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Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
635 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
ISSN:1984-2295
Revista Brasileira de
Geografia Física
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
Respostas das plantas ao incremento atmosférico de dióxido de carbono e da temperatura
Carlos Alberto Martinez1, Eduardo Augusto Dias de Oliveira2, Tathyana Rachel Palo Mello3 e Ana Lilia Alzate-Marin4
1Professor Associado da Universidade de São Paulo, Departamento de Biologia, FFCLRP/USP. E-mail: [email protected] – Autor
correspondente. 2Pós-Doutor da Universidade de São Paulo, Departamento de Biologia, FFCLRP/USP. E-mail: [email protected] 3Pós-Doutora da Universidade de São Paulo, Departamento de Biologia, FFCLRP/USP. E-mail: [email protected]. 4Pós-Doutora Senior do
CNPq, Professora credenciada no Programa de Pós-Graduação em Genética, FMRP/USP. E-mail: [email protected].
Artigo recebido em 02/10/2015 e aceito em 10/112015.
R E S U M O
Existem fortes evidencias da ocorrência de mudanças climáticas globais por causa do aumento de gases de efeito estufa,
as quais provavelmente serão cada vez mais severas no futuro. Para enfrentar esse problema, as plantas, serão
confrontadas com opções limitadas para evitar a perda de seu hábitat ou extinção: adaptar-se, migrar ou morrer. Em
geral, o aumento da concentração atmosférica do CO2 atuando como “fertilizante” para a fotossíntese poderia aumentar
o crescimento e a produção de biomassa das plantas. No entanto, o aumento da temperatura global poderia afetar
negativamente a fisiologia e a produtividade vegetal, bem como provocar alterações nos padrões de precipitação com
impactos graves sobre a produção agrícola e outros serviços ecossistêmicos. Para uma melhor estimativa dos impactos
das mudanças climáticas na agricultura, pecuária, ecossistemas de florestas e pastagens serão necessários grandes
avanços científicos. No âmbito da pesquisa, será necessária e prioritária a elucidação das interações entre o elevado
CO2, temperatura, fertilidade do solo, disponibilidade hídrica e o efeito de poluentes como o ozônio sobre o
crescimento, o rendimento e a produtividade das plantas. Efeitos das mudanças climáticas sobre o florescimento,
viabilidade do pólen, polinizadores e produção de grãos também precisam ser esclarecidos. Qualquer avanço do
melhoramento genético das plantas e uso da biodiversidade visando reduzir a sensibilidade à elevada temperatura ou
melhorar a resposta ao CO2 será de grande utilidade.
Palavras-chave: mudança climática global, aquecimento, biodiversidade, agricultura, produção agrícola.
Plants responses to increase in atmospheric carbon dioxide and temperature
A B S T R A C T
There is strong evidence that global climate change because of increase in the greenhouse gases are already occurring
and will become increasingly severe. To address this problem, the plants will be faced with limited options to avoid
losing their habitat or extinction: adapt, migrate or die. In general, the increase in atmospheric CO2 concentration acting
as "fertilizer" for photosynthesis could increase growth and biomass production of the plants. However, the increase in
global temperature could adversely affect the physiology and plant productivity and cause changes in rainfall patterns
with serious impacts on agricultural production and other ecosystem services. A better estimate of the impacts of
climate change on agricultural, forest and pasture ecosystems will require urgent scientific advances. It will be
necessary to prioritize the elucidation of interactions between elevated CO2, temperature, soil fertility, water availability
and the effect of pollutants such as ozone on growth, yield, and productivity of plants. Effects of climate change on
flowering, pollen viability, pollinators and yield will need to be elucidated. Any advancement of plant breeding and use
of biodiversity for reducing the sensitivity to high temperature and improve the response to CO2 will be very useful.
Keywords: global climate change, warming, biodiversity, agriculture, plant productivity.
*E-mail para correspondência:
Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
636 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
Introdução
Atualmente existe sólido consenso
cientifico para afirmar que as mudanças climáticas
causadas por atividades humanas já estão
ocorrendo em diversos ecossistemas continentais
e marinhos do planeta e que realmente a
humanidade está vulnerável e mal preparada para
enfrentar as consequências dessas alterações no
clima (IPCC, 2014). O monitoramento com
instrumentação moderna mostra que a
concentração atmosférica dos principais gases de
efeito estufa como o dióxido de carbono [CO2],
metano [CH4] e óxido nitroso [N2O], já supera a
400 ppm, 1800 ppb e 330 ppb, respectivamente
(Figura 1), que são concentrações muito elevadas
quando comparadas com as que se estima
existiam no passado histórico da Terra. Observa-
se grande incremento na concentração destes
gases nos últimos 65 anos (CO2now, 2015; EPA,
2015).
O aquecimento causado por esses gases
aumenta a probabilidade de alterações nos padrões
de precipitação com impactos graves sobre os
serviços ecossistêmicos afetando a biodiversidade,
os recursos hídricos, os recursos da terra, a
agricultura, a pesca, e o abastecimento de água,
bem como a saúde e a qualidade de vida da
população humana (IPCC, 2014).
Nas plantas, as mudanças climáticas
podem causar ou exacerbar a frequência e a
intensidade dos estresses diretos causados pela
alta temperatura, menor disponibilidade de água,
pestes e patógenos, plantas invasoras, poluição do
ar, eventos extremos, alagamentos e incêndios.
Por exemplo, alterações na temperatura podem
alterar a distribuição geográfica das espécies, o
ciclo de vida das pragas, bem como a expansão de
pragas e doenças dos trópicos para as regiões
temperadas (Bebber et al., 2013).
