja autoria é de “Kytta”, reafirma essa

vocação, no entanto, coloca o descontentamento das mulheres desse período histórico

ao engravidarem, por não serem instruídas sobre isso. Este artigo também denuncia as

Page 5: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

práticas de aborto da época, culpabilizando a falta de educação intelectual das mulheres

e criticando a imagem de reprodutoras e não de mães.

Para que se chegasse à maternidade consciente, seria necessária a instrução da

mulher. E é para instruí-la e emancipá-la que o tema da educação é bastante importante

para Maria Lacerda de Moura, aparecendo várias vezes em suas obras e tendo seu

espaço na revista Renascença, que já no primeiro número apresentava sua defesa de

uma educação que buscasse a saúde física e mental de suas leitoras:

Convidamos para a nossa arena todos os idealistas, os sonhadores da “Arte

Feliz”, os apostolos do bem estar social, os propagadores do saneamento

physico e moral, da eugenía, os divulgadores da educação racional, moderna,

os annunciadores do optimismo sadio da energia e da sinceridade das

convicções: artistas, pensadores, hygienistas, educadores, homens e

mulheres, proletarios e intellectuaes, todos os que tem uma alma anciosa, um

anhelo de perfeição, uma sede intensa de saber, immenso amor no fundo de si

mesmos... (Revista Renascença, 1923b)

No segundo número da revista, Maria Lacerda de Moura escreveu um artigo

intitulado Que é educação? em que a autora apresentava rapidamente como a concepção

de educação varia nos diversos povos e de acordo com os ideais políticos, filosóficos

etc. Todavia, há alguns objetivos da educação elencados pela pensadora anarquista que

deveriam estar presentes na educação independente da categoria do indivíduo:

elle precisa aprender a amar a Natureza, a respeitar as ideias e os indivíduos,

a dizer só a verdade, a reprimir suas paixões, suas más tendências, a cultivar

em si sentimentos nobres, conhecer preceitos moraes que devem ser

observados numa sociedade futura, melhor que a atual.

A educação physica, os preceitos hygienicos para a conservação da saúde; o

desenvolvimento e os ideaes, abrangendo em um golpe de vista a belleza e a

majestade da Verdade, esse, deve ser o ideal da educação nova. (Revista

Renascença, 1923c)

Em relação à educação da mulher mais especificamente, há um artigo, a Educação

da Mulher de M. Carlos) que se iniciava com críticas à educação da época:

Moralmente se prepara e desenvolve o ente incapaz de reacção contra o

arbítrio dos chefes ou das elites chefiadoras. Desenvolve-se-lhe a vacuidade

espiritual e a sede de ostentação, mas não se lhe dá nem se lhe exige preparo

e technica para enfrentar as exigências da vida e da maldade própria alheia.

Tem-se ahi o individuo escravizado ao eixo da existência actual – o dinheiro.

(Revista Renascença, 1923d)

Page 6: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

O/a autor/a defende que a educação da mulher seja voltada para o

desenvolvimento de suas vocações através do trabalho: “a mulher e o homem precisam

ter a occupação, o lugar de trabalho, que lhes indicar a própria aptidão aperfeiçoada,

dilatada pela technica.” E finaliza seu artigo afirmando que o tema da educação da

mulher “é bellissimo thema para a “Renascença”, e como tal se apresenta á meditação

de suas gentis leitoras”. (Revista Renascença, 1923d) Outro artigo de A. Carneiro Leão,

intitulado Preparar nos Paes a educação dos filhos, colocava a responsabilidade sobre

os pais na educação de seus filhos, “os filhos pagarão as faltas dos pais até a terceira

geração”. Na busca de filhos sadios, o autor defendia o pedido dos atestados de saúde na

hora do casamento, prática recorrente em alguns lugares (o autor cita Chicago, em que o

Bispo Anderson só celebrava o casamento se os noivos apresentassem o certificado de

saúde). Para além desta medida, que reflete a ascensão do pensamento eugênico no

período, o/a autor/a cita as escolas estadunidenses voltadas para preparar as mães pra

educar seus filhos. Leão ainda defende a que a educação higiênica deveria ser dada

desde a infância a fim de que as mulheres e homens ao procurarem relacionamentos,

não se relacionassem com pessoas que apresentassem doenças, pois desta forma viriam

a ter filhos “rachiticos e monstruosos”. Sendo assim, se as pessoas recebessem uma

educação higiênica desde a infância, Leão acreditava que “o espectaculo humano

ganhará infinitamente em harmonia e belleza. Os degenerados diminuirão

consideravelmente, os crimes escassearão, a bondade, o amor, a felicidade humana

crescerão sobre a terra.” (Revista Renascença, 1923e). Fazia-se forte a relação do

pensamento eugênico com as teorias higienistas da época, tendo Maria Lacerda de

Moura se apropriado dos “discursos médico-científicos da higiene e da eugenia em

torno da sexualidade, da maternidade e do trabalho das mulheres em prol da construção

de seu ideário político de emancipação e de aperfeiçoamento moral dos indivíduos,

