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 Dilemas Éticos Dilema dos valores Como estabelecer uma hierarquia entre princípios ou entre ideais? Como definir precedências entre os valores? De acordo com a ética da convicção, as questões que geram o dilema dos valores não conseguem respostas acabadas a não ser que se estabeleça uma hierarquia entre os valores pelas organizações ou pelos agentes interessados. Utilizando o critério do altruísmo imparcial, pregado pela ética da responsabilidade, a resposta para o dilema dos valores é evidente: devem prevalecer os interesses gerais, ainda que outros menores sejam feridos. A ação que produz um bem maior ou evita um mal maior. Dilema dos destinatários O dilema dos destinatários surge de situações nas quais qualquer que seja a decisão tomada afetará de forma desigual os agentes envolvidos. Não é fácil beneficiar todos ao tempo todo. A relação moral traz benefícios a quem? Quem será prejudicado? E quem será beneficiado? Todas as ações ou decisões resultam em implicações que irá beneficiar uma coletividade e prejudicar outra. Decisões e ações, ainda que consideradas morais e legítimas por alguns, não o são necessariamente por outros porque ferem interesses alheios. Quanto menor for a coletividade beneficiada, em detrimento das demais coletividades, mais acirradas ficam as divergências, porque maiores são as distâncias que as separam. Ex.: Quando algumas categorias profissionais entram em greve, como a categoria médica, por exemplo, os efeitos da sua paralisação geram transtornos muito maiores para os usuários. Se no começo a população pode, de certa forma, apoiar a reivindicação, o prolongamento da paralisação afeta e prejudica os indivíduos, que vão se sentir prejudicados tendendo inclusive a manifestar-se contra. Toda decisão que seja portadora de implicações morais, tende a confrontar agentes coletivos cujos interesses divergem e pode provocar conflitos que se refletem nos discursos morais pregados. Como resolver: A ética da convicção sugere que se estabeleçam ideais e princípios que sejam capazes de aproximar os interesses individual e o coletivo para que as diferenças sejam minimizadas. Entretanto diante de interesses contraditórios é difícil chegar a um consenso universal. De acordo com a teoria da responsabilidade, tais decisões baseiam-se na sua vertente utilitarista, que obedece a lógica do máximo de bem para o maior número de pessoas e implica em dois fatores: o fator da intensidade (máximo/mínimo de bem gerado), instruído pelo critério da eficácia, e o fator quantidade (maior/menor número de pessoas) instruído pelo critério da equidade. Em quaisquer decisões haverá sempre o embate entre o critério da eficácia, ou seja, fornecer para o máximo de bem para o maior número de pessoas, e o critério da equidade, que seria tratar igualmente todos, fornecendo o mínimo de bem para o maior número. Ex: Situação atual dos hospitais, que por falta de vagas não podem atender de forma satisfatória todos os pacientes. O que eles fazem: realizam uma triagem para definir quais pacientes vão receber prioridade e serão atendidos. A opção consiste em maximizar o bem para o menor número de pessoas. Alcança-se a eficácia à custa da equidade. Esta opção possui suporte ético dado pela vertente da finalidade, ou seja, atender um menor número de pacientes satisfatoriamente se justifica desde que os fins sejam bons. Porém, a opção de atender igualmente a todos, sem exceção, dando o mínimo de atendimento, condiz com o critério da equidade, e também possuiria respaldo ético, que seria dado pela vertente da esperança. A equidade se sobrepõe a eficácia. Por outro lado, o atendimento do mínimo bem para o menor número de pessoas não recebe legitimidade ética. Em situações em que o menor número obtém o máximo de bem, a escolha de quem fará parte desse “menor número” acaba sendo decidida por padrões culturais e sociais vigentes. (Quem será atendido e com quais critérios?) Por exemplo: A tragédia do naufrágio do Titanic. Apesar de o Titanic possuir um número reduzido de botes para atender toda a tripulação, a maioria deles desceu bem abaixo da sua capacidade total. Além do mais poucos barcos voltaram para socorrer o restante das pessoas que haviam pulado no mar. Nesse caso a eficácia (produzir o máximo de bem para o menor número) prevaleceu em detrimento da equidade (tentar salvar todos da tragédia). Entretanto a definição do grupo que seria salvo foi feita com bases no fator social. Houve clara preferência de salvamento para os passageiros da primeira classe. Dilema dos meios Para cumprir as prescrições ou levar adiante os propósitos é preciso lançar mão de maios, que podem ser legítimos e aceitos virtualmente por todos ou ilegítimos, controversos. A ética da convicção não autoriza o uso de meios ilegítimos, não aceita que se cometa um mal para se evitar outro ainda que maior.

