55
CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO AMAZONAS – CETAM ESCOLA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL MOYSÉS BENARRÓS ISRAEL CHARLINGTON DA COSTA COUTINHO PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÃO DE BALSAS PARA TRANSPORTE DE ÁLCOOL E DERIVADOS DE PETRÓLEO: REQUISITOS TÉCNICOS LEGAIS DE CONSTRUÇÃO

Requisitos técnicos para balsas de combustível

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Requisitos técnicos para balsas de combustível

1

CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO AMAZONAS – CETAM

ESCOLA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL MOYSÉS BENARRÓS ISRAEL

CHARLINGTON DA COSTA COUTINHO

PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÃO DE BALSAS PARA TRANSPORTE DE

ÁLCOOL E DERIVADOS DE PETRÓLEO:

REQUISITOS TÉCNICOS LEGAIS DE CONSTRUÇÃO

ITACOATIARA/AM

2012

Page 2: Requisitos técnicos para balsas de combustível

2

CHARLINGTON DA COSTA COUTINHO

PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÃO DE BALSAS PARA TRANSPORTE DE

ÁLCOOL E DERIVADOS DE PETRÓLEO:

REQUISITOS TÉCNICOS LEGAIS DE CONSTRUÇÃO

Trabalho apresentado ao Centro de

Educação Tecnologica do Amazonas –

CETAM como requisito para obtenção do

título de TÉCNICO NAVAL.

Prof. Orientador: Getúlio Machado d Silva. Engº Mec.

Prof. Orientador: Nadja Vanessa M. Lins. Msc

ITACOATIARA/AM

2012

Page 3: Requisitos técnicos para balsas de combustível

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

Após a exposição do aluno Charlington da Costa Coutinho sobre a Defesa do

Projeto Técnico intitulado Planejamento de construção de balsas para transporte de

álcool e derivados de petróleo: Requisitos técnicos legais de construção, a banca

Examinadora/Coordenador abaixo, aprovaram o presente Projeto que, por atender

aos requisitos estabelecidos, recebeu a nota (___) ___________________________

Prof

.

Professor Orientador – CETAM/IBC

Prof

.

Membro da Banca Examinadora– CETAM

Prof

.

Membro da Banca Examinadora– CETAM

Sr.(a):.

Supervisor/Empresa (ou Instituição),

Prof

.

Coordenador do CETAM/IBC

Page 4: Requisitos técnicos para balsas de combustível

4

Page 5: Requisitos técnicos para balsas de combustível

5

À minha esposa Flávia Coutinho e a minha mãe Dona

Shirlaine Tavares as duas mulheres da minha vida

AGRADECIMENTOS

À Empresa Hermasa Navegação da Amazônia pela iniciativa pioneira de

formar mão de obra técnica na cidade de Itacoatiara.

Ao CETAM pela criação do Curso Técnico Naval, o primeiro da área na

Região Norte.

Ao Professor Getúlio Machado por ter se esmerado, deixando de lado seus

afazeres profissionais em Manaus para assumir o timão do curso técnico naval em

Itacoatiara quando as coisas estavam sem rumo.

À Professora Fabiana Pinto pela orientação na formatação deste trabalho.

À minha mãe Shirlaine Tavares que mesmo com todas as dificuldades

sempre se esforçou para me permitir cursar meus estudos.

Ao meu avô Clidenor Soares que na minha infância providenciou o meu

sustento.

À minha avó Dona Creuza Tavares por ter me dado condições financeiras de

me manter estudando na minha adolescência.

À Minha esposa Flávia Coutinho que me fez retornar as aulas do Curso

Técnico Naval quando eu já havia resolvido desistir e tem me feito feliz a cada dia.

Às pessoas com quem convivi profissionalmente e que multiplicaram meus

conhecimentos.

Aos meus amigos do CETAM pelas experiências vividas e que jamais serão

esquecidas, espero encontrar a todos exercendo sua nova profissão.

E principalmente a Deus que colocou todas estas pessoas em meu caminho

para permitir que eu chegasse até aqui.

Page 6: Requisitos técnicos para balsas de combustível

6

Page 7: Requisitos técnicos para balsas de combustível

7

O Temor do Senhor é o princípio do saber. Provérbios 1.7

ÓRGÃOS ENVOLVIDOS

Neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tiveram participação as

seguintes instituições abaixo descriminadas:

Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), instituição que

proporcionou o curso Técnico Naval à comunidade de Itacoatiara o primeiro em

parceria com uma empresa privada no Amazonas.

Hermasa Navegação da Amazônia S/A, que desenvolveu o curso em

parceria com o CETAM e disponibilizou o estaleiro para aulas práticas, assim como

transporte para as aulas e visitas em Manaus.

Estaleiro Rio Amazonas (ERAM), que patrocinou o uniforme.

Estaleiro Rio Negro (ERIN), que disponibilizou suas instalações para visita.

Estaleiro F. Barbosa, que disponibilizou suas instalações para visita.

Marinha Do Brasil, que disponibilizou profissionais com formação na área

naval, para acrescentar conhecimento aos alunos do curso técnico.

Universidade do Estado do Amazonas, Escola Superior de Tecnologia

(UEA/EST), que cedeu seu laboratório de metrologia para aula prática.

Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que nos deu a oportunidade

de apresentar um stand sobre o curso técnico Naval durante a semana de ciência e

tecnologia em 2011, na cidade de Itacoatiara/AM.

Page 8: Requisitos técnicos para balsas de combustível

8

Page 9: Requisitos técnicos para balsas de combustível

9

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Título de Projeto

PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÃO DE BALSAS PARA TRANSPORTE DE

ÁLCOOL E DERIVADOS DE PETRÓLEO

Alunos

Alexandre da Silva Santos

Anderson de Almeida da Silva

Charlington da Costa Coutinho

Gleyce Neves dos Santos

Jorjan Aquino de Almeida

Marcos Antonio Correa

Professor-Orientador

Engenheiro Mecânico Getúlio Machado da Silva

Ms.C. Nádja Vanessa M. Lins

Instituição

Centro de Educação Tecnológica do Amazonas

Área Técnica a que se refere o Projeto

Construção Naval

Delimitação da área do Projeto

Planejamento de construção de Balsas Petroleiras

Page 10: Requisitos técnicos para balsas de combustível

10

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO

2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A IMPORTÂNCIA DAS BALSAS PETROLEIRAS PARA O TRANSPORTE COMBUSTÍVEL

NA AMAZÔNIA

2.2 OS RISCOS NO TRANSPORTE DE DERIVADOS DE PETRÓLEO

2.3 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA CONSTRUÇÃO NAVAL

2.4 O MERCADO NAVAL DO AMAZONAS E AS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO

3.0 DESENVOLVIMENTO

3.1 AS NORMAS DA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO ANP

3.2 REQUISITOS LEGAIS PARA CONTRUÇÃO DE EMBARCAÇÕES PETROLEIRAS

SEGUNDO A NORMAM 02

3.2.1 REQUISITOS DE ARQUITETURA NAVAL E ESTRUTURA

3.2.2 REQUISITOS DE MÁQUINAS

3.2.3 REQUISITOS DE ELETRICIDADE E ELETRÔNICA

4.0 CONCLUSÃO

5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 11: Requisitos técnicos para balsas de combustível

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Trajeto dos navios petroleiros que abastecem Manaus................................

