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Número Um, Ano I – Julho 2011 HAICAI

Revista Autores S/A- HAICAI

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Revista do blog Autores S/A referente ao I Concurso de Poesia, modalidade: haicai

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Número Um, Ano I – Julho 2011

HAICAI

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Número Um, Ano I – Julho 2011

emos o prazer de apresentar a primeira edição da Revista Autores S/A. A data inicial de sua primeira publicação não poderia ser mais significativa: cinco de julho de dois mil e onze, o blog Autores S/A comemora dois anos de intensa atividade literária no mundo

virtual. O motivo da produção dessa revista surgiu através do reconhecimento e do grande

sucesso que o I Concurso de Poesia Autores S/A tem alcançado desde o seu começo. Foram, ao todo, noventa e quatro poetas inscritos, sendo que dezessete foram classificados para as etapas finais.

Mas esta edição não para por aqui. Iremos conhecer um pouco mais sobre a forma poética haicai: serão apresentados os poemas publicados na segunda etapa do concurso, o Top 15, no qual, cada poeta competidor elaborou um haicai, no estilo clássico japonês.

Nas páginas a seguir, merece destaque as entrevistas realizadas pelo autor s/a Lohan Lage com os poetas convidados, dentre eles, Tânia Diniz , Vera Americano - todos haicaístas - e o também poeta e estudioso dessa modalidade de poesia, Edson Kenji Iura. Todos os três entrevistados, além da jurada fixa Ludmila Maurer, participaram do corpo de jurados do concurso nesta etapa.

Desejamos que o leitor desfrute ao máximo dos textos aqui presentes. Os poetas desta competição (descritos por seus pseudônimos) merecem toda admiração e respeito; talentosos poetas que, muitas das vezes, sofrem do anonimato e buscam a acolhida de seus trabalhos no mundo virtual.

Um grande abraço,

Simone Prado Ribeiro [email protected]

Professora de Literatura e Língua Portuguesa

Lohan Lage Pgnone [email protected]

Professor de Literatura e Língua Portuguesa

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“Este caminho!

sem ninguém nele,

escuridão de outono.”

(Matsuo Bashô)

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DICAS do mestre Edson Kenji Iura sobre haicais

Você pode

Encarar os primeiros dois

Versos como o ‘zoom’ de alguma

coisa. Use o terceiro verso

para dizer que coisa é essa.”

Tente enriquecer o

poema com observações

do seu entorno.”

O haicai deve ser visual,

ou melhor, sensorial.

O que a passagem da primavera provoca?

Não diga isso de forma genérica,

mas específica, com nomes.”

Permita que o leitor

visualize o haicai,

ao invés de lançar-lhe

charadas.”

... se há idéias a demonstrar,

elas devem ser veiculadas

com a linguagem da natureza,

e não com raciocínios.

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Cervan é publicitário. Poeta de 21 anos, da cidade de Piracaia, São Paulo. Príncipe Desavisado é assistente em Administração da UFJF e formando do Curso de Letras (Língua Portuguesa/Literatura), desta mesma instituição. Poeta de 29 anos, da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. León Bloba é estudante de Licenciatura em Artes Cênicas (UNIRIO) e professor de teatro para terceira idade. Poeta de 23 anos, da cidade da Tijuca, Rio de Janeiro. Anjo é funcionário público. Poeta de 42 anos, da cidade de Samambaia Sul, Distrito Federal.

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Edson Kenji Iura “ Relembrando o mestre Goga, ‘o haicai é um diálogo entre

autor e leitor’” (por Lohan Lage)

Na semana em que foi realizado o concurso de poesia, cuja modalidade foi o haicai, tive a

felicidade de contar com a presença de três grandes autores da literatura brasileira: o mestre dos

haicais, Edson Kenji Iura , um dos nomes mais importantes deste gênero no Brasil; também

haicaísta Tânia Diniz , que administra um mural poético muito importante na rede virtual; e, por

fim, a excelente escritora Vera Americano , grande nome da literatura brasileira. Aproveito aqui a

oportunidade de expressar, em nome do blog Autores S/A, nossos sinceros agradecimentos a

esses queridos autores. A seguir, no decorrer dessa revista eletrônica, vocês terão o prazer de ler

pequenas entrevistas, realizadas pelo autor s/a Lohan Lage, com esses autores convidados. Boa

leitura!

Edson Kenji Iura é nascido e residente em São Paulo . Trabalha na área de informática.

Desde 1991 é devotado à prática do haicai como memb ro do Grêmio Haicai Ipê. Seleciona

haicais de leitores para publicação no Jornal Nippa k. Pioneiro na divulgação do haicai

brasileiro na internet como editor do "Caqui" (www. kakinet.com), primeira revista eletrônica

em português exclusivamente dedicada ao assunto, fu ndada em 1996. Administrador do

fórum eletrônico "Haikai-L", o primeiro na internet dedicado ao haicai brasileiro, fundado

em 1996. Jurado de concursos de haicai. Tem haicais publicados em antologias.

Lohan: Edson, é um prazer, primeiramente, recebê-lo no blog Autores S/A. Você, um dos

maiores mestres do haicai brasileiro, faz parte do G rêmio Haicai Ipê (GHI), um grupo de

haicaístas especializados, responsáveis por estudar e compor haicais. Conte-nos um

pouco mais sobre este Grêmio.

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O Grêmio Haicai Ipê foi fundado em 1987 por entusiastas do haicai, sendo o primeiro grupo de

estudo e composição de haicais em português do Brasil. Mantém suas reuniões em São Paulo,

ininterruptamente, desde então. Promove eventos como o Encontro Brasileiro de Haicai, o

Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-juvenil e o Concurso de Haicai Goga Masuda. Seu

inspirador é o poeta Goga Masuda (1911-2008), mestre que escreveu haicais em japonês e

português.

Lohan: Nós, organizadores, decidimos criar uma padro nização nas postagens dos poemas

do concurso: postamos de acordo com a ordem alfabét ica dos títulos dos poemas. Sendo

assim, pedimos aos poetas participantes que emprega ssem um título aos seus haicais

(embora saibamos que seja uma atribuição facultativ a). O que pensa a respeito desta nossa

decisão? Por que um haicai não carece de um título?

Relembrando o mestre Goga, "o haicai é um diálogo entre autor e leitor". O que importa é a

interpretação que o leitor dá ao texto do autor. Na maioria das vezes, o título direciona a

decifração do poema, quando não se transforma num simples atalho para que o autor imponha a

sua visão. Além disso, numa forma tão curta, acaba funcionando como um quarto verso, somando

gordura ao texto. Tentarei ignorar os títulos durante os julgamentos.

Lohan: Em uma entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão (site Garganta da Serpente),

você afirma, em uma de suas respostas, que não é um escritor por profissão, mas sim,

apenas um médium. Como você definiria essa mediunid ade, em relação aos seus escritos ?

Essa entrevista deve ter mais de dez anos. Quis dizer que me vejo mais como facilitador do que

produtor. Através de minha atividade na internet, procuro aproximar as pessoas do haicai.

Lohan: Pra terminar, pergunto-lhe qual autor, ou quais aut ores, você considera o grande(s)

nome(s) do haicai no Brasil? Que obras você recomen da àqueles que desejam trilhar o

caminho dos haikus?

Entre os autores vivos, quero citar todos os poetas do Grêmio Haicai Ipê, é claro. Num degrau

acima, a senhora Teruko Oda, certamente a melhor entre eles. Paulo Franchetti, professor da

Unicamp, é o grande intelectual do haicai brasileiro, que também começa a se destacar como

poeta. E, num registro um pouco diferente, Alice Ruiz, uma poeta de alcance popular, que dedica

um grande espaço de sua criação ao haicai.

Livros: enquanto Paulo Franchetti não reedita o seu necessário "Haikai - antologia e história" ou

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lança uma outra obra de fôlego semelhante, a melhor referência que posso dar é em língua

inglesa: "Traces of dreams - Landscape, Cultural Memory, and the Poetry of Basho", do nipo-

americano Haruo Shirane, uma leitura apaixonante para todos os amantes do haicai e da poesia

em geral.

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“Aperta meu peito

o inverno que não chegou:

amigo esperado.”

(Yberê Líbera)

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DICAS de Vera Americano sobre haicai japonês

Reportar

sutilmente

à natureza, sem fugir

da tradição.”

Sem fechar

a porta à interpretação,

abrir espaço para a pura

contemplação.”

... tema sereno,

favorece a obtenção da

feição contemplativa

do haicai.”

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Paracauam é professor de História da Arte e Artes Plásticas. Poeta de 47 anos, da cidade de Trofa, Portugal. Alan de Longe é proprietário de um bar. Poeta de 42 anos, da cidade de Betim, Minas Gerais. O Velho é professor de Artes. Poeta de 50 anos, da cidade de Macaé, Rio de Janeiro. Bambina é professora de Ensino Profissionalizante. Poeta de 23 anos, da cidade de Paranaguá, Paraná.

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Tânia Diniz “ Ultimamente, quando consigo, leio virtualmente o Paulo Franchetti e o Edson Kenji Iura, no site www.kakinet.com.

Então, a dica é: ler muito.” (por Lohan Lage)

Tânia Diniz é graduada em Letras pela UFMG (português, francês, italiano, espanhol).

Poeta, contista, haicaísta, editora, promotora cult ural, professora de idiomas, oferece

palestras e Oficinas (haicai, criação literária); e ditora-idealizadora do mural poético

Mulheres Emergentes , em 1989, de publicação trimestral e de circulação internacional, que

enfatiza o feminino (autores novos ao lado dos conhe cidos) e onde já realizou 07

Concursos Internacionais de Poesia com excelente ac olhida do público.

Lohan: Primeiramente, foi um prazer recebê-la no blo g Autores S/A, Tânia. Em sua opinião,

quais são os elementos que um haicai de qualidade d eve possuir? Você poderia indicar

alguns livros de haicais, os quais você considera i mprescindíveis para quem pretende se

tornar um haicaísta?

O que acho mais complicado é tanta teoria... Sempre fiz poemas curtos, até me tocar que

poderiam ser haicais (ou até mesmo mini-contos). Meus amigos até comentavam. Daí passei a

buscar orientações, estudar, e naquela época nem tinha Internet. Conheci Teruko Oda (SP),

ficamos amigas e, através dela, muito aprendi. Aqui em BH eu nem sabia o que ou onde procurar

livros teóricos. Acho que ainda é difícil. Nas palavras de Teruko, sou irreverente (nem sempre),

mas mantenho o espírito que me faz haicaísta. Ultimamente, quando consigo, leio virtualmente o

Paulo Franchetti e o Edson Kenji Iura, no site www.kakinet.com. Então, a dica é: ler muito.

Geralmente, nos prefácios, sempre “se saca” algo novo. Alguns livros que cito e indico em minhas

oficinas são: Natureza – berço do haicai / kigologia e antologia – de H. Masuda Goga e Teruko

Oda; Bashô, de Paulo Leminski (Ed. Brasiliense) – este creio já ter sido esgotado; O haicai no

Brasil, de H. Masuda Goga (Ed. Oriento); Introdução ao haicai, de Teruko Oda (Grêmio Haicai

Ipê); O livro dos Hai-Kais (Ensaio de O. Paz), trad. De Olga Savary.

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Lohan: Este concurso de poesia visa, além da valori zação da poesia, o acompanhamento

da evolução dos poetas, uma vez que se trata de uma competição em longo prazo (dois

meses de duração). Qual conselho você poderia deixa r a todos esses poetas

competidores? Manter o estilo, ou variar o estilo p oético? Ousar, ou se manter

conservador? Como impressionar?

Tânia: Quanto à questão de se manter ou não o estilo (me refiro somente ao do haicai), para

concursos oficiais nacionais ou estrangeiros, segundo eu sei, no Japão, tem que ser o haicai

tradicional, com métrica, kigo, etc. Contudo, se encontra maravilhosos poemas brasileiros, com

certeza, e apesar de não serem rigorosamente dentro da tradição, são haicais. Sempre há muita

polêmica sobre essas questões, mas é possível perceber o espírito do haicai. Acreditem,

pratiquem e ousem.

SAIBA + sobre a autora

Livros de contos : O Mágico de Nós (1988/

2ª ed., 1989), Rituais (1997).

Poemas : Mulher EmBalada (1992); Bashô

em Nós , haicais (co-autoria/ 1996); Relato

de Viagem à Marmelada , haicais (1997);

Flor do Quiabo , haicais, (2001); Série

Preciosa , poemas (div. volumes), 2008;

entre outros.

Em 1998 foi secretária, tradutora e

intérprete na I Bienal Internacional de

Poesia de Belo Horizonte, à convite da

Secretaria de Cultura de MG.

Trabalhos publicados em diversas

antologias, revistas, sites e jornais

nacionais e alguns estrangeiros. Diversos

trabalhos premiados em concursos

literários no país e exterior.

Criou também a editora Mulheres

Emergentes Edições Alternativas , desde

1989, com inúmeros títulos editados.

e www.mulheresemergentes.com.

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“Demorou este ano,

Mas de repente, em toda a parte -

Primavera!”

(Paulo Franchetti)

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Ivanúcia Lopes é jornalista e cursa Mestrado em Letras (UERN). Atualmente, trabalha como assessora de comunicação na Prefeitura Municipal de Marcelino Vieira. Poeta de 23 anos, da cidade de Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte. R. é professora de Inglês. Poeta de 23 anos, da cidade de Formosa, Goiás. Bernardo Cabral é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Poeta de 37 anos, da cidade de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro.

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Vera Americano “ Democraticamente, a web tem expandido as possibilidades de divulgação da poesia e, por isso mesmo, anda provocando

um merecido e saudável reboliço” (por Lohan Lage)

Vera Americano nasceu em Minas Gerais. De família goiana, residiu entre Goiás e Rio de

Janeiro e, mais tarde, em Brasília. Estudou Letras na Universidade de Brasília (UnB), e fez

mestrado em Literatura Brasileira na Pontifícia Uni versidade Católica do Rio de Janeiro

(PUC/RJ). Foi professora de teoria da literatura na Universidade Santa Úrsula, no Rio de

Janeiro. Em Brasília, trabalhou no Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), na

Fundação Nacional Pró-memória e na Consultoria Legi slativa do Senado Federal, para a

qual se habilitou mediante concurso para o exercíci o da função na área de cultura e

patrimônio histórico.

Sobre a sua poesia, disse o filósofo e poeta portug uês Agostinho da Silva: “A sua

exactidão é um caminho para o divino, não um fim em si própria: o seu reino não é a

oficina, mas um céu indistinguível da terra. A sua forma perfeita seria o hai-kai , o contado

número de sílabas para conter o máximo de emoção. ( ...) E os há em seus poemas.”

Lohan: Vera Americano, primeiramente, é um imenso p razer recebê-la no evento poético

virtual de âmbito nacional. Vera, eu já li um livro de sua autoria, o Arremesso Livre , e

também alguns poemas encontrados apenas na Internet , em sites como o do Antonio

Miranda (www.antoniomiranda.com.br). Percebe-se uma singularidade incomparável, pelo

menos sob meu ponto de vista, em sua poesia, bem co mo um teor hermético que instiga o

leitor. Plagiando a pergunta que Júlio Lerner fez à Clarice Lispector numa de suas

entrevistas, você se considera uma escritora hermét ica? Afinal, o que é o hermetismo para

você?

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Se há hermetismo, acredite, não é intencional. Possivelmente, minha opção pela economia e pela

concisão do verso possa levar a esse juízo. Ocorre que, como efeito direto da concisão, o texto

poético carrega consigo várias e generosas camadas de sentido, o que, por sua vez, pode

suscitar múltiplas leituras. A meu ver, uma dicção prolixa, ao contrário, entrega ao leitor o poema

decantado, o que pode lhe arrefecer o ímpeto de atribuir aos versos novos sentidos nascidos de

sua própria leitura. É bom ressaltar, no entanto, que, obviamente, não se trata de uma regra geral.

Há primorosas e magistrais exceções, poetas que são autênticos ícones, cuja opção pelo poema

de longo curso não cala as muitas vozes de suas obras. No meu caso específico, a economia

verbal é uma das formas utilizadas para se alcançar o que se poderia chamar de efeito poético, o

que tem a ver com a emoção, com o envolvimento, com a surpresa.

Lohan: Meu primeiro contato com seus poemas foi pel a Internet. Muitos poetas sofrem com

o anonimato e com a não valorização editorial de sua s poesias. Haja vista esta

problemática, a utilização desta ferramenta (Interne t) para a divulgação da poesia estaria se

dando de modo emergente?

Sim, não há dúvida. Mesmo os autores apegados ao papel, à edição convencional, têm se rendido

ao imenso vigor demonstrado pelas novas mídias. É conhecido o árduo caminho que um poeta

precisa trilhar até o prelo de uma editora. Democraticamente, a web tem expandido as

possibilidades de divulgação da poesia e, por isso mesmo, anda provocando um merecido e

saudável reboliço. A meu ver, a facilidade oferecida por esse caminho tem favorecido, também, a

proliferação de uma certa gratuidade, o que, no entanto, não ofusca nem a significativa produção

de qualidade disponível nesse meio, nem a revelação de novos talentos.

Lohan: O modo de eliminação do concurso se dá atrav és da soma das notas dos jurados e,

posteriormente, pela decisão do público (voto pela enquete). O que você pensa a respeito

dessa interação do público no concurso? Existe just iça neste modo de eliminação ou esse

molde (voto popular) banaliza a poesia?

Não banaliza, de forma alguma. Entendo que o voto popular, geralmente carregado de

subjetividade, é muito importante para testar o apelo dos poemas concorrentes. Essa tal de

subjetividade - fator concorrente em qualquer avaliação de um texto literário - dificilmente deixa de

existir, a menos que se lance mão de parâmetros analíticos de natureza estritamente técnica.

Assim, à parte o juízo mais crítico e, digamos, mais especializado dos jurados, a participação

popular, como já afirmei, me parece muito importante. Além disso, não se pode deixar de valorizar

esse tipo de interação do ponto de vista do incentivo e do despertar do gosto pela leitura de

poesia. Nesse sentido, em particular, a iniciativa dos Autores S/A é admirável e merecedora de

todo aplauso.

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Lohan: Nesta etapa do concurso, os poetas competidores pro duziram haicais. Lido os

haicais, peço-lhe que deixe uma mensagem a todos el es e, também, ouso lhe pedir: por que

não um haicai de sua autoria, especialmente para o concurso?

Vamos lá, poetas! É chegada a rodada dos haicais! Não parece excessivo rememorar que o haicai

(ou hai-kai, como no original japonês), forma poética de reduzidas proporções e de grande

impacto, tradicionalmente ligado à observação da natureza, traduz, com extrema concisão, um

olhar, uma sensação, uma impressão. De um só fôlego, o poeta transmite, por exemplo, uma

mínima fração do tempo, um roçar de asas, a queda de uma pétala. De essência contemplativa,

abrindo espaço para a reflexão, o haicai lança mão de uma linguagem poética sutil e delicada,

mas, ao mesmo tempo, direta e objetiva, dispensando adornos, metáforas, devaneios.

O maior desafio recai na escolha das palavras. Já que são tão poucas, elas costumam ser

extremamente precisas: o flash de um efêmero instante contido no total de escassas 17 sílabas

poéticas. Originalmente, o haicai dispensava a rima, mas a tradução ocidental fez com que o

primeiro verso, quase sempre, rimasse com o terceiro. No entanto, autores de reconhecida

competência na composição de haicais dispensam a rima. Assim, desde que mantidas as regras

estabelecidas pelo concurso relacionadas à metrificação (o primeiro verso com 5 sílabas poéticas,

o segundo com 7, o terceiro com 5), à necessidade de titulação e às características essenciais

inerentes ao gênero, os haicais foram bem-vindos, com ou sem rima.

Parece-me indispensável frisar que os haicais concorrentes formam um precioso conjunto

de muito bom nível. A regra de atribuição de título, estabelecida pela organização do concurso, foi

habilmente explorada por grande parte dos concorrentes. Esses poetas converteram a

obrigatoriedade em um eficaz recurso: a atribuição de uma chave para a leitura e consequente

ampliação da voltagem poética de seus versos.

A todos os poetas concorrentes, meu louvor, meu incentivo! Que se abram à serenidade, à

inspiração e ao trabalho! E que venha a poesia!

Boa sorte a todos! E a propósito:

ZEN

sábia perfeição:

as corolas da manhã

aguardam a sombra.

Autora: Vera Americano

(Poema inédito de Vera Americano, concedido especia lmente para o I Concurso de Poesia

Autores S/A).

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SAIBA + sobre a autora

“A Hora Maior”, poesia, 1º prêmio da União Brasilei ra de Escritores, 1970;

“Viaje ao reino de Cora Coralina”, ensaio, El Urogall o, Madrid, 1996;

“Arremesso livre”, poesia, Rio de Janeiro, Editora R elume Dumará, 2004;

“Os Cine-jornais sobre a construção de Brasília”, ens aio, MinC/SPHAN/Pró-memória, Rio de

Janeiro, 1988;

Participação em :

antologias (“Poesia de Brasília”, organização de Joan yr de Oliveira; “Deste Planalto

Central”, organização de Salomão Sousa, entre outras ); suplementos literários e revistas

(“Poesia Sempre”, Fundação Biblioteca Nacional; “Tropo s”, Michigan State University,

entre outras); sites, blogs e revistas eletrônicas (“Cronópios”, “Casa das Musas”, “Máquina

do Mundo”, “Diversos afins”, entre outros).

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“Libélula voando

pára um instante e lança

sua sombra no chão”

(Goga)

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Aline Monteiro é estudante do Curso de Letras (Língua Portuguesa/Francês), da Universidade Federal do Amapá. Poeta de 25 anos, da cidade de Macapá, Amapá. Paul Celan é servidor público do judiciário, analista judiciário, bacharel em Direito e professor. Poeta de 46 anos, da cidade de Taguatinga. Semprepoeta estudou para ser professora e, hoje, é dona de casa. Poeta de 46 anos, da cidade de Ipatinga, Minas Gerais. J. J. Wright é professor de Língua Espanhola, Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas. Poeta de 22 anos, da cidade de Riachão do Jacuípe, Bahia.

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A todos os

poetas participantes

deste maravilhoso concurso de POESIA;

a todos os leitores, autores s/a

e convidados

que semeiam poesias por esse MUNDO afora,

o nosso muito

Obrigado!

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