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Strategies for conservation of trails in the Chapada dos Guimarães National Park, Mato Grosso, Brazil SILVA, Normandes Matos da 1 ; SILVA, Ananias Marques da 2 1 Universidade Federal do Pará, Campus de Altamira, Altamira, PA, Brasil, [email protected]; 2 Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso, Cuibá, MT, Brasil, [email protected] RESUMO Ocorreu um diagnóstico do estado de conservação de duas trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (PNCG) por meio de uma adaptação do método Visitor Impact Management (VIM). Pretendeu-se contribuir com o monitoramento sistematizado dos impactos existentes nessas trilhas consideradas estratégicas para a unidade de conservação. Os indicadores de impacto (erosão, alargamento, raízes expostas, carreiros, lixo, dano a vegetação e atalhos) foram quantificados e georreferenciados. O registro dos indicadores foi sistematizado por meio de um sistema de informações geográficas (SIG). As duas trilhas apresentaram dois indicadores com maior incidência (raízes expostas e dano a vegetação). Não houve diferença estatística que apontasse uma trilha com maior prioridade de recuperação que outra (χ 2 = 6,4, gl=5, p=0,27). É necessário elaborar e executar um plano emergencial de manutenção dessas trilhas. Posteriormente essa atividade deverá integrar o plano de manejo da unidade de conservação. PALAVRAS-CHAVE: Chapada dos Guimarães National Park, Visitor Impact Management, trail management. ABSTRACT A diagnosis was made of the conservation status of two trails of the Chapada dos Guimarães National Park (NPCG), Mato Grosso, Brazil, by means of an adaptation of the method Visitor Impact Management (VIM). Intended to contribute to the systematic monitoring of impacts on these existing trails, considered strategic for the protected area. The indicators of impact (erosion, enlargement, root exposure, footpath, trash, tree damage and shortcut) were quantified and georeferenced. The record of the indicators was systematized through a geographic information system (GIS). Both trails presented two indicators with a higher incidence (root exposure and tree damage). There was no statistical difference to point out a trail with higher priority to recovery of other (χ 2 = 6.4, df = 5, p = 0.27). It is necessary to develop and implement an emergency plan to maintain these trails. Later this activity should include the management plan of the protected area. KEY WORDS: aquaculture; environmental impacts; biodiversity; sustainability development. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 4(3): 97-106 (2009) ISSN: 1980-9735 Correspondências para: [email protected] Aceito para publicação em 20/05/2009 Estratégias de conservação de trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil.

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Strategies for conservation of trails in the Chapada dos Guimarães National Park, MatoGrosso, Brazil

SILVA, Normandes Matos da1; SILVA, Ananias Marques da2

1Universidade Federal do Pará, Campus de Altamira, Altamira, PA, Brasil, [email protected];2Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso, Cuibá, MT, Brasil, [email protected]

RESUMOOcorreu um diagnóstico do estado de conservação de duas trilhas do Parque Nacional da Chapada dosGuimarães (PNCG) por meio de uma adaptação do método Visitor Impact Management (VIM).Pretendeu-se contribuir com o monitoramento sistematizado dos impactos existentes nessas trilhasconsideradas estratégicas para a unidade de conservação. Os indicadores de impacto (erosão,alargamento, raízes expostas, carreiros, lixo, dano a vegetação e atalhos) foram quantificados egeorreferenciados. O registro dos indicadores foi sistematizado por meio de um sistema de informaçõesgeográficas (SIG). As duas trilhas apresentaram dois indicadores com maior incidência (raízes expostase dano a vegetação). Não houve diferença estatística que apontasse uma trilha com maior prioridade derecuperação que outra (χ2 = 6,4, gl=5, p=0,27). É necessário elaborar e executar um plano emergencialde manutenção dessas trilhas. Posteriormente essa atividade deverá integrar o plano de manejo daunidade de conservação.

PALAVRAS-CHAVE: Chapada dos Guimarães National Park, Visitor Impact Management, trailmanagement.

