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LUCIANO COSTA NOVA RICARDO ARIAS NUNES RESPONSABILIDADE FISCAL – OS IMPACTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE E OS REFLEXOS NA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL Trabalho de conclusão do curso de Especialização em Administração de Empresas da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Orientador: Prof. Dr. Robinson Tenorio Salvador 2002

RESPONSABILIDADE FISCAL – OS IMPACTOS NO … · Isto posto, reforçamos a importância de se avaliar como a LRF está sendo aplicada e suas implicações para a administração

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LUCIANO COSTA NOVA

RICARDO ARIAS NUNES

RESPONSABILIDADE FISCAL – OS IMPACTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE E OS

REFLEXOS NA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Trabalho de conclusão do curso de Especialização em Administração de Empresas da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Orientador: Prof. Dr. Robinson Tenorio

Salvador 2002

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RESUMO

O objetivo principal desse projeto de pesquisa foi verificar o nível de conformidade da Prefeitura Municipal de São Francisco do Conde no que concerne ao cumprimento das disposições constantes da Lei de Responsabilidade Fiscal e em que medida a promulgação da lei influenciou a vida dos munícipes. Face à natureza do problema pesquisado, optou-se pela metodologia de pesquisa construtivista, mas adequada no tratamento de questões subjetivas. A análise dos dados coletados reforça a percepção da amostra entrevistada e indica um alto grau de aderência às exigências do novo modelo de responsabilidade fiscal adotado no país. Os grandes benefícios, diretos e indiretos, usufruídos pelo cidadão, nesse curto período de vigência da lei, demonstram que a conseqüência direta do equilíbrio fiscal das contas públicas é o melhor aproveitamento dos recursos de modo a garantir, de forma mais transparente e eficiente, o atendimento à demanda da sociedade e o seu bem-estar. Palavras-chave: Responsabilidade; Fiscal; São Francisco do Conde; Conformidade; Sociedade

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ABSTRACT

The main goal of this research work was verify the compliance level of county of São Francisco do Conde concerning about the execution of the Lei de Responsabilidade Fiscal’s rules and how the publishment of the low influence the citizen’s life. The problem researched, it was choose the naturalistic methodology, more adjusted to treat subjective questions. The analysis of the research’s data denotes a compliance with fiscal responsibility of the country. The Benefice, direct and indirect, uses by the citizen, during the validity of the law, demonstrate as a result of keeping fiscal balance

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

2. COMENTÁRIOS À LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL .................................... 10

2.1 ALCANCE DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL......................................... 10

2.1.1 Responsabilidade Fiscal no Mundo ...................................................................... 10

2.1.2 A Lei de Responsabilidade Fiscal no Brasil.......................................................... 12

2.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO FISCAL BRASILEIRA.......................................... 13

2.3. CONSEQUÊNCIAS DO DESEQUILIBRIO ORÇAMENTÁRIO .............................. 16

2.4 AS MUDANÇAS PROMOVIDAS PELA LEI DE RESPONSABILIADE FISCAL NO

BRASIL..................................................................................................................................... 18

3 O MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE ..................................................... 21

3.1 HISTÓRICO DO MUNICÍPIO..................................................................................... 21

3.2 A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO ............................................................................... 22

4 INSTRUMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA ................................................................... 24

4.1 PLANO PLURIANUAL (PPA) .................................................................................... 24

4.1.1 Objetivos................................................................................................................ 25

4.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO) ................................................... 26

4.2.1 Anexo De Metas Fiscais ........................................................................................ 27

4.2.2 Anexo De Riscos Fiscais........................................................................................ 27

4.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA)..................................................................... 28

4.3.1 Aspectos Importantes a Serem Obedecidos no Projeto da Loa ............................ 28

5 PARÂMETROS DE GESTÃO FISCAL........................................................................... 30

5.1 RECEITA PÚBLICA .................................................................................................... 30

5.1.1 IPTU ...................................................................................................................... 31

5.1.2 ISS.......................................................................................................................... 31

5.1.3 ITBI........................................................................................................................ 32

5.1.4 Outras Taxas ......................................................................................................... 32

5.1.5 Cobrança Da Dívida Ativa .................................................................................... 32

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5.1.6 Receitas Financeiras ............................................................................................. 33

5.1.7 Renúncia de Receita .............................................................................................. 33

5.2 DESPESA PÚBLICA.................................................................................................... 34

5.2.1 Despesas com Serviços de Terceiros..................................................................... 34

5.2.2 Despesas Com Pessoal .......................................................................................... 34

5.2.3 Limites De Gastos Com Pessoal............................................................................ 35

5.2.4 Despesas Com Seguridade Social ......................................................................... 36

5.2.5 Transferências Voluntárias ................................................................................... 37

5.2.6. Dívida Pública e Endividamento........................................................................... 38

5.2.7 Garantia e Contragarantia.................................................................................... 38

5.2.8 Restos a Pagar e Despesas de Exercícios Anteriores ........................................... 38

5.2.9 Gestão Patrimonial ............................................................................................... 38

5.2.10 Transparência, Controle e Fiscalização ............................................................... 39

6 QUESTÕES OPERACIONAIS ......................................................................................... 40

6.1 O QUE MUDOU NA GESTÃO FINANCEIRA DO MUNICÍPIO? ........................... 40

6.2 QUAIS OS INSTRUMENTOS USADOS NA ADEQUAÇÃO À LEI DE

RESPONSABILIDADE FISCAL? ........................................................................................... 40

6.3 HOUVE ALGUMA MELHORA NO MUNICÍPIO APÓS A PROMULGAÇÃO DA

LRF? 41

6.4 QUAL O PLANEJAMENTO DA PREFEITURA NO MÉDIO E LONGO PRAZO? 41

6.5 QUAIS AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS UTILIZADAS PELA

PREFEITURA? ......................................................................................................................... 42

7 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 43

7.1 ABORDAGEM ............................................................................................................. 43

7.2 LOCAL.......................................................................................................................... 43

7.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA .......................................................................................... 44

7.4 INSTRUMENTOS DE COLETA ................................................................................. 44

7.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS....................... 45

8 ANÁLISE DE DADOS........................................................................................................ 46

8.1. MUDANÇAS NA GESTÃO FINANCEIRA DO MUNICIPIO................................... 46

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8.2. INSTRUMENTOS USADOS NA ADEQUACAO DA LEI ........................................ 47

8.3. MELHORIAS OBSERVADAS DEPOIS DA PROMULGAÇÃO DA LEI ................ 48

8.4. PLANEJAMENTO DA PREFEITURA A LONGO PRAZO....................................... 52

8.4.1. BB Recebimentos ................................................................................................... 52

8.2.1 Pagamento Eletrônico de Empenhos e Ordens Bancárias – OBN........................ 53

8.2.2 BB Conta Única..................................................................................................... 53

8.2.3 BB Cobrança da Dívida Ativa ............................................................................... 53

8.2.4 BB Aplicações........................................................................................................ 53

8.5. FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS UTILIZADAS ................................................. 54

9. CONCLUSÃO...................................................................................................................... 56

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 58

11 ANEXOS .............................................................................................................................. 62

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Responsabilidade Fiscal no Mundo .............................................................................. 11

Figura 2 - Evolução das Receitas Municipais ............................................................................... 50

Figura 3 - Evolução dos Repasses Municipais .............................................................................. 51

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1. INTRODUÇÃO

Podemos seguramente considerar que o déficit público é um dos grandes culpados pelas

dificuldades econômicas da União, estados e municípios. Em termos gerais, o desequilíbrio fiscal

ocorre quando o ente governamental apura déficit fiscal de forma sistemática e continuada.

A necessidade de disciplinar a gestão dos recursos públicos levou o governo federal a sancionar,

em 04 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que pode ser entendida como

o "Código de Conduta dos Administradores Públicos". Representa um instrumento para

auxiliar os governantes a gerir os recursos públicos dentro de um marco de regras claras e

precisas, aplicadas a todos os administradores e em todas as esferas de governo, relativas à gestão

da receita e da despesa públicas, ao endividamento e à gestão do patrimônio público. Além disso,

a Lei consagra a transparência da gestão como mecanismo de controle social, através da

publicação de relatórios e demonstrativos da execução orçamentária, apresentando ao

contribuinte a utilização dos recursos que ele coloca à disposição dos governantes.

O alcance da LRF é bastante amplo. Ela reconhece os municípios e estados como entes da

Federação, ou seja, o cumprimento da lei é obrigação de todas as esferas administrativas. Salvo

algumas diferenciações derivadas da competência constitucional, União, Distrito Federal, estados

e municípios precisaram se adaptar às novas exigências impostas pela LRF.

Percebe-se claramente, com base nas informações levantadas, que a LRF instaura uma nova fase

na gestão do dinheiro público, procurando coibir atos governamentais irresponsáveis e lesivos ao

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erário. O estrito rigor na condução das questões orçamentárias significa maior flexibilidade

administrativa para o gestor e melhor qualidade de vida para o cidadão, visto que o equilíbrio

fiscal se reflete em maior desenvolvimento social.

A mudança de atitude dos nossos políticos em relação à administração da “coisa pública” não é

simples. O Brasil sofreu com anos de desmandos políticos e malversação dos recursos, fato que

contribuiu decisivamente para a deterioração da educação, saúde, habitação em nossos

municípios, bem como para macular a imagem dos políticos, constantemente associada à

corrupção.

O presente trabalho de pesquisa pretende avaliar os impactos da LRF no município de São

Francisco do Conde e os benefícios que sua adoção proporcionou à comunidade.

A despeito do grande volume de receitas fiscais, o município atravessou, nos últimos anos,

problemas na administração financeira, que culminaram com a eleição de um grupo político de

oposição.

A escolha de São Francisco do Conde como objeto de pesquisa pautou-se nas peculiaridades do

município que possui elevada arrecadação, sem que essa vantagem se traduza na melhoria dos

índices de desenvolvimento social. Isto posto, reforçamos a importância de se avaliar como a

LRF está sendo aplicada e suas implicações para a administração municipal e, principalmente,

para a população.

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2. COMENTÁRIOS À LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

2.1 ALCANCE DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

2.1.1 Responsabilidade Fiscal no Mundo

A elaboração de leis que regulamentem a gestão fiscal pública e uma preocupação de vários

países do mundo. Um estudo apresentado durante o Seminário Internacional sobre Transparência

e Responsabilidade Fiscal, realizado em dezembro de 2001, na sede do BNDES, no Rio de

Janeiro, mostra a crescente importância da política fiscal como instrumento de política

econômica, devido ao atual processo de globalização e dos tipos de regimes cambiais

implementados em vários países. Mas sua importância vai além dos agregados

macroeconômicos: o gasto público tem impacto direto sobre a população, na medida em que

proporciona bens, serviços e segurança, e cria oportunidades para a geração de emprego e renda.