(baseado principalmente em propostas como o Amor Plural e a Maternidade

Consciente) o que melhor representa sua originalidade crítica em relação aos principais

debates sociais do feminismo e do anarquismo surgidos no contexto sócio-cultural da

industrialização brasileira do início do século XX” (SOUZA, 2009).

Colocar a responsabilidade da educação dos filhos, sobre a mulher, pensando na

criação de futuros cidadãos mais evoluídos, é um discurso recorrente no início do século

XX. O discurso médico da época buscava moralizar o papel materno colocando a

mulher como a “guardiã vigilante do lar” (RAGO, 1985):

Page 7: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

A “nova mãe” passa a desempenhar um papel fundamental no nascimento da

família nuclear moderna. Vigilante, atenta, soberana no seu espaço de

atuação, ela se torna a responsável pela saúde das crianças e do marido, pela

felicidade da família e pela higiene do lar, num momento em que cresce a

obsessão contra os micróbios, a poeira, o lixo e tudo o que facilita a

propagação das doenças contagiosas. A casa é considerada como o lugar

privilegiado onde se forma o caráter das crianças, onde se adquirem os traços

que definirão a conduta da nova força de trabalho do país. Daí, a enorme

responsabilidade moral atribuída à mulher para o engrandecimento da nação.

(RAGO, 1985)

Na defesa de uma educação laica, baseada na Escola Moderna do pensador

anarquista Francisco Ferrer, outro tema recorrente nas obras de Maria Lacerda de

Moura e que aparece também na revista é a crítica ao clericalismo e aos dogmas

religiosos, bem como a defesa e propagação da maçonaria. Tendo participado da

maçonaria e de outras correntes místicas como o pensamento Rosa Cruz e defendendo

uma libertação individual interior de todas as pessoas, a espiritualidade aparece em toda

a sua obra, ainda que implicitamente.

Maria Lacerda de Moura tem em sua bibliografia parte de suas obras dedicadas a

isto: Ferrer, o clero romano e a educação laica é um livro dedicado a Francisco Ferrer;

além deste, a pensadora ainda publica Clero e Estado e A mulher e a maçonaria. Neste

último, faz a defesa da abertura da maçonaria às mulheres, "Na humanidade a mulher

tem ou mesmos deveres que o homem. Dever ter os mesmos direitos dentro da família e

da sociedade"(MOURA, 1922). A escolha pela maçonaria está ligada à sua visão

individualista:

se a Maçonaria quer "libertar o pensamento humano, resistir ao dominio de

seitas que se lisonjeiam em servi-lo, desfazer entre os homens os

preconceitos de casta, as distincções convencionaes ou exclusivas de origens,

de opiniões, de nacionalidades, substituir os sonhos, as hypotheses e as idéas

subjectivas pelos factos reaes, pela experiencia e pelas concepções racionaes

delles emanados, anniquilar o fanatismo e a superstição, extirpar os odios

internacionaes e com elles o flagello da guerra", como pensar nesse nobre

programa se a mulher é preza do sectarismo, da superstição, do preconceito,

se pensa pelo raciocinio de outrem, se é a escrava do tradicionalismo

empirico, se é instrumento do passado e se é nas suas mãos que se tecem os

destinos dos póvos?! (MOURA, 1922)

Page 8: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

A abertura à mulher na maçonaria representaria, portanto, a emancipação do

gênero humano.

A rosa era a flôr symbolica da Cavallaria, emblema do segredo, da distinção,

da pureza: a rosa, hoje, deve assignalar a entrada da mulher nos humbraes

destes templos, deve elevar-se ao alto significado da belleza que resultará da

cooperação consciente dos individuos de ambos os sexos numa obra que, por

ora, é apenas sonho quase inattingivel. (MOURA, 1922)

Maria Lacerda de Moura finaliza seu livro fazendo um pedido aos cientistas: “não

façaes do conhecimento senão a pharmacopéa da saúde e a alavanca da Paz “.(MOURA,

1922)

Na revista são encontrados três artigos, de diferentes autores, sobre estes temas: A

moral sem dogmas, encontrado na primeira revista, e As vítimas do clericalismo e “A

maçonaria no centenário”, encontrados no terceiro número da revista.

