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OBSERVA OBSERVA MAGAZINE 10 / MARÇO EDIÇÃO 03 MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT

REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT OBSERVA · O desenvolvimento e execução do projeto apresentado desde a nossa primeira edição À ESPREITA COM LUPA: CÁ DENTRO 46 Soltamos as

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OBSERVA

O B S E R V A M A G A Z I N E

1 0 / M A R Ç O

E D I Ç Ã O

03

M A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

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OBSERVA

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OBSERVAM A G A Z I N E

OBSERVATÓRIO DOS LUSODESCENDENTES 06Anunciamos e convidámo-lo a participar no Fórum Luso-Estudos 2019

DE REGRESSO A PORTUGAL 08 Leonel Madaíl dos SantosUm lusodescendente polivalente

GRANDE ENTREVISTA - MANUEL C. DE JESUS 13 Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas nos XI e XII governos constitucionais

MIGRAÇÕES 24Visto de Imigrante Empreendedor ou Startup Visa?

PELA DIÁSPORA 30 Mundo Lusíada, apresentado por Odair Sene, seu fundador e diretor

CURIOSIDADES SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA 32 Revisitamos Camilo Castelo Branco e a casa de Seide

PATRIMÓNIO DA LUSOFONIA 36 Descobrimos um pedaço da história saúde em Portugal

AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE 44 O desenvolvimento e execução do projeto apresentado desde a nossa primeira edição

À ESPREITA COM LUPA: CÁ DENTRO 46Soltamos as velas ao vento e fomos espreitar o maior veleiro de turismo do rio Douro

À ESPREITA COM LUPA: LÁ FORA 52Descobrimos, na India, uma aldeia cuja única forma de comunicação é um dialeto português

SABORES LUSOS EM ESTADO LÍQUIDO 54Pedro GuerreiroA visão sobre a colheita de vinhos de 2018

INFORMAÇÕES LEGAIS 59Funcionários destacados ou funcionários expatriados: Diferença no estatuto legal da pessoa

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OBRAS DE CAPA

Uma cadeira no espaço com um homen de braços abertos a voar.Um Pessoa ou uma pessoa. Um navegante das palavras e dos sonhos. E nós “ os observadores”.Olhamos, observamos e por vezes até sonhámos com as palavras dos outros.Cada vez mais falta poesia ao nosso mun-do e pensar numa sociedade onde não tenhamos medo de acreditar. Custa-me a futilidade e esta sensação parva de que tudo cabe na palma da mão de um smartphone. Neste mundo digital, falamos entre nós em algoritmos e redes que são uma pele fina demasiada dependente da carga da bateria. Estamos presos nesta nova rede global onde novas palavras ganham sentidos que soam a falso : Notícias e Afectos. Num enredo plástico constante e om-nipresente em que as palavras perdem peso e o tempo corre demasiado rápido e mais uma vez demasiado falso. Quero sonhar e ir mais longe e mais fundo e deixar claro e sem espécie de dúvidas que o mundo necessita mais de que nunca de inteligência emocional do que inteligência artificial.

Carlos [email protected]

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E D I T O R E S

D E S I G N G R Á F I C O

Colors Design - https://colorsdesign.eu

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

Wonderpotential Lda, NIF 514077840

E D I Ç Ã O

Março 2019, Edição 03 - GRATUITA

D I R E T O R

Jorge Vilela

Carlos Farinha, Catarina dos Santos, Gilda Pereira, Hernâni Ermida, Inês Bernardes, Isabelle Simões Marques, Jorge Mendes Constante, José Governo, Philippe Fernandes, Pilar Abreu e Lima, Pedro Guerreiro, Rui Pessoa Vasques, Sofia Afonso

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E : [email protected]

ANÚNCIOS

A Wonderpotential Lda, não é respon-sável pelo conteúdo dos anúncios nem pela exatidão das características e pro-priedades dos produtos e/ ou bens anunciados. A respectiva veracidade e conformidade com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade dos anunciantes e agências ou empresas publicitárias.

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MENSAL

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Em virtude do disposto no artigo 68º nº2, i) e j), artigo 75º nº2, m) do Código do Di-reito de Autor e dos Direitos Conexos ar-tigos 10º e 10º Bis da Conv. de Berna, são expressamente proibidas a reprodução, a distribuição, a comunicação pública ou colocação à disposição, da totalidade ou parte dos conteúdos desta publicação, com fins comerciais directos ou indirec-tos, em qualquer suporte e por quaisquer meio técnico, sem a autorização da Won-derpotential Lda.

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EDITORIAL

Nesta terceira edição brindámo--lo com mais uma obra de capa, do mestre Carlos Farinha.Destacamos das atividades do Ob-servatório dos Lusodescendentes o próximo Fórum.

Fazemos mais uma grande entre-vista ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas dos XI e XII governos Constitucionais,Manuel Correia de Jesus.

De regresso a Portugal falamos com mais um lusodescendente polivalente e pela diáspora apre-sentamos-lhe um luso-america-no de New Jersey que para além da empreitada de ser advogado tem dois pares de gémeos. Continuamos a explorar as temá-ticas das migrações: visto ou Startup Visa para quem quer empreender?

Revisitamos Camilo Castelo Branco e a casa de Seide.

No património, descobrimos um mundo da saúde em Portugal.Na Astrologia, continuamos a in-terpretar o céu que nos quer unir e não separar.No ambiente e na sustentabilidade do nosso planeta damos conta do desenvolvimento do projeto apre-sentado desde a nossa primeira edição.Na história para os mais pequenos falamos sobre a importância da pontuação.Cá dentro soltamos as velas ao vento e com a nossa lupa fomos espreitar o maior veleiro de turis-mo do rio Douro.Com lupa, lá fora, descobrimos -na India - uma aldeia cuja única forma de comunicação é um dia-leto português.

Nos sabores em estado líquido e sobre vinhos, damos conta da co-lheita de 2018 e nos sabores em estado sólido, contamos a história do «bacalhau suado ao cofre».

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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OBSERVATÓRIO

VAI ACONTECER

O Fórum Luso-Estudos / Edição 2019 Português - língua e

cultura partilhadas - Potenciali-

dades e abrangência terá lugar no dia 19 de junho de 2019 na Sociedade de Geografia de Lisboa. A edição de 2019 deseja dar continuidade aos seus encon-tros anuais. Neste sentido, será promovido um encontro livre para a apresentação e discussão dos principais temas, resultados e questões presen-tes em torno da temática da língua portuguesa – as suas

potencialidades e a sua abrangência. Sabemos da preocupação política em manter os portugueses não residentes e os lusodescendentes ligados ao país pelos vínculos da lín-gua e da cultura portuguesas assim como os seus benefícios económicos inerentes. Posto isto, o encontro pretende congregar investiga-dores, docentes, estudantes, gestores, políticos, decisores de entidades públicas e pri-vadas e todos os interessados na área do português língua estrangeira / segunda língua / língua de herança.Desta forma, serão discutidas as políticas de divulgação, pro-teção e conservação da língua (e cultura) portuguesa junto

dos lusodescendentes assim como as políticas educativas, tais como as redes de ensino, as modalidades de organiza-ção, a formação de docentes e a investigação. Refletiremos ainda sobre o papel da língua portuguesa, a sua valorização e a sua promoção junto dos lusodescendentes. A data-limite para submissão de propostas está fixada a 30 de abril de 2019.

Mais informações em: https://luso-estudos.old.pt

Fórum Luso-Estudos / Edição 2019

Edição 2018

Edição 2018

Edição 2018

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Philippe Fernandes, frequentou a pré--primaria em Viry-Chantillon, fez a pri-mária em Lisboa, o secundário em Viseu, e licenciou-se na Universidade Portuca-lense – Infante D. Henriques no Porto.Iniciou a sua carreira de Contabilista Cer-tificado em Lisboa, chefiou alguns gabi-netes de contabilidade e fundou a Cis-terdata, gabinete de contabilidade onde se encontra atualmente, e que presta assistência, quase em exclusivo, à comu-nidade francesa em Portugal.Ao longo da sua carreira colaborou com várias ONG’S, Fundação Evangelização e Culturas, Fundação São João de Deus, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, Funda-ção Maria Antónia Barreiros, entre outras.

Fundadora da Associação Raras, na área Social. Fundadora da Confraria Gastro-nómica de Sabores Portugueses, com o objetivo de divulgar a Gastronomia Por-tuguesa, e ainda Fundadora da Portu-guese Business Club Portuguese (PBCL), plataforma de negócios Portugal/Lu-xemburgo, ajudando na internacionali-zação das PME’s em Portugal.Emigrou para o Luxemburgo a 28 de maio de 2002 e até hoje a sua motivação tem sido ajudar a integração dos portugueses na sociedade luxemburguesa, sem que estes percam a identidade portuguesa.Sentindo-se embaixadora de Portugal em todos os projetos que cria, coloca sempre o seu carinho e o reconhecimento do po-tencial existente no seu país de origem.

P h i l i p p e F e r n a n d e s

I s a b e l F e r r e i r a

O L D I A N O S D O M Ê S

Costuma-se dizer que os lusodescen-dentes, na sua grande maioria, nasci-dos e criados no estrangeiro, que vêm viver para Portugal que “regressam” a Portugal. Será que se pode afirmar que os lusodescendentes “regressam” ver-dadeiramente a Portugal? Pode-se entender este “regresso” como um retorno às origens dos pais ou da família, regresso esse profunda-mente ligado à cultura, às emoções ou até às lembranças. Será regressar para um país que se conhece mais ou me-nos bem, de que já se ouviu falar, para o qual se viajou durante as férias de ve-rão para visitar algum familiar mais ou menos próximo. Será o país da Sumol ou da Brisa que já se bebeu nalguma ocasião, país com o qual já se sofreu com as derrotas desportivas, com o qual se sentiu emoção ao ouvir um fado da Amália ou país com o qual já se pulou a dançar o vira? Tudo isto é “regresso”? Sim!Mas, se o lusodescendente nunca viveu de facto neste país, se nunca andou na escola, se nunca aprendeu a falar o calão, se nunca lhe tomou verdadei-ramente nem o cheiro nem a tempe-ratura, como será então esse suposto

“regresso”? Não se poderia dizer antes que os lusodescendentes “partem” para um outro país, país muitas vezes pouco ou mal conhecido? Um país mui-tas vezes idealizado e sonhado (“Ai! O verão e as praias!”)? Não será “partir” para uma nova vida, habituar-se a ou-tro povo, a novos costumes, a novos hábitos, a uma nova escola ou um novo trabalho, a uma sociedade muito dife-rente da vivida dentro das comunida-des portuguesas no estrangeiro? Pelo menos foi assim que vivi este meu “regresso” a Portugal, que já foi há mais de quinze anos: um “regresso” muito familiar e ao mesmo tempo uma partida para o desconhecido.

Nem só de “regresso(s)” vivem os lusodescendentes

Isabelle Simões Marques Presidente do Observatório dos Lusodescendentes

[email protected]

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Regressou a Portugal com os pais quando tinha cerca de 7 anos. Julga que foi a idade ideal para regressar. «Após esta idade começamos a firmar os nossos amigos, começam a sur-gir os primeiros namoricos, começa-mos a tomar aquela terra como nossa e começa a ser mais difícil sair e mais difícil adaptar-se a novos mundos», explica-nos. Afirma que a principal dificuldade que sentiu foi a adaptação à língua portuguesa e a integração na escola que frequentava e nos vários grupos de amigos. Como veio para Portugal de tenra idade não sentiu grande dificuldade nessa adaptação. A estadia em França, sempre foi algo temporário, almejando sempre o re-gresso a Portugal. Como era usual para

os emigrantes, as épocas festivas e o mês de agosto eram alturas do ano em que se primava sempre por estar pre-sente em Portugal. «Manter as raízes é importante, principalmente quando a ideia é voltar» adianta-nos. Os seus pais regressaram definitivamente para iniciar um negócio na área do comér-cio de produtos alimentares. Foi uma oportunidade que surgiu numa das vindas de férias, foi abraçada e brotou os seus frutos.

Desde criança que se mostrou ser muito ativo e com enorme vontade de intervenção cívica: foi locutor na Rádio Bairrada e Rádio Regional das Beiras desde os 11 anos, realizando e apresentando programas de sucesso

que ficaram para sempre na memória de uma época; na Rádio Regional das Beiras chegou a exercer cargo de dire-tor até ter ingressado no Exército; re-alizou trabalhos de modelo e ator em agências como a Fado Model’s, Blast, Special Factory Agency, entre outras e exerceu as funções de Vice Presiden-te Executivo da Direção da Associação Académica da Universidade Autóno-ma de Lisboa. Pertenceu também ao Corpo Ativo dos Bombeiros Voluntári-os de Mira; participou em diversas conferências sobre o tema “Mediação Penal” e “Negociação em crise”, no-meadamente a convite da Ordem dos Advogados de Portimão, da Feira do Livro de Lisboa, entre outras.

Leonel Madaí l dos Santos

DE REGRESSO A PORTUGAL

39 anos, nascido em Lyon, França. Mestre em Direitocom Pós-Graduação em Ciências Policiais e Segurança Interna.Chefe da Divisão de Trânsito de Lisboa da Polícia de Segurança Pública.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 9

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L L E O N E L M A D A Í L D O S S A N TO S

Atualmente, é Chefe da Divisão de Trânsito de Lisboa da Polícia de Segu-rança Pública; chefia a Secção de Con-traordenações Rodoviárias do Coman-do Metropolitano de Lisboa; é Chefe de Gabinete do Comando da Divisão de Trânsito; Relações Públicas desta Divisão Policial, sendo uma das caras presentes nas várias televisões e res-tantes órgãos de comunicação social; Jurista na Associação Romã Azul, com sede em Oeiras; Assistente de Investi-gação do ICPOL, no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança In-terna da PSP;Vice Presidente da As-sembleia Geral do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da Polícia de Se-gurança Pública; Delegado Sindical do SNCC/PSP, na Divisão de Trânsito de Lisboa e Presidente do Conselho Fiscal do Clube de Lutas Olímpicas do Bastos, sediado na Quinta do Conde, concelho de Sesimbra.Com tantas atividades ainda tem tem-po para escrever. É autor do livro “Me-diação Penal”, da Chiado Editora, com prefácio do Juiz Desembargador Car-los Campos Lobo - e coautor do pre-fácio do livro “Negociação em crise”, da autoria de Pedro Nogueira Antunes Simões - da Chiado Editora.Neste momento encontra-se a imple-mentar um projeto de Alojamento Lo-

cal em Mira, distrito de Coimbra e na Quinta do Conde, distrito de Setúbal, denominado “O Cantinho do Madaíl”, estando em fase de legalização buro-crática junto dos respetivos municí-pios. Inquirido sobre as expetativas que tem sobre o futuro relativas a Portu-gal, argumenta que por norma não cria expetativas, sonha e tenta imple-mentar esses sonhos. Espera que os seus projetos de AL cheguem a bom porto, apesar de se estar a deparar com uma falta de interesse gritante, por parte do poder local, em apoiar o desenvolvimento de um projeto que vai dinamizar a economia local. Como o próprio afirma, o poder local está mais preocupado em criar entraves na burocracia, do que em apoiar na sua resolução e implementação. Dado o seu distanciamento geográfico, foi obrigado a contratar os serviços de um escritório de advocacia para fazer face às exigências do município, in casu, do município de Mira. “Não fosse a mi-nha insistência em criar este projeto em Mira, já tinha mudado de conce-lho. Outros concelhos oferecem-me todo o apoio necessário à implemen-tação de um projeto deste género, mas insisto em Mira por ser a terra natal dos meus pais e onde reside grande

parte da minha família, mas não está fácil”. Apela aos governantes locais, para que apoiem a criação de novos projetos, pois só assim é possível di-namizar Mira. Um projeto como o que está a tentar implementar traz cen-tenas de pessoas por ano a Mira, com toda a dinamização local que acarreta.

Confessa-nos que o que mais o encan-ta em Portugal são:

o clima;a hospitalidade;a gastronomia;as paisagens paradisíacas e a segurança.

E o que menos o encanta:

a burocracia exigida na implementa-ção de projetos inovadores;o conformismo;as “quintinhas” que vão sendo cria-das;a política e a forma como é encarado o interesse nacional.

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D E R E G R E S S O A P O RT U G A L L E O N E L M A D A Í L D O S S A N TO S

A sua imagem pública está ligada à autoridade, à fiscalização do cum-primento das regras de trânsito, mas também a uma prevenção ativa aos acidentes de viação e ao esclareci-mento de dúvidas relativas ao Código da Estrada. Leonel Madaíl dos Santos veio trazer um novo conceito para a praça pública, aproximando as forças de segurança dos meios de comuni-cação social e logo da população em geral. Esta distância que existia foi agora encurtada, e é frequente ver a Polícia a falar à comunicação social em situações de crise, tais como aci-dentes de viação, ou outros incidentes de trato policial. Inicialmente, Leonel Madaíl dos Santos assumiu essa fun-ção pessoalmente, tendo uma pre-

sença quase diária nas televisões na-cionais e internacionais. Atualmente já tem uma vasta equipa a trabalhar neste projeto, havendo mais cola-boradores a dar a cara, não estando exclusivamente centrado na sua ima-gem e dando lugar a alguma privaci-dade na sua vida pessoal.

Fotografias pessoais, como a que ti-rou com o seu amigo Anselmo Ralph aquando dos incidentes do Bairro da Jamaica, tomaram proporções inter-nacionais e foram conotadas a movi-mentos anti - racistas/raciais, ban-deira que defende veemente. “Não temos cores, não temos raças, somos todos seres humanos iguais mas com vivências diferentes. Temos de nos

compreender uns aos outros”.

“Enquanto Polícia e enquanto Jurista apenas vejo dois lados, os que respei-tam e cumprem a Lei, e os outros. Os outros têm aqui um oponente feroz e exigente, os cumpridores têm aqui um aliado e um amigo.”

Quando se cruzar com uma potente mota da Divisão de Trânsito da Polícia de Segurança Pública, tome atenção, pode estar a cruzar-se com Leonel Madaíl dos Santos. Se isso acontecer não se iniba, cumprimente-o, tire fo-tos, aborde-o, pois acabou de encon-trar um aliado que o apoiará no que necessitar, mais que não seja para lhe dizer bom dia e desejar boa viagem.

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GRANDE ENTREVISTA

M A N U E L C O R R E I A D E J E S U S

S E C R E TÁ R I O D E E S TA D O D A S C O M U N I D A D E S P O R T U G U E S A SN O S X I E X I I G O V E R N O S C O N S T I T U C I O N A I S

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PAG 14 | OBSERVA - MAGAZINE

GRANDE ENTREVISTAM A N U E L C O R R E I A D E J E S U S

OM: Gostávamos desde já de agradecer por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista.

CJ: Eu é que tenho muito gosto em regressar a um lugar em que fui feliz e em que me senti plenamente realizado. De to-das as atividades e cargos que exerci ao longo da minha vida, o de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas foi o mais motivador e desafiante.

OM: Estando interessados em tentar escrever a história e as histórias desta importante e nobre função de quem assume uma secretaria que permite e fomenta o contacto com as co-munidades portuguesas espalhadas pela diáspora portugue-sa, conte-nos qual o primeiro impacto com essa realidade.

CJ: Antes de mais, precisei de reflectir e analisar as exigên-cias do novo cargo. Vi-me, de repente, perante um universo caracterizado pela sua dimensão planetária, pela sua dis-

persão e pela diferenciação das Comunidades entre si. Às competências tradicionais da SECP – Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, veio juntar-se, por decisão expressa do Primeiro-Ministro, a tutela dos consulados. Na agenda, tinha o discurso inaugural da VI Reunião Mun-dial do Conselho das Comunidades Portuguesas e uma visita do Primeiro-Ministro ao Brasil, que incluía contactos com comunidades portuguesas, e em que deveria integrar-me. Foi um batismo de fogo! Porém, o mais difícil foi conseguir que, naquela intervenção e na visita ao Brasil, eu já pudesse apresentar alguns sinais da mudança que o Governo queria imprimir à acção da SECP. Não se tratava de pôr em prática uma nova política, mas de apresentar um novo enfoque so-bre a multiplicidade de questões que as Comunidades Portu-guesas colocam ao Governo de Portugal e, nomeadamente, à SECP. Esta visão da política para as comunidades portugue-sas tinha implícita a negação das concepções miserabilistas sobre a emigração e assentava no reconhecimento de que as

Depois de ter exercido as funções de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no X Governo Constitucional, liderado pelo Professor Aníbal Cavaco Silva, foi convidado pelo Primeiro-Ministro para o cargo de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, cargo que exerceuexerceu nos XI e XII Governos, por um período de cinco anos (de 1987 a 1992).

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comunidades portuguesas constituem mais uma razão de orgulho para todos os portugueses.Ambicionava que, em cada visita a uma Comunidade, pudéssemos contribuir para a solução dos problemas sentidos pelos portugueses e entes coletivos que a integravam, quer naquilo que depen-dia do Governo por-tuguês, quer no que dependia das auto-ridades do respetivo país de acolhimento. Isto implicava que qualquer deslocação do SECP ao estran-geiro teria de ba-sear-se em aspetos substantivos de me-lhoria das condições de vida dos portu-gueses que a inte-gravam e que exigia o envolvimento com as pessoas - homens ou mulheres, novos ou séniores, ricos ou pobres -, que con-tinha momentos de sã e animada con-vivência e diversão, mas também reuniões de trabalho, sobre questões ligadas à divulgação da língua e cultura portuguesa, ensino do português ou inserção nos sistemas de ensino do país de acolhimento, à situa-ção laboral e às condições de acesso ao mercado de trabalho e à cobertura em matéria de segurança social, e ainda contactos com os governos dos países de acolhimento e instituições públicas e privadas para defesa dos direitos e inte-resses dos nossos compatriotas.

OM: O que mais o marcou nesse con-tacto direto?

CJ: Claro que cada visita a uma comu-nidade era um momento de especial emoção e de exaltação patriótica e tam-bém de admiração e orgulho por aquilo que tem sido o trabalho exemplar e a obra notável dos portugueses que vi-vem e trabalham no estrangeiro. Mas havia também razões para preocupação e tristeza quando nos confrontávamos com situações de pobreza extrema, ou

de falta de apoio social, de ausência de cuidados de saúde, ou de portugueses, sobretudo jovens, que se encontravam detidos em situações prisionais desu-manas, sem visitas e sem apoio jurídi-co adequado, ou de idosos votados ao

abandono pelos próprios familiares.A política para as comunidades portu-guesas dos XI e XII Governos era uma política pensada para o mundo univer-sal português, coincidente com as Co-memorações dos 500 Anos dos Desco-brimentos Portugueses.A completa e exaustiva explanação dessa política encontra-se no meu livro intitulado “Comunidades Portuguesas – Uma Política para o Futuro”, edição da Biblioteca Diplomática do MNE. Vol-vidos alguns anos sobre o fim dos meus mandatos como SECP, encontrei-me com um diplomata português que me disse: “Não imagina o jeito que nos dá aquela espécie de Bíblia das Comunida-des Portuguesas quando temos de pre-parar os nossos discursos para o Dia de Portugal”. Pelo decorrer da conversa, apercebi-me de que ele estava a referir-se à quele meu livro. Intimamente senti reforçada a certeza de estarmos peran-te “Uma Política para o Futuro” e, ainda hoje, estou convencido disso.Confrontado com a dimensão planetá-

ria do nosso campo de acção e assumin-do que a sua execução deveria atingir o maior número de portugueses e seus descendentes, concluí que os únicos instrumentos idóneos para o conseguir seriam a cobertura consular e a infor-

mação, hoje falaría-mos das TICs -Tecno-logias de Informação e Comunicação. Com efeito, os consulados são a estrutura exe-cutiva e operacional do Governo português junto das comunida-des portuguesas. Daí que o facto de o Pri-meiro-Ministro de então ter colocado os consulados sob a tu-tela directa do SECP foi uma decisão estra-tégica e patriótica. E o modelo de informação que imaginámos e pu-semos em prática, com os meios técnicos en-tão disponíveis, per-mitiam-nos colocar notícias, na hora, nas embaixadas de Portu-gal, nos consulados e nos órgãos de comu-

nicação social das comunidades portu-guesas. Graças ao protocolo celebrado com a LUSA, conseguimos concreti-zar o projecto da chamada Informação Triangular, isto é, de Portugal para as Comunidades, das Comunidades para Portugal e das Comunidades entre si. Estava aí o embrião do que veio a ser a RTP-Internacional, posta no ar ainda durante o terceiro mandato do Primei-ro-Ministro Cavaco Silva.O Consulado em Valência, na Venezue-la, estava criado no papel, mas ainda não existia. O dia da sua inauguração foi um dos dias mais felizes da minha vida. Era o sinal de que o Governo esta-va apostado em contrariar o status quo, que se caracterizava por um núme-ro excessivo de consulados na Europa e uma descuidada e exígua protecção consular em relação aos portugueses residentes noutros continentes. Dada a sua importância, o Consulado em Va-lência foi elevado à categoria de consu-lado-geral, ficando assim equiparado ao consulado em Caracas. Dinamizá-

GRANDE ENTREVISTAM A N U E L C O R R E I A D E J E S U S

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GRANDE ENTREVISTAM A N U E L C O R R E I A D E J E S U S

mos vários consulados honorários com a atribuição de novas competências, sobretudo junto das Comunidades radicadas noutros continentes. Procedemos ao estabelecimento de an-tenas consulares na Suíça, especialmente em atenção à emi-gração sazonal. Motivámos os chefes consulares para darem uma maior atenção às necessidades e protecção às Comuni-dades nas áreas da sua competência. Concebemos um perfil de “cônsul de comunidade”, com incidência informal nas nomeações dos cônsules, consoante estivesse em causa um posto onde existisse comunidade portuguesa. Não cabia ao SECP a nomeação dos cônsules, mas a tutela dos consulados dava-lhe um peso especial em tudo o que tivesse incidência na qualidade de vida dos portugueses. Quando ia às Comu-nidades, visitava sempre as instalações dos consulados para me inteirar do estado das mesmas e sobretudo para auscul-tar as condições de trabalho dos funcionários consulares, o seu estado anímico, e valorizar e reconhecer a importância do seu trabalho. Por fim, iniciei uma prática, até então iné-dita, de realizar reuniões de cônsules por país, sobretudo naqueles onde houvesse um número significativo de postos consulares. A primeira reunião de cônsules foi na Alemanha, nas instalações do Consulado de Portugal em Osnabruck. Seguiram-se outras em Espanha, França e Estados Unidos da América, todas com muito proveito para os objectivos da nossa política.

OM: Qual a faixa etária que emigrava? Quais as suas qualifi-cações académicas e profissionais?

CJ: O período em que estive à frente da SECP coincidiu com a época em que Portugal, graças à estabilidade política propi-ciada por governos de maioria absoluta e às reformas então levadas a cabo, se foi tornando num país moderno e próspe-ro e em que visivelmente o surto emigratório abrandou. De referir também, a este respeito, a importância da entrada de Portugal na CEE e os fundos comunitários de que nos torná-mos beneficiários. Ao invés, Portugal passou a ser um país de imigração, atraindo cidadãos brasileiros e das ex-colónias e, depois do colapso da União Soviética, cidadãos provenientes dos países do leste europeu, nomeadamente, da Ucrânia, da Roménia, da Rússia e da Moldávia. Quanto ao nível de qualificações académicas e profissionais, eram em regra fracas no caso dos trabalhadores indiferen-ciados, apesar de já então saírem de Portugal pessoas com qualificações superiores em áreas da investigação, do ensino e da saúde. Com a já referida adesão de Portugal à CEE e com a posterior consagração da livre circulação de pessoas, as questões da emigração passaram, em parte, a ser vistas como expressões do direito à mobilidade e não com o carácter agó-nico que tradicionalmente as caracterizava.Os mais novos optavam normalmente por soluções tempo-rárias, ao passo que os adultos preferiam destinos e ativida-des que lhes permitissem uma maior estabilidade. OM: Quais eram os países eleitos pelos portugueses para se emigrar?

CJ: Sobretudo para países europeus e também para alguns países árabes, quer em regime temporário, quer em regi-me de permanência duradoura. Alguns procuraram na Suí-ça, no Reino Unido e em Espanha, ocupações sazonais nas áreas da agricultura e dos serviços. Outros privilegiaram a França, a Alemanha e o Luxemburgo, onde procuravam em-pregos mais estáveis no sector dos serviços e na construção civil. A ida de trabalhadores portugueses para países do Mé-dio Oriente ocorria, em especial, no âmbito de empreitadas assumidas por empresas portuguesas naqueles destinos. A demanda de países de outros continentes diminuiu subs-tancialmente, embora se verificassem algumas saídas para os EUA e para a Austrália e, em menor número, para a África do Sul e Venezuela, nomeadamente no âmbito do reagrupa-mento familiar, tal como na Europa.

OM: No seu entender quais foram os países que mais se es-forçaram por justamente atribuírem a lusodescendentes car-gos decisores, nomeadamente de responsabilidade política?

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GRANDE ENTREVISTAM A N U E L C O R R E I A D E J E S U S

CJ: Aí está um aspeto muito importante da política seguida, à época, para as comunidades portuguesas. Salvo o devido respeito, não podemos encarar o sucesso dos portugueses residentes no estrangeiro, nomeadamente dos lusodescen-dentes, como uma dádiva dos países de acolhimento, já que o reconhecimento dos seus direitos ou a conquista de posições de destaque dependem fundamentalmente do que fizermos para que tal aconteça. É verdade que não podemos desprezar a abertura e interesse dos poderes públicos e das instituições e entidades próprias daqueles Estados, nomeadamente no que toca ao reconhecimento dos direitos dos estrangeiros e à capacidade destes para participarem na vida política interna. No terreno, ganham relevo a acção e a influência das nos-sas representações diplomáticas e consulares, o modo como Portugal e os portugueses conseguem transmitir uma ima-gem de responsabilidade, dignidade e competência. Importa ainda distinguir o que se passa na Europa do que acontece nas outras partes do mundo, isto é, se se trata de uma comunida-

de antiga ou de uma comunidade mais recente. Temos luso-descendentes muito bem colocados em França, no Luxem-burgo, na Bélgica, na Alemanha, nos diferentes domínios da respectiva sociedade, incluindo no exercício de cargos polí-ticos, sobretudo ao nível autárquico. Conheci pessoalmente um português que era ministro da Justiça no Luxemburgo. Em comunidades mais antigas, como as do Brasil e as dos Es-tados Unidos da América, era possível encontrar um número significativo de lusodescendentes que disfrutavam de posi-ções destacadas nos vários níveis de afirmação social, não só nas empresas e em instituições privadas de vária índole, mas também nas universidades e no exercício de elevados cargos políticos. Recordo, a propósito, aquele lusodescendente que tirou o curso de Economia em Portugal e que veio a ser Mi-nistro das Finanças no governo do Curaçau.

OM: Que actividades económicas e que tipos de trabalho pro-curavam os portugueses que emigravam?

CJ: Saltam à vista as diferenças entre as comunidades do continente europeu e as dos outros continentes. E dentro destas, era possível descortinar, de acordo com as respectivas origens, a opção por diferentes tipos de actividade. Ao tem-po, a grande maioria dos portugueses que emigraram para países europeus eram trabalhadores por conta de outrem, nos sectores da construção civil, dos serviços e, menos, na actividade agrícola, e que, na sua grande maioria, tinham no horizonte de vida o desejo de regressar a Portugal. Em Paris, era frequente apanharmos um táxi com motorista português ou irmos a casa de alguém cuja empregada doméstica era de origem portuguesa. Porém, à medida que iam evoluin-do, alguns autonomizaram-se com negócios próprios e até conseguiram criar empresas de apreciável dimensão com excelentes resultados. Fora da Europa, nos outros continen-tes, em países em que quase tudo estava por fazer, onde ha-via grandes extensões para cultivar, a tendência era para os portugueses actuarem por conta própria, quer na agricultura, quer no comércio ou indústria ou na criação de associações de índole social ou filantrópica e, em regra, viam com natu-ralidade permanecer nesses países atá ao fim das suas vidas. Os portugueses originários da Região Autónoma da Madeira dedicavam-se dominantemente a actividades de cariz eco-nómico com fim lucrativo, ao passo que os provenientes da Região Autónoma dos Açores privilegiavam actividades na área social, v.g. a criação de Associações de Socorros Mútuos, cultural e de ensino.No tempo do escudo, as remessas dos não residentes em moeda estrangeira eram muito avultadas e constituíam um valioso contributo para o equilíbrio da nossa balança cambial.

OM: Quais as situações menos agradáveis que teve contacto envolvendo portugueses nos países de acolhimento?

CJ: Para além do que já referi anteriormente, devo salientar que, nas estatísticas da criminalidade atribuída a estrangei-ros, a percentagem imputada a nacionais portuguesas era em regra a mais baixa. Participei num número incontável de reu-

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niões com membros dos governos dos países de acolhimento para tratar de questões relacionadas com os direitos e inte-resses dos portugueses residentes nos respectivos países. Estavam em causa direitos de cidadania, nomeadamente de nacionalidade e de índole política; problemas de inserção dos jovens nos respectivos sistemas de ensino, equivalências, prosseguimento de estudos e oportunidades de aprendiza-gem da língua portuguesa; questões nas áreas laboral, for-mação profissional, direitos sociais, segurança social; coope-ração e intercâmbios relacionados com os lusodescendentes nos domínios do ensino superior, da cultura e da política; re-forço do número de leitorados de português em universida-des estrangeiras. Recordo-me de reuniões com membros dos governos de França, da Alemanha, do Reino Unido, da Suíça, do Luxemburgo, do Brasil, da Venezuela, da África do Sul, de Moçambique, do Zaire, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, da Namíbia, do Zimbabwe, da República Centro Africana, da Suazilândia, da Austrália, da Nova Zelândia, etc.Três situações curiosas que ocorreram no âmbito das relações bilaterais. Na República Centro Africana pedi uma audiência com o Ministro do Interior; a audiência foi marcada para as cinco da manhã. Na audiência com o Governador do Curaçau, este ficou estupefacto quando lhe disse que os portugueses eram cidadãos europeus de pleno direito e que assim deviam ser tratados. Quando, contrariando o protocolo, me encontrei com o Presidente do Instituto Federal do Emprego e não com

o membro competente do governo alemão, aquele, depois de aceder ao meu pedido de um significativo apoio para a for-mação profissional de jovens portugueses, que eu agradeci, disse-me: “Sabe, é a primeira vez que um membro do gover-no português veio falar comigo”. Quando regressei a Lisboa, comentei com o meu chefe de gabinete, diplomata de carrei-ra: “Eu acho que o protocolo é muito importante, mas não deixa de ser instrumental…”.

OM: Qual a sua experiência no contacto com associações ou outro tipo de organizações em que os portugueses se uniam e reuniam?

CJ: Houve algumas situações, sobretudo na Europa, em que, ao princípio, fui recebido com alguma indiferença ou descon-fiança, penso que por motivos de ordem política, mas a regra era ser sempre muito bem recebido, participando e aplau-dindo as actividades artísticas ou lúdicas que realizavam em minha honra. Nos outros continentes, fui sempre muito bem acolhido, nalguns casos com banda de música ou exibições de grupos folclóricos representativos das várias regiões de Portugal, incluindo os Açores e a Madeira. Também manti-ve contacto com outras organizações de portugueses ligadas ao mundo dos negócios, ao ensino, à divulgação da Língua e Cultura Portuguesa, às universidades, às academias, às igre-jas e seus centros paroquiais, ao desporto, e dessa experiên-cia recolhi elementos valiosos para aperfeiçoar e enriquecer o meu trabalho como SECP.Devo, no entanto, acrescentar que uma das questões a que de-diquei maior atenção foi à do associativismo nas Comunida-des Portuguesas. No meu entender, havia associações a mais, sobretudo na Europa, e estas detinham um peso excessivo no contexto das estruturas representativas das Comunidades Portuguesas, o que secundarizava ou impedia a participação de outros extratos relevantes do tecido social de cada comu-nidade, que eu considerava fundamentais para o prossegui-mento dos objectivos políticos definidos pelo Governo por-tuguês para as nossas Comunidades no estrangeiro. Por isso, fiz uma forte aposta no associativismo dos jovens lusodes-cendentes e nos empresários das Comunidades Portuguesa. Assim, patrocinámos a criação da Confederação Mundial dos Empresários das comunidades Portuguesas, que agrupava as associações empresariais já existentes, as câmaras de co-mércio e todas as entidades relevantes do mundo empresa-rial, não só das comunidades, mas também importantes em-presas sediadas em Portugal. Com esta iniciativa, reforçámos o prestígio e influência dos nossos empresários nas socieda-des de acolhimento, intensificou-se a ligação desses empre-sários com a Terra-Mãe e conseguiu-se atrair investimentos para Portugal, além de que, dado o exíguo orçamento da Se-cretaria de Estado, obtivemos ajudas significativas de alguns membros da Confederação em regime de mecenato, através de uma campanha baseada no slogan “os empresários só en-tram na História quando descobrem a cultura”. Quanto ao associativismo jovem, lançámos múltiplas acções

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e projetos durante os meus mandatos que tinham em vista integrá-los mais profundamente nas próprias comuni-dades, motivá-los para darem teste-munho e terem orgulho na sua perten-ça à pátria portuguesa, cativá-los para, através dos seus sucessos, primeiro nos estudos e depois nas suas carreiras pro-fissionais, se sentirem comprometidos com um futuro promissor para as co-munidades portuguesas no seu país de acolhimento. Para além de acções con-cretas levadas a cabo nas Comunidades a que pertenciam, organizávamos to-dos os anos um programa de activida-des em Portugal. A título de exemplo, recordo que demos continuidade ao projeto de «Férias Jovem em Portugal» e às «Classes Transplantadas» e iniciá-mos a realização de cursos de verão e seminários nas escolas e universidades

portuguesas. Criámos condições para a participação dos jovens lusodescen-dentes em actividades promovidas pelo Governo português, como por exemplo o programa de ocupação de tempos li-vres, os campos de trabalho, as férias desportivas ou o programa de ocupação temporária de jovens. Fizemos tudo isso por termos consciência de que a ligação dos jovens lusodescendentes a Portugal é condição sine qua non da perenida-de das Comunidades Portuguesas no Mundo. E prova dessa nossa convicção é o facto de termos concebido o slogan que correu mundo e mantém total ac-tualidade: “Ou ganhamos a juventude, ou perdemos as Comunidades”! Tenho a noção de que, quando deixei a Secre-taria de Estado, havia um pujante asso-ciativismo de jovens lusodescendentes em algumas Comunidades, nomeada-

mente, em França, no Brasil, no Cana-dá, nos EUA e na Venezuela.

OM: Quais as medidas tomadas para que os emigrantes e os lusodescen-dentes, nomeadamente de segunda geração, tivessem acesso em contexto escolar à língua portuguesa?

CJ: Sendo a minha primeira vocação a docência, sempre dei uma particular atenção à questão da aprendizagem do português no estrangeiro, quer nas Co-munidades dos países europeus, quer nas comunidades dos países de outros continentes, e sempre apoiei todas as acções e iniciativas que tinham em vis-ta a defesa e preservação da língua e da cultura Portuguesa no estrangeiro. Mas, tinha ideias claras sobre a maté-ria. Achava, e acho, que a melhor esco-

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la para aprender o português está no ambiente familiar e na convivência com outros portugueses. Que era notável o papel desempenhado pelas associações, pelas escolas públicas ou privadas, pelas igrejas e quaisquer outras instituições onde se falasse a língua-mãe. Mas sempre adverti os pais de que não era possível ter um professor de português para cada crian-ça… Entretanto, os tempos mudaram e hoje as coisas estão muito facilitadas com o recurso ao e-learning, e, porque não dizê-lo, pela possibilidade de os canais de televisão portu-gueses poderem ser vistos praticamente em todo o mundo. Gostaria de referir dois aspectos muito importantes da ac-tividade da SECP. Falo do acolhimento dado aos portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro quando vinham passar as suas férias em Portugal e do seu eventual regresso defini-tivo.O regresso dos portugueses é um fenómeno incontornável, de dimensão variável, por depender da opção dos próprios e que tem a ver com a situação interna dos países de acolhi-mento. São múltiplos os problemas específicos do regresso, mas os mais prementes resumem-se à situação escolar dos filhos, às questões relacionadas com o emprego, para aque-les que o procuram, e com a cobertura das prestações sociais, nomeadamente em matéria de pensões, e à aplicação de poupanças. É responsabilidade dos governos nacionais criar condições adequadas de reinserção. Lamentavelmente, Por-tugal está hoje confrontado com as consequências em ma-téria de retorno decorrentes da trágica situação que se vive na Venezuela, e que tem atingido drasticamente a numerosa comunidade portuguesa lá radicada. À Região Autónoma da Madeira já regressaram cerca de sete mil portugueses. Tem sido enorme o esforço do governo regional e de outros entes públicos e privados e de particulares para acorrer às neces-sidades mais prementes de tão elevado número de pessoas.

OM: Quais as dificuldades da Lei eleitoral à data que se refle-tiam no voto por parte das comunidades, nas diversas elei-ções portuguesas?

CJ: Em Portugal, passa-se uma coisa curiosa: todos os portu-gueses dizem-se democratas e defendem a democracia. Mas, quando se trata de atribuir ou facilitar o exercício do direito de voto, alguns deles, com responsabilidades políticas, só le-vantam dificuldades. É esta atitude que explica a morosidade e os entraves com que os órgãos de soberania têm tratado a matéria do direito de voto dos não residentes. Invocam-se razões de segurança, de transparência nos actos eleitorais, mas o que eu penso é que tais objecções têm origem no medo e no preconceito. No universo eleitoral das comunidades portuguesas, uns pensam que facilitar o voto vai favorecer os habituais vencedores; outros temem que um português oriundo das comunidades portuguesas possa ser eleito Pre-sidente da República; outros pretendem processos eleitorais diferentes, consoante o acto eleitoral em causa, etc.

OM: Em 2018, por proposta do Governo, o Parlamento apro-vou, alterações à lei eleitoral que irão modificar a forma como os portugueses residentes no estrangeiro votam nas eleições

nacionais. Na prática, o que muda para portugueses que vi-vem no estrangeiro, com esta nova Lei eleitoral? Como ex. S.E. e como deputado da emigração, como olha para esta nova Lei eleitoral?

CJ: Essa lei, tendo por objecto as eleições em que os não resi-dentes podem votar – presidenciais, legislativas, europeias, autárquicas e referendos locais -, releva pelas alterações introduzidas no processo atinente ao modo de exercício do direito de voto. Nas eleições presidenciais, o voto terá de ser exercido presencialmente nos consulados; nas legislativas, optou-se por um sistema misto, presencial e por correspon-dência; nas restantes, suponho que voto presencial. A solução que considero mais adequada é a de que nas presidenciais e nas legislativas o modo de votar deve ser igual. Não vejo razão nenhuma para que nas presidenciais não se aplique o sistema misto. Vê-se que aqui o medo e os preconceitos prevaleceram sobre a razoabilidade das soluções. Para quem, como eu, co-nhece a realidade dos países em que se encontram radicadas as Comunidades Portuguesas, sabe muito bem que, em paí-ses de maior dimensão, e para a grande maioria dos votantes, o voto presencial não é possível.Quanto ao voto electrónico, espanta a desconfiança e timidez do legislador em o consagrar, já que, no caso das comunida-des portuguesas, seria a quase solução.Ao longo desta entrevista, falei algumas vezes na primeira pessoa do singular. Porém quero deixar claro que a obra da SECP durante os meus dois mandatos ficou a dever-se a mui-tas pessoas e instituições, públicas e privadas. Começo por destacar, em primeiro lugar, a visão, o apoio e até o entusias-mo com que o Primeiro-Ministro, Prof. Aníbal Cavaco Silva, acolheu e acarinhou as iniciativas emblemáticas levadas a cabo pela minha Secretaria de Estado, fruto da importância que sempre deu às Comunidades Portuguesas no contexto nacional e internacional. Dou especial destaque à Exposição Portugal-Portugal e à criação da Confederação Mundial dos Empresários das Comunidades Portuguesas. Também uma palavra de respeitoso reconhecimento ao então Presidente da República, Dr. Mário Soares, que sempre me incluiu nas comitivas das suas visitas ao estrangeiro, quando estavam programados contactos com comunidades portuguesas. Ainda uma menção à atitude do meu Ministro, Prof. João de Deus Pinheiro, que me deu toda a autonomia para gerir a acção da minha Secretaria de Estado, quer em matéria de Comunidades Portuguesas, quer em matéria de cobertura e protecção consular, sem prejuízo da necessária coordenação com o seu Gabinete. Uma palavra de grande apreço e reco-nhecimento para todos os embaixadores que me ajudaram a dignificar a presença de Portugal no Mundo Universal Por-tuguês. Muito importante o desempenho dos meus quatro chefes de gabinete, todos eles altos funcionários da carreira diplomática, e também o trabalho dos elementos do meu Ga-binete e do Secretariado de Apoio. Imprescindível a devotada cooperação e apoio dos chefes dos postos consulares, dos di-rigentes do IAECP, dos conselheiros sociais junto das nossas embaixadas, dos coordenadores de ensino do português no estrangeiro. Uma palavra final para todos os funcionários dos

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serviços adstritos à SECP e dos postos consulares. Menção honrosa e agrade-cida para todos os que, em nome indi-vidual ou ao nível de empresas, entida-des diversas, instituições, contribuíram para o sucesso desta memorável jorna-da patriótica. Ainda um sincero muito obrigado para aqueles que me esqueci de mencionar.Já que estou em maré de reconhecer a importância de todas as pessoas e en-tidades com quem trabalhei, gostaria de lembrar que foi iniciativa minha a criação da Medalha de Mérito das Co-munidades Portuguesas, nas classes de ouro, prata e cobre, para distinguir as pessoas e instituições que contribuíram para dignificar a presença de Portugal no mundo, através das suas comuni-dades. Por fim, referir que tive a honra e satisfação de impor as insígnias das condecorações atribuídas pelo Presi-dente da República, Dr. Mário Soares, por sua expressa incumbência.

OM: Tem algum episódio que nos quei-ra contar do contacto com a comunida-

de portuguesa da Diáspora no exercício das funções como SECP?

CJ: Como calculará, em cinco anos, muitas coisas podem acontecer. Um dos episódios que é para mim inesquecível, pela lição que ele encerra, aconteceu numa das minhas visitas à comunidade portuguesa de Toronto. Havia um cer-to mal-estar na Comunidade por pro-blemas cuja solução dependia mais do governo do Canadá do que do Governo português, mas, mesmo assim, achei que devíamos dialogar com os portu-gueses que quisessem falar connos-co. Porém, tinha a informação de que estariam presentes alguns advogados portugueses lá residentes, cuja condu-ta para com os seus clientes não seria exemplar. Fiz-me acompanhar nessa visita da Presidente do IAECP, Dra. Rita Gomes, e de alguns técnicos qualifi-cados. A reunião aconteceu numa sala enorme, suponho que de uma casa de espectáculos, e estavam presentes en-tre quinhentos a seiscentos portugue-ses, muitos deles lusodescendentes. Os

advogados apresentavam as questões e eu devolvia as respostas aos técnicos, que estavam muito bem preparados e deram os esclarecimentos adequados. Perante o insidioso comportamento dos causídicos, alertei os portugueses presentes para o facto de estarem a ser explorados por pessoas sem escrúpulos e incompetentes. A grande maioria dos presentes, irritados com o comporta-mento dos que se apresentavam como seus defensores, viraram-se contra eles, manifestando a sua indignação, e acabaram por aplaudir entusiastica-mente a minha intervenção e o trabalho dos técnicos. Os tais advogados, antes da sessão terminar, já tinham saído sorrateiramente da sala.

OM: Deseja fazer alguma saudação es-pecial dirigida aos leitores?CJ: Antes de mais, peço desculpa por al-gum lapso ou omissão que tenha come-tido nas minhas respostas. Já passaram quase 25 anos sobre o período em que exerci as funções de SECP e, por isso, espero que considerem natural algum

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esquecimento ou imprecisão. Mantenho intacto o orgulho que cresceu em mim durante os anos em que fui Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Orgulho e admiração pela forma como os por-tugueses que vivem e trabalham no estrangeiro dignificam a imagem de Portugal nos países que os acolhem e pela forte ligação que procuram manter com a Pátria Portuguesa. Uma palavra muito especial para a martirizada Comunida-de Portuguesa na Venezuela, manifestando o desejo de que

a situação interna se normalize, em paz e prosperidade para todos.É minha intenção publicar um livro sobre a minha expe-riência de governo na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, intitulado “Cinco Anos no Palácio das Necessi-dades”.

OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a honra desta entrevista tão rica, esclarecedora e repleta de história.

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LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA H T T P : / / B I T. LY/ M A N U E L C J E S U S

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D E V E R E I P E D I R U M V I S TO PA R A I M I G R A N T E S E M P R E E N D E D O R E S O U S O L I C I TA R U M S TA RT U P V I S A ?

O presente artigo pretende dar a conhecer o panorama legal migratório para estrangeiros que pretendam em-preender e residir em Portugal, através de uma breve aná-lise comparativa entre o Visto para Imigrantes Empreen-dedores e da inovação legal do Startup Visa.

A presente análise comparativa terá início com o disposto na Lei de Estrangeiros e Fronteiras, Lei n.º 23/2007, de 4 de julho, que contempla, no n.º 2 do artigo 60.º um tipo de visto de residência específico para imigrantes empreen-dedores.

Em primeiro lugar, ressalta-se que Visto para Imigran-tes Empreendedores pressupõe a constituição de uma sociedade comercial em Portugal (unipessoal, por quo-tas ou anónima) antes da submissão do visto. Apesar de a Lei não estabelecer um valor mínimo de investimento, a prática indica que em relação às sociedades comerciais por quotas, para que o pedido de visto seja bem-sucedi-do, deverá constituir-se a sociedade comercial com um capital social mínimo de €5.000,00 (cinco mil euros). De seguida o empreendedor candidato a migrante deverá de-positar, também ainda antes da submissão do pedido de

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D E V E R E I P E D I R U M V I S TO PA R A I M I G R A N T E S E M P R E E N D E D O R E S O U S O L I C I TA R U M S TA RT U P V I S A ?

visto, o montante estipulado de capital social aquando da constituição. Destaca-se ainda que, no caso de serem vários sócios a solicitar o visto de imigrante através de uma só empresa, o inves-timento individual de cada um deverá rondar os já referidos €5.000,00 (cinco mil euros) . Cumpre novamente reforçar de que este valor não decor-re diretamente da Lei. Porém, uma que se trata de um visto fundado em operações de investimento, naturalmente que há a necessidade de demons-trar que o referido investimento foi feito e que é minimamente compatível com a atividade eco-nómica a desenvolver em Portugal. Consequen-temente, o candidato a empreendedor migrante deverá ter plena consciência de que o visto de residência não será concedido caso o valor do in-vestimento seja irrisório ou incompatível com a natureza da atividade empresarial que se propõe a desenvolver.

O pedido de visto de residência para empreende-dores é concedido aos imigrantes que pretendam investir em Portugal, desde que:

A) Tenham efetuado operações de investimento; ouB) Comprovem possuir meios financeiros dispo-níveis em Portugal, incluindo os decorrentes de financiamento obtido junto de instituição finan-ceira em Portugal, e demonstrem, por qualquer meio, a intenção de proceder a uma operação de investimento em território português;

Da leitura da Lei verifica-se assim que a decisão será tomada em função da relevância económi-ca, social, científica, tecnológica, ou cultural do investimento realizado. São assim critérios latos e que deixam um largo espectro de discriciona-riedade ao Decisor. Como tal, por forma a facili-tar a análise por parte dos consulados, sugere-se que este pedido de visto seja acompanhado de um plano de negócios detalhado que explane de forma clara quais os objetivos do investimento, a viabilidade do negócio e a sua potencial relevân-cia económica, social, científica, tecnológica ou cultural para o país.

Acrescenta-se ainda que, com base na nossa ex-periência nesta tipologia de vistos, o facto de o imigrante investidor já ser empreendedor no país de origem é um fator positivo na decisão da concessão do visto.

Em resumo, o Visto de residência para Imigran-tes Empreendedores é um instrumento genérico e adaptável a quase todo o tipo de investimentos comerciais feitos em Portugal, desde que cum-pram os requisitos acima referidos.

Por outro lado, “Startup Visa” é uma inovação recente Lei n.º 102/2017, de 28 de agosto, que in-troduziu um novo regime jurídico de autorização de entrada (por meio da emissão de visto de resi-dência, nos termos do artigo 60.º) e de posterior residência em território nacional para imigran-tes empreendedores.

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Em suma, este novo mecanismo legal tem o intuito de atrair “(...) investimento, designadamente estrangeiro, do estímulo a projetos empreendedores capazes de potenciar a dinâmica na criação de empresas, em particular startups, com novas ideias e modelos de negócio e, ao mesmo tem-po atrair profissionais altamente qualificados, em tudo contribuindo para afirmar sustentadamente um perfil de especialização e internacionalização na economia portu-guesa”. Como suporte deste novo quadro legal existe um regime obrigatório de certificação junto de incubadoras, com vista ao acolhimento de cidadãos estrangeiros em-preendedores, que delineia os requisitos de elegibilidade e a forma/procedimento das candidaturas dos empreende-dores e dos projetos de empreendimento (recomendamos a consulta de informação detalhada e específica direta-mente no portal institucional do IAPMEI). De forma sucinta cumpre transmitir que o visto só poderá ser solicitado depois de cumpridas as seguintes condições: A) aceitação do empreendedor no programa;B) formalização o contrato de incubação;C) emissão da declaração comprovativa por parte do IAPMEI.

O Startup Visa tem assim o foco de pretender atrair em-preendedores ligados às novas tecnologias, devendo a empresa constituída demonstrar o potencial de criação de emprego altamente qualificado que vá para além da em-pregabilidade do próprio empreendedor e que gere um volume de negócios ou um volume de ativos superiores a €325.000,00 (trezentos e vinte e cinco mil euros) após o quinto ano da incubação.

No entanto, apesar das respetivas diferenças já explicadas supra, ambos os pedidos de visto partilham de muitas se-melhanças. Vejamos quais:

A) Análise casuística pelo posto consular competente (a competência dos consulados para é aferida com base na área de residência do requerente);B) prazo de decisão de 60 dias após a submissão de toda a documentação junto consulado competente; C) obtenção de autorização de residência em Portugal que se estende ao respetivo agregado familiar, através de rea-grupamento familiar;D) a primeira autorização de residência é concedida por um ano, que poderá ser renovada por 2 anos e posterior-mente mais 2 anos, até obtenção de autorização de resi-dência permanente (renovável de 5 em 5 anos);E) o investidor não se poderá ausentar de Portugal mais de 6 meses seguidos ou por 8 meses interpolados (a ausên-cia de Território Nacional colocará em risco as renovações subsequentes)

Conclui-se assim a presente análise comparativa do le-que disponível de vistos de empreendedor em Portugal: o Visto de Imigrante Empreendedor é um visto de residên-cia genérico, sem quaisquer restrições de áreas de negó-cio; o Startup Visa trata-se de um tipo de visto mais espe-cífico, intimamente ligado às Tecnologias de Informação e com requisitos mais apertados de retorno do investimento e mais burocrático na sua concessão.

M I G R AÇ Õ E SQ U E R O E M P R E E N D E R E M P O RT U G A L :

D E V E R E I P E D I R U M V I S TO PA R A I M I G R A N T E S E M P R E E N D E D O R E S O U S O L I C I TA R U M S TA RT U P V I S A ?

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

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P E L A D I Á S P O R A J U B I L O L O P E S A F O N S O . A D V O G A D O S U J E I TO À S « L E I S »

D O S D O I S PA R E S D E G É M E O S .

Jubilo Lopes Afonso tem 34 anos, nasceu em Elizabeth, em New Jersey, nos EUA.

Obteve um bacharelato em Ar-tes e Ciências pela Seton Hall University com a distinção de Magna Cum Laude, em 2006, e recebeu o seu Doutoramento de Juris na Seton Hall School of Law em 2009, tendo sido admitido no «Bar» (licença para exercí-cio da Advocacia nos Estados Unidos da América), do estado

de New Jersey em novembro de 2009, exercendo a profissão de advogado.Conta-nos que quando lhe per-guntam o que mais o encanta em Portugal, essa é uma questão muito difícil de responder. A maioria das pessoas, questio-nam-no sobre Portugal como um destino de férias, e assim a sua tendência é a de explicar como Portugal cativa as pes-soas no âmbito de uma pers-petiva turística. Fala-lhes so-

bre as belas praias da Costa da Caparica e da Praia da Rocha, bem como dos campos de gol-fe espalhados por toda a parte. Também uma das coisas que acrescenta e considera mais surpreendentes para um turis-ta é a alta qualidade na oferta da gastronomia portuguesa, pela sua frescura e boa relação preço/qualidade imensamente acessível, o que um facto difí-cil de encontrar na maioria dos destinos de férias.

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P E L A D I Á S P O R A J U B I L O L O P E S A F O N S O . A D V O G A D O S U J E I TO À S « L E I S »

D O S D O I S PA R E S D E G É M E O S .

O que o traz de volta a Portugal todos os anos são duas circunstâncias com-pletamente diferentes. Primeiro é a família, quer a sua, quer a da sua mu-lher; portuguesas e muito importantes para ambos. «Dizem que o lar é onde está o coração e o meu coração é a mi-nha família», explica-nos. O segundo fator que mais me encanta em Por-tugal é a sua história. Enquanto a sua mulher prefere passar os seus dias na praia, Jubilo adora passar as tardes no Rossio, em Lisboa, conhecendo e sa-boreando a história que está por toda a parte assim como a arte de rua dos inúmeros artistas.A sua família é o epítome da família de imigrantes portugueses que veio das partes do Portugal mais rural, das zo-nas mais pobres, nos anos 70, à pro-cura de uma vida melhor. Os seus pais foram para os Estados Unidos sem conhecer a língua, os costumes e sem

ter uma educação formal. O que eles tinham era a vontade de ter sucesso e trabalhar para sustentar a sua famí-lia. Crescendo sem ter muito, apren-deram a economizar e mesmo sem grande instrução tinham consciência do seu valor. Reconhece que os seus pais, passaram-lhe uma forte ética de trabalho e fizeram com que fosse para a escola, por isso é-lhes eternamente grato.Matricularam-no na escola portugue-sa ensinaram-lhe que o Clube Social Português local era um lugar para a família. O Portuguese Instructive So-cial Club em Elizabeth, New Jersey, é o lugar onde conheceu a sua mulher e onde passaram os dois primeiros anos das suas vidas trabalhando juntos na-quele clube, enquanto Jubilo assumia a sua presidência. Estão casados há 8 anos e têm 4 lindos filhos, dois pares de gémeos: 2 meninos de 7 anos e 2

meninas de um ano e meio, circuns-tância não muito comum em Portugal mas mais comum nos Estados Unidos. Contou-nos que em julho do ano pas-sado, quando visitavam Portugal, ho-nestamente, sentiram-se como se es-tivessem em «exibição» para o mundo inteiro ver. Não foram capazes de ir a lugar nenhum sem serem obrigados a parar para uma conversa muito fami-liar. Na verdade, tiveram até um epi-sódio engraçado num restaurante no parque das nações em que lhes pedi-ram uma fotografia, tendo sido muito divertido.Viajam para Portugal religiosamen-te todos os verões para garantir que os seus filhos mantenham uma for-te ligação com a família portuguesa, entendam as suas raízes, e nunca es-queçam as lutas que as pessoas en-frentaram para que possam ter a vida que tem no presente e no futuro.

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P E L A D I Á S P O R A M U N D O L U S Í A D A - B R A S I L

OM: Como, onde e quando nasceu o Mun-do Lusíada?

Odair Sene: O Mundo Lusíada, nasceu justa-mente pela falta de uma media com uma linha editorial mais séria do que as tradicionais da época, que costumam (ainda) cobrir apenas eventos baseados em almoços das associa-ções, muitas das vezes com publicações sem cunho jornalístico e com conteúdos mais

modestos.A nossa publicação teve origem em São Paulo e cresceu a partir de São Paulo, tendo atual-mente assinantes na maioria dos estados do Brasil.O Mundo Lusíada atua no mercado luso-bra-sileiro desde 1 de se-tembro de 1998.Mantém um jornal im-presso quinzenal e o portal: mundolusiada.com.br com mais de 11 mil pá-ginas publicadas.

O nosso maior trunfo entre todos os medias lusófonos, é que esta-mos no maior país de língua portuguesa do mundo com mais de 200 milhões de falan-tes. A grande vanta-gem disso, é que fala-mos o mesmo idioma e por outro lado, o Brasil é o único país do mundo que tem o cidadão português como um irmão e não como um estrangeiro – e isso só aconte-ce no Brasil, onde se

quisermos, podemos saber com precisão quantos portugueses vivem nesta grande nação.

OM: Quais são as prin-cipais temáticas trata-das na edição impressa e na online? Quais os principais traços que as distingue?

Odair Sene: O Mundo Lusíada tem dois com-promissos primordiais: divulgar a cultura portu-guesa promovida pelas

entidades luso-brasi-leiras e também trazer para esta comunidade, os assuntos mais re-levantes de Portugal no momento; além de estar desde o início empenhado na divul-gação da CPLP (Co-munidade dos Países de Língua Portugue-sa) e dos principais destaques dos noti-ciários de Portugal e do Brasil.Pela linha editorial ser tratada com muito cuidado, temos dado

FICHA20.000 leitoresDistribuído em vários EstadosQuinzenalComemora este ano o seu 21º aniversário

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P E L A D I Á S P O R A M U N D O L U S Í A D A - B R A S I L

sempre espaço para as ques-tões políticas e económicas do Brasil e de Portugal. Isso fez-nos ser reconhecidos pelos diversos Governos. Ao longo destas duas décadas já participamos em nume-rosos encontros da comu-nicação social em Lisboa, Porto, nos Açores, e até em Macau.

OM: A Política também é abordada no vosso jornal. Como interpreta os resul-tados das últimas eleições e de que forma antevê o futuro próximo do Brasil?

Odair Sene: A Política sem-pre fez e faz parte de qualquer sociedade, não se vive sem política, e não poderia faltar na nossa publicação. Temos parceria com a Agência Lusa e com a Agência Brasil – em ambas temos o que acontece de mais importante neste uni-verso que mexe com a vida de todos os cidadãos. Quanto às eleições do Brasil eu achei muito importante a mu-dança que o eleitor imprimiu nas urnas. Os eleitores bra-sileiros acabaram com anti-gos “coronéis” que viviam da política há décadas. Também acabaram com a egemonia do Partido dos Trabalhadores que, aliás, segundo a Lava Jato, foi quem liderou o maior es-quema de corrupção da histó-ria mundial, tendo, conforme as investigações, o ex-presi-dente Lula como “mentor”.Essa “lavada” das urnas ali-menta uma esperança de o Brasil voltar a crescer e a dar oportunidade para o cidadão voltar a ser respeitado e valo-

rizado.O futuro do Brasil depende justamente disso, da recupe-ração da economia, bem como do cidadão e dos seus descen-dentes, para que tenha um fu-turo muito promissor.

OM: Acha que o jornal impres-so vai acabar nos próximos anos? O digital já é sustentá-vel?

Odair Sene: Sobre a existência do impresso, é uma pergunta difícil de obter uma resposta. O mundo pergunta isso há cerca de 20 anos. Acho que teremos alguns medias que vão conti-nuar no papel, mas muitos se já não migraram, vão migrar para o digital, sem dúvida. Neste assunto eu ainda pode-ria apostar que muitos jornais considerados “grandes” no Brasil, Europa, Estados Uni-dos, enriqueceram enorme-mente ao longo de décadas, com volumosos subsidios

públicos e, com essas condi-ções também conquistaram fatias importantes nos mer-cados onde atuam. Já nos dias de hoje, os governos estão tendencialmente a parar de “alimentar” este chamado “fogo-amigo” dos grandes media. No Brasil já cortaram voltuosas quantias que antes iam para os grandes jornais, revistas e televisões.Por isso eu acho que tem mui-to media grande empenhado em criar estratégias de sobre-vivência para não morrer an-tes da hora.Por outro lado, o media digital é tão real e ativo que podemos constatar a tendência de ver-mos cada vez menos, matérias longas, textos mais curtos e os vídeos sobressaindo em todas as áreas.Tanto é que atualmente o YouTube já tem mais audiên-cias do que as redes de tele-visão. É por isso vem atraín-do um volume gigantesco de

anunciantes. É a tendência!

OM: Durante estes anos com certeza que surgiram histó-rias de cumplicidade com os vossos leitores. Conte-nos alguma que tenha ficado na memória.

Odair Sene: Acho que todo jor-nal acaba criando cumplicida-de, porque cria “confiança” e depois disso cria longas ami-zades e vem a cumplicidade, sem dúvida. No Mundo Lusía-da acho que o melhor exemplo que eu tenho para dizer, são os vários e vários assinantes, e vários e vários anunciantes que estão connosco no jornal há vinte anos!! Quer maior cumplicidade que isso?

OM: Que futuro ambiciona para o Mundo Lusíada?

Odair Sene: Falando mui-to sinceramente penso que o futuro vai ser estruturar melhor a nossa área digital, que já tem o maior portal de notícias lusófonas do Brasil (e eu não conheço outro por-tal com o mesmo perfil na América Latina) tornando--o a grande referência para o cidadão luso- brasileiro (segundo análise de um jor-nalista da RTP, já somos) – e manter o impresso como um “resumo” do que tem de mais importante no online. Aumentar a receita do digi-tal e assim tirar um pouco o foco do impresso, que será sempre enviado para os as-sinantes, porque, quem as-sina ainda quer ver e pegar no papel.

Odair Sene, fundador e editor do Mundo Lusíada, jornalista responsável pela publicação

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AC A M I L O C A S T E L O B R A N C O

Camilo foi um génio criativo. Inquieto e revoltado escreveu em todos os es-tilos literários. Teve uma infância traumática e uma educação rígida. Nasceu em Lisboa a 16 de março de 1825, na freguesia dos Mártires, num prédio da Rua da Rosa e morreu a um de julho de 1990, em Vila Nova de Famalicão. Ficou órfão de mãe com apenas um ano e de pai com 10 anos. Casou-se vá-rias vezes, a primeira das quais com 16 anos. Foi apaixonado por uma mu-lher (Ana Plácido), casada com outro homem. Mesmo assim conquistou-a e foram presos por adultério. Após uma temporada na prisão, alcançaram a liberdade e casaram-se. Camilo, viveu esse romance até o fim da vida; quan-do, transtornado pela sífilis e a cegueira, cometeu o suicídio. Possuía um hu-mor corrosivo e a sátira corajosa social (ainda atual), era a sua forte marca no combate ao que apontava à sociedade preconceituosa e adversa, aos polí-ticos e a todos que se apresentassem como seus adversários. No espaço de 40 anos, entre 1851 e 1890, Camilo escreveu mais de duzentas e sessenta obras, uma produção superior a seis livros por ano, sendo o escritor português mais publicado de sempre. Escreveu o mais conhecido romance do Romantismo português na prisão: «Amor de perdição», adaptado nos anos setenta ao cinema por Manoel de Oliveira. Entre outros livros podemos citar apenas alguns: A Brazileira de Prazins; A Morgada de Romariz; A Se-reia; A Viúva do Enforcado; Amor de Salvação; Aventuras de Basílio Fernan-des Enxertado; O Esqueleto; Sentimentalismo e História.Escreveu também para jornais: crónicas, críticas, folhetins, novelas e até ro-mances. Sofreu com perseguições no começo da carreira por fazer críticas políticas nos seus textos e acabou em confrontos com alguns poderosos. Foi alvo de violência, o que o fez mudar-se para Porto para tentar Medicina e Direito, cursos que não concluiu, pois, aquilo que o fazia feliz era a escrita.

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Camilo chegou a esta casa em 1861 por amor a Ana Plácido. Aqui escreveu, viveu com a família e aqui pôs fim à vida. Esta casa situa-se em S. Miguel de Seide, em Famalicão e foi transformada num mu-seu e centro de estudos camilianos, que mantém viva a memória do escritor do século XIX. A his-tória desta casa possui todas as características de uma novela romanesca de Camilo Castelo Branco: amor, drama e tragédia. Após um grande incêndio, a casa é reconstruída e inaugurada como museu em 1956. No primeiro piso fica o escritório do escritor

que passou a vida a escrever e encontra-se aber-ta ao público e onde também decorrem exposições regulares. Neste momento «EVOCAR MARIA MOI-SÉS» é uma exposição coletiva com artistas convi-dados a realizar uma obra inspirada nessa novela de Camilo Castelo Branco. Cada criativo utiliza a técnica da sua preferência, através de pintura, es-cultura e fotografia. São 20 os artistas convidados e cada obra é acompanhada de uma memória descri-tiva que permite aos visitantes a relação desta com o livro do escritor.

Horário de visita:

segunda-feira a sexta-feira 09h00 - 17h30sábado e domingo 10h30 - 12h30 e 14h30 - 17h30

Exposição “Evocar Maria Moisés”Termina a 28 de abril de 2019. Aproveite.

A C A S A D E S E I D E

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PA L AV R A AO S I N V E S T I G A D O R E SR E G R E S S O A C A S A : L O S T C A S T L E

A recente publicação em português de Maria e Salazar (2018) pelas Edições Polvo da banda desenhada do autor francês Robin Walter faz transparecer dois aspectos im-portantes: a casa como símbolo; e a significação parado-xal do quotidiano, por um lado, como esfera intimista, privada, de proximidade relacional, e por outro, o que se revela ser, afinal, uma realidade desconhecida e passível de representações estereotipadas. Em Maria e Salazar a venda da casa familiar do autor significava para a família, e mais intensamente para o autor, o facto de ter de se con-frontar com a despedida da sua “deuxième maman”, isto é, ter doravante de aceitar a ausência de Maria. Este mo-mento é desencadeador de questionamento e da vontade de conhecer –para integrar em si – uma história migra-tória que, sendo singular, está inelutavelmente inscrita na história colectiva da emigração portuguesa para França. O autor tomava assim consciência de que, nos trinta anos de partilha do quotidiano, Maria fora o pilar, se bem que in-visível, da sua casa. Quando invocamos a casa enquanto prática e vivência do lugar-pertença temos necessariamente que reconhecer seja na impossibilidade, na negação ou na adiabilidade, os contornos da sua (re)configuração migrante. Quanto à situação de impossibilidade, convoco o trabalho Nowhere is home (2015) de Manaf Halbouni (artista germano-sírio) ao por em cena a vulnerabilidade do que se entende por casa e por pertença. Nesta projecção artística, estabelece-se uma simetria entre a vivência da perda, reiterada por uma impossibilidade de regresso, e a espiral de perdas de direitos até à despossessão. Por seu turno, Claudette Lau-zon (2016) mostra como a partir de um conjunto de obras artísticas, a arte, soube ler e demonstrar como a “casa”, isto é, a perda da casa em consequência de uma expe-riência traumática (guerra, migração, exílio, desempre-go, …) evidencia a vulnerabilidade, a não fixação do que é tido como pertença assim como a fragilidade da estru-tura “casa”, dimensão esta que tende a universalizar-se. Na instalação intitulada Home dislocation (2012) de Marco Godinho, a palavra “Home” é desconstruída tantas as ve-zes quanto aquelas que correspondem ao número de lín-guas que o artista fala (no total cinco). O espaço onde se decompõe a palavra “Home” torna-se um espaço labora-

torial de criação de uma nova linguagem. Trata-se, então, de uma dinâmica de desdobramento, de multiplicidade, de multilugares. No documentário de Joana Frazão e de Raquel Marques, A Casa que eu quero (2010), através da visita acompanhada pelos proprietários a seis casas, somos convidados a en-trar em cada uma delas. Neste exercício voyeurista, assis-timos aos transferts de status social de uma sociedade para a outra. Testemunhamos o contínuo mimetismo do mito da construção da casa, no país dos pais: “é a casa que vi aos dezasseis anos” mesmo se é lá “que a gente se sente mais em casa”, confidencia-nos uma das proprietárias. Constrói-se a casa de sonho cá, porém desfasada dos pro-jetos de vida que se vivem lá. Por fim, entramos, na com-panhia de uma senhora que, em total silêncio, como que a respeitar uma ausência presente, vai abrir, as janelas da casa que se encontra fechada, na companhia, também, de uma criança que brinca com o que encontra nas divisões da casa. Vemos que esta casa não chegou a ser “casa”. Como se a senhora nos mostrasse o que poderia ter sido e nun-ca foi. Uma casa de construção interrompida, inacabada, com traços do fio de nylon nas paredes ainda em tijolo, na qual cada um dos espectadores pode imaginar uma histó-ria de vida. Casa que testemunha, também, o que o reali-zador José Vieira enuncia como “a casa sendo a sepultura da vida” (Le Pays où l’on ne revient jamais, 2005). Casa que demonstra, também, o que Isabelle Faria, em Lost Castle (2006), expõe como elemento fundador quer do projeto migratório quer do regresso: a casa, elemento basilar mas tão frágil quanto um castelo de 26000 cartas.

Sofia AfonsoCICS Nova

Universidade do [email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H O S P I TA L C I V I L D E S . J O S É

Recentemente fiz uma visita ao Hospi-

tal de São José em Lisboa. Levava-me a

vontade de conhecer a Sala da Aula da

Esfera e os painéis azulejares existentes

naquele complexo arquitectónico.

A Dra. Célia Pilão, administradora hos-

pitalar do Património Cultural do Cen-

tro Hospitalar de Lisboa Central, acedeu

ao meu pedido para uma visita isolada

e nada me preparava para o que rece-

bi. Não foi apenas uma visita, foi uma

aula de História da cidade de Lisboa, da

medicina e do ensino científico em Por-

tugal. Sentadas num dos bancos corri-

dos do átrio de entrada do Edifício da

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H O S P I TA L C I V I L D E S . J O S É

Biblioteca do Hospital Civil de São José,

começamos por fazer a rota cronológi-

ca dos Hospitais da Colina de Sant’Ana

. Fomos primeiro transportadas para o

tempo de D. João II, patrono da constru-

ção do Hospital Real de Todos os San-

tos, repositório de todo o conhecimento

médico da altura, instalado no Rossio e

ocupando a área que hoje corresponde à

Praça da Figueira. Este primeiro gran-

de Hospital é formalizado numa planta

de cruz renascentista, organizado se-

gundo os princípios humanistas, com

quatro pátios que separavam em alas as

várias enfermidades terrenas. Em 1775,

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H O S P I TA L C I V I L D E S . J O S É

não alheio ao terramoto, justifica-se a criação de um novo

hospital na Colina de Sant’Ana, local mais arejado e com al-

gumas infraestruturas já existentes. O novo grande hospital

– Hospital Real de S. José - instala-se, assim, no Colégio de

Santo Antão-o-Novo, seguindo o plano em curso de erradi-

cação da Companhia de Jesus e a expulsão dos Jesuítas. Todos

os Santos “Omnium Sanctorum” (OS) estariam agora ao ser-

viço de um só, o rei D. José!

Depois de uma introdução histórica, percorremos os espaços

mais representativos do Hospital de S. José, que perduram

do antigo edifício, projecto do Arq. Baltazar Álvares e Filipe

Terzi do último quartel do séc. XVI. Ainda é perceptível a es-

cala e a monumentalidade daquele equipamento que chegou

a ter uma ocupação de cerca de 2000 noviços. Atravessamos

o antigo refeitório; amplos corredores que davam para as ce-

las, hoje enfermarias; escadarias sempre ornamentadas com

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H O S P I TA L C I V I L D E S . J O S É

painéis de azulejo, onde o desenho em azul sobre fun-

do branco, com temáticas várias, se estruturam numa

composição em perspectiva, emoldurada pela repre-

sentação de elementos da arquitectura clássica. Não

fosse um olhar atento e não teríamos por muito tem-

po e em tão boas condições estes painéis assim como o

importante espólio desta Instituição. Os menos infor-

mados lavavam os painéis de azulejo com água e lixívia.

Os mais desinteressados estariam dispostos a alienar

louças, instrumentos de cirurgia, documentos vários da

história da medicina em Portugal, liteiras e as primeiras

cadeiras de rodas.

Destaco dois espaços emblemáticos que resistiram às

transformações no tempo: a Sacristia e a Sala da Aula da

Esfera.

A Sacristia, o que resta da Igreja de Santo Antão-o-No-

vo que ruiu com o terramoto de 1755, é hoje a capela do

Hospital. Sumptuosamente revestida, na sua totalida-

de, em mármore, deixa antever o que seria a Igreja em

todo o seu esplendor, construída no final do séc. XVII

com o traço do Arq. João Antunes e encomenda de D.

Filipa de Sá. A majestosa entrada para a Sacristia é mar-

cada com um portal, ladeado por duas colunas torsas e

frontão apontado em volutas. O espaço imponente do

interior da sacristia é marcado pela solidez dos tramos,

com janelões e nichos, vincados por pilastras interrom-

pidas por cornija, ora saliente, ora reentrante. A ilusão

do espaço barroco traduz-se aqui precisamente neste

recorte da cornija que estabelece o limite para uma es-

fera celeste figurada na abóbada em caixotões. A luz na-

tural, essa entra directa só de um lado, através de quatro

grandes janelões, reflectindo-se nos quatro janelões

cegos, mas espelhados, da parede oposta. Os embutidos

em mármore de várias cores revestem todos os supor-

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H O S P I TA L C I V I L D E S . J O S É

tes, compondo complexos padrões geométricos, vegetalistas

e até figurativos. Por fim, de um lado e do outro da Sacristia,

a quase todo o comprimento da nave, dois longos arcazes em

madeira de ébano e pau-santo sobre um degrau marcam a

base de todo o mundo terreno.

A Sala da Aula da Esfera, integrada a pedido régio no Colé-

gio de Santo Antão-o-Novo, foi o espaço académico por ex-

celência, na vanguarda do conhecimento Europeu, entre os

séc. XVI e XVIII. Actual Salão Nobre do Hospital de São José,

esta sala ricamente decorada em todo o seu perímetro parie-

tal com um lambril em azulejos, carrega em si a inovação e

o conhecimento, a solenidade de um tempo - o tempo das

navegações ultramarinas. Cada painel de azulejos é alusivo

às temáticas científicas abordadas naquela Sala, desde a en-

genharia militar, náutica, astronomia e cosmografia, óptica,

à geometria e aritmética. O acesso a esta Sala, instalada no

primeiro piso do Edifício da Biblioteca, é feito através de es-

cadaria de aparato, com degraus de pedra única, acesso esse

que era passível de ser feito por alunos externos ao Colégio. O

aparato está nos painéis de azulejo que correm toda a guar-

da da escadaria ilustrando cenas da vida quotidiana, cenas

de caça e batalhas, com figuras de remate que ganham quase

um papel estrutural segurando visualmente o arranque de

um novo lanço da escada monumental. Esta Aula esteve em

funcionamento ininterrupto durante 170 anos, até à expulsão

dos Jesuítas e à transformação do Colégio em hospital.

Até aos dias de hoje, o Hospital Civil de S. José, juntamente

com os antigos conventos convertidos nos hospitais anexos

de Santa Marta, Santo António dos Capuchos, São Lázaro,

Rilhafoles, entre outros, integrados na rede dos Hospitais

Civis de Lisboa (HCL), conservam um legado da história dos

equipamentos assistênciais em Lisboa. Este complexo hos-

pitalar é um pólo vivo que não se esgota no acervo museoló-

gico. Todo o conjunto urbano da Colina de Sant’Ana deve ser

preservado e protegido da especulação imobiliária sob pena

de perdermos a estrutura de uma cidade. Intervir de forma

intrusiva é aqui comparável à adulteração irreparável de um

património que ainda cumpre a função para a qual foi des-

tinado – médico-assistêncial e de difusão do conhecimento

ciêntifico. Saberemos fazer melhor em empreendimentos de

raiz que perdurem assim no tempo?

Recomendo a leitura da comunicação da Dra Célia Pilão – “Os Hos-

pitais da Colina de Sant’Ana” no âmbito do Seminário “Patrimó-

nio Hospitalar de Lisboa: Que futuro?”; 2 e 3 de Dezembro de 2010,

Lisboa, FAUTL/CIAUD; ICOMOS Portugal; CHLC (in http://icomos.

fa.utl.pt/documentos/2010/hospitalar/CeliapilaoColina%20de%20

SantAna%20Uma%20Rota%20Urbana.pdf)

Pilar Abreu e LimaArquitecta

[email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Mercúrio está retrógrado em Peixes (de 5 a 28 de Março) e convida à pausa para um mergulho retrospectivo no oceano dos sonhos por reali-zar. O objectivo é repescar sonhos ainda válidos, mas que precisam de uns ajustes para ganharem vida. Nota a quem se recuse ao mergulho: é na-tural que surjam mal entendidos, desencontros, enganos, avarias, viagens insólitas e perdas de informação até que se digne a parar, fazer silên-cio e sentir o que lhe vai dentro. No dia seis, Urano ingressa em Touro onde tran-sitará até Abril de 2026. Globalmente, os próxi-mos 7 anos poderão trazer mudanças nos as-suntos ligados à energia de Touro:

• Economia – alterações significativas no sis-tema, nas moedas e no conceito de propriedade; descoberta de novos recursos e crescimento de negócios relacionados com bem-estar, prazer, cosmética, segurança, gestão, construção e na-tureza.• Ambiente – acelerado despertar para a sus-tentabilidade, para as questões da liberdade dos animais e para a sintonização com os ritmos na-turais; descobertas científicas ao nível da geolo-gia e da relação Terra-Espaço.• Alimentação – inovação nas tecnologias de produção agrícola e crescente sensibilização para a alimentação saudável e natural.• Biologia – desenvolvimento de órgãos artifi-ciais, invasão do corpo humano por tecnologias de informação e de controlo de massas.• Arte – novos movimentos artísticos que ques-tionam a relação natural-artificial.• Paz – senso de insegurança e instabilidade na definição de territórios.

Março chegou cheio de eventos astrológicos significativos!

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Ao nível individual, Urano em Touro produzirá a instabilidade que nos libertará de falsas formas de segurança e conforto (sejam empregos, rela-cionamentos, crenças, contas, a juventude, entre outros), levando-nos assim a descobrir novos va-lores, novas formas de gerar recursos e melhores prioridades sobre as quais construir um futuro mais harmonioso no qual, em vez de buscarmos compensação material para a desumanização da vida, poderemos viver com maior prazer, em sin-tonia com o corpo e a natureza.

Urano demora 84 anos a dar uma volta ao Zodíaco pelo que poucos de nós estarão vivos na próxima passagem por Touro – se a oportunidade é rara há que aproveitá-la bem e viver os próximos sete anos com máxima consciência.

No dia 20 (ou 21 dependendo da localização geo-gráfica), o Sol ingressa em Carneiro assinalan-do o Equinócio e o início do ano novo astrológico – energeticamente falando o ano só começa em Março, quando o Sol entra no 1º signo do zodíaco.

Uma das propostas deste novo ano é a de domi-narmos melhor os impulsos e encararmos de frente as necessidades de análise, aperfeiçoamen-to e simplificação para dar consistência às peque-nas tarefas de que é feita a grande empreitada que temos em vista e que já estará em fase de constru-ção. No fundo, este ano pede que cada um se as-suma como um mestre de obras na sua vida e que essa obra pessoal e privada esteja alinhada com o projecto de uma humanidade melhor. Deixo, en-tão, aqui, a pergunta: Qual é a tua obra, mestre?

Inês BernardesAstróloga

[email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D EL I V E W I T H E A R T H

Rui Pessoa VasquesPresidente Executivo da Associação

«Live With Earth» [email protected]

A Missão da «Live With Earth »

No ano de 2017 Iniciei um percurso com a Associação Live With Earth, em Torres Vedras, inserido na incubadora “ECO CAMPUS”, associada aos prémios Green Leaf (Capital Europeia de Economia Verde) e ao prémio Green Destinations (Cidade mais sustentável do mundo), com sede na Cadriceira, junto à Serra do Socorro. O percurso iniciou -se com a organização do IFAC 2017 – International Festival of Art and Construction, que deu lugar a uma nova marca nacional, de Portugal ao Mundo, “BUILDING NATURE”, e significa« construindo natureza», que consiste na formação e capacitação para a autossuficiência local, através das melhores práticas e técnicas de permacultura, juntamente com as tecnologias verdes, para gerar modelos de Economia Circular, e com sete módulos de formação, das áreas de atuação: Agricultura Biológica, Construção Natural, Saúde e Bem Estar, Design Social, Tecnologias Verdes e Energias Renováveis, Artesanato, Artes e Educação.A título de exemplo, na área no ECO TURISMO, temos uma oferta variada na região Oeste de Portugal, desde a Serra do Socorro, ao litoral, passando pelos campos. São alguns exemplos: caminhadas na Serra do Socorro e na Serra da Archeira, visitas à maior onda

do mundo na Nazaré, visitas ao maior jardim Zen da Europa no Bombarral, entre outros.Temos também desenvolvido o evento de convergência “ECO CAMP”, no Algarve, Tavira, n’A Quinta. Em março de 2017 realizámos a nossa primeira construção oficial com projeto profissional, organização de formação e coordenação da obra e dos recursos humanos, através dos conhecimentos e meios da associação, em parceria com uma Quinta em Aveiro. Com orgulho, mas também com sentido de responsabilidade, irei ser agraciado com o prémio de reconhecimento global com o nome “Exceptional Leader of Excellence –Designing a Sustainable World Together”, de 22 a 25 de março de 2019, na Conferência Global “Women Economic Forum – Inspiring Passion and Innovation Throught Sustainable Change”, em Tomar, organizado pelo ALL – All Ladies League, o maior movimento global de mulheres empreendedoras e que visam a mudança social, económica e ambiental.Curiosos para saber mais? Espreitem os nossos canais de comunicação!

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç A« P E D R O E A L Í N G U A P O R T U G U E S A »

- Olá Pedro, bom dia. Hoje vamos viajar. Podes pedir companhia de um dicionário de Língua Portu-guesa.- Olá Língua Portuguesa. Vamos lá então fazer essa viagem, vou pedir a um adulto que venha via-jar connosco.- Hoje acordei em Macau. Nes-te local tenho muita história, tradição e cultura e as pessoas falam da minha memória. Há muitos anos, Macau chamava-se A -Má- Gao, porto de A- Má, a Deusa de todas as pessoas li-gadas a atividades do mar, como os pescadores e os marinheiros. Macau é uma península situa-da no sul da China, na Ásia, para onde eu viajei a primeira vez en-tre 1554 e 1957 e por aqui fiquei até hoje. A par do Mandarim e do Chinês também sou uma língua oficial desta região administrativa es-pecial da República Popular da China.

Hoje queria muito que aprendes-ses o significado de uma palavra muito importante para mim: Lusofonia.- O que é a Lusofonia, Língua Portuguesa?- É o conjunto de países onde são muito importantes a cultura e Língua Portuguesa, ou seja, eu própria. Estás a ver porque é uma palavra importante para mim? Desses países fazem parte Por-tugal, Brasil, Angola, Moçambi-que, Goa, Macau, entre outros e neles, mesmo estando longe uns dos outros eu sou uma menina importante: por um lado, sou antiga, pois tenho uma memória enorme e por outro, sou muito viva por ser jovem e estar sempre a crescer. Existem muitas pes-soas que me querem ler, escrever e falar.Para isso conto com meninos e meninas como tu para me rega-rem os pés e assim florir cada vez mais. Nunca te esqueças que sou uma flor. Agora vou brincar um bocadinho na terra. Nos próximos dias te-nho de preparar mais uns tru-ques de magia para te oferecer. Antes de ir brincar, lanço-te um desafio: queres verificar se nes-te texto repeti palavras na mes-ma frase ou parágrafo? Devemos evitar fazer isso. Combinado? Até à próxima, Pedro.- Até à próxima, Língua Portu-guesa.

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OD O U R O S A L I N G : O M A I O R V E L E I R O D E T U R I S M O N O D O U R O

Pedro e José Figueiredo vivem e res-piram o mar por todos os poros. Des-de crianças que se dedicam à prática da vela. De resto, um desporto bas-

tante saudável, não tão dispendioso como se julga e infelizmente não pra-ticado por muitos, num país banhado pelo mar.

Em 2011 decidem dedicar-se ao tu-rismo no Rio Douro, explorando em vertentes inovadoras e criativas um veleiro com quase 11 metros, mas ra-

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pidamente se apercebem necessitar do seu atual veleiro de 51 pés (16 me-tros) que traduz a combinação perfei-ta entre design e conforto. Com o seu deck em teca oferece o espaço sosse-

gado e magnífico para banhos de sol e momentos marcantes de convívio na simplicidade do silêncio e deslizar de um veleiro e a brisa do vento.Assim, no Douro Sailing, recebidos

pelos seus simpáticos e versáteis an-fitriões podemos usufruir de variadas atividades num leque de gostos e va-lores convidativos.

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OD O U R O S A L I N G : O M A I O R V E L E I R O D E T U R I S M O N O D O U R O

Break 2hEsta experiência consiste num passeio de veleiro com duração de 2 horas.- A navegação realiza-se no rio Dou-ro, entre a foz e a Ribeira e, se as con-

dições meteorológicas e marítimas o permitirem, pode estender-se até à praia de Matosinhos.O passeio parte da Douro Marina em Vila Nova de Gaia e termina com o re-

gresso ao mesmo local. A idade míni-ma dos participantes é de 7 anos, to-dos os dias da semana, entre 11h00 às 21H00 dependendo da época e da dis-ponibilidade.

Para esta experiência existem duas opções:Opção 1 - Veleiro não exclusivo.A qual partilhará com outros partici-pantes a bordo (Lotação: mínima: 4

participantes / máxima 10 participan-tes)Inclui: Flute de espumante por pessoa. Opção 2 - Veleiro exclusivo.Esta opção destina-se a um casal ou

grupo de amigos, que serão os únicos participantes a bordo. (Lotação: míni-ma 2 participantes / máxima 12 parti-cipantes). Inclui: Flute de espumante por pessoa.

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Sunset DinnerPasseio de veleiro no final do dia, de cerca de 2 horas, com jan-tar a bordo. A navegação realiza-se no rio Douro, entre a foz e a Ribeira. Partimos da Douro Marina em Vila Nova de Gaia e regressamos ao mesmo local. O jantar terá lugar com o barco fundeado junto ao estuário do Douro.Inclui: Prato + sobremesa + vinho/água (menu a combinar).

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Sunset Dinner & Overnight StayEsta é outra experiência que con-siste num passeio de veleiro no fi-nal do dia, com jantar e dormida a bordo.A navegação realiza-se no rio Dou-ro, entre a foz e a Ribeira. O pas-seio parte da Douro Marina em Vila Nova de Gaia e termina com o regresso ao mesmo local. O jantar terá lugar com o barco fundeado junto ao estuário do Douro.A noite é passada no barco atraca-do na Douro Marina.Esta experiência oferece 2 opções, relativamente à refeição:- Opção “Sunset” - inclui: 10 pe-ças de sushi ou tapas por pessoa e 1 copo de espumante por pessoa + Pequeno Almoço.ou- Opção “Sunset Dinner” - inclui: Jantar (Prato principal + sobre-mesa + vinho/agua, a combinar) + Pequeno Almoço. A Idade míni-ma dos participantes é de 7 anos. (Lotação: mínima 2 participantes/ máxima: 6 participantes). Rea-liza-se todos os dias da semana, dependendo da disponibilidade.

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Overnight Stay Esta experiência consiste numa noite dor-mida a bordo. A noite é passada no barco atracado na Douro Marina. Inclui pequeno almoço. A idade mínima dos participantes é de 7 anos. (Lotação: mínima: 2 partici-pantes / máxima: 4 participantes). A ex-periência pode realizar-se todos os dias da semana, de acordo com a disponibilidade. Bespoke experiencesNesta modalidade, a Douro Sailing final-mente oferece-lhe uma experiência única e acessível feita à medida dos seus desejos. Vamos ao encontro dos seus sonhos.Depois de tantas escolhas apresentadas: a residir no Porto; de passagem; de visita ou de férias (neste mundialmente galardoado destino que é a cidade do Porto) nunca se esqueça desta ótima sugestão.

Pode ainda oferecer a experiência aos seus clientes, parceiros ou colaboradores e também promover reuniões de negócios (Yacht Charter), realizar apresentações de projetos de marketing ou branding, entre outros. Com originalidade no mar/rio e à vela.

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À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AK O R L A I : A A L D E I A D A Í N D I A O N D E A I N D A S E FA L A C R I O U L O P O R T U G U Ê S

A milhares de quilómetros de distância de Portugal, Kor-lai, localizada a cerca de 120 kms de Mumbai (quatro ho-ras de carro), encontramos uma aldeia indiana onde ainda se fala crioulo português, com cerca de 900 descendentes de portugueses.Korlai situa-se perto das ruínas da antiga cidade fortale-za de Chaul construída pelos portugueses no séc. XVI, em 1534. Chaul foi uma das cidades mais relevantes e estraté-gicas do Império Português do Oriente. Em março de 1508, o porto e o mar de Chaul assistiram a uma das mais faladas batalhas navais da presença portuguesa na Ásia: a Batalha de Chaul, que representou a primeira derrota naval por-

tuguesa na Ásia. Uma pequena frota foi surpreendida pela frota islâmica comandada por Mir Hussein e armada por Meliqueaz (Malik Aiyaz), o governante de Diu. Lutava-se pelo domínio dos mares da Índia, entre os por-tugueses recém-chegados e o mercantilismo muçulmano, através do qual as mercadorias do Oriente chegavam à Eu-ropa. Os portugueses foram derrotados, mas em fevereiro de 1509, a armada portuguesa comandada por D. Fran-cisco de Almeida desfez a frota do Samorim de Calecute, arrasou a cidade de Dabul e destruiu a armada islâmica ao largo de Diu, instando o domínio português nos mares da Índia por várias décadas.

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À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AK O R L A I : A A L D E I A D A Í N D I A O N D E A I N D A S E FA L A C R I O U L O P O R T U G U Ê S

Os portugueses começaram a frequentar aquelas águas a partir de 1501. Atualmente podemos ver - no meio da bela floresta - a frondosas ruínas da cidade, as muralhas, as tor-res das igrejas, os arcos das abóbadas de conventos e palá-cios: um espetacular cenário romântico.

Do outro lado do rio, onde se situa Chaul encontra-se uma povoação, Korlai, cuja língua difere de todas as línguas lo-cais. Um linguista romeno estudou a língua e concluiu que se tratava de um dialeto português semelhante ao “papiá cristang” de Malaca e ao de outras localidades indianas.Este dialeto é a língua única deste povo, o que não acontece com muitos outros povos luso-asiáticos que são bilingues.A povoação tem então cerca de 900 falantes desse dialeto

e encontra-se ainda em estudo. O que se pressupõe é que a descendência de Korlai resulta da presença de soldados portugueses que se casaram com as nativas e de um grupo de mulheres de Goa que se casaram com portugueses. Os costumes e tradições que se conhecem indicam essa ori-gem, incluindo a religião cristã, a celebração de variadas festas e o cantar de músicas populares.

Um local a visitar para quem visita a Índia e quer perma-necer a relaxar num bungalow por um fim de semana, quer pela sua beleza ou a aprofundar o estudo da grande herança e descendência portuguesas.

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

Começaram a chegar ao mercado os primeiros vinhos da colheita anterior. O ano de 2018 despertou um misto de sentimentos. A realidade foi dife-rente em várias Regiões Vitivinícolas e Quintas, mas em média houve um conjunto de fenómenos climatéricos que assustou os produtores até à fase crucial das vindimas – onde alguma recuperação se fez sentir. O Inverno foi frio e seco – aliás, uma grande parte do território entrou em seca extrema. A Primavera trouxe chuva em abundância e o míldio di-zimou alguns produtores. O Verão foi tardio. Mas Agosto trouxe dias de calor intenso que, nalguns casos, reduziram

também drasticamente a produção. Quem sobreviveu pôde contar com uma envolvente que a partir daí aju-dou sempre. O ciclo vegetativo come-çou mais tarde, mas o calor de Agosto fez evoluir o processo de maturação. As vindimas voltaram a ser feitas na sua época tradicional: em Setembro e, nalgumas regiões, prolongadas até Outubro. E foram feitas sem chuva, permitindo esperar pelo desenvolvi-mento perfeito das diferentes castas (que têm ciclos próprios).Como resultado, Portugal apresentou genericamente uma quebra de produ-ção assinalável, contrariando a ten-dência mundial. O volume de produ-

ção mundial esperado de mais de 280 milhões de hectolitros de vinho será um dos maiores das últimas décadas, liderado por Itália, França e Espanha. Na Argentina e no Chile o incremen-to da produção atingiu os dois dígitos. Ainda não há dados oficiais defini-tivos, mas ainda assim Portugal de-verá conservar uma posição próxima daquela que tem vindo a ocupar nos últimos anos no ranking de produto-res mundiais: entre o nono e o décimo primeiro maior produtor mundial (e exportador) de vinhos. Mas se a quantidade de vinho pro-duzida foi um problema para muitos produtores, espera-se que a qualidade

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

fique registada como uma das me-lhores da já muito notável década. O equilíbrio entre o álcool, acidez e Ph permitiu trabalhar uvas que exi-gem pouca intervenção. Na maioria das regiões portuguesas os vinhos produzidos são sobretudo elegan-tes. Mas invoca-se também a con-centração e o respeito pelos aromas tradicionais das castas. No vinho do Porto espera-se uma colheita ines-quecível (fala-se em ano Vintage) e há já quem pense em correr a com-

prar os vinhos quando estes che-garem ao mercado. Há frases feitas que também se aplicam ao vinho: a quantidade é inimiga da qualidade. E as videiras puderam apostar tudo nos cachos que resistiram. Em Portugal, os anos seguintes serão com toda a certeza desafiantes para quem trabalha os vinhos no merca-do: um contexto de menor produção faria aumentar os preços no merca-do – o grande desafio que por cá se enfrenta para poder investir mais na

produção e promoção. Mas no con-texto internacional o volume pro-duzido aumentou. Por outro lado, a qualidade dos vinhos que resistiram será notável – o que também pode ajudar a fazer subir preços. Aqui está um desafio interessante para quem trabalha o outro lado do negócio. Esperemos que a marca “Vinhos de Portugal” (responsabilidade de to-dos os agentes envolvidos) aproveite estes desafios para continuar a afir-mar-se no mundo externo.

Pedro GuerreiroGestor

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Como referi na minha apresentação, trabalhei alguns anos em cruzeiros, nos quais aprendi imenso, sendo esse o meu maior objectivo. A vida a bordo é dura para todos, mas quando se é jovem nada custa e tudo se pode transformar em divertimento enquanto se cresce como hu-mano e profissional.Para um português a distância é sempre bas-tante complicada: as saudades da família e amigos. As recordações da cozinha portugue-sas também estão sempre presentes, especial-mente quando estamos mais nostálgicos. O bacalhau português, cozinhado de milhares de formas é um dos pratos portugueses dos quais nos lembramos mais. Como grande apreciador de bacalhau confesso que tinha saudades imen-sas desta iguaria tão nossa e a qual cozinhamos como ninguém. A começar pela sua cura certa e especifica: apenas os portugueses a sabem fa-zer.Realizei vários cruzeiros pelas Caraíbas, diver-sificando as ilhas e havia uma em especial pela qual ansiava: Porto Rico! Um colega italiano ti-nha-me segredado que por lá vendiam bacalhau Português. Como S. Tomé, só acreditei quando vi e cheirei o seu aroma inconfundível.

Sim: era bacalhau, do único para portugueses.

Menu do cruzeiro: «Bacalhau transpirado ao cofre»

Comprei-o logo como quem ganha um presente de Natal inesperado. Levei--o para bordo. Qual frasco de perfume, qual quê? Que fragrância dos Deuses, que se lembraram de mim! Demolhei--o para o saborear cozido com batatas e couve (que não fora penca mas cora-ção). Eis que - de repente - me lembrei que não tinha azeite. A bordo, azeite e caviar eram fechados no cofre. As regras exigiam que se solicitasse ao chefe uma requisição dirigida ao comandante para me ser concedido 1 dl de azeite. Sim: 1 dl, ou seja, 6 colheres de sopa. Tarefa árdua e superada. O resto está na minha me-mória: uma refeição de emoção e ligação

Hernâni ErmidaChef

[email protected]

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

ao mais saboroso e íntimo de ser português.Apenas valorizamos quando não temos! Um produto português de qualidade única no Mundo e que por cá não lhe damos o real valor, muitas vezes é procurado por emigrantes, luso-descendentes e até estrangeiros, que percorrem centenas de quilómetros para o saborear.

Louvado sejas bacalhau, Rei dos peixes dos portugueses

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 57O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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Portugal - França

[email protected]

04 91 47 06 18

www.mclavocats.fr

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 59

I N F O R M AÇ Õ E S L E G A I S

O funcionário destacado é aquele que sai para trabalhar no estrangeiro por conta do seu empregador. O destacamento é necessariamente temporário. Este trabalhador destaca-do mantém o seu contrato de trabalho original com a sua empresa de origem e, portanto, permanece sob a subordi-nação de seu empregador original, embora ele seja envia-do para um país estrangeiro. Sendo assim, o trabalhador permanece sujeito às leis do seu país de origem e continua a beneficiar do regime de segurança social durante o pe-ríodo de destacamento. Portanto, este funcionário man-tém os seus direitos ao nível da segurança social, abono de família e direitos de reforma.

O funcionário expatriado, entretanto, é enviado para o exterior pela sua empresa e no seio de um estabelecimen-to da mesma empresa ou do mesmo grupo no estrangeiro. E, por conseguinte, uma adenda ao seu contrato de traba-lho deve ser assinada com a empresa-mãe e a instituição anfitriã. Deste modo, a expatriação não é necessariamen-te temporária, na verdade não tem duração específica. O funcionário expatriado é adstrito à proteção social do país estrangeiro onde é colocado. Ele então terá os mesmos di-reitos que os trabalhadores deste país, em termos de se-gurança social, abono de família e pensões.

Sob os dois termos que frequentemente são utilizados como sinónimos, verifica-se na realidade dois estados muito diferentes, com consequências significativas para o trabalhador em termos de segurança social, prestações familiares e pensões.

A França recebe 500.000 trabalhadores por ano, os traba-lhadores portugueses destacados representam a primei-ra nacionalidade de trabalhadores destacados em França, com 100.000 trabalhadores. O setor da construção con-centra metade dos funcionários portugueses destacados em França.

No entanto, a França tem dois milhões de trabalhadores expatriados do mundo, por isso metade na Europa, e é a Suíça, que continua a ser o principal destino para expa-triados franceses (200.000 expatriados franceses).Comparativamente, existem apenas 15.000 expatriados franceses em Portugal e algumas centenas de funcionários franceses destacados.

S O B O S D O I S T E R M O S Q U E F R E Q U E N T E M E N T E S Ã O U T I L I Z A D O S C O M O

S I N Ó N I M O S , V E R I F I C A - S E N A R E A L I D A D E D O I S E S T A D O S M U I T O D I F E R E N T E S ,

C O M C O N S E Q U Ê N C I A S S I G N I F I C A T I V A S P A R A O T R A B A L H A D O R E M T E R M O S D E

S E G U R A N Ç A S O C I A L , P R E S T A Ç Õ E S F A M I L I A R E S E P E N S Õ E S .

F U N C I O N Á R I O S D E S TA C A D O S O U F U N C I O N Á R I O S E X PAT R I A D O S : U M A D I F E R E N Ç A S I G N I F I C AT I V A N O E S TAT U TO L E G A L D A P E S S O A

Jorge Mendes ConstanteAdvogado MCL Avocats

[email protected]

04 91 47 06 18

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I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I S

Hoje em dia a internet permite aos ex-patriados portugueses estarem mais próximos do que nunca do seu país.O Estado Português, as Autoridades Tributárias portuguesas (AT) também fazem questão de estar mais perto dos seus contribuintes, quer eles sejam re-sidentes ou não residentes.Para tal a AT, tem vindo a disponibili-zar vários modos de acesso à sua inter-face de ligação aos contribuintes, como exemplo, o Portal das Finanças.Outra possibilidade consiste em ativar a VIA CTT, que na verdade é uma caixa postal eletrónica, onde poderá receber a sua correspondência escrita, as habi-tuais cartas e notificações da AT, sem receio de perder alguma carta, regista-da ou não. Tudo isto à distância de um

clique ou dois….O Sistema Bancário português, no mesmo sentido, também assegura um modo específico para o pagamento de impostos, através de qualquer home-banking de um banco, desde que com presença no sistema bancário portu-guês. Para quem não usa bancos com presença no sistema bancário portu-guês, existe também uma outra so-lução, uma forma de se poder pagar impostos, cujo modus operanti se en-contra descrito no já referido Portal das Finanças.Outra possibilidade de pagamento que o Estado oferece ao expatriado, é a ati-vação do débito direto, que assegura o pagamento de impostos dentro do pra-zo com toda a tranquilidade, mas o úl-

timo grito é o pagamento dos impostos através de uma nova aplicação móvel “Situação Fiscal – Pagamentos”. Apesar do nome da aplicação, esta não facilita somente o pagamento de im-postos e o estado de situação do mes-mo, mas também a consulta de reem-bolsos, processos em execução fiscal, os dados pessoais cadastrais e o acesso ao próprio Portal das Finanças. O modo de acesso a estas aplicações é o mesmo que o modo de acesso do Portal das Fi-nanças.Portanto por mais longe que estejamos do nosso pais, o Estado através da AT tudo faz para estar cada vez mais pró-ximas de nós.Na dúvida mais vale recorrer a um contabilista certificado.

P O R T U G A L A Q U I TÃ O P E R TO … .

Philippe FernandesBusiness Adviser

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