Upload
phungtuyen
View
223
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
VOLUME 97 SUPLEMENTO MAIO/ AGOSTO 2016
REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA
Brazilian Journal of Pharmacy
PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS
WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667
ESTA PÁGINA FOI INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO
Volume 97 SUPLEMENTO Maio / Agosto 2016
SUMÁRIO
TÍTULO PÁGINA
Percepção dos usuários de uma drogaria em relação ao profissional farmacêutico Mariana Carámbula Arteche, Rita de Cássia Mascarenhas & Patrícia Martins Bock
04
Produção de metabólitos anti-Candida por Streptomyces sp isolado de solo rizosférico da Amazônia Silvia Katrine Silva Escher et al
18
Estudo do perfil microbiológico da matéria-prima e do produto acabado de Rhamnus purshiana e Baccharis trimera obtidos de diferentes farmácias de manipulação na cidade de Divinópolis-MG Diego Pinto de Oliveira et al
30
Atividades centrais das riparinas para tratamento de transtornos mentais: revisão de literatura. Éverton José Ferreira de Araújo et al
45
Perfil de utilização e adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes atendidos em Clínica de Insuficiência Cardíaca de um Hospital Universitário da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Ranieri Carvalho Camuzi et al
61
Comparação da solubilidade de diferentes amostras de glibenclamida pelo método “shake-flask” Missael Ferreira da Silva et al
78
Caracterização farmacognóstica sazonal de Petiveria alliacea L. (Phytolaccaceae) João Paulo Bastos Silva et al
91
Método Analítico para doseamento de Fumarato de Tenofovir Desoproxila por cromatografia líquida Erieldes Sousa Silva
104
Avaliação comparativa de comprimidos genéricos e similares de captopril utilizando o teste de dissolução como ferramenta analítica Camila Camponogara Dalla Pozza, Daniele Rubert Nogueira & Clarice M. Bueno Rolim
119
Perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento de insuficiência cardíaca em hospital de ensino no Rio de Janeiro Rafaela Tavares Peixoto, Ranieri Carvalho Camuzi & Selma Rodrigues de Castilho
134
Expediente
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Percepção dos usuários de uma drogaria em relação ao profissional
farmacêutico
Mariana Carámbula Arteche1, Rita de Cássia Mascarenhas2 & Patrícia Martins Bock3* 1Graduada em Farmácia pelo Centro Universitário Metodista, do IPA. 2Docente do Centro
Universitário Metodista, do IPA. 3Doutoranda em Fisiologia na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Rua Avaí, 137/402 CEP: 90050-200. Telefone 81125269
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 5 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção dos usuários de uma drogaria sobre a
atuação do profissional farmacêutico. O estudo foi realizado através de delineamento observacional
transversal. Os dados foram coletados através de um roteiro de entrevista com perguntas fechadas.
Foram entrevistados 97 indivíduos, sendo a maioria (70,1%) do sexo feminino. A maior parte
(90,7%) dos entrevistados relatou que já foi atendido por um farmacêutico e que já solicitou
informações a ele (85,6%). Quando questionados sobre o conhecimento das funções deste
profissional, 48,5% dos indivíduos respondeu que sabe em parte. Verificou-se que houve
predomínio (97,7%) de respostas afirmativas quanto à importância da presença do farmacêutico na
drogaria. A maior parte (99,0%) dos entrevistados espera que o farmacêutico esclareça suas dúvidas
sobre o medicamento e afirma que este profissional atende suas necessidades (74,2%). Quanto às
variáveis sobre Atenção Farmacêutica, a maioria respondeu que nunca ouviu falar (86,6%), não
sabe o que é (88,7%) e acredita ser a preocupação do farmacêutico com o medicamento (44,3%).
Pode-se concluir que os entrevistados têm uma boa percepção sobre o farmacêutico que atua na
drogaria estudada, embora tenham demonstrado pouco conhecimento sobre o quanto este
profissional pode colaborar com seu tratamento.
PALAVRAS-CHAVE: Atenção farmacêutica, farmácia, satisfação dos consumidores.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 6 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
ABSTRACT
The aim of this work was to evaluate the perception of a drugstore users on the
pharmaceutical professional role. The study was conducted using an observational cross-sectional
design. Data were collected through a questionnaire with questions. Were interviewed 97 users and
the majority (70.1%) was from female genre. The majority (90.7%) of those interviewed reported
that they have been served by a pharmacist and have already requested information from him
(85.6%). When asked about the knowledge of this professional’s functions the majority (48.5%) of
individuals answered they know in part. We found predominance (97.7%) of positive responses
regarding the importance of the pharmacist’s presence at the drugstore. The majority (99.0%) of
those interviewed, expect the pharmacist to clarify their doubts about drugs and say that this
professional meets their needs (74.2%). Regarding the variables on Pharmaceutical Care the
majority responded that they have never heard about it (86.6%), did not know what it was (88.7%),
and believed to be the pharmacist’s concern with the drug (44.3%). It can be concluded that
respondents have a good perception about the pharmacist who works at the drugstore, although they
have demonstrated little knowledge about how these professionals can collaborate with their
treatment.
KEYWORDS: Pharmaceutical care, pharmacies, consumer satisfaction.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 7 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
INTRODUÇÃO
As drogarias são estabelecimentos nos quais se dispensam e comercializam drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais. São classificadas
como farmácias comunitárias, que fazem parte do comércio varejista privado e atendem às
exigências da Lei 5991/73 do Ministério da Saúde (Brasil, 1973). É obrigatório que cada
estabelecimento tenha um profissional farmacêutico como responsável técnico (Brasil, 1993), que
deve estar presente durante todo o horário de funcionamento do mesmo, prestando atendimento ao
paciente ao nível de atenção primária à saúde (Brasil, 1973).
Diante da dificuldade em conseguir uma consulta médica, do longo período de espera pela
mesma (Naves et al., 2010) e da falta de conhecimento sobre medicamentos, (Vitor et al., 2008), a
drogaria e seu responsável técnico, o farmacêutico, tornam-se muito importantes para promover a
educação dos pacientes, evitando assim, a automedicação, a não adesão ao tratamento prescrito e a
administração errônea de medicamentos. Porém a realidade não é esta, ainda que em processo de
transformação (França Filho et al., 2008).
Após o processo de industrialização, em que os medicamentos manipulados cederam espaço
para produtos industrializados (Angonesi & Sevalho, 2010) e a sanção da Lei nº 5991/73, que
quando entrou em vigor permitia a presença de um prático de farmácia como responsável técnico
(Brasil, 1973), as drogarias tornaram-se estabelecimentos com fins comerciais e o farmacêutico
distanciou-se da sua atividade principal (Vieira, 2007).
Na tentativa de resgatar o reconhecimento da população pelo farmacêutico, que existia antes
destes fatos ocorrerem, adotou-se nos últimos anos no Brasil uma nova prática profissional que visa
primeiramente o paciente, a Atenção Farmacêutica (Angonesi & Sevalho, 2010).
O termo foi definido, no Brasil, em 2002, como uma prática desenvolvida no contexto da
Assistência Farmacêutica, voltada para a prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde,
na qual o farmacêutico interage diretamente com o usuário, com o objetivo de obter resultados que
melhorem a qualidade de vida do mesmo (OPAS, 2002). Desde então, a Atenção Farmacêutica
passou a ser discutida em diversos eventos (Angonesi & Sevalho, 2010).
Porém, a implantação de uma atividade mais voltada para os pacientes do Brasil ainda
enfrenta dificuldades. O excesso de atribuições que devem ser desenvolvidas pelos farmacêuticos,
em sua maioria relacionadas com a administração da drogaria, o interesse predominantemente
comercial dos proprietários e a objeção dos balconistas em seguir as suas orientações são alguns dos
empecilhos (Bastos & Caetano, 2010). Além disto, podemos citar o pouco conhecimento de alguns
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 8 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
profissionais farmacêuticos sobre esta prática (Bastos & Caetano, 2010; Farina & Romano-Lieber,
2009; França Filho et al., 2008), possivelmente por se tratar de um assunto relativamente recente,
que passou a ser incluído como disciplina no currículo do curso de graduação em Farmácia há
poucos anos (Farina & Romano-Lieber, 2009; França Filho et al., 2008).
A Federação Internacional Farmacêutica (FIP) adotou em 2011 uma versão atualizada da
Boa Prática Farmacêutica, com os objetivos de contribuir para a melhoria da saúde e ajudar os
pacientes com problemas de saúde a fazer o melhor uso de seus medicamentos. Este documento
define a prática de farmácia, e para apoiar esta prática, é essencial que haja um quadro nacional
estabelecido de padrões de qualidade e diretrizes (FIP/WHO, 2011).
Neste contexto, o presente trabalho busca verificar o conhecimento dos usuários de uma
drogaria sobre o profissional farmacêutico e as atividades que o mesmo deve desenvolver nestes
estabelecimentos, bem como sobre Atenção Farmacêutica.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado através de delineamento observacional transversal. A amostra foi
composta por usuários de uma drogaria, pertencente à rede Associadas, localizada na Zona Norte de
Porto Alegre/RS. Esta região é caracterizada por ter uma população de renda baixa a média; desta
forma a escolha desta drogaria permite que os dados coletados reflitam uma população
potencialmente usuária preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento médico. No
momento de realização do estudo, a Drogaria oferecia serviços farmacêuticos, como aferição de
pressão arterial e aplicação de injetáveis, porém a mesma possuía limitações para a realização de
uma gama maior de serviços clínicos do farmacêutico, necessitando de melhorias no espaço físico
para implementação e ampliação de atenção farmacêutica diferenciada. O levantamento de dados
foi realizado durante o mês de setembro de 2012.
Foram considerados como critérios de inclusão: indivíduos com idade igual ou superior a 18
anos, de ambos os sexos, que aceitaram participar da pesquisa.
Para um nível de confiança de 95%, e um erro máximo de 10%, o tamanho calculado da
amostra foi de 97 indivíduos, selecionados por amostragem aleatória simples.
Os dados foram coletados através de um questionário com perguntas fechadas, validado
previamente (Duque, 2006). Foi realizado um estudo piloto com 10 entrevistados para adequação
do questionário de pesquisa, onde foi verificado se as questões eram compreendidas pelo público
estudado. As entrevistas foram efetuadas por uma das autoras do artigo e pelas atendentes da
Drogaria onde o questionário foi aplicado. Os entrevistadores foram treinados para as entrevistas. O
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 9 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
questionário abrangeu questões como o conhecimento das atribuições do farmacêutico que atua em
drogarias, o conhecimento da prática de atenção farmacêutica e a percepção do indivíduo sobre o
profissional farmacêutico. A aplicação do questionário foi realizada no balcão de atendimento da
drogaria, e foi precedida pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
onde se expressava o compomisso com o sigilo das informações, o anonimato dos participantes e a
utilização dos dados somente para esta pesquisa. Todo o processo de pesquisa obedeceu aos
princípios éticos, sendo realizado apenas após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário Metodista, do IPA (Protocolo nº 204/2012)
Foi realizada análise estatística descritiva, utilizando o programa Microsoft Office Excel
2007. Os dados são apresentados como frequências.
RESULTADOS
Foram entrevistados 97 indivíduos, sendo a maior parte (70,1%) do sexo feminino, com
idade inferior a 30 anos (43,3%). O nível de escolaridade predominante (46,4%) foi o ensino médio
e a renda mensal declarada pela maioria (50,5%) dos participantes foi acima de três salários
mínimos (tabela 1).
Tabela 1 - Perfil dos entrevistados (n=97) de uma drogaria em Porto Alegre (2012)
Perfil Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Sexo
Feminino 68 70,1
Idade
Até 30 42 43,3
31-40 23 23,7
41-50 16 16,5
51-60 13 13,4
>60 3 3,1
Escolaridade
Fundamental 3 3,1
Médio 45 46,4
Superior 39 40,2
Pós-graduação 10 10,3
Renda (Salários Mínimos)
Até 1 14 14,4
2-3 34 35,1
>3 49 50,2
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 10 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
A maior parte (90,7%) dos entrevistados relatou que já foi atendido por um farmacêutico e
que já solicitou informações a ele (85,6%). Quando questionados sobre o conhecimento das funções
deste profissional, a maioria (48,5%) dos indivíduos respondeu que sabe em parte (Tabela 2).
Verificou-se que houve predomínio (97,7%) de respostas afirmativas quanto à importância
da presença do farmacêutico na drogaria. A maior parte (99,0%) dos entrevistados espera que o
farmacêutico esclareça suas dúvidas sobre o medicamento e afirma que este profissional atende suas
necessidades (74,2%), conforme apresentado na Tabela 2.
Tabela 2 - Percepção dos usuários sobre o farmacêutico de uma drogaria em Porto Alegre (2012)
Questões Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Você já foi atendido por um farmacêutico?
Sim 88 90,7
Não 3 3,1
Não sei 6 6,2
Você já solicitou informações a um farmacêutico?
Sim 83 85,6
Você sabe quais são as funções de um farmacêutico?
Sim 41 42,3
Não 9 9,3
Em parte 47 48,5
O que você espera de um farmacêutico?
Que venda o medicamento
(remédio)
0 0
Que esclareça minhas
dúvidas sobre o
medicamento (remédio)
96 99
Que colabore com meu
tratamento
0 0
Nada 0 0
Não sei 1 1
O farmacêutico atende suas necessidades?
Sim 72 74,2
Não 1 1
Não sei 24 24,7
Para você é importante a presença do farmacêutico na drogaria?
Sim 95 97,9
Não 0 0
Não sei opinar 2 2,1
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 11 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
Quanto às variáveis sobre Atenção Farmacêutica (Tabela 3), a maioria dos entrevistados
respondeu que nunca ouviu falar (86,6%), não sabe o que é (88,7%) e acredita ser a preocupação do
farmacêutico com o medicamento (44,3%).
Tabela 3 - Conhecimento sobre Atenção Farmacêutica de uma drogaria em Porto Alegre (2012)
Questões Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Você já ouviu falar em atenção farmacêutica?
Sim 13 13,4
Não 84 86,6
Você sabe o que é atenção farmacêutica?
Sim 11 11,3
Não 86 88,7
Para você “atenção farmacêutica” é:
Receber o cliente e vender
o que foi solicitado
3 3,1
Ouvir suas queixas e
prescrever a medicação
(remédio)
5 5,2
Acompanhar seu
tratamento, preocupando-
se com sua saúde
25 25,8
Preocupação com o
medicamento (remédio)
43 44,3
Não sei 21 21,6
DISCUSSÃO
A amostra do presente estudo foi composta principalmente por mulheres, o que está de
acordo com uma pesquisa do Instituto POPAI Brasil sobre o comportamento dos consumidores em
farmácias e drogarias em cinco capitais brasileiras, dentre elas Porto Alegre. Muitas das visitas a
farmácia e drogarias são motivadas pela busca de produtos de higiene ou cosméticos (CFF, 2012) o
que pode pode explicar a maioria dos entrevistados sendo do sexo feminino. Igualmente, houve
convergência de um estudo com o presente quanto à maior concentração de usuário na faixa etária
de 20 a 39 anos (67%) (FEBRAFAR, 2012). A maior parte de usuários nesta faixa etária coincide
com dados da cidade, pois de acordo com o plano municipal de saúde de Porto Alegre (2014-2017),
a população residente no município na faixa etária entre 15 e 59 anos representa 66,2% da
população (Porto Alegre, 2013).
O ensino médio foi o nível de escolaridade predominante, porém o valor percentual obtido
de 46,4 foi inferior ao de 61% revelado pelo POPAI Brasil (CFF, 2012; FEBRAFAR, 2012).
Possivelmente isto tenha ocorrido, devido ao fato de que os dados do presente artigo estão
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 12 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
relacionados a uma drogaria específica, e o estudo referenciado foi realizado em diversas cidades
diferentes. A renda mensal declarada pela maioria (50,5%) dos entrevistados foi acima de três
salários mínimos, resultado condizente com as variáveis analisadas quanto ao nível de escolaridade,
porque 40,2% dos entrevistados possuem nível superior e 10,3% pós-graduação.
Os entrevistados demonstraram ter uma boa percepção sobre o profissional farmacêutico que
atua em drogarias, entretanto foi possível perceber o pouco conhecimento sobre Atenção
Farmacêutica.
Quando questionados se já foram atendidos por um farmacêutico, a maior parte respondeu
que sim, e já solicitou informações ao mesmo, sugerindo a importância da presença deste
profissional nos estabelecimentos. Normalmente o farmacêutico é o último profissional da área da
saúde com o qual o indivíduo tem contato (Vieira, 2007), e possivelmente o de mais fácil acesso
para esclarecer suas dúvidas e receber as orientações pertinentes (Sousa et al., 2008; Vieira, 2007).
Os farmacêuticos são os profissionais da saúde preparados para realizar a dispensação de
medicamentos, e devem desenvolver estratégias apropriadas para garantir o uso eficaz e seguro dos
mesmos. Tais estratégias devem incluir a orientação sobre os horários corretos de administração e
interações medicamentosas, uma vez que é papel do farmacêutico monitorar o tratamento para
verificar a efetividade e os eventos adversos oriundos do uso dos medicamentos (FIP/WHO, 2011).
A maioria dos usuários acredita que é importante o farmacêutico estar presente nas
drogarias. Em um estudo realizado em Riad, na Arábia Saudita, para verificar a percepção e
satisfação dos pacientes em relação às atividades desenvolvidas pelos farmacêuticos nas drogarias,
a maioria dos entrevistados consideram o farmacêutico como indispensável (Al-Arifi, 2012). As
pessoas consideram importante a presenca do farmaceutico, ainda que este nao desenvolva papel
ativo no tratamento nem mesmo no momento da dispensacao. As barreiras para que iso ocorra, em
convergência com os achados de Al-Arifi (2012), incluem o envolvimento com questoes
administrativas da drogaria. Para que a presença do profissional farmacêutico seja cada vez mais
reconhecida por sua importância, a farmácia deve ser considerada um estabelecimento de saúde,
não apenas um simples estabelecimento comercial.
A maioria dos entrevistados espera que o farmacêutico esclareça suas dúvidas sobre o
medicamento, resultado semelhante ao obtido por pesquisadores que realizaram, no Catar, um
estudo piloto para determinar a percepção e a satisfação dos usuários de uma drogaria com relação
aos serviços oferecidos na mesma. Neste estudo, 88,0% dos entrevistados espera que o farmacêutico
responda suas dúvidas sobre o medicamento (El Hajj et al., 2011). Quando questionados se o
farmacêutico atende suas necessidades, a maior parte das respostas foi afirmativa, indicando que o
profissional presta os esclarecimentos desejados pelos pacientes em relação ao medicamento.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 13 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
Ao sanar estas dúvidas, o farmacêutico estará colaborando de alguma forma com o
tratamento do indivíduo. Este profissional poderia atuar de forma mais ativa, e com isto melhores
resultados seriam obtidos. Contudo, as pessoas ainda não veem o farmacêutico como mais um
aliado para o seu tratamento. Talvez a falta de conhecimento sobre as atividades que o mesmo pode
desenvolver na drogaria seja uma das causas, uma vez que neste estudo menos da metade dos
entrevistados considerou saber em parte as funções deste profissional.
Como exemplo, pode-se citar o pouco conhecimento sobre Atenção Farmacêutica, tópico
em que a maioria dos entrevistados respondeu que não sabe o que é, e a minoria declarou ter ouvido
falar. Em um estudo, realizado em São João da Mata/MG, Brasil, para verificar o conhecimento
dos usuários do Sistema Único de Saúde sobre a Atenção Farmacêutica e outras práticas, 45,7% dos
pacientes responderam que tinham ouvido falar, porém somente após a explicação fornecida pela
pesquisadora, antes disto não souberam responder do que se tratava (Marques et al., 2011).
Provavelmente estes resultados possam ser atribuídos ao fato de que não são utilizadas
muitas estratégias de Atenção Farmacêutica por parte dos profissionais nas drogarias em que
trabalham (Bastos & Caetano, 2010; Farina & Romano-Lieber, 2009; França Filho et al., 2008).
Realidade que deveria ser modificada, pois estudos evidenciam os benefícios que esta prática pode
trazer aos indivíduos, como por exemplo, os problemas relacionados aos medicamentos que podem
ser identificados através da mesma (Alano et al., 2012; Lyra et al. 2007; Nascimento et al., 2009;
Provin et al., 2010). A atenção farmacêutica é uma prática que envolve o estabelecimento e a
manutenção de uma relação profissional entre o farmacêutico e o paciente, baseada em
comunicação aberta, cooperação e decisões mútuas sobre o plano terapêutico. O farmacêutico deve
assegurar o sucesso deste plano, através da coleta de informações médicas específicas do paciente,
consideração dos aspectos psico-sociais da doença, e avaliação da potencial relação entre custo e
complexidade da terapia e adesão ao tratamento. Para a garantia de sucesso, o plano terapêutico
deve ser monitorado, revisado e modificado conforme a necesidade (APhA, 2014).
É importante destacar aqui um grave problema de saúde pública, as doenças crônicas,
responsáveis por inúmeras mortes e pela maioria dos gastos com atenção à saúde no Sistema Único
da Saúde (SUS). O número de pessoas com doenças crônicas aumenta a cada ano devido ao
envelhecimento da população e a pouca prática de hábitos saudáveis (PORTAL DA SAÚDE SUS,
2012). Neste contexto, destaca-se o farmacêutico que pode colaborar tanto na prevenção quanto no
tratamento dos pacientes com a prática da Atenção Farmacêutica. A escolha de uma população
potenciamente usuária preferencial do SUS pretendeu aumentar as possibilidade de que os dados
deste estudo possam ter maior utilidade como subsídio à ampliação das práticas de atenção
farmacêutica a esta população alvo.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 14 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
Estudos realizados em diferentes países, um deles no Brasil, com pacientes com diabetes
mellitus tipo 2 e com pacientes hipertensos, mostram que esta prática corrobora para aumentar a
adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, bem como identificar problemas
relacionados aos medicamentos (Correr et al., 2009; Skowron et al., 2011; Torres et al., 2009).
Também para pacientes com doença de Parkinson, o acompanhamento farmacoterapêutico aumenta
a adesão ao tratamento, reduz efeitos adversos e promove a utilização racional de medicamentos
(Chemello et al, 2014).
Além disto, estudos demonstram que os usuários de drogarias, que possuem o serviço de
Atenção Farmacêutica, mostram-se muito satisfeitos com esta prática (Andrade et al., 2009;
Kassam et al., 2012), o que acarreta em benefícios para os pacientes, para o farmacêutico, e para o
proprietário do estabelecimento que certamente iria fidelizar seu cliente. De acordo com o Conselho
Federal de Farmácia, as atribuições clínicas do farmacêutico visam a proteção, promoção e
recuperação da saúde, além da prevenção de doenças e outros problemas de saúde. Desta forma, o
profissional pode promover o uso racional dos medicamentos e otimizar a farmacoterapia,
atendendo as necessidades de saúde do paciente, da família, dos cuidadores e da sociedade (CFF,
2013).
Por ser um estudo transversal, este estudo apresenta limitações metodológicas que não
permitem uma avaliação aprofundada da percepção dos usuários de drogarias em relação à atuação
do profissional farmacêutico no âmbito da atenção farmacêutica. Apresenta dados de apenas uma
drogaria, desta forma não representando a cidade onde o estudo foi realizado, apenas uma
microrregião. Adicionalmente, o erro máximo de 10% propiciou um número amostral compatível
com os objetivos do presente estudo, porém pode ser uma limitação da pesquisa.
Outro aspecto limitante foi que a maior proporção de usuários encontrava-se no limite
inferior das faixas de idade, porém todos os usuários foram entrevistados, desta forma, foram
incluídos indivíduos que não estavam buscando por medicamentos, portanto poderiam ter poucos
motivos para interagir com o farmacêutico na visita em que foram abordados. Igualmente foram
incluídos aqueles que buscaram medicamentos e não conseguiram.
Também podemos destacar que as perguntas eram fechadas, e cada entrevistado não
explanava amplamente sua opinião. Além disso, as entrevistas foram efetuadas por uma das autoras
do artigo e pelas atendentes da Drogaria, onde o questionário foi aplicado, o que pode ser
considerado uma limitação. Porém, como as perguntas eram fechadas e as entrevistadoras foram
treinadas, minimiza-se a existência de divergências devidas ao entrevistador.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 15 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
CONCLUSÃO
Embora os usuários tenham declarado que sabem em parte as funções do farmacêutico e
tenham demonstrado pouco conhecimento sobre o papel mais ativo que este profissional pode
desenvolver no acompanhamento de seus tratamentos, consideram a presença deste profissional
importante nas drogarias.
Possivelmente, a Atenção Farmacêutica é pouco divulgada e pouco praticada pelos
farmacêuticos, visto o desconhecimento dos indivíduos sobre a mesma. Neste sentido, faz-se
necessário desenvolver estratégias para difundir esta prática entre os profissionais e torná-la uma
realidade nas drogarias.
REFERÊNCIAS
Al – Arifi MN. Patient’s perception, view and satisfaction with pharmacist’s role as health care
provider in community pharmacy setting at Riyadh, Saudi Arabia. Saudi Pharm. J. 20: 323 - 330,
2012.
Alano GM, Corrêa TS, Galato D. Indicadores do Serviço de Atenção Farmacêutica (SAF) da
Universidade do Sul de Santa Catarina. Ci. Saúde Col. 17(3): 757 - 764, 2012.
Andrade TU, Burini DM, Mello MO, Bersáculo NS, Saliba RAD, Bravim FT, Bissoli NS.
Evaluation of the satisfaction level of patients attended by a Pharmaceutical Care Program in a
Private Communitarian Pharmacy in Vitória (ES, Brazil). Braz. J. Pharm. Sci. 45(2): 349 - 355,
2009.
Angonesi D & Sevalho G. Atenção Farmacêutica: fundamentação conceitual e crítica para um
modelo brasileiro. Ci. Saúde Col. 15(3): 3603 - 3614, 2010.
American Pharmacist Association (APhA). Principles of practice for pharmaceutical care.
Disponível em: <http://www.pharmacist.com/principles-practice-pharmaceutical-care>. Acesso em:
17 set. 2014.
Bastos CRG & Caetano R. As percepções dos farmacêuticos sobre seu trabalho nas farmácias
comunitárias em uma região do estado do Rio de Janeiro. Ci. Saúde Col. 15(3): 3541 - 3550, 2010.
Brasil. Decreto-Lei nº 793, de 05 de abril de 1993. Altera os decretos nº 74710, de 10 de junho de
1974 e 79094, de 05 de janeiro de 1977, que regulamentam, respectivamente, as leis nº 5991, de 17
de janeiro de 1973, e 6360, de 23 de setembro de 1976, e dá outras providências. Disponível em:
<presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/113271/decreto-793-93>. Acesso em: 17 abr. 2015.
Brasil. Lei n° 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio
de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras
Providências.Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5991.htm>. Acesso em:
17 abr. 2015.
Conselho Federal de Farmácia (CFF). Marketing em Farmácias e Drogarias. Disponível em:
<http://www.cff.org. br/sistemas/geral/revista/pdf/4/encarte_pgs_centrais.pdf.>. Acesso em: 02
nov. 2012.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 16 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
Conselho Federal de Farmácia (CFF). Resolução nº 585, de 29 de agosto de 2013. Regulamenta as
atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências, 2013. Disponível em
<www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/585.pdf>. Acesso em: 17 de abril de 2015.
Chemello C, Souza F, Patrício ES, Farias MR. Pharmaceutical care as a strategy to improve the
safety and effectiveness of patients’ pharmacotherapy at a pharmacy school: a practical proposal.
Braz. J. Pharm. Sci. 50(1):185-193, 2014.
Correr CJ, Pontarolo R, Souza RAP, Venson R, Melchiors AC, Wiens A. Effect of a
Pharmaceutical Care Program on quality of life and satisfaction with pharmacy services in patient
with type 2 diabetes mellitus. Braz. J. Pharm. Sci. 45(4): 809 - 817, 2009.
Duque DCC. Relação farmacêutico-paciente: um novo olhar. 2006. Alfenas/MG. 45 p. Monografia
(Especialização em Atenção Farmacêutica), Universidade Federal de Alfenas. Alfenas/MG.
El Hajj MS, Salem S, Mansoor H. Public’s attitudes towards community pharmacy in Qatar: a pilot
study. Patient Prefer. Adherence. 5: 405 - 422, 2011.
Farina SS & Romano-Lieber NSR. Atenção farmacêutica em farmácias e drogarias: existe um
processo de mudança? Saúde Social. 18(1): 7 - 18, 2009.
Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (FEBRAFAR).
Pesquisa revela o comportamento do consumidor nas farmácias e drogarias Disponível em:
<http://www.febrafar.com.br/index.php?cat_id= 5&pag_id=5825>. Acesso em: 02. nov. 2012.
Joint FIP/WHO guidelines on good pharmacy practice: standards for quality of pharmacy services
from the WHO technical report series, No. 961, 45th report of the WHO Expert Committee on
specifications for pharmaceutical preparations World Health Organization 2011. Disponível em:
<http://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_TRS_961_eng.pdf.>. Acesso em: 17 abr. 2015.
França Filho JB, Correr CJ, Rossignoli P, Melchiors AC, Fernández-Llimós F, Pontarolo R. Perfil
dos farmacêuticos e farmácias em Santa Catarina: indicadores de estrutura e processo. Braz. J.
Pharm. Sci. 44(1): 105 - 113, 2008.
Kassam R, Collins JB, Berkowitz J. Patient satisfaction with pharmaceutical care delivery in
community pharmacies. Patient Prefer. Adherence.6: 337 - 348, 2012.
Lyra DP, Kheir N, Abriata JP, Rocha CE, Santos CB, Pelá IR. Impact of Pharmaceutical Care
interventions in the identification and resolution of drug-related problems and on quality of life in a
group of elderly outpatients in Ribeirão Preto (SP), Brazil. Ther. Clin. Risk Manag. 3(6): 989 - 998,
2007.
Marques LAM, Vale FVVR, Nogueira VAS, Mialhe FL, Silva LC. Atenção farmacêutica e práticas
integrativas e complementares no SUS: conhecimento e aceitação por parte sãojoanense. Rev.
Saúde Col. 21(2): 663 - 674, 2011.
Nascimento YA, Carvalho WS, Acurcio FA. Drug-related problems observed in a pharmaceutical
care service, Belo Horizonte, Brazil. Braz. J. Pharm. Sci. 45(2): 321 - 330, 2009.
Naves JOS, Castro LLC, Carvalho CMS, Merchán-Hamann E. Automedicação: uma abordagem
qualitativa de suas motivações. Ci. Saúde Col. 15(1): 1751 - 1762, 2010.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 17 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Atenção farmacêutica no Brasil: trilhando
caminhos. Relatório 2001-2002. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/medicamentos/site/UploadArq/RelatorioAtenfar20012002.pdf>. Acesso
em: 08 mar. 2012.
Vigilância de doenças crônicas não transmissíveis. Disponível em: <
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/doencas-cronicas-
nao-transmissiveis>. Acesso em: 02 nov. 2012.
Porto Alegre. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde (2014-2017). Disponível
em: <http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/sms/usu_doc/pms_2014_2017.pdf.>. Acesso
em: 04 jun. 2015.
Provin MP, Campos AP, Nielson SEO, Amaral RG. Atenção farmacêutica em Goiânia: inserção do
farmacêutico na Estratégia Saúde da Família. Saúde Soc. 19(3): 717 - 723, 2010.
Skowron A, Polak S, Brandys J. The impact of pharmaceutical care on patients with hypertension
and their pharmacists. Pharm. Pract. 9(2): 110 - 115, 2011.
Sousa HWO, Silva JL, Neto MS. A importância do profissional farmacêutico no combate à
automedicação no Brasil. Rev. Eletr. Farm. 5: 67 - 72, 2008.
Torres A, Fité B, Barau M, Guayta-Escolies R, Estrada-Campmany M, Rodríguez C. Efectividad de
um programa de atención farmacêutica em la mejora del control de la presión arterial em pacientes
hipertensos mal controlados. Hipert. Riesgo Vasc. 27(1): 13 - 22, 2009.
Vieira FS. Possibilidades de contribuição do farmacêutico para a promoção da saúde. Ci. Saúde
Col. 12(1): 213 - 220, 2007.
Vitor RS, Lopes CP, Menezes HS, Kerkhoff CE. Padrão de consumo de medicamentos sem
prescrição médica na cidade de Porto Alegre, RS. Ci. Saúde Col. 13(sup): 737 - 743, 2008.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Produção de metabólitos anti-Candida por Streptomyces sp isolado de solo
rizosférico da Amazônia
Silvia Katrine Silva Escher1*, José Jeosafá Vieira de Sousa Júnior2, Adrielle Leal Dias2,
Janete Magalí de Araújo3 & Elba Lúcia Cavalcanti Amorim4.
1 Departamento de Antibióticos, UFPEDA, Programa de Pós graduação em ciências Farmacêuticas, Universidade Fede-
ral de Pernambuco/ Laboratório de Microbiologia, Instituto de Saúde Coletiva, ISCO, Universidade Federal do Oeste do
Pará. 2 Laboratório de Microbiologia, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, PA,
Brasil. 3 Departamento de Antibióticos, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife,
PE, Brasil. 4 Laboratório de Produtos Naturais - LAPRONAT, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, PE, Brasil.
Silvia Katrine Silva Escher
Laboratório de Microbiologia, UFOPA, Campus Tapajós
e-mail: [email protected]ço: Rua Vera Paz, S/N, Salé, 68005-1000, Santarém – PA. Telefone:(93)
2101-4947 (93) 991755475.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 19 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Resumo
Neste trabalho foi avaliado o potencial antifúngico de Streptomyces sp MPO-4 (linhagem
de Streptomyces isolado de solo rizosférico da Amazônia) isolado de solo rizosférico de Aniba par-
viflora Syn fragans (Macacaporanga). O potencial antifúngico foi avaliado através da técnica de
bloco de Agar dispondo blocos circulares de 6mm de diâmetro em placas de Petri previamente se-
meadas com suspensão de Candida albicans e Candida krusei. A fermentação submersa ocorreu
por 168h em meio ISP2, sendo o líquido fermentado coletado a cada 24h para avaliação da sua bi-
oatividade pelo método de difusão em poços. O extrato bruto foi obtido após extração dos metabóli-
tos secundários com Acetato de etila e, posteriormente avaliado a concentração mínima fungistática
e fungicida através de microdiluição.O Streptomyces sp MPO-4 foi ativo contra Candida albicans e
Candida krusei apresentando halos de inibição de 15.6mm e 14.0mm respectivamente. Os metabóli-
tos antifúngicos foram produzidos a partir de 24h da fermentação apresentando halos de inibição
entre 12.6mm e 25.3mm frente Candida albicans e 12mm e 17.3mm para Candida krusei a partir de
48h de fermentação. A concentração mínima fungicida para Candida krusei foi de 2000 µg/mL e
para Candida albicans 1500 µg/mL. A actinobactéria Streptomyces sp. MPO-4 produz compostos
bioativos de elevada ação antifúngica contra as leveduras Candida albicans e Candida krusei.
Palavras-chave: Streptomyces, Produtos Biológicos, Candida.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 20 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Abstract
This study was evaluated the antifungal potential of Streptomyces sp MPO-4 (Lineage
Streptomyces 4 isolated from Amazon soil) isolated from rhizosphere soil of Aniba parviflora Syn
fragans (Macacaporanga). The antifungal potential was evaluated through the agar block technique
placing circular blocks with diameter of 6mm in Petri dishes previously seeded with Candida albi-
cans and Candida krusei suspension. The submerged fermentation occurred in 168 h ISP2 media,
the fermented liquid collected every 24 h for evaluation of its bioactivity by the well diffusion
method. The crude extract was obtained after extraction of secondary metabolites with ethyl acetate,
then posteriorly evaluate the minimum concentration fungistatic and fungicidal through by microdi-
lution. The Streptomyces sp MPO-4 was active against Candida albicans and Candida krusei pre-
senting inhibition zones of 15.6mm and14.0mm respectively. The antifungal metabolites were pro-
duced from 24h fermentation presenting inhibition zones between 12.6mm and 25.3mm front Can-
dida albicans and 12mm and 17.3mm for Candida krusei from 48h of fermentation. The fungicidal
minimum concentration for Candida krusei was 2000µg/mL and Candida albicans 1500µg/mL.
The actinobactéria Streptomyces sp. MPO-4 produces bioactive compounds with high antifungal
activity against the yeast Candida albicans and Candida krusei.
Keywords: Streptomyces, Biological products, Candida.
INTRODUÇÃO
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 21 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Os solos, dentre todos os habitats terrestres, abrigam a maior diversidade de espécies mi-
crobianas (Moreira & Siqueira, 2006), das quais se destacam as Actinobactérias. Este grupo compõe
cerca de 12% a 20% da biomassa microbiana da rizosfera (Polyanskaya et al., 2003) onde desem-
penham papel importante como a fixação de nitrogênio (Chaudhary et al., 1981), decomposição de
materiais orgânicos complexos como queratinas, quintinas, celuloses e amido, além de atuar na pro-
teção das raízes das plantas hospedeiras contra fitopatógenos (Asolkar et al., 2010; Dobrovol’Skaya
et al., 2001).
As actinobacterias são bactérias Gram-Positivas, com alto conteúdo de G+C (guanina + ci-
tosina) em seu DNA, cuja bioquímica morfologia e relação com o oxigênio são extremamente di-
versificadas (RAJU et al., 2010; Stach et al., 2003), sendo característico seu desenvolvimento fila-
mentoso semelhantes a hifas fúngicas (Azuma, 2011). Através do seu metabolismo secundário estas
bactérias produzem vários compostos bioativos e aromáticos, como a geosmina, responsável pela
produção de odor semelhante ao de terra molhada.
Este grupo de bactérias têm sido alvo da indústria farmacêutica, especialmente o gênero
Streptomyces, o qual e responsável por produzir metabólitos secundários com variada estrutura
química e atividade biológica como antitumorais, antiparasitários, anti-inflamatórios, imunossu-
pressores e antibióticos, os quais compõem cerca de 75% dos antibióticos usados na medicina e
60% dos antimicrobianos usados na agricultura (Lal, Solanki & Khanna, 2008; Moreira & Siqueira,
2006).
A busca por novos compostos bioativos efetivos frente às bactérias de interesse clínico e de
fitopatógenos resistentes aos antibióticos utilizados na rotina clínica das doenças infecciosas e aos
pesticidas de uso agrícola, têm sido alvo da indústria biotecnológica. Nesse sentido, pesquisas reali-
zadas visando o conhecimento da ação antimicrobiana de metabólitos secundários provenientes de
Streptomyces têm despertado um grande interesse, principalmente por ser atribuído a este gênero
mais de 80% da matéria-prima para a elaboração de antibióticos desde 1940 (Azuma, 2011).
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi investigar o potencial antifúngico de Strep-
tomyces sp MPO-4 isolado de solo rizosférico de Aniba parviflora Syn fragans (Macacaporanga) e
avaliar a concentração mínima inibitória do extrato bruto obtido através de fermentação submersa.
MATERIAIS E MÉTODOS
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 22 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Foi realizado um estudo experimental, qualitativo e quantitativo com a cepa de actinobac-
téria Streptomyces sp. MPO-4, a qual foi obtida a partir de solo rizosférico de Aniba parviflora Syn
fragans (Macacaporanga), coletado em zona de transição entre floresta ombrófila densa e savana,
na floresta amazônica (Latitude 20 28’ 01.28” Se Longitude 540 49’ 45.32” O) no município de San-
tarém – PA (Figura 1).
Figura 1. Mapa de coordenadas geográficas do ponto de coleta do solo rizosférico de Aniba parvi-
flora Syn fragans (Macacaporanga). Latitude 20 28’ 01.28” S Longitude 540 49’ 45.32
Localização dos experimentos
Os ensaios foram realizados sob condições de laboratório, no Departamento de Antibióti-
cos (UFPEDA/UFPE) e Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Oeste do Pará
(UFOPA), no período entre Dezembro de 2013 e Dezembro de 2014.
Obtenção dos micro-organismos
Os micro-organismos teste foram gentilmente cedidos pelo Departamento de Antibióticos
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A cepa de Streptomyces sp faz parte da Bacterio-
teca do Laboratório de Microbiologia (UFOPA). Para ativação da cepa, foi realizado um repique em
meio ISP2 (Pridham et al., 1957), em placa de Petri (60x15mm) incubada à 30ºC por 168h para
esporulação e colonização de toda a superfície do meio de cultura.Os micro-organismos teste foram
mantidos em meio Nutriente (MN) em estufa à 32ºC até a preparação das suspensões fúngicas utili-
zadas nos ensaios.
Avaliação de Antagonismo
Para a investigação do potencial antimicrobiano do Streptomyces sp. MPO-4 foi realizado
um ensaio primário de antagonismo frente à cepas de Candida albicans (UFPEDA1007) e Candida
krusei (amostra clínica) por meio da técnica de bloco de Agar (Brown, Butterwoth & Cole, 1976) e
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 23 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
posteriormente foi realizado o a fermentação submersa para a obtenção dos compostos antimicrobi-
anos em meio líquido ISP2 sob agitação durante 7 dias à 30ºC.
Para o ensaio de bloco de gelose foram recortados blocos circulares de 6mm de diâmetro
contendo as colônias de Streptomyces sp. Os blocos foram dispostos sobre placas de Petri
(95x15mm) contendo o meio de cultura Sabouraud Dextrose Ágar (SDA) previamente inoculado
com 100μL das suspensões fúngicas ajustadas na escala de 0,5 MacFarland em meio nutriente
(MN) em espectrofotômetro, à densidade óptica de 0,284 e comprimento de onda de 540nm,
equivalente a 104 esporos/mL. Os blocos foram dispostos equidistantes 25mm proporcionando
assim uma melhor visualização dos possíveis halos de inibição. As placas foram incubadas à 32°C
por 48h. Adotou-se um delineamento experimental inteiramente casualizado com três repetições. Os
dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5%
de probabilidade.
A produção de biocompostos com atividade antifúngica foi verificada pela formação de ha-
los claros de inibição do crescimento da levedura e expressos em milímetros (mm). A intensidade
da atividade inibitória foi classificada pelo tamanho da zona de inibição, o qual foi dividido em qua-
tro grupos distintos: grupo passivo – zona de inibição menor que 10mm; grupo ligeiramente ativo –
zona de inibição entre 11 e 20mm; grupo moderadamente ativo – zona de inibição entre 21 e 30
mm; e grupo altamente ativo, cuja zona de inibição é maior que 31mm (Sahin & Ugur, 2003).
Produção do antifúngico em meio líquido
Para a produção dos metabólitos antifúngicos foi realizado a fermentação submersa em
meio ISP2 (4g de Extrato de levedura, 10g Extrato de malte, 4g Dextrose, 1000 mL de Água desti-
lada, com pH inicial 7,0). Para o pré-inóculo foram utilizados erlenmeyers (250mL) contendo 50mL
de meio de cultura ISP2 e adicionados três blocos de 6mm de diâmetro contendo a cultura de Strep-
tomyces sp MPO-4. Os frascos foram mantidos em agitação de 180 rpm (Agitador magnético Fisa-
tom® Modelo 751) à 30ºC por 48h. Posteriormente 10% do volume do pré-inóculo foi transferido
para erlenmeyers (500mL) contendo 250mL de meio de cultura ISP2, o qual foi mantido nas mes-
mas condições sendo a fermentação realizada durante 168h.
Para avaliação da atividade antifúngica à cada 24h o líquido fermentado foi centrifugado
(927 g, 10 minutos) para precipitação da biomassa e do sobrenadante foi retirado uma alíquota para
o teste pelo método de difusão em poços (Thakur et al., 2009). Neste este ensaio, após a semeadura
das suspensões fúngicas nas placas de Petri (95mmx15mm) contendo o meio de cultura Sabouraud
Dextrose Ágar (SDA), foram confeccionados poços cilíndricos de 6mm de diâmetro no qual foi
dispensado 100μL do líquido fermentado. As placas foram incubadas à 37ºC por 48h. A atividade
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 24 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
antifúngica foi detectada pela presença de zonas de inibição em volta dos poços contendo o líquido
fermentado, a qual foi expressa em milímetros. Adotou-se um delineamento experimental
inteiramente casualizado com 4 repetições. O ensaio foi realizado em triplicata e as placas foram
incubadas a 32°C por 48h. Os dados foram submetidos à análise estatística de variância e as médias
comparadas pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade, utilizando o software ASSISTAT 7.7 beta.
Extração do Antibiótico
O líquido fermentado foi filtrado em filtro de acetato celulose de 0,22m de porosidade e o
produto filtrado foi submetido à extração dos metabólitos secundários utilizando o solvente orgâni-
co Acetato de etila na proporção de 2:1 do líquido fermentado. O processo de extração foi realizado
em agitação mecânica por 1 hora à 180rpm, possibilitando assim a separação do líquido em duas
fases distintas, a fase aquosa e a fase orgânica. Esta etapa foi realizado por mais duas vezes utili-
zando 200 mL e 100 mL do solvente em cada etapa de extração sob agitação mecânica por 30 minu-
tos e 15 minutos à 180rpm, respectivamente. A fase orgânica de todas as etapas de extração foi con-
centrada em evaporador rotativo para a obtenção do extrato bruto.
Avaliação da Concentração mínima inibitória (CIM) do extrato bruto de Streptomyces sp
MPO-4
O extrato bruto da fermentação foi empregado para determinar a concentração inibitória
mínima pela técnica de microdiluição conforme National Committee for Clinical Laboratory Stan-
dard (NCCLS, 2002). Em uma microplaca estéril de 96 orifícios foi dispensado no poço C3 a solu-
ção mãe (SM) à 5000µg/mL a partir do extrato bruto solubilizado em 100µL de Dimetilsufóxido à
5% (DMSO) e 900µL de meio de cultura (MC) Sabouraud dextrose no poço. Posteriormente foi
preparado o sistema de concentrações decrescentes nos poços C4 à C11 nas seguintes condições:C4
(4500µg/mL): 90µL (SM) + 10µL de (MC);C5(4000µg/mL): 80µL da (SM) + 20µL do (MC);C6
(3500µg/mL): 70µL da (SM) + 30µL do (MC);C7(3000µg/mL):60µL da (SM) + 40µL do
(MC);C8(2500µg/mL): 50µL da (SM) + 50µL do (MC);C9(2000µg/mL): 40µL da (SM) + 60µL do
(MC);C10(1500µg/mL): 30µL da (SM) + 70µL do (MC);C11(1000µg/mL): 20µL da (SM) + 80µL
do (MC). Em cada poço foi adicionado 10µL do inoculo fúngico. A mudança de coloração inicial-
mente vermelha para azul indicou a viabilidade do micro-organismo.
A Concentração mínima fungicida foi determinada pela subcultura dos poços azuis do teste
de determinação da CIM em placa de Petri contendo o meio sólido Saboraud Dextrose Ágar (SDA).
As placas foram incubadas à 37ºC por 48-72h, sendo que cada amostra foi testada em quatro expe-
rimentos independentes.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 25 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
RESULTADOS
Na figura 2 pode ser observado as colônias de Streptomyces sp MPO-4, o qual foi ativo
contra Candida krusei e Candida albicans sendo registrados halos de inibição de crescimento fún-
gico de 14±1mm e 15.6±0.58mm em 48h, respectivamente.
Figura 2: A. Cultura de Streptomyces sp MPO-4 em Meio ISP2 após 7 dias de incubação à 35ºC.
A atividade antifúngica do líquido fermentado variou em relação ao tempo de fermentação
apresentando halos de inibição de crescimento entre 12.6mm e 25.3mm para Candida albicans e
12mm e 17,3mm para Candida krusei (Tabela 1). O líquido fermentado foi ativo desde as 24h para
Candida albicans e à partir de 48h para Candida krusei, sendo que o melhor período de produção
do antifúngico foi em 96h de fermentação, apresentando halos de inibição de crescimento de
25.3mm e 17.3mm para C. albicans e C. krusei, respectivamente (Figura 3).
Registro da atividade antimicrobiana do líquido metabólico
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 26 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Figura 3: Halos de inibição registrados no ensaio de atividade Antifúngica do Líquido Fermentado
de Streptomyces sp MPO-4. A. Candida krusei. B. Candida albicans.
Valor dos halos de inibição do líquido fermentado
Os valores da MIC obtidos para Candida krusei foram de 1500 µg/mL e para Candida al-
bicans <de1500µg/mL. A concentração mínima fungicida para Candida krusei foi > de 1500µg/mL
e para Candida albicans 1500 µg/mL. A concentração final do DMSO, agente de solubilização do
extrato utilizado no ensaio não influenciou na inibição do crescimento das leveduras teste.
Tabela 1: Atividade antifúngica do líquido fermentado apresentando os halos de inibição de cresci-
mento microbiano (mm).
Tempo de
fermentação
Micro-organismo
Candida albicans Candida krusei
24h 12.6±0.58aF 0.0
48h 15.3±0.58aE 12.0±0bC
72h 22.0±0aC 15.0±0bB
96h 25.3±0.58aA 17.3±0.58bA
120h 24±1.73aAB 16.0±0bAB
144h 23.0±1.00aBC 15.6±0.58bAB
168h 18.6±0.58aD 15.0±0bB
As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
DISCUSSÃO
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 27 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
Vários são os estudos realizados com actinobactérias isoladas de solos, principalmente da
rizosfera, comprovando o grande potencial bioativo desses micro-organismos. A grande maioria dos
Streptomyces demonstra uma ampla atividade antagônica que inclui ação frente à bactérias Gram-
positivas, Gram-negativas, fungos filamentos e leveduriformes (Salamoni et al., 2010; Oliveira et
al., 2009).
Resultados semelhantes à este estudo foram encontrados por Bajaj & Sharma (2011) des-
creveu a relação antagônica de seis actinomicetos isolados de diferentes locais de Punjab e Hima-
chal na Índia contra Candida albicans sendo as linhagens 2A, A26 e R3YS as mais ativas com ha-
los de inibição de 14.6mm, 11.6 mm e 13.6mm, respectivamente.
O meio ISP2 mostrou-se como boa alternativa para a obtenção dos metabólitos bioativos
com atividade antifúngica através da fermentação submersa (Cunha et al., 2009). Este meio de cul-
tura tem sido descrito como melhor meio para produção de metabólitos antimicrobianos para fer-
mentação do endófito Streptomyces sp. EBR49-A UFPEDA, o qual obteve melhores halos de inibi-
ção a partir do líquido fermentado de 72h de fermentação com (4%) de fonte de carbono (glicose),
sendo registrados halos de inibição de crescimento de 24,5mm com 72h de cultivo (Salamoni, Van
Der Sand & Germani, 2012).
O potencial antimicrobiano de 25 espécies de actinobactérias do gênero Streptomyces foi
descrito através da fermentação utilizando meio mineral de caseína e amido e meio ISP2, onde 80%
dos isolados foram capazes de inibir pelo menos uma das bactérias testadas (Cunha et al., 2009).
Em outro estudo o melhor rendimento de metabólitos antimicrobianos com o Streptomyces sp 1S
ocorreu em fermentação em meio ISP2 à 28°C, sendo que o líquido fermentado de 24h foi ativo
contra C. albicans e Fusarium oxyxporum (Salamoni et al., 2010).
Neste estudo as cepas de Candida krusei foram mais resistentes aos metabólitos secundá-
rios apresentando uma concentração mínima fungicida (CMF) superior à1500 µg/mL, similar rela-
tado em outros estudos que apresentaram CMF de 2500µg/mL para Candida albicans (Salamoni,
Van Der Sand & Germani, 2012; El-Naggar, El-Assar & Abdul-Gawad, 2006). A produção de me-
tabólitos secundários anticandida de Streptomyces spp SP1 contra as espécies de Candida albicans
e Candida krusei apresentou atividade fungicida entre 625 µg/mL (Oliveira et al., 2013).
CONCLUSÃO
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 28 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
A actinobactéria Streptomyces sp MPO-4 isolada de solo rizosférico de Aniba parviflora
(Macacaporanga) produz compostos bioativos de elevada ação antifúngica contra a levedura Candi-
da albicans e Candida krusei. A otimização do processo de obtenção dos metabólitos antifúngicos
ocorreu na condição de 96h de fermentação sob agitação em meio ISP2. A bioprospecção de micro-
organismos com potencial biotecnológico vem possibilitando o emprego de produtos bioativos nas
mais diversas áreas do conhecimento, e o isolamento destes micro-organismos presente em solos
diferenciados como o solo da Amazônia assim como a elucidação dos compostos bioativos são al-
vos do nosso grupo e se apresentam como uma possibilidade de desenvolvimento científico local
gerando impacto imediato na indústria agrícola, farmacológica, alimentícia e de cosmético, impli-
cando assim no desenvolvimento social e econômico da Amazônia.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro, ao Laboratório de Microbiologia da
UFOPA e ao Departamento de Antibióticos da UFPE pela colaboração na pesquisa.
REFERENCIAS
Asolkar RN, Kirkland TN, Jensen PR, Fenical W. Arenimycin, an antibiotic effective
against rifampin- and methicillin-resistant Staphylococcus aureus from the marine actinomycete
Salinisporaarenicola. J. Antibiot. 63(1): 37–39, 2010.
Azuma, MVP. Actinobactérias com potencial biotecnológico isoladas da região entre-
marés da Ilha do Mel, PR, Brasil. 2011. Dissertação (Mestrado em Microbiologia, Parasitologia e
Patologia). Universidade Federal do Paraná. Curitiba.
Bajaj BK & Sharma P. An alkali-thermotolerant extracellular protease from a newly isola-
ted Streptomyces sp. DP2. N. Biotechnol. 28(6): 725-732, 2011.
Brown AG, Butterworth D, Cole M. Naturally occurring β-Lactam inhibitors with antibac-
terial activity. J. Antibiot. 29(1): 668-669, 1976.
Chaudhary A, Khokhar N S, Zafar Y, Hafiez F. Actinomycetous root nodules in angio-
sperms of Pakistan. Plant Soil. 60(3): 341-348,1981.
Cunha IGB, Sobrinho T, Silva R, Amorin E, Araújo J. Influência do meio de cultura na
produção de metabólitos bioativos do endófito Streptomyces sp. EBR49-A UFPEDA. Rev. Bras.
Farm. 90(2):120-123, 2009.
Dobrovol'skaya TG,Lysak LV, Zenova, GM, Zvyagintsev, DG. Analysis of soil bacterial
diversity: Methods, potentiality, and prospects. Microbiology. 70(2): 119-132, 2001.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 29 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016
El-Naggar MY, El-Assar SA, Abdul-Gawad SM. Meroparamycin Production by Newly
Isolated Streptomyces sp. Strain MAR01: Taxonomy, Fermentation, Purification and Structural
Elucidation. J. Microbiol. 44(4): 432–438, 2006.
Solanki R, Khanna M, Lal R. Bioactive compounds from marine actinomycetes. Indian
journal of microbiology, 48(4): 410-431, 2008.
Moreira FMS & Siqueira JO. Microbiologia e bioquímica do solo. 2.ed. Lavras: Universi-
dade Federal de Lavras, 2006. 729p.
National Committee for Clinical Laboratory Standard (NCCLS). Método de referência pa-
ra testes de diluição em caldo para determinação da sensibilidade de leveduras à terapia antifúngica:
norma aprovada - M27-A2. 2.ed. Wayne, 2002.
Oliveira JHL, Granato AC, Hirata DB, Hokka CO, Barboza M, Trisic M. Ácido clavulâni-
co e cefamicina c: uma perspectiva da biossíntese, processos de isolamento e mecanismo de ação.
Quím. Nova. 32(8), 2142-2150, 2009.
Oliveira TL, Lima EO, Fernandes HM B, Filho Abrahão AO, Souza IA. Atividade anti-
fúngica de extratos isolados de Streptomyces spp obtidos em solos paraibanos contra leveduras do
gênero Candida spp. Biofar. Rev. de Biol. Farm.9(1): 1-6, 2013.
Polyanskaya LM, Ozerskaya SM, Kochkina GA, Ivanushikina NE, Golovchenki AV,
Zvyagintsev DG. The quantity and structure of the root-associated microbial complexes of two
greenhouse rose cultivars. Mikrobiol. 72(4): 554-562, 2003.
Pridham TG, Anderson P, Foley C, Lindenfelser LA, Hesseltine CW, Benedict RG. A se-
lection of media for maintenance and taxonomic study of streptomycetes. Antibiot. Ann. 1956-7
(1957): 947-953, 1957.
Raju A, Piggott AM, Conte M, Tnimov Z, Alexandrov K, Capon RJ. Nocardiopsins: new
FKBP12-Binding Macrolide Polyketides from an Australian Marine-Derived Actinomycete, Nocar-
diopsis sp. Eur. J. Chem. 16(10): 3194 – 3200, 2010.
Sahin N & Ugur A. Investigation of the antimicrobial activity of some Streptomyces iso-
lates. Turk J. Biolog. 27(2): 79-82, 2003.
Salamoni SP, Mann MB, Campos FS, Franco AC, Germaniand JC, Van Der Sand ST. Pre-
liminary characterization of some Streptomyces species isolated from a composting process and
their antimicrobial potential. World J. Microbiol. Biotechnol. 26(10): 1847–1856, 2010.
Salamoni SP, Van Der Sand ST, Germani JC. Estudo de Produção de Compostos com
Atividade Antimicrobiana produzidos por Streptomyces sp. 1S. Evidência- Ci. Biotecnol. 12(2):
175-186, 2012.
Stach JE, Maldonado LA, Ward AC, Goodfellow M, Bull AT. New primers for the class
Actinobacteria: application to marine and terrestrial environments. Environ. Microbiol. 5(10): 828-
841, 2003.
Thakur D, Bora TC, Bordoloi GN, Mazumdar S. Influence of nutrition and culturing con-
ditions for optimum growth and antimicrobial metabolite production by Streptomyces sp. 201. J.
Mycol. Med. 19(3): 161-167, 2009.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Estudo do perfil microbiológico da matéria-prima e do produto acabado de
Rhamnus purshiana e Baccharis trimera obtidos de diferentes farmácias de
manipulação na cidade de Divinópolis-MG.
Study on the microbiological profile of raw material and of the finished product
of Rhamnus purshiana and Baccharis trimera obtained from different
compounding pharmacies from Divinópolis-MG.
Diego Pinto de Oliveira¹, Inayara Cristina Alves Lacerda², Marcelo José Dias Silva³, Geraldo Alves
da Silva¹ & Marcelo Aparecido da Silva¹*.
¹ Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Alfenas, MG. Brasil.
² Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte, MG. Brasil. ³ Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Julio de Mesquita Filho. UNESP. Araraquara, SP. Brasil.
*Autor correspondente: Marcelo Aparecido da Silva
UNIFAL-MG; Faculdade de Ciências Farmacêuticas; Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700, Centro, Alfenas, Minas
Gerais, Brasil. Tel: 35 3291-1346, CEP: 37130-000, E-mail: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 31 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Resumo
A qualidade microbiológica da matéria-prima empregada e o processo de manipulação de
fitoterápicos são fatores primordiais para alcançar eficiência e segurança do produto final. O
presente trabalho tem objetivo de verificar a qualidade microbiológica de fitoterápicos manipulados
em farmácias da cidade de Divinópolis-MG. Quatro amostras de duas drogas vegetais (Carqueja e
Cascara Sagrada, matéria-prima e produto final) foram coletadas em quatro farmácias de
manipulação de Divinópolis-MG, devidamente embaladas e rotuladas. Estas amostras foram
analisadas segundo critérios da Farmacopeia 5° ed. (2010). Os resultados das análises de contagem
total de micro-organismos mesófilos aeróbios e pesquisa de patógenos revelaram que 50% das
amostras estavam fora dos padrões para fungos. Um dos estabelecimentos (farmácia A) apresentou
positividade na pesquisa para Escherichia coli nas amostras de matéria-prima e produto final de
Cascara Sagrada, sendo considerada imprópria para o consumo humano, denotando uma correlação
entre contaminação de micro-organismos mesófilos aeróbios e patógenos. A Farmácia D apresentou
resultados positivos para E.coli para a amostra do produto final utilizando Cascara Sagrada,
sugerindo que a contaminação tenha ocorrido no processo de manipulação do produto. Tendo em
vista estes resultados torna-se necessário uma maior fiscalização quanto e tomada de medidas que
minimizem o risco de contaminação destes produtos.
Palavras-chave: Qualidade microbiológica. Fitoterápicos. Rhamnus purshiana. Baccharis trimera.
Farmácias de manipulação.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 32 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Abstract
The microbiological quality of raw material used and the handling process of herbal
medicines are the key factors to achieve efficiency and safety of the final product. This present
study aims to verify the microbiological quality of herbal medicines in handing pharmacies
Divinópolis-MG. Four samples from two herbal drugs (Carqueja and Cascara Sagrada, raw material
and final product) were collected in four pharmacies in Divinópolis-MG, properly packaged and
labeled. These samples were analyzed according to the Pharmacopoeia 5th ed. (2010). The results
of the analyzes of total count of mesophilic aerobic pathogens and research revealed that 50% of
samples were below the standards for fungi, pharmacy. About pathogenic analyses, one of the
establishments presented positive for the bacteria Escherichia coli in samples of raw material and
end product of Cascara Sagrada being unfit for human consumption, showing a correlation between
contamination of mesophilic aerobic and pathogens. Pharmacy D showed positive results for the
sample of E. coli in Cascara Sagrada final product, suggesting that microbial contamination has
occurred in the process of handling the product. In view of these results becomes greater oversight
as necessary and taking measures to minimize the risk of contamination of these products.
Keywords: Microbiologic quality. Herbal medicines. Rhamnus purshiana. Baccharis trimera.
Compounding pharmacies.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 33 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
INTRODUÇÃO
A farmacoterapia moderna desenvolveu-se a partir do uso empírico de plantas, selecionadas
ao longo da evolução humana. O maior avanço sobre o uso de drogas vegetais foi constatado no
século XIX, com o progresso científico na área química, que permitiu analisar, identificar e separar
os princípios ativos obtido das plantas medicinais. Apesar das diversas abordagens modernas
disponíveis para a obtenção de novas entidades químicas com vistas ao desenvolvimento de
fármacos, metabólitos secundários de plantas ainda representam uma das principais estratégias para
inovação farmacêutica (Craag & Newman, 2013; Tomazzoni et al., 2001).
Atualmente o uso de plantas medicinais e fitoterápicos ocorre principalmente por fatores de
ordem sócias, econômicas e culturais, movimentando um elevado montante financeiro no mercado
mundial. Acarretando incentivo para pesquisa em desenvolvimento de fitoterápicos com segurança
e eficácia (Souza, 2007). Os fitoterápicos ou plantas medicinais podem ser obtidos no mercado
farmacêutico como produtos industrializados ou manipulados, atendendo a prescrições médicas ou
usos empíricos, disponíveis na forma de pó ou extrato (Verdi et al., 2013; Souza, 2007;Santana,
2005).
Os fitoterápicos englobam-se no grupo dos produtos farmacêuticos não estéreis, sendo
passíveis de contaminação devido ao teor de água presente. Por se tratar de um produto de origem
vegetal, torna necessária a realização de análises quantitativas de micro-organismos mesófilos
aeróbios ou viáveis, bem como de micro-organismos patogênicos. A RDC 87/2008 complementar a
RDC 67/2007, preconiza que as matérias primas de origem vegetal devem passar somente pela
pesquisa microbiana de contaminação (contagem total de fungos e leveduras). Porém a mesma RDC
relata que o controle de qualidade deve executar as análises de descrição, aspecto, caracteres
organolépticos, peso médio, pH, peso ou volume antes do envase. Mas não apresenta relatos sobre a
pesquisa de patógenos e de contaminação em longo prazo. Já a Farmacopeia Brasileira 5° ed.
(2010), preconiza que sejam realizados além das análises quantitativas de micro-organismos
viáveis, a análise para detecção de patógenos.
A Instrução normativa (IN) N° 4 de 18 de Julho de 2014 da ANVISA, determinada
orientações para o registro de medicamentos fitoterápicos, preconizando que a referida classe de
produtos farmacêuticos deve respeitar os limites microbianos estabelecidos pela Farmacopeia
Brasileira 5° edição tanto para microganimos mesófilos aeróbios quanto para microrganismos
patogênicos. O documento aborda atenção especial para micotoxinas, provenientes do metabolismo
de fungos sugerindo que seja seguido as determinações da Farmacopéia Européia (limite geral de
aflatoxinas B1 < 2 µg/kg e a soma das aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 < 4 µg/kg para drogas vegetais,
sendo que limites diferentes podem ser encontrados em monografias específicas de algumas drogas
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 34 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
vegetais), uma vez que a Farmacopeia Brasileira 5° edição não determina limites para estes
metabolitos.
Tendo em vista que os medicamentos manipulados entram mais em contato com os
manipuladores, é essencial que toda a equipe da farmácia de manipulação tenha conhecimento das
Boas Práticas de Manipulação (BPM). Uma vez que qualquer um pode ser carreador de micro-
organismos saprofíticos bem como de micro-organismos patogênicos como Staphylococcus aureus,
Salmonella, Escherichia coli. Esses micro-organismos fazem parte da microbiota residente ou
transitória do ser humano, podendo contaminar a matéria prima vegetal ou o produto final. O risco
de contaminação aumenta quando se trabalha com fitoterápicos ou plantas medicinais, pois se
tratam de fontes com grande potencial de contaminação (Bonfilio et al., 2013; Marques & Moreira,
2009).
Rhamnus purshiana Candolle (Rhamnaceae) conhecida popularmente como cascara sagrada
apresenta em suas cascas compostos ativos pertencentes a classe das antraquinonas e tem alto valor
comercial por causa do efeito terapêutico de regulador da motilidade intestinal, também conhecido
como efeito catártico direto, (Lôbo, 2012; Schenkel 2004). Baccharis trimera Molina (Asteraceae)
conhecida popularmente como carqueja, apresenta principalmente compostos da classe de
flavonoides e terpenos em suas hastes (parte foliar) e é utilizada para diversas finalidades, porém se
destaca o uso em afecções gastrointestinais e como antirreumático (Karan et al., 2013; Santana,
2005).
Baseado nas informações citadas, o presente trabalho visa avaliar a qualidade
microbiológica das matérias-primas vegetais e dos respectivos produtos acabados.
MATERIAIS E MÉTODOS
Matéria prima vegetal utilizada nas analises
O material utilizado no trabalho corresponde a amostras de matérias primas e produtos finais
de cascara sagrada e carqueja coletadas no período de setembro a novembro de 2009 em quatro
farmácias de manipulação da cidade de Divinópolis-MG totalizando 16 amostras (8 amostras
referentes a matéria-prima e 8 amostras referentes a produto acabado, as amostras de matéria-prima
e produto acabado foram do mesmo lote em cada farmácia). A seleção das farmácias foi realizada
de forma aleatória e das amostras foram escolhidas estas espécies porque havia matéria-prima e
produto acabado em todas as farmácias selecionadas para o estudo. Os materiais de interesse foram
coletados em frascos próprios e processados antes de decorrer 24 horas após a coleta. As amostras
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 35 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
foram codificadas de acordo com a farmácia de origem e sua apresentação (matéria-prima ou
produto final), as farmácias de origem receberam codificações como A, B, C e D e as amostras
foram processadas em condições assépticas.
Procedimento para análise quantitativa
O método utilizado para contagem de micro-organismos mesófilos aeróbios, ou seja, todos
os micro-organismos presentes naturalmente no ambiente consistiu na semeadura em profundidade
em placas ou “Pour Plate” como recomendado pela WHO (1998), Pinto et al. (2003) e Farmacopeia
Brasileira 5° ed. (2010). Para a obtenção da amostra para a análise quantitativa foram pesados 10 g
das amostras. Transferindo a amostra para um erlenmeyer contendo a solução tampão neutralizante.
Homogeneizou vigorosamente obtendo a diluição 10-1. A partir desta diluição procedeu às diluições
seriadas em tubos contendo água peptonada obtendo as diluições 10-2 e 10-3. Um mL das diluições
obtidas das amostras foram transferidos para placas de Petri. Acrescentou 15 mL do meio agar
padrão para contagem (PCA) em cada placa. Após esse procedimento, as placas foram incubadas a
temperatura de 37°C por 48 horas.
Para a análise de fungos, o procedimento foi o mesmo citado acima, trocando o meio de
cultura por agar batata dextrose (BDA) e as placas foram incubadas a temperatura de 28°C por 3-5
dias. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
A leitura foi realizada após o período de incubação de cada amostra contando cada colônia
visível macroscopicamente, realizando os cálculos de conversão e obtendo o resultado em Unidade
Formadora de Colônia por g de amostra (UFC/g de amostra).
Procedimento para análise qualitativa
Foi realizado o pré-enriquecimento pesando 10g de amostra e transferindo para um
erlenmeyer contendo caldo lactosado e em seguida foi homogeneizado vigorosamente e incubado
em estufa a 37° C por 48 horas.O mesmo procedimento foi repetido para o pré-enriquecimento em
caldo caseína de soja.
Após a incubação foi realizado a semeadura nos meios seletivos para cada classe de micro-
organismos, o Mac Conkey, Cetrimida, Sal-Manitol e Salmonella/Shigella, as placas foram
identificadas e incubadas à 37°C por 24 horas.
Após o período de incubação foi verificado se houve crescimento ou não das colônias.
Observado o crescimento das colônias, foi realizada a purificação das colônias nos meios
correspondentes a elas e as placas foram incubadas a 37°C por 24 horas.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 36 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Após a purificação foi realizado a técnica de coloração de Gram, verificando as características
microscópicas daqueles micro-organismos e os testes presuntivos e definitivos para Staphylococos
aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e Salmonella como descritos a seguir.
Para Staphylococos aureus, realizou-se os testes de catalase, coagulase e Dnase, no teste
de catalase foi adicionado peróxido de hidrogênio a 3% em um pouco da colônia. O teste de
coagulase foi realizado adicionando de uma alçada da colônia no plasma de coelho e após a
incubação em estufa bacteriológica por 5 horas foi observado a formação de coágulo e o teste
de Dnase baseou-se na semeadura do centro da colônia de interesse no meio sólido de Dnase, após a
incubação em estufa bacteriológica por 24 horas foi adicionado uma solução de ácido clorídrico á
1N e observado a formação de um halo límpido ao redor da colônia indicando a quebra do
DNA presente.
Para pesquisa de E.coli e Salmonella sp. realizou-se o teste de cultivo em tubo inclinado de
TSI, onde com o auxílio de uma alça de platina em forma pontiaguda, captou-se uma parte da
colônia de interesse e realizou a semeadura finalizando com estrias na superfície, este tubo foi
incubado em estufa bacteriológica por 24 horas.
Para Pseudomonas aeruginosa, realizou-se o cultivo em tubo contendo Agar FN e no tubo
de TSI com auxilio de uma alça de platina, os mesmos foram incubados a 37°C por 24 horas. (Pinto
et al., 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Contagem total de micro-organismos mesófilos aeróbios
As farmácias magistrais representam um importante segmento do mercado farmacêutico
brasileiro. A ANVISA, por meio da RDC 87/2008 que complementa a RDC 67/2007, modificou as
normas da RDC 33/2000 que institui as Boas Práticas de Fabricação em Farmácia, buscando
estabelecer rígidos parâmetros de qualidade em todas as etapas de fabricação de um produto
manipulado de forma magistral. Em conformidade com a legislação, as farmácias têm implantado
ou terceirizado ensaios físico-químicos e microbiológicos.
A legislação vigente exige que as empresas fornecedoras de matérias-primas realizem
análise de contagem total de bactérias e fungos, bem como a detecção da presença ou ausência de
patógenos (Brasil, 2008).
Os fitoterápicos e as plantas medicinais se enquadram na classe dos produtos farmacêuticos
não estéreis, os quais se admitem determinada carga de micro-organismos mesófilos aeróbios. Os
micro-organismos mesófilos aeróbios são encontrados normalmente no ambiente, pois estes se
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 37 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
desenvolvem em condições normais de temperatura e se reproduzem na presença de oxigênio,
sendo que a maioria destes é saprofítica (Bonfilio et al.,2013; Pelczar et al., 1997).
Na tabela I se observa a contagem total de bactérias em meio PCA e na tabela II a contagem
total de Fungos em meio BDA, ambas apresentam os valores em UFC/g das amostras analisadas.
TABELA 1
Contagem total de bactérias mesófilas aeróbias expressas em UFC/g de amostra.
CONTAGEM TOTAL DE BACTÉRIAS MESÓFILAS AEROBIAS
Origem Cascara Sagrada M. P. Cascara Sagrada P.F. Carqueja M.P. Carqueja P.F.
Farmácia A 1,4 x 104 1,9 x 104 8,5 x 10³ 1,4 x 104
Farmácia B 1,5 x 10³ 2 x10³ < 5x 10² 2 x 10³
Farmácia C < 5x 10² 5 x10² 1 x 10³ < 5x 10²
Farmácia D 1 x 10³ 5 x10² < 5x 10² < 5x 10²
Nota: M.P. = Matéria-prima ; P.F. = Produto final acabado.
TABELA 2
Contagem total de fungos, bolores e leveduras, expressas em UFC/g de amostra.
CONTAGEM TOTAL DE FUNGOS, BOLORES E LEVEDURAS
Origem Cascara Sagrada M. P. Cascara Sagrada P.F. Carqueja M.P. Carqueja P.F.
Farmácia A 3 x 105 2,5 x 103 4,5 x 10³ 2 x 103
Farmácia B 1 x 10³ 5 x10² 5x 10² 2 x 10³
Farmácia C 1 x 10³ 2,5 x10³ < 5x 10² < 5x 10²
Farmácia D < 5x 10² < 5x 10² < 5x 10² < 5x 10²
Nota: M.P. = Matéria-prima ; P.F. = Produto final acabado
Segundo os limites estabelecidos pela Farmacopeia 5° ed. (2010) para medicamentos não
estéreis de uso oral é aceitável a presença de até 105 UFC/g ou mL de produto para bactérias
heterotróficas e de 103UFC/g ou mL de produto para fungos.
Perante os resultados, a Tabela 1 reflete contaminação aceitável por bactérias heterotróficas
em todas as 16 amostras (100%) obtidas dos 4 estabelecimentos. Porem em relação à contaminação
fúngica a Tabela 2 mostra que 8 amostras apresentaram contaminação fora dos limites estabelecidos
(acima de 10³ UFC/g de amostra), evidenciando que 50% das amostras estão impróprias para
consumo humano.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 38 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Santana (2005) em seu estudo verificou contaminação fúngica acima dos limites em duas
das amostras de guaraná (Paullinia cupana Kunth.) em pó.Rocha et al. (2004), observaram
contaminação fúngica em 60% das amostras de boldo do chile (Peumus boldus Molina)e 30% das
amostras de sene (Cassia angustifolia Vahl) analisados estavam acima dos limites estabelecidos.
Zaroni et al. (2004), estudaram a qualidade microbiológica de 72 amostras de plantas medicinais de
27 diferentes espécies e detectaram uma variação entre 1x102 e 8,4x106 UFC/g de amostra. Para o
preparo de infusos aceita-se uma carga microbiana maior quando comparado a droga vegetal, porém
estas plantas também são destinadas a produção de fitoterápicos, o que indica um fator de risco,
uma vez que a microbiota das plantas e as condições de cultivo geraram uma maior carga
microbiana.
Schützet et al. (2008), encontraram crescimento fúngico em 22% das amostras de cascara
sagrada, sene, e ginkgo biloba (Ginkgo biloba Linnaeus. ). Bugno et al. (2005), encontraram em
25,5% das amostras das 96 drogas vegetais analisadas, presença acima dos limites permitidos de
fungos, bolores e leveduras, principalmente fungos do gênero Aspergillus e Penicillium.
A contaminação de produtos de origem vegetal por fungos pode estar relacionada às
condições inadequadas de colheita e pós-colheita, podendo levar a alteração e/ou degradação dos
princípios ativos, ocasionando, assim, perda da segurança e eficácia do produto na utilização. Além
de representar risco pela produção de substâncias tóxicas como micotoxinas, se tornando impróprias
para o consumo, independentemente do nível de contaminação (Santos et al., 2013; Amaral et al.,
2001). Como os fungos podem ser dispersos pelo ar atmosférico, pode ocorrer contaminação das
plantas, antes e após sua colheita, como também durante o processamento. Entre os principais
gêneros detectados no Brasil, se destaca: Cladosporium, Fusarium, Aspergillus, Penicillium e
Rhizopus. A presença destes fungos em fitoterápicos ou plantas medicinais pode ser prejudicial à
saúde humana, uma vez que estes podem causar micotoxicoses, quando introduzidos por via oral,
ou outras doenças, quando inalado (Medeiros et al., 2007).
De modo geral, os fitoterápicos e as plantas medicinais são suscetíveis à contaminação
fúngica durante o processo de plantio e colheita. Além disso, a manipulação e o armazenamento
inadequado desses produtos, que pode ocorrer tanto nas farmácias de manipulação quanto nas
indústrias que produzem os fitoterápicos, gera uma potencial fonte de contaminação (Silva et al.,
2013; Rocha et al., 2004,).
Como qualquer medicamento, as drogas vegetais devem comprovar sua eficácia e segurança
para uso, exigindo que os procedimentos de controle de qualidade sejam estabelecidos e executados
em toda sua cadeia produtiva, desde o seu plantio até a obtenção droga vegetal ou fitoterápico
prontos para dispensação (Souza-Moreira et al., 2010).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 39 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Em relação à qualidade sanitária, várias são as fontes de contaminação dos produtos. Nas
farmácias de manipulação, as formulações são preparadas de forma artesanal, exigindo aquisição de
menor quantidade de matérias-primas. Dessa forma, fornecedores fracionam as matérias-primas,
possibilitando a introdução de contaminantes microbianos (Yamamoto et al., 2004).
Destacam-se, também como fontes de contaminação o ambiente de manipulação,
almoxarifado (estocagem), matéria-prima e principalmente o manipulador, uma vez que este tem
maior contato tanto com a matéria-prima e com o produto final. Por natureza, todos os indivíduos
podem portar micro-organismos patogênicos como S. aureus, E. coli, como microbiota residente ou
transitória em condições normais de saúde (Marques & Moreira, 2009).
Sendo assim, para a pesquisa de patógenos foram realizadas análises presuntivas para
detecção de S. aureus, E. coli, Salmonella sp e P. aeruginosa. A Farmacopeia Brasileira 5° ed.
(2010) determina que o limite máximo de 10²UFC de E. coli em 1 g ou mL de produto, limite
máximo de 104,bactérias Gram negativa bile tolerante em 1 g, ou mL de produto e ausência de
Salmonella em 10 g de produto. Já a WHO (1988) determina ausência de S. aureus, E. coli,
Salmonella sp e P. aeruginosa.
A partir das analises, se observou uma contaminação acima da aceitável para E. coli nas
amostras de cascara sagrada matéria-prima (5 x 10²) e produto final (1,5 X 10³) da farmácia A e
cascara sagrada produto final da farmácia D (2 x 10²). O restante das 13 amostras (81,25%)
apresentaram resultados negativos tanto para E. coli, quanto para o restante dos patógenos.
Bonfilio et al., (2010) analisaram 2347 amostras provenientes de farmácias de manipulação,
entre eles medicamentos em diferentes formas farmacêuticas, bases galênicas e matérias-primas, os
autores relatam que 0,96% das amostras apresentaram inconformidades nas análises
microbiológicas quanto a presença de micro-organismos mesófilo aeróbios e foi detectado a
presença de micro-organismos patogênicos em 0,20% das amostras como Escherichia coli,
Pseudomonas aeruginosa e Salmonella spp, os autores ainda abordam que apenas uma amostra de
produto acabado foi reprovada, sendo está um fitoterápico, inferindo que esta classe de
medicamento é mais suscetível a contaminação.
Verdi et al. (2013) avaliaram a qualidade microbiológica de cápsulas e chás de alcachofra
(Cynara scolymus L.), centella asiática (Hydrocotile asiatica L.), fucus (Fucus vesiculosus L.), e
sene(Cassia acutifolia Delile), através da contagem de micro-organismos viáveis totais e pesquisa
de patógenos. Na contagem de micro-organismos viáveis, os chás analisados foram aprovados, pois
apesar de apresentarem uma carga microbiana elevada, está se encontrava dentro das
especificações, entretanto, 16,66% e 66,66% das cápsulas analisadas foram reprovadas por
apresentaram quantidades superiores de bactérias e fungos, respectivamente. Na pesquisa de
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 40 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
patógenos, 76% das amostras (88% dos chás e 58% das cápsulas) apresentaram um ou mais de um
tipo de micro-organismo sendo que Salmonella sp. estava presente em 33% das amostras.
Medeiros et al. (2007) avaliaram nove amostras de produtos não estéreis quanto aos
aspectos microbiológicos especificados pela Farmacopeia Brasileira. Os autores encontraram que
44,5% das amostras estudadas apresentaram valores significativos para contagem de micro-
organismos viáveis e identificaram presenças de Staphylococcus aureus e Salmonella, nas amostras
estudadas. Também foram verificados fungos, os quais, segundo os autores, poderiam ser dos
seguintes gêneros: Arpergillus, Penicillium, Fusarium, Cladosporium, Microsporum,
Epidermophyton e Phialophora.
Bugno et al. (2005) observaram através das análises de pesquisa de patógenos verificou que
das 96 amostras de drogas vegetais analisadas, 26% destas apresentavam contaminação por E. coli.
Já no estudo de qualidade microbiológica de plantas medicinais realizadas por Zaroni et al. (2004)
demonstraram que 95%das amostras apresentaram contaminação por enterobactérias, sendo que
22% das amostras analisadas foram positivas para a presença de E. coli. Os autores ainda citam que
esta contaminação pode ser devida a aplicação de adubação orgânica ou contato das plantas com
solo ou até mesmo pela contaminação da água utilizada na irrigação.
Paixão et al. (2004), verificaram em seu estudo presença de E. coli em amostras de sene e de
castanha da índia (Aesculus hippocastanum) provenientes de farmácias magistrais. Assim como
Schützet al. (2008), encontraram contaminação por E. coli em duas amostras analisadas, de Ginkgo
biloba. A presença de enterobactérias gram-negativas é considerada uma indicação útil de
contaminação pós sanitização ou pós-processo, evidenciando práticas de higiene e sanitização
aquém dos padrões requeridos. A presença de E. coli indica contaminação fecal e condições de
higiene insatisfatórias.
Como foi verificado nos estudos de Zaroni et al. (2004) e Bugno et al. (2005), a maior
contaminação se encontra nas drogas vegetais em si. Esta ocorre devido a condições de cultivo,
como ambiente, água, solo, adubação, dentre outros, por causa dessa há a necessidade de um
controle na fonte, ou seja, no processo inicial de produção das plantas medicinais que irão ser
utilizados para a produção fitoterápicos.
A partir dos resultados observa-se a correlação entre a carga microbiana mesófila aeróbia e a
contaminação por patógenos. Uma vez que a maior contaminação por micro-organismos
patogênicos ocorreu nas amostras provenientes da farmácia A, que teve o maior índice de
contaminação por micro-organismos heterotróficos (apresentados na Tabela 1 e 2, todos valores
acima de 10³ UFC/g de amostra). Esse fato foi observado nos outros estudos expostos uma vez que
a maioria das análises encontrou níveis de micro-organismos mesófilos aeróbios acima dos limites
permitidos. Também foi detectado a presença de micro-organismos patogênicos (E. coli),
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 41 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
demonstrando que quanto maior a contaminação das matérias-primas e produtos finais por micro-
organismos mesófilos aeróbios, maior a chance de contaminação por micro-organismos
patogênicos.
Já a amostra de cascara sagrada produto final da farmácia D apresentou contaminação por E.
coli 2x10² UFC/g de amostra, mesmo com a contaminação de micro-organismos mesófilos aeróbios
baixa, e por se tratar de produto final. Sugere-se que a contaminação tenha ocorrido no processo de
manipulação do produto, uma vez que esse produto fica em maior contato com o manipulador,
sendo susceptível a contaminação por micro-organismos que o manipulador porte naturalmente.
Um dos fatores de maior importância relatados por Marques & Moreira (2009) referem-se à
necessidade da implantação e execução das Boas Práticas de Manipulação, desde o controle de
ambientes e equipamentos, e principalmente dos funcionários. Assim se orienta às farmácias que
institua programas de treinamento e capacitação sobre as Boas Práticas de manipulação (BPM),
sobre a necessidade de assepsia e higienização pessoal e do ambiente, o que é aplicável a este
estudo, uma vez que o patógeno encontrado é o principal indicador de condições sanitárias
precárias, sendo o principal os coliformes fecais. Medeiros et al. (2007) ainda ressalta sobre a
importância da avaliação de saúde periódica dos manipuladores, uma vez que este quando
acometidos por alguma infecção carregam consequentemente uma carga maior do micro-
organismo, propagando-o via ambiente, matéria-prima, equipamentos e produto final como é o caso
de E. coli, Salmonella, Klebsiella, Serratia, Streptococcus,entre outros.
Para garantir a execução das Boas Práticas de Manipulação em farmácias de manipulação,
deve-se assegurar o controle de qualidade de todo um processo, ou seja, instalações, equipamentos,
recursos humanos, aquisição de matéria-prima, armazenamento, avaliação farmacêutica da
prescrição, manipulação, conservação, transporte e a dispensação das preparações. Assim sendo,
todos os componentes citados acima realizados nas farmácias de manipulação são indispensáveis
para assegurar a qualidade microbiológica, química e físico-química das matérias-primas e produtos
acabados, garantindo eficácia, segurança e credibilidade aos medicamentos fitoterápicos
dispensados à população (Alves et al.,2009).
O uso das plantas medicinais representa uma fonte de acesso em potencial para as camadas
mais carentes da sociedade e também possibilita a descoberta de novas moléculas ou de novos
tratamentos de doenças que apresentem tratamento e/ou prognóstico difíceis.
É recomendada a determinação da maioria dos constituintes químicos de uma planta para
que sejam asseguradas a confiabilidade e reprodutibilidade dos dados clínicos e farmacológicos,
bem como, conhecer quais são os compostos ativos e possíveis efeitos adversos, a fim de promover
a manutenção da qualidade do material (Prado et al., 2009)
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 42 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Para o controle de qualidade desse material vegetal, não só metodologias químicas devem
ser aplicadas, mas também botânicas para identificação da espécie, análise de fraudes e de
contaminações grosseiras além de metodologias de controle de qualidade microbiológico,
analisando a contaminação por micro-organismos saprofíticos ou patogênicos, que podem propiciar
a degradação dos compostos ativos presentes no material vegetal, comprometendo sua eficácia e
segurança, uma vez que esta contaminação podem acometer pacientes imunocomprometidos
provocando infecções oportunistas (Souza-Moreira et al., 2010).
Assim, ressaltamos a importância da execução e difusão de ensaios de controle de qualidade
microbiológico de matéria prima vegetal e do produto acabado, para que haja maior segurança e
confiabilidade destes medicamentos utilizados pela população.
AGRADECIMENTOS
A FAPEMIG, a CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro e ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas da UNIFAL/MG.
REFERENCIAS
Alves AP,Moura A,Neutgem ERV,Silva JM,Cunha NS, Oka SK, Machado SRP. Avaliação das boas
práticas de manipulação nas farmácias com manipulação de Cuiabá e Várzea Grande, Estado de
Mato Grosso. Rev. Bras. Farm.90(1):75-80, 2009.
Amaral FMM,Rosa LMV,Coutinho DF,Gonçalves LH,Ribeiro MN.Qualidade microbiológica das
cascas do caule de Tabebuia avellanedae Lor.Ex Griseb. Comercializadas em São
Luís/Maranhão.Rev. Visão Acad.2(2):65-70, 2001.
Bonfilio R, Santos OMM, Novaes, ZR, Matinatti ANF, Araújo MB. Controle de qualidade físico-
químico e microbiológico em 2347 amostras manipuladas em 2010 e 2011. Rev. Ci. Farm. Básica.
Apl.34(4): 527-535, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa no 4
de 18 de junho de 2014. Determina a publicação do Guia de orientação para registro de
Medicamento Fitoterápico e registro e notificação de Produto Tradicional Fitoterápico. Brasília,
2014.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 67, de 8 de outubro de 2007.
Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso
Humano em farmácias. Diário Oficial da União. Poder Executivo. Brasília-DF, 09 Out 2007.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 87, de 21 de novembro de
2008. Altera o Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação em Farmácias. Diário
Oficial da União. Poder Executivo. Brasília-DF, 24 Nov 2008.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 43 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Brasil. Farmacopéia Brasileira. 5 ed. Brasília: ANVISA, 2010. V. 1, 524 p.
Brasil. Farmacopéia Brasileira. 4 ed.São Paulo: Atheneu, 1998.Parte 1.
Bugno A,Buzzo AA,Nakamura CT, Pereira, TC,Matos D,Pinto TJA. Avaliação da contaminação
microbiana em drogas vegetais. Rev. Bras. Ci.Farm.41(4): 491-497, 2005.
Cragg GM, Newman DJ. Natural products: a continuing source of novel drug leads. Bioch. Biophys.
Acta.1830:3670-3695, 2013.
Lôbo C. Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana): Uma revisão de literatura.Rev. Divulgação
Científica Sena Aires. 2: 171-178, 2012.
Karan TK, Dalposso LM, Casa DM, De Freitas GBL. Carqueja (Braccharis trimeta): Utilização
terapêutica e biossíntese. Rev. Bras. Pl. Med. 15(2): 280-286, 2013.
Marques MF, Moreira ML. Análises microbiológicas de protetor solar manipulado nas farmácias
magistrais do Município de Ipatinga-MG. Rev. Bras. Farm.90(2): 137-143, 2009.
Medeiros ACD, Porto KL, Paiva AVR, Procópio JVV. Análise de contaminantes microbiológicos
em produtos comercializados em farmácia de manipulação.Rev. Bio. Farm.01(01): 1-12, 2007.
Paixão FG, Oliveira DP, Silva PB, Nascimento GGF. Controle microbiológico de produtos
fitoterápicos.Higiene Alimentar.18:55-57, 2004.
Pelczar MJJ, Chan ECS, Krieg NR.Microbiologia Conceitos e Aplicações.2. ed. (Grupo São Paulo:
Makron Books. 1997. V. 1, 556p.
Pinto TJA, Kaneko TM, Ohara MT. Controle biológico de qualidade de produtos farmacêuticos,
Correlatos e Cosméticos. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2003. 326p.
Prado G, Andrade MC, Oliveira MS, Leal AS, Oliveira BR, Batista LR. Efeito da irradiação na
microbiota fúngica de plantas medicinais. Ci. Agrotec. 33(5):1372-1378, 2009.
Rocha LO, Soares MM, Corrêa CL. Análise da contaminação fúngica em amostras de Cassia
acutifolia Delile (sene) e Peumus boldus (Molina) Lyons (boldo-do-Chile) comercializadas na
cidade de Campinas, Brasil.Rev. Bras. Ci. Farm. 40(4):5221-527, 2004.
Santana PC. Qualidade microbiológica de drogas vegetais utilizadas em farmácias de manipulação
de Curitiba – PR.2005. Paraná. 59p. Monografia (Especialização em Microbiologia Aplicada),
Universidade Federal do Paraná. Paraná.
Santos RL, Nobre MSC, Guimarães GP, Dantas TB, Vieira KVM, Felismino DC, Dantas IC.
Contaminação fúngica de plantas medicinais utilizadas em chás. Rev. Ci. Farm. Básiac. Apl. 34(2):
289-293, 2013.
Silva RV, Bezerra GA, Nascimento IO, Souza TP, Catunda PHA, Araúro KSS. Qualidade
fitossanitária das cascas de Aroeira (Myrocroduon urundeuva Allemão) e Catuaba (Erythroxylum
vacciniifolium Mart.) comercializadas em feiras municipais de Imperatriz, Ma. Rev. Agrossistemas.
5(2): 34-39, 2013.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 44 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016
Souza-Moreira TM, Salgado HRN, Pietro, RCLR. O Brasil no contexto de controle de qualidade de
plantas medicinais. Rev. Bras. Farmcog. 20(3): 435-440, 2010.
Souza MB. O uso medicinal e místico de plantas por moradores do bairro Morretes, município de
Nova Santa Rita, Rio Grande do Sul. Trabalho de conclusão de curso de Ciências Biológicas do
Centro Universitátio La Salle UNILASALLE. Rio Grande do Sul. 2007.
Souza-Moreira TM, Salgado HRN, Pietro CLR, O Brasil no contexto de controle de qualidade de
plantas medicinais. Rev.Bras. Farmacog. 20(3): 435-440, 2010.
Schenkel EP. Cuidados com os medicamentos.2. ed. Rio Grande do Sul: Editora da UFRGS, 2004.
163p.
Schütz MV, Velazquez CC, Abegg MA.Avaliação da qualidade microbiológica das drogas vegetais
mais comercializadas em farmácias de manipulação de Toledo – PR. Arq. Ci. Saúde Unipar.
12(3):181-186, 2008.
Tomazzoni MI, Negrelle RRB, Centa ML. Fitoterapia popular: A busca instrumental enquanto
prática terapêutica. Texto Contexto Enferm. 15(1): 115-21, 2006.
Verdi S, Younes S, Berton CD. Avaliação da qualidade microbiológica de chás de plantas utilizadas
na assistência ao tratamento da obesidade. Rev. Bras. Pl. Med. 15(4):494-502, 2013.
World Health Organization (WHO). Quality control methods for medicinal plant
materials.Genebra: WHO, 1998.
Yamamoto CH, Pinto TJA, Meuer VM, Carvalho AM, Resende P.Controle de qualidade
microbiológico de produtos farmacêuticos, cosméticos e fitoterápicos produzidos na Zona da Mata,
MG. Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2, Belo Horizonte, Brasil, 2004.
Zaroni M, Pontarolo R, Abrahão WSM, Fávero MLD, Corrêa JC, Stremel DP. Qualidade
microbiológica das plantas medicinais produzidas no estado do Paraná.Rev.Bras. Farmacog.14(1):
29-39, 2004.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
Atividades centrais das riparinas para tratamento de transtornos mentais:
revisão de literatura.
Éverton José Ferreira de Araújo1,2,3,4*; Layana Karine Farias Lima2,3; Luis Mário Rezende Júnior2,3,
Marcelo Pereira da Silva Júnior3; Rivelilson Mendes de Freitas1,2,3 &
Francisco das Chagas Alves Lima1,4.
1Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO), Centro de Ciências da
Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64049-550. 2Laboratório de Pesquisa em Neuroquímica Experimental (LAPNEX), Núcleo de Tecnologia Farmacêutica, Centro de
Ciências da Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP
64049-550. 3Curso de Farmácia, Centro de Ciências da Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí,
Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64049-550. 4Laboratório de Química Quântica Computacional e Planejamento de Fármaco (LQQC&PF), Centro de Ciências da
Natureza, Departamento de Química, Universidade Estadual do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64002-150.
*Autor correspondente: Prof. MSc. Éverton José Ferreira de Araújo, Curso de Farmácia, Centro de Ciências da Saúde,
Universidade Federal do Piauí. Avenida Universitária, bairro Ininga, CEP 64.049-550, Teresina, Piauí. Telefone: 3215-
5953. Email: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 46 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
RESUMO
O estilo de vida contemporâneo favorece o aumento do número de casos de distúrbios mentais e por
isso vários estudos buscam investigar a capacidade de novas substâncias ativas combaterem
problemas relacionados ao sistema nervoso central. Assim, foi realizada uma revisão de literatura
sobre os efeitos ansiolíticos, antidepressivos e antiepilépticos de alcamidas conhecidas como
riparinas, naturais ou sintéticas. Buscou-se artigos científicos publicados nas bases científicas Web
of Science, ScienceDirect, PubMed, Scielo e SCOPUS utilizando o descritor "riparina" associado
aos descritores "cérebro", "ansiedade", "ansiolítico", "depressão", "antidepressivo", "epilepsia" e
"antiepiléptico", nos idiomas português e inglês, verificando-se a ocorrência no título, resumo ou
palavras-chave de artigos científicos completos publicados nos últimos 10 anos. Foram analisados 8
artigos e constatada a presença de efeitos ansiolíticos e antidepressivos associados às riparinas I, II e
III. Houve apenas um artigo publicado com riparina sintética com destaque para sua ação
neuroprotetora antioxidante. Nenhum artigo foi divulgado por periódicos brasileiros ou em língua
portuguesa. Há, portanto, a necessidade de novas pesquisas quanto aos efeitos antiepilépticos, de
toxicidade pré-clínica, análises de relação estrutura-atividade e de delineamento farmacêutico com
as riparinas, a fim de, subsidiar futuros ensaios clínicos e o desenvolvimento de novos
medicamentos para o tratamento de transtornos mentais.
Palavras-chave: Aniba, Ansiedade, Depressão.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 47 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
ABSTRACT
The contemporary lifestyle favors the increase in the number of cases of mental disturbances. Based
on this, numerous studies have sought for new active substances with the ability to combat
problems related to the central nervous system. Thus, a literature review was performed on the
anxiolytic, antidepressant and antiepileptic effects of alkamides known as riparinas, natural or
synthetic. It was searched scientific articles in the follow data bases: Web of Science, Science
Direct, PubMed, Scielo and SCOPUS by using the descriptor "riparina" associated with the
descriptors "brain", "anxiety", "anxiolytic", "depression", "antidepressant", "epilepsy" and "anti-
epileptic". It was checked the title, abstract or keywords of complete and published articles in
Portuguese or English of the last 10 years. From 8 articles analyzed, it was verified the presence of
anxiolytic and antidepressant effects associated to riparinas I, II and III. There was just one article
with synthetic riparina in which the antioxidant neuroprotective action was highlighted. No article
was published by Brazilian journals or in Portuguese. This way, there is a need for further research
on the antiepileptic effects, preclinical toxicity, analysis of structure-activity relationship, and
pharmaceutical delineation of the riparinas in order to support future clinical trials and development
of new drugs for the treatment of mental disorders.
Keywords: Aniba, Anxiety, Depression.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 48 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
INTRODUÇÃO
Os transtornos mentais e comportamentais isolados ou associados, sobretudo, esquizofrenia,
ansiedade e depressão tem prevalência na população mundial de aproximadamente 10%, superando
doenças infecciosas e cardiovasculares como causa de incapacidade (Pereira et al., 2012). No
Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 3% da população geral sofre de algum transtorno
mental severo, persistente e de tratamento contínuo e outros 9% de tratamento esporádico, dados
que possivelmente se encontram subestimados pois, muitas pessoas não buscam atendimento
psiquiátrico por desconhecer a doença, por medo ou por preconceito com o seu diagnóstico (Brasil,
2004).
O atual estilo de vida contemporâneo favorece o aumento do número de casos de distúrbios
comportamentais, na maioria das vezes, relacionados a problemas de ordem familiar e afetiva ou
atrelado a rotinas laborais estressantes, à baixa renda ou à condição social, além de fatores
ambientais, genéticos e fisiopatológicos inerentes à problemática das doenças da mente que são
bastante complexos. A presença de elementos multifatoriais no desenvolvimento das doenças é um
aspecto que dificulta o estabelecimento de tratamentos bem-sucedidos (Coelho et al., 2009;
Polanczyk, 2009).
De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID 10), os transtornos mentais podem ser definidos como doenças com
manifestação associada a algum comprometimento funcional resultante de disfunção biológica,
social, psicológica, genética, física ou química que provocam alterações no modo de agir, pensar e
no humor do indivíduo associado a prejuízo no seu desempenho geral. Os tratamentos objetivam
retardar o progresso da enfermidade, propriamente dita, com redução da sua frequência, duração e
gravidade, bem como, restabelecer as funções cognitivas do paciente com aumento da sua
autonomia, qualidade de vida e promoção da sua reintegração social (Santos & Siqueira, 2010;
Bandeira et al., 2009; Hirdes & Kantorski, 2004). A base da maioria dos tratamentos
farmacológicos para transtornos mentais se fundamenta na modificação da ação de
neurotransmissores ou receptores centrais específicos, bloqueando ou estimulando efeitos
excitatórios ou inibitórios em função da patologia envolvida (Brunton et al., 2006).
Há registros na literatura de que substâncias ativas isoladas de plantas, seus constituintes e
derivados sintéticos podem modificar o comportamento de animais com a indução ou o combate a
casos de ansiedade, depressão ou crises epilépticas. O potencial farmacológico dessas substâncias
pode ser avaliado em modelos animais e neuroquímicos, propiciando o surgimento de novas opções
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 49 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
terapêuticas na área da farmacologia do sistema nervoso central (SNC). O uso popular de
preparações e de produtos farmacêuticos derivados de plantas medicinais no tratamento de quadros
neurológicos é impulsionado pelo fato dessas substâncias possuírem origem natural e estarem
associadas a uma baixa toxicidade (Araújo et al., 2014; Sousa et al., 2008; Zhang, 2004).
Dentro desse contexto, as riparinas naturais, éteres metílicos de N-benzoiltiramina (riparina
I); N-(-2-hidroxibenzoil) tiramina (riparina II) e N-(2,6-dihidroxibenzoil) tiramina (riparina III), são
substâncias ativas isoladas do fruto verde da planta medicinal Aniba riparia (Nees) Mez, espécie
pertencente à família Lauraceae popularmente conhecida como “louro”. Existem relatos na
literatura que atribuem atividade farmacológica à planta e às riparinas como, por exemplo, seus
efeitos antimicrobianos frente a cepas de Staphylococcus aureus e Escherichia coli multirresistentes
(Catão et al., 2005), atividade antinociceptiva (Araujo et al., 2009) e anti-inflamatória em roedores
(Carvalho et al., 2013).
Diante do exposto, o presente estudo objetiva realizar uma revisão de literatura sobre a
atividade farmacológica das riparinas sobre o SNC, a fim de, verificar a produção científica, buscar
evidências e nortear pesquisas futuras relacionadas ao tratamento da ansiedade, depressão ou
epilepsia com preparações à base de riparinas extraídas da Aniba riparia ou de origem sintética.
METODOLOGIA
A presente revisão de literatura foi realizada em 27 de julho de 2015 e partiu da seguinte
questão norteadora para o estabelecimento dos critérios de pesquisa: Há evidências científicas que
encorajam novas pesquisas com as riparinas visando a obtenção de opções terapêuticas inovadoras
para transtornos mentais? Baseado neste questionamento foi realizada a busca de artigos científicos
publicados nas bases Web of Science, ScienceDirect, PubMed, Scielo e SCOPUS utilizando os
descritores "riparina", "cérebro", "ansiedade", "ansiolítico", "depressão", "antidepressivo",
"epilepsia", “antiepiléptico", “riparin”, “brain”, “anxiety”, “anxiolytic”, “depression”,
“antidepressant”, “epilepsy” e “antiepileptic”, visto que, ansiedade, depressão e epilepsia são as
condições patológicas relacionadas ao SNC mais prevalentes no mundo. O uso desses descritores
permitirá ampliar o número de artigos pesquisados, pois, tratam-se de termos gerais que não
restringem a pesquisa de condições patológicas específicas dentro de cada tipo de distúrbio. A
realização da pesquisa ocorreu por meio da associação do descritor "riparina" com todos os demais
descritores, individualmente, verificando-se a ocorrência no título, resumo ou palavras-chave de
artigos publicados nos idiomas português ou inglês. Foram incluídos para análise somente artigos
científicos com resumos e textos completos, publicados nos últimos 10 anos, realizadas em modelos
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 50 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
NH
OR1
R4
R5
R2
R3
R7
R6
animais ou envolvendo seres humanos com abordagem voltada para a atividade ansiolítica,
antidepressiva ou antiepiléptica das riparinas. Foram excluídos outros tipos de produções
acadêmicas, como por exemplo, teses, dissertações e resumos, além de trabalhos que não tinham
relação direta com a pesquisa. Empregou-se o operador booleano “AND” para compor a estratégia
de busca e localizar estudos sobre cada par de descritores envolvidos. Os artigos selecionados foram
analisados quanto à presença de evidência científica que relacione a ação farmacológica das
riparinas, naturais ou sintéticas, para o tratamento de algum dos distúrbios pesquisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A A. riparia consiste em uma espécie vegetal de ocorrência variada, estendendo-se desde a
Amazônia brasileira, Guianas e Venezuela ao leste e sul do Brasil (Santos et al., 2011; Marques,
2001). Trata-se de uma planta medicinal citada em diferentes pesquisas científicas na última década
com atividades farmacológicas comprovadas em diversos modelos experimentais (Silva et al.,
2015; Marques et al., 2005). Os derivados extraídos do "louro", denominados de riparinas, são
citados como constituintes fitoquímicos responsáveis pelos efeitos farmacológicos atribuídos à A.
riparia. Desta forma, há uma concentração das pesquisas em torno destas moléculas com
prevalência de estudos envolvendo as naturais (riparinas I, II e III) extraídas da planta (Barbosa-
Filho et al., 1990; Barbosa-Filho et al., 1987). Entretanto, derivados sintéticos que conservam o
núcleo fundamental das riparinas foram obtidos em pesquisas envolvendo rotas de síntese (Figura
1). Estes análogos estruturais receberam as denominações de riparinas A, B, C, D e E (Gutierrez,
2006) e riparina IV (Dias, 2012) e assim como as riparinas naturais passaram a ser testadas em
estudos científicos (Silva et al., 2015).
Figura 1. Fórmula estrutural das riparinas naturais e sintéticas.
Riparina I: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = H; R7 = OCH3
Riparina II: R1 = OH; R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = H; R7 = OCH3
Riparina III: R1 = R5 = OH; R2 = R3 = R4 = R6 = H; R7 = OCH3
Riparina IV: R2 = R3 = R4 = R7 = OCH3; R1 = R6 = H
Riparina A: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = R7 = H
Riparina B: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = H; R6 = R7 = OCH3
Riparina C: R1 = R2 = R3 = R4 = R6 = R7 = H; R5 = OH
Riparina D: R1 = R2 = R3 = R4 = H; R5 = OH; R6 = R7 = OCH3
Riparina E: R1 = R5 = OH; R2 = R3 = R4 = R6 = R7 = H
Fonte: Autoria própria, 2015.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 51 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
Pautado nos critérios de busca estabelecidos na metodologia da pesquisa, foi possível
perceber um número significativo de publicações envolvendo as riparinas com um total de 25
artigos encontrados na base Web of Science, 8 no ScienceDirect, 19 no PubMed, nenhum artigo no
Scielo e 20 no SCOPUS. Isso pode ser ilustrado se forem observados os resultados obtidos a partir
do levantamento realizado apenas com o descritor "riparina" (Tabela 1). No que diz respeito às
atividades relacionadas ao SNC pesquisadas há uma concentração de estudos envolvendo os efeitos
ansiolíticos e antidepressivos das riparinas e uma ausência de pesquisas quanto aos possíveis efeitos
antiepilépticos dessas moléculas.
Tabela 1. Número de artigos científicos publicados em bases científicas nos últimos 10 anos por
palavras-chave pesquisadas.
Palavras-chave
Bases de dados científicos
Web of
Science ScienceDirect PubMed Scielo SCOPUS
Riparina 25 8 19 - 20
Riparina + Cérebro 1 1 3 - 2
Riparina + Ansiedade 7 - 1 - 4
Riparina + Ansiolítico 7 1 5 - 6
Riparina + Depressão 2 - 2 - 3
Riparina + Antidepressivo 4 - 5 - 4
Riparina + Epilepsia - - - - -
Riparina + Antiepiléptico - - - - -
Fonte: Autoria própria, 2015.
Entretanto, cabe ressaltar que apesar da A. riparia ser uma planta medicinal utilizada em
estudos realizados por pesquisadores brasileiros nenhuma publicação foi encontrada no idioma
português ou divulgada por periódicos brasileiros. Foram selecionados 8 artigos para a análise e
constatado que as publicações se repetiam nas diferentes bases utilizadas. As pesquisas se
relacionavam com a presença de efeitos ansiolíticos e antidepressivos associados às riparinas
naturais I, II e III, havendo apenas um estudo realizado com uma das riparinas sintéticas (riparina
A) quanto a seus efeitos centrais (Tabela 2).
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 52 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
Tabela 2. Artigos científicos publicados nas bases pesquisadas e selecionados de acordo com os
critérios da pesquisa.
Autor/Ano Título Periódico
Sousa et al.,
2005
Antianxiety effects of riparin I from Aniba
Riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.
Phytotherapy Research
Melo et al., 2006
Anxiolytic-like effects of (O-methyl)-N-2,6-
dihydroxybenzoyl-tyramine (riparin III) from
Anibariparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.
Biological and
Pharmaceutical Bulletin
Sousa et al.,
2007
Evaluation of effects of N-(2-hydroxybenzoyl)
tyramine (riparin II) from Anibariparia(Nees)
Mez (Lauraceae) in anxiety models in mice.
Biological and
Pharmaceutical Bulletin
Melo et al., 2013
Evidence for the involvement of the
serotonergic, noradrenergic, and dopaminergic
systems in theantidepressant-like action of
riparin III obtained from Anibariparia (Nees)
Mez (Lauraceae) in mice.
Fundamental & Clinical
Pharmacology
Teixeira et al.,
2013
Antidepressant-like effect of riparin II from
Anibariparia in mice: evidence for the
involvement of the monoaminergic system.
Fundamental & Clinical
Pharmacology
Sousa et al.,
2014
Involvement of monoaminergic system in the
antidepressant-like effect of riparin I from
Anibariparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.
Fundamental & Clinical
Pharmacology
Nunes et al.,
2015
Behavioral tests and oxidative stress evaluation
in mitochondria isolated from the brain and
liver of mice treated with riparin A.
Life Sciences
Vasconcelos et
al., 2015
Subchronic administration of riparin III
induces antidepressive-like effects and
increases BDNF levels in the mouse
hippocampus.
Fundamental & Clinical
Pharmacology
Fonte: Autoria própria
Sousa e colaboradores (2005) utilizaram os modelos comportamentais clássicos do labirinto
em cruz elevado - LCE (Elevated plus maze test), do campo aberto - CA (Open fiel test), da barra
giratória - BG (Rota rod test) e da placa perfurada - PP (Hole board test) para avaliar os efeitos
ansiolíticos da riparina I em camundongos Swiss nas doses de 25 mg/kg e 50 mg/kg utilizando as
vias oral (v.o.) e intraperitoneal (i.p). A substância em ambas as doses e vias de administração
testadas promoveu aumento no número de entradas e do tempo de permanência nos braços abertos
do LCE de maneira similar aos resultados obtidos com o diazepam (1 mg/kg i.p.). No teste do CA,
assim como na BG, a riparina I não provocou alterações na atividade locomotora espontânea e no
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 53 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
tônus muscular dos animais em nenhuma das condições testadas. No teste da PP, o aumento no
número de head dips só não ocorreu na dose de 25 mg/kg i.p., equiparando-se ao ansiolítico de
referência nas demais condições testadas, o que sugere que a riparina I possui efeitos ansiolíticos
sem alterar a performance psicomotora dos animais.
Posteriormente, em nova pesquisa com a riparina I, Sousa et al., (2014) buscaram investigar
os efeitos antidepressivos da molécula em camundongos por meio dos testes da suspensão pela
cauda - TSC (Tail suspension test) e do nado forçado - NF (Forced swimming test) nas mesmas
doses e vias de administração utilizadas no estudo de atividade ansiolítica citado anteriormente.
Mais uma vez foi demonstrado que a riparina I possui atividade central ao reduzir, em
relação ao grupo controle negativo tratado com o veículo Tween 80 a 3%, o tempo de imobilidade
dos animais nos dois testes realizados sugerindo a presença de efeito antidepressivo, porém inferior
àquele obtido com imipramina 10 mg/kg no TSC e 30 mg/kg no NF administrada pela mesma vias
da riparina I. Nesta mesma pesquisa, utilizando a dose que apresentou melhores resultados nos
testes comportamentais (50 mg/kg, v.o.) os pesquisadores realizaram antes da administração da
riparina I pré-tratamentos com antagonistas seletivos de receptores dopaminérgicos, adrenérgicos e
serotoninérgicos visando discutir a farmacodinâmica da molécula. Tendo em vista que as drogas
(R)-(+)-7-cloro-8-hidroxi-3-metil-1-fenil-2,3,4,5-tetrahidro-1H-3-benzazepinahidrocloreto
(SCH23390, 15 μg/kg, i.p.), sulpirida (50 mg/kg, i.p.), prazosina (1 mg/kg, i.p), ioimbina (1 mg/kg,
i.p.) e ritanserina (4 mg/kg, i.p.) reverteram os efeitos antidepressivos da riparina I, o estudo indicou
a existência de interação da riparina I com os receptores dopaminérgicos D1, D2, adrenérgicos α1, α2
e serotoninérgico 5-HT2A/2C, respectivamente, como seu provável mecanismo de ação.
Utilizando desenho experimental de acordo com o descrito anteriormente no estudo da
atividade ansiolítica da riparina I, Sousa et al., (2007) investigaram os efeitos ansiolíticos,
miorrelaxantes e comportamentais da riparina II, através dos testes do LCE, CA, BG e PP mediante
a administração da substância em camundongos nas doses de 25mg/kg, 50 mg/kg e 75 mg/kg, i.p. e
v.o. em todos os testes, exceto no teste da placa perfurada em que a maior dose foi suprimida. Os
resultados do LCE demonstraram atividade ansiolítica para a riparina II nas doses de 75 mg/kg, v.o.
e de 25 mg/kg, i.p. De forma semelhante à riparina I, a administração da riparina II não alterou a
atividade locomotora e nem promoveu efeitos sedativos nos testes do campo aberto e da barra
giratória. Já o ensaio da placa perfurada indicou efeitos ansiolíticos em ambas as doses e vias
utilizadas.
Outra atividade central atribuída à riparina II consiste nos seus efeitos antidepressivos.
Teixeira e colaboradores (2013) publicaram estudo com a riparina II empregando metodologia que
posteriormente seria reproduzida no trabalho divulgado por Sousa et al., (2014) com a riparina I,
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 54 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
conforme descrito. Assim, além de apresentar os efeitos antidepressivos da riparina II no TSC e NF
em camundongos os pesquisadores buscaram, em condições análogas, evidenciar a participação do
sistema monoaminérgico no mecanismo de ação da molécula. O tratamento agudo com riparina II
nas doses de 25 e 50 mg/kg, i.p e v.o. reduziu o tempo de imobilidade dos animais nos dois modelos
de depressão quando comparado ao controle negativo (Tween 80 3%) com efeito próximo ao obtido
com a bupropiona 30 mg/kg, i.p e v.o. Após pré-tratamento com antagonistas seletivos centrais e
com o inibidor da síntese de serotonina, p-clorofenilalanina metil éster (PCPA, 100 mg/kg, i.p.), os
efeitos antidepressivos da riparina II foram revertidos pelo SCH 23390 (15 μg/kg, i.p.), sulpirida
(50 mg/kg, i.p), prazosina (1 mg/kg, i.p), 1-(2-metoxifenil)-4-[2-ftalimido)butil]piperazina (NAN-
190, 0,5 mg/kg, i.p.) indicando envolvimentos dos receptores D1, D2, α1 e 5HT1A no mecanismo de
ação antidepressivo da riparina II.
Em concordância com as riparinas I e II, a riparina III foi alvo de estudos de ansiedade e
depressão, sendo a mais explorada no intervalo de 10 anos com 3 artigos publicados. Melo e
colaboradores (2006) administraram a riparina III nas doses 25 e 50 mg/kg, v.o. em camundongos
obtendo efeitos ansiolíticos ao constatarem o aumento do número de entradas nos braços abertos do
LCE na maior dose, equivalente ao observado com o diazepam (1 mg/kg, i.p.), assim como o
aumento no número de head dips no teste da PP em ambas as doses, sem alterações motoras
detectáveis nos testes no CA e da BG. Estes resultados são similares aos encontrados com as
riparinas I e II. Pode-se associar essa semelhança de efeitos ao fato das três riparinas
compartilharem o mesmo núcleo fundamental que, por sua vez, pode estar envolvido na relação
estrutura-atividade das moléculas.
Quanto aos efeitos antidepressivos, Melo et al., (2013) seguiram o mesmo modelo
experimental de Teixeira et al., (2013) e Sousa et al., (2014) com a inclusão dos protocolos
experimentais do tempo de sono induzido pelo barbitúrico pentobarbital sódico 40 mg/kg, i.p.
(Barbiturate-induced sleeping time) e de hipotermia induzida pela apomorfina 16 mg/kg, i.p.
(Apomorphine-induced hypothermia). Por conseguinte, conforme as demais riparinas já citadas, a
administração aguda da riparina III diminuiu o tempo de imobilidade dos animais nos testes da
suspensão pela cauda e do nado forçado nas doses de 25 e 50 mg/kg, v.o.
Foi demonstrado ainda que a riparina III reduziu o tempo de latência e aumentou o tempo de
sono induzido por barbitúrico, sobretudo na dose de 50 mg/kg, implicando em uma potencialização
dos efeitos sedativos do pentobarbital sódico. Além disso, a riparina em questão não foi capaz de
antagonizar a hipotermina apomorfina-induzida. Este é um resultado preditivo do mecanismo de
ação da molécula, pois, a reversão da hipotermia induzida por baixas doses é antagonizada por
neurolépticos com a ação sobre receptores D2 enquanto aquela induzida por altas doses é
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 55 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
antagonizada por antidepressivos tricíclicos sem relação, portanto, com o sistema dopaminérgico.
Por fim, os pesquisadores constataram que os efeitos antidepressivos da riparina III dependem da
interação com os sistemas dopaminérgico (receptores D2), adrenérgico (receptores α1) e
serotoninérgico, pois, seus efeitos antidepressivos foram revertidos pelos antagonistas sulpirida (50
mg/kg i.p.) e prazosina (1 mg/kg i.p.), bem como pelo fármaco PCPA (100 mg/kg i.p.) (Melo et al.,
2013).
Pesquisa mais recente empregando o modelo de depressão crônica induzida por
corticosterona (20 mg/kg via subcutânea) e a verificação dos níveis de fator neurotrófico derivado
do cérebro (BDNF) em roedores buscou, de forma complementar ao descrito por Melo et al (2013),
estudar os efeitos antidepressivos da riparina III, como perspectiva da substância ser utilizada no
tratamento da depressão associada à ansiedade, da depressão refratária ou da depressão psicótica.
Foi verificado que a riparina III na dose de 50 mg/kg v. o. é capaz de reverter os efeitos depressivos
decorrentes da administração de corticoide por um período de 21 dias. O tratamento prolongado
com o corticoide também reduziu os níveis de BDNF, proteína responsável pela plasticidade
neuronal, no hipocampo dos camundongos (Vasconcelos et al., 2015).
Novos candidatos a fármacos antidepressivos, segundo a Teoria Neurotrófica da Depressão
devem promover uma redução do dano oxidativo neuronal e elevar os níveis do BDNF, pois
considera que a gênese da depressão não está associada apenas aos níveis de monoaminas, como
postulado pela Teoria Monoaminérgica. Nesse aspecto a pesquisa de Vasconcelos e colaboradores
(2015) inovou em relação àquelas anteriormente realizadas quanto aos efeitos antidepressivos das
riparinas, indicando que a riparina III restabelece os níveis do fator neurotrófico e melhora a
interação social dos animais tratados, com resultados semelhantes aos obtidos com a fluvoxamina
(50 mg/kg, v. o.).
Fica evidente que as riparinas I, II e III possuem dados consistentes na literatura científica
para a realização de ensaios clínicos mais avançados visando o delineamento farmacêutico de novos
medicamentos para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. Entretanto, deve-se
considerar que, a ausência de estudos de toxicidade pré-clínica pode representar um entrave, assim
como, indicar uma área para estudos promissores com a A. riparia e as riparinas para subsidiar a
realização de pesquisas clínicas. Outro aspecto relevante das pesquisas já realizadas consiste na
busca do mecanismo de ação das riparinas. Estes resultados abrem a margem para a realização de
ensaios de química computacional para aclarar a relação estrutura-atividade dessas moléculas e a
interação fármaco-receptor mediante cálculos de docagem molecular (Ferreira et al., 2009; Lima,
2007).
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 56 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
As pesquisas com novos fármacos para transtornos mentais também são motivadas pela
ocorrência de várias reações adversas associadas à terapêutica. Os benzodiazepínicos, por exemplo,
embora possuam vasta aplicação clínica para tratamento da ansiedade, destacam-se pela
possibilidade de promoverem tolerância psicológica e fisiológica, sedação e sonolência diurna,
efeitos amnésicos, comprometimento motor e ansiedade de rebote em casos de suspensão abrupta
do tratamento instituído. Um agente ansiolítico ideal visa reduzir a ansiedade com pouco ou
nenhum efeito sobre as funções motoras conforme descrito em todos os estudos realizados com as
riparinas (Rabbani et al., 2008; Katzung, 2005). Além disso, a demanda crescente por substâncias
ativas inovadoras e a proposta da utilização sustentável da biodiversidade brasileira corrobora a
importância das vias de síntese, obtenção e caracterização de novos fármacos (Lima, 2007;
Barberato-Filho, 2006; Brasil, 2006).
Nesse contexto, a pesquisa de Nunes e colaboradores (2015) deve ser ressaltada, pois, é a
única publicada com um derivado sintético das riparinas. O estudo destacou que a riparina A
promove proteção contra danos oxidativos sem modificar coordenação motora ou causar sedação
em camundongos. Foi realizada a administração da riparina A nas doses de 5, 10 e 20 mg/kg, v.o.
seguido da realização dos testes comportamentais do CA e da BG. Posteriormente foi realizado o
isolamento de mitocôndrias cerebrais e hepáticas dos roedores, a fim de, verificar os efeitos do
tratamento agudo com riparina A sobre os níveis de peroxidação lipídica (TBARS - Thiobarbituric
acid reactive substances), íon nitrito (NO2-), glutationa reduzida (GSH) e sobre a atividade das
enzimas antioxidantes catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD).
A riparina A reduziu os níveis de TBARS, NO2- e GSH nas mitocôndrias cerebrais e
hepáticas em todas as doses testadas, equiparando-se ao antioxidante de referência (ácido ascórbico
250 mg/kg) nos efeitos observados nas mitocôndrias hepáticas quanto à proteção contra
peroxidação lipídica e nitrito. Quanto à atividade enzimática o resultado mais significativo
apresentado pelos pesquisadores foi o fato da riparina A na dose 5 mg/kg modular positivamente a
atividade da CAT e da SOD apenas em mitocôndrias cerebrais. Tendo em vista os efeitos
antioxidantes os autores afirmam que a substância tem a capacidade de superar a barreira
hematoencefálica. Entretanto, como os resultados obtidos nos testes comportamentais diferem dos
efeitos relatados com o diazepam (1 mg/kg, i.p.), acredita-se que a riparina A não tem ação sobre o
sistema gabaérgico apesar dos pesquisadores não terem realizado a administração de nenhum
antagonista gabaérgico seletivo (Nunes et al., 2015).
Esses resultados indicam que a riparina A semelhante às riparinas I, II e III não modifica
parâmetros locomotores e nem possui efeitos sedativos. Porém assinalam a necessidade de
pesquisas complementares quanto aos efeitos ansiolíticos, antidepressivos e antiepilépticos dessa
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 57 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
substância e demais riparinas sintéticas, principalmente por já existirem estudos que conferem
atividades centrais às riparinas naturais. Além disso, os resultados apontam para a necessidade da
realização de novas pesquisas quanto aos efeitos antiepilépticos das riparinas naturais, posto que, já
existem evidências científicas em ensaios pré-clínicos dos efeitos ansiolíticos e antidepressivos das
riparinas I, II e III.
CONCLUSÃO
Foi notado que vários estudos validam a existência de ação central das riparinas I, II, III e A
em modelos animais. Contudo, os trabalhos publicados na última década foram realizados em sua
maioria com as riparinas naturais (I, II e III), havendo um rol de importantes substâncias que ainda
precisam ser exploradas já que inexistem estudos com as riparinas IV, B, C, D e E. Foi observado
que as riparinas citadas nas publicações científicas têm uma característica em comum que consiste
na sua incapacidade de promover efeitos sedativos ou comprometimento locomotor, característica
importante para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da ansiedade, por exemplo. Esta
propriedade pode encontrar relação direta com o fato das riparinas possuírem similaridade estrutural
quanto ao núcleo fundamental das moléculas e ressalta a necessidade de novas pesquisas quanto aos
grupos farmacofóricos destas substâncias. É notório, também, que futuras pesquisas devem ser
encorajadas quanto aos efeitos centrais das riparinas, principalmente das sintéticas, dado a
existência de informações quanto às atividades ansiolíticas e antidepressivas das moléculas
extraídas da A. riparia. Do mesmo modo, há a necessidade de novas pesquisas quanto à presença de
atividade antiepiléptica, estudos de delineamento farmacêutico e toxicidade pré-clínica. Por fim, o
surgimento de novas pesquisas pode subsidiar o uso das riparinas em ensaios clínicos e no
desenvolvimento futuro de medicamentos para o tratamento dos transtornos mentais.
AGRADECIMENTOS
Os autores do presente manuscrito agradecem ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e à Universidade Federal do Piauí pelo apoio quanto a disponibilidade dos
artigos científicos analisados.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 58 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
REFERÊNCIAS
Araújo FLO, Melo CTV, Rocha NFM, Moura BA, Leite CP, Amaral JF, Barbosa-Filho JM,
Gutierrez SJC, Vasconcelos SMM, Viana GSB, Sousa FCF. Antinociceptive effects of (O-methyl)-
N-benzoyl tyramine (riparin I) from Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice. Naunyn-
Schmied Arch Pharmacol.380: 337-344, 2009.
Araújo ÉJF, Araújo DYML, Freitas RMF, Ferreira PMP. Aspectos toxicológicos da planta
medicinalCasearia sylvestris Swartz: revisão de literatura. Rev Ciênc Farm Básica Apl.35(3): 355-
361, 2014.
Bandeira M, Calzavara MGP, Costa CS, Cesari L. Avaliação de serviços de saúde mental:
Adaptação transcultural de uma medida da percepção dos usuários sobre os resultados do
tratamento.J Bras Psiquiatr. 58(2):107-114, 2009.
Barberato Filho S. Pesquisa e desenvolvimento de fármacos no Brasil: estratégias de fomento.2006,
São Paulo. 192 p. São Paulo. Tese (Doutorado em Ciências Farmacêuticas) Faculdade de Ciências
Farmacêuticas/ Universidade de São Paulo. São Paulo.
Barbosa-Filho JM, Yoshida M, Gottlieb OR, Barbosa RCSBC,GiesbrechtAM, Young MCM.
Benzoyl esters and amides, styrylpyrones and neolignans from the fruits of Aniba riparia.
Phytochemistry.26(09): 2615-2617, 1987.
Barbosa-Filho, JM, Yoshida M, Gottlieb OR. The tyramines of Aniba riparia: transformation into
models of natural products.Rev Latinoamer Quim.21: 5-7, 1990.
Brasil. Ministérioda Saúde. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília, DF.
2004.86p.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos. Brasília,DF.2006.60 p.
Brunton LL, Lazo JS,Parker KL. Goodman & Gilman: As bases farmacológicas da terapêutica. 11ª
ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2007. 1821 p.
Catão RMR, Gutierrez SJC, Barbosa-Filho JM, Lima EO, Pereira MSV, Arruda TA, Antunes RM
P. Avaliação da atividade antimicrobiana de riparinas sobre cepas de Staphylococcus aureus e
Escherichia coli multirresistentes. RBAC. 37(04):247-249, 2005.
Carvalho AMR, Rocha NFM, Vasconcelos LF, Rios ERV, Dias ML, Silva MIG, Fonteles MMF,
Filho JMB, Gutierrez SJC, Sousa FCF. Evaluation of the anti-inflammatory activity of riparin II (O-
methil-N-2-hidroxi-benzoyl tyramine) in animal models.Chem Biol Interact. 205:165-172, 2013.
Coelho FMC, Pinheiro RT, Horta BL, Magalhães PVS, Garcias CMM, Silva CV. Transtornos
mentais comuns e enfermidades crônicas em adultos: estudo de base
populacional.Cad Saude Publica. 21:59-67, 2009.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 59 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
DiasML. Atividade antinociceptiva da riparina IV: participação dos receptores TRPV1, TRPM8,
receptores glutamaérgicos e do óxido nítrico. 2012. Fortaleza. 82 p. Dissertação (Mestrado em
Farmacologia), Universidade Federal do Ceará. Fortaleza.
Ferreira FG, Polli MC, Oshima- Franco Y, Fraceto LF. Fármacos: do desenvolvimento à retirada do
mercado. REF.6(1):14-24, 2009.
Gutierrez STC.Síntese do Bowdenol, um dihidrobenzofuranoide isolado de Bowdichia virgilioides e
preparação de derivados da Riparina isolada de Aniba riparia com potencial atividade biológica.
2006. João Pessoa. 153 p . Tese (Doutorado em Produtos Naturais e Sintétitcos Bioativos),
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa.
Hirdis A, Kantorski LP. Reabilitação psicossocial: objetivos, princípios e valores. Rev Enferm
UERJ.12: 217-221, 2004.
Katzung BG. Farmacologia básica e clínica. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 991 p.
Lima LM. Química medicinal moderna: desafios e contribuição brasileira. Quím Nova. 30(6):1456-
1468, 2007.
Marques CA. Importância econômica da família Lauraceae Lindl. Floresta e Ambient.8(1):195-206,
2001.
Marques ADS, Zheng C, Barbosa-Filho JM, Lin CT, Gutierrez SJC. Electronic and structural
effects in muscular relaxants: Riparin I and riparin III. J Mol Struct. 753: 13-21, 2005.
Melo CTV, Lima VTM, Barbosa-Filho JM, Fonteles MMF, Vasconcelos SMM, Viana GS, Sousa,
FCF. Anxiolytic-like effects of (O-methyl)-N-2,6-dihydroxybenzoyl-tyramine (Riparin III) from
Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.Biol Pharm Bull.29(3): 451-454, 2006.
Melo CTV, Carvalho AMR, Moura BA, Teixeira CPL, Vasconcelos L.F, Feitosa M.L, Oliveira GV,
Barbosa-Filho JM,Gutierrez, SJC, Fonteles MMF, Vasconcelos SMM, Sousa FCF. Evidence for the
involvement of the serotonergic, noradrenergic, and dopaminergic systems in the antidepressant-
like action of riparin III obtained from Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.Fundam Clin
Pharmacol. 27:104-112, 2013.
Nunes GBL, Costa LM, Gutierrez SJC, Satyal P, Freitas RM. Behavioral tests and oxidative stress
evaluation in mitochondria isolated from the brain and liver of mice treated with riparin A. Life Sc.,
121:57-64, 2015.
Pereira PK, Santos AS, Lima LA, Legay LF, Santos JFC, Lovisi G.M. Transtornos mentais e
comportamentais no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS) no estado do Rio de
Janeiro no período de 1999 a 2010.Cad Saúde Colet. 20(4):482-491, 2012.
Polanczyk, G.V. Em busca das origens desenvolvimentais dos transtornos mentais. Rev Psiquiatr
RS.31(1):6-12, 2009.
Rabbani M, Sajjadi SE, Mohammadi A. Evaluation of the anxiolytic effect of Nepeta persica Boiss.
in mice. Evid Based Complement Alternat Med. 5(2):181-186, 2008.
Santos EG, Siqueira MM. Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma
revisão sistemática de 1997 a 2009. J Bras Psiquiatr. 59(3): 238-246, 2010.
ARTIGO ORIGINAL / REVIEW
S - 60 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016
Santos SG, Queiroga K.F, Oliveira AMF, Tavares JF, Gutierrez SJC, Diniz MFFM, Barbosa-Filho
JM, Silva MS. Blood matrix effects for male and female Wistar rats, in simultaneous HPLC-UV
determination of riparin I and III from Aniba riparia (Nees) Mez. (Lauraceae). Talanta. 86:.233-
240, 2011.
Silva RO, Damasceno SRB, Silva IS, Silva VG, Brito CFC, Teixeira AEA, Nunes GBL, Camara,
CA, Filho JMB, Gutierrez SJC, Ribeiro RA, Souza MHLP, Barbosa ALR, Freitas RM, Medeiros
JVR. Riparin A, a compound from Aniba riparia, attenuate the inflammatory response by
modulation of neutrophil migration.Chem. Biol. Interact. 229:55-63, 2015.
Sousa FCF, Monteiro AP, Vasconcelos SMM, Fonteles MMF, Gutierrez SJC, Barbosa-Filho JM,
Viana GSB. Antianxiety effects of riparin I from Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in
mice.Phytother Res. 19: 1005-1008, 2005.
Sousa FCF, Leite CP, Melo CTV, Araujo FLO, Gutierrez SJC,Barbosa-Filho JM, Fonteles MMF,
Vasconcelos SMM, Viana GSB. Evaluation of effects of N-(2-hydroxybenzoyl) tyramine (riparin
II) from Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in anxiety models in mice.Biol Pharm Bull.30:1212-
1216, 2007.
Sousa FCF, Melo CTV, Citó COM, Félix FHC, Vasconcelos SMM, Fonteneles MMF, Filho JMB,
Viana GSB. Plantas medicinais e seus constituintes bioativos: Uma revisão da bioatividade e
potenciais benefícios nos distúrbios da ansiedade em modelos animais. Rev Bras Farmacogn. 18(4):
642-654, 2008.
Sousa FCF, Oliveira ICM, Silva MIG, Melo CTV, Santiago VR, Chaves RC, Fernandes M.L,
Gutierrez SJC, Vasconcelos SMM, Macêdo DS, Filho JMB. Involvement of monoaminergic system
in the antidepressant-like effect of riparin I from Aniba riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in
mice.Fundam Clin Pharmacol. 28:95-103, 2014.
Teixeira CP, Melo CT, Araujo FL, Carvalho AM, Silva MI, Barbosa-Filho JM, Macedo DS Viana
GSB, Sousa FC. Antidepressant-like effect of riparin II from Aniba riparia in mice: evidence for the
involvement of the monoaminergic system. Fundam Clin Pharmacol.27(2):129-37, 2013.
Vasconcelos AS, Oliveira ICM, Vidal LTM, Rodrigues GC, Gutierrez SJC, Barbosa-Filho JM,
Vasconcelos SMM, Fonteles MMF, Gaspar DM, Sousa FCF. Subchronic administration of riparin
III induces antidepressive-like effects and increases BDNF levels in the mouse hippocampus.
Fundam Clin Pharmacol. 29: 394-403, 2015.
Zhang ZJ. Therapeutic effects of herbal extracts and constituents in animal models of psychiatric
disorders. Life Sci. 75: 1659-1699, 2004.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Perfil de utilização e adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes
atendidos em Clínica de Insuficiência Cardíaca de um Hospital Universitário da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Ranieri Carvalho Camuzi* 1, 2, Benedito Carlos Cordeiro1, 4, Sabrina Calil Elias1, 2, 4, Wolney de
Andrade Martins1, 3, Evandro Tinoco Mesquita1, 3, Selma Rodrigues de Castilho1, 2, 4
1 - Universidade Federal Fluminense (UFF)
2 - Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde (PPG-CAPS)
3 - Programa de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares (PPG-CCV)
4 - Mestrado Profissional em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica (PPG-GAFAR)4
* Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica, Universidade Federal Fluminense, Rua Dr. Mário Viana,
523, Santa Rosa, 24241-000 Niterói – RJ, Brasil. Tel.: +55 (21) 2629-9572, e-mail: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 62 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
RESUMO
A insuficiência cardíaca (IC) é a terceira principal causa de internação no Sistema Único de Saúde e
a primeira em idosos. Embora evidências demonstrem que a farmacoterapia é capaz de reduzir
mortalidade, hospitalizações e custos na IC com fração de ejeção reduzida, a baixa adesão ao
tratamento é apontada como importante causa de hospitalização. Este trabalho visou identificar o
perfil de utilização e de adesão ao tratamento medicamentoso em hospital universitário de Niterói-
RJ, na primeira visita do paciente ao atendimento farmacêutico. Foi realizado estudo descritivo
prospectivo envolvendo 150 pacientes. O teste Morisky foi empregado na avaliação da adesão,
sendo aplicado na primeira entrevista do farmacêutico. A DDD/100 atendimentos dia foi
empregada para mensuração do consumo. Foram observados pacientes idosos (43,3%) e muito
idosos (10,7%), polifarmácia (78,6%), problemas de adesão (73,3%) e medicamentos adquiridos
por meios próprios (89,1%). O teste identificou 26,7% de adesão elevada, 60% média e 13,3%
baixa. Não houve significância estatística na diferença de adesão entre diferentes grupos etários,
gênero e classe funcional pela New York Heart Association. Estes resultados sugerem a
oportunidade da inserção de um profissional farmacêutico na equipe multidisciplinar da clínica de
IC.
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca/terapia; Uso de medicamentos; Adesão à medicação;
Serviços comunitários de farmácia.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 63 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
ABSTRACT
Heart failure is the third leading cause of hospitalization in Brazilian public health system.
Although evidence shows that pharmacotherapy can reduce mortality, hospitalizations and costs due
to heart failure with reduced ejection fraction, poor adherence to treatment is a major cause of
unsatisfactory results. This study aimed to identify the profile of drug use and assess adherence to
treatment in a multidisciplinary clinic at an university hospital in Niterói (RJ), in the first visit of the
patient to pharmaceutical service. A prospective descriptive study involving 150 patients was
conducted. The Morisky test was applied to assess adherence, and was applied to the first interview
with the pharmacist. The DDD / 100 day care was used to measure consumption. There was a
predominance of elderly (43.3%) and very elderly (10.7%) patients, polypharmacy (78.6%) and low
adherence (73.3%). The majority of patients declared to acquire drugs by themselves (89.1%). The
test identified 26.7% of high adherence, 60% medium and 13.3% low. There was no statistical
significance regarding the difference between adherence and age, gender or functional class New
York Heart Association groups. The results suggest the opportunity of a pharmacist insertion in the
multidisciplinary team, earlier composed only by physicians, nurses and physiotherapists.
Keywords: Heart failure/therapy; Drug utilization; Medication adherence; Community pharmacy
services.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 64 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
INTRODUÇÃO
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, que se
caracteriza como uma disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para
atender às necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo
somente com elevadas pressões de enchimento (Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009). É muito
prevalente, complexa e progressiva, com alta morbimortalidade (Bocchi et al., 2012; Cleland,
Khand & Clark, 2001).
A IC se tornou um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, sendo o diagnóstico
que mais cresce entre as doenças cardiovasculares. Estima-se que atinja mais de 23 milhões de
pessoas em todo o mundo (Roger, 2013).
Embora os dados epidemiológicos sobre a IC no Brasil ainda sejam limitados, estima-se que ela seja
responsável pela maioria das internações relacionadas ao aparelho cardiovascular na rede pública de
saúde (Bocchi, 2013; Bocchi et al., 2009), a terceira principal causa de internação e a primeira entre
idosos. Em números absolutos, a IC representou, aproximadamente, 221 mil internações e 22 mil
óbitos em 2014 (Brasil, 2014).
A IC gera altos custos, visto que seus portadores necessitam de assistência contínua e dispendiosa
para obterem uma qualidade de vida relativamente boa (Bocchi et al., 2012; Moutinho et al., 2008).
A magnitude do problema deverá aumentar, tanto pela maior sobrevida dos pacientes cardiopatas
quanto pelo crescimento futuro da população idosa, mais acometida pelo quadro (Jessup, 2014;
Heindenreich et al., 2013; Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009; Cleland, Khand & Clark, 2001).
As evidências produzidas nas últimas décadas demonstram que a farmacoterapia na IC com fração
de ejeção reduzida (ICFER) diminui a morbimortalidade e as hospitalizações, embora não seja
efetiva para os casos de insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal (ICFEN) (Komajda &
Lam, 2014; Shearer, Lang & Struther, 2013; Rajagopalan et al., 2011; Mesquita& Jorge, 2010;
Roscani, Matsubara& Matsubara, 2010). Atualmente, a base da farmacoterapia para ICFER está na
combinação de betabloqueador, inibidor da enzima conversora de angiotensina ou antagonista de
receptor de angiotensina II, antagonista de receptor da aldosterona e diurético (Braunwald, 2013;
Shearer, Lang & Struthers, 2013; Bocchi et al., 2012; Santos, Oliveira & Colet, 2010; Oliveira
Júnior & Del Carlo, 2006). Entretanto, aqueles que tratam de pacientes com essa condição
continuam se deparando com um problema bastante comum: a falta de adesão à terapêutica
(Albuquerque et al., 2015; Nieuwlaat et al., 2014; Shearer, Lang e Struthers, 2013; Culig et al.,
2011; Strasser et al., 2007; Howard et al., 2006; Oliveira Júnior& Del Carlo, 2006).
Estudos têm enfatizado que a baixa adesão ao tratamento, tanto farmacológico como não
farmacológico, é o principal fator precipitante da descompensação da IC (Albuquerque et al., 2015;
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 65 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Davis, Packard & Jackevicius, 2014; Barretto et al., 2008; Mangini et al., 2008; Van Der Wal &
Jaarsma, 2008). Neste cenário, melhorar a adesão à terapia, medicamentosa ou não, é uma das
principais recomendações das atuais Diretrizes Brasileiras de Insuficiência Cardíaca Crônica
(Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009). Assim, pode-se considerar que a baixa adesão ao
tratamento da IC se apresenta como um desafio para a gestão da saúde pública e uma oportunidade
para inserção da assistência farmacêutica.
Compreender o perfil de utilização de medicamentos, determinado pelo perfil de prescrição e/ou por
comorbidades, também é fundamental para se entender a evolução do quadro clínico e os resultados
terapêuticos.
Este trabalho teve como objetivo identificar o perfil de utilização de medicamentos e avaliar a
adesão ao tratamento medicamentoso pelos pacientes atendidos na Clínica de Insuficiência Cardíaca
de um centro clínico especializado brasileiro, ao ingressarem no serviço de atendimento
farmacêutico.
MÉTODOS
Estudo descritivo prospectivo a partir dos registros da equipe de farmácia no primeiro atendimento
a 150 pacientes portadores de insuficiência cardíaca acompanhados por uma equipe multidisciplinar
e Clínica de IC de um Hospital Universitário na cidade de Niterói, região metropolitana do Rio de
Janeiro.
Caracterização da amostra
Os critérios de inclusão para participação na pesquisa foram: idade igual ou maior que 18 anos;
diagnóstico de IC pelos critérios de Framingham e Boston, com confirmação ecocardiográfica;
fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 50%; e estar sob acompanhamento no
Ambulatório de Cardiologia do hospital.
Havia 260 pacientes cadastrados na Clínica de IC, os quais eram atendidos por uma equipe
multiprofissional da qual o farmacêutico, até então, não fazia parte. Destes, foram incluídos na
amostra 150 pacientes, segundo ordem de atendimento pela equipe de farmácia e adequação aos
critérios de inclusão. Vale esclarecer que nenhum paciente se recusou em participar do estudo.
Coleta dos dados
Os dados foram coletados a partir dos formulários específicos, onde foram registradas informações
demográficas, ambientais, clínicas e farmacoterapêuticas de cada paciente, nas suas visitas ao
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 66 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
atendimento farmacêutico, quando também aconteceu a dispensação de medicamentos para IC. A
partir desses dados foi possível traçar a história farmacoterapêutica do paciente, parâmetros clínicos
e os problemas de saúde apresentados no período acompanhado. Desta forma, traçou-se o perfil de
utilização de medicamentos (tipo e quantidade de medicamentos consumidos), o perfil de adesão à
terapia medicamentosa. As diferenças na adesão foram analisadas tomando-se por base as variáveis
categóricas faixa etária, sexo e classe funcional (NYHA). A classificação Anatômico-Terapêutica-
Química (ATC – Anatomical Chemical Classification) e a DDD para 100 atendimentos por dia
(WHOCC, 2014) foram empregadas na descrição e quantificação de consumo, respectivamente.
Dentre os dados registrados pela equipe de farmácia em cada consulta estão as respostas ao teste
Morisky (Krousel-Wood et al., 2009; Morisky et al., 2008; Nobre, Pierin & Mion Jr., 2001;
Morisky, Green & Levine, 1986) de quatro perguntas para identificar a atitude e o comportamento
do paciente em relação à utilização de medicamentos. Para este trabalho foram consideradas as
respostas dos pacientes na primeira visita, entre o segundo semestre de 2011 e o primeiro de 2012,
pois o objetivo foi descrever o nível de adesão desses pacientes no momento em que ingressaram no
serviço de atendimento farmacêutico.
O teste de Morisky tem sido empregado por vários autores para avaliação de adesão (Davis,
Packard & Jackevicius, 2014; Ben, Neumann & Mengue, 2012; Carvalho et al., 2012). Consiste em
quatro questões, respondidas com “SIM” ou “NÃO”. A adesão é considerada alta (score 0) caso o
paciente responda negativamente às quatro perguntas, média quando responde negativamente a uma
ou duas perguntas (score 1 ou 2) e baixa quando responde negativamente a 3 ou 4 perguntas (score
3 ou 4). Portanto, a pessoa é considerada como tendo problema de adesão se responder
afirmativamente a, pelo menos, uma questão. A partir da avaliação destas atitudes do paciente
quanto à utilização de medicamentos, mensura-se, de forma indireta, a adesão ao tratamento
(Bastos-Barbosa et al., 2012).
Análise dos dados
Os dados de interesse foram tabulados em planilha eletrônica compatível com Microsoft Excel®.
Para as categorias de faixa etária consideraram-se: menos de 60 anos (não idosos), 60 a 79 anos
(idosos) e 80 anos ou mais (muito idosos) (IBGE, 2010). Para as categorias de classe funcional
considerou-se a classificação da New York Heart Association (NYHA) que é atribuída conforme os
sintomas identificados (The Criteria Committee for the New York Heart Association, 1994),
frequentemente utilizada pelos cardiologistas brasileiros para se estabelecer o grau de progressão da
doença e, com base nessa classificação, definirem-se as condutas mais adequadas para cada caso,
incluindo o tratamento medicamentoso.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 67 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Foram consideradas as frequências absolutas e percentuais para resumir a medida das variáveis
qualitativas. Finalmente, realizaram-se os cálculos de significância estatística da diferença na
adesão (elevada; média; baixa) entre faixas etárias (< 60 anos; 60 a 70 anos; 80 anos ou mais), sexo
(masculino; feminino) e classe funcional NYHA (I; II; III; IV), através do Teste Kruskal-Wallis,
considerando-se um intervalo de confiança de 95%. Este teste foi empregado em função da
necessidade de comparação de mais de 2 categorias e das variáveis serem categóricas e não
paramétricas (Normando, Tjäderhane & Quintão, 2010).
Considerações éticas
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense sob
o número CAAE 0360. 0. 258. 258-11, em consonância com a Declaração de Helsinki.
RESULTADOS
Caracterização da Amostra
O estudo incluiu 150 pacientes com IC, sendo 56,7% homens. A idade dos participantes variou de
23 a 91 anos, com média 61,3 (dp = 13,6) (Tabela 1). Vale ressaltar que 46% dos pacientes tinha
idade inferior a 60 anos. As comorbidades mais prevalentes foram a hipertensão arterial e a
hipercolesterolemia. Os dados detalhados sobre caracterização da amostra se encontram na Tabela
1.
Tabela 1 – Distribuição dos pacientes com IC por faixa etária, gênero e comorbidades, N=150,
2012
Categoria Total Homens Mulheres
N % N % N %
Sexo 150 100 85 56,7 65 43,3
Idade (anos)
< 60 69 46,0 40 26,7 29 19,3
60 a 79 65 43,3 41 27,3 24 16,0
≥ 80 16 10,7 4 2,7 12 8,0
Média (dp) 61,3 (13,6) 59,7 (12,8) 63,3 (12,8)
Mediana 64 - 61 - 61 -
Comorbidades
HAS 150 100
DM 28 18,7
HC 66 44,0
FA 39 26,0
N – número de pacientes; % - percentual; DP ─ desvio padrão; HAS – hipertensão arterial
sistêmica; DM – diabetes mellitus; HC ─ hipercolesterolemia; FA ─ fibrilação atrial.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 68 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
O perfil de utilização de medicamentos
Os pacientes usavam 7 medicamentos, em média (dp = ± 9,71). A maioria deles (78,6%) utilizavam
5 ou mais medicamentos, caracterizando polifarmácia. Vinte e quatro pacientes (16%)
necessitavam do auxílio de um cuidador para utilizar os seus medicamentos; e 38 (25,3%)
informaram utilizar tratamentos alternativos (chás e outros produtos não medicamentosos).
Quanto ao acesso especificamente aos medicamentos para tratamento da IC, 119 pacientes (61%)
informaram que compravam os seus medicamentos, sendo que 99 (83,2%) em farmácias e
drogarias, 13 (10,9%) no Programa Farmácia Popular do Brasil e 7 (5,9%) na Farmácia
Universitária. Sessenta e cinco pacientes (33%) informaram retirar os seus medicamentos em
unidades de saúde da rede pública.
A Tabela 2 apresenta o perfil de uso de medicamentos em número de DDD para 100 atendimentos
por dia e o número de pacientes utilizando cada um dos medicamentos relacionados. Os
medicamentos usados pelo maior número de pacientes foram: carvedilol (129), furosemida (85),
espironolactona (73), enalapril (70), sinvastatina (66) e ácido acetilsalicílico (65).
Tabela 2 – Perfil de utilização de medicamentos por pacientes com IC, N=150, 2012
ATC Fármaco N Consumo
C07AG02 Carvedilol 129 1,24
C03CA01 Furosemida 85 1,51
C03DA01 Espironolactona 73 0,49
C09AA02 Enalapril 70 0,55
C10AA01 Sinvastatina 66 0,44
B01AC06 Ácido
acetilsalicílico 65 2,02
C09CA01 Losartana 43 1,02
C09AA01 Captopril 42 1,02
C01AA05 Digoxina 40 0,002
C01DA14 Isossorbida,
mononitrato 39 1,39
C03AA03 Hidroclorotiazida 36 0,24
C08CA01 Anlodipina 30 0,10
C02DB02 Hidralazina 25 0,71
A10BA02 Metformina 19 6,81
B01AA03 Varfarina 17 0,02
C07AB03 Atenolol 14 0,22
A10BB01 Glibenclamida 9 0,02
C02AC01 Clonidina 7 0,003
B01AC04 Clopidogrel 4 0,09
C01BD02 Amiodarona 3 0,14
C08DB01 Diltiazen 2 0,06
C08CA05 Nifedipina 1 0,03
ATC – Classificação anatômica terapêutica química; Consumo apresenta o número de DDD (Dose
diária definida) para 100 atendimentos por dia; N ─ número de pacientes utilizando o fármaco.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 69 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Nível de Adesão Terapêutica
Sessenta por cento dos pacientes apresentaram nível médio de adesão, 26,7% apresentaram nível
elevado e 13,3% nível baixo (Tabela 3). As diferenças na adesão terapêutica observada entre os
gêneros (p = 0,9608) e entre as faixas etárias (p = 0,0669) (Tabela 3) não se mostraram
estatisticamente significativas.
Tabela 3 – Adesão à terapia medicamentosa pelo teste Morisky segundo gênero e idade,
N=150, 2012 S
im
Ades
ão
Percentual (%)*
Hom
ens
Mulh
eres
Idade (anos)
< 6
0
60 –
70
≥ 8
0
0 Elevada 14,7 12 33,3 20,0 25
1 Média
15,3 16,7 49,3 67,7 12,3
2 19,3 8,7
3 Baixa
6,7 5,3 17,4 12,3 0
4 0,7 0,7
Total 56,7 43,3 46,0 43,3 10,7
Sim ─ número de resposta (s) sim por paciente; * Para adesão versus gênero (p = 0,9608) os
percentuais foram calculados em relação ao N = 150; para adesão versus idade (p = 0,0669) os
percentuais foram calculados dentro de cada faixa etária, exceto na linha Total.
Dos 150 pacientes incluídos, 102 tinham classe funcional definida segundo a NYHA (New York
Heart Association), quando do primeiro atendimento pela equipe de farmácia. A Tabela 4 relaciona
os dados de nível de adesão por classe funcional. Não foi observada diferença estatisticamente
significativa na distribuição de adesão entre as classes funcionais NYHA (p = 0,7672).
Tabela 4 – Adesão à terapia medicamentosa pelo teste Morisky relacionada à classe funcional
da NYHA, N=102, 2012
Classe Adesão (%)* Total
NYHA Elevada Média Baixa N
I 37,8 45,9 16,2 37
II 19,5 70,7 9,8 41
III 33,3 52,4 14,3 21
IV 66,7 33,3 0 3
Total 30,4 56,9 12,7 102
N – número de pacientes; % - percentual; NYHA ─ New York Heart Association. * Os
percentuais foram calculados dentro da classe funcional considerada, exceto na linha Total onde
foram calculados em relação ao N = 102 (p = 0,7672).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 70 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
A maioria dos pacientes (60%) afirmou descumprir, em algum momento, com a forma preconizada
para o uso dos medicamentos; 42,7% informaram se esquecer de tomar os medicamentos alguma
vez; 19,3 % param de tomar os medicamentos ao se sentirem pior; e 7,3% o fizeram ao se sentirem
melhor.
DISCUSSÃO
Os pacientes do SUS atendidos pela equipe de farmácia na Clínica de IC eram, em sua maioria,
idosos ou muito idosos, estavam submetidos a polifarmácia e apresentavam problema de adesão
terapêutica, evidenciando ser oportuna a inserção da assistência farmacêutica a este grupo. Os
dados sobre faixa etária são compatíveis com o estudo EPICA-Niterói que identificou faixa etária
média de 61,1 anos dentre os pacientes atendidos na rede pública de saúde da cidade de Niterói
(Tavares et al., 2004). Apesar do predomínio de pacientes com idade maior que 60 anos, a faixa
mais jovem correspondeu a 46% e apresentou perfis de adesão e utilização de medicamentos
semelhante aos perfis dos idosos. Esse resultado diverge do observado por Davis, Packard &
Jackevicius (2014) e Lamb et al. (2009), segundo os quais a idade avançada foi relacionada a
melhor adesão. Vale ressaltar que uma baixa adesão entre os jovens se torna ainda mais relevante
uma vez que pode impactar negativamente o prognóstico reduzindo sobremaneira a sobrevida.
Na população atendida houve o predomínio do sexo masculino (56,7%), porém o gênero não é
considerado um fator de predisposição para insuficiência cardíaca, uma vez que é possível localizar
tanto estudos que apontam maioria de homens (Vardeny et al., 2013; Dunlay et al., 2011; Granger
et al., 2009) quanto de mulheres (Albuquerque et al., 2015; Shah et al., 2014; Despaigne, Sanchez
& Sarfraz, 2012; Tavares et al., 2004).
O número e o tipo de comorbidades encontradas são compatíveis com os dados da literatura
(Bocchi et al., 2012) e confirmam a oportunidade de especial atenção à farmacoterapia de tais
pacientes, que utilizam maior número de medicamentos e, consequentemente, estão mais expostos a
potenciais eventos adversos, sobretudo interações medicamentosas.
A polifarmácia, definida por Secoli (2010) como o uso de 5 ou mais medicamentos
simultaneamente, foi observada em 78,6% dos pacientes. Sabe-se que aumenta a incidência de
problemas relacionados a medicamentos, de modo que é imprescindível o acompanhamento
farmacoterapêutico (Ruwald et al., 2013; Secoli, 2010).
O grande número de pacientes que precisam de ajuda para utilizar os seus medicamentos evidencia
a oportunidade para estratégias de informação e educação de seus cuidadores. E, ainda,
considerando o elevado número de pacientes que informaram utilizar terapias alternativas,
ingerindo chás ou outros produtos que podem interferir no seu tratamento (controle da ingestão
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 71 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
hídrica e interações), é preciso considerar a importância da atuação multidisciplinar na informação e
na educação dos pacientes e cuidadores para além do uso dos medicamentos.
O perfil de uso de medicamentos reflete tanto as recomendações para o tratamento da IC (Bocchi et
al., 2009) quanto a cobertura das necessidades medicamentosas de duas das principais
comorbidades presentes nos pacientes: hipertensão arterial sistêmica e diabetes tipo 2 (Bocchi et
al., 2012; Bocchi et al., 2009).
O cálculo do número de DDD para 100 atendimentos/dia permitiu verificar que, apesar de ser um
dos medicamentos com maior prevalência de uso, a digoxina apresenta o menor consumo em DDD,
evidenciando a incorporação da recomendação da literatura para o uso desse medicamento na IC.
Já a metformina, que apresenta uma prevalência de uso bem menor, tem maior consumo em DDD
para 100 pacientes, igualmente refletindo o preconizado para o tratamento da diabetes.
Revisão realizada por Ekeruo, Solhpour & Taegtmeyer (2013) sobre o uso de metformina por
pacientes com diabetes e IC concluiu que o medicamento é seguro e efetivo para tratamento destes.
Por isso é considerado de primeira escolha nesses casos.
Por outro lado, a glibenclamida está entre os medicamentos menos utilizados, embora também seja
indicada para diabetes. Esta observação é compatível com evidências disponíveis de que o
tratamento com glibenclamida não é seguro para pacientes com IC, podendo aumentar a
mortalidade (Siniorakis et al., 2012; Andersson et al., 2011).
O carvedilol é o betabloqueador mais frequentemente utilizado. A sua escolha para compor o
esquema terapêutico para a IC está apoiada nas Diretrizes e evidências terapêuticas atuais (Bocchi
et al., 2012; Bocchi et al., 2009). Porém, apenas recentemente, este medicamento foi incorporado
às relações para dispensação na rede pública (SES-RJ, 2014; Brasil, 2013), de modo que o acesso
gratuito ainda é restrito, conforme demonstrado nos resultados.
A digoxina é o medicamento que apresentou a menor DDD para 100 atendimentos/dia, enquanto é
utilizada por mais de um quarto dos pacientes incluídos. Isso demonstra que as prescrições estão de
acordo com as evidências de que o uso controlado da digoxina, mantendo-se baixos níveis
sanguíneos, garante um tratamento seguro e eficaz, além da vantagem de ser um medicamento de
baixo custo e amplamente disponível (Adams et al., 2014).
Os dados sobre adesão demonstraram que pouco mais de um quarto dos pacientes apresenta nível
elevado de adesão e mais da metade apresenta nível intermediário. Note-se que se trata de um
grupo de pacientes que já estava em acompanhamento por uma equipe multidisciplinar e que o teste
Morisky tem como uma das suas limitações a possibilidade de superestimar a medida da boa adesão
(Morisky et al., 2008; Morisky, Green & Levine, 1986). O grau de adesão ao tratamento dos
pacientes se mostrou inferior a alguns estudos em que se observam taxas de boa adesão para
tratamento de IC e outras doenças crônicas variando entre 40 e 60% (Despaigne, Sanchez &
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 72 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Sarfraz, 2012; Alfonso, 2006). No entanto, é compatível com os resultados do estudo CHARM
(Granger et al., 2005), onde 11% dos pacientes deixaram de tomar corretamente pelo menos 80%
dos seus medicamentos.
O número de pacientes expostos à polifarmácia e a aquisição de medicamentos por meio próprio,
relatada pela maioria dos pacientes, podem ter contribuído para a não adesão, como apontado por
revisão realizada por Davis, Packard & Jackevicius (2014). A inexistência de significância
estatística na diferença de adesão entre os gêneros também é compatível com esta revisão.
Os dados sobre nível de adesão e idade demonstraram que não há diferença estatisticamente
significativa entre as faixas etárias consideradas. Esta observação difere de estudo de coorte sobre
adesão terapêutica em IC, envolvendo 8.805 pacientes, realizado por Lamb et al. (2009), em que a
idade maior ou igual a 65 anos foi associada à melhor adesão à terapia medicamentosa.
A análise dos dados sobre nível de adesão por classe funcional da NYHA também não apresentou
diferença estatística significativa, resultado que está em acordo com os achados do estudo CHARM
(Granger et al., 2005), onde se observou que a maioria dos pacientes em boa adesão estavam nas
classes funcionais II e III.
Os resultados encontrados sugerem que existe uma janela de oportunidade para inserção da
assistência farmacêutica no cuidado multiprofissional em IC e podem contribuir para a definição de
estratégias de intervenção farmacêutica junto aos pacientes e cuidadores, na busca de melhores
resultados terapêuticos.
CONCLUSÕES
Os resultados mostram que a baixa adesão ao tratamento medicamentoso, mesmo entre pacientes
atendidos por uma equipe multidisciplinar, é um problema relevante. Embora o perfil de prescrição
em acordo com as evidências e diretrizes atuais para farmacoterapia na IC reforce a qualidade da
assistência prestada a esses pacientes, a predominância de baixa e média adesão é provavelmente
um fator limitante nos resultados terapêuticos obtidos.
Entre as limitações deste estudo devem ser considerados o número restrito de pacientes, a análise de
um único centro de atendimento especializado, e o emprego de apenas um método indireto para
inferir a adesão ao tratamento medicamentoso. Desta forma a generalização destes resultados é
limitada, e sugere a realização de novos estudos, inclusive para a avaliação do impacto da
incorporação do farmacêutico na adesão entre pacientes de IC.
Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro ─ FAPERJ
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 73 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
REFERÊNCIAS
Albuquerque DC, Souza Neto JD, Bacal F, Rohde LE, Bernardez-Pereira S, Berwanger O, Almeida
DR. I Brazilian Registry of Heart Failure - Clinical Aspects, Care Quality and Hospitalization
Outcomes. Arq. Bras. Cardiol. 104 (6):433-442, 2015.
Adams KFJr, Ghali JK, Herbert Patterson J, Stough WG, Butler J, Bauman JL, Ventura HO,
Sabbah H, Mackowiak JI, van Veldhuisen DJ. A perspective on re-evaluating digoxin's role in the
current management of patients with chronic systolic heart failure: targeting serum concentration to
reduce hospitalization and improve safety profile. Eur. J. Heart Fail. 16 (5): 483-93, 2014.
Alfonso, M. Repercusiones para la salud pública de la adherencia terapéutica deficiente. Rev.
Cub. Salud Publ. 32 (3): 11-15, 2006.
Andersson C, Gislason GH, Jørgensen CH, Hansen PR, Vaag A, Sørensen R, Mérie C, Olesen JB,
Weeke P, Schmiegelow M, Norgaard ML, Køber L, Torp-Pedersen C. Comparable long-term
mortality risk associated with individual sulfonylureas in diabetes patients with heart failure.
Diabetes Res. Clin. Pract. 94 (1): 119-25, 2011.
Barker A, Barlis P, Berlowitz D, Page K, Jackson B, Lim WK. Pharmacist directed home
medication reviews in patients with chronic heart failure: a randomised clinical trial. Int. J.
Cardiol. 159 (2): 139-43, 2012.
Barretto ACP, Del Carlo CH, Cardoso JN, Morgado PC, Munhoz RT, Eid MO, Oliveira Jr MT,
Scipioni AR, Ramires JAF. Re-hospitalizações e morte por insuficiência cardíaca - Índices ainda
alarmantes. Arq. Bras. Cardiol. 91 (5): 309-341, 2008.
Bastos-Barbosa, R. G. et al et al. Adesão ao tratamento e controle da pressão arterial em idosos
com hipertensão. Arq. Bras. Cardiol. 99 (1): 636-641, 2012.
Ben AJ, Neumann C R, Mengue SS. The Brief Medication Questionnaire and Morisky- Green Test
to evaluate medication adherence. Rev. Saúde Públ. 46 (2): 279-289, 2012.
BocchiEA. Heart failure in South America. Curr. Cardiol. Rev. 9 (2): 147-56, 2013.
Bocchi EA, Braga FGM, Ferreira SMA, Rohde LEP, Oliveira WA, Almeida DR, Moreira MCV,
Bestetti RB, Bordignon S, Azevedo C, Tinoco EM, Rocha RM, Issa VS, Ferraz A, Cruz FD,
Guimarães GV, Montera VSP, Albuquerque DC, Bacal F, Souza GEC, Rossi Neto JM, Clausell
NO, Martins SM, Siciliano A, Souza Neto JD, Moreira LF, Teixeira RA, Moura LZ, Beck-da-Silva
L, Rassi S, Azeka E, Horowitz E, Ramires F, Simões MV, Castro RBP, Salemi VMC, Villacorta
Junior H, Vila JH, Simões R, Albanesi F, Montera MW. III Diretriz Brasileira de Insuficiência
Cardíaca Crônica. Arq. Bras. Cardiol. 93: 3-70, 2009.
Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, de Almeida Rodrigues D,
Mesquita ET, Vilas-Boas F, Cruz F, Ramires F, Villacorta Jr H, de Souza Neto JD, Neto JMR,
Moura LZ, Beck- da-Silva L, Moreira LF, Rohde LEP, Montera MW, Simões MV, da Consolação
Moreira M, Clausell N, Bestetti R, Mourilhe-Rocha R, Mangini S, Rassi S, Ayub-Ferreira SM,
Martins SM, Bordignon S, Issa VS, Beck-da-Silva L. Atualização da diretriz Brasileira de
insuficiência cardíaca crônica - 2012. Arq. Bras. Cardiol. 98 (1): 1-33, 2012.
Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS): Indicadores
- Brasil [Capítulo CID-10: IX. Doenças do aparelho circulatório; Lista Morb CID-10: Insuficiência
cardíaca], 2014. Acesso em: 12 de fev. 2015.
Brasil. RENAME - Relação Nacional de Medicamentos Essenciais 2013. 8. Brasília: Ministério
da Saúde, 2013.
Braunwald E. Research advances in heart failure: a compendium. Circ. Res. 113 (6): 633-45,
2013.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 74 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Carranza, J. H. Manual de farmácia clínica y atención farmacêutica. Madri: Elsevier, 2003.
Carvalho ALM, Leopoldino RWD, da Silva JEG, da Cunha CP. Adesão ao tratamento
medicamentoso em usuários cadastrados no Programa Hiperdia no município de Teresina (PI). Ci.
Saúde Col. 17 (7): 1885-1892, 2012.
Cleland JGF, Khanda A, Clark A. The heart failure epidemic: exactly how big is it? Eur Heart J.
22 (8): 623-626, 2001.
Culig J, Leppee M, Boskovic J, Eric M. Determining the difference in medication compliance
between the general patient population and patients receiving antihypertensive therapy: A case
study. Arch. Pharm. Res. 34 (7): 1143-1152, 2011.
Davis EM, Packard KA, Jackevicius CA. The pharmacist role in predicting and improving
medication adherence in heart failure patients. J. Manag. Care Pharm. 20 (7): 741-55, 2014.
Despaigne RM, Sanchez CMD, Sarfraz A. Therapeutic adherence in outpatients with heart failure
registered with a community pharmacy. Braz. J. Pharm. Sci. 48 (1): 61-68, 2012.
Dunlay SM, Eveleth JM, Shah ND, McNallan SM, Roger VL. Medication adherence among
community-dwelling patients with heart failure. ( (ORIGINAL ARTICLE) (Clinical report). Mayo
Clinic. Proceedings. 86 (4): 273, 2011.
Ekeruo IA, Solhpour A, Taegtmeyer H. Metformin in Diabetic Patients with Heart Failure: Safe
and Effective? Curr. Cardiovasc. Risk Rep. 7 (6): 417-422, 2013.
Fergenbaum J, Bermingham S, Krahn M, Alter D, Demers C. Care in the Home for the
Management of Chronic Heart Failure: Systematic Review and Cost-Effectiveness Analysis. J.
Cardiovasc. Nurs. Suppl 1: S44-51, 2015.
Gastelurrutia P, Benrimoj SI, Espejo J, Tuneu L, Mangues MA, Bayes-Genis A. Negative clinical
outcomes associated with drug-related problems in heart failure (HF) outpatients: impact of a
pharmacist in a multidisciplinary HF clinic. J. Card. Fail. 17 (3): 217-23, 2011.
Gattis WA, Hasselblad V, Whellan DJ, Connor CM. Reduction in heart failure events by the
addition of a clinical pharmacist to the heart failure management team: Results of the Pharmacist in
Heart Failure Assessment Recommendation and Monitoring (PHARM) study. Arch. Int. l Med.
159 (16): 1939-1945, 1999.
Granger BB, Ekman I, Granger CB, Ostergren J, Olofsson B, Michelson E, McMurray JJ, Yusuf S,
Pfeffer MA, Swedberg K. Adherence to medication according to sex and age in the CHARM
programme. Eur. J. Heart Fail. 11 (11): 1092-8, 2009.
Granger BB, Swedberg K, Ekman I, Granger CB, Olofsson B, McMurray JJV, Yusuf S, Michelson
EL, Pfeffer MA. Adherence to candesartan and placebo and outcomes in chronic heart failure in the
CHARM programme: double-blind, randomised, controlled clinical trial. Lancet. 366 (9502):
2005-2011, 2005.
Gusmão JL, Ginani GF, Silva GV, Ortega KC, Mion Jr. Adesão ao tratamento em hipertensão
arterial sistólica isolada. Rev. Bras. Hipert. 16 (1): 38-43, 2009.
Heidenreich PA, Albert NM, Allen LA, Bluemke DA, Butler J, Fonarow GC, Ikonomidis JS,
Khavjou O, Konstam MA, Maddox TM, Nichol G, Pham M, Piña IL, Trogdon JG. Forecasting the
impact of heart failure in the United States: a policy statement from the American Heart
Association. Circ. Heart Fail. 6 (3): 606-19, 2013.
Howard PA, Cheng JW, Crouch MA, Colucci VJ, Kalus JS, Spinler SA, Munger M. Drug therapy
recommendations from the 2005 ACC/AHA guidelines for treatment of chronic heart failure. Ann.
Pharmacot. 40 (9): 1607-17, 2006.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 75 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise
das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. 192p.
Jessup M. The heart failure paradox: an epidemic of scientific success:pPresidential address at the
American Heart Association 2013 Scientific Sessions. Circulation. 129 (25): 2717-2722, 2014.
Kalisch LM, Roughead EE, Gilbert AL. Improving heart failure outcomes with pharmacist-
physician collaboration: how close are we? (Report). Future Cardiol. 6 (2): 255, 2010.
Komajda M, Lam CS. Heart failure with preserved ejection fraction: a clinical dilemma. Eur.
Heart. J. 35 (16): 1022-32, 2014.
Koshman SL, Charrois TL, Simpson SH, McAlister FA, Tsuyuki RT. Pharmacist care of patients
with heart failure: a systematic review of randomized trials. Arch. Intern. Med. 168 (7): 687-94,
2008.
Krousel-Wood MA, Muntner P, Islam T, Morisky DE, Webber LS. Barriers to and determinants of
medication adherence in hypertension management: perspective of the cohort study of medication
adherence among older adults. Med. Clin. North Am. 93 (3): 753-69, 2009.
Lamb DA, Eurich DT, McAlister FA, Tsuyuki RT, Semchuk WM, Wilson TW, Blackburn DF.
Changes in adherence to evidence- based medications in the first year after initial hospitalization for
heart failure: Observational cohort study from 1994 to 2003. Circ. Cardiovasc. Qual. Outcomes.
2 (3): 228-235, 2009.
Mangini S, Silveira FS, Silva CP, Grativvol PS, Seguro LFBC, Ferreira SMA, Mocelin AO,
Cardoso LF, Bacal F, Bocchi EA. Decompensated heart failure in the emergency department of a
cardiology hospital. Arq. Bras. Cardiol. 90: 433-440, 2008.
Martinez AS, Saef J, Paszczuk A, Bhatt-Chugani H. Implementation of a pharmacist-managed
heart failure medication titration clinic. Am. J. Health Syst. Pharm. 70 (12): 1070-6, 2013.
Mesquita ET, Jorge AJL. Tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal
Treatment of heart failure with normal ejection fraction. Arq. Bras. Cardiol. 94 (3):414, 2010.
Morisky DE, Ang A, Krousel-Wood M, Ward HJ. Predictive validity of a medication adherence
measure in an outpatient setting. J. Clin. Hypertens. 10 (5): 348-54, 2008.
Morisky DE, Green LW, Levine DM. Concurrent and predictive validity of a self-reported measure
of medication adherence. Med. Care. 24 (1): 67-74, 1986.
Moutinho MAE, Colucci FA, Alcoforado V, Tavares LR, Rachid MBF, Rosa MLG, Ribeiro ML,
Abdalah R, Garcia JL, Mesquita ET. Heart failure with preserved ejection fraction and systolic
dysfunction in the community. Arq. Bras. Cardiol. 90 (2): 132, 2008.
Nieuwlaat R, Wilczynski N, Navarro T, Hobson N, Jeffery R, Keepanasseril A, Agoritsas T, Mistry
N, Iorio A, Jack S, Sivaramalingam B, Iserman E, Mustafa RA, Jedraszewski D, Cotoi C, Haynes
RB. Interventions for enhancing medication adherence. Cochrane Database Syst. Rev.
11:CD000011, 2014.
Nobre F, Pierin AMG& Mion JRD. Adesão ao tratamento: o grande desafio da hipertensão. São
Paulo: Lemos Editorial, 2001. 118p.
Normando D, Tjäderhane L, Quintão CCA. A escolha do teste estatístico – um tutorial em forma de
apresentação de PowerPoint. Dental Press J. Orthod. 15 (1): 101-6, 2010.
Oliveira Júnior MT, Del Carlo CH. Tratamento medicamentoso da insuficiência cardíaca crônica.
Reblampa. 19 (1): 53-60, 2006.
Phillips CO, Rubin HR, Wright SM, Kern DE, Singa RM, Shepperd S. Comprehensive Discharge
Planning with Postdischarge Support for Older Patients with Congestive Heart Failure: A Meta-
analysis. JAMA. 291 (11): 1358-1367, 2004.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 76 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Rajagopalan S, Arora A, Shafiq N, Reddy SS, Pandhi P, Mittal N, Malhotra S. Pharmacotherapy of
heart failure with normal ejection fraction (HFNEF) – a systematic review. Br. J. Clin.
Pharmacol. 72 (3): 369-380, 2011.
Rorger VL. Epidemiology of Heart Failure. Circ. Res. 113 (6): 646-59, 2013.
Roscani MG, Matsubara LS, Matsubara BB. Insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal
Insuficiencia cardíaca con fracción de eyección normal Heart failure with normal ejection fraction.
Arq. Bras. Cardiol. 94 (5): 694, 2010.
Ruwald MH, Hansen ML, Lamberts M, Hansen CM, Numé AK, Vinther M, Køber L, Torp-
Pedersen C, Hansen J, Gislason GH. Comparison of incidence, predictors, and the impact of co-
morbidity and polypharmacy on the risk of recurrent syncope in patients <85 versus >/=85 years of
age. Am J Cardiol,112 (10): 1610-5, 2013.
Santos FS, Oliveira KR, Colet CF. Adesão ao tratamento medicamentoso pelos portadores de
Diabetes Mellitus atendidos em uma Unidade Básica de Saúde no município de Ijuí/RS: um estudo
exploratório. Rev. Ci. Farm. Básica Apl. 31 (3):223, 2010.
Secoli SR. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Rev.
Bras. Enf. 63 (1): 136-140, 2010.
SES-RJ, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Lista de Medicamentos Básicos do
Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www. saude. rj. gov. br/atencao-a-saude-1/726-
assistencia-farmaceutica/medicamentos/6500-medicamentos-basicos. html?showall=&start=1>.
Acesso em: 18 jun. 2015.
Shah AM, Shah SJ, Anand IS, Sweitzer NK, O’Meara E, Heitner JF,Sopko G, Li G, Assmann SF,
McKinlay SM, Pitt B, Pfeffer MA, Solomon SD. Cardiac structure and function in heart failure
with preserved ejection fraction: baseline findings from the echocardiographic study of the
Treatment of Preserved Cardiac Function Heart Failure with an Aldosterone Antagonist trial. Circ
Heart Fail. 7 (1): 104-15, 2014.
Shearer F, Lang CC, Struthers AD. Renin-Angiotensin-Aldosterone System Inhibitors in Heart
Failure. Clin. Pharmacol. Ther. 94 (4): 459-467, 2013.
Siniorakis E, Arvanitakis S, Pantelis N, Roussou K, Pelonis P, Marinakis N, Marinis D,
Giannopoulos D, Limberi S. High mortality in diabetics with acute heart failure: concern about
glyburide. Int. J. Cardiol. 157 (1): 150-1, 2012.
Sperandio da Silva GM, Chambela MC, Sousa AS, Sangenis LH, Xavier SS, Costa AR, Brasil PE,
Hasslocher-Moreno AM, Saraiva RM. Impact of pharmaceutical care on the quality of life of
patients with Chagas disease and heart failure: randomized clinical trial. Trials. 13: 244, 2012.
Strasser RH, Puig JG, Farsang C, Croket M, Li J, van Ingen H. A comparison of the tolerability of
the direct renin inhibitor aliskiren and lisinopril in patients with severe hypertension. J. Hum.
Hypertens. 21 (10): 780-7, 2007.
Tavares LR, Victer H, Linhares JM, de Barros CM, Oliveira MV, Pacheco LC, Viana CH, Pereira
SB, da Silva GP, Mesquita ET. Epidemiology of decompensated heart failure in the city of Niterói:
EPICA - Niterói Project. Arq. Bras. Cardiol. 82 (2): 125-8, 2004.
The Criteria Committee for the New York Heart Association. Nomenclature and criteria for
diagnosis of diseases of the heart and great vessels. 9. ed. Boston, Mass: Little, Brown & Co.,
1994. p. 253-255.
Van Der Wal MHL&Jaarsma T. Adherence in heart failure in the elderly: problem and possible
solutions. Int. J. Cardiol. 125 (2): 203-208, 2008.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 77 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016
Vardeny O, Cavallari, LH, Claggett B, Desai, AS, Anand I, Rossignol P, Zannad F, Pitt B, Solomon
SD. Race influences the safety and efficacy of spironolactone in severe heart failure. Circ Heart
Fail. 6:970-6, 2013.
Warden BA, Freels JP, Furuno JP, Mackay J. Pharmacy-managed program for providing education
and discharge instructions for patients with heart failure. Am. J. Health Syst. Pharm. 71 (2): 134-
9, 2014.
World Health Organization Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology (WHOCC).
WHOCC - ATC/DDD Index. 2014. Disponível em: < http://www. whocc. no/atc_ddd_index/ >.
Acesso em: 20 ago. 2014.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Comparação da solubilidade de diferentes amostras de glibenclamida pelo
método “shake-flask”
Missael Ferreira da Silva1, Leandro Giorgetti1, Marcelo Dutra Duque1, Michele Georges Issa1 &
Humberto Gomes Ferraz1*
1Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, Brasil
*Correspondência:
Humberto Gomes Ferraz
Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.
Rua do Lago, 250 - Prédio Semi-Industrial - Térreo - Cidade Universitária - Butantã - 05508-080 -
São Paulo– SP, Brazil.
Tel.: +55 11 3091-8954.
E-mail: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 79 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
RESUMO
A solubilidade de um fármaco em água está diretamente relacionada com a sua biodisponibilidade,
sendo que o mesmo é considerado solúvel, de acordo com o Sistema de Classificação
Biofarmacêutica (SCB) quando sua maior dose se dissolve completamente em 250 mL de soluções
aquosas numa faixa de pH compreendida entre 1 e 7,2. Dada a importância da solubilidade, o
objetivo do presente trabalho foi determinar, a partir do método do equilíbrio, a solubilidade de
amostras de glibenclamida provenientes de diferentes fornecedores. Para tal, excesso de fármaco foi
adicionado a soluções aquosas de pH entre 1 e 7,2 e submetidos a agitação e temperatura
constantes. Além disso, foram realizadas análises de calorimetria exploratória diferencial (DSC) e
termogravimetria (TG). As três amostras apresentaram maior solubilidade nos meios pH 6,8, 7,2 e
em água purificada. Através dos resultados de DSC e TG, foi possível verificar que todas as
amostras possuem a mesma estrutura cristalina, entretanto, sugere-se que as diferenças de
solubilidade observadas estejam relacionadas à granulometria do material. O método do equilíbrio
foi bastante útil na comparação de amostras de fornecedores distintos, uma vez que foi possível
determinar a sua solubilidade e evidenciar diferenças entre elas.
Palavras-chave: Glibenclamida; Solubilidade; Análise Térmica; Shake-Flask.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 80 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
ABSTRACT
The solubility of a drug in water is directly related to its bioavailability. According to the
Biopharmaceutical Classification System (BCS), a drug is considered soluble when it highest dose
is completely dissolved in a 250 mL aqueous solution with a pH of between 1 and 7.2. Given the
importance of solubility, the purpose of this study is to determine, from the equilibrium method, the
solubility of glibenclamide samples from different suppliers. For this purpose, excess amounts of
the drug were added to aqueous solutions with a pH of between 1 and 7.2 and submitted to constant
shaking and temperature. Furthermore, differential scanning calorimetry (DSC) and
thermogravimetry (TG) analyses were performed. The three samples presented greater solubility in
pH 6.8, 7.2 and in purified water. Through the DSC and TG results, it was possible to ascertain that
all the samples had the same crystal structure; however, it is suggested that the solubility differences
observed may be related to the granulometry of the material. The equilibrium method was quite
useful for comparing samples from different suppliers, since it was possible to ascertain their
solubility and the differences between them.
Keywords: Glibenclamide; Solubility; Thermal Analysis; Shake-flask
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 81 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
INTRODUÇÃO
A solubilidade em meio aquoso é uma propriedade físico-química que interfere diretamente
na biodisponibilidade de um fármaco. Este, quando administrado pela via oral através de uma forma
farmacêutica sólida, deve se dissolver nos fluidos intestinais e ser absorvido pelas vilosidades da
parede do trato gastrintestinal, alcançando a corrente sanguínea, pela qual chegará ao receptor
farmacológico em que exercerá seu mecanismo de ação (Shokhin et al., 2011; Wisen et al., 2011).
De acordo com o Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB), proposto por Amidon et al
(1995), um fármaco é considerado solúvel quando sua maior dose dissolve completamente em 250
mL de soluções aquosas compreendendo o pH fisiológico (1 a 7,2), a 37 oC. Dessa forma, a divisão
das substâncias ativas em quatro classes (I – alta solubilidade e alta permeabilidade; II – baixa
solubilidade e alta permeabilidade; III- alta solubilidade e baixa permeabilidade; IV – baixa
solubilidade e baixa permeabilidade) permitiu uma evolução significativa na área farmacêutica,
resultando inclusive na isenção de estudos de bioequivalência para formulações sólidas orais de
liberação imediata que contêm fármacos comprovadamente solúveis (Strauch et al., 2010).
Recentemente, foi proposto por Tsume et al. (2014) a criação de subclasses de fármacos
dentro do SCB. Os autores propõem a especificação da característica ácida, básica ou neutra dos
fármacos pertencentes às classes II e IV do SCB. Isso se justifica devido ao fato do pKa ser uma
propriedade físico-química do fármaco, exercendo grande influência na solubilidade do mesmo.
Devido à necessidade de regulamentar os estudos de equivalência farmacêutica no Brasil, em
2010 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicou a Resolução RDC nº 31 de
11 de agosto de 2010 (Brasil, 2010), a qual dispõe sobre a realização de estudos de equivalência
farmacêutica e de perfil de dissolução comparativo, solicitando que, no caso de desenvolvimento de
método de dissolução, o relatório contenha dados da avaliação da solubilidade do fármaco, sendo
num primeiro momento mencionado o emprego do método de diagrama de fases.
Dois anos depois, com a publicação da Nota Técnica 003/2013 (Brasil, 2013), o método do
equilíbrio (shake-flask method) passa a ser recomendado por ser um dos mais empregados na
literatura. Tal procedimento consiste na adição de um excesso de fármaco em meios que
compreendem a faixa de pH fisiológico (1,2 a 6,8). Em seguida, esse material é submetido a
agitação constante por certo período de tempo e a temperatura controlada (Shoghi et al., 2013;
Takács-Novák et al., 2013). O cálculo da solubilidade se dá pela quantificação do fármaco
dissolvido, podendo-se utilizar um método espectrofotométrico ou cromatográfico.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 82 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Considerada como um fármaco de Classe II no SCB, a glibenclamida possui
biodisponibilidade variável que é decorrente da sua baixa solubilidade em água (Wei et al., 2008).
Além disso, apresenta três formas polimórficas descritas (Rehder et al., 2012; Suleiman & Najib,
1989) que podem diferir quanto às propriedades físico-químicas, entre elas, a solubilidade. Com
isso, este é um exemplo de fármaco em que o ensaio de solubilidade torna-se fundamental,
permitindo antever os possíveis desafios com relação ao comportamento do produto final na
dissolução e na biodisponibilidade.
Portanto, o objetivo deste trabalho é comparar, a partir do método shake-flask, a solubilidade
de amostras de glibenclamida provenientes de diferentes fabricantes.
MATERIAL E MÉTODOS
Matérias-primas
Foram utilizadas amostras de glibenclamida de três fontes diferentes, denominadas 1, 2 e 3,
gentilmente doadas por indústrias farmacêuticas brasileiras. Com relação aos meios, foram
empregados os reagentes de grau analítico cloreto de sódio, fosfato de potássio monobásico,
hidróxido de sódio, acetato de sódio (Casa Americana de Artigos para Laboratório, São Paulo, SP,
Brasil), ácido acético glacial e ácido clorídrico P.A. 37 %(Labsynth Produtos para Laboratório,
Diadema, SP, Brasil).
Ensaio de solubilidade
De modo a promover a saturação das soluções, quantidade suficiente de fármaco foi
adicionada a frascos contendo 10 mL de HCl 0,1M, tampão clorídrico pH 1,2, tampão acetato de
sódio pH 4,5 e pH 5,8, tampão fosfato de potássio pH 6,8 e pH 7,2, além de água purificada. Cada
amostra foi preparada em triplicata, sendo os respectivos frascos deixados sob agitação a 150 rpm
em incubadora orbital TE - 420 (Tecnal, Piracicaba, SP, Brasil) durante 72 horas em temperatura
constante de 37 °C.
A quantificação do fármaco dissolvido foi realizada por método espectrofotométrico através
da leitura das absorbâncias em equipamento Beckman Coulter DU-640 (Beckman Coulter Inc.,
Fullerton, USA) e as concentrações foram obtidas por meio da regressão linear a partir de curvas
analíticas previamente construídas. O comprimento de onda adotado em todos os meios foi de 231
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 83 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
nm, selecionado conforme varredura prévia das soluções, e a cubeta de quartzo utilizada possuía
caminho óptico de 0,5 cm.
Para efeitos de comparação, foram calculados também a quantidade de fármaco dissolvida em
250 mL de cada meio, o número de dose (Do) segundo a Equação 1 e realizada análise de variância
(ANOVA).
CVMDo /)/( (Equação 1)
Em que:
M é a dose de fármaco (mg)
V é o volume administrado (mL)
C é a solubilidade (mg/mL)
Análise Térmica (DSC e TG)
A análise térmica é uma ferramenta útil para investigar a possível ocorrência de polimorfismo
entre diferentes amostras de um mesmo fármaco, cujas formas cristalinas podem apresentar
características físico-químicas distintas, dentre elas, a solubilidade (Craig, 2007).
Para as análises de DSC, cerca de dois a cinco miligramas de amostra foram acondicionados
em cadinho de alumínio hermético e submetidos a aquecimento em um intervalo de temperatura de
25 ºC a 300 ºC, com velocidade de aquecimento 10 ºC min-1 sob atmosfera dinâmica de nitrogênio
de 50 mL min-1 em calorímetro DSC 2920 (TA Instruments, New Castle, USA). O equipamento foi
previamente calibrado utilizando-se índio metálico como padrão (ponto de fusão 156,4 °C/ ΔHfusão:
28,5 J g-1), no intervalo de temperatura de 25 ºC a 300 °C. Por outro lado, para os ensaios de
termogravimetria (TG), foram utilizados 10 a 15 mg de cada amostra empregando-se equipamento
TA-2950 (TA-Instruments®, New Castle, DE, Estados Unidos), com atmosfera dinâmica de
nitrogênio a 100 mL min-1 de vazão e razão de aquecimento de 10 ºC min-1 em uma faixa de
temperatura de 25 a 600 °C.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ensaio realizado, também conhecido como método do equilíbrio, permite obter o valor da
solubilidade de saturação de um fármaco em um determinado solvente quando este se encontra em
equilíbrio com um excesso de fármaco não dissolvido (Elder & Holm, 2013). Na Tabela 1 são
mostrados os resultados de solubilidade das amostras 1, 2 e 3 da glibenclamida em diferentes meios.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 84 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Tabela 1. Solubilidade, em mg.mL-1, das amostras de glibenclamida nos diferentes meios testados. Os
resultados são apresentados pelo valor médio e desvio padrão de três determinações, tendo o ensaio sido
conduzido a 37 °C, 150 rpm por 72 h.
Meio Fornecedor
1 2 3
HCl 0,1M 4,93 ± 0.27 5,71 ± 0.30 3,57 ± 0.91
Tampão clorídrico pH 1,2 6,03 ± 0.35 5,82 ± 0.79 3,42 ± 0.80
Tampão acetato pH 4,5 4,68 ± 0.74 3,77 ± 0.24 5,44 ± 0.74
Tampão acetato pH 5,8 5,51 ± 1.26 3,20 ± 0.27 3,26 ± 0.75
Tampão fosfato pH 6,8 20,56 ± 2.72 6,39 ± 0.64 6,60 ± 1.08
Tampão fosfato pH 7,2 34,92 ± 0.69 10,81 ± 0.33 11,73 ± 0.05
Água purificada 22,77 ± 1.54 11,37 ± 2.09 11,19 ± 1.06
Nota-se que, como mencionado na literatura (Wei et al., 2008; Löbenberg et al., 2000), a
solubilidade da glibenclamida é dependente do pH. Além disso, foi possível observar diferenças
entre as amostras nos meios em que o fármaco é mais solúvel. Verifica-se que a amostra 1 é cerca
de três vezes mais solúvel nos meios Tampão fosfato pH 6,8 e pH 7,2, o que permite inferir que há
diferenças nas características físico-químicas das matérias-primas estudadas.
A partir dos valores de solubilidade foram calculados a quantidade de fármaco que se dissolve
em um volume de 250 mL e o número de dose (Do), que são apresentados nas Tabelas 2 e 3.
Tabela 2. Quantidade de fármaco, em mg, capaz de se dissolver em 250 mL de meio (S250). Resultados
obtidos a partir dos valores de solubilidade das amostras de glibenclamida provenientes de diferentes
fornecedores.
Meio Fornecedor
1 2 3
HCl 0,1M 1,23 1,43 0,89
Tampão clorídrico pH 1,2 1,51 1,46 0,86
Tampão acetato pH 4,5 1,17 0,94 1,36
Tampão acetato pH 5,8 1,38 0,8 0,82
Tampão fosfato pH 6,8 5,14 1,6 1,65
Tampão fosfato pH 7,2 8,73 2,7 2,93
Água purificada 5,69 2,84 2,8
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 85 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Tabela 3. Número de dose das amostras de glibenclamida, a partir dos resultados obtidos no ensaio de
solubilidade.
Meio Fornecedor
1 2 3
HCl 0,1M 4,06 3,5 5,6
Tampão clorídrico pH 1,2 3,32 3,44 5,85
Tampão acetato pH 4,5 4,27 5,31 3,68
Tampão acetato pH 5,8 3,63 6,25 6,13
Tampão fosfato pH 6,8 0,97 3,13 3,03
Tampão fosfato pH 7,2 0,57 1,85 1,71
Água purificada 0,88 1,76 1,79
Embora a dose do fármaco não seja elevada, sendo apenas de 5 mg, este se enquadra como de
baixa solubilidade, uma vez que não é possível dissolver essa quantidade em 250 mL em todos os
meios testados (Tabela 3). Por outro lado, ao considerar que a glibenclamida é de alta
permeabilidade (Wei et al., 2008), e que os resultados de Do, na sua grande maioria, são superiores
a 1 (Tabela 3), este parâmetro evidencia que a absorção é limitada pela solubilidade do fármaco e
que pode ser variável em cada porção do trato gastrintestinal (Amidon et al., 1995).
A glibenclamida é um ácido fraco com pKa 5,3, e, dessa forma, encontra-se na forma ionizada
quando submetida a condições de pH maiores que o seu pKa (Albu et al., 2007; Martins et al.,
2007; Löbenberg et al., 2000;). Tal fato foi evidenciado por meio do ensaio de solubilidade, no qual
as três amostras do fármaco apresentaram maior solubilidade nas soluções tampão pH 6,8, 7,2 e em
água purificada (Figura 1).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 86 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Figura 1. Variação da solubilidade das diferentes amostras de glibenclamida ao longo da faixa de pH.
De modo a comparar as diferentes amostras, foram realizadas duas análises de variância, a
primeira, contemplando a faixa de pH de menor solubilidade e na sequência, uma nova análise com
os demais meios. Os resultados enfatizam que só é possível observar diferenças significativas entre
os valores de solubilidade das amostras de glibenclamida nos meios em que o fármaco é mais
solúvel, dado pelo baixo valor de p obtido (0,01), inferior ao nível de significância considerado
α=0,05. Nos meios ácidos, não houve diferença significativa entre os valores de solubilidade das
amostras (p = 0,2280). Tal informação é extremamente útil para a seleção do meio de dissolução,
uma vez que este deve ser capaz de dissolver toda a dose do fármaco contida na forma farmacêutica
e refletir as diferenças entre as matérias-primas utilizadas, principalmente quando se trata de
fármacos de solubilidade limitada (Löbenberg et al., 2000).
Dada a baixa solubilidade da glibenclamida, inúmeras técnicas são disponíveis na tentativa de
melhorar esta característica, entre elas, a redução do tamanho de partícula é bastante empregada,
havendo dessa forma, no mercado, matérias-primas com diferentes granulometrias. Além disso,
dependendo da técnica utilizada, alterações na forma cristalina do fármaco também podem
acontecer, assim como a amorfização, podendo acarretar em variações na solubilidade (Nery et al.,
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 87 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
2008; Wei et al., 2008). As diferenças observadas entre os resultados de solubilidade das amostras 1
a 3, podem ser decorrentes do tamanho de partícula das amostras ou de um possível polimorfismo.
A glibenclamida possui três formas polimórficas (I, II e III) que apresentam solubilidades
distintas, sendo a forma III mais solúvel que as formas I e II (Rehder et al., 2012). Sendo a análise
térmica uma ferramenta capaz de verificar diferenças de cristalinidade em amostras de um mesmo
fármaco, análises de DSC e TG foram realizadas para estudar o comportamento térmico das
amostras utilizadas.
A Figura 2 apresenta as curvas DSC para as três amostras. Pode-se observar que a
temperatura onset (na qual ocorre o início do evento endotérmico) está contida na faixa de
temperatura de 171 a 174 ºC, e os picos máximos, representando o fenômeno da fusão, se localizam
no intervalo de 174 a 177 ºC.
Figura 2. Curvas DSC para as amostras 1, 2 e 3 (S1, S2 e S3) de glibenclamida. Análises conduzidas sob
razão de aquecimento de 10 °C min-¹ e atmosfera de N2, em temperaturas de 25 °C a 300 °C.
As análises termogravimétricas das amostras, por sua vez, mostraram dois eventos de perdas
de massa (Figura 3 e Tabela 4). O primeiro, situado na faixa de Tonset entre 202 e 210 oC e o
segundo em temperaturas mais elevadas (Tonset entre 349 e 357 oC).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 88 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Figura 3. Curvas TG para as amostras 1, 2 e 3 (S1, S2 e S3) de glibenclamida. Análises conduzidas sob
razão de aquecimento de 10 °C min-¹ e atmosfera de N2, em temperaturas de 25 °C a 600 °C.
Tabela 4. Valores de perda de massa (em %), temperaturas onset e pico máximo obtidos nos ensaios de TG
para as amostras 1, 2 e 3 de glibenclamida
Primeira
Perda (%) Pico Máximo (oC)
Tonset
(oC)
Segunda
Perda (%) Pico Máximo (oC)
Tonset
(oC)
Resíduo
(%)
1 23,45 220,1 202,2 58,07 385,8 349,6 16,2
2 25,17 240,0 210,0 57,43 393,0 354,8 15,2
3 25,27 227,5 206,4 57,02 390,6 357,8 16,2
Tanto as curvas DSC quanto TG indicam que as amostras de glibenclamida utilizadas neste
estudo não apresentam diferenças em suas estruturas cristalinas. Conforme reportado por Suleiman
e Najib (1989), a forma I apresenta endoterma de fusão em 173,1 °C, enquanto que para a forma II
esse evento ocorre em 148,7 °C. As amostras 1, 2 e 3 apresentaram ponto de fusão mais próximo do
reportado para I. Dessa forma, é possível afirmar que os resultados de solubilidade encontrados
neste trabalho não foram influenciados pelo polimorfismo, mas por outro lado, podem ser
decorrentes de diferenças na granulometria das amostras. Conforme os resultados de solubilidade, é
possível que as amostras 2 e 3 apresentem faixas granulométricas semelhantes, enquanto que, a
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 89 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
amostra 1, pode tratar-se de um material micronizado e, consequentemente com solubilidade
melhorada.
CONCLUSÃO
De acordo com o que foi discutido ao longo deste trabalho, verifica-se que a amostra 1
apresentou maior solubilidade nos meios estudados em relação às amostras 2 e 3, o que pode ser
justificado em função de uma possível diferença entre a granulometria das matérias-primas. Tal
constatação é de suma importância para os fabricantes de medicamentos genéricos no Brasil, que
devem ficar atentos a esse quesito que pode interferir diretamente na qualidade do produto final.
Nesse sentido, o método shake-flask se mostra bastante útil na comparação de amostras de
fornecedores distintos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) pelas bolsas concedidas.
REFERÊNCIAS
Albu F, Georgita C, David V, Medvedovici A. Determination of glibenclamide in human plasma by
liquid chromatography and atmospheric pressure chemical ionization/MS-MS detection. J.
Chromatogr. B. 846(1-2): 222-229, 2007.
Amidon GL, Lennernäs H, Shah VP, Crison JR. A theoretical basis for a biopharmaceutic drug
classification: the correlation of in vitro drug product dissolution and in vivo bioavailability.
Pharm. Res. 12(3), 413-420, 1995.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – Resolução de
Diretoria Colegiada (RDC) Nº. 31, de 11 de agosto de 2010.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica N°. 003/2013
de 16 de abril de 2013.
Craig DQ. Pharmaceutical applications of DSC. In: Craig DQ & Reading M. Thermal analysis of
pharmaceuticals. Boca Raton: CRC Press, 2007. Cap. 3, p. 53-100.
Elder D & Holm R. Aqueous solubility: simple predictive methods (in silico, in vitro and bio-
relevant approaches). Int. J. Pharm. 453(1-2), 3-11, 2013.
Löbenberg R, Krämer J, Shah VP, Amidon GL, Dressman JB. Dissolution testing as a prognostic
tool for oral drug absorption: dissolution behavior of glibenclamide. Pharm. Res. 17(4) 439-
444, 2000.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 90 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016
Martins JD, Nery CGC, Pianetti GA, Viana-Júnior NS, Vianna-Soares CD. Determinação da
glibenclamida por espectrofotometria derivada no ultravioleta para avaliação do teste ou perfil
de dissolução de comprimidos. Braz. J. Pharm. Sci. 43(1), 63-70, 2007.
Nery CGC, Pires MAS, Pianetti GA, Vianna-Soares CD. Caracterização do fármaco
hipoglicemiante glibenclamida. Braz. J. Pharm. Sci., 44(1), 61-73, 2008.
Rehder S, Sakmann A, Rades T, Leopold CS. Thermal degradation of amorphous glibenclamide.
Eur. J. Pharm. Biopharm.80(1): 203-208, 2012.
Shoghi E, Fuguet E, Bosch E, Ràfols C. Solubility–pH profiles of some acidic, basic and
amphoteric drugs. Eur. J. Pharm. Sci., v.48 (1-2): 291-300, 2013.
Shokhin IE, Kulinich YI, Ramenskaya GV, Kukes VG. Essential biopharmaceutical properties of
drugs at the gastrointestinal absorption stage. Pharm. Chem. J. 45(7): 415-418, 2011.
Strauch S, Jantratid E, Dressman JB. Comparison of WHO and US FDA biowaiver dissolution test
conditions using bioequivalent doxycycline hyclate drug products. J. Pharm. Pharmacol. 61(3):
331-337, 2010.
Suleiman MS & Najib NM. Isolation and physicochemical characterization of solid forms of
glibenclamide. Int. J. Pharm.50(2):103-109, 1989.
Takács-Novák K, Szőke V, Völgyi G, Horváth P, Ambrus R, Szabó-Révész P. Biorelevant
solubility of poorly soluble drugs: Rivaroxaban, furosemide, papaverine and niflumic acid. J.
Pharm. Biom. Anal. 83(2): 79-85, 2013.
United States Pharmacopeia 37 ed. Rockville: United States Pharmacopeial Convention, Rockville,
2014.
Wei H, Dalton C, Di Maso M, Kanfer I, Löbenberg R. Physicochemical characterization of five
glyburide powders: A BCS based approach to predict oral absorption. Eur. J. of Pharm.
Biopharm.69: 1046–1056, 2008.
Wisen L, Gao X, Jasti B, Li X. Solubility of pharmaceutical solids. In: Hu, M.; Li, X. Oral
Bioavailability: Basic Principles, Advanced Concepts, and Applications. Hoboken: John Wiley
& Sons Inc., 2011. Cap. 1, p. 21-38
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Caracterização farmacognóstica sazonal de Petiveria alliacea L.
(Phytolaccaceae)
João Paulo Bastos Silva1, Thiago Portal da Paixão1, Ana Cristina Baetas1 & Marcieni
Ataíde de Andrade1,*
1Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal do
Pará, Belém, PA, Brasil.
* Autor para correspondência: Marcieni Ataíde de Andrade, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas,
Universidade Federal do Pará. Rua Augusto Corrêa, 01. Guamá, Belém – Pará. CEP 66075-110. Tel.: +55 91 3201
8075. FAX: +55 91 3201 7201. E-mail: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 92 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
RESUMO
Petiveria alliacea L. é uma planta medicinal que apresenta distribuição geográfica nacional e uso
popular para diversas finalidades. Neste trabalho realizamos uma avaliação farmacognóstica
sazonal, visando fornecer parâmetros de controle de qualidade. A planta foi coletada em dois
períodos de acordo com o regime pluviométrico Amazônico. Para as análises físico-químicas foram
realizadas as determinações da granulometria e do diâmetro médio (D50), índice de espuma (IE),
perda por dessecação por gravimetria (PDG) e por balança com infravermelho (Infratest), teor de
cinzas totais (CT) e pH dos pós. A análise fitoquímica preliminar (AFP) foi realizada em extratos de
diferentes polaridades obtidos através da técnica de extração por Soxhlet. Para os dois períodos
foram obtidos pós moderadamente grossos (D50 entre 0,253-0,277 mm) e a umidade estava dentro
do permitido pela Farmacopeia Brasileira. O IE foi de 125,00 e o teor de extrativos variou entre 15-
20%, para os dois períodos. As CT variaram entre 7,20-8,10% e 4,70-9,43% para as partes aéreas e
subterrâneas da espécie nos períodos seco e chuvoso, respectivamente, e o pH demonstrou pós
fracamente ácidos. A AFP revelou presença de açúcares redutores, alcaloides, depsídios e
depsidonas, taninos e polissacarídeos. Conclui-se que para os períodos abordados a caracterização
farmacognóstica demonstrou parâmetros para o seu controle de qualidade e que a sazonalidade
influenciou diretamente nestes parâmetros.
Palavras-chave: Plantas medicinais, farmacognosia, controle de qualidade, Petiveria alliacea,
produtos naturais.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 93 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
ABSTRACT
Petiveria alliacea L. is a medicinal plant with large popular use and national geographical
distribution. On this paper we perform a seasonal pharmaconostic evaluation in order to supply the
quality control parameters of the powder. To the physic-chemical characterization we perform the
granulometric assay, and the medium diameter size (D50), foaming index (FI), loss on drying by
gravimetric methodology (LD) and infrared-scale (Infratest), content of total ash (TA), pH and
extract content determinations on powder. Preliminary phytochemical analysis (PPA) was
performed on extracts with different polarities obtained through Soxhlet-extraction technique. In
both periods were obtained moderately coarse powders (D50 till 0.253-0.277 mm) and humidity was
in the acceptable values by Brazilian Pharmacopoeia. FI was 125.00 and extract content
corresponded among 15-20% for both periods. TA among 7.20-8.10% and 4.70-9.43% for aerial
parts and roots from the specie (dry and rainy period, respectively), and pH have showed acids
weakly powders. PPA was regarded positivive for reducing suggars, alkaloids, depsides and
depsidones, tannins and polysaccharides in the extracts. We concluded for both periods’
approachement, pharmaconostic characterization data from Petiveria alliacea show parameters that
can be reproduced to quality control and seasonality directly influences this parameters.
Keywords: Medicinal plants, pharmacognosy, quality control, Petiveria alliacea, natural products.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 94 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
INTRODUÇÃO
A utilização de plantas com finalidades terapêuticas remonta a história da humanidade. A
diversidade e a variedade de vegetais existentes na Terra fizeram com que o homem descobrisse de
forma empírica suas diferentes propriedades, incluindo as curativas e paliativas. Após um período
de descrédito as plantas medicinais e seus derivados vêm retomando posição de destaque no
mercado consumidor (De La Cruz, 2008; Mentz & Bordignon, 2007; Cunha, Silva & Roque, 2003;
Hostettmann, Queiroz & Vieira, 2003).
Neste sentido, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS),
preconizadas na Declaração de Alma-Ata (OMS, 1978), a Central de Medicamentos - CEME por
intermédio do Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais - PPPM nos anos de 1982 e 1983
divulgou um elenco de 65 plantas medicinais, com o intuito de incentivar a pesquisa e o
desenvolvimento de fitoterápicos, além da validação do conhecimento tradicional. Uma das
espécies dos vegetais incluído neste elenco é a P. alliacea (Sant’Ana & Assad, 2004).
Popularmente, esta espécie é conhecida como amansa-senhor, guiné, pipi, tipi, anamu,
mucuracaá, embayayendo, ouoembo, entre outros (Camargo, 2007; Rocha, Maranho & Preussler,
2006; Lorenzi & Matos, 2002). Esta variedade de denominações está diretamente relacionada à sua
extensa distribuição geográfica que inclui países da África e da América Tropical, o Sri Lanka, a
Índia e o sudoeste dos Estados Unidos (Nogueira et al., 2010; Sukumaran & Raj, 2008). No Brasil,
particularmente, vários estudos etnobotânicos demonstram a sua presença em diversos estados
(Saraiva et al., 2015; Breitbach et al., 2013; Santos et al., 2012; Coelho de Souza et al., 2004).
Petiveria alliacea é uma herbácea perene dicotiledônea, delgada e ereta, medindo cerca de 1
metro de altura, pertence à classe Equisetopsida C. Agardh, subclasse Magnoliidae Novák ex
Takht., superordem Caryophyllanae Takht., ordem Caryophyllales Juss. ex Bercht. & J. Presl, da
família Phytolaccaceae R. Br. (Tropicos, 2014). Seu nome Petiveria deriva de Jacob Petiver,
farmacêutico e botânico que a descreveu primeiramente, já seu epíteto específico vem do seu odor e
sabor semelhante ao alho (Di Stasi et al., 1989).
A diversidade de informação etnofarmacológicas que a espécie possui conduziu às pesquisas
para comprovação de alguns de seus efeitos farmacológicos. Atualmente, sabe-se que P. alliacea
possui propriedade antiespasmódica, através da diminuição da secreção e motilidade intestinais,
efeitos antiulcerogênico, ansiolítico, analgésico e anestésico (Maia, 2009; Fontoura et al., 2005).
Diante do potencial farmacoterapêutico representado por P. alliacea e considerando-se
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 95 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
também que o controle de qualidade de matérias-primas vegetais e seus derivados devem estar de
acordo com as metodologias oficiais brasileiras, o presente trabalho teve por objetivo o
fornecimento de parâmetros de controle de qualidade farmacognósticos da droga vegetal e de
extratos obtidos da espécie coletada nos períodos chuvoso e seco na região amazônica.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de P. alliacea foram coletadas em dois períodos, de acordo com os índices
pluviométricos regionais – período seco (outubro de 2010) e período chuvoso (abril de 2011), no
município de Acará - PA (01º29’09.0” S / 48º17’94.8” W). Para cada material coletado foram
preparadas exsicatas que foram identificadas e catalogadas pelo botânico Dr. Mário Augusto G.
Jardim e depositadas no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) sob registro MG
94354.
O material coletado em cada período foi divido em partes aéreas (caule, folhas, estames e
inflorescências) e partes subterrâneas (raízes e rizomas). Em seguida foram submetidas a secagem
em temperatura ambiente, e após esta, secagem em estufa com circulação de ar forçado, com
temperatura média de 40°C, por um período de 15 horas. Posteriormente o material foi moído em
moinho de facas e os pós obtidos foram acondicionados em recipientes.
A caracterização farmacognóstica compreendeu as análises físico-químicas realizadas nas
drogas vegetais pulverizadas e a prospecção fitoquímica preliminar nos extratos obtidos com
diferentes líquidos extratores. As análises físico-químicas compreenderam as seguintes
determinações: granulometria e diâmetro médio dos pós; índice de espuma; perda por dessecação,
através do método gravimétrico e em balança com infravermelho; teor de cinzas totais; pH; e teor
de extrativos aquoso a quente (Farmacopeia Brasileira, 2010; 2000; Ansel, Popovich & Allen,
2000).
Os extratos fluidos das partes aéreas e subterrâneas de Petiveria alliacea L. foram
preparados através do processo de extração a quente em sistema fechado sob refluxo com emprego
do aparelho de Soxhlet. Cartuchos de papel filtro contendo 25 g da droga pulverizada foram
inseridos no aparelho e o material sofreu extração cíclica com cinco líquidos extratores de
polaridades diferentes: água, etanol:água (1:1 v/v), metanol:água (1:1 v/v), acetona:água (1:1 v/v) e
acetona:água (7:3 v/v) em uma proporção de 1:12 (m/v) entre droga vegetal/solvente, obtendo-se ao
final 5 extratos de cada parte da droga para cada período (n = 20). O processo de extração foi
realizado durante 2 h e a temperatura de aquecimento utilizada correspondeu a próxima da faixa de
ebulição de cada solvente empregado. Após a obtenção dos extratos, estes foram concentrados para
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 96 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
eliminação dos solventes orgânicos em evaporador rotativo sob baixa pressão (40°C). Como os
concentrados apresentavam grande quantidade de água, estes foram então colocados em estufa (50-
60°C) para redução de volume líquido (volume final dos extratos = 20 mL).
A triagem fitoquímica preliminar foi realizada através de testes qualitativos para a
identificação dos metabólitos: açúcares redutores, alcalóides, depsídios e depsidonas, derivados de
cumarina, esteróides e triterpenóides, flavonóides, polissacarídeos e taninos nos extratos (Costa,
2000). Os resultados foram apresentados de acordo com a presença (+) ou ausência (–) dos
metabólitos nos extratos. Quando foi possível a comparação com os controles positivos (drogas
vegetais clássicas), utilizaram-se os seguintes sinais para designar a intensidade da reação: (+) fraca,
(+ +) média e (+ + +) forte.
Os resultados quantitativos apresentam-se como média ± desvio padrão (n = 3). A análise
estatística foi realizada através do teste de análise de variância (ANOVA) de uma via seguido pelo
teste de Tukey para múltiplas comparações utilizando o software GraphPad Prism versão 5.01.
Diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,01.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (Brasil, 2010), planta
medicinal consiste no vegetal cultivado ou encontrado silvestremente que é utilizada para fins
terapêuticos nas mais diferentes formas de preparações tradicionais. Uma vez que estas representam
insumos com aplicabilidade terapêutica, devem apresentar como todas as outras matérias-primas
farmacêuticas, parâmetros pré-estabelecidos de qualidade que permitam sua reprodutibilidade
(Toledo et al., 2003). Segundo Farias (2010) os parâmetros utilizados para o controle da qualidade
de matérias-primas farmacêuticas são estabelecidos em documentos oficiais, como as Farmacopeias
e Códigos Oficiais.
A Farmacopeia Brasileira encontra-se atualmente em sua quinta edição e, como código
oficial farmacêutico nacional, tem por finalidade a atuação na promoção e proteção da saúde
pública, através do estabelecimento de requisitos e parâmetros de qualidade e segurança aos
insumos estratégicos para a saúde, com ênfase aos medicamentos, apoiando desta forma ações de
controle sanitário e com indução ao desenvolvimento tecnológico brasileiro (Brasil, 2011). O
documento fornece monografias de algumas plantas medicinais, entretanto, um problema observado
é que grande parte de plantas com uso tradicional não se encontram descritas na Farmacopeia
Brasileira.
A análise granulométrica demonstrou que os pós obtidos das partes aéreas de P. alliacea
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 97 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
apresentavam diâmetro médio (D50) de 0,253 mm para o período seco e 0,277 mm para o período
chuvoso, enquanto os pós das partes subterrâneas apresentavam D50 de 0,256 e 0,264 mm para os
mesmos períodos, respectivamente (tabela 1). Através da análise estatística foi possível observar
diferenças significantes (p < 0,01) entre os pós das partes aéreas do período seco e do período
chuvoso e entre os pós das partes aéreas do período chuvoso e das partes subterrâneas do período
seco. Entretanto, os pós apresentam uma proximidade numérica, quanto ao grau de divisão, o que
se explica devido à utilização de malha com mesma abertura nominal no processo de moagem dos
materiais coletados nos dois períodos. Quanto à classificação descrita pela Farmacopeia Brasileira
(2010), todos os pós foram classificados como pós moderadamente grossos.
Tabela 1. Valores médios das análises físico-químicas dos pós de Petiveria alliacea L. colhida nos períodos seco e
chuvoso de acordo com a pluviosidade amazônica. (n=3).
Letras diferentes na mesma linha p < 0,01; letras iguais na mesma linhas p > 0,01.
*Não realizado em triplicata
Para os períodos seco e chuvoso e diferentes partes da planta, os índices de espuma e as
quantidades de droga vegetal necessárias para formar 1 cm de espuma foram os mesmos, quando
avaliados pelo teste do índice de espuma (tabela 1). Segundo Costa (2000), o índice de espuma
consiste na maior diluição do decocto preparado na técnica que, de acordo com as circunstâncias do
ensaio, é capaz de formar um anel espumídico de 1 cm de altura persistente. O teste também infere
ser a propriedade afrogênica indicativa da presença, principalmente, de saponinas (Borella et al.,
2006).
O excesso de água em plantas medicinais auxilia no desenvolvimento bacteriano e fúngico,
presença de insetos e ainda na degradação, através da ação de enzimas, dos fitoconstituintes (Silva-
Júnior et al., 2011; Farias, 2010). Segundo a Farmacopeia Brasileira (2010) o ensaio de perda por
dessecação destina-se a quantificar as substâncias voláteis de qualquer natureza nas plantas, sendo
que estas podem ser representadas somente por água ou não. Os resultados encontrados para os pós
Índices / Teores Partes aéreas Partes subterrâneas
Período Seco Período Chuvoso Período Seco Período Chuvoso
Diâmetro médio - D50 (mm) 0,253 ± 0,006 A 0,277 ± 0,001 B 0,256 ± 0,004 A 0,264 ± 0,001 A,B
Índice de espuma* 125,00 125,00 125,00 125,00
PDG (%) 8,500 ± 0,000 A 9,667 ± 0,288 B 8,000 ± 0,000 A 8,00 ± 0,00 A
Infratest (%) 7,367 ± 0,252 A 8,867 ± 0,115 B 7,267 ± 0,153 A 7,500 ± 0,300 A
Cinzas totais (%) 8,100 ± 0,173 A 9,433 ± 0,231 B 7,200 ± 0,173 C 4,700 ± 0,000 D
pH 5,763 ± 0,021 A 6,100 ± 0,050 B 5,633 ± 0,046 C 5,793 ± 0,021 A
Teor de extrativos (%) 16,667 ± 2,887 A 20,000 ± 0,000 A 15,000 ± 0,000 A 15,000 ± 0,000 A
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 98 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
das partes aéreas de P. alliacea demonstraram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,01)
nos teores de umidade avaliados através das duas técnicas utilizadas (gravimetria e Infratest). O pó
das partes aéreas de P. alliacea coletadas no período chuvoso amazônico apresentaram maior teor
de umidade (PDG 9,67% e Infratest 8,87%) quando comparado ao pó da planta coletada no período
seco (PDG 8,5% e Infratest 7,36%). Os pós das partes subterrâneas não apresentaram diferenças
significativas (p > 0,01) no teor de umidade quando coletados em diferentes períodos. Esta
diferença pode estar relacionada ao maior acúmulo de água em órgãos superiores do vegetal e
sugere que deva ser aumentado o tempo e/ou a temperatura de secagem deste material quando
coletado em período chuvoso. Apesar destas diferenças, todos os valores dos teores de umidade
estão dentro dos limites estabelecidos na Farmacopeia Brasileira (2010). O resultado para o teor de
umidade é semelhante ao encontrado por Audi et al. (2001), que avaliaram a perda por dessecação
pelo método gravimétrico da droga vegetal obtida das raízes e das folhas de P. alliacea (91,47% de
perda por dessecação, ou seja, 8,53% de umidade residual).
A metodologia descrita para a o teor de cinzas totais quantifica as cinzas fisiológicas e não-
fisiológicas presente em drogas vegetais através da incineração em temperaturas elevadas (Silva-
Júnior et al., 2011). Os pós de P. alliacea, de acordo com a metodologia farmacopeica, não
carbonizaram na temperatura máxima descrita no documento e os valores demonstrados aqui
representam o teor de resíduo formado na calcinação à temperatura de 600 ºC. Este fato foi
comprovado devido a coloração azul-esverdeada que o material apresentou após o procedimento.
Os mesmos também não apresentaram diferenças estatísticas (p > 0,01) o que sugere não haver
influências do período de coleta e da parte do vegetal neste parâmetro.
A determinação do pH foi realizada no decocto do vegetal com especificações de preparo
segundo a metodologia da Farmacopeia Brasileira (2000). Quanto ao período de coleta, os pós das
partes aéreas e subterrâneas coletadas no período chuvoso apresentaram-se mais alcalinos (p < 0,01)
em relação aos pós da espécie coletada no período seco. No entanto, em relação as partes coletadas,
os pós das partes subterrâneas apresentaram caráter mais ácido (p < 0,01) em relação aos pós das
partes aéreas, considerando-se o mesmo período de coleta. Apesar destas diferenças, todos os pós
apresentaram caráter fracamente ácido (pH 4,0 a 6,6) de acordo com a Farmacopeia Brasileira
(2010). É sabido que as plantas apresentam uma diversidade de substâncias ácidas em sua
composição, particularmente os ácidos orgânicos de vários grupos no citoplasma celular (Hubinger,
2009), estes ácidos podem apresentar-se em concentrações diferentes nos diferentes órgãos de um
vegetal, bem como no período de coleta.
O teor de extrativos encontrados para os diferentes pós de P. alliacea não apresentou
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 99 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
diferenças estatísticas (p > 0,01) quando comparados os diferentes períodos de coleta e os diferentes
órgãos do vegetal. Este resultado foi semelhante ao encontrado por Audi et al. (2001), que relataram
um teor de extrativos de 21,83% para a droga vegetal obtida das folhas e raízes de P. alliacea.
Os vegetais apresentam um metabolismo altamente elaborado e organizado. As rotas de
síntese de constituintes apresentam duas vias, o metabolismo primário e o metabolismo secundário,
que apresentam diversos compostos de uma variedade de classes químicas sintetizados. Inúmeros
compostos já foram agrupados em classes de metabólitos e tiveram ensaios destinados a sua
identificação em drogas vegetais e seus derivados, em particular, estão às substâncias orgânicas
produzidas no metabolismo secundário (metabólitos secundários), que podem, ou não, ser
responsáveis por atividades biológicas (Toledo et al., 2003).
Com o intuito de avaliar o efeito de diferentes solventes sobre a extração de diferentes
metabólitos nas drogas vegetais das partes aéreas de P. alliacea coletadas nos períodos seco e
chuvoso, foi realizada a extração em sistema de Soxhlet com emprego de cinco sistemas de
solventes diferentes. O quadro 1 apresenta os metabólitos identificados através de ensaios
qualitativos nos diferentes extratos obtidos das partes aéreas e subterrâneas de P. alliacea. Na
maioria dos extratos foram identificados os metabólitos açúcares redutores, alcalóides, depsídios e
depsidonas e taninos, onde também foi observado que não houve diferença quanto ao período de
coleta. Extratos metanólicos obtidos de partes aéreas da espécie demonstraram resultados
semelhantes, com testes positivos para fenóis e taninos, saponinas e alcaloides (Oliveira, Ramos &
Almeida, 2013; Adejumo et al., 2011). Quanto aos polissacarídeos, estes somente foram
identificados nos extratos das partes subterrâneas e não houve diferença quanto aos períodos de
coleta. Em todos os extratos não foram identificados pela metodologia empregada, esteroides e
triterpenóides, derivados de cumarina e flavonoides. Estes metabólitos, entretanto, já foram
identificados previamente em diferentes extratos obtidos de P. alliacea (Gomes, 2006; Fontoura et
al., 2005; Monache & Suarez, 1992; Rocha & Bonzani da Silva, 1969).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 100 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
Quadro 1. Prospecção fitoquímica preliminar dos extratos obtidos dos pós das partes aéreas e subterrâneas de Petiveria alliacea L. colhida nos períodos seco e chuvoso de acordo com a pluviosidade amazônica.
A não identificação destes compostos não caracteriza a sua ausência na espécie, pois são
diversos os fatores que, segundo Gobbo-Neto & Lopes (2007), interferem na constância de
metabólitos nas plantas, assim como a sua quantidade. Estes fatores incluem temperatura, altitude,
sazonalidade, índice pluviométrico, radiação UV, ritmo circadiano, composição atmosférica,
herbivoria e ataque de patógenos, idade, a composição e quantidade no solo de água,
micronutrientes e macronutrientes. Sahoo, Manchikanti & Dey (2010) consideram outros fatores
determinantes como armazenagem, secagem, extração e processo final de embalagem.
CONCLUSÃO
Para os períodos abordados, os dados da caracterização farmacognóstica obtidos pelas
análises físico-químicas dos pós de P. alliacea demonstram parâmetros que podem ser
reproduzidos, através das metodologias empregadas, para o controle de qualidade. Foi observado
também, que houve influência da sazonalidade nos parâmetros farmacognósticos avaliados nos pós
da espécie que devem ser observadas durante o processo de processamento da droga vegetal e
possível desenvolvimento de fitoterápicos. Estes resultados fornecem bases para que sejam
realizados mais ensaios com o intuito de elaborar a monografia completa da espécie, visto que a
mesma apresenta uso popular reconhecido no Brasil, contribuindo desta forma para a melhoria na
qualidade e segurança no uso da droga vegetal e seus derivados.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 101 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa pela concessão
de bolsa de iniciação científica.
REFERÊNCIAS
Adejumo OE, Owa-Agbanah IS, Kolapo AL, Ayoola MD. Phytochemical and antisickling activities
of Entandrophragma utile, Chenopodium ambrosioides and Petiveria alliacea. J. Med. Plants Res.
5, 1531 – 1535, 2011.
Ansel HC, Popovich NC & Allen LV. Farmacotécnica, formas farmacêuticas e sistemas de liberação
de fármacos. 6. ed. São Paulo: Premier, 2000. 568 p.
Audi EA, Vieira de Campos EJ, Rufino M, Garcia Cortez D, Bersani-Amado CA, Lira Soarez LA,
Ros Petrovick P, Palazzo de Mello JC. Petiveria alliacea L.: plant drug quality control,
hydroalcoholic extract standardization and pharmacological assay of lyophilized extract. Latin Am.
J. Pharm. 20: 225 – 232, 2001.
Borella JC, Duarte DP, Novaretti AAG, Menezes Jr. A, França SC, Rufato CB, Santos PAS,
Veneziani RCS, Lopes NP. Variabilidade sazonal do teor de saponinas de Baccharis trimera (Less.)
DC (Carqueja) e isolamento de flavona. Rev. Bras. Farmacogn. 16(4): 557 – 561, 2006.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria
Colegiada nº 14, de 31 de março de 2010.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 1.015, de 20 de
julho de 2011.
Breitbach UB, Niehues M, Lopes NP, Faria JEQ, Brandão MGL. Amazonian Brazilian medicinal
plants described by C.F.P. von Martius in the 19th century. J. Ethnopharmacol. 147: 180 – 189,
2013.
Camargo MTLA. Amansa-senhor: a arma dos negros contra seus senhores.
Rev. Pós Ci. Soc. 4(8): 31 – 42, 2007.
Coelho de Souza G, Haas APS, von Poser GL, Schapoval EES, Elisabetsky E.
Ethnopharmacological studies of antimicrobial remedies in the south of Brazil. J. Ethnopharmacol.
90: 135 – 143, 2004.
Costa AF. Farmacognosia. 3 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. 992 p.
Cunha AP, Silva AP & Roque OR. Plantas e produtos vegetais em fitoterapia. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2003. 729 p.
De La Cruz MG. Plantas medicinais de Mato Grosso: a farmacopéia popular dos raizeiros. Cuiabá:
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 102 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
Carlini & Caniato, 2008. 224 p.
Di Stasi LC, Santos EG, Santos CM, Hiruma A. Plantas medicinais da Amazônia. São Paulo:
UNESP, 1989. 592 p.
Farias MR. Avaliação da qualidade de matérias-primas vegetais. In: Simões CMO. (Org.).
Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6 ed. Porto Alegre; Florianópolis: Ed. da UFRGS; Ed.
da UFSC, 2010. Cap. 12, p. 263 – 288.
Farmacopéia Brasileira. 4 ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
Farmacopeia Brasileira. 5 ed. Brasília: Anvisa, 2010. 546 p.
Fontoura MCP, Silva SN, Abreu IC, Gonçalves JRS, Borges MOR, Borges ACR. Efeito de
Petiveria alliacea L. na secreção e motilidade intestinal de roedores. Rev. Bras. Pl. Med. 7(2): 37 –
43, 2005.
Gobbo-Neto L & Lopes NP. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos
secundários. Quím. Nova 30(2): 374 – 381, 2007.
Gomes PB. Avaliação dos efeitos centrais e antinociceptivos das frações isoladas da raiz de
Petiveria alliacea L. em camundongos. 2006. Fortaleza. 174 p. Dissertação (Mestrado em
Farmacologia), Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Federal do Ceará. Ceará.
Hostettmann K, Queiroz EF & Vieira PC. Princípios ativos de plantas superiores. São Carlos:
EdUFSCar, 2003. 234 p.
Hubinger SZ. Estudo farmacognóstico e desenvolvimento de fitocosmético de ação antioxidante dos
frutos de Dimorphandra mollis Benth. (Leguminosae-Caesalpiniodeae). 2009. Araraquara. 148 p.
Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas), Faculdade de Ciências Farmacêuticas,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. São Paulo.
Lorenzi H & Matos FJA. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto
Plantarum, 2002. 576 p.
Maia CS. Análise do desenvolvimento placentário e fetal em ratas, após administração do extrato
hidroalcoólico da raíz de Petiveria alliacea L. 2009. Recife. 33 p. Dissertação (Mestrado em
Patologia), Universidade Federal de Pernambuco. Pernambuco.
Mentz LA & Bordignon SAL. Nomenclatura botânica, classificação e identificação de plantas
medicinais. In: Simões CMO. (Org.). Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6 ed. Porto
Alegre/Florianópolis: Ed. da UFRGS/Ed. da UFSC, 2007. Cap. 9, p. 211 – 227.
Monache FD & Suarez LEC. 6-C-formyl and 6-C-hydroxymethyl flavones from Petiveria alliacea.
Phytoch. 31(7): 2481 – 2482, 1992.
Nogueira NW, Freitas RMO, Sousa CMG, Dombroski JLD, Costa CT. Protocolo de desinfestação
de Petiveria alliacea L. RVADS 5(1): 157 – 161, 2010.
Oliveira DSB, Ramos RS & Almeida SSMS. Phytochemical study, microbiological and
cytotoxicity activity in Artemia salina Leach, aerial parts of Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 103 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016
Biota Amazônia. 3(3): 76 – 82, 2013.
Organização Mundial da Saúde. Declaração de Alma-Ata. Conferência internacional sobre
cuidados primários de saúde 1978. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf>. Acesso em: jan. 2011.
Rocha AB & Bonzani da Silva J. Análise cromatográfica em camada delgada de alguns princípios
ativos da raiz de Petiveria alliacea. Rev. Fac. Farm. Odont.. Araraquara. 3, 65 −72, 1969.
Rocha LD, Maranho LT & Preussler KH. Organização estrutural do caule e lâmina foliar de
Petiveria alliacea L., Phytolaccaceae. Rev. Bras. Farm. 87(3): 98 – 101, 2006.
Sahoo N, Manchikanti P & Dey S. Herbal drugs: standards and regulation. Fitoter. 81: 462 – 471,
2010.
Sant’Ana PJP & Assad ALD. Programa de pesquisa em produtos naturais: a experiência da CEME.
Quím. Nova 27(3): 508 – 512, 2004.
Santos JFL, Pagani E, Ramos J, Rodrigues E. Observations on the therapeutic practices of riverine
communities of the Unini River, AM, Brazil. J. Ethnopharmacol. 142: 503 – 515, 2012.
Saraiva ME, Ulisses AVRA, Ribeiro DA, Oliveira LGS, Macêdo DG, Sousa FFS, Menezes IRA,
Sampaio EVSB, Souza MMA. Plant species as a therapeutic resource in areas of the savanna in the
state of Pernambuco, Northeast Brazil. J. Ethnopharmacol. 171: 141 – 153, 2015.
Silva-Junior JOC, Costa RMR, Teixeira FM, Barbosa WLR. Processing and quality control of
herbal drugs and their derivatives. In: Shoyama Y (Ed.). Quality control of herbal medicines and
related areas. Croácia, 2011. Cap. 11, p. 195 – 222. Disponível em:
<http://www.intechopen.com/books/quality-control-of-herbal-medicines-and-related-
areas/processing-and-quality-control-of-herbal-drugs-and-their-derivatives>. Acesso em: mar.
2016.
Sukumaran S & Raj ADS. Rare and endemics plants in the sacred groves of Kanyakumari district in
Tamil Nadu. Ind. J. For. 31(4): 611 – 616, 2008.
Toledo ACO, Hirata LL, Buffon MCM, Miguel MD, Miguel OG. Fitoterápicos: uma abordagem
farmacotécnica. Rev. Lecta 21(1-2): 7 – 13, 2003.
Tropicos. Petiveria alliacea L. Disponível em: <http://www.tropicos.org/Name/24800061>. Acesso
em: jul. 2014.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Método Analítico para doseamento de Fumarato de Tenofovir Desoproxila por
cromatografia líquida
Erieldes Sousa Silva1, Mariana Bortholazzi Almeida1, Marlene Maria Fregonezi-Nery2, Mirela
Fulgencio Rabito2, Vinicius Ricardo Acquaro Junior1, Tiago Bervelieri Madeira1 & Suzana Lucy
Nixdorf *1
1 Departamento de Química, Universidade Estadual de Londrina, 86057-970 Londrina – PR, Brasil 2 Departamento de Farmácia, Universidade Estadual de Londrina, 86057-970 Londrina – PR, Brasil
Autor Correspondente: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências da Saúde, Departamento
de Ciências Farmacêuticas, Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445 Km 380, CEP 86.057-970, Londrina - PR, Brazil.
Telefone/ Fax: +55 (43) 3348-2880.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 105 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
RESUMO
Tenofovir Disoproxil Fumarato (FTD) é o princípio ativo de um medicamento anti-retroviral usado
para o tratamento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e para Hepatite B. O
objetivo deste estudo foi desenvolver e validar um método rápido, sensível e específico de
cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC) de fase reversa para a determinação quantitativa
da FTD. Diferentes parâmetros de desempenho analítico, como linearidade, precisão, exatidão,
limite de quantificação (LQ), limite de detecção (LD) e robustez foram determinados de acordo
com RDC 899/03. O método foi proposto para a determinação do teor de FTD em comprimidos e
matéria-prima utilizando os princípios da química verde. O FTD foi analisado aplicando coluna C-
18 (4.6 x 250 mm, 5 μm) como fase estacionária a 30 °C. O método foi desenvolvido usando apenas
água ultrapura acidificada com ácido acético (pH 3,00) como eluente, com fluxo de 0,7 mL min-1 a
210 nm. O método foi considerado linear, na faixa de concentração de 10- 500 µg mL-1, e sensível
com LD e LQ de 0,13 µg mL-1 e 0,42 µg mL-1, respectivamente. O método mostrou-se exato com
média de recuperação de 99,87% e preciso com valores de DPR (Desvio Padrão Relativo) intra-dia
e inter-dia inferiores a 2%.
Palavras-chave: Controle de Qualidade, HPLC, Anti-retrovirais, Química sustentável.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 106 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
ABSTRACT
Tenofovir disoproxil fumarate (FTD) is the principle active of antiretroviral drug used in AIDS and
hepatitis B therapy. The purpose of this study was to develop and validate a rapid, sensitive, and
specific reversed-phase high-performance liquid chromatography method for the quantitative
determination of FTD. Different analytical performance parameters such as linearity, precision,
accuracy, limit of quantification (LOQ), limit of detection (LOD), and robustness were determined
according to RDC899/03. A method has been proposed for determining content of FTD in tablets
and raw material using green chemistry principles. The FTD was analyzed applying C-18 column
(4.6x 250 mm, 5μm) as stationary phase at 30ºC. The method was developed using only ultrapure
water acidified by acetic acid (pH 3.00) as eluent, at flow-rate of 0.7 mL min-1 at 210 nm. The assay
was linear over the concentration range of 10- 500 µg/mL and sensitive with LOD and LOQ values
equal to 0,13 µg mL-1 and 0,42 µg L-1 respectively. The method was accurate with percent mean
recovery from 99,87% and precise as percent RSD (relative standard deviation) values for intra-day,
and inter-day precision were less than 2%.
Keywords: Quality Control, HPLC, Antiretroviral, Sustainable Chemistry.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 107 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
INTRODUÇÃO
O Fumarato de Tenofovir Desoproxila (FTD) é um antirretroviral, pertencente à classe dos
inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo e nucleotídeo (ITRNN) (Garforth,
Parniak & Prasad, 2008; Lavra, 2006). O FTD é um pró-fármaco e, sua atividade antiviral necessita
que esse seja fosforilado por quinases, cujo metabólito formado atua na inibição competitiva com o
desoxinucleotídeo trifosfato fisiológico e impede replicação viral (Bennetto-Hood, Long & Acosta,
2007; Souza & Almeida, 2003).
Os fármacos análogos de nucleosídeos destacam-se como terapêutica de primeira linha contra a
infecção pelo HIV-1 (Berg et al., 2010; Garforth, Parniak & Prasad, 2008). Existem oito
medicamentos nucleosídeo-nucleotídeo capazes de inibir a enzima transcriptase reversa: zidovudina
(AZT), estavudina (D4T), zalcitabina (DDC), lamivudina (3TC), didanosina (DDI), abacavir
(ABC), emtricitabina (FTC) e fumarato de tenofovir desoproxila (FTD) (De Clercq, 2009; Souza &
Almeida, 2003).
No Brasil, o FTD é utilizado para o tratamento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA
ou AIDS), desde julho de 2003 e, apresenta ainda resposta positiva para supressão do vírus da
hepatite B (Berg et al., 2010; Gish et al., 2005). O Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais
estima que aproximadamente 734 mil pessoas vivem com HIV/AIDS no Brasil no ano de 2014,
correspondendo a uma prevalência de 0,4% (Boletim Epidemiológico HIV/AIDS, 2014).
O FTD, por ser considerado estratégico pelo Programa Nacional de DST-AIDS e de interesse para a
saúde pública no País, em 2008, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) negou a
concessão da patente, detido pela Indústria Farmacêutica Gilead (EUA) para o Viread® (Fortunak &
Antunes, 2014; FUNED, 2014). Sem o reconhecimento dos direitos da patente, surgiu a
oportunidade para outras empresas solicitarem registro do FTD como medicamento genérico e
similar.
A quantificação do FTD descrita na literatura, em sua grande maioria, é aplicada à sua
determinação em fluidos biológicos e/ou em associação de fármacos. A determinação no plasma do
FTD foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com detecção por
fluorescência (Jullien et al., 2003; Sparidans et al., 2003) e por detector de arranjo de diodos
(Sentenac et al., 2003). Estudos relatam ainda a determinação simultânea de emtricitabina e FTD
no plasma humano utilizando detector de arranjo de diodos (King et al., 2006; Rezk, Crutchley &
Kashuba, 2005) e LC/MS/MS (Delahunty, Bushman & Fletcher, 2006; Massaki et al., 2007) e a
quantificação para estudos de bioequivalência para estes fármacos utilizando HPLC acoplado ao
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 108 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
detector de massas (Gomes et al., 2008) e HPTLC (Joshi et al., 2009). A utilização do LC/MS/MS
para determinação de FTD no plasma, também foi descrita para comprimidos (Kandagal et al.,
2008).
Para FTD em formas farmacêuticas foi proposta a determinação simultânea de emtricitabina,
tenofovir e efavirenz em comprimidos por HPLC (Mangoankar & Desai, 2008), sendo que os
métodos encontrados para a determinação simultânea de emtricitabina e FTD em comprimidos
foram utilizando como fase móvel acetonitrila: tampão fosfato (pH 3,0 ± 0,05): trietanolamina
(70:30:0,5, V/V/V), com detecção no UV (Sharma & Gupta, 2012).
O método desenvolvido em HPLC para quantificação do FTD em comprimidos com detecção
no UV utiliza como fase móvel a mistura de tampão dihidrogeno ortofosfato de sódio (pΗ 2,3) e
metanol (49:51, V/V) (Sharma et al., 2012), já a determinação por HPLC em associação de
lamivudina e FTD foi proposta de duas formas, utilizando metanol: água (70:30, V/V), e detecção
no UV (Hymavathi, Babu & Afroz, 2012) ou empregando tampão fosfato (pH 6,0): metanol: água
(33:65:2, V/V/V) como fase móvel, e detecção em UV (Gorja & Bandla, 2013).
A literatura ainda aponta o desenvolvimento de métodos espectrofotométricos empregando
derivada para determinar a associação de FTD com emtricitabina (Behera et al., 2011; Patel et al.,
2009; Shirkhedkar, Bhirud & Surana, 2009) e com lamivudina (Karunakaran, Kamarajan &
Thangarasul, 2010; Ramesh et al., 2011). Além disso, o método espectrofotométrico foi descrito
para determinação de FTD em matéria-prima e comprimido (Alexandrino, 2014 et al; Pratapareddy
& Chakravarthi, 2012). Estudos de degradação ácida e básica do FTD (Sutar, 2012), também foram
descritos.
Apesar de o FTD estar disponível comercialmente, sua monografia não consta em Farmacopeias
recomendadas pela ANVISA. O FTD está descrito na lista da “USP Pending Monographs” e
embora a publicação na web tenha sido autorizada pela FDA (Food and Drug Administration) para
comercialização do fármaco em território americano, ainda não faz parte do compêndio oficial e
pode sofrer alterações (USP, 2015). A técnica descreve a utilização de HPLC com acetonitrila: água
(60:40, V/V) como fase móvel.
Sabe-se que a escolha do método analítico para doseamento deve ser criteriosa, exigindo que esse
seja preciso e exato, pois falhas são inadmissíveis, já que comprometem a segurança e eficácia do
medicamento. Por isso, a maioria das monografias da Farmacopeia Americana já empregam
métodos cromatográficos. No entanto, apesar da eficiência da técnica, volumes consideráveis de
solventes orgânicos provenientes da fase móvel ainda são gerados, o que ocasiona preocupação
constante e motiva a busca por alternativas que evitem ou minimizem a produção de resíduos. Este
direcionamento na questão da redução do impacto da atividade química ao ambiente vem sendo
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 109 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
chamado de green chemistry, ou química verde, química limpa, química ambientalmente benigna,
ou ainda, química autossustentável (Lenardão et al., 2003). Diante disso, esse trabalho teve como
objetivo desenvolver um método eficiente para determinação dos teores de FTD em matéria-prima e
em comprimidos no controle de qualidade, diferenciando-se por aplicar reagentes de baixa
toxicidade, seguindo os preceitos de química limpa/verde em HPLC.
PARTE EXPERIMENTAL
Materiais
Produtos farmacêuticos, padrão de referência e solventes
O padrão secundário (99,9% - lote PD-0217) e a matéria-prima (98,9% - lote 13327/2011) de FTD
foram cedidos pela Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda (Itapira, São Paulo, Brasil). A
solução de amostra sem FTD foi preparada com os excipientes grau farmacêutico: amido de milho,
estearato de magnésio, croscarmelose sódica, lactose monoidratada, celulose microcristalina,
hidroxipropilmetilcelulose, dióxido de titânio, propilenoglicol 400, polietilenoglicol, triacetina. A
solução do revestimento foi preparada com Opadry II Y-30-10671-A (composição: FD&C Azul nº2
laca de alumínio). Os comprimidos de FTD 300 mg não comercializados, distribuídos gratuitamente
na rede pública do País, foram cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Londrina.
Os solventes utilizados foram de grau HPLC - acetonitrila (J. T. Baker Austin, EUA) e metanol
(J.T. Baker, EUA); ácido acético glacial P.A. (ECIBRA, Biotec, Alquimia, Brasil); água ultrapura
(Millipore, MA, EUA).
Equipamentos
Utilizou-se um sistema cromatográfico á líquido de alta eficiência Alliance, modelo e2695
(Waters), composto por: bomba com gerenciador quaternário de solventes e módulo de
desgaseificação; amostrador automático com controle de temperatura; forno com coluna de fase
reversa octadecil X-Terra C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters); e detector de arranjo de fotodiodos
(Photodiode Array Detector – PDA, modelo 2998); controlado pelo software Empower 2 (Waters,
Milford, MA, EUA).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 110 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Parâmetros cromatográficos
A fase móvel foi constituída de água ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0 (fase A) e água
ultrapura (fase B) na proporção de 30:70 (v/v) com vazão de 0,7 mL min-1 de modo isocrático. As
análises foram efetuadas em coluna X-Terra® C18 mantida a 30 ºC, com volume injetado de 10,0
µL. O tempo de corrida foi de 15 min com detecção no ultravioleta a 210 nm.
Todas as soluções (padrão, matéria-prima, amostra sem FTD e comprimidos) foram preparadas
utilizando como solvente a fase móvel A. As soluções foram filtradas em membrana de acetato de
celulose 0,2 µm (13 mm, Sartorius Stedim Biotech, Alemanha).
Validação do método analítico
Os ensaios para determinação dos parâmetros de validação foram realizados de acordo com
recomendações da legislação vigente RE 899/03 (BRASIL, 2003).
Especificidade
A especificidade foi avaliada pela semelhança entre o tempo de retenção do padrão secundário, da
matéria-prima e dos comprimidos; através da pureza espectral, dada pela absorvância em toda a
faixa do espectro do ultravioleta-visível para cada pico registrado no cromatograma, comparando-se
as semelhanças dos espectros obtidos na análise do padrão secundário e das amostras nas
concentrações de 100 µg mL-1; e ainda pela ausência de coeluição verificada com taxas de
recuperação dessas entre 98 e 102% (BRASIL, 2003). A ausência de interferentes foi verificada
também pela ausência de resposta analítica no tempo de retenção do fármaco na corrida
cromatográfica, quando da injeção do branco (água ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0 e
água ultrapura na proporção de 30:70 (v/v)), da amostra sem FTD e da solução de revestimento.
Linearidade
O estudo da linearidade foi realizado pelo levantamento de 3 curvas analíticas contendo 5
concentrações de padrão em triplicata, preparados a partir da diluição da solução estoque de 500,0
µg mL-1, para 250,0; 150,0; 75,0; 25,0; 10,0 µg mL-1. A Equação de reta, coeficiente de correlação
linear (r) e os resíduos (p>0,05) foram determinados.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 111 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Precisão e Precisão Intermediária
A precisão foi avaliada pela determinação sucessiva do FTD de 6 soluções de padrões preparados
na concentração de 250,0 µg mL-1. A precisão intermediária foi avaliada nas mesmas condições em
três dias consecutivos e por diferentes operadores.
Exatidão
O estudo da exatidão foi realizado pelo teste de recuperação com a adição de 3 concentrações
conhecidas do padrão secundário (50,0, 100,0 e 150,0 µg mL-1) na solução da amostra comprimidos
(50,0 µg mL-1), em triplicata (n=3).
Limite de detecção (LD) e Limite de quantificação (LQ)
Os limites de detecção e de quantificação foram calculados pela divisão da média do desvio padrão
dos coeficientes lineares das 3 curvas de calibração pela média dos coeficientes angulares das
curvas, multiplicados por 3 e 10, respectivamente.
Robustez
No ensaio de robustez foram avaliados: variação do pH da fase móvel (2,95; 3,00 e 3,05), vazão
(0,69; 0,70 e 0,71 mL min-1), temperatura do forno da coluna (29, 30 e 31oC) e marca do ácido
acético glacial p.a. (Ecibra, Biotec, e Alquimia, Brasil).
Aplicação do método analítico em amostras
-Matéria prima: preparou-se uma solução de 100,0 µg mL-1, em triplicata (n=3).
-Comprimidos: determinou-se o peso médio de 20 unidades de comprimidos que foram triturados e
preparou-se uma solução de 100,0 µg mL-1, em triplicata (n=3).
Todas as soluções foram filtradas em membrana de acetato de celulose 0,2 µm e injetadas no
sistema cromatográfico nas condições otimizadas.
Análise estatística
As análises de regressão linear e multivariada de resíduos foram feitas utilizando-se o software
Origin Pro versão 8.6 (2012).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 112 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a determinação da concentração de FTD, considerou-se a natureza do fármaco, sua pureza, a
disponibilidade econômica dos equipamentos e reagentes. Optou-se por utilizar um sistema de
HPLC indicado para a determinação de teor, de impurezas e de produtos de degradação em matéria-
prima e medicamentos, estando presente em mais de 90% dos métodos de análises, descritos nas
monografias da Farmacopeia Americana (United States Pharmacopeia National Formulary, 2011),
por sua especificidade, já que permite separar os compostos previamente à detecção (Braga, &
Bonato, 2006, Collins, Rao & Nagaraju, 2003, Jenke, 1997).
Nas etapas preliminares do desenvolvimento do método por HPLC foram considerados o uso de
diferentes colunas e fases móveis para verificar a retenção do analito que independesse dos
interferentes, impurezas e produtos de degradação. Os fatores altura, área, assimetria/cauda, pratos
teóricos, capacidade de retenção e tempo de execução foram considerados para seleção da condição
otimizada. Nesse estudo, foram testadas colunas de 4,6 x 250 mm de 5 µm de distintos fabricantes e
polaridades: C18 ODS 1 Metachem (Metasil), X-Terra® C18 (Waters) e Microsorb™ – MV 100-5
C8 (Varian). Iniciou-se empregando acetonitrila como diluente e fase móvel (USP, 2015). Porém,
observou-se que o metanol causou menor interferência no cromatograma que a acetonitrila.
Considerando sua absortividade e polaridade, avaliou-se a sua substituição por água, com a intenção
de evitar o uso de solventes orgânicos, conforme os preceitos da química limpa. Como a
solubilidade do FTD em água mostrou-se satisfatória no preparo do padrão, testou-se este mesmo
solvente como fase móvel, tendo sido observado um pico assimétrico com cauda expressiva.
Portanto, optou-se por acidificar o meio com ácido acético (pH 3,0) visando minimizar a adsorção
do composto básico na coluna.
Assim definiu-se como condição otimizada o uso de água ultrapura acidificada com ácido acético
pH 3,0 (fase A):água ultrapura Milli-Q (fase B) 30:70 (v/v) com vazão de 0,7 mL min-1 em coluna
X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters). A eluição dos compostos foi realizada de modo
isocrático. O tempo da corrida foi estabelecido em 15 min e a temperatura da coluna mantida a
30ºC. A corrida cromatográfica foi monitorada com varredura na faixa de 190 a 350 nm, sendo 210
nm o comprimento de onda de máxima absorção adotado para a quantificação. A Figura 1 (I)
apresenta os cromatogramas das soluções: branco (A), amostra sem FTD (B) e revestimento (C).
Ainda a Figura 1 mostra os cromatogramas, com tempos de retenção de FTD próximos de 9,2
minutos, das soluções (II) padrão (III) matéria-prima e (IV) comprimidos.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 113 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Figura 1. (I) Cromatogramas das soluções: branco (A), placebo (B) e revestimento (C). Cromatogramas com
perfis espectrais dos picos: padrão secundário (II), matéria-prima (III) e comprimido (IV). Todos os
cromatogramas foram obtidos em coluna X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters), fase móvel água
ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0: água ultrapura Milli-Q, na proporção 30:70 (v/v), com
vazão de 0,7 mL min-1 e detecção a 210 nm
Observa-se pelos cromatogramas (Figura 1), mostrados em diferentes escalas a fim de permitir uma
melhor visualização das flutuações produzidas pelos excipientes e fase móvel na linha base, que o
método proposto foi específico, já que as oscilações aparecem antes do tempo de retenção do pico
de interesse, não interferindo na quantificação de FTD.
A linearidade do método proposto foi comprovada pelo ajuste das curvas analíticas de calibração na
faixa dinâmica de trabalho de 10,0 a 500,0 µg mL-1 (Figura 2).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 114 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Figura 2. Curva de calibração do FTD para avaliação da linearidade por HPLC
Os resíduos individuais dos 6 pontos das curvas de calibração, calculados pela regressão
multivariada, variam de 4,44x10-14 para o menor ponto da curva (10,0 µg mL-1) à 5,68x10-14 para a
maior concentração de 500,0 µg mL-1, sem tendências. Os erros padrão da estimativa para a
regressão foram de 5,22x10-14 para o intercepto da curva (Y) e de 2,19x10-16 para a concentração
(X), ambos próximos de zero, mostrando que houve ajuste dos dados amostrais à Equação de
regressão da reta y = 788,86x + 1957,4, demonstrada pelo R2 ajustado no valor de 0,9998.
Aplicando-se análise de variância para o modelo previsto, observa-se que a falta de ajuste não é
significativa a 99% de confiança (P<0,0001).
Os limites de detecção e quantificação calculados a partir das curvas de calibração foram de 0,13 µg
mL-1 e de 0,42 µg L-1, respectivamente. O método é preciso, pois apresenta desvio padrão relativo
(DPR) de 0,37% na análise intra-dia, e para precisão intermediária apresenta DPR de 0,77% nas
determinações inter-dias.
A exatidão do método foi comprovada, pelas taxas de recuperação média de 99,87% (Tabela 1),
dentro dos limites estabelecidos de 98 a 102% (BRASIL, 2003).
Tabela 1. Taxas de recuperação de FTD com adição de padrão em 3 níveis de concentração (n = 3)
* DPR: desvio padrão relativo.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 115 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
O ensaio de robustez para o pH e a vazão não afetam a análise (diferenças das áreas dos picos com
baixos DPR), no entanto, o uso do ácido acético de diferentes marcas gera variação no tempo de
retenção em até 5 minutos, mostrando que é preciso atenção com a procedência do ácido, utilizado
na acidificação da fase móvel. Os autores supõem que essa diferença é dada devido a menor pureza
do ácido acético utilizado para o ensaio da robustez, entretanto estudos posteriores devem ser
realizados para melhor elucidação desse impacto na corrida cromatográfica. É importante observar
que a alteração gerada no tempo de retenção do FTD não compromete a validação do método, visto
que não ocorre coeluição com outros compostos e que a variação da concentração foi menor que
5%.
O teor médio de FTD encontrado na matéria-prima e comprimido foi de 99,59 % (±0,27) e 100,27%
(±0,11), respectivamente.
CONCLUSÃO
O método proposto para determinação do FTD em matéria-prima e comprimidos por HPLC,
utilizando água acidificada com ácido acético, solvente atóxico, barato, de fácil obtenção e descarte,
é indicado para o controle de qualidade, já que sua validação mostra que é específico, linear,
preciso, exato na faixa das dosagens terapêuticas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem pelo auxilio financiamento do CNPq (Processo 484809/2012-1) e bolsas da
Fundação Araucária (Produtividade – prot. 23.023, conv. 826/2012; CP 13/2012 - Programa de
Bolsas Técnico) e do CNPq e CAPES (Programa de Mestrado em Química); Projeto Mestrado
Profissional UEL-ANVISA; e à empresa Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos LTDA pelo
fornecimento do padrão secundário e matéria-prima e à Secretaria Municipal de Saúde de Londrina
pelo fornecimento do medicamento.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 116 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
REFERÊNCIAS
Alexandrino TD, Almeida MB, Rabito MF, Madeira TB, Acquaro-Jr VR, Nixdorf SL, Fregonezi-
Nery MM. Desenvolvimento e validação de método espectrofotométrico para determinação
quantitativa do antirretroviral tenofovir. Visão Acad. 15(1): 87-97, 2014.
Appala NR, Rao VJ, Vanitha PK, Mukilteo K, Srinivasu K. Simultaneous estimation of tenofovir
disoproxil, emtricitabine and efavirenz in tablet dosage form by RP- HPLC. Orient J. Chem. 24(2):
645-649, 2008.
Behera A, Parida A, Meher AK, Sankar DG, Moitra SK, Sudan C. Development and Validation of
Spectrophotometric method for determination of Emtricitabine and Tenofovir Disoproxil Fumarate
in Bulk and Tablet dosage form. Inter. J. Pharm. Tech. Res. 3(3): 1874-1882, 2011.
Bennetto-Hood C, Long MC, Acosta EP. Development of a sensitive and specific liquid
chromatography/mass spectrometry method for the determination of tenofovir in human
plasma, Rapid Commun. Mass Spectrom. 21(13): 2087–2094, 2007.
Berg T, Marcellin P, Zoulim F, Moller B, Trinh H, Chan S, Suarez E, Lavocat F, Snow-Lampart A,
Frederick D, Sorbel J, Borroto-Esoda K, Oldach D, Rousseau F. Tenofovir is effective alone or with
emtricitabine in adefovir-treated patients with chronic-hepatitis B virus
infection. Gastroenterol. 139(4): 1207-1217, 2010.
Brasil. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RE nº 899, 29 de
maio de 2003. Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. Diário Oficial da
União, Poder Executivo, Brasília, 2 de junho de 2003.
Collins CH, Braga GL, Bonato PS. Introdução a métodos cromatográficos. Campinas: UNICAMP,
2006. 298p.
De Clercq E. Anti-HIV drugs: 25 compounds approved within 25 years after the discovery of
HIV. Inter. J. Antimicrob. Agents. 33(4): 307-320, 2009.
Delahunty T, Bushman L, Fletcher CV. Sensitive assay for determining plasma tenofovir
concentrations by LC/MS/MS. J.Chromatogr. B. 830(1): 6-12, 2006.
Fortunak JM & Antunes OAC. A Produção de ARVs no Brasil: Uma avaliação. Disponível em:
<http://www.abiaids.org.br/_img/media/ARV.pdf>. Acesso em: 20 de jul. 2015.
Fundação Ezequiel Dias (FUNED). O SUS no combate à AIDS. Disponível
em: http://funed.mg.gov.br/noticias/tenofovir/. Acesso em: 16 abr. 2014.
Garforth SJ, Parniak MA, Prasad VR. Utilization of a Deoxynucleoside Diphosphate substrate by
HIV reverse transcriptase. PloS One.3(4): 1-10, 2008.
Gish RG, Trinh H, Leung N, Chan FK, Fried MW, Wright TL, Wang C, Anderson J, Mondou
E, Snow A, Sorbel J, Rousseau F, Corey L. Safety and antiviral activity of emtricitabine (FTC) for
the treatment of chronic hepatitis B infection: a two-year study. J. Hepatol.43(1): 60-66, 2005.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 117 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Gish RG, Trinh H, Leung N, Chan FK, Fried MW, Wright TL, Wang C, Anderson J, Mondou E,
Snow A, Sorbel J, Rousseau F, Corey L. Safety and antiviral activity of emtricitabine (FTC) for the
treatment of chronic hepatitis B infection: a two-year study. J. Hepatol.43(1): 60-66, 2005.
Gomes NA, Vaidya VV, Pudage A, Joshi SS, Parekh SA. Liquid chromatography-tandem mass
spectrometry (LC-MS/MS) method for simultaneous determination of tenofovir and emtricitabine in
human plasma and its application to a bioequivalence study. J. Pharm. Biomed. Anal. 48(3): 918-
926, 2008.
Gorja A & Bandla J. Method development and validation for the simultaneous estimation of
lamivudine and tenofovir disoproxil fumarate in pharmaceutical dosage forms by RP-HPLC Int. J.
Pharm. Clin. Res. 2(1): 22-32, 2013.
Hymavathi. KM, Babu D, Afroz P. Development and validation of RP HPLC method for the
simultaneous estimation of Tenofovir disproxil fumerate and Lamivudine in combined dosage
form. Inter. J. Adv. Res. Pharm. Bio. Sci. 1(3): 277-284, 2012.
Joshi M, Nikalje AP, Shahed M, Dehghan M. HPTLC method for the simultaneous estimation of
emtricitabine and tenofovir in tablet dosage form. Indian J. Pharm. Sci. 71(1): 95-97, 2009.
Jullien V, Tréluyer JM, Pons G, Rey E. Determination of tenofovir in human plasma by high-
performance liquid chromatography with spectrofluorimetric detection. J. Chromatogr. B. 5(785):
377-381, 2003.
Kandagal PB, Manjunath DH, Seetharamappa J, Kalanur SS RP-HPLC method for the
determination of tenofovir in pharmaceutical formulations and spiked human plasma. Anal.
Lett. 41(4): 561-570, 2008.
Karunakaran A, Kamarajan K, Thangarasul V. Development and validation of first-derivative
Spectrophotometric method for the simultaneous estimation of lamivudine and tenofovir disoproxil
fumerate in pure and in tablet formulation. Der Pharmacia Lettre. 2(5): 221-228, 2010.
King T, Bushman L, Kiser J, Anderson PL, Michelle R, Delahunty T, Fletcher V. Liquid
chromatography-tandem mass spectrometric determination of tenofovir-diphosphate in human
peripheral blood mononuclear cells. J. Chromatogr. B. 843(2): 147-156, 2006.
Lavra ZMM. Obtenção Tecnológica de anti-retroviral dose fixa combinada à base de lamivudina,
zidovudina e nevirapina. 2006.88p. Pernambuco, monografia (Dissertação de Mestrado em Ciências
Farmacêuticas). Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal de Pernambuco.
Pernambuco.
Lenardão EJ, Freitag RA, Dabdoub M J,Batista ACF, Silveira CC. “Green chemistry”: os 12
princípios da química verde e sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Quím.
Nova. 26(1): 123-129, 2003.
Mangoankar K & Desai A. Simultaneous estimation of emtricitabine, tenofovir disoproxil fumarate
and efavirenz from tablets by reverse phase high- performance liquid chromatography
method. Indian Drugs.45(3): 188-192, 2008.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 118 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016
Massaki T, Yuichi K, Naoya O, Atsushi H, Kazuhide B, Tsuguhiro K. Determination of plasma
tenofovir concentration using a conventional LC-MS method. Biol. Pharm. Bull. 30(9): 1784-1786,
2007.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, AIDS e Hepatites
Virais. HIV/AIDS. Boletim Epidemiológico . AIDS e DST. 3(1): 11-18, 2014,
Patel S, Baghel US, Rajesh P, Prabhakar RD, Engla G, Nagar PN. Spectrophotometric method
development and validation for simultaneous estimation of tenofovir disoproxil fumarate and
emtricitabine in bulk drug and tablet dosage form. Int. J. Pharm. Clin. Res. 1(1): 28-30, 2009.
Pratapareddy AJ, Chakravarthi IE. New spectrophotometric determination of tenofovir disoproxil
fumaratein bulk and pharmaceutical dosage form. J. Appl. Chem. 1(2): 29-33, 2012.
Ramesh J, Arul Prakasam KC, Sowjanya C, Chintham RPM. Simultaneous estimation of
lamivudine and tenofovir disoproxil fumerate in pure and in tablet formulation by first derivative
spectrophotometric method. J. Anal. Chem. 1(16): 16-22, 2011.
Rezk NL, Crutchley RD, Kashuba AD. Simultaneous quantification of emtricitabine and tenofovir
in human plasma using high-performance liquid chromatography after solid phase extraction. J .
Chromatogr.B. 5(822): 201-208, 2005.
Sentenac S, Fernandez C, Thuillier A Lechat P, Aymard G. Sensitive determination of tenofovir in
human plasma samples using reversed-phase liquid chromatography. J. Chromatogr. B. 15(793):
317-324, 2003.
Sharma R & Gupta PA. Validated RP-HPLC method for simultaneous estimation of emtricitabine
and tenofovir disoproxil fumarate in a tablet dosage form. Eur. J. Anal. Chem. 4(3): 276–284, 2009.
Sharma T, Mishra N, Moitra S, Sudam CS, Sankar DG. A validated RP-HPLC method for
estimation of tenofovir disoproxil fumarate in bulk and pharmaceutical formulation. Asian J.
Pharm. Clin. Res. 5(3): 108-110, 2012.
Shirkhedkar AA, Bhirud CH, Surana SJ. Application of UV-spectrophotometric methods for
estimation of tenofovir disoproxil fumarate in tablets. Pakistan Res. J. Chem. Env. 22(1): 27-29
2009.
Souza MVN & Almeida MV. Drogas anti-HIV: passado, presente e futuras perspectivas. Quím.
Nova. 26(3): 366-372, 2003.
Sparidans RW, Crommentuyn KM, Schellens JH, Beijnen JH. Liquid chromatographic assay for the
antiviral nucleotide analogue tenofovir in plasma using derivatization with chloroacetaldehyde. J.
Chromatogr. B. 5(791): 227-233, 2003.
Sutar SV, Patil SS, Pishvikar SA, More HN. Spectrophotometric method for degradation study of
tenofovir disopoxil fumarates . Inter. J. Pharm. Res. 3(11): 4363-4366, 2012.
USP - United States Pharmacopeial Convention. Disponível
em: <http://www.usp.org/sites/default/files/usp_pdf/EN/USPNF/pendingStandards/m3429_authoriz
ed.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Avaliação comparativa de comprimidos genéricos e similares de captopril
utilizando o teste de dissolução como ferramenta analítica
Comparative evaluation of generic and similar tablets of captopril using the
dissolution test as analytical tool
Camila Camponogara Dalla Pozza1,*, Daniele Rubert Nogueira1 & Clarice M. Bueno Rolim1
1Departamento de Farmácia Industrial, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil
* Autor correspondente: E-mail: [email protected] (Camila Camponogara Dalla Pozza), Telefone: +55
55 3220 9548; Fax: +55 55 3220 8248, Departamento de Farmácia Industrial, Universidade Federal de Santa Maria,
Av. Roraima 1000, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 120 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
RESUMO
Os ensaios de dissolução in vitro representam uma ferramenta indispensável em várias
etapas dos processos de desenvolvimento e controle de qualidade de medicamentos. Inúmeras
variáveis, se não totalmente conhecidas e controladas, podem vir a alterar a dissolução de fármacos,
comprometendo a qualidade e biodisponibilidade dos medicamentos. Assim, o presente trabalho
teve como objetivo verificar a qualidade de comprimidos de medicamentos genéricos e similares de
captopril 50 mg a partir de um ensaio de dissolução in vitro, analisando as variáveis que podem
influenciar a dissolução do fármaco e, consequentemente, a intercambialidade destes
medicamentos. A partir dos resultados dos ensaios de dissolução in vitro, realizou-se um estudo
comparativo por ANOVA de comprimidos provenientes de cinco diferentes laboratórios do
mercado nacional, denominados A, B e C (genéricos) e D e E (similares). As cinco formulações
cumpriram com a especificação farmacopeica para o teste de dissolução in vitro. Entretanto,
somente as formulações A, B, D e E apresentaram porcentagens de dissolução estatisticamente
equivalentes (p=0,01 e p=0,05) após análise por ANOVA, comprovando que as diferenças
estatísticas encontradas devem-se a baixa porcentagem de dissolução apresentada pelos
comprimidos da formulação C. Entretanto, conclusões mais definitivas sobre bioequivalência e
biodisponibilidade devem ser determinadas, a fim de ratificá-los como equivalentes terapêuticos.
Palavras-chave: Captopril; Dissolução; Medicamentos genéricos; Medicamentos similares.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 121 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
ABSTRACT
In vitro dissolution tests represent an indispensable tool in various stages during the
development and quality control of medicines. Several variables, if not fully known and controlled,
are likely to change the dissolution of drugs, compromising their quality and bioavailability. Thus,
this study aimed to verify the quality of generic and similar drugs of captopril 50 mg by using an in
vitro dissolution test as analytical tool, with analyses of the variables that can influence the
dissolution of the drug and, hence, the interchangeability of these medicines. Based on the results of
in vitro dissolution tests, it was carried out a comparative study by ANOVA of tablets from five
different laboratories from national market, called A, B and C (generic drugs) and D and E (similar
drugs). All formulations fulfilled the pharmacopeic specification for the dissolution test. However,
only the formulations A, B, D and E showed dissolution percentages statistically equivalent (p =
0.01 and p = 0.05) after ANOVA analysis, proving that the statistical differences found were due to
the low dissolution percentage presented by the formulation C. However, more definitive
conclusions about bioequivalence and bioavailability have to be determined in order to ratify them
as therapeutic equivalents.
Keywords: Captopril; Dissolution; Generic drugs; Similar drugs.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 122 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
Introdução
O captopril corresponde, quimicamente, ao 1-[(2S)-3-Mercapto-2-metil-1 oxopropil]-L-
prolina, e é classificado como um inibidor de primeira geração da enzima conversora de
angiotensina (ECA). É um agente amplamente utilizado no tratamento da hipertensão arterial, na
disfunção sistólica ventricular esquerda, e, ainda, atua na redução da taxa de acidente vascular
cerebral encefálico (Goodman, Gilman & Brunton, 2012). Apresenta-se como partículas cristalinas
de cor branca ou quase branca, com solubilidade em água, etanol, clorofórmio e metanol (Brasil,
2010). A via oral é a mais utilizada na administração do captopril e, os comprimidos estão entre as
formas farmacêuticas sólidas de administração oral mais utilizadas. Comercialmente, comprimidos
de captopril encontram-se disponíveis nas dosagens de 12,5, 25 e 50 mg. Esta forma farmacêutica
sólida ainda continua sendo a preferencial, devido sua rota conveniente e segura de administração,
pela maior conservação e estabilidade química e física, ao baixo custo, grande precisão na dosagem
e variação mínima de conteúdo (Aulton, 2005).
Os comprimidos devem preencher um número de especificações, relacionados com suas
propriedades químicas, físicas e biológicas. Nessa perspectiva, as formas farmacêuticas sólidas
requerem uma atenção especial, sendo que os fatores que influenciam a liberação, a dissolução e a
absorção do fármaco no organismo devem ser estudados durante o desenvolvimento farmacotécnico
do produto a fim de minimizar problemas relacionados a biodisponilibidade, bioequivalência e
intercambialidade que recaem sobre medicamentos apresentados nessa forma farmacêutica (Pereira,
2012). A intercambialidade inclui a escolha de um medicamento entre dois ou mais para os mesmos
fins terapêuticos ou profiláticos e, para isso, torna-se necessária a comprovação de que os
medicamentos sejam equivalentes terapêuticos, a fim de garantir a mesma eficácia e segurança
(Furberg, Herrington & Psaty, 1999). Nesse contexto, uma possível intercambialidade deve ser
incialmente comprovada a partir da equivalência farmacêutica, onde ensaios in vitro são realizados
visando assegurar que o medicamento a ser intercambiável, contendo o mesmo fármaco, na mesma
dosagem e forma farmacêutica, obedeça às mesmas especificações de qualidade em relação ao
medicamento de referência. Atendendo a essas especificações in vitro, a intercambialidade desses
mesmos produtos deve então ser comprovada através de um ensaio de bioequivalência ou
biodisponibilidade relativa empregando voluntários sadios, de modo a avaliar se os produtos que
comprovaram sua equivalência farmacêutica ao medicamento de referência apresentam o mesmo
desempenho no organismo em termos de biodisponibilidade. A biodisponibilidade relativa é um
fator importante a ser analisado pois expressa a velocidade e a extensão em que uma substância é
liberada de sua forma farmacêutica e absorvida pelo organismo (Storpirtis et al., 2004; Storpirtis,
1999). Assim, os ensaios de dissolução in vitro representam uma ferramenta indispensável em
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 123 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
várias etapas dos processos de desenvolvimento farmacotécnico de medicamentos, bem como na
área de produção farmacêutica e controle de qualidade, a fim de detectar desvios de fabricação,
declarar a uniformidade durante a reprodução de um lote e a reprodutibilidade lote a lote
(Arzamastsev, Sadchikova & Luttseva, 2003; Marques & Brown, 2002). Inúmeras variáveis, tanto
associados ao fármaco e à formulação farmacêutica, quanto ao próprio ensaio de dissolução in vitro
devem ser totalmente conhecidas, controladas e padronizadas, uma vez que essas poderão alterar a
dissolução de fármacos, resultando em desvios de qualidade e biodisponibilidade dos medicamentos
(Cascone et al., 2011).
No mercado brasileiro, vários laboratórios farmacêuticos comercializam medicamentos
contendo o captopril. Ainda, novas classes de medicamentos alternativos ao medicamento inovador
(referência) têm sido implementadas no mercado nacional, que atrelados a fatores econômicos e de
política assistencial, possibilitaram uma maior acessibilidade dos pacientes, e consequentemente,
uma maior adesão ao tratamento medicamentoso. O medicamento referência é aquele que teve sua
eficácia, segurança e qualidade comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente,
por ocasião do registro. Por outro lado, dentre as opções disponíveis ao medicamento inovador,
encontram-se o medicamento genérico e o similar (Lopes e Neves, 2010, Rosenberg, Fonseca &
D’avila, 2010; Hasenclever, 2002). O medicamento genérico é classificado como uma alternativa a
um produto de referência (inovador), que pretende ser com este intercambiável, ou seja, apresenta a
mesma eficácia clínica e o mesmo potencial para originar efeitos adversos (Brasil, 1999). Já o
medicamento similar é definido como aquele que contêm o mesmo ou os mesmos princípios ativos,
apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação
terapêutica, e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela
vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do
produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser
identificado por nome comercial ou marca (Rosenberg, Fonseca & D’avila, 2010). Entretanto, para
efetuar a intercambialidade entre os medicamentos de maneira segura é necessário garantir a
equivalência e a bioequivalência farmacêutica entre as formulações. Em vista disso, os ensaios de
dissolução in vitro têm sido bastante empregados para evidenciar a intercambialidade para fins de
registro e equivalência farmacêutica de medicamentos genéricos e similares.
Por outro lado, o fato da hipertensão arterial requerer um tratamento em longo prazo,
associado a fatores econômicos, muitas vezes o acesso aos medicamentos torna-se limitado. Em
vista deste cenário, cada vez mais as indústrias nacionais visam o desenvolvimento de novos
medicamentos genéricos e similares para o tratamento desta patologia, bem como a comprovação de
sua equivalência e bioequivalência farmacêutica ao medicamento de referência. Além disso,
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 124 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
visando garantir a qualidade de medicamentos genéricos entre si, bem como a adequação da
comprovação de qualidade dos medicamentos similares, novas pesquisas deveriam ser feitas por
laboratórios colaboradores e certificadas pela agência reguladora nacional, a ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), de forma a selecionar os medicamentos mais efetivos com
possibilidade de apresentar uma intercambialidade (Freitas et al., 2014). Dentro deste contexto, o
presente trabalho teve como objetivo verificar a qualidade de comprimidos de medicamentos
genéricos e similares de captopril a partir de um ensaio de dissolução in vitro, bem como analisar as
variáveis que podem influenciar a dissolução do fármaco e, consequentemente, a intercambialidade
destes medicamentos.
Materiais e Métodos
Reagentes e amostras
Foram selecionadas cinco especialidades farmacêuticas do mercado nacional, sob a forma de
comprimidos não-revestidos, contendo teor declarado de 50 mg de captopril. Tais produtos foram
designados como A, B e C (medicamentos genéricos), e D e E (medicamentos similares) (Tabela 1).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 125 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
Tabela 1. Excipientes das diferentes formulações de comprimidos de captopril
FORMULAÇÕES EXCIPIENTES FUNÇÃO
A amido diluente (desintegrante)
lactose monoidratada diluente
croscarmelose sódica desintegrante
dióxido de silício deslizante/adsorvente
ácido esteárico lubrificante
B lactose monoidratada diluente
ácido esteárico lubrificante
estearato de magnésio lubrificante
amido pré-gelatinizado aglutinante
C lactose monoidratada diluente
celulose microcristalina diluente
amido pré-gelatinizado aglutinante
ácido esteárico lubrificante
D ácido esteárico lubrificante
dióxido de silício coloidal deslizante/adsorvente
amido diluente (desintegrante)
celulose microcristalina diluente
lactose diluente
E celulose microcristalina diluente
amido pré-gelatinizado aglutinante
lactose diluente
ácido esteárico lubrificante
Como substância química de referência (SQR) foi utilizada o captopril (matéria-prima)
adquirido da Pharma Nostra Comercial Ltda., lote nº 11124860B, com teor declarado de 99,93 %
(data de fabricação: outubro de 2011; data de validade: setembro de 2014).
Como reagentes foram utilizados ácido clorídrico 37% (Sigma-Aldrich) e água destilada.
Ensaio de dissolução in vitro
O teste de dissolução foi realizado conforme descrito na Farmacopeia Brasileira (2010).
Empregou-se equipamento que obedece às especificações farmacopeicas (dissolutor Pharma Test)
(Figura 1). Foram utilizados seis comprimidos (amostras) de captopril de cada fabricante por
ensaio, perfazendo um total de cinco ensaios (1 ensaio por amostra). Esses comprimidos foram
colocados no aparato tipo cesta. As cubas foram imersas em banho de água termostatizado, na qual
a temperatura foi mantida a 37 ºC ± 0,5 ºC durante a execução do teste. As amostras foram
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 126 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
colocadas dentro das cestas secas, antes do início do teste. O meio de dissolução utilizado foi ácido
clorídrico (HCl) 0,1 molar (M) (900 mL), o qual foi previamente desgazeificado por 10 minutos em
um sonicador (Ultra Sonic Cleaner 1400 - Unique®), seguido por aquecimento em banho de água
termostatizado (Biomatic®) a fim de manter a temperatura equivalente a do banho de água do
dissolutor. O teste foi executado utilizando uma velocidade de rotação de 50 rotações por minuto
(rpm), por 20 minutos. Após a finalização do teste, foram retiradas alíquotas (10 mL), da região
intermédia entre a superfície do meio de dissolução e a parte superior da cesta, mantendo a agitação.
Depois disso, as amostras foram filtradas com papel filtro qualitativo (J Prolab). As amostras
filtradas foram diluídas (1:2) em ácido clorídrico 0,1 M a fim de que suas concentrações
equiparassem a do padrão 0,0025 % (p/v) (25 µg/mL), uma vez que a dosagem dos comprimidos de
captopril era de 50 mg. O resumo das condições utilizadas encontra-se descrito na Tabela 2.
Figura 1. Dissolutor Pharma Test
Tabela 2. Especificações para o teste de dissolução de comprimidos de captopril.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 127 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
As quantidades dissolvidas do fármaco foram determinadas a partir das leituras das
absorbâncias das amostras em um espectofotômetro (Shimadzu UV-1800) (Calibrado em 13 de
abril de 2016), utilizando HCl 0,1 M para ajuste do zero e o comprimento de onda de 212 nm,
seguindo o procedimento analítico preconizado na monografia do captopril comprimidos,
disponível na Farmacopeia Brasileira (2010). As absorbâncias das amostras foram comparadas
àquelas obtidas para a SQR preparada a uma concentração de 0,0025 % p/v em HCl 0,1 M. A
monografia do captopril comprimidos preconiza que não menos que 80 % (Q) da quantidade
declarada de captopril se dissolva em 20 minutos para que a formulação seja aprovada.
Análise estatística
Os dados experimentais foram avaliados estatisticamente através da análise de variância
(ANOVA) de uma via, uma vez que o objetivo do estudo foi investigar o grau de variabilidade dos
efeitos das cinco diferentes amostras do medicamento captopril no ensaio de dissolução in vitro,
considerando a probabilidade dessas amostras diferirem em termos de dissolução, com base nos
níveis de significância de 0,05 e 0,01. Os dados foram expressos como Média e Desvio Padrão
Relativo (DPR), a fim de verificar uma possível variabilidade intra-amostral.
DPR = Desvio padrão x 100
média
Resultados
A Tabela 3 apresenta as quantidades dissolvidas (%) das cinco formulações de captopril de
50 mg, a partir do ensaio de dissolução in vitro, preconizado na Farmacopeia Brasileira (2010).
Tabela 3. Quantidades dissolvidas (%) de captopril a partir de comprimidos de 50 mg.
% Dissolvida
Amostras A B C D E
1 107,84 100,79 94,86 94,20 100,40
2 98,29 102,24 89,99 105,07 96,18
3 100,66 101,45 99,87 101,51 91,83
4 100,20 99,21 89,66 99,34 92,36
5 97,83 102,64 89,99 99,07 102,24
6 99,34 100,53 100,79 99,14 103,32
Média 100,69 101,14 94,19 99,72 97,72
DPR* (%) 3,64 1,23 5,46 3,57 5,11
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 128 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
A partir das quantidades dissolvidas do fármaco, realizou-se um estudo comparativo por
ANOVA, a fim de avaliar uma possível intercambialidade entre as formulações de captopril de 50
mg estudadas. As Tabelas 4, 5 e 6 exprimem os resultados das análises comparativas obtidas por
ANOVA.
Tabela 4. Análise comparativa por ANOVA de todas as formulações1 (A, B, C, D e E), e também
excluindo a formulação C2, que apresentou resultados mais discrepantes.
Fontes de
variação
GL SQ Variância Fcal P
(5%)
P
(1%)
Entre métodos 4 193,52 48,38 3,061 2,76 4,18
Dentro 25 394,94 15,80
Total 29 588,46
Entre métodos 3 45,56 13,85 0,902 3,20 5,18
Dentro 17 262,87 15,46
Total 20 304,43
GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,
Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades
dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,
Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das
seis amostras dentro de cada formulação,
Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,
Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),
p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades dissolvidas
(%) das diferentes formulações.
Tabela 5. Análise comparativa por ANOVA das formulações genéricas (A, B e C).
Fontes de
variação
GL SQ Variância Fcal p
(5%)
P
(1%)
Entre métodos 2 181,51 90,75 6,58 3,68 6,36
Dentro 15 206,97 13,80
Total 17 388,48
GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,
Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades
dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,
Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das
seis amostras dentro de cada formulação,
Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,
Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),
p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades dissolvidas
(%) das diferentes formulações.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 129 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
Tabela 6. Análise comparativa por ANOVA das formulações similares (D e E).
Fontes de
variação
GL SQ Variância Fcal p
(5%)
P
(1%)
Entre métodos 1 12,00 12,00 0,64 4,96 10,04
Dentro 10 187,97 18,80
Total 11 199,97
GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,
Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades
dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,
Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das
seis amostras dentro de cada formulação,
Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,
Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),
p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades
dissolvidas (%) das diferentes formulações.
Discussão
A monografia de um medicamento disponível na Farmacopeia Brasileira determina os
limites aceitáveis para os vários critérios de qualidade que a formulação deve apresentar para ser
aprovada, entre os quais se podem destacar aqueles estabelecidos para o teste de dissolução. Se
estes estudos de qualidade constituem parte do estudo de equivalência farmacêutica, uma etapa
essencial na elaboração de produtos farmacêuticos genéricos e similares pode-se inferir que foi
dado o primeiro passo para garantir a bioequivalência de formas farmacêuticas sólidas de uso oral
(Brasil, 2010).
Os ensaios de dissolução realizados no presente trabalho tiveram o objetivo de verificar a
qualidade de comprimidos de captopril comercializados no Brasil, além de contribuir para um
estudo de intercambialidade dos mesmos. O ensaio de dissolução encontra-se presente em todas as
fases de pesquisa e desenvolvimento de novas formas farmacêuticas, na avaliação/comparação de
diferentes compostos na formulação, na caracterização biofarmacêutica do medicamento e na
avaliação de alterações na composição da formulação do medicamento.
Após a execução do ensaio de dissolução in vitro, realizou-se um estudo comparativo por
ANOVA dos produtos disponíveis comercialmente estudados. A quantidade dissolvida (%) de
captopril, a partir de comprimidos de 50 mg, foi avaliada em cinco diferentes produtos comerciais,
sendo que todos atenderam aos requisitos preconizados pela Farmacopeia Brasileira. Os cinco
comprimidos testados no primeiro estágio do ensaio apresentaram quantidade dissolvida de fármaco
superior a 85% (teor ≥ Q + 5 %, sendo Q = 80 %). Dentre as cinco formulações estudadas, as que
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 130 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
apresentaram maior quantidade de fármaco dissolvido foram as marcas genéricas A (100,69%) e B
(101,14%).
Estudos têm mostrado que os excipientes podem interagir com o fármaco ou mesmo com
outros excipientes, o que pode gerar um impacto favorável ou desfavorável na biodisponibilidade
do fármaco. A ocorrência ou não dessas interações dependerá das características físico-químicas do
fármaco, bem como das quantidades e função desses excipientes. Além disso, os tempos de
desintegração e dissolução podem ser otimizados pela variação da concentração dos aglutinantes e
lubrificantes na formulação (Panakanti & Narang, 2012; Jackson, Young & Pant, 2000).
O emprego de excipientes na composição dos comprimidos de captopril justifica-se pela
razão de ser uma forma farmacêutica sólida oral de liberação imediata. Dessa forma, a quantidade
dissolvida de captopril na formulação B ocorre pela presença da combinação de amido nativo e
gelatinizado, na qual promove não somente uma boa compactação durante a produção dos
comprimidos (compressão direta), mas também a desintegração do mesmo após administração oral.
A desintegração, por sua vez, resulta numa maior velocidade de dissolução do fármaco. Por outro
lado, a quantidade dissolvida de fármaco a partir da formulação A pode estar relacionada à presença
do superdesintegrante, croscarmelose sódica, que melhora as características de desintegração e,
consequentemente, a velocidade de dissolução do fármaco se torna mais efetiva.
Com base nas quantidades dissolvidas (%) de captopril, a análise comparativa por ANOVA
apontou diferença significativa entre as cinco formulações estudadas (A, B, C, D e E) considerando
um nível de significância estatística de 5% (p = 0,05; Fcalculado = 3,06 > Ftabelado = 2,76),
indicando que as formulações analisadas apresentaram quantidades dissolvidas (%) do fármaco
estatisticamente diferentes entre si, uma vez que o nível de significância a 5% permite um maior
aceitação do erro. Entretanto, as cinco formulações apresentaram quantidades dissolvidas
estatisticamente similares, considerando um nível de significância estatística de 1% (p = 0,01; Fcal
= 3,06 < Ftab = 4,18), pela razão desse estabelecer um menor grau de variação entre os resultados e
menor aceitação de erro. Por outro lado, os estudos comparativos na qual foram analisadas todas as
formulações, porém excetuando a formulação genérica C, obtiveram-se formulações
estatisticamente similares em qualquer dos níveis de significância estatísticos analisados. A
formulação C foi excluída da análise estatística, uma vez que apresentou resultados mais
discrepantes em relação às demais formulações testadas. Desse modo, a análise estatística
comprovou que as diferenças estatísticas encontradas na ANOVA devem-se a baixa porcentagem de
dissolução apresentada pelos comprimidos da formulação C.
Analisando somente as três formulações genéricas de captopril (A, B e C), foram observadas
diferenças significativas entre os comprimidos, independentemente do nível de significância
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 131 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
estatístico considerado. Por outro lado, as formulações similares (D e E) não apresentaram
diferenças estatísticas significativas entre as quantidades de fármaco dissolvidas a partir da forma
farmacêutica, indicando a similaridade das duas formulações quanto à sua capacidade de
dissolução.
Apesar das quatro formulações (A, B, D e E) apresentarem algumas diferenças nas
composições qualitativas dos excipientes, é possível que estes produtos sejam considerados
equivalentes farmacêuticos, segundo os parâmetros de dissolução in vitro. Contudo, isso não
garante a bioequivalência dos produtos, uma vez que os processos de fabricação, estabilidade de
fármacos e a composição quantitativa dos excipientes devem ser levados em conta, a fim de que não
haja diferença no desempenho destes produtos (Brasil, 2007; Bauer et al., 2001 & Digue, 1999).
Apesar do ensaio de dissolução ser relativamente simples, existe diversos aspectos que
devem ser considerados para o correto desempenho do mesmo. Alguns parâmetros influenciam a
dissolução dos princípios ativos, destacando-se aqueles relacionados com as moléculas do princípio
ativo e respectiva formulação, e também aqueles pertinentes ao próprio ensaio de dissolução. Sendo
assim, é de grande importância o conhecimento prévio das diversas características da forma
farmacêutica, visando uma escolha apropriada da metodologia para o teste de dissolução.
Conclusão
Com a realização do ensaio de dissolução in vitro das amostras genéricas e similares de
captopril 50 mg, foi possível concluir que todas as formulações cumpriram com a especificação
farmacopeica para o teste de dissolução in vitro. No entanto, somente as formulações A, B, D e E
apresentaram porcentagens de dissolução estatisticamente equivalentes após análise por ANOVA.
Entretanto, para ratificá-los como equivalentes terapêuticos, estudos in vivo deveriam ser
executados, a fim de possibilitar conclusões mais definitivas sobre bioequivalência e
biodisponibilidade.
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo projeto 401069/2014-1 do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 132 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
Referências Bibliográficas
Arzamastsev AP, Sadchikova NP, Luttseva TY. A comparative analysis of requirements to the
pharmacopoeial drug dissolution test. Pharm. Chem. J. 37(1): 37-43, 2003.
Aulton ME. Delineamento de formas farmacêuticas. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 677 p.
Bauer J, Spanton S, Henry R, Quick J, Dziki W, Porter W, Morris J. Ritonavir: na extraordinary
example of conformational polymorphism. Pharm. Res. 75 (18): 859-866, 2001.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) n. 17, de 03 de março de 2007.
Disponível em: http://www.puntofocal.gov.ar/notific_otros_miembros/bra225a2_t.pdf. Acesso em:
25 ago. 2014.
Brasil. Farmacopeia Brasileira, Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária Brasília: Anvisa,
2010. volume 1 e 2.
Brasil. Ministério da saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei n. 9.787, de 10 de
fevereiro de 1999.
Cascone S, De Santis F, Lamberti G, Titomanlio G. The influence of dissolution conditions on the
drug ADME phenomena. Eur. J. Pharm. Biopharm. 79: 382-391, 2011.
Digue SV. A review of the safety of generic drugs. Transplant. Proc. 31: (3A Suppl): 23S-24S,
1999.
Freitas G, Piloto JAR, Anjos Neto Filho MA, Gouveia MS. Equivalência entre medicamentos de
referência, genéricos e similares nas terapêuticas medicamentosas crônicas anti-hipertensivas. Braz.
J. Surg. Clin. Res. 6(1): 47-53, 2014.
Furberg, CD, Herrington, DM & Psaty, BM. Are drugs within a class interchangeable? Lancet,
v.354, p.1202-4, 1999.
Goodman LS, Gilman A & Brunton LL. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan, 2012, p.731-736.
Hasenclever L. (Coord.). Diagnóstico da indústria farmacêutica brasileira. Rio de Janeiro: Unesco;
FUJB/IE; UFRJ, 2002.
Jackson K, Young D, Pant S. Drug-excipient interactions and their effect on absorption.
Pharmaceut. Sci. Tech. Today. 3(10): 336-354, 2000.
Lopes RA & Neves FAR. Metanálise de estudos de bioequivalência: a intercambiabilidade de
genéricos e similares que contêm Hidroclorotiazida é possível, mas não àqueles com Maleato de
Enalapril. J. Bras. Nefrol. 32: 173-181, 2010.
Marques MRC & Brown W. Desenvolvimento e validação de métodos de dissolução para formas
farmacêuticas sólidas orais. Rev. Analytica. 1: 48-51, 2002.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 133 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016
Panakanti R & Narang AS. Impact of excipient interactions on drug bioavailability from solid
dosage forms. Pharm. Res. 29(10): 2639-2659, 2012.
Pereira DGS. Obtenção e caracterização de comprimidos de captopril 50 mg via compressão
direta. 2012. Campina Grande. 30 p. Monografia (Graduação em Farmácia), Universidade Estadual
da Paraíba.
Rosenberg G, Fonseca MGD, D’Avila LA. Análise comparativa da concentração industrial e de
turnover da indústria farmacêutica no Brasil para os segmentos de medicamentos de marca e
genéricos. Econ. Soc. 19(1): 107-34, 2010.
Storpirtis S. Biofarmacotécnica: fundamentos de biodisponibilidade, bioequivalência, dissolução e
intercambialidade de medicamentos genéricos. São Paulo: [s.n.], 1999. 78 p.
Storpirtis S, Marcolango R, Gasparatto SF, Vilanova MCA. Equivalência farmacêutica no contexto
da intercambialidade entre medicamentos genéricos e de referência: bases técnicas e científicas.
Infarma. 16|: 51-56, 2004.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento de
insuficiência cardíaca em hospital de ensino no Rio de Janeiro
Profile of drugs use in patients in treatment of heart failure in teaching hospital
in Rio de Janeiro
Rafaela Tavares Peixoto1, Ranieri Carvalho Camuzi2 & Selma Rodrigues de Castilho3*
1Farmacêutica, aluna de Iniciação Científica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense, Niterói
(RJ), Brasil. 2Mestre, professor assistente do Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica da Universidade Federal
Fluminense, Niterói (RJ), Brasil. 3Doutora, professora associada do Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica da Universidade Federal
Fluminense, Niterói (RJ), Brasil.
*Autor Correspondente: Selma Rodrigues de Castilho, e-mail: [email protected], Faculdade de Farmácia,
Universidade Federal Fluminense, Rua Mário Vianna, 523 – Santa Rosa – Niterói, RJ CEP 24 241 000.Telefone:
(21)26299600
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 135 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
RESUMO
Com o objetivo de identificar perfil de utilização de medicamentos, potenciais interações
medicamentosas (PIM) e grau de adesão dos pacientes tratados para IC em um centro clínico
especializado, realizou-se um estudo transversal retrospectivo, com dados de 42 pacientes. Os
medicamentos foram classificados segundo a ATC, a adesão foi avaliada através do questionário
Morisky e as interações foram classificadas de acordo com a base de dados Drugdex da
MICROMEDEX®. A idade média foi de 64,3±13,6 anos. Os homens usaram 7,6±2,3
medicamentos, enquanto as mulheres 7,9±2,5, com predominância de fármacos para aparelho
cardiovascular, sangue e órgãos hematopoiéticos e trato alimentar e metabolismo. Observaram-se
5,9±3,6 PIM/paciente. A combinação mais envolvida em interações foi AAS e carvedilol (18). Na
primeira entrevista, 31 pacientes foram considerados não aderentes, e 25 na última entrevista
realizada. A comparação entre a adesão no início e no final do período de acompanhamento dos
pacientes foi feita pelo teste McNemar, com intervalo de confiança de 95%, tendo sido considerada
estatisticamente significativa (p=0,0412). O elevado número de pacientes sujeitos à polimedicação
reforça a necessidade de um acompanhamento farmacêutico de forma a evitar o desencadeamento
de PIM, estimular o uso racional de medicamentos e o aumento da adesão à terapia medicamentosa.
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca, Uso de medicamentos, Interações de medicamentos,
Polimedicação, Adesão à medicação.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 136 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
ABSTRACT
The study aimed to identify the usage of medications profile, potential drug interactions (PDI) and
degree of patient compliance in the treatment of IC in a specialized clinical center. A retrospective
cross-sectional study where data from 42 patients. Medications were classified according to the
ATC, the adherence was assessed using the Morisky questionnaire and the interactions were
classified according to the Drugdex data base, from MICROMEDEX®. The mean age was
64.3±13.59 years. Male patients used 7.6±2.3 medications, while female were prescribed with
7.9±2.5, with a predominance of drugs of the cardiovascular system, blood and blood-forming
organs and gastrointestinal tract and metabolism. 5.9±3.6 PDI/patient were observed. The
combination that was more involved in interactions was ASA and carvedilol (18). In his first
interview, 31 patients were considered non adherent, and 25 in the last interview. The comparison
between the compliance at the beginning and end of the follow-up period of the patients was taken
by McNemar test, with a confidence interval of 95%, that was considered statistically significant
(p=0.0412). The high number of patients subject to polypharmacy reinforces the need for a
pharmacist monitoring to avoid initiation of PDI, stimulate the rational use of medications and
increase of adherence to drug therapy.
Keywords: heart failure, drug utilization, drug interactions, polypharmacy, medication adherence.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 137 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
INTRODUÇÃO
Há várias décadas, a magnitude das doenças cardiovasculares como causa de óbito e
morbidade tem suscitado estudos que relacionam fatores como o tabagismo, a hipercolesterolemia,
a obesidade, o "stress", o diabetes melitus e a hipertensão arterial ao aparecimento dessas doenças
(Mendis et al., 2005; Sala et al., 1993). Também o processo de cuidado destes pacientes tem sido
objeto de estudos que evidenciam que uma parcela significativa não recebe os medicamentos
apropriados (Mendis et al., 2005;) muitos não são aderentes aos programas (Rolnick et al., 2012;
Corrao et al., 2011; Guedes et al., 2011) e/ou carecem de informações adequadas para o manuseio
de seu tratamento medicamentoso (WHO, 2003; López-Carmona, 2003). Um número considerável
de oportunidades de prevenção de morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares é perdido
em função do uso irracional dos medicamentos.
Dentre as doenças cardiovasculares, a insuficiência cardíaca (IC) é a que mais cresce. Isso
pode ser verificado através de uma consulta aos Indicadores de Saúde no DATASUS onde consta
que, para o ano de 2014, em todo o país, houve aproximadamente 220,5 mil internações
relacionadas a IC e um total aproximado de 22 mil óbitos. Esses números representam 20% de
todas as internações e 25% de todos os óbitos relacionados a doenças do aparelho circulatório,
naquele ano (Brasil, 2014).
A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, que atinge cerca de 1 a 2%
da população adulta em países desenvolvidos (McMurray et al., 2012). A III Diretriz Brasileira de
Tratamento da Insuficiência Cardíaca Crônica (Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009) descreve a
insuficiência cardíaca (IC) como uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico.
Correspondendo a uma disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para
atender às necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo
somente com elevadas pressões de enchimento, que normalmente ocorre como consequência de
enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos.
Os principais fatores de risco associados ao aparecimento da IC são cardiopatias, como o
infarto agudo do miocárdio, a hipertensão arterial não tratada, a febre reumática, as infecções virais,
entre outras. O tratamento da IC consiste basicamente no controle da mortalidade e no aumento da
qualidade de vida do paciente (Bocchi et al., 2012; Seixas-Cambão & Leite-Moreira, 2009;).
A IC muitas vezes vem acompanhada de outras doenças, principalmente relacionadas com o
sistema cardiovascular o que, por si só, requer tratamento com associação de medicamentos, sendo
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 138 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
raramente tratável por monoterapia. É necessário avaliar as possíveis interações medicamentosas e a
incidência de potenciais efeitos adversos nessa população (Secoli, 2010; Bocchi et al., 2012).
Entre as possibilidades de atuação dos farmacêuticos na promoção do uso racional de
medicamentos e na otimização da terapia medicamentosa em IC destaca-se a avaliação da
farmacoterapia de forma individualizada visando identificar e ponderar estratégias de enfrentamento
de problemas relacionados com os medicamentos (Alano, Corrêa & Galato, 2012; WHO, 2003),
entre eles a incidência de interações medicamentosas e a não adesão ao tratamento (Amaral &
Perassolo, 2012). A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu “estudo de utilização de
medicamentos” como o estudo da distribuição, do marketing, da prescrição e do uso de
medicamentos em uma sociedade, com destaque para os resultados médicos, sociais e
consequências econômicas. Nesse contexto, encontram-se estudos farmacoepidemiológicos que
permitem a obtenção de dados referentes aos efeitos adversos dos medicamentos em uma população
com a finalidade de apoiar o uso racional e rentável de medicamentos, melhorando assim os
resultados em saúde. Além disso, os dados sobre segurança e efetividade dos medicamentos
utilizados em um indivíduo ou grupo de indivíduos permitem identificar intervenções para garantir
uma melhor terapia medicamentosa (WHO, 2003).
Estudos de perfis quantitativos e qualitativos de fornecimento e consumo, de padrões de
prescrição, entre outros, são essenciais para que se possa realizar a adequação de uso de fármacos e
de avaliação da qualidade da assistência farmacêutica prestada. Através do mapeamento da situação
de utilização de medicamentos por uma dada população, torna-se viável a proposição de
intervenções para sua melhoria. Essas intervenções visam à resolução de problemas no âmbito da
assistência (Castro, 2000).
Este trabalho descreve o perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento
de IC em um hospital de ensino do estado do Rio de Janeiro, bem como as potenciais interações
medicamentosas (PIM) identificadas e o grau de adesão ao tratamento no grupo de pacientes
estudados.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo prospectivo a partir do atendimento farmacêutico na clínica
interdisciplinar de IC no ambulatório de um hospital de ensino, localizado no Rio de Janeiro, no
período de junho/2012 a março/2014. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição
(CAAE: 0360.0.258.258-11).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 139 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Os pacientes eram encaminhados pela equipe multidisciplinar que atua no ambulatório de IC
para o atendimento pela farmácia. No momento do atendimento, eram registradas as informações
sobre o uso de produtos indicados por outros prescritores ou consumidos por automedicação e o
local de aquisição dos medicamentos. A adesão ao tratamento foi avaliada no primeiro e no último
encontro do paciente com a equipe de farmácia através do método indireto de questionário de
Morisky (Ben, Neumann & Mengue, 2012), que aborda as seguintes questões:
1. Alguma vez (de vez em quando) você se esquece de tomar seu medicamento?
2. Você às vezes se descuida com o horário de tomar seu medicamento?
3. Quando você se sente melhor, às vezes, para de tomar seu medicamento?
4. Às vezes, quando você se sente pior (mal) quando toma o remédio, você para de tomá-lo?
Os critérios de inclusão utilizados foram o paciente ter mais de 18 anos, diagnóstico de IC,
pelos critérios de Framingham e Boston, com confirmação ecocardiográfica (McKee et al., 1971) e
ter possibilidade de acompanhamento pela equipe da farmácia por, pelo menos, 1 ano. O critério de
exclusão adotado foi a participação do paciente em estudo conflitante no momento em que foi
consultado sobre a participação na pesquisa.
Os medicamentos utilizados foram classificados de acordo com o Anatomical Therapeutic
Chemical Classification System ─ ATC (WHO, 2003; Castro, 2000) e para as potenciais (possíveis)
interações medicamentosas (PIM) utilizou-se como base de informações o Drugdex da
MICROMEDEX®. Não foi avaliada neste estudo a efetiva ocorrência ou não das PIM encontradas.
O perfil de adesão ao tratamento na primeira e na última consulta do período de
acompanhamento foi comparado através do teste McNemar para amostras pareadas e dados não
paramétricos.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 140 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
RESULTADOS
No início de junho de 2012, havia 51 pacientes participantes do projeto, mas apenas 42
permaneceram em acompanhamento por pelo menos um ano, sendo 23 do sexo masculino. A idade
da população estudada variou entre 40 e 93 anos (média ± DP: 64,34± 13,59), estando a maioria
(21) na faixa de 51 a 70 anos. A média de entrevistas realizadas por paciente foi de 3,93 ± 2,05.
No que se refere à quantidade, 2 pacientes relataram fazer uso de até 3 medicamentos e 39
utilizavam 5 ou mais, estando, portanto, submetidos à polimedicação. A média de medicamentos
utilizados por paciente foi de 7,63 (DP = ± 2,31) para homens e 7,94 (DP = ± 2,55) para mulheres.
Dentre os medicamentos indicados para o tratamento da insuficiência cardíaca o mais utilizado foi o
carvedilol (41 pacientes), seguido da furosemida (28). A sinvastatina, o AAS e a metformina foram
os medicamentos que não estão diretamente relacionados ao tratamento da IC mais utilizados, com
19, 18 e 12 pacientes em uso, respectivamente. A tabela 1 apresenta a distribuição dos
medicamentos em uso pelos pacientes do ambulatório de IC.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 141 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Tabela 1. Distribuição de medicamentos utilizados pelos pacientes em tratamento de IC, N = 42,
Niterói, 2014
Código ATC Medicamentos N (42)
C07AG02 Carvedilol 41
C03CA01 Furosemida 28
C03DA01 Espironolactona 25
C09AA02 Enalapril 21
C10AA01 Sinvastatina 19
B01AC06 AAS 18
C09CA01 Losartan 14
A10BA02 Metformina 12
C02DB02 Hidralazina 9
C01AA05 Digoxina 9
C01DA14 Mononitrato de Isossorbida 9
A02BC01 Omeprazol 8
A10A Insulina NPH 8
B01AA03 Varfarina 7
C08CA01 Anlodipino 5
C03AA03 Hidroclorotiazida 4
N02BB02 Dipirona 4
C01DA08 Dinitrato de Isossorbida 4
M04AA01 Alopurinol 4
A12AA04 Carbonato de Cálcio 4
C09AA01 Captopril 3
A02BA02 Ranitidina 3
A10A Insulina Regular 3
A11CC Vitamina D 3
B01AC04 Clopidogrel 2
N03AE01 Clonazepam 2
Outros 22
Considerando-se apenas os grupos de medicamentos relacionados ao sistema cardiovascular,
os grupos de medicamentos mais frequentes foram os β-bloqueadores (C07), presentes na totalidade
das prescrições, seguido dos agentes com ação sobre o sistema renina-angiotensina (C09), usados
por 38 pacientes, dos diuréticos (C03), usados por 37 pacientes, dos modificadores de lipídios
(C10), usados por 21 pacientes, do grupo de medicamentos para terapia cardíaca (C01), presentes
nas prescrições de 19 pacientes, dos anti hipertensivos (C02), em uso por 9 pacientes e, finalmente,
os bloqueadores de canais de cálcio (C08), em uso por 6 pacientes.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 142 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Dos medicamentos que atuam no trato alimentar e metabolismo, aqueles indicados para
diabetes se destacaram, seguidos dos medicamentos relacionados às desordens ácidas, com 18 e 12
pacientes em uso, respectivamente. No grupo dos medicamentos que atuam no sangue e órgãos
hematopoiéticos, observaram-se 24 pacientes em uso de algum agente antitrombótico; e no grupo
dos que atuam no sistema nervoso, os analgésicos eram utilizados por 7 pacientes, enquanto os
antiepiléticos eram usados por 5 pacientes. Todos os pacientes utilizaram medicamentos
relacionados ao sistema cardiovascular (C), relacionados ao trato alimentar e metabolismo (A)
foram 21, relacionados ao sangue e órgãos hematopoiéticos (B) foram 24 e relacionados ao sistema
nervoso (N) foram 13. Este perfil está correlacionado ao fato de a hipertensão, a diabete e a
hipercolesterolemia serem as principais comorbidades encontradas na população.
Dos 42 pacientes acompanhados, apenas 2 não apresentaram potenciais interações
medicamentosas (PIM). Um total de 239 PIM foram identificadas, com média de 5,97± 3,63 por
paciente, com o mínimo de 1 e o máximo de 17 PIM por paciente. A classificação das 239 PIM
quanto à sua gravidade é apresentada na tabela 2.
Tabela 2. Distribuição das potenciais interações medicamentosas (PIM) segundo sua gravidade,
N=239, Niterói, 2014.
Grau de severidade
Interações
Maiores
Interações
Moderadas
Interações
Menores
Contra-
Indicação Total
Número de pacientes
com PIM (a) 29 40 12 1 40
Número de diferentes
PIM 24 47 5 1 77
Número de ocorrências
das PIM (b) 50 174 14 1 239
Média de PIM por
paciente (b/a) 1,7 4,3 1,2 1 6,0
Dos medicamentos envolvidos em interações, o ácido acetilsalicílico se destaca fazendo
parte de 18 possíveis interações, seguido de digoxina (11), sinvastatina (10), carvedilol (9),
enalapril (7) e varfarina (7). A tabela 3 apresenta as PIM mais frequentes.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 143 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Tabela 3. PIM mais frequentes e respectiva gravidade, N = 239, Niterói, 2014.
Medicamento A Medicamento B Gravidade N (pacientes)
Digoxina Espironolactona Maior 8
Enalapril Espironolactona Maior 14
Digoxina Furosemida Moderada 6
Digoxina Carvedilol Moderada 9
Anlodipina Carvedilol Moderada 5
Carvedilol Insulina NPH Moderada 8
AAS Carvedilol Moderada 18
AAS Carbonato de Cálcio Moderada 4
AAS Enalapril Moderada 6
AAS Espironolactona Moderada 7
AAS Furosemida Moderada 10
AAS Insulina NPH Moderada 6
AAS Losartan Moderada 8
Carvedilol Metformina Moderada 11
Enalapril Furosemida Moderada 16
Enalapril Metformina Moderada 5
Espironolactona Varfarina Moderada 6
Espironolactona Losartan Moderada 7
Furosemida Hidralazina Menor 8
Atazanavir Sinvastatina Contra-Indicação 1
Vale ressaltar que as PIM encontradas com maior frequência eram aquelas relacionadas à
possível redução dos efeitos de um dos medicamentos associados. A figura 1 ilustra o impacto
clínico de algumas das combinações encontradas.
Figura 2. Exemplos de PIM identificadas e seu impacto clínico
Medicamento A Medicamento B Impacto Clínico
Digoxina Espironolactona Pode resultar em aumento da exposição a digoxina,
elevando o risco de toxicidade da digoxina (Grave)
Enalapril Espironolactona
Pode resultar em hipercalemia. Arritmias graves e morte
foram relatados a partir de hipercalemia com tais
combinações (Grave)
AAS Insulina NPH Pode resultar em hipoglicemia e como consequencias
depressão do SNC e convulsões (Moderada)
AAS Carvedilol Pode resultar em diminuição do efeito anti-hipertensivo
(Moderada)
Atazanavir Sinvastatina
Pode resultar em um aumento de risco de toxicidade da
sinvastatina, incluindo um risco aumentado de miopatia
ou rabdomiólise (Contra-Indicado)
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 144 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
A aplicação do teste de Morisky mostrou que, na primeira entrevista realizada, 31 pacientes
poderiam ser considerados não aderentes ao tratamento medicamentoso, por terem respondido
“SIM” a pelo menos uma das 4 perguntas realizadas (Figura 2). Já se considerando a entrevista mais
recente, o número de pacientes considerados não aderentes caiu para 25.
Figura 2. Número de respostas SIM a cada item do questionário Morisky na primeira e na última
entrevista realizada para cada paciente, N=42, Niterói, RJ.
A análise da diferença entre o número de pacientes aderentes ao tratamento no início e no
final do período de acompanhamento foi feita pelo teste McNemar para cada uma das quatro
perguntas do questionário de Morisky, com intervalo de confiança de 95%. O resultado do teste
mostrou significância estatística para a diferença na resposta à quarta pergunta (p= 0,0133). No
entanto, não houve significância estatística para as perguntas 1 (p= 0,2673), 2 (p= 0,3428) e 3 (p=
0,4795).
DISCUSSÃO
Poucos trabalhos científicos abordam o perfil de utilização de medicamentos em pacientes
com IC. O estabelecimento deste perfil auxilia a compreensão dos potenciais problemas
relacionados a medicamentos nesta população.
No que se refere às características sociodemográficas, não houve diferença significativa na
distribuição por sexo, o que vai ao encontro do estudo realizado por Tavares e colaboradores
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 145 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
(2004), onde a idade média encontrada também se aproximou dos valores apresentados para a
população atendida em hospitais públicos (Tavares et al., 2004).
Não foi observada relação significativa entre o aumento da idade e o aumento do número de
medicamentos utilizados, característica encontrada nos estudos de Fleith e colaboradores (2008) e
Santos, Faria Junior & Restini (2012).
Como esperado, o perfil de uso dos medicamentos é bem peculiar na IC, diferindo do que se
observa entre hipertensos e idosos em geral (Pereira et al., 2012; Flores & Benvegnú, 2008).
Existem poucos estudos desse tipo voltados para pacientes com IC e o conhecimento deste perfil
pode auxiliar o processo de preparação para a orientação farmacêutica a estes pacientes. O perfil
identificado está em acordo com a proposição da Diretriz Brasileira para Tratamento da
Insuficiência Cardíaca Crônica – 2012 (Bocchi et al., 2012), na qual recomenda-se a terapia
combinada entre dois ou mais medicamentos mesmo para terapia incial em pacientes
assintomáticos, reforçando o fato de que o paciente de IC é um forte candidato à polimedicação.
A necessidade de uso dos β-bloqueadores pela totalidade dos pacientes pode ser explicada
pelos benefícios clínicos apontados em diversos estudos que mostram que a utilização desta classe
tem-se mostrado capaz de reduzir a mortalidade e o risco de internações, provocar um atraso na
progressão da doença, além de melhorar a função sistólica e a reversão do remodelamento
ventricular (Bocchi et al., 2012; Opie & Horowitz, 2009; Palazzuoli et al., 2005; Packer et al.,
2001).
Até o ano de 2012, o carvedilol não se encontrava disponível nas unidades de saúde do SUS,
pois não integrava o elenco da Rename. O custo mensal deste tratamento pode representar uma
barreira importante para o acesso, comprometendo a possibilidade de adesão à terapia
medicamentosa preconizada, caso o mesmo não esteja disponível no SUS. Em 2013, este
medicamento foi incluído para atender à demanda destes usuários (Brasil, 2013). Segundo relatos
dos pacientes, o carvedilol raramente está disponível nas farmácias das unidades básicas de saúde.
A oferta do medicamento pelo projeto pode ter contribuído para a manutenção do vínculo do
paciente com o mesmo; e também pode ser mais um fator que justifique o fato de este ser o
medicamento mais utilizado pelos pacientes participantes.
As manifestações clínicas decorrentes da idade, assim como doenças crônicas, são os
principais elementos relacionados à polimedicação. Segundo Secoli (2010), a polifarmácia está
intimamente associada à precipitação das potenciais interações medicamentosas (PIM), à redução
da adesão ao tratamento e ao desencadeamento de problemas relacionados a medicamentos (PRM).
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 146 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
O elevado percentual de PIM encontrado (95,2%) está de acordo com os achados de Secoli
(2010), que apontam que, em pacientes em uso de sete medicamentos ou mais, estas podem estar
presentes em até 82%.
A principal limitação deste estudo, no que se refere a interações medicamentosas, foi o fato
de não se ter avaliado se houve efetivamente alguma manifestação clínica das PIM encontradas,
podendo ser objeto de estudo em trabalhos futuros.
A combinação entre AAS versus furosemida foi a quarta PIM mais prevalente neste estudo.
Esta interação foi identificada por Varallo e colaboradores como uma das principais PIM
responsáveis por internações hospitalares (Varallo, Costa & Mastroianni, 2013).
O fato das principais PIM identificadas serem fruto de necessidades terapêuticas
relacionadas a comorbidades comuns entre os pacientes com insuficiência cardíaca, reforça a
importância do acompanhamento farmacêutico destes pacientes como mais uma possibilidade de
intervenção e prevenção de problemas. Bueno e colaboradores (2009) também enfatizam a
importância da PIM entre digoxina versus furosemida, devido ao seu potencial risco de provocar
arritmia cardíaca.
São inúmeros os estudos que indicam que os medicamentos empregados na terapia
cardiovascular se destacam em termos de prevalência de PIM em populações idosas (Bueno et al.,
2009; Mosegui et al., 1999). Isto reforça ainda mais a necessidade de acompanhamento dos
pacientes que fazem uso contínuo da classe.
Embora o teste de Morisky, assim como os questionários realizados na avaliação indireta da
adesão a medicamentos, possua baixa sensibilidade e acurácia, este é o método mais utilizado
atualmente, não só no Brasil, mas em vários estudos que abordam adesão (Ben, Neumann &
Mengue, 2012; Davis, Packard & Jackevicius, 2014).
A análise das respostas ao questionário Morisky, no início e no último atendimento,
demonstrou uma redução nas respostas afirmativas no segundo momento, em relação ao primeiro,
principalmente no que diz respeito aos fatores relacionados às decisões do usuário. A maior redução
de respostas afirmativas foi para a quarta pergunta, relacionada à suspensão da medicação por conta
própria em caso de mal-estar, que se mostrou estatisticamente significativa, sugerindo que a
orientação prestada foi importante para auxiliar na conscientização do paciente em relação à
necessidade de manutenção da terapia para melhora do quadro clínico e a procura pelo médico em
caso de piora.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 147 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
CONCLUSÃO
Pacientes crônicos quando sujeitos à polimedicação necessitam de atenção especial não só
por parte do profissional farmacêutico, mas também de toda a equipe de saúde. Torna-se importante
a identificação do perfil de utilização de medicamentos, as suas potenciais interações
medicamentosas e o grau de adesão à terapia medicamentosa dos pacientes com insuficiência
cardíaca, para que, identificadas as causas dos problemas, o farmacêutico seja capaz de trabalhar
com medidas educativas. A inserção do farmacêutico na equipe multiprofissional visando oferecer
orientações quanto ao uso racional de medicamentos e, sempre que possível, estabelecer o
acompanhamento farmacoterapêutico, tem uma contribuição potencial importante para o alcance
dos objetivos terapêuticos traçados para estes pacientes.
A principal limitação do presente estudo foi o número reduzido de pacientes, o que não
permite a extrapolação dos dados para toda a população de pacientes com IC. A metodologia
empregada permitiu conferir a confiabilidade necessária ao estudo.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 148 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alano GM, Correa TS, Galato D. Indicadores do Serviço de Atenção Farmacêutica (SAF) da
Universidade do Sul de Santa Catarina. Ci. Saúde Col. [online]17(3): 757-764, 2012.
Amaral DMD, Perassolo MS. Possíveis interações medicamentosas entre os anti-hipertensivos e
antidiabéticos em participantes do Grupo HIPERDIA de Parobé, RS. Rev. Ci. Farm. Básica Apl.
33(1): 99-105, 2012.
Ben AJ, Neumann CR, Mengue SS. Teste de Morisky-Green e Brief Medication Questionnaire para
avaliar adesão a medicamentos. Rev. Saúde Públ.46(2): 279-289, 2012.
Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira WA, Almeida DR.
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, 3., 2009.
Arq. Bras. Cardiol. 93(1 supl.1). 1-71, 2009.
Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues DA, Mesquita
ET, Vilas-Boas F, Cruz F, Ramires F, Villacorta Junior H, Souza Neto JD, Rossi Neto JM, Moura
LZ, Beck-da-Silva L, Moreira LF, Rohde LEP, Montera MW, Simões MV, Moreira MC, Clausell
N, Bestetti R, Mourilhe-Rocha R, Mangini S, Rassi S, Ayub-Ferreira SM, Martins SM, Bordignon
S, Issa VS. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da diretriz brasileira de insuficiência
cardíaca crônica, 2012. Arq. Bras. Cardiol. 98 (1 supl. 1): 1-33, 2012.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais: Rename. 8. ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 200 p.
Brasil, Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS): Indicadores
- Brasil [Capítulo CID-10: IX. Doenças do aparelho circulatório; Lista Morb CID-10: Insuficiência
cardíaca], 2014. Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=02>.
Acesso em: 12 fev. 2015.
Bueno CS, Oliveira KR, Berlezi EM, Eickhoff HM, Dallepiane LB, Girardon-Perlini NMO,
Mafalda A. Utilização de medicamentos e risco de interações medicamentosas em idosos atendidos
pelo Programa de Atenção ao Idoso da Unijuí. Rev. Ci. Farm. Básica Apl. 30(3): 331-338, 2009.
Castro CGSO (Coord.). Estudos de utilização de medicamentos: noções básicas [online]. Rio de
Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000. 92 p.
Corrao G, Parodi A, Nicotra F, Zambon A, Merlino, L, Cesana G, Mancia G. Better compliance to
antihypertensive medications reduces cardiovascular risk. J. Hypertens. 29(3): 610-618, 2011.
Davis EM, Packard KA, Jackevicius CA. The pharmacist role in predicting and improving
medication adherence in heart failure patients. J. Manag. Care Pharm. 20 (7) .: 741-55, 2014.
Faggiani FT, Schroeter G, Pacheco SL, Souza ACA, Werlang MC, Carli GA, Morrone FB. Profile
of drug utilization in the elderly living in Porto Alegre, Brazil. Pharm. Prac. 5(4):179-184, 2007.
Coelho Filho JMC, Marcopito LF, Castelo A. Perfil de utilização de medicamentos por idosos em
área urbana do Nordeste do Brasil. Rev. Saúde Públ. 38(4): 557-64, 2004.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 149 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Fleith VD, Figueiredo MA, Figueiredo KFLRO, Moura EC. Perfil de utilização de medicamentos
em usuários da rede básica de saúde de Lorena, SP. Ci. Saúde Col. 13 (Sup): 755-762, 2008.
Flores VB & Benvegnú LA. Perfil de utilização de medicamentos em idosos na zona urbana de
Santa Rosa, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Públ. 24(6): 1439-1446, 2008.
Fochat RC, Horsth RBDO, Sette MS, Raposo NRB, Chicourel EL. Perfil de utilização de
medicamentos por idosos frágeis institucionalizados na Zona da Mata Mineira, Brasil. Rev. Ci.
Farm. Básica Apl. 33(3): 447-454, 2012.
Guedes MVC, Araujo TL, Lopes MVO, Silva LF, Freitas MC, Almeida PC. Barreiras ao
tratamento da hipertensão arterial. Rev. Bras. Enferm. [online] 64(6): 1038-1042, 2011.
Iftoda DML, Franco LM, Lopes LC, Carvalho MA, Alves MIF, Chaud MV, Franco YO, Santos
MRC, Paganelli MO. Estudo da utilização de antimicrobianos e outros fármacos para distúrbios do
trato respiratório em pacientes pediátricos hospitalizados. Rev. Ci. Farm. Básica Apl. 26(1): 39-45,
2005.
Karve S, Cleves MA, Helm M, Hudson TJ, West, DS, Martin BC. Prospective administrative
schizoprenia.989- validation of eight different adherence measures for use with administrative
claims data among patients with schizophrenia. Value Health. 12(6): 989 -995, 2009.
López-Carmona Juan Manuel, Ariza-Andraca Cuauhtémoc Raúl, Rodríguez-Moctezuma José
Raymundo, Munguía-Miranda Catarina. Construcción y validación inicial de un instrumento para
medir el estilo de vida en pacientes con diabetes mellitus tipo 2. Salud Públ. México. 45(4): 259-
267, 2003.
McKee PA, Castelli WP, McNamara PM, Kannel WB. The natural history of congestive heart
failure: the Framingham study. N. Engl. J. Med. 285(26): 1441-6, 1971.
McMurray JJ, Adamopoulos S, Anker SD, Auricchio A, Böhm M, Dickstein K, Falk V, Filippatos
G, Fonseca C, Gomez-Sanchez MA, Jaarsma T, Køber L, Lip GY, Maggioni AP, Parkhomenko A,
Pieske BM, Popescu BA, Rønnevik PK, Rutten FH, Schwitter J, Seferovic P, Stepinska J, Trindade
PT, Voors AA, Zannad F, Zeiher A. Committee for Practice Guidelines. ESC Guidelines for the
diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure 2012: the task force for the diagnosis and
treatment of acute and chronic heart failure 2012 of the European Society of Cardiology. Developed
in collaboration with the Heart Failure Association (HFA) of the ESC. Eur. Heart J. 33(14): 1787-
847, 2012.
Mendis S, Abegunde D, Yusuf S, Ebrahim S, Shaper G, Ghannem H, Shengelia B. WHO study on
prevention of recurrences of myocardial infarction and Stroke (WHOPREMISE). Bull World Health
Organ. 83(11): 820-829, 2005.
Mosegui GB, Rozenfeld S, Veras RP, Vianna CMM. Avaliação da qualidade do uso de
medicamentos em idosos. Rev. Saúde Públ. 33(5): 437-44, 1999.
Opie LH & Horowitz JD. Beta-blocking agents. In: Opie LH & Gersh BJ. Drugs for the heart. 7th.
Philadelphia: Saunders-Elsevier, 2009. cap. 1, p.1-37. .
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
S - 150 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016
Packer M, Coats AJS, Fowler, MB, Katus HA, Krum H, Mohacsi P, Rouleau JL, Tendera M,
Castaigne A, Roecker EB, Schultz MK, Staiger C, Curtin EL, DeMets DL. Effect of Carvedilol on
survival in severe chronic heart failure. N. Engl. J. Med. 344(22): 1651-1658, 2001.
Palazzuoli A, Quatrini I, Vecchiato L, Calabria P, Gennan L, Martini G, Nuti R. Left Ventricular
Diastolic Function Improvement by Carvedilol Therapy in Advanced Heart Failure. J. Cardiovasc.
Pharmacol. 45(6): 563-68, 2005.
Pereira VOM, Acurcio FA, Guerra Júnior AA, Silva GD, Cherchiglia ML. Perfil de utilização de
medicamentos por indivíduos com hipertensão arterial e diabetes mellitus em municípios da Rede
de Farmácia de Minas. Cad. Saúde Públ. 28(8): 1546 – 1558, 2012.
Rolnick SJ, Pawloski PA, Hedblom BD, Asche SE, Bruzek RJ. Patient characteristics associated
with medication adherence. Clin. Med. Res. 11(2): 54-65, 2013.
Sala A, Cohen DD, Dalmaso ASW, Lima AMM, Teixeira RR. Avaliação do processo de
atendimento a pacientes portadores de doença crônico-degenerativa em uma unidade básica de
saúde. Rev. Saúde Públ. 27(6): 463-71, 1993.
Santos JC, Faria Junior M, Restini CBA. Potenciais interações medicamentosas identificadas em
prescrições a pacientes hipertensos. Rev. Bras. Clin. Med. São Paulo. 10(4): 308-17, 2012.
Secoli SR. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso demedicamentos por idosos. Rev.
Bras. Enf. 63(1): 136-40, 2010.
Seixas-Cambão M & Leite-Moreira AF. Fisiopatologia da insuficiência cardíaca crónica. Rev.
Portuguesa Cardiol. 28(4): 439-471, 2009.
Tavares LR, Victer H, Linhares JM, Barros CM, Oliveira MV, Pacheco LC, Viana CH, Pereira SB,
Silva GP, Mesquita ET. Epidemiologia da insuficiência cardíaca descompensada em Niterói -
Projeto EPICA – Niterói. Arq. Bras. Cardiol. 82(2): 121-4, 2004.
Varallo FR, Costa MA, Mastroianni PC. Potenciais interações medicamentosas responsáveis por
internações hospitalares. Rev. Ci. Farm. Básica Apl. 34(1): 79-85, 2013.
World Health Organization (WHO). Adherence to long-term therapies. Evidence for action.
Geneva: WHO, 2003. Disponível em:
http://www.who.int/zchp/knowledge/publications/adherence_introduction.pdf. Acesso em: 15 jan.
2014.
World Health Organization (WHO). Failure to take prescribed medicine for chronic diseases is a
massive, world-wide problem. Disponível em:
http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2003/pr54/en/. Acesso em: 10 dez. 2013.
Revista Brasileira de Farmácia – ISSN 2176 – 0667 (on line)
Brazilian Journal of Pharmacy
Volume 97 SUPLEMENTO Maio / Agosto - 2016
EXPEDIENTE
Editores Eméritos Nuno Álvares Pereira (in memoriam) Levy Gomes Ferreira (in memoriam) Salvador Alves Pereira (in memoriam)
Editora-chefe Dra Carmelinda Monteiro Costa Afonso
Conselho Editorial Ilidio Ferreira Afonso (Instituto Hahnemanniano do Brasil) Maria Letice do Couto (Universidade Gama Filho / ABF) Maria Rita de Macedo (Escola Nacional de Saúde Pública) Vera Lucia Luiza (Escola Nacional de Saúde Pública)
Associação Brasileira de Farmacêuticos
Rua dos Andradas, 96/10º andar - Centro Rio de Janeiro - RJ - Brasil - 20.051-000
Telefax (0xx21)2263-0791 - (0xx21)2233-3672 www.abf.org.br - [email protected]
Presidente Dra Elizabeth Valverde Macedo
Vice-Presidente Dra Aline Copolla Napp
1ª Secretário Dra Luciene de Oliveira Moraes
2ª Secretário Dr. José Liporage Teixeira
Tesoureira Dra Alaíde dos Santos Rodrigues
Museu Dra Ethel Celene Norvaez Valdez
Cursos Dra Maria Letice Couto de Almeida
Biblioteca Dra. Samantha Cardozo Mourão
Revista Dra Carmelinda Monteiro Costa Afonso
Eventos e Marketing Dra. Helda Nogueira da Costa e Souza