A alta temperatura e a diminuição da
precipitação podem causar incremento do estresse
hídrico e nutricional nas plantas nativas e
cultivadas com sérios efeitos sobre seu
crescimento e produtividade (Hatfield et al.,
2011).
Estudos realizados em diversas espécies
mostram que o incremento do CO2 estimula a
fotossíntese por seu efeito “fertilizante” para esse
processo. No entanto, o aumento na [CO2] junto
com o incremento da temperatura, ou a deficiência
hídrica podem resultar em efeitos diferentes com
alterações na expressão gênica, nas respostas
moleculares, bioquímicas e fisiológicas das
plantas, bem como influenciar na maneira com
que as plantas capturam e alocam compostos de
carbono, utilizam a água e lidam com diversos
estresses abióticos (Allen e Prasad, 2004; Leakey
et al., 2006).
Figura 1. Variação na concentração atmosférica de
dióxido de carbono, metano e oxido nitroso ao
longo do tempo (EPA, 2015; CO2now, 2015)
As respostas das plantas às mudanças
climáticas têm sido amplamente estudadas
utilizando-se sistemas como câmaras de
crescimento, túneis de gradiente, câmaras de topo
aberto e FACE (Free Air Carbon Enrichment)
(Ainsworth e Long, 2005). Entretanto, a grande
maioria dos estudos foi realizada com espécies de
clima temperado, existindo escassa informação
em plantas de ambientes tropicais.
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Neste artigo serão discutidas as principais
implicações das mudanças climáticas nas plantas,
com ênfase nos efeitos do CO2 e da temperatura
sobre as respostas genéticas, moleculares,
fisiológicas, crescimento e produtividade das
culturas, com ênfase em plantas cultivadas nos
trópicos.
Efeitos do aumento da [CO2] e da temperatura
sobre a fisiologia das plantas
A concentração atmosférica de CO2 tem
influência direta sobre a fisiologia das plantas por
ser a fonte primária de carbono para a
fotossíntese, o que a torna um fator limitante para
esse processo. Portanto, o incremento na [CO2] irá
estimular a taxa fotossintética das plantas com
aumento na produção de açúcares e
consequentemente, maior produção de biomassa
em plantas e ecossistemas. Além disso, elevadas
[CO2] promovem a redução da abertura
estomática causando diminuição da perda de água
por transpiração. O incremento da fotossíntese
associada à redução da transpiração resulta em
aumento da eficiência do uso da água,
influenciando o balanço hídrico em plantas e
ecossistemas (Drake et al., 1997; Allen e Prasad,
2004).
O estímulo da fixação de carbono por meio
da fotossíntese é uma das respostas a elevados
níveis de CO2 mais bem estabelecidas e
amplamente reportadas para plantas com
metabolismo fotossintético C3 (Olivo et al., 2002;
Long et al., 2004; Ainsworth e Long, 2005; Drake
et al., 1997) que correspondem a mais de 90% do
total de plantas conhecidas. Nas plantas C3, o
estímulo da fotossíntese por elevado CO2, em
períodos curtos (Figura 2), não necessita de
quantidades extras de luz, água ou nutrientes, uma
vez que nessas plantas, a fotossíntese catalisada
pela enzima Rubisco (Ribulose, 1-5 bifosfato
carboxilase/oxigenase) é limitada pela atual
[CO2]. A Rubisco possui duas atividades
enzimáticas, podendo atuar como carboxilase
(fixa CO2) ou oxigenase (fixa O2). Assim, o CO2 e
o O2 competem pelo sítio catalítico da enzima.
Portanto, elevados níveis de [CO2] favorecerão a
atividade carboxilativa com aumento da taxa de
fixação do carbono e da taxa de fotossintética
líquida. No entanto, quando a concentração de
dióxido de carbono no sítio de carboxilação
diminui e a concentração de oxigênio aumenta,
favorece a atividade oxigenativa da Rubisco,
iniciando-se o processo denominado
fotorespiração. Isso geralmente ocorre quando, em
alta luminosidade e alta temperatura, os estômatos
fecham causando limitação para o ingresso de
CO2, por exemplo, em situações de deficiência
hídrica (Taiz e Zeiger, 2015).
Em longos períodos de exposição, foi
observado que a resposta das plantas C3 a
elevados níveis de CO2 e o efeito “fertilizante” do
CO2 podem ser anulados por outras limitações
como a falta de nutrientes (McMurtrie et al., 2008;
Dias de Oliveira et al., 2012; Reich et al., 2014),
ou por interação com outros fatores que
comprometem o crescimento e o desenvolvimento
das plantas.
Por outro lado, em plantas com
metabolismo fotossintético C4, como o milho, a
cana-de-açúcar e o sorgo, a atual [CO2] não limita
a fotossíntese, uma vez que essas plantas possuem
duas enzimas que fixam o carbono do CO2: a
Fosfoenol Piruvato Carboxilase (FPcase) e a
Rubisco, presentes nas células mesofílicas e nas
células da bainha do feixe vascular,
respectivamente. A enzima FPcase tem alta
afinidade pelo CO2 atuando como carboxilase e
não possui atividade oxigenase. Nas plantas C4, a
dupla fixação do carbono é parte de um
mecanismo anatômico-fisiológico que enriquece
de CO2 o sítio onde ocorre a fixação do carbono
via carboxilase da Rubisco, aumentando a taxa de
fixação de carbono e reduzindo a possibilidade da
fotorespiração. Assim, na concentração atual de
CO2, as plantas C4 apresentam maior taxa de
fotossíntese quando comparadas com as plantas
C3 (Figura 2). O mecanismo de fixação de
carbono em plantas C4 antecipa de alguma
maneira, os efeitos esperados em nível bioquímico
de uma atmosfera mais rica em CO2 sobre as
plantas e, portanto, não respondem a incrementos
na concentração de CO2 como as plantas C3
(Figura 2) (Allen e Prasad, 2004).
