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Trova brasil 14 A. A. de Assis PR

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SUMÁRIO

Trovas ................................................................................................................................................................................ .4

Antonio Augusto de Assis (A. A. de Assis) por ele mesmo ..................................................................... 69

Afinal porque A. A. de Assis e não Antonio Augusto de Assis? .......................................................... 79

JB Xavier (A. A. de Assis, Um Amigo Para Todas as Horas) .................................................................. 81

Fontes ............................................................................................................................................................................... 84

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A bênção, Joaquim José,

sonha o teu sonho de novo...

Acende outra vez a fé

no coração do teu povo!

A bênção, queridos pais,

que às vezes sois mães também.

Em nome de Deus cuidais

dos filhos que d’Ele vêm!

Acaso fizeste a Lua? Acaso fizeste a rosa?

Então que ciência é a tua,

tão solene e presunçosa?…

– Aceitas dar-me os deleites da próxima contradança?...

– Aceito, desde que aceites

não me apertar contra a pança!

A ciência hoje é um colosso,

com tudo fora de centro:

faz laranja sem caroço,

gravidez sem filho dentro...

A família é um grande bem,

e Deus valoriza-a tanto,

que Ele próprio a dele tem:

Pai, Filho e Espírito Santo.

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Afinal, que te aproveita

o labor que te consome,

se não doas, da colheita,

uma parte a quem tem fome?…

A história, através dos anos,

ensina a grande lição:

– o destino dos tiranos

será sempre a solidão!

Ah, belos tempos dourados,

que os sonhos não trazem mais...

Bailavam, corpos colados, olho no olho, os casais!

Ah, como é útil a avó,

com seus cuidados e afetos!

Já o avô, serve tão-só pra ensinar besteira aos netos...

Ah, meu rio, de repente, o que foi feito de nós?

Ficou tão longe a nascente...

vemos tão próxima a foz!

Ah, poeta, como é lindo

teu trabalho, e quão fecundo...

– Noite e dia produzindo

sonhos novos para o mundo!

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Ah, quantos lindos castelos

põe a vida em nossa mão,

lembrando os sonhos mais belos

que temos no coração!

Ah, que profunda saudade

invade uma Academia

a cada vez que um confrade

deixa a cadeira vazia!

A idade é, por excelência,

a grande mestra do amor.

– É no outono da existência

que a paixão tem mais calor!

A laranja era tão doce,

que o limão ficou com medo:

– por inveja, ou lá o que fosse,

acabou ficando azedo...

Alarme no galinheiro.

- Será que há gambá na granja?...

- Bem mais grave: é o cozinheiro

que avisa: “Hoje vai ter canja!”...

A mais bonita homenagem,

concede-a Deus, qual troféu,

a quem completa a viagem,

sem mancha, do berço ao céu!

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Amai-vos, e as derradeiras

muralhas hão de cair.

– Havendo amor, as barreiras

não têm razão de existir!

“Amor não enche barriga”,

porém surpresas virão:

- Fez “amor” a rapariga...

e olha só que barrigão!

A mulher, que é toda encanto, lembra a abelha, meiga e boa:

dá mel gostoso; no entanto,

se for preciso, ferroa!

Andorinha sobe e desce,

sobe e desce, pousa e come...

Sobe, sobe, faz um “s”,

desce, come, sobe e some...

Anoitece. Bela e nua,

começa a rosa a orvalhar-se... – Um raiozinho de lua

virá com ela deitar-se.

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Antiguidade, doutor,

é coisa muito engraçada:

algo que cresce em valor quando não vale mais nada...

Ao cérebro, o coração

manda amorosa mensagem:

– Somente unidos, irmão,

seremos de Deus a imagem!

Ao fim de qualquer mandato,

somando-se o dito e feito,

no saldo exibe o relato

muito mais dito que feito...

Ao mesmo tempo em que é doce,

ah como é triste a saudade...

– Ela é assim como se fosse

uma ex-felicidade!

Ao notar a Lua cheia,

surpreso o Sol resmungou:

– Se um mês atrás eras meia,

quem foi que te engravidou?...

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Aos bons sonhos agradeço,

mas às insônias também... – Ah, quantos versos eu teço

enquanto o sono não vem!

A palavra acalma e instiga;

a palavra adoça e inflama.

– Com ela é que a gente briga;

com ela é que a gente ama!

A prata, em nosso cabelo,

faz ninho se a idade vem...

Que pena ela não fazê-lo

em nossos bolsos também!

A regra é tirar vantagem, porém prefiro a exceção:

– quero a inocente coragem

dos puros de coração!

A renúncia corresponde, muita vez, a muito amar;

como quando o Sol se esconde

para que brilhe o luar!

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As almas, se generosas,

percorrem árduos caminhos...

Só no céu elas e as rosas ficam livres dos espinhos!

A saudade é a companhia

mais doce que Deus nos deu.

Sem ela, o que restaria

aos velhinhos como eu?...

A saudade sintetiza

sonhos, glórias, sentimentos,

como um filme que eterniza

nossos melhores momentos.

Assim que me aposentei, ao meu relógio dei fim...

Sem ele eu me sinto um rei, dono do tempo e de mim!

Astronauta, não destrua

meu direito de sonhar...

Deite e role sobre a Lua, porém me deixe o luar!

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Até como terapia,

crer em Deus faz muito bem:

– banha a gente na alegria

que da eterna luz provém!

Atrás das outras não perca

o seu juízo... cuidado!

Boi que muito pula cerca

volta um dia desfalcado...

A velhice se avizinha,

porém não me assusta não.

– Eu sei que no fim da linha

Deus me espera na estação!

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Ave-Maria, uma prece

tão gostosa de rezar,

que às vezes mais me parece cantiguinha de ninar!

A vida é uma corda bamba,

na qual a esperança eu ponho.

Basta um errinho e descamba

abismo abaixo o meu sonho...

A vida jamais se encerra...

e é bom sermos imortais.

– Amar você só na Terra

seria pouco demais!

A vida nem sempre é encanto;

para alguns é injusta e inglória...

– Quanta gente corre tanto,

porém perde o trem da história!

A vida no mundo é um treino, a etapa em que o Treinador

nos prepara para o reino

definitivo do amor!

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Aviva-lhe o orvalho o viço,

e a rosa acorda se abrindo...

Aberta, põe-se a serviço

de um mundo amoroso e lindo!

Avó é a mãe que imagina

que a sua parte já fez...

mas, quando a missão termina,

começa tudo outra vez!

Baita arruaça, bravatas,

um tremendo sururu...

Frangas, marrecas e patas

brigando por um peru!

Belo sonho o que aproxima

estrelas e pirilampos...

– Elas são eles lá em cima;

eles são elas nos campos!

Bem cedinho o galo canta, molhado ainda de orvalho.

A roça, ouvindo-o, levanta,

e um hino entoa ao trabalho!

“Bem-vinda à vida, criança!”,

diz o parteiro sorrindo.

E a frase é um hino à esperança,

no seu momento mais lindo!

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Bem-te-vi que bem me vês,

bem-visto sejas também,

hoje e sempre e toda vez

que bem me vires... Amém!

Benditas sejam as vidas

que, alegres, serenas, santas,

vivem a vida envolvidas

em levar vida a outras tantas!

Brilha sempre em nossa vida

alguma luz: a do sol

ou no mínimo a emitida

por um mínimo farol.

Brincam na praça os pequenos:

castelos, canções, corrida...

São seus primeiros acenos

aos grandes sonhos da vida!

Brincante como um garoto, planas no espaço sem fim...

– Só o poeta, irmão piloto,

consegue voar assim!

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Canarinho, quando canta,

que será que o faz cantar?

– Sei lá... mas a mim me espanta

que ele cante sem cobrar...

Canoando mar afora,

a esperança me conduz.

Já vejo lá adiante a aurora

trazendo uma nova luz.

Caridade, um gesto nobre

que faz os próprios ateus

sentirem que "dar ao pobre

é como emprestar a Deus".

Casamento é uma loucura para o marido hoje em dia:

ela impõe a ditadura

e ele nem pia nem chia...

Certeza só têm os rios

sobre aonde vão chegar...

Por mais que sofram desvios,

seu destino é sempre o mar!

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Certos tipos importantes

parecem Marte – um deserto:

vistos de longe, brilhantes;

cascalho apenas, de perto!...

Cidadania é civismo,

sobretudo é comunhão;

é ajuda mútua, é altruísmo,

partilha justa do pão.

Coceirinha furibunda,

coça embaixo, coça em cima...

Quando coça na cacunda,

sinto cócegas... na rima!

Coitado... tão pobrezinho, que até para dar risada

tem que pedir ao vizinho

a dentadura emprestada!...

Como é bom saber que o filho

vida afora alegre vai,

dando forma, força e brilho

aos sonhos do velho pai!

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Como é triste o desencanto

daquele que a duro custo

desbafa e diz em pranto:

– Eu me cansei de ser justo!

