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Ano 1 | edição 1 | Novembro Bach, a música muito além de seu tempo PáG. 8 Orquestra ganha o Brasil e o mundo PáG. 32 Quarteto Madre Pérola conquista Paraisópolis PáG. 56 História e vida do maestro se misturam aos objetivos da instituição no incentivo à cultura e à democratização da música clássica PáG. 26 Primeiros passos Revista institucional da fundação bachiana filarmônica

Revista A BACHIANA

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Revista institucional da Fundação Bachiana Filarmônica, desenvolvida como Trabalho de Conclusão de Curso para os formandos de Jornalismo da FIAM FAAM

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Ano 1 | edição 1 | Novembro

Bach, a música muito além de seu tempo pág. 8

Orquestra ganha o Brasil e o mundo pág. 32

Quarteto Madre Pérola conquista Paraisópolis pág. 56

História e vida do maestro se misturam aos objetivos da instituição no incentivo à cultura e à democratização da música clássica pág. 26

Primeirospassos

Revista institucional da fundação bachiana filarmônica

“No fundo, eu tinha que agradecer a uma pessoapor ainda estar fazendo

música, seu nome éJohan Sebastian Bach“

(João Carlos Martins)

Revista a Bachiana | 5

Diretor Presidente: Ricardo da Silva HayduDiretor Financeiro: Carlos Eduardo de Assumpção MartinsDiretor Administrativo: Stefan Ken Borges Gan CONSELHO CURADORDelchi Migotto Filho: PresidenteMaria Cecília de Almeida Parasmo: Vice-PresidenteJoão Carlos Cordeiro CavalcanteLuiz Antônio Queiroz de AquinoRicardo Rodrigues de CarvalhoJoão Luiz Martins PereiraBianca CutaitCarla Civile

CONSELHO CONSULTIVODelchi Migotto Filho: PresidenteEdith RanziniRosângela LurbeLaércio LaurelliPaulo Sérgio Simões GalaRenato LemeCarlos Gustavo Carvalho EscobarEduardo PaulinoFrancisco de Assis Alves

CONSELHO FISCALMiguel Traversa NetoReinaldo Aparecido RozzatiPérsio Brait PisaniOscar Colluci

Fundação Bachiana FilarmônicaRua Álvares Carvalho, 252 - Centro - São Paulo/SPhttp://fundacaobachiana.org.br/

Diagramação e projeto gráficoVictor Luigi Bautista Pisani

RevisãoAna Ziccardi

EditoraJuliana Santos

ReportagensGiovanna ManucelliJuan PerazzoJuliana SantosMarcelo MazetisPedro Rigoldi

OrientaçãoAndréia Alevato

Trabalho de Conclusão de Curso dos alunos da Faculdade de Jornalismo da FIAM FAAM

EDITORIAL

P elo sonho do maestro e pianista, João Car-los Martins, nascia em 2006, a Fundação Bachiana Filarmônica, um projeto para

unir a música com a responsabilidade social. Com o intuito de divulgar e democra-

tizar a música clássica pelo Brasil, a Funda-ção agrega diversas atividades com o apoio da iniciativa privada para a realização de suas ações.

Nessa primeira edição da revista A BACHIANA, teremos muitas histórias que comprovam essa conquista. O início de tudo e como acontece o passo a passo para a rea-lização desse sonho, que envolvem parcerias, talento e aprendizado.

O projeto de musicalização “A música venceu” é um dos destaques por envolver qua-se sete mil crianças e jovens em núcleos loca-dos em escolas da periferia de diversas cida-des pelo país, e trazer para suas vidas o diálogo com a arte e cultura.

ExpedienteMúsica clássica para ler

Mostraremos em cada edição um núcleo diferente, e começamos com o primeiro deles, da Escola Estadual Friedrich Von Voith, no bair-ro do Jaraguá, em São paulo.

Entre as ações, estão os concertos clássicos promovidos com as apresentações da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-Sp e a equipe de repor-tagem da A BACHIANA entrevistou músicos da or-questra e traz histórias inspiradoras para você.

O incentivo cultural também é prioridade para a Fundação e aparece aqui com matérias sobre formação de público e a educação musical para crianças e jovens.

E ainda, um perfil do maestro João Carlos Martins, cuidados com a voz e os talentos des-cobertos nos núcleos de musicalização estão presentes nessa edição.

Agora é sua vez, ouça uma boa trilha sonora e delicie-se com essa leitura!

A Redação

Da esquerda para a direita:Marcelo Mazetis, Giovanna Manucelli, Juan Perazzo, Pedro Rigoldi e Juliana Santos (Equipe da redação de A BACHIANA).

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SUMÁRIO

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Capa:Bach, a música muito além de seu tempo

Capa:Orquestra ganha o Brasile o mundo

Coluna:Marisa T.O. Fonterrada

Música para todos

Apoio e sucesso caminham juntos

Destaque:primeiros passos

Nas mãos do destinopúblico seleto

Além do samba

Ensinamentos da música

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2426

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20

Vocabulário Musical

Formação de uma orquestra

Som das ruas

para todosos gostos

Capa:Quarteto Madre pérola conquista paraisópolis

Voz pronta para sair

Dicas de livros e filmes

Bê a Bá da música

Dicas de programação

principais notícias

DepoimentoO desejo de cantar com a orquestra

Cultura para a periferia

Talento precoce

Coluna:gilberto Dimenstein

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SUMÁRIO

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PERFIL BACHPERFIL BACH

Bach,a música muito

além de seu tempoComo a descendência musical, a cegueira

e o reconhecimento após a sua morte construíram um mito

Por Marcelo Mazetis

O nome de Bach há séculos é conhe-cido e venerado mundialmente quando o assunto é música clássica. Seus descendentes, desde meados de

1500, foram músicos e compositores, a maioria trabalhando para a igreja. Mas, no total, antes de Johann Sebastian Bach, que nasceu em 1685, fo-ram 27 musicistas, somando ainda quatro de seus filhos que também tiveram a sua fama.

Bach criou e contribuiu para a música de seu tempo de forma única, transformando o que havia de existente, como as melodias folclóricas, canções e hinos de igreja, em uma característica musical muito particular nas suas harmonias, tra-balho que resultava em uma experiência exclusiva para quem as escutava.

Como compositor, Bach não criou novos gêne-ros, mas ousou experimentar todos os estilos musicais históricos e trabalhar sobre o já existente, assim am-pliando a complexidade e perfeição das composições.

Além de compositor, seu instrumento favo-rito era o órgão, o que fazia dele um exímio or-ganista, renovando com improvisações ao mesmo tempo em que tocava uma melodia de base.

Para a época, a utilização de músicas já co-nhecidas do público não era considerada plágio, isso permitia que muitos compositores utilizassem obras de outros autores. Com grande admiração por Vi-

O COMpOSiTOr JOhANN SEBASTiAN BACh, íCONE DA MúSiCA EruDiTA, iNFluENCiA MúSiCOS pElO MuNDO, ASSiM COMO O MAESTrO JOãO CArlOS MArTiNS.

Como compositor, Bach não criou novos gêneros, mas ousou experimentar todos os estilos musicais históricos e trabalhar sobre o já existente, assim ampliando a complexidade e perfeição das composições

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valdi, Bach, com a sua característica de experimen-tação, transpôs os concertos para violino de seu ído-lo para uma combinação de quatro cravos, aplicando técnicas que já faziam parte de sua personalidade.

Outro traço de sua existência era a estética de seu trabalho, todos em perfeita simetria, com uma ordem e equilíbrio entre as vozes que denun-ciava sua capacidade criadora.

Johann S. Bach, da mesma forma que criava composições complexas e ao mesmo tempo organiza-das, tinha fixação pelo simbolismo numérico, persegui-ção que o atraiu para a superstição. Isso fazia com que ele usasse andamentos com base na dissolução dos números correspondentes ao seu nome, que era o número 14.

Entre outras manias, Bach não resistia à fi-xação de comprar instrumentos, desde clavicórdios, violinos, cravos e espinetas. A manutenção desse hábito por toda sua vida fez com que colecionasse muitos instrumentos.

A obsessão fez com que a sua inscrição na Sociedade para a Promoção da Ciência Musical, fundada em 1738, fosse atrasada propositadamen-te, assim só fez parte da organização em junho de 1747, data que o fazia ser o décimo quarto maestro daquela sociedade.

Bach teve 21 filhos. Sete com Maria Bár-bara, sua primeira esposa e de quem ficou viúvo, e catorze com Anna Magdalena, sua segunda com-panheira.

Como professor, Bach tinha o talento de transmitir tudo o que sabia para seus alunos, prova disso são os manuais didáticos que escre-veu, como o Pequeno Livro de Cravo, para seu filho Wilhelm Friedemann; o Livro de Anna Magdalena, para sua segunda mulher, e o maior de todos, com 48 prelúdios e fugas em todas as tonalidades, usados até hoje, o Cravo Bem Temperado.

PERFIL BACH PERFIL BACH

Entre outras manias, Bach não resistia à fixação de comprar instrumentos, desde clavicórdios, violinos, cravos e espinetas. A manutenção desse

hábito por toda sua vida fez com que colecionasse muitos instrumentos

Desde pequeno, Bach teve dificuldades com a visão. Diagnosticado com miopia desde muito cedo, o esforço em escrever sob a iluminação de ve-las o levou paulatinamente à cegueira, mesmo com a tentativa de reverter o caso em duas cirurgias.

Tempos depois, de modo súbito, sua visão retorna, mas, a recuperação dura pouco, Bach sofre uma lesão vascular cerebral que, em dez dias, o leva à morte, com 65 anos, em 1750.

Depois de seu falecimento, por muitos anos, suas composições foram esquecidas e outras per-didas pelo fato de não serem consideradas impor-tantes. De acordo com o livro A música no tempo, de James Galway, algumas obras foram encontradas

em locais nada convencionais à música, como o manuscrito das seis sonatas para violino, encontra-do em uma mercearia como serventia de papel de embrulho.

Outro exemplo é seu trabalho Autógrafo das suítes, para violoncelo, encontrado como proteção para árvores contra a geada. Por isso, sobraram ape-nas algumas obras restritas a grupos de especialistas.

Porém, em 1829, Félix Mendelssohn executa uma de suas obras, Paixão segundo São Mateus. A partir desse momento, seu trabalho ganha o conheci-mento do grande público e conquista a fama de maior compositor de todos os tempos, inspirando homens como Beethoven, Mozart, Chopin e Villa-Lobos.

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PERFIL MAEStROPERFIL MAESTRO

Você já deve ter ou-vido e lido histórias sobre superação e vitórias, certo? Esta

é a vida de um dos maiores in-térpretes de Johann Sebastian Bach, João Carlos Gandra da Silva Martins, pianista reco-nhecido mundialmente, que dedicou à sua carreira muita luta, força e persistência.

Em 25 de junho de 1998, dia em que comemorava 58 anos, João Carlos Martins se preparou para uma apresen-tação no Barbican Centre, em Londres. Essa seria sua última apresentação como pianista, mas, naquele momento, apenas ele e seus médicos tinham ciên-cia dessa informação e da cirur-gia em sua mão direita.

O seu futuro profissional

estava em “xeque”, mas a his-tória ensina que, por mais que a situação seja complicada, ja-mais se deve fechar as cortinas do espetáculo da vida antes da hora.

O maestro foi sempre in-centivado por seu pai, que so-nhou em tocar piano, mas foi impossibilitado devido a um acidente na mão sofrido na in-fância. Porém, transmitiu esse desejo para seus filhos e decidiu comprar o tão sonhado instru-mento.

Na época, João Carlos passou por uma enfermidade que dificultava sua saída de casa para brincar como as ou-tras crianças. No entanto, por um movimento do destino, isso fez com que a companhia do piano fosse intensa e por lon-

Nas mãosdo destinoA influência da música navida do maestro e pianista,João Carlos Martins

Por Marcelo Mazetis e Pedro Rigoldi

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PERFIL MAEStRO PERFIL MAEStRO

gas horas do dia.Logo em suas primeiras aulas de piano, já

demonstrava um talento acima da média. Com apenas um mês de estudo, tocou em sua escola uma composição de Ludwig van Beethoven.

Não deu outra. João Carlos mostrou compreensão e domínio da obra acima do espe-rado para um garoto que estava aprendendo e que, com apenas 11 anos, já estudava piano seis horas por dia.

Imagine como seria realizar sua primei-ra apresentação profissional no Brasil, com a presença do maestro Heitor Villa-Lobos, do compositor Camargo Guarnieri e das pianistas Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro na plateia.

Foi com esse público ilustre que, em 7 de maio de 1954, no Teatro Colombo, na capital paulista, o então jovem pianista, com apenas 13 anos, vestindo um terno azul, com calças curtas e meias brancas, tocou toda a programação do recital com maestria, que incluía obras compos-tas por Bach, Haydn e Chopin. Resultado? O jovem talento foi aclamado pela crítica.

Em grande parte dos dias, estudava piano, sacrificando momentos de distração em ativida-des comuns aos jovens de sua idade. João Car-los sabia de sua escolha e dizia que: “a estrada a percorrer para um músico até sua profissionali-zação é árdua – a disciplina de um pianista não é conhecida do grande público, mas, sem ela, o

Marcelo Tas *Jornalista e humorista

“Usa-se a palavra ‘sUperação’

para falar Da viDa Do pianista qUe

nos enCanta Como maestro. mas ela é insUfiCiente para DesCrever a trajetória perCorriDa Com elegânCia preCiosa pelo artista..., Uma palavra qUe me pareCe perfeita para DesCrever a alma jovem De joão Carlos martins: intensiDaDe”.

