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Índice Ressaca Luiz Artur Juruena de Mattos Médico 44 O sagrado e o profano Severo Hryniewicz Professor de Filosofia da Faculdade João Paulo II 46 Charge Ivo Batalha Cel Av 48 Resgatando a história Mario Kallfelz Cel Av 41 CATRE: o que foi e o que devia ter sido... Maj Brig Ar Lauro Ney Menezes 32 Visões do Correio Brig Ar Orlanil Mariano Lima de Andrade 42 Editorial Final de mandato Ten Brig Ar Ivan Frota 2 CAER - Departamento Cultural Seminário: “A Amazônia e a Realidade Brasileira” A Redação 4 CAER - Departamento Cultural Curso Humanidades e Cine Asa A Redação 6 A problemática indígena no Brasil Manoel Soriano Neto Cel Inf e Estado-Maior Historiador Militar 8 Colóquios com Roraima Brig Ar Tarso Magnus da Cunha Frota 13 COMARA, 50 anos vencendo desafios e integrando o Brasil Jesse Ribeiro da Silva Ten Cel (CD-DDS) 16 Academia Brasileira de Filosofia homenageia a Ministra Ellen Gracie João Ricardo Moderno Pres. da Academia Brasileira de Filosofia 22 Anotações sobre a teoria marxista do partido Carlos Ilich Santos Azambuja Historiador 25 O Estado: retorno aos ideais da Idade Média? Manuel Cambeses Júnior Cel Av 26 O neopopulismo no contexto da América do Sul Ricardo Vélez Rodríguez Filósofo da UFJF 28 Regras de mais e princípios de menos Luís Mauro Ferreira Gomes Cel Av 30 Ciência e tecnologia Antonio Carlos de Freitas Pedrosa Cel Av 34 Planejamento de missões de ataque em diferentes “Teatros de Operações Modernos” Daniel Ferreira Manso 1º Ten Av 36

REV 265 teste - caer.org.br · A Redação 6 A problemática indígena no Brasil ... 22 Anotações sobre a teoria ... como por vergonhosa impunidade,

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Índice

RessacaLuiz Artur Juruena de MattosMédico

44 O sagrado e o profanoSevero HryniewiczProfessor de Filosofia daFaculdade João Paulo II

46 ChargeIvo BatalhaCel Av

48

Resgatando a históriaMario KallfelzCel Av

41

CATRE: o que foi e o quedevia ter sido...Maj Brig Ar Lauro Ney Menezes

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Visões do CorreioBrig Ar Orlanil Mariano Lima deAndrade

42

EditorialFinal de mandatoTen Brig Ar Ivan Frota

2 CAER - Departamento CulturalSeminário: “A Amazônia e aRealidade Brasileira”A Redação

4 CAER - Departamento CulturalCurso Humanidades e Cine AsaA Redação

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A problemática indígenano BrasilManoel Soriano NetoCel Inf e Estado-MaiorHistoriador Militar

8 Colóquios comRoraimaBrig Ar Tarso Magnusda Cunha Frota

13 COMARA, 50 anos vencendodesafios e integrando o BrasilJesse Ribeiro da SilvaTen Cel (CD-DDS)

16

Academia Brasileira deFilosofia homenageia aMinistra Ellen GracieJoão Ricardo ModernoPres. da Academia Brasileirade Filosofia

22 Anotações sobre a teoriamarxista do partidoCarlos Ilich Santos AzambujaHistoriador

25 O Estado: retorno aosideais da Idade Média?Manuel Cambeses JúniorCel Av

26

O neopopulismo no contexto daAmérica do SulRicardo Vélez RodríguezFilósofo da UFJF

28 Regras de mais eprincípios de menosLuís Mauro Ferreira GomesCel Av

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Ciência e tecnologiaAntonio Carlos de Freitas PedrosaCel Av

34 Planejamento de missões deataque em diferentes “Teatrosde Operações Modernos”Daniel Ferreira Manso1º Ten Av

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Neste momento de transmissão docargo de Presidente do Clube deAeronáutica, desejo externar o meumais profundo sentimento de orgu-lho pessoal por ter dirigido esta

prestigiosa Associação que representa, socialmente, osoficiais da Aeronáutica, em âmbito nacional.

Ao assumir essa Presidência em conjuntura adversae complicada, empenhei-me, com afinco, para tentar re-solver-lhe os grandes problemas estruturais e reorganizarseu funcionamento.

Foram 1.588 dias de dedicação exclusiva, que marca-ram os dois mandatos de minha passagem pela condu-ção dos destinos desta Associação, durante os quais ele-gi, como prioridade máxima, o resgate do seu nome, pro-curando mantê-lo no mais elevado nível, possível.

REGULARIZAÇÃO foi o compromisso administrativo ea palavra de ordem das atividades desempenhadas emtodos os níveis e setores, tais como: grandes questõesjudiciais, contratuais, fiscais, contábeis, imobiliárias, cer-tidões negativas de tributos públicos, escrituras, regis-tros, alvarás, documentos normativos etc.

Nos pronunciamentos e atitudes públicas, bem comonos honrosos trabalhos conjuntos na Comissão InterclubesMilitares, com os co-irmãos Clubes Naval e Militar, procu-rei, sempre, representar, com dignidade e altivez, os ansei-os da maioria do nosso Quadro Social, oferecendo prontacolaboração para as proposições de âmbito coletivo, do in-teresse dos Clubes, das Forças Armadas e do próprio País.

Entretanto, tudo isso é passado, e pretendo, agora,falar do presente e do futuro.

FINAL DE Julgo que uma impor tante conquista adicional de

nossa administração é a de estar entregando, hoje,neste ambiente festivo e engalanado, esta Presidên-cia, ao Ten Brig Ar Carlos de Almeida Baptista, detentorde um brilhante currículo profissional, construído pordestacada trajetória na Força Aérea, onde transitou,sempre, por impor tantes cargos administrativos e ope-racionais.

Mercê desses méritos, alcançou o Comando da Aero-náutica, após ter passado pelo Superior Tribunal Militar,do qual foi, também, Presidente.

Ressalte-se que este fato é fruto do inegável cresci-mento do prestígio do Clube, tanto na Comunidade Aero-náutica e na Militar, em geral, como na própria sociedadenacional, sobressaindo, ainda, o excelente relacionamen-to mantido com os demais Clubes Militares.

Está, pois, de parabéns o Clube de Aeronáutica, fican-do eu lisonjeado por ser substituído por tão importantepersonalidade, que, cer tamente, ampliará os resultadosalcançados, com destaque para a preservação da inte-gralidade do importante patrimônio reconquistado.

Diante desse quadro de otimismo e entusiasmo, tor-na-se opor tuno exor tarmos os colegas inativos e ati-vos, dos Cadetes e Aspirantes aos Oficiais-Generais,ainda não sócios, a que venham par ticipar conosco,como novos membros da Associação que os represen-ta em todo o Brasil.

Nos dias atuais, nenhuma microssociedade logrará so-breviver se não se organizar em um grupo coeso e homo-gêneo, suficientemente for te e influente, para emprestar-lhe presença conseqüente na vida do País.

Ten Brig Ar Ivan FrotaEDITORIAL Discurso de

despedidaproferido pelo

Presidente do CAERque se retira

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MANDATOÉ fundamental, pois, que os Associados não encarem

o Clube somente como uma entidade recreativa, mas sim,e muito mais, como representativa de sua classe e im-prescindível para lhes dar espaço e voz no contexto dasociedade maior.

Os brasileiros enfrentam, hoje, o desrespeito pelas leise a anemia da autoridade, com perigosos indícios de de-sagregação da cidadania.

Vivemos num País onde deveriam o LEGISLATIVO fa-zer e fiscalizar a Lei; o JUDICIÁRIO dizer o que é a Lei; e oEXECUTIVO cumpri-la, mas, na realidade, o que vemos éum EXECUTIVO que faz sua própria Lei e descumpre ou-tras; um LEGISLATIVO que nem a faz e nem fiscaliza; eum JUDICIÁRIO que tenta dizer o que é a Lei, mas não temforça para fazê-la cumprida.

Esse é o caos republicano vigente, onde o ESTADO deDIREITO é mera figura de retórica.

Paradoxalmente, as Forças Armadas, escolhidascomo a entidade mais confiável do País, em recente pes-quisa de opinião, não têm conseguido transformar essacredibilidade em influência política que sirva para prote-gê-las de injustas críticas à instituição, por deslizes demembros isolados.

Por outro lado, a referida primazia de confiabilidade,concedida aos militares pela vontade popular espontânea,atribui-lhes a inelutável responsabilidade de guardiõescomplemetares do próprio Estado de Direito no País, seri-amente desgastado pelos desmandos e ilegalidades, bemcomo por vergonhosa impunidade, notoriamente, atribuí-dos aos escalões de mais elevado nível.

Daí, a imprescindível participação do corpo social da

Família Militar para assumir posições públicas que nãopodem ser adotadas pelo estamento fardado, por forçados regulamentos.

O Brasil é um dos países mais bem aquinhoados pelanatureza. Nada lhe falta, sejam recursos naturais estraté-gicos, neles incluídas excepcionais riquezas minerais eespantosa biodiversidade, sejam imensas áreas agricul-turáveis, envolvidas por inigualáveis condições climáticase infindáveis reservas aqüíferas.

Assim, é grande a cobiça internacional e são muitasas ameaças de desagregação nacional, quer pela ausên-cia de autoridade, no campo moral, quer pela omissãofrente aos riscos de perda de parcelas estratégicas doterritório pátrio, a duras penas conquistadas por nossosantepassados.

Portanto, os Clubes Militares, além de seu papel bási-co de congregadores da Família Militar, mais do que nun-ca, isoladamente ou em conjunto, precisam, também, co-laborar com a sociedade, na sua luta contra a imoralidadee a amoralidade públicas, para garantia dos seus direitosindividuais e coletivos, para defesa do patrimônio públicoe para a preservação da soberania nacional.

Aqui, agora, ao final dessa caminhada, sem dúvida,um dos maiores desafios da minha vida, depois de alcan-çar sua integral recuperação e lograr consolidar-lhe a ple-na personalidade jurídica, restituindo-lhe a fé em si mes-mo, tenho o subido orgulho de entregar o nosso Clube deAeronáutica de volta ao seu Quadro Social, com o nome eo patrimônio preservados e confiante para retomar a ca-minhada gloriosa no rumo do aprimoramento de sua im-portantíssima destinação �

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Departamento Cultural

SEMINÁRIOA Amazônia

e a Realidade Brasileira

Departamento Cultural

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Há dois anos, oD e p a r t a m e n t oCultural constituiuum seleto grupode estudos com-

posto de civis e militares, o qual vem sereunindo para discorrer sobre questõesrelacionadas à Soberania Nacional e aoPensamento Político brasileiro.

Para concretizar este pensamento nomeio da sociedade nacional foi idealiza-da a realização de Seminários, sendo oprimeiro deles em maio de 2007, com otema de Reforma Política e Soberania

Nacional e com a presença do SenadorJefferson Pérez.

No ano seguinte, no dia 29 de maiode 2008, o segundo Seminário – A Ama-

zônia e a Realidade Brasileira – reuniupersonalidades da Cultura, da Política edos círculos militares do Brasil. Este, con-tou com três palestrantes: o Governadorde Roraima; um eminente membro da Aca-demia Brasileira de Letras; e o Presidenteda Academia Brasileira de Filosofia.

O evento foi presidido pelo Ten BrigAr Ivan Frota, Presidente do Clube deAeronáutica, que, preocupado com orisco da “Internacionalização da Ama-zônia”, considera imprescindível a re-alização do debate com todos os seg-mentos da sociedade, quanto aos ru-mos do desenvolvimento sustentável

daquela área, a qual se constitui emmais de 60% do território do Brasil.

O Governador de Roraima, José deAnchieta Júnior, manifestou sua preocu-pação com as demarcações indiscrimi-nadas, preconizando, também, a rever-são de algumas já existentes, tendo, poriniciativa própria, instruído uma Ação jun-to ao STF contra a demarcação “contí-nua” na Raposa Serra do Sol, a qual, sobsua perspectiva e profundo conhecimen-to, deveria ter sido feita em “ilhas”, nãosó para que não haja risco à SoberaniaNacional, bem como não venha a preju-dicar o desenvolvimento sustentável doestado que governa. Outras preocupa-ções do seu Governo referiam-se à ex-cessiva presença de ONGs e do risco naatual divisão de grupos indígenas porideologias religiosas.

O Sociólogo e membro da AcademiaBrasileira de Letras, Hélio Jaguaribe, aler-tou o País sobre a insensata formulaçãoda Política Indigenista, a qual se caracte-riza por estenderem-se, no seu texto, de-marcações de reservas até ao limite denossas fronteiras, sem que se leve emconta os 150 km de recuo previstos nasua interiorização. Lembrou que foi oGeneral Rondon, no início do século XXquem, originariamente, formulou a polí-tica correta. Não o “Jardim Antropológi-co” de hoje, orientado por etnólogos.

Sob o lema “Morrer se necessário,matar, nunca”, Rondon, ele mesmo des-cendente de índio, partiu do princípio deque, como brasileiro nativo, o indígenadeveria ser induzido, pacificamente, a seincorporar à cidadania, recebendo con-veniente educação e assistência.

O Doutor João Ricardo Moderno, Pre-sidente da Academia Brasileira de Filoso-fia, abordou, com propriedade consubs-tanciada, a Declaração da Organizaçãodas Nações Unidas sobre os Direitos dosPovos Indígenas, a qual, embora tenhaobtido a assinatura do nosso País no Pro-tocolo, referendando seu texto, foi alvoda abstinência de outros países como osEUA, o Canadá, a Austrália e a Nova Ze-lândia, em cujos territórios habitam indí-genas, porque a Declaração da ONU so-bre os direitos dos povos indígenas en-trega o País aos interesses estrangeiros,sob o pretexto da defesa dos direitos hu-manos. Acentuou o eminente DoutorModerno que as Forças Armadas Brasi-leiras têm uma longa tradição de amor aoindígena e jamais permitiram condená-veis práticas de genocídio.

O Seminário do dia 29 de maio con-tou com a presença de um público recor-de, com cerca de 500 participantes, in-cluindo-se profissionais de vários veícu-los de comunicação da imprensa e damídia eletrônica nacional �

Durante a palestra, da esquerda para adireita: João Ricardo Moderno, HélioJaguaribe e José de Anchieta Júnior

Ten Brig Ar IvanFrota procedeà abertura doSeminário

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Encerramento do

nova iniciativa do DepartamentoCultural do nosso Clube tem atra-

ído, neste período de 14 de maio a 24de junho, um público cada vez maiorpara as sessões das terças-feiras, nohorário das 14h às 16h. A reinaugu-ração será no dia 5 de agosto.

Por enquanto as apresentaçõestêm sido pautadas em cenários deconflitos. Há intervenções intermedi-árias explicativas do Major MoreiraNeto, cuja finalidade não é apenas ade demonstrar que tais situações têmacelerado a indústria e a tecnologia,que, durante os terríveis eventos, es-pelham momentos dramáticos e inu-manos, mas também, para destacarque desenvolvem a Ciência para finspacíficos e para se constituírem ensi-namentos humanitários.

Servem, ainda, de alerta para des-pertar a verdadeira brasilidade em nos-so País, sob o exemplo de outros po-vos do Planeta, porque nenhuma Na-ção está livre dos riscos inerentes aambições alienígenas.

Para futuro, estão programadasexibições sobre arte e a atuação do 1ºGrupo de Aviação de Caça na Itália.

Já foram exibidas as seguintes obrasclássicas e os documentários: Batalhade Midway (14/05); A Águia Pousou(20/05); Memphis Belle (27/05); ABatalha da Praia (03/06); Cartas deTókio (10/06); Torá Torá Torá (17/06);Batalha das Ardenas (24/06) �

o dia 24 de junho, foi presididopelo Ten Brig Ar Octávio Júlio MoreiraLima, Diretor do INCAER, na Sala deConvenções do Clube de Aeronáutica,o evento de Encerramento do Curso deHumanidades promovido pelo Depar-tamento Cultural do Clube.

Este Curso foi adaptado para nos-sa regionalidade contemporânea,após experimentação de duas entida-des de ensino estrangeiras por duasdécadas. Tomou por base os cursosanálogos americanos e ingleses (St.John´s College – EUA e Open University –Inglaterra), com roteiros aptos a facilitara leitura relacionada às obras científicase literárias que o fundamentam. Con-tou com as seguintes disciplinas e res-pectivos docentes:

Cultura Ocidental: Francisco Martinsde Souza; Filosofia: João Ricardo Mo-derno; Ciência Política: Umber to deCampos Carvalho Netto; Moral: TarsoMagnus da Cunha Frota; Filosofia da Re-ligião: Marcela Maria; Ciências: Pedro IvoSeixas; Artes Plásticas: Araken Hipólitoda Costa; Cinema: Geraldo Edson de An-drade; Música: Ubirajara Carvalho daCruz e Ópera: Fernando Bicudo.

A Mesa Diretora estava compostapelo Dr. João Ricardo Moderno, Presi-

Encerramento do

dente da Academia Brasileira de Filo-sofia; pelo Ten Brig Ar Carlos de Al-meida Baptista, ex-Comandante da Ae-ronáutica; ao centro, o Ten Brig Ar Mo-reira Lima; o Ten Brig Ar Ivan Moacyrda Frota, Presidente do CAER; e DomAntônio Augusto, Representante Ecle-siástico.

Coube aos membros da Mesa a en-trega dos Certificados aos 38 alunos doCorpo Discente, tendo atuado como Ora-dor dessa Primeira Turma de Forman-dos o Cel Int David de Andrade Teixeira.

Além da distribuição do PIN, sím-bolo criado em alusão à defesa da So-berania Nacional, também foram entre-gues carteiras aos 19 pesquisadores

Destaque do emérito QuadroDocente do Curso de Humanidades

Mesa diretora do evento

N

Cine ASANovidade em

termos de cinemaComentários sobre detalhes,

com participação coletiva

A

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Curso deHumanidades

or intermédio da “Revista Aero-náutica”, veículo de comunicação

oficial do Clube de Aeronáutica, pres-tamos as homenagens póstumas aoCoronel Intendente MARCO ANTÔNIOPEREIRA NOGUEIRA, falecido no diaoito de abril de 2008.Possuidor de rara inteligência e de ir-retocável probidade durante toda a suacarreira militar e, também, na sua vidapessoal e familiar, tinha extrema facili-dade de angariar a simpatia de todasas pessoas que dele se aproximassemou mesmo daqueles que o viam pelaprimeira vez.Na Ativa, o Coronel Nogueira asses-sorou, chefiou e comandou diversifi-cadas Organizações de Intendência naForça Aérea Brasileira (FAB), culmi-nando com o cargo de Diretor do De-pósito Central de Intendência (DCI).Possuía todos os cursos da carreira,inclusive o da Escola Superior de Guer-ra (ESG). Ao passar para a Reserva,veio exercer o cargo de Diretor do De-partamento Financeiro do Clube deAeronáutica com eficiência, falecen-do vítima de problemas cardíacos, emuma lamentável madrugada, quandoainda no exercício daquele cargo e dei-xando uma lacuna no preito de amiza-de dos seus colegas de setor, bemcomo nos demais setores e na Presi-dência do CAER.A missa de sétimo dia da sua perdaem nosso meio foi celebrada no SalãoMarechal-do-Ar Henrique Fleiuss,desta Instituição, pelo Capelão CelCampos do Terceiro Comando AéreoRegional (III COMAR) �

Curso deHumanidades

dos Grupos de Estudo e, ainda, pro-porcionados brindes aos 10 mestres,em sinal de gratidão pelo espontâneoapoio ao longo do Curso.

