1
FEITIÇO DO TEMPO O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON ★★★ Trajetória de homem que nasce velho e vai ficando jovem rende filme delicado, com bom desempenho de Brad Pitt ★★★★ EXCELENTE ★★★ MUITO BOM ★★ BOM RAZOÁVEL RUIM “A vida seria infinitamente mais fe- liz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”. Consta que o célebre escritor nor- te-americano F. Scott Fitzgerald teria se ins- pirado nesta citação do romancista Mark Twain para escrever o conto ‘O Curioso Ca- so de Benjamin Button’. A história, adapta- da para o cinema sob direção de David Fin- cher (de ‘Clube da Luta’), chega hoje aos ci- nemas brasileiros, com Brad Pitt no papel- título e uma sentença ao desejo de Twain: rejuvenescer não é boa resposta ao tempo. O passar dos anos seria igualmente peno- so caso pudéssemos, em vez da decrepitu- de física, experimentar, dia-a-dia, o proces- so inverso, até chegar à mais tenra idade. É o que acontece com Benjamin But- ton (Pitt), que nasce em 1918, fim da 1º Guerra Mundial e, com a mãe morta du- rante o parto, é abandonado pelo pai em frente a uma casa geriátrica em Nova Or- leans. O bebê, enrugado e com proble- mas de saúde típicos dos idosos — como artrose e catarata —, é criado pela zela- dora do asilo. A expectativa é que o re- cém-nascido morra, mas ele cresce, com aparência de idoso, de mais de 80 anos — um show a parte no quesito efeitos es- peciais — e vai ficando mais jovem. O espectador acompanha a trajetória de Benjamin a partir de um diário lido por sua filha no leito de morte da mãe, já no século atual. Para ficar claro: Benjamin e a futura mãe de sua filha se conhecem quando ela é uma criança e ele, um octa- genário. Voltam a se encontrar quando o protagonista, aos 26, parece ter 60 e ela é uma jovem bailarina (Cate Blanchett). Mas só se envolvem quando ambos estão aparentando a mesma idade, na casa dos 40. Surge o temor do futuro: pode ela su- portar a idéia de envelhecer enquanto o homem que ama fica mais jovem? E ele, li- dar com a dor de perder os que ama en- quanto caminha para a juventude? O roteiro adaptado por Eric Roth (de ‘For- rest Gump — O Contador de Histórias’) opta por um didatismo que não compromete o rendimento da trama, de inevitável carga emocional. Mesmo as diferenças do filme para o livro soam oportunas: quem for atrás do conto descobrirá que Benjamin nasce ve- lho, com barba enorme, e não um bebê com feições envelhecidas. Datas também foram alteradas, para que a trama abraçasse o pe- ríodo das grandes guerras do século passa- do. O saldo final é curioso e envolvente. A história de Fitzgerald, cronista maior dos gla- mourosos anos 1920 nos EUA, faz pensar sobre o sentido da vida na ligeira linha do tempo. E todo o imponderável que há nele. ANDRÉ GOMES [email protected] CINEMA

Resenha do filme O Curioso Caso de Benjamin Button, publicada no Jornal O Dia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resenha do filme O Curioso Caso de Benjamin Button, com Brad Pitt, publicada no Jornal O Dia, no Guia Show&Lazer

Citation preview

Page 1: Resenha do filme O Curioso Caso de Benjamin Button, publicada no Jornal O Dia

FEITIÇODOTEMPO

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON ★★★

Trajetória de homem que nasce velho e vai ficando jovemrende filme delicado, com bom desempenho de Brad Pitt

★★★★ EXCELENTE ★★★ MUITO BOM ★★ BOM ★ RAZOÁVEL ● RUIM

“Avida seria infinitamente mais fe-liz se pudéssemos nascer aos80 anos e gradualmente chegar

aos 18”. Consta que o célebre escritor nor-te-americanoF.ScottFitzgerald teriase ins-pirado nesta citação do romancista MarkTwain para escrever o conto ‘O Curioso Ca-so de Benjamin Button’. A história, adapta-da para o cinema sob direção de David Fin-cher (de ‘Clube daLuta’), chegahojeaos ci-nemas brasileiros, com Brad Pitt no papel-título e uma sentença ao desejo de Twain:rejuvenescernão éboa respostaao tempo.O passar dos anos seria igualmente peno-so caso pudéssemos, em vez da decrepitu-de física,experimentar, dia-a-dia,oproces-so inverso, até chegar à mais tenra idade.

É o que acontece com Benjamin But-ton (Pitt), que nasce em 1918, fim da 1ºGuerra Mundial e, com a mãe morta du-rante o parto, é abandonado pelo pai emfrente a uma casa geriátrica em Nova Or-leans. O bebê, enrugado e com proble-mas de saúde típicos dos idosos — comoartrose e catarata —, é criado pela zela-dora do asilo. A expectativa é que o re-cém-nascido morra, mas ele cresce, comaparência de idoso, de mais de 80 anos— um show a parte no quesito efeitos es-peciais — e vai ficando mais jovem.

O espectador acompanha a trajetóriade Benjamin a partir de um diário lido porsua filha no leito de morte da mãe, já noséculo atual. Para ficar claro: Benjamin ea futura mãe de sua filha se conhecemquando ela é uma criança e ele, um octa-genário. Voltam a se encontrar quando oprotagonista, aos 26, parece ter 60 e elaé uma jovem bailarina (Cate Blanchett).Mas só se envolvem quando ambos estãoaparentando a mesma idade, na casa dos40. Surge o temor do futuro: pode ela su-portar a idéia de envelhecer enquanto ohomem que ama fica mais jovem? E ele, li-dar com a dor de perder os que ama en-quanto caminha para a juventude?

O roteiro adaptado por Eric Roth (de ‘For-restGump — O Contadorde Histórias’) optapor um didatismo que não compromete orendimento da trama, de inevitável cargaemocional. Mesmo as diferenças do filmepara o livro soam oportunas: quem for atrásdocontodescobriráqueBenjaminnasceve-lho,combarbaenorme,enãoumbebêcomfeições envelhecidas. Datas também foramalteradas,paraqueatramaabraçasseope-ríodo das grandes guerras do século passa-do. O saldo final é curioso e envolvente. AhistóriadeFitzgerald,cronistamaiordosgla-mourosos anos 1920 nos EUA, faz pensarsobre o sentido da vida na ligeira linha dotempo. E todo o imponderável que há nele.

ANDRÉ [email protected]

CINEMA