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RESUMO O presente trabalho é um exercício de exegese dentro dos moldes dos 17 passos para a exegese ministrados no curso de Doutorado em Ministério do Seminário Teológico: Servo de Cristo em São Paulo. Será apresentada apenas a parte final que será o sermão oriundo dos estudos exegéticos aqui apresentados. Além do material apresentado em sala de aula durante o curso, os livros da bibliografia serão também utilizados porque os conceitos ali apresentados serão utilizados no formato e na exposição final deste trabalho. A forma total da apresentação está dividida em quatros parte que julgamos as que os manuais atuais nos apresentam no sentido de explorar as significações do texto para os leitores originais e escritores (exegese) e para consolidar a ponte interpretativa que nos leve ao sermão (hermenêutica). Nem sempre estaremos justificando ao longo do trabalho a metodologia utilizada e os manuais consultados para aquele ensejo, mas sempre estarão implicitamente utilizados, quando não explicitamente. O primeiro passo é a análise literária, ou seja, análise do documento com o máximo possível de informações e detalhamentos que vão desde a gramatica quanto ao uso de figuras de linguagem, expressões mais importantes. O segundo passo será a análise histórica do documento na qual autor, carta e destinatários originais serão investigados porque é

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RESUMO

O presente trabalho é um exercício de exegese dentro dos moldes

dos 17 passos para a exegese ministrados no curso de Doutorado em

Ministério do Seminário Teológico: Servo de Cristo em São Paulo. Será

apresentada apenas a parte final que será o sermão oriundo dos estudos

exegéticos aqui apresentados. Além do material apresentado em sala de

aula durante o curso, os livros da bibliografia serão também utilizados

porque os conceitos ali apresentados serão utilizados no formato e na

exposição final deste trabalho. A forma total da apresentação está dividida

em quatros parte que julgamos as que os manuais atuais nos apresentam no

sentido de explorar as significações do texto para os leitores originais e

escritores (exegese) e para consolidar a ponte interpretativa que nos leve ao

sermão (hermenêutica). Nem sempre estaremos justificando ao longo do

trabalho a metodologia utilizada e os manuais consultados para aquele

ensejo, mas sempre estarão implicitamente utilizados, quando não

explicitamente. O primeiro passo é a análise literária, ou seja, análise do

documento com o máximo possível de informações e detalhamentos que

vão desde a gramatica quanto ao uso de figuras de linguagem, expressões

mais importantes. O segundo passo será a análise histórica do documento

na qual autor, carta e destinatários originais serão investigados porque é

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uma parte importante da compreensão geral do texto. O terceiro passo é

teológico. Julgamos a Bíblia um texto teológico (não de teologia) pelo

simples fato que nos fala de Deus, sua vontade e seu plano entre nós,

portanto, nossa linha de investigação se dá na analise destas relações e,

obviamente, nos valeremos daquilo que a tradição teológica nos aponta. A

quarta e ultima parte, que será apresentada no curso, é o sermão em si. Já

adiantamos a total impossibilidade de abarcar todas as possibilidade que o

texto de Romanos 5: 1-11 nos traz. Seria tarefa para mais de uma vida.

ABSTRACT

This work is an exegesis exercise along the lines of the 17 steps

for exegesis taught in the course of Doctorate in Ministry Theological

Seminary: Servo de Cristo in São Paulo. It will appear only the final part of

the sermon that will be coming from the exegetical studies presented here.

Besides the presented during the course of classroom material, the

bibliography of books will also be used because the concepts presented

here will be used in the format and in the final exhibition of this work. The

overall shape of the presentation is divided into four of which we judge that

current manuals in the present in order to explore the text meanings to the

original readers and writers (exegesis) and to consolidate the interpretive

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bridge that leads us to the sermon (hermeneutics). Nor shall we ever be

justified over the work methodology used and consulted the manuals for

that opportunity, but will always be used implicitly, if not explicitly. The

first step is the literary analysis, ie, document analysis with the maximum

possible information and details ranging from grammar for the use of

figures of speech, the most important expressions. The second step will be

the historical document analysis in which the author, letter and original

recipients will be investigated because they are an important part of the

overall comprehension of the text. The third step is theological. We believe

the Bible a theological text (not theology) for the simple fact that tells us of

God, his will and his plan between us, so our line of research is given in the

analysis of these relations and obviously in what tradition theological

points out. The fourth and last part, which will be presented in the course,

is the sermon itself. Already we have advanced the complete inability to

cover all the possibilities that the text of Romans 5: 1-11 brings. It would

be a task for more than a lifetime.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

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2. ANÁLISE LITERÁRIA E GRAMATICAL

2.1. Texto em português para leitura pela NVI

2.2 Definição e justificativa da escolha da perícope

2.2.1. Características de uma epístola

2.2.2. Características das epístolas Paulinas, e Romanos em

especial

2.2.3. Um texto trinitariano

2.3. Textos do grego Receptus e Majoritário para comparações de

critica textual

2.3.1. Textus Receptus

2.3.2. Texto Bizantino (Majoritário)

2.3.3. Apontando diferenças

2.4. Divisão do texto em unidades menores nos versos identificando

tempos verbais (diagramação), conjunções e preposições, e iniciando o

processo de tradução com breves comentários sobre os verbos principais

2.4.1. Dikaioó

2.4.2. Katallassó

2.5. Tradução provisória com as devidas ênfases e correções

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2.6. Referências trazidas do AT para o texto

2.7. Comentário a partir de menores partes com o apoio de teólogos e

comentaristas

3. ANÁLISE HISTÓRICA

3.1 Circunstâncias da carta

3.2 Do autor

3.3. Do público alvo original da carta em seu contexto histórico

4. ANÁLISE TEOLÓGICA

4.1 Identificações do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a

partir da leitura de toda a carta

4.2. Identificação dos argumentos deste raciocínio como se

apresentam

4.2.1. Antropologicamente

4.2.2. Teologicamente

4.2.3. Cristologicamente

4.2.4. Pneumatologicamente

5. O SERMÃO

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5.1. Tendo sido justificados, pois, pela fé, temos paz com deus por

meio de nosso senhor Jesus Cristo

5.2. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual

agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus

5.3. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque

sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter

aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos

decepciona, porque deus derramou seu amor em nossos corações, por meio

do espírito santo que ele nos concedeu

5.4. De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, cristo

morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo;

pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer, mas Deus

demonstra seu amor por nós: cristo morreu em nosso favor quando ainda

éramos pecadores

5.5. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais

ainda seremos salvos da ira de deus por meio dele! Se quando éramos

inimigos de deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu

filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua

vida

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5.6. Não apenas isso, mas também nos gloriamos em deus, por meio

de nosso senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a

reconciliação

CONCLUSÃO

BIBLIIOGRAFIA

I. INTRODUÇÃO

A imputação do pecado nos trouxe separação (morte), mas a imputação da

justiça trouxe reconciliação (vida). A justificação produz reconciliação?

Sim, parece ser este o argumento do apóstolo Paulo, e com o proposito

definido de nos salvar e consequentemente nos tornar agentes desta

reconciliação.

A carta de Paulo aos Romanos é notável pelas impressões que deixa

mesmo a leitores mais desatentos. A densidade da teologia, a elevação do

ministério de Cristo à supremacia, a coerência, ainda que dificultada por

muita erudição na apresentação dos conceitos teológicos e soteriológicos,

esmiuçados na doutrina da justificação pela fé, ainda surpreendem.

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A Carta aos Romanos é uma fonte inesgotável para estudos, devocionais,

pregação e de teologia, mostrando aos crentes a possibilidade de uma nova

vida pelos méritos e ações concretas de Cristo em nosso favor, satisfazendo

a Lei de Deus.

Para todo crente, o desafio de estudar a carta como um todo deve ser posto

como meta. Há tesouros escondidos aos montes que estudantes e leitores

desatentos e pouco dedicados não encontraram jamais. Mesmo pelos mais

ávidos por conhecimento e crescimento espiritual, às vezes os argumentos

formam uma teia quase inextrincável, que quase nos confunde, mas como

entender tão grande, profundo, largo e alto amor? Palavras muitas vezes

são só palavras.

Parece desafiador a qualquer pastor também e que nutra o desejo de elevar

suas ovelhas aos mais altos e profundos conceitos da relação de Cristo com

os seus, pregar toda carta sistematicamente. Além disto, serve a este como

evangelista por mostrar a grandeza da salvação e os aspectos, alguns

imediatos, que pela fé podem ser experimentados pelos que creem.

Aqui vai um pequeno ensaio, uma tentativa de aproximar do texto com

pouca ou nenhuma pretensão, mas um aprofundamento na busca verdades.

Além disto, faz parte do treinamento das opções apresentadas de exegese e

hermenêutica nos estudos doutorais do Seminário Servo de Cristo após

aulas com o Pr. Dr. Karl John Bosma, na semana de 17 a 21 de agosto.

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Será uma tentativa de usar o método de análise literária, histórica e

teológica como sugerem Greidanus[1] e Berkhof[2], começando pela

delimitação do texto.

Na primeira parte uma análise literária e gramatical: texto em português

para leitura pela NVI, definição e justificativa da escolha da perícope, as

características de uma epístola, as características das epístolas Paulinas, e

Romanos em especial, o texto como um texto trinitariano (uma questão

teológico importante), a exposição para pequena critica textual dos textos

do grego Receptus e Majoritário, a divisão do texto em unidades menores

nos versos identificando tempos verbais (diagramação), conjunções e

preposições, e iniciando o processo de tradução com breves comentários

sobre os verbos principais, uma pequena análise dos dois principais termos

do texto: Dikaioó e Katallassó, uma proposta de tradução provisória com

as devidas ênfases e correções, uma análise de Genesis, o texto que

sustenta Romanos 4 e 5, referências trazidas do AT para o texto, logo

seguem comentários do texto separadamente fazendo uso de teólogos e

comentaristas, depois a identificação da citação e uso de expressões do AT

e mesmo do NT e, quando houver citações, qual o critério foi utilizado

nestas citações.

A segunda parte é uma analise histórica, ou seja, contextual, seja da

carta, seja dos leitores, seja do autor. Onde destacaremos: as circunstâncias

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da carta, do autor e do público alvo original da carta em seu contexto

histórico.

A terceira sessão é uma análise teológica onde tentaremos a

identificação do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a partir da

leitura de toda, a identificação dos argumentos deste raciocínio como se

apresentam.

A última parte é o sermão oriundo de todas as ideias, mas somando

elementos da oratória, exemplos e ilustrações de acordo com a criatividade

e publico alvo.

II. ANÁLISE LITERÁRIA E GRAMATICAL

2.1. Texto em português para leitura pela NVI.

¨Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso

Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta

graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória

de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque

sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter

aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos

decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio

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do Espírito Santo que ele nos concedeu. De fato, no devido tempo, quando

ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá

alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha

coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu

em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos

justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de

Deus por meio dele! Se quando éramos inimigos de Deus fomos

reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora,

tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!

Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso

Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação.¨

2.2 Definição e justificativa da escolha da perícope.

De modo geral, partículas como ¨portanto e pois¨, comuns nos escritos

paulinos, encerram sessões e iniciam outras, ainda que ligações seja

naturalmente possíveis entre temas diversos, o que parece de modo muito

comum, acontecer. No capitulo quatro, mediante o exemplo de Abraão e

Davi, Paulo trata da salvação pela fé e da justificação, também por meio da

fé, de ambos. O assunto parece encerrado do ponto de vista do ¨como¨. A

sessão do capitulo cinco, inicia com uma clausula explicativa, ou seja, ¨a

partir de agora, justificados, podemos...¨. Com efeito, parece abrir uma

lista de possiblidades aos agora justificados. Com notas explicativas

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adendos e outros recursos, constrói todo o argumento em torno das novas

possibilidades da vida do justificado.

As expressões justificação e reconciliação são conceitos paralelos,

resultantes e mutuamente necessários. A base legal da reconciliação é a

justificação já que, de modo, algum nos parece possível uma aproximação

de Deus do pecador para uma comunhão em sua condição pecadora sem

que antes algo seja feito neste favor. Não parece fazer sentido justificar sem

que com isto se deseje, ainda que não no primeiro momento, uma mudança

real na condição do pecador. Deste modo, explica-se também, porque os

conceitos são mutuamente necessários. Assim se explica a delimitação final

no verso 11, reconciliados que podem reconciliar. O verso 12 aponta na

direção do ministério reconciliador de Cristo, especificamente, abrindo

portas para a ordem para não mais viver em pecado, conforme Romanos 6.

O comentário Vida Nova do Novo Testamento sugere a perícope indo até o

verso 21, mas apontamos, além da cláusula explicativa ¨portanto¨, a

mudança significativa de assunto, no qual as consequências da morte

operada pelo pecado passam a ser analisadas. O primeiro momento nos

parece (v. 1-11) o ressaltamento dos aspectos positivos da justificação pela

fé, enquanto o segundo momento (v. 12-21), o ressaltamento, em oposição,

das consequências do pecado, a morte.

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O argumento, conforme vemos, com cláusulas de ¨além disto¨, apontam

uma correlação interna dos termos do texto e que praticamente

desaparecem no verso 12, ou seja, ainda que seja um argumento decorrente

do que está escrito até o verso 11, o conjunto do texto de 1-11 é interligado

pelas clausulas que claramente apontam para uma argumentação onde cada

conceito se soma e amplia o anterior para causar espanto no leitos. Espanto

este que o próprio escritor pode ter passado no momento em que era

inspirado.

