Revista a Lupa

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A LupaRevista Laboratrio dos Alunos do 4 Semestre de JornalismoEdio N 00 - Ano 2010

Especial:

So Luiz

do

Paraitinga

G

osto das definies do dicionrio. Algumas delas, na verso do tomo criado pelas irms de origem alem Michaelis, para a palavra notcia, so:

Notcia no.t.cia sf. 1 Conhecimento, informao. 2 Nova, novidade. 3 Memria, lembrana. 4 Observao, apontamento. Um tanto ambguo, no? Mas, na vida, quase nada literal. Fomos a So Luiz do Paraitinga e tentamos fazer jus a esse significado. Dar a noticia, e trazer o conhecimento e a informao. Buscar as novidades, passando-as a quem no pode estar conosco. Despertar na memria a lembrana do que, e de como aconteceu, mostrando atravs das histrias o passado e o presente. Observar as pessoas e os lugares, apontando a voc, leitor, para o que achamos de bom ou de ruim. Ter sucesso ou no a conseqncia que a vida nos apresenta e, se conseguimos voc mesmo descobrir agora. Boa Leitura, Marcelo Tomaz, Editor-Chefe e a Equipe A Lupa.

REFLEXES

EDITORIAL

Para quem no conhece: So Luiz do ParaitingaVnia da Silva

A

Editor-Chefe Marcelo Tomaz Secretrio de Redao Sidney P. Silva Revisores: Sidney P. Silva, Marcelo Tomaz, Marcelo Pereira e Juliana Souza Edio de imagens e fotografia: Marcelo Tomaz e Sidney Silva Capa e Contra-Capa: Marcelo Tomaz com foto de Ricardo Ferreira Fotgrafos: Marcelo Tomaz, Sidney P. Silva, Juliana Souza, Ricardo Braga e Marcelo Pereira Reportagem: Marcelo Tomaz, Sidney P. Silva, Juliana Souza, Ricardo Braga, Marcelo Pereira, Luiz do Vale e Welhington Pedro Colaboradores: Professor Marcos Horcio, professora Vnia da Silva e fotogrfo Ricardo Ferreira (www.rfoto.com.br)

mo SLP. A primeira vez que fui cidade, fiquei en- nhas no to inocentes mas cheias de bom humor embalam cantada com a sua arquitetura histrica perdida no a cidade com seu nico carro de som que desfila para cada meio daquele vale que ora parecia nos abrigar, ora bloco que o acompanha com o boneco (como aqueles de parecia nos envolver e nos convidar a ficar. Ruas de terra, Olinda) que representa o seu bloco: do SACI, do BARBOSA, janelas com cortinas de renda, casas com vasos de plantas do CAIPIRA entre outros... A cada bloco admiradores, participantes e turistas acompanham e gente no porto cumprimentancantando e danando... at na 3. do a todos que passavam como se feira quando um nico desfile com os conhecessem h muito tempo, todos os blocos e bonecos sadam inclusive ns. Lojas antigas, como a cidade e despedem-se na porta aquelas que vamos nas propada igreja. gandas das Casas Pernambucanas Em maio a vez da cidade abriquando a loja s vendia tecidos gar a Festa do Divino que a cada para costureira usar sua criatividaano organizada por uma famlia de, coisa que no falta na cidade, da cidade que aps o carnaval vipois tudo l embalado, decorado sita cada stio, fazenda, casa, loja, e colorido com chita : mesas de pedindo ajuda para a festa e ao restaurantes ou pousadas, cortinas, final distribui tudo o que foi arreat roupas encontradas no mercacadado em forma de comida para do municipal. todos. SLP um misto de cultura Terra do Saci Perer, vrios so popular e point de intelectuais... os contadores de causos que que um dia, enquanto jovens sajuram v-lo sempre por l e saem ram da cidade para estudar e anos com grupos de turistas sua promais tarde voltaram para mostrar cura. cidade como se deram bem na No sei dizer qual o carisma vida. Agradecidos pelo sucesso dessa cidade...todos que conheo que tiveram fora dela voltaram e e a conhecem so apaixonados tentam transformar a cidade num por ela sejam mdicos, advogamisto de atualidade e ao mesmo A Coordenadora do projeto Arte e Cidadania dos, estudantes, professores, artempo conservam seu modo inotistas, leigos, pessoas comuns do cente e primitivo de interior. Cidade que se destaca em dois momentos muito signifi- povo ou simplesmente caipiras, como se diz na linguagem cativos para sua cultura: a festa do Diabo como chamam o paulista. Uma coisa certa: todos sofreram muito pelas chuvas e o Carnaval e a festa de Deus como chamam a do Divino. No carnaval, milhes de pessoas lotam a cidade: jovens, desespero de seu povo. Fizemos o que podamos no momenadultos, folies, que vem das cidades vizinhas se esbaldando to, rezar e ajudar com donativos e estamos na torcida para entre msica e dana completando cada bloco. Todos que do que faam uma cidade to bonita como era, pois acolhedora carnaval participam sabem que proibido cantar e danar ela sempre ser. Para quem no conhece SLP eu pergunto: o que est espemsica que no sejam as marchinhas da cidade, que meses antes, se preparam com concursos e eliminatrias. Marchi- rando para conhec-la e ajud-la a se reerguer...

EXPEDIENTE

Eduardo Coelho ENTREVISTAEduardo de Oliveira Coelho, 40 anos Engenheiro Agrnomo e Luisense. Morou toda a vida toda em So Luiz do Paraitinga, tendo estudado por alguns anos em Taubat. Turismlogo que rege a diretoria relacionada ao assunto na cidade, ele nos falou um pouco sobre tudo o que se h para conhecer sobre SLP.Marcelo Tomaz e Luiz do Vale

Eduardo Coelho ENTREVISTAMarcelo Tomaz/A Lupa

Mok.

Eduardo Coelho: T

Marcelo Tomaz/A Lupa

Gostaramos de comear pautando primeiramente o assunto que lhe compete, o turismo.

arcelo Tomaz:

o chamado bate-e-volta, pois acaba no conseguindo se hospedar.

ferenciado. uma cidade pequena, tpica do interior, e que tem uma paisagem arquitetnica muito bonita.

a festa deixou de existir at 1980, totalizando cinqenta anos sem a comemorao, muito tempo para o Luisense tpico, que tradicionalmente festeiro. (Nota: o carnaval uma festa do cristianismo, em que se celebra o adeus a carne devido ao inicio da quaresma. Na antiguidade, eram dias em que as pessoas deviam aproveitar ao mximo antes de entrarem no perodo de resguardo que durava at a quinta-feira santa, que precede o dia da ltima ceia de Jesus. Pela questo profana e promiscua que o novo sculo revelou festa, foi parcialmente proibido na cidade.) Quando a festa voltou, foi seguindo o modelo dos grandes centros como o Rio e So Paulo, com a criao de escolas e sambas-enredos competitivos. Mas isso foi perdendo fora com o tempo. Logo comearam a surgir s marchinhas, sempre com composies prprias, vindas dos prprios moradores.

Banda Estranbelhados: origem em Elpdiopdio dos Santos, que fazia as trilhas sonoras de Mazzaropi. Um dado interessante que 10% da comunidade so de msicos, e aqui no h nem uma escola de msica. uma coisa que passa de pai para filho. Uma tradio que sempre vai seguindo. Ai o Carnaval comea a ter os primeiros festivais de marchinhas, sendo o primeiro em 1984. Estamos no 29 festival de marchinhas, que foi realizado esse ano no SESC So Paulo, devido catstrofe. Atualmente temos mais de 2.000 composies de feitas na cidade. E assim foram surgindo os primeiros blocos de marchinhas de carnaval, com temas folclricos e locais. Os arteses comearam a trabalhar com esse tema e foram surgindo os primeiros bonecos gigantes, a exemplo de Joo Paulino e Maria do Ang. (Nota: H mais de um sculo que o casal de bonecos gigantes est presente nas festas religiosas e profanas da cidade. Conta-se que o casal teria sido feito pela primeira vez em meados do sculo passado por um portugus chamado Joo Paulino, que percebeu que nas festas do Divino, j muito concorridas naquela poca, faltava uma diverso para as crianas. Joo Paulino era casado com uma mulher chamada Maria, que vendia pastis de Angu, nome usado para batizar a parceira de Joo Paulino. Os bonecos sobreviveram a seu criador e tornaramse uma tradio. So eles a alegria das crianas da cidade.)

MT: Devido tragdia causada pela chuva, acabou no ocorrendo o tradicional carnaval aqui da cidade. Li umas declaraes do governador do estado, apelando para que ele fosse realizado, coisa impossvel para o momento do municpio. O prejuzo pela falta desse evento foi alto? Voc tem uma idia, nmeros, para nos falar? EC: Tenho. O prejuzo foi equivalente a um oramento anual da prefeitura. o que se movimenta nos cinco dias de carnaval. Deixouse de ser gasto na cidade cerca de vinte milhes de reais. MT: Qual o movimento de pessoas no perodo de carnaval em So Luiz do Paraitinga? EC: Ns fizemos um registro, e a soma das pessoas que circularam diariamente na cidade foi de 180 mil durante o perodo. Um percentual fica durante os cinco dias, e outra parte faz

Luiz do Vale: Estvamos agora mesmo querendo saber sobre isso. At questionamos o pessoal ai.por que acabei de ir ao banheiro e ao invs das placas de Masculino e Feminino tem ilustraes e os nomes do casal de bonecos. cultural fez com que o carnaval atrasse tanta gente, mesmo com a estrutura precria da cidade para receber a todos. Na verdade, sempre foi. No comeo das festas, quando se obtinha o nmero de duas mil pessoas, j se achava que era muita gente.

MT: At achei curioso,

Hoje, a cidade recebe, em mdia, vinte mil pessoas diferentes nesses feriados. Devido a esse nmero elevado de pessoas ns comeamos a criar certas medidas restritivas. Uma delas foi oficializao da marchinha como ritmo oficial do carnaval de So Luiz do Paraitinga. Na poca se imaginava que fazendo isso as pessoas deixariam de vir em to grande nmero para a cidade no perodo de festas. Mas o tiro acabou saindo pela culatra. O carnaval, em todos os lugares do Brasil, igual, havendo poucas excees. E devido criao dessa restrio So Luiz acabou ganhando mais notoriedade ainda, por que um carnaval diferenciado. o carnaval das marchinhas. E isso atraiu ainda mais pessoas. Atrelado a esse processo, a partir de 2002, a cidade se tornou estncia turstica. O que trouxe mais investimentos para a cidade. O excesso de pessoas nas festas sempre foi prejudicial para a cidade. uma convulso social. Falta gua, falta luz, estacionamento, segurana, hospital. A limpeza no suficiente. Nada suficiente na cidade no perodo de carnaval. Para que organiza, um caos. Mas para quem participa, um dos melhores carnavais.

freqenta a cidade no perodo de festas, pretendem voltar. O nvel de satisfao chega a 98%. Isso no existe em nenhum lugar do mundo.

MT: Qual o incentivo financeiro que o governo do estado da cidade? EC: O investimento anual prximo de 8 a 10% do oramento da cidade. Isso chega prximo de 1,5 ou 2 milhes de reais. MT: Essa procura acentuada pelo carnaval de So Luiz deixou de ser algo controlvel para as autoridades locais a partir de que ano? EC: Foi a partir de 2000. Em 2005 houve um pice, que culminou com uma crise maior na cidade devido ao excesso de pessoas. Ento comearam as medidas restritivas. O fechamento do centro histrico, impedindo a circulao de carros. A cobrana de zona azul para a entrada e estacionamento na cidade no valor de R$ 30,00 e que esse ano iria aumentar para R$ 50,00. MT: O carnaval gera um lucro que a cidade no pode deixar de ter. Como o governo lidava com esse aumento repentino, principalmente com relao conservao do patrimnio histrico? EC: Esse um grande problema que entra em conflito com o direito constitucional das pessoas de ir e vir. Ns no podemos impedir ningum de participar da comemorao. Uma discusso que tnhamos era com os prprios moradores da cidade, que no conseguiam

EC: Ento, essa reunio

Eduardo Coelho, diretor de turismo de SLPque deixou notrio o Carnaval aqui em So Luiz?

