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OAB 2ª FASE 2010.3 Responsabilidade Civil Prof. Cristiano Sobral [email protected] Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035.0105 1 RESPONSABILIDADE CIVIL 1. TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Conceito A responsabilidade civil está ligada à conduta que provoca dano às outras pessoas. Devemos nos conduzir na vida sem causar prejuízos às outras pessoas, pois se isso acontecer ficamos sujeitos a reparar os danos. Por outro lado, as pessoas têm o direito de não serem injustamente invadidas em suas esferas de interesses, por força de nossa conduta, pois caso isso aconteça têm elas o direito de serem indenizadas na proporção do dano sofrido. 2. Generalidades Direito e Moral são capítulos da Ética: o estudo dos comportamentos possíveis dos sujeitos enquanto uns se põem perante os demais. Na Moral, é o próprio sujeito quem determina a sua obrigatoriedade da sua conduta; no Direito, o dever de conduta decorre da lei, é coercível. A responsabilidade civil é o dever jurídico, pois a conduta exigida não fica a critério do agente, mas é imposta pela lei. Às vezes, lei especifica a conduta exigida; outras vezes, enuncia um padrão de conduta; ou, então, autoriza que as pessoas estabeleçam deveres de conduta. Neste caso, cuida-se de responsabilidade contratual. Podemos falar em dever jurídico, quando se trata de prestar determinada conduta prevista na lei ou no contrato. Mas falamos em obrigação de indenizar como conseqüência da violação daquele dever. Há o dever jurídico de não causar danos às outras pessoas e a violação desse dever gera a obrigação de indenizar. A responsabilidade civil está atrelada à conduta humana que produz danos, de modo que somente os fatos jurídicos voluntários, isto é, os atos jurídicos lato sensu, são abrangidos pelo instituto. Os atos jurídicos lato sensu podem ser comissivos ou omissivos, lícitos ou ilícitos. Os atos ilícitos são os que mais interessam à responsabilidade civil, mas os atos lícitos também podem produzir dever de indenizar. 3. Pressupostos A doutrina também diverge quanto aos pressupostos da responsabilidade civil. Parece correto afirmar que os pressupostos da responsabilidade civil são aqueles apresentados por Maria Helena Diniz, acrescidos do nexo de imputação mencionado por Fernando Noronha.

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RESPONSABILIDADE CIVIL

1. TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1. Conceito

A responsabilidade civil está ligada à

conduta que provoca dano às outras pessoas.

Devemos nos conduzir na vida sem causar

prejuízos às outras pessoas, pois se isso

acontecer ficamos sujeitos a reparar os danos.

Por outro lado, as pessoas têm o direito de não

serem injustamente invadidas em suas esferas de

interesses, por força de nossa conduta, pois caso

isso aconteça têm elas o direito de serem

indenizadas na proporção do dano sofrido.

2. Generalidades

Direito e Moral são capítulos da Ética: o

estudo dos comportamentos possíveis dos

sujeitos enquanto uns se põem perante os

demais. Na Moral, é o próprio sujeito quem

determina a sua obrigatoriedade da sua conduta;

no Direito, o dever de conduta decorre da lei, é

coercível. A responsabilidade civil é o dever

jurídico, pois a conduta exigida não fica a critério

do agente, mas é imposta pela lei.

Às vezes, lei especifica a conduta exigida;

outras vezes, enuncia um padrão de conduta; ou,

então, autoriza que as pessoas estabeleçam

deveres de conduta. Neste caso, cuida-se de

responsabilidade contratual.

Podemos falar em dever jurídico, quando

se trata de prestar determinada conduta prevista

na lei ou no contrato. Mas falamos em obrigação

de indenizar como conseqüência da violação

daquele dever. Há o dever jurídico de não causar

danos às outras pessoas e a violação desse dever

gera a obrigação de indenizar.

A responsabilidade civil está atrelada à

conduta humana que produz danos, de modo que

somente os fatos jurídicos voluntários, isto é, os

atos jurídicos lato sensu, são abrangidos pelo

instituto. Os atos jurídicos lato sensu podem ser

comissivos ou omissivos, lícitos ou ilícitos. Os atos

ilícitos são os que mais interessam à

responsabilidade civil, mas os atos lícitos também

podem produzir dever de indenizar.

3. Pressupostos

A doutrina também diverge quanto aos

pressupostos da responsabilidade civil. Parece

correto afirmar que os pressupostos da

responsabilidade civil são aqueles apresentados

por Maria Helena Diniz, acrescidos do nexo de

imputação mencionado por Fernando Noronha.

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Portanto, são pressupostos: a ação, o nexo de

imputação, o dano e o nexo de causalidade.

A ação é o primeiro pressuposto, visto que

a responsabilidade civil está ligada à conduta que

provoca dano nas outras pessoas. Os animais são

capazes de comportamento, mas só os seres

humanos são capazes de conduta, que é a ação

direcionada a alguma finalidade. Sempre que

cuidamos de alguma ação imposta pelo

ordenamento jurídico, cujo inadimplemento

implique na obrigação de reparar os danos,

estamos cuidando de responsabilidade civil. A

ação pode ser comissiva ou omissiva, própria ou

de terceiros, por culpa ou risco.

O nexo de imputação é o critério pelo qual

se liga o fato danoso ao agente, isto é, a culpa ou

o risco. Tradicionalmente, o evento danoso se

ligava à pessoa pelo fator culpa, mas, com o

surgimento da responsabilidade objetiva, o fato

danoso pode se ligar ao agente pelo fator risco.

Em resumo, a conduta que causa danos e que

gera responsabilidade civil pode ter por

fundamento tanto a culpa quanto o risco.

Culpa em sentido amplo é sinônima de

erro de conduta, isto é, toda conduta contrária ao

dever de cuidado imposto pelo Direito.

Subdivide-se em dolo, quando a conduta é

qualificada pela intenção de lesionar; e culpa em

sentido estrito, quando a conduta é destituída

dessa intenção. A ação é sempre voluntária,

direcionada a alguma finalidade; porém, no dolo

o agente quer a ação e o resultado; na culpa em

sentido estrito ele quer apenas a ação, mas não

quer aquele resultado.

Na conduta culposa, o resultado era

previsto, ou ao menos previsível.

A culpa se exterioriza pela negligência,

pela imprudência e pela imperícia: na

imprudência há conduta comissiva; na

negligência a conduta é omissiva; imperícia é a

falta de habilidade no exercício de atividade

técnica.

A culpa grave, a culpa leve e a culpa

levíssima levam igualmente ao dever de

indenizar. Todavia, o juiz possa reduzir

eqüitativamente o valor da indenização, se

houver excessiva desproporção entre a gravidade

da culpa e o dano (CC, art. 944, parágrafo único).

A culpa pode ser contratual ou

extracontratual, conforme a natureza do dever

jurídico violado. Mas essa distinção é um tanto

imprópria, pois culpa em sentido amplo é

sinônimo de violação a um dever de conduta, não

importando se este dever é imposto pela lei ou

pelo contrato.

Já se falou em culpa in eligendo, culpa in

vigilando e culpa in custodiando, nos casos de

responsabilidade por atos de terceiros e por fatos

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das coisas e animais. Essa classificação perdeu a

razão de ser, diante do art. 933 do Código Civil,

que considera essas hipóteses como de

responsabilidade objetiva.

A culpa presumida é um estágio na

evolução da responsabilidade subjetiva para a

objetiva, no qual a lei criou uma presunção

relativa de culpa, invertendo o ônus da prova. Na

vigência do Código Civil de 1916, aplicavase à

responsabilidade por fato de terceiros e de

responsabilidade por fato das coisas e animais. O

art. 933 do Código Civil de 2002 diz que nessas

hipóteses não mais se cogita de culpa; há

responsabilidade objetiva.

Fala-se também em culpa concorrente,

nas hipóteses em que mais de um evento

concorrem para a produção do resultado.A

doutrina recomenda que a indenização seja

repartida proporcionalmente aos graus de culpa

do agente e da vítima.

O nexo de imputação pode se dar pela

culpa, como já vimos, ou pelo risco. O risco se

apresenta em suas várias modalidades:

risco-proveito, risco profissional, risco

excepcional, risco criado, risco integral.

Risco proveito: “quem colhe os bônus,

deve suportar os ônus”.

Risco profissional: relacionado às relações

de trabalho.

Risco excepcional: atividades que

representam um elevado grau de perigo.

Risco integral: grau mais elevado de

responsabilidade objetiva, não admite exclusão.