Nas últimas décadas, tanto os países desenvolvidos, como aqueles em desenvolvimento, vêm

adotando medidas para atacar desequilíbrios e déficits fiscais, cada um seguindo uma tendência.

O quadro seguinte mostra a situação de alguns países que adotaram instrumentos de

responsabilidade fiscal e suas principais características.

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Figura 1 - Responsabilidade Fiscal no Mundo

Características Nova

Zelândia Argentina Peru Brasil Colômbia Espanha Equador

Cobertura Setor público

não

financeiro Governo

central Setor público não

financeiro 3 níveis de governo

e 3 níveis de poder

Governos

subnacionais e

seus poderes

Objetivos para todos

os níveis, específicos

para o governo

central

3 níveis de

governo

Restrições

Orçamentárias Não

determinadas

na lei

Equilíbrio

fiscal em

2005

Déficit de 1% do

PIB a partir de

2002. Limites para

o crescimento real

das despesas

Senado estabelece

limites para

despesas com

pessoal e na

composição do

gasto total

Limites para

despesas com

pessoal Governo estabelece

limites anuais

Déficit

fiscalmenor

do que 2%

do PIB.

Limites de

liquidez e

solvência

para

governos

subnacionai

s

Estudos de

Estabilização Não Sim. Com

recursos do

Orçamento

Sim. Depende da

flutuação das

receitas Não Não nessa lei

Sim. Com recursos

do Orçamento,

alocados todos os

anos

Não nessa

lei

Transparência Relatórios Relatórios Relatórios Relatórios Relatórios RelatóriosCentral de

Informações Relatórios

Accountability Sim Não Não Sim Sim Sim Sim

Sanções

específicas Não Não Não Sim, institucionais

e pessoais Não Não Sim,

institucionai

s e pessoais

O movimento teve início nos Estados Unidos, nos anos 80, quando o governo introduziu vários

mecanismos para alcançar um orçamento equilibrado, cujas normas de disciplina e controle de

gastos levaram à edição do Budget Enforcement Act1. Já os países europeus utilizaram regras

fiscais para aprofundar a integração econômica, com o Tratado de Maastrich2, de 1992. Por

1 Normas fiscais que contemplam apenas o Governo Federal. Instituem o princípio do pay as you go que determina que qualquer aumento de despesa deve ser compensado. 2 Regras fiscais que disciplinam os gastos públicos nos países da Comunidade Européia

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último, a nova Zelândia estabeleceu o Ato de Responsabilidade Fiscal3, consolidando princípios e

uma nova estrutura fiscal buscando melhor manejo e maiores transparência e avaliação.

Na América Latina a Argentina foi a primeira a ter uma lei fiscal (Lei de Solvência Fiscal). A lei

argentina difere muito da brasileira porque é uma lei de metas, de conversibilidade, e não há

obrigação de estados e municípios cumprirem as metas (existe obrigação legal mas não há poder

para impor), pois não existem penalidades. Apenas o governo central está sujeito a regras.

Atualmente, o Banco Mundial, a OCDE4 e o FMI5 têm interesse de levar a discussão da

responsabilidade fiscal para os países africanos e asiáticos, e começou pela China. Em Cuba o

interesse do governo é dar mais autonomia para os departamentos sem perder o controle central.

2.1.2 A Lei de Responsabilidade Fiscal no Brasil A Lei de Responsabilidade Fiscal é um marco na história econômica brasileira, e é considerada

uma das mais detalhadas e abrangentes do mundo. Segundo José Roberto Afonso, da Secretaria

de Relações Fiscais do BNDES, a LRF é muito mais um instrumento, onde se tenta construir uma

estrutura, um aparato institucional. A política fiscal está nas leis auxiliares, como a LDO

(atualmente feita apenas pelo governo federal). Estados e municípios terão um exercício

financeiro a partir de 2002 e estarão sujeitos à LDO: nela fixarão metas para três anos e a cada

ano poderão revê-las. Para a formação de um conceito mais profundo do que é a LRF no Brasil, devemos contextualizar

sua implantação com o momento político-econômico, para daí entendermos seus objetivos e

repercussões para a sociedade. A LRF é parte integrante do processo de reforma do estado6, visando o equilíbrio das finanças

publicas. Depreende-se, então, que a lei não é um fim em si mesma, mas sim um meio de

assegurar condições de governança7 com vistas à promoção de uma situação social mais justa.

3 A redação do anteprojeto da LRF baseou-se na Fiscal Responsaility Act, editado em junho de 1994. A lei neozelandeza é diferente da nossa porque traz os princípios, não as metas. O governo de lá é parlamentarista, o país é um Estado unitário, pequeno, sem estados e municípios, com um padrão anglo-americano e tradição de austeridade. 4 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos 5 O Fundo Monetário Internacional tem editado e difundido a Fiscal Transparency, que são normas de gestão pública que têm por características básicas a transparência e o planejamento. 6 Processo complexo, multidimensional e sistemático de mudanças nos objetivos e funções do Estado, no modo como se estrutura, administra e funciona, enfatizando suas inter-relações com a vida econômica e social.

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Os principais objetivos da LRF estão listados no seu artigo 4, dentre os quais destacam-se:

• Prevenir déficits imoderados e reiterados;

• Limitar a dívida publica a níveis prudentes;

• Preservar o patrimônio público líquido;

• Limitar o gasto público continuado;

• Administração prudente dos riscos fiscais

Na visão de Afonso, o país avançou muito em termos de implantação da lei fiscal, porém é

preciso criar sistemas de informações públicas e divulgar algo inteligível para o grande público, e

não um produto só para orçamenteiros e administradores.

2.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO FISCAL BRASILEIRA

O destaque dado pela imprensa nacional à LRF, principalmente no que concerne aos aspectos

penais previstos na lei8 , deu ao cidadão a impressão que sua sanção era a primeira tentativa legal

de moralizar o uso do dinheiro público. Entretanto, Um exame mais minucioso da legislação

brasileira mostra que o tema foi abordado em todas as constituições posteriores à proclamação da

república, notadamente nas versões de 1946 e 1967. Uma comprovação de que a preocupação

com a administração da “coisa pública” não é recente é a promulgação a lei 4.320, de 17/03/64,

que instituiu normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e

dos balanços da União, Estados, Municípios e do Distrito federal. É evidente que o regime

político vigente à época não favorecia a transparência das ações publicas, dificultando

sobremaneira o cumprimento das normas legais e a punição dos infratores.

7 O Banco Mundial define governança como a maneira pela qual o poder é exercido na gestão de recursos econômicos e sociais de um país objetivando seu desenvolvimento. 8 Cumpre salientar que a LRF não disciplina matéria do direito penal, mas sim prevê que as infrações aos seus dispositivos serão punidas com base nos diversos diplomas penais existentes, tais como o Código Penal e a Lei de Improbidade Administrativa. A relação entre a LRF e as leis penais é tão estreita que todo um título do Código Penal Brasileiro – título XI, dos crimes contra a administração pública – versa sobre as punições para crimes cometidos contra o erário.

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A LRF trouxe um choque de transparência ao País, pois suas idéias inovadoras promoveram a

disseminação de um princípio econômico há muito esquecido pelos agentes financeiros que

operam com o ente público: quem empresta a estados e municípios assume o risco. Não existe

mais o Pai salvador – o Tesouro Nacional. No passado, criou-se na opinião pública a impressão

de que a União tem dinheiro e que era só uma questão de vontade política gastar. Durante muitos

anos, o governo federal trabalhou com “restrições orçamentárias muito fracas” que começaram a

mudar nos anos 70, foram aperfeiçoadas nos anos 80 e 90 e se aceleraram depois da Lei Fiscal.

Nos anos 70, começa a crise fiscal e a percepção do “primitivismo orçamentário” que existia no

Brasil, onde o ministro da Fazenda tinha poderes quase que absolutos. Em 1987, começou uma

primeira revolução com a criação do Tesouro Nacional, a extinção da “conta-movimento”9 do

Banco do Brasil e dos fundos de fomento do Banco Central, a transferência da administração da

dívida pública para o Tesouro Nacional e das funções da execução orçamentária do Banco do

Brasil para o Orçamento da União, com a universalização das receitas e das despesas.

A partir da constituição de 1988, que marcou a retomada do período democrático no país, os

assuntos relacionados à responsabilidade fiscal foram discutidos com maior ênfase pelos nossos

legisladores, mesmo porque a sociedade, reprimida no período da ditadura militar, passou a exigir

uma postura mais ética e profissional dos administradores públicos. O interesse da coletividade

na edição de normas capazes de disciplinar a postura e os procedimentos de todos os agentes

públicos deve-se a uma conclusão obvia: os benefícios sociais serão tanto maiores quanto maior

for a aderência da gestão aos dispositivos legais que a regulamentam. A Carta Magna de 1988

reforçou significativamente esse interesse coletivo quando, entre outras determinações, tornou

obrigatoria a edição anual, em cada esfera do governo, da Lei de Diretrizes Orçamentárias –

LDO.

A LRF veio dar um caráter mais expressivo a essas funções, inclusive criando mecanismos de

acompanhamento periódico de resultados, disciplinando as atividades de ajuste a possíveis pontos

controversos e ratificando a punição dos infratores no exercício de mandato publico. Dessa

forma, procura evitar improvisações, desperdícios e desvios na administração dos recursos

públicos, que representam prejuízo para o atendimento das inúmeras demandas da sociedade.A

9 Todos os recursos financeiros da União eram administrados pelo Banco do Brasil através da conta movimento.

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lei visa regulamentar a Constituição Federal, na parte da Tributação e do Orçamento (Título VI),

cujo Capítulo II estabelece as normas gerais de finanças públicas a serem observadas pelos três

níveis de governo: Federal, Estadual e Municipal. Em particular, a LRF vem atender o artigo 163

da CF de 1988, cujo conteúdo determina que Lei complementar disporá sobre:

I - finanças públicas;

II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades

controladas pelo poder público;

III - concessão de garantias pelas entidades públicas;

IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública;

V - fiscalização das instituições financeiras;

VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios;

VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as

características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional.