MT: E o que voc acha

EC: um carnaval di-

O carnaval aqui foi proibido durante muitos anos, devido questo religiosa. E como o carnaval uma celebrao considerada profana,

MT: verdade. Reparamos que aqui a questo musical muito intrnseca a populao. EC: Aqui a terra de El-

LV: s vezes essas necessidades bsicas so esquecidas, preteridas do pensamento das pessoas, pelo entretenimento que a cidade proporciona. EC: verdade. Ns temos uma pesquisa aqui, feita pela prefeitura, que aponta que 90% das pessoas que

Eduardo Coelho ENTREVISTAnem tirar seu carro da garagem. At brincvamos que voc tem o direito de ir e vir. O problema que acaba no conseguindo. s vezes nem andando. Para atravessar uma rua demoram-se minutos. A concentrao de pessoas chega a seis por M. As pessoas at dizem que no andam no carnaval de So Luiz, ao contrrio, so conduzidas por ele. O carnaval movimenta toda a economia da cidade, todo mundo acaba beneficiado. Mas falta ao carnaval uma organizao maior. Realmente eu reconheo as falhas da prefeitura. Mas tambm ocorrem erros da comunidade e do comrcio. Agora algumas medidas esto sendo tomadas, referente ao tombamento de prdios do centro histrico da cidade, e pretendemos transferir o carnaval para outro ponto da cidade, o que ir colaborar para a conservao do patrimnio da cidade. pulao fez o carnaval aqui. O movimento popular se uniu e os blocos saram com 800 pessoas, compostos por gente da cidade e amigos e parentes mais prximos aos moradores. de gua...

Eduardo CoelhoMT: Mas a verba que a prefeitura j tem, excluindo esse recurso do governo, no d conta de oferecer os servios bsicos de estrutura para a populao?te por que boa parte desse dinheiro vai para a folha de pagamento. Tem o dinheiro vinculado a educao, cerca de 25%. 17% para a sade. E pode podem chegar a 52% os gastos com a folha de pagamento. O que sobra para a prefeitura um percentual pequeno para as obras de infra-estrutura. A catstrofe do comeo do ano tambm trouxe com ela boas oportunidades. Hoje temos seis obras de grande porte ocorrendo simultaneamente na cidade. Estamos recebendo um investimento que antigamente demoraramos um tempo prximo de cinco anos para captar. do?

ENTREVISTA

MT: Iniciativas do esta-

MT: A sua diretoria trabalha com qual oramento por ano?oramento prprio. Eu tenho uma previso de verba, mas o recurso sai da prpria prefeitura, onde incluem o fundo fornecido pelo estado. Os investimentos so voltados para as obras na cidade, pois a verba oferecida s pode, basicamente, ser investido em infra-estrutura turstica, o que acaba beneficiando tambm a comunidade. Um exemplo o tratamento de esgoto oferecido, o calamento das ruas e a expanso da SABESP na questo do abastecimento

EC: No, no suficien-

EC: A maior parte do estado. Mas o Governo Federal vem entrando aos poucos com esse auxilio.e voc tem citado diversas vezes, que a questo turstica , obviamente, bem desenvolvida em So Luiz do Paraitinga. Falando agora da mdia, atravs de qual forma voc acha que, infelizmente, a tragdia colaborou para uma procura maior da cidade pelos grandes veculos e pela populao em geral? Voc acha que o ocorrido fez que todos dessem mais ateno para So Luiz?

mente pelo ponto de vista turstico. A cidade apareceu totalmente destruda. Como exemplo a torre desabada da igreja que at eu perdi a conta de quantas vezes passou na televiso, em vrios canais e horrios. petiu muito.

a mdia espontnea. A nossa principal fonte de divulgao o boca-a-boca. Ns apostamos muito na satisfao das pessoas, que vem gosta e acaba fazendo esse papel de divulgao.

LV: verdade, isso se reEC: Sim, ficou na mente

LV: Ia levantar esse ponto agora. MT: Ns realmente sentimos isso. O morador muito acolhedor, e gera uma intimidade facilmente. fcil gostar da cidade. EC: um povo muito festivo. A outra questo que muito importante quando se fala de turismo, passam por dois vieses. Um a questo natural. Temos aqui o parque estadual da Serra do Mar, que maravilhoso. Temos tambm o rio Paraibna, que tem a gua com grau 1 de conservao, sendo quase potvel. Temos as atividades esportivas como o rafting, trilhas, arborismo, visitas a cachoeiras, observao de pssaros entre outros. Temos muito a oferecer dentro desse parque estadual que acaba sendo subutilizado. Ali sim precisamos de uma divulgao maior. LV: No site da prefeitura vocs procuram mostrar muito essa parte da cidade relacionada ao ecoturismo. EC: verdade. MT: O que mais o pessoal procura fora das datas festivas a atividade esportiva? EC: s vezes vm em busca de ambas as coisas. Aproveita as festas e faz os dois. O outro vis a questo

EC: No, eu no tenho

MT: Todos ns sabemos,

EC: Bom, ns temos os dois lados. uma questo at de interpretao. So Luiz foi divulgada negativa-

EC: A gesto anterior ficou oito anos com o prefeito Danilo Mikilin, que conseguiu colocar a sucessora (Ana Lucia Bilardi Sicherle - PSDB) que j governa h um ano e meio. LV: Como foi feito o carnaval de 2010?ofereceu nenhuma parte da estrutura que geralmente oferece. Isso foi divulgado com antecedncia para evitar o excesso de pessoas na cidade. Mas mesmo assim a po-

Marcelo Tomaz/A Lupa

MT: H quanto tempo gesto atual est na prefeitura?

Escombros da Igreja Matriz, cercados por tapumes do IPHAN

das pessoas. Quando se fala de So Luiz do Paraitinga hoje as pessoas no pensam mais no carnaval. Esse o lado negativo. O lado positivo que o nome de So Luiz do Paraitinga foi levado para vrios lugares, que no imaginavam a existncia de uma cidade assim. Esse o lado positivo. Tornou-se uma cidade conhecida. Antes, em qualquer lugar fora do Vale do Paraba, se falava o nome da cidade e ningum conhecia. Hoje j no, o nome ficou gravado. Agora temos que trabalhar para reverter o lado negativo e aproveitar o positivo. Uma coisa interessante que a nossa cidade no tem uma assessoria de imprensa.

cultural, que o grande alicerce da cidade. A cultura Luisense est implcita nas pessoas. O saber, fazer e conhecer esto dentro da criao de cada pessoa e foi preservado assim, pois todos os moradores foram salvos da enchente. Foi uma questo natural tambm, atravs das balsas de rafting que ajudaram no salvamento.

carnaval, que caracterstico do carnaval de So Luiz, e teve o auge na dcada de 1980, com a proibio do carnaval. Na liberao do carnaval os filhos deram continuidade ao trabalho do pai. Elpdio influenciou tambm os artistas locais e como eu falei tem muita gente boa aqui na cidade.

MT: Como foi o envolvimento de Elpdio dos Santos com Mazzaropi? EC: Elpdio dos Santos era compositor, msico completo e arteso. Sem nunca ter freqentado uma escola de msica, aprendeu todos os instrumentos da banda apenas ouvindo. Mestre Pedro pai de Elpdio era o mestre da banda de So Luiz, onde tocavam juntos todos os irmos de Elpdio. Ele era diferenciado, pois quando algum faltava na banda Elpdio assumia o instrumento da pessoa. A parceria com Mazzaropi comea na dcada de 30, quando Mazzaropi ainda trabalhava no circo e tava comeando a gravar seus filmes. Descobriu que em So Luiz tinha um rapaz que era timo musico tocava bem diversos instrumentos ento eles se aproximaram. Elpdio apresentou uma msica ao Mazzaropi ele gostou e ento ele comea a fazer as trilhas dos filmes. Trilhas essas que so sucesso at hoje nas vozes de artistas renomados como Sergio Reis, Daniel entre outros. Elpdio influenciou os filhos que hoje tem uma banda chamada Paranga. Elpdio teve muita influencia nas marchinhas de

LV: Os escombros da igreja esto cercados por tapumes com o nome do Iphan, qual a participao do Iphan na reconstruo? Eles ajudaram as pessoas ou ficaram somente com a parte histrica da cidade? EC: O Iphan veio pra So Luiz antes dos tombamentos da cidade, mas somente a Casa Oslwaldo Cruz tombada pelo Iphan, o centro histrico tombado pelo Condephaat. No dia 27 de maro houve tombamento parcial de alguns locais histricos para legitimar as aes do Iphan na cidade. Eles vo reconstruir a Igreja Matriz e a Capela das Mercs. Mas esse processo bem complicado porque eles esto na fase de limpeza ainda. Essa limpeza bem criteriosa, pois feita a separao de todo material que vai ser preservado, restaurado, limpando santo por santo, peneirando a areia, pois tm muita coisa valiosa na igreja, algumas peas de mrmore e ouro tambm. Nessa limpeza j foram encontrados varias coisas importantes e at ossada de alguns padres, nas paredes da igreja. Isso se deu pelo fato de no Brasil-Colonia as pessoas enterrarem partes seus entes e de padres na Igreja era comum acontecer isso nessas pocas. Durante

EC: A prefeitura no

MT: Sim, quando ligamos e procuramos o responsvel pela assessoria, o telefone foi passado para voc, que diretor de turismo. Talvez por que seja uma cidade de pequeno porte, no? um plo turstico reconhecido, mas fcil concluir que a estrutura interna falha. EC: realmente, peca. No d conta. Ns conseguimos segmentar. Atrair o publico para c, mesmo no pagando propaganda, explorando

Eduardo Coelho ENTREVISTAa construo colocavam os ossos junto com a estrutura, ou depois de construdo faziam buracos e colocavam. Tambm foi encontrada uma capsula do tempo com a data de 1927, onde era contada a historia da cidade na poca, com diversos nomes de comerciantes, prefeitos, vereadores, e tambm escritas sobre um cinema da cidade o CINE EDEN. Tambm falava dos jornais de poca que tinham como assunto principal a fofoca. Por se tratar de uma cidade pequena eram contado sobre a vida das pessoas e ate casos de traio. Desde antigamente a fofoca j movimentava a imprensa da cidade. Ento uma parte da historia de So Luiz do Paraitinga foi descoberta junto aos escombros da igreja esse material est em posse do Iphan e vai ser todo digitalizado.

Eduardo Coelhoestavam piores e a enchente veio s agravar a situao. Os imveis que caram j estavam bem deteriorados por displicncia dos rgos competentes e tambm por displicncia da populao. Reformas eram feitas sem planejamento nem autorizao dos rgos competentes. Em alguns casos eram feitas de forma irregular e em outros casos deixaram de fazer. H um descaso tambm dos rgos fiscalizadores da prefeitura, e isso no de hoje histrico. A responsabilidade da fiscalizao do departamento de fiscalizao de obras, e o Condephaat que teria de cuidar de toda a rea tombada. A partir de agora os escritrios do Condephaat e do Iphan sero em So Luiz do Paraitinga, e em conjunto com a prefeitura, vo se concentrar na restaurao dos 80 edifcios que foram avariados, dos que ruram totalmente e dos que ruram parcialmente. Eles vo fazer todo o trabalho para devolver a cidade o patrimnio e de certa forma corrigir a falha deles. Teremos tambm o incentivo do PAC cidades histricas que junto com o Iphan vai inscrever as pessoas que possuem imveis particulares para ajud-las na reconstruo. Alguns imveis por serem tradicionais de famlia, por exemplo, foi o av que construiu e dividiu com os familiares. Nesses casos teremos certa dificuldade para fazer qualquer tipo de reforma, pois preciso autorizao de todos os donos e isso dificulta a execuo das obras.