Chitãozinho & Xororó *Cantores

“apesar De toDos os problemas

qUe enfrentoU, o joão Carlos ConsegUe

toCar Com a mesma emoção Da époCa em qUe DespontoU Como Um Dos maiores pianistas Do mUnDo. o maestro é Uma pessoa preDestinaDa, ilUminaDa, e Um exemplo De perseverança”.

Jô Soares *humorista e apresentador de TV

“se me peDissem Uma Definição sobre ele em palavras ainDa mais

Diretas, eU Diria: joão Carlos martins é simplesmente o artista qUe venCeU a Dor”.

resultado final não é alcança-do”, explica o pianista em seu livro autobiográfico A Saga das Mãos, escrito em parceria com o historiador Luciano Ubiraja-ra Nassar.

Estados Unidos, Cuba, Inglaterra, Holanda, Alema-nha, França e Portugal são apenas alguns dos países em que o pianista em ascensão se apresentou, fazendo das via-gens uma rotina que reforçou cada vez mais sua fama inter-nacional.

Mas as adversidades da existência humana podem apa-recer nos momentos menos esperados, criando uma falsa confiança que derruba os so-nhos pelo chão. Assim aconte-ceu com João Carlos Martins, quando, em um dia de suas fé-rias em Nova Iorque, viu que seu time de coração, a famosa Portuguesa de Desportos, par-ticipava de um treinamento.

Com seus principais ídolos ali presentes, não hesi-tou em jogar futebol com eles. O pianista em grande ascensão e fama mundial sofre uma que-da sobre uma pedra, que per-furou seu braço. Como conse-quência, uma série de lesões no nervo ulnar, prejudicaram sua principal ferramenta de traba-lho, sua mão.

Depois de um ano , o piano volta a ter a honra de re-ceber João Carlos nos grandes espetáculos que já faziam parte de sua rotina antes do acidente, porém, agora acompanhado pe-las sessões de fisioterapia.

Com a rotina da carreira profissional voltando ao nor-mal, o destino pode recriar obs-táculos na vida. Na noite de 20 de maio de 1995, na capital da Bulgária, Sófia, depois de pas-sar horas estudando na casa da amiga Angela Toscheva, João Carlos decide voltar a pé ao seu hotel, como de costume.

Ao passar por uma área escura do trajeto, o maestro foi surpreendido por dois as-saltantes que tentavam roubar sua carteira. Para fugir, chutou o sujeito que parecia mais fraco fisicamente, porém, com uma barra de ferro nas mãos, um dos bandidos desferiu um golpe em sua cabeça, ocasionando uma lesão cerebral.

Foram oito meses dedi-cados à recuperação, ao final, já era capaz de percorrer o teclado do início ao fim e de volta para o início, com ambas as mãos, em nove segundos. A cada três meses, se dedicou à gravação dos últimos quatros CDs das obras mais complexas de Bach.

SupErAçãO E prOFiSSiONAliSMO ESTãO prESENTES NA ViDA DO MAESTrO, JOãO CArlOS.

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PERFIL MAEStRO PERFIL MAEStRO

Mas as consequências físicas do as-salto ainda podiam ser percebidas, o maes-tro ao falar, tinha alguns espasmos na mão direita. Esse problema foi piorando cada vez mais e a opção pela cirurgia encerrou sua carreira como pianista.

Na vida, é impossível se declarar fim à sinfonia antes do tempo, pois o silêncio gera-do no final de uma composição, às vezes, tra-ta-se apenas da troca de um ato para outro.

Desse modo foi a história de João Car-los Martins. Após sua despedida dos palcos como pianista, ninguém imaginava que o seu amor e dedicação pela música ressurgiriam das cinzas como uma fênix através de um so-nho, o de aprender a reger.

Seu propósito não ficou apenas em ser um maestro, mas sua força parecia vol-tar com mais intensidade e o “segundo ato” de sua vida começou de uma maneira es-plêndida ao refletir sobre si mesmo e di-zer “não vou estudar regência só por prazer pessoal, apenas para mostrar que sou capaz. Vou encarar isso como uma missão de vida. Por meio da regência, vou conviver com a verdadeira realidade do músico clássico no Brasil.”

Com 63 anos, em 2003, o maestro fez sua primeira apresentação como regente com a orquestra Bacarelli, composta por morado-res da favela de Heliópolis. Em pouco tempo, já conseguia reger uma ária da Suíte Orques-tral nº 3, do artista que marcou sua carreira profissional e sua vida, Bach.

Nizan Guanaes *publicitário

“joão Carlos sabe qUe tão

importante qUanto inventar-se é

reinventar-se. qUe toDo homem é Um milagre e traz em si Uma evolUção”.

Marcos Frota *Ator e fundador da unicirco

“nós preCisamos aproveitar

mais o artista e o ser hUmano qUe é

o joão Carlos martins. ele é Um homem De Definição Do Caráter e Da personaliDaDe Da nação brasileira”.

Como um de seus prin-cipais objetivos é criar novos públicos para a música clássica e democratizar o acesso a ela, em 27 de outubro de 2004, es-treou com sua orquestra, a Ba-chiana Filarmônica.

Sua vida sempre foi marcada e regida pelos com-passos da música, quebrando barreiras e superando obstácu-los, não só provou a todos que

À FrENTE DA OrQuESTrA BAChiANA FilArMôNiCA SESi-Sp, JOãO CArlOS MArTiNS BuSCA A DEMOCrATizAçãO DA MúSiCA CláSSiCA.

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estavam enganados sobre o seu fim como pianista, mas tam-bém mostrou como a determi-nação e a paciência preparam a mente e a alma para superar a si mesmo.

*As declarações foram retiradas do livro “João Carlos Martins”, de Stefan Gan (Yupik Editorial/2011)

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MúSICA POPULARMúSICA POPULAR

Avida de sucesso de João Carlos Martins e sua entrega à música sempre foram sinônimos de persistência e exemplo a todo brasileiro. Sua fé e história são re-

gistros vivos de uma existência repleta de vitórias e adversidades.

Com frases de superação e a história da busca pelos seus sonhos inseridas na letra do enredo, a Vai--Vai não só conquistou o campeonato do carnaval de

2011, com o maestro presente no desfile, mas também se uniu ao maestro para uma série de apresentações em São Paulo e Nova Iorque.

Por meio de sua trajetória, a escola de samba paulistana Vai-Vai homenageou o maestro João Carlos Martins e conquistou seu décimo quarto título carna-valesco em São Paulo, com o enredo A música Venceu.

O instrumentista Augusto Dario Ribeiro, mais conhecido como Bocão, e participante ativo da Vai-Vai

Além do sambaA inovação da música clássica, na regência do maestro João Carlos Martins, à frente da bateria da Vai-Vai

Por Marcelo Mazetis

desde os seis anos de idade, reve-la a emoção que sente quando fala das apresentações com a Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP, “é uma alegria, extrema felicidade. Um prazer tão grande que, às vezes, a gente não consegue se conter. Eu chego a chorar, fico muito alegre”.

Quando perguntado sobre o que o maestro representa em sua vida, ele diz, sem pestanejar, “ele é sensa-cional, na verdade, ele é um paizão mesmo da música popular e clássica”.

Com frases de superação e a história da busca pelos seus sonhos inseridas na letra do enredo, a Vai-Vai não só conquistou o campeonato do carnaval de 2011, com o maestro presente no desfile, mas também se uniu ao maestro para uma série de apresentações em São Paulo e Nova Iorque

a música venceuexemplo de comunidadea música venceuo dom é luz que vem de DeusDa emoção vai-vai resplandeceu

Dos céus, em um cortejo divinal,os deuses da inspiraçãolançam talento a um mortalUm ser abençoado, que hoje brilha neste carnavalas sinfonias de bach regeram seu destinoorgulho brasileirojovem pianista genialem “preto e branco” sucesso internacional

na sua fé, resistiue a dor da adversidade, suplantou (bis)Com muita garra e amor

e assim, na sua força de superação,buscou a verdadeira vocaçãoUm novo incidente o quis derrubarmas com maestria se pôs a lutarpor seu idealluz da ribalta que jamais se apagará (apagará)e ao som de “bravos e aplausos”a saracura agora vem cantar

A músicavenceu

Zeca do Cavaco,Ronaldinho FQ,

Fábio Henrique eAfonsinho

EnREDO CAMPEãO EM 2011

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EdUCAçãOEDUCAçãO

Sensibilidade e disciplina são duas caracterís-ticas que um músico deve ter. Sensibilida-de para ouvir e reproduzir uma melodia e, melhor, dar a ela emoção. A disciplina deve

ser regra, porque o aluno que estuda música – e pre-tende um dia seguir a carreira – deve manter uma rotina rigorosa de estudos ligados à técnica, inter-pretação e conhecimento do instrumento.

Ensinamentosda músicaEdson Beltrami, professor de música no Conservatório de Tatuí e flautista da Bachiana Filarmônica Sesi-Sp, fala sobre o que a música pode ensinar

Por Giovanna Manucelli

Edson Beltrami é professor de música há 20 anos no Conservatório de Tatuí e, há oito, flautista da Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi-SP. Como pro-fessor, são duas décadas de experiência nas salas de aula e, praticamente, uma vida inteira dedicada à música.

O flautista é filho de um maestro que minis-trava aulas particulares. Beltrami cresceu familiariza-do com os instrumentos já que havia uma pequena

Edson Beltrami é professor de música

há 20 anos no Conservatório de Tatuí e, há oito, flautista da

Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi-SP.

Como professor, são duas décadas de

experiência nas salas de aula e, praticamente,

uma vida inteira dedicada à música

coleção dentro de casa, aos 4 anos, se interessou pela flauta e aos 6 anos entrou para o Conservatório de Tatuí, onde estudou composi-ção e regência. Foi por dez anos primeira flauta solo da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), até chegar à Bachiana.

Beltrami guarda a experiên-cia de décadas dedicadas à música e afirma “Eu realmente acredito que a música influencia a persona-lidade e o caráter da pessoa.”

Quando a música se torna objetivo de vida

Segundo o professor, cada aula é um caso diferente, mas, em geral, quem deseja seguir carrei-ra já sabe o que quer e entende a necessidade de se preparar para o mercado de trabalho que, no Bra-sil, não é fácil. Ele ensina os alunos a terem a consciência da necessi-dade de muita disciplina. “Alguns, como eu, jamais conseguirão ter total disciplina e organização, mas o fato de saber dessa necessidade, já faz com que o estudo e a vida sejam mais eficientes.”

O aluno de música deve criar objetivos que influenciarão as escolhas por toda a vida. É o caso de Heloísa, 10, estudante de violino há três no núcleo Jaraguá, da Fundação Bachiana. Mes-mo criança, a violinista se esforça porque sabe que, ao se dedicar, cria mais chances de conseguir uma bolsa de estudos quando completar 12 anos, para seguir a carreira de violinista que tanto deseja. “Comecei a tocar violino há três anos e continuo estudando muito porque o violino é difícil e exige muita atenção. Principalmente, porque quero uma bolsa de estudos”, conta a aluna.

Beltrami explica que, se o aluno deseja mesmo seguir esse caminho, deve se manter firme e planejar todos os passos a favor desse objetivo. “Se um estu-dante possui um estilo em particular ou algo que o

direcione a uma escola em espe-cial, como por exemplo, o Conser-vatório de Paris ou o Conservató-rio de Genebra, ele pode, dentro de três ou quatro anos, estar lá”, diz o profissional. Sendo assim, o professor estipula metas de 3 a 4 anos para seus alunos e, então, tudo o que farão nesse período será em função desse propósito.

Isso requer mais esforço e mais aprendizado para o aluno. A partir daí, tudo o que ele fizer será para alcançar o objetivo final. O que exigirá uma rotina de estudos específica, um tipo particular de repertório e até o estudo de outro idioma, seja ele francês, alemão ou inglês. Isso cria um estilo de vida com hábitos e rotinas específicos para cada estudante.

A música também exige o seu melhor

Há um raciocínio simples de que, se o aluno não estudar

hoje, pelo menos duas horas, amanhã estará tocando pior do que hoje. Estudar música, principalmente a clássica, ensina mais do que as técnicas para tocar as notas no instrumento ou ter disciplina e organização.

De acordo com o instrumentista, a música exige uma rítmica em nível imensamente mais pre-ciso do que normalmente as pessoas têm consciên-cia. Tocando em uma orquestra, por exemplo, um flautista deve se encaixar com o último trombonista, ou seja, entrar na mesma nota ao mesmo tempo. O que o músico deve saber é que isso acontece em uma fração de segundo.

Uma orquestra pode ter entre 80 ou 100 mú-sicos, cada um deles tem liberdade de criação, mas nunca deve esquecer que, para um bom resultado, o trabalho deve ser realizado em equipe. Todo instru-mentista deve ficar atento para entrar e se encaixar no momento certo. “Na música também lidamos com a dimensão que não é muito evidente para a maioria

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das pessoas. Acústica versus espaço. O tempo todo adaptamos nosso material de trabalho, o som, o am-biente, o espaço. Fazemos isso alterando a ressonân-cia e a projeção, por exemplo”, explica Beltrami.

Inconscientemente, as noções de espaço e tempo tornam-se mais aguçadas nos músicos do que nas outras pessoas. “O universo pulsa e o pulso é a métrica para o profissional”, explica.

De acordo com o professor, o estudo de um instrumento é solitário. Um músico passa, em mé-dia, seis a oito horas estudando, todos os dias, so-

zinho, por toda sua vida. “Isso, em alguns casos, cria um hábito de reclusão. A solidão torna-se uma pre-ferência. É claro que é raro, mas já vi acontecer”.

A música é uma prática que exige disciplina, mas também é desafiadora para o aluno “Com cer-teza, os prepara para a vida, seja para outras escolas ou para o mercado de trabalho. Estudar música faz o aluno se desafiar a encontrar erros e, em alguns casos, por exemplo, tenho que despertar um tipo especial de concorrência. O aluno versus seu ideal”, finaliza Beltrami.

