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VOLUME 97 SUPLEMENTO MAIO/ AGOSTO 2016 REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA Brazilian Journal of Pharmacy PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667

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VOLUME 97 SUPLEMENTO MAIO/ AGOSTO 2016

REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA

Brazilian Journal of Pharmacy

PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS

WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667

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Volume 97 SUPLEMENTO Maio / Agosto 2016

SUMÁRIO

TÍTULO PÁGINA

Percepção dos usuários de uma drogaria em relação ao profissional farmacêutico Mariana Carámbula Arteche, Rita de Cássia Mascarenhas & Patrícia Martins Bock

04

Produção de metabólitos anti-Candida por Streptomyces sp isolado de solo rizosférico da Amazônia Silvia Katrine Silva Escher et al

18

Estudo do perfil microbiológico da matéria-prima e do produto acabado de Rhamnus purshiana e Baccharis trimera obtidos de diferentes farmácias de manipulação na cidade de Divinópolis-MG Diego Pinto de Oliveira et al

30

Atividades centrais das riparinas para tratamento de transtornos mentais: revisão de literatura. Éverton José Ferreira de Araújo et al

45

Perfil de utilização e adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes atendidos em Clínica de Insuficiência Cardíaca de um Hospital Universitário da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Ranieri Carvalho Camuzi et al

61

Comparação da solubilidade de diferentes amostras de glibenclamida pelo método “shake-flask” Missael Ferreira da Silva et al

78

Caracterização farmacognóstica sazonal de Petiveria alliacea L. (Phytolaccaceae) João Paulo Bastos Silva et al

91

Método Analítico para doseamento de Fumarato de Tenofovir Desoproxila por cromatografia líquida Erieldes Sousa Silva

104

Avaliação comparativa de comprimidos genéricos e similares de captopril utilizando o teste de dissolução como ferramenta analítica Camila Camponogara Dalla Pozza, Daniele Rubert Nogueira & Clarice M. Bueno Rolim

119

Perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento de insuficiência cardíaca em hospital de ensino no Rio de Janeiro Rafaela Tavares Peixoto, Ranieri Carvalho Camuzi & Selma Rodrigues de Castilho

134

Expediente

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Percepção dos usuários de uma drogaria em relação ao profissional

farmacêutico

Mariana Carámbula Arteche1, Rita de Cássia Mascarenhas2 & Patrícia Martins Bock3* 1Graduada em Farmácia pelo Centro Universitário Metodista, do IPA. 2Docente do Centro

Universitário Metodista, do IPA. 3Doutoranda em Fisiologia na Universidade Federal do Rio

Grande do Sul.

[email protected]

Rua Avaí, 137/402 CEP: 90050-200. Telefone 81125269

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S - 5 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção dos usuários de uma drogaria sobre a

atuação do profissional farmacêutico. O estudo foi realizado através de delineamento observacional

transversal. Os dados foram coletados através de um roteiro de entrevista com perguntas fechadas.

Foram entrevistados 97 indivíduos, sendo a maioria (70,1%) do sexo feminino. A maior parte

(90,7%) dos entrevistados relatou que já foi atendido por um farmacêutico e que já solicitou

informações a ele (85,6%). Quando questionados sobre o conhecimento das funções deste

profissional, 48,5% dos indivíduos respondeu que sabe em parte. Verificou-se que houve

predomínio (97,7%) de respostas afirmativas quanto à importância da presença do farmacêutico na

drogaria. A maior parte (99,0%) dos entrevistados espera que o farmacêutico esclareça suas dúvidas

sobre o medicamento e afirma que este profissional atende suas necessidades (74,2%). Quanto às

variáveis sobre Atenção Farmacêutica, a maioria respondeu que nunca ouviu falar (86,6%), não

sabe o que é (88,7%) e acredita ser a preocupação do farmacêutico com o medicamento (44,3%).

Pode-se concluir que os entrevistados têm uma boa percepção sobre o farmacêutico que atua na

drogaria estudada, embora tenham demonstrado pouco conhecimento sobre o quanto este

profissional pode colaborar com seu tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Atenção farmacêutica, farmácia, satisfação dos consumidores.

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ABSTRACT

The aim of this work was to evaluate the perception of a drugstore users on the

pharmaceutical professional role. The study was conducted using an observational cross-sectional

design. Data were collected through a questionnaire with questions. Were interviewed 97 users and

the majority (70.1%) was from female genre. The majority (90.7%) of those interviewed reported

that they have been served by a pharmacist and have already requested information from him

(85.6%). When asked about the knowledge of this professional’s functions the majority (48.5%) of

individuals answered they know in part. We found predominance (97.7%) of positive responses

regarding the importance of the pharmacist’s presence at the drugstore. The majority (99.0%) of

those interviewed, expect the pharmacist to clarify their doubts about drugs and say that this

professional meets their needs (74.2%). Regarding the variables on Pharmaceutical Care the

majority responded that they have never heard about it (86.6%), did not know what it was (88.7%),

and believed to be the pharmacist’s concern with the drug (44.3%). It can be concluded that

respondents have a good perception about the pharmacist who works at the drugstore, although they

have demonstrated little knowledge about how these professionals can collaborate with their

treatment.

KEYWORDS: Pharmaceutical care, pharmacies, consumer satisfaction.

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INTRODUÇÃO

As drogarias são estabelecimentos nos quais se dispensam e comercializam drogas,

medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais. São classificadas

como farmácias comunitárias, que fazem parte do comércio varejista privado e atendem às

exigências da Lei 5991/73 do Ministério da Saúde (Brasil, 1973). É obrigatório que cada

estabelecimento tenha um profissional farmacêutico como responsável técnico (Brasil, 1993), que

deve estar presente durante todo o horário de funcionamento do mesmo, prestando atendimento ao

paciente ao nível de atenção primária à saúde (Brasil, 1973).

Diante da dificuldade em conseguir uma consulta médica, do longo período de espera pela

mesma (Naves et al., 2010) e da falta de conhecimento sobre medicamentos, (Vitor et al., 2008), a

drogaria e seu responsável técnico, o farmacêutico, tornam-se muito importantes para promover a

educação dos pacientes, evitando assim, a automedicação, a não adesão ao tratamento prescrito e a

administração errônea de medicamentos. Porém a realidade não é esta, ainda que em processo de

transformação (França Filho et al., 2008).

Após o processo de industrialização, em que os medicamentos manipulados cederam espaço

para produtos industrializados (Angonesi & Sevalho, 2010) e a sanção da Lei nº 5991/73, que

quando entrou em vigor permitia a presença de um prático de farmácia como responsável técnico

(Brasil, 1973), as drogarias tornaram-se estabelecimentos com fins comerciais e o farmacêutico

distanciou-se da sua atividade principal (Vieira, 2007).

Na tentativa de resgatar o reconhecimento da população pelo farmacêutico, que existia antes

destes fatos ocorrerem, adotou-se nos últimos anos no Brasil uma nova prática profissional que visa

primeiramente o paciente, a Atenção Farmacêutica (Angonesi & Sevalho, 2010).

O termo foi definido, no Brasil, em 2002, como uma prática desenvolvida no contexto da

Assistência Farmacêutica, voltada para a prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde,

na qual o farmacêutico interage diretamente com o usuário, com o objetivo de obter resultados que

melhorem a qualidade de vida do mesmo (OPAS, 2002). Desde então, a Atenção Farmacêutica

passou a ser discutida em diversos eventos (Angonesi & Sevalho, 2010).

Porém, a implantação de uma atividade mais voltada para os pacientes do Brasil ainda

enfrenta dificuldades. O excesso de atribuições que devem ser desenvolvidas pelos farmacêuticos,

em sua maioria relacionadas com a administração da drogaria, o interesse predominantemente

comercial dos proprietários e a objeção dos balconistas em seguir as suas orientações são alguns dos

empecilhos (Bastos & Caetano, 2010). Além disto, podemos citar o pouco conhecimento de alguns

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profissionais farmacêuticos sobre esta prática (Bastos & Caetano, 2010; Farina & Romano-Lieber,

2009; França Filho et al., 2008), possivelmente por se tratar de um assunto relativamente recente,

que passou a ser incluído como disciplina no currículo do curso de graduação em Farmácia há

poucos anos (Farina & Romano-Lieber, 2009; França Filho et al., 2008).

A Federação Internacional Farmacêutica (FIP) adotou em 2011 uma versão atualizada da

Boa Prática Farmacêutica, com os objetivos de contribuir para a melhoria da saúde e ajudar os

pacientes com problemas de saúde a fazer o melhor uso de seus medicamentos. Este documento

define a prática de farmácia, e para apoiar esta prática, é essencial que haja um quadro nacional

estabelecido de padrões de qualidade e diretrizes (FIP/WHO, 2011).

Neste contexto, o presente trabalho busca verificar o conhecimento dos usuários de uma

drogaria sobre o profissional farmacêutico e as atividades que o mesmo deve desenvolver nestes

estabelecimentos, bem como sobre Atenção Farmacêutica.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado através de delineamento observacional transversal. A amostra foi

composta por usuários de uma drogaria, pertencente à rede Associadas, localizada na Zona Norte de

Porto Alegre/RS. Esta região é caracterizada por ter uma população de renda baixa a média; desta

forma a escolha desta drogaria permite que os dados coletados reflitam uma população

potencialmente usuária preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento médico. No

momento de realização do estudo, a Drogaria oferecia serviços farmacêuticos, como aferição de

pressão arterial e aplicação de injetáveis, porém a mesma possuía limitações para a realização de

uma gama maior de serviços clínicos do farmacêutico, necessitando de melhorias no espaço físico

para implementação e ampliação de atenção farmacêutica diferenciada. O levantamento de dados

foi realizado durante o mês de setembro de 2012.

Foram considerados como critérios de inclusão: indivíduos com idade igual ou superior a 18

anos, de ambos os sexos, que aceitaram participar da pesquisa.

Para um nível de confiança de 95%, e um erro máximo de 10%, o tamanho calculado da

amostra foi de 97 indivíduos, selecionados por amostragem aleatória simples.

Os dados foram coletados através de um questionário com perguntas fechadas, validado

previamente (Duque, 2006). Foi realizado um estudo piloto com 10 entrevistados para adequação

do questionário de pesquisa, onde foi verificado se as questões eram compreendidas pelo público

estudado. As entrevistas foram efetuadas por uma das autoras do artigo e pelas atendentes da

Drogaria onde o questionário foi aplicado. Os entrevistadores foram treinados para as entrevistas. O

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S - 9 Arteche M. C., Mascarenhas R. C., Bock P.M. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 01 – 17, 2016

questionário abrangeu questões como o conhecimento das atribuições do farmacêutico que atua em

drogarias, o conhecimento da prática de atenção farmacêutica e a percepção do indivíduo sobre o

profissional farmacêutico. A aplicação do questionário foi realizada no balcão de atendimento da

drogaria, e foi precedida pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

onde se expressava o compomisso com o sigilo das informações, o anonimato dos participantes e a

utilização dos dados somente para esta pesquisa. Todo o processo de pesquisa obedeceu aos

princípios éticos, sendo realizado apenas após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Centro Universitário Metodista, do IPA (Protocolo nº 204/2012)

Foi realizada análise estatística descritiva, utilizando o programa Microsoft Office Excel

2007. Os dados são apresentados como frequências.

RESULTADOS

Foram entrevistados 97 indivíduos, sendo a maior parte (70,1%) do sexo feminino, com

idade inferior a 30 anos (43,3%). O nível de escolaridade predominante (46,4%) foi o ensino médio

e a renda mensal declarada pela maioria (50,5%) dos participantes foi acima de três salários

mínimos (tabela 1).

Tabela 1 - Perfil dos entrevistados (n=97) de uma drogaria em Porto Alegre (2012)

Perfil Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)

Sexo

Feminino 68 70,1

Idade

Até 30 42 43,3

31-40 23 23,7

41-50 16 16,5

51-60 13 13,4

>60 3 3,1

Escolaridade

Fundamental 3 3,1

Médio 45 46,4

Superior 39 40,2

Pós-graduação 10 10,3

Renda (Salários Mínimos)

Até 1 14 14,4

2-3 34 35,1

>3 49 50,2

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A maior parte (90,7%) dos entrevistados relatou que já foi atendido por um farmacêutico e

que já solicitou informações a ele (85,6%). Quando questionados sobre o conhecimento das funções

deste profissional, a maioria (48,5%) dos indivíduos respondeu que sabe em parte (Tabela 2).

Verificou-se que houve predomínio (97,7%) de respostas afirmativas quanto à importância

da presença do farmacêutico na drogaria. A maior parte (99,0%) dos entrevistados espera que o

farmacêutico esclareça suas dúvidas sobre o medicamento e afirma que este profissional atende suas

necessidades (74,2%), conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 - Percepção dos usuários sobre o farmacêutico de uma drogaria em Porto Alegre (2012)

Questões Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)

Você já foi atendido por um farmacêutico?

Sim 88 90,7

Não 3 3,1

Não sei 6 6,2

Você já solicitou informações a um farmacêutico?

Sim 83 85,6

Você sabe quais são as funções de um farmacêutico?

Sim 41 42,3

Não 9 9,3

Em parte 47 48,5

O que você espera de um farmacêutico?

Que venda o medicamento

(remédio)

0 0

Que esclareça minhas

dúvidas sobre o

medicamento (remédio)

96 99

Que colabore com meu

tratamento

0 0

Nada 0 0

Não sei 1 1

O farmacêutico atende suas necessidades?

Sim 72 74,2

Não 1 1

Não sei 24 24,7

Para você é importante a presença do farmacêutico na drogaria?

Sim 95 97,9

Não 0 0

Não sei opinar 2 2,1

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Quanto às variáveis sobre Atenção Farmacêutica (Tabela 3), a maioria dos entrevistados

respondeu que nunca ouviu falar (86,6%), não sabe o que é (88,7%) e acredita ser a preocupação do

farmacêutico com o medicamento (44,3%).

Tabela 3 - Conhecimento sobre Atenção Farmacêutica de uma drogaria em Porto Alegre (2012)

Questões Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)

Você já ouviu falar em atenção farmacêutica?

Sim 13 13,4

Não 84 86,6

Você sabe o que é atenção farmacêutica?

Sim 11 11,3

Não 86 88,7

Para você “atenção farmacêutica” é:

Receber o cliente e vender

o que foi solicitado

3 3,1

Ouvir suas queixas e

prescrever a medicação

(remédio)

5 5,2

Acompanhar seu

tratamento, preocupando-

se com sua saúde

25 25,8

Preocupação com o

medicamento (remédio)

43 44,3

Não sei 21 21,6

DISCUSSÃO

A amostra do presente estudo foi composta principalmente por mulheres, o que está de

acordo com uma pesquisa do Instituto POPAI Brasil sobre o comportamento dos consumidores em

farmácias e drogarias em cinco capitais brasileiras, dentre elas Porto Alegre. Muitas das visitas a

farmácia e drogarias são motivadas pela busca de produtos de higiene ou cosméticos (CFF, 2012) o

que pode pode explicar a maioria dos entrevistados sendo do sexo feminino. Igualmente, houve

convergência de um estudo com o presente quanto à maior concentração de usuário na faixa etária

de 20 a 39 anos (67%) (FEBRAFAR, 2012). A maior parte de usuários nesta faixa etária coincide

com dados da cidade, pois de acordo com o plano municipal de saúde de Porto Alegre (2014-2017),

a população residente no município na faixa etária entre 15 e 59 anos representa 66,2% da

população (Porto Alegre, 2013).

O ensino médio foi o nível de escolaridade predominante, porém o valor percentual obtido

de 46,4 foi inferior ao de 61% revelado pelo POPAI Brasil (CFF, 2012; FEBRAFAR, 2012).

Possivelmente isto tenha ocorrido, devido ao fato de que os dados do presente artigo estão

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relacionados a uma drogaria específica, e o estudo referenciado foi realizado em diversas cidades

diferentes. A renda mensal declarada pela maioria (50,5%) dos entrevistados foi acima de três

salários mínimos, resultado condizente com as variáveis analisadas quanto ao nível de escolaridade,

porque 40,2% dos entrevistados possuem nível superior e 10,3% pós-graduação.

Os entrevistados demonstraram ter uma boa percepção sobre o profissional farmacêutico que

atua em drogarias, entretanto foi possível perceber o pouco conhecimento sobre Atenção

Farmacêutica.

Quando questionados se já foram atendidos por um farmacêutico, a maior parte respondeu

que sim, e já solicitou informações ao mesmo, sugerindo a importância da presença deste

profissional nos estabelecimentos. Normalmente o farmacêutico é o último profissional da área da

saúde com o qual o indivíduo tem contato (Vieira, 2007), e possivelmente o de mais fácil acesso

para esclarecer suas dúvidas e receber as orientações pertinentes (Sousa et al., 2008; Vieira, 2007).

Os farmacêuticos são os profissionais da saúde preparados para realizar a dispensação de

medicamentos, e devem desenvolver estratégias apropriadas para garantir o uso eficaz e seguro dos

mesmos. Tais estratégias devem incluir a orientação sobre os horários corretos de administração e

interações medicamentosas, uma vez que é papel do farmacêutico monitorar o tratamento para

verificar a efetividade e os eventos adversos oriundos do uso dos medicamentos (FIP/WHO, 2011).

A maioria dos usuários acredita que é importante o farmacêutico estar presente nas

drogarias. Em um estudo realizado em Riad, na Arábia Saudita, para verificar a percepção e

satisfação dos pacientes em relação às atividades desenvolvidas pelos farmacêuticos nas drogarias,

a maioria dos entrevistados consideram o farmacêutico como indispensável (Al-Arifi, 2012). As

pessoas consideram importante a presenca do farmaceutico, ainda que este nao desenvolva papel

ativo no tratamento nem mesmo no momento da dispensacao. As barreiras para que iso ocorra, em

convergência com os achados de Al-Arifi (2012), incluem o envolvimento com questoes

administrativas da drogaria. Para que a presença do profissional farmacêutico seja cada vez mais

reconhecida por sua importância, a farmácia deve ser considerada um estabelecimento de saúde,

não apenas um simples estabelecimento comercial.

A maioria dos entrevistados espera que o farmacêutico esclareça suas dúvidas sobre o

medicamento, resultado semelhante ao obtido por pesquisadores que realizaram, no Catar, um

estudo piloto para determinar a percepção e a satisfação dos usuários de uma drogaria com relação

aos serviços oferecidos na mesma. Neste estudo, 88,0% dos entrevistados espera que o farmacêutico

responda suas dúvidas sobre o medicamento (El Hajj et al., 2011). Quando questionados se o

farmacêutico atende suas necessidades, a maior parte das respostas foi afirmativa, indicando que o

profissional presta os esclarecimentos desejados pelos pacientes em relação ao medicamento.

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Ao sanar estas dúvidas, o farmacêutico estará colaborando de alguma forma com o

tratamento do indivíduo. Este profissional poderia atuar de forma mais ativa, e com isto melhores

resultados seriam obtidos. Contudo, as pessoas ainda não veem o farmacêutico como mais um

aliado para o seu tratamento. Talvez a falta de conhecimento sobre as atividades que o mesmo pode

desenvolver na drogaria seja uma das causas, uma vez que neste estudo menos da metade dos

entrevistados considerou saber em parte as funções deste profissional.

Como exemplo, pode-se citar o pouco conhecimento sobre Atenção Farmacêutica, tópico

em que a maioria dos entrevistados respondeu que não sabe o que é, e a minoria declarou ter ouvido

falar. Em um estudo, realizado em São João da Mata/MG, Brasil, para verificar o conhecimento

dos usuários do Sistema Único de Saúde sobre a Atenção Farmacêutica e outras práticas, 45,7% dos

pacientes responderam que tinham ouvido falar, porém somente após a explicação fornecida pela

pesquisadora, antes disto não souberam responder do que se tratava (Marques et al., 2011).

Provavelmente estes resultados possam ser atribuídos ao fato de que não são utilizadas

muitas estratégias de Atenção Farmacêutica por parte dos profissionais nas drogarias em que

trabalham (Bastos & Caetano, 2010; Farina & Romano-Lieber, 2009; França Filho et al., 2008).

Realidade que deveria ser modificada, pois estudos evidenciam os benefícios que esta prática pode

trazer aos indivíduos, como por exemplo, os problemas relacionados aos medicamentos que podem

ser identificados através da mesma (Alano et al., 2012; Lyra et al. 2007; Nascimento et al., 2009;

Provin et al., 2010). A atenção farmacêutica é uma prática que envolve o estabelecimento e a

manutenção de uma relação profissional entre o farmacêutico e o paciente, baseada em

comunicação aberta, cooperação e decisões mútuas sobre o plano terapêutico. O farmacêutico deve

assegurar o sucesso deste plano, através da coleta de informações médicas específicas do paciente,

consideração dos aspectos psico-sociais da doença, e avaliação da potencial relação entre custo e

complexidade da terapia e adesão ao tratamento. Para a garantia de sucesso, o plano terapêutico

deve ser monitorado, revisado e modificado conforme a necesidade (APhA, 2014).

É importante destacar aqui um grave problema de saúde pública, as doenças crônicas,

responsáveis por inúmeras mortes e pela maioria dos gastos com atenção à saúde no Sistema Único

da Saúde (SUS). O número de pessoas com doenças crônicas aumenta a cada ano devido ao

envelhecimento da população e a pouca prática de hábitos saudáveis (PORTAL DA SAÚDE SUS,

2012). Neste contexto, destaca-se o farmacêutico que pode colaborar tanto na prevenção quanto no

tratamento dos pacientes com a prática da Atenção Farmacêutica. A escolha de uma população

potenciamente usuária preferencial do SUS pretendeu aumentar as possibilidade de que os dados

deste estudo possam ter maior utilidade como subsídio à ampliação das práticas de atenção

farmacêutica a esta população alvo.

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Estudos realizados em diferentes países, um deles no Brasil, com pacientes com diabetes

mellitus tipo 2 e com pacientes hipertensos, mostram que esta prática corrobora para aumentar a

adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, bem como identificar problemas

relacionados aos medicamentos (Correr et al., 2009; Skowron et al., 2011; Torres et al., 2009).

Também para pacientes com doença de Parkinson, o acompanhamento farmacoterapêutico aumenta

a adesão ao tratamento, reduz efeitos adversos e promove a utilização racional de medicamentos

(Chemello et al, 2014).

Além disto, estudos demonstram que os usuários de drogarias, que possuem o serviço de

Atenção Farmacêutica, mostram-se muito satisfeitos com esta prática (Andrade et al., 2009;

Kassam et al., 2012), o que acarreta em benefícios para os pacientes, para o farmacêutico, e para o

proprietário do estabelecimento que certamente iria fidelizar seu cliente. De acordo com o Conselho

Federal de Farmácia, as atribuições clínicas do farmacêutico visam a proteção, promoção e

recuperação da saúde, além da prevenção de doenças e outros problemas de saúde. Desta forma, o

profissional pode promover o uso racional dos medicamentos e otimizar a farmacoterapia,

atendendo as necessidades de saúde do paciente, da família, dos cuidadores e da sociedade (CFF,

2013).

Por ser um estudo transversal, este estudo apresenta limitações metodológicas que não

permitem uma avaliação aprofundada da percepção dos usuários de drogarias em relação à atuação

do profissional farmacêutico no âmbito da atenção farmacêutica. Apresenta dados de apenas uma

drogaria, desta forma não representando a cidade onde o estudo foi realizado, apenas uma

microrregião. Adicionalmente, o erro máximo de 10% propiciou um número amostral compatível

com os objetivos do presente estudo, porém pode ser uma limitação da pesquisa.

Outro aspecto limitante foi que a maior proporção de usuários encontrava-se no limite

inferior das faixas de idade, porém todos os usuários foram entrevistados, desta forma, foram

incluídos indivíduos que não estavam buscando por medicamentos, portanto poderiam ter poucos

motivos para interagir com o farmacêutico na visita em que foram abordados. Igualmente foram

incluídos aqueles que buscaram medicamentos e não conseguiram.

Também podemos destacar que as perguntas eram fechadas, e cada entrevistado não

explanava amplamente sua opinião. Além disso, as entrevistas foram efetuadas por uma das autoras

do artigo e pelas atendentes da Drogaria, onde o questionário foi aplicado, o que pode ser

considerado uma limitação. Porém, como as perguntas eram fechadas e as entrevistadoras foram

treinadas, minimiza-se a existência de divergências devidas ao entrevistador.

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CONCLUSÃO

Embora os usuários tenham declarado que sabem em parte as funções do farmacêutico e

tenham demonstrado pouco conhecimento sobre o papel mais ativo que este profissional pode

desenvolver no acompanhamento de seus tratamentos, consideram a presença deste profissional

importante nas drogarias.

Possivelmente, a Atenção Farmacêutica é pouco divulgada e pouco praticada pelos

farmacêuticos, visto o desconhecimento dos indivíduos sobre a mesma. Neste sentido, faz-se

necessário desenvolver estratégias para difundir esta prática entre os profissionais e torná-la uma

realidade nas drogarias.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Produção de metabólitos anti-Candida por Streptomyces sp isolado de solo

rizosférico da Amazônia

Silvia Katrine Silva Escher1*, José Jeosafá Vieira de Sousa Júnior2, Adrielle Leal Dias2,

Janete Magalí de Araújo3 & Elba Lúcia Cavalcanti Amorim4.

1 Departamento de Antibióticos, UFPEDA, Programa de Pós graduação em ciências Farmacêuticas, Universidade Fede-

ral de Pernambuco/ Laboratório de Microbiologia, Instituto de Saúde Coletiva, ISCO, Universidade Federal do Oeste do

Pará. 2 Laboratório de Microbiologia, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, PA,

Brasil. 3 Departamento de Antibióticos, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife,

PE, Brasil. 4 Laboratório de Produtos Naturais - LAPRONAT, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, PE, Brasil.

Silvia Katrine Silva Escher

Laboratório de Microbiologia, UFOPA, Campus Tapajós

e-mail: [email protected]ço: Rua Vera Paz, S/N, Salé, 68005-1000, Santarém – PA. Telefone:(93)

2101-4947 (93) 991755475.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 19 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

Resumo

Neste trabalho foi avaliado o potencial antifúngico de Streptomyces sp MPO-4 (linhagem

de Streptomyces isolado de solo rizosférico da Amazônia) isolado de solo rizosférico de Aniba par-

viflora Syn fragans (Macacaporanga). O potencial antifúngico foi avaliado através da técnica de

bloco de Agar dispondo blocos circulares de 6mm de diâmetro em placas de Petri previamente se-

meadas com suspensão de Candida albicans e Candida krusei. A fermentação submersa ocorreu

por 168h em meio ISP2, sendo o líquido fermentado coletado a cada 24h para avaliação da sua bi-

oatividade pelo método de difusão em poços. O extrato bruto foi obtido após extração dos metabóli-

tos secundários com Acetato de etila e, posteriormente avaliado a concentração mínima fungistática

e fungicida através de microdiluição.O Streptomyces sp MPO-4 foi ativo contra Candida albicans e

Candida krusei apresentando halos de inibição de 15.6mm e 14.0mm respectivamente. Os metabóli-

tos antifúngicos foram produzidos a partir de 24h da fermentação apresentando halos de inibição

entre 12.6mm e 25.3mm frente Candida albicans e 12mm e 17.3mm para Candida krusei a partir de

48h de fermentação. A concentração mínima fungicida para Candida krusei foi de 2000 µg/mL e

para Candida albicans 1500 µg/mL. A actinobactéria Streptomyces sp. MPO-4 produz compostos

bioativos de elevada ação antifúngica contra as leveduras Candida albicans e Candida krusei.

Palavras-chave: Streptomyces, Produtos Biológicos, Candida.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 20 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

Abstract

This study was evaluated the antifungal potential of Streptomyces sp MPO-4 (Lineage

Streptomyces 4 isolated from Amazon soil) isolated from rhizosphere soil of Aniba parviflora Syn

fragans (Macacaporanga). The antifungal potential was evaluated through the agar block technique

placing circular blocks with diameter of 6mm in Petri dishes previously seeded with Candida albi-

cans and Candida krusei suspension. The submerged fermentation occurred in 168 h ISP2 media,

the fermented liquid collected every 24 h for evaluation of its bioactivity by the well diffusion

method. The crude extract was obtained after extraction of secondary metabolites with ethyl acetate,

then posteriorly evaluate the minimum concentration fungistatic and fungicidal through by microdi-

lution. The Streptomyces sp MPO-4 was active against Candida albicans and Candida krusei pre-

senting inhibition zones of 15.6mm and14.0mm respectively. The antifungal metabolites were pro-

duced from 24h fermentation presenting inhibition zones between 12.6mm and 25.3mm front Can-

dida albicans and 12mm and 17.3mm for Candida krusei from 48h of fermentation. The fungicidal

minimum concentration for Candida krusei was 2000µg/mL and Candida albicans 1500µg/mL.

The actinobactéria Streptomyces sp. MPO-4 produces bioactive compounds with high antifungal

activity against the yeast Candida albicans and Candida krusei.

Keywords: Streptomyces, Biological products, Candida.

INTRODUÇÃO

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

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Os solos, dentre todos os habitats terrestres, abrigam a maior diversidade de espécies mi-

crobianas (Moreira & Siqueira, 2006), das quais se destacam as Actinobactérias. Este grupo compõe

cerca de 12% a 20% da biomassa microbiana da rizosfera (Polyanskaya et al., 2003) onde desem-

penham papel importante como a fixação de nitrogênio (Chaudhary et al., 1981), decomposição de

materiais orgânicos complexos como queratinas, quintinas, celuloses e amido, além de atuar na pro-

teção das raízes das plantas hospedeiras contra fitopatógenos (Asolkar et al., 2010; Dobrovol’Skaya

et al., 2001).

As actinobacterias são bactérias Gram-Positivas, com alto conteúdo de G+C (guanina + ci-

tosina) em seu DNA, cuja bioquímica morfologia e relação com o oxigênio são extremamente di-

versificadas (RAJU et al., 2010; Stach et al., 2003), sendo característico seu desenvolvimento fila-

mentoso semelhantes a hifas fúngicas (Azuma, 2011). Através do seu metabolismo secundário estas

bactérias produzem vários compostos bioativos e aromáticos, como a geosmina, responsável pela

produção de odor semelhante ao de terra molhada.

Este grupo de bactérias têm sido alvo da indústria farmacêutica, especialmente o gênero

Streptomyces, o qual e responsável por produzir metabólitos secundários com variada estrutura

química e atividade biológica como antitumorais, antiparasitários, anti-inflamatórios, imunossu-

pressores e antibióticos, os quais compõem cerca de 75% dos antibióticos usados na medicina e

60% dos antimicrobianos usados na agricultura (Lal, Solanki & Khanna, 2008; Moreira & Siqueira,

2006).

A busca por novos compostos bioativos efetivos frente às bactérias de interesse clínico e de

fitopatógenos resistentes aos antibióticos utilizados na rotina clínica das doenças infecciosas e aos

pesticidas de uso agrícola, têm sido alvo da indústria biotecnológica. Nesse sentido, pesquisas reali-

zadas visando o conhecimento da ação antimicrobiana de metabólitos secundários provenientes de

Streptomyces têm despertado um grande interesse, principalmente por ser atribuído a este gênero

mais de 80% da matéria-prima para a elaboração de antibióticos desde 1940 (Azuma, 2011).

Neste contexto, o objetivo deste estudo foi investigar o potencial antifúngico de Strep-

tomyces sp MPO-4 isolado de solo rizosférico de Aniba parviflora Syn fragans (Macacaporanga) e

avaliar a concentração mínima inibitória do extrato bruto obtido através de fermentação submersa.

MATERIAIS E MÉTODOS

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Foi realizado um estudo experimental, qualitativo e quantitativo com a cepa de actinobac-

téria Streptomyces sp. MPO-4, a qual foi obtida a partir de solo rizosférico de Aniba parviflora Syn

fragans (Macacaporanga), coletado em zona de transição entre floresta ombrófila densa e savana,

na floresta amazônica (Latitude 20 28’ 01.28” Se Longitude 540 49’ 45.32” O) no município de San-

tarém – PA (Figura 1).

Figura 1. Mapa de coordenadas geográficas do ponto de coleta do solo rizosférico de Aniba parvi-

flora Syn fragans (Macacaporanga). Latitude 20 28’ 01.28” S Longitude 540 49’ 45.32

Localização dos experimentos

Os ensaios foram realizados sob condições de laboratório, no Departamento de Antibióti-

cos (UFPEDA/UFPE) e Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Oeste do Pará

(UFOPA), no período entre Dezembro de 2013 e Dezembro de 2014.

Obtenção dos micro-organismos

Os micro-organismos teste foram gentilmente cedidos pelo Departamento de Antibióticos

da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A cepa de Streptomyces sp faz parte da Bacterio-

teca do Laboratório de Microbiologia (UFOPA). Para ativação da cepa, foi realizado um repique em

meio ISP2 (Pridham et al., 1957), em placa de Petri (60x15mm) incubada à 30ºC por 168h para

esporulação e colonização de toda a superfície do meio de cultura.Os micro-organismos teste foram

mantidos em meio Nutriente (MN) em estufa à 32ºC até a preparação das suspensões fúngicas utili-

zadas nos ensaios.

Avaliação de Antagonismo

Para a investigação do potencial antimicrobiano do Streptomyces sp. MPO-4 foi realizado

um ensaio primário de antagonismo frente à cepas de Candida albicans (UFPEDA1007) e Candida

krusei (amostra clínica) por meio da técnica de bloco de Agar (Brown, Butterwoth & Cole, 1976) e

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S - 23 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

posteriormente foi realizado o a fermentação submersa para a obtenção dos compostos antimicrobi-

anos em meio líquido ISP2 sob agitação durante 7 dias à 30ºC.

Para o ensaio de bloco de gelose foram recortados blocos circulares de 6mm de diâmetro

contendo as colônias de Streptomyces sp. Os blocos foram dispostos sobre placas de Petri

(95x15mm) contendo o meio de cultura Sabouraud Dextrose Ágar (SDA) previamente inoculado

com 100μL das suspensões fúngicas ajustadas na escala de 0,5 MacFarland em meio nutriente

(MN) em espectrofotômetro, à densidade óptica de 0,284 e comprimento de onda de 540nm,

equivalente a 104 esporos/mL. Os blocos foram dispostos equidistantes 25mm proporcionando

assim uma melhor visualização dos possíveis halos de inibição. As placas foram incubadas à 32°C

por 48h. Adotou-se um delineamento experimental inteiramente casualizado com três repetições. Os

dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5%

de probabilidade.

A produção de biocompostos com atividade antifúngica foi verificada pela formação de ha-

los claros de inibição do crescimento da levedura e expressos em milímetros (mm). A intensidade

da atividade inibitória foi classificada pelo tamanho da zona de inibição, o qual foi dividido em qua-

tro grupos distintos: grupo passivo – zona de inibição menor que 10mm; grupo ligeiramente ativo –

zona de inibição entre 11 e 20mm; grupo moderadamente ativo – zona de inibição entre 21 e 30

mm; e grupo altamente ativo, cuja zona de inibição é maior que 31mm (Sahin & Ugur, 2003).

Produção do antifúngico em meio líquido

Para a produção dos metabólitos antifúngicos foi realizado a fermentação submersa em

meio ISP2 (4g de Extrato de levedura, 10g Extrato de malte, 4g Dextrose, 1000 mL de Água desti-

lada, com pH inicial 7,0). Para o pré-inóculo foram utilizados erlenmeyers (250mL) contendo 50mL

de meio de cultura ISP2 e adicionados três blocos de 6mm de diâmetro contendo a cultura de Strep-

tomyces sp MPO-4. Os frascos foram mantidos em agitação de 180 rpm (Agitador magnético Fisa-

tom® Modelo 751) à 30ºC por 48h. Posteriormente 10% do volume do pré-inóculo foi transferido

para erlenmeyers (500mL) contendo 250mL de meio de cultura ISP2, o qual foi mantido nas mes-

mas condições sendo a fermentação realizada durante 168h.

Para avaliação da atividade antifúngica à cada 24h o líquido fermentado foi centrifugado

(927 g, 10 minutos) para precipitação da biomassa e do sobrenadante foi retirado uma alíquota para

o teste pelo método de difusão em poços (Thakur et al., 2009). Neste este ensaio, após a semeadura

das suspensões fúngicas nas placas de Petri (95mmx15mm) contendo o meio de cultura Sabouraud

Dextrose Ágar (SDA), foram confeccionados poços cilíndricos de 6mm de diâmetro no qual foi

dispensado 100μL do líquido fermentado. As placas foram incubadas à 37ºC por 48h. A atividade

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antifúngica foi detectada pela presença de zonas de inibição em volta dos poços contendo o líquido

fermentado, a qual foi expressa em milímetros. Adotou-se um delineamento experimental

inteiramente casualizado com 4 repetições. O ensaio foi realizado em triplicata e as placas foram

incubadas a 32°C por 48h. Os dados foram submetidos à análise estatística de variância e as médias

comparadas pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade, utilizando o software ASSISTAT 7.7 beta.

Extração do Antibiótico

O líquido fermentado foi filtrado em filtro de acetato celulose de 0,22m de porosidade e o

produto filtrado foi submetido à extração dos metabólitos secundários utilizando o solvente orgâni-

co Acetato de etila na proporção de 2:1 do líquido fermentado. O processo de extração foi realizado

em agitação mecânica por 1 hora à 180rpm, possibilitando assim a separação do líquido em duas

fases distintas, a fase aquosa e a fase orgânica. Esta etapa foi realizado por mais duas vezes utili-

zando 200 mL e 100 mL do solvente em cada etapa de extração sob agitação mecânica por 30 minu-

tos e 15 minutos à 180rpm, respectivamente. A fase orgânica de todas as etapas de extração foi con-

centrada em evaporador rotativo para a obtenção do extrato bruto.

Avaliação da Concentração mínima inibitória (CIM) do extrato bruto de Streptomyces sp

MPO-4

O extrato bruto da fermentação foi empregado para determinar a concentração inibitória

mínima pela técnica de microdiluição conforme National Committee for Clinical Laboratory Stan-

dard (NCCLS, 2002). Em uma microplaca estéril de 96 orifícios foi dispensado no poço C3 a solu-

ção mãe (SM) à 5000µg/mL a partir do extrato bruto solubilizado em 100µL de Dimetilsufóxido à

5% (DMSO) e 900µL de meio de cultura (MC) Sabouraud dextrose no poço. Posteriormente foi

preparado o sistema de concentrações decrescentes nos poços C4 à C11 nas seguintes condições:C4

(4500µg/mL): 90µL (SM) + 10µL de (MC);C5(4000µg/mL): 80µL da (SM) + 20µL do (MC);C6

(3500µg/mL): 70µL da (SM) + 30µL do (MC);C7(3000µg/mL):60µL da (SM) + 40µL do

(MC);C8(2500µg/mL): 50µL da (SM) + 50µL do (MC);C9(2000µg/mL): 40µL da (SM) + 60µL do

(MC);C10(1500µg/mL): 30µL da (SM) + 70µL do (MC);C11(1000µg/mL): 20µL da (SM) + 80µL

do (MC). Em cada poço foi adicionado 10µL do inoculo fúngico. A mudança de coloração inicial-

mente vermelha para azul indicou a viabilidade do micro-organismo.

A Concentração mínima fungicida foi determinada pela subcultura dos poços azuis do teste

de determinação da CIM em placa de Petri contendo o meio sólido Saboraud Dextrose Ágar (SDA).

As placas foram incubadas à 37ºC por 48-72h, sendo que cada amostra foi testada em quatro expe-

rimentos independentes.

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S - 25 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

RESULTADOS

Na figura 2 pode ser observado as colônias de Streptomyces sp MPO-4, o qual foi ativo

contra Candida krusei e Candida albicans sendo registrados halos de inibição de crescimento fún-

gico de 14±1mm e 15.6±0.58mm em 48h, respectivamente.

Figura 2: A. Cultura de Streptomyces sp MPO-4 em Meio ISP2 após 7 dias de incubação à 35ºC.

A atividade antifúngica do líquido fermentado variou em relação ao tempo de fermentação

apresentando halos de inibição de crescimento entre 12.6mm e 25.3mm para Candida albicans e

12mm e 17,3mm para Candida krusei (Tabela 1). O líquido fermentado foi ativo desde as 24h para

Candida albicans e à partir de 48h para Candida krusei, sendo que o melhor período de produção

do antifúngico foi em 96h de fermentação, apresentando halos de inibição de crescimento de

25.3mm e 17.3mm para C. albicans e C. krusei, respectivamente (Figura 3).

Registro da atividade antimicrobiana do líquido metabólico

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S - 26 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

Figura 3: Halos de inibição registrados no ensaio de atividade Antifúngica do Líquido Fermentado

de Streptomyces sp MPO-4. A. Candida krusei. B. Candida albicans.

Valor dos halos de inibição do líquido fermentado

Os valores da MIC obtidos para Candida krusei foram de 1500 µg/mL e para Candida al-

bicans <de1500µg/mL. A concentração mínima fungicida para Candida krusei foi > de 1500µg/mL

e para Candida albicans 1500 µg/mL. A concentração final do DMSO, agente de solubilização do

extrato utilizado no ensaio não influenciou na inibição do crescimento das leveduras teste.

Tabela 1: Atividade antifúngica do líquido fermentado apresentando os halos de inibição de cresci-

mento microbiano (mm).

Tempo de

fermentação

Micro-organismo

Candida albicans Candida krusei

24h 12.6±0.58aF 0.0

48h 15.3±0.58aE 12.0±0bC

72h 22.0±0aC 15.0±0bB

96h 25.3±0.58aA 17.3±0.58bA

120h 24±1.73aAB 16.0±0bAB

144h 23.0±1.00aBC 15.6±0.58bAB

168h 18.6±0.58aD 15.0±0bB

As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de

Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

DISCUSSÃO

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S - 27 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

Vários são os estudos realizados com actinobactérias isoladas de solos, principalmente da

rizosfera, comprovando o grande potencial bioativo desses micro-organismos. A grande maioria dos

Streptomyces demonstra uma ampla atividade antagônica que inclui ação frente à bactérias Gram-

positivas, Gram-negativas, fungos filamentos e leveduriformes (Salamoni et al., 2010; Oliveira et

al., 2009).

Resultados semelhantes à este estudo foram encontrados por Bajaj & Sharma (2011) des-

creveu a relação antagônica de seis actinomicetos isolados de diferentes locais de Punjab e Hima-

chal na Índia contra Candida albicans sendo as linhagens 2A, A26 e R3YS as mais ativas com ha-

los de inibição de 14.6mm, 11.6 mm e 13.6mm, respectivamente.

O meio ISP2 mostrou-se como boa alternativa para a obtenção dos metabólitos bioativos

com atividade antifúngica através da fermentação submersa (Cunha et al., 2009). Este meio de cul-

tura tem sido descrito como melhor meio para produção de metabólitos antimicrobianos para fer-

mentação do endófito Streptomyces sp. EBR49-A UFPEDA, o qual obteve melhores halos de inibi-

ção a partir do líquido fermentado de 72h de fermentação com (4%) de fonte de carbono (glicose),

sendo registrados halos de inibição de crescimento de 24,5mm com 72h de cultivo (Salamoni, Van

Der Sand & Germani, 2012).

O potencial antimicrobiano de 25 espécies de actinobactérias do gênero Streptomyces foi

descrito através da fermentação utilizando meio mineral de caseína e amido e meio ISP2, onde 80%

dos isolados foram capazes de inibir pelo menos uma das bactérias testadas (Cunha et al., 2009).

Em outro estudo o melhor rendimento de metabólitos antimicrobianos com o Streptomyces sp 1S

ocorreu em fermentação em meio ISP2 à 28°C, sendo que o líquido fermentado de 24h foi ativo

contra C. albicans e Fusarium oxyxporum (Salamoni et al., 2010).

Neste estudo as cepas de Candida krusei foram mais resistentes aos metabólitos secundá-

rios apresentando uma concentração mínima fungicida (CMF) superior à1500 µg/mL, similar rela-

tado em outros estudos que apresentaram CMF de 2500µg/mL para Candida albicans (Salamoni,

Van Der Sand & Germani, 2012; El-Naggar, El-Assar & Abdul-Gawad, 2006). A produção de me-

tabólitos secundários anticandida de Streptomyces spp SP1 contra as espécies de Candida albicans

e Candida krusei apresentou atividade fungicida entre 625 µg/mL (Oliveira et al., 2013).

CONCLUSÃO

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S - 28 Escher S. K. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 18 – 29, 2016

A actinobactéria Streptomyces sp MPO-4 isolada de solo rizosférico de Aniba parviflora

(Macacaporanga) produz compostos bioativos de elevada ação antifúngica contra a levedura Candi-

da albicans e Candida krusei. A otimização do processo de obtenção dos metabólitos antifúngicos

ocorreu na condição de 96h de fermentação sob agitação em meio ISP2. A bioprospecção de micro-

organismos com potencial biotecnológico vem possibilitando o emprego de produtos bioativos nas

mais diversas áreas do conhecimento, e o isolamento destes micro-organismos presente em solos

diferenciados como o solo da Amazônia assim como a elucidação dos compostos bioativos são al-

vos do nosso grupo e se apresentam como uma possibilidade de desenvolvimento científico local

gerando impacto imediato na indústria agrícola, farmacológica, alimentícia e de cosmético, impli-

cando assim no desenvolvimento social e econômico da Amazônia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro, ao Laboratório de Microbiologia da

UFOPA e ao Departamento de Antibióticos da UFPE pela colaboração na pesquisa.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Estudo do perfil microbiológico da matéria-prima e do produto acabado de

Rhamnus purshiana e Baccharis trimera obtidos de diferentes farmácias de

manipulação na cidade de Divinópolis-MG.

Study on the microbiological profile of raw material and of the finished product

of Rhamnus purshiana and Baccharis trimera obtained from different

compounding pharmacies from Divinópolis-MG.

Diego Pinto de Oliveira¹, Inayara Cristina Alves Lacerda², Marcelo José Dias Silva³, Geraldo Alves

da Silva¹ & Marcelo Aparecido da Silva¹*.

¹ Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Alfenas, MG. Brasil.

² Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte, MG. Brasil. ³ Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Julio de Mesquita Filho. UNESP. Araraquara, SP. Brasil.

*Autor correspondente: Marcelo Aparecido da Silva

UNIFAL-MG; Faculdade de Ciências Farmacêuticas; Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700, Centro, Alfenas, Minas

Gerais, Brasil. Tel: 35 3291-1346, CEP: 37130-000, E-mail: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 31 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Resumo

A qualidade microbiológica da matéria-prima empregada e o processo de manipulação de

fitoterápicos são fatores primordiais para alcançar eficiência e segurança do produto final. O

presente trabalho tem objetivo de verificar a qualidade microbiológica de fitoterápicos manipulados

em farmácias da cidade de Divinópolis-MG. Quatro amostras de duas drogas vegetais (Carqueja e

Cascara Sagrada, matéria-prima e produto final) foram coletadas em quatro farmácias de

manipulação de Divinópolis-MG, devidamente embaladas e rotuladas. Estas amostras foram

analisadas segundo critérios da Farmacopeia 5° ed. (2010). Os resultados das análises de contagem

total de micro-organismos mesófilos aeróbios e pesquisa de patógenos revelaram que 50% das

amostras estavam fora dos padrões para fungos. Um dos estabelecimentos (farmácia A) apresentou

positividade na pesquisa para Escherichia coli nas amostras de matéria-prima e produto final de

Cascara Sagrada, sendo considerada imprópria para o consumo humano, denotando uma correlação

entre contaminação de micro-organismos mesófilos aeróbios e patógenos. A Farmácia D apresentou

resultados positivos para E.coli para a amostra do produto final utilizando Cascara Sagrada,

sugerindo que a contaminação tenha ocorrido no processo de manipulação do produto. Tendo em

vista estes resultados torna-se necessário uma maior fiscalização quanto e tomada de medidas que

minimizem o risco de contaminação destes produtos.

Palavras-chave: Qualidade microbiológica. Fitoterápicos. Rhamnus purshiana. Baccharis trimera.

Farmácias de manipulação.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 32 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Abstract

The microbiological quality of raw material used and the handling process of herbal

medicines are the key factors to achieve efficiency and safety of the final product. This present

study aims to verify the microbiological quality of herbal medicines in handing pharmacies

Divinópolis-MG. Four samples from two herbal drugs (Carqueja and Cascara Sagrada, raw material

and final product) were collected in four pharmacies in Divinópolis-MG, properly packaged and

labeled. These samples were analyzed according to the Pharmacopoeia 5th ed. (2010). The results

of the analyzes of total count of mesophilic aerobic pathogens and research revealed that 50% of

samples were below the standards for fungi, pharmacy. About pathogenic analyses, one of the

establishments presented positive for the bacteria Escherichia coli in samples of raw material and

end product of Cascara Sagrada being unfit for human consumption, showing a correlation between

contamination of mesophilic aerobic and pathogens. Pharmacy D showed positive results for the

sample of E. coli in Cascara Sagrada final product, suggesting that microbial contamination has

occurred in the process of handling the product. In view of these results becomes greater oversight

as necessary and taking measures to minimize the risk of contamination of these products.

Keywords: Microbiologic quality. Herbal medicines. Rhamnus purshiana. Baccharis trimera.

Compounding pharmacies.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 33 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

INTRODUÇÃO

A farmacoterapia moderna desenvolveu-se a partir do uso empírico de plantas, selecionadas

ao longo da evolução humana. O maior avanço sobre o uso de drogas vegetais foi constatado no

século XIX, com o progresso científico na área química, que permitiu analisar, identificar e separar

os princípios ativos obtido das plantas medicinais. Apesar das diversas abordagens modernas

disponíveis para a obtenção de novas entidades químicas com vistas ao desenvolvimento de

fármacos, metabólitos secundários de plantas ainda representam uma das principais estratégias para

inovação farmacêutica (Craag & Newman, 2013; Tomazzoni et al., 2001).

Atualmente o uso de plantas medicinais e fitoterápicos ocorre principalmente por fatores de

ordem sócias, econômicas e culturais, movimentando um elevado montante financeiro no mercado

mundial. Acarretando incentivo para pesquisa em desenvolvimento de fitoterápicos com segurança

e eficácia (Souza, 2007). Os fitoterápicos ou plantas medicinais podem ser obtidos no mercado

farmacêutico como produtos industrializados ou manipulados, atendendo a prescrições médicas ou

usos empíricos, disponíveis na forma de pó ou extrato (Verdi et al., 2013; Souza, 2007;Santana,

2005).

Os fitoterápicos englobam-se no grupo dos produtos farmacêuticos não estéreis, sendo

passíveis de contaminação devido ao teor de água presente. Por se tratar de um produto de origem

vegetal, torna necessária a realização de análises quantitativas de micro-organismos mesófilos

aeróbios ou viáveis, bem como de micro-organismos patogênicos. A RDC 87/2008 complementar a

RDC 67/2007, preconiza que as matérias primas de origem vegetal devem passar somente pela

pesquisa microbiana de contaminação (contagem total de fungos e leveduras). Porém a mesma RDC

relata que o controle de qualidade deve executar as análises de descrição, aspecto, caracteres

organolépticos, peso médio, pH, peso ou volume antes do envase. Mas não apresenta relatos sobre a

pesquisa de patógenos e de contaminação em longo prazo. Já a Farmacopeia Brasileira 5° ed.

(2010), preconiza que sejam realizados além das análises quantitativas de micro-organismos

viáveis, a análise para detecção de patógenos.

A Instrução normativa (IN) N° 4 de 18 de Julho de 2014 da ANVISA, determinada

orientações para o registro de medicamentos fitoterápicos, preconizando que a referida classe de

produtos farmacêuticos deve respeitar os limites microbianos estabelecidos pela Farmacopeia

Brasileira 5° edição tanto para microganimos mesófilos aeróbios quanto para microrganismos

patogênicos. O documento aborda atenção especial para micotoxinas, provenientes do metabolismo

de fungos sugerindo que seja seguido as determinações da Farmacopéia Européia (limite geral de

aflatoxinas B1 < 2 µg/kg e a soma das aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 < 4 µg/kg para drogas vegetais,

sendo que limites diferentes podem ser encontrados em monografias específicas de algumas drogas

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 34 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

vegetais), uma vez que a Farmacopeia Brasileira 5° edição não determina limites para estes

metabolitos.

Tendo em vista que os medicamentos manipulados entram mais em contato com os

manipuladores, é essencial que toda a equipe da farmácia de manipulação tenha conhecimento das

Boas Práticas de Manipulação (BPM). Uma vez que qualquer um pode ser carreador de micro-

organismos saprofíticos bem como de micro-organismos patogênicos como Staphylococcus aureus,

Salmonella, Escherichia coli. Esses micro-organismos fazem parte da microbiota residente ou

transitória do ser humano, podendo contaminar a matéria prima vegetal ou o produto final. O risco

de contaminação aumenta quando se trabalha com fitoterápicos ou plantas medicinais, pois se

tratam de fontes com grande potencial de contaminação (Bonfilio et al., 2013; Marques & Moreira,

2009).

Rhamnus purshiana Candolle (Rhamnaceae) conhecida popularmente como cascara sagrada

apresenta em suas cascas compostos ativos pertencentes a classe das antraquinonas e tem alto valor

comercial por causa do efeito terapêutico de regulador da motilidade intestinal, também conhecido

como efeito catártico direto, (Lôbo, 2012; Schenkel 2004). Baccharis trimera Molina (Asteraceae)

conhecida popularmente como carqueja, apresenta principalmente compostos da classe de

flavonoides e terpenos em suas hastes (parte foliar) e é utilizada para diversas finalidades, porém se

destaca o uso em afecções gastrointestinais e como antirreumático (Karan et al., 2013; Santana,

2005).

Baseado nas informações citadas, o presente trabalho visa avaliar a qualidade

microbiológica das matérias-primas vegetais e dos respectivos produtos acabados.

MATERIAIS E MÉTODOS

Matéria prima vegetal utilizada nas analises

O material utilizado no trabalho corresponde a amostras de matérias primas e produtos finais

de cascara sagrada e carqueja coletadas no período de setembro a novembro de 2009 em quatro

farmácias de manipulação da cidade de Divinópolis-MG totalizando 16 amostras (8 amostras

referentes a matéria-prima e 8 amostras referentes a produto acabado, as amostras de matéria-prima

e produto acabado foram do mesmo lote em cada farmácia). A seleção das farmácias foi realizada

de forma aleatória e das amostras foram escolhidas estas espécies porque havia matéria-prima e

produto acabado em todas as farmácias selecionadas para o estudo. Os materiais de interesse foram

coletados em frascos próprios e processados antes de decorrer 24 horas após a coleta. As amostras

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 35 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

foram codificadas de acordo com a farmácia de origem e sua apresentação (matéria-prima ou

produto final), as farmácias de origem receberam codificações como A, B, C e D e as amostras

foram processadas em condições assépticas.

Procedimento para análise quantitativa

O método utilizado para contagem de micro-organismos mesófilos aeróbios, ou seja, todos

os micro-organismos presentes naturalmente no ambiente consistiu na semeadura em profundidade

em placas ou “Pour Plate” como recomendado pela WHO (1998), Pinto et al. (2003) e Farmacopeia

Brasileira 5° ed. (2010). Para a obtenção da amostra para a análise quantitativa foram pesados 10 g

das amostras. Transferindo a amostra para um erlenmeyer contendo a solução tampão neutralizante.

Homogeneizou vigorosamente obtendo a diluição 10-1. A partir desta diluição procedeu às diluições

seriadas em tubos contendo água peptonada obtendo as diluições 10-2 e 10-3. Um mL das diluições

obtidas das amostras foram transferidos para placas de Petri. Acrescentou 15 mL do meio agar

padrão para contagem (PCA) em cada placa. Após esse procedimento, as placas foram incubadas a

temperatura de 37°C por 48 horas.

Para a análise de fungos, o procedimento foi o mesmo citado acima, trocando o meio de

cultura por agar batata dextrose (BDA) e as placas foram incubadas a temperatura de 28°C por 3-5

dias. Todas as análises foram realizadas em triplicata.

A leitura foi realizada após o período de incubação de cada amostra contando cada colônia

visível macroscopicamente, realizando os cálculos de conversão e obtendo o resultado em Unidade

Formadora de Colônia por g de amostra (UFC/g de amostra).

Procedimento para análise qualitativa

Foi realizado o pré-enriquecimento pesando 10g de amostra e transferindo para um

erlenmeyer contendo caldo lactosado e em seguida foi homogeneizado vigorosamente e incubado

em estufa a 37° C por 48 horas.O mesmo procedimento foi repetido para o pré-enriquecimento em

caldo caseína de soja.

Após a incubação foi realizado a semeadura nos meios seletivos para cada classe de micro-

organismos, o Mac Conkey, Cetrimida, Sal-Manitol e Salmonella/Shigella, as placas foram

identificadas e incubadas à 37°C por 24 horas.

Após o período de incubação foi verificado se houve crescimento ou não das colônias.

Observado o crescimento das colônias, foi realizada a purificação das colônias nos meios

correspondentes a elas e as placas foram incubadas a 37°C por 24 horas.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 36 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Após a purificação foi realizado a técnica de coloração de Gram, verificando as características

microscópicas daqueles micro-organismos e os testes presuntivos e definitivos para Staphylococos

aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e Salmonella como descritos a seguir.

Para Staphylococos aureus, realizou-se os testes de catalase, coagulase e Dnase, no teste

de catalase foi adicionado peróxido de hidrogênio a 3% em um pouco da colônia. O teste de

coagulase foi realizado adicionando de uma alçada da colônia no plasma de coelho e após a

incubação em estufa bacteriológica por 5 horas foi observado a formação de coágulo e o teste

de Dnase baseou-se na semeadura do centro da colônia de interesse no meio sólido de Dnase, após a

incubação em estufa bacteriológica por 24 horas foi adicionado uma solução de ácido clorídrico á

1N e observado a formação de um halo límpido ao redor da colônia indicando a quebra do

DNA presente.

Para pesquisa de E.coli e Salmonella sp. realizou-se o teste de cultivo em tubo inclinado de

TSI, onde com o auxílio de uma alça de platina em forma pontiaguda, captou-se uma parte da

colônia de interesse e realizou a semeadura finalizando com estrias na superfície, este tubo foi

incubado em estufa bacteriológica por 24 horas.

Para Pseudomonas aeruginosa, realizou-se o cultivo em tubo contendo Agar FN e no tubo

de TSI com auxilio de uma alça de platina, os mesmos foram incubados a 37°C por 24 horas. (Pinto

et al., 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Contagem total de micro-organismos mesófilos aeróbios

As farmácias magistrais representam um importante segmento do mercado farmacêutico

brasileiro. A ANVISA, por meio da RDC 87/2008 que complementa a RDC 67/2007, modificou as

normas da RDC 33/2000 que institui as Boas Práticas de Fabricação em Farmácia, buscando

estabelecer rígidos parâmetros de qualidade em todas as etapas de fabricação de um produto

manipulado de forma magistral. Em conformidade com a legislação, as farmácias têm implantado

ou terceirizado ensaios físico-químicos e microbiológicos.

A legislação vigente exige que as empresas fornecedoras de matérias-primas realizem

análise de contagem total de bactérias e fungos, bem como a detecção da presença ou ausência de

patógenos (Brasil, 2008).

Os fitoterápicos e as plantas medicinais se enquadram na classe dos produtos farmacêuticos

não estéreis, os quais se admitem determinada carga de micro-organismos mesófilos aeróbios. Os

micro-organismos mesófilos aeróbios são encontrados normalmente no ambiente, pois estes se

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S - 37 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

desenvolvem em condições normais de temperatura e se reproduzem na presença de oxigênio,

sendo que a maioria destes é saprofítica (Bonfilio et al.,2013; Pelczar et al., 1997).

Na tabela I se observa a contagem total de bactérias em meio PCA e na tabela II a contagem

total de Fungos em meio BDA, ambas apresentam os valores em UFC/g das amostras analisadas.

TABELA 1

Contagem total de bactérias mesófilas aeróbias expressas em UFC/g de amostra.

CONTAGEM TOTAL DE BACTÉRIAS MESÓFILAS AEROBIAS

Origem Cascara Sagrada M. P. Cascara Sagrada P.F. Carqueja M.P. Carqueja P.F.

Farmácia A 1,4 x 104 1,9 x 104 8,5 x 10³ 1,4 x 104

Farmácia B 1,5 x 10³ 2 x10³ < 5x 10² 2 x 10³

Farmácia C < 5x 10² 5 x10² 1 x 10³ < 5x 10²

Farmácia D 1 x 10³ 5 x10² < 5x 10² < 5x 10²

Nota: M.P. = Matéria-prima ; P.F. = Produto final acabado.

TABELA 2

Contagem total de fungos, bolores e leveduras, expressas em UFC/g de amostra.

CONTAGEM TOTAL DE FUNGOS, BOLORES E LEVEDURAS

Origem Cascara Sagrada M. P. Cascara Sagrada P.F. Carqueja M.P. Carqueja P.F.

Farmácia A 3 x 105 2,5 x 103 4,5 x 10³ 2 x 103

Farmácia B 1 x 10³ 5 x10² 5x 10² 2 x 10³

Farmácia C 1 x 10³ 2,5 x10³ < 5x 10² < 5x 10²

Farmácia D < 5x 10² < 5x 10² < 5x 10² < 5x 10²

Nota: M.P. = Matéria-prima ; P.F. = Produto final acabado

Segundo os limites estabelecidos pela Farmacopeia 5° ed. (2010) para medicamentos não

estéreis de uso oral é aceitável a presença de até 105 UFC/g ou mL de produto para bactérias

heterotróficas e de 103UFC/g ou mL de produto para fungos.

Perante os resultados, a Tabela 1 reflete contaminação aceitável por bactérias heterotróficas

em todas as 16 amostras (100%) obtidas dos 4 estabelecimentos. Porem em relação à contaminação

fúngica a Tabela 2 mostra que 8 amostras apresentaram contaminação fora dos limites estabelecidos

(acima de 10³ UFC/g de amostra), evidenciando que 50% das amostras estão impróprias para

consumo humano.

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S - 38 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Santana (2005) em seu estudo verificou contaminação fúngica acima dos limites em duas

das amostras de guaraná (Paullinia cupana Kunth.) em pó.Rocha et al. (2004), observaram

contaminação fúngica em 60% das amostras de boldo do chile (Peumus boldus Molina)e 30% das

amostras de sene (Cassia angustifolia Vahl) analisados estavam acima dos limites estabelecidos.

Zaroni et al. (2004), estudaram a qualidade microbiológica de 72 amostras de plantas medicinais de

27 diferentes espécies e detectaram uma variação entre 1x102 e 8,4x106 UFC/g de amostra. Para o

preparo de infusos aceita-se uma carga microbiana maior quando comparado a droga vegetal, porém

estas plantas também são destinadas a produção de fitoterápicos, o que indica um fator de risco,

uma vez que a microbiota das plantas e as condições de cultivo geraram uma maior carga

microbiana.

Schützet et al. (2008), encontraram crescimento fúngico em 22% das amostras de cascara

sagrada, sene, e ginkgo biloba (Ginkgo biloba Linnaeus. ). Bugno et al. (2005), encontraram em

25,5% das amostras das 96 drogas vegetais analisadas, presença acima dos limites permitidos de

fungos, bolores e leveduras, principalmente fungos do gênero Aspergillus e Penicillium.

A contaminação de produtos de origem vegetal por fungos pode estar relacionada às

condições inadequadas de colheita e pós-colheita, podendo levar a alteração e/ou degradação dos

princípios ativos, ocasionando, assim, perda da segurança e eficácia do produto na utilização. Além

de representar risco pela produção de substâncias tóxicas como micotoxinas, se tornando impróprias

para o consumo, independentemente do nível de contaminação (Santos et al., 2013; Amaral et al.,

2001). Como os fungos podem ser dispersos pelo ar atmosférico, pode ocorrer contaminação das

plantas, antes e após sua colheita, como também durante o processamento. Entre os principais

gêneros detectados no Brasil, se destaca: Cladosporium, Fusarium, Aspergillus, Penicillium e

Rhizopus. A presença destes fungos em fitoterápicos ou plantas medicinais pode ser prejudicial à

saúde humana, uma vez que estes podem causar micotoxicoses, quando introduzidos por via oral,

ou outras doenças, quando inalado (Medeiros et al., 2007).

De modo geral, os fitoterápicos e as plantas medicinais são suscetíveis à contaminação

fúngica durante o processo de plantio e colheita. Além disso, a manipulação e o armazenamento

inadequado desses produtos, que pode ocorrer tanto nas farmácias de manipulação quanto nas

indústrias que produzem os fitoterápicos, gera uma potencial fonte de contaminação (Silva et al.,

2013; Rocha et al., 2004,).

Como qualquer medicamento, as drogas vegetais devem comprovar sua eficácia e segurança

para uso, exigindo que os procedimentos de controle de qualidade sejam estabelecidos e executados

em toda sua cadeia produtiva, desde o seu plantio até a obtenção droga vegetal ou fitoterápico

prontos para dispensação (Souza-Moreira et al., 2010).

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S - 39 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Em relação à qualidade sanitária, várias são as fontes de contaminação dos produtos. Nas

farmácias de manipulação, as formulações são preparadas de forma artesanal, exigindo aquisição de

menor quantidade de matérias-primas. Dessa forma, fornecedores fracionam as matérias-primas,

possibilitando a introdução de contaminantes microbianos (Yamamoto et al., 2004).

Destacam-se, também como fontes de contaminação o ambiente de manipulação,

almoxarifado (estocagem), matéria-prima e principalmente o manipulador, uma vez que este tem

maior contato tanto com a matéria-prima e com o produto final. Por natureza, todos os indivíduos

podem portar micro-organismos patogênicos como S. aureus, E. coli, como microbiota residente ou

transitória em condições normais de saúde (Marques & Moreira, 2009).

Sendo assim, para a pesquisa de patógenos foram realizadas análises presuntivas para

detecção de S. aureus, E. coli, Salmonella sp e P. aeruginosa. A Farmacopeia Brasileira 5° ed.

(2010) determina que o limite máximo de 10²UFC de E. coli em 1 g ou mL de produto, limite

máximo de 104,bactérias Gram negativa bile tolerante em 1 g, ou mL de produto e ausência de

Salmonella em 10 g de produto. Já a WHO (1988) determina ausência de S. aureus, E. coli,

Salmonella sp e P. aeruginosa.

A partir das analises, se observou uma contaminação acima da aceitável para E. coli nas

amostras de cascara sagrada matéria-prima (5 x 10²) e produto final (1,5 X 10³) da farmácia A e

cascara sagrada produto final da farmácia D (2 x 10²). O restante das 13 amostras (81,25%)

apresentaram resultados negativos tanto para E. coli, quanto para o restante dos patógenos.

Bonfilio et al., (2010) analisaram 2347 amostras provenientes de farmácias de manipulação,

entre eles medicamentos em diferentes formas farmacêuticas, bases galênicas e matérias-primas, os

autores relatam que 0,96% das amostras apresentaram inconformidades nas análises

microbiológicas quanto a presença de micro-organismos mesófilo aeróbios e foi detectado a

presença de micro-organismos patogênicos em 0,20% das amostras como Escherichia coli,

Pseudomonas aeruginosa e Salmonella spp, os autores ainda abordam que apenas uma amostra de

produto acabado foi reprovada, sendo está um fitoterápico, inferindo que esta classe de

medicamento é mais suscetível a contaminação.

Verdi et al. (2013) avaliaram a qualidade microbiológica de cápsulas e chás de alcachofra

(Cynara scolymus L.), centella asiática (Hydrocotile asiatica L.), fucus (Fucus vesiculosus L.), e

sene(Cassia acutifolia Delile), através da contagem de micro-organismos viáveis totais e pesquisa

de patógenos. Na contagem de micro-organismos viáveis, os chás analisados foram aprovados, pois

apesar de apresentarem uma carga microbiana elevada, está se encontrava dentro das

especificações, entretanto, 16,66% e 66,66% das cápsulas analisadas foram reprovadas por

apresentaram quantidades superiores de bactérias e fungos, respectivamente. Na pesquisa de

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S - 40 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

patógenos, 76% das amostras (88% dos chás e 58% das cápsulas) apresentaram um ou mais de um

tipo de micro-organismo sendo que Salmonella sp. estava presente em 33% das amostras.

Medeiros et al. (2007) avaliaram nove amostras de produtos não estéreis quanto aos

aspectos microbiológicos especificados pela Farmacopeia Brasileira. Os autores encontraram que

44,5% das amostras estudadas apresentaram valores significativos para contagem de micro-

organismos viáveis e identificaram presenças de Staphylococcus aureus e Salmonella, nas amostras

estudadas. Também foram verificados fungos, os quais, segundo os autores, poderiam ser dos

seguintes gêneros: Arpergillus, Penicillium, Fusarium, Cladosporium, Microsporum,

Epidermophyton e Phialophora.

Bugno et al. (2005) observaram através das análises de pesquisa de patógenos verificou que

das 96 amostras de drogas vegetais analisadas, 26% destas apresentavam contaminação por E. coli.

Já no estudo de qualidade microbiológica de plantas medicinais realizadas por Zaroni et al. (2004)

demonstraram que 95%das amostras apresentaram contaminação por enterobactérias, sendo que

22% das amostras analisadas foram positivas para a presença de E. coli. Os autores ainda citam que

esta contaminação pode ser devida a aplicação de adubação orgânica ou contato das plantas com

solo ou até mesmo pela contaminação da água utilizada na irrigação.

Paixão et al. (2004), verificaram em seu estudo presença de E. coli em amostras de sene e de

castanha da índia (Aesculus hippocastanum) provenientes de farmácias magistrais. Assim como

Schützet al. (2008), encontraram contaminação por E. coli em duas amostras analisadas, de Ginkgo

biloba. A presença de enterobactérias gram-negativas é considerada uma indicação útil de

contaminação pós sanitização ou pós-processo, evidenciando práticas de higiene e sanitização

aquém dos padrões requeridos. A presença de E. coli indica contaminação fecal e condições de

higiene insatisfatórias.

Como foi verificado nos estudos de Zaroni et al. (2004) e Bugno et al. (2005), a maior

contaminação se encontra nas drogas vegetais em si. Esta ocorre devido a condições de cultivo,

como ambiente, água, solo, adubação, dentre outros, por causa dessa há a necessidade de um

controle na fonte, ou seja, no processo inicial de produção das plantas medicinais que irão ser

utilizados para a produção fitoterápicos.

A partir dos resultados observa-se a correlação entre a carga microbiana mesófila aeróbia e a

contaminação por patógenos. Uma vez que a maior contaminação por micro-organismos

patogênicos ocorreu nas amostras provenientes da farmácia A, que teve o maior índice de

contaminação por micro-organismos heterotróficos (apresentados na Tabela 1 e 2, todos valores

acima de 10³ UFC/g de amostra). Esse fato foi observado nos outros estudos expostos uma vez que

a maioria das análises encontrou níveis de micro-organismos mesófilos aeróbios acima dos limites

permitidos. Também foi detectado a presença de micro-organismos patogênicos (E. coli),

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S - 41 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

demonstrando que quanto maior a contaminação das matérias-primas e produtos finais por micro-

organismos mesófilos aeróbios, maior a chance de contaminação por micro-organismos

patogênicos.

Já a amostra de cascara sagrada produto final da farmácia D apresentou contaminação por E.

coli 2x10² UFC/g de amostra, mesmo com a contaminação de micro-organismos mesófilos aeróbios

baixa, e por se tratar de produto final. Sugere-se que a contaminação tenha ocorrido no processo de

manipulação do produto, uma vez que esse produto fica em maior contato com o manipulador,

sendo susceptível a contaminação por micro-organismos que o manipulador porte naturalmente.

Um dos fatores de maior importância relatados por Marques & Moreira (2009) referem-se à

necessidade da implantação e execução das Boas Práticas de Manipulação, desde o controle de

ambientes e equipamentos, e principalmente dos funcionários. Assim se orienta às farmácias que

institua programas de treinamento e capacitação sobre as Boas Práticas de manipulação (BPM),

sobre a necessidade de assepsia e higienização pessoal e do ambiente, o que é aplicável a este

estudo, uma vez que o patógeno encontrado é o principal indicador de condições sanitárias

precárias, sendo o principal os coliformes fecais. Medeiros et al. (2007) ainda ressalta sobre a

importância da avaliação de saúde periódica dos manipuladores, uma vez que este quando

acometidos por alguma infecção carregam consequentemente uma carga maior do micro-

organismo, propagando-o via ambiente, matéria-prima, equipamentos e produto final como é o caso

de E. coli, Salmonella, Klebsiella, Serratia, Streptococcus,entre outros.

Para garantir a execução das Boas Práticas de Manipulação em farmácias de manipulação,

deve-se assegurar o controle de qualidade de todo um processo, ou seja, instalações, equipamentos,

recursos humanos, aquisição de matéria-prima, armazenamento, avaliação farmacêutica da

prescrição, manipulação, conservação, transporte e a dispensação das preparações. Assim sendo,

todos os componentes citados acima realizados nas farmácias de manipulação são indispensáveis

para assegurar a qualidade microbiológica, química e físico-química das matérias-primas e produtos

acabados, garantindo eficácia, segurança e credibilidade aos medicamentos fitoterápicos

dispensados à população (Alves et al.,2009).

O uso das plantas medicinais representa uma fonte de acesso em potencial para as camadas

mais carentes da sociedade e também possibilita a descoberta de novas moléculas ou de novos

tratamentos de doenças que apresentem tratamento e/ou prognóstico difíceis.

É recomendada a determinação da maioria dos constituintes químicos de uma planta para

que sejam asseguradas a confiabilidade e reprodutibilidade dos dados clínicos e farmacológicos,

bem como, conhecer quais são os compostos ativos e possíveis efeitos adversos, a fim de promover

a manutenção da qualidade do material (Prado et al., 2009)

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S - 42 Oliveira D. P. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 30 – 44, 2016

Para o controle de qualidade desse material vegetal, não só metodologias químicas devem

ser aplicadas, mas também botânicas para identificação da espécie, análise de fraudes e de

contaminações grosseiras além de metodologias de controle de qualidade microbiológico,

analisando a contaminação por micro-organismos saprofíticos ou patogênicos, que podem propiciar

a degradação dos compostos ativos presentes no material vegetal, comprometendo sua eficácia e

segurança, uma vez que esta contaminação podem acometer pacientes imunocomprometidos

provocando infecções oportunistas (Souza-Moreira et al., 2010).

Assim, ressaltamos a importância da execução e difusão de ensaios de controle de qualidade

microbiológico de matéria prima vegetal e do produto acabado, para que haja maior segurança e

confiabilidade destes medicamentos utilizados pela população.

AGRADECIMENTOS

A FAPEMIG, a CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro e ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências Farmacêuticas da UNIFAL/MG.

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ARTIGO ORIGINAL / REVIEW

Atividades centrais das riparinas para tratamento de transtornos mentais:

revisão de literatura.

Éverton José Ferreira de Araújo1,2,3,4*; Layana Karine Farias Lima2,3; Luis Mário Rezende Júnior2,3,

Marcelo Pereira da Silva Júnior3; Rivelilson Mendes de Freitas1,2,3 &

Francisco das Chagas Alves Lima1,4.

1Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO), Centro de Ciências da

Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64049-550. 2Laboratório de Pesquisa em Neuroquímica Experimental (LAPNEX), Núcleo de Tecnologia Farmacêutica, Centro de

Ciências da Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP

64049-550. 3Curso de Farmácia, Centro de Ciências da Saúde, Campus Ministro Petrônio Portella, Universidade Federal do Piauí,

Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64049-550. 4Laboratório de Química Quântica Computacional e Planejamento de Fármaco (LQQC&PF), Centro de Ciências da

Natureza, Departamento de Química, Universidade Estadual do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil, CEP 64002-150.

*Autor correspondente: Prof. MSc. Éverton José Ferreira de Araújo, Curso de Farmácia, Centro de Ciências da Saúde,

Universidade Federal do Piauí. Avenida Universitária, bairro Ininga, CEP 64.049-550, Teresina, Piauí. Telefone: 3215-

5953. Email: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL / REVIEW

S - 46 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016

RESUMO

O estilo de vida contemporâneo favorece o aumento do número de casos de distúrbios mentais e por

isso vários estudos buscam investigar a capacidade de novas substâncias ativas combaterem

problemas relacionados ao sistema nervoso central. Assim, foi realizada uma revisão de literatura

sobre os efeitos ansiolíticos, antidepressivos e antiepilépticos de alcamidas conhecidas como

riparinas, naturais ou sintéticas. Buscou-se artigos científicos publicados nas bases científicas Web

of Science, ScienceDirect, PubMed, Scielo e SCOPUS utilizando o descritor "riparina" associado

aos descritores "cérebro", "ansiedade", "ansiolítico", "depressão", "antidepressivo", "epilepsia" e

"antiepiléptico", nos idiomas português e inglês, verificando-se a ocorrência no título, resumo ou

palavras-chave de artigos científicos completos publicados nos últimos 10 anos. Foram analisados 8

artigos e constatada a presença de efeitos ansiolíticos e antidepressivos associados às riparinas I, II e

III. Houve apenas um artigo publicado com riparina sintética com destaque para sua ação

neuroprotetora antioxidante. Nenhum artigo foi divulgado por periódicos brasileiros ou em língua

portuguesa. Há, portanto, a necessidade de novas pesquisas quanto aos efeitos antiepilépticos, de

toxicidade pré-clínica, análises de relação estrutura-atividade e de delineamento farmacêutico com

as riparinas, a fim de, subsidiar futuros ensaios clínicos e o desenvolvimento de novos

medicamentos para o tratamento de transtornos mentais.

Palavras-chave: Aniba, Ansiedade, Depressão.

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S - 47 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016

ABSTRACT

The contemporary lifestyle favors the increase in the number of cases of mental disturbances. Based

on this, numerous studies have sought for new active substances with the ability to combat

problems related to the central nervous system. Thus, a literature review was performed on the

anxiolytic, antidepressant and antiepileptic effects of alkamides known as riparinas, natural or

synthetic. It was searched scientific articles in the follow data bases: Web of Science, Science

Direct, PubMed, Scielo and SCOPUS by using the descriptor "riparina" associated with the

descriptors "brain", "anxiety", "anxiolytic", "depression", "antidepressant", "epilepsy" and "anti-

epileptic". It was checked the title, abstract or keywords of complete and published articles in

Portuguese or English of the last 10 years. From 8 articles analyzed, it was verified the presence of

anxiolytic and antidepressant effects associated to riparinas I, II and III. There was just one article

with synthetic riparina in which the antioxidant neuroprotective action was highlighted. No article

was published by Brazilian journals or in Portuguese. This way, there is a need for further research

on the antiepileptic effects, preclinical toxicity, analysis of structure-activity relationship, and

pharmaceutical delineation of the riparinas in order to support future clinical trials and development

of new drugs for the treatment of mental disorders.

Keywords: Aniba, Anxiety, Depression.

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INTRODUÇÃO

Os transtornos mentais e comportamentais isolados ou associados, sobretudo, esquizofrenia,

ansiedade e depressão tem prevalência na população mundial de aproximadamente 10%, superando

doenças infecciosas e cardiovasculares como causa de incapacidade (Pereira et al., 2012). No

Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 3% da população geral sofre de algum transtorno

mental severo, persistente e de tratamento contínuo e outros 9% de tratamento esporádico, dados

que possivelmente se encontram subestimados pois, muitas pessoas não buscam atendimento

psiquiátrico por desconhecer a doença, por medo ou por preconceito com o seu diagnóstico (Brasil,

2004).

O atual estilo de vida contemporâneo favorece o aumento do número de casos de distúrbios

comportamentais, na maioria das vezes, relacionados a problemas de ordem familiar e afetiva ou

atrelado a rotinas laborais estressantes, à baixa renda ou à condição social, além de fatores

ambientais, genéticos e fisiopatológicos inerentes à problemática das doenças da mente que são

bastante complexos. A presença de elementos multifatoriais no desenvolvimento das doenças é um

aspecto que dificulta o estabelecimento de tratamentos bem-sucedidos (Coelho et al., 2009;

Polanczyk, 2009).

De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde (CID 10), os transtornos mentais podem ser definidos como doenças com

manifestação associada a algum comprometimento funcional resultante de disfunção biológica,

social, psicológica, genética, física ou química que provocam alterações no modo de agir, pensar e

no humor do indivíduo associado a prejuízo no seu desempenho geral. Os tratamentos objetivam

retardar o progresso da enfermidade, propriamente dita, com redução da sua frequência, duração e

gravidade, bem como, restabelecer as funções cognitivas do paciente com aumento da sua

autonomia, qualidade de vida e promoção da sua reintegração social (Santos & Siqueira, 2010;

Bandeira et al., 2009; Hirdes & Kantorski, 2004). A base da maioria dos tratamentos

farmacológicos para transtornos mentais se fundamenta na modificação da ação de

neurotransmissores ou receptores centrais específicos, bloqueando ou estimulando efeitos

excitatórios ou inibitórios em função da patologia envolvida (Brunton et al., 2006).

Há registros na literatura de que substâncias ativas isoladas de plantas, seus constituintes e

derivados sintéticos podem modificar o comportamento de animais com a indução ou o combate a

casos de ansiedade, depressão ou crises epilépticas. O potencial farmacológico dessas substâncias

pode ser avaliado em modelos animais e neuroquímicos, propiciando o surgimento de novas opções

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terapêuticas na área da farmacologia do sistema nervoso central (SNC). O uso popular de

preparações e de produtos farmacêuticos derivados de plantas medicinais no tratamento de quadros

neurológicos é impulsionado pelo fato dessas substâncias possuírem origem natural e estarem

associadas a uma baixa toxicidade (Araújo et al., 2014; Sousa et al., 2008; Zhang, 2004).

Dentro desse contexto, as riparinas naturais, éteres metílicos de N-benzoiltiramina (riparina

I); N-(-2-hidroxibenzoil) tiramina (riparina II) e N-(2,6-dihidroxibenzoil) tiramina (riparina III), são

substâncias ativas isoladas do fruto verde da planta medicinal Aniba riparia (Nees) Mez, espécie

pertencente à família Lauraceae popularmente conhecida como “louro”. Existem relatos na

literatura que atribuem atividade farmacológica à planta e às riparinas como, por exemplo, seus

efeitos antimicrobianos frente a cepas de Staphylococcus aureus e Escherichia coli multirresistentes

(Catão et al., 2005), atividade antinociceptiva (Araujo et al., 2009) e anti-inflamatória em roedores

(Carvalho et al., 2013).

Diante do exposto, o presente estudo objetiva realizar uma revisão de literatura sobre a

atividade farmacológica das riparinas sobre o SNC, a fim de, verificar a produção científica, buscar

evidências e nortear pesquisas futuras relacionadas ao tratamento da ansiedade, depressão ou

epilepsia com preparações à base de riparinas extraídas da Aniba riparia ou de origem sintética.

METODOLOGIA

A presente revisão de literatura foi realizada em 27 de julho de 2015 e partiu da seguinte

questão norteadora para o estabelecimento dos critérios de pesquisa: Há evidências científicas que

encorajam novas pesquisas com as riparinas visando a obtenção de opções terapêuticas inovadoras

para transtornos mentais? Baseado neste questionamento foi realizada a busca de artigos científicos

publicados nas bases Web of Science, ScienceDirect, PubMed, Scielo e SCOPUS utilizando os

descritores "riparina", "cérebro", "ansiedade", "ansiolítico", "depressão", "antidepressivo",

"epilepsia", “antiepiléptico", “riparin”, “brain”, “anxiety”, “anxiolytic”, “depression”,

“antidepressant”, “epilepsy” e “antiepileptic”, visto que, ansiedade, depressão e epilepsia são as

condições patológicas relacionadas ao SNC mais prevalentes no mundo. O uso desses descritores

permitirá ampliar o número de artigos pesquisados, pois, tratam-se de termos gerais que não

restringem a pesquisa de condições patológicas específicas dentro de cada tipo de distúrbio. A

realização da pesquisa ocorreu por meio da associação do descritor "riparina" com todos os demais

descritores, individualmente, verificando-se a ocorrência no título, resumo ou palavras-chave de

artigos publicados nos idiomas português ou inglês. Foram incluídos para análise somente artigos

científicos com resumos e textos completos, publicados nos últimos 10 anos, realizadas em modelos

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S - 50 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016

NH

OR1

R4

R5

R2

R3

R7

R6

animais ou envolvendo seres humanos com abordagem voltada para a atividade ansiolítica,

antidepressiva ou antiepiléptica das riparinas. Foram excluídos outros tipos de produções

acadêmicas, como por exemplo, teses, dissertações e resumos, além de trabalhos que não tinham

relação direta com a pesquisa. Empregou-se o operador booleano “AND” para compor a estratégia

de busca e localizar estudos sobre cada par de descritores envolvidos. Os artigos selecionados foram

analisados quanto à presença de evidência científica que relacione a ação farmacológica das

riparinas, naturais ou sintéticas, para o tratamento de algum dos distúrbios pesquisados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A A. riparia consiste em uma espécie vegetal de ocorrência variada, estendendo-se desde a

Amazônia brasileira, Guianas e Venezuela ao leste e sul do Brasil (Santos et al., 2011; Marques,

2001). Trata-se de uma planta medicinal citada em diferentes pesquisas científicas na última década

com atividades farmacológicas comprovadas em diversos modelos experimentais (Silva et al.,

2015; Marques et al., 2005). Os derivados extraídos do "louro", denominados de riparinas, são

citados como constituintes fitoquímicos responsáveis pelos efeitos farmacológicos atribuídos à A.

riparia. Desta forma, há uma concentração das pesquisas em torno destas moléculas com

prevalência de estudos envolvendo as naturais (riparinas I, II e III) extraídas da planta (Barbosa-

Filho et al., 1990; Barbosa-Filho et al., 1987). Entretanto, derivados sintéticos que conservam o

núcleo fundamental das riparinas foram obtidos em pesquisas envolvendo rotas de síntese (Figura

1). Estes análogos estruturais receberam as denominações de riparinas A, B, C, D e E (Gutierrez,

2006) e riparina IV (Dias, 2012) e assim como as riparinas naturais passaram a ser testadas em

estudos científicos (Silva et al., 2015).

Figura 1. Fórmula estrutural das riparinas naturais e sintéticas.

Riparina I: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = H; R7 = OCH3

Riparina II: R1 = OH; R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = H; R7 = OCH3

Riparina III: R1 = R5 = OH; R2 = R3 = R4 = R6 = H; R7 = OCH3

Riparina IV: R2 = R3 = R4 = R7 = OCH3; R1 = R6 = H

Riparina A: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = R6 = R7 = H

Riparina B: R1 = R2 = R3 = R4 = R5 = H; R6 = R7 = OCH3

Riparina C: R1 = R2 = R3 = R4 = R6 = R7 = H; R5 = OH

Riparina D: R1 = R2 = R3 = R4 = H; R5 = OH; R6 = R7 = OCH3

Riparina E: R1 = R5 = OH; R2 = R3 = R4 = R6 = R7 = H

Fonte: Autoria própria, 2015.

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Pautado nos critérios de busca estabelecidos na metodologia da pesquisa, foi possível

perceber um número significativo de publicações envolvendo as riparinas com um total de 25

artigos encontrados na base Web of Science, 8 no ScienceDirect, 19 no PubMed, nenhum artigo no

Scielo e 20 no SCOPUS. Isso pode ser ilustrado se forem observados os resultados obtidos a partir

do levantamento realizado apenas com o descritor "riparina" (Tabela 1). No que diz respeito às

atividades relacionadas ao SNC pesquisadas há uma concentração de estudos envolvendo os efeitos

ansiolíticos e antidepressivos das riparinas e uma ausência de pesquisas quanto aos possíveis efeitos

antiepilépticos dessas moléculas.

Tabela 1. Número de artigos científicos publicados em bases científicas nos últimos 10 anos por

palavras-chave pesquisadas.

Palavras-chave

Bases de dados científicos

Web of

Science ScienceDirect PubMed Scielo SCOPUS

Riparina 25 8 19 - 20

Riparina + Cérebro 1 1 3 - 2

Riparina + Ansiedade 7 - 1 - 4

Riparina + Ansiolítico 7 1 5 - 6

Riparina + Depressão 2 - 2 - 3

Riparina + Antidepressivo 4 - 5 - 4

Riparina + Epilepsia - - - - -

Riparina + Antiepiléptico - - - - -

Fonte: Autoria própria, 2015.

Entretanto, cabe ressaltar que apesar da A. riparia ser uma planta medicinal utilizada em

estudos realizados por pesquisadores brasileiros nenhuma publicação foi encontrada no idioma

português ou divulgada por periódicos brasileiros. Foram selecionados 8 artigos para a análise e

constatado que as publicações se repetiam nas diferentes bases utilizadas. As pesquisas se

relacionavam com a presença de efeitos ansiolíticos e antidepressivos associados às riparinas

naturais I, II e III, havendo apenas um estudo realizado com uma das riparinas sintéticas (riparina

A) quanto a seus efeitos centrais (Tabela 2).

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Tabela 2. Artigos científicos publicados nas bases pesquisadas e selecionados de acordo com os

critérios da pesquisa.

Autor/Ano Título Periódico

Sousa et al.,

2005

Antianxiety effects of riparin I from Aniba

Riparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.

Phytotherapy Research

Melo et al., 2006

Anxiolytic-like effects of (O-methyl)-N-2,6-

dihydroxybenzoyl-tyramine (riparin III) from

Anibariparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.

Biological and

Pharmaceutical Bulletin

Sousa et al.,

2007

Evaluation of effects of N-(2-hydroxybenzoyl)

tyramine (riparin II) from Anibariparia(Nees)

Mez (Lauraceae) in anxiety models in mice.

Biological and

Pharmaceutical Bulletin

Melo et al., 2013

Evidence for the involvement of the

serotonergic, noradrenergic, and dopaminergic

systems in theantidepressant-like action of

riparin III obtained from Anibariparia (Nees)

Mez (Lauraceae) in mice.

Fundamental & Clinical

Pharmacology

Teixeira et al.,

2013

Antidepressant-like effect of riparin II from

Anibariparia in mice: evidence for the

involvement of the monoaminergic system.

Fundamental & Clinical

Pharmacology

Sousa et al.,

2014

Involvement of monoaminergic system in the

antidepressant-like effect of riparin I from

Anibariparia (Nees) Mez (Lauraceae) in mice.

Fundamental & Clinical

Pharmacology

Nunes et al.,

2015

Behavioral tests and oxidative stress evaluation

in mitochondria isolated from the brain and

liver of mice treated with riparin A.

Life Sciences

Vasconcelos et

al., 2015

Subchronic administration of riparin III

induces antidepressive-like effects and

increases BDNF levels in the mouse

hippocampus.

Fundamental & Clinical

Pharmacology

Fonte: Autoria própria

Sousa e colaboradores (2005) utilizaram os modelos comportamentais clássicos do labirinto

em cruz elevado - LCE (Elevated plus maze test), do campo aberto - CA (Open fiel test), da barra

giratória - BG (Rota rod test) e da placa perfurada - PP (Hole board test) para avaliar os efeitos

ansiolíticos da riparina I em camundongos Swiss nas doses de 25 mg/kg e 50 mg/kg utilizando as

vias oral (v.o.) e intraperitoneal (i.p). A substância em ambas as doses e vias de administração

testadas promoveu aumento no número de entradas e do tempo de permanência nos braços abertos

do LCE de maneira similar aos resultados obtidos com o diazepam (1 mg/kg i.p.). No teste do CA,

assim como na BG, a riparina I não provocou alterações na atividade locomotora espontânea e no

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tônus muscular dos animais em nenhuma das condições testadas. No teste da PP, o aumento no

número de head dips só não ocorreu na dose de 25 mg/kg i.p., equiparando-se ao ansiolítico de

referência nas demais condições testadas, o que sugere que a riparina I possui efeitos ansiolíticos

sem alterar a performance psicomotora dos animais.

Posteriormente, em nova pesquisa com a riparina I, Sousa et al., (2014) buscaram investigar

os efeitos antidepressivos da molécula em camundongos por meio dos testes da suspensão pela

cauda - TSC (Tail suspension test) e do nado forçado - NF (Forced swimming test) nas mesmas

doses e vias de administração utilizadas no estudo de atividade ansiolítica citado anteriormente.

Mais uma vez foi demonstrado que a riparina I possui atividade central ao reduzir, em

relação ao grupo controle negativo tratado com o veículo Tween 80 a 3%, o tempo de imobilidade

dos animais nos dois testes realizados sugerindo a presença de efeito antidepressivo, porém inferior

àquele obtido com imipramina 10 mg/kg no TSC e 30 mg/kg no NF administrada pela mesma vias

da riparina I. Nesta mesma pesquisa, utilizando a dose que apresentou melhores resultados nos

testes comportamentais (50 mg/kg, v.o.) os pesquisadores realizaram antes da administração da

riparina I pré-tratamentos com antagonistas seletivos de receptores dopaminérgicos, adrenérgicos e

serotoninérgicos visando discutir a farmacodinâmica da molécula. Tendo em vista que as drogas

(R)-(+)-7-cloro-8-hidroxi-3-metil-1-fenil-2,3,4,5-tetrahidro-1H-3-benzazepinahidrocloreto

(SCH23390, 15 μg/kg, i.p.), sulpirida (50 mg/kg, i.p.), prazosina (1 mg/kg, i.p), ioimbina (1 mg/kg,

i.p.) e ritanserina (4 mg/kg, i.p.) reverteram os efeitos antidepressivos da riparina I, o estudo indicou

a existência de interação da riparina I com os receptores dopaminérgicos D1, D2, adrenérgicos α1, α2

e serotoninérgico 5-HT2A/2C, respectivamente, como seu provável mecanismo de ação.

Utilizando desenho experimental de acordo com o descrito anteriormente no estudo da

atividade ansiolítica da riparina I, Sousa et al., (2007) investigaram os efeitos ansiolíticos,

miorrelaxantes e comportamentais da riparina II, através dos testes do LCE, CA, BG e PP mediante

a administração da substância em camundongos nas doses de 25mg/kg, 50 mg/kg e 75 mg/kg, i.p. e

v.o. em todos os testes, exceto no teste da placa perfurada em que a maior dose foi suprimida. Os

resultados do LCE demonstraram atividade ansiolítica para a riparina II nas doses de 75 mg/kg, v.o.

e de 25 mg/kg, i.p. De forma semelhante à riparina I, a administração da riparina II não alterou a

atividade locomotora e nem promoveu efeitos sedativos nos testes do campo aberto e da barra

giratória. Já o ensaio da placa perfurada indicou efeitos ansiolíticos em ambas as doses e vias

utilizadas.

Outra atividade central atribuída à riparina II consiste nos seus efeitos antidepressivos.

Teixeira e colaboradores (2013) publicaram estudo com a riparina II empregando metodologia que

posteriormente seria reproduzida no trabalho divulgado por Sousa et al., (2014) com a riparina I,

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conforme descrito. Assim, além de apresentar os efeitos antidepressivos da riparina II no TSC e NF

em camundongos os pesquisadores buscaram, em condições análogas, evidenciar a participação do

sistema monoaminérgico no mecanismo de ação da molécula. O tratamento agudo com riparina II

nas doses de 25 e 50 mg/kg, i.p e v.o. reduziu o tempo de imobilidade dos animais nos dois modelos

de depressão quando comparado ao controle negativo (Tween 80 3%) com efeito próximo ao obtido

com a bupropiona 30 mg/kg, i.p e v.o. Após pré-tratamento com antagonistas seletivos centrais e

com o inibidor da síntese de serotonina, p-clorofenilalanina metil éster (PCPA, 100 mg/kg, i.p.), os

efeitos antidepressivos da riparina II foram revertidos pelo SCH 23390 (15 μg/kg, i.p.), sulpirida

(50 mg/kg, i.p), prazosina (1 mg/kg, i.p), 1-(2-metoxifenil)-4-[2-ftalimido)butil]piperazina (NAN-

190, 0,5 mg/kg, i.p.) indicando envolvimentos dos receptores D1, D2, α1 e 5HT1A no mecanismo de

ação antidepressivo da riparina II.

Em concordância com as riparinas I e II, a riparina III foi alvo de estudos de ansiedade e

depressão, sendo a mais explorada no intervalo de 10 anos com 3 artigos publicados. Melo e

colaboradores (2006) administraram a riparina III nas doses 25 e 50 mg/kg, v.o. em camundongos

obtendo efeitos ansiolíticos ao constatarem o aumento do número de entradas nos braços abertos do

LCE na maior dose, equivalente ao observado com o diazepam (1 mg/kg, i.p.), assim como o

aumento no número de head dips no teste da PP em ambas as doses, sem alterações motoras

detectáveis nos testes no CA e da BG. Estes resultados são similares aos encontrados com as

riparinas I e II. Pode-se associar essa semelhança de efeitos ao fato das três riparinas

compartilharem o mesmo núcleo fundamental que, por sua vez, pode estar envolvido na relação

estrutura-atividade das moléculas.

Quanto aos efeitos antidepressivos, Melo et al., (2013) seguiram o mesmo modelo

experimental de Teixeira et al., (2013) e Sousa et al., (2014) com a inclusão dos protocolos

experimentais do tempo de sono induzido pelo barbitúrico pentobarbital sódico 40 mg/kg, i.p.

(Barbiturate-induced sleeping time) e de hipotermia induzida pela apomorfina 16 mg/kg, i.p.

(Apomorphine-induced hypothermia). Por conseguinte, conforme as demais riparinas já citadas, a

administração aguda da riparina III diminuiu o tempo de imobilidade dos animais nos testes da

suspensão pela cauda e do nado forçado nas doses de 25 e 50 mg/kg, v.o.

Foi demonstrado ainda que a riparina III reduziu o tempo de latência e aumentou o tempo de

sono induzido por barbitúrico, sobretudo na dose de 50 mg/kg, implicando em uma potencialização

dos efeitos sedativos do pentobarbital sódico. Além disso, a riparina em questão não foi capaz de

antagonizar a hipotermina apomorfina-induzida. Este é um resultado preditivo do mecanismo de

ação da molécula, pois, a reversão da hipotermia induzida por baixas doses é antagonizada por

neurolépticos com a ação sobre receptores D2 enquanto aquela induzida por altas doses é

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antagonizada por antidepressivos tricíclicos sem relação, portanto, com o sistema dopaminérgico.

Por fim, os pesquisadores constataram que os efeitos antidepressivos da riparina III dependem da

interação com os sistemas dopaminérgico (receptores D2), adrenérgico (receptores α1) e

serotoninérgico, pois, seus efeitos antidepressivos foram revertidos pelos antagonistas sulpirida (50

mg/kg i.p.) e prazosina (1 mg/kg i.p.), bem como pelo fármaco PCPA (100 mg/kg i.p.) (Melo et al.,

2013).

Pesquisa mais recente empregando o modelo de depressão crônica induzida por

corticosterona (20 mg/kg via subcutânea) e a verificação dos níveis de fator neurotrófico derivado

do cérebro (BDNF) em roedores buscou, de forma complementar ao descrito por Melo et al (2013),

estudar os efeitos antidepressivos da riparina III, como perspectiva da substância ser utilizada no

tratamento da depressão associada à ansiedade, da depressão refratária ou da depressão psicótica.

Foi verificado que a riparina III na dose de 50 mg/kg v. o. é capaz de reverter os efeitos depressivos

decorrentes da administração de corticoide por um período de 21 dias. O tratamento prolongado

com o corticoide também reduziu os níveis de BDNF, proteína responsável pela plasticidade

neuronal, no hipocampo dos camundongos (Vasconcelos et al., 2015).

Novos candidatos a fármacos antidepressivos, segundo a Teoria Neurotrófica da Depressão

devem promover uma redução do dano oxidativo neuronal e elevar os níveis do BDNF, pois

considera que a gênese da depressão não está associada apenas aos níveis de monoaminas, como

postulado pela Teoria Monoaminérgica. Nesse aspecto a pesquisa de Vasconcelos e colaboradores

(2015) inovou em relação àquelas anteriormente realizadas quanto aos efeitos antidepressivos das

riparinas, indicando que a riparina III restabelece os níveis do fator neurotrófico e melhora a

interação social dos animais tratados, com resultados semelhantes aos obtidos com a fluvoxamina

(50 mg/kg, v. o.).

Fica evidente que as riparinas I, II e III possuem dados consistentes na literatura científica

para a realização de ensaios clínicos mais avançados visando o delineamento farmacêutico de novos

medicamentos para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. Entretanto, deve-se

considerar que, a ausência de estudos de toxicidade pré-clínica pode representar um entrave, assim

como, indicar uma área para estudos promissores com a A. riparia e as riparinas para subsidiar a

realização de pesquisas clínicas. Outro aspecto relevante das pesquisas já realizadas consiste na

busca do mecanismo de ação das riparinas. Estes resultados abrem a margem para a realização de

ensaios de química computacional para aclarar a relação estrutura-atividade dessas moléculas e a

interação fármaco-receptor mediante cálculos de docagem molecular (Ferreira et al., 2009; Lima,

2007).

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As pesquisas com novos fármacos para transtornos mentais também são motivadas pela

ocorrência de várias reações adversas associadas à terapêutica. Os benzodiazepínicos, por exemplo,

embora possuam vasta aplicação clínica para tratamento da ansiedade, destacam-se pela

possibilidade de promoverem tolerância psicológica e fisiológica, sedação e sonolência diurna,

efeitos amnésicos, comprometimento motor e ansiedade de rebote em casos de suspensão abrupta

do tratamento instituído. Um agente ansiolítico ideal visa reduzir a ansiedade com pouco ou

nenhum efeito sobre as funções motoras conforme descrito em todos os estudos realizados com as

riparinas (Rabbani et al., 2008; Katzung, 2005). Além disso, a demanda crescente por substâncias

ativas inovadoras e a proposta da utilização sustentável da biodiversidade brasileira corrobora a

importância das vias de síntese, obtenção e caracterização de novos fármacos (Lima, 2007;

Barberato-Filho, 2006; Brasil, 2006).

Nesse contexto, a pesquisa de Nunes e colaboradores (2015) deve ser ressaltada, pois, é a

única publicada com um derivado sintético das riparinas. O estudo destacou que a riparina A

promove proteção contra danos oxidativos sem modificar coordenação motora ou causar sedação

em camundongos. Foi realizada a administração da riparina A nas doses de 5, 10 e 20 mg/kg, v.o.

seguido da realização dos testes comportamentais do CA e da BG. Posteriormente foi realizado o

isolamento de mitocôndrias cerebrais e hepáticas dos roedores, a fim de, verificar os efeitos do

tratamento agudo com riparina A sobre os níveis de peroxidação lipídica (TBARS - Thiobarbituric

acid reactive substances), íon nitrito (NO2-), glutationa reduzida (GSH) e sobre a atividade das

enzimas antioxidantes catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD).

A riparina A reduziu os níveis de TBARS, NO2- e GSH nas mitocôndrias cerebrais e

hepáticas em todas as doses testadas, equiparando-se ao antioxidante de referência (ácido ascórbico

250 mg/kg) nos efeitos observados nas mitocôndrias hepáticas quanto à proteção contra

peroxidação lipídica e nitrito. Quanto à atividade enzimática o resultado mais significativo

apresentado pelos pesquisadores foi o fato da riparina A na dose 5 mg/kg modular positivamente a

atividade da CAT e da SOD apenas em mitocôndrias cerebrais. Tendo em vista os efeitos

antioxidantes os autores afirmam que a substância tem a capacidade de superar a barreira

hematoencefálica. Entretanto, como os resultados obtidos nos testes comportamentais diferem dos

efeitos relatados com o diazepam (1 mg/kg, i.p.), acredita-se que a riparina A não tem ação sobre o

sistema gabaérgico apesar dos pesquisadores não terem realizado a administração de nenhum

antagonista gabaérgico seletivo (Nunes et al., 2015).

Esses resultados indicam que a riparina A semelhante às riparinas I, II e III não modifica

parâmetros locomotores e nem possui efeitos sedativos. Porém assinalam a necessidade de

pesquisas complementares quanto aos efeitos ansiolíticos, antidepressivos e antiepilépticos dessa

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substância e demais riparinas sintéticas, principalmente por já existirem estudos que conferem

atividades centrais às riparinas naturais. Além disso, os resultados apontam para a necessidade da

realização de novas pesquisas quanto aos efeitos antiepilépticos das riparinas naturais, posto que, já

existem evidências científicas em ensaios pré-clínicos dos efeitos ansiolíticos e antidepressivos das

riparinas I, II e III.

CONCLUSÃO

Foi notado que vários estudos validam a existência de ação central das riparinas I, II, III e A

em modelos animais. Contudo, os trabalhos publicados na última década foram realizados em sua

maioria com as riparinas naturais (I, II e III), havendo um rol de importantes substâncias que ainda

precisam ser exploradas já que inexistem estudos com as riparinas IV, B, C, D e E. Foi observado

que as riparinas citadas nas publicações científicas têm uma característica em comum que consiste

na sua incapacidade de promover efeitos sedativos ou comprometimento locomotor, característica

importante para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da ansiedade, por exemplo. Esta

propriedade pode encontrar relação direta com o fato das riparinas possuírem similaridade estrutural

quanto ao núcleo fundamental das moléculas e ressalta a necessidade de novas pesquisas quanto aos

grupos farmacofóricos destas substâncias. É notório, também, que futuras pesquisas devem ser

encorajadas quanto aos efeitos centrais das riparinas, principalmente das sintéticas, dado a

existência de informações quanto às atividades ansiolíticas e antidepressivas das moléculas

extraídas da A. riparia. Do mesmo modo, há a necessidade de novas pesquisas quanto à presença de

atividade antiepiléptica, estudos de delineamento farmacêutico e toxicidade pré-clínica. Por fim, o

surgimento de novas pesquisas pode subsidiar o uso das riparinas em ensaios clínicos e no

desenvolvimento futuro de medicamentos para o tratamento dos transtornos mentais.

AGRADECIMENTOS

Os autores do presente manuscrito agradecem ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) e à Universidade Federal do Piauí pelo apoio quanto a disponibilidade dos

artigos científicos analisados.

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S - 58 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016

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S - 60 Everton J. F. A. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 45 – 60, 2016

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Perfil de utilização e adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes

atendidos em Clínica de Insuficiência Cardíaca de um Hospital Universitário da

Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Ranieri Carvalho Camuzi* 1, 2, Benedito Carlos Cordeiro1, 4, Sabrina Calil Elias1, 2, 4, Wolney de

Andrade Martins1, 3, Evandro Tinoco Mesquita1, 3, Selma Rodrigues de Castilho1, 2, 4

1 - Universidade Federal Fluminense (UFF)

2 - Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde (PPG-CAPS)

3 - Programa de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares (PPG-CCV)

4 - Mestrado Profissional em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica (PPG-GAFAR)4

* Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica, Universidade Federal Fluminense, Rua Dr. Mário Viana,

523, Santa Rosa, 24241-000 Niterói – RJ, Brasil. Tel.: +55 (21) 2629-9572, e-mail: [email protected]

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S - 62 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

RESUMO

A insuficiência cardíaca (IC) é a terceira principal causa de internação no Sistema Único de Saúde e

a primeira em idosos. Embora evidências demonstrem que a farmacoterapia é capaz de reduzir

mortalidade, hospitalizações e custos na IC com fração de ejeção reduzida, a baixa adesão ao

tratamento é apontada como importante causa de hospitalização. Este trabalho visou identificar o

perfil de utilização e de adesão ao tratamento medicamentoso em hospital universitário de Niterói-

RJ, na primeira visita do paciente ao atendimento farmacêutico. Foi realizado estudo descritivo

prospectivo envolvendo 150 pacientes. O teste Morisky foi empregado na avaliação da adesão,

sendo aplicado na primeira entrevista do farmacêutico. A DDD/100 atendimentos dia foi

empregada para mensuração do consumo. Foram observados pacientes idosos (43,3%) e muito

idosos (10,7%), polifarmácia (78,6%), problemas de adesão (73,3%) e medicamentos adquiridos

por meios próprios (89,1%). O teste identificou 26,7% de adesão elevada, 60% média e 13,3%

baixa. Não houve significância estatística na diferença de adesão entre diferentes grupos etários,

gênero e classe funcional pela New York Heart Association. Estes resultados sugerem a

oportunidade da inserção de um profissional farmacêutico na equipe multidisciplinar da clínica de

IC.

Palavras-chave: Insuficiência cardíaca/terapia; Uso de medicamentos; Adesão à medicação;

Serviços comunitários de farmácia.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 63 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

ABSTRACT

Heart failure is the third leading cause of hospitalization in Brazilian public health system.

Although evidence shows that pharmacotherapy can reduce mortality, hospitalizations and costs due

to heart failure with reduced ejection fraction, poor adherence to treatment is a major cause of

unsatisfactory results. This study aimed to identify the profile of drug use and assess adherence to

treatment in a multidisciplinary clinic at an university hospital in Niterói (RJ), in the first visit of the

patient to pharmaceutical service. A prospective descriptive study involving 150 patients was

conducted. The Morisky test was applied to assess adherence, and was applied to the first interview

with the pharmacist. The DDD / 100 day care was used to measure consumption. There was a

predominance of elderly (43.3%) and very elderly (10.7%) patients, polypharmacy (78.6%) and low

adherence (73.3%). The majority of patients declared to acquire drugs by themselves (89.1%). The

test identified 26.7% of high adherence, 60% medium and 13.3% low. There was no statistical

significance regarding the difference between adherence and age, gender or functional class New

York Heart Association groups. The results suggest the opportunity of a pharmacist insertion in the

multidisciplinary team, earlier composed only by physicians, nurses and physiotherapists.

Keywords: Heart failure/therapy; Drug utilization; Medication adherence; Community pharmacy

services.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 64 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

INTRODUÇÃO

A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, que se

caracteriza como uma disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para

atender às necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo

somente com elevadas pressões de enchimento (Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009). É muito

prevalente, complexa e progressiva, com alta morbimortalidade (Bocchi et al., 2012; Cleland,

Khand & Clark, 2001).

A IC se tornou um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, sendo o diagnóstico

que mais cresce entre as doenças cardiovasculares. Estima-se que atinja mais de 23 milhões de

pessoas em todo o mundo (Roger, 2013).

Embora os dados epidemiológicos sobre a IC no Brasil ainda sejam limitados, estima-se que ela seja

responsável pela maioria das internações relacionadas ao aparelho cardiovascular na rede pública de

saúde (Bocchi, 2013; Bocchi et al., 2009), a terceira principal causa de internação e a primeira entre

idosos. Em números absolutos, a IC representou, aproximadamente, 221 mil internações e 22 mil

óbitos em 2014 (Brasil, 2014).

A IC gera altos custos, visto que seus portadores necessitam de assistência contínua e dispendiosa

para obterem uma qualidade de vida relativamente boa (Bocchi et al., 2012; Moutinho et al., 2008).

A magnitude do problema deverá aumentar, tanto pela maior sobrevida dos pacientes cardiopatas

quanto pelo crescimento futuro da população idosa, mais acometida pelo quadro (Jessup, 2014;

Heindenreich et al., 2013; Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009; Cleland, Khand & Clark, 2001).

As evidências produzidas nas últimas décadas demonstram que a farmacoterapia na IC com fração

de ejeção reduzida (ICFER) diminui a morbimortalidade e as hospitalizações, embora não seja

efetiva para os casos de insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal (ICFEN) (Komajda &

Lam, 2014; Shearer, Lang & Struther, 2013; Rajagopalan et al., 2011; Mesquita& Jorge, 2010;

Roscani, Matsubara& Matsubara, 2010). Atualmente, a base da farmacoterapia para ICFER está na

combinação de betabloqueador, inibidor da enzima conversora de angiotensina ou antagonista de

receptor de angiotensina II, antagonista de receptor da aldosterona e diurético (Braunwald, 2013;

Shearer, Lang & Struthers, 2013; Bocchi et al., 2012; Santos, Oliveira & Colet, 2010; Oliveira

Júnior & Del Carlo, 2006). Entretanto, aqueles que tratam de pacientes com essa condição

continuam se deparando com um problema bastante comum: a falta de adesão à terapêutica

(Albuquerque et al., 2015; Nieuwlaat et al., 2014; Shearer, Lang e Struthers, 2013; Culig et al.,

2011; Strasser et al., 2007; Howard et al., 2006; Oliveira Júnior& Del Carlo, 2006).

Estudos têm enfatizado que a baixa adesão ao tratamento, tanto farmacológico como não

farmacológico, é o principal fator precipitante da descompensação da IC (Albuquerque et al., 2015;

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 65 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

Davis, Packard & Jackevicius, 2014; Barretto et al., 2008; Mangini et al., 2008; Van Der Wal &

Jaarsma, 2008). Neste cenário, melhorar a adesão à terapia, medicamentosa ou não, é uma das

principais recomendações das atuais Diretrizes Brasileiras de Insuficiência Cardíaca Crônica

(Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009). Assim, pode-se considerar que a baixa adesão ao

tratamento da IC se apresenta como um desafio para a gestão da saúde pública e uma oportunidade

para inserção da assistência farmacêutica.

Compreender o perfil de utilização de medicamentos, determinado pelo perfil de prescrição e/ou por

comorbidades, também é fundamental para se entender a evolução do quadro clínico e os resultados

terapêuticos.

Este trabalho teve como objetivo identificar o perfil de utilização de medicamentos e avaliar a

adesão ao tratamento medicamentoso pelos pacientes atendidos na Clínica de Insuficiência Cardíaca

de um centro clínico especializado brasileiro, ao ingressarem no serviço de atendimento

farmacêutico.

MÉTODOS

Estudo descritivo prospectivo a partir dos registros da equipe de farmácia no primeiro atendimento

a 150 pacientes portadores de insuficiência cardíaca acompanhados por uma equipe multidisciplinar

e Clínica de IC de um Hospital Universitário na cidade de Niterói, região metropolitana do Rio de

Janeiro.

Caracterização da amostra

Os critérios de inclusão para participação na pesquisa foram: idade igual ou maior que 18 anos;

diagnóstico de IC pelos critérios de Framingham e Boston, com confirmação ecocardiográfica;

fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 50%; e estar sob acompanhamento no

Ambulatório de Cardiologia do hospital.

Havia 260 pacientes cadastrados na Clínica de IC, os quais eram atendidos por uma equipe

multiprofissional da qual o farmacêutico, até então, não fazia parte. Destes, foram incluídos na

amostra 150 pacientes, segundo ordem de atendimento pela equipe de farmácia e adequação aos

critérios de inclusão. Vale esclarecer que nenhum paciente se recusou em participar do estudo.

Coleta dos dados

Os dados foram coletados a partir dos formulários específicos, onde foram registradas informações

demográficas, ambientais, clínicas e farmacoterapêuticas de cada paciente, nas suas visitas ao

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S - 66 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

atendimento farmacêutico, quando também aconteceu a dispensação de medicamentos para IC. A

partir desses dados foi possível traçar a história farmacoterapêutica do paciente, parâmetros clínicos

e os problemas de saúde apresentados no período acompanhado. Desta forma, traçou-se o perfil de

utilização de medicamentos (tipo e quantidade de medicamentos consumidos), o perfil de adesão à

terapia medicamentosa. As diferenças na adesão foram analisadas tomando-se por base as variáveis

categóricas faixa etária, sexo e classe funcional (NYHA). A classificação Anatômico-Terapêutica-

Química (ATC – Anatomical Chemical Classification) e a DDD para 100 atendimentos por dia

(WHOCC, 2014) foram empregadas na descrição e quantificação de consumo, respectivamente.

Dentre os dados registrados pela equipe de farmácia em cada consulta estão as respostas ao teste

Morisky (Krousel-Wood et al., 2009; Morisky et al., 2008; Nobre, Pierin & Mion Jr., 2001;

Morisky, Green & Levine, 1986) de quatro perguntas para identificar a atitude e o comportamento

do paciente em relação à utilização de medicamentos. Para este trabalho foram consideradas as

respostas dos pacientes na primeira visita, entre o segundo semestre de 2011 e o primeiro de 2012,

pois o objetivo foi descrever o nível de adesão desses pacientes no momento em que ingressaram no

serviço de atendimento farmacêutico.

O teste de Morisky tem sido empregado por vários autores para avaliação de adesão (Davis,

Packard & Jackevicius, 2014; Ben, Neumann & Mengue, 2012; Carvalho et al., 2012). Consiste em

quatro questões, respondidas com “SIM” ou “NÃO”. A adesão é considerada alta (score 0) caso o

paciente responda negativamente às quatro perguntas, média quando responde negativamente a uma

ou duas perguntas (score 1 ou 2) e baixa quando responde negativamente a 3 ou 4 perguntas (score

3 ou 4). Portanto, a pessoa é considerada como tendo problema de adesão se responder

afirmativamente a, pelo menos, uma questão. A partir da avaliação destas atitudes do paciente

quanto à utilização de medicamentos, mensura-se, de forma indireta, a adesão ao tratamento

(Bastos-Barbosa et al., 2012).

Análise dos dados

Os dados de interesse foram tabulados em planilha eletrônica compatível com Microsoft Excel®.

Para as categorias de faixa etária consideraram-se: menos de 60 anos (não idosos), 60 a 79 anos

(idosos) e 80 anos ou mais (muito idosos) (IBGE, 2010). Para as categorias de classe funcional

considerou-se a classificação da New York Heart Association (NYHA) que é atribuída conforme os

sintomas identificados (The Criteria Committee for the New York Heart Association, 1994),

frequentemente utilizada pelos cardiologistas brasileiros para se estabelecer o grau de progressão da

doença e, com base nessa classificação, definirem-se as condutas mais adequadas para cada caso,

incluindo o tratamento medicamentoso.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 67 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

Foram consideradas as frequências absolutas e percentuais para resumir a medida das variáveis

qualitativas. Finalmente, realizaram-se os cálculos de significância estatística da diferença na

adesão (elevada; média; baixa) entre faixas etárias (< 60 anos; 60 a 70 anos; 80 anos ou mais), sexo

(masculino; feminino) e classe funcional NYHA (I; II; III; IV), através do Teste Kruskal-Wallis,

considerando-se um intervalo de confiança de 95%. Este teste foi empregado em função da

necessidade de comparação de mais de 2 categorias e das variáveis serem categóricas e não

paramétricas (Normando, Tjäderhane & Quintão, 2010).

Considerações éticas

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense sob

o número CAAE 0360. 0. 258. 258-11, em consonância com a Declaração de Helsinki.

RESULTADOS

Caracterização da Amostra

O estudo incluiu 150 pacientes com IC, sendo 56,7% homens. A idade dos participantes variou de

23 a 91 anos, com média 61,3 (dp = 13,6) (Tabela 1). Vale ressaltar que 46% dos pacientes tinha

idade inferior a 60 anos. As comorbidades mais prevalentes foram a hipertensão arterial e a

hipercolesterolemia. Os dados detalhados sobre caracterização da amostra se encontram na Tabela

1.

Tabela 1 – Distribuição dos pacientes com IC por faixa etária, gênero e comorbidades, N=150,

2012

Categoria Total Homens Mulheres

N % N % N %

Sexo 150 100 85 56,7 65 43,3

Idade (anos)

< 60 69 46,0 40 26,7 29 19,3

60 a 79 65 43,3 41 27,3 24 16,0

≥ 80 16 10,7 4 2,7 12 8,0

Média (dp) 61,3 (13,6) 59,7 (12,8) 63,3 (12,8)

Mediana 64 - 61 - 61 -

Comorbidades

HAS 150 100

DM 28 18,7

HC 66 44,0

FA 39 26,0

N – número de pacientes; % - percentual; DP ─ desvio padrão; HAS – hipertensão arterial

sistêmica; DM – diabetes mellitus; HC ─ hipercolesterolemia; FA ─ fibrilação atrial.

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S - 68 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

O perfil de utilização de medicamentos

Os pacientes usavam 7 medicamentos, em média (dp = ± 9,71). A maioria deles (78,6%) utilizavam

5 ou mais medicamentos, caracterizando polifarmácia. Vinte e quatro pacientes (16%)

necessitavam do auxílio de um cuidador para utilizar os seus medicamentos; e 38 (25,3%)

informaram utilizar tratamentos alternativos (chás e outros produtos não medicamentosos).

Quanto ao acesso especificamente aos medicamentos para tratamento da IC, 119 pacientes (61%)

informaram que compravam os seus medicamentos, sendo que 99 (83,2%) em farmácias e

drogarias, 13 (10,9%) no Programa Farmácia Popular do Brasil e 7 (5,9%) na Farmácia

Universitária. Sessenta e cinco pacientes (33%) informaram retirar os seus medicamentos em

unidades de saúde da rede pública.

A Tabela 2 apresenta o perfil de uso de medicamentos em número de DDD para 100 atendimentos

por dia e o número de pacientes utilizando cada um dos medicamentos relacionados. Os

medicamentos usados pelo maior número de pacientes foram: carvedilol (129), furosemida (85),

espironolactona (73), enalapril (70), sinvastatina (66) e ácido acetilsalicílico (65).

Tabela 2 – Perfil de utilização de medicamentos por pacientes com IC, N=150, 2012

ATC Fármaco N Consumo

C07AG02 Carvedilol 129 1,24

C03CA01 Furosemida 85 1,51

C03DA01 Espironolactona 73 0,49

C09AA02 Enalapril 70 0,55

C10AA01 Sinvastatina 66 0,44

B01AC06 Ácido

acetilsalicílico 65 2,02

C09CA01 Losartana 43 1,02

C09AA01 Captopril 42 1,02

C01AA05 Digoxina 40 0,002

C01DA14 Isossorbida,

mononitrato 39 1,39

C03AA03 Hidroclorotiazida 36 0,24

C08CA01 Anlodipina 30 0,10

C02DB02 Hidralazina 25 0,71

A10BA02 Metformina 19 6,81

B01AA03 Varfarina 17 0,02

C07AB03 Atenolol 14 0,22

A10BB01 Glibenclamida 9 0,02

C02AC01 Clonidina 7 0,003

B01AC04 Clopidogrel 4 0,09

C01BD02 Amiodarona 3 0,14

C08DB01 Diltiazen 2 0,06

C08CA05 Nifedipina 1 0,03

ATC – Classificação anatômica terapêutica química; Consumo apresenta o número de DDD (Dose

diária definida) para 100 atendimentos por dia; N ─ número de pacientes utilizando o fármaco.

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S - 69 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

Nível de Adesão Terapêutica

Sessenta por cento dos pacientes apresentaram nível médio de adesão, 26,7% apresentaram nível

elevado e 13,3% nível baixo (Tabela 3). As diferenças na adesão terapêutica observada entre os

gêneros (p = 0,9608) e entre as faixas etárias (p = 0,0669) (Tabela 3) não se mostraram

estatisticamente significativas.

Tabela 3 – Adesão à terapia medicamentosa pelo teste Morisky segundo gênero e idade,

N=150, 2012 S

im

Ades

ão

Percentual (%)*

Hom

ens

Mulh

eres

Idade (anos)

< 6

0

60 –

70

≥ 8

0

0 Elevada 14,7 12 33,3 20,0 25

1 Média

15,3 16,7 49,3 67,7 12,3

2 19,3 8,7

3 Baixa

6,7 5,3 17,4 12,3 0

4 0,7 0,7

Total 56,7 43,3 46,0 43,3 10,7

Sim ─ número de resposta (s) sim por paciente; * Para adesão versus gênero (p = 0,9608) os

percentuais foram calculados em relação ao N = 150; para adesão versus idade (p = 0,0669) os

percentuais foram calculados dentro de cada faixa etária, exceto na linha Total.

Dos 150 pacientes incluídos, 102 tinham classe funcional definida segundo a NYHA (New York

Heart Association), quando do primeiro atendimento pela equipe de farmácia. A Tabela 4 relaciona

os dados de nível de adesão por classe funcional. Não foi observada diferença estatisticamente

significativa na distribuição de adesão entre as classes funcionais NYHA (p = 0,7672).

Tabela 4 – Adesão à terapia medicamentosa pelo teste Morisky relacionada à classe funcional

da NYHA, N=102, 2012

Classe Adesão (%)* Total

NYHA Elevada Média Baixa N

I 37,8 45,9 16,2 37

II 19,5 70,7 9,8 41

III 33,3 52,4 14,3 21

IV 66,7 33,3 0 3

Total 30,4 56,9 12,7 102

N – número de pacientes; % - percentual; NYHA ─ New York Heart Association. * Os

percentuais foram calculados dentro da classe funcional considerada, exceto na linha Total onde

foram calculados em relação ao N = 102 (p = 0,7672).

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S - 70 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

A maioria dos pacientes (60%) afirmou descumprir, em algum momento, com a forma preconizada

para o uso dos medicamentos; 42,7% informaram se esquecer de tomar os medicamentos alguma

vez; 19,3 % param de tomar os medicamentos ao se sentirem pior; e 7,3% o fizeram ao se sentirem

melhor.

DISCUSSÃO

Os pacientes do SUS atendidos pela equipe de farmácia na Clínica de IC eram, em sua maioria,

idosos ou muito idosos, estavam submetidos a polifarmácia e apresentavam problema de adesão

terapêutica, evidenciando ser oportuna a inserção da assistência farmacêutica a este grupo. Os

dados sobre faixa etária são compatíveis com o estudo EPICA-Niterói que identificou faixa etária

média de 61,1 anos dentre os pacientes atendidos na rede pública de saúde da cidade de Niterói

(Tavares et al., 2004). Apesar do predomínio de pacientes com idade maior que 60 anos, a faixa

mais jovem correspondeu a 46% e apresentou perfis de adesão e utilização de medicamentos

semelhante aos perfis dos idosos. Esse resultado diverge do observado por Davis, Packard &

Jackevicius (2014) e Lamb et al. (2009), segundo os quais a idade avançada foi relacionada a

melhor adesão. Vale ressaltar que uma baixa adesão entre os jovens se torna ainda mais relevante

uma vez que pode impactar negativamente o prognóstico reduzindo sobremaneira a sobrevida.

Na população atendida houve o predomínio do sexo masculino (56,7%), porém o gênero não é

considerado um fator de predisposição para insuficiência cardíaca, uma vez que é possível localizar

tanto estudos que apontam maioria de homens (Vardeny et al., 2013; Dunlay et al., 2011; Granger

et al., 2009) quanto de mulheres (Albuquerque et al., 2015; Shah et al., 2014; Despaigne, Sanchez

& Sarfraz, 2012; Tavares et al., 2004).

O número e o tipo de comorbidades encontradas são compatíveis com os dados da literatura

(Bocchi et al., 2012) e confirmam a oportunidade de especial atenção à farmacoterapia de tais

pacientes, que utilizam maior número de medicamentos e, consequentemente, estão mais expostos a

potenciais eventos adversos, sobretudo interações medicamentosas.

A polifarmácia, definida por Secoli (2010) como o uso de 5 ou mais medicamentos

simultaneamente, foi observada em 78,6% dos pacientes. Sabe-se que aumenta a incidência de

problemas relacionados a medicamentos, de modo que é imprescindível o acompanhamento

farmacoterapêutico (Ruwald et al., 2013; Secoli, 2010).

O grande número de pacientes que precisam de ajuda para utilizar os seus medicamentos evidencia

a oportunidade para estratégias de informação e educação de seus cuidadores. E, ainda,

considerando o elevado número de pacientes que informaram utilizar terapias alternativas,

ingerindo chás ou outros produtos que podem interferir no seu tratamento (controle da ingestão

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S - 71 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

hídrica e interações), é preciso considerar a importância da atuação multidisciplinar na informação e

na educação dos pacientes e cuidadores para além do uso dos medicamentos.

O perfil de uso de medicamentos reflete tanto as recomendações para o tratamento da IC (Bocchi et

al., 2009) quanto a cobertura das necessidades medicamentosas de duas das principais

comorbidades presentes nos pacientes: hipertensão arterial sistêmica e diabetes tipo 2 (Bocchi et

al., 2012; Bocchi et al., 2009).

O cálculo do número de DDD para 100 atendimentos/dia permitiu verificar que, apesar de ser um

dos medicamentos com maior prevalência de uso, a digoxina apresenta o menor consumo em DDD,

evidenciando a incorporação da recomendação da literatura para o uso desse medicamento na IC.

Já a metformina, que apresenta uma prevalência de uso bem menor, tem maior consumo em DDD

para 100 pacientes, igualmente refletindo o preconizado para o tratamento da diabetes.

Revisão realizada por Ekeruo, Solhpour & Taegtmeyer (2013) sobre o uso de metformina por

pacientes com diabetes e IC concluiu que o medicamento é seguro e efetivo para tratamento destes.

Por isso é considerado de primeira escolha nesses casos.

Por outro lado, a glibenclamida está entre os medicamentos menos utilizados, embora também seja

indicada para diabetes. Esta observação é compatível com evidências disponíveis de que o

tratamento com glibenclamida não é seguro para pacientes com IC, podendo aumentar a

mortalidade (Siniorakis et al., 2012; Andersson et al., 2011).

O carvedilol é o betabloqueador mais frequentemente utilizado. A sua escolha para compor o

esquema terapêutico para a IC está apoiada nas Diretrizes e evidências terapêuticas atuais (Bocchi

et al., 2012; Bocchi et al., 2009). Porém, apenas recentemente, este medicamento foi incorporado

às relações para dispensação na rede pública (SES-RJ, 2014; Brasil, 2013), de modo que o acesso

gratuito ainda é restrito, conforme demonstrado nos resultados.

A digoxina é o medicamento que apresentou a menor DDD para 100 atendimentos/dia, enquanto é

utilizada por mais de um quarto dos pacientes incluídos. Isso demonstra que as prescrições estão de

acordo com as evidências de que o uso controlado da digoxina, mantendo-se baixos níveis

sanguíneos, garante um tratamento seguro e eficaz, além da vantagem de ser um medicamento de

baixo custo e amplamente disponível (Adams et al., 2014).

Os dados sobre adesão demonstraram que pouco mais de um quarto dos pacientes apresenta nível

elevado de adesão e mais da metade apresenta nível intermediário. Note-se que se trata de um

grupo de pacientes que já estava em acompanhamento por uma equipe multidisciplinar e que o teste

Morisky tem como uma das suas limitações a possibilidade de superestimar a medida da boa adesão

(Morisky et al., 2008; Morisky, Green & Levine, 1986). O grau de adesão ao tratamento dos

pacientes se mostrou inferior a alguns estudos em que se observam taxas de boa adesão para

tratamento de IC e outras doenças crônicas variando entre 40 e 60% (Despaigne, Sanchez &

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S - 72 Carnuzi R. C. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 61 – 77, 2016

Sarfraz, 2012; Alfonso, 2006). No entanto, é compatível com os resultados do estudo CHARM

(Granger et al., 2005), onde 11% dos pacientes deixaram de tomar corretamente pelo menos 80%

dos seus medicamentos.

O número de pacientes expostos à polifarmácia e a aquisição de medicamentos por meio próprio,

relatada pela maioria dos pacientes, podem ter contribuído para a não adesão, como apontado por

revisão realizada por Davis, Packard & Jackevicius (2014). A inexistência de significância

estatística na diferença de adesão entre os gêneros também é compatível com esta revisão.

Os dados sobre nível de adesão e idade demonstraram que não há diferença estatisticamente

significativa entre as faixas etárias consideradas. Esta observação difere de estudo de coorte sobre

adesão terapêutica em IC, envolvendo 8.805 pacientes, realizado por Lamb et al. (2009), em que a

idade maior ou igual a 65 anos foi associada à melhor adesão à terapia medicamentosa.

A análise dos dados sobre nível de adesão por classe funcional da NYHA também não apresentou

diferença estatística significativa, resultado que está em acordo com os achados do estudo CHARM

(Granger et al., 2005), onde se observou que a maioria dos pacientes em boa adesão estavam nas

classes funcionais II e III.

Os resultados encontrados sugerem que existe uma janela de oportunidade para inserção da

assistência farmacêutica no cuidado multiprofissional em IC e podem contribuir para a definição de

estratégias de intervenção farmacêutica junto aos pacientes e cuidadores, na busca de melhores

resultados terapêuticos.

CONCLUSÕES

Os resultados mostram que a baixa adesão ao tratamento medicamentoso, mesmo entre pacientes

atendidos por uma equipe multidisciplinar, é um problema relevante. Embora o perfil de prescrição

em acordo com as evidências e diretrizes atuais para farmacoterapia na IC reforce a qualidade da

assistência prestada a esses pacientes, a predominância de baixa e média adesão é provavelmente

um fator limitante nos resultados terapêuticos obtidos.

Entre as limitações deste estudo devem ser considerados o número restrito de pacientes, a análise de

um único centro de atendimento especializado, e o emprego de apenas um método indireto para

inferir a adesão ao tratamento medicamentoso. Desta forma a generalização destes resultados é

limitada, e sugere a realização de novos estudos, inclusive para a avaliação do impacto da

incorporação do farmacêutico na adesão entre pacientes de IC.

Financiamento

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro ─ FAPERJ

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Comparação da solubilidade de diferentes amostras de glibenclamida pelo

método “shake-flask”

Missael Ferreira da Silva1, Leandro Giorgetti1, Marcelo Dutra Duque1, Michele Georges Issa1 &

Humberto Gomes Ferraz1*

1Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São

Paulo, Brasil

*Correspondência:

Humberto Gomes Ferraz

Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

Rua do Lago, 250 - Prédio Semi-Industrial - Térreo - Cidade Universitária - Butantã - 05508-080 -

São Paulo– SP, Brazil.

Tel.: +55 11 3091-8954.

E-mail: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 79 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

RESUMO

A solubilidade de um fármaco em água está diretamente relacionada com a sua biodisponibilidade,

sendo que o mesmo é considerado solúvel, de acordo com o Sistema de Classificação

Biofarmacêutica (SCB) quando sua maior dose se dissolve completamente em 250 mL de soluções

aquosas numa faixa de pH compreendida entre 1 e 7,2. Dada a importância da solubilidade, o

objetivo do presente trabalho foi determinar, a partir do método do equilíbrio, a solubilidade de

amostras de glibenclamida provenientes de diferentes fornecedores. Para tal, excesso de fármaco foi

adicionado a soluções aquosas de pH entre 1 e 7,2 e submetidos a agitação e temperatura

constantes. Além disso, foram realizadas análises de calorimetria exploratória diferencial (DSC) e

termogravimetria (TG). As três amostras apresentaram maior solubilidade nos meios pH 6,8, 7,2 e

em água purificada. Através dos resultados de DSC e TG, foi possível verificar que todas as

amostras possuem a mesma estrutura cristalina, entretanto, sugere-se que as diferenças de

solubilidade observadas estejam relacionadas à granulometria do material. O método do equilíbrio

foi bastante útil na comparação de amostras de fornecedores distintos, uma vez que foi possível

determinar a sua solubilidade e evidenciar diferenças entre elas.

Palavras-chave: Glibenclamida; Solubilidade; Análise Térmica; Shake-Flask.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 80 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

ABSTRACT

The solubility of a drug in water is directly related to its bioavailability. According to the

Biopharmaceutical Classification System (BCS), a drug is considered soluble when it highest dose

is completely dissolved in a 250 mL aqueous solution with a pH of between 1 and 7.2. Given the

importance of solubility, the purpose of this study is to determine, from the equilibrium method, the

solubility of glibenclamide samples from different suppliers. For this purpose, excess amounts of

the drug were added to aqueous solutions with a pH of between 1 and 7.2 and submitted to constant

shaking and temperature. Furthermore, differential scanning calorimetry (DSC) and

thermogravimetry (TG) analyses were performed. The three samples presented greater solubility in

pH 6.8, 7.2 and in purified water. Through the DSC and TG results, it was possible to ascertain that

all the samples had the same crystal structure; however, it is suggested that the solubility differences

observed may be related to the granulometry of the material. The equilibrium method was quite

useful for comparing samples from different suppliers, since it was possible to ascertain their

solubility and the differences between them.

Keywords: Glibenclamide; Solubility; Thermal Analysis; Shake-flask

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 81 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

INTRODUÇÃO

A solubilidade em meio aquoso é uma propriedade físico-química que interfere diretamente

na biodisponibilidade de um fármaco. Este, quando administrado pela via oral através de uma forma

farmacêutica sólida, deve se dissolver nos fluidos intestinais e ser absorvido pelas vilosidades da

parede do trato gastrintestinal, alcançando a corrente sanguínea, pela qual chegará ao receptor

farmacológico em que exercerá seu mecanismo de ação (Shokhin et al., 2011; Wisen et al., 2011).

De acordo com o Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB), proposto por Amidon et al

(1995), um fármaco é considerado solúvel quando sua maior dose dissolve completamente em 250

mL de soluções aquosas compreendendo o pH fisiológico (1 a 7,2), a 37 oC. Dessa forma, a divisão

das substâncias ativas em quatro classes (I – alta solubilidade e alta permeabilidade; II – baixa

solubilidade e alta permeabilidade; III- alta solubilidade e baixa permeabilidade; IV – baixa

solubilidade e baixa permeabilidade) permitiu uma evolução significativa na área farmacêutica,

resultando inclusive na isenção de estudos de bioequivalência para formulações sólidas orais de

liberação imediata que contêm fármacos comprovadamente solúveis (Strauch et al., 2010).

Recentemente, foi proposto por Tsume et al. (2014) a criação de subclasses de fármacos

dentro do SCB. Os autores propõem a especificação da característica ácida, básica ou neutra dos

fármacos pertencentes às classes II e IV do SCB. Isso se justifica devido ao fato do pKa ser uma

propriedade físico-química do fármaco, exercendo grande influência na solubilidade do mesmo.

Devido à necessidade de regulamentar os estudos de equivalência farmacêutica no Brasil, em

2010 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicou a Resolução RDC nº 31 de

11 de agosto de 2010 (Brasil, 2010), a qual dispõe sobre a realização de estudos de equivalência

farmacêutica e de perfil de dissolução comparativo, solicitando que, no caso de desenvolvimento de

método de dissolução, o relatório contenha dados da avaliação da solubilidade do fármaco, sendo

num primeiro momento mencionado o emprego do método de diagrama de fases.

Dois anos depois, com a publicação da Nota Técnica 003/2013 (Brasil, 2013), o método do

equilíbrio (shake-flask method) passa a ser recomendado por ser um dos mais empregados na

literatura. Tal procedimento consiste na adição de um excesso de fármaco em meios que

compreendem a faixa de pH fisiológico (1,2 a 6,8). Em seguida, esse material é submetido a

agitação constante por certo período de tempo e a temperatura controlada (Shoghi et al., 2013;

Takács-Novák et al., 2013). O cálculo da solubilidade se dá pela quantificação do fármaco

dissolvido, podendo-se utilizar um método espectrofotométrico ou cromatográfico.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 82 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

Considerada como um fármaco de Classe II no SCB, a glibenclamida possui

biodisponibilidade variável que é decorrente da sua baixa solubilidade em água (Wei et al., 2008).

Além disso, apresenta três formas polimórficas descritas (Rehder et al., 2012; Suleiman & Najib,

1989) que podem diferir quanto às propriedades físico-químicas, entre elas, a solubilidade. Com

isso, este é um exemplo de fármaco em que o ensaio de solubilidade torna-se fundamental,

permitindo antever os possíveis desafios com relação ao comportamento do produto final na

dissolução e na biodisponibilidade.

Portanto, o objetivo deste trabalho é comparar, a partir do método shake-flask, a solubilidade

de amostras de glibenclamida provenientes de diferentes fabricantes.

MATERIAL E MÉTODOS

Matérias-primas

Foram utilizadas amostras de glibenclamida de três fontes diferentes, denominadas 1, 2 e 3,

gentilmente doadas por indústrias farmacêuticas brasileiras. Com relação aos meios, foram

empregados os reagentes de grau analítico cloreto de sódio, fosfato de potássio monobásico,

hidróxido de sódio, acetato de sódio (Casa Americana de Artigos para Laboratório, São Paulo, SP,

Brasil), ácido acético glacial e ácido clorídrico P.A. 37 %(Labsynth Produtos para Laboratório,

Diadema, SP, Brasil).

Ensaio de solubilidade

De modo a promover a saturação das soluções, quantidade suficiente de fármaco foi

adicionada a frascos contendo 10 mL de HCl 0,1M, tampão clorídrico pH 1,2, tampão acetato de

sódio pH 4,5 e pH 5,8, tampão fosfato de potássio pH 6,8 e pH 7,2, além de água purificada. Cada

amostra foi preparada em triplicata, sendo os respectivos frascos deixados sob agitação a 150 rpm

em incubadora orbital TE - 420 (Tecnal, Piracicaba, SP, Brasil) durante 72 horas em temperatura

constante de 37 °C.

A quantificação do fármaco dissolvido foi realizada por método espectrofotométrico através

da leitura das absorbâncias em equipamento Beckman Coulter DU-640 (Beckman Coulter Inc.,

Fullerton, USA) e as concentrações foram obtidas por meio da regressão linear a partir de curvas

analíticas previamente construídas. O comprimento de onda adotado em todos os meios foi de 231

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 83 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

nm, selecionado conforme varredura prévia das soluções, e a cubeta de quartzo utilizada possuía

caminho óptico de 0,5 cm.

Para efeitos de comparação, foram calculados também a quantidade de fármaco dissolvida em

250 mL de cada meio, o número de dose (Do) segundo a Equação 1 e realizada análise de variância

(ANOVA).

CVMDo /)/( (Equação 1)

Em que:

M é a dose de fármaco (mg)

V é o volume administrado (mL)

C é a solubilidade (mg/mL)

Análise Térmica (DSC e TG)

A análise térmica é uma ferramenta útil para investigar a possível ocorrência de polimorfismo

entre diferentes amostras de um mesmo fármaco, cujas formas cristalinas podem apresentar

características físico-químicas distintas, dentre elas, a solubilidade (Craig, 2007).

Para as análises de DSC, cerca de dois a cinco miligramas de amostra foram acondicionados

em cadinho de alumínio hermético e submetidos a aquecimento em um intervalo de temperatura de

25 ºC a 300 ºC, com velocidade de aquecimento 10 ºC min-1 sob atmosfera dinâmica de nitrogênio

de 50 mL min-1 em calorímetro DSC 2920 (TA Instruments, New Castle, USA). O equipamento foi

previamente calibrado utilizando-se índio metálico como padrão (ponto de fusão 156,4 °C/ ΔHfusão:

28,5 J g-1), no intervalo de temperatura de 25 ºC a 300 °C. Por outro lado, para os ensaios de

termogravimetria (TG), foram utilizados 10 a 15 mg de cada amostra empregando-se equipamento

TA-2950 (TA-Instruments®, New Castle, DE, Estados Unidos), com atmosfera dinâmica de

nitrogênio a 100 mL min-1 de vazão e razão de aquecimento de 10 ºC min-1 em uma faixa de

temperatura de 25 a 600 °C.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ensaio realizado, também conhecido como método do equilíbrio, permite obter o valor da

solubilidade de saturação de um fármaco em um determinado solvente quando este se encontra em

equilíbrio com um excesso de fármaco não dissolvido (Elder & Holm, 2013). Na Tabela 1 são

mostrados os resultados de solubilidade das amostras 1, 2 e 3 da glibenclamida em diferentes meios.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 84 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

Tabela 1. Solubilidade, em mg.mL-1, das amostras de glibenclamida nos diferentes meios testados. Os

resultados são apresentados pelo valor médio e desvio padrão de três determinações, tendo o ensaio sido

conduzido a 37 °C, 150 rpm por 72 h.

Meio Fornecedor

1 2 3

HCl 0,1M 4,93 ± 0.27 5,71 ± 0.30 3,57 ± 0.91

Tampão clorídrico pH 1,2 6,03 ± 0.35 5,82 ± 0.79 3,42 ± 0.80

Tampão acetato pH 4,5 4,68 ± 0.74 3,77 ± 0.24 5,44 ± 0.74

Tampão acetato pH 5,8 5,51 ± 1.26 3,20 ± 0.27 3,26 ± 0.75

Tampão fosfato pH 6,8 20,56 ± 2.72 6,39 ± 0.64 6,60 ± 1.08

Tampão fosfato pH 7,2 34,92 ± 0.69 10,81 ± 0.33 11,73 ± 0.05

Água purificada 22,77 ± 1.54 11,37 ± 2.09 11,19 ± 1.06

Nota-se que, como mencionado na literatura (Wei et al., 2008; Löbenberg et al., 2000), a

solubilidade da glibenclamida é dependente do pH. Além disso, foi possível observar diferenças

entre as amostras nos meios em que o fármaco é mais solúvel. Verifica-se que a amostra 1 é cerca

de três vezes mais solúvel nos meios Tampão fosfato pH 6,8 e pH 7,2, o que permite inferir que há

diferenças nas características físico-químicas das matérias-primas estudadas.

A partir dos valores de solubilidade foram calculados a quantidade de fármaco que se dissolve

em um volume de 250 mL e o número de dose (Do), que são apresentados nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2. Quantidade de fármaco, em mg, capaz de se dissolver em 250 mL de meio (S250). Resultados

obtidos a partir dos valores de solubilidade das amostras de glibenclamida provenientes de diferentes

fornecedores.

Meio Fornecedor

1 2 3

HCl 0,1M 1,23 1,43 0,89

Tampão clorídrico pH 1,2 1,51 1,46 0,86

Tampão acetato pH 4,5 1,17 0,94 1,36

Tampão acetato pH 5,8 1,38 0,8 0,82

Tampão fosfato pH 6,8 5,14 1,6 1,65

Tampão fosfato pH 7,2 8,73 2,7 2,93

Água purificada 5,69 2,84 2,8

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S - 85 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

Tabela 3. Número de dose das amostras de glibenclamida, a partir dos resultados obtidos no ensaio de

solubilidade.

Meio Fornecedor

1 2 3

HCl 0,1M 4,06 3,5 5,6

Tampão clorídrico pH 1,2 3,32 3,44 5,85

Tampão acetato pH 4,5 4,27 5,31 3,68

Tampão acetato pH 5,8 3,63 6,25 6,13

Tampão fosfato pH 6,8 0,97 3,13 3,03

Tampão fosfato pH 7,2 0,57 1,85 1,71

Água purificada 0,88 1,76 1,79

Embora a dose do fármaco não seja elevada, sendo apenas de 5 mg, este se enquadra como de

baixa solubilidade, uma vez que não é possível dissolver essa quantidade em 250 mL em todos os

meios testados (Tabela 3). Por outro lado, ao considerar que a glibenclamida é de alta

permeabilidade (Wei et al., 2008), e que os resultados de Do, na sua grande maioria, são superiores

a 1 (Tabela 3), este parâmetro evidencia que a absorção é limitada pela solubilidade do fármaco e

que pode ser variável em cada porção do trato gastrintestinal (Amidon et al., 1995).

A glibenclamida é um ácido fraco com pKa 5,3, e, dessa forma, encontra-se na forma ionizada

quando submetida a condições de pH maiores que o seu pKa (Albu et al., 2007; Martins et al.,

2007; Löbenberg et al., 2000;). Tal fato foi evidenciado por meio do ensaio de solubilidade, no qual

as três amostras do fármaco apresentaram maior solubilidade nas soluções tampão pH 6,8, 7,2 e em

água purificada (Figura 1).

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Figura 1. Variação da solubilidade das diferentes amostras de glibenclamida ao longo da faixa de pH.

De modo a comparar as diferentes amostras, foram realizadas duas análises de variância, a

primeira, contemplando a faixa de pH de menor solubilidade e na sequência, uma nova análise com

os demais meios. Os resultados enfatizam que só é possível observar diferenças significativas entre

os valores de solubilidade das amostras de glibenclamida nos meios em que o fármaco é mais

solúvel, dado pelo baixo valor de p obtido (0,01), inferior ao nível de significância considerado

α=0,05. Nos meios ácidos, não houve diferença significativa entre os valores de solubilidade das

amostras (p = 0,2280). Tal informação é extremamente útil para a seleção do meio de dissolução,

uma vez que este deve ser capaz de dissolver toda a dose do fármaco contida na forma farmacêutica

e refletir as diferenças entre as matérias-primas utilizadas, principalmente quando se trata de

fármacos de solubilidade limitada (Löbenberg et al., 2000).

Dada a baixa solubilidade da glibenclamida, inúmeras técnicas são disponíveis na tentativa de

melhorar esta característica, entre elas, a redução do tamanho de partícula é bastante empregada,

havendo dessa forma, no mercado, matérias-primas com diferentes granulometrias. Além disso,

dependendo da técnica utilizada, alterações na forma cristalina do fármaco também podem

acontecer, assim como a amorfização, podendo acarretar em variações na solubilidade (Nery et al.,

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S - 87 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

2008; Wei et al., 2008). As diferenças observadas entre os resultados de solubilidade das amostras 1

a 3, podem ser decorrentes do tamanho de partícula das amostras ou de um possível polimorfismo.

A glibenclamida possui três formas polimórficas (I, II e III) que apresentam solubilidades

distintas, sendo a forma III mais solúvel que as formas I e II (Rehder et al., 2012). Sendo a análise

térmica uma ferramenta capaz de verificar diferenças de cristalinidade em amostras de um mesmo

fármaco, análises de DSC e TG foram realizadas para estudar o comportamento térmico das

amostras utilizadas.

A Figura 2 apresenta as curvas DSC para as três amostras. Pode-se observar que a

temperatura onset (na qual ocorre o início do evento endotérmico) está contida na faixa de

temperatura de 171 a 174 ºC, e os picos máximos, representando o fenômeno da fusão, se localizam

no intervalo de 174 a 177 ºC.

Figura 2. Curvas DSC para as amostras 1, 2 e 3 (S1, S2 e S3) de glibenclamida. Análises conduzidas sob

razão de aquecimento de 10 °C min-¹ e atmosfera de N2, em temperaturas de 25 °C a 300 °C.

As análises termogravimétricas das amostras, por sua vez, mostraram dois eventos de perdas

de massa (Figura 3 e Tabela 4). O primeiro, situado na faixa de Tonset entre 202 e 210 oC e o

segundo em temperaturas mais elevadas (Tonset entre 349 e 357 oC).

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Figura 3. Curvas TG para as amostras 1, 2 e 3 (S1, S2 e S3) de glibenclamida. Análises conduzidas sob

razão de aquecimento de 10 °C min-¹ e atmosfera de N2, em temperaturas de 25 °C a 600 °C.

Tabela 4. Valores de perda de massa (em %), temperaturas onset e pico máximo obtidos nos ensaios de TG

para as amostras 1, 2 e 3 de glibenclamida

Primeira

Perda (%) Pico Máximo (oC)

Tonset

(oC)

Segunda

Perda (%) Pico Máximo (oC)

Tonset

(oC)

Resíduo

(%)

1 23,45 220,1 202,2 58,07 385,8 349,6 16,2

2 25,17 240,0 210,0 57,43 393,0 354,8 15,2

3 25,27 227,5 206,4 57,02 390,6 357,8 16,2

Tanto as curvas DSC quanto TG indicam que as amostras de glibenclamida utilizadas neste

estudo não apresentam diferenças em suas estruturas cristalinas. Conforme reportado por Suleiman

e Najib (1989), a forma I apresenta endoterma de fusão em 173,1 °C, enquanto que para a forma II

esse evento ocorre em 148,7 °C. As amostras 1, 2 e 3 apresentaram ponto de fusão mais próximo do

reportado para I. Dessa forma, é possível afirmar que os resultados de solubilidade encontrados

neste trabalho não foram influenciados pelo polimorfismo, mas por outro lado, podem ser

decorrentes de diferenças na granulometria das amostras. Conforme os resultados de solubilidade, é

possível que as amostras 2 e 3 apresentem faixas granulométricas semelhantes, enquanto que, a

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S - 89 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

amostra 1, pode tratar-se de um material micronizado e, consequentemente com solubilidade

melhorada.

CONCLUSÃO

De acordo com o que foi discutido ao longo deste trabalho, verifica-se que a amostra 1

apresentou maior solubilidade nos meios estudados em relação às amostras 2 e 3, o que pode ser

justificado em função de uma possível diferença entre a granulometria das matérias-primas. Tal

constatação é de suma importância para os fabricantes de medicamentos genéricos no Brasil, que

devem ficar atentos a esse quesito que pode interferir diretamente na qualidade do produto final.

Nesse sentido, o método shake-flask se mostra bastante útil na comparação de amostras de

fornecedores distintos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico) pelas bolsas concedidas.

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S - 90 Silva M. F. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 78 – 90, 2016

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Caracterização farmacognóstica sazonal de Petiveria alliacea L.

(Phytolaccaceae)

João Paulo Bastos Silva1, Thiago Portal da Paixão1, Ana Cristina Baetas1 & Marcieni

Ataíde de Andrade1,*

1Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal do

Pará, Belém, PA, Brasil.

* Autor para correspondência: Marcieni Ataíde de Andrade, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas,

Universidade Federal do Pará. Rua Augusto Corrêa, 01. Guamá, Belém – Pará. CEP 66075-110. Tel.: +55 91 3201

8075. FAX: +55 91 3201 7201. E-mail: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 92 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

RESUMO

Petiveria alliacea L. é uma planta medicinal que apresenta distribuição geográfica nacional e uso

popular para diversas finalidades. Neste trabalho realizamos uma avaliação farmacognóstica

sazonal, visando fornecer parâmetros de controle de qualidade. A planta foi coletada em dois

períodos de acordo com o regime pluviométrico Amazônico. Para as análises físico-químicas foram

realizadas as determinações da granulometria e do diâmetro médio (D50), índice de espuma (IE),

perda por dessecação por gravimetria (PDG) e por balança com infravermelho (Infratest), teor de

cinzas totais (CT) e pH dos pós. A análise fitoquímica preliminar (AFP) foi realizada em extratos de

diferentes polaridades obtidos através da técnica de extração por Soxhlet. Para os dois períodos

foram obtidos pós moderadamente grossos (D50 entre 0,253-0,277 mm) e a umidade estava dentro

do permitido pela Farmacopeia Brasileira. O IE foi de 125,00 e o teor de extrativos variou entre 15-

20%, para os dois períodos. As CT variaram entre 7,20-8,10% e 4,70-9,43% para as partes aéreas e

subterrâneas da espécie nos períodos seco e chuvoso, respectivamente, e o pH demonstrou pós

fracamente ácidos. A AFP revelou presença de açúcares redutores, alcaloides, depsídios e

depsidonas, taninos e polissacarídeos. Conclui-se que para os períodos abordados a caracterização

farmacognóstica demonstrou parâmetros para o seu controle de qualidade e que a sazonalidade

influenciou diretamente nestes parâmetros.

Palavras-chave: Plantas medicinais, farmacognosia, controle de qualidade, Petiveria alliacea,

produtos naturais.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 93 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

ABSTRACT

Petiveria alliacea L. is a medicinal plant with large popular use and national geographical

distribution. On this paper we perform a seasonal pharmaconostic evaluation in order to supply the

quality control parameters of the powder. To the physic-chemical characterization we perform the

granulometric assay, and the medium diameter size (D50), foaming index (FI), loss on drying by

gravimetric methodology (LD) and infrared-scale (Infratest), content of total ash (TA), pH and

extract content determinations on powder. Preliminary phytochemical analysis (PPA) was

performed on extracts with different polarities obtained through Soxhlet-extraction technique. In

both periods were obtained moderately coarse powders (D50 till 0.253-0.277 mm) and humidity was

in the acceptable values by Brazilian Pharmacopoeia. FI was 125.00 and extract content

corresponded among 15-20% for both periods. TA among 7.20-8.10% and 4.70-9.43% for aerial

parts and roots from the specie (dry and rainy period, respectively), and pH have showed acids

weakly powders. PPA was regarded positivive for reducing suggars, alkaloids, depsides and

depsidones, tannins and polysaccharides in the extracts. We concluded for both periods’

approachement, pharmaconostic characterization data from Petiveria alliacea show parameters that

can be reproduced to quality control and seasonality directly influences this parameters.

Keywords: Medicinal plants, pharmacognosy, quality control, Petiveria alliacea, natural products.

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S - 94 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

INTRODUÇÃO

A utilização de plantas com finalidades terapêuticas remonta a história da humanidade. A

diversidade e a variedade de vegetais existentes na Terra fizeram com que o homem descobrisse de

forma empírica suas diferentes propriedades, incluindo as curativas e paliativas. Após um período

de descrédito as plantas medicinais e seus derivados vêm retomando posição de destaque no

mercado consumidor (De La Cruz, 2008; Mentz & Bordignon, 2007; Cunha, Silva & Roque, 2003;

Hostettmann, Queiroz & Vieira, 2003).

Neste sentido, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS),

preconizadas na Declaração de Alma-Ata (OMS, 1978), a Central de Medicamentos - CEME por

intermédio do Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais - PPPM nos anos de 1982 e 1983

divulgou um elenco de 65 plantas medicinais, com o intuito de incentivar a pesquisa e o

desenvolvimento de fitoterápicos, além da validação do conhecimento tradicional. Uma das

espécies dos vegetais incluído neste elenco é a P. alliacea (Sant’Ana & Assad, 2004).

Popularmente, esta espécie é conhecida como amansa-senhor, guiné, pipi, tipi, anamu,

mucuracaá, embayayendo, ouoembo, entre outros (Camargo, 2007; Rocha, Maranho & Preussler,

2006; Lorenzi & Matos, 2002). Esta variedade de denominações está diretamente relacionada à sua

extensa distribuição geográfica que inclui países da África e da América Tropical, o Sri Lanka, a

Índia e o sudoeste dos Estados Unidos (Nogueira et al., 2010; Sukumaran & Raj, 2008). No Brasil,

particularmente, vários estudos etnobotânicos demonstram a sua presença em diversos estados

(Saraiva et al., 2015; Breitbach et al., 2013; Santos et al., 2012; Coelho de Souza et al., 2004).

Petiveria alliacea é uma herbácea perene dicotiledônea, delgada e ereta, medindo cerca de 1

metro de altura, pertence à classe Equisetopsida C. Agardh, subclasse Magnoliidae Novák ex

Takht., superordem Caryophyllanae Takht., ordem Caryophyllales Juss. ex Bercht. & J. Presl, da

família Phytolaccaceae R. Br. (Tropicos, 2014). Seu nome Petiveria deriva de Jacob Petiver,

farmacêutico e botânico que a descreveu primeiramente, já seu epíteto específico vem do seu odor e

sabor semelhante ao alho (Di Stasi et al., 1989).

A diversidade de informação etnofarmacológicas que a espécie possui conduziu às pesquisas

para comprovação de alguns de seus efeitos farmacológicos. Atualmente, sabe-se que P. alliacea

possui propriedade antiespasmódica, através da diminuição da secreção e motilidade intestinais,

efeitos antiulcerogênico, ansiolítico, analgésico e anestésico (Maia, 2009; Fontoura et al., 2005).

Diante do potencial farmacoterapêutico representado por P. alliacea e considerando-se

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S - 95 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

também que o controle de qualidade de matérias-primas vegetais e seus derivados devem estar de

acordo com as metodologias oficiais brasileiras, o presente trabalho teve por objetivo o

fornecimento de parâmetros de controle de qualidade farmacognósticos da droga vegetal e de

extratos obtidos da espécie coletada nos períodos chuvoso e seco na região amazônica.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras de P. alliacea foram coletadas em dois períodos, de acordo com os índices

pluviométricos regionais – período seco (outubro de 2010) e período chuvoso (abril de 2011), no

município de Acará - PA (01º29’09.0” S / 48º17’94.8” W). Para cada material coletado foram

preparadas exsicatas que foram identificadas e catalogadas pelo botânico Dr. Mário Augusto G.

Jardim e depositadas no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) sob registro MG

94354.

O material coletado em cada período foi divido em partes aéreas (caule, folhas, estames e

inflorescências) e partes subterrâneas (raízes e rizomas). Em seguida foram submetidas a secagem

em temperatura ambiente, e após esta, secagem em estufa com circulação de ar forçado, com

temperatura média de 40°C, por um período de 15 horas. Posteriormente o material foi moído em

moinho de facas e os pós obtidos foram acondicionados em recipientes.

A caracterização farmacognóstica compreendeu as análises físico-químicas realizadas nas

drogas vegetais pulverizadas e a prospecção fitoquímica preliminar nos extratos obtidos com

diferentes líquidos extratores. As análises físico-químicas compreenderam as seguintes

determinações: granulometria e diâmetro médio dos pós; índice de espuma; perda por dessecação,

através do método gravimétrico e em balança com infravermelho; teor de cinzas totais; pH; e teor

de extrativos aquoso a quente (Farmacopeia Brasileira, 2010; 2000; Ansel, Popovich & Allen,

2000).

Os extratos fluidos das partes aéreas e subterrâneas de Petiveria alliacea L. foram

preparados através do processo de extração a quente em sistema fechado sob refluxo com emprego

do aparelho de Soxhlet. Cartuchos de papel filtro contendo 25 g da droga pulverizada foram

inseridos no aparelho e o material sofreu extração cíclica com cinco líquidos extratores de

polaridades diferentes: água, etanol:água (1:1 v/v), metanol:água (1:1 v/v), acetona:água (1:1 v/v) e

acetona:água (7:3 v/v) em uma proporção de 1:12 (m/v) entre droga vegetal/solvente, obtendo-se ao

final 5 extratos de cada parte da droga para cada período (n = 20). O processo de extração foi

realizado durante 2 h e a temperatura de aquecimento utilizada correspondeu a próxima da faixa de

ebulição de cada solvente empregado. Após a obtenção dos extratos, estes foram concentrados para

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S - 96 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

eliminação dos solventes orgânicos em evaporador rotativo sob baixa pressão (40°C). Como os

concentrados apresentavam grande quantidade de água, estes foram então colocados em estufa (50-

60°C) para redução de volume líquido (volume final dos extratos = 20 mL).

A triagem fitoquímica preliminar foi realizada através de testes qualitativos para a

identificação dos metabólitos: açúcares redutores, alcalóides, depsídios e depsidonas, derivados de

cumarina, esteróides e triterpenóides, flavonóides, polissacarídeos e taninos nos extratos (Costa,

2000). Os resultados foram apresentados de acordo com a presença (+) ou ausência (–) dos

metabólitos nos extratos. Quando foi possível a comparação com os controles positivos (drogas

vegetais clássicas), utilizaram-se os seguintes sinais para designar a intensidade da reação: (+) fraca,

(+ +) média e (+ + +) forte.

Os resultados quantitativos apresentam-se como média ± desvio padrão (n = 3). A análise

estatística foi realizada através do teste de análise de variância (ANOVA) de uma via seguido pelo

teste de Tukey para múltiplas comparações utilizando o software GraphPad Prism versão 5.01.

Diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,01.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (Brasil, 2010), planta

medicinal consiste no vegetal cultivado ou encontrado silvestremente que é utilizada para fins

terapêuticos nas mais diferentes formas de preparações tradicionais. Uma vez que estas representam

insumos com aplicabilidade terapêutica, devem apresentar como todas as outras matérias-primas

farmacêuticas, parâmetros pré-estabelecidos de qualidade que permitam sua reprodutibilidade

(Toledo et al., 2003). Segundo Farias (2010) os parâmetros utilizados para o controle da qualidade

de matérias-primas farmacêuticas são estabelecidos em documentos oficiais, como as Farmacopeias

e Códigos Oficiais.

A Farmacopeia Brasileira encontra-se atualmente em sua quinta edição e, como código

oficial farmacêutico nacional, tem por finalidade a atuação na promoção e proteção da saúde

pública, através do estabelecimento de requisitos e parâmetros de qualidade e segurança aos

insumos estratégicos para a saúde, com ênfase aos medicamentos, apoiando desta forma ações de

controle sanitário e com indução ao desenvolvimento tecnológico brasileiro (Brasil, 2011). O

documento fornece monografias de algumas plantas medicinais, entretanto, um problema observado

é que grande parte de plantas com uso tradicional não se encontram descritas na Farmacopeia

Brasileira.

A análise granulométrica demonstrou que os pós obtidos das partes aéreas de P. alliacea

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S - 97 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

apresentavam diâmetro médio (D50) de 0,253 mm para o período seco e 0,277 mm para o período

chuvoso, enquanto os pós das partes subterrâneas apresentavam D50 de 0,256 e 0,264 mm para os

mesmos períodos, respectivamente (tabela 1). Através da análise estatística foi possível observar

diferenças significantes (p < 0,01) entre os pós das partes aéreas do período seco e do período

chuvoso e entre os pós das partes aéreas do período chuvoso e das partes subterrâneas do período

seco. Entretanto, os pós apresentam uma proximidade numérica, quanto ao grau de divisão, o que

se explica devido à utilização de malha com mesma abertura nominal no processo de moagem dos

materiais coletados nos dois períodos. Quanto à classificação descrita pela Farmacopeia Brasileira

(2010), todos os pós foram classificados como pós moderadamente grossos.

Tabela 1. Valores médios das análises físico-químicas dos pós de Petiveria alliacea L. colhida nos períodos seco e

chuvoso de acordo com a pluviosidade amazônica. (n=3).

Letras diferentes na mesma linha p < 0,01; letras iguais na mesma linhas p > 0,01.

*Não realizado em triplicata

Para os períodos seco e chuvoso e diferentes partes da planta, os índices de espuma e as

quantidades de droga vegetal necessárias para formar 1 cm de espuma foram os mesmos, quando

avaliados pelo teste do índice de espuma (tabela 1). Segundo Costa (2000), o índice de espuma

consiste na maior diluição do decocto preparado na técnica que, de acordo com as circunstâncias do

ensaio, é capaz de formar um anel espumídico de 1 cm de altura persistente. O teste também infere

ser a propriedade afrogênica indicativa da presença, principalmente, de saponinas (Borella et al.,

2006).

O excesso de água em plantas medicinais auxilia no desenvolvimento bacteriano e fúngico,

presença de insetos e ainda na degradação, através da ação de enzimas, dos fitoconstituintes (Silva-

Júnior et al., 2011; Farias, 2010). Segundo a Farmacopeia Brasileira (2010) o ensaio de perda por

dessecação destina-se a quantificar as substâncias voláteis de qualquer natureza nas plantas, sendo

que estas podem ser representadas somente por água ou não. Os resultados encontrados para os pós

Índices / Teores Partes aéreas Partes subterrâneas

Período Seco Período Chuvoso Período Seco Período Chuvoso

Diâmetro médio - D50 (mm) 0,253 ± 0,006 A 0,277 ± 0,001 B 0,256 ± 0,004 A 0,264 ± 0,001 A,B

Índice de espuma* 125,00 125,00 125,00 125,00

PDG (%) 8,500 ± 0,000 A 9,667 ± 0,288 B 8,000 ± 0,000 A 8,00 ± 0,00 A

Infratest (%) 7,367 ± 0,252 A 8,867 ± 0,115 B 7,267 ± 0,153 A 7,500 ± 0,300 A

Cinzas totais (%) 8,100 ± 0,173 A 9,433 ± 0,231 B 7,200 ± 0,173 C 4,700 ± 0,000 D

pH 5,763 ± 0,021 A 6,100 ± 0,050 B 5,633 ± 0,046 C 5,793 ± 0,021 A

Teor de extrativos (%) 16,667 ± 2,887 A 20,000 ± 0,000 A 15,000 ± 0,000 A 15,000 ± 0,000 A

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S - 98 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

das partes aéreas de P. alliacea demonstraram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,01)

nos teores de umidade avaliados através das duas técnicas utilizadas (gravimetria e Infratest). O pó

das partes aéreas de P. alliacea coletadas no período chuvoso amazônico apresentaram maior teor

de umidade (PDG 9,67% e Infratest 8,87%) quando comparado ao pó da planta coletada no período

seco (PDG 8,5% e Infratest 7,36%). Os pós das partes subterrâneas não apresentaram diferenças

significativas (p > 0,01) no teor de umidade quando coletados em diferentes períodos. Esta

diferença pode estar relacionada ao maior acúmulo de água em órgãos superiores do vegetal e

sugere que deva ser aumentado o tempo e/ou a temperatura de secagem deste material quando

coletado em período chuvoso. Apesar destas diferenças, todos os valores dos teores de umidade

estão dentro dos limites estabelecidos na Farmacopeia Brasileira (2010). O resultado para o teor de

umidade é semelhante ao encontrado por Audi et al. (2001), que avaliaram a perda por dessecação

pelo método gravimétrico da droga vegetal obtida das raízes e das folhas de P. alliacea (91,47% de

perda por dessecação, ou seja, 8,53% de umidade residual).

A metodologia descrita para a o teor de cinzas totais quantifica as cinzas fisiológicas e não-

fisiológicas presente em drogas vegetais através da incineração em temperaturas elevadas (Silva-

Júnior et al., 2011). Os pós de P. alliacea, de acordo com a metodologia farmacopeica, não

carbonizaram na temperatura máxima descrita no documento e os valores demonstrados aqui

representam o teor de resíduo formado na calcinação à temperatura de 600 ºC. Este fato foi

comprovado devido a coloração azul-esverdeada que o material apresentou após o procedimento.

Os mesmos também não apresentaram diferenças estatísticas (p > 0,01) o que sugere não haver

influências do período de coleta e da parte do vegetal neste parâmetro.

A determinação do pH foi realizada no decocto do vegetal com especificações de preparo

segundo a metodologia da Farmacopeia Brasileira (2000). Quanto ao período de coleta, os pós das

partes aéreas e subterrâneas coletadas no período chuvoso apresentaram-se mais alcalinos (p < 0,01)

em relação aos pós da espécie coletada no período seco. No entanto, em relação as partes coletadas,

os pós das partes subterrâneas apresentaram caráter mais ácido (p < 0,01) em relação aos pós das

partes aéreas, considerando-se o mesmo período de coleta. Apesar destas diferenças, todos os pós

apresentaram caráter fracamente ácido (pH 4,0 a 6,6) de acordo com a Farmacopeia Brasileira

(2010). É sabido que as plantas apresentam uma diversidade de substâncias ácidas em sua

composição, particularmente os ácidos orgânicos de vários grupos no citoplasma celular (Hubinger,

2009), estes ácidos podem apresentar-se em concentrações diferentes nos diferentes órgãos de um

vegetal, bem como no período de coleta.

O teor de extrativos encontrados para os diferentes pós de P. alliacea não apresentou

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S - 99 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

diferenças estatísticas (p > 0,01) quando comparados os diferentes períodos de coleta e os diferentes

órgãos do vegetal. Este resultado foi semelhante ao encontrado por Audi et al. (2001), que relataram

um teor de extrativos de 21,83% para a droga vegetal obtida das folhas e raízes de P. alliacea.

Os vegetais apresentam um metabolismo altamente elaborado e organizado. As rotas de

síntese de constituintes apresentam duas vias, o metabolismo primário e o metabolismo secundário,

que apresentam diversos compostos de uma variedade de classes químicas sintetizados. Inúmeros

compostos já foram agrupados em classes de metabólitos e tiveram ensaios destinados a sua

identificação em drogas vegetais e seus derivados, em particular, estão às substâncias orgânicas

produzidas no metabolismo secundário (metabólitos secundários), que podem, ou não, ser

responsáveis por atividades biológicas (Toledo et al., 2003).

Com o intuito de avaliar o efeito de diferentes solventes sobre a extração de diferentes

metabólitos nas drogas vegetais das partes aéreas de P. alliacea coletadas nos períodos seco e

chuvoso, foi realizada a extração em sistema de Soxhlet com emprego de cinco sistemas de

solventes diferentes. O quadro 1 apresenta os metabólitos identificados através de ensaios

qualitativos nos diferentes extratos obtidos das partes aéreas e subterrâneas de P. alliacea. Na

maioria dos extratos foram identificados os metabólitos açúcares redutores, alcalóides, depsídios e

depsidonas e taninos, onde também foi observado que não houve diferença quanto ao período de

coleta. Extratos metanólicos obtidos de partes aéreas da espécie demonstraram resultados

semelhantes, com testes positivos para fenóis e taninos, saponinas e alcaloides (Oliveira, Ramos &

Almeida, 2013; Adejumo et al., 2011). Quanto aos polissacarídeos, estes somente foram

identificados nos extratos das partes subterrâneas e não houve diferença quanto aos períodos de

coleta. Em todos os extratos não foram identificados pela metodologia empregada, esteroides e

triterpenóides, derivados de cumarina e flavonoides. Estes metabólitos, entretanto, já foram

identificados previamente em diferentes extratos obtidos de P. alliacea (Gomes, 2006; Fontoura et

al., 2005; Monache & Suarez, 1992; Rocha & Bonzani da Silva, 1969).

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S - 100 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

Quadro 1. Prospecção fitoquímica preliminar dos extratos obtidos dos pós das partes aéreas e subterrâneas de Petiveria alliacea L. colhida nos períodos seco e chuvoso de acordo com a pluviosidade amazônica.

A não identificação destes compostos não caracteriza a sua ausência na espécie, pois são

diversos os fatores que, segundo Gobbo-Neto & Lopes (2007), interferem na constância de

metabólitos nas plantas, assim como a sua quantidade. Estes fatores incluem temperatura, altitude,

sazonalidade, índice pluviométrico, radiação UV, ritmo circadiano, composição atmosférica,

herbivoria e ataque de patógenos, idade, a composição e quantidade no solo de água,

micronutrientes e macronutrientes. Sahoo, Manchikanti & Dey (2010) consideram outros fatores

determinantes como armazenagem, secagem, extração e processo final de embalagem.

CONCLUSÃO

Para os períodos abordados, os dados da caracterização farmacognóstica obtidos pelas

análises físico-químicas dos pós de P. alliacea demonstram parâmetros que podem ser

reproduzidos, através das metodologias empregadas, para o controle de qualidade. Foi observado

também, que houve influência da sazonalidade nos parâmetros farmacognósticos avaliados nos pós

da espécie que devem ser observadas durante o processo de processamento da droga vegetal e

possível desenvolvimento de fitoterápicos. Estes resultados fornecem bases para que sejam

realizados mais ensaios com o intuito de elaborar a monografia completa da espécie, visto que a

mesma apresenta uso popular reconhecido no Brasil, contribuindo desta forma para a melhoria na

qualidade e segurança no uso da droga vegetal e seus derivados.

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S - 101 Silva J. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 91 – 103, 2016

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa pela concessão

de bolsa de iniciação científica.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Método Analítico para doseamento de Fumarato de Tenofovir Desoproxila por

cromatografia líquida

Erieldes Sousa Silva1, Mariana Bortholazzi Almeida1, Marlene Maria Fregonezi-Nery2, Mirela

Fulgencio Rabito2, Vinicius Ricardo Acquaro Junior1, Tiago Bervelieri Madeira1 & Suzana Lucy

Nixdorf *1

1 Departamento de Química, Universidade Estadual de Londrina, 86057-970 Londrina – PR, Brasil 2 Departamento de Farmácia, Universidade Estadual de Londrina, 86057-970 Londrina – PR, Brasil

Autor Correspondente: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências da Saúde, Departamento

de Ciências Farmacêuticas, Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445 Km 380, CEP 86.057-970, Londrina - PR, Brazil.

Telefone/ Fax: +55 (43) 3348-2880.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

S - 105 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

RESUMO

Tenofovir Disoproxil Fumarato (FTD) é o princípio ativo de um medicamento anti-retroviral usado

para o tratamento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e para Hepatite B. O

objetivo deste estudo foi desenvolver e validar um método rápido, sensível e específico de

cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC) de fase reversa para a determinação quantitativa

da FTD. Diferentes parâmetros de desempenho analítico, como linearidade, precisão, exatidão,

limite de quantificação (LQ), limite de detecção (LD) e robustez foram determinados de acordo

com RDC 899/03. O método foi proposto para a determinação do teor de FTD em comprimidos e

matéria-prima utilizando os princípios da química verde. O FTD foi analisado aplicando coluna C-

18 (4.6 x 250 mm, 5 μm) como fase estacionária a 30 °C. O método foi desenvolvido usando apenas

água ultrapura acidificada com ácido acético (pH 3,00) como eluente, com fluxo de 0,7 mL min-1 a

210 nm. O método foi considerado linear, na faixa de concentração de 10- 500 µg mL-1, e sensível

com LD e LQ de 0,13 µg mL-1 e 0,42 µg mL-1, respectivamente. O método mostrou-se exato com

média de recuperação de 99,87% e preciso com valores de DPR (Desvio Padrão Relativo) intra-dia

e inter-dia inferiores a 2%.

Palavras-chave: Controle de Qualidade, HPLC, Anti-retrovirais, Química sustentável.

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S - 106 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

ABSTRACT

Tenofovir disoproxil fumarate (FTD) is the principle active of antiretroviral drug used in AIDS and

hepatitis B therapy. The purpose of this study was to develop and validate a rapid, sensitive, and

specific reversed-phase high-performance liquid chromatography method for the quantitative

determination of FTD. Different analytical performance parameters such as linearity, precision,

accuracy, limit of quantification (LOQ), limit of detection (LOD), and robustness were determined

according to RDC899/03. A method has been proposed for determining content of FTD in tablets

and raw material using green chemistry principles. The FTD was analyzed applying C-18 column

(4.6x 250 mm, 5μm) as stationary phase at 30ºC. The method was developed using only ultrapure

water acidified by acetic acid (pH 3.00) as eluent, at flow-rate of 0.7 mL min-1 at 210 nm. The assay

was linear over the concentration range of 10- 500 µg/mL and sensitive with LOD and LOQ values

equal to 0,13 µg mL-1 and 0,42 µg L-1 respectively. The method was accurate with percent mean

recovery from 99,87% and precise as percent RSD (relative standard deviation) values for intra-day,

and inter-day precision were less than 2%.

Keywords: Quality Control, HPLC, Antiretroviral, Sustainable Chemistry.

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S - 107 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

INTRODUÇÃO

O Fumarato de Tenofovir Desoproxila (FTD) é um antirretroviral, pertencente à classe dos

inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo e nucleotídeo (ITRNN) (Garforth,

Parniak & Prasad, 2008; Lavra, 2006). O FTD é um pró-fármaco e, sua atividade antiviral necessita

que esse seja fosforilado por quinases, cujo metabólito formado atua na inibição competitiva com o

desoxinucleotídeo trifosfato fisiológico e impede replicação viral (Bennetto-Hood, Long & Acosta,

2007; Souza & Almeida, 2003).

Os fármacos análogos de nucleosídeos destacam-se como terapêutica de primeira linha contra a

infecção pelo HIV-1 (Berg et al., 2010; Garforth, Parniak & Prasad, 2008). Existem oito

medicamentos nucleosídeo-nucleotídeo capazes de inibir a enzima transcriptase reversa: zidovudina

(AZT), estavudina (D4T), zalcitabina (DDC), lamivudina (3TC), didanosina (DDI), abacavir

(ABC), emtricitabina (FTC) e fumarato de tenofovir desoproxila (FTD) (De Clercq, 2009; Souza &

Almeida, 2003).

No Brasil, o FTD é utilizado para o tratamento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA

ou AIDS), desde julho de 2003 e, apresenta ainda resposta positiva para supressão do vírus da

hepatite B (Berg et al., 2010; Gish et al., 2005). O Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais

estima que aproximadamente 734 mil pessoas vivem com HIV/AIDS no Brasil no ano de 2014,

correspondendo a uma prevalência de 0,4% (Boletim Epidemiológico HIV/AIDS, 2014).

O FTD, por ser considerado estratégico pelo Programa Nacional de DST-AIDS e de interesse para a

saúde pública no País, em 2008, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) negou a

concessão da patente, detido pela Indústria Farmacêutica Gilead (EUA) para o Viread® (Fortunak &

Antunes, 2014; FUNED, 2014). Sem o reconhecimento dos direitos da patente, surgiu a

oportunidade para outras empresas solicitarem registro do FTD como medicamento genérico e

similar.

A quantificação do FTD descrita na literatura, em sua grande maioria, é aplicada à sua

determinação em fluidos biológicos e/ou em associação de fármacos. A determinação no plasma do

FTD foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com detecção por

fluorescência (Jullien et al., 2003; Sparidans et al., 2003) e por detector de arranjo de diodos

(Sentenac et al., 2003). Estudos relatam ainda a determinação simultânea de emtricitabina e FTD

no plasma humano utilizando detector de arranjo de diodos (King et al., 2006; Rezk, Crutchley &

Kashuba, 2005) e LC/MS/MS (Delahunty, Bushman & Fletcher, 2006; Massaki et al., 2007) e a

quantificação para estudos de bioequivalência para estes fármacos utilizando HPLC acoplado ao

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S - 108 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

detector de massas (Gomes et al., 2008) e HPTLC (Joshi et al., 2009). A utilização do LC/MS/MS

para determinação de FTD no plasma, também foi descrita para comprimidos (Kandagal et al.,

2008).

Para FTD em formas farmacêuticas foi proposta a determinação simultânea de emtricitabina,

tenofovir e efavirenz em comprimidos por HPLC (Mangoankar & Desai, 2008), sendo que os

métodos encontrados para a determinação simultânea de emtricitabina e FTD em comprimidos

foram utilizando como fase móvel acetonitrila: tampão fosfato (pH 3,0 ± 0,05): trietanolamina

(70:30:0,5, V/V/V), com detecção no UV (Sharma & Gupta, 2012).

O método desenvolvido em HPLC para quantificação do FTD em comprimidos com detecção

no UV utiliza como fase móvel a mistura de tampão dihidrogeno ortofosfato de sódio (pΗ 2,3) e

metanol (49:51, V/V) (Sharma et al., 2012), já a determinação por HPLC em associação de

lamivudina e FTD foi proposta de duas formas, utilizando metanol: água (70:30, V/V), e detecção

no UV (Hymavathi, Babu & Afroz, 2012) ou empregando tampão fosfato (pH 6,0): metanol: água

(33:65:2, V/V/V) como fase móvel, e detecção em UV (Gorja & Bandla, 2013).

A literatura ainda aponta o desenvolvimento de métodos espectrofotométricos empregando

derivada para determinar a associação de FTD com emtricitabina (Behera et al., 2011; Patel et al.,

2009; Shirkhedkar, Bhirud & Surana, 2009) e com lamivudina (Karunakaran, Kamarajan &

Thangarasul, 2010; Ramesh et al., 2011). Além disso, o método espectrofotométrico foi descrito

para determinação de FTD em matéria-prima e comprimido (Alexandrino, 2014 et al; Pratapareddy

& Chakravarthi, 2012). Estudos de degradação ácida e básica do FTD (Sutar, 2012), também foram

descritos.

Apesar de o FTD estar disponível comercialmente, sua monografia não consta em Farmacopeias

recomendadas pela ANVISA. O FTD está descrito na lista da “USP Pending Monographs” e

embora a publicação na web tenha sido autorizada pela FDA (Food and Drug Administration) para

comercialização do fármaco em território americano, ainda não faz parte do compêndio oficial e

pode sofrer alterações (USP, 2015). A técnica descreve a utilização de HPLC com acetonitrila: água

(60:40, V/V) como fase móvel.

Sabe-se que a escolha do método analítico para doseamento deve ser criteriosa, exigindo que esse

seja preciso e exato, pois falhas são inadmissíveis, já que comprometem a segurança e eficácia do

medicamento. Por isso, a maioria das monografias da Farmacopeia Americana já empregam

métodos cromatográficos. No entanto, apesar da eficiência da técnica, volumes consideráveis de

solventes orgânicos provenientes da fase móvel ainda são gerados, o que ocasiona preocupação

constante e motiva a busca por alternativas que evitem ou minimizem a produção de resíduos. Este

direcionamento na questão da redução do impacto da atividade química ao ambiente vem sendo

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S - 109 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

chamado de green chemistry, ou química verde, química limpa, química ambientalmente benigna,

ou ainda, química autossustentável (Lenardão et al., 2003). Diante disso, esse trabalho teve como

objetivo desenvolver um método eficiente para determinação dos teores de FTD em matéria-prima e

em comprimidos no controle de qualidade, diferenciando-se por aplicar reagentes de baixa

toxicidade, seguindo os preceitos de química limpa/verde em HPLC.

PARTE EXPERIMENTAL

Materiais

Produtos farmacêuticos, padrão de referência e solventes

O padrão secundário (99,9% - lote PD-0217) e a matéria-prima (98,9% - lote 13327/2011) de FTD

foram cedidos pela Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda (Itapira, São Paulo, Brasil). A

solução de amostra sem FTD foi preparada com os excipientes grau farmacêutico: amido de milho,

estearato de magnésio, croscarmelose sódica, lactose monoidratada, celulose microcristalina,

hidroxipropilmetilcelulose, dióxido de titânio, propilenoglicol 400, polietilenoglicol, triacetina. A

solução do revestimento foi preparada com Opadry II Y-30-10671-A (composição: FD&C Azul nº2

laca de alumínio). Os comprimidos de FTD 300 mg não comercializados, distribuídos gratuitamente

na rede pública do País, foram cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Londrina.

Os solventes utilizados foram de grau HPLC - acetonitrila (J. T. Baker Austin, EUA) e metanol

(J.T. Baker, EUA); ácido acético glacial P.A. (ECIBRA, Biotec, Alquimia, Brasil); água ultrapura

(Millipore, MA, EUA).

Equipamentos

Utilizou-se um sistema cromatográfico á líquido de alta eficiência Alliance, modelo e2695

(Waters), composto por: bomba com gerenciador quaternário de solventes e módulo de

desgaseificação; amostrador automático com controle de temperatura; forno com coluna de fase

reversa octadecil X-Terra C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters); e detector de arranjo de fotodiodos

(Photodiode Array Detector – PDA, modelo 2998); controlado pelo software Empower 2 (Waters,

Milford, MA, EUA).

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S - 110 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

Parâmetros cromatográficos

A fase móvel foi constituída de água ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0 (fase A) e água

ultrapura (fase B) na proporção de 30:70 (v/v) com vazão de 0,7 mL min-1 de modo isocrático. As

análises foram efetuadas em coluna X-Terra® C18 mantida a 30 ºC, com volume injetado de 10,0

µL. O tempo de corrida foi de 15 min com detecção no ultravioleta a 210 nm.

Todas as soluções (padrão, matéria-prima, amostra sem FTD e comprimidos) foram preparadas

utilizando como solvente a fase móvel A. As soluções foram filtradas em membrana de acetato de

celulose 0,2 µm (13 mm, Sartorius Stedim Biotech, Alemanha).

Validação do método analítico

Os ensaios para determinação dos parâmetros de validação foram realizados de acordo com

recomendações da legislação vigente RE 899/03 (BRASIL, 2003).

Especificidade

A especificidade foi avaliada pela semelhança entre o tempo de retenção do padrão secundário, da

matéria-prima e dos comprimidos; através da pureza espectral, dada pela absorvância em toda a

faixa do espectro do ultravioleta-visível para cada pico registrado no cromatograma, comparando-se

as semelhanças dos espectros obtidos na análise do padrão secundário e das amostras nas

concentrações de 100 µg mL-1; e ainda pela ausência de coeluição verificada com taxas de

recuperação dessas entre 98 e 102% (BRASIL, 2003). A ausência de interferentes foi verificada

também pela ausência de resposta analítica no tempo de retenção do fármaco na corrida

cromatográfica, quando da injeção do branco (água ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0 e

água ultrapura na proporção de 30:70 (v/v)), da amostra sem FTD e da solução de revestimento.

Linearidade

O estudo da linearidade foi realizado pelo levantamento de 3 curvas analíticas contendo 5

concentrações de padrão em triplicata, preparados a partir da diluição da solução estoque de 500,0

µg mL-1, para 250,0; 150,0; 75,0; 25,0; 10,0 µg mL-1. A Equação de reta, coeficiente de correlação

linear (r) e os resíduos (p>0,05) foram determinados.

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S - 111 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

Precisão e Precisão Intermediária

A precisão foi avaliada pela determinação sucessiva do FTD de 6 soluções de padrões preparados

na concentração de 250,0 µg mL-1. A precisão intermediária foi avaliada nas mesmas condições em

três dias consecutivos e por diferentes operadores.

Exatidão

O estudo da exatidão foi realizado pelo teste de recuperação com a adição de 3 concentrações

conhecidas do padrão secundário (50,0, 100,0 e 150,0 µg mL-1) na solução da amostra comprimidos

(50,0 µg mL-1), em triplicata (n=3).

Limite de detecção (LD) e Limite de quantificação (LQ)

Os limites de detecção e de quantificação foram calculados pela divisão da média do desvio padrão

dos coeficientes lineares das 3 curvas de calibração pela média dos coeficientes angulares das

curvas, multiplicados por 3 e 10, respectivamente.

Robustez

No ensaio de robustez foram avaliados: variação do pH da fase móvel (2,95; 3,00 e 3,05), vazão

(0,69; 0,70 e 0,71 mL min-1), temperatura do forno da coluna (29, 30 e 31oC) e marca do ácido

acético glacial p.a. (Ecibra, Biotec, e Alquimia, Brasil).

Aplicação do método analítico em amostras

-Matéria prima: preparou-se uma solução de 100,0 µg mL-1, em triplicata (n=3).

-Comprimidos: determinou-se o peso médio de 20 unidades de comprimidos que foram triturados e

preparou-se uma solução de 100,0 µg mL-1, em triplicata (n=3).

Todas as soluções foram filtradas em membrana de acetato de celulose 0,2 µm e injetadas no

sistema cromatográfico nas condições otimizadas.

Análise estatística

As análises de regressão linear e multivariada de resíduos foram feitas utilizando-se o software

Origin Pro versão 8.6 (2012).

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S - 112 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a determinação da concentração de FTD, considerou-se a natureza do fármaco, sua pureza, a

disponibilidade econômica dos equipamentos e reagentes. Optou-se por utilizar um sistema de

HPLC indicado para a determinação de teor, de impurezas e de produtos de degradação em matéria-

prima e medicamentos, estando presente em mais de 90% dos métodos de análises, descritos nas

monografias da Farmacopeia Americana (United States Pharmacopeia National Formulary, 2011),

por sua especificidade, já que permite separar os compostos previamente à detecção (Braga, &

Bonato, 2006, Collins, Rao & Nagaraju, 2003, Jenke, 1997).

Nas etapas preliminares do desenvolvimento do método por HPLC foram considerados o uso de

diferentes colunas e fases móveis para verificar a retenção do analito que independesse dos

interferentes, impurezas e produtos de degradação. Os fatores altura, área, assimetria/cauda, pratos

teóricos, capacidade de retenção e tempo de execução foram considerados para seleção da condição

otimizada. Nesse estudo, foram testadas colunas de 4,6 x 250 mm de 5 µm de distintos fabricantes e

polaridades: C18 ODS 1 Metachem (Metasil), X-Terra® C18 (Waters) e Microsorb™ – MV 100-5

C8 (Varian). Iniciou-se empregando acetonitrila como diluente e fase móvel (USP, 2015). Porém,

observou-se que o metanol causou menor interferência no cromatograma que a acetonitrila.

Considerando sua absortividade e polaridade, avaliou-se a sua substituição por água, com a intenção

de evitar o uso de solventes orgânicos, conforme os preceitos da química limpa. Como a

solubilidade do FTD em água mostrou-se satisfatória no preparo do padrão, testou-se este mesmo

solvente como fase móvel, tendo sido observado um pico assimétrico com cauda expressiva.

Portanto, optou-se por acidificar o meio com ácido acético (pH 3,0) visando minimizar a adsorção

do composto básico na coluna.

Assim definiu-se como condição otimizada o uso de água ultrapura acidificada com ácido acético

pH 3,0 (fase A):água ultrapura Milli-Q (fase B) 30:70 (v/v) com vazão de 0,7 mL min-1 em coluna

X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters). A eluição dos compostos foi realizada de modo

isocrático. O tempo da corrida foi estabelecido em 15 min e a temperatura da coluna mantida a

30ºC. A corrida cromatográfica foi monitorada com varredura na faixa de 190 a 350 nm, sendo 210

nm o comprimento de onda de máxima absorção adotado para a quantificação. A Figura 1 (I)

apresenta os cromatogramas das soluções: branco (A), amostra sem FTD (B) e revestimento (C).

Ainda a Figura 1 mostra os cromatogramas, com tempos de retenção de FTD próximos de 9,2

minutos, das soluções (II) padrão (III) matéria-prima e (IV) comprimidos.

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S - 113 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

Figura 1. (I) Cromatogramas das soluções: branco (A), placebo (B) e revestimento (C). Cromatogramas com

perfis espectrais dos picos: padrão secundário (II), matéria-prima (III) e comprimido (IV). Todos os

cromatogramas foram obtidos em coluna X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters), fase móvel água

ultrapura acidificada com ácido acético pH 3,0: água ultrapura Milli-Q, na proporção 30:70 (v/v), com

vazão de 0,7 mL min-1 e detecção a 210 nm

Observa-se pelos cromatogramas (Figura 1), mostrados em diferentes escalas a fim de permitir uma

melhor visualização das flutuações produzidas pelos excipientes e fase móvel na linha base, que o

método proposto foi específico, já que as oscilações aparecem antes do tempo de retenção do pico

de interesse, não interferindo na quantificação de FTD.

A linearidade do método proposto foi comprovada pelo ajuste das curvas analíticas de calibração na

faixa dinâmica de trabalho de 10,0 a 500,0 µg mL-1 (Figura 2).

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S - 114 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

Figura 2. Curva de calibração do FTD para avaliação da linearidade por HPLC

Os resíduos individuais dos 6 pontos das curvas de calibração, calculados pela regressão

multivariada, variam de 4,44x10-14 para o menor ponto da curva (10,0 µg mL-1) à 5,68x10-14 para a

maior concentração de 500,0 µg mL-1, sem tendências. Os erros padrão da estimativa para a

regressão foram de 5,22x10-14 para o intercepto da curva (Y) e de 2,19x10-16 para a concentração

(X), ambos próximos de zero, mostrando que houve ajuste dos dados amostrais à Equação de

regressão da reta y = 788,86x + 1957,4, demonstrada pelo R2 ajustado no valor de 0,9998.

Aplicando-se análise de variância para o modelo previsto, observa-se que a falta de ajuste não é

significativa a 99% de confiança (P<0,0001).

Os limites de detecção e quantificação calculados a partir das curvas de calibração foram de 0,13 µg

mL-1 e de 0,42 µg L-1, respectivamente. O método é preciso, pois apresenta desvio padrão relativo

(DPR) de 0,37% na análise intra-dia, e para precisão intermediária apresenta DPR de 0,77% nas

determinações inter-dias.

A exatidão do método foi comprovada, pelas taxas de recuperação média de 99,87% (Tabela 1),

dentro dos limites estabelecidos de 98 a 102% (BRASIL, 2003).

Tabela 1. Taxas de recuperação de FTD com adição de padrão em 3 níveis de concentração (n = 3)

* DPR: desvio padrão relativo.

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S - 115 Silva F. S. et al Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 104 – 118, 2016

O ensaio de robustez para o pH e a vazão não afetam a análise (diferenças das áreas dos picos com

baixos DPR), no entanto, o uso do ácido acético de diferentes marcas gera variação no tempo de

retenção em até 5 minutos, mostrando que é preciso atenção com a procedência do ácido, utilizado

na acidificação da fase móvel. Os autores supõem que essa diferença é dada devido a menor pureza

do ácido acético utilizado para o ensaio da robustez, entretanto estudos posteriores devem ser

realizados para melhor elucidação desse impacto na corrida cromatográfica. É importante observar

que a alteração gerada no tempo de retenção do FTD não compromete a validação do método, visto

que não ocorre coeluição com outros compostos e que a variação da concentração foi menor que

5%.

O teor médio de FTD encontrado na matéria-prima e comprimido foi de 99,59 % (±0,27) e 100,27%

(±0,11), respectivamente.

CONCLUSÃO

O método proposto para determinação do FTD em matéria-prima e comprimidos por HPLC,

utilizando água acidificada com ácido acético, solvente atóxico, barato, de fácil obtenção e descarte,

é indicado para o controle de qualidade, já que sua validação mostra que é específico, linear,

preciso, exato na faixa das dosagens terapêuticas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem pelo auxilio financiamento do CNPq (Processo 484809/2012-1) e bolsas da

Fundação Araucária (Produtividade – prot. 23.023, conv. 826/2012; CP 13/2012 - Programa de

Bolsas Técnico) e do CNPq e CAPES (Programa de Mestrado em Química); Projeto Mestrado

Profissional UEL-ANVISA; e à empresa Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos LTDA pelo

fornecimento do padrão secundário e matéria-prima e à Secretaria Municipal de Saúde de Londrina

pelo fornecimento do medicamento.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Avaliação comparativa de comprimidos genéricos e similares de captopril

utilizando o teste de dissolução como ferramenta analítica

Comparative evaluation of generic and similar tablets of captopril using the

dissolution test as analytical tool

Camila Camponogara Dalla Pozza1,*, Daniele Rubert Nogueira1 & Clarice M. Bueno Rolim1

1Departamento de Farmácia Industrial, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil

* Autor correspondente: E-mail: [email protected] (Camila Camponogara Dalla Pozza), Telefone: +55

55 3220 9548; Fax: +55 55 3220 8248, Departamento de Farmácia Industrial, Universidade Federal de Santa Maria,

Av. Roraima 1000, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil

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S - 120 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

RESUMO

Os ensaios de dissolução in vitro representam uma ferramenta indispensável em várias

etapas dos processos de desenvolvimento e controle de qualidade de medicamentos. Inúmeras

variáveis, se não totalmente conhecidas e controladas, podem vir a alterar a dissolução de fármacos,

comprometendo a qualidade e biodisponibilidade dos medicamentos. Assim, o presente trabalho

teve como objetivo verificar a qualidade de comprimidos de medicamentos genéricos e similares de

captopril 50 mg a partir de um ensaio de dissolução in vitro, analisando as variáveis que podem

influenciar a dissolução do fármaco e, consequentemente, a intercambialidade destes

medicamentos. A partir dos resultados dos ensaios de dissolução in vitro, realizou-se um estudo

comparativo por ANOVA de comprimidos provenientes de cinco diferentes laboratórios do

mercado nacional, denominados A, B e C (genéricos) e D e E (similares). As cinco formulações

cumpriram com a especificação farmacopeica para o teste de dissolução in vitro. Entretanto,

somente as formulações A, B, D e E apresentaram porcentagens de dissolução estatisticamente

equivalentes (p=0,01 e p=0,05) após análise por ANOVA, comprovando que as diferenças

estatísticas encontradas devem-se a baixa porcentagem de dissolução apresentada pelos

comprimidos da formulação C. Entretanto, conclusões mais definitivas sobre bioequivalência e

biodisponibilidade devem ser determinadas, a fim de ratificá-los como equivalentes terapêuticos.

Palavras-chave: Captopril; Dissolução; Medicamentos genéricos; Medicamentos similares.

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S - 121 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

ABSTRACT

In vitro dissolution tests represent an indispensable tool in various stages during the

development and quality control of medicines. Several variables, if not fully known and controlled,

are likely to change the dissolution of drugs, compromising their quality and bioavailability. Thus,

this study aimed to verify the quality of generic and similar drugs of captopril 50 mg by using an in

vitro dissolution test as analytical tool, with analyses of the variables that can influence the

dissolution of the drug and, hence, the interchangeability of these medicines. Based on the results of

in vitro dissolution tests, it was carried out a comparative study by ANOVA of tablets from five

different laboratories from national market, called A, B and C (generic drugs) and D and E (similar

drugs). All formulations fulfilled the pharmacopeic specification for the dissolution test. However,

only the formulations A, B, D and E showed dissolution percentages statistically equivalent (p =

0.01 and p = 0.05) after ANOVA analysis, proving that the statistical differences found were due to

the low dissolution percentage presented by the formulation C. However, more definitive

conclusions about bioequivalence and bioavailability have to be determined in order to ratify them

as therapeutic equivalents.

Keywords: Captopril; Dissolution; Generic drugs; Similar drugs.

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S - 122 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

Introdução

O captopril corresponde, quimicamente, ao 1-[(2S)-3-Mercapto-2-metil-1 oxopropil]-L-

prolina, e é classificado como um inibidor de primeira geração da enzima conversora de

angiotensina (ECA). É um agente amplamente utilizado no tratamento da hipertensão arterial, na

disfunção sistólica ventricular esquerda, e, ainda, atua na redução da taxa de acidente vascular

cerebral encefálico (Goodman, Gilman & Brunton, 2012). Apresenta-se como partículas cristalinas

de cor branca ou quase branca, com solubilidade em água, etanol, clorofórmio e metanol (Brasil,

2010). A via oral é a mais utilizada na administração do captopril e, os comprimidos estão entre as

formas farmacêuticas sólidas de administração oral mais utilizadas. Comercialmente, comprimidos

de captopril encontram-se disponíveis nas dosagens de 12,5, 25 e 50 mg. Esta forma farmacêutica

sólida ainda continua sendo a preferencial, devido sua rota conveniente e segura de administração,

pela maior conservação e estabilidade química e física, ao baixo custo, grande precisão na dosagem

e variação mínima de conteúdo (Aulton, 2005).

Os comprimidos devem preencher um número de especificações, relacionados com suas

propriedades químicas, físicas e biológicas. Nessa perspectiva, as formas farmacêuticas sólidas

requerem uma atenção especial, sendo que os fatores que influenciam a liberação, a dissolução e a

absorção do fármaco no organismo devem ser estudados durante o desenvolvimento farmacotécnico

do produto a fim de minimizar problemas relacionados a biodisponilibidade, bioequivalência e

intercambialidade que recaem sobre medicamentos apresentados nessa forma farmacêutica (Pereira,

2012). A intercambialidade inclui a escolha de um medicamento entre dois ou mais para os mesmos

fins terapêuticos ou profiláticos e, para isso, torna-se necessária a comprovação de que os

medicamentos sejam equivalentes terapêuticos, a fim de garantir a mesma eficácia e segurança

(Furberg, Herrington & Psaty, 1999). Nesse contexto, uma possível intercambialidade deve ser

incialmente comprovada a partir da equivalência farmacêutica, onde ensaios in vitro são realizados

visando assegurar que o medicamento a ser intercambiável, contendo o mesmo fármaco, na mesma

dosagem e forma farmacêutica, obedeça às mesmas especificações de qualidade em relação ao

medicamento de referência. Atendendo a essas especificações in vitro, a intercambialidade desses

mesmos produtos deve então ser comprovada através de um ensaio de bioequivalência ou

biodisponibilidade relativa empregando voluntários sadios, de modo a avaliar se os produtos que

comprovaram sua equivalência farmacêutica ao medicamento de referência apresentam o mesmo

desempenho no organismo em termos de biodisponibilidade. A biodisponibilidade relativa é um

fator importante a ser analisado pois expressa a velocidade e a extensão em que uma substância é

liberada de sua forma farmacêutica e absorvida pelo organismo (Storpirtis et al., 2004; Storpirtis,

1999). Assim, os ensaios de dissolução in vitro representam uma ferramenta indispensável em

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S - 123 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

várias etapas dos processos de desenvolvimento farmacotécnico de medicamentos, bem como na

área de produção farmacêutica e controle de qualidade, a fim de detectar desvios de fabricação,

declarar a uniformidade durante a reprodução de um lote e a reprodutibilidade lote a lote

(Arzamastsev, Sadchikova & Luttseva, 2003; Marques & Brown, 2002). Inúmeras variáveis, tanto

associados ao fármaco e à formulação farmacêutica, quanto ao próprio ensaio de dissolução in vitro

devem ser totalmente conhecidas, controladas e padronizadas, uma vez que essas poderão alterar a

dissolução de fármacos, resultando em desvios de qualidade e biodisponibilidade dos medicamentos

(Cascone et al., 2011).

No mercado brasileiro, vários laboratórios farmacêuticos comercializam medicamentos

contendo o captopril. Ainda, novas classes de medicamentos alternativos ao medicamento inovador

(referência) têm sido implementadas no mercado nacional, que atrelados a fatores econômicos e de

política assistencial, possibilitaram uma maior acessibilidade dos pacientes, e consequentemente,

uma maior adesão ao tratamento medicamentoso. O medicamento referência é aquele que teve sua

eficácia, segurança e qualidade comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente,

por ocasião do registro. Por outro lado, dentre as opções disponíveis ao medicamento inovador,

encontram-se o medicamento genérico e o similar (Lopes e Neves, 2010, Rosenberg, Fonseca &

D’avila, 2010; Hasenclever, 2002). O medicamento genérico é classificado como uma alternativa a

um produto de referência (inovador), que pretende ser com este intercambiável, ou seja, apresenta a

mesma eficácia clínica e o mesmo potencial para originar efeitos adversos (Brasil, 1999). Já o

medicamento similar é definido como aquele que contêm o mesmo ou os mesmos princípios ativos,

apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação

terapêutica, e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela

vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do

produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser

identificado por nome comercial ou marca (Rosenberg, Fonseca & D’avila, 2010). Entretanto, para

efetuar a intercambialidade entre os medicamentos de maneira segura é necessário garantir a

equivalência e a bioequivalência farmacêutica entre as formulações. Em vista disso, os ensaios de

dissolução in vitro têm sido bastante empregados para evidenciar a intercambialidade para fins de

registro e equivalência farmacêutica de medicamentos genéricos e similares.

Por outro lado, o fato da hipertensão arterial requerer um tratamento em longo prazo,

associado a fatores econômicos, muitas vezes o acesso aos medicamentos torna-se limitado. Em

vista deste cenário, cada vez mais as indústrias nacionais visam o desenvolvimento de novos

medicamentos genéricos e similares para o tratamento desta patologia, bem como a comprovação de

sua equivalência e bioequivalência farmacêutica ao medicamento de referência. Além disso,

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visando garantir a qualidade de medicamentos genéricos entre si, bem como a adequação da

comprovação de qualidade dos medicamentos similares, novas pesquisas deveriam ser feitas por

laboratórios colaboradores e certificadas pela agência reguladora nacional, a ANVISA (Agência

Nacional de Vigilância Sanitária), de forma a selecionar os medicamentos mais efetivos com

possibilidade de apresentar uma intercambialidade (Freitas et al., 2014). Dentro deste contexto, o

presente trabalho teve como objetivo verificar a qualidade de comprimidos de medicamentos

genéricos e similares de captopril a partir de um ensaio de dissolução in vitro, bem como analisar as

variáveis que podem influenciar a dissolução do fármaco e, consequentemente, a intercambialidade

destes medicamentos.

Materiais e Métodos

Reagentes e amostras

Foram selecionadas cinco especialidades farmacêuticas do mercado nacional, sob a forma de

comprimidos não-revestidos, contendo teor declarado de 50 mg de captopril. Tais produtos foram

designados como A, B e C (medicamentos genéricos), e D e E (medicamentos similares) (Tabela 1).

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S - 125 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

Tabela 1. Excipientes das diferentes formulações de comprimidos de captopril

FORMULAÇÕES EXCIPIENTES FUNÇÃO

A amido diluente (desintegrante)

lactose monoidratada diluente

croscarmelose sódica desintegrante

dióxido de silício deslizante/adsorvente

ácido esteárico lubrificante

B lactose monoidratada diluente

ácido esteárico lubrificante

estearato de magnésio lubrificante

amido pré-gelatinizado aglutinante

C lactose monoidratada diluente

celulose microcristalina diluente

amido pré-gelatinizado aglutinante

ácido esteárico lubrificante

D ácido esteárico lubrificante

dióxido de silício coloidal deslizante/adsorvente

amido diluente (desintegrante)

celulose microcristalina diluente

lactose diluente

E celulose microcristalina diluente

amido pré-gelatinizado aglutinante

lactose diluente

ácido esteárico lubrificante

Como substância química de referência (SQR) foi utilizada o captopril (matéria-prima)

adquirido da Pharma Nostra Comercial Ltda., lote nº 11124860B, com teor declarado de 99,93 %

(data de fabricação: outubro de 2011; data de validade: setembro de 2014).

Como reagentes foram utilizados ácido clorídrico 37% (Sigma-Aldrich) e água destilada.

Ensaio de dissolução in vitro

O teste de dissolução foi realizado conforme descrito na Farmacopeia Brasileira (2010).

Empregou-se equipamento que obedece às especificações farmacopeicas (dissolutor Pharma Test)

(Figura 1). Foram utilizados seis comprimidos (amostras) de captopril de cada fabricante por

ensaio, perfazendo um total de cinco ensaios (1 ensaio por amostra). Esses comprimidos foram

colocados no aparato tipo cesta. As cubas foram imersas em banho de água termostatizado, na qual

a temperatura foi mantida a 37 ºC ± 0,5 ºC durante a execução do teste. As amostras foram

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S - 126 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

colocadas dentro das cestas secas, antes do início do teste. O meio de dissolução utilizado foi ácido

clorídrico (HCl) 0,1 molar (M) (900 mL), o qual foi previamente desgazeificado por 10 minutos em

um sonicador (Ultra Sonic Cleaner 1400 - Unique®), seguido por aquecimento em banho de água

termostatizado (Biomatic®) a fim de manter a temperatura equivalente a do banho de água do

dissolutor. O teste foi executado utilizando uma velocidade de rotação de 50 rotações por minuto

(rpm), por 20 minutos. Após a finalização do teste, foram retiradas alíquotas (10 mL), da região

intermédia entre a superfície do meio de dissolução e a parte superior da cesta, mantendo a agitação.

Depois disso, as amostras foram filtradas com papel filtro qualitativo (J Prolab). As amostras

filtradas foram diluídas (1:2) em ácido clorídrico 0,1 M a fim de que suas concentrações

equiparassem a do padrão 0,0025 % (p/v) (25 µg/mL), uma vez que a dosagem dos comprimidos de

captopril era de 50 mg. O resumo das condições utilizadas encontra-se descrito na Tabela 2.

Figura 1. Dissolutor Pharma Test

Tabela 2. Especificações para o teste de dissolução de comprimidos de captopril.

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S - 127 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

As quantidades dissolvidas do fármaco foram determinadas a partir das leituras das

absorbâncias das amostras em um espectofotômetro (Shimadzu UV-1800) (Calibrado em 13 de

abril de 2016), utilizando HCl 0,1 M para ajuste do zero e o comprimento de onda de 212 nm,

seguindo o procedimento analítico preconizado na monografia do captopril comprimidos,

disponível na Farmacopeia Brasileira (2010). As absorbâncias das amostras foram comparadas

àquelas obtidas para a SQR preparada a uma concentração de 0,0025 % p/v em HCl 0,1 M. A

monografia do captopril comprimidos preconiza que não menos que 80 % (Q) da quantidade

declarada de captopril se dissolva em 20 minutos para que a formulação seja aprovada.

Análise estatística

Os dados experimentais foram avaliados estatisticamente através da análise de variância

(ANOVA) de uma via, uma vez que o objetivo do estudo foi investigar o grau de variabilidade dos

efeitos das cinco diferentes amostras do medicamento captopril no ensaio de dissolução in vitro,

considerando a probabilidade dessas amostras diferirem em termos de dissolução, com base nos

níveis de significância de 0,05 e 0,01. Os dados foram expressos como Média e Desvio Padrão

Relativo (DPR), a fim de verificar uma possível variabilidade intra-amostral.

DPR = Desvio padrão x 100

média

Resultados

A Tabela 3 apresenta as quantidades dissolvidas (%) das cinco formulações de captopril de

50 mg, a partir do ensaio de dissolução in vitro, preconizado na Farmacopeia Brasileira (2010).

Tabela 3. Quantidades dissolvidas (%) de captopril a partir de comprimidos de 50 mg.

% Dissolvida

Amostras A B C D E

1 107,84 100,79 94,86 94,20 100,40

2 98,29 102,24 89,99 105,07 96,18

3 100,66 101,45 99,87 101,51 91,83

4 100,20 99,21 89,66 99,34 92,36

5 97,83 102,64 89,99 99,07 102,24

6 99,34 100,53 100,79 99,14 103,32

Média 100,69 101,14 94,19 99,72 97,72

DPR* (%) 3,64 1,23 5,46 3,57 5,11

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A partir das quantidades dissolvidas do fármaco, realizou-se um estudo comparativo por

ANOVA, a fim de avaliar uma possível intercambialidade entre as formulações de captopril de 50

mg estudadas. As Tabelas 4, 5 e 6 exprimem os resultados das análises comparativas obtidas por

ANOVA.

Tabela 4. Análise comparativa por ANOVA de todas as formulações1 (A, B, C, D e E), e também

excluindo a formulação C2, que apresentou resultados mais discrepantes.

Fontes de

variação

GL SQ Variância Fcal P

(5%)

P

(1%)

Entre métodos 4 193,52 48,38 3,061 2,76 4,18

Dentro 25 394,94 15,80

Total 29 588,46

Entre métodos 3 45,56 13,85 0,902 3,20 5,18

Dentro 17 262,87 15,46

Total 20 304,43

GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,

Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades

dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,

Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das

seis amostras dentro de cada formulação,

Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,

Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),

p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades dissolvidas

(%) das diferentes formulações.

Tabela 5. Análise comparativa por ANOVA das formulações genéricas (A, B e C).

Fontes de

variação

GL SQ Variância Fcal p

(5%)

P

(1%)

Entre métodos 2 181,51 90,75 6,58 3,68 6,36

Dentro 15 206,97 13,80

Total 17 388,48

GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,

Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades

dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,

Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das

seis amostras dentro de cada formulação,

Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,

Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),

p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades dissolvidas

(%) das diferentes formulações.

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S - 129 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

Tabela 6. Análise comparativa por ANOVA das formulações similares (D e E).

Fontes de

variação

GL SQ Variância Fcal p

(5%)

P

(1%)

Entre métodos 1 12,00 12,00 0,64 4,96 10,04

Dentro 10 187,97 18,80

Total 11 199,97

GL = Grau de liberdade, SQ = Soma dos quadrados,

Entre métodos = indica a variabilidade das quantidades

dissolvidas (médias) entre as diferentes formulações,

Dentro = indica a variabilidade das quantidades dissolvidas das

seis amostras dentro de cada formulação,

Total = variabilidade Entre métodos + variabilidade Dentro,

Valor de Fcal = razão das variâncias amostrais (Entre métodos/Dentro),

p (5% e 1%) = probabilidade de variação das quantidades

dissolvidas (%) das diferentes formulações.

Discussão

A monografia de um medicamento disponível na Farmacopeia Brasileira determina os

limites aceitáveis para os vários critérios de qualidade que a formulação deve apresentar para ser

aprovada, entre os quais se podem destacar aqueles estabelecidos para o teste de dissolução. Se

estes estudos de qualidade constituem parte do estudo de equivalência farmacêutica, uma etapa

essencial na elaboração de produtos farmacêuticos genéricos e similares pode-se inferir que foi

dado o primeiro passo para garantir a bioequivalência de formas farmacêuticas sólidas de uso oral

(Brasil, 2010).

Os ensaios de dissolução realizados no presente trabalho tiveram o objetivo de verificar a

qualidade de comprimidos de captopril comercializados no Brasil, além de contribuir para um

estudo de intercambialidade dos mesmos. O ensaio de dissolução encontra-se presente em todas as

fases de pesquisa e desenvolvimento de novas formas farmacêuticas, na avaliação/comparação de

diferentes compostos na formulação, na caracterização biofarmacêutica do medicamento e na

avaliação de alterações na composição da formulação do medicamento.

Após a execução do ensaio de dissolução in vitro, realizou-se um estudo comparativo por

ANOVA dos produtos disponíveis comercialmente estudados. A quantidade dissolvida (%) de

captopril, a partir de comprimidos de 50 mg, foi avaliada em cinco diferentes produtos comerciais,

sendo que todos atenderam aos requisitos preconizados pela Farmacopeia Brasileira. Os cinco

comprimidos testados no primeiro estágio do ensaio apresentaram quantidade dissolvida de fármaco

superior a 85% (teor ≥ Q + 5 %, sendo Q = 80 %). Dentre as cinco formulações estudadas, as que

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S - 130 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

apresentaram maior quantidade de fármaco dissolvido foram as marcas genéricas A (100,69%) e B

(101,14%).

Estudos têm mostrado que os excipientes podem interagir com o fármaco ou mesmo com

outros excipientes, o que pode gerar um impacto favorável ou desfavorável na biodisponibilidade

do fármaco. A ocorrência ou não dessas interações dependerá das características físico-químicas do

fármaco, bem como das quantidades e função desses excipientes. Além disso, os tempos de

desintegração e dissolução podem ser otimizados pela variação da concentração dos aglutinantes e

lubrificantes na formulação (Panakanti & Narang, 2012; Jackson, Young & Pant, 2000).

O emprego de excipientes na composição dos comprimidos de captopril justifica-se pela

razão de ser uma forma farmacêutica sólida oral de liberação imediata. Dessa forma, a quantidade

dissolvida de captopril na formulação B ocorre pela presença da combinação de amido nativo e

gelatinizado, na qual promove não somente uma boa compactação durante a produção dos

comprimidos (compressão direta), mas também a desintegração do mesmo após administração oral.

A desintegração, por sua vez, resulta numa maior velocidade de dissolução do fármaco. Por outro

lado, a quantidade dissolvida de fármaco a partir da formulação A pode estar relacionada à presença

do superdesintegrante, croscarmelose sódica, que melhora as características de desintegração e,

consequentemente, a velocidade de dissolução do fármaco se torna mais efetiva.

Com base nas quantidades dissolvidas (%) de captopril, a análise comparativa por ANOVA

apontou diferença significativa entre as cinco formulações estudadas (A, B, C, D e E) considerando

um nível de significância estatística de 5% (p = 0,05; Fcalculado = 3,06 > Ftabelado = 2,76),

indicando que as formulações analisadas apresentaram quantidades dissolvidas (%) do fármaco

estatisticamente diferentes entre si, uma vez que o nível de significância a 5% permite um maior

aceitação do erro. Entretanto, as cinco formulações apresentaram quantidades dissolvidas

estatisticamente similares, considerando um nível de significância estatística de 1% (p = 0,01; Fcal

= 3,06 < Ftab = 4,18), pela razão desse estabelecer um menor grau de variação entre os resultados e

menor aceitação de erro. Por outro lado, os estudos comparativos na qual foram analisadas todas as

formulações, porém excetuando a formulação genérica C, obtiveram-se formulações

estatisticamente similares em qualquer dos níveis de significância estatísticos analisados. A

formulação C foi excluída da análise estatística, uma vez que apresentou resultados mais

discrepantes em relação às demais formulações testadas. Desse modo, a análise estatística

comprovou que as diferenças estatísticas encontradas na ANOVA devem-se a baixa porcentagem de

dissolução apresentada pelos comprimidos da formulação C.

Analisando somente as três formulações genéricas de captopril (A, B e C), foram observadas

diferenças significativas entre os comprimidos, independentemente do nível de significância

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S - 131 Pozza C. C. D.; Nogueira D. R.; Rolim C. M. B. Rev. Bras. Farm. 97 – Suplemento – 119 – 133, 2016

estatístico considerado. Por outro lado, as formulações similares (D e E) não apresentaram

diferenças estatísticas significativas entre as quantidades de fármaco dissolvidas a partir da forma

farmacêutica, indicando a similaridade das duas formulações quanto à sua capacidade de

dissolução.

Apesar das quatro formulações (A, B, D e E) apresentarem algumas diferenças nas

composições qualitativas dos excipientes, é possível que estes produtos sejam considerados

equivalentes farmacêuticos, segundo os parâmetros de dissolução in vitro. Contudo, isso não

garante a bioequivalência dos produtos, uma vez que os processos de fabricação, estabilidade de

fármacos e a composição quantitativa dos excipientes devem ser levados em conta, a fim de que não

haja diferença no desempenho destes produtos (Brasil, 2007; Bauer et al., 2001 & Digue, 1999).

Apesar do ensaio de dissolução ser relativamente simples, existe diversos aspectos que

devem ser considerados para o correto desempenho do mesmo. Alguns parâmetros influenciam a

dissolução dos princípios ativos, destacando-se aqueles relacionados com as moléculas do princípio

ativo e respectiva formulação, e também aqueles pertinentes ao próprio ensaio de dissolução. Sendo

assim, é de grande importância o conhecimento prévio das diversas características da forma

farmacêutica, visando uma escolha apropriada da metodologia para o teste de dissolução.

Conclusão

Com a realização do ensaio de dissolução in vitro das amostras genéricas e similares de

captopril 50 mg, foi possível concluir que todas as formulações cumpriram com a especificação

farmacopeica para o teste de dissolução in vitro. No entanto, somente as formulações A, B, D e E

apresentaram porcentagens de dissolução estatisticamente equivalentes após análise por ANOVA.

Entretanto, para ratificá-los como equivalentes terapêuticos, estudos in vivo deveriam ser

executados, a fim de possibilitar conclusões mais definitivas sobre bioequivalência e

biodisponibilidade.

Agradecimentos

Este trabalho foi financiado pelo projeto 401069/2014-1 do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento de

insuficiência cardíaca em hospital de ensino no Rio de Janeiro

Profile of drugs use in patients in treatment of heart failure in teaching hospital

in Rio de Janeiro

Rafaela Tavares Peixoto1, Ranieri Carvalho Camuzi2 & Selma Rodrigues de Castilho3*

1Farmacêutica, aluna de Iniciação Científica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense, Niterói

(RJ), Brasil. 2Mestre, professor assistente do Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica da Universidade Federal

Fluminense, Niterói (RJ), Brasil. 3Doutora, professora associada do Departamento de Farmácia e Administração Farmacêutica da Universidade Federal

Fluminense, Niterói (RJ), Brasil.

*Autor Correspondente: Selma Rodrigues de Castilho, e-mail: [email protected], Faculdade de Farmácia,

Universidade Federal Fluminense, Rua Mário Vianna, 523 – Santa Rosa – Niterói, RJ CEP 24 241 000.Telefone:

(21)26299600

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RESUMO

Com o objetivo de identificar perfil de utilização de medicamentos, potenciais interações

medicamentosas (PIM) e grau de adesão dos pacientes tratados para IC em um centro clínico

especializado, realizou-se um estudo transversal retrospectivo, com dados de 42 pacientes. Os

medicamentos foram classificados segundo a ATC, a adesão foi avaliada através do questionário

Morisky e as interações foram classificadas de acordo com a base de dados Drugdex da

MICROMEDEX®. A idade média foi de 64,3±13,6 anos. Os homens usaram 7,6±2,3

medicamentos, enquanto as mulheres 7,9±2,5, com predominância de fármacos para aparelho

cardiovascular, sangue e órgãos hematopoiéticos e trato alimentar e metabolismo. Observaram-se

5,9±3,6 PIM/paciente. A combinação mais envolvida em interações foi AAS e carvedilol (18). Na

primeira entrevista, 31 pacientes foram considerados não aderentes, e 25 na última entrevista

realizada. A comparação entre a adesão no início e no final do período de acompanhamento dos

pacientes foi feita pelo teste McNemar, com intervalo de confiança de 95%, tendo sido considerada

estatisticamente significativa (p=0,0412). O elevado número de pacientes sujeitos à polimedicação

reforça a necessidade de um acompanhamento farmacêutico de forma a evitar o desencadeamento

de PIM, estimular o uso racional de medicamentos e o aumento da adesão à terapia medicamentosa.

Palavras-chave: Insuficiência cardíaca, Uso de medicamentos, Interações de medicamentos,

Polimedicação, Adesão à medicação.

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S - 136 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016

ABSTRACT

The study aimed to identify the usage of medications profile, potential drug interactions (PDI) and

degree of patient compliance in the treatment of IC in a specialized clinical center. A retrospective

cross-sectional study where data from 42 patients. Medications were classified according to the

ATC, the adherence was assessed using the Morisky questionnaire and the interactions were

classified according to the Drugdex data base, from MICROMEDEX®. The mean age was

64.3±13.59 years. Male patients used 7.6±2.3 medications, while female were prescribed with

7.9±2.5, with a predominance of drugs of the cardiovascular system, blood and blood-forming

organs and gastrointestinal tract and metabolism. 5.9±3.6 PDI/patient were observed. The

combination that was more involved in interactions was ASA and carvedilol (18). In his first

interview, 31 patients were considered non adherent, and 25 in the last interview. The comparison

between the compliance at the beginning and end of the follow-up period of the patients was taken

by McNemar test, with a confidence interval of 95%, that was considered statistically significant

(p=0.0412). The high number of patients subject to polypharmacy reinforces the need for a

pharmacist monitoring to avoid initiation of PDI, stimulate the rational use of medications and

increase of adherence to drug therapy.

Keywords: heart failure, drug utilization, drug interactions, polypharmacy, medication adherence.

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INTRODUÇÃO

Há várias décadas, a magnitude das doenças cardiovasculares como causa de óbito e

morbidade tem suscitado estudos que relacionam fatores como o tabagismo, a hipercolesterolemia,

a obesidade, o "stress", o diabetes melitus e a hipertensão arterial ao aparecimento dessas doenças

(Mendis et al., 2005; Sala et al., 1993). Também o processo de cuidado destes pacientes tem sido

objeto de estudos que evidenciam que uma parcela significativa não recebe os medicamentos

apropriados (Mendis et al., 2005;) muitos não são aderentes aos programas (Rolnick et al., 2012;

Corrao et al., 2011; Guedes et al., 2011) e/ou carecem de informações adequadas para o manuseio

de seu tratamento medicamentoso (WHO, 2003; López-Carmona, 2003). Um número considerável

de oportunidades de prevenção de morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares é perdido

em função do uso irracional dos medicamentos.

Dentre as doenças cardiovasculares, a insuficiência cardíaca (IC) é a que mais cresce. Isso

pode ser verificado através de uma consulta aos Indicadores de Saúde no DATASUS onde consta

que, para o ano de 2014, em todo o país, houve aproximadamente 220,5 mil internações

relacionadas a IC e um total aproximado de 22 mil óbitos. Esses números representam 20% de

todas as internações e 25% de todos os óbitos relacionados a doenças do aparelho circulatório,

naquele ano (Brasil, 2014).

A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, que atinge cerca de 1 a 2%

da população adulta em países desenvolvidos (McMurray et al., 2012). A III Diretriz Brasileira de

Tratamento da Insuficiência Cardíaca Crônica (Bocchi et al., 2012; Bocchi et al., 2009) descreve a

insuficiência cardíaca (IC) como uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico.

Correspondendo a uma disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para

atender às necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo

somente com elevadas pressões de enchimento, que normalmente ocorre como consequência de

enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos.

Os principais fatores de risco associados ao aparecimento da IC são cardiopatias, como o

infarto agudo do miocárdio, a hipertensão arterial não tratada, a febre reumática, as infecções virais,

entre outras. O tratamento da IC consiste basicamente no controle da mortalidade e no aumento da

qualidade de vida do paciente (Bocchi et al., 2012; Seixas-Cambão & Leite-Moreira, 2009;).

A IC muitas vezes vem acompanhada de outras doenças, principalmente relacionadas com o

sistema cardiovascular o que, por si só, requer tratamento com associação de medicamentos, sendo

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S - 138 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016

raramente tratável por monoterapia. É necessário avaliar as possíveis interações medicamentosas e a

incidência de potenciais efeitos adversos nessa população (Secoli, 2010; Bocchi et al., 2012).

Entre as possibilidades de atuação dos farmacêuticos na promoção do uso racional de

medicamentos e na otimização da terapia medicamentosa em IC destaca-se a avaliação da

farmacoterapia de forma individualizada visando identificar e ponderar estratégias de enfrentamento

de problemas relacionados com os medicamentos (Alano, Corrêa & Galato, 2012; WHO, 2003),

entre eles a incidência de interações medicamentosas e a não adesão ao tratamento (Amaral &

Perassolo, 2012). A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu “estudo de utilização de

medicamentos” como o estudo da distribuição, do marketing, da prescrição e do uso de

medicamentos em uma sociedade, com destaque para os resultados médicos, sociais e

consequências econômicas. Nesse contexto, encontram-se estudos farmacoepidemiológicos que

permitem a obtenção de dados referentes aos efeitos adversos dos medicamentos em uma população

com a finalidade de apoiar o uso racional e rentável de medicamentos, melhorando assim os

resultados em saúde. Além disso, os dados sobre segurança e efetividade dos medicamentos

utilizados em um indivíduo ou grupo de indivíduos permitem identificar intervenções para garantir

uma melhor terapia medicamentosa (WHO, 2003).

Estudos de perfis quantitativos e qualitativos de fornecimento e consumo, de padrões de

prescrição, entre outros, são essenciais para que se possa realizar a adequação de uso de fármacos e

de avaliação da qualidade da assistência farmacêutica prestada. Através do mapeamento da situação

de utilização de medicamentos por uma dada população, torna-se viável a proposição de

intervenções para sua melhoria. Essas intervenções visam à resolução de problemas no âmbito da

assistência (Castro, 2000).

Este trabalho descreve o perfil de utilização de medicamentos por pacientes em tratamento

de IC em um hospital de ensino do estado do Rio de Janeiro, bem como as potenciais interações

medicamentosas (PIM) identificadas e o grau de adesão ao tratamento no grupo de pacientes

estudados.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um estudo prospectivo a partir do atendimento farmacêutico na clínica

interdisciplinar de IC no ambulatório de um hospital de ensino, localizado no Rio de Janeiro, no

período de junho/2012 a março/2014. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição

(CAAE: 0360.0.258.258-11).

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Os pacientes eram encaminhados pela equipe multidisciplinar que atua no ambulatório de IC

para o atendimento pela farmácia. No momento do atendimento, eram registradas as informações

sobre o uso de produtos indicados por outros prescritores ou consumidos por automedicação e o

local de aquisição dos medicamentos. A adesão ao tratamento foi avaliada no primeiro e no último

encontro do paciente com a equipe de farmácia através do método indireto de questionário de

Morisky (Ben, Neumann & Mengue, 2012), que aborda as seguintes questões:

1. Alguma vez (de vez em quando) você se esquece de tomar seu medicamento?

2. Você às vezes se descuida com o horário de tomar seu medicamento?

3. Quando você se sente melhor, às vezes, para de tomar seu medicamento?

4. Às vezes, quando você se sente pior (mal) quando toma o remédio, você para de tomá-lo?

Os critérios de inclusão utilizados foram o paciente ter mais de 18 anos, diagnóstico de IC,

pelos critérios de Framingham e Boston, com confirmação ecocardiográfica (McKee et al., 1971) e

ter possibilidade de acompanhamento pela equipe da farmácia por, pelo menos, 1 ano. O critério de

exclusão adotado foi a participação do paciente em estudo conflitante no momento em que foi

consultado sobre a participação na pesquisa.

Os medicamentos utilizados foram classificados de acordo com o Anatomical Therapeutic

Chemical Classification System ─ ATC (WHO, 2003; Castro, 2000) e para as potenciais (possíveis)

interações medicamentosas (PIM) utilizou-se como base de informações o Drugdex da

MICROMEDEX®. Não foi avaliada neste estudo a efetiva ocorrência ou não das PIM encontradas.

O perfil de adesão ao tratamento na primeira e na última consulta do período de

acompanhamento foi comparado através do teste McNemar para amostras pareadas e dados não

paramétricos.

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S - 140 Peixoto R.T.; Camuzi R. C.; Castilho R. C. Rev. Bras. Farm. 97 – Sup[emento – 134 – 150, 2016

RESULTADOS

No início de junho de 2012, havia 51 pacientes participantes do projeto, mas apenas 42

permaneceram em acompanhamento por pelo menos um ano, sendo 23 do sexo masculino. A idade

da população estudada variou entre 40 e 93 anos (média ± DP: 64,34± 13,59), estando a maioria

(21) na faixa de 51 a 70 anos. A média de entrevistas realizadas por paciente foi de 3,93 ± 2,05.

No que se refere à quantidade, 2 pacientes relataram fazer uso de até 3 medicamentos e 39

utilizavam 5 ou mais, estando, portanto, submetidos à polimedicação. A média de medicamentos

utilizados por paciente foi de 7,63 (DP = ± 2,31) para homens e 7,94 (DP = ± 2,55) para mulheres.

Dentre os medicamentos indicados para o tratamento da insuficiência cardíaca o mais utilizado foi o

carvedilol (41 pacientes), seguido da furosemida (28). A sinvastatina, o AAS e a metformina foram

os medicamentos que não estão diretamente relacionados ao tratamento da IC mais utilizados, com

19, 18 e 12 pacientes em uso, respectivamente. A tabela 1 apresenta a distribuição dos

medicamentos em uso pelos pacientes do ambulatório de IC.

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Tabela 1. Distribuição de medicamentos utilizados pelos pacientes em tratamento de IC, N = 42,

Niterói, 2014

Código ATC Medicamentos N (42)

C07AG02 Carvedilol 41

C03CA01 Furosemida 28

C03DA01 Espironolactona 25

C09AA02 Enalapril 21

C10AA01 Sinvastatina 19

B01AC06 AAS 18

C09CA01 Losartan 14

A10BA02 Metformina 12

C02DB02 Hidralazina 9

C01AA05 Digoxina 9

C01DA14 Mononitrato de Isossorbida 9

A02BC01 Omeprazol 8

A10A Insulina NPH 8

B01AA03 Varfarina 7

C08CA01 Anlodipino 5

C03AA03 Hidroclorotiazida 4

N02BB02 Dipirona 4

C01DA08 Dinitrato de Isossorbida 4

M04AA01 Alopurinol 4

A12AA04 Carbonato de Cálcio 4

C09AA01 Captopril 3

A02BA02 Ranitidina 3

A10A Insulina Regular 3

A11CC Vitamina D 3

B01AC04 Clopidogrel 2

N03AE01 Clonazepam 2

Outros 22

Considerando-se apenas os grupos de medicamentos relacionados ao sistema cardiovascular,

os grupos de medicamentos mais frequentes foram os β-bloqueadores (C07), presentes na totalidade

das prescrições, seguido dos agentes com ação sobre o sistema renina-angiotensina (C09), usados

por 38 pacientes, dos diuréticos (C03), usados por 37 pacientes, dos modificadores de lipídios

(C10), usados por 21 pacientes, do grupo de medicamentos para terapia cardíaca (C01), presentes

nas prescrições de 19 pacientes, dos anti hipertensivos (C02), em uso por 9 pacientes e, finalmente,

os bloqueadores de canais de cálcio (C08), em uso por 6 pacientes.

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Dos medicamentos que atuam no trato alimentar e metabolismo, aqueles indicados para

diabetes se destacaram, seguidos dos medicamentos relacionados às desordens ácidas, com 18 e 12

pacientes em uso, respectivamente. No grupo dos medicamentos que atuam no sangue e órgãos

hematopoiéticos, observaram-se 24 pacientes em uso de algum agente antitrombótico; e no grupo

dos que atuam no sistema nervoso, os analgésicos eram utilizados por 7 pacientes, enquanto os

antiepiléticos eram usados por 5 pacientes. Todos os pacientes utilizaram medicamentos

relacionados ao sistema cardiovascular (C), relacionados ao trato alimentar e metabolismo (A)

foram 21, relacionados ao sangue e órgãos hematopoiéticos (B) foram 24 e relacionados ao sistema

nervoso (N) foram 13. Este perfil está correlacionado ao fato de a hipertensão, a diabete e a

hipercolesterolemia serem as principais comorbidades encontradas na população.

Dos 42 pacientes acompanhados, apenas 2 não apresentaram potenciais interações

medicamentosas (PIM). Um total de 239 PIM foram identificadas, com média de 5,97± 3,63 por

paciente, com o mínimo de 1 e o máximo de 17 PIM por paciente. A classificação das 239 PIM

quanto à sua gravidade é apresentada na tabela 2.

Tabela 2. Distribuição das potenciais interações medicamentosas (PIM) segundo sua gravidade,

N=239, Niterói, 2014.

Grau de severidade

Interações

Maiores

Interações

Moderadas

Interações

Menores

Contra-

Indicação Total

Número de pacientes

com PIM (a) 29 40 12 1 40

Número de diferentes

PIM 24 47 5 1 77

Número de ocorrências

das PIM (b) 50 174 14 1 239

Média de PIM por

paciente (b/a) 1,7 4,3 1,2 1 6,0

Dos medicamentos envolvidos em interações, o ácido acetilsalicílico se destaca fazendo

parte de 18 possíveis interações, seguido de digoxina (11), sinvastatina (10), carvedilol (9),

enalapril (7) e varfarina (7). A tabela 3 apresenta as PIM mais frequentes.

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Tabela 3. PIM mais frequentes e respectiva gravidade, N = 239, Niterói, 2014.

Medicamento A Medicamento B Gravidade N (pacientes)

Digoxina Espironolactona Maior 8

Enalapril Espironolactona Maior 14

Digoxina Furosemida Moderada 6

Digoxina Carvedilol Moderada 9

Anlodipina Carvedilol Moderada 5

Carvedilol Insulina NPH Moderada 8

AAS Carvedilol Moderada 18

AAS Carbonato de Cálcio Moderada 4

AAS Enalapril Moderada 6

AAS Espironolactona Moderada 7

AAS Furosemida Moderada 10

AAS Insulina NPH Moderada 6

AAS Losartan Moderada 8

Carvedilol Metformina Moderada 11

Enalapril Furosemida Moderada 16

Enalapril Metformina Moderada 5

Espironolactona Varfarina Moderada 6

Espironolactona Losartan Moderada 7

Furosemida Hidralazina Menor 8

Atazanavir Sinvastatina Contra-Indicação 1

Vale ressaltar que as PIM encontradas com maior frequência eram aquelas relacionadas à

possível redução dos efeitos de um dos medicamentos associados. A figura 1 ilustra o impacto

clínico de algumas das combinações encontradas.

Figura 2. Exemplos de PIM identificadas e seu impacto clínico

Medicamento A Medicamento B Impacto Clínico

Digoxina Espironolactona Pode resultar em aumento da exposição a digoxina,

elevando o risco de toxicidade da digoxina (Grave)

Enalapril Espironolactona

Pode resultar em hipercalemia. Arritmias graves e morte

foram relatados a partir de hipercalemia com tais

combinações (Grave)

AAS Insulina NPH Pode resultar em hipoglicemia e como consequencias

depressão do SNC e convulsões (Moderada)

AAS Carvedilol Pode resultar em diminuição do efeito anti-hipertensivo

(Moderada)

Atazanavir Sinvastatina

Pode resultar em um aumento de risco de toxicidade da

sinvastatina, incluindo um risco aumentado de miopatia

ou rabdomiólise (Contra-Indicado)

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A aplicação do teste de Morisky mostrou que, na primeira entrevista realizada, 31 pacientes

poderiam ser considerados não aderentes ao tratamento medicamentoso, por terem respondido

“SIM” a pelo menos uma das 4 perguntas realizadas (Figura 2). Já se considerando a entrevista mais

recente, o número de pacientes considerados não aderentes caiu para 25.

Figura 2. Número de respostas SIM a cada item do questionário Morisky na primeira e na última

entrevista realizada para cada paciente, N=42, Niterói, RJ.

A análise da diferença entre o número de pacientes aderentes ao tratamento no início e no

final do período de acompanhamento foi feita pelo teste McNemar para cada uma das quatro

perguntas do questionário de Morisky, com intervalo de confiança de 95%. O resultado do teste

mostrou significância estatística para a diferença na resposta à quarta pergunta (p= 0,0133). No

entanto, não houve significância estatística para as perguntas 1 (p= 0,2673), 2 (p= 0,3428) e 3 (p=

0,4795).

DISCUSSÃO

Poucos trabalhos científicos abordam o perfil de utilização de medicamentos em pacientes

com IC. O estabelecimento deste perfil auxilia a compreensão dos potenciais problemas

relacionados a medicamentos nesta população.

No que se refere às características sociodemográficas, não houve diferença significativa na

distribuição por sexo, o que vai ao encontro do estudo realizado por Tavares e colaboradores

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(2004), onde a idade média encontrada também se aproximou dos valores apresentados para a

população atendida em hospitais públicos (Tavares et al., 2004).

Não foi observada relação significativa entre o aumento da idade e o aumento do número de

medicamentos utilizados, característica encontrada nos estudos de Fleith e colaboradores (2008) e

Santos, Faria Junior & Restini (2012).

Como esperado, o perfil de uso dos medicamentos é bem peculiar na IC, diferindo do que se

observa entre hipertensos e idosos em geral (Pereira et al., 2012; Flores & Benvegnú, 2008).

Existem poucos estudos desse tipo voltados para pacientes com IC e o conhecimento deste perfil

pode auxiliar o processo de preparação para a orientação farmacêutica a estes pacientes. O perfil

identificado está em acordo com a proposição da Diretriz Brasileira para Tratamento da

Insuficiência Cardíaca Crônica – 2012 (Bocchi et al., 2012), na qual recomenda-se a terapia

combinada entre dois ou mais medicamentos mesmo para terapia incial em pacientes

assintomáticos, reforçando o fato de que o paciente de IC é um forte candidato à polimedicação.

A necessidade de uso dos β-bloqueadores pela totalidade dos pacientes pode ser explicada

pelos benefícios clínicos apontados em diversos estudos que mostram que a utilização desta classe

tem-se mostrado capaz de reduzir a mortalidade e o risco de internações, provocar um atraso na

progressão da doença, além de melhorar a função sistólica e a reversão do remodelamento

ventricular (Bocchi et al., 2012; Opie & Horowitz, 2009; Palazzuoli et al., 2005; Packer et al.,

2001).

Até o ano de 2012, o carvedilol não se encontrava disponível nas unidades de saúde do SUS,

pois não integrava o elenco da Rename. O custo mensal deste tratamento pode representar uma

barreira importante para o acesso, comprometendo a possibilidade de adesão à terapia

medicamentosa preconizada, caso o mesmo não esteja disponível no SUS. Em 2013, este

medicamento foi incluído para atender à demanda destes usuários (Brasil, 2013). Segundo relatos

dos pacientes, o carvedilol raramente está disponível nas farmácias das unidades básicas de saúde.

A oferta do medicamento pelo projeto pode ter contribuído para a manutenção do vínculo do

paciente com o mesmo; e também pode ser mais um fator que justifique o fato de este ser o

medicamento mais utilizado pelos pacientes participantes.

As manifestações clínicas decorrentes da idade, assim como doenças crônicas, são os

principais elementos relacionados à polimedicação. Segundo Secoli (2010), a polifarmácia está

intimamente associada à precipitação das potenciais interações medicamentosas (PIM), à redução

da adesão ao tratamento e ao desencadeamento de problemas relacionados a medicamentos (PRM).

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O elevado percentual de PIM encontrado (95,2%) está de acordo com os achados de Secoli

(2010), que apontam que, em pacientes em uso de sete medicamentos ou mais, estas podem estar

presentes em até 82%.

A principal limitação deste estudo, no que se refere a interações medicamentosas, foi o fato

de não se ter avaliado se houve efetivamente alguma manifestação clínica das PIM encontradas,

podendo ser objeto de estudo em trabalhos futuros.

A combinação entre AAS versus furosemida foi a quarta PIM mais prevalente neste estudo.

Esta interação foi identificada por Varallo e colaboradores como uma das principais PIM

responsáveis por internações hospitalares (Varallo, Costa & Mastroianni, 2013).

O fato das principais PIM identificadas serem fruto de necessidades terapêuticas

relacionadas a comorbidades comuns entre os pacientes com insuficiência cardíaca, reforça a

importância do acompanhamento farmacêutico destes pacientes como mais uma possibilidade de

intervenção e prevenção de problemas. Bueno e colaboradores (2009) também enfatizam a

importância da PIM entre digoxina versus furosemida, devido ao seu potencial risco de provocar

arritmia cardíaca.

São inúmeros os estudos que indicam que os medicamentos empregados na terapia

cardiovascular se destacam em termos de prevalência de PIM em populações idosas (Bueno et al.,

2009; Mosegui et al., 1999). Isto reforça ainda mais a necessidade de acompanhamento dos

pacientes que fazem uso contínuo da classe.

Embora o teste de Morisky, assim como os questionários realizados na avaliação indireta da

adesão a medicamentos, possua baixa sensibilidade e acurácia, este é o método mais utilizado

atualmente, não só no Brasil, mas em vários estudos que abordam adesão (Ben, Neumann &

Mengue, 2012; Davis, Packard & Jackevicius, 2014).

A análise das respostas ao questionário Morisky, no início e no último atendimento,

demonstrou uma redução nas respostas afirmativas no segundo momento, em relação ao primeiro,

principalmente no que diz respeito aos fatores relacionados às decisões do usuário. A maior redução

de respostas afirmativas foi para a quarta pergunta, relacionada à suspensão da medicação por conta

própria em caso de mal-estar, que se mostrou estatisticamente significativa, sugerindo que a

orientação prestada foi importante para auxiliar na conscientização do paciente em relação à

necessidade de manutenção da terapia para melhora do quadro clínico e a procura pelo médico em

caso de piora.

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CONCLUSÃO

Pacientes crônicos quando sujeitos à polimedicação necessitam de atenção especial não só

por parte do profissional farmacêutico, mas também de toda a equipe de saúde. Torna-se importante

a identificação do perfil de utilização de medicamentos, as suas potenciais interações

medicamentosas e o grau de adesão à terapia medicamentosa dos pacientes com insuficiência

cardíaca, para que, identificadas as causas dos problemas, o farmacêutico seja capaz de trabalhar

com medidas educativas. A inserção do farmacêutico na equipe multiprofissional visando oferecer

orientações quanto ao uso racional de medicamentos e, sempre que possível, estabelecer o

acompanhamento farmacoterapêutico, tem uma contribuição potencial importante para o alcance

dos objetivos terapêuticos traçados para estes pacientes.

A principal limitação do presente estudo foi o número reduzido de pacientes, o que não

permite a extrapolação dos dados para toda a população de pacientes com IC. A metodologia

empregada permitiu conferir a confiabilidade necessária ao estudo.

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Revista Brasileira de Farmácia – ISSN 2176 – 0667 (on line)

Brazilian Journal of Pharmacy

Volume 97 SUPLEMENTO Maio / Agosto - 2016

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