ENTREVISTA

MT: Algumas pessoas que entrevistamos disseram que parte das construes que ruram estavam degradas antes mesmo da enchente. Isso estava acontecendo realmente? EC: No s isso, mas uma soma de fatores. Os casares que caram com a enchente j estavam em estado precrio de conservao. Estvamos iniciando um movimento para comear a restaurao, mas os rgos do patrimnio at ento estavam distantes. O prprio Condephaat que em 1982 tombou patrimnios aqui tinha dificuldades devido burocracia, pois at que se conseguisse a liberao para inicio das obras, os locais j

ma em 2005, no mercado municipal, voc acha que essa reforma foi importante para o mercado no desabar como aconteceu com a igreja?

Um dos ltimos redutos da cultura caipira do estado de So Paulo So Luiz do Paraitinga.

MT: Foi feita uma refor-

Material nos fundos do Mercado Municipal de SLP para reforma ps-enchente

EC: Foi sim. O trabalho que o governo fez em 2005 que garantiu o mercado, pois ele vinha no mesmo processo dos outros que desabaram. As paredes estavam tortas, parte do alicerce tava afundada e comprometida, se sofresse a enchente naquela poca ele teria desabado tambm. A reforma em 2005 foi minuciosa, utilizaram macacos hidrulicos para levantar a parede inteira, pois no poderia sofrer qualquer dano, por ser um patrimnio tombado. Agora est sendo investido mais R$ 600.000,00 para refazer toda a estrutura do mercado, parte hidrulica, telhado e outros e este trabalho est sendo feito artesanalmente. MT: Qual foi o apelo que fez com que houvesse o investimento no mercado e outros locais terem ficado de fora? EC: O mercado a gente costuma dizer que o corao da cidade, se voc quer conhecer alguma pessoa voc consegue no mercado, e tambm pela importncia histrica do mercado. A cidade era um antigo pouso de tropeiros e as pessoas vinham fazer trocas de mercadorias, eles traziam muito porco pra c. O Porco era divido em quatro partes, que eram dividias entre os vizinhos e quando outro vizinho adquiria um porco fazia a mesma coisa. Isso caracterstica da cultura local que a cultura caipira.

MT: Mas esse investimento foi por um pedido especial da prefeitura, iniciativa prpria do governo ou alguma ONG interferiu? EC: No caso o Governo se sensibilizou com a situao que se encontrava a cidade. Estvamos em estado de calamidade pblica, e tem outra questo que no pode ser desconsiderada, 2010 ano eleitoral. MT: O governo hoje do PSDB, voc acha que isso atrapalha? EC: No, acho que alem da questo poltica que no podemos deixar de falar, tem uma questo mais importante que a solidariedade, pois independente de poltica esto ajudando muito a cidade de So Luiz do Paraitinga. LV: Qual o panorama da sade hoje na cidade? Em algumas pesquisas que fizemos pudemos constatar que houve um surto de Dengue como est isso no momento? EC: Na poca existiu mesmo, mas, por exemplo, em uma catstrofe da dimenso que foi essa aqui ns tivemos apenas dois casos de leptospirose. Tivemos uma ao eficiente da sade. A Vacinao foi muito rpida e eficiente. O hospital ficou apenas um dia e meio sem luz e foi restabelecida a energia atravs de ELETRO, que atravessou um gerador de bote.

Marcelo Tomaz/A Lupa

Diferente da cidade, toda o hospital teve suas atividades restabelecidas muito rapidamente. Temos aqui a Santa Casa de misericrdia que foi fundada pelo pai do Oswaldo Cruz, onde funciona o pronto socorro, ento qualquer problema de sade na cidade atendido l. Temos poucos leitos aqui, so onze no total, onde possvel fazer pequenas cirurgias, operaes de fraturas, e intervenes mais simples. Temos um laboratrio l tambm, e uma sala de raios-X. Temos tambm o posto de sade que faz os atendimentos de casos menos complicados e encaminham os pacientes para outros locais mais equipados e preparados. O PSF (posto de sade da famlia) que tem unidades na zona rural alm do posto aqui no centro da cidade. O PSF tem 100% de cobertura na cidade. Contamos varias vagas nos hospitais da regio, como em Taubat e So Jos. Alguns servios a prefeitura de So Luiz do Paraitinga compra desses locais, e a populao de So Luiz do Paraitinga atendida nesses hospitais, pois a cidade no estrutura para manter uma maternidade. Nos j tivemos oportunidade de ganhar hospitais e maternidades aqui, mas acaba sendo um presente de grego, j que um projeto de lei onde ele construdo e depois toda a manuteno fica por conta da cidade e a manuteno acaba sendo a parte mais cara. Seria mais um gasto e o oramento da cidade no teria condies de arcar com esse gasto. Ento as administraes preferiram no assumir para

evitar casos que acontecem em vrios lugares do Brasil. Uma grande estrutura, mas no tem mdicos e material para utilizar essa estrutura. Na cidade hoje temos dois mdicos por dia, antes era um medico a cada cinco dias.

MT: Com toda essa exposio na mdia, provavelmente a procura pelo turismo na cidade ano que vem vai ser bem maior. Vocs esto fazendo algum plano para a essa maior procura que haver, por exemplo, no prximo carnaval? Para o prximo carnaval tomaremos algumas medidas, j temos cinco idias que pretendemos transformar em projetos. Uma delas a descentralizao do carnaval na cidade, que levar o tradicional carnaval de marchinhas para as cidades da regio, que j aconteceu esse ano. Bandas e blocos de carnaval foram exportados para as cidades do entorno. E a idia continuar com a tradio na cidade e fazer desfiles de um nico bloco por dia e os grupos daqui tocariam trs dias em outras cidades e todas as pessoas iriam pular o carnaval em outras cidades. Essa diviso faria uma barreira natural na cidade j que o carnaval estaria dividido em vrios locais. E o carnaval de So Luiz do Paraitinga ter um preo mais caro para diferenciar o carnaval daqui. Isso est sendo conversado entre os municpios para saber se vai ser vivel essa idia j para o prximo ano, mas no temos como saber se ser possvel colocar em prtica j no prximo carnaval. Outra idia fazer um bolso de estacionamento, como feito em Recife, e

Eduardo Coelho ENTREVISTAMarcelo Tomaz/A Lupa

gua e evitar desperdcio.

LV: Passando na rua ao lado, podemos perceber que tem varias casas prximas ao rio. Vocs pretendem retirar aquelas casa de l para evitar problemas em caso de uma nova cheia? EC: Provavelmente sero verificadas todas essas casas. Sabemos que na verdade elas no deveriam estar ali. Mas como so muito bem construdas resistiram muito bem a enchente mesmo estando muito prximas ao rio. Hoje a maioria j esta reformada. Est prevista a realizao de um estudo e h possibilidade de serem retiradas as pessoas daquele local. Mesmo se precisar sair de l vai ser bem difcil, pois se tratam de casas particulares e a prefeitura no ajudou de nenhuma forma a essa reconstruo. Se ficar comprovado o risco dessas casas estarem ali, teremos que tomar as providncias necessrias.

So Luiz, lembranas e sentimentos com sabor de cafTinta fresca! Esse foi o primeiro cheiro que invadiu minhas narinas quando coloquei os ps em So Luiz do Paraitinga. Meses depois da chuva que tudo destruiu, pensei que encontraria a cidade em runas, o povo amuado e o comrcio fechado. Para minha surpresa tudo funcionava, o sol comeava a dar os primeiros sinais de vida e a praa estava apinhada, pois naquele sbado a cidade comemorava mais um ano de sua existncia. Ao caminhar pelas ruas ainda enlameadas, observando algumas casas destrudas, mas j em processo de reconstruo, vejo as crianas na praa declarando seu amor pela estncia turstica. Meu corao aos pulos relembra os momentos de aflio e sofrimento que este povo atravessou e que ainda atravessa para simplesmente Marcelo Almeida/Equipe A Lupa recomear. A comoo e o esforo de todos reergueram paredes que o tempo e a ira da natureza trataram de destruir. No coreto defronte a pracinha, crianas recitavam poesias em homenagem cidade, declarando seu amor. O sol que nos aquecia em mais uma manh de outono remete a aquele 1 de janeiro, quando os noticirios da cidade grande despejavam a tragdia que deixara o municpio embaixo dgua. Pela manh, tinta e Depois de lutas, incertezas e unio comum, a cidade volta a se reerguer. Olhando mais a frente, vejo um homem que enxugava as lgrimas lembrando-se dos momentos em que viu todo o trabalho de uma vida ruir com a violncia da chuva. As lgrimas emocionadas rolavam por seu rosto sofrido, mas naquele momento feliz, durante o momento nico de ver o seu filho declarar a plenos pulmes seu amor por So Luiz.

REFLEXES

Marcelo Pereira de Almeida

Rua ao lado do Rio Paraitinga: perigo de novo desabamentoatravs desses bolses controlar a entrada das pessoas na cidade, e tambm o fechamento dos trevos de acesso a cidade na rodovia. Quando chegssemos ao numero de 20 mil pessoas que o limite da cidade no entraria mais ningum. O fluxo seria controlado com a rotatividade das pessoas, quando sassem as pessoas outras entrariam. Isso para manter o nmero ideal de pessoas dentro da cidade para no entrarmos em colapso. Essas medidas ajudariam a gente a oferecer uma boa estrutura para todos que aqui estiverem. Outra alternativa de fazer o carnaval em datas diferentes da oficial, para que se possa aproveitar plenamente as festa de So Luiz do Paraitinga. Ao invs de pouco aproveitar pouco em alguns dias de caos aproveitaramos muito em vrios dias com boa estrutura. Imagina que So Luiz do Paraitinga um copo de gua prestes a transbordar e vem todo mundo pra pegar aquela gua e derruba todo o copo e pouco dessa gua aproveitada realmente. Dividindo o carnaval pode se aproveitar o copo inteiro de

A chegada da hora do almoo, misturado a uma doce brisa, convidaram-me a sentar nos banquinhos da praa e ter o prazer apenas de ver as pessoas caminharem. Ao passo que a hora caminha, as pessoas recomeam sua incurso pela cidade maravilha para que as comemoraes do aniversrio continuem. Enquanto um grupo de arte da rua prepara sua apresentao, um grupo de beberres ensaia antigas modas de viola capela mesmo, despertando a ateno de todos que passam. As ruas se enchem novamente e, olhando para o cu, consigo imaginar So Pedro fazendo planos para quando tardinha chegar. Fim de tarde e as nuvens carregadas anunciam que So Pedro comear uma nova limpeza no cu. Retornando ao hotel para pegar minhas coisas depois de um dia aventureiro, atrevo-me a arriscar um palpite de voltar cidade pacata e de gente com boas histrias para contar. E se ainda tudo der certo, ao fim de minha jornada me mudo pra c, de malas e cuias, para esperar a vida passar mansamente como as guas turbulentas do Paraibuna. Ao cair na estrada enquanto a chuva castiga o asfalto, vejo o passar dos caf, frescos em SLP faris dos automveis, e meus pensamentos se voltam para So Luiz do Paraitinga, cidade que h tempos anima a festa dos conturbados da cidade grande, e que, por meses a fio, ficou a merc da boa vontade governamental e da ajuda do povo. Desembarco em So Paulo com saudade do cheiro da tinta fresca e do caf feito na hora, caminhando pela garoa fina da cidade que no dorme nunca.

