14
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE GESTÃO DE CALAMIDADES Estratégia para a Redução da Vulnerabilidade e o Desenvolvimento Sustentável nas Zonas Propensas às Cheias em Moçambique (Versão Preliminar para Discussão e Comentários ) Fevereiro 2009 Com o apoio de Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos 1

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

    

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE 

CONSELHO TÉCNICO DE GESTÃO DE CALAMIDADES        

Estratégia para a Redução da Vulnerabilidade  e o Desenvolvimento Sustentável  

nas Zonas Propensas às Cheias em Moçambique   

(Versão Preliminar para Discussão e Comentários)          

‐ Fevereiro 2009 ‐    

 

 

Com o apoio de 

   

Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos 

1

Page 2: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

1. INTRODUÇÃO  Nestas últimas decadas Moçambique tem registado um sensível aumento da incidência das calamidades naturais  tais  como  cheias,  ciclones,  secas  e  sismos.  É  cada  vez mais  evidente  que  o  impacto  destas calamidades  influi  negativamente  no  processo  de  desenvolvimento  do  País.  Por  outro  lado,  uma situação de crise gerada por uma calamidade pode constituir uma oportunidade única para se pensar e pôr em práctica novos mecanismos de desenvolvimento que permitam reduzir o risco das populações vulneráveis e conferir maior sustentabilidade às intervenções levadas a cabo no terreno.  

Em Moçambique tentou‐se desde a  independência de desenhar e  implementar operações massivas de reassentamento seja de populações dispersas, num esforço de concentrá‐las num local onde pudessem ter um melhor acesso às infraestruturas e aos serviços básicos e sociais1, seja de populações vulneráveis às calamidades naturais, em particular às cheias. Porém, a partir da leitura de alguns estudos ‐tais como Yachan (2002), Calengo e Moreno (2002) e UEM (2009)‐ pode‐se deduzir que estas operações ainda não produziram  os  resultados  desejados  em  termos  de  sustentabilidade  e  de  aceptação  por  parte  das famílias  reassentadas,  sobretudo  tendo  em  conta  o  grande  esforço  empreendido pelo Governo para levá‐las a cabo. 

Um estudo recentemente concluído pelo Departamento de Arqueologia e Antropologia, na Faculdade de Letras,  Universidade  Eduardo  Mondlane  (UEM),  intitulado:  Estudo  Sócio‐Antropológico  sobre Reassentamento Pós‐Cheias no Vale do Zambeze ‐ 2008: Tete, Manica, Sofala e Zambézia ‐a seguir referido por  UEM  (2009)‐  demonstra  claramente  como  as  famílias  camponesas  reassentadas  são  ainda fortemente  dependentes  das machambas  localizadas  nas  zonas  baixas  propensas  às  cheias  para  se sustentarem. O estudo salienta que “... entre os reassentados existem três tendências diferenciadas: os que retornam definitivamente para as zonas de origem; os que diariamente fazem as suas vidas nos dois lados  (bairro de  reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente  intercalam a sua estadia entre os bairros de reassentamento e as zonas de origem.”   Ou seja, não existe nenhuma categoria de pessoas que consegue se sustentar unicamente a partir dos recursos  localizados dentro ou a volta dos bairros  de  reassentamento.  O  mesmo  estudo  observa  que  “no  que  tange  aos  que  retornaram definitivamente às zonas de origem, constatou‐se que embora conscientes do perigo de viver nas zonas baixas, estes alegam os seguintes  factores: que estas zonas são propícias para prática da agricultura, que é a sua principal actividade de subsistência; que são as suas  terras; que as machambas e a água ficam próximas das residências; e é  lá onde estão enterrados os seus antepassados e onde realizam os seus  rituais”.  Ou  seja  as  famílias  voltam  para  as  zonas  de  risco  e  retomam  os  seus  sistemas  de sobrevivência precários, porém conhecidos, onde conseguem encontram os  recursos e estabelecer as condições para responder às suas necessidades fundamentais. 

Com vista a definir um quadro mais completo das dinámicas migratórias em Moçambique, assim como noutros países Africanos, é preciso  reconhecer a existência dum exodo  rural  crescente para as  zonas urbanas.  As  estadísticas  oficiais  ao  nível  internacional  (UNDESA,  2007)  mostram  um  fenómeno irreversível de crescimento urbano em Moçambique, o qual vai ultrapassar a média projectada para os países da África Sub‐Sahariana na próxima década. Os factores de atracção da população para as zonas urbanas são: (i) a existência de infraestruturas e de serviços, (ii) o acesso ao mercado, (iii) a possibilidade de emprego, entre outros. É preciso salientar que na percepção das pessoas originárias das zonas rurais, 

1  Este  era  o  objectivo  principal  do  Programa  das  Aldeias  Comunais  levado  a  cabo  durante  vários  anos  após independência. 