Como já assinalado, vale perceber as ocorrências das palavras derivadas de

justificar e reconciliar que aparecem com intensidade, sendo que justificar

três vezes (versos 1, 7, 9) reconciliar três vezes (versos 10 e 11, sendo duas

vezes no verso 10), logo este paralelo de expressões interligadas desaparece

a partir do verso 12.

A maneira como estes verbos aparecem, ou seja, justificar e logo depois

começar a aparecer o verso reconciliar, sendo o reconciliar no sentido

daquele que é objeto da justificação, apontam, não apenas para o espanto,

mas para preparar o argumento que inicia no verso 12, ou seja, com uma

mudança de assunto no qual o reconciliado passa a ser um agente da

reconciliação, mas o foco dos versos 1-11 é que somos justificados e

reconciliados.

2.2.1. Características de uma epístola

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Quando estudamos os textos sagrados, é sabido que análise do gênero

literário é fundamental para o processo de exegese e hermenêutica. O

gênero literário específico de Romanos é a epistola, ou seja, uma carta

direcionada a um grupo específico de cristãos, os cristãos de Roma, pelo

apostolo Paulo conforme o mesmo se apresenta na introdução da carta.

Como destaques especiais que caracterizam um epistola citamos.

2.2.1.1. O caráter pessoal na qual há apresentação, relatos íntimos, defesa

pessoal de suas ações, demonstração de desejos de visitar, de vê-los bem na

fé, de vê-los melhorar em algum aspecto.

2.2.1.2. A maneira como o documento era visto e circulava, ou seja, tendo

sido escrito, foi direcionado a um grupo especifico pelas mãos de um

mensageiro especial.

2.2.1.3. Um propósito específico, ou seja, não eram ideias soltas narradas

por meio de um documento, mas uma ou mais ideias esclarecidas por meio

dos argumentos.

2.2.1.4. A presença de uma apresentação e de uma conclusão com

saudações pessoais e diretas.

2.2.1.5. A linguagem retórica presente no texto como se fosse uma

conversa na qual o escritos prevê perguntas, colocações e outras

intervenções dos seus leitores como se os mesmos estivessem presentes,

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uma espécie de interlocutor oculto durante o processo de redação de modo

que na leitura os mesmo pudessem se identificar.

2.2.1.6. A característica de documentos antigos (cartas) que apresentam

uma linha de argumentação clara: prefácio epistolar, exordium, narratio,

propositio, probatio, exhortatio e pós-escrito epistolar ou peroratio

(Kostenberger 2015, pág. 436).

2.2.2. Características das epístolas Paulina e Romanos em especial

O texto de Romanos 5: 1-11 como observaremos, pelo uso de expressões

como νπ κνλνλ δε (transl. on nomon dê), ou seja, muito mais que isto, ou

além disto, são usados como efeito para mostrar a grandeza crescente dos

atos de Cristo por nós, para causar efeito em seus leitores e para enfatizar

cada aspecto teológico daquilo que já opera sobre os crentes a partir dos

atos de Deus em Cristo. Vemos estas expressões nos versos 3, 9 e 11.

2.2.3. Um texto trinitariano

Pai, Filho e Espirito Santo são citados nestes onze versos com

papeis ativos, participativos e muito bem definidos no texto. O Pai:

justifica-nos em Cristo, demonstra amor em Cristo, reconciliou-nos em

Cristo da inimizade, salvou-nos da ira. O Filho: traz-nos paz com Deus, nos

dá acesso à graça pela fé, traz-nos a glória de Deus, morreu pelos ímpios,

morreu pelos pecadores, justifica pelo sangue, reconcilia por meio de sua

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morte, nos entregou a reconciliação. O Espírito Santo: o Espirito concedido

por Deus derramou seu amor nos corações.

É importante notar que nenhuma ação das pessoas da Trindade

ocorre por si só, ou seja, uma é sempre decorrente da outra ou traz

consequências sobre a outra. De certo modo, quase se confundem e quase

se tornam inexplicáveis de modo independente da outra. Segundo a ordem

do texto percebemos que: a nossa fé em Jesus Cristo é que nos traz paz com

Deus, o mesmo Cristo que nos dá acesso à graça de ter paz com Deus. Esta

mesma graça aponta para a presença da glória de Deus como fim ultimo,

que será decorrente de tribulações, perseverança, caráter e esperança. Esta

esperança está em nós por causa da presença do Espirito Santo que nos foi

dado por Deus. Cristo providenciou todas estas coisas quando éramos ainda

pecadores para nos livrar da ira de Deus. Fomos reconciliados com Deus

por Cristo quando éramos pecadores e agora que somos reconciliados

seremos salvos pela vida do Filho, que é Cristo. E agora, vivendo com

Cristo nos alegramos em Deus e o próprio Filho nos dá agora a

reconciliação.

2.3. Textos do grego Receptus e Majoritário para comparações de critica

textual.

2.3.1 Receptus

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1Δηθαησζέληεο νὖλ ἐθ πίζηεσο εἰξήλελ ἔρνκελ πξὸο ηὸλ ζεὸλ δηὰ ηνῦ

θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ Χξηζηνῦ 2δη' νὗ θαὶ ηὴλ πξνζαγσγὴλ ἐζρήθακελ ηῇ

πίζηεη εἰο ηὴλ ράξηλ ηαύηελ ἐλ ᾗ ἑζηήθακελ θαὶ θαπρώκεζα ἐπ' ἐιπίδη ηῆο

δόμεο ηνῦ ζενῦ 3νὐ κόλνλ δέ ἀιιὰ θαὶ θαπρώκεζα ἐλ ηαῖο ζιίςεζηλ εἰδόηεο

ὅηη ἡ ζιῖςηο ὑπνκνλὴλ θαηεξγάδεηαη 4ἡ δὲ ὑπνκνλὴ δνθηκήλ ἡ δὲ δνθηκὴ

ἐιπίδα 5ἡ δὲ ἐιπὶο νὐ θαηαηζρύλεη ὅηη ἡ ἀγάπε ηνῦ ζενῦ ἐθθέρπηαη ἐλ ηαῖο

θαξδίαηο ἡκῶλ δηὰ πλεύκαηνο ἁγίνπ ηνῦ δνζέληνο ἡκῖλ 6ἔηη γὰξ Χξηζηὸο

ὄλησλ ἡκῶλ ἀζζελῶλ θαηὰ θαηξὸλ ὑπὲξ ἀζεβῶλ ἀπέζαλελ 7κόιηο γὰξ ὑπὲξ

δηθαίνπ ηηο ἀπνζαλεῖηαη· ὑπὲξ γὰξ ηνῦ ἀγαζνῦ ηάρα ηηο θαὶ ηνικᾷ

ἀπνζαλεῖλ·8ζπλίζηεζηλ δὲ ηὴλ ἑαπηνῦ ἀγάπελ εἰο ἡκᾶο ὁ ζεὸο ὅηη ἔηη

ἁκαξησιῶλ ὄλησλ ἡκῶλ Χξηζηὸο ὑπὲξ ἡκῶλ ἀπέζαλελ 9πνιιῷ νὖλ

κᾶιινλ δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ ζσζεζόκεζα δη' αὐηνῦ ἀπὸ

ηῆο ὀξγῆο 10εἰ γὰξ ἐρζξνὶ ὄληεο θαηειιάγεκελ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ ζαλάηνπ

ηνῦ πἱνῦ αὐηνῦ πνιιῷ κᾶιινλ θαηαιιαγέληεο ζσζεζόκεζα ἐλ ηῇ δσῇ

αὐηνῦ· 11νὐ κόλνλ δέ ἀιιὰ θαὶ θαπρώκελνη ἐλ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ θπξίνπ

ἡκῶλ Ἰεζνῦ Χξηζηνῦ δη' νὗ λῦλ ηὴλ θαηαιιαγὴλ ἐιάβνκελ

2.3.2. Bizantino (majoritário)

1Δηθαησζέληεο νὖλ ἐθ πίζηεσο, εἰξήλελ ἔρνκελ πξὸο ηὸλ ζεὸλ δηὰ ηνῦ

θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ ρξηζηνῦ, 2δη’ νὗ θαὶ ηὴλ πξνζαγσγὴλ ἐζρήθακελ ηῇ

πίζηεη εἰο ηὴλ ράξηλ ηαύηελ ἐλ ᾗ ἑζηήθακελ, θαὶ θαπρώκεζα ἐπ’ ἐιπίδη ηῆο

δόμεο ηνῦ ζενῦ. 3Οὐ κόλνλ δέ, ἀιιὰ θαὶ θαπρώκεζα ἐλ ηαῖο ζιίςεζηλ,

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εἰδόηεο ὅηη ἡ ζιίςηο ὑπνκνλὴλ θαηεξγάδεηαη, 4ἡ δὲ ὑπνκνλὴ δνθηκήλ, ἡ δὲ

δνθηκὴ ἐιπίδα· 5ἡ δὲ ἐιπὶο νὐ θαηαηζρύλεη, ὅηη ἡ ἀγάπε ηνῦ ζενῦ ἐθθέρπηαη

ἐλ ηαῖο θαξδίαηο ἡκῶλ δηὰ πλεύκαηνο ἁγίνπ ηνῦ δνζέληνο ἡκῖλ. 6Ἔηη γὰξ

ρξηζηόο, ὄλησλ ἡκῶλ ἀζζελῶλ, θαηὰ θαηξὸλ ὑπὲξ ἀζεβῶλ

ἀπέζαλελ. 7Μόιηο γὰξ ὑπὲξ δηθαίνπ ηηο ἀπνζαλεῖηαη· ὑπὲξ γὰξ ηνῦ ἀγαζνῦ

ηάρα ηηο θαὶ ηνικᾷ ἀπνζαλεῖλ.8Σπλίζηεζηλ δὲ ηὴλ ἑαπηνῦ ἀγάπελ εἰο ἡκᾶο

ὁ ζεόο, ὅηη ἔηη ἁκαξησιῶλ ὄλησλ ἡκῶλ ρξηζηὸο ὑπὲξ ἡκῶλ

ἀπέζαλελ. 9Πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ, δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ,

ζσζεζόκεζα δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο. 10Εἰ γὰξ ἐρζξνὶ ὄληεο

θαηειιάγεκελ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ ζαλάηνπ ηνῦ πἱνῦ αὐηνῦ, πνιιῷ κᾶιινλ

θαηαιιαγέληεο ζσζεζόκεζα ἐλ ηῇ δσῇ αὐηνῦ· 11νὐ κόλνλ δέ, ἀιιὰ θαὶ

θαπρώκελνη ἐλ ηῷ ζεῷ δηὰ ηνῦ θπξίνπ ἡκῶλ Ἰεζνῦ ρξηζηνῦ, δη’ νὗ λῦλ ηὴλ

θαηαιιαγὴλ ἐιάβνκελ.

2.3.3 – Apontando diferenças

Apontamos apenas uma diferença de pontuação entre o texto critico de

Nestle e o texto majoritário no verso 9. Diz o texto de Nestle:

1. πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ ζσζεζόκεζα

δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο.

Depois o texto Majoritário:

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2. Πνιιῷ νὖλ κᾶιινλ, δηθαησζέληεο λῦλ ἐλ ηῷ αἵκαηη αὐηνῦ,

ζσζεζόκεζα δη’ αὐηνῦ ἀπὸ ηῆο ὀξγῆο

Segue:

1. Muito mais agora tendo sido justificados pelo seu sangue seremos

salvos por ele da sua ira.

2. Muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos

salvos por ele da sua ira.

Julgamos que a modificação na pontuação não apresenta nenhuma

influencia sobre o significado natural da passagem, já que a cláusula

explicativa: ¨tendo sido justificados pelo seu sangue¨, tem a mesma

conotação estando ou não entre virgulas.

2.4. Divisão do texto em unidades menores nos versos identificando

tempos verbais (diagramação), conjunções e preposições, e iniciando o

processo de tradução com breves comentários sobre os verbos principais.

Vers. Div Grego Receptus Tradução do trecho e justificativas

1 A δηθαησζεληεο νπλ εθ

πηζηεσο

1. Tendo sido justificados,

tornados/feitos justos, declarados

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inocentes;

2. ato ou efeito de tornar

algum inocente, ou não imputar

mais a culpa;

3. O filho nos aproxima do pai.

B εηξελελ ερνκελ πξνο ηνλ

ζενλ δηα ηνπ θπξηνπ

εκσλ ηεζνπ ρξηζηνπ

1. Por meio de, pela

instrumentalidade de, através de;

2. Os méritos do filho nos são

transferidos para com a nossa

relação com o Pai

2 A δη νπ θαη ηελ

πξνζαγσγελ εζρεθακελ

1. Nós temos, presente do

indicativo, temos agora;

2. A ação passada e

incondicional de Cristo produz

efeitos no presente.

B ηε πηζηεη εηο ηελ ραξηλ

ηαπηελ

1. Pela fé a esta graça que;

2. A fé é instrumento e a graça

também, não um fim em mesmas.