A definição de dano está estreitamente

relacionada à de patrimônio uma vez que o dano

significa uma lesão ou diminuição do patrimônio

de determinada pessoa.

A doutrina tradicional concebia o

patrimônio como o conjunto dos bens materiais,

de conteúdo econômico, excluídos os bens e

interesses que nãc tivessem conteúdo

econômico. Os danos morais, por não terem

conteúdo econômico, não cabem no conceito

tradicional de patrimônio, razão pela qual os

autores passaram a denominá-los danos

extrapatrimoniais.

Pode-se dizer, hoje em dia, que

patrimônio é o complexo de bens, direitos e

interesses que se prende a uma determinada

pessoa. E dano é a lesão injusta que provoque

abalo ou diminuição nesse patrimônio.

Sendo assim, conquanto permaneça na

doutrina e tenha seu valor didático, é imprópria a

distinção entre dano patrimonial e dano extra-

patrimonial.

Nexo de causalidade é o elo que liga o

dano ao seu fato gerador. É diferente do nexo de

imputação, que liga a conduta ao agente.

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O Código Civil adotou a teoria da

causalidade adequada, segundo a qual causa é

tão somente aquele antecedente mais adequado

à produção do resultado.

Podemos falar em concorrência de causas

ou concausas, quando outras causas concorrem

para a produção do evento danoso, juntamente

com a conduta daquele que é apontado como

responsável; e em culpa concorrente, quando a

conduta da vítima concorre com a do agente para

a produção do evento. Em todo caso, são fatores

relevantes, que resultam na mitigação e até

mesmo na exclusão da responsabilidade civil.

Excludentes do nexo de causalidade são

fatores que afastam a ligação entre o dano e a

conduta. São excludentes do nexo causal o fato

exclusivo da vítima, o fato de terceiro, o caso

fortuito e a força maior.

4. Espécies de responsabilidade civil

Quanto ao fato gerador, a

responsabilidade civil pode ser contratual ou

extracontratual.

Quanto ao fundamento, a

responsabilidade civil se divide em subjetiva e

objetiva.

Quanto ao agente, a responsabilidade civil

pode ser direta ou indireta.

5. Excludentes de responsabilidade civil

Há fatores que excluem o nexo de

causalidade e, por conseqüência, afastam a

responsabilidade civil. Mas, além disso, a

ausência de qualquer dos pressupostos - a

conduta, o nexo de imputação, o dano e o nexo

de causalidade - exclui a responsabilidade civil.

Não bastasse, as excludentes podem decorrer de

disposição expressa da lei, como é o caso da

prescrição; ou, ainda, podem resultar do acordo

de vontade entre as partes, mediante cláusula de

não indenizar.

São fatores que excluem a

responsabilidade civil: a ausência de conduta, a

ausência de dano, a ausência de nexo de

causalidade, a ausência de nexo de imputação, a

prescrição e decadência, a disposição legal e a

cláusula de não indenizar.

2. DANO MATERIAL

O dano material consiste na lesão

concreta que atinge interesses relativos a um

patrimônio, acarretando sua perda total ou

parcial.

1. Dano emergente, lucro cessante e perda de

chance

Dano emergente: atinge o patrimônio

presente da vítima.

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Lucro cessante: atinge o patrimônio

futuro da vítima, impedindo seu crescimento.

Perda de chance: ocorre quando o ato

ilícito praticado por outrem retira da vítima a

probabilidade de vir, futuramente, a

experimentar situação superior à atual.

2. Dano direto e indireto

Dano direto é o que resulta

imediatamente de uma ação lesiva a bem jurídico

alheio.

Dano indireto: traduz-se nas

conseqüências remotas de determinado evento

lesivo.

3. Reparação do dano material

Reparação in natura: quando o bem é

restituído ao estado em que se encontrava antes

do evento danoso.

Reparação in specie: traduz-se em

prestação pecuniária, de caráter compensatório.

Para que haja dever de reparação, faz-se

mister a existência de nexo de causalidade entre

o dano sofrido e a conduta do ofensor.

4. Quantificação e atualização monetária do dano

A quantificação do dano material faz-se

pela diferença entre o patrimônio que a vítima

disporia se não tivesse sofrido a lesão e o que

passou a dispor após tê-la sofrido.

A indenização a ser paga em dinheiro

deve ser monetariamente atualizada segundo

índices oficiais, sobre ela incidindo juros em caso

de mora.

3. DANO MORAL

1. Definição

Ocorre dano moral quando há lesão a

direitos da personalidade, tais como o direito à

incolumidade corporal, à imagem e ao bom

nome.

2. Disciplina legal

Interpretação extensiva do art. 159 do

CC/1916;

Previsão constitucional: art. 5.°, V e X;

Art. 6.°, VI do CDC;

Art. 186 do CC/2002.

3. Legitimados para pleitear reparação por danos

morais

Legitimado direto é o ofendido em seus

direitos da personalidade, ainda que se trate de

pessoa privada de discernimento.

Legitimado indireto é quem sofre dano

moral reflexo ou em ricochete.

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4. Dano moral direto e indireto

Dano moral direto é o que implica em

lesão a direito da personalidade do ofendido.

Dano moral indireto é o que implica em

prejuízos patrimoniais e, por via reflexa, em dano

moral ao ofendido.

5. Natureza jurídica da indenização

Punitiva, constituindo sanção que diminui

o patrimônio do ofensor pela indenização paga

ao ofendido.

Satisfatória, funcionando como lenitivo

frente à ofensa sofrida.

6. Sujeitos passivos

Pessoa natural maculada em sua honra

subjetiva ou objetiva.

Pessoa jurídica maculada em sua honra

objetiva.

7. Dano estético

Dano estético é aquele que atinge o

aspecto físico da pessoa humana,

modificando-lhe a aparência de modo duradouro

ou permanente, prejudicando ou não sua

capacidade laborativa.

Segundo entendimento do STJ, pode ser

cumulado com dano material e moral, quando

oriundos do mesmo fato e passíveis de apuração

em separado.

4. INDENIZAÇÕES EM CASOS DE LESÕES CORPORAIS

1. Espécies de lesões corporais

Leves: são as que não deixam marcas na

vítima. Por exclusão, são as que não são

consideradas graves.

Graves: são as que diminuam ou retirem

da vítima sua capacidade laborativa.

2. Hipóteses de indenização

Danos emergentes: despesas com

tratamentos médico-hospitalares.

Lucros cessantes: aquilo que a vítima

razoavelmente deixou de ganhar, desde o

momento em que sofreu as lesões até o fim da

convalescença.

Dano moral: emerge de ofensa a direito

da personalidade, dispensada a prova de prejuízo

concreto.

3. Legitimados a pleitear indenização

No caso de danos emergentes, é

legitimado todo aquele que comprová-los.

No caso de lucros cessantes, é legitimado

todo aquele que exercia alguma atividade

remunerada, bem como aquele que, algum dia,

poderia vir a exercê-la.

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4. Cessação do pensionamento por lucros

cessantes

Em caso de lesões transitórias, cessa coma

recuperação da vítima. Em caso de incapacidade

permanente, cessa coma morte da vítima.

5. Dano estético

Deformidade estética, permanente,

irreparável e perceptível, capaz de causar

impressões vexaminosas à vítima.

Segundo entendimento do STJ, é possível

cumulação de dano moral e dano estético,

quando as causas de um e de outro forem

diversas e passíveis de apuração em separado.

5. INDENIZAÇÃO EM CASOS DE USURPAÇÃO E ESBULHO

1. Esbulho e turbação

Ocorre esbulho possessório quando

alguém vê-se desapossado de seus bens móveis

ou imóveis violenta ou clandestinamente.

Ocorre turbação quando houver apenas

embaraços ao exercício da posse.

O remédio processual adequado é a ação

de reintegração de posse, podendo ser

acompanhado de pedido de indenização de

perdas e danos.

2. Tipos penais

Coisa móvel: furto (art.155) ou roubo (art.

157).

Coisa imóvel: usurpação (art. 160).

3. Efeitos civis

A prática de esbulho e turbação faz surgir

para o prejudicado o direito de reclamar

indenização e a restituição da coisa desapossada.

Em caso de impossibilidade de restituição,

persiste o direito de receber indenização pelo

equivalente e pelo valor de afeição.

O valor de afeição é acréscimo capaz de

compensar o dissabor da perda que ultrapasse a

perda material ordinária.

6. INDENIZAÇÃO EM CASO DE INJÚRIA, DIFAMAÇÃO OU

CALÚNIA

1. Honra

A honra consubstancia-se no conjunto de

atributos morais, físicos, intelectuais e demais

dotes da pessoa que a faz merecedora de apreço

na vida em sociedade.