‐ 1 ‐ 

Page 3: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

estes  factores  oferecem  a  possibilidade  de  dar  um  salto  qualitativo  nas  condições  de  vida.  Por  isso, estão  dispostas  até  a  viver  em  zonas  peri‐urbanas  degradadas.  Esta  observação  constitui  uma  base importante para sustentar a estratégia proposta neste documento.   2. QUADRO ESTRATÉGICO E DE PLANIFICAÇÃO EXISTENTE  O  Plano Director  para  a  Prevenção  e Mitigação  das  Calamidades Naturais  aprovado  em  2006  define  o quadro  das  intervenções  a  serem  implementadas  neste  âmbito  num  horizonte  temporal de  10  anos.  É preciso realçar que este Plano baseia a sua estratégia de implementação na atitude de auto‐confiança e a participação comunitária, e propõe entre outros instrumentos a criação de Centros de Recursos e de Uso Múltiplo (CERUM) para o processamento de informação, o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, a gestão colectivizada de risco e a troca de experiências. 

O  Conselho  Técnico  de  Gestão  de  Calamidades  (CTGC)  elaborou  em  2008  uma  estratégia  para  a Organização  do  reassentamento  como  forma  de  redução  de  vulnerabilidade  às  calamidades  naturais  e combate  a  pobreza.  Este  documento  fundamenta  a  criação  do  Gabinete  de  Coordenação  de Reassentamento e Reconstrução (GACOR) e revisita o conceito de reassentamento. Em particular salienta que “na estratégia de redução do risco às calamidades, o reassentamento deverá ser considerado a opção final depois de esgotadas as possibilidades de reduzir a vulnerabilidade das pessoas nos locais onde vivem. Várias formas podem ser consideradas para evitar a movimentação das pessoas... Por outro lado, quando a deslocação e a única solução possivel, esta deve se revestir de motivos atraentes para as populações”. Para o efeito, foi  introduzido o conceito reordenamento rural como processo permanente, com dois vectores complementares:  (i)  o  vector  1  que  prevê  o melhoramento  das  condições  de  residência  da  população vulnerável de modo a reduzir ou a eliminar o risco de desastres;  (ii) o vector 2 que se refere à opção de movimentar as pessoas quando o vector 1 não é funcional ou viável. 

O  Plano  de  Reassentamento  e  Reconstrução  Pós‐Calamidades  2007  e  2008  aprovado  pelo  Conselho Coordenador de Gestão de Calamidades (CCGC) e em curso de implementação fixa os seguintes objectivos a serem alcançados nos bairros de reassentamento: 

• edificar casas melhoradas; 

• providenciar o acesso a água e ao saneamento básico, bem como aos serviços de saúde e educação; 

• assegurar a produção e produtividade agricola; 

• assegurar a assistência alimentar e nutricional; 

• criar  as  condições  para  a  ampliação  das  escolhas  de  geração  de  renda,  em  particular  através  do estabelecimento de  centros  comunitários de  recursos para a aquisição e divulgação de  tecnologias, comercio, cursos de formação e diversificação de actividades professionais, etc. 

• Criar  condições  para  a  redução  do  risco  às  calamidades  naturais  em  particular  através  do estabelecimento de Comités Locais de Gestão de Risco (CLGR’s). 

 

‐ 2 ‐ 

Page 4: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

3. PRINCÍPIOS A CONSIDERAR PARA A PROPOSTA DE ESTRATÉGIA 

 Tendo  em  conta  as  observações  formuladas  na  introdução,  podem  ser  extraidos  alguns  princípios fundamentais a partir do quadro estratégico e de planificação existente, os quais irão constituir a base para a  formulação  duma  Proposta  de  Estratégia  para  a  Redução  da  Vulnerabilidade  e  o Desenvolvimento Sustentável nas Zonas Propensas às Cheias em Moçambique (ver o capítulo seguinte). 

  1º Princípio:   É preciso  focalizar nas necessidades básicas e na auto‐confiança das  comunidades 

vulneráveis 

Como foi salientado anteriormente, as comunidades afectadas pelas calamidades naturais são geralmente reticentes em  fixar‐se em novos  locais de  reassentamento. À primeira oportunidade  retornam  aos  seus locais de procedência, mesmo que estes  sejam  zonas de  risco. Analisando os motivos deste  fenómeno, alguns dos quais foram confirmados pelo estudo socio‐antropológico levado a cabo pela UEM (2009), pode se depreender que nos locais de reassentamento a população deslocada tem as seguintes dificuldades:  

• acesso  a  terras  suficientes, próximas  e produtivas,  incluindo para pousio  (de modo  a  garantir uma produção agrícola sustentável) e para pastagem do gado (onde houver); 

• acesso a água, um recurso muitas vezes escasso ou distante;  

• acesso a lenha, a qual geralmente fica distante e a sua provisão torna‐se cada vez mais dificil;  

• o processo de integração no novo local é complexo, já que o tecido social, composto por líderes locais e regido através de um sistema bem definido de gestão da comunidade e dos recursos, bem como de resolução de conflictos, fica desarticulado. 