Resumo de Ética

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5/8/2018 Resumo de Ética - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/resumo-de-etica 1/3

 

Dilemas Éticos

Dilema dos valores

Como estabelecer uma hierarquia entre princípios ou entreideais? Como definir precedências entre os valores?

De acordo com a ética da convicção, as questões quegeram o dilema dos valores não conseguem respostas

acabadas a não ser que se estabeleça uma hierarquia entreos valores pelas organizações ou pelos agentesinteressados.

Utilizando o critério do altruísmo imparcial, pregado pelaética da responsabilidade, a resposta para o dilema dosvalores é evidente: devem prevalecer os interesses gerais,ainda que outros menores sejam feridos. A ação que produzum bem maior ou evita um mal maior.

Dilema dos destinatários

O dilema dos destinatários surge de situações nas quaisqualquer que seja a decisão tomada afetará de formadesigual os agentes envolvidos. Não é fácil beneficiar todosao tempo todo. A relação moral traz benefícios a quem?Quem será prejudicado? E quem será beneficiado? Todasas ações ou decisões resultam em implicações que irábeneficiar uma coletividade e prejudicar outra.

Decisões e ações, ainda que consideradas morais elegítimas por alguns, não o são necessariamente por outrosporque ferem interesses alheios.

Quanto menor for a coletividade beneficiada, em detrimentodas demais coletividades, mais acirradas ficam asdivergências, porque maiores são as distâncias que asseparam.

Ex.: Quando algumas categorias profissionais entram emgreve, como a categoria médica, por exemplo, os efeitos dasua paralisação geram transtornos muito maiores para osusuários. Se no começo a população pode, de certa forma,apoiar a reivindicação, o prolongamento da paralisaçãoafeta e prejudica os indivíduos, que vão se sentir

prejudicados tendendo inclusive a manifestar-se contra.

Toda decisão que seja portadora de implicações morais,tende a confrontar agentes coletivos cujos interessesdivergem e pode provocar conflitos que se refletem nosdiscursos morais pregados.

Como resolver: A ética da convicção sugere que seestabeleçam ideais e princípios que sejam capazes deaproximar os interesses individual e o coletivo para que asdiferenças sejam minimizadas. Entretanto diante deinteresses contraditórios é difícil chegar a um consenso

universal.

De acordo com a teoria da responsabilidade, tais decisõesbaseiam-se na sua vertente utilitarista, que obedece a lógicado máximo de bem para o maior número de pessoas eimplica em dois fatores: o fator da intensidade(máximo/mínimo de bem gerado), instruído pelo critério daeficácia, e o fator quantidade (maior/menor número depessoas) instruído pelo critério da equidade.

Em quaisquer decisões haverá sempre o embate entre o

critério da eficácia, ou seja, fornecer para o máximo debem para o maior número de pessoas, e o critério da

equidade, que seria tratar igualmente todos, fornecendo omínimo de bem para o maior número.

Ex: Situação atual dos hospitais, que por falta de vagas nãopodem atender de forma satisfatória todos os pacientes. Oque eles fazem: realizam uma triagem para definir quaispacientes vão receber prioridade e serão atendidos. Aopção consiste em maximizar o bem para o menor númerode pessoas. Alcança-se a eficácia à custa da equidade.