Honra subjetiva: é o sentimento de cada

um a respeito de seus próprios atributos internos

e externos. É ofendida por injúria.

Honra objetiva: consiste na reputação, no

pensamento e opinião que as pessoas têm a

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respeito dos atributos internos e externos de

outrem. É ofendida por calúnia e difamação.

2. Reparação

Danos materiais: danos emergentes e

lucros cessantes.

Danos morais.

3. Ofensa à honra por meio da imprensa

Ofensa à honra, mediante calúnia,

difamação ou injúria, praticada por meio de

veículos de comunicação falada, escrita ou

televisada.

Segundo o art. 51 da lei de Imprensa, a

indenização por dano moral é tarifada, conforme

a gravidade da ofensa.

Segundo entendimento do STJ, assentado

na Súmula 281, a tarifação da lei de Imprensa é

inconstitucional, por colidir como disposto no art.

5°, V e X, da CF.

7. RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO

1. Generalidades

A responsabilidade por ato próprio

decorre exclusivamente do ato pessoal do

causador do dano.

2. Indenização decorrente de cobrança de dívida

não vencida ou já paga

De acordo com o art. 939, aquele que

efetuar a cobrança de dívida não vencida será

obrigado a aguardar o tempo existente para o

vencimento, descontando-se os juros

correspondentes, mesmo quando estipulados,

bem como a pagar as custas em dobro. Trata-se

de hipótese de abuso de direito. É necessária a

comprovação do comportamento doloso do

credor.

Conforme o art. 940, quem demandar

dívida já paga ou pedir mais do que o devido

ficará obrigado a pagar, no primeiro caso, o

dobro do que houver cobrado e, no segundo, o

mesmo que dele exigir, salvo se houver

prescrição. É o caso de indenização de dano

moral previamente estabelecido em lei. Assim

como na hipótese precedente, também é

necessária a comprovação de má-fé do credor.

As penas previstas nos arts. 939 e 940 do

CC não se aplicarão se o autor da ação desistir

desta antes de contestada a lide.

3. Responsabilidade civil nas relações de família

A quebra de promessa de casamento,

ainda que esta não seja irrevogável, pode

ensejarindenização dos danos

suportadospelooutro nubente em razão de sua

conduta. Mister sejam verificadas as

circunstâncias em que o compromisso foi

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quebrado, e se destas emergiu dor e mágoa ainda

mais penosas que um rompimento normal. Pode

ser invocada a tese de abuso de direito.

Pode ser concedida indenização por danos

morais ao cônjuge ou companheiro ofendido,

agredido ou tratado indignamente.

Os filhos têm direito à convivência com os

pais. Desrespeitado tal direito, surgirá o dever de

indenizar fundamentado no abandono afetivo.

4. Responsabilidade civil por dano atômico e dano

ambiental

Dano nuclear é o que decorre da

contaminação do meio ambiente por materiais

radioativos resultantes de processo de produção

ou utilização de combustíveis nucleares. Por ele

responde-se objetivamente (art. 21, XXIII, d, da

CF e art. 927, parágrafo único, do CC), mesmo

tratando-se de atividade lícita.

Também há responsabilidade da União,

pois a exploração da atividade nuclear constitui

monopólio desta.

Tal responsabilidade é ilidida em caso de

culpa exclusiva da vítima e em hipótese de

“conflito armado, hostilidade, guerra civil,

insurreição ou excepcional fato da natureza”

(arts. 4° e 8º da lei 6.453/1977).

O dano ecológico refere-se ao impacto

nomeio ambiente causado pela atuação do

homem.

O dever de repará-lo consta da CF/88 (art.

225, § 3°) e de legislação específica (Lei

6.938/81), sendo que a responsabilidade é

objetiva.

O Poder Público pode ser responsabilizado

pela deficiência na fiscaliz.ï ção das atividades

empresariais.

A aplicabilidade da tese da

responsabilidade objetiva pelo risco integral (na

qual não se exime da responsabilidade nem se se

tratar de caso fortuito ou força maior) a esta

espécie de dano é controversa.

Assim como no dano atômico, a atividade

pode ser perfeitamente legal e ainda assim

ensejar reparação.

8. RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO

1. Generalidades

A responsabilidade por ato de terceiro é a

que ocorre quando uma pessoa deve responder

pelas conseqüências jurídicas da conduta de

outrem, o que se verifica nas hipóteses previstas

no art. 932, do CC.

É necessário que haja um vínculo jurídico

entre o responsável e o autor do dano.

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Esta espécie de responsabilidade enseja

solidariedade entre as pessoas mencionadas no

dispositivo legal supracitado, não afastando o

direito de regresso do responsável em face do

causador do dano, com algumas exceções

oportunamente nomeadas.

2. Deslocamento do fundamento da

responsabilidade por ato de terceiro da culpa

presumida para a responsabilidade objetiva e a

responsabilidade em duplo estágio

No sistema do Código Civil de 1916, a

responsabilidade por fato de terceiro era

subjetiva, tendo em vista que o art.1.523

funcionava como um entrave para a aparente

objetivação que poderia se inferir do art.1.521.

Este posicionamento, contudo, foi

flexibilizado pela jurisprudência, consolidada na

Súmula 341, do Supremo Tribunal Federal, bem

como por legislação esparsa, notadamente o

Código de Menores de 1927, os quais previam

presunção de culpa.

O Código Civil de 2002 abandonou

definitivamente as presunções, adotando a

responsabilidade objetiva pelos atos praticados

por terceiros, conforme se observa do art. 933.

Não se perca de vista, porém, que a

responsabilidade por fato de terceiro constitui-se

de duas relações, sendo a primeira delas formada

entre o verdadeiro causador do dano e a vítima,

regida pela responsabilidade subjetiva, e a

segunda, estabelecida entre o agente causador e

o responsável, regida pela responsabilidade

objetiva. Nada obsta, contudo, que a primeira

relação seja também ocupada pela

responsabilidade objetiva, caso se trate, por

exemplo, de relação de consumo.

3. Responsabilidade dos pais pelos filhos menores

que estiverem sob sua autoridade e em sua

companhia

Os pais respondem pelos atos dos filhos

que estiverem sob sua guarda e companhia. A

“guarda e companhia” é condição necessária para

o reconhecimento da responsabilidade, tendo em

vista que somente assim pode o pai propiciar a

efetiva vigilância da prole. É em razão disso que

tradicionalmente se afasta a responsabilidade dos

pais divorciados que não possuem a guarda dos

filhos.

O afastamento voluntário em relação ao

menor, assim como a emancipação concedida

pelos pais, não os exime da responsabilidade.

Estes devem comprovar que o filho não se

encontrava sob sua autoridade por motivos

absolutamente alheios à sua vontade.

Se os incapazes não tiverem pessoas que

por eles respondam, ou estas pessoas não

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tiverem meios suficientes para responder pelos

prejuízos (art. 928, do CC), o Código Civil de 2002

transfere a responsabilidade ao próprio incapaz,

ressalvando apenas que a indenização deve ser

eqüitativa, não tendo lugar se privá-lo do

necessário ao próprio sustento, ou das pessoas

que dele dependem, quando, então, não haverá

indenização integral do dano.

Não há responsabilidade solidária entre os

menores e seus pais. A responsabilidade ou

incumbe exclusivamente aos pais, ou

exclusivamente ao filho, na modalidade

subsidiária e mitigada, se os responsáveis não

tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem

de meios suficientes para tanto. A única hipótese

admissível de solidariedade seria entre os pais e o

menor emancipado por vontade deles.

Os pais somente responderão pelos atos

do filho maior se este foralienado mental. Neste

caso, porém, a responsabilidade encontra

fundamento no art. 186, já que decorre de

omissão culposa (in vigilando).

Em caso de transferência de guarda para

terceiros (fins empregatícios ou educacionais), a

responsabilidade também será transferida,

conforme o caso, para o empregador,

estabelecimento de ensino ou hospital

psiquiátrico, entre outros.

4. Responsabilidade do tutor e curador pelos

pupilos e curatelados que se acharem sob sua

autoridade e companhia

Aplicam-se a esta hipótese as mesmas

observações do item precedente,

mencionando-se que o grau de vigilância do

responsável varia de acordo com o discernimento

ou doença do tutelado ou curatelado. Do mesmo

modo, a responsabilidade dos tutores ou

curadores pode ser transferida para outras

instituições, como sanatórios ou hospitais

psiquiátricos.