O primeiro artigo faz críticas aos dogmas e preceitos religiosos, que na opinião do

autor Augusto Lopes, deveriam ser sobrepostos pelo "culto da dignidade própria" -

"uma sã moral que se mantenha serena, impassível, sem temer justiça humana e a

sobrenatural, ou divina". O autor questiona se não há outra moral baseada na razão e sua

resposta é a Razão Pura kantiana, e acredita que é para esta moral “ponderada, despida

de qualquer preconceito religioso, que a humanidade está evoluindo". Augusto Lopes

finaliza seu artigo defendendo as normas da justiça e da verdade: “cumpre-nos pautar a

nossa conducta pelas normas da justiça e da verdade, sem que a isto nos obrigue o

temos hypocrita do carcere ou de um Deus inexorável, que, por traz da cortina azul do

firmamento, esteja espreitando os nossos actos mais secretos". (Revista Renascença,

1923f)

O artigo As vítimas do clericalismo acusa o número de morte nos eventos feitos

pelos católicos e pelos protestantes (tais como a inquisição espanhola, a prisão de

Judeus, etc.), e também recorda nomes importantes de pessoas que morreram vítimas da

religião, como, por exemplo, Francisco Ferrer. José Martins, o autor deste artigo, critica

principalmente o "furor sanguinario e sectarismo religioso" destes grupos religiosos.

(Revista Renascença, 1923g).

O artigo seguinte se refere a um álbum editado pela Revista A Maçonaria (do

estado de São Paulo), cujo nome é A maçonaria no centenário que traz uma

investigação história acerca da maçonaria. É também feita uma crítica à transformação

Page 9: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

dos templos maçônicos em sociedades beneficentes, considerando-os uma obra

reacionária. (Revista Renascença, 1923h).

No que se refere ao movimento operário, este tem em todos os números da revista

uma seção (Pelo mundo proletário) dedicada a ele, trazendo informações sobre greves e

organizações operárias. A editoria da revista ao colocar esta seção no final de cada

número, embora aparente estar desconectada do restante, demonstra certo compromisso

com a organização operária e a intenção em enfatizar a relação da luta do movimento

operário com os demais temas. O sindicato, para os operários de tendência anarquista,

era o instrumento que devia servir para “conquistas imediatas e para a transformação da

sociedade, que no futuro, seria gerida pelos trabalhadores através dos sindicatos”

(TOLEDO, 2007), “sendo mais um lugar – para alguns, um lugar privilegiado – para

difundir a ideia anarquista” (TOLEDO, 2007). Desta forma, a organização dos

trabalhadores nesta época através de sindicatos e organizações operárias é bastante

presente.

A greve dos trabalhadores gráficos de São Paulo ganha certo destaque na revista,

aparecendo mais de uma vez e trazendo os ganhos políticos obtidos pelo movimento e

se propondo a, nos números seguintes, colocar a necessidade de uma “confederação

sindicalista extensiva a todas as capitais do Brasil para a defesa e integridade dos

interesses das classes exploradas”. É colocada a importância desta categoria por ser uma

classe que está próxima dos intelectuais e da imprensa, por serem estes trabalhadores os

responsáveis por concretizar e ajudar a difundir as ideias/sentimentos dos jornalistas e

escritores/artistas, sendo para estes, portanto, uma classe indispensável. O escritor deste

artigo cita Anaxágoras para ressaltar a importância deste setor na sociedade: “o homem

pensa porque tem mãos”. (Revista Renascença, 1923i)

Em um pequeno texto, há uma crítica quanto à ressignificação do 1° de maio por

parte da burguesia já naquela época. O autor critica o caráter festivo que a classe

dominante coloca neste dia, como um dia de festa operária, quando este deveria ser um

dia de protesto contra a exploração do homem pelo homem (Revista Renascença,

1923j).

Em outro momento, um artigo critica a repressão que dois “idealistas” receberam

por anunciarem suas conferências (sendo: Domingos Passos com a conferência sobre

Instrução e Educação e Henrique Ferreira com A Mulher e a Emancipação Social),

colocando essa repressão como um grande erro em um país como o Brasil, que contava

Page 10: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

com elevado número de analfabetos e começava a caminhar para uma “elevação

intelectual do homem e da mulher”, questionando o fato destes dois temas serem

considerados crimes (Revista Renascença, 1923k).