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C ελ ε εζηεθακελ 1. Na qual nós estamos;

2. Estamos porque fomos

postos nesta condição pelo Filho e

não por uma capacidade de estar.

D θαη θαπρσκεζα επ ειπηδη

ηεο δνμεο ηνπ ζενπ

1. E gloriamos na esperança da

glória de Deus;

2. O filho nos coloca em

condição esperançosa diante da

grande glória a qual ainda teremos

acesso.

3 A νπ κνλνλ δε 1. Não somente isto, ou seja,

tem mais;

2. Há uma lista desencadeada

pelas bençãos que o filho pode

produzir a partir da justificação.

B θαη θαπρσκεζα ελ ηαηο

ζιηςεζηλ

1. E, além disto nos floríamos

nas tribulações;

2. Por dádivas, inclui-se aqui o

participar de tribulações.

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C εηδνηεο νηη ε ζιηςηο

ππνκνλελ θαηεξγαδεηαη

1. Sabendo que a tribulação

produz paciência;

2. Não é em vão e nem um

martírio sem sentido a presença da

tribulação, mas trabalha a

paciência.

4 A ε δε ππνκνλε δνθηκελ 1. Além disto produz caráter;

2. O caráter no grego não

recebe adjetivo como no

português, que é aprovado;

B ε δε δνθηκε ειπηδα 1. E, além disto o caráter

produz esperança;

2. O ritmo com ¨dé¨ parece

criar uma tensão crescente, como

se a cada palavra o apostolo

quisesse insinuar que já chegou ao

fim, ao topo, mas logo surge algo

maior.

5 A ε δε ειπηο νπ θαηαηζρπλεη 1. E agora a esperança não nos

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envergonha;

2. Ora, havia uma que

envergonhava;

3. Não nos envergonha no

sentido de que nos garante que a

nossa esperança terá pleno

cumprimento não nos deixando

envergonhados e desesperados, na

desesperança.

B νηη ε αγαπε ηνπ ζενπ

εθθερπηαη

1. Tem sido derramados;

2. Interessante esta imagem de

Deus como o que derrama e

nossas vidas como vasos que

recebem; é de fora ou de cima,

para baixo ou para dentro.

C λ ηαηο θαξδηαηο εκσλ δηα

πλεπκαηνο αγηνπ

1. Através do Espirito Santo;

2. A Trindade presente no

processo de justificação, de sua

implantação e de todas as suas

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garantia.

D ηνπ δνζεληνο εκηλ 1. O qual nos tem dado;

2. Podemos perceber a trindade

presente na passagem: Pai, Filho e

Espírito Santo.

6 A εηη γαξ ρξηζηνο 1. Ainda por Cristo;

2. A tradução em português

começa com a ênfase no tempo e

o grego para enfatizar Cristo;

B νλησλ εκσλ αζζελσλ 1. Sendo nós sem força;

2. A ideia não é de fracos no

sentido direto da palavra, mas de

destituídos de poder;

3. Pode haver a ideia implícita

de que quando estivermos nele

teremos força;

C θαηα θαηξνλ ππεξ

αζεβσλ απεζαλελ

1. De acordo no tempo certo

pelos sem Deus morreu;

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2. Morreu no devido tempo

pelos ímpios;

3. Talvez a ênfase seja na

exatidão do momento.

7 A κνιηο γαξ ππεξ δηθαηνπ

ηηο απνζαλεηηαη

1. Raramente por um homem

bom alguém morrerá;

2. A obra de Cristo além de seu

poder mostra sua loucura, morrer

por quem não merece;

3. A ênfase do apóstolo é:

somente Cristo faz isto.

B ππεξ γαξ ηνπ αγαζνπ

ηαρα ηηο θαη ηνικα

απνζαλεηλ

1. Pode ser que por um homem

bom alguém morreria;

2. A expressão teria coragem é

uma inclusão da linguagem

dinâmica da tradução;

8 A ζπληζηεζηλ δε ηελ εαπηνπ

αγαπελ εηο εκαο ν ζενο

1. Deus demonstra o amor dele

por nós;

2. Verbo no presente do

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indicativo mostra que o amor

continua sendo demonstrado até

agora.

3. Amor aqui é ágape.

B νηη εηη ακαξησισλ νλησλ

εκσλ ρξηζηνο ππεξ εκσλ

απεζαλελ

1. Sendo nós ainda pecadores

Cristo morreu por nós;

2. A questão temporal neste

caso é fundamental, porque ainda

éramos pecadores e ele morreu

por nós.

9 A πνιισ νπλ καιινλ 1. Muito mais que isto;

2. Uma cláusula de inclusão

para somar ainda mais atos de

Deus ao nosso favor;

3. Mais uma vez fica claro que

se quer usar uma linguagem para

impressionar os leitores, ou seja,

apresentar novos fatos

maravilhosos aos já tão intensos

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apresentados anteriormente.

B δηθαησζεληεο λπλ 1. Tendo sido justificados;

2. A expressão que sintetiza o

trecho e o distingue em particular

do restante da carta;

3. Mais uma vez na voz

passiva na qual o homem é objeto

desta ação de Deus.

C ελ ησ αηκαηη απηνπ 1. Pelo sangue dele;

2. A questão do sangue é

obviamente uma figura de

linguagem para expressar sua

morte e o derramamento do seu

sangue como cordeiro perfeito de

Deus;

D ζσζεζνκεζα δη απηνπ 1. Nós seremos salvos por ele;

2. Esta expressão está no

futuro, ou seja, não agora.

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E απν ηεο νξγεο 1. Da ira;

2. A ira não está acompanhada

de seu sujeito operados, é tida

como uma entidade a parte da

qual Cristo nos livra.

10 A εη γαξ ερζξνη νληεο 1. Porque se nós;

2. É o inicio de mais uma

argumentação dentro desta teia,

com uma reafirmação doutra

forma.

3. Este argumento será usado

na outra seção a partir do verso 12

sobre a virada.

B θαηειιαγεκελ 1. Nós fomos reconciliados;

2. Reconciliados também.

Quando duas partes se acertam.

C ηῷ ζεσ δηα ηνπ ζαλαηνπ

ηνπ πηνπ απηνπ

1. Por Deus pela morte do seu

filho;

2. Mais uma vez a

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instrumentalidade de Cristo

satisfazendo a vontade de Deus.

D πνιισ

καιινλθαηαιιαγεληεο

1. Muito mais agora, tendo

sido reconciliados;

2. Reconciliados também.

3. Há um clima de gradação

aqui, se a morte nos trouxe grande

problemas, o resultado das ações

de Cristo serão ainda maiores.

E ζσζεζνκεζα ελ ηε δσε

απηνπ

1. Nós seremos salvos pela

vida dele.

2. Sua morte nos justifica e sua

vida nos salva.

11 A νπ κνλνλ δε 1. Não somente isto.

2. Mais um novo fluxo de

ideias com gradação superior ou

para enfatizar as argumentações

anteriores.

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B αιια θαη θαπρσκελνη ελ

ησ ζεσ

1. Mas também nos gloriamos

em Deus;

2. A alegria aqui é destacada

pela possibilidade que ela gera

naquele que tem a reconciliação,

ou seja, a capacidade de

reconciliar também.

C δηα ηνπ θπξηνπ εκσλ

ηεζνπ ρξηζηνπ

1. Através do Senhor Jesus

Cristo;

2. Aqui ele chama Jesus de

Senhor;

3. Ele é o meio pela qual nossa

alegria em Deus se torna possível.

Jesus como caminho?

D δη νπ λπλ

ηελθαηαιιαγελ ειαβνκελ

1. Através de quem agora

temos recebido a reconciliação;

2. Com destaque para o agora;

3. Com destaque para

reconciliação.

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Segue a breve análise dos dois verbos principais que indicamos, ou seja,

justificar e reconciliar.

2.4.1 dikaioó[3]

dikaioó: mostrar como ser reto, declarar reto ou justo.

Palavra original: δηθαηόσ

Verbo

Transliteração: dikaioó

Divisão Silábica: (dik-ah-yo'-o)

Definição rápida: Eu faço justo ou reto, defendo a causa de, justifico

Definição: Eu faço justo, defendo a causa de, pleiteio a justiça ou

inocência de, absolvo, justifico, portanto, Eu declaro como reto.

Cognatos: 1344 dikaióō (de direito, de aprovado judicialmente) –

apropriador, aprovado, especificamente dentre da lei. O crente é feito reto

ou justo pelo Senhor, de modo claro de todos os seus pecados e punições

das quais seria passível por causa dos seus pecados. Além disto, são

justificados, e recebem a Graça de Deus pela fé.

2.4.2. Katallassó[4]

katallassó: reconciliar

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Palavra original: θαηαιιάζζσ

Verbo

Transliteração: katallassó

Divisão Silábica: kat-al-las'-so

Definição curta: Eu reconcilio

Definição: Eu mudo, troco, reconcilio.

katallássō - ir até o ponto exato, intensamente, mudar, quando duas partes

são reconciliadas e quando vem até a mesma posição. Trocado,

reconciliado é aplicado a pais casados, Cor 7:11), mas geralmente na

redenção ou remissão de um picador reconciliado com o seu Senhor. Foi

originalmente usado para troca de moedas, certamente, troca, cambio,

(especialmente de dinheiro) portanto, de pessoas, para transformar

inimizade em amizade, para reconciliar.

2.5. Tradução provisória com as devidas ênfases e correções.

Tendo sido justificados por meio da fé temos paz com Deus através

do Senhor Jesus Cristo, através de quem também temos acesso pela fé a

esta graça na qual aguardamos, na esperança da glória de Deus. Não

somente isto, mas nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação

produz perseverança, a perseverança caráter, e o caráter esperança. E agora

a esperança não nos deixa envergonhados porque o amor de Deus foi

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derramado em nossos corações através do Espirito Santo aquele que ele nos

tem dado.

2.6. Referências trazidas do AT para o texto.

É importante no processo analisarmos as referências que foram

utilizadas do texto sagrado e a forma como foram usadas. Para maior

clareza, apontaremos as referencias e comentaremos brevemente uma a

uma.

Introdutoriamente a este assunto queremos trazer uma referencia de

G.K Beale (2014, pág. 784):

O ato redentor e amoroso realizado por Deus ao entregar seu Filho à

morte que é simultaneamente um ato de auto entrega do próprio Cristo,

passa a ser o centro do argumento de Paulo. Assim como descreve o modo

pelo qual a promessa de Deus gerou a fé de Abraão (Rm 4. 16b-22), aqui

ele apresenta Cristo como fonte de vida e justiça. Por trás de nossa crença

e no que a antecede, está Cristo, através de quem Deus esperança em nosso

coração e nos transporta para a vida eterna. Ao concluir o tema de Abraão,

na implícita identificação de Jesus como descendência do patriarca, Paulo

dá sinal de que todos que creem em Deus por meio de Jesus foram

incluídos na morte e na ressurreição deste. Este tema, especialmente com

relação à morte de Jesus, agora se torna o tópico principal e explicito de

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Paulo. O apóstolo deixa de lado o assunto de Abraão e de sua fé

justificadora e passa a falar de Cristo e sua morte justificadora.

Deste modo, a narrativa de Gênesis 12-25 que trata de Abraão e toda

sua descendência, sobretudo de Isaque, é a narrativa que alimenta a

interpretação desta passassem, mas a passagem em si traz um upgrade de

interpretação, ou seja, a fé que justificou Abraão é apenas um tipo, modelo

daquilo que Cristo fez com muito mais poder, ou seja, por meio de sua

morte é capaz de justificar a todo que crê nele.

Os destaques não são diretos em 5. 1-11, mas vem de citações

presentes no capitulo quatro. Aqui podemos destacar o modelo de Abraão,

que foi um tipo, mas claramente manifesto em Cristo e modelo para os

crentes de hoje, ou seja, a salvação sempre foi por meio da fé.

Destacamos: Abraão simplesmente creu (Gen 15. 6, Rm 4. 3), a

circuncisão como sinal (Gen 17:9, Rm 4: 11), a descendência (Gen 17. 11-

14, Rm 4. 13-17), crer contra todas as circunstâncias desfavoráveis e

contrarias, argumento que aparece no nosso texto (Gen 15. 5, Rm 4: 18),

crendo em Deus que seria poderoso para cumprir sua promessa (Gen 15. 6,

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Rm 4. 21), sendo tudo isto lhe imputado como justiça, e não por suas obras,

mas por sua fé em Deus e suas promessas.

2.7. Comentário a partir de menores partes com o apoio de teólogos e

comentaristas.

1. Tendo sido – a) uma vez que fomos, chama a atenção para algo já

realizado e/ou de antemão explicado, o que é o caso. Karl Barth[5], em seu

comentário a Romanos sugere que talvez o amanoense, Tércio, tenha se

enganado na forma do verbo, já que poderia ter dito: ¨tenhamos¨

apresentando muito mais o desejo do que exatamente uma condição. No

entanto, não parece razoável pensar assim já que a tônica do texto nos

sugere que o próprio Deus é agente da justificação que doutra forma não

seria possível. F.F. Bruce chega a mesma conclusão afirmando que a única

possibilidade de assim o ser é notando que ¨temos paz com Deus¨ parece se

encaixar no argumento de Paulo já que ¨acabamos de receber a

reconciliação¨. b) Se pensamos nas consequências deste ato, no que tange a

responsabilidade do homem daqui então, fica claro que, tendo a ênfase nas

bênçãos decorrentes da justificação, nem mesmo por vontade e desejo o

homem pode operar aquilo que a justificação faz e levar a ser feito, no

homem, com o homem e pelo homem. É o caso do que Cristo fez por nós,

não apenas no sentido legal de nos livrar, mas de possibilitar os passos

seguintes, os quais serão descritos, que são recebidos e entendidos pelo

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apóstolo como grandes bênçãos espirituais. c) Parece sempre razoável

salientar que o verbo na primeira pessoa do plural (tendo nós...) parece

mais razoável sempre acompanhar o sentido mais universalista David E.