Mesmo  se as perspectivas de desenvolvimento nos bairros de  reassentamento  são boas e apreciadas, o tempo necessário para a sua efectivação é longo. Consequentemente, os reassentados deverão produzir os seus alimentos e encontrar mecanismos de sobrevivência até que a situação no novo  local se estabilize. Nesta fase difícil de adaptação, muitos são obrigados a voltar para os seus locais de origem. 

A partir destas observações  destacam‐se dois  aspectos muito  importantes  no processo  de definição  da proposta de estratégia: 

(i) as comunidades centram as suas prioridades nas suas necessidades básicas; 

(ii) as comunidades têm um nível elevado de auto‐confiança nas suas capacidades. 

Estes dois aspectos representam factores fundamentais numa perspectiva de redução da vulnerabilidade, já que podem permitir desencadear um processo de desenvolvimento contínuo logo após uma calamidade e durante  o  período  intermédio  de  reconstrução,  quer  nos  locais  de  reassentamento,  quer  nos  locais  de origem ou de permanência habitual. 

  2º Princípio:   A comunidade tem uma capacidade de organização que deve ser apropriadamente 

considerada 

O sistema organizacional das populações rurais  interliga a família com a comunidade circunvizinha, a qual por  sua  vez  está  está  inserida  numa  comunidade mais  alargada.  Esta  última  compartilha  as  zonas  de produção agrícola e é regida por regras de gestão interna e de resolução de conflictos, seja para questões sociais,  seja  para o  uso  dos  recursos  naturais  (em  particular  da  terra).  Internamente,  uma  comunidade 

‐ 3 ‐ 

Page 5: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

afectada por uma calamidade reconhece este sistema organizacional e as suas estruturas. Porém, uma vez reassentada, as famílias desta mesma comunidade ficam com poderes muito limitados fora do seu território de  origem.  Pior  ainda  se  forem  reassentadas  num  território  gerido  por  outra  comunidade  com  regras diferentes. 

As comunidades rurais são: 

(i) fortes nos aspectos de organização social e na gestão do uso da terra e de outros recursos naturais; 

(ii) menos fortes nos aspectos que concernem a produção agricola; 

(iii) muito fracas para coordenar e articular propostas técnicas e económicas de desenvolvimento.  

Estas mais valias e carências dão indicações claras sobre as áreas que podem ser aproveitadas ao nível das comunidades,  e  outras  onde  é  preciso  intervir  através  de  um  processo  de  capacitação,  de maneira  a permitir um salto qualitativo na redução da vulnerabilidade e no processo de desenvolvimento em geral.  

  3º Princípio:  O território da comunidade rural precisa de requisitos básicos 

De acordo  com o estudo  socio‐antropológico da UEM  (2009), a  “unidade  sócio‐espacial de habitação destas famílias rurais [é] o espaço onde se desenvolvem actividades de produção e de colecta, de caça, de  pastagem.  Todas  estas  actividades  realizam‐se  num  espaço  circundante  ao  núcleo  habitacional, composto de  terras  cultivo,  fontes de  água  e pastagens,  que  garantem  a  sobrevivência do agregado familiar, constituindo as bases da sua autonomia nos aspectos económicos e sociais”. 

Portanto, as comunidades rurais têm um vasto conhecimento sobre o uso da terra, as áreas necessárias para a produção  familiar usando os meios disponíveis, a capacidade de carga dos  solos, as distâncias possíveis  de  percorrer  para  produzir  e  transportar  a  colheita,  os  tempos  necessários  e  os  recursos disponíveis  para  o  transporte  da  lenha  e  da  água.  Estes  e  outros  conhecimentos  e  práticas  lhes permitem determinar a concentração de agregados famíliares num mesmo local, optando por pequenos aglomerados  distanciados  pelas  áreas  de  trabalho  agrícola.  As  famílias  encomtram  a  água  nas proximidades das suas casas, e num raio de 2 ou 3 quilómetros abrem as machambas, têm terras em pousio e obtem a lenha. As terras reservadas para pastagem variam dependendo do número de cabeças de gado. Dentro duma área mais alargada, estes aglomerados podem contar com terras para absorver o crescimento populacional. Contudo, quando a capacidade de carga na área de produção atinge o seu limite, parte ou  todo o aglomerado desloca‐se para um novo  local, procurando melhores colheitas. O novo local geralmente tem a mesma estrutura de gestão (Yachan, 2002). 

Este  tipo  de  assentamento  e  uso  dos  recursos  naturais  é  funcional  pois,  responde  às  características técnicas de produção agrária e ajuda a preservar o meio ambiente. Por outro lado, dificulta o processo de desenvolvimento do País e  torna as comunidades  rurais mais vulneráveis às calamidades naturais. Outra característica desses pequenos assentamentos é de manter uma estreita ligação com as unidades vizinhas.  Porém  falta‐lhes  desenvolver  um  intercâmbio  económico,  social  e  tecnológico  ao  nível  do Distrito e da Província que  lhes permita sair do estado de quase subsistência em que a população se encontra, com vista a passar para um estágio mais avançado de desenvolvimento. 

