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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE JORNALISMO ANA CECÍLIA DE SOUSA COSTA MARIANA DE OLIVEIRA CUNHA REVISTA ARTENATIVA: O CENÁRIO MUSICAL CEARENSE CONTEMPORÂNEO FORTALEZA/CE 2014

REVISTA ARTENATIVA: O CENÁRIO MUSICAL CEARENSE … · Nos momentos de mais ... expressar o profundo carinho que eu sinto por estes três anos e meio que eu vivi intensamente na Faculdade

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE JORNALISMO

ANA CECÍLIA DE SOUSA COSTA MARIANA DE OLIVEIRA CUNHA

REVISTA ARTENATIVA: O CENÁRIO MUSICAL CEARENSE

CONTEMPORÂNEO

FORTALEZA/CE

2014

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ANA CECÍLIA DE SOUSA COSTA

MARIANA DE OLIVEIRA CUNHA

REVISTA ARTENATIVA: O CENÁRIO MUSICAL CEARENSE

CONTEMPORÂNEO.

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à

aprovação da Coordenação do Curso de

Jornalismo do Centro de Ensino Superior do

Ceará, como requisito parcial para obtenção

do grau de Graduação, sob orientação da

professora Mara Cristina Barbosa Castro.

Data da aprovação: 30 / 06 / 2014

BANCA EXAMINADORA

Gevan Oliveira da Silva

Professor

Henrique Pereira Rocha

Professor

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Aos nossos pais e familiares

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, de início, o dom da vida que me foi concedida por Deus. A Ele o meu

eterno agradecimento por ter iluminado meu trajeto até aqui. Nos momentos de mais

aflição a igreja foi meu refúgio e minhas orações significaram combustível de

coragem para levantar a cabeça e seguir em frente.

Toda gratidão também aos meus pais, Francisco José Oliveira Costa e Terezinha de

Sousa Costa, por serem as peças fundamentais da minha formação humana. Todos

os meus valores vêm dos exemplos que tenho em casa. Sem eles ao meu lado, não

teria forças para continuar. A eles devo todo o meu amor e respeito.

Sou grata igualmente aos meus demais familiares. Aos meus avós maternos, Cecília

e Sebastião, por serem sempre tão acolhedores e afetuosos comigo. Ao meu irmão,

Rafael Vítor, e à minha cunhada Álida Gomes, agradeço pelo companheirismo e

pelas risadas compartilhadas.

Também gostaria de agradecer, por incrível que pareça, ao meu sobrinho e afilhado

Miguel, de apenas um ano e meio de vida. Afinal, somente ele conseguia tirar de

mim um sorriso nos momentos de forte tensão durante a escrita do TCC.

Um agradecimento especial ao meu namorado, Laurinelson Alves, por me estender

a mão neste momento tão delicado da minha vida, sendo personagem de uma das

matérias e me direcionando em tantas outras com seu conhecimento musical.

Obrigada por você existir.

Um “muito obrigada” a todos os meus professores, pelos ensinamentos e pela

convivência. Principalmente à nossa orientadora Mara Cristina pela imensa ajuda.

Nos momentos de desespero, ela nos fez colocar os pés no chão. Sou grata

também à Zoraia Ferreira, pelas dicas infalíveis, e ao amigo Carlinhos Perdigão,

pelos valiosos conselhos.

A todos os meus amigos, agradeço pela compreensão neste período de ausência.

Principalmente aos meus irmãos do Coral Sobretons, por contemplarem a minha

vida com amizades sinceras e duradouras. Obrigada Tiago, Rony, Juliana, Tábita e

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Diego. Sou grata também ao apoio das minhas amigas do Studio Natália Capistrano,

por serem tão prestativas e amigas.

Pela convivência durante todo o curso, agradeço aos meus colegas da faculdade. E

mais ainda à Mariana Cunha, por ser minha parceira na realização deste trabalho e

por compartilhar do mesmo sonho. Obrigada a todos que contribuíram com a revista,

especialmente aos entrevistados e fotógrafos, ao Thiago Joey - que a diagramou, e

à Brunna Aguiar - que ajudou na impressão.

Ao final, só tenho a dizer que cada uma dessas pessoas teve a sua importância para

construção deste trabalho, e que estarão guardadas para sempre no meu coração.

Que bom ter vocês comigo.

Ana Cecília de Sousa Costa

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AGRADECIMENTOS

A parte mais difícil, mais triste e mais feliz do trabalho, os agradecimentos. Como

adiei esta parte, por não querer fechar um ciclo e saber que ele precisava ser

finalizado. Eu tenho tanto a agradecer, essas linhas nunca serão suficientes para

expressar o profundo carinho que eu sinto por estes três anos e meio que eu vivi

intensamente na Faculdade Cearense.

Agradeço primeiramente aos meus avós, Maria e Eduardo, que são as pessoas que

eu mais amo e sempre cuidaram muito bem de mim e me fizeram o que eu sou hoje.

Agradeço ao meu pai, Francinet, por sempre acreditar e apostar em mim, a quem eu

sempre mostrava os textos e ele dizia que eram muito bons (eu sei que é coisa de

pai, mas é tão importante ouvir isso!). Este trabalho é para vocês!

Agradeço também à Ana, minha ‘boadastra’, por me oferecer cuscuz (minha comida

preferida) mesmo quando a porta do meu quarto indicava “em produção, não

perturbe”. Agradeço à minha mãe, Neném, aos meus irmãos Filipe e Marina, que

estiveram próximos neste período e me deram bons conselhos. Agradeço

igualmente os meus outros irmãos, Castegiane, Claudeane e Rodrigo, pelo apoio.

Também desejo agradecer à minha cunhada e comadre, Gleiciane, uma amiga que

sempre esteve por perto, dando-me força em tudo. E igualmente à minha afilhada

linda Maria Clara, que é o pedaço maior de amor que existe em mim e foi meu

refúgio quando estava sobrecarregada, e aos meus sobrinhos, Lucas Heitor e Ana

Luiza, que são a alegria da família.

Quero agradecer aos meus padrinhos Socorro e Edvar, por estarem ao meu lado

sempre, desde quando ainda nem me entendia por gente. O meu amor e admiração

por vocês é algo que não pode ser colocado em papel, obrigada por tudo. Obrigada

ao Eduardo, por ser meu primo, amigo e fotógrafo. E à Luana, obrigada pelos

convites para sair, pelas conversas e pela amizade que a gente construiu neste

período.

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Agradeço também às minhas amigas Nohara, Mayara e Amabílis, por não me

abandonarem, mesmo quando eu estava estressada e sendo a pessoa mais chata

do mundo. Amo vocês! À Roseanny, por simplesmente acreditar em mim desde a

UECE. Aos amigos que fiz na reta final do curso: Rossana, Miro, Fernando e

Mayara, vocês foram minha alegria e minha válvula de escape quando as coisas

pareciam não dar certo. Ao meu amigo João Lucas, por me dar força e me fazer rir

das besteiras, e assim deixar as coisas parecerem mais leves. Quero agradecer

também, e especialmente, à Ana Cecília, minha companheira nessa caminhada do

TCC. A gente conseguiu! Obrigada!

Aos professores: Carlinhos Perdigão, que tem uma parcela grande de

responsabilidade por eu ter escolhido fazer este trabalho como conclusão de curso,

a quem eu posso hoje chamar de amigo; Camila Mangueira, que me apresentou ao

apaixonante mundo da Semiótica; Jacqueline Holanda, por quem tenho uma

profunda admiração; Aline Virino e Ricarte Jr., por me mostrarem o instigante mundo

do rádio; Luana Amorim, por ter me proporcionado viver - com pessoas maravilhosas

- belos dias na Catavento, onde fiz amizades para a vida inteira - minha Cassilda é

um exemplo! Aqui vai também um agradecimento às lindas Dalu, Lenha,

#MariaÉliasemface e aos professores Gevan e Henrique, por contribuírem com

nosso trabalho final.

Agradeço ainda ao “chefinho” Edmundo, a quem aprendi a admirar e a gostar ainda

mais depois de estagiar ao seu lado no marketing da FaC, e como temos coisas em

comum, não é? Agradeço igualmente ao Thiago, diagramador “chato”, mas que se

garante e que fez tudo com o maior carinho.

Agradeço especialmente à professora Zoraia Nunes, por ter entrado na FaC no

momento certo, e por quem nutro um bem querer tão grande que parece que

conheço de outra vida. Obrigada por ser tão linda e doce comigo, por me incentivar

a alçar voos cada vez mais altos. Parte da minha segurança hoje em dia reside no

apoio que sempre tive dela.

Por fim, agradeço profundamente à professora Mara Cristina, por ter aceitado nos

orientar, pela paciência e disponibilidade com que leu cada linha que ia se

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desenhando nas muitas folhas que escrevemos. Obrigada, de coração! Enfim,

agradeço a todos os entrevistados por contribuírem com o nosso trabalho. Todos

fazem parte da concretização de um sonho. Obrigada!

Mariana Cunha

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como objetivo a construção da Revista ArteNativa, que surgiu com o desejo de valorizar a cultura cearense. Como seu próprio nome sugere, suas matérias fazem referência à arte da nossa terra. Através dos textos, os leitores poderão conhecer o cenário musical fortalezense, sendo apresentado a artistas, grupos musicais e projetos que caminham no mesmo propósito de expandir a cultura local. Nesse sentido, esta pesquisa é um estudo inicial sobre os artistas cearenses contemporâneos que vivem exclusivamente de fazer música. A intenção é aprofundar o conhecimento sobre tal contexto, passando da simples observação para a produção de um material que sirva para despertar novos interesses. O formato ‘revista’ foi escolhido por ser um suporte mais dinâmico e que pode despertar o interesse de leitores diversos, e também por se tratar de um material que apresenta uma linguagem mais simples e não rebuscada, aspecto que poderá facilitar o acesso do leitor em potencial e atingir possivelmente um público mais abrangente. Ao fim e ao cabo, o que se deseja com este trabalho é divulgar a cultura cearense. E sabendo da importância das raízes presentes neste Estado no percurso da arte musical brasileira, será apresentada como reportagem especial a história do “Pessoal do Ceará”. Palavras-chave: Música; Revista; Fortaleza.

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RESUMEN El Fin de Trabajo de Curso (TCC), Revista ArteNativa, surgiu del deseo de valorar la cultura cearense. Como su nombre lo indica, sus materiales de referencia para el arte de nuestra tierra. A través de nuestros textos, los lectores podrán disfrutar de la escena de la música de Fortaleza, se presentan a los artistas, grupos musicales y proyectos que se mueven en la misma forma de expandir la cultura local. Nuestro trabajo es un estudio inicial sobre los músicos contemporáneos cearenses que viven únicamente para hacer música. La intención es profundizar en el conocimiento, a partir de la observación simple de producir un material que sirve para despertar nuevos intereses. El formato revista fue elegido porque es un material más dinámico y puede despertar el interés de los lectores de primer viaje; y, debido a que es un material que aporta un lenguaje más sencillo y no florido, usted puede tener un acceso más fácil llegar a un público más amplio, ya que la promoción de la cultura de Ceará es uno de nuestras motivaciones. El enfoque de nuestros bastones son músicos que están ganando espacio en la ciudad. Pero conociendo la importancia de nuestras raíces, presentada como la historia del informe especial "Pessoal do Ceará." Palabras clave: Música; Revista; Fortaleza.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 FACES DO JORNALISMO .................................................................................... 14

1.1 Jornalismo de revista........................................................................................... 14

1.2 Gêneros jornalísticos ........................................................................................... 17

1.2.1 A Entrevista ...................................................................................................... 17

1.2.2 A Notícia ........................................................................................................... 18

1.2.3 A Reportagem .................................................................................................. 19

1.2.4 O Editorial ......................................................................................................... 20

1.2.5 A Crônica .......................................................................................................... 21

1.2.6 O Artigo ............................................................................................................ 21

1.3 Jornalismo especializado: a segmentação da notícia ......................................... 22

1.4 Jornalismo Cultural ou de Entretenimento?......................................................... 25

2 MÚSICA NO CEARÁ ............................................................................................. 29

2.1 Música Cearense: recorte histórico ..................................................................... 29

2.2 Políticas públicas para a cultura .......................................................................... 33

2.3 Viver de Música ................................................................................................... 38

3 REVISTA ARTENATIVA ........................................................................................ 42

3.1 Projeto editorial ................................................................................................... 42

3.2 Projeto gráfico ..................................................................................................... 44

CONSIDERAÇÕES ................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47

APÊNDICE - PORTRAIT .......................................................................................... 51

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INTRODUÇÃO

O projeto da Revista ArteNativa se justifica, inicialmente, por uma

aproximação com o tema. Seria mais prazeroso falar de algo que já se gostasse.

Lembrou-se, então, que durante o primeiro semestre do curso de Jornalismo as

autoras haviam realizado um trabalho com o professor Carlinhos Perdigão sobre

artistas locais. Nele, era escolhido alguém que trabalhasse com arte e que estivesse

fora da mídia massiva para ser apresentado aos colegas da turma.

Recordou-se que, a partir desse trabalho, pôde-se apreciar uma gama de

produtores e agentes culturais desconhecidos até então, pelo fato de eles não

aparecerem na mídia de massa. A partir daí, afirme-se já nesta introdução que o

objetivo geral deste trabalho é falar da música cearense e da maneira como os

artistas vivem sua arte. Para isso, pensou-se em elaborar um material jornalístico

com pautas voltadas à cultura cearense e, mais especificamente, à música

apresentada, produzida e veiculada neste Estado.

Entre os objetivos específicos, as autoras procuram delimitar os espaços

que estes artistas ocupam em Fortaleza. Assim, através das matérias, intencionou-

se mostrar a visão dos músicos sobre a indústria cultural e sobre os investimentos

para divulgação de seus trabalhos. Entram como pautas na revista os músicos,

compositores, bandas, projetos musicais, etc. E pensando nessa variedade de

agentes musicais, escolheu-se o formato da revista, pois seria essa a melhor opção

para englobar num só veículo de comunicação temáticas variadas de uma forma

leve e eficaz.

Em relação ao relatório: o primeiro capítulo adentra o universo jornalístico.

Nessa perspectiva, o foco está no jornalismo de revista, com justificativas sobre a

escolha em torno da linha de pesquisa. Também há breves conceitos sobre os

gêneros jornalísticos usados no suporte revista. Além disso, são apresentadas

discussões sobre o jornalismo especializado e as divergências entre jornalismo

cultural e de entretenimento.

No segundo capítulo está a música cearense em um recorte sobre a

história dela sendo produzida no Ceará. Fala-se também sobre o investimento do

poder público quanto às políticas destinadas à cultura. E, para finalizar esta etapa,

são relatadas formas como os músicos locais conseguem viver exclusivamente do

fazer artístico.

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O terceiro capítulo apresenta a linha editorial da Revista ArteNativa, com

o seu conteúdo e a justificativa de cada matéria. Outro ponto abordado é o projeto

gráfico, explicando a escolha do design utilizado, as cores, as fontes e a formatação.

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1. FACES DO JORNALISMO

1.1 Jornalismo de revista

Para tratar de música, nada mais oportuno do que se fazer uso de um

formato dinâmico, informativo e que engloba variados gêneros jornalísticos. Foi

escolhida, neste caso, a produção de uma revista. Por meio dela buscou-se

estabelecer um diálogo com os leitores de maneira simples e intimista, tentando

inseri-los no universo musical da revista aqui produzida.

Convém acrescentar ainda que o suporte revista pode ser considerado

como um elo entre o leitor e o jornalista. Aliás, para o editor espanhol Juan Caño,

citado no livro Jornalismo de Revista, de Marília Scalzo (2008, p. 12), revista é como

uma história de amor com o leitor. Segundo ele, como toda relação, essa também é

feita de confiança, credibilidade, expectativas, idealizações, erros, pedidos de

desculpa, acertos, elogios, brigas, reconciliações.

Em tal contexto, a revista termina por ser um formato jornalístico

completo. Ela preenche as lacunas deixadas pelos jornais, rádios e televisão que,

com o tempo, deixam de se aprofundar na informação. “As revistas fazem jornalismo

daquilo que ainda está em evidência nos noticiários, somando a estes pesquisa,

documentação e riqueza textual”. (BOAS, 1996, p.09).

Scalzo (2008) reforça a ideia de que a revista tem uma abordagem mais

densa dos fatos. Além disso, auxilia o leitor em serviços educacionais e de

entretenimento aliados à informação.

As revistas vieram para ajudar na complementação da educação, no aprofundamento de assuntos, na segmentação, no serviço utilitário que podem oferecer a seus leitores. Revista une e funde entretenimento, educação, serviço e interpretação dos acontecimentos. Possui menos informação no sentido clássico (as “notícias quentes”) e mais informação pessoal (aquela que vai ajudar o leitor em seu cotidiano, em sua vida prática). (SCALZO, 2008, p. 14).

O jornalismo, independente do veículo de comunicação em que se

encontre, segue alguns preceitos básicos. De acordo com Alexander Goulart (2006),

esses princípios são comuns em todos os tipos. São eles: veracidade, objetividade,

honestidade, imparcialidade, exatidão e credibilidade. O que diferencia as vertentes

do jornalismo é o fato de cada uma operar através de um meio, atingindo públicos

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de forma específica.

Ainda segundo Goulart (2006), dependendo da recepção, também

existem peculiaridades na produção e emissão dos conteúdos. Isso inclui a pauta,

linguagem, apresentação visual e todo o processo de circulação da informação até

chegar ao destinatário.

Uma das vantagens de se trabalhar com revista é o fato dela oferecer

recursos gráficos para narrar histórias. “Os recursos gráficos permitem uma ação

interativa entre o sujeito e as figuras quando confrontados, sendo possível

apreender como ele se sente e vive.” (MIRANDA et all. 2007).

Fátima Ali (2009) também aponta diversas vantagens no uso do formato

revista. Ela é portátil, fácil de usar e oferece grande quantidade de informação por

um custo pequeno. Além disso, amplia nosso conhecimento.

O texto na revista possui características próprias, diferente dos outros

veículos jornalísticos. Ele difere na informação e na estrutura textual. Scalzo (2008)

reforça essa diferença entre os variados tipos de textos veiculados em suportes

diversos.

Texto de revista é diferente, sim, do texto de jornal, de Internet, de televisão, de livro e de rádio. Principalmente, o texto de uma boa revista. Além de conter informações de qualidade, exclusivas e bem apuradas, o texto de revista precisa de um tempero a mais. Diferente do leitor de jornal, o de revistas espera, além de receber a informação, recebê-la de forma prazerosa. (SCALZO, 2008, p. 76.)

A origem da palavra “revista” vem do inglês “review”, que significa resenha

ou crítica literária. De acordo com Fátima Ali (2009), esse termo era comum em

publicações literárias inglesas, que eram os modelos imitados em todo o mundo nos

séculos 17 e 18. Em outros países como Inglaterra e Estados Unidos, ela é

chamada de “magazine”, pelo fato de apresentar variedade de assuntos.

Scalzo (2008) discorre sobre a evolução das revistas no Brasil. Segundo a

autora, a primeira revista de que se tem conhecimento é “As Variedades ou Ensaios

de Literatura”. Ela surge em Salvador, em 1812, seguindo o modelo de livro. E logo

a seguir, em 1813, surge no Rio de Janeiro a revista O Patriota com o propósito de

divulgar autores e temas nacionais.

Baptista e Abreu (2010), dialogando com Scalzo (2008), explica que o

crescimento e o desenvolvimento da elite propiciaram o surgimento de outros

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periódicos como os Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura, lançada em

1822, também no Rio.

Por sua vez, a primeira publicação segmentada por tema no Brasil foi O

Propagador das Ciências Médicas, lançada em 1827 e editada pela Academia de

Medicina do Rio de Janeiro. Para Scalzo (2008), todas elas, no entanto, possuem

uma particularidade: tiveram existência muito curta, por falta de recursos e de

assinantes, além da tiragem muito baixa.

Sobre o mercado consumidor de revistas, Baptista e Abreu (2010) reforça

que havia interesse por conteúdo voltado para os variados grupos sociais. Esse foi o

marco para o aparecimento de revistas especializadas.

A percepção mercadológica aplicada ao mercado editorial que subdivide os grupos, anteriormente separados por gênero (revistas masculinas e femininas) ou por idade (histórias em quadrinhos infantis ou fotonovelas), que faz surgir revistas especializadas. (Baptista e Abreu, 2010, p.19).

Somente nas décadas de 1960 e 1970, segundo Scalzo (2008), surgem

as publicações ligadas à cultura pop, voltadas para a faixa etária dos jovens. Tais

magazines falam sobre música, comportamento, moda, arte e consumo. Nesse

caso, também houve segmentação para públicos específicos, em vez de se falar

com muitos leitores ao mesmo tempo. Por exemplo, revistas com temática musical

foram divididas por estilos e gêneros.

Aprofundando a temática: o mais antigo periódico de Musicologia do

Brasil foi a Revista Brasileira de Música, criada em 1934 pelo diretor do Instituto

Nacional de Música, Guilherme Fontainha. Segundo o site da instituição, a RBM foi

publicada ininterruptamente até 1944, tendo sido lançados 25 números e em dez

volumes.

O formato revista tem, ao longo do tempo, se desenvolvido neste país.

Assim é que, em 2006, foi lançada a revista Rolling Stone Brasil, pela editora Spring.

Ela é uma versão da renomada revista de mesmo nome, publicada nos Estados

Unidos desde 1967. Em 1972, tal revista havia sido editada de forma independente,

mas foi considerada uma versão "pirata". Atualmente, é uma das principais revistas

de música no Brasil.

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Também inspirada em um periódico americano, em 2009 surgiu a

Billboard Brasil. Ela publica conteúdos sobre música e segue o modelo da revista

Billboard.

A construção desta pesquisa, portanto, está análoga ao formato

legitimado já existente. Dessa forma, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),

será produzida a Revista ArteNativa, seguindo o embasamento jornalístico estudado

e prezando pela qualidade da informação aliada ao conteúdo musical.

1.2 Gêneros jornalísticos

Para compor a Revista ArteNativa, fez-se uso de alguns gêneros

jornalísticos. Dentre eles: a entrevista, a notícia, a reportagem, o editorial, a crônica

e o artigo. A variedade no conteúdo encaixada nesses gêneros está de acordo com

o objetivo da necessidade de difusão da informação.

Na próxima etapa são explicitados e definidos cada gênero e suas

particularidades.

1.2.1 A Entrevista

O repórter, no seu trabalho diário, precisa ouvir constantemente pessoas

que presenciaram fatos importantes ou quem tem algo relevante a ser dito. Para

isso, é aplicada a técnica de se fazer perguntas e saber como prepará-las e formulá-

las. Luis Beltrão, citado no livro Técnicas de Codificação em Jornalismo, de Mário

Erbolato, define a entrevista como “a técnica de obtenção de matéria de interesse

jornalístico, por meio de perguntas a outrem”.

Também citado por Erbolato (2008), Juarez Bahia afirma que na entrevista

os requisitos mais importantes são: a autenticidade e o interesse por parte do

entrevistador. Outro fator relevante é a conveniente identificação do entrevistado ou

das pessoas envolvidas. A entrevista no jornalismo tem uma expressão própria,

particular e especializada. É conhecida também como reportagem provocada, pois

obedece a uma técnica que a torna apta a produzir notícia para o consumo de

massa.

Segundo Erbolato (2008), as entrevistas podem ser classificadas de

acordo com quatro aspectos: 01) Como geradoras de matéria jornalística (de rotina e

18

caracterizadas); 2) Quanto aos entrevistados (individual e de grupos); 3) Quanto aos

entrevistadores (pessoal e coletiva); 4) Quanto ao conteúdo (informativas, opinativas

e ilustrativas ou biográficas).

Quando se fala da classificação pelo conteúdo, Erbolato (2008) afirma

que há também as entrevistas de personalidades, que são aquelas que mostram os

hábitos de uma pessoa e suas ambições, diante de depoimentos. É diferente da

biográfica, que necessita de uma pesquisa aprofundada em arquivos.

Por sua vez, para Lage (2001), quando as fontes são perfis da matéria, há

uma cautela na condução da entrevista:

No caso dos perfis, a mais utilizada para o colhimento de dados será a testemunha. Quase sempre seu relato é cercado por emotividade, mas não necessariamente só quem vivenciou fisicamente um acontecimento irá testemunhar. O cuidado maior é escolher perguntas pertinentes (...). (LAGE, 2001, ps. 63-71).

A entrevista é um gênero jornalístico que requer técnica e capacidade

profissional para se obter êxito. José Nabantino Ramos, citado por Erbolato (2008),

recomenda que o repórter se prepare antes de ela ser realizada. É necessário colher

previamente o máximo de informações sobre o entrevistado; inteirar-se sobre o

assunto a ser abordado e elaborar sugestões de perguntas.

1.2.2 A Notícia

A notícia é a matéria-prima do jornalismo, segundo Amaral

(2008, apud PENA, 2012, p. 70). Ela é o relato de fatos que interessam ao leitor.

Nem tudo que acontece se transforma em notícia, antes de tudo o fato deve ser

relevante.

Nilson Lage (2005) concorda que a notícia é o texto básico do jornalismo,

que expõe algo novo ou desconhecido ao público. Para o autor, as principais

informações são reveladas desde o início do texto por meio do lead, o primeiro

parágrafo da notícia, que situa o receptor do fato no tempo-espaço e formaliza os

elementos ou notações do relato.

Já para Erbolato (2008), é impossível definir o que é a notícia. Segundo

ele, ninguém conseguiu defini-la satisfatoriamente, pois muitos teóricos dizem como

ela deve ser, mas não o que realmente é. Em todas as explicações, pretende-se que

19

haja interesse por parte do leitor sobre os acontecimentos recentes, mas, na prática,

as opiniões e gostos variam.

Ainda segundo Erbolato (2008), a notícia deve ser recente, inédita,

verdadeira e objetiva. Ela quem determina o ritmo de trabalho, impõe horários e

comanda a vida do jornalista.

As notícias podem ser classificadas sob diversos aspectos. De acordo

com Erbolato (2008): quanto aos elementos que as compõem (sintéticas e

analíticas); quanto à ocorrência em si (previsíveis, imprevisíveis e mistas); quanto ao

local da ocorrência (internacionais, nacionais e locais); quanto à oportunidade de

publicação (quentes e frias).

Notícias quentes são comuns em veículos com periodicidade diária, pois

devem ser divulgadas imediatamente e da melhor forma possível. As notícias frias

são aquelas que podem aguardar certo tempo para publicação. Dessa forma, essa

classificação pode ser usada em veículos de periodicidade quinzenal ou mensal.

1.2.3 A Reportagem

A reportagem, de acordo com Nilson Lage (2005, p.139), é o relato

detalhado com base em pesquisas e testemunhos do que antes foi notícia. Segundo

ele, a intensidade, profundidade e autonomia do jornalista no processo de

construção da matéria são, por definição, maiores na reportagem do que na notícia.

Lage (2005) ressalta que o imediatismo, na reportagem, é o fator menos

importante. Segundo ele, “algumas das mais famosas reportagens foram escritas -

ou produzidas - muito tempo depois dos fatos a que se reportam.” Ainda para o

autor, após pesquisas, percebe-se que o gênero tornou-se tão amplo que é capaz de

incluir quase todos os temas de conhecimento e desconhecimentos humanos.

Lage (2005) ainda explica a necessidade humana de se ter explicações

sobre os acontecimentos. Sendo assim, o papel do jornalista se firma também como

compromisso ético, ao reportar informações à sociedade. ”Um dos elementos que

tornam a reportagem mais necessária aos homens contemporâneos é a busca de

explicações ou a adesão às novas habilidades.”

Segundo Felipe Pena (2012), o conceito de reportagem quase sempre é

construído em comparação à notícia. Sendo a reportagem uma notícia mais

ampliada, que exige maior nível de planejamento, um relato mais circunstanciado do

20

fato.

Segundo Amaral,

Não é sem motivo que a reportagem desfruta um lugar especial no conceito dos profissionais da mídia. Trata-se de um gênero completo. O mais apreciado, o mais nobre. Conjuga investigação, interpretação e qualidade de estilo. (Amaral, 2008, p. 45).

1.2.4 O Editorial

O editorial é um texto de opinião curto que reflete o ponto de vista do

veículo de comunicação. Suas pautas são os acontecimentos diários. É por meio

dele que o veículo mostra seu posicionamento diante dos fatos. No editorial, não há

cobrança de imparcialidade ou objetividade.

A imprensa brasileira tem tradição de grandes editorialistas, por tomar

posição de porta-voz e por saber se expressar bem. Amaral (2008) destaca qual

deve ser o perfil desse profissional.

O editorialista pode ser também a voz da moderação. Com um conhecimento maior do dia a dia da cidade e do país, da luta partidária, dos interesses em jogo e dos reclamos da população, desfruta de condições e de um posto privilegiado para esclarecer dúvidas e orientar a conduta dos leitores. Trata-se, geralmente, de um profissional acima da média, experiente, com domínio do idioma suficiente para produzir um discurso claro e preciso, ou de alguém alheio à redação, convidado para escrever sobre determinado assunto. (AMARAL, 2008, p. 97).

Segundo Beltrão (1980), o editorial “tem sempre de tomar partido, pois

sua finalidade é aconselhar e dirigir as opiniões dos leitores. Não se pode reservar:

tem de decidir-se. O jornal está, por essência, comprometido a dizer em voz alta o

que pensa”.

O autor citado acima afirma ainda que o editorial deve ser um estímulo

aos leitores, pois, a partir das primeiras linhas, será norteada toda a leitura do

produto jornalístico.

Este gênero textual tem uma grande importância nos veículos de

comunicação, por ser a opinião a forma de interação entre empresa e leitores,

potencializando o contato. Ele geralmente não é assinado.

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1.2.5 A Crônica

A crônica é um gênero situado entre o jornalismo e a literatura. Ela

consegue se diferenciar dos outros tipos de textos padrões jornalísticos por lidar com

os fatos e com a atualidade, numa relação familiar com os leitores. Para Ferron

(2009), esse gênero é o resultado de uma subjetividade exercida cotidianamente nos

veículos de comunicação.

Ainda segundo Ferron (2009), há dúvidas que dividem escritores,

jornalistas e até mesmo os próprios cronistas, sobre este gênero ser literário ou

jornalístico:

Para alguns, a crônica não se encaixa como notícia – mas ela faz dos fatos seu enredo e das pessoas comuns suas personagens. Para outros, sua linguagem e seu estilo próprios não permitem que ela seja simplesmente jornalismo, seria mais que isso, seria literatura. A que gênero, então, poder-se-ia classificar a crônica? Jornalístico ou literário? (FERRON, JANETE TEREZINHA, 2009).

Para Lemos (2000, p. 5), no Brasil, a evolução do gênero se deu a partir

dos artigos sobre as questões cotidianas publicados no século XIX. Aos poucos,

incorporou características como a leveza, a brevidade, a disposição de divertir sem

preocupação de informar, o humor, a narrativa aparentada à ficção dos contos ou à

exposição, que se aproxima da poesia.

1.2.6 O Artigo

O artigo é um gênero de texto que defende uma tese sobre um tema.

Assim ele, ao ser produzido, expõe sua opinião sobre fatos de grande repercussão

no meio social. O articulista pode ser jornalista, mas também especialistas

convidados para escrever para o jornal.

Para Boff et all (2009), o artigo de opinião desempenha importante papel

na sociedade, pois é um meio de interação entre o autor e os leitores de jornais e

revistas impressas. Com o uso do texto, se estabelece a comunicação, ampliam-se

ideias e pontos de vista, garantindo-se um melhor entendimento da sociedade e,

consequentemente, o aperfeiçoamento das relações que nela se estabelecem.

O artigo de opinião é um gênero textual que se vale da argumentação para

22

analisar, avaliar e responder a uma questão controversa. Ele expõe a opinião de um articulista, que pode ou não ser uma autoridade no assunto abordado. Geralmente, discute um tema atual de ordem social, econômica, política ou cultural, relevante para os leitores. O processo interativo se sustenta pela construção de um ponto de vista. (BOFF; KÖCHE; MARINELLO, 2009, p. 3).

Embora o produtor do artigo se constitua numa autoridade para o que é

dito, muitas vezes ele busca outras vozes para a construção de seu ponto de vista.

Apoia-se ainda nas evidências dos fatos que corroboram a validade do que diz.

Conforme Rodrigues (2007, p.174 apud BOFF et all, 2009, p. 3), nesse gênero,

interessa menos a apresentação dos acontecimentos sociais em si, e mais a sua

análise e a posição do autor.

Bräkling (2000, p. 226-227 apud BOFF et all, 2009, p.3) define o artigo de

opinião como um gênero discursivo. Através dele, se busca convencer o leitor sobre

determinada ideia, influenciando-o e transformando seus valores por meio da

argumentação a favor de uma posição, e de refutação de possíveis opiniões

divergentes.

1.3 Jornalismo especializado: a segmentação da notícia

O jornalismo tem sua origem ligada à necessidade de falar o mundo, falar

o outro, falar ao outro; da atração pela novidade, pelo instante. O jornalismo faz

parte do “dizer social” e, nessa lógica, ele aparece como uma espécie de interlocutor

social, mediando os discursos entre acontecimentos e sociedade. Segundo Vera

França (1988, apud TAVARES, 2007), o jornalismo opera como um dizer

especializado, cujos discursos são resultados de um procedimento de produção

intimamente ligado aos processos e práticas sociais que o envolvem.

Antes de adentrar no mundo do jornalismo especializado, vale ressaltar o

significado da palavra ‘segmentação’, pois os termos estão intrinsicamente

relacionados. Nos dicionários, a palavra denota ‘ato ou efeito de segmentar’, ou seja,

dividir em segmentos, sendo estes ‘uma porção de um todo, bem destacada e

delimitada de um conjunto’. (Aurélio, 1975: 1281). A definição, embora seja simples,

esclarece sobre as escolhas das empresas de comunicação (especificamente os

jornais diários) pelos suplementos, uma segmentação do trabalho jornalístico

(CARVALHO, 2007).

23

Para Habermas (1984, apud CARVALHO, 2007), por motivações

mercantilistas, os donos de jornais passaram a conceber os leitores como meros

consumidores e as notícias como um simples produto, ainda no estágio inicial dos

impressos. Na busca para se adequar cada vez mais a esse público

leitor/consumidor e obter lucro, os empresários do ramo da comunicação criaram os

suplementos, que falavam basicamente de economia, agricultura, vida social e

noticias internacionais.

As estratégias de marketing com foco no lucro passaram a ser priorizadas

a partir do século XX, com o descobrimento do linótipo1 pelos jornais de Paris e

Londres. Essa invenção aumentou a tiragem de três mil para 100 mil exemplares.

Porém, a população à época lia pouco e com dificuldade. Assim, a solução foi

modificar a forma de apresentação das informações. Os jornais passaram a ter

novos cortes, títulos mais atraentes e tipos de letras modificadas. (CARVALHO,

2007).

É dessa época o processo de “revistalização”, termo usado por Alberto

Dines (apud CARVALHO, 2007), para designar o processo de aproximação do

jornalismo impresso com as revistas. O sistema foi implantado pelo Jornal do Brasil

em 1963, e consistia, de acordo com Dines, não apenas no resgate da memória,

mas no aprofundamento da notícia. Data desse mesmo período as primeiras

coberturas especializadas.

De acordo com Carvalho (2007), a segmentação da informação, na

contemporaneidade, possibilitada pelos suplementos, é uma das estratégias dos

jornais para concorrer com a Internet e a TV (fechada).

A “revistalização (Dines, 1996:70)” que apareceu nos jornais no auge da TV é ressuscitada numa versão ainda mais próxima das revistas, misturando o factual cotidiano ao jornalismo esmerado do informativo semanal. Assim, os suplementos deixam de ser efêmeros, menos descartáveis do que o próprio jornal que lhes dá sustentação e passam à transcendentalidade (CARVALHO, 2007).

Para Marcondes Filho (2000, apud PENA, 2007), o foco do jornalismo no

público-alvo identificou fragmentações de interesses, caracterizando uma população

não mais composta apenas por homens e mulheres, mas determinada por idades,

1 Linótipo: máquina inventada por Ottmar Mergenthaler na segunda metade do século XIX, para compor e fundir os caracteres de imprensa às linhas, tornando o processo de impressão mais rápido e barato.

24

profissões, cidades grandes ou pequenas etc. Os jornais passaram a ir contra a

corrente da “indústria cultural” e produziram materiais específicos para o seu público,

agora fragmentado.

Embora os jornais tenham se aproximado do leitor, as revistas, como

ressalta Scalzo, cobrem funções culturais mais complexas que a simples divulgação

de notícias. Segunda a autora, elas “entretêm, trazem análise, reflexão,

concentração e experiência de leitura” (SCLAZO, 2004, p. 13). Há, nas revistas,

independente da sua periodicidade, uma forma específica de enunciação.

Pode ser encontrada nas revistas uma nova maneira de ver a realidade e,

ao mesmo tempo, uma sensibilidade própria para falar desta. A vocação histórica da

revista, de acordo com Scalzo (2004), não é propriamente noticiosa, mas sim a do

tratamento de duas temáticas: a da educação e a do entretenimento. Para ela, as

revistas ganham destaque por cumprir a função de ajudar na complementação da

educação, no oferecimento de certos serviços a seus leitores, no aprofundamento de

assuntos, na segmentação e na interpretação de acontecimentos.

Para se pensar em trabalhar com jornalismo especializado é necessário,

de acordo com Tavares (2011), buscar um consenso sobre três manifestações

empíricas referentes às suas especializações, a saber:

1) A especialização pode estar associada a meios de comunicação específicos (jornalismo televisivo, radiofônico, ciberjornalismo etc), 2) a temas (jornalismo econômico, ambiental, esportivo etc), ou pode estar associada 3) aos produtos resultantes da junção de ambos (jornalismo esportivo radiofônico, jornalismo cultural impresso etc). Cada uma dessas materializações solicita investigações e normatizações singulares, o que cria uma dificuldade para se pensar, epistemologicamente, o cenário mais amplo da especialização no jornalismo (TAVARES, 2011).

Diante desse contexto e ciente do desafio de se trabalhar com jornalismo

especializado, a Revista ArteNativa pretende construir um produto jornalístico que

trate de assuntos relacionados à cultura e ao cotidiano fortalezenses, entretanto com

aprofundamento. A primeira edição é dedicada a expor a pluralidade musical

cearense, para tanto o trabalho é referendado através do jornalismo cultural.

25

1.4 Jornalismo Cultural ou de Entretenimento?

Não há consenso quanto à data de início do jornalismo no mundo.

Segundo Pena (2007), para muitos pesquisadores, ele começa juntamente com a

primeira comunicação humana, ainda na pré-história. Por sua vez, na área cultural

há também incerteza quanto ao seu período de entrada. Piza (2003) data o ano de

1711 como marco dos princípios do jornalismo cultural, mesmo ano em que dois

ensaístas ingleses, Richard Steele e Joseph Addison fundaram a revista diária The

Spectador. O periódico tinha o intuito de levar a Filosofia para clubes, casas de chá

e cafés, retirando-a do habitat natural: gabinetes, bibliotecas, escolas e faculdades.

Ao contrário de países como Inglaterra, o jornalismo no Brasil, segundo

Barbosa (2013), chegaria apenas no século XIX, com a mudança da Família Real e

da Corte de Portugal para o Brasil. Foi em 10 de setembro de 1808 que saiu da

tipografia a impressão do primeiro jornal, Gazeta do Rio de Janeiro, que ao longo de

seus 14 anos de existência publicou 1.763 edições.

Outro impresso importante no início do século XIX foi o jornal literário O

Patriota. Editado entre 1813 e 1824 no Rio de Janeiro e publicado na Bahia, trazia

questões culturais, políticas e mercantil. Para Morel (apud BARBOSA, 2013) este

jornal era “uma publicação cultural típica das monarquias absolutistas, na qual os

que redigiam estavam imersos nestas conjunturas de crise, mudança, ambiguidades

e transformações”. O perfil de quem escrevia para jornal naquela época era bem

definido, teriam que ser intelectuais e, como revela França (apud BARBOSA, 2013),

deveriam encarar “o fazer literário como uma espécie de missão civilizadora, de

ação transformadora do meio social”.

De acordo com Piza (2003), o jornalismo cultural no Brasil só ganharia

força no final do século XIX quando Machado de Assis, um dos mais expoentes

escritores nacionais, inicia sua carreira como crítico de teatro e polemista literário.

Antes disso, o autor brasileiro já escrevia ensaios semanais e resenhas. José

Veríssimo também marcou história na crítica brasileira, ele foi editor da Revista

Brasileira, fundada em julho de 1855, além de ensaísta e historiador de literatura.

Ainda no século XIX o jornalismo começou a mudar sua relação com o

leitor. O estilo da crítica cultural, até então feita em periódicos, também estava em

26

transição. O Caso Dreyfus2, que levou o francês Émile Zola (1840-1902), importante

crítico de arte e literatura, à prisão; e o caso do irlandês George Bernard Shaw

(1856-1950)34 tiveram sucesso em publicações que misturavam polêmicas, política,

observação social e análise estética. Nessa perspectiva, tornaram-se marcos para a

presença social adquirida pela imprensa naquela época, além de criar um novo

modelo cultural. (PIZA, 2003).

A partir de então as críticas de arte saíram da “zona de conforto” (Piza,

2003) e passaram a ser lançadas na arena social, trazendo novos questionamentos

e exigindo cada vez mais comprometimento e interesse com as questões sociais,

por parte dos críticos, que agora tinham de lidar com ideias e realidades, não

apenas com formas e fantasias.

Já no final do século XIX foram desenvolvidas novas formas de se fazer

jornalismo cultural, além da crítica de arte, como a reportagem e a entrevista. Além

disso, as revistas tiveram papel fundamental para a permanência e desenvolvimento

do jornalismo cultural, contendo ensaios, críticas, resenhas, reportagens, perfis e

entrevistas, entre outros. (PIZA, 2003).

O jornalismo cultural brasileiro passou por diversas transformações desde

seu marco inicial. Cunha, Ferreira e Magalhães (2002) ressaltam o conflito vivido

pelo jornalismo cultural contemporâneo:

O jornalismo cultural (JC) brasileiro vive um curioso paradoxo neste início de século XXI. Por um lado, vários jornais da chamada grande imprensa estão investindo em suplementos culturais semanais, geralmente privilegiando a reflexão e as produções artísticas de menor apelo comercial ou midiático. [...] Por outro lado, os cadernos culturais publicados diariamente enfrentam uma série de impasses, resultantes das próprias rotinas produtivas, da relação conflituosa com a Indústria Cultural ou mesmo de mudanças relativas à própria conceituação da função e dos objetivos do que seja JC (CUNHA; FERREIRA; MAGALHÃES, 2002, p. 2).

Para Gadini (2007), na cobertura jornalística de cultura no Brasil

contemporâneo, há uma tendência cada vez mais crescente de transformação do

2 O famoso Caso Dreyfus aconteceu na França, no final do século XIX, quando o tenente judeu Dreyfus foi acusado de traição. Em 13 de janeiro de 1898, o popular romancista naturalista Émile Zola, crítico de arte e literatura, saiu em defesa de Dreyfus numa carta aberta ao presidente da França sob o título “eu acuso”. Esse momento levou Zola à prisão, mas também obrigou o caso a ser revisto, e a inocência do tenente foi provada. 3 Depois de um início fracassado de carreira como romancista e antes do sucesso mundial como dramaturgo, Shaw foi sucessivamente crítico de arte, teatro, literatura e música. Sua coluna semanal misturava várias temáticas e era discutida em toda a Inglaterra.

27

campo cultural em entretenimento, “que, não por acaso, significa diversão e

passatempo”. Ainda segundo o autor, é sob o pretexto de transformar informação

em serviço que a notícia vira entretenimento, e estas visam agendas, programas e

eventos de diversão do seu público.

É evidente que a conversão do jornalismo em entretenimento não é

dissociada das fusões de grandes empresas, que acaba por tornar a grande mídia

dependente de poucas pessoas, sendo estas responsáveis por uma quota cada vez

maior das contas de publicidade. Ao que parece, “a concentração não pode viver em

boa harmonia com o pluralismo da informação”. (BERTRAND apud GADINI, 2007).

Já para Dejavite (2006) o casamento entre jornalismo e entretenimento é

algo possível. A autora levanta questionamentos sobre o atual jornalismo cultural

brasileiro e acredita que é preciso avaliar o que pode dar certo dessa união. Fazer

um longo percurso através das noções/funções do lazer e associá-las à realidade

dos meios de comunicação é umas das defesas da autora. Sobre equilíbrio e

integração social, ela explica:

A função da recreação e entretenimento permite que as pessoas participem de atividades recreativas, culturais e sociais. [...] E dentro desse cenário, os veículos de comunicação de massa acabam difundindo informações, ao mesmo tempo em que distraem a audiência. Esse papel pode ser considerado como um fator de equilíbrio, um meio de suportar as disciplinas, obrigações e coerções necessárias à vida social. (DEJAVITE. 2006, p. 49).

Para Adorno (apud RUSCHEL,1995), as atividades feitas durante o tempo

livre são tão importantes e prazerosas quanto às realizadas durante o trabalho, e

delas se pode aproveitar o máximo possível:

[...] aquilo com o que me ocupo fora da minha profissão oficial é, para mim, sem exceção, tão sério que me sentiria chocado com a ideia de que se tratasse de ‘hobbies’, portanto ocupações nas quais me jogaria absurdamente só para matar o tempo [...]. Compor música, escutar música, ler concentradamente, são momentos integrais da minha existência, a palavra ‘hobby’ seria escárnio em relação a elas. Inversamente, meu trabalho, a produção filosófica e sociológica e o ensino na universidade, têm-me sido tão gratos até o momento que não conseguiria considerá-los como opostos ao tempo livre, como a habitualmente cortante divisão requer das pessoas (ADORNO, apud RUSCHEL, 1995).

Mas, de acordo com Gadini, a noção de cultura entendida como

divertimento pode apresentar outro efeito no campo cultural:

28

“quando não desconsidera ou ‘apaga’ as demais projeções de sentidos, o

produto voltado ao entretenimento tende a reduzir a perspectiva de reflexibilidade e projeção identitária dos seus usuários/consumidores” (GADINI, 2007, p. 5).

Embora o jornalismo cultural brasileiro venha sofrendo críticas de estar se

tornando apenas entretenimento, como sugere Gadini, há em Dejavite (2006) uma

perspectiva positiva. Ela ocorre quando a autora defende a possível união entre

jornalismo e entretenimento, o que chama de “INFOtenimento”. Para a autora não há

que se temer as constantes mudanças do jornalismo cultural e as críticas de que ele

venha se tornando apenas entretenimento, há que se avaliar o que dá certo nesse

processo, e rever paradigmas contemplando o jornalismo de um novo viés.

Este trabalho considera tanto as críticas como também os apoios ao

jornalismo cultural, porém acredita que a junção entre jornalismo e entretenimento

seja uma maneira inteligente de uma aproximação eficiente de leitores já

interessados em cultura e música cearense, além do alcance de novos receptores. É

com essa perspectiva que foi construída a revista ArteNativa.

29

2. MÚSICA NO CEARÁ

Pretende-se mostrar através deste capítulo a importância da escolha de

alguns artistas que optaram viver de música. Em tal contexto, foi eleita a década de

1970 como marco para a articulação histórica da pesquisa. Assim, surge nesse

período um grupo de compositores, músicos e intérpretes que, mais tarde,

passariam a ser chamados e reconhecidos como “Pessoal do Ceará”.

Nos próximos tópicos este relatório centra focos nos marcos da música

cearense, além de desenvolver aspectos culturais ligados à contemporaneidade e às

políticas públicas voltadas para a música no Ceará e, mais especificamente, em

Fortaleza.

As autoras deste trabalho monográfico estão cientes de que a música

cearense é plural e, por isso mesmo, que seria quase impossível retratar todos os

artistas. Portanto, optou-se por cinco artistas contemporâneos para representar essa

diversidade. São eles: Felipe de Paula, Marina Cavalcante, Mel Mattos, Thiago

Almeida e Wellington Jatobá.

2.1 Música Cearense: recorte histórico

O Brasil vivia tempos de ditadura militar. O ano de chumbo: 1968.

Decretado pelo então presidente Costa e Silva, o Ato Institucional nº 05 (o tão

famigerado AI-5), foi considerado por muitos historiadores como o golpe mais duro

na democracia, pois deu plenos poderes ao regime de exceção. Porém, a

universidade brasileira não parou, como o curso de Arquitetura da UFC:

[...] na época que a ditadura fechou os diretórios em 68 com o AI-5, o diretório de Arquitetura continuou aberto. O diretor fazia de conta que não via o que acontecia lá, mas o pessoal continuava lá, se reunia, ouvia música e o clima de debate, a Escola de Arquitetura tem uma importância muito grande; e esses estudantes de lá, da época, os líderes que tinham lá, eram pessoas que por conta de estudarem mais as coisas ligadas à arte, à cultura tiveram influência muito grande nisso. (Francis Vale, 1º de maio de 2006. APUD Rogério, 2008).

Esse era o clima que os jovens da época viviam com a ditadura militar,

instaurada no Brasil quatro anos antes. Pedro Rogério (2008) conta que a postura

exigida desses jovens era a de se colocarem contra o regime militar. Sendo assim,

30

eles deveriam desenvolver uma consciência crítica, o que acabou trazendo como

consequência a criação de vários grupos artísticos e intelectuais nas décadas de

1960 e 1970.

De acordo com as pesquisas de Pedro Rogério (2008), o espaço da

universidade reunia as condições necessárias das obras artísticas e intelectuais

desse grupo de estudantes. Outro aspecto importante ressaltado pelo autor, é que a

universidade era um espaço livre. Assim, com certa autonomia, servia para os

agentes culturais a ela relacionados fomentarem suas ideias e sonhos,

experimentando e exercitando o lado político e artístico.

Esse desenvolvimento cultural aquecido no período JK resiste nos anos 60 às crises presidenciais de Jânio Quadros e João Goulart. E nasce em dezembro de 1961 junto à União Nacional dos Estudantes (UNE) o Centro Popular de Cultura (CPC), se disseminando em várias universidades brasileiras. (ROGÉRIO, 2008, p. 90).

Depois do CPC foram criados, no Ceará, outros grupos que deram

continuidade ao movimento cultural e político, como “Cactus” (que unia música e

teatro) e o Grupo Universitário de Teatro e Arte (Gruta). Segundo ainda Pedro

Rogério (2008), é importante observar que o grupo de estudantes que faziam parte

desses movimentos era originário de classes médias do Ceará, e estavam

“começando a desenvolver suas aptidões artísticas em torno de temas em comum,

em um contexto político e cultural que proporcionava uma atuação coletiva”.

(ROGÉRIO, 2008, p. 94).

A universidade se consolidou como local de apresentação das criações

desses jovens artistas, ainda amadores, como nos lembra Pedro Rogério (2008). Foi

através dessas pequenas apresentações que eles começaram a criar um subcampo

musical na cidade de Fortaleza, embora essas exposições estivessem restritas aos

estudantes universitários. Foi no âmbito universitário que as músicas desses artistas

encontraram seu primeiro público.

Nas pesquisas e livros utilizados neste trabalho não há uma definição

fechada sobre quais sujeitos integraram essa geração de artistas. Porém, pesquisa

de Pedro Rogério (2008) com Rodger Rogério sobre o que viria a ser conhecido

posteriormente como “Pessoal do Ceará” chegou aos seguintes nomes: Petrúcio

Salvino Mesquito Maia, Iracema Melo, Olga Paiva, Nonato Freire, Renato Serra,

31

Wilson Cirino, Cláudio Roberto de Abreu Pereira, Francisco Augusto Pontes, Sérgio

Costa, Mércia Pinto, Ângela e Chica.

Além dos citados, Rodger Rogério ainda indica outros artistas da época:

Antonio José Soares Brandão, Delberg Ponce de Leon, Fausto Nilo Costa Jr., João

Braga de Lima, Aderbal Freire Filho, Rodger e Dedé Evangelista, João Ramos,

Augusto Pontes, Neyde Maria, Gonzaga Vasconcelos, Paulo e Narcélio Lima Verde,

Wilson Ibiapina, Mauro Coutinho, Audifax Rios, Polion Lemos, Ednardo Costa

Souza, Raimundo Fagner Lopes, Antônio Carlos Belchior, Amélia Colares, Ricardo

Bezerra. (RODGER ROGÉRIO, 2006 apud ROGÉRIO, 2008).

Téti, não incluída na citação de Rodger Rogério, é também cantora e

membro desse grupo de estudantes e artistas da década de 1970. Ela abre ainda

mais o leque sobre os participantes do conhecido grupo, quando diz: “Pessoal do

Ceará [...] são todas as pessoas que de uma maneira ou de outra tenham uma

relação com a arte, seja ela a música, cinema, artes plásticas...” (TÉTI, 2006, apud

ROGÉRIO, 2008).

Para ampliar a visibilidade dos seus trabalhos artísticos, os músicos, além

das apresentações na Universidade Federal do Ceará, começaram a participar de

festivais e, posteriormente, de programas de rádio e televisão. Pedro Rogério (2008)

conta que os festivais, embora ligados ao público universitário, os levaram a

participar de programas locais e à gravação de discos, entrando assim para o

mercado fonográfico.

Rogério (2008) e Castro (2008) concordam sobre a importância dos

festivais para a divulgação e solidificação do trabalho dos músicos cearenses.

Sabino Henrique (citado por CASTRO, 2008) escreveu em sua coluna no jornal O

Povo, em 1978, sobre os festivais:

Aqui no Ceará, eles foram o instrumento mais forte para que uma nova geração de compositores que tocava sem maiores compromissos nas festinhas de família, nas mesas de bares e cantinas de faculdades conseguisse mostrar seu trabalho para faixas maiores de público. Rodger, Fagner, Ricardo Bezerra, Ednardo, Petrúcio Maia, Jorge Melo, Belchior, disputaram aplausos, notas de júris, prêmios e se impuseram graças à força de seus talentos, com uma leve mão do veículo e do clima de festa. (HENRIQUE, apud CASTRO, 2008, p. 259).

Os festivais em Fortaleza e pelo Nordeste serviram para impulsionar os

artistas na busca de novas maneiras de trilhar o sucesso na carreira. As décadas de

32

1960 e 1970 foram marcos para a história da música local. E de acordo com a

pesquisa de Castro (2008), os festivais com mais destaque entre os artistas daquela

época são: IV Festival da Música Popular no Ceará, I Festival de Música Popular.

Ainda segundo Rogério (2008), uma das primeiras aventuras musicais

para fora do Ceará foi a de Fagner, em 1969. O músico participou de um festival em

Brasília, no CEUB (Centro de Estudos Universitário de Brasília), ainda como

estudante de Arquitetura. Porém, foi através do prêmio de primeiro lugar nesse

festival que Fagner decide largar o curso superior e se dedicar exclusivamente à

música. Assim, após participar com sucesso do evento (vencendo-o), Fagner foi

convidado para gravar o disco do Pasquim (jornal importante da época), ao lado de

Caetano Veloso.

Depois foi a vez de Belchior ganhar destaque nacional, desta feita no Rio

de Janeiro. Portanto, sobre sua vitória no Festival Universitário do Rio de Janeiro,

Belchior falou em entrevista a Pedro Rogério em 2006:

[...] o “Festival Universitário”, eu acho que além da qualidade da música “Na hora do almoço”, provou, assim, sei lá, pro Brasil todo, naquela hora, que havia um grupo, amostrou, deu uma amostra de que havia um conjunto de pessoas que no Ceará estava fazendo música e música de qualidade e que podia ombrear com tudo que estava acontecendo no Brasil a ponto de uma música tirar 1º lugar no festival; [...] O fato de ter ganhado o festival com aquela música comprovou isso, sabe, que havia realmente uma música popular-brasileira-nordestina-cearense-contemporânea, que podia estar nesse roldão das coisas de uma forma competitiva. (BELCHIOR, apud ROGÉRIO, 2008, p. 135).

O senso de profissionalismo, segundo Rogério (2008), vinha sendo

aguçado ainda mais. Os artistas cearenses ficavam circulando entre Fortaleza, Rio

de Janeiro, São Paulo e Brasília, de acordo com as oportunidades que surgiam.

Embora não exista uma viagem só que marque o ingresso desses artistas no circuito

musical brasileiro, seus trabalhos convergem no mesmo período para os centros

culturais e formadores de opinião do país. A primeira gravação foi realizada em São

Paulo, depois da participação no programa “Proposta”, da TV Cultura. (ROGÉRIO,

2008).

A ideia era gravar um disco coletivo, mas apenas Ednardo, Téti e Rodger

aceitaram o convite para participar do projeto. De acordo com Pedro Rogério (2008),

não se sabe ao certo como surgiu a expressão “Pessoal do Ceará”, a única certeza

33

é que não foi escolha dos próprios integrantes do grupo. Porém, as pessoas os

viram como um grupo de artistas que chegavam do Ceará.

O nome foi usado por Walter Silva no disco que teve o título Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem, e como subtítulo o nome que “pegaria” na mídia: Pessoal do Ceará. Insistimos ainda nessa ideia da configuração coletiva registrando que ainda que só se reunisse três intérpretes somaram-se no disco pelo menos mais cinco artistas na qualidade de compositores: Augusto Pontes, Dedé Evangelista, Fagner, Ricardo Bezerra e Tânia Cabral. (ROGÉRIO, 2008, p. 146).

O disco do “Pessoal” foi gravado em 1972 e lançado em 1973. Depois

vieram os discos de Fagner (1973), Belchior (1974) Rodger e Téti (1974) e Ednardo,

também em 1974. Os artistas procuraram estratégias diferentes para se manter no

circuito musical. Ednardo, Manassés, Fausto Nilo, Petrúcio Maia, Belchior, Fagner,

Rodger Rogério, Téti, Amelinha, entre outros, seguiram em frente e se firmaram

como representantes da música popular brasileira. Alguns deles, inclusive, com

repercussão no exterior. (SOUSA, 2010).

No final da década de 1970 surgem outros dois projetos coletivos: o

Massafeira e o Soro. Segundo Rogério (2008), ambos de grande relevância para o

desenvolvimento da música cearense. Essa geração que veio pós-Pessoal do Ceará

organizou, junto à geração anterior, um evento de múltiplas manifestações culturais,

o Massafeira Livre (1979), pelo mesmo motivo de antes: dificuldades para divulgar o

trabalho.

Fortaleza foi sacudida por uma verdadeira algazarra criativa, embora a imprensa não tenha se dado conta disso. A cidade foi à feira e lotou os jardins, a praça, os camarotes e a plateia do Teatro José de Alencar. [...] (OLIVEIRA, 2000, apud SOUSA, 2010, p. 283).

2.2 Políticas públicas para a cultura

Ao falar sobre políticas públicas, imagina-se de imediato burocracias

longe do cotidiano. O que não se sabe é que elas estão presentes em muitos

contextos da vida em sociedade. Afinal, elas são ações desenvolvidas pelo poder

público para assegurar os direitos sociais em diversas áreas, como educação,

saúde, habitação, transporte, segurança, meio ambiente e, inclusive, cultura.

34

Segundo Höfling (2001, p.31), as “políticas públicas são aqui entendidas

como o ‘Estado em ação’. Ou seja, é o Estado implantando um projeto de governo

através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade”.

O objetivo central das políticas públicas é assegurar determinados direitos

de cidadania. De acordo com Cunha Filho (2002, p.17), esses direitos “são

diferenciados daqueles que poderiam ser designados de comuns, ou seja, são

direitos especiais”. O direito à cultura, por exemplo, é essencial para a cidadania.

Ainda segundo Cunha Filho (2002, p.18), “Eles, os Direitos Culturais, são peculiares,

nos termos da Constituição, a todas as pessoas e a todos os grupos formadores da

sociedade brasileira”.

Benedini (2008), inclusive, ressalta a importância das políticas públicas

para cultura no Brasil por ser essencial na construção do fazer artístico no país. Já

que através delas, se preservam as raízes artísticas da nação:

No âmbito da cultura, em especial, é inevitável a indagação que nas últimas duas décadas se intensificou no Brasil quanto ao papel das políticas públicas no âmbito da chamada produção cultural, haja vista a inclusão neste campo de todo um universo de expressões e de manifestações advindas de diferentes saberes ou consolidadas em fazeres diversos, reconhecíveis ambos como formadores de especificidades ou de identidades antropológicas presentes no país. (BENEDINI, 2008, p.3).

Segundo a Constituição Federal, direitos culturais são os afetos às artes,

à memória coletiva e ao repasse dos saberes. Estão previstos no ordenamento

jurídico brasileiro: a) o direito à criação cultural; b) direito de acesso às fontes da

cultura nacional; c) direito de difusão da cultura; d) liberdade de formas de

expressão cultural; e) liberdade de manifestações culturais; f) direito-dever estatal de

formação do patrimônio cultural brasileiro e proteção dos bens de cultura.

O § 3º do artigo 216 da Constituição Federal determina que “a lei

estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores

culturais”. E segundo o Programa Nacional de Apoio à Cultura-PRONAC (Lei nº

8.313/1991), observam-se três formas de incentivos, os quais atendem a perfis

culturais distintos:

1) Para as atividades da indústria cultural, estão previstos os Fundos de

Investimento Cultural e Artístico – FICART, cujo incentivo consiste em

tributação diferenciada para empreendimentos culturais.

35

2) Para atividades culturais sem atrativos ou intentos comerciais, há o Fundo

Nacional da Cultura – FNC, que fornece diretamente seus recursos à

atividade incentivada.

3) Para as demais atividades há o Mecenato Federal. Este sim, regido por

incentivos fiscais aos contribuintes que apoiam a cultura. Parâmetro

semelhante seguem os Estados e Municípios que têm leis de incentivo à

cultura, sobretudo no que concerne aos fundos e ao mecenato.

No Ceará, a entidade pública responsável pela distribuição dos recursos

destinados à cultura é a Secretaria de Cultura (Secult). A sua missão é executar e

coordenar as atividades culturais do Estado. Ela é o órgão responsável pelas

atividades de proteção ao patrimônio cultural do Ceará, pela difusão da cultura e

aprimoramento cultural cearense.

Esta secretaria detém uma verba governamental para suprir a carência

cultural do Estado. Sobre esse investimento, Cunha Filho (2002) faz um comparativo

do quadro financeiro nacional e revela que, mesmo com poucos recursos, o Ceará

se encontra em vantagem:

No que tange às verbas, o nosso Ministério da Cultura abocanha a “fantástica” parcela de 0,04% (quatro centésimos) do orçamento nacional. Já a SECULT - Ceará tem sorte consideravelmente melhor: mais de 1% (um por cento) de nossa previsão de gastos é para a cultura. (CUNHA FILHO, 2002, p.99)

Na Secult está instalado o SIEC (Sistema Estadual da Cultura), setor

responsável pela elaboração de projetos artísticos e pela captação de verbas. É

através dele que são criados programas, ações e atividades desenvolvidas para

apoiar e fomentar o cenário artístico no Ceará.

Em entrevista dada à Revista ArteNativa, no dia 26 de maio, o assistente

técnico do SIEC, Jonatan Soares, explicou que há três formas de se conseguir apoio

fiscal de projetos culturais da Secult. Uma delas é a chamada demanda espontânea,

quando se apresenta um projeto e, se for aprovado, já se recebe o dinheiro

imediatamente.

A outra forma é através de editais, quando o produtor cultural se inscreve

na sua categoria e concorre para ser agraciado. E, por último, através do mecenato,

quando o artista ganha uma carta de captação com o valor desejado para solicitar

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apoio em empresas parceiras da secretaria, como exemplo: Coelce (Companhia

Energética do Ceará), Coca-Cola e Petrobras.

Para Jonatan, a política de editais é a forma que oferece mais

oportunidades para agentes culturais cearenses, pois contempla as mais variadas

linguagens artísticas.

Os editais abrangem eventos e manifestações culturais o ano inteiro. Temos projetos para o carnaval, para encenações da paixão de Cristo, apoiamos festejos juninos e, no fim do ano, as apresentações natalinas. Fora o nosso maior edital que é o de incentivo às artes, que engloba dança, teatro, circo, artes visuais, música, fotografia, cinema e vídeo. (SOARES, Jonatan. Em entrevista à ArteNativa, 26/05/2014).

O assistente, ainda assim, ressalta que o dinheiro investido serve apenas

como apoio cultural. “Políticas públicas não servem para sustentar ninguém, é um

investimento cultural. Sempre falamos que os editais não funcionam como um ‘bolsa

família’. Nessa perspectiva, tentamos incentivar para que os projetos cresçam”.

Para os músicos, há alguns projetos no edital de incentivo às artes. São

ofertadas vagas para apoio à manutenção de grupos - ajudando com estrutura física

para ensaio ou instrumentos musicais; para pesquisa teórica de linguagem -

apoiando estudos científicos e históricos sobre música; para circulação e montagem

de show - incluindo a banda em apresentações em todo o Estado; e para apoio a

álbum fonográfico - auxiliando nos custos de estúdio e prensagem do CD.

No âmbito municipal, existe também a Secretaria de Cultura de Fortaleza

(Secultfor). O órgão é responsável pela formulação e coordenação de políticas

públicas de cultura, com ações específicas para Fortaleza em parceria com a

prefeitura.

Segundo o assessor de planejamento e desenvolvimento institucional da

Secultfor, Inácio Carvalho, em entrevista cedida à ArteNativa em 13 de junho de

2014, o trabalho da secretaria é espalhar cultura na cidade. Dentre suas funções

estão: criação de eventos, programação artística e ações de fomento às

manifestações culturais.

A Secultfor tem justamente o papel de formular e desenvolver políticas públicas que assegurem à população de Fortaleza direitos fundamentais na área da cultura. E, devo destacar que isso implica em buscar atingir o universo mais amplo da cidade e não alguns segmentos já beneficiados por outras ações públicas ou privadas na área da cultura. (CARVALHO, Inácio. Em entrevista à ArteNativa, 12/06/2014).

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Os editais propostos pela Secultfor visam a manutenção da cultura

popular, assim como a realização e apoio à Feiras, Festivais e Mostras. Na área da

música, uma ação de grande relevância, segundo Inácio, é a Mostra Petrúcio Maia,

pois possibilita o fomento aos novos talentos musicais de Fortaleza.

Para participar, os artistas se inscrevem e aqueles que forem

selecionados recebem um apoio financeiro e se apresentam com um show de 30

minutos no dia do evento. Os finalistas, por sua vez, recebem um prêmio para

circulação e para a realização de shows fora do Estado. Outras ações importantes

da Secultfor são: o edital de residência e intercâmbio e a própria programação

cultural, que assegura espaço para talentos locais.

Para participar das seleções de editais, a regra é básica: siga à risca

todos os passos exigidos no texto. De acordo com Jonatan, da Secult, é necessário

ler e reler o edital quantas vezes for necessário, pois ele será um mapa para se

alcançar o recurso desejado. Nesse documento estará explícita toda a estrutura

burocrática do órgão responsável.

Segundo o assistente técnico, nos editais é solicitada uma parte técnica,

com os dados e os documentos necessários. Além disso, o projeto deve estar claro,

objetivo e com um orçamento dentro do valor proposto.

A próxima fase é a de julgamento. Os jurados, compostos de

especialistas da área e técnicos, elaboram uma média e depois um ranking com a

colocação de cada participante. São convocados, então, os contemplados para uma

reunião na qual cada um leva uma conta bancária disponível e o plano de trabalho

atualizado, para análise e adequação do plano para execução. É feito um convênio

e, em duas semanas, o recurso já deve estar nas mãos dos agraciados.

Os órgãos públicos de incentivo à cultura vêm sofrendo críticas por parte

dos artistas que são aprovados em editais e demoram a receber o dinheiro. A

justificativa do representante das Secretarias de Cultura foi de que há uma demora

na captação do recurso por parte da instituição. Como Jonatan cita:

Tento sempre deixar claro que somos captadores de recursos. Às vezes conseguimos o recurso com antecedência, outras vezes não. O que acontece é o seguinte: temos um edital de São João, por exemplo, que tinha de ser lançado em maio, para que pudéssemos ter tempo de captar os recursos, mas isso nem sempre acontece. Então, muitas vezes, temos que conseguir o dinheiro em cima da hora e isso ocasiona a demora no recebimento. (SOARES, Jonatan. Em entrevista à ArteNativa, 26/05/2014).

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Ainda segundo ele, existe também um fator externo que ocasiona os

atrasos. Como no caso de uma documentação vencida. Se qualquer tipo de

documento entregue pelo proponente se vencer, ele terá de providenciar o mais

rápido possível, senão continua sem receber. Isso também acontece se a pessoa

ficar inadimplente nesse entremeio.

O representante da Secultfor, Inácio Carvalho, explica que a demora nos

procedimentos burocráticos fazem com que atrase o recebimento do dinheiro:

A administração pública tem uma dinâmica muito peculiar e rigorosa com os gastos do dinheiro público. Eu diria que isto é compreensível na medida em que a população deve estar atenta ao que é feito com o dinheiro arrecadado através dos impostos que ela paga. Por essa razão há todo um procedimento burocrático para a liberação de recursos, de modo a assegurar o zelo com o dinheiro público. (CARVALHO, Inácio. Em entrevista à ArteNativa, 13/06/2014).

2.3 Viver de Música

A revista Artenativa entrevistou cinco artistas cearenses que vivem

exclusivamente do fazer musical em Fortaleza. São músicos que estão na faixa

etária entre 20 e 35 anos (ver apêndice). Assim, procurou-se saber como eles fazem

para divulgar seus trabalhos e como se posicionam frente à indústria da música. A

seguir suas falas.

De acordo com a concepção de Adorno e Horkheimer, teóricos marxistas

da Escola de Frankfurt, dentro de uma estrutura capitalista, a Indústria Cultural

implica na criação de bens culturais que seguem os mesmos moldes e

procedimentos da produção em série de bens não culturais, transformando assim,

manifestações artísticas em mercadoria e entretenimento.

Segundo os filósofos, na obra Dialética do Esclarecimento (1985, p. 114)

“por enquanto a técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à

produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do

sistema social”.

Dentro dessa estrutura capitalista os entrevistados procuram se encaixar

para divulgar seu trabalho, alguns optando pelo trabalho autoral, mesmo

enfrentando problemas para se manterem:

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O Filho de Manicure [CD independente] não é um trabalho que eu posso tocar em barzinho, nada contra o barzinho, mas eu só vou tocar 10 músicas autorais e é o meu disco. Não vou fazer duas horas de show por que o empresário quer. Isso foi uma escolha minha de me relacionar com a música dessa forma. (DE PAULA, Felipe, entrevista cedida à ArteNativa, 12/02/2014).

Quem opta em trabalhar com música autoral passa por dificuldades e

deve estar ciente, assim como Felipe de Paula, de que enfrentará desafios para

conseguir ganhar dinheiro com sua arte. O trabalho autoral traz uma nova dinâmica

de trabalho, os meios de divulgação são outros. Porém, espaços em mídias locais

como a televisão são oportunidades a serem aproveitadas, como destaca Marina

Cavalcante.

Tenho espaço na mídia local. Todo mundo do cenário do samba me conhece, e o cenário de samba aqui é muito grande. Tenho muito convite pra TV Cultura, rádio. É legal transitar nesse circuito pra ter o trabalho reconhecido, mas acredito que as coisas acontecem naturalmente. (CAVALCANTE, Marina, entrevista cedida à ArteNativa, 04/02/2014).

De acordo com Herschmann e Kischinhevsky (2005), a indústria da

música enfrenta uma crise por conta da popularização da Internet. Nessa

perspectiva, alguns artistas optaram por buscar caminhos próprios, como é o caso

do cantor e multi-instrumentista Prince, que rompeu com a gravadora Warner.

No Brasil, o cantor Lobão, um dos artistas revelados nos anos 80 durante o estouro do chamado Rock Brasil, brigou com a gravadora Universal e com toda a indústria do disco ao denunciar a ausência de numeração de cópias, o que facilitava a pirataria dentro das empresas do setor. Empenhado em provar que a margem de lucro das gravadoras era abusiva, produziu e lançou, com um sistema de distribuição focado em bancas de jornal, o álbum A vida é doce, vendido pela metade do preço dos discos dos artistas das majors [empresas de disco]. Todos os álbuns eram numerados e também vendidos nos shows, o que proporcionou uma tiragem de 100 mil cópias, pagando o investimento com folgas. (HERSCHMANN e KISCHINHEVSKY, In Intercom, 2005).

Vale lembrar que Lobão não foi o primeiro artista a investir em selo

próprio. Ivan Lins, Vítor Martins, Ronaldo Bastos e Dado Villa-Lobos somam-se aos

independentes egressos dos anos 1980 que buscam ampliar os mercados e buscar

alternativas. (HERSCHMANN e KISCHINHEVSKY, 2005).

Vê-se que a tentativa de se conseguir opções para conseguir viver de

música não é de hoje. Os entrevistados buscam diariamente uma forma de divulgar

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o trabalho e se manterem no mercado da música, de maneira que sua arte não seja

prejudicada.

A Internet, principal ferramenta de divulgação dos artistas hoje, chegou ao

Brasil na década de 1990, então foi de maneira natural que os entrevistados

interagiram com ela. O que se constata com as entrevistas, é que a rede mundial de

computadores tem se tornando cada vez mais importante na divulgação dos

trabalhos desses artistas.

Mel Mattos, além de utilizar a Internet para divulgar trabalhos e agendas

de shows, também conta com a ajuda da família para baratear os gastos durante o

processo de produção do CD:

A minha é uma família que trabalha junto. O primeiro CD foi idealizado por mim e pelo meu marido, tem fotografia da minha prima, meu irmão toca comigo. Pra ser uma coisa mais comercial a gente gravou até um ao vivo do Mel do Brasil e Mel do Samba [dois projetos posteriores ao primeiro CD], a pedido dos clientes. (MATTOS, Mel, entrevista cedida à ArteNativa, 16/04/2014).

O “viver de música” tem um significado diferente para cada um dos

artistas. Mas, de uma maneira geral, eles buscam através dessa arte uma maneira

de se manterem estáveis financeiramente. Thiago Almeida dá uma noção do que

seja viver de música pra ele:

Viver de Música é o alimento mais saudável para o músico, que é viver daquilo que ele está produzindo em casa. É você estar sem dinheiro e com vontade de fazer uma coisa que não vai te dar dinheiro rapidamente. Pensar nisso, entrar nesse parafuso, sair, se imaginar. Pensar esse emaranhado e como você vai achar uma maneira inteligente, saudável, respeitosa de se manter intacto é riquíssimo. É sempre essa dinâmica. O que te dá uma suposta estabilidade não é o que te alimenta. (ALMEIDA, Thiago, entrevista cedida à ArteNativa,10/02/2014)

Para Wellington Filho, conhecido como Jatobá, baixista e deficiente

visual, a música tem caráter de superação. Ele vive dela desde os 13 anos, quando

decidiu abandonar os estudos.

Viver de música é uma ótima experiência. É algo que eu gosto, não é só o meu trabalho, é amor. O músico, para mim, vive a música, sente a música, ele está, por completo, na música. Não é só hobby’. (FILHO, Wellington, entrevista cedida à ArteNativa, 09/02/2014).

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Outra maneira de divulgar o trabalho é participar de editais, ofertados

pela Prefeitura e pelo Governo do Estado. Dos entrevistados, dois já concorreram a

editais, ambos para a gravação do primeiro CD, Felipe de Paula e Mel Mattos. Felipe

ganhou o edital em 2011, porém só recebeu o benefício em 2013, e para não atrasar

os planos, procurou um financiamento colaborativo pela Internet (Catarse) e

adiantou uma parte.

Esse projeto dá a possibilidade das pessoas que acreditam no teu trabalho participarem de uma forma direta, que é comprando adiantado o disco, e recebendo algumas recompensas em troca. Foi um projeto meio ousado, porque eu já conhecia, sabia de poucos casos bem sucedidos aqui em Fortaleza, mas eu fui. Precisava de oito mil reais. Eu pensei “será que dos quase 3 mil amigos que eu tenho no Facebook [rede social na internet], eu não teria 800 que comprasse meu Cd adiantado por 10 reais?” E deu certo. (DE PAULA, Felipe, entrevista cedida à ArteNativa, 12/02/2014).

Mesmo com a verba destinada ao fomento da cultura cearense, os

entrevistados foram unânimes quando o assunto era falta de investimento. Na visão

deles há uma má distribuição dos valores dispostos para esse fim. A ArteNativa

conversou com representantes dos órgãos responsáveis pelo investimento em

cultura no Estado.

O assistente técnico da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), Jonatan

Soares, e o assessor de planejamento e desenvolvimento institucional da Secretaria

de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Inácio Carvalho, concordaram ao dizer que o

edital é apenas um primeiro passo, um impulso na carreira dos artistas, e que eles

devem buscar outras formas de se manterem, não dependendo apenas de políticas

públicas.

As críticas aos atrasos nos pagamentos de editais feitas pelos

entrevistados são rebatidas pelos membros das secretarias. Para estes, o atraso se

deve a inúmeros fatores, desde à demora em pagamentos nas gestões anteriores

até documentos com validades vencidas.

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3. REVISTA ARTENATIVA

Neste capítulo explica-se o projeto editorial da Revista ArteNativa, que

aborda a música cearense e suas diversidades. Há explicações detalhadas sobre as

pautas escolhidas, a justificativa da importância de cada uma delas e apresentação

dos personagens que compõem a revista. Também está apresentado o projeto

gráfico, relatando sobre a formatação da revista e o seu design.

3.1 Projeto editorial

A revista ArteNativa nasceu da vontade de valorizar a cultura cearense.

Assim como seu próprio nome sugere, buscou-se através dela fazer menção à arte

da nossa terra. Em tal contexto, optou-se pela temática musical, por serem as

autoras deste trabalho expectadoras e sentirem necessidade de difundir o trabalho

de artistas locais.

A maior curiosidade era saber como os músicos conseguem viver

essencialmente de música em Fortaleza, tendo em vista vários questionamentos. Há

incentivo do governo? Quais as formas de divulgação? Quais espaços eles possuem

na cidade?

Como resposta para essas indagações, buscou-se abordar no conteúdo

da revista essas perspectivas. Como matéria principal, resolveu-se contar a trajetória

de cinco jovens artistas que vivem exclusivamente de música na cidade. A tentativa

é saber as dificuldades e glórias da profissão. São eles: o compositor Felipe de

Paula, as cantoras Marina Cavalcante e Mel Mattos, o instrumentista Thiago Almeida

e o baixista Wellington Jatobass.

Sabendo da importância da história da música cearense para o Brasil,

apresenta-se também na revista uma reportagem especial sobre o “Pessoal do

Ceará”, que completa em 2014 seus 40 anos de vida artística. Para isso, ocorreram

conversas com Rodger Rogério e seu filho Pedro Rogério. O objetivo básico: saber

como era fazer música no Ceará na década de 1970.

A partir dos textos, espera-se que os leitores possam ter conhecimento da

variedade existente na cena musical de Fortaleza. Na revista, conta-se, por

exemplo, a história de vida do maestro Rômulo Santiago, que rege a Banda de

Música Juvenil Dona Luíza Távora, mais conhecida como Banda do Piamarta.

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Também há uma reportagem que mostra como funciona a nova proposta de canto

coral da cidade.

Aprofundando a temática, destaque-se que a grande mídia impressa

cearense está presente no conteúdo da revista, no que diz respeito à divulgação do

trabalho dos artistas. Através de uma reportagem, e tendo-se como base os jornais

O Povo e o Diário do Nordeste, mostra-se o espaço existente nos cadernos de

cultura da cidade. Além disso, fala-se sobre a participação de dois dos conterrâneos

cearenses em reality shows musicais na tentativa de uma aparição em rede

nacional.

Os espaços que muitos dos artistas ocupam para exposição do seu

trabalho são os barzinhos. Então, a ArteNativa apresenta o Cantinho Acadêmico e o

Tereza e Jorge, palco de alguns dos entrevistados, explicando qual a importância

deles para música local. Também há uma enquete com pessoas de diferentes faixas

etárias. O objetivo é fazer um apanhado dos locais que elas frequentam para ouvir

seu gênero musical favorito.

Nos gêneros opinativos, há dois colaboradores. Nelson Augusto, jornalista

e editor de conteúdo da web rádio Nelsons; ele participa com um artigo sobre o

cenário musical cearense. Joanice Sampaio, produtora musical e jornalista formada

na Faculdade Cearense, publica uma crônica sobre a diversidade existente na

música em Fortaleza.

Na área acadêmica, por sua vez, há uma entrevista ping-pong com o arte-

educador Carlinhos Perdigão. Ele é baterista, professor de língua portuguesa, poeta

e produtor cultural. E para unir tantas profissões, ele inclui na sala de aula projetos

musicais, na tentativa de despertar nos alunos o interesse pela cultura cearense

esquecida pela grande mídia.

Como produto do mercado fonográfico, resolveu-se explicar como

acontece a produção de um CD na nossa cidade. Através de um infográfico, traçou-

se o passo a passo para a produção de um disco, mostrando-se os valores nos

estúdios e as variadas formas de gravação. Além disso, há dicas de produtos

fonográficos de artistas locais.

A ArteNativa também tem como pauta as políticas públicas para a cultura

no Ceará. Nesse sentido, há uma discussão sobre as formas de incentivo,

conversas com representantes da Secretaria de Cultura (Secult) e da Secretaria de

Cultura de Fortaleza (Secultfor). O foco: prestação de serviço aos artistas locais,

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pois a matéria explica como funcionam os editais. A reportagem também explora e

tenta explicar sobre os atrasos de verbas.

As próximas edições devem seguir esta linha editorial de manter em

primeiro plano os artistas e os projetos cearenses. Assim oferecendo, a partir deste

retrato situacional, espaço para maior visibilidade da arte nativa.

3.2 Projeto gráfico

A proposta inicial da revista é de ser um material jornalístico dinâmico,

com textos e fotos que chamem atenção do público para o tema. Além disso, sua

linguagem é leve e o design adequado ao contexto musical.

As cores utilizadas para reforçar esse dinamismo e a diversidade foram:

verde, laranja, tonalidades de azul e cinza. Essa variação de cores, segundo Collaro

(2006, p.73), desperta interesse nas pessoas. Pois, conforme o autor, “a

sensibilidade do homem é alterada quando exposta às mais variadas gamas de

cores”.

Quanto ao layout, a maioria dos textos são compostos por três colunas,

para dividir espaço harmonicamente com as fotos. De acordo com Fatima Ali (2009,

p.105) dá uma aparência formal, organizada e fácil de ler. Em alguns momentos

também houve variação de duas ou quatro colunas, dependendo do tamanho da

matéria.

A tipografia usada foi de acordo com a importância na página. As fontes

da família Exo 2.0 foram usadas no corpo do texto no tamanho 9,5. Nos títulos das

matérias, por sua vez, foram usadas: League Gothic e Exo2.0, em tamanhos

variantes com a página. Nas citações em destaque, na revista, foi usada a fonte

Droid Serif, com tamanho 30.

As fontes League Gothic e Exo2.0 são sem serifas, que dão ideia de

simplicidade. Para Fatima Ali (2009, p. 114), esse tipo é ideal para títulos, pois são

letras simples e causam uniformidade no desenho. A Droid Serif é serifada e,

segundo a autora, ideal para frases de destaque. Além de ser é legível e elegante.

As fotos da publicação são de diversos autores. A maioria é da própria

dupla, mas as autoras contaram com colaboração dos entrevistados que nos

encaminharam material fotográfico. Optou-se por buscar fotos de cunho mais

artístico devido ao tema. Afinal, elas ilustram e complementam as matérias.

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A formatação da revista é feita no tamanho A4, com medidas de 29,7 x

21,0 cm. Na impressão, o papel utilizado na capa é o couchê fosco 80g, e no miolo,

o couchê brilhoso 40g. A quantidade de folhas da revista é de 44 páginas.

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CONSIDERAÇÕES

Foram muitos os obstáculos, mas em nenhum momento desistimos do

projeto. Algumas modificações foram necessárias para que a revista saísse como o

previsto. Por exemplo, ter que cortar alguns textos, que acabaram ficando longos

para o número de páginas. As entrevistas e conversas com a orientadora foram

proveitosas e acreditamos que fizemos o melhor que estava ao nosso alcance.

Das entrevistas tiramos algumas conclusões. Há de se considerar que, de

acordo com Dellano Rios, editor de cultura do Caderno 3 do DN, a falta de espaço

para artistas locais não se aplica aos jornais cearenses. Assim ocorre também no O

Povo, que divulga periodicamente o trabalho dos músicos de Fortaleza.

Em relação aos editais e políticas públicas destinadas à música local,

observamos, com as entrevistas realizadas, que as secretarias dispõem de uma

quantia que aumenta anualmente para o investimento nesses projetos. O que é

lembrado por Jonatan Soares e Inácio Carvalho, é que esse dinheiro serve apenas

como um impulso para a continuação de um trabalho e que os artistas devem

procurar se desenvolver de maneira independente.

O que percebemos é que há uma lacuna em alguns questionamentos,

principalmente na parte da criação e manutenção da cultura local. Os artistas, na

maioria das vezes, contam que não há investimento nem espaço devido para esse

fim. Porém, tanto editores de cadernos de cultura quanto os membros das

secretarias dizem disponibilizarem o valor necessário para proporcionar aos músicos

a oportunidade de divulgação de suas obras.

Após o término do trabalho, pretendemos com a nossa revista continuar

com a divulgação da música cearense em escolas e centros de fomento à arte,

trabalhando diretamente com os agentes culturais que estiverem nesses locais.

Para além do mercado, também pretendemos inscrever a revista no

Prêmio Ghandi, da Agência Boa Notícia, com intuito de divulgar nosso trabalho

também no meio acadêmico. Disponibilizaremos um conteúdo exclusivo para

usuários de Internet, para que as pessoas busquem cada vez mais informações

sobre os artistas cearenses. Resta-nos saber onde está a falta de informação, ou a

má informação que constatamos durante a pesquisa. Isso fica para um próximo

trabalho, mais aprofundado, a ser feito posteriormente.

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APÊNDICE - PORTRAIT

Assim como Ferreira (2012), o Portrait foi utilizado como metodologia para

apresentação dos principais sujeitos pesquisados na Revista ArteNativa. As

informações trazidas, no que a autora denomina de "retrato escrito", são retomadas

na análise do objeto de estudo e ajudam a deixar mais claras questões importantes

para a compreensão do material pesquisado. Seguem os artistas:

Felipe de Paula

Atuante no cenário musical cearense desde 2003, o artista permeia várias vertentes, destacando-se como ator e músico. O “filho de manicure”, como ele próprio se intitula, não nasceu em um meio musical, mas sentiu-se, desde cedo, envolvido com a música. Felipe tocou com bandas conhecidas de Fortaleza, como Mesura e Groovytown. O ano de 2014 marca a vida do artista com o lançamento do seu primeiro disco solo, “Filho de Manicure”, gravado com músicas autorais.

Marina Cavalcante

Marina começou a cantar com 14 anos em eventos familiares, gravando seu primeiro CD ainda aos 15. Teve como padrinho musical o violonista Tarcísio Sardinha. Abandonou o curso de Sociologia na UECE para seguir na carreira musical. É intérprete de música brasileira. Aos 22 anos, vive de apresentações em barzinhos de Fortaleza e projetos musicais. Seu atual trabalho intitula-se “O Som de Dentro”. Através dele, concorre a editais culturais.

Mel Mattos

Nascida em ambiente musical, Mel começou a cantar profissionalmente aos 13 anos, em banda de baile. A cantora diz se incluir no que ela mesma denomina de MGB (Música Global Brasileira), aquela que tem swing brasileiro e que pode ser ouvida no mundo inteiro. Para bancar o sonho de gravar o segundo CD autoral, canta em bares e casamentos. Aos 34 anos, ela continua com vontade de abraçar o mundo e todas as coisas que ele tiver a oferecer, se despindo de qualquer preconceito e vivendo de música.

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Thiago Almeida

Filho de pai músico, Thiago teve o primeiro contato com um instrumento já aos cinco anos. Aos seis já tocava teclado e cantava algumas músicas, a pedido da família. Sob a influência de Chick Corea (pianista americano), o artista teve despertado o interesse pelo estudo mais profundo da música. Atualmente participa de alguns projetos, como Duo com Cainã Cavalcante e Trio, com Miquéias dos Santos e Wladimir Catunda. Além disso, dá aulas particulares e trabalha no lançamento do primeiro CD.

Wellington Jatobass

Deficiente visual, o baixista decidiu viver de música aos 13 anos. Desde então, tocou com várias bandas de forró e pagode da cidade, como por exemplo, Guilherme Dantas e Grupo Mesura. Trabalha com gravações em estúdios e mantém free lancers. Em 2013 gravou seu primeiro disco com projeto de carreira solo, com composições inéditas e em parceria com outros compositores. Está completando 14 anos de carreira e enfrenta constantemente os desafios do preconceito no meio musical.