A LRF não substitui nem revoga a Lei no 4.320/64. Os objetivos das duas normas são distintos:

enquanto a Lei no 4.320/64 estabelece as normas gerais para a elaboração e o controle dos

orçamentos e balanços, a LRF estabelece normas de finanças públicas voltadas para a gestão

fiscal. Por outro lado, a Constituição Federal deu à Lei no 4.320/64 o status de Lei

Complementar. Dessa forma, existindo algum dispositivo conflitante entre as duas normas

jurídicas, prevalece a vontade da Lei mais recente. Embora a Constituição Federal tenha

determinado a edição de uma nova lei complementar em substituição à 4.320, não é possível

prever até quando o Congresso Nacional concluirá os seus trabalhos em relação ao projeto já

existente. A LRF atende também ao artigo 169 da Carta Magna, que determina o estabelecimento

de limites para as despesas com pessoal ativo e inativo da União a partir de Lei Complementar.

Neste sentido, ela revoga a Lei Complementar no 96, de 31 de maio de 1999, a chamada Lei

Camata II (artigo 75 da LRF). A LRF atende ainda à prescrição do artigo 165 da Constituição,

mais precisamente o inciso II do parágrafo 9º. De acordo com este dispositivo, “[...] cabe à Lei

Complementar estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e

indireta, bem como condições para a instituição e funcionamento de Fundos”. Finalmente, a

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partir do seu artigo 68, a LRF vem atender à prescrição do artigo 250 da Constituição de 1988

que assim determina: “Com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento dos benefícios

concedidos pelo regime geral de previdência social, em adição aos recursos de sua arrecadação, a

União poderá constituir fundo integrado por bens, direitos e ativos de qualquer natureza,

mediante lei, que disporá sobre a natureza e administração desse fundo”.

2.3. CONSEQUÊNCIAS DO DESEQUILIBRIO ORÇAMENTÁRIO

O planejamento, o controle e a transparência da ação governamental costumam levar ao melhor

aproveitamento dos recursos públicos, expresso na obtenção de uma relação custo/beneficio mais

positiva. Além de enfatizá-los, a LRF explicita a necessidade de obtenção do equilíbrio entre

receitas e despesas. Tal equilíbrio deve ser compreendido como “equilíbrio financeiro ou

orçamentário”.

O descompasso entre despesas e receitas no âmbito da economia do setor público não é diferente

daquele observado no dia-a-dia do cidadão comum. O princípio de que gastar mais do que se

ganha prenuncia uma situação de falência vale para ambos os casos. Segundo David Robinson,

vice-diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil

ainda tem um alto nível de endividamento público, grande parte indexado ao câmbio, e ao longo

do tempo precisa reduzir a sua vulnerabilidade nessa área.. É no aspecto do ajuste fiscal que a

LRF mostra sua maior contribuição para consolidar a imagem do país – e todos os entes públicos

– no mercado internacional. A meta de superávit primário de 3,5% do PIB sinaliza a preocupação

do governo federal com os gastos públicos e assegura uma margem financeira mínima para

garantir o cumprimento das obrigações governamentais.

Um exame, ainda que superficial, na situação em voga até março de 1998, quando terminou o

prazo para consolidação das dívidas estaduais, evidencia claramente as conseqüências do

desequilíbrio fiscal. “Nesse passado obscuro” a relação entre União e Estado era extremamente

desfavorável à primeira. Governadores tinham o incentivo eleitoral para gastar, enquanto a União

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“bancava”. As dívidas dos Estados produziam duas conseqüências básicas: para os eleitores, os

resultados vinham em obras que - ou por estarem superfaturadas ou porque eram muito caras

mesmo - não poderiam ser pagas com as receitas tributárias ou com um nível de endividamento

razoável; para o mercado, quanto menores as chances de os Estados pagarem suas dívidas,

melhor, porque os juros seriam cada vez maiores e a União acabaria pagando. O resultado dessa

prática reforçou a percepção para os prefeitos e governadores e, por extensão, para a população,

que os recursos da União eram ilimitados, além de disseminar a corrupção e impunidade no trato

da coisa pública. Não poderia ser diferente, num sistema em que um gasta e outro paga a conta. A

constatação da cientista política Marta Arretche, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), dá o

tom do caos: “O governo federal é o que tem responsabilidade, diante da população, pela

estabilidade econômica. Já os governos estaduais e municipais têm incentivos eleitorais para

gastar” (QUEM, 2001)

Para por fim a essa situação a LRF instituiu mecanismos de controle da dívida pública que

versam sobre todas as modalidades de endividamento, desde contratação de operações de crédito

até a discriminação de limites para gastos específicos. O refinanciamento do principal da divida

mobiliara, por exemplo, não poderá exceder, ao término de cada exercício financeiro, o montante

do final do exercício anterior, somado ao das operações de crédito autorizadas no orçamento para

este efeito e efetivamente realizadas, acrescido de atualização monetária. Esse normativo impede

que os municípios que refinanciaram sua dívida com a União emitam títulos até a quitação da

dívida refinanciada.

Caso as restrições da LRF sejam desrespeitadas, o ente público fica obrigado a adotar medidas de

ajuste que objetivam o retorno à situação de conformidade. Um exemplo: se a dívida consolidada

de um ente da Federação ultrapassar o respectivo limite, ao final de um quadrimestre, deverá ser

a ele reconduzido até o término dos três subseqüentes, reduzindo o excedente em pelo menos

25% no primeiro deles. Enquanto perdurar o excesso, o ente que nele houver incorrido estará

proibido de realizar operação de crédito interna ou externa, ressalvado o refinanciamento do

principal atualizado da divida mobiliária.

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Percebe-se que o cerne da LRF está em adequar os gastos públicos às receitas, de tal modo que

fiquem asseguradas as mínimas condições de governabilidade e, por conseguinte, o bem-estar da

população.

2.4 AS MUDANÇAS PROMOVIDAS PELA LEI DE RESPONSABILIADE FISCAL NO BRASIL

A despeito de toda controvérsia advinda de sua promulgação, quando muitos administradores

públicos, principalmente prefeitos, julgaram-na demasiadamente austera e praticamente

impossível de ser aplicada, a LRF começa a produzir os efeitos que os legisladores previram.

82% dos municípios brasileiros fecharam o exercício fiscal de 2001 com um superávit

orçamentário. Os dados fechados em 2000 mostraram como resultado um déficit orçamentário de

41%, ou 1.736 entre 4.192 municípios. A melhoria dos resultados das contas públicas municipais

já era observada antes mesmo da sanção da LRF. Em 1995, 82% dos municípios apresentaram

déficits em suas contas. Em 98, o índice baixou para 55%. Em 2000, o superávit acumulado pelos

5.500 municípios brasileiros alcançou R$ 3,3 bilhões, que representa um acréscimo de 31,8% em

relação a 1997. Tal resultado deveu-se ao aumento das transferências correntes10 - 36,5%, outras

receitas - 43,8% - e das receitas tributárias - 9,5%. As receitas tributárias não crescem tanto

quanto as outras, porque 73% dos municípios têm até 20 mil habitantes, que tiram a receita

tributária apenas 3,1% dos recursos.

Em relação à base própria de tributação dos municípios, que consiste basicamente do Imposto

Predial e Territorial Urbano – IPTU, Imposto pela Transmissão de Bens Imóveis Inter-vivos –

ITBI e pelo Imposto sobre serviços – ISS, uma pesquisa envolvendo 4.215 municípios brasileiros

mostrou que, se por um lado a arrecadação daqueles com população superior a 50 mil habitantes

respondeu por 92% do total auferido, o que demonstra uma grande concentração, por outro foi

10 Repasses do Governo Federal na forma de FPM – Fundo de Participação dos Municípios – e dos Governos Estaduais, através de ICMS.

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constatado que apenas 14 deles não arrecadou nenhum dos três impostos. O diagrama seguinte dá

a dimensão da tributação municipal no país, no que concerne aos três principais impostos.

A maior parte das prefeituras (3.860) cobrou os três impostos, atendendo à determinação da LRF

que tornou obrigatória a instituição e a efetiva arrecadação de todos os tributos de competência

municipal. Isto aponta para um quadro bastante positivo: ao contrário do senso comum, a maior

parte das cidades brasileiras já obtém

recursos por meio de um esforço próprio

de arrecadação.Da amostra total de

municípios que enviaram os balanços ao

STF, 94% dos municípios cobraram IPTU

em 2000, enquanto 99% deles cobraram

ISS. Em 1996,89% dos municípios

cobravam IPTU e 94% cobravam ISS.

Assim, os resultados de 2000 representam

uma melhora sobre uma performance que

já era excelente em 1996.

O cumprimento dos limites fiscais estabelecidos na LRF pelos municípios está reacendendo a

chama do municipalismo, corrente política que alimentou a descentralização de algumas ações do

Estado nas áreas de Educação e Saúde entre as décadas de 80 e 90. Em parte, é este desempenho

positivo o responsável pelo incremento da agenda dos municípios. Tornou-se freqüente, nas

reuniões entre prefeitos, discussões que abordam a redefinição do papel da União, dos Estados e

dos Municípios, a participação das cidades no combate ao crime (tarefa exclusiva do Estado),

reforma tributária, inclusão do custo da merenda escolar nos 25% dedicados à Educação e criação

de novas taxas para alimentar ainda mais o caixa dos municípios, como a cobrança pelo uso do

solo e do espaço aéreo. Essas questões denotam o grau de preocupação das administrações

municipais com a profissionalização da gestão pública.

Há, evidentemente, aqueles municípios que não têm controle interno acurado e, por conseguinte,

encontram dificuldades de cumprir a lei simplesmente porque não sabem o que devem. A

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transição de uma situação de negligência fiscal para uma de austeridade exige esforço contínuo e

normalmente traz desconforto político, pois invariavelmente a disciplina fiscal enseja cortes de

pessoal no funcionalismo público. Contudo, ainda assim percebe-se uma redução no número de

cidades não ajustadas às normas. Em agosto de 2001, 1.016 municípios ficaram inadimplentes

porque não cumpriram um ritual simples de fazer o relatório de gestão fiscal. Como

conseqüência, deixaram de receber empréstimos de órgãos públicos. Atualmente, esse número

caiu para 275 municípios, que estão localizados principalmente nos estados do Amapá,

Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí.

A LRF vem coroar, de maneira muito competente, o esforço de pelo menos 25 anos na busca pela

gestão fiscal responsável. É o reflexo da demanda maior da sociedade por transparência. A LRF

traz as informações para o cidadão na Internet e estabelece limites para os gastos de pessoal e aos

gastos dos períodos eleitorais. A lei acabou com o festival de endividamento de Estados e

municípios e de reajuste salarial no fim de mandato. E consolidou-se como um fator de

aceleração do processo de transformações sociais e de cultura que se está vendo a partir do

exercício da cidadania sobre o setor público. É uma revolução, um freio ao populismo e à

irresponsabilidade fiscal.

