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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO RICARDO CARDOSO, devidamente qualificado nos autos, vem à presença de Vossa Excelência por intermédio de seu advogado, nos termos do artigo 406 do Código de Processo Penal para o fim de apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO pelo o que expõe: 1 – DOS FATOS Consta dos autos de inquérito policial que, no mês de setembro de 2014, nesta Capital, o acusado supostamente, obteve, para si, vantagem ilícita em prejuízo da autora.

Resposta à Acusação - Ricardo Cardoso

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Ricardo Cardoso resposta

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2 VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOINIA/GO

EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7 VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOINIA/GO

RICARDO CARDOSO, devidamente qualificado nos autos, vem presena de Vossa Excelncia por intermdio de seu advogado, nos termos do artigo 406 do Cdigo de Processo Penal para o fim de apresentar RESPOSTA ACUSAO pelo o que expe:

1 DOS FATOS

Consta dos autos de inqurito policial que, no ms de setembro de 2014, nesta Capital, o acusado supostamente, obteve, para si, vantagem ilcita em prejuzo da autora.

A autora entrou em contato com o acusado, este comerciante no ramo de compra e venda de veculos, interessada na aquisio de um carro, dizendo-lhe que estava com dinheiro para pagar uma parte do valor do bem, sendo que financiaria o restante.

No dia 17 de setembro de 2014, o acusado, ao participar de um leilo de veculos na cidade de So Paulo-SP, informou autora que havia encontrado um automvel que atendia s suas condies financeiras, tratando-se de um veculo GM/Corsa Classic, ano 91/92, o qual custava R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e que, para adquiri-lo no momento, bastava que a autora pagasse R$ 1.400,00 (um mil e quatrocentos reais) valor que deveria ser depositado na conta bancria n. 1499-3, agncia 3716, Banco Caixa Econmica Federal, de titularidade da esposa do acusado, mais a quantia de R$100,00 (cem reais) a ser repassada quando o acusado voltasse de viagem, ficando o restante para pagamento quando a transportadora entregasse o veculo nesta Capital, com data prevista para 23 de setembro de 2014.

Alega a autora que o acusado no lhe entregou o veculo e to pouco lhe foi devolvido o valor que esta havia repassado ao acusado. Por esta razo foi o acusado denunciado pelo parquet a este juzo nos termos do artigo 171, caput, do Cdigo de Processo Penal, razo pela qual o acusado vem oferecer RESPOSTA ACUSAO.

2 DAS PRELIMINARES

Insta observar que os termos contidos na exordial esto dissociados da verdade real dos fatos, fim precpuo do processo penal ptrio.

Por inpcia da denncia, requer preliminarmente a declarao de nulidade. Diz o Cdigo de Processo Penal na inteligncia de seu artigo 41, que um dos requisitos imprescindveis denncia a exposio do fato criminoso com todas as suas circunstncias, o que no se nota no caso em tela.No aludido caso, ao perlustrar os autos da denncia, conclui-se pela sua INPCIA, posto que no se permite inquirir de que forma a acusao configurou o delito invocado, haja vista que no delimitou todas as elementares do suposto crime de estelionato, alm de os fatos narrados na exordial no tipificarem a conduta como crime.

Vejamos o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 2 regio:

TRF2 - HABEAS CORPUS: HC 5550 RJ 2007.02.01.016680-6 Ementa I -PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. EXAME DA JUSTA CAUSA PELO TRIBUNAL. POSSIBILIDADE. II -INTERCEPTAO TELEFNICA. ANLISE PELO MAGISTRADO. RENOVAO.III - CRIMES DE CORRUPO E QUADRILHA. SUPORTE MNIMO NO EXISTENTE. III -ORDEM CONCEDIDA. desprovida de justa causa, a denncia que no est minimamente amparada em elementos capazes de mostrarem, de forma razovel, que existe crime e que o imputado seu autor ou partcipe. Mera suspeita de fatos delituosos ou a possibilidade da existncia de crime e autoria, no se confundem com a probabilidade de suas ocorrncias. Somente aquilo que possa ser provvel em Juzo, calcado em suporte mnimo, que justifica a inaugurao da ao penal. Necessidade de exame de custo/benefcio, como fundamento do processo penal.Ora, o Ministrio Pblico no delimitou o meio pelo qual o acusado supostamente obteve vantagem ilcita, e nem a prpria vantagem ilcita que obteve.

Destarte, requer seja declarada inepta a denncia, rejeitando-a, com fulcro no artigo 395, I, e declarando-a nula com base no artigo 397, III, ambos do Cdigo de Processo Penal.3 DO MRITO

Ao analisar os autos da investigao criminal, nota-se que a imputao criminal promovida ao acusado no possui razo de existir.