Figura 2. Comparação sócio-ambiental dos modais de transporte...............................

Figura 3. Navegabilidade na Região Norte....................................................................

Figura 4. Distribuição de combustível na Região Norte pela BR.................................

Figura 5. Acidente com balsa tanque no interior do Pará..............................................

Figura 6. Ilustração de um sistema de casco duplo.......................................................

Figura 7. Ilustração de revestimento duplo no fundo e costado.....................................

Figura 8. Ilustração de avaria em compartimento adjacentes.......................................

Figura 9. Tanques de carga afastados da proa e popa.................................................

Figura 10. Balsa petroleira com borda de contenção.....................................................

Figura 11. Tomada de rede não utilizada vedada com flange cego..............................

Figura 12. Bandeja de contenção...................................................................................

Figura 13. Rede submetida a teste de pressão..............................................................

Figura 14. Manômetro na saída da bomba....................................................................

Figura 15. Casa de bombas com ventilação natural......................................................

Figura 16. Proteção no eixo contra acidentes................................................................

Figura 17. Válvulas PV...................................................................................................

Figura 18. Luminária a prova de explosão.....................................................................

Figura 19. Mastro com refletores....................................................................................

Figura 20. Bandeira Bravo Código Internacional de Sinais............................................

Figura 21. Modelo de aviso de emergência...................................................................

Figura 22. Mastro com luz encarnada na proa...............................................................

Page 12: Requisitos técnicos para balsas de combustível

12

RESUMO

Este estudo tem como finalidade demonstrar as etapas do processo de construção de balsas utilizadas no transporte de álcool e combustíveis derivados de petróleo, que são comumente chamadas em nossa região de balsas petroleiras. Todas as etapas deste processo foram abordadas: a solicitação do armador, os documentos necessários ao início do processo, a elaboração de planos de construção, a estrutura necessária ao estaleiro construtor, o planejamento e a execução da obra, o processo de fabricação, o controle de produção, incluindo os testes finais para entrega ao cliente e os requisitos legais que devem ser obrigatoriamente atendidos para que a embarcação seja legalizada e possa entrar em operação dentro dos prazos previstos, mantendo em segurança a carga, os operadores e o meio ambiente. As normas que regulamentam a construção de balsas petroleiras encontradas na NORMAM 02, capítulo 5, seção III, são de extrema importância para que se construam embarcações seguras evitando acidentes como derramamentos, incêndios, explosões etc. De acordo com o Relatório consolidado das empresas associadas ao SINDNAVAL do SEBRAE (2010) apenas 26 % dos estaleiros cadastrados no Amazonas têm conhecimento sobre essas normas, e estes números tendem a ficar mais alarmantes se forem considerados os estaleiros que não participaram da pesquisa. O tipo de metodologia empregada neste trabalho foi à pesquisa bibliográfica, por intermédio de livros, resumos, artigos científicos, artigos de revistas etc., isto é, fontes relacionadas ao tema.

Page 13: Requisitos técnicos para balsas de combustível

13

ABSTRACT

This study is intended demonstrate the steps the process of building of barges used to transport alcohol and petroleum-based fuels, which are commonly known in our region for oil barges. All steps in this process were discussed: the request of the ship-owner, the documents needed to initiate the process, preparation of construction plans, the necessary structure to the shipyard, the planning and execution of the work, manufacturing process, the control production, including testing for final delivery to the customer and legal requirements that must be met before the vessel can be legalized and put into operation within the agreed deadlines, keeping safely the load, operators and the environment. The regulations governing the construction of oil barges found in NORMAN 02, chapter 5, section III, are of extreme importance to build boats that are safe to avoid accidents such as spills, fires, explosions, etc.. According to the report of the consolidated companies of the SINDNAVAL SEBRAE (2010) only 26% of registered shipyard in the Amazon are knowledgeable about these laws, and these numbers tend to be more alarming if we consider the yards which have not participated in the survey. The type of methodology used in this study was to research literature through books, abstracts, scientific papers, magazine articles etc.., sources related to the theme.

Page 14: Requisitos técnicos para balsas de combustível

14

INTRODUÇÃO

As longas distâncias e os obstáculos naturais aliados a ausência de rodovias

dificultam a logística de entrega de combustível aos pontos mais remotos da

Amazônia e consolidam as balsas tanque como a maneira mais eficiente de se

transportar álcool e derivados de petróleo nesta região.

O crescente consumo de combustível aliado a obrigatoriedade de substituição

gradativa de balsas obsoletas e de casco simples que não atendem mais a

legislação, tornam bastante atrativo o mercado de construção e de renovação de

balsas petroleiras.

Na contramão desta necessidade do mercado está a carência de estaleiros

no Amazonas que possuam estrutura e mão de obra capacitadas a atender a esta

demanda.

De acordo com os estudos preliminares do Arranjo Produtivo Local de

Construção Naval no Amazonas (SEPLAN-AM, 2008) a Amazônia tem a maior

indústria naval autônoma do planeta. Só no Amazonas são mais de 300 estaleiros,

porém, a maioria é de pequeno porte e passa de pai para filho suas técnicas,

trabalhando quase sempre de forma artesanal e não detendo conhecimentos,

habilidades e competências necessárias para a construção de embarcações

maiores.

Segundo Relatório Consolidado das Empresas Associadas ao SINDNAVAL

elaborado pelo SEBRAE (2010), apenas 26 % dos estaleiros amazonenses

cadastrados produz de acordo com as regras da NORMAN 02, que regulamenta a

construção de embarcações para a navegação interior. A falta de conhecimento das

normas da autoridade marítima leva a construções inadequadas e fora dos padrões

de segurança impedindo que as embarcações recebam os certificados estatutários e

de classe necessários à entrada em operação.