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3 O MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

3.1 HISTÓRICO DO MUNICÍPIO São Francisco do Conde integra a Região Metropolitana de Salvador, limitando-se pelas cidades

de Santo Amaro, São Sebastião do Passé e Candeias. O município foi formado pela junção de

territórios que antes se constituíam aglomerados populacionais ligados a Salvador, então capital

do Império. Com base em Cartas Régias, de 27/12/1693 e 27/12/1695, as vilas das freguesias de

São Gonçalo do Amarante (atual sede), Nossa Senhora do Monte de Tamarari (atual Monte

Recôncavo), Nossa Senhora do Socorro, Nossa Senhora da Purificação de Serji do Conde, São

Domingos da Saubara e Nossa Senhora da Madre de Deus do Boqueirão, foram unificadas com a

denominação de Vila de São Francisco da Barra do Serji do Conde, conformando o terceiro

município do Recôncavo. Em 1938, a vila foi elevada à categoria de cidade por decreto Estadual.

Teve seu nome simplificado para São Francisco, passando em 1943 a denominar-se São

Francisco do Conde. Em 1973, passa a integrar a Região Metropolitana de Salvador.

No Brasil imperial, São Francisco do Conde foi um dos maiores pólos produtores de cana de

açúcar. O sistema econômico, escravocrata e monocultor, permitiu o enriquecimento dos poucos

senhores de engenho, tendo em Men de Sá seu maior expoente. Se a riqueza concentrada não

contribuiu para o desenvolvimento da população – que teve sua origem com a chegado dos

monges beneditinos, no fim do século XVII, em contrapartida conferiu aos senhores de engenho

uma notável força política. São Francisco sempre teve participação importante nos vários

movimentos de emancipação política no Brasil, estando presente na Revolução dos Alfaiates, em

1798, e na Sabinada, em 1837. Em 1823, a participação na Independência da Bahia foi decisiva

na consolidação do Império brasileiro.

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Os ricos solos de massapé permitiram que a, então, Vila de São Francisco desenvolvesse uma

prospera agroindústria açucareira. Além de produzir cachaça e açúcar, São Francisco era também

centro pesqueiro, com especialidade em camarões, que eram comercializados com a capital e

outros núcleos do recôncavo. A prosperidade era tão visível e o prestigio político tão acentuado,

que em 1859 o Imperador D. Pedro II criou a primeira escola do Ensino agronômico da América

Latina. Com uma das mais completas bibliotecas do continente americano, cujo acervo era

constituído por trinta mil títulos, a escola agrícola São Bento das Lages tornou-se centro de

excelência no ensino técnico e superior, contando, em seu quadro docente, com professores e

alunos provenientes da França, Inglaterra e Alemanha (ESPÍRITO SANTO,1998).

No inicio do século XIX, com a perda do território de Santo Amaro, começou o processo de

decadência da vila, agravado com desmembramentos de outros territórios em 1868, e

principalmente, com o ocaso da agricultura açucareira, que atingiu seu clímax no fim do século.

A recuperação econômica se daria meio século depois, a partir de 1947 com o inicio da lavra do

petróleo, e se consolidou em 1950 com a construção da refinaria Landulfo Alves.

3.2 A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO

Até a metade do século XX, não havia maiores perspectivas de desenvolvimento para São

Francisco do Conde. Com o desaquecimento do mercado mundial para a cana de açúcar, já

combalido desde a época do império, não sobravam muitas soluções para o município. Sem

dispor da extensão territorial que possuía na época do Brasil imperial - visto que muitos

municípios que lhe pertenciam conseguiram emancipação - ou outro tipo de riqueza de

exploração extrativista, tais com jazidas minerais, São Francisco permaneceu pequeno

economicamente, enquanto municípios como Santo Amaro e Cachoeira cresciam como

entrepostos comerciais e com o turismo respectivamente.

Esse panorama mudou drasticamente após a descoberta do petróleo na região. Ao se constatar

sua existência no subsolo, um novo horizonte de desenvolvimento se descortinou para os

moradores da cidade. Antes mesmo da criação da Petrobrás, a região ganhou a primeira refinaria

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moderna de petróleo do País, em 1950. Naquela época já existiam algumas Destilarias no Rio

Grande do Sul, além da Refinaria Matarazzo, em São Paulo, porém todas elas pertenciam à

iniciativa privada e estavam limitadas a uma pequena produção de derivados.

Inaugurado em 17 de setembro de 1950 pelo presidente da República Eurico Gaspar Dutra, o

complexo industrial iniciou suas atividades com o nome de Refinaria Nacional de Petróleo S.A.,

sendo batizada depois como Refinaria Landulpho Alves-Mataripe em homenagem ao senador

baiano que lutou por uma solução estatal para o petróleo brasileiro, resultando na fundação da

Petrobrás. “A partir de então, São Francisco passa a representar um dos centros mais dinâmicos

de produção e processamento petrolíferos nacionais” (ESPÍRITO SANTO,1998).

A produção de petróleo trouxe a reboque da riqueza o desenvolvimento de toda a região. À época

da construção da refinaria, o entorno da planta petrolífera era extremamente inóspito e a ligação

com a capital era feita através de barcaças. Não havia estradas o que levou os empregados a fixar

residência nas imediações do local de trabalho. Essa circunstância promoveu a criação de casas e

posteriormente toda a infra-estrutura de uma cidade. À refinaria sobrevieram escolas, padarias,

hospitais, farmácias, bares e tudo mais necessária ao convívio em comunidade. A construção da

estrada BR 324, a despeito de facilitar sobremaneira o acesso das pessoas, contribuiu de certo

modo para o esvaziamento da cidade pois permitiu que os funcionários da Petrobrás morassem na

capital, o que levou as pessoas de maior poder aquisitivo para Salvador. Esse fato, entretanto, não

diminui a importância da Petrobrás como catalisador do desenvolvimento urbano de São

Francisco do Conde, uma vez que a circulação e produção de derivados de petróleo ainda são a

maior fonte de arrecadação da cidade.

No período compreendido pela criação da Petrobrás e a reinstituição do regime democrático

brasileiro, São Francisco do Conde foi considerado como área estratégica, sendo o administrador

do município alçado ao cargo por indicação. Essa circunstância terminou por não consolidar entre

a população o conceito de democracia e respeito ao bem e administração públicas. Esse hiato se

faz sentir até os dias de hoje no desconhecimento do povo acerca dos deveres e das limitações

dos cargos de administração e legislação.

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4 INSTRUMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA

Como principal pilar e arcabouço para o contido na Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser

apontado o processo de planejamento, exigindo conhecimento da elaboração e execução do

orçamento público e dos três instrumentos de gestão pública, conforme prescrito no artigo 165 da

Constituição Federal, que são o Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e

Lei de Orçamento Anual (LOA).

A Lei de Responsabilidade Fiscal instrumentaliza a articulação entre esses três documentos, uma

vez que a execução das ações governamentais passa a estar condicionada à demonstração de sua

compatibilidade com os referidos instrumentos de planejamento.

A criação, expansão ou aperfeiçoamento da ação governamental que acarretem aumento de

despesas, bem como o aumento de despesas de caráter continuado devem estar compatíveis com

o PPA e com a LOA.

O projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal previa os três instrumentos acima citados, os quais

compõem o planejamento governamental do Brasil, entretanto, em virtude do veto ao artigo 3° a

LRF deixou de conter as disposições sobre o Plano Plurianual – PPA, cabendo as disposições

constitucionais a disciplina sobre o assunto.

4.1 PLANO PLURIANUAL (PPA)

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Conforme o contido no artigo 165 da Constituição Federal, o Poder Executivo Municipal

ordenará suas ações visando atingir objetivos e metas através do PPA, que englobará o período

de quatro anos.

Trata-se, portanto, de um plano de médio prazo, que busca definir as ações do governo, no

presente caso, municipal para o atingimento dos objetivos e metas para os três últimos anos do

mandato do prefeito em exercício e o primeiro ano do mandato subsequente.

Instituído por lei, o plano plurianual, define de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e

metas da Administração Pública para as despesas de capital, além de outras decorrentes desta e

para as originárias de programas de duração contínua.

4.1.1 Objetivos

Segundo Ari Vainer ((2001), os principais objetivos do PPA são:

• Definir as metas e prioridades da administração, bem como os resultados esperados;

• Organizar, por meio de programas, as ações que resultem em incremento de bens ou

serviços que atendam demandas da sociedade;

• Estabelecer a necessária relação entre as ações a serem desenvolvidas e a orientação

estratégica de governo;

• Possibilitar que a alocação de recursos nos orçamentos anuais guarde coerência com as

diretrizes e metas planejadas;

• Facilitar o gerenciamento da administração, definindo a responsabilidade pelos resultados

e a avaliação do desempenho dos programas;

• Estimular parcerias com entidades públicas e privadas na busca de recursos para o

financiamento dos programas;

• Explicitar a distribuição regional das metas e gastos do governo;

• Dar transparência à aplicação de recursos e resultados alcançados.

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4.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO)

De acordo com o contido na Constituição Federal 11 fica estabelecido que a Lei de Diretrizes

Orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública , incluindo as

despesas de capital para a exercício financeiro subseqüente, orientações para a elaboração de Lei

Orçamentária Anual e disposições sobre as alterações na legislação tributária.

A LDO tem o objetivo principal de orientar a elaboração dos orçamentos anuais, objetivando

adequá-los aos objetivos e metas projetados no PPA pela administração pública.

A LDO é o instrumento que permite ao Legislativo orientar a elaboração da proposta

orçamentária, a cargo do Poder Executivo. Possibilita a discussão de princípios essenciais do

orçamento anual, de forma a atender a demandas específicas da população.

O Poder executivo deve encaminhar o projeto ao Legislativo no prazo de até oito meses e meio

antes do encerramento do exercício financeiro, normalmente 15 de abril, e votada até o

encerramento dá primeira sessão legislativa.

A Lei de Responsabilidade Fiscal conferiu à LDO um papel importante no planejamento

municipal, devendo também dispor sobre:

a) equilíbrio entre receitas e despesas;

b) critérios e forma de limitação de empenho a serem efetivados;

c) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos programas financiados com recursos

do orçamento;

d) condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas;

e) metas fiscais (Anexo de Metas Fiscais);

f) riscos fiscais (|Anexo de Riscos Fiscais).

