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AÇÃO ANTI-AIDS Número 49 / Agosto - Setembro 2003 Publicado por ABIA - Brasil 6 Crianças soropositivas e escolas Por Sonia Cotrim* HIV/AIDS, giram em torno das questões do dia a dia: ferimentos originados por mordidas ou tombos, troca de objetos, toalhinhas, ta- lheres, chupetas, compartilhar merendas (san- duíches e canudinhos) e, até mesmo, beijos, abraços e afagos. Não é incomum o fato de consultores serem chamados para solucionar problemas quando responsáveis, alunos ou profissionais da escola (incluindo professores, coordenadores, diretores, manipuladores de alimentos e pessoal de limpeza) ficam saben- do da existência de soropositivos no grupo. Há uma variedade de situações envolvendo o preconceito: professores que se recusam a reger turmas, diretores que relutam em ma- tricular alunos (especialmente na rede parti- cular onde a pressão dos responsáveis pagan- tes é grande), responsáveis que retiram sua criança da escola, temor pela merenda prepa- rada no espaço escolar. Ainda não é fácil respeitar a condição de si- gilo sobre a soropositividade e,ao mesmo tempo, garantir que esta criança/adolescente possa fazer uso de medicamentos no ambiente escolar ou justificar as suas faltas por imposição do tratamento médico. Há dificuldade em oferecer alternativas viáveis e dignas para que este aluno não interrompa seu processo educativo. Paradoxalmente, alguns alunos soroposi- tivos são identificados por viverem em insti- tuições que os apóiam, especialmente quando chegam à escola nos carros oficiais dessas instituições; da mesma maneira são equi- vocadas as tentativas de superproteção aos alunos soropositivos, como lhes oferecer várias repetições de merenda.Também é difí- cil cobrar da escola que as crianças sorone- gativas, não freqüentem o espaço escolar quando apresentam infecções (muitas vão à escola com gripe e catapora). O que realmente a escola deve fazer quan- do nela ingressam alunos (ou quaisquer inte- grantes da comunidade escolar) soroposi- tivos? Trabalhar muito para que nela não haja lugar para o estigma e o preconceito, para que não seja uma escola que exclua. *CONSULTORA EXECUTIVA DO NÚCLEO RIO DO PROJETO AIDS E A ESCOLA DE 1994 A 2001 EMAIL: SCOTRIM@AJATO.COM.BR A AIDS na Escola A divulgação dada à AIDS já chegou às es- colas e esse é um tema sobre o qual muitos pais e mães podem ter preconceitos e pouca informação. As escolas e outros espaços educativos podem contribuir para a preven- ção do HIV difundindo conhecimentos que equilibrem a incompleta ou incorreta infor- mação que possa ter sido adquirida em ou- tras fontes. De um ponto de vista preventivo seria impor- tante explicar às crianças e adolescentes a natureza da infecção por HIV, sua forma de transmissão e a incidência que a doença pode ter sobre o conjunto da sociedade. É importante destacar que, apesar da epidemia, os contatos sociais entre crianças nas escolas, ou em suas próprias casas, em condições higiênicas normais, não têm originado qualquer tipo de transmissão. Os docentes deverão avaliar com um cri- tério pedagógico o fato de que os ensina- mentos sobre o HIV/AIDS requerem espe- cial cuidado e sensibilidade para harmonizar as explicações importantes com a maturida- de das crianças às quais for dirigida a infor- mação. As crianças que vivem com HIV não repre- sentam risco algum para as demais, levando- se em conta que é apenas no sangue, no sêmen e nas secreções vaginais que o vírus se apresenta em quantidade suficiente para produzir infecção. Uma criança sadia não corre riscos por: Assoar o nariz com o mesmo lenço Compartilhar camisetas esportivas Compartilhar doces ou chicletes Dar um beijo Receber arranhões produzidos durante uma brincadeira Ser mordido Compartilhar piscinas, banheiras ou chu- veiros Colocar na boca um lápis que se imagi- na que tenha sido chupado antes por uma criança que vive com HIV Misturar suas lágrimas com as de uma criança que vive com HIV Os contatos entre as crianças no período escolar são muito superficiais, embora às vezes pareça o contrário. Todos devemos ter conhecimentos sobre educação para a saúde, fundamentalmente o conceito de considerar a saúde “não apenas como a ausência de doença, mas como a sua prevenção”. RESPONSABILIDADE INSTITUCIONAL FONTE:TIRADO DE FOLHETO INFORMATIVO DA FUNDAÇÃO ARGENTINA P-AJUDA À CRIANÇA COM AIDS. AYUDAALNINIOCONSIDA@CIUDAD.COM.AR D iante da realidade do HIV/AIDS, ainda é um desafio fazer com que a escola continue cumprindo o seu papel, honrando sua responsabilidade institucional na sociedade e permanecendo no seu lugar, sem ser abalada como atingida por um terremoto, diante do fato de saber que entre seus alunos há uma criança/adolescente soropositivo. Este desafio tem que ser enfrentado com muita informação, especialmente com base na legis- lação, que diz ser garantida a matrícula de alunos soropositivos na rede escolar e que o sigilo à sua condição é inegável. A desinformação da comunidade escolar, especialmente dos profissionais da escola e os responsáveis pelos alunos, sobre as for- mas de transmissão do HIV/AIDS, é uma das maiores barreiras ao avanço das questões relacionadas a crianças soropositivas e esco- las. Entretanto, apenas informação não é sufi- ciente para garantir que haja uma compre- ensão por parte dos atores que compõem a escola, de como atuarem na “escola em tempos de HIV/AIDS”. Parece que esta instituição não está ainda preparada para se defrontar com muitos outros desafios que ultrapassam os muros escolares, os quais estão no mundo e em nós mesmos. A rede pública do município do Rio de Ja- neiro tem 1 040 escolas e é a maior rede da América Latina. Nesta rede, composta por 10 coordenadorias regionais, o “Projeto AIDS e a ESCOLA” / (2 a Coordenadoria Regional de Educação) capacitou, entre 1994 e 2001, 80 das 113 escolas que compõem a coor- denadoria para lidar com as temáticas que estão relacionadas ao HIV/AIDS, tais como sexualidade, prevenção de DSTs, gravidez precoce e uso abusivo de drogas.A justificati- va para a implantação do projeto foi que, no início dos anos 90, a área da 2 a CRE tinha si- do apontada como a de maior avanço no número de casos notificados de AIDS (Secre- taria de Estado de Saúde/RJ). No conjunto de escolas contempladas com o projeto havia desde a Educação Infantil até a oitava série do Ensino Fundamental, abrangendo os bairros da zona sul e parte da zona norte da cidade. As dificuldades mais freqüentes das esco- las, ao se depararem com a realidade do