Holwerda[6], de aplicação das alianças (Israel judaico, e na Nova Aliança

um Israel de judeus e gentios), que supor uma aplicação ora apenas

apostólica, ora apenas aos romanos, ora apenas a gentios.

2. pois, justificados pela fé - a) a fé é grande assunto na epístola

paulina. Somente sou aquilo que (não!) sou, pela Fé! Se o arrojo da fé, [a

ousadia de crer nas coisas divinas que são absurdas à luz dos critérios

humanos] desaparecer ou falhar por um só instante, se a atitude de

confiança se transformar em dúvida, [se momentaneamente eu tomar uma

posição como se eu nunca houvesse aceitado o paradoxo da fé] então essa

identidade que o relacionamento pela fé impõe entre o sujeito que sou e

aquele que não sou — mas venho [ou viria] a ser pela fé, deixa de existir, e

as considerações que se tecerem a respeito não passam de especulação

religiosa, híbrida¨.[7] b) Cabe aqui comentar de antemão que a ideia de

imputação do pecado a toda humanidade por um homem é resolvida /

compensada, pela imputação da justificação a toda humanidade com/da fé.

3. temos paz com Deus – a paz com Deus, da perspectiva paulina, não

encerra como definição a consciência humana de sua condição de

inimizade ou guerra contra Deus porque o homem em sua rebeldia foi

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cegado e entregue a sua própria sorte para sofrer em seu corpo o pagamento

de sua rebeldia. Neste sentido, do mesmo modo que a distância e conflito

são desfeitos soa como novidade porque paradoxalmente o homem

reconciliado é o que mais tem ideia do que seja a inimizade contra Deus.

Dai a grande benção donde decorre a grande alegria de Paulo de ter sido

reconciliado com Deus.

4. Por nosso Senhor Jesus Cristo – Jesus Cristo é sempre o único

mediador de todas as ações de Deus para com o homem e sua criação, não

poderiam ser diferentes quanto à justificação e reconciliação, que nos

parecem os dois temas principais aqui. Pedro destaca esta características do

ministério messiânico de Jesus Cristo em Atos 4. 12. Paulo, apesar de no

instante seguinte afirmar que recebemos a reconciliação como ministério e

missão da parte de Cristo, não o fazem sem antes afirmar ser o próprio

Cristo o mediador e o comissionador de tal tarefa.

5. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça – mais uma

vez é Cristo o mediador. Neste caso, ele chama a paz com Deus de graça,

ou seja, como um presente ganho por Cristo e transferidos a nós. Deve

chamar a nossa atenção a expressão acesso, que além de acesso pode

significar aproximação ou admissão, ou seja, por meio de Cristo as

barreiras que nos impediam o acesso a Deus foram derrubadas e o caminho,

acesso, a isto está livre.

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6. Na qual agora estamos firmes - levando em consideração toda a

passagem que muito mais do que afirma a fraqueza e debilidade humana,

não podemos, de modo algum, supor que neste momento, seja sugerido

algum poder, vantagem, virtude ou elemento estranho a graça de Deus, mas

que nos seja pertinente, que nos garanta, de uma ou de outra forma, a

capacidade humana de estar firme, de pé, diante de Deus, pelo contrário,

devemos por na conta de Cristo, também, tal condição satisfatória e

vantajosa. Esta firmeza, oriunda obviamente do poder conferido por Cristo

para que todo aquele que se aproxima dele possa se manter firme em sua

presença, soa também como uma expressão de fidelidade e de prazer do

apóstolo que parece querer dizer que, que agora que se achegou a esta

condição, não deseja de forma alguma abandoná-la.

7. E nos gloriamos na esperança da glória de Deus – a glória de Deus

aqui parece remeter a uma graça futura a ser, inevitavelmente, alcançada

por todos alcançados pela justificação e pela reconciliação. No entanto,

diante desta verdade inevitável, de antemão, já é possível se regozijar e se

alegrar.

8. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações – o

sofrimento e as dificuldades parecem sempre parte importante da vida

cristã e companheiras indispensáveis, pelo menos desta vida, de qualquer

proposta séria de relação com Cristo, ao ponto do apostolo dizer que se

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alegra em passar por elas. Veremos seguir que, de modo gradativo, a

tribulação parecem sem o primeiro degrau para maturidade, melhor

relacionamento com Deus ou crescimento espiritual. A ética do apóstolo

inclui as lutas e problemas com componente, não apenas necessário, mas

essencial e primeiro na construção da relação com Cristo iniciada pela

justificação e reconciliação. Ele é acompanhado por Pedro e muitos outros

evangelistas nesta afirmação.

9. Porque sabemos que a tribulação produz perseverança – difícil

entender a principio com algo ruim pode produzir algo bom. Talvez, no

entendimento do apostolo, já que a condição de sofrer pela causa de Cristo

lhe cabia ontologicamente já estava nesta condição desde o seu chamado:

¨verá o quanto deve padecer pelo meu nome¨, lhe era simplesmente

impossível não perceber a total improbabilidade de uma vida repletas de

realizações, aceitação e ganhos. Nem por isto, sua ética lhe impedia de

perceber que, por meio da tribulação, que lhe seria companheira, a

perseverança lhe seria fortalecida. Esta maneira de lidar com as

dificuldades é bastante interessante: já que tenho que passar por elas, as

suportarei até o fim.

10. A perseverança, um caráter aprovado – a nossa tradução não traz o

adjetivo aprovado e não conta na versão grega consta apenas caráter.

Talvez caráter bom e mal seja uma condição da língua portuguesa. A

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princípio, este caráter só pode ser bom, ou seja, produzido por Cristo a

partir de seus atos em nosso favor. A condição de Cristo é internalizada por

um processo desencadeado pela

11. E o caráter aprovado, esperança – vocábulo esperança também

traduzido por verdade, expectativa ou expectação e confiança. Aqui a

esperança já não mais é o ato ou efeito de confiar cegamente em algo que é

possível, mas como que vendo aquilo que será possível, fiar-se nesta

verdade, nosso, mas apenas ainda não estando em nossas mãos.

12. E a esperança agora não nos decepciona – será que havia alguma que

decepcionaria? Sim, aquelas focadas e construídas por seres humanos.

Conforme comentado anteriormente, não é uma esperança em fundamento

humano, porque tudo narrado na passagem nos vem ora pelas obras ora

pelos méritos de Jesus Cristo.

13. Porque Deus derramou seu amor em nossos corações – a ideia é de que

o amor de Deus tem sido derramado em nossos corações, dia a dia, sem

medida. Este amor, como algo concreto, é o fundamento da esperança que

temos, mais que um sentimento, a certeza da fé.

14. Por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu – neste momento o

destaque mais intenso que podemos dar é o da Trindade. Neste texto, em

poucos versos, o apóstolo sem criar tensões e ou maiores explicações para

as correlações trinitarianas, simplesmente cita cada uma das pessoas da

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trindade funcionalmente. Este tem sido o assunto de séculos de teologia

cristã, que ainda é motivo de muita discussão, aqui vale dizer que

recebemos bençãos espirituais do Pai, do Filho e do Espírito e mesmo

bençãos da mesma natureza nos são ofertadas igualmente pelos três. O

Espirito Santo é aquele que derrama e opera o amor de Deus nos nossos

corações. Levando em consideração os dons espirituais, levando em

consideração as ações do Espírito no crente e na igreja, percebemos que o

fundamento primeiro de tudo, que é consequente na vida do crente à partir

da justificação e da reconciliação, é sem dúvida o amor. Amor não apenas

no sentido estrito e limitante dos sentimentos e emoções sem sentido, mas

como uma ferramenta fundante de todas as ações seguintes. Amor é poder

neste sentido. Amor é a base da vida, da força e continuidade da vida cristã.

15. De fato, no devido tempo – esta ênfase estará na verdade no final do

verso porque parece que o apostolo quer exaltar a obra de Cristo muito

mais do que a precisão do tempo da ação, mesmo assim, o apóstolo parece

querer indicar que no limite do tempo Ele não falhou.

16. Quando ainda éramos fracos – quando ainda éramos sem força, porque

agora em Cristo somos fortes, ou seja, mais uma mudança da nossa

condição ontológica pela nossa ligação com Cristo, a ênfase no grego para

ser na falta de força, como se nos esforçássemos sem Cristo em vão e nossa

força agora está no fato de estarmos nele, nem assim é uma força nossa,

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mas a força dele que nos é dada. Neste momento faremos, sendo cada

termo à seu tempo no momento certo, três vocábulos que aparecem na

sequencia entre os versos 6 e 8: fracos, ímpios e pecadores. Aqui aparece

apenas fraco. Fraco é tido como: fraco, sem firmeza e doente, seja

fisicamente seja moralmente. O uso destas expressões contrasta com o

drama do amor de Deus por pessoas sem condições sob quaisquer aspectos

de merecer ou mesmo compreender este amor.

17. Cristo morreu pelos ímpios – esta é a loucura do Evangelho que

poucos conseguem entender, até mesmo os crentes, ele morreu por quem

merecia morrer, justificou quem deveria ser condenado, salvou quem

deveria se perder, ajudou quem deveria ser abandonado e curou quem

deveria morrer em chagar. A única possibilidade do Evangelho se

concretizar na vida do ser humano é pelo ato misericordioso de Deus,

porque de outra forma é simplesmente impossível, ninguém está em

condição de, por si mesmo e por suas obras, mesmo que no impossível

cumprimento da lei, salvar-se, justificar-se ou santificar-se. Fazendo aqui o

reforço da expressão fracos do trecho anterior, surge aqui a expressão:

ímpios. A impiedade é a caraterística do homem que pela falta de Deus,

não somente pratica o mal, mas o faz conscientemente e ainda se tornar um

propagador deste mesmo mal, é aquele que pratica o mal e ainda se ri das

próprias atitudes.

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18. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo – mesmo por um

justo é raro que alguém morra, quanto mais por pecadores. Cristo não

morreu pro nenhum justo, porque não um justo, nenhuma sequer. Ninguém

que entenda. Ninguém que faça a vontade de Deus;

19. Pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer – talvez e

apenas talvez. Mesmo assim, a morte de um pecador pelo outro pode

pouco, quanto muito, manter aquele mesmo vivo por algum tempo, mas na

mesma condenação. A morte de Cristo, o Santo e Justo, pode não somente

mudar a vida, mas transformar a condição da eternidade, e citando a

segunda e temida, mas ignorada, segunda morte;

20. Mas Deus demonstra seu amor por nós – interessante que o verbo se

encontra no presente do indicativo, ou seja, como uma ação presente e

inacabada ou como uma ação sempre presente, mesmo tenho ocorrido no

passado, a ação de demonstrar continua presente e ativa, ou seja, Deus

continua mostrando ou demonstrando o seu amor por nós.

21. Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores – o

amor de Deus mostra toda sua profundidade neste caso. Ampliando a ideia

anterior de que dificilmente alguém morreria por um justo, aqui se afirma

que Cristo morreu por pecadores. Aqui surge a terceira palavra ao lado de

fracos e ímpios. Pecador tem o peso da condição existencial do homem, ou

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seja, ele nasce, cresce, vive e morre pecador. A total incapacidade de por si

só encontrar o bem;

22. Como agora fomos justificados por seu sangue – o apostolo de certa

forma retoma o argumento inicial para levar os leitores a outros assuntos

ainda dentro da extensão do mesmo ato de Deus por nós, que seja justificar

os pecadores.

23. Muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus – há um contraste no

argumento aqui interessante, como se ele quisesse dizer que a maldição é

grande ao que perece sem Cristo, mas não pode ser comparado aquilo que é

produzido na vida do Crente por meio de Cristo. Aliás, esta forma de

argumentar do apóstolo parece comum, ou seja, as bênçãos espirituais são

sempre maiores.

24. Por meio dele – sempre por meio de Cristo, o mediador de tantas

coisas entre nós e Deus.

25. Se quando éramos inimigos de Deus – aqui o apostolo já fala do ponto

do vista do justificado e do reconciliado, mais uma vez ampliando o

argumento no sentido de mostrar que a maldição é grande, mas a salvação é

muito maior. Do temor e tremor para a benção e a paz com Deus.

26. Fomos reconciliados com ele – o verbo que apontamos como principal

ao lado de justificar aparece aqui, reconciliar.

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27. Mediante a morte de seu Filho – a morte substitutiva de Cristo é o

meio pelo qual alcançamos a reconciliação, ou seja, ele morreu em nosso

lugar para que ocupássemos os méritos dele em seu lugar. Somos

substituídos na morte e ocupamos um lugar que não era do nosso mérito.

