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Resolução de Conflitos nas Escolas: Experiência do 3º ano do Projeto Educação Para a Paz Rio de Janeiro 2014

Resolução de Conflitos nas Escolas · Direitos Humanos e a resolução pacífica de conflitos. Conseguimos tangibilizar, num lindo mural de ladrilhos pintados a muitas mãos, a

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Resolução de Conflitos nas Escolas:

Experiência do 3º ano do Projeto Educação Para a Paz

Rio de Janeiro 2014

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Realização:

Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos

Patrocínio:

Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.

Apoio Institucional e Parcerias:

Partners for Democratic Change InternationalSecretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Association INSCRIREAMPERJ

Instituto RioGE Foundation

Escolas Participantes do Projeto em 2014:

E.M. Marechal Mascarenhas de MoraesCIEP Operário Vicente MarianoE.M. Professor Souza Carneiro

E.M. Teotônio VilelaE.M. Professor Josué de Castro

E.M. Emílio CarlosE.M. Lima Barreto

E.M. Almirante Tamandaré

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Asmar, Gabriela

Resolução de Conflitos nas Escolas: Experiências do 3º ano do Projeto Educação para a Paz /

Associação Partners do Brasil; (capa Tebhata Spekman). – 1 ed. Rio de Janeiro: Parceiros Brasil –

Centro de Processos Colaborativos, 2014.

64 pag ; 21 cm (broch.)

Copyright © 2014 por Associação Partners do Brasil – Centro de Colaboração Democrática

Resolução de Conflitos nas Escolas: Experiência do 3º ano do Projeto Educação para a Paz

Gabriela Asmar

1a Edição1ª tiragem - outubro 2014 - 600 exemplares

Diretora Executiva:

Gabriela AsmarOrganizadores:

Gabriela AsmarCarlos Augusto Xavier BenjaminAna Claudia CoutinhoCarlos Henrique CarneiroFotografia:

Equipe Parceiros BrasilAssociation INSCRIREOrganização do Mural:

Philippe Nothomb - Association INSCRIREDiagramação e capa (projeto editorial):Tebhata Spekman

ISBN – 978-85-7984-022-7

Agradecimentos especiais

Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.

Secretaria Municipal de Educação do Rio de JaneiroSra. Sueli Pontes Gaspar

Ministério Público do Rio de JaneiroDra. Bianca Mota de MoraesDra. Eliane de Lima Pereira

Association INSCRIRE Françoise Schein

Philippe Nothomb

Exmo Desembargador Siro Darlan

Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos Endereço: Av. Rio Branco, 151, Grupo 404, Centro – Rio de Janeiro, RJ Telefone: +55 21 2507 1850 e-mail: [email protected] website: www.parceirosbrasil.org

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Prefácio

Por Exmo. Desembargador Siro Darlan          

“Desde Aristóteles a Escola é o lugar do saber e o saber é sinônimo de evolução de civilização e de construção de uma sociedade pacífica. No Brasil não tem sido assim. Os últimos dados sobre violência nas escolas apontam o Brasil em primeiro lugar do ranking em agressões aos professores, em sexto lugar em homicídios de jovens de 0 a 19 anos, sendo o segundo país em números absolutos que mais mata sua infância e juventude.

Os administradores das escolas, desorientados, pedem a presença de policiais nas escolas, demitindo-se de sua autorida-de acadêmica e disciplinar. Os administradores públicos inves-tem na segurança externa aumentando o aparato de violência nas comunidades sem investirem nos educadores. Os profes-sores mal remunerados e desmotivados demonstram sua insa-tisfação refletindo na falta de compromisso com a educação e recebendo como um bumerangue a violência dos desmotivados alunos.

A educação do século XX é rejeitada pelos alunos do sé-culo XXI. Como reverter esse quadro de violência mútua?  Os “hermanos” argentinos nos apontam o caminho. Há na Argen-tina um forte investimento na valorização do magistério e uma preparação para patrocinar um ambiente escolar voltado para a paz. São as Escolas de Paz preparando os mestres e alunos para uma convivência pacífica através de treinamento de processo de resolução de conflitos com a mediação e a justiça restaurativa.