Como foi, como não foi,

conte dois que eu conto um...

Num belo inglês, diz o boi,

olhando a Lua: moon... moooon...

Como se diz lá na roça,

o amor é um bichim-de-pé:

quanto mais a gente coça,

mais boa a coceira é...

Com que suave ternura

tece a canária o seu ninho!

– Mãe é assim, dengosa e pura...

a nossa e a do passarinho.

Com que ternura e altivez

luta a mãe pobre e sem brilho

para ao fim de cada mês

pagar os sonhos do filho!

Contador e cantador,

num só tempo eu conto e canto:

conto as rendas do labor;

de outras “rendas” canto o encanto.

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Convido-os a partilhar

uma gostosa jantinha:

massa com frutos do mar,

ou seja, pão com sardinha...

Corações apaixonados

não aceitam repressão. Explodem, se condenados

a engaiolar a emoção!

Coragem de gente grande

é aquela em que se distingue

alguém assim como Gandhi,

São Francisco, Luther King!

Corre a bola, deita e rola,

salta de pé para pé...

Quica, requica, rebola,

no grito do povo: – olééé!

Creio na força do amor,

creio na força do exemplo.

Um credo com tal teor

nem necessita de templo.

Criado por Deus, o rio

nasce limpo e, como nós,

traz consigo o desafio

de limpo chegar à foz.

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Criança que muito apronta

exige rigor dos pais:

– Água mole não dá conta,

se a pedra é dura demais!

Cuidado, amigo, atenção...

não beba o primeiro trago.

– Quando se escuta o trovão,

o raio já fez o estrago!

Cuidemos, irmãos, da imagem;

sem exagero, contudo.

– Muito mais do que a embalagem,

o que conta é o conteúdo.

Cumprem a Lua e as estrelas

o ofício de serem belas...

E, entretanto, para vê-las,

só o poeta abre as janelas!

Cuide bem do seu bebê;

forme-o forte, sábio e puro.

Ele é a porção de você

que vai viver no futuro!

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Da mãe à filha querida:

– Obrigada, meu bebê...

Fui eu quem lhe dei a vida,

mas minha vida é você!

Das provas feitas na escola,

uma vale nota cem:

– é a de quem, fugindo à “cola”,

mostra a ética que tem.

De barro se faz o homem,

e de luz principalmente.

O barro, os anos consomem;

a luz eterniza a gente!

De biquíni ou minissaia, a verdade se revela...

– Não há mentira na praia:

feia é feia, bela é bela!

Debulhando, debulhando,

se enchia o pilão de milho...

Depois, coisando, coisando,

se enchia a casa de filho!

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Decerto, como um deserto

criado pela ambição,

deserto é também, decerto,

hoje o humano coração.

De dia caleja a palma

o irmão que cultiva o chão.

De noite alivia a alma

nas cordas de um violão!

Deixando a infinita altura

e as honras da eternidade,

fez-se o Criador criatura,

por amor à humanidade.

“Deixe-o que faça e aconteça”,

diz a vovó com carinho...

E eis que de ponta-cabeça

vira-lhe a casa o netinho!...

Dentre os bens que o filho espera

receber por transmissão,

tesouro nenhum supera

o exemplo que os pais lhe dão.

Depois de tomar uns treco

para aquecer a moringa, o trovador de boteco

soluceia... e a rima pinga!

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Depois de um café quentinho

e de uns pãezinhos de queijo,

melhor que tudo é o carinho

com que me serves um beijo!

De longe se escuta o eco

da turma de cara cheia,

no alvoroço do boteco

pondo em dia a vida alheia...

Densas nuvens ameaçam

o futuro da criança.

Mais que as da chuva, que passam,

as nuvens da insegurança.

De repente, de olho aberto,

vem para a rua a nação.

- É o povo que, redesperto,

quer mostrar quem é o patrão!

Dê-se ao jovem liberdade

para sem medo ele ousar.

– É no ardor da mocidade

que o sonho aprende a voar!

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Destino, fado ou o que for...

isso tudo é só brinquedo.

– Na história real do amor,

cria o amor seu próprio enredo.

De tal modo a rosa é amada,

que o cravo mói-se de ciúme...

– É o que dá ter namorada

que esbanja encanto e perfume!

De todos ela atraía

mil sorrisos, mas... que dó:

casada, sofre hoje em dia

os maus humores de um só...

De um caboclo perspicaz ensinando a geografia:

– O çul fica sempre atrás...

com cedia ou sem cedia...

Deus fez a Terra... e, ao fazê-la,

deu-lhe o toque comovente:

fez o céu para envolvê-la

num pacote de presente!

Deus me deu livre vontade;

porém, por sorte, incompleta:

– não me deu a liberdade

de deixar de ser poeta!

Deus não põe ponto final

na biografia da gente.

– Quer nossa alma, imortal,

junto à d’Ele eternamente!

Deus não vem na grande nave;

Deus não vem no furacão.

Deus vem qual brisa suave,

e entra em nosso coração!

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Deve o mundo ao gênio humano

obras de extremo valor.

O drama é ver, ano a ano, minguar o espaço da flor...

Dia e noite o filho fora:

trabalho, estudo, paquera...

Sofre a mãe se ele demora.

Morre um pouco a cada espera!

Digo e louvo toda vez

que olho as aguinhas da serra:

– Graças a Deus e a vocês,

há vida ainda na Terra!

Dirá Deus: “Faça-se a paz, e todos deem-se as mãos!”

E então, meu filho, verás

que lindo é um mundo de irmãos!

Disseste, criança ainda:

"Sou tua... sempre serei!"

- Foi a mentira mais linda

que em minha vida escutei!...

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Diz o sábio, e quase chora,

por modéstia ou caçoada:

– Sou doutor honoris fora;

quer dizer: doutor em nada!

Doce, amigo e generoso,

quis Deus se configurar

no abraço do pai saudoso

no filho que torna ao lar.

Do céu nos alerta o Pai,

vendo a Terra ressequida:

– Salvai as águas, salvai,

se quereis salvar a vida!

Do Natal ao Ano Novo

a folga é pouca... O ideal

é deixar de folga o povo

do Ano Novo até o Natal...

Dói muito ver um canário

cantando humilhado e triste

em troca do vil salário

de um punhadinho de alpiste!

Dois caminhos há na vida, o do egoísmo e o da cruz:

- um leva à eterna descida;

o outro leva à eterna luz!

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Douta é a ciência; no entanto,

por mais nobre ou presunçosa,

curva-se, humilde, ante o encanto

de uma pétala de rosa!

Ele, ela, o avião, a bruma,

mil sonhos sob os chapéus...

Fantasias, uma a uma,

vão subindo para os céus.

É mais que um beijo, é uma prece,

aquele beijo miudinho

com que a mãe afaga e aquece

os seus filhotes no ninho!

Embora o mundo não cesse

de fazer guerra e terror,

na família ainda se tece

a grande história do amor!

Em cada gota extraída

do seu sangue, o doador

empresta vida a outra vida,

numa transfusão de amor

Em que aperto o bom velhinho,

de assanhado, se enfiou:

chamou pra cama o brotinho

e ela,, malvada, aceitou!...

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Em resposta à ofensa e à intriga,

ensina o amor: “Faça o bem!”

– O amor é sábio: não briga,

perdoa cem vezes cem!

É natural que aconteça,

ao cometa e a certa gente,

por ter pequena a cabeça,

mostrar a cauda somente...

Enche a cara de cachaça,

toma um baita dum pifão...

Faz no bar uma arruaça,

um fiasco no colchão!…

Entre a inocência e a esperteza,

é da inocência o troféu.

O esperto ganha a riqueza,

o inocente ganha o céu.

Entre o passado e o futuro,

mudou o amor um bocado:

– o que o vovô fez no escuro,

faz o neto escancarado!

Entre o pássaro e o poeta

há perfeita identidade:

seu canto só se completa

se há completa liberdade.

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Era um guri tão terror,

que a escola inteira o temia.

Cresceu... virou professor...

paga com juro hoje em dia!

Esta é uma antiga lorota,

que jamais se esclareceu:

– Se Judas nem tinha bota,

como foi que ele a perdeu?...

Esta é uma lei que não muda,

portanto preste atenção:

– O Pai jamais nega ajuda

àquele que ajuda o irmão!

Eu não tenho uma floresta,

mas tenho em casa um jardim.

O verde mantenho em festa,

na parte que cabe a mim!

Eu sei por que o passarinho

canta gostoso e se inflama:

– é que ele tem no seu ninho

uma família que o ama!

Eu sei que será difícil,

mas a fé me diz: – Verás

transformar-se cada míssil

num mensageiro da paz!

Eu tenho fé nas pessoas, em todas, sem exceção,

que todas elas são boas,

quando lhes damos a mão!

Ex-velhos é o que eles são, essa gente antiga e linda.

– Aos setenta/oitenta estão

cheios de sonhos ainda!