EdUCAçãOCOLUnA

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À medida que a Educação Musical ganha es-paço na educação brasileira, seja na escola, seja em projetos sociais de diferentes natu-rezas, surge a necessidade de se considerar

seus papéis na atualidade. No Brasil, no decorrer da his-tória, o ensino e aprendizado de Música passou por inú-meras modificações, em parte por alterações nas políticas públicas e nos valores que as definem, em parte devido às transformações da sociedade atual, que, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que aumentaram o acesso a ma-nifestações musicais de todo o mundo e de qualquer cultura, via internet e demais instrumentos tecnológicos, limitaram, também, as possibilidades de escuta, por uma série de razões: a presença constante da música e sons em alto volume no ambiente, a imposição de repertório pela indústria cultural por interesses exclusivamente comer-ciais, um conjunto de práticas sociais que contribuiu para a perda da sutileza de escuta das populações e o afasta-mento de boa parte dela da prática musical informal.

No início do século XX, quando a Educação Musical se concretizou por meio de diferentes propos-tas, os educadores musicais – Dalcroze, Orff, Kodály, Suzuki, entre outros – responderam a necessidades muito específicas de sua época e da região em que vi-viam: a rápida urbanização, o êxodo rural (Dalcroze), as guerras mundiais (Orff, Kodály), o massacre de cultu-ras por povos dominantes (Kodály).

No Brasil, no decorrer da história, a educação musical assumiu, também, várias faces, a depender das situações específicas de cada momento, passando

Música hoje: desafios da educação musical na contemporaneidade

Por Marisa T.O. FonterradaDoutora em Antropologia e bacharel em Música.

Professora Livre-Docente em Técnicas de Musicalização pelo Instituto de Artes da UNESP

do papel civilizatório (Canto Orfeônico) a atividade expressiva (Educação Artística) e a forma de conheci-mento (LDBEN no. 9394/96). Entre elas, destaca-se aqui a mudança causada pela Lei no. 5692/71, que dei-xou de considerar a música uma disciplina autônoma e a reconheceu como uma das linguagens expressivas, junto às demais linguagens, o que contribuiu para seu enfraquecimento no espaço escolar e, mesmo, seu de-saparecimento em grande parte das escolas. A partir de então, a Educação Musical alojou-se em outros espaços, mais próximos da área da Cultura do que da Educação, tornando-se significativa presença em projetos sociais. Nesses espaços, apostou-se no seu papel de fomentador do fortalecimento da identidade e promoção social.

Hoje, acredita-se que esses objetivos possam ser ampliados, ao se reconhecer na música seu papel de canal expressivo, comunicativo, de revigoramento da sensibili-dade e desenvolvimento humano e torna-se veículo de expressão individual e comunitária. Nessa acepção, valo-riza as possibilidades criativas de cada um e alinha-se às propostas de educadores musicais da segunda metade do século XX – Paynter, Schafer, Swanwick e, mais recente-mente, à da musicista espanhola Chefa Alonso, que tem estado no Brasil compartilhando suas experiências de Improvisação Livre. Acredita-se que a principal função da música na atualidade seja dar espaço a indivíduos e comunidades, para que possam exercer o fazer musical próprio, condizente com sua capacidade interesse, desen-volver suas capacidades criativas e reconhecer na Música uma fonte de desenvolvimento e crescimento humano.

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InSPIRE-SEInSPIRE-SE

Marisa Camarinho é violoncelista, tem 33 anos e há 17 dedica-se a trabalhos sociais. Chegou à Fun-dação Bachiana há pouco mais de

um ano e, junto, trouxe mudanças no núcleo de São Vicente (SP), em parceria com o Sest Senat.

Ela foi encaminhada para o polo do litoral paulista e todas as manhãs de sexta-feira desce a serra para dar aulas de violoncelo para crianças e adolescentes, que já faziam aulas de violino.

“Quando eu cheguei aqui (no núcleo São Vi-cente), as aulas de violoncelo se tornaram novidade. Achei as crianças super calmas, mas existia uma curio-sidade em relação ao instrumento. E foi interessante que, num primeiro momento, os alunos vieram do vio-lino para o violoncelo, aí alguns voltaram para o violino e outros ficaram comigo”, conta a professora orgulhosa. Marisa tem 12 alunos com idade entre 8 e 16 anos.

Nos últimos 11 meses, ela prepara a sala, afina os instrumentos, posiciona as cadeiras e aguarda os alunos que começam a chegar às 10 horas. Como são poucos, as aulas acontecem uma após a outra e raramente os estudantes, muito aplicados e queridos pela professora, faltam. Durante as aulas, Marisa costuma deixar a por-ta da sala de aula aberta para que os pais possam assistir às aulas e acompanhar o desempenho das crianças. A

Música para todosA violoncelista Marisa Camarinho chegou há um ano na Bachiana Sest Senat. Com o apoio de pais, tem levado a música clássica para a vida de crianças e adolescentes na cidade de São Vicente

Por Giovanna Manucelli

iniciativa, que não é compartilhada por todos os professores, tem apoio dos pais, o que cria vínculo e respei-to entre a instrumentista e os res-ponsáveis pelos estudantes.

A dedicação da professora é reconhecida pela manicure Mari-nalva de Lira, mãe da aluna Rayane (8). “Só pelo fato de ela se deslocar de São Paulo até São Vicente para ensinar as crianças já mostra a pro-fissional que ela é. É dedicada, calma e sabe elogiar. Ela incentiva a Raya-ne e pede para que eu não a deixe perder esse dom”, diz a manicure.

Com tantos anos de expe-riência, a professora ainda tem o mesmo prazer de quando começou suas primeiras aulas de alfabetiza-ção musical para pequenos grupos. “Eu gosto muito da aula coletiva, que para a iniciação de um aluno é fantástica, porque é acessível e

rAyANE DE lirA (8) é uM grANDE ExEMplO DE DEDiCAçãO pArA TOCAr ViOlONCElO.

não são todos que podem pagar uma aula individual. Os conceitos musicais são trabalhados de uma forma mais gostosa. Dá pra fazer joguinhos musicais e os alunos in-teragem entre si”, explica.

Marisa acredita que as au-las na Bachiana são fundamentais para despertar o interesse e o de-sejo nas crianças de seguir na car-reira musical. O projeto ‘A Música Venceu’ dá a elas a oportunidade de iniciação na música clássica, o que pode ajudá-las num outro momento quando partirem para as aulas individuais. “É fundamen-tal que o aluno, na aula coletiva, te-nha uma boa iniciação. Ela induz o despertar da criança e, quando ela entra para a aula individual, já treinada da forma correta, tem su-cesso. E é isso que eu quero para os meus alunos”, conta.

Com tantos anos de experiência, a professora ainda tem o mesmo prazer de quando começou suas primeiras aulas de alfabetização musical para pequenos grupos

Rayane é um exemplo de sucesso. Começou as aulas coleti-vas com 7 anos e é muito elogiada pela professora. “Quando a Rayane chegou aqui, eu tinha que colocar um suporte para ela apoiar os pés porque não alcançava o chão. O violoncelo era maior que ela”, ri, ao lembrar-se do crescimento da alu-na, e destaca seu aprendizado. “Ela é muito talentosa, a evolução ao longo dos meses tem sido incrível. É um dom que deve ser cuidado e motiva-do sempre. E é o que eu faço”.

A mãe da pequena violon-celista, que tem mais um filho no projeto, Carlos Roberto (13), se alegra quando vê a garota tocan-do. “Acho o trabalho da Bachia-na muito lindo. Eu sei que é um instrumento caro, as aulas não são baratas e eu não teria condição de pagar por isso”, conclui Marinalva.

Rayane adora as aulas e, sempre atenta e esforçada, sabe que deve se dedicar para que um dia possa se tornar uma violonce-lista profissional. A menina con-fidencia “Eu quero tocar numa orquestra”. Com o apoio da mãe e professora, ela chegará lá!

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Primeirospassos

história e vida do maestro se misturam aos objetivos da instituição no incentivo à cultura

e à democratização da música clássica

Por Juliana Santos

Desde que voltou para o Brasil, em 2003, o maestro e pianista João Car-

los Martins sonhava com um projeto da iniciativa privada que pudesse ter música e responsa-bilidade social caminhando lado a lado.

Para a realização desse sonho, reuniu-se com um gru-po de músicos e empresários brasileiros e, em 2006, criou a Fundação Bachiana Filarmô-nica, que visa promover ações na formação musical e cultu-ral, além de apoiar, incentivar e assistir qualquer atividade com essa finalidade, principalmente na educação musical e de artes clássicas. “Eu queria uma fun-dação que significasse para a música o que o Instituto Ayrton Senna significa para o Brasil. É um longo caminho”, declara o maestro.

João Carlos Martins acre-dita que o fundamento da insti-tuição é garantir uma formação aos jovens, seja profissional ou cultural. “Não adianta você sim-plesmente se preocupar em fazer

a inclusão de uma criança atra-vés da música, se você não con-seguir separar aquelas que têm mais talento daquelas que pode-rão fazer parte de um público e aqueles que são diamantes, que são muito raros. Então, quando você encontra aqueles que têm talento e os diamantes, você tem que mostrar-lhes a luz no fundo do túnel. E, ao mesmo tempo, se não está formando público, não adianta ter artistas”, exemplifica.

Entre os objetivos da Fundação, destacam-se a reali-zação de eventos, palestras, ações educacionais e culturais e cursos para adultos, jovens e crianças para valorizar e democratizar a música clássica pelo Brasil. O pesquisador de música brasilei-ra, violinista e pedagogo Ênio Antunes conheceu o maestro em 2004, durante um projeto desen-volvido com os alunos da Faam (Faculdade de Artes Alcânta-ra Machado), onde João Carlos Martins foi diretor.

“A direção dele era provo-car, instigar talentos, olhar para novas probabilidades. Essas pro-babilidades incluem meus alunos

Entre os objetivos da Fundação, destacam-se a realização de eventos, palestras, ações educacionais e culturais e cursos para adultos, jovens e crianças para valorizar e democratizar a música clássica pelo Brasil

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anos e agora é de oito anos, formar mil orquestras jovens de cordas no Brasil”, destaca Martins.

Para Antunes, a formação desses jovens é maior que a téc-nica. “Ela tem as transformações de valores, do indivíduo, uma estima e novas descobertas para dialogar com a arte”, avalia.

Os núcleos recebem a metodologia Alla Corda, criada e desenvolvida durante 10 anos por Antunes. “O Alla Corda é baseado na formação musical da educação juvenil e nós partimos da mistura de sete canções infan-tis e para assim resgatar o lado musical com a família”, explica.

No programa dos cursos, estão cantigas como A Canoa Vi-rou, Capelinha de Melão e Boi da Cara Preta. “Essas canções foram norteadoras na questão pedagógi-ca, um despertar através dos jogos lúdicos, a descoberta dos códigos musicais e a prática de conjunto”, complementa o educador.

Atualmente, o violinista é orientador de música do projeto Musicando – no programa Fá-bricas de Cultura, presta consul-toria para a Fundação Bachiana e faz treinamentos com os edu-cadores para acompanhar os processos do método utilizado nos núcleos.

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da Faam. Qual era a troca? Tinha um espaço para eles tocarem, en-saiarem, estudarem, pesquisarem e em contrapartida, os alunos ti-nham acesso a uma prática que não existia na faculdade de música, que era a orquestra de João Carlos Martins”, lembra o pedagogo.

O projeto cresceu e tornou--se a Orquestra Bachiana Jovem, união entre a Orquestra Antunes Câmara e a Fundação Bachiana e transformou o contexto da cidade de São Paulo na formação musi-cal de uma orquestra jovem.

À frente da direção pedagó-gica e artística, Ênio explica a tra-jetória da Orquestra. “Eu escrevia cada programa baseado na forma-ção desse grupo junto com o João Carlos e durante dois anos, viajamos o Brasil e esse grupo dialogou com vários segmentos da sociedade.”

Durante esse novo tempo da música clássica no Brasil, o ma-estro e a Orquestra fizeram parce-rias com o samba e a música popu-lar brasileira, entre eles, a Escola de Samba Vai Vai. Além da participa-ção em eventos populares, como a Virada Cultural de São Paulo.

Os músicos-alunos perce-beram outras mudanças em suas vidas, além da profissional e a união de vontades: de um grande artista, de um grande educador e de transformadores. “A formação pedagógica não permeia só técni-ca, ela tem as transformações de valores, do indivíduo, uma estima e novas descobertas para dialogar com a arte”, admite Antunes.

Em 2010, a Bachiana Jo-vem se uniu aos músicos profis-sionais da Fundação transforman-do-se em Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP.

Durante esse novo tempo da música

erudita no Brasil, o maestro e a Orquestra fizeram parcerias com

o samba e a música popular brasileira,

entre eles, a Escola de Samba Vai Vai. Além da participação em eventos populares,

como a Virada Cultural de São Paulo

A musicalização acontece nos 17 núcleos divididos pelo Brasil, em cidades como São Paulo, Aquiraz (CE), Cariacica (ES) e Itatiaia (RJ). Todos adotam a mesma metodologia e professores capacitados pela Fundação para ministrarem aulas de coral, percussão, viola, violoncelo e violino

Ações – Concertos Clássicos

Divulgar e democratizar a música clássica são os princi-pais objetivos do projeto “Con-certos Clássicos” da Fundação Bachiana. O diferencial é ter alta qualidade técnica e artística nas apresentações.

Os concertos sob a regên-cia do maestro João Carlos Mar-tins pela temporada oficial da Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP abrangem uma série de apresentações em cidades de todo o país, em diferentes locais, como praias, teatros, shoppings e praças públicas, dando a oportu-nidade de que um público com pouco ou nenhum acesso à mú-sica clássica possa apreciá-la.