RESPONSABILIDADE INSTITUCIONAL Crianças A AIDS na Escola ... parte2.pdf · preconceito: professores que se recusam a reger turmas, diretores que relutam em ma-tricular alunos (especialmente

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003

Publicado por ABIA - Brasil6

Criançassoropositivase escolas

Por Sonia Cotrim*

HIV/AIDS, giram em torno das questões dodia a dia: ferimentos originados por mordidasou tombos, troca de objetos, toalhinhas, ta-lheres, chupetas, compartilhar merendas (san-duíches e canudinhos) e, até mesmo, beijos,abraços e afagos. Não é incomum o fato deconsultores serem chamados para solucionarproblemas quando responsáveis, alunos ouprofissionais da escola (incluindo professores,coordenadores, diretores, manipuladores dealimentos e pessoal de limpeza) ficam saben-do da existência de soropositivos no grupo.Há uma variedade de situações envolvendo opreconceito: professores que se recusam areger turmas, diretores que relutam em ma-tricular alunos (especialmente na rede parti-cular onde a pressão dos responsáveis pagan-tes é grande), responsáveis que retiram suacriança da escola, temor pela merenda prepa-rada no espaço escolar.

Ainda não é fácil respeitar a condição de si-gilo sobre a soropositividade e,ao mesmo tempo,garantir que esta criança/adolescente possa fazeruso de medicamentos no ambiente escolar oujustificar as suas faltas por imposição dotratamento médico. Há dificuldade em ofereceralternativas viáveis e dignas para que este alunonão interrompa seu processo educativo.

Paradoxalmente, alguns alunos soroposi-tivos são identificados por viverem em insti-tuições que os apóiam, especialmente quandochegam à escola nos carros oficiais dessasinstituições; da mesma maneira são equi-vocadas as tentativas de superproteção aosalunos soropositivos, como lhes oferecervárias repetições de merenda.Também é difí-cil cobrar da escola que as crianças sorone-gativas, não freqüentem o espaço escolarquando apresentam infecções (muitas vão àescola com gripe e catapora).

O que realmente a escola deve fazer quan-do nela ingressam alunos (ou quaisquer inte-grantes da comunidade escolar) soroposi-tivos? Trabalhar muito para que nela não hajalugar para o estigma e o preconceito, para quenão seja uma escola que exclua.

*CONSULTORA EXECUTIVA DO NÚCLEO RIO DO PROJETO AIDS E A ESCOLA

DE 1994 A 2001EMAIL: [email protected]

A AIDS na EscolaA divulgação dada à AIDS já chegou às es-colas e esse é um tema sobre o qual muitospais e mães podem ter preconceitos e poucainformação. As escolas e outros espaçoseducativos podem contribuir para a preven-ção do HIV difundindo conhecimentos queequilibrem a incompleta ou incorreta infor-mação que possa ter sido adquirida em ou-tras fontes.De um ponto de vista preventivo seria impor-tante explicar às crianças e adolescentes anatureza da infecção por HIV, sua forma detransmissão e a incidência que a doença podeter sobre o conjunto da sociedade.É importante destacar que,apesar da epidemia,os contatos sociais entre crianças nas escolas,ou em suas próprias casas, em condiçõeshigiênicas normais,não têm originado qualquertipo de transmissão.Os docentes deverão avaliar com um cri-tério pedagógico o fato de que os ensina-mentos sobre o HIV/AIDS requerem espe-cial cuidado e sensibilidade para harmonizaras explicações importantes com a maturida-de das crianças às quais for dirigida a infor-mação.As crianças que vivem com HIV não repre-sentam risco algum para as demais, levando-se em conta que é apenas no sangue, nosêmen e nas secreções vaginais que o vírusse apresenta em quantidade suficiente paraproduzir infecção.Uma criança sadia não corre riscos por:

Assoar o nariz com o mesmo lençoCompartilhar camisetas esportivasCompartilhar doces ou chicletesDar um beijoReceber arranhões produzidos duranteuma brincadeiraSer mordidoCompartilhar piscinas, banheiras ou chu-veirosColocar na boca um lápis que se imagi-na que tenha sido chupado antes poruma criança que vive com HIVMisturar suas lágrimas com as de umacriança que vive com HIV

Os contatos entre as crianças no períodoescolar são muito superficiais, embora àsvezes pareça o contrário.Todos devemos ter conhecimentos sobreeducação para a saúde, fundamentalmente oconceito de considerar a saúde “não apenascomo a ausência de doença, mas como a suaprevenção”.

RESPONSABILIDADE INSTITUCIONAL

FONTE: TIRADO DE FOLHETO INFORMATIVO DA FUNDAÇÃO

ARGENTINA PRÓ-AJUDA À CRIANÇA COM [email protected]

Diante da realidade do HIV/AIDS,aindaé um desafio fazer com que a escolacontinue cumprindo o seu papel,

honrando sua responsabilidade institucional nasociedade e permanecendo no seu lugar, semser abalada como atingida por um terremoto,diante do fato de saber que entre seus alunoshá uma criança/adolescente soropositivo. Estedesafio tem que ser enfrentado com muitainformação, especialmente com base na legis-lação, que diz ser garantida a matrícula dealunos soropositivos na rede escolar e que osigilo à sua condição é inegável.

A desinformação da comunidade escolar,especialmente dos profissionais da escola eos responsáveis pelos alunos, sobre as for-mas de transmissão do HIV/AIDS, é uma dasmaiores barreiras ao avanço das questõesrelacionadas a crianças soropositivas e esco-las. Entretanto, apenas informação não é sufi-ciente para garantir que haja uma compre-ensão por parte dos atores que compõem aescola, de como atuarem na “escola emtempos de HIV/AIDS”. Parece que estainstituição não está ainda preparada para sedefrontar com muitos outros desafios queultrapassam os muros escolares, os quaisestão no mundo e em nós mesmos.