Até que as melhorias técnicas e de aproveitamento dos recursos não estejam assumidas e em uso pela população, cada  família continuará precisando de área para machamba  (1 a 1.5 ha), área para pousio (durante um período de 3, 4 ou mais anos), área de floresta para  lenha e outros usos  (2 a 3 ha), área para  pastagem  (3  a  5  ha  por  cabeça  de  gado),  etc.  De  notar  que  a  medida  que  se  procede  ao 

‐ 4 ‐ 

Page 6: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

reflorestamento ou se utilizem energias alternativas, pode‐se diminuir as áreas reservadas para floresta. A  medida  que  se  introduzem  sistemas  de  irrigação,  melhores  sementes,  adubos,  técnicas  de conservação da  colheita, outras  fontes de  rendimento,  etc., pode‐se  reduzir  as  áreas de produção  e pousio. O mesmo  para  o  gado,  quando  se  introduzem  sistemas  diferentes  de  alimentação,  pode‐se reduzir as áreas para pastagem. 

Percebe‐se que o sistema de sobrevivência da comunidade rural é bastante frágil, já que se baseia sobre um equilíbrio precário e complexo de uso dos recursos. Assim sendo, só pode ser modificado através de um  processo  gradual  e  bem  planificado.  Para  uma  família  reassentada  que  ainda  depende  das machambas  localizadas nas  zonas baixas, o aumento da distancia para  cultivá‐las pode afectar o  seu nível  alimentar.  Alternativamente,  um  processo  de  densificação  das machambas  perto  do  bairro  de reassentamento pode acelerar a erosão. Portanto antes de  se distanciar as áreas para agricultura do núcleo  familiar, deveriam existir meios de  transporte e um sistema rodoviário adequado. Assim como para se evitar um processo de densificação que degrada o solo perto dos bairros de reassentamento, é preciso fornecer melhores meios de produção ou devem existir alternativas de emprego. 

Nesta perspectiva, é  imprescidível que nos bairros de  reassentamento se crie uma assistência  técnica para melhorar os sistemas de produção e aumentar a produtividade, diversificar a produção, melhorar os sistemas de comercialização, a ligação rural‐urbana, os sistemas de irrigação, o acesso a água potável, os meios de comunicação, etc., com vista a reduzir a carga sobre a terra e obter aglomerados com uma maior densidade populacional. Esta condição justificaria os investimentos em serviços e infraestruturas, tornando o processo de desenvolvimento cada vez mais sustentável. 

Concluíndo, na proposta de estratégia tentar‐se‐á balancear a necessidade de desenvolvimento com os requisitos  imediatos de cada família para continuar a produzir e poder satisfazer às suas necessidades básicas. 

  4º Princípio:   É imprescindível iniciar‐se um processo de “urbanização” do sector rural 

É  sabido  que  as  comunidades  rurais  vulneráveis  às  calamidades  naturais,  na  sua  maioria,  salvo excepções, não contam com água canalizada, electricidade, vias de acesso transitáveis todo o ano, nem com  serviços de  saúde e de educação. Mais  importante ainda,  faltam‐lhes  infraestruturas para o  seu desenvolvimento económico e uma rede de apoio técnico para poder melhorar a produtividade agrícola, comercializar  os  productos  e  diversificar  as  actividades  económicas.  Em  outras  palavras,  é  preciso “urbanizar” o sector rural para poder reduzir a vulnerabilidade da sua população. 

Actualmente  as  comunidades  rurais  e  os  seus  líderes  locais  carecem  de  meios,  experiência  e conhecimentos para financiar, manter ou apoiar este processo de “urbanização”. Também carecem da possibilidade de realizar parcerias com entidades públicas, privadas e outras (tais como ONG’s, grupos religiosos, associações, etc). Não têm acesso a crédito nem podem pagar por este tipo de serviços. Por outro  lado,  o  Estado  conta  com  recursos  limitados  e  não  pode  assumir‐se  a  responsabilidade  de financiar este processo no longo prazo. Para além do apoio do Estado, é preciso estabelecer acordos de parceria  com  entidades privadas  e outras, bem  como  introduzir mudanças  graduais nos  sistemas de produção ao nível local com vista em torná‐los mais eficientes. 

 

‐ 5 ‐ 

Page 7: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

5º Princípio:   É preciso assegurar um processo continuo de capacitação e reforço institucional 

Como  foi  visto  nos  quatro  princípios  anteriores,  as  comunidades  rurais  afectadas  pelas  calamidades naturais  têm conhecimentos e experiências em algumas áreas e carecem de outros conhecimentos e meios que lhes permitam passar do estado de desenvolvimento em que se encontram para outros mais elevados. Também é  sabido que o aparelho do Estado  tem  recursos humanos,  técnicos e  financeiros limitados.  Com  um maior  desenvolvimento  ao  nível  rural,  a  pressão  sobre  a  administração  e  gestão distrital e provincial será maior, apresentando dessa forma novos desafios ao desempenho institucional, para o qual também requererá de capacitação adicional. 