Figura 2. Resposta fotossintética de plantas de
metabolismo fotossintético C3 e C4 a diferentes
níveis de CO2 em condições de alta luminosidade
e condições não limitantes de água e nutrientes
(adaptado de Allen e Prasad, 2004).
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Nas folhas, o aumento da temperatura
pode aumentar a pressão de vapor da água e,
assim, aumentar a taxa de uso da água. No
entanto, o elevado nível de CO2 ao induzir o
fechamento estomático provoca redução da
transpiração e aumento da temperatura foliar. Isso
provoca uma redução da diferença de temperatura
folha-ar com a consequente redução da taxa de
uso da água (Figura 3) (Kimball et al., 2002).
Nas plantas, os elevados níveis de CO2 e
temperatura têm efeitos contrários sobre a
eficiência de uso da água (EUA). Enquanto a
elevação da temperatura diminui o crescimento
foliar, aumenta o uso da água no dossel e diminui
a EUA, o aumento da concentração de CO2
diminui a condutância do dossel, aumenta o
crescimento foliar e reduz o uso de água pelo
dossel com o consequente incremento da
eficiência do uso da água pelas plantas (Figura 4)
(Ainsworth e Long, 2005).
Figura 3. Efeitos do aumento da temperatura e da
concentração de CO2 sobre a taxa de uso de água
pelas folhas (Adaptado de Kimball et al, 2002).
Figura 4. Efeitos da elevação da temperatura e da
[CO2] sobre a eficiência de uso da água (EUA)
nas plantas (Adaptado de Ainsworth e Long,
2005).
A resposta da fotossíntese das plantas à
temperatura depende da disponibilidade de CO2 no
interior das folhas. Assim, à medida que aumenta a
concentração intercelular de CO2, as plantas mostram
maior taxa de fotossíntese, e a temperatura na qual se
alcança a máxima taxa de fixação do carbono também
aumenta (Sage e Kubien, 2007) (Figura 5).
Em geral, a fotossíntese das plantas crescidas
em baixas temperaturas é maior quando expostas a
baixa temperatura e se reduz em temperaturas
superiores à temperatura de crescimento, mas não
necessariamente a fotossíntese das plantas crescidas
em elevadas temperaturas é maior em elevadas
temperaturas quando comparadas a plantas crescidas
em temperaturas mais amenas (Figura 6) (Yamasaki et
al., 2002).
Figura 5. Efeito da temperatura foliar e da
concentração intercelular de CO2 sobre a taxa
fotossintética de uma planta C3 (adaptado de Sage e
Kubien, 2007).
Figura 6. Taxa de fotossíntese em função da
temperatura em folhas de plantas crescidas sob
três temperaturas diferentes: 15oC, 25oC, e
35oC (Adaptado de Yamasaki et al., 2002).
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Efeitos do aumento da [CO2] e da temperatura
sobre o crescimento e rendimento
Tanto a [CO2] quanto a temperatura,
podem afetar diretamente o crescimento e a
produtividade das plantas. O aumento da [CO2]
aumenta a taxa fotossintética foliar levando a
maiores taxas de crescimento e produção de
biomassa. Recentemente, Bishop et al. (2014)
realizaram um estudo de meta-análise de 72
trabalhos publicados para verificar os efeitos da
elevada concentração de CO2 sobre a fotossíntese,
produção de biomassa e rendimento de plantas
cultivadas de tipo C3. Nesse estudo foi
determinado que nas plantas C3, a elevada
concentração de CO2 induz a um incremento de
30% na taxa fotossintética, 20% na biomassa e
25% no rendimento das culturas (Figura 7). No
entanto, foram observadas diferenças na magnitude
de resposta em função da espécie e do sistema
utilizado para simular condições futuras de CO2.
Em geral, nos estudos realizados em
sistemas de campo denominados FACE (Free-air
carbon dioxide enrichment) a magnitude do efeito
do elevado CO2 em todos os parâmetros analisados
foi menor à observada em sistemas de câmaras de
topo aberto e em câmaras de crescimento (Long et
al., 2006).
O aumento da concentração de CO2
atmosférico, associado ao aumento da temperatura
é uma condição favorável ao crescimento das
plantas em latitudes elevadas. Em geral, o efeito da
concentração de CO2 sobre o crescimento das
plantas (FCO2) é dependente da temperatura. Na
medida em que se aumenta a temperatura de
crescimento, a resposta ao elevado nível de CO2
também aumenta (Figura 8) (Reyenga et al., 1999).
A temperatura ótima para o crescimento e
desenvolvimento é bastante variável entre as
espécies. Para o arroz, por exemplo, varia entre 27
ºC e 32 ºC (Yin et al., 1996), sendo que
temperaturas acima da ótima podem induzir
esterilidade e decréscimo na produtividade da
cultura (Nakagawa et al., 2003). No trigo, a
temperatura ótima durante a fase de produção de
grãos varia entre 12 ºC e 22 ºC. Temperaturas
superiores podem reduzir a produtividade
(Mullarkey e Jones, 2000; Tewolde et al., 2006).