Ações – Incentivo Cultural

A Fundação Bachiana visa dar suporte e apoio aos projetos desenvolvidos pela ins-tituição através do programa de Incentivo Cultural, destinado a buscar ações complementares para as atividades dos demais projetos, como a democratiza-ção da música clássica, concer-tos clássicos e musicalização.

Estão relacionadas ao programa, atividades como: pesquisas de identidade musi-cal; cursos e palestras de edu-cação musical; edição de livros, partituras que integram e di-vulgam os projetos de inclusão cultural da instituição; gravação de CDs e DVDs relacionados às atividades da Fundação Ba-chiana; entre outros.

Ações - A Música Venceu

Atualmente, a Fundação atende 6.700 crianças e jovens envolvidos no projeto de musica-lização “A música venceu”. Essa participação transforma cada um deles e também sua família. Para o maestro João Carlos, essa transformação é o mais impor-tante. “Significa que a música pode ajudar não somente a for-mar um músico, mas também um cidadão”, afirma.

A musicalização acontece nos 15 núcleos divididos pelo Brasil, em cidades como São Paulo, Aquiraz (CE), Cariaci-ca (ES) e Itatiaia (RJ). Todos adotam a mesma metodologia e professores capacitados pela Fundação para ministrarem au-las de coral, percussão, viola, vio-loncelo e violino.

A formação dessas crianças também está de acordo com outro objetivo do maestro. “A ideia é, em um período que antes era de dez Fo

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A realização dos traba-lhos de musicaliza-ção com as crianças e jovens nos núcleos

da Fundação Bachiana conta com a parceria de empresas privadas, como, Voith Brasil, Fundação Bra-desco, Fiesp, Sest/Senat, Clariant e Land Rover.

Segundo o maestro João Carlos Martins, escolher uma empresa parceira não é uma tarefa fácil. “Nós procuramos parceiros. Isso é uma luta diária, não temos um departamento de marketing para isso. É praticamente, uma luta do dia a dia da direção da fun-dação e minha”.

Os parceiros são neces-sários para viabilizar a parte fi-nanceira do projeto e esse con-tato geralmente é benéfico para as duas partes, através de leis de incentivo fiscal ou de estratégias de marketing com relação à res-ponsabilidade social.

Apoio e sucesso caminham juntosContribuição é essencial para o progresso dos jovens e crianças nos projetos da instituição

Por Juliana Santos

OrQuESTrA BAChiANA FilArMôNiCA SESi-Sp SE AprESENTA NO TEATrO CiEE, EM SãO pAulO.

PARCEIROSPARCEIROS

Filarmônica Sesi-SP, como conta o maestro. “Meu irmão sugeriu que eu procurasse a iniciativa pri-vada para que as empresas ado-tassem um músico da Orquestra. Aí, a primeira pessoa com quem falei foi o Paulo Skaf (presidente da Fiesp na época), se dava para adotar um músico, ele respondeu: ‘Tenho que pensar’! Quando ele falou ‘eu tenho que pensar’, eu falei ‘muito obrigado’. Voltei a pé para casa porque moro perto da Ave-nida Paulista, onde fica a Fiesp e telefonei para o meu irmão. Falei para ele ‘se a Fiesp tem que pensar é melhor esquecer dessa Orques-tra, da iniciativa privada’. No dia seguinte, o Skaf me telefonou e disse: ‘Tenho uma má notícia. Não dá para adotar um músico da sua Orquestra. Mas tenho uma boa notícia: dá para adotar a Orquestra inteirinha’”, comemora Martins. Segundo ele, “esse foi o início de grandes parcerias”.

Os parceiros são necessários para viabilizar a parte

financeira do projeto e esse contato geralmente

é benéfico para as duas partes, através de leis de incentivo fiscal ou de estratégias de

marketing com relação à responsabilidade social

Para o coordenador peda-gógico da Fundação Bachiana, Heber Sanches, a contribuição das empresas parceiras é de ex-trema importância. “As empre-sas trazem boa parte da verba do projeto, mais especificamente aos núcleos que apoiam. Geralmen-te, cada empresa é responsável pela verba de um núcleo, com os gastos, benfeitorias etc”, explica o coordenador que também é pro-fessor de violino na instituição.

O Grupo Voith foi um dos primeiros parceiros da Fundação nesse projeto de musicalização. Sua parceria beneficia os alunos de coral e instrumentos de corda na Escola Estadual Friedrich Voith, no bairro do Jaraguá, zona oeste de São Paulo.

O acompanhamento do trabalho da Fundação é funda-mental para as empresas, que também se orgulham do resulta-do. “A parceria com a Fundação Bachiana, mantida pelo Grupo

Voith, por meio da Fundação Voith Brasil, muito nos orgulha. Mais do que o ensino musical, o contato com a música é capaz de proporcionar a crianças e jovens o desenvolvimento de várias habili-dades, bem como contribuir com o aprendizado de uma forma geral”, declara o presidente da Fundação Voith Brasil, Gilson Campos.

Outro projeto de des-taque é a formação de público em apresentações gratuitas pelo Brasil, entre os parceiros está o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola).

Para a porta voz da em-presa, Jacyra Otaviano, a relação entre o CIEE e a Fundação é de pontos em comum, com ações inclusivas. “Essa parceria contri-bui para aprimorar a sensibilida-de dos nossos jovens estudantes e proporcionar saudáveis mo-mentos de lazer para a comuni-dade em geral”, afirma.

Nesses quase dez anos de Fundação Bachiana, vários parcei-ros foram essenciais para o projeto, especialmente, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que apadrinhou a Orques-tra, transformando-a em Bachiana

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COM MAiS DE Mil AprESENTAçõES DESDE SuA CriAçãO, EM 2004, A OrQuESTrA BAChiANA FilArMôNiCA SESi-Sp é é AplAuDiDA pElO púBliCO.

Orquestra ganha o Brasil e o mundoDez anos de existência, a Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-Sp ultrapassa mil apresentações e mantém o objetivo: democratizar a música clássica

Por Marcelo Mazetis

A Bachiana Filarmônica, além de se apresentar gratuitamente em algumas ocasiões , também representa o Brasil em temporadas internacionais, como no Carnegie Hall e no Lincoln Center, ambos na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos

F undada pelo maestro João Carlos Martins em 2004, a Orquestra Bachiana Filarmôni-

ca SESI-SP é um dos grupos musicais mais respeitados não só pelo Brasil, mas também pelo mundo inteiro.

Tocando nos principais teatros nacionais e internacio-nais, com apresentações para os mais diversificados públicos, a orquestra soma mais de mil concertos desde a sua criação.

Resultado que cria não apenas uma perspectiva de su-cesso para seus representantes, mas também uma magia para

o grande público que ainda não conhece a música clássica pro-fundamente ou que jamais assis-tiu a uma apresentação.

A Bachiana Filarmônica, além de se apresentar gratui-

tamente em algumas ocasiões, também representa o Brasil em temporadas internacionais, como no Carnegie Hall e no Lincoln Center, ambos na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos.

A frequência com que re-alizam concertos é grande, cerca de 70 por ano, o que exige de todos comprometimento profis-sional para ensaiar. O violinista formado pela Faam, Jonathan Souza Cardoso dos Santos, mú-sico que acompanha a Bachiana Filarmônica desde a sua funda-ção, diz que “os ensaios aconte-cem duas vezes por semana, mas pode haver mais, dependendo da necessidade”.

Com um número variável de músicos, a orquestra é com-posta de 45 a 60 profissionais, divididos, em média, entre 18 violinos, cinco violas, cinco vio-

loncelos e cinco contrabaixos. Os instrumentos de sopro são dis-tribuídos entre dois de madeira e metal cada, somando três mú-sicos responsáveis pela percussão.

Devido à fama que a or-questra carrega por onde quer que vá, suas apresentações re-cebem grande número de es-pectadores. O músico Jonathan afirma que “os concertos estão sempre cheios, seja em um tea-tro com 2 mil lugares ou em um concerto ao ar livre”.

Independente do palco em que o maestro João Carlos Martins e a Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP se apre-

sentam, seja em um teatro nacio-nal ou internacional, um parque ou até mesmo uma praça, cada apresentação é uma experiência diferente com o público, pois a expectativa de pessoas que ja-mais ouviram uma composição de Bach ou de Beethoven revela uma emoção inatingível, mos-trando o verdadeiro sentido e razão de se fazer música.

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FORMAçãO dE PúBLICOFORMAçãO DE PúBLICO

Ouem já foi a um concerto sinfôni-co?” Com essa pergunta, o coor-denador pedagógico da Fundação Bachiana, Heber Sanches, inicia

a palestra destinada ao público da 3ª idade. Dos cerca de 30 idosos presentes, apenas uma afirma que já esteve em um concerto.

Após as palestras, os idosos são convidados a assistir a apresentações da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP. A equipe de A BACHIANA acompanhou uma das palestras organizadas pela instituição. Participaram da atividade o “Centro de Convivência do Idoso” do Jardim São Luiz e o Nú-cleo de Convivência para o Idoso Eterno Apren-diz (NCI), localizado no Jardim Duprat, ambos na zona sul da cidade de São Paulo.

A assistente social, Geilza Lima do Nas-cimento Silva, que trabalha no NCI acredita que eventos gratuitos são fundamentais para os idosos e espera que, cada vez mais, se organizem atividades como a palestra realizada pela Fundação Bachiana.

O encontro aconteceu na sede da funda-ção, na região central da capital paulista, e foi marcado pela participação intensa dos convi-dados. O conteúdo ministrado tem o intuito de contextualizar o universo da música clássica para os participantes de forma objetiva, com uma lin-guagem simples.

Público seletoA formação de novos públicos é fundamental para a continuidade da música clássica, independente da idade desses aprendizes

Por Pedro Rigoldi

FOrMAr púBliCOS QuE pOSSAM FrEQuENTAr OS CONCErTOS pElA CiDADE é uM DOS OBJETiVOS DA FuNDAçãO BAChiANA.

O palestrante Heber Sanches conta a impor-tância e a classificação de cada um dos instrumentos musicais, os sons que reproduzem e os materiais de que são feitos. Além disso, explica a formação das or-questras e a quantidade de músicos, que varia de acor-do com o que o compositor achar necessário utilizar.

Sanches contextualiza a história da música clássica com explicações sobre a importância dos principais personagens, como Antonio Stradivari, responsável pela definição final do formato dos vio-linos e violoncelos. Esses instrumentos são feitos sem o uso de pregos ou parafusos, a madeira é co-lada ou encaixada. Também há a exibição de víde-

O encontro aconteceu na sede da fundação, na região central da capital paulista, e foi marcado pela participação intensa dos convidados. O conteúdo ministrado tem o intuito de contextualizar o universo da música clássica para os participantes de forma objetiva, com uma linguagem simples

os com orquestras e a explicação da importância dos músicos e objetos.

“Os projetos têm obtido bom resultado nes-sa ambição de proporcionar iniciação e democrati-zação da música para pessoas que residem e fazem parte de comunidades mais afastadas dos centros culturais. Mesmo morando na cidade de São Pau-lo, existe muita gente que nunca foi ao teatro, por exemplo”, afirma Sanches.

Para os que participam pela primeira vez da palestra, o encontro se torna uma oportunidade para conhecer um universo diferente do que a maioria das pessoas está acostumada no dia a dia.

A participante Marina Severina dos Santos conta que nunca teve a oportunidade de ir a um concerto e que realizou um sonho de muitos anos.

“Eu sempre gostei de orquestra, assisto dire-to na TV Cultura, que tem aqueles clássicos, como o Balé. Mas eu sou ignorante nisso, por nunca ter estudado sobre o assunto. Agora tenho essa opor-tunidade e preciso aproveitar”.

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núCLEO dO MêSnúCLEO DO MêS

Os alunos-músicos fazem apresentações pelas escolas próxi-mas, a fim de divulgar o projeto, a Escola e a Fundação Bachiana. Em 2012 e 2013, apresentaram-se com a Orquestra Bachiana Filar-mônica Sesi-SP na Sala São Pau-lo, no centro da capital paulista.

O apoio financeiro vem do Grupo Voith Brasil, que atua na região e, recentemente, comemo-rou os 50 anos da empresa com a apresentação dos alunos da Escola Friedrich e a presença de familia-res da Alemanha. A emoção to-mou conta do público. “Foi muito bonito mesmo e é muito gratifi-

cante, ver algo que começou hu-milde, simples e agora tomar essa proporção”, observa Edna.

O professor de violino, An-derson Lacerda, veio de Ribeirão Preto e está na Fundação Bachia-na há quase cinco anos. Querido pelos alunos, comenta a sua rotina na escola. “Eu começo a dar aula às 10 horas, dou aula aqui e em Suzano. Às 7 horas, eu já estou na escola, venho estudar, e os alunos chegam e ficam estudando comi-go no estacionamento. Eu gosto de trabalhar com as crianças”.

Para ele, todo ser humano precisa de atenção, especialmente

as crianças e muitas delas não re-cebem isso em casa. Uma situação simples, que o fez refletir o quanto a atenção é valorizada pelos alunos. “Aqui na escola, nós fazemos as re-feições com os alunos, no início eles faziam o próprio prato e jogavam muita comida fora, desperdiçavam. Daí, passei a colocar a comida para eles. E o desperdiço acabou. Hoje em dia, eles mostram que comeram tudo, não porque eu cobro, mas para eles mostrarem que estão partici-pando e querem ser valorizados”, destaca o violinista, que também faz apresentações com a Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP.

Nas grandes cidades, é comum que os moradores da periferia sofram com o descaso do poder público e, conse-quentemente, com a violência, a de-

gradação do ambiente, a falta de moradia, entre outros problemas.