A necessidade duma capacitação contínua e dum reforço  institucional  liga‐se com os quatro princípios acima  enumerados  porém,  para  destacar  a  sua  importância,  é  apresentado  como  princípio independente. A capacitação e o reforço institucional deve inicialmente concentrar‐se nas funções onde os diferentes  intervenientes têm maiores dificuldades e onde possa marcar uma diferença qualitativa, possibilitando outros aspectos do desenvolvimento duma forma sustentável. Assim pode‐se melhorar o desempenho da comunidade rural, das instituições do Estado e dos parceiros locais.   4. PROPOSTA DE ESTRATÉGIA PARA A REDUÇÃO DA VULNERABILIDADE E O DESENVOLVIMENTO 

SUSTENTÁVEL NAS ZONAS PROPENSAS ÀS CHEIAS EM MOÇAMBIQUE 

 Com base no quadro estratégico e de planificação apresentado na Secção 2 e nos princípios enumerados na Secção 3, propõem‐se  três  linhas estratégicas de  intervenção com vista a reduzir a vulnerabilidade das  comunidades  que  moram  em  zonas  propensas  as  cheias  e  a  estimular  mecanismos  de desenvolvimento  sustentável.  Trata‐se  basicamente  de  uma  proposta  de  intervenção  simultánea  de reordenamento rural e de capacitação institucional a ser desenvolvida na forma seguinte: 

1ª linha estratégica de intervenção:   Estabelecimento de bairros de reassentamento em zonas seguras e adequadas 

Esta  linha  de  intervenção  prevê  o  estabelecimento  de  bairros  de  reassentamento  em  zonas  seguras (fora do alcance das águas de cheias) e adequadas (a uma distancia razoável das zonas produtivas) com um  mínimo  de  infraestruturas.  Estes  bairros  devem  poder  funcionar  como  centros  de  atração  de recursos,  investimentos  e  população,  de  difusão  de  técnicas,  de  prestação  de  serviços  e  de comercialização. Os bairros poderão servir uma população dentro dum raio de 10 a 20 kms incluíndo as zonas productívas/de risco. 

2ª linha estratégica de intervenção:   Instalação  de  plataformas  de  apoio  em  zonas  fértieis propensas à cheias moderadas 

Propõe‐se  a  instalação  de  plataformas  de  apoio  nas  zonas  fertiéis  das  planícies  fluviais  propensas  à cheias moderadas, que possam servir como serviços sociais e/ou centros de recursos de uso múltiplo em tempos normais e como refúgios em caso de cheias. Estas plataformas deverão ser bem conectadas com acessos  aos bairros de  reassentamento, de modo que  a  combinação das  intervenções propostas nas primeiras duas linhas estratégicas constituam um quadro espacial organizado e interligado.  

‐ 6 ‐ 

Page 8: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

3ª linha estratégica de intervenção:   Estabelecimento de um processo continuo de capacitação institucional e local  

É preciso  instaurar um processo gradual e permanente de  reforço da capacidade aos vários níveis de intervenção  (sobretudo distrital  e  local) nas  áreas de  governação, de  gestão  local  e de prestação de serviços, em particular com vista a reduzir a vulnerabilidade e a aumentar a produtividade agrária. 

Para  começar  o  exercício  de  reordenamento  rural  e  com  vista  a  assegurar  que  os  investimentos realizados para a redução de risco sejam sustentáveis, é preciso levar a cabo um estudo abrangente da vulnerabilidade territorial às cheias nos vários distritos do País, de maneira a  localizar adequadamente os bairros de reassentamento bem como as plataformas de apoio. O estudo deverá incluir a analise das muitas variáveis que intervêm no ordenamento territorial no que concerne as zonas propensas às cheias e a inter‐conexão entre o distrito e a província.  

Importa notar que os grandes  investimentos previstos para construção de barragens  (Moamba Major, Bué Maria  e  Licungo)  e  de  diques  (nas  bacías  de  Incomati,  Limpopo,  Save  e  outros)  são  válidos  e necessários, porém não vão ser tratados neste documento. O que se propõe aqui poderá perfeitamente ser complementado por grandes investimentos quando estes forem efectuados. 

Para implementar a proposta de acção, pelo menos três condições preliminares são necessárias:  

a) o Governo deve articular as políticas nacionais com as necessidades da comunidade local;  

b) a comunidade  local deve estar motivada e engajada para melhorar as suas condições de vida, em particular a sua produtividade agrícola; e  

c) deve existir um sistema de governação e gestão local capaz, reconhecido pelas comunidades e com autoridade delegada pelo Governo. 