Em regiões tropicais a temperatura já esta mais
próxima à ótima para o crescimento vegetal.
O aumento da temperatura está associado
à aceleração do crescimento e da fenologia, o que
tende a reduzir o ganho de biomassa (Lobell e
Gourdji, 2012). Com isso, a resposta da
fotossíntese ao aumento de temperatura deverá ser
a responsável pelo efeito da temperatura na
produtividade das plantas (Long e Ort, 2010).
Acima de valores ótimos, que variam de
acordo com a temperatura de crescimento, o
aumento da temperatura tem efeitos deletérios
para o crescimento provocando redução da taxa de
fotossíntese e da concentração da enzima Rubisco,
bem como redução da concentração de Clorofila
(Figura 9) (Yamasaki et al., 2002). No caso do
arroz, existe uma grande preocupação com a
produtividade frente às mudanças climáticas, pois
a maior parte de seu cultivo é feito em regiões
onde as temperaturas já estão próximas do limite
ótimo. Portanto, qualquer aumento médio ou
ocorrência de episódios de temperatura elevada
durante os estágios mais sensíveis pode reduzir a
produção de grãos (Ceccarelli et al., 2010).
A elevada temperatura age diretamente
sobre a enzima Rubisco afetando a reação de
carboxilação deslocando a reação enzimática em
direção à oxigenase. Assim, o aumento da
temperatura provoca incremento da fotorrespiração
e diminui o ganho líquido de carbono pela planta
(Sage e Kubien, 2007). Mesmo aumentos
moderados de temperatura podem ainda ser
prejudiciais à fotossíntese e ao crescimento das
plantas. Isso porque a enzima Rubisco-ativase que
regula a atividade da Rubisco é altamente sensível
ao aumento de temperatura e se torna inativa com o
estresse térmico (Crafts-Brandner e Salvucci,
2000).
Em geral, como discutido anteriormente, o
aumento da [CO2] tem efeitos positivos sobre as
plantas C3, crescidas sob adequada fertilidade do
solo (Dias de Oliveira et al., 2012). No entanto,
cultivos C4 como o milho somente apresentam
respostas positivas ao aumento da [CO2] em
condições de deficiência hídrica (Leakey et al.,
2006). O Aumento de temperatura pode ainda
incrementar o déficit de pressão de vapor (DPV)
do ambiente, o que pode acarretar em fechamento
dos estômatos reduzindo a entrada de carbono para
a fotossíntese (Lobell e Gourdji, 2012).
Tendo em vista as mudanças climáticas
globais, para levar em consideração os efeitos da
temperatura sobre o crescimento e a produtividade
das plantas, devem ser também avaliadas as
possíveis interações entre a temperatura, a [CO2]
na atmosfera e o estado hídrico das plantas. Em
algumas respostas fisiológicas, os efeitos da
elevada [CO2] sobre as plantas interagem com a
temperatura reduzindo seus efeitos negativos (Dias
de Oliveira et al., 2013), ou compensando os
efeitos negativos da deficiência hídrica (McMurtrie
et al., 2008; Reich et al., 2014).
O aumento da [CO2] na atmosfera aumenta a
quantidade de carbono que adentra à câmara sub-
estomática. Isso ameniza os efeitos do fechamento
estomático causado pelo aumento do DPV ou até
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mesmo pela falta de água. Além disso, incrementa
a concentração de substrato para carboxilação da
Rubisco, o que aumenta o ganho líquido de
carbono.
Figura 7. Resposta à elevada [CO2] (intervalo de
confiança 95%) da fotossíntese (a), biomassa acima
do solo (b) e rendimento de grãos (c) de diferentes
espécies de cultivos C3 em experimentos FACE.
(Adaptado de Bishop et al., 2014).
Em plantas de trigo, o efeito fertilizante
de elevado nível de CO2 foi maior em solo seco
quando comparado com solo úmido. O efeito
fertilizante do elevado CO2 não foi observado em
plantas com deficiência de nitrogênio (Figura 10)
(Kimball et al., 2002).
Figura 8. Efeito da concentração atmosférica de
CO2 sobre o crescimento das plantas (FCO2) em
função da temperatura (adaptado de Reyenga et
al., 1999).
Figura 9. Concentração de Rubisco (a) e conteúdo de
clorofila (b) em folhas crescidas sob diferentes
temperaturas (Adaptado de Yamasaki et al., 2002).
a
c
b
a
b
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Figura 10. Efeitos da elevada concentração de
CO2 (550 ppm) sobre o rendimento do trigo em
diferentes condições de umidade do solo e do
baixo nível de nitrogênio no solo. Dados
observados (barra preta) e dados estimados (barra
azul) (adaptado de Kimball et al., 1995; Asseng et
al., 2013).
Em arroz (Hasegawa et al., 2013) ou trigo
(Dias de Oliveira et al., 2013) crescidos sob
elevada [CO2] e alta temperatura, a falta de
interações resultou em redução do rendimento pelo
efeito da alta temperatura, provavelmente devido
ao fato de que a temperatura ótima para o
rendimento seja menor do que para a fotossíntese
(Hatfield et al., 2011).
Independentemente do estado hídrico, as
plantas de milho sofrem perdas consideráveis de
rendimento quando são expostas a ondas de calor
na fase reprodutiva, quando o milho é muito
sensível a estresse térmico (Hatfield et al., 2011).