Alguns dos núcleos que recebem o projeto “A música venceu”, desenvolvido pela Fundação Bachiana, com o apoio da iniciativa privada, es-tão na periferia, à procura de crianças e jovens que queiram mudar seu destino ou simplesmente, co-nhecer a cultura levada pela música.

Localizada no bairro do Jaraguá, zona noroeste de São Paulo, a Escola Estadual Friedrich Von Voith, abriga o primeiro núcleo desse projeto desde 2007.

No início, as aulas eram de flauta doce. Dois anos depois, começaram os primeiros acordes nos violinos e violoncelos e, em 2012, foi a vez das au-las de coral. “É um projeto que veio ao encontro da necessidade da escola, porque a gente preten-dia oferecer para as crianças algo que fosse além do currículo escolar e que desse oportunidade de outro tipo de cultura”, lembra a vice-diretora da escola, Edna da Penha Cardoso.

Cultura para a periferiaJovens e crianças do projeto a música venceu promovem a musicalização em apresentações na região do Jaraguá

Por Juliana Santos

Quando as aulas começaram, a direção fez uma seleção de alunos indisciplinados para partici-parem das aulas e chegou a ser criticada. “Lembro que as pessoas falavam que era errado, mas pen-samos no melhor para os alunos. E, por fim, eles mudaram o comportamento e até a convivência em família”, afirma. Hoje, as vagas são concorridas pe-los alunos de toda a escola.

Os alunos-músicos fazem apresentações pelas escolas próximas, a fim de divulgar o projeto, a Escola e a Fundação Bachiana. Em 2012 e 2013, apresentaram-se com a Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP na Sala São Paulo, no centro da capital paulista

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A mãe também faz aulas de coral em uma classe especial para adultos e deixa as filhas livres para escolherem se seguirão carreira na música. “Até desejo isso, mas depende muito delas. Não temos como uma imposição, mas acho que primeiro elas veem como um prazer e como um aprendizado. Se isso virar uma profissão, vai ser muito bem-vindo, ficaremos muito felizes”, comemora

A presença dos pais é frequente na escola e muitos alunos que participam das atividades do projeto de musicalização são levados por eles. Mas uma mãe se destaca entre a multidão, a au-xiliar de enfermagem e professora, Ana Paula Rodrigues da Silva.

Ana Paula é mãe de Julia, 12, e Heloisa, 10, e acompanha desde os ensaios até as apresen-tações das filhas. As duas fazem parte do projeto há três anos e a mãe acredita que ocorreram mu-danças na vida da família. “Principalmente para mais velha ( Júlia), porque ela tinha muita difi-culdade de atenção e acho que a música trouxe isso para elas. Não só para a mais velha, mas para a caçula também. Ajudou bastante”, observa.

Júlia, a filha mais velha de Ana Paula, faz aulas de co-ral e de violino e reconhece que algo mudou em sua roti-na depois da música. “Hoje eu passo mais tempo na escola. Antes eu não fazia nada em casa, agora tenho mais tempo para estudar, tenho mais res-ponsabilidade”, revela.

A mãe também faz aulas de coral em uma classe especial para adultos e deixa as filhas livres para escolherem se se-guirão carreira na música. “Até desejo isso, mas depende muito

delas. Não temos como uma imposição, mas acho que primeiro elas veem como um prazer e como um aprendizado. Se isso virar uma pro-fissão, vai ser muito bem-vindo, ficaremos mui-to felizes”, comemora.

Lacerda comenta que nem todos os pais apoiam os filhos e, se o aluno quiser continu-ar aprendendo música, não será essa proibição que o fará desistir. “Tenho um aluno que a mãe e o pai não querem que ele faça as aulas, ele bate o pé e fala que vai continuar. E é algo aci-ma de enfrentar os pais, mas é a maneira de mostrar que, enquanto outras crianças estão indo para qualquer outro lugar, ele está estu-dando violino e quanto a isso, não tem como os pais argumentarem”.

núCLEO dO MêS núCLEO dO MêS

núCLEOS EM SãO PAULO, CAPITAL E InTERIOR

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PARAISóPOLIS | PIRITUBASãO BERNARDO DO CAMPO

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jOvEnS tALEntOSjOvEnS TALEnTOS

Igualmente em qualquer área, a música também pode ser desenvolvida ou descoberta desde a infân-

cia, mas, ao contrário de práticas esportivas e outras áreas, não há um limite de idade. Estimular os jovens com musicalização pode trazer benefícios muito maiores do que a afinação e o talento instrumental. Além de desen-volver outras habilidades, eles podem seguir a carreira musical, como diversos exemplos já for-mados pela Fundação Bachiana e que trilharam seus caminhos.

Atualmente com 16 anos, Jonas Pereira dos Santos iniciou no violino aos 13, mas, mui-to antes, já tocava bateria, vio-lão, guitarra e contrabaixo. Na Fundação Bradesco, em Osasco (SP), teve a oportunidade de estudar alguns instrumentos de sopro, corda, trompete, flauta

TalentoprecoceO resultado do estímulo musical e adedicação dos jovens

Por Juan Perazzo

entre outros. A pouca idade não o intimidou e o jovem músico conseguiu uma bolsa na Funda-ção Bachiana.

“Quando chegou o dia do teste, soube que o maestro João Carlos iria me ouvir. Ele disse que eu tinha boa afinação, que gostou de mim e que eu tinha boas condições para ter uma bol-sa. Passei e estou há três meses como bolsista”, orgulha-se Pe-reira. Assim como ele, muitos jovens se descobrem talentosos desde muito cedo, mas, além do talento, é necessário muita prá-tica e estudo. Não são poucos os exemplos de músicos que inicia-ram os estudos cedo, mas é im-portante saber que nenhum ta-lento aparece do dia para a noite. “Treino cinco horas por dia. O certo são oito horas, mas, como não tenho esse pique todo, cinco já é um bom começo”.

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Ludwig van Beethoven e Johann Sebastian Bach, além do enorme talento, dedicação e contri-buição para a história da música, têm em comum o fato de terem iniciado o estudo aos oito anos. “Não há idade máxima, mas faz a diferença começar an-tes”, afirma o professor de música e de Educação Infantil, Anderson Pontes. Ele dá aula para crianças em uma escola municipal de Embu das Artes (SP), e também aplica iniciação musical e violão em um estúdio. O professor afirma que o que se aprende com a música vai muito além dos instrumentos.

Para os alunos do núcleo de musicalização Tapera das Artes, da Fundação Bachiana no Ceará, aprender com músicos é inspirador. No caso da vio-lonista da Primeira Orquestra Filarmônica Jovem do Estado do Ceará, Débora Freitas,15, a experiência de poder aprender com grandes artistas da música é fundamental na formação musical de cada criança do projeto. “Os professores nos ajudam e dão dicas de como melhorar nossos conhecimentos”.

Periodicamente, o maestro Ênio Antunes visita a associação para ensinar aos pequenos mú-sicos da Orquestra Bachiana de Aquiraz (CE), seus conhecimentos adquiridos ao longo de sua trajetória artística. Antunes busca implementar seu método pedagógico e aperfeiçoar os dons ar-tísticos das crianças da instituição. Segundo a vio-linista Gleiciara Rodrigues, 10, seu desempenho com o instrumento melhorou consideravelmente após o convívio com o maestro. “A vinda do Ênio na Tapera me ajudou a melhorar as minhas habi-lidades com o instrumento, pois ele ensina desde como segurar o arco até as notas musicais”, afirma.

Gleiciara e Débora são apenas alguns exemplos dos grandes e novos talentos que o nú-cleo de musicalização Tapera das Artes ajuda a formar. O professor e maestro Marcelo Bugi é um dos responsáveis pelo desenvolvimento dos novos talentos. Apesar da pouca idade, os jo-vens músicos desenvolvem experiência, além do contato e da proximidade com grandes profis-sionais, através de apresentações. “Já toquei com a Orquestra lá do polo em algumas escolas em Osasco (SP). Já tocamos com a Orquestra Ba-chiana Filarmônica e com o maestro João Carlos Martins”, comenta Pereira e completa “Foi mui-to bom, eu gostei. Apesar daquele nervosismo, tremedeira, medo de errar, plateia lotada. Daí, eu lembrava que o professor dizia que, quando você está tocando, não era para olhar pra plateia, era para olhar para a partitura e tocar”.

Proporcionar esse tipo de bagagem faz parte do desenvolvimento da maioria dos mú-sicos. O ensino musical, já proporciona uma experiência que vai além das notas e melodias e pode virar sonho, “meu sonho é entrar na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Só que é muito difícil. Acho que a von-tade de um músico é entrar numa orquestra, né?”, diz Pereira.

“Comportamento, atenção, concentração, menos inibição e a didática certa fazem o aluno desenvolver o pensamento musical para o cam-po da matemática”, comenta o educador Pontes, que completa: “os ensinamentos musicais são rápidos de serem aplicados e os resultados são duradouros”.

Atualmente com 16 anos, Jonas Pereira dos Santos iniciou no violino aos 13, mas, muito antes, já tocava

bateria, violão, guitarra e contrabaixo. Na Fundação Bradesco, em Osasco (SP), teve a oportunidade de estudar alguns instrumentos de sopro, corda,

trompete, flauta entre outros.A pouca idade não o intimidou e o

jovem músico conseguiu umabolsa na Fundação Bachiana

jOvEnS tALEntOSCOLUnA

D ono de uma pequena oficina de molduras de quadros, em Vila Cosmopolita, na zona leste, Val-dir Nascimento estava atolado em

dívidas e não sabia como saldá-las, quando de-cidiu investir num violino -o que, para alguns familiares, pareceu um gesto insensato. Ama-nhã à noite, no imponente teatro São Pedro, na Barra Funda, ele vai ouvir os sons daquele instrumento, extraídos por um jovem tímido, magro e negro, cujo apelido é Robinho, numa referência ao jogador de futebol. “A dívida va-leu a pena.”

O violinista é Danilo Anselmo Caitano Nascimento, filho de Valdir, 17 anos, que, pela primeira vez, estará participando de um con-certo em que os ingressos serão cobrados. Não é em todos os lugares que Danilo consegue re-ceber aplausos. “Nunca toquei em minha esco-la. Os meninos iam me linchar”, brinca. “Muita gente lá acha estranho alguém tocando violino.”

Em 1999, Danilo ingressou no disputado Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, o que exigia, além dos ensaios em casa, mais três horas no trânsito. “Isso quando não tem um congestio-namento maior.”

Mas exigia, antes de mais nada, um violi-no profissional. “Achei que, naquele momento,

O filho de ValdirPor Gilberto Dimenstein

Jornalista, comentarista na rádio CBN ecoordenador do site Catraca Livre

o violino era mais importante do que comida”, lembra-se Valdir. Estava certo.

Danilo acabou na classe de Ênio Antunes, violinista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e da Bachiana Chamber Orchestra. “Dava para ver que o garoto tinha talento”, conta Ênio. Para compensar a defasagem cultural de al-guns de seus alunos e evitar que repetissem o ano, Ênio criou uma orquestra de câmara para que eles pudessem, na horas vagas, se aprimorar. O que era um exercício amador virou projeto: a orquestra, na qual Danilo faz solos de Mozart e Vivaldi, come-çou a se apresentar regularmente. Pela primeira vez terão de ficar, amanhã, com a atenção dividida entre as partituras e as notas da bilheteria.

“Estamos todos nervosos”, admite Ênio. A expectativa é menos pelo desempenho no palco; é com o risco comercial. Não sabem se consegui-rão pagar as despesas da apresentação, a come-çar do aluguel do teatro. Danilo está correndo o risco de participar de sua segunda dívida por causa da música. Pelo jeito, se ocorrer, terá valido a pena -no mínimo, por ver, do palco, o orgulho de Valdir, sentado na plateia.

Texto publicado em 14 de dezembro de 2005 no Jornal Folha de São Paulo

48 | Revista a Bachiana Revista a Bachiana | 49

Estudar música não é fácil, além de tocar um instrumento ou cantar, é preciso co-

nhecer o significado de ter-mos e palavras utilizados nessa área.

Acompanhe, ao lado, a rela-ção feita pela A BACHIANA com o site Meloteca, para os iniciantes e os profissio-nais da música:

Voca

bulá

rio

mus

ical

BIS (lat.)AO FiM DE uM

rEFrãO, SigNiFiCA CANTAr “DuAS VEzES”.

SE FOr AO FiM DE uM CONCErTO, é O

pEDiDO DO púBliCO pArA A rEpETiçãO DE

uMA pEçA.

PErCuSSãOA prODuçãO DE SONS E MúSiCA ATrAVéS DA

BATiDA E O iMpACTO DE SE ChOCArEM.

rECITAlAprESENTAçãO DE uM Só iNTérprETE Ou uM

grupO rEDuziDO.

SOlOTrEChO MuSiCAl

rEAlizADO pOr uM Só iNTérprETE,

DENOMiNADO SOliSTA.

TIMBrECArACTEríSTiCA DO

SOM QuE pErMiTE iDENTiFiCAr uM

iNSTruMENTO Ou uMA VOz.

GrAVESOM DE AlTurA

rEDuziDA, DE BAixA FrEQuêNCiA,

pOpulArMENTE CONhECiDO pOr

“grOSSO” (QuANDO AlguéM TEM uMA

“VOz grOSSA”).

HArMONIAuNiãO DE ACOrDES EM rElAçãO A SuA

SONOriDADE glOBAl E DiSpOSiçõES.

INTErVAlOCOM rElAçãO À

AlTurA, é A DiSTâNCiA ENTrE DuAS NOTAS

MuSiCAiS.

OrQuESTrACONJuNTO DE

iNSTruMENTOS MuSiCAiS SEpArADOS

pOr FAMíliAS DE iNSTruMENTOS E

prEDOMiNâNCiA DE COrDAS.