Com muito entusiasmo conheci recentemente o trabalho realizado nas escolas pelos Parceiros Brasil, capitaneado pela Dra Gabriela Asmar. Já com algumas experiências exitosas na capacitação de professores e alunos os frutos já começam a ser

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colhidos em escolas públicas municipais onde alunos e profes-sores mediadores estão sendo preparados para a resolução de conflitos que ficam adstritos aos muros escolares, quando antes eram levados à solução, quase sempre insuficientes dos Conse-lhos Tutelares, da autoridade policial e mesmo do judiciário.

Numa sociedade sofrida pelos inúmeros conflitos da vida moderna é essencial que a paz seja plantada e apreendida a partir das escolas. É na Escola que se deve aprender a arte da convi-vência pacífica e duradoura. O judiciário não está dando conta de resolver tantos e variados conflitos. É preciso que as novas e modernas modalidades de resolução de conflitos sejam ensinadas nas escolas. Alunos mediadores detém uma maior compreensão das dificuldades e identificam melhor os interesses em jogo.

A mediação é a arte de compreender melhor o próximo e encaminhar as partes em conflito para que sejam protagonistas da solução. A presença de um terceiro que decide qual a solução nunca agrada a ambos. Daí afirmarmos que o juiz sempre está desagradando pelo menos metade dos personagens em conflito, enquanto que através da mediação a possibilidade de êxito é de cem por cento, eis que a solução dos conflitos nasce através da identificação dos interesses comuns.

A sociedade em todas as suas dimensões precisam conhe-cer e praticar a mediação e as práticas restaurativas. Esse é o caminho da busca da paz social.”

Índice

Apresentação.........................................................................11Quem somos............................................................................13O Projeto Educação Para a Paz ..............................................16Metodologia............................................................................19Projeto com a Association INSCRIRE......................................21Inauguração do mural“Viver em Paz. Como? “Morrer em Paz.”................................32Formatura dos alunos mediadores 2013................................46O Projeto Educação Para a Paz em números.................56Epílogo....................................................................................57

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Apresentação

A equipe Parceiros Brasil tem a honra de fechar com “chave de ouro”, num lindo trabalho de arte perene, mais um ano do Proje-to Educação para a Paz nas escolas do Município do Rio de Janeiro.

Nas próximas páginas, compartilhamos os resultados do 3º ano do Projeto Educação para a Paz e nossa parceria com a As-sociation INSCRIRE. Esta parceria transborda a interseção entre Direitos Humanos e a resolução pacífica de conflitos. Conseguimos tangibilizar, num lindo mural de ladrilhos pintados a muitas mãos, a arte de Françoise Schein, fundadora da INSCRIRE, mundialmen-te conhecida por promover os Direitos Humanos, e a operaciona-lização de alguns destes Direitos e Deveres Humanos, através de desenhos de alunos e professores da Escola Municipal Marechal Mascarenhas de Moraes, representando algumas ferramentas de mediação de conflitos que o Projeto Educação para a Paz disponi-biliza a crianças, jovens e adultos de escolas do Rio de Janeiro.

Sendo esta escola localizada no Cajú, na vizinhança de três grandes cemitérios do Rio de Janeiro, nosso mural teve como ins-piração não apenas a arte de viver em paz, mas também a impor-tância de morrer em paz. Foram compostos três painéis interde-pendentes com os títulos: “Viver em Paz”, “Como?” e “Morrer em Paz”. Alunos e professores foram convidados a traduzir em imagens seus conceitos acerca de cada título, sendo a transição entre o “Vi-ver” e o “Morrer em Paz” exatamente a prática das habilidades de co-existência pacífica, propiciadas pela negociação colaborativa e mediação de conflitos.

Este é um convite à reflexão sobre como cada um de nós pode protagonizar a vida que desejamos sobre a Terra.

Depende de nós!

Gabriela Asmar

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Quem Somos

O Parceiros Brasil – Centro de Processos Colabora-tivos é uma organização da sociedade civil de interesse públi-co (OSCIP), independente, apartidária e sem fins lucrativos. É membro da rede global Partners for Democratic Change In-ternational (PDCI), com 25 anos de experiência em processos colaborativos, inclusivos e participativos em mais de 50 países. No Brasil, desde 2009, temos o objetivo de desenvolver cida-dãos comprometidos com a construção de uma sociedade sus-tentável, mais justa e democrática.