Um comunicado sobre a fusão de alguns sindicatos que culminaram na União

Geral dos Trabalhadores de Hoteis, Restaurantes, Casas de Pasto, Bares, Botequins,

Leiterias etc, se finalizava colocando a importância da existência dessas organizações

operárias para que a classe atingisse sua liberdade, fazendo um pedido final aos

trabalhadores brasileiros que apoiassem essa obra (Revista Renascença, 1923l). Num

outro número da revista, há um comunicado dessa União que decidiu lançar um jornal

chamado A Verdade, apresentando a comissão do jornal e outras informações relativas

ao lançamento deste (Revista Renascença, 1923m), demonstrando a importância dada à

imprensa operária enquanto veículo de militância.

Há também dois textos sobre A Liga Operária da Construção Civil um deles

trazendo a reflexão sobre a reação burguesa contra o proletariado criticando a polícia e a

imprensa frente à organização do proletariado. Estes textos colocam a importância da

organização dos operários para a reivindicação de seus direitos (Revista Renascença,

1923n).

Outros dois artigos questionam a transformação das associações de classe do

órgão carioca O Paiz em centro de cooperativa. O autor critica essa posição afirmando

que ao se agregar cooperativamente, o operário perde sua independência e adquire

sentimentos de fascismo e “fraternidade retroativa”. Para o autor, “o cooperativismo

tem um fim exclusivamente econômico que estabiliza, ephemeramente, as contingências

de crises – crises econômicas, criadas especialmente pela ambição eterna das

accumulações gananciosas de dinheiros” (Revista Renascença, 1923o). Faz-se

necessário que O Paiz mude “o seu feitio nacionalista, burguês e extremamente

religioso, para arregimentar as massas, embora em cores não vermelhas, mas de

accôrdo com os princípios das associações operárias de resistência”, se se propõe a

educar e sistematizar entre os operários o sindicalismo-cooperativismo (Revista

Renascença, 1923o). A crítica ao sindicalismo-cooperativista se faz presente em

diversos jornais de viés anarquista no período.

Outras informações menores sobre organizações dos trabalhadores também

aparecem em todos os números da revista. O objetivo destas seções é colocar a

Page 11: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

importância da organização da classe trabalhadora para que alcancem seus direitos e sua

emancipação – objetivo geral da revista Renascença.

A revista também trabalha com temas de arte e cultura. Renascença difere-se dos

demais jornais e periódicos burgueses de sua época, em relação aos temas abordados, e

também realizando hibridizações também no que se refere à sua estética,

caracteristicamente, influenciada pela art nouveau. Suas capas trazem sempre o mesmo

desenho de alguém tocando uma harpa, o que já representa o comprometimento da

revista com as questões da arte e da cultura.

No primeiro número de Renascença, há um Appelo ‘a mulher. Este apelo se inicia

falando das transformações pelas quais nossa sociedade passava, considerando também

as mudanças nas artes, nas ciências e nas filosofias. Frente a isto, a mulher não poderia

se manter quieta, e deveria buscar garantir sua liberdade neste século. Em seguida, a

redação de Renascença nos apresenta seu objetivo: “RENASCENÇA terá por objectivo

a educação econômico-social e a elevação integral da Mulher - para saber ser Mãe e

conduzir a Humanidade para o Grande Fim... pelas portas do Sonho da Poesia, pela Arte

e pelo Pensamento redemptor.” (Revista Renascença, 1923p).

Desta forma, percebemos nesse parágrafo a importância dada à arte, à poesia,

além da instrução, no processo emancipador. Além deste parágrafo, notamos este

destaque às artes no conteúdo da revista, que apresenta uma seção para Artes e Artistas,

a partir do segundo número, diversos artigos sobre este tema, além de um espaço para

poemas.

Quanto à seção Artes e Artistas, há vários textos apresentando artistas, divulgando

espetáculos e exposições. As justificativas para tais divulgações se dão nos textos, que

buscam trazer análises das obras do artista ali comentado.

Em um artigo elogiando uma poetisa de 16 anos (Ilka de Freitas Maia), Maria

Lacerda de Moura apresenta as dificuldades de ser mulher e intelectual naquele tempo.