ABSTRACTA diagnosis was made of the conservation status of two trails of the Chapada dos Guimarães NationalPark (NPCG), Mato Grosso, Brazil, by means of an adaptation of the method Visitor Impact Management(VIM). Intended to contribute to the systematic monitoring of impacts on these existing trails, consideredstrategic for the protected area. The indicators of impact (erosion, enlargement, root exposure, footpath,trash, tree damage and shortcut) were quantified and georeferenced. The record of the indicators wassystematized through a geographic information system (GIS). Both trails presented two indicators with ahigher incidence (root exposure and tree damage). There was no statistical difference to point out a trailwith higher priority to recovery of other (χ2 = 6.4, df = 5, p = 0.27). It is necessary to develop andimplement an emergency plan to maintain these trails. Later this activity should include the managementplan of the protected area.

KEY WORDS: aquaculture; environmental impacts; biodiversity; sustainability development.

Revista Brasileira de AgroecologiaRev. Bras. de Agroecologia. 4(3): 97-106 (2009)ISSN: 1980-9735

Correspondências para: [email protected] para publicação em 20/05/2009

Estratégias de conservação de trilhas do Parque Nacional da Chapadados Guimarães, Mato Grosso, Brasil.

Introdução

Unidades de conservação são áreasprotegidas onde se restringem total ouparcialmente as formas de uso e ocupação dasterras, mesmo que essas áreas ainda não tenhamsido por completo instituídas pelo poder público(MORSELLO, 2001). As unidades deconservação, de forma geral, são caracterizadaspor apresentar em seu domínio elevadabiodiversidade nos seus diversos níveis deabordagem (genético, de espécies, de habitats eecossistemas), incluindo beleza cênica, como é ocaso dos parques nacionais. Essas áreas sãoestratégicas para a conservação e podem ser dedomínio público ou privado, com localização elimites definidos, com o objetivo de proteção emanutenção do patrimônio natural e cultural(KINKER, 2002).

As unidades de conservação, segundo oSistema Nacional de Unidades de Conservação(SNUC), criado pela Lei Federal 9.985/2000,podem ser de dois tipos: unidades de usosustentável, como as florestas extrativistas, ondeé possível a exploração direta dos recursosnaturais, e unidades de proteção integral, como osparques nacionais, onde o uso dos recursosnaturais ocorre apenas de forma indireta. Parquesnacionais possuem o objetivo de preservar osatributos excepcionais da natureza, conciliando aproteção integral da flora e fauna e das belezasnaturais, com o uso humano uso para finseducacionais, recreativos ou científicos (BRASIL,2000). Da mesma forma, Kinker (2002) esclareceque o uso público destas áreas poderá ocorrermediante o desenvolvimento de atividades deeducação e interpretação ambiental, queconstituem os componentes do ecoturismo.

O governo brasileiro conceitua o ecoturismocomo um segmento da atividade turística queutiliza, de forma sustentável, o patrimônio naturale cultural incentivando a sua conservação ebuscando a formação de uma consciênciaambientalista através da interpretação do

ambiente, promovendo o bem – estar daspopulações envolvidas (BRASIL, 1994). Enquantoa atividade turística cresce a uma taxa médiaanual de 4%, o turismo de natureza cresce a umataxa de 10% a 30% ao ano (KINKER, 2002).

O avanço do ecoturismo sobre as unidades deconservação brasileiras, fez com que os gestoresdos parques nacionais investissem em estratégiaspara garantir a integridade das espécies,ecossistemas e dos processos ecológicospertencentes à área protegida. E isso tem sido umaspecto essencial nos planos de manejo dosparques nacionais. A partir da construção eexecução de um plano de manejo adequado àrealidade da unidade de conservação é possível,inclusive, buscar um nível de excelência da suagestão, por meio de uma certificação ambiental(PADOVAN, 2003).

Desse modo, com tempo e na busca pelaqualidade na execução dos serviços prestados, asequipes gestoras dos parques nacionais eestaduais têm aplicado e aperfeiçoado diferentestécnicas para o controle do uso público, com opropósito de cumprir de maneira efetiva, osobjetivos primordiais das unidades deconservação.