5. Responsabilidade do empregador ou comitente

por atos de seus empregados, serviçais e

prepostos, no exercício do trabalho que lhes

competir, ou em razão dele

A responsabilidade dos empregadores

variou bastante ao longo tempo. No início de

vigência do CC/1916, tal responsabilidade era

subjetiva por culpa in eligendo. A jurisprudência

criou uma presunção relativa de culpa do

responsável mediante a aplicação da teoria da

substituição, consagrada na Súmula 341 do STF,

que é considerada por alguns doutrinadores

como exemplo de presunção absoluta. A partir do

CC/2002, o fundamento de responsabilidade

deslocou-se para o risco-proveito.

A norma abrange dois tipos de relação: a

empregatícia e a de preposição. O empregado é o

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trabalhador que presta serviço nos moldes

previstos pela legislação trabalhista. O conceito

de preposto é mais amplo e abrange qualquer

prestação de serviço segundo as ordens de

outrem.

A redação do artigo sofreu alteração na

mudança dos códigos, promovendo-se a

substituição do termo “por ocasião dele” para

“ou em razão dele”; com intuito de ampliar a

abrangência do instituto, para que este

alcançasse também situações indiretamente

relacionadas ao trabalho.

A responsabilidade do empregador é

ilidida se a vítima sabia que o empregado ou

preposto agiu com abuso ou desvio de função, ou

no caso de força maior, caso fortuito e na

hipótese do ato ter ocorrrrido fora do exercício

das atribuições do empregado ou preposto.

6. Responsabilidade dos donos de hotéis,

hospedarias, casas ou e estabelecimentos onde se

albergue por dinheiro, mesmo para fins de e

educação, pelos seus hóspedes, moradores e

educandos

A empresa hoteleira responde pelo

prejuízo gerado por hóspede, seja a terceiro, seja

a outro hóspede ou empregado do

estabelecicimento. Sua responsabilidade

fundamenta-se no risco peculiar ao

desennvolvimento da atividade, restringindo-se

ao período de estadia e aos lirrmites físicos do

estabelecimento.

A responsabilidade dos hotéis é objetiva

não somente em relação ao disposto pelo Código

Civil, mas também pela aplicação ddo art. 14 do

CDC, fundamentando-se no fato do serviço.

Com relação à vigilância das bagagens dos

hóspedes, este dever decorre da configuração do

contrato de depósito necessário, conforme

disposto no art. 649, do Código Civil.

A obrigação da empresa hoteleira é de

resultado, isto é, para a que se considere

adimplida, a prestação de serviço deve ter sido

completamente alcançada, motivo pelo qual sua

responsabilidade somentnte pode ser ilidida em

caso de culpa exclusiva do hóspede, força maior

orou se o dano decorreu de vício da própria coisa.

A responsabilidade de hospitais, clínicas

psiquiátricas e outros estabelecimentos

semelhantes é bastante similar à dos hotéis,

respondendo a instituição de saúde pelos danos

causados por seus pacientes a a terceiros.

O art. 932 não menciona especificamente

as instituições de e ensino, mas confere abertura

para sua inclusão ao utilizar os termos “mesmo

para fins de educação”. Aplica-se às escolas tudo

quanto dito com relação aos hospitais, com a

ressalva de que sua responsabilidade restringe-se

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ao período de atividade escolar ou ao tempo em

que os a alunos são autorizados a permanecer na

escola.

Causando o aluno prejuízo a terceiro, a

escola poderá ingressar com ação regressiva em

face do próprio aluno, mas não de seus pais, já

que estes confiaram seu filho à instituição, a ela

transferindo sua guarda e responsabilidade.

A escola responde pelos danos sofridos

pelos alunos, a menos que se trate de instituição

de ensisino superior, aplicando-se, de qualquer

modo, as previsões do CDC.

7. Responsabilidade dos que gratuitamente

houverem participado nos produtos do crime, até

a quantia concorrente

Aquele que participou, mesmo que

gratuitamente, do produto de um crime,

responderá solidarariamente pela quantia da qual

tirou proveito.

8. Ação regressiva movida pelo responsável em

face do causador do dano

O responsável tem direitoto regressivo

contra o causador do dano, salvo se este for seu

descendente, absoluta ou relativamente incapaz,

ou se, sendo empregado, atuou com dolo ou

culpa grave (art. 462, § 1°, da CLT).

9. RESPONSABILIDADE POR FATO DA COISA OU DO ANIMAL

1. Generalidades

Em regra, cada pessoa responde pelos

seus próprios atos, mas a lei prevê,

excepcionalmente, que alguém seja chamado a

responder por atos de terceiros e pelos danos

causados pelas coisas inanimadas e animais que

tivermos sob nossa guarda.

A responsabilidade por fato das coisas e

animais está ligada a uma conduta específica,

qual seja o dever de guarda. Trata-se de conduta

omissiva.

Guardião é aquele que tem um certo

poder sobre a coisa ou o animal, um poder de

direção. O dono da coisa é seu guardião

presuntivo e, portanto, o responsável pelos

eventuais danos, a não ser que demonstre haver

transferido a guarda para outra pessoa.

2. Responsabilidade objetiva nu culpa presumida

Não há consenso na doutrina e na

jurisprudência sobre a natureza da

responsabilidade civil por fato da coisa e do

animal, visto que no nosso direito convivem a

responsabilidade objetiva e a subjetiva e a nossa

lei não é muito clara a esse respeito. A tendência

na doutrina é a da responsabilidade objetiva. Na

jurisprudência, ora se fundamenta a res-

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ponsabilidade na culpa, ora no risco, de acordo

com as circunstâncias do caso concreto.

3. Responsabilidade por fato do animal

O dono, ou o detentor, responde pelos

danos provocados pelo animal (art. 936). A

responsabilidade é atribuída ao dono do animal,

sempre. O detentor é equiparado ao dono,

naquelas hipóteses em que não é possível

determinar o dono.

Não se pode falarem responsabilidade do

detentor, se o dono do animal é conhecido. Por

fim, não há falar em responsabilidade solidária

entre o dono e o detentor, pois a partícula “ou”

indica que um ou outro deve indenizar a vítima.

A responsabilidade é objetiva.

4. Responsabilidade pela ruína de edifício ou

construção

Em caso de ruína de prédio ou construção,

não cabe indagar sobre quem é o responsável: o

dono, o construtor, o empreiteiro etc. A

responsabilidade é do dono, o qual, se for o caso,

tem ação de regresso contra essas outras pessoas

(CC, art. 937).

A lei prescreve dois requisitos para

caracterizara hipótese do art. 937: que ocorra

ruína do prédio ou construção; que tal se deva à

falta de reparos cuja necessidade fosse

manifesta.

A redação do art. 937 dá a entender que o dono

do prédio ou da construção pode se eximir da

responsabilidade se demonstrar que não teve

culpa no evento, mas é de impossível verificação

no plano fático, pois sua responsabilidade não se

limita a seguiras normas e padrões técnicos de

construção; se o prédio veio abaixo, é porque

essas normas técnicas não foram

adequadamente seguidas ou foram insuficientes.

A responsabilidade é objetiva, cabendo à

vitima provar somente o dano e o nexo causal.

5. Responsabilidade por coisas caídas do prédio

ou lançadas fora do lugar

O morador responde pelos danos

causados em virtude de coisas que caírem do

prédio ou que forem lançadas em lugar impróprio

(CC, art. 938). A responsabilidade não é do

proprietário, mas sim do habitante, que pode ser

o dono, e também o inquilino, o comodatário etc.

A hipótese é de responsabilidade objetiva.

6. Responsabilidade relacionada a veículos

A responsabilidade por danos

relacionados a veículos mereceria um tratamento

legal específico. No entanto, é tratada pela regra

geral da responsabilidade por culpa, já que a

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maioria dos eventos se refere à condução dos

veículos. Mas outros eventos danosos,

envolvendo veículos, podem acontecer por falha

no dever de guarda, em especial por falta de

manutenção. São hipóteses claras de

responsabilidade por fato da coisa, relacionadas à

falha no dever de guarda e cuidado.

Nesses casos, fica evidenciado que a

responsabilidade é objetiva.

Há ainda a responsabilidade por coisas

que caem ou são lançadas dos veículos parados

ou em movimento e a responsabilidade por

veículo dado em empréstimo, a que se atribui

natureza objetiva, por falha no dever de guarda e

cuidado.

Diversa é a hipótese dos danos causados

por veículo furtado, a qual não pode ser atribuída

ao dono, posto que este é vítima do evento e não

tem poder de controle sobre a coisa subtraída.