O artigo 171, caput, do Cdigo Penal tipifica o crime de estelionato:

Art. 171: Obter para si, ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.O crime de estelionato consiste na vontade livre e consciente do agente de realizar conduta fraudulenta em prejuzo alheio, objetivando obter para si ou para outrem, vantagem ilcita, induzindo ou mantendo a vtima em erro. Tambm se utiliza de meio fraudulento para conseguir proveito injusto com o dano alheio, e consuma-se com a indevida vantagem ilcita.

Destarte, faz-se necessrio que estejam presentes todos os elementos do tipo, dentre eles o emprego de ardil, artifcio ou qualquer outro meio fraudulento para se obter a vantagem ilcita.

Em uma profunda anlise dos autos, no h nenhuma referncia a fato ou circunstncia que indique que o acusado tenha se utilizado de artifcio, ardil, ou outro meio fraudulento, de modo que levasse a vtima a ficar em erro ou que fosse induzida em erro e, sendo assim, no h adequao do fato no tipo com previso no artigo 171 do Cdigo Penal Brasileiro.

Vejamos entendimento do Tribunal de Justia de Pernambuco:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAO CRIMINAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DESCUMPRIDO. VALOR ANTECIPADO NO DEVOLVIDO. ESTELIONATO. FATO ATPICO. ABSOLVIO. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. I - Para a tipificao do delito de estelionato, faz-se necessrio que o fato imputado ao acusado tenha sido praticado mediante artifcio, ardil ou outro qualquer meio fraudulento. Inocorrendo qualquer dessas hipteses, no se configura o tipo previsto no artigo 171, do Cdigo Penal. Precedentes do STJ. IV - Apelao provida. Deciso unnime.

(TJ-PE - APL: 277928319978170001 PE 0027792-83.1997.8.17.0001, Relator: Alderita Ramos de Oliveira, Data de Julgamento: 31/03/2011, 3 Cmara Criminal, Data de Publicao: 72).

Ademais, existe artifcio quando o agente se investe de um aparato que modifique, ao menos em aparncia, o aspecto material da coisa. Ardil fraude imaterial, a conversa enganosa. J qualquer outro meio fraudulento abarca todos os outros comportamentos aos outros meios equiparados.

evidente que o acusado no se utilizou de nenhum dos meios supracitados, posto que no se usou de lbia, de fraude material, ou se investiu de outro meio fraudulento para manter a vtima em erro, o que no caracteriza a conduta de estelionato, tanto , que o acusado em seu depoimento s fls 17, afirma:

(...)QUE, o interrogado informa que recebeu um dinheiro, atravs da conta bancria de sua esposa, e quando foi tirar o dinheiro para pagar a vtima percebeu que a conta bancria de esposa estava bloqueada por estelionato; QUE, na agncia da esposa do interrogado foi informado que a conta estava bloqueada pois a agncia da Vila Pedroso informou na agncia de sua esposa, que a conta estava sendo usada para prtica de estelionato; QUE, o interrogado afirma que nunca teve problemas nas suas negociaes, somente com a venda do carro para MEIRIANE foi que ocorreu esse fato, mas que at hoje no conseguiu quitar com ela o valor do sinal que a mesma lhe passou porque ela bloqueou a conta usada pelo interrogado para seus negcios; QUE, esclarece oportunamente que j est pagando a vtima, inclusive j foi apresentado um recibo de R$ 500,000 (quinhentos reais) pela esposa do interrogado nessa Delegacia e em sua residncia j possui mais dois recibos no valor de R$ 100,00 (cem reais) cada, totalizando um total de R$ 700,00 pagos vitima; QUE, o interrogado est disposto a quitar o restante devido vtima, no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais).

notrio que o acusado sempre agiu de boa f, j que tinha inteno de devolver o valor da transao ante a desistncia da autora at que se deparou com a conta corrente de sua esposa bloqueada e, ainda assim, ressarciu autora um total de R$ 700,00.

O acusado jamais obteve vantagem ilcita, para si ou para outrem, muito menos induziu ou manteve a vtima em erro. Existe uma dvida, que o acusado se prope a extinguir e sempre demonstrou interesse em pagar. A simples conduta de dever uma quantia para algum no tipificada como crime em nosso ordenamento jurdico.

