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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS ATOS ILICITOS DOS FILHOS MENORES LUIZ EDUARDO BALDISSARELLI DECLARAÇÃO “DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”. ITAJAÍ (SC), _____ de ___________ de 20____ . ___________________________________________ Professor (a) Orientador (a): Luciana de Carvalho Paulo Coelho UNIVALI Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS ATOS ILICITOS DOS FILHOS MENORES

LUIZ EDUARDO BALDISSARELLI

DECLARAÇÃO

“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.

ITAJAÍ (SC), _____ de ___________ de 20____ .

___________________________________________ Professor (a) Orientador (a): Luciana de Carvalho Paulo Coelho

UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS ATOS DOS FILHOS MENORES

LUIZ EDUARDO BALDISSARELLI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Luciana de Carvalho Paulo Coelho

Itajaí, 26 de maio de 2015

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AGRADECIMENTO

A Deus, fonte suprema de todo saber. À minha

família, pela confiança que depositaram em mim. À

minha Professora Orientadora, Luciana de Carvalho

Paulo Coelho, norte seguro na orientação deste

trabalho. Aos Professores do Curso de Direito da

Universidade do Vale do Itajaí, campus de Itajaí, que

muito contribuíram para a minha formação jurídica.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões

para a realização deste trabalho. Aos colegas de

classe, pelos momentos que passamos juntos e

pelas experiências trocadas. A todos que, direta ou

indiretamente, contribuíram para a realização desta

pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Este é o resultado da compreensão, carinho e

respeito da minha família. A vocês, dedico este

trabalho.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 26 de maio de 2015

Luiz Eduardo Baldissarelli Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Luiz Eduardo Baldissarelli, sob o título

Responsabilidade Civil dos Pais pelos atos dos Filhos Menores, foi submetida em

_________ à banca examinadora composta pelos seguintes

professores:__________________________________________________________

_____________________________, e aprovada com a nota

___________________.

Itapema, 26 de maio de 2015

Professora Msc. Luciana de Carvalho Paulo Coelho Orientador e Presidente da Banca

Professor_________________________________ Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

art. CC/1916

Artigo Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 CRFB/88 Des. ECA ed. nº p. rel. STF STJ TJRS TJSC

Código Civil Brasileiro de 2002 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Desembargador Estatuto da Criança e do Adolescente Edição Número Página Relator Supremo Tribunal Federal Superior Tribunal de Justiça Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ato Ilícito

O ato ilícito consiste no descumprimento de um dever legal ou de uma obrigação

contratual, ou na simples inobservância do dever geral de cuidado. Desrespeitar a

lei, o contrato ou o dever geral de cuidado é um comportamento contrário ao direito

e, por conseguinte, consubstancia-se em um ato antijurídico, ou ilícito1.

Culpa

A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém,

em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligencia ou cautela,

compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em

sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligencia, sem

qualquer deliberação de violar um dever2.

Dano

Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral

ou material, ou melhor, econômico e não econômico. A noção de dano sempre foi

objeto de muita controvérsia. Na noção de dano está sempre presente a noção de

prejuízo. Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona dano. Somente

haverá possibilidade de indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano.

Cuida-se, portanto, do dano injusto, aplicação do princípio pelo qual a ninguém é

dado prejudicar outrem3.

Filiação

1 LEOCADIO, Carlos Afonso Leite. Responsabilidade civil na gestão de qualidade: uma estratégia

multidisciplinar de prevenção do dano. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 63.

2 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. 21. ed. rev., atual. de acordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 41.

3 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 29.

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Em sentido estrito, filiação é a relação jurídica que liga o filho a seus pais. É

considerada filiação propriamente dita quando visualizada pelo lado do filho.

Encarada em sentido inverso, ou seja, pelo lado dos genitores em relação ao filho, o

vínculo se denomina paternidade ou maternidade4.

Filiação Biológica

Na filiação biológica, os pais são os genitores; as pessoas identificadas como pai e

mãe no registro de nascimento foram os fornecedores dos gametas empregados na

concepção da pessoa, ocorrida in vitro ou in útero5.

Filiação Pluriparental

Para o reconhecimento da filiação pluriparental, basta flagrar o estabelecimento do

vínculo de filiação com mais de duas pessoas. As hipóteses já se apresentam na

sociedade, não se justificando que a justiça deixe de ver esta realidade6.

Filiação Registral

Essas modalidades de reconhecimento referem-se ao pai e à mãe, embora sua

utilidade mais frequente seja para o pai. A maternidade estabelece-se de forma mais

cabal e perceptível, pela evidencia e maternidade da gravidez e do parto, mas pode

ocorrer de indicação do nome da mãe no registro nos casos de recém-nascidos

abandonados ou expostos, por exemplo7.

Filiação Socioafetiva

A filiação socioafetiva compreende a relação jurídica de afeto, como o filho de

criação, quando comprovado o estado de filho afetivo (posse de estado de filho), a

4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume VI: direito de família. 4. ed. São

Paulo: Saraiva, 2007, p. 281.

5 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, família, sucessões, volume 5. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 165.

6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 339.

7 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. p. 246.

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adoção judicial, o reconhecimento voluntário ou judicial da paternidade ou

maternidade e a conhecida “adoção à brasileira”8.

Poder Familiar

Não se trata do exercício de uma autoridade, mas de um encargo imposto por lei

aos pais. O poder familiar é sempre trazido como exemplo da noção de poder-

função ou direito-dever, consagradora da teoria funcionalista das normas de direito

das famílias: poder que exercido pelos genitores, mas que serve ao interesse do

filho9.

Responsabilidade Civil

Pode ser definida como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar

dano material ou moral causado a terceiros, em razão de ato ou fato ou, ainda, de

simples oposição legal10.

[Nome Categoria]

Conceito categoria

Obs. Caso não utilize o rol de categorias, faça um parágrafo na introdução dizendo

que as categorias fundamentais para a monografia, bem como.

8 WELTER, Belmiro Pedro. Do Poder Familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da

Cunha. Direito de Família: e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 156.

9 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 384.

10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 34.

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SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................ 133

CAPÍTULO 1 ................................................................................... 166

DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.6

1.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ...... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.6

1.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ....... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.7

1.2.1 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL . ERROR! BOOKMARK

NOT DEFINED.8

1.2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DIRETA E INDIRETA ................................................... 21

1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE ...... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

1.3.1 ATO ILÍCITO ................................................................................................... 22

1.3.2 CULPA .......................................................................................................... 23

1.3.3 DANO ............................................................................................................ 26

1.3.3.1 Dano material .....................................................................................................28

1.3.3.2 Dano moral .........................................................................................................29

1.3.4 NEXO CAUSAL ............................................................................................... 30

1.3.5 CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA ............................ ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

1.3.6 CASO FORTUÍDO E FORÇA MAIOR .................................................................... 33

1.3.7 ESTADO DE NECESSIDADE, LEGÍTIMA DEFESA, EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO, ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL ................................................................. 34

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 36

FILIAÇÃO E PODER FAMILIAR ....................................................... 36

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xi

2.1 CONCEITO DE FILIAÇÃO ............................................................................. 36

2.1.1 FILIAÇÃO BIOLÓGICA ...................................................................................... 39

2.1.2 FILIAÇÃO REGISTRAL...................................................................................... 40

2.1.3 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA ................................................................................. 42

2.1.4 FILIAÇÃO HOMOPARENTAL .............................................................................. 42

2.1.5 FILIAÇÃO PLURIPARENTAL .............................................................................. 43

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PODER FAMILIAR ........................................ 43

2.3 CONCEITO E TITULARIDADE DO PODER FAMILIAR . ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

2.3.1 DIREITOS E DEVERES INERENTES AO PODER FAMILIAR ...................................... 48

2.3.2 SUSPENSÃO, DESTITUIÇÃO E EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR ............................. 50

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 53

DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS FILHOS ......... 53

3.1 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS FILHOS ................................. 53

3.2 EMANCIPAÇÃO ............................................................................................ 63

3.2.1 EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA ........................................................................... 64

3.2.2 EMANCIPAÇÃO JUDICIAL ................................................................................. 65

3.2.3 EMANCIPAÇÃO LEGAL .................................................................................... 65

3.2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL NA EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA ................................ 66

3.2.5 RESPONSABILIDADE CIVIL NA EMANCIPAÇÃO LEGALERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

3.3 DIREITO DE REGRESSO DOS PAIS CONTRA OS FILHOS ....................... 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 71

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 73

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RESUMO

O presente trabalho possui como objeto o estudo da Responsabilidade Civil dos pais pelos atos praticados pelos filhos. Como objetivo geral, buscou o presente trabalho apresentar o atual entendimento legal, doutrinário e jurisprudencial sobre o tema. Para tanto, o trabalho monográfico foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo cuidar-se-á da responsabilidade civil, sua definição espécies e principais pressupostos, quais sejam: o ato ilícito, a culpa, o dano e o nexo causal. No segundo capítulo, analisar-se-á a filiação e o poder familiar, com o estudo do conceito de ambos os institutos, além das espécies de filiação, do histórico, conceito e titularidade do poder familiar. Por fim, no derradeiro e terceiro capítulo, estudar-se-á sobre a responsabilidade civil dos pais pelos filhos menores, analisando-se o entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o tema. Na elaboração da pesquisa foi utilizado na fase de investigação o método indutivo de análise sobre a pesquisa bibliográfica, na fase de tratamento de dados foi utilizado o método cartesiano.

Palavras-chave: Responsabilidade civil; Filiação; Poder familiar.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a responsabilidade

civil dos pais pelos atos dos filhos menores.

O seu objetivo é analisar a luz da doutrina, da lei e da

jurisprudência os principais aspectos da responsabilidade civil dos pais pelos atos

dos filhos menores.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da

Responsabilidade civil, a qual é entendida como a aplicação de medidas que

obriguem alguém a reparar dano material ou moral causado a terceiros em razão de

ato ou fato ou, ainda, de simples imposição legal.

A responsabilidade civil poderá ser contratual, quando derivar

de um contrato ou extracontratual, quando for resultante da violação de um dever

legal de abstenção. Poderá, também, ser direta ou indireta, dependendo se a

conduta é proveniente da própria pessoa que o pratica ou de terceiro,

respectivamente.

Para caracterização da responsabilidade civil lato sensu são

necessários os seguintes pressupostos: ato ilícito, culpa, dano (material ou moral) e

nexo de causalidade. Poderá excluir ou diminuir a responsabilidade do agente: a

culpa exclusiva da vítima; o caso fortuito ou força maior; o estado de necessidade; a

legítima defesa; o exercício regular de um direito; e, o estrito cumprimento de dever

legal.

No Capítulo 2, tratando da filiação e do poder familiar. A filiação

é entendida como o vínculo existente entre pais e filhos e pode ser dividida nas

seguintes espécies: filiação biológica; filiação registral; filiação socioafetiva; filiação

homoparental; e, filiação pluriparental.

O poder familiar, por sua vez, é o conjunto de direitos e

deveres atribuídos aos pais, em relação a pessoa e aos bens dos filhos menores,

tendo em vista a proteção destes.

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No Capítulo 3, tratando da responsabilidade civil dos pais pelos

filhos, com os principais entendimentos da doutrina e da jurisprudência dos tribunais

superiores, além de apontar se há responsabilidade civil na emancipação voluntária

e legal do menor.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

Hipótese 1: Para a caracterização da responsabilidade civil não

se faz necessária a presença de todos os pressupostos a ela inerentes, bastando,

para tanto, a existência de um dano.

Hipótese 2: Atualmente, a CRFB/88 admite todas as formas

possíveis de família, proibindo, inclusive, qualquer distinção entre filhos havidos

dentro ou fora do casamento, assim como entre filhos biológicos ou adotivos.

Hipótese 3: Os pais respondem civilmente pelos atos dos filhos

menores, com exceção dos menores emancipados legalmente, os quais passam a

responder por seus atos. Caso o filho tenha sido emancipado voluntariamente, os

pais continuam a responder, solidariamente, pelos atos por eles praticados.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação11 foi utilizado o Método Indutivo12, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano13, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

11 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

12 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

13 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-

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15

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente14, da Categoria15, do Conceito Operacional16 e da Pesquisa

Bibliográfica17.

26.

14 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

15 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

16 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

17 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.

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CAPÍTULO 1

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

O presente capítulo tem como objetivo delimitar o conceito e as

principais características e nuances da responsabilidade civil para, posteriormente,

estudarmos sua aplicação ao direito de família.

1.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O termo responsabilidade civil nos leva a noção de violação de

uma norma jurídica, devendo o seu agente reparar o dano causado.

Nestes termos discorrem Gagliano e Pamplona Filho18:

[...] a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às consequências do seu ato (obrigação de reparar).