Ao final, o Brigadeiro Frota agra-deceu ao Professor Dr. Francisco Mar-

tins de Souza, da Academia Brasileirade Filosofia, por ter sido sempre umapessoa presente, provavelmente umdos primeiros Mestres nesta Instituição,outorgando-lhe um cer tificado de Ami-go do Clube de Aeronáutica �

Apresentação dos incansáveis componentes dos Grupos de Estudo

P

Diretor Financeirodo CAER

Homenagem

Cel MarcoAntônio

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ConsideraçõesPreliminares

A Constituição Federal de 1988, emseu Capítulo VIII – Dos Índios – nos ar ti-gos 231 e seus parágrafos, e 232, esta-tui normas a respeito do assunto. O “ca-put” do precitado artigo 231 reza, “ip-sis verbis”: “São reconhecidos aos ín-dios sua organização social, costumes,línguas, crenças e tradições, e os direi-tos originários sobre as terras que tra-dicionalmente ocupam, competindo àUnião demarcá-las, proteger e fazer res-peitar todos os seus bens”. É precisoque se atente para a expressão “os di-reitos originários sobre as terras que tra-dicionalmente ocupam”, ou seja, ocu-

Manoel Soriano NetoCel Inf e Estado-MaiorHistoriador [email protected]

pavam, em 5 de outubro de 1988, quan-do da promulgação de nossa Lei Mag-na. Assim, os índios brasileiros só teri-am direito às terras que ocupassem na-quela data, como assinalou, com acurá-cia, o eminente jurista Ives Gandra. En-tretanto, por força de uma muito com-placente, liberal e abusiva legislação in-fraconstitucional (Decreto nº 1.775, de8 de janeiro de 1996, que dispõe sobrea demarcação de terras indígenas) combase em laudos antropológicos da Fun-dação Nacional do Índio (FUNAI), elespassaram também a ter direito às terrasque dispunham no passado longínquo(“imemoriais”), de dificílima precisão,evidentemente. Por isso, os indígenas

são donos, hoje, de 13% do territórionacional, discriminando-se, de formainjusta, o restante da população brasi-leira. A propósito, aduza-se, por ilustra-ção, que está em curso um processosemelhante, “mutatis mutandis”, deconcessão de terras a comunidades qui-lombolas (para não falar nas famigera-das cotas raciais para ingresso de sedi-zentes negros ou “afro-descendentes”,nas Universidades), processo esse quetambém vem sofrendo acerbas críticasde acendrados patriotas que não dese-jam ver o amado Brasil em desagrega-ção social e, mais ainda, fracionado emsua inigualável integridade territorial,herdada de nossos avoengos lusitanos.

A Problemática A Problemática

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Em decorrência do anteriormente ex-posto, foram demarcadas, em área contí-nua e em faixa de fronteira (!), descomu-nais Reservas Indígenas, como a Iano-mâmi (uma etnia “inventada” por antro-pólogos, como nos deu conta o saudosoCoronel Carlos Alberto Menna Barreto,em seu livro “A Farsa Ianomâmi”), e aRaposa Serra do Sol, nas “orelhas” ou“chifres” do estado de Roraima, corres-pondendo a quase metade de seu espa-ço territorial. Isso equivale a uma verda-deira “reterritorialização” do mais joveme pobre estado brasileiro, que se inviabi-lizou como ente autônomo da Federação,só e tão-somente só para a satisfação deinteresses escusos da ONU e de nações

hegemônicas, igualmente com espequeem controvertidos argumentos, repise-se, de antropólogos da FUNAI, de que ossilvícolas necessitam “perambular”, parasobreviver...

Traçadas essas observações iniciais,para melhor entendimento do tema, pas-semos a analisá-lo em maiores detalhes.

Aspectos Históricosde Relevância

a) A causa indígena remonta à nossaproto-história, devendo-se fazer mençãoà Igreja Católica, particularmente ao pio-neirismo dos jesuítas da Companhia deJesus, que, desde o século XVI, deramproteção aos aborígines brasileiros, tudo

fazendo para livrá-los da escravidão e daperseguição praticada por não-índios.Extraordinária nesse sentido foi a abne-gada atuação dos padres José de Anchi-eta e Antônio Vieira. Digno de nota, igual-mente, foi o processo de evangelizaçãodesenvolvido por jesuítas, franciscanos,salesianos, dominicanos, capuchinhos eoutros, que pode ser considerado comoa gênese da integração dos silvícolas àcivilização trazida pelos portugueses, in-tegração essa que correntes neo-huma-nistas (tendo à frente a FUNAI, o CIMI –Conselho Indigenista Missionário, ONG’snacionais e estrangeiras e diversas ou-tras Entidades) vêm duramente critican-do. A causa em comento, hoje umbilical-

Indígena no Brasil Indígena no Brasil

Zacharias WagenerHomem e Mulher TupiThierbach1634-1641

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mente ligada à ambientalista, foi percuci-entemente estudada por eminentes bra-sileiros e estrangeiros, por meio dos maisdiversos vieses, como o Marquês dePombal, José Bonifácio, um dos maio-res adeptos da tese de integração dosíndios ao todo nacional; o escritor Joséde Alencar e os poetas Gonçalves Dias eBasílio da Gama, inspiradores do “indi-genismo”, uma corrente da literaturabrasileira; os escritores Gilberto Freyre eAntônio Calado; os ser tanistas irmãosVillas Boas; o etnólogo Darci Ribeiro; omédico Noel Nutels; os cientistas e pen-sadores Lévi-Strauss, Curt Unkel e VonLhering, e tantos outros. Entretanto, omais gigante deles foi o insigne Mare-chal Cândido Mariano da Silva Rondon,Chefe do Serviço de Proteção aos Índi-os (SPI). Ele labutou com afinco naque-le órgão, afirmando, desde sempre, queo fazia “para a realização do sonho deJosé Bonifácio”, na formulação de umapolítica cujo escopo era “a incorpora-ção definitiva e espontânea do índio àcivilização brasileira” (o atual presiden-te da FUNAI, demonstrando um total des-conhecimento histórico, para dizer o mí-nimo, vem distorcendo o pensamentodo ínclito Marechal, que sempre lutou,com muito afã, pela aculturação dos ín-dios!). O seu lema: “Morrer se precisofor; matar, nunca!”

b) Como hoje se evidencia o sonhode José Bonifácio e de Rondon não foiconcretizado, mercê do ideário neolibe-ral, internacionalista e entreguista dosresponsáveis pela condução da PolíticaIndigenista brasileira, que visa, de for-ma sectária, apartar as tribos, da comu-nidade nacional. Tal Política é, portan-to, “lamentável para não dizer caótica”(como afirmou, recentemente, o Gene-ral Heleno, Comandante Militar da Ama-zônia), bastando observar-se um únicoexemplo: os indígenas de Roraima cons-tituem somente 9% da população do es-tado e ocupam quase 50% de seu terri-tório, em duas colossais Reservas quefazem fronteira com países vizinhos,como já assinalamos, e cujo subsolo ériquíssimo em minerais estratégicos, deterceira geração. Acrescente-se que, emtodo o Brasil, onde são apenas uma par-cela de 0,2% da população, os índiosestão estabelecidos em uma área total,que tende a se ampliar, de um milhão e114.000 quilômetros quadrados, corres-pondente a 13% de toda a extensão ter-ritorial brasileira. Algo, pois, está erradoe urge que seja consertado o quantoantes, para evitarmos surpresas funes-tas à Soberania Nacional, como foi a re-cente Declaração Universal dos Direitosdos Povos Indígenas, aprovada pelaONU, com o absurdo voto do Brasil.

O País Traídoa) A implosão da brasilidadeO nosso País é fruto do “luso-tropi-

calismo”, como nos ensinou Gilber toFreyre. A consolidação da nacionalidadebrasileira se fez, basicamente, por umaintensa miscigenação e pela notável uni-dade lingüística e territorial, processo quefoi consubstanciado com a chegada daCorte portuguesa, em 1808, há duzen-tos anos, tudo redundando na invejávelUnidade Nacional deste País-Continente.Diga-se que o Marquês de Pombal, em1759, não mais permitiu que o País tives-se dois idiomas, instituindo o Portuguêscomo língua oficial do Brasil, eis que o“nheengatu”, língua indígena tupi, co-nhecida como “língua geral”, cresciaentre a população, chegando a superar oidioma lusitano. Em suma, a nossa naci-onalidade é de extração essencialmenteportuguesa. Ela não provém das malo-cas indígenas, nem das cubatas africa-nas ou de outras etnias, que, inegavel-mente, também muito contribuíram paratal. É disto que nos devemos ufanar, má-xime no presente ano, quando celebra-mos o duocentenário da vinda de DomJoão para o Brasil.

Desafor tunadamente, entretanto,maus brasileiros desejam implodir essebelo legado lusitano, na tentativa (que vemobtendo êxito, consigne-se) de conce-

Índios Kayapós

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der aos diversos grupos indígenas, um“status” totalmente diferenciado do res-tante da população, como se não fôsse-mos uma só Nação e um só Povo. Assim,deturpam, propositadamente, o conceitosemântico de “Nação”, a fim de estendê-lo aos aborígines, com o intuito de con-ceder-lhes autodeterminação e soberaniaterritorial em relação ao Estado brasileiro,em frontal testilha com os artigos 1º e 4°da CF/88, o que pode redundar no fraci-onamento da unidade territorial e lingüís-tica, alcançadas com ingentes sacrifíciospor nossos ancestrais, ao longo de pou-co mais de cinco séculos. É disto quepassaremos a tratar.

b) A Declaração Universal dos Direi-tos dos Povos Indígenas

– Como se não bastasse a aprova-ção do Decreto nº 5.051/2004, que pro-mulgou a lesiva e inconstitucional Con-venção 169 da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT), com relação aos“povos indígenas e tribais”, na qual érepetida, exaustivamente, a expressão“povos indígenas” (que é uma portaaberta para a criação de enclaves ultra-nacionais, com vistas à internacionali-zação da Amazônia), a ONU aprovou, em13 de setembro de 2007, com o voto doBrasil, a Declaração em epígrafe, que be-neficiará 370 milhões de indígenas emtodo o mundo.

– O grande objetivo deste Protocolointernacional é o enfraquecimento dosEstados Nacionais, crime de lesa-pátria,com a intenção de secioná-los, por meiode ações independentistas de etnias tri-bais, criando-se Estados dentro de Esta-dos. Aduza-se que já existem estudos nosentido de serem instaladas, em algumasaldeias das terras indígenas brasileiras,zonas francas de livre-comércio com oexterior, operadas pelos índios, com vis-tas à exploração de minérios e da fauna eflora da biodiversidade amazônica; tudoisso faz parte do que hoje se denominade “guerra ou estratégia de quarta gera-ção”, ou seja, quando um Estado Sobe-rano sofre uma “invasão branca”, porparte de entidades e organizações, nor-malmente a serviço de potências globais,como as ONGs – predadoras e espiãs.Elas são como “tropas de ocupação”,sucedâneas de adestradas e bem equi-padas tropas de um Exército invasor, como desiderato de impedir, no caso, o de-senvolvimento e o usufruto, pelos brasi-leiros, da Hiléia Amazônica, visando à suainternacionalização. Os pregoeiros des-ses despautérios, que vêm brandindo,iterativamente, argumentos favoráveis àcausa ambientalista-indigenista, tão emmoda, hodiernamente, citam exemplos develhos Estados como a Espanha (ondeexistem províncias com elevado grau de

autonomia), como o Vaticano, na Itália,vários Principados etc., que podem con-viver com as populações das Naçõeshospedeiras. Para eles, nada há de novoou de anormal, se forem criadas “NaçõesIndígenas” no Brasil, pois acreditam novelho mito de que “o bom selvagem deveser segregado dos males do mundo”,como preleciona uma malsinada antro-pologia de cariz ideológico e antipatrióti-co, empalmada pela FUNAI, pela CNBB,pelo CIMI, pelo Ministério da Justiça, “etcaterva”.

– Tudo começou no ano de 1993,declarado pela ONU, como “Ano Interna-cional dos Povos Indígenas”, quando foielaborada uma minuta sobre os Direitosdesses Povos, origem da dita Declaração,à qual o Brasil sempre se opôs. Porém,de uma hora para outra, de forma estupe-faciente, votou a favor da mesma, que foiaprovada por 143 países, com 11 abs-tenções e apenas quatro votos contrári-os: os do Canadá, dos Estados Unidos,da Nova Zelândia e da Austrália.

– A Declaração é composta de seisPartes, com 15 parágrafos “preambula-res” e 30 “operativos”, cujos termos in-tegrais poderão ser compulsados no por-tal da ONU: www.onu-brasil.org.br.

Mas atentemos somente para três dosditames insculpidos nessa infeliz Reso-lução: “Os indígenas terão livres estru-

Vila indígena. Suaris, Pará

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turas políticas, econômicas e sociais,especialmente seus direitos a terras,territórios e recursos”. Observação:assim, ficam criados Estados dentro deEstados Nacionais e/ou estabelecidosenclaves no País considerado, onde osíndios poderão reivindicar a indepen-dência.

“Os indígenas têm direito à auto-determinação, de acordo com a lei in-ternacional”. Observação: por estemandamento, os silvícolas é que arbi-trarão, autônoma e livremente, as suasrelações com os Estados nos quais ha-bitam.

“O Estado deve reconhecer a ne-cessidade de desmilitarização das ter-ras e territórios dos povos indígenas”.Observação: eis uma cláusula de gra-víssima implicação para as FFAA, queterão, “verbi gratia”, de desativar e re-tirar das terras indígenas (TI), os Pelo-tões Especiais de Fronteira (PEF) e asBases Aéreas.

E saliente-se, por muito relevante,que a precitada Declaração, se aprova-da pelo Congresso, nos termos abaixotranscritos, incorporar-se-á à Constitui-ção, “ex vi” da Emenda Constitucionalnº 45/2004, já recepcionada pela CF/88,em seu parágrafo 3º, do ar tigo 5°, coma seguinte dicção: “Os Tratados e Con-venções Internacionais sobre direitoshumanos, que forem aprovados emcada Casa do Congresso Nacional, emdois turnos, por três quartos de seusmembros, serão equivalentes às emen-das constitucionais”. Ora, uma legis-lação recém-incorporada à Lei Maior,que dá ensejo à fragmentação de nos-so território e à luta fratricida, afigura-se falsa, deletéria e ilegal, e se conflita,relembre-se, com os mandamentos dosartigos 1° e 4° da mesma Car ta Magna.

– Muito mais poderia ser dito acer-ca das esquipáticas regras da Declara-ção, a qual dará ensejo, cer tamente, areivindicações territoriais que poderãoamputar partes da Amazônia, como bemobservou o eminente Professor Dr.

Marcos Coimbra, aler tando que podeocorrer no Brasil um “processo de bal-canização”, com a eclosão de movimen-tos separatistas indígenas, mercê dafalta de visão (proposital?) estratégicadas autoridades governamentais e daatual Política Externa brasileira. É váli-do, pois, concluir-se, que vários “Ko-sovos” poderão surgir na Amazônia bra-sileira, nas reservas indígenas de Rora-ima e em outras áreas, como por exem-plo, na “Cabeça do Cachorro”, na re-gião dos “Seis Lagos”, onde se encon-tra a maior jazida de nióbio do mundo –mineral estratégico da maior importân-cia para a tecnologia aeroespacial.

O País foi traído, portanto, de for-ma torpe e covarde...

Conclusãoa) As despretensiosas considera-

ções expendidas no presente trabalhopossuem o viso de tão-somente trazeralgumas e poucas achegas a um com-plexo e amplo problema que se consti-tui, hoje, na maior ameaça à SoberaniaNacional – o primeiro dos “Fundamen-tos” da Constituição Brasileira, confor-me o inciso I, do artigo 1º, de nossa“Lex Legum”.

b) Existem, hoje, cerca de 700.000índios no Brasil (há quem aumente bas-tante esse número), cuja população vemcrescendo a 3,6% ao ano, bem acimada média anual do restante do País, queé de 1,3%. A população índia, cujamaior concentração se encontra naAmazônia, está distribuída em mais de200 tribos, muitas das quais poderãotransformar-se em “Nações”, com oapoio da ONU e de países centrais, casoo Congresso venha a aceitar a catastró-fica Declaração, aprovada pela Organi-zação das Nações Unidas (com o votoantipatriótico do Brasil), comentada, deforma perfunctória e incompleta, linhasatrás.

c) Mas a situação pode ainda ser re-vertida, caso os Ministros do STF e osCongressistas tenham um mínimo de pa-

triotismo e se mirem em edificantesexemplos da História pátria. A propósi-to, em 1890, Quintino Bocaiúva, Minis-tro de Estado dos Negócios Estrangei-ros, numa interpretação canhestra defraternidade continental, propôs a ces-são à Argentina, do território a oeste dosatuais estados do Paraná e de Santa Ca-tarina, conhecido como de “Palmas” oudas “Missões”, o que estrangularia oespaço territorial do Rio Grande do Sul.A mãe de Quintino era argentina e, natu-ralmente, o sentimento filial pesou emsua desastrada iniciativa, a qual, pas-memos (!), foi aprovada pelo Ministériocom a exceção do voto de BenjaminConstant. Entretanto, foi for tíssimo oclamor popular e a infeliz idéia acabousendo derrotada na Câmara dos Depu-tados, de forma rotunda e acachapante,por 142 votos contra apenas cinco. Pos-teriormente, o ilustre Barão do Rio Bran-co, com a sua proverbial competência,defendeu a nossa causa, obtendo bri-lhante vitória diplomática (diga-se queQuintino Bocaiúva viria, em corajosa epública autocrítica, a se arrepender daproposta que apresentara).

d) Destarte, é preciso que pugnemos,com denodo constante, a fim de que oSupremo Tribunal Federal reveja a demar-cação das inconcebíveis e gigantescasreservas indígenas de Roraima, e que oCongresso Nacional, espelhando-se noParlamento de 1890, rejeite a calamitosaDeclaração da ONU; que permaneçamosem verdadeiro apostolado cívico, comoincansáveis militantes/ativistas de umacruzada em prol da Soberania Nacional(princípio basilar que sobrepaira às Cons-tituições de todos os Estados Nacionais),usando os meios de que dispomos –como a internet, para que não sejam con-sumadas novas traições ao Brasil.

A Unidade Nacional e o bendito soloda Pátria brasileira, ambos herdados denossos avós, devem ser legados, comoos recebemos, a nossos filhos a aos fi-lhos de nossos filhos!

BRASIL ACIMA DE TUDO! SELVA!��

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ste paraíso é uma jóia incrustada na Hiléia, onde a natu-reza na sua multiformidade nos presenteou com a exu-berância da selva, no contínuo florestal dos limites fron-

teiriços do Amazonas (estado) com o novel Território, que seestende das margens do Rio Branco, curso de água que cortaa região e facilitou o povoamento nos séculos XVIII e XIX, rotada busca das lendárias riquezas sonhadas pelos homens deentão, os quais contrariando a corrente que seguia na dire-ção da grande bacia, rumavam para os confins das suaspróprias ilusões.

Olhando-se este belo tapete do alto, observa-se que aselva lentamente vai se transformando em savana, malhaverde esta que se estende até aos sopés de elevações,que, para orgulho nacional, nos conduzem a platôs e aalguns picos onde majestosamente se situa o pontomais alto do Brasil: o Pico da Neblina!