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4.2.1 Anexo De Metas Fiscais

No anexo de metas fiscais serão estabelecidas as metas anuais a serem atingidas, em valores

correntes e constantes referentes a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante

da dívida pública, devendo conter ainda os seguintes pontos:

• memória de cálculo dos valores estimados;

• avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior;

• comparação das metas estabelecidas com as constantes nos três exercícios anteriores;

• evolução do patrimônio líquido nos três últimos exercícios, salientando a destino de recursos

obtidos com a alienação de ativos;

• avaliação da situação financeira e atuarial de regime próprio de previdência de servidores

públicos;

• demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia da receita e da margem de expansão

de despesas de caráter continuado.

4.2.2 Anexo De Riscos Fiscais Conforme o contido no parágrafo 3 do artigo 4 da LRF é necessária a apresentação do Anexo de

Riscos Fiscais, no qual serão avaliados os passivos contigentes e outros riscos capazes de afetaras

contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem. De maneira

geral compreende-se como riscos fiscais quaisquer fatores que possam comprometer o equilíbrio

entre receitas e despesas, podemos exemplificar as demandas judiciais que poderão resultar em

indenizações de vulto a serem pagas pelo Município.

11 Artigo 165, §2 da Constituição Federal

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Faculta-se aos municípios com menos de 50.000 habitantes apresentar os mencionados anexos da

LDO a partir do exercício de 2005, entretanto é de todo recomendável que os municípios se

estruturem para o atendimento de tais exigências, inclusive visando a adoção de medidas

corretivas que se façam necessárias.

4.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA) A LOA é o instrumento através do qual ser viabilizam as ações governamentais, ou seja, por

meio da LOA que a administração realiza o que foi projetado: as ações necessária para atingir os

objetivos e metas dentro o exercício fiscal, disponibilizando os recursos financeiros necessários.

4.3.1 Aspectos Importantes a Serem Obedecidos no Projeto da Loa

• deve ser elaborada de forma compatível com o plano plurianual e a lei de diretrizes

orçamentárias;

• demonstrativo da compatibilidade da programação orçamentária com os objetivos e metas do

Anexo de Metas Fiscais constante da LDO;

• deve ser acompanhada de demonstrativo dos efeitos sobre as receitas e despesas, decorrentes

de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e

creditícia, e das medidas de compensação à renúncia de receita e ao aumento de despesas

obrigatória de caráter continuado;

• reserva de contigência destinada ao atendimento de passivos contingentes e outros riscos e

eventos fiscais imprevistos, conforme previsto na LDO;

Deverão estar contidos na lei orçamentária:

• despesas referentes à dívida pública, mobiliária ou contratual , e às receitas que farão face a

tais despesas;

• refinanciamento da dívida pública, que deverá constar separadamente.

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Os seguintes limites deverão ser obedecidos quando da elaboração da lei orçamentária:

• é vedado consignar crédito com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada;

• não poderá consignar dotação para investimento com duração superior a um exercício

financeiro que não esteja projetado no PPA ou em lei autorizando a sua inclusão;

• só incluirá novos projetos após atendidos os em andamento e contempladas as despesas de

conservação do patrimônio público, nos termos da LDO.

• a atualização monetária

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5 PARÂMETROS DE GESTÃO FISCAL

5.1 RECEITA PÚBLICA Conforme o contido no artigo 11 da LRF constituem requisitos essenciais da responsabilidade na

gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência

constitucional do ente da federação.

Segundo Khair, os municípios vêm apresentando crescimento de suas receitas próprias de

maneira impressionante. Com base nos dados da Secretaria do Tesouro Nacional, balanços de fim

do exercício fiscal de 1989 e 1996, as receitas tributárias próprias (IPTU, ISS, ITBI, IVVC,

Taxas e Contribuição de Melhoria) apresentaram um crescimento da ordem de 195%, enquanto

as transferências cresceram 88%. Tal crescimento ocorreu para todos os tipos de município,

atingindo 171% para os municípios pequenos (até 50.000 habitantes), 226% para os médios (de

50.000 até 200.000 habitantes) e de 186% para os grandes municípios (acima de 200.000

habitantes).

A partir da publicação da LRF percebe-se maior preocupação dos municípios com a arrecadação

de tributos/taxas, não somente em função da legislação em vigor, como em função da forte

pressão social por educação, saúde, segurança, conservação e manutenção de ruas.

Apesar do retromencionado crescimento, existe grande potencial para ampliação das receitas

próprias, através da arrecadação de tais tributos e da cobrança da dívida ativa.

Corroborando a afirmação anterior e objetivando atender o contido no art. 64 da LRF, onde está

prevista que a União prestará assistência técnica e cooperação financeira aos municípios para a

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modernização das respectivas administrações tributária, financeira, patrimonial e previdenciária,

com vistas ao cumprimento desta Lei Complementar, o BNDES implementou o Programa de

Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos (PMAT) de

forma a possibilitar o aperfeiçoamento da capacidade de arrecadação e, incrementar a qualidade

dos serviços prestados à comunidade. Apresentamos as principais fontes de receita pública :

Convém ressaltar que a União e os estados estão proibidos de efetuar transferências voluntárias

para o município que não esteja exercendo sua competência tributária.

5.1.1 IPTU O IPTU - Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana é o segundo tributo em

importância na receita tributária municipal. A cobrança do IPTU tem oferecido algumas

dificuldades para as administrações municipais, as mais comuns são: a falta de tradição na

cobrança, inexistência de um cadastro atualizado, de forma a refletir o efetivo retrato do

município, planta de valores desatualizada e inexistência de um parque tecnológico que permita

tratar tais informações.

Os valores cobrados são simbólicos, sendo que 40,6% dos municípios brasileiros cobra menos de

R$1,00 por habitante por ano e mais da metade não chega a cobrar R$ 2,00 por habitante por ano.

No entanto a cobrança do tributo vem apresentando um crescimento significativo, gerando

grande demanda das consultorias e instituições financeiras prestadoras de tais serviços, na

emissão e cobrança e carnês e implantação de banco de dados atualizados, possibilitando a futura

cobrança da dívida ativa. Com relação ao PMAT o programa possui uma série de projetos em

andamento, inclusive sendo divulgado em diversos seminários municipais.

5.1.2 ISS

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O ISS – Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é o tributo mais importante da receita

tributária. O imposto possui uma legislação que envolve alíquotas diferentes para cada tipo de

serviço. Deve ser ressaltado que o setor de serviços é o que mais cresce no país e portanto

oferece maior potencial de cobrança, além desse aspecto ponto cabe ressaltar que poucos

contribuintes são responsáveis pelos valores mais significativos da arrecadação. A atualização cadastral é da maior importância, necessitando que programas de cadastramento

sejam desenvolvidos, principalmente pelo fato que a mobilidade dos contribuintes no setor de

serviços é muito elevada. Com relação as alíquotas de cobrança as mais comuns são: 2 ou 3% para serviços de construção

civil, de saúde e de educação, 10% no caso de diversões públicas e 5% demais serviços. Tias

percentuais são estabelecidos por Lei Municipal, o que permite grande variedade de alíquotas,

mormente quando utilizadas para instrumento de política fiscal.

5.1.3 ITBI O ITBI – Imposto sobre Transmissão “intervivos” sobre bens imóveis tem uma representação de

7% da receita tributária municipal, tendo passado a ser de responsabilidade do município depois

da Constituição de 1988. A despeito da modesta arrecadação, o seu crescimento foi significativo a partir do momento em

que passou a ser de competência do município, pois a partir do momento que as prefeituras

passaram a ter o valor correto do imóvel para a cobrança do IPTU, tal parâmetro passou a servir

também para ITBI, possibilitando o estabelecimento de valores venais de imóveis mais reais.

5.1.4 Outras Taxas Existe um grande número de taxas, sendo as mais representativas – limpeza, conservação de vias,

combate a incêndios, iluminação pública, anúncios e licença e funcionamento.

5.1.5 Cobrança Da Dívida Ativa

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Nos processos de cobrança da dívida ativa é comum encontrarmos municípios onde os valores

acumulados superam até um ano de receita, entretanto diversas razões tem impedido a obtenção

de tais valores. As dificuldades de tal cobrança residem basicamente em dois pontos: cadastro

desatualizado/incompleto, o que pode gerar notificações incorretas e registros de pagamentos

desatualizados.

5.1.6 Receitas Financeiras O município também deve administrar as diversas fontes de recursos existentes, seja através das

transferências ou através da arrecadação de tributos, os municípios dispõe de valores

significativos que devem ser aplicados para a geração de receitas. Visando a melhor administração dos recursos e a sua efetiva disponibilidade existentes em

inúmeras contas são disponibilizados gerenciadores financeiros que possibilitam a otimização de

tais recursos.

5.1.7 Renúncia de Receita A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra

renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro

no exercício em que deve iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atendendo a :

• às disposições da lei de diretrizes orçamentárias;

• a pelo menos uma das seguintes condições:

• demonstração pelo proponente, de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita

da lei orçamentária e que não afetará as metas de resultados fiscais;

• estar acompanhada de medidas de compensação, por meio do aumento de receita (elevação

de alíquota, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou

contribuição). O benefício só poderá entrar em vigor após a implementação das medidas de

compensação.

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5.2 DESPESA PÚBLICA A geração de despesa obrigatória de caráter continuado deve ser acompanhada de estimativa do

impacto no exercício em que entre em vigor e nos dois anos subsequëntes e da indicação da

origem dos recursos para o seu custeio, de modo a afetar as metas fiscais.

Aumentos de despesas devem ser acompanhados de estimativas dos efeitos trienais e de medidas

de compensação, seja através do aumento de receita ou da redução permanente de outras

despesas.

5.2.1 Despesas com Serviços de Terceiros A LRF estabelece um limitador de comprometimento da receita corrente líquida com serviços de

terceiros. Tal limite, que vigorará até 31-12-2003, deve ser calculado tomando-se por base o total

das contratações de prestação de serviços com terceiros celebrados no exercício de 1999, e

verificando qual a sua participação percentual em relação ao montante da receita corrente líquida

arrecadada no mesmo exercício.

5.2.2 Despesas Com Pessoal De acordo com o disposto na Lei Complementar, define-se como despesa total com pessoal: o

somatório dos gastos do entre da federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos

a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de poder, com

quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis,

subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações,

horas extras e vantagens pessoas de qualquer natureza, bem como encargos sociais e

contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência.

Na verificação do atendimento dos limites definidos não serão computados as despesas:

• de indenização por demissão de servidores ou empregados;

• relativos a incentivos à demissão voluntária;

• decorrentes de decisão judicial e da competência de período anterior ao da apuração;

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35

• com inativos, ainda que por intermédio de fundo específico custeadas por recursos

provenientes da arrecadação de contribuições dos segurados e de outras receitas diretamente

arrecadadas pelo fundo.