Fotos: Ricardo Ferreira

Igreja Matriz Dedicada a So Luiz de Tolosa e construda no sculo XIX, a igreja matriz de So Luiz do Paraitinga agora existe apenas em nossas memrias. Com paredes de taipa em pilo, a igreja possua vrios afrescos, vitrais e altares em mrmore carrara.

Memrias

Tombada como monumento histrico estadual So Luz do Paraitinga e considerada A mais brasileira das cidades paulistas, conhecida por sua beleza arquitetnica, e pela riqueza de suas tradies, costumes e festas, como a do Divino e os famosos carnavais da cidade.

Fotos: Ricardo Ferreira

PARAHYTINGA - De origem indgena: Da lngua Tupi-Guarani - guas Claras

Fotos: Ricardo Ferreira

Origem do nome: Paraitinga o nome do Rio onde, desde os tempos dos Bandeirantes havia um posto avanado por onde passavam o caf e o ouro mineiro. Fundada em 1.769, o nome seu primeiro nome foi So Lus e Santo Antonio do Paraitinga, sendo mudado depois para So Luiz do Paraitinga, quando o padroeiro passou a ser So Luiz, Bispo de Tolosa.

Fotos: Ricardo Ferreira

Vinde, oh, Esprito Divino Consolador, descei l dos Cus A dar-nos riquezas do Vosso amor. Descei l dos Cus A dar-nos riquezas do Vosso amor.( msica cantada na festa do Divino)

CULTURA

CULTURA

A sensao de um grande carnaval em um pequeno municpioNo interior de So Paulo, o cenrio de pluralidade cultural intensifica multides.Ricardo Braga

A sensao de um grande carnaval em um pequeno municpiono houve festejos. O que diferencia o carnaval de So Luiz o fato de s tocar marchinhas, ou seja, proibido tocar outro gnero musical, diz Netto. Seus casares coloniais no centro da cidade dos sculos XVIII e XIX, tombados pelo patrimnio histrico terminam por dar enfoque ao charme do carnaval. Como uma histria infantil, tudo comeou na dcada de 20, com um padre italiano proibindo de vez as festanas, dizendo que nasceriam chifres e rabos naqueles que desrespeitassem as leis impostas por Deus. Tentava construir argumentos para afastar os moradores, das festas consideradas por ele descabidas. Com sorte acontecia nas mais variadas um baile ou outro no clube local. A histria no parou por ai. O padre dizia que uma tempestade causaria um grande estrago inundando os bens valiosos que a cidade possua, permanecendo somente a torre da igreja intacta. Claro que a populao local, no tomou nenhum conhecimento da interpretao do padre que queria mais preservar a religiosidade catlica. O assunto veio tona repercutindo aos cidados da cidade de So Luiz do Paraitinga. Mesmo com forte influncia catlica, consolidada no sculo XX, tornaram-se motivo de piada as histrias contadas pelo padre que para muitos, queria de alguma forma impedir a diverso do povo. Durante 40 anos, no se via mais os embalos nas ruas de So Luiz, que haviam cado no esquecimento. Em 1981, com apoio do clube Imperial luizenses, e a prefeitura de So Luiz do Paraitinga, o carnaval ressurgiu, com fervor expandido ao pice, promovendo forte contato com a populao. Foi da que as festas comearam adquirir fama, chegando ao conhecimento da imprensa. At ento, o carnaval do municpio, tinha como base o evento do Rio de Janeiro, que permeava entre os moradores. Foi ento que as modinhas de carnaval entraram em cena.Um muncipio que esbanja arte e criatividade

A cultura um dos pontos fortes de So Luiz do Paraitinga. Cercado de tradies e manifestaes populares que a cada dia, fortalece provocando interesse em curiosos. Sua simplicidade agrega aspectos prazerosos. O cidado luizense cultiva sua origem e crenas que

O carnaval de rua em 2007 torna contagiante a noite dos folies

Ricardo Braga/A Lupa

No ano de 2008, mesmo de dia o carnaval no deixa a alegria acabar

N

Ricardo Braga/A Lupa

o ms de fevereiro o Festival de Marchinhas mais um atrativo do carnaval de rua, que empolga folies da regio do Estado de So Paulo. Em duas dcadas, foram criadas mais de 1500 msicas, integradas ao repertrio carnavalesco totalizando 23 blocos. Juca Telles, Bicho de P, P na Cova, Cruis Credo, Bico do Corvo, Curupira, Balacobaco, Lenol, Pique das Traias, Barbosa, Pipoca,

Maricota, Pai do Troo, Espanta Vaca, Eteso, Urubu, Maria Gasolina, Bebbum, Zona do Agrio, Ovelhas Negras, Do Petrleo, Melindrosas e da Rua Nova so os principais grupos da cidade. O Juca Telles o mais tradicional dos grupos e o que mais arrasta multides. Esse Bloco faz referncia ao cidado que faleceu em 1962 e que foi um grande smbolo da luta pela preservao da cultura de So Luiz do Paraitinga. Em homenagem a ele,

o bloco carrega este nome. Um de seus criadores o artista plstico, e atual presidente Benito Campos. Os nomes so bem engraados. Esse o ar da graa, comenta Benedito Filadelfo de Campos Netto, 26, diretor cultural da cidade sobre os nomes peculiares. Segundo apreciadores do carnaval, o bloco do Barbosa o mais lembrado. Foi criada em 1999. Barbosa era um motorista de nibus que levou um grupo de msicos

para uma apresentao de marchinhas em So Paulo, afirma o artista plstico, Jos Carlos Monteiro. O refro cantarolado diz " Barbosa, essa curva perigosa. Siga em frente nessa linha que eu vou contar para tia Rosa. Barbosa, ai que dor no corao. Barbosa mete o p nesse bondo". Em 1984, foi realizado o 1 festival de marchinhas de carnaval, e em 2009, completou sua 24 edio. Nos anos de 1985 e 1987

CULTURA

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A sensao de um grande carnaval em um pequeno municpio

Semana artstica e cultural de So Luiz do Paraitinga em So Paulo

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Netto com sua banda Estranbelhados expe um ritmo cativanteso marcas registradas. A riqueza cultural ilustra muito bem, seu significado. Os festejos resgatam a harmonia de um povo cativante que deslumbram desses acervos. Artistas empenhados retratam as mais belas obras, transmitindo mensagens histricas. A estncia turstica prova que a cidade respeitada e, valorizada para os que querem conhecer. Benedito Filadelfo de Campos Netto, 26 anos, diretor cultural da cidade e integrante do grupo Estrambelhados. formado em administrao com habilitao em turismo, pela universidade Unitau Taubat. Mora na regio desde criana, filho nico da senhora Rita de Cssia, e do ex-diretor de cultura Benito Campos. Msico h anos 14 anos, Netto informa, que a consagrao do carnaval, foi uma espontaneidade de um povo que buscavam unicamente algo que estimula-se a diverso. Prevalecemos com os feitos conquistados, diz Netto muito positivo. Um fator essencial em seu ponto de vista foi o empenho na doao de instrumentos. Um grupo de voluntrios de Paraty no Rio de Janeiro teve participao primordial na recomposio de 45 instrumentos musicais. O bom que houve uma cordialidade a parte, diz. Devido s fortes chuvas, que atingiram a cidade foi impossvel concluir a edio de carnaval em 2010. Infelizmente no foi possvel usufruir dessas graas. O municpio ainda carece de revitalizao. A economia da cidade gira em torno de comrcios, pousadas e manifestaes culturais. Isso o que consiste na empregabilidade dos afetados, relata. Sem perder a efervescncia, moradores da cidade organizaram um carnaval como forma de animao. A ideia surgiu do nada. No houve reunio. Isso foi unicamente pra no deixar um vazio. Os prprios voluntrios que residiam no municpio, desfilaram pelas praas, conta Netto. Ainda sim, foi possvel confabular com o carnaval em outras regies do estado. Cidades vizinhas como Taubat, tiveram oportunidade de apreciar o melhor de nossa atrao. Pindamonhangaba, So Jos dos Campos, Caraguatatuba, Amparo, Caapava, Serra Negra e Bertioga tambm prestigiaram com o melhor estilo interiorano, informa Netto.

iniciativa da rede tural, mas sim outros esti- pira e voz, Rafael Cursino, cebidos com palmas. Logo FIESP (Federao los que complementam sua violo, Rafael Ramos, per- de incio, no se podia fotodas Indstrias do musicalidade. No focando cusso, Paulo Ricardo, ba- grafar, pelas regras impostas Estado de So Paulo) que necessariamente a figura teria, Renato Frade, contra- da administrao, mas isso compreendem o SESI e o do caipira, mas resgatar ou- baixo, Leonardo, saxofone, deixou de ser um empecilho, SENAI em organizar uma tras influncias que cabem Flvio, trombone e Lucas, para quem desejava guardar semana artstica voltada ao ponderar no trabalho musi- trompete, fazem a folia pu- aquele momento simblimunicpio, deu amplo lugar cal. Carismticos os Paran- xada pelo esprito folclrico co. Prevaleceram os flashes no s para ajuda de custo gas, enaltecem noite com da cidade. Bem humorados, constantemente e os seguem revitalizar o patrimnio performances cativantes. o grupo no deixou cair ranas, pouco podiam fazer. cultural. Deu-se um conhe- Demonstraram um apego no marasmo. Bacharel em Em certas ocasies ao encimento apreciar os cerramento de alguartistas, contadores Ricardo Braga/A Lupa mas canes, Cursino, de histria e msium dos integrantes cos que resgatam a do grupo, agradecia a tradio de um povo cooperao das pessimplrio. O Teatro soas em preservar a do SESI, foi palco de cultura, e todo tipo de atrao de renomaajuda que o municpio dos nomes. Umas das recebeu. principais atraes Jos Carlos Monforam as bandas: Pateiro, 55, artista rangas e os Estramplstico primitivista, belhados. e cidado luizense. Surgido na dcada Ele retrata suas obras de 80, os Parangas, com histrias relaciotrazem um enredo nadas cultura de sua repleto de lirismo. cidade. Pinturas que Sua primeira formaidentificam casares o era composta por antigos e, temas folquatro integrantes: clricos fazem parte Nego, Pio, Par e O artista plstico Monteiro, ao lado de suas obras no SESI de sua adolescncia. Nena filhos de ElpAprendi sozinho dio do Santos. este oficio. Desde a Atualmente uma nova sensvel quanto cultura tra- Educao Artstica e pro- infncia gostava de fazer deformao conta com: Re- dicional de sua terra. fessor da rede estadual do senhos de gibi, mas foi aos nata Marquez, vocalista Igualando a notoriedade, ensino, Barbosa, no parou vinte anos que comecei a deNego, violo o nico in- os Estrambelhados entra- um segundo, mostrando senhar e pintar em telas os tegrante antigo, o baixista ram em seguida com muita uma presena de palco pr casares de So Luiz do PaLus Pires, o violonista Joo energia e disposio. A nova l de engraado. Vestidos a raitinga. Comecei a retratGaspar, o baterista Joo gerao expande divulgar a carter carnavalesco, foram los pensando no beneficio Fontes e o percussionista cultura popular, auxiliando conduzindo a apresentao que isto poderia trazer a nosNholambis. na divulgao de grupos de forma agradvel. sa cidade, pois o meu intuito O grupo mostrou empa- folclricos. Carregados de Avistavam-se jovens en- e sempre foi expor estes tia ao pblico que compare- entusiasmo, o som contagia, gravatados que provavel- quadros nas feiras e ruas da ceu ao teatro. Um som que empolga fazendo com que mente, saram do trabalho cidade. prazeroso divulgmistura a msica caipira, o todo mundo entre em alto para confabular com o me- los em exposies e eventos rock n roll e o gingado do astral. lhor da cultura de So Luiz de outras cidades para moschoro carioca do violo. Os dez integrantes: Netto do Paraitinga. Moas alegres trar a todos a beleza arquiNo so somente as razes Campos, teclado e voz, Ro- esbanjavam sorrisos e dan- tetnica que aqui possumos. tradicionais que o grupo dolfo Santana, violo e voz, avam prximo ao palco. Incentivar e conscientizar os leva em sua bagagem cul- Leandro Barbosa, viola cai- Os dois grupos foram re- luizenses da importncia de

