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STIMILLI, Elettra. Para uma crítica filosófica do ascetismo. A autora logo no início e ao longo do texto cita o fragmento de Benjamin o capitalismo como religião no qual nomeia Marx, Nietzsche, Freud e Weber como ‘sacerdotes’ do culto capitalista. Para ela, em todos os autores “emerge um nexo problemático entre ascese e economia constitutivo do ser vivo humano.” (p.1).“O ascetismo sobretudo é visto, nas três análises, como o modo através do qual a vida humana, biologicamente sem fins determinados, encontra as suas formas de autossubsistência.” (p.1) Esse ascetismo que leva a formas de autossubsistência aparece em Nietzsche como “ressentimento”, em Freud como “remoção”, em Weber como “processo de racionalização”. Tais excessos faz emergir “a vontade de nada” vinculada à vontade de potência em Nietzsche, “o problema econômico do masoquismo em Freud e a insensatez própria da lógica racional e auto-reflexiva do lucro em Weber.” (p.1) De acordo com a referência cristã, a autora busca compreender o sentido que a “questão da ‘falta’ entendida como ‘culpa’ e como débito” que estaria na origem da vida humana, está vinculada ao excesso da vontade de nada, o problema econômico do masoquismo e a insensatez da lógica racional e auto-reflexiva do lucro. Disse emerge um mecanismo antropológico superior ao auto-conservativo que destaca a “visão do homem como ser em débito” e que aparece de modos diferentes nos três autores. Assim, a autora pretende pensar a dinâmica do modo de produção capitalista de nosso tempo “que têm transformado o endividamento da vida de cada um em condição do próprio domínio de cada um” tal como Benjamin percebeu. 1. Culpa e/ou débito?

RESENHA - STIMILLI

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STIMILLI, Elettra. Para uma crtica filosfica do ascetismo.

A autora logo no incio e ao longo do texto cita o fragmento de Benjamin o capitalismo como religio no qual nomeia Marx, Nietzsche, Freud e Weber como sacerdotes do culto capitalista.Para ela, em todos os autores emerge um nexo problemtico entre ascese e economia constitutivo do ser vivo humano. (p.1).O ascetismo sobretudo visto, nas trs anlises, como o modo atravs do qual a vida humana, biologicamente sem fins determinados, encontra as suas formas de autossubsistncia. (p.1)Esse ascetismo que leva a formas de autossubsistncia aparece em Nietzsche como ressentimento, em Freud como remoo, em Weber como processo de racionalizao. Tais excessos faz emergir a vontade de nada vinculada vontade de potncia em Nietzsche, o problema econmico do masoquismo em Freud e a insensatez prpria da lgica racional e auto-reflexiva do lucro em Weber. (p.1)De acordo com a referncia crist, a autora busca compreender o sentido que a questo da falta entendida como culpa e como dbito que estaria na origem da vida humana, est vinculada ao excesso da vontade de nada, o problema econmico do masoquismo e a insensatez da lgica racional e auto-reflexiva do lucro. Disse emerge um mecanismo antropolgico superior ao auto-conservativo que destaca a viso do homem como ser em dbito e que aparece de modos diferentes nos trs autores. Assim, a autora pretende pensar a dinmica do modo de produo capitalista de nosso tempo que tm transformado o endividamento da vida de cada um em condio do prprio domnio de cada um tal como Benjamin percebeu.