Esse complexo montanhoso faz fronteira com aVenezuela e a Guiana e tem, no seu bojo, a RaposaSerra do Sol, mui questionada nos dias que correm,com problemas preocupantes no campo da Segu-rança Nacional.

Há quem afirme que nos elevados de Rorai-ma se encontra, também, o ponto norte “maisextremo do Brasil”, fato este, que, caso ve-nha a se confirmar, dará a Roraima maisum título de grandiosidade ao País.

Brig Ar Tarso Magnus da Cunha FrotaPesquisador nº 6 do Grupo de Estudos do [email protected]

Sim, este pedaço da nos-sa Pátria nos leva a recorda-ções inusitadas, quando nosanos “cinqüenta” começamosa voar nas Linhas do CorreioAéreo Nacional (CAN), no inícioda nossa vida profissional.

Lembro com satisfação docircuito CAN em Roraima, à épo-ca, que, decolando da capital BoaVista, seguia para Surumu, Nor-mandia e Caracaraí, campos depouso do interesse governamentalque possibilitavam o atendimento e

a integração do então Território. Faz-

“Roraima não é só Amazônia,Roraima é Brasil”

E

COLÓQUIOSCOM RORAIMA

COLÓQUIOSCOM RORAIMA

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se interessante mencionar que essas lo-calidades já tinham vida própria, com umaeconomia tipicamente pecuarista e de so-brevivência, e o CAN, no cumprimento dasua missão, atendia os interesses da ad-ministração territorial, transportando car-gas, servidores, índios, pessoal ligado àSaúde, doentes e políticos da área.

Havia uma paz inequívoca na área, semdificuldades com as etnias que se distri-buíam pela região. Recordo com satisfa-ção a figura de “um representante territo-rial”, que se associava aos pilotos como“tripulante extra”, na realização do circui-to aéreo na região, com obrigações espe-cíficas, administrando passageiros e car-gas nos diversos destinos.

Há de se referenciar estas rotinas deentão, plenas de tranqüilidade, bem diver-sas das vicissitudes que assolam a áreanos dias presentes. Ocorre que passadosos anos, a vida militar nos levou à posiçãode Comandante da Base Aérea de Belém(1978-1979), possibilitando assim umconvívio mais estreito com a nossa Hiléia.A visão que trazia das grandezas da regiãoforam se multiplicando, a ponto de criarespiritualmente uma alma AMAZÔNIDA,fato este que me levou a entender o quantoa Força Aérea poderia com seu espíritodesbravador e de integração fazer queaquele pedaço de Brasil encontrasse osseus verdadeiros caminhos. As aeronavesdo CAN e da Base Aérea de Belém, com amalha aérea posta em prática cobriam aplenitude da Amazônia brasileira. Em facedas disponibilidades do CAN, o apoio àsInstituições Federais, Estaduais, Munici-pais, e mesmo as Missões Religiosas semultiplicaram e passaram a exercer umpapel relevante no atendimento ao mais co-mezinho interesse das populações. Mis-sões integradas da FAB, conhecidas pelasigla ACISO (assistência social etc.), che-gavam com médicos, dentistas e orienta-dores, e, na sua atuação, levavam e deixa-vam um pouco de Brasil.

O Exército, com os seus Pelotões dis-tribuídos ao longo das fronteiras, era amarca da soberania, levando aos fronteiri-

ços a presença da Pátria, apoiado regular-mente na sua logística pela FAB, sempreao lado da Força Terrestre, herdeira do es-pírito desbravador do grande Rondon.Como corolário das presentes considera-ções, sinto-me obrigado a recordar as ope-rações aéreas do 1º ETA, da Base Aéreasob meu comando, onde os saudososCatalina, C-47 e Bandeirante, cumprindonormas estatuídas pelo Comando da Pri-meira Zona Aérea, alcançavam os mais re-motos rincões, na nobre faina de fazer che-gar aos Amazônidas a presença do Brasil.

Como corolário destas considerações,segue a nominata das Linhas do CAN, queem 1978 atendiam a região do Rio Bran-co, ou seja, o Território de Roraima: Cara-carai, Boa Vista, Bonfim, Normandia, Su-rumu, Tepequém, Maloca da Raposa, Ui-ramutã, Serra do Sol, Suapi, Marco BV8,hoje Paracaima, e Surucucu.

Fica claro ao olhar mais arguto a evo-lução do Território, que, auxiliado pelasasas da Força Aérea, conseguiu um des-bravamento na sua hinterlândia capaz deatender ao fluxo desenvolvimentista de hámuito ambicionado. Por dever de gratidãovamos deixar registrado nos presentes co-mentários a atuação da COMARA, a co-nhecida Comissão de Aeroportos da Re-gião Amazônica, responsável pelas pistasde pouso do interesse regional, que, comsacrifício e competência, conseguiu nassuas atividades em período relativamentecurto, colocar à disposição dos Amazôni-das 67 campos de pouso.

O que acabamos de relatar evidenciaas atividades da Força Aérea Brasileira(FAB) na região, motivo de orgulho nacio-nal, plenamente reconhecido, como ocor-reu em recente presença do Governadorde Roraima no Clube de Aeronáutica, quan-do em Seminário de grande repercussãonacional, agradeceu de público o muitoque o Território deve à FAB.

Posto assim, e envolvido pela magiada sinergia da natureza da Hiléia, bordadapelos matizes verdes da floresta e pelo en-torno das curvas dos rios, cercado pelosolhares alienígenas, ambiciosos, com vi-

sões intervencionistas, vamos buscar aspalavras de Cy-iby, que, no seu épico dafloresta, cantava:

A MÃE-TERRA AMAZÔNIAVerbis,Há de se mostrar a “(...) ambivalência

e os extremos da Amazônia (...) a sua mís-tica é chegar até à última curva do rio e veralém da última montanha (...) perceberquem poderia criar tantas e variadas for-mas e o milagre de novas vidas, no brilhodas folhas, nas pequenas flores e nas gran-des orquídeas (...) podemos sentir a Suapresença nas réstias de luz que transpas-sam as copas e nos pontos que mostramos caminhos e para quem tiver o privilégioe a felicidade de sobrevoá-la, o verde desuas matas impregnará para sempre a suaretina (...) e (...) se além disso sentir vonta-de de fazer algo por ela, você será um AMA-ZÔNIDA!”

Pautado neste canto da MÃE-TERRA,chegam à minha mente nomes da enver-gadura moral, profissional e patriótica dossaudosos Brigadeiros CAMARÃO, PRO-TÁSIO e OTOMAR, três competentes ofici-ais da Força Aérea, que doaram seus ga-lões em trabalho, planejamento e dedica-ção à grande e devotada causa de suasvidas: a AMAZÔNIA. Como dever de justi-ça torno públicas as presentes considera-ções, como preito de gratidão e reconhe-cimento pelo muito que observei, com-partilhei e assisti nos mais remotos can-tões da nossa Hiléia, sobre as atividadespatrióticas destes Desbravadores, Cons-trutores, Povoadores e Colonizadores. Elessão a imagem do “Rondon Amazonense”!Assim, nestas considerações, encimadaspelo título “Colóquio com Roraima”, tra-duzo publicamente o que observei e sentino convívio com aquelas exponenciaispersonalidades. Dando tratos a minha ima-ginação, julgo que a têmpera destes mo-dernos Bandeirantes Amazônidas, enten-didos sob ótica altamente patriótica, há dese dizer que Camarão traduzia a vontadede realizar o progresso; Protásio, a tenaci-dade irrefutável de acertar; e Otomar, a in-sistência e determinação de povoar a Ama-

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zônia com a melhor estrutura aeroviárianacional. Com um pouco de exagero che-go a dizer que, com a cultura mística e prag-mática de Camarão e Protásio na posiçãode Comandantes da Primeira Zona Aérea,Comandos estes que exerceram por perí-odos considerados longos, aliada à tec-nologia e à audácia de Otomar, estes fo-ram fatores determinantes não só no pio-neirismo da infra-estrutura aeronáutica,mas no atendimento às etnias indígenas,nos povoamentos ribeirinhos, nos pólosdesenvolvimentistas do interesse da União,nas áreas consideradas de segurança na-cional e fronteiras, bem como ao lado dasmissões e obras de cunho social e desen-volvimentista, às vezes religiosas e muitasdelas científicas e pesquisadoras.

A malha aeronáutica da Amazônia sedistribuiu pelos inúmeros aeródromosconstruídos na região tão-só pelas ativi-dades da COMARA, Comissão esta res-ponsável pela construção de todos os Ae-roportos da nossa Hiléia, sob a égide da

Aeronáutica, sempre nas mãos de Otomar.Nesse culto de gratidão ao espírito

geopolítico de Camarão e à pertinácia deProtásio, juntamente com a força hercúleade trabalho de Otomar, sinto-me em con-dições de publicamente afirmar:

FORAM HOMENS DESTA TÊMPERA,BANDEIRANTES, DESBRAVADORES EINTEGRADORES, QUE AJUDARAM ACONSTRUIR A HILÉIA BRASILEIRA!

Deus ilumine as nossas autoridades,no afã de preservar o que esses pioneirosnos legaram, na certeza que:

A MÃE-TERRA AMAZÔNIASERÁ ETERNAMENTE

BRASILEIRA! �

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m evento recente assistimos auma expressiva palestra quepontificou o lançamento de um

livro (COMARA 50 ANOS) com belíssi-mas fotos. Documentário fiel, eviden-ciando a corajosa arrancada de uma“empresa”, que, desafiando a forçada natureza, conseguiu com uma en-genharia criativa e inovadora, respei-tar a sazonalidade e empregar a mão-de-obra nativa. Incentivou projetos vi-abilizando a verdadeira integração deuma região que representa mais dametade do território nacional, onde ri-quezas cada vez mais surpreendentestêm atraído a cobiça do mundo.

Um Trabalho de OrgulhoÉ mandatório transcrever aqui a

descrição desse magnífico trabalho:Conhecida por suas florestas inex-

pugnáveis e rios caudalosos, pelo ca-lor asfixiante e chuvas torrenciais, aAmazônia historicamente se contrapôsaos esforços de sua integração, tor-nando nulos os trabalhos realizados.Parecia que tão-somente nos rios sepoderia transitar e que no ar apenasasas emplumadas pudessem percor-

rer seus caminhos. E ela teria sidomantida nessas condições, não fossea perseverança de pessoas que acre-ditaram que a riquíssima região pu-desse ser incorporada ao nosso terri-tório. Essa luta passava pela constru-ção de aeroportos, o que permitiriachegar às mais remotas aldeias e ci-dades ribeirinhas, ligando o interioraos centros de desenvolvimento, le-vando cidadania, apoio e esperança abrasileiros até então esquecidos. Eisque surge a Comissão de Aeroportosda Região Amazônica (COMARA), quenos últimos 50 anos realizou uma obradigna de entrar para a História, tantopela grandiosidade e relevância deseus resultados como pela garantia desoberania sobre esse ecossistema. Umtrabalho que pode ser visualizado nocontorno geográfico do País, uma vezque hoje o avião é utilizado para as-sistir as comunidades na imensidão dafloresta, para servir à integridade ter-

ritorial, apoiar organizações militaresque guardam e defendem as frontei-ras e prover esperança de vida com aprestação de socorro aéreo. Inúme-ras outras atividades não seriam pos-síveis sem uma rede aeroportuáriapara garantir liberdade de ação e se-gurança ao vôo.

Em 50 anos, a COMARA foi da ima-ginação à execução, do possível ao re-alizável, do querer ao fazer, em umaregião onde a iniciativa privada não seaventura na tarefa de construir e man-ter pistas e edificações, onde a mão-de-obra é escassa, especialmente aqualificada, e onde cada obra de en-genharia implica em custos elevadose requer cuidados com o meio ambi-ente. Foi o trabalho desses heróis anô-

vencendo desafios 50 ANOS50 ANOS

E

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nimos que deu ao Brasil uma estrutu-ra aeroportuária capaz de atender assuas necessidades. Com o lema“Construir, apoiar, combater e ven-

cer!” pode, hoje, orgulhosamente, nosmostrar o amor ao País e, sobretudo,nos fazer entender que se nós brasi-leiros não nos dispusermos a ocupar,preservar e usar em benefício próprio,dos ribeirinhos, e da nação como um

todo seremos “soonner or later” víti-mas da cobiça dos mais poderosos,que têm buscado nos territórios alhei-os aquilo que destruíram em seus pró-prios rincões, sob a alegação de man-ter o equilíbrio climático do planeta,enquanto realizam, simultaneamente,

prospecções abrangentes à cata daexploração posterior de riquezas queaté onde sabemos somente o Brasilpossui. Nesse desafio, muitos tomba-ram. Entre acidentes inevitáveis e do-enças tropicais que ainda hoje gras-sam nessa região, esses episódios nãodesencorajaram nossos heróis, aocontrário, propiciaram ações e pesqui-sas que hoje permitem medidas pro-filáticas as quais praticamente anulamesses eventos. Para exemplificar al-gumas particularidades da Amazônia,consideraremos algo que pode surpre-ender a maioria: a escassez de rocha(pedra), na região, insumo essencialbásico a qualquer obra de engenharia

de edificações, por exemplo. E quan-do essa preciosidade é encontrada,surgem outras dificuldades, mercê doshábitos e da cultura dos nativos, so-bretudo nossos silvícolas, arraigadosàs tradições de seus ancestrais. As-sim é que na construção do Aeroportode Uaretê, localizada uma pedreirapróxima à área a ser construída, fo-ram os índios consultados sobre seuaproveitamento – eis que localizada emsuas terras – e, negociada a conces-são, foi construída uma estrada de trêsquilômetros para acessá-la. Quandopronta para a produção de brita, usi-na montada, os caciques mais idososforam informados e “embargaram”

tudo: era local sagrado, repouso dasalmas dos antepassados. Esgotados osentendimentos, o Ministério da Cultu-ra determinou a não exploração damina e a COMARA teve de buscar pe-

e integrando o BRASIL

Jesse Ribeiro da SilvaTen Cel (CD-DDS)Pesquisador nº 12

do Grupo de Estudosdo Caer

[email protected]

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dra em outro lugar, ainda que maisdistante e dispendioso, perdendo todoo investimento na estrada etc. Quan-do da construção do principal Aero-porto de Manaus, a única maneira decompactar a terra era praticamentecalciná-la, técnica até então nunca em-pregada em qualquer outro lugar. Ima-ginemos o volume gigantesco dessematerial e os fornos empregados paraessa atípica tarefa, além do regimedas chuvas, as quais se precipitavamao mesmo tempo, o que implicava emter de isolar-se toda a área com enor-mes mantas de plástico. Esse recursoinovador passou a ser rotina nas ou-tras obras, constituindo-se em condi-ção “sine qua non” para superar aadversidade climática da região.

“Com a Pista de Pouso chega aComida, o Remédio, os Materiais e atéas Notícias”

Com a aquisição de grandes bal-sas e gigantescas empurradeiras, ostrabalhos foram se desenvolvendo ondeos meios fluviais permitiam, mas gran-de parte dos materiais era levada poraviões e, inicialmente, por helicópteros.E foi a demanda por helicópteros degrande porte que atraiu os americanoscom seus CHINOOKS de dois rotores eduas turbinas, além de cabos e cintasespeciais, capazes de transportar até10 toneladas. Tínhamos um problemana ocasião, que era levar as máquinaspara a construção do aeroporto de SãoFélix do Xingu. Não havia acesso até lá

pelo Rio Estreito, muito perigoso. En-tão, sem balsa grande e sem avião nadachegava lá – “nem máquina, nem mé-

dico, nem dentista”. Os americanos to-param – foram buscar os helicópteros,creio que a preço de mercado. Na Ama-zônia, “alguns e próximos”, são mo-dos de dizer, coisa que os americanosnão sabiam. Levamos as máquinaspara a aldeia Gorotire, em Hércules C-130, diz o Brigadeiro Otomar, e ali des-montavam alguma coisa, porque os he-licópteros não transportavam um tra-tor inteiro. Os “gringos” iam de Ban-deirante dormir em Belém, diariamen-te. Todos esses desafios e dificuldadesa COMARA teve de enfrentar, até por-que outras grandes empresas que secandidataram abandonaram os proje-tos, deixando seus equipamentos nolocal. Para sermos justos e fiéis a es-ses desbravadores, e são tantos quenão é possível nominá-los todos, prefi-ro o relato “ipsis litteris” documenta-do. Em novembro de 1976, o Brigadei-ro Protásio visita a Cabeça do Cachor-ro, no oeste do Amazonas, junto à fron-teira da Colômbia e Venezuela. O aviãopousa na pequena São Joaquim, cujalocalização estratégica fez com que ali,já no século XVIII, o governador man-dasse erigir um Forte. Duzentos anosdepois, e vencida a curta distância en-tre o rio e a comunidade, o Brigadeiroestá diante da escola local. Na porta,uma plaquinha: “Escuela para Niños”.A Amazônia era ainda maior do que ele

pensava. Um país não é só o que estáno papel, há muito de imaterial e sub-jetivo na percepção que cada um temde sua terra natal, de sua nação, masa língua é sinal inequívoco de pertenci-mento – e ele sabia disso. Não por aca-so, boa parte do plano de obras do anoseguinte incluía localidades estratégi-cas nessa área do Amazonas, como Ja-purá, Querari, Maturacá, Cucuí, Uapuí,São Gabriel da Cachoeira e São Joa-quim. É assim que a COMARA traba-lha, antecipando-se às necessidades(...). Porque onde se constrói a pista,chega a cidade. Quando começaram osanos 80, essa “máquina de fazer ae-

roportos” já era bem conhecida nosmeios militares e civis – e entre índios,caboclos e ribeirinhos certamente. Omoral estava alto. Um acordo com oITA dava início a uma série de cursosde extensão universitária, trazendo óti-mos professores de São José dos Cam-pos até Belém. Estudavam-se matéri-as bem específicas de grande aplicabi-lidade nas obras da COMARA, comoTecnologia de Solos Tropicais, Drena-gem de Aeroportos, Enfoques Moder-nos de Avaliação e Projetos de Pavi-mentos Flexíveis. A atualização do pes-soal iria mostrar-se necessária nas dé-cadas seguintes, com a decolagem dedois megaprojetos: o SIPAM/SIVAM(Sistema de Proteção e Vigilância daAmazônia), cujas origens estão em1984; e o Projeto CALHA NORTE, inici-ado em 1985, ambos de longo prazo e

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de ampla distribuição de obras. O SI-VAM/SIPAM é hoje bem conhecido pelapopulação esclarecida. Já o CALHANORTE pretendia, entre outras coisas,mobilizar as frentes do Exército nasfronteiras (16.860 km) e, por isso, fo-ram abertas várias pistas pioneiras, lo-cais que não tinham acesso rodoviárionem hidroviário – onde não havia ou-tra maneira de chegar (...).Operaçõescomo essas exigem transporte de gran-des e pesadíssimas quantidades deequipamentos e materiais, forçando asequipes a encontrar soluções inacredi-táveis – como entregar um caminhãobasculante no meio da selva? E umaespalhadeira de asfalto? E o asfalto,onde é produzido? Como levá-lo até àobra antes da época das chuvas? Tí-nhamos um ponto central no oesteamazônico que é São Gabriel da Ca-choeira. As máquinas pesadas eramparcialmente desmontadas em Belém,depois deslocadas para lá em HérculesC-130, em viagem de seis horas. Dali,quase tudo seguia para os locais dasobras suspenso por helicópteros, mo-dalidade de transporte que naqueletempo a COMARA ainda não domina-va. Quase tudo era inovação, não ha-via manuais de instruções. Os erros co-metidos eram corrigidos e viravam co-nhecimento dali em diante.