28. Quanto mais agora - Há um clima de gradação aqui, se a morte nos

trouxe grandes problemas, o resultado das ações de Cristo serão ainda

maiores.

29. Tendo sido reconciliados – mais uma vez na voz passiva porque somos

objetos desta ação de Deus em Cristo.

30. Seremos salvos por sua vida – aqui queremos destacar os três tempos

da salvação: passado, presente e futuro. A caraterística aqui destacada é a

futura. Fomos salvos, estamos sendo salvos e seremos salvos. Além disto,

vemos que sua morte nos justifica e sua vida nos salva.

31. Não apenas isso – mais uma vez uma clausula para causar impacto na

vida de quem lê. Se tudo dito antes já nos tiraria o folego, espere porque

tem mais, e muito mais.

32. Mas também nos gloriamos em Deus – gloriar-se, alegrar-se, regozijar-

se.

33. Por meio de nosso Senhor Jesus Cristo - Ele é o meio pela qual nossa

alegria em Deus se torna possível. Jesus como caminho.

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34. Mediante quem recebemos agora a reconciliação – receber a

reconciliação recebe duas características quando o trecho é analisado

separadamente. O primeiro, mas já trabalhado muito bem pelos versos

anteriores, é o de que Cristo nos reconciliou com Deus e que, por nossa

vez, recebemos pelos méritos dele, a reconciliação com Deus.

III. ANÁLISE HISTÓRICA

3.1.Circunstâncias da carta.

A epístola aos romanos foi escrita por Paulo, provavelmente na cidade

de Corinto, Grécia, enquanto ele estava hospedado na casa de Caio e

transcrita por um dos Setenta Discípulos, o escriba chamado Tércio de

Icônio. Há uma série de razões que convergem para a teoria de que Paulo a

escreveu em Corinto, uma vez que ele estava prestes a viajar

para Jerusalém ao escrevê-la, o que corresponde com Atos 20:3, no qual é

relatado que Paulo permaneceu durante três meses na Grécia. Isso

provavelmente implica Corinto, pois era o local de maior sucesso

missionário de Paulo, na Grécia. Adicionalmente Febe, uma diaconisa da

igreja em Cencréia, um porto a leste de Corinto, teria sido capaz de

transmitir a carta a Roma depois de passar por Corinto. Erasto, mencionado

em Romanos 16: 23, também viveu em Corinto sendo comissário da cidade

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para obras públicas e tesoureiro da cidade em várias épocas, mais uma vez

indicando que a carta foi escrita em Corinto.

O momento exato em que foi escrito não é mencionado na carta, mas

foi obviamente escrito quando a coleta de ofertas para Jerusalém tinha sido

montada e Paulo estava prestes a ir a Jerusalém, ou seja, no final de sua

segunda visita a Grécia, durante o inverno que precedeu a sua última visita

a essa cidade. A maioria dos estudiosos propõe que a carta foi escrita no

final de 55, 56 ou 57. Outros propõe o início de 58 ou 55, enquanto

Luedemann defende uma data anterior, como 51/52 (ou 54/55 ), na

sequência de Knox, que propõe. 53/54. O teólogo Fábbio Xavier, em seu

artigo Conhecendo os Romanos de Roma, deixa claro que a carta pode ter

sido redigida por volta de 55 e 56. [8]

3.2.Do autor.

Durante dez anos antes de escrever a carta (aproximadamente entre os anos

47 a 57 d.C.), Paulo tinha viajado ao redor domar Egeu evangelizando.

Igrejas foram implantadas nas províncias

Romanas da Galácia, Macedónia, Acaia e Ásia. Paulo, considerando a sua

tarefa concluída, queria pregar o evangelho na Espanha. Isso lhe permitiu

visitar Roma no caminho, uma ambição de longa data dele. A carta aos

Romanos, em parte, prepara a comunidade de Roma e dá motivos para sua

visita.

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Além da localização geográfica de Paulo, suas opiniões religiosas

são importantes. Primeiramente, Paulo era um judeu helenístico com um

fundo farisaico, integrante de sua identidade. Sua preocupação com o seu

povo é uma parte do diálogo e é retratado ao longo da carta.

―Ele era um homem de pequena estatura‖, afirmam os

Atos de Paulo, escrito apócrifo do segundo século,

―parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta,

olhos Próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.‖ Se esta

descrição merecer crédito, ela fala um bocado mais a respeito

desse homem natural de Tarso, que viveu quase sete décadas

cheia de acontecimentos após o nascimento de Jesus. Ela se

encaixaria no registro do próprio Paulo de um insulto dirigido

contra ele em Corinto. ―As cartas, com efeito, dizem, são

graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra

desprezível‖ (2 Co 10:10). Sua verdadeira aparência teremos de

deixar por conta dos artistas, pois não sabemos ao certo.

Matérias mais importantes, porém, demandam atenção — o que

ele sentia, o que ele ensinava, o que ele fazia. Sabemos o que

esse homem de Tarso chegou a crer acerca da pessoa e obra de

Cristo, e de outros assuntos cruciais para a fé cristã. As cartas

procedentes de sua pena, preservadas no Novo Testamento, dão

eloquente testemunho da paixão de suas convicções e do poder

de sua lógica. Aqui e acolá em suas cartas encontramos

pedacinhos de autobiografia. Também temos, nos Atos dos

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Apóstolos, um amplo esboço das atividades de Paulo. Lucas,

autor dos Atos, era médico e historiador gentio do primeiro

século. Assim, enquanto o teólogo tem material suficiente para

criar intérminos debates acerca daquilo em que Paulo acreditava,

o historiador dispõe de parcos registros. Quem se der ao trabalho

de escrever a biografia de Paulo descobrirá lacunas na vida do

apóstolo que só poderão ser preenchidas por conjeturas. A

semelhança de um meteoro brilhante, Paulo lampeja

repentinamente em cena como um adulto numa crise religiosa,

resolvida pela conversão. Desaparece por muitos anos de

preparação. Reaparece no papel de estadista missionário, e

durante algum tempo podemos acompanhar seus movimentos

através do horizonte do primeiro século. Antes de sua morte, ele

flameja até entrar nas sombras além do alcance da vista. Sua

Juventude: Antes, porém, que possamos entender Paulo, o

missionário cristão aos gentios, é necessário que passemos

algum tempo com Saulo de Tarso, o jovem fariseu. Encontramos

em Atos a explicação de Paulo sobre sua identidade: ―Eu sou

judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia‖ (At

21:39). Esta afirmação nos dá o primeiro fio para tecermos o

pano de fundo da vida de Paulo. Da Cidade de Tarso. No

primeiro século, Tarso era a principal cidade da província da

Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Embora localizada cerca

de 16 km no interior, a cidade era um importante porto que dava

acesso ao mar por via do rio Cnido, que passava no meio dela.

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Ao norte de Tarso erguiam-se imponentes, cobertas de neve, as

montanhas do Tauro, que forneciam a madeira que constituía

um dos principais artigos de comércio dos mercadores tarsenses.

Uma importante estrada romana corria ao norte, fora da cidade e

através de um estreito desfiladeiro nas montanhas, conhecido

como ―Portas Cilicianas‖. Muitas lutas militares antigas foram

travadas nesse passo entre as montanhas. Tarso era uma cidade

de fronteira, um lugar de encontro do Leste e do Oeste, e uma

encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções,

por terra e por mar. Tarso possuía uma preciosa herança. Os

fatos e as lendas se entre mesclavam, tornando seus cidadãos

ferozmente orgulhosos de seu passado. O general romano

Marco Antônio concedeu-lhe o privilégio de libera

civitas (―cidade livre‖) em 42 A.C. Por conseguinte, embora

fizesse parte de uma província romana, era autônoma, e não

estava sujeita a pagar tributo a Roma. As tradições democráticas

da cidade-estado grega de longa data estavam estabelecidas no

tempo de Paulo. Nessa cidade cresceu o jovem Saulo. Em seus

escritos, encontramos reflexos de vistas e cenas de Tarso de

quando ele era rapaz. Em nítido contraste com as ilustrações

rurais de Jesus, as metáforas de Paulo têm origem na vida

citadina. O reflexo do sol mediterrânico nos capacetes e lanças

romanos teria sido uma visão comum em Tarso durante a

infância de Saulo. Talvez fosse este o fundo histórico para a sua

ilustração concernente à guerra cristã, na qual ele insiste em que

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―as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em

Deus, para destruir fortalezas‖ (2 Co 10:4). Paulo escreve de

―naufragar‖ (1 Tm 1:19), do ―oleiro‖ (Rm 9:21), de ser

conduzido em ―triunfo‖ (2 Co 2:14). Ele compara o

―tabernáculo terrestre‖ desta vida a um edifício de Deus, casa

não feita por mãos, eterna, nos céus‖ (2 Co 5:1). Ele toma a

palavra grega para teatro e, com audácia, aplica-a aos apóstolos,

dizendo: ―nos tornamos um espetáculo (teatro) ao mundo‖ (1 Co

4:9). Tais declarações refletem a vida típica da cidade em que

Paulo passou os anos formativos da sua meninice. Assim as

vistas e os sons deste azafamado porto marítimo formam um

pano de fundo em face do qual a vida e o pensamento de Paulo

se tornaram mais compreensíveis. Não é de admirar que ele se

referisse a Tarso como ―cidade não insignificante‖. Os filósofos

de Tarso eram quase todos estóicos. As ideias estóicas, embora

essencialmente pagãs, produziram alguns dos mais nobres

pensadores do mundo antigo. Atenodoro de Tarso é um

esplêndido exemplo. Embora Atenodoro tenha morrido no ano 7

d.C., quando Saulo não passava de um menino pequeno, por

muito tempo o seu nome permaneceu como herói em Tarso. E

quase impossível que o jovem Saulo não tivesse ouvido algo a

respeito dele. Quanto, exatamente, foi o contato que o jovem

Saulo teve com esse mundo da filosofia em Tarso? Não

sabemos; ele não no-lo disse. Mas as marcas da ampla educação

e contato com a erudição grega o acompanham quando homem

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feito. Ele sabia o suficiente sobre tais questões para pleitear

diante de toda sorte de homens a causa que ele representava.

Também estava cônscio dos perigos das filosofias religiosas

especulativas dos gregos. ―Cuidado que ninguém vos venha a

enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição

dos homens... ―E não segundo Cristo‖ foi sua advertência à

igreja de Colossos (Cl 2:8). B) Cidadão Romano. Paulo não era

apenas ―cidadão de uma cidade não insignificante‖, mas também

cidadão romano. Isso nos dá ainda outra pista para o fundo

histórico de sua meninice. Em At 22:24-29 vemos Paulo

conversando com um centurião romano e com um tribuno

romano. (Centurião era um militar de alta patente no exército

romano com 100 homens sob seu comando; o tribuno, neste

caso, seria um comandante militar.) Por ordens do tribuno, o

centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o Apóstolo

protestou: ―Ser-vos-á porventura lícito açoitar um cidadão

romano, sem estar condenado?‖ (At 22:25). O centurião levou a

notícia ao tribuno, que fez mais inquirição. A ele Paulo não só

afirmou sua cidadania romana mas explicou como se tornara tal:

―Por direito de nascimento‖ (At 22:28). Isso implica que seu pai

fora cidadão romano. Podia-se obter a cidadania romana de

vários modos. O tribuno, ou comandante, desta narrativa,

declara haver ―comprado‖ sua cidadania por ―grande soma de

dinheiro‖ (At 22:28). No mais das vezes, porém, a cidadania era

uma recompensa por algum serviço de distinção fora do comum

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ao Império Romano, ou era concedida quando um escravo

recebia a liberdade. A cidadania romana era preciosa, pois

acarretava direitos e privilégios especiais como, por exemplo, a

isenção de certas formas de castigo. Um cidadão romano não

podia ser açoitado nem crucificado. Todavia, o relacionamento

dos judeus com Roma não era de todo feliz. Raramente os

judeus se tornavam cidadãos romanos. Quase todos os judeus

que alcançaram a cidadania moravam fora da Palestina. C) De

Descendência Judaica. Devemos, também, considerar a

ascendência judaica de Paulo e o impacto da fé religiosa de sua

família. Ele se descreve aos cristãos de Filipos como ―da

linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus;

quanto à lei, fariseu‖ (Fp 3:5). Noutra ocasião ele chamou a si

próprio de ―israelita da descendência de Abraão, da tribo de

Benjamim‖ (Rm 11:1). Dessa forma Paulo pertencia a uma

linhagem que remontava ao pai de seu povo, Abraão. Da tribo

de Benjamim saíra o primeiro rei de Israel, Saul, em

consideração ao qual o menino de Tarso fora chamado Saulo. A

escola da sinagoga ajudava os pais judeus a transmitir a herança

religiosa de Israel aos filhos. O menino começava a ler as

Escrituras com apenas cinco anos de idade. Aos dez, estaria

estudando a Mishna com suas interpretações emaranhadas da

Lei. Assim, ele se aprofundou na história, nos costumes, nas

Escrituras e na língua do seu povo. O vocabulário posterior de

Paulo era fortemente colorido pela linguagem da Septuaginta, a

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Bíblia dos judeus helenistas. Dentre os principais ―partidos‖ dos

judeus, os fariseus eram os mais estritos (veja o capítulo 5, ―Os

Judeus nos Tempos do Novo Testamento‖). Estavam decididos a

resistir aos esforços de seus conquistadores romanos de impor-

lhes novas crenças e novos estilos de vida. No primeiro século

eles se haviam tornado a ―aristocracia espiritual‖ de seu povo.