A rede pública do município do Rio de Ja-neiro tem 1 040 escolas e é a maior rede daAmérica Latina. Nesta rede, composta por 10coordenadorias regionais,o “Projeto AIDS e aESCOLA” / (2a Coordenadoria Regional deEducação) capacitou, entre 1994 e 2001, 80das 113 escolas que compõem a coor-denadoria para lidar com as temáticas queestão relacionadas ao HIV/AIDS, tais comosexualidade, prevenção de DSTs, gravidezprecoce e uso abusivo de drogas.A justificati-va para a implantação do projeto foi que, noinício dos anos 90, a área da 2a CRE tinha si-do apontada como a de maior avanço nonúmero de casos notificados de AIDS (Secre-taria de Estado de Saúde/RJ). No conjunto deescolas contempladas com o projeto haviadesde a Educação Infantil até a oitava série doEnsino Fundamental, abrangendo os bairrosda zona sul e parte da zona norte da cidade.

As dificuldades mais freqüentes das esco-las, ao se depararem com a realidade do

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003Publicado por ABIA - Brasil 7

COLÔMBIAFORTALECER A FAMÍLIAELISABETH TORRES BOLÍVAR, COORDENADORA REGIONAL VALLE, RED NACIONAL DE MUJERES POSITIVASPROJETO “GIRASSOL” [email protected]

PONTOS DE VISTA

ARGENTINACRIANÇAS QUE VIVEM COM

HIV/AIDS: SEM DIREITOSELBA GÓMEZ, FAPANS, FUNDAÇÃO ARGENTINA

PRÓ-AJUDA À CRIANÇA COM AIDS, [email protected]

“A MAIOR PARTE DAS MORTES E DOENÇASDAS CRIANÇAS na Argentina pode ser preveni-da, entre elas a AIDS. Esta, no entanto, converteu-se hoje em uma doença mais jovem, mais femini-na, mais pediátrica e mais pobre, intensificando-se

na última década com a discriminação, o abusosexual e a exploração infantil.A grave situação

econômica na Argentina implica na ausência e nadeficiência alimentar, e na falta total de adesão aos

tratamentos anti-retrovirais pediátricos, uma vezque os medicamentos devem ser ingeridos com

determinados alimentos e em determinadoshorários”.

“A TRANSMISSÃO MÃE-FILHO OU PERINA-TAL DO HIV continua sendo um tema muito

preocupante.A pobreza e a falta de acesso aosserviços básicos de saúde fomentam a transmis-

são da mãe ao seu futuro filho. Esse tipo detransmissão representa na Argentina 7,1%,

sendo a segunda proporção mais alta do conti-nente, depois do Haiti”.

“A ELABORAÇÃO E DIFUSÃO DA NORMANACIONAL DE AIDS em Perinatologia aprova-da pela Resolução Ministerial 105/97, que inclui

a obrigatoriedade de oferecer a todas as ges-tantes a realização do teste diagnóstico paraHIV, prévio aconselhamento e respeitando o

consentimento informado, melhorou a detecçãoprecoce de gestantes com HIV e seu posteriortratamento, com a conseqüente diminuição datransmissão do HIV das mães para seus filhos,embora não tenham sido alcançadas as metas

fixadas”.

“OUTRO FATOR IMPORTANTE É A PRO-GRESSIVA REDUÇÃO da idade de transmissãonas mulheres.Atualmente a média de idade em

que se detecta o HIV é 26 anos (31 para os homens). Mas considerando-se o

tempo em que ele demora a se manifestar,chega-se à conclusão de que a transmissão se

produz entre os 16 e 17 anos (nos homensentre os 21 e 22). Isso nos alerta sobre a

imprescindível necessidade de informar e pre-venir sobre o HIV/AIDS o mais cedo possível

na infância, uma vez que o relógio biológicocaminha mais rápido a cada dia”.

“O ESTADO NÃO CUMPRE COM A SUAOBRIGAÇÃO, como ordena a Lei Nacional

23798, de dar atenção e fornecer, em tempo enos lugares em que são assistidas as pessoas

vivendo com HIV/AIDS que assim o requeiram,todos os medicamentos e reativos aprovados. O

Estado argentino é o único culpado do atualgenocídio. O Direito à Vida não deve dependerdas variáveis financeiras. Este é um dos muitos

desafios pendentes em relação à infância, ratifica-do na Convenção dos Direitos da Criança, da

Constituição Nacional de 1994”

Quão protegidas estão as crianças afetadas peloHIV/AIDS?

Fidel Carrillo/Série Tocados pela AIDS, 3º lugar no Concurso Imagens de Vida. Para conhecer as sériesfotográficas ganhadoras, visite: www.accionensida.org.pe

“NA COLÔMBIA NÃO HÁ UM PROGRAMAOU UMA POLÍTICA particular para as criançasque vivem com o HIV, mas elas estão protegidaspelo Decreto Lei 1543, pela ConstituiçãoNacional e pelos direitos das crianças”.

“DIRIGIR NOSSO OLHAR PARA O TRABALHO COM crianças afetadas peloHIV/AIDS não significa discriminar outrossetores também afetados pela epidemia.As crianças têm prioridade ante os adultosporque não podem defender-se por si mesmas, menos ainda em uma situação como o HIV e tudo quanto ele envolve noaspecto físico, social, cultural e familiar entreoutros. É importante desenvolver atividades ouprogramas dirigidos a crianças afetadas peloHIV/AIDS porque isso nos permite melhorarsua qualidade de vida e fortalecer não apenas aelas, mas também a suas famílias, pois cada vezque se apóia uma criança, uma família recebeapoio e se constrói seu futuro”.

“QUANTO À MELHOR ALTERNATIVA OUESTRATÉGIA para cuidar das crianças órfãs pela

AIDS – se são os albergues, famílias de guarda ou suas próprias famílias – considero que em primeiro lugar estaria afamília, se estiver preparada e for sensibilizadaem relação ao HIV. Em segundo lugar,considero que seriam as famílias de guarda,porque o ambiente familiar e o calor de um lar fortalecem emocionalmente a criança e ajudam a melhorar sua qualidade de vida. Além disso, nos albergues, apesar dehaver todo o necessário do ponto de vistamaterial, falta o apoio familiar que ajuda a cri-ança a vincular-se socialmente, como deve ser”.