Em 1989, Raymond Shonholtz saiu da Califórnia (Estados Unidos) rumo ao Leste Europeu e criou o primeiro centro do que veio a ser a rede Partners for Democratic Change (PDC). O ob-jetivo era desenvolver todos os setores da sociedade civil (empre-sas, Governos e comunidades) nas habilidades necessárias à tran-sição democrática sustentável, bem como impulsionar a cultura de gestão de conflitos e pacificação social localmente e ao redor do mundo, sempre através de lideranças locais. Uma vez conso-lidados diversos centros na Europa Oriental, a PDC facilitou a criação de organizações locais também nas Américas, África e Oriente Médio. Todos estas organizações membro da rede glo-bal são independentes e hoje afiliadas à Partners for Democratic Change International (PDCI), baseada em Bruxelas.

Por meio de seus membros (conectados pela missão e pre-ceitos éticos do grupo), a PDCI tem contribuído para transições e consolidações democráticas em diversos países, adaptando e aplicando suas metodologias em processos participativos ino-

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vadores para os desafios específicos de cada contexto. A rede de profissionais da PDCI congrega o melhor conhecimento inter-nacional através das lideranças locais.

A rede PDCI tem vasta experiência em Resolução de Conflitos nas Escolas (RCE), em países como Estados Unidos, Eslováquia, República Checa, Jordânia, Polônia, Romênia e Colômbia.

O centro brasileiro, Parceiros Brasil, foi criado a partir de uma verba generosa, doada pela GE Foundation para a criação de 10 novos centros da PDCI pelo mundo. A fundadora da or-ganização, Gabriela Asmar, vem promovendo a Mediação e ou-tros métodos colaborativos há mais de 15 anos no Brasil. Nesta longa caminhada, Gabriela foi contemplada com o Prêmio In-novare 2009 (categoria advocacia).

Dentre as áreas de atuação da rede PDCI, o Parceiros Brasil elegeu como prioridades, a partir de um longo diagnós-tico em nível nacional, programas que ajudem os indivíduos em formação a compreenderem e potencializarem sua capaci-dade decisória, e, consequentemente, o protagonismo na esco-lha de seu destino. Além deste objetivo de suma importância, a redução da violência nas escolas mostrou-se urgente. Para atender ao importante e ao urgente, desenvolvemos um pro-grama de Resolução de Conflitos nas Escolas. Também tra-balhamos com resolução colaborativa de conflitos em outros tipos de organizações.

Dentre os resultados que já podemos comprovar, destacamos:

• o protagonismo alcançado por alguns jovens, como o aluno que era analfabeto funcional e após protagonizar uma mediação bem sucedida, desbloqueou sua auto--confiança e começou a escrever;

• a mudança positiva do clima escolar, com os alunos mediadores se sentindo responsáveis por ajudar outros a resolverem suas diferenças na hora do recreio; e

• a multiplicação destas práticas para além dos muros da escola (relações dos estudantes atendidos com suas fa-mílias, amigos e a comunidade em geral), como relatado por diversos alunos que diminuíram suas brigas com ir-

mãos e pais e passaram a ter mais tempo para estudar e outros que evitaram brigas entre adultos da família.

Em outubro de 2013, recebemos o certificado de tecnolo-gia social pela Fundação Banco do Brasil devido à metodolo-gia de Resolução de Conflitos nas Escolas utilizada no Projeto Educação para a Paz. Esta pode ser considerada uma tecnolo-gia social, por operacionalizar comportamentos, com um novo padrão de consciência, para tornar as interações humanas mais produtivas e sustentáveis.

Em 2014, com a parceria com a Association INSCRIRE, o Projeto Educação para a Paz realizou a confecção do mural “Viver em Paz. Como? Morrer em Paz” na Escola Municipal Mal. Mascarenhas de Moraes. O trabalho da artista plástica, ar-quiteta e fundadora da associação INSCRIRE, Francoise Schein é reconhecido nacional e internacionalmente.

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O Projeto Educação Para a Paz

Desde 2011, o Projeto Educação para a Paz (EPP), desen-volvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e patrocinado pela Petrobras, está presente nas escolas da rede municipal, localizadas em áreas de alta vio-lência urbana, recém ou não pacificadas (Cajú, Complexo da Maré, Penha, Guadalupe e Magalhães Bastos, Vidigal). Nossos resultados, qualitativos e quantitativos, demonstram que afe-tamos positivamente o ambiente escolar, prevenindo conflitos e reduzindo a violência por meio de habilidades de convivên-cia pacífica e práticas de Resolução de Conflitos nas Escolas (RCE). Chegamos agora ao final do 3º ano deste trabalho.