Esta opção possui suporte ético dado pela vertente dafinalidade, ou seja, atender um menor número de pacientessatisfatoriamente se justifica desde que os fins sejam bons.Porém, a opção de atender igualmente a todos, semexceção, dando o mínimo de atendimento, condiz com ocritério da equidade, e também possuiria respaldo ético, queseria dado pela vertente da esperança. A equidade sesobrepõe a eficácia. Por outro lado, o atendimento domínimo bem para o menor número de pessoas não recebelegitimidade ética.

Em situações em que o menor número obtém o máximo de

bem, a escolha de quem fará parte desse “menor número”acaba sendo decidida por padrões culturais e sociaisvigentes. (Quem será atendido e com quais critérios?)

Por exemplo: A tragédia do naufrágio do Titanic. Apesar deo Titanic possuir um número reduzido de botes para atendertoda a tripulação, a maioria deles desceu bem abaixo dasua capacidade total. Além do mais poucos barcos voltarampara socorrer o restante das pessoas que haviam pulado nomar. Nesse caso a eficácia (produzir o máximo de bem parao menor número) prevaleceu em detrimento da equidade

(tentar salvar todos da tragédia). Entretanto a definição dogrupo que seria salvo foi feita com bases no fator social.Houve clara preferência de salvamento para os passageirosda primeira classe.

Dilema dos meios

Para cumprir as prescrições ou levar adiante os propósitos épreciso lançar mão de maios, que podem ser legítimos eaceitos virtualmente por todos ou ilegítimos, controversos.

A ética da convicção não autoriza o uso de meios

ilegítimos, não aceita que se cometa um mal para se evitaroutro ainda que maior.

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A ética da responsabilidade não se furta em utilizar meiosilegítimos. Para se atingir meios reais é preciso ser realistanos meios.

As morais brasileiras

Formalismo - dissociação entre o discurso e a prática; oenunciado e o vivido; o país legal e o país real; os códigosformalizados de conduta e os expedientes espertos do dia-

a-dia; as declarações; as declarações de boas intenções e ocinismo dos arranjos de convivência

Moral da integridade – Moral oficial, comportamentoconsiderado decente e virtuoso; ensinada nas escolas enas igrejas; de caráter altruísta;

• Tem caráter altruísta:• Apóia-se nos seguintes valores: honestidade, lealdade,

idoneidade, lisura no trato da coisa pública, fidelidade àpalavra empenhada, cumprimento das obrigações,

obediência aos costumes vigentes, respeito à verdadee à legalidade, amor ao próximo

• Caracteriza a pessoa confiável• Demarca o que faz de alguém um sujeito digno de

credito• Subordina os interesses individuais ao bem comum• Enaltece a probidade como imperativo categórico• Não tolera a desonestidade, o engodo, a fraude, o

blefe, a manipulação da inocência dos outros.• Está relacionada à ética da convicção – vertente do

princípio – é uma moral do dever – “Faço algo porque é

um mandamento”.

Moral do oportunismo: Moral oficiosa, que configura ocomportamento esperto, egoísta:

• Consiste em que o agente individual se saia bem,ainda que em detrimento dos interesses dos outros.

• Floresce na sombra da malícia• Nutre-se de franca hipocrisia, pois, em público,

todos simulam aderir à moral da integridade.• Pratica-se de modo informal, graças a

complacência, ao respaldo ou à cumplicidade dosmais íntimos –sócios, parentes, amigos, colegas,vizinhos.

• Corresponde ao triunfo da conveniência sobre osprincípios ou sobre a responsabilidade social.

• Sua máxima é: “Faço algo porque me éconveniente”.

• Alimenta-se da hipocrisia (uma vez que em públicotodos simulariam aderir a moral da integridade), éinformal (por contar com a complacência daspessoas mais próximas) e traduz uma visãotrapaceira do mundo

Suas formas de agir transgridem as normas morais oficiaise são consideradas imorais do ponto de vista da moraloficial. Mas nem por isso perturbam as consciênciasdaqueles que as adotam. Ao contrário:1. Expõem a compulsão de "levar vantagem em tudo"

como uma espécie de vocação.