Diniz19 explica que:

O vocábulo “responsabilidade” é oriundo do verbo latino respondere, designando o fato de ter alguém se constituído garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais. [...] o que nos interessa, ao nos referirmos à responsabilidade, é a circunstância da infração da norma ou obrigação do agente. A responsabilidade serviria, portanto, para traduzir a posição daquele que não executou o seu dever.

18 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 53.

19 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 33.

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17

Assim, a responsabilidade civil pode ser definida como a

aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano patrimonial ou moral

causado a terceiros em razão de ato ou fato ou, ainda, de simples imposição legal20.

Define Gonçalves21 que “a responsabilidade civil decorre de

uma conduta voluntária violadora de um dever jurídico, isto é, da prática de um ato

jurídico, que pode ser lícito ou ilícito. Ato jurídico é espécie de fato jurídico”.

A responsabilidade civil deriva então, da agressão a um

interesse eminentemente particular, sujeitando, desta forma, o infrator, ao

pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in

natura o estado anterior das coisas22.

Desta forma, vislumbra-se que a responsabilidade civil é

instituto que visa a reparação de um dano causado, decorrente do ato de um agente,

o qual deverá compensar a vítima.

1.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A doutrina apresenta uma classificação para a

responsabilidade civil dividindo-a em espécies, quais sejam: responsabilidade

subjetiva e objetiva; responsabilidade direta e indireta; e, responsabilidade contratual

e extracontratual ou aquiliana.

No presente trabalho monográfico, serão analisadas apenas a

responsabilidade civil contratual e extracontratual e a responsabilidade civil direta e

indireta, pela relação que possuem com o tema objeto do trabalho, conforme

exposto a seguir.

20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 34.

21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 13.

22 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 53.

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1.2.1 Responsabilidade civil contratual e extracontratual

A responsabilidade civil contratual e extracontratual são assim

classificadas devido ao seu fato gerador23.

Esclarece Venosa24 que:

A grande questão nessa matéria é saber se o ato danoso ocorreu em razão de uma obrigação preexistente, contrato ou negócio jurídico unilateral. [...] nem sempre resta muito clara a existência de um contrato ou de um negócio, porque tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual com frequência se interprenetram e ontologicamente não são distintas: quem transgride um dever de conduta, com ou sem negócio jurídico, pode ser obrigado a ressarcir o dano.

Quando uma pessoa causa um prejuízo a outrem por

descumprir uma obrigação contratual, estará caracterizada a responsabilidade civil

contratual25.

É resultante da inexecução de negócio jurídico bilateral ou

unilateral, resultante de ilícito contratual. Está evidenciada no dever especial

estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso pressupõe capacidade para

contratar e decorre de relação obrigacional preexistente26.

Na responsabilidade contratual, pode-se presumir a culpa, pois

a própria parte se obrigou diretamente à obrigação, ora descumprida27.

Observa Venosa28 que “a doutrina contemporânea, sob certos

aspectos, aproxima as duas modalidades, pois a culpa vista de forma unitária é

fundamento genérico da responsabilidade. Uma e outra fundam-se na culpa”.

23 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 127.

24 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 18.

25 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 13.

26 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 127.

27 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 61.

28 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 18.

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Entretanto, na culpa contratual, o inadimplemento é analisado

como seu fundamento e os termos e limites da obrigação. Já na culpa extranegocial

ou aquiliana, leva-se em conta a conduta do agente e a culpa em sentido lato29.

Conforme leciona Diniz30, a responsabilidade contratual:

Baseia-se no dever de resultado, o que acarretará a presunção da culpa pela inexecução previsível e evitável da obrigação nascida da convenção prejudicial à outra parte. Só excepcionalmente se permite que um dos contratantes assuma, em cláusula expressa, o encargo da força maior ou caso fortuito.

Quando a responsabilidade não deriva de contrato, diz-se que

ela é extracontratual ou aquiliana, aplicando-se, conforme ensina Gonçalves31, o art.

186 do Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito”.

A responsabilidade contratual é prevista legalmente nos arts.

38932 do CC e art. 39533 do CC. Por outro lado, a responsabilidade extracontratual é

prevista no art. 186 a 18834 do CC e art. 92735 e seguintes do CC.

29 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 18.

30 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 127.

31 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 26.

32 Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

33 Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

34 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exerce-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo eminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, ao to será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

35 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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20

Na responsabilidade aquiliana, viola-se um dever

necessariamente negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém36.

Será extracontratual a responsabilidade civil, se resultante da

violação de um dever geral de abstenção pertinente aos direitos reais ou de

personalidade37.

Asseveram Gagliano e Pamplona Filho38 que:

Justamente por essa circunstância é que, na responsabilidade civil aquiliana, a culpa deve ser sempre provada pela vítima, enquanto na responsabilidade contratual, ela é, de regra, presumida, invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar, apenas, que a obrigação não foi cumprida, restando ao devedor o onus probandi, por exemplo, de que não agiu com culpa ou que ocorreu alguma causa excludente do elo de causalidade.

Ressalta Venosa39 que “no entanto, não existe na realidade

uma diferença ontológica, senão meramente didática, entre responsabilidade

contratual e aquiliana. Essa dualidade é mais aparente do que real”.

Na verdade, o que existe é um paradigma abstrato para o

dever de indenizar. O que não impede que se identifique claramente, na maioria dos

casos concretos, a responsabilidade derivada de um contrato, de um

inadimplemento ou mora, e aquela derivada de um dever de conduta, de uma

transgressão de comportamento40.

Assim, há uma zona limítrofe entre a responsabilidade

contratual e a responsabilidade aquiliana ou extracontratual, quando a existência de

um contrato não fica muito clara, como, por exemplo, na prestação de serviço de

transporte de ônibus41.

36 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 62.

37 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 129.

38 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 62.

39 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 19.

40 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 19.

41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 26.

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Vislumbra-se, assim, que a diferenciação principal entre a

responsabilidade contratual e a extracontratual é a existência de um contrato e a

comprovação da culpa, a qual será imprescindível no caso da responsabilidade

aquiliana.

1.2.2 Responsabilidade civil direta e indireta

A presente espécie de responsabilidade está diretamente

relacionada ao agente, ou seja, à pessoa que pratica a ação.

Segundo afirma Diniz42, a responsabilidade será:

a) direta, se proveniente da própria pessoa imputada – o agente responderá, então, por ato próprio; e, b) indireta ou complexa, se promana de ato de terceiro [...], com o qual o agente tem vínculo legal de responsabilidade, de fato de animal e de coisas inanimadas sob sua guarda.

Em regra, cada pessoa deve responder apenas por seus

próprios atos, ou seja, a responsabilidade civil deve ser a direta.

Contudo, excepcionalmente, também ocorre a

responsabilidade indireta, nos casos previstos nos arts. 932, 936 e 937 do CC,

conforme preceitua Alonso43.

É muito comum a aplicação da responsabilidade indireta no

direito ambiental, uma vez que geralmente o poluidor não pratica a conduta culposa

que causou o dano, mas pratica uma atividade de risco, sem a qual não teria

causado o dano44.

Analisadas as respectivas espécies de responsabilidade civil,

serão estudados nos próximos itens os principais elementos da responsabilidade

civil.

42 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 128.

43 ALONSO, Paulo Sérgio Gomes. Pressupostos da responsabilidade civil objetiva. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 19.

44 DESTEFENNI, Marcos. A responsabilidade civil ambiental e as formas de reparação do dano ambiental: aspectos teóricos e práticos. Campinas: Bookseller, 2005, p. 79.

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1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.3.1 Ato ilícito

Os atos ilícitos são aqueles que emanam da vontade do ser

humano, contudo, são contrários aos ditames da lei.

É o que ensina Venosa45 “os atos ilícitos são os que promanam

direta ou indiretamente da vontade e ocasionam efeitos jurídicos, mas contrários ao

ordenamento”.

Pereira46 preleciona que o ato ilícito leva à noção de reparação

de um dano:

Do conceito de ato ilícito, fundamento da reparação do dano, tal como enunciado no art. 159 do Código Civil, e como vem reproduzido no art. 186 do Projeto nº 634-B de 1975, pode-se enunciar a noção fundamental da responsabilidade civil, em termos consagrados, mutatis mutandis, na generalidade dos civilistas: obrigação de reparar o dano, imposta a todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a outrem.

No ordenamento jurídico brasileiro vigora a regra geral de que

o ressarcimento por atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou

censurabilidade da conduta do agente47.

Conforme já visto, o art. 186 do CC determina que o ato ilícito

ocorre quando alguém, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

viola direito ou causa dano, ainda que exclusivamente moral, a outrem.

Será censurado ou reprovado o comportamento do agente

quando, ante circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou

deveria ter agido de modo diferente. Portanto, o ato ilícito é qualificado pela culpa48.

45 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 20.

46 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 35.

47 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 39.

48 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 39.

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O ato ilícito deverá ser voluntário, contudo, no âmbito da

responsabilidade civil deve revestir-se de ilicitude. Observa Venosa49 que: “na

ilicitude há, geralmente, uma cadeia ou sucessão de atos ilícitos, uma conduta

culposa. Raramente a ilicitude ocorrerá com um único ato”.

Entretanto, ressaltam Gagliano e Pamplona Filho50 que:

Sem ignorarmos que a antijuricidade, como regra geral, acompanha a ação humana desencadeadora da responsabilidade, entendemos que a imposição do dever de indenizar poderá existir mesmo quando o sujeito atua licitamente. Em outras palavras: poderá haver responsabilidade civil sem necessariamente haver antijuricidade, ainda que excepcionalmente, por força de norma legal.

E por isso, não se pode afirmar, portanto, que a ilicitude

sempre acompanha a ação humana ensejadora da responsabilidade civil.

1.3.2 Culpa

A culpa pode ser analisada em seu sentido amplo ou em seu

sentido lato sensu conforme ensina a doutrina.

Em seu sentido amplo, como violação de um dever jurídico,

imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência

ou cautela, a culpa compreende o dolo, o qual é a violação intencional do dever

jurídico51.

Já em seu sentido estrito, a culpa é caracterizada pela

imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um

dever52.

49 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 20.

50 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 77.

51 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 41.

52 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 41.

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No mesmo sentido são as palavras de Venosa53 “Em sentido

amplo, culpa é a inobservância de um dever que o agente devia conhecer e

observar”.

Assevera Gonçalves54 que “o dolo consiste na vontade de

cometer uma violação de direito, e a culpa, na falta de diligência. Dolo, portanto, é a

violação deliberada, consciente, intencional, do dever jurídico”.

A culpa, por sua vez, conforme Cavalieri Filho55 “é a conduta

voluntária contrária ao dever imposto pelo Direito, com a produção de um evento

danoso involuntário, porém previsto ou previsível”.

Didáticas são as palavras de Diniz56:

O dolo é a vontade consciente de violar o direito, dirigida à consecução do fim lícito, e a culpa abrange a imperícia, a negligência e a imprudência. A imperícia é a falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato; a negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade, solicitude e discernimento; e a imprudência é a precipitação ou o ato de proceder sem cautela. Não há responsabilidade sem culpa, exceto disposição legal expressa, caso em que se terá responsabilidade objetiva.

Analisando a culpa em sentido estrito, verifica-se que o art. 186

do CC faz menção apenas as espécies: negligência e imprudência. Entretanto, há,

ainda, a imperícia.

A imprudência resta caracterizada quando o agente resolve

enfrentar desnecessariamente o perigo. Ele age contra as regras básicas de cautela.

Aqui, tem-se uma conduta positiva57.

No tocante a imperícia, esta se caracteriza pela falta de técnica

em uma atividade profissional, o agente desempenha suas atividades sem possuir

os requisitos necessários para desempenhá-la58.

53 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 21.

54 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 35.

55 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 2. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. p. 39.

56 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 41.

57 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. rev., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 129.

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25

Já a negligência, ocorre quando há falta de cuidado em

situação que o agente deveria ter. Trata-se de conduta omissiva, pois o agente deixa

de praticar um ato que evitaria o dano59.

Complementa Venosa60 ao expor que:

Na negligência o agente não age com a atenção devida em determinada conduta; “há um desajuste psíquico traduzido no procedimento antijurídico, ou uma omissão de certa atividade que teria evitado o resultado danoso” (Stoco, 2004:136). Na imprudência o agente é intrépido, açodado, precipitado e age sem prever consequências nefastas ou prejudiciais. [...] É imperito aquele que demonstra inabilidade para seu ofício, profissão ou atividade. É imperito o advogado que redige petição inepta e o médico que administra a droga errada e danosa ao paciente, por exemplo.

A culpa também pode ser classificada quanto ao seu grau de

lesão, quais sejam: grave, leve e levíssima.

Será grave a culpa quando, dolosamente, houver negligência

extrema do causador do dano, acabando por não prever aquilo que é previsível ao

comum dos homens61.