Atuamos num total de 12 escolas. A escolha das escolas foi feita dentre aquelas que se situavam na Maré ou eram esco-las de período integral em regiões desafiadoras. Após partici-

parem de um evento de sensibilização sobre as metodologias de resolução de conflitos, as diretoras destas escolas podiam optar por participar ou não, e era nosso requisito apenas tra-balhar onde houvesse engajamento da direção. Como mostra a experiência internacional, o exercício da opção pela partici-pação é fundamental para que os resultados alcançados sejam sustentáveis para além do tempo do projeto.

Em 2012, 2013 e 2014, ampliamos continuamente as oportunidades para professores e alunos aprenderem e pratica-rem formas pacíficas de manejo das diferenças. Os programas de RCE também são uma plataforma para a construção de ha-bilidades para todas as relações, pessoais e profissionais, que os alunos desenvolverão ao longo de suas vidas.

O Projeto EPP requer o envolvimento de professores, alunos, e demais membros da comunidade escolar, na cria-ção de um ambiente seguro de aprendizagem e promoção de uma cultura de paz. Os objetivos são alcançados através da aquisição e aplicação de habilidades de comunicação efetiva e não-violenta, gerenciamento de emoções, negociação cola-borativa e mediação. Nossa metodologia inclui o componente fundamental de mediação entre alunos, que oferece aos estu-dantes uma nova opção para resolver conflitos enquanto de-senvolve sua capacidade de assumir responsabilidades e de decidir sobre as questões que os afetam.

Ao longo do ano, realizamos as seguintes atividades:

• Eventos de sensibilização sobre o Projeto para diver-sos membros da comunidade escolar;

• Formação de professores e alunos em habilidades para o diálogo, comunicação não-violenta, negociação cola-borativa e demais técnicas de RCE (Currículo Básico);

• Estruturação do Programa de Mediação entre Alunos em cada escola: (i) seleção de alunos mediadores; (ii) formação específica em mediação entre alunos; (iii) planejamento, junto à diretoria e corpo docente, do processo de encaminhamento de casos de conflito à mediação; (iv) divulgação do processo à toda a comu-nidade escolar; (v) acompanhamento das mediações

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realizadas; (vi) suporte aos alunos mediadores.• Eventos de troca de experiências entre diferentes ato-res das comunidades escolares.

Para construir um programa forte e sustentável, contamos com o apoio e reforço da administração, de professores e pais/responsáveis. Estes vêm relatando melhorias e avanços nítidos de comportamentos dentro e fora do ambiente escolar, princi-palmente nos alunos mediadores.

Projetos como este, que visam promover profundas mu-danças sistêmicas de comportamento, requerem tempo maior para que os resultados cheguem a um nível sustentável. Este é um Projeto que deve se converter em Programa, política públi-ca, até que os estudantes mais velhos possam se tornar exem-plos para os menores, perpetuando o ciclo de aprendizado. Con-tinuamos trabalhando nesta direção.

Metodologia

O Parceiros Brasil desenvolve e aplica metodologias basea-das em Mediação de Conflitos e na linha behaviorista da psicolo-gia para ensinar crianças, jovens e adultos, de diversos segmentos da sociedade, a prevenir e resolver conflitos de forma positiva. Mais que um método de resolução de conflitos, a mediação é uma tecnologia social capaz de cuidar dos laços afetivos, familiares e sociais, além de resolver os problemas que afetam o dia a dia nas escolas. A mediação habilita as pessoas a assumirem sua parcela de responsabilidade (binômio poder /dever) nas questões que as envolvam. As habilidades desenvolvidas possibilitam, assim, a convivência respeitosa com as diferenças, a expressão de senti-mentos e interesses num ambiente de confiança, o desenvolvi-mento de soluções criativas para situações complexas e a tomada de decisões informadas e sustentáveis.

Para mais informações, por favor consulte nossas publi-cações acerca dos 1º e 2º anos do Projeto Educação para a Paz.

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Depoimento na Seleção de Mediadores na Lima Barreto (jul 2014):

“Quero ser mediadora pelo simples motivo que eu posso ajudar outras pessoas e com minha ajuda elas podem se tornar pessoas melhores e levar nos-sa mediação por toda vida”

Ana Beatriz 1802, 14 anos, Lima Barreto

“Porque eu quero ajudar ao próximo, mas muito também porque quero levar isso para o meu lar”

Laryssa Moreira turma 1802,14 anos, Lima Barreto

Projeto com a Association INSCRIRE

Entrevista de Seleção na E.M. Josué.