Paulo era fariseu, ―filho de fariseus‖ (At 23.6). Podemos estar

certos, pois, de que seu preparo religioso tinha raízes na lealdade

aos regulamentos da Lei, conforme a interpretavam os rabinos.

Aos treze anos ele devia assumir responsabilidade pessoal pela

obediência a essa Lei. Saulo de Tarso passou em Jerusalém sua

virilidade ―aos pés de Gamaliel‖, onde foi instruído ―segundo a

exatidão da lei.‖ (At 22:3). Gamaliel era neto de Hillel, um dos

maiores rabinos judeus. A escola de Hilel era a mais liberal das

duas principais escolas de pensamento entre os fariseus. Em

Atos 5:33-39 temos um vislumbre de Gamaliel, descrito como

―acatado por todo o povo.‖ Exigia-se dos estudantes rabínicos

que aprendessem um ofício de sorte que pudessem, mais tarde,

ensinar sem tornar-se um ônus para o povo. Paulo escolheu uma

indústria típica de Tarso, fabricar tendas de tecido de pêlo de

cabra. Sua perícia nessa profissão proporcionou-lhe mais tarde

um grande incremento em sua obra missionária. Após completar

seus estudos com Gamaliel, esse jovem fariseu provavelmente

voltou para sua casa em Tarso onde passou alguns anos. Não

temos evidência de que ele se tenha encontrado com Jesus ou

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que o tivesse conhecido durante o ministério do Mestre na terra.

Da pena do próprio Paulo bem como do livro de Atos vem-nos a

informação de que depois ele voltou a Jerusalém e dedicou suas

energias à perseguição dos judeus que seguiam os ensinamentos

de Jesus de Nazaré. Paulo nunca pôde perdoar-se pelo ódio e

pela violência que caracterizaram sua vida durante esses anos.

―Porque eu sou o menor dos apóstolos‖, escreveu ele mais tarde,

―. . . pois persegui a igreja de Deus‖ (1 Co 15:9). Em outras

passagens ele se denomina ―perseguidor da igreja‖ (Fp 3:6),

―como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a

devastava‖ (Gl 1:13). Uma referência autobiográfica na primeira

carta de Paulo a Timóteo jorra alguma luz sobre a questão de

como um homem de consciência tão sensível pudesse participar

dessa violência contra o seu próprio povo. ――. . . noutro tempo

era blasfemo e perseguidor e insolente. ―Mas obtive

misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade‖ (1 Tm

1:13). A história da religião está repleta de exemplos de outros

que cometeram o mesmo erro. No mesmo trecho, Paulo refere a

si próprio como ―o principal‖ dos pecadores‖ (1 T 1:15), sem

dúvida alguma por ter ele perseguido a Cristo e seus seguidores.

D) A Morte de Estevão. Não fora pelo modo como Estevão

morreu (At 7:54-60), o jovem Saulo podia ter deixado a cena do

apedrejamento sem comoção alguma, ele que havia tomado

conta das vestes dos apedrejadores. Teria parecido apenas outra

execução legal. Mas quando Estevão se ajoelhou e as pedras

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martirizantes choveram sobre sua cabeça indefensa, ele deu

testemunho da visão de Cristo na glória, e orou: ―Senhor, não

lhes imputes este pecado‖ (Atos 7:60). Embora essa crise tenha

lançado Paulo em sua carreira como caçador de hereges, é

natural supor que as palavras de Estevão tenham permanecido

com ele de sorte que ele se tornou ―caçado‖ também —caçado

pela consciência. E) Uma Carreira de Perseguição. Os eventos

que se seguiram ao martírio de Estevão não são agradáveis de

ler. A história é narrada num só fôlego: ―Saulo, porém, assolava

a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres,

encerrava-os no cárcere‖ (Atos 8:3). A Conversão: A

perseguição em Jerusalém na realidade espalhou a semente da

fé. Os crentes se dispersaram e em breve a nova fé estava sendo

pregada por toda a parte (cf. Atos 8:4). ―Respirando ainda

ameaças e morte contra os discípulos do Senhor‖ (Atos 9:1),

Saulo resolveu que já era tempo de levar a campanha a algumas

das ―cidades estrangeiras‖ nas quais se abrigaram os discípulos

dispersos. O comprido braço do Sinédrio podia alcançar a mais

longínqua sinagoga do império em questões de religião. Nesse

tempo, os seguidores de Cristo ainda eram considerados como

seita herética. Assim, Saulo partiu para Damasco, cerca de 240

km distante, provido de credenciais que lhe dariam autoridade

para, encontrando os ―que eram do caminho, assim homens

como mulheres, os levasse presos para Jerusalém‖ (Atos 9:2).

Que é que se passava na mente de Saulo durante a viagem, dia

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após dia, no pó da estrada E sob o calor escaldante do sol? A

autorevelação intensamente pessoal de Romanos 7:7-13 pode

dar-nos uma pista. Vemos aqui a luta de um homem

consciencioso para encontrar paz mediante a observância de

todas as pormenorizadas ramificações da Lei. Isso o libertou? A

resposta de Paulo, baseada em sua experiência, foi negativa.

Pelo contrário, tornou-se um peso e uma tensão intoleráveis. A

influência do ambiente helenístico de Tarso não deve ser

menosprezada ao tentarmos encontrar o motivo da frustração

interior de Saulo. Depois de seu retorno a Jerusalém, ele deve ter

achado irritante o rígido farisaísmo, muito embora professasse

aceitá-lo de todo o coração. Ele havia respirado ar mais livre

durante a maior parte de sua vida, e não poderia renunciar à

liberdade a que estava acostumado. Contudo, era de natureza

espiritual o motivo mais profundo de sua tristeza. Ele tentara

guardar a Lei, mas descobrira que não poderia fazê-lo em

virtude de sua natureza pecaminosa decaída. De que modo, pois,

poderia ele ser reto para com Deus? Com Damasco à vista,

aconteceu uma coisa momentosa. Num lampejo cegante, Paulo

se viu despido de todo o orgulho e presunção, como perseguidor

do Messias de Deus e do seu povo. Estevão estivera certo, e ele

errado. Em face do Cristo vivo, Saulo capitulou. Ele ouviu uma

voz que dizia: ―Eu sou Jesus, a quem tu persegues, levanta-te, e

entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer‖ (At 9:5-6).

E Saulo obedeceu. Durante sua estada na cidade, ―Esteve três

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dias sem ver, durante os quais nada comeu nem bebeu‖ (Atos

9:9). Um discípulo residente em Damasco, por nome Ananias,

tornou-se amigo e conselheiro, um homem que não teve receio

de crer que a conversão de Paulo’ fora autêntica. Mediante as

orações de Ananias, Deus restaurou a vista a Paulo. [9]

3.3.Do público alvo original da carta em seu contexto histórico.

A Roma do primeiro século vivia uma situação política

bastante triste. Tibério (14-37 D.C.) era um imperador de dupla

personalidade. A maioria dos historiadores tecem elogios à sua

administração, esquecendo a sua violenta tirania e despotismo,

em nome da razão de Estado. Mas os cristãos (confundidos com

os judeus) não tinham do que se queixar. A Tibério sucedeu

Calígula (37-41 D.C.), tão cínico que, para insultar o Senado,

deu as honras de Cônsul ao seu cavalo! Na "História dos

Césares" é apelidado de ―animal feroz‖, tamanha era a sua

crueldade. Por fim, foi assassinado por Cláudio, o capitão de sua

guarda pessoal. E foi uma festa pelo império afora. Sucedeu-

lhe Cláudio (41-54 d.C), um homem irresoluto e tímido, e tão

covarde que consentia que Calígula o esbofeteasse e o

chicoteasse em público. Uma vez imperador, mandou matar

todos seus amigos, a um ponto que Agripina mandou envenená-

lo. Então, Nero subiu ao trono (54-68 d.C): a pior desgraça da

Roma antiga! Mandou matar sua mãe, Agripina, e seu mestre

Sêneca e dezenas de amigos. Isso já no começo. Então se casou

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com um homem, praticando relações sexuais à luz do dia, na

presença de sua corte. As demais loucuras, atrocidades e crime

de Nero, todos as conhecem. Mas não podemos esquecer a noite

de 19 de julho do ano de 64, quando ele mandou incendiar

Roma e, depois, colocou a culpa nos cristãos. Talvez fossem

cerca de 200 cristãos, vestidos com túnicas impregnadas de pez

negro, que queimavam como tochas vivas. Foi a primeira e mais

terrível perseguição contra os cristãos e o testemunho de que,

em Roma, já havia uma pequena comunidade, embora não se

tenha registros históricos de seus fundadores - certamente não

São Pedro, como mostrei nos artigos passados.

Finalmente, o povo se revoltou: invadiu o palácio e

acabou com Nero. Sucedeu-lhe, primeiro, Galba, e, depois, Otão

e Vitélio, tolos ineptos e corruptos, particularmente este último,

que era também sádico e sanguinário.

Então Vespasiano tornou-se imperador (69-79 d.C). Era

bondoso e condenava as crueldades de seus antecessores.

Sucedeu-lhe Tito (79-81 d.Ç), que o povo apelidou de "delícias

do gênero humano". Quando morreu, o povo dizia: "Um

imperador como este, ou nunca devia ter nascido ou devia viver

para sempre". Sucedeu-lhe Domiciano (81-96 d.C.), homem

orgulhoso, fútil, avarento e cruel. Desencadeou a segunda

perseguição contra os cristãos. O prazer de Domiciano era matar

pessoas e dá-las aos cães para comer. Outra diversão desse

monstro era mandar queimar os órgãos sexuais de amigos.

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Foi assassinado. Sucedeu-lhe Nerva (96-98). O

historiador Apolônio, que viveu nessa época, diz que Nerva era

benévolo, generoso e modesto. Todos os historiadores romanos

louvam e admiram Nerva, com o qual começa a dinastia

antonina. Nesses altos e baixos políticos a vida dos cristãos em

Roma certamente sofria, mas não tanto para ficarem dispersos.

Muito pelo contrário! Era uma comunidade pequena, mas muito

unida. Embora o período que foi do ano 70 ao ano 110 seja

completamente obscuro quanto à história, podemos ter alguma

notícia por meio de Irineu e de Inácio. São notícias misturadas à

ideologia do poder eclesiástico do qual os dois estavam,

imbuídos. Mas quem nós fornecemos as melhores notícias é já

a Arqueologia Paleo-cristã. Tenho aqui â importantíssima obra

de Giovanni Battista De Rossi: "Roma Sotterranea" (Roma

Subterrânea), escrita entre os anos de 1864 e 1877. Esse De

Rossi, arqueólogo e epigrafista italiano (1822-1894), fez o

levantamento topográfico das catacumbas de Roma; foi o

criador da Epigrafia Cristã; organizou o Museu Cristão do

Latrão e redigiu, a partir de 1863, o Boletim de Arqueologia

Cristã, com a assistência da Comissão Vaticana de Arqueologia

Sagrada. Os túmulos que ele descobriu e os sarcófagos que ele

descreveu nos apresentam os mais antigos símbolos, pinturas e

objetos deste primeiro século de vida cristã. Encontramos lá o

alfa e o ômega (Deus, princípio e fim); muitas âncoras (a cruz da

salvação); muitas palmas (a vitória sobre o paganismo); o

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cordeiro (o fiel do Cristo); o peixe, cujo acróstico, em grego,

significa: "Jesus-Cristo-Filho-de-Deus-Salvador"; o pastor (o

bom pastor da parábola); o pescador (Jesus em busca dos

homens); o orante (a Igreja em oração); e muitas outras imagens.

