17
Indicadores ambientais de sustentabilidade sistematizados pelo modelo pressão- estado-resposta (PER): análise de águas superficiais na microbacia hidrográfica Passo da Pedra, em Pato Branco – PR Environmental sustainability indicators for systematic model pressure-state-response (PER): analysis of surface water in the catchment Step Stone, in Pato Branco - PR BRAGATTO, Rosane Dalpiva 1 ; MARTINI, Cezar Augusto 2 ; STEFFANI, Marco Aurélio 3 ; ZOREL JÚNIOR, Henrique Emilio 4 ; BARRETO-RODRIGUES, Márcio 5 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 3 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 4 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 5 Professor Doutor do Programa de Pós- graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected] RESUMO: No presente trabalho foi desenvolvido um estudo direcionado a avaliação da sustentabilidade ambiental da microbacia Hidrográfica do Rio Passo da Pedra do município de Pato Branco-PR por meio de indicadores de sustentabilidade atrelados ao modelo pressão, estado, resposta (PER). Os procedimentos metodológicos incluíram as etapas de revisão crítica de literatura, diagnóstico ambiental da área de estudo e a seleção/proposição dos parâmetros relacionados. Após serem analisados os fatores de relevância sobre as águas superficiais para gestão ambiental eficiente foram estabelecidos 15 indicadores caracterizados quanto ao nome, definição, importância, mecanismo de medição, unidade de medida, frequência de coleta e enquadramento no modelo PER. Os indicadores ora definidos permitem criar e avaliar programas e políticas públicas que visem reverter o quadro atual, com ações e práticas voltadas à sustentabilidade ambiental nas microbacias hidrográficas. Adicionalmente seu arranjo pode propocionar um melhor entendimento das relações estabelecidas entre as pressões antrópicas e o ambiente, os indicadores desenvolvidos neste trabalho permitirão evidenciar as suas inter-relações. PALAVRAS-CHAVE: Indicadores Ambientais de Sustentabilidade; Modelo PER; Microbacias Hidrográficas; Águas superficiais. ABSTRACT: In the present work was a study aimed at assessing the environmental sustainability of the watershed basin of the Rio Step Stone Pato Branco PR-through sustainability indicators linked to the model pressure, state, response (PER). The methodological procedures included steps critical literature review, environmental assessment of the study area and the selection / proposal related parameters. After analyzing the factors of relevance to surface waters for efficient environmental management established 15 indicators were characterized according to the name, definition, importance, mechanism of measurement, unit of measure, frequency of collection and the PSR model framework. The indicators defined herein allow you to create and evaluate programs and policies aimed at reversing the current frame, with actions and practices aimed at environmental sustainability in the watersheds. Additionally, your arrangement may directly providing a better understanding of the relationships established between human pressures and the environment, the indicators developed in this paper will show their interrelationships. KEY WORDS: Environmental Sustainability Indicators, Model PER, watersheds, surface water. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) ISSN: 1980-9735 Correspondências para: [email protected] Aceito para publicação em 15/06/2012

Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de ...orgprints.org/22816/1/Bragatto_Indicadores.pdf · Tabela 1: Água disponível na terra em localização em volume e em percentual

  • Upload
    haduong

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Indicadores ambientais de sustentabilidade sistematizados pelo modelo pressão-estado-resposta (PER): análise de águas superficiais na microbacia hidrográficaPasso da Pedra, em Pato Branco – PR

Environmental sustainability indicators for systematic model pressure-state-response(PER): analysis of surface water in the catchment Step Stone, in Pato Branco - PR

BRAGATTO, Rosane Dalpiva1; MARTINI, Cezar Augusto2; STEFFANI, Marco Aurélio3; ZOREL JÚNIOR, HenriqueEmilio4; BARRETO-RODRIGUES, Márcio5

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, PatoBranco/PR - Brasil, [email protected]; 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em DesenvolvimentoRegional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 3 Mestrando do Programade Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil,[email protected]; 4 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR,campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil, [email protected]; 5 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, campus Pato Branco, Pato Branco/PR - Brasil,[email protected]

RESUMO: No presente trabalho foi desenvolvido um estudo direcionado a avaliação da sustentabilidade ambiental

da microbacia Hidrográfica do Rio Passo da Pedra do município de Pato Branco-PR por meio de indicadores de

sustentabilidade atrelados ao modelo pressão, estado, resposta (PER). Os procedimentos metodológicos incluíram

as etapas de revisão crítica de literatura, diagnóstico ambiental da área de estudo e a seleção/proposição dos

parâmetros relacionados. Após serem analisados os fatores de relevância sobre as águas superficiais para gestão

ambiental eficiente foram estabelecidos 15 indicadores caracterizados quanto ao nome, definição, importância,

mecanismo de medição, unidade de medida, frequência de coleta e enquadramento no modelo PER. Os indicadores

ora definidos permitem criar e avaliar programas e políticas públicas que visem reverter o quadro atual, com ações e

práticas voltadas à sustentabilidade ambiental nas microbacias hidrográficas. Adicionalmente seu arranjo pode

propocionar um melhor entendimento das relações estabelecidas entre as pressões antrópicas e o ambiente, os

indicadores desenvolvidos neste trabalho permitirão evidenciar as suas inter-relações.

PALAVRAS-CHAVE: Indicadores Ambientais de Sustentabilidade; Modelo PER; Microbacias Hidrográficas; Águas

superficiais.