“Nosso encontro com Parceiros Brasil não se deu por acaso. Ele é a inevitável conjunção de dois sólidos percursos e de dois métodos educativos confirmados, que se aliam para continuar a avançar juntos na construção de uma sociedade de paz, de respeito e de cidadania sem conflito.

Conhecer os direitos humanos e praticar a mediação de-senvolve a confiança do saber viver juntos. Desde 1989, quando da celebração do bicentenário da Revolução Francesa, comecei a construir uma rede mundial de obras monumentais de arte pública para difundir para o maior número de pessoas as per-guntas contidas nos textos dos Direitos fundamentais. Sozinha, enquanto artista, e em seguida com diversas equipes ao redor do mundo, elaborei um programa de ensino permitindo obter ao mesmo tempo um alto nível pedagógico e a criação de obras de arte públicas de grande qualidade, sustentáveis e perenes.

Este trabalho baseia-se na certeza de que a construção de uma sociedade forte, cívica e respeitosa se dá necessariamente na escola, passagem obrigatória para todas as crianças do mun-do. Ensinar a resolução de conflitos através da mediação e os di-reitos e deveres dos homens na sociedade contemporânea deve ser uma prioridade em todos os lugares, porque nos ensina a importância fundamental do viver juntos.

Nosso encontro com Parceiros Brasil não é acidental, mas a vinculação natural de métodos de ensino complementa-res inscrevendo-se de forma indelével e histórica no coração do povo e das cidades do mundo”.

Paris, 8 de setembro 2014

Françoise Schein – Association INSCRIRE(Tradução do françês Betina Zalcberg)

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No dia 13 de agosto de 2014, os alunos da Escola Muni-cipal Mal. Mascarenhas de Moraes, selecionados para partici-par da confecção do mural de Direitos e Deveres Humanos, do Projeto INSCRIRE em parceria com Parceiros Brasil, receberam a visita do Exmo. Desembargador Siro Darlan. Nesse dia, o pro-jeto foi apresentado aos alunos, professores e direção da escola por Gabriela Asmar, do Parceiros Brasil, e Phillipe Nothomb, da Association INSCRIRE. Após a apresentação, o Des. Siro Darlan realizou um breve discurso, pontuando a importância do conhecimento sobre os direitos humanos e a mediação de conflitos na formação dos jovens brasileiros.

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No 2º encontro, os alunos selecionados elaboraram os de-senhos que transmitem o que, para eles, são os aspectos prin-cipais da intercessão entre Direitos Humanos e Mediação de Conflitos. Os alunos foram divididos em três grupos, com os seguintes temas: “Viver em Paz”, “Como?” e “Morrer em Paz”. No grupo encarregado de desenhar o “Como?”, se concentraram os alunos mediadores da escola, que puderam registrar em dese-nhos as ferramentas aprendidas no Projeto Educação para a Paz.

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Em um 3º encontro, os desenhos feitos pelos alunos na semana anterior foram repassados para ladrilhos brancos, desta vez com pinceis e tinta preta. Tais ladrilhos, já pintados, passa-ram posteriormente por um processo de aquecimento em forno, com sua consequente eternização. Os desenhos assim tratados estarão expostos no muro da E.M. Mal. Mascarenhas de Moraes por muitos e muitos anos, para que todos que por ali passam possam usufruir da arte inovadora e surpreendente do Proje-to com a Association INSCRIRE com a colaboração dos alunos participantes e do Projeto Educação para a Paz.

© Françoise Schein Association INSCRIRE

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Inauguração do mural “Viver em Paz. Como? “Morrer em Paz.”

No dia 30 de setembro de 2014, inauguramos o mural jun-to com a equipe INSCRIRE, nossos alunos, professores e dire-ção da E. M. Mal. Mascarenhas de Moraes, além dos convidados ilustres como o Exmo Sr. Desembargador Siro Darlan, o Sr. Ber-nard C. Quintin, Consul Geral da Bélgica, a Sr. André Ramos, representando a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Sra. Monica Alkmin, Presidente do CEDCA, represen-tantes do Instituto Pereira Passos, do Gabinete Civil da Prefeitu-ra do RJ e da 1ª CRE.