Recentemente, o grupo de Pesquisa em
Mudanças Climáticas do Projeto Trop-T-FACE da
USP em Ribeirão Preto observou, para a espécie de
forrageira tropical Stylosanthes capitata, crescida
em condições ótimas de fertilidade e
disponibilidade hídrica, efeitos positivos do
aquecimento do ar em +2°C, com estímulo da
produção de biomassa total da parte aérea em 16%
e do índice de área foliar em 32% (Figura 11)
(Martinez et al., 2014).
Figura 11. Efeitos do aquecimento sobre a
produção de biomassa e índice de área foliar
(LAI) em plantas de Stylosanthes capitata
crescidas em sistema T-FACE (Martinez et al.,
2014).
Interações entre plantas e polinizadores e as
respostas genéticas às mudanças climáticas
Interações entre plantas e seus
polinizadores são ecologicamente importantes e
economicamente valiosas. Quase 88% das
angiospermas dependem dos animais para
serviços de polinização (Ollerton et al., 2011).
Esta dependência está relacionada intimamente
com a evolução e as adaptações florais como o
design floral (estrutura, cor, aroma e produção de
néctar) e o display floral (número de flores abertas
simultaneamente e sua disposição em uma
inflorescência) em cada espécie vegetal,
determinando quais serão os polinizadores das
plantas (Barrett e Harder, 1996). Por outro lado, a
dispersão das sementes, relacionada à capacidade
com que a espécie vegetal aumenta sua chance de
germinação, o estabelecimento de novos hábitats
favoráveis à colonização, além da determinação
da distribuição espacial de uma determinada
população, dependerá da morfologia das sementes
e do tipo de disseminação para que haja um
eficiente mecanismo de dispersão (Cain et al.,
2000; Deminicis et al., 2009). Portanto, o
rompimento (aumento ou diminuição) dessas
interações poderia ter efeitos em cascata nos
sistemas ecológicos afetando o sistema
reprodutivo, bem como a dispersão de sementes e
o recrutamento das plantas (Kearns e Inouye,
1997).
Como discutido anteriormente, há
consenso cientifico que o incremento na
concentração de CO2 e de outros gases de efeito
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642 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
estufa (GEE) tem como consequência o aumento
da temperatura média global, as ondas de calor e
as mudanças nos padrões de precipitação em
diversas regiões do planeta (IPCC, 2014). No
futuro se estima que extremos de elevada
temperatura se tornem mais frequentes. Quando
os dias mais quentes coincidam com as fases mais
sensíveis do desenvolvimento das plantas, como a
floração, poderia ocorrer redução dramática da
produção de sementes por causa da interrupção do
processo de polinização ou perda de viabilidade
do pólen (Wheeler et al., 2000). Por exemplo, em
arroz cv IR64 a fertilidade das espiguetas foi
reduzida em 7% para cada grau acima de 29,6 °C
(Jagadish et al., 2007). No entanto, além dos
efeitos do aquecimento é necessário considerar os
efeitos combinados da elevada concentração de
CO2 sobre o florescimento e duração do período
reprodutivo das plantas (Reyes-Fox et al., 2014).
Existem evidencias de que os períodos de
florescimento das plantas estão mudando em
diferentes taxas como consequência do aumento
da temperatura local e global, afetando outros
parâmetros das plantas incluindo as interações
entre espécies (Fitter e Fitter, 2002; Miller-
Rushing e Primack, 2008; Ollerton et al., 2011;
Wheeler e Reynolds, 2013) podendo influenciar
os sistemas de cruzamento. Por sua vez, estes
sistemas podem alterar eventos de polinização, o
sucesso reprodutivo da planta e o grau de
consanguinidade, afetando as plantas e a
demografia dos polinizadores (Fitter e Fitter,
2002; Eckert et al., 2010).
Alguns insetos polinizadores têm
diminuído em nível mundial, provavelmente
devido a um conjunto de fatores que interagem
(Potts et al., 2010), e com isso, quedas paralelas
em plantas polinizadas por insetos foram
documentadas (Kearns e Inouye, 1997; Potts et
al., 2010; Saraiva et al., 2012). No Brasil foi
estudada a distribuição de 10 espécies de abelhas
em cenários futuros de mudanças climáticas
observando-se que as espécies Melipona bicolor e
Mellipona scutellaris são as que apresentam maior
risco de extinção devido à futura redução de
habitat da Mata Atlântica (Giannini et al., 2012).
Em experimentos com perturbações de
temperatura foram observadas substanciais
mudanças (de até 45%) de autofecundação na
espécie Viola praemorsa spp. a qual possui um
sistema misto de reprodução, além de 61% de
incremento no número de frutos provenientes de
flores cleistógamas, ou seja, flores que se
polinizam antes da abertura do botão floral (Jones
et al., 2014). Estas mudanças podem acarretar a
perda de diversidade, devido à redução do número
de gametas independentes amostradas para a
reprodução, quando comparadas a espécies
alógamas do mesmo gênero como discutido por
Glemin et al. (2006). Desde que a diversidade
genética influencia na variação das respostas
fenológicas de populações de plantas sob cenários
de mudanças climáticas, sua perda pode ter como
consequência mudanças drásticas destas
características (Doi et al., 2010; Provan e Maggs,
2012), especialmente em espécies restritas a
climas frios (Alsos et al., 2012).
No entanto, em geral há escassa
informação sobre o impacto relacionado ao
aumento da temperatura sob parâmetros genéticos
fundamentais como taxas de cruzamento de
culturas tropicais, florestas nativas ou espécies
forrageiras (Doi et al., 2010; Alsos et al., 2012).