A construção de balsas para transporte de álcool e derivados de petróleo é de alta

complexidade, pois o mais simples modelo deste tipo de embarcação requer profundo

conhecimento das normas de segurança, do material adequado a ser utilizado e das técnicas de

Page 15: Requisitos técnicos para balsas de combustível

15

produção a serem aplicadas, pois a atividade de transporte fluvial de combustíveis é de alto

risco e existem vários setores que regulamentam o transporte deste tipo de produto.

A maioria dos estaleiros locais desconhece a maneira como é executado o

planejamento para construir balsas para transporte de combustível e as normas que

este tipo de embarcação é obrigado a atender.

Por isso foram demonstradas todas as etapas necessárias para a entrega de

uma balsa petroleira ao cliente, para que estaleiros de construção e reparo,

sociedades classificadoras, peritos, empresas de projetos voltadas para a área

naval, empresas de distribuição de combustível que operam com postos flutuantes e

o meio acadêmico voltado para o setor naval possam usar futuramente como objeto

de consulta, já que não encontramos trabalhos anteriores publicados a respeito

deste tema.

As visitas técnicas em estaleiros (ERIN, ERAM, F. Barbosa, Hermasa etc.) e

visitas a embarcações que estavam em manutenção, também contribuíram como

base decisória para a escolha deste tema e posteriormente foi efetuada a pesquisa

bibliográfica que possibilitou produzir o desenvolvimento, conclusões, sugestões e

observações, a respeito do tema pesquisado.

Page 16: Requisitos técnicos para balsas de combustível

16

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Democratizar conhecimento sobre as etapas de construção de balsas

petroleiras detalhando todos os processos necessários a construção deste tipo de

embarcação e os requisitos técnicos que devem ser atendidos para que estas

embarcações possam entrar em operação de maneira segura para os tripulantes,

para o meio ambiente e para a carga.

2.2 Objetivos específicos

Permitir que estaleiros construtores e de reparo, independente de seu porte, e

empresas que possuam balsas para armazenamento e/ou transporte de álcool e

derivados de petróleo, tenham conhecimento sobre a importância da aplicação das

regras da autoridade marítima para a construção de balsas para transporte de

combustíveis. Esclarecendo que o não atendimento destas regras coloca em risco a

segurança operacional destas balsas e impede a legalização pelos órgãos

competentes.

Page 17: Requisitos técnicos para balsas de combustível

17

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 A IMPORTÂNCIA DAS BALSAS PETROLEIRAS PARA O TRANSPORTE

DE COMBUSTÍVEL NA AMAZÔNIA

Embora a Amazônia seja umas das regiões mais ricas do mundo em recursos

hídricos, sendo entrecortada por diversos rios ao longo de sua extensão, a maior

parte de sua matriz energética é alimentada por grupos-geradores consumidores de

óleo diesel em vez de se produzir energia da forma mais limpa e barata através de

usinas hidroelétricas.

De acordo com a reportagem da Revista Veja (2009), em sua matéria “O

pulmão intoxicado pelo diesel” na edição especial “Amazônia” as termoelétricas

correspondem a 85 % da energia consumida no Amazonas, 70 % no Acre e 60 % no

Amapá.

Existem cerca de 20 projetos para construção de usinas hidroelétricas na

região, visando diminuir a dependência de óleo diesel, porém a maioria não

consegue sair do papel ou está com as obras atrasadas por causa de ações que

questionam os impactos ambientais.

Outras formas de energia são estudadas como a criação de linhões de

transmissão elétrica ou turbinas eólicas, porém ambas se tornam inviáveis, a

primeira devido às características geográficas da região que dificultam a instalação

destas linhas de transmissão e encarecem os custos para alcançar os municípios

mais distantes; e a segunda opção devido ausência de ventos fortes capazes de

movimentar as turbinas. Surge ainda como opção a energia solar, porém esta

alternativa não conta com previsões de investimentos por parte do governo.

Sem previsão de grandes mudanças na matriz energética da região, o

grande desafio logístico é abastecer todos os municípios com combustível para

alimentar suas usinas termoelétricas e seus meios de transporte. Essa operação

além de complexa é muito custosa. Todos os meses atracam em Manaus cinco

petroleiros carregados com 180.000 litros de combustível. Os petroleiros percorrem

Page 18: Requisitos técnicos para balsas de combustível

18

cerca de 6.000 km do sudeste até Manaus (Figura 1). Esta operação tem um custo

mensal de 10 milhões de reais e tem duração média de 15 dias.

Figura 1. Trajeto dos navios petroleiros que abastecem Manaus.Fonte: Revista Veja, 2009

A inexistência de estradas em boa parte da região amazônica, aliada aos

obstáculos naturais e as longas distâncias consolidam o transporte fluvial de

combustível através de balsas como o mais viável para a região. As vantagens da

navegação fluvial em relação aos outros modais são enormes. As balsas

conseguem transportar um volume maior de carga a um custo bem menor, sendo

ainda menos poluentes que os transportes rodoviários e mais seguros (Figura 2).

Figura 2. Comparação sócio-ambiental dos modais de transporte.Fonte: ANTAQ, 2007.

Page 19: Requisitos técnicos para balsas de combustível

19

As desvantagens do transporte fluvial ocorrem principalmente em períodos de

seca, quando o nível de alguns rios baixa consideravelmente, tornando impossível a

navegação. Nestes casos os municípios atingidos se preparam com antecedência

mantendo estoques para os períodos críticos (Figura 3).

Figura 3. Navegabilidade na Região Norte.Fonte: Petrobrás, 2007

Na região amazônica a empresa Petrobrás é referência na distribuição de

combustível possuindo cerca de 200 balsas para transporte de álcool e derivados de

petróleo trabalhando a seu serviço, transportando mais 2.200.000 m³ por ano

segundo Seminário Sobre Transportes Nos Rios Amazonas e Solimões (2006).

Page 20: Requisitos técnicos para balsas de combustível

20

O combustível recebido do sudeste em Manaus é distribuído conforme ilustra

a figura 4.

Figura 4. Distribuição de combustível na Região Norte pela BR.Fonte: Petrobrás, 2007

3.2 AIMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA CONSTRUÇÃO NAVAL

Na construção naval o planejamento é essencial para manter um estaleiro

competitivo e permite reduzir prazos, aproveitando melhor materiais, ferramentas e

pessoas, reduzindo o desperdício de recursos e possibilitando a oferta de preços

mais atraentes aos olhos dos armadores.

