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VOLUM 3, NÚMERO 1, SUPLEMENTO 1 ANAIS do IV Curso e II Simpósio Internacional de Cirurgia Reconstrutiva em Cães e Gatos Jaboticabal São Paulo – Brasil 2017

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VOLUM 3, NÚMERO 1, SUPLEMENTO 1

ANAIS do IV Curso e II Simpósio Internacional de

Cirurgia Reconstrutiva em Cães e Gatos

Jaboticabal São Paulo – Brasil

2017

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Almanaque de Medicina Veterinária e Zootecnia – AMVZ

v. 3, n. 1, supl. 1 - (jan./jun. 2017)

Ourinhos, SP - Brasil - 2017 - semestral

1. Medicina Veterinária - 2. Zootecnia - 3. Saúde Animal - 4. Periódico/Científico

Faculdades Integradas de Ourinhos - Curso de Medicina Veterinária

Rodovia BR-153, Km 338+420m - Água do Cateto, CEP: 19909-100

Ourinhos - São Paulo

Telefone (14) 3302-6400 / E-mail: [email protected]

EDITORES

Prof. Dr. Caio José Xavier Abimussi

Prof. Me. Felipe Gazza Romão

EDITORES ASSOCIADOS

Prof.ª Dr.ª Beatriz Perez Floriano

Prof. Dr. Breno Fernando Martins de Almeida

Prof.ª Dr.ª Cláudia Yumi Matsubara Rodrigues Ferreira

Prof. Dr. Edson Suzuki

Prof.ª Dr.ª Fernanda Saules Ignácio

Prof. Esp. Freddi de Souza Bardela

Prof. Dr. Guilherme Augusto Marietto Gonçãlvez

Prof.ª Dr.ª Isabela Bazzo da Costa

Prof. Dr. Izidoro Francisco Sarto

Prof. Dr. Luiz Daniel de Barros

Prof.ª Dr.ª Márcia Regina Coalho

Prof. Me. Marco Aurélio Torrecillas Sturion

Prof. Me. Mariana Tiai Kihara

Prof. Me. Nazilton dos Reis Filho

Prof.ª Dr.ª Raquel de Queiroz Fagundes

Prof.ª Me. Renata Bello Rossetti

Prof. Me. Tiago Torrecillas Sturion.

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Chefes da comissão científica:

▪ Prof. Dr. Andrigo Barboza De Nardi

▪ Prof. Me Nazilton de Paula Reis Filho

Membros da Comissão avaliadora:

▪ Esp. Thuanny Lopes Nazaret

▪ Prof. Dra. Ana Lucia de Carvalho Rosa Pascoli

▪ Dra. Josiane Morais Pazzini

▪ Esp. Julielton de Souza Barata

▪ Esp. Juliana de Oliveira Ribeiro

▪ Me. Bruna Fernanda Firmo

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CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS TRABALHOS Serão aceitos resumos expandidos, os quais serão apresentados em forma de pôster. Os trabalhos

selecionados serão publicados em edição especial do ALMANAQUE DE MEDICINA VETERINÁRIA

E ZOOTECNIA (AMVZ - ISSN 2447-0716) em: http://www.fio.edu.br/revistamv, de acordo as

normas abaixo.

Os trabalhos devem ser enviados para o e-mail: [email protected]

INSTRUÇÕES PARA ENVIO DE TRABALHOS PARA O CURSO 1. Serão aceitos trabalhos experimentais, estudos retrospectivos de casos ou relatos de casos clínicos-

cirúrgicos (apenas relatos inéditos ou de importante contribuição) relacionados com o tema do evento,

cuja relevância do assunto e qualidade do manuscrito deverão ser julgadas e aprovadas pela comissão

científica.

2. Os assuntos deverão ser pertinentes aos temas relacionados ao evento ou afins.

3. Só serão aceitos trabalhos cujo autor responsável pela apresentação esteja inscrito no evento.

4. Cada inscrito pode submeter até dois trabalhos.

5. O texto deve ser redigido em português, em editor de texto Word for Windows, versão 6.0 ou superior,

utilizando fonte Times New Roman, tamanho 11, em espaço 1,5, sendo o tamanho de folha A4 com

margens de 1,5 cm. O resumo deverá ter no máximo o total de 3 páginas, incluindo referências, figuras e

tabelas. A seguinte sequência deve ser obedecida:

a. Título em português,

b. Título em inglês,

c. Nomes dos Autores, normatizados cientificamente (SILVA, J.C.), indicando sua instituição ou

estabelecimento de origem, logo abaixo dos nomes por meio de números sobrescritos, bem como

endereço e e-mail para contato do autor principal.

d. O nome do apresentador do trabalho deverá estar sublinhado, sendo que o mesmo deverá estar inscrito

no evento antes do envio do trabalho.

e. O trabalho será subdividido em: introdução, objetivo(s), metodologia, resultados, discussão,

conclusão(ões) e referências bibliográficas (OBS: no corpo do trabalho pode existir a presença de fotos,

tabelas, quadros, etc).

6. Normas para formatação de referências bibliográficas

• Nas referências bibliográficas devem constar todos (e somente) os trabalhos citados no texto,

listados por ordem de aparecimento no texto.

• Quando as publicações tiverem até três autores, todos os nomes precisam ser relacionados. Acima

deste número, coloca-se apenas o primeiro seguido da expressão et al.

• A formatação deve ser seguida conforme os exemplos que se seguem:

Periódico científico

• No caso de publicações periódicos científicos, deve-se indicar: os nome dos autores; o ano de

publicação; o título completo do trabalho; o nome da publicação por extenso, sem abreviações; o

volume; a primeira e a última páginas.

Até três autores

• Kopp R, Dembinski R, Kuhlen R (2006). Role of extracorporeal lung assist in the treatment of

acute respiratory failure. Minerva Anestesiologica, 72: 587-595.

Acima de três autores

• Liebold A. et al. (2002). Pumpless extracorporeal lung assist using an arterio-venous shunt:

applications and limitations. Minerva Anestesiologica, 68: 387-391.

Periódico eletrônico científico

• Os periódicos eletrônicos científicos devem ser referenciados citando-se os autores; o ano da

publicação; o título do artigo; o volume; o endereço eletrônico; o doi, se houver, e a data de

acesso.

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• Balasubramanian SK et al. (2007). Factors influencing the outcome of paediatric cardiac surgical

patients during extracorporeal circulatory support. Journal of Cardiothoracic Surgery, 2.

Disponível em: www.cardiothoracicsurgery.org/content/2/1/4. Acesso em: 14 fevereiro 2008.

Apresentação em evento

• Para trabalhos apresentados em eventos citar: os autores; o ano; o título; o nome do evento; a

publicação; o volume e as páginas referentes.

• Tognoli GK et al. (2007). Autotransfusão sanguínea na colheita de medula óssea em cães. In:

Simpósio Multidisciplinar sobre Células-Tronco, São Paulo. Anais..., 2: 31-32.

Livro

• Ao inserir referências de livros deve-se colocar o nome dos autores; o ano de publicação; o título

da publicação; a cidade da editora; a editora; o volume, se houver; o número da edição, se não for

a primeira, e o número total de páginas.

• Fossum WT et al. (2002). Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Ed. Roca Ltda., 1335 p.

Capítulo de livro

• Já para os capítulos de livros, deve-se colocar o nome dos autores do capítulo; o título do capítulo;

os autores do livro; o ano de publicação; o título do livro; o volume, se houver; o número da

edição, se não for a primeira; a cidade da editora; a editora e o número total de páginas.

• Day TK, Bateman S. Síndrome choque. In: DiBartola SP (2007). Anormalidades de fluidos,

eletrólitos e equilíbrio ácido-básico na clínica de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Ed. Roca

Ltda., 523-546.

Teses (mestrado ou doutorado)

• As teses, de mestrado ou de doutorado, devem ser referenciadas com o nome do autor; o ano; o

título, não se esquecendo de especificar se é de mestrado ou de doutorado; o curso e a instituição

de origem; a cidade e o número de páginas.

• Froes TR (2004). Utilização da Ultrassonografia em Cães com Suspeita de Neoplasias do Sistema

Digestório (Fígado, Intestino e Pâncreas). Tese de Doutorado. Faculdade de Medicina Veterinária

e Zootecnia, Universidade de São Paulo. São Paulo, 155p.

DATA LIMITE PARA O ENVIO DOS TRABALHOS

03 DE MARÇO DE 2017 • A comissão científica deverá julgar o mérito dos trabalhos, com base nos pareceres dos

consultores e os autores receberão a comunicação, sobre o aceite ou recusa, por e-mail.

• Comissão de ética: todos os trabalhos experimentais envolvendo a utilização de animais devem ter

a aprovação da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Instituição de origem. Favor

inserir o nº do protocolo de aprovação no final do resumo. Não serão julgados os trabalhos que

não obedecerem esta norma.

AVALIAÇÕES • A divulgação dos resultados, possivelmente, será posterior ao dia 03 de abril de 2017.

APRESENTAÇÃO DOS PÔSTERES Os pôsteres deverão ter as dimensões de 1,00m de altura por 0,80m de largura. O título deverá ser o

mesmo utilizado no resumo e ser escrito em letras maiúsculas que permitam leitura a três metros de

distância. O texto deverá conter as mesmas informações do resumo. Recomenda-se utilizar fotografias,

gráficos e figuras que facilitem comunicação visual.

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Os painéis deverão ser colocados no início do primeiro dia do evento e retirados no final do terceiro dia

do evento, sendo que o apresentador deverá permanecer no local para eventuais discussões e

esclarecimentos em horário que será previamente comunicado pela Comissão Organizadora. Durante o

evento, um grupo de apoio irá instruir quanto à fixação dos pôsteres e irá fiscalizar a presença do autor do

trabalho junto ao mesmo no horário estabelecido.

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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WALKING SUTURE MODIFICADA PARA A RECONSTRUÇÃO DE AMPLO DEFEITO DE PELE

APÓS EXÉRESE DE FIBROSSARCOMA EM REGIÃO PREPUCIAL DE CÃO – RELATO DE CASO

WALKING SUTURE MODIFIED FOR THE RECONSTRUCTION OF WIDE SKIN DEFECT AFTER

RESECTION OF FIBROSSARCOMA IN PREPUCIAL REGION OF DOG - CASE REPORT

GONÇALVES, M.S.¹ SACCOMANI, A.A.T.²

¹ Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 -

[email protected]

² Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 -

[email protected]

Introdução

O fibrossarcoma é uma neoplasia maligna de tecido mesenquimal (fibroblasto), que se origina de estruturas

de sustentação dos tecidos moles, frequente em cães e gatos. Os locais mais acometidos são pele, tecido

subcutâneo, cavidade oral e nasal, sendo o tratamento de eleição a cirurgia, com amplas margens de segurança em

todas as direções, inclusive o plano profundo¹.

A cirurgia ampla consiste em remoção completa do tumor com margens completas de tecidos normais em

todas as direções, enquanto que cirurgias radicais resultam na remoção completa de estruturas anatômicas,

resultando em possíveis prejuízos estéticos e funcionais2,3.

A walking suture padrão e modificada viabiliza a mobilização da pele das laterais para o centro da

ferida cirúrgica, ao mesmo tempo em que reduz o espaço morto, assim evitando a formação de serosidade. Este

padrão de sutura ainda permite distribuir a tensão ao longo de toda a ferida, diminuindo as áreas de isquemia e

deiscência4.

Objetivo

Os objetivos deste trabalho são descrever um caso clínico-cirúrgico de fibrossarcoma em região prepucial

que após ressecção tumoral com amplas margens, 2 cm em todos os eixos, causou um amplo defeito de pele, do

qual foi utilizada walking suture modificada para o fechamento da ferida cirúrgica.

Descrição do Caso

Um paciente da espécie canina, da raça Pit Bull, macho inteiro, com dez anos de idade e pesando 38 quilos,

foi atendido na Oncologia Veterinária Saccomani, Jundiaí - São Paulo, em Janeiro de 2016, apresentando

nodulação em região prepucial (Figura 1A).

No exame físico o paciente se apresentava alerta, com os sistemas respiratório, nervoso e cardiovascular

dentro da normalidade, assim como sua temperatura. Ao examinar a região da nodulação, esta se apresentava com

aspecto ulceroso e aderida, edemaciada, não este conseguindo expor o pênis além de dor à palpação na região.

Solicitou-se exame de citologia aspirativa por agulha fina em que o resultado foi sugestivo de Carcinoma.

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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Diante do resultado foram pedidos exames complementares, hemograma, perfil bioquímico, radiografia

torácica em três posições e ultrassom. Os exames laboratoriais estavam dentro da normalidade para a espécie em

questão, porém a radiografia torácica demonstrou um nódulo, sugerindo metástase pulmonar.

Paciente foi encaminhado para a cirurgia, para completa ressecção do tumor com margens de segurança, 2

cm em todo seu eixo, e em consequência desta margem, foi realizada a amputação do pênis (penectomia),

ocasionando um amplo defeito de pele. Foi realizada a uretrostomia, e após este procedimento toda a pele do flanco

foi divulsionada e então preparada para a aplicação da walking suture modificado, do qual a sutura a ser realizada é

a sutura em “X” ou Sultan, com inserção do fio na derme e tração da mesma, seguida da ancoragem dupla da fáscia

do músculo reto abdominal ocasionando o efeito de plicatura e assim foi reduzido o defeito cirúrgico. O fio

empregado para o walking suture modificado foi o absorvível (Fio Ácido Poliglicólico) nº 2-0. Na sequência

reconstituiu-se o tecido subcutâneo com sutura simples interrompida, utilizando fio absorvível (Fio Ácido

Poliglicólico) nº 2-0 e para a pele sutura simples interrompida e utilizou-se fio de nylon (3-0).

No pós-operatório imediato utilizou-se compressa gelada para diminuir a inflamação e o edema e

bandagem compressiva para diminuição de seroma.

Resultados

Apesar de o paciente apresentar idade avançada e a radiografia torácica sugerir metástase pulmonar,

recuperou-se do procedimento cirúrgico e da anestesia inalatória, assim como o trans-operatório ocorreu como o

esperado, sem intercorrências, não havendo dificuldade na realização da técnica.

Observou-se que tanto a walking suture padrão como a modificada tem bons resultados, obtendo o

completo fechamento da ferida cirúrgica, mesmo o paciente sendo um animal de raça grande (Pit Bull) e que o

efeito plicatura ocasionado pela dupla inserção na fáscia do músculo reto abdominal, resultou em menor tensão da

pele, facilitando assim a síntese do amplo defeito de pele.

O pós-operatório transcorreu como o esperado, o paciente continuou com comportamento normal, ingestão

hídrica normal assim como sua apetência, tendo recuperação total, transcorridos 30 dias de procedimento cirúrgico.

O material foi encaminhado para o histopatológico (medida: 16,0 x 10,0 x 10,5 cm), que definiu este como

sugestivo de Sarcoma de Alto Grau, morfologicamente compatível com Fibrossarcoma Pleomórfico, com margens

profundas comprometidas e linfonodos adjacentes livres de malignidade.

Tutora optou por não fazer protocolo quimioterápico e até o presente momento (1 ano após procedimento

cirúrgico) o animal não apresentou recidiva (Figura 1B)

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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Figura 1 - A) Fotomacrografia de um cão portador de sarcoma alto

grau em região prepucial. Apresentação clínica da doença. B)

Fotomacrografia do pós-operatório tardio de um cão submetido à

ressecção cirúrgica de sarcoma alto grau. Notar a ausência de recidiva

após 1 ano de pós operatório. Oncologia Veterinária Saccomani,

Jundiaí - São Paulo, 2017.

Disscussão

Os Sarcomas de Tecidos Moles (Fibrossarcoma, no referido caso), têm um comportamento biológico

característico, a agressividade local, permitindo que estes sejam capazes de invadir tecidos subjacentes, formando

uma pseudocápsula. Suas margens são mal definidas, e por este motivo, a pseudocápsula é contaminada por células

neoplásicas viáveis e não deve ser considerada parâmetro de segurança durante a ressecção do tumor5. No referido

caso, o paciente apresentava uma massa neoplásica extensa, atingindo toda região prepucial, dificultando a

ressecção desta massa com margens cirúrgicas livres. A remoção cirúrgica foi satisfatória, pois causou um maior

conforto ao animal, devido este não sentir mais dor.

A walking suture padrão ou modificada tem por finalidade diminuir o espaço morto distribuindo a tensão

em toda a superfície da ferida, em oposição às forças de concentração nas margens da pele, facilitando o avanço

das bordas da pele para o centro da ferida cirúrgica. Na walking suture modificada, se faz duas mudanças. A

primeira no padrão da síntese, do qual a sutura interrompida simples é substituída pela de Sultan (sutura em “X” ou

Cruzada). E a segunda mudança é a dupla inclusão da fáscia do músculo reto abdominal, ocasionando o efeito de

plicatura da camada muscular e, portanto reduzindo o tamanho da ferida cirúrgica a ser reconstituída, pois as

margens estão em posição próxima, diminuindo assim a tensão da pele. Além do mais, a walking suture modificada

possibilita a redução do espaço morto, não havendo a necessidade do uso de drenos, diminuindo os riscos de

infecção que estes podem causar4,5,6. No caso descrito acima, observou-se que esta técnica (walking suture

modificada), devido ao efeito plicatura ocasionado pela inserção de fio na derme e dupla inserção do fio na fáscia

muscular do músculo reto abdominal, promoveram diminuição da tensão das bordas da ferida, propiciando o a

cicatrização primária.

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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Conclusão

As técnicas de cirurgias reconstrutivas precisam ser mais estudadas a fim de promover diminuição de

defeitos estéticos e maior conforto aos pacientes.

A walking suture modificada é uma técnica pouco utilizada e pouco estudada, e se mostrou eficaz na

síntese do amplo defeito de pele no referido caso. O efeito chamado plicatura ocasionado pela walking suture

modificada, resulta em uma tensão de pele menor e também em menor isquemia, além de diminuir o tempo

cirúrgico.

Bibliografia

1. Pliego, CM. et al. Tratamento Neoadjuvante com BCG em fibrossarcoma canino. Relato de Caso. Vet e

Zootecn. (2010), jun.; 17 (2): 219-223.

2. Farese, JP.; Withrow, SJ. Surgical Oncology. In: Withrow, SJ.;Vail, DM.; Page, RL. (2013). Small Animal

Clinical Oncology. 5. ed. Philadelphia: WB. Saunders Comapny., 149-156.

3. Berg, J. Tratamento Cirúrgico. In: Slatter, D. ( 2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3. ed. Vol. 2.

Barueri: Ed. Manole., 2324-2328.

4. Rodaski, S. et al. (2003). Walking Suture Modificada para a Reconstituição de Amplos Defeitos de Pele após

Mastectomias em 86 fêmeas caninas. MedVep. 1(4): 243-248.

5. Jark, PC. et al. Sarcomas de Tecidos Moles Cutâneos e Subcutâneos em Cães. In: Daleck, CR.; De Nardi, AB.

(2016). Oncologia em Cães e Gatos. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Roca Ltda., 517-529.

6. Fowler, D. Tension Relieving Techiniques and Local Skin Flaps. In: Fowler, D.; Williams, JM. (1999). Manual

of Canine and Feline Wound Management and Reconstruction. Bristish Small Animal Veterinary Association.

United Kingdon., 56-68.

7. Pavletic, MM. (2010) Atlas of Small Animal Wound Management and Reconstructive Surgery. WB Saunders,

696 p.

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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RETALHO DE PADRÃO AXIAL DA ARTÉRIA GENICULAR EM UM CASO DE MASTOCITOMA –

RELATO DE CASO

AXIAL PATTERN RETAIL OF THE GENICULAR ARTERY IN A CASE OF MASTOCITOMA – CASE

REPORT

SACCOMANI, A.A.T.¹ GONÇALVES, M.S.² FRACASCIO, S.³ CROCIOLLI, G.C.4

¹ Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 –

[email protected]

² Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 –

[email protected]

³ Sorriso Pets - Rua: Paulista, 31 – Jundiaí, SP – CEP: 13215-270 – [email protected] 4 Avet – Anestesiologia Veterinária – Rua: Visconde de Taunay, 237 Jundiaí, SP – CEP: 13202-540 –

[email protected]

Introdução

Nos últimos 20 anos, houve uma grande evolução na qualidade e quantidade de tratamentos oncológicos,

sendo a cirurgia oncológica uma modalidade que envolve aspectos cirúrgicos de tecidos moles, ortopedia e

neurologia, e demandando conhecimento em anatomia, fisiologia, ressecção assim como procedimentos de

reconstrução de tecidos ¹.

As técnicas de correções realizadas em cirurgias reconstrutivas são os retalhos e os enxertos. Os retalhos

podem ser subdérmicos e de padrão axial. Os retalhos de padrão axial são pediculados e recebem essa denominação

por incorporarem uma artéria e uma veia em sua base. A vantagem deste retalho é a variabilidade de locais em que

podem ser executadas as reconstruções. No caso descrito foi feito o retalho de padrão axial da artéria genicular, que

é utilizado para corrigir defeitos que envolvam a tíbia lateral e medial e a articulação tibiotársica. Esse modelo é

constituído do ramo genicular curto da artéria safena e da veia safena medial.

Objetivo

Este trabalho tem como objetivo descrever o relato de caso de um canino com mastocitoma de baixo grau

(Kiupel, 2011), em membro posterior direito, submetido à reconstrução cutânea com retalho de padrão axial da

artéria genicular após exérese da neoplasia.

Descrição do Caso

Foi atendido na Oncologia Veterinária Saccomani, Jundiaí – São Paulo, um canino da raça Labrador

Retriever, castrado, pesando 44 quilos e sete anos de idade, com nodulação em membro posterior direito, região

tibial lateral, medindo 25,6 x 32,5 mm, de crescimento contínuo há três semanas, com aspecto macio, não ulcerado

e não aderido à musculatura.

A citologia aspirativa por agulha fina desta nodulação tem como resultado sugestivo de mastocitoma.

Exames complementares também foram solicitados, como hemograma, perfil bioquímico, ultrassonografia

abdominal, radiografia torácica, eletrocardiograma e ecocardiograma. Os resultados encontravam-se dentro da

normalidade para a espécie em questão e não foram detectadas metástases nos exames de imagem.

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ISSN 2447-0716 Alm. Med. Vet. Zoo.

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Diante do resultado da citologia aspirativa por agulha fina, foi orientado ao tutor a realização de

procedimento cirúrgico e este foi encaminhado para a cirurgia.

Como medicações pré-anestésicas, foram utilizadas Acepromazina 0,02 mg/Kg IM e Metadona 0,4 mg/Kg

IM. A indução anestésica foi realizada com Midazolan (0,3 mg/Kg IV) e Propofol (dose efeito) e a manutenção

com Isofluorano em circuito semifechado. Após antissepsia da região cirúrgica, teve início a incisão de pele

peritumoral com margens de três centímetros.

Seguindo os protocolos da cirurgia oncológica, houve substituição do material contaminado, assim como a

troca de luvas do cirurgião e auxiliares, para poder realizar a incisão do retalho e a síntese do defeito criado.

Para a síntese da ferida cirúrgica, foi realizado o retalho de padrão axial da artéria genicular e o leito doador

reparado com a redução do espaço subcutâneo com suturas de avanço (walking suture) e a pele aproximada em

padrão de sutura simples interrompida e utilizou-se fio de nylon 3-0 (Figura 1 A e B).

Realizou-se já no pós-operatório imediato, compressa gelada com a finalidade de diminuir o edema e a

inflamação local. O retalho foi protegido por Bandagem de Robert Jones.

O tecido obtido foi enviado para exame histopatológico e resultou em Mastocitoma de Baixo Grau (Kiupel,

2011) e com margens livres de células neoplásicas.

Ao vigésimo primeiro dia com total cicatrização (Figura 2B), foi instaurado protocolo quimioterápico com

Vimblastina.

Figura 1 - A) Defeito criado após exérese neoplásica, e

incisão cutânea do retalho; B) Liberação do retalho por

dissecação romba.

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Figura 2 - A) Pós-cirúrgico imediato; B) Aspecto da ferida

após 21 dias de pós-operatório, observando total

cicatrização.

Discussão

A excisão cirúrgica com amplas margens (três centímetros em todas as direções, inclusive plano profundo)

é indicada para os mastocitomas caninos, pois embora possam parecer massas discretas, microscopicamente as

células neoplásicas se estendem para áreas não palpáveis. Um exame cuidadoso das margens histológicas é

imperativo, entretanto, mesmo as margens histologicamente limpas não garantem que um tumor não volte a

ocorrer, isto é particularmente relevante para os tumores grau II e III em que os tecidos subjacentes podem estar

envolvidos. Sendo assim a cirurgia oncológica ainda é o método de escolha no tratamento das neoplasias e, dentro

da cirurgia oncológica, existe a cirurgia reconstrutiva que lida com o reparo dos defeitos e das malformações de

natureza congênita ou adquiridas 4,5,6.

No presente caso a nodulação se localizava em membro posterior na região tibial lateral.

As complicações no fechamento de uma ferida em cirurgia reconstrutiva incluem deiscência, infecção,

formação de hematomas ou seroma, formação de cicatriz exuberante e comprometimento circulatório dos tecidos

distais ao ferimento7. No referido caso, ocorreu apenas o seroma, sendo este drenado a cada 24 horas.

Conclusão

A técnica reconstrutiva do retalho de padrão axial genicular, utilizada para a correção do defeito na região

do membro pélvico direito, mostrou-se eficaz por ser uma área de pouca elasticidade do tecido ao redor, sendo sua

síntese dificultosa.

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A escolha desta técnica também possibilitou a exérese do tumor com margens amplas, minimizando as

chances de recidivas e não havendo a necessidade de técnicas radicais, como a amputação do membro, havendo a

preservação e função do mesmo e, dessa forma, proporcionando maior qualidade de vida ao paciente.

Referências Bibliográficas

1. Casagrande, TAC, Matera, J. Cirurgia Oncológica em Cães e Gatos. In: Jericó, MM; Neto, JPA; Kogika, MM

(2015). Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. Volume 1. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Roca Ltda. 521-

524.

2. Pazzini, JM. et al. Cirurgia Reconstrutiva Aplicada na Oncologia. In: Daleck, CR; De Nardi, AB. (2016).

Oncologia em Cães e Gatos. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Roca Ltda. 179-186.

3. Daleck, CR; Rocha, NS; Ferreira, MGPA. Mastocitoma. In: Daleck, CR; De Nardi, AB. (2016). Oncologia em

Cães e Gatos. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Roca Ltda. 649-659.

4. London CA; Seguin,B. (2003). Mast cell tumors in the dog . Vet Clin Small Anim ,33: 473–489.

5. Pargana, AM. (2009). Técnicas Reconstrutivas em Cirurgia Oncológica de Canídeos e Felídeos. Dissertação de

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de

Lisboa. Lisboa, 155p.

6. Pavletic, MM. Enxertos Pediculados. In: Slatter, D. (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. Volume

1. 3. ed. Editora Manole Ltda. 292-321.

7. Castro, JLC. et al. Introdução à Anatomia. In: Castro, JLC. et al. (2015). Princípios e Técnicas de Cirurgias

Reconstrutivas da Pele de Cães e Gatos (Atlas Colorido). 1. ed.Curitiba:Medvep. 286p.

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RETALHO SUBDÉRMICO DE AVANÇO PARA A OCLUSÃO DE DEFEITO APÓS RESSECÇÃO DE

CARCINOMA DE GLÂNDULA APÓCRINA EM REGIÃO CERVICAL DORSAL - RELATO DE CASO

ADVERTISING SUBDERGIC RETAIL FOR DEFECTIVE OCCLUSION AFTER APOCRINE GLAND

CARCINOMA RESSECTION IN DORSAL CERVICAL REGION - CASE REPORT

SACCOMANI, A.A.T.¹ GONÇALVES, M.S.²

Palavras-chave: Cirurgia oncológica, carcinoma de glândula apócrina, flap de avanço pediculado

¹ Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 -

[email protected]

² Oncologia Veterinária Saccomani - Rua: Visconde de Taunay, 237 - Jundiaí, SP - CEP: 13202-540 -

[email protected]

Introdução

Os carcinomas de glândulas apócrinas compreendem um grupo de tumores malignos raros da pele (em

torno de 1.1% de todos os tumores de pele) e tendem a ocorrer na cabeça, pescoço e membro, acometem de

preferência cães idosos, com maior incidência entre 8 e 12 anos de idade, apesar de já terem sido descritos em

animais com dois anos de idade . Na sua forma difusa, se caracteriza por invadir os linfáticos da derme e apresentar

recidiva local após excisão cirúrgica e as metástases podem ocorrer nos linfonodos linfáticos e pulmões

(KALAHER, ANDERSON e SCOTT, 1990; HAUCK, 2013; GRANDI, RONDELLI, 2016).

Em virtude da frequência das neoplasias, as cirurgias reconstrutivas tem sido uma opção, principalmente

nos casos de neoplasias extensas que necessitem de amplas margens, assim, realiza-se a excisão tumoral e, depois

se faz a reconstrução local, promovendo a síntese da ferida cirúrgica (PAZZINI ET AL, 2016).

Nos casos de Carcinoma de glândula apócrina, o tratamento de eleição é remoção cirúrgica total, com

ampla margem de segurança (GRANDI, RONDELLI, 2016).

Objetivo

O objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico-cirúrgico de um carcinoma de glândula apócrina em

região cervical dorsal, que foi submetido à excisão cirúrgica com ampla margem de segurança de 3 cm, e utilizou-

se a técnica de retalho subdérmico de avanço.

Relato de Caso

Uma paciente, da espécie canina, raça Cocker Spaniel de doze anos de idade foi atendida devido a um

nódulo em região cervical dorsal, em abril de 2014. Durante o exame físico o animal apresentou-se alerta,

temperatura normal para a espécie e parâmetros vitais normais, porém com prurido no local do nódulo. Foi

realizado anteriormente citologia aspirativa, a qual o laudo foi inconclusivo.

Durante o exame físico observou-se que o nódulo tinha consistência firme, aderido, ulcerado e medindo

40,81 x 35,60 mm (Figura 1).

Foram realizados exames laboratoriais e estes se encontravam dentro dos parâmetros normais para a

espécie em questão. Foram realizados também exames radiográficos e de ultrassom para avaliação de metástases.

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Os resultados estavam dentro da normalidade. Além destes, eletrocardiograma e ecocardiograma foram realizados

para estabelecer o risco cirúrgico.

Optou-se em fazer a margem de segurança ampla com três centímetros em todos os eixos, devido à

citologia ter resultado inconclusivo e, portanto não se tinha o conhecimento do tipo tumoral ali presente. Foi

realizada incisão da pele peritumoral, formando uma figura geométrica em forma de retângulo. Mensurou-se com

um paquímetro a largura e o comprimento do defeito criado, pois o comprimento do retalho geralmente é igual ao

comprimento da ferida cirúrgica. Divulsionamos a pele até o plexo subdérmico, assim o retalho deslizou na direção

mais distante do defeito e realizou-se sutura em padrão simples na pele com fio de nylon 2-0 (Figura 2).

Completa cicatrização da ferida 30 dias pós-operatório (Figura 3).

O laudo histopatológico definiu o material morfologicamente sugestivo de carcinoma de glândula apócrina,

com margens cirúrgicas livres, e foi sugerida quimioterapia com Doxorrubicina na dose de 30 mg/m² a cada 3

semanas totalizando quatro sessões.

Após a realização do protocolo quimioterápico, totalizando 4 sessões, foi realizado exames de imagem,

como ultrasom e raio x. Na avaliação radiográfica foi observada metástase pulmonar. Tutora não aceitou realização

de novo protocolo quimioterápico. Animal veio a óbito em maio de 2015.

Figura 1 - Nódulo ulcerado e mensuração no momento do

exame físico; Figura 2 - Incisão da pele peritumoral com

margens de 3 cm e defeito criado após exérese tumoral; Figura 3

- Aspecto da ferida cirúrgica com 30 dias de pós-operatório,

observando-se a completa cicatrização da ferida cirúrgica.

Discussão

A cirurgia realizada neste relato tem o propósito curativo com o objetivo de aumentar o tempo de sobrevida

do animal ou mesmo a erradicação do tumor, assim um importante aspecto a definir é a margem cirúrgica livre de

células tumorais, o que foi confirmado pelo exame histopatológico, do caso apresentado (DAGLI, 2015).

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A escolha da margem cirúrgica irá afetar o sucesso da cirurgia, principalmente ser for com o objetivo de

cura do tumor. A margem de segurança vai depender do tipo histológico do tumor assim como seu grau, portanto o

ideal seria uma biópsia pré-operatória (WITHROW e FARESE, 2013).

O extenso fornecimento sanguíneo e a abundância de pele na cabeça e região cervical proporcionam várias

opções para a reconstrução de feridas abertas por excisão cirúrgica. A maioria dos defeitos pode ser reconstruída

por retalho subdérmico de avanço único (retalho unipediculado), retalho de transposição, retalho por rotação,

retalho de padrão axial ou combinação destes procedimentos. Os retalhos subdérmico de avanço, de transposição e

de rotação são os mais usados para a região cervical e de cabeça devido ao plexo subcutâneo, apesar de não ter uma

artéria dominante, o suprimento é feito pelos ramos dos vasos cutâneos diretos (RODASKI e DALECK, 2010).

A técnica cirúrgica utilizada neste relato foi o retalho subdérmico de avanço (retalho de avanço único).

Esse é um retalho simples de se elevar e não cria um defeito no leito doador, já que a pele é simplesmente avançada

em direção ao defeito, porém a técnica apresenta algumas desvantagens. A proporção de pele que se pode

conseguir depende diretamente da quantidade de pele livre disponível adjacente à ferida, que irá variar de acordo

com a região, com a espécie do animal e a raça, por isto esta técnica é muito utilizada em região de cabeça e

pescoço, em virtude de poder utilizar a pele abundante do dorso do pescoço. O comprimento do retalho deve ser

igual ao comprimento da ferida e a divulsão deve ser profunda, até chegar ao plexo subdérmico, que gradualmente

avança a pele para frente (LASCELLES, 2005).

Conclusão

Conclui-se que a cirurgia feita no caso descrito foi o retalho subdérmico de avanço, devido à nodulação

estar na região cervical dorsal a qual possui um aporte sanguíneo abundante e pele suficiente para este

procedimento, diminuindo o risco de deiscência.

Referências Bibliográficas

1. Kalaher K.M; Anderson, W.I, Scott D.W: Neoplasms of the apocrine sweat gland in 44 dogs and 10 cats.

Veterinary Record 127(16):400-403, 1990.

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Small Animal Clinical Oncology, 5. ed. St. Louis, Missouri: Elsevier Saunders., 305-320.

3. Grandi, F.;Rondelli, MCH. Neoplasias Cutâneas. In: Daleck, CR.; De Nardi, AB. (2016). Oncologia em Cães e

Gatos. 2 ed. São Paulo. Ed. Roca., 339-363.

4. Pazzini, JM. et al. Cirurgia Reconstrutiva Aplicada na Oncologia. In: Daleck, CR; De Nardi, AB (2016).

Oncologia em Cães e Gatos. 2. ed. São Paulo: Ed. Roca LTDA., 179-186.

5. Dagli, MLZ. Oncologia Veterinária. In: Jericó, MM; Net, JPA; Kogika, MM. (2015). Tratato de Medicina

Interna de Cães e Gatos (Volume1), 1. Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan lTDA., 477-593.

6. Withrow, SJ; Farese, JP. Surgical Oncology. In: Withrow, SJ; Vail, DM; Page, RL. (2013). Small Animal

Clinical Oncology, 5. ed. St. Louis, Missouri: Elsevier Saunders., 149-156.

7. Rodaski, S; Daleck, CR. Cirurgia Oncológica. In: Daleck, CR; De Nardi, AB; Rodaski, S. (2010). Oncologia

em Cães e Gatos. 1. ed. São Paulo: Ed. Roca LTDA., 151-160.

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8. Lascelles, BDX. (2005). Principles of Oncological Surgery. In: North America Veterinary Conference. Orlando

– Flórida: 646-647.

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RETALHO DE PADRÃO AXIAL BRAQUIAL SUPERFICIAL PARA REPARO DE DEFEITO

CIRÚRGICO APÓS RESSECÇÃO DE FIBROSSARCOMA.

BRAQUIAL SUPERFICIAL AXIAL PATTERN RETAIL FOR SURGICAL DEFECT REPAIR AFTER

FIBROSSARCOMA RESESSMENT.

LAGO, W. N. M.1 MOREIRA, M. C. S. R. J.² VOLKWEIS, S. F.1

1FACIPLAC - Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central (SIGA, Setor Leste, Gama/Distrito

Federal, CEP: 72.445-020; [email protected] ; [email protected] 2Animax Hospital Veterinário (Condomínio San Diego, lote 385, Jardim Botânico, Lago Sul -DF).

Introdução

A doença oncológica é uma das principais causas de morte no cão, sendo que cerca de 50% dos animais

serão acometidos por um processo neoplásico durante a sua vida1. O fibrossarcoma é uma neoformação maligna

mesenquimatosa, sendo a terceira neoplasia que mais atinge cães em idade média de oito anos e de grande porte,

nos quais indivíduos machos são normalmente mais predispostos 2, 3. Grande parte dos fibrossarcomas possuem

crescimento rápido e infiltrativo4, ocorrendo com mais frequência na cabeça e nos membros. Sendo assim, a

excisão cirúrgica completa é o tratamento de eleição5, nos quais o uso de técnicas cirúrgicas reconstrutivas fazem-

se necessárias em significativo número de casos. O termo cirurgia reconstrutiva, refere-se a utilização de técnicas

de reconstrução tecidual, como enxertos e retalhos 6, quando a completa e perfeita coaptação das bordas teciduais

não é possível devido ao excesso de tensão tecidual 7, 8, 9. O excesso de tensão no fechamento de feridas pode causar

deiscência da sutura, necrose, comprometimento circulatório, atraso na cicatrização e desconforto, por isso a

importância de se avaliar as linhas de tensão antes da correção de defeitos de pele 6, 10, 11. O retalho de padrão axial

braquial superficial possibilita a correção de defeitos em região de rádio / ulna e cotovelo, sendo um recurso

cirúrgico relevante após exérese neoplásica ou por lesões em extremidades de membros torácicos 12.

Objetivos

Os objetivos do trabalho em questão foram a implementação e a descrição trans e pós-cirúrgica da técnica

de retalho de padrão axial braquial superficial para reparo de defeito cirúrgico após ressecção de fibrossarcoma,

assim como o relato dos respectivos resultados estéticos e funcionais da técnica.

Metodologia

Foi atendido em um Hospital particular de Brasília- DF, um canino, Pit Bull, macho, 10 anos de idade com

histórico de tumor recidivante em membro torácico direito. O canino já havia sido submetido a duas cirurgias

anteriores com laudo histológico de fibrossarcoma, com intervalo entre as recidivas de aproximadamente quatro

meses, com crescimento em mesmo local. Devido à recorrência, optou-se por cirurgia reconstrutiva que

possibilitasse ampla margem de segurança. Foi realizada radiografia torácica em três posições e ultrassonografia

abdominal, não evidenciando alterações metastáticas. Foram realizados exames pré-cirúrgicos: hemograma

completo, bioquímico renal e hepático, eletrocardiograma e citologia aspirativa do nódulo. Foram observadas

alterações somente na citologia aspirativa do nódulo recidivante, com o resultado de células com núcleos

amendoados e sem delimitação de citoplasma, que sugeriram neoplasia mesenquimal em evolução. O paciente foi

encaminhado para a intervenção cirúrgica de exérese tumoral.

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O paciente foi submetido à medicação pré-anestésica, na qual utilizou-se acepromazina (0,05mg/kg) e

morfina (0,5mg/kg), propofol (5mg/kg) para indução e isofluorano para manutenção anestésica. Realizou-se

venóclise e intubação endotraqueal. Com o paciente anestesiado e devidamente monitorado, o mesmo foi

posicionado em decúbito lateral direito. Foi realizada a programação e demarcação com caneta dermográfica logo

após a antissepsia. Após a exérese tumoral efetuou-se a lavagem do defeito, com solução fisiológica, para remoção

de debris celulares do leito neoplásico. Tendo-se optado pela técnica de retalho de padrão axial braquial superficial,

foram desenhadas duas linhas paralelas ao corpo do úmero (porção cranial), que se estenderam dorsalmente (Figura

1-A) e a base do retalho foi centralizada na superfície flexora cranial do cotovelo (Figura 1-B). O retalho foi

cuidadosamente elevado para preservação do plexo subdérmico e vasos braquiais superficiais adjacentes. Após a

ressecção do tecido, o retalho foi rotacionado com posterior sobreposição ao defeito criado. Efetuou-se sutura

simples separada com fio náilon 3-0 (Figura 1-C). No pós-operatório foi utilizada bandagem compressiva.

Figura 1 – A) Imagem transoperatória de linhas de incisão paralelas ao úmero. B)

Imagem transoperatória de formação do retalho cutâneo. C) Imagem de pós-cirúrgico imediato. D) Imagem ao segundo dia pós-cirúrgico, nota-se o edema. E)

Imagem ao sétimo dia pós-cirúrgico com necrose e deiscência de sutura. F) Imagem

ao trigésimo dia pós-cirúrgico, aspecto final do retalho.

Resultados e Discussão

Os resultados estéticos e funcionais finais apresentaram-se satisfatórios (Figura 1-F), no entanto, algumas

complicações pós-cirúrgicas foram detectadas, tais como a evolução de edema de membro (Figura 1-D) e necrose

associada à deiscência de sutura em região distal do retalho (Figura 1-E), aos segundo e sétimo dias pós-cirúrgicos,

respectivamente. Tais complicações foram citadas como passíveis de ocorrência 12 e descritas em outros trabalhos

envolvendo cirurgias reconstrutivas13. O resultado do exame histopatológico evidenciou fibrossarcoma. O

tratamento em questão permitiu a exérese da neoplasia com ampla margem de segurança e consequente não

recidiva tumoral pelos últimos três anos, até o presente momento.

A B

C D

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Conclusão

O retalho de padrão axial com artéria braquial superficial mostrou-se eficaz para a reparação de defeitos

cirúrgicos em região de rádio / ulna cranial, apresentando-se como alternativa eficaz no tratamento cirúrgico de

pacientes oncológicos.

Referências Bibliográficas

1. Vail, D.M. (2008). Introduction to practical oncology & horyzon therapies. In Livro de comunicações das XII

Jornadas Internacionais de Medicina Veterinária da UTAD, Vila Real, Portugal, 14-16 Novembro, pp. 39-43.

2. Mcentee, M. C. (2012). Veterinary radiation therapy: review and current state of the the art. Oral and

maxillofacial surgery in dogs and cats. Pennsylvania: Elsevier p. 387-402.

3. Gardner, D. G.; Baker, D.C. (2013). Canine oral fibrosarcomas: a retrospective analysis of 65 cases (1998-

2010). Veterinary and comparative oncology, p. 1-8.

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dogs (Canis familiares, Linnaeus, 1758) with different staining techniques. Revista Académica: Ciências

Agrárias e Ambientais, 7 (3), 341- 347.

5. Withrow, S. J.; Vail, D. M. (2007). Withrow and MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. Elsevier

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6. Fossum, T.W. (2008). Cirurgia de pequenos animais. 3ª ed. Elsevier, Rio de Janeiro, p.192-228.

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67.

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10. Slatter, D. (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3ª ed. Manole, São Paulo, p.274-338.

11. Pavletic, M. (2010) Atlas of small animal wound management and reconstructive surgery. 3rd ed. Wiley-

Blackwell, Cambridge, p.81-124, p.241-284, p.307-430.

12. Nardi, A. B. et.al. (2015) Técnicas reconstrutivas de membro torácico. Princípios e técnicas reconstrutivas da

pele de cães e gatos. 1° ed. Medvep, Curitiba, p. 164-169.

13. Huppes, R. R. et. al. (2013). Retalho de padrão toracodorsal para correção de defeito extenso após excisão de

histiocitoma fibroso maligno em canino-relato de caso. JBCV – Jornal Brasileiro de cirurgia Veterinária, p.

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TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES PÓS-CIRÚRGICAS APÓS RESSECÇÃO DE MASTOCITOMA

E RECONSTRUÇÃO COM RETALHO DA PREGA AXILAR EM CÃO: RELATO DE CASO

TREATMENT OF POST-SURGICAL COMPLICATIONS AFTER MAST CELL TUMOR SURGERY

AND AXILAR PREGUE FLAP RECONSTRUCTION IN DOG: CASE REPORT

HEDLER, D.L.1 MARTINS, A. B. S.1 PEREIRA, A. C.1 STEVANATO, G. A.1 FRASSON, M. T.2 COELHO, G.

B. C.2 QUARTERONE, C.3 HUPPES, R. R.3

1Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR, Maringá –

Paraná, Brasil. E-mail: [email protected]. 2Médicos veterinários residentes do Hospital Veterinário do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR,

Maringá – Paraná, Brasil. 3Docentes do departamento de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR, Maringá

– Paraná, Brasil.

Introdução

O mastocitoma é uma neoplasia caracterizada pela proliferação excessiva de mastócitos e representa 20 a 25%

de todos os tumores de pele e de tecido subcutâneo em cães (1) e 11 a 27% de todas as neoplasias malignas (2, 3).

Neoplasias mastocitárias podem ser tratadas com cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou com a combinação destes

três tratamentos (4). Sendo que a intervenção cirúrgica é a modalidade de tratamento mais efetiva, desde que

realizada com margens de segurança (5), no mínimo de 3 cm nas laterais e em profundidade (6), sendo que alguns

autores recomendam ampliar a margem cirúrgica para 5 cm se a localização do tumor permitir (7).

A cirurgia reconstrutiva permite a ressecção cirúrgica com margens de segurança, reduzindo o risco de

comprometimento das margens da excisão (8, 9). As cirurgias reconstrutivas possibilitam fechar a ferida cutânea

sem tensão com o objetivo de restauração anatômico-funcional corrigindo disfunções ou perdas sensitivas e

motoras além de proporcionarem um aspecto estético favorável (9, 10). Para a realização de uma cirurgia

reconstrutiva, o cirurgião deve considerar além da localização da neoplasia, a elasticidade do tecido regional e o

suprimento sanguíneo (11). Preservar a vascularização e o suprimento sanguíneo da pele é fundamental para que

haja viabilidade do retalho, podendo ocorrer isquemia e necrose tecidual quando há danos aos vasos (12).

As principais complicações observadas em cirurgias reconstrutivas são a deiscência da sutura que pode ocorrer

devido ao excesso de tensão no fechamento da ferida, contaminação, necrose nas extremidades do retalho, seroma,

hemorragias e hematomas (10, 11).

Objetivo

O objetivo deste trabalho consiste em relatar o tratamento adotado nas complicações pós-cirúrgicas após

ressecção de mastocitoma onde utilizou-se retalho da prega axilar.

Metodologia

Paciente canino, fêmea, 25 kg, nove anos, da raça Pit Bull foi atendida no Hospital Veterinário da Instituição

de Ensino Centro Universitário Cesumar – Unicesumar, em Maringá-PR, e encaminhada para o Centro Cirúrgico

para procedimento de nodulectomia e cirurgia reconstrutiva visando a excisão de massa tumoral da região torácica

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ventral medindo 10,2 cm de largura e 6,3 cm de comprimento confirmada como mastocitoma por exame

histopatológico por biópsia incisional.

A nodulectomia foi realizada com margens cirúrgicas de 2 cm e foi utilizado retalho da prega axilar para

correção do defeito. Após a cirurgia a paciente foi encaminhada para o ambulatório onde seria realizada uma

atadura compressiva, o pequeno intervalo que se passou entre o término da cirurgia e a chegada ao ambulatório

acarretou na formação de hematoma subcutâneo com deformidade secundária, fazendo-se necessária a realização

de uma incisão de punção, ventral à linha da sutura, com intuito de drenar o conteúdo. Após a drenagem foi

realizada a atadura compressiva no local.

A paciente permaneceu no hospital para acompanhamento durante dez dias, onde foram realizados o

monitoramento dos parâmetros fisiológicos, medicação, além da troca diária do curativo. Utilizou-se Reparil Gel®

(escina 10mg/g, salicilato de dietilamônio 50mg/g) e compressas de gelo durante 15 minutos após a lavagem com

solução fisiológica e antes de nova troca de curativo durante os primeiros 7 dias. Formou-se hematoma cutâneo

sem deformação e de coloração roxa no retalho medindo inicialmente 9 cm de largura e 6,5 cm de comprimento,

havendo diminuição significativa durante o período observado (Figura 1 e Figura 2). Formou-se área de necrose no

retalho deixando ferida aberta com 6,6 cm de largura e 3,1 cm de comprimento.

Iniciou-se o tratamento da ferida com película de alginato de cálcio e algodão hidrofílico no novo curativo,

realizado no sétimo dia de pós-operatório Na troca de curativo, realizada no décimo dia, foi determinada a troca da

película de alginato de cálcio por uma película de hidrocoloide. A paciente foi liberada no décimo dia apresentando

um bom estado clínico de saúde, retornando ao hospital após três dias para troca do curativo, no qual utilizou-se

novamente a película de hidrocoloide. No retorno seguinte, após três dias da ultima troca de curativo, foi utilizada a

película de hidrocoloide por uma última vez. A pomada de sulfadiazina de prata 2,5% foi prescrita, sendo os

proprietários orientados a realizarem a troca de curativo em casa duas vezes ao dia. A paciente retornou novamente

ao Hospital após duas semanas, sendo realizado um novo curativo utilizando-se a pomada de sulfadiazina de prata

2,5%.

O tratamento da ferida com pomada de sulfadiazina de prata 2,5% e a troca de curativo realizado pelos

proprietários em domicílio foi adotado até a completa cicatrização da ferida, observada 45 dias após o inicio do

tratamento.

Resultados

O tratamento da ferida cirúrgica apresentou resultados satisfatórios, tendo em vista que as complicações

observadas no retalho apresentaram melhora progressiva evoluindo para completa cicatrização. Houve diminuição

considerável e melhora da coloração do hematoma cutâneo com o tratamento utilizando Reparil Gel® e gelo. O

tratamento adotado para ferida aberta após perda do retalho por necrose apresentou bons resultados na cicatrização

do tecido.

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Figura 1 - Foto mostrando hematoma cutâneo no

terceiro dia de pós-operatório.

Figura 2 - Foto mostrando hematoma cutâneo no

quinto dia de pós-operatório.

Discussão

Deiscência de sutura, contaminação, necrose nas extremidades do retalho, seroma, hemorragias e hematomas

são as complicações comumente observadas em cirurgias reconstrutivas (10, 11). A conduta inicial no tratamento

de feridas consiste em cobrir com atadura limpa e seca a fim de se evitar contaminação e hemorragias, tendo em

vista que as ataduras compressivas possibilitam o controle de hemorragias e edema optou-se por utilizá-la no pós-

operatório. Na presença de necrose, deve-se remover o tecido morto por desbridamento, pois este retarda a

cicatrização. O alginato de cálcio é utilizado para estimular a granulação de feridas após terem sido desbridadas,

absorvendo o exsudato, em vista disso foi a película de escolha para o tratamento de ferida aberta, pois apresenta

uma ação mais satisfatória que o hidrocoloide, que por sua vez é capaz de manter a umidade do local, isolar o leito

da ferida, além de promover o desbridamento autolítico. O alginato de cálcio possui custo mais elevado que o

hidrocoloide, em razão disso, na troca de película, optou-se por utilizar hidrocoloide após reavaliação da ferida.

Utilizar agentes antimicrobianos é de grande importância na eliminação de microrganismos em uma ferida, a

sulfadiazina de prata é eficaz contra a maior parte dos fungos e das bactérias gram-positivas e gram-negativas,

sendo então utilizada a pomada na concentração de 2,5% para o tratamento da ferida aberta (13).

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Conclusões

As complicações observadas no caso relatado condizem com a literatura. O tratamento do hematoma com

Reparil® Gel e gelo, bem como o uso de pomada de sulfadiazina de prata 2,5% e das películas de alginato de

cálcio e hidrocoloide no tratamento da ferida aberta mostraram-se bastante satisfatórios, possibilitando completa

cicatrização.

Referências

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Animal Practice, v. 27, n. 1, p. 73-94.

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5. Fulscher RP et al. (2006). Evaluation of a two-centimeter lateral surgical margin for excision of grade I and

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136.

9. Sakuma CH, MATERA JM, VALENTE NS (2003). Estudo clínico sobre aplicação do retalho cutâneo

pediculado em cirurgia oncológica no cão. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. v.40,

p. 32-37.

10. Huppes RR et al. (2016). Retalho de padrão subdérmico após ressecção de nódulos cutâneos em região do

crânio de cães e gatos – relato de caso. Revista Investigação, 15(7), p. 19-23.

11. Scheffer JP et al. (2013). Cirurgia reconstrutiva no tratamento de feridas traumáticas em pequenos animais.

Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 35 (supl. 1), p. 70-78.

12. Slatter D. (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3 ed. Vol. 1 e 2. São Paulo: Manole. 2714p.

13. Fossum WT et al. (2008). Cirurgia de Pequenos Animais. 3ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 1606p.

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ENXERTO CUTÂNEO AUTÓLOGO DE ESPESSURA COMPLETA EM MALHA PARA CORREÇÃO

DE FERIMENTO TRAUMÁTICO EM CÃO - RELATO DE CASO

AUTOLOGOUS SKIN GRAFT OF FULL MESH THICKNESS FOR CORRECTION OF TRAUMATIC

INJURY IN DOGS - CASE REPORT

PENNA, S.O.S.1 ALVES, J.E.O.2 PORTUGAL, J.O.R.2 CADENA, S.M.R.2 SCHEFFER, J.P.2

1 Universidade Estadual do Norte Fluminense, e-mail: [email protected] 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense

Introdução

A enxertia cutânea consiste na transferência de pele de uma área doadora para um leito receptor distante

(HERMETO; DEROSSI, 2012), empregando-se na correção de grandes defeitos que não podem ser reconstruídos

por justaposição direta nem por retalhos de pele. São comumente empregados em membros e em grandes defeitos

de tronco (FOSSUM, 2014), de origem multifatorial, como, por exemplo, queimaduras, abrasões ou traumatismos,

necrose da pele após um trauma ou cirurgia, deformidades congênitas que foram submetidas a tratamentos

cirúrgicos, entre outros (ALVES et al., 2009). As técnicas de enxertia apresentam grande importância para lesões

com perda tecidual extensa, uma vez que reduzem o tempo de cicatrização e evitam efeitos indesejáveis das

cicatrizações por segunda intenção, tais como a contração cicatricial, formação excessiva de tecido fibroso e

formação de uma frágil superfície epitelizada (MOTA et al., 2011). Os enxertos podem ser classificados de acordo

com a espessura de tecido utilizada como totais ou parciais (HERMETO; DEROSSI, 2012; ALEXANDRE et al.,

2007; NETO et al., 2010) ou, ainda, podem ser classificados também quanto ao tecido de origem, designando-se

como autoenxertos; aloenxerto ou homoenxerto; ou xenoenxerto (HERMETO; DEROSSI, 2012; ALEXANDRE et

al., 2007). Uma quarta classificação é citada por Alexandre et al. (2007), que designam a enxertia entre gêmeos

idênticos como isoenxerto.

O presente relato tem como objetivo descrever a utilização do enxerto cutâneo autógeno de espessura

completa em malha para o fechamento de ferida em região carpo-metacarpo-falangeana na face crânio-lateral do

membro torácico esquerdo após tratamento da ferida oriunda de traumatismo.

Metodologia

Um cão de quatro anos de idade, sem raça definida, de porte médio, foi atendido no Hospital Veterinário da

Universidade Estadual do Norte Fluminense, onde verificou-se extensa lesão tecidual do membro torácico

esquerdo, com exposição óssea dos carpos, metacarpos e falanges. O animal foi sedado para realização da

tricotomia, limpeza e debridamento adequados da lesão e então submetido a tratamento posterior com clindamicina

(10 mg.kg-1, SID, 20 dias) e metronidazol (25 mg.kg-1, BID, 7 dias), carprofeno (4,4 mg.kg-1, SID, 14 dias) e

tramadol (4 mg.kg-1, BID, 5 dias), todos em administração por via oral. Foram realizadas trocas de curativo com

intervalos entre 24-48h, utilizando solução antisséptica de Polihexametileno Biguanida 0,1% (PHMB) e

posteriormente uso da gaze impregnada com PHMB e umedecida com hidrogel de PHMB 0,1%.

Após cerca de 30 dias de tratamento da ferida, era notório a presença de um tecido de granulação uniforme

e saudável e então, adotou-se a técnica de enxerto autólogo de espessura completa em malha para a correção do

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defeito, utilizando o tecido cutâneo da região torácica esquerda como doador. Uma área retangular, com as mesmas

medidas da área da ferida, foi removida da região doadora, retirando-se desta toda a camada subcutânea, mantendo-

se apenas a derme e epiderme. Após a confecção de fendas em fileiras ordenadas de modo a promover a expansão

do enxerto, realizou-se o reavivamento das bordas por meio de debridamento cirúrgico e implantou-se o tecido na

área receptora através de suturas simples interrompidas. Ao final do procedimento, foi realizado o curativo com

gaze seca impregnada com Polihexametileno Biguanida 0,1% (PHMB) e com uma camada de aproximadamente

5mm de gaze estéril, seguido da realização de uma bandagem compressiva de algodão ortopédico e ataduras, a fim

de promover tanto a imobilização do membro, quanto a aderência do enxerto ao leito receptor e evitar sua

mobilidade. A primeira troca da bandagem foi realizada com seis dias de pós-operatório e as demais trocas foram

realizadas em intervalos de três e cinco dias, até a completa cicatrização.

Após a cirurgia, o paciente foi medicado sistemicamente com cefalexina (30 mg.kg-1, BID, 10 dias) e

carprofeno (4,4 mg.kg-1, SID, 7 dias).

Resultados

A primeira troca do curativo foi realizada no sexto dia após a implantação do enxerto e observou-se áreas

do tecido enxertado com colocação rósea, indicando boa aceitação do tecido transplantado e áreas ainda

escurecidas, com aspecto semelhante a um tecido com rejeição, que é normal durante a primeira semana após

implantação do enxerto, sendo mais evidente nas primeiras 48 – 72h. Assim sendo, a segunda troca do curativo

ocorreu 10 dias após a cirurgia e o enxerto apresentava aspecto saudável, com coloração avermelhada, com boa

cicatrização, apesar de apresentar áreas de perda tecidual, sendo essa uma complicação comum nas enxertias. Esse

tipo de complicação pode ocorrer por diversos fatores, tais como: movimentação excessiva do enxerto no leito

receptor, devido aplicação em área articular ou manejo inadequado das bandagens e curativos; infecção; maior

aumento no intervalo de troca de curativos, entre outras causas. Os pontos tanto da área doadora, quanto os pontos

de ancoragem do enxerto, forma removidos com 10 dias de pós-operatório. A cicatrização completa do enxerto

ocorreu após 30 dias do procedimento e o paciente foi acompanhado até 60 dias após a implantação do enxerto

cutâneo autólogo.

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Figura 1. A) Aspecto do membro traumatizado durante a primeira consulta. Notar a

exposição dos metacarpos e carpos; B) Ferida após cinco dias de tratamento; C) Ferida

com 25 dias de tratamento, já apresentando tecido de granulação saudável e uniforme; D)

Aspecto da ferida momentos antes da implantação do enxerto cutâneo autólogo; E)

Aspecto pós-operatório do enxerto em malha após ser implantado; F) Enxerto com

coloração escurecida durante a primeira troca de curativo, no sexto dia de pós operatório;

G) Enxerto em malha 10 dias após a sua implantação, sendo observado áreas de aderência

e de perda do enxerto devido complicações pós operatórias; H) Enxerto com 18 dias de

pós-operatório, onde se observa a mudança de áreas que, anteriormente possuíam tecido

de granulação e agora se apresentam com crostas; I) Aspecto do enxerto após 30 dias de

implantação. Note a reepitelização das áreas de perda do enxerto por complicações, bem

como a espessura fina do epitélio nessas regiões; J) Enxerto após 60 dias de pós-

operatório, observando-se uma melhora no tecido de reepitelização e obtendo-se sua

completa cicatrização. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

Discussão

O emprego da enxertia cutânea para correção de um ferimento causado por trauma de origem desconhecida

com grande perda de tecido cutâneo na região do membro torácico esquerdo foi escolhido com o objetivo de

acelerar o processo cicatricial, haja vista que a localização e extensão da ferida impossibilitavam a realização de

técnicas de retalhos ou de aproximação com suturas simples. A situação clínica descrita corrobora com as

indicações de enxertia descritas por Alves et al. (2009), que descreve que enxertos cutâneos são utilizados para

reparo cirúrgico de grandes defeitos de pele, quais sejam de origem multifatorial.

O manejo inicial da ferida foi primordial para o sucesso da técnica, visto que no primeiro atendimento a

ferida apresentava-se contaminada e com presença de áreas necróticas, requerendo um período de tratamento

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clínico para a formação de um tecido de granulação apto a receber o enxerto, além do nivelamento da ferida. Neste

caso foi escolhido o PHMB 0,1% por ser um antisséptico de ação rápida e antimicrobiano de longa duração (48-

72h), sendo muito efetivo no tratamento de feridas extensas, obtendo-se um resultado excelente em pouco tempo e

menos trocas de curativos. Esta conduta corrobora com a literatura consultada, que preconiza como características

desejáveis para o leito receptor a presença de um tecido de granulação não exuberante, não hipertrofiado, adequada

vascularização e não contaminado (SLATTER, 2007; FOSSUM, 2014; HERMETO; DEROSSI, 2012). Além disso,

a observação de que a pele transferida não leva consigo um pedículo vascular reforça ainda mais a importância de

um leito receptor contendo tecido de granulação sadio, dada a importância de suprimento sanguíneo adequado no

local, com vistas a garantir a viabilidade do enxerto (NETO et al., 2010).

Complicações como a descontinuidade cutânea devido a perda do enxerto em algumas áreas foram

evidenciadas, o que não interferiu nos bons resultados obtidos. Elas podem ocorrer por vários fatores, como a

movimentação do enxerto, pressão excessiva sobre o enxerto, infecção e aumento no intervalo de troca de

curativos. A bandagem compressiva otimiza o contato do enxerto com o leito da ferida, permitindo adequada

angiogênese, sendo fundamental para o sucesso da técnica, evitando seu deslocamento (CASTRO et.al, 2015).

Conclusão

Conclui-se que as escolhas do enxerto cutâneo de espessura completa em malha, bem como seu manejo

pós-operatório, foram adequadas para o caso relatado, resultando em cobertura da ferida com pele íntegra, sem

causar danos ao tecido já presente, além de acelerar a recuperação da lesão. Complicações pós-operatórias são

comuns nesse tipo de técnica, a descontinuidade cutânea nas áreas de perda do enxerto foram reepitalizadas,

promovendo uma cicatrização total da ferida em um tempo satisfatório.

Referência Bibliográfica

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ASSOCIAÇÃO DE RETALHOS CUTÂNEOS PARA RECONSTRUÇÃO DE DEFEITO EM MEMBRO

PÉLVICO DE UM CÃO APÓS A EXÉRESE DE TUMOR MALIGNO DA BAINHA DO NERVO

PERIFÉRICO (SCHWANNOMA MALIGNO): RELATO DE CASO

ASSOCIATION OF CUTANEOUS FLAP FOR TREATMENT OF DEFECT IN PELVIC LIMBS AFTER

MALIGNANT PERIPHERAL NERVE SHEATH TUMOR EXCISION IN DOG: CASE REPORT

SCALZILLI, B.1 BARATA, J.S.2 MEDEIROS, F.F.L. 3 MORAES, T.A. 3 MEDEIROS, A.D. 3 ATAN, J.B.C.D. 3

DEGANI, V.A.N. 4 FERREIRA, M.L.G.4

1 Pós graduanda pelo Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, do Hospital Universitário de Medicina

Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET-UFF), Niterói-RJ,

Brasil. Autor para correspondência: [email protected] 2 Pós graduando pelo Programa de Clínica Cirúrgica/Médica do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3 Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil. 4 Professora Adjunta da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil.

Introdução

O tumor maligno da bainha do nervo periférico (TMBNP) é um sarcoma incomum e localmente invasivo

com origem em nervos periféricos ou cranianos, podendo ter origem em qualquer célula da bainha nervosa, além

das células de Schwann.(1,2) Nos cães, este tipo neoplásico afeta com maior frequência o quinto par de nervos

cranianos ou as raízes espinhais do plexo braquial, bem como as raízes nos níveis torácicos e lombares(2,3),

entretanto, podem ocorrer em qualquer local do corpo, sendo os locais mais afetados o membro torácico, cabeça,

membro pélvico, tórax, abdômen e pescoço (4).

A remoção cirúrgica é o tratamento de escolha, envolvendo a exérese da neoformação, devendo-se

estabelecer margens cirúrgicas adequadas por se tratar de uma neoplasia maligna(3). Dessa forma, pode-se tornar

necessária a utilização de técnicas cirúrgicas reparadoras ou reconstrutivas, a partir do planejamento cirúrgico,

considerando-se o suprimento sanguíneo local, o leito da ferida, a disponibilidade de pele da região e as linhas de

tensão, a fim de proporcionar resultados satisfatórios, sem que haja necessidade de outras intervenções(5,6).

Objetivo

O trabalho em questão tem como objetivo relatar um caso de correção de extensa falha em região de

membro pélvico esquerdo em cão, decorrente da exérese de schwannoma maligno, utilizando-se a associação das

técnicas reconstrutivas de retalho de padrão axial ilíaco circunflexo profundo e retalho de padrão axial caudal

lateral.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho

(HUVET), da Universidade Federal Fluminense, um canino fêmea, sem raça definida, com 10 anos de idade,

pesando 10 quilos. Esta apresentava um nódulo em membro pélvico esquerdo, de aproximadamente 20cm x 30cm x

15cm, com 8 meses de evolução, apresentando crescimento lento e progressivo, de aspecto macio, hiperêmico,

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infiltrado e ulcerado. Para avaliação completa do paciente e estadiamento do tumor, além do exame físico

minucioso, com a avaliação dos linfonodos, foi realizada radiografia de tórax, ultrassonografia abdominal, exames

laboratoriais e punção biópsia aspirativa (PBA) do nódulo.

Não foram encontrados linfonodos alterados, ou evidências radiográficas e ultrassonográficas de

metástases. Os exames laboratoriais apresentaram-se dentro dos padrões de normalidade, assim como o exame

físico geral e a análise citológica foi inconclusiva. Dessa forma, optou-se pela remoção cirúrgica da massa,

respeitando-se os princípios de cirurgia oncológica, o que impossibilitou a rafia por aproximação dos bordos da

ferida. Diante disso, devido à localização anatômica, optou-se pela associação do retalho de padrão axial ilíaco

circunflexo profundo com o retalho de padrão axial caudal lateral, para possibilitar o fechamento da ferida.

O animal foi posicionado em decúbito lateral, com o membro anterior em extensão relaxada,

perpendicular ao corpo. Foi delineado o retalho de padrão axial ilíaco circunflexo profundo, em que a linha caudal

foi demarcada no ponto médio entre a borda cranial da asa do ílio e o trocânter maior do fêmur. Para demarcação

da incisão cranial, levou-se em conta a mesma distância desde a borda ilíaca até a linha caudal, partindo-se

cranialmente da tuberosidade isquiática. Para cobrir o defeito, as linhas foram prolongadas dorsalmente até a linha

média dorsal e ventralmente em direção à linha média ventral. Entre as linhas paralelas foi demarcada a linha de

incisão ventral ao nível do terço médio do fêmur. O retalho delineado foi incisado e divulsionado abaixo do nível

do músculo cutâneo do tronco, formando um retalho pediculado, que foi cuidadosamente rotacionado e posicionado

sobre o defeito. Posteriormente, para realização do retalho de padrão axial caudal lateral, realizou-se uma incisão

dorsal na linha mediana da cauda, dissecando-se o tecido subcutâneo da fáscia profunda caudal, a fim de preservar

as artérias e veias caudais laterais direita e esquerda. A cauda foi amputada na terceira articulação intervertebral

caudal, e o retalho cutâneo foi cuidadosamente posicionado sobre o defeito, juntamente ao outro retalho. A área

doadora foi justaposta após a transposição dos retalhos, e realizou-se a síntese cutânea em padrão de sutura simples

descontínuo com fio nylon 3-0, sem a aproximação do tecido subcutâneo. O material excisado foi encaminhado

para exame histopatológico. No pós-cirúrgico foi instituída terapia analgésica, antibiótica e anti-inflamatória, e

realizada bandagem compressiva, com revisões a cada dois dias para avaliação da ferida e troca do curativo.

Resultados

Nos momentos pré e transoperatório não houveram intercorrências. Entretanto, no pós-operatório, após 4

dias do procedimento, a ferida apresentou sinais de desvitalização na porção distal do retalho ilíaco circunflexo

profundo de aproximadamente 3% e, nas revisões seguintes, nesta localização, foi observada deiscência de sutura

entre a região de aposição das extremidades entre os dois retalhos, a qual foi tratada por segunda intenção. Os

pontos foram removidos em sua totalidade com 21 dias de pós-operatório. A análise histopatológica da massa foi

conclusiva para tumor maligno da bainha de nervo periférico (schwannoma maligno), sendo indicada a

quimioterapia neoadjuvante como terapia complementar.

Discussão

Os tumores de bainha de nervos periféricos são derivados de células mielinizadoras do sistema nervoso

periférico, geralmente, possuindo crescimento lento e progressivo, e acometendo principalmente cães de médio à

grande porte, com idade avançada(3,4), assim como no caso relatado. Nos cães, este tipo neoplásico afeta com maior

frequência o quinto par de nervos cranianos ou as raízes espinhais do plexo braquial, bem como as raízes nos níveis

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torácicos e lombares,(2,3) podendo ocorrer em qualquer local do corpo, como o membro torácico (34,8%), cabeça

(27,1%), membro pélvico (16,3%), tórax (12,0%), abdômen (6,5%) e pescoço (3,3%)(5). Desenvolve-se, de forma

menos agressiva, no tecido subcutâneo podendo expandir-se até a derme, tendo maior frequência em região de

tronco e porção distal dos membros(4,7). Em contrapartida, no presente caso o animal apresentou a neoplasia em

região proximal de membro pélvico esquerdo, tratando-se de uma forma incomum de apresentação.

Embora a apresentação clínica do tumor geralmente envolva sinais relacionados à ação local da

neoplasia, como claudicação(3), esta não foi observada no caso relatado, como também descrito por Silva et al.

(2007)(8) e Cruz et al. (2015).

O tratamento de escolha para as neoplasias malignas consiste em sua remoção cirúrgica com amplas

margens.(2,5,6) As técnicas cirúrgicas reconstrutivas estão sendo cada vez mais utilizadas, visando à adequação das

margens cirúrgicas livres, evitando recidivas e o desenvolvimento de metástases, além da possibilidade de cura(5,6).

Nesse caso, optou-se pela associação das técnicas reconstrutivas, de padrão axial, em virtude da extensão da ferida

criada após a exérese da neoplasia, e localização anatômica desta em região de fêmur em membro pélvico, além da

irrigação local, visto que o retalho de padrão axial ilíaco circunflexo profundo, a partir do ramo dorsal da artéria

ilíaca circunflexa profunda, pode ser usado para cobrir defeitos envolvendo a região caudal do tórax, a parede

abdominal lateral, o flanco ipsilateral, a área lombar lateral, a região lateral da coxa, o trocânter maior e a área

pélvica, ao passo que o retalho de padrão axial caudal lateral, a partir das artérias caudais laterais da cauda, pode

ser usado para reconstruir áreas envolvendo o períneo e tronco caudodorsal, podendo-se utilizar a pele da cauda

para cobrir defeitos em membro pélvico. Além disso, por se tratar de retalhos pediculados com artérias e veias

cutâneas diretas em sua base, garante o dobro da taxa de sobrevivência do retalho quando comparada aos retalhos

de plexo subdérmico, permitindo, ainda a cobertura imediata do leito da ferida, corroborando para a escolha das

técnicas. Complicações dos retalhos do tipo padrão axial incluem deiscência de sutura, drenagem da ferida, necrose

distal do retalho, infecções e formação de seroma. Neste caso observou-se apenas uma pequena área de deiscência,

a qual não interferiu no resultado final.

Apesar deste tipo de neoplasia possuir um índice de recidiva de até 72% dos casos após a excisão

cirúrgica,(4) neste caso o paciente não demonstrou recidivas há aproximadamente um ano desde o diagnóstico, o

que se justifica pelo fato de que a realização do procedimento cirúrgico respeitando as margens de segurança e a

localização cutânea da neoplasia, distal aos nervos da raiz da medula espinhal, elevam as chances de uma maior

sobrevida.(2,3,7,8)

Conclusão

A associação entre as técnicas do retalho de padrão axial ilíaco circunflexo profundo e o retalho de padrão

axial caudal lateral mostrou-se uma boa alternativa na correção de falhas cutâneas extensas na região de membro

pélvico, auxiliando na aceleração cicatricial e gerando um bom resultado estético e funcional, além de melhorar a

qualidade de vida do paciente. As complicações observadas não foram prejudiciais ao resultado final da técnica e

são frequentemente observadas em cirurgias reconstrutivas.

Referências

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RINOPLASTIA EM CÃO APÓS LESÃO PROVOCADA POR ATAQUE DE CAPIVARA

(HYDROCHOERUS HYDROCHAERIS): RELATO DE CASO

DOG RHINOPLASTY POST-CAPYBARA (HYDROCHOERUS HYDROCHAERI) BITEATTACK: CASE

REPORT

GENGNAGEL, N.1 SANTOS, A.C.R.1 COSTA, A.F.B.A.1 BITENCOURT, M.F.1 DE FREITAS, A.S.R1 LOPES,

C.2 FARO, A.M.2 DE NARDI, A.B3

1 Discente de Graduação em Medicina Veterinária IFC Campus Araquari1, Docente do curso de Graduação em

Medicina Veterinária IFC Campus Araquari. [email protected]

2 Docente do curso de Graduação em Medicina Veterinária e de pós- graduação em Cirurgia Veterinária da FCAV

UNESP, Campus Jaboticabal3 .

Introdução

Conflitos entre animais domésticos e animais silvestres tiveram início, provavelmente, desde que os

primeiros animais foram domesticados por seres humanos há cerca de 9 mil anos. (Palmeira e Barella, 2007) O

maior número de lesões causadas por esses conflitos estão localizados na região facial e cervical, e no caso dessas

lesões atingirem o plano nasal é necessário a realização de rinoplastias.

Ocorrências de ataques de capivaras (Hydrochoerushydrochaeris) a espécies domésticas são pouco

relatadas, tendo as capivaras alta sociabilidade e constante convívio com seres humanos no ambiente urbano e

rural. (Moreira et al.,1997). Na ocorrência de conflitos com lesões traumáticas de pele e/ou conformação

morfológica de estruturas pode-se fazer o uso de técnicas de reconstrução tecidual através de cirurgias

reconstrutivas. (Sivacolundhu, 2007; Fossum, 2008).

Ao realizar cirurgias reconstrutivas deve-se considerar a localização do ferimento, a elasticidade do tecido

adjacente, o suprimento sanguíneo regional e a qualidade do leito da ferida. (Fossum, 2008). Na realização de

rinotomias ou rinoplastias, deve-se ter em mente que a cavidade nasal possui um extenso suprimento sanguíneo,

originado de ramos da artéria maxilar, um vaso terminal da artéria carótida externa (Hedlund, 1996).

Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de rinoplastia em um cão após confronto com

capivara, relatando a técnica empregada para reconstrução do plano nasal e síntese das cartilagens nasais dorsais,

garantindo dessa forma a qualidade de vida do animal lesionado.

Metodologia

No dia 18 de agosto de 2016 foi levado para consulta no setor de clínica cirúrgica do Centro de Práticas

Clínicas e Cirúrgicas IFC Campus Araquari um cão macho, sem raça definida, de 5 anos e peso de 12,2 kg,

apresentando lesão por laceração profunda em plano nasal com evolução de 48 horas, que segundo relato do

proprietário, foi causado por confronto com capivara (Hydrochoerushydrochaeris). O animal é proveniente de

ambiente rural e urbano, tendo livre acesso a rua e contato com ectoparasitas e outros animais.

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No exame físico constatou-se a lesão por laceração no plano nasal com evolução de 48 horas que atingiu

de forma transversal as cartilagens nasais laterais dorsais direita e esquerda, o septo nasal até as cartilagens nasais

acessórias laterais direita e esquerda, conforme apresenta a Figura 1. A ferida apresentava aspecto róseo, sem

hemorragia e sem sinais de secreções, havia retração cicatricial com principio de reepitelização sem tecido de

granulação e apresentava também sibilo oriundo da estenose dos meatos nasais. Foi prescrito ao paciente cefalexina

via oral na dose de 20mg/kg durante sete dias para prevenção de infecções secundárias e solicitado exames pré-

operatórios, hemograma, bioquímica sérica e eletrocardiograma.

Figura 1 - Fotomacrografia de um cão apresentando ferida por

laceração do plano nasal após ataque de capivara. IFC, Araquari, 2016.

A rinoplastia foi realizada no dia 30 de agosto, como medicação pré-operatória foi administrado via

intramuscular cloridrato de tramadol na dose 3mg/kg e maleato de acepromazina 0,03mg/kg, a manutenção

anestésica foi realizada com sevofluorano, e um bloqueio anestésico local com lidocaína com vasoconstritor a 2%

foi feito no forame infraorbital. O paciente foi posicionado em decúbito esternal, tendo a cabeça posicionada com

uma leve elevação para garantir a facilidade de acesso à cavidade nasal.

A anti-sepsia local foi devidamente realizada com solução diluída de iodo povidine em solução

fisiológica, na proporção de 1:5, sendo então realizado o debridamento do tecido em processo cicatricial,

reavivando as bordas da ferida. Em função da alta irrigação sanguínea local foi necessária a realização da

hemostasia por pressão direta na origem do sangramento. Por meio de sutura em oito, representada na Figura 2,

usando fio náilon 2-0,realizou-se reparo da cartilagem nasal dorsal, o plano nasal foi reaproximado. Para síntese da

pele optou-se por sutura simples separada. Para evitar a estenose e o colabamento, foi inserida bilateralmente uma

sonda uretral nº14 nos meatos nasais comuns.

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Figura 2 - Figura esquemática da técnica de sutura “em oito”

utilizada para a aproximação das bordas da ferida do plano

nasal de um cão. Gengnagel, N., 2017.

A medicação pós-operatória receitada foi cefalexina na dose de 20mg/kg por dez dias para a prevenção de

infecções secundárias, meloxicam na dose 0,1mg/kg por quatro dias e cloridrato de tramadol na dose de 4mg/kg

por três dias para controle analgésico. Não foi prescrito ao paciente tratamento tópico.

Resultados e discussão

Pelo afastamento do ápice da narina com o dorso do nariz, percebeu-se que a cicatrização por primeira

intenção não seria o suficiente para o restabelecimento da morfologia normal do plano nasal.

O debridamento cirúrgico foi realizado segundo Fossum (2008), excisando cirurgicamente as camadas

superficiais e prosseguindo até a parte profunda da ferida, até chegar ao tecido viável, com suprimento sanguíneo, o

que gerou uma hemorragia leve. Para controle da hemorragia a pressão executada com gaze sobre a fonte do

sangramento, por cinco minutos, se mostrou eficaz, apesar da região ser bastante irrigada por vasos sanguíneos.

Os nós profundos em oito para união da cartilagem nasal dorsal foram eficientes e seguros. A escolha do

fio náilon, sendo um fio não reabsorvível com uma boa seguridade relativa do nó e baixa reação tecidual se

mostrou ideal à ocasião, resistindo e mostrando boa segurança na união das bordas da cartilagem. A sutura simples

separada usada na síntese da pele manteve as bordas justapostas, conforme mostra a Figura 3, segundo Fosssum

(2008) demonstrando que não foi aplicada tensão excessiva na realização da mesma.

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Figura 3 – Fotomacrografia do pós-operatório imediato de um cão

submetido a rinoplastia. IFC, Araquari, 2016.

A utilização da sonda uretral nº14 nos meatos nasais comuns se mostrou eficiente ao evitar a estenose e

colabamento do meato nasal. O animal não apresentou dispnéia significativa ou quaisquer complicações. A

presença de enfisema subcutâneo que, segundo Hedlund (1996), pode ocorrer, não foi observada no pós-operatório

deste caso.

É de conhecimento que acidentes entre animais domésticos e silvestres ocorrem com certa freqüência,

inclusive, no caso em tela, o cão lesionado estava habituado tanto no meio urbano, como rural, o que pode propiciar

o contado com animais silvestres. Sabe-se que as capivaras, por mais que possam estar familiarizadas com outros

animais, inclusive seres humanos, podem, no seu instinto de defesa, sentirem-se ameaçadas e acabam por atacar o

ser estranho que se aproxima de seu habitat.

Conclusão

O resultado satisfatório da rinoplastia realizada nesse caso demonstrou que a conduta adotada promoveu o

sucesso esperado, reconstituindo a morfologia fisiológica do plano nasal do paciente e resgatando a sua qualidade

de vida.

Referências

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em comunidades quilombolas na Mata Atlântica. Biota Neitropica,7:119-128.

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Paulo: Ed.RocaLtda., 304- 309.

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ENXERTO CUTÂNEO EM MALHA PARA RECONSTRUÇÃO APÓS EXÉRESE DE MASTOCITOMA

EM REGIÃO DE METATARSO DE CÃO - RELATO DE DOIS CASOS

MESH SKIN GRAFTING TO RECONSTRUCTION AFTER REMOVAL MAST CELL IN DOG

METATARSAL REGION - CASE REPORTS

SILVA, J. A. C. E1 MONTANHIM, G. L2 RIBEIRO, J. O2 SENHORELLO, I.L.S.3 FERREIRA, M.G.P. A3

MORAES, PAOLA CASTRO4 DE NARDI, A. B4

1 Graduanda em Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual

Paulista, Unesp – campus de Jaboticabal, SP, Brasil. ([email protected])

2 Pós-graduando(a) em Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual

Paulista, Unesp – campus de Jaboticabal, SP, Brasil

3 Pós-graduando(a) em Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade

Estadual Paulista, Unesp – campus de Jaboticabal, SP, Brasil

4 MV. Prof.(a). Ma. Dr.(a). - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Unesp

– campus de Jaboticabal, SP, Brasil

Introdução

As neoplasias de animais domésticos têm sido consideradas atualmente a principal causa de morte em cães.

Dentre elas, o mastocitoma cutâneo é o mais frequente na oncologia, representando 11% das neoplasias malignas

(SCOTT et al., 1996).

O mastocitoma pode ser de origem cutânea ou visceral, sendo caracterizada por transformações neoplásicas

e proliferação anormal de mastócitos (MERLO, 2012). A classificação histológica é de suma importância para a

determinação do prognóstico e do tratamento, apesar da divergência de classificação por diferentes patologistas

(GOLDSCHIMIDT; HENDRICK, 2002). Patnaik et al. (1984) classifica o mastocitoma em três graus. O grau I

apresenta-se bem diferenciado com baixo potencial metastático e disseminação sistêmica. Já os graus II e III

apresentam metástase para os linfonodos regionais e alto potencial para disseminação e metástase. Já Kiupel et al.

(2011) agrupa os mastocitomas como sendo de baixo e alto grau de malignidade.

Deve-se ressaltar como tratamento de eleição, a importância da remoção do mastocitoma de forma prévia.

A realização do procedimento deve ser feita com amplas margens de segurança de no mínimo 3cm, reduzindo as

chances de recidiva (FOX, 1998). Conforme o grau da doença, é recomendada remoção cirúrgica associada a

quimioterapia antineoplásica adjuvante ou radioterapia (TONG; SIMPSON, 2012).

Os enxertos de pele são grandes aliados em casos de perda cutânea significativa, sendo uma forma viável

de reconstrução cirúrgica, principalmente em locais de extremidades. As técnicas constituem-se em transferir um

segmento de derme e epiderme livre para determinado local receptor distante (MORAES; PAZZINI, 2015). Deste

modo este trabalho teve como objetivo relatar dois casos que se utilizaram enxerto cutâneo de espessura total em

malha na reconstrução de defeitos após exérese de mastocitoma na região de metatarso de dois cães.

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Metodologia

Foram atendidos no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da UNESP, Câmpus de Jaboticabal,

dois cães, SRD e Pit Bull, com dez anos e nove anos de idade, respectivamente, ambos machos. Procedeu-se com a

realização de anamnese e exame físico detalhado e exames laboratoriais de rotina (hematológicos e bioquímicos)

que não demonstraram nenhuma alteração, bem como citologia dos nódulos. Ambos pacientes apresentavam

histórico de formação nodular em região de metatarso direito há cinco meses e há 3 meses, respectivamente. As

lesões encontradas nos cães apresentavam características de nódulo aderido, não ulcerado, com superfície regular e

de coloração avermelhada. Radiografia torácicas, ultrassonografias abdominais foram realizadas, não

demonstrando alterações. Optou-se pela remoção cirúrgica com margens de 2cm nas laterais, seguida de

reconstrução utilizando enxerto cutâneo de espessura total em malha no mesmo procedimento da exérese tumoral.

Após a ressecção do tumor, foi aproveitado o mesmo procedimento para a realização da técnica de enxerto

cutâneo de espessura total em malha, sem esperar o tecido de granulação se desenvolver. Para isso, foram

realizadas as mensurações da largura e comprimento do defeito por meio de marcações por imprint em uma gaze

estéril para mensurar o tamanho do tecido doador a ser retirado. Ato contínuo, a marcação obtida na gaze estéril foi

recortada e então posicionada sob o leito doador para confecção do enxerto nas mesmas dimensões da ferida.

Posteriormente foram realizadas com o auxílio do bisturi, fendas em fileiras ordenadas, para promover a

expansão do enxerto e posicionado sobre o leito receptor, utilizando-se do padrão de sutura simples separado com

fios de nylon 3-0. Para cobrir o enxerto e todo o membro foi utilizado gel lubrificante e uso de compressas estéreis

para efetuar a bandagem do tipo Robert-Jones modificada, a fim de evitar qualquer tipo de contaminação ambiental

da ferida. Não foram retirados os linfonodos poplíteos em nenhum dos pacientes.

A troca de bandagem foi realizada a cada 72 horas nas duas primeiras trocas e após, realizou-se trocas a

cada 48 horas até completa cicatrização.

Para ambos os pacientes foram prescritas para o pós-operatório: cloridrato de ranitidina (2,2 mg/kg BID

15d), cefalexina (25mg/kg BID 15d), cetoprofeno (5mg/kg SID 7d), dipirona (25mg/kg TID 7d), cloridrato de

tramadol (3mg/kg TID 7d), além da recomendação do uso do colar elisabetano e o repouso.

Após aproximadamente dez dias, foram retiradas as bandagens de Robert-Jones em ambos os pacientes e

foi recomendado fazer o curativo com gaze estéril embebida em nitrorufasona líquida, ataduras e esparadrapo. No

décimo quinto dia foi realizada a retirada dos pontos e fazendo uso de rifocina spray duas vezes ao dia e uso do

colar elisabetano por mais sete dias. Após reparação completa da ferida cirúrgica, os pacientes foram

encaminhados para tratamento quimioterápico antineoplásico.

Resultados

A enxertia em malha foi bem-sucedida no leito receptor desprovido de tecido de granulação na região de

metatarso direito nos dois pacientes. Foi possível notar clinicamente, que a partir do quarto dia pós-operatório, o

enxerto já apresentava coloração avermelhada. No oitavo dia, ocorreu a mudança para a cor rósea, de forma a

confirmar a vascularização da região e consequentemente integração do enxerto em ambos os cães.

Além disso, a aplicação de bandagem e a troca inicial a cada três dias e depois a cada dois dias foi

fundamental para imobilizar a área enxertada e facilitar o processo de absorção de secreções. Não observou

hematoma ou formação de seroma abaixo do enxerto, o que permite mostrar que houve uma boa resposta cicatricial

do enxerto nos pacientes submetidos à excisão tumoral.

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Discussão

As neoplasias cutâneas, dentre elas o mastocitoma, são muito frequentes de serem encontrados na rotina de

atendimento em pequenos animais. O mastocitoma é considerado como segundo tumor mais comum no cão e

representa em torno de 20% das neoplasias malignas (FURLANI et al., 2008). Segundo Souza et al. (2006), as

massas cutâneas solitárias são mais frequentes, sendo condizente do mesmo modo no presente relato, em que

ambos os cães apresentavam um único nódulo na região de metatarso.

Nos dois cães, optou-se por realizar no mesmo procedimento cirúrgico de remoção do mastocitoma, a

realização do enxerto cutâneo no local sem esperar o desenvolvimento e apresentação viável do tecido de

granulação. Essa técnica é um método de preenchimento cirúrgico de um defeito, onde não há tecido adjacente

suficiente para sua cobertura (ANDREASSI et al., 2005). Ela é empregada principalmente nas extremidades, tal

como ocorreu nos casos, onde a imobilidade cutânea impossibilita o desvio do tecido e elaboração de retalhos

locais para o reparo. Além disso, o enxerto cutâneo é uma excelente alternativa para cobrir feridas pós-operatórias

de tumores nas regiões distais das extremidades, assim como o exposto (TONG, SIMPSON, 2012).

De acordo com a literatura, o mais habitual é preparar o leito até a formação de tecido de granulação

saudável para depois realizar o enxerto cutâneo. Apesar de haver poucos relatos utilizando a técnica para cobrir

feridas cirúrgicas recém feitas, em ambos os pacientes optou-se por efetuar o procedimento, pois ambos os locais

estavam vascularizados o suficiente e livres de infecções e debris celulares proporcionando a sobrevivência do

enxerto após a aplicação. Em conformidade ao exposto, Tong e Simpson (2012) mostra que é possível que os

enxertos sejam aplicados em locais frescos em que ainda não houve a cobertura por tecido de granulação

semelhante aos dois cães.

Conclusão

A técnica de enxerto cutâneo de espessura total em malha foi de grande eficácia na correção dos defeitos

criados após a exérese de mastocitoma em região de metatarso nos dois casos, pois possibilitou a cicatrização do

tecido com ausência de deiscência de pontos e necrose, de forma a apresentar ótimo resultado.

Referências Bibliográficas

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USO DO RETALHO TORACODORSAL PARA FECHAMENTO DE AMPLO DEFEITO APÓS EXCISÃO

DE MASTOCITOMA ALTO GRAU/ GRAU III RECIDIVANTE - RELATO DE CASO

USE OF TORACODORSAL RETAIL FOR LARGE CLOSURE AFTER EXCESSION OF MAST CELL

TUMOR HIGH GRADE / GRADE III RECIDIVANT - CASE REPORT

RIBEIRO, J.O.1 ALVAREZ-GÓMEZ, J.L.1 SENHORELLO, I.L.S.2 FIRMO, F.B.1 MONTANHIM, G.L.1 NAZARET,

T.L.1 BARATA, J.S.1 REIS FILHO, N.P.1 DE NARDI, A.B.1 MORAES, P.C1

1 Programa de Cirurgia Veterinária, FACV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista. 2 Programa de Medicina Veterinária, FACV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista.

E-mail para correspondência: [email protected]

Introdução

Segundo Ryan e colaboradores (2012) e London e Thamm (2013), a taxa de recorrência local do mastocitoma

canino (MCT) é variável. No entanto, acredita-se que 20 a 30% dos MCT com margens cirúrgicas comprometidas,

confirmadas mediante análise histopatológica podem apresentar recidiva local. Esta recorrência está significativamente

relacionada à diminuição do tempo de sobrevida, principalmente em casos de mastocitoma alto grau/ grau III, com

sobrevida inferior a três meses após a ressecção incompleta da neoplasia. De acordo com London e Thamm (2013), as

decisões de tratamento são baseadas na presença ou ausência de fatores prognósticos negativos e no estágio clínico da

doença. Porém, em tumores cutâneos localizados em áreas passíveis de excisão ampla, a cirurgia é o tratamento de

escolha. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo relatar o uso do retalho em padrão axial da artéria toracodorsal

para reconstruir uma ferida localizada na região toracolateral esquerda após excisão com margens amplas de um tumor

de mastócitos grau III com recidiva local.

Metodologia

Apresentou se no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Câmpus de Jaboticabal, um paciente canino, raça

Boxer, fêmea, com histórico de mastocitoma alto grau/ grau III com recidiva local pós-cirúrgica, localizado na região

lateral esquerdo de tórax (Figura 1-A). Após estadiamento da doença, optou-se pelo tratamento cirúrgico e

quimioterapia antineoplásica adjuvante. Considerando a localização anatômica desta neoplasia, a técnica de escolha

para o fechamento do defeito foi o retalho em padrão axial da artéria toracodorsal, conforme demonstrado na figura

abaixo.

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FIGURA 1 – (A) Planejamento pré-cirúrgico, delimitação das margens da neoplasia recidivante

e planejamento do retalho toracodorsal; (B) ferida com 3cm de margens laterais e remoção da

fáscia muscular para obtenção de margem profunda na parede lateral do tórax esquerdo e

remoção do linfonodo sentinela; (C) transposição do retalho toracodorsal desde o leito doador

para o leito receptor; (D) aspecto final após aposição das bordas com material de sutura não

absorvível, em padrão simples separado. Foi necessário o uso de drenagem passiva (penrose);

(E) bandagem utilizada para diminuir espaço morto e seroma; (F) aspecto final após retirada de

pontos.

Resultados e Discussão

Devido à alta taxa de recidiva local, em casos onde a primeira cirurgia planejada apresenta margens cirúrgicas

comprometidas, a excisão da cicatriz cirúrgica com margens amplas adicionais deve ser realizada. A radioterapia

adjuvante torna-se possível em casos onde a segunda intervenção cirúrgica não é uma opção.3 No caso em tela, optou-

se pela segunda intervenção cirúrgica para remoção da recidiva local apresentada. Devido ao amplo defeito criado pela

necessidade de amplas margens cirúrgicas, tornou-se necessária a utilização de técnicas de cirurgia reconstrutora para

fechamento do defeito, utilizando retalho de padrão axial da artéria toracodorsal que é constituído por um ramo cutâneo

da artéria e veia toracodorsal, localizados na depressão escapular caudal. Esta é uma boa alternativa para reconstruir

defeitos cutâneos que envolvem o membro torácico, região axilar e tórax, mediante abastecimento de suprimento

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sanguíneo através do angiosoma presente.4-,6 A paciente apresentou durante o pós-operatórioedema local e formação de

seroma. Segundo Remedies (1999) e Castro (2015) estas anormalidades são consequência da extensa dissecção de

tecidos moles, realizada tanto no leito doador quanto no leito receptor e, para seu controle sugerem o uso de drenagem

passiva e de bandagens acolchoadas para proteger os drenos da contaminação externa, como para diminuir o espaço

morto e evitar acúmulo de líquidos. No entanto, as bandagens devem ser aplicadas sem tensão excessiva para evitar

comprometimento vascular do pedículo do retalho.4-6 Segundo Pavletic (2010)e Wardlaw e Lanz (2012) outras

complicações como necrose distal do retalho, deiscência de sutura e infecção dos retalhos cutâneos, secundários à erros

de planejamento pré-operatório são relatadas. Porém, não foram observadas essas complicações no caso relatado.

Conclusão

O retalho da artéria toracodorsal foi excelente alternativa para o fechamento sem tensão de amplo defeito

cutâneo após ressecção de mastocitoma alto grau/ grau III recidivante, localizado na região toracolateral esquerda,

obtendo-se margens cirúrgicas livres de acometimento neoplásico.

Referências

1. Ryan S. et al. (2012). Skin and subcutaneous tumors. In: Kudning ST, Séguin B. Veterinary Surgical Oncology.

aMES, Iowa, Wiley Blackwell, cap. 4, pp. 55-85.

2. Castro JLC. et al. (2015). Principios e Técnicas de Cirurgia Reconstrutiva da Pele de Cães e Gatos (Atlas

Colorido). Curitiba: Ed. Medvep., 286 p.

3. London CA, Thamm DH. (2013). Mast Cell Tumors. In: Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology.

5th edn. Elsevier Saunders, St. Louis, MO, USA. pp. 335-355.

4. Remedies A. (1999). Axial Pattern Flap. In: Fowler D, Williams JM. BSAVA Manual of Canine and Feline

Wound Management and Reconstruction. British Small Animal Veterinary Association, Kinsley House, United

Kingdom. Pg. 69-81.

5. Pavletic MM. (2010). Axial Pattern Skin Flaps. In: Pavletic MM (ed): Atlas of small animal wound and

reconstructive surgery (ed 3). Ames, Iowa, Blackwell Publishing, pp. 357- 369.

6. Wardlaw JL, Lanz OI. (2012). Axial Pattern and Myocutaneous. In: Tobias K, Johnston,S. Veterinary Suergery

Small Animal. St. Louis, cap. 79. pp. 1256-1270.

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RETALHO DE ROTAÇÃO NASAL UNILATERAL MODIFICADO PARA RECONSTRUÇÃO EM FACE

APÓS EXÉRESE DE MASTOCITOMA - RELATO DE CASO

MODIFIED UNILATERAL NASAL ROTATION RETAIL FOR RECONSTRUCTION IN FACE AFTER

MAST CELL TUMOR REMOVAL - CASE REPORT

RIBEIRO, J.O.1 ALVAREZ-GÓMEZ, J.L.1 SIERRA, O. R.1 VIERA, R.B.1 FIRMO, F.B.1 MONTANHIM, G.L.1

NAZARET, T.L.1 BARATA, J.S.1 REIS FILHO, N.P.1 DE NARDI, A.B.1 MORAES, P.C.1

1 Programa de Cirurgia Veterinária, FACV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista. E-mail para

correspondência:[email protected]

Introdução

Segundo Poppe, R. (2006), frequentes são as afecções presentes na cabeça e face de cães, a grande maioria

decorrente de traumatismo ou pela presença de tumores de tecidos moles que requerem correção cirúrgica para seu

tratamento. Especificamente no plano nasal, além de doenças imunomediadas, o carcinoma de células escamosas

(CEC) é a neoplasia cutânea mais comumente diagnosticada, seguida de linfoma, fibrosarcoma, hemangioma,

melanoma, mastocitoma, fibroma, histiocitoma ou granuloma (NORTH &BANKS, 2009). Em relação ao

mastocitoma, apenas 10% dos casos se apresentam na cabeça e pescoço (LONDON & THAMM, 2013). Por essas

razões é recomendável análise diagnóstica minuciosa para determinar o tipo e a extensão do tumor, e posterior

delineamento do tratamento mais adequado (Pope, 2006). Para Haar, Buiks e Kirpensteijn (2013), o plano nasal

em cães pode ser de difícil reconstrução devido à limitada disponibilidade de tecidos locais livres. Segundo estes

autores, quatro critérios devem ser avaliados antes do planejamento do retalho: o tipo de crânio (braquicéfalo,

mesocefálico ou dolicocefálico), a quantidade de pele (excesso) que cobre o lábio superior, a localização e

dimensões do defeito.

Sendo assim, este trabalho tem por objetivo reportar o uso de retalho subdérmico de rotação nasal unilateral

modificado, para ocluir um defeito cutâneo após excisão de mastocitoma de baixo grau/ grau II localizado no plano

nasal lateral esquerdo.

Metodologia

Apresentou se no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Jaboticabal, um paciente canino, raça

Fox Paulistinha, macho, com histórico de crescimento de um nódulo cutâneo localizado na região rostral, lateral

esquerda do plano nasal (Figura 1-A). Após a avaliação física do paciente, foi realizada punção aspirativa por

agulha fina (PAAF) do nódulo e posterior avaliação citológica, cujo resultado foi conclusivo de mastocitoma

cutâneo. Considerando o tipo de neoplasia diagnosticada, o tratamento recomendado foi cirúrgico, fazendo uso do

retalho de rotação nasal modificado de Haar G, Buiks S, Kirpensteijn J (2013).

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FIGURA 1. Planejamento cirúrgico para exérese de mastocitoma cutâneo em plano nasal de cão. (A)

presença do nódulo diagnosticado como mastocitoma (seta); (B) planejamento cirúrgico, marcação das

margens cirúrgicas (2cm) e da área doadora onde será feito um triângulo (seta) para facilitar o

deslocamento da pele em direção ao defeito criado após ressecção da neoplasia.

FIGURA 2. Imagens transoperatórias de exérese de mastocitoma em plano nasal de cão. (A) após excisão do

tumor com margens amplas laterais e profundas; (B) e (C) observar a incisão na pele (seta amarela) em

direção ao triângulo antecipadamente desenhado na região rostral, no lado direito da face (seta azul). A

criação deste triângulo é para evitar a formação das “orelhas de cão” no momento de deslocar a pele para o

lado esquerdo. (D) e (E) deslocamento do retalho em direção rostral-distal para fechamento o defeito e

aposição das bordas cirúrgicas num padrão de sutura simples interrompido, utilizando material de sutura

monofilamentar, não absorvível. (F) aspecto final após a reparação da ferida cirúrgica com 15 dias de pós-

operatório.

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Resultado e Discussão

Considerando o diagnóstico de mastocitoma e a necessidade de realizar excisão cirúrgica com margens

amplas, várias são as alternativas recomendadas para reconstruir e fechar um defeito criado perto do plano nasal, e

incluem o retalho subdérmico de avanço, retalho subdérmico de transposição, retalho subdérmico tubular, retalho

de padrão axial da artéria auricular caudal ou retalho de padrão axial da artéria temporal superficial (POPE, 2006;

HAAR et al., 2013; PAVLETIC, 2010; YATES et al., 2007). Porém, estes tipos de retalhos são mais indicados em

raças com crânio braquicefálicos e mesaticefálicos por apresentar lábios grandes e pele abundante nesta área,

permitindo assim criar retalhos suficientemente grandes para fechar defeitos da região distal do nariz. Em raças

dolicocefálicos as melhores opções para fechar feridas nesta área são o retalho de rotação nasal unilateral

modificado ou retalho de rotação nasal bilateral modificado (HAAR et al., 2013). De acordo com Haar, Buiks,

Kirpensteijn (2013) a eleição do retalho de rotação nasal unilateral modificado em nosso paciente além de diminuir

o tempo cirúrgico e o tempo anestésico, foi possível obter excelente aposição das bordas da ferida, sem sinais de

isquemia nas bordas, demostrando processo de reparação favorável com excelente aparência cosmética.

Conclusão

O retalho de rotação nasal unilateral modificado é excelente alternativa para o fechamento de feridas

presentes na região do plano nasal lateral, evitando deste modo em cães idosos técnicas de cirurgia reconstrutiva

mais agressiva.

Referências Bibliográficas

1. Pope ER (2006). Head and facial wounds in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal

Practice, vol.36 (4), pp. 793–817.

2. North S, Banks T (2009). Tumours of head and neck,. In:______ Introduction to Small Animal Oncology.

Sounders Elseiver, cap. 13, pp. 91-114.

3. London CA, Thamm DH. (2013). Mast Cell Tumors. In: Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical

Oncology. 5th edn. Elsevier Saunders, St. Louis, MO, USA. Pp. 335-355.

4. Haar G, Buiks e Kirpensteijn J (2013). Cosmetic Reconstruction of a Nasal Plane and Rostral Nasal Skin

Defect Using a Modified Nasal Rotation Flap in a Dog. Veterinary Surgery, vol. 42 (2), pp. 176-179.

5. Pavletic MM (2010). Nasal Reconstruction Techniques. In: Pavletic MM (ed): Atlas of small animal wound

and reconstructive surgery (ed 3). Ames, Iowa, Blackwell Publishing, pp. 573–601, 2010.

6. Yates G, Landon B, Edwards G (2007). Investigation and clinical application of a novel axial pattern flap for

nasal and facial reconstruction in the dog. Australian Veterinary Journal, vol 85 (3), pp. 113–118 .

7. Buiks SC, Haar G. (2013). Reconstructive techniques of the facial área and head. In: Kirpensteijn J, Haar G.

Reconstructive Surgery and Wound Management of the Dog and Cat. Manson publishing , London, UK. Cap.

5, pp. 95-115.

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ENXERTO EM ILHA DE COXIM NA EXTREMIDADE DISTAL DE MEMBRO PÉLVICO

PARCIALMENTE AMPUTADO EM GATO - RELATO DE CASO

ISLAND PAD GRAFT IN DISTAL END OF PARCIAL AMPUTATED PELVIC MEMBER IN CAT -

CASE REPORT

VIEIRA, G.C.1 BORDOLINI, S.L.S.1 ABIMUSSI, C.J.X.1 SILVA, M.P.C.1 RIBEIRO, J.O.2 ALVAREZ-GÓMEZ,

J.L.2 FIRMO, F.B.2 MONTANHIM, G.L.2 NAZARET, T.L.2 BARATA, J.S.2 DE NARDI, A.B.2 REIS

FILHO, N.P.1,2

1 Faculdades Integradas de Ourinhos, Ourinhos/SP. [email protected] 2 Programa de Cirurgia Veterinária, FACV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista.

Introdução

Feridas em membros de gatos representam um desafio ao médico veterinário, seja pela limitada

disponibilidade de pele e uso de retalhos, complicações relacionadas à contração da ferida ou delicado suprimento

sanguíneo (CAMPS e KIRPENSTEIJN, 2013). Tal fato é agravado quando a área acometida é a responsável pela

sustentação do peso, amortecimento e resistência às forças de tensão e abrasão como nos coxins (FARREL et al.,

2011). Estes correspondem às áreas mais resistentes da pele do cão e do gato e, lesões importantes podem causar

implicações irreversíveis na função dos membros, sendo capaz de culminar em amputação (RAHAL et al., 2007).

Uma alternativa indicada nesses casos é a técnica de enxerto, a qual se trata de um segmento não

vascularizado de derme e epiderme removida de uma parte distante e diferente do corpo o qual é transferido ao

local receptor (CAMPS e KIRPENSTEIJN, 2013). Contudo, uma porção de pele comum não suporta o estresse

gerado pela deambulação do animal e resulta no aparecimento de úlceras ocasionadas pela alta força de abrasão

(RAHAL et al., 2007). A reconstrução desses coxins é uma alternativa viável à amputação, em razão de

reestabelecer uma superfície de apoio adequada oriunda dos coxins de outras patas (YAMAZOE et al., 2007).

Pelo fato do suprimento sanguíneo ser totalmente suspenso, o sucesso desse procedimento está diretamente

relacionado à preparação adequada do leito receptor o qual deverá promover a nutrição do enxerto. As

características de um tecido de granulação ideal incluem coloração vermelho vivo, sangrante ao corte e livre de

contaminação e tecidos desvitalizados (CAMPS e KIRPENSTEIJN, 2013; CLAYES, 2015).

O principal cuidado pós-operatório está relacionado à imobilização do enxerto e correta aplicação da

bandagem. Enquanto nos primeiros dias a embebição plasmática o nutre até que haja o crescimento interno de

novos capilares, a movimentação entre o enxerto e o leito receptor pode resultar em falha parcial ou total da técnica

(CAMPS e KIRPENSTEIJN, 2013; ERWIN, 2016). A segunda camada da bandagem deve ser espessa e composta

por gaze, preferencialmente em formato de ‘donuts’, para que haja melhor distribuição da força e evite necrose dos

tecidos que estão se formando (BOHLING e SWAIM, 2013).

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Objetivo

Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de enxerto em ilha de coxim na porção distal de um membro

pélvico amputado em metatarso de um felino, onde o resultado foi alcançado e houve formação de um tecido capaz

de sustentar o peso e a força de abrasão.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário Roque Quagliato das Faculdades Integradas de Ourinhos um felino,

fêmea, filhote sem idade definida, sem padrão racial definido, apresentando uma ferida em porção distal de

metatarso esquerdo e o mesmo amputado em porção proximal de metatarsos. A extremidade se apresentava com

presença de tecido de granulação de coloração rósea clara, pálido e sem sinais de dor. A pele da borda da ferida se

encontrava fibrosada, com bordos arredondados, firmes e garroteando o tecido de granulação (Figura 1A).

Após avaliação geral e confirmada ausência de doenças concomitantes, foi realizado limpeza da ferida e a

primeira bandagem realizada com gaze seca-seca no intuito de debridar o tecido de granulação. Após 24 horas, o

paciente foi submetido à anestesia geral dissociativa para debridamento da ferida e para reavivar as bordas

fibrosadas.

Após o procedimento cirúrgico, foi instituído tratamento local com bandagem úmida e aplicação tópica de

Digluconato de Clorexidina em pomada até a obtenção de um tecido de granulação de coloração vermelho vivo,

sangrante ao corte e brilhante para realizar o enxerto (Figura 1B). Após 34 dias de tratamento tópico, o paciente foi

submetido novamente à anestesia geral para realização do enxerto de coxins. A coleta do material foi realizado a

partir dos demais coxins palmares e plantar do mesmo paciente, através de incisão com punch. Foram removidos o

excesso de tecido subcutâneo e adiposo dos fragmentos de pele e estes foram dispostos sobre a ferida e suturados

ao tecido de granulação com fio nylon 3-0 em padrão simples separado.

No pós-operatório, foi aplicada bandagem com atadura rayon que oferece baixa aderência à pele e ao

enxerto. A segunda camada foi composta de algodão hidrofílico em camada generosa, a fim de atrapalhar

momentaneamente o apoio do membro e permitir grande absorção de impactos e menor trauma. A primeira troca

de curativos foi realizada após 48 horas da cirurgia.

Resultados

Após dez dias de pós-cirúrgico, os enxertos apresentavam coloração mais esbranquiçada quando

comparada ao tecido original, grande aderência ao tecido de granulação e confirmada a pega do enxerto (Figura

1C). A excessão ocorreu naqueles localizados na porção de contato com o chão, onde os fragmentos enxertados não

obtiveram sucesso.

Aos 27 dias do procedimento, era visível a epitelização em quase toda extensão da lesão com excessão de

uma pequena porção ventro lateral que, devido à força aplicada no apoio, apresentava dificuldades de cicatrização

(Figura 1D). A confecção da bandagem foi alterada a fim de remover a camada de gaze em contato com a ferida e

favorecer a quantidade do algodão hidrofílico.

Seguidos 68 dias do procedimento cirúrgico e trocas de curativos a cada dois dias, houve epitelização

completa do tecido de granulação (Figura 1E) e o paciente recebeu alta médica.

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Discussão

Devido à localização da lesão e da distância entre os coxins, a melhor técnica para o transplante de pele é o

enxerto. Todavia, por se tratar de um segmento não vascularizado, a nutrição do enxerto nos primeiros dias se dá

através da embebição plasmática fornecida pela ferida (CAMPS e KIRPENSTEIJN, 2013; CLAYES, 2015). Por

isso, o preparo do leito receptor é tão importante e foi muito valorizado durante o planejamento e preparação pré-

cirúrgica.

A segunda camada de absorção representa sim um diferencial importante quanto à absorção de impactos. A

área de maior contato e, consequentemente, de maior tensão sobre o enxerto foi a que apresentou maior tempo e

dificuldade de epitelização. A técnica descrita por Bohling e Swaim (2013) de confeccionar uma atadura em

formato de ‘donuts’ distribui melhor a tensão e evita a sobrecarga sobre um local durante o tempo de recuperação.

Figura 1 – Ferida em extremidade distal de membro pélvico, amputado em região distal de

metatarso, com presença de tecido de granulação em várias etapas da cicatrização. A –

Tecido de granulação pálido, pouco viável e com área de garroteamento moderada; B –

Tecido de granulação de coloração vermelho vivo e sangrante, resultado após reavivar as

bordas e tratamento da ferida; C - 10 dias de pós-operatório de enxerto em ilha de coxim.

Observar a coloração esbranquiçada dos fragmentos e aderência ao leito da ferida; D –

Ferida com cicatrização incompleta, resultando ainda em cicatrização da porção de contato,

e consequente maior trauma; E – Epitelização completa da ferida e tecido de coxim ainda

em formação.

Conclusão

Apesar de ser uma área de difícil tratamento e de técnicas cirúrgicas escassas, há possibilidades viáveis

para reconstrução de extremidades distais e de apoio em cães e gatos. Embora a adaptação de pacientes amputados

seja surpreendente, principalmente nos felinos, a qualidade de vida em se manter o membro é indiscutível.

No entanto, esta técnica necessita de altos níveis de dedicação do proprietário, do paciente e do Médico

Veterinário. Esta necessita de trocas frequentes de curativos por longos períodos e um cuidade e atenção ímpar aos

tecidos transplantados até que obtenham força suficiente para resistir à tensão.

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Referências

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Animal: 2-Volume Set. Elsevier Health Sciences.

2. Camps G, Kirpensteijn J. (2013). Avascular and microvascular reconstructive techniques. In: Kirpensteijn J,

Ter Haar G. Reconstructive surgery and wound management of the dog and cat. CRC Press. pp. 78-92.

3. Clayes S. (2015) Skin grafts. In: chapter 10: Skin grafting In: Griffon DJ, Hamaide A. Complications in Small

Animal Surgery. John Wiley & Sons. pp. 561-568.

4. Erwin G, Handharyani E, Noviana D. (2016). Subjective and objective observation of skin graft recovery on

Indonesian local cat with different periods of transplantation time. Veterinary World, 9(5):481.

5. Farrel M, Dunn A, Marchevsky A. (2011). Surgical Reconstruction of Canine Footpads Burned by Sodium

Hypochlorite Drain Cleaner. Compendium: Continuing Education for Veterinarians.

6. Rahal SC, Mortari AC, Morishin Filho MM. (2007). Mesh skin graft and digital pad transfer to reconstruct the

weightbearing surface in a dog. Canadian Veterinary Journal, 48:1258–1260.

7. Yamazoe K. et al. (2007). Three-dimensional culture of keratinocytes and the formation of basement

membrane for canine footpad substitute. The Journal of Veterinary Medical Science, 69(6):611-617.

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UTILIZAÇÃO DO FLAPE AXIAL DAS ARTÉRIAIS CAUDAIS LATERAIS PARA FECHAMENTO DE

DEFEITO EM REGIÃO DE PERÍNEO EM CÃES - RELATO DE CASO

USE OF THE AXIAL PATTERN FLAP BASED ON THE LATERAL CAUDAL ARTERIES OF THE

TAIL TO DEFECTIVE CLOUSURE IN PERINEUM REGION IN DOG - CASE REPORT

MONTANHIM G.L.¹ RIBEIRO, J.O.¹ NAZARET, T.L.¹ FIRMO, B.F.¹ BARATA, J.S.¹ REIS-FILHO, N.P.¹

MORAES, P.C.¹ TINUCCI-COSTA, M.¹ DE NARDI, A.B.¹

1 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP/Jaboticabal-SP. Endereço: Via de Acesso Prof. Paulo

Donato Castelane, S/N - Vila Industrial, Jaboticabal - SP, 14884-900. E-mail: [email protected]

Introdução

A cirurgia reconstrutiva é uma modalidade dentro da cirurgia veterinária que vem ganhando destaque a

cada dia que passa, devido aos crescentes casos de neoplasias, manejos de feridas traumáticas e até mesmo por

fatores estéticos. A grande rotina deste ramo encontra-se no fechamento de feridas cirúrgicas extensas, devido à

presença de neoplasias, na qual fica preconizada a retida com margens cirúrgicas amplas (PAVLETIC, 2007).

Dentre os tumores de pele que acometem os cães, 15% são pelos sarcomas de tecidos moles (BAKER‐

GABBY et al., 2005). Os sarcomas de tecidos moles são neoplasias de origem mesenquimal, abrangendo vários

tipos de tumores, porém todos com comportamento biológico semelhante. Dentre eles, são incluídos o

fibrossarcoma, hemangiopericitoma, mixossarcoma, sarcoma indiferenciado, lipossarcoma, histiocitoma fibroso

maligno, schwannoma, rabidomiossarcoma e o neurofibrossarcoma (MAYER e LAURE, 2005). Os sarcomas de

tecidos apresenta alto grau metastástico, sendo um desafio aos cirurgiões no momento de sua exérese, devido à

necessidade de amplas margens cirúrgicas, evitando assim sua recidiva local (LIPTAK, 1997).

A cirurgia reconstrutiva do períneo de cães e gatos oferece um maior grau de dificuldade ao cirurgião,

quando comparado a outros lugares. Além de estudos escassos da vascularização local para utilização de flapes, a

região oferece grandes chances de contaminação cirúrgica, devido à presença do ânus e da vagina. A utilização de

retalhos axiais oriundos das artérias caudais laterais, bolsa escrotal e perineal, podem ser utilizados para

fechamento desta área (CASTRO et al, 2015).

Objetivo

Com o presente trabalho, objetiva-se relatar a utilização do retalho axial das artérias caudais laterais da

cauda, comumente chamado de flape da cauda, para o fechamento de defeito cirúrgico na região perineal de um

cão.

Relato de Caso

Foi atendido no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da UNESP Câmpus de Jaboticabal

(HVGLN) um cão, fêmea, Pitbull, com aumento de volume na região perineal com crescimento progressivo há

mais de um ano. Ao exame físico constatou-se a presença de uma massa firme a palpação, medindo cerca de 5 cm x

8 cm, alopécica, sem aumento de temperatura local e sem acarretar dor a paciente. Foi feita citologia da massa,

vindo sugestiva de um sarcoma de tecidos moles. De uma maneira geral, fora realizado estadiamento neoplásico

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com análises sanguíneas, radiografias torácicas e ultrassom abdominal, que não acusaram alterações. Uma biópsia

incisional foi feita, constatando a presença de um sarcoma de tecidos moles de alto, sugestivo de

neurofibrossarcoma.

Devido o comportamento da neoplasia, bem como o local de origem, optou-se pela ressecção ampla, com

margem de três centímetros laterais, somado a retirada da fáscia muscular para proporcionar margem profunda,

com posterior reconstrução do defeito. A técnica de cirurgia reconstrutiva escolhida foi o flape de padrão axial das

artérias laterais da cauda dos cães.

No planejamento cirúrgico, após a mensuração da margem de segurança caudal de três centímetros foi

medido o tamanho do flape com base no defeito cirúrgico a ser criado. A primeira incisão foi feita circundando

toda a cauda distal e a segunda na base ventral da mesma (fig. 1-A). Foi realizada a divulsão da pele rente às

vértebras, de maneira que as artérias não fossem danificadas no procedimento (fig. 1-B). As vértebras coccígeas

foram desarticuladas próximas à base do flape. Outra incisão foi feita entre o defeito e a base do flape,

possibilitando um caminho para passagem da pele doadora para recobrir o leito receptor (fig. 1-C). A fim de

diminuir a tensão no local da sutura, as bordas do leito receptor foram divulsionadas para facilitar aproximação do

retalho com o leito receptor. Pinças Backhaus foram utilizadas para aproximação das bordas e planejamento do

fechamento do defeito sem que houvesse tensão excessiva. Um dreno de penrose foi colocado para minimizar a não

formação de seroma (fig. 1-D). As bordas foram suturadas com fio não absorvível nylon 3-0 no padrão simples

separado, sendo que os pontos foram feitos intercalados, diminuindo assim a tensão sobre as linhas de incisão (fig.

1-E).

Figura 1: A - E: planejamento cirúrgico, com preparação do flape após divulsão cuidadosa das vértebras coccígeas,

preservando a vascularização. F – paciente com um ano de evolução após a ressecção tumoral.

No pós-operatório imediato foi feita uma bandagem compressiva que era trocada junto aos curativos a cada

dois dias. Não foi observado nenhum tipo de complicação, como hematomas, seroma ou deiscência de suturas. Os

pontos foram retirados com 15 dias e a paciente foi encaminhada para tratamento quimioterápico antineoplásico. A

paciente segue com quase dois anos de pós-operatório, sem a presença de recidiva.

Discussão

Lesões na região perineal de cães, podem ser causadas principalmente por necrose tecidual, por lesões

químicas ou térmicas, sendo elas iatrogênicas ou não, farmacodermias, trauma ou neoplasias (SAIEZADEH et al.,

2005). Muitas das vezes, essas lesões são tão extensas que não é possível um fechamento cirúrgico primário ou por

segunda intenção, sendo necessária alguma técnica de cirurgia reconstrutiva. Alguns defeitos da região perineal

podem ser reparados com auxílio de flapes de padrão axial da artéria ilíaca circunflexa ou da epigástrica caudal

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(CASTRO et al., 2015). Porém o comprimento dos flapes pode ser muito grande, tendo maiores chances de necrose

na sua extremidade distal (SAIEZADEH et al., 2005). Desta maneira, a melhor opção é o flape de padrão axial das

artérias laterais da cauda, uma vez que 75% da extensão da pele da cauda podem ser usadas para o fechamento de

defeitos (DELDEN et al., 2013).

A paciente apresentava uma neoplasia maligna grande em região perineal, sendo necessária sua remoção

com amplas margens cirúrgicas laterais e profunda (PAVLETIC, 2007). Desta maneira, foi optado por ressecção

em bloco da neoplasia, com posterior reconstrução do defeito utilizando um flape de padrão axial das artérias

caudais. A técnica cirúrgica seguiu os preceitos listados em literatura (SAIEZADEH et al, 2005; DELDEN et al,

2013; CASTRO et al, 2015).

O laudo histopalógico confirmou a presença de um neurofibrossarcoma, com margem cirúrgica profunda

exígua. Por se tratar de neoplasia maligna e com alta chance de fazer metástases (BAKER‐GABBY et al, 2005), a

paciente foi encaminhada para quimioterapia antioneoplásica logo após total reparação tecidual.

Conclusão

O flape de padrão axial das artérias laterais caudais de cão é uma alternativa de fechamento de defeito na

região perineal, principalmente aqueles advindos de ressecção cirúrgica ampla. Desta maneira, pode-se obter

amplas margens cirúrgicas para ressecção de neoplasia da região, tendo um fechamento cirúrgico livre de tensão.

Referências

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RETALHO MUSCULAR DO GRANDE DORSAL PARA A RECONSTRUÇÃO DA PAREDE TORÁCICA

APÓS A EXÉRESE DE CONDROSSARCOMA EM CÃO - RELATO DE CASO

BIG MUSCLE RETAIL FOR THE RECONSTRUCTION OF THE THORACIC WALL AFTER

CONDROSSARCOMA EXEMPTION IN DOG - CASE REPORT

CARVALHO L. L.1 ROCHA J. R.2 COSTA M. L.3 FERRACINE C. C.4 CORIS J. G. F.1 SARGI L. F.1

FILADELPHO A. L.5 PEREIRA L. F.2, DIAS F. G. G.2, DIAS L. G. G. G.6

1Discente do Programa de Aprimoramento em Medicina Veterinária, Universidade de Franca - UNIFRAN 2 Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade de Franca - UNIFRAN 3 Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade de Franca - UNIFRAN 4 Médica Veterinária Colaboradora da Clínica Veterinária São Francisco, Franca - SP 5 Docente do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Medicina Veterinária, UNESP Botucatu - SP 6 Docente do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Medicina Veterinária, UNESP Jaboticabal - SP

Introdução

O condrossarcoma é uma neoplasia maligna responsável por produzir matriz condroide e fibrilar, com

ausência de matriz osteóide, através das células cartilaginosas tumorais (THOMPSON E POOL, 2002; COUTO,

2006; DERNELL et al., 2001; GUIM et al., 2014). Seu desenvolvimento ocorre de forma primária no sistema

esquelético ou extra esquelético, apresentando subtipo histológico mixóide e mesenquimal, respectivamente

(CASADEI et al., 1991; GUIM et al., 2014). Apesar da etiologia pouco descrita, acredita-se que as células

mesenquimais primitivas multipotentes possam sofrer diferenciação maligna em cartilagem, resultando na

formação neoplásica (NESI et al., 2000; VOORWALD et al., 2008). A terapia de eleição é a ressecção cirúrgica

com ampla margem de segurança (DERNELL et al., 2001), permitindo o uso de cirurgias reconstrutoras

(HEDLUND, 2008; SCHEFFER et al., 2013), considerando o tamanho da lesão e o local para não comprometer a

cicatrização do flap (SZENTIMREY, 1998).

Objetivo

O intuito deste trabalho foi relatar um cão macho, Labrador Retriever, 11 anos de idade, com aumento de

volume em gradil costal direito há três meses, medindo externamente 3 cm de diâmetro, de consistência firme,

ausência de sensibilidade, não ulcerado, não alopécico e aderido a musculatura intercostal. Ao exame radiográfico,

constatou-se que o nódulo invadia a cavidade torácica em sua maior proporção, evidenciando o comportamento

biológico de “iceberg” descrito em diversos tipos de sarcomas, medindo 10 cm de comprimento e 10 cm de largura.

O animal apresentava dispneia, cianose e abafamento de bulhas cardíacas e sons pulmonares direito. A citologia

sugeriu proliferação mesenquimal benigna de origem condroide. Os exames hematológicos pré-cirúrgicos estavam

dentro dos valores de normalidade para a espécie em questão.

Metodologia

Optou-se pela correção da falha da parede torácica por meio da transposição do músculo grande dorsal com

sobreposição de retalho de omento. Assim, após anestesia inalatória, realizou-se incisão elíptica ao redor da porção

externa da massa, com margem 3 cm desta. Ato contínuo realizou-se divulsão do tecido subcutâneo e secção dos

músculos intercostais, posteriormente foi realizada osteotomia parcial da sétima, oitava e nona costela em forma

retangular com auxílio de serra oscilatória reta, não acessando a cavidade torácica. O retalho muscular do grande

dorsal foi então preparado e seccionado em sua porção final, próximo à 13ª costela, e dissecado dorsal e

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ventralmente até a sua porção proximal quando foi identificada a artéria toracodorsal. Os ramos das artérias

intercostais foram ligados e dividos da margem profunda do retalho. A porção dissecada do músculo grande dorsal

foi mantida sobre compressas umedecidas com solução salina estéril e ato contínuo realizou-se o término da

ostectomia das costelas e a dissecção final dos músculos intercostais com tesoura de mayo romba, possibilitando a

extirpação da massa a qual estava encapsulada, sendo possível, sua exérese por completo. A inspeção da cavidade

torácica não evidenciou a olho nu, presença de metástases. O retalho do grande dorsal foi posicionado sobre o

defeito e a síntese procedeu com o uso de quatro pontos cardeais em padrão Sultan com fio absorvível Monocry

número 0, em seguida os demais pontos foram confeccionados de forma a ocluírem o defeito criado sem que

houvesse o extravasamento de ar ao teste de borbulhamento com solução salina. Previamente a síntese do retalho

colocou-se dreno torácico para drenagem de eventual líquido intratorácico. A aproximação do subcutâneo foi

realizada com padrão walking suture utilizando fio absorvível Monocryl número 2-0 e a pele com pontos simples

separados com fio inabsorvível nylon número 3-0. O paciente precisou ser submetido a dois procedimentos de

toracocentese, com intervalo de seis horas do pós-operatório para fornecer conforto respiratório, o qual se

recuperou bem, não apresentando mais quadros de cianose e dispneia. O animal foi medicado com cefalexina

(30mg/kg/via oral/BID/10 dias), cloridrato de tramadol (3mg/kg/via oral/TID/10 dias), dipirona (25mg/kg/via

oral/TID/5 dias) e meloxican (0,1 mg/kg/via oral/SID/4 dias). A limpeza diária da ferida cirúrgica foi realizada com

gaze estéril e solução fisiológica, e foi borrifada rifamicina tópica, em intervalos de oito horas, até a remoção dos

pontos de pele.

Resultados

O resultado histopatológico confirmou o diagnóstico de condrossarcoma mesenquimal. Após dois meses da

cirurgia, o paciente retornou com vômito, inapetência, decúbito lateral, dificuldade para se levantar com os

membros pélvicos e após exame ultrassonográfico e alterações bioquímicas, sugerindo metástase hepática, não

confirmada por exame histopatológico. Assim, devido ao prognóstico desfavorável associado à displasia

coxofemoral com subluxação articular, o tutor optou pela eutanásia.

Discussão

No caso atual, a exérese cirúrgica ocorreu sem intercorrências transoperatórias, corroborando com Gregory

et al. (1988) que relataram a facilidade de realizar a transposição do músculo grande dorsal para correção da falha

em parede torácica, sendo que os retalhos pediculados de origem muscular conseguem reparar grandes perdas

teciduais associados a ótimo suprimento sanguíneo para as áreas transplantadas (EDINGTON et al., 1989;

PHILIBERT; FOWLER, 1996). Tal retalho é constituído por dois suprimentos sanguíneos, o da artéria toracodorsal

e o da artéria dorso caudal (NICOLL et al., 1996), necessitando de bom aporte vascular, acesso cirúrgico

simplificado e pouca alteração do sítio doador, que foram preservados no momento da cirurgia.

Conclusão

O presente estudo evidencia o sucesso na realização do retalho, demonstrando a efetividade das cirurgias

reconstrutoras com retalhos pediculados de origem muscular na exérese cirúrgica de grandes neoformações,

ademais, a malignidade do condrossarcoma.

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Referências bibliográficas

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EXÉRESE DE NEUROFIBROSSARCOMA EM COTOVELO ASSOCIADA À TÉCNICA DE RETALHO

DE PADRÃO AXIAL TORACODORSAL EM CÃO: RELATO DE CASO

EXCISION OF NEUROFIBROSARCOMA IN ELBOW ASSOCIATED WITH THORACODORSAL

AXIAL PATTERN FLAP IN DOG: CASE REPORT

SCALZILLI, B.1 BRANCALION, B. B.2 NAZARET, T. L.3 COSTA, R. C.4 MONTANHIM, G. L.3 FIRMO, B. F.3

BARATA, J. S.3 RIBEIRO, J. O.3 ALVAREZ-GÓMEZ, J. L.3 REIS FILHO, N. P.3 DE NARDI, A. B.5

1 Pós graduanda pelo Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, do Hospital Universitário de Medicina

Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET-UFF), Niterói-RJ,

Brasil. 2 Aprimoranda pelo Programa de Aprimoramento Profissional do Departamento de Medicina Veterinária (ZMV),

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), Universidade de São Paulo (USP), Pirassununga, SP,

Brasil. 3 Pós graduando pelo Programa de Clínica e Cirurgia Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo

Natel”, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil.

[email protected] 4 Aprimorando pelo Programa de Aprimoramento Profissional do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”,

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 5 Professor Assistente Doutor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias/ UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil.

Introdução

O neurofibrossarcoma é um sarcoma de tecidos moles, sendo um dos principais tumores malignos com

origem na bainha de nervos periféricos em cães. Pode ocorrer em diversas partes do corpo, encontrado

principalmente em localização cutânea e subcutânea, nervos próximos ao sistema nervoso central, ou localizados

no plexo braquial ou lombossacral (1,2). O procedimento cirúrgico é o tratamento de escolha, devendo seu

planejamento incluir a localização, o tamanho e a graduação histopatológica do tumor, bem como todo o

estadiamento do paciente. Dessa forma, respeitando-se as margens de segurança adequadas, a cirurgia pode ser

curativa, dispensando a necessidade de terapias complementares. Para isso, comumente é necessário o

planejamento e execução de técnicas cirúrgicas reconstrutivas para promover a síntese completa da lesão, visando

uma cirurgia de sucesso (1,3,4).

Os retalhos cutâneos de padrão axial incluem artérias e veias cutâneas diretas em sua base (2). Os retalhos

de padrão axial toracodorsal são empregados na correção de defeitos envolvendo os ombros, membros torácicos,

cotovelos, axilas e tórax, sendo constituído de um ramo cutâneo da artéria toracodorsal e da veia associada,

localizadas na depressão escapular caudal à espinha da escápula (1,3,5).

Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de reconstrução com o retalho cutâneo de padrão

axial toracodorsal, após exérese de um neurofibrossarcoma em região do cúbito esquerdo de um cão.

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Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário "Governador Laudo Natel" (HVGLN) da UNESP – Jaboticabal, uma

cadela sem raça definida, de onze anos de idade, com histórico de procedimento cirúrgico há seis meses para

exérese de massa em região do cotovelo esquerdo, com diagnóstico de hemangiopericitoma de grau intermediário.

Três meses após o procedimento, houve aparecimento de novo aumento de volume na mesma região, porém com

dimensões maiores, aspecto arredondado, ulcerado e cístico.

Seguiu-se com o estadiamento clínico e oncológico da paciente, a partir do exame físico, citologia

aspirativa por agulha fina (CAAF) da massa, exames laboratoriais (hemograma, bioquímica sérica) e exames de

imagem (radiografia de tórax e ultrassonografia abdominal). Os exames apresentaram resultados dentro dos

padrões de normalidade para espécie, sem evidências radiográficas e ultrassonográficas de metástases, e a análise

citológica da massa foi sugestiva de neoplasia de células redondas. Optou-se pela exérese da mesma, com ampla

margem cirúrgica como forma de tratamento, além da retirada do linfonodo sentinela. Para a síntese, devido à

grande extensão do defeito e consequente impossibilidade para fechamento da ferida de forma primária, realizou-se

a técnica reconstrutiva de transposição do retalho de padrão axial toracodorsal.

Para tanto, o paciente foi posicionado em decúbito lateral direito, com o membro torácico esquerdo em

extensão relaxada, perpendicular ao tronco. Com auxílio de uma caneta dermográfica foi realizado a marcação de

onde seria a origem do angiossoma da artéria e veia toracodorsal, bem como do direcionamento dos mesmos, e

então a incisão cranial foi delimitada a partir da marcação de uma linha sobre a espinha da escápula e a incisão

caudal a partir de uma linha paralela à espinha da escápula, a uma distância, entre elas, correspondente ao que seria

necessário para recobrir o leito receptor na sua largura. O retalho foi, posteriormente, incisado e divulsionado

profundamente em relação ao músculo cutâneo do tronco, sendo transposto cuidadosamente para cobrir o defeito

criado na região axilar e de cotovelo esquerdo e justaposto às bordas cutâneas do leito receptor com o leito doador.

Foram utilizados dois drenos passivos (penrose) a fim de facilitar a drenagem de fluidos inflamatórios. O retalho

foi suturado ao leito receptor com fio de nylon 3-0, em padrão de sutura simples interrompido e as bordas cutâneas

da área doadora foram justapostas em padrão de sutura simples interrompido, com fio de nylon 3-0 após redução do

tecido subcutâneo. Ao término do procedimento o material excisado foi encaminhado para análise histopatológica.

No pós-cirúrgico, realizou-se terapia analgésica, antibiótica e anti-inflamatória e bandagem compressiva, sendo que

as revisões e trocas de bandagens eram feitas diariamente nos primeiros dias, até o quarto dia, onde foi retirado o

dreno passivo, e as trocas de curativo se espaçaram a cada dois ou três dias.

Resultados

Não houve intercorrências no pré e transcirúrgico. No 4º dia de pós-cirúrgico foram retirados os drenos e a

ferida cirúrgica apresentava-se seca e em bom processo de cicatrização, porém foi observado escurecimento do

retalho na porção em que, este, recobria a região do olécrano. Observou-se que a complicação se limitou à região

de intumescência óssea, sendo que a porção mais distal do retalho se manteve preservada até a retirada dos pontos.

Nas revisões seguintes, essa alteração evoluiu de forma progressiva e com 30 dias de pós-operatório, formou-se

uma crosta do tecido necrótico, com tecido de granulação sob o mesmo. Optou-se pela retirada cirúrgica da necrose

e reaproximação de forma primária das bordas da ferida sendo observado um bom processo de cicatrização. A

análise histopatológica foi diagnóstica para neurofibrossarcoma com margens cirúrgicas livres, e o linfonodo

apresentava-se livre de malignidade.

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Discussão

O tratamento de escolha para neoplasias malignas consiste na remoção cirúrgica com margens livres de

células tumorais, em três dimensões, visando uma cirurgia curativa. No caso de sarcomas de tecidos moles são

necessárias margens a partir de 3 cm ao redor do tumor com um plano tecidual de profundidade, ou 5 cm com até

dois planos de profundidade, havendo ainda a indicação de amputação no caso de uma abordagem radical, em que

remove-se por completo o compartimento no qual o tumor está localizado.(1,6) A obtenção de margens livres

caracteriza um fator determinante na sobrevida dos pacientes portadores desta neoplasia, sendo que o planejamento

cirúrgico adequado e a utilização dos princípios de cirurgia oncológica proporcionam mais de 80% de controle

local da doença em longo prazo. Contudo, é frequente a necessidade de técnicas reconstrutivas para o fechamento

das feridas criadas pela extirpação desses tumores (1,2), como observado neste caso.

As cirurgias reconstrutivas são empregadas principalmente em lesões extensas onde o fechamento primário

não seria possível. O sucesso da técnica depende da extensão da lesão e das estruturas comprometidas. A vantagem

do emprego de retalhos cutâneos relaciona-se ao fato destes permitirem a cobertura imediata da região afetada,

reduzindo o tempo de cicatrização do tecido e proporcionando ao paciente melhores resultados estéticos e

funcionais (1-3). Algumas técnicas têm sido relatadas para a reconstrução de defeitos na região do cúbito, dentre

estas, o retalho de padrão axial toracodorsal representa uma boa opção por possuir um bom aporte sanguíneo,

através da artéria toracodorsal e da veia associada, localizadas na depressão escapular caudal, próximo à região do

cúbito (1,7) Todos esses fatos corroboraram para a escolha da técnica empregada. Lascelles & White (2001)

descreveram o uso do retalho de padrão axial toracodorsal, associado ao retalho pedicular do omento em região

axilar em gatos. Observaram-se bons resultados, assim como este relato e, possivelmente, devido à diminuição da

tensão no leito receptor, bem como pelo posicionamento das linhas de sutura (8).

Complicações dos retalhos do tipo padrão axial incluem infecções, deiscência de sutura, drenagem da

ferida, formação de seroma e necrose distal do retalho (3,4,7). A porção necrótica observada neste caso pode ser

atribuída ao manejo inadequado da bandagem devido ao acolchoamento deficiente na região do olécrano, também

observada em estudos anteriores por Aper & Smeak (2003), por se tratar de uma região de intumescência óssea,

sendo uma área de muita movimentação. Tal complicação pode ser evitada a partir do uso de drenos associados a

bandagens acolchoadas de forma a reduzir a pressão exercida sobre o retalho quando este cruza a região do

cotovelo (9), confirmando o fato de que o curativo é de suma importância para retalhos de grande dimensão e

espessura, favorecendo a integração destes ao leito receptor (1).

Conclusão

A técnica cirúrgica reconstrutiva do retalho de padrão axial toracodorsal mostrou-se efetiva para a correção

de defeito extenso criado na região axilar e de cotovelo. Além disso, representa uma técnica cirúrgica de

salvamento, sendo, portanto, evitado a amputação do membro, pelo fato de ter permitido adequadas margens

cirúrgicas, o que diminui as possibilidades de novas recidivas. A complicação observada poderia ter sido evitada

com um melhor manejo da ferida, porém não interferiu na qualidade de vida e sobrevida da paciente.

Referências

1. Daleck CR, De Nardi AB. (2016). Oncologia em cães e gatos. 2. ed. Rocca. 766p.

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3. Hedlund CS. Cirurgia do Sistema Tegumentar. In: Fossum TW. (2015). Cirurgia de Pequenos Animais. 4.ed.

St. Louis, Missouri: Ed. Mosby Inc., Elsevier Inc., 1775p.

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of Forelimb Skin Defects in 10 Dogs, 1989-2001. Veterinary Surgery 32:378-384.

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RETALHO DE PADRÃO AXIAL DA ARTÉRIA EPIGÁSTRICA SUPERFICIAL CAUDAL PARA

RECONSTRUÇÃO DE DEFEITO APÓS EXÉRESE DE NEOPLASIA EM MEMBRO PÉLVICO:

RELATO DE CASO

CAUDAL SUPERFICIAL EPIGASTRIC AXIAL PATTERN FLAP FOR TREATMENT OF DEFECT

AFTER NEOPLASIA EXCISION IN DOG: CASE REPORT

GAMBARDELLA, S.S.1 BARATA, J.S.2 RIBEIRO, J.S.2 SENHORELLO, I.S.3 MONTANHIM, G. L.2

NAZARET, T. L.2 ALVAREZ-GOMÉS, J. L.2 REIS FILHO, N. P.2 FIRMO, B. F.2 DE NARDI, A.B.4

1Graduanda pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. E-

mail: [email protected] 2 Pós graduando pelo Programa de Cirurgia Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3 Pós graduando pelo Programa de Medicina Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 4 Professor Adjunto do Departamento Clínica e Cirurgia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil.

Introdução

Nos últimos anos, inúmeras e inovadoras técnicas foram desenvolvidas e debatidas por pesquisadores para

o tratamento de neoplasias. Paralelamente, a busca por novas técnicas para a reconstrução de defeitos secundários a

extensas ressecções em oncologia foram igualmente discutidas.(1) Neste contexto a cirurgia reconstrutiva tem ampla

aplicação, uma vez que a perda significativa dos tecidos em busca de margens livres de células neoplásicas podem

inviabilizar o fechamento cirúrgico primário.(2-3) Os princípios relacionados à utilização dessas técnicas exigem do

cirurgião, rigoroso conhecimento anatômico da vascularização cutânea e da região afetada, avaliação da

disponibilidade de pele, conhecimento das linhas de tensão, avaliação do defeito e região doadora e domínio da

técnica com o objetivo de proporcionar resultados satisfatórios, preservando a função local e a estética.(4,5)

Os retalhos cutâneos podem ser classificados como retalho de padrão subdérmico, quando o segmento de

pele conta somente com a vascularização do plexo subdérmico; entretanto, retalhos com artérias e veias cutâneas

diretas são classificados como retalhos de padrão axial (2) e, por apresentarem essa característica, proporcionam a

transferência segura de amplos segmentos cutâneos em um único estágio, sem a necessidade de prorrogação da

intervenção(2).

Objetivo

O presente trabalho objetiva relatar o emprego do retalho de padrão axial epigástrico superficial caudal na

correção de ferida cirúrgica em região de face caudal de membro pélvico direito após ressecção de Mastocitoma em

um cão.

Metodologia

Foi atendido no Serviço de Oncologia Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP- Câmpus de Jaboticabal, um canino fêmea, da raça boxer,

de 12 anos de idade, apresentando nódulo em região proximal da face caudal do membro pélvico direito (MPD),

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aderido, ulcerado, medindo aproximadamente 8 cm de diâmetro em seu maior eixo, com tempo de evolução de 3

meses. O paciente foi submetido a exame físico geral e específico e foram solicitados exames complementares para

estadiamento clínico da doença: exames de imagem com a finalidade de pesquisa de metástase (ultrassonografia

abdominal e radiografia de tórax), exames laboratoriais (hemograma e bioquímica sérica – ALT e creatinina) e

punção biópsia por agulha fina do nódulo para análise citológica de triagem. Os exames laboratoriais apresentaram

resultados dentro dos padrões de normalidade para espécie, assim como o exame físico. Não houve evidências

radiográficas e ultrassonográficas de metástases. O resultado do exame citológico foi sugestivo de mastocitoma.

Após o resultado da citologia, houve a indicação da realização do exame histopatológico para a confirmação e

graduação da neoplasia. O paciente foi então encaminhado ao serviço de cirurgia reconstrutiva da mesma

instituição. Durante o planejamento para ressecção do nódulo com margens cirúrgicas adequadas, notou-se que a

síntese primária da ferida cirúrgica seria impossibilitada nesta região anatômica. Desta forma, realizou-se o

planejamento para a reconstrução do defeito com a utilização do retalho de padrão axial epigástrico superficial

caudal.

Para realização da técnica, o animal foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, com o membro pélvico

direito perpendicular ao tronco em extensão relaxada. Com auxílio de uma caneta dermográfica as margens de 3 cm

de lateralidade ao redor nódulo foram marcadas em delineamento circular. Após mensurar a quantidade de pele

doadora necessária, o retalho foi demarcado incluindo as 3 últimas mamas ipsilaterais. As linhas lateral e medial do

retalho foram demarcadas de acordo com a largura do defeito. A ressecção do tumor foi realizada respeitando as

margens de lateralidade planejadas e como margem profunda foi removida a fáscia subjacente e parte da

musculatura, sendo na sequência o linfonodo poplíteo removido. Após a realização das incisões lateral, medial e

cranial, o retalho foi divulsionado meticulosamente entre o músculo supra mamário e o músculo oblíquo externo do

abdômen progressivamente em direção caudal sendo elevado e rotacionado sobre o defeito após a realização de

uma incisão em ponte para acomodação do retalho. A síntese foi realizada com suturas em padrão simples separado

com fio inabsorvível náilon n° 3-0. Todo material excisado foi encaminhado para avaliação histopatológica. No

pós-operatório imediato foi realizada bandagem compressiva, sendo prescrito antibioticoterapia sistêmica,

analgésicos, anti-inflamatório não-esteroidal, anti-histaminico e inibidor de h2, sendo as revisões e trocas de

bandagens realizadas a cada 48 horas.

Resultados

No pré e transoperatórios não houve intercorrências. Já no pós-operatório, cerca de 4 dias após o

procedimento, o paciente apresentou uma pequena área de deiscência de sutura, a qual foi tratada como ferida

aberta e cicatrizou por segunda intenção. Após a retirada de todos os pontos e cicatrização completa, foi indicada

quimioterapia neoadjuvante mediante o resultado do exame histopatológico que revelou mastocitoma grau II/ Alto

grau com margens cirúrgicas livres de células neoplásicas. O protocolo utilizado foi composto por vimblastina

2mg/m² e prednisona segundo recomendado por Daleck e De Nardi (2016)(6) .

Discussão

O tratamento adotado neste caso seguiu o protocolo proposto por Daleck e De Nardi (2016)(6) que refere a

cirurgia como tratamento de escolha para mastocitomas localizados e, devido ao seu comportamento biológico de

promover invasão microscópica local, sugerem que as margens cirúrgicas obedeçam 3 centímetros de lateralidade e

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pelo menos um plano profundo não comprometido. Neste caso, a abordagem adotada foi eficaz em promover a

ressecção completa da neoplasia com margens livres de células neoplásicas. Em casos de extensas resseções onde a

síntese primária é comprometida por fatores como tamanho da ferida cirúrgica, localidade anatômica, tensão e

escassez de pele doadora se fazem necessário o uso de técnicas reconstrutivas que promovam o fechamento

primário preservando a função e mantendo a estética(4,5). Os retalhos de padrão axial proporcionam a transferência

segura de amplos segmentos cutâneos(2). De forma particular, o retalho de padrão axial epigástrico superficial

caudal representa um dos retalhos com maior suprimento sanguíneo, além de apresentar amplo ângulo de rotação,

sendo indicado para recobrir defeitos envolvendo abdômen caudal, flanco, região inguinal, prepúcio, região

perineal e membro pélvico(2). Este amplo ângulo de rotação aliado ao importante suprimento sanguíneo deste

retalho permitiu o fechamento primário do defeito sem intercorrências no trans-operatório. No caso em questão, a

remoção cirúrgica respeitando margens de segurança e princípios de cirurgia oncológica, foi essencial para evitar a

progressão da doença, oferecendo maior chance de cura ao paciente.

Complicações como deiscência de sutura, contaminação, necrose nas extremidades de retalhos, seroma,

hemorragias e hematomas são descritas em cirurgia reconstrutiva(2,4,5,7). Neste caso, a única complicação observada

foi deiscência de sutura em uma pequena região de maior tensão da ferida cirúrgica. Diante disso, procedeu-se o

tratamento como ferida aberta e a cicatrização ocorreu por segunda intenção sem danos a recuperação do paciente.

A quimioterapia neoadjuvante é indicada após a excisão de mastocitomas grau III e alto grau. Neste caso a

quimioterapia pode ter desempenhado importante papel associada à cirurgia, de modo que o paciente apresenta-se

livre da doença há 11 meses.

Conclusão

A utilização da técnica do retalho de padrão axial epigástrico superficial caudal para correção de defeito em

face caudal proximal do MPD mostrou-se eficaz para o fechamento da ferida, permitindo adequação das margens

cirúrgicas e consequentemente contribuindo positivamente para a sobrevida e redução da morbidade do paciente.

Referências Bibliográficas

1. Pargana AM. (2009). Técnicas reconstrutivas em cirurgia oncológica de canídeos e felídeos. Dissertação

(Mestrado Integrado em Medicina Veterinária). Universidade técnica de Lisboa. Lisboa, 134 p.

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São Paulo: Ed. Manole, 292-307p.

3. Pavletic MM. Small Animal Wound Management and Reconstructive Surgery. In: ______. (2010). Axial

pattern skin flaps. 3 ed., Lowa: Ed.Wiley – Blackwell, 357-378p.

4. Fossum TW. et al. (2015). Cirurgia de pequenos animais. 4. ed., São Paulo: Ed. Elselvier, 1640p.

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técnicas de cirurgias reconstrutiva da pele de cães e gatos. Curitiba: Ed. MedVep, 286p.

6. Daleck CR, De Nardi AB. (2016). Oncologia em cães e gatos. 2.ed., Sâo Paulo: Ed. Roca. 766p.

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USO DE RETALHO CUTÂNEO PEDICULADO DE TRANSPOSIÇÃO PARA RECONSTRUÇÃO NASAL

APÓS RESSECÇÃO ONCOLÓGICA EM CÃO: RELATO DE CASO

USE OF PEDUNCULATED SKIN FLAPS TRANSPOSITION FOR NASAL RECONSTRUCTION AFTER

ONCOLOGICAL RESECTION ON DOG: CASE REPORT

PEREIRA, D.P.1 FERNANDES, S.M.L.2 MOREIRA, B.S.3

1 Médico Veterinário, Prof. do Departamento de Clínica Cirúrgica e Anestesiologia do Centro Universitário do

Triângulo, UNITRI. Uberlândia – MG, Brasil. E-mail para contato: [email protected]

2 Médica Veterinária autônoma – Hospital Pronto Socorro Veterinário, PSV de Uberlândia – MG. Brasil.

3 Acadêmica de Medicina Veterinária do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário do Triângulo,

UNITRI. Uberlândia – MG, Brasil.

Introdução

A inclusão das técnicas cirúrgicas reconstrutivas são utilizadas com a finalidade de abolir defeitos secundários

a lesões traumáticas, corrigir defeitos congênitos, e na reparação tecidual após retiradas de tumoração. A escolha de

uma técnica reconstrutiva é variável de acordo com o tipo e a localização da lesão1. Em pequenos animais, as técnicas

de retalho ou “flapes” deslizantes, são mais efetivos em relação ao enxerto propriamente dito, em virtude da

vascularização dessas espécies serem perpendiculares ao segmento de pele2.

Os retalhos do tipo pediculado são semelhantes aos enxertos cutâneos, mas com apenas uma porção de pele e

tecido subcutâneo divulsionado e tranferido para uma zona receptora adjacente. Como vantagem, observa-se a

preservação da região pedicular, que resulta na manutenção da circulação sanguínea local, e consequentemente a

preservação do retalho. Além disso, promove a cobertura total da lesão1, 3.

Em virtude de sua versatilidade, o enxerto de transposição mobiliza a quantidade de pele ideal quando

rotacionado sobre a ferida, e permite sua criação paralela as linhas de maior tensão, de modo a facilitar a síntese da

região doadora 1,3. Objetiva-se através desse relato descrever o uso de retalho de transposição para reconstrução nasal,

após ressecção de uma massa infiltrativa em região do lábio superior, gengiva e plano nasal.

Relato de Caso

Foi atendido no Hospital Pronto Socorro Veterinário (PSV) em Uberlândia – MG, um cão da raça Rotweiller,

macho, adulto, com histórico de crescimento de uma massa na região existente entre a região do lábio superior

esquerdo, gengiva e o plano nasal. O proprietário indagou crescimento acelerado, com desenvolvimento de ulceração,

onde o paciente apresentava dificuldade respiratória e alimentar, em virtude da compressão das narinas.

Ao exame físico, observou-se uma massa superficial, firme, ulcerada, com cerca de 5 cm de diâmetro, de

coloração avermelhada, e formato arrendondado. Como exame complementar foi realizado hemograma, radiografia

torácica, perfil hepático e renal. Não houve alterações nos exames hematológicos e de imagem, então o paciente foi

encaminhado para ressecção cirúrgica e análise histopatológica.

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Na cirurgia, o paciente foi submetido à anestesia geral, como indução anestésica foi utilizado propofol via

intravenosa, e a manutenção anestésica foi realizada com isoflurano, em circuito fechado. Seguiu-se com a exérese de

tumor superficial com auxílio do bisturi elétrico, com cauterização do leito tumoral. Com a finalização da ressecção,

seguiu-se com a realização da técnica reconstrutiva com retalho de transposição, para correção do defeito resultante da

ressecção tumoral. A área do retalho demarcada foi na região facial lateral. Seguiu-se com a incisão de pele, e alívio de

tensão na região doadora, a dissecção prosseguiu até a base do nariz, com preservação do plexo subcutâneo, de forma

que o enxerto seguiu-se um ângulo de 90° em relação ao eixo maior do defeito. Nesse momento, o fragmento foi

depositado sobre o bordo da região receptora, e seguiu-se com a síntese de toda região, com exceção da região

proximal junto ao pedículo (FIGURA 1).

Figura 2 - Massa na região existente entre a região do lábio superior esquerdo, gengiva e o plano nasal. A) Falha

resultante da exérese do tumor. B) Criação do enxerto pediculado de transposição de 90°. C) Resultado estético final.

Fonte: arquivo pessoal.

No pós-operatório foi recomendado o uso de colar elisabetano até a remoção dos pontos. Com 15 dias de pós-

operatório, foram realizadas novas avaliações no paciente, cuja área acometida apresentou-se com boa cicatrização, e

nenhuma alteração que denotasse falha no enxerto.

Discussão

Pacientes com tumores de face apresentam graves alterações morfológicas, e de acordo com o grau de

extensão, resulta em comprometimento cicatricial. As lesões que acometem as comissuras labiais, e região nasal são de

difícil aposição de bordas cutâneas, pela ausência de forças de tensão exercidas sobre o local. Segundo Fossum (2007),

a técnica de transposição em 90° garante maior quantidade tecidual para aposição, quando disposto paralelamente as

linhas de maior tensão.

Para um resultado positivo, deve-se evitar um aumento de tensão sobre o retalho, e promover a preservação da

região vascular subdérmica. As complicações estão correlacionadas com deiscência, hematomas, seromas, edemas,

infecção, e necrose 3, 4, 5. Porém, em virtude do alívio de tensão que esta técnica proporciona, juntamente com a

preservação da circulação sanguínea, quando manipulados de forma atraumática, resulta na sobrevivência do retalho.

Conclusão

A técnica reconstrutiva empregada demonstrou-se eficaz, considerando a extensão do defeito resultante, e sua

facilidade para realização, garantindo o sucesso da resolução da ferida induzida por exérese de tumor de face. De frente

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a um defeito cirúrgico, deve-se seguir com um planejamento para que haja a reconstrução, de acordo com o tipo de

retalho, referente a área a ser abolida.

O retalho facial pedunculado foi eficaz para gerar boa dermoplastia no leito subnasal.

Referências Bibliográficas

1. Fossum, T.W. et. al. (2008). Cirurgia de pequenos animais. 3 ed. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier, 1606 p.

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In: II Simpósio Estadual de Oncologia Veterinária. Palestra proferida em 17 de outubro de 2009.

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(pp. 159-259). St. Louis, Missouri: Mosby Inc., Elsevier Inc.

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sutures or sutures and cyanoacrylate adhesive for reconstructive surgery in dogs. Veterinary Surgery, 34, 59-63.

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técnicas de cirurgia plástica e reconstrutiva em oncocirurgia. In Livro de comunicações de XVIII Congresso

Nacional da APMVEAC, Lisboa, Portugal.

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RESSECÇÃO TOTAL DE RETO E ÂNUS EM UM CÃO COM ADENOCARCINOMA RETAL:

RELATO DE CASO

TOTAL RESECTION OF RECTUM AND ANUS IN A DOG WITH RECTAL ADENOCARCINOMA:

CASE REPORT

SARGI, L. F.¹ CORIS, J. G. F.1 BUENO, C.M.1 CARVALHO L.L.1 MAGALHÃES L.F.1 LUCERA, T.M.C.1

BARROS, F.F.P.C.1 AYER, I.M.1 CALAZANS, S. G.1

1Universidade de Franca, Av. Dr. Armando de Salles Oliveira, 201 - Parque Universitário, Franca - SP, 14404-600.

[email protected]

Introdução

O adenocarcinoma retal tem origem nas células epiteliais da mucosa intestinal e é o tumor maligno mais

comum entre as neoplasias colorretais em cães, sendo classificado em infiltrativo, ulcerativo ou proliferativo

(Pavletic, 1998). A colonoscopia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são ótimas ferramentas

para avaliação do tamanho e extensão do tumor, além de auxiliarem o planejamento cirúrgico e a obtenção de

amostras para o exame histopatológico (Matthiesen e Marretta, 1998).

Dessa forma, as técnicas de cirurgia reconstrutiva vêm ganhando destaque na medicina veterinária, pois

permitem a ressecção de neoplasias com amplas margens de segurança, reduzem o risco de recidiva, além de

proporcionarem bons resultados funcionais e estéticos.

(Pavletic, 1998).

Objetivo

O objetivo deste trabalho é descrever um caso de ressecção cirúrgica total de reto e ânus em um cão com

adenocarcinoma retal.

Metodologia

Foi atendido um cão da raça teckel, macho, não castrado, com 13 anos de idade, com histórico de

hematoquezia há três anos. Não se observaram alterações durante o exame físico, inclusive pela palpação retal.

Inicialmente foram solicitados hemograma, coproparasitológico e ultrassom abdominal. A única alteração

hematológica evidenciada foi trombocitose, enquanto cistos de Giardia spp. foram observados no exame

parasitológico pelo método Willis e Faust. Não respondendo ao tratamento para giardíase, (metronidazol 25mg/kg,

BID, durante 10 dias) foi solicitado exame de trânsito intestinal, notando-se estreitamento durante a passagem do

contraste em região de cólon descendente. Com o objetivo de investigar uma possível obstrução colônica, realizou-

se exame de colonoscopia, notando-se alteração apenas em cólon-reto, anteriormente não notada na palpação retal.

A massa encontrada era de coloração avermelhada, firme, medindo 0,5cm de diâmetro. Procedeu-se biopsia

excisional e uma amostra foi encaminhada para exame histopatológico, que estabeleceu o diagnóstico de pólipo.

Após a retirada do nódulo, em um período de 60 dias, o paciente apresentou piora no quadro, apresentando

episódios de prolapso retal transitórios e aumento do tumor. Nesta ocasião, perceptível à palpação retal.

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O paciente foi encaminhado para tomografia computadorizada, afim de verificar extensão da lesão para

melhor planejamento cirúrgico, uma vez que a piora do quadro clínico indicava não se tratar apenas de um pólipo.

Na tomografia computadorizada foi identificado massa hipoatenuante em região de cólon descendente e reto,

medindo 2,9x3,3x4,4 cm, ocupando ¾ do lúmen retal. Sendo assim, indicou-se ressecção cirúrgica do segmento

intestinal comprometido. Visando diminuir a contaminação no trans-cirúrgico, mudou-se a dieta do paciente para

pastosa e prescreveu-se lactulona (uma gota/kg/BID) uma semana antes da cirurgia, além de jejum de 48 horas e

enema com solução fisiológica e glicerina no dia anterior. No pré-operatório imediato administrou-se metronidazol

(15mg/kg) e cefalotina (30mg/kg), pela via intravenosa. Realizou-se tricotomia de toda região perianal e membros

pélvicos. Após antissepsia, o paciente foi posicionado em decúbito ventral, expondo-se a região perianal seguido

pela realização de duas suturas em bolsa de fumo. Realizou-se uma incisão de pele ao redor de todo o ânus,

divulsão do tecido subcutâneo e identificação do reto, esfíncter anal externo e músculos elevadores do ânus,

coccígeos e o retococcígeo. Foi realizada a transecção do músculo retococcígeo e elevador do ânus para expor a

serosa do reto. Tracionou-se o reto caudalmente para exposição completa do tumor e na inspeção cirúrgica apesar

do nódulo se estender cranialmente ao cólon, não foi possível identificar, macroscopicamente, se seu pedículo

estava inserido em mucosa colônica. Em seguida, incisou-se a circunferência do seguimento intestinal com 1 cm de

margem cranial ao tumor com auxílio de pontos de ancoragem. A mucosa intestinal foi suturada à pele com pontos

simples separados (nylon 3-0), reconstruindo-se o ânus. As medicações prescritas no pós-operatório foram:

omeprazol (0,7mg/kg, SID, durante 15 dias), cefalexina (30mg/Kg, BID, durante 15 dias), metronidazol (15mg/kg,

BID, durante 10 dias), carprofeno (2,2mg/kg, SID, durante 10 dias), cloridrato de tramadol (4mg/kg, TID, durante

10 dias), dipirona (25mg/kg, TID, durante 10 dias) e óleo mineral (0,5ml/kg, BID, até retorno). Quanto ao manejo

pós-cirúrgico, o tutor foi orientado sobre a realização de limpeza da ferida cirúrgica após defecação com solução

fisiologia e solução de clorexidine a 0,5%. A dieta manteve-se pastosa por 30 dias.

A porção colón-retal seccionada foi analisada pelo exame histopatológico, tendo como diagnóstico

adenocarcinoma retal com margens livres do tumor. O paciente apresentou discreta irritação cutânea ao redor dos

pontos até o quinto dia pós-operatório. A sutura foi removida com 20 dias de pós-cirúrgico.

Discussão

Diferentemente de adenomas retais, adenocarcinomas não apresentam predileção por sexo e não são

responsivos a hormônios como estrógeno e Gh (Hedlund, 2013). Em um estudo realizado com 113 cães com

adenocarcinoma retal, 54% dos casos ocorreram em fêmeas e 46% em machos (Williams et al., 2003).

Dentre as formas mais comuns de tratamento de adecarcinoma retal, utiliza-se quimioterapia, crioterapia,

cirurgia, cirurgia associada à quimioterapia e radioterapia. Cães tratados com cirurgia apresentam média de

sobrevida de 7 a 9 meses a mais em relação a cães tratados apenas com quimioterapia (Church et al., 1987). Os

principais quimioterápicos utilizados para o tratamento de adenocarcinomas em reto são vincristina, doxorrubicina,

ciclofosfamida, carboplatina, cisplatina e mitoxantrona (Hedlund, 2013). A escolha do tratamento depende das

margens de segurança e do grau do tumor (Daleck e Rodaski, 2016). Para o paciente em questão, optou-se somente

pelo procedimento cirúrgico, já que o exame histopatológico revelou margens de segurança livres de células

tumorais.

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Para adenocarcinoma retal, uma abordagem cirúrgica mais agressiva, obtendo-se 2 a 3 cm de margem de

segurança pode reduzir o risco de doença residual (Matthiesen e Marretta, 1998), dessa forma procedeu-se pela

ressecção anorretal total com o objetivo de diminuir as chances de recidiva. Entretanto, para que este procedimento

seja realizado, a avaliação pré-cirúrgica é fundamental para o planejamento cirúrgico, valendo-se de exames de

imagens como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, pois permitem informações mais precisas

sobre o tipo, o grau e o envolvimento regional do tumor (Daleck e Rodaski, 2016). No caso relatado, apesar da

margem de segurança de um centímetro, foi possível verificar que a margem cranial ao tumor estava livre de

células neoplásicas. Além disso, apesar da imagem tomográfica ter identificado um tumor em região de cólon, foi

possível observar, durante a cirurgia, que o tumor estava inserido na mucosa intestinal por um pedículo.

Posteriormente, com a avaliação histopatológica, confirmou-se que este se localizava em mucosa retal.

As principais complicações no pós-operatório incluem hematoquezia, sangramento local, tenesmo,

disquezia e deiscência dos pontos (Hedlund, 2013). No caso descrito, o animal apresentou irritação cutânea no pôs

operatório com melhora após sete dias, sendo a sutura removida após 20 dias.

Conclusão

A ressecção cirúrgica do reto e ânus, neste caso, permitiu a remoção completa do tumor, bem como de suas

margens de segurança, sem acarretar em complicações graves no período pós-operatório. Além disso, os cuidados

durante os períodos pré, trans e pós-cirúrgicos contribuíram para a recuperação do paciente, assim como a

tomografia computadorizada foi fundamental para o planejamento cirúrgico.

Referências Bibliográficas

1. HEDLUND, C. S. Cirurgia do sistema digestório. In: FOSSUM, T. W (2013). Cirurgia de pequenos animais. 4.

ed. São Paulo: Elsevier. p. 430 - 433.

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3. MATTHIESEN, D. T.; MARRETTA, S. Afecções do ânus e reto. In: Slatter D. (1998). Manual de cirurgia de

pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole Ltda. p.760-779.

4. WILLIAMS, Laurel E. Carcinoma of the apocrine glands of the anal sac in dogs: 113 cases (2003). Journal of

the American Veterinary Medical Association, v. 223, n. 6, p. 825 -831,

5. CHURCH, E. M.; MEHLHAFF, C. J.; PATNAIK, A. K (1987) Colorectal adenocarcinoma in dogs: 78 cases

(1973-1984). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 191, n. 6, p. 727-730.

6. PAVLETIC, M. M Pele e anexos, In: Slatter, D (1998) “Manual de Cirurgia de pequenos animais”. São Paulo:

2. Ed: Manole, cap 2, p. 323-333.

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RETALHO SUBDÉRMICO DA PREGA INGUINAL APÓS EXÉRESE DE TUMOR MAMÁRIO EM

CADELA

SUBDERMAL FLAP OF INGUINAL PREGUE AFTER EXERESIS OF MAMMARY TUMOR IN BITCH

SILVA, M.S1 CASTRO, J.L.C2 MAGRIN, M.G3 QUEIROZ, T.N.L3 SILVA, L.M3 SANTALUCIA, S4

1M.V. Médica Veterinária autônoma, Tubarão, Santa Catarina. [email protected] 2M.V. Professor do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) 3M.V. Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da PUCPR 4M.V. Professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

Introdução

A remoção cirúrgica é o principal tratamento para as neoplasias mamárias, podendo ser associado a terapias

adjuvantes como a quimioterapia. A criação de grandes defeitos após exérese de tumores é uma das principais

indicações deutilização de cirurgia plástica reconstrutiva (PIPPI & CASTRO, 2012).

O padrão subdérmico para utilização em técnicas reconstrutivas caracteriza-se por três plexos que são

compostos por epiderme, derme e panículo cutâneo, são eles, plexo venoso profundo da derme, plexo venoso

subpapilar profundo e plexo subpapilar superficial. As veias e vênulas estão localizadas na derme e no panículo. O

sucesso de na confecção de retalhos de padrão subdérmico estão diretamente relacionados à preservação destes

plexos (HUPPES et al., 2015). Retalhos da prega inguinal da prega axilar são retalhos de padrão subdérmico e

podem ser criados para corrigir defeitos da região abdominal e torácica, respectivamente (SCHEFFER et al., 2013).

A técnica consiste na realização de duas incisões, uma medial parcialmente em contato com a ferida e outra

lateral ao membro, unidas em uma incisão curvilínea próxima ao joelho, este flape é então elevado ao quadríceps,

sendo transposto e suturado ao leito receptor (HEDLUND, 2008b). A largura da base do flape deve ser igual à

largura do defeito, já o comprimento é definido medindo a distância entre o eixo do flape e o ponto mais afastado

do defeito, sendo que neste caso, o flape não deve ultrapassar a crista tibial (PAZZINI, et al., 2015). A sutura

subdérmica tem intuito de amenizar a tensão nas bordas de sutura e deve ser feita em padrão interrompido, assim

como a sutura de pele (HUPPES et al., 2015).

Dentre as complicações relacionadas à cirurgia reconstrutiva estão à ocorrência de seroma, hematomas,

infecção da ferida cirúrgica, deiscência de sutura devido a excesso de tensão e necrose (AMSELLEM, 2011).

Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de cirurgia plástica reconstrutiva utilizando retalho

subdérmico da prega inguinal após exérese de tumor mamário em uma cadela.

Metodologia

Foi atendido, um canino, fêmea, não castrada, da raça poodle, com 9 anos de idade na Clínica Veterinária

Escola PUCPR, em Curitiba, Paraná, apresentando tumor ulcerado abrangendo glândula mamária abdominal

caudal(M4) e glândula mamária inguinal(M5) esquerdas, com evolução de um ano.

No exame físico observou-se tumor de 10 cm de comprimento, 6 cm de largura e 4 cm de altura em M4 e

M5 esquerda, firme, não aderido e ulcerado além de nódulos em glândula mamária torácica cranial (M1) e M5

direitas e glândula mamaria torácica caudal (M2) esquerdas com aproximadamente 1 cm de circunferência cada.

Foi realizada citologia aspirativa por agulha fina da massa tumoral de maior tamanho abrangendo M4 e M5

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esquerdas, porém obteve resultado inconclusivo. Os exames de radiografia de tórax realizados nas projeções lateral

direita, esquerda e ventrodorsal e ultrassonografia abdominal não demonstraram metástases. Também foi solicitado

hemograma e bioquímica sérica (ALT, FA, uréia, creatinina e albumina) que não demonstraram alterações

significativas. Após exames, o paciente foi encaminhado para exérese tumoral seguida de retalho subdérmico da

prega inguinal para fechamento do defeito criado.

Após jejum sólido e hídrico de 12 horas foi aplicado como medicação pré-anestésica (MPA) acepromazina

0,02mg/kg/IM e morfina 0,5mg/kg/IM. A indução anestésica foi realizada com propofol4mg/kg/IV e

midazolam0,2mg/kg/IV, a manutenção anestésica foi realizada com isoflurano vaporizado em oxigênio 100% e

como adjuvante da analgesia foi realizado bloqueio epidural com ropivacaína 1,5mg/kg e morfina 0,1 mg/kg, sendo

posteriormente posicionado em decúbito dorsal.

Foi realizada uma incisão elípitica em torno da massa tumoral, M3, M4 e M5 esquerda e também M4 e M5

direita devido a proximidade das mesmas com o tumor, com margem de 2 cm. Após dissecção tumoral e das

glândulas mamárias, realizou-se a hemostasia adequada e linfadenectomia inguinal direita e esquerda.

Posteriormente foram realizadas duas incisões, uma medial parcialmente em contato com a ferida e outra lateral ao

membro, unidas em uma incisão curvilínea próxima ao joelho. Sendo realizada após, a divulsão cutânea, abaixo do

plexo subdérmico e em seguida, o retalho foi mobilizado para o defeito de modo que pudesse cobrir o leito

receptor. Foram utilizadas pinças backauspara aproximação das bordas testando a tensão da pele na região, com

posterior, suturas de avanço “walking suture” na região cranial do defeito com fio absorvível de Poliglactina 910

(PG) n° 0. Foi então realizada a apresentação do leito doador ao leito receptor com sutura do subcutâneo,

aproximando as bordas em padrão sultan com fio de PG 910 n° 2-0 e por último a dermorrafia em padrão simples

interrompido com fio de náilon n°3-0. Ao término da cirurgia, o retalho foi protegido com bandagem compressiva e

o material retirado foi encaminhado para histopatológico, sem resultados até o momento.

O animal foi encaminhado para casa com prescrição de cloridrato de tramadol4mg/kg/VO/TID, dipirona

25mg/kg/VO/TID, amoxicilina com clavulanato de potássio 22mg/kg/VO/BID, piroxicam 0,3mg/kg/VO/SID e

omeprazol 1mg/kg/VO/SID. Passados 14 dias, o paciente retornou para remoção dos pontos e não apresentou

nenhuma complicação pós-operatória.

Discussão

A mastectomia total unilateral deve ser o tratamento de escolha devido a comunicação linfática pelas

glândulas mamárias. Entretanto, a técnica de mastectomia regional também está indicada quando há presença de

tumores em glândulas consecutivas. Indica-se remoção do seguimento cranial, que corresponde a M1, M2 e M3 ou

seguimento caudal, correspondente a M3, M4 e M5, removendo também os linfonodos regionais (ROBBINS,

2007). Devido à extensão do tumor, os cirurgiões optaram pela realização da mastectomia regional, removendo

M3, M4 e M5 esquerdas, porém, M4 e M5 direitas e linfonodo inguinal direito também foram removidos durante o

procedimento, devido à proximidade com a massa tumoral. Os nódulos em M1 direita e M2 esquerda, assim como

linfonodos axilares serião retirados em um segundo procedimento assim que a paciente estiver recuperada do

primeiro.

Em função da extensa ferida, associada à ausência de vasos cutâneos diretos disponíveis, optou-se pelo

retalho de padrão subdérmico, facilitando a síntese da ferida no leito receptor, o que vai de encontro ao que Castro

et al. (2015) cita em relação ao plexo subdérmico, sendo de grande importância na cirurgia reconstrutiva de pele e

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deve sempre ser preservado para a realização de retalhos locais quando não seja possível incorporar nenhuma

artéria e veia superficial direta ao retalho proposto. Outra técnica descrita para ser utilizada em síntese de defeitos

cirúrgicos na região inguinal é o retalho de padrão axial da artéria epigástrica superficial caudal. A taxa de

sobrevida para os retalhos de padrão axial é 50% maior do que os retalhos subdérmicos (PAVLETIC, 2010). A

utilização deste tipo de retalho mostrou-se eficiente em um trabalho publicado por Queiroz et al. (2016), onde 40

dias após a confecção do mesmo a ferida apresentou-se em epitelização. No entanto, a utilização do retalho axial da

artéria epigástrica superficial caudal direita para realizar a síntese do defeito criado não foi possível neste caso

especificamente devido a remoção do vaso juntamente com M4 e M5 direitas que fez-se necessário devido a

proximidade com o tumor.

Cuidados como troca de instrumentais cirúrgicos, luvas, lavagem do leito cirúrgico e respeitar as margens

cirúrgicas são fatores importantes para evitar recidivas. Assim como antibióticos, controle da dor, bandagens

compressivas não aderentes com trocas diárias, contribuem para a cicatrização da ferida cirúrgica (HUPPES et al.,

2015), essas foram medidas utilizadas no presente relato, implicando em ausência de complicações.

Conclusão

Conclui-se que com a utilização da técnica de retalho da prega inguinal, permite-se aocirurgião criar

grandes defeitos cutâneos na região, ampliando assim as possibilidades cirúrgicas frente a neoplasias mamárias

extensas, uma vez que facilita o fechamento. Além disso, para o caso apresentado, essa técnica de reconstrução

demonstrou ser eficaz, promovendo conforto e qualidade de vida ao paciente.

Referências

1. Pazzini JM. et al. Técnicas de fechamento geral e em padrão de figuras geométricas. In: Castro JLC, Huppes

RR, De Nardi AB, Pazzini JM (2015). Princípios e técnicas de cirurgias reconstrutivas da pele de cães e gatos,

(atlas colorido). Curitiba: Ed. MedVep, 77-88.

2. Pippi NL. Neoplasias da cavidade oral. In: Daleck CR, De Nardi AB, Rodaski S (2008). Oncologia em cães e

gatos. São Paulo: Ed. Roca, 313-316.

3. Huppes RR.et al. Cuidados pré, trans e pós-cirúrgico. In: Castro JLC, Huppes RR, De Nardi AB, Pazzini JM

(2015). Princípios e técnicas de cirurgias reconstrutivas da pele de cães e gatos, (atlas colorido). Curitiba: Ed.

MedVep, 38-50.

4. Scheffer JP.et al. (2013). Cirurgia reconstrutiva no tratamento de feridas traumáticas em pequenos animais.

Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 35: 70-78.

5. Hedlund CS. Cirurgia do sistema tegumentar. In: Fossum TW (2008). Cirurgia de pequenos animais. 3. ed. Rio

de Janeiro: Ed. Elsevier, 159-259.

6. Amsellem P (2011). Complications of reconstructive surgery in companion animals.Veterinary Clinic Small

Animal Practice, 41: 995-1006.

7. Robbins M. Oncologia do sistema reprodutor. In: Slatter D (2007). Manual de cirurgia de pequenos animais. 3.

ed. Barueri: Ed. Manole, 2437-2444.

8. Castro JLC.et al. Introdução à anatomia. In: Castro JLC, Huppes RR, De Nardi AB, Pazzini JM (2015).

Princípios e técnicas de cirurgias reconstrutivas da pele de cães e gatos, (atlas colorido). Curitiba: Ed. MedVep,

10-16.

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9. Pavletic MM. Axial Pattern skin flaps. In: Pavletic MM (2010). Atlas of small animal wound management and

reconstructive surgery. 3. ed. Nova Jersey: Ed. Wiley-Blackwell, 357-402.

10. Queiroz TNL.et al. (2016).Retalho axial de rotação da artéria epigástrica superficial caudal para reconstrução

de ferida após exérese tumoral. Revista científica de medicina veterinária – pequenos animais e animais de

estimação, 14: 6-14.

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RETALHO DE PADRÃO SUBDÉRMICO APÓS EXÉRESE TUMORAL EM REGIÃO FACIAL DE UM

FELINO - RELATO DE CASO

SUBDERMAL FLAP AFTER TUMOR RESSECTION IN FACIAL REGION OF A FELINE - CASE

REPORT

MAGRIN, M.G.1 QUEIROZ, T.N.L.1 MIGUEL, L.S.1 DA SILVA, P.L.2 TREVISAN, G.A.2 RAMOS, N. de O.3

CAPRIGLIONE, L.G.A.4 CASTRO, J.L.C.5

1Médicos Veterinários Residentes de Clínica Cirúrgica - Clínica Veterinária Escola PUCPR. [email protected] 2Médicos Veterinários Residentes de Anestesiologia Veterinária - Clínica Veterinária Escola PUCPR. 3Médica Veterinária Residente de Clínica Médica - Clínica Veterinária Escola PUCPR. 4Médico Veterinário Docente de Anestesiologia Veterinaria - PUCPR. 5Médico Veterinário Docente de Clínica e Patologia Cirúrgica - PUCPR.

Introdução

O termo cirurgia reconstrutiva, refere-se a utilização de técnicas de reconstrução tecidual, como flaps,

enxertos1, na correção de defeitos de pele traumáticos1,2,3,4, quando fechamento primário não é possível devido ao

excesso de tensão tecidual5. Quando se planeja uma cirurgia reconstrutiva, deve-se considerar a localização do

ferimento, a elasticidade do tecido ao redor, o suprimento regional de sangue e a qualidade do leito da ferida,

decidindo qual a melhor técnica a ser empregada1,6,7. Excesso de tensão no fechamento de feridas pode causar

deiscência da sutura, necrose, comprometimento circulatório, atraso na cicatrização e desconforto, por isso a

importância de se avaliar as linhas de tensão antes da correção de defeitos de pele1,3,7.

Retalhos rotacionais possuem formato semicircular, únicos ou pareados, que compartilham a mesma borda

do defeito1. Muito utilizados para corrigir defeitos triangulares1,3,7 e defeitos na região dos olhos2,6.

Complicações no pós-cirúrgico podem ser divididas em três grupos: relacionadas à condição geral do

animal, relacionado à área receptora e relacionado ao procedimento6. A maior causa de necrose do retalho é a

irrigação inadequada resultante de falhas na aplicação das técnicas. Porém existem outras causas menos comuns

como infecção, ação de agentes tóxicos, excessiva tensão, hematomas adjacentes, entre outras3.

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a eficácia da técnica cirúrgica de retalho de rotação de padrão

subdérmico em região facial de um gato após ressecção tumoral em osso maxilar e zigomático.

Relato de Caso

Foi atendido na Clínica Veterinária Escola da PUCPR em Curitiba-PR, um felino, macho, sem raça

definida, castrado, de 14 anos, que apresentava um tumor à 4 meses de crescimento progressivo em região facial

esquerda de consistência firme, acometendo olho esquerdo e região de osso maxilar e zigomático). Através de

biópsia foi diagnosticado como Condrossarcoma pouco diferenciado, com índice mitótico de 8 figuras de mitoses

em 10 campos de 40x.

Foram realizados exames para estadiamento oncológico e pré-operatórios como ultrassonografia de

abdômen, radiografia de tórax (em 3 projeções: ventro-dorsal e latero-lateral direita e esquerda), eletrocardiograma,

ecocardiograma, e exames hematológicos (hemograma, albumina, creatinina, uréia, fostatase alcalina, ALT,

proteínas totais e eletrólitos), onde não foram evidenciados quaisquer sinais de metástases ou alterações

significativas. O exame tomográfico computadorizado de crânio evidenciou grande massa em face à esquerda

predominantemente óssea de provável origem em arco zigomático esquerdo.

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A técnica cirúrgica escolhida foi ressecção tumoral juntamente com ostectomia do arco zigomático

esquerdo e enucleação do globo ocular esquerdo, e para correção do extenso defeito criado optou-se pela técnica de

cirurgia reconstrutiva de retalho de rotação de padrão subdérmico para síntese cutânea da região. A confecção

desse retalho foi realizada com uma incisão semi-circular de pele na região frontal contralateral ao defeito,

divulsionando o subcutâneo, rotacionada a pele e suturado a região subcutânea com fio Poliglecaprone 25 nº 3-0

em padrão sultan isolado, e dermorrafia com fio Nylon nº 3-0 em padrão simples isolado. Foi realizada

faringostomia para alimentação pós-operatória do paciente e bandagem levemente compressiva em cabeça e

pescoço.

Os acompanhamentos pós-operatórios apresentaram satisfatória recuperação do paciente e cicatrização da

ferida cirúrgica, não apresentando deiscência de sutura, secreção ou necrose tecidual do retalho até o 21º dia pós-

operatório, onde foram removidos os pontos. O paciente está em acompanhamento pós-operatório, sem demonstrar

nenhum sinal de complicações ou recidiva até o presente momento.

Discussão

O caso apresentado foi bastante estudado e discutido quanto á técnica cirurgia a ser utilizada, pois de

acordo com Degner (2007), Trout (2007), MacPhail (2008), são várias as técnicas de reconstrução tecidual, por isso

deve-se levar em conta localização da ferida, tamanho, as linhas de tensão, disponibilidade de pele, evitando

complicações. Os retalhos de rotação são girados sobre si mesmos, sem criar um defeito secundário, segundo Trout

(2007), MacPhail (2008) e Degner (2007), diminuindo a tensão sobre as bordas da ferida, como demonstrado nesse

caso o sucesso da coaptação das bordas sem a necessidade de extensas incisões e trações de pele, diminuindo o

desconforto do paciente.

As opções de reconstrução para esta região seriam o retalho de padrão axial de rotação da artéria auricular

caudal, retalho de padrão axial da artéria temporal, retalho de padrão subdérmico unipediculado (avanço) da região

cervical; todavia essas opções foram descartadas após a exérese tumoral devido à perda de seus componentes

essenciais para um retalho, como o angiossoma. E o retalho de padrão axial da artéria auricular caudal em um

retalho de rotação muito rostral tem uma grande chance de isquemia e necrose da ponta deste retalho por pouca

perfusão da sua artéria a partir do angiossoma (Huppes, 2015).

O sucesso do retalho de rotação de padrão subdérmico em região facial se deve a base ampla que permite

uma rede de suprimento sanguíneo subdérmico maior que o do retalho de avanço unipediculado.

Conclusão

A escolha da cirurgia reconstrutiva nesse caso permitiu reparar o defeito cirúrgico de forma satisfatória

após a exérese tumoral, a partir das opções frente aos retalhos de padrão subdêrmico e axial presentes na face.

Obteve-se o resultado esperado, a partir da escolha da técnica cirúrgica adequada e dos cuidados operatórios

exigidos, minimizando a dor e desconforto do paciente, devolvendo-o a qualidade de vida.

Referências Bibliográficas

1. MacPhail CM. Cirurgia do Sistema Tegumentar. In: Fossum TW (2008). Cirurgia de pequenos animais. Rio de

Janeiro: Elsevier, 3.ed. 223-256.

2. Degner DA (2007). Facial reconstructive surgery. Clinical Techniques in Small Animal Practice. 22:82-88.

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3. Trout NJ. Princípios da cirurgia plástica e reconstrutiva. In: Slatter D (2007). Manual de cirurgia de pequenos

animais. São Paulo: Manole, 3.ed. 274-338.

4. Pazzini JM. et al. Cirurgia reconstrutiva aplicada na oncologia. Daleck CR, De Nardi AB (2016). Oncologia em

cães e gatos. Rio de Janeiro: Roca, 2.ed. 179-186.

5. Coltro PS et al. (2011). Atuação da cirurgia plástica no tratamento de feridas complexas. Revista do Colégio

Brasileiro de Cirurgiões. 38(6):381-386.

6. Neto NT et al. (2010). Tratamento cirúrgico das feridas complexas. Revista de Medicina, 89:147-151.

7. Pavletic MM (2010). Atlas of small animal wound management and reconstructive surgery. Wiley-Blackwell:

Cambridge, 3.ed. 696p.

8. Huppes RR. Técnicas reconstrutivas em cabeça e pescoço. In: Castro JLC et al (2015). Princípios e técnicas de

cirurgias reconstrutivas da pele de cães e gatos (atlas colorido). Curitiba: Ed. MedVep, 103-119.

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RETALHO AXIAL OMOCERVICAL PARA RECONSTRUÇÃO DE FACE APÓS RESSECÇÃO

NEOPLÁSICA EM PACIENTE COM CANCÊR - RELATO DE CASO

AXIAL OMOCERVICAL FLAP FOR FACE RECONSTRUCTION AFTER NEOPLASTIC RESECTION

IN CANCER PATIENT - CASE REPORT

PENNA, S.O.S.1 ALVES, J.E.O.2 PORTUGAL, J.O.R.2 CADENA, S.M.R.2 SCHEFFER, J.P.2

1 Universidade Estadual do Norte Fluminense, e-mail: [email protected] 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense.

Introdução

A doença oncológica é uma das principais causas de morte em cães e gatos, sendo o procedimento

cirúrgico o mais indicado como tratamento curativo ou paliativo (HUPPES et al., 2015). O emprego de técnicas

para aplicação de retalhos cutâneos tem permitido superar o receio de não conseguir a reconstrução dos tecidos

locais durante a intervenção cirúrgica (MATERA et al., 1998). Contudo, para escolha da melhor técnica adotada e

maiores chances de sucesso na sua aplicação, devem ser considerados a localização do ferimento, a elasticidade do

tecido ao redor e as linhas de tensão, o suprimento sanguíneo regional e a qualidade do leito da ferida (NETO et al.,

2010; MACPHAIL, 2014; CASTRO et al., 2015). O retalho de padrão axial omocervical apresenta grande

potencial para reconstrução de defeitos cutâneos extensos, com um excelente arco de rotação, incluindo defeitos

envolvendo a face, cabeça, orelha, pescoço, ombro e axila (PAVLETIC, 2010).

O objetivo deste trabalho é relatar a utilização do retalho axial omocervical para reconstrução de defeito

extenso em região facial lateral esquerda de um cão com melanoma misto.

Metodologia

Uma cadela, 11 anos de idade, sem raça definida e porte médio foi atendida no Hospital Veterinário da

UENF uma massa na região lateral esquerda da face. Após exame clínico e exames complementares

(hematológicos, bioquímicos, radiográfico, ultrassonografia e tomografia) e o diagnóstico sugestivo de neoplasia

sarcomatosa através da citologia por PAAF, o animal foi encaminhado para o setor de cirurgia da instituição para

realização do tratamento cirúrgico.

Após a realização de ampla tricotomia da face, região cervical e membros torácicos e do estabelecimento

da anestesia geral, foi realizada a inoculação intradérmica peritumoral de 2 mL azul de metileno 1% e a

esquematização cirúrgica do retalho utilizando canetas dermográficas. A exérese tumoral foi iniciada utilizando um

bisturi elétrico monopolar e sua dissecção foi realizada de forma cautelosa devido à presença de diversas estruturas

anatômicas importantes na região. Ao fim da exérese tumoral, todo o instrumental cirúrgico e luvas cirúrgicas

foram trocados por novos e a síntese do defeito foi iniciada com a queiloplastia.

A largura do retalho foi calculada de modo que compreendesse três vezes a distância entre o centro da

espinha escapular à borda cranial da escápula, e seu comprimento calculado a partir da mensuração do

comprimento do defeito acrescido de três centímetros para o pivoteamento. A primeira incisão foi realizada sobre a

espinha escapular e a segunda paralela a esta, compreendendo a largura já pré-determinada. Realizou-se a

transposição e acomodamento do retalho sobre o defeito cirúrgico e a síntese do mesmo à área receptora foi

realizada com padrão de sutura simples interrompido, assim como a aproximação do sítio doador em Y-plastia.

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Após a cirurgia, uma bandagem compressiva e confecção de um colar cervical foram realizados a fim de minimizar

a dor, produção de seroma pós-operatório e promover a aderência do retalho ao sítio receptor.

O tratamento pós-operatório foi realizado com cefalexina (30 mg/kg/BID, 15 dias), metronidazol (25

mg/kg/BID, 10 dias), meloxicam (0,1 mg/kg/SID, 5 dias), tramadol (4 mg/kg/TID, 7 dias) e dipirona (25

mg/kg/TID, 7 dias), além do uso tópico de solução bucal a base de clorexidine 0,12% e aplicação de acetonida de

triancinolona em pomada orabase a cada 12 horas na sutura em mucosa oral. A paciente permaneceu internada

durante 48h.

Resultados

O exame clínico e anamnese indicaram que a paciente apresentava há três meses estrutura nodular em

região zigomática esquerda, bem delimitada e não aderida, de consistência firme, arredondada e com crescimento

rápido. A citologia por PAAF sugeriu o diagnóstico de neoplasia sarcomatosa e o exame ultrassonográfico

evidenciou formação heterogênea de 2,0 cm próxima a vesícula biliar. A tomografia do crânio permitiu delimitar a

extensão da massa, que ocupava grande parte da face esquerda da paciente até o início da região cervical. Havia

invasão neoplásica na região vestibular da cavidade oral, presença de diversas neovascularizações peritumorais e o

envolvimento da massa à veia jugular externa, artéria carótida comum esquerdas e às ramificações do nervo facial.

Os linfonodos submandibulares estavam aumentados e marcados de azul pelo corante linfático.

A cirurgia foi realizada sem complicações e a troca da bandagem compressiva foi realizada no terceiro dia

após a cirurgia, removendo-se os drenos de penrose no quinto dia. O retalho apresentou excesso de pele moderado,

mas, em contrapartida, com coloração sadia, sem presença de seroma ou hematoma e a sutura apresentava sinal de

boa cicatrização. A retirada dos pontos foi realizada 18 dias após a cirurgia. A paciente apresentou melhora

significativa e restauração da qualidade de vida nos primeiros 30 dias após a ressecção do tumor primário e a

reconstrução facial, sem apresentar sinais de desconforto e dor, voltando a se alimentar e com disposição

semelhante à anterior a doença.

Figura 1 – A) Aspecto do tumor durante a preparação pré-operatória; B)

Transposição do retalho axial omocervical já confeccionado; C) Aspecto final

do retalho ao fim da cirurgia; D) Aspecto pós operatório do retalho axial

omocervical. Fonte: Arquivo pessoal, 2017.

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A histopatologia do tumor facial e dos linfonodos submandibulares revelou neoplasia de melanócitos,

notadamente epitelióiddes e, algumas vezes fusiformes e balonosos. A pigmentação melânica era escassa e de

distribuição irregular.

Discussão

As grandes dimensões do tumor causavam deformidade e desconforto à paciente, principalmente durante a

alimentação. A cirurgia para remoção do tumor e a reconstrução facial foram adotadas em caráter paliativo, uma

vez que o tipo de tumor e a observação de metástases impossibilitavam a cura através da cirurgia. O tratamento

cirúrgico de neoplasias é uma das principais modalidades de tratamento do câncer, podendo ser curativo para as

neoplasias passíveis de remoção completa ou paliativo nos casos em que ocorrem metástases (DALECK; NARDI,

2016).

As áreas infraorbital e zigomática, também acometidas pela formação neoplásica em nosso relato, estão

localizadas perto dos olhos e do nariz. Para evitar a distorção dos órgãos adjacentes, é essencial selecionar uma

técnica de retalho adequada para cobrir os defeitos dos tecidos moles nestas áreas (ZHAO, 2012). O retalho de

padrão axial da artéria omocervical foi adotado por ser um retalho extenso, com vascularização direta sobre o

retalho e com capacidade de cobertura total do defeito após a exérese tumoral, mesmo diante da dimensão

neoplásica. Segundo Pavletic (2010), este tipo de retalho é ideal para aplicação em defeitos da região cervical,

axilar e até mesmo em defeitos de face.

O retalho confeccionado apresentou excelente cicatrização com a área receptora e o manejo pós-operatório

se mostrou eficaz para uma cicatrização saudável e manutenção do retalho. Não foram evidenciadas complicações

pós-operatórias significativas, apenas edema no lábio superior esquerdo e pequena inversão de dois pontos do

retalho, que apresentaram uma pequena comunicação com a cavidade oral. De acordo com Namdar et al. (2010), as

complicações pós-operatórias em cirurgias similares à relatada no presente trabalho, podem ser evitadas diante de

um cuidadoso planejamento pré-operatório e correto manejo pós-operatório utilizando bandagens, drenos,

antibioticoterapia, restrição de espaço e uso de colar elisabetano até que a remoção dos pontos seja realizada.

Conclusão

O retalho de padrão axial omocervical se mostrou um modelo excelente para reconstrução de grandes

defeitos em região de face lateral. O planejamento cirúrgico, a conduta transoperatória e o manejo pós-operatório

instituído foram eficazes, determinando sucesso na recuperação da paciente e sem complicações pós-operatórias

significativas.

Referências bibliográficas

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(2015). Princípios e Técnicas de Cirurgias Reconstrutivas da Pele de Cães e Gatos (Atlas Colorido). Curitiba:

MedVep, p.103-119.

2. Matera, JM, et.al. (1998). Aplicação de retalho cutâneo no tratamento cirúrgico do hemangiopericitoma canino.

Ciência Rural, Santa Maria, v.28, n.1, p.101-105.

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5. Castro, JLC, et.al. Introdução à anatomia. In: CASTRO, JLC, et.al. (2015) Princípios e Técnicas de Cirurgias

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7. Daleck, CR; NARDI, ABD (2016). Oncologia em cães e gatos. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca.

8. Zhao. MX , et.al. (2012). Infraorbital and zygomatic reconstruction using pre-expanded rotation flap based on

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9. Namdar, T, et.al. (2010). Complete free flap loss due to extensive hemodilution. Microsurgery, 30: 214–217.

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RETALHO DE PADRÃO AXIAL TORACODORSAL PARA RECONSTRUÇÃO DE DEFEITO APÓS

EXÉRESE DE NEOPLASIA MAMÁRIA EM CADELA: RELATO DE CASO

THORACODORSAL AXIAL PATTERN FLAP FOR TREATMENT OF DEFECT AFTER NEOPLASIA

EXCISION IN DOG: CASE REPORT

SCALZILLI, B.1 BARATA, J.S.2 DE ASSUMÇÃO, R.F. 3 CANELLAS, A.C.C. 3 LEITE, C.R. 3 DEGANI,

V.A.N.4 FERREIRA, M.L.G.4

1 Pós graduanda pelo Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, do Hospital Universitário de Medicina

Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET-UFF), Niterói-RJ,

Brasil. Autor para correspondência: [email protected] 2 Pós graduando pelo Programa de Clínica Cirúrgica/Médica do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3 Hospital Universitário de Medicina Veterinária Prof Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense

(HUVET-UFF), Faculdade de Veterinária, Niterói-RJ, Brasil. 4 Professora Adjunta da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil.

Introdução

As neoplasias mamárias são os tumores mais frequentes em cadelas, representando cerca de 50 a 70% de

todas as neoplasias nessa espécie, constituindo um problema de grande impacto na medicina veterinária. O

procedimento terapêutico que confere maior probabilidade de cura dos tumores mamários consiste na remoção

cirúrgica completa de neoplasias localizadas, sem envolvimento metastático, desde que os princípios de cirurgia

oncológica sejam respeitados.(1-3) Consequentemente, muitas vezes torna-se necessária a implementação de técnicas

reconstrutivas, visando a adequação das margens cirúrgicas, levando-se em consideração disponibilidade de pele e

linhas de tensão, o local, tamanho e condição do defeito, suprimento sanguíneo, além do conhecimento do

cirurgião, com a finalidade de proporcionar resultados adequados, preservando a função local e a estética.(2,4)

Objetivo

O objetivo do seguinte trabalho é relatar o emprego de técnica reconstrutiva por meio de retalho de padrão

axial toracodorsal na correção de ferida cirúrgica, em região ventral do tórax, associada à mastectomia radical

bilateral, após exérese de neoplasia mamária em cadela.

Metodologia

Foi atendido no Setor de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor

Firmino Mársico Filho (HUVET-UFF), um canino fêmea, de 10 anos de idade, pesando três quilos, apresentando

nódulo mamário extenso de aproximadamente 15 cm de diâmetro em seu maior eixo, e aspecto cístico, irregular,

não aderido, com tempo de evolução de aproximadamente dois anos, acometendo mamas torácica cranial e torácica

caudal esquerdas. Procedeu-se ao exame físico minucioso, com palpação dos linfonodos e foram solicitados

exames para estadiamento clínico da doença, como exames de imagem com ultrassonografia abdominal e

radiografia de tórax para pesquisa de metástases, exames laboratoriais, como hemograma e bioquímica sérica

(ureia, creatinina, ALT, FA, albumina e globulinas). Além disso, foi realizada punção por agulha fina do nódulo

para análise citológica como exame de triagem. Os exames laboratoriais não apresentaram resultados relevantes a

ponto de contraindicar o procedimento cirúrgico. Não houve evidências radiográficas e ultrassonográficas de

metástases. Após o resultado da citologia, no qual foi inconclusivo, houve a indicação da realização do exame

histopatológico. Assim sendo, optou-se pela ressecção cirúrgica do nódulo, por meio da técnica de mastectomia

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radical bilateral. Devido à extensão da massa, associada à sua localização anatômica em área desprovida de pele

doadora, o que impossibilitava a síntese primária da ferida cirúrgica, em região ventral do tórax, optou-se pela

reconstrução do defeito a partir da técnica de cirurgia reconstrutiva do retalho de padrão axial toracodorsal a fim de

possibilitar a exérese tumoral com margens livres de células neoplásicas.

Para realização da técnica, o animal foi posicionado em decúbito lateral, com o membro torácico

perpendicular ao tronco. O planejamento cirúrgico foi realizado a partir da identificação da depressão escapular ao

nível da borda dorsal do acrômio, local onde surge o ramo cutâneo direto da artéria toracodorsal. Em seguida, o

delineamento do retalho seguiu com a marcação das linhas de incisão cranial, dorsal e caudal. A linha de incisão

cranial foi realizada sobre a espinha da escápula e a linha de incisão caudal foi realizada em um local

aproximadamente duas vezes a distância entre o acrômio e a depressão escapular caudal. As incisões paralelas

estenderam-se até a linha média dorsal e suas extremidades foram utilizadas como limite para a realização da linha

de incisão dorsal. Em seguida, o retalho foi destacado por meio de divulsão meticulosa abaixo do nível do músculo

cutâneo do tronco, a partir da porção distal do retalho, sendo elevado e rotacionado sobre o defeito após a

realização de uma incisão em ponte para comunicar o leito doador e receptor. Após a acomodação do retalho,

iniciou-se o fechamento com suturas em padrão simples separado com fio inabsorvível Nylon 3-0. Todo material

excisado foi encaminhado para avaliação histopatológica. No pós-operatório imediato foi realizada bandagem

compressiva, sendo prescrito: antibioticoterapia sistêmica, analgésicos e antiinflamatório não-esteroidal, sendo as

revisões e trocas de bandagens realizadas a cada 48 horas e conduzidas pela equipe cirúrgica.

Resultados

No pré e transoperatórios não houve intercorrências. Já nos primeiros dias de pós-operatório foi possível

observar mudança de coloração na extremidade distal do retalho, representando cerca de 5% da totalidade deste. Ao

décimo dia, esta região apresentava características de desvitalização, no entanto, a crosta observada não foi

removida, sendo utilizada como curativo biológico. Esta pequena área foi tratada como ferida aberta e cicatrizou

por segunda intenção. Após a retirada de todos os pontos e cicatrização completa, foi indicada terapia

complementar a partir de quimioterapia neoadjuvante mediante a confirmação do tipo tumoral através do exame

histopatológico.

Discussão

A neoplasia mamária é o neoplasma que mais acomete as cadelas(1), com aproximadamente metade

possuindo algum grau de malignidade(5). Dessa forma, faz-se necessário o incremento do tratamento mais adequado

para cada caso, com a excisão cirúrgica, dependendo do tipo e localização do tumor, sendo o tratamento mais usual

no combate a esta patologia, associada ou não a outros tipos de terapia.(1) No caso em questão, a remoção cirúrgica

respeitando as margens de segurança e princípios de cirurgia oncológica, foi essencial para evitar a disseminação

da doença, oferecendo maior chance de cura ao paciente.

Procedimentos aliados a cirurgias reparadoras ou reconstrutivas podem ser indicados, após a remoção de

neoplasias extensas, para reconstruir defeitos, dependendo da localização anatômica e extensão da ressecção

cirúrgica. A reconstrução tecidual tem como finalidade devolver a funcionalidade e manter um aspecto estético

aceitável.(2) Optou-se pela técnica de padrão axial toracodorsal em virtude da localização da ferida e irrigação, uma

vez que este tipo de retalho é utilizado para cobrir defeitos envolvendo o ombro, membro torácico, cotovelo, região

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axilar e tórax, e dependem do ramo cutâneo da artéria e veia toracodorsais, localizada na depressão do ombro

caudal a um nível paralelo à borda dorsal do acrômio(2,4,6), garantindo o suprimento sanguíneo que é essencial para

a sobrevivência do retalho. Além disso, retalhos provenientes de áreas adjacentes ao leito receptor caracterizam-se

pelo método mais eficaz de fechamento de feridas impossibilitadas à síntese primária(6). Todos esses fatos

reforçaram a escolha da técnica utilizada.

Quando são empregadas técnicas de cirurgias reconstrutivas de pele, complicações podem ocorrer, como

deiscência de sutura, contaminação, necrose nas extremidades de retalhos e enxertos, seroma, hemorragias e

hematomas(2,4,6,7). Neste caso, observou-se área de necrose na extremidade distal do retalho, a partir de alteração na

coloração da pele, o que pode ser decorrente da tensão exercida sobre a pele e comprometimento vascular da

microcirculação durante a rotação do retalho. Contudo, a maior parte do retalho apresentou adequada cicatrização

no leito receptor e o aspecto cosmético foi considerado satisfatório.

Conclusão

A utilização da técnica de cirurgia reconstrutiva a partir do retalho de padrão axial toracodorsal para cobrir

o defeito criado em região torácica ventral, mostrou-se eficaz devido à possibilidade de adequação das margens

cirúrgicas. Além disso, apresentou complicações que não comprometeram a recuperação do paciente e são

observadas com frequência em retalhos cutâneos.

Referências Bibliográficas

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da pele de cães e gatos. 1 ed. MedVep, Curitiba, 286p

5. Argyle, D.; Brearley, MJ; Turek, MM. (2008). Decision Making in Small Animal Oncology. 1ed. Blackwell

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6. Pavletic MM. Enxertos pediculados. In: Slatter D (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3ed. São

Paulo: Ed. Manole, 292-307.

7. Ehrhart, N, Culp, WTN. Principles of surgical oncology. In: Kudnig ST and Séguin B. (2012) Veterinary

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ORBITECTOMIA PARCIAL E EXENTERAÇÃO PARA EXÉRESE DE TUMOR OCULAR MALIGNO

SEGUIDA DE RECONSTRUÇÃO COM MALHA DE POLIPROPILENO E FLAPE AXIAL TEMPORAL

SUPERFICIAL

PARTIAL ORBITECTOMY AND EXENTERATION IN MALIGNANT EYE TUMOR REMOVAL

FOLLOWED BY RECONSTRUCTION WITH POLIPROPILEN MESH AND SUPERFICIAL

TEMPORAL AXIAL FLAP

PEREIRA, R.D.O.1 DORNAS, T.L.2

1Universidade Federal de Minas Gerais – [email protected] 2FEAD

Introdução

As neoplasias malignas que envolvem o globo ocular, órbita e tecidos periorbitários podem representar um

desafio para a extirpação total do tumor e preservação da estética facial do paciente (WESTERMEYER e

HENDRIX, 2012). A orbitectomia total ou parcial proporciona a remissão de tumores localizados por mais de um

ano em aproximadamente 50% dos casos (O’BRIEN et al., 1996).

Objetivo

O objetivo desse trabalho é relatar o caso de um paciente com neoplasia ocular maligna tratada com

orbitectomia e exenteração do globo ocular associado à reconstrução com tela de polipropileno e flape axial da

artéria temporal superficial.

Relato de caso

Um cão SRD de quatro anos foi atendido sob o relato de um tumor de crescimento rápido envolvendo

globo ocular, pálpebras e órbita, com total perda de função. O paciente havia passado por uma cirurgia prévia de

exérese de um nódulo palpebral pequeno há seis meses, mas não foi realizado exame histopatológico no momento.

Pela extensão do crescimento tumoral e infiltração do mesmo nos tecidos adjacentes, foi indicada a realização de

cirurgia agressiva com orbitectomia e exenteração do globo ocular. O animal foi submetido à anestesia geral

inalatória e toda a região lateral da face do animal foi preparada para técnica asséptica (figura 1A). A incisão

cutânea foi realizada com dois centímetros de margem dos limites macroscópicos do tumor em todos os lados. A

incisão foi aprofundada na musculatura temporal e infraorbitária, que foram elevadas para expor as margens ósseas

da órbita. Foi realizada osteotomia envolvendo as margens caudomedial (superior) e rostrolateral (inferior) da

órbita. Em seguida, foi realizada a exenteração do globo ocular com a sua remoção e de toda a musculatura e

conjuntiva periocular (figura 1B). O nervo óptico foi ligado próximo a sua origem e todo o conjunto da massa foi

removido. A hemorragia foi controlada com pinçamento e ligadura dos vasos com fio caprofyl 3-0. Para correção

do defeito criado na órbita, um retalho de malha de polipropileno de tamanho equivalente foi suturado ao periósteo

e fáscia muscular em pontos interrompidos com nylon 3-0 (figura 1C). Para oclusão sem tensão do defeito no

tegumento, foi realizado um flape de transposição com base nos ramos cutâneos da artéria temporal superficial,

conforme descrito por Buiks e Haar (2013) (figura 1D). A base do flape foi criada com tamanho correspondente ao

maior diâmetro do defeito e comprimento correspondente à distância dos pontos mais distantes entre a base do

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flape e a extremidade do defeito. O flape foi dissecado preservando-se o plexo subdermal e a artéria cutânea direta

e foi cuidadosamente mobilizado para a cobertura do defeito. A derme e subcutâneo foram suturados com caprofyl

3-0 em pontos simples interrompidos. Um dreno ativo criado com sonda uretral 8Fr, seringa de 20mL e agulha 18G

foi fixado sob o flape cutâneo. A dermorrafia foi realizada com pontos simples interrompidos com nylon 3-0. O

dreno foi mantido por quatro dias, quando a drenagem de fluido serossanguinolento cessou. Os pontos foram

removidos em 10 dias com completa cicatrização da ferida cirúrgica e sem intercorrências. A análise

histopatológica do tumor indicou se tratar de um Schwannoma com margens livres da neoplasia. Em

acompanhamento pós-operatório de seis meses, o paciente permanecia em remissão do tumor e o proprietário

satisfeito com o resultado do procedimento.

Figura 1. A) Tumor invasivo envolvendo globo ocular, pálpebras e região

periorbitária. B) Defeito criado após a orbitectomia parcial e exenteração.

C) Oclusão do defeito na órbita com tela de polipropileno. D) Oclusão do

defeito no tegumento com flape em padrão axial da artéria temporal

superfical.

A B

C D

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Conclusão

A orbitectomia é uma cirurgia complexa, que envolve experiência na combinação de vários procedimentos e um

conhecimento detalhado da anatomia local, mas é de grande valia frente a tumores invasivos que requerem uma

abordagem mais agressiva.

Referências bibliográficas

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Animal. 1ed, 2v., Saunders Elsevier, Missouri, p.2117.

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RETALHO SUBDÉRMICO PARA RECONSTRUÇÃO DE PINA AURICULAR APÓS EXCISÃO

TUMORAL – RELATO DE CASO

SUBDERMAL FLAP FOR RECOVERY OF PINA AURICULAR AFTER TUMOR EXCISION – CASE

REPORT

VIEIRA, G.C.1 BORDOLINI, S.L.S.1 BARDELA, F. S.1 EVANS, L.1 FLORIANO, B.P.1 SILVA, M.P.C. 1

RIBEIRO, J.O.2 ALVAREZ-GÓMEZ, J.L. 2 FIRMO, F.B. 2 MONTANHIM, G.L2. NAZARET, T.L. 2

BARATA, J.S. 2 DE NARDI, A.B. 2 REIS FILHO, N.P.1,2

1 Faculdades Integradas de Ourinhos, Ourinhos/SP. [email protected] 2 Programa de Cirurgia Veterinária, FACV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista.

Introdução

Os tumores cutâneos podem se originar da epiderme e anexos, derme, hipoderme ou melanócitos

(MEIRELLES et al., 2010) e representam as neoplasias mais comuns, cerca de 30% das ocorrências em cães

(MAZZOCCHIN, 2013). O tricoblastoma, papiloma, melanoma e mastocitoma representam os tumores cutâneos

mais comuns em cabeça, relação pouco diferente quando se trata de tumores cutâneos em geral (MEIRELLES, et al.,

2010; FERNANDES et al., 2015).

Apesar das variadas opções de tratamento, a excisão cirúrgica é, quando viável, o tratamento de escolha das

neoplasias cutâneas (MAZZOCCHIN, 2013). Para sua remoção completa é incluido uma margem de tecido

saudável, a qual varia entre 1 a 2 centímetros nos comportamentos benignos e 3 a 4 centímetros para os malignos

(SAKUMA et al., 2003). Desta forma, o papel da cirurgia reconstrutiva é devolver ao paciente uma atividade

funcional da área lesada tão rapidamente quanto possível, associado a resultados estéticos aceitáveis, embora este

seja um fator de relevância secundária (WARDLAW, 2013; SAKUMA et al., 2003).

Os retalhos cutâneos de padrão subdérmico são aqueles que não incluem fornecimento sanguíneo direto por

vasos e sua sobrevivência é dependente da nutrição provida pelo plexo subdérmico, limitando desta forma o

tamanho da a área ser definida como doadora (PAVLETIC, 2003; WARDLAW, 2013). Em constraste, este se

destaca por sua maior liberdade na origem e confecção do retalho (WILLIANS, 2009; PAVLETIC, 2011). O

padrão mais utilizado desse retalho é a técnica de avanço, onde a pele com menor tensão e mais próxima ao defeito

é divulsionada e cria-se um retalho elástico o suficiente para recobrir o defeito (SHEFFER et al., 2013).

Objetivo

O propósito do trabalho é relatar um caso de melanoma cutâneo acometendo pina auricular de um cão, o

qual foi excisado cirurgicamente e reconstruído com um retalho cutâneo subdérmico de avanço a fim de evitar a

amputação da mesma.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário Roque Quagliato das Faculdades Integradas de Ourinhos, um canino

da raça Basset Hound, fêmea, oito anos com queixa de nódulo em pina auricular direita com evolução de seis

meses. A neoplasia se localizava no lado externo da pina auricular direita, ao centro e próximo a base, aderida à

cartilagem, alopécica, macia, com pequenas áreas de ulceração e medindo 3,1 x 2,4 x 1,4 cm. O tumor foi

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diagnosticado como melanoma cutâneo após realização do exame de citologia. Realizado estadiamento clínico

completo, não evidenciando sinais de metástase ou doenças concomitantes.

À proprietária foi proposto a exérese cirúrgica, em duas opções. A primeira alteranativa era a amputação da

pina auricular, visto que devida a localização do tumor não era possível uma amputação parcial. E a possibilidade

de reconstrução do local através de um retalho cutâneo subdérmico oriundo do pescoço, contudo com a necessidade

de mais de um procedimento cirúrgico, maior custo e pós operatório cuidadoso e laborioso.

Sendo a segunda opção escolhida, procedeu-se ao tratamento cirúrgico. Margens de dois centímetros foram

demarcadas ao redor do tumor, delimitando o tamanho do defeito a ser criado (Figura 1A). A pina auricular foi

posicionada ao pescoço a fim de estabelecer uma área de menor tensão durante a movimentação e o melhor local

para o leito doador (Figura 1B). As dimensões do defeito foram mensuradas e demarcado o local e tamanho do

retalho cutâneo subdérmico. Após a excisão tumoral incluindo a cartilagem, o retalho cutâneo foi criado e elevado

cuidadosamente. As margens foram suturadas com fio nylon 3-0 em padrão simples separado (Figura 1C). A borda

ventral da pina auricular foi suturada junto à borda do leito doador com o intuito de evitar trauma e manter sua

posição durante a cicatrização.

Após a cirurgia, foi realizada uma bandagem com efeito compressivo na intenção de reduzir espaço morto

e amortecer o órgão de possíveis danos e impactos. A pina auricular foi cuidadosamente envolva por gaze seguida

de algodão hidrofílico em espessa camada, tanto na porção dorsal quanto na ventral. A terceira camada foi então

sobreposta, mantendo uma abertura para a orelha contralateral.

Resultados

Os curativos foram trocados com intervalo de 48 a 72 horas (Figura 1D), de acordo com a quantidade de

exsudato produzido e disponibilidade do proprietário. O retalho cutâneo apresentava cicatrização completa das

bordas após treze dias do procedimento cirúrgico (Figura 1E), quando a pina auricular foi separada do pescoço

através da incisão na base do retalho. As bordas do local doador foram suturadas, assim como uma pequena porção

ventral a qual estava em contato com o leito doador (Figura 1F).

Seguidos dez dias da cicatrização de pele, os últimos pontos foram removidos e o animal obteve alta

médica.

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Figura 1: A – Porção externa da pina auricular direita com nódulo de melanoma em porção central, atenção às

margens cirurgicas desenhadas; B – Teste da melhor localização do leito doador, marcação realizada e pele do

pescoço indicando o tamanho do retalho cutâneo necessário; C – Pós cirúrgico imediato, notar a ausência de tensão

no leito doador e na base do retalho cutâneo; D – 48 horas de pós operatório, notar ausência de líquidos

infamatórios; E – 10 dias de pós operatório, retalho cutâneo apresentando cicatrização completa e adequada para

ressecção da base; F – Pina auricular liberada do leito doador no pescoço, pós operatório imediato.

Discussão

Da mesma forma como referido por Meirelles (2010) e Fernandes (2015), o melanoma está entre os tumores

cutaneos mais comuns, e com prevalência considerável nos tumores cutâneos de cabeça. Como a remoção cirurgica

é estabelecido como tratamento ouro, considerando inclusive a cura do paciente (MAZZOCCHIN, 2013), associada

a uma correta aplicação das margens cirurgicas como descrito por Sakuma (2003), obteve uma ressecção tumoral

satisfatória e completa, com margens cirúrgicas livres.

Apesar da sobrevivência dos retalhos cutâneos de padrão subdérmicos serem delicadas e sua extensão

limitada devido à sua vascularização (PAVLETIC, 2003; WARDLAW, 2013), a maior liberdade quanto a origem

descrita por Willians (2009) foi a chave do sucesso neste caso. Com isso, foi possível escolher a área a qual o animal

melhor se adaptasse, sem a necessidade de grande extensão, nem a formação de tensão excessiva.

Embora a necessidade de devolver ao paciente uma atividade funcional o mais breve possível, fatores

estéticos relatados como menos importantes por Wardlaw (2013) e Sakuma (2003) tem ganhado mais força e maior

importância com a aproximação dos animais de estimação de seus donos. A exemplo neste caso, um tratamento mais

oneroso e laborioso foi preferido por razão estética.

Conclusão

Os retalhos subdérmicos representam uma alternativa importante na cirurgia reconstrutiva. Embora sejam

mais delicados, sua maleabilidade e abundantes opções representam um trunfo que, se bem utilizados,

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proporcionam bons resultados. Embora a questão estética não seja de suma importância na Medicina Veterinária,

esta já tem seu espaço garantido na Medicina e não demorará a chegar com influência em nossa área. Sendo assim,

é crucial o aprimoramento contínuo das técnicas e dos cirurgiões a fim de atender a uma nova expectativa.

Referência Bibliográfica

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RETALHO DE AVANÇO UNIPEDICULADO MODIFICADO PARA CORREÇÃO DE FENDA

PALATINA CRÔNICA - RELATO DE CASO

MODIFIED UNIPEDICULATED ADJUSTMENT RETAIL FOR ACQUIRED PALATINE SHAPE

CORRECTION - CASE REPORT

MOREIRA, P. M. 1; RIBEIRO, J.O.2; MONTANHIM, G.L.2; REIS FILHO, N.P.2; ALVAREZ-GÓMEZ, J.L. 2;

FIRMO, F.B.2; NAZARET, T.L.2; BARATA, J.S.2; DIAS, L.G.G.G.2; DE NARDI, A.B.2; MORAES, P.C2

1Aluna de Graduação da FCAV - Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista. 2Programa de Cirurgia Veterinária, FCAV-Jaboticabal, Universidade Estadual Paulista.

Introdução

O palato nos cães é uma estrutura localizada na porção dorsal da cavidade oral, responsável pela separação

da cavidade nasal e orofaríngea (ROBERTSON, 1996). A fenda palatina pode ter origem congênita e hereditária

(ROZA, 2004; GIOSO, 2007) ou secundária a traumatismos (SILVA et al., 2009). Devido à comunicação direta

entre as cavidades oral e nasal, os animais podem apresentar extravasamento de conteúdo alimentar da cavidade

oral para a cavidade nasal, podendo apresentar pneumonia aspirativa (CONTENSINI et al., 2003; HETTE, 2004),

sendo necessário tratamento com correção cirúrgica (DUTRA, 2008). Visto que o tratamento cirúrgico muitas

vezes é requerido, a cirurgia reconstrutiva pode ser opção em casos onde há grande extensão da lesão, não sendo

possível o fechamento primário devido ao excesso de tensão (SCHEFFER et al., 2013).

Sendo assim, este trabalho tem por objetivo reportar o uso de retalho de avanço unipediculado modificado

para correção de fenda palatina em um cão adulto.

Metodologia

Apresentou-se no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Jaboticabal, um paciente canino,

quatro anos de idade, sem raça definida, sexo masculino, com histórico de dificuldade para se alimentar,

extravasamento de alimento e água pelas narinas com presença de secreção purulenta e espirros constantes desde

que foi adotado, não sabendo informar o histórico anterior. À inspeção da cavidade oral foi observada presença de

fístula em palato duro (Figura 1A).

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FIGURA 1. (A) Imagem da cavidade oral de cão com presença de fístula em

palato duro. (B) Realização de duas incisões paralelas no palato mole com a base

ampla (setas amarelas). (C) Divulsão mucoperiosteal para realizar a soltura do

retalho e desbridamento das bordas da fenda. (D) Realizado o deslocamento do

retalho para recobrimento do defeito. (E) Síntese das bordas da ferida com fio

absorvível sintético multifilamentar, 3-0 em padrão simples interrompido. (F)

Reparação da ferida cirúrgica com 10 dias de pós-operatório.

Optou-se pela correção cirúrgica utilizando retalho de avanço unipediculado do palato mole, conforme

descrito por FOSSUM e colaboradores (2013) associados à modificação da confecção da base do retalho. O

tratamento pré-operatório instituído baseou-se no uso de Stomorgyl® 1mg/kg/SID três dias antes do procedimento

cirúrgico e higienização oral com Periogard sem álcool®. O paciente foi mantido com sonda esofágica no pós-

operatório por 15 dias e a terapia medicamentosa instituída foi a manutenção da terapia antimicrobiana por mais

sete dias, associada ao cloridrato de tramadol (3mg/kg/BID/5dias), Lisador® 25mg/kg/SID/7 dias), meloxican

(0,1mg/kg/SID/3dias) e cloridrato de ranitidina (2,2mg/kg/BID/7dias).

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Resultados E Discussão

Devido à presença da fenda e comunicação direta entre as cavidades oral e nasal, o paciente apresentava

extravasamento de conteúdo para a cavidade nasal. Segundo Harvey (1993), os defeitos no palato independente de

serem consequências de traumas, infecções crônicas, neoplasias ou alterações congênitas, devem ser corrigidos

cirurgicamente, visto que existe o risco de aspiração de alimentos para a via respiratória. De acordo com Scheffer e

colaboradores (2013), a cirurgia reconstrutiva pode ser opção em casos onde há grande extensão da lesão, não

sendo possível o fechamento primário devido ao excesso de tensão. O paciente apresentava lesão não passível de

fechamento primário, sendo assim, optou-se por reconstrução do defeito com utilização do retalho de avanço

unipediculado do palato mole, conforme descrito por FOSSUM e colaboradores (2013).

A fim de aumentar a vascularização do retalho oriunda de sua base, optou-se por realizar modificação da

técnica, ampliando sua base, ficando, desta forma, mais larga. Várias são as alternativas recomendadas para

reconstruir e fechar defeitos em região de palato duro que inclui os retalhos autólogos da mucosa do palato, como

retalho bipediculado deslizante e retalhos de rotação, tendo como desvantagem o fato do reparo não ter sustentação

e estar diretamente sobre o defeito, o que favorece a deiscência de sutura (FOSSUM, 2008; CONTESINI et al.

2003) ou ainda utilização de enxertos e próteses (SILVA, 2013; FOSSUM, 2013; CONTESINI et al. 2003).

Independente da técnica, é aconselhável a preservação das artérias palatinas para manutenção do suprimento

sanguíneo daquele tecido (CONTESINI et al. 2003, SOUZA et al. 2007, SILVA et al. 2009), manipulação delicada

das estruturas envolvidas e suturas sem tensão, pois a deiscência é complicação comum (ROZA 2004).

Conclusão

A escolha do retalho de avanço unipediculado do palato mole, associado à confecção da base mais ampla

do retalho em nosso paciente, permitiu excelente aposição das bordas da ferida, sem tensão ou sinais de isquemia,

demostrando processo de reparação favorável com resolução satisfatória do quadro.

Referências Bibliográficas

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RETALHO CUTÂNEO DE PADRÃO AXIAL TORÁCICO LATERAL PARA RECONSTRUÇÃO DE

DEFEITO EM ARTICULAÇÃO DE COTOVELO APÓS A EXÉRESE DE LIPOMA INFILTRATIVO EM

CÃO: RELATO DE CASO

LATERAL THORACIC AXIAL PATTERN FLAP FOR DEFECT RECONSTRUCTION OF ELBOW

AFTER INFILTRATIVE LIPOMA EXCISION IN DOG: CASE REPORT

FERREIRA, N.N.1 SCALZILLI, B.1 BARATA, J.S.2 CASTANON, C.R.1 MEDEIROS, F.F.L3 MACHADO, M.L.3

MAROUN, M.J.3 RODRIGUES, A.F.2 CANELLAS, A.C.3 MAUÉS, T.1 DEGANI, V.A.N.4 FERREIRA, M.L.G.4

1 Pós graduanda pelo Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, do Hospital Universitário de Medicina

Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET-UFF), Niterói-RJ,

Brasil. Autor para correspondência: [email protected] 2 Pós graduando pelo Programa de Cirurgia Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3 Faculdade de Veterinária / Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil. 4 Professora Adjunta da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil.

Introdução

Os lipomas infiltrativos possuem menor incidência do que outros tipos de lipoma, além de serem de difícil

diferenciação para lipomas simples através de citologia ou biópsias incisionais, necessitando-se da análise

histopatológica para diagnóstico definitivo. São tumores benignos compostos por tecido adiposo bem diferenciado,

com alto grau de agressividade local, podendo invadir tecidos adjacentes. Seu prognóstico é reservado, dependendo

da localização e extensão da neoplasia, considerando que a taxa de recorrência pós-cirúrgica é de 36%, sendo mais

de 50% destes ocorrendo em um ano.(1,3)

A cirurgia reconstrutiva vem sendo utilizada nos casos de neoplasias extensas ou que necessitem de

margens amplas, primeiramente, realizando a exérese da neoplasia, seguido pela reconstrução local até promover a

síntese completa da lesão. Os retalhos são constituídos por tecidos removidos de forma parcial do leito doador e

reposicionados no leito receptor, de forma a recobrir o defeito, tendo como principal vantagem a cobertura imediata

da região e redução do tempo de cicatrização, promovendo bons resultados estéticos e funcionais.(1-5)

Objetivo

O objetivo do trabalho é relatar a utilização do retalho cutâneo de padrão axial torácico lateral, após exérese

de lipoma infiltrativo, para a correção do extenso defeito criado na região de cotovelo do membro torácico

esquerdo de um cão.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho

(HUVET), da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma cadela, teckel, com 4 anos de idade, pesando 5,3

quilos. Esta apresentava um nódulo em membro torácico esquerdo, em região de cotovelo, com aspecto macio e

infiltrado, apresentando áreas firmes, medindo aproximadamente 10 cm x 3 cm, com 2 anos de evolução, e

crescimento lento e progressivo. No momento do atendimento, o paciente apresentava citologia anterior sugestiva

de lipoma, trazendo a necessidade de um diagnóstico definitivo a partir do exame histopatológico, devido à

progressão do tumor. Ao exame físico, o paciente não apresentava alterações, exceto por linfonodo axilar esquerdo

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palpável. Como exames complementares, foram solicitados: avaliação hematológica, bem como radiografia

torácica e ultrassonografia abdominal, para estadiamento clínico da doença. Os exames de imagem e os exames

laboratoriais encontravam-se dentro da normalidade para a espécie.

Optou-se pela exérese da massa com margens cirúrgicas como forma de tratamento. Devido à extensão do

defeito, e por se tratar de uma região de difícil síntese primária, realizou-se a técnica reconstrutiva do retalho de

padrão axial da artéria torácica lateral. Para realização da técnica, o paciente foi posicionado em decúbito lateral

direito, com o membro torácico em extensão relaxada, perpendicular ao tronco. Foi identificada a face caudal da

articulação escapular, e a origem da artéria toracodorsal, e assim, foi estimada a localização da artéria torácica

lateral, ventralmente. Desenhou-se o retalho com a borda ventral ao longo da borda dorsal do musculo peitoral

profundo, e, paralelamente a esta linha, a borda dorsal do retalho, com a artéria no centro. Foi realizada incisão ao

longo dessas linhas, estendendo-a pela lateral do tórax, tendo como base o tamanho do defeito a ser fechado.

O retalho foi destacado através de divulsão meticulosa até o músculo cutâneo do tronco, sendo mobilizado,

elevado e transposto sobre o leito receptor da ferida a ser corrigida. A síntese do leito doador ao receptor, após a

acomodação do retalho, foi realizada com suturas em padrão simples separado com fio inabsorvível (Nylon 3-0).

Realizou-se a colocação de um dreno passivo, acomodado próximo ao leito receptor. O material retirado foi

encaminhado para exame histopatológico. Foi realizada bandagem compressiva no pós-operatório imediato, além

da prescrição de terapia antimicrobiana sistêmica, analgésicos e antiinflamatório não-esteroidal. As revisões e

trocas de bandagens foram realizadas a cada 48 horas e o dreno removido ao terceiro dia de pós-operatório.

Resultados

Não houveram intercorrências no pré e transcirúrgico. Nos primeiros dias de pós-operatório, observou-se

deiscência de sutura do leito doador na região em que foi realizada a colocação do dreno. Além disso, foi

evidenciada secreção de líquido serosanguinolento em pouca quantidade no leito receptor, bem como hematoma na

extremidade distal do retalho, porém, a partir do tratamento clínico e medicamentoso com realização de bandagem

compressiva e uso de pomada antiinflamatória, a cicatrização ocorreu da maneira esperada. A análise

histopatológica confirmou o diagnóstico de lipoma infiltrativo na musculatura estriada esquelética.

Discussão

Em cães, os lipomas infiltrativos são incomuns, e as fêmeas parecem ser quatro vezes mais acometidas do

que os machos(1,7), como observado neste caso. Com a dificuldade de diferenciar os lipomas infiltrativos dos

lipomas simples faz-se necessário o incremento do tratamento mais adequado, principalmente devido à

agressividade e incidência de recidiva local desta neoplasia, sendo a taxa de recorrência após a cirurgia de 36%.(1,6)

Apesar dos lipomas infiltrativos serem considerados benignos, por não apresentarem metástases, são capazes de

invadir tecidos adjacentes, como músculos, fáscia, nervos entre outros(1,3,6,7). Nesse caso, a massa tumoral estava

extremamente aderida ao subcutâneo, fáscia e musculatura local.

O tratamento muitas vezes requer uma abordagem terapêutica agressiva, como uma amputação,

dependendo da localização, uma vez que a excisão cirúrgica completa pode ser curativa e resultar na sobrevivência

do animal em longo prazo.(1,6,7) A radioterapia é indicada como terapia adjuvante após ressecção cirúrgica

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incompleta, porém só pode induzir doença estável ou resposta parcial.(1,6) No presente caso, o tumor foi excisado

com margens limpas, não sendo necessária a recomendação da terapia adjuvante.

Após a remoção de neoplasias extensas, como auxiliar na reconstrução de defeitos, procedimentos aliados a

cirurgias reparadoras ou reconstrutivas podem ser indicados, dependendo da localização anatômica e extensão da

ressecção cirúrgica. O objetivo dessa reconstrução é garantir um padrão estético aceitável e devolver a

funcionalidade local.(1,2,4,5) Optou-se pela técnica de padrão axial torácico lateral em virtude da localização da ferida

e irrigação, uma vez que este tipo de retalho é utilizado para cobrir defeitos envolvendo o cotovelo, e depende do

ramo cutâneo da artéria torácica lateral, localizada ventralmente a origem da artéria toracodorsal, que situa-se na

face caudal da articulação escapular(2,4,5), desta forma o suprimento sanguíneo é mantido assim como a

sobrevivência do retalho. Além disso, o método mais eficaz de fechamento de defeitos impossibilitados à síntese

primária é o uso de retalhos provenientes de áreas contíguas(5). Reforçando assim a escolha da técnica utilizada,

visando reduzir as chances de recidiva local e promover melhor prognóstico ao paciente.

Complicações como deiscência de sutura, contaminação, necrose das extremidades dos enxertos e retalhos,

hemorragias, hematomas e seromas podem ocorrer(1-5). Nesse caso, observou-se apenas hematoma na extremidade

distal do retalho, seroma e deiscência de alguns pontos de sutura no leito doador, sendo facilmente contornados

com tratamento clínico e medicamentoso, apresentando adequada cicatrização no leito receptor, e aspecto estético

satisfatório.

Conclusão

A utilização da técnica de cirurgia reconstrutiva do retalho cutâneo de padrão axial torácico lateral revelou-

se eficiente para a correção de falhas cutâneas na região de cotovelo em cão, auxiliando na aceleração cicatricial e

gerando um bom resultado estético e funcional, além de promover margens cirúrgicas livres, conferindo um bom

prognóstico ao paciente. As complicações descritas ocorrem com frequência em retalhos cutâneos, e não

comprometeram o desfecho da técnica.

Referências

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7. Hobert, MK. et al. (2013) Infiltrative Lipoma Compressing the Spinal Cord in 2 Large-Breed Dogs.The

Canadian Veterinary Journal 54(1): 74–78.

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RESSECÇÃO DE MIOFIBROSARCOMA EM REGIÃO ABDOMINAL COM PRESERVAÇÃO DO

PÊNIS EM UM CÃO – RELATO DE CASO

RESECTION OF MIOFIBROSARCOMA IN ABDOMINAL REGION WITH PENIS PRESERVATION IN

A DOG - CASE REPORT

FIRMO, B.F.1*, MONTANHIM, G.L.1, ALVARES-GOMÉZ, J.L. 1, RIBEIRO, J.O.1, BARATA, J.S. 1, NAZARET,

T.L1, REIS-FILHO, N.P1, TINUCCI-COSTA, M.1, DE NARDI, A.B. 1

1 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP/Jaboticabal-SP

*Autor principal: Endereço: Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castelane, S/N - Vila Industrial, Jaboticabal - SP,

14884-900.

E-mail: [email protected]

Introdução

Na espécie canina, a pele e o tecido subcutâneo originam cerca de um terço das neoplasias, constituindo a

localização mais frequente desta espécie, sendo que de 20% a 30% destes tumores são classificados de caráter

maligno (VAIL; WITHOW, 2001). Os tumores denominados como sarcomas de tecidos moles (STM) são

neoplasias mesenquimais de tecidos de origem mesodérmica (tecido fibroso, adiposo, músculos, cápsula sinovial,

vasos sanguíneos e linfáticos) e também as neoplasias de revestimento de nervos periféricos, de origem

ectodérmica (GROSS et al., 2005). Os STM correspondem de 8 a 15% de todos os tumores cutâneos e subcutâneos

caninos (DALECK; DE NARDI, 2016). O principal tratamento indicado para este grupo de neoplasia é o cirúrgico

devido seu alto potencial de invasão de tecidos adjacentes, porém de baixo potencial metastático (15% dos casos

em pacientes com tumores de baixo a intermediário grau e 40% dos casos de alto grau), sendo a recidiva local

observada, principalmente quando não se consegue excisar os nódulos completamente (DALECK; DE NARDI,

2016). Pode considerar que uma cirurgia radical possui baixa aceitação por parte dos tutores (FOSSUM, 2013),

tornando imprescindível a busca por alternativas com melhores resultados cosméticos e funcionais, ressaltando a

importância da preservação da eficácia do tratamento do câncer.

Objetivo

O trabalho tem como objetivo relatar o caso de um cão com miofibrosarcoma em região abdominal ventral,

próximo ao prepúcio, submetido à exérese e com a preservação do pênis.

Relato de Caso

Foi atendido no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” – FCAV/UNESP, Campus de Jaboticabal,

um paciente canino, macho, 6 anos de idade, da raça Sharpei, 20 kg de peso corpóreo, pelagem marrom, castrado,

com histórico de trauma em região prepucial, ocorrido durante as primeiras semanas de vida do paciente, o qual foi

corrigido em colega com a realização de um procedimento cirúrgico, o que resultou em uma exposição crônica do

pênis e consequentemente ressecamento do mesmo, além disso, também havia histórico de ressecção cirúrgica de

nódulos cutâneos há 2 anos em colega, sem o conhecimento do laudo histopatológico pelo tutor. Na atual consulta,

o tutor informou que outro nódulo cutâneo havia surgido na região abdominal ventral do paciente, há 4 meses. O

paciente foi submetido ao exame físico, sanguíneos e de imagens, para estadiamento da doença, além de uma

citologia para a investigação da origem do tumor.

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Durante o exame físico, não foi observada nenhuma alteração nos parâmetros fisiológicos, além das

nodulação cutânea, localizada em região abdominal ventral, imediatamente cranial ao prepúcio, de 8x5x4 cm de

tamanho, consistência firme, aderido a musculatura, não ulcerado. No exame citológico do nódulo abdominal foi

sugestivo de fibrossarcoma. Foi realizado radiografia torácica com três projeções (ventrodorsal, latero-lateral

direita e latero-lateral esquerda), ultrassonografia abdominal, sem evidencia de metástase identificável, além disso,

foi realizado ultrassonografia da massa tumoral, delimitando a extensão do tumor primário. Como exames pré-

operatórios, foram realizados: hemograma completo, exames bioquímicos de creatinina, alanina aminotransferase

(ALT), além de eletrocardiografia e mensuração da pressão arterial.

Foi indicado o procedimento cirúrgico para ressecção dos nódulos, e através de uma decisão em conjunto

do tutor com a equipe cirúrgica, foi optado por uma cirurgia conservadora para a preservação do pênis. O paciente

foi anestesiado para o procedimento cirúrgico e neste momento foi realizado o planejamento cirúrgico (Figura 1A),

marcando a prega inguinal esquerda como possível região doadora de pele caso o fechamento do defeito criado

permanecesse com tensão cutânea em sua síntese direta. O tumor abdominal foi removido com 1 a 2 cm de margem

lateral, removendo a porção remanescente do prepúcio (Figura 1B), a fáscia da musculatura abdominal, foram

removidos em bloco (Figura 1C). O pênis foi deslocado e fixado lateralmente, criando um novo orifício para a

exposição da porção distal do órgão. Após a divulsão do tecido subcutâneo, foi constatado que o defeito poderia ser

aproximado sem a existência de tensão cutânea, não havendo a necessidade da realização de retalhos

cutâneos(Figura 1C). O pênis foi fixado lateralmente por meio de pontos com fio nylon captonados. O animal

permaneceu sondado 5 dias pós operatório para garantir a limpeza e cicatrização da ferida cirúrgica.

Figura 1: Paciente posicionado em decúbito dorsal na mesa cirúrgica, com a realização de antissepsia cirúrgica e

com a colocação dos campos cirúrgicos. A) Planejamento cirúrgico com a demarcação das margens para ressecção

da massa tumoral. B) Momento no trans-cirurgico em que o prepúcio é excisado. C) Ferida cirúrgica criada após a

remoção da massa tumoral. D) Aspecto final, com o fechamento da ferida cirúrgica e criação de um novo orifício

para a exposição do pênis.

O material foi marcado com pontos de nylon para identificação das margens cirúrgicas, fixado em solução

de formalina 10% e encaminhado para exame histopatológico e imuno-histoquímico. A histopatologia revelou

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sarcoma fusocelular de grau intermediário, morfologicamente sugestivo de fibrosarcoma ou rabdomiosarcoma, com

margens cirúrgicas laterais livres e profunda exígua. Foi realizado imunomarcação para Vimentina; 1A4 e

Desmina, onde as células neoplásicas apresentaram imunoexpressão, enquanto os imunomarcadores MyoD1,

HHF35 e AE1/AE3 não apresentarão marcação nas células neoplásicas, concluindo com o perfil imuno-

histoquímico e morfológico se tratar de um miofibrosarcoma. Nesse momento foi instituída quimioterapia

adjuvante com carboplatina (300mg/m², a cada 21 dias) e ciclofosfamida (12,5mg/m², diariamente), porém o tutor

recusou a sua realização. O animal permaneceu livre de doença por um período de 360 dias e sobrevida de 390

dias, sendo eutanasiado devido a recidiva tumoral e perda da qualidade de vida, realizado em colega.

Discussão

Durante o exame físico, não foi verificado outras anormalidades a não ser a presença do nódulo subcutâneo

de consistência firme na superfície ventral do abdômen medindo 8 cm em seu maior eixo. Ao estadiamento clínico

do paciente, não foi encontrado nenhuma alteração. Durante a cirurgia, foi realizada a ressecção da massa em bloco

seguida de criação de um novo orifício para a saída do pênis. A análise morfológica no exame histopatológico não

foi esclarecedor em relação a origem celular da neoplasia, sendo necessário o emprego de técnicas de imuno-

histoquímica para melhor caracterização, o que é comum quando se trata de STM (VAIL, WITHROW, 2001). O

resultado imuno-histoquimico detectou miofibrosarcoma, que é uma variação do fibrosarcoma (composto por

fibroblastos neoplásicos), associado a e discreta musculatura lisa com características de malignidade.

Podemos relacionar a ausência de maiores complicações sejam decorrentes de uma técnica cirúrgica

adequada, bem como o cumprimento dos cuidados pós-operatórios por parte do tutor, como repouso e manejo da

ferida e da urina (PAVLETIC, 1999; SLATTER, 2007). Após o período pós cirúrgico, o tutor optou por não

realizar o tratamento quimioterápico antineoplásico adjuvante.

Em cães, os STM estão relacionados a traumatismos (MAC EWEN et al, 2001), o que pode ser justificado

como etiologia neste caso, devido ao trauma sofrido que deformou seu prepúcio durante o período neonatal.

Conclusão

Conclui-se que a possibilidade de realização de procedimentos cirúrgicos mais conservadores, como no

caso descrito com a preservação do pênis, garante maior aceitação do tratamento por parte do proprietário. Além

disso, reforça-se a importância da adesão de terapias adjuvantes por parte dos tutores visando atingir um sucesso

adequado do tratamento do câncer.

Referências

1. Vail DM, Withrow SJ. Tumors of the Skin and Subcutaneous Tissues. In: Withrow SJ, Mac Ewewn EG (2001).

Small Animal Clinical Oncology. 3 ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 233-260.

2. Gross TL, Ihrke PJ, Walder EJ, Affolter VK (2005). Skin Disease of the Dog and Cat, Clinical Histopathologic

Diagnosis. (2nd Ed) Oxford. Blackwell Publishing, 616-626.

3. Jark PC, Reis-filho NP, Ferreira MGPA, Ramos CS, Pacoli ALCR. Sarcoma de tecidos moles cutâneos e

subcutâneos em cães. In: Daleck CR, De Nardi AB. Oncologia em Cães e Gatos. São Paulo: Ed.Roca. 517-529.

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4. Fossum TW (2013). Small Animal Surgery. St Louis: Mosby, 1619 p.

5. Mac Ewewn EG, Powers BE, Macy, Withrow SJ. Soft Tissue Sarcomas. In, Withrow SJ, Mac Ewewn EG

(2001) Small Animal Clinical Oncology. 3 ed. Philadelphia: W. B. Sauders, 233-260.

6. Pavletic MM (1999). Atlas of Small Animal Reconstructive Surgery. Philadelphia: J.B. Lippincott, 434 p.

7. Trout NJ. Princípios da cirurgia plástica e reconstrutiva. In: Slatter D (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos

Animais. São Paulo: Manole, 274-291.

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RETALHO DE PADRÃO AXIAL DA ARTÉRIA EPIGÁSTRICA SUPERFICIAL CAUDAL EM CÃO:

RELATO DE DOIS CASOS

CAUDAL SUPERFICIAL EPIGASTRIC AXIAL PATTERN FLAP IN DOG: REPORT OF TWO CASES

FERREIRA, N.N.1 SCALZILLI, B.1 CASTANON, C.R.1 BARATA, J.S.2 OLIVEIRA, T.F.3 MEDEIROS, F.F.L3

RODRIGUES, A.F.2 CANELLAS, A.C.3 MAUÉS, T.1 DEGANI, V.A.N. 4 FERREIRA, M.L.G.4

1 Pós graduanda pelo Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, do Hospital Universitário de Medicina

Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET-UFF), Niterói-RJ,

Brasil. Autor para correspondência: [email protected] 2 Pós graduando pelo Programa de Cirurgia Veterinária do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP- Câmpus Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3 Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho da Universidade Federal

Fluminense, Niterói-RJ, Brasil. 4 Professora Adjunta da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil.

Introdução

As principais causas de morte nos cães e gatos estão relacionadas às neoplasias.(1) Em virtude disso, as

cirurgias reconstrutivas ou reparadoras tornam-se uma boa opção como correção cirúrgica nos casos de neoplasias

extensas ou aquelas que exigem margens amplas, promovendo a síntese completa dos defeitos criados após sua

exérese.(1-3) No entanto, o sucesso da técnica empregada depende, principalmente, da quantidade de estruturas

comprometidas, assim como da extensão da lesão aliada à preservação da microcirculação e aos cuidados na

manipulação dos tecidos a fim de promover resultados mais satisfatórios. Além disso, deve-se realizar um

planejamento cirúrgico minucioso, considerando-se a qualidade do leito da ferida, o suprimento sanguíneo local, e

a elasticidade do tecido disponível, visando um procedimento curativo.(1-4)

Objetivo

O presente trabalho objetiva relatar dois casos de correção de extensa falha em região de membro pélvico

em cão, decorrente da exérese de massa tumoral, utilizando-se a técnica reconstrutiva do retalho de padrão axial

epigástrico superficial caudal.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho (HUVET-

UFF), da Universidade Federal Fluminense, duas cadelas, entre oito e nove anos de idade, respectivamente, sendo

uma delas sem raça definida (Caso 1), e a outra da raça Basset Hound (Caso 2), ambas ovário-histerectomizadas. A

paciente do caso 1 apresentava um nódulo em face interna do membro pélvico, em região distal à topografia tibial,

medindo 2,5 cm x 2,0 cm, de aspecto enegrecido, não ulcerado, não alopécico, macio, aderido, delimitado e com

superfície irregular. Já a paciente do caso 2, apresentava um nódulo em região lateral ao abdômen, medindo,

aproximadamente, 8 cm de diâmetro em seu maior eixo, de aspecto enegrecido e ulcerado, apresentando necrose

em região central, não aderido, firme, delimitado e com superfície irregular. Ambos os casos com evolução lenta,

de aproximadamente seis meses.

As pacientes foram submetidas a exame físico detalhado, com avaliação dos linfonodos e posterior

realização de citologia dos nódulos a partir de punção biópsia por agulha fina (PBA). Solicitaram-se exames

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complementares para identificação de possíveis metástases e estadiamento da doença, tais como: radiografia da

região torácica em três projeções (lateral direita, lateral esquerda e ventrodorsal), ultrassonografia abdominal, e

exames laboratoriais (hemograma e perfil bioquímico com as dosagens de ureia, creatinina, fosfatase alcalina,

ALT, glicose, e proteínas totais e frações). Nenhum dos pacientes apresentou alterações no exame físico, assim

como alterações relevantes nos exames complementares. Após o resultado da citologia, sugestivo para

hemangiossarcoma no caso 1, e sugestivo para mastocitoma no caso 2, houve a indicação da realização do exame

histopatológico. Dessa forma, as pacientes foram submetidas à cirurgia para exérese das massas tumorais com

margens amplas, associando-se a técnica de cirurgia reconstrutiva do retalho de padrão axial da artéria epigástrica

superficial caudal para possibilitar o fechamento do defeito criado.

Para realização da técnica, as pacientes foram posicionadas em decúbito dorsal, medindo-se a largura e o

comprimento da lesão a ser recoberta pelo retalho. Na região da mama inguinal ipsilateral ao defeito, constituindo a

base do retalho, mediu-se a distância da base até a porção mais distal da lesão. Em seguida, com o uso de uma

caneta dermográfica, foi realizada a marcação da largura do retalho, bem como do comprimento deste, englobando

as mamas inguinal, abdominal caudal, e abdominal cranial no caso 1, e, além destas, a mama torácica caudal no

caso 2. O retalho delimitado foi incisado e divulsionado meticulosamente por meio de dissecção profunda entre o

músculo supramamário e o músculo reto abdominal. Promoveu-se uma incisão em ponte para comunicar o leito

doador ao receptor e, posteriormente, o retalho foi rotacionado cuidadosamente para cobrir o defeito, e suturado ao

leito receptor com fio de nylon 3-0, em padrão de sutura simples descontínuo, assim como a área doadora. O

material excisado foi encaminhado para análise histopatológica. No pós-cirúrgico, foi instituída terapia analgésica,

antibiótica e anti-inflamatória, além de bandagem compressiva, e as revisões eram realizadas a cada 48 horas.

Resultados

Nos momentos pré e transoperatório não houve intercorrências, em ambas as cirurgias. Entretanto, no pós-

operatório, o animal do caso 1 apresentou uma pequena área de desvitalização, devido a lambedura da paciente, na

porção distal do retalho, a qual foi tratada por segunda intenção. O animal do caso 2 não apresentou alterações, e a

cicatrização transcorreu perfeitamente até a retirada dos pontos. A análise histopatológica foi conclusiva para

hemangioma no caso 1, não sendo indicada a realização de terapias complementares. Contudo, no caso 2,

confirmou-se o diagnóstico de mastocitoma grau III alto grau, havendo indicação de quimioterapia adjuvante como

terapia complementar. Ambas as análises histopatológicas apresentaram margens cirúrgicas livres em todos os

planos (dorsal, caudal, ventral e cranial).

Discussão

O procedimento cirúrgico constitui-se do tratamento de escolha para neoplasias cutâneas, uma vez que

respeitando as margens de segurança adequadas, e seguindo-se os princípios da cirurgia oncológica, esta pode

promover a cura do paciente.(1,4) Nestes casos, inicialmente suspeitava-se de neoplasias malignas. Como no caso 1

o exame citopatológico foi sugestivo para hemangiossarcoma, classificado como neoplasia maligna originária de

células endoteliais vasculares, e no caso 2, mastocitoma, (neoplasia maligna de células redondas), foi indicada a

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exérese cirúrgica com amplas margens, sendo necessária a associação de uma técnica de cirurgia reconstrutiva

devido à impossibilidade para fechamento da ferida de forma primária.

Tendo em vista que o resultado do exame histopatológico, no caso 1, foi diagnóstico para uma neoplasia

benigna (hemangioma), a paciente em questão não necessitou de terapias complementares, havendo remissão

completa da doença. De acordo com Daleck & De Nardi (2016), discrepâncias nos achados citopatológicos e

histopatológicos, como observado neste caso, podem ser excelentes fontes para autoavaliação, levando à melhoria

na qualidade dos serviços e minimizando erros futuros, reiterando o fato de que a citologia, por ser constituída

principalmente pela amostragem de células, não é considerada tão fidedigna quanto a realização do exame

histopatológico. No caso 2, o resultado da citologia foi confirmado pela histopatologia, sendo a paciente

encaminhada para realização de tratamento quimioterápico adjuvante.

Os retalhos de padrão axial possuem em sua base uma artéria e veia cutânea, e se apresentam de forma

pediculada podendo mobilizar grandes segmentos de pele, em um único procedimento, com a certeza de uma boa

irrigação e bom arco de rotação.(4-6) Optou-se pela técnica de padrão axial da artéria epigástrica superficial caudal

devido a sua versatilidade, uma vez que esta pode ser empregada para corrigir defeitos nas regiões de abdômen

caudal, flanco, prepúcio, períneo, coxa e membro pélvico.(2,3,5) No caso 1 a lesão localizava-se em região

tibiotársica, ao passo que no caso 2, em região de abdômen caudal, sendo o retalho irrigado pela artéria epigástrica

superficial caudal, uma ramificação da artéria pudenda externa, e sua veia associada, as quais passam pelo anel

inguinal. Apesar de ser recomendada a utilização de apenas três mamas para a realização da técnica em cadelas (2),

no caso 2, não houveram intercorrências.

Complicações em cirurgias reconstrutivas são comuns, incluindo deiscência de sutura, contaminação,

formação de seroma e necrose nas extremidades do retalho(1-4). No caso 1, observou-se deiscência de sutura em

porção distal do retalho proveniente de automutilação, facilmente tratada. No caso 2, apesar de se tratar de um

mastocitoma, em que retardos na cicatrização tecidual e deiscência de sutura ocorrem com frequência devido à

liberação de enzimas proteolíticas e aminas vasoativas, além da liberação local de histamina (1), não foram

observadas complicações, facilitando os cuidados pós-operatórios e promovendo uma cicatrização mais breve. O

correto posicionamento do animal no momento da cirurgia e aplicação da técnica correta ajuda a minimizar as

chances de complicações.(3,5) Neste caso, para evitar ou minimizar essas complicações, a conduta seguiu os

princípios de cirurgia plástica que envolve planejamento cuidadoso, avaliação da ferida e sua localização

anatômica, avaliação da elasticidade da pele, empregando-se técnica meticulosa e atraumática(1,2), de forma a

contribuir para o transoperatório sem intercorrências e ausência de complicações pós-operatórias.

Conclusão

A técnica reconstrutiva de padrão axial da artéria epigástrica superficial caudal mostrou-se eficiente, em

ambos os casos, para correção de defeitos em região de membro pélvico de cães, possibilitando margens cirúrgicas

livres, e, dessa forma, colaborando para um melhor prognóstico, relacionado à menor chance de recidiva e maior

qualidade de vida e sobrevida dos pacientes. A complicação observada em um dos casos não comprometeu o

procedimento, sendo comumente observada a partir do uso de técnicas cirúrgicas reconstrutivas.

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Referências

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MedVep, Curitiba, 286p.

3. Fossum WT et al (2015). Cirurgia de Pequenos Animais. 4.ed. St. Louis, Missouri: Ed. Mosby Inc., Elsevier

Inc., 1775p.

4. Kirpensteijn J, Haar G. (2013). Reconstructive surgery and wound management of the dog and cat. Manson

Publishing, Ltd. 240p.

5. Pavletic MM. Enxertos pediculados. In: Slatter D (2007). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3ed. São

Paulo: Ed. Manole, 292-307.

6. Liptak, JM. Soft tissue sarcomas. In: Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology (2007). S.J.

Withrow and E.G. MacEwen, editors. WB Saunders: St. Louis, 425–454.