1. Culpa e/ou dbito?Aqui ela passa a falar do senso de culpa como fundamento da moral do ocidente vinculada a responsabilidade, inocncia justia, teologia. Ela cita Schmitt que escreveu sobre isso e tem uma obra que trata da culpa, Sobre culpa e tipos de culpa que expe as dificuldades para definir a culpa em termos jurdicos. (p.2).Depois ela retoma Benjamin em dois textos contemporneos ao fragmento do capitalismo como religio remetendo a culpa constelao teolgico-jurdica e que parecem dialogar com Schmitt. Ele fala em outros textos sobre a culpa da vida nua natural como aquilo sobre o qual se exerce o domnio do direito sobre o ser vivo, separando no proprio interior do ser humano, o portador destinado culpa. Nesse sentido, violncia e poder jurdico se confundem. (p.2 e 3).Ela retoma o texto do Benjamin como o capitalismo sendo uma religio culpabilizadora em que os termos da categoria teolgica e jurdica da culpa foram elaborados em termos econmicos e traduzidos em dbito o que perpetrou a violncia do direito desmitificando os seus efeitos. Assim, para investigar genealogicamente as categorias morais ocidentais necessrio relacion-la com a economia, antes de o fazer com o direito e com a teologia.A autora afirma e bem importante que A Genealogia da Moral de Nietzsche , sem dvida, a tentativa mais radical de reconstruir a origem econmica da normatizao tica ocidental. (p.3) O ponto central vincular o sentimento de culpa com a experincia do dbito e busca uma possvel origem do conceito moral basilar de culpa como origem em um conceito material de dbito. [AQUI IMPORTANTE, A CONEXO COM NIETZSCHE]A autora continua a falar sobre o texto do Nietzsche e a relao da culpa como dbito [Schuld], relao de compra e venda, credor e devedor, pessoas se medindo, etc. E aponta que O valor aquilo que d a medida entre quem est em dbito e quem est em crdito, revelando assim a sua natureza originariamente econmica. (p.3 e 4).Ela lembra que Nietzsche relaciona a justia com fundamento econmico [AQUI LEMBREI DA IMAGEM DA BALANA, smbolo de MEDIDA, justa medida, etc...DA TESE DO LUIZ EDUARDO NA PARTE DO VALOR, BALANA, P.103] e que a dor constitui-se moeda de troca pelo dano sofrido. Ela cita Deleuze que insiste na interpretao nietzschiana da relao credor-devedor como a mais antiga e originria relao entre pessoas, anterior aos prprios incios de qualquer organizao social, modelos dos mais primitivos conjuntos comunitrios. No crdito e no mais na troca Nietzsche vislumbra o arqutipo da organizao social: o homem obrigado a pagar com a dor o dano causado, tido por responsvel por um dbito [...], indica o instrumento usado pela cultura para alcanar o prprio objetivo. (p.4). [AQUI ELE CONTRARIA ARISTTELES EM O HOMEM POR NATUREZA UM ANIMAL POLTICO E SOCIAL. MAS SE PENSARMOS, O HOMEM IMITA POR NATUREZA? E A IMITAO?]Para Stimilli o nexo importante a ser investigado o da obrigao, que permite aprofundar o nexo entre culpa e dbito capaz de explicitar o problema antropolgico envolvido. (p.4 e 5).

2. O HOMEM ENTRE DFICIT BIOLGICOE DBITO PBLICOFilogeneticamente [evoluo das espcies], [como organizao social], a obrigao toma forma, para Nietzsche, na relao entre devedor e credor. A ontognese [evoluo do indivduo] deste fenmeno remete prpria origem do homem. (p.5) O homem sob o ponto de vista evolutivo surge da compensao que opera com respeito sua carncia originria de instinto animal. A sua vida uma economia, a maneira de administrar um dficit natural, um dbito biolgico, que como que obrigado a saldar. Tal obrigao afasta o homem do vnculo da necessidade (como os demais animais) e o coloca no mbito da possibilidade (potncia) vinculada debilidade de que nasce. A vida humana origina-se da mais radical entre todas as metamorfoses a que a natureza jamais assistiu. (p.5) [AQUI IMPORTANTE, FALA DE UMA ESPCIE DE ECONOMIA DO MAL...MAS ELA SE ESQUECE DO PRAZER NA CRUELDADE QUE UM PRELUDIO AO HOMEM E NO A ECONOMIA QUE VEM DEPOIS, DO HOMEM EM RELAO ENTRE HOMENS]Segundo Stimilli, a vida humana se apresenta fundamentalmente como uma economia a forma de gesto de um mal-estar inicial, de um dbito natural a salvar [AQUI INEVITALVE APROXIMAR DO KANT DA ECONOMIA DO MAL]Stimilli cita Nietzsche na parte da origem da m conscincia na medida em que h uma interiorizao do homem por sua fora estar privada das condies em que pode exercitar-se e separada daquilo que est em seu poder. A autora aponta um nexo entre antropologia e economia e busca entender a noo de evoluo em Nietzsche.Evoluo em Nietzsche para a autora no progresso que dirige-se para uma meta [aqui se afasta das 4 causas de Aristteles e da crena moderna no progresso], no lgico e de breve durao e pouco dispndio de foras e bens, mas processos de sujeitamento, acrscimos de resistncias, metamorfoses de defesa e reao, contra-ao. A m conscincia no meta do processo evolutivo do qual o animal chegaria ao homem, e o sentimento de culpa que se forma dela no um fato, mas uma interpretao de um dado de fato na qual esta inerente fora de que se origina a prpria vida humana.Para Nietzsche, interpretar significa avaliar, determinar o que d valor a alguma coisa. (p.6). A vida humana genealogicamente manifesta uma natureza prospectiva, o fato de originar-se a partir da avaliao econmica de um dficit biolgico.E a autora pensando com Nietzsche diz que os valores no so princpios preciosos por si mesmos, nem simplesmente relativos a um ponto de vista, mas antes derivam o prprio valor da avaliao como tal. Assim, a avaliao um modo de ser do homem.Depois a autora cita uma passagem importante da genealogia [ponto 8 da minha traduo] em que fala sobre a origem econmica da vida do homem (p.6). [IMPORTANTE. E A CRUELDADE? Ela se enfoca no mbito calculativo da vida que para Nietzsche vem depois, mas e o reflexivo em que kant, segundo Arendt, tinha aberto e heidegger aprofunda tambm no pensamento mais originrio e que no o que calcula.]Stimilli aponta tambm a origem econmica da vida do homem sob o aspecto histrico com base na relao entre os contemporneos e os progenitores (descendentes e ascendentes). Aqui a relao de continuao da espcie atravs das geraes que vo deixando dvidas para as geraes seguintes e que origina o temor pelo antepassado que faz do progenitor um deus.[ o ponto 19 e 20 da minha traduo].Com o Deus hebraico passa a ter um sentimento de culpa abissal e com o Deus cristo tudo se radicaliza pois o prprio Deus se sacrifica por culpa do homem, para saldar suas dvidas. Mas a dvida no cessa, pois a dor paga os juros do dbito e acaba prendendo o homem em um eterno endividamento que se volta contra o devedor e contra o prprio credor.o cristianismo aparece como a interpretao mais radical, a variante mais extrema da avaliao originria atravs da qual, segundo Nietzsche, a vida humana se constitui como gesto de um dficit natural, de um dbito biologicamente inextinguvel. Tendo destrudo toda forma ativa, acaba destruindo tambm a si mesma, e no encontrando outro modo para continuar em vida seno aquele de continuar alimentando o dbito originariamente contrado. (p.7).Stimili aceita a tese benjaminiana do capitalismo como religio que reproduz um endividamento planetrio e parasitrio que se desenvolve a partir do cristianismo e encontra no discurso de Nietzsche sobre a religio crist a primeira elaborao terica. E coloca Nietzsche como sacerdote do culto ao capitalismo e que permite entender o endividamento atual da economia global.Na pgina 8 ela comea a falar de Marx e fazer analogias com o seu pensamento referindo-se a obra Capital em que Marx fala sobre o dbito, ou seja, o dbito pblico transforma o dinheiro em capital. o crdito pblico torna-se o credo do capital (p.8). Ai ela passa a indicar a comparao da noo econmica de Marx com a teolgica em que A forma de produo capitalista, fundada no dbito do trabalho no pago e no valorizao fim em si mesma do capital, identificada por Marx com o processo atravs do qual Deus segundo os tericos da economia da salvao se revela a partir do nada no Filho encarnado.O final do ponto 2 (p.9) importante pois relaciona a vida humana, assim como a divina ou do capitalismo, evolui de um dficit inicial (um nada) .... importante, pois nesse movimento de negar o prprio contedo vital inicia o processo que caracteriza a civilizao ocidental inteira, e que tanto o capitalismo como o cristianismo que so aparentemente opostos, se co-pertencem de maneira bem ntima. [AQUI SE PERGUNTA, no h um vis pejorativo vincular o capitalismo com o cristianismo? Uma espcie de vingana judaica, para retomar o judasmo e trasvalorar o cristianismo]. Ela retoma Benjamin e a vinculao da filosofia de Nietzsche e o super-homem com o capitalismo.

3. A AMBIGUIDADE DO IDEAL ASCTICOAqui a autora inicia uma interpretao de Nietzsche com Heidegger e Deleuze para compreender a vontade de potncia e a sua vinculao econmica. Ela fora um pouco a barra para fazer uma leitura econmica do pensamento de Heidegger.Heidegger viu na reflexo de Nietzsche o cumprimento da perspectiva tcnico-metafsica (p.10). Para ele h em Nietzsche uma economia maquinal no conceito de vontade de potncia devido a sua falta de fins em que, segundo Heidegger, a vontade se transforma numa potncia fim em si mesma. A autora destaca que o importante a falta de fins determinados, co-essencial vida humana, a natureza potencial do agir humano, que desde Aristteles foi posta como tema da reflexo ocidental e, ao mesmo tempo, neutralizada pelo movimento autotlico de uma potncia abstrata fim em si mesma. Decisivo para esta passagem o fato de que o carter potencial da ao humana, a sua falta de fins determinados, tenha assumido, em Nietzsche, as caractersticas de um dficit, de um dbito biolgico. (p.10)Depois dessa parte pouco clara, a autora na pgina 11 remete a Deleuze que clareia melhor a questo sobre a vontade de potncia. A vontade de potncia deve ser interpretada de maneira completamente diferente: a potncia aquilo que na vontade quer, o elemento gentico e diferencial no interior da vontade. Por isso segundo ele a vontade de potncia essencialmente ciradora. A vontade de potncia para Deleuze no aspira, no busca, no deseja, e sobretudo no deseja a potencia; desta maneira ela essencialmente criadora e doadora. Ela d. (p.11).Stimilli passa ento a falar do ideal asctico como chave de leitura em que Nietzsche interpreta a civilizao ocidental na sua totalidade, ou seja, o agir humano como tal. (p.11).Ideal asctico: desvalorizao e negao da vida, centro da prxis asctica (p.11)

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