A construção de uma embarcação parte do desejo do armador em realizar

operações específicas e estas informações devem ser repassadas aos projetistas

para que sejam definidas as características iniciais do projeto.

Geralmente o armador determina alguns itens como: capacidade da

embarcação, as limitações de tamanho e outras exigências baseadas em leis,

regulamentos, ou até mesmo vontades pessoais.

Page 21: Requisitos técnicos para balsas de combustível

21

De posse dos requisitos solicitados pelo armador o projetista utilizará todo seu

conhecimento adquirido não só em sua formação, mas através de sua vivência

profissional para determinar as características que a embarcação possuirá.

Há dois tipos principais de considerações que devem ser observados no

projeto de uma embarcação:

a) As considerações técnicas que são permanentes e são de natureza

fundamental. Um bom exemplo de consideração técnica é o tipo de solda

que deve ser aplicado em um casco.

b) As considerações legais que estão mais sujeitas a mudanças, pois

buscam atendem normas e legislações. Como exemplo, as linhas de carga

de uma embarcação.

O projeto determinará itens importantes como o método de propulsão, as

características propulsivas, o deslocamento, os coeficientes de forma, a estabilidade

e as características geométricas do casco, o arranjo geral e estrutural, o plano de

capacidades, as redes e sistemas, os equipamentos e toda parte eletro-eletrônica

incluindo sistemas de iluminação, navegação e comunicação etc.

Quando os planos de construção e detalhes construtivos são entregues pelo

responsável pelo projeto eles são submetidos às sociedades classificadoras, que

são órgãos autorizados pela Marinha do Brasil que avaliam se estão atendendo os

requisitos legais e técnicos de construção. Quando estes planos são aprovados, os

mesmos são disponibilizados ao estaleiro construtor para que a construção seja

iniciada.

De posse do projeto o estaleiro construtor começa a tomar as providências

para iniciar a obra. Essa etapa é denominada de planejamento, onde serão

adquiridos os materiais necessários para a construção da embarcação e contratadas

as equipes que executarão o serviço. O setor de planejamento cria um cronograma

mestre que abrange todas as etapas da obra e os recursos necessários (materiais,

equipamentos, ferramentas e mão-de-obra). O planejamento é de essencial

importância para o sucesso da obra. A construção de uma embarcação envolve um

Page 22: Requisitos técnicos para balsas de combustível

22

número considerável de pessoas e o simples atraso de materiais pode comprometer

o prazo acordado com o cliente.

Os princípios básicos de um planejamento em um estaleiro construtor são:

a) O que vai ser feito detalhando todas as tarefas necessárias a construção

da embarcação;

b) Quando vai ser feito, informando as datas previstas para o início de cada

atividade e o prazo para conclusão;

c) Onde vai ser feito. Determinar em que parte de suas instalações os

serviços serão executados, como carreiras, oficinas, galpões etc.;

d) Quem vai fazer. Determinando a mão de obra que deve ser alocada para

cada tarefa. Como a maioria dos estaleiros trabalha com equipes

terceirizadas neste momento se faz necessária a contratação dessas

empresas que trabalham por empreitada;

e) Como vai ser feito. É preciso determinar os processos de fabricação que

serão utilizados, os equipamentos que serão necessários, o tipo de

material que será empregado e as normas e regulamentos que devem ser

atendidos.

Para se assegurar que tudo que foi programado ocorra dentro do previsto

existem nos estaleiros as equipes de controle de produção. Essas pessoas são

responsáveis por fazer que os prazos acertados pelo planejamento sejam cumpridos

e são de fundamental importância para o sucesso da obra. Em uma construção de

embarcação existem diversas frentes de serviço e o controle de produção é

responsável por fazer todas trabalharem em sincronismo

Alguns serviços têm dependência direta de outros e o atraso de uma equipe

pode causar o conhecido efeito dominó atrasando toda obra e estaleiros que não

cumprem prazos são mal vistos pelos clientes.

O controle de produção muitas vezes tem que tomar decisões rápidas visando

corrigir alguma falha que não foi prevista pelo pessoal do planejamento, muitas

vezes o próprio projeto apresenta falhas e o estaleiro construtor tem que ter pessoas

Page 23: Requisitos técnicos para balsas de combustível

23

capacitadas a contornar esses tipos de problemas, buscando alternativas técnicas e

que possam ser aplicadas sempre respeitando as normas.

Esses imprevistos impactam diretamente nos prazos das obras, a equipe de

controle de produção muitas vezes tem que lançar mão da contratação de novas

equipes ou alterar os horários previstos para execução dos trabalhos, gerando em

ambos os casos mais despesas sejam com hora extra ou com novas contratações.

Ao final dos serviços previstos nas obras, iniciam-se os testes finais para

entrega da embarcação ao cliente. Nesta etapa o armador costuma enviar as

pessoas que irão operar estas embarcações para acompanhar os testes. Esta fase

costuma ser um período de pequenos ajustes, pois pequenos problemas são

comuns de acontecerem e precisam ser corrigidos. Os estaleiros efetuam os testes

juntamente com os representantes técnicos dos equipamentos que foram instalados

a bordo, pois no ato da aquisição destes equipamentos á comprada também uma

garantia de assistência no primeiro funcionamento, o chamado comissionamento.

Cabe ao armador colocar pessoas capacitadas a avaliar se todos os

equipamentos estão funcionando perfeitamente para aceitar a entrega da

embarcação, pois caso algum equipamento que não tenha sido testado apresente

problemas após a saída do estaleiro o custo para o reparo será do próprio armador

como punição por não ter detectado antes da entrega da embarcação.

3.3 AS DIFICULDADES DO MERCADO NAVAL DO AMAZONAS E AS

PERSPECTIVAS PARA O FUTURO

          Acompanhando a perspectiva de crescimento da indústria naval brasileira o

Amazonas pode ampliar a sua participação nesse mercado. Estudo elaborado

recentemente pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA,

2011), indica propostas para a consolidação dessa cadeia produtiva e aponta o

potencial em expansão do segmento no Estado.

O Estado conta com cerca de 300 estaleiros instalados de pequeno, médio e

grande porte que atuam principalmente na construção de balsas, empurradores

(conjunto), embarcações de ferro, alumínio e fibra, além de embarcações regionais,

Page 24: Requisitos técnicos para balsas de combustível

24

sendo que em grande parte atende apenas ao mercado regional. A escala de

faturamento dos principais estaleiros gira em torno de R$ 244 mil a R$ 2,4 milhões.