O método Visitor Impact Management (VIM) éutilizado para avaliar os impactos reais epotenciais da visitação em ambientais naturais,incorporando o monitoramento dos impactos nosecossistemas submetidos a algum tipo de pressãoantrópica. Com isso é possível reduzir e controlaros impactos biofísicos e sociais negativos, queameaçam a qualidade de áreas naturaissubmetidas ao turismo. Graef et al. (1990)explicam que o VIM leva em conta a identificaçãoe a causa de impactos que afetam umecossistema, incluindo a proposição e execuçãode manejo para controlar os impactosinaceitáveis. Esse método se mostra bastanteapropriado para atividades de planejamento emtrilhas usadas para visitação turística. Nesse caso,

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o foco primordial é o estabelecimento de umíndice ideal de uso, para que as mudanças noambiente não atinjam um nível indesejado sob oponto de vista da conservação dos recursosbiofísicos. Os parâmetros e indicadores obtidosquase sempre apresentam uma aplicação local,porém, em certos casos, é possível fazerextrapolações.

A pesquisa aqui apresentada realizou umdiagnóstico do estado de conservação das trilhasdo Parque Nacional da Chapada dos Guimarães(PNCG), adotando uma adaptação do métodoVIM. Com isso, buscou-se contribuir com omonitoramento sistematizado dos impactosindesejáveis em duas trilhas, fornecendosubsídios para o programa de uso público doparque nacional que, por sua vez, comporá oplano de manejo da unidade de conservação.

Material e Métodos

Área de Estudo

O PNCG localiza-se na região central doestado de Mato Grosso, nos municípios deChapada dos Guimarães e Cuiabá, entre ascoordenadas 15°10’ e 15°30’ de latitude sul e56°00’ e 56°40’ de longitude oeste (figura 1). Foicriado pela Lei n°. 97.656 de 12 de abril de 1989.O PNCG possui uma área de 32.630 hectares. Oobjetivo primordial dessa unidade de conservaçãoé o de proteger os ecossistemas de cerrado ematas semi-decíduas; os inúmeros sítiosarqueológicos e monumentos históricos, e aindaas cabeceiras dos vários rios que compõem asbacias do Alto Paraguai e Amazônica (IBAMA,1989).

A altitude da região varia de 200 a 800 metros,com uma taxa pluviométrica anual oscilando de1800 a 2000 mm e umidade relativa do ar entre60% a 80% (PCBAP, 1997). A geologia écaracterizada por rochas do grupo Cuiabá (pré-cambriano), Formação Furnas, Formação Ponta

Grossa e Formação Botucatu (WERLE e SILVA,1996).

O PNCG representa um importante sítio deproteção do cerrado brasileiro. Coutinho (2002)explica que a vegetação do cerrado écaracterizada por um mosaico de fisionomias, quevariam do campo limpo às formações de porteflorestal. A fauna do Cerrado é bastantediversificada, apesar dos baixos níveis deendemismos. Estima-se que existam mais de 400espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos nãovoadores e 1000 espécies de borboletas (ALHO eMARTINS, 1995).

Procedimentos Metodológicos

Em acordo com a administração do PNCG,optou-se por realizar a pesquisa em duas trilhas,conhecidas como trilha do Cerrado e trilha doParedão. Os indicadores de impacto foramidentificados e registrados para essas duas trilhas.O comprimento total de cada trilha é deaproximadamente 3000 m, porém os dados foramcoletados em um trecho de 1000 m para cadatrilha. No local há uma vegetação predominantede campo sujo, contendo mata ciliar no trechoinicial de ambas as trilhas. A trilha do Paredão é amais utilizada pelos visitantes, devido àpossibilidade de observação das florestas deencosta, situadas na escarpa próxima à cachoeirado Véu de Noiva.

Para o diagnóstico de impactos e daintegridade das trilhas utilizou-se o métodoconhecido como Visitor Impact Management - VIM– (GRAEFE et al., 1990). Essemétodo apresentouadaptações de acordo com a propostametodológica apresentada por Zeller (2004).

A primeira campanha de campo teve o objetivode identificar os indicadores de impacto quepoderiam ser utilizados. Após isso, outrascampanhas ocorreram para que se fizesse oregistro dos indicadores de impacto. Como não foi

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possível considerar todos os efeitos negativosexistentes na área de estudo, foram selecionadosapenas os indicadores de situações provocadaspor uma pressão de uso, que poderiam serapenasvisualmente registradas e que eramincompatíveis com os objetivos de conservação deum parque nacional. Os indicadores selecionadosforam os seguintes:a) Carreiro: quando um caminho clandestino,

saindo da trilha principal, terminou em algum localatraente (mirante, riacho, etc.);b) Atalho: correspondeu à presença de um trechode trilha desnecessário e indesejável, que deveriaser suprimido do traçado oficial;c) Erosão: quando o escoamento de água pluvialcriou vias de drenagem (formando ravinas nosolo) observadas visualmente e por onde aspartículas de solo foram transportadas;

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Figura 1 - Localização do PNCG e das trilhas do Cerrado e do Paredão.