Assim na Águacomo no Céu

Certo dia chegou uma nova espa-

lhadeira de asfalto (...). A primeira vezem que colocamos essa máquina emum C-130 demoramos um dia de tra-balho. Posteriormente essa operaçãoreduziu-se para quatro horas. Outroponto positivo é o transporte aquaviá-rio. A COMARA possui uma frota de14 balsas (com capacidade total de9.800 toneladas) e oito empurradoras(13.400 toneladas). Já em meados de1980, foi digno de nota o comboio gi-gante que transportou um canteirocompleto de obras – pessoal, máqui-nas e material, de Teffé para Manaus.Eram sete balsas e dois empurrado-res, que, juntos, formaram um “terri-

tório” de 2.300m2, com capacidadepara 6.000 toneladas. “Nossa logísti-

ca sempre foi espetacular” (...). Sãomais de 1.000 equipamentos de gran-de porte, incluindo tratores, cami-nhões, balsas, empurradores, usinasde asfalto, britadores etc. E na sedeem Belém, é possível saber a qual-quer instante onde está cada um des-ses equipamentos, qual a sua condi-ção operacional, se está em pane ouse precisa de reparo ou de um pneu.Na COMARA os equipamentos sãocomo grandes amigos. A familiarida-de deles com o pessoal e as chefiasadvém dos vôos de acompanhamentoe verificação das obras, os chamados“balões”. A cada mês, uma expedi-ção parte da sede e visita todos oscanteiros de obras, levando e trazen-do notícias, traçando planos, trocan-

do especialistas de canteiros, integran-do as equipes. Antigamente havia pou-cos bancos no interior da Amazônia,então os balões levavam também di-nheiro para pagar o pessoal. Isso, emtempos de inflação, significava 400,600 quilogramas de notas (...)

Observando-se o mundo moderno,a impressão é que o avião sempre exis-tiu. Claro, a invenção de Santos-Du-mont pertence à “mitologia” do sécu-lo XX e do rol das coisas sem as quaisnão se consegue imaginar a vida, taiscomo o automóvel, o cinema, a TV e ocomputador. Mas ainda não se passa-ram 100 anos da primeira travessia doAtlântico Sul, feito heróico dos portu-gueses Gago Coutinho e Sacadura Ca-bral. O primeiro vôo postal brasileiro éainda mais recente, de 1931, pelos te-nentes Casimiro Montenegro Filho eLavenère-Wanderley, decolando doCampo dos Afonsos (RJ) para cinco ho-ras após fazerem um pouso de emer-gência no Hipódromo da Mooca (SP).Até aos anos 1940, era como que umacontecimento ter um avião sobrevo-ando nossas cidades (...). Foi com aSegunda Guerra (1939-1945) que aidéia de construir uma malha aeropor-tuária ganhou força. A presença de sub-marinos alemães impedindo o abaste-cimento do Norte e Nordeste por mei-os marítimos mostrou que o Brasil nãopoderia adiar a tarefa. Em 1945, asprincipais cidades brasileiras já tinhamaeródromos com pistas asfaltadas. A

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Amazônia tinha 17 pistas de pouso eapenas Belém, Manaus e Santarémeram asfaltadas.

As Últimas FronteirasPor iniciativa do então Brigadeiro

Eduardo Gomes (1896-1981), no iní-cio dos anos 1950 tomou forma umprojeto de construção de novas pistasna região, algo que ganhou fôlego como surgimento da SPVEA (Superinten-dência do Plano de Valorização Eco-nômica da Amazônia), que mais tardedaria origem à SUDAM (Superinten-dência do Desenvolvimento da Ama-zônia). Foram elaborados dois planosqüinqüenais e ambos incluíam a cons-trução de aeroportos. Nesses docu-mentos, a essência do que se preten-dia: a Amazônia tem nos transportesaéreos um grande fator de intercâm-bio social e comercial. O avião do sé-culo XX exerce, na sua ação pioneira,a mesma influência do navio a vapordo século XIX, ao levar o influxo dacivilização do sul e do litoral a todosos quadrantes da Planície Amazônica.Basta dizer que antes do avião umaviagem de Manaus a Cruzeiro do Sul(Acre) demandava 30 dias por via flu-vial, sem outros fatores intercorren-tes. Estava chegando a vez das últi-mas fronteiras do Brasil, até entãoparcialmente vencidas pelo hidroaviãoPBY-5 Catalina (Pata-Choca) e peloDouglas C-47, cargueiro bastante fun-cional, virtuoso em pistas rústicas ecurtas. O passo firme veio em 1955,com a Comissão mista FAB/SPVEA,resultado do esforço pessoal do Bri-gadeiro Antônio Alves Cabral, entãoComandante da Primeira Zona Aé-rea. Cerca de um ano depois, em 12de dezembro de 1956, o Decretonº 40.551, assinado pelo PresidenteJK, criava a Comissão de Aeroportosda Região Amazônica, destinada a es-

tudar, projetar, construir e equipar ae-roportos na região, conforme seu ar-tigo primeiro. E, embora não constas-se no documento presidencial, estavaclaro que a nova empresa serviria aotreinamento contínuo da Força Aéreana construção, recuperação e manu-tenção de campos de pouso – algo tãonecessário em tempos de paz quantoem tempos de guerra.

Conquistando a SelvaDe carro, dois meses. De avião,

três horas. Em agosto de 1958, a CO-MARA entregava o Aeroporto de Ita-coatiara, cidade à margem esquerdado Rio Amazonas, a cerca de 270 qui-lômetros de Manaus. Presentes, o Co-mandante da Primeira Zona Aérea, oSuperintendente da SPEVEA e o Pre-feito da cidade, autoridades militarese civis. Cerimônia em curso, com dis-cursos, bandas, vivas e aplausos, ape-sar do atraso do Governador. Duas ho-ras antes, uma aeronave saíra parabuscá-lo, tendo ao comando o Admi-nistrador da COMARA, major-aviadorProtásio. Traço comariano esse, debater escanteio e correr para cabece-ar. O tempo passa e o avião não che-ga. Já está para decolar outro e sairprocurando, quando lá longe, no céuquase branco do começo da tarde,surge pequena mancha e então o ron-co dando aviso. (...). Em poucos ins-tantes, o major está ao microfone dis-cursando também, “Foi nossa primei-

ra obra concluída no padrão mínimo

estabelecido no Plano Diretor – pista

de 1.500 por 45 metros (então pró-

prias para aviões de grande porte)”,pátio de estacionamento com base es-tabilizada, terminal de passageiros, es-tação de rádio, instalações de água,luz e esgoto, tudo em pleno funciona-mento. Itacoatiara parece localidadepouco importante? Pois fica exata-

mente na rota Rio/Nova York, umasegurança que justifica o investimen-to de 15 milhões de cruzeiros (cercade 3,2 milhões de reais) e os 30 me-ses de trabalho duro.

Na expectativa de que este livrohistórico seja divulgado e lido peloscompanheiros, eis que retrata de ma-neira expressiva, relatada pelos heróisfigurantes dessa epopéia desbravado-ra, citarei apenas os títulos dos capí-tulos que compõem a parte aqui omi-tida, em face das limitações de tempoe espaço, considerada a premência detempo estabelecida à apresentaçãodeste trabalho. Ei-los:

– A Gente Encara – Desafios gi-gantes, motivação de sobra

– Três Aeroportos por Ano– Heróis sem Testemunhas– Havia Lugar que até para Índio

era Terrível– A Selva é quem manda 73 Qui-

los de Cobras a Bordo– Futuro – Olhando para Frente– O QUE A COMARA FAZ, SÓ A CO-

MARA SABE FAZER– PRONTA PARA O QUE VIERE, por derradeiro, pequenas fotos

estampadas ao longo do livro, no ro-dapé de cada página, dos abnegadosoperários que permitiram a realizaçãode um trabalho gigantesco, que mes-mo a iniciativa privada, sempre dis-posta a enfrentar desafios, aqui ou noexterior, em desertos e que tais, semostrou despreparada para esse“affair” de maior significado para odesenvolvimento e para a exploraçãode nossas riquezas inestimáveis. So-bretudo, ao levar esperança, suportee cidadania aos brasileirinhos daque-la região, até então esquecidos �Referências: COMARA 50 ANOSAutores: Araquém Alcântara e OtávioRodrigues - Editora TERRABRASILwww.terrabrasilimagens.com.brRevisão: Cel. Joselauro Simões

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Academia Brasileira de Academia Brasileira de

Academia Brasileira de Filoso-fia está hoje em festa para ho-menagear a mulher brasileira

mais importante da atualidade. Carioca,já adulta desenvolveu carreira universitá-ria e profissional no estado do Rio Gran-de do Sul, com passagem pela Antropo-logia. O que vem a ser uma extremamenteinteressante conciliação no plano das idéi-as, com Direito e Antropologia. Muitopouco comum. Diria mesmo raríssimo. Aquestão central do Homem une Direito eAntropologia. O mistério do Homem estáantropologicamente inserido no Direito.Poderíamos mesmo aludir a uma Antro-pologia do Direito. A própria terminolo-gia filosófica, em muito influenciada peloDireito, poderia dedicar-se a uma Antro-pologia filosófica do Direito. Assim comoo Direito foi muito influenciado pela Filo-sofia, não bastasse a questão do juízo.

Uma Academia de Filosofia tem porprincípio a defesa do espírito. Essa a nos-sa tarefa. A mais difícil e a mais bela detodas. Pois exatamente do espírito depen-dem todas as outras tarefas humanas, so-bretudo as mais importantes. Defender oespírito é defender a razão, tão despreza-da e vilipendiada. Se, como queria Aris-tóteles, a Filosofia é pensamento de pen-samento, nossa tarefa filosófica é tam-bém pensamento sobre as conseqüênci-

Discurso do Presidente da Academia

Brasileira de Filosofia, João Ricardo

Moderno, na solenidade de outorga do

título de DOUTOR HONORIS CAUSA à

Presidente do Supremo Tribunal Federal,

Ministra ELLEN GRACIE NORTHFLEET.

as do pensamento quando transformadoem atos privados e públicos.

Defender o espírito é defender a sualiberdade, único modo do seu próprio exer-cício pleno. Criticar e agir contra tudo quese oponha à liberdade de expressão doespírito é outra nobilíssima tarefa dele mes-mo. Essa dá sentido à vida, sem ela a vidanão só perde o sentido, mas se torna refú-gio dos covardes. A prática crítica que fun-damenta o pensamento filosófico é exer-cida pelos espíritos nobres, aqueles queassociam a coragem do pensamento a todoo conjunto das demais formas de expres-são da coragem. Foi essa dimensão críticada Filosofia que fez Sócrates tomar commuita dignidade o veneno da iniqüidade.A primeira vítima fatal da Filosofia abriucaminho para uma sucessão histórica deviolências. A própria Filosofia passou devítima a algoz muitas vezes; vale não es-conder, isso aconteceu sempre que seconverteu em ideologia, em uma religiãofundamentalista das idéias.

A Academia Brasileira de Filosofia foicriada pela liberdade de espírito. Daí a suaconsistência orgânica antitotalitária. Des-de a sua fundação a crítica aos totalitaris-mos de classe, raça ou etnia, religião equaisquer outros tem sido o elo moral denossos membros, em defesa da Filosofiabrasileira e internacional. Defender o es-

pírito é defender a verdade. Filosofia éamor ao saber ou à sabedoria como umaética do amor à verdade. Em primeiro lu-gar, Filosofia é amor. Depois amor à sa-bedoria e à verdade. Quem ama o saberama necessariamente a verdade. Essa adignidade do pensamento filosófico.Dignidade conquistada por meio da dra-maticidade do amor à verdade. Filosofiaé antes de tudo amor. O ódio é o outro daFilosofia, e é dialeticamente por intermé-dio dele que violentamos a tendência aomal através do amor contido no pensa-mento. O ódio nos afasta do cálice daverdade. A Filosofia do ódio é o ódio àFilosofia. A primeira vítima é a verdade. Averdade não raras vezes se esconde atrásde uma falsa verdade. Uma verdade podeestar escondida no final de várias cama-das de mediações, nuanças e véus, poisa verdade é como o bem, emerge comdificuldades. A liberdade de espírito é aliberdade de expressão da verdade. Nãodevemos temer a verdade e a expressãoda verdade.

Hoje, permita-me Vª Exª, em razãodo ressurgimento do totalitarismo de clas-se na América Latina, associado ao terro-rismo clássico e ao terrorismo islâmico,braço armado do totalitarismo religioso,em uma metástase bolivariana, atingindoa pleura do continente e sua estrutura ós-

A

a Ministra a Ministra

23 �

Filosofia homenageia Filosofia homenageia

sea, assim como o coração da Américado Sul, não só o pensamento está emrisco, mas o Estado de Direito. E o Esta-do de Direito é a base do autêntico exer-cício do Estado Democrático. É o seuverdadeiro conteúdo. A liberdade doexercício do pensamento está sediadana garantia dos direitos civis. Na liber-dade de imprensa. A Filosofia do ódio eo ódio da Filosofia geram terrorismo. Oterrorismo é negação absoluta do diálo-go, negação da humanidade do outro,que se torna uma coisa entre coisas. Umobjeto a ser destruído arbitrariamente. Omaior teórico do terrorismo contempo-râneo, o filósofo italiano Toni Negri, dasfamosas Brigadas Vermelhas, é tambémo mais importante teórico da RevoluçãoBolivariana na América Latina.

Tendo já encerrado este discursoquanto às ameaças ao Estado de Direitono Brasil, deparo-me com o Jornal “O

Globo” de hoje, em cujo editorial intitu-lado “Cai a Máscara”, denuncia o finan-ciamento da subversão totalitária comu-nista de Hugo Chávez no Brasil, afirman-do “que toda essa história ganha pro-porções de extrema gravidade, por se tra-tar de interferência externa na políticanacional, feita com intenções desestabi-lizadoras”. A título de ilustração, eu men-cionaria que a abertura do Congresso

Bolivariano ano passado, no Rio de Ja-neiro, foi de responsabilidade do Côn-sul-Geral da República Bolivariana daVenezuela, acompanhada de duas depu-tadas venezuelanas. A afirmação de HugoChávez segundo a qual o Brasil e a Vene-zuela são uma só pátria, e que ele cons-truirá a Grande Pátria da América Latina,deve ser objeto de profundas reflexões.O mesmo “O Globo” de hoje, na colunade Jorge Bastos Moreno, revela um diá-logo entre o Senador José Sarney e o ex-“Premier” espanhol Felipe González, se-gundo o qual Hugo Chávez sedia na Ve-nezuela o grupo terrorista ETA, que aju-dou Chávez a tomar o poder na Venezue-la. Adicionemos as FARC, braço terroris-ta usado por Chávez, e parte do EstadoBolivariano em formação, com ampla par-ticipação e influência no Brasil. Soman-do a presença do grupo terrorista Hezbo-llah na Venezuela e em diversos países daAmérica Latina, inclusive na nossa Trípli-ce Fronteira, temos diversas provas dorisco que corre o Estado de Direito noBrasil. Hugo Chávez está em verdadeiraexcursão bolivariana em nossas terras. Abarbárie sempre prosperou pela omissãoe pela indiferença. O Filósofo alemão ju-deu Theodor W. Adorno, certa vez ironi-zou ao afirmar que o também Filósofo co-munista Georg Lukács só reconhecera o

realismo de Franz Kafka ao conhecer abarbárie comunista de dentro, isto é, dedentro da prisão.

A Academia Brasileira de Filosofia to-mou como desafio acadêmico de 2008 otema “HUMANISMO E TOTALITARISMO. OENIGMA DA VIDA E DO MUNDO”. Segun-do o Filósofo judeu Emmanuel Lévinas,em seu ensaio tornado histórico contraHitler e o nazismo, intitulado “AlgumasReflexões sobre a Filosofia do Hitleris-mo”, publicado na Revista “Esprit”, em1934, a barbárie nazista é acompanhadapela barbárie comunista. Ambas são o fimda liberdade. O fim da liberdade é o fimdo espírito. Diz ele que o marxismo, pelaprimeira vez na História Ocidental, con-testa a concepção do homem como umser de razão porque de liberdade. E mes-mo a autonomia do espírito pela razão noIluminismo tem como “leitmotiv” a con-cepção judaico-cristã da liberdade. A de-fesa do espírito é parte da defesa da vida.Um dos grandes mistérios da vida é quefilosoficamente somos sempre o Mesmoe o Outro, pois em todos os instantes davida, vista como sucessão de instantes,nós preservamos a mesma identidade,ainda que fisicamente tenhamos sempreum outro corpo, do início ao final da vida.O corpo humano nunca é o mesmo, massomos sempre a mesma pessoa, ainda

Ellen Gracie Ellen Gracie

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que mudemos no plano do espírito. Emtodas as fases, desde a concepção, so-mos pessoa. Somos sempre pessoa. Acausa primeira, diria Aristóteles, é a con-cepção, momento ou instante que dá par-tida em uma vida irredutível. Duvidar dasaparências. Onde há matéria humana vivahá espírito humano vivo. Logo, a integri-dade moral do corpo é um absoluto. Re-lativizar essa moralidade intrínseca é re-lativizar o princípio da integridade.

A afirmação de Descartes, “je pense,donc je suis”, traduzida por “penso, logoexisto”, ou ainda melhor, “penso, logosou”, deve ser matizada, pois “eu sou ouexisto” muito antes mesmo de começar apensar. Eu penso “porque” sou ou exis-to. O ser antecede o pensar. O ser é a cau-sa do pensar. O próprio Descartes, no“Discurso do Método”, onde tambémfunda uma ética da dúvida, afirma: “Euvejo claramente que para pensar é preci-so ser”. Eu sou desde a concepção. Nãohá ser antes da concepção. Contudo, háser a partir do instante da concepção. Sere pessoa são indivisíveis. Poderíamoschamar essa questão como da ordem deuma ontologia jurídica. Onde há ser hávida, logo há direito. Mesmo após a mor-te há direito. O ser é “ser-para-a-vida”,ainda que ao final seja a morte na terra.Emmanuel Lévinas, em seu livro “Éticacomo Filosofia Primeira”, indica que, “naverdade, o Ser, como o outro do pensa-mento, se faz o próprio do pensamento-saber”. E, ao final do livro, Lévinas defi-ne: “O direito a ser e a legitimidade desse

direito não se referem à abstração dasregras universais da Lei ao para-o-outrode minha indiferença à morte, à qual, alémdo meu fim, se expõe na sua retidão mes-ma o rosto do próximo. Que o próximome olhe ou não me olhe, ele sempre estáme olhando. Questão onde o ser e a vidase despertam ao humano. Questão dosentido do ser – não a ontologia da com-preensão desse verbo extraordinário, masa ética de sua justiça. Questão por exce-lência ou a questão da filosofia. Não por-que o ser dê preferência a nada, mascomo o ser se justifica”.

