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24 | ÁREA DESTAQUE Arquitetura AsBEA-SC realiza exposição e discute a produção latino-americana Fotos Vicente Schmitt/Divulgação 1 2 4 3 5

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AsBEA-SC realiza exposição e discute a produção latino-americana 24 | ÁREA 4 3 5 F o to s V ic e n te S c h m it t/ D iv u lg a ç ã o ÁREA | 25 26 | ÁREA 2 1 3 4 F o to s D iv u lg a ç ã o DESTAQUE ÁREA | 27 Foto Divulgação

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Arquitetura em debateAsBEA-SC realiza exposição e discute a produção latino-americana

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Os catarinenses puderam conhecer em detalhes os projetos de arquitetura e de

intervenção urbana voltados para o turismo e lazer que integraram a exposição

“Litoral de Santa Catarina – arquitecturas para el ócio”, apresentada na XII

Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em outubro do ano passa-

do. O material fez parte da segunda edição da mostra Destaques das Bienais

realizada pela regional da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura

(AsBEA-SC) em paralelo à Casa Cor SC. Com entrada gratuita, a exposição

ocupou as dependências da sala Lindolfo Bell, no CIC, totalmente reformada

pela entidade e empresas parceiras, doada oficialmente à comunidade no dia

27 de abril, no evento de encerramento da Casa Cor SC.

A mostra Destaque das Bienais reuniu nove exposições de trabalhos des-

tacados nas Bienais Internacionais de Arquitetura de São Paulo e de Buenos

Aires, como o projeto de novo urbanismo da Pedra Branca, em Palhoça; os

novos edifícios culturais da capital paulista; o projeto do edifício de escritórios

Harmonia 57, em São Paulo, do Estúdio Triptyque; e o Centro Cultural Max

Feffer, no interior de São Paulo, da arquiteta Leiko Motomura – estes dois

últimos premiados na Bienal de São Paulo. Nas exposições latino-americanas,

estavam os trabalhos do colombiano Laureano Forero, do chileno Cristian Boza

e do argentino Roberto Converti. A mostra foi idealizada pelo jornalista e crítico

de arquitetura Vicente Wissenbach e pelo vice-presidente da AsBEA-SC, arqui-

teto André Schmitt, também curadores da exposição. A intenção dos dirigentes

da AsBEA-SC é tornar a mostra itinerante, levando-a às principais cidades do

Estado.

Arquitetura em debate1 O arquiteto chileno Cristian Boza explicando projetos nas lâminas da mostra

Destaque das Bienais. 2 Parte do material foi exposto na reitoria da UFSC,

destacando os trabalhos dos participantes do ciclo de palestras. 3 Na abertura

da mostra, o jornalista Vicente Wissenbach e os arquitetos Enrique Cordeyro,

Giovani Bonetti e André Schmitt. 4 Abertura do evento, paralelo à Casa Cor SC.

5 Vicente Wissenbach, curador da exposição, e o arquiteto Enrique Cordeyro.

Na foto acima, a então presidente da FCC, Anita Pires, confere a exposição.

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Em paralelo à mostra Destaque das Bienais, a AsBEA-SC promoveu um ciclo de

palestras com alguns dos profissionais participantes. No dia 25 de março, ar-

quitetos e estudantes reuniram-se no auditório da reitoria da Universidade Fe-

deral de Santa Catarina (UFSC) para ouvir conceitos e conhecer projetos como

os de Roberto Converti, um dos responsáveis pela revitalização de áreas como

os portos de Santa Fé e de Buenos Aires. “O trabalho do urbanista é complexo e

demanda muita paciência, pois o território está em constante evolução”, define

Converti, que hoje desenvolve projeto de urbanização da bacia do Rio da Prata

entre os municípios de Avellaneda e Quilmes, próximo à capital argentina.

Premiado na categoria ‘Revelação da Jovem Geração’ na XII Bienal de

Buenos Aires, Ângelo Bucci apresentou projetos inovadores e que já são refe-

rências internacionais, como a casa de praia suspensa entre a copa de árvores

em Ubatuba (SP); a casa Santa Teresa, no Rio de Janeiro, erguida a 50m do

nível da rua; e uma “Midiateca” projetada para a PUC do Rio de Janeiro (leia

entrevista). “A sustentabilidade começa no projeto, na escolha do local, na

seleção de materiais, com a escolha dos processos construtivos e continua

durante toda a vida útil da edificação”, defendeu a arquiteta Leiko Motomura

em sua palestra. No Centro Cultural Max Feffer, localizado em Pardinho, ela

demonstrou que componentes de baixa tecnologia, como a alvenaria de abobe

reforçada com pneu picado; matérias de demolição, entulho, podem conviver

com materiais de alta tecnologia, como iluminação com Leds e painéis foto-

voltaicos. Também não limitam a criatividade dos arquitetos, como demonstra

a linda cobertura projetada por ela e executada com 1, 3 mil varas de bambu.

Além do prêmio na 8ª BIA, o projeto recebeu certificação LEED Gold, emitida

pelo US Green Building Council (USGBC). O arquiteto David Douek atuou como

consultor no projeto arquitetônico e na execução da obra para a adequação dos

requisitos exigidos para a certificação LEED.

O arquiteto Cristian Boza apresentou projetos como o do Centro da Justiça,

do Chile. À Revista ÁREA falou sobre o terremoto que afetou o País havia um

mês. “O sistema estrutural das construções no Chile é extremamente rigoroso

e é baseado nas normas da Califórnia, criadas há 60 anos, quando nasceu o

concreto armado. Todas as construções erguidas antes da norma foram des-

truídas pelos diversos terremotos”, explica, lembrando que o País sempre re-

gistrou tremores de terra, porém de menor intensidade que este que sacudiu o

Chile em fevereiro deste ano. Segundo ele, algumas questões começam a ser

revistas, mas a mudança mais significativa deverá ser a eliminação de proces-

sos construtivos como alvenaria e adobe (feitos de barro e palha), comuns nas

cidades chilenas. “E sim ao concreto armado, bem calculado”, acrescenta.

Boza ressalta que os profissionais têm percebido o potencial dos contêineres –

material em abundância no País. “Há praias com casas de contêineres de dois

e três pisos que são verdadeiras cidades”, conta. E reconhece: “nos demos

conta que esse contêiner, com as instalações adequadas, porta e janela pode

ser transformado numa casa, extremamente barata”.

Participaram também do ciclo de palestras o arquiteto argentino Enrique

Cordeyro, um dos curadores da Bienal de Buenos Aires, que apresentou tra-

balhos recentes de arquitetura e urbanismo; e o arquiteto André Schmitt, que

falou sobre o projeto para a Baía Sul de Florianópolis e a arquitetura para o

turismo em Santa Catarina.

Ciclo de palestras

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Cordeyro transformou uma estrutura abandonada de boxes

para cavalos de corrida na sede de uma empresa (fotos 1 e

2). Separou os setores gerencial, comercial e administrativo

por dois pátios, que permitem a integração dos jardins.

Nestes trechos, criou rasgos na laje de concreto armado

para aproveitamento a luz natural. Nas demais fotos, o

Centro Cultural Max Feffer, onde Leiko utilizou 1,3 mil varas

de bambu na execução da cobertura.

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Referência da nova geração

Ele representa a nova geração de arquitetos brasileiros. Seu traço expressivo

e elegante carrega as influências do modernismo paulista. Não é à toa. Ângelo

Bucci saiu de Orlândia (SP) para estudar na Faculdade de Arquitetura e Urba-

nismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), a 400 km de distância, e se

tornar uma referência na arquitetura nacional, confirmada pelo prêmio Jovem

Geração de Arquitetos, concedido pela XII Bienal Internacional de Arquitetura

de Buenos Aires em 2009 (BA09).

A Revista ÁREA aproveitou a sua passagem por Florianópolis, como um

dos palestrantes do Ciclo de Palestras Destaques das Bienais, promovido pela

AsBEA-SC, para saber mais sobre o seu trabalho. Na palestra, Bucci falou de

sua trajetória e contou como se tornou um ‘especialista’ em obras a distância.

Uns amigos o convidaram para desenvolver um projeto em Ribeirão Preto (SP).

Desafio aceito, o arquiteto enviou o projeto pelo Correio direto para o mestre

de obras. “Aprendi a ser radical nas ações que eram demandadas na execução

de uma obra”, explicou. A economia de ações traz ganhos como praticidade

durante a obra e controle de custos mais eficiente. Isso explica a escolha e

confiança no concreto, que segundo ele, “é um sistema extremamente desen-

volvido e econômico, com mão-de-obra qualificada”.

Professor convidado de universidades como Harvard e Veneza, Bucci pro-

jetou casas em Portugal e nos Estados Unidos. No Brasil, se destaca a partir

de um olhar contemporâneo para a arquitetura nacional. A casa construída na

encosta do morro Santa Tereza, bairro da área central do Rio de Janeiro, é um

exemplo de desenho de linhas depuradas, de uma obra permeável à paisagem

com vista panorâmica para a cidade. A obra foi exposta na Bienal de Arquitetu-

ra de Buenos Aires juntamente com o projeto da Midiateca da PUC Rio, prevista

para ser concluída em 2011 e que será 100% financiada pela Lei Rouanet. A

aplicação de soluções ecológicas na biblioteca, segundo o arquiteto, garantirá

quatro meses de uso por ano sem a necessidade de ligar o ar condicionado.

Foto Divulgação

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ÁREA – O que representou a premiação na BA09?

Ângelo – Representou muito, aos 46 anos receber um título oficial de juventude (risos)...

A gente vai ganhando mais campos de diálogo para conversar com mais gente. Um

evento deste tipo, com trabalho de um curador, de um júri, tem valor por fazer o papel de

crítico. Coloca na pauta aquilo que aos olhos dessa crítica parece relevante discutir.

ÁREA – Qual foi a obra apresentada na Bienal?

Ângelo – Eu participei muito casualmente da exposição. Eu havia sido convidado pela

organização para fazer uma palestra e, pouco antes, ligaram dizendo que gostariam de

expor projetos meus. Eu mandei dois trabalhos, a Midiateca da PUC no Rio de Janeiro e a

Casa Santa Tereza. Mas o prêmio não mencionava uma obra específica.

ÁREA – Como foi começar fazendo obras a distância?

Ângelo – Tem que confiar na eficiência dos desenhos. É muito circunstancial, é muito de

cada contexto. Já fizemos projetos em muitos lugares, em condições muito diferentes.

O que também me ensinou a apostar na economia de ações. Por exemplo, a primeira

obra que fiz assim era estrutura de concreto, também de madeira, sem marcenaria,

que chegava e colocava vidro sem caixilho e tava pronta a obra. Com quatro ou cinco

ações, você liquida a obra. Não é um problema de minimalismo, de less is more... é

praticidade. De fato, não tem excessos, mas não é por uma questão a priori estética. No

excesso é onde se perde a obra. Por exemplo, casas onde faço a laje de 20cm e quero

fazer um piso de granilite, qualquer mestre vai querer fazer um contrapiso para ficar

plano perfeito, mas eu evito. Eu coloco normalmente granilite com 1cm de espessura

diretamente sobre a laje de concreto. Então, as imperfeições do concreto vão existir no

edifício no final. Se elas não criam um problema técnico, se são imperceptíveis, não há

razão para fazer contrapiso.

ÁREA – É uma questão de resultado estético? De a arquitetura assumir o mate-

rial?

Ângelo – Tudo é uma questão estética. Mas o que informa não é antes o desejo de um

resultado formal; é mais uma compreensão dos trabalhos que estão envolvidos numa

obra. Tudo tem um resultado que é estético e você começa a elaborar a partir dessas

premissas. A aceitação existe e é boa. Acontece um paralelo que é importante: uma obra

feita com poucas ações tem seu controle de custos mais eficiente. Você negocia três

ou quatro coisas grandes, mas não fica catando milho para fazer uma casa. Também

é onde se perde. Imagina fazer uma casa e negociar cada saco de cimento. Tem lá 150

m3 de concreto e é isso que você compra de uma vez. Então, existem vantagens muito

importantes para quem paga a obra. Normalmente, a arquitetura é assim, é um encontro

de interesses, que são do construtor, do arquiteto, do proprietário que devem ser conver-

gentes, trabalhado às claras. O rigor estético numa obra vem da clareza das escolhas,

que é dado pelos critérios de escolhas acertados. Muitas coisas são muito preciosas, as

memórias, as experiências. Você faz uma obra também formada pelo rancor, pode fazer

uma obra comandada pelo medo, mas não acredito que obras assim resultem estetica-

mente no que nós poderíamos desejar.

ÁREA – E quais sentimentos envolvem o seu processo de desenvolvimento dos

projetos?

Ângelo – Todos nós temos desgostos, mas eu procuro não guardar muito esses e valori-

zar mais as coisas positivas que a vida e as pessoas nos passam. Isso dá resultado, não

só para fazer arquitetura, faz diferença no modo de vida.

ÁREA – Você trabalha com o concreto como sistema construtivo. É um resgate dos

princípios da arquitetura moderna?

Ângelo – Duas casas são em concreto, mas uma delas havia sido desenhada em aço,

porque me parecia mais razoável. Acabamos mudando para o concreto por uma razão

muito objetiva: o custo do aço se mostrou desvantajoso, contrariando a nossa expec-

tativa. Não me desagrada, de jeito algum, porque os projetos têm que ter esse sentido

oportuno.

Fui formado num ambiente, estudei num prédio (FAU-USP) desenhado por Artigas (ar-

quiteto João Batista Vilanova Artigas) nos anos 60 todo em concreto. Tudo isso constituiu

aquele acervo que eu tenho para mobilizar e fazer projetos. Mas tem outra razão, que

é muito objetiva, como o caso dessa casa e da biblioteca: a escolha do material, da

técnica é uma resposta sensível ao contexto que você trabalha. O concreto é um sis-

tema extremamente desenvolvido e econômico. A mão-de-obra para concreto no Brasil

é bem qualificada. Então, há razões que são quase de infraestrutura, que faz com que

o concreto armado seja uma opção vantajosa. Quando eu comentei que parte do meu

aprendizado inicial foi moldado por essa experiência de construir a distância, uma das

coisas que me admirava e eu gostava muito de ver, é que a parte das estruturas de

concreto, as execuções eram muito bem feitas, então fui confiando mais nisso porque

eu media pela prática.

ÁREA – Como o concreto se comporta na questão de conforto para as residên-

cias?

Ângelo – Não tenho muitos dados, mas não há segredo. As questões relativas à sus-

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Maquete do projeto da Midiateca da PUC/RJ.

Na página anterior, a famosa Casa Santa Teresa