ABSTRACT: In the present work was a study aimed at assessing the environmental sustainability of the watershed

basin of the Rio Step Stone Pato Branco PR-through sustainability indicators linked to the model pressure, state,

response (PER). The methodological procedures included steps critical literature review, environmental assessment of

the study area and the selection / proposal related parameters. After analyzing the factors of relevance to surface

waters for efficient environmental management established 15 indicators were characterized according to the name,

definition, importance, mechanism of measurement, unit of measure, frequency of collection and the PSR model

framework. The indicators defined herein allow you to create and evaluate programs and policies aimed at reversing

the current frame, with actions and practices aimed at environmental sustainability in the watersheds. Additionally,

your arrangement may directly providing a better understanding of the relationships established between human

pressures and the environment, the indicators developed in this paper will show their interrelationships.

KEY WORDS: Environmental Sustainability Indicators, Model PER, watersheds, surface water.

Revista Brasileira de AgroecologiaRev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)ISSN: 1980-9735

Correspondências para: [email protected] para publicação em 15/06/2012

IntroduçãoO desenvolvimento da sociedade ocorreu de

forma desordenada, sem planejamento, à custa deníveis crescentes de poluição e degradaçãoambiental. O domínio do meio ambiente pelohomem provocou desequilíbrio nos ecossistemas,surgindo assim, o conflito a que chamamos decrise ambiental. O processo de degradaçãoambiental é complexo e requer medidas de gestãoe controle que passam por ações e soluçõesintegradas de gestão ambiental, para minimizar oseventuais impactos ambientais. E pela tecnologia,tentou-se construir métodos de planejamento,modelos matemáticos, equipamentos de controlede poluição e processos alternativos menospoluentes, visando a sustentabilidade dossistemas.

Durante a década de 70 surge o termosustentabilidade (ONU, 2011), e dentro dasdiscussões principalmente da Conferência deEstocolmo em 1972 e da Eco 92, no Rio deJaneiro, se amplia a utilização do termoDesenvolvimento Sustentável. A literatura reúneaproximadamente 160 conceitos ou definiçõessobre desenvolvimento sustentável e asabordagens diversas são relativas em função docampo ideológico ambiental ou da dimensão emque cada ator se posiciona. Mas para esse estudotoma-se por base o conceito estabelecido peloRelatório Brundtland:

“Desenvolvimento conduzidoresponsavelmente por indivíduos, empresas,governos e outras instituições, cuidando dofuturo, dividindo e partilhando equitativamenteos recursos naturais dos quais os sereshumanos e as demais espécies dependem, deforma a garantir que aqueles que hoje existem,estejam presentes também no futuro”. (ONU,2011)

Compatibilizar o desenvolvimento com o meioambiente significa considerar os problemas dentro

de um contínuo processo de planejamento,atendendo-se adequadamente as exigências deambos. Mas, como medir e monitorar asustentabilidade? Para a gestão, o planejamento eo controle se faz necessária a implantação desistemas de medição e monitoramento, sendo quepara esses sistemas funcionarem é imprescindívela utilização de indicadores. Segundo o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010)– indicadores são ferramentas constituídas poruma ou mais variáveis que, associadas através dediversas formas, revelam significados mais amplossobre os fenômenos a que se referem. Por outrolado indicadores de sustentabilidade ambientalsão instrumentos essenciais para guiar a ação esubsidiar o acompanhamento e a avaliação doprogresso alcançado rumo ao desenvolvimentosustentável.

O termo indicador é originário do latim indicare,que significa descobrir, apontar, anunciar, estimar.Para Cabral (2011, apud WETERINGS, 1994)indicador é um parâmetro ou valor derivado deparâmetros que aponta ou fornece informaçãosobre o estado do fenômeno, meio ou área comuma significância estendida maior que a obtidadiretamente pela observação das propriedades.

Já de acordo com a ONU (2011), osindicadores podem guiar para melhores decisõese ações mais eficientes, simplificando ouagregando as informações disponíveis à condutado empreendimento.

Amaral (2011, apud ZHAO,1999) caracterizaindicadores de sustentabilidade como sendoaqueles que medem a distância entre o impactoambiental real e aquilo que a biosfera podeaceitar. Por exemplo, se uma região quiser sedesenvolver de maneira sustentável, quais tipos deimpactos ambientais, sociais e econômicos elapoderá receber? E Cabral (2011, p. 02)complementa:

“os indicadores selecionados devem ser

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)88

adaptados às condições específicas de cadaempreendimento. O gestor deve-se valer delese monitorar as ações e as consequênciasdessas ações numa ótica temporal. Em outraspalavras, cada medida é uma espécie defotografia e somente várias dessas fotografias,tiradas em intervalos regulares de tempo,podem adicionar movimento, permitir desenhode cenários e guiar decisões sábias esustentáveis.”

Conforme Bellen (2006) as principais funçõesdos indicadores são: avaliações de condições etendências; comparação entre lugares e situações;avaliação de condições e tendências em relaçãoàs metas e aos objetivos; prover informações deadvertência; antecipar futuras condições etendências. E para Beaver (2011) os indicadoresde sustentabilidade devem: ser simples de usar efáceis de serem entendidos; ter facilidade decoleta e custo viável; sendo então úteis comoferramentas de gestão.

Várias são as definições e muitos sistemas deindicadores vêm sendo utilizados e desenvolvidos,porém como recorte deste estudo optou-se pelaconstrução de indicadores de sustentabilidade naperspectiva ambiental. Bellen (2006, apudRUTHERFORD,1997) afirma que a principalpreocupação, na perspectiva ambiental, é relativaaos impactos das atividades humanas sobre omeio ambiente.

As atividades humanas produzem pressões(emissões de contaminantes) que podem afetar oestado do ambiente, levando a sociedade aapresentar respostas a esses problemas, nasdimensões social, econômica e ambiental. Destas,apenas a dimensão ambiental será consideradacom enfoque de análise e construção dosindicadores para medir a sustentabilidadeambiental da microbacia hidrográfica do Rio Passoda Pedra, no enfoque da qualidade da águasuperficial.