Desse modo, todos nós devemoshonrar o Poder Judiciário e o Estado deDireito, representado aqui pelo SupremoTribunal Federal, pela presença de Vª Exª,que resgatou com leveza, graciosidade edignidade os grandes momentos da his-tória do Supremo. Uma história de inte-gridade. O grande Poeta e Filósofo ale-mão Schiller, companheiro de Carlos Ne-jar na melhor história da literatura mundi-al, em seu belo livro intitulado “Sobre aGraça e a Dignidade”, sintetiza que “as-sim como a graciosidade e a expressãode uma bela alma, a dignidade é a expres-são de uma mentalidade sublime”. Vª Exªtem a graciosidade da bela alma, e a dig-nidade de uma mentalidade sublime. Emais adiante assevera que “o domíniosobre os impulsos através da força moralé a liberdade de espírito, sendo a digni-dade a sua expressão no plano do fenô-meno”. Um dos grandes advogados bra-sileiros, o meu amigo Gustavo Miguez de

Mello, em recente artigo no Jornal “O

Dia”, na imprensa carioca, afirmou que“o Supremo Tribunal Brasileiro tem a mis-são de fazer preservar os bens jurídicosque garantem valores e interesses geraise permanentes do País contra interesseseventuais da Administração: nesse sen-tido é um Tribunal Político. Julgando tec-nicamente, não é político no sentido desacrificar direitos por objetivos políticos,como a História registra no julgamentode Jesus”. Desta feita, Vª Exª como a pri-meira mulher a ser nomeada Ministra doSupremo, e primeira mulher a alcançar aPresidência, coincidiu a própria trajetóriapessoal com a imagem do Supremo comouma autêntica Suprema Comissão de Éti-ca do Brasil. É por tudo isso, e por nadadisso isoladamente, que a Academia Bra-sileira de Filosofia decidiu outorgar a VªExª o título mais elevado da instituição, ode DOUTOR “HONORIS CAUSA”.

Nem toda unanimidade é burra,contrariando uma das máximas de Nel-son Rodrigues, pois se todos nós con-cordássemos que toda unanimidade éburra, seríamos unânimes em concor-dar com uma burrice, logo seríamostambém burros, visto que somente osburros dizem burrices, ou no caso, so-mente os burros diriam unanimidades.Tudo isso para afirmar que Vª Exª é umaunanimidade entre as pessoas de bem.Muito obrigado, Ministra PresidenteELLEN GRACIE NORTHFLEET, DOUTOR“HONORIS CAUSA” DA ACADEMIABRASILEIRA DE FILOSOFIA �

O Ten Brig Ar Ivan Frota, à direita, compôs a mesana cerimônia da Academia Brasileira de Filosofia

25 �

Resumo: Um Partido revolucionário começa e ter-

mina nas organizações de base, e os elementos que es-

tão fora das organizações partidárias não são militantes.

A classe operária mais consciente terá sempre em seu

seio uma grande massa inconsciente, pois nunca toda ela

adquirirá “consciência de classe”. Haverá sempre uma pe-

quena vanguarda que compreenderá o lugar que ocupa na

sociedade, e uma grande massa indiferente que somente se

interessará por melhores salários e melhores condições de

vida. Essa “vanguarda consciente”, organizada, é o Partido:

uma minoria dessa classe minoritária que é o proletariado.

O Partido surge e é organizado em certo momento de

ascensão da classe operária, quando o desenvolvimento

do capitalismo coloca a necessidade da “consciência de

classe”, isto é, o conhecimento das leis de desenvolvi-

mento da sociedade.

Em outras palavras: para que surja a “consciência de

classe”, o desenvolvimento do Capitalismo tem de colocar

na ordem do dia as tarefas do proletariado, ou seja, o

próprio Capitalismo deve gestar os antecedentes materi-

ais da sociedade comunista. Somente então colocar-se-á,

no campo social, a urgência de estruturar-se a consciên-

cia de classe. A classe operária só se torna revolucionária

quando adquire a “consciência de classe”.

Portanto, o surgimento do Partido dá-se quando há

um determinado grau de desenvolvimento das forças pro-

dutivas, isto é, do próprio proletariado.

Como a classe operária é heterogênea, podem surgir,

em seu interior, vários Partidos ditos “da classe operá-

ria”, mas somente um poderá expressar sua consciência,

Anotações sobrea Teoria Marxista

do PartidoCarlos Ilich Santos [email protected]

isto é, definir qual é a sua estratégia, sua tática e suas

tarefas históricas.

E de onde vem a consciência de classe? “Sem teoria

revolucionária”, disse Lênin, “não há prática revolucioná-

ria”, e não o inverso como pretendem os foquistas e os

ultra-esquerdistas. A missão histórica e estratégica da clas-

se operária é a de assumir o poder como um dos atos

fundamentais para a destruição do regime de propriedade

privada. E a missão tática é a definição dos caminhos a

seguir para alcançar essa missão história e estratégica.

Há casos em que a tática e a estratégia se confundem,

portanto é necessário que se estabeleça qual o elemento

determinante, fundamental, entre a estratégia e a tática.

Se o Partido buscasse transformar de uma maneira

gradual e pacífica a sociedade – de capitalista em socialis-

ta – por meio do Parlamento e não pela via insurrecional,

se seu objetivo fosse ganhar eleições e obter maioria par-

lamentar, de que lhe serviriam as células, as organizações

de base, o centralismo democrático, a direção coletiva, a

“doutrina científica”, a crítica e a autocrítica? Seria prefe-

rível e mais sensato que organizasse grandes centros elei-

torais, a fim de mobilizar massivamente as pessoas, sem

rigores teóricos e disciplina.

Ao contrário, um Partido revolucionário começa e ter-

mina nas organizações de base, e os elementos que estão

fora das organizações partidárias não são militantes. Se-

gundo o conceito clássico de Lênin, é militante todo aquele

que está de acordo com o Programa do Partido, que se

estrutura numa organização de base, que cotiza para o

Partido e que contribui para elaborar sua linha política �

B. EfimovO Capitão do paísdos Sovietes nosconduz de vitóriaem vitória -1933

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O Estado:

retorno aosideais da

Idade Média?

Manuel Cambeses JúniorCel Av

Conferencista Especial da Escola Superior de Guerra;Membro Titular do Instituto de Geografia

e História Militar do Brasil e Vice-Diretor do INCAER.

[email protected]

co n s a g r a d o f i l ó s o f oalemão Georg WilhelmFriedrich Hegel escre-

veu, em 1802, um dos livros maisimportantes do século XIX: a Consti-tuição Alemã. Nele, fazia um chama-do à formação de um Estado unitárioalemão como requisito indispensá-vel para que os germânicos adentras-sem nos tempos modernos. Naquelaépoca, entretanto, a Alemanha seachava dividida em reinos, principa-dos, ducados, territórios eclesiásti-cos e entidades autônomas dos maisvariados matizes. Dentro dela, Áus-tria e Prússia não somente haviamse convertido em duas forças domi-nantes, assim como eram os únicosterritórios que encarnavam verdadei-ros Estados no sentido moderno. Emsua obra, Hegel fazia referência aoprincípio de organização feudal queprevalecia na Alemanha e que reco-nhecia e garantia, a cada um de seusintegrantes, o direito de livre arbí-trio. Tratava-se, efetivamente, de umdireito definido por todos e assenta-do na chamada “liberdade alemã”.Para Hegel, esta “liberdade”, queservia de base à desunião, não pas-sava de um anacronismo que manti-nha a Alemanha de costas para a His-tória. Isto submetia os alemães a umamanifesta condição de atraso frenteaos grandes Estados nacionais daEuropa, como França e Inglaterra.

Friedrich Hegel formulava um vi-goroso chamado à conformação deum verdadeiro Estado alemão. Entre-tanto, tiveram que passar várias dé-cadas para que isso se transformas-se em realidade. Foi em 1871 queessa aspiração unitária se consoli-dou com a criação do moderno Esta-do germânico.

Também na Itália, a partir de1815, começou um movimento a fa-vor da unificação do país, que, se-

O

Anish KapoorAima2004

27 �

melhantemente à Alemanha se en-contrava dividido em múltiplos rei-nos, principados e ducados, bemcomo em um Estado papal. Esse mo-vimento, que ficou conhecido comoo “Ressurgimento”, teve como seumaior expoente intelectual o célebreMazzini. Este, diferentemente de He-gel, que escrevia suas obras em umalemão comum a todos os alemães,utilizou o idioma francês para escre-ver o seu trabalho literário. A razãodisto é que havia tantos dialetos evariações do idioma italiano, que nãoexistia uma linguagem que fosse co-mum a todos.

Após longos anos de conspira-ções e combates, o novo Estado ita-liano pôde tornar-se realidade, em1861. Desta maneira, os italianosconseguiram emergir da Idade Mé-dia para adentrarem-se nas filas damodernidade. Foi a partir da confor-mação desse Estado unitário quepôde surgir também uma outra novacriação: uma linguagem comum atodos os italianos.

Quando homens talentosos comoHegel, Bismarck, Mazzini ou Garibal-di lutaram pela conformação de Es-tados unitários, estavam convenci-dos de que a força da História osacompanhava. Estavam convictos deque ao banir as divisões territoriaise autônomas, herdadas da Idade Mé-dia, ingressariam nos novos tempose se adaptariam às exigências dofuturo. Poderiam eles imaginar que,ao finalizar o século XX, a moderni-dade se identificaria com os fracio-namentos, as divisões territoriais, asautonomias desatadas e a prolifera-ção de diversas linguagens no inte-rior de vários Estados? Faz-se mis-ter ressaltar que esse processo nãoé novo. Como exemplo pode-se citara Espanha, que, na década dos anostrinta, enveredou por esses cami-

nhos, sob o rótulo de “modernidade”.Em 1931, uma das inteligênciasmais brilhantes desse país, em to-dos os tempos, José Ortega Y Gas-set, propugnava nas cortes constitu-cionais a necessidade de dar rédeassoltas às autonomias regionais. Nãoobstante, foi com o colapso do co-munismo que esse processo recupe-rou toda sua força. De fato, bem po-deria afirmar-se que o Muro de Ber-lim não somente representava a úl-tima muralha de contenção do pen-samento político frente ao avanço dosetor econômico, bem como do ide-ológico em face do avanço do cultu-ral. Com a queda do Muro de Berlima economia passou a ocupar espa-ços de preeminência que antes eramreservados ao setor político. Porém,ao mesmo tempo, com o desapare-cimento das barreiras ideológicas, ofenômeno cultural pôde atingir plenaforça e vigor. Durante muito tempoas identidades, sinônimo do cultural,estiveram reprimidas em função dasimposições ideológicas. Com a fra-tura das ideologias, o surgimento docultural ocorreu de forma inevitável.

Dele nos fala Samuel P. Hunting-ton, em sua famosa obra “The Clash

of Civilizations and the Remaking of

World Order”. Segundo suas pala-vras, “no mundo do pós-Guerra Fria,

as distinções mais importantes en-

tre os povos não são ideológicas,

políticas ou econômicas. São cultu-

rais. Os povos e as nações estão ten-

tando responder à pergunta mais ele-

mentar que os seres humanos podem

formular: quem somos? Os povos

estão definindo-se a si próprios em

termos de religião, linguagem, his-

tória, valores, costumes e institui-

ções. Eles se identificam com gru-

pos culturais: tribos, grupos étnicos,

comunidades religiosas, nações... Os

povos estão utilizando a política, não

somente para promover seus inte-

resses, como também para definir

suas identidades”.Diante deste novo cenário, a mar-

cha dos tempos aponta em direçãoaos particularismos culturais. Cadamunicípio, cada cidade, cada região,busca encontrar sinais definitóriosde seu próprio ser. Reivindicar tra-dições locais ou regionais, dialetos,costumes específicos, está em modano mundo atual. Inevitavelmente istosomente é possível à custa do podere do sentido unitário dos Estados cen-trais. O poder, que até pouco tempodetinham, flui agora em duas dire-ções distintas: para cima, em dire-ção aos organismos supranacionaise coletivos; para baixo, em direçãoa regiões cada vez mais autônomas,as quais se consideram mais repre-sentativas de uma identidade étnicaou grupal. Sob esta ótica, o governoinglês decidiu tomar a iniciativa dereformar as bases constitucionais daNação, devolvendo à Escócia e aoPaís de Gales autonomias perdidashá séculos. O curioso deste proces-so é que o próprio Estado central setransformou em artífice de seu debi-litamento, assumindo frente a taisregiões a “venda” da idéia autono-mista. Se no caso da Escócia o esta-do de ânimo prevalecente favoreciaesse processo, em Gales foi neces-sário que o governo central pusessetodo o seu poder de convicção frenteaos reticentes eleitores locais.

No momento em que o Kosovovolta à cena, nenhum europeu devese esquecer da tragédia que motivoua intervenção da comunidade inter-nacional. Em realidade, enfrenta-sehoje o último avatar do esfacelamentoda ex-Iugoslávia.

Diante dessa curiosa realidade,que diriam Hegel ou Mazzini destavolta aos ideais da Idade Média? �

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ONEOPOPULISMONO CONTEXTO DAONEOPOPULISMONO CONTEXTO DA

Ricardo Vélez RodríguezCoordenador do Centro de Pesquisas

Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”,da UFJF. Membro do Instituto de

Humanidades, Londrina.Membro da Academia Brasileirade Filosofia, Rio de Janeiro

[email protected]

Katarzyna KozyraPirâmide de Animais1993260 x 190 x 120 cm

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fenômeno do neopopulismo

está na crista da onda, nãoapenas na América Latina, maspelo mundo afora, também.Nações desenvolvidas, comoa França, viram surgir, nos

pleitos eleitorais dos últimos dez anos, su-cessivamente, figuras de caráter neopopu-lista, situadas em vários parâmetros do es-pectro ideológico, como Jean-Marie Le-Pen, Michel Bové ou Ségolène Royal. NaItália, às voltas com a dramática redução docrescimento econômico nos últimos dezanos e com a endêmica instabilidade parla-mentar, vemos ressurgir o neopopulistaBerlusconi como Chefe do Governo.

Na América Latina, assistimos à con-solidação de regimes desse tipo na Argen-tina, na Venezuela, na Bolívia, no Equador,no Paraguai e no Brasil. O neopopulismo

consiste basicamente num estilo político detipo carismático. Para Pierre-André Taguie-ff, o fenômeno oscila entre o autoritarismoe o hiperdemocratismo, bem como entre oconservadorismo e o progressismo refor-mista; não pode ser considerado nem comouma ideologia política, nem como um tipode regime, mas apenas como um estilo po-lítico, alicerçado no recurso sistemático àretórica de apelo ao povo e à posta em mar-cha de um modelo de legitimação de tipocarismático. Esse estilo é encenado no con-texto de uma simplória visão maniqueísta,segundo a qual os males do presente, iden-tificados com a globalização, são causa-dos pelas “elites”, que conspiram contra afelicidade do povão. Essa reação à globali-zação é que caracteriza o neopopulismo atu-al em face do tradicional populismo do sé-culo XX. Outra característica essencial é adenominada “ação direta”: o líder populis-ta prescinde de qualquer mediação institu-cional entre ele e o “povão”, pondo em ris-co, assim, a sobrevivência das instituiçõesdemocráticas e ensejando uma via expres-

sa à ditadura do Executivo hipertrofiado e àmagia das suas soluções miraculosas.

O Governo Lula é “neopopulista” porse ajustar perfeitamente às característicasassinaladas acima. O “lulismo” funcionano contexto da denominada “revolução

cultural gramsciana”, que tem queda de-clarada pelos “intelectuais orgânicos”, osneopelegos à frente dos Movimentos So-

ciais: Sem Terra, Afetados por Barragens,Indígenas e Quilombolas, Sem Teto etc.São inúmeras as entidades contempladaspelos generosos recursos oficiais, distri-buídos a torto e a direito por centenas deONGs, cuja gestão fugiu ao controle doGoverno. Isso para não falar do programa“Bolsa Família”, que se tornou verdadeirafestança assistencialista, devido ao fato deque não há fiscalização adequada do Po-der Público. (Fica evidente, aqui, a pre-sença do modelo ético pombalino do “Es-

tado Empresário que garante a riqueza da

Nação”). É clara a tolerância oficial em facedos desmandos de movimentos como oMST, cujos ativistas peitam autoridades,destróem patrimônio público, invadempropriedades produtivas, desconhecemsumariamente decisões da Justiça, aniqui-lam centros de pesquisa agropecuária,tudo em aliança com grupos internacio-nais como a “Via Campesina” e contandocom a complacência dos ministérios daReforma Agrária e da Justiça.

Paralelamente, nenhuma medida é to-mada para que os arruaceiros passem arespeitar as instituições de direito. Tudosob as bênçãos estapafúrdias da Comis-são da Pastoral da Terra e do ConselhoIndigenista Missionário da CNBB. Políti-cas atentatórias contra a unidade do Paíssão postas irresponsavelmente sobre otapete, com assinatura de documentos edeclarações em foros internacionais, que,se forem levados à prática, conduzirão asérios riscos para a soberania nacional,

como está acontecendo com a criação daReserva “Raposa Serra do Sol”, em Rora-ima, seriamente questionada por juristas,intelectuais, empresários e militares.

Na retórica “neopopulista do atualPresidente, aparece como “leitmotiv” dosseus pronunciamentos a denúncia contraas maquinações das denominadas elites,que estariam tentando preservar privilégi-os em face das demandas do povão. Lulasitua-se, nos palanques, do lado dos hu-mildes, descamisados, negros, índios equilombolas. Mas, por outra parte, pre-serva as linhas mestras da Política Macro-econômica herdada dos governos anteri-ores, o que lhe tem possibilitado atrair aentrada de divisas necessárias para man-ter o crescimento, em que pese o absurdoaumento do gasto público e o calote doGoverno à dívida interna, que mais do quetriplicou ao longo dos últimos sete anos, eque força a manutenção de juros estratos-féricos e a aplicação de uma iníqua políti-ca tributária que pune brutalmente quemtrabalha e quem produz. O atual surto in-flacionário surge diretamente daí.

O populismo do carismático Lula coe-xiste perfeitamente com a estrutura patri-monial do Estado, que levou o partido doGoverno a gerir a coisa pública como pro-priedade privada, com os desmandos decorrupção generalizada que mancharam amemória do outrora moralizante grupo depetistas alçados ao poder em 2002. Popu-lismo e tradição patrimonialista fundiram-se, certamente, em “macunaímico” carna-val, que deitou por terra a moral pública eque entronizou o cinismo do “bateu-levou”

ou da ética totalitária gramsciana, que visa àhegemonia do proletariado (leia-se: donovo peleguismo sindical, que escapa aoscontroles do Tribunal de Contas da União).Está consolidado, assim, no Brasil, novomodelo de “neopopulismo” de esquerda,

de tipo peleguista e estatizante �

O

AMÉRICA DO SULAMÉRICA DO SUL

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Regras de mais e princípios ataque cerrado às Forças Arma-das brasileiras continua cada vezmais intenso.Desta feita, o instrumento usado

foi o assassinato de três prováveis mar-ginais depois de terem sido presos pormilitares e, inexplicavelmente, entre-gues, pelos coatores, a traficantes deuma facção rival.

Imediatamente, várias autoridadespassaram a dar declarações preconcei-tuosas, com o objetivo de debitar ao Exér-cito, como instituição, a responsabilida-de pelo crime, cujos autores, ao contrá-rio do que normalmente ocorre, já foramidentificados e presos.

Para o presidente nacional da Ordemdos Advogados do Brasil, o Exército tor-nou-se “um protagonista nocivo, na tra-gédia de horrores imposta aos morado-res”. Que a tragédia foi um horror, nemera preciso dizer, mas ver nocividade noExército seria como considerar a OABnociva, porque alguns advogados trans-portam droga para traficantes ou trans-mitem sentenças de morte geradas den-tro dos presídios, para os criminosos queas executarão do lado de fora.

As manifestações de indignaçãoquase histéricas, cuidadosamente ence-nadas por alguns, não se justificam, por-que os culpados serão, inevitavelmente,condenados.

E o serão, justamente, por serem mi-litares. Dissemos “justamente”, porqueos militares não adotam a lógica do go-verno e de seus seguidores, para osquais o aparelho repressor do Estadoserve, apenas, para constranger adver-sários políticos.