A culpa leve, nas palavras de Gonçalves62, “é a falta evitável

com atenção ordinária”.

É a que se caracteriza pela infração a um dever de conduta

relativa ao homem médio. São situações nas quais, em tese, o homem comum não

transgrediria o dever de conduta63.

E a culpa levíssima, é aquela na qual a falta é evitável por uma

atenção extraordinária, ou especial habilidade e conhecimento singular64.

58 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil: dano e defesa do consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 35.

59 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. p. 128.

60 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 24.

61 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 43.

62 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 36.

63 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 24.

64 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 43.

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26

Sobre a correspondência entre o grau da culpa e o

ressarcimento do dano, preceitua o art. 944 do CC que: “A indenização mede-se

pela extensão do dano”.

Reza ainda o parágrafo único do citado artigo que: “Se houver

excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,

equitativamente, a indenização”.

Assim, poderá o juiz adequar a indenização ao dano provocado

pelo agente, de acordo com a gravidade de sua culpa.

Há, ainda, as espécies de culpa: in vigilando, in custodiendo, in

eligendo, in comittendo ou in faciendo e, in omittendo.

A culpa in vigilando decorre da ausência de fiscalização.

Quando a culpa decorrer da má escolha do representante ou do preposto,

estaremos diante da culpa in eligendo. A culpa in comittendo ou in faciendo ocorre

quando há uma ação ou ato positivo. Será culpa in ommittendo quando decorre de

uma omissão, quando havia o dever de não se abster. E, por fim, a culpa in

custodiendo, ocorre quando há falta de cuidados na guarda de algum animal ou de

algum objeto65.

Vistas as espécies da culpa e seus elementos, passar-se-á a

análise do dano, o qual poderá ser material ou moral.

1.3.3 Dano

O dano é pressuposto tanto da responsabilidade civil contratual

como da responsabilidade extracontratual, pois só há responsabilidade civil se

houver um dano a ser reparado.

65 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 36.

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27

Conforme afirma Diniz66 “Isto é assim porque a

responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir, que, logicamente, não poderá

concretizar-se onde nada há que reparar”.

Pode-se afirma, assim que, seja qual for a espécie de

responsabilidade sob exame (contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva), o

dano é requisito indispensável para a sua configuração, qual seja, sua pedra de

toque67.

Para Venosa68, cuida-se de dano injusto, aplicação do princípio

pelo qual ninguém é dado prejudicar outrem. Em concepção mais moderna, pode-se

entender dano injusto como lesão a um interesse.

Gagliano e Pamplona Filho69 apresentam o seguinte conceito

de dano ou prejuízo “lesão a um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou não –,

causado por ação ou omissão do sujeito infrator”.

Ressalta Gonçalves70 que:

No entanto, ainda mesmo que haja violação de um dever jurídico e que tenha havido culpa, e até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha verificado prejuízo. Se, por exemplo, o motorista comete várias infrações de trânsito, mas não atropela nenhuma pessoa nem colide com outro veículo, nenhuma indenização será devida, malgrado a ilicitude de sua conduta.

Além da comprovação do dano pelo interessado na

indenização, para que seja o dano indenizável, o mesmo deverá preencher três

requisitos: a) a violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de

uma pessoa física ou jurídica; b) certeza do dano; e, c) subsistência do dano71.

66 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 59.

67 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 81.

68 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 29.

69 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 82.

70 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 37.

71 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 84-86.

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Para Diniz72, são seis os requisitos para que o dano seja

indenizável, quais sejam: a) diminuição ou destruição de um bem jurídico,

patrimonial ou moral, pertencente a uma pessoa; b) efetividade ou certeza do dano;

c) causalidade; d) subsistência do dano; e) legitimidade; e, f) ausência de causas

excludentes de responsabilidade.

Em que pese a ocorrência dos requisitos do dano indenizável

de acordo com o que preceitua um ou outro doutrinador, certo está que o suposto

prejudicado deverá comprovar a ocorrência de um dano material ou moral, sem o

qual não logrará êxito em sua demanda. Além do mais, o interessado deverá

preencher os requisitos mencionados.

1.3.3.1 Dano material

De uma forma geral o dano patrimonial pode ser definido como

aquele suscetível de avaliação pecuniária.

Nestes termos é o conceito apresentado por Venosa73 “é

aquele suscetível de avaliação pecuniária, podendo ser reparado por reposição em

dinheiro, denominador comum da indenização”.

Aponta Diniz74 que:

O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Constituem danos patrimoniais a privação do uso da coisa, os estragos nela causados, a incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa a sua reputação, quando tiver repercussão na sua vida profissional ou em seus negócios.

O dano material poderá, ainda, ser analisado sob dois

aspectos: o dano emergente e os lucros cessantes.

72 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 62-65.

73 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 29.

74 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 66.

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29

O dano emergente, nas palavras de Gagliano e Pamplona

Filho75, “corresponde ao efetivo prejuízo experimentado pela vítima, ou seja, o que

ela perdeu”.

De outra banda, os lucros cessantes correspondem àquilo que

a vítima deixou razoavelmente de lucrar por força do dano, ou seja, o que ela não

ganhou76.

Assim como todo dano, os lucros cessantes e os danos

emergentes devem ser comprovados pelo interessado (prejudicado), a fim de que

sejam ressarcidos pelo agente causador do dano.

1.3.3.2 Dano moral

O dano moral é expressamente reconhecido pelo Código Civil

Brasileiro, em seu art. 186, já vistos nos itens anteriores, devendo o mesmo ser

reparado.

A própria Constituição da República Federativa do Brasil –

CRFB/88 determina em seu texto, art. 5º, inciso V que: “é assegurado o direito de

resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à

imagem”.

Assim, Gonçalves77 apresenta o seguinte conceito para dano

moral é o que atinge: “o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão

de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a

intimidade, a imagem [...], e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame

e humilhação”.

75 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 87.

76 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 87.

77 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 358.

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30

Venosa78 explica que o dano moral “é prejuízo que afeta o

ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua atuação é dentro dos direitos de

personalidade. Nesse campo, o prejuízo transita pelo imponderável [...]”.

Por transitar pelo imponderável é que há dificuldades em

estabelecer uma justa recompensa pelo seu dano.

Sobre a recompensa indenizatória do dano moral discorre

Diniz79:

Não se paga a dor sofrida, por ser esta inindenizável, isto é, insuscetível de aferição econômica, pois seria imoral que tal sentimento pudesse ser tarifado em dinheiro ou traduzido em cifras de reais, de modo que a prestação pecuniária teria uma função meramente satisfatória, procurando tão-somente suavizar certos males, não por sua própria natureza mais pelas vantagens que o dinheiro poderá proporcionar, compensando até certo ponto o dano que lhe foi injustamente causado.

Não há formulas seguras para ajudar o magistrado que irá fixar

a indenização pelo dano moral, cabe ao juiz sentir em cada caso o tamanho do dano

causado, como, por exemplo, no caso dos pais que perdem um filho ou, ainda, no

protesto indevido de um cheque de quem nunca sofreu tal restrição. Serão medidas

diferentes para situações distintas80.

Certo está, que no caso do dano moral a reparação em

dinheiro não irá fazer cessar a dor sentida pelo prejudicado, mas será um lenitivo

para a mesma.

1.3.4 Nexo Causal

O nexo causal ou nexo de causalidade é o que liga a conduta

do agente ao dano causado por este.

78 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 35.

79 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 97.

80 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 35.

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31

Afirma Lopes81 que:

Uma das condições essenciais à responsabilidade civil é a presença de u nexo causal entre o fato ilícito e o dano por ele produzido. É uma noção aparentemente fácil e limpa de dificuldade. Mas se trata de mera aparência, porquanto a noção de causa é uma noção que se reveste de um aspecto profundamente filosófico, além das dificuldades de ordem prática, quando os elementos causais, os fatores de produção de um prejuízo, se multiplicam no tempo e no espaço.

O dano só pode gerar responsabilidade quando é possível

estabelecer um nexo de causalidade entre ele o seu autor82.

Complementa Venosa83 apontando que “é o liame que une a

conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos

quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável”.

O fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como

sua consequência previsível84.

Todavia, explica Diniz85 que “não será necessário que o dano

resulte apenas imediatamente do fato que o produziu. Bastará que se verifique que o

dano não ocorreria se o fato não tivesse acontecido”.

Na identificação do nexo causal há duas problemáticas que

devem ser analisadas. A primeira diz respeito a dificuldade em provar a sua

existência. A segunda, refere-se a identificação do fato que constitui a verdadeira

causa do dano, principalmente quando este decorre de inúmeras causas, pois nem

sempre há condições de estabelecer a causa direta do fato86.

Apesar de muitas vezes haver dificuldade na comprovação do

nexo causal, o autor da demanda deverá prová-lo para que possa ser indenizado. E,

81 LOPES, Miguel Maria de Lopes. Curso de direito civil: fontes acontratuais das obrigações e responsabilidade civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p. 218.

82 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 329.

83 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 42.

84 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 107.

85 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 107.

86 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 42.

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32

ainda, não poderá estar configurada nenhuma causa que exclua a responsabilidade

do agente que causou o dano.

1.3.5 Culpa Exclusiva da Vítima

A culpa exclusiva da vítima possui o condão de romper o nexo

de causalidade entre o agente causador do prejuízo e o dano.

Cabe aqui indicar o exemplo citado por Gagliano e Pamplona

Filho87:

Imagine a hipótese do sujeito que, guiando o seu veículo segundo as regras de trânsito, depara-se com alguém que, visando suicidar-se, arremessa-se sob suas rodas. Nesse caso, o evento fatídico, obviamente, não poderá ser atribuído ao motorista (agente), mas sim, e tão somente, ao suicida (vítima).

Quando restar caracterizada a culpa exclusiva da vítima, se

excluirá qualquer responsabilidade do causador do dano. Será a vítima quem deverá

arcar com todos os prejuízos, uma vez que o agente que causou o dano é apenas

um instrumento do acidente, não podendo se falar em nexo de causalidade entre a

ação e a lesão88.

Importante mencionar que, caso o causador do dano aja

concorrentemente com a vítima na culpa pelo dano, deverá arcar proporcionalmente

com a sua porção de culpa, juntamente com a vítima, na reparação do dano89.

Portanto, quando a culpa for exclusiva da vítima, esta deverá

arcar totalmente com o prejuízo, pois quebrou-se o nexo de causalidade. Entretanto,

quando houver culpa concorrente, tanto o agente quanto a vítima deverá arcar com

o prejuízo causado, cada um em sua proporção.

87 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 163.

88 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 110.

89 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 44.

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33

1.3.6 Caso Fortuito e Força Maior

Outra excludente da responsabilidade civil e do nexo de

causalidade é a ocorrência do caso fortuito e da força maior.

Tais excludentes encontram previsão no art. 393 do CC, o qual

determina que: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito

ou força maior, se expressamente não se houver por eles se responsabilizado”.

Complementa o parágrafo único do citado artigo: “O caso

fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era

possível evitar ou impedir”.

Assevera Diniz90 que:

O caso fortuito e a força maior se caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se configura na evitabilidade do evento, e o subjetivo, eu é a ausência de culpa na produção do acontecimento. No caso fortuito e na força maior há sempre um acidente que produz prejuízo.

Na força maior conhece-se a causa que dá origem ao evento,

já que se trata de um fato da natureza, como, por exemplo, um raio que provoca um

incêndio, uma inundação que danifica produtos. No caso fortuito, o acidente que

gera o dano advém de causa desconhecida ou de fato de terceiro, como a explosão

de uma caldeira em uma usina, por exemplo91.

Acentuam Gagliano e Pamplona Filho92 que:

A característica básica da força maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a sua causa conhecida (um terremoto, por exemplo, que pode ser previsto pelos cientistas); ao passo que o caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota distintiva na sua imprevisibilidade, segundo os parâmetros do homem médio Nessa última hipótese, portanto, a ocorrência repentina e até então desconhecida do evento atinge a parte incauta, impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um atropelamento, um roubo).

90 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 112-113.

91 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 113.

92 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 159.

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Para excluir a responsabilidade, assim, o caso fortuito e a força

maior devem partir de fatos estranhos à vontade do devedor ou do interessado.

Caso haja culpa de alguém pelo evento, não estará rompido o nexo causal.

1.3.7 Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Exercício Regular de um Direito

e Estrito Cumprimento de Dever Legal

Referidas excludentes da responsabilidade civil possuem

previsão no art. 188 do CC.

Preceitua o art. 188 do CC:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I – os praticados em legitima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. Neste último caso, o ato será legítimo, somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Conforme palavras de Gagliano e Pamplona Filho93, o estado

de necessidade: “consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor

jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo

iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizem outra forma de atuação”.