“SOU MULHER E MÃE QUE VIVE COM HIV,realizo programas de apoio e defesa dos direi-tos humanos, estudo Comunicação Social erepresento nacionalmente as mulheres quevivem com HIV perante o CONSELHONACIONAL DE AIDS. Em minha instituiçãoapoiamos principalmente a mãe e o pai paraque assumam o diagnóstico e se reintegrem àvida social, criando um ambiente melhor paraseus filhos e fortalecendo os laços de comuni-cação familiar”.

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003

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PONTOS DE VISTA

ARGENTINAPROTEÇÃO INTEGRAL PARA AS CRIANÇASLILIANA MARICONDA, PRESIDENTA DA ASOCIACIÓNVIDA INFANTIL,[email protected] ;[email protected]

“NA ARGENTINA,AS CRIANÇAS E ADOLES-CENTES que vivem com HIV/AIDS não contamcom qualquer proteção.VIDA INFANTIL temapresentado várias iniciativas ao CONSELHONACIONAL DA INFÂNCIA,ADOLESCÊNCIAE FAMÍLIA, mas não obteve resposta positiva.Em novembro de 2001 acabou o PROGRAMANACIONAL LUSIDA destinado à prevenção doHIV/AIDS, financiado pelo BANCO MUNDIAL,e como conseqüência não foram mais desen-volvidas campanhas de prevenção nem financia-dos projetos a serem executados por organiza-ções da sociedade civil”.

“NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE A MELHOROPÇÃO para uma criança órfã por causa daAIDS é a sua própria família, com acompanha-mento para a resolução de dificuldades quepossam surgir. Em caso de não existir nenhumparente, ou estes não expressarem vontade ouinteresse de ter sob seu cuidado e proteção ascrianças, apesar da colaboração que possa seroferecida, a alternativa será uma família deguarda e, se possível, próxima aos seus afetos elocal de moradia, para que ela não perca seusamigos da vizinhança e companheiros de esco-la. Sempre pensando esta alternativa como últi-ma e quando tiverem sido esgotados todos osrecursos para possibilitar que a criança per-maneça com sua família.VIDA INFANTIL nãocontempla como estratégia a “internação” dacriança em albergues”.

“A CONTRIBUIÇÃO DA VIDA INFANTIL parareduzir o impacto da epidemia em crianças eadolescentes refere-se essencialmente a oficinasde sensibilização e capacitação em escolas eorganizações da sociedade civil dedicadas àinfância e à adolescência, bem como CampanhasMassivas e Focalizadas em prevenção doHIV/AIDS”.

“EMBORA NOSSO TRABALHO ESTEJAFOCALIZADO em crianças e adolescentes afe-tados pelo HIV/AIDS, todas as nossas atividadessão realizadas de maneira integral no âmbito dafamília, abordando também a problemática dospais, quando eles pertencem a outros setoresafetados pela epidemia, como é o caso de mu-lheres que adquiriram o vírus da AIDS emrelações heterossexuais sem proteção, pai oumãe usuários de drogas injetáveis, trabalhadorasdo sexo, homens privados de liberdade, etc. Oenfoque de proteção integral à criança incorpo-rando sua família é adotado de acordo com oque explicita a Declaração Universal dosDireitos da Criança que, juntamente com a LeiNacional de AIDS nº 23.798, a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos e nossa LeiProvincial de Infância e Adolescência nº 6354,constituem nossos pilares legais sobre os quaisse baseiam todas as ações da VIDA INFANTIL”.

“NA AMÉRICA LATINA AS CRIANÇAS têmsido afetadas em uma porcentagem mínima emrelação a outros lugares do mundo e não foidada prioridade absoluta às políticas e estratégiasnacionais para protegê-las.As crianças estãocrescendo em um mundo com AIDS e devemosproteger os órfãos e as crianças afetadas commedidas urgentes e enérgicas, para evitar todasas formas de maus tratos e discriminação, bemcomo promover ativamente seus direitos.As cri-anças são seres humanos competentes, com dire-ito a exercer influência sobre os assuntos queafetam sua vida. Igualmente, são seres vulneráveise necessitam apoio e proteção especial”.

“EM CAVINIJA DE VENEZUELA NOSSASESTRATÉGIAS são orientadas à redução doestigma e da discriminação que sofrem criançase adolescentes vivendo com HIV/AIDS, pres-tando-lhes assistência e apoio em seu direito àescolarização, a uma atenção médica adequada ea participar em atividades de lazer, recreativas,culturais e esportivas.Atualmente apoiamos 150crianças que são atendidas no HOSPITAL J.M.DE LOS RIOS em Caracas”.

“NA VENEZUELA A EPIDEMIA NAS CRI-ANÇAS e adolescentes se estende por todo oterritório nacional. O MINISTÉRIO DE SAÚDEE DESENVOLVIMENTO SOCIAL não contacom cifras exatas que indiquem a magnitude dainfecção nas crianças, as populações afetadas,

indicadores da forma como essas criançasforam infectadas; desconhecem se estãorecebendo atenção médica integral, se estãoescolarizadas, se estão devidamente registradas,qual é sua situação familiar, social, econômica.Não há cifras da taxa de mortalidade infantilpor causa do HIV/AIDS.A atenção médicapública a crianças e adolescentes soropositivosé deficiente e inoportuna. Realizam-se os testesnecessários (Cd4 e Carga Viral) para assimprocurar os remédios adequados, mas se des-cuida de uma melhor atenção por parte depsicólogos, assistentes sociais, nutricionistas,neurologistas, cardiologistas, bioanalistas, etc.Não estão sendo fornecidos medicamentospara combater as infecções próprias de um sis-tema imunológico debilitado”.

“EXISTE DISCRIMINAÇÃO COM CRIANÇASE ADOLESCENTES que vivem com o HIV nomomento de freqüentar a escola.Ao saber desua condição, alguns diretores e professoresmanifestam repulsa a essas crianças, talvez porfalta de informação, medo e desconhecimentolegal.Atualmente não existe uma política deestado regulamentada para evitar nas escolas adiscriminação de crianças e adolescentes quevivem com o HIV. Os pais e representantes dascrianças preferem não informar sua condição àescola para não expô-las ao repúdio. OMINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO, CULTURA EESPORTES não tem dado uma resposta efetivapara solucionar esta situação”.

“A POBREZA CRÍTICA, A FRUSTRAÇÃO, AIMPOTÊNCIA são fatores comuns na maioriados casos de famílias afetadas pelo HIV”.