5.2.3 Limites De Gastos Com Pessoal A LRF determina dois limites distintos para os gastos com pessoal no setor público:

• 50% da RCL para a União; e,

• 60% da RCL para Estados e Municípios.

Cumpre ressaltar que após a publicação da LRF, fica revogada qualquer outra legislação que

verse sobre estes limites. É o caso da Lei Complementar nº 96 de 1999, conhecida como Lei

Camata II. De acordo com a LRF, tais limites serão agora repartidos entre todos os Poderes

públicos, com percentuais específicos para cada Poder. Na esfera estadual o limite de 60% será

repartido da seguinte forma:

• 2% para o Ministério Público;

• 3% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Estado;

• 6% para o Judiciário; e,

• 49% para o Executivo.

Na esfera municipal o limite de 60% será assim repartido:

• 6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Município; e,

• 54% para o Executivo.

Na esfera Federal o limite será de 50% da RCL, assim dividido:

• 40,9% para o Executivo;

• 6% para o Judiciário;

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36

• 2,5% para o Legislativo; e,

• 0,6% para o Ministério Público.

Nos Poderes Legislativo e Judiciário, os limites serão repartidos, entre os seus diversos órgãos, na

proporção das despesas que vinham sendo realizadas em exercícios anteriores.

5.2.4 Despesas Com Seguridade Social As despesas com seguridade social são consideradas despesas obrigatórias de caráter continuado.

Qualquer ato que resulte em criação, majoração ou extensão de benefícios, deve, obedecer as

condições estabelecidas para tal despesas e indicar a correspondente fonte de custeio total.

São dispensados de compensação os seguintes aumentos de despesas com seguridade social:

• concessão de benefícios aos servidores que preencham as condições de habilitação

previstas na legislação pertinente;

• expansão quantitativa do atendimento dos serviços prestados;

• reajuste do benefício ou serviço, a fim de preservar o seu valor real.

O presente normativo aplica-se aos benefícios ou aos serviços de saúde, previdência e assistência

social, inclusive aos destinados aos servidores públicos e militares, ativos e inativos e aos

pensionistas.

O ente da federação que tiver regime próprio de previdência social deverá organizá-lo com base

em normas de contabilidade e de atuária, de modo a preservar o seu equilíbrio financeiro e

atuarial

.

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37

5.2.5 Transferências Voluntárias Define-se como transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro

ente da federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de

determinação constitucional, legal ou dos destinados ao Sistema Único de Saúde.

O convênio é o instrumento mais utilizado para as transferências voluntárias entre a União e os

estados, o Distrito Federal e os municípios e entre os estados e seus municípios.

São exigências para a realização de transferências voluntárias:

• existência de dotação específica;

• observância do inciso X do art. 167 da Constituição Federal ( os recursos não podem ser

utilizados para o pagamento de despesas de pessoal);

• o beneficiário deve comprovar que acha em dia com o pagamento de tributos,

empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, além da prestação de contas

de recursos anteriormente recebidos;

• comprovação, pelo beneficiário, do cumprimento dos limite constitucionais relativos à

educação e a saúde;

• observância dos limites das dívidas consolidadas e mobiliárias, de operações de crédito,

inclusive por antecipação de receita, de inscrição em Restos a Pagar e de despesa total

com pessoal;

• previsão orçamentária de contrapartida;

• o ente beneficiário deve estar exercendo plenamente sua competência tributária.

É vedada a utilização de recursos transferidos em finalidade diversa da pactuada.

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5.2.6. Dívida Pública e Endividamento Um dos principais pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal é o controle da dívida pública e do

endividamento, a despeito da existência de diversas regulamentações sobre o assunto, a lei

acrescenta novas regras para contratação de operações de crédito, antecipação de receitas,

operações que estão vedadas e o estabelecimento de condicionantes para a recondução da dívida

aos seus limites.

5.2.7 Garantia e Contragarantia Os entes poderão conceder garantia em operações de crédito interna ou externas, observadas as

normas do artigo 32 da LRF, os limites estabelecidos pelo Senado Federal

5.2.8 Restos a Pagar e Despesas de Exercícios Anteriores É vedado ao titular de Poder ou órgão, nos dois últimos dois quadrimestres do seu mandato (maio

a dezembro), contrair obrigação de despesas que:

não possa ser cumprida integralmente dentro dele

tenha parcelas a serem pagas no exercíco seguinte, sem que haj sufciente disponibilidade de caixa

para este efeito.

Na determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os encargos e as despesas

comprometidas a pagar até o final do exercício.

5.2.9 Gestão Patrimonial As disponibilidades de caixa dos regimes de previdência social ficarão depositadas em conta

separada das demais disponibilidades de cada ente e aplicadas nas condições de mercado, com

observância dos limites condições de proteção e prudência financeira.

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39

5.2.10 Transparência, Controle e Fiscalização São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,

inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes

orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da

Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal e as versões simplificadas desses

documentos. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização

de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, Lei de

Diretrizes Orçamentárias e orçamentos. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o

exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração,

para consulta e apreciação pelos cidadãos em geral e pelas instituições da sociedade . A transparência decorre de uma obrigação, imposta aos gestores públicos, tendo o objetivo de

não somente cumprir eficientemente suas missões, mas também demonstrar a toda a sociedade

que o fizeram de acordo com o estabelecido nos orçamentos, nos relatórios gerenciais e nas suas

prestações de contas.

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6 QUESTÕES OPERACIONAIS

6.1 O QUE MUDOU NA GESTÃO FINANCEIRA DO MUNICÍPIO?

- Quais são os principais problemas financeiros do município?

- Quais são os principais problemas financeiros remanescentes da administração

anterior?

- Qual a situação atual das receitas municipais?

- Existe algum plano de investimentos para o município?

Essa questão operacional, voltada para vereadores e, especificamente para o Secretário Municipal

de Finanças, tem como objetivo avaliar a atual situação financeira do município, bem como

mensurar a influência do legado financeiro das administrações anteriores na atual gestão. À

percepção dos entrevistados se somará a análise dos índices de gestão pública previstos na LRF,

de modo a balizar conclusões acerca das mudanças na gestão financeira municipal e a relação

com a LRF.

6.2 QUAIS OS INSTRUMENTOS USADOS NA ADEQUAÇÃO À LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL?

- Quais são os instrumentos usados pelo município atualmente?

- Existe a necessidade de assessoria externa?

- Qual o papel do governo federal no auxilio aos municípios para implantação da

LRF?

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- Quais as ações implementadas e as entidades federais envolvidas? Essa questão operacional se propõe a avaliar de que modo o município se adequou a LRF. Das

conclusões, podemos aferir a eficácia dos instrumentos utilizados para garantir o cumprimento da

lei, bem como verificar a influência do Governo Federal e seu papel auxiliar no processo de

implantação da LRF. Também é nosso objetivo entender o papel das empresas de

consultoria/contabilidade nesse contexto.

6.3 HOUVE ALGUMA MELHORA NO MUNICÍPIO APÓS A PROMULGAÇÃO DA LRF?

- Quais os programas sociais desenvolvidos?

- Quais investimentos serão realizados pela prefeitura?

- Que benefícios alcançaram o cidadão?

- Houve avanço no orçamento municipal de 2002 que comprovassem o melhor uso

dos recursos públicos?

Essa questão operacional é de extrema importância, pois é por meio dela que averiguamos, em

última análise, o que a LRF propiciou de benefício ao cidadão comum. Partindo do pressuposto

que a gestão publica tem como mote principal o bem-estar do cidadão, as respostas dão uma idéia

clara dos resultados obtidos a partir da gestão fiscal responsável.

6.4 QUAL O PLANEJAMENTO DA PREFEITURA NO MÉDIO E LONGO PRAZO?

- Sob o ponto de vista da administração municipal, qual a função do Banco do Brasil

como agente financeiro?

- Houve a necessidade de consultoria ou assessoria externas para o planejamento?

- Houve treinamento específico para o funcionalismo público?

A resposta a essa pergunta operacional avalia a utilização dos diversos instrumentos de

planejamento constantes da LRF na definição das metas e prioridades da administração municipal

e os resultados esperados.

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6.5 QUAIS AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS UTILIZADAS PELA PREFEITURA?

- Em que consiste o atual parque tecnológico da prefeitura?

- Existem softwares próprios?

- Há intenção de investimentos em equipamentos ou programas?

Essa pergunta permite concluir sobre o estágio tecnológico em que se encontra a prefeitura.

Permite também avaliar a adaptação do ente público municipal às novas exigências da sociedade

e à agenda de modernização envolvendo os setores públicos e privados e segmentos da sociedade

organizada. O uso eficiente das ferramentas tecnológicas possibilita novas formas de

administração do patrimônio, através do aprimoramento dos controles, a melhoria da qualidade

dos serviços públicos e a satisfação do cidadão.

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7 METODOLOGIA DE PESQUISA

7.1 ABORDAGEM Tendo em vista a natureza do objeto de pesquisa, e uma vez que o cidadão comum não é o mais

indicado para prestar informações acerca da gestão pública e suas repercussões, direcionamos

nossa abordagem para um público específico, formado pelos membros do poder executivo,

legislativo, líderes comunitários e funcionários da PI Contabilidade, empresa especializada em

contabilidade pública, contratada para garantir a conformidade do município às exigências da

legislação fiscal, sendo, inclusive, responsável pela publicação de relatórios. Uma vez que nossa pesquisa se propôs a avaliar conceitos subjetivos, onde a mesma realidade é

compreendida de diferentes formas pelas pessoas ouvidas, posto que o entendimento do indivíduo

é relativo, adotamos como metodologia de pesquisa científica o modelo construtivista. Assim,

buscamos aqui as respostas ao nosso problema de pesquisa, avaliando a percepção das pessoas

que compõem a amostra.

7.2 LOCAL A pesquisa foi feita nos municípios de São Francisco do Conde (BA) e Salvador. A escolha de

São Francisco do Conde deveu-se à sua importância estratégica como a prefeitura responsável

pela quarta maior arrecadação do estado, em valores absolutos. Situado a 74 Km de Salvador, na

região do recôncavo baiano, o município tem uma área total de 219 Km2. A população residente

alcança, segundo o censo 2000 , o número de 26.208, com distribuição bastante equilibrada entre

homens e mulheres. No passado, São Francisco foi cidade de destacada força econômica, tendo

sido um dos maiores pólos canavieiros do império. Atualmente, a atividade agrícola se resume à

agricultura de subsistência praticada pela pequena população rural. A maior parte dos habitantes

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ocupa cargos públicos. Com uma arrecadação mensal próxima aos R$ 8 milhões, decorrente

principalmente de pagamento de royalties da Petrobrás e repasses públicos relativos à circulação

de derivados de petróleo, o município conta com a maior arrecadação per-capta estadual.