Cita o dia em que apresentou sua primeira conferência e, no meio dos aplausos, alguém

afirmava que o trabalho havia sido feito por seu pai. (Revista Renascença, 1923q)

Um artigo homenageia o poeta Cruz e Souza e a representatividade da sua poesia

e da sua cor, “É que Cruz e Souza trazia em si toda a dôr e toda a ânsia de liberdade da

sua raça” (Revista Renascença, 1923r), trazendo também um recorte antirracista da

editora da revista.

Page 12: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Estas seções servem como meio de divulgação do mundo das artes e aquilo que a

direção da revista considera de alta qualidade. Há nelas poucas referências aos temas

anteriormente apontados, sendo citadas algumas vezes as transformações da sociedade

e, como no texto dedicado a Ilka de Freitas Maia, a importância da emancipação

feminina. No entanto, não há um debate mais aprofundado sobre a relação da arte com o

movimento operário e/ou feminista e nem questionamentos sobre a estética e formas

dominantes.

Para além destes artigos diretamente direcionados ao debate de arte e cultura, faz-

se necessário analisarmos também a escolha temática da revista, sua organização que

retoma temas e padrões das revistas burguesas da época, transformando-os na relação

com os temas abordados, a crença no papel revolucionário da arte para o movimento

anarquista.

No que se refere a esta última questão, há um princípio geral anarquista que

considera que “todos os homens são artistas em potencial e, nesse sentido, fazem

coletivamente a arte real, compreendida como produto de um grupo social unido e

identificado em torno de seus ideais” (PRADO, 2011). Tendo a arte um compromisso

com a mudança da sociedade, tem-se que pensá-la sob a perspectiva proudhoniana da

arte em situação, o que significa que a arte deve ter sentido naquele momento em que

está sendo feita.

Em relação às escolhas temáticas, é notável nas revistas do período, em geral, a

hibridização de temas. O mesmo ocorre com a revista Renascença, que mantém uma

forma das revistas burguesas embora trate constantemente de questões do movimento

anarquista e operário2.

CONCLUSÕES

Considerando o papel central dado à imprensa pelo movimento operário no início

do século, percebemos na composição da revista Renascença uma diversidade de temas

com demasiada importância para a emancipação individual que levaria a uma mudança

na sociedade.

2

Chama a atenção um artigo intitulado “Modas” que apresenta as características de uma capa e um

vestido parisiense. Em contrapartida, outro (O concurso de belleza) critica a vulgaridade de um concurso

de beleza e a transformação das mulheres participantes em um mercado de escravas. (Revista

Renascença, 1923r)

Page 13: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Desta forma, faz-se necessário apontar também os demais temas que trazem uma

hibridização à revista, com temas que apresentam certa contradição por parte da sua

organização, que mesclando elementos políticos e contestadores da ordem vigente,

juntamente com a cultura operária, ao mesmo tempo em que traz temas ambíguos (como

os já citados artigos sobre moda e concurso de beleza), de forma a reproduzir a lógica e

a cultura dominante. A revista dialoga com a estrutura das revistas burguesas da época

no que se refere à estética e organização.

A questão da arte e da cultura é cara ao movimento anarquista na medida em que

a cultura proletária contesta a ordem vigente, contudo, muitas vezes, como na revista

analisada, valendo-se paralelamente de elementos da cultura dominante3. Percebemos

na revista a ênfase dada a esta temática e atentamos também para a presença de poemas

em todos os números da revista que não correspondem necessariamente a uma arte

libertária e de questionamento à ordem vigente, seja nas suas temáticas ou em seus

padrões estéticos. Hardman (HARDMAN, 2002) traz essa reflexão referente à

conformação da literatura de cunho libertário em relação aos cânones literários da

época, afirmando que aquela literatura “será conservadora, em geral, no que diz respeito

à linguagem; a forma do soneto será a preferida na poesia (...)”(HARDMAN, 2002).

Mais uma vez, encontramos na revista uma abertura à cultura burguesa ao mesmo

tempo em que se vale de temas caros ao movimento operário e anarquista, mostrando-se

ambígua, mas buscando o diálogo com o senso comum da época.

Esta hibridização, que leva à adoção de elementos burgueses na revista aqui

trabalhada, pode ser explicada, talvez por um suposto intuito da revista de atingir

também a classe média, visto que Maria Lacerda de Moura apresentava uma visão

individualista do anarquismo, não considerando, portanto, o operário como a classe que

fará a revolução, pretendendo atingir todos os setores para o seu projeto de emancipação

feminina.