VENEZUELANECESSITAM-SE MEDIDAS URGENTES E ENÉRGICASSANDRA VARELA ESCALANTE, PRESIDENTA DE CAVINIJA DE VENEZUELA. COORDENADORA DO

PROGRAMA DE HIV/AIDS DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA INCORPORAÇÃO DE

CRIANÇAS HIV/AIDS ÀS ESCOLAS, DO MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO, CULTURA EESPORTES, [email protected]

O afeto, o carinho e o cuidado no seiode uma família melhoram a qualidadede vida das crianças.Devemos implementar apoio e assesso-ramento adequado a familiares, parentese todos os que cuidam (professores,instrutores esportivos, animadores) decrianças órfãs pela AIDS, com a finali-dade de oferecer resposta a suas dúvi-das e temores com relação a:O que é o HIV/AIDSFormas de transmissão e prevençãoAtenção médica e tratamentosTestes de controleNutrição e higieneOnde conseguir ajudaAssistência legalDireitos humanos, direitos das crianças egarantias constitucionais que as prote-jam de todas as formas de discrimi-nação e maus tratos.Só assim estaremos criando ambientesapropriados para eliminar o estigma e adiscriminação.

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003Publicado por ABIA - Brasil 9

CONSELHOS PRÁTICOS

Como ajudar as crianças a conversar

Podemos ajudar as crianças afetadas peloHIV a conversar sobre as mudanças originadasem suas famílias brincando com elas e contan-do-lhes histórias. Muitas crianças e jovens quevivem em Londres encontram-se afetadas peloHIV. A maioria das famílias vem da ÁfricaSubsaariana. Alguns pais soropositivos mor-reram, outros estão doentes ou estão bem.Apenas algumas crianças mais velhas sabemque seus pais padecem de HIV. Por isso, senti-mos que essas crianças necessitavam ter opor-tunidades para compreender as mudanças queafetavam suas vidas.Assim, convidamos as cri-anças cujos pais tinham falecido ou estavamdoentes para participar de seis sessões demeio dia dedicadas a brincar ou contarhistórias.Em seguida resumimos a metodologiautilizada:

Conselheiros familiares ou pessoas comhabilidades teatrais conduzem as sessões.Também participam voluntários capacitadosde diferentes organizações de luta contra aAIDS.

As sessões variam dependendo do temade conversação escolhido pelas crianças. Osadultos ajudam-nas a refletir sobre seus senti-mentos, para que seja mais fácil para elasexpressá-los. As crianças criam as histórias,aportando imagens e temas provenientes deseus conteúdos culturais e espirituais. Elassabem que compartilham uma experiênciasimilar de perda, mas não devem saber que oHIV é a causa.Abordar ou não o tema do HIVvai depender da idade e da capacidade decompreensão das crianças, bem como dosdesejos das famílias e comunidades.

Cada sessão se inicia com o relato de umahistória cujo protagonista é um bicho de brin-quedo. Sentamos em círculo, passamos o brin-quedo de mão em mão e falamos sobre ele.Depois contamos uma história. Cada partici-pante do círculo fica com o brinquedo durantealguns momentos e contribui contando umapequena parte da história. Damos quantas

DEPOIMENTO

Em 1993 quando vim para a Sociedade VivaCazuza (RJ) ainda não sabia exatamente o queesperar desse trabalho.Tinha perdido vários ami-gos com AIDS e essa era uma questão que memobilizava particularmente. Naquela época aindaa Casa de Apoio Pediátrico da Sociedade VivaCazuza começava e meu sentimento era deansiedade por um trabalho que imaginava ser degrande importância e o medo de não saber lidarcom situações limites. Dez anos depois, em con-tato direto e diário com crianças e adolescentesHIV positivos, tenho a certeza de que são elesque nos apontam os caminhos, que nos dãoserenidade e confiança para traçarmos juntosnossas propostas.A criança nascida HIV positivaaprende desde cedo a lidar com essa realidade efaz isso de maneira muito mais natural e leve doque os adultos. Esses vivem uma perda.As cri-anças são apenas crianças.Christina Moreira da CostaCoordenadora de projetos

A Sociedade Viva Cazuza mantém hoje 23 cri-anças e pré-adolescentes com uma equipe defuncionários atendendo 24 horas.Toda atençãoé voltada principalmente ao bem-estar físico, mental, social e psicológico, respeitando àsdiferenças e particularidades de cada um,numa tentativa de que encontrem aqui o equi-líbrio necessário para visualizarem um futuropromissor.Sempre trabalhei com crianças e adolescentes,e aqui colho os frutos de estar neste meio,além de ver cada criança que chega aquicrescer, desenvolver, dar o retorno e aceitarmuito bem o seu estado e sua condição. Aquime realizo como profissional, como serhumano que dedica a estas crianças muitocarinho, atenção e acima de tudo o cuidado deque elas necessitam.Maria Beatriz Costa CasadoAssistente de supervisão

Há quase sete anos, não só acompanho comoparticipo diretamente deste projeto fantásticoque é a Sociedade Viva Cazuza. Sou pedagogode formação, sempre me direcionei e me sentimotivado a trabalhar com crianças, digo istoporque trabalhar com soropositividade não foiuma escolha, mas apenas um acaso, que feliz-mente atravessou e transformou a minha vida.O importante é trabalhar acreditando no quese faz, no que este trabalho possa te acrescen-tar, não só profissionalmente, mas te fazerrepensar e acreditar em um mundo melhor,mais humano e menos preconceituoso. Nestetrabalho eu acredito e me realizo!Fazer com que a criança se sinta segura, achoque é o primeiro passo para se ter e criar umaboa relação, e isto se dá trabalhando a confiança,o respeito, os cuidados, a verdade, os limites, aauto-estima e a alegria. Nossa relação com ascrianças é mais próxima e verdadeira possível! Pedro Chicri CarvalhoSupervisor

Mamãe leopardo e seu bebêMamãe leopardo e seu bebê viviam nas selvas. Mamãe leopardo caçava para alimentar o bebê e ànoite costumava cantar para ele doces canções para que se sentisse seguro. Um dia mamãe leo-pardo ficou doente. Estava muito triste e preocupada, pois não sabia quem ia tomar conta de seubebê se ela não conseguisse se curar. O bebê leopardo brincava ao sol com seus amiguinhos, masàs vezes se preocupava com a mãe. Mamãe leopardo ficou tão doente que já não podia cantar parao bebê, e depois de algum tempo, morreu. Tia leopardo começou a cuidar dele e o levou paramorar com seus filhinhos. Eles se divertiam muito juntos, mas às vezes o bebê leopardo se sentiatriste. Quando ficava assim, entoava a canção que sua mãe costumava cantar para ele e se sentiamelhor.

voltas ao círculo forem necessárias para com-pletar o conto.Quem não tiver vontade de falarpode dizer “passo”. Se for preciso, os adultospodem usar a sua vez para introduzir idéiassobre a família,o apoio,a separação,a perda e asmudanças que as afetam.