CIFrASíMBOlO QuE iNDiCA uM ACOrDE E A SuA

COMpOSiçãO.

CONTrAlTOVOz FEMiNiNA MAiS

grAVE.

COrONOME DADO A uM

grupO QuE CANTA, EM CONJuNTO, MúSiCAS

A uMA Ou MAiS VOzES DiFErENTES.

DEDIlHAçãOATO DE uTilizAr OS

DEDOS NA ExECuçãO DE uM iNSTruMENTO

MuSiCAl.

ÓPErAOBrA MuSiCAl

QuE rEúNE O ACOMpANhAMENTO

iNSTruMENTAl E A ENCENAçãO, SEMElhANTE AO

TEATrO.

A CAPEllACONhECiDA pOr

MúSiCA VOCAl, SEM ACOMpANhAMENTO

iNSTruMENTAl.

AGuDOSOM AlTO, ‘FiNiNhO’,

COM DiVErSAS ViBrAçõES pOr

SEguNDO.

BAríTONOA VOz MASCuliNA

iNTErMEDiáriA, DO BAixO é A MAiS

grAVE E, DO TENOr, A VOz MAiS AguDA.

AuDIçãOprOCESSOS QuE iNiCiAM DESDE A pErCEpçãO DO

OuViDO huMANO AO rECONhECiMENTO

DOS SONS pElA CONSCiêNCiA.

50 | Revista a Bachiana Revista a Bachiana | 51

HArPA

é um instrumento de forma triangular e a sua sonoridade é estimulada pelos dedos do harpista. A harpa moderna possui 47 cordas.

TíMPANO

Capazes de produzir notas com alturas diferentes, os tímpanos começaram a ser usados em orquestras a partir do século xVii.

BOMBO

O bombo é muito utilizado em desfiles militares, orquestras e manifestações folclóricas. Destaca pelo seu grande tamanho e por reproduzir sons muito altos.

rECO-rECO

Além de ser usado na composição de orquestras, o reco-reco é utilizado também no samba. De origem africana, o instrumento produz um som áspero e intermitente.

TrIâNGulO

Feito de aço ou alumínio, não é usado somente em orquestras, mas também em manifestações populares, como o forró.

PrATO

O prato é utilizado para produzir sons de grande efeito na orquestra, é composto por metal e está presente nos mais variados gêneros musicais.

Formação de umaorquestra

Você sabia que os instrumentos de uma orques-tra são divididos em diferentes classificações?

Confira a denominação de cada uma a seguir

INSTruMENTOS DECOrDAS

São os instrumentos que produzem sons

através de suas cordas, quando elas são friccionadas ou

percutidas.

VIOlINO

Dos instrumentos de corda friccionada, o violino cria o som mais agudo. A invenção do objeto é atribuída ao italiano gasparo de Salò (1540-1609) e, depois, aperfeiçoado também por um italiano, Antonio Stradivari (1644-1737).

FlAuTA

instrumento de sopro em forma de tubo com orifícios que servem como entrada para uma corrente de ar, a flauta pode ser de várias formas e tipos.

OBOé

Com 57 cm, é considerado um instrumento difícil de ser tocado, pois exige controle da respiração e força no sopro. O oboé passou a fazer parte das orquestras a partir do século xVii.

FAGOTE

instrumento de palheta dupla e tubo cônico, o fagote tem origem em um instrumento chamado bai-xão e é usado, também, na MpBe no Jazz.

ClArINETE

Formado por um tubo cilíndrico, com bocal e orifícios como a flauta, o clarinete tem origem no século xVii.

VIOlONCElO

O violoncelo surgiu na itália, no século xVi. Suas características também foram concebidas por Antonio Stradivari. parecido com o violino, é um instrumento maior e com quatro cordas.

VIOlA

De altura média entre o violino e o violoncelo, a viola, além de usada nas orquestras sinfônicas, é muito popular no jazz e no rock, por exemplo. por muito tempo, teve um papel “secundário” nas obras musicais, até que Bach e hendel a destacaram em suas composições.

CONTrABAIXO

Foi só no final do século xViii que se definiu a forma física do instrumento que é mantida até hoje. Também de corda friccionada, é o maior da família das cordas.

TrOMBONE

Beethoven foi quem introduziu o trombone nas orquestras. O instrumento possui variações de três tipos, o de vara, o de pistão e o híbrido.

TuBA

inventada por volta de 1835 na Alemanha, a tuba é o instrumento mais novo da família dos metais. porém, o modelo usado em orquestras é do belga Adolphe Sax. A tuba é muito utilizada em desfiles de bandas militares.

INSTruMENTOS DESOPrO

Os instrumentos de sopro, como o próprio

nome sugere, são aqueles que precisam de uma corrente de ar para

serem executados. Entre eles, há os instrumentos de madeira e de metais.

INSTruMENTOS DEPErCuSSãO

Levam esse nome porque, para serem

tocados, é necessário um impulso externo para reprodução do

som, utilizando-se das próprias mãos ou

baquetas.

TrOMPETE

O trompete já teve várias formas, mas apenas no século xx ganhou o formato atual. é presença marcante no Jazz e considerado um dos instrumentos mais antigos do mundo.

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TAIS

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DE

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TrOMPA

para tocar a trompa, é necessário coordenação motora e controle da respiração. Com um som mais alto que o da trombeta, foi usada nas sinfonias compostas por Beethoven.

52 | Revista a Bachiana Revista a Bachiana | 53

Para ajudar os músicos, o siteartistasnarua.com.br disponibilizaum arquivo em pdf com a lei no Diário Oficial, e aconselha a andar com uma cópia durante as apresentações

nAS RUASnAS RUAS

Mesmo com ameaça de chuva, algumas pessoas param e acompanham um homem de meia idade executando um solo do Dire Straits. No chão, um

amplificador ligado em um gerador e a tradicional caixa da guitarra aberta, com algumas notas de reais, pesos e dólares. A pressa do horário de pico e os trovões não im-pedem um grupo de pessoas de formar um círculo em volta do músico. Quando as lojas começam a baixar suas portas, ele pega os instrumentos, cumprimenta alguns espectadores e segue seu caminho. A cena aconteceu na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo, mas é mais comum do que se imagina. Os artistas de rua estão presentes no cotidiano urbano e se manifestam das mais diferentes maneiras. Dançarinos, artesãos, estátua viva, repentistas, atores, praticantes de le parkour e os tradi-cionais instrumentistas já fazem parte da paisagem das principais ruas da capital paulista.

Dentre os tantos artistas, André Meneguetti é mais um que se apresenta na rua. Multi-instru-mentista, o músico faz exibições em praças, parques, estações e outros palcos populares. Ele é apenas mais um dos milhares deles que optam pelas calça-das. “Comecei os estudos aos 13 anos, mas, com cin-co anos de idade, já tirava intuitivamente melodias no órgão elétrico, e, na flauta doce, aos sete”, lembra.

Som das ruas Em meio ao ronco dos

automóveis, buzinas e à trilha sonora urbana, a música ainda faz parte da rotina dos espaços públicos

Com um grande número de artistas espa-lhados pela cidade, a Prefeitura resolveu ouvi-los. Instrumentistas, cantores, artesãos e atores conquis-taram uma regulamentação para a apresentação em espaços públicos. O decreto 55.140/2014 foi assi-nado pelo prefeito Fernando Haddad e, entre ou-tros temas, discorre sobre os direitos dos artistas, a proteção da lei e os deveres que se encaixam em cada tipo de trabalho artístico, como a distância mínima entre dois músicos, proibição em frente de guias rebaixadas e próximas a escolas, hospitais e postos de saúde, para citar alguns. Os direitos dos artistas também estão amparados pelo decreto (Veja quadro na página 53).

Com um grande número de artistas espalhados pela cidade, a Prefeitura resolveu ouvi-los. Instrumentistas, cantores, artesãos e atores conquis-taram uma regulamentação para a apresentação em espaços públicos

Opinião parecida com a do cantor Edson Cordeiro. Mundialmente conhecido, poucos sabem que ele começou sua trajetória como inúmeros ou-tros. “Sem o que aprendi na rua, eu não estaria aqui. Foi lá que eu percebi que poderia cantar, ser aceito. As pessoas paravam para me ouvir em vez de me mandarem calar a boca. Na rua, eu fazia o que que-ria e ganhava um bom dinheiro”, relata o cantor, em entrevista ao veículo alemão Deutsche Welle.

Outra liberdade que os músicos aproveitam, quando decidem ir para a rua, é poder mudar de ideia, como escolher onde ficar e o horário melhor para se apresentar. Meneguetti já tocou no Sesc, no Sesi e em bares, na rua costuma ficar na avenida Paulista e em estações do Metrô, como Clínicas, Carrão, Trianon, Santana e Sé, mas tem a liberdade de mudar seu rumo.

Buscando mapear artistas de ruas e fazer a divulgação de cantores, instrumentistas, circenses, mágicos, artesãos, entre outros, o Artistas na Rua criou um mapa colaborativo com o perfil, contato e os locais onde ficam os artistas. O site é dinâmico, por isso é difícil precisar a quantidade de perfis já cadastrados, mas só na região central já havia 225 músicos até setembro. Flautistas, percussionista, violinista, entre outros, estão na página. Qualquer um pode se cadastrar, basta acessar o site e preencher os dados necessários, é possível fazer um cadastro para terceiros com intuito de divulgação também.

Além da propaganda e do mapeamento, a pági-na também ajuda a esclarecer os direitos e deveres de quem se apresenta em espaços públicos e divulga notícias pertinentes aos artistas. Outras formas de organização e automação voltadas para a música e o artista de rua estão surgindo. Em setembro acon-teceu a primeira edição do Festival de Artes de Rua Praça Elis Regina, organizado de forma independen-te por artistas e moradores da região do Butantã. O evento contou com apresentações de dança, artes visuais, projeção e outras intervenções artísticas, como teatro e música. Ações como essa asseguram o direito à expressão de todos os artistas e permi-tem o acesso popular a apresentações variadas.

ORgAnIzAçãO

Por Juan Perazzo

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Para resumir, os principais pontos da lei são:

Apresentar-se em ruas, praças e parques sem a necessidade de licença ou autorização, con-tanto que não atrapalhe o tráfego de pedes-tres e veículos;

“Passar o chapéu” (receber contribuição voluntá-ria), sem ser tachado de “comércio ilegal”;

Utilizar equipamentos eletrônicos, desde que respeitados os limites de ruído e a distância entre dois equipamentos.

Livres Autonomia, difusão da arte e dinheiro, essas

são algumas das justificativas. Mas o que boa parte dos músicos declara é que a liberdade da rua seduz muitos artistas. Meneguetti faz parte do grupo de música bra-sileira Sambossa SP e da Teko Porã, banda de músicas autorais, dá aulas de música e toca em outras bandas como freelancer. Além disso, arruma tempo para se apresentar em praças, parques e esquinas. A opção de tocar em locais públicos é para expandir a arte, com-plementar a renda, além de ser um prazer. “Eu toco nas ruas desde 2007 e digo que o divertido é exatamente a espontaneidade. Não há um processo burocrático, entre mim e o público. É apenas um momento, uma expressão, uma melodia dentro do cenário da cidade e o público se forma ali espontaneamente”, diz o músico.

Dentre as possibilidades que os espaços pú-blicos proporcionam, parar o público é uma das mais gratificantes. “Diferente dos shows, ninguém está na rua para te ver cantar, se as pessoas param, te cercam ou se aglomeram, é sinal de que você tem ta-lento, e quem toca ou canta na rua sente quando está agradando”, diz o músico e professor Marcelo Bugi.

54 | Revista a Bachiana Revista a Bachiana | 55

Seu sistema ficou conheci-do como Solfêge, ou solfeggio, e, mais tarde, já no século XiX, a criação de Guido foi reformula-da para facilitar o canto, tornan-do as notas Ut em DÓ, e Te em Si.

A criação de D’Arezzo se disseminou rapidamente, aju-dando muitos compositores no processo de criação musical. Até hoje, seu sistema é utiliza-do, mais conhecido pelas sete notas musicais.

O violino, um dos instrumen-tos mais reconhecido pela sua so-noridade, é fabricado de maneira complexa. Na confecção de um violino, são utilizados cerca de setenta materiais diferentes, en-tre eles diversos tipos de madei-ra em seu corpo, como a madeira rija, bordô e macia. Já sua afina-ção e intensidade são dadas pela camada de verniz para garantir as notas agudas e graves.

Apelidado de “sacerdote vermelho”, Antonio Lucio Vival-di (1678-1741) tinha uma carac-terística um tanto diferente, gostava de nomear suas obras com títulos com forte influên-cia da fantasia, como Proteu ou o Mundo Virado do Avesso, O julgamento da Harmonia, Inspiração Harmônica e A Lira.

das de Wolfgang Amadeus Mozart, a Sonata para Piano número 11 em Lá Maior, foi encontrada em meio a vários papéis antigos em uma bi-blioteca de Budapeste, na Hungria.

Na Grécia Antiga, acredi-tava-se que os instrumentos de corda, como a lira, a viola e a harpa, eram obras consideradas divinas. Acreditava-se que o deus Hermes utilizava dos tendões de animais em uma casca de tartaruga e, as-sim, liberava o vento através do “instrumento” para produzir o som das cordas divinas.

Você sabia que, desde o sé-culo ii, existe a padroeira da músi-ca? Seu nome é Santa Cecília e foi eleita padroeira, pois, enquanto seu corpo era queimado, ela can-tava hinos a Deus. Santa Cecília foi uma das santas mais admira-das durante a idade Média.

Em meados do século Xi, o mestre de coro e monge, Guido d’Arezzo, inventou um sistema para rápida assimilação da mú-sica. Era uma melodia com uma nota mais alta que a anterior, assim fixou cada nota na mão, nomeando-as por Utqueant la-xis, Resonare fibris, Mira gesto-rum, Famuli tuorum, Solve pollu-ti, Labi reatum, Sancte Ioannes.