A responsabilidade relacionada a veículos,

por danos causados às propriedades fronteiriças

das estradas, pode ganhar contornos diversos,

conforme o caso concreto. De regra, trata-se de

responsabilidade objetiva.

10. Responsabilidade Civil por Abuso de Direito

1. Generalidades

A responsabilidade civil está relacionada à

prática de ato ilícito, o abuso de direito é

equiparado a ato ilícito (CC, art.187).

O abuso de direito está relacionado não

ao exercício propriamente dito, mas ao modo de

exercê-lo.Trata-se de uma mesma ação, que é

lícita em si, mas que se torna ilícita pelo modo.

A responsabilidade por abuso de direito é

objetiva, mais por força de interpretação

doutrinária do que por sua própria estrutura.

2. Abuso de direito na demanda de dívida não

vencida ou já paga

O Código prevê expressamente a hipótese

de o credor demandar dívida ainda não vencida

ou já paga (arts. 939 e 940). A lei fixa os limites da

indenização, independentemente de verificação

efetiva de um dano ao devedor ou que o dano

seja maior do que o fixado na lei.

Nesse caso, a responsabilidade é

claramente objetiva.

3. Outras modalidades de abuso de direito

Todos os direitos devem ser exercidos

dentro dos limites da boa-fé, dos bons costumes

e da função social. Porém, todos os direitos são

suscetíveis de abuso por seus titulares. Podemos

apontar, por exemplo, abuso do direito de

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propriedade, abuso do direito de crédito e abuso

de direito nas relações familiares.

11. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

1. Generalidades

O Estado-Administração pratica atos por

meio dos seus órgãos e agentes, cujos efeitos

repercutem nas esferas de interesses das pessoas

físicas e jurídicas de um modo geral. A questão é

saberem que medida o Estado responde pelos

danos causados às pessoas, em virtude dos atos

por ele praticados.

2. Teorias sobre a responsabilidade civil do Estado

A teoria da responsabilidade civil do

Estado passou por vários estágios de evolução,

que vão desde a ausência total de

responsabilidade até a responsabilidade objetiva.

Essa evolução acompanhou aproximadamente a

evolução da própria concepção de Estado, que

vem desde o absolutismo, passa pelo Estado

Social e alcança o atual Estado Social

Democrático.

3. A responsabilidade civil do Estado no Brasil

O direito brasileiro jamais acolheu a tese

da irresponsabilidade total do Estado. Na

Constituição do Império e na primeira

Constituição da República, os funcionários

públicos eram responsáveis pelos atos praticados

no exercício das suas funções. A partir da

Constituição de 1946, instalou-se a

responsabilidade objetiva do Estado.

4. Aspectos relevantes da responsabilidade

objetiva do Estado, no Brasil

O art. 15 do Código Civil de 1916

estabelecia a responsabilidade do Estado por atos

dos seus representantes, mediante prova da

culpa. Mas a doutrina e a jurisprudência já

admitiam a responsabilidade objetiva, com base

na teoria organicista e na faute du service.

Uma vez instalada na Constituição de

1946, a responsabilidade objetiva do Estado foi

mantida nos textos constitucionais que se

seguiram.

A responsabilidade objetiva do Estado não

implica a adoção da teoria do risco integral.

5. Situação atual da responsabilidade objetiva do

Estado, no Brasil

Atualmente, a responsabilidade civil do

Estado é prevista no art. 37, § 6°, da Constituição

Federal.

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A substituição do termo funcionário

público por agente implica em aumentar o

alcance dessa expressão.

A responsabilidade do Estado só se

caracteriza se o ato danoso for praticado pelo

funcionário durante o serviço ou em razão do

cargo ou função.

A responsabilidade do Estado afasta a

responsabilidade pessoal do agente público.

Se o Estado, no exercício de uma

determinada atividade, causa danos a terceiros,

responde pelos prejuízos, não importa se a ação

foi omissiva ou comissiva. Por outro lado, se a

omissão do Estado se referir ao não exercício da

atividade, os danos decorrentes da falta dessa

atividade só podem ser atribuídos ao Estado

mediante demonstração de sua culpa.

6. Responsabilidade por danos causados pelas

empresas prestadoras de serviço público

As empresas prestadoras de serviço

público são objetivamente responsáveis pelos

atos dos seus empregados, em razão da

prestação do serviço público.

7. Responsabilidade por danos decorrentes de

obras públicas

Se o Estado, ao invés de executar

diretamente uma obra, prefere confiar a

execução a uma empresa privada, é sua a

responsabilidade pelo fato da obra e pela

execução, podendo, contudo, acionara empresa

contratada, em caso de culpa desta e de acordo

com o contrato firmado.

Há uma falha no sistema de

responsabilidade estatal, visto que, por um lapso,

o art. 37, § 6°, da Constituição, trata de maneiras

distintas as empresas prestadoras de serviço

público e as construtoras contratadas para

executar obras públicas.

8. Responsabilidade pela guarda de coisas e

pessoas perigosas

O Estado é objetivamente responsável

pelos eventuais danos que causar aos

particulares, por falha no dever de guarda de

coisas e pessoas consideradas perigosas.

9. Responsabilidade por fato de terceiro e fato da

natureza

De regra, o Estado não responde por fato

de terceiros ou da natureza, para

cujaocorrêncianãocontribuiu nem poderia ter

contribuído. No entanto, em alguns casos, as

conseqüências dos fatos naturais são agravadas

pela ação ou omissão do Estado. Ou, então, o

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Estado se omitiu quando deveria agir para evitar

o evento danoso. Nessas hipóteses, pode-se falar

em responsabilidade subjetivado Estado,

poromissão, por deixar de agir como deveria para

evitar o evento danoso.

10. Responsabilidade por danos decorrentes de

atos dos tabeliães

A questão oferece certa dificuldade,

porque os cargos notariais são criados por lei e

providos por concurso público, e os atos notariais

são fiscalizados pelo Estado e têm fé pública,

características essas que são inerentes à condição

de funcionário público. Isso levou o Supremo

Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade,

a decidir pela responsabilidade objetiva do

Estado.

11. Responsabilidade por atos legislativos e

jurisdicionais

A rigor, somente os atos da Administração

deveriam gerar riscos e, eventualmente, causar

danos à coletividade. Mas o Poder Legislativo e o

Poder Judiciário também praticam atos de

administração e, nesse caso, produzem risco e

eventuais danos para a coletividade.

A atividade estatal envolve

concomitantemente o exercício do poder e a

prestação de serviço público. No que se refere

aos atos de administração, não resta nenhuma

dúvida: o Estado responde objetivamente pelos

eventuais danos causados aos usuários. Dúvida

pode existir quanto à responsabilidade do Estado

por atos de poder: edição de leis e decisões

judiciais.

Entendemos que a responsabilidade civil

do Estado alcança os danos decorrentes dos atos

judiciais não somente nas hipóteses de erro

judicial e excesso de prisão (art.5°, LXXV, CF), mas

em todos os casos em que as conseqüências do

ato judicial ultrapassarem os limites que devam

ser regularmente suportados pelas partes e por

terceiros.

O art. 37, § 6°, da Constituição, se não

revogou o art. 133, I e II, do Código de Processo

Civil e o art. 49, I e II, do Estatuto da

Magistratura, os tornou letra morta, ao assegurar

que o prejudicado pode acionar diretamente o

Estado para se ressarcir dos danos decorrentes

dos atos judiciais.

12. Responsabilidade por atos legislativos

Afirma-se a regra da irresponsabilidade do

Estado por atos legislativos, uma vez que estes

não são aptos a produzir danos diretamente às

pessoas, com exceção das chamadas leis formais,

destinadas à regulamentação de situações

concretas individuais.

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13. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL

1. Generalidades

No plano jurídico, o dever de conduta

decorre da lei, visto que ninguém é obrigado

afazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude dela (art. 5°, II, CF). A lei especifica as

condutas exigidas, enuncia um padrão de

conduta ou então autoriza que as pessoas

estabeleçam deveres de conduta, por livre

manifestação de vontade.

Na responsabilidade civil contratual, o

deverde conduta decorre diretamente da lei, é

genérico e indeterminado; na responsabilidade

contratual, o dever decorre indiretamente da lei,

mas é específico e determinado por força do

contrato.

Na responsabilidade contratual, há uma

delimitação da conduta a ser praticada pelas

partes e, na maioria dos casos, uma

determinação dos efeitos decorrentes da sua não

observância.