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d) Raízes expostas: quando havia a presença deraízes sobre o piso da trilha, com um afloramentosobre o solo maior que 2 cm e com umcomprimento de exposição igual ou maior que 10cm;e) Alargamento: A largura de 65 cm foiconvencionada como padrão para as trilhas.Portanto, os trechos deveriam apresentar essalargura média em toda a sua extensão. Acimadisso considerou-se uma situação indesejável;f) Lixo: foi registrado quando da observação deresíduos sólidos diversos (sacola, garrafas e latas,por exemplo) sobre o piso da trilha, nas lateraissobre o solo ou sobre a vegetação marginal datrilha;g) Dano à vegetação: seriam atitudes provocadasdeliberadamente ou não por visitantes ou guias deturismo, que causaram danos à vegetaçãomarginal das trilhas, tais como inscrições no cauledas árvores e retirada de mudas e pisoteamentode plântulas.

Para facilitar o registro dos indicadores deimpacto, as duas trilhas foram subdivididas emtrechos de 50 m, num total de 20 trechos paracada trilha, totalizando 1000 m para cada. Cadatrecho era percorrido e os indicadores eramquantificados numa ficha de campo. Informaçõesadicionais sobre os indicadores também eramregistradas nessa ficha.

As trilhas selecionadas foram mapeadas emsetembro de 2005, com uso de um receptor GPSde doze canais. Foram obtidas as coordenadas deinício e término cada trecho. Utilizou-se o sistemade coordenadas UTM (projeção UniversalTransversa de Mercator), com datum SAD 69. Osdados referentes às coordenadas geográficas eaos indicadores de impacto para cada trecho,obtidos em campo, foram inseridos no programaSistema de Processamento de InformaçõesGeorreferenciadas (SPRING), versão 4.1(CÂMARA, 1996).

Para verificar se havia uma trilha com maiorgrau de impacto e, conseqüentemente, com

prioridade para ações de intervenção, procedeu-se ao uso do teste de Qui-quadrado (Chi-squarefor contingency table). Nesse caso, duascategorias (indicadores) foram contabilizadas emconjunto (lixo e carreiro) totalizando, desse modo,seis categorias para fins de análise estatística.

Resultados e DiscussãoO sistema de informações geográficas (figura

2) armazenou as informações das coletas decampo e possibilitou uma identificação rápida eprecisa dos indicadores de impacto. Todos osindicadores de impactos registrados foramgeorreferenciados por trecho, perfazendo um totalde 359 indicadores. Os indicadores com maiornúmero de ocorrências foram raízes e vandalismo(tabela 1), que juntos representaram 81% do totalde registros. Lixo e carreiro foram os indicadoresmenos representativos constituindo, juntos,apenas 4% dos indicadores para as duas trilhas.A seguir serão discutidos alguns aspectos sobreos indicadores estudados.

Quanto ao indicador erosão, os primeiros 400m da trilha do Cerrado (trechos de 1 a 8) são osmais problemáticos (figura 3A), enquanto que natrilha do Paredão os focos de erosão situam-seprincipalmente em uma extensão de 150 m(trechos de 3 a 5). As características estruturaisdo solo, a inclinação do terreno e a compactaçãoprovocada pelo pisoteio, provocam uma situaçãopropícia para ocorrência de erosões nas duastrilhas. A compactação do solo, associado àtopografia do terreno e ao formato (geometria) datrilha, tendem a potencializar a ocorrência deprocessos erosivos do tipo linear e laminar. Deacordo com PCBAP (1997), os solospredominantes na área de estudo são litólicosdistróficos, ocorrendo ainda os cambissolosdistróficos. Os solos litólicos (hoje chamados deneossolos litólicos) e os cambissolos, quandoinseridos em regiões de relevo inclinado,apresentam sérios riscos de erosão. Esses solospossuem baixa permeabilidade, o que significa

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baixa infiltração das águas pluviais (DCS, 2005).Assim, sulcos no terreno são facilmente formados,o que propicia o surgimento de erosões lineares.

