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Gestao Urbana
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ESTATUTO DA CIDADE: PLANEJAMENTO NÃO FUNCIONA SEM
GESTÃO DEMOCRÁTICA
Carlos Henrique Cruz
O capítulo Estatuto da Cidade: novas regras e instrumentos para o planejamento e
gestão democrática das cidades, do livro Plano diretor e gestão urbana, de autoria
da arquiteta especializada em urbanismo Otilie Macedo Pinheiro (págs. 58 a 73)
apresenta o Estatuto da Cidade, uma lei de 2001, que regulamenta artigos da
Constituição referentes à função social da propriedade urbana e que demorou 12
anos para ser aprovada na íntegra pelo Congresso Nacional.
O Estatuto da Cidade é dividido em cinco capítulos que respondem a cinco
perguntas-chave, na opinião da autora, sobre os objetivos a serem atingidos pela lei
10.257. Basicamente, estabelece as novas regras e oferece os instrumentos para
organizar a cidade segundo quatro pilares: Direito à Cidade e à Cidadania,
Atendimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana; Gestão
Democrática e Reconhecimento da Cidade informal.
Na segunda parte, ela apresenta o plano diretor como uma caixa de ferramentas
para a aplicação do Estatuto das Cidades. Em todos os momentos, a autora mostra
que apesar de ser um documento técnico e com uma proposta de planejamento para
as cidades, o seu funcionamento e aplicação estão intimamente ligados a
participação popular e a vontade e decisão política do gestor público em
efetivamente coloca-lo em prática com o envolvimento da sociedade.
Otilie Macedo Pinheiro dedica grande parte do capítulo para apresentar os novos
instrumentos urbanísticos para corrigir as distorções e induzir o desenvolvimento da
cidade com mais equidade e sustentabilidade.
O Estatuto das Cidades tem cerca de trinta mecanismos de planejamento,
tributários, jurídicos, políticos e financeiros para promover a aproximação das duas
cidades: a real e a legal. Entre os instrumentos, a autora cita o IPTU progressivo
sobre propriedades que não cumprem sua função social; as parcerias público-
privadas; o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; a regularização
fundiária e muitos outros. Enfim, Pinheiro mostra que o Plano Diretor, se bem
aplicado, permite maior poder de intervenção no combate à especulação imobiliária
e estimula o planejamento ordenado da cidade.
Ao apresentar os instrumentos de gestão democrática e participativa, a autora
mostra as ferramentas dos conselhos das cidades; conferências municipais;
debates, audiências e consultas públicas; gestão orçamentária participativa e os
projetos de iniciativa popular.
A organização do capítulo foi justamente para fazer uma ligação interessante entre a
lei bem elaborada, os instrumentos que podem ser utilizados e finalmente a
necessidade de participação popular. São justamente neste último ponto que ela
explica as críticas ao Estatuto da Cidade. “...a promulgação do Estatuto da Cidade
(…) reforça a necessidade de organização da população para a garantia do Direito à
Cidade” (PINHEIRO, 2012, p.73)
A arquiteta e urbanista reforça o tempo todo, ao longo do texto, a ideia de que a lei é
um ganho para as cidades, mas que depende de participação real e efetiva da
população envolvida. A última parte é justamente o planejamento participativo.
Pinheiro reforça que os técnicos são fundamentais para a elaboração do plano e a
participação da população, derrubando mitos e induzindo as pessoas a se
mobilizarem, discutirem e exigirem a construção da cidade para todos, por mais
utópica que possa ser.
Apesar de bem elaborada e com instrumentos eficazes, a lei por si só não irá
funcionar. É preciso que os gestores públicos permitam a participação popular como
esfera que irá definir o futuro urbano. Enfim, planejamento sem gestão democrática
é apenas mais uma lei morta que só irá reforçar a distância entre a cidade real e a
cidade ideal.
PINHEIRO, Otilie Macedo. Plano diretor e gestão urbana. – 2. ed. reimp. –
Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] :
CAPES : UAB, 2012. 128p. : il.