Revisão Teórica Sobre as Políticas de Inclusão No PROEJA

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Artigo publicado em anias de congresso.

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  • REVISO TERICA SOBRE AS POLTICAS DE INCLUSO NO PROEJA

    Vinicius Borges Alves1

    Luiz Carlos Gebrim de Paula Costa2

    RESUMO

    Este artigo descreva um histrico das polticas educacionais que influenciaram a elaborao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDBEN 9.394/96 e consequentemente o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na Modalidade de Educao de Jovens e Adultos (PROEJA) oferecido nos Institutos Federais a partir da institucionalizao do Decreto 5.840/2006. O artigo apresenta elementos que permitem analisar se o programa essencialmente poltica de incluso? Por meio de uma reviso bibliogrfica, discute a relao das polticas educacionais implementadas nas ltimas dcadas com o neoliberalismo, e suas interfaces no PROEJA do Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde. Este trabalho apesar de fazer referncia do programa na sua essncia apresenta consideraes constatadas durante o perodo da pesquisa que est compreendido entre 2009 e 2010 no Instituto Federal Campus Rio Verde. A articulao entre educao profissional e educao bsica foi o elemento determinante para compreendermos a falsa conscincia no que se refere a incluso social.

    Palavras Chaves: Poltica Educacional; Educao de Jovens e Adultos; Incluso Social; Ensino Profissional.

    1. INTRODUO

    O presente artigo analisa o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na Modalidade de educao de Jovens e Adultos (PROEJA) regulamentado pelo decreto n 5.840, de 13 de Julho de 2006 tendo como principal fonte de anlise o Documento Base e algumas das resolues que sejam relevantes para o entendimento do tema Poltica de Incluso. Procuraremos demonstrar por meio de um estudo bibliogrfico at que ponto a iniciativa de oferecer a Educao Bsica na modalidade de Jovens e Adultos ofertado nos Institutos Federais do atual governo democraticamente de incluso. Apresentaremos a participao do Brasil nos eventos internacionais que ocorreram nas ltimas dcadas e as

    1 Aluno do curso de especializao do PROEJA.

    2Professor do Instituto federal Goiano Rio Verde; orientador do Trabalho de Concluso de Curso.

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    respectivas polticas educacionais criadas na ltima dcada do sculo XX e a primeira do XXI, visto que o termo incluso vem ocupando cada vez mais os espaos acadmicos e principalmente a ateno das polticas pblicas nacionais e internacionais. O estudo aqui concentrado visa antes de tudo compreender at que ponto o PROEJA pode ser considerado como poltica que beneficia grupos sociais que por algum motivo deixaram de freqentar a escola e hoje busca se reinserir por um razo ou outra nas escolas, sobretudo no Instituto Federal Goiano. Em primeiro momento faz se necessrio compreender a influncia das conferncias internacionais no sistema educacional brasileiro., ou seja, conhecer as bases que delinearam a proposta de Educao integrada a Educao Profissional juntamente com seus princpios. Em seguida discutiremos o programa sob a perspectiva de educao inclusiva, visto que a educao, hoje baseada nos princpios de equidade, busca atender democraticamente a sociedade como um todo. Por ltimo elucidaremos elementos que indicam o programa como poltica que visa atender unilateralmente a formao profissional.

    2. EDUCAO, POLTICAS PBLICAS E O BRASIL DO FINAL DO SCULO XX

    As ltimas dcadas do sculo XX e a primeira do XXI foram palco de grandes debates polticos envolvendo a questo da Educao no Brasil e no mundo. A ateno especial dedicada s polticas educacionais no Brasil foi sendo implantadas medida que organismos internacionais incidiram propostas de Educao para Todos no sistema educacional brasileiro. Neste contexto a conferncia em Jomtien (Tailndia) foi decisiva na reforma educacional brasileira. Segundo Lima (2008 p. 52)

    os compromissos assumidos em Jomtien compuseram o Plano Decenal de Educao para Todos (1993), contemplados, posteriormente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB n 9.394/96) e no Plano Nacional de Educao (2001).

    O autor expressa que aps a conferncia o Brasil inicia um processo de reformulao no sistema educacional no que se refere principalmente a Educao Bsica reforando a idia de educao como direito de todos. Na efervescncia ele destaca a elaborao do Plano Decenal

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    de Educao para Todos que culminou definitivamente na promulgao da to esperada Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDBEN 9394/96 (Lei Darcy Ribeiro).

    Assim a ltima dcada do sculo XX foi bastante positiva, pois as mudanas no campo poltico foram intensas, sendo praticamente obrigado a elaborar um projeto que incidisse mudanas, o governo brasileiro apresentou em Nova Deli na ndia o documento contendo as metas e projetos no qual foi aprovado pelos pases participantes da conferncia. Deste modo o sistema educacional passaria em curto prazo por algumas alteraes com intuito de diminuir e erradicar o analfabetismo que sem dvida um dos principais problemas sociais no Brasil, portanto a dcada de 90 foi um marco na poltica brasileira no que tange um dos principais direitos fundamentais garantidos na Constituio de 1988 o direito educao (Brasil, 1988).

    Com a institucionalizao da LDBEN 9394/96, o autor reconhece algumas sensveis mudanas como o FUNDEF3. Porm o autor considera tais iniciativas inconsistentes no que se refere h uma mudana desejada, (Lima, 2008 p. 52) declara que

    na conjuntura internacional, cujas orientaes eram de uma economia globalizada e neoliberal, a LDB no poderia ser outra. Ela a filha da dcada de 1990. Uma dcada marcada hegemonicamente por orientaes, no plano internacional, de um modelo de poltica social neoliberal, que no Brasil vem se concretizando de vrios modos, expresso em variadas reformas (previdncia e do aparelho de Estado.

    As reformas educacionais como sendo iniciativas emanadas de polticas internacionais, sobretudo de organismo de financiamento como o caso do Banco Mundial visto como uma ao oriunda da globalizao. Para ele a educao como direito de todos foi mais uma vez ocultada nos ideais de uma economia neoliberal. Assim pode-se dizer que as reformas educacionais que passaram ser efetivadas no Brasil, foi ao que parece guiada pela poltica globalizada de cunho neoliberal falseando o verdadeiro princpio de Educao em prol de um sistema exclusivamente econmico, nesse sentido o autor considera que vivenciamos uma descomemorao da LDB. O principal motivo desta declarao veemente o fato de tais

    3 FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do

    Magistrio, implantado pela Lei n 9.424, de 24 de Dezembro de 1996.

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    mudanas estar ocorrendo no por iniciativa exclusivamente do governo brasileiro, mas por presses de organismos internacionais que buscam ajustar os pases sob a tica do neoliberalismo econmico.

    De posse do conceito de Desenvolvimento Humano expressado por Coraggio, as reformas educacionais segue o modelo de desenvolvimento econmico neoliberal4 pois para o autor o DH preocupa-se tanto com o desenvolvimento das capacidades humanas como com a sua utilizao produtiva.(Coraggio, 1999 p. 40).

    A discusso aqui no criticar as reformas consolidadas na dcada de 90 nem tampouco sugerir utopicamente que a educao deva negar os princpios norteadores do progresso a economia global antes de tudo elucidar as prticas promovidas pelos organismos internacionais e consequentemente as polticas educacionais no Brasil implementadas durante e aps a dcada de 90. A busca pela qualidade de vida desenfreada pela sociedade incorporada por uma dose de competitividade e sendo assim pode ser considerada aqui neste trabalho como prtica de excluso social. Em outras palavras, a educao desarticulada dos princpios de cidadania com prev a LDB ou unilateralmente estimulada pelos ideais capitalistas foge do que entendemos de educao para todos.

    importante ressaltar a grande movimentao de ordem poltica no final do sculo em relao educao no Brasil, porm iniciativas paliativas no que se refere incluso escolar, os indicadores do final da dcada de 90 no foram estimulantes, segundo (Di Piero e Jia et al, 2001 p.65 )

    a contagem da populao realizada pelo IBGE em 1996 verificou que entre os brasileiros com 15 anos ou mais, 15,3 milhes (14,2%) no completaram sequer um ano de escolaridade, 19,4 (18,2%) tm apenas de um a trs anos de instruo e outros 36 milhes (33,8%) completaram de quatro a sete anos.

    Com base nesses dados constata-se um percentual muito grande de analfabetos no final do milnio incitando mudanas de urgncia, pois as estatsticas revelaram dados assustadores.

    4 O conceito neoliberal, que imediatamente nos d a idia de que se trata do retorno s teses do

    liberalismo econmico-social que fundamentou a doutrina da emergncia da sociedade capitalista, carrega

    brutais falseamentos. Frigotto, 1995 p.83.

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    Depois de uma dcada da promulgao da Constituio Federal os desajustes so evidentes, o que demonstra (Di Pierro e Joia et al, 2001p. 66)

    segundo levantamento do Ministrio da Educao e do Desporto (MEC), entre 1995 e 1998, o nmero de matrculas iniciais no ensino fundamental de Jovens e adultos ficou em torno dos 2 milhes. No que se refere alfabetizao, o ndice de cobertura no chega a 1%; quanto ao acesso ao ensino fundamental, temos 8, 41% dos jovens e adultos cursando o sistema regular com alguma defasagem entre a idade e a srie e apenas 4% freqentando cursos para jovens e adulto.

    Os dados apresentados acima permite nos dizer que os programas de ensino das ltimas dcadas no foram suficientes para amortecer as dificuldades que impedem que jovens e adultos conclua seus estudos, visando amortecer as causas da evaso escolar o governo atual procura, por meio de programas inovadores, minimizar urgentemente a situao catica de indivduos que por falta de condies permanecem distanciados dos direitos fundamentais que garantem a Constituio Federal. Este cenrio educacional brasileiro fez emergir polticas pblicas de grande repercusso nacional, foi no impulso de grandes Conferncias Internacionais que a LDBEN n 9.394/96 foi promulgada. Idealizada por muitos a nova LDB desencadeou outras iniciativas de ordem poltica consolidando o ideal de Educao para Todos. Com objetivo de promover uma reforma no sistema educacional, principalmente na educao bsica, o governo procura atravs de programas especficos a compensao aos jovens e adultos excludos do direito a educao.

    Insuficientes para provocar alm do campo ideolgico mudanas na educao bsica, a LDB mostra se em primeiro momento como parte da soluo dos problemas do sistema educacional brasileiro. Na nova lei de diretrizes e bases da educao a Educao de Jovens e Adultos (EJA), por exemplo, passa ocupar dois inditos artigos normatizando e regulamentando o ensino destinado a diminuir os ndices de analfabetismo entre jovens e adultos. Preocupada com uma grande parte de cidados com pouco ou nenhuma escolaridade, a EJA busca assegurar o acesso e permanncia daquele que por alguma razo deixou de freqentar a escola.

    No contexto social da dcada de 90 vivenciamos grande democratizao do ensino pblico no Brasil, a Educao Escolar foi alvo de grande mobilizao poltica, traando metas e aguardando resultados, mas ao que parece as polticas pblicas no passaram de um discurso

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    ideolgico criando expectativas esperanosas e positivas quanto a reforma educacional implementada na dcada de 90, porm (Belloni, 2008 p. 149) considera que

    aps dez anos de sua publicao, o texto da LDB/19961 no foi objeto de mudanas significativas em seus aspectos conceituais e globais. Temas como concepo de educao, direito educao e universalizao, dever de educar concepo e organizao do sistema de ensino e ensino privado no foram objeto de nenhuma alterao substancial.

    Parafraseando Belloni sentimos a necessidade de introduzir o seguinte pensamento: o direito educao no negado pelas instituies pblicas, sobretudo pelo poder pblico, tem sido sem dvida tangenciada. Em outras palavras referimos que apenas oferecer o ensino no seja suficiente, imprescindvel viabilizar o acesso e a permanncia dos educandos em todas as modalidades de ensino zelando pelo sucesso escolar do indivduo. Nesse sentido admitimos que os avanos so difceis de notar quanto a oferta de Educao Para Todos e reforamos o que Lima sustenta vivemos uma descomemorao da LEI 9394/96, pois desde a implementao da lei pouco resultado concreto que pudesse legitimar as polticas sociais adotadas como medidas eficazes contra o grande surto que a educao no Brasil.

    3. PROEJA: A PROPOSTA DE EDUCAO PROFISSIONAL

    Recentemente a iniciativa de lanar o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na Modalidade de Jovens e Adultos desperta duas grandes realidades: a primeira que a EJA continua sendo a meta do governo que nos ltimos anos concentrou esforos para superar o ndice de analfabetismo no Brasil, prova disso o Programa Brasil Alfabetizado PBA (Documento Base, 2007: 09) e o segundo a preocupao com o carter profissional, pois o PROEJA atender-se-ia as necessidade de formao de um contingente de trabalhadores com pouca ou nenhuma profissionalizao (qualificao). Para melhor compreenso do que o programa vejamos alguns dos princpios presente no Documento Base (Brasil 2007 p. 5)

    a implementao deste Programa compreende a construo de um projeto possvel de sociedade mais igualitria e fundamenta-se nos eixos norteadores das polticas de educao profissional

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    do atual governo: a expanso da oferta pblica de educao profissional; o desenvolvimento de estratgias de financiamento pblico que permitam a obteno de recursos para um atendimento de qualidade; a oferta de educao profissional dentro da concepo de formao integral do cidado formao esta que combine, na sua prtica e nos seus fundamentos cientficos-tecnolgicos e histrico sociais trabalho, cincia e cultura.).

    Sobre o Proeja podemos concluir duas ou mais idias: a primeira que partindo do nmero de Institutos Federais prximo de 400 unidades (oferta limitada em comparao ao territrio nacional) o programa contribui para a excluso daqueles que vem na Educao de Jovens e Adultos a oportunidade de se beneficiar com a educao e consequentemente a insero no mundo do trabalho, visto a profissionalizao assegurada pelo mesmo, em outras palavras o curso atende o nmero reduzido de jovens e adultos que buscam completar seus estudos e se qualificarem com o ensino tcnico; a outra que h sem dvida a preocupao em oferecer a modalidade assegurando o que diz a LDB (Brasil, 1996 p.27)

    art. 37 (Seo V) 1 Os sistemas de ensino asseguraro gratuitamente aos jovens e adultos, que no puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caractersticas do alunado, seus interesses, condies de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

    Quanto s condies de vida e trabalho e principalmente de acesso o programa mostra sensvel aos educandos, pois o curso oferecido em dois turnos, para aquele jovem ou adulto trabalhador do perodo noturno o Instituto tem mediante exames de seleo o curso no matutino e para aqueles que trabalham em regime regular o curso noturno opo mais adequada. O exame de seleo ainda pode ser interpretado como medida de excluso mesmo que neste trabalho no seja apresentado os critrios utilizados para a matrcula do aluno, s o fato de existir no projeto do curso o processo seletivo basta para compreendermos como uma iniciativa exclusivamente voltada para uma parcela da sociedade e no a totalidade dos excludos do sistema educacional brasileiro. Ainda sobre o artigo 37 da LDB (Haddad & Ximenes, 2008 p. 141) compreende que

    o termo oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caractersticas do alunado, seus interesses, condies de vida e de trabalho, contraditoriamente, pode ser compreendido

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    como uma abertura para a reverso do conceito bsico da lei e buscar constituir programas voltados aos interesses dessa populao.

    Concordamos com a interpretao de Haddad & Ximenes de que o princpio que trata o artigo 37 da LDB 9394/96 provoca uma dualidade, ou seja, apresenta indcios de ensino democrtico preocupado com os excludos oferecendo a oportunidade de concluir a fase final da Educao Bsica; ao mesmo tempo pode ser considerado como prtica de excluso, ou seja, um programa que na ntegra busca satisfazer os interesses de minorias corre o risco de exclusivismo e aqui neste trabalho interpretado como excluso. Em outras palavras a essncia presente no art. 205 da Constituio Federal atender a sociedade como um todo, como este tipo de modalidade de ensino considerado parte da Educao Bsica oportuniza um nmero limitado de jovens e adultos esperanosos ocasionando a excluso de outros que por um motivo ou outro no se encaixa no perfil ou no possui o mnimo de instruo capaz de permitir a permanncia e consequentemente o desenvolvimento do educando.

    No Documento Base esto presentes argumentos que reconhecem que para haver uma

    mudana significativa imprescindvel assumir uma postura consistente por parte das polticas pblicas, apostando no programa o Documento Base (Brasil, 2006 p.26) aponta que

    necessrio construir um projeto de desenvolvimento nacional auto-sustentvel e inclusivo que articule as polticas pblicas de trabalho, emprego e renda, de educao, de cincia e tecnologia, de cultura, de meio ambiente e de agricultura sustentvel, identificadas e comprometidas com a maioria, para realizar a travessia possvel em direo a um outro mundo, reconceitualizando o sentido de nao, nao esta capaz de acolher modos de vida solidrios, fraternos e ticos.

    Compreender e aprofundar nos conceitos de totalidade e de minorias uma tarefa difcil, pois a sociedade capitalista possui caractersticas diversas fruto de uma desigualdade social e cultural e no apenas de ordem fsica, psicolgica. Oferecer um programa que atende com equidade os sditos de uma nao quase impossvel, (Hall, 2001, p.59) referindo a cultura na ps-modernidade acrescenta que

    no importa quo diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gnero ou raa, uma cultura nacional busca unific-los numa identidade cultural, para represent-los todos como pertencendo mesma e grande famlia nacional. [Essa

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    idia est sujeita dvida, por vrias razes. Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade, unio e identificao simblica.

    Adotando a concepo do autor sobre o conceito de totalidade em um contexto nacional, que envolve questes de ordem cultual e social, suspeitamos se as polticas que nortearam e continua incidindo metas no sistema educacional brasileiro na verdade uma inteno essencialmente democrtica. Melhor dizendo, os discursos de incluso e educao para todos podem estar sendo falseados de discursos ideolgicos que utopicamente contribuir para um sistema inalterado permanecendo as mesmas desigualdades de outros tempos histricos.

    Destacamos que o programa visa oferecer um ensino que conjure cidadania com educao para o trabalho, nesse sentido o documento (Brasil, 2007 p.26,27) refora que,

    a formao profissional especfica e continuada uma necessidade permanente, tanto pelas condies objetivas de milhes de jovens e adultos que a buscam e dela necessitam, quanto pelas necessidades econmicas e pela mudana na forma de organizao do processo produtivo.

    Com cuidado de no descaracterizar o modelo, advertimos que o programa ao oferecer o Ensino Tcnico aos jovens e adultos excludos aps a concluso da fase final da educao Bsica pode ser subentendido como atendimento secundrio, resguardando o Ensino Superior (fase que completa a educao escolar art. 21 LDB) para as camadas com maiores condies de acesso e desenvolvimento. Em outras palavras, salientamos que o programa pode estar sendo destinado queles com condies insuficientes para se inserir nos programas de ensino superior, restando somente a opo da Educao Profissional que sem dvida capaz de alterar a situao scio-econmica de uma sociedade to excludente. Recorrendo ao PROEJA, jovens e adultos vem a possibilidade de melhorar em grande medida o aspecto intelectual, sobretudo profissional.

    Reexaminando a educao bsica aps a LDB 9394/96 Pereira e Teixeira 2008 aponta avanos no que se refere a poltica de educao profissional, para as autoras a nova experincia de oferecer a formao integrada com base no decreto 5.154/04 so indcios de uma postura mais consistente onde o governo revogou o to criticado decreto n. 2.208/97.

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    Mesmo avaliando como sucesso a iniciativa de formao continuada (Pereira e Teixeira, 2008 p. 125) ressaltam que,

    a proposta do Ministrio da Educao sobre a oferta do ensino mdio integrado apresenta-se sob duas perspectivas: a) uma poltica pontual. Focada, por meio de um instituto legal autoritrio, como se configura um decreto, que vem traduzir tanto o exerccio de uma democracia restrita e limitada como a ausncia de uma poltica estruturante; e b) um encaminhamento que pode ser traduzido como uma resposta parcial aos debates e reivindicaes que se aprofundaram no pas desde a dcada de 1970, por um ensino mdio que agasalhe o conceito de escola nica e politcnica.

    Analisando o posicionamento das autoras sobre a proposta de Educao Bsica integrada verifica-se de um lado uma iniciativa sria pautada nos princpios de Ensino para o Mundo do Trabalho e de outro como uma ao exclusivamente voltada para uma parcela da sociedade, ou seja, uma poltica que ainda no contempla a sociedade como um todo. Tambm concordamos com as inflexes das autoras ao referir que o programa veio como uma resposta parcial aos anseios acumulados desde a dcada de 1970. H que se reconhecer uma postura mais slida do atual governo em relao ao governo anterior, (Pereira e Teixeira, 2008) descreve que nos anos 90 a Educao Profissional no pas com base no decreto n. 2208/97 foi um retrocesso no que se refere uma formao fundamentada em uma concepo de educao emancipatria.

    importante ressaltar que no caso em estudo de Educao de Jovens e Adultos com a formao continuada profissional de ordem tcnica o PROEJA pode ser considerado como projeto que sirva aos interesses da classe trabalhadora que esperanosa por melhores condies de vida busca o programa consciente ou inconscientemente essencialmente neoliberal. Segundo (Di Pierro e Joia et al, 2001 p.72) existe um dualismo na modalidade de educao de jovens e adultos visando a formao geral e profissional, os autores advertem que,

    embora as motivaes para que jovens e adultos participem de programas formativos sejam mltiplas e no necessariamente instrumentais, a melhoria profissional e ocupacional o motivo declarado da maioria dos estudantes. Ainda que o trabalho venha perdendo a centralidade que teve no passado recente na construo das identidades dos sujeitos e grupos sociais, ele continua a ser um fator importante nessa construo,

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    especialmente nas camadas sociais em que ele a fonte exclusiva para prover os meios de subsistncia. A contrao e o acirramento de competio no mercado de trabalho no perodo recente s veio tornar mais explcitas e urgentes as necessidades de qualificao profissional das pessoas adultas.

    As razes pelos quais, jovens e adultos recorrem ao ensino profissionalizante em grande medida a insero no mercado de trabalho, ou no mundo do trabalho como alguns autores colocam. Esta busca ora feita em busca da qualificao garantindo um lugar no trabalho, ora pela necessidade de legitimar a formao pr-existente no sujeito. Em outras palavras h aqueles que recorrem a educao profissional j inseridos no trabalho, neste vis (Di Pierro e Joia et al 2001 p.72) refora que, quando o pblico da educao bsica constitudo por jovens e adultos j inseridos no mercado de trabalho, entretanto, essa segmentao entre formao geral e capacitao profissional dificilmente se sustenta.

    Desse modo, fica mais claro compreender que o programa trata antes de tudo atender aos jovens e ou adultos a formao bsica mediante processo seletivo viabilizando consequentemente a educao profissional atendendo assim o jogo das polticas neoliberais. Os autores reconhecem a importncia da formao geral aliada aos saberes cientfico-tecnolgicos, a preocupao concentra-se em no reproduzir o sistema formativo propeduticos e profissionalizantes. Ainda que o modelo de educao bsica integrada a educao profissional na modalidade de educao de jovens e adultos seja nos moldes que descreve o Documento Base: formao integral do cidado, o programa atende um nmero irrisrio de indivduos por todo o territrio nacional, sendo aqui neste trabalho compreendido como poltica parcial de incluso. Por poltica de incluso, compreendemos as prticas governamentais que garantam universalmente os benefcios sociais a toda a sociedade, sobretudo aqueles que por qualquer motivo se manteve excludos. (Hfling, 2001 p. 31),

    argumenta que polticas sociais se referem a aes que determinam o padro de proteo social implementado pelo Estado, voltadas, em princpio, para a redistribuio dos benefcios sociais visando a diminuio das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconmico.

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    O PROEJA neste sentido um exemplo de polticas sociais, entretanto reforamos a idia que a iniciativa no atende aos grupos sociais de modo satisfatrio, melhor dizendo, o programa uma resposta emergencial ao que se refere Educao Para Todos.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Apresentamos elementos pertinentes para a compreenso das polticas educacionais no que se refere a Educao Para Todos, sobretudo a incluso social de jovens e adultos no programa de integrao da educao profissional com a educao bsica oferecido pelo governo nos ltimos anos. Demonstramos os princpios que tem norteado as polticas educacionais brasileira consolidando consequentemente aes decisivas na elaborao de programas que visam atender indivduos para se inserirem no mundo do trabalho oportunizando por conseguinte melhor qualidade de vida.

    A responsabilidade social do governo ofertando o ensino profissionalizante na modalidade de educao de jovens e adultos foi em certa medida um avano. Porm importante ressaltar, que a oferta gratuita do ensino no garante uma poltica de incluso no mbito geral. Elaborar, sancionar e colocar em funcionamento modelos de ensino com projeto pedaggico especfico que atenda os anseios de uma grande massa de trabalhadores que por algum motivo abandonaram seus estudos, no necessariamente uma poltica de incluso. A partir do que foi apresentado, o programa no contempla a sociedade como um todo, deste modo interpretado neste artigo como poltica de excluso, fazendo permanecer inalterado a realidade de muitos indivduos que por muito tempo foram excludos do sistema educacional brasileiro.

    Ampliamos a discusso sobre o Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na Modalidade de educao de Jovens e Adultos (PROEJA) acrescentando a idia de que o programa atende parcialmente a massa de jovens e ou adultos que buscam se inserir no sistema educacional brasileiro e consequentemente no mundo do trabalho. O programa de poltica de Estado no oferece amplamente a educao profissional para todos, os brasileiros que sem oportunidades de cursar um ensino superior, seja por um motivo ou por outro, busca esperanosamente a concluso do ensino mdio e

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    consequentemente os cursos profissionalizantes como auto-afirmao em suas reas de atuao ou as que almejam atuar.

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    REFERNCIAS

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