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RESUMO
Do que se trata/problema
O presente artigo faz um estudo acerca do gesto na performance musical e seu possível potencial de otimizar a comunicação na interpretação. Para este estudo foram utilizadas três obras para trombone do compositor Estércio Marquez Cunha.
objetivo
Com respaldo em pesquisas bibliográficas e meu relato de experiência na preparação e interpretação das obras, esta pesquisa visa descrever a relação entre o gesto musical e a performance.
metodologia
Em nossa análise interpretativa encontramos vários momentos em que o gesto musical juntamente com o movimento corporal influenciam na expressividade do intérprete, interferindo diretamente no ato da performance.
conclusão
O artigo revela que este trabalho é o resultado de uma combinação da prática interpretativa, estudo bibliográfico sobre gesto musical, análise das obras interpretadas e relato da minha experiência enquanto intérprete.
4 Considerações Finais
Este trabalho é o resultado de uma combinação da prática interpretativa, estudo
bibliográfico sobre gesto musical, análise das obras interpretadas e relato da minha
experiência enquanto intérprete das obras. Minha reflexão se baseia nos ensaios das
obras as quais realizei estreia. Ensaiando-as, pude ter certeza de algo que me intrigava: a
importância do gesto musical na comunicação da obra. Ao fazer este estudo ganhei uma
consciência do cuidado que o trombonista deve ter ao interpretá-las.
Analisando as primeiras obras para trombone do compositor Estércio Marquez
Cunha, pude observar que elas exigem mais do que técnica instrumental. Elas pedem
uma postura corporal não comum em outras obras. Assim, percebi que precisava saber
mais sobre esta nova experiência, e a partir de reflexões realizadas com o compositor
chegamos a conclusão que se tratava de gestos musicais.
Minha experiência enquanto interprete dessas obras me levou a pensar sobre a
importância da analise antes da interpretação. Descobrir na partitura os elementos que
formam o todo da obra e buscar soluções técnicas que tornasse viável a sua leitura. Cada
período da música tem sua peculiaridade, cada compositor traz consigo uma identidade,
dessa forma, vale ressaltar que o interprete muitas vezes deve abrir mão de seu gosto ou
predileção musical para vivenciar a obra.
O grande intérprete é o que sabe desaparecer diante da obra, embora vivendo-a intensamente, isto é, colocando ao serviço dela todas as energias do espírito. Para conseguir tal resultado, o intérprete não pode entregar-se de corpo e alma à emoção; muito pelo contrário, deve manter-se lúcido na emoção, lembrando-se sempre de sua função de veículo – médium – na comunicação emotiva (MAGNANI, 1989, p. 65).
Estércio relata que o interprete quem é que dá vida, que realiza a obra. Mas o
interprete precisa se encontrar na obra, fazer sua leitura, estabelecer gestos, posturas e
ações, oferecidos pelo compositor na partitura, para comunicar o conteúdo implícito na
obra. Durante o mestrado tive a experiência de tocar por várias vezes as obras relatadas
neste artigo. Na disciplina Música de câmara com técnicas estendidas, ministrada pela
professora Drª Sônia Ray, pude tocar a obra Music for Trombone & Piano com a
professora de piano e música de Câmara do Instituto Federal de Goiás Drª Marina
Gonçalves. Até então, eu só havia tocado duas obras do compositor, Music for
Trombone Solo e Diálogo para voz masculina e trombone.
Realizei analise da partitura e interpretei segundo meus conhecimentos musicais,
porém, na leitura e estudo de câmara com Marina Gonçalves, minha visão das obras do
Estércio foram ampliadas, pois ela já havia interpretado várias obras do compositor
antes. Na época ela ainda estava cursando o doutorado cujo tema de sua tese é As
canções de Estércio Marquez Cunha sob o ponto de vista do pianista colaborador,
estando diretamente ligado com a proposta que estávamos trabalhando ali. Durante os
ensaios, discutíamos questões interpretativas e gestuais da obra, nestes eu realizava
anotações e fazia pequenos relatórios descrevendo o processo, sabendo que este poderia
ser aproveitado no artigo.
Simultaneamente estava estudando a obra Música para Trombone n. 4, onde
pude aproveitar muitas informações aprendidas através da experiência com Marina.
Nesta obra, tive a experiência de participar ativamente no processo de criação. Após
trabalhar leitura, pude fazer várias releituras contando com a participação do
compositor. Trabalhamos questões de interpretação gestual e musical. Na véspera da
estreia da obra, tive a oportunidade de realizar uma pré-estreia na disciplina Música
Contemporânea, com o professor Dr. Fábio Oliveira, onde este pôde me ajudar em
questões de durações métricas de determinados efeitos musicais e posicionamento da
estante de partitura para melhor visualização dos gestos musicais.
Em Música para Trombones e Percussão pude contar com o intérprete Kemuel
Kesley, este havia sido aluno do Fábio Oliveira na graduação, e já tinha experiência na
interpretação de obras contemporâneas. Sua experiência nos levou a reestilizar alguns
efeitos musicais pensando em uma melhor projeção sonora, de articulação, timbre, etc.
Alguns de nossos desafios técnicos encontrados foi realizar os movimentos gestuais
corporais e movimentação no palco, tais como: entrar tocando no palco em momentos e
pontos diferentes, trabalhando a espacialidade e possibilidades sonoras do ambiente;
movimentar para traz do gongo; movimentos de gesto musical para tocar a campana do
trombone no gongo; movimentar-se para o prato suspenso tocando com a campana do
trombone no mesmo até tirarmos o timbre desejado; sair do palco seguindo o
percussionista. Todas estas ações demandaram horas de trabalho, disciplina e
concentração, mas ao final, na estreia da obra, pudemos apresentar as obras em forma
de recital, trazendo à vida novas possibilidades para o repertório do trombone.