        Apesar da vocação natural e da longa tradição naval, o Amazonas não

apresenta o mesmo desempenho se comparado aos outros pólos instalados no

País. O alto índice de informalidade do segmento (a maioria dos trabalhadores é

autônoma), a falta de infraestrutura adequada para ampliação da produção, a pouca

qualificação da mão de obra, a dificuldade de financiamento são apontados como os

principais gargalos para o crescimento do setor naval no nosso estado.  

        Dentre as medidas a serem tomadas está a adoção de uma política de

regulamentação no sentido de organizar o segmento econômico, ambiental e

juridicamente. Isso facilitaria a obtenção de crédito e financiamento, de maneira a

contribuir para a expansão da infraestrutura produtiva, desta forma os empresários

poderiam usufruir de políticas de incentivo governamentais, como é o caso dos

benefícios fiscais concedidos pelo modelo Zona Franca de Manaus (ZFM). Pois

Atualmente, dos cerca de 60 estaleiros implantados na orla da capital amazonense,

apenas sete usufruem dos incentivos fiscais da ZFM, ou seja, um número enorme de

estaleiros deixa de receber benefícios que poderiam alavancar seu crescimento.

Uma das prioridades do atual governo é a criação do Distrito Naval de

Manaus. As discussões em torno da implantação desse empreendimento já

iniciaram e envolve a SUFRAMA, Secretaria de Estado de Planejamento e

Desenvolvimento Econômico (SEPLAN), Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República (SAE/PR) e outros órgãos governamentais das esferas

municipal, estadual e federal, as entidades representativas do empresariado,

instituições de ensino superior, além de órgãos de apoio como o SEBRAE.

Estudos desenvolvidos pela SUFRAMA (2011) sugerem a adoção de

investimentos em capital intelectual com o objetivo de suprir as necessidades do

segmento no que se refere à qualificação de mão de obra. Conforme levantamento

feito, a criação de cursos de graduação em Engenharia Naval e outros, como

Técnico em Construção Naval, Soldador, Técnico em Máquinas Navais e Montador,

deverá atender as demandas dos estaleiros sediados na capital e no interior, cujos

principais polos estão localizados nos municípios de Iranduba, Itacoatiara,

Manacapuru, Maués, Novo Airão, Parintins e São Sebastião do Uatumã.

Page 25: Requisitos técnicos para balsas de combustível

25

A expansão do segmento deverá gerar novos empregos e fortalecer a

economia local. Segundo o Sindnaval (2010) são gerados em torno de quatro mil

empregos diretos no Estado, mas com investimentos e políticas públicas ajustadas

às necessidades do setor, temos condições de chegar, em um prazo de quatro anos,

a mais de 50 mil empregos diretos gerados.

Page 26: Requisitos técnicos para balsas de combustível

26

4 METODOLOGIA

A princípio foi feito um levantamento bibliográfico com o intuito de conhecer o

conteúdo abordado, e fundamentar as idéias contidas no referido trabalho,

conforme relata a citação a seguir:

A documentação indireta consiste no levantamento de dados

imprescindíveis a toda e qualquer pesquisa (...) a pesquisa bibliográfica ou

fontes secundárias consiste no esforço do pesquisador em realizar um

levantamento bibliográfico sobre o tema a ser investigado, toda e qualquer

forma de pesquisa necessita dessa forma de pesquisa para fortalecer o

conhecimento sobre o tema da investigação, (LAKATOS e MARCONI,

2002).

Frente à fundamentação obtida durante a pesquisa foi realizado todo um

trabalho de tabulação e fichamento de informações obtidas através de livros,

internet, diálogos e televisão. No entanto foi necessário realizar ainda toda uma

revisão do conteúdo bibliográfico para então estruturar o trabalho.

Muito embora estejamos vivendo um momento ímpar de evolução nos

processos tecnológicos, ainda são poucas as linhas escritas que relatam essa forma

de instrumento de navegação, para tanto, a internet foi um recurso fundamental,

através da qual foi realizado um trabalho de pesquisas a “sites” que são divulgados

comentários e informações recentes a respeito das novas tecnologias utilizadas

pelas embarcações ecológicas.

Enquanto técnica de pesquisa alusiva, a metodologia utilizada neste trabalho

foi realizada uma entrevista na forma de diálogo com profissionais especializados do

setor naval, sem perceber o conteúdo real e o objetivo da conversa, os entrevistados

deram suas opiniões sobre os transportes fluviais. As considerações desses

elementos serviram de base para fundamentar alguns aspectos relevantes deste

trabalho, como exemplo, a visão que a sociedade tem a respeito dos meios de

transportes fluviais. Esta técnica de pesquisa muito embora seja de natureza

empírica contribui para a obtenção de informações pouco precisas, mas, que

motivam a uma busca maior do conteúdo envolvido.

Page 27: Requisitos técnicos para balsas de combustível

27

De posse dos resultados, a intenção é fazer uma relação do material

investigado com a realidade que se apresenta, nesse sentido, vale ressaltar que

mesmo tendo como vertente a intenção de contribuir com a conservação do meio

ambiente, a pesquisa revelou que ainda falta muito a ser feito de maneira que as

embarcações ecológicas embora seja um mecanismo importante na conservação do

meio ambiente, ainda está pouco difundida no mercado.

Diante do exposto há de se dizer quanto à metodologia de pesquisa

apresentada neste trabalho, que contribuiu de forma favorável para a compreensão

do tema e sua problemática, haja vista que trata- se de um conteúdo de extrema

complexidade e que muito embora já hajam embarcações dessa espécie, a pesquisa

revelou poucas evidencias que apontam para uma revolução repentina, o que

mostra a seriedade e rigor epistemológico que caracterizam este trabalho.

Page 28: Requisitos técnicos para balsas de combustível

28

5 DESENVOLVIMENTO

5.1 OS RISCOS NO TRANSPORTE FLUVIAL DE ÁLCOOL E DERIVADOS

DE PETRÓLEO

De acordo com SILVA (2004), a atividade de transporte marítimo de

derivados de petróleo tem um enorme potencial poluidor, principalmente por

envolver grandes volumes transportados e pode causar acidentes de diversas

proporções, desde as maiores resultantes de acidentes de navegação até as

relativamente pequenas, porém mais freqüentes causadas durante o

descarregamento nos terminais.