Há uma relação de subsidiariedade entre

responsabilidade contratual e extracontratual, no

tocante à conduta e aos efeitos decorrentes do

descumprimento. Não havendo especificação da

conduta a ser prestada ou dos efeitos do

descumprimento, aplica-se a cláusula geral de

não lesar ditada pela lei - responsabilidade

extracontratual.

Na responsabilidade extracontratual, a

relação jurídica se constitui a partir da conduta

lesiva, enquanto na responsabilidade civil

contratual a relação jurídica é pré-existente.

Na responsabilidade extracontratual, há

um dever negativo de conduta, qual seja o de não

prejudicar nem causar dano a ninguém; na

responsabilidade contratual, há em regra um

dever positivo de prestar determinada conduta e,

com isso, adimplir a obrigação.

Na responsabilidade civil extracontratual,

a obrigação de indenizar, em regra, está

relacionada à extensão do dano (art. 944, caput e

parágrafo único, CC), enquanto na

responsabilidade civil contratual existe o dever de

prestar a conduta pactuada, cujo

inadimplemento produz as conseqüências

igualmente pactuadas.

A responsabilidade contratual e a

responsabilidade extracontratual apresentam

mais diferenças do que semelhanças, razão pela

qual se poderia dizer que se tratam de institutos

completamente diversos, tendo em comum

apenas a finalidade de promover a reparação de

danos decorrentes do descumprimento de um

dever jurídico.

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2. Pressupostos da responsabilidade civil

contratual

Para que exista responsabilidade civil

contratual, é necessária a existência de um

contrato válido, a inexecução do contrato e o

dano conseqüente. Para que surja a

responsabilidade civil contratual, é necessário

que haja um vínculo contratual entre as partes.

Além disso, impõe-se que o contrato seja válido e

eficaz.

Uma vez firmado o contrato válido e

eficaz, é preciso que ocorra o seu

descumprimento total ou parcial para que surja o

dever de reparar os danos.

Para que haja dever de indenizar, é

necessário que do descumprimento do contrato

resulte dano para a outra parte.

3. Inadimplemento

O inadimplemento da prestação ajustada

pode ser total ou parcial, absoluto ou relativo.

Dá-se o inadimplemento total nos casos

em que o devedor deixa de cumprir

integralmente a obrigação; parcial, naqueles em

que o devedor cumpre apenas uma parte da

obrigação, deixando outra parte em aberto, ou

então cumpre a obrigação em tempo, modo e

lugar diversos do que foi ajustado.

Ocorre inadimplemento absoluto nos

casos em que, devido à natureza da obrigação,

uma vez descumprida, torna-se impossível o seu

cumprimento pelo devedor, ainda que essa seja a

sua vontade. O inadimplemento relativo se dá

quando o descumprimento total ou parcial da

obrigação deixa em aberto a possibilidade de seu

adimplemento.

4. Mora

Mora é o inadimplemento relativo da

obrigação, pois quem se acha em mora sempre

tem a possibilidade de cumprira obrigação. Mas o

inadimplemento relativo pode se tornar absoluto,

por causa superveniente, como, por exemplo, a

morte do credor.

A mora pode ser do credor (accipiendi ou

creditoris) ou do devedor (solvendi ou debitoris).

A mora pode ser ex re, quando a

obrigação tiver que ser cumprida em termo certo,

hipótese em que se consuma

independentemente de notificação do devedor

(art. 397, CC); ou ex persona, em que não há data

fixada para o cumprimento da obrigação,

fazendo-se necessária a notificação do devedor

para constituí-lo em mora (art. 397, parágrafo

único).

5. Juros demora e cláusula penal

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Os juros demora são uma estimativa dos

danos para ocaso de inadimplemento relativo.

Caso as partes não tenham previsto no

contrato a contagem de juros moratórios, estes

serão contados à mesma taxa que incide sobre a

mora no pagamento de impostos devidos à

Fazenda Nacional (art. 406, CC). Atualmente,

seria a taxa Selic.

Há uma polêmica acerca da legalidade da

taxa Selic, mas prevalece o entendimento de que

a mesma é válida.

A cláusula penal é uma estimativa das

perdas e danos decorrentes do inadimplemento

do contrato. Conforme o art. 409 do Código Civil,

a cláusula penal aplica-se tanto ao

inadimplemento absoluto quanto à mora ou

inadimplemento relativo.

A cláusula penal é um contrato acessório.

Cláusula penal compensatória é aquela

que incide sobre o inadimplemento integral da

obrigação.

Cláusula penal moratória é aquela

estipulada para o caso de atraso no cumprimento

da obrigação, ou em segurança especial de outra

cláusula contratual.

14. Responsabilidade Pré e Pós-Contratual

1. Formação do contrato

A autonomia da vontade, a boa-fé objetiva

e a confiança devem sempre estar presentes nas

manifestações de vontade.

Os efeitos resultantes da relação

contratual podem ser delineados na fase

pré-contratual, na conclusão do contrato e na

fase pós-contratual.

2. Recusa em contratar

Ninguém é obrigado a concluir um

contrato se assim não o desejar.

Quando a não-contratação tem fins

nocivos, transmuda-se em abuso de direito e

como tal deve ser punida.

3. Vinculação das tratativas preparatórias

A proposta dirigida ao seu destinatário, de

algum modo, vincula o proponente, servindo

como meio hábil a se provar a intenção pré-con-

tratual.

Os interessados recorrem às tratativas

preliminares para decidir se lhes convinha ou não

contratar, sendo justo que do contrato desertem,

se verificada sua inconveniência.

O pré-contrato não exige consentimento

deliberado e nem obriga quem dele participa.

O abandono injustificado, fruto de mero

capricho de um dos interessados, conflita com os

princípios de boa-fé, probidade, função

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econômica e social do contrato, além de poder

configurar abuso de direito.

4. Quantum indenizatório

Para uma corrente, o quantum

indenizatório não deve ser fixado no mesmo

montante do equivalente à vantagem pretendida

pelo interessado com a conclusão do contrato,

mas deve ser capaz de possibilitar o retorno de

seu patrimônio àquele estado em que se

encontrava antes de ter realizado as necessárias

despesas que levariam à sua conclusão.

Para outra corrente, o quantum

indenizatório deve ser equivalente ao proveito

que o interessado teria obtido, caso as sérias

tratativas desembocassem na conclusão

contratual.

5. Responsabilidade pré-contratual no CC e no

CDC

No CC, a responsabilidade pré-contratual

resolve-se a partir da teoria do abuso de direito,

cabendo ao prejudicado pleitear indenização

pelos danos decorrentes da não conclusão do

contrato. Jamais poderá ajuizar ação de

obrigação de fazer com a finalidade de compelir o

outro interessado a concretizar o contrato.

Nas relações disciplinadas pelo CDC, se o

fornecedor furtar-se ao cumprimento

daoferta,apresentaçãoou publicidade em seus

exatostermos, o consumidor poderá exigir o

cumprimento forçado da obrigação, nos termos

da oferta, apresentação ou publicidade.

6. Responsabilidade pós-contratual

Apesar de concluído o contrato, uma ou

ambas as partes poderá continuar responsável

por eventuais danos dele decorrentes, porque

persistem os chamados deveres anexos das

partes, inerentes à boa-fé que norteiam toda a

contratação.

Caracterizam-se como responsabilidade

pós-contratual o dever do franqueado de não

utilizar ou revelar as técnicas de mercado que

lhes foram passadas pelo franqueador; e o dever

de não colocação de produtos no mercado, que

acarretem alto grau de periculosidade ou

nocividade à saúde dos consumidores.

15. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR

1. O contrato de transporte

É característica do contrato de transporte

a cláusula de incolumidade que encerra uma

obrigação de resultado, isto é, a garantia do êxito

da diligência.

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O transportador responde por prejuízos e

lesões, além de atrasos e suspensões das viagens.

A responsabilidade do transportador nem

sempre é contratual, podendo este se relacionar,

além dos passageiros, com empregados ou

terceiros. Com relação aos empregados, trata-se

da órbita do acidente de trabalho. No que tange a

terceiros, a responsabilidade é aquiliana e

objetiva, por força do art. 37, § 6°, da CF, bem

como pela aplicação do art. 17 do CDC.

2. Evolução da responsabilidade do transportador

A origem desta responsabilidade remonta

ao Decreto 2.681, de 1912, que se destinava

exclusivamente ao transporte ferroviário, mas

acabou sendo utilizado analogicamente a outros

tipos de transporte. Seu art. 17 é clássico

exemplo de responsabilidade objetiva, que

somente pode ser ilidida por culpa do viajante,

força maior e caso fortuito.