 4.1.  1ª linha estratégica de intervenção: Estabelecimento de bairros de reassentamento 

Como  já  foi  indicado,  os  bairros  de  reassentamento  devem  ser  localizados  em  zonas  seguras  e adequadas. Para o efeito o bairro deve reunir as seguintes condições mínimas:  

• ser conectado com acessos às zonas de risco e à sede do distrito; 

• ter capacidade de armazenamento de bens e de alojamento; 

• dispor  de  serviços  de  saneamento  e  de  água  potável  em  quantidade  suficiente  para  a  sua população  habitual  e  para  os  momentos  de  alta  concentração  devido  às  famílias  deslocadas durante uma emergência; 

• dispor de serviços de escola e de saúde, bem como apresentar outras  infra‐estruturas e  serviços para desempenhar funções próprias antes, durante e após a ocorrência desta situação; 

• as  machambas  devem  ser  localizadas  a  uma  distância  não  superior  aos  4  ou  5  km  da  zona residencial,  e  devem  apresentar  uma  área  suficiente  para  produzir  comida,  e  eventualmente também para produzir o excedente com vista a comercialização, para pousio e para pastagem do gado; o bairro deve estar  localizado em proximidade de uma área suficiente de  floresta para  ter acesso a lenha.  

‐ 7 ‐ 

Page 9: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

Para além dos  incentivos  (importantes) a  serem aplicados neste momento para atrair as  famílias que vivem  nas  áreas  vulneráveis  para  os  bairros  de  reassentamento,  tais  como  os  subsídios  para  a construção de casas melhoradas, o melhoramento do acesso aos serviços básicos e sociais (como escola e  posto  de  saúde)  e  a  instalação  de  infraestruturas,  esta  proposta  de  estratégia  sugere  insistir  nos seguintes  aspectos  com  vista  em  satisfazer  as  necessidades  básicas  da  comunidade  rural,  os  quais podem estar interligados: 

É importante que a alocação de terra para produção, pousio, pastagem e floresta seja formalizada junto a comunidade que mora no bairro de reassentamento. A obtenção do título de Direito de Uso e Aproveitamento da Terra  (DUAT) é  imprescindível para evitar  futuros conflitos. O estudo socio‐antropológico da UEM (2009) adverte que é preciso “prevenir conflitos principalmente em termos de acesso à terra bem como culturais entre os “hospedeiros2” e os recém-chegados”. 

O mesmo  documento  indica que  “no  geral,  as  pessoas  nos  bairros  de  reassentamento  possuem uma  renda muito baixa, o estudo  recomenda a criação de oportunidade de emprego a partir dos recursos locais, particularmente para as camadas jovens”. Trata‐se de um factor fundamental para atrair  a  população  que mora  em  zonas  vulneráveis. Quanto maior  fôr  o  número  de  postos  de trabalho, maior será a densidade populacional do bairro de reassentamento e menor será a área necessária  para  produção  agrária  e  pousio.  Além  disso,  diversificam‐se  as  actividades  de rendimento. 

Por outro  lado,  as oportunidades de  emprego podem  ser  encentivadas  através da prestação de serviços,  tais  como  educação,  saúde,  abastecimento  de  água,  transporte,  comercialização  da produção agricola, entre outros. Para garantir maior sustentabilidade, estes serviços devem atingir a população do próprio bairro bem como as famílias que vive aos arredores. 

É  preciso  estimular  a  difusão  de  técnicas  com  vista,  em  particular,  a melhorar  os  sistemas  de produção  nos  bairros  de  reassentamento  e  nos  arredores,  contribuindo  para  a  reducção  da vulnerabilidade  da  população.  Em  funções  afins,  o  bairro  poderá  também  incentivar  a comercialização e a conservação de produtos, o transporte, a introdução de sistemas de irrigação, a plantação  de  florestas,  a  difusão  de  culturas  de  rendimento,  a  dessiminação  de  técnicas  de construção de casas melhoradas, entre outras. 

Para o efeito, devem‐se desenvolver mecanismos de micro‐crédito e atrair  investimentos quer do sector público que privado. Claramente, o nível de  investimento  irá variar em função da  localização dos bairros em relação ao núcleo de cada distrito: se o bairro fica perto de uma sede de distrito, o investimento inicial será maior; se fica longe, será menor. 

Finalmente, o bairro de  reassentamento deverá  contar  com uma  administração  capacitada para lidar  com  as  suas múltiples  funções,  em  particular  relacionadas  com:  (i)  o  uso  da  terra  e  dos recursos;  (ii) os aspectos sociais gerados pela  junção de diferentes comunidades no mesmo  local; (iii) a gestão do apoio técnico a emergência; (iv) o envolvimento de parceiros privados; (v) a difusão de técnicas e a motivação da comunidade no engajamento para o aumento da produtividade; (vi) a ligação com a administração distrital e provincial, entre outros aspectos. Especial atenção deverá ser dada aos mecanismos de participação de maneira a abrangir  todos os sectores populacionais vindouros  de  diferentes  comunidades  rurais.  A  capacidade  das  autoridades  ao  nível  das  sedes 

2 Por “hospedeiros” entendem‐se os moradores do bairro de reassentamento desde as cheias anteriores. 

‐ 8 ‐ 

Page 10: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

distritais  deverá  também  ser  reforçada  para  responder  às  necessidades  dos  bairros  de reassentamento. 