Cabe ressaltar que aquele que age em estado de necessidade

não está liberado de reparar o dano, como, por exemplo, no caso do motorista que

atira seu carro contra o muro, derrubando-o, para não atropelar uma criança que,

inesperadamente, surgiu-lhe a frente, o seu ato, embora lícito, não o exonera de

pagar a reparação do muro94.

93 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 150.

94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 431-432.

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De forma diferente, a legítima defesa, o exercício regular de um

direito e o estrito cumprimento do dever legal não são passíveis de indenização,

pelos danos causados95.

A legítima defesa ocorre quando o indivíduo encontra-se diante

de uma situação atual ou iminente de injusta agressão, dirigida a si ou a terceiro,

que não é obrigado a suportar96.

O exercício regular de um direito ocorre quando o agente está

respaldado pelo Direito, como por exemplo, quando alguém recebe do poder público

autorização para realizar o desmatamento descontrolado97.

E, por fim, o estrito cumprimento do dever legal, que está

subentendido, pois atua no exercício regular de um direito reconhecido quem pratica

ato no estrito cumprimento de dever legal98.

Vistas, portanto, as causas excludentes da responsabilidade

civil, cuidar-se-á no próximo capítulo deste trabalho monográfico da filiação e do

poder familiar.

95 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 51.

96 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 152.

97 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 154.

98 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 51.

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CAPÍTULO 2

FILIAÇÃO E PODER FAMILIAR

Neste capítulo serão analisadas as diversas espécies de

filiação, bem como as características do poder familiar, o qual é fundamental para

delimitar a responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores.

2.1 CONCEITO DE FILIAÇÃO

A filiação é direito garantido constitucionalmente, sendo o

vínculo existente entre os pais e os filhos.

É o que ensina Diniz99 “Filiação é o vínculo existente entre pais

e filhos; vem a ser a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de primeiro

grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida”.

Para Gonçalves100:

Em sentido estrito, filiação é a relação jurídica que liga o filho a seus pais. É considerada filiação propriamente dita quando visualizada pelo lado do filho. Encarada em sentido inverso, ou seja, pelo lado dos genitores em relação ao filho, o vínculo se denomina paternidade ou maternidade.

Complementa Rodrigues101, afirmando que “filiação é a relação

de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa

àquelas que a geraram, ou a receberam como se a tivessem gerado”.

Nesta senda, estabelece a CRFB/88 em seu art. 227, § 6º que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o

99 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. 18. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 378. 100 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume VI: direito de família. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 281. 101 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, volume 6: direito de família. 28. Ed. São Paulo: Saraiva, 2008,

p. 297.

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direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Como se vê, a CRFB/88 veda a discriminação relativa à

filiação, garantindo igual direito aos filhos, havidos ou não da relação de casamento.

Além de a filiação ser garantida constitucionalmente, ela possui

proteção também perante o CC e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

O ECA regula a filiação em seus artigos 20, 26 e 27, conforme

segue:

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

O CC também cuida da matéria em seu art. 1596 e seguintes,

vedando, em seu texto, designações discriminatórias relativas à filiação.

Cumpre aqui realizar uma breve explanação sobre os graus de

parentesco, para uma melhor compreensão do que venha a ser filiação.

Parentesco, nas palavras de Diniz102 “é a relação vinculatória

existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo

tronco comum, mas também entre um cônjuge e os parentes do outro e entre

adotante e adotado”.

102 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 367.

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Deste conceito, surgem várias espécies e graus de parentesco.

Dentre as suas espécies, o parentesco poderá ser: natural ou consanguíneo; afim; e,

civil. Já no tocante aos graus, o parentesco poderá ser: em linha reta ou colateral.

Será natural ou consanguíneo o parentesco quando há um

vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, ligadas,

portanto, umas às outras, pelo mesmo sangue. É o caso de pai e filho, dois irmãos,

dois primos, etc103.

Os parentes por afinidade, ou afim, se estabelecem por

determinação legal e limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do

cônjuge ou companheiro104.

E o parentesco civil, é o que se refere à adoção, estabelecendo

um vínculo entre adotante e adotado, o qual se estende aos parentes de um e de

outro105.

De outro norte, quanto ao grau de parentesco, o consanguíneo

é dividido em linha reta e em linha colateral. Estão em linha reta as pessoas ligadas

umas às outras por um vínculo de ascendência ou descendência. E, estão em linha

colateral, aquelas pessoas provindas de tronco comum, mas que não descendem

umas das outras, como irmãos, tios, sobrinhos e primos106.

Desta forma, como já informado acima, filiação será o

parentesco consanguíneo em linha reta e de primeiro grau, configurando vínculo

entre pais e filhos.

Dentre as espécies de filiação, pode-se indicar a: filiação

biológica, filiação registral, filiação homoparental, e, filiação pluriparental, as quais

serão estudadas a seguir.

103 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 367.

104 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 368.

105 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 368.

106 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 369.

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2.1.1 Filiação Biológica

A filiação biológica é aquela que vincula os pais e os filhos

pelos marcadores genéticos.

Ensina Coelho107 que “na filiação biológica os pais são os

genitores; as pessoas identificadas como pai e mãe no registro de nascimento foram

os fornecedores dos gametas empregados na concepção da pessoa, ocorrida in

vitro ou in utero”.

A filiação biológica é comprovada pelo DNA, o qual é muito

utilizado nas ações de reconhecimento de paternidade, conforme se depreende do

seguinte julgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina –

TJSC:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. EXAME DE DNA QUE EXCLUIU O ESTADO DE FILIAÇÃO BIOLÓGICA. LAUDO PSICOLÓGICO QUE CORROBORA A VINCULAÇÃO AFETIVA EXISTENTE ENTRE PAI E FILHO. INEXISTÊNCIA DE OUTRAS PROVAS A CORROBORAR A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA RECONHECIDA. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO. A salvaguarda dos interesses dos infantes prepondera sobre a ambivalência das recusas de paternidade, entretanto, os laços de filiação socioafetiva devem estar sedimentados em prova segura dos autos, a fim de que o interesse maior da criança seja realmente preservado. (TJSC, Apelação Cível n. 2012.049878-3, de Concórdia, rel. Des. Paulo Ricardo Bruschi, j. 19-02-2013).

Como se pode observar do presente julgado, além do DNA ser

o exame necessário para comprovar a filiação biológica entre pais e filhos, fica claro

que, atualmente, dá-se prevalência à paternidade e à maternidade socioafetiva.

Neste sentido, didático é a decisão proferida pelo Tribunal

catarinense:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR CUMULADA COM PEDIDO DE ADOÇÃO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA EM FAVOR DO PAI AFETIVO, QUE CRIOU A FILHA DE SUA ESPOSA, FRUTO DE UMA RELAÇÃO EXTRACONJUGAL, DESDE O NASCIMENTO DA MENOR (EM 1997) E A MANTÉM NO SEIO FAMILIAR, CONSTITUÍDO PELO CASAL E MAIS TRÊS FILHOS. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE E RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL,

107 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, família, sucessões, volume 5. p. 165.

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DECLARANDO A INFANTE COMO FILHA LEGÍTIMA DO ORA RÉU, PAI BIOLÓGICO, INSUBSISTENTE. AUTOR E FILHA SOCIOAFETIVA RECOLOCADOS À SITUAÇÃO LEGAL JUSTA, BASEADA EM FATO CONCRETIZADO, QUE NÃO MERECIA TER SOFRIDO ALTERAÇÃO NA ESFERA DO DIREITO. PREVALÊNCIA DA RELAÇÃO BASEADA NO AMOR, NA SOLIDARIEDADE E NO SENTIMENTO PURO DE ACEITAÇÃO RECÍPROCA. Doutrina do professor Paulo Luiz Netto Lobo ensina que "[...] O estado de filiação desligou-se da origem biológica e de seu consectário, a legitimidade, para assumir dimensão mais ampla que abranja aquela e qualquer outra origem. Em outras palavras, o estado de filiação é gênero do qual são espécies a filiação biológica e a filiação não biológica. [...] Na realidade da vida, o estado de filiação de cada pessoa humana é único e de natureza socioafetiva, desenvolvido na convivência familiar, ainda que derive biologicamente dos pais, na maioria dos casos. Portanto, não pode haver conflito com outro que ainda não se constituiu. [...] Os estados de filiação não-biológica [...] são irreversíveis e invioláveis, não podendo ser contraditados por investigação de paternidade ou maternidade, com fundamento na origem biológica, que apenas poderá ser objeto de pretensão e ação com fins de tutela de direito da personalidade. [...] O afeto não é fruto da biologia. Os laços de afeto e de solidariedade derivam da convivência familiar e não do sangue. [...]” (TJSC, Apelação Cível n. 2008.018013-7, de Blumenau, rel. Des. Ronaldo Moritz Martins da Silva, j. 05-05-2011).

Assim, apesar da filiação biológica ser de grande valia para o

reconhecimento da maternidade e da paternidade determinados pelo vínculo

genético, o vínculo afetivo tem ganhado maior força nos tribunais brasileiros.

2.1.2 Filiação Registral

A filiação registral é aquela determinada pelo registro de

nascimento.

De acordo com o art. 51 da Lei nº 6.015/73, todo nascimento

que ocorrer no território nacional deverá ser registrado no cartório do lugar em que

tiver ocorrido o parto, dentro de 15 (quinze) dias, ampliando-se até 3 (três) meses

para os lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório.

Nesta senda, aqueles que comparecem perante o Cartório de

Registro Civil e se declararem como pais de um recém-nascido, desde que

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observados todos os requisitos legais, serão considerados pais para todos os efeitos

legais, gozando de presunção de veracidade as suas declarações108.

Complementa Venosa109 aduzindo que:

Essas modalidades de reconhecimento referem-se ao pai e a mãe, embora a sua utilidade mais frequente seja para o pai. A maternidade se estabelece de forma mais cabal e perceptível, pela evidencia e maternidade da gravidez e do parto, mas pode ocorrer de indicação do nome da mãe no registro nos casos de recém-nascidos

abandonados ou expostos, por exemplo. Importante aqui destacar que o registro de reconhecimento de

filiação pode se dar por outras formas, ou seja, poderá ser determinado por

sentença judicial ou até mesmo por meio de testamento, conforme preceitua a

legislação pátria.

Assevera Nicolau Junior110 com primazia que:

O registro de nascimento – apesar de alguns posicionamentos contrários – não exprime, propriamente, a paternidade real. O que ele reflete é um acontecimento jurídico. Ao registro não interessa a história natural das pessoas, senão apenas um evento jurídico. Assim, quando o estabelecimento da paternidade decorrer de derivação biológica do DNA, o que o oficial de registro consigna em seus assentos não é o laudo pericial, mas a sentença do juiz. Ao contrário, se a sentença for lavrada manifestamente inversa à prova genética, ainda assim é ela e não o laudo a que o oficial deve obediência.

Desta forma, apesar do registro de nascimento possuir

presunção de veracidade, o mesmo poderá ser alterado, posteriormente, por

decisão judicial que decidir demanda envolvendo o reconhecimento da paternidade

ou da maternidade.

108 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 246.

109 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. p. 246.

110 NICOLAU JUNIOR, Mauro. Investigação de paternidade procedente – coisa julgada material – prazo para ação rescisória expirado. Ação negatória de paternidade. Qual prevalece? Revista AJURIS. nº 85. Tomo I. Rio Grande do Sul: AJURIS, 2002, p. 286.

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2.1.3 Filiação Sócioafetiva

Socioafetiva é a filiação que se dá pelo vínculo de afeto

existente entre os pais e o filho.

Explica Madaleno111 que:

A paternidade e a maternidade têm um significado mais profundo do que a verdade biológica, onde o zelo, o amor filial e a natural dedicação ao filho revelam uma verdade afetiva, um vínculo de filiação construído pelo livre-desejo de atuar em iteração entre pai, mãe e filho do coração, formando verdadeiros laços de afeto, nem sempre presentes na filiação biológica, até porque a filiação real não é biológica, e sim cultural, fruto dos vínculos e das relações de sentimento cultivados durante a convivência com a criança e o adolescente.

A filiação socioafetiva compreende, assim, a relação jurídica de

afeto, como um filho de criação, quando comprovado o estado de filho afetivo, a

adoção judicial, o reconhecimento voluntário ou judicial da paternidade ou

maternidade e a conhecida “adoção à brasileira” 112.

O estado de filho na filiação socioafetiva é determinado pelo

carinho, afeto e convivência entre o pai e a mãe e o filho, é este o cenário no qual se

caracteriza a família socioafetiva.

2.1.4 Filiação Homoparental

A filiação homoparental ocorre quando os pais são do mesmo

sexo, ou seja, a família é constituída por uma relação homosexual.

