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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAS - Departamento de História
Disciplina: “História do Brasil II” (FCH401) 2° período letivo de 2010
Prof. José Augusto Pádua
Aluno: Gabriel Barroso Vertulli Carneiro DRE: 108108578
Resenha do Texto:
DEAN, Warren. "O café desaloja a floresta". In: A Ferro e Fogo. A história e a
devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia. Das Letras, 1996. pp.
183-205.
Warren Dean, em seu texto intitulado: “O café desaloja a floresta” – capítulo
oitavo do seu livro: “A Ferro e Fogo. A história e a devastação da Mata Atlântica
brasileira” – fundamenta uma análise histórica calcada em questões geográficas a partir
de um viés ecológico. Em breve síntese, Warren Dean argumenta sobre como a
exploração de certas riquezas e o cultivo desregrado de certos produtos no período do
Brasil Império, culminou na derrubada e queimada de uma enorme porcentagem do
território que é conhecido pelo nome de Mata Atlântica.
Em um primeiro momento, Warren Dean expõem o “monopólio autoritário” que
era exercido pelos grandes proprietários de terra do Brasil em função de certas políticas
sociais. De certa forma, o renome que os proprietários de terra tinham frente ao governo
imperial pode ser entendido devido ao fato que a grande maioria da receita do Império
advinha de taxas de importação, visto que o governo via nesses grandes proprietários
rurais uma forma de fomentar a sua receita, logo se articulou uma aliança entre esses
dois pilares. É possível afirmar que esses grandes fazendeiros fortaleceram a
aristocracia imperial e ganharam em troca um forte apoio aos seus próprios interesses;
porém, Warren Dean demostra ao longo de sua argumentação que essa “realidade
colonial” que não foi extinta pelo processo de independência, posteriormente,
evidenciaria certos aspectos negativos, já que grande parte das receitas geradas foram
utilizadas em investimentos “antieconômicos”.
Na primeira parte do texto, Warren Dean faz algumas considerações a respeito
do chá e da cana-de-açúcar, no entanto o enfoque principal de sua argumentação diz
respeito ao café e aos desdobramentos que o cultivo deste produto iria arquitetar. Pode-
se dizer que o café ajudou na legitimação política e econômica da corte imperial e
tornou-se a base da economia exportadora do Rio de Janeiro logo nas primeiras décadas
do Império:
“Tal como o século XVIII havia sido para o Brasil o século
do ouro, o século XIX seria o século do café. Para a Mata
Atlântica, entretanto, a introdução dessa planta exótica
significaria uma ameaça mais intensa que qualquer outro
evento dos trezentos anos anteriores.”1
O aspecto trágico do cultivo do café está inerente as suas “exigências ecológicas”, os
“limites físicos” e algumas escolhas “equivocadas” – que podem ser mais facilmente
notadas a partir de uma análise a posteriori – é possível dizer que não havia grande
preocupação com as terras que perdiam seus nutrientes minerais com as queimadas para
plantação, nem com a própria qualidade do café que era cultivado.
No decorrer de seu texto, Warren Dean aponta diversos fatores que, ao estarem
concatenados, fomentaram de forma intensa a devastação da Mata Atlântica. Dentre
esse diversos fatores, é possível ratificar: a ausência de técnicas adequadas para o
cultivo, a negligência e a prepotência dos senhores de terra, a derrubada, a queimada e o
abandono das terras. A maioria desses fatores que fundamentaram o “assalto às
florestas” pode ser explicado em função do viés econômico, ou seja, provinha do almejo
pelo investimento de baixo custo e pela ânsia desmedida do lucro imediato.
A disposição argumentativa de Warren Dean é clara e contundente, grande parte
dos recursos que derivaram da receita obtida pela venda do café foram empregados em
bens mundanos (que na época eram apreciados como luxos) ou em investimentos
antieconômicos, como na criação e manutenção de uma rede ferroviária que levasse o
café até o mercado. O prejuízo e os desdobramentos que o legado do café deixaria seria
muito mais do que montanhas desnudas, encostas estéreis e solos arruinados. Além da
falta de investimento e interesse em qualquer tipo de desenvolvimento que possa ser
entendido como “sustentável”, o intenso cultivo e comercialização do café seria um
fator intrínseco ao retardamento da abolição da escravidão. Na medida em que a
economia do café ia mostrando seus impasses e limitações, certas antinomias iam se
1 DEAN, Warren. "O café desaloja a floresta". In: A Ferro e Fogo. A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia. Das Letras, 1996. p. 193.
formando entre o governo imperial e os grandes fazendeiros; estes, dessa forma,
manifestaram seus interseres no que diz respeito à implementação de uma república.
Por fim, Warren Dean conclui a sua argumentação ratificando que reflexões que
sugerem um bem-estar político e econômico renovável se fazem necessárias na medida
em que se pensa também na fundamentação de uma dimensão ecológica; porém, pode-
se dizer que as características que marcaram o imaginário e a sociedade pós-colonial
estavam praticamente alheias a reflexões desse âmbito. Em breve síntese, Warren Dean
demostra que análises históricas voltadas para questões ambientais ajudam a repensar os
acontecimentos que geraram reações que ainda se manifestam fortemente na nossa
sociedade atual.