A poluição por óleo destaca-se como sendo uma das mais agressivas à

sociedade e também mais evidentes. Vazamentos de óleo em escalas maiores se

tornam rapidamente notícia nos principais jornais (Figura 5).

Figura 5. Acidente com balsa tanque no interior do Pará.Fonte: Jornal O Globo, 2010

Buscando melhorar a segurança desse modal as autoridades marítimas

internacionais resolveram criar leis e normas a fim de reduzir os acidentes e os

impactos à vida marinha. Foi preciso analisar os diversos tipos de acidentes e as

manobras operacionais envolvendo principalmente os navios petroleiros que foram

protagonistas dos maiores acidentes ambientais já existentes.

Por fim foram criadas duas importantes convenções para garantir a segurança

no transporte marítimo, a MARPOL (Convenção Internacional para a Prevenção da

Page 29: Requisitos técnicos para balsas de combustível

29

poluição por navios) pela União Européia em 1974, entrando em vigor

internacionalmente em 1978 e a OPA (Oil Pollution Act) pelos Estados Unidos em

1990.

Na tentativa de minimizar os riscos da atividade e evitar que os impactos

potenciais se transformem em impactos reais, uma série de mudanças vem sendo

implementadas ao longo dos anos, refletindo em modificações na estrutura das

embarcações petroleiras, como a obrigatoriedade do casco duplo que reduz a

probabilidade da carga transportada ser derramada no meio ambiente quando da

ocorrência de acidentes que geram avarias nos cascos. Ou seja, uma camada dupla

de chapas minimiza o risco de contato do óleo com a água dos rios, oceanos e lagos

(Figura 6).

Figura 6. Ilustração de um sistema de casco duplo.Fonte: Oceânica UFRJ, 2010

5.2 NORMAS DA ANTAQ PARA TRANSPORTE DE ÁLCOOL E DERIVADOS

DE PETRÓLEO

A Agência Nacional de Transporte Aquaviário - ANTAQ, regulamenta o

serviço de transporte de cargas na navegação interior. Somente podem efetuar este

tipo de transporte Empresas Brasileiras de Navegação (EBN) que atendam os

requisitos técnicos, econômicos, jurídicos e fiscais estabelecidos na Norma Para

Outorga De Autorização para Serviço de Transporte de carga na navegação Interior

Longitudinal, Interestadual e Internacional ou nas normas complementares,

respeitados conforme for o caso os tratados, convenções e acordos internacionais,

enquanto vincularem a República Federativa do Brasil. (Resolução nº 2025 ANTAQ

Art. 4, de 20 de abril de 2011).

Page 30: Requisitos técnicos para balsas de combustível

30

O requerimento de Autorização para operar deve ser encaminhado a ANTAQ,

acompanhado de uma série de documentos como Registro da Embarcação,

Certificado de Segurança, seguros e outros documentos junto aos órgãos fiscais.

A EBN se obriga a executar o serviço observando as características próprias

da operação, das normas, satisfazendo os requisitos de eficiência, segurança e

proteção ao meio ambiente e só poderão operar embarcações em boas condições

operacionais e regularizadas junto À autoridade Marítima e com Apólices de Seguro

Obrigatório por Danos pessoais Causados por Embarcações ou por suas Cargas.

Para o transporte a granel de álcool, petróleo e seus derivados após a

obtenção do Termo de Autorização da ANTAQ, deve-se obter a autorização da

Agência Nacional do Petróleo – ANP.

5.3 AS NORMAS DA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO ANP PARA

TRANSPORTE DE ÁLCOOL E DERIVADOS DE PETRÓLEO

A portaria nº 170, de 25 de setembro de 2002, da Agência Nacional do

Petróleo regulamenta a atividade de transporte a granel de álcool, petróleo e seus

derivados por meio aquaviário e estabelece que esta atividade deverá ser exercida

exclusivamente, por empresas brasileiras autorizadas pela ANTAQ, as quais

somente deverão utilizar embarcações detentoras de Declaração de Conformidade

emitida pela Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil, e que atendam aos

regulamentos que regem as atividades de transporte aquaviário.

Uma das exigências para as empresas brasileiras de navegação receberam

autorização da ANP para efetuar o transporte de derivados de petróleo é que todas

as embarcações possuam declaração de conformidade emitida pela DPC, ou seja,

tem que atender os itens da NORMAN referente a atividade que ela executa. No

caso das balsas para transporte para álcool e derivados de petróleo utilizadas em

nossa região, estas devem atender a NORMAN 02 SEÇÃO III cujo título é

TRANSPORTE DE ÁLCOOL, PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS.

Page 31: Requisitos técnicos para balsas de combustível

31

5.4 REGRAS DA NORMAM 02 PARA TRANSPORTE DE ÁLCOOL E

DERIVADOS DE PETRÓLEO

A NORMAM é o conjunto de regras que regulariza a navegação no Brasil. Em

nossa região as balsas que efetuam o transporte de álcool e derivados de petróleo

devem atender aos requisitos da NORMAM 02 que é específica para a navegação

interior.

As regras do capítulo 5 seção III da NORMAM 02 se aplicam a todas as

embarcações que transportem álcool, petróleo e derivados deve ser atendidas

durante a construção de balsas petroleiras para que a autoridade marítima emita a

declaração de conformidade para transporte de petróleo, necessária para

regularização junto a ANP.

A DPC mantém disponível para consulta em seu site a listagem as

embarcações autorizadas e efetuar transporte de petróleo e seus derivados, não

constando apenas os postos de abastecimento flutuantes nesta lista.

As balsas para transporte de álcool e derivados de petróleo têm

características peculiares que devem ser observadas durante sua construção.

Embora a maior parte dos requisitos seja similar a construção de cascos de outros

tipos de embarcações os itens específicos para balsas petroleiras devem ser

atendidos buscando a segurança relativa à atividade que estas balsas vão

desempenhar.

5.4.1 Proteção dupla em cascos e costados

A balsa deverá ser construída de modo que na região dos tanques de carga

existam fundos e costados duplos (figura 7), respeitando as distâncias mínimas

abaixo:

Distância entre superfície dos tanques de carga e costado: 1,0 m; Distância

entre superfície dos tanques de carga e o fundo: 0,76 m ou B/15, onde B= Boca

(largura da embarcação), (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Page 32: Requisitos técnicos para balsas de combustível

32

Figura 7. Ilustração de revestimento duplo no fundo e costado Fonte: RBNA, 2006

5.4.2 Critérios de estabilidade

Deve-se comprovada estabilidade suficiente nas condições intacta ou com a

embarcação avariada. Na fase de projeto, deve ser determinada por meio de

cálculos de massa e momentos. Após o término da construção estes cálculos devem

ser ratificados através de prova de inclinação. Deve ser comprovada estabilidade em

todas as condições no carregamento e variações de calado e trim (NORMAM 02

Capítulo 5 Seção III).