Às vezes, a tampa do sarcófago tem cenas tiradas da mitologia e

passíveis de uma interpretação espiritual: Orfeu enfeitiçando os

animais (Cristo fascinando os alunos); Eros abraçando Psique (o

amor celeste envolvendo o amor humano); Ulisses amarrado ao

mastro para resistir ao canto das sereias (o cristão desdenhando

o mundo profano). Além dos sarcófagos, encontramos as

pinturas rudimentares, sobretudo nos muros e nas abóbadas dos

cubículos e das criptas. São pinturas de cores suaves, amarelo-

rosado com toques de verde-claro e sombras castanho-

vermelhas, retratando cenas bíblicas ou evangélicas: Moisés

batendo no rochedo; Daniel no fosso dos leões; Noé na sua arca;

Abraão sacrificando Isaac; Lázaro ressuscitado; o paralítico

sarado; Jesus disfarçado como pastor. Isso tudo mostra o

profundo respeito que os cristãos tinham pelos seus mortos: é a

cristianização da antiga cultura do mediterrâneo. A cultura

romana reverenciava os túmulos, que, por lei, deviam ser

preservados de qualquer mutilação, a fim de que as almas não se

tornassem "errantes", como escreveu Plínio o Moço. Os cristãos

só acrescentavam a essa cultura a ideia da ressurreição. É por

essas pinturas, que ainda hoje são visíveis nas catacumbas

descobertas, que conhecemos o modo de orar dos primeiros

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cristãos; as roupas que vestiam, de acordo com o sexo; como era

o "repartir do pão"; como era o batismo; o lugar daquele que

presidia a comunidade e até alguns dos trabalhos exercidos pelos

cristãos, em vida. Da análise dessas esculturas e pinturas

podemos concluir que os cristãos romanos dos primeiros séculos

viviam dentro da cultura material romana. A única coisa que os

distinguia dos romanos era a atitude perante o sexo e o

casamento. (Veja: C. Munier; "L’Église dans 1'empire romain";

Paris; 1970; sobretudo o resumo: pág. 7-16. Veja também em:

"Ética sessuale e Matrimônio nel cristianesimo delle origini";

Ed. Cantalamassa; Milano: 1976. O ensaio de P.F. Beatrice:

"Continenza e matrimônio nel cristianismo primitivo"; 3). Se,

para os pagãos de Roma, o corpo era o instrumento do

prazer; se, para os judeus, o corpo era o instrumento da

continuidade da raça e a disposição para receber o Messias

vindouro; para os cristãos o corpo era o instrumento para servir

a comunidade e para dar guarida ao Espírito de Jesus. Explica-se

assim porque não são benquistas as segundas núpcias e, porque

a comunidade se orientava para o celibato, que, além do mais, se

tornava uma bandeira que os distinguia dos pagãos e dos judeus

- talvez tenha influído nisto a expectativa da iminente vinda de

Jesus "nas nuvens". Mas o celibato era adotado somente em

idade madura, justamente pelos presbíteros (palavra grega que

significa "anciãos"). Na chefia da vida cristã, encontramos

aquele que ocupa o primeiro lugar: o bispo – palavra grega que

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significa vigilante. Quem eram os bispos de Roma nos primeiros

dois séculos? Existem catálogos completos e pormenorizados,

mas não esqueçamos que a série de biografias dos papas é do

"Liber Pontificalis" (o livro dos pontífices), cuja primeira parte,

que vai até Felix IV, em 530, tem quase nenhum valor histórico:

é o que pensa monsenhor Luís M.O. Duchesne, historiador

eclesiástico católico (1843-1922) e professor do Instituto

Católico de Paris que aplicou princípios histórico-críticos em

suas pesquisas sobre os primeiros papas, pesquisa que reuniu no

livro "Le Liber Pontificalis" (1886-1892). De todos esses bispos

romanos, o mais importante é Clemente romano (97-101) que,

na sua carta aos Coríntios, lança a ideia da necessidade de

organizar os cristãos, a exemplo do exército romano, com um

chefe supremo (o bispo de Roma, claro!) e os chefes subalternos

(os demais bispos) e, finalmente, a tropa bem organizada e

obediente. Essas ideias amadurecerão e, em 325, no Concilio de

Nicéia, encontramos, como coisa normal, os bispos ao lado do

imperador Constantino, colocando as bases da ideologia do

poder eclesiástico. [10]

IV. ANÁLISE TEOLÓGICA

4.1. Identificação do raciocínio geral a partir de um pressuposto e a partir

da leitura de toda a carta.

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O esquema abaixo serve para identificar dentro do texto o fluxo de

referencias entre a justificação (o que ela opera em nós), o que produzem

em nós o Filho, o Pai, a Graça e o Espirito Santo e a esperança, que são

sujeitos das várias ações do texto.

Tendo sido justificados

Por Jesus Cristo →

Morreu pelos ímpios

Justificados pelo seu sangue

Reconciliados por Ele

Salvos da Ira de Deus

Deu-nos a reconciliação

Mostra seu amor

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Temos paz com Deus →

Gloriamo-nos nele

Derrama o Espirito Santo em nós

Derrama

esperança nos

nossos corações

Temos acesso à graça →

Na qual estamos firmes

Gloriamo-nos na Glória

de Deus →

Nas tribulações

Na paciência

Na experiência ou caráter

Esperança → Não envergonha

4.2. Identificação dos argumentos deste raciocínio como se apresentam.

4.2.1. Antropologicamente

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A justificação pela fé é quem desencadeia todo o argumento do texto

selecionado. O fim desta justificação, pelo menos no trecho que se segue, é

a reconciliação que alcançamos em Cristo, ou por meio de Cristo. A

reconciliação é o desfazer de nossa inimizade com Deus por meio do

sangue de Cristo, ou seja, da condição de ímpios para reconciliados com

Deus. Da nossa parte cabe, a partir das tribulações, migrar da condição de

ímpios para salvos, aprendendo a nos gloriar em Deus por todo o seu amor

demonstrado em Cristo.

Frisamos as expressões: fraco, ímpio e pecadores. As três formam

um pano de fundo para descrever a condição existencial do homem nascido

naturalmente e vivendo sem Cristo. São expressões fundamentais para que

possamos entender a grandeza do amor de Deus e dos atos de Cristo. O

homem teologicamente é doente, moral e eticamente mal e

ontologicamente longe de Deus.

4.2.2 Teologicamente

Deus é o agente da ira e quem pode reivindicar do homem o

pagamento de sua dívida, assim, por amor, oferece um substitutivo para

esta exigência. No entanto, assim como exige do homem, que tenha o amor

como fundamento para suas ações, ele decide, por amor, justificar e salvar

o homem. Ele não contraria suas próprias exigências ao amar e salvar o

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homem, porque ¨descarrega¨ todas as suas exigências em Cristo, mas

movido pelo amor, justifica e salva o homem.

4.2.3 Cristologicamente

Cristo é quem morre pelos maus derramando o seu sangue para

satisfazer as exigências de Deus. Sua morte é tal que ainda nos traz uma

série de outras vantagens nesta relação, como amizade, crescimento

espiritual e bençãos indizíveis. Em sua condição humana, o preço pago foi

muito alto e a dor quase intolerável. A dor sofrida e o preço pago estão a

altura da condição do homem de modo inversamente proporcional, ou seja,

por causa da condição profundamente desgraçada do homem, distante de

Deus, e sujeito a ira de Deus, apenas a morte da pessoa teantrópica (Deus-

homem), é capaz de reverter esta situação.

4.2.4. Pneumatologicamente

Derrama esperança nos nossos corações. Talvez seja esta uma das

manifestações mais intensas do paracletos, ou seja, do consolador,

derramar esta esperança no coração dos crentes. Este derramamento é

espiritual, operado de modo misterioso pelo Espirito, haja vista que o

contexto da passagem que traz inclusive a possibilidade de problemas ao

longo da caminhada com tribulações, como explicar a alegria e constância

do crente? Pela presença consoladora e de esperança do Espirito Santo.

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V. O SERMÃO

Romanos 5: 1-11

¨Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso

Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça,

na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E

não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que

a tribulação produz a paciência, a paciência a experiência, e a experiência a

esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está

derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.

Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom

alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que

Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora,

tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte

de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela

sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por

nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.¨

5.1.Introdução

É quase certo que nem todos saibam já no inicio da vida cristã, a

quantidade de implicações em torno da nossa relação com Deus e que, ao

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longo da vida poucos se darão conta de tudo que há em torno de algo tão

grandioso quanto andar com Deus.

No inicio somos tomados por alegria e certo assombro e muitas

coisas mudam em nós e a nossa volta. Como crianças, temos a alegria da

vida e de termos uma família e podermos aprender uma serie de coisas. À

medida que crescemos, no entanto, se soubermos que fomos planejados,

que nossos pais nos aguardaram com expectativa, que os exames pré-natais

foram feitos sem falhas, que nosso lugar na casa foi preparado, que nossas

primeiras roupas já nos aguardavam, ficamos ainda mais contentes com

nossa vida e existência. Mas é certo que nem toda criança vem ao mundo

em condições tão especiais e com tanto cuidado e expectativa. Há crianças

que não são planejadas, que não são desejadas pelos pais, ou que mesmo

planejadas e desejadas não encontram, pelas dificuldades dos pais como

pobreza ou inexperiência, as condições para ser bem recebidas e poderem

crescer com dignidade e saúde. Mas é certo que nenhum de nós nasce em

Cristo Jesus sem que Deus tenha tomado todos os cuidados para que nossa

vida cristã comece bem e vá bem. Diante da gloriosa graça de Deus, nós

pecadores só podemos nos alegrar e profundamente sermos gratos por tudo

o que ele já fez e até mesmo pelo que irá fazer por nós e este texto é uma

declaração maravilhosa de toda esta graça derramada em nossas vidas.

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5.2. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com deus por nosso

Senhor Jesus Cristo.

É muito comum em algum momento da vida acumularmos dívidas.

Todo endividado sonha com o dia da quitação das suas dividas. Alguns

sonham a noite com a chegada de seus credores simplesmente perdoando

suas dividas e entendendo suas dificuldades de quitar suas dívidas. Pois é, é

isto que acontece quando cremos em Cristo, ele é o credor e nós os

devedores. Como o texto diz isto? Primeiramente o texto nos diz: Tendo

sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por Nosso Senhor

Jesus Cristo. Primeiramente, precisamos entender o que significa a

justificação. Por justificação entendamos o ato misericordioso e gracioso de

Deus de nos considerar puros, mesmo que antes de termos feitos qualquer

coisa ou de termos sido transformados interiormente, mesmo antes até de

desejarmos sermos transformados ou termos a noção de tamanho de nossas

dívidas. Isto é possível, você perguntaria? Eu responderia que sim isto é

possível. Justificar é declarar justo, dizer que é justo. Mas por que Deus faz

isto? A nós é simplesmente impossível viver de modo agradável a Deus,

nossos pecados fazem separação entre nós e Deus. Deus sendo justo, não

tendo comunhão com pecadores precisa, antes de toda e qualquer coisa,

tornar-nos aceitáveis, nos tornar pessoas viáveis a sua graça. Sentir-se

pecador é coisa rara nos nossos dias e a rebelião do homem manifesta-se

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não apenas por sua rebelião declarada, mas também por sua total

insensibilidade às suas próprias maldades. Todos os profetas do passado

tinham um grande temor: ver a glória de Deus. Isaias, por exemplo, temeu

o fato de visto a Deus e sua glória e temeu pela sua própria vida. É o que

vemos em Isaias 6: 5, quando se diz: Então disse eu: Ai de mim! Pois estou

perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um

povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos

Exércitos. Apesar de toda sua justiça e santidade, Deus quer nos salvar, por

isto, no primeiro momento ele se aproxima, se achega a nós, nos aceita,

mesmo que ainda não tenha mudado nada. Mas o texto não para aí, o verso

um ainda nos deixa claro que isto é feito por meio de Jesus Cristo, o único

mediador entre Deus e os homens, como vemos em Atos dos Apóstolos 4:

12. Pedro, diante das autoridades e do povo, não teme afirmar que Cristo é

este mediador, talvez se lembrando do que ele disse: Eu sou o caminho, e a

verdade e a vida, e ninguém vem ao Pai senão por mim em João 14:6. Há

um reconhecimento, apesar de toda humanidade dizer o contrario, de que o

homem não está melhorando e mesmo que pudesse, jamais estaria em

condição de se achegar a Deus, seria um salto muito grande e impossível a

humanidade. O texto mostra que Deus veio em nossa direção e promoveu

em Cristo a paz.

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5.3. Por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora

estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Cristo é o credor que bate à nossa porta e oferecesse a graça do

perdão, nos trazendo uma grande noticia. O Evangelho é esta grande

noticia, mas como é esta grande notícia? Este verso nos mostra isto.

Quando o Evangelista João em seu Evangelho em 1:11 afirma que ¨veios

para os que eram seus e os seus não o receberam¨, ou quando o próprio

Jesus conta a parábola sobre os convidados para as Bodas em Lucas 14 e

afirma que aqueles que farão parte da ceia serão aqueles que foram

preteridos, ficamos pensando na grandeza do fato de que em Cristo temos

acesso a fé a esta graça, que no texto, é a paz com Deus. Ou como Paulo

afirma em Romanos 10: 20, citando Isaías 65, que diz: ¨fui achado pelas

que não me procuravam¨. Isaías é ainda mais intenso porque diz: ¨Fui

buscado dos que não perguntavam por mim, fui achado daqueles que não

me buscavam; a uma nação que não se chamava do meu nome eu disse:

Eis-me aqui. Eis-me aqui.¨ eles mostram um contraste claro, a quem foi

oferecida a graça a paz com Deus, negou-a, a quem não foi a achou.

Romanos é uma carta a gentios, uma carta aos que não procuravam. O

próprio ministério de Paulo começava sempre com uma oferta desta graça

aos judeus, nas sinagogas de cada cidade que ele estava, mas sempre os

gentios, ainda que sempre houvesse um pequeno grupo de judeus que

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também o fizessem, eram quem melhor respondiam ao convite da salvação.

Hoje falamos muito de acessibilidade porque temos entre nós pessoas com

limitações físicas que as impedem de estar em certos lugares se certas

condições especiais ou de adequação não forem oferecidas. Estávamos

impedidos, pelos nossos pecados, de ter acesso a Deus, mas por Cristo estas

dificuldades e barreiras estão todas derrubadas, e pela fé podemos nos

achegar a ele. Quando ele diz ¨na qual estamos firmes¨, quase podemos

ouvir: agora que estou aqui não saio mais. É claro que o poder de

permanecer na presença de Cristo não está em nós porque as exigências,

pressões, mistérios da vida cristã, além das nossas próprias limitações, são

empecilhos a que nos mantenhamos sempre firmes na sua presença, mas a

alegria reforçada pelo grande desejo é o que deve tomar nossos corações.