REFERÊNCIAS

HARDMAN, Francisco Foot. Nem Pátria, Nem Patrão. São Paulo: Editora UNESP,

2002.

LEITE, Míriam Lifchitz Moreira. "Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de

Moura". São Paulo (São Paulo): Editora Ática, 1984.

3Para mais informações sobre a ambiguidade presente na arte e na estética anarquista, ver HARDMAN

(2002).

Page 14: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

MOURA, Maria Lacerda de. A mulher e a maçonaria. SP: Ed. Typ. do Globo, 1922.

MOURA, Maria Lacerda de. Feminismo? Caridade?. O Ceará, Fortaleza, 1928.

Disponível em: <

http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/mulher/09marialacerda.htm > Acesso

em: 15 de julho de 2013.

PRADO, Antonio Arnoni, HARDMAN, Francisco Foot (Orgs.). Contos anarquistas:

antologia da prosa libertária no Brasil (1901-1935). São Paulo : Wmf Martins

Fontes, 2011.

QUELUZ, Gilson Leandro. Representações De Eugenia no Pensamento Anarquista

Brasileiro, 2013. (No prelo)

RAGO, Luzia Margareth. Do Cabaré ao Lar: A Utopia da Cidade Disciplinar, Brasil

1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

SOUZA, Tatiana de. Tecnologias Políticas do Gênero no Brasil: A contribuição de

Maria Lacerda de Moura. Curitiba: UTFPR, dissertação de mestrado, 2009.

Disponível em: <

http://www.portaldegenero.com.br/sites/default/files/downloads/tatiana_souza.p

df > Acesso em: 15 de julho de 2013.

TOLEDO, Edilene. A trajetória do anarquismo na Primeira República. In: Jorge

Ferreira; Daniel Aarão Reis. (Org.). A formação das tradições (1890-1945). 1 ed. Rio

de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007, v. 1, p. 53-87. (Coleção Esquerdas

no Brasil).

Fontes:

Revista Renascença. A principal emancipação feminina – Editorial. In Renascença. São

Paulo, n. 5, julho, 1923a.

_______________________. – Renascença. Editorial. In Renascença. São Paulo, n. 1,

fevereiro, 1923b.

_______________________. – Que é educação?. Editorial. In Renascença. São Paulo,

n. 2, março, 1923c.

_______________________. – Educação da Mulher. Editorial. In Renascença. São

Paulo, n. 1, fevereiro, 1923d.

_______________________. – Preparar nos Paes a educação dos filhos. Editorial. In

Renascença. São Paulo, n. 1, fevereiro, 1923e.

_______________________. – A moral sem dogmas. Editorial. In Renascença. São

Paulo, n. 1, fevereiro, 1923f.

_______________________. – As vítimas do clericalismo. Editorial. In Renascença.

São Paulo, n. 3, abril, 1923g.

_______________________. – A maçonaria no centenário. Editorial. In Renascença.

São Paulo, n. 3, abril, 1923h.

_______________________. – A Greve dos Graphicos. Editorial. In Renascença. São

Paulo, n. 2, março, 1923i.

_______________________. – 1° de Maio. Editorial. In Renascença. São Paulo, n. 4,

maio e junho, 1923j.

_______________________. – Pelo Mundo Proletario. Editorial. In Renascença. São

Paulo, n. 3, abril, 1923k.

_______________________. – Aos Trabalhadores do Brasil. Editorial. In Renascença.

São Paulo, n. 3, abril, 1923l.

_______________________. – Grupo Amigos da Liberdade. Editorial. In Renascença.

São Paulo, n. 5, julho, 1923m.

Page 15: Representações de Ciência e Tecnologia No Pensamento Anarquista

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

_______________________. – A Liga O. da Construcção Civil, e a reacção burguesa

contra o proletariado. Editorial. In Renascença. São Paulo, n. 2, março, 1923n.

_______________________. – As mânhas do cooperativismo. Editorial. In

Renascença. São Paulo, n. 4, maio e junho, 1923o.

_______________________. – Appelo ‘a mulher. Editorial. In Renascença. São Paulo,

n. 1, fevereiro, 1923p.

_______________________. – A poetisa brasileira Ilka de Freitas Maia. Editorial. In

Renascença. São Paulo, n. 4, maio e junho, 1923q.

_______________________. – Cruz e Souza O Poeta Negro. Editorial. In Renascença.

São Paulo, n. 5, julho, 1923r.