O Código de Defesa do Consumidor

mantém a responsabilidade objetiva, deslocando,

contudo, seu fundamento para o vício ou defeito

do produto.

O CC/2002 consolidou as mudanças

promovidas pela doutrina e pela jurisprudência.

3. As excludentes de responsabilidade do

transportador

São excludentes da responsabilidade do

transportador o fortuito externo e o fato

exclusivo da vítima ou do terceiro, com ressalvas.

O fortuito interno, assim como o externo,

refere-se a evento imprevisível e inevitável,

porém relacionado à organização daquele que

desenvolve uma determinada atividade. Já o

fortuito externo desvincula-se da atividade

desenvolvida.

O fato exclusivo da vítima deve ser

preponderante no evento danoso, permitindo-se,

contudo, a minoração da responsabilidade em

caso de culpa concorrente.

Fato culposo de terceiro não ilide a

responsabilidade do transportador, mas

tão-somente a conduta dolosa que possa se

desvincular da atividade normal do

transportador.

4. Limite temporal da responsabilidade do

transportador

A responsabilidade do transportador não

necessariamente inicia-se com o pagamento da

passagem. No caso do transporte ferroviário, por

exemplo, tem início com o ingresso do

passageiro.

5. Transporte gratuito

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Na vigência do Código Civil de 1916, ao

transporte gratuito se aplicava a tese

contratualista com responsabilidade atenuada

(Súmula 145, do STJ). Atualmente se utiliza a tese

da responsabilidade extracontratual (art. 736,

CC).

6. Responsabilidade do transportador aéreo

A responsabilidade no transporte aéreo

internacional é igualmente objetiva, conforme já

consolidado pela jurisprudência e depois pelo

CDC. Há controvérsias no que tange à indenização

tarifada prevista na Convenção de Varsóvia, a

qual, segundo nosso entender, não tem aplicação

em razão do disposto no art. 732, do CC/2002.

O mesmo se observa no Código Brasileiro

de Aeronáutica, que contém disposições

pertinentes ao transporte aéreo nacional,

prevendo responsabilidade objetiva também no

caso de responsabilidade extracontratual.

7. Transporte de mercadorias

Também no transporte de mercadoria

tem-se obrigação de resultado (art. 749, CC),

sendo que, neste caso, a indenização pode ser

tarifada (art. 734, parágrafo único).

16. RESPONSABILIDADE NO CONTRATO DE SEGURO

1. Contrato de seguro

Seguro é o contrato pelo qual uma pessoa

jurídica empresária assume a obrigação de

ressarcir os prejuízos advindos de riscos lícitos

sofridos por outrem, em virtude de ocorrência de

evento futuro e incerto, mediante

contraprestação, geralmente consistente no

pagamento de determinada quantia em dinheiro.

Seguro de dano é aquele que visa

assegurar coisas ou pessoas de riscos advindos de

eventos futuros e incertos. Pode ser dividido em

seguro de coisas e em seguro de responsabilidade

civil.

Seguro de pessoas, com base na duração

da vida humana, é aquele que visa garantir ao

segurado ou a terceiro beneficiário, o pagamento

de uma indenização, quando da ocorrência do

sinistro. Pode ser subdividido em seguro de vida e

em seguro contra acidentes pessoais.

2. Obrigações do segurador

Emitir a apólice, após concluído o

contrato, nos termos da proposta aceita pelo

segurado.

Cumprir os pactos celebrados por seus

agentes corretores.

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Pagar a indenização referente ao prejuízo

resultante da verificação do sinistro.

Pagar juros e atualização monetária, se

incorrerem mora no cumprimento de sua

contraprestação.

Responder pelo dobro do prêmio pago

pelo segurado de boa-fé, se expediu apólice

sabendo que o risco já havia cessado.

3. Obrigações do segurado

Pagar o prêmio conforme o avençado.

Prestar fielmente as informações que

constarão da proposta, que servirá de base para a

emissão da apólice.

Comunicar ao segurador primevo a

contratação de novo seguro sobre o mesmo bem

e contra os mesmos riscos.

Comunicar ao segurador, logo que tome

conhecimento, a ocorrência de todo e qualquer

incidente capaz de agravar consideravelmente o

risco coberto, sob pena de perda da garantia, em

caso de má-fé.

4. Seguro de responsabilidade civil

Seguro de responsabilidade civil é

contrato pelo qual o segurador garante ao

segurado, mediante prestação de prêmio por

parte deste àquele, o pagamento de verba

indenizatória a um terceiro ou ao próprio

segurado. Enquanto as demais modalidades de

seguro garantem direitos, o seguro de

responsabilidade garante obrigações.

5. Aspectos positivos e negativos do seguro de

responsabilidade civil

No seguro de responsabilidade, o

beneficiário é terceiro indeterminado que, ao ser

identificado, adquire direitos por força de um

contrato firmado entre segurador e segurado,

sendo-lhe exigido somente a prova do dano

sofrido e a identificação de seu causador.

Em que pese ser o segurado o causador

do dano a terceiro, corre contra o segurador o

dever de indenizar.

O seguro de responsabilidade surge para

evitar a diminuição patrimonial do ofensor,

causada pelo impacto da indenização, com isso

evitando-se ruínas capazes de influenciar

negativamente no cenário social, artístico,

científico e de produção e serviço.

O fato de o terceiro ter direito de ação

diretamente contra o segurador traz-lhe

inúmeras vantagens, dentre as quais se pode citar

a maior solvabilidade do segurador, sem que a

verba indenizatória tenha que passar antes pelas

mãos do segurado para que este efetue o

pagamento, de modo a impedir eventuais

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desvios, bem como evita-se o risco de retenção

da mesma por conta de concurso de credores, em

casos de insolvência civil e falência.

A difusão do seguro de responsabilidade

pode importar em efeitos indesejáveis para a

sociedade, pois tem o condão de esconder o

responsável atrás do segurador, porque, na

prática, quem conduz o processo é o segurador

que, a final, desembolsará a quantia

indenizatória, desvirtuando-se, com isso, o

principal fundamento da responsabilidade civil,

que é a prevenção de danos, já que não é o

ofensor quem suportará o dever ressarcitório.

17. RESPONSABILIDADE DO ADVOGADO

1. Responsabilidade contratual subjetiva

O advogado firma com seu cliente, a

menos que se trate d e defensor público ou

procurador de entidades públicas, contrato de

mandato mediante o qual se obriga a empregar

seu conhecimento de maneira diligente, devendo

prestar contas ao mandante.

A responsabilidade do advogado é

subjetiva (art.14, § 4º, CDC e art. 32, lei

8.906/1994), a menos que se trate de empresa de

advogados.

2. Obrigação de meio

A obrigação do advogado, quando sua

atuação é contenciosa, é tão-somente de meio,

devendo este adotar medidas diligentes em prol

dos objetivos de sua incumbência, sem, contudo,

responsabilizar-se pelo sucesso da demanda. Sua

eventual atuação culposa deve ser provada pelo

cliente.

Já no caso de atuação extrajudicial e

consultiva sua obrigação é de resultado, isto é,

deve ser ultimada sob pena de inadimplemento

contratual.

3. Omissão de providências

O advogado responde pela omissão de

providências, especialmente a ausência de

propositura de ação, quando se caracterizará a

perda da chance.

A perda da chance identifica-se com a

perda de uma oportunidade que poderia ter sido

usufruída pela vítima.

Se houver chances razoáveis de sucesso

na ação, o cliente fará jus à indenização.

A omissão de providências também pode

estar relacionada com as hipóteses que constam

do art. 267, do CPC.

4. A omissão de informações

O advogado também é responsabilizado

pela omissão de informações sobre vantagens e

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desvantagens da medida judicial já proposta e de

outras que poderiam ser tomadas, eis que o

deverde informação integra o contrato de

mandado.

5. A perda de prazo processual

A perda de prazo para cumprimento de

determinação judicial também enseja

responsabilidade com fundamento na perda de

uma chance.

Há, contudo, que ser respeitado o arbítrio

do advogado, a quem cabe considerar a

conveniência ou a admissibilidade de um recurso,

especialmente se se tratar de recurso especial e

extraordinário.

6. Indevido encaminhamento ou patrocínio de

ação temerária, com má-fé ou dolo

A má-fé ou dolo do advogado, quando

cabalmente comprovados, geram

responsabilidade solidária com o cliente pelos

danos causados (art. 32 da lei 8.906/1994).

7. Segredo profissional

O advogado deve respeitar o sigilo

inerente ao seu ofício (art. 34, VII, lei

8.906/1994).