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Facilmente me dominas,

bastando apenas piscar...

– É o feitiço das meninas que brincam no teu olhar!

Fé é uma forma de ver,

via amor, o além-da-vista;

é a graça de perceber

como é bom que Deus exista.

Feliz aquele que trilha

a trilha que ao sol conduz

e com sorrisos partilha

a graça de ver a luz.

Feliz o idoso que, esperto, se ampara nesta verdade:

quanto mais velho, mais perto

das bênçãos da eternidade!

Feliz o povo que pensa

e que se expressa à vontade.

– Onde amordaçam a imprensa

morre à míngua a liberdade.

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Fez-se o casório... no entanto,

o noivo não tinha o dom...

Por vingança, a noiva, em pranto,

foi reclamar no Procon!

Fim do filme... Na saída,

pergunta à pulga o pulgão:

– Voltamos a pé, querida,

ou vamos tomar um cão?

Finalmente um cão bilíngue,

que, além do nativo au-au,

se expressa e até se distingue

fluentemente em miau...

Foi noite de lua cheia,

e que saudade deixou...

- Em dois corações, na areia,

sinais do que ali rolou!

Foi-se embora o nosso irmão,

nosso querido Ademar.

Hoje é em nosso coração

que ele tem seu novo lar.

Galo de sorte suplanta

os outros todos na rinha...

No entanto, enquanto ele canta,

a mulher dele... galinha!

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Gari, que há luas e luas

varres a pública via...

hás de achar limpas as ruas

que ao céu vão levar-te um dia!

Gente com medo de gente

na selva dita cidade.

– Preciso mudar, urgente,

para a selva de verdade...

Gondoleiro, meu amigo, por favor, vai devagar...

Com minha amada comigo,

quero perder-me em teu mar!

Grande mesmo é quem descobre

que ser grande é ser alguém

que abre espaço para o pobre

tornar-se grande também.

Há celulares à farta,

iphone, computador...

Mas nada se iguala à carta

para os recados de amor!

Há de, enfim, vir o momento

da correção dos papéis:

mais valor terá o talento

que os diplomas e os anéis!

Há de vir um tempo novo,

no qual, meu bom Deus, verás

unido afinal teu povo

no grande abraço da paz!

Hoje ainda a humanidade vive o impasse decisivo:

– Parte atrás da liberdade

ou se apega ao paraíso?...

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Hoje os rios se parecem

com certos tipos sabujos:

quanto mais descem, mais crescem; quanto mais crescem, mais sujos.

Honestos há sem ser bons

e há bons que honestos não são.

– É a soma de ambos os dons

que faz o bom cidadão.

Imagino, sem malícia,

que aperto é ter um bebê...

Se na entrada é uma delícia,

pra sair... dói como o quê!

Irmanemos nossas vidas em comunhão generosa,

tal como vivem unidas

as pétalas de uma rosa!

Importa pouco a mobília,

importa pouco a fachada...

O amor que envolve a família

é só o que importa, e mais nada!

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Ismo, ismo, ismo, ismo...

e o medo está sempre em alta...

– Experimentem lirismo,

que talvez seja o que falta!

Já estou no fim da subida...

muito obrigado, Senhor.

- Foi lindo fazer da vida

um longo verso de amor!

Jogado no mundo, ao léu,

rezava o orfãozinho assim:

– Cuida bem, Papai do Céu,

dos que não cuidam de mim!

Lei antibeijo é, no fundo,

uma forma de terror:

ajuda a matar, no mundo,

o que ainda resta de amor.

Livres e leves, no parque,

brincam de paz as crianças...

Deixam que a vida as encharque

de alegria e de esperanças.

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Louvada seja a harmonia

que eterniza em nosso lar

o “sim” que nós dois um dia

compartilhamos no altar!

Lua cheia chega e assume

pose plena de rainha:

cega a estrela e o vagalume

e acende a noite sozinha!

Madrugada... canta o galo... cruzam-se o ócio e o labor:

volta a moçada do embalo;

pega a enxada o lavrador!

Mais que os lucros do trabalho,

mais que as honras e os troféus,

o amor é o único atalho

que de fato leva aos céus.

- Mamãe, que quadro tão triste

aquele homem na Cruz.

- Aquele Homem, meu filho, morreu por nós: é Jesus.

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Mantenha a esperança alerta,

por mais que lhe pese a cruz.

– Há sempre uma porta aberta

para quem procura a luz.

Mas ora-ora, dirás,

é fácil ouvir estrelas...

– Quem leva um chute por trás,

além de as ouvir... vai vê-las!

Matam crianças na rua,

hoje ainda, que que é isto?

– É que Herodes continua

caçando o Menino-Cristo!

Me desculpe se isto aflige-a, mas o progresso endoidou:

mais premia a calipígia

do que a moça que estudou!...

Mesmo o maior dos gigantes

não tem poder permanente:

– Pode a Lua, por instantes,

cobrir o Sol totalmente!

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Mesmo soltas e espalhadas,

as pétalas são formosas;

porém somente abraçadas

é que elas se tornam rosas!

Meu destino eu mesmo traço,

conforme a escolha da via:

pela do mal , o fracasso;

pela do bem, a alegria.

Milhões e milhões de estrelas...

Que utilidade terão?

– Só sei, meu irmão, que ao vê-las

sinto Deus no coração!

Minha amada, com bom jeito,

mesmo ausente me domina...

Deixa a saudade em meu peito

como rainha interina!

Minha amada é meiga e doce,

dela emana a luz do bem.

Ela é assim como se fosse minha estrela de Belém!

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Moderna e esperta, a formiga

à cigarra se juntou:

– uma canta, enquanto a amiga

monta o circo e vende o show...

Moderno, poupa viagem

o novo pombo correio:

- Hoje ele manda a mensagem

numa boa, por e-mail…

Morre o peixe quando aboca

seu jantar com muito anseio...

Sobretudo se a minhoca

traz anzol como recheio!

Morre o sábio... enorme bem

perde o mundo em tal momento.

Seu patrimônio, herda alguém;

não no entanto o seu talento!

Mosquito para a mosquita,

nadando na sopa quente:

– Eta piscina bonita...

a pena é que engorda a gente!

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Movido a sonho, eu poeta,

porque amo a estrada, não canso.

– Mais importante que a meta

é cada passo que avanço.

Muito cara que se julga

ladino, culto, elegante,

no fim não passa de pulga

com mania de elefante!

Muito gatão faz barulho,

no entanto não é de nada...

O pombo vai só no arrulho,

mas veja que filhotada!

Muito sepulcro caiado, que bota pose de puro,

no claro é distinto e honrado...

mas como apronta no escuro!

Muito teimosa, a franguinha

com um ganso se casou.

Ao ter um ovo, tadinha...

de cesárea precisou!

Na biblioteca há mil sábios

a nosso inteiro dispor.

– Sem sequer abrir os lábios,

cada livro é um professor!

– Na briga lobo-cordeiro,

qual deles terá razão?

– Depende, meu companheiro,

de qual dos dois é o patrão...

Nada na vida é mais triste

nem dói mais que a solidão:

– sentir que em redor existe

um mundo... e ouvir dele não!

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39

Na era do “ponto.com”,

voa o sonho mais ligeiro:

– um clique... e, qual vento bom,

chega a trova ao mundo inteiro!

Na neblina da memória,

vão diluindo-se os fatos.

– O melhor de nossa história

ficou nos porta-retratos...

Não chamem de mundo-cão

o feio mundo do mal.

No cão pulsa um coração

melhor que o nosso, em geral.

Não corre o risco de morte

o caçador valentão...

Por mais que cace, por sorte,

jamais encontra o leão!

Não há diferença alguma

se a festa é pobre ou de gala.

– Tanto noutra quanto numa,

quem bebe demais se rala!

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Não presta a pena que importe

num mal que o mal não redime.

Toda sentença de morte

é um crime pior que o crime.

Não quero ser uma ilha,

distante da realidade...

-Quem se isola não partilha

a história da humanidade.

Não te cases por dinheiro... sai dessa... tô te falando...

Afinal, qualquer banqueiro

empresta a juro mais brando!

Na porta da eternidade, documento não tem vez.

– O cartão de identidade

é o bem que em vida se fez!

Nas asas da bicicleta,

em branca e curtinha saia,

voeja a moça poeta

no contravento da praia...

Nas costas, leva a criança

seus livros numa sacola;

nos olhos, leva a esperança

como colega de escola!

Nesta Terra outrora linda,

que aos pouquinhos se desfaz,

o lar é a ilha onde ainda,

às vezes, se encontra a paz.

Neste planeta avarento, onde o “ter” é o ditador,

que triste é ver o cimento

roubar o espaço da flor!

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No carrão recém-comprado

da motorista barbeira:

“Atenção, muito cuidado...

amaciando carteira!”

No instante em que é concebida,

entra na história a criança.

Negar-lhe o direito à vida

é um crime contra a esperança!