Ensina Dias113 que “a maior visibilidade e melhor aceitabilidade

das famílias homoafetivas tornam impositivo o estabelecimento do vínculo jurídico

paterno-filial com ambos os genitores, ainda que sejam dois pais ou duas mães”.

111 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 471.

112 WELTER, Belmiro Pedro. Do Poder Familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família: e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 156.

113 DIAS, Maria Berenice. Filiação homoafetiva. Palestra proferida no IV Congresso Brasileiro de

Direito de Família promovido pelo IBDFAM e OAB-MG, em 25/9/2003, em Belo Horizonte-MG.

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Portanto, é normal nos dias atuais, a formação de famílias

homoafetivas, garantindo aos pais, todos os direitos e deveres inerentes ao seus

filhos.

2.1.5 Filiação Pluriparental

Outra espécie de filiação é a pluriparental, na qual o filho

reconhece mais de uma figura paterna ou materna, como ocorre, por exemplo, no

caso de pais separados que já constituíram outras famílias. Nestes casos, muitos

filhos acabam considerando mãe, a biológica e a madrasta ou, como pai, o biológico

e o padrasto.

Segundo Dias, para o reconhecimento da filiação pluriparental

“basta flagrar o estabelecimento do vínculo de filiação com mais de duas pessoas.

As hipóteses já se apresentam na sociedade, não se justificando que a justiça deixe

de ver esta realidade”.

Por se tratar de uma realidade de nossa sociedade é que os

casos de reconhecimento de paternidade e maternidade devem ser julgados com a

melhor solução para todos.

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PODER FAMILIAR

O poder familiar faz parte da história da sociedade desde os

primórdios, evoluindo seu conceito conforme a evolução das relações familiares em

nossa sociedade.

Disponível em: www. biblioteca.planejamento.gov.br/.../texto-137-filiacao-homoafetiva.doc. Acesso em: 25.04.2015.

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Pereira114 aponta que “no Direito Romano, os textos são o

testemunho da severidade dos costumes, atribuindo ao pater familias, a autoridade

suprema no grupo, concedendo-lhe um direito de vida e morte sobre o filho [...]”.

Já no direito germânico antigo, de acordo com Rizzardo115

“embora preponderasse o patriarcalismo, havia um abrandamento dos poderes do

chefe, tanto que os filhos, ao ingressarem no exército, libertavam-se do então “pátrio

poder paterno”.

Com a Revolução Francesa e a edição do Código Napoleônico,

o pátrio poder passou a ser exercido pela mãe, na falta do pai. Mas foi a legislação

portuguesa que mais influenciou o texto do Código Civil de 1916 – CC/1916, ela

valorizava o patriarcalismo e determinava que o filho deveria ficar em poder do

pai116.

Apesar da discriminação existente em face da mulher, a qual

não podia exercer o pátrio poder, a igualdade de direitos e deveres entre homens e

mulheres só teve respaldo com a promulgação da CRFB/88. Contudo, os projetos de

um novo Código Civil já traziam em seu bojo a igualdade de direitos entre o homem

e mulher no seio familiar, conforme informa Pereira117:

No projeto do Código Civil de 1965 (Orosimbo Nonato, Orlando Gomes, Caio Mario) foi dado um passo ainda mais avançado estabelecendo-se que o pátrio poder será exercido em comum pelos pais (artigo 239), no que acompanhou a orientação do BGB, do Código Civil Suíço, do português de 1967, do Soviético.

Por conseguinte, a CRFB/88 acabou por consagrar em seu art.

5º, inciso I, a igualdade entre homens e mulheres, acabando com a discriminação

existente, ainda mais por estabelecer a isonomia entre os membros da família e

entre os filhos, nos já citados art. 226, § 5º e art. 227.

114 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 417.

115 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei n° 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 600.

116 WALD, Arnoldo. Direito civil, volume 5: direito de família.17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 20.

117 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. p. 420.

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Explica Pereira118 que “a ideia predominante é que a poder

deixou de ser uma prerrogativa do pai, para se firmar como a fixação jurídica dos

interesses do filho, visando protegê-lo e não beneficiar que o exerce”.

Mas apesar da igualdade entre homens e mulher ter sido

reconhecida constitucionalmente, o termo “pátrio poder” só foi substituído com o

advento do CC/2002, que o substituiu por poder familiar.

2.3 CONCEITO E TITULARIDADE DO PODER FAMILIAR

O poder familiar é tido como o instituto jurídico destinado a

proteger os filhos menores.

Para Dias119:

Não se trata do exercício de uma autoridade, mas de um encargo imposto por lei aos pais. O poder familiar é sempre trazido como exemplo da noção de poder-função ou direito-dever, consagradora da teoria funcionalista das normas de direito das famílias: poder que exercido pelos genitores, mas que serve ao interesse do filho.

Segundo Rodrigues120, o poder familiar é “o conjunto de

direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos

não emancipados, tendo em vista a proteção destes”.

Informa Diniz121 que, além do poder familiar ser irrenunciável,

já que incumbe aos pais este poder-dever, ele é inalienável, tanto a título gratuito

como a título oneroso, podendo, entretanto, ser delegável por desejo dos pais ou

responsáveis. E, ainda:

É imprescritível, já que dele não decaem os genitores pelo simples fato de deixarem de exercê-lo; somente poderão perdê-lo nos casos previstos em lei.

118 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. p. 420.

119 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 384.

120 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, volume 6: direito de família. p. 297.

121 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 448-449.

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46

É incompatível com a tutela, não se pode, portanto, nomear tutor a menor, cujo pai ou mãe não foi suspenso ou destituído do poder familiar. Conserva, ainda, a natureza de uma relação de autoridade por haver um vínculo de subordinação entre pais e filhos, pois os genitores tem o poder de mando e a prole, o dever de obediência (CC, art.1.634, VII).

Sobre a irrenunciabilidade, complementa Rizzardo122 afirmando

que:

A irrenunciabilidade do poder familiar é outro aspecto de importância, pelo qual aos pais não se permite a transferência do encargo. Em princípio, não se admite a renúncia. Do contrário, importaria em não aceitação de uma obrigação de ordem pública.

Contudo, como visto, o poder familiar poderá ser delegado por

desejo dos pais ou do responsável. Tal hipótese também pode ser verificada no

caso de adoção.

Nestes termos, reza o art. 166 da Lei nº 8.069/90:

Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado.

O poder familiar é assim um poder-dever de ambos os

cônjuges. Desta feita, a titularidade do poder familiar deve ser exercida em pé de

igualdade entre o pai e a mãe.

De acordo com o art. 1631 do CC: “Durante o casamento e a

união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um

deles, o outro o exercerá com exclusividade”.

Em caso de divergência entre os pais, quanto ao exercício do

poder familiar, é facultado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução da

desavença, conforme preceitua o parágrafo único, art. 1631, CC.

Por conseguinte, o art. 1632 do CC afirma que “a separação

judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais

e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua

companhia os segundos”. 122 RIZZARO, Arnaldo. Direito de família: Lei n° 10.406, de 10.01.2002. p. 602.

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47

Analisando o texto de referidos artigos, Dias123 explica que:

Todas as prerrogativas decorrentes do poder familiar persistem mesmo quando da separação ou do divórcio dos genitores, o que não modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos (CC 1579). Também a dissolução da união estável não se reflete no exercício do poder familiar.

O texto do art. 1632 do CC acaba por complementar, desta

forma, a determinação do art. 1631 do CC, pois mesmo os pais estando separados

ou divorciados, o poder familiar não irá sofrer limitação.

Neste sentido, aponta Diniz124 que “nada obsta que se decida

pela guarda compartilhada, caso em que o exercício do poder familiar competirá ao

casal parental, visto que o casal conjugal deixou de existir”.

Prossegue a autora, alertando, contudo, que em caso de morte

de um dos cônjuges, o viúvo assumirá sozinho o poder familiar e o conservará,

ainda que venha a convolar novas núpcias ou formar união estável, exercendo-o

sem qualquer interferência do novo cônjuge ou convivente125.

De qualquer forma, o poder familiar finda quando os filhos

atingem a maioridade, de acordo com o que determina o art. 1630 do CC.

Sobre o assunto, discorre Pereira126:

O fim da incapacidade aos 18 anos completos, quando o jovem fica habilitado à prática de todos os atos da vida civil. Extingue-se, portanto, o Poder Familiar, nesta idade ou circunstâncias, o que representa mudança substancial na legislação civil e processual.

Além da delimitação da titularidade para exercer o poder

familiar, deve-se limitar os direitos e os deveres presentes em seu exercício.

123 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 386.

124 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 450.

125 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 450.

126 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. p. 423.

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2.3.1 Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar

Os direitos e os deveres inerentes ao poder familiar devem ser

observados pelos seus titulares, a fim de sempre zelar pelo bem estar da criança ou

adolescente.

Nesse sentido, Lobo127 afirma que:

Em matéria de exercício do poder familiar, deve-se ter presente o seu conceito de conjunto de direitos e deveres tendo por finalidade o interesse da criança e do adolescente. Os pais não exercem poderes e competências privados, mais direitos vinculados a deveres e cumprem deveres cujos titulares são os filhos.

Estes deveres e direitos dos pais atingem a pessoa e os bens

dos filhos menores, sendo que, no tocante a pessoa dos filhos menores, estabelece

o art. 1634, inciso I, do CC que:

Art. 1634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I – dirigir-lhes a criação e educação; II – exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1584; III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII – representá-los judicial ou extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VIX – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

Cabe aqui mencionar que a não observância de algum destes

deveres podem levar os pais a perda do poder familiar, conforme informa Diniz128:

127 LOBO, Paulo Luiz Neto. Do Poder Familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família: e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 156.

128 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 452.

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Se os pais não cumprirem o dever legal e moral de educar e criar seus filhos, perderão o poder familiar (CC, art. 1.638, II) e sofrerão as sanções previstas no Código Penal (arts. 244 e 246) para o crime de abandono material e intelectual dos menores.

Já na esfera patrimonial dos bens dos filhos menores, incumbe

aos pais a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade ou não

emancipados (art. 1.689, II, CC). E o usufruto sobre os bens dos filhos menores que

se acham sob o seu poder (art. 1.689, I, CC) 129.

Apesar de todos estes deveres e direitos elencados pelo

legislador, não se deve perder de vista que os pais deverão também dar amor, afeto

e carinho aos filhos, dando-se destaque para a afetividade entre pais e filhos,

deixando em segundo plano o aspecto patrimonial130.

A educação também é dever fundamental dos pais com os

filhos, devendo aqueles prover os meios materiais necessários para sua

subsistência e instrução de acordo com seus recursos e sua posição social,

preparando o filho para a vida, tornando-o útil para a sociedade, assegurando-lhe

todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana131.

Lobo132 discorre sobre o dever de educação:

A noção de educação é ampla. Incluí educação escolar, moral, política, profissional, cívica e a formação que se dá em família e em todos os ambientes que contribuam para a formação que se dá em família e em todos os ambientes que contribuam para a formação do filho menor, como pessoa em desenvolvimento. Ela inclui, ainda, todas as medidas que permitam ao filho aprender a viver em sociedade.

Mas apenas educação não basta. O poder familiar inclui em

suas diretrizes que os filhos convivam e permaneçam na presença dos pais, bem

como aduz Rizzardo133 “A permanência na companhia dos pais é imposta pelas

próprias conveniências para a criação e educação”.

129 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 452.

130 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. p. 426.

131 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 452.

132 LOBO, Paulo Luiz Neto. Do Poder Familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família: e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 157.

133 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei n° 10.406, de 10.01.2002. p. 606

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50

A inobservância dos deveres acima elencados podem levar os

pais à perda, destituição ou, ainda, à extinção do poder familiar, como se verá a

seguir.

2.3.2 Suspensão, Destituição e Extinção do Poder Familiar

Tendo em vista que o poder familiar configura um munus

público, a ser exercido no interesse dos filhos menores, o Estado o controla,

editando normas que autorizam o juiz a determinar a sua suspensão ou a sua

destituição.

Explica Diniz134 que “na suspensão, o exercício do poder

familiar é privado, por tempo determinado, de todos os seus atributos ou somente de

parte deles, referindo-se a um dos filhos ou a alguns”.

De acordo com o art. 1637 do CC, são causas que suspendem

o poder familiar:

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.

Por sua vez, o art. 1635 do CC estabelece as seguintes

hipóteses de extinção do poder familiar:

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: I - pela morte dos pais ou do filho; II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; III - pela maioridade; IV - pela adoção; V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

134 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 457.

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A morte de apenas um dos pais não extingue o poder familiar,

visto que ainda será exercido pelo pai ou mãe sobrevivente. Assim, só será extinto,

quando ambos os genitores falecerem, ficando os filhos menores não emancipados

sob tutela. E caso de morte do filho, elimina-se a relação jurídica, por perder a razão

o poder familiar135.