18. RESPONSABILIDADE NO CONTRATOS DE CONSTRUÇÃO

1. Aspectos gerais

O contrato de construção é firmado entre

o empreiteiro (que realiza uma obra ou executa

um serviço) e o dono da obra ou empreitante

(que determina o trabalho que será realizado e

paga o preço da construção).

Trata-se de obrigação de resultado.

O contrato de construção pode ser de

empreitada ou de administração. No contrato de

empreitada, o empreiteiro assume a obrigação de

efetuar uma construção em interesse do dono da

obra, podendo utilizar materiais próprios (na

empreitada de lavor e de materiais) ou somente

sua mão-de-obra (empreitada de lavor).

Quando fornece material, o construtor

responde pelos riscos por caso fortuito até a

entrega da obra, a menos que o dono da obra

esteja em mora. Se quem fornece os materiais é

o empreitante, ele responde pelos riscos.

No contrato de construção por

administração, o proprietário ou dono da obra

assume os riscos e os custos do

empreendimento.

A par destes dois contratos, há que se

mencionar ainda o contrato de incorporação

imobiliária, no qual o incorporadorassume a

obrigação de construir imóveis que serão

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repassados ao adquirente, assim que pagar o

preço convencionado.

2. Obrigações e responsabilidades do empreiteiro

e do dono da obra

A principal obrigação do empreiteiro é

entregar a obra de acordo com os termos do

ajuste. Se houver defeito, o contratante pode

optar pelo recebimento com abatimento de

preço, ou então pela resolução do contrato.

A obrigação mais importante do dono da

obra é seu pagamento, vinculado à aprovação da

construção. Também deve receber a obra.

3. Aplicação da teoria dos vícios redibitórios aos

contratos de construção

Se o vício for aparente, a obra deve ser

rejeitada de imediato. Pode ocorrer, porém, que

esse seja oculto, quando então o dono da obra

poderá ingressar com ação quanti minoris para

abatimento do preço ou então rejeitar a obra,

pleiteando indenização.

Prazo para a redibição ou abatimento do

preço é de um ano, contado da entrega da

construção ou, então, do momento em que se

manifesta o defeito.

4. A responsabilidade dos construtores prevista

no art. 618 do CC/2002

O empreiteiro de materiais e execução

responde pela solidez e segurança de seu

trabalho pelo prazo de cinco anos, que é um

prazo de garantia. O prazo decadencial de 180

dias, previsto no parágrafo único do mencionado

art. 618, se refere somente ao exercício do direito

de ação em relação aos defeitos que podem

surgir dentro do prazo de cinco anos.

responsabilidade extracontratual do construtor A

responsabilidade é solidária do proprietário do

imóvel e do construtor, e também objetiva, na

modalidade de risco-proveito, somente sendo

ilidida pelo fortuito externo. O proprietário do

imóvel pode ingressar com ação regressiva em

face do construtor.

6. A incidência do CDC nos contratos de

construção

Aplica-se o CDC sempre que a construção

for realizada para o destinatário final.

A responsabilidade também será objetiva,

mas agora com fundamento no defeito do

produto (material) ou serviço (construção

propriamente considerada).

7. A responsabilidade do incorporador

O incorporador deve proceder ao registro

imobiliário do título da constituição da

incorporação. Se não o fizer, fica responsabilizado

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pelo reembolso dos valores pagos pelos

adquirentes, além de eventuais danos que

possam ter sofrido. Esta responsabilidade é

solidária com a do proprietário do terreno.

A inadimplência enseja o pagamento de

multa de 50% por parte do incorporador.

É responsável pela inexecução ou

execução imperfeita do contrato, solidariamente

com o construtor.

O incorporador também é responsável

pelas unidades que não foram vendidas.

19. RESPONSABILIDADE DOS ENCARREGADOS DA GUARDA

DE VEÍCULOS

1. Depósito e guarda

Depósito é o contrato em que o

depositário recebe um objeto móvel alheio

obrigando-se a guardá-lo e conservá-lo,

restituindo-o quando reclamado pelo

depositante.

O depositário tem, como obrigação de

resultado, a de manter em segurança a coisa

depositada, havendo presunção de culpa em seu

desfavor.

O contrato de depósito ou de guarda tem

como uma de suas principais características a

transferência temporária da guarda de veículos,

pedra de toque para a imputação de

responsabilidade por dano ou subtração da coisa.

Pode haver o dever de guarda de veículos

em outras modalidades contratuais em que não

se configura o depósito por inocorrer a tradição,

permanecendo as chaves do veículo com seu

possuidor, assumindo o guarda a obrigação de

vigiá-lo e zelar para que não seja subtraído ou

danificado.

Para a teoria da guarda, o guardião

somente se exonera do dever de reparar o

prejuízo causado se provar caso fortuito ou de

força maior ou culpa exclusiva da vítima.

2. Responsabilidade dos estacionamentos

Se oneroso, o contrato de estacionamento

assemelha-se ao de locação, pois aquele que o

explora somente responderia por fato provado,

ao passo que, no depósito, há presunção de culpa

em desfavor do depositário.

Para a tese negativista, a pessoa

empresária não responde pelos prejuízos

experimentados pelos possuidores, dada a

gratuidade do estacionamento.

Para outra corrente, a gratuidade do

estacionamento, via de regra, é apenas aparente.

Pela Súmula 130 do STJ, a empresa responde pela

reparação de dano ou furto de veículo ocorridos

em seu estacionamento.

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O explorador de estacionamentos

enquadra-se no conceito de fornecedor do CDC,

tendo, portanto, responsabilidade objetiva.

A jurisprudência do STJ não distingue

entre o consumidor que efetua compras e o que

não as efetua, pois, havendo vigilância no local, é

cabível a responsabilidade.

Haverá responsabilidade dos hotéis e

restaurantes em que há transferência da guarda

do veículo ao manobrista do estabelecimento.

Raramente haverá responsabilidade de

escolas e universidades, porque geralmente não

há depósito, por não haver a entrega do veículo

ou de suas chaves, nem há obrigação de guarda,

configurando-se apenas uma permissão de uso

de determinado espaço.

3. Responsabilidade de oficinas e postos

Ao confiar-se um veículo a uma oficina ou

a um posto, há transferência da guarda, o que

determina a responsabilidade do

estabelecimento por subtração ou danos.

Para o STJ, a oficina que recebe um

veículo responsabiliza-se por sua guarda, ainda

que diante da ocorrência de roubo à mão

armada. Não cabe excludente de

responsabilidade neste particular, por se cuidar

de acontecimento previsível em negócios dessa

espécie.

Os postos e oficinas respondem por danos

que seus empregados causarem a terceiros,

quando na guarda do veículo.

Apenas haverá responsabilidade do posto

quanto aos veículos que lá pernoitam, quando

houver assunção da guarda.

Quanto à exclusão de responsabilidade

em caso de assaltos à mão armada em postos, o

STJ enuncia ser a inevitabilidade e não a

imprevisibilidade o que mais tem relevância para

caracterizar o caso fortuito.

20. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE ACIDENTES DE

TRABALHO

1. Acidente de trabalho

Acidente de trabalho é o fato causador de

danos ao trabalhador, vinculado ao serviço

prestado a um tomador, oriundo de

acontecimento repentino, geralmente fortuito e

violento, atingindo-lhe a integridade física ou

psíquica.

2. Indenização a cargo do INSS

É concedida pela Previdência Social, em

regime de monopólio, ao trabalhador vítima de

infortunística de trabalho.

A responsabilidade do INSS é objetiva,

cabendo a inversão do ônus da prova do nexo

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causal em favor do acidentado, nos casos

especificados em lei.

O prazo prescricional da pretensão

indenizatória do acidentado em face do INSS, de

competência da justiça estadual, é de 5 anos,

segundo a Lei 8.213/1991.

3. Indenização a cargo do tomador de serviços

Cumulativamente à indenização do INSS,

incide a responsabilidade do tomador, quando

houver agido com culpa, em razão dos danos

sofridos pelo trabalhador.

A responsabilidade do tomador é, em

regra, subjetiva, exceto quando a atividade

normalmente desenvolvida pelo empregador ou

comitente, por sua natureza, implicarem risco

para os direitos dos trabalhadores em geral, caso

em que será objetiva.

Não se compensam a indenização devida

pelo explorador da atividade com os benefícios

previdenciários eventualmente percebidos, por

diversos serem seus fundamentos.

O prazo prescricional para se demandar

reparação é de 3 anos, com termo inicial na data

em que o segurado teve ciência inequívoca da

incapacidade laboral.