Ricardo Braga/A Lupa

CULTURA

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Semana artstica e cultural de So Luiz do Paraitinga em So Paulo

Festa do Divino Esprito SantoMiscigenao cultural, e o poder da f em So Luiz do ParaitingaWelhington Pedro dos Santos

Joo Paulino e Maria AnguCuriosidade a parte, Monteiro diz que conta-se que no sculo XVIII, veio morar em So Luiz do Paraitinga, um casal de portugueses, e os mesmos comentavam que era de costume sair s ruas nas festas do divino Esprito Santo, em Portugal, um casal de gigantes para alegrar a festa e aps o encerramento eram guardados no imprio. Com o passar do tempo, resolveram introduzir nas festas do Divino Esprito Santo, em So Luiz do Paraitinga, tambm um casal de gigantes. Seus corpos so feitos de taquara e, a cabea, feita de papelo com alturas de mais ou menos 4,30 metros onde so carregados por homens fortes, que se escondem dentro de seus corpos. Ao passarem perto dos sobrados das ruas de So Luiz, cumprimentam as pessoas que esto nas sacadas das janelas. Junto desse casal de gigantes, os acompanham um menino tocando um pequeno bumbo. Enquanto o gigante homem segue por um lado, a gigante mulher vai pelo outro. So acompanhados por centenas de crianas que saem em corrida da algazarra. Monteiro diz que atrs desses gigantes, as crianas sempre alegres, gritam, Oi, oi, oi Joo Paulino oi, oi, oi Maria Angu. Esses nomes dados ao casal de gigantes em So Luiz homenagem ao casal de portugueses que comentaram o caso. Ele, o Joo Paulino, e ela Maria do angu, que vendia pastis na praa. preservar o que ns temos de mais belo, diz Monteiro. Muito dedicado, o artista plstico conta cada detalhe de suas obras em exposio no SESI-SP, Explico para as pessoas o significado de meus trabalhos. Algumas histrias que o povo do interior menciona terem vistos personagens folclricos ou at mesmo criaturas assustadoras, afirma Monteiro. Pacientemente, Monteiro estende o dilogo e aprofunda-se a uma anlise de suas pinturas. Em um dos quadros que pintou, retrata o carnaval de So Luiz do Paraitinga. O carnaval de rua dos meus quadros que mais vislumbram as pessoas. Aqueles que se deparam com este desenho, fixam um olhar atentamente, informa Monteiro ao perceber a relao dos interessados em sua obra. O artista plstico demonstra contar histrias curiosas, mas no acha que seja uma caracterstica sua, Existem bons contadores

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Os bonecos Joo Paulino e Maria do Angu desfilam durante festa popular em SLP

Festa do Divino Atos dos Apotolos: um dos grandes Quando chegou o dia eventos que aconte- de Pentecostes, todos os secem na cidade de So Luiz guidores de Jesus estavam do Paraitinga. Profano e sa- reunidos no mesmo lugar. grado misturam-se primeiro De repente, veio do cu um na celebrao pag do car- barulho que parecia o de um naval, e meses mais tarde na ce- Divulgao/Prefeitura Municipal lebrao do jbilo celeste. Ao falarmos sobre religiosidade a cidade est bem representada, pois esta festa considerada uma das maiores e mais importantes do municipio, e ainda a mais popular do estado de So Paulo. Com fundamentos bblicos, a devoo Moradores de SLP saem em ao Divino Esprito Santo, vem desde os princ- vento soprando muito forte pios cristos, onde os aps- e esse barulho encheu toda tolos fortalecidos pelo Esp- a casa onde estavam senrito Santo, tomam coragem tados. Ento todos viram para enfrentar a perseguio umas coisas parecidas com ao qual os seguidores de Je- chamas, que se espalharam sus Cristo vinham sofrendo. como lnguas de fogo; e O Esprito desce sobre eles cada pessoa foi tocada por e os fortalecem com a fora uma dessas lnguas. Todos da santssima trindade, que ficaram cheios do Esprito a juno do Pai, do Filho Santo e comearam a falar num s corpo, formando em outras lnguas, de acordo um s Esprito. Essse mo- com o poder que o Esprito mento sempre foi lembrado dava a cada pessoa. (2.1-4) pela igreja catlica como o O Esprito Santo de dia de Pentecostes, que mar- Deus desceu sobre eles, e os ca, 50 dias aps a ressureio fortaleceu com os sete dons de Cristo. como diz o livro do Esprito Santo que so:

apstolos de Cristo, sendo assim chamada de: Catlica Apostlica Romana. Pois foi criada no momento em que os apstolos cheios do Esprito Santo, criaram foras e deram inicio a misso que Jesus os tinha preparado. Os enviando a pregao do evangelho a todos os cantos do mundo. Desde ento, muitos grupos religiosos, seguiram o mesmo exemplo, e sairam em misso. Como o caso dos Jesutas, que fizeram uma das mais importantes misses que a igreja j teve aqui no Brasil, no sculo XVI. prociso na Festa do Divino Desde os princpios concedida por ele para o cristos a tradio e cortejo cristianismo prevalecer e, ser ganharam caractersticas e levado a toda a face da terra. influncias culturais. Na missa de pentencostes Chegando o dia para ino padre Edival da paroquia cio da festa, a cidade se veste nossa Senhora Aparecida, de vermelho e branco (cores da Vila Albertina, localiza- do Divino) os moradores da na Zona Norte de So enfeitam a frente das casas Paulo, fala em seu sermo com bandeiras, fitas e com que, a fora do Esprito garrafas da milagrosa gua Santo que faz com que a do Divino, que so doadas igreja permanea viva diante aos moradores no perodo das constantes ameaas que das festividades. Segundo sofre. Para ele, essa fora Joo Evangelista Paixo de que mantm firme a estrutu- Ftima das Chagas, devora milenar da Igreja . to do Divino, foi com essa Por isso, a igreja tem gua que ele viu seu pai se fundamentos com base nos curar, Meu pai estava do-

Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Cincia, Piedade e Temor de Deus. Esse ritual torna ainda mais consagrada as festividades do Esprito Santo, em agradecimento a fora

Divulgao/Prefeitura Municipal

Festa do Divino Esprito Santo CULTURAente e no conseguia nem se quer tomar um copo de gua. Tnhamos que colocar gua na boca dele. Ns demos um copo da gua e fizemos um pedido para o Divino, para ele melhorar e logo ele melhorou. Se voc tem f e acredita na fora e em seu poder, ele pode curar qualquer mal disse. Segundo os moradores, a proteo que o Esprito de Deus tem sobre a cidade se explica quando a mesma foi arrasada pela correnteza, segundo eles a tragdia poderia ter sido pior, os estragos foram grandes, mas Deus cuidou para que as guas no levassem nenhum morador. Os moradores no conseguiram resgatar nenhum pertence, e viram tudo ser arrastado pela forte correnteza, depois que a gua baixou. Dona Lourdes de Ftima das Chagas, conseguiu resgatar uma bandeira. Ela nos mostra com orgulho a bandeira, e nela as manchas de barro que no conseguiu tirar. Mas guarda a mesma com carinho, pois para ela foi um sinal Divino de Deus para que sua F no fosse abalada. Foi muito triste ver tudo ser arrastado, mas eu encontrei e consegui resgat-la, vou guardar para o resto da minha vida, diz ela pegando a bandeira, e mostrando-a como um trofu. A igreja matriz Devido aos contratempos que ocasionaram a destruio da matriz de So Luiz de Tolosa, a festa desse ano, ocorreu em uma tenda improvisada em frente aos escombros da igreja. E teve incio com a celebrao de uma missa com o proco, Edson Carlos Alves Rodrigues, o padre Edinho como mais conhecido pelos moradores. Segundo ele a enchente levou a igreja mais no levou a F do povo luiziense. E bem como manda aDivulgao/Prefeitura Municipal

Festa do Divino Esprito Santoo padre fica responsvel pela escolha dos festeiros da prxima festa. Os festeiros do ano junto a bandeira ficam encarregados de percorrer a zona rural e bairros da cidade em busca de prendas para as despesas da festa. O artista plstico, Jos Carlos Monteiro, explica o objetivo desta celebrao: Tiram-se esmolas durante 11 meses, para uma festa de nove dias. O grupo compese de seis pessoas: sendo quatro folies, um alfere da bandeira, um cargueiro, um burro e um cavalo. Sai logo aps a ltima festa em homenagem ao Divino Esprito Santo, arrecadando para festa do novo ano. L vai a bandeira e seus folies, para as roas, bairros e, at cidades vizinhas. A bandeira composta de uma haste de madeira onde dezenas de fitas, de dois metros coloridas, so presas pela figura de uma pomba, feita de bronze ou metal branco ou cor de prata em volta com flores coloridas, feitas de papel crepom. Saindo para visitar as casas da roa, a frente segue o cargueiro responsvel, e guia dos folies. ele que arria o burro e o cavalo, que levar as panelas e alimentos e, indicando as casas que sero o local por onde devero fazer a parada para as refeies e pousadas do grupo. O alferes carrega a bandeira, e pega a esmola dada nas casas visitadas durante o canto da msica pelos folies. O folio canta a devoo ao Esprito Santo, e no meio do cntico, h uma parada. A esmola pedida e paga pelo alferes e, depois terminase para o agradecimento da esmola. O dinheiro gasto uma parte pelos folies, em

graas alcanadas. Todas as celebraes foram realizadas na tenda e a casa de festa ficou situada na Rua Coronel Manuel Bento, 173 prximo ao mercado municipal. Na entrada da

CULTURA

As bandeiras e os moradores da festa do Divinotradio, no final da missa o padre benzeu as bandeiras e deram incio as festividades. As bandeiras que foram bentas, seguem as vinte procisses nos nove dias de adorao. No sbado a cidade se alegra com a procisso das bandeiras. Onde os festeiros do ano que se passou se encontram com os festeiros escolhidos para reinar at a prxima festa. Nela os fiis devotos levam consigo uma bandeira, uns por um simples sinal de devoo, outros para agradecer pelas casa uma bandeira pregada identificando que nela se reuni os festeiros e seus parentes prximos para definir os preparativos da festa. Bem prximo na Rua Baro da Paraitinga, sete ficou o imprio do Divino. Do imprio, os fiis saem em procisso em direo ao centro onde est instalada a tenda. L aconteciam as novenas e no trmino eles faziam o caminho inverso, retornando com as bandeiras para o imprio. No final das festividades

suas necessidades durante o trabalho de petio de esmolas e, o restante entregue ao festeiro, para o bom andamento da festa. Em alguns casos, o festeiro o prprio padre quando a comunidade no tem pretendente para festeiro. Os folies usam duas violas, uma caixa ou bumbo, e um tringulo. Com muita alegria os responsveis pela arrecadao saem batendo em cada porta pedindo prendas e cantando as tradicionais msicas folclricas e religiosas como: a bandeira do Divino, que j foi interpretada por diversos artistas e religiosos. Todos conhecem as msicas, os cortejos e recebem com alegria os festeiros. Doando o que podem pra que a Festa do Divino seja realizada com o sucesso de sempre. Tanto a boa vontade como a devoo faz com que a populao participe da coleta para as despesas e o banquete das festividades. Nos gloriosos dias da folia marcada por diversas manifestaes culturais e religiosas, uma verdadedeira miscigenao cultural, que engloba alm dos ritos e tradies da Igreja Catlica, a mistura dos ritos pagos da cultura africana, com os costumes da corte portuguesa. Do incio ao fim da festa, acompanham fielmente seus seguimentos. O toque da alvorada, o batuque da congada e as danas do moambique que do o ar de liberdade e de glria alm de animar as procisses pela cidade at o ltimo dia de festa. O afogado no mercado municipal Um dos momentos mais esperado a distrubuio

gratuita do grande banquete. Distribuido para os visitantes e moradores da cidade, e preparado apenas por homens e servido no Merca-

hoje, as crianas vo atrs deles ficando livres de seus pais, diz. Outra tradio o caf com paoca sabores que tradicionalmete servi-

