8
www.jornalaldrava.com.br Página 1 ANO XI /// N ANO XI /// N ANO XI /// N ANO XI /// N ANO XI /// N O. 89 /// J 89 /// J 89 /// J 89 /// J 89 /// Janeir aneir aneir aneir aneiro / 2011 o / 2011 o / 2011 o / 2011 o / 2011 Mariana - MINAS GERAIS / BRASIL Mariana - MINAS GERAIS / BRASIL Mariana - MINAS GERAIS / BRASIL Mariana - MINAS GERAIS / BRASIL Mariana - MINAS GERAIS / BRASIL JORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURA URBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOSURBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOSURBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOS 89 89 89 89 89 89 89 89 89 89 89 cultural ISSN 1519-9665 POUSADA “ CONTOS DE MINAS ” RUA ZIZINHA CAMELLO, 15 - CENTRO = MARIANA / MG /// FONE: 0(xx)(31) 3558-5400 [email protected] www.pousadacontosdeminas.com.br Reflexo da Alma Efigênia Coutinho { Balneário Camboriú-SC } Palavras nuas, despidas pela ventania, compactuam com o tempo entre aspas no infinito, a garganta estrangulada pela lágrima, salgando a alma e o corpo! Soberba, a alma de tantos sonhos! Haverá um amanhã que se possa dar um Bom Dia, cheio de Alegrias, ascender lampejos dentro do peito?! Saltam ramos pelo vento, passando com toda potência, sem regras ou normas estabelecidas, vai arrasando um coração...Há pressa de viver... Aonde vão, não sabem, nem a que porto ancorar os sonhos, deitados em granito, abraçados ao banco de sol, entalham suas Almas ao Reflexo!

Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 1

www.jornalaldrava.com.br

ANO XI /// NANO XI /// NANO XI /// NANO XI /// NANO XI /// NOOOOO..... 89 /// J 89 /// J 89 /// J 89 /// J 89 /// Janeiraneiraneiraneiraneiro / 2011o / 2011o / 2011o / 2011o / 2011

Mariana - MINAS GERAIS / BRASILMariana - MINAS GERAIS / BRASILMariana - MINAS GERAIS / BRASILMariana - MINAS GERAIS / BRASILMariana - MINAS GERAIS / BRASILJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURAJORNALALDRAVACULTURALDIVULGANDOCULTURA

URBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOSURBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOSURBSMEACELLULAMATERMARIANAMINASGERAISBRASIL314ANOS

89

89 89

89

89

8989

8989

8989 cultural

ISSN 1519-9665

POUSADA “ CONTOS DE MINAS ”RUA ZIZINHA CAMELLO, 15 - CENTRO = MARIANA / MG /// FONE: 0(xx)(31) 3558-5400

reservas@pousadacontosdeminas.com.brwww.pousadacontosdeminas.com.br

Reflexo da Alma

Efigênia Coutinho{ Balneário Camboriú-SC }

Palavras nuas, despidas pela ventania,compactuam com o tempo entre aspasno infinito, a garganta estrangulada pelalágrima, salgando a alma e o corpo!

Soberba, a alma de tantos sonhos!Haverá um amanhã que se possadar um Bom Dia, cheio de Alegrias,ascender lampejos dentro do peito?!

Saltam ramos pelo vento, passandocom toda potência, sem regras ounormas estabelecidas, vai arrasandoum coração...Há pressa de viver...

Aonde vão, não sabem, nem a queporto ancorar os sonhos, deitadosem granito, abraçados ao banco desol, entalham suas Almas ao Reflexo!

Page 2: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 2

www.jornalaldrava.com.br

CENTRO MÉDICO DE DIAGNÓSTICO

Rua André Corsino, 142- Centro - Mariana/MG.

�Fone/Fax: 0XX31 - 3557-3550

Janeiro / 2011 NO. 89 MARIANA - Minas Gerais ANO XI

Pizzaria e Lanchonete Dom Silvério - Forno à Lenha�Praça Gomes Freire, 242 - Centro - Mariana/MG /// Fone: 0 (XX) 31 - 3557-2475

Os primeiros passos de quem cria ummovimento, muitas vezes não são compre-endidos e aceitos no início, talvez nem noandar da “carruagem” ou no final do cami-nho. O novo estranha, choca, desagrada agregos e a troianos, principalmente aos de-fensores de correntes tradicionalistas. Orompimento, a quebra de barreiras conhe-cidas e consagradas de produção é pisar emovos crus; é colocar a cabeça à bala e à pro-va de fogo. É ser vitrine. Não só sujeita atrincar, mas a receber pedras e se estilha-çar. Há pessoas que não suportam pressão.Há grupos que não sobrevivem às primeiraspedras. Há grupos que não suportam o fatode serem rechaçados e invejados. Não hánada mais pernicioso do que o sentimentode inveja. Já disse o grande Artur da Távolaem um de seus belíssimos aforismos: “quan-do a mídia não consegue derrubar, acabaconsagrando”. É difícil conviver aos ataquesferozes, mas é preciso continuar o caminhocom passos firmes e não se deixar abater ederrotar.

- Quem é dono da verdade?Às vezes, o pioneiro de um movimento,

seja literário ou artístico, não faz coisas mi-rabolantes, convincentes, mas deu o primeiropasso. Suas primeiras tentativas não foramtão brilhantes, mas posteriormente foram re-pensadas e lapidadas por outros grupos.Cecília Meireles retrata em sua crônica,“Precursoras Brasileiras”, sobre as pionei-ras em diversas áreas do conhecimento; aprimeira médica, a primeira maestria, a pri-meira atriz, a primeira aviadora, etc. A es-critora diz que ser o primeiro em qualquercoisa nem sempre é uma grande virtude; podeser simples casualidade, mas uma casuali-dade importante. “O pioneiro não faz, obri-gatoriamente, as melhores coisas; mas, àsvezes, o difícil mesmo é começar – e depoisque alguém deu um passo, embora não mui-to seguro nem muito avançado, já o cami-nho pode ir ficando mais compreensível, edaí por diante a marcha se vai fazendo comopor si mesma, rápida e natural”. CecíliaMeireles deixou uma obra vastíssima paraa humanidade. Um dos vultos mais destaca-dos e importantes da poesia em Língua Por-tuguesa; por sua qualidade poética, marcoua história de nossa literatura no século XX,nos versos líricos de traços místicos, nosregistros em suas crônicas sobre o mundo,

sobre os fatos no Romanceiro da Inconfidên-cia, um dos pontos mais altos de seu traba-lho e sua dedicação ao público infantil nosclássicos Ou isto ou Aquilo, de 1964.

Podemos citar, também em brevíssimaslinhas, a Semana da Arte Moderna, hoje es-tudada e valorizada no país e nas aulas dahistória da Literatura Brasileira. Sabemosque o movimento de 1922 foi alvo de gran-des críticas e em parte ignorado. Não foicompreendido, nem bem visto na época. Oobjetivo da semana era a renovação dasartes plásticas, da literatura, da música,enfim da cultura brasileira em relação aosmovimentos de vanguarda europeus em bus-ca de uma linguagem autenticamente nacio-nal, ou seja, a criação de nossa identidade.Foi uma época de polêmicas, de provoca-ções e de brigas estéticas. O movimento deuum grande passo para a conquista da artebrasileira da atualidade.

Romper barreiras formais de produçãonão é caminhar no Jardim do Éden nem noPaís das Maravilhas. É dar a cara a tapa. Éliberdade de pensamento e de criação artís-tica, sem medo de represálias e de críticas.É liberdade de expressão, sobretudo cora-gem de escrever e de concretizar novasideias.

Vivemos em um país democrático nãosó politicamente, mas culturalmente. A vidaé feita de opções. Fazer algo relevante ouficar sem fazer coisa alguma. Somos livrespara criar e continuar a fazer coisas em queacreditamos. Os outros também são livrespara discordarem de nossas teorias e denossas experimentações. Os mais tradicio-nais se deterão apenas nos pontos a seremmais elaborados ou totalmente modificados,discordarão de tudo e repetirão a trajetóriae a história de movimentos consagrados. Ospensadores vão apontar possíveis falhas esugerir nesses casos, reparos; mas tambémdestacarão pontos significativos e relevan-tes. Outros vão ignorar seja por inveja, des-crença ou por falta de competência mesmo.Muitos não argumentarão, ficarão quietosà espera de alguma repercussão, seja nega-tiva ou positiva; esses são os famosos “emcima do muro”, e outros não opinarão por-que não querem ou não têm interesse noassunto. Mas o x da questão é: ficar namesmice, repetindo formas consagradas dopassado ou, ousar dar o primeiro passo.

ANDREIA DONADON LEAL:

cai

de

mim

lágrimas

de

saudade

~~~~~~~~~~

GABRIEL BICALHO:

uma

flor

cai:

aldavia

ou

haikai?

~~~~~~~~~~

J. B. DONADON-LEAL:

chuva

cai

no

telhado

sonho

molhado

~~~~~~~~~~

J S FERREIRA:

caía

ávida

vida

vivida

à

revelia!

~~~~~~~~~~~~~~

O QUE É ALDRAVIA?Trata-se de um poema sintético, capaz deinverter ideias correntes de que a poesia estánum beco sem saída. Essa forma nova demonstrauma via de saída para a poesia – aldravia. OPoema é constituído numa linométrica de até

06 (seis) palavras-verso. Esse limite de 06palavras se dá de forma aleatória, porémpreocupada com a produção de um poema quecondense significação com um mínimo depalavras, conforme o espírito poundiano depoesia, sem que isso signifique extremo esforçopara sua elaboração.

~~~~~~~~~~~~~~~~~

ALDRAVIAS~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~~~~~~~~~~~~~~~

Fazer ou não fazer Andreia Donadon Leal -

Mestranda em Literatura-Cultura& Sociedade pela UFV

Page 3: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 3

www.jornalaldrava.com.br

1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234561234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345612345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456

CRISTAIS E COMPANHIAFÁBRICA DE JÓIAS E SEMI-JÓIAS EM PEDRAS PRECIOSAS

�RUA DIREITA, 85 - CENTRO - MARIANA / MG�[email protected] FONE: (31) 3557-1471

Janeiro / 2011

12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345671234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456712345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345671234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456712345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345671234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456712345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345671234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456712345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567

TRANSAMÉRICA FM 92,5(031) 3832-2300 ou (31) 3832-1082

SANTA BÁRBARA / MINAS GERAIS

NO. 89 MARIANA - Minas GeraisANO XI123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901

Computadores, acessórios, manutenção e rede. Av. Castelo Branco,180-A - Centro - Santa Bárbara/MG.

�Fone: 0--31 - 3832-1462

Dada a repercussão havida com olançamento das aldravias na ediçãoanterior deste jornal cultural, atendo àsolicitação de leitores para discorrer umpouco mais sobre essa nova forma depoesia. Vários poetas de diversas partesdo país já estão produzindo aldravias econfessam entusiasmo com essa novaforma poética, especialmente porque elaenvolve, embriaga, vicia.

Aos tipos líricos de poesia maistradicionais (acalanto, acróstico, balada,canção, cantata, canto real, gazel, glosa,haicai, lira, madrigal, noturno, parlenda,rondó, soneto, trova e vilancete) a aldraviaacrescenta um tipo de poesia ainda maissintético que o haicai e a trova. Dasdezessete sílabas do haicai, a aldravia temapenas seis palavras dispostas em seisversos.

O que se sabe da origem de cada umdesses tipos de poesia? Quase nada. Asformas de poesia são consagradas com otempo, mas a memória de suas fundaçõesquase sempre é ignorada. Como precisar aorigem do acalanto? O ato de ninar umacriança deve ser tão natural quanto àmaternidade. As formas poéticasdestinadas ao canto também são tãoantigas quanto a humanidade. A funçãopoética da linguagem, aquela de Jackobson,que trata da fala natural e não deproduções textuais elaboradas, essa quepressupõe a musicalidade e a poeticidadeda fala algo da natureza da linguagem, nosleva à crença de que vários tipos de poesiasurgiram da espontaneidade da criaçãolinguageira. Talvez não precisasse de ummentor intelectual para burilar uma formapara ser cantada. Certas quantidades desílabas são talhadas à musicalização – asredondilhas maiores, por exemplo, ou osdecassílabos, que jogadas na produçãonatural da linguagem resultam em músicasque, repetidas, ficam na memória coletivae se multiplicam seguindo as mesmas

métricas consolidadas pela reiteração. Talvezse possa dizer o mesmo em relação ao haicai,poesia japonesa em forma de canto que atingiuseu ápice com Matsuó Bashô.

Do soneto, especula-se que teria sidocriada por Jacopoda Notaro, no Séc. XIII, paraser declamado na corte de Frederico II, masfoi consagrado quase um século depois porPetrarca, que o aperfeiçoou e produziu umaquantidade relevante desse tipo de poema.

No século XX surgiram algumas formaspoéticas e merecem destaque – a poesiaconcreta, de caráter experimental em que sedispõem palavras espacialmente paraproduzir comunicação visual; a poesianeoconcreta, com o acréscimo daexperimentação geométrica nessa disposiçãoespacial de comunicação visual; e a poesiapraxista, que buscou estrutura dinâmica quese deixa à influência do leitor. Em todos essescasos, essas experiências poéticas pecarampela complexidade e grau de dificuldade deinterpretação. Isso criou alto grau de rejeiçãode ver naquelas produções algo que seidentificasse como poesia.

O Movimento Aldravista desde sua origembuscou encontrar parâmetros de poeticidadena simplicidade, de forma que a propostapoética tenha poeticidade mas sejacompreensível, como se o poeta tivessebuscando encontrar a poética na própria fala.Nessa busca, encontrou-se no haicai o queestaria mais próximo dessa pretensão.Simplicidade e poeticidade, conteúdo comeconomia de palavras, bem no propósitopoundiano de poesia. No entanto, osaldravistas imaginaram que era possível irmais longe nessa senda da poesia sintética.Além da síntese, era preciso manter a maissublime característica das ações humanas: aliberdade.

Nesse espírito, pensando poeticidadecomo propriedade intrínseca da linguagemhumana, é que Andreia Donadon Leal, GabrielBicalho, J S Ferreira e eu propusemos aaldravia como nova forma de poesia.

Nas discussões dos aldravistas naconcepção da aldravia, Gabriel Bicalhopondera que, se os provérbios podem serdensos de conteúdo com seis ou setepalavras (Diga com quem andas; direi quemés. Casa de ferreiro, espeto de pau), a poesiatambém poderá assim ser, ainda mais queo poeta pode se dar ao luxo de usarsomente palavras essenciais para acomposição do conteúdo pretendido. Maisuma vez, o máximo conteúdo no mínimo depalavras com a musicalidade e aplasticidade da poesia. Em função disso, ogrupo, por consenso, definiu a aldraviacomo poema sintético de seis versos de umapalavra sobrepostos na linha vertical.

Mais que isso, a aldravia, para mantero bastião do aldravismo – a liberdade –pode contemplar em suas composiçõesqualquer tipo de motivação lírica: ode(homenagem a algo ou alguém); elegia(saudade ou melancolia); idílio (culto ànatureza); epitalâmio (homenagem anúpcias) ou sátira (crítica a algo ou alguém).Como se vê, a aldravia é apenas umenvelope simples capaz de abrigar qualquerproposição temática, com o máximo depoeticidade.

Alerta: aldravia vicia, mas esse vício fazbem ao espírito criador.

salvaro

lirismodo

profundoabismo!

aviaàmentebouquetdealdravia

naserrabrancoslençóisdechuva!

palavrasfogem

dementessem

ideias

gabr

iel b

icah

oan

drei

a do

nado

n le

al

j. b. donadon-lealj.s.ferreira

Aldravia{ a consagração desta forma poética }

J. BJ. BJ. BJ. BJ. B. Don. Don. Don. Don. Donadon-Ladon-Ladon-Ladon-Ladon-Lealealealealeal

[email protected]

Pós-Doutor em Análise

do Discurso / UFOP

Page 4: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 4

www.jornalaldrava.com.br

UAI, ZÉ - Restaurante e Pizzaria [ Anexo ao Hotel Müller ] AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 34 - Centro - MARIANA/MG � FONE: (31)-3558-5109

Janeiro / 2011

Telelefone:(31) 3557-2873

Rua Praia do Canela, n° 85 - Barro Preto/Mariana-MG

NO. 89 MARIANA - Minas GeraisANO XI

naaldravia

obelose

resume

~~~~~~~~desprezei

minasparticulares,

preferiMinasGerais

~~~~~~~~brotamflores

dochãoondepisas

~~~~~~~~bastauma

estrela emmeucéu

~~~~~~~~é

quandotua

presençadispensapalavras

~~~~~~~~querovestirtua

noitedespindocensuras

~~~~~~~~

orvalhosem

licençapousa

naflor

~~~~~~~~como

equilibrarequações

emcada

ausência?

~~~~~~~~e

adiantatentar

consertarvaso

quebrado?

~~~~~~~~mensagensgeométricas

novooda

gaivota

~~~~~~~~rodada

vidaemgiro

implacável

~~~~~~~~aquela

mãozinhaestendidaesprememinha

consciência

~~~~~~~~

Luiz Gondim{ RJ / RJ }

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

só aldravias só aldravias só aldravias só aldraviasFabrício Avelino

{ Barbacena / MG }~~~~~~~~~

curtoe

grossoo

nãoexposto

~~~~~~~~tropeço

notrópico

eestateloutópico

~~~~~~~~versobrevebrisaleve

escreveverve

~~~~~~~~da

camaà

lamasurdo

reclama

~~~~~~~~lutoemvidadesol

poente

~~~~~~~~dopóaonó

atadosó

~~~~~~~~

notremda

noitetateio

silêncios

~~~~~~~~sou

passageirodo

tremda

esperança

~~~~~~~~o

tremvai

empurrandoo

vento

~~~~~~~~sobre

dormentesda

linhaacordessoam

~~~~~~~~lenços

brancosacenam

parao

trem

~~~~~~~~a

eternamagiaviajade

trem

~~~~~~~~

Goretti de Freitas{ Ipatinga / MG }

~~~~~~~~~

Page 5: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 5

www.jornalaldrava.com.br

Tecnologia & AcessóriosRua do Carmo, 83, Lj 204 - Centro = Mariana-MG /// www.jnfinformatica.com.br

�FONE: (31)-3557-3898

NO. 89 MARIANA - Minas GeraisANO XI Janeiro / 2011

LOJAS AMOR EM PEDAÇOS / REDE �FONES:

RUA FREI DURÃO, 216 - 226 - 232 e 238 = MARIANA/MG.

3557-1446 � 1399

� 3299 e � 2597.

só aldravias só aldravias só aldravias só aldravias

palavrasresmungamaldravias

nosmeus

ouvidos

~~~~~~~~meu

pensamentoroda

mundoversejandoprofundo

~~~~~~~~souteia

aranhaquefio

acompanha

~~~~~~~~colombinaarlequim

pierrôchororô

semfim

~~~~~~~~lágrimasjogueifora

felicidadechegouagora

~~~~~~~~tremde

ferroestaçãosaudosa

recordação

~~~~~~~~

Amélia Luz{ Pirapetinga / MG }

~~~~~~~~~dama

danoite

perfumaquartovazio

~~~~~~~~cabelos

molhadosgingandofaceiros

aovento

~~~~~~~~luar

indiscretobanhando

meucorpo

despido

~~~~~~~~estrelaschoramlágrimas

prateadaslamentando

ausência

~~~~~~~~pássaros

cumprimentamo

solsinfoniamatinal

~~~~~~~~flores

chorandotristezadentro

dajarra

~~~~~~~~

Cecy Barbosa Campos{ Juiz de Fora / MG }

~~~~~~~~~mar

amnióticofeto

respirasem

aparelhos

~~~~~~~~girassóispulsam

telade

VanGogh

~~~~~~~~sem

pressaaracnídeoespreita

apresa

~~~~~~~~monalisa

imortalizouDa

Vincinum

sorriso

~~~~~~~~no

inefávelriso

chaplinianolírica

tristeza

~~~~~~~~vocêspoetas

eternizam-seno

meucoração!

~~~~~~~~

Luiz Poeta{ RJ / RJ }

~~~~~~~~~

pulsaduploazulna

paisagem:verão!

~~~~~~~~mar

aradopelosolhoscolho

saudade

~~~~~~~~saudadeamuletolíquidousado

nopeito

~~~~~~~~

Maria Beatriz delPeloso Ramos

{ RJ / RJ }

~~~~~~~~~

abelhamorta:menos

melno

pote

~~~~~~~~casa

gradeadaportão

trancado:sou

livre?

~~~~~~~~

Marisa Godoy{ Ponte Nova/MG }

~~~~~~~~~

Page 6: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 6

www.jornalaldrava.com.br

Rua Dom Viçoso, 53 - Centro - Mariana-MG / CEP 35.420-000 /// Fone: (31) 3557-3232RESTAURANTE LUA CHEIA �Comida a quilo, com churrasco

Janeiro / 2011 NO. 89 MARIANA - Minas Gerais ANO XI

�Rua 16 de julho, 334 - Centro - Mariana/MG

eFone: (31) 3557-2787

olly Ltda.Eletrop ATELIER CACÁ DRUMMONDFONES: ( 31 ) 3558-6767 OU 9967-6767

Rua Dom Silvério, 303-Centro-MARIANA - MG

O título deste texto pode levar o seu leitor a umequívoco. Trata-se de um equívoco em nada grave e abso-lutamente saudável, para o exercício da leitura: aventuramais que agradável para quem a ela se dedica. Este equí-voco se deve ao fato de que o meu objetivo é apresentarum quadro geral da ficção de Embla Rhodes, jovem escri-tor da “Manchester” mineira, que vai publicar em breveseu quarto romance: A farofa das Ides. Logo, logo, expli-co um pouco mais o porquê do equívoco, aqui menciona-do. Antes, quero falar um pouco sobre casualidade. Sim, acasualidade que faz as pessoas experimentarem coisasinesperadas, fazer coisas insuspeitadas, manter-se in-formado sobre assuntos nunca antes pensados e mais, emais.

O meu contato com Embla Rhodes segue o enredodestas casualidades. Sendo absolutamente sincero, nãome recordo como foi o nosso primeiro contato. Ainda nãonos encontramos pessoalmente, já nos falamos por tele-fone, e sempre nos escrevemos. Se estas não são oportuni-dades/situações para se conhecer uma pessoa, então nãosei que nome dar... As facilidades da comunicação eletrô-nica fizeram com que eu, de certa forma, e em certamedida, tenha exercido um certo “domínio” sobre a obradeste escritor. Praticando um dos princípios operacionaisda estética da recepção, tento, a cada livro que dele leio,visualizar o horizonte de expectativas, meu e da obra,estabelecendo um circuito de idéia, o que faz valorizarmais a obra que vai se consolidando a cada título. Demaneira sucinta, pretendo, aqui, fazer uma apresentaçãomais ampla desta obra, com o intuito de, simultaneamen-te, incentivá-la, em sua continuidade e divulgá-la. Creioque esta é uma “obrigação” do leitor que,famigeradamente é alcunhado com o epíteto de “pre-pa-rado”.

*****Os dois livros já publicados Aether e Viagem ao

sol, sem muito exagero, podem ser considerados “her-deiros” da tradição dos romances policiais, no contextoda Literatura Brasileira. Da mesma forma o ainda inéditoHiperburguesia. Quase não tenho dúvida quanto à manu-tenção desse estatuto, no que se refere a A farofa dasIdes, também inédito. Em linhas gerais, o romance polici-al é um tipo de narrativa que expõe uma investigaçãofictícia, ou seja, a superação metódica de um enigma ou aidentificação de um fato ou pessoa, ambos misteriosos.Toda a narrativa policial apresenta um crime e alguémdisposto a desvendá-lo, porém nem toda a narrativa emque esses elementos estão presentes pode ser conside-rada policial. Isto porque além da necessidade de um cri-me, é preciso também uma forma de articular a narrati-va, de estabelecer a relação do detetive com o crime ecom a narração. É nesta “articulação” que a peculiarida-

de da escrita de Embla Rhodes ganha consistência. Aosaltar do âmbito mais “estrito” da narrativa policialesca,sua dicção ficcional é marcada por uma abordagem deaspectos sociais, familiares, íntimos, existenciais mes-mo de cada personagem. Sempre me lembro de LuizAlfredo Garcia-Roza: e não estou apenas tentando esta-belecer um paralelo valorativo. Falo mais fundo, falo deafinidades eletivas... do leitor!

A figura do detetive na narrativa policial deu-sepor acaso, numa história que não tinha esse cunho. Tra-ta-se de Zadig, o herói voltaireano que, aproveitando-sede seus dons de observação no episódio do desapareci-mento da cadela da rainha e do cavalo do rei, é acusadode saber do paradeiro dos animais reais e escapa doexílio na Sibéria ao apresentar argumentos dotados deraciocínio lógico bastante convincente para provar aojúri que realmente não os vira, mas, apenas seus ras-tros deixados pela estrada. Sua lógica pode ser aponta-da pelos historiadores do gênero policial, como a avant-première do espírito de observação que marca a personado detetive – denominação genérica e comum. De novo,a particularidade do romance de Embla Rhodes faz-seporta voz de uma espécie de eco: a voz narrativa assu-me, em suas histórias, de certa forma, a responsabili-dade de encenar o detetive; ainda que possa seridentificada esta personagem, ao longo da trama. Naleitura que faço dos romances dele, sempre penso queesta perspectiva é muito evidente para ser deixada delado.

É fato que, tradicionalmente, a narrativapolicialesca tem como ponto de partida um enigma a serdesvendado. Não se pode negar o fato de que este gêne-ro de narrativa oferece sempre duas histórias distintas:a do crime e a do inquérito, para usar de uma linguagemmais corriqueira. Nesta, pouca coisa acontece e os per-sonagens encarregados da descoberta do criminoso,apenas observam e examinam os indícios deixados peloassassino, não realizando nenhum tipo de ação fora doslimites da racionalização lógica. O relato da investiga-ção geralmente fica a cargo de um companheiro do de-tetive. Nesse tipo de narrativa – ainda considerado ocaráter “clássico” de sua possível tipificação –, o enre-do se arma com base em cenas progressivas de suspenseque desencadearão, ao final, a descoberta do criminoso.Durante a investigação, porém, nada que ponha em ris-co a integridade física do detetive poderá acontecer.Esta é uma das regras do gênero que postula a imunida-de do detetive. Uma vez que as personagens nesse mo-mento não agem, mas tiram conclusões sobre uma ação

O eterno retorno renovadoJosé Luiz Foureaux de Souza Júnior

Ph.D. - Professor de Literatura Luso-Brasileira - UFOP

... o texto é lembrança de uma outra tela. Texto que se lembra de um textoanterior. O grau zero da es-critura não existe e talvez jamais tenha existido. Aliteratura é sempre de segundo grau, não em relação à vida ou à realidade socialde que ela seria mimesis (Auerbach), mas em relação a ela mesma, e o plágionão é senão um caso particular dessa escritura sempre derivada de uma outra.Michel Schneider, Ladrões de palavras

CONTINUA NA PÁGINA 7...

Na última sexta-feira, (dia 08 de dezembro de2010) o Espaço Haroldo de Campos da Casa das Rosas,na Avenida Paulista, foi beatificado pela arteconsistente dos poetas mineiros aldravistas, osescritores J B Donandon Leal, J S Ferreira, AndreiaDonadon Leal e Gabriel Bicalho e o músico e jornalistado Jornal Aldrava Cultural, Thiago Caldeira da Silva.Com o mega empresário português do Grupo Siram,Dr. Silvio Santos, que está trazendo através da 4Life,o essencial Fator de Transferência, produto queaumenta a resposta imunológica dos doentes decâncer, estivemos a representar o querido amigo deambos, Édison Almeida, escritor brasileiro (AVATAR)e ativista ambiental, radicado na Ilha da Madeira.Interessante situação a de esperar normalidade, orarpara ouvir poucos palavrões metidos a poesia, eencontrar qualidade excepcional.

JB Donadon-Leal quase me mata ao ler a poesiaque escolheu para abrir o sarau, senti-me como alguémque cochilasse na rede e fosse despertado porsaraivada de fogos que amigos traquinas tenhamlançado sob a mesma. Perái, convite honesto tem quevir com aviso de intensidade emocional alcançável.Registrem aí para este vosso Sarau LiterárioItinerante, avisem: a gaúcha é paulistana, masarrancamos-lhe a casca! Convidei-os à minha casa. Aíestão os diamantes que Minas não cansa de produzir,vivos e autênticos do mais alto quilate. Será o ar, seráa água, será o solo? Será a música de Thiago cutucandocom as pontas dos dedos o coração da gente? E lápelas tantas não satisfeitos de ler nas expressões dospresenteados presentes a estampa da admiração,arrastaram uma mesa para o centro da sala esentaram-se em volta, como astronautas atemporais,talvez os que outrora pousaram na Ilha de Páscoa...válá... a ler trechos de Flora: amor e demência & outroscontos, o último livro de autoria de Andreia Donadoncom comentário no posfácio de Moacir Scliar e AngelaTogeiro. Estiveram presentes, os presenteados com apapa fina da poesia de Mariana, Affonso AugustoMoreira Penna (bisneto do Presidente Affonso Penna),o Embaixador Darlan Tupinambá, que fez a doação delivros para o Poesia Viva - a poesia bate à sua Porta, aSecretária-Geral da UBE-São Paulo - Rosani Abou Adal,e o jornalista Luiz Avelima, a enciclopédia ambulantedo activismo cultural brasileiro. A locomotiva, aidealizadora do projeto Poesia Viva - a poesia bate àsua porta, Andreia Donadon Leal, na ocasião ainda foinomeada como Membro da UBE-São Paulo. O idílicoambiente da Casa das Rosas recebendo aldravistas -que combinação!

palavras são pumaspalavras são pedraspalavras são foices:depende de nósescolhero que as palavras serãoem nossas bocas.(Andreia Donadon Leal)

~~~~~~~~~~~~~~~~

* Postado por Giane Pereira Soares no Blog:

http:/gianepereirasoares.blogspot.com/~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Comentáriosde

Giane PereiraSoares

Page 7: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 7

www.jornalaldrava.com.br

NO. 89 MARIANA - Minas GeraisANO XI

CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO �FONE: 99764673 ���Dra. ELIANE ISABELA BRANDÃO /// RUA ZIZINHA CAMELO, 06 // Sala - 04 = MARIANA/MG.

PAULINO CONTABILIDADE �Téc. Cont. : � JÉSU PAULINORUA MANOEL DA COSTA ATHAYDE, 56 - CENTRO - MARIANA/MG /// FONE 0(xx)(31) 3557-1815

Janeiro / 2011

passada, a narrativa é elaborada em forma de me-mória,diminuindo, em princípio, as possibilidades do detetiveser atacado ou morrer no desenrolar da história. A es-trutura básica de todo romance de enigma clássico re-quer essas características, em cada uma das históriascontadas. Estrutura esta que enfatizará, não o crime daprimeira história, mas a forma de investigação do dete-tive sobre a ação passada e a forma de condução doinquérito da segunda estória.

Mais uma vez, nota-se o traço particular da escri-ta de Embla Rhodes: a rasura que sua narrativa deixa napágina “clássica” do romance policialesco. Esta peculi-aridade, a meu ver, se deve ao fato de que o autor mis-tura algumas variantes narrativas não encontradas noromance policial tradicional. Pelo menos, da maneiracomo estas mesmas variantes são tratadas aqui e lá.Refiro-me, especificamente, à intromissão do e no mun-do acadêmico – como é o caso em Aether e Viagem aosol –, na mesma medida em que se pode percebê-lo, noque se refere à sociedade dita burguesa e familiar – nocaso de Hiperburguesia e A farofa das Ides. Não setrata de alocar esses espaços como meros cenáriosnarrativos em que a ação decorre. Sua “presença” cons-titui elemento orgânico do discurso narrativo, dado queelementos constitutivos de cada um desses estratossociais é o elemento-chave para a elucidação dos cri-mes. Sim, dos crimes, no plural. Uma vez que não setrata apenas de romances “policiais” tout court, essavariante do gênero inova pela incorporação de univer-sos, digamos, paralelos, na composição da cena narra-tiva. A maneira como o autor desenvolve os diálogos e asua experiência pessoal, em alguns casos dão um sa-bor especial às histórias. Penso que este é um elemen-to determinante para a identidade própria da obra doescritor de Juiz de Fora.

É necessário fazer uma pequena digressão. Quan-do afirmo acima a interferência da “experiência pesso-al” do escritor, na composição de sua trama e no desen-volvimento do discurso narrativo de sua ficção, não es-tou afirmando que se trata de um “romance policialautobiográfico”. Isso seria superficial e ingênuo demais.No entanto, com o contato até agora mantido com oautor, posso afirmar que ele faz um exercício feliz deconstrução romanesca, utilizando como um de seus in-gredientes principais a sua experiência pessoal: umaespécie de conhecimento dos fatos (não ficcionais, evi-dentemente). Alguém poderia mencionar a “fabulação”,como termo a ser utilizado para identificar esse pro-cesso criativo. Considero redutor este termo. Por outrolado, o termo “autobiográfico” também não é um adjeti-vo adequado. O que quero dizer é que a as obras deEmbla Rhodes transcendem o mero traço autobiográfi-co, sem, no entanto, “inventar”, no sentido maisfantasioso do termo, sobre eles. Lembro aqui o concei-to aristotélico de verossimilhança, tão combatido, e, noentanto, tão “essencial” à arte narrativa. Em uma frase:é esta mesma verossimilhança que é celebrada peloautor sem sua escrita, sem, no entanto, provocar umaredução sem eu discurso. A narrativa de Embla Rhodesinova, portanto, nesse sentido.

Tal característica já se encontra em Fugas e luxú-ria. Livro de estréia, até onde eu sei, oferece ao leitoralguns elementos que serão retomados, retrabalhadose aprofundados nas obras subsequentes. Obra desigual– não se pode dizer que haja unidade temática e/ou es-trutural entre os contos que o compõem – as históriascontadas já apontam para os universos ficcionais depredileção do autor. Com isso, não quero afirmar que a

tal de “unidade temática” seja conditio sine qua non parauma valorização positiva de um livro de contos. Obvia-mente que não! No entanto, é necessário destacar a pas-sagem que ocorre entre esse livro de estréia e o quesegue. Principalmente pela criação de Augusto Steiner,um alter ego sedutor e trágico, convincente e instigante.Só lendo Viagem ao sol e Aether para se dar conta dessascaracterísticas.

A natureza dos romances policiais está igualmen-te relacionada às funções da literatura de massa e àsforças que operam sob a sociedade burguesa. Os proble-mas humanos e os crimes transformados em “mistéri-os” que possam ser solucionados representam uma ten-dência comportamental e ideológica típica do capitalis-mo. De novo, percebe-se que Embla Rhodes está bem“calçado”. Sua obra não apenas é herdeira desta tradiçãocomo dialoga com ela, atualizando assuntos, polemizando“tradições” e questionando “verdades” que antes eramtomadas como insofismáveis. É o que também se perce-be quando se toma em consideração outra característicado gênero e origem. Ou seja, o fato de que o romancepolicial também demonstra que, não pode haver crimeperfeito, logo, ilegalidade sem punição. Na ficção roma-nesca, não haveria lugar para a impunidade, já que a or-dem social concebe o delito como uma anomalia, umaviolação da lei. A principal função ideológica na literaturapolicial é a demonstração da estranheza do crime. Carac-terizando o criminoso como um ser estranho à razãonatural da ordem social, ela faz parte de uma pedagogiado poder que, através da diferenciação das citadas ilega-lidades, define a delinquência. O criminoso, geralmente, éalguém que não se enquadra na ordem social, sendo poristo necessário identificá-lo e puni-lo. Com efeito, a nar-rativa policial segue uma ordem de descoberta, tendo comoponto de partida um fato extraordinário. Talvez fosse ocaso de enfocar a leitura dos romances de Embla Rodes apartir desse axioma do gênero clássico policialesco, tem-perando-a com um pouco de malícia e boa dose de ironia,ainda que no mais das vezes implícita de suas narrativas.

O universo do romance policial é permeado poresses vários elementos: medo, mistério, investigação, cu-riosidade, assombro, inquietação, que são dosados de acor-do com os autores e as épocas. Através da palavra, omedo se torna uma tortura da imaginação e estabeleceuma relação poética entre narrador e leitor. O mundo é,dessa forma, uma fonte de inspiração literária, visto que,mistérios sempre existiram desde os primórdios da his-tória da humanidade. A raiz metafísica deste gênero estána necessidade humana de eliminar a angústia e o sofri-mento que nos dominam enquanto não atingimos a com-preensão de uma determinada situação de mistério. Otemor diante do desconhecido e o espanto como resulta-do da dissolução de um enigma são traços pertinentes àprópria psicologia humana.

Em toda investigação racionalmente conduzida, há,em germe, traços do romance policial. Tudo isso se apli-ca de maneira notável e admirável à narrativa de EmblaRhodes. Lembre-se, sempre, de que não se trata de ro-mances policiais au pied de la lettre, como insisti emafirmá-lo. No entanto, faz jus a esta associação com afaceta tradicional do gênero narrativo a que inegavelmen-te se filia.

Com estratégias cada vez mais sofisticadas, oromance policial começa a apresentar charadas com ointuito de aumentar o interesse do leitor a partir do mo-mento em que ele sente-se incapaz de desvendar o misté-rio sozinho. A partir daí, o romance policial começa a sertratado como uma espécie de jogo. Aether e Viagem aosol fazem isso no universo acadêmico da Física. Poder,sedução, reconhecimento, inveja e estratégia definem umcurso narrativo que põe em questão, tanto as “verdades”

acadêmicas, quanto as “verdades” existenciais daspersonagens. Em outro contexto, a sociedade como umtodo, no caso de Hiperburguesia; ou em seus círculosmais “íntimos” ou nucleares, como a família em A farofadas Ides; desempenha esse mesmo papel de eixo deorientação de discussões subliminares que costuram anarrativa em suas reviravoltas aparentemente – e ape-nas assim – mirabolantes.

*****Recentemente escrevi para alguns editores, reco-

mendando a obra de Embla Rhodes. A recomendação,neste caso, vale pela obra e seu autor, muito mais quepelo “quem recomenda”, é claro! Disse que conheço aobra desse escritor desde seu primeiro livro. Já colabo-rei com as orelhas de uma de suas edições. O fato deconhecê-lo só faz ratificar a opinião que tenho de suaobra. Diferentemente do que se poderia dizer de umautor “novo”, trata-se de talento praticamente lapidado,senhor de uma técnica narrativa cativante que conseguesuperar limites entre gêneros e temas, provocando oleitor à elaboração mental de discursos e imagens, semse deixar enredar em esquemas mercadológicos e/oude fácil sedução.

A herança “policial” de seus romances não fica adever aos mestres do gênero, mas, de certa forma, ossupera – como seria de esperar de um “discípulo” apli-cado e talentoso. Mais uma vez, a escrita de Embla nãopode ser reduzida a uma simples “aplicação” de princí-pios narrativos do romance policial. A atualidade dostemas enredados, a marca pessoal de suas persona-gens e a infinita capacidade da ficção de ajudar o leitor aconstruir seus mundos narrativos, enquanto lê, faz daobra de Embla Rhodes um “sopro de vida”. No que seconvencionou chamar de “vida literária”.

Claro está que não se pode “afirmar” com certezae segurança absolutas que um escritor está “pronto”. Adiscussão é longa. No entanto, a maturidade desse autorme assegura a convicção de que merece figurar no qua-dro de qualquer editora gabaritada. Prova disso é a dife-rença que se nota entre seu primeiro livro Fugas e luxú-ria e sua última obra, ainda inédita, A farofa das Ides.Este eu ainda não terminei de ler, mas já sinto a mesma“reação” antes experimentada. Profissional da escritaque é, o autor já teve uma de suas obras indicadas parao prêmio Nobel, o que não é pouco.

Sou professor de Literatura Luso-Brasileira da Uni-versidade Federal de Ouro Preto, atualmente trabalhan-do como professor visitante (Leitor de Português) naUniversidade de Zagreb (Croácia). Sinto-me suficiente-mente seguro e convicto para sustentar o que aqui vaiescrito. Leitor e incentivador de Embla Rhodes, a mimagradaria imensamente vê-lo ombrear nomes como LuizAlfredo Garcia-Roza, Rubem Fonseca, Milton Hatoum,Bernardo Carvalho, Wilson Bueno e outros, no quadro deuma editora conceituada. Neste sentido, o conjunto deobras de Embla Rhodes pode ser considerado um exce-lente cabedal narrativo, suficiente para colocá-lo “no cir-cuito”, como se costuma dizer.

*****Uma nota, para terminar: todo romance, por mais

que seu autor tenha desejado algo diferente, tem um“quê” de policial. A trama, a construção das persona-gens, o enredo, o jogo temporal – na sua inumerávelgama de variações e facetas – coloca o autor numa posi-ção de romancista policial. Por outro lado, coloca o lei-tor na posição de um detetive, à procura dos rastros,fragmentos, evidências... de sentido. Dizer que existeum único sentido não é mesmo um “crime”?!

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 6...

Page 8: Reflexo da Alma - Jornal Aldravarondó, soneto, trova e vilancete) a aldravia acrescenta um tipo de poesia ainda mais sintético que o haicai e a trova. Das dezessete sílabas do haicai,

www.jornalaldrava.com.br Página 8

www.jornalaldrava.com.br

Janeiro / 2011

TORNEAMENTOS MARIANA LTDARodovia dos Inconfidentes, KM 108 - Bairro São José - MARIANA-MG

Telefones.:

( 31 ) 3557-2126( 31 ) 3557-1783

NO. 89 MARIANA - Minas Gerais ANO XI

NOVOS POSTOS SHELL MARIANA

CULTURAL

123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567123456789012345678901234567890121234567

Editado por:ALDRAVA LETRAS E ARTES

CNPJ 04.937.265/0001-71

ISSN 1519-9665

Expediente:

EM CIRCULAÇÃO DESDENOVEMBRO DE 2000

E-mail: [email protected]: www.jornalaldrava.com.br

Presidente:GABRIEL BICALHOVice-Presidente:J.S.FERREIRASecretária:HEBE RÔLADiretor de Arte:CAMALEÃODiretora de Projetos:ANDREIA DONADON LEALConselho Editorial e Fiscal:J. B. DONADON-LEAL /// ( Presidente ) ///ANDREIA DONADON LEALGABRIEL BICALHOGERALDO REISHEBE RÔLAJ.S.FERREIRALUIZ TYLLER PIROLATesoureiro:J.S.FERREIRAJornalista Responsável:THIAGO CALDEIRA DA SILVAReg. Profis.: DRT-MG - 13894/MGAssessor Jurídico:GERALDO REISAssistência Contábil:SERVCON - Serviços ContábeisWebmasters:RODRIGO MAGNO CAMELO REISMÁRCIO JOSÉ BARROS

Endereço do Jornal:CAIXA POSTAL NO. 36CEP-35.420-000 = MARIANA (MG)

Desenho / Igrejas: LÉLIO

Revisões e conceitos emitidos em artigos,poemas e colaborações diversas são de inteira

responsabilidade dos respectivos autores.

Desenho: ALDRAVA - José Wasth RodriguesImpressão : Editora Dom Viçoso - 3557-1233

h h h h h

Mon

tage

m /

Dia

gram

ação

: Gab

riel

Bic

alh

o

{ }ALDRAVA

[Acrílica s / Eucatex]

Elias LAYON

Mariana-MG

Leia:

Ponto de Distribuição do

Jornal Aldrava Cultural:

Escritório de Advocacia

Roque CamêlloRua Guajajaras, 43

Conjunto 104 – Centro

Belo Horizonte – MGFone: 3273-9080

(Das 12 horas às 18 horas)

“MINAS”/ DEIA LEAL /MARIANA-MG.

Tomei coragem e estou enviando as primeiras 100 aldravias, produzidas em dois dias. Foi algofebriciante, incontrolável. Faça delas o melhor uso. Aceito críticas e correções, até porque estou engatinhando.Elas viajam deitadas por timidez ou comodismo, não sei bem. Pode acordá-las e pô-las de pé. Fraternos abraços:

Luiz Gondim, Rio de Janeiro 24 de janeiro de 2011. /// Vice-Presidente da UBE-RJ ///~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

>>>Amigo, Luiz Gondim:As suas aldravias são excelentes, amigo! Você assimilou muito rápido a proposta aldravista de criação

poética e já percebeu que acabamos ficando viciados em aldravias!Basta experimentarmos e logo nos viciaremos, com a forma descomplicada de escrever boa Poesia, sem

excesso de regras a tolherem nossa criatividade. Então, água / de / fonte / a / poesia / flui (outra aldravia?!) equando nos damos conta de nossa produção, já estamos com vários poemas condensados e embalados aoconsumo dos leitores mais apressados, que bem sabem aproveitar a disponibilidade do tempo. /// Parabéns,amigo! Você foi o primeiro Poeta que atendeu ao nosso chamado às aldravias e que conseguiu, também, fazermais de uma centena delas, em um curto espaço de tempo! Por esse motivo, nada mais justo do que o nossoreconhecimento e o Diploma da Aldrava Letras e Artes, que lhe concedemos, atesta a sua competência e mérito!Estamos formando a primeira Antologia que reunirá as primeiras aldravias que já produzimos e gostaria depoder contar com a sua honrosa e indispensável participação nesse empreendimento: cada um dos aldravistasdeverá participar com 100 aldravias e, considerando a sua produção aldravista, estamos contando com você,também, nessa empreitada. Se outros poetas tiverem o fôlego que você demonstrou e produzirem aldravias deboa qualidade, serão convidados à participação. /// Venho sugerir-lhe abolir a pontuação com vírgulas e pontosfinais, para utilizar apenas exclamações, interrogações e outros sinais que se tornem necessários à interpretaçãodos sentidos propostos ao leitor, a fim de que a polissemia apareça nos textos e o leitor tenha margem maisampla às interpretações que venha a depreender do que foi escrito. Pode parecer-lhe meio confusa a leitura,mas, o cérebro se acostuma com o texto e logo decodifica as intenções da escrita. ///

Meu abraço fraterno: Gabriel Bicalho. /// Presidente da Aldrava Letras e Artes ///~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Amados irmãos aldravistas...Com muitas saudades das suas abençoadas presenças, tenho acompanhado o belíssimo trabalho literário

que vocês desenvolvem. Não escrevi há mais tempo pois perdi minha mãe em novembro próximo passado eainda estou meio perplexo e sem muita inspiração. Parei mesmo no tempo. Entretanto, lê-los mais uma vezanimou-me bastante e, movido pela sedução da sua proposta, resolvi arriscar alguma poesia nos moldesmetonímicos informados. Caso exista algum lapso de minha parte, peço, por favor, que me corrijam. É umahonra participar. Um beijo fraterno em todos aí. Com carinho, estima e admiração.

Vocêspoetas

eternizam-seno

meucoração!

Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros), Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 2011./// UBE-RJ ///~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

As artes aldravianas. Aldravias são a arte do encontro. Cruzam-se nessas vias a leveza e a dor de representartempos tão densos e tão desejosos de venturas. Quando encontrei os amigos aldravianos e suas aldravias,percebi um novo tônus de voz que representa a realidade com uma expressão deveras suave e crua. Tantosparadoxos se amalgamam sem drama, pois surgem de um grupo de poetas ousados e inovadores, que nãotemem tradições, tampouco lançarem alvíssaras formas. As aldravias são a cara do tempo em que criamos,embora deseje-se atemporal, como alguém que bate à porta sem que se espere. São a síntese, sem preguiça. Odiscurso, sem programas. As vozes, sem modulações arbitrárias, expectativas, perspectivas pré- calculadas. Sãoa arte do flerte entre os reais, os subjetivos, as falas, as prosódias de um povo e um tempo de quem são tiradasas vozes e os tempos. Aldraviar é um exercício intenso. Não creio árduo, sim pleno. Alias, essa é uma vocaçãoMariana, chorar e gozar lágrimas breves e caudalosas. Essa é, sem dúvida, a expressão aldravista, até que sepermitam outras articulações de sons e imagens que se disponham a desvelar os sentidos, através do verbo.VIVAS AS ALDRAVIAS!!! AMIGOS, CONTINUEM LENDO, VALERÁ...

Fabrício Avelino. Barbacena, 26 de janeiro de 2011. Professor de Literatura ///~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

“Estou com o vício de fazer aldravias: a culpa é suas!!!” Amélia Luz / Pirapetinga-MG. /// Professora de Literatura ///

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Reflexos da Aldravia~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~