O relato que consta do quadro foi criadopor crianças de 5 a 8 anos. Depois de elabo-rar juntas o conto, elas interpretam os papéisdos protagonistas da família imaginária. Aquiincluímos um exemplo, mas existem muitasmaneiras dos adultos contarem históriaspara as crianças, dependendo das tradiçõeslocais.

As crianças decidem criar o lar de um bebêleopardo com cadeiras, ramos e pedaços depapelão. Depois, os adultos fazem perguntasque as ajudam a desenvolver a história. Onde éque o bebê leopardo dorme? Quem mais fazparte da família? O que é que ele gosta decomer? Com quem costuma brincar? As cri-anças trazem suas próprias experiências para ahistória, contando, por exemplo, que o bebêleopardo molha a cama, sente-se sozinho e éprotegido por um animal maior. Como essasvivências são do bebê leopardo e não da cri-ança, isso facilita para ela a discussão de certostemas, como fazer xixi na cama.A história ajudaas crianças a conversar sobre as mudanças e ofuturo.

No final das sessões, reserva-se umtempo para que falem livremente sobre oque estiveram fazendo e o relacionem comsua própria vida.

Segundo as crianças, as sessões as ajudama sentir-se mais seguras e são uma oportu-nidade de fazer amizade com outras crianças,dar e receber apoio. Segundo a família, as cri-anças parecem mais estáveis.

Liz Day, Coordenadora de HIV, Bexley Council, HowburyCentre, Salde Green Road, Kent DA8 2HX, U.K. e RoyaDooman, Terapeuta Teatral,8 Harraden Road, London SE3 8BZ, U.K.

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003

Publicado por ABIA - Brasil10

Em muitos países, os pais ajudaramseus filhos elaborando um livro derecordações que registram a infor-

mação relativa a cada criança. O livro dasrecordações contém páginas que abordamdiferentes temas que podem ser desenvolvi-dos por pais e filhos, tais como:

Meu lar, onde eu nasciAs tradições familiares importantesÁrvores genealógicas que mostrem ondemoram os diferentes familiaresMapas indicativos que mostrem de ondevem a famíliaAlgumas famílias abordaram os mesmos

temas fazendo uma cesta de recordaçõesdestinada a cada criança. Nela recolhempequenos objetos pessoais pertencentes ao

lar que podem ajudar as crianças a recordara vida em família.

Outros optaram por gravar fitas-cassetescom canções e hinos preferidos, acompa-nhados de mensagens individuais dos pais.

Os resultados são favoráveis para a família,Segundo os pais, além de proporcionar infor-mação valiosa para os filhos, essas atividadesos ajudaram a recordar tempos melhores.Quando as crianças colaboram com os paispara juntar “recordações”, na verdade dãoum passo à frente para abordar os temasrelacionados às perdas e mudanças que seencontram a caminho.Muitos pais manifestaram que essas ativi-dades os ajudaram, pela primeira vez, a falar

sobre o HIV com a família.Uma vez derrubado o muro do silêncio,muitos pais acharam mais fácil conversarcom amigos ou parentes sobre seus planospara o futuro dos filhos.A discussão aberta ajudou as crianças atemerem menos o HIV e a aprender comseus pais os diferentes métodos necessáriospara evitar riscos à sua própria saúde nofuturo.Para muitos pais, o planejamento do futurode seus filhos fez com que se sentissem,tanto física como emocionalmente, maisfortes, pois isso os ajudou a não gastar maisenergias para esconder a verdade.

“Não é preciso ter AIDS para começar umlivro de recordações. Todos necessitamosconhecer nossas origens. Todos deveríamosfazê-lo por nossos filhos e por nós mes-mos”.

As lembranças ajudamQuando as crianças são separadas de suas famílias, as lembranças importantesparecem sumir rapidamente. Antes que seja tarde demais, as crianças necessitamde respostas verdadeiras às suas indagações mais urgentes: Quem sou eu? Qual é o meu lugar? Quem vai cuidar de mim no futuro?

A história de Taty

Carol Lindsay Smith – CLS Development Services, PO Box4385, Colchester CO6 4UA U.K.

As histórias podem ajudar os trabalhadores da área da saúde e demais encarregados a aprender mais sobre HIV/AIDS e a pensar em diversas formas de melhorar a atenção e o apoio que dão às famílias afetadas. A seguinte história pode ser utilizada e adaptada como um exercício de capacitação para trabalhadores da área da saúde, conselheiros eassistentes de saúde que trabalhem em casa.Conte a história (ou uma versão adaptada dela) e em seguida reveja-a lentamente formulando perguntas e proporcionandoinformação relevante.Você pode contar a história por partes (tal como se sugere em seguida) permitindo assim que cada parte seja discutida detalhadamente antes de continuar; ou talvez, se preferir, contar toda a história desde o início.Trate sempre de adaptar o conto para fazer com que seja familiar às pessoas para as quais estiver contando.Por exemplo, troque os nomes por outros que sejam comuns na sua localidade.

(1996) O nascimento de Taty

Quando Rosa ficou grávida pela quartavez, cruzou os dedos com a esperança de quefosse o menino que seu marido tanto deseja-va. De fato, Rosa já tinha três lindas menini-nhas de oito, seis e três anos, respectivamen-te. Assim, foi ao hospital logo nos primeirosdias da gravidez; como de costume, lhe fize-ram um exame de sangue. Rosa tinha lidosobre o HIV nos jornais e sabia que podia sertransmitido de mãe para filho.Ela, assim comomuitas outras pessoas, conhecia as particula-

ridades do HIV,mas nunca pensou que a AIDSpudesse atingir sua família. Enquanto espera-vam para fazer o exame de sangue no hospi-tal, Rosa e as demais pacientes comentavamque seria muito deprimente descobrir quetinham o HIV depois de estarem grávidas.