7.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA A população pesquisada é composta por membros do poder executivo, legislativo, funcionários

de empresas prestadoras de serviços relacionados à implantação da LRF e por líderes

comunitários. A seleção das pessoas pautou-se nos cargos e funções desempenhadas – amostra

não probabilística intencional, sendo nosso propósito conhecer as opiniões da maioria dos

vereadores e secretários municipais, independentemente da coligação partidária a que pertençam.

A tabela abaixo descreve a amostra para nossa pesquisa.

Mário Nogueira dos Santos Vereador

Maria Judith Nogueira Membro da comunidade

Sérgio Ferraz Secretário de Finanças

Valdomiro Santana Membro da Comunidade

José Reis dos Santos Vereador

Marcos Paulo Contador da PI Contabilidade

Éber Fagundes Simões Diretor da PI Contabilidade

7.4 INSTRUMENTOS DE COLETA Foram usadas entrevistas sistematizadas, obtidas através dos desdobramentos das perguntas

operacionais. O objetivo precípuo é avaliar as percepções de cada entrevistado acerca da LRF e

as repercussões para a administração municipal. As entrevistas foram gravadas e se constituem

acervo permanente de consulta.

Os índices de desempenho utilizados pra mensurar a eficiência e a aderência do município no

cumprimento das exigências fiscais foram obtidos com base em análise documental de material

produzido pelo Tribunal de Contas dos Municípios e pela Secretaria do Tesouro Nacional.

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7.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS Como a compreensão dos entrevistados é substancialmente intuitiva e o propósito das entrevistas

é avaliar, dentro do contexto do problema, o “sentimento” dos entrevistados, os tratamentos

estatísticos não poderão ser aplicados, sendo as respostas consideradas individualmente com

vistas a atingir os objetivos da pesquisa. O objetivo da nossa pesquisa é, portanto, interpretar

conceitos subjetivos transformando-os em proposições que solucionem o problema de pesquisa.

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8 ANÁLISE DE DADOS Com a vigência da LRF, percebeu-se uma notável mudança na gestão publica, em todas as

esferas de governo. Sem dúvida, sua contribuição mais expressiva foi a profissionalização da

administração municipal, principalmente se considerarmos que, após o início do processo de

descentralização das políticas públicas, ensejado pela reforma do estado, os municípios tiveram

que assumir novos encargos e funções no atendimento das demandas por serviços sociais e

urbanos. No estado de desordem que marcou a gestão municipal, no período anterior a 1995,

onde imperava a idéia que qualquer endividamento seria financiado pela União, o peso do déficit

dos 5.500 municípios para o país recaiu sobre toda a população, quer sobre forma de juros

extorsivos pagos pela rolagem da dívida, quer como a ausência ou ineficiência do ente público na

condução das ações sob sua responsabilidade. A situação da cidade de São Francisco do Conde assemelha-se muito com a de outros municípios

do recôncavo baiano. Situada numa área geográfica estratégica, devido à proximidade com o pólo

de exploração e beneficiamento de petróleo, o município deveria ostentar, por conta das grandes

receitas que aufere, elevados índices de desenvolvimento social. A melhoria nos cenários

econômico e social paulatinamente vai se apresentando. A LRF impôs um ajuste fiscal bastante

austero, rompendo com a cultura político-econômica perdulária e instaurando um regime

administrativo mais adequado para o exercício da boa política, com reflexos bastante positivos

para o cidadão. A análise das entrevistas realizadas e dos documentos colhidos nesta pesquisa corroboram com o

senso comum, que atribui à LRF o aprimoramento da gestão publica e a conseqüente melhoria

social.

8.1. MUDANÇAS NA GESTÃO FINANCEIRA DO MUNICIPIO A gestão do atual prefeito, cujo mandato iniciou em janeiro de 2001, já tem, em principio, uma

característica que a diferencia das demais: é a primeira a iniciar sob a vigência da LRF. Como tal,

ela está sujeita às limitações impostas pela lei e ao compromisso com a transparência.

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Não há administração pública que tenha legitimidade popular quando compromissos com os

servidores não são cumpridos. Assim, a construção do orçamento municipal e do plano diretor do

município contemplaram a quitação de atrasos na folha de pagamento dos servidores municipais.

A prefeitura de São Francisco do Conde quitou o débito com salário e 13º salário dos servidores

municipais. A dívida, no valor de R$6,2 milhões, deixada pela administração anterior, foi

dividida em cinco parcelas, sendo que a última foi paga no final de outubro de 2001. No

Legislativo, onde a dívida chegava a R$ 949 mil, o débito foi quitado também no mês de outubro

com o pagamento da quarta e última parcela. (Correio da Bahia – 07/11/01-Aqui). Além da

regularização de débitos em atraso, foi estabelecido um cronograma de pagamento de salários e

benefícios que permite ao funcionário realizar um planejamento criterioso de sua situação

financeira, uma vez que está sendo religiosamente cumprido. O equacionamento da dívida com o funcionalismo não foi a única conquista importante dos

servidores. O município de São Francisco do Conde resgatou um compromisso social

negligenciado por todas as gestões anteriores: conseguiu negociar uma dívida histórica de R$ 95

milhões junto ao INSS, equivalente a 17 anos sem repasse ao órgão. A prefeitura vai pagar a

dívida em 240 meses e estará livre da ameaça de seqüestros bancários. Segundo o prefeito

Antônio Calmon (PFL), São Francisco do Conde ainda sofre com a falta de confiança, seja de

fornecedores, seja de organismos nas esferas estadual e federal, mas paulatinamente esse estigma

vai sendo superado.

Um outro sinal inconteste da maturidade e disciplina fiscais pode ser constatado quando se

observa a prestação de contas do ano de 2001. Pela primeira vez, desde que foi instaurado o

regime democrático, o município registra um saldo em conta corrente positivo e expressivo.

8.2. INSTRUMENTOS USADOS NA ADEQUACAO DA LEI A Lei Complementar n° 101, de maio de 2001, integra os três instrumentos de planejamento, já

previstos na Constituição Federal de 1988:

- Plano plurianual – PPA

- Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO

- Lei de Orçamento Anual – LOA

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A prefeitura em estudo encontra-se perfeitamente adaptada ao planejamento proposto utilizando o

plano Plurianual na definição das diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as

despesas de capital e outras delas decorrentes; a Lei de Diretrizes Orçamentárias dimensionando

as ações e metas fiscais e financeiras de cada exercício e a Lei Orçamentária Anual provendo os

recursos necessários para cada ação constante da LDO. Para a perfeita adequação e elaboração dos instrumentos retromencionados, a prefeitura vem

recorrendo aos préstimos de assessoria externa, sob o apoio da empresa PI Administração Pública

e PI Jurídica, ambas localizadas em Salvador, a qual por sua vez, tendo recorrido freqüentemente

ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para consultas na administração pública. O Governo Federal tem desempenhado um papel indireto, servindo de fonte de consulta da

empresa de consultoria e mais diretamente através de consultorias prestadas pelo Banco do

Brasil, que presta consultoria especializada à administração pública municipal.

8.3. MELHORIAS OBSERVADAS DEPOIS DA PROMULGAÇÃO DA LEI Em última análise, a ênfase da LRF em controlar a dívida, proteger o patrimônio e planejar a

administração dos entes públicos tem por objetivo maior melhorar a vida da população. Passado o período inicial da atual gestão, marcado pelo pagamento de débitos em atraso legado

pela administração anterior, que constitui o “acerto de contas” tão comum na transição de

mandatos, os primeiros sinais de benefício à população começam a aparecer. Num evento realizado em 18/12/02, cujo tema era A educação que desejamos, foi realizado a II

Jornada Pedagógica do município de São Francisco do Conde. O prefeito Antonio Calmon, na

oportunidade, reafirmou o propósito de continuar dando prioridade máxima à educação. Segundo

ele, apesar das dificuldades encontradas no início da sua administração, São Francisco do Conde

conseguiu atingir índice próximo dos 100% de crianças do ensino fundamental em sala de aula.

Foram feitos investimentos maciços na recuperação ou reconstrução de 39 escolas. A

preocupação não se restringe somente a obras de infra-estrutura. A ação municipal também é

centrada nas condições de ensino às quais as crianças estão sujeitas. Por isso, também são

oferecidos a elas transporte, fardamento, material e merenda escolar. Numa iniciativa inédita na

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cidade, foi inaugurado um curso pré-vestibular para carentes, capaz de receber três turmas, cada

uma com 150 alunos, que dispõem de estrutura moderna e confortável. As pessoas com nível

médio concluído já têm opção, totalmente gratuita, de preparação de qualidade para o ensino

superior. Os professores pertencem ao quadro do Sartre, estabelecimento de ensino tradicional

em Salvador. É evidente que as deficiências no ensino médio não podem ser supridas em um

curto período. Entretanto, já é notório o sucesso do empreendimento. Segundo Valdir Oliveira,

16 alunos lograram êxito em exames de admissão em universidades publicas, algo raramente

visto até então. O prefeito afirma que foram investidos R$5.5 milhões em educação no ano de

2001, fato comprovado na análise das contas do município.

Na área da saúde, já foi iniciada a reforma total do Hospital e Maternidade Célia Almeida Lima,

enquanto no distrito de Muribeca a população já conta com atendimento de um posto médico

construído dentro dos padrões da Organização Mundial de Saúde. No distrito, também foi

totalmente recuperado o trecho de acesso à rodovia estadual.

Na habitação, Iniciou-se um programa que visa substituir todas as casas de taipa por casas com

dois quartos, sala, varanda, cozinha, banheiro e área de serviço. O objetivo é zerar o déficit

habitacional existente, acabando com a situação de indigência em que vivem os mais pobres. Em

matéria veiculada em 09/01/01, o jornal A Tarde expôs a situação de penúria vivida por 40

famílias, logo na entrada da cidade. “O quadro é dantesco, visto que nem janelas as 200 pessoas

têm para arejar o local, e o mau cheiro é insuportável. O chão fica molhado o tempo inteiro e

casos de doenças, como meningite, pneumonia, diarréia e sífilis já foram registrados entre

crianças, mulheres e idosos.” O compromisso do prefeito é abrigar dignamente toda a população

até o fim do sem mandato.