No meio da multidão,

pode ocorrer-lhe o imprevisto:

alguém, que lhe estenda a mão,

ser de novo Jesus Cristo.

No pico da quarta idade,

o quadro se faz assim:

ou se crê na eternidade,

ou se põe na tela: “Fim”…

No reino dos passarinhos,

joão-de-barro é o burguesão:

– de todos os seus vizinhos,

só ele mora em mansão...

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Nós dois num banquinho tosco,

num sítio sereno e lindo...

O amor se envolveu conosco,

e o sonho se fez infindo!

Nos passos do bailarino,

na garganta do cantor,

em cada tango argentino

geme uma história de amor.

Nossa vida é um filme assim:

um roteiro abrasador...

Tem beijos do início ao fim,

cada qual com mais calor!

Nove meses... que demora!... Entretanto, o prêmio é lindo:

- a cena em que o bebê chora,

no instante em que o parto é findo!

Numa harmonia perfeita,

completam-se o fruto e a flor:

ele alimenta, ela enfeita;

ele dá força, ela o amor!

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Num momento de euforia,

cedemos-lhe uma costela.

Fomos cedendo... e hoje em dia

quem manda no mundo é ela!

O amor é forte, ele aguenta;

se é verdadeiro, ele é infindo:

chega aos oitenta, aos noventa...

quanto mais velho, mais lindo!

O bem-querer une a gente

mais que a consanguinidade.

– De que vale ser parente,

sem os elos da amizade?

O bom discurso amoroso dispensa texto comprido.

Basta um “te gosto” gostoso,

murmurado ao pé do ouvido…

O bom cabrito não berra;

gato sabido não mia...

Menos sofre e menos erra

quem menos fala hoje em dia.

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O céu deve estar cheinho

de madrinhas, mães e avós...

– Têm lá, em dobro, o carinho

com que cuidaram de nós!

Ó Deus, que nos deste a flor,

e as crianças e as estrelas,

dá-nos agora, Senhor,

a graça de merecê-las!

O fruto é um santo produto

do mais generoso amor.

Por isso é que antes de fruto

quis Deus que ele fosse flor.

O agricultor que semeia o arroz, o milho, o feijão

trabalha com Deus à meia

na Obra da Criação.

O grande tenor se cala

ante o pássaro silvestre.

– É o discípulo de gala

querendo escutar o mestre!

Olhem a rosa os que ainda

costumam dizer-se ateus. – Ela é a resposta mais linda

quanto à existência de Deus!

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Olhe os poetas e as aves...

Veja que, embora não plantem,

Deus lhes retira os entraves e apenas pede-lhes: – Cantem!

O lírio, a lira, o lirismo;

o amor, a festa, a canção...

Que pena que o consumismo

transforma tudo em cifrão!

O livro mudou o enredo

da história da humanidade:

– Antes dele, a treva e o medo;

depois dele a liberdade.

O lobo e o cordeiro, airosos, vão comer juntos... Depois,

os homens, bem mais gulosos,

vão comer juntos os dois!...

O mundo esqueceu que existe

o ponto de exclamação...

De tão seco, amargo e triste,

perdeu de vez a emoção!

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O nobre faz e acontece,

porém me responda, ó meu:

se o trabalho é que enobrece,

como é que ele enobreceu?...

O povo sempre descobre

metaforinhas incríveis:

couve-flor: repolho nobre;

as hortas: jardins comíveis…

O que faz a casa bela,

mais que tudo, somos nós,

se unidos vivemos nela

-filhos, netos, pais, avós.

O que faz a boca torta

é o cachimbo – assim se diz.

Quem bate a cara na porta

entorta a boca e o nariz!

O que ocorre às águas claras,

na alma pura se repete:

dá-se às vezes, e não raras, que um sujinho as compromete.

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O rio, língua da serra,

se alonga abrindo uma trilha;

e afaga a face da terra,

qual fêmea lambendo a filha!

O sapo coaracoacoacha

ante a sapa, a sua estrela.

– Ela é um poema, ele acha,

e estufa-se todo ao vê-la!

Os gaúchos, mui serenos,

dizem rindo: – “Calma, irmão...

Se o mundo tá mais ou menos,

então tá louco de bão!”

O talento, em nossos dias,

é o que engrandece um país.

– Mais que a força dos Golias

vale o gênio dos Davis!

O teatro imita a vida,

mas também corrige o mundo.

Em cada cena exibida,

passa um recado fecundo!

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Ouço ainda, ao longe, o canto

de um velho carro de boi...

– Lembrança de um tempo e tanto,

que há tanto tempo se foi!

Ou o amor enfim nos faz

desarmar o coração,

ou do cachimbo da paz

nem as cinzas sobrarão!

Para espalhar, num momento,

uma notícia qualquer,

não há melhor instrumento

que o rádio, a imprensa e a mulher...

Parece um quadro de artista:

café, café, mais café...

– O verde a perder de vista,

a vista a se encher de fé!

Palavras produzem fartas

e tão belas construções:

com elas fez Paulo as Cartas,

fez os seus versos Camões!

Parece que estou sonhando

com a paz que o céu retrata,

ao ver araras em bando

pintando de azul a mata!…

Pediste, na vez passada,

que eu melhorasse a comida...

Pois hoje está caprichada:

vou servir vespa cozida!

Passa em voo um passarinho,

outros tantos passarão...

Que os proteja São Chiquinho

contra nós e o gavião!

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– Passei o dia a serviço

de um pobre encontrado ao léu...

– Pois é, disse o Pai, com isso

ganhaste, meu filho, o céu!

Pastel, pudim, rabanada,

e o mais que te apetecer...

Nada disso engorda nada:

basta apenas não comer!

Pensei que ser grande fosse razão de alegria... Errado:

o rio, pequeno, é doce;

o mar, imenso, é salgado.

Pergunto: – Serás a lenda

que eu vi no mar e na areia?

Se rindo, linda, ela emenda:

– Não sou ainda... sereia!

Pernilongo em meu ouvido

faz zunzum... zunzum... zunzum...

Julga-se, ao certo, o exibido

chofer de fórmula um...

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Pica-pau, sossega o taco...

faz uma pausa, ó carinha!

Teu toque-toque enche o saco

da passarada inteirinha...

Poeta, à porta do Pai,

entra fácil, certamente.

Se São Pedro se distrai,

São Francisco empurra a gente!

Poeta nenhum se priva de certos dengos vitais:

– Sem pão talvez sobreviva,

mas sem ternura... jamais!

Por mais singela, a pessoa terá sempre algo a doar.

– A Lua é uma rocha à-toa;

nos dá, no entanto, o luar!

Pouco a pouco, passo a passo,

vamos nós, de déu em déu...

Já conquistamos o espaço; só falta ganhar o céu!

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Pra casar moça bonita,

carece exibi-la não...

Que nem lá no Sul se dita:

“Bom vinho escusa pregão!”

Proclama o glutão roliço,

vendo à mesa a feijoada:

– Vamos botar tudo isso

em pratos limpos, moçada!

Prometi-lhe, amada minha, mil estrelas, as mais belas.

Bobagem... você sozinha

brilha mais que todas elas!

Qual o vento, quando muda,

leva a nuvem que o céu cobre,

muita vez pequena ajuda

muda o destino de um pobre.

Quando, à noite, o Sol se deita,

a Lua, em grande escarcéu,

chama a poetada e aproveita: faz uma farra no céu!

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Quando o fruto está maduro,

dá o que deu no paraíso:

basta um apalpo no escuro,

e o casal perde o juízo...

Quando se casa a enteada,

mais a madrasta se ouriça:

Além de mãe emprestada,

agora é sogra postiça...

Quanta lição aprendida,

quanta dor, quanta saudade,

na viagem de uma vida

desde o berço à eternidade!

Quantas bênçãos traz a chuva

quando rega a plantação:

benze o trigo, benze a uva,

benze a vida em cada grão!

Quantas trovas no caderno do colégio eu rabisquei...

– Registros do amor eterno que a tantas musas jurei!

Quanta vez, meu companheiro,

para não passar por bobo,

precisa o ingênuo cordeiro

usar disfarce de lobo...

Quanto mais rápido passa

o tempo a mim concedido,

mais grato eu sou pela graça

de cada instante vivido!

Que alegre alívio provoca,

na alma e no coração,

o abraço que a gente troca

numa troca de perdão!

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Que baita susto o sujeito

levou quando ao céu chegava... - Na porta, crachá no peito,

a sogra dele o esperava!

Que bela ficas, mocinha,

se pões, por esmero e gosto,

ideias na cabecinha,

mais que pinturas no rosto!

Que belo é poder amar

em doce e alegre aconchego:

– o mar, a brisa, o luar...

e a rede para o chamego!

Que bom que ninguém mais usa

consagrar heróis de guerra...

– Hoje herói é quem recusa

macular com sangue a Terra!

“Que delícia isso no espeto!”,

grita faminto o glutão,

quando ao pódio, no coreto,

sobe o touro campeão...