Foi um lindo fechamento, com “chave de ouro” para o 3º ano do Projeto Educação para a Paz. A arte de Françoise Schein e a colaboração de nossos alunos aprofunda e pereniza, para toda a comunidade, o que semeamos dentro da escola. Esperamos que este seja o 1º de muitos trabalhos conjuntos entre Françoise Schein e Parceiros Brasil, Direitos Humanos e Mediação de Conflitos.

A aluna Thayany Yohana R.F., do 9º ano, nos disse: “Esse projeto foi realmente incrível, pois foi uma ótima maneira de expressar nossas opiniões sobre um determinado assunto, sem contar que foi uma experiência única, que levaremos para o resto da vida”.

Anna Julia Duarte, do 8º ano, que também participou do programa de mediação entre pares, relatou: “Bom, com o projeto da mediação que ocorreu aqui na escola, eu tive a oportunidade de aprender muitas coisas e uma delas foi resolver minhas próprias situações. Com o projeto do muro eu pude ver que sim, temos que ter os nossos direitos e respeitar as diferenças de todos.”

Felipe da Costa Alves, do 9º ano, nos escreveu: “Eu achei o projeto muito bom, mas que pena que acabou. Recomendo para todos.”.

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“O que temos observado é que a aprendizagem dos alunos depende muito do ambiente, de como o aluno se sente acolhido, se sente incluído, representado.”

Formatura dos Alunos Mediadores 2013

Essa é uma tradição que se mantém e se renova. No dia 16 de julho, os 49 alunos que concluíram o “Curso de Mediação en-tre Pares” em 2013 e, aceitaram continuar exercendo essa função em 2014, receberam o seu certificado de conclusão de curso em cerimônia realizada no Auditório do Ministério Público do Rio de Janeiro, tendo como “madrinhas” do evento a coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Educação, Bianca Mota de Moraes, e a subcoordenadora do Grupo de Me-diação e Resolução de Conflitos (GMRC), Eliane de Lima Pereira.

A diretora-executiva do Parceiros Brasil, Gabriela Asmar fez o discurso de abertura da cerimônia agradecendo o apoio e o interesse que o projeto recebeu do Ministério Público, a par-ceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janei-ro, representadas no ato pela Prof. Sueli Pontes Gaspar, Gestora do Programa Escolas do Amanhã, Monica Coelho, Gestora do Programa das Escolas de Horário Integral, e a Diretora Isa da Conceição Pinna, da E.M. Lima Barreto. Na oportunidade Ga-briela Asmar destacou a relevância do patrocínio da Petrobrás – Petróleo Brasileiro S.A. que viabilizou a implantação e a con-tinuidade do projeto.

Trecho do Depoimento da Dra. Eliane de Lima Pereira (MP)

“Isso (esse Projeto Educação para a Paz) vai se expandir comunitariamente e esse efeito multiplicador, para mim, é o que há de mais importante... e queremos atestar a responsabilidade de todos os alunos de serem os operadores da utopia, os mediadores de conflitos.”

Trecho do Depoimento da Dra. Bianca Mota de Moraes (MP)

“O importante é propagar o que eles aprenderam (no Projeto Educação para a Paz) para os colegas deles, para suas famílias, que eles sejam positivos nos ambientes em que eles estiverem.”

Trecho do Depoimento da Profa. Isa da Conceição Pinna (Diretora E. M. Lima Barreto)

Trecho do Depoimento da Professora Sueli Pontes Gaspar

“Conta-se que dois homens trabalhavam arduamente para salvar crianças, no encontro de um rio com o mar. Eram crianças que haviam caído ou sido jogadas no rio, ao longo de seu curso. Conseguiam salvar algumas, mas não todas, por mais que se esforçassem... Certo dia, um dos homens disse ao outro: “Eu vou subir pelas margens do rio.”. E o outro replicou: “Mas como? Já é tão difícil salvar as crianças com nós dois aqui. Sem você será muito mais difícil!”. O primeiro então explicou: “Eu vou rio acima, para evitar que as crianças caiam.” O Projeto Educação para a Paz é uma importante ação “rio acima”. Precisamos de muita gente evitando que nossas crianças caiam no rio. Obrigada!”