De tal modo que, a compreensão dos efeitos
genéticos e fisiológicos do aquecimento global
sobre os polinizadores, seus recursos florais e as
interações mutualísticas entre eles (Figura 12) é
um assunto de grande relevância atual e prioritário
para pesquisa (Scaven e Rafferti, 2013).
Figura 12. Respostas fisiológicas ao aquecimento
global das plantas com flores e insetos
polinizadores, afetando a disponibilidade de
recursos florais e o sucesso da polinização
(adaptado de Scaven e Rafferty, 2013).
Respostas Moleculares a elevada concentração de
CO2 e elevada temperatura
A elevada temperatura e a elevada [CO2]
interferem na expressão gênica das plantas. O
estudo dos genes envolvidos nesses processos é de
fundamental importância visando sua utilização
futura, mediante o uso de ferramentas
biotecnológicas que permitam aumentar a
tolerância aos diferentes estresses decorrentes das
mudanças climáticas e garantir a manutenção ou
aumento da produtividade de cultivos no futuro
próximo.
Quando as plantas são submetidas a
estresse abiótico, a tolerância se inicia pela
Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
643 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
percepção do estresse, seguida pela inibição da
expressão de diversos genes combinada com a
ativação da expressão de genes codificadores de
proteínas envolvidas na proteção e reparo (Figura
13) (Rao, 2006). No entanto, essas respostas são
bastante variáveis entre as espécies.
As respostas moleculares das plantas a
elevadas temperaturas e elevadas concentrações
de CO2, bem como ao estresse abiótico são
complexas. O estresse por temperaturas elevadas
ocorre quando a temperatura alcança um valor
acima de um limite máximo suportado e por um
período de tempo suficiente para causar danos
irreversíveis à planta. Em geral, esse tipo de dano
ocorre com aumentos de 10 ºC a 15 ºC. Pode-se
dizer que o estresse térmico depende da
intensidade, da duração e da taxa de aumento da
temperatura, e os efeitos também variam se o
aumento ocorrer durante o dia ou durante a noite
(Wahid et al., 2007).
Figura 13. Via de tolerância ao estresse em
plantas. Adaptado de Rao (2006).
Em exposição das plantas a altas
temperaturas, os primeiros sinais envolvem um
aumento da fluidez das membranas, levando à
ativação de cascatas de sinal baseadas em
lipídeos, um aumento na entrada de Ca2+ e
reorganização do citoesqueleto. Em Arapdopsis,
por exemplo, o gene CNGC2 codifica um
componente dos canais de Ca2+ das membranas
que atua como um sensor térmico. Esses canais na
membrana plasmática respondem ao aumento de
temperatura ativando respostas celulares de
proteção que envolvem proteínas de choque
térmico (HSPs) (Saidi et al., 2009).
É proposto que o Ca2+ se ligue à
calmodulina receptora de cálcio (CaM3) e ative
diversas quinases, bem como a transcrição de
fatores de choque térmico (HSFs). Os HSFs se
ligam a elementos de resposta nas regiões
promotoras dos genes codificadores das HSPs,
ativando sua transcrição (Zanetti et al., 2003; Li et
al., 2010; Suzuki et al., 2011). As HSPs previnem
a desnaturação que o calor pode provocar em
outras proteínas do organismo e a agregação
proteica, e atuam na recuperação e redobramento
das proteínas após o estresse. Muitas HSPs
também atuam na resposta a estresse osmótico e
oxidativo (Boston et al., 1996; Sarkar et al.,
2009).
Nas plantas, as HSPs ajudam a suportar o
estresse à medida que aumenta a taxa de
fotossíntese, a partição do assimilados, a
eficiência do uso de nutrientes e de água e a
estabilidade térmica das membranas (Wahid et al.,
2007). Algumas HSPs se associam com a
membrana, formando lipídeos de choque térmico
capazes de estabilizar as membranas durante o
estresse térmico. Em batata, por exemplo, a
introdução do gene de cenoura sHSP17.7
incrementou a tolerância ao calor aumentando a
estabilidade das membranas (Hu et al., 2010).
As HSPs são, em geral, divididas em
cinco classes, de acordo com seu peso molecular
aproximado: Hsp100, Hsp90, Hsp70, Hsp60 e
pequenas proteínas de choque térmico (sHsps).
Plantas superiores apresentam pelo menos 20
HSPs, mas esse número pode chegar a 40, e a
variação nessa quantidade pode estar relacionada
à maior ou menor tolerância ao calor em cada
espécie (Al-Whaibi, 2011).
Não só os genes codificadores de HSPs
têm sua expressão alterada pelo estresse térmico.
Em estudo realizado com a gramínea Panicum
virgatum exposta a 38/30°C de temperatura
diurna/noturna por 50 dias, foram identificados
2002 genes induzidos e 2809 genes inibidos pelo
calor. Dentre os genes induzidos, destacaram-se
classes funcionais relacionados com a regulação
da ATPase, ligação à chaperonas e dobramento
de proteínas. Dentre os genes inibidos,
destacaram-se genes relacionados com a
modificação de proteínas, transcrição, bem como
Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
644 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
no metabolismo do fósforo e do nitrogênio (Li et
al., 2013).
Os microRNAs (miRNAs) que regulam a
expressão gênica por meio da inibição da
transcrição ou impedimento da tradução de
mRNAs alvo, também estão envolvidos nas
respostas moleculares das plantas ao estresse
térmico. Estudos em Populus trichocarpa,
Brassica rapa, trigo e arroz demonstraram a
alteração na expressão de miRNAs após
exposição a temperaturas elevadas (Xin et al.