No Parque Nacional Itatiaia, constatou-se queas principais causas de erosão estão relacionadasà topografia do terreno (BARROS, 2003). Zeller(2004) por meio de uma adaptação do métodoVIM, em um estudo de trilhas no Parque Nacionalda Chapada Diamantina, chegou à mesmaconclusão. Magro (1999), no Parque Itatiaia,observou que as erosões foram mais profundasnos locais de declividade alta. Para Andrade(2003), há várias formas de manejo para controlara erosão em trilhas. A implantação de um sistemade drenagem com canais, valas e barreiras noleito da trilha, feito de maneira adequada seriacapaz de retirar da trilha boa parte da água dachuva, que é a causa principal de erosão na áreade estudo. Recomenda-se ainda a introdução deserrapilheira no piso das trilhas, como forma deminimizar a compactação do solo e protegê-locontra o impacto direto das gotas de chuva.

Na trilha do Cerrado, o alargamento está

relacionado com os locais onde há maiorocorrência de processos erosivos, na parte inicialde 450 m (trechos de 1 a 9). Na trilha do Paredão60% da ocorrência de alargamento também estãonos trechos iniciais da trilha (figura 3 B),coincidindo com os locais onde existe maiornúmero de raízes expostas. O alargamentorepresenta um indicador que surgiuposteriormente aos indicadores erosão e raízesexpostas. Em campo foi possível observar quenuma ordem cronológica, surgiram inicialmente osprocessos erosivos, que provocou a ocorrência deraízes expostas (por via de erosão laminar) e,posteriormente, ocorreu o alargamento como umaconseqüência dos dois primeiros indicadores. Issose deu em virtude de alteração no trajeto da trilha,promovida pelos visitantes. Nos locais onde háalargamento do piso da trilha, deve-se demarcar alargura da trilha e realizar um trabalho derecomposição do sub-bosque das suas margens,evitando assim a expansão desse impacto. E,principalmente, eliminar os focos de erosão e deraízes expostas, que são os fatores causais.

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Os atalhos, assim como o alargamento,representaram um impacto que surgiu comoconseqüência dos processos erosivos e raízesexpostas. Os visitantes para evitarem obstáculosem seu caminho, modificaram o trajeto oficial dastrilhas (figura 3 F). Nesse caso as erosões eraízes expostas devem ser eliminadas, para queposteriormente ocorra o manejo adequado dosatalhos nas duas trilhas. É necessário obstruir osatalhos com galhos e troncos mortos, porém semque isso afete a estética da paisagem local. Ostrechos 01 e 07 da trilha do Cerrado e o trecho 02da trilha do Paredão, merecem uma intervenção

prioritária. Uma outra indicação é a de realizarnesses locais, um plantio de sementes ou mudasa fim de reconstituir a vegetação nativanovamente. Técnicas como a escarificação dosolo, semeadura, transplante e fertilização(KAGEYAMA e GANDARA, 2000), sãorecomendadas para as situações observadas noPNCG.

As técnicas mencionadas acima, tambémpodem ser usadas para a obstrução dos carreiros(figura 3 D), que foram mais freqüentes na trilhado Paredão (7 ocorrências). Esse indicadorrepresenta um impacto de difícil manejo, tendo em

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Figura 2 – Organização do banco de dados georreferenciado das trilhas do Cerrado e doParedão.

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Figura 3 - Registro de alguns indicadores avaliados no PNCG: erosão (A e F), alargamentoda trilha (B), raízes expostas (C), carreiro (D), danos à vegetação e lixo (E) e atalho (F).

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vista que a área possui fisionomia essencialmentecampestre, o que facilita a abertura de acessos alocais próximos a despenhadeiros, quepossibilitam uma boa observação da paisagem,mas que não apresentam qualquer estrutura desegurança para o visitante. O resultado observadonas duas trilhas do PNCG divergiu do que foiencontrado por Magro (1999), no Parque Nacionaldo Itatiaia, onde os carreiros estariam associadosaos obstáculos presentes no trajeto oficial dastrilhas.