O siginificado da BandeiraEm todo objeto sacro, seus detalhes tem um significado. A bandeira do Divino tem toda uma simbologia. O vermelho forte significa a paixo de cristo o nascimento a vida. Traz tambm vida nos dias das festas mais importantes da igreja como: natal e ressureio. No centro uma pomba branca, sinal que simboliza o Esprito Santo quando em forma de pomba ele desce sobre Jesus quando ele foi batizado no Rio Jordo. Desde ento a pomba passou a ser smbolo principal em eventos religiosos, que buscam a paz em regio que se encontram em conflitos. E em destaque, os sete Dons do Esprito Santo que so : Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Cincia, Piedade e Temor de Deus. Todos com fundamentos que designam a doutrina crist.do Pblico Municipal. O afogado uma comida caipira, tpica da regio de So Luiz do Paraitinga. Seu preparo feito de arroz cozido em grandes taxos de ferro e cobre. Em outros, cozinha-se batata, ou carne pura onde so abatidas de quinze a vinte vacas . Podese comer a vontade e, levar para casa em pequenos caldeires. Antigamente em latas de querosene ou latas de banha de porco. Fazemse filas, para pegar o afogado, mas s pode peg-los, quando o fogueto estourar ao meio dia no cu. de um tiro s, conta o artista plstico Monteiro. Ouvese pela cidade inteira, pois o som se propaga pelo leito do rio Paraitinga, percorrendo o porto da cidade. Chegou hora! Os pais levam seus filhos tambm. Com a introduo do casal Joo Paulino e sua senhora Maria Angu, do a cada ano. Tem caracterstica tropeira e ainda hoje o alimento servido para as pessoas que preparam a festa e tambm aos turistas, que se fortalecem para mais um dia de prepaao dos festeijos. E como manda a tradiao, aqueles que comem dos alimentos do Divino, tem a sensao de que ter um ano farto, sentir que o alimento nunca faltar em sua mesa. chegado o grande dia A cidade acorda com o toque do sino e ao som da alvorada. Bandas de msica e o batuque da congada, marcam a chegada do grande dia. Em ao ao Divino a cidade desperta para maior proveito do to esperado momento de devoo pelos cultos religiosos e as missas realizadas durante o dia principal. Os devotos acompanham todos os seguimentos religiosos em

adorao ao santssimo. O ponto auto da festa religiosa a to esperada procisso que percorre as principais ruas da cidade, e seguida pelos fiis que buscam nela proteo para enfretar os desafios da vida. Acompanhados pelas bandeiras do Divino e com os andores dos padroeiros da cidade So Benedito e So Luiz de Tolosa. Os moradores esperam esse momento para pagar promessas e agradecer aos santos pelas graas alcanadas. Esse dia marcado pela f e tambm por diversas manifestaes culturais que devido suas influncias ganham caractersticas que se misturam e formam um bela festa. Essa mistura trs a religiosidade trazida pelos jesutas que marcam os cortejos religiosos. A cultura pag africana trs o batuque da congada, a alvorada e as danas do moambique. A cultura portuguesa mostra a elegncia da corte com crianas que se vestem caracter, e seguem a frente da procisso relembrando a corte e o perodo que ela esteve no Brasil. Alm da cultura regional, como a cavalhada os personagens Joo Paulino e Maria Angu, e tambm as manifestaes folclricas como a dana de fitas, o pau de cebo, e de vrias outras brincadeiras para as crianas.

PERFIL

Da alegria a tristezasem perder a fLuiz Do Vale

Quando andvamos em So Luiz tentando colocar em prtica nossas pautas, encontramos um local interessante, um centro cultural que infelizmente estava fechado. Na frente do imvel um senhor olhava o local com um visvel saudosismo, e ao nos ver com cmera e gravador nas mos no hesitou e nos abordou. A pergunta j era esperada vocs so reprteres? Nesse momento iniciamos uma conversa bastante produtiva e descobrimos logo de cara que falvamos com o palhao da cidade.

J

Ao falar da Festa do Divino que uma tradio da famlia, revela o sonho do seu pai, de enfeitar a casa para receber a procisso. Meu pai sempre dizia que se um dia tivesse a casa na rua da procisso do Divino iria enfeitar sua casa do ltimo gosto relata. Mesmo estando desempregado e sem renda fixa ele deu um jeito de fazer enfeites para colocar na fachada de sua casa. Com criatividade utilizou as garrafas PET de gua que foram doadas aos moradores da cidade e as pintou mo. Com isopor fez letras para formar a palavra paz. Ela ser exposta em seu porto no dia da esperada festa. Uma bandeira vermelha surge de dentro de um dos cmodos da casa acompanhada de um relato emocionado. Mais de vinte dias aps as chuvas

eu pedi para a defesa civil me deixar entrar na minha casa e quando entrei, logo vi a bandeira do Divino debaixo da lama que havia tomado conta da minha casa. Segundo ele aquela imagem deu foras para recomear do zero. Sem fazer distino de crenas diz que foi muito ajudado por pessoas de diferentes religies. O Pastor da Primeira Igreja Batista de So Jos dos Campos nos deu a geladeira e a cama enfatiza. O fogo utilizado por eles hoje, por pouco no foi perdido, pois seria dado de presente a eles no natal, mas uma viagem de ultima hora da pessoa que os presentearia salvou o eletrodomstico de ser levado pela gua da chuva, fato que atribudo a Deus pelos irmos. Foi por Deus que apareceu essa viagem e ela no pode nos dar o

fogo testemunha Joo seguido da confirmao de sua irm. Os amigos e expatres de Lourdes que lava roupas para levantar o pouco dinheiro que os sustenta os ajudaram muito. Parte do material para reconstruo da casa foi comprado com o trabalho de lavadeira que ela exerce e parte foi doada por pessoas prximas. Os utenslios domsticos, como pratos, copos e talheres foram doados por essas pessoas j que nada sobrou na casa. No receberam ajuda dos rgos governamentais, ganharam apenas um armrio de cozinha da assistente social que trabalha na cidade. O mvel abriga um humilde enxoval e a parte de cima se transformou em um pequeno altar com imagens de alguns santos e uma vela acesa.

J no final de nossa conversa perguntei qual a importncia da f para Joo, que fala com firmeza em sua resposta. A f a grande fonte de esperana de ns todos aqui. Com toda essa tragdia no morreu ningum e estamos reconstruindo nossa vida com a graa de Deus. Joo e Lourdes so pessoas que tem a cara de So Luiz do Paraitinga, uma cidade que tem na religio um forte apelo popular e fcil perceber que todo o trabalho de enfeitar a casa para a festa, mesmo sem condies financeiras, no tem a inteno de obter lucro ou qualquer outro beneficio. Trata-se apenas da manifestao de f que sustenta muitas pessoas mesmo em extrema dificuldade e seguem suas vidas sem desanimar.

oo Evangelista Paixo de Ftima das Chagas, 48 anos, foi conhecido por muito tempo como Pimpolho, o palhao que animava a cidade. Atualmente no anima e nem tira risos da populao luisense. Mesmo antes da enchente ele j havia perdido o trabalho que exercia h mais de dez anos. O local em que trabalhava foi fechado. O pequeno centro cultural ponto de partida dessa histria foi passando por vrios proprietrios at que chegou ao seu ltimo dono que encerrou as atividades do local. Eu recebia as crianas e fazia graa enquanto eles conheciam o centro cultural conta Joo. Seu rosto apresentava marcas do tempo e o olhar s vezes se perdia enquanto contava a histria de sua vida. Sem se inibir com o gravador ligado comea

revelando um pouco sobre a vida que levava na poca que era palhao. Pimpolho costumava participar de vrios eventos da cidade sendo a principal atrao no final do ano, quando fazia um show para toda a populao no coreto da cidade. Inevitavelmente, nossa conversa entra na questo da enchente, e em tom dramtico ele comea a contar toda a dificuldade que passou no inicio do ano com a chuva que segundo ele foi impiedosa. A gua subiu muito e cobriu todas as casas contava enquanto apontava para cada uma das casas prximas de onde estvamos. Quando questionamos sobre a casa dele rapidamente responde Caiu tudo!.

Agora que estou recuperado, consegui cumprir minha promessa

Como estvamos prximos a sua residncia ele nos convidou a ir at l sem qualquer cerimnia. Na casa simples ainda era possvel ver entulhos e madeiras em seu quintal oriundos do desabamento. A pintura nova nas paredes tinha as cores do Divino Esprito Santo, que anualmente festejado em uma das festas catlicas mais tradicionais de So Luiz, um sinal da f, caracterstica marcante dos luisenses. O Vermelho e Branco predominavam nas paredes externas do imvel que foi reformado por Joo e tem essa colorao pelo motivo de uma promessa feita por ele. Na poca das enchentes eu estava muito doente, no conseguia nem tomar

gua ento fiz a promessa de que quando melhorasse pintaria minha casa com as cores do Divino. Ele conta que foi uma fase difcil que passou porque alm de ter sua casa destruda ele estava muito mal de sade e no conseguia se levantar da cama. Quem lhe dava gua e o alimentava era sua irm Lourdes de Ftima das Chagas, que nos acompanhava na visita e confirmava os relatos dele, que nos falou com entusiasmo. Agora que estou recuperado consegui cumprir minha promessa Joo demonstra sua f inabalvel praticamente durante toda conversa, quando na maioria das frases que diz, finaliza com um graas a Deus. O brilho em seus olhos ao falar do pai e da devoo herdada dos familiares complementa a minha constatao.