Na mesma esteira ensina MIRABETE (2008, P. 287):

Existe o crime, portanto, quando o agente emprega qualquer meio fraudulento, induzindo algum em erro ou mantendo-o nessa situao e conseguindo, assim, uma vantagem indevida para si ou para outrem, com leso patrimonial alheia. Sem fraude anterior, que provoca ou mantm em erro a vtima, levando-o entrega da vantagem, no pode-se falar em crime de estelionato.Portanto, o crime de estelionato s admitido em sua modalidade dolosa, no se admitindo a culpa como elemento subjetivo do tipo, por falta de expressa previso legal. Assim sendo, o Douto Magistrado sequer deveria ter recepcionado a inicial acusatria dada a sua impossibilidade jurdica do pedido, pois no h no Cdigo Penal Brasileiro a conduta de estelionato, prevendo a modalidade culposa, razo ento no assiste acusao no tocante denncia, nem, por seguinte, ao prosseguimento do processo.

Seno, vejamos entendimento da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justia:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE RECONSIDERAO DA DECISO DE RECEBIMENTO DA DENNCIA APS A DEFESA PRVIA DO RU.O fato de a denncia j ter sido recebida no impede o juzo de primeiro grau de, logo aps o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a anterior deciso e rejeitar a pea acusatria, ao constatar a presena de uma das hipteses elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa.Nos termos do art. 396, se no for verificada de plano a ocorrncia de alguma das hipteses do art. 395, a pea acusatria deve ser recebida e determinada a citao do acusado para responder por escrito acusao. Em seguida, na apreciao da defesa preliminar, segundo o art. 397, o juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro hipteses descritas no dispositivo. Contudo, nessa fase, a cognio no pode ficar limitada s hipteses mencionadas, pois a melhor interpretao do art. 397, considerando a reforma feita pela Lei 11.719/2008, leva possibilidade no apenas de o juiz absolver sumariamente o acusado, mas tambm de fazer novo juzo de recebimento da pea acusatria. Isso porque, se a parte pode arguir questes preliminares na defesa prvia, cai por terra o argumento de que o anterior recebimento da denncia tornaria sua anlise preclusa para o Juiz de primeiro grau. Ademais, no h porque dar incio instruo processual, se o magistrado verifica que no lhe ser possvel analisar o mrito da ao penal, em razo de defeito que macula o processo. Alm de ser desarrazoada essa soluo, ela tambm no se coaduna com os princpios da economia e celeridade processuais. Sob outro aspecto, se admitido o afastamento das questes preliminares suscitadas na defesa prvia, no momento processual definido no art. 397 do CPP, tambm deve ser considerado admissvel o seu acolhimento, com a extino do processo sem julgamento do mrito por aplicao analgica do art. 267, 3, CPC. Precedentes citados: HC 150.925-PE, Quinta Turma, DJe 17/5/2010; HC 232.842-RJ, Sexta Turma, DJe 30/10/2012.REsp 1.318.180-DF, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 16/5/2013. (BRASIL, Superior Tribunal de Justia.Informativo 522 do STJ - 2013. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 03 ago. 2013. Disponivel em:. Acesso em: 13 abr. 2015).Ensina Aury Lopes Jr (2008, p.28): Assim, um processo penal que desde logo se apresente como despido de condies de possibilidade para gerar pena alguma inconcebvel. Existe uma injustificada resistncia em admitir a possibilidade de uma extino imediata do feito ou mesmo uma sentena absolutria antecipada.Vejamos tambm precioso ensinamento de Salise Sanchonete (2001, p. 19): O juiz, frise-se mais uma vez, no pode ser omisso diante da violao de um princpio constitucional e deve, numa interpretao sistemtica, julgar antecipadamente o processo a fim de impedir que o cidado denunciado de forma indevida passe pelo constrangimento de responder a uma ao penal.Assim sendo, o caso se trata de absolvio sumria, posto que o fato atpico. Dessa forma, no existe lesividade a bem jurdico, mas um flagrante caso de atipicidade da conduta, vez que se trata de simples dvida, e no um ilcito criminal. Insta tambm observar que o acusado ru primrio e no h nenhuma condenao transitada em julgado conforme certides de fls. 37/40. Desse modo, nada mais se espera alm de que o acusado seja absolvido nos termos do artigo 397, inciso III, do CPP.

3 DO REQUERIMENTOExpositis, requer neste momento o processamento da presente resposta acusao, assim como pugna, em preliminar, que seja anulado Ab initio o processo, pela inpcia da denncia, com base no artigo 564, IV, do Cdigo de Processo Penal. Caso no seja esse o entendimento de Vossa Excelncia, que seja decretada a absolvio sumria com fulcro no artigo 397, III do Cdigo de Processo Penal, pois o fato narrado evidentemente no constitui crime.

Apenas por cautela, no sendo acolhido o pedido de absolvio sumria, o que no se espera, pugna pela inquirio das mesmas testemunhas arroladas pelo parquet conforme rol de fls. 03.

Termos em que espera deferimento.

Goinia, 13 de abril de 2015.

Advogado

OAB-GO n xxxxxx