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Epílogo

O Projeto Educação para a Paz (EPP), ao longo de três anos (2011 a 2014), esteve presente em 12 escolas públicas do Municí-pio do Rio de Janeiro e beneficiou diretamente 3797 crianças, con-templando uma parcela da população residente em algumas áreas marcadas pela violência e pelos conflitos armados. Formamos 86 alunos mediadores. O total de pessoas sensibilizadas ou treinadas, incluindo outros eventos aos quais fomos convidados graças à ex-periência do EPP ultrapassou 6000.

A metodologia adotada pelo Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos, baseada na experiência da mediadora e educadora norte-americana, Gail Sadalla em diversos países, foi adaptada aos nossos costumes e necessidades e revelou-se um ins-trumento valioso na disseminação da cultura da paz.

Ao longo desse tempo o Parceiros Brasil vivenciou diferentes etapas no percurso do projeto: desenho do processo, obtenção de patrocínio, obtenção do apoio e interação com a Secretaria Mu-nicipal de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro, seleção das escolas, elaboração dos planos de trabalho com as diretoras de cada escola, simultaneamente ao desenvolvimento dos recursos didáti-cos e recrutamento, seleção e treinamento de recursos humanos es-pecialmente adaptados para essa tarefa, apresentação do projeto às comunidades escolares, angariamento de apoio de seus principais personagens, o ensino das técnicas de resolução de conflitos aos alunos, recrutamento, seleção e treinamento dos alunos mediado-res e, por fim, a implantação do sistema de mediação entre pares, com a participação de um professor âncora para dar suporte à ação dos alunos mediadores.

Nenhum desses desafios se compara àquele que enfrenta-mos ao final de todo o processo: dar sustentabilidade ao seu pro-pósito, para que todo o esforço coletivo não se perca a cada inicio de ano escolar.

O Projeto Educação Para a Paz em números

O Projeto Educação para a Paz tem vários indicadores de desempenho, avaliados segundo dois critérios básicos: crono-grama de realização da ação e as metas quantitativas e qualitati-vas a serem cumpridas. A tabela abaixo evidencia os principais indicadores quantitativos:

Atividade Resultado

Número total de pessoas treinadas 6.131

Participantes cadastrados no Sistema Petrobras 3.797

Eventos de sensibilização 106

Escolas atendidas 12

Turmas atendidas 158

Professores capacitados em RCE 166

Visitas realizadas às escolas 964

Alunos treinados em Mediação entre Pares 147

Alunos Mediadores 86

Mediações entre Pares realizadas 37

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Essa publicação contempla uma feliz união entre o útil e o agradável, no intuito não só de resguardar a memória de to-dos esses passos caminhados em conjunto, mas, sobretudo, de deixar uma recordação didática das principais ferramentas da mediação, a serem utilizadas no cotidiano da escola para resolu-ção de seus conflitos: visitar o lugar do outro, a paráfrase, a fala na primeira pessoa, a separação das posições dos interesses, a criatividade na busca de novas alternativas.

Aqui cabe uma reflexão maior sobre a pedagogia do ensi-no adotada pelo Parceiros Brasil. As primeiras aulas são voltadas no sentido de gerar um elo de empatia entre os facilitadores e os alunos, buscando descobrir e atendê-los em suas individualida-des, reconhecendo-os como pessoas, sem rótulos ou pré-concei-tos, ao mesmo tempo em que se inicia o aluno no aprendizado do binômio direito/dever, que estará presente ao longo de todo o curso. Nesse sentido, a definição das regras de comportamen-to que nortearão a conduta futura de facilitadores e alunos, são co-construídas, tornando-se um marco referencial durante todo o ano letivo.

O segundo momento é dedicado à descoberta dos senti-mentos e visão de mundo. Porque eles se importariam com o que o outro sente, com o que o outro pensa? Porque construir relações duradouras? Perguntas que só encontram respostas quando a palavra sentimentos ecoa dentro do aluno e quan-do o futuro existe. Em uma vida conquistada a cada instante, seja para conseguir alimento ou um produto de marca, seja para enfrentar o adversário mais forte ou se refugiar de tiros maldados e balas perdidas, há, normalmente, muito pouco espaço em nossas vidas para reflexões sobre sentimentos ou projeção de futuro.