Sobre a extinção do poder familiar com a emancipação do filho

menor, leciona Rizzardo136 que:

E, nesta linha, também adquire a maioridade o filho por outras formas de emancipação, e, assim, pelo casamento; pelo exercício de emprego público efetivo; pela colação de grau em curso de ensino superior; e pelo estabelecimento civil e comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

A extinção pela maioridade ocorre com os 18 (dezoito) anos de

idade, conferindo a plenitude dos direitos civis, fazendo cessar a dependência

paterna137.

A adoção gerará a extinção do poder familiar, ao passo que é

transferido ao adotante. Se falecer o pai adotivo, não se restaura o poder familiar do

pai ou mãe natural, nomeando-se tutor ao menor138.

Por fim, poderá ser extinto poder familiar, por decisão judicial

que determine a sua perda, pela ocorrência das hipóteses previstas no art. 1638 do

CC.

Além das causas de extinção e de suspensão do poder

familiar, o CC ainda prevê causas de perda ou destituição do poder familiar.

Prescreve o art. 1638 do CC que:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I – castigar imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

135 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 462.

136 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei n° 10.406, de 10.01.2002. p. 608.

137 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 462.

138 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 462.

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52

IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas nos artigos antecedentes.

A perda do poder familiar é uma sanção mais grave do que a

suspensão, ocorrendo por sentença judicial, se o juiz se convencer de que houve

uma das causas que a justificam, abrangendo, por ser medida imperativa, toda a

prole e não somente um filho ou alguns filhos139.

A ação judicial para o fim de destituição do poder familiar

deverá ser intentada por um parente do menor, por ele mesmo, se púbere, pela

pessoa a quem se confiou a sua guarda, pelo outro cônjuge, ou pelo Ministério

Público140.

Em regra, a perda do poder familiar é permanente, embora o

seu exercício possa ser restabelecido, desde que comprovada a regeneração do

genitor ou se desaparecida a causa que determinou a sua perda, mediante a

instauração de um processo judicial de caráter contencioso141.

Como se vê, a perda do poder familiar apenas poderá ocorrer

por decisão judicial, a fim de garantir as relações familiares e lhes dar maior

segurança jurídica.

No próximo capítulo será analisada a responsabilidade civil dos

pais pelos atos de seus filhos menor.

139 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 459.

140 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 462.

141 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 5: direito de família. p. 462.

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CAPÍTULO 3

DA RESPONSABILIDADE DOS PAIS PELOS FILHOS

O pátrio poder, como visto no capítulo anterior, é exercido

pelos pais sobre os filhos menores, assim, uma vez que estes não possuem idade

suficiente para decidir sozinho pelos atos de suas vidas.

No presente capítulo, cuidar-se-á, assim, da responsabilidade

civil dos pais sobre os filhos, apontando-se em quais situações os pais responderam

pelos atos de seus filhos.

3.1 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS SOBRE A

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS SOBRE OS FILHOS

Os pais são responsáveis pela reparação civil decorrente de

atos ilícitos praticados pelos filhos menores que estiverem sob seu poder e em sua

companhia.

Neste sentido, é o que preceitua o CC em seu art. 932, inciso I:

“São também responsáveis pela reparação civil: os pais, pelos filhos menores que

estiverem sob sua autoridade e em sua companhia”.

Sobre esta responsabilidade, explica Venosa142 que:

O presente Código menciona os filhos que estiverem sob a “autoridade” dos pais, o que não muda o sentido da dicção legal anterior, dando-lhe melhor compreensão. Não se trata de aquilatar se os filhos estavam sob a guarda ou poder material e direto dos pais, mas sob sua autoridade, o que nem sempre implica proximidade física. Essa responsabilidade tem como base o exercício do poder familiar que impõe aos pais um feixe enorme de deveres.

Complementa Diniz143 afirmando que “Quem exerce o poder

familiar responderá solidária e objetivamente pelos atos do filho menor que estiver

142 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 69.

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sob sua autoridade e em sua companhia [...], pois como tem a obrigação de dirigir

sua educação deverá sobre ele exercer vigilância”.

Na verdade, se trata de aspecto complementar do dever de

educar os filhos e sobre eles manter vigilância. Esta responsabilidade sustenta-se

em uma presunção relativa, ou numa modalidade de responsabilidade objetiva, que

acaba dando quase no mesmo. Há dois fatores nesta modalidade de

responsabilidade: a menoridade e o fato de os filhos estarem sob o poder ou

autoridade e companhia dos pais144.

Cabe aqui mencionar que o anterior CC (1916) determinava

que a responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores somente restava

caracterizada quando o filho estivesse sobre o poder e companhia dos pais,

admitindo com isso, que somente um dos pais fosse responsabilizado145.

Por certo que, atualmente, o CC/2002 não mais se atribui a

responsabilidade civil dos pais dessa forma, como já mencionado na doutrina

colacionada acima, além do Egrégio Superior Tribunal de Justiça – STJ já ter se

manifestado a respeito:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA DOS PAIS PELOS ATOS DOS FILHOS. EXCLUDENTES. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. 1.- Os pais respondem civilmente, de forma objetiva, pelos atos do filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (artigo 932, I, do Código Civil). 2.- O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não configura, por si só, causa excludente de responsabilidade civil. 3.- Há que se investigar se persiste o poder familiar com todas os deveres/poderes de orientação e vigilância que lhe são inerentes. Precedentes. 4.- No caso dos autos o Tribunal de origem não esclareceu se, a despeito de o menor não residir com o Recorrente, estaria também configurada a ausência de relações entre eles a evidenciar um esfacelamento do poder familiar. O exame da questão, tal como enfocada pela jurisprudência da Corte, demandaria a análise de fatos e provas, o que veda a Súmula 07/STJ. 5.- Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 220.930/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe 29/10/2012).

143 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-511.

144 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 69.

145 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 202.

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55

Como esclarece a jurisprudência do tribunal superior, há casos,

portanto, que não interessa para a configuração da responsabilidade civil dos pais,

se o filho não reside com os mesmos ou não estava deles acompanhado, deve-se,

em cada caso, verificar a existência do poder familiar dos pais sobre os filhos, além

da circunstância de o filho estar sob o poder e companhia de seus pais.

Contudo, deve-se deixar claro que ara configuração da

responsabilidade civil dos pais, o filho deve estar sob a autoridade e em companhia

de seus pais, pois se estiver em companhia de outrem, como no caso daqueles que

estão internados em colégios, a responsabilidade civil objetiva será daquele a quem

incumbe o dever de vigilância146.

Esclarece Diniz147 que:

Não é suficiente que o menor esteja sob o poder familiar dos pais, é preciso que viva em sua companhia e esteja sob sua vigilância, para que haja responsabilidade paterna ou materna. Assim, se o menor, durante o seu trabalho numa oficina, apoderar-se de automóvel de terceiro, que ali foi deixado para conserto, e provocar acidente de trânsito, o empregador será o responsável pela reparação do dano, mas terá ação regressiva (CC, art. 934).

Nesta senda, estabelece o art. 932, inciso III, do CC que é

também responsável pela reparação civil o empregador ou comitente, por seus

empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou

em razão dele.

Estabelece o art. 933 do CC: “As pessoas indicadas nos

incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,

responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”.

Desta feita, no caso citado acima, seriam solidariamente

responsáveis pelos danos causados pelo filho menor, os pais e o empregador do

mesmo, conforme se verifica de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado

de Santa Catarina - TJSC:

146 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-511.

147 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-511.

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RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA AUTORA E DOS RÉUS. PRELIMINARES. [...]. SUSCITADA PELOS RÉUS JAQUELINE BEPPLER, FRANCISCO SEBASTIÃO BEPPLER E JANDIRA TEREZINHA QUINISS BEPPLER SUA ILEGITIMIDADE PARA FIGURAR NO POLO PASSIVO DA DEMANDA. SUSTENTADA A RESPONSABILIDADE INTEGRAL DO RÉU EVARISTO COLUMBANO, POR ESTAR A RÉ JAQUELINE BEPPLER CONDUZINDO O VEÍCULO DAQUELE NO EXERCÍCIO DO TRABALHO. ALEGADA A CONSEQUENTE FALTA DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS PAIS POR ATO DE FILHA MENOR EM CASO DE ILEGITIMIDADE DESTA. INSUBSISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE EMPREGADO E EMPREGADOR. ART. 932, III C/C 942, PARÁGRAFO ÚNICO, AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. LEGITIMIDADE DA RÉ JAQUELINE BEPPLER CONFIGURADA. LEGITIMIDADE DE SEUS PAIS, RÉUS FRANCISCO SEBASTIÃO BEPPLER E JANDIRA TEREZINHA QUINISS BEPPLER QUE SE IMPÕE PELA RESPONSABILIDADE DOS PAIS POR ATOS DOS FILHOS MENORES. ART. 932, I, DO CÓDIGO CIVIL. PRELIMINAR AFASTADA. MÉRITO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO ENTRE VEÍCULOS QUE TRANSITAVAM EM PISTAS DE ROLAMENTO COM DIREÇÕES OPOSTAS. [...]. PREVALÊNCIA DA TESE ESTAMPADA NO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E NÃO DERRUÍDA PELOS RÉUS. INVASÃO DA PISTA CONTRÁRIA CONFIRMADA. IMPRUDÊNCIA. INFRAÇÃO AOS ARTS. 28 E 29, I, AMBOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. CONDUTORA RÉ, ADEMAIS, QUE NÃO ERA HABILITADA PARA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. IMPRUDÊNCIA E PRESUNÇÃO DE IMPERÍCIA. VIOLAÇÃO À INFRAÇÃO CONTIDA NO ART. 162, I, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR PROCEDENTE. INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DOS ARTS. 186 E 927 DO CÓDIGO CIVIL. DANOS MATERIAIS. [...]. 2. É cristalina a culpa e o decorrente dever de indenizar do motorista que, ao arrepio das mais comezinhas regras de trânsito, imprudentemente invade pista contrária e intercepta a passagem de veículo que seguia em sua mão de direção. (TJSC, Apelação Cível n. 2014.026077-1, de Blumenau, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. 27-05-2014).

Sobre a responsabilidade do patrão de empregado ou preposto

menor, discorre Gonçalves148 que:

Quando o menor é empregado ou preposto de outrem, a responsabilidade será do patrão. Nesse sentido a jurisprudência: “O pai não responde por dano causado por filho menor que trabalha para outrem”; “Menor. Ato ilícito. Responsabilidade do pai. Inadmissibilidade. Prática enquanto se encontrava sob a responsabilidade do patrão”. “O pai responde pelos danos causados pelos filhos menores somente enquanto estiverem sob sua vigilância. Assim, se o menor,

148 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 105.

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57

durante o horário de trabalho, apodera-se de veículo de terceiro que se encontrava para conserto e vem a colidi-lo contra poste de iluminação, causando prejuízos de elevada monta, cabe ao empregador a responsabilidade pela reparação”.

Se o menor estava sob a guarda e companhia da mãe, em

decorrência de separação judicial ou divórcio, esta responderá pelo ato ilícito de seu

filho, e não o pai, tendo-se em vista que está no poder familiar. O contrário também

poderá ocorrer149.

O STJ possui o entendimento, entretanto, de que a

responsabilidade poderá ser subsidiária entre aquele que detém a guarda e o que

não há possui, conforme segue:

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS ATOS ILÍCITOS DE FILHO MENOR - PRESUNÇÃO DE CULPA - LEGITIMIDADE PASSIVA, EM SOLIDARIEDADE, DO GENITOR QUE NÃO DETÉM A GUARDA - POSSIBILIDADE - NÃO OCORRÊNCIA IN CASU - RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. I - Como princípio inerente ao pátrio poder ou poder familiar e ao poder-dever, ambos os genitores, inclusive aquele que não detém a guarda, são responsáveis pelos atos ilícitos praticados pelos filhos menores, salvo se comprovarem que não concorreram com culpa para a ocorrência do dano. II - A responsabilidade dos pais, portanto, se assenta na presunção juris tantum de culpa e de culpa in vigilando, o que, como já mencionado, não impede de ser elidida se ficar demonstrado que os genitores não agiram de forma negligente no dever de guarda e educação. Esse é o entendimento que melhor harmoniza o contido nos arts. 1.518, § único e 1.521, inciso I do Código Civil de 1916, correspondentes aos arts. 942, § único e 932, inciso I, do novo Código Civil, respectivamente, em relação ao que estabelecem os arts. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e 27 da Lei n. 6.515/77, este recepcionado no art. 1.579, do novo Código Civil, a respeito dos direitos e deveres dos pais em relação aos filhos. III - No presente caso, sem adentrar-se no exame das provas, pela simples leitura da decisão recorrida, tem-se claramente que a genitora assumiu o risco da ocorrência de uma tragédia, ao comprar, três ou quatro dias antes do fato, o revólver que o filho utilizou para o crime, arma essa adquirida de modo irregular e guardada sem qualquer cautela (fls. 625/626). IV - Essa realidade, narrada no voto vencido do v. acórdão recorrido, é situação excepcional que isenta o genitor, que não detém a guarda e não habita no mesmo domicílio, de responder solidariamente pelo ato ilícito cometido pelo menor, ou seja, deve ser considerado parte ilegítima. V - Recurso especial desprovido.