Contudo,com  vista  a  assegurar  a  auto‐sustentabilidade do bairro de  reassentamento no  longo prazo funcionando como centro de atracção de recursos, de prestação de serviços e de difusão de técnicas, é preciso  determinar  as  dimensões  optimais  bem  como  o  raio  de  influência  caso  a  caso.  A  título  de exemplo, o bairro pode chegar a  ter uma população  residente de aproximadamente 10,000 a 20,000 pessoas, os quais prestam serviços a uma população de 40,000 ‐ 50,000 pessoas numa área de influência dentro  dum  raio  que  varia  entre  10  a  20  km  (veja  Figura  1).  Os  investimentos  em  serviços, infraestruturas, mecanismos de capacitação e de assistência técnica para melhorar a produção agrária e diminuir a vulnerabilidade não seriam rentáveis para uma população inferior. 

Figura 1:   Raio de influencia do centro de reassentamento para garantir a sua auto‐sustentabilidade                        

4.2. 2ª linha estratégica de intervenção:   Instalação de plataformas de apoio 

As  zonas de planícies  fluviais  apresentam uma dualidade  contraditória:  (ii) por um  lado,  são  as mais produtivas e, portanto, é ali onde a população prefere viver; mas (ii) por outro lado, são também as mais vulneráveis em caso de inundações. As cheias passadas em Moçambique bem como no resto do mundo tem demonstrado que não  constituem um  factor que  impede às populações de  voltar para as  zonas baixas  uma  vez  que  a  situação  de  perigo  passou,  já  que  a  fertilidade  dos  solos  que  se  encontra  alí  permite‐lhe de se sustentar. No entanto importa salientar que esta proposta de estratégia recomenda 

‐ 9 ‐ 

Page 11: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

a  instalação  de  plataformas  de  apoio  só  nas  zonas  propensas  às  cheias  moderadas  onde  o reassentamento não é uma opção viável. 

Portanto,  propõe‐se  por  um  lado,  de  criar  as  condições  para  a  auto‐sustentabilidade  dos  bairros  de reassentamento  nas  zonas  seguras  (através  a  implementação  das  acções  apresentadas  na  1ª  linha estratégica de intervenção) e por outro lado, através desta 2ª linha estratégica de intervenção, de criar simultanemante as condições para diminuir a vulnerabilidade das populações cuja subsistência depende dos solos produtivos das zonas baixas instalando plataformas de apoio, onde julgado oportuno.  

Assim  sendo, os bairros de  reassentamento  e  as plataformas de  apoio  cumprem  funções diferentes, porém  complementares  no  âmbito  desta  proposta  de  estratégia.  Trata‐se  de  intervenções interconectadas e que permitem se apoiar mutuamente (veja Figura 2). A localização das plataformas de apoio poderá variar caso a caso, podendo estar localizadas numa aldeia ou num aglomerado existente; o importante  é  que  estejam  perto  da  população  vulnerável  e  sejam  facilmente  identificáveis  pela população residente e pelas brigadas de apoio em caso de emergência. 

Figura 2:   Interligação entre as plataformas de apoio e os bairros de reassentamento  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As  zonas  susceptíveis  a  cheias  moderadas  não  apresentam  perigo  durante  a  maior  parte  do  ano. Geralmente  passam  vários  anos  até  que  uma  calamidade  se  repita  no  mesmo  local.  Portanto,  é imperativo que as plataformas de apoio cumpram duas funções:  

(i) Nos tempos normais podem servir como escolas, mercados ou centros de recursos com serviços de socorro, armazéns, sala de reuniões e de formação. 

‐ 10 ‐ 

Page 12: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

(ii) Nos tempos de emergência são centros de apoio e de acolhimento transitório, de distribuição de insumos  e,  nos  casos mais  críticos,  poderão  funcionar  como  pontos  de  concentração  antes  da evacuação. Desta maneira as plataformas  irão beneficiar seja as famílias afectadas, as quais podem contar com um local de refúgio perto do seu local de residência, seja as brigadas de salvação as quais conhecem a localização das plataformas, facilitando assim o exercício de assistência em caso de cheia. 