Há 10000 a.C, os instrumentos eram fabricados com objetivo de imitar os sons da natureza, o apito fabricado com osso de rena e a flau-ta, com apenas três notas, eram ma-nipulados para repercutir um som parecido com o vento assobiando entre os troncos das árvores.

Com mais de dois séculos sem pistas, o manuscrito original de uma das obras mais reconheci-

CURIOSIdAdESCURIOSIDADES

A relação da música com o homem sempre ul-trapassou os limites da natureza, e, a todo o

momento descobertas revolucioná-rias surgiram através da capacidade da observação e criação humana.

Com o intuito de criar obje-tos para imitar os sons da nature-za e dos animais, o homem apri-mora suas técnicas para fabricar instrumentos, de sonorização e de

Você sabia que, desde o século ii, existe a padroeira da música? Seu nome é Santa Cecília e foi eleita padroeira, pois, enquanto seu corpo era queimado, ela cantava hinos a Deus. Santa Cecília foi uma das santas mais admiradas durante a idade MédiaPara todos os

gostosComo os fatos criaram história e manifestações criativas na música

Por Marcelo Mazetis

afinação. Assim, a música passou de uma simples imitação dos fe-nômenos naturais para a realiza-ção de muitos homens.

Em razão dessas experimen-tações, a história da música é mar-cada por fatos curiosos, estranhos e, muitas vezes, sobrenaturais à capa-cidade humana. Por isso, é impor-tante oferecer ao leitor uma mostra da evolução da música através de seus próprios esforços criativos.

OrQuESTrA E JOãO CArlOS AO piANO, NA SAlA SãO pAulO.

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56 | Revista a Bachiana Revista a Bachiana | 57

P araisópolis, na zona sul de São Paulo, é considerada a segunda maior favela da cidade.

Segundo informações da Secre-taria Municipal de Habitação, lá vivem mais de 55 mil pessoas em 20.832 imóveis.

Diversas instituições atu-am na região com projetos sociais para benefício dos moradores, en-tre eles o núcleo de musicalização da Fundação Bachiana, criado em meados de 2010.

No início, as crianças e jo-vens participavam das aulas de ins-trumentos de corda, percussão e co-ral no salão da Igreja de São José e, depois, mudaram para as dependên-cias do Programa Einstein na Co-munidade de Paraisópolis (PECP), um núcleo do Hospital Israelita Albert Einstein, localizado na favela.

A violinista Ana Cami-la veio de São José do Rio Preto para São Paulo em 2009 e, após um tempo como coordenadora pe-dagógica da Fundação Bachiana, decidiu se afastar da parte burocrá-tica e voltou a lecionar. Foi escala-da para o núcleo de Paraisópolis e não se arrependeu. “Foi um choque bom para mim. Porque eu não es-perava ser tão bem tratada como fui, todos foram muito carinhosos, foi uma experiência maravilhosa”.

Entre as crianças e jovens que participaram do projeto, quatro amigos se juntaram para formar um quarteto de cordas, grupo comum nas orquestras para apresentações a que nem todos os músicos possam ir.

Jéssica, Marcela, Genílson e Oskar, eram frequentes nas aulas e o talento foi logo se mostrando. A professora Ana Camila Castilho Bordino, violinista na Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP, teve a ideia de ensaiá-los para acompa-nhar o maestro. “Sempre tem um quarteto que acompanha o maestro João Carlos Martins nas apresen-tações a que não dá para ir toda a Orquestra. Então, montei esse gru-po para mostrar a ele e sugerir que

QuartetoMadre pérola

conquista Paraisópolis

ideia surgiu entre os amigos e a professora e passou a acompanhar as apresentações solo

de João Carlos Martins

Por Juliana Santos

DA ESQuErDA pArA A DirEiTA:gENílSON, MArCElA, JéSSiCA EOSkAr TOCAM EM AprESENTAçãODO QuArTETO.

Entre as crianças e jovens que participaram do projeto, quatro amigos se juntaram para formar um quarteto de cordas, grupo comum nas orquestras para apresentações a que nem todos os músicos possam ir

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pudesse levar os alunos nas pales-tras e apresentações dele”, lembra a educadora.

O quarteto é formado por um violino, uma viola, um contra-baixo e um violoncelo. Na época da união dos amigos, Jéssica toca-va violino, assim como Marcela, e precisavam de outro instrumento de corda, a viola. Para isso, a so-lução foi resolvida prontamente por Ana Camila. “Eu disse para a Jéssica, você é grande, sua mão é grande, tem que ser viola”, recorda.

Após o aval do maestro, o grupo se transformou em Quar-teto de Cordas Madre Pérola e passou a se apresentar também em eventos, como festas e casa-mentos por toda Paraisópolis.

Aprendizado e Carreira

Oskar Goldmann, de Vitó-ria da Conquista (BA), veio para São Paulo ainda pequeno. Fã de Johann Sebastian Bach, descobriu a música aos 12 anos, quando co-meçou a tocar violão. Depois vie-ram o baixo e o violão erudito.

Aos 18 anos, conheceu o projeto da Fundação Bachiana. Seu primeiro contato foi com o coral, depois com o violino e se encontrou quando tocou o violoncelo pela pri-meira vez. Hoje, cinco anos depois, já se apresentou diversas vezes com o maestro João Carlos Martins.

Jéssica Motta começou a tocar violino em Paraisópolis e foi apresentada à viola durante a formação do quarteto. “A Ana Camila me apresentou a Viola de Arco, experimentei e adorei o ins-trumento. A mão fica mais justa e não precisa esticar tanto o braço

como no violino. Ah, o som é mais grave também”, explica a jovem.

Aos 22 anos, Jéssica se pre-parou muito nos últimos meses para conseguir uma bolsa de estudos na Escola Municipal de Música, da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. Sabe que não serão fáceis os próximos sete anos para se formar.

Ana Camila lembra que, além das apresentações que os jo-vens faziam, ela também os ensi-nava a dar aulas. Afinal, poderia ser uma opção de profissão para eles no futuro. “Eles são bons professores, o Genílson é o que gosta menos, já a Marcela é uma excelente professo-ra. Inclusive, houve algumas apre-sentações a que eu não podia ir e a Marcela me substituía. Coordena-va todas as crianças e falava muito bem nas apresentações”.

O mais sério do grupo, Genílson Santana, recebe bolsa da Fundação e ensaia uma vez por semana na instituição, mas já pensa como será sua rotina quan-do terminar o ano. Pretende arru-mar um emprego e conciliar com a música. Pensa em algo ligado à gastronomia, mas a certeza que tem é ‘gosto mesmo é da música’.

Marcela Novais, a falante do grupo, acredita que a experiên-cia de ter tocado com os amigos em vários eventos, como músicos profissionais, foi muito importan-te para o crescimento de cada um.

Segundo ela, a participa-ção no projeto da Fundação foi o caminho certo para sua carreira. “Eu já queria muito fazer música e acho que foi um empurrão de-cisivo para ter certeza de que eu só poderia dedicar a minha vida à música”, pondera a aluna de Li-cenciatura em Música pela Faam.

OS JOVENS DO NúClEO pArAiSópOliS AprENDEM AS TéCNiCAS COM A prOFESSOrA, ANA CAMilA (priMEirA FOTO).

Descobrir o talento dos jovens no contato com a música foi fundamental para que Ana Camila per-cebesse que eles nasceram com alma de artista. “Tem algo dentro deles que só precisava ligar um botãozi-nho, acender o interruptor. E aí, a convivência com músicos, idas a concertos, a vontade de seguir carreira foi aumentando. É muito gratificante saber que uma semente que você plantou deu certo”, comemora.

A separação

Toda experiência é válida, até mesmo quan-do acaba. O Quarteto de Cordas Madre Pérola aguarda uma data para a última apresentação no lugar onde tudo começou, em Paraisópolis.

Atrasos, humor, falta de tempo e inúmeras outras situações provocaram a separação do grupo. Genílson também aponta as mudanças de interes-ses entre eles. “A cabeça de cada um foi mudando com o passar dos anos, mas foi bom enquanto du-rou. Fez diferença no meu aprendizado”.

Reatar a união e voltar a tocar juntos não está nos planos próximos, mas, como nada é para sempre, pode ser que a maturidade transforme a decisão e, no futuro, o quarteto retome a atividade.

Ana Camila acredita que essas etapas que os jovens estão vivendo são necessárias e que chegou a hora de cada um seguir um caminho. “A expe-riência foi boa para o desenvolvimento técnico e musical deles. Se vai continuar ou não, não sabe-mos, mas eu acho que o propósito do quarteto foi cumprido com êxito na vida deles”.

Admiração pelo maestro

Assim como vários alunos dos projetos de musicalização da Fundação Bachiana, os jovens do quarteto tem um carinho especial pelo maestro João Carlos Martins.

Oskar relembra o dia em que foram à casa do maestro para apresentar o quarteto. “Foi a primeira vez que tocamos para ele ouvir, fomos à casa dele, ele começou a ouvir, sentou no piano e acompanhou a gente. Foi uma experiência boa, muito importante”.

Características como superação e talento são lembradas pela violista Jéssica. “O maestro é um exemplo, um senhor humilde, super bacana. É um privilégio ter conhecido e ter feito parte de algum momento da história dele, principalmente, de ter tocado com ele”, recorda.

Descobrir o talento dos jovens no contato com a música foi fundamental para que Ana Camila percebesse que eles nasceram com alma de artista

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SAúdESAúDE

Uma orquestra filarmônica é composta por ins-trumentos de cinco classes diferentes: cordas, madeiras, metais, instrumentos de teclas e per-cussão. Cada aparelho tem uma função e um

mecanismo específico para reprodução dos sons. Os instru-mentos de metal, por exemplo, funcionam através da vibra-ção de uma coluna de ar. E a voz também funciona assim.

Antigamente, eram comparadas com os instrumentos de cordas. Estudiosos e médicos acreditavam que, assim como os violinos, a voz era produzida pela vibração das cordas. A realidade é que o som é produzido pela vibração do ar nas pregas vocais.

Segundo a fonoaudióloga Ellen Felício, os sons são produzidos na laringe, órgão que fica no pescoço e é como um tubo que possui duas dobras de músculos e mucosa, as famo-sas pregas vocais. Para produzir a voz, essas pregas vocais vi-bram com a passagem do ar para os pulmões. “O ar é como se

Voz pronta

paraVocê sabe dizer como

funciona a voz? A BACHIANA falará sobre

o que realmente está por trás do falar e do cantar

Por Giovanna Manucelli

sair revelou detalhes do que aprendeu e conheceu trabalhando 37 anos com o canto. “A voz é um verdadei-ro instrumento de comunicação e arte. Mas, para produzir os sons, é preciso trabalhar todo o corpo”.

Para ela, cantar não é utilizar apenas as pregas vocais para criar di-ferentes tipos de sonoridades, é ne-cessário trabalhar o corpo para que ele permita atingir notas diferentes numa mesma música com alcance e projeções distintas. E é exatamente isso que ela ensina aos alunos e pra-tica todos os dias nos ensaios e apre-sentações no Coro Lírico do Teatro Municipal, onde trabalha.

“A voz é um produto do corpo, mas também o controla em vários sentidos, porque tem fun-ções vitais no falar, no pigarrear e no respirar”, diz a professora.

Para que o oxigênio, ao passar pela laringe, vibre e produza exata-mente aquilo que o musicista deseja, é preciso projetá-lo para outras áreas do corpo, como o peito, as costas e a cabeça. “O corpo deve criar a pressão para fazer o som, e não os músculos. Cantores devem cantar com a força do ar”, completa a educadora.

Projetar o som para fora e respirar são tarefas naturais para o ser humano. Mas quem quer fazer da música, ou melhor, do canto uma profissão, precisa ter noção de que deverá reaprender a cantar e respirar e, de acordo com a profes-

Todos os sons que o ser humano consegue produzir para se expressar dependem do ar e de como ele será projetado. As diferentes formas de usá-lo em benefício da voz proporcionam muitos ajustes vocais, como tons agudos e graves, além de variações de entonação, velocidade, ritmo e intensidade

sora, reprogramar o cérebro.Como em todos os proces-

sos de funcionamento do corpo, o cérebro também é parte impor-tante no falar e cantar. Como uma máquina perfeita que é, ele dá as ordens e os órgãos executam. Ele é capaz de guardar e reproduzir o que ouve na memória. É dessa forma que os cantores conseguem atingir as notas distintas e cantar em tantas melodias diferentes. Mas o cérebro, que tanto ajuda, deve ser treinado de acordo com os mecanismos especí-ficos para condução de cada timbre.

Para um aluno sair bem pre-parado das aulas e passar em proces-sos seletivos de grandes corais, é pre-ciso, no mínimo, se preparar por oito anos. “A voz da criança faz muito sentido para quem ouve, mas, geral-mente, elas rejeitam e não se acostu-mam com a própria voz. Elas demo-ram para aprender as sonâncias, mas é normal”, justifica a mentora.

O corpo tem memória e é necessário programá-lo para fazer tudo aquilo a que já é acos-tumado a fazer: cantar e respirar.

A boa notícia é que qual-quer um pode cantar. Mas, para ser um cantor profissional é preciso se preparar. Exige controlar os movi-mentos das pregas vocais, a audição e o corpo para produzir os sons com espaços e alongamentos que, só com estudo e prática, é possível. Então, se prepare para soltar a voz!

Projetar o som para fora e respirar são tarefas naturais para o ser humano. Mas quem quer fazer da música, ou melhor, do canto uma profissão, precisa ter noção de que deverá reaprender a cantar e respirar e, de acordo com a professora de canto, reprogramar o cérebro

fosse o combustível para o som, sem ele não existe sonoridade. Já o falar nasce pelos movimentos de diversas estruturas do corpo, como os lábios e a língua”, explica a profissional.

