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Revista Alpha Destaque 03

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Dilma Rousseff

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política

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“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O

que ela quer da gente é coragem”. Este trecho do livro “Gran-de Sertão: Veredas”, do escritor mineiro de Codisburgo João Guimarães Rosa (1908-1967), usado no discurso da posse de sua conterrânea, a presidenta Dilma Rousseff , pode resumir a trajetória dela, apesar de todos os pesares e da discordância ideológica inerente à classe média brasileira, em relação a ela mesma: “coragem” foi o mote de sua vida. Fato.Outro fato que merece ser citado: o uso do termo “presidenta”. Para muitos, graças ao senso comum e à raridade de uso, esse termo pode soar estranho; no entanto, especialistas no idioma luso (com toque brasileiro), como Pasquale Cipro Neto, de-

fendem que o uso do termo fl exionado é aceito (ou seja, tanto “presidente” como “presidenta” são perfeitamente aceitáveis). Outra sumidade que endossa essa tese é Pilar del Rio, traduto-ra, viúva do prêmio Nobel de Literatura José Saramago (autor de, entre outros livros, “Ensaio sobre a cegueira” e “O evange-lho segundo Jesus Cristo”), e presidenta da Fundação José Sa-ramago. Certa vez, durante entrevista ao jornalista português João Céu e Silva, a espanhola havia declarado que “a palavra não existia porque não havia a função, agora que existe a fun-ção, há a palavra. As línguas estão aí para mostrar a realidade e não para esconder de acordo com a ideologia dominante, como aconteceu até agora. Presidenta, porque sou mulher e sou presidenta.” Enfi m, da mesma maneira que acontece com

dilma rousseff,a primeira mulher

a assumir a presidência

da repúblicaPor Amauri Eugênio Jr.

Fotos Divulgação

SIM,SIM,ELA PODEELA PODE

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Pilar del Rio, falemos de Dilma Roussef como “presidenta”.Também tem de ser levada em conta a personalidade resoluta e determinada de Dilma. “O fato de Dilma ser uma mulher durona, em minha opinião, a ajudará muito nas situações mais difíceis. Diante da opinião pública, ela será a mulher que não se dobra, a mulher ‘poderosa’ diante da qual todos se curvam, inclusive os homens”, analisa Cynara Menezes, colunista da revista semanal Carta Capital.Então, companheiros e companheiras, que tal conhecer, de maneira resumida, como foi a trajetória daquela que prometeu ser “a presidenta de todos os brasi-leiros e brasileiras”?

Infância e início da trajetória políticaDilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte. Membro de família de origem búlgara (em âmbito paterno), a então pequena Dilma cresceu no meio da alta sociedade da capital mineira; e, durante o En-sino Médio, que coincidiu com o golpe militar que resultou na instauração da Ditadura, ela fi cou “bem subversiva” (de acordo com ela mesma), ingressou na organização Política Operária (POLOP) - na qual militou ao lado, inclusive, de José Aníbal, expoente do PSDB -; e, por conta dos desdobramentos da Ditadura em solo nacional, ingressou na luta armada, por meio do Comando de Liberta-ção Nacional (COLINA), dissidência da POLOP. Ainda nesta época, Dilma conheceu Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, também integrante da PO-LOP, e casaram-se em 1967. No entanto, por conta da repressão militar contra as atividades da COLINA, Dilma e Galeno tinham de dormir a cada noite em um local diferente, para não serem descobertos, até Galeno ser enviado para Porto Alegre pela própria organização.Também foi neste período que Dilma conheceu o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, chefe da dissidência do PCB (Partido Comunista Brasileiro), por quem se apaixonou (a separação de Dilma e Galeno, por con-sequência, foi pacífi ca; e o ex daquela que viria a se tornar presidenta do Brasil reconheceu que, “naquela situação difícil [luta contra a ditadura], nós não tínha-mos nenhuma perspectiva de formar um casal normal”).Ainda nessa mesma época (em 1969), a dissidência do PCB que Araújo coor-denava, a COLINA e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária, liderada por Carlos Lamarca) se fundiram e se transformaram na Vanguarda Armada Revo-lucionária Palmares (VAR-Palmares), com viés veementemente socialista, que Dilma passou a integrar (vale ressaltar que Dilma era estudante de Economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)).

VAR-Palmares e prisão O papel exercido por Dilma na VAR-Palmares é motivo de discordância entre os seus ex-integrantes. Para a maioria das pessoas que a integrava, Dilma era uma das principais lideranças do grupo (tanto que o delegado Newton Fernandes, que investigava as ações da organização, classifi cou-a como a “Joana D’Arc da

“Venho para abrir portas

para que muitas outras

mulheres, também

possam, no futuro, ser

presidenta; e para que,

no dia de hoje, todas

as brasileiras sintam o

orgulho e a alegria de

ser mulher. “

“Não venho para

enaltecer a minha

biografi a; mas para

glorifi car a vida de cada

mulher brasileira. Meu

compromisso supremo

é honrar as mulheres,

proteger os mais frágeis

e governar para todos!”

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subversão”); no entanto, outros, como Carlos Minc (ex-mi-nistro do Meio Ambiente e também ex-integrante da VAR-Palmares) sustenta que ela não exercia papel de destaque no grupo, assim como não havia participado da maioria das ações com armas (como, por exemplo, do roubo a um cofre perten-cente ao ex-governador paulista Ademar de Barros, reputado pela guerrilha como símbolo da corrupção). Se a participação de Dilma na VAR-Palmares se deu por meio de atuação política ou na luta armada propriamente dita, há inúmeras declarações divergentes sobre; todavia, ela fora presa em janeiro de 1970 por militares e levada ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social, também conhecido como presídio dos órgãos militares), onde sofreu inúmeras sessões de tortura. Após ter sido libertada, no fi nal de 1972, estava com 57kg e com disfunção na tireóide, e ha-via se mudado para Porto Alegre, onde Carlos Araújo cum-pria os últimos meses de sua pena. Ironicamente, o órgão militar que a havia torturado foi o mes-mo que assistiu à posse de Dilma Roussef e, por sinal, ela será a comandante-em-chefe deste mesmo braço armado. “Uma das cenas mais emocionantes da posse de Dilma, para mim, foi ver a tropa perfi lada diante de uma ex-guerrilheira”, comentou Cynara Menezes, sobre a simbologia inerente à cerimônia de posse de Dilma, no que diz respeito às Forças Armadas.

Vida políticaApós o período em que fi cou na prisão, Dilma não poderia retomar o curso de Economia na UFMG, de onde havia sido expulsa por “subversão”; e, por esse motivo, iniciou o curso de Economia na Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou em 1977 (no ano anterior, sua única fi lha, Paula, havia nascido).Após o fi m do bipartidarismo (entre a ARENA, partido de apoio do regime militar, e o MDB - Mobilização Democrático Brasileiro, que era a favor da democratização política), Dilma participou, juntamente de Carlos Araújo e de Leonel Brizola, da fundação do PDT (Partido Democrático Brasileiro); e, após a eleição de Alceu Collares à prefeitura de Porto Alegre, em 1985, ela assumiu a Secretaria Municipal da Fazenda; ao passo em que Carlos Araújo foi deputado estadual de 1982 a 1990.Em 1990, quando Alceu Collares foi eleito governador do RS, Dilma foi indicada para presidenta da Fundação de Economia e Estatística, e fi cou no cargo até 1993, quando foi nomeada Se-cretária de Energias, Minas e Comunicações, ocupado por ela até 1994 – e para o qual Dilma voltou em 1998, com a eleição de Olívio Dutra ao governo gaúcho. Em 2000, a então secretária de Energias, Minas e Comunicação saiu do PDT e fi liou-se ao PT. Após a eleição de Lula ao seu primeiro mandato como presiden-te, no fi nal de 2002, Dilma foi escolhida para comandar a pasta de Minas e Energia (em grande parte, o “peso” de sua escolha se deu por conta de sua gestão à frente da secretaria de mesma

Infância•Filha do advogado búlgaro Pedro Rousseff com Dilma Jane Silva, Dilma Vana Rousseff teve infância e juventude confortáveis em Minas Gerais

Educação•Em 1965, foi matriculada no Colégio Estadual Central, escola pública com forte movimento estudantil (POLOP) contrário ao golpe militar eclodido no ano anterior

Ditadura•Entre o fi nal da década de 60 e o início da década de 70, Dilma lutou contra a ditadura militar, e foi presa

Início•Sua carreira política começou mesmo em meados dos anos 80, no PDT, partido que ela ajudou a fundar. Anos depois, ela integraria o PT e o governo de Lula. Na foto, Dilma no casamento de sua única fi lha, em 2008, ao lado de Lula

Ministério•No governo Lula, Dilma comandou o ministério de Minas e Energia e, em 2005, foi indicada por Lula para assumir a chefi a da Casa Civil

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função no governo gaúcho); e, à frente do Ministério de Minas e Energia, ela havia defendido participação nacional, ao menos, mínima nas compras de plataformas da Petrobras (o que geraria, automaticamente, o aumento de empregos), além de ter propos-to a criação do programa “Luz para todos”, cujo público-alvo era composto por famílias de baixa renda.Em 2005, após o afastamento de José Dirceu da chefia da Casa Civil, em virtude dos escândalos relacionados ao Mensalão, Dil-ma foi escolhida pelo então presidente Lula para se tornar minis-tra-chefe da Casa Civil; e, durante sua gestão, foi uma das “idea-lizadoras” do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento).

Campanha eleitoral e eleição de Dilma como presidentaEm 2010, após o período em que esteve na chefia da Casa Civil, Dilma candidatou-se à presidência da república, em sucessão aos dois mandatos de Lula; no entanto, a campanha eleitoral (es-pecialmente no 2º turno) foi marcada por trocas de farpas com José Serra, candidato do PSDB (boa parte das acusações feitas durante a campanha partiu do lado adversário, e foi veemente-mente noticiada pela grande imprensa). “A mulher forte do go-verno Lula foi transformada de repente numa zero à esquerda cujo único mérito era ser apoiada pelo presidente. Felizmente, a cada dia que passa, este falso estigma está sendo quebrado pela própria atuação da Dilma [à frente da presidência da república]”,

afirmou Cynara, a respeito do teor inerente à campanha eleitoral.Após o teor, digamos, beligerante da campanha eleitoral, Dilma Rousseff foi eleita como a primeira presidenta da república em 31 de outubro de 2010, após derrotar o candidato tucano José Serra no segundo turno das eleições, com 55.752.529 votos.A colunista da Carta Capital também ressaltou a sincronicidade com a qual políticos com histórico de combate a regimes militares também chegaram ao cargo político máximo de seus respectivos países, na América do Sul (como, por exemplo, Michelle Bache-let, no Chile, e José Mujica, no Uruguai). “Acredito que existe uma tendência na América do Sul de retomar o curso de sua história, sua caminhada rumo à esquerda interrompida pelas ditaduras su-cessivas em vários países. Tanto é assim que também, no Uruguai, um ex-guerrilheiro [Mujica] foi eleito. Infelizmente, é mais difícil na Argentina, onde “Dilmas”, “Micheles” e “Mujicas” foram todos assassinados pelos ditadores”, mencionou Cynara.Também é notório que a mulher, por meio de lutas sucessivas pela igualdade de direitos e de oportunidades em sociedades com for-tes características patriarcais, tem conquistado vitórias expressivas; e, dessa maneira, estigmas e padrões até então estabelecidos vêm sendo sistematicamente quebrados, o que pode ser interpretado como amadurecimento da sociedade brasileira, de modo geral. “Como bem disse Dilma, ficou provado que ‘a mulher pode’ tudo, inclusive ser presidenta. Acredito que mais e mais políticas mulhe-res irão surgir no ‘efeito Dilma’”, finalizou Cynara Menezes.

PAC•Caindo cada vez mais nas graças de Lula, o nome de Dilma apareceu facilmente no topo da lista do presidente para sucedê-lo. É dela a responsabilidade de elaboração e execução do PAC, principal bandeira de investimentos do governo

Doença•Depois de superar as reticências dentro do próprio PT e já se consolidando como um nome viável, foi surpreendida, em abril de 2009, com a notícia de que tinha um linfoma. Após sessões de quimioterapia e radioterapia, Dilma recebeu alta em setembro do mesmo ano

Família•Dilma é formada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem uma única filha, Paula Rousseff Araújo. Em 2010, durante a campanha, Paula teve seu primeiro filho

Candidatura•Curada, foi aclamada candidata oficial do PT para concorrer ao Palácio do Planalto na última Convenção Nacional do partido, em fevereiro de 2010

Vitória•Em 31 de outubro de 2010, aos 62 anos, Dilma Rousseff foi eleita presidenta da República, entrando para a história como a primeira mulher a assumir o comando do Palácio do Planalto no Brasil