Mais de vinte dias aps as chuvas eu pedi para a defesa civil me deixar entrar na minha casa e quando entrei, logo vi a bandeira do Divino debaixo da lamaFoto: Marcelo Tomaz

Amor e f: Os imos Joo Evangelista Paixo de Ftima das Chagas e sua irm Lourdes de Ftima das Chagas mostram a bandeira do Divino

SOLIDARIEDADE

sem olhar a quems vezes em meio ao caos ficamos sem cho. O desespero nos aflora e a nica coisa que conseguimos pensar : Meu Deus, aps toda essa catstrofe, por onde comear? Famlias comearam a limpar suas casas e rever o que possvel salvar, mesmo sabendo que na maioria das situaes nada restou, ou melhor, ficaram intactas apenas a f e a esperana de que um Sidney P SilvaDurante os dias de caos e incertezas a famlia ficou espalhada pelas casas de parentes por aproximadamente 40 dias. Eu fiquei na casa do meu noivo, minha me na casa dos meus padrinhos e minha irm na casa do namorado, diz. Os Figueiras no esto entre as famlias que recebem o auxlio moradia de R$300 reais, e nem em outro programa de apoio da prefeitura. Devido falta de subsdios estavam preocupados em como conseguir a verba necessria para reerguer o teto da casa que havia desabado. Nos primeiros dias da enchente um parente de Inai necessitava levar algumas coisas para a famlia que havia perdido quase tudo e no podia voltar pra casa ainda. Sem possuir meios de transportar as coisas at So Luiz do Paraitinga, conheceu um rapaz que tinha uma camionete, e explicando a situao lhe pediu ajuda para o transporte. O rapaz chamado Almir, mesmo sem conhecer o drama da famlia ficou comovido e resolveu ajudar. O rapaz veio at So Luiz com meu parente e ajudou trazer as doaes para ns e para a cidade. Duas semanas depois Almir voltou cidade e ligou para a me de Inai dizendo que ele estava em frente minha casa e queria fazer as medies para reconstruir meu telhado. Mesmo sem entender o que estava acontecendo ela foi ao encontro dele. Ele e outro rapaz entram na minha casa e mediram todos os cmodos. Somente no final, ficamos sabendo o que era. Eles contaram a minha me que eram de uma igreja evanglica de So Jos dos Campos, e que a comunidade crist tinha doado o forro para nossa casa. Nossa foi uma alegria imensa, relembra. Aps uma semana o pastor Talles foi com toda a sua equipe de ajudantes que eram membros da igreja e comearam a forrar a casa. Eles trouxeram tudo. Alm dos materiais, mquinas, comida, fizeram at churrasco. O servio terminou aps trs finais de semana, e ao final de cada dia todos faziam uma orao. Ns os agradecamos todos os dias, mas eles nos agradeciam pela oportunidade de ajudarem algum. Isso foi incrvel!, afirma. A famlia Figueira no evanglica, mas isso no os impossibilitou de serem ajudados. Para Inai sua f aumentou aps o ocorrido, mas ela diz que a vida nunca mais ser a mesma e que sempre ficar uma angstia no peito. Estamos tentando nos recuperar. Ns luizenses somos a razo e a nossa So Luiz, o corao. Por isso continuaremos aqui, firmes e fortes, pois a voz do corao sempre fala mais alto. Eu amo minha cidade! Em meio a situaes extremas ainda existem pessoas que vivem no limite. Elas no encontram dificuldades e com muita fora de vontade aliada a uma f inabalvel caminha rumo felicidade. Como diz um velho pensamento chins na crise onde surge a oportunidade.

REFLEXES

Fazer o bem

SLP: patrimnio histrico e artisticoAcidade de So Lus do Paraitinga tem suas razes no Brasil colonial, na cultura caipira paulista, no abastecimento do mercado interno da regio sudeste e na produo de caf do sculo XIX. A malha urbana de So Lus do Paraitinga conduzida pelas linhas contidas e comedidas do casario da cidade, que so quebradas e relativizadas pela existncia dos templos e pelo desnvel do terreno. A arquitetura das casas apresenta uma predominncia dos elementos quadrados e retos, geminadas uma com as outras, revestidas em pintura a cal, com portas e esquadrias de vrias cores. As formas arredondadas das montanhas e das igrejas entram em contraste com as formas retas dos sobrados e das moradias. A cidade portuguesa est presente na origem das cidades coloniais brasileiras, exibindo praas edificadas, com a representao de todos os poderes, e casas geminadas, indicando a coeso do corpo social. O espao pblico e privado torna-se o local privilegiado de transmisso dos discursos sociais e polticos, revelando informaes sobre a funo e a posio de um edifcio. Muitas vezes, estas informaes so passadas de maneira artstica, configurando valores funcionais e estticos num mesmo sistema de sinais. Podemos destacar as praas, os pelourinhos, as igrejas etc. Nesse cenrio, a arquitetura o foco visual das formas estticas e dos princpios morais e educacionais, mostrando a hierarquizao da arte atravs dos edifcios. Em So Lus do Paraitinga percebemos bem a incorporao da arte a este fim, pois a cidade com seus largos, ruas e construes torna-se o espao fsico da legitimao da hierarquia, onde as igrejas e os edifcios pblicos esto situados de maneira a serem apreciados de todos os lados, ocupando os espaos de maior visibilidade. A arquitetura religiosa manifesta-se em seu ideal espiritual, ocupando um determinado lugar no espao da cidade e tornando-se um referencial urbano. Os santos so dispostos nas fachadas, revelando as mensagens do interior do templo. Os relatos da bblia tornam-se os relatos da arquitetura, no qual medalhes e nichos correspondem a um determinado discurso religioso. As construes civis tornam-se tambm um local privilegiado para a demarcao de imagens de cunho social. Seus

Marcos Horcio Dias

A

jovem Inai Galvo Figueira, 20 anos, cursa a disciplina de Tcnico de Segurana do Trabalho na cidade de Taubat. De segunda a sexta junto de sua amiga Luciana Curcino, 20 anos, pegam o nibus para a cidade vizinha, s 18 horas na rodoviria de So Luiz do Paraitinga. Na noite de rveillon Inai estava na casa de parentes quando recebeu um telefonema sobre o que estava acontecendo na cidade. A voz do outro lado da linha era de sua me. Minha me disse que era melhor eu ficar na casa do meu noivo, porque chovia muito e a gua j estava no meu quarto. primeira vista pensei nos meus livros, nas coisas que gosto, mas seguida me preocupei com minha famlia, relembra. Foram momentos de desespero e aflio. Eu estava sem nada, tinha apenas um vestido branco e uma sandlia de salto. No dia seguinte fui encontrar minha famlia e quando minha me veio em minha direo com algumas roupas dobradas percebi que ela no olhava em meus olhos. Inai diz que admira muito sua me e conta como o reencontro foi doloroso. Ela muito guerreira e tentava no demonstrar desespero ou tristeza, ela muito forte, mas foi muito difcil no chorar nos braos dela.

Faixada de um casaro destruda pela chuva

ornatos exteriores, portadas e nmero de andares correspondem a uma imagem pblica que traz significado e posio aos proprietrios ou inquilinos. Enquanto muitas manifestaes religiosas ou culturais se revelavam principalmente no campo, em So Lus do Paraitinga as melhores obras se encontravam na cidade, onde temos casas de senhores de caf, igrejas, casas de cmara e cadeia, residncias de ricos comerciantes etc. Na cidade ocorriam os rituais da Semana Santa, do Corpus Christi, festejos relativos aos nascimentos, casamentos e funerais. A fase de preponderncia econmica e social da produo de caf no estado de So Paulo assinalada pela construo de templos ricamente ornamentados e sobrados residenciais imponentes. Com a consolidao dos povoados, as casas crescem e multiplicam seus cmodos. A melhoria econmica e a busca de conforto possibilita a construo de casas novas e acabamentos com maior apuro, usando pedras em portais, escadas, etc. . A planta complica-se e os forros so cobertos por madeira e decorados com pinturas. A existncia da uma decorao e de uma arte rica seria representativo das casas mais abastadas. A casa de um homem confundia-se geralmente com a posio de quem a ocupava. Assim, as reunies sociais so uma mania da poca e a lembrana dos hotels franceses garante esta sociabilidade. Nos sales e salas de estar temos msica para ouvir e para danar, sempre executada no ambiente mais nobre da residncia. Os saraus, assim como a cultura literria, ganham as casas e exigem espaos apropriados para a sua realizao. Segundo as regras de etiqueta, o homem um perfeito anfitrio quando sabe receber bem e em lugares apropriados. Em So Lus do Paraitinga, a existncia de uma populao e de uma economia vibrante caracteriza a especificidade de um novo modo de sociabilidade dentro dos costumes da poca e um gosto artstico prprio e apurado. A cidade um reflexo da vida paulista do sculo XIX, que responde a uma monarquia sediada no Rio de Janeiro. Podemos ver esta realidade refletida em seu conjunto urbano, que possibilita uma sociabilidade intensa e abre espao para que a burocracia, o capital cafeeiro, a hierarquia militar, a religio e os figures da poca instalem-se de maneira simultnea.

Foto: Sidney P Silva

A chuva no trouxe s lagrimas EM DESTAQUEEm So Luiz do Paraitinga, os benefcios que vieram ao lado da catstrofe.

A chuva no trouxe s lagrimas EM DESTAQUEmuita gente quer sair na foto em ano eleitoral. Ns aqui temos que administrar muitas vaidades conclui. De qualquer jeito, a ajuda em forma de investimento, motivada pelo que for, est fazendo bem para a cidade. O governo federal, atravs da casa civil, est mandando R$ 15 milhes, e o governo do estado, somando tudo investido at hoje, j colocou 70 milhes em So Luiz do Paraitinga. E para Coelho, ainda vir mais: sabemos que esse investimento ser muito maior no futuro, j que no momento estamos numa fase emergencial e futuramente haver a fase de conteno de novas enchentes. Os estudos que esto sendo feitos leva a construo de uma barragem, e sabemos que os custos para sua construo so elevadssimos, deduz. Alm da infra-estrutura, outra rea beneficiada pela catstrofe ser a educao. Segundo o diretor, existem trs universidades trabalhando em territrio luisense: As trs tem a inteno de montar um campus definitivo e ficar com uma posio de destaque. A Universidade de So Paulo atravs da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), a UNESP (Universidade Estadual Paulista) que est vindo com 11 frentes para c e a UNITAU (Universidade de Taubat), que esta constantemente aqui. Ns precisamos muito dessas instituies para ajudar no desenvolvimento da cidade e no podemos perder o apoio de nenhuma delas, afirma. Ainda nessa rea, h outros fortes parceiros.Marcelo Tomaz/A Lupa

Marcelo TomazJos Patrcio/Agncia Estado

Moradores recebem Calados doados em frente ao Ginsio Municipal Esportivo de SLP O SESI (Servio Social da Indstria), SENAI (Servio Nacional de Aprendizagem Industrial) e SENAC (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial), chegam com fora na cidade. Segundo Coelho, o sistema S tem ajudado muito So Luiz do Paraitinga: a educao da cidade passou a ser responsabilidade da coordenao do sistema SESI, o que representa uma grande evoluo na educao local. O SENAI tem reconstrudo boa parte dos prdios da cidade por iniciativa prpria e o SENAC est trabalhando muito referente questo cultural, originando vrias oportunidades para a populao. Quando o assunto turismo, tambm ocorreram evolues. A cidade conseguiu junto ao Ministrio do Turismo, toda a sinalizao turstica do municpio alm de um posto de informaes tursticas que vai ser bancado pelo Governo Federal. A prefeitura arcar com os custos de manuteno e pessoal. Sobre a restaurao do patrimnio arquitetnico, rico em obras do perodo colonial, Coelho cita a disputa partidria para 2010: tem essa briga entre o Serra e a Dilma que so representados pelo Condephaat, que um rgo do governo do estado, e o Iphan, que Federal, representando o PSDB e o PT, respectivamente. Vamos administrando essas situaes e conseguindo benefcios dos dois lados, que muito importante para ns e para a cidade. Mas, talvez, o mais importante que a enchente trouxe, foi o aflorar da paixo do morador luisense. Aquele que todo dia acorda e se encanta novamente com a cidade, alimentado pelo sentimento de apego que temos pelo que nosso. Coelho explica: quem fez tudo isso (o movimento pela reconstruo) foi a comunidade local. Por trs de um casaro bonito tem as pessoas que moram nele, e que atravs de geraes vem mantendo esse contexto histrico, preservando tudo que tem. Independente dos rgos pblicos, que, por exemplo, no existiam na poca do Brasil colnia, tudo j era preservado. Essa tradio j vem de sculos atrs, e passa de gerao para gerao de famlia em famlia, conclui.

O governador Jos Serra e a prefeita Ana Sicherle, conversam com populares em frente a ingreja matriz destruida

O

s 10 metros de altura foram mais que suficientes, atingindo atravs da gua, segundo autoridades municipais, pelo menos 600 imveis. J havia 13 anos que a Represa Paraitinga no vazava. Dos 10.908 moradores, 4.000 ficaram desabrigados e outros 5.000 desalojados. 90 prdios histricos tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico) foram danificados, sendo que cerca de 80% desses imveis, incluindo duas igrejas, a matriz

de So Luiz de Tolosa e a capela das Mercs, de forma total. A estimativa do prejuzo na cidade de So Luiz do Paraitinga supera os R$ 100 milhes. E, mesmo assim, o balano foi positivo. Cinco meses depois da catstrofe, o que se absorve da simplria cidade do Vale do Paraba, notria por suas festas tpicas, patrimnio histrico e msica popular, o cheiro da esperana. Foi o sereno do progresso e da mudana que a chuva do comeo do ano felizmente deixou. As afirmativas acima pa-

recem controversas, mas pode apostar que no so. O desastre trouxe para So Luiz do Paraitinga um desenvolvimento talvez nunca antes visto. Os investimentos estaduais e federais, juntamente com as doaes e projetos da iniciativa privada, foram e continuam sendo intensos. As cifras, segundo previso da prefeitura, passam dos 40 milhes de reais. Ser dinheiro investido na recuperao e aprimoramento da infra-estrutura e tambm distribudo entre os moradores da cidade que tiveram seus bens atingidos. Para a

prefeita Ana Lcia Sicherle, a logstica da reconstruo anda em um ritmo bom, apesar de ainda haver muito trabalho. Segundo Eduardo Coelho, diretor de turismo da cidade, os investimentos chegaram por trs motivos: solidariedade, obrigao e oportunidade. Ele explica: aqui em So Luiz do Paraitinga ns podemos perceber o quanto as pessoas de fora gostam da cidade. Muitas dessas pessoas conhecem a cidade e se oferecem para ajudar. A mdia tambm veio em peso pra c, e claro que

EM FOCO

agora Jos?Depois da tragdia a prefeita de So Luiz do Paraitinga conta como est a cidade

Ana Lcia Bilard Sicherle nasceu e cresceu em So Luiz do Paraitinga. professora e psicopedagoga. Foi secretria da educao e lecionou por mais de 20 anos. me de dois filhos e prefeita do municpio de So Luiz do Paraitinga, sua cidade natal at 31 de dezembro de 2012.

Sidney P Silva

Sidney P Silva - Qual o oramento anual da prefeitura? Como o oramento da prefeitura dividido entre as necessidades bsicas da cidade, como educao, sade e salrios dos funcionrios? Ana Lcia Bilard Sicherle - Recebemos 21 milhes de reais, desses 1,6 milhes recebemos por a cidade ser uma estncia turstica. um dinheiro j destinado, 25% educao, 15% sade e at 54% para folha de pagamento, o restante destinado a outras reas. SPS - Existe algum portal de transparncia mostrando como o dinheiro pblico usado? ALBS - Ns no temos ainda, estamos instalando computadores agora. Mas pretendo colocar no site. Ns mandamos para cmara de imediato as notas. Porm realizamos audincias pblicas e conselhos. Se o morador quiser comprovar pode comparecer no CERESTA

(Centro de Reconstruo e val a prefeitura, e temos Desenvolvimento Sustent- prejuizo, cidade suja, coisas vel). Ns perdemos tudo. quebradas. SPS So Luiz do Parai- Este ano (2010) limitaramos tinga um plo turstico o carnaval at as 22h. Fizereconhecido e a estrutura mos uma pesquisa e verifiinterna para receber tan- camos que a faixa etria que tos turistas falha. At que comparece de jovens com ponto a estrutura da cidade idade entre 19 a 21 anos, prejudicada pelas festas? universitrios que gastam ALBS - No carnaval 2009 re- em mdia R$50 reais por dia cebemos mais de 75 mil pes- com alaimentao, moradia soas. Com uma populao de etc. Ento muito barato, se 11 mil tudo fica mais difcil. voc pensar no temos hosNo carnaval temos 3 etapas pital para atendar todos. que temos de estudar muito: Acreditamos que com as Primeiro a questo cul- mudanas isso diminuiria e tural das marchinhas no viriam mais famlias. Penpode mudar, as pessoas que samos em proibir alguns comparecem esto em busca campins. Eram medidas pra disso. o maior desenvolvi- ser esse ano, mas como no mento ecoaconteceu o nmico da ano que vem cidade e ns veremos Temos que parar no temos como fazer. de colocar nomes a estrutura Estamos de pessoas a frente para recefazendo a ber a todos. campanha das causas. Hoje quem A gente faz o carnagosta de So

Luiz o ano inteiro, porque temos muitas coisas, no s o carnaval. O comerciante tem que dar conta o ano todo. As pessoas no conseguiam alugar casas por mais de um ano porque tinham de sair na poca do carnaval. Estava causando prejuzos sociais e ambientais como a falta de gua e muita urina na cidade. Comearam a dar mais problemas que solues. A partir de agosto nossa comisso pensar nisso, mas temos problemas maiores, no sabemos do CONDE PHAAT (Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico) e do IPHAN (Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional) ainda, se poderemos colocar som alto, passar com os caminhes prximos aos casares. J estamos fazendo uma praa, onde atualamente a rodoviria da ci-

dade, est quase terminada e vamos construir ainda um ptio de eventos, mas ficar pronta no prximo ano. SPS - O prejuzo pela falta do carnaval foi alto? Voc tem uma idia em nmeros? ALBS - Mesmo se houvesse carnaval, no teramos condio de receber as pessoas. Acreditamos que o valor arrecadado gire em torno de 45 milhes de reais no carnaval. Existem famlias que alugam suas casas por 5 mil reais aos finais de semana. um dinheiro que o municipio no recebe isso um dinheiro que fica com as pessoas, mas o desenvolvimento vsivel. SPS - Em 2005, apenas o mercado municipal recebeu investimento e foi reformado, o que pode ter contribuido para que no russe. Uma reforma tambm salvaria a igreja? ALBS - O mercado foi restaurado, mas parte dele j era de tijolos. A igreja no, ela barro desde o p. As torres de tijolos resistiram um pouco mais, porm ao cair acabou derrubando outras partes. Onde era pau a pique desde baixo os danos foram maiores, ento mesmo com uma reforma correria riscos. Para resistir teria que mudar todas as paredes, tanto que decidimos que ser feita agora de tijolos, mas vamos ter amgumas paredes acima para preservar a historia. Mas iremos usar o que restou, e tentar fazer igual, mas nunca mais ser a mesma. SPS - As medidas iniciais e as aes em relao ao atendimento da populao em geral, obtiveram resultados satisfatorios? Quais os prximos passos? ALBS - Na parte de voluntrios de alimentos foi maravilhoso, no sabamos como a cidade era to que-

rida. A ajuO governo da foi mui- Aqui a poltica do estado to grande. muito pesada, sou j assinou Agora te- a primeira mulher um contrato mos muitas a estar aqui. Ento com a Mitra obras emde Taubamuitas pessoas que presas cont, eles iro t r a t a n d o , no olhavam na contratar. A mas a maior minha casa, hoje sorte que p r e o c u p a - falam. Claro que isso j tnhamos o agora complicado, alguns um estuas familias do, acredito falam que foi bom voltarem s que logo que aconteceu em casas. teremos um SPS - Quan- ano poltico, mas fico projeto de do termi- preocupada porque restauro. Lenam as obras tem muita gente vant-la ser das 150 rpido, mas maldosa, algumas casas que a a parte de CDHU esta pessoas vm com pintura deconstruindo camisetas s pra talhes levar para atender tirar fotos e no o mais tempo. famlias que momento pra isso. SPS - A trativeram suas gdia ajudou Voc v umas coisas casas totala trazer inimente dani- e pensa: Meu deus eu ciativas anficadas pelas tenho que passar por tes nulas? chuvas? Es- isso? ALBS - Sim, sas famlias claro por ser encontramano poltico, se alojadas onde atualmente? mas tambm por gostarem ALBS - A maior preocupa- da cidade. Hoje o ensino o agora para que as fam- nosso SESI. Eu sempre lias voltem para casas porque quis trazer quando era separa o poder publico facil cretaria da educao. O SEconsguir verba para a cons- NAI, ento nesta situao truo de uma prefeitura, antecipou muita coisa. mas e para o particular no. Claro a credibilidade imTemos casos de pessoas que portante quando vamos no podem fazer empresti- fazer algum contrato, nos mos e a prefeitura no pode no temos nada errado isso dar casa para uma pessoa s. Todos devero pagar os R$75 reais mensais, o estado no pode dar para ningum. Os de propriedades tombadas o processo ser outro. O CONDEFAT esta fazendo um projeto e verificando com o governo a possibilidade de conseguir um emprstimo possibilitando as famlias de fazerem a reforma. SPS - Qual a projeo para reconstruo da Igreja Matriz? ALBS - Entre julho e agosto deve ser entregue a primeira parte emergecial que Recado destinado as a separao dos materiais. do CERESTAFoto: Sidney P Silva

ajuda muito. Conseguimos um recurso de 280 mil em contas, pra comprar um terreno onde vamos construir uma rea e instalar equipamentos pblicos que foram perdidos. SPS - Em uma coletiva no dia 12 de janeiro foi annciado a imprensa, a liberao incial do governo federal de R$ 10 milhes para a recontruo e restaurao da cidade. Essa verba foi liberada? Como ser feita a aplicao? ALBS - Isso nos enganou, foi o secretario adjunto da cultura, o ministro inteirino da Cultura, Alfredo Manevy. Quando ele falou nos fizemos um plano que chegasse a 10 milhes. Ento iriamos ter um lugar pra cultura mesmo, o que atulamente no temos. Dividimos no calendario festivo pra 2 anos, e subveno dos grupos folcloricos por 2 anos, era um sonho. Mas na verdade esse dinheiro era pro IPHAN, pra conservao do patrimonio, j era um dinheiro carimbado. O IPHAN j esta usando e o BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento) passou 1 milho para o instituto Eupides do Santos. Para ajudar na reconstruo da Casa Oswaldo Cruz e na Igreja do Rsario. Mas esse di-

Foto: Sidney P Silva

famlias no mural

J foi a fase pior, passamos pela enchente. Cada hora passamos por uma fase. As coisa j esto voltando ao lugar, ai vem o defensor pblico tentando procurar culpados pela enchente ai as pessoas vo perdendo a solidariedade todos querem ser indenizados. Ento so fases, estou guardando tudo porque eu vou escrever.nheiro no veio para o municpio como gostaramos. SPS- Ao todo quanto o municipio recebeu? ALBS - Do governo Federal ser 15 milhes. J recebemos 6 milhes e vamos recebendo aos poucos conforme vamos adiantando as obras. Esse recurso foi da Defesa Civil Nacional e vai ser para conteno de margem, arrumar algumas estradas, construir 20 casas populares e arrumar uma ponte que caiu. Agora com o estado como somos mais proximos, definimos que seriam feitos por eles, mesmo porque a prefeitura no tem corpo tecnico para fazer as obras. O governo far 150 casas, compramos o terreno eu paguei hoje. Vai refazer as duas entradas das estradas que foram danificadas, a escola de msica e a biblioteca. Quem veio primeiro foi o estado, para as coisas mais difceis entramos em contato com a defesa civil nacional. SPS - Os arquivos da prefeitura foram recuperados?

Quais transtornos ca