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Que dó, meu doce Arquiteto,

que tamanha insensatez...

Tão lindo era o teu projeto,

mas veja o que o homem fez!

Quem com vida dá banquete,

mas não convida o povão,

finda a vida, um alfinete

pode furar-lhe o balão!

Quem dera algum dia eu possa

trocar meu despertador

por um relógio da roça:

o velho galo cantor!

Quem dera, ó Deus, eu pudesse

viver num lugar assim:

- Amparo é a poesia em prece,

num permanente jardim!

Quem dera, um dia, as fronteiras

fossem elos nos unindo,

e houvesse, em vez de barreiras,

somente a placa: – Bem-vindo!

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Quem preza a vida divide-a,

como o cedro acolhedor

que adota por filha a orquídea,

e dá-lhe suporte e amor!

Quem rabo alheio tesoura,

cuidar do próprio convém...

– Tanto varreu a vassoura,

que virou lixo também!

Quem tem amigos leais

tem muito o que agradecer:

bons amigos valem mais

que o mais que se possa ter.

Que pena que a vida passa

sem que a gente, na corrida,

desfrute, com tempo, a graça

do tempo melhor da vida!

Quer sonhar?... Faça turismo

no coração de um poeta.

É o refúgio onde o lirismo seus enredos arquiteta!

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– Que sentença a mãe de Judas,

se o julgasse, lhe daria?...

– Em sendo mãe, não te iludas:

mil vezes o perdoaria!

Que será que esse recado

na garrafa traz, e a quem?

– Vem de alguém que, apaixonado,

tem saudade do seu bem!...

Que susto levou a minhoca, quando o minhoco, afobado,

no lusco-lusco da toca,

beijou-a no extremo errado!...

Que testemunho mais lindo esse que o papa nos traz,

com seu sorriso servindo

à grande causa da paz!

Que vida pesada e amarga

tem sido a tua, ó formiga...

Suportas, no entanto, a carga,

sem nunca fugir da briga!

Que vida pobre a do rico...

Noite e dia, o ano inteiro,

mirando o ilusório pico

de um sonhozinho – o dinheiro...

Rato-rato, rói o rato

um roto resto de pão...

Rente, rouco, rosna um gato,

come o rato e rouba pão!

Rodo, rodo, rodo, rodo,

devagar a divagar...

divagando sobre o modo

menos vago de vagar...

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São de cristal ou de barro

nossas vaidades... tão só.

Um baque, um tombo, um esbarro, e tudo reduz-se a pó!

Se a justiça, um dia, enfim,

a todos der vez e voz,

Deus dirá que agora, sim,

mora no meio de nós!

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Se alguém se torna importante,

por certo alguém o ajudou.

Mesmo o Amazonas, gigante,

de afluentes precisou!

Se aos heróis e aos grandes sábios

devemos tão bela herança,

muito mais a quem nos lábios

traz o canto da esperança!

Se as mentes elas lavassem,

e não os corpos somente,

quem sabe as águas voltassem

às graças de antigamente!...

Se as moquecas saem boas,

vão para o “chef” os louvores.

– Nunca ouvi cantarem loas

ao labor dos pescadores...

Seca e enchente são recados

aos povos de toda a Terra:

– alerta contra os pecados

do fogo e da motosserra!

Se de Deus vem a mensagem,

não carece tradutor.

Em geral vem na linguagem

de uma estrela ou de uma flor!

Se de jeca lhe dão nome, ele responde: – “Tá bão...

Mas, se ocê não passa fome,

é graças ao meu feijão!...”

Se ela insiste, por pirraça,

em fazer “greve”, olhe o enrosco:

dá-lhe ele um basta... e ameaça:

- Mamãe vem morar conosco!...

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Segura, peão, segura,

que a vida é um grande rodeio...

– É luta bela, mas dura, com muitos trancos no meio!

Se lhe derem mais apoio;

se ele vir que o bem faz bem,

tenha certeza: há de o joio

tornar-se trigo também!

Sempre que ensaia um passeio,

assim se apresta o janota:

reparte o cabelo ao meio,

bota a calça, calça a bota.

Se poder o avô tivesse, o neto não cresceria.

Crescendo, desaparece,

e leva junto a alegria...

Se tens filho, escuta aqui,

que um lembrete eu vou deixar-te:

– Guri que já faz guri,

se fica solto, faz arte!…

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Soa o alarme no avião...

faz-se um enorme escarcéu...

Diz o piloto: - Atenção...

a próxima escala é o céu!

Solitário coração

abandonado num canto...

Ninguém com um lenço à mão

para lhe enxugar o pranto!

Sonhador desde criança,

não sonho entretanto em vão.

No sonho eu nutro a esperança,

que nutre o meu coração!

Sonho um mundo redimido,

que, movido a coração,

lance flechas de Cupido,

não petardos de canhão!

Sorria, amigo, sorria!

Pois, neste tempo de tédio,

qualquer sinal de alegria

é sempre um santo remédio!

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Sorriso não paga imposto;

esbanja, portanto, o teu.

Sorrindo com graça e gosto,

acendes também o meu!

Tais encantos tem a vida,

tais e tantas graças tem,

que me dói pensar na ida

para o céu antes dos cem!...

Tal qual dois rios se abraçam,

formando um só rio após,

dois “eus” pelo amor se enlaçam,

passando a chamar-se “nós”!

Tal qual o povo, pisada

por tantos, a todo instante,

a alegria da calçada

é o tropicão do passante!...

Também na fauna a justiça

é às vezes discricionária:

dá mole ao bicho-preguiça,

explora a abelha operária...

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Tantas e tantas estrelas,

e a lua ao meio, a luar...

Criou-as Deus para vê-las

fazer a gente sonhar!

Tão bela, tão generosa,

símbolo eterno da paz,

pede desculpas a rosa

pelos espinhos que traz!

Tão boa é aquela senhora,

tão generosa e tão pura,

que nem passando a ter nora

perdeu jamais a ternura...

Tem muito mais graça a vida

quando a gente tem com quem

repartir bem repartida

a graça que a vida tem.

“Tem o amor certas razões

que nem a razão conhece.”

– Por exemplo: as emoções

que um gordo cheque oferece...

Tem que aos simples se igualar

quem deseja ao céu se erguer: – O rio só se faz mar

depois de muito descer!

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Tenho a alma sempre em festa,

e é fácil saber por quê:

– minha vida é uma seresta,

na qual a lua é você!

Ter mil bens sem ser do bem,

que triste prazer produz...

– É ter tudo, sem, porém

ter nada que leve à luz.

Terno, amigo e generoso, quis Deus se configurar

no abraço do pai saudoso

no filho que volta ao lar!

Tipo da coisa marota,

ambígua e um tanto arriscada:

perguntar a uma garota

se ela quer jogar pelada...

"Tirei dez em português",

diz-me o neto, erguendo os pés.

"Na verdade, sete e três,

mas, vô... sete e três são dez!"

Todo idoso é um professor;

curvo-me e beijo-lhe a mão.

No mínimo, ensina amor,

hoje máxima lição!

Todos nós temos um pouco ou de troiano ou de grego;

por isso este mundo louco

jamais há de ter sossego...

Trabalhas tanto, formiga,

enquanto, ó cigarra, cantas.

No entanto, basta de intriga:

– são duas tarefas santas!

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Trata o vovô com respeito,

ou logo o castigo vem:

– dele herdarás só o direito de ficar velho também...

Trate o velho com respeito;

dê-lhe o amor que possa dar.

Mas não lhe roube o direito

de a si mesmo governar!

Tremor no hotel... toda gente

salta da cama assustada.

Falso alarme: era somente

efeito da feijoada…

Tristeza alguma dói tanto

quanto a tristeza dos sós... – Ninguém lhes escuta o pranto,

ninguém lhes dirige a voz!...

Trova é bom para a saúde,

faz amigos, dá prazer.

Talvez até nos ajude

a esquecer de envelhecer...

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Tudo depende, de fato,

do que de “sorte” se chama...

Por exemplo, para o gato,

é achar um rato na cama!

Uma boca em cada ponta

de um fio de macarrão...

Ao fim, o encontro que conta:

boca na boca... e um beijão.

Um dia, filho, verás,

e eu também, se vivo for,

o mundo inteirinho em paz,

na grande festa do amor!

Um vaga-lume, isolado, é só uma pobre luzinha;

no entanto, aos outros somado,

clareia a roça inteirinha!

Vaidade, doença triste

que nos condena a estar sós...

Não nos deixa ver que existe

ninguém mais além de nós.

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Vai, riozinho, sem pressa...

lembra ao mar, sem raiva ou mágoa,

que ele é grande, mas começa

num modesto olhinho d’água!

Vamos que vamos, poeta,

sem medo da liberdade...

Sigamos seguindo a seta

que leva à felicidade!

Vão de segunda os viajeiros

mais humildes – os coitados.