2. Traduzem a visão trapaceira e parasitária do mundoque, ao fim e ao cabo, manipula os outros em proveitopróprio.

A moral do oportunismo repousa no mais estreito interessepessoal, num egoísmo mesquinho que, na ânsia de obtervantagens e saciar caprichos, despe-se de quaisquerescrúpulos.

Os adeptos do oportunismo exaltam a malandragem eludibriam a boa fé dos demais, como se a malandragemnão passasse de uma lei da natureza.

No Brasil, a moral da integridade qualifica as orientaçõesda moral do oportunismo como imorais, porque transgridem

as normas que regulam a conduta dos "homens de bem".

Por sua vez, a moral do oportunismo considera tais normascomo inocentes.

Os efeitos da moral do oportunismo apontam para umasituação em que todos desconfiam de todos o tempo todo.

A maior parte dos brasileiros vive oscilando entre as duasmorais, ora inescrupulosos, ora idôneos. Ambíguos quantoàs suas culpas e inseguros quanto às suas razões.

A duplicidade moral convive contraditoriamente, na cabeçade todos nós. Basta que os interesses próprios sejamseriamente ameaçados para que não cumpram maispromessas, não se respeitem mais acordos, não se sigammais regras.

O senso comum, distingue os oportunistas costumazes,sujeitos de “mau caráter!, e os oportunistas de ocasião,pessoas em geral “honradas” e que, diante dascircunstâncias, eventualmente se desviam do maucaminho.

São os frutos imperfeitos e miscigenados dessa culturalatina, entre a pureza dos princípios e o encantamento dasconveniências, a grandeza das virtudes e a mesquinhez dafalta de escrúpulos, o desconsolo diante de tanta hipocrisiae as mil faces das dissimulações.

São peças inacabadas à procura de um autor que pudessedupurá-las ou, quem sabe, colocar coerência.

As Morais Empresariais

Moral da Parcialidade

A moral da parcialidade induz a uma ambigüidade

empresarial: numa economia competitiva, os empresáriosdistinguem os stakeholders em função de seu cacife oucapacidade de retaliar e de agregar valor.

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 A moral da parcialidade privilegia interesses restritos.

Sustenta o particularismo corporativo de caráter antiético, jáque fere os interesses gerais em prol dos interessesgrupais.

Moral da Parceria

A moral da parceria corresponde a um discurso refletido,

com adoção de padrões de conduta centrados eminteresses de médio e longo prazo. Define negócios comoacordos que beneficiam ambas as partes. O eixo destamoral, consiste em estabelecer relações de convergência ede confiança recíproca, visando a uma distribuiçãoeqüitativa dos ganhos.

Para a moral da parceria, parece mais sensato cumprircompromissos e fortalecer laços mutuamente vantajosospara poder sempre ganhar bem.

Ao contrário da fase do capitalismo oligopolista, na qual asempresas têm condições de controlar o que se produz e

definir preços de venda sem dar grande importância àsexpectativas dos clientes, na fase do capitalismocompetitivo contemporâneo as empresas não podem deixarde observar atentamente o que desejam os clientes. Estespassaram a dispor de “trunfos econômicos, políticos esimbólicos capazes de dissuadir, tanto coletiva comoindividualmente, qualquer empresa que ouse aventurar-sepelos descaminhos das práticas socialmenteirresponsáveis”.

A moral da parceria está em construção: “corresponde aum esforço penoso para desenvolver uma cidadaniaempresarial [...]. Aos poucos, e se for universalizada, aestratégia deixará de ser um diferencial para converter-se numa necessidade compartilhada”

A moral da parceria, com sua lógica da responsabilidadesocial, “funciona como intrusa na paisagem capitalista” e sópode prosperar enquanto três condições permanecerem emvigor:a) existência de um mercado concorrencial;b) mobilização incessante da sociedade civil;c) disponibilidade de instrumentos de pressão, como amídia plural, as agências de defesa do consumidor e aJustiça atuante.

Assim, conclui o autor, enquanto for possível fazer “políticapela ética”, as cúpulas empresariais “chegam a serforçadas a agir de forma socialmente responsável, mesmoquando há desacordo com suas convicções mais íntimas”.