As raízes expostas no piso das trilhasestudadas surgiram em função da declividade doterreno e do tipo de solo presente no local. Otrecho inicial (trecho 1) de ambas as trilhas (queiniciam num mesmo local) é o mais problemático(figura 3 C), devido à sua condição natural(terreno acidentado, solo frágil e com muitasárvores e raízes naturalmente expostas). Esseindicador oferece riscos à sobrevivência dasárvores e representa um obstáculo aos visitantes(figura 3 C). É necessário proteger essas raízesmediante o uso de fragmentos de rochas e areposição do solo, a fim de eliminar a exposiçãosuperficial dessas raízes. Apenas em casosexcepcionais, e com o acompanhamento de umbotânico, as raízes poderão ser retiradas. Deve-setambém impedir que haja fluxo intenso de águapluvial nesse local, a fim de se evitar acontinuação do processo de lixiviação do solo e aconseqüente exposição das raízes.

Tanto na trilha do Cerrado (40 ocorrências)como na do Paredão (57 ocorrências), houve umelevado número de ocorrência de danos àvegetação. Recomenda-se um monitoramentoperiódico dos danos à vegetação marginal dastrilhas, para que não ocorra a progressão desseimpacto. Para tanto, deve-se realizar vistoriasdiárias ou a cada dois dias, principalmente nostrechos iniciais das duas trilhas. O pisoteio sobre avegetação marginal nas trilhas, está associado àcriação de atalhos e ao indicador alargamento. Osatos de vandalismo observados no PNCG estão

associados com a presença de lixo nas trilhas.Barros (2003) pesquisando modificações

ambientais provocadas pelo uso público noParque Nacional do Itatiaia, em quatro trilhas, comum total de 9.800 metros e constatou apenas umasituação de danos à vegetação e uma ocorrênciade lixo. No PNCG, em 1000 m de cada trilha,foram contabilizados pelo menos 97 danos àvegetação e 06 ocorrências de lixo (figura 3 E).Nesse caso, há a necessidade de uma atuaçãoplanejada dos gestores da unidade deconservação na busca atividades que busquem asensibilização do turista. Além dos gestores, aparticipação, nesse processo, dos guias deturismo e condutores de visitantes é consideradafundamental. A sensibilização do visitante, omonitoramento dos danos à vegetação e aspráticas de coleta de lixo nas trilhas, não devemser ações isoladas e sim parte integrante (eintegrada) de estratégias de educação ambientaldirecionadas ao visitante do PNCG.

As duas trilhas não apresentaramdiferenças significativas, em termos estatísticos,no que se refere à quantificação total dosindicadores de impacto (χ2 = 6,4, gl=5, p=0,27).Com isso, não há indicação de prioridade entre astrilhas. As ações de manejo, preferencialmente,devem ocorrer em paralelo para as duas trilhas.

Considerações finais

A análise dos indicadores de impactospresentes nas trilhas do Cerrado e do Paredão,ressalta a importância de se elaborar e executarum plano emergencial de manutenção dessastrilhas. Nesse plano deve ocorrer ummonitoramento periódico e sistematizado dassituações indesejáveis observadas nas duastrilhas estudadas, além de um controle eficienteda visitação. É necessário estabelecer um númeromáximo de visitas para cada trilha em relação aum determinado intervalo de tempo. Além disso,estratégias de educação ambiental devem seradotadas com os visitantes, a fim de influir no

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comportamento das pessoas que percorrem essastrilhas. O banco de dados georreferenciado deveráser utilizado na execução dessa atividade, pois éútil como um sistema de registro de ocorrências,monitorando os indicadores de impacto, bemcomo casos de acidentes com visitantes efuncionários do PNCG.

Porém, o cenário ideal compreende aconstrução e consolidação de um programa deuso público, que fará parte do plano de manejo daunidade de conservação. Esse programa irácompatibilizar os objetivos do parque nacional,com a oferta e a oportunidade de recreação eturismo em um ambiente natural.

AgradecimentosÀ equipe do Parque Nacional da Chapada dos

Guimarães composta pelos analistas ambientaisEduardo Muccillo Bica de Barcellos (chefe doparque), Jorge Luiz de Almeida Marques, CecílioVilabarde Pinheiro, Maurício Cavalcante dosSantos e Bruno Soares Lintomen, pelo apoio narealização da pesquisa.

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