5.4.3 Avaria padrão

As seguintes hipóteses devem ser assumidas para a extensão de avaria:

Extensão longitudinal: 1/3(L) ou 14,5 m, o que for menor, onde L é igual ao

comprimento moldado da embarcação; Extensão transversal: B/5 ou 11,5 o eu for

menor, onde B= boca (largura da embarcação); Extensão vertical: Pra cima sem

limitação.

A embarcação deve suportar avaria em dois compartimentos adjacentes

conforme ilustra a figura 8 (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 8. Ilustração de avaria em compartimentos adjacentes. Fonte: RBNA, 2006

Page 33: Requisitos técnicos para balsas de combustível

33

5.4.4 Disposição dos tanques de carga

Os tanques de colisão, à vante e à ré de forma alguma poderão ser

construídos para serem utilizados como tanques de carga. As extremidades de proa

a popa são os pontos mais expostos a colisões (figura 9) e a presença de

combustível nessas áreas é totalmente proibida, nem mesmo para o próprio

consumo da embarcação (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 9. Tanques de carga afastados da proa e da popaFonte: RBNA, 2006

5.4.5 Altura de soleiras de portas

As portas externas que possibilitem acesso a um compartimento localizado

abaixo do convés de borda livre ou ao interior de uma estrutura fechada deverão ter

uma soleira com altura mínima de 150 mm (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

5.4.6 Escotilhas e escotilhões

As escotilhas devem possuir braçolas com no mínimo 150 mm de altura e

tampas que permitam seu perfeito fechamento assegurando a estanqueidade

(NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

5.4.7 Altura de elipses e aberturas para retirada de equipamentos

Quando forem parafusadas dispensam qualquer requisito de altura

mínima (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Page 34: Requisitos técnicos para balsas de combustível

34

5.4.8 Altura dos suspiros

Os suspiros devem apresentam uma distância mínima de 450 mm entre o

convés e sua abertura e ser disposto de forma que não permita a entrada de água

de chuva (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

5.4.9 Altura dos dutos de ventilação ou exaustão

Devem manter uma altura mínima de 450 mm de sua abertura em relação ao

convés (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

5.4.10 Borda de contenção com embornais

Deve haver uma borda de proteção contínua no convés de pelo menos 150

mm de altura em volta da área de carga para evitar vazamentos de óleo para a água

(destacado em vermelho na figura 10). Esta borda de contenção deverá conter

embornais que possam ser obstruídos com bujões (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção

III).

Figura 10. Balsa petroleira com borda de contençãoFonte: CNA, 2009

5.4.11 Redes de carga e descarga

É obrigatória a existência de tomadas de carga e descarga para evitar

carregamentos realizados diretamente na abertura dos tanques.

Page 35: Requisitos técnicos para balsas de combustível

35

É proibida a interligação de tanques de carga, tanques de resíduos oleosos

etc., com qualquer dispositivo que possa lançar acidentalmente óleo na água, como

por exemplo, redes de esgoto.

As tomadas de carga e descarga, redutores, redes de carga e descarga e as

válvulas deverão ser de aço ou outro material adequado não sendo permitidos

materiais como alumínio e ferro fundido que são frágeis e suscetíveis a quebras.

Todas as tomadas e tubulações devem estar perfeitamente fixadas e rigidamente

apoiadas (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

As redes abertas ou tomadas não utilizadas devem possuir flanges cegos

perfeitamente parafusados (Figura 11), da mesma forma que os demais flanges da

rede (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 11. Tomada de rede não utilizada vedada com flange cego.Fonte: RBNA, 2006

As tomadas de carga e descarga deverão ter bandejas de contenção com

capacidade mínima de 200 l (Figura 12). Estas bandejas devem possuir uma rede de

dreno com válvula que retorne para um dos tanques de carga (NORMAM 02

Capítulo 5 Seção III).

Figura 12. Bandeja de contençãoFonte: RBNA, 2010

Page 36: Requisitos técnicos para balsas de combustível

36

Efetuar teste hidrostático em todo sistema de mangueiras e mangotes e redes

de carga a uma pressão de teste 150 % da pressão máxima de trabalho. Estes

testes deverão ficar registrados (Figura 13), e serem novamente executados a cada

12 meses. Uma forma prática de registrar é marcar na própria rede a data do último

teste realizado e a pressão do teste (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 13. Rede submetida a teste de pressão.Fonte: RBNA, 2006

A rede de descarga deverá possui manômetro na saída da bomba (Figura

14), e na tomada de carga e descarga para permitir o monitoramento das pressões

de operação e carregamento(NORMAM Capítulo 5 Seção III).

Figura 14. Manômetro na saída da bombaFonte: RBNA, 2006

5.4.12 Instalação do conjunto moto-bomba

O Conjunto moto-bomba deve ser instalado fora da área de carga e possuir

casaria para abrigá-lo (figura 15), com ventilação ampla e natural. Deve existir entre

o motor e a bomba uma antepara com altura mínima de 1,5 m e largura mínima de

2,0 m, próxima a bomba para evitar borrifos de óleo no motor em caso de

vazamento (NORMAM Capítulo 5 Seção III).

Page 37: Requisitos técnicos para balsas de combustível

37

Figura 15. Casa de bombas com ventilação naturalFonte: RBNA, 2006

O eixo de acionamento e todas as demais partes móveis do conjunto moto-

bomba devem ter proteções contra acidentes (Figura 16). (NORMAM Capítulo 5

Seção III).

Figura 16. Eixo com proteçãoFonte: RBNA, 2006

5.4.13 Casa de bombas em espaços confinados

Quando em espaços confinados as casas de bombas deverão possuir

ventilação forçada suficiente para 20 trocas de ar por hora.

Os motores, chaves de partida de equipamentos e interruptores deverão ser a

prova de explosão.

Deve haver fora da sala de bombas um dispositivo de paradas de emergência

das bombas.

Page 38: Requisitos técnicos para balsas de combustível

38

As bombas de carga devem ser instaladas em compartimento separado

daquele em que for instalado o motor, segregados por antepara estanque a gás,

incluindo passagem de eixos que deverão também ser estanques.