Os aliados são sempre intocáveis.Onde estarão, agora, os “mensaleiros”;os “cuequeiros”; os “sanguessugas”; osmafiosos da saúde; os “aloprados”; osusuários dos cartões de crédito ditos cor-

porativos; os autores do dossiê da CasaCivil; os traficantes de influência da ven-da irregular da VARIG; os assassinos dosprefeitos do PT, vitimados em meio àqueima de arquivos, nos escândalos dedesvio de dinheiro público; os ministros,os parentes, os compadres e os amigosdo presidente?

Como se vê, nenhum desses casosenvolvia militares. A impunidade só vi-gora nos meios castrenses, quando im-posta pela Justiça, contaminada pelos“defensores dos direitos humanos”, maisinteressados em quebrar a espinha dor-sal das Forças Armadas, demolindo-lhesos princípios basilares da Hierarquia e daDisciplina.

Ninguém verá a “tropa de choque”do Exército ser chamada para “blindar”criminosos. Esta será preservada parausos mais nobres, quando tal se fizernecessário.

A Força Terrestre sempre procurouevitar o seu emprego em operações deGarantia da Lei e da Ordem, sem o cum-primento de todos os ritos legais.

O que, então, estaria o Exército fa-zendo no Morro da Providencia?

Infelizmente, o governo envolveu,indevidamente, os militares, coagindo-os, como Comandante Supremo das For-ças Armadas, a participar de um projetode cunho político-partidário, para favo-recer o seu candidato à prefeitura do Riode Janeiro.

Assim, a indignação presidencialcom o envolvimento de militares no cri-me, só se explicaria pelo desgaste queisso possa ter causado ao seu candidato.

A exposição da sua política indige-nista antinacional e criminosa deflagrouum intenso esforço para desacreditar oExército, utilizando-se, inclusive, do re-curso à baixaria, com a exploração, nosmeios de comunicação, das declarações

de militares homossexuais desajustados.O ministro da defesa foi orientado

para acompanhar as investigações. Res-suscitado, agora, do grande silêncio ob-sequioso a que se viu condenado, emdecorrência das bravatas iniciais, não nosparece, mercê do seu passado, a melhorpessoa para acompanhar qualquer inves-tigação.

E ele não perdeu tempo. Tratou,logo, de tirar proveito da situação, ao au-gurar, em busca de mais quinze minutosde fama, uma reação forte, da socieda-de, e radical, da Justiça, contra o nossoExército. Novamente, a avaliação do mi-nistro foi equivocada. Reação forte dasociedade, quando houver, será contraesse governo desastroso.

Contra as Forças Armadas, somenteas manifestações orquestradas pelos ini-migos tradicionais e já conhecidos, paraos quais tudo vale, desde que seja paradestruí-las.

O glorioso Exército Brasileiro é insti-tuição permanente e continuará respeita-do por todos, muito depois que os nos-sos maus governantes tenham sido var-ridos da História.

Até o ministro Tarso Genro saiu dolimbo em que se encontrava, depois deter declarado que “a Amazônia é territóriointernacional”, e voltou a “deitar falação”.

A contaminação ideológica é tanta,que ninguém fala dos traficantes do Mor-ro da Mineira, os verdadeiros assassinosdos rapazes, nem do absurdo de existi-rem, na cidade, com a tolerância do Esta-do, áreas controladas por essa ou poraquela facção criminosa. O Ministro daJustiça, tão diligente contra os riziculto-res, também silenciou sobre isso. Só in-teressa ferir, de morte, o Exército. Maisuma vez, fracassarão.

Mas a responsabilidade dos gover-nantes vai muito além do que já foi dito.

Regras de mais e princípios

O

31 �

de menos

Jane AlexanderHarvest1997-1998

Luís Mauro Ferreira GomesCel AvPesquisador nº 11 do Grupo deEstudos do Caer

[email protected]

Com os baixos soldos, as graves res-trições orçamentárias e o desprestígio quetêm sido impostos às Forças Armadas, aseleção de pessoal ficou muito prejudi-cada. O recrutamento de militares nas áre-as controladas por traficantes e a sensa-ção de impunidade generalizada, semdúvida, contribuíram para essa barbárie.

Para agravar a situação, recentemen-te, o Tribunal Superior Eleitoral sucum-biu à lógica dos criminosos e perdeu achance de resgatar parte da moralidadenacional.

Alguns ministros parecem haver-seesquecido de que a aplicação do Direitose rege por princípios e por regras, parase concentrarem, exclusivamente, nes-tas últimas.

É incompreensível que quatro delestenham preferido permitir que maus ci-dadãos se aproveitem de suas própriasações dolosas e torpes para consegui-rem imunidades, que lhes garantam con-tinuar a praticar seus crimes livremente.

No Brasil, há regras demais e princí-pios de menos. Vivemos em um caos ju-rídico, onde os bons são oprimidos e osmaus têm toda a proteção do Estado.

Isso decorre da anomia intencionalque nos impõem para desestruturar oEstado, em benefício de projetos despó-ticos de poder.

Por que alguém se sentiria obrigadoa respeitar as Leis, se, todos os dias, osministros e o próprio governante as vio-lentam, sem qualquer pudor, e debo-cham de toda a Nação, negando, todasas evidências das atividades ilícitas quecometem às escâncaras? Tudo, tranqüi-lamente, sem que nada se faça para im-pedi-los.

Todas as regras têm seus limites esomente devem servir para protegerquem, também, as cumpra.

O Estado de direito tem o dever deusar todos os meios à sua disposição,para proteger-se de todos os que oameaçam, inclusive de ministros e pre-sidentes �

de menos

32

CATRE:o que foi

CATRE: Entidade e Sigla em-pregadas por muito tempo e jamaisentendidas. E pior: seu destino con-ceitual em nossa opinião, jamais foiatingido... Assim, inicio este simplespanfleto por força de haver estado lá,no momento da fixação daquele (avan-çado e moderno) conceito “de mode-

lo mobiliário de treinamento” e aolado do seu criador, o Tenente-Briga-deiro-do-Ar PAULO SOBRAL RIBEIROGONÇALVES.

Alguns atribuem essa sua iniciati-va ao fato de ter sido Adido Aeronáu-tico junto à Embaixada do Brasil noReino Unido e na Suécia. E, por con-seqüência (ou imitação, diziam os in-crédulos), haver “importado idéias”.Não creio. PAULO SOBRAL era um avi-ador nato e à frente de seu tempo.Rijo defensor de novas idéias, auto-disciplinado e disciplinador. E impla-cável profissional: a FORÇA AÉREA erasua eterna paixão, a Aviação sua vida.

Poder-se-ia, aí sim, imaginar queseu aguçado olhar de aviador tivesseencontrado, nessa vivência no exteri-or, as bases filosóficas que o move-ram a dar origem ao CENTRO DE APLI-CAÇÕES TÁTICAS E RECOMPLETA-MENTO DE EQUIPAGENS, ou seja, o(então) imaginado CATRE...

CATRE:seu conceito funcional

Qualquer Força Aérea que se pre-ze enfrenta – de maneira extremamen-te profissional (por óbvio) – dois pro-blemas com que todas se defrontam:

Maj Brig Ar Lauro Ney [email protected]

a experimentação e a praticagem denovas formulações para emprego emsuas máquinas aéreas (táticas, técni-cas, formaturas, emprego de armas,metodologia de ações de combate etc.),assim como conduzir o retorno das tri-

pulações de combate ao estado ope-

racional (pela transição, re-treinamen-to e pós-graduação) e que tenham sidoafastadas episodicamente do seu es-tado de prontidão para o serviço, vi-sando à sua reinclusão como “prontas

para o combate (combat ready)”, nosefetivos das Unidades Aéreas de pri-meira linha. Abordamos, portanto, asproblemáticas das “aplicações táticas

e recompletamento de equipagens”.Leia-se, portanto, CATRE, no seu con-texto conceitual.

CATRE: o que foi...Até onde minha memória alcança

nenhum dos militares que vieram acompor os Órgãos de Comando e Di-reção do CATRE, após sua criação, seaprofundaram na busca das razõesque originaram sua concepção. Mer-cê – possivelmente – da sensação demuitos de que a formação da Acade-mia da Força Aérea (AFA) carecia decomplementação (acadêmica e/ouoperacional), o CATRE veio represen-tar mais um ano no currículo da AFA:o 5º ano. Só que “fora de sede”...

Que se tenha notícia, em nenhummomento de sua vida, a FAB impôsao CATRE desenvolver “novas técni-

cas e táticas de emprego para qual-

quer que fosse a Aviação”, assim

como jamais lhe atribuiu o “encargo

de preparar tripulações para o retor-

no e/ou recompletamento dos efeti-

vos operacionais de suas Unidades

Aéreas”.Em assim sendo, todo o escopo

de trabalho atribuído ao CATRE foi sim-plificado: mais um ano adicional aocurrículo da AFA (ou uma pós-gradu-ação) para os aspirantes-aviadores,que, a partir desse período comple-mentar, receberiam suas qualificaçõesoperacionais como Pilotos (Caça eMultimotor).

CATRE:o que devia ter sido...

Ao conceber a inserção desse Ór-gão no contexto da preparação pro-fissional das tripulações de combateda FAB, atribuir-se-ia ao CATRE a mis-são de – em utilizando seus meiosaéreos, infra-estrutura acadêmica e a“expertize” de seus recursos de Ins-trutores, aliada a meios complemen-tares de treinamento, tais como“stand” de emprego operacional real,simuladores multiemprego etc. – rea-lizar as tarefas de experimentação re-lacionadas ao emprego real da plata-forma aérea e de seu armamento,assim como das formaturas, dos dis-positivos de desenvolvimento (em tem-po e espaço) das aeronaves para aexecução de suas missões de comba-te, a dispersão de meios aéreos noambiente hostil, os novos métodos deengajamentos, os dispositivos táticos,a fixação de conceitos de emprego do

CATRE:o que foi

33 �

e o que devia ter sido...

armamento aéreo, tal como a Fighter

Weapons School (USAF), a TOP GUN

(USNAVY), a Applied School of Tac-

tics (USAF), a Escadre de Transfor-mation (FAéF) ou a Operational Con-

version Unit (OCU – RAF).Ainda inserida nesse quadro de en-

cargos, estaria a tarefa (até hoje me-nosprezada e com riscos para a segu-rança operacional) de re-treinar tripu-lações para sua reincorporação às“Unidades de Emprego de primeira li-

nha”, após o afastamento do tripulan-te da sua atividade aérea por qualquermotivo. O objetivo era tão amplificadoque seria possível estender esse re-treinamento até mesmo para o pesso-al de apoio logístico e de manutenção(“on job training” + acadêmica).

O “why” por trás de tudo era ba-nir das Unidades de primeira linha (esupostamente prontas para o comba-te), QUALQUER encargo ou esforçorelacionado ao treinamento, à recicla-gem, ao recondicionamento ou àadaptação. Partia-se, portanto, dapremissa de que às Unidades de pri-meira linha cabia estar prontas para aação. E só: não haveria qualquer es-forço dedicado ao treinamento e, sim,à manutenção de “prontidão para a

ação”. Alerta permanente e total...

Resultados(do CATRE conceitual):

se é que existem...Em tendo sido somente o que foi,

sem que jamais tivesse sido o que de-

via, o CATRE virou uma sigla sem qual-quer significado relacionado à sua gê-nese.

Para ser o que foi bastava ser no-minado “5º ano da AFA”, já que a pom-pa de suas tarefas (encobertas por umasigla a mais no nosso catálogo telefôni-co) jamais foi exercitada. Em suma: nadase fez em termos de APLICAÇÕES TÁ-TICAS e, muito menos, em termos deRECOMPLETAMENTO DE EQUIPAGENS.

O pior de tudo: sobrevém a “car-

ga de trabalho” que ainda é impostaàs Unidades Aéreas de primeira linha,em princípio não estruturadas/equipa-das para desenvolver técnicas e táti-cas e, muito menos, para realizar astarefas de reinclusão em serviço, dasequipagens (resolo e readaptação),porventura afastadas da atividade aé-rea. Esse compromisso passou a serrealizado – como já presenciamos –em “programinhas particulares” de“reacomodação à máquina e ao am-

biente operacional”, às vezes “toca-

do” nos finais de expediente ou nosfins de semana, em iniciativas espo-

rádicas e fora do contexto da pronti-dão para o serviço. Quase que na basedo troca-troca entre amigos... Princi-palmente quando “muda o Comandan-

te da Unidade”, que não tem tempo(ou até mesmo julga desnecessário)um recondicionamento operacional eum retorno/reinclusão com toda a se-gurança de vôo. É um puro “resolo

da máquina”. E tudo está resolvido...Para um observador mais crítico

pergunta-se: esse retorno à primeiralinha dispensa os conhecimentos téc-nicos atualizados para se contrapor ao“envelhecimento da tecnologia antes

existente” e ao conhecimento das (no-vas) NPA? Dispensa os cheques deemergência e os repasses em um for-te programa de procedimentos atua-lizados e de simuladores? E a “futu-

rologia” para os encargos da Unida-de e o “status quo” em torno do cum-primento da sua missão?...

Talvez seja por isso que, à minhaépoca, ainda na Ativa, um general daUSAF, após visitar toda a FAB, concluiuconstrangedoramente:

“FAB is an ALL TRAINING AIR FOR-CE: YOU TRAIN EVEN IN THE COMBATREADY ENVIRONMENT!”

Parece que estava com a razão...E ainda está...

e o que devia ter sido...

34

stes são dois campos comple-mentares e, ainda assim, pos-suem diferenças essenciais e de

forma também.A Ciência é universal, isto é, pode-

mos desenvolver um trabalho científico emqualquer lugar do mundo, seja no Hima-laia, no Saara, em Nova York ou na Penha.Não dependemos de nada, apenas da na-tureza, pois, “fazer” (perdoem a expres-são) Ciência é basicamente observar a na-tureza, entender seus mecanismos e tra-duzir as suas leis de comportamento demodo adequado. Acreditem, no entanto,que, apesar de a natureza ser extremamenteconsistente naquilo que realiza, o exercí-cio de observá-la e traduzir esse compor-tamento é extremamente difícil.

Vejamos por exemplo que as coisasandavam flutuando em oceanos, mares,rios, lagos, lagoas, até em pequenos tan-ques, por milênios, até que um dia Arqui-medes observou esse fato e enunciou oseu princípio sobre o empuxo. Do mesmomodo, as laranjas, peras, maçãs e até ja-cas caíam das árvores no trabalho metó-dico e consistente da natureza até que umdia Sir Isaac Newton observou o fato e,certamente se perguntou, por que a maçãao se soltar da árvore não ficou lá em cimaou saiu flutuando ou subiu em direção aoscéus e, analisando o que vira, começou aescrever sobre a lei da gravidade.

Vemos, portanto, que não há neces-sidade de nada além de uma mente in-quisitiva e os fatos da natureza para quese faça Ciência de ótima qualidade.

No caso da Tecnologia, isso é bemdiferente. A Tecnologia é, ao contrário daCiência, regional. Podemos comprovarisso observando os chamados pólos tec-nológicos, como o Vale do Silício, naCalifórnia; a região de Campinas para aComputação; os centros da EMBRAPA

Antonio Carlos de Freitas PedrosaCel AvPhD em Engenharia Mecânica, Diretor doInstituto de Atividades Espaciais (1988-1990),Senior Member of the American Institute ofAeronautics and Astronautics (AIAA)

[email protected]

CIÊNCIA E E

Johanna BillingMissing Out2001

35 �

para a Tecnologia Agropecuária; e SãoJosé dos Campos para a Tecnologia Ae-roespacial, entre vários outros.

A Tecnologia nasce com o estabele-cimento de um núcleo básico que come-ça a produzir um novo bem ou serviço ecresce com a agregação de novos seg-mentos ao núcleo de conhecimento. Nor-malmente, esses segmentos trazem o co-nhecimento de como fazer melhor e maisbarato o produto e/ou serviço. Muitasvezes a Tecnologia necessita de ajuda dogoverno do país para se firmar como de-tentora do conhecimento de como fazerdeterminado produto ou de como fazê-locom qualidade superior.

Novamente temos alguns exemplosa citar, tais como o de produção de vidroótico nos Estados Unidos da Américaquando, durante a Primeira Guerra Mun-dial, aquele país viu-se em dificuldades,uma vez que o grande supridor de vidroótico era a Alemanha e as entregas esta-vam suspensas. A solução foi simples eao mesmo tempo extraordinária. O go-verno procurou uma empresa, naquelaépoca ainda pequena, a Bausch & Lomb,e expôs à companhia as necessidades dopaís. Como para a produção de vidro óti-co são necessários cadinhos de platina,o governo cedeu a platina existente emFort Knox para a fabricação de cadinhosgigantes, ficando a Bausch & Lomb deindenizar apenas as perdas por evapora-ção e, assim, foi produzido e compradopelo governo um estoque de vidro óticopara várias décadas, além de sedimentaro conhecimento tecnológico de como fa-zer vidro ótico, ou seja, do aperfeiçoa-mento da engenharia do processo e daengenharia do produto.

Temos também no Brasil algunsexemplos de apoio do governo para gan-ho de conhecimento tecnológico, nota-

damente o Programa Espacial Brasileiroe a EMBRAER.

Eu gostaria de completar este artigolembrando que o trabalho com o desen-volvimento tecnológico é um trabalho semfim, todos os dias temos de visualizarnovos mecanismos de apoio tecnológi-co e sempre com o cuidado de separar asempresas detentoras de novas tecnolo-gias daquelas que buscam somente umapoio eventual para aumentar seus gan-hos empresariais, e isto, este discerni-mento, nem sempre é fácil.

Vou citar aqui dois casos reais dos quaisparticipei e que envolvem apoio tecnológico.

No primeiro caso, a Força Aérea Brasi-leira (FAB) tinha um produto: o conversorde oxigênio do A-1, que era enviado para aItália a fim de ser recuperado, ficando por lácerca de seis meses, o que nos custava “X”dólares por cada conversor. Propusemosfazer a revisão com uma empresa de SãoJosé dos Campos em trinta dias, ao preçode “X/2”, com as mesmas garantias do ser-viço. Levamos um bom tempo tentandoconvencer nossas autoridades de que po-díamos realizar o serviço, sem sucesso, atéque fizemos a seguinte proposta: “Nos ce-dam o conversor em pior estado e faremoso serviço gratuitamente e devolveremospronto para o uso em trinta dias no máxi-mo”. Só desse jeito conseguimos iniciar oserviço, que, pelo menos durante os doisanos seguintes em que tive contato com aempresa, continuava sendo prestado à FABcom o mesmo preço e qualidade.

Esses procedimentos, no entanto,são custosos para as empresas; um pou-co mais de apoio pode ajudar a desen-volver não somente competência naque-le campo, mas também em outros cam-pos de atividade.

O segundo caso trata de canopi, maisespecificamente da transparência do ca-

nopi, que, no caso do Tucano e do Xa-vante, foi fabricado em quase toda a suatotalidade por uma empresa brasileiraprestadora de serviço para a EMBRAER.Neste caso, visualizamos que um serviçode polimento do canopi utilizando técni-cas modernas, algumas delas desenvol-vidas na própria empresa, e, portanto,parte de seu acervo tecnológico, poderiaestender o período de vida do canopi dedez para vinte anos, sempre com a trans-parência em bom estado e ao mesmo cus-to de trocá-la com dez anos de uso.

O convencimento das autoridadessobre a eficácia da nova tecnologia foi,mais uma vez, difícil, e, neste caso, utili-zamos uma transparência consideradacondenada, devolvendo-a pronta parauso, com todas as medidas aferidas porultra-som. Apesar de até já ter sido publi-cado um artigo sobre o serviço realizadoem folheto informativo da Diretoria deMaterial Aeronáutico e Bélico (DIRMAB),e de termos tocado no assunto algumasvezes, continuamos aguardando um ace-no positivo para conversar sobre comoimplantar esse serviço.