Dificilmente quererá sair da presença de Deus quem experimentou este

acesso a vida com Cristo. O finalzinho do trecho parece mostrar qual é esta

alegria, a alegria da glória de Deus. Este trecho faz lembrar o encontro

entre os discípulos, Deus, Cristo e os profetas no monte da transfiguração

em Mateus 17: 1-9, quando tendo experimentado aqueles poucos

momentos na presença de Deus, de Cristo, e dos profetas, não queriam sair

daquele lugar glorioso. Assim é quem recebe esta graça, não quer mais sair

dela.

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5.4. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque

sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter

aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos

decepciona, porque deus derramou seu amor em nossos corações, por meio

do Espírito Santo que ele nos concedeu.

Ok? Tudo bem até agora, mas tem um mas. Alguém já disse que tudo

que vem antes de mas deve ser desconsiderado. Alegro-me em informar

que neste caso não se ignora nem o que vem antes nem o que vem depois,

mesmo que este depois, pelo menos no primeiro momento não seja uma

boa noticia como a que apresentávamos até agora. Logo que acaba de falar

sobre um acesso maravilhoso a Deus que nos deixa extasiados, o Apóstolo

introduz uma afirmação contraditória, estranha – gloriar-se nas tribulações.

Será que ele realmente sentia esta alegria? Será que é possível mesmo

alegrar-se com problemas nas nossas vidas? Bom, parece que sim. O

apóstolo não vê a tribulação do ponto de vista estático da vida, ou seja, a

vida não termina na tribulação. Veja que ele argumenta que a tribulação

produz perseverança, caráter e esperança. Sempre que estudamos e

tentamos entender a presença do mal na criação e acabamos por entrar em

questionamentos intransponíveis quando não conseguimos combinar a

Soberania de Deus, Seu amor e Graça com a presença da morte, do

sofrimento, dos desastres naturais e da maldade humana sem limites, nunca

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podemos nos esquecer de que, mesmo não conseguindo fechar esta conta,

Deus não nos deixou sem saída e sem escapatória e ainda mais, nos ajuda a

encontrar proposito para tudo que acontece em nossas vidas, sobretudo de

coisas ruins. O mínimo que podemos afirmar é que, passando por

dificuldades teremos nos tornaremos mais perseverantes, ou seja, mais

aptos a levar até o fim os propósitos de Deus nas nossas vidas, nos

tornarmos mais fortes e resistentes, mais aguerridos e mais determinados.

Além disto, nosso caráter será aprovado, ou seja, nossas inclinações para o

pecado, nossas inclinações para o fracasso, nossa preguiça espiritual e

nossas concessões morais se tornarão mais raras, menos frequentes. Nosso

homem interior será robustecido. O próprio apóstolo Paulo entendeu bem

as perseguições e problemas na vida dele. Podemos citar, por exemplo,

duas de suas lutas. A primeira diz respeito a o grande numero de

perseguições e lutas que passou pela vida. Quando lemos II Coríntios 11.

24-28, vemos uma lista de tirar o fôlego de situações difíceis pelas quais o

mesmo passou. O que deve chamar a atenção é o fato de que o Senhor o

sustentou em todas as situações, dando livramento, mostrando a ele que o

sustentava e que era Senhor sobre sua vida. Um pouco mais a frente, mas já

falando de uma questão pessoal, em 12. 7-9, ele afirma ter um espinho na

carne, uma doença física ou outro mal, pelo qual orou e teve uma resposta

negativa a sua oração, mas entendeu claramente por meio da mesma

oração, que aquilo servia para trabalhar o seu caráter, ou seja, para que ele

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não fosse tomado pelo orgulho, já que era alguém totalmente usado por

Deus para operação de toda sorte de milagres e sinais. Em Cristo e com

Cristo até mesmo as tribulações fazem sentido e nos levam a um novo

relacionamento com Deus e a uma melhor compreensão de quem somos.

5.5. De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu

pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo

homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra

seu amor por nós: cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos

pecadores.

Alguém já falou mal de você ou você já teve segredos seus ou coisas

mais intimas escancaradas publicamente? Este verso faz afirmações muito

fortes em relação a nós, descrevendo nossa situação e o que somos na

essência de maneira muito contundente. No mesmo verso temos lado a lado

palavras como fracos, ímpios e pecadores em contraste com palavras ou

expressões como amor, justo, homem bom, coragem e demonstração de

amor. Um texto que é interessante porque está implícita a ideia de que,

naturalmente, de modo comum e normal, de modo justo e até legal, todo

aquele que é fraco, ímpio e pecador deveria ser derrotado, lançado no

inferno para pagar pelo que fez e receber sobre si mesmo todo o peso da

Lei e da Mão de Deus. Sim, isto mesmo, receber toda a sorte de males e

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castigos. É certo que vivemos uma inversão de valores tão grande que o

homem não apenas ignora a justiça de Deus, mas justifica-se a sim mesmo,

ou seja, julga que seja merecedor de todo bem, mesmo que em sua vida não

dê os mínimos sinais de moralidade e de ética, ou seja, não tem nem o

comportamento para o qual Deus nos criou, nem tem as ideias ou conceitos

que embasam isto. Neste sentido o homem é duplamente condenável, nem

pensa corretamente e nem age corretamente. É certo, também, que mesmo

os crentes, tendo os conceitos corretos nem sempre agem de modo correto,

moral. Seria natural, que Deus, por causa da total incapacidade humana,

que não apenas lhe é inata, mas também produto das suas decisões, ou seja,

o homem deseja o mal e o pratica de modo consciente, o condenasse sem a

necessidade de ofertar qualquer escape. Mas percebamos, mesmo estando

nas mãos de Deus os elementos óbvios e legais para a condenação do

homem, podendo, se quisesse, simplesmente destruí-lo, decidiu não apenas

amar de modo teórico, mas também demonstrar o seu amor por nós quando

enviou Cristo para morrer por fracos, ímpios e pecadores. Fracos são

aqueles que não têm força, ou seja, totalmente debilitados e incapazes,

neste sentido, mesmo quando o homem, convencido de que precisa de

Deus, é totalmente incapaz de trilhar por si só este caminho e avançar em

qualquer questão. O ímpio é por sua vez aquele que, pela falta de Deus,

trilha os caminhos do mal de modo deliberado, torna-se não somente

praticante do mal, mas um defensor e propagador do mal. O pecado é a

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condição natural de cada um de nós. Fomos gerados em pecado, nascemos

em pecado, crescemos em pecado e o pecado é o que praticamos

naturalmente se deixados à nossa vontade e destino. Como alguém se

compadeceria de alguém assim? E ainda mais, como alguém faria algo de

positivo e bom por pessoas assim? Pois é, é exatamente nisto que o

apostolo mostra sua admiração e espanto: Cristo morreu por nós.

5.6. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda

seremos salvos da ira de Deus por meio dele! Se quando éramos inimigos

de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu filho, quanto

mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!

É comum nos manuais de teologia encontrar a expressão justificação

como sendo apenas um ato declaratório e de suficiência meramente legal da

condição do homem diante de Deus e que não muda o homem em si, ou

seja, na sua condição interna como pessoa ou na sua condição existencial,

no entanto, ainda que concordemos com a linguagem legal do texto, não

podemos esquecer que o apostolo está mostrando seu espanto diante da

mudança tão dramática da condição existencial diante de Deus, e nem

podemos negar que esta declaração seja apenas uma declaração sem

consequências maiores para nossa vida. A justificação é uma bênção, e uma

benção espiritual tão grandiosa que muda a vida do homem totalmente. A

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parir dela nossa vida com Cristo começa e vai em frente, ou seja, ela é a

porta de acesso a coisas ainda maiores, viver com Cristo, morrer com

Cristo e entrar na eternidade com Cristo. O texto diz que por causa de

justificação, quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados e agora

que somos reconciliados seremos salvos. O termo sangue no trecho chama

nossa atenção ao que aconteceu na Cruz. O sangue de Cristo que nos

justifica e cobre os nossos pecados. Sangue que no passado era o sangue de

animais e que eram imperfeitos e deviam ser sempre repetidos. Eles não

justificavam, eles não purificavam e nem mudavam nossa condição de

modo definitivo diante de Deus. Podemos até, a partir deste texto, afirmar:

nossa salvação está garantida pela justificação. A morte de Cristo justifica e

a vida de Cristo salva! Porque ele está vivo serei salvo. Diferente dos

animais que morriam e permaneciam mortos e nunca mais voltavam a

viver, Jesus, o Cordeiro de Deus (João 1: 29), ainda justifica e salva porque

Ele morreu, e com isto justificou, ele ressuscitou e está vivo ao lado do Pai,

e por isto, pode salvar. O plano é completo. O que Abraão não concluiu

quando levou Isaque para ser sacrificado, aqui, o próprio Deus leva até o

fim seu plano, leva o filho e o imola na Cruz. O antítipo de Abraão apenas

apontou, insinuo, mas em Cristo foi executado. Do mesmo, que Deus

ofereceu o cordeiro para o sacrifício naquele tempo, ofereceu agora, mas

desta vez o seu Filho. Alguém precisava morrer, ¨sem derramamento de

sangue não há remissão de pecados¨, conforme diz Hebreus 9: 22. O verso

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28 do mesmo texto diz: ¨Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez

para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos

que o esperam para salvação¨. Somente o sangue de Cristo pode purificar

pecados e apenas porque ele está vivo é que seremos salvos. Paulo também

fala de modo muito claro sobre a importância da ressureição para nossa

vida de modo geral, ou seja, o cristianismo faz sentido e deve ser levado à

frente somente pelo fato de que Ele ressuscitou, somente pelo fato de que

ele está vivo. Sua vida é a garantia da nossa salvação.

5.7. Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de

Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a

reconciliação.

Você acha justo, correto e sadio comemorar a vitória antes do tempo?

Quantas histórias nós conhecemos de pessoas que começaram a comemorar

a vitória antes de cruzar a linha de chegada e, por uma desventura, viram a

derrota e não a vitória? Este trecho é uma conclusção diante da salvação

prometida mo verso anteior. Pois é, mas Paulo está fazendo isto, falando da

vitória antes do tempo. Nós seremos salvos como consequencia da nossa

reconciliação, mas somos algo mais do que meramente reconciliados,

porque com a justificação e a reconcilição, por meio do Espirito Santo, o

amor é derramado em nós e desencadeia uma série de avanços e

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crescimentos em nós e que não cessam até a sua conclusão. O Poder de

Deus em Cristo de justificar, reconciliar e salvar é garantido, vai acontecer.

Podemos recorrer a outros dois trechos das Escrituras para reforçar e

ilustrar. Veja, por exemplo, II Coríntios 3: 18: ¨E todos nós, que com a face

descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem

estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do

Senhor, que é o Espírito¨. O contexto desta passagem é da liberdade da lei e

liberdade em Cristo por meio do seu Espirito. Mas ele aponta que neste

processo de libertação, estamos sendo transformados dia a dia, com glória

cada vez maior. Esta é a nossa alegria, vemos que estamos cada vez mais

pertos de Deus, não somente porque nossa partida está mais próxima, mas

porque experimentamos em nós uma crescente alegria, influencia e

transformações que só podem ser operadas por Deus. Vejamos outro texto

muito direto quanto a isto. Filipenses 1: 6 diz: ¨Estou convencido de que

aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo

Jesus.¨ Em Cristo, a obra começa e não para até que seja completa, ou seja,

de fato não contamos com a vitória antes da hora no sentido mais inocente

da palavra porque ela não depende de nós, mas somente dele. Ele começa e

Ele termina. A afirmação é uma afirmação de fé: dependo sempre de Cristo

e Cristo é o todo capaz. A reconciliação no presente é uma antecipação da

glória no futuro. O Senhor em tudo irá completar o propósito de seu amor

morrendo, salvando todos os verdadeiros crentes até ao fim. Tendo como

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um penhor de salvação no amor de Deus por meio de Cristo, o apóstolo

declarou que os crentes não só podem alegrar-se nas esperanças do céu, e

até mesmo em suas tribulações por causa de Cristo, mas glorificou a Deus

também, como seu amigo imutável que tudo faz através de Cristo, e

somente através de Cristo.

CONCLUSÃO

E então, como ficamos?

Como crentes ficarmos assombrados e maravilhados, fortalecidos em

nossa caminhada por todas as certezas que reforçam ainda mais nossa fé e

fundamental nossas esperanças que o Espírito Santo coloca em nosso

coração, conquistadas por Cristo quando derramou seu sangue na Cruz

demonstrando o amor de Deus por nós.

Aqueles que ainda não conhecem este amor, um convite sério a

pensar e refletir profundamente sobre a grandeza deste amor e tudo que ele

é capaz de fazer por nós e em nós, e a ver o que de fato significa ter Cristo

e andar com Cristo.

Que Deus nos abençoe abrindo os olhos para tudo aquilo que Deus

tem feito em Cristo por cada um de nós. De fato, Ele nos ama.

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[9] http://www.vivos.com.br/164.htm.

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