Estas plataformas de apoio que cumprem com a dúplice função de refúgio e de serviço social, devem reunir as seguintes condições mínimas:  

são construídas acima do nível mais elevado atingido pelas águas nas cheias anteriores, de acordo com os dados históricos disponíveis e com os resultados de modelos hidrológicos de simulação de cheias;  

contam com sistemas de armazenamento de água através de furos ou da captação de água de chuva; para o efeito, a água  será armazenada em  tanques elevados de maneira a  ser protegida das águas contaminadas das inundações; 

dispõem  de  latrinas  ou  sanitários  elevados,  construídos  acima  do  nível  atingidos  pelas  inundações anteriores, e com sistemas que permitem evitar a contaminação das águas; 

têm uma estrutura resistente e dispõem de uma superfície protegida de aproximadamente 300 m² ou mais, com vista a permitir de albergar a população afectada; 

dispõem de locais de armazenamento de comida e bens essenciais; 

apresentam um accesso facilitado para os grupos vulneráveis (doentes, idosos, crianças e mulheres) e para a evacuação. 

Um exemplo de uma plataforma elevada com estas características é apresentado em anexo. 

4.3. 3ª linha estratégica de intervenção:   Estabelecimento  de  um  processo  continuo  de capacitação institucional e local 

Cientes da falta de quadros, propõe‐se o reforço da capacidade de governação e de gestão a nível distrital, de acordo com as orientações do Governo de Moçambique. De  facto, é partir do distrito principalmente que os bairros de reassentamento e as comunidades vulneráveis serão apoiadas em caso de calamidade. Nesta perspectiva,  a  administração distrital  vai  cumpre um papel extremamente  importante  e deve  ser reforçada  nas  suas  capacidades  administrativas,  políticas,  técnicas  e  sociais,  com  vista  a  reduzir  a vulnerabilidade e implantar as bases para o desenvolvimento ao nível local. A administração distrital deve, por um  lado,  identificar e tentar resolver as necessidades da comunidade rural e, por outro  lado,  fazer a ligação entre as necessidades  locais e as orientações do governo provincial e/ou central, mantendo uma comunicação periódica do fluxo de informação nos dois sentidos. 

Isto implica que o distrito deve ter conhecimentos adequados, um corpo técnico capacitado, um sistema de gestão reforçado, e deve delegar responsabilidades e entregar recursos económicos básicos duma  forma constante e por um período de tempo suficiente ao nível local, até consolidar experiências e processos de apoio  técnico  e  administrativos  nos  bairros  de  reassentamento bem  como  ao  nível  das  plataformas  de apoio. Para que istoocurra, os níveis centrais e provinciais devem estar preparados a delegar autoridade à administração distrital, apoiar quando for necessário e monitorar os processos. 

‐ 11 ‐ 

Page 13: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

Por  outro  lado,  como  já  foi mencionado  na  1ª  linha  estratégica  de  intervenção,  os  próprios  bairros  de reassentamento  deverão  contar  com  uma  capacidade  técnica  especializada,  principalmente  no  que concerne a redução da vulnerabilidade e o aumento da produtividade.  

As  funções do  corpo  técnico  ao nível da  administração distrital  e dos bairros de  reassentamento  serão diferentes e complementares, variando de caso a caso. Algumas das funções mais comuns serão:  

• Facilitar a  introdução de novas tecnologias, especialmente dirigidas a aumentar a produtividade e ao desenvolvimento de actividades económicas viáveis em áreas vulneráveis;  

• Promover os créditos agrários, uso de sementes melhoradas, adubos, vacinas; 

• Promover técnicas para a melhor utilização dos recursos florestais e aquíferos; 

• Diversificar a produção, melhorar as  técnicas de conservação do produto e promover as actividades secundarias de transformação;  

• Promover e facilitar a comercialização; 

• Identificar melhorias e promover soluções na prestação de serviços e construção de  infra‐estruturas (saúde, educação, comercialização, electrificação, comunicação, estradas, etc.); 

• Promover parcerias para o desenvolvimento económico e social com o sector privado, organizações não governamentais e outros; facilitar alianças entre as comunidades e os parceiros; 

• Estudar as necessidades das comunidades rurais, capacitá‐las e aconselhá‐las em alternativas para a redução da vulnerabilidade. 

   

‐ 12 ‐ 

Page 14: REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE CONSELHO TÉCNICO DE … · lados (bairro de reassentamento e zonas de origem) e, os que sazonalmente intercalam a sua estadia entre os

‐ 13 ‐ 

Referências Bibliográficas 

Calengo A.J., Moreno E.L.  (2002). A  Segurança de  Posse da  Terra das  Famílias Vítimas das Cheias  em Moçambique, MICOA/UN‐HABITAT, Maputo, Moçambique. 

United Nations Department of Economic and Social Affairs (UNDESA), Population Division (2007). World Urbanization Prospects: The 2007 Revision, New York, USA.  

Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Faculdade de Letras, Departamento de Arqueologia e Antropologia (2009). Estudo Sócio‐Antropológico  sobre Reassentamento Pós‐Cheias no Vale do Zambeze  ‐ 2008: Tete, Manica, Sofala e Zambézia, PNUD/INGC, Maputo, Moçambique. 

Yachan  A.F.  (2002).  Village  Resettlement  in  Mozambique:  Towards  an  Endogenous  Approach,  PhD Thesis, Heriot‐Watt University, Reino Unido.