Taty, uma linda menina, nasceu forte esaudável.Toda a família ficou contente coma chegada do novo bebê. Rosa amamentousua menina com alegria. Sabia que esse eranão apenas o melhor método de alimen-tação para Taty, mas também que a ajudariaa não engravidar.

PONTOS DE DISCUSSÃO� Muitas mulheres não sabem que são

soropositivas quando estão grávidas. Ostrabalhadores da saúde costumamenfrentar graves dificuldades para abor-dar os temas relacionados ao HIV comuma mulher grávida.• No caso da Rosa, a enfermeira deveriater falado sobre o HIV durante suas vis-itas ao hospital?• Deveriam existir palestras regularessobre o HIV e as DSTs nas clínicas ematernidades?

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enfermeira apenas pôde dar a eles certasinformações sobre o HIV e explicar o quese podia fazer para ajudá-los em sua locali-dade. Rosa e Pablo deviam tomar suaspróprias decisões. O desafio da enfermeiraconsistia em convencer Rosa e seu maridoa que se mantivessem sadios, na medida dopossível. Isso significava uma alimentaçãosaudável, a prática de exercício físico, a pre-venção de infecções ou o seu tratamentoprecoce e, devido à sua grande religiosi-dade,“ter muita fé em Deus”.

PONTOS DE DISCUSSÃO � Pablo transmitiu o HIV a Rosa durante as

relações sexuais.• O que Rosa poderia ter feito para evi-tar isso?• O que poderia ter feito para evitar queTaty contraísse a infecção?

� Que fatores deveriam ser consideradospelos trabalhadores da área de saúdeantes de sugerir aos pais que se sub-metam ao teste de HIV?• É recomendável conversar sobre osserviços disponíveis para tais fins em sualocalidade.

� Quando se soube que Taty era soroposi-tiva, isso levou a estabelecer queprovavelmente o pai ou a mãe, ou inclu-sive os dois, tinham o vírus da AIDS.• Como será que se sente um pai aosaber que pode ter transmitido o vírus aseu filho ou filha? • Como se pode ajudar pai e mãe aenfrentarem essa preocupação?

� Rosa temia que suas outras filhas se con-tagiassem mediante o contato próximo.• O que devem fazer os trabalhadores daárea de saúde para superar esse temor?

(2003) Taty vai à escola

Taty tornou-se uma menina saudáveldepois de ter se submetido a um tratamentocontra a tuberculose, doença que ocasionavaa tosse crônica que sofria. Foi assim quecomeçou a crescer bem de novo. Em novem-bro do ano passado, Taty completou seisanos. É hoje uma menina saudável que fre-qüenta a primeira série do curso fundamen-tal em um colégio local. A enfermeiraescreveu uma carta para os professores daTaty na qual explicava que ela sofria de umproblema médico crônico e que por isso àsvezes seria obrigada a faltar. Agora, as irmãsde Taty conhecem o motivo pelo qual suairmãzinha está sempre doente. Fizerammuitas perguntas até que Rosa e Pablo

decidiram contar a verdade a elas. Assim,estão todas na mesma escola e freqüentam oclube anti-AIDS do colégio.A única que nãocomparece é a segunda filha mais velha deRosa que evita, inclusive, mencionar o HIV.

Até o momento Taty não fez nenhumapergunta sobre sua condição. Todos osmembros da família, bem como a enfer-meira, estão esperando que chegue essemomento. Rosa lê toda a informação quepode obter sobre o HIV e conhece a terapiaanti-retroviral. Também costuma escutarnotícias sobre remédios tradicionais. Ela e aenfermeira de Taty costumam conversarsobre as diferentes terapias ocidentais etradicionais. No entanto, elas e Pablo, con-cordam em reconhecer que o custo dotratamento anti-retroviral é muito elevado.Quando Pablo começa a se queixar de seucontínuo cansaço, percebem que devemcomeçar a pensar no futuro de sua família.Enquanto isso agradecem a Deus por cadaano de vida que lhes dá.

PONTOS DE DISCUSSÃO� Quem é que precisa saber que a criança

é HIV positiva? • Os professores deveriam ser comuni-cados sobre o verdadeiro motivo peloqual Taty sofrerá de um maior númerode doenças que as outras crianças?

� Uma das irmãs de Taty não deseja falarsobre o HIV.• Qual poderia ser o motivo?

� As outras irmãs de Taty continuam sendonegativas apesar de viverem com trêsmembros da família que são HIV posi-tivos.• É recomendável refletir sobre todas ascoisas que fazem em conjunto e por quemesmo assim continuam negativas.

� Quando Taty começar a perguntar sobresua condição, o que necessitará saber ecomo se deve dizer isso a ela?

� Onde os membros da comunidadepodem obter informação sobre oHIV/AIDS? • A que organismo podem recorrer ostrabalhadores da área da saúde, osencarregados e as famílias, em sua loca-lidade, para tomar conhecimento dasúltimas noticias sobre a epidemia?

AGRADECEMOS À DRA. CONNIE OSBORNE,CONSULTORA PEDIÁTRICA, UNIVERSITY

TEACHING HOSPITAL, PRIVATE BAG RWIX,LUSAKA, ZÂMBIA POR NOS PROPORCIONAR O

PRESENTE ESTUDO DE CASO.

� Que tipo de informação as mulherescomo Rosa necessitam sobre o HIV e oaleitamento materno?• Como e quando deveria ser dada essainformação?• Por exemplo, seria melhor falar com asmulheres em grupo ou individualmente?

(1997) Alguma coisa está errada

Durante seu primeiro ano de vida, Tatyteve muitas infecções. Quando completounove meses, Taty deixou de aumentar depeso adequadamente. Rosa ficou surpresa epreocupada ao mesmo tempo, pois issonunca tinha acontecido com nenhuma dasoutras filhas. Quando Taty tinha 16 mesespegou uma severa tosse que não sarava. Foiassim que a enfermeira propôs fazer umteste anti-HIV. Rosa e seu marido concor-daram. Na verdade, não acreditavam queTaty tivesse HIV, mas pensavam que uma vezque a enfermeira tivesse certeza de que suafilha era HIV negativa, começaria a procuraroutras causas que explicassem suas fre-qüentes infecções.