A casa de bombas deverá ser dotada de alarme sonoro de nível alto do porão

(NORMAM Capítulo 5 Seção III).

5.4.14 Motores a combustão permitidos

Só podem ser utilizados motores a combustão interna que utilizem

combustíveis com ponto de fulgor superior a 60º C. Sendo descartados, portanto

motores a álcool e gasolina e estes motores devem ser a prova de explosão com

inibidores de centelha após o silencioso (NORMAM Capítulo 5 Seção III).

5.4.15 Sistema de ventilação dos tanques de carga

Os tanques devem possui dispositivos destinados a assegurar que nem a

pressão ou vácuo excedam os parâmetros de projeto (válvulas de Pressão/Vácuo,

Figura 17), certificadas em teste de bancada com validade que não ultrapasse 24

meses (NORMAM Capítulo 5 Seção III).

Figura 17. Válvulas PVFonte: RBNA, 2006

5.4.16 Instalações elétricas em geral

Toda instalação elétrica, seus equipamentos e acessórios devem ser a prova

de explosão (Figura 18). Todo equipamento (elétrico/bateria) portátil deve ser do tipo

aprovado estanque a gás (NORMAN Capítulo 5 Seção III).

Page 39: Requisitos técnicos para balsas de combustível

39

Figura 18. Luminária a prova de explosãoFonte: RBNA, 2006

5.4.17 Iluminação

A iluminação no convés da embarcação (Figura 19), deve ser suficiente para

operações noturnas (NORMAN Capítulo 5 Seção III).

Figura 19. Mastro com refletoresFonte: RBNA, 2006

5.4.18 Bandeira Bravo

A embarcação deve possuir um mastro com a bandeira bravo (figura 20), de

acordo com o Código Internacional de Sinais (NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 20. Bandeira Bravo Código Internacional de SinaisFonte: Socorro Carvalho, 2011

Page 40: Requisitos técnicos para balsas de combustível

40

5.4.19 Avisos de emergência

A embarcação deve possui avisos de emergência como: Perigo, Mantenha-se

Afastado, Risco de Explosão (Figura 21), Não Fume, Não Provoque Centelha

(NORMAM 02 Capítulo 5 Seção III).

Figura 21. Modelo de aviso de emergênciaFonte: Google, 2011

5.4.20 Alarmes de nível

Cada tanque de carga deve possuir alarme de nível alto que deverá alarmar

quando o nível do tanque alcançar 95 % da sua capacidade. O alarme deverá ser

individual e deve ser ouvido em toda a área de operação da embarcação (NORMAM

02 Capítulo 5 Seção III).

5.4.21 Luz de sinalização

Deve haver uma luz circular encarnada com alcance de no mínimo 3 milhas

para embarcações com AB maior que 50 e 2 milhas para AB menor que 50 (Figura

22). Essa sinalização será usada durante as operações noturnas. (NORMAM 02

Capítulo 5 Seção III).

Figura 22. Mastro com luz encarnada na proaFonte: RBNA, 2006

Page 41: Requisitos técnicos para balsas de combustível

41

CONCLUSÃO

A criação do Pólo Naval de Manaus pretende tornar competitivos os estaleiros

que hoje constroem de forma artesanal. O grande desafio será capacitar mão de

obra nos mais diversos níveis para evitar que a falta de qualificação seja um entrave

ao crescimento almejado.

A construção de balsas petroleiras continuará sendo um dos pontos fortes da

construção local. Estaleiros que receberão o apoio do governo com a criação do

Distrito Naval e que pretendem entrar na disputa dessas obras, precisam adequar

suas instalações, investir em novas tecnologias e capacitar mão de obra para estar

preparados a produzir com qualidade e segurança

A aplicação das regras da NORMAM é essencial a qualquer estaleiro que

deseje produzir de acordo com a legislação. Essas regras podem ser acessadas no

site da DPC e devem estar disponível para consulta a todos os envolvidos nas

obras.

Page 42: Requisitos técnicos para balsas de combustível

42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SEPLAN-AM. Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econômico Governo do Estado do Amazonas. Arranjo produtivo local de construção naval no Amazonas. Manaus. 2008.

PORTO, T.M.C.L. Estudo de arranjo para estaleiro especializado na construção de balsas fluviais. Monografia (Graduação em Engenharia Naval) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas - SEBRAE. Setor Naval de Manaus – Relatório Consolidado das Empresas Cadastradas ao SINDNAVAL. Manaus, 2010.

Agência Nacional de transporte Aquaviário - ANTAQ. O Transporte Aquaviário no Brasil. Brasília-DF, 2006.

PACHECO, I.S. Transporte de Combustíveis nos rios Amazonas e Solimões. Palestra apresentada durante Seminário Internacional sobre Hidrovias Brasil / Flanders-Bélgica. Brasília – DF, 2007. Disponível em:http://www.antaq.gov.br/Portal/pdf/Palestras/IvanSergioPetrobras.pdf. Acesso em 03 jul. 2012.

Diretoria de Portos e Costas. NORMAM 02- Normas da Autoridade Marítima para Embarcações Empregadas na Navegação Interior, 2005.

RBNA, Regras para Classificação e Construção de Embarcações de Aço para Navegação Interior, 2006.

International Maritime Organization (IMO) - International Convention for the Prevention of Pollution from Ships, 1973, Protocol of 1978 (MARPOL), 2009.

Agência Nacional do Petróleo - ANP. Disponível em http://www.anp.com.br. Acesso em 15 jun. 2012.

Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA. SUFRAMA discute a expansão do Pólo Naval. Disponível em http://www.suframa.gov.br. Acesso em 01 jul. 2012.

Agência Nacional de Transporte Aquaviário – ANTAQ, Disponível em: http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/0000005001.pdf. Acesso em 15 jun. 2012.

Transporte Aquaviário de etanol – Prevenção de Riscos nas Embarcações. RBNA. Disponível em:http://www.industrianaval.com.uy/c/document_library/get_file?folderId=9462&name=Mattos+16.30.pdf. Acesso dia 15 jun. 2012.

Page 43: Requisitos técnicos para balsas de combustível

43

SOARES, R. O Pulmão Intoxicado pelo Diesel, REVISTA VEJA, Brasil, Setembro. Edição especial Amazônia. 2009

SILVA, P.R. Transporte Marítimo de Petróleo e Derivados na Costa Brasileira: Estrutura e Implicações Ambientais. Tese (Mestrado em Ciências em Planejamento Energético) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, 2004.