Se tivermos sucesso na implantaçãodo serviço estou certo de que ao finalteremos a melhoria da engenharia do pro-cesso e do produto, além da economiade recursos da FAB.

Isto é apoio à Tecnologia nacional.Para finalizar, relembro que não es-

tou advogando uma posição tola de que-rer fazer tudo com tecnologia nacional.Existem leis de mercado, de escala deprodução e de custo que devem ser ob-servadas. Apenas quero lembrar que todavez que tivermos a oportunidade de apoi-ar uma iniciativa séria de desenvolvimen-to da Tecnologia nacional devemos de-fendê-la com empenho, pois o caminhopara implantá-la nunca será fácil �

TECNOLOGIA

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Planejamento de missões “Teatros de

Daniel Ferreira Manso1º Ten Av1º Esquadrão do 16º Grupo de Aviação

O presente artigo busca explicitar e inter-relacionar as principais fases

que constam do planejamento de uma missão de ataque inserida no contexto

dos Teatros de Operações Modernos, bem como abordar algumas evoluções doutrinárias

decorrentes de inovações tecnológicas ou intelectuais.

Busca, também, mostrar como tal missão é contornada e permeada por diversos fatores de

ordem tática e estratégica, e que a falta de planejamento coerente em qualquer nível

decisório, certamente, produzirá conseqüências adversas às esperadas.

Desde a Segunda Guerra Mundial até aos conflitos atuaismuito se alterou. Paradigmas, técnicas e táticas passaram porverdadeiras revoluções conceituais. Um exemplo de paradigmaquebrado é o da navegação em baixas altitudes como melhormeio de incursão para qualquer situação tática. Recentes exem-plos demonstram claramente que inúmeros artefatos de artilha-ria antiaérea, principalmente mísseis de ombro, normalmentebaratos e de fácil manuseio, constituem a principal ameaça àsaeronaves de ataque.

De acordo com Costa (2), durante a operação Tempestadeno Deserto (Guerra do Golfo, 1991), as Forças de Coalizão per-deram 17 aeronaves em bombardeio a baixa altitude nos seteprimeiros dias. Diante dos fatos, o Comando da Força de Coa-lizão foi incisivo em determinar a maximização da sobrevivênciado conjunto Piloto/Aeronave, em detrimento da eficiência dossistemas de armamento. Assim, a partir da segunda semana decombate, os bombardeios passaram a ser realizados a médiaaltitude. De acordo com GAO (5), foram efetuadas, nos 18 diasde vôo com missões de ataque a baixa altitude, aproximada-mente, 27.000 decolagens e 65 aeronaves foram atingidas, es-tabelecendo a relação de um dano a cada 415 decolagens. Nosoutros 25 dias de Campanha Aérea nos quais os ataques foramefetuados a média altitude, em 37.500 decolagens, 21 caças-

bombardeiros foram danificados, gerando a relação de um danoa cada 1.785 decolagens. Em números absolutos, os ataques amédia altitude aumentaram em mais de quatro vezes o nível desobrevivência de pilotos e aeronaves na Guerra do Golfo.

No que diz respeito aos novos conceitos operacionais,constata-se, dia após dia, que eles são implementados eimplantados em novos ambientes conforme a operação cita-da anteriormente. Alguns dos exemplos desses novos con-ceitos operacionais são o Network Centric Warfare – NCW

(7) e o Effects Based Operations – EBO (10).Todos esses conceitos de nível estratégico, independente-

mente da nação que os utiliza, ou da abordagem escolhida, sedesdobram em vários “nós” de nível tático, que, por sua vez,demandam definições conceituais e contextuais claras, como,por exemplo, a definição tática do cenário (simétrico, assimétri-co etc.) que se espera encontrar, ou a fase específica do conflito(inicial, intermediária, final etc.), tudo isso para que se possadefinir com objetividade o tipo de tática mais adequada a serempregada (8).

“Deve-se, portanto, buscar uma coerência entre as con-

cepções de emprego e as tecnologias existentes, para alcançar

a máxima sinergia no emprego do poder aéreo.” (9) Posto isto,pode-se concluir que é “sine qua non” observar, especifica-mente no contexto das missões de ataque (Strike Missions), afase do planejamento em seu escopo “latu”.

Introdução

PALAVRAS-CHAVES

Planejamento de missão de ataque, NCW (Network Centric Warfare),EBO (Effects Based Operations) e Teatros de Operações Modernos

37 �

de ataque em diferentes Operações Modernos”

Partindo destes pressupostos, o presente artigo buscaexplicitar e inter-relacionar as principais fases constantes doplanejamento de uma missão de ataque inserida no contextodos Teatros de Operações Modernos.

Network Centric Warfaree Effects Based Operations

A NCW, ou Guerra Centrada em Redes, foi um conceitodesenvolvido pelo Almirante Artur Cebrowski, da MarinhaAmericana (1), e é uma estrutura semelhante a uma rede decomputadores onde os pontos desta rede são as platafor-mas (estação de terra, aeronaves, navios etc.) e seus senso-res. Segundo seu conceptor, seu emprego possibilita alcan-çar melhores resultados e desenvolver novas missões, queantes do conceito não poderiam ser realizadas (3).

O emprego de NCW proporciona, dentre outras vanta-gens, maior (6):

·Capacidade de comando, controle e comunicação;·Capacidade de identificação de amigo ou inimigo;·Capacidade de combate;·Capacidade de sobreviver;·Autonomia dos vetores isolados;·Interação entre os vetores;·Consciência situacional.

Fig. 1 - Visão de um Teatro de Operações moderno

em NCW (12)

Para alcançar seus objetivos, uma NCW necessita dos se-guintes requisitos (4):

·Enlaces táticos de dados em alta velocidade;·Programas de computadores;·Integridade que garanta a inviolabilidade dos dados por

assinatura eletrônica;·Sigilo por comunicação segura (criptografia);·Disponibilidade com redundância de meios;·Comando descentralizado.No tocante às Operações Baseadas em Efeitos (Effects Ba-

sed Operations – EBO), uma das possíveis definições, de acor-do com o artigo escrito pelo Major Jack Sine da U.S. Air Force(10), pode, em parte, ser traduzida a partir do trecho: “À medidaque amadurece o conceito de EBO, os efeitos destrutivos setornam apenas um entre numerosos efeitos potenciais das ar-mas. Armas de energia dirigida, armas não-letais e até armasvirtuais, como vírus de computadores, ampliam a abertura dosefeitos dos armamentos”.

Com isto, Sine aborda, fundamentado no artigo escrito peloCel. Timothy Sakulich (11), a singularidade do efeito destrutivodentre os demais tipos de efeitos descritos abaixo:

1. Efeitos desejados nas capacidades do inimigo. Emseu artigo “Dominant Effects: Effects-Based Joint Operations”,Edward Mann desdobra esta definição em efeitos diretos, ou deprimeira ordem. Os efeitos diretos desejados, como destruir umgerador de energia, são mensuráveis e tendem a ser imediata-mente óbvios. Efeitos indiretos desejados, como incapacitarbombas e filtros de água ao destruir o gerador de energia queos faz funcionar, ocorrem por meio de um sistema de conexõesde causa e efeito.

2. Efeitos desejados nas avaliações e ações do inimigose referem a efeitos no processo de tomada de decisão do inimi-go. Por exemplo, em decorrência de sucessivos ataques contracentrais termoelétricas em Bagdá, os geradores de energia tive-ram de ser desligados para que novas incursões fossem evita-das. Estes efeitos não ocorrem necessariamente por meio deum sistema formal estruturado, e podem ser ou não mensurá-veis ou previsíveis.

3. Efeitos não desejados equivalem a danos colate-

38

rais e podem ser relacionados direta ou indiretamente comos desejados.

4. Efeitos inesperados podem ser efeitos que se relacio-nem com o efeito desejado, mas que não tenham sido previstosem relação a ele. Por exemplo, os críticos da Operação Tempes-tade no Deserto atribuíram às interrupções de fornecimento deágua, provocadas pela destruição da geração de energia elétri-ca, a morte de 40.000 a 100.000 civis iraquianos. Estas mor-tes, além de não terem sido desejadas foram inesperadas, ouseja, pode-se dizer que o principal objetivo de um conflito ba-seado neste tipo de doutrina está essencialmente focado nosefeitos e não na destruição literal propriamente dita.

Definição do Cenário, Escolha dosAlvos e Avaliação de outros FatoresA definição do cenário esperado constitui a ação primordial

para a consecução de todas as outras fases do planejamento.Qualquer equívoco nesta etapa pode causar conseqüências ca-tastróficas a toda a operação. Deve-se identificar, primeiramen-te, se a situação tende a ser simétrica ou assimétrica (positiva ounegativa). Tal identificação deve ser realizada normalmente pormeio da análise das capacidades inimigas, tais como o númeroe a disponibilidade dos meios de detecção, dos meios de defe-sa aérea e antiaérea, da capacidade logística e do nível de trei-namento operacional, entre outras.

Outro fator preponderante para a obtenção do sucesso é acorreta escolha dos alvos. Baseada ou não na doutrina EBO, aescolha dos alvos deve levar em conta a executabilidade doataque, a possibilidade de avaliação posterior dos danos (BombDamage Assessment – BDA) e a avaliação criteriosa dos possí-veis efeitos inesperados e não-desejados.

A não observância total ou parcial do supracitado poderácausar, entre outros, o chamado “efeito CNN”, que, de acordocom analistas da operação Tempestade no Deserto, foi a ex-pressão utilizada para traduzir a atenção dada aos efeitos quenão eram desejados ou esperados (10).

Tão importante quanto as duas primeiras é a avaliação deoutros fatores relevantes. O planejador deve estar atento, porexemplo, ao número e aos tipos de aeronaves que possui, aonúmero e aos tipos de sensores por aeronave, à capacidadede emprego da plataforma em condições meteorológicas ad-versas, à escolha do período do dia mais adequado ao tipo deataque selecionado, à avaliação e definição dos possíveis ti-pos de sensoriamento a serem realizados (ISAR, satélite, ter-mal, óptico etc.) e à provisão dos “produtos” fornecidos aooperador final.

Como se pôde notar, até agora só se falou de planejamen-to de nível estratégico. A partir de agora, de forma contínua eindissociável da primeira, abordar-se-á o nível tático do pla-nejamento.

A Missão Operacional de AtaqueBaseado no exposto, até ao momento torna-se clara a per-

cepção de que o planejamento de uma missão de ataque, dife-rentemente de algumas crenças existentes, é algo extremamen-te complexo e se estende, continuamente, do início até ao finalde uma guerra.

Mais especificamente com relação ao aspecto operacional,pode-se afirmar que vários fatores devem ser levados em con-sideração quase que simultaneamente durante o decorrer detodo o processo.

A seguir pode-se, considerando a precisa ação estratégicano que diz respeito aos fatores anteriormente apontados e à pro-visão adequada de meios (aeronaves, sensores, armamentos etc.)e de produtos (informações de inteligência consistentes, ima-gens de sensoriamento remoto etc.) ao operador final, avaliaralguns dos fatores táticos mais relevantes à consecução de umamissão de ataque e à obtenção ou não do efeito esperado.

Com o intuito de elucidar adequadamente o processo deplanejamento operacional, optar-se-á, neste artigo, pela siste-matização temporal dividida por fases:

·1ª Fase: É marcada pela interpretação minuciosa do con-texto externo (do conflito). Deve ser realizada por meio do estu-do de todos os documentos operacionais disponíveis, como,por exemplo, a Ordem de Operações;

·2ª Fase: É caracterizada pela avaliação do contexto internoe, normalmente, contempla a avaliação do nível de adestramen-to das tripulações operacionais e das equipes de manutenção;

·3ª Fase: É marcada pelo recebimento e pela avaliação dasordens/informações providas pelos agentes decisórios de níveissuperiores. Procura-se realizar minuciosa investigação de todas asinformações, ordens e “produtos” recebidos, a fim de avaliar-se aadequação e a executabilidade do que foi previamente concebido;

·4ª Fase: Nesta fase, verifica-se, explicitamente, o trabalhodireto das equipagens. Nela, devem ser levados em conta, alémde todos os aspectos já apontados, todos os fatores operacio-nais relevantes à missão.

Fig. 2 - Visão de um mapa de planejamento

desenhado manualmente

39 �

O planejamento pode ser realizado manualmente (Fig. 2) oucom o auxílio de recursos computacionais, integrados ou não.Tais recursos, dotados ou não de inteligência artificial, influen-ciam diretamente na qualidade, na abrangência e na confiabili-dade do trabalho das equipagens. É de se esperar então, que,dependendo da complexidade da missão e das condições decontorno reinantes, falhas decorrentes de inobservâncias, omis-sões ou equívocos aconteçam caso o planejamento não recebao adequado suporte computacional.

A integração com outras equipagens, no caso de missõesde pacote (Package Missions), é outro fator extremamente rele-vante no processo de obtenção dos efeitos esperados. Ora,considerando o “pacote” uma engrenagem complexa que mo-vimenta determinado sistema em direção a um objetivo previa-mente definido, torna-se intuitiva a conclusão de que a perfeitaintegração entre todas as partes desta engrenagem é de funda-mental importância para o correto “funcionamento do siste-ma”, ou seja, infere-se, pois, que a ausência de “harmonia”entre equipagens, fatalmente, acarretará o aumento da probabi-lidade de fracasso de uma missão de ataque.

Ainda nesta fase, mais alguns fatores de planejamento sãolevados em conta:

– Meteorologia: Possibilidade da execução da missão em situ-ações meteorológicas adversas, caso haja algum tipo de arma-mento inteligente ou alguma outra modalidade de ataque factível;

– Controle de fluxo aéreo na área do TO: Por meio de“snapshots”, conforme ilustrado pela Fig. 3;

Fig. 3 - Exemplo de “snapshot”

– Revisão do plano de comunicações;– Revisão dos métodos de manutenção da consciência

situacional entre os envolvidos (AWACS, AEW, STRIKERS,FIGHTERS, SWEEPERS, TANKERS etc.);

– Revisão da situação tática (localização de artilharia antia-érea inimiga, tipo de cenário, fase de operação etc.);

– Escolha, revisão e explanação das táticas a serem utiliza-das, conforme ilustrado na Fig. 4;

Fig. 4 - Táticas de engajamento ar-ar

– Estudo das características do alvo por meio de diver-sos tipos de imagens, conforme exemplificado na Fig. 5;

– Escolha correta da biblioteca de missão adequada, comou sem auxílio de recursos computacionais;

– Análise das condições eletromagnéticas esperadasno Teatro de Operações por meio de “softwares” de apoio(Fig. 6);

– Estudo minucioso sobre o tipo de ataque determinadopelos escalões superiores;

– Estudo sobre os sensores que serão utilizados na mis-são (Fig. 7);

– Avaliação criteriosa da ameaça esperada (aeronaves,artilharia antiaérea etc.);

– Avaliação das situações de emergência e das situa-ções não esperadas.

Fig. 5 - Imagens Flir e aerofotográfica do alvo (14)

Fig. 6 - Perfil de predição de dutos gerado pelo

“software” Areps

40

Fig. 7 - Forward Looking Infra Red – Flir (13)

ConclusãoA missão de ataque inserida nos Teatros de Opera-

ções Modernos, como se pôde observar, é contornadae permeada por diversos fatores de ordem tática e es-tratégica.

A falta de planejamento coerente em qualquer níveldecisório, cer tamente, fará com que os objetivos almeja-

dos não sejam alcançados. Da mesma forma, observa-seque a ausência ou a deficiência de sistemas computacio-nais integrados e dotados de recursos de inteligência ar-tificial prejudica ou, até mesmo, inviabiliza o planejamen-to adequado em face da quantidade de variáveis e de in-formações contidas em todo o processo.

O mito de que somente as navegações a baixa altitudee em altas velocidades poderiam garantir sobrevivênciaao conjunto Piloto/Aeronave foi suplantado. Fica claroque, atualmente, a sobrevivência só será obtida por meiode planejamento abrangente e coerente.

Deve-se, por tanto, pautado em experiências obtidaspor meio de conflitos recentes, conforme o citado na in-trodução deste ar tigo, “(...) buscar uma coerência entreas concepções de emprego e as tecnologias existentes(...)”, criteriosamente explicitadas e sistematizadas nasseções 2 e 3, “(...) para alcançar a máxima sinergia noemprego do poder aéreo” (9), ou seja, pode-se concluirque é “sine qua non” considerar, especificamente no con-texto das missões de ataque (Strike Missions), a fase doplanejamento em seu escopo “latu”, sob pena, no casode omissão, equívoco ou inobservância de alguns dosaspectos mencionados, de se deparar com efeitos adver-sos aos esperados ou desejados �

REFERÊNCIAS

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Proceedings. Annapolis: US Naval Institute, Jan, 1998.(2) Costa, Cláudio Silva. Altura de lançamento nas missões de ataque ao solo: precisão versus sobrevivência. Rio de Janeiro:ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS DA AERONÁUTICA. (Trabalho de Especialização) 2006.(3) Department of Defense. Network centric warfare. Report to Congress. Washington, DC: DOD, Jul, 2001.(4) Dias, João Cândido Marques. Network centric warfarefare. Revista Passadiço. Rio de Janeiro: CAAML, 2006. p. 44-47(5) General Accounting Office. Operation desert storm: evaluation of the air campaign. National Security and International

Affairs Division. Washington, DC: DOD, 1997. p. 97-134(6) Guimarães, CC (FN). Evolução do material do combatente. Revista Âncora e Fuzis. Rio de Janeiro: CFNM, 2007. p. 6-7(7) Guimarães, Edson Fernando da Costa. Network centric warfare: uma revolução no campo de batalha. Revista Spectrum.Brasília: COMGAR, 2000. p. 14-16(8) Office of Force Transformation. The implementation of network centric warfare. <http://www.oft.osd.mil/library/library_files/document_387_NCW_Book_LowRes.pdf.> Office of the Secretary of Defense. Washington, DC: DOD, Jan 2005. Aces-sado em 01/09/2007.(9) Ribeiro, Narcelio Ramos. O impacto das concepções e tecnologias no preparo e emprego da Força Aérea Brasileira. RevistaSpectrum. Brasília: COMGAR, 2000. p. 7-10(10) Sine, Jack. Definir arma de precisão em termos de basear-se em efeitos. <http://www.airpower.maxwell.af.mil/apjinternational/apjp/> Air & Space Power Journal em Português. Alabama: Maxwell AFB, 2006. Acessado em 16/08/2007.(11) Timothy, J. Sakulich. Precision engagement at the strategic level of war. Guiding Promise or Wishful ThinkingOccasional Paper n 25. Alabama: Air War College, Dez, 2001. p. 11-15(12) <https://wrc.navairrdte.navy.mil/warfighter_enc/Facility/VPF/images/IBARNCW.JPG> Acessado em 01/09/2007.(13) <http://www.airsceneuk.org.uk> Acessado em 01/09/2007.(14) <http://www2.flirthermography.com> Acessado em 01/09/2007.

41 �

m oito de dezembro de 2007, no Cine Catalina daBase Aérea de Belém, aconteceu a Primeira Assem-bléia Geral Ordinária da Associação Brasileira de Ca-

talineiros (ABRA-CAT), da qual tive a grata satisfação departicipar.