Os resultados chegaram e Taty era HIVpositiva. Rosa e Pablo ficaram literalmenteem estado de choque. Foram embora muitotristes, porque não podiam acreditar quefosse verdade. Foi assim que os dois se sub-meteram aos testes e descobriram quetambém estavam infectados pelo vírus. Rosase perguntava onde teria contraído o vírus,se isso tinha acontecido antes ou depois deseu casamento, durante a última gravidez, outalvez enquanto amamentava a Taty. Nem elanem Pablo tinham usado preservativosdurante suas relações. Como a maior partedos casais, começavam a ter relações ummês depois do nascimento de suas filhas.Rosa não havia tido relações com ninguémmais, mas não podia garantir a mesma coisasobre Pablo. Ainda continuava a indagarsobre quando Taty teria contraído o vírus.Talvez fosse antes ou depois do parto.Talvezela a tivesse infectado com o leite materno.

Rosa estava muito preocupada com asaúde da Taty, com a sua saúde, com a doseu marido e com a de suas outras filhas.Atormentava-se pensando de que maneiraia explicar para as outras filhas a doença queTaty estava sofrendo.Tanto ela como Pablodecidiram não submeter as outras filhas aoteste de HIV, mas ao mesmo tempo se pre-ocupavam com o fato de que pudessemcontrair o vírus pelo contato próximo.

Parecia não existir respostas certas ouerradas para a maioria de suas perguntas.A

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AÇÃO ANTI-AIDSNúmero 49 / Agosto - Setembro 2003

Publicado por ABIA - Brasil12

RECURSOSO Ação Anti-AIDS propicia um fórum para ointercambio de informação sobre atenção eprevenção do HIV/AIDS e doenças sexual-mente transmissíveis. Este boletim é publicadoem inglês, português e espanhol.Tem uma cir-culação mundial de 160.000 exemplares.

A edição original do Ação Anti-AIDS é pro-duzida e distribuída pela Healthlink Worldwideno Reino Unido. Editora Executiva: Christine Kalume. Editora: Lysa Oxlade. Desenho e produção: Ingrid Emsden

Editores associados:Inglês, Ásia-Pacífico: HAIN (Filipinas) Inglês, África Ocidental: KANCO (Quênia) Inglês, África do Sul: SAFAIDS (Zimbábue)Francês, ENDA (Senegal)Português, África: Universidade EduardoMondlane (Moçambique) Espanhol,América Latina e Caribe:CALANDRIA (Peru)Cahuide 752, Lima 11, PeruCorreio eletrônico:[email protected]ês:ABIA (Brasil)Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS –ABIARua da Candelária, 79/10º andar – Centro –20091-020Rio de Janeiro – RJ – BrasilTel. 21 22231040 Fax. 21 22538495Correio eletrônico: [email protected]ço eletrônico: www.abiaids.org.br

Editores responsáveis: Cláudio Oliveira,Cristina Pimenta, Richard Parker e VerianoTerto Jr.

Conselho editorial: Cláudio Oliveira, CristinaPimenta, Javier Ampuero e Veriano Terto Jr.

Colaboração:Aline Lopes, Ivia Maksud, JavierAmpuero, Juan Carlos Raxach e Pilar Salgado

Jornalista responsável: Jacinto Corrêa – MT19273

Coordenação editorial e revisão: CláudioOliveira

Tradução: Beatriz Cannabrava

Adaptação gráficaA 4 Mãos LTDA.

Fotolito e impressão: Gráfica Reproarte

Apoio: DFID / Healthlink WorldwideTiragem: 20.000 exemplares

Fazendo arte com a camisinha –sexualidades jovens em tempos deAIDS. O livro combina a reflexão sobreas abordagens para educação sexual eprevenção da AIDS com a descrição dassexualidades dos jovens. Mantendo o tomde conversa com o leitor, relata progra-mas de pesquisa e prevenção desenvolvi-dos em São Paulo e mostra a “cozinha”das dificuldades de implementação e dosucesso desses programas, inspirando acriatividade do leitor para construir ini-ciativas e novos projetos.Paiva,Vera. Brasil, 2000. SUMMUS EDI-TORIAL LTDA. Rua Cardoso de Almeida,1287 – São Paulo – SP. Cep. 05013-001.Tel: 11 38723322.E-mail: [email protected]

Nutrição superpositiva 2 – para ges-tantes e crianças vivendo comHIV/AIDS. Com esta publicação, a ABIAprocura estimular, nas mulheres grávidassoropositivas, crianças que vivem comHIV/AIDS e seus responsáveis, atitudesconstrutivas sobre a sua alimentação,assim como apoiar – através das dicas,informações e receitas – as pessoas queconvivem diariamente com essas mu-lheres e crianças no meio familiar, hospi-talar e nas casas de apoio.Gonçalves, Elaine Siqueira.ABIA. Brasil,1999. Publicação disponível no endereçoeletrônicowww.abiaids.org.br/media/nutricao2.doc

O prazer e o pensar: orientaçãosexual para educadores e profissio-nais de saúde. O livro reúne conheci-mentos teóricos e análises sobre a edu-cação sexual fundamentadas por especia-listas. Os artigos trazem significativascontribuições para quem pretende desen-volver projetos na área de orientaçãosexual, ampliar conhecimentos ou reversuas práticas pedagógicas.

Organização: Marcos Ribeiro. Brasil 1999.Editora Gente. Rua Pedro Soares deAlmeida, 114. São Paulo, SP. CEP: 05029-030.Telefax: 11 36752505.E-mail: [email protected]

As crianças e os jovens em ummundo com AIDS. Apresenta de formaresumida a realidade da AIDS nos jovens,crianças órfãs, a transmissão materno-infan-til, prevenções e algumas ações a seguir.ONUSIDA. Genebra, 2001,http://www.unaids.org/publications/docu-ments/children/JC658 Child&Aids-S.pdf

Atenção a órfãos, crianças afetadaspelo HIV/AIDS e outras criançasvulneráveis: um marco de trabalhoestratégico. Apresenta os planos de tra-balho da Family Health International ori-entado para as crianças em diversosaspectos: educação, apoio psicológico,sócio-econômico, atendimento médico,legislação e outras ações vinculadas comseu bem-estar.Family Health International,Arlington2002. http://www.impactaperu.org/down-load/pdf0120.pdf

Os trabalhos apresentados no II Fórum em HIV/AIDS/DST da AméricaLatina e do Caribe, realizado de 8 a 12 de abril de 2003 em Havana,Cuba, podem ser ecessados em: www.foro2003.sld.cu/conferencia/