Todos os sons que o ser hu-mano consegue produzir para se ex-pressar dependem do ar e de como ele será projetado. As diferentes formas de usá-lo em benefício da voz proporcionam muitos ajustes vocais, como tons agudos e graves, além de variações de entonação, ve-locidade, ritmo e intensidade.

A professora de Canto Eru-dito da Escola de Música do Es-tado de São Paulo, Marta Mauler,

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PARtItURASPARTITURAS

Muitas pessoas se perguntam qual s i g n i f i c a d o , qual a serven-

tia e como é usado cada sím-bolo musical. Como qualquer idioma, a música também tem uma escrita padronizada. Cada figura refere-se a uma nota mu-sical. Assim como a escrita, a função das partituras é registrar a música historicamente, docu-mentando suas mudanças, sua evolução e seus gênios. Além da própria documentação, as notas facilitam o aprendizado musical.

Por meio das partituras, é possível conhecer o ritmo e a altura de cada nota, mas, para

isso, é necessário aprender a decodificar a simbologia e as nomenclaturas.

O primeiro passo é se fa-miliarizar com o pentagrama, um conjunto de cinco linhas (cada linha com um nome), entre as quais há um espaço, totalizando quatro espaços por pentagrama (cada um com seu nome). Veja abaixo, o exemplo de partitura.

Além de conhecer e se familiarizar com as caracterís-ticas de uma partitura, é im-portante, quase como um pré--requisito, ter a sequência das notas bem assimiladas crescen-te e decrescente.

Agora que você já sabe dessas dicas, é preciso apren-der a lógica do pentagrama. A clave é o símbolo que fica no início da pauta e determina a ordem das notas musicais a partir da linha em que ela é desenhada. É muito importan-te que ela seja o primeiro ele-

ESCALAS DE nOTAS

mento a observar para fazer a leitura corretamente da pauta. A mais comum é a clave de sol ou clave sol. Quando está pre-sente, a contagem das notas começa na segunda linha e, consequentemente, todas são definidas na ordem crescente, como observado na imagem.

Bê a Bá da música

Aprenda a identificar os primeiros elementos para a leitura de partituras

Por Juan Perazzo

SE FAMiliArizE COM AS NOTAS MuSiCAiS E COMECE A lEr AS pArTiTurAS DE OuTrA MANEirA.

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BACHIAnA RECOMEndABACHIAnA RECOMEnDA

Dicas de livros e filmes para você ampliar seu repertório no universo da música

O maestro João Carlos Martins é considerado um dos maiores intérpretes de Johann Sebastian Bach. Na obra “48 va-riações sobre Bach”, o autor suíço Franz Rueb apresenta a história da vida de Bach, desde sua infân-cia, com sua família tradicional de

Quando o assunto é música clássica, é inevitável não citar Mozart. O filme “Ama-deus”(1984) mostra algumas passagens de sua vida. A tra-ma é dirigida por Milos Forman, baseada na peça homônima de Peter Shaffer, que também é o roteirista.

A história se inicia com o relato do músico Salieri, já

livros

filmes

músicos, até sua peregrinação por cidades alemãs em busca de melhores condições de vida. Tudo isso acompanhado das transformações das convicções do compositor.

Para conhecer ainda mais sobre a fantástica trajetória de

idoso, confessando a respon-sabilidade sobre morte de Mozart e seu ódio pelo jovem e talentoso compositor.

Em “Minha Amada Imor-tal”, os feitos e problemas da vida de Ludwig Van Beethoven são contados de forma dra-mática. O filme gira em torno do testamento deixado pelo músico para sua “amada imor-

A Música Erudita da Idade Média ao Século XXIbrahim Abrahao ChaimLetras e Letras

A obra relata osperíodos musicais, instrumentos que compõe o universo da música e muito mais.

O segredo de BeethovenAgnieskzaHollandAno: 2006 Gênero: Drama

De forma dramática, o filme conta a trajetória do último ano de vida do compositor e sua relação com a jovem Anna Holtz, que sonha em ser compositora.

Guia Ilustrado Zahar de Música ClássicaCharles Wiffen e John BurrowsZahar

O livro tem obras de mestres da música clássica, como o brasileiro Villa-Lobos e conta com centenas de ilustrações para melhor interpretação.

FantasiaBen Sharpsteen, James Algar e Samuel ArmstrongAno: 1940Gênero: Musical/Animação

O musical da Disney conta com obras de vários artistas, entre eles: Bach, Tchaikovsky, Stravinsky e Schubert.

História da Música Clássica (audiolivro)Irineu Franco PerpetuoLivro Falante

Com informações sobre a música clássica desde a Idade Média, o crí-tico musical Irineu Franco Perpetuo também aborda os trabalhos dos principais artistas modernos.

A noite sonhamos – A vida de Frederic ChopinCharles VidorAno: 1945Gênero: Drama

O longa apresenta abiografia do compositor polonês Frederic Chopin (1810-1849)

tal”, sem especificar o nome de seu grande amor.

Dirigido por Bernard Rose, a obra foi lançada em 1994. O personagem Beetho-ven é interpretado por Gary Oldman, o filme também conta com os atores Jeroen Krabbé, Isabella Rossellini, Valeria Go-lino e tem 120 minutos de du-ração. Confira outros títulos:

João Carlos Martins, você pode ler “A saga das mãos”, de Luciano Ubirajara Nassar. O livro biogra-fia relata a trajetória do maestro, seus problemas de saúde, seu en-volvimento com a política e, prin-cipalmente, sua vida profissional. Abaixo, você confere outras obras:

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FIqUE dE OLHOFIqUE DE OLHO

Quer tocar um novo instrumento ou doar o seu usado? Que tal assistir a um espetáculo?Acompanhe as dicas da revista A BACHIANA e programe-se

O Natal do aprendiz de maestro | SPQuando: 13/12/2014 às 11hOnde: Sala São PauloInformações e Venda:TUCCA: (11) 2344.1051 ou [email protected] de pagamento: Dinheiro, Cheque ou Cartão de Crédito

No último espetáculo do ano, da série Aprendiz de Maestro do TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer), os espectadores poderão ver o Natal do Agente XYZ (Paulo Goulart Filho). O especial infantil realizará uma viagem musical por sinfonias natalinas. Regência e direção musical do maestro João Maurício Galindo e execução de Coro Jovem e Sinfonieta Tucca Fortíssima.

Vamos tocar nossos corações | CE Postos de arrecadação: Fortaleza e Cariri: Mercadinhos São LuizDemais cidades: Postos da Coelce Informações: (85) 3234-0241

Tem algum instrumento musical e não usa? Não deixe a música ca-lar, doe esse instrumento e ajude a formar os futuros talentos. As doações podem ser feitas nos Mercadinhos São Luiz das cidades de Cariri e Fortaleza, nas demais cidades nos postos da Coelce.

Oficinas musicais no Paraná Oficina de PercussãoQuando: quartas e sextas-feiras: 15h15 às 16h45Onde: Centro da Juventude Bom Jesus - Campo LargoInformações: (41) 3292-3487

O projeto Tetear (Tempo de Temperar Arte) está com inscrições abertas para oficinas de percussão. As aulas são gratuitas e acontecem no Centro da Juventude Bom Jesus, em Campo Largo (PR). Os cursos vão até dezembro e as inscrições estão abertas enquanto houver vaga.

Fundação Cultural de Curitiba Quando: Enquanto houver vagaOnde: Regional Boa Vista - Avenida Paraná, 3.600Informações: (41) 3313-5688 e 3313-5671Quanto: R$ 45

Aulas de violino, viola ou bateria? Essas são algumas modalidades que a Fundação Cultural de Curitiba oferece. Todas as oficinas são ministradas por músicos e artistas experientes. Além de música, há aulas de dança, teatro, entre outras opções.

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Veja as principais notícias sobre o maestro João Carlos Martins, Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP e Fundação Bachiana

Data: 05/10/2014Veículo: Revista São Paulo (Folha de São Paulo)Tipo: ImpressoDescrição: Matéria relata as opções de cultura que os paulistanos encontram nos shopping centers da cidade.

Data: 28/07/14Veículo: Correio PopularTipo: ImpressoDescrição: Divulgação de apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP em Amparo/SP.

Data: 28/09/14Veículo: UOLTipo: InternetDescrição: Divulgação de apresentação do maestro com ritmistas da Escola de Samba Vai Vai no Shopping Pátio Higienópolis.

Data: 28/08/2014Veículo: Folha MetropolitanaTipo: ImpressoDescrição: Matéria sobre a apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP com regência do maestro João Carlos no Colégio Mater Amabilis, em Guarulhos.

Data: 29/09/14Veículo: Programa CQC (Custe o que Custar)Tipo: TV (Bandeirantes)Descrição: Maestro participa de entrevista sobre recuperação de uma escola de música em Ribeirão Pires.

Data: 28/12/13Veículo: Programa AçãoTipo: TV (Globo)Descrição: Programa mostra o projeto da Fundação Bachiana que descobre talentos e auxilia na democratização da música clássica.

JOÃO CARLOS MARTINS AJUDA PROTESTE JÁ A RECUPERAR ESCOLA DE MÚSICA

Oscar Filho foi até a cidade de Ribeirão Pires, interior de São Paulo, para investigar a denúncia de uma escola de música que era referência de excelência na cidade e foi interditada por falhas estruturais. A instituição chegou a ter mais de mil alunos e, agora, crianças e adolescentes talentosos ficaram sem lugar para praticar. Veja todos os vídeos do CQC.

João Carlos Martins se apresenta em shopping com participação da Vai-Vai

João Carlos Martins rege a Bachiana Filarmônica Sesi-SPCom entrada gratuita, concerto faz parte do ‘2º Movimento Você e a Paz’: no próximo domingo

Projeto da Fundação Bachiana ensina música e descobre talentosEm parceria com empresas privadas, iniciativa ‘A Música Venceu’, oferece musicalização para cerca de quatro mil crianças e adolescentes do Brasil

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“Me chamo Dyane Rosa, tenho 30 anos e dou aulas nos núcleos de Jaraguá e Suzano pela Fundação há quase três, completo os três

anos, em fevereiro de 2015.Sou de Criciúma, Santa Catarina, fiz faculdade de

Licenciatura em Música pela Universidade Estadual de Santa Catarina. Apesar de ter feito licenciatura, a minha vontade era fazer bacharel em canto. Sempre gostei de can-tar. Canto desde os 13 anos de idade. Comecei a fazer can-to lírico aos 18. Na faculdade, tive aulas de canto. Mas que-ria intensificar os estudos, e não tinha dinheiro para isso.

Um belo dia, o maestro João Carlos Martins, foi em Criciúma, fazer uma apresentação na praça da cidade.

Sempre trabalhei com coral, desde que comecei todo o meu trabalho foi dentro da música. E aí, o nosso coral abriu o concerto do maestro. O coral “Vozes de Espe-rança”, do bairro da Juventude, que é uma instituição e tra-balha com crianças. Sempre trabalhei com projetos sociais.

Naquela oportunidade, eu fiquei para assistir, ciente que não podia, mas decidi ficar lá nos bastidores para tentar conversar com o maestro. Quando fui falar com ele, fiquei surpresa de como ele é acessível. Eu disse: “Maestro, meu sonho é cantar numa orquestra, o senhor me ajuda?”. E prontamente, ele me passou o número do seu celular, e pediu para o assessor falar comigo.

Depois aconteceram muitas coisas, e no meio do caminho, eu liguei pra ele, ele ligou pra mim e eu nunca imaginei que pudesse dar resultado..., mas deu! Tanto que eu vim pra cá em um ano, com a ajuda dele pra estudar canto. Na verdade, o objetivo era me ajudar a fazer aula de canto, para continuar meus estudos. Só que ele ouviu meu coral antes, e gostou muito e me

O desejo de cantarcom a OrquestraDepoimento da regente e professora de canto, Dyane Rosa, cedido à Juliana Santos

convidou para ir trabalhar com ele em São Paulo. Daí, eu vim, passei na entrevista e estou aqui.

Fiquei dois anos como bolsista e agora fui contratada. Com o meu trabalho, eu consigo pagar os meus estudos, além do que, adoro dar aula, então uni o útil ao agradável. Cantar na Orquestra ainda não aconteceu, por que estou com um problema na voz, também por dar aula. É um pouco injusto, mas tem que aprender a dar aula sem prejudicar a voz.

Depois que vim pra São Paulo, descobri esse in-cômodo, que chegou a ser uma suspeita de câncer na tireoide, mas graças a Deus, não era. Acabei retirando a tireoide e tomarei remédio pra sempre. Estou em tra-tamento com uma fonoaudióloga e faço aula com uma professora particular, antes fiz aula na Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim).

Quando vim pra São Paulo, estava noiva e meu noivo veio comigo, mas logo que tive o problema na voz, ele não aguentou o tranco e nos separamos.

Fiquei sozinha, longe de casa, numa cidade grande como São Paulo. Antes morava no centro, per-to do Anhangabaú, mas achava muito barulhento, em qualquer horário, qualquer dia da semana. Então, resolvi mudar para o interior, por que também dou aula em Su-zano e fui morar em Mogi das Cruzes. Lá é muito tran-quilo, e percebi que quero um pouco mais de agitação. Talvez eu volte para São Paulo, onde mora meu atual namorado, estamos juntos há alguns meses.

Estou feliz aqui, já pensei em desistir de cantar e me dedicar somente a educação, mas preciso realizar algo que me fará mais feliz e só quando eu conseguir cantar com a Orquestra, posso dizer que realizei meu sonho e o que vim buscar!”

MInHA HISTóRIA

Revista institucional da

fundação bachiana filarmônica