Serão no entanto os primeiros

entre os bem-aventurados!

Veja a mata: é lindo o verde;

veja o céu: o azul é belo.

Por que é que então eu vou ter de

manter o humor amarelo?...

Vem vindo um tempo sem bombas,

sem tanques e sem canhões.

Falcões darão vez às pombas,

e os fuzis aos violões!

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Venha, amor, vamos dançar

em meio à chuva, ao relento...

Sem medo, vamos deixar

que às nuvens nos leve o vento!

Vênus, Marte, o Sol e a Lua

talvez sejam mais vizinhos

que os que compõem na rua

a multidão dos sozinhos.

Verde, amarelo, vermelho...

bi-bi... fon-fon... ron-ron-ron...

Mulher, sem pressa, ao espelho,

na esquina ajeita o batom...

Vestem-se as águas de prata,

saltam no espaço vazio.

Findo o show da catarata,

sereno refaz-se o rio...

Vinde, amigos, vinde e vede

o quanto pode o perdão:

– derruba qualquer parede que nos separe do irmão!

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Vingança é coisa de gente

tresloucada ou matusquela...

– A lei do dente por dente

faz tempo ficou banguela!

Virão tempos diferentes

em nossa história, e os vereis:

haverá mais Tiradentes

do que Silvérios dos Reis!

Vi um menino uma vez

mandar aos pais um recado:

– Sou o amor que uniu vocês

e se fez carne. Obrigado!

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Antonio Augusto de Assis (A. A. de Assis) por ele mesmo

Nasci nas montanhas da Bela Joana, em São Fidélis, estado do Rio de Janeiro, no dia 7 de abril de 1933.

Filho de Pedro Gomes de Assis e Maria Ângela Guimarães de Assis. Meu pai era muito amigo de um primo

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dele, seu companheiro de infância, Dom Antonio Augusto de Assis, que foi bispo de Pouso Alegre-MG e

depois arcebispo de Jaboticabal-SP. Dom Assis estivera poucos dias antes em São Fidélis em visita aos

parentes, e dele fui feito xará como homenagem ao primo ilustre.

Fui manchete na história da família porque nasci temporão, décimo quarto de uma fieira de 15 irmãos.

Dez anos antes de mim nascera o Gomes, por todo esse tempo havido, tido e paparicado como caçula. Aí,

de repente, Seu Pedro e Dona Angelita se distraíram e me puseram no mundo. Mas não fui o último. A

raspa do tacho viria quatro anos depois, o Paulo.

Casado com Lucilla Maria Simas de Assis. Morei algum tempo em Campos dos Goytacazes, Nova

Friburgo, Bauru, e moro há muito tempo em Maringá.

Trabalhei inicialmente no comércio, depois por muitos anos em jornais e revistas e por outro tanto em

escolas. Aposentei-me em 1997 como professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de

Maringá. Hoje brinco de poeta, ao lado dos meus irmãos e irmãs da Academia de Letras de Maringá e da

União Brasileira de Trovadores.

Completei o primário no Grupo Escolar Barão de Macaúbas, fiz o ginásio no Colégio Fidelense e em

seguida fui morar na casa de minha irmã Zizinha, em Campos dos Goytacazes, a fim de fazer o científico

no Liceu de Humanidades. Mas parei na metade do curso e voltei para São Fidélis, ali iniciando a vida

profissional como auxiliar de escritório na Algodoeira.

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Só iria retomar os estudos quando já estava residindo no Paraná: completei o segundo grau e em

seguida fiz Letras na FAFI, posteriormente incorporada à UEM – Universidade Estadual de Maringá.

Desde menino fui sensível à arte literária. No ginásio, ficava encantado com as aulas do professor

Expedito, que ensinava quatro línguas: português, latim, francês e inglês. Em casa, ouvia com silenciosa

atenção e curiosidade as conversas do meu irmão Gomes com alguns amigos dele gostantes de literatura,

especialmente o professor Kleber Borges (Bibingo). Mas a vocação parece que já veio na alma, herança

do avô materno, José Garibaldi, maestro de banda e ledor de Camões, e principalmente de minha mãe,

Dona Angelita, poeta de nascença, que tinha sempre à cabeceira algum romance ou livro de poesia e que

foi a primeira incentivadora dos versinhos que eu começava a rabiscar.

Aprendi também muito cedo a gostar de jornais e revistas. Meu pai era leitor assíduo do Diário Carioca

e do Correio da Manhã. Meu irmão Gomes, além de ter uma boa biblioteca, assinava as revistas Seleções,

Careta e O Cruzeiro. Nossas irmãs compravam sempre a Vida Doméstica. Eu pegava carona em todo esse

material de leitura e a cada dia ia sentindo bater mais forte a paixão pelas letras.

A poucos metros de nossa casa havia uma gráfica onde se imprimia O Fidelense (“um hebdomadário

independente a serviço da coletividade”). O impressor era o Fidélis Subieta. Um dia criei coragem, escrevi

um artigo e entreguei ao Subieta, dizendo: “Peça ao Doutor Jacy que dê uma olhada e veja se dá para

publicar”.

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Eu tinha 16 anos de idade. Não falei a mais ninguém sobre o tal escrito. No domingo seguinte, fui logo

cedinho comprar o jornal... Tremi nas pernas: lá estava, ainda com aquele delicioso cheirinho de tinta, o

texto que inaugurava minha vida de jornalista. Estranhei, porém, um detalhe: em vez de Antonio Augusto

de Assis, como assinei no original, o nome que saiu embaixo do título foi A. A. de Assis.

Na segunda-feira perguntei ao Subieta o que acontecera. Fácil de entender: naquela época as gráficas

trabalhavam com tipos móveis. Cada fonte de tipos ficava numa caixa e o tipógrafo ia catando letra por

letra para compor a matéria. E havia o costume de escrever os nomes dos autores de artigos utilizando os

tipos chamados “itálicos”, aqueles inclinadinhos. Deu-se, todavia, que a caixa de itálicos estava

desfalcada, faltando a letra “t”, daí a impossibilidade de escrever tanto Antonio quanto Augusto. E foi

assim que, por conta e arte desse genial tipógrafo, virei A. A. de Assis.

Animado pela publicação do artigo, procurei pessoalmente o Doutor Jacy, que generosamente me

aceitou como colaborador permanente d’O Fidelense. Fiquei todo prosa, claro. Mas surgiu um problema.

Como em São Fidélis todos me conheciam pelo apelido de Gutinho, os leitores começaram a indagar quem

era aquele tal de A. A. de Assis. Assim que descobriram, começou a fofoca. Duvidavam que eu, tão

menino ainda, pudesse escrever aquelas coisas. Havia quem dissesse que o verdadeiro autor era outro

Augusto Assis, meu primo monsenhor Augusto José de Assis Maia, pároco local. Fiquei fulo da vida com

aquilo. Para não deixar dúvida, publiquei no domingo seguinte um artigo falando de carnaval, rebolado

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etc., e com um vocabulário bem apimentado, coisa que ninguém jamais iria atribuir a um padre. Deu

certo: acabou a fofoca.

Em abril de 1953, completei 20 anos. Dois meses depois, em junho, recebi a notícia de que me

esperava um emprego na concessionária bauruense da General Motors. Arrumei a mala, e... pé na

estrada. Não era, porém, exatamente aquilo que eu sonhava. Um ano e meio depois ele (Luiz, meu

irmão) me surpreendeu com uma proposta: “Você gostaria de ir para Maringá?”. De bate-pronto respondi

que sim, embora sem saber sequer de que Maringá ele estava falando. A que eu conhecia era a do

Joubert de Carvalho, a canção. “É uma cidade novinha, no Paraná, com muito futuro”, explicou o mano.

O transporte da maioria era a bicicleta, a lambreta, ou a circular do Polônio, que de vez em sempre

atolava na Avenida Brasil, obrigando os passageiros a descer para empurrar. Os mais abonados rodavam

de jipe ou perua. Eu tinha uma monareta.

A diversão durante a semana era ver algum filme no Cine Maringá ou no Cine Horizonte. No sábado

um baile no Aero Clube ou no Grêmio dos Comerciários. No domingo matinê dançante e em seguida a

primeira sessão do cinema, terminando com a saideira no Bar Colúmbia. Se chovia, a moçada ia para o

baile com os sapatos nas mãos, calçando lá dentro após o lava-pés no banheiro do clube.

Fiz-me associado do Aero Clube e do Grêmio dos Comerciários, onde todo mundo virava logo íntimo de

todo mundo.