Há que se destacar, também, as melhorias em infra-estrutura. Toda a iluminação pública e a

estrutura de lazer que atendem à comunidade foram recuperadas. A razão que possibilitou todas essas realizações foi o incremento na arrecadação perseguido pelo

prefeito. Historicamente, o município sempre teve como fonte principal de renda os repasses

estaduais e federais. Essa situação ainda é observada, visto que a população, em sua maioria

composta por pessoas carentes, não representa uma base tributária sólida que comportasse uma

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arrecadação substancial dos impostos e taxas municipais, como IPTU e ISS. Contudo, a

arrecadação cresceu vultosamente tanto nos repasses quanto nas cobranças municipais. A

estratégia adotada pela prefeitura pautou-se em cobrar valores pequenos de toda a população,

conscientizando-a que os benefícios retornarão para ela própria. Pode-se comprovar o êxito da

estratégia pela análise dos números.

Figura 2 - Evolução das Receitas Municipais

2001 2000 1999 1998 1997 1996IPTU

ISS0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

R$

mil

IPTUISS

O gráfico acima reflete a evolução da arrecadação municipal em dois dos seus principais tributos,

o ISS e o IPTU, entre os anos de 1996 e 2001. A pouca importância dada pelas administrações

anteriores ao IPTU é comprovada pela arrecadação irrisória nos três primeiros anos pesquisados.

Percebe-se nitidamente o crescimento da arrecadação desse tributo, o que demonstra que a

população vem respondendo às ações implementadas pela prefeitura e essa, por seu turno,

atendendo as determinações da LRF. Também é notório o incremento da arrecadação do ISS,

conseqüência direta da maior fiscalização e cobrança aos sonegadores.

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Além de intensificar a cobrança de impostos municipais, um forte esquema foi montado para

aumentar a cobrança de ICMS. Esse aumento beneficia o Estado, mas, como um percentual do

imposto é de direito do município, o incremento também favorece a arrecadação local.

Figura 3 - Evolução dos Repasses Municipais

2001 2000 1999 1998 1997 1996FPM

ICMS0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

R$

mil

Evolução dos Repasses Municipais

FPMICMS

O gráfico acima mostra a arrecadação com o ICMS e FPM nos últimos seis anos. Como se vê, o

peso do ICMS na arrecadação municipal é muito grande, chegando a atingir 60% do total das

receitas correntes. A redução considerável ocorrida no ano de 1999 deveu-se a uma alteração do

dispositivo municipal que regulamenta o repasse do ICMS, distorção essa que foi corrigida no

ano seguinte, sem que, entretanto, tenha sido feita qualquer compensação pela perda da

arrecadação que comprometeu o fechamento das contas naquele ano. A iniciativa de prefeitura

em impingir uma maior fiscalização, em especial nas empresas que beneficiam os derivados de

petróleo, tem proporcionado saltos consideráveis na arrecadação do ICMS. A previsão para 2002

é que o imposto gere saldo da ordem de R$ 60 milhões. Quanto ao Fundo de Participação dos

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Municípios, a estabilidade nos valores arrecadados se explica pela natureza do repasse que é

proporcional ao número de habitantes e que, por isso, está sujeito a poucas alterações. Da análise das informações levantadas, percebe-se a evolução financeira do município, a despeito

do curto espaço de tempo.

8.4. PLANEJAMENTO DA PREFEITURA A LONGO PRAZO O Banco do Brasil, com toda experiência acumulada como agente financeiro do Governo, passou

a atuar com produtos específicos para a administração municipal, buscando a maximização de

receitas, otimização de gestão financeira e prestação de serviços municipais, apoiando as ações de

planejamento conforme previsto na LRF.

Na sua trajetória de atendimento ao ente público, e especialmente para a administração

municipal, o Banco desenvolveu soluções tecnológicas que possibilitam o cumprimento de

diversos artigos da LRF. Dentre esses produtos utilizados pela Prefeitura Municipal de São

Francisco do Conde destacam-se:

8.4.1. BB Recebimentos O aplicativo constitui-se em um facilitador para cumprimento da exigência prevista no art. 11 da

Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina como requisitos essenciais da responsabilidade na

administração fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da

competência do município. O programa permite o gerenciamento e controle da arrecadação de tributos municipais e permite

o envio eletrônico dos arquivos para emissão dos carnês de IPTU, ou ainda a emissão das guiais

individuais para pagamento, pela própria prefeitura.

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8.2.1 Pagamento Eletrônico de Empenhos e Ordens Bancárias – OBN O sistema é um instrumento útil para os municípios no cumprimento da Execução Orçamentária

prevista nos art. 8° e 9° da Lei de Responsabilidade Fiscal. Possibilita o efetivo controle da

execução financeira municipal, através de pagamentos eletrônicos de empenhos.

8.2.2 BB Conta Única Sistema em que o administrado municipal pode gerenciar todas as contas-correntes da prefeitura.

O aplicativo conta-única permite a centralização, gerenciamento e controle do fluxo de caixa do

município. O programa ao realizar o controle das disponibilidades financeiras, atende ao previsto no artigo

43 da Lei de Responsabilidade Fiscal, além de facilitar a elaboração das prestações de contas

conforme contido nos artigos 49 e 56 , favorecendo a escrituração e consolidação de contas, em

atenção no artigo 50 da lei 101.

8.2.3 BB Cobrança da Dívida Ativa O produto vem permitir aos municípios no atendimento do artigo 13 da Lei de Responsabilidade

Fiscal, e trata-se de importante ferramenta para evitar à sonegação. Possibilita os seguintes facilitadores para os municípios: consultoria jurídica aos municípios,

baixo custo de cobrança, maior índice de recebimento, emissão automática dos boletos de

cobrança.

8.2.4 BB Aplicações

Para efetuar a aplicação de suas disponibilidades financeiras, os prefeitos estarão cumprindo

totalmente a exigência do artigo 43 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Um dos pilares do planejamento municipal de médio e longo prazo é a atração de novas

indústrias. Respaldado pela situação orçamentária, que comporta as exigências da LRF quanto a

políticas de benefício fiscal, a prefeitura está atuando junto ao segmento industrial nacional com

o objetivo de facilitar a instalação de fábricas no município. Novas empresas, além de

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proporcionarem aumento de arrecadação, visto que a flexibilização não engloba todos os

impostos, gera emprego e renda para a população. Segundo o Secretário de Finanças, o sucesso

dessa política retira da prefeitura o ônus do “emprego ocioso”, termo usado para designar a

contratação desnecessária de funcionário publico tão somente para atenuar o quadro de

desemprego municipal. “[...] A intenção nossa é promover cursos de qualificação para habilitar a

comunidade a exercer atividades produtivas. Queremos garantir o profissionalismo e a

empregabilidade da população”.

A empresa gaúcha SMC Calçados será a primeira a se instalar. O investimento inicial de R$ 3

milhões vai gerar 350 empregos diretos e 500 indiretos, de acordo com o protocolo assinado entre

o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, Aroldo Cedraz, o prefeito Antônio Calmon

(PFL) e os diretores da empresa, Leandro Klein e Alcides Nitz. A solenidade, realizada na

Câmara Municipal de São Francisco do Conde, contou com a presença do deputado federal

Cláudio Cajado (PFL), vereadores e empresários. A fábrica será instalada no bairro de Baixa Fria

e produzirá 80 mil pares mensais de calçados (tênis, sandálias e chinelos). Serão empregadas e

desenvolvidas modernas tecnologias nos processos de produção e haverá a formação e

capacitação de mão-de-obra especializada. Calmon destacou o aproveitamento prioritário dos

trabalhadores locais no processo produtivo, informando que o município está investindo R$800

mil na realização de obras de infra-estrutura.

O investimento na qualificação dos funcionários públicos também é preocupação da

administração. Em conjunto com a Secretaria Estadual do Trabalho e Ação Social foram criadas

cursos de capacitação destinados ao quadro local.

8.5. FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS UTILIZADAS A informática é a grande arma para democratizar conhecimentos, controles e, claramente,

aumentar a arrecadação das cidades. A informatização ajuda a atender ao princípio de se

arrecadar melhor e não apenas arrecadar mais. O parque tecnológico da prefeitura foi bastante

modificado, tendo sido adquiridos dezenas de micro computadores que, alem de agilizar o serviço

interno auxilia na prestação de informações à população. Hoje a prefeitura já dispõe de banco de

dados com o cadastro completo dos funcionários e processa serviços como impressão de contra-

cheques.

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Além dos softwares de escritório adquiridos junto com os computadores, a prefeitura utiliza

softwares de apoio a administração. A indicação de compra tem a chancela da PI Contabilidade.

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9. CONCLUSÃO

A LRF foi um marco para a tomada de decisão dos administradores com relação à administração

da coisa pública. Além de fixar limites para o endividamento, para as despesas de pessoal,

condições para a renúncia de receita e para a criação de despesas de caráter continuado, indica

caminhos que devem ser trilhados para a consecução de uma gestão saudável e para a correção de

desvios. Tão importante quanto a fixação dos parâmetros a serem respeitados é a indicação das

providencias que devem ser adotadas caso haja indícios de que as metas podem não ser atingidas.

Partindo da análise do material coletado, depreende-se as mudanças que os gestores municipais

implementaram visando o ajuste de seus procedimentos administrativos, buscando a efetiva

redução de despesas, ampliação de receitas e às exigências da LRF. Os principais indicadores

demonstram uma grande evolução na situação financeira municipal. Os atrasos nos pagamentos

legados por administrações anteriores foram equacionados e os compromisso financeiros

passaram a ser liquidados segundo o cronograma de pagamentos estabelecido.

Contando com o apoio da empresa PI Contabilidade Pública, a administração municipal não só

profissionalizou a gestão contábil como também teve facilitada a tarefa da publicação dos

relatórios exigidos na legislação, posto que essa responsabilidade é da PI. A profissionalização

também é nítida na gestão financeira. Em parceria com o Banco do Brasil, a prefeitura começa a

dar sinais de modernização na gestão de seus recursos, adotando produtos e serviços que

facilitam o planejamento, acompanhamento e controle das finanças publicas. Para isso,

remodelou todo o parque tecnológico, adquirindo equipamentos compatíveis com os softwares de

gestão financeira, hoje utilizados em larga escala.

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Os sinais mais claros do aperfeiçoamento da gestão pública estão nas melhorias observadas na

cidade e nos benefícios usufruídos pela população, que são, em última analise, a demonstração

que a austeridade fiscal e a profissionalização da gestão pública têm reflexos positivos diretos no

bem-estar do povo e na infra-estrutura municipal. São Francisco do Conde é, certamente, um bom

exemplo da pertinência da LRF e de como ela afeta os municípios, sendo vetor de

desenvolvimento e catalisador da transição de uma situação de desequilíbrio fiscal, que se

observava no país há poucos anos, para a de responsabilidade fiscal com crescimento econômico

que desejamos para todo o Brasil.

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11 ANEXOS