149 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-511.

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(REsp 777.327/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA

TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 01/12/2009). Afirma Gonçalves150 que “Considerando-se que ambos os pais

exercem o poder familiar, pode-se afirmar, pois, que a presunção de

responsabilidade dos pais resulta antes da guarda que do poder familiar. E que a

falta daquela pode levar à exclusão da responsabilidade”.

Se a guarda do filho for compartilhada, ambos os pais terão o

exercício do poder familiar e, consequentemente, a responsabilidade civil objetiva

pelos danos causados a terceiros por seus filhos menores151.

O STJ também já decidiu pela responsabilização de ambos os

pais divorciados, mesmo tendo sido destinada a guarda a apenas um deles, além de

responsabilizar a avó, com quem o menor residia quando da prática do ato danoso

por este:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS PAIS E DA AVÓ EM FACE DE ATO ILÍCITO PRATICADO POR MENOR. SEPARAÇÃO DOS PAIS. PODER FAMILIAR EXERCIDO POR AMBOS OS PAIS. DEVER DE VIGILÂNCIA DA AVÓ. REEXAME DE FATOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL COMPROVADO. 1. [...]. 2. Ação de reparação civil movida em face dos pais e da avó de menor que dirigiu veículo automotor, participando de "racha", ocasionando a morte de terceiro. A preliminar de ilegitimidade passiva dos réus, sob a alegação de que o condutor do veículo atingiu a maioridade quando da propositura da ação, encontra-se preclusa, pois os réus não interpuseram recurso em face da decisão que a afastou. 3. Quanto à alegada ilegitimidade passiva da mãe e da avó, verifica-se, de plano, que não existe qualquer norma que exclua expressamente a responsabilização das mesmas, motivo pelo qual, por si só, não há falar em violação aos arts. 932, I, e 933 do CC. 4. A mera separação dos pais não isenta o cônjuge, com o qual os filhos não residem, da responsabilidade em relação ao atos praticados pelos menores, pois permanece o dever de criação e orientação, especialmente se o poder familiar é exercido conjuntamente. Ademais, não pode ser acolhida a tese dos recorrentes quanto a exclusão da responsabilidade da mãe, ao argumento de que houve separação e, portanto, exercício unilateral do poder familiar pelo pai, pois tal implica o revolvimento do conjunto

150 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 104-105.

151 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-511.

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fático probatório, o que é defeso em sede de recurso especial. Incidência da súmula 7/STJ. 5. Em relação à avó, com quem o menor residia na época dos fatos, subsiste a obrigação de vigilância, caracterizada a delegação de guarda, ainda que de forma temporária. A insurgência quanto a exclusão da responsabilidade da avó, a quem, segundo os recorrentes, não poderia se imputar um dever de vigilância sobre o adolescente, também exigiria reapreciação do material fático-probatório dos autos. Incidência da súmula 7/STJ. 6. Considerando-se as peculiaridades do caso, bem como os padrões adotados por esta Corte na fixação do valor indenizatório a título de danos morais por morte, reduzo a indenização arbitrada pelo Tribunal de origem para o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), acrescido de correção monetária a partir desta data (Súmula 362/STJ), e juros moratórios a partir da citação, conforme determinado na sentença (fl. 175), e confirmado pelo Tribunal de origem (fls. 245/246). 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido. (REsp 1074937/MA, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2009, DJe 19/10/2009).

Em caso de união estável, os pais do filho menor devem

responder solidariamente pelos atos praticados por aquele, bem como demonstra a

decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - TJRS:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. JOGO AMISTOSO. DISPUTA DE BOLA. FRATURA DE OSSO NASAL. AGRESSÃO FÍSICA DESMEDIDA. DEVER DE INDENIZAR. DANOS MORAIS DECORRENTES DO PRÓPRIO FATO. 1. A responsabilidade dos pais, na constância do casamento ou união estável, em razão de atos ilícitos dos filhos menores decorre do poder familiar e este é exercido tanto por um genitor quanto pelo outro, e, assim, qualquer um deles responde pelos atos de seus filhos. Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada. 2. O conjunto probatório revela-se suficiente para demonstrar que o comportamento voluntário do filho do réu, exteriorizado por ação imprudente, agressiva e injustificada, causou ao autor dano efetivo, ocasionando fratura em osso nasal, com necessidade de intervenção cirúrgica. 3. Os danos morais sofridos pelo autor independem de prova de prejuízo, pois decorrem do próprio evento, no qual a sua integridade física ficou gravemente violada, Preliminar rejeitada. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70045989803, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho, Julgado em 29/02/2012).

Assim, assevera Gonçalves152 que “comprovado o ato ilícito do

menor, dele decorre, por via de consequência e independentemente de culpa do pai,

a responsabilidade deste”.

152 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 100.

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A responsabilidade civil dos pais sobre os filhos é, portanto,

objetiva, ou seja, não mais se analisa a culpa para efeito de responsabilidade, ainda

que sob a forma de presunção, na medida que o art. 933 do CC destacou que todas

as modalidades de responsabilidade indireta são objetivas153.

Neste sentido é o julgado do TJSC:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INTENTADA CONTRA O ESPÓLIO. FATO LESIVO PRATICADO PELO FILHO MENOR DO AUTOR DA HERANÇA QUE VEIO A FALECER POR CONTA DO MESMO ATO. FILHO QUE PEGA A ARMA DO PAI E ATIRA NO SEU GENITOR, NA SUA IRMÃ E NA AUTORA DA AÇÃO (NAMORADA DO DE CUJUS). AUTORA SOBREVIVE MAS COM SEQUELAS. ALEGADO SURTO PSICÓTICO DO MENOR DE IDADE. QUESTÃO QUE NÃO RETIRA A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO GENITOR E, NA SUA FALTA, DO ESPÓLIO DESTE. SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE OS PEDIDOS PARA CONDENAR O ESPÓLIO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS E MATERIAIS. RECURSO DE AMBAS AS PARTES. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO DA AUTORA PROVIDO EM PARTE. RECURSO DO RÉU NÃO PROVIDO. RECURSO DO RÉU. ALEGAÇÃO DE QUE NÃO HOUVE CULPABILIDADE DO AUTOR DA HERANÇA. SUPOSTA AUSÊNCIA DE NEGLIGÊNCIA. EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE POR IMPREVISIBILIDADE DA OCORRÊNCIA DO ATO INFRACIONAL JÁ QUE O MENOR DE IDADE ESTAVA EM SURTO PSICÓTICO. SENTENÇA MANTIDA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS PAIS PELOS DANOS CAUSADOS PELOS FILHOS MENORES. INTELIGÊNCIA DO ART. 932, INCISO I E DO ART. 933 AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. "é objetiva a responsabilidade do pai pela reparação civil do dano causado pelo filho menor, pois agiu com culpa in vigilando. Não é o caso de acolhimento da tese de excludente de ilicitude por imprevisibilidade, porque o fato não estava fora do alcance do de cujus. Ao possuir arma de fogo em casa, o genitor do menor, que era sargento, deveria agir com total zelo, guardando-a em local seguro - que logicamente não seria o automóvel da família -, exercendo a vigilância do menor, o que certamente não foi obedecido." (Sentença, Dr. Marcelo Trevisan Tambosi). "Os pais respondem solidariamente por eventual ato danoso praticado por seus filhos menores, diante do seu dever de vigilância inerente ao poder familiar, nos termos do art. 932, I, do Diploma Civil." (AC n. 2009.022303-8, Rel. Des. Henry Petry Junior, DJ de 25-8-2011). [...]. (TJSC, Apelação Cível n. 2012.013325-8, da Capital, rel. Des. Carlos Prudêncio, j. 16-04-2013).

153 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 204.

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Venosa154 afirma que “Tratando-se de dever de vigilância, a

culpa do genitor será, ao mesmo tempo, in vigilando e in omittendo”.

Será observado pelo juiz a conduta sob a forma objetiva, e não

sob o aspecto da culpa dos menores, e decidirá se, no caso, poderá ser excluída a

responsabilidade dos pais, reconhecendo, então, o caso fortuito ou a força maior155.

Aponta Diniz156 que “Pouco importará que os pais sejam

negligentes na vigilância, isto é, incorram em culpa in vigilando, que outrora se

presumia havendo a inversão do onus probandi, incumbindo aos pais provar que

cumpriram com o dever de vigilância para se livrarem da responsabilidade”.

Não há que se falar em presunção de culpa dos pais, portanto.

Mesmo que não haja culpa dos pais, responderão estes objetivamente pelos atos

danosos de seus filhos, absoluta ou relativamente incapazes [...]157.

O CC garantiu, ainda, que a responsabilidade civil dos pais

pelos atos dos filhos menores seja mantida, mesmo estes sendo incapazes,

conforme o art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas

por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios

suficientes para tanto”.

Gagliano e Pamplona158 explicam o citado dispositivo,

afirmando que:

Pouco importando, pois, que se trate de menor absoluta ou relativamente incapaz, se o seu representante não tiver a obrigação de indenizar (imagine que o pai esteja em coma, e o seu filho, órfão de mãe, haja ficado em companhia da avó idosa, ocasião que cometeu o dano), ou for pobre, poderá a vítima demandar o próprio menor, objetivando o devido ressarcimento, caso haja patrimônio disponível.

154 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 71.

155 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 71.

156 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-512.

157 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-515.

158 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3: responsabilidade civil. p. 204.

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Uma vez que a responsabilidade paterna é decorrência do

dever de guarda, com mais razão se configura no caso do menor sem

discernimento, pois a obrigação de zelar por ele e de vigiá-lo é mais rigorosa159.

Continua Gonçalves160, aduzindo que:

Se provado ficar que o ato do menor privado de discernimento, abstratamente considerado, não violou nenhuma obrigação preexistente, força é convir que a ação promovida pela vítima contra o pai do menor inimputável deverá ser prontamente repelida, pois não se compreenderia que os representantes do menor incapaz, culpados por presunção legal, continuassem “culpados” pela prática de um ato que ocasionou um prejuízo mas não vulnerou nenhuma norma jurídica.

Do contrário, quando ficar provada a ilicitude do menor, seja

ele incapaz ou não, fica dispensada a indagação sobre a imputabilidade do filho

menor, pois o pai não responde pelo filho mas pela sua própria culpa161.

A responsabilidade civil dos pais não será ilidida, da mesma

forma, se o filho viver em outra localidade, mas ainda depender das expensas dos

pais, visto que ainda estão sob seu poder162.

Comenta Gonçalves163 que:

O simples afastamento do filho da casa paterna por si só não elide a responsabilidade dos pais. “O pai não pode beneficiar-se com o afastamento do filho se decorrer o mesmo, precisamente, do descumprimento do pátrio poder de ter o menor em sua companhia e guarda, dirigindo-lhe a criação e a educação.

Caso o filho seja internado em estabelecimento de ensino,

deverá prevalecer a responsabilidade do educandário, nos termos do disposto no

art. 932, inciso IV, do CC.

159 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 101-102.

160 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 101-102.

161 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 101-102.

162 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 73.

163 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 104.

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63

Em todos os casos em que restar caracterizada a

responsabilidade civil dos pais pelos atos de seus filhos menores, caberá à aqueles

o dever de indenizar a pessoa lesada.

3.2 EMANCIPAÇÃO

A emancipação é o ato pelo qual concede a maioridade ao

menor de idade.

Fiuza164 define a emancipação como sendo “a cessação da

incapacidade e opera-se por concessão dos pais, por determinação legal, ou por

sentença judicial”.

O CC prevê em seu art. 5º as hipóteses possíveis de

emancipação:

Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II – pelo casamento; III – pelo exercício de emprego público efetivo; IV – pela colação de grau em curso de ensino superior; V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Observa-se do citado dispositivo legal que há várias

modalidades de emancipação, pois ela pode ser concedida pelos pais, pelo juiz, pela

lei ou, ainda, poderá decorrer de determinado fato que demonstre a capacidade do

menor para os atos da vida civil.

Deve se observar que além das hipóteses elencadas no

parágrafo único, a maioridade também é alcançada assim que atingidos os dezoito

anos completos.