Gestão da água em microbacias hidrográficasA água como recurso valiosíssimo na

constituição da vida, está distribuída em todo oglobo terrestre variando de região para região emdiferentes composições e concentrações(PARANÁ, 2011). Dentro do ecossistemaplanetário seu papel junto aos biomas é múltiplo,sendo integrante da cadeia alimentar e dosprocessos biológicos, bem como condicionante doclima e dos diferentes ambientes naturais.

De acordo com a Organização das NaçõesUnidas – ONU (ONU, 2011), de toda a águadisponível na terra 97,6% está concentrada nosoceanos (Tabela 1). A água fresca correspondeaos 2,4% restantes. Destes 2,4% somente 0,31%não estão concentrados nos pólos na forma degelo. Deste percentual de água doce disponívelem torno de 8% do que pode ser utilizada nomundo esta no Brasil.

Embora se tenha no Brasil abundância deágua, esta se encontra mal distribuída em relaçãoà densidade demográfica do país, sendo que 80%da água estão na região amazônica e de outrolado, severa escassez na Região Nordeste (ONU,2011). Porém, além da má distribuição o paísenfrenta problemas mais graves que são apermanente contaminação e desperdício da águalimpa que ainda resta.

Em função das características do ciclohidrológico com suas limitações, e do aumento dademanda por força da pressão populacional e daampliação dos usos da água (IBGE, 2010), surgea questão elementar sobre como gerir aquantidade e a qualidade dos recursos hídricos,necessitando para tanto processo de gestão esaneamento ambiental.

A Agência Nacional de Águas – ANA foi criadapela implementar a Política Nacional de RecursosHídricos, regulamentada pela Lei 9.984, de17/07/2000. Cabe a esta entidade federal,vinculada ao Ministério do Meio Ambiente,

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 89

supervisionar, controlar e avaliar as ações eatividades decorrentes do cumprimento dalegislação federal pertinente aos recursos hídricos.Conforme o que estabelece a lei, o direito de usode recursos hídricos em corpos de água dedomínio da União se dará, por intermédio deautorização (outorga), em articulação com osComitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelouso de recursos hídricos de domínio da União(BRASIL, 2011). Afirmando dessa maneira,fortalece a necessidade da gestão da água porbacias hidrográficas como forma de remover ascausas, do conflito decorrente das distorçõesquantitativas e qualitativas no uso dos recursoshídricos.

A Bacia Hidrográfica, como tal, possibilita umaabordagem sistêmica da atuação dos impactosnaturais e antrópicos (OSAKI, 1994), essesdependem de uma gama de fatores como clima,relevo, natureza do terreno e cobertura vegetal.

Como subdivisão da Bacia Hidrográfica, amicrobacia hidrográfica, Guerra (2008) definecomo conjunto de terras drenadas em uma áreadeprimida do terreno, onde se concentra oescoamento superficial e que possui um canalprincipal e seus tributários.

A microbacia hidrográfica é considerada umaunidade de planejamento ideal do espaço

geográfico urbano e/ou rural,

“(...) por se encontrar fisicamente bemcaracterizada, e também porque toda a área daterra (fração) por menor que seja, sempre seintegra a uma microbacia” (OSAKI, 1994, p.555).

Diante das considerações, esta pesquisa tomacomo unidade de análise a microbacia hidrográficado Rio Passo da Pedra apresentada na Figura 1.

Revisão bibliográficaDefinição do marco ordenador PER (Pressão-

Estado-Resposta).Segundo Carvalho (2011), o marco ordenador

pode ser definido como uma proposta de organizaros indicadores em categorias que facilita olevantamento, a interpretação e análise deresultados. O mesmo autor confirma a existênciade quatro tipos de marcos ordenadores tratandodas questões ambientais e desenvolvimentosustentável, a saber: a) marco ordenador simplesde componentes ambientais (aqui se enquadramos indicadores de recursos naturais, ordenadospelo modelo Pressão-Estado-Resposta (PER)); b)marco ordenador de desenvolvimento sustentável(modelo temático, por exemplo); c) marco

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)90

Tabela 1: Água disponível na terra em localização em volume e em percentual.

Fonte: Wetzel, 2001.

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 91

Figura 1: Imagem, Perímetro e Hidrografia da Microbacia do Rio Passo da PedraFonte: Dados da pesquisa

ordenador do capital natural (contabilidadeambiental, p.ex.), e d) marco reordenador sistêmicoda relação sociedade/natureza (CARVALHO,2011).

O marco ordenador PER, formulado peloStatistic Canada e adotado pela Organization forEconomic Coooperation and Development - OECD(OECD, 1993) é recomendado na apresentação deindicadores relacionados às questões ambientais eao desenvolvimento sustentável. Após aConferência ECO-92, a Comissão deDesenvolvimento Sustentável da ONU passou aincentivar a produção de indicadores dedesenvolvimento sustentável. Ainda segundo oautor, no chamado livro azul, estão definidos 134indicadores apresentados no modelo Pressão-Estado-Resposta. Na sequencia, este número foireduzido para 59, passando-se a utilizar o marcoordenador (CARVALHO, 2011). Este modelofundamenta-se no conceito de abordagem dosproblemas ambientais segundo uma relação decausalidade, buscando responder as seguintesquestões: o que acontece com o ambiente(Estado). Por que está acontecendo? (Pressão).Qual a reação da sociedade? (Resposta).