O resgate das relações começa exatamente com esses pri-meiros passos: a geração de um afeto mínimo, a compreensão de que somente podem haver direitos quando se tem deveres e ambos são decorrentes de nossas ações e decisões; o reconheci-mento de si mesmo como uma pessoa que tem dores, carências e pode ter outras alegrias que não aquelas sustentadas pelo con-sumo; e o crédito em si mesmo, nas suas potencialidades como ser humano e a possibilidade de ter uma vida diferente daquela vivida até então.

A partir dessa base social-emocional inicia-se então todo um trabalho de empoderamento, utilizando a comunica-ção como ferramenta. As estatísticas não refletem nem alcan-çam a força das convicções expressas pelas crianças em seus depoimentos nos vídeos. Seus relatos em movimento dão uma dimensão mais aproximada da complexa transformação que ocorre em seu mundo.

Segue-se então o repasse das técnicas de resolução de con-flitos e se provê o aluno de ferramentas para negociação colabo-rativa e construção de consenso. Concluída essa etapa, inicia-se então a formação de alunos mediadores, a partir daqueles que desejaram realizar essa atividade e tenham a confiança de seus colegas, tendo sido indicados por eles para essa função.

A primeira atividade é fixar o conceito de que o confli-to é uma ocorrência natural e a crise proveniente traz em seu bojo uma possibilidade de ganho, demovendo, pois, o medo que envolve o confronto de diferenças. O aluno mediador en-tende que o primeiro passo em sua tarefa é criar um clima de respeito e confiança entre os companheiros envolvidos no con-flito. São orientados a não julgar, a serem imparciais e a terem a paciência necessária para ouvi-los e incentivá-los a serem criativos na busca da solução, sem interferir com conselhos ou advertências. Interessante que nesse momento eles geram também um contrato de convivência entre os envolvidos: não interromper a fala do outro, não agredir fisicamente, insultar ou ofender a outra parte. Assumir a verdade interior como bússola que os orientará nas suas expressões, falando o que sabem e o que sentem e, sobretudo, também os tornando livres para fazer suas escolhas e decisões de participar ou não desse processo. Aprendem a parafrasear as falas dos participantes de forma a tornar audível a outra parte das respostas dadas. As perguntas estratégicas são o mais importante:

• Você pode nos dizer o que aconteceu? • Como você se sentiu e porquê? • O que isso significa pra você? • Como isto está te afetando?• Do que você precisa para resolver esta questão?

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• De que forma você pode evitar que isso aconteça? • Da próxima vez que isso acontecer o que você fará?, etc...

Busca-se, então, o domínio das reações automáticas e apreendidas no cotidiano violento, dando espaço à aceitação e comportamentos mais reflexivos, com causalidade, com antes e depois presentes em cada decisão que afeta ao outro, mas sobre-tudo afeta a si mesmo.

Simultaneamente, temos o desenvolvimento de uma sen-sibilidade especial para as situações em que o outro é aceito, ou-vido, que também se expressa e se sente compreendido, criando um contexto colaborativo, onde todos buscam uma solução com a qual todos possam conviver.

Isso é o que temos realizado. Nessa publicação registramos a complementação do esforço conjunto, ao trazer a arte como ins-trumento de apuro da sensibilidade, reforçando a disseminação e lembrança de uma outra forma de se tratar as diferenças entre as pessoas, possibilitando um contexto mais colaborativo.

O mural construído, em parceria com a Association INS-CRIRE, permitiu aos alunos refinar sua estética e sensibilidade além da palavra, dando uma conotação gráfica àquilo que até então expressaram verbalmente. Realizaram uma atividade em que o outro está presente e é ouvido, ao trabalhar em duplas. Igualmente, ao fazer o mural, derrogam a curva do esquecimen-to, natural em todo aprendizado, a um tempo mais distante.

A disposição do mural na entrada da escola fica como um lembrete permanente, visto à todos os instantes, ao início ou tér-mino da jornada escolar, reavivando o mapa mental de um outro contexto que foi possível ser criado e vivenciado por todos eles, e que pode ser reproduzido infinitamente.

Essa é uma lembrança poderosa, porque reforça sutilmen-te o comportamento aprendido, permeando os condicionamen-tos antigos e buscando realizar um futuro melhor, dando susten-tabilidade a iniciativa da Educação para a Paz.

Carlos Henrique Carneiro Parceiros Brasil

Jardim Botânico

Mural cedido pela E.M. Lima Barreto

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Mural cedido pela E.M. Lima Barreto

Reunião de equipe

Treinamento interno

Treinamento interno

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Realização: