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Revista 22

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Revista Primeiro Plano nº 22

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NESTA EDIÇÃO...>>

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EXPEDIENTE>>Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Diretor: Odilon Luís Faccio

Direção de Redação: Maria José H. Coelho (Mte/PR 930- JP)

Editor chefe Rafael Gué Martini (MTe/SC 02551-JP)

Redação Rafael Gué Martini e Aline Capelli Vargas

Edição de Arte Cristiane Cardoso (Mte/SC 634-JP)

Capa Montagem sobre foto de Yasin Öztürk

Fotografia Sérgio Vignes

Secretaria e Distribuição Franciele dos Anjos

Colaboradores: Aron Belink, Alexandre Castro, Clemente Ganz Lúcio.

Parceiros Institucionais Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) • Fundação Vale (FV) • Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) • Instituto Observatório Social • Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social • Rede de Tecnologia Social (RTS)

A Revista Primeiro Plano é uma publicação do Instituto Primeiro Plano.

Edição nº22 - junho 2012 www.primeiroplano.org.br

Esta edição especial da Revista Primeiro Plano de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, trata de apresentar alguns textos fundamentais para com-preendermos o que está em discussão na Rio +20 - conjunto de eventos internacionais que culmina com a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável. O tronco da revista é formado por dois documentos: O Futuro que Queremos (editado pelas Nações Unidas) e o Acordo para o Desenvolvimento Sustentável (proposta brasileira organizada por 73 instituições).

O Futuro que Queremos, também conhecido como rascunho zero, é um ponto de partida que orientará os países na elaboração de uma proposta final para a Conferência oficial da ONU, que acon-tece de 20 a 22/06 no Rio de Janeiro. Já o Acordo para o Desenvolvimento Sustentável, produzido de forma participativa pelo Conselho de Desenvolvi-mento Econômico e Social e instituições signatárias, reflete a disposição da sociedade civil brasileira em participar da realização da Conferencia ao encami-

queremos ter futuro?

R. João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803 • 88010-420 - Florianópolis - SC - Brasil • Fone: 55 (48) 3025-3949 • [email protected]

nhar uma série de propostas ao Governo Brasileiro para os diversos temas a serem tratados, reforçando os encaminhamentos futuros, no ambito nacional e internacional.

Pontuando estes documentos estão as opiniões do Ministério do Meio Ambiente, expressas na en-trevista com seu representante na Rio +20, Fernan-do Lyrio. Também temos um artigo elaborado por Aron Belink, que é um dos principais articuladores da sociedade civil brasileira nos diversos eventos que ocorrem neste mes de junho no Rio de Janei-ro e no mundo. Um ponto de vista que é comple-mentado pelo PhD em ecologia Alexandre Castro e pelo sociólogo, diretor técnico do DIEESE, Clemente Ganz Lúcio.

Com este conjunto de reflexões queremos brin-dar nossos leitores com uma visão mais ampla so-bre a Rio +20, que possa ajudar a todos os atores sociais envolvidos a entenderem que o que está em jogo é se queremos ou não ter um futuro mundial compartilhado.

Entrevista 4

Com FERNANDO LYRIO Ministério do Meio Ambiente

Opinião 10 Por ALEXANDRE CASTRO Rio+20+30+40...+7 bilhões

O futuro que queremos 12 Um resumo do documento apresentado pela ONU em 10 de janeiro de 2012, como ponto de partida para as discussões da Rio +20.

Opinião 21 Por ARON BELINKY Rio+20: um ponto de convergência mundial

Acordo para o 22

desenvolvimento

sustentável Contribuições para a Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20

Opinião 38 Por CLEMENTE GANZ LÚCIO O que se espera da Rio+20

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ENTREVISTA

4 PRIMEIROPLANO . Junho 2012

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P

Economia verde inclusiva

róximo de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, o Brasil enxerga o evento como “uma oportunidade única para a mobiliza-ção dos recursos políticos necessários para desenhar uma saída eficaz e duradoura para

a atual crise internacional, em que se leve em consideração a complexidade de seus aspectos econômicos, sociais e am-bientais”, declara Fernando Lyrio. No que se refere ao âm-bito local, o assessor extraordinário do Ministério do Meio Ambiente – MMA para a Rio+20 assinala que o país “espera que a Conferência incorpore definitivamente a erradicação da pobreza como elemento indispensável à concretização do de-senvolvimento sustentável e a plena consideração do conceito de desenvolvimento sustentável, propriamente dito, na toma-da de decisão dos diversos atores”.

A PROPOSTA

DO BRASIL PARA

A RIO+20

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FERNANDO LYRIO

Assessor extraordinário do Ministério do Meio

Ambiente (MMA) para a Rio+20

Na entrevista a seguir, concedida para a IHU On-Line, Lyrio destaca que os documentos adotados a partir da Rio-92 propiciaram avanços na discussão internacional sobre o desenvolvimento sustentável. Entretanto, enfatiza, “ainda há expressivas lacunas na implemen-tação de alguns desses compromissos, resultado da falta de vontade política e da ausência de meios adequados para a implementação dos compromissos acor-dados em 1992”.

Um dos principais temas a ser discu-tido na Conferência, o conceito de eco-nomia verde tem causado divergências entre os participantes, pois nem todos

os ambientalistas e atores da sociedade civil enxergam, na chamada economia verde, a possibilidade de reduzir os ris-cos ambientais e tampouco melhorar o bem-estar da humanidade. De acordo com Lyrio, o Brasil tem adotado a “ex-pressão ‘economia verde inclusiva’, no sentido de oferecer a compreensão de um processo que contempla as três di-mensões da sustentabilidade”. E sugere: “Os países deverão traçar suas próprias estratégias para uma economia verde, que respeitem suas peculiaridades, prio-ridades, perspectivas e necessidades, numa premissa de que não há receitas únicas para isso”.

“A Rio+20 poderá conferir impulso político não só à

Convenção sobre Mudança do Clima, mas também a diversos

outros acordos multilaterais que padecem de reconhecido déficit

de implementação”

Qual a importância da contribuição das organizações não governamentais para o sucesso da Rio+20?

Fernando Lyrio – O papel das organi-zações não governamentais na Rio+20 e, de maneira mais genérica, das orga-nizações da sociedade civil nos proces-sos multilaterais tem sido reconhecido pelo governo brasileiro e foi explicita-mente citado no documento que o país submeteu às Nações Unidas com suas visões e perspectivas sobre a Conferên-cia. Naquele documento o Brasil reco-nhece que o setor não governamental detém expertise própria que o qualifica

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para influenciar esse processo. Nesse contexto, seria desejável que a Rio+20 apresentasse resultado que, respeitando os princípios do sistema multilateral e da soberania dos países, promova conexões efetivas e criativas entre o mundo não governamental e os processos decisórios multilaterais, aperfeiçoando o processo decisório multilateral, hoje essencial-mente baseado em decisões intergover-namentais. As formas encontradas até o momento para viabilizar a participação e a presença do mundo não governamen-tal nos processos multilaterais têm sido tímidas ou meramente legitimadoras de processos nos quais, a rigor, essa presen-ça não tem qualquer efetividade. Um dos grandes resultados da Rio+20 poderá ser a modificação desse quadro, reconhe-cendo as demandas, aspirações e propos-tas de atores – indivíduos e organizações – que não apenas são influenciados, mas também influenciam profundamente as formas como a comunidade internacio-nal se organiza e age.

O que precisa ser feito para que a Rio+20 ganhe a adequada visibilidade perante o público?

Fernando Lyrio – Uma adequada visi-bilidade da Conferência perante o públi-co requer esforço conjunto dos setores governamental e não governamental no sentido de mobilizar a comunidade inter-nacional para os temas associados ao de-senvolvimento sustentável. Esse esforço

de mobilização deverá incluir todos os meios de comunicação da imprensa in-ternacional e nacional, a fim de traduzir os temas da agenda da Rio+20 no dia a dia do cidadão comum, tornando a ideia de desenvolvimento sustentável mais próxima de temas importantes como ge-ração de empregos, inovação tecnológi-ca, ciência, inclusão social e conserva-ção dos recursos naturais.

Como os grupos da sociedade civil podem atuar no sentido de garantir que a Conferência não ficará desvinculada das preocupações diárias da população?

Fernando Lyrio – A maioria dos temas da conferência está direta ou indireta-mente vinculada às preocupações diá-rias da população. Nesse sentido, uma atuação importante da sociedade civil na Conferência seria a de compreender e disseminar, para os respectivos grupos de interesse, o nexo entre as suas preocu-pações e os temas da Rio+20, os meios de integração entre esses temas e as for-mas como eles estão interligados. Para isso, o processo oficial assegura diversos mecanismos para a participação da so-ciedade civil durante e anteriormente à Rio+20. Da mesma forma, as entidades representativas da sociedade civil deve-rão assegurar a existência de canais de comunicação entre as demandas da so-ciedade e as proposições e encaminha-mentos da Conferência.

O Brasil espera que a Conferência incorpore definitivamente a erradicação da pobreza como elemento indispensável à concretização do desenvolvimento sustentável

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Quais são as principais preocupações diárias da população em relação ao clima?

Fernando Lyrio – Inicialmente é im-portante ressaltar que a Rio+20 não será uma reunião sobre mudança do clima e, sim, sobre desenvolvimento sustentável. O tema mudança do clima já possui o seu próprio foro multilateral de discussão e negociação, que é a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – UNFCCC. Isso posto, a Rio+20 contempla em sua agenda inúmeros te-mas associados à questão de mudança do clima, como energia, água, uso do solo, produção e consumo sustentáveis, se-gurança alimentar etc. As preocupações diárias que mais afligem as populações em relação ao clima referem-se aos im-pactos naturais já sentidos, especial-mente em países de renda baixa que, em função de fragilidades de infraestrutura, limitações na capacidade de amparo eco-nômico e social e por serem fortemente dependentes de atividades econômicas ligadas ao uso dos recursos naturais, so-frem mais com os seus efeitos.

O que você destaca do progresso alcançado até agora desde a Rio-92 e quais os objetivos traçados na época que ainda não foram cumpridos?

Fernando Lyrio – A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como

Rio-92, constituiu um grande ponto de inflexão que consagrou a ideia de desen-volvimento sustentável, nos meios di-plomáticos, político, técnico, acadêmico, empresarial, entre outros. Desde então, a conexão entre as diversas dimensões do desenvolvimento sustentável ficou mais evidente, e a suposta contradição entre desenvolvimento econômico e conserva-ção ambiental e inclusão social foi colo-cada em xeque. Vários dos documentos adotados na Rio-92, como a Agenda 21, a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Prin-cípios sobre Florestas, as convenções sobre Biodiversidade e Mudança do Clima propiciaram avanços significa-tivos na discussão internacional sobre esses temas, e vários países – como o Brasil – chegaram a progredir signifi-cativamente na implementação desses compromissos. Contudo, ainda há ex-pressivas lacunas na implementação de alguns desses compromissos, resultado da falta de vontade política e da ausência de meios adequados para a implemen-tação dos compromissos acordados em 1992. Várias dessas lacunas são aponta-das no documento “Rascunho Zero”, que constitui a base para as negociações do documento final da Rio+20. Nesse senti-do, espera-se que essa conferência possa cumprir o seu mandato que inclui uma avaliação dos progressos e das lacunas de implementação nos compromissos in-ternacionais nos últimos 20 anos.

Há expressivas lacunas na implementação dos compromissos mundiais acordados, resultado da falta de vontade política e da ausência de definição dos meios adequados para a implementação dos mesmos na Rio - 92

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Qual deve ser o papel dos governos e das corporações para que os compromissos assumidos nas conferências do clima se traduzam efetivamente em ações?

Fernando Lyrio – A Rio+20 não será um encontro para tratar de mudança do clima, cujas negociações possuem foro próprio: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Cli-ma – UNFCCC. Contudo, a Rio+20 po-derá conferir impulso político não só à Convenção sobre Mudança do Clima, mas também a diversos outros acordos multilaterais que padecem de reconhe-cido déficit de implementação, ao tratar do papel de governos e corporações na implementação dos compromissos assu-midos. Os debates em torno da Rio+20 reconhecem a importância de que os esforços dos Estados nacionais sejam acompanhados da participação de todos os atores da sociedade civil. Assim, tem--se buscado criar canais de diálogo dos governos com o setor privado, igual-mente com cientistas, acadêmicos, tra-balhadores, ONGs, movimentos sociais, jovens, povos indígenas e comunidades tradicionais. Trata-se de fortalecer a von-tade política dos governos, a partir das visões, expectativas e demandas da so-ciedade civil internacional.

Qual o real sentido da expressão “economia verde”?

Fernando Lyrio – O conceito de economia verde tem sido objeto de discussões e, ao Brasil, importa que todos os países se sintam confortáveis com esse debate. O Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, principal autoridade global sobre meio ambiente da ONU, define economia verde como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significa-tivamente riscos ambientais e escassez ecológica”. O Brasil tem utilizado a expressão “economia verde inclusiva”, no sentido de oferecer a compreensão de um processo que contempla as três dimensões da sustentabilidade. Im-porta, ainda, assegurar a ideia de que economia verde não constitua alterna-tiva ao consagrado conceito de desen-volvimento sustentável, mas sim uma ferramenta para a sua implementação. Para isso, os países deverão traçar suas próprias estratégias para uma econo-mia verde, que respeitem suas pecu-liaridades, prioridades, perspectivas e necessidades, numa premissa de que não há receitas únicas para isso.

As entidades da sociedade civil deverão assegurar a existência de canais de comunicação entre as demandas da sociedade e as proposições e encaminhamentos da Conferência

FonteIHU On-line

www.ihu.unisinos.br/entrevistas/

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Como avalia a estrutura das Nações Unidas para viabilizar o desenvolvimento sustentável no mundo?

Fernando Lyrio – Há consenso de que essa estrutura é fragmentada e ineficien-te e não é por outro motivo que a arqui-tetura institucional das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável é um dos temas principais da Rio+20. Não obstante a multiplicidade de instituições e instrumentos criados para a promoção do desenvolvimento sustentável, os de-safios da sustentabilidade ainda não fo-ram superados. Observo dois problemas fundamentais: a sobreposição e redun-dância de ações e a dificuldade de acesso a recursos, os quais não são estáveis e previsíveis. Essas deficiências acabam por comprometer os esforços para o estabelecimento de programas com re-sultados eficientes e duradouros. Nes-se contexto, é necessário discutir uma nova moldura institucional. É preciso estabelecer mecanismos de coordenação e fomentar parcerias entre as diversas agências e instituições da ONU, a fim de gerar sinergias. Além disso, deve-se assegurar que a interlocução com a so-ciedade civil em âmbito internacional seja inclusiva e contemple mecanismos efetivos para que o processo decisório possa ser influenciado.

Que paralelos podem ser traçados entre o Encontro em Durban, o Protocolo de Kyoto e as expectativas em relação à Rio+20?

Fernando Lyrio – Devemos ser caute-losos ao traçar paralelos entre as nego-ciações sobre o clima e a Conferência Rio+20. Embora haja forte relação entre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, trata-se de dois processos bastante diferentes. A Conferência de Durban insere-se nas discussões sobre o futuro do Protocolo de Kyoto, dentro de um processo negociador já bastante antigo. A Rio+20 não tratará especifi-camente de mudança do clima, mas dos desafios globais para o desenvolvimento sustentável, constituindo encontro de na-tureza essencialmente política, quando chefes de Estado oferecerão à comuni-dade internacional suas visões sobre os modelos de desenvolvimento global.Qual o papel do Brasil na Rio+20 e o que o país pode esperar dela?

Fernando Lyrio – O Brasil participa da Rio+20 com múltiplos papéis. Na condição de anfitrião da Conferência, há de assegurar as perfeitas condições para participação dos milhares de vi-sitantes esperados no Rio de Janeiro em junho, representando todos os se-tores governamentais e não governa-mentais de países de todo o mundo.

Nessa mesma condição, o Brasil pre-side a Conferência e, embora se trate de um processo sob a governança das Nações Unidas, o Brasil tem importan-te papel político de buscar resultados que correspondam aos grandes desa-fios globais do desenvolvimento. Sua condição de país emergente o qualifica para buscar resultados que aproximem países desenvolvidos e em desenvolvi-mento, mitigando a perversa clivagem Norte-Sul, que tem se revelado pouco produtiva para os processos interna-cionais, e fortalecendo o sistema mul-tilateral como o foro adequado para o tratamento dos problemas globais. O Brasil enxerga a Rio+20 como uma oportunidade única para a mobilização dos recursos políticos necessários para desenhar uma saída eficaz e duradoura para a atual crise internacional, em que se leve em consideração a complexi-dade de seus aspectos econômicos, so-ciais e ambientais. O Brasil espera que a Conferência incorpore definitiva-mente a erradicação da pobreza como elemento indispensável à concretiza-ção do desenvolvimento sustentável e a plena consideração do conceito de desenvolvimento sustentável, propria-mente dito, na tomada de decisão dos diversos atores.

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ALEXANDRE CASTROPhD em Ecologia, Consultor em Responsabilidade Corporativa, Conselheiro Consultivo do Instituto Ilhas do Brasil, Fellow da Rede ASHOKA Empreendedores Sociais e Fundador da Estratégia Natural

m junho de 2012, na cidade do Rio de Ja-neiro, acontecerá a Conferência das Na-ções Unidas sobre Desenvolvimento Sus-tentável, a Rio+20. Este evento marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá contribuir para definir uma nova (ou nem tão nova assim) agenda do desenvolvi-mento sustentável para as próximas décadas, que alias, pro-metem ser bem quentes, literalmente.

Não tenho dúvida da importância deste evento, seja por sua abordagem em relação a política global, pelo estímu-lo às organizações da sociedade civil, e também por uma nova agenda para a indústria. Reconheço que a agenda da Rio + 20 está mais objetiva, focando também em um ce-nário de negócios e de benefícios concretos das estraté-gias de sustentabilidade. Lembro que na Rio 92, ninguém sabia muito bem o que estava fazendo por lá, inclusive eu, recém chegado de uma expedição de mais de 40 dias a Antártica, onde participava como pesquisador do PRO-ANTAR/UNISINOS/UFRGS. Imaginem Antártica – Rio 92, direto, “sem escalas”. Mas apesar do evento ser disper-so e de pouco foco, ao longo dos dias, não tive dúvida de que algo novo estava sendo construído. Mas era tudo mis-turado mesmo, primeiros ministros junto com ONGs de proteção aos animais, um cidadão do Cazaquistão vestido de peles de animais com uma águia no braço em um Rio de Janeiro de 40C. Tinha até show surpresa do Gilberto Gil, que nem pensava em ser Ministro. E tinha ainda reuniões de povos indígenas e também tinha alguns engravatados tentando vender sabe-se lá o que.

Rio + 20 + 30 + 40 ..... + 7 bilhões

E Mas foi também neste ambiente confuso em que ouvi falar pela primeira vez sobre a Carta da Terra. Foi lá que conheci o IMO (International Maritime Organization), organização que trabalha como uma série de regulamentações de navegação, inclusive os regramentos de cascos duplos e do controle de organismos invasores nas águas de lastros dos navios. Foi lá onde ouvi e vi tecnologias alternativas como fornos olares, e tratamentos de esgotos através de sistemas de raízes. Foi na Rio 92 onde conheci a imensidão de possibilidades de agir através de uma rede de instituições da sociedade civil orga-nizada e que diversidade, inclusão, sustentabilidade, geração de emprego e renda, conservação da biodiversidade, ética, direitos humanos, estavam de alguma forma conectados. Foi lá onde vi imagens de satélites do planeta e foi lá também onde ouvi pela primeira vez sobre aquecimento global.

Nesta perspectiva, para quem estiver na Rio + 20, não tenho dúvida que também será um ambiente de muitas des-cobertas. Descobertas estas que estarão muito atreladas à mo-delos de produção de baixo carbono e aos modos de vida das pessoas em um novo conceito de cidade. Se considerarmos a declaração do UNHABITAT, 2010, Relatório: O Estado das Cidades do Mundo, de que “... hoje mais de 3 bilhões de pessoas – metade da população mundial – vive em áreas urbanas. A cada ano mais 25 milhões de pessoas passam a viver em favelas ou ocupações irregulares, as quais frequen-temente são construídas em áreas de risco, seja de encosta instáveis ou sujeitas a inundações”. Por isso, será muito im-portante falar de novas formas de viver nas cidades. Cidades estas que terão que assumir características resilientes para enfrentar os desafios das mudanças do clima. Estou curioso para ver; vamos lá?

OPINIÃO>>

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>> RIO+20

O futuro que queremosORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

CONFIRA UM

RESUMO DO

DOCUMENTO

APRESENTADO

PELA ONU EM

10 DE JANEIRO

DE 2012, COMO

PONTO DE

PARTIDA PARA

AS DISCUSSõES

DA RIO +20.

O s Chefes de Estado e Governo, após reunirem-se na Rio +20, prepa-raram o documento O Futuro que Queremos, assumindo diversos compromissos. Comprometem-se em se esforçar ao máximo para ace-

lerar o progresso na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2015, melhorando as oportunidades para todos, e ao mesmo tempo preservando e protegendo o sistema de suporte à vida do planeta que compartilhamos. O documen-to renova o compromisso com o desenvolvimento sustentável e expressa determinação em buscar uma economia verde, que possibilite a erradicação da pobreza. O objetivo é uma maior integração en-tre os três pilares do desenvolvimento sustentável: o econômico, o social e o ambiental.

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Renovação do Compromisso Político

Nesta parte do documento os Chefes de Estado Rea-firmam o compromisso com a implementação da Decla-ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21, entre outras Declarações já negociadas. Re-conhecem a necessidade de reforçar o desenvolvimento sustentável globalmente através de esforços coletivos e nacionais, de acordo com o princípio de responsabilida-des comuns, mas diferenciadas e o princípio do direito soberano de Estados sobre seus recursos naturais.

O documento também reconhece que os vinte anos desde a Rio-92 testemunharam progressos e mudanças, com exemplos profundamente inspiradores, incluindo a erradicação da pobreza, em bolsões de dinamismo eco-nômico e em conectividade motivados por novas tec-nologias de informação que deram poder ao povo. Re-

conhece, entretanto, que também houveram retrocessos devido a múltiplas crises inter-relacionadas – financeiras, econômicas e os preços voláteis de energia e alimentos. Insegurança alimentar, mudança climática e perda de biodiversidade afetaram negativamente os ganhos de de-senvolvimento. É preocupante que cerca de 1,4 bilhão de pessoas ainda viva em extrema pobreza e um sexto da população do mundo esteja mal nutrida, com pandemias e epidemias continuando como ameaças onipresentes.

Embora o compromisso nacional com o desenvolvimen-to tenha se aprofundado e apesar dos esforços por Governos e agentes não estatais em todos os países, o desenvolvimen-to sustentável continua sendo uma meta distante e ainda res-tam grandes barreiras e lacunas sistêmicas na implementa-ção de compromissos aceitos internacionalmente.

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>> RIO+20

Major Groups são grupos formados por mulheres, crianças e jovens, povos indígenas, organizações não go-vernamentais, autoridades locais, trabalhadores e sindica-tos, comércio e indústria, a comunidade científica e tecno-lógica, e agricultores. São um pré-requisito fundamental para a implementação do desenvolvimento sustentável por meio da ampla participação pública na tomada de de-cisões. É importante permitir que todos os membros da sociedade civil participem ativamente no desenvolvimento sustentável incorporando seus conhecimentos específicos e know-how prático na elaboração de políticas nacionais e locais. Isso depende do fortalecimento do direito ao acesso à informação e da capacidade da sociedade civil exercer esse direito. A tecnologia está facilitando aos Governos partilhar informações com o público e ao público cobrar atitudes dos tomadores de decisões.

Os Major Groups

A economia verde deve contribuir para se alcançar metas-chave como:• a erradicação da pobreza, • segurança alimentar, • um sólido gerenciamento de recursos hídricos, • acesso universal a serviços de energia moderna, • cidades sustentáveis, • gerenciamento de oceanos • melhora na resistência e preparação para desastres• saúde pública• desenvolvimento de recursos humanos • crescimento sustentado, inclusivo e igualitário que gere empregos, incluindo para os jovens.

A Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza

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A economia verde deve se basear nos princípios da Rio-92 e ser centrada nas pessoas e inclusiva, oferecen-do oportunidades e benefícios para todos os cidadãos e todos os países.

No contexto do desenvolvimento sustentável e da er-radicação da pobreza, a economia verde deve proteger e melhorar a base de recursos naturais, ampliar a eficiência dos recursos, promover padrões de consumo e produção sustentáveis, e guiar o mundo na direção do desenvol-vimento com baixo consumo de carbono. A economia verde não tem a intenção de ser um conjunto de regras rí-gidas, mas uma estrutura de tomada de decisões para fo-mentar a integração dos três pilares de desenvolvimento sustentável em todos os domínios relevantes de tomada de decisões pública e privada.

Os países em desenvolvimento estão enfrentando grandes desafios para erradicar a pobreza e sustentar o

crescimento. A transição para a economia verde irá re-querer ajustes estruturais que podem envolver custos adi-cionais para suas economias. Nesse sentido, é necessário o suporte da comunidade internacional. É muito impor-tante o papel do setor privado para se obter um desen-volvimento sustentável. Encoraja-se intensamente que comércio e indústria demonstrem liderança no avanço da economia verde.

Portanto, os esforços internacionais para ajudar os países a estabelecerem uma economia verde não po-dem criar novas barreiras comerciais nem impor novas condições para financiamentos; ampliar diferenças tec-nológicas de países em desenvolvimento perante países desenvolvidos nem restringir o espaço político para que países busquem seus próprios caminhos para o desenvol-vimento sustentável.

Estrutura de açãoTodos os Estados deveriam desenvolverem suas pró-

prias estratégias de economia verde. A ONU, em coope-ração com outras organizações internacionais relevantes, deve dar apoio a países em desenvolvimento, quando requisitado por estes, no desenvolvimento de estratégias de economia verde. Serão necessários novos investi-mentos, formação de novas habilidades, desenvolvimen-to, transferência e acesso a tecnologias, e fomentação de capacidade em todos os países. É preciso oferecer apoio a países em desenvolvimento oferecendo fontes de financiamento; facilitando a pesquisa colaborativa internacional, assegurando que as tecnologias continuem sendo de domínio público e estejam disponíveis a preços acessíveis; apoiando cientistas e instituições científicas no desenvolvimento de tecnologias verdes locais e usar o conhecimento tradicional.

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>> RIO+20

Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável

Uma forte governança em níveis locais, nacionais, regionais e global é crucial para dar prosseguimento ao desenvolvimento sustentável. O fortalecimento e reforma da estrutura institucional deve, entre outras coisas integrar os três pilares de desenvolvi-mento sustentável e promover a implementação de Agenda 21 e resultados relacionados, de modo consistente com os princípios de universalidade, democracia, transparência, custos acessíveis e responsabilidade. Reforçar a coerência entre as agências, fundos e programas do Sistema da ONU, incluindo Instituições Finan-ceiras e Comerciais Internacionais.

Segurança alimentarO direito à alimentação convoca todos os Estados a priorizarem

à intensificação sustentável da produção de alimentos através da am-pliação do investimento na produção local, da melhoria do acesso a mercados locais e globais de agro-alimentos, e a redução do nível de dejetos em toda a cadeia de abastecimento, com atenção especial para mulheres, pequenos agricultores, jovens, e agricultores nativos. O do-cumento pede práticas que contribuam para a estabilidade dos preços de alimentos; acesso a terra, água e outros recursos; e suporte a programas de proteção social.

estrutura de ação e acompanhamento

estrutura de ação e acompanhamento

Água É crucial a importância

dos recursos hídricos para o desenvolvimento sustentável, incluindo a erradicação da po-breza e da fome, a saúde pú-blica, a segurança alimentar, a energia hidrelétrica, a agri-cultura e o desenvolvimento rural.

É necessário estabelecer metas para o gerenciamento de dejetos de recursos hídri-cos, incluindo a redução da poluição da água por fontes domésticas, industriais e agrí-colas e a promoção da eficiên-cia hídrica, em particular para a expansão de áreas urbanas.

Renova-se o compromis-so firmado com planos de eficiência hídrica e encoraja--se iniciativas de coopera-ção para gerenciamento de recursos hídricos através do compartilhamento de sólidas tecnologias e know-how am-bientalmente apropriados.

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estrutura de ação e acompanhamento

EnergiaDar prosseguimento à ini-

ciativa de Energia Sustentá-vel Para Todos, com as metas de oferecer acesso universal a um nível básico mínimo de serviços de energia moderna tanto para uso de consumo como de produção; melho-rando a eficiência de energia em todos os níveis até 2030 através da promoção do de-senvolvimento e uso de fon-tes e tecnologias de energia renovável em todos os países.

Cada país deve se esforçar para obter um desenvolvi-mento com baixo consumo de carbono.

estrutura de ação e acompanhamento

CidadesPromover uma abordagem integrada e holísti-

ca para o planejamento e a construção de cidades sustentáveis através do suporte às autoridades lo-cais, redes de transporte e comunicação eficien-tes, edifícios mais verdes e um sistema de serviço de entrega e assentamentos humanos eficientes, qualidade de ar e água melhorada, redução de dejetos, uma melhor preparação e resposta para desastres e ampliação da resistência climática.

Trabalhos verdes - inclusão social

Os trabalhadores precisam ter as habilidades e proteções necessárias para participar e se beneficiar da transição para uma economia verde. Oportunida-des significativas de criação de empregos podem ser ajudadas através de investimentos em obras públicas, práticas e gerenciamento sustentáveis do solo e de re-cursos hídricos, agricultura familiar, agricultura eco-lógica, sistemas de produção orgânica, gerenciamento florestal sustentável, uso racional de biodiversidade com propósitos econômicos e novos mercados liga-dos a fontes de energia renovável e não convencional.

Deve haver comprometimento com um au-mento no investimento em infraestrutura que promo-va o desenvolvimento sustentável. É preciso oferecer proteção social para todos os membros da sociedade, incluindo os que não estão empregados na economia formal. Nesse sentido, encorajamos intensamente ini-ciativas nacionais e locais com o objetivo de oferecer um piso de proteção social para todos os cidadãos.

estrutura de ação e acompanhamento

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>> RIO+20

estrutura de ação e acompanhamento

Oceanos e Mares

A exploração descuidada dos oceanos e de seus recursos põe em risco sua capacidade de continuarem a oferecer ali-mentos, outros benefícios eco-nômicos e serviços ambientais para humanidade. Reitera-se a importância da conservação, o gerenciamento sustentável e o compartilhamento igualitário de recursos marinhos. Os pa-íses estão convocados a avan-çarem na criação contínua de capacidade e a mobilização de recursos para investimen-to em tratamento de dejetos humanos e água de esgoto e a desenvolverem um plano de ação global para combater a poluição marinha. Os países estão convocados a combate-rem a pesca ilegal, não relata-da e não regulamentada por meio da adoção e implemen-tação de ferramentas efetivas, de acordo com a lei interna-cional.

estrutura de ação e acompanhamento

Desastres naturaisO pedido pela redução de riscos de desastres deve continuar a

ser abordado no contexto do desenvolvimento sustentável e coloca-do na agenda de desenvolvimento pós-2015. Pede-se a ampliação da coordenação entre os níveis nacionais, regionais e internacional para uma resposta robusta para emergências ambiental e melhores sistemas de previsão e alerta, assim como uma coordenação mais estreita entre a resposta a emergências.

estrutura de ação e acompanhamento

Florestas e biodiversidadeApóia-se estruturas políticas e instrumentos de mercado que reduzam, de-

tenham e revertam o desmatamento e a degradação florestal de modo efetivo e promovam o uso e o gerenciamento sustentável de florestas, assim como sua conservação e restauração. Também é bemvinda a institucionalização de serviços de biodiversidade e ecossistema em processos políticos e de tomada de decisões nos níveis regionais, nacionais e internacional, e encorajamos investimentos no capital natural através de incentivos e políticas apropriados, que apóiem um uso sustentável e igualitário da diversidade biológica e dos ecossistemas.

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estrutura de ação e acompanhamento

Degradação do solo e desertificação

A importância econômica e social do solo, em particular sua contribuição para o crescimento, a segurança alimentar, e a er-radicação da pobreza. Portanto, deve-se dar suporte a parcerias e iniciativas para a proteção de recursos do solo como a Parce-ria Global sobre Solos (GSP). Encorajar estudos científicos e iniciativas com o objetivo de aumentar a conscientização sobre os benefícios econômicos de políticas de gerenciamento susten-tável do solo que obtenham solo e terras saudáveis e produtivas.

estrutura de ação e acompanhamento

EducaçãoO acesso de todos à educação de qualidade é uma condição essencial

para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. O fortaleci-mento da contribuição de nossos sistemas de educação busca o desen-volvimento sustentável, inclusive através de um melhor treinamento e desenvolvimento curricular dos educadores.

As universidades estão convocadas a se tornaram modelos das me-lhores práticas e transformação ao dar um exemplo de sustentabilidade de suas instalações em seus campi e ensinando desenvolvimento sus-tentável como um módulo em todos os cursos

Encorajamos atividades de intercâmbio internacional de educação para o desenvolvimento sustentável, incluindo a criação de bolsas de estudo e de pesquisa para estudos internacionais.

Promover a educação para o desenvolvimento sustentável para além da Década de Educação da ONU para o Desenvolvimento Sustentável em 2014, para educar uma nova geração de estudantes nos valores, disciplinas-chave e abordagens holísticas e multidisciplinares essen-ciais para a promoção do desenvolvimento sustentável.

estrutura de ação e acompanhamento

Igualdade dos sexos

O desenvolvimento susten-tável está ligado e também de-pende das contribuições eco-nômicas das mulheres, tanto formais como informais.Devem ser removidas as barreiras que têm evitado que as mulheres se tornem participantes plenos na economia e liberando seu po-tencial como motivadoras do desenvolvimento sustentável, e dar prioridade às medidas de promoção da

igualdade dos sexos em todas as esferas de nossas sociedades, incluindo educação, empregos, propriedade de recursos, acesso à justiça, representação política, tomada de decisões institucional, assistência médica e gerencia-mento de lares e comunidades.

O documento compromete--se a apoiar o trabalho da ONU Mulheres para obter a igualdade dos sexos e dar poder às mulhe-res em todos os aspectos da vida, trazendo uma maior atenção às ligações entre igualdade dos se-xos e a promoção do desenvolvi-mento sustentável.

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20 PRIMEIROPLANO . Junho 2012

>> RIO+20

estrutura de ação e acompanhamento

Aceleração e medição do progresso

Deve-se elaborar até 2015 um conjunto de Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável que reflitam um tratamento integrado e balanceado das três dimensões do desenvolvimen-to sustentável, sejam consistentes com os princípios da Agen-da 21, universais e aplicáveis a todos os países, dando espaço para abordagens diferenciadas; e um mecanismo para acompa-nhamento e relatório periódicos sobre o progresso realizado na direção de sua implementação.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável devem incluir os padrões de consumo e produção sustentáveis assim como áreas prioritárias como os oceanos; a segurança alimentar e a agricultura sustentável; a energia sustentável para todos; aces-so e eficiência de água; cidades sustentáveis; trabalhos verdes, empregos decentes e inclusão social; e redução de riscos e a re-sistência a desastres.

Também devem complementar e fortalecer os ODMs na agenda de desenvolvimento para o período pós- 2015, devem ser medidos por indicadores apropriados e avaliados para objetivos específicos a serem alcançados possivelmente até 2030.

Fortalecer a capacidade de todos os países coletarem e ana-lisarem os dados e informações necessários para dar suporte ao monitoramento do progresso na direção os Objetivos de De-senvolvimento Sustentável. Reconhece-se as limitações de PIB como uma medida de bem-estar e concordamos em continuar a desenvolver e fortalecer indicadores complementares que inte-grem as dimensões econômica, social e ambiental de um modo balanceado.

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ARON BELINKYCoordenador de Processos Institucionais daVitae Civilis - Cidadania e Sustentabilidadewww.vitaecivilis.org.br

este mês de Junho de 2012, negocia-dores e chefes de Estado ou de gover-no se unem no Rio de Janeiro para a conferência oficial da ONU, acom-panhados de dezenas de milhares de

representantes da sociedade civil que estarão passan-do suas mensagens tanto no espaço oficial, quando em eventos paralelos.

A conferência Rio+20 deve ser vista como um gran-de ponto de encontro e convergência, um momento onde representantes dos governos e da sociedade civil estarão debatendo o estado geral do desenvolvimen-to sustentável. Há a expectativa de encaminhamentos concretos com relações aos simultâneos desafios eco-nômicos, sociais e ambientais que enfrentamos. Os de-bates e negociações relacionados a isso já ocorrem há décadas, mas a Rio+20 é um momento especialmente importante para firmar acordos e processos que levem a avanços práticos, indo além das boas intenções e de-clarações pomposas. Além disso, a Rio+20 deve ser vista como “uma peça em dois atos”: a conferência em si e o ano de 2015, data de referência para conclusão de muitos dos seus possíveis encaminhamentos.

O ano de 2015 é visto como um momento impor-tante, por ser quando se encerra o ciclo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), e também por ser um ano crítico nas negociações sobre mudan-ça climática. É neste ano que devem começar a vigo-

Rio +20Um ponto de convergência mundial

N rar as novas Metas do Desenvolvimento Sustentável, que devem complementar e aprofundar os ODM. Este também parece ser um prazo razoável para a obtenção de resultados nas várias campanhas e agendas de luta globais que possivelmente surgirão de processos au-tônomos da Sociedade Civil, como os articulados na Cúpula dos Povos.

A Rio+20 mostra que não dá para falar de desen-volvimento sustentável pensando apenas em países: os governos nacionais são importantes, mas é muito claro que tem imensas dificuldades em ir além do paradig-ma estreito dos mandatos (dos governantes) e das suas próprias fronteiras. O mundo é mais que a soma dos países, mas a ONU ainda não conseguiu assimilar isso. É muito difícil forçar os governos a agir na direção ne-cessária: isso depende, por um lado, da pressão inter-na - onde a opinião pública de cada país cobra a ação de seus governantes – e, por outro lado, dos interesses nacionais, ou seja, da percepção que um país tem sobre o quanto pode ganhar ou perder em determinada situ-ação. É uma lógica egoísta mas, infelizmente, é a que predomina na diplomacia.

Dessa forma, é fundamental que a sociedade civil trabalhe desde já em atividades relacionadas a esse novo ponto de convergência que será o ano de 2015, iniciando atividades em conjunto para garantir que os acordos e outros resultados da conferência sejam trans-formados em realidade.

OPINIÃO>>

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Acordo para o Desenvolvimento SustentávelContribuições para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20

O documento um Acor-do para o Desenvolvi-mento Sustentável e a Conferência Rio+20 é resultado da disposi-ção da sociedade civil de participar da reali-

zação da Conferência e de produzir uma proposta comum como contribuição ao Governo Brasileiro na preparação e no posicionamento estratégico/político nos temas a serem tratados e nos encami-nhamentos futuros, no âmbito nacional e internacional.

As 73 instituições que subscrevem o Acordo, formadas por organizações sociais, ambientais, empresariais e de trabalhadores, entendem a relevância do momento para articular um esforço mundial no sentido da sustentabilidade. O processo de diálogo interinstitucional resultou em um mapa do caminho de-

senhado coletivamente, que tem como marcos o respeito às diferentes con-cepções das instituições signatárias e o compromisso de ultrapassar a realização da Conferência, construindo uma rede social que continuará o aprofundamento dos consensos e a divisão das responsa-bilidades pela implementação das deci-sões.

Em função de sua posição como país emergente, o Brasil tem assumido papel relevante em acordos internacionais. Al-guns fatores cruciais no exercício deste papel são responsáveis por esta posição, como seu crescimento econômico com distribuição de renda, seu sistema de proteção social e seu esforço para esta-belecimento e cumprimento de metas ambientais.

O aumento da presença do Brasil tam-bém resulta de uma política externa que procura defender os interesses nacionais

RIO+20IL

USTR

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Transcorridos 20 anos da realização da Rio 92, um amplo leque de organizações e fóruns da sociedade civil brasileira construiu o documento “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável” como contribuição à Conferência Rio+20

com base em três grandes princípios: direito ao desenvolvimento, soberania e responsabilidades comuns, porém di-ferenciadas. Sem prejuízo desses princí-pios e do posicionamento internacional de nosso país, é preciso que o Brasil e os demais países do mundo reconheçam e superem, com urgência, o desafio repre-sentado por compatibilizar interesses na-cionais com a necessidade de um esforço conjunto para solução dos desafios glo-bais que a Humanidade enfrenta, e que por sua própria natureza transcendem as fronteiras nacionais.

Nesses ambientes, o país tem de-monstrado capacidade para dialogar com os demais países e para articular grupos regionais, de diferentes fóruns de debate, e estruturas multilaterais de concertação política. O exercício destas capacidades poderá ser intensificado, principalmente entre países do sul, viabilizando dife-

rentes coalizões políticas, cooperações, parcerias em tecnologias e práticas sus-tentáveis para influenciar os rumos das negociações na Conferência. Será preci-so, contudo, atenção aos desafios especí-ficos do contexto brasileiro, vinculados à capacidade de implementação da legis-lação ambiental e de negociação de um código florestal equilibrado que compa-tibilize objetivos do cuidado

ambiental e da contenção do desma-tamento, com a produção de alimentos e geração de emprego; e que firme o prin-cípio de proibição de retrocessos na dire-ção da sustentabilidade.

A proposta de realização de uma nova Conferência da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Susten-tável e de sediá-la no Brasil foi introdu-zida pelo Presidente Lula, em 2007.

Entre os dias 4 e 6 de junho de 2012, o Rio de Janeiro deve atrair a atenção do

mundo para o Brasil e para os temas em debate: a economia verde no contexto da erradicação da pobreza, e a estrutura de governança para o desenvolvimento sus-tentável no âmbito das Nações Unidas.

A sugestão não poderia ter sido mais apropriada já em 1992, no Rio de Ja-neiro, o Brasil havia sediado a Segun-da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a Rio 92, até então a maior reunião de chefes de Estado de toda a História. Aos 5,3 bilhões de pessoas que habitavam o mundo àquela época, os mandatários do planeta fizeram a promessa, consubstan-ciada no documento final do evento, a Agenda 21, de drástica redução da mi-séria, crescimento econômico e conci-liação de prosperidade com preservação ambiental.

Transcorridos 20 anos da realização da Rio 92, um amplo leque de organiza-

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ções e fóruns da sociedade civil brasilei-ra, articulado ao Conselho de Desenvol-vimento Econômico e Social (CDES), construiu de forma coletiva esse docu-mento, que ousou intitular “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável”, e apre-senta como contribuição à posição que o governo da Presidenta Dilma Rousseff levará à Conferência Rio+20.

O atual cenário de crescimento tem mostrado que ainda são muitos os desa-fios estruturais e sistêmicos para a con-solidação do desenvolvimento sustentá-vel com inclusão social, conforme será apresentado ao longo do documento. A possibilidade de desenvolvimento, de avanços na criação de empregos e na dis-tribuição de renda necessita de planeja-mento, construído de forma democrática e participativa, espírito esse que pautou a construção coletiva desse documento.

Rio + 20: resultados esperadosA Rio+20 acumula o legado de déca-das de mobilização da comunidade in-ternacional para o debate das questões socioambientais, entre elas, a Conferên-cia sobre o Meio Ambiente Humano de Estocolmo, na Suécia, em 1972; a Con-

ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro, em 1992; e a Cúpula Mun-dial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johanesburgo, na África do Sul, em 2002, também chamada Rio+10.

O histórico de mobilizações, confe-rências, acordos e legislações nacionais e internacionais sobre meio ambiente pro-duzidos nos últimos 20 anos e o imenso déficit de implementação dessas delibe-rações apontam como tarefa primordial da Conferência Rio+20 construir um compromisso político irreversível com o desenvolvimento sustentável. Isso se dá a partir do entendimento de que questões ambientais, sociais e

econômicas estão envolvidas de ma-neira intrínseca e articuladas na pro-moção da sustentabilidade, e tendo as dimensões política, ética, cultural e jurí-dica como base para o desenvolvimento sustentável. Sem esquecer, como ele-mentos transversais todas as políticas e ações de promoção do desenvolvimento sustentável, a equidade entre pessoas, com destaque para equidade entre raças, etnias, gêneros e gerações e entre regi-ões, países, e as liberdades fundamentais para todos.

A tarefa primordial da Conferência

Rio+20 é construir um compromisso

político irreversível com o desenvolvimento

sustentável

RIO+20

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Esse compromisso deverá se traduzir em agendas nacionais de desenvolvi-mento, que apontem estratégias, consti-tuindo-se em roteiros para o desenvolvi-mento sustentável, e que potencializem parcerias em todos os níveis. O compro-misso deverá ser definidor de metas e indicadores para

propor uma nova governança multila-teral participativa para o desenvolvimen-to sustentável com efetividade.

O compromisso deverá envolver o conjunto dos países, dentro do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas e deverá envolver, neces-sariamente, governos e sociedade – em-presários, trabalhadores, movimentos e organizações sociais.

Avanços e impassesA Conferência Rio+20 acontecerá em um cenário substancialmente diferente, do que marcou a Rio 92. Como pontos positivos pode-se citar que o compro-misso global para o desenvolvimento sustentável parte de um novo patamar caracterizado por um processo na dire-ção de práticas sustentáveis de desenvol-vimento. Na Rio 92, o consenso interna-

cional foi traduzido em um documento político, a Agenda 21, na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-mento, e resultou também na Conven-ção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Bioló-gica e na Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. Desde 1992 mais de cem países incluíram o meio ambiente em suas Constituições.

Relata-se, também, uma implementa-ção parcial de diretrizes propostas pela Agenda 21, com processos participati-vos no planejamento socioambiental nas diversas esferas de governo e da socie-dade. O tema socioambiental foi incluí-do na agenda pública (governos, mídia e sociedade), favorecendo a compreensão da necessidade de mudança para padrões sustentáveis de produção e consumo, preservação dos recursos ambientais e redução das desigualdades sociais en-tre populações e países. Fatores sociais, ambientais e econômicos estão em cres-cente conexão no palco da globalização, favorecendo a adoção de ponto de vista abrangente, integral e sistêmico. A parti-cipação da sociedade civil na governan-ça do desenvolvimento tem mostrado

O padrão de consumo, os sistemas de informação e comunicação e de ciência e tecnologia muitas vezes são inconsistentes com o desenvolvimento sustentável

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avanços, por meio de processos de arti-culação e cooperação entre atores sociais e políticos , de arranjos institucionais e da implantação de mecanismos parti-cipativos de escuta às demandas da po-pulação e de acompanhamento de ações governamentais.

A crescente internalização de práticas sustentáveis pelo setor produtivo, tanto na indústria quanto na agricultura, estão transformando a tecnologia de processos e gestão. Estão surgindo mídias sociais que possibilitam divulgação ampla e rápida de assuntos socioambientais de interesse da sociedade. A ciência, tecno-logia e inovação para o desenvolvimento sustentável tanto em relação à produção quanto aos sistemas de monitoramento ambiental tem mostrado muitos avanços. A criação e fortalecimento de unidades de conservação marinhas e terrestres se dá em maior escala. Recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente foram destinados no cumprimento de parte das metas da Rio 92. Não menos importante nesse saldo positivo é a adoção de me-canismos de transparência, participação social, respeito aos direitos humanos e combate à corrupção, que emergem pro-

gressivamente como fios condutores de todo o processo de convivência social.

Não obstante, alguns elementos indi-cam a insustentabilidade sistêmica dos padrões atuais. Atingiu-se a marca dos sete bilhões de habitantes - dos quais cerca de 1,6 bilhão vivem com menos de R$ 66,00 mensais - a fome e a insegu-rança alimentar, o trabalho precário, as doenças, as guerras, o tráfico de drogas entre outros problemas, marcam o coti-diano de populações inteiras.É crescente a desigualdade entre os países e entre as pessoas. O padrão de consumo, os siste-mas de informação e comunicação e de ciência e tecnologia, entre outros, muitas vezes são inconsistentes com o desen-volvimento sustentável.

As florestas estão sendo devastadas, a poluição das águas, dos solos e do ar agravaram-se e o derretimento das ca-madas de gelo dos pólos, o aumento dos fenômenos climáticos, a escassez de ter-ras agricultáveis e de água potável e a diminuição da biodiversidade são alguns dos sintomas crescentes dos limites ob-jetivos da natureza.

A crise econômica e financeira que afeta e ainda afetará as economias nos próximos anos vem deixando um ras-

A definição abrangente de

desenvolvimento sustentável requer a recuperação da economia para a

sua função social

RIO+20

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PRIMEIROPLANO . Junho 2012 27

tro de desemprego, que já atinge 200 milhões de pessoas no mundo, e de res-trição do acesso a direitos sociais, gera insegurança com relação ao futuro, es-pecialmente entre os jovens e os grupos sociais vulneráveis.

Desafios do contextoO contexto exige da Conferência Rio+20 um sentido de urgência para a superação da crescente insustentabilidade, tanto do ponto de vista econômico, quanto social e ambiental. É fundamental promover uma mudança de paradigma no modelo de produção e consumo na direção da sustentabilidade e da justiça social.

Esta mudança favorecerá a dinamiza-ção das economias, dado o esforço ne-cessário em termos de investimentos em infraestrutura e tecnologias sustentáveis, e em políticas sociais, como saúde, edu-cação, cultura, saneamento e habitação.

A solução para a atual crise econômi-ca demanda a implantação de um con-junto de políticas para construção de ciclo virtuoso sustentável de desenvol-vimento econômico, social e ambiental. Deve priorizar o investimento de longo prazo, sólido e não especulativo. Além

disso, uma forte supervisão dos bancos precisa ser acoplada a um controle mais rígido da liquidez. Deve-se promover transformações no padrão de produção e consumo, investindo na transição para uma economia verde capaz de suportar o crescimento econômico com a sustenta-bilidade socioambiental.

A definição abrangente de desenvol-vimento sustentável requer a recupe-ração da economia para a sua função social, que contempla a redistribuição da riqueza, o combate ao desemprego, a promoção da equidade e garantia de políticas sociais de caráter universal e integral. A garantia da seguridade social para todos é um poderoso instrumento neste sentido.É necessário promover a segurança alimentar e nutricional, de forma a garantir inserção social e acesso a alimentos em quantidade e qualidade a todas as populações.

São desafios, neste sentido, a regulação do sistema financeiro, de forma a evitar instabilidades e apoiar o desenvolvimento sustentável. A erradi-cação da pobreza é passo fundamental para permitir processos de desenvolvi-mento sustentável. O desafio para os pa-íses menos desenvolvidos e emergentes

Promover o desenvolvimento regional e local, por meio de soluções apropriadas e políticas integradas de inclusão social e de sustentabilidade.

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é crescer economicamente distribuindo renda, promovendo a inclusão social, re-duzindo as desigualdades sem compro-meter os recursos ambientais e a biodi-versidade. Prossegue-se no combate ao desemprego, frente ao mundo em crise e às mudanças tecnológicas. As políticas ativas para promoção do emprego e para a inclusão produtiva são fundamentais-para a superação da crise econômica e para o desenvolvimento sustentável.

O fortalecimento da democracia, da participação e do diálogo social são fa-tores indispensáveis para a mudança e a construção de um mundo mais sustentá-vel, mais justo e solidário.

Um roteiro para transiçãoO processo de transição para o desen-volvimento sustentável em termos eco-nômicos, sociais e ambientais exige o esforço de cada país, pactuado entre governo e sociedade, tendo a democra-cia como pressuposto, respeitando e se valendo da diversidade social, étnica e cultural, e do compromisso com a ética, a transparência e a paz.

São elementos deste esforço a transi-ção para o desenvolvimento sustentável,

a geração de oportunidades de trabalho decente nas cidades e nos campos; e a preservação, conservação e recuperação dos sistemas naturais.

O comprometimento dos países de-verá ser fomentado e potencializado por um conjunto de parcerias em todos os níveis e pela participação e controle da sociedade; e deverá ser acompanhado e monitorado por indicadores capazes de apreender de maneira sistêmica impac-tos econômicos, sociais e ambientais.

É necessário recuperar e fomentar a capacidade dos países, com base em suas especificidades culturais, sociais, eco-nômicas e ambientais, de formularem agendas nacionais que orientem as ações visando o desenvolvimento sustentável. Caberá a Rio+20 deflagrar e organizar processos que gerem planos de governo a serem implementados, monitorados e avaliados, prevendo responsabilidades compartilhadas, e que contemple uma governança participativa em vários ní-veis. São diretrizes neste sentido: forta-lecer o papel do Estado como indutor do desenvolvimento, por meio de políticas integradas de sustentabilidade, manejo de ferramentas de política econômica - câmbio, juros; sistema público de fi-

O padrão de consumo e

produção vigente, baseado no modo

de vida urbano-industrial, tornou-

se insustentável na medida em que

compromete o clima e o equilíbrio

ecológico do planeta.

RIO+20

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nanciamento; empresas estatais e priva-das fortes; capacidade de planejamento; sistema de proteção social, envolvendo educação; acordo para o Desenvolvi-mento Sustentável, saúde, habitação, previdência; e marco regulatório am-biental adequado.

Incentivar, por meio do financiamen-to, sistema de crédito e fiscal, a transição para a economia verde, com estrutura produtiva menos intensiva em recursos naturais não renováveis, buscando efici-ência, reutilização, reciclagem e redução do uso de matérias primas. Incentivar a ampliação de mercados e cadeias pro-dutivas locais; o empreendedorismo, o associativismo, o cooperativismo, a economia solidária e o extrativismo sus-tentável. Promover mecanismos de con-sultas às populações locais sobre cons-truções e investimentos que impactam o território. Implementar ações para pre-servação, recuperação e conservação dos recursos naturais, para elevação da qua-lidade ambiental dos ecossistemas e para redução progressiva do desmatamento e desflorestamento nos biomas nacionais. Prever incentivos e/ou retribuição às ati-vidades humanas de restabelecimento, recuperação, manutenção e melhoria dos

ecossistemas que geram serviços am-bientais. Implementar políticas e ações que promovam a redução das desigual-dades de raça, etnias e gênero, e que possibilitem a inserção plena das comu-nidades tradicionais (indígenas, quilom-bolas, populações ribeirinhas, extrativis-tas, pescadores artesanais e agricultores familiares) no processo de desenvolvi-mento sustentável. Garantir proteção das terras indígenas. Implementar a justiça fiscal, com foco na correção das desi-gualdades, no estímulo à produção e ao investimento produtivo, e com atenção para questões ambientais como vetor importante na construção de estímulos tributários. Desenvolver amplamente as “compras públicas sustentáveis”. Incen-tivar que o mesmo critério seja usado em relação às compras de outras instituições, como grandes empresas e organizações visando incentivar padrões de produção e consumo mais sustentáveis. Incentivar práticas e tecnologias agrícolas voltadas à conservação dos recursos naturais, a agroecologia e priorizar a adoção de po-líticas de segurança alimentar e nutricio-nal e erradicação da fome e da pobreza. Fomentar a articulação entre governos e sociedade civil para garantir coesão

Fortalecer o papel das cidades e dos governos locais na construção do desenvolvimento sustentável, como espaços de inovação e construção de cultura e tecnologia, combinado com a participação democrática da população.

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O aumento da participação dos

atores sociais é fator fundamental

para a qualidade e viabilidade

dos processos de desenvolvimento

sustentável.

social e governança das agendas de de-senvolvimento sustentável, bem como o compartilhamento de responsabilidades e controle social da implementação das políticas, programas e projetos.

Novo padrão de produção e consumoNossas escolhas e estilos de vida tradu-zem o aumento da renda per capita em alguns países e a elevada concentração de renda e riqueza - responsáveis pe-las assimetrias entre países, regiões e pessoas.À medida que a população cres-ce, mais inviável se torna esse modelo, que não pode ser universalizado e atende a apenas um terço dos mais ricos do pla-neta. A desigualdade no consumo ener-gético é um dos indicadores da insusten-tabilidade e iniquidade desse modelo. Um novo modelo de produção, consumo e distribuição passa pela redefinição de uma forma participativa de governança sobre esse complexo processo e pela re-novação da agenda do desenvolvimento com base em equidade e baixo impacto ecológico.

Para alcançar esse modelo algumas diretrizes são adotar a liberdade e a

equidade como direitos fundamentais de todos e como critério para o estabeleci-mento de um novo padrão de produção e consumo inclusivo e sustentável. Envol-ver os produtores e consumidores para garantir o compromisso com a mudan-ça dos padrões de produção e consumo e prever estratégias para transição para a economia verde com justiça social, fortalecendo as bases financeiras dos sistemas de investimentos e de proteção social. Ampliar as oportunidades de ge-ração de trabalho decente e de emprego verde, pautados no novo padrão de pro-dução e consumo. Incentivar a eficiência energética e a incorporação crescente de energias renováveis em todos os setores e atividades humanas. Aprimorar os pro-cessos nas atividades carbono-intensivas objetivando menores emissões de gases de efeito estufa. Adequar os sistemas financeiros e incentivar a gestão das empresas a um modelo que assegure as condições para o crescimento sustenta-do e geração de empregos na transição para uma economia verde com justiça social. Adotar medidas para incentivo à responsabilidade social, estabelecendo exigências mínimas sobre a transparên-

RIO+20

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PRIMEIROPLANO . Junho 2012 31

cia na gestão e outras atividades que geram impacto socioambiental. Incen-tivar práticas voluntárias positivas que vão alem do mínimo legal. Reorientar as estratégias de marketing / publicidade / mídia para os novos padrões de produ-ção e consumo, especialmente, no que se refere à mobilidade e acessibilidade urbana, moradia, equipamentos domésti-cos e energia, contribuindo para a cons-trução de um modo de vida sustentável. Desenvolver padrão internacional de contabilidade e indicadores que conside-rem os imperativos de desenvolvimento sustentável e mecanismos objetivos de divulgação dos aspectos econômicos e financeiros das ações para o desenvolvi-mento sustentável.

Cidades e campo sustentáveisPara vançar na construção de um mo-delo de desenvolvimento sustentável nas cidades e no campo, com foco na melhoria da qualidade de vida das pes-soas é preciso implantar programas de mobilidade urbana e rural, garantindo investimentos em transporte público co-letivo, acessibilidade e circulação não motorizada. Adotar os princípios e mé-

todos de construções sustentáveis e da eficiência energética. Promover a uni-versalização dos serviços de saneamento ambiental, envolvendo abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo e disposição de resíduos sólidos e siste-mas de drenagem. Implantar o modelo de produção agropecuário que contribua para a redução das desigualdades, o uso sustentável aos recursos ambientais e o desenvolvimento regional, por meio da garantia do trabalho decente, acesso a tecnologias sustentáveis desde a produ-ção até a comercialização e ao crédito. Garantir o acesso à população das cida-des e do campo aos bens públicos, como educação, saúde, habitação, saneamento básico, infraestrutura, cultura e lazer; além de ações de combate à pobreza e transferência de renda. Conferir priori-dade à erradicação da fome e à promo-ção da segurança e soberania alimentar e nutricional, de forma a garantir inserção social e acesso a alimentos em quanti-dade e qualidade aos grupos sociais em situação de insegurança alimentar.

Educação,ciência, tecnologia e inovação

Promover valores e aspirações da sociedade, que traga ao centro dos debates as dimensões humana, espiritual e cultural como base para a mudança de comportamento.

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A educação é eixo prioritário e estrutu-rante do desenvolvimento, vetor para libertar os potenciais de criatividade, inovação e de produção e, especialmen-te, elemento viabilizador da construção cultural para um novo padrão de convi-vência na sociedade e de interação com o meio ambiente. São diretrizes neste sentido garantir o acesso à educação universalizada com qualidade e a demo-cratização do conhecimento, tendo como valores a equidade e a sustentabilidade. Ampliar e reorientar os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e ino-vação priorizando a desmaterialização da produção de processos - obtenção de mais serviços e bens utilizando uma quantidade menor de matéria, levando em conta também o gasto de energia ge-rado por essas alterações. Esse aumento na produtividade dos recursos pode ser feito através da otimização do uso dos produtos e do aumento na sua durabi-lidade e vida útil, do uso intensivo da Internet, da troca do documento com su-porte material em papel pelo documento eletrônico, entre outros. Fomentar a for-mação e qualificação profissional para o

novo padrão de produção e consumo e a transferência de tecnologia entre países, regiões e comunidades. Apoiar projetos locais capazes de estimular a formatação e o acesso de tecnologias sociais susten-táveis, considerando as diferenças cultu-rais, e valorizando o conhecimento das comunidades tradicionais e as formas alternativas de produção e comercializa-ção. Incentivar a mobilização das redes sociais para o processo de mudança de cultura e de valores na transição para o novo padrão de produção e consumo e a economia verde inclusiva.

Participação e controle socialMovimentos sociais, setores empresa-riais, organizações de trabalhadores, aca-dêmicos, mulheres e jovens têm impacto crescente na definição e implementação das decisões adotadas em nível nacional e possuem ressonância nas relações in-ternacionais.

Para incrementar essa participação e preciso criar mecanismos de transparên-cia e acesso à informação, participação da sociedade na tomada de decisões e de acesso à justiça em assuntos ambientais.

RIO+20

Os desafios são comuns e os

países devem enfrentá-los juntos como

parceiros globais.

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Promover participação da sociedade ci-vil na governança do desenvolvimento, por meio do fortalecimento das organi-zações da sociedade, redes sociais e as-sociações de diversos tipos; e da implan-tação e fortalecimento de mecanismos participativos e de escuta, como conse-lhos, audiências públicas, mesas de diá-logo, ouvidorias, entre outros, em todas as esferas nacionais e multilaterais.

Parcerias para o desenvolvimento sustentávelA Rio+20 deve promover o debate so-bre novas formas de cooperação e para o desenvolvimento de parcerias estraté-gicas para a sustentabilidade. Esta rede deve ser formada a partir da cooperação entre países, órgãos multilaterais, cor-porações, comunidades e organizações sociais, compartilhando soluções de inovação e transformação. Ações posi-tivas neste sentido são a troca de expe-riências, expertise e competências entre regiões com similaridades geográficas, geopolíticas e estágios de desenvolvi-mento. Acordar metas e indicadores para o desenvolvimento sustentável a serem adotadas como instrumentos de gestão

de políticas públicas e ações concretas pelos Estados parceiros, em todos os ní-veis, e como parâmetros de acompanha-mento e controle pela sociedade.

Novos indicadores de desenvolvimentoO nível de recursos materiais medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) mas-cara o uso dos recursos globais e igno-ra outras dimensões necessárias ao bem estar humano. O desenvolvimento sus-tentável necessita de acompanhamento e mensuração de novo tipo. Muitas ações trabalham para avançar no acordo e defi-nição de indicadores para mensurar o de-senvolvimento, integrando desempenho econômico, bem estar social e qualidade ambiental. Adotar um padrão de conta-bilidade para mensuração do desenvol-vimento, considerando, além do PIB, os impactos sociais, os custos dos ativos e serviços ambientais comprometidos na produção de bens e serviços, e conside-rando o nível de renda nacional e o aces-so da população aos serviços públicos, tais como saneamento ambiental (gestão de resíduos sólidos, gestão de recursos hídricos, controle de vetores) saúde,

O desenvolvimento sustentável necessita de acompanhamento e mensuração de novo tipo.

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>> RIO+20

educação, mobilidade e cultura. Avançar no estudo capaz de mensurar o impacto ambiental de pessoas, empresas e países, considerando os limites naturais dos re-cursos utilizados para produzir e absor-ver os resíduos daquilo que consomem; e de combinar as dimensões de produção e consumo de forma flexível, refletindo as peculiaridades regionais e as varia-ções nos estilos de vida e tecnologias de

Governança para o desenvolvimento sustentávelO principal desafio é buscar soluções para problemas de coerência e coor-denação que afetam o funcionamento de organizações e instâncias da ONU relacionadas ao desenvolvimento sus-tentável, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-MA), o Conselho Econômico e Social (ECOSOC), a Comissão de Desenvol-vimento Sustentável (CDS), o Conselho do Desenvolvimento Social (CDSoc), o Programa das Nações Unidas para o De-senvolvimento (PNUD), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), outras agências e os Secretariados das diversas convenções ambientais.

Para a governança global das estra-tégias de desenvolvimento sustentável é necessário coordenar e monitorar os compromissos globais e o financiamen-to para o desenvolvimento sustentável. Avançar nos estudos para implementar uma nova arquitetura de financiamento global, explorando a ampliação dos me-canismos financeiros inovadores para o desenvolvimento inclusivo e sustentá-vel, capazes de distribuir os custos de maneira progressiva e de permitir o de-senvolvimento sustentável do conjunto dos países.

A interlocução ativa dos governos com a sociedade permite buscar alter-nativas e fazer as escolhas críticas mais apropriadas para lidar com novos desa-fios e oportunidades e para a construção de um futuro que esteja configurado so-bre princípios de sustentabilidade, equi-dade, liberdade e justiçasocial.

Protagonismo do Brasil e dos países emergentesO Brasil destaca-se no cenário interna-cional como parceiro solidário, portador não só de força econômica e riqueza natural e cultural, mas também de pro-

Promover o diálogo e a participação

da sociedade civil como parte

fundamental das estruturas e práticas

de governança multilateral e

nacional.

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PRIMEIROPLANO . Junho 2012 35

postas práticas para o enfrentamento dos principais desafios econômicos, sociais, ambientais e políticos. Apesar dos imen-sos desafios a enfrentar, torna-se cada vez mais evidente que os países emer-gentes serão protagonistas nas delibe-rações de 2012, no Rio de Janeiro, em prol de um modelo de civilização que concilie democracia, prosperidade eco-nômica, menos disparidades regionais, justiça social e entre as nações e salubri-dade ambiental.

A trajetória brasileira nos últimos anos, construída por governo e socieda-de civil, tem demonstrado a possibilida-de de gerar resultados positivos sobre emprego e renda; segurança alimentar e nutricional; agricultura familiar; e ques-tões ambientais, por meio de um conjun-to de ações e políticas articuladas:

A prioridade conferida às políticas e ações reflete-se em resultados positivos no que se refere a alguns indicadores so-ciais do país. A pobreza no Brasil, nos últimos anos caiu próximo de 50%, e mais de 28 milhões de pessoas supera-ram a linha da miséria. A promoção de desenvolvimento com inclusão social, por meio de políticas que compõem a rede de proteção social, políticas de va-

lorização do salário mínimo, ampliação do Programa Bolsa Família, promoção de segurança alimentar e nutricional, apoio à expansão da agriculturafamiliar reduziram a insegurança da população com relação ao emprego e à renda; à saú-de e à educação. A agricultura brasileira é referência mundial em agricultura tro-pical avançada tecnologicamente e com elevada produtividade. Houve significa-tiva evolução do marco legal referente à questão ambiental. O País está consoli-dando um conjunto de leis e regulamen-tos que indicam diretrizes de políticas e ações do governo nesse tema.

A matriz energética brasileira possui considerável participação de fontes re-nováveis, cerca de 40% divididos entre biomassa e hidráulica. O país também incentiva o uso de biocombustíveis, por meio do Programa Nacional de Produ-ção e Uso de Biodiesel e de políticas de incentivo ao uso de etanol. O Brasil é o país com a maior frota mundial de carros bicombustíveis. O resultado é a matriz energética mais limpa do mundo. Os pólos industriais nacionais apresen-taram relevantes avanços rumo à susten-tabilidade, com destaque para inovações tecnológicas e de gestão incorporadas

A prioridade conferida às políticas e ações reflete-se em resultados positivos no que se refere a alguns indicadores sociais do país.

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>> RIO+20

ao processo produtivo; iniciativas de autorregulação e certificação; atuação em instâncias de representação para a construção de políticas públicas; e o de-senvolvimento de ações para o aprimora-mento contínuo dos níveis de qualidade de vida, qualificação profissional e saú-de/segurança dos trabalhadores

A presença brasileira nos cenários multilaterais resulta em uma política externa que busca defender interesses nacionais com base no direito ao desen-volvimento, soberania e responsabilida-des comuns, porém diferenciadas. O país mostra ser cada vez mais capaz de dialo-gar com os demais países e de articular grupos regionais e outros fóruns de de-bate, estruturas multilaterais de concer-tação política.

As metas são continuar avançando na redução das elevadas desigualda-des sociais. Garantir que a exploração do pré-sal e o uso que se fará do pe-tróleo extraído e dos recursos gerados tenham como parâmetro a promoção do desenvolvimento sustentável. Ga-rantir equilíbrio socioambiental aos

grandes investimentos e obras de in-fraestrutura em curso.

Regulamentar a Lei 12.187/2009 de Mudanças do Clima e garantir medi-das para efetivação do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas. É fun-damental a negociação de um código florestal equilibrado que compatibili-ze objetivos do cuidado ambiental e da contenção do desmatamento, com a produção de alimentos e geração de emprego, de forma convergente aos princípios e objetivos da sustentabi-lidade.

Integrar as políticas econômicas e de gestão da economia às diretrizes ambientais e sociais. Promover a in-tegração entre as diferentes áreas de governo, de modo a efetivamente co-locar o desenvolvimento sustentável como um eixo norteador das ações e políticas.

Países EmergentesBrasil, África do Sul, Índia e China e a União das Nações Sul-Americanas reconheceram que “acelerar o desen-

Grandes desafios devem ainda

ser enfrentados, para consolidar

mudanças e para fazer avançar os processos para o desenvolvimento

sustentável

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volvimento sustentável dos países em desenvolvimento é um grande desafio mundial, mas a realização do desen-volvimento sustentável deve ser im-portante veículo para a promoção do desenvolvimento econômico”. Reafir-maram e ressaltaram o papel do Pro-tocolo de Kyoto em garantir cortes nas emissões de gases de efeito estufa. Reiteraram, ainda, a importância de se atingir resultado amplo, equilibrado, equitativo e ambicioso, no contexto do desenvolvimento sustentável e em conformidade, principalmente, com os princípios da equidade e das responsa-bilidades comuns, porém diferenciadas e respectivas capacidades.

Recomenda-se a necessida-de de reforma da governança global para garantir que os compromissos assumidos para a promoção do desen-volvimento sustentável sejam imple-mentados. Ressalta-se a importância de colocar entre as prioridades na construção de estratégias nacionais de desenvolvimento a questão da trans-ferência de tecnologias sustentáveis e

o intercâmbio acadêmico e científico entre os países membros do grupo. Alerta-se para a importância da busca de eficiência energética em um mun-do em processo de modernização e apóia-se o desenvolvimento e uso de fontes de energia renováveis como forma de se contrapor à questão da mudança do clima.

O Banco de Desenvolvimento Eco-nômico e Social brasileiro (BNDES) firmou acordos e memorandos de co-operação com diversas instituições de outros países emergentes. Esses acordos podem ser o embrião do fi-nanciamento de cooperação técnica entre países para projetos de interesse mútuo na área de Desenvolvimento Sustentável.

Todas as declarações e iniciativas mostram que há compromisso dos paí-ses emergentes de avançar em soluções multilaterais para os problemas globais, particularmente os relacionados ao de-senvolvimento sustentável. O desafio é avançar nos acordos e transformá-los em ações concretas.

As iniciativas entre países emergentes apontam avanços importantes para o desenvolvimento sustentável.

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>> OPINIÃO>>

CLEMENTE GANZ LÚCIODieese

m junho será realizada no Brasil a Con-ferência das Nações Unidas para o De-senvolvimento Sustentável (Rio + 20). Desde a Rio 92, conferência promovi-da na cidade do Rio de Janeiro, 20 anos se passaram. Nesse período, a agenda

ambiental espalhou-se pelas esferas pública e privada. Muitos hoje percebem que a poluição da água, do solo e ar, a destruição das florestas, dos biomas e de diferentes formas de vida, além da mudança climática, são proble-mas extremamente graves.

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - CDES, órgão assessor da Presidência da República, to-mou a iniciativa de tratar da agenda da Rio+20, conside-rando que o bem-estar social e a qualidade das diferen-tes formas de vida devem ser atingidos com o equilíbrio entre crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. O resultado esperado ainda é um so-nho, mas pode ser construído pelas sociedades, em cada diferente contexto.

A inciativa do CDES foi ampliada por demanda de organizações de trabalhadores, empresários, ambienta-listas, ONGs e empresas, que se reuniram para construir um posicionamento comum. O trabalho foi surpreenden-te, apesar da diversidade de visões dessas organizações. A base foi o reconhecimento dos avanços alcançados desde 1992 e, ao mesmo tempo, de que as propostas e metas da Rio 92 careceram de efetividade. Assim, mais que declarar novos conteúdos e metas - todos necessá-rios, é verdade - ou debater posicionamentos sobre ques-tões controversas, evidenciou-se que: é urgente e crítico que se ganhe efetividade na agenda do desenvolvimento sustentável!

A partir desse posicionamento estratégico, mais de 70 organizações assinaram o documento final. Para

O que se espera da Rio+20

E elas, mobilizações, conferências, acordos e legislações sobre meio ambiente produzidos nos últimos 20 anos e o imenso déficit de implementação dessas deliberações apontam como tarefa primordial da Conferência Rio+20 construir um compromisso político irreversível com o desenvolvimento sustentável, que contemple:

• o entendimento de que questões ambientais, sociais e econômicas estão envolvidas de maneira intrínseca e articulada na promoção da sustentabi-lidade, com as dimensões política, ética, cultural e jurídica como base e;

• a equidade entre pessoas, com destaque para equidade entre raças, etnias, gêneros e gerações e en-tre regiões, países e regiões de um mesmo país, e as liberdades fundamentais para todos como elementos transversais a todas as políticas e ações.

Este compromisso deverá se traduzir em agendas na-cionais de desenvolvimento, que apontem estratégias e constituam-se em roteiros para o desenvolvimento sus-tentável, com parcerias em todos os níveis. Deverá ain-da ser definidor de metas e indicadores para monitorar e mensurar os processos.

Propor uma nova governança multilateral participati-va para o desenvolvimento sustentável é parte do com-promisso e imprescindível para que ele se efetive.

É fundamental que o conjunto dos países se envolva neste compromisso, dentro do princípio das responsa-bilidades comuns, porém diferenciadas. E em cada país deverão estar envolvidos governos e sociedade em geral.

Esse posicionamento estratégico foi desdobrado em um conjunto de proposições sobre como promover o de-senvolvimento sustentável, a economia verde e a erradi-cação da miséria e da pobreza (Leia a íntegra em http://www.cdes.gov.br/evento/8424/evento-acordo-para-o--desenvolvimento-sustentavel.html).

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