164 FIÚZA, César. Direito Civil: curso completo. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 133.

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Desta feita, modalidades de emancipação podem ser:

emancipação voluntária; emancipação judicial; e, emancipação legal. Todas elas

serão analisadas nos itens descritos a seguir.

3.2.1 Emancipação Voluntária

A emancipação voluntária é a concedida pelos pais

voluntariamente, ou por um deles na falta do outro, se o menor possuir mais de

dezesseis anos de idade, conforme preceitua o inciso I, parágrafo único, do art. 5º

do CC.

Afirma Venosa165 que “Se o menor estiver sob o pátrio poder,

que a lei vigente prefere denominar poder familiar (arts. 1.630 ss) ambos os pais

poderão conceder conjuntamente a emancipação por escritura pública”.

Continua o autor166 observando que:

Note que o dispositivo transcrito possibilita a um só dos genitores a outorga, na hipótese de falta do outro. [...] A expressão falta do outro pode ser examinada com elasticidade. A lei não se refere à ausência técnica do pai ou da mãe, tal como disciplinada nos arts. 22 e ss. A falta do outro progenitor, a par da morte, que é indiscutivelmente a falta maior, pode ocorrer por vários prismas: o pai ou a mãe faltante poderá se encontrar em paradeiro desconhecido, tendo em vista, por exemplo, o abandono do lar ou a separação ou divórcio. Caberá, sem dúvida, ao juiz e ao membro do Ministério Público averiguar quando essa “falta” mencionada na lei seja autorizadora da outorga da emancipação por um único progenitor.

A emancipação em sua modalidade voluntária é irrevogável,

devendo, necessariamente ser realizada por instrumento público – escritura pública

– independentemente de homologação judicial, nos termos do art. 5º do CC167.

Além de ser realizada por instrumento público, a emancipação

voluntária deverá, assim, ser homologada pelo juiz competente, sendo

165 VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito civil: parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 189.

166 VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito civil: parte geral. p. 189.

167 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, vol.1: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 08.

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65

posteriormente registrada no registro público para que surta seus efeitos, de acordo

com o art. 9º do CC.

3.2.2 Emancipação Judicial

É judicial a emancipação quando é concedida judicialmente

pelo juiz.

A emancipação poderá ser deferida judicialmente quando

houver dúvida sobre a falta do pai ou da mãe, não devendo se confundir falta com

recusa, sendo obrigatório o suprimento judicial de vontade do genitor faltante168.

Será, ainda, judicial a emancipação, quando o menor que já

completou dezesseis solicitar a concessão de sua maioridade ao juiz, momento em

que serão ouvidos o tutor e o membro do Ministério Público, conforme preceitua o

inciso I, parágrafo único, art. 5º, CC.

3.2.3 Emancipação Legal

A emancipação legal, por sua vez, é aquela que acontece com

a ocorrência de um dos fatos constantes nos incisos II a V, parágrafo único, art. 5º,

CC.

Será emancipado o menor quando atingir os 18 anos de idade

ou quando tiver praticado alguma das hipóteses citadas acima169.

Nestes casos, como, por exemplo, pela existência de relação

de emprego, não basta apenas comprovar a relação de emprego, para que a

emancipação tenha validade, esta deverá ser comprovada judicialmente e requerida

sua declaração pelo menor que deseja a concessão da maioridade170.

168 VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito civil: parte geral. p. 190.

169 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. p. 134.

170 VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito civil: parte geral. p. 191.

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Tal medida se mostra necessária para evitar fraudes, razão

pela qual se mostra plausível a apuração e sua discussão em juízo.

3.2.4 Responsabilidade Civil na Emancipação Voluntária

A emancipação voluntária não retira a responsabilidade civil

dos pais pelo filho que atingiu a maioridade pela emancipação.

Sobre o tema, leciona Gonçalves171:

O poder familiar cessa com a maioridade, aos 18 anos, ou com a emancipação, aos 16. Se o pai emancipa o filho, voluntariamente, a emancipação produz todos os efeitos naturais do ato, menos o de isentar o primeiro da responsabilidade solidária pelos atos ilícitos praticados pelo segundo, consoante proclama a jurisprudência.

A jurisprudência também já consolidou o entendimento de que

a concessão de emancipação voluntária não elide a responsabilidade dos pais.

Explica Venosa172 que “O Supremo Tribunal Federal já se

manifestou no sentido de que a emancipação do menor não elide a responsabilidade

dos pais. A emancipação é ato voluntário em benefício do menor; não tem o condão

de obliterar a responsabilidade dos pais”.

A jurisprudência do STJ já se posicionou sobre o tema,

conforme a seguinte decisão:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ATROPELAMENTO. LESÕES CORPORAIS. INCAPACIDADE. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE MATÉRIA DE FATO. REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PENSÃO MENSAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. JULGAMENTO ULTRA PETITA. OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS. EMANCIPAÇÃO. 1. Não cabe recurso especial por alegada ofensa a dispositivos constitucionais. 2. A emancipação voluntária, diversamente da operada por força de lei, não exclui a responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos menores.

171 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 103.

172 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. p. 72.

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[...]. (AgRg no Ag 1239557/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe 17/10/2012).

Na prática de ilícito pelo filho emancipado voluntariamente

pelos pais, a responsabilidade será solidária entre estes e aquele173.

É o que se extrai dos julgados do TJRS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. EMANCIPACAO. E PARTE LEGITIMA PASSIVA, PARA ACAO DE RESSARCIMENTO DE DANOS, DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRANSITO, O PAI, JUNTAMENTE COM O FILHO EMANCIPADO. PARA OS FINS DO ARTIGO 1521, INCISO I, DO CODIGO CIVIL, NAO CESSA A RESPONSABILIDADE DOS PAIS, PELOS FILHOS MENORES, PELA REPARACAO DE DANOS, EM VIRTUDE DE EMANCIPACAO VOLUNTARIA. PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL DO STJ. AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 599049939, Segunda Câmara de Férias Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli, Julgado em 11/05/1999).

RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. AGRAVO RETIDO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. EMANCIPAÇÃO.RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. VERBA SUCUMBENCIAL. Veículo do autor que teve sua pista invadida pelo veículo conduzido pelo primeiro requerido e de propriedade do terceiro. Preliminar de ilegitimidade passiva afastada. A emancipação não afasta a responsabilidade dos pais por ato ilícito praticado pelo filho. O proprietário e o condutor do veículo respondem solidariamente pelos danos causados a terceiro. Honorários advocatícios mantidos, por bem fixados na espécie. AGRAVO RETIDO IMPROVIDO. PRIMEIRA APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. SEGUNDA APELAÇÃO IMPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70014159685, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julgado em 28/06/2006).

Portanto, é patente a responsabilidade civil dos pais pelos atos

do filho que foi emancipado voluntariamente pelos mesmos, devendo pais e filho

responderem solidariamente pelo dano causado.

173 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 103.

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3.2.5 Responsabilidade civil na emancipação legal

Na emancipação legal, os pais não possuem responsabilidade

civil sobre os atos praticados pelo filho.

A responsabilidade dos pais cessa totalmente quando derivada

do casamento ou das outras causas previstas no art. 5º, parágrafo único, do CC.

Sendo a emancipação legal, os pais estão liberados de qualquer

responsabilização174.

Para Santos175:

É preciso distinguir: na emancipação tácita, determinada pelo casamento, cessa a responsabilidade dos pais. Porque, se se trata de filho, torna-se ele próprio chefe de família; se é mulher, pelo casamento passa à autoridade marital. Se, porém, a emancipação é expressa, outra é a consequência. Pois a emancipação de um menor que se revela indigno da concessão que lhe foi outorgada é, no fim de contas, um ato inconsiderado e aos pais não se pode reconhecer o direito de exonerar-se por essa forma, da responsabilidade que lei lhes impõe.

Importante mencionar que, para exclusão da responsabilidade

dos pais, a emancipação legal deve estar de acordo com os ditames legais, não

valendo a sua alegação se não seguiu os procedimentos necessários, conforme

jurisprudência do TJRS:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. A emancipação pelo casamento é permitida apenas aos maiores de dezesseis anos, com autorização expressa dos pais ou dos representantes legais, o que não é o caso dos autos. Afastada a alegação de prescrição. Possibilidade de condenação ao pagamento de indenização por danos morais em favor da autora ¿ irmã da vítima -, não obstante existir outra condenação em favor do pai da vítima, porquanto esta não alcançou o valor que esta Câmara adota como parâmetro em caso de morte. Majoração da verba indenizatória por danos morais, pois fixada aquém dos parâmetros desta Câmara Cível. Não restou configurada nenhuma das hipóteses do art. 17 do CPC, razão pela qual desacolho a pretensão da apelada em condenar o apelante às penas da litigância de má-fé. APELO DOS RÉUS NÃO PROVIDO. APELO DA AUTORA PROVIDO EM PARTE.

174 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 103-104.

175 apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. p. 104.

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UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70030734305, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Maria Rodrigues de Freitas Iserhard, Julgado em 28/10/2009).

Observados os requisitos legais, portanto, para a emancipação

legal, estarão desobrigados a reparar o dano, os pais do filho legalmente

emancipado.

3.3 DIREITO DE REGRESSO DOS PAIS CONTRA OS FILHOS

O direito de regresso possui previsão no art. 934 do CC, o qual

estatui que aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que

houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente

seu, absoluta ou relativamente incapaz.

De acordo com referido ditame legal, o pai não pode requerer

que o filho que seja absoluta ou relativamente incapaz lhe devolva o que pagou por

dano por ele causado.

Ensina Diniz176 que:

Em razão do disposto no art. 933, mesmo que não haja culpa de sua parte, responderão objetivamente pelos atos danosos de seus filhos, absoluta ou relativamente incapazes, não tendo ação regressiva do que houver pago ao lesado, em razão do princípio da solidariedade familiar (CC, art. 934).

Apesar da vedação legal existente, impedindo os pais de

entrarem com ação de regresso em desfavor do filho, cabe lembrar que o art. 928 do

CC estabelece que o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas

por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios

suficientes.

176 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. p. 510-515.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho monográfico buscou analisar a

responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores.

Para a caracterização da responsabilidade civil, alguns

pressupostos são necessários, quais sejam: o ato ilícito, o dano, a culpa e o nexo de

causalidade. Todavia, na responsabilidade objetiva, não se faz necessária a

comprovação da culpa do agente que praticou o dano.

Assim, para que o agente ser responsabilizado deverá estar

cabalmente comprovada a prática de um ato ilícito, um dano causado a um terceiro,

a culpa daquele que praticou o ato ilícito, além do nexo de causalidade, que

demonstrará o liame entre a conduta e o dano.

A responsabilidade civil poderá ocorrer também no seio familiar

e entre pais e filhos. Atualmente, com a igualdade de direitos entre homens e

mulheres e com a vedação constitucional de distinção entre filhos havidos dentro do

casamento ou não, por adoção ou in vitro, há várias espécies de filiação: filiação

biológica, filiação socioafetiva, filiação registral, filiação homoparental e filiação

pluriparental.

Nesta senda, os pais possuem responsabilidade civil pelos atos

dos filhos menores, desde que estejam no exercício do poder familiar e em sua

companhia. Apesar de que a jurisprudência pátria tem analisado caso a caso, para

verificar a responsabilidade civil dos pais, tanto que, muitas vezes, mesmo o filho

residindo em outro Estado, os pais não serão isentados da sua responsabilidade.

De outro norte, aos dezoito anos cessa a menoridade, motivo

pelo qual também cessa a responsabilidade civil dos pais pelos atos do filho.

Porém, a lei admite que o filho menor seja emancipado, a fim

de poder praticar determinados atos da vida civil. Assim, a emancipação poderá ser

convencional, legal ou judicial.

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Entretanto, a responsabilidade civil dos pais perdura quando

concedida a emancipação voluntária ao filho, uma vez que somente a emancipação

legal possui o condão de elidir a responsabilidade civil dos pais pelos atos do filho.

Desta forma, pode-se dar as seguintes respostas para as

hipóteses levantadas:

Hipótese 1: Esta hipótese não restou confirmada, uma vez que

para configuração da responsabilidade civil, são necessários os seguintes

pressupostos: ato ilícito, dano, culpa e nexo causal.

Hipótese 2: Esta hipótese restou confirmada, sendo

plenamente vedado pela CRFB/88 qualquer discriminação entre filhos havidos do

casamento ou não, adotivos, in vitro ou por qualquer outra forma de filiação.

Hipótese 3: Também restou confirmada esta hipótese, pois os

pais, mesmo que tenham emancipado voluntariamente seu filho, respondem

civilmente pelos atos por ele praticado. Caso a emancipação seja legal, está elidida

a responsabilidade civil dos pais.

Por fim, vale lembrar que os pais, mesmo arcando com a

indenização imposta pelo dano causado pelo filho, não terão direito de regresso

contra este.

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