De acordo com a classificação da OECD(1993), os indicadores ambientais podem sersistematizados pelo modelo Pressão-Estado-Resposta (PER), que consiste em três gruposchave de indicadores:

Pressão - caracterizam as pressões sobre ossistemas ambientais e podendo ser traduzidas porindicadores de emissão de contaminantes,eficiência tecnológica, intervenção no território e deimpacte ambiental;

Estado - reflete a qualidade do ambiente numdado horizonte espaço/tempo; são, por exemplo,os indicadores de sensibilidade, risco e qualidadeambiental. Devem-se buscar políticas visandomelhorar esses indicadores. Exemplos: erosão,

águas poluídas;Resposta - avaliam as respostas da sociedade

às alterações e preocupações ambientais, bemcomo à adesão a programas e/ou àimplementação de medidas em prol do ambiente;podem ser incluídos neste grupo os indicadores deadesão social, de sensibilização e de atividadesde grupos sociais importantes. Objetivam melhoraro estado ambiental. Exemplo: número de vistorias,multas ou autuações objetivando controlar apoluição de rios.

Na Figura 2 observa-se de forma esquemáticao modelo PER, estabelecendo as atividadeshumanas como formas de pressão, o estado doambiente e as respostas dos agentes econômicose ambientais.

Carvalho (2011) destaca que a maior vantagemdo modelo PER deve-se ao fato de dar uma visãoglobal dos vários componentes de determinadoproblema ambiental, facilitando o diagnóstico eformulação das políticas públicas adequadas. Omodelo PER vai além da constatação dadegradação ambiental, mas revela seu impacto esuas causas, proporcionando intervenções eplanejamento de ações visando reverter o quadro.

ObjetivosO artigo pretende indicar uma forma de

mensurar a sustentabilidade ambiental,estabelecendo indicadores de sustentabilidadeinseridos na microbacia hidrográfica do Rio Passoda Pedra. Respeitando o princípio de que “umindicador deve ser o mais simples possível, masnão mais simples do que isso” (BELLEN, 2006,,1999 apud BOSSEL, 1999), busca-se definirindicadores facilmente mensuráveis, e que possamservir de apoio ao desenvolvimento de políticaspúblicas, projetos e programas que visem melhoraras condições sociais e econômicas dos moradoresda microbacia, concomitantemente à redução da

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)92

pressão sobre o meio ambiente. Como amicrobacia é um ambiente aberto, e por isso semcontrole do ar, optou-se por analisar asinterferências antrópicas no solo e na água. Sendoque este estudo se reporta a situações inerentes àexploração da água, do solo e da floresta, seu usoe produção de resíduos, que culminam naqualidade das águas superficiais da microbaciahidrográfica.

Materiais e métodosOs procedimentos metodológicos deste estudo

foram subdivididos em três etapas:

Revisão de literatura

A revisão de literatura foi estabelecida a partirda análise dos parâmetros apresentados,adequação das experiências profissionais sobre oassunto e sobre a área de estudo, disponíveis emlivros e na internet, cujos autores consultadosconstam nas referencias bibliográficas.

Diagnóstico ambiental da área de estudo.Para esta análise na microbacia do Rio Passo

da Pedra, utilizou-se de imagem do satéliteQUIKBIRD, ano 2005, incursões de campo paraavaliações de perfis de solos e tipos devegetação. As informações cartográficas foramconstruídas a partir do georreferenciamento daimagem de satélite. Desse modo, foram obtidas

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 93

Figura 2: Estrutura conceitual do modelo PER da OECD.Fonte: Adaptado de GOMES (2000)

informações a respeito da localização geográficada bacia, uso atual do solo, declividade ecobertura florestal. Durante os trabalhos de campoforam feitas visitas a bacia, sendogeorreferenciados os pontos potenciais da poluiçãodifusa. Para avaliação da capacidade do uso dosolo, utilizaram-se como parâmetros os critérios declassificação do Ministério da Agricultura (1981) eLepsch (1993).

Definição dos indicadoresOs indicadores foram definidos de acordo com

o marco ordenador simples de componentes

ambientais, indicadores de recursos naturais,ordenados pelo modelo Pressão-Estado-RespostaPER, a partir do conhecimento e análise da áreade estudo, suporte técnico bibliográfico eexperiência profissional, nas áreas de química eagronomia.

Resultados e discussãoDiagnóstico ambiental da área de estudoA microbacia do Rio Passo da Pedra (figura 3),

com área de 1.586,2 ha e perímetro de 18.549,5m, está localizada no município de Pato Branco,nas coordenadas: 26º 11’ 18” S 52º 42` 23” W na

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)94

Figura 3: Mapa de localização geográfica da microbacia hidrográfica do Rio Passo da Pedra.Fonte: Dados da pesquisa

região denominada Sudoeste Paranaense.Além das propriedades rurais, na microbacia

hidrográfica do Rio Passo da Pedra estão situadoso abatedouro de frangos da empresa Frango Sevae o abatedouro de bovinos, suínos e ovinos daempresa Novicarnes. Em seu extremo sul, amicrobacia apresenta um conjunto de residênciassendo parcialmente urbanizada, e encontrando-seainda uma parte do aeroporto de Pato Branco.

Na maior parte da microbacia hidrográfica doRio Passo da Pedra a altitude está entre 700 e 850m possuindo uma rede de drenagem constituídade pequenos córregos, com largura inferior a 10metros, com características dendrítica ouarborescente, apresentando uma rede de cursosde água que totalizam 26,61 km, sendo tributáriada Bacia do Rio Ligeiro que, por sua vez, étributário da margem esquerda da bacia do RioChopim, sendo que o mesmo é afluente damargem esquerda do Rio Iguaçu que pertence àbacia hidrográfica do Rio Paraná.

A microbacia hidrográfica do Rio Passo daPedra segue o padrão climático da RegiãoSudoeste do Paraná, o qual possui climasubtropical, Cfb, segundo Köppen, caracterizadopor apresentar temperaturas amenas eprecipitações abundantes e por não apresentarestação seca definida, mas com tendência deconcentração das chuvas nos meses de primaverae verão, com precipitação media anual variandoentre 1900 e 2000 mm.

A área de estudo está inclusa em regiãocoberta originalmente por Floresta Ombrófila mista.De uma maneira geral, pode-se dizer que operímetro da microbacia hidrográfica do Rio Passoda Pedra está em área de formações Submontanada Floresta Ombrófila mista.

O relevo é predominantemente suave onduladoa ondulado e, nessas condições, a ação do clima evegetação sobre a geologia da região, resultou aformação de solos argilosos, profundos e bemdrenados. Assim, a partir das características do

relevo e da avaliação expedita de alguns perfis desolo durante as incursões ao interior da área deestudo, se pode dizer que na mesma ocorrem,predominantemente, Nitossolos Háplicosdistroférricos, entremeados, nas áreas maisplanas, por Latossolos Vermelhos distroférricos.Nas áreas mais inclinadas encontram-seCambissolos Háplicos e Neossolos Litólicos. Emáreas planas mais baixas, próximas aos cursos deágua, podem ocorrer Neossolos Flúvicos que, emalgumas situações, encontram-se soterrados peladeposição de material erodido das áreas vizinhasmais altas (ITCG, 2011).

Os Nitossolos e Latossolos presentes namicrobacia permitem o desenvolvimento de umaagricultura mecanizada, exigindo correções defertilidade e, especialmente, cuidados com apreservação da estrutura natural, evitando acompactação e erosão excessiva.

Considerando que a microbacia hidrográfica doRio Passo da Pedra esta situada em um relevosuave ondulado, as classes de capacidade de usodas terras que ocorrem, estão diferenciadasprincipalmente por limitações relativas àclassificação, manejo e conservação do solo eÁreas de Preservação Permanente - APP´s, sendoque no presente estudo baseou-se a separação douso do solo, conforme apresentado na Figura 4.

Analisando-se o mapa percebe-se que área deconflito do uso atual do solo e APP´s é de 63,61ha que representa 4,0 % da área total damicrobacia hidrográfica. Nota-se que da área deconflito 56,56 % representa a atividade lavoura e34,51 % representa pecuária.

O uso atual do solo conforme Tabela 2,demonstra que em torno de 73% da área damicrobacia hidrográfica está sendo ocupada porexplorações de agricultura e pecuária, e 23,35%por florestas. As demais áreas ocupam 9,7% dototal da área.

As incursões de campo permitiram constatarque esse processo de ocupação das áreas que

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 95

deveriam estar cobertas com a mata ciliar continuaa acontecer. Pode-se observar o canal do RioPasso da Pedra parcialmente desprovido de mataciliar, que foi substituída por pastagem ou lavoura,com intuito de ampliação da área de exploraçãoeconômica, sendo, portanto, necessário areposição da cobertura florestal nas APP´scumprindo o que estabelece o Código Florestalbrasileiro.

Os ecossistemas naturais duramente afetadospela ação antrópica e a contínua ocupação do

solo, proporcionada por assentamentos humanos,empreendimentos agropecuários, indústrias eoutros, demonstram que o solo, privado de suacobertura vegetal, fica modificado em suaestrutura e perde as propriedades físicas, químicase biológicas capazes de garantir a retenção daágua. A transformação do cenário natural trazgraves conseqüências à natureza dosecossistemas, pela drenagem dos terrenosmarginais e o aumento do desmatamento paraocupação, intensificando os processos de erosão

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)96

Figura 4: Mapa do uso do solo da microbacia hidrográfica do Rio Passo da PedraFonte: Dados da Pesquisa

e sedimentação das calhas dos rios.As fontes de poluição identificadas na bacia são

pontuais e difusas, sendo que a poluição pontual équando o ponto de lançamento da carga poluidoraé bem definido (descarte de resíduos apóstratamento dos frigoríficos no corpo hídrico), já napoluição difusa não é possível definir esse ponto,sendo esta poluição oriunda, normalmente, de umaextensa área (lavagem das superfícies pelaschuvas) de uso agrícola por exemplo. As ações decontrole sobre a poluição difusa são dificultadaspela inexistência do ponto de lançamentoespecífico e envolvem dinâmicas de controle doescorrimento de água no solo, cobertura vegetal einfiltração de água no solo.

Como a poluição causada pelo despejo deefluentes industriais, comercias e domésticos épontual. As ações de controle são mais rápidas eeficazes, e devem atender legislação especifica decada atividade.

IndicadoresApós serem analisados os fatores de relevância

sobre as águas superficiais para gestão ambientaleficiente da microbacia hidrográfica do Rio Passo

da Pedra, foram estabelecidos 15 indicadores,descritos abaixo quanto ao nome, definição,importância, mecanismo de medição, unidade demedida, frequência de coleta e enquadramento nomodelo PER.

Qualidade das águas superficiaisEste indicador é definido como um conjunto de

características físicas, químicas e biológicas que aágua deve apresentar para assegurar seusdiversos usos, atendendo às necessidades dacomunidade. Como mecanismo de medição, seráadotado o seguinte procedimento: coleta deamostras para análise laboratorial e cálculo do IQA(Índice de Qualidade de Água) para cada pontoamostrado, obtendo-se um resultado cuja unidadede medida é adimensional. Sugere-se que afrequência de coleta seja semestral. Este indicadorfoi enquadrado no modelo PER como indicador deESTADO.

Capacidade de suporte do rioEste indicador é definido como a carga

poluidora máxima suportada pelo rio, sendoimportante para planejar a utilização do rio como

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 97

Tabela 2: Uso atual do solo da microbacia do Rio Passo da Pedra.

Fonte: Dados da pesquisa

corpo receptor dos empreendimentos,estabelecendo limites para as respectivas cargaspoluidoras. O mecanismo de medição sugerido é omodelo de Streeter-Phelps (BEZERRA, 2011)visando obter a capacidade de suporte para cadatrecho do rio, utilizando-se como unidade demedida g DBO5, 20/DIA. A frequência de coletasugerida é anual e este indicador foi enquadradono modelo PER como ESTADO.

Disponibilidade de águas superficiaisIndicador definido como a vazão individualizada

das nascentes da microbacia, sendo importantepara entender a dinâmica da disponibilidade deágua em função do regime das chuvas ao longo doano. O mecanismo de medição consiste em medira vazão de cada nascente, utilizando o processodireto (PINTO, 2004), e a unidade de medida emm³/dia. A frequência de coleta sugerida é mensal eo indicador se enquadra no modelo PER comoESTADO.

Consumo de águas superficiaisEste indicador é definido como o consumo

individualizado por empreendimento. Suaimportância reside no fato de permitir planejar autilização da água superficial disponível na bacia.Seu mecanismo de medição é a estimativa deconsumo de água utilizando parâmetro deconsumo específico por atividade, e a unidade demedida é determinada em m³/dia. A frequência decoleta sugerida é mensal, e este indicador seenquadra no modelo PER como PRESSÃOassociado ao indicador “disponibilidade de águassuperficiais”.

Áreas de recargas de aquíferos sem coberturavegetal permanente

Pode ser definido como sendo a percentagemde área de recarga de aquífero que não possuicobertura vegetal permanente, sendo importante

para conhecer a localização dessas áreas,indicando a localização ideal para reposiçãovegetal. O mecanismo de medição indicado é avetorização dos polígonos de vegetação a partir deimagens de satélite e aferição a campo, e aunidade de medida é em percentual. A frequênciade coleta é a cada cinco anos (BRASIL, 1994), e oindicador se enquadra no modelo PER como dePRESSÃO, associado ao indicador de“disponibilidade de águas superficiais”.

Carga poluidora orgânica dos efluentesDefinido como a carga poluidora lançada no

corpo receptor por cada atividade. Este indicadorpermite confrontar a carga poluidora lançada porempreendimento com a capacidade de suporte docorpo receptor. O mecanismo de medição sugereque, para cada atividade, multiplicar a vazãomédia de efluente (m³/dia) pela concentração deMatéria Orgânica no efluente lançado, sendo aunidade de medida em mg DBO5,20/litro. Afrequência de coleta recomendada é anual e oenquadramento do indicador no modelo PER é aPRESSÃO, com influência sobre a “capacidade desuporte do rio”.

Conflito da capacidade de uso do soloDefinido como a porcentagem de área com uso

inadequado do solo, sendo importante paraidentificar o uso do solo e permitir confrontar autilização atual com a capacidade de usoadequado. Como mecanismo de medição sugere-se a vetorização dos polígonos de uso atual apartir de imagens de satélite e aferição a campo,com a unidade de medida em porcentagem. Afrequência de coleta recomendada é anual, sendoeste indicador enquadrado como PRESSÃO sobrea “qualidade das águas superficiais”.

Sistema de produção agropecuário inadequadoÉ a porcentagem de área com sistema de

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)98

produção agropecuário inadequado, e suaimportância reside no fato de identificar ossistemas de produção e permitir o planejamentodas atividades. A medição pode ser feita pelavetorização dos polígonos dos sistemas deprodução de cada atividade, a partir de imagensde satélite e aferição a campo, utilizando-se aunidade de medida em porcentagem. A frequênciasugerida é anual, e o indicador se enquadra comoPRESSÃO sobre a “qualidade das águassuperficiais”.

Estradas rurais inadequadasÉ definido como o percentual de extensão da

estrada com problemas de erosão, permitindoidentificar pontos críticos e sua extensão,importantes para o planejamento da readequaçãoda estrada. O mecanismo de medição consiste empercorrer a estrada, identificar pontos críticos,georeferenciar e medir a extensão dos mesmos,utilizando a medida em percentagem. A frequênciasugerida é bienal e este indicador se enquadracom PRESSÃO sobre a “qualidade das águassuperficiais” e a “disponibilidade das águassuperficiais”.

Ausência de isolamento das Áreas dePreservação Permanente (APP) ripárias

Pode ser definido como o percentual de APPsem isolamento, permitindo identificar as áreas aserem isoladas e definindo parâmetros para oisolamento. A medição sugerida é a vetorização dahidrografia, construção dos polígonos deisolamento a partir de imagens de satélite, eaferição a campo, expresso em porcentagem.Frequência de coleta sugerida a cada cinco anos(BRASIL, 2011). O indicador se enquadra comoPRESSÃO sobre a “qualidade das águassuperficiais” e a “disponibilidade de águassuperficiais”.

Licenciamento das atividades florestaisEste indicador é definido como a porcentagem

de imóveis que possuem licenciamento dasatividades florestais, mostra a progressão damanutenção das áreas de cobertura florestal ealém de outros benefícios ao meio ambienteinfluencia a melhoria da qualidade e dadisponibilidade das águas superficiais. Omecanismo de medição é obtido a partirverificação da averbação legal das áreas namatrícula dos imóveis, obtendo-se umaporcentagem dos imóveis averbados. Sugere-se afrequência de coleta a cada 5 anos. Portantodentro do modelo PER ele se caracteriza comoindicador de resposta que atua sobre o indicadorde estado – qualidade e disponibilidade das águassuperficiais tendendo a reduzir os efeitos dosindicadores de pressão – ausência de isolamentodas APP ripária e “áreas de recarga de aquíferossem cobertura vegetal permanente”.

Outorga de captação de águas superficiaisEste indicador é definido como a porcentagem

de empreendimentos que usam e possuemoutorga de captação de águas superficiais,garantindo a capacidade de fornecimento emantendo a vazão adequada para a manutençãoda rede de drenagem do curso de água. Omecanismo de medição será obtido pelaporcentagem do número de consumidoresexistentes na bacia, dada pelo indicador consumode águas superficiais, que possuem outorgasconcedidas pelo Instituto das Águas - IAGUAS.Sugere-se a frequência de coleta anual. Dentro domodelo PER é um indicador de resposta que atuano indicador de estado disponibilidade das águassuperficiais, podendo diminuir o efeito do indicadorde pressão “consumo de águas superficiais”.

Outorga de lançamento de efluentesEste indicador é definido como a porcentagem

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 99

de empreendimentos que lançam efluentes epossuem outorga de lançamento de efluentes,garantindo a capacidade de suporte do corporeceptor. O mecanismo de medição será obtidopela porcentagem do número de empreendimentosque lançam existentes na bacia, dada peloindicador carga poluidora, que possuem outorgasconcedidas pelo IAGUAS. Sugere-se a frequênciade coleta anual. Dentro do modelo PER é umindicador de resposta que atua no indicador decapacidade de suporte, podendo diminuir o efeitodo indicador de pressão “carga poluidora orgânicados efluentes”.

Automonitoramento líquidoEste indicador é definido como a porcentagem

de empreendimentos que lançam efluentes erealizam o automonitoramento dos efluenteslíquidos, possuindo regularidade de apresentaçãode Declaração de Carga Poluidora (DCP) ao IAP.O mecanismo de medição será obtido pelaporcentagem do número de empreendimentos quelançam existentes na bacia, dado pelo indicador“carga poluidora”, e que apresentam ao IAP DCPregularmente. Sugere-se a frequência de coletaanual. Dentro do modelo PER é um indicador deresposta que atua nos indicadores de capacidadede suporte e qualidade, podendo diminuir o efeitodo indicador de pressão “carga poluidora orgânicados efluentes”.

Microbacia inserida no Programa de GestãoAmbiental Integrada em Microbacias Hidrográficas– PGAIM (PARANÁ, 2011)

Este indicador é definido como a inserção e aintegração da microbacia hidrográfica no processode gestão do PGAIM. O mecanismo de mediçãoserá obtido pela verificação da permanência damicrobacia hidrográfica no cadastro da secretariaexecutiva do PGAIM. Sugere-se a frequência decoleta anual. Dentro do modelo PER é um

indicador de resposta que atua nos indicadores dequalidade e disponibilidade, podendo diminuir osefeitos dos indicadores de pressão: “conflito dacapacidade de uso do solo”, “sistema de produçãoinadequado” e “estradas rurais inadequadas”.

Inter-relaçõesAções podem ser tomadas, sobretudo na

modificação física e química das águassuperficiais, quer para responder a mudançasnegativas ou para aumentar mudanças positivasem quase todos os pontos das escalas locais,quando referem-se a comunidades ouecossistemas e escalas regionais ao referirem-se anações ou biomas, os quais estão aninhadas nosprocessos de escala global.

Planejamento e projeto de sistemas deprodução sustentável é um processo que envolvemúltiplos critérios para o sucesso do sistema esustentabilidade em situações que mudam com otempo e espaço. A avaliação completa das inter-relações nos leva a essência do raciocíniosistêmico. Apresenta-se na Figura 5 asistematização esquemática da inter-relaçãodinâmica entre os indicadores ambientais desustentabilidade.

Essa abordagem com indicadores multi-escalasignifica ver, medir e intervir nas inter-relações.Isso reflete melhor a natureza multi-escala detomada de decisão, permite a análise das forçasmotrizes de determinadas situações, e fornece ummeio de analisar o impacto diferencial dasmudanças, e proprondo as respostas políticas emdiferentes situações.

Neste trabalho foi analisado o componenteambiental “Águas Superficiais” bem como as inter-relações entre as águas superficiais e a pressãoproduzida pelas atividades antrópicas.

Embora se tenha analisado a dimensãoambiental “Águas Superficiais”, no que tange àGestão Ambiental também devem ser

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)100

consideradas outras dimensões ambientais, alémdas sociais e econômicas. Sugere-se que, a partirdos indicadores ambientais de sustentabilidade oraelencados, e guardadas as devidas proporções,poderão ser construídos novos indicadores.

ConclusõesA definição de indicadores de sustentabilidade

é um trabalho árduo, uma vez que exige oentendimento das relações entre as pressõesantrópicas e sua interferência no ambiente.

Foram definidos indicadores ambientais de

sustentabilidade analisando-se as águassuperficiais em microbacias hidrográficas, porentender-se que este recurso natural é de sumaimportância na constituição da vida e no equilíbriodo ecossistema.

O modelo PER foi adotado em função depossibilitar aos pesquisadores uma visão holísticado sistema “microbacia hidrográfica”.

Tanto a definição de indicadores como autilização do modelo PER exigem profundoconhecimento do objeto de estudo, sugerindo-se aformação de um grupo de pesquisa interdisciplinar

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 101

Figura 5: Sistematização esquemática das inter-relações entre os indicadores ambientais desustentabilidade.

para o processo de melhoria desses indicadores,podendo dialogar com os diferentes campos doconhecimento.

Os indicadores ora definidos permitem criar eavaliar programas e políticas públicas que visemreverter o quadro atual, com ações e práticasvoltadas à sustentabilidade ambiental nasmicrobacias hidrográficas.

Além de proporcionar melhor entendimento dasrelações estabelecidas entre as pressõesantrópicas e o ambiente, os indicadoresdesenvolvidos neste trabalho permitirão evidenciaras suas inter-relações.

Referências BibliográficasAMARAL, Sergio Pinto. Indicadores de

Sustentabilidade Ambiental, Social eEconômica: uma proposta para a indústria dePetróleo Brasileira. Disponível emhttp://www.bvsde.paho.org/bvsacd/sibesa6/ccvi.pdf. Acesso em 19 mai. 2011.

BEAVER, Earl. BELLOF, Beth. SustainabilityIndicators and Metrics of IndustrialPerformance. Disponivel emhttp://www.onepetro.org/mslib/servlet/onepetropreview?id=00060982&soc=SPE. Acesso em 19mai. 2011.

BELLEN, Hans Michael van. Indicadores desustentabilidade: uma análise comparativa.2ª edição. Rio de Janeiro: Editora FGV. 2006.256 p.

BEZERRA, Iury Steiner de Oliveira; MENDONÇA,Luiz Alberto Ribeiro; FRISCHKORN, Horst.Autodepuração de cursos d´água: um programade modelagem Streeter Phelps com calibraçãoautomática e correção de anaerobiose. REM:Revista Escola de Minas, Ouro Preto, MG, abr.jun. 2008. Disponível emhttp://www.scielo.br/pdf/rem/v61n2/a20v61n2.pdf. Acesso em 16 jun 2011.

BRASIL. Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000.Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9984.htm. Acesso em 29 de abr. de 2011.

BRASIL. Resolução nº 002, de 18 de março de1994. disponível em:HTTP://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/Legislacao_ambiental/Legilacao_federal/Resolucoes_C

ONAMA/RESOLUCAO_CONAMA_002_1994.pdf Acesso em 16 jun 2011.

CABRAL, Antonio. Modelo de gestão dasustentabilidade de empresas fabricantes deembalagem II – indicadores. Fev. 2010. In:Revista Embanews. Disponível emhttp://www.google.com.br/#hl=pt-BR&biw=1366&bih=601&q=antonio+amaral+-+modelo+de+gestao+da+sustentabilidade+de+empresas+fabricantes+de+embalagens&aq=&aqi=&aql=&oq=antonio+amaral+-+modelo+de+gestao+da+sustentabilidade+de+empresas+fabricantes+de+embalagens&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.&fp=42bf79add73c8af1. Acessoem 19 mai. 2011.

CARVALHO, Paulo Gonzaga Mibielli de;BARCELLOS, Frederico Cavadas. Políticaspúblicas e sustentabilidade ambiental.Construindo indicadores de sustentabilidade.Fundação de Economia e Estatística – FEE.Revista Indicadores Econômicos FEE.Vol 37,nº 1, 2009. Disponível emrevistas.fee.tche.br/índex.php/indicadores/article/view/2280/2656. Acesso em 19/05/2011.

GOMES, Maria Leonor. MARCELINO, MariaMargarida Marcelino. ESPADA, Maria da Graça.Proposta Para um Sistema de Indicadores deDesenvolvimento Sustentável. Ed. Graf & Lito,Lda. Portugal. 2000.

GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, AntonioJosé Teixeira. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 6. ed. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2008. 648 p.

IBGE. Indicadores de DesenvolvimentoSustentável. Estudos & Pesquisas. InformaçãoGeográfica. Caderno 7. Brasil. 2010.

ITCG. Mapa de Solos do Estado do Paraná.Disponível emhttp://www.itcg.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=47. Acesso em 05 jun.2011 c.

LEPSCH, I. F.. Solos: formação e conservação.5. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1993. 157 p.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – SECRETÁRIANACIONAL DE PLANEJAMENTO AGRÍCOLA.Aptidão agrícola das terras do Paraná.Brasília, 1981. v.21, 141p.

OECD -http://www.oecd.org/dataoecd/27/45/2345364.pdf

ONU - UNITED NATIONS ORGANIZATION.Indicators of sustainable development:

Bragatto, Martini, Steffani, Zorel Júnior & Barreto-Rodrigues

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012)102

Guidelines and Methodologies. 3 ed. Ed. NewYork, NY: 2007. Disponivel emhttp://www.un.org/esa/sustdev/natlinfo/indicators/guidelines.pdf. Acesso em 19 mai. 2011.

ONU, Organização das Nações Unidas.Declaração da Conferência das NaçõesUnidas sobre o Meio Ambiente Humano(Declaração de Estocolmo). Estocolmo, 1972.Disponível em<www.mudancasclimaticas.andi.org.br/download.php?path=1gqilxr7vo6uqtyaq4lq.pdf>. Acessoem 12 jun 2011.

ONU, Organização das Nações Unidas. RelatórioBrundtland. Nosso Futuro Comum. 1987.Disponível em<http://amaliagodoy.blogspot.com/2008/08/relatrio-brundtland.html>. Acesso em 12 jun 2011.

OSAKI, Flora. Microbacia – Práticas deConservação de Solos. Curitiba – Paraná.1994.

PARANÁ. Manual Operativo do Programa degestão ambiental integrada em microbaciashidrográficas – PGAIM 2009. Disponível emhttp://www.pgaim.pr.gov.br/arquivos/File/Manual_PGAIM.pdf. Acesso em 20 jun 2011.

PINTO, Lilian Vilela Andrade; BOTELHO, SorayaAlvarenga; DAVID, Antonio Claudio; FERREIRA,Elizabeth. Estudo das nascentes da baciahidrográfica do Ribeirão Santa Cruz, Lavras,MG. Revista SCIENTIA FORESTALIS, nº 65, p197-206, junho de 2004. Disponível emhttp://www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr65/cap19.pdf. Acesso em 16 jun 2011.

WETZEL, Robert G.. Limnology: lake and riverecosystems. 3rd ed. San Diego, Ca.: AcademicPress, c2001. 1006 p.

Indicadores ambientais de sustentabilidade

Rev. Bras. de Agroecologia. 7(2): 87-103 (2012) 103