2010; Jeong et al. 2011; Yu et al. 2012).
Foi demonstrado que tanto a temperatura
quanto [CO2] elevados alteram a expressão de
microRNAs durante o desenvolvimento, e que, em
geral, os efeitos desses dois fatores são opostos.
As funções dos 17 microRNAs analisados
incluem a transição da fase juvenil para a fase
adulta, tempo de floração, polaridade celular
mediada por auxinas, divisão e diferenciação
celular durante o desenvolvimento, resposta a
estresses, síntese de carboidratos de parede celular
e respiração (May et al., 2013).
As funções afetadas pelo aumento de
[CO2] são diversas. Em Arabidopsis, a alteração
de genes relacionados à regulação da floração já
havia sido anteriormente demonstrada (Springer et
al., 2008). Também foi observada a inibição da
expressão de genes relacionados à fotossíntese,
ciclo de Calvin, fotorrespiração, subunidades dos
fotossistemas I e II e transporte de elétrons.
Alguns genes relacionados ao metabolismo e
utilização de C, enzimas da síntese de celulose,
proteínas da parede celular, glicólise,
metabolismo de trealose e degradação de amido,
tiveram a expressão aumentada pela elevada
[CO2] (Li et al., 2008).
Está bem estabelecido que elevadas [CO2]
estimulam a fotossíntese, a fixação de C e a
síntese de carboidratos (Long et al., 2004). Mas,
em estudos feitos em soja (Ainsworth et al., 2006;
Leakey et al., 2009) foram observados aumentos
de transcritos codificadores de enzimas
envolvidas no metabolismo de amido e açúcar,
glicólise, ciclo TCA e transporte de elétrons nas
mitocôndrias. Esses resultados sugerem que, em
longo prazo, nessa espécie também ocorre uma
alteração na transcrição gênica e no metabolismo,
estimulando a respiração e utilização dos
carboidratos acumulados.
Por outro lado, a longa exposição a [CO2]
elevada na espécie árborea Populus tremuloides
provocou um maior crescimento, em comparação
às plantas sob CO2 ambiental. Houve um aumento
da expressão de genes envolvidos com a
fotossíntese, das proteínas do fotossistema II (PS
II) e proteínas de ligação de auxinas. Genes
relacionados à fotorrespiração foram inibidos. Na
zona do cambio vascular, cascatas envolvidas com
crescimento celular, divisão celular, metabolismo
de hormônios, formação da parede celular
secundária foram alteradas. Além disso, foram
ativados genes de síntese de celulose e inibidos
genes da síntese de lignina, o que é importante
para a manutenção da fase de crescimento das
células (Gupta et al., 2005; Taylor et al., 2005;
Wei et al., 2012). Tanto no estudo de P.
tremuloides (Taylor et al., 2005) quanto em soja
(Ainsworth et al., 2006), foi observado um maior
número de genes responsivos ao aumento de
[CO2] em folhas em crescimento do que em folhas
adultas.
Em um estudo com milho (Kim et al.,
2006), elevadas [CO2] não provocou alterações
significativas de biomassa e fotossíntese. No
entanto, foram encontrados 51 transcritos
induzidos e 57 transcritos inibidos pelo
tratamento. Alguns dos genes inibidos foram
relacionados à fotossíntese. Os autores sugerem
que o motivo de terem encontrado alterações de
expressão gênica que derivaram poucas alterações
fisiológicas pode ser explicado pela redução de
nitrogênio nas folhas sob elevada [CO2].
Alterações no metabolismo de nitrogênio podem
ter disparado cascatas que resultaram nos perfis de
transcrição alterados após o tratamento.
Utilizando câmaras de topo aberto, foi
observado em plantas de cana de açúcar (planta
C4) aumento de biomassa e fotossíntese sob
elevada [CO2] e condições de boa disponibilidade
de água. Foram observadas inibição de genes da
síntese de lignina e maiores quantidades de
celulose nas folhas. Transcritos de proteínas de
ligação de clorofila a e b, ferredoxina-1,
subunidades do fotossistema I e II foram mais
abundantes nas plantas sobre elevado CO2 (De
Souza et al., 2008).
Em trigo, foi observado que plantas
aclimatadas ao frio (AF) são menos susceptíveis
às elevadas [CO2] do que as não aclimatadas
(NA), uma vez que o número de transcritos com
expressão alterada em AF foi menor (Kane et al.,
2013). Além disso, um importante resultado dessa
pesquisa foi a observação da inibição de genes
que estão de alguma forma envolvidos com a
resistência a patógenos ou à proteção celular e do
cloroplasto em plantas não aclimatadas ao frio
quando foram expostas a alta temperatura. Esse
resultado alerta para possíveis problemas com
relação a patógenos e prejuízos das plantas
cultivadas em cenários futuros de maiores [CO2] e
temperatura.
Ainda são necessários mais estudos sobre
os efeitos moleculares da elevada [CO2] e
Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
645 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
temperatura, principalmente em plantas utilizadas
na agricultura e pecuária nos trópicos.
Perspectivas Futuras
Sem dúvida as mudanças climáticas
globais já estão ocorrendo e serão cada vez mais
evidentes. Para enfrentar esse problema, as
plantas, sejam nativas ou cultivadas serão
confrontadas com opções limitadas para evitar a
perda de seu hábitat ou extinção: adaptar-se,
migrar ou morrer. Ecossistemas como os
florestais, agrícolas e pastagens tropicais são
particularmente vulneráveis às alterações
climáticas. O incremento na concentração de CO2,
o aumento da temperatura e as alterações nos
padrões sazonais de precipitação podem provocar
alterações no padrão de crescimento, fenologia da
floração e frutificação, germinação e distribuição
das espécies, além de impactos de pragas e
doenças, e incremento no risco de incêndios.
Todas essas alterações podem levar a mudanças
na composição e no funcionamento nos diversos
ecossistemas.
Lobell et al. (2011) e Lobell e Gourdji
(2012), baseados em estimativas do incremento da
temperatura e do CO2 para as próximas décadas,
realizaram projeções de alterações (incremento ou
diminuição) da produção agrícola global, por
unidade de ppm ou unidade de incremento de
temperatura (Quadro 1).
No caso da temperatura, se estima uma
redução provável de 5% no rendimento por cada
grau centígrado de incremento. No caso do CO2 se
estima um incremento de 0,07% no rendimento
por cada ppm de incremento na concentração
desse gás. Assim, pode-se deduzir que os efeitos
positivos do CO2 como “fertilizante” para as
plantas seriam anulados pelo efeito deletério da
temperatura sobre a produção agrícola.
Simulações dos efeitos do incremento do
CO2 e da temperatura sobre a produção do trigo na
Argentina e Austrália (Asseng et al., 2013)
comprovam essas previsões. Incrementos do
rendimento por causa do aumento na concentração
atmosférica do CO2 seriam afetados pelo
aquecimento com reduções maiores no
rendimento em elevadas temperaturas (Figura 14).
Quadro 1. Estimativas prováveis e plausíveis do incremento da temperatura (T) e CO2 e seus efeitos na
produção agrícola global para as próximas décadas (adaptado de Lobell e Gourdji, 2012; Lobell et al., 2011).
Área
cultiva
da
global
Δ T (°C)
por década
Δ
Rendiment
o por °C
Δ
Rendimento
por década
Valor
prováv
el
0,3 -5% -1,5%
Faixa
plausív
el
0,1 a 0,5 -8 a -3% -4% a -3%
Δ CO2
(ppm) por
década
Δ
Rendiment
o por ppm
Δ
Rendimento
por década
Valor
prováv
el
25 ppm 0,07% 1,8%
Faixa
plausív
el
20 a 30
ppm
0,05 a
0,09% 1,0 a 2,7%
Revista Brasileira de Geografia Física v. 08, número especial VI SMUD (2015) 635-650.
646 Martinez, C. A., Oliveira, E. A. D. de., Mello, T. R. P., Marin, A.L. A.
Figura 14. Alteração simulada do rendimento em
trigo em Argentina e Austrália por efeitos de 3
níveis de CO2 (360, 540 e 720 ppm) e incremento
da temperatura em +3 e +6 °C (Adaptado de
Asseng et al., 2013).
Conclusões
Para uma melhor estimativa dos impactos
das mudanças climáticas na agricultura, pecuária e
ecossistemas de florestas e pastagens serão
necessários grandes avanços científicos. O
volume de informações que existe atualmente
sobre o comportamento das plantas nativas e
cultivadas, em ambientes temperados e nos
trópicos, não é suficiente para as previsões de
adaptação ou mitigação.
Dado o potencial impacto das mudanças
climáticas, os gestores florestais, agricultores e
pecuaristas enfrentarão grandes desafios para
realizar ações em resposta às mudanças
climáticas. Por outro lado, a adaptação às
alterações climáticas exigirão novas abordagens
para a pesquisa, bem como novas políticas e
novas práticas de gestão florestal, agrícola e de
manejo de pastagens.
No âmbito da pesquisa, será necessário
priorizar a elucidação das interações entre o
elevado CO2, temperatura, disponibilidade hídrica
e o efeito de poluentes como o ozônio sobre o
crescimento, o rendimento e a produtividade das
plantas. Por exemplo, qual é o potencial do
elevado CO2 para reduzir os efeitos da falta de
água ou aquecimento?, Qual será o efeito da
redução da transpiração ou resfriamento foliar
sobre a produção?, Qual será o efeito do aumento
da esterilidade do pólen e a redução de grãos
causados pela alta temperatura ou ondas de calor
em interação com elevada [CO2] sobre o
rendimento e produtividade agrícola?, Quais serão
os efeitos da migração de áreas agrícolas para
outras regiões ou das melhoras tecnológicas e
agronômicas para atender a demanda futura de
alimentos no cenário de mudanças climáticas
globais?
Para reduzir as incertezas dos impactos
das mudanças climáticas globais serão necessárias
melhores estimativas das taxas de aquecimento
global e da capacidade de resposta das plantas ao
aquecimento, ao elevado CO2, e suas combinações
associadas com fertilidade do solo e
disponibilidade de água. Nas próximas décadas
será necessário intenso trabalho de melhoramento
genético das plantas e uso da biodiversidade para
reduzir a sensibilidade à elevada temperatura ou
melhorar a resposta ao CO2, bem como
importantes mudanças adaptativas dos
agricultores para escolher o que, quando e onde
estabelecer suas plantações.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPESP (2008/58075-8)
e CNPq (313592/2013-6 e 400755/2013-0) pelo
suporte financeiro para pesquisa. E.A.D.O é
bolsista de Pós-doutorado da FAPESP
(2014/00317-7), T.R.P.M é bolsista PD Júnior do
CNPq (500137/2013-7) e A.L.A.M. é Bolsista PD
Sénior do CNPq (150737/2014-9). C.A.M. é
Bolsista de Produtividade de Pesquisa do CNPq
(305265/2013-0).
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