Num País como o nosso, que pouco ou nada cultuasua História e seus personagens, foi muito emocionanteconstatar que na Força Aérea formou-se uma Associaçãocom o objetivo de recuperar, com muito orgulho, um pas-sado de venturas e desventuras daqueles que se doarampara tornar a população da Amazônia mais brasileira, maisapoiada, mais protegida e mais integrada.

Formada por Oficiais Aviadores, Sargentos Mecãnicose Radiotelegrafistas de Vôo, tripulantes do já lendário PBYCA-10 Catalina, a ABRA-CAT conta também com os com-panheiros que faziam voar: os qualificados e dedicadoshomens da manutenção. Participam, ainda, da ABRA-CAToutros “fabianos”, que, por sua pouca idade, não tiveramcontato com o Catalina, mas, sabedores dos seus feitos,incorporaram o “Espírito Catalineiro”.

Para Patrono da ABRA-CAT, várias pessoas que muitose dedicaram à Amazônia, foram lembradas. Por aclama-

Resgatando aHistóriaMario Kallfelz

Cel Av

[email protected]

ção foi eleito um homem íntegro, sonhador e realizador,piloto hábil e intrépido – dizia-se que seu Anjo da Guardahavia se demitido do cargo – com seu quepe usado debanda, e dono de um característico aperto de mão: o Te-nente-Brigadeiro-do-Ar João Camarão Telles Ribeiro.

No encontro, missões incríveis foram lembradas, mui-tas heróicas, algumas cômicas e pitorescas, mas todasmarcadas pela total dedicação ao árduo e efetivo trabalhodesenvolvido em favor das populações esquecidas daque-la região.

Em oito de dezembro de 2007, no Cine Catalina daBase Aérea de Belém, não foi virada mais uma páginagloriosa da História da Força Aérea Brasileira (FAB) naAmazônia. Na realidade, foi escrita a primeira página deum livro de recordações, redigida a muitas mãos por umgrupo de veteranos que se doaram totalmente a seu pró-ximo, com o propósito de, entre outros, legar exemplos deprofissionalismo, ética, caráter e amor ao trabalho desen-volvido pela FAB, em favor dos desvalidos da Amazôniaverde... e amarela.

Catalineiros, sem falsa modéstia, de alguma forma,NÓS FIZEMOS A DIFERENÇA!��

E

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randes episódios na His-tória de uma nação, fre-qüentemente, oferecemvariados pontos de vista àreflexão e à interpretação.

Não é diferente com o Correio AéreoNacional (CAN): a magnitude de sua atu-ação é de tal porte, que expandiu sua in-fluência para muito além dos limites dacorporação militar que o criou. O CANconsubstanciou-se, em verdade, na ex-pressão de um povo determinado a mar-car sua presença em todos os quadran-tes da terra que seus antepassados con-quistaram e lhe transmitiram.

O Correio Aéreo Militar, estabelecidopelo Exército Brasileiro, e o Correio Aé-reo Naval, mantido pela Marinha do Bra-sil, foram preciosos vetores de cidada-nia, imprimindo continuidade, em certosentido, ao impulso integrador das en-tradas e bandeiras de séculos atrás. Pilo-tos, mecânicos, radiotelegrafistas e ou-tros profissionais de apoio foram ban-deirantes de um novo tempo, em que aobsessão de arrebatar as esmeraldas do

interior das selvas foi substituída pelo te-naz compromisso de levar civilização aosmais remotos pontos da Pátria. Pedro Tei-xeira, Raposo Tavares e Rondon não fo-ram esquecidos...

Com a criação do Ministério da Aero-náutica, em 1941, e a conseqüente fusãodos meios aéreos da Marinha e do Exér-cito, o Correio Aéreo Nacional passou aatuar, preservando os ideais plantadospelas Forças co-irmãs e assegurando acontinuidade de sua ação em prol da es-tabilidade e do entendimento nacional. Aoestudar-se o CAN, decorre de início apercepção de uma faceta da mais alta re-levância: a dimensão estratégica de suaatuação. A semeadura dos campos depouso e a continuidade das linhas esta-beleceram um verdadeiro “escudo estra-

tégico”, principalmente na Amazônia,implantando vultosa malha de pontos deapoio, que, ao mesmo tempo, contribuiupara o progresso e para o fortalecimentoda defesa nacional.

A vocação do povo brasileiro não é ade ameaçar; é a de estender a mão (mes-

mo que alguns supostos historiadores,vítimas de seus antolhos ideológicos,busquem os holofotes da notoriedade aoarquitetar fantasiosas teorias revisionis-tas da História). Mas o repúdio à guerrade conquista não pode jamais tolher a ca-pacidade de defesa de um país. Assim, acriação de uma ampla rede de aeródro-mos, destacamentos e campos de apoio,essencialmente pela Comissão de Aero-portos da Região Amazônica, constituiu-se em vacina contra a vulnerabilidade dosvastos espaços amazônicos. Quandoexistem riquezas e quando emergem co-biças, todo vazio é perigoso.

Outra visão, ao se refletir sobre ascaracterísticas do CAN, é o aspecto daintegração sócio-cultural. O avião doCorreio levava o remédio, mas tambémo long-play de Emilinha Borba e a últi-ma edição de O Cruzeiro... O Brasil,generoso, coeso, com seus sotaques,seus temperos e seus ritmos, fazia-sepresente, provando que o idioma, abandeira e a certeza de que aqui habitaum só povo são elementos inegociá-

G

Visões do Visões do Visões do Brig Ar Orlanil Mariano Lima de Andrade

[email protected]

43 �

veis para os verdadeiros brasileiros, denascimento ou de coração.

Diversas outras visões, certamente,podem ser extraídas das páginas da Histó-ria do CAN, de seu passado e seu presen-te. Logística, Saúde, Educação, entre ou-tros, são importantes enfoques presentesno conjunto de atividades realizadas.

Mas quero também agregar outra fa-ceta: a aventura. E, modestamente, gosta-ria de compartilhar com os leitores umaexperiência por mim vivida, sabendo mui-to bem que os antigos (e alguns mais no-vos) vivenciaram episódios mais signifi-cativos do que este que passo a relatar...

Em 1981, servindo como primeiro-tenente no glorioso 1º Esquadrão deTransporte Aéreo, sediado em Belém,cumpria missão do CAN na região doRio Juruá, no Amazonas. Comandava oC-47 2033, que já havia sido avião pre-sidencial de Getúlio Vargas. Na passa-gem por Eirunepé, ganhei de presenteuma bela tartaruga. Decolei de Carauaricom destino a Tefé. Alcancei a altitudede cruzeiro (3.000 pés), nivelei, pedi

aquele cafezinho feito há quatro dias eestava lá, distraído, quando repentina-mente o motor direito pipocou fortemen-te e perdeu potência. Executei o proce-dimento de emergência para falha demotor, ajudado pelo meu co-piloto, oTenente Boente, sem sucesso. É que umdos dois pratos de ressaltos do motor sehavia estilhaçado por fadiga, deixandoo motor funcionando a baixíssima po-tência e causando forte arrasto.

Embandeirei a hélice, cortei o mo-tor em pane e compensei o avião, como outro motor em potência máxima con-tínua. Embora nosso peso de decola-gem tivesse sido menor que o previstopara aquelas condições, o avião não semanteve nivelado. Começou a perderaltura sobre a selva fechada. Nenhumrio por perto; quase podia ver os maca-cos, lá embaixo, chamando-nos paraas árvores.

Chamei o mecânico, um suboficialdos mais gabaritados do Esquadrão:

– Esmério, joga tudo o que for su-

pérfluo pra fora!

Ele assentiu e zuniu para trás. Al-guns minutos se passaram e o avião con-tinuou afundando. Esmério voltou à ca-bine e eu gritei-lhe:

– Joga algumas malas também!

Ele foi para trás e, alguns minutosdepois, a aeronave parou de afundar.Estávamos a uns 100 pés sobre a flores-ta, voando entre 95 e 100mph, velocida-de de aproximação final para o Dakota. Atemperatura do motor remanescente es-tava no limite entre a faixa amarela e avermelha. Mas o valoroso Dakota, heróida Segunda Guerra Mundial, agüentou!

Voamos assim durante uma hora eexatos sete minutos. Pousei em Tefé,cortei o motor e parei o avião no centroda pista, pois não tinha como taxiá-lo.Passageiros vinham nos agradecer portê-los salvo, chorando. Perguntei aoEsmério:

– Quantas malas você alijou?– Umas cinco ou seis.– E cadê a minha tartaruga?– Ih, Chefe, enquadrei a criatura

como supérflua!!!��

Correio Correio Correio

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RessacaRessacaLuiz Artur Juruena de Mattos

Chefe do Setor de Gastroenterologiae Endoscopia Digestiva do Hospital

da Lagoa RIO-RJ e Diretorde Divulgação da Sociedade

de Gastroenterologia doRio de Janeiro (2007/2008)

CaravaggioBaco1597

45 �

O que é ressaca?É um mal-estar comum ao dia seguinte à ingestão de volumesexcessivos de bebidas alcoólicas.

Por que ela ocorre?A Ressaca é o resultado da intoxicação pelo álcool ingerido emexcesso. Os sintomas acontecem em decorrência de uma sériede alterações no organismo, especialmente no fígado, no cére-bro, no coração, nos rins e no sistema nervoso central, sendoos principais sintomas Sede, Dor de Cabeça, Hipersensibilida-de à luz e ao som, Fadiga, Náuseas, Vômitos e Falta de Apetite.

A quantidade de álcool influencia na Ressaca?Em geral a Ressaca costuma ocorrer em pessoas que ingeremálcool em grande volume.

Por que a Ressaca só aparece no dia seguinte?A noite de quem bebeu muito é, em geral, mal dormida, daíporque os efeitos do excesso de álcool produzindo a Ressacacostumam manifestar-se na manhã seguinte, após a metaboli-zação do álcool.

Misturar bebidas intensifica a Ressaca?Sim! Bebidas alcoólicas variadas (fermentadas e destiladas)apresentam substâncias diferentes e, quando combinadas, po-dem resultar em sintomas de Ressaca mais intensos.

Por que quem bebe vai ao banheiro comfreqüência?Normalmente produzimos um hormônio que inibe a produçãorápida de urina, chamado hormônio antidiurético. O álcool ini-be a formação do hormônio, o que leva o indivíduo a urinarvárias vezes, contribuindo para a desidratação, que costumaocorrer nesses casos.

E a explicação para o gosto ruim na bocae a sede no dia seguinte?Cerca de 70% do álcool ingerido é absorvido pelo estômago ecerca de 30% pelo intestino delgado. A irritação gástrica provo-ca náusea, vômito e o gosto ruim na boca. A desidratação queo álcool ocasiona, provoca a sede.

Existem pessoas que não têm ressaca?Sim! Há pessoas que bebem muito e não apresentam Ressaca,enquanto outras têm Ressaca após ingestão de pequenas do-ses de álcool.

Os homens têm realmente mais resistênciaao álcool?Sim! As mulheres são mais susceptíveis aos efeitos do álcoolpela menor atividade de uma enzima, a Álcool Desidrogenase,desenvolvendo lesões no fígado mais graves, em menor tempoe em doses mais baixas quando comparadas ao homem.

Não é raro ouvirmos que Ressaca se cura commais álcool. Isso procede?Não! Beber mais álcool pode fazer com que os sintomas pare-çam diminuir, mas apenas fará com que a situação piore assimque o fígado metabolize o álcool, pois esse órgão terá aindamais toxinas para processar.

Beber água durante a bebedeira diminuios riscos do mal-estar do dia seguinte?Sim! Como medida preventiva aconselha-se beber um copo deágua para cada dose de álcool, com o intuito de atenuar osefeitos da bebida, dando mais tempo ao organismo para des-dobrar o álcool (o organismo pode processar apenas cerca de20 mililitros de álcool a cada hora).

E beber de estômago vazio aumenta a Ressa-ca? Por quê?Sim! Se você ingere o álcool de estômago vazio, o álcool éabsorvido de forma mais rápida e, conseqüentemente a chancede ter Ressaca se você beber demais é maior.

Chupar uma bala, tomar uma colher de azei-te, Engov, água de coco, são dicas que ouvi-mos por aí para não ter o mal-estar do diaseguinte. O que é realmente mito e verdade?É verdade que uma colher de sopa de azeite de oliva pode mini-mizar os efeitos do álcool, fato usado corriqueiramente peloshabitantes dos países do Mediterrâneo. Alimentar-se antes debeber também é uma boa estratégia. Deve-se evitar o uso de salde frutas antes ou depois do álcool, pois a maioria apresentaem sua composição o Ácido Acetil Salicílico, que é irritante doestômago.

O que fazer durante a bebedeira para evitar aRessaca? Existe mesmo alguma fórmula?Não existe fórmula mágica para evitar a Ressaca (a não ser quenão se ingiram bebidas alcoólicas). Deve-se beber com mode-ração, nunca de estômago vazio, e com copos de água interca-lados com as doses de álcool, evitando-se misturar bebidasalcoólicas e nunca dirigindo após excesso de álcool.

Quais as dicas para aliviar a Ressaca no diaseguinte?O melhor remédio para combater a Ressaca é ingerir bastantelíquido (desde que não seja álcool...). A ingestão de água diluio álcool e facilita o trabalho do fígado e dos rins na hora deeliminar as toxinas. Acrescentar sal e açúcar à água (soro casei-ro) ajuda a repor o sódio e a glicose perdidos na noite anterior.Bebidas ditas esportivas (que repõem eletrólitos, sal e açúcar),descafeinadas e sem gás podem também ser úteis. Outras con-dutas válidas são a ingestão de sucos de fruta, além de refei-ções leves durante o dia, remédios contra náuseas, vômitos eanalgésicos em pequenas doses, além de repouso �

46

m dos mais renomados estu-diosos do fenômeno religio-so, o romeno Mircea Eliade,

defende a tese de que, por mais quese proclame a-religioso ou ateu, ohomem não deixa de ter, no fundo,algum tipo de vivência do sagrado.Tal vivência não se dá, necessaria-mente, em pessoas formalmente li-gadas às religiões tradicionais, nempor meio de manifestações, ou ritosque lhe são próprios, tais como: afreqüência à missa, por parte de umcatólico; a um culto dominical, porparte de um luterano; a oração diá-ria (“salât”), por parte de um muçul-mano ou o jejum de um judeu no diado “Iom Kipur”.

Segundo Eliade, a experiência dareligiosidade ocorre de modo muitosutil, mesmo com aquelas pessoasque se proclamam “sem-religião”.Para entendermos melhor essa ex-periência, precisamos verificar comonosso autor entende o sagrado.

Segundo ele, o sagrado está vin-culado a uma dimensão, a um modode olhar o mundo que se opõe ao pro-fano. Trata-se de um olhar “diferen-

te”, não corriqueiro para coisas,acontecimentos, datas, pessoas etc.Nesse “olhar diferente”, o sagradose manifesta como algo que apontapara um plano especial, não redutí-vel ao objeto, ao tempo, à pessoa emtorno do qual ele “acontece”. Assim,por exemplo, se o “olhar profano”

percebe a pedra simplesmente como

Severo HryniewiczProfessor de Filosofia

da Faculdade João Paulo II

[email protected]

uma coisa natural, que pode ser útilpara construir uma casa ou para serarremessada contra um alvo, o “olhar

sagrado” reconhecerá nela um meiode manifestação de alguma força po-derosa, especial, que poderá modi-ficar o ritmo natural dos aconteci-mentos. Sagrado, portanto, é tudoaquilo que “coloca” o homem diantede uma realidade não-natural, reves-tida de um “toque” do sublime, doindizível, inefável, e – por que não?– ameaçador. Faz o homem sentir um“outro lado”, que não se confundecom a banalidade das coisas e dosacontecimentos do dia a dia.

Voltando seu olhar para a Histó-ria das sociedades, Mircea Eliadeinsiste na tese de que não há umasociedade sequer que possa ser clas-sificada como a-religiosa ou atéia.Desde tempos imemoriais, todas associedades humanas conhecidas ti-veram algum tipo de experiência dosagrado. Incontáveis são os modoscomo o sagrado esteve e está pre-sente na vida dos diversos povos. Oculto às “alturas celestes”, por exem-plo, que revela a predisposição parabuscar a eternidade, a transcendên-cia, a infinitude; para ultrapassar oslimites do plano reto, baixo, simples.Por isso, os deuses habitam os“céus” e os fenômenos meteoroló-gicos são manifestações das divin-dades que habitam “lá em cima”. Aesse culto às alturas celestes estáassociado o ritual de subir a esca-daria de um templo ainda hoje.

Outro exemplo, ainda, é o da ne-cessidade de indicar-se um “centro”,

um ponto fixo, uma referência nomundo. O centro do mundo se apre-senta como fenda, uma espécie deeixo que liga terra e céus. É muitocomum, especialmente nas mani-festações religiosas mais tradicio-nais, atribuir a um determinado lo-cal o privilégio da centralidade domundo. Muitos, por exemplo, viajampara a Ilha de Páscoa, Machu Picchuou Stonehenge, para conhecer o“umbigo” do mundo. Ver uma pedracomo centro do universo, certamen-te, significa olhar de forma “diferen-te” o objeto pedra.

Além disso, ainda há formas di-ferentes de olhar e viver o tempo. Hádois tipos de tempo: um é o tempoprofano, do trabalho, do lazer e dasdemais ocupações cotidianas; outroé o tempo sagrado, no qual ocorremfatos especiais. Trata-se do momentode revivescimento de um aconteci-mento mágico no passado, que é res-ponsável pelo que acontece agora, ouo momento de antecipação de um fu-turo favorável, como é o caso do mo-mento da passagem de ano, que senão for devidamente respeitado e vi-venciado, corre-se o risco de “tudo

dar errado” no ano que se inicia.Citando, ainda, outras formas de

experiência do sagrado, o estudiosoromeno chega à conclusão de que oHomem religioso antecedeu o Ho-mem não religioso ou ateu. Segundoele, o fenômeno do ateísmo ou da ir-religiosidade é relativamente novo naHistória da Humanidade. A atual “re-

cusa do sagrado” por parte de mui-tos está fundamentada na cega con-

O sagrado e o U

47 �

fiança na razão, na tecnologia e nopoder mágico do dinheiro e das mer-cadorias por ele adquiridas para so-lucionar todas as dificuldades e in-seguranças próprias do ser humano.Contudo, não parece ter, esta aparen-te recusa, definitivamente apagadoas “marcas do sagrado” no Homem.

Mesmo no Homem que se diz a-religioso, há uma série de compor-tamentos que representam as mar-cas vivas da experiência do sagradoe que, de certo modo, mostram seuirremediável aprisionamento à expe-riência religiosa, vivida sem rodei-os em tempos passados e hoje recu-sada por uma espécie de “vergonha

da razão”. Vejamos a presença de al-gumas “marcas do sagrado” tambémnaquele que se diz avesso à religião:ele participa de rituais de passagem,como a festa de aniversário ou deAno Novo; comemora a inauguraçãoda sede de uma empresa ou da ins-talação de sua nova casa; participado ritual, mesmo que civil, de casa-mento; festeja o nascimento de umacriança ou a obtenção de um novoemprego ou, ainda, a conquista de umtroféu esportivo.

Trata-se de uma herança que to-dos carregamos. Também o Homema-religioso descende do Homem re-ligioso e, mesmo que de forma in-consciente, conserva comportamen-tos que seus antepassados cultiva-ram abertamente. Esses comporta-mentos não possuem mais a pompareligiosa que possuíam, mas nãodeixam de ser rastros do sagrado emsua alma �

Hieronymus BoschA nau dos insensatos

1490-150058 x 33 cm

profano

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Ilustração Ivo Batalha - Cel Av