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Um dia, cerca de três meses após minha chegada à cidade, peguei a monareta e fui conhecer a

redação do semanário A Hora. Apresentei-me, disse que gostava de escrever e perguntei se ele aceitaria

colaboração. “Aceito sim, disse ele, e se quiser comece agora”. Tomei um susto, claro. Chico explicou que

precisava fechar a edição, mas faltava o editorial. O redator-chefe adoecera e ele estava ali sem saber o

que fazer. Indaguei qual seria o assunto. “É contra o prefeito”, acrescentou, dando as razões da briga. O

prefeito era o Villanova, a quem eu só conhecia de nome. Mas tudo bem: sentei-me diante da velha

máquina datilográfica e em poucos instantes o artigo estava pronto. Ele leu, arregalou os olhos, chamou o

tipógrafo: “Rapidinho, cara, componha este texto e ponha para rodar”.

Só depois dessa agitada cena o Chico me convidou para tomar um cafezinho e iniciou o interrogatório:

quem era eu, de onde vinha, se queria emprego no jornal e coisa e tal. Respondi que desejava apenas

publicar uma crônica semanal, sem remuneração. Aceita a oferta, assim se fez, porém em pouco tempo

eu estava escrevendo quase que o jornal inteiro. O problema foi o remorso que bateu quando vi de perto

pela primeira vez o prefeito Villanova e com ele bati um rápido papo. O homem era uma simpatia, um

herói lidando com os desafios de uma prefeitura sem dinheiro e com mil coisas a serem feitas a curtíssimo

prazo. Nunca mais falei mal dele...

Minha atividade principal continuava sendo a lojinha de autopeças, porém nas horas vagas,

principalmente à noite, fui me envolvendo cada vez mais na imprensa. Continuei n’A Hora enquanto

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durou; depois, por algum tempo, escrevi para o O Jornal de Maringá. Mas peguei mesmo, para valer,

quando Manoel Tavares lançou A Tribuna de Maringá. Nas primeiras edições o redator principal era o Ary

de Lima, que, entretanto, muito ocupado com os seus compromissos de professor, não pôde continuar.

Por insistência do bravo Tavares, aceitei a chefia de redação e iniciamos um trabalho jornalístico que

marcou época.

Ao mesmo tempo em que atuava n’A Tribuna, assumi com Aristeu Brandespim o desafio de produzir a

primeira revista da cidade, Maringá Ilustrada, cuja edição inaugural chegou às bancas em agosto de 1957.

Na primeira edição os redatores éramos Ary de Lima e eu. A partir da segunda, que trouxe na capa a

maquete da nova Catedral em desenho de Edgar Osterroht, fiquei como redator-chefe. Mas Brandespim

era um homem arrojado e achou que o nome Maringá Ilustrada restringia o âmbito da publicação. Mudou

então para NP – Norte do Paraná em Revista, e no ano seguinte outra vez mudou, passando ao nome

definitivo: NP – Novo Paraná, com o projeto de circular em todo o estado.

Como eu escrevia a maioria dos textos, usava, tanto na NP quanto n’A Tribuna, diversos pseudônimos:

João Guido, César Augusto, Robson, Tabaréu, Bitão e outros.

No início de 1965, Ademar Schiavone assumiu a gerência da Rádio Cultura e me convidou para

trabalhar com ele. Alguns meses depois, Joaquim Dutra, um dos diretores da Rádio, arrendou as

máquinas da Folha do Norte do Paraná e fui para lá com ele, como diretor de redação.

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Ao deixar a Folha, continuei por mais algum tempo no jornalismo, escrevendo crônicas (algumas com

o pseudônimo “João Guido”) para O Diário e Jornal do Povo e para as revistas Aqui, Pois É e Tradição.

Todavia, já me preparando para mudar de profissão.

Fiz Letras porque ainda não havia em Maringá o curso de Jornalismo. Terminando a graduação, e

querendo também ser um semeador das letras, comecei a dar aulas no ensino médio, embora ainda

pelejando em jornais e revistas. Em 1976, fui trabalhar no Colégio Santa Cruz, uma experiência muito

marcante em minha vida (até hoje me emociono ao reencontrar os ex-alunos).

No final de 1979 fui para a UEM, primeiro como assessor de imprensa do reitor Neumar Adélio Godoy,

em seguida como professor, após fazer concurso para o Departamento de Letras. Passei então a dar aulas

de língua portuguesa, mas, ao mesmo tempo, ainda por alguns anos, prestando serviço à administração

da Universidade, na assessoria do reitor Paulo Roberto Pereira de Souza.

Terminada a gestão de Paulo Roberto, assumi em tempo integral as atividades de ensino no

Departamento de Letras.

Em 1997, aposentei. No início ainda senti alguma falta da lufa-lufa. Logo, porém, me acostumei a não

precisar mais do relógio, e achei ótimo, principalmente porque pude enfim dispor de tempo para dar asas

soltas ao poeta que desde menino habitou em mim.

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Em 1998, Lucilla também aposentou-se, e desde então passamos a dizer que moramos em

“Caboringá”... Como uma de nossas filhas, Maria Ângela, reside em Maringá e a outra, Maria Paula, em

Balneário Camboriú, vivemos, Lucilla e eu, pralá-pracá.

O gosto pela poesia, como foi dito, manifestou-se em mim desde muito cedo. Comecei, porém, a

publicar os primeiros versos já em Maringá, n’A Tribuna.

Ledor de Bandeira, Drummond, Quintana, Mário de Andrade, Cecília e de outros mestres do

modernismo, tinha preferência pelo verso livre. Em 1959 selecionei um punhado de poemas e fiz um livro

chamado Robson. Por que esse título? Por nada. Apenas porque Robson era o pseudônimo que eu

geralmente usava para assinar meus poemas nos jornais. O livro, com generoso prefácio de Luís Carlos

Borba e capa de Edgar Osterroht, vale pelo menos pelo seu significado histórico: foi o primeiro impresso

em Maringá. O papel foi presente da revista NP e a impressão foi feita de graça na gráfica d’A Tribuna,

com tiragem de 500 exemplares, todos eles oferecidos a parentes e amigos. Foi minha “inauguração

oficial” como poeta.

Em 1960, em Nova Friburgo-RJ, conheci pessoalmente o trovador Luiz Otávio. Ele ali estava, em

companhia do poeta J. G. de Araújo Jorge, cuidando dos preparativos dos I Jogos Florais de Nova

Friburgo, belíssima festa que marcou o início de um animado movimento literário que nos anos seguintes

espalharia a “febre” do trovismo Brasil afora, com repercussão imediata em Portugal.

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Luiz Otávio, a quem fui apresentado pelo também trovador Delmar Barrão, “intimou-me” a aderir

àquele movimento. Expliquei que minha iniciação tinha sido noutro gênero, tentei tirar o corpo fora,

porém a argumentação foi irresistível. “Você pode escrever o tipo de poesia que bem entender, disse ele,

mas, se quiser ficar conhecido em todo o Brasil, comece a fazer trovas”. Essa conversa ocorreu faz meio

século. Comecei. Nunca mais parei. Não fiquei “conhecido em todo o Brasil”, no entanto posso dizer que

em todo o Brasil tenho conhecidos, gente muito boa, amigos que, de tão queridos, chamo de irmãos e

irmãs.

A primeira vez em que ganhei um primeiro lugar em âmbito nacional foi nos I Jogos Florais de

Corumbá-MS, em 1968, com a trova: “Num tempo em que tanta guerra / enche o mundo de terror, /

benditos os que, na Terra, / semeiam versos de amor!”.

De 1977 a 1997, exatos 20 anos, não participei desses torneios. Foi, para mim, um período de

atividade profissional muito intensa, faltando tempo e cabeça fresca para brincar de poeta. Quem me

reintroduziu no trovismo foi um amigo muito querido, o saudoso poeta Newton Meyer, de Pouso Alegre-

MG. Num domingo de 1997, ele conversou comigo pelo telefone durante quase uma hora, e acabou

reavivando aquela chama que andava apagada. Foi muito bom, porque eu estava recém-aposentado e

precisava mesmo de algo desse gênero para manter ativa a mente. Voltei a participar dos concursos e dos

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encontros de trovadores, e isso até me ajuda a esquecer de que, com o rolar dos anos, a gente vai

envelhecendo.

(excerto da vida de Assis obtido em seu livro Vida, Verso e Prosa)

Afinal porque A. A. de Assis e não Antonio Augusto de Assis?

A. A. de Assis nos dá esta explicação em seu livro Vida, Verso e Prosa, lançado pela EDUEM. Aproveito o

espaço para recomendar o livro: cronicas, trovas, triversos, poesias, contos, documento histórico, enfim, um

livro para todos os gostos, escrito por um dos maiores escritores vivos de nossa literatura. Vamos então à

explicação:

A poucos metros de nossa casa havia uma gráfica onde se imprimia O Fidelense ("um hebdomadário

independente a serviço da coletividade"). O jornal pertencia ao deputado Gouveia de Abreu (Doutor Dó), mas

quem o dirigia era o Doutor Jacy Seicas. O impressor era o Fidélis Subieta. Um dia criei coragem, escrevi um

artigo e entreguei ao Subieta, dizendo: "Peça ao Doutor Jacy que dê uma olhada e veja se dá para publicar".

Eu tinha 16 anos de idade. Não falei a mais ninguém sobre bo tal escrito. No domingo seguinte, fui logo

cedinho comprar o jornal... Tremi nas pernas: lá estava, ainda com aquele delicioso cheirinho de tinta, o texto

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que inaugurava minha vida de jornalista. Estranhei, porém, um pequeno detalhe: em vez de Antonio Augusto

de Assis, como assinei no original, o nome que saiu embaixo do título foi A. A. de Assis.

Na segunda-feira perguntei ao Subieta o que acontecera. Fácil de entender: naquela época as gráficas

trabalhavam com tipos móveis. Cada fonte de tipos ficava numa caixa e o tipógrafo ia catando letra por letra

para compor a matéria. E havia o costume de escrever os nomes dos autores de artigos utilizando os tipos

chamados "itálicos", aqueles inclinadinhos. Deu-se, todavia, que a caixa de itálicos estava desfalcada, faltando

a letra "t", daí a impossibilidade de escrever tanto Antonio quanto Augusto. E foi assim que, por conta e arte

desse genial tipógrafo, virei A. A. de Assis.

Animado pela publicação do artigo, procurei pessoalmente o Doutor Jacy, que generosamente me aceitou

como coloaborador permanente d'O Fidelense. Fiquei todo prosa, claro. Mas surgiu um problema. Como em

São Fidélis todos me conheciam pelo apelido de Gutinho, os leitores começaram a indagar quem era aquele tal

A. A. de Assis. Assim que descobriram, começou a fofoca. Duvidavam que eu, tão menino ainda, pudesse

escrever aquelas coisas. Havia quem dissesse que o verdadeiro autor era outro Augusto Assis, meu primo

monsenhor Augusto José de Assis Maia, pároco local. Fiquei fulo da vida com aquilo. Para não deixar dúvida,

publiquei no domingo seguinte um artigo falando de carnaval, rebolado, etc., e com um vocabulário bem

apimentado, coisa que ninguém jamais iria atribuir a um padre. Deu certo: acabou a fofoca.

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JB Xavier (A. A. de Assis, Um Amigo Para Todas as Horas)

Algumas pessoas vivem do estardalhaço e com ele buscam sua auto-afirmação; outras, alimentam-se do

silêncio e dele se originam suas forças. É o caso de A. A. de Assis. Assis pertence à classe de pessoas

especiais, em cuja proximidade todos desejam estar, porque emana dele tal mansuetude, que o universo se

apazigua ao seu redor. De Antonio Augusto de Assis vem a placidez do recolhimento e a contemplação parece

orientar seus gestos e palavras, mesmo em seus momentos de maior descontração.

Como diz Olga Agulhon, no livro ‘Vida, Verso e prosa’ de autoria do homenageado: ‘‘Conviver com A. A.

de Assis é verdadeiramente uma bênção. Ele vive plenamente e emana dele tantas boas energias que todos ao

seu redor também se transformam e querem com ele aprender.’’ Viver plenamente: talvez esteja aí o segredo

dos sábios. Sapiência não é acúmulo de conhecimentos, embora a atenção à experiência costume levar a ela,

tampouco é a presunção do saber, porque esta afasta a humildade, que é o primeiro requisito do sábio.

Paradoxalmente, sapiência é a consciência do não saber, é a compreensão vívida das próprias limitações.

Neste sentido A. A. de Assis é sábio, porque nunca o vi alardear saber. Pelo contrário, sempre que o encontrei

nas muitas festas da UBT nas quais tive o prazer de sua companhia, sempre o vi observando, mais que

falando, e isto, se não é a sapiência, é, pelo menos, uma das veredas do caminho que leva a ela. Em outro

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trecho, Agulhon diz: ‘’O homem poeta - de alma ou expressão - não é como um homem qualquer, que se deixa

levar pela correria quase automática que o cotidiano teima em nos impor. Ao contrário, é aquele que tem

sensibilidade de enxergar a beleza, o sentido, a estesia de cada fragmento de vida existente nas entrelinhas e

nos segundos que passam’’. E eu completaria: Eis porque A. A. de Assis é um diamante entre esmeraldas, um

hino entre o ruído, um oásis na desolação. Ele não rege sua passagem por este mundo através apenas do dizer

e do pensar, mas também do fazer, e acima de tudo, do sentir. Seu espírito inquiridor está sempre arguindo a

vida que o cerca, em busca de novas descobertas para exprimir a beleza.

A convivência com A. A. de Assis convida ao pensar. Muitas vezes, nas rodas de amigos, o vi sorrir

complacente, certamente diante de algum arroubo de sabedoria de algum interlocutor, tentando impressionar

com seus conhecimentos. Nessas ocasiões fiquei a observá-lo com redobrada atenção, ao ver um poeta que já

venceu todos os concursos possíveis na UBT, que já conquistou todos os títulos disponíveis, sorrindo

complacentemente ao exibido. Entretanto, apesar de todas as suas conquistas, não se percebe certezas em A.

A. de Assis. E de que outra forma poder-se-ia reconhecer um sábio, senão pela dúvida? Não existe sabedoria

na certeza. Pelo contrário! A sabedoria que flui da certeza frequentemente é estúpida; a ignorância que flui da

dúvida frequentemente é sábia.

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A palavra que me ocorre ao conviver com A. A. de Assis é ‘Plenitude’! A pobreza de espírito se mantém

distante dele, porque esse sentido de plenitude que o acompanha fá-lo transbordar do cadinho fervente de seu

universo criativo particular e escorrer como lava fervilhante de vida pelas encostas crestadas de um mundo

cinza, colorindo-o com seus versos, instalando vida através da poesia, espalhando esperança através da sua

fé. A. A. de Assis pertence à classe daqueles que tratam bem o seu hoje, e ao fazê-lo, constroem um ontem que

deixa saudades e um amanhã gentilmente esperançoso.

Ainda Aguilhon: ‘’A. A. de Assis olha e enxerga, repara e escuta, sente e recolhe, para depois transformar

tudo em poesia.’’ A. A. de Assis - um homem que, com mansuetude e suavidade, nos lembra que há momentos

em que apenas nós próprios podemos ser nossos confessores, e que os princípios impostos por nós sobre nós

mesmos, assim como sua transgressão, não precisam ser explicados a mais ninguém, além de nossa própria

consciência.

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Fontes

Em virtude de terem sido obtidos em dezenas de links, apenas serão citadas as

páginas principais do site:

- Eliana Ruiz Jimenez = http://poesiasemtrovas.blogspot.com.br

- José Ouverney = http://www.falandodetrova.com.br

- A. A. de Assis = http://aadeassis.blogspot.com.br

- UBT/SP = http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/3254658

- ASSIS, A. A. de. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010

- Trovas em Imagens e Capa: imagens obtidas na internet, formatadas por José Feldman

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JOSÉ FELDMAN

Academia de Letras do Brasil / Paraná

Cadeira n.1 – Patrono: Paulo Leminski

Presidente Estadual do Paraná

Vice-Presidente do Conselho de Ética

Academia de Letras de Teófilo Otoni

Membro correspondente

União Brasileira dos Trovadores/PR

Delegado Municipal de Ubiratã

Sociedade Mundial de Poetas

Unión Hispanomundial de Escritores (UHE)

Ordem Nacional dos Escritores (ONE)

Casa do Poeta de São Paulo “Lampião de Gaz”

Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI)

Editor de e-livretos:

Coleção Memória Viva: Trovas dos Estados

Coleção Memória Viva: Tributos

Almanaque Paraná de Trovas Trova Brasil

Santuário de Trovas

Paraná Poético

Almanaque O Voo da Gralha Azul

Boletim Literário Singrando Horizontes

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Um espaço da Trova Brasileira

Criação, seleção e arte final: José Feldman

Contatos: [email protected] Site:

http://singrandohorizontes.blogspot.com.br

HTTP://vendavaldasletras.wordpress.com

Endereço para correspondência:

Rua Vereador Arlindo Planas, 901 casa A – Zona 6

Cep. 87080-330 – Maringá/PR

Fones: (44) 9981 6985 – TIM

(44) 3259-8484

Part ic ipe com suas t rovas

Trovas Legendas de E l iana J imenez

http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br

Blog do Pro f . P edro Me lo

Todos os d ias , um novo t rovador e uma nova t rova

ht tp : / /b logdoped rome l l o .b lo gspo t . com.b r

Blog da UBT-Cur it iba , not í c ias , t rovas ,

event os .

http://ubt-curitiba.blogspot.com

Blog S imult ane idades, da Andréa Motta

http://simultaneidades.blogspot.com.br

S ite do Már io Zamat aro (Cur i t iba)

http://www.umavirgula.com.br

Blog do A. A . de Ass is (Mar ingá)

http://aadeassis.blogspot.com

A montagem da capa foi realizada com a imagem do mapa do Brasil retirada da internet, a qual não consta a autoria. Se souber de quem é, informe-me, para que sejam dados os devidos

créditos.

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