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Resiliência e Prática Desportiva: um estudo
com Jovens Brasileiros e Portugueses
Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens (Decreto-lei no 216/92)
Orientador: Professor Doutor António Manoel Fonseca
Co-orientador: Paulo Castelar Perim
Vinícius Zocateli
Porto, abril de 2010
Ficha de Catalogação
Zocateli, Vinícius (2010). Título: Resiliência e prática desportiva: é possível
uma correlação? Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de
Mestre em Desporto para Crianças e Jovens.
PALAVRAS-CHAVE: Resiliência; Prática Desportiva; Esporte; Correlação;
Fatores de Risco e Proteção.
I
"Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é
preciso pensar, o que se nos permite pensar."
José Saramago
III
A minha formidável família.
Ao meu grande pai, João Zocateli (in memorian)
Aos amigos que sempre estiveram do meu lado.
E a esta vida, que não pode passar em branco.
Agradecimentos
V
Agradecimentos
É no fim de uma longa caminhada que podemos olhar para trás e observar as
mãos que lhe foram estendidas, quando do alto alguém o puxa para junto, as
que o impulsionaram, quando de baixo alguém quer que você suba mais um
patamar, as que lhe puxaram as orelhas, mostrando que o caminho mais fácil
nem sempre é o caminho certo, enfim, as importantes mãos, as quais sem elas
este trabalho seria impossível de se fazer real.
Agradeço ao Professor Doutor António Manoel Fonseca, meu orientador, que
por diversas vezes, muito mais do que orientar, me ajudou a compreender este
mundo tão próximo e tão distante que é Portugal e Brasil. Obrigado pelo
acolhimento, pela paciência, conselhos e orientações.
Aos amigos do Gabinete de Psicologia, Professor Nuno e Eleonor. Vocês são
parte importantíssima deste trabalho, ajudando-me a adentrar num novo
mundo de pesquisa, num novo conceito de trabalho. Obrigado Professor Nuno
pela enorme ajuda na organização dos dados. Obrigado Leonor pela fantástica
voluntariedade, nos mais diversos momentos, para me amparar nas dúvidas.
Ao amigo e professor de graduação e co-orientador Paulo Castelar, que me
ajudou e me apoiou desde o início, quando toda essa idéia de realizar o
mestrado em Portugal surgiu. Obrigado por me agüentar por tanto tempo, por
me fazer mostrar outras formas de ver muitas coisas da vida, e por me apoiar
quando as coisas não andavam bem.
Ao grande amigo e professor Erivelton, que com muito senso de humor,
sabedoria e amizade, me acompanhou esse tempo todo, apoiando em diversos
momentos difíceis e realizando um auxílio qualitativo enorme na finalização
desse trabalho. Obrigado por se fazer presente sempre.
À minha mãe, Penha Queirós, e irmãos, Yara, Diego, Fabiane, Lolô, Wando...,
que sempre mantiveram a saudade bem ardente, para que eu pudesse voltar
logo e, juntos, acalentarmos nossos corações. A você mãe, que como uma
guerreira, conseguiu sempre me apoiar e manter a casa firme, sem abdicar em
Agradecimentos
VI
nenhum momento do que acreditamos. Ao Zé, que chegou dando um brilho de
alegria a mais na casa, brilho este que até aqui em Portugal eu consegui ver.
À Fernanda, que durante todo esse processo se mostrou uma companheira
formidável, e que continua sendo uma das pessoas mais importantes na minha
vida. Obrigado pelo carinho, pelas gentilezas, e pelos conselhos que me
fizeram e faz ser uma pessoa bem melhor.
Ao grande amigo Rogério, que em terras portuguesas, me calhou como um
padrinho e tanto. Obrigado pelas suas gargalhadas, pelas horas de alegria,
pela ajuda nos momentos difíceis e por ser uma pessoa que me dá esperança
num mundo muito melhor.
Aos grandes amigos fomentados em terras lusitanas, que me apoiaram
sempre, e não me deixavam jogar o Pró-Evolution sozinho. De modo especial
agradeço ao Xuxa, Denize, Babi, Carioca, Daniel, Cyrus, Anderson, Del, Ingrid,
Diego, Juliana, Fernanda, Israel, Bernadinho, Coquinho, Fred, Manu e Alex, JP
e João... Graças a vocês esses dois anos vão ficar gravados num espaço
especial na minha memória.
À galera do Brasil, que de longe me mandavam energias positivas, e pela
internet me faziam sentir um pouco mais próximo de casa. Ao Faé, Diego,
Dudu e Davi Brandão, ao Lelê, Rodrigo e André Badiani, aos meninos que se
formaram comigo, que muito mais do que amigos, hoje posso incluí-los na
minha grande lista de irmãos. Sempre é um prazer ter mais um.
À psicologia, saber ao qual eu me apaixonei logo no início da faculdade, e que
me auxilia a estar no mundo de uma forma diferente. Ao esporte, paixão que
nasceu comigo. Porém faço minhas as palavras de Armando Nogueira: “É um
caso de amor não correspondido, as bolas, de um modo geral, vôlei, gude,
basquete, sinuca, futebol, todas não corresponderam meu amor por elas”. E
devido a isso, me restou apenas estudá-las.
Índice Geral
VII
Índice Geral
Agradecimentos V
Índice de Tabelas IX
Índice de Gráficos XIII
Índice de Quadros XV
Resumo XVII
Abstract XIX
Capítulo 1 – Introdução 1
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica 9
2.1 – A Resiliência 11
2.2 – Prática Desportiva e Resiliência: suas intercessões 21
Capítulo 3 – Metodologia 27
3.1 – Amostra 29
3.2 – Instrumentos 31
3.3 – Procedimentos 36
3.4 – Análise dos dados 36
Capítulo 4 – Resultados 39
Capítulo 5 – Discussão 57
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações 67
Referências Bibliográficas 73
Índice de Tabelas
IX
Índice de Tabelas
Tabela 1. Diferença das médias de escores de resiliência entre população
portuguesa e brasileira. 41
Tabela 2. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e
meninas portuguesas. 42
Tabela 3. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e
meninas brasileiras. 42
Tabela 4. Média dos níveis de resiliência Correlação idade x resiliência na
amostra total. 43
Tabela 5. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra portuguesa. 43
Tabela 6. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra brasileira. 44
Tabela 7. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra masculina portuguesa. 44
Tabela 8. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra feminina portuguesa. 45
Tabela 9. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra masculina brasileira. 45
Tabela 10. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência
na amostra feminina brasileira. 46
Tabela 11. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos
e meninas da amostra total. 46
Tabela 12. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos
e meninas portugueses. 47
Índice de Tabelas
X
Tabela 13. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos
e meninas brasileiros. 47
Tabela 14. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos
portugueses e brasileiros. 48
Tabela 15. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninas
portuguesas e brasileiras. 48
Tabela 16. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x
freqüência de prática desportiva na amostra total dos indivíduos. 49
Tabela 17. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x
freqüência de prática desportiva na amostra portuguesa. 49
Tabela 18. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x
freqüência de prática desportiva na amostra brasileira. 50
Tabela 19. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x
freqüência de prática desportiva na amostra masculina e feminina de cada
nacionalidade. 51
Tabela 20. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto escolar e quem não pratica da população total. 52
Tabela 21. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto em clube/ ginásio/ academia e quem não pratica da
população total. 52
Tabela 22. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
participa de competições federadas e quem não participa da população
total. 53
Tabela 23. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto escolar e quem não pratica da população portuguesa. 53
Índice de tabelas
XI
Tabela 24. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto em clube/ ginásio e quem não pratica da população
portuguesa. 54
Tabela 25. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
participa de competições federadas e quem não participa da população
portuguesa. 54
Tabela 26. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto na equipe da escola e quem não pratica da população
brasileira. 55
Tabela 27. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
pratica desporto em clube/ academia e quem não pratica da população
brasileira. 55
Tabela 28. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem
joga competições por algum clube e quem não joga da população
brasileira. 55
Índice de Gráficos
XIII
Índice de Gráficos
Gráfico 1. Distribuição da população Portuguesa e Brasileira da amostra 29
Gráfico 2. Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade 30
Índice de Quadros
XV
Índice de Quadros
Quadro 1. Fatores referentes a pessoas resilientes 34
Quadro 2. Itens da Escala de Resiliência 35
Resumo
XVII
Resumo
A sociedade atual está cada vez mais preocupada com o crescimento saudável dos seus jovens. Este presente trabalho entrecruza dois conceitos amplamente discutidos no seio do desenvolvimento positivo: o desporto e a resiliência. Esse último, um conceito muito mais novo, aparece como um complemento para se entender as nuanças do desenvolvimento dos jovens. A resiliência pode ser aqui entendida resumidamente como o processo no qual um sujeito passa para conseguir enfrentar e superar as adversidades que surgem no decorrer da sua vida, assim como seu comportamento frente às adversidades. É a resultante da interação entre os fatores de risco e de proteção ao qual o sujeito está exposto. O desporto, segundo a literatura, parece ser um ambiente favorável à emergência dos comportamentos resilientes, tanto no que tange aos princípios desportivos, quanto no relacionamento com professor/treinador. O objetivo deste estudo é mapear a resiliência na população portuguesa e brasileira estudada, e buscar saber se existe correlação com a freqüência de prática desportiva. Os sujeitos da pesquisa foram 227 jovens portugueses e 195 brasileiros de escolas públicas de ambos os países. Foram utilizados a Escala de Resiliência de Wagnild e Young para a medição dos níveis de resiliência nos indivíduos, e a prática desportiva foi medida por um questionário de auto-preenchimento, elaborado pelo Gabinete de Psicologia da FADEUP, que engloba também algumas questões sócio-demográficas. Para a análise utilizamos o programa estatístico SPSS versão 17.0, realizando operações com os escores da Escala de Resiliência, juntamente com a nacionalidade, sexo, idade e, por fim, a prática desportiva. Os resultados obtidos demonstraram poucas diferenças nas médias dos grupos populacionais, sendo que apenas os rapazes portugueses e brasileiros mostraram diferença nas suas médias, e os portugueses obtiveram correlação positiva concernente a idade. Relativamente à freqüência de prática desportiva, não foi observado nenhuma correlação com os níveis de resiliência, tampouco nos grupos que praticam em locais institucionalizados de prática. Os resultados sugerem que, a prática desportiva simples, ou sem qualquer objetivo de intervenção em comportamentos, não parece promover a resiliência em jovens, seja no Brasil ou em Portugal.
Palavras-chave: Resiliência; Prática Desportiva; Esporte; Jovens; Fatores de Risco e Proteção.
Abstract
XIX
Abstract
The modern society is each and every day more concerned with the healthy
growth of their young children. In this present work we tried to cross two widely
discussed topics inside the positive development: sports and resilience. The last
one carries a new concept, as it appears as a complement to understand the
development of young children. The resilience may be understood as a
process in which a person goes thought in order to fight and overcome the
adversities that appear during one’s life. It’s the result between two risk factors
and in which a person is exposed to. Sport, in the literature, seems to be a
constructive environment to the emergencies of the resilient behaviors, in the
matter of sporting principles, and inside the teacher/coach relationship. The
objective of this study is to chart the resilience within the Portuguese and
Brazilian population in order to search if there is any correlation among the
frequency and practice of sports. The subject of the research were 227 young
Portuguese children and 195 Brazilian ones from public schools in both
countries. The Wagnild and Young resilience scale was used to measure the
individual’s resilience levels, and an interview, elaborated by FADEUP
Psychology Department, was used to measure the sport’s practice. A 17.0
version SPSS statistic program was used to execute the analysis, as it
performed operations with the Resilience Scale scores, among the data of
nationality, gender, age and the practice of sport. The results gathered showed
modest differences in the average popular groups, and only the Portuguese and
Brazilian boys demonstrated a variation in their numbers, showing that the
Portuguese got a positive correlation with their age. No connection was found
with the resilience levels and the frequency of the practice of sports, neither
among the groups that practice in the institutionalized places of training. The
results suggest that the simple practice, or the one without any purposely
interventional behaviors, doesn’t seems to endorse the resilience among young
people, neither in Brazil or Portugal.
Key Words: Resilience, Sport Practice, Sport, Correlation, Risk and Protection
factors.
1
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO
Introdução
3
Capítulo 1: Introdução
Este trabalho tem como temática o desporto e a resiliência, visto a possível
interseção entre o conceito de resiliência e os benefícios que o esporte pode
proporcionar aos seus praticantes.
Os trabalhos realizados tendo como objeto de estudo e discussão a resiliência
são direcionados para temáticas sobre violência, “comportamento desviante”,
desrespeito a regras, adaptação, em que pese outras temáticas sejam também
desenvolvidas (Cecconello, 2003; Cecconello & Koller, 2000; Chan, 2008;
Mohaupt, 2008; Smokowski et al., 1999).
A resiliência encontra-se ainda como um conceito considerado novo, e que
pretende dar potência à psicologia que foca nos aspectos positivos dos sujeitos
(Mohaupt, 2008). Ela traz uma nova relação de intervenção e compreensão dos
fatores protetores que rodeiam o sujeito, contribuindo para uma ampliação do
foco, antes concentrado nos fatores de risco e nas patologias.
No desenvolvimento desse conceito, fatores de proteção e risco se mesclam e
agem sobre o sujeito de uma forma particular, configurando a resiliência
enquanto um processo dinâmico, presente em diversos momentos da vida da
pessoa (Yunes, 2003). Podemos dizer que uma pessoa resiliente é aquela que
consegue desenvolver a tendência de enfrentar, ultrapassar ou superar
momentos de dificuldades, patologias e infortúnios de vários aspectos, se
apoiando nos fatores de proteção para tal feito.
Os estudos encontrados, onde a resiliência está vinculada com o desporto,
estão centrados na superação de dificuldades e no alto rendimento dentro do
esporte (Halgin, 2009; Milham, 2007).
Nessa abordagem é focada a necessidade do atleta de saber superar as
diversas dificuldades ao longo de sua formação e carreira, transformando-as
em experiências motivadoras, fortalecedoras, incorporando ao atleta novas
habilidades.
Introdução
4
Muitas das características vinculadas ao sucesso dos atletas, como auto-
eficácia, auto-confiança, orientação à meta, compromisso, otimismo, saber
minimizar o stress, ter foco, entre outras, estão intimamente vinculadas ao
conceito de resiliência, mais pontualmente dentro das características dos
fatores de proteção (Milham, 2007).
Outro foco de abordagem sobre a resiliência juntamente com o esporte diz
respeito à vinculação desse último à formação de caráter e modelação de
comportamento relativamente aos seus praticantes. É amplamente divulgada a
possibilidade de se “educar” o praticante desportivo, treinando as mais diversas
“qualidades” durante a prática. A resiliência, portanto, pode ser uma nova meta
a ser buscada pelos praticantes desportivos, salientando a face educativa do
esporte.
Assim, a prática desportiva é altamente considerada no meio acadêmico e no
senso comum como um meio educacional para os jovens e crianças (Brustad &
Parker, 2005; Hellison, 2000; Hellison & Walsh, 2002; Pate et al., 2000;
Regueiras, 2006), sendo ela alvo de diversos trabalhos de intervenção e de
pesquisa.
Este projeto de estudo nasceu há dois anos quando em contato com jovens da
periferia de Vitória, no ES, Brasil, em um programa chamado É Dia de Jogo,
que envolvia o jogo de futebol e a discussão acerca da violência. A partir disso,
refletimos sobre a função social da prática desportiva, e da possibilidade que
ela nos apresenta para trabalhar com essas crianças.
Dentro de um trabalho social esportivo, pensamos: melhor do que fazer as
crianças aceitarem regras, por que não ajudá-las a compreender as regras,
questioná-las e então fazer parte da sua criação/recriação/aceitação,
buscando, assim, algo muito além da simples adaptação. Outra idéia, e que
tem uma maior pertinência a esse estudo, diz respeito às derrotas/ dificuldades
e os fatos que levam a ações violentas dentro de campo. Nesse caso,
utilizamos as derrotas no desporto, para traçar um paralelo com as derrotas da
vida, e a partir dessa reflexão, fazer uma analogia com suas histórias. Ou seja,
naqueles momentos em que o temperamento levá-las a agir agressivamente,
Introdução
5
ajudá-las a pensar estrategicamente, tais quais os fenômenos presentes no
processo de resiliência.
Baseado no pressuposto dos aspectos normativos do desporto,
nomeadamente, seguir regras, concentração, estratégia, vitórias e derrotas,
satisfação e frustração, e assim por diante (Hellison, 2000; Hellison & Walsh,
2002; Sanches, 2007), levantamos a seguinte questão: a prática desportiva, a
priori, se constitui num meio que promova a resiliência? A resiliência aparece
mais freqüentemente nas crianças e jovens que praticam esporte em geral?
O presente estudo tem como objetivo principal verificar se existe correlação
entre prática desportiva e os níveis de resiliência nos jovens, isto é, se os
sujeitos que praticam mais esporte apresentam maiores índices verificados
pela Escala de Resiliência de Wagnild & Young (1993), além de saber como se
distribuem os índices de resiliência e de prática desportiva entre os jovens
brasileiros e portugueses da amostra, incluindo o gênero e idade em todos os
casos.
Dessa forma, algumas questões foram levantadas de acordo com a leitura da
bibliografia disponível e dos anseios para saber mais sobre a resiliência e seus
entrelaçamentos com a prática desportiva.
Idade e gênero são variáveis amplamente utilizadas em estudos sobre a
resiliência e também em estudos sobre o desporto. É importante compreender
como a população em estudo se comporta relativamente à resiliência e a
prática desportiva quando colocado em análise esses dois fatores. Nos estudos
de resiliência existem algumas divergências entre os resultados das análises
referentes à idade e gênero, sendo esses, portanto, fatores ainda não
completamente compreendidos (Cecconello & Koller, 2000; Cohu, 2005; Pesce
et al., 2004; Wagnild, 2009). Já em relação ao esporte, os estudos mostram
claramente a maior participação dos homens relativamente as mulheres, tendo
o esporte um caráter hegemonicamente masculino (Pieron, 2004; Silva et al.,
2008; Silva et al., 2005).
Relativamente à freqüência de prática desportiva foi relevante para enriquecer
o presente trabalho, e também servir de referência para próximos estudos,
Introdução
6
mapear as diferenças entre as médias de freqüência de prática desportiva, as
quais na primeira vista pareceram bem diferentes em relação ao gênero.
A nacionalidade enquanto variável ganha relevância devido ao
desenvolvimento do trabalho ter ocorrido em duas populações de países
distintos, Brasil e Portugal, porém com grandes semelhanças. Os dois países
são considerados como “países irmãos”, que guardam diversas afinidades
entre si, nomeadamente a língua, a história e diversos pontos de suas culturas.
Porém, trazem entre si diferenças marcantes, como localização territorial, uma
vez que estão situados em continentes diferentes: America do Sul e Europa,
determinando clima e vegetação característicos e possuindo cada qual seu
desenvolvimento sócio-econômico diferenciado. Considerando semelhanças e
diferenças, o estudo se propôs a observar como a resiliência e a prática
desportiva se comporta entre as duas escolas públicas dos dois países,
considerando gênero e idade também como fatores.
Dessa forma, o presente trabalho se lança numa proposta ainda pouco
estudada, porém de suma importância para a ampliação dos domínios de
intervenção com resiliência.
De uma forma sintetizada podemos arranjar os objetivos da seguinte forma:
Objetivo Principal:
• Verificar se existe correlação entre a freqüência de prática desportiva
semanal e os níveis de resiliência medidos pela Escala de Resiliência,
tanto na população total do estudo, como nas populações de cada país
em separado.
• Verificar se os jovens que praticam em escolas,
clubes/ginásios/academias, ou em competições federadas possuem
maiores médias de níveis de resiliência, do que os que afirmam não
praticar nesses locais.
Objetivos Secundários
• Comparar as médias dos níveis de resiliência das populações em
estudo, incluindo gênero como variável dependente.
Introdução
7
• Verificar se existe correlação entre os níveis de resiliência e a idade dos
sujeitos.
• Verificar como se distribuem a freqüência de prática desportiva na
população em estudo.
Adiante será apresentada uma revisão teórica sobre o conceito de resiliência,
fatores de risco e proteção. Assim como também o que compreendemos como
prática desportiva. Noutra seção, faremos uma aproximação teórica dos dois
conceitos, resiliência e prática desportiva, e as possibilidades de interseções.
Diante da formulação teórica, apresentaremos a formatação da metodologia de
pesquisa, seguido dos resultados. E por fim, a discussão do que foi colhido e
analisado, para podermos angariar novos conhecimentos a cerca do assunto.
9
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
10
11
Capítulo 2: Fundamentação Teórica
2.1 – A Resiliência
É comum teoricamente encontrar o conceito de resiliência vinculado aos
conceitos de fatores de risco e de proteção. Eles se mesclam e se reconstroem
a partir da forma como nós entendemos cada um deles, sendo que existe uma
dificuldade muito grande em delimitar o que seja fator de risco e proteção
(Pinheiro, 2004).
Para Cecconello (2003) o enfoque maior tem que ser dado na pessoa e nas
suas interações com o seu meio, e considera tanto os fatores de risco quanto
os de proteção enquanto processo, ou seja, o que pode ser fator de proteção
ou de risco para uns, pode não ser para outros.
Os fatores de proteção e de risco estão presentes a todos os momentos na
vida de uma pessoa. Eles costumam ser divididos em fatores relacionados à
pessoa ou fatores relacionados ao meio, porém em nenhum momento se deve
colocar o foco de estudo em um, ou em outro (Pinheiro, 2004; Yunes, 2003). É
importante ressaltar que, numa intervenção, compreende-se que tanto os
fatores de proteção quanto os de risco possuem alicerces sociais, relativos ao
meio, como características pessoais do sujeito em questão.
Os fatores de risco são aspectos chave para o aumento da vulnerabilidade dos
jovens em face ao seu desenvolvimento, sendo vulnerabilidade aqui entendido
como o “resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos
materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o
acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm
do Estado, do mercado e da sociedade” (Abramovay et al., 2002).
Mas o que são os fatores de risco? Em suma, seriam os fatores que
impulsionam negativamente o desenvolvimento das pessoas diante de um
desenvolvimento normal. Diversos autores tratam os fatores de risco de
maneira diferentes, porém aqui não os vemos como estáticos e universais, mas
Fundamentação teórica
12
sim como fatores multifacetados e dinâmicos, que interagem com o sujeito de
acordo com sua compreensão (Olsson et al., 2003).
Pesce et al. (2004) definem os fatores de risco como "obstáculos individuais ou
ambientais que aumentariam a vulnerabilidade da criança para resultados
negativos no seu desenvolvimento”. Estão relacionados aos fatores que limitam
o aparecimento do sucesso.
O risco é um fator que irá atuar aumentando a probabilidade do
desenvolvimento de alguma desordem, podendo ser a manifestação de alguma
doença ou de algum comportamento que vai de encontro com a saúde do
sujeito. Porém somente após uma avaliação da conseqüência em uma pessoa
exposta a um ou mais fatores de risco, pode-se saber se o risco teve ou não
efeito sobre a mesma (Masten & Garmezy, 1985).
Os fatores de risco possuem tanto aspectos pessoais/ individuais, como
ambientais/ sociais. Masten e Garmezy (1985) categorizam alguns fatores de
risco mais estudados da seguinte forma: os ambientais citam a pobreza (baixo
nível sócio-econômico), as características da família, eventos negativos da vida
(negativos para o sujeito) e a não presença de apoio social; os fatores
pessoais, cita o gênero - existe uma diferença entre homens e mulheres no que
diz respeito à exposição aos riscos, habilidades do sujeito no aspecto social,
intelectual e psicológico, além dos fatores genéticos.
Chan (2008) acrescenta alguns fatores de risco como a idade (adolescentes
possuem mais chance de risco que adultos), o tipo/ tamanho da comunidade
(além do nível de pobreza na comunidade, é importante saber se é urbana ou
rural, e o seu tamanho), e por fim a etnia (Afro-Americanos com mais risco do
que Euro-Americanos, e com menores riscos os Latinos e Hispânicos). Além
disso, considera que as pessoas que estão mais expostas aos riscos
ambientais são os mais pobres e minorias em geral.
Porém a compreensão de fatores de risco, assim como os fatores de proteção,
deve ter um caráter acumulativo, cujos fatores podem aparecer em conjunto,
ou em cadeia. A não presença de apoio social pode predizer o aparecimento
de eventos negativos durante a vida, e assim por diante. Isso dá ao risco uma
Fundamentação teórica
13
conotação de processo. Estar exposto ao risco não necessariamente irá
desencadear conseqüências negativas, mas é a forma como se dá essa
exposição, e quais os outros fatores de risco e proteção que estão ali
envolvidos que irão ter influência no comportamento (Luthar et al., 2000; Rutter,
1987, 1990, 2006).
Segundo Assis et. al. (2006) não é toda adversidade que pode afetar o
desenvolvimento saudável individual ou familiar. Raramente apenas uma
adversidade é a causadora de dificuldades no desenvolvimento. O mais
comum é a colisão e a potencialização de problemas que surgem, um após o
outro, desencadeando dificuldades de enfrentamento e superação dos
estressores.
É dessa concepção que podemos tentar compreender diferentes
comportamentos por pessoas expostas ao mesmo risco, por exemplo, a
pobreza ou violência. Blum (1997) afirma que o estresse é um fenômeno
universal, e que eventos negativos são experiências constantes na vida das
pessoas, porém nem sempre elas levam os sujeitos a uma vida de privação.
Isso vem ao encontro do que Rutter (1987, 1990, 2006), Pesce et al. (2004) e
Howard et al. (1999) afirmam: os fatores de risco aumentam a sua influência
negativa quando em conjunto (mais de um), e essa influência está totalmente
vinculada com os recursos disponíveis para o sujeito lidar com elas.
Tais recursos, resguardando as características conceituais, podem ser
chamados de fatores de proteção. São eles que fazem o intermédio entre os
riscos e o comportamento conseqüente. Conhecer de que forma os fatores de
proteção se desenvolvem e como eles atuam modificando a vida do indivíduo é
fundamental para entender o conceito de resiliência (Rutter, 1990, 1999).
Mas o que são os fatores de proteção? Os fatores de proteção agem como
mediadores das situações/ fatores de risco, buscando uma modelação das
respostas frente a circunstâncias que afetariam negativamente o sujeito.
Em geral os fatores de proteção são agrupados em três grandes categorias
(Pesce et al., 2004; Pinheiro, 2004; Rutter, 1985, 1987, 2006; Smokowski et al.,
1999): os atributos pessoais do indivíduo; laços afetivos no seio da família; e a
Fundamentação teórica
14
existência de sistemas de apoio externo, que surgem na escola ou na
comunidade.
Smokowski et al. (1999), em suas pesquisas, agruparam dentro destes 3
grupos várias características ligadas ao sujeito resiliente. Por atributos
pessoais, eles nomeiam as seguintes características: ser do sexo feminino
antes da adolescência, e ser do masculino após a adolescência; possuir um
temperamento fácil; possuir controle sobre suas ações; possuir senso de
humor; saber olhar as coisas de formas diferentes; possuir boas capacidades
intelectuais; saber resolver problemas, ser otimista e ter um “senso de
propósito e futuro”.
Já Pesce et al. (2004) apresentam esse primeiro grupo, atributos pessoais,
resumindo as características da seguinte forma: “auto-estima positiva, auto-
controle, autonomia, características de temperamento afetuoso e flexível” (p.
137).
Uma questão importante sobre esse grupo, atributos pessoais, é compreender
se as crianças nascem com todas essas características, ou se são levadas a
apresentar esses fatores devido a sua interação com o meio durante a sua
vida. Muitos estudos acerca dessa questão são ainda necessários, porém
alguns autores já descartam o uso de fatores de proteção, como características
pessoais inatas ao sujeito, presente em sua personalidade como um traço, o
que faria separar “resilientes” de “não-resilientes”, mas sim como processos da
vida do sujeito que terá efeitos diversos em situações diversas (Cecconello,
2003; Olsson et al., 2003; Rutter, 1999, 2006; Yunes, 2003).
No grupo de características relativas aos laços afetivos no seio da família
Pesce et al. (2004) enfatizam a coesão familiar, a estabilidade, o respeito
mútuo dos parentes e o apoio/ suporte que essa família recebe, aspectos
também citados e discutidos por Yunes (2003). Já Smokowski et al. (1999)
argumentam que o apoio e o carinho de adultos pode vir a ser um fator crucial
para amenizar os efeitos dos riscos, possibilitando ao jovem um
desenvolvimento saudável. Jovens que passam o dia na rua, ou na escola, que
ao chegar a casa recebem dos pais influências positivas em relação ao
estressores externos, podem extrair disso um impulso para um
Fundamentação teórica
15
amadurecimento sadio. Pinheiro (2007) acrescenta que os comportamentos
dos pais que ajudam a criar rotina e consistência na vida das crianças, podem
ser incluídos nesse grupo de características dos fatores de proteção.
Em ralação ao sistema de apoio externo, não é relatado características do
sujeito, mas sim comportamentos. Pesce et al. (2004) enfatizam o bom
relacionamento com os amigos, professores e pessoas que assumem um papel
de importância e segurança para a criança. Smokowski et al. (1999) dizem que
as crianças resilientes tem a tendência de utilizar mais eficazmente os sistemas
de apoio sociais do que as outras crianças.
O jovem que apresenta comportamentos resilientes forma laços com
professores, colegas, amigos mais velhos, pais, e profissionais que trabalhem
com ele. Esses laços são vistos como amenizadores de riscos e facilitadores
do desenvolvimento adaptativo, ou seja, como fatores de proteção. Crianças e
adolescentes resilientes são movidas a utilizar mais eficazmente os sistemas
de apoio social do que os seus pares. Os professores, colegas, amigos e
pessoas mais velhas, o apoio dos pais, citado anteriormente, forma laços com
a criança ou adolescente resiliente, e são citados freqüentemente como
modelos positivos nas suas vidas, adotando papéis de confidentes e
facilitadores.
Pinheiro (2004) resume os três grupos da seguinte forma:
“Quanto aos fatores de proteção, os autores acordam nas condições
do próprio indivíduo (expectativa de sucesso no futuro, senso de
humor, otimismo, autonomia, tolerância ao sofrimento, assertividade,
estabilidade emocional, engajamento nas atividades, comportamento
direcionado para metas, habilidade para resolver problemas,
avaliação das experiências como desafios e não como ameaças,
boa auto-estima); nas condições familiares (qualidade das
interações, estabilidade, pais amorosos e competentes, boa
comunicação com os filhos, coesão, estabilidade, consistência) e
nas redes de apoio do ambiente (um ambiente tolerante aos
conflitos, demonstrar reconhecimento e aceitação, oferecer limites
definidos e realistas)”. (p. 72)
Fundamentação teórica
16
Assis et. al. (2006) categorizam esses três grupos em três “tipos de proteção”.
O primeiro é nomeado de capacidade individual, que mantém relação com
autonomia, auto-estima positiva, autocontrole, temperamento afetuoso e
flexível. O segundo tipo de proteção é fornecido pela família, sendo
características importantes e determinantes a estabilidade, o respeito mútuo, o
apoio e suporte. Por fim, o último tipo de proteção é o ambiente social,
intermediado por pessoas significativas que tem papel de referência (amigos,
professores).
Segundo Pesce et al. (2004) os fatores de proteção têm uma inter-relação
positiva entre eles, ou seja, “a presença de um fator de proteção pode
determinar o surgimento de outros fatores de proteção em algum outro
momento”. Gore e Eckenrode (citado por Pesce et al., 2004) sugerem que, por
exemplo, o nível de auto-estima num sujeito pode interferir diretamente em
algum outro fator de proteção como a eficácia do suporte social. Um jovem com
uma auto-estima elevada poderá ter maiores chances de estabelecer vínculos
afetivos importantes para o enfrentamento de estressores. Tão complexo
quanto analisar o que são fatores de proteção para os diferentes tipos de
pessoas e sociedades, é fazer a ligação entre os fatores protetores que
intervêm simultaneamente no desenvolvimento do jovem. Essa característica
reforça a visão dos fatores de proteção enquanto um processo, tal qual a
resiliência (Yunes, 2003).
Os fatores de proteção têm a capacidade de provocar a modificação da
resposta dos indivíduos frente aos fatores de risco. Isso porque os fatores
protetores possuem, segundo Rutter (1987), a função de amenizar o choque
com o risco; de atenuar as respostas negativas frente à exposição ao risco; de
manter a auto-estima e auto-eficácia suportadas pelo apego a pessoas de
convivência segura, e pelo sucesso em tarefas; e por fim, cunhar formas de
reverter os malefícios do estresse.
Howard et al. (1999) afirmam que os fatores protetores possuem um efeito
acumulativo na vida das pessoas. Assim, quanto mais características e
exposição a fatores de proteção, mais chances o indivíduo tem de produzir
comportamentos resilientes.
Fundamentação teórica
17
Rutter (1987) questiona a forma como os estudos lidam com os fatores de
proteção, demonstrando um certo receio a formas estanques de lidar com o
conceito. Assim, ele afirma que todas as características e comportamentos
apresentados como fatores de proteção devem ser visto como mecanismos ou
processos, sendo imprescindível compreendê-los em conjunto com a situação
do indivíduo. O que pode se configurar como um fator de proteção numa
situação, pode não ter o mesmo efeito numa outra situação, ou num outro
sujeito. Neste trabalho buscamos englobar duas populações de países
distintos, Brasil e Portugal, tanto pelas inúmeras similaridades dos dois países,
como também pelas mais complexas diferenças. Jovens que crescem num
país da América Latina e da Europa vivem experiências diferentes, contextos
diferentes, fatores de risco e proteção diferentes.
Assim, nessa interação de fatores de proteção e de risco, vincula-se o conceito
de Resiliência. O conceito surge diante de um mundo onde é comum encontrar
dificuldades, com maior ou menor intensidade, durante o desenvolvimento do
sujeito. Resiliência diz respeito ao processo de superação das dificuldades
pelas pessoas, tirando dessa experiência um proveito para o seu
desenvolvimento e para a sua vida.
Porém a resiliência ainda se configura como um conceito em discussão, devido
às várias formas de compreendê-la. No cunho do conceito, pela origem inglesa,
resilient está vinculada a idéia de elasticidade. Pinheiro (2004) diz que na
língua inglesa resilient se refere à:
“a habilidade de uma substância retornar à sua forma original
quando a pressão é removida: flexibilidade. Esta última remete-
nos ao conceito original de resiliência atribuída à física, que busca
estudar até que ponto um material sofre impacto e não se
deforma.” (p.68)
Esse nascimento do termo resiliência vinculado à resistência dos materiais
produziu aspectos polêmicos, “já que os materiais seriam mais ou menos
resistentes, e tal comparação levaria a um enfoque mais naturalista do
desenvolvimento, considerando alguns indivíduos mais resistentes do que
Fundamentação teórica
18
outros, em vez de privilegiar as contingências em que tais resistências
despontam” (Farias & Monteiro, 2006).
Além disso, Pinheiro (2004) nos alerta sobre o fato do conceito de resiliência
estar “envolto em ideologias de sucesso e de adaptação às normas sociais. No
entanto, esta noção funda dois grupos: os resilientes e os não-resilientes”.
No presente estudo, utilizamos uma auto-medição de aspectos contidos no
conceito de resiliência e correlacionando o resultado à prática desportiva,
nacionalidade, idade e sexo, e não afirmando estaticamente que um sujeito é
resiliente e o outro não.
Muitos autores em seus trabalhos definem que o sujeito resiliente é aquele que
consegue, após ultrapassar momentos de dificuldade (exposição aos fatores de
risco), se adaptar normalmente, ou seja, fazem uma ligação entre o conceito de
resiliência e adaptação (Cecconello & Koller, 2000; Chan, 2008).
Rutter (1985) foi quem inicialmente tentou romper com essa visão, que a
resiliência deixa de ser um atributo individual, uma característica da
personalidade, para ser vista como um processo dinâmico. Em trabalho mais
recente, afirma que a resiliência não pode ser vista estritamente como uma
competência social ou característica de saúde mental positiva, mas sim, como
“um conceito interativo que envolve a combinação de sérias experiências de
risco e um efeito psicológico relativamente positivo, apesar dessas
experiências” (Rutter, 2006).
Após 20 anos de desenvolvimento do conceito, ele é visto como uma mescla
de processos intrapsíquicos e sociais (vinculado fortemente aos fatores de
risco e de proteção) que possibilitam ter uma vida saudável num meio
insalubre; está associado à forma como o sujeito vê, sente e age sobre as
adversidades e oportunidades. Essa forma pode ser verificada quando a
Escala de Resiliência de Wagnild & Young (1993) é aplicada sobre o sujeito.
Nessa escala, o entrevistado responde acerca de assuntos referentes à sua
percepção, seus sentimentos e suas ações futuras sobre as adversidades e
oportunidades.
Fundamentação teórica
19
Assis et. al. (2006) definem a resiliência da seguinte forma: “a capacidade de
resistir às adversidades, a força necessária para a saúde mental estabelecer-
se durante a vida, mesmo após a exposição a riscos. Significa a habilidade de
se acomodar e reequilibrar frente às adversidades”. Ela é resultado de um
processo dinâmico que envolve os fatores sociais e intrapsíquicos de risco e
proteção.
Resiliência está vinculada a duas idéias principais: estar exposto à alguma
ameaça ou adversidade, e ocorrer uma “adaptação positiva” mesmo apesar
das agressões no processo de desenvolvimento (Luthar et al., 2000). O
indivíduo resiliente, que naquele momento reúne as condições para tal, tendem
a recuperar seu equilíbrio e retomar o sentido em meio ao infortúnio.
O fenômeno da resiliência é em parte devido aos fatores/ processos de
proteção que promovem uma modificação catalítica da resposta de uma
pessoa frente uma situação de risco (Rutter, 1987). Em trabalho mais recente,
Rutter (2006) diz que a resiliência se refere à “resistência” em relação às
experiências de risco, tanto ambiental, como pessoal (estresse, adversidade
pessoal). Ela não é sinônimo de competência social ou pessoal (saúde mental
positiva), mas sim, um processo, uma forma de se estabelecer frente aos
riscos. A resiliência se baseia no “(...) reconhecimento da grande variação
individual nas respostas das pessoas para as mesmas experiências (...)”,
sendo um fenômeno presente nos comportamentos que fogem do esperado
para o risco em questão.
Cabe salientar que, uma vez que uma pessoa apresente resiliência em
determinado momento de sua vida, não quer dizer que ela continuará
apresentando ao longo de seu desenvolvimento (Rutter, 2006). A reação aos
eventos estressantes pode variar durante o ciclo de vida, dependendo do
momento que a pessoa está vivendo, da intensidade dos fatores de risco e da
disponibilidade dos fatores de proteção. Assim, uma pessoa pode apresentar
uma resposta adaptada frente a um fator de risco em determinada situação, e,
em outra, ser vulnerável.
Cyrulnik (2004, citado por Assis et. al. (2006)) afirma que a infância é um
período crucial para a resiliência no sujeito. Nessa fase o potencial de
Fundamentação teórica
20
resiliência poderá ser mais ou menos estimulado, e até tornar-se uma sólida
maneira de agir. Na adolescência, a necessidade de se afirmar abre um
espaço crucial para a intervenção com resiliência no sujeito. Dessa forma, a
idade apresenta-se como uma variável importante para a compreensão das
respostas dos indivíduos frente às adversidades. Acrescentando mais uma
variável importante, aproveitamos o trabalho de Smokowski et al. (1999), que
afirmam que as adolescentes estão mais propensas à exposição dos riscos dos
que os adolescentes, para levantar a questão se os diferentes gêneros
apresentam também diferentes respostas relativamente à resiliência.
Para Wagnild (2009) o conceito de resiliência contribui para mudar o foco da
intervenção e estudos nos cuidados da saúde, ajuda a reconhecer os pontos
fortes do sujeito e a construir estratégias de trabalho sobre as capacidades já
existentes. Resiliência “conota força interior, competência, otimismo,
flexibilidade, e a habilidade de lidar eficazmente em face à adversidade”.
As pessoas que estão resilientes experienciam as mesmas dificuldades e os
mesmos estressores, como todas as outras pessoas que estão expostas a
esses riscos e elas não são imunes ao estresse. Porém aprenderam a lidar
com as dificuldades inevitáveis da vida, e essa habilidade diferencia a resposta
frente aos riscos e estressores (Luthar et al., 2000).
Para Assis et al. (2006) a resiliência se encaixa perfeitamente numa ferramenta
de prevenção à violência. Os autores defendem que comportamentos
resilientes devam ser estimulados durante toda a vida do sujeito, a fim de que a
exposição à violência não multiplique a sua incidência.
Fundamentação teórica
21
2.2 – Prática Desportiva e Resiliência: suas interseções
A Comissão da União Européia define o esporte como:
“todas as formas de atividade física que, através da participação
ocasional ou organizada, visam manifestar ou melhorar a condição
física e bem-estar mental, cultivar relações sociais ou a obtenção de
resultados em competições em todos os níveis (2007, p. 01).”
No presente trabalho denominamos prática desportiva como a participação da
pessoa no esporte de acordo com a definição acima. Prática desportiva se
insere como uma atividade física, porém circunscrita pelo conceito de esporte.
A Lei de Bases do Desporto, promulgada em 2004 no território português,
define o praticante de esporte da seguinte forma: “São praticantes desportivos
aqueles que, a título individual ou integrados numa equipa, desenvolvam uma
actividade desportiva.”
A prática desportiva é tema chave desse estudo por se configurar como uma
prática universal, e que visa não ser excludente. Porém é sabido que a prática
desportiva ainda não se manifesta como uma atitude generalizada entre a
população mundial, ficando quase sempre abaixo da média ótima de
freqüência de prática desportiva (PD). Pate et al. (2000) confirmam esse baixo
valor de prática desportiva na sociedade norte-americana, e ainda correlaciona
a inatividade com os riscos de saúde. Nelson & Gordon-Larsen (2006)
defendem “(...) que o acesso a instalações e programas de apoio à participação
dos pais na PD, e os aumentos globais na participação da PD podem ter
efeitos positivos que se estendem muito além do peso e fitness” (p. 1288).
Maia e Lopez (2007) discutem vários motivos que impulsionam os jovens de
ambos os gêneros a realizar a prática desportiva, tais como o aprimoramento
de competências técnicas e da forma física, afiliação geral e específica, o
aproveitamento do tempo livre, a chance de participar de competições e a
procura de emoções.
Fundamentação teórica
22
A prática desportiva está muito mais relacionada com aspectos positivos da
vida do que negativos. Seja na sua relação com a saúde, com o bem estar, o
sucesso, ou o comportamento em geral, a prática desportiva vive um momento
impar na história. O praticante desportivo, principalmente os não-profissionais,
não estão apenas ocupando o seu tempo livre, mas sim, utilizando o esporte
como uma ferramenta a mais para o desenvolvimento de sua subjetividade
(Tabares, 2006). Esses estudos fazem relações de características necessárias
a uma boa prática desportiva com características do desenvolvimento humano
saudável.
Para Correa (2008) e Tavares (2006), ver a prática desportiva como apenas
uma forma de levar as pessoas a passarem o tempo, seria tratar de forma
minimalista as potencialidades do esporte e das Ciências do Esporte.
Corte-Real et al. (2008) ratificam a importância da prática desportiva da
seguinte forma:
“No entanto, apesar de toda a evolução verificada e não obstante
não ser completamente consensual o conceito de estilo de vida
saudável – perdurando algumas confusões terminológicas e mesmo
conceptuais – a actividade física constitui-se, indubitavelmente,
como uma das componentes com mais peso na definição do
mesmo, existindo uma convicção cada vez mais forte das vantagens
físicas, psicológicas e sociais aliadas à sua prática, em todas as
idades, quer por parte da população em geral, quer ao nível da
comunidade científica”. p (220)
É comum a prática desportiva ser relacionada com aspectos positivos da vida
dos sujeitos. É considerado no meio acadêmico e no senso comum como um
ambiente educacional para os jovens e crianças, e em muitos casos ainda é
considerado como “salvador da pátria”, com a força de “tirar as crianças da
rua”, de ensiná-las a respeitar as regras, de aprender a dirigir a sua própria
vida e buscar o sucesso (Hellison, 2000; Hellison & Walsh, 2002; Hellison &
Wright, 2003; Parker & Hansen, 2009; Wright et al., 2004).
Fundamentação teórica
23
Os autores citados acima desenvolvem esses links referindo-se direta ou
indiretamente à praticas desportivas organizadas e com acompanhamento de
adultos. Porém, nem sempre os benefícios são claros, visto que seriam
necessárias mais pesquisas de longa duração.
Mesmo assim, quando é visto a relação com desporto e benefícios ao
praticante, tais benefícios são vistos de um modo global, uma melhoria geral do
sujeito em relação à situação anterior ao início da prática (Brustad & Parker,
2005; Pate et al., 2000). Essa melhora geral vincula-se especificamente a
qualidades vistas como “boas” pela sociedade, que ajudam o sujeito a se
produzir de forma positiva, satisfatória. A proximidade do esporte com a
produção dessas qualidades está no fato de que para praticá-lo, essas
qualidades também se fazem necessárias.
Dentre diversas características positivas que o sujeito pode encontrar dentro da
prática desportiva, a resiliência parece ser uma delas (Martinek & Hellison,
1997). Devido a tantas adversidades encontradas no esporte, e inúmeras
formas de superação, a prática desportiva parece configurar-se como um meio
salubre para a promoção da resiliência.
Porém na maioria dos estudos, a ligação entre resiliência e desporto está
vinculada à performance e ao alto-rendimento (Halgin, 2009; Milham, 2007).
De outra forma, observando a potencialidade do esporte enquanto
transformador de atitudes, Martinek e Hellison (1997) apresentam a
possibilidade de reforçar a resiliência através da prática desportiva. Eles
acreditam que a prática desportiva é um excelente meio para promover e
cultivar características de comportamento resiliente no sujeito praticante.
Defendem que os programas de prática desportiva com jovens pobres, e que
tem o objetivo de promover o reforço da resiliência, devem focar no
desenvolvimento da auto-estima e dignidade, competência social, autonomia e
esperança dos jovens inseridos no programa. Essas características estão
intimamente ligadas à resiliência.
A promoção da resiliência durante a prática desportiva ocorreria tal qual um
treino de habilidades. O esporte se configuraria como um meio extremamente
Fundamentação teórica
24
salubre para que a resiliência pudesse ser discutida e “ treinada ”. Martinek e
Hellison (1997) vêem no esporte uma ferramenta, onde o profissional da área
possa buscar formas de desenvolver nos seus alunos potencialidades para
além das qualidades físicas e mecânicas. E dentre essas possibilidades, a
resiliência surge como mais um novo processo de formação dos jovens
envolvidos no esporte.
Muitas características presentes na literatura sobre o sujeito que se manifesta
de forma resiliente, também se vinculam nos estudos sobre a prática
desportiva. Sejam características em forma de traços de personalidades, sejam
em formas de lidar com eventos, elas parecem ser essenciais para o sucesso
da prática desportiva, tal qual para o bem estar na vida.
Sanches (2007), por exemplo, delineia algumas características que são
descritas em processos resilientes e que ao mesmo tempo se encontra no
desporto. Utilizando-se das características discutidas por Rutter, Sanches
delineou alguns paralelos referentes à prática desportiva: segundo ele o atleta
aprende a lidar com regras, respeitar as pessoas, planejar atividades, realizar
cálculos, cumprir horários, desenvolver convivências, se sentir bem ao realizar
as tarefas, aprender a ganhar e perder e desenvolver habilidades para lidar
com mudanças em situações de jogo. O paralelo se configura com as
características da pessoa que está resiliente, por exemplo: saber planejar
atividades, assumir responsabilidades, ter competências sociais, estar com a
auto-estima elevada, visualizar oportunidades, ter controle de suas ações em
situações adversas, e assim por diante.
Sanches (2007) continua o seu paralelo com a prática desportiva utilizando-se
de fatores que Trombeta traçou para a resiliência, por exemplo, a abertura a
novas experiências, identificação com modelos positivos, autonomia,
adaptação em situações diversas, possuir estabilidade emocional, saber lidar
com sofrimento, desenvolver e seguir metas; os quais estariam ligados à
necessidade de ousar no esporte, de superar seus limites, a identificação e
convivência com técnicos, professores e colegas, aprender a perder e superar
a dor, saber traçar meios para se atingir as metas de jogos e campeonatos, e
saber lidar com o estresse de jogo. Podemos observar que, na sistematização
Fundamentação teórica
25
que Sanches faz, é esperado que a prática desportiva se estabeleça como um
fator facilitador ou emancipador de características pessoais imprescindíveis
para o processo de resiliência.
Assis et al. (2006) delineiam o conceito de resiliência vinculado a processos
psicológicos, e apresentam a atividade esportiva como um possível promotor
da resiliência, da seguinte forma:
“Outra forma de lidar com os problemas, que mescla diferentes
formas de enfrentamento das dificuldades, é transformar os
estresses em objeto de sublimação. A estratégia de cicatrização do
sofrimento por meio da arte, do esporte ou do humor é considerada
precioso fator promotor de resiliência. São mecanismos utilizados
para mudar a própria idéia que a pessoa tem sobre o problema que
viveu: reelaborar o sofrimento, enquanto o encena para os outros.
Atividades artísticas e esportivas podem ser formas eficazes de
transformar um sofrimento vivido em um episódio social menos
pesado e, algumas vezes, até agradável.” (pp. 38-39)
O esporte inserido como atividade principal dentro de projetos sociais, pode se
tornar uma ferramenta imprescindível de apoio à criança, seja vindo dos
colegas como dos profissionais. Um apoio como esse pode se caracterizar,
desde que seja bem estruturado, como um fator de proteção a mais na vida
dessa criança, podendo até vir a suprir determinadas faltas em situações de
risco, como problemas familiares e a violência urbana.
McLaughlin e Heath (citado por Hellison, 2000) dizem que “os programas de
intervenção existentes tendem a ‘culpar a vítima’ tentando ‘mantê-los fora da
rua’, ou corrigindo as suas deficiências perceptíveis, ao invés de colocar a
culpa onde compete, na indiferença das instituições educacionais, sociais e
políticas”. Assim surge a hipótese de se trabalhar com a resiliência com um
viés preventivo (Blum, 1997; Cecconello, 2003; Cecconello & Koller, 2000;
Chan, 2008; Patterson, 2001; Pesce et al., 2004) associado à prática
desportiva.
Fundamentação teórica
26
A presença da resiliência no desenvolvimento do sujeito ajuda a criar
mecanismos de enfrentamento a adversidades para múltiplos casos que
podem surgir enquanto risco. Chan (2008) afirma que é imprescindível reforçar
as instituições que ajudam a elevar os níveis de resiliência (família, pares,
escolas e programas de intervenção) em jovens expostos a estressores.
Jovens com maior presença de resiliência são menos afetados por essa
exposição. E a prática desportiva parece poder colaborar no sentido de
promover a resiliência.
27
Capítulo 3 – Metodologia
Metodologia
29
Capítulo 3 – Metodologia
3.1 – Amostra
Os sujeitos da pesquisa foram jovens brasileiros e portugueses de escolas
compreendidas no ensino fundamental e médio (Brasil e no ensino básico e
secundário (Portugal). Ambas as escolas se localizam em zona urbana. A
amostra se constituiu de 422 sujeitos. O número de sujeitos brasileiros foi de
195 (46,2%) participantes e o de portugueses 227 (53,8%).
Gráfico 1. Distribuição da população Portuguesa e Brasileira
Metodologia
30
A idade média dos participantes foi de 15,70±1,39 anos, sendo que a idade
mais nova foi de 12 anos (8 participantes) e a idade máxima foi de 19 anos (11
participantes). Foram 174 (41,2%) participantes do sexo masculino e 247
(58,5%) do sexo feminino.
Gráfico 2. Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade
A população portuguesa se dividia em 48,9% de indivíduos do sexo masculino
(n=111) e 50,7% do sexo feminino (n=115). Já a população brasileira estava
distribuída com 32,3% de indivíduos do sexo masculino (n=63), e 67,7% do
sexo feminino (n=132).
Metodologia
31
3.2 – Instrumentos
Utilizamos a escala de resiliência desenvolvida por Wagnild e Young (1993),
adaptada à população brasileira e portuguesa. Os autores reuniram diversas
características e comportamentos que repetidamente eram vinculados pelos
estudos à resiliência, para pensar uma forma fidedigna de medir, ou mapear a
resiliência numa pessoa ou num grupo. A lógica dessa “medição” está na fala,
ou melhor, nas respostas dos sujeitos frente a situações de adversidade e de
proteção colocadas a ele. Dessa forma, eles desenvolveram uma escala de
resiliência a qual os itens que a formavam visaram compreender tais situações.
A escala possui 25 itens com resposta do tipo Likert variando de 1 (discordo
totalmente) a 7 (concordo totalmente). Esses 25 itens refletem as 5
características da resiliência: serenidade constante mesmo diante de
momentos difíceis; perseverança frente a adversidade; autoconfiança; sentido
de vida (ela ganha um propósito a ser seguido) e auto-suficiência, que é a
percepção de que cada pessoa é única, que em alguns casos deve resolver
seus problemas por si mesmo, o que pode dar uma sensação de liberdade
(Wagnild, 2009; Wagnild & Young, 1990).
A escala tem uma somatória de pontos que varia de 25 a 175. Wagnild e
Young (1983, 1990) e Wagnild (2009) estabelecem cortes na classificação,
onde valores superiores a 145 indicam resiliência moderadamente alta à alta,
125 a 145 indica moderadamente baixa à moderada resiliência, e valores
inferiores a 125 indicam baixa resiliência.
Para a população brasileira a escala foi traduzida e validada por Pesce et al.
(Pesce et al., 2005), e para a população portuguesa por Vara & Sani (2006).
Pesce et al. (2004) buscaram realizar equivalências dentre as quais: conceitual,
de itens, semântica, operacional, de mensuração (com a consistência interna
medida pelo Alpha de Cronbach), a validade de conteúdo e de construto.
Foram realizadas a análise fatorial e a equivalência funcional. A avaliação
Metodologia
32
conceitual e de itens da escala original apontou para a pertinência do
instrumento original para a cultura brasileira. Foram mantidos os 25 itens
originais, e na mesma ordem. Na avaliação semântica, a maioria dos itens
foram considerados inalterados, obtendo altos níveis de concordância. Em
relação à mensuração, no teste e pré-teste, os valores de alfa de Cronbach
foram satisfatórios, respectivamente: 0,80 e 0,85. Os índices de confiabilidade
intra-observador mostraram-se também significativos e foram medidos pelo
teste Kappa.
Wagnild e Young (1993), no estudo original, sugeriram dois fatores
(competência pessoal e aceitação de si mesmo e da vida) presentes na escala
e que se afinam com a teoria da resiliência. Pesce et al. (2004) utilizaram a
rotação ortogonal varimax e rotação oblíqua oblimin, e encontraram três
fatores, ao invés dos dois da versão original: o primeiro, que explica 20,6% da
variância total, são itens relacionados à resolução de ações e valores; o
segundo, com 6,7% da variância total, são itens relacionados à independência
e à determinação, e o último fator, com 5,5% da variância total, formado por
itens relacionados à autoconfiança e à capacidade de adaptação a situações.
Para a medição da resiliência, Pesce et al. (2004, 2005) utilizam o somatório de
escores das respostas do questionário, onde valores elevados dizem respeito à
elevada resiliência, e valores baixos à baixa resiliência (variando de 25 a 175).
Esse ponto é também igual o que afirmam os autores originais (Wagnild &
Young, 1993; Wagnild, 2009), porém sem estabelecer valores de corte.
As escalas para a população brasileira e portuguesa respeitaram as diferenças
de adaptação semântica, com algumas alterações em palavras, pois focavam
as populações relativas a cada país. Porém não foi detectado maiores
diferenças no que diz respeito à escores e análises. Dessa forma optou-se por
aplicar cada escala em sua população de estudo.
A prática desportiva foi medida por um questionário de auto-preenchimento,
elaborado pelo Gabinete de Psicologia do Desporto da Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto (FADEUP), que englobava questões sócio-
demográficas e os hábitos de prática desportiva (Corte-Real et al., 2004).
Metodologia
33
Contém diversas perguntas com respostas diretas sobre a quantidade de
prática desportiva semanal, e se tal prática se realiza em clubes, escolas ou em
outros locais.
A folha do instrumento se caracteriza por questionários impressos em frente e
verso. Na frente, o questionário de resiliência, no verso o questionário de
prática desportiva e a identificação sócio-demográfica, onde se pergunta a
morada, a profissão dos pais, a idade, sexo, etc.
Perceber a resiliência utilizando-se de testes, quando bem desenvolvidos, traz
diversas vantagens para os pesquisadores, pois é possível detectar
precocemente riscos existentes, além de fornecer informações úteis ao
estabelecimento de diagnósticos e projetos de intervenção. Apesar disto, deve-
se ter cuidado para que a interpretação dos resultados não meramente separe
resilientes de não resilientes. O instrumento deve ser visto como um facilitador
para perceber como as pessoas lidam com as desvantagens e as proteções.
A Escala de Resiliência de Wagnild & Young, em seus itens, está de acordo
com o que se encontra acerca da teoria da Resiliência, por mais controversa
que essa seja. Grotberg (2005) identifica vários fatores que se referem a
pessoas resilientes, a os dividem em 4 grupos: “eu tenho”, “eu posso”, “eu sou”
e “eu estou”. Tais características são as que se seguem no quadro a frente:
Metodologia
34
Quadro 1. Fatores referentes à pessoas resilientes
Eu tenho Eu posso
Pessoas do entorno em quem confio e que me querem incondicionalmente;
Falar sobre coisas que me assustam ou inquietam;
Pessoas que me põem limites para que eu aprenda a evitar os perigos ou problemas;
Procurar uma maneira de resolver os problemas;
Pessoas que me mostram, por meio de sua conduta, a forma correta de proceder;
Controlar-me quando tenho vontade de fazer algo da maneira errada ou perigosa;
Pessoas que querem que eu aprenda a me desenvolver sozinho;
Encontrar alguém que me ajude quando necessito;
Pessoas que me ajudam quando estou doente, ou em perigo, ou quando necessito aprender.
Procurar o momento certo para falar com alguém.
Eu sou Eu estou
Uma pessoa pela qual os outros sentem apreço e carinho;
Disposto a me responsabilizar por meus atos;
Feliz quando faço algo bom para os outros e lhes demonstro meu afeto;
Certo de que tudo sairá bem.
Respeitoso comigo mesmo e com o próximo.
Essas características descritas por Grotberg (2005) demonstram uma
consonância com as questões do questionário utilizado. Tais questões
propostas por Wagnild e Young (1993) e traduzidas por Pesce et al. (2004), as
quais se constituem na Escala de Resiliência utilizada no presente trabalho,
foram as seguintes:
Metodologia
35
Quadro 2. Itens da Escala de Resiliência
Quando eu faço planos, eu levo eles até o fim.
Eu costumo lidar com os problemas de uma forma ou de outra.
Eu sou capaz de depender de mim mais do que qualquer outra pessoa.
Manter interesse nas coisas é importante para mim.
Eu posso estar por minha conta se eu precisar.
Eu sinto orgulho de ter realizado coisas em minha vida.
Eu costumo aceitar as coisas sem muita preocupação.
Eu sou amigo de mim mesmo.
Eu sinto que posso lidar com várias coisas ao mesmo tempo.
Eu sou determinado.
Eu raramente penso sobre o objetivo das coisas.
Eu faço as coisas um dia de cada vez.
Eu posso enfrentar tempos difíceis porque já experimentei dificuldades antes.
Eu sou disciplinado.
Eu mantenho interesse nas coisas.
Eu normalmente posso achar motivo para rir.
Minha crença em mim mesmo me leva a atravessar tempos difíceis.
Em uma emergência, eu sou uma pessoa em quem as pessoas podem contar.
Eu posso geralmente olhar uma situação em diversas maneiras.
Às vezes eu me obrigo a fazer coisas querendo ou não.
Minha vida tem sentido.
Eu não insisto em coisas as quais eu não posso fazer nada sobre elas.
Quando eu estou numa situação difícil, eu normalmente acho uma saída.
Eu tenho energia suficiente para fazer o que eu tenho que fazer.
Tudo bem se há pessoas que não gostam de mim.
Metodologia
36
Podemos perceber uma boa equivalência conceitual das características
presentes no processo resiliente, e nas questões levantadas para resposta tipo
Likert da Escala de Resiliência.
3.3 – Procedimentos
A aplicação dos questionários foi feita em dois locais: no Brasil, na cidade de
Linhares, no Estado do Espírito Santo; e em Portugal, na cidade Santo Tirso.
Para a aplicação no Brasil, foi treinada, via Skype, uma professora do Ensino
Médio, para realizar a aplicação dos questionários. Foi explicado à professora
as características da escala e das perguntas sobre prática desportiva, e
instruções a cerca das formas de resposta. A mesma passou todas as
instruções antes de cada aplicação em cada sala de aula. A aplicação se
realizou em grupos de até 30 jovens, na sua respectiva sala de aula. Foram
pedidos aos entrevistados que mantivessem o anonimato, para que se pudesse
ter a maior fidedignidade das respostas.
Para a aplicação em Portugal, também foi treinada uma professora do Ensino
Básico e Secundário com Mestrado em Ciências do Desporto. Foi explicado tal
qual à professora brasileira sobre os aspectos completos do questionário.
Foi pedido o consentimento ao Conselho Executivo da Escola, aos alunos e
respectivos encarregados de educação. A participação dos alunos foi
voluntária. Os dados recolhidos foram apenas utilizados para este estudo,
sendo garantida a confidencialidade dos mesmos.
3.4 – Análise dos Dados
Os dados foram, num primeiro momento, descritos por média e desvio padrão
com o auxílio do programa de estatística SPSS (Statistical Package for the
Metodologia
37
Social Sciences) versão 17.0. Foram criadas novas variáveis de acordo com os
dados dispostos no questionário de prática desportiva.
Relativamente à freqüência de prática desportiva, os jovens respondiam a
quantidade de dias que praticavam esporte durante a semana. Esses dados
foram correlacionados com a média dos escores de resiliência dos indivíduos
utilizando o SPSS versão 17.0.
Outra variável de análise foi o local/ tipo de prática. Três perguntas do
questionário se traduziram em 3 variáveis de análise: se o desporto que o
jovem pratica está inserido no desporto escolar; se está inserido nalgum
clube/ginásio/academia; e por fim se o jovem participa de competições
federadas (todas as três questões eram com resposta “sim” ou “não”, podendo
o entrevistado responder positivamente para mais de uma questão.
A análise dos escores da escala de resiliência quando realizada com dois
grupos foi feita com o Indepedent-Sample T-Teste. Para todos os testes, o
nível de significância foi de α=0,05. Para a análise das correlações entre a
freqüência de prática desportiva e as médias de resiliência dos indivíduos foi
utilizado o teste Correlação de Pearson, também com significância de α=0,05.
Nas análises referentes tanto à resiliência, quanto à prática desportiva, nos
utilizamos tanto de toda a população da amostra, como também das
populações portuguesas e brasileiras em separado.
Em primeiro momento, verificamos como os escores de resiliência se
distribuem na amostra, separando casos por nacionalidade, idade e sexo, e
como a freqüência de prática desportiva se comporta entre os gêneros de casa
país.
Analisamos se há diferença entre os escores médios da Escala de Resiliência
entre a população portuguesa e brasileira. Após averiguar as médias dos níveis
de resiliência nas duas populações, buscamos estabelecer se existe alguma
correlação entre a idade dos sujeitos e os níveis de resiliência. Outra
verificação pertinente ao trabalho, foi comparar as médias de escores de
resiliência, relativamente ao gênero.
Metodologia
38
Depois de obter como os níveis de resiliência se comportam em relação à
idade e ao sexo, buscamos alcançar o objetivo principal do trabalho, que é
traçar correlações entre a freqüência de prática desportiva e os níveis de
resiliência dos indivíduos, e observar como as médias de resiliência se
distribuem em diferentes locais de prática.
39
Capítulo 4 – Resultados
41
Capítulo 4: Resultados
Os dados coletados nos forneceram uma vasta gama de informações a cerca
da resiliência e da freqüência de prática desportiva dos sujeitos em questão. As
análises realizadas foram norteadas pelos objetivos levantados no capítulo 3.
Num primeiro bloco, observamos como as médias de escores de resiliência se
distribuem nos indivíduos, quando idade, sexo e nacionalidade são colocados
como fatores, e como a prática desportiva se coloca em relação ao gênero e à
nacionalidade.
Em relação à nacionalidade realizamos a seguinte pergunta: há diferença entre
os escores médios da Escala de Resiliência entre a população portuguesa e
brasileira?
Houve uma pequena diferença, porém estatisticamente insignificante, como
pode ser verificado na tabela abaixo:
Tabela 1. Diferença das médias de escores de resiliência entre população portuguesa e brasileira.
Nacionalidade Amostra Média Significância Estatística
Portugal 227 128,78 ± 17,66
p=0,113 Brasil 195 131,32 ± 14,78
Avaliamos as diferenças de freqüência de prática desportiva entre os gêneros
de cada país, e obtivemos o seguinte resultado:
• A média de freqüência de prática desportiva nos meninos portugueses e
das meninas portuguesas pode ser verificada na tabela abaixo,
evidenciando uma diferença grande de valores médios. Na amostra
portuguesa fica evidente a maior prática desportiva por parte dos
rapazes, em relação às meninas.
Resultados
42
Tabela 2. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e meninas portuguesas.
Portugal Amostra Média Significância
Estatística
Meninos 106 4,10 ± 1,96
p≤0.001 Meninas 98 2,77 ± 1,25
• Os valores médios encontrados relativos à pratica desportiva dos
meninos brasileiros e das meninas brasileiras também evidenciaram
uma grande diferença, como pode ser vista na tabela XX. Fica também
evidente a maior participação masculina relativamente à prática
desportiva.
Tabela 3. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e meninas brasileiras.
Brasil Amostra Média Significância Estatística
Meninos 62 4,32 ± 2,52
p≤0.001 Meninas 105 2,62±1,82
Verificou-se uma grande diferença na freqüência de prática desportiva entre os
rapazes e as meninas em ambas as populações. Já entre os rapazes
brasileiros e portugueses, e as meninas brasileiras e portuguesas não foi
encontrado nenhuma diferença estatisticamente relevante, com p=0.558 e
p=0.510 respectivamente.
Para continuar a compreensão como os níveis de resiliência se distribuem na
população estudada, foi necessário observar como eles se comportam em
relação à idade dos sujeitos. Para isso buscou-se traçar correlações entre os
níveis de resiliência e a idade dos participantes.
A resiliência média medida pela aplicação da Escala de Resiliência na amostra
total dos sujeitos resultou num nível considerado moderadamente baixa à
Resultados
43
moderada resiliência, segundo Wagnild e Young (1983,1990) e Wagnild (2009).
Utilizando o SPSS, observamos que na amostra total não há correlação
significativa entre a idade e os níveis de resiliência.
Tabela 4. Média dos níveis de resiliência Correlação idade x resiliência na amostra total
Tentando perceber os resultados a partir de sub grupos, fizemos as análises
com as populações em separado, visto que assim não nos escapa diferenças
que poderiam ser mascaradas pela população global.
O escore médio de resiliência da amostra portuguesa também se encontrou no
nível considerado moderadamente baixa à moderada resiliência.
Estabelecendo o cálculo estatístico, observamos não haver correlação
significativa entre a idade e os níveis de resiliência na amostra total portuguesa
(Tabela 5).
Tabela 5. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra portuguesa
Média Desvio Padrão N
Resiliência 128,78 17,661 227
Idade (anos) 15,58 1,593 227
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson ,055
Sig. (2-tailed) ,257
N 422
Média Desvio Padrão N
Resiliência 129,95 16,424 422
Idade (anos) 15,70 1,392 422
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson ,087
Sig. (2-tailed) ,193
N 227
Resultados
44
A amostra brasileira, tal qual a amostra portuguesa, também obteve uma média
de escores da Escala de Resiliência, que se encontra no nível considerado
moderadamente baixa à moderada resiliência. Não foi observado correlação
significativa entre a idade e os níveis de resiliência na amostra total brasileira
quando utilizado o SPSS, conforme pode ser visto na tabela 6:
Tabela 6. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra brasileira
Média Desvio Padrão N
Resiliência 131,32 14,784 195
Idade (anos) 15,84 1,100 195
Dentro de cada população, foi necessário, para continuar o mapeamento,
realizar as análises com os rapazes e meninas em separados, e obtivemos o
seguinte resultado:
A amostra de rapazes portugueses foi a que apresentou a menor média dos
níveis de resiliência, se aproximando do limite do nível que indica baixa
resiliência. Aqui encontramos uma correlação positiva entre a idade dos
rapazes portugueses e os níveis de resiliência. Ou seja, quanto mais aumenta
a idade dos jovens da amostra, mais cresce os níveis dos escores de
resiliência, embora a magnitude da correlação seja relativamente reduzida.
Tabela 7. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra masculina portuguesa
Média Desvio Padrão N
Resiliência 127,29 17,570 111
Idade (anos) 15,62 1,652 111
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson -,028
Sig. (2-tailed) ,697
N 195
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson ,221
Sig. (2-tailed) ,020
N 111
Resultados
45
A amostra das meninas portuguesas obteve uma média um pouco maior do
que a amostra dos meninos, porém também se circunscrevendo na amplitude
da moderadamente baixa à moderada resiliência. Não foi observado correlação
significativa entre a idade e os níveis de resiliência na amostra portuguesa
feminina.
Tabela 8. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra feminina portuguesa
Média Desvio Padrão N
Resiliência 130,44 17,597 115
Idade (anos) 15,54 1,546 115
A amostra de rapazes brasileiros foi a que apresentou a maior média dos níveis
de resiliência, porém também estando na amplitude da moderadamente baixa à
moderada resiliência. No caso dos rapazes brasileiros não há correlação
significativa entre a idade e os níveis de resiliência.
Tabela 9. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra masculina brasileira
Média Desvio Padrão N
Resiliência 133,05 13,797 63
Idade (anos) 16,02 1,100 63
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson -,050
Sig. (2-tailed) ,597
N 115
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson ,042
Sig. (2-tailed) ,741
N 63
Resultados
46
As meninas brasileiras, assim como os demais grupos, também se
encontraram no nível considerado moderadamente baixa à moderada
resiliência. Também não foi encontrado correlação significativa entre a idade e
os níveis de resiliência na amostra brasileira feminina.
Tabela 10. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra feminina brasileira
Média Desvio Padrão N
Resiliência 130,50 15,214 132
Idade (anos) 15,75 1,094 132
Após observar como os níveis de resiliência se relacionam com a idade,
buscamos perceber se o gênero é um fator que causa diferença nas médias
dos níveis de resiliência, e comparar as duas populações. Assim, utilizamos o
Indepedent-Sample T-Teste para medir as diferenças das médias nos escores
dos jovens masculinos e femininos. Na amostra total de indivíduos a
proximidade entre as médias dos dois sexos mostrou não haver diferença
estatística entre seus escores médios de resiliência.
Tabela 11. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas da amostra total.
Amostra Média Significância
Estatística
Masculino 174 129,37 ± 16,49
p=0,498 Feminino 247 130,47 ± 16,33
Idade (anos)
Resiliência Correlação Pearson -,072
Sig. (2-tailed) ,410
N 132
Resultados
47
Já os participantes de nacionalidade portuguesa, apesar de podermos ver uma
pequena diferença nas médias, ela não se revelou estatisticamente relevante:
Tabela 12. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas portugueses.
Portugal Amostra Média Significância
Estatística
Masculino 111 127,29 ± 17,57
p=0,179 Feminino 115 130,44 ± 17,597
Na amostra brasileira, mais uma vez, apesar de haver uma leve diferença nas
médias, ela também não se mostrou estatisticamente relevante:
Tabela 13. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas brasileiros.
Brasil Amostra Média Significância
Estatística
Masculino 63 133,05 ± 13,79
p=0,262 Feminino 132 130,50 ± 15,21
Continuando, buscamos comparar os meninos portugueses com os brasileiros,
e as meninas portuguesas com as brasileiras, no que tange ao nível de
resiliência medido na Escala.
A média dos rapazes portugueses nos escores de resiliência ficou abaixo da
média dos rapazes brasileiros. Essa diferença se mostrou estatisticamente
relevante, assinalando que, em média, os meninos brasileiros da amostra
foram mais resilientes que os meninos portugueses.
Resultados
48
Tabela 14. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos portugueses e brasileiros.
Rapazes Amostra Média Significância
Estatística
Portugal 111 127,29 ± 17,57
p=0,018 Brasil 63 133,05 ± 13,79
Em relação às meninas, as portuguesas e as brasileiras obtiveram médias
muito próximas assinalando não haver nenhuma diferença na resiliência entre
esses dois grupos.
Tabela 15. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninas portuguesas e brasileiras.
Meninas Amostra Média Significância
Estatística
Portugal 115 130,44 ± 17,59
p=0,98 Brasil 132 130,50 ± 15,21
Após mapear como os níveis de resiliência medidos pela Escala de Resiliência
se distribuíam na população em estudo, no que tange à nacionalidade, idade e
sexo, partimos para o objetivo principal desse estudo: procurar saber se há
correlação entre a freqüência de prática desportiva e os níveis de resiliência.
Analisar os níveis de resiliência utilizando-se de fatores como nacionalidade,
idade e sexo, possui o objetivo de previamente saber o que faz interferência
direta nos níveis de resiliência, para além da possibilidade da prática
desportiva, e para poder comparar com outros estudos, mapeando a população
pesquisada.
Da mesma forma como nos itens anteriores, foi de suma importância “retalhar”
a população estudada, separando por nacionalidade e por gênero (ainda dentro
de cada nacionalidade).
Resultados
49
Assim, podemos observar na tabela seguinte a média dos escores de
resiliência da amostra total e a média de dias praticados de esporte no intervalo
de uma semana (7 dias). O total de indivíduos que responderam a questão
relativa à freqüência de prática desportiva foi de 372 indivíduos. Quanto aos
demais sujeitos (50) que deixaram em branco essa parte, não podemos afirmar
que não praticavam desporto. Com esses dados da população total, não
observamos correlação entre os níveis de resiliência e a freqüência de prática
desportiva.
Tabela 16. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra
total dos indivíduos
Na população portuguesa, 205 jovens responderam questões relativas à
freqüência de prática desportiva. Não foi verificada correlação entre os níveis
de resiliência e a prática desportiva.
Tabela 17. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra
portuguesa
Média Desvio Padrão N
Portugal Resiliência 128,78 17,661 227
Prática Desportiva 3,46 1,783 205
Prática Desportiva
Portugal Resiliência Correlação Pearson ,091
Sig. (2-tailed) ,192
N 205
Média Desvio Padrão N
Resiliência 129,95 16,424 422
Prática Desportiva 3,37 2,011 372
Prática Desportiva
Resiliência Correlação Pearson ,048
Sig. (2-tailed) ,359
N 372
Resultados
50
Já na população brasileira, 167 responderam as questões referentes à
freqüência de prática desportiva. Também não foi verificada correlação entre os
níveis de resiliência e a freqüência de prática desportiva na amostra total
brasileira.
Tabela 18. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra
brasileira.
Média Desvio Padrão N
Brasil Resiliência 131,32 14,784 195
Prática Desportiva 3,25 2,259 167
Prática Desportiva
Brasil Resiliência Correlação Pearson ,007
Sig. (2-tailed) ,930
N 167
A partir desse ponto, separamos os meninos e meninas de cada população, a
fim de saber como tais resultados dessa vez aparecem.
A média dos escores de resiliência dos jovens portugueses do sexo masculino
apresentou-se como a mais baixa entre os quatro grupos. Não foi encontrada
correlação entre os escores de resiliência e a freqüência semanal de prática
desportiva. Quanto às meninas portuguesas, também não houve correlação
estatisticamente relevante entre a freqüência de prática desportiva e seus
níveis de resiliência.
Já na população brasileira, a correlação entre freqüência de prática desportiva
e os níveis de resiliência na população masculina brasileira de mostrou
levemente negativa, porém estatisticamente irrelevante. Assim como em todos
os grupos, nas meninas brasileiras também não houve correlação
estatisticamente relevante entre a freqüência de prática desportiva e os níveis
de resiliência nas meninas brasileiras.
Resultados
51
Seguem-se abaixo as tabelas referentes às analises dos meninos e meninas
portuguesas e brasileiras, referentes à correlação da resiliência com a prática
desportiva:
Tabela 19. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra
masculina e feminina de cada nacionalidade.
Sexo Nacionalidade Média Desvio Padrão N
Masculino PORTUGAL Resiliência 127,29 17,570 111
Pratica desportiva 4,10 1,961 106
BRASIL Resiliência 133,05 13,797 63
Pratica desportiva 4,32 2,521 62
Feminino PORTUGAL Resiliência 130,44 17,597 115
Pratica desportiva 2,77 1,258 98
BRASIL Resiliência 130,50 15,214 132
Pratica desportiva 2,62 1,826 105
Verificada a correlação entre a resiliência com a freqüência de prática
desportiva semanal, partimos para outro aspecto do nosso objetivo, que
consistiu em analisar se há diferenças nos valores médios de resiliência entre
Sexo Nacionalidade Pratica Desportiva
Masculino PORTUGAL Resiliência Correlação Pearson ,176
Sig. (2-tailed) ,071
N 106
BRASIL Resiliência Correlação Pearson -,114
Sig. (2-tailed) ,379
N 62
Feminino PORTUGAL Resiliência Correlação Pearson ,078
Sig. (2-tailed) ,444
N 98
BRASIL Resiliência Correlação Pearson ,049
Sig. (2-tailed) ,620
N 105
Resultados
52
jovens que afirmam praticar esporte na escola, num clube/ginásio/academia, e
em competições federadas e os que não praticam em tais lugares.
Nessa seção do questionário, realizamos pequenas modificações de caráter
semântico entre as perguntas para Portugal e Brasil.
Com a amostra total dos sujeitos obtivemos o seguinte resultado:
a) Pergunta “O desporto que praticas está inserido no desporto escolar/
na equipe da escola?”:
Nessa pergunta, 38 jovens não responderam essa questão. Usando o T-Test
percebemos não haver diferença estatisticamente relevante entre quem pratica
desporto na escola e quem não pratica.
Tabela 20. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto escolar e quem não
pratica da população total.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 92 131,05 ± 12,83
p=0,321 “Não” 292 129,13 ± 17,12
b) Pergunta “O desporto que praticas está inserido em
clube/ginásio/academia?”:
Novamente não houve diferença estatisticamente relevante entre quem
respondeu que pratica desporto em clube/ginásio/academia e que não pratica.
Tabela 21. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ ginásio/
academia e quem não pratica da população total.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 175 130,76 ± 17,72
p=0,321 “Não” 209 128,91 ± 14,84
Resultados
53
c) Pergunta “Costuma participar de competições federadas/ jogar por
algum clube?”:
Também não encontramos diferenças estatisticamente relevantes entre quem
participa em competições federadas ou joga por algum clube, com quem não
participa dessas competições.
Tabela 22. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem participa de competições federadas e quem
não participa da população total.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 75 130,80 ± 17,07
p=0,548 “Não” 311 129,56 ± 15,81
Quando questionado sobre o local / tipo de prática desportiva, obtivemos as
seguintes análises relativas às amostras portuguesas e brasileiras em
separado:
1) Portugueses:
a) Pergunta “O desporto que praticas está inserido no desporto
escolar?”:
Não encontramos diferença estatisticamente relevante entre os jovens
portugueses que afirmaram participar do desporto escolar e os que afirmaram
não participar.
Tabela 23. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto escolar e quem não
pratica da população portuguesa.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 23 130,39 ± 13,842
p=0,598 “Não” 191 128,29 ± 18,352
Resultados
54
b) Pergunta “O desporto que praticas está inserido em clube/ ginásio?”:
Apesar de encontrarmos uma leve diferença entre as médias dos jovens
portugueses que praticam desporto em clube/ academia e os que não praticam,
essa mostrou não ser estatisticamente relevante.
Tabela 24. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ ginásio e quem
não pratica da população portuguesa.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 121 130,14 ± 19,15
p=0,187 “Não” 95 126,89 ± 16,18
c) Pergunta “Costuma participar de competições federadas?”:
Não encontramos diferença estatisticamente relevante, apesar de uma leve
diferença, entre quem participa de competições federadas e quem não
participa.
Tabela 25. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem participa de competições federadas e quem
não participa da população portuguesa.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 49 130,89 ± 18,95
p=0,366 “Não” 167 128,29 ± 17,26
2) Brasileiros
a) Pergunta “O desporto que praticas está inserido na equipe da
escola?”:
Não encontramos diferença entre os jovens brasileiros que responderam que
praticam desporto na equipe da escola e os que responderam não praticar.
Resultados
55
Tabela 26. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto na equipe da escola e
quem não pratica da população brasileira.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 69 131,27 ± 12,57
p=0,790 “Não” 101 130,70 ± 14,48
b) Pergunta “O desporto que praticas está inserido em clube/
academia?”:
Mais uma vez, não encontramos diferença estatisticamente relevante entre as
médias de quem está inserido num clube/ academia e quem não está.
Tabela 27. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ academia e
quem não pratica da população brasileira.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 54 132,14 ± 14,09
p=0,493 “Não” 114 130,59 ± 13,47
c) Pergunta “Costuma jogar competições por algum clube?”:
Mais uma vez usando o T-Test podemos observar que não existiu diferença
entre as médias de quem compete por algum clube e quem não compete por
clube.
Tabela 28. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem joga competições por algum clube e quem
não joga da população brasileira.
Resposta Amostra Média Significância
Estatística
“Sim” 26 130,61 ± 13,15
p=0,892 “Não” 144 131,01 ± 13,85
57
Capítulo 5 – Discussão
Discussão
59
Capítulo 5 – Discussão
O mapeamento realizado com os dados coletados buscou compreender como
se distribuem os valores de escores da Escala de Resiliência nos indivíduos
que vivem em Portugal e no Brasil, e buscar alguma correlação desses valores
com a prática desportiva, além de visualizar as freqüências de prática
desportiva nas populações em estudo.
É importante, para compreender melhor os números obtidos nos resultados da
escala, analisar a distribuição dos níveis de resiliência entre os indivíduos e as
características pessoais que podem ter alguma correlação com tais níveis. No
presente trabalho, para eliminar a interferência que alguns fatores poderiam ter
no resultado da correlação entre resiliência e freqüência de prática desportiva,
procuramos analisar a distribuição das médias dos escores de resiliência em
relação ao gênero e a idade. Além disso, também foi possível buscar
diferenças entre as populações brasileiras e portuguesas, e compará-las aos
estudos realizados por outros autores com suas respectivas populações.
A análise dos dados coletados pode ser comparada com alguns estudos que
utilizaram a Escala de Resiliência (RS) (Cohu, 2005; Humphreys, 2003; Pesce
et al., 2004; Rech, 2007) e com o artigo de revisão de Wagnild (2009), que
revisa 12 estudos cujo instrumento utilizado foi a sua escala.
Em relação à idade, Wagnild (2009) afirma não haver diferenças significativas
nos dados de nenhum dos 12 estudos (idades compreendidas entre 16 e 103
anos) em relação aos escores de resiliência. No estudo de Rech (2007),
também não se constatou diferenças entre as idades estudadas (60 e 90 anos).
Pesce (2004) que trabalhou com idades próximas a esse estudo (10 aos 19
anos), também não verificou diferenças significativas. No presente estudo
também não encontramos diferenças significativas entre as idades dos
participantes, porém quando realizado o teste Correlação de Pearson (idade X
resiliência) dentro de cada grupo criado (meninos portugueses, meninas
Discussão
60
portuguesas, meninos brasileiros e meninas brasileiras) podemos observar
uma correlação positiva na amostra de rapazes portugueses.
Esse dado demonstra que apenas na população masculina portuguesa pôde-
se observar um crescimento dos níveis de escore de resiliência à medida que a
idade também cresce. Os escores de resiliência, nos rapazes mais jovens
portugueses, se encontram em níveis mais baixos do que nos outros grupos,
aproximando-se de níveis razoáveis apenas no final da adolescência. Tal fato
pode indicar um potencial alvo de intervenção em resiliência, e sugerir a
necessidade da realização de uma pesquisa futura para compreender melhor
esse fenômeno. Baixos níveis de resiliência estão relacionados à maior
predisposição ao stress e a doenças, principalmente a não superação de
quadros clínicos alteráveis. A baixa resiliência, além de não ajudar a
transposição de quadros clínicos desfavoráveis, também atua como uma
barreira à prevenção de doenças (BianchiniI & Dell'Aglio, 2006; Castro &
Moreno-Jiménez, 2007; Mota et al., 2006).
Em relação à diferença dos níveis médios de resiliência entre os gêneros, no
presente estudo não houve diferença significativa, assim como em 10 estudos
dos 12 analisados por Wagnild (2009). Rech (2007), em seu estudo com
população idosa, também não encontrou diferença significativa entre homens e
mulheres. Já Pesce (2004) encontrou uma diferença significativa, sendo as
adolescentes com níveis maiores de resiliência do que os rapazes, num estudo
com 997 jovens de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em nossa amostra,
relativamente aos jovens portugueses, verifica-se uma pequena diferença nas
médias dos escores de resiliência (porém estatisticamente insignificante)
pendendo para um maior nível de resiliência presente nas meninas. Porém
quando observado a população brasileira, essa tendência se inverte, sendo a
média de escore dos meninos levemente superior às das meninas, ainda que
mais uma vez estatisticamente irrelevante. Essa tendência inversa das duas
populações pode ser explicada devido à grande diferença de escores médios
entre os rapazes portugueses e brasileiros e a não diferença entre as meninas
portuguesas e brasileiras. Houve uma diferença estatisticamente relevante
entre os jovens masculinos brasileiros e portugueses, sendo os rapazes
brasileiros com escores médios maiores do que os portugueses, enquanto que
Discussão
61
com as meninas, as médias ficaram muito próximas. Assim, nesses 4 grupos,
os valores médios mais baixos dos rapazes portugueses e os mais altos nos
brasileiros, provocaram essa inversão das diferenças das médias dos gêneros
de cada nacionalidade.
Segundo Wagnild (2009) pode haver diferenças entre os gêneros e a forma
como cada um lida com a resiliência, porém esse aspecto ainda não foi
estudado.
Essa diferença das médias dos jovens masculinos portugueses e brasileiros
também foi responsável pela leve diferença entre as populações das duas
nações, porém, estatisticamente não relevante, devido a não diferença entre as
meninas.
Os resultados de escores médios dos sujeitos testados com escala de Wagnild
e Young nos estudos analisados foram muito próximos. Os escores médios, na
maioria dos diferentes trabalhos, ficaram em torno da “resiliência média”, tal
qual o nosso estudo, como se pode verificar nas diversas tabelas do estudo
que contém as médias dos grupos de sujeitos.
Wagnild (2009) sugere uma reavaliação no tipo de resposta Likert de 7 itens,
propondo a utilização de apenas 4 itens, o que forçaria o respondente a
escolher “um lado ou outro”. Essa mudança evitaria as respostas nulas, que
muitas vezes acabam sendo escolhidas como a mais socialmente conveniente
pelo sujeito a responder e assim modelando os resultados para a parte central
dos valores.
Os objetivos desse estudo, no que diz respeito à prática desportiva, parece ser
um dos primeiros que buscam realizar a correlação com a resiliência. Cohu
(2005) trabalhou com resiliência e prática desportiva, porém circunscrevendo a
prática aos que participam de competições universitárias e os que não
participam de tais competições, e também utilizou a escala de resiliência (RS)
de Wagnild & Young.
Tanto na população total do presente estudo, quando nas populações
portuguesas e brasileiras em separado, não encontramos correlação entre a
quantidade de prática desportiva e os níveis de resiliência obtidos pelo
Discussão
62
questionário. Na população brasileira, a correlação foi baixíssima, porém, na
população portuguesa, apesar de não ser estatisticamente relevante, já houve
uma leve correlação. Dentro da amostra portuguesa, também não se verificou
correlação da resiliência dos rapazes nem das meninas, em separado, com a
prática desportiva, assim como também não foi verificado na amostra brasileira
(verificar tabelas 16, 17, 18, 19).
O não aparecimento de diferenças nas médias relativas à resiliência de quem
pratica esporte e quem não pratica, pode ser contrastado com Cohu (2005).
Quando na segunda questão de seu estudo ele pergunta “Os atletas que
participam em competições universitárias possuem maiores níveis de escores
de resiliência do que os estudantes universitários que não são atletas inter-
universitários?”, ele obtém uma resposta positiva. Segundo seu estudo, há uma
diferença nos escores dos estudantes que competem pela universidade dos
que não competem.
Delineamos algumas das diferenças possíveis entre os dois estudos.
Primeiramente, utilizamos adolescentes em escolas secundárias, enquanto
Cohu utilizou jovens adultos inseridos num contexto universitário. Talvez possa
existir alguma diferença relativa ao meio pesquisado. Outra diferença é que
Cohu não pergunta sobre prática desportiva “em geral”, mas já seleciona quem
participa de competições universitárias e quem não participa, sendo que para
esses últimos, não há dados que informam se eles praticam algum outro
esporte que não seja a competição universitária.
É importante ressaltar que no nosso instrumento questiona-se a quantidade de
prática semanal e, posteriormente, se é praticada na escola, num
clube/ginásio/academia ou ainda se participa de competições federadas. Isso
em nenhum momento consegue descrever a qualidade em si da prática, ou
seja, que tipo de treinamento/ instrução esses jovens recebem quando estão a
praticar o esporte. No seu estudo, Cohu também não questiona a qualidade da
interação dos atletas com o desporto e com os treinadores, tal qual nosso
instrumento. Pode ocorrer dos seus participantes possuírem uma relação com
o desporto e treinadores que promovam a resiliência, visto que teoricamente é
possível (Sanches, 2007).
Discussão
63
Esse meio desportivo organizado pode ser uma das explicações sobre o
resultado diferente nos dois estudos. Pode ser que, com os participantes de
Cohu, a relação dos jovens com o esporte e com o treinador/professor seja
diferente do que as desse estudo (visto que em muitos casos de prática
desportiva, a presença de treinador/ professor não é assegurada). Isso teria
alguma relação com a qualidade ou organização do esporte universitário
americano?
Assim, voltamos à revisão bibliográfica, onde todos os benefícios vinculados a
prática desportiva também se vinculavam a presença de um profissional
capacitado para essas questões (Hellison, 2000; Martinek & Hellison, 1997), o
que não foi avaliado pelo nosso instrumento. Isso contrasta com a nossa
“ambição” de que o desporto em geral torne as pessoas melhores e mais bem
desenvolvidas.
Na amostra total dos indivíduos do presente estudo, as respostas referentes ao
local/tipo de prática desportiva sempre tiveram uma leve inclinação para uma
maior resiliência em quem pratica esporte nos referidos locais, porém tais
diferenças não se mostraram estatisticamente relevante. O mesmo ocorreu nas
populações portuguesas e brasileiras em separado, com exceção da questão
sobre competições federadas feita aos brasileiros, que demonstrou uma
inversão, sendo que níveis levemente maiores das médias de resiliência se
encontravam em indivíduos que não participavam em competições federadas.
Tanto escolas, como ginásios, academias, clubes e equipes federadas devem
possuir diferenças grandes estruturais entre elas, com características que
podem ajudar ou dificultar a promoção de resiliência. Nesse ponto, mais
estudos devem ser realizados a fim de diagnosticar essas características, e
promover um referencial que possa ser seguido pelas instituições.
Nesse tópico da pesquisa, um fato interessante é a grande diferença entre os
portugueses e brasileiros, ao responder se praticavam desporto em
ginásio/academia, 121 jovens portugueses responderam que “sim”, e 95 que
“não”; e 54 jovens brasileiros responderam que “sim”, e 114 que “não”. E
também em relação ao desporto escolar: 23 jovens portugueses responderam
que sim, e 191 que não; e 54 jovens brasileiros responderam que “sim”, e 114
Discussão
64
que “não”. É interessante observar como se configura a prática desportiva dos
jovens em cada nação. Parece ser muito mais comum em Portugal freqüentar
algum clube, ginásio ou academia, do que no Brasil. Enquanto a participação
no desporto escolar parece ser um pouco maior no Brasil do que em Portugal,
apesar de em ambos os casos o número de jovens que dizem não praticar
desporto escolar ser grande. Hedstrom e Gould (Hedstrom & Gould, 2004)
trazem algumas contribuições sobre essa baixa demanda no desporto escolar,
citando que os jovens não vêem mais diversão no esporte escolar e passam a
não possuir mais interesse por essa prática. Dizem ainda que o treinador/
professor pode ser considerado “pobre” ou fraco no seu trabalho, e que os
jovens esperam poder participar em outras atividades, que não mais o desporto
escolar e as aulas de educação física (EF).
Se o desporto em si, praticado da forma que for, não apresenta jovens com
maiores níveis de resiliência, não deixa de ser um meio extremamente
saudável dos jovens estarem presentes. E, devido a isso, fica a preocupação
da grande diferença da freqüência de prática desportiva entre meninos e as
meninas encontrada no nosso estudo e confirmada por diversos outros
(Guedes et al., 2001; Pieron, 2004; Pinto, 2009; Silva et al., 2008; Silva et al.,
2005). Segundo Silva et al. (2005), a escola, quando se tornou mista, aceitou
as meninas “num sistema de ensino e nos currículos em vigor, e numa EF com
um programa concebido unicamente para rapazes. A escola abriu as portas às
raparigas mas não se ajustou nem contemplou essa nova população. Assim, a
orientação da EF hegemonicamente masculina silencia os menos aptos, dá
corpo a sentimentos negativos e acentua desigualdades”. Dessa forma, a
cultura desportiva vai afastando as pessoas do sexo feminino do seu meio,
diminuindo os possíveis benefícios advindos da prática desportiva.
Como podemos observar, os resultados encontrados sobre a correlação entre
os níveis de resiliência e a prática desportiva, colocam o presente trabalho a
dialogar com o que diz Erick Dunning, um dos mais importantes cientistas
sociais britânicos e referência em sociologia do esporte, numa entrevista
concedida a Édison Gastaldo:
Discussão
65
“É preciso ainda discutir o suposto papel "civilizador" dos esportes.
Esta idéia surgiu no século XIX e depende, para sua
operacionalização, da inculcação nos jovens, desde muito cedo, dos
valores do amadorismo, como o fair play e a idéia de que competir é
mais importante do que vencer. O profissionalismo – mistura do
esporte com valores orientados pelo dinheiro –, a atitude de "vencer-
a-qualquer-custo" que acompanha o esporte profissional e a pressão
derivada do número de equipes e número de espectadores fazem
com que seja difícil a sobrevivência de atitudes e valores amadores
como o fair play. (...). Os esportes são locais para a geração de
excitação prazerosa, amizade e sociabilidade. Eles são uma grande
invenção coletiva, que consegue com sucesso resolver a aparente
contradição entre rivalidade e amizade. Pode-se dizer que os
esportes são formas de "rivalidade amistosa", e como tais, são
extremamente valiosos.” (Gastaldo, 2008)
Portanto uma questão importante que aqui levantamos é em relação à
motivação dos jovens para a prática desportiva. Devemos nos atentar se é
apenas por perseguição à estética, por dinheiro, por status social, a fim de
perceber onde, nessas motivações, a resiliência tem espaço.
67
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações
Conclusões e Recomendações
69
Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações
Primeiramente, a distribuição dos níveis de resiliência no nosso estudo se
mostrou coerente com as publicações aqui discutidas no que tange às
características de idade e gênero, isto é, não houve correlação entre a idade
dos sujeitos e a resiliência, salvo os rapazes portugueses, que apresentaram
uma correlação positiva, nem diferenças das médias dos gêneros em ambas as
nacionalidades. Isso demonstra ainda não estar claro como a resiliência se
comporta mediante esses dois fatores.
Ressaltamos que apesar de não haver diferença entre as médias dos níveis de
resiliência da população brasileira e portuguesa, é importante apontar para a
diferença observada entre os rapazes das duas nacionalidades. A questão de
os garotos portugueses possuírem níveis muito próximos ao da baixa
resiliência, atenta para um possível foco de intervenção e/ou futuras pesquisas.
Quanto a prática desportiva, um dado observado, porém não investigado, foi a
diferença nas afirmações sobre os locais da prática desportiva. Em Portugal é
muito mais comum praticar desporto em clube/ginásio/academia do que no
Brasil, fato esse, que talvez possa ser explicado pelas diferenças de clima,
níveis sócio-econômicos e políticas públicas desportivas.
Outro fato que observamos é que, tanto no Brasil como em Portugal, o
desporto se apresenta hegemonicamente masculino, reservando às mulheres
um pequeno espaço na participação na prática desportiva.
Como na maioria dos fatores analisados, não foi possível verificar uma
correlação entre a freqüência de prática e os níveis de resiliência, o que
demonstrou não existir diferença entre os jovens que praticam regularmente
desporto e os que não praticam. Concluímos que praticar desporto por si só,
não parece desenvolver nos jovens a resiliência, visto que, quanto maior a
freqüência de prática desportiva os níveis de resiliência mantiveram-se
inalterados.
Conclusões e Recomendações
70
Cabe questionar se em um clube desportivo, cujos jovens vivem na pressão
por resultados, pela possibilidade de profissionalização, pelas cobranças, etc.,
se tais fatos não se enquadrariam muitos mais como fatores de risco, do que
como promotores de resiliência.
Não podemos dizer que, ao ver jovens praticando esporte, sem qualquer
acompanhamento, orientação e intervenção, mesmo numa aula de educação
física, ou num clube, possa ali estar sendo promovida a resiliência. Nem
tampouco, num treino de clube federado, onde, na maioria das vezes, a vitória
é o único objetivo.
A resiliência, com sua característica multifacetada, pode sim ser desenvolvida
dentro do esporte, mas esse parece ser uma ferramenta facilitadora, e o
instrutor/ professor deverá ser alguém que saiba operar a ferramenta de acordo
com os objetivos traçados. Assim, o esporte pode estar mais próximo de se
estabelecer como um fator de proteção, conceito imprescindível e
extremamente correlacionado com o sucesso no processo de resiliência.
Interessante ressaltar é que praticar esporte não quer dizer necessariamente
se envolver com o esporte. O questionário não abrange qual o envolvimento
com o desporto, qual a importância deste para o sujeito e, se não há
envolvimento, dificilmente poderá haver a troca de experiências e conseqüente
promoção de resiliência.
Talvez seja possível aprofundar essa questão complementando este estudo
utilizando concomitantemente metodologias qualitativas, onde se possa
pesquisar o real envolvimento dos sujeitos com o esporte, que significados/
importância esta prática possui em sua vida, assim como verificar, de fato,
como ele lida com as frustrações e os chamados fatores de risco e, ainda,
como se estruturam nele os comportamentos ditos resilientes.
Fica em aberto a necessidade de novos estudos que possam buscar
estabelecer as relações pessoais entre o praticante desportivo e a resiliência, e
como se estruturam, já que teoricamente esta possibilidade está colocada a
partir dos significados e características do esporte.
Conclusões e Recomendações
71
Por fim, esperamos que esse estudo possa servir de referência, ou pelo menos
de estímulo, para outros estudos que tratem do mesmo tema.
“Mesmo sabendo-se dos avanços que a resiliência pode oferecer na área da saúde, deve-se ter a preocupação em não transformar a resiliência num conceito “da moda” que subestime circunstâncias de vida penosas para a criança, como, por exemplo, o contexto de violência. A ênfase na promoção da resiliência não deve substituir as políticas de combate à desigualdade social e condições de vida precárias de alguns sujeitos. A resiliência, incorporada na medida certa aos estudos nessa